Sunteți pe pagina 1din 64

DEDICATÓRIA

À minha querida e amada família Jonas Savimbi, que desde o início deste imprescindível
projecto, incondicionalmente apoiou-me, e, por ser ela o meu suporte constante, na
realização de metas e projectos.

1
AGRADECIMENTOS

A Deus Pai Todo – Poderoso por me ter dado saúde, luz e força para superar as
dificuldades. À esta unidade orgânica da UAN, seu corpo docente e administrativo que
tudo fizeram para abrir esta janela que hoje vislumbro um horizonte superior, eivando
acendrada no mérito e ética aqui presente.

Ao meu orientador, Professor Mester, Mateus Kamba Kavula, pelo suporte no pouco tempo
que lhe coube, pelas suas oportunas e pertinentes correcções e incentivos em todos os
momentos. O meu muito obrigado por ter aceitado o desafio de orientar o trabalho.

Aos meus pais Jonas Savimbi e Anacleta Mputu, pelo amor, incentivo e apoio moral
incondicional, e a todos que directa ou indirectamente fizeram parte da nossa formação e
por ter confiado na nossa capacidade intelectual. Aos professores da faculdade pela
edificação da sapiência pelo carinho e por serem pacientes, justos e humanos, obrigado
pela educação e instrução.

Aos nossos irmãos (Afonso Mvemba), primos, sobrinhos, tios e amigos (Abel), colegas,
em especial aos meus amados filhos (Rafael dos Santos e Ana Lourenço) por tornarem-me
no homem que hoje sou, e sempre serei por vocês.

Por fim, agradeço a todos os participantes, que tiveram a generosidade, o altruísmo, a


humildade, a disponibilidade e a paciência, para partilharem os seus conhecimentos,
experiências e sentimentos, para ajudarem os propósitos desta investigação, os propósitos
da psicologia como ciência. Muito Obrigado a Todos.

2
RESUMO

O objectivo deste estudo é analisar a questão migratória em Angola, caso dos emigrantes
somalis no Bairro Operário, Distrito do Sambizanga em Luanda. Esta pesquisa é
considerada descritiva, com característica qualitativa. Foi utilizado, como instrumento de
colecta de dados, a entrevista semi-estruturada e a observação directa e sistemática. Os seis
casos estudados permitiram mostrar que os emigrantes somalis apresentam, numa
perspectiva individual, factores determinantes, nomeadamente, por motivos pessoais ou
pela busca de melhores condições de vida e de trabalho, ou ainda para fugir de
perseguições ou discriminações ligadas a motivos religiosos ou políticos. Angola, depois
que tornar-se independente do jugo colonial em 1975, mergulhou no profundo conflito
armado, tendo o mesmo terminado, depois de acordos e memorandos de entendimentos,
entre os beligerantes em 2002. Os anos subsequentes a esta dada até actualmente, tornou-se
destino preferencial da migração, principalmente africanos, motivados pelo crescimento da
sua economia e para uns por razões de segurança, isto é, populações que fogem de conflitos
em seus países. Aliado a estes factores está a vulnerabilidade das suas fronteiras. Foi
identificada a necessidade de se aprofundar esta problemática dos emigrantes somalis em
Luanda que põe em risco a segurança do país e não só.

Palavras-Chave: Antropologia social; Imigração; ilegal; Somalis; Estado Angolano.

3
ABSTRACT

The objectiv of this study is to analyze the migratory subject in Angola, case of the
emigrants somalians in the Labor Neighborhood, District of Sambizanga in Luanda. this
research is considered descriptive, with qualitative characteristic. It was used, as
instrument of colecta of data, the semi-structured interview and the observation directa and
systematic. The six studied cases allowed to conclude that the emigrants somalis presents,
in an individual perspective, decisive factores, namely, for personal reasons or for the
search of better life conditions and of work, or still to flee from persecutions or linked
discriminations to reasons religious or political. Angola, after he/she becomes independent
of the colonial yoke in 1975, dove in the deep armed conflict, tends the same finished, after
agreements and memos of understandings, among the belligerent ones in 2002. The
subsequent years the this given actualmente even, he/she became destine preferential of the
migration, mainly Africans, motivated by the growth of his/her economy and for some for
reasons of safety, that is, populations that you/they escape from conflicts in their countries.
Ally the these factores is the vulnerability of their borders. It was identified the need to
deepen this problem of imigrants somali in Luanda that puts in risk the safety of the
country and not only.

Word-key: Social anthropology; Immigration; illegal; Somalis; Angolan state.

4
EPIGRAFE

«(…) sem as peripécias, sem

as demoras da viagem, não se

chega afinal a parte alguma.»

David Mourão – Ferreira,

Vinte Poetas Contemporâneos (1980, 15).

5
SIGLAS E ABREVIATURAS

ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados

OIM – Organização Internacional das Migrações

UA – União Africana

SME – Serviço de Migração e Estrangeiro

MINARS – Ministério de Assistência e Reinserção Social

MININT – Ministério do Interior

PGF – Polícia de Guarda Fronteira

UAN – Universidade Agostinho Neto

FCS – Faculdade de Ciências Sociais

ÍNDICE
6
DEDICATÓRIA----------------------------------------------------------------------------------------
I

AGRADECIMENTOS--------------------------------------------------------------------------------
II

RESUMO-----------------------------------------------------------------------------------------------
II

ABSTRACT-------------------------------------------------------------------------------------------
IV

EPÍGRAFE---------------------------------------------------------------------------------------------
V

SIGLAS E ABREVIATURAS---------------------------------------------------------------------
VI

ÍNDICE-----------------------------------------------------------------------------------------------
VII

INTRODUÇÃO---------------------------------------------------------------------------------------
10

Formulação do problema:-------------------------------------------------------------------------12

Justificativa-------------------------------------------------------------------------------------------13

Pergunta de partida:-------------------------------------------------------------------------------14

Formulação das hipóteses:------------------------------------------------------------------------14

Objectivos de estudo:-------------------------------------------------------------------------------15
Objectivo geral:------------------------------------------------------------------------------------15
Objectivos específicos:----------------------------------------------------------------------------15

Delimitação do estudo:-----------------------------------------------------------------------------15
Delimitação espacial:------------------------------------------------------------------------------15
Delimitação temporal:-----------------------------------------------------------------------------15
Revisão bibliográfica------------------------------------------------------------------------------16

METODOLOGIA------------------------------------------------------------------------------------
16

7
Técnica----------------------------------------------------------------------------------------------17
A consulta bibliográfica---------------------------------------------------------------------------17
A Observação---------------------------------------------------------------------------------------17
Instrumento:----------------------------------------------------------------------------------------18
Modelo de pesquisa:-------------------------------------------------------------------------------18
Dificuldades encontradas:------------------------------------------------------------------------18
Aspectos éticos:------------------------------------------------------------------------------------18
Estrutura do trabalho:-----------------------------------------------------------------------------19

CAPÍTULO I. ABORDAGEM TEÓRICA E


CONCEPTUAL--------------------------------19

1.1. Definição de termos e conceitos básicos---------------------------------------------------19

1.2. Considerações teóricas------------------------------------------------------------------------22

1.2.1. Teorias do sistema mundo e selectividade dos imigrantes---------------------------24

1.2.2. Teoria dos sistemas migratórios, as redes sociais e o transnacionalismo---------26

CAPÍTULO II. COMPONENTE HISTÓRICA SOBRE AS


MIGRAÇÕES-----------------29

2.1. Fluxos migratórios no contexto global-----------------------------------------------------29

2.1.1. A política imigrantista de alguns países-------------------------------------------------31

2.2. Alguns dados históricos dos movimentos migratórios em Angola-------------------35

2.2.1. Legislação migratória angolana----------------------------------------------------------41

2.2.2. Fenómeno da imigração ilegal em Angola----------------------------------------------46

CAPITULO III. A PROBLEMÁTICA DA IMIGRAÇÃO ILEGAL EM ANGOLA,


CASO DOS
SOMALIS---------------------------------------------------------------------------------------47

3.1. A trajectória dos imigrantes somalis até Luanda----------------------------------------48

3.2. As estratégias de acomodação---------------------------------------------------------------48

3.3. Respostas institucionais de gestão migratória-------------------------------------------48

3.4. O impacto da migração dos somalis no município do Sambizanga------------------49

3.5. Transferência monetária de imigrantes para o seu país de origem------------------50

8
3.6. Os imigrantes somalis a segurança nacional---------------------------------------------51

3.7. Imigração dos somalis e a criminalidade--------------------------------------------------53

CAPÍTULO IV. TRABALHO DE CAMPO------------------------------------------------------


55

4.1. Apresentação do trabalho de campo-------------------------------------------------------55

4.2. Análise e interpretação dos dados----------------------------------------------------------59

CONCLUSÃO----------------------------------------------------------------------------------------
60

RECOMEDAÇÕES----------------------------------------------------------------------------------
61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS-------------------------------------------------------------62

9
INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda a situação da imigração ilegal em Angola, mormente, caso dos
imigrantes Somalis no Bairro Operário, Província de Luanda. A nossa pesquisa pretende
trazer a lume questões que têm a ver com a migração ilegal na perspectiva da antropologia
social, sendo Angola desde séculos, um país de migrações tanto internas como externas.
Durante o período colonial conhecem-se movimentos migratórios para os Congos –
colónias francesas, belgas e britânicas da Zâmbia e da Namíbia. Foram as migrações para
as Repúblicas Democrática do Congo, bem como a do Congo as que mais marcaram e
continuam a marcar a história dos angolanos.

Ministério do Interior da República de Angola – MININT (2014), no seu Balanço sobre “A


Situação Migratória em Angola”, descreve que, na última década, Angola tem vindo a
defrontar-se com o aumento considerável de influxos de migrantes provenientes da
Somália. A profunda crise política, económica e social que este país atravessa tem estado
na origem do crescimento exponencial dos fluxos de saída, sendo, presentemente, Angola
um dos principais países de destino.

Sua maioria, estes imigrantes têm vindo a ser associados, no discurso público, a redes de
criminalidade e a negócios ilícitos. Também, existem imigrantes ilegais provenientes de
alguns países asíaticos, oeste africano, da República Democrática do Congo e europeus.
Como observa Crispim (2003), estudos publicados recentemente têm relacionado às
migrações com refugiados e migrações transfronteirícias. Os meios de comunicação social
têm associado à vinda ou trânsito de imigrantes ao crime organizado, ao tráfico de pessoas
e órgãos humanos, à lavagem de dinheiro, à exploração e contrabando de pedras preciosas
e semipreciosas e ao tráfico de drogas.

10
A pertinência do nosso estudo, consiste no facto de que o fenómeno possa a médio ou em
longo prazo, fazer eclodir uma situação de insegurança e instabilidade político-social,
como actos de xenofobia e racismo, à semelhança do que tem acontecido na África do Sul
e em diferentes partes do mundo, se as autoridades não começarem, desde já, a olhar para a
imigração ilegal como um assunto que pode constituir uma ameaça a soberania à nacional.
Muitos angolanos ainda vivem de facto numa situação de pobreza aguda, em oposição à
situação apresentada por alguns destes estrangeiros que, como foi já referido, têm estado a
tomar o comércio informal nas cidades do país, ostentando em pouco tempo, sinais de
riqueza, para muitos angolanos, difíceis de perceber. Esta situação pode desenvolver, por
parte dos nacionais, a ideia de que os estrangeiros são privilegiados e tem a vida facilitada,
como sucedeu em parte com os sul-africanos, o que contribuiu para a situação explosiva
que África do Sul viveu e continua a viver.

Por outro lado, o nosso estudo pretende caracterizar a natureza destes novos movimentos
migratórios, centrando-se na identificação da trajectória dos imigrantes somalis e nos
processos de fixação na sociedade angolana. Neste contexto, especial enfoque é,
igualmente, dado à análise das respostas institucionais que têm vindo a ser implementadas,
na gestão desta nova realidade migratória em Angola.Portanto, embora a migração
actualmente tenha uma perspectiva diferente da registada aos longos dos tempos, no
processo de construção e reconstrução de muitas economias, urge a necessidade de se
repensar no modelo de migração actual.

Portanto, em Angola, as províncias mais preferidas pelos imigrantes, nomeadamente, os


somalis, são as de Luanda, Cabinda, Benguela, Cuanza-Sul e Namibe. Porém, existem
imigrantes em números insignificantes nas restantes províncias do País. A presença de
imigrantes ilegais em território angolano tem levantado debates especulativos ao nível da
opinião pública e política. As especulações que giram à sua volta ligam-nos às redes de
tráfico de pessoas, ao crime organizado, a lavagem de dinheiro, a exploração de pedras
semipreciosas, ao tráfico de drogas e outras actividades ilícitas do submundo do crime e da
droga.

11
Formulação do problema:

A problemática em epígrafe deve-se ao facto da estabilidade política, vulnerabilidade das


fronteiras terrestres e marítimas angolanas está entre os principais destinos e rotas de
trânsito de imigrantes indocumentados, sobretudo provenientes das regiões dos grandes
lagos, bem como da África ocidental e oriental.

"A imigração ilegal - somali aparece com maior destaque no conjunto de toda a imigração
ilegal dado o número crescente de cidadãos oriundos daquela região. A Somália é um país
situado na Costa Oriental de África, no chamado Corno de África. Desta região fazem
parte o Djibout e a Etiópia. O país situa-se entre o Golfo de Aden, no norte e o Oceano
Índico, a leste. A sua superfície é de 637.657 km². E, a história conflituosa da Somália
remete-se ao seu processo de colonização que, tal como os outros países africanos
colonizados pelas potenciais ocidentais, não teve em consideração os diferentes povos e
clãs ali existentes" (Cardoso, 2011, pp.34-35).

A Somália é um Estado que existe no papel, reconhecido por outros Estados, membro da
União Africana e da Organização das Nações Unidas. Porém, a instituição Estado como tal
ainda não existe. Zago & Minillo (2008, p.11) (citados por Da Costa, 2012) afirmam que:
"A Somália constitui típico exemplo de um Estado falido. Desde 1991, o país não possui
um governo que, de facto, exerça controlo sobre a integridade de seu território. Dessa
forma, inúmeros problemas surgiram no território somali, dentre os quais possui destaque a
pirataria".

A Somália não prevê para seu povo serviços públicos sociais, nem securitários, acabando
por impor a população uma situação em que esta se vê desamparada e obrigada a, por si só,
partir em busca de seu bem-estar. O termo Estado falido aplica-se àqueles Estados cujos
governos centrais são ineficientes, fracos e que não possuem controlo sobre o seu território

12
e que são incapazes de proporcionar saúde, educação e segurança à sua população, como
serviços públicos essenciais.

Da Costa (2012:15-16) salienta que segundo dados do Banco Mundial, a Somália é um dos
países mais pobres do mundo, como resultado de décadas de guerra civil e ausência de um
governo central. Segundo este autor o seu PIB é estimado em US$ 5.596 bilhões, dos quais
60,2% provêm da agricultura e menos 8% “ da quase inexistente indústria”. Grande parte
de alimentos provém da importação e ajuda humanitária.

Justificativa

O tema em estudo é de vital importância visto que o fenómeno é vivido em todas as partes
de Angola, em geral, e, na província do Luanda em particular. Podemos também considerar
como um problema universal, e, tendo como ponto de partida a entrada de imigrantes
ilegais, particularmente, os cidadãos de origem somali através do Canal dos Congos e de
outros países vizinhos: Namíbia, e Zâmbia, têm agitado política e economicamente a
sociedade angolana. Esta agitação deve-se ao facto de muitas das actividades que estes
desenvolvem (negócios ilícitos, exploração de pedras semipreciosas, tráfico de pessoas e
drogas, lavagem de dinheiro) ainda carecerem de uma análise aprofundada.

O trabalho aqui apresentado pretende contribuir para colmatar esta lacuna. Face às novas
realidades migratórias em Angola importa compreender as dinâmicas do fenómeno da
imigração ilegal, neste caso particular dos indocumentados somalis, à luz dos instrumentos
internacionais e da legislação vigente no nosso país.

O presente estudo pretende, ainda, ser um contributo para desconstruir mitos e potenciais
preconceitos que têm surgido em torno da realidade migratória somali em Angola. Além
disso, o trabalho pretende fornecer novas pistas de investigação sobre as migrações,
potenciando a compreensão da imigração ilegal como um fenómeno global e transnacional
e que preocupa a comunidade internacional da qual Angola é parte integrante.

A realização da presente pesquisa pode, igualmente, ter relevância científica na produção


do conhecimento, pois poderá ser utilizado como suporte para a compressão do fenómeno
em causa. Além da relevância científica, terá a relevância social, no que se refere à

13
sociedade, de uma forma geral, em obter esclarecimentos quanto à compreensão e
consequentemente a sua gestão.

Por estas e outras razões, justificamos a realização deste trabalho, onde meticulosamente
nos referimos sobre a forma de integração dos imigrantes somalis em Angola, e, deparar-
nos com perspectivas dos próprios imigrantes.

Pergunta de partida:

Com base no pressuposto acima exposto, formulamos como fio condutor do nosso humilde
trabalho, as seguintes perguntas de partida:

- Qual é a trajectória utilizada pelos imigrantes somalis até Angola?

- Como imigrantes somalis procedem a sua fixação no território angolano?

- Quais são as respostas institucionais que os imigrantes somalis encontram na gestão


migratória em Angola?

Formulação das hipóteses:

Qualquer trabalho de pesquisa científica, implica ter hipóteses, que é uma proposição
enunciada para responder a um problema, ou seja, tem a função de propor e explicar certos
factos e, ao mesmo tempo orientar a busca de outras informações, partindo de alguns
pressupostos considerados na pergunta científica e nos objectivos que se pretende alcançar.

Assim sendo, formulamos as seguintes hipóteses:

H1. Os imigrantes somalis utilizam a rota dos grandes lagos até ao Congo, como trajectória
para chegar a Angola por fronteira marítima;

H2. Luanda, apresenta-se como um lugar onde há grande fixação dos imigrantes somalis
em Angola;

H3. A falta de rigor sistemático por parte das autoridades angolanas, concretamente do
SME, propicia a imigração ilegal nos somalis em Angola.

14
Objectivos de estudo:

- Os objectivos num trabalho de investigação científica constituem uma meta a ser


alcançada, ou seja, o que esclarece o produto final a ser obtido com determinadas
finalidades. Assim sendo, temos como objectivos de estudo os seguintes:

Objectivo geral:
- Reflectir sobre a questão migratória em Angola.

Objectivos específicos:
- Identificar os percursos migratórios dos imigrantes somalis em Angola, com especial
enfoque nas motivações, processos de fixação e redes sociais, que tendem a configurar
estas migrações internacionais;

- Mostrar as estratégias de fixação dos imigrantes somalis em Angola;

- Examinar as políticas e estratégias de regulação e de integração instituídas pelo


Executivo Angolano.

Delimitação do estudo:

Delimitação espacial:
No que tange à delimitação da pesquisa, e, para se evitarem generalizações, o nosso estudo
enquadra-se na área da antropologia e destina-se a debruçar somente sobre a imigração
ilegal em Angola – Caso dos Imigrantes Somalis no Bairro Operário, Província de Luanda,
a pesquisa foi realizada no Bairro Operário, Distrito do Sambinzanga, Província de
Luanda.

Delimitação temporal:
Trabalhou-se com uma amostra de (06) seis imigrantes somalis do sexo masculino, com
idades compreendidas entre os 35 e os 55 anos, no período de Abril a Julho de 2017.

15
Revisão bibliográfica
Toda ou qualquer pesquisa carece de um suporte teórico e este é fruto de uma busca de
obras que, directa ou indirectamente, fala sobre o assunto. É desta forma que, para dar
sustentação ao nosso trabalho, utilizámos alguns livros e artigos científicos que debruçam
sobre Imigração Ilegal em Angola, mormente, em Luanda.

Para nos explicar detalhada e pormenorizadamente sobre a situação migratória a nível


global, utilizou-se o Manual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD), editado em Genebra, no ano de 2014.

A outra obra utilizada foi O Manejo que os Profissionais Que as Autoridades Utilizam
para Lidar com a Questão da Imigração Ilegal, da autoria da Organização Internacional
para as Migrações (OIM). Nesta obra, advoga-se que, é urge perspicácia para integrar
imigrantes ilegais.

Utilizou-se, ao mesmo tempo, a Política Migratória em Angola – DGSME/MININT, a fim


de aferirmos com o Estado Angolano lida na praxis com as estratégias de gestão e
execução das matérias atinentes a imigração ilegal.

METODOLOGIA

A fim de atingir os objectivos propostos no presente trabalho, optou-se por realizar um


estudo qualitativo, através da utilização do estudo de caso, o qual nos permitiu um
aprofundamento e uma ampliação do campo de análise, porque o estudo de caso permite a
investigação de um fenómeno contemporâneo da vida real do indivíduo, como também
esclarece sobre as interferências das características individuais e do contexto socio-famíliar
nos acontecimentos da vida dos imigrantes somalis em Luanda, mormente, no Bairro
Operário.

Estudo de caso: Segundo Carlinhos Zassala (2013, p.25), o estudo de caso é um estudo
intensivo e exaustivo sobre um indivíduo, evento, instituição ou comunidade que visa
identificar variáveis relacionadas com o evento e que possa sugerir hipóteses explicativas
para o fenómeno. O estudo de caso consiste no relato fiel e sistemático daquilo que foi com
o paciente durante o processo terapêutico, incluindo a sua história de vida e outras
informações que contribuem para melhor compreensão do caso atendido.

16
Neste estudo descritivo com abordagem qualitativa permitiu-nos apresentar dez (10) casos
pesquisados durante o período de Abril a Julho de 2017. Os participantes foram
seleccionados aleatoriamente entre aqueles imigrantes somalis no Bairro Operário.
Portanto, como critério de inclusão terá: ter entre 35 e 55 anos de idade e de ambos os
sexos, e ser imigrantes somalis no Bairro Operário em Luanda. Como critério de exclusão:
todos os que não satisfazem o critério de inclusão.

População: Para o nosso estudo, a população é constituída pelo universo dos imigrantes
fixados no Bairro Operário em Luanda que, actualmente, conta com um total de dez mil
(10.000) imigrantes.

Participantes: Para efeito da nossa pesquisa, trabalhamos com uma amostragem de seis
(6) somalis no Bairro Operário em Luanda, de ambos os sexos, e, com idades
compreendidas entre os 35 e 55 anos. O processo de selecção foi aleatório, com base na
listagem dos nomes dos imigrantes somalis, com a prestimosa ajuda dos efectivos da área
de fiscalização do SME/MININT.

Técnica
A técnica pode ser definida como o princípio da sistematização, aperfeiçoamento,
enobrecimento, segurança das normas de actividade que se podem aplicar em qualquer
actividade humana. Deste modo, decidiu-se utilizar as seguintes técnicas:

A consulta bibliográfica
– Consistiu na selecção criteriosa de obras ligadas ao tema em discussão. Os resultados
advindos serviram para fundamentar o problema levantado e feitura da fundamentação
teórica.

A Observação
– Termo utilizado para designar a percepção metodicamente controlada e intencional de
objectos, acontecimentos e processos. Todavia, foi utilizada a observação directa e
sistemática.

17
Instrumento:
Quanto aos instrumentos de colheita de dados, foi utilizado o inquérito por entrevista - a
entrevista semi-estruturada. Foram os instrumentos que consideramos mais apropriados
para a recolha dos dados, tendo em conta os objectivos do estudo, pois esse tipo de
entrevista estabelece uma ordem de perguntas, mas o entrevistado tem a liberdade de
ampliar as suas respostas, além de permitir outras questões, se necessárias.

Modelo de pesquisa:
Escolhemos o modelo de pesquisa descritiva, com abordagem qualitativa em que nos
fundamentámos no método clínico ou estudo de caso. Este estudo intensivo e profundo
sobre um indivíduo ou evento usa técnicas de observação, sem a preocupação de
generalizar os resultados obtidos, e, o foco deste estudo é a interpretação, com ênfase na
subjectividade, na flexibilidade e orientação para o processo e não para os resultados, e nos
serviços sócio culturais, tem muito a oferecer, da para análise das relações e vivências,
trazendo as singularidades do problema, da compreensão e da busca da solução.
Em cada caso, contém um relato feito pelo próprio imigrante somali. Por questões éticas e
de sigilo, o imigrante somali é identificado por duas siglas. Além disso, cada caso possui a
sua história…

Dificuldades encontradas:
Obviamente, encontrámos inúmeras dificuldades em lidar com imigrante somali. E pela
inexperiência de realizar um trabalho de pesquisa do género, tivemos, ao mesmo tempo, as
dificuldades financeiras, de comunicação/língua, de locomoção, de bibliografia
especializada, de redacção e de impressão da monografia, bem como da burocracia do
sistema angolano de migração e estrangeiro. Portanto, encontramos inúmeras dificuldades
na obtenção do material para pesquisa científica e com escassez de literatura que abordam
sistematicamente a problemática da imigração ilegal em Angola e suas nuances.

Aspectos éticos:
Os estudos que apresentamos, não envolveram o desenvolvimento de actividades de
manipulação de materiais biológicos, humano, radiológico ou organismos geneticamente
modificados. No entanto respeitamos o sigilo das informações colhidas. Importa referir que
a realização do presente trabalho dependeu somente da aprovação do protocolo pelo
orientador e das autorizações das direcções da FCS/UAN, bem como da DGSME/MININT,
de pessoas singulares e do campo de estudo.

18
Estrutura do trabalho:
O primeiro capítulo faz referência à abordagem teórica e conceptual, na qual começamos
por apresentar algumas definições de termos e conceitos mais pertinentes ao tema. Em
continuação, descrevemos algumas teorias sobre as migrações, as teorias do sistema
mundo e selectividade dos imigrantes, teorias institucionais e sistemas migratórios, e,
trazendo uma abordagem sobre as teorias que pudessem afectar suporte ao tema em estudo.
O segundo capítulo dedicamo-lo aos elementos e factos reais, onde apresentamos uma
resenha histórica sobre imigração ilegal em Angola.

No terceiro capítulo, estudo de caso sobre imigrantes ilegais somalis.


No quarto capítulo tratamos da apresentação, da análise e da interpretação dos casos
estudados, é referente à análise dos dados obtidos mediante os instrumentos de trabalho
aplicados aos nossos interlocutores.

Por fim, fizemos as conclusões a que chegamos onde confirmamos as nossas hipóteses
inicialmente levantadas, as recomendações e espelhamos a bibliografia que serviu de
referência.

19
CAPÍTULO I. ABORDAGEM TEÓRICA E CONCEPTUAL

1.1. Definição de termos e conceitos básicos

A compreensão dos termos e conceitos nem sempre é uma coisa simples. Para melhor
compreensão do nosso estudo, apresentamos as definições dos termos e conceitos
operacionais do tema em questão.

As migrações - são fenómenos históricos que remontam a milhares de anos. Sem elas o
mundo não se apresentaria com a plataforma social actual. É um fenómeno histórico
ancestral.

A História ensina-nos que, a África - é o berço da Humanidade. Foi a partir daqui que o
homem se espalhou pelos diferentes cantos do globo. As migrações estiveram ligadas a
crises económicas, disputas de terras, procura de melhores condições de vida, calamidades
naturais, crises políticas, motivações religiosas.

Migrações - etimologicamente a palavra “ migrare” é de origem latina e formou-se a partir


da palavra migrar, que significa passar de um lugar para outro, mudar de residência. Este
termo tem sido usado para descrever uma série de movimentos populacionais em várias
direcções, com duração, magnitude e longitude variáveis, ou descrevendo uma única
direcção desta mobilidade (Camacho e Tavares, 2014).

As pessoas não estão presas aos espaços territoriais da sua origem. Desde tempos
imemoriais movimentaram-se: saem e entram em diferentes espaços geográficos. Esta
mobilidade tem sido objecto de estudo na área das Ciências Sociais, Geografia, Economia,
Sociologia e Política. Com o processo da globalização a partir da segunda metade do
século XX atingiram o seu ponto mais destacado.

O conceito de migração veio posteriormente a especializar-se com a fixação de fronteiras


dos Estados e delimitação das soberanias nacionais: para cada lugar de onde se observava o
fenómeno, era emigrante aquele que saía para lá das suas fronteiras e imigrante aquele que,
do exterior, nelas penetrava.

20
Emigrações- referem-se a saída de pessoas duma localidade, distrito, província ou país,
enquanto imigrações é um fenómeno inverso.

Imigração - Albuquerque (2008, p. 27) sugere que imigrar seria o resultado do


estabelecimento de fronteiras e dos limites entre territórios, que conferem distinção entre
origem e destino, assim como imigrante seria o estrangeiro que vindo de fora pretende
estabelecer-se num país que não é seu, motivado por algum ideal.

Assim, o conceito de imigração ilegal só tem sentido quando se estabelecem fronteiras


entre estados e que se considere que estas fronteiras representam a protecção das
soberanias das nações e, por essa razão, devem ser invioláveis. Este fechamento abre
espaços jurídicos para que as pessoas que penetram em território alheio sem a devida
autorização sejam consideradas imigrantes ilegais e ao processo em sim seja considerado
imigração ilegal.

Entendemos nós que é um fenómeno de mobilidade das pessoas sem olhar para as
regulamentações legais estabelecidas. A imigração ilegal acontece quando se atravessam
fronteiras, violando as leis de imigração do país de destino e de origem. Um imigrante
ilegal é um cidadão que atravessou uma fronteira estrangeira por terra, mar ou ar. Mesmo
aqueles estrangeiros que entraram legalmente num país, quando permanecem no país
depois de vencer o prazo são considerados imigrantes ilegais.

Segundo o Relatório da Comissão Mundial sobre as Migrações Internacionais (2005:31)


- as migrações num mundo interligado: novas linhas de acção”, existem várias categorias
de imigrantes ilegais: o termo ` imigração irregular ´ é normalmente utilizado para
descrever uma série de fenómenos diferentes que envolvem pessoas que entram ou ficam
num país do qual não são cidadãos, infligindo assim as leis nacionais. Incluem-se aqui os
migrantes que entram ou ficam num país sem autorização, aqueles que entram
clandestinamente ou são traficados através de uma fronteira internacional, os requerentes
de asilo indeferidos que não obedecem às ordens de deportação e pessoas que fogem aos
controlos de imigração através de esquemas de `casamentos brancos. “Estas diferentes

21
formas de migração irregular aparecem frequentemente agrupadas sob a designação
alternativa de migração não autorizada, não documentada ou ilegal.”

A imigração ilegal tem sido uma das grandes preocupações dos países mais ricos que são
obrigados a controlar este tipo de imigração com leis rígidas e deportações sistemáticas.
Também são um problema para os próprios imigrantes que são obrigados a trabalhar sob
condições precárias, com rendimentos baixos e sem direito à protecção jurídica devido ao
seu estatuto social ilegal. São preocupação para os organismos de cariz filantrópico que
batem duro perante governos por achar que estes devem criar mecanismos para a sua
integração na sociedade de acolhimento e respeitá-los à luz dos Direitos Humanos.

1.2. Considerações teóricas

Ao longo da História, sempre existiram, com maior ou menor intensidade, os “movimentos


populacionais, em resposta ao crescimento demográfico, às alterações climáticas e às
necessidades económicas” (Castles, 2005). Na tentativa da compreensão deste fenómeno
social, têm concorrido vários ramos do saber (disciplinas), para buscar uma explicação
conjunta e melhor percepção do fenómeno.

Várias foram às teorias que procuraram explicar as migrações, porém, nenhuma teoria
completa ainda foi validada. Essa complexidade ao enunciar que as leis da população, e as
leis económicas não têm em geral o rigor das leis físicas.

Crispim (2003) salienta que as novas modalidades migratórias demandam, no cenário da


globalização, a necessidade de reavaliação de paradigmas, para o conhecimento e o
entendimento das migrações internacionais no mundo, bem como a própria definição do
fenómeno migratório devem ser revistos.

Albuquerque (2008) também destaca as várias formas como o tema migração tem sido
tratado na literatura científica por antropólogos, historiadores, demógrafos, sociólogos,
economistas, cientistas políticos e especialistas em direito. O autor ressalta a necessidade
de se desenvolverem trabalhos com maior interdisciplinaridade e destacam pontos nos

22
quais as questões e abordagens propostas por cada um destes ramos do conhecimento se
aproximam uns dos outros.

Percebemos, do acima exposto, que existe uma interdisciplinaridade na abordagem das


migrações, em que cada uma procura identificar-se com o seu objecto, tal como Baquero
(2005), ao referir-se sobre a problemática da migração, destacou que: A migração é um
problema demográfico: influencia a dimensão das populações na origem e no destino; é um
problema económico: muitas mudanças na população são devidas a desequilíbrios
económicos entre diferentes áreas; pode ser um problema político: tal é particularmente
verdade nas migrações internacionais, onde restrições e condicionantes são aplicadas
àqueles que pretendem atravessar uma fronteira política; envolve a antropologia e
psicologia social, no sentido em que o migrante está envolvido num processo de tomada de
decisão antes da partida, e porque a sua personalidade pode desempenhar um papel
importante no sucesso do processo.

As migrações são hoje tidas sob múltiplas explicações e sob diferentes variáveis. Crispim
(2003) afirma que as migrações constituem um problema demográfico, económico, político
e sociológico.

Durante muito tempo o estudo das migrações foi feito de maneira fragmentada. Cada ramo
das ciências procurou puxar para si a legitimidade explicativa dos fenómenos migratórios.
Os teóricos da economia tentavam explicar o fenómeno tendo como base as disparidades
de renda entre regiões; os cientistas sociais defendiam a tese segundo a qual as migrações
deviam ser vistas como fenómeno macro, onde o transnacionalismo e a teoria das redes
sociais ocupavam um lugar de destaque.

As migrações, como qualquer outro fenómeno social, não podem ser explicadas com
recurso a uma teoria isolada, mas sim como um fenómeno multidisciplinar e estrutural.
Para sociólogos como Malthus, Marx, Durkheim e Weber a emigração era o resultado do
desenvolvimento do capitalismo, expresso através do processo da industrialização e
urbanização. Este processo tinha levado a que as comunidades rurais se deslocassem às
grandes cidades à procura de emprego.

Baquero (2005), considerava a migração como consequência da superprodução; Marx


como resultado dos movimentos de cercamento – enclausures - que forçaram os

23
camponeses e pequenos proprietários para a migração em países como a Escócia, Irlanda e
França. Durkheim considerava as migrações como resultado da decadência das
comunidades tradicionais baseadas na solidariedade mecânica e a emergência de laços
baseados na solidariedade orgânica. Weber achava que a emigração era um factor incidente
que criava “novas classes sociais e grupos de status étnicos”.

Um número cada vez maior de teóricos das migrações tem em Ravenstein (citado por
Peixoto, 2004) o pioneiro dos estudos sobre migrações. Foi ele o primeiro a estudar os
movimentos migratórios na Inglaterra e, depois, em 20 outros países. Este estudo é
fundamentado por um quadro conceptual constituído pela discussão de teorias que foram
desenvolvidas para analisar as migrações internacionais nas suas diferentes dimensões.

No mundo de hoje em que as nações, as culturas, os povos e as fronteiras estão se cada vez
mais abrindo, o estudo das migrações aparecem como um dos temas aliciantes para os
académicos sociais. Daí que depois da Segunda Guerra Mundial surgiram muitos estudos a
analisar a movimentação das pessoas tanto dentro do seu território, como fora das suas
regiões de origem.

Estas movimentações foram categorizadas pelos estudiosos das migrações internacionais


de acordo com as motivações que obrigavam cidadãos a deixar os seus países. Desta feita,
surgiram muitas abordagens sobre as migrações como são as que passamos a descrever.
Esta multipolaridade de teorias tem como explicação a tese segundo a qual os fenómenos
sócio-económicos e as suas teorias explicativas nascem de acordo com os contextos do seu
tempo, são dinâmicos e flexíveis. As razões que no século XIX ditavam a mobilidade das
pessoas do campo para a cidade evoluíram.

Castiglioni (citado por Junior, 2016) aponta as migrações como um fenómeno complexo,
onde muitas das vezes as reflexões são diferentes, convergentes e divergentes.

É difícil encontrar uma teoria que fale somente das questões da migração ilegal. Mas
existem teorias que explicam o fenómeno das migrações em si. Como as teorias do sistema
mundo e selectividade dos imigrantes, e teorias micro-sociológicas.

24
1.2.1. Teorias do sistema mundo e selectividade dos imigrantes

As teorias que olham para os agentes migratórios como actores movidos por racionalidade
individual ao decidir partir ou não, encontraram muitos opositores entre os quais os
defensores de inspiração marxista da década de 70 do século XX.

As teorias do sistema mundo são de índole histórico-estruturalista e explicam como é que


as economias dos países capitalistas se relacionam com as dos países em vias de
desenvolvimento. A teoria do sistema mundo trás à superfície a tese de que as migrações
internacionais devem ser tratadas como um sistema mais amplo que articula dois extremos
opostos: os países emissores de migrantes e os de destino (receptores).

A abordagem histórica – estruturalista é o resultado da reorganização do sistema


económico mundial segundo a qual os países se incorporam de maneiras diferentes no
sistema económico global. Soares (citado por Peixoto, 2004) defende que: “a penetração de
regiões periféricas pelo capitalismo provocou desequilíbrios na estrutura sócio-económica
interna dessas regiões, ou seja, a emigração resulta de problemas internos que foram
induzidos pela expansão do sistema económico global.” Esta teoria defende que a
migração internacional é o resultado do sistema capitalista mundial, que cria um mercado
de trabalho global no qual os cidadãos que vivem nos países da periferia (países pobres)
tendem a imigrar para o centro (países desenvolvidos) à busca de melhores oportunidades
de emprego.

As migrações são entendidas como um processo de recrutamento da mão-de-obra barata


dos países com economias dependentes e frágeis para os países ricos. Os países pobres,
usando a terminologia marxista, criam “ um exército de reservas” que, quando necessário,
é drenado para os países industrializados devido a sua vulnerabilidade por não possuir
meios de produção.

Peixoto (2004:24) argumenta que estas teorias “provém tanto da economia como da
geografia: trata-se de análises que lidam explicitamente com a variável espaço e que
procuram enunciar os factores que levam a um desenvolvimento particular dos territórios.
Segundo estas correntes, existem mecanismos que levam a uma dada localização dos
estabelecimentos humanos em realidades de tipo urbano ou regional, central ou periférico,
e tanto em contextos nacionais como internacionais. Quer as teorias o admitam ou não

25
explicitamente, e esta, distribuição territorial que conduzirá, por sua vez, a movimentos
populacionais (migratórios) concretos.”

As teorias dos sistemas migratórios defendem que as migrações são o resultado de


contextos históricos particulares e possuem dinámicas específicas que lhes permitem ter
características de um sistema (Ibid; 2004: 27). O estudo de crimes e do desvio não se
restringe só à ciência do Direito. Existem outras áreas como a Bioantropologia, a Filosofia,
a Psicologia, a Sociologia e a Economia que lidam com esse fenómeno. O crime, é objecto
de análise da Sociologia desde Durkheim, quando foi tratado como um fenómeno social
“normal” e necessário por ele (Apud Junior, 2016, p.55).

1.2.2. Teoria dos sistemas migratórios, as redes sociais e o


transnacionalismo

A teoria dos sistemas migratórios engloba “a interacção das estruturas micro (papel das
relações sociais informais, da informação, do capital cultural das famílias e das
comunidades) com as estruturas macro (economia, política, relações internacionais, direito)
e as estruturas intermédias, ou meso, que actuam como intermediárias entre os migrantes e
as instituições políticas ou económicas” (Castles, 2005, p. 28).

Segundo Pimentel (2006), a teoria dos sistemas migratórios defende que os padrões de
fluxos migratórios entre países (e/ou grupos de países) são relativamente estáveis e tendem
a crescer com o decorrer do tempo, sendo necessário estudar, segundo Castles (2005),
ambos os extremos dos fluxos, bem como os relacionamentos existentes entre eles.

A literatura considera que estes movimentos se associam, regra geral, a laços previamente
existentes entre os países que enviam os migrantes e os que os recebem, não implicando,
necessariamente, uma proximidade geográfica entre eles. Tais laços podem ser, segundo
Castles (2005), de índole colonial, política, militar, comercial, de investimento, cultural ou
outros. O autor considera que os fluxos iniciais tendem a despoletar de acordo com um
factor exógeno, como o serviço militar, ou por movimentos pioneiros (normalmente
associados a jovens). Posteriormente, os padrões de deslocação repetem-se, com a ajuda de

26
quem já se encontra nos países de destino (papel das redes sociais, que seguidamente
apresentamos).

Em relação a teoria das redes sociais, Portes e Böröcz (citados por Pimentel, 2006) referem
que as migrações devem ser vistas segundo a teoria das redes sociais: um fenómeno de
construção de associações entre “pessoas ligadas por laços profissionais, familiares,
culturais ou afectivos” incluindo a comunidade que recebe o migrante.

Estas redes, diferentes entre si no tamanho (número de membros da rede) e dimensão


(número de relacionamentos entre eles), “reduzem os custos e os riscos da migração” (cf.
Peixoto, 2004, p. 53) e são uma fonte de informações importante para a tomada de decisão,
tornando o processo mais seguro e contribuindo para que as migrações, uma vez iniciadas,
se auto-sustentem, alimentadas por lobbies de apoio aos fluxos migratórios.

Para Massey et al. (1993) (citado por Peixoto), as redes são uma forma de capital social e
um importante elo de ligação entre os países emissores e receptores. O estado da arte
revela que é difícil para o estado de acolhimento restringir os fluxos migratórios quando
existe uma estrutura de redes sociais que os suportam e até os promovem.

O que se defende, neste caso, é que os migrantes não actuam isoladamente, nem no acto de
reflexão inicial, nem na realização dos percursos concretos, nem nas formas de integração
no destino. Eles estão inseridos em redes de conterrâneos, familiares ou, inclusivamente,
agentes promotores da imigração Durante o primeiro semestre do ano de 2015, registou –
se um aumento de 10% do fluxo de imigrantes comparativamente ao período homólogo de
2014, grande parte atravessaram o mar mediterrâneo e chegaram a Europa em condições
críticas.

A fuga de cérebro (brain drain) é outra consequência para as economias dos países de
origem, a mão de obra especializada ou técnica, uma vez que, os quadros procuram
paulatinamente países que ofereçam condições de vida aceitáveis e permita desenvolver as
qualidades técnicas.Para os países de destino, as consequências para além de serem
económicas tendem a alagar-se para outros sectores, concretamente o social.

Massey et al. citados por Peixoto (2005, p. 48), por sua vez, consideram ainda que as redes
sociais contribuem para aumentar a probabilidade de migração, com um progressivo

27
declínio do carácter selectivo dos migrantes. Consideram, porém, que esta probabilidade
aumenta apenas até um certo ponto, altura em que a propensão ao fluxo migratório começa
a decrescer, a partir de um certo limiar de desenvolvimento do país de origem.

Peixoto (2004) consideram decisivo o contributo da teoria das redes sociais para, através
da dinâmica do agregado familiar, combinar perspectivas micro e macro de estudo das
migrações, criando sinergias entre o processo micro de decisão por parte do indivíduo e, ao
nível macro, a panóplia de variáveis com as quais este interage no seu contexto de
actuação.

Para Massey et al. (1993) (citado por Peixoto, 2004), as redes são uma forma de capital
social e um importante elo de ligação entre os países emissores e receptores. O estado da
arte revela que é difícil para o estado de acolhimento restringir os fluxos migratórios
quando existe uma estrutura de redes sociais que os suportam e até os promovem.

Quanto ao transnacionalismo, é definido segundo alguns autores como um processo social


por onde os migrantes operam em áreas sociais que ultrapassam as fronteiras geográficas,
políticas e culturais (Sasaki e Assis, 2000).

Os migrantes passam a ser apelidados de transmigrantes quando desenvolvem e mantêm


múltiplas relações (familiares, sociais, económicas, organizacionais, políticas e religiosas)
que ampliam as fronteiras colocando, em inter-relação, o local e o global (Apud, Sasaki e
Assis 2000). Assim, o transnacionalismo emergiu da constatação de que os migrantes
mantêm laços de ligação com a sua terra natal. “A perspectiva baseada na nacionalidade
única deixou de ser apropriada num mundo em que os fluxos substituem os lugares”
(Castles, 2005, p. 90).

Dado o desenvolvimento dos meios de transporte e das novas tecnologias de informação,


os migrantes não são mais “enraizados”; em vez disso, movem-se num espaço
interfronteiras internacionais e entre culturas e sistemas sociais (Glick & Schiller, 1997;
Levit, 1998, citados por Sasaki e Assis), adoptando estratégias de vida (bi e ou multi-
nacionais e bi e ou multi-culturais), como reconhecimento de múltiplas afiliações e
identidades.

28
Estes migrantes incorporam não só as remessas económicas mas também as remessas
sociais para as suas terras de origem, impulsionando estas à mudança. Os migrantes no
mundo transnacional e global estão envolvidos na construção da nação de mais do que um
Estado. As entidades nacionais não são só ofuscadas, mas também negociadas ou
construídas (Pimentel, 2005, p. 40).

29
CAPÍTULO II. COMPONENTE HISTÓRICA SOBRE AS
MIGRAÇÕES

2.1. Fluxos migratórios no contexto global

Apesar de o tema da migração terem ganhado muito destaque nas últimas décadas, a sua
abordagem implica que estudemos o impacto sobre o desenvolvimento e vice-versa. Os
estudos existentes costumam centrar-se nos micro e macro efeitos, sendo que não se
verifica uma abordagem verdadeiramente abrangente. Embora alguns estudos abordem o
envolvimento da diáspora ao nível da comunidade, outros estudam o impacto das remessas
sobre as famílias, referindo apenas alguns exemplos.

A imigração em geral ocorre por motivos pessoais ou pela busca de melhores condições de
vida e de trabalho por parte dos que imigram, ou ainda para fugir de perseguições ou
discriminações por motivos religiosos ou políticos.

A história reza que a primeira grande dispersão migratória aconteceu nos tempos bíblicos,
foi àquela determinada por Deus quando do episódio da Torre de Babel: o Livro de Gênesis
(11:1-9) relata que os homens reuniram-se todos em um só local, para construir uma torre
cujo topo chegasse aos céus, a fim de que não fossem espalhados pela terra; Deus,
entretanto, confundiu a linguagem entre os homens, determinando que eles se dispersassem
pela terra. Assim, biblicamente, começa o povoamento da terra em sua extensão, após o
Grande Dilúvio, bem como a formação das diversas nações mundiais.

Para Vanessa Batista (2009) (citado por Lopes), a própria história da humanidade se
confunde com a história dos movimentos migratórios, que deram origem a todas as
nacionalidades e forjaram a identidade de cada nação ao longo dos tempos.
Foi o principal motivo dos movimentos migratórios ocorridos da Europa e da Ásia para as
Américas no século XIX e também no início do século XX (muito embora houvesse
também o interesse na entrada de imigrantes, por razões demográficas ou para o
"branqueamento" de sua população, por parte dos países de acolhimento). Esse processo
também pode ser incentivado por governos de países que queiram aumentar o tamanho
e/ou a qualificação de sua população como ainda faz, por exemplo, o Canadá e Austrália
desde o século XX.

30
O Artigo refere ainda, que no passado a migração teve lugar em variedade de
circunstâncias. Têm sido tribais, nacionais, internacionais, de classes ou individuais. As
suas causas têm sido políticas, económicas, religiosas, étnicas ou por mero amor à
aventura. As suas causas e resultados, são fundamentais para o estudo da etnologia, história
política ou social, e para a economia política.

Nas suas origens naturais, podem referir-se as migrações do Homo erectus, depois seguidas
das do Homo sapiens, saindo de África, através da Euroásia, sem dúvida, usando algumas
das rotas disponíveis, pelas terras, para o norte dos Himalaia, que se tornaram
posteriormente a Rota da Seda, e através do Estreito de Bering.

Segundo o Relatório de 2009 do Desenvolvimento Humano do Programa das Nações


Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), quase um bilhão de pessoas – ou uma em cada
sete pessoas no mundo – são migrantes, o que demonstra a actualidade da discussão sobre
a questão migratória. Esse panorama deve ser observado também sob a perspectiva da
actual recessão mundial e das restrições impostas à migração em razão de questões de
fundo económico. É de se ressaltar ainda que a tendência é aumentar a demanda de mão-
de-obra do imigrante, e que isso representa uma boa ocasião para se avançar nos debates e
reformas sobre as políticas de migração.

A migração forçada, tem sido um meio de controlo social, dentro de regimes autoritários,
mesmo sob livres iniciativas, é o mais poderoso factor, no meio social de um pais (e.g. o
crescimento da população urbana). Incluem-se neste caso as migrações pendulares
referidas abaixo e também as grandes imigrações, em que os migrantes se fixaram num
país diferente, trazendo sua cultura e adoptando a do país de acolhimento.

No contexto actual, a globalização fomenta as migrações, embora se tenha acelerado na


década de 70, com a liberação dos mercados mundiais, este fenómeno não é apenas
motivado por factores económicos; é um processo complexo, resultante de mudanças no
âmbito tecnológico, político, geopolítico, micro e macroeconómico e ideológico.

Para Vieira, a globalização ao facilitar, o desenvolvimento tecnológico e dos transportes,


propiciou o fluxo de pessoas entre os Estados, tanto por meio de movimentos
“pendulares”, nos quais os cidadãos vão e vêm de seus países, como por meio das
migrações internacionais, criou uma nova classe de indivíduos – os dos não nacionais.
Classe está que, muitas vezes, quer ser cidadã e participar da sua comunidade de
residência, sem renunciar a sua condição de cidadão da comunidade de origem.

31
Estudos recentes sobre as migrações apontam que uma boa parte dos imigrantes, que nos
dias de hoje mudam de país, continuam a manter práticas e redes de relações sociais que se
estendem entre o país de origem e o de destino, interligando-os na sua experiência
migratória. Trata-se de um “transnacionalismo” que transcende os conceitos de imigração
temporária e migração permanente.

A nível mundial, o fenómeno migratório assume uma relevância caracterizada


essencialmente, por um intenso agravamento das condições económicas em que vive a
maioria da população em todo o planeta. Hoje em dia, não existe no mundo nenhum país
que não tenha e está sendo afectado pela emigração internacional.

O século XXI é considerado o século das migrações, tornada uma das principais fontes de
preocupação, sobretudo devido ao aumento dos clandestinos. A migração é um fenómeno
que afecta cada vez mais a União Europeia. Casos há em que acontecem catástrofes na
tentativa de chegar ao velho continente Europa, é o último incidente ocorrido em
“Lampedusa”, onde cerca de 300 emigrantes africanos perderam a vida em naufrágios
ocorridos no Mediterrâneo entre a Líbia e Itália. Estes incidentes foram frequentes e nada
quase se faz para se acabar com estas perdas de vidas humanas.

Existem cerca de quatro a oito milhões de imigrantes ilegais na União Europeia. Tal
situação tem efeitos diversificados no mercado de trabalho, podendo distorcer os salários e
a concorrência nos países de destino.

2.1.1. A política imigrantista de alguns países

Cada país determina qual será a política utilizada para determinar os fluxos migratórios
para seus países, sendo atributo de soberania nacional determinar estas questões.

Actualmente o problema é muito discutido, e a emersão de grupos ligados à direita política


nos países que são os maiores destinos de imigração mundial, somada a factores como
crise económica, terrorismo e xenofobia, tem atingido também a questão das políticas
migratórias nacionais.

A discussão é de difícil consenso, vez que a imigração ora é indicada como elemento que
potencialmente poderá produzir o colapso das economias actualmente fortalecidas, ora é

32
apontada como solução para equilibrar sistemas previdenciários em vias de falência em
razão do envelhecimento populacional (Lopes, 2016, p. 24).

Para melhor compreensão do panorama mundial serão analisadas as políticas imigrantistas


adotadas em três locais: União Europeia e Estados Unidos, dois dos maiores polos
migratórios do mundo atual, e Brasil.

a) União Europeia:

Um dos destinos mais procurados pelos imigrantes dos países pobres é a União Europeia, o
que se dá principalmente em relação aos pobres do leste europeu e aos da vizinha África.
Constantemente os países que estão mais próximos ou que fazem fronteiras com estes
países de economia periférica buscam novas medidas de evitar a entrada de grandes levas
de imigrantes.

A Europa tem um sentimento paradoxal em relação aos imigrantes: ao mesmo tempo em


que a história recente demonstra que necessita deles, porque existem empregos que os
nacionais rejeitam (este panorama tem mudado depois da recente crise económica
mundial), e porque sua taxa de crescimento demográfico é muito lenta, com a população
média envelhecendo a cada ano, teme a presença dos estrangeiros em razão da sua
diversidade cultural, observada a visão etnocêntrica de mundo dos europeus, e também por
causa da concorrência que os estrangeiros impõem no mercado de trabalho, mormente nos
momentos de crise.

Para evitar uma invasão migratória, a Europa limita a entrada de imigrantes e também
limita os direitos sociais que são tributáveis a estes trabalhadores, o que vai de encontro
com as ideias de igualdade e isonomia que estão na base dos estudos de direitos humanos
(Junior, 2016).

Esse contexto paradoxal é bem traduzido por Amado (citado por Lopes, 2016), quando
analisa a questão sob a perspectiva dos espanhóis, que são vizinhos da África na passagem
do Estreito de Gibraltar. Argumenta esse autor que o povo europeu, ao mesmo tempo em
que vê o inimigo do outro lado do Estreito de Gibraltar, precisa importar dali a mão-de-
obra necessária, o que o faz abrir a porta à imigração.

Assim, o povo que presume ter direitos humanos que os identificam, e em cujo sistema tem
como fundamental a ideia de igual dignidade de cada ser humano e a proibição de
discriminação por qualquer razão de raça, religião, opinião, etc.; o povo que se identifica

33
como cultura precisamente pela filosofia desses direitos humanos da liberdade, igualdade e
solidariedade; esse mesmo povo nega aos imigrantes esses direitos, usando um argumento
similar ao antigo argumento que não os entenderiam, ou que não os desejariam, ou que não
saberiam aplicá-los, fazendo renascer das cinzas o mito do bárbaro, do escravo, do índio,
de todos aqueles que em seu tempo se disse que não poderiam ser tratados como eram
tratados os ocidentais não eram como os ocidentais.

Os Estados Unidos foram colonizados no período dos descobrimentos e sua população


inicial foi formada basicamente por imigrantes europeus. Trata-se, hoje, de um dos
principais destinos da migração globalizada.

Conforme Hobsbawm (citado por Lopes, 2016), Estados Unidos, Canadá e Austrália
receberam, juntos, quase 22 milhões de imigrantes provenientes de todas as partes do
mundo entre 1974 e 1998, total superior ao da grande era da imigração anterior a 1914 e
duas vezes maior que a taxa de influxo anual daquele período. Entre 1998 e 2001, esses
três países receberam um influxo de 3,6 milhões de pessoas.

Existe um consenso na declaração de que os Estados Unidos foram e continuam a ser o


grande país imigrante, havendo um constante crescimento da imigração para aquele país,
desde a Segunda Guerra Mundial: estima-se, na década de 80, um fluxo de 25 a 30 milhões
de imigrantes por ano, boa parte consistente em trabalhadores migrantes temporários, com
intenção de voltar para o país de origem (Pimentel, 2006).

Isso ocorre porque os Estados Unidos são um país fisicamente vasto, com uma das maiores
populações do mundo e que ainda está em crescimento devido a uma imigração quase
ilimitada (Pimentel, 2006).

Independente das péssimas condições que são enfrentadas por boa parte desses migrantes,
é certo que a fronteira México-Estados Unidos é a mais atravessada no mundo, por
trabalhadores em busca de melhores condições de vida. E a implantação do NAFTA
estimulou imediatamente essa onda migratória, embora a previsão fosse que seria um
aumento temporário.

A partir da década de 1980 iniciou-se também um fluxo migratório de brasileiros para os


Estados Unidos, principalmente de brasileiros oriundos do Estado de Minas Gerais.
Considerando as dificuldades de obtenção de visto consular, muitos brasileiros apostavam
na entrada clandestina pela fronteira com o México, o que levou o governo mexicano, por

34
pressão americana, a renovar a exigência de visto consular para os brasileiros, em outubro
de 2005, e que havia sido abolida em 2000. Estima-se que nesse período cerca de 40.000
clandestinos brasileiros entraram nos Estados Unidos pela fronteira mexicana (Lopes,
2016).

Uma das políticas migratórias dos Estados Unidos consiste no estabelecimento de um


sistema anual de quotas, correntemente mantido no nível de duzentos e setenta mil vistos
anuais, de acordo com as categorias preferenciais. Destas categorias, quatro são baseadas
em parentescos próximos com cidadãos estadunidenses, ou estrangeiros que vivem
permanentemente no país, e duas reservadas para os estrangeiros com propósito único de
conseguir emprego.

As diretrizes de imigração adoptadas pela política americana são excludentes, tratando a


imigração como questão de polícia. Essa perspectiva fica fisicamente evidenciada na
construção do muro de contenção visando evitar a imigração ilegal. O muro, de metal, tem
cinco metros de altura, e já foi edificado ao longo de um terço da sua fronteira com o
México. A respeito dessas políticas, Lopes (2009, p. 296) ressalta o seguinte:

Em 2006 foi aprovado novo orçamento para a construção de um muro


gigantesco na fronteira do México. Além da construção do muro, o
presidente Bush anunciou que pretende aumentar o efetivo da polícia de
fronteira em mais 9.000 pessoas (no início da administração Bush o
efetivo total era de 9.000 pessoas; em 2005, já era de 12.000, e a meta
seria 19.000 pessoas).

Segundo o autor, (p. 297-298), a política imigrantista americana conservadora e cada vez
mais restritiva foi potencializada pelos efeitos do atentado terrorista às Torres Gêmeas, em
11 de setembro de 2001, em Nova York. Em janeiro de 2003 foi criado o Department of
Homeland Security (que pode ser traduzido como Departamento de Segurança da Pátria),
com competência de prevenir e proteger o país contra o terrorismo, realizar os serviços de
imigração, concessão de vistos e patrulhamento de fronteiras. Isso vincula efectivamente
terroristas com imigrantes: ambos são tratados como ameaças potenciais (e aparentemente
igualmente letais) ao Estado americano.

A eleição de Barack Obama, com início de mandato em 2009, alterou, pelo menos em
parte, as políticas da Era Bush. O actual presidente americano, primeiro negro a ocupar a

35
Casa Branca, é filho de um imigrante com uma americana, e inclusive teve que provar que
nasceu em solo americano, através da exibição de sua certidão de nascimento em solo
havaiano. O presidente, enquanto candidato, já havia se mostrado favorável a projectos
como o DREAM ACT, projecto de lei que facilitava a regularização de permanência de
imigrantes que haviam chegado ainda menores de idade aos EUA e concluído o ensino
médio nos Estados Unidos, condicionado à falta de antecedentes criminais, graduação em
ensino superior e prestação de serviço militar, dentre outros requisitos.

Estes dois exemplos das políticas que cada Estado adopta, são mais que evidente que é um
imperativo necessário de modo a estabelecer balizas para a emigração que se assiste no
nosso país de concreto.

2.2. Alguns dados históricos dos movimentos migratórios em Angola

A história da humanidade mostra que as formações humanas (clãs, tribos, reinos impérios e
estados modernos) foram resultado de migração de povos. Assim torna-se impossível
encontrar povo, país ou região cuja população não tenha recebido influência de outras
comunidades ou sociedades. Este facto foi realidade em Angola onde se encontram povos
de diversas origens.

Em Angola tem-se registado diferentes fluxos e movimentos de população na sua


mobilidade e deslocação, em que devemos considerar e/ou caracteriza-la como migração
interna e externa. A migração interna é caracterizada pelo êxodo rural, foi acelerado pela
situação de guerra que empurrou a população nas grandes cidades principalmente na
capital Luanda. As migrações a nível externo, de dentro para fora como de fora para
dentro.

De uma forma genérica e resumida, podemos encarar as principais correntes externas de


migrações em Angola com diferentes vertentes. Em Angola encontramos testemunhas
muito antigo da população que aqui vivem, que fazem parte do fundo antigo do
povoamento angolano, que é composto por; Pigmeus na parte noroeste de Angola
(Cabinda), como referem alguns antropólogos e missionários. O sul do país habitado por

36
Khoisan (bosquimanos e hotentotes), vivem ao longo do rio Cunene, no município do
Quipungo (Huíla), são conhecidos aqui por Ovan-Mukuancela ou Kamussequele. Além
destes grupos temos a assinalar a existência dos Strand-Lopes, que ocupam uma estreita
faixa do deserto do Namibe, são também conhecidos por Vadios do Deserto.

Os Vátuas (grupo pré-bantu), cuja origem é ainda obscura, habitam, contudo, desde longa
data as margens do rio Curoca e uma estreita faixa do deserto do Namibe. Este grupo
étnico é constituído por Kuepe e Kuissi (Lopes, 2016).

A este respeito, Lopes (2009), afirma que, os primeiros povos que habitaram Angola teriam
sido os Khoi-san e, provavelmente, também os pigmeus ao norte que impelidos pelas
migrações bantu teriam se refugiado na floresta equatorial que coincide hoje com a
República do Gabão. Os Khoi-san compreendem os subgrupos “hotentotes” e
“bosquimanos”, os quais existem ainda hoje no Sul de Angola e que constituem no seu
conjunto um grupo de caçadores e recolectores, que habita uma estrita faixa costeira no
deserto do Namibe.
Segundo Theophile Obenga (1985) e, depois, Elikia M’bokolo (2003), citados por Lopes
(2016), declaram o seguinte: “as migrações de povos que, mas tarde, foram conhecidos
como bantu iniciaram nos princípios da nossa era tendo tido como ponto de partida o
médio vale do afluente do Níger, o Benue, ou algures na fronteira entre a Nigéria e os
Camarões”.
As migrações em referência foram provocadas por factores económicos, políticos ou
rivalidades étnicas, explosões demográficas e até mesmo por exigências climáticas.
Serrano (citado por Lopes) acrescenta que, os diferentes fluxos migratórios dos grupos
bantu, que chegaram a Angola em vagas sucessivas vieram, uns do norte, outros do leste
ou, ainda, do sul do continente africano. Destas diferentes correntes migratórias e da sua
adaptação às condições ambientais resultaram diferentes formações sociais, com vocações
económicas distintas.

Entre as múltiplas movimentações migratórias étnicas que do exterior atingiram o actual


território angolano, podemos assinalar: os Bakongo, os Ambundu, os Cokwé, os
Nhanneka-Khumbi, os Helelo ou Herero, os Ambó ou Ovambo, os Ovakwangali ou
Kwangares, os Ovimbundu, os Nganguela e os Oshindonga.

37
O tráfico de escravos foi outro factor que provocou um fluxo migratório, verificando-se
uma saída em massa de angolanos para a Europa, América e também para algumas ilhas de
África, deslocações internas devido à “caça” de escravos ao mesmo tempo em que se
verificou a presença de europeus, em particular portugueses, à medida que iam marcando a
sua presença, ocupação e participação activa no tráfico de escravos.

Vamos em seguida apresentar alguns factos que demonstram a influência do mesmo no


processo migratório em Angola nesta época. Com a chegada do navegador Diogo Cão e a
sua comitiva em 1482, na foz do rio Zaire, onde de regresso colocou o padrão de São Jorge
e o padrão de Santo Agostinho, no cabo de Santa Maria. Na sua segunda viaje em 1485, o
navegador atracou no porto de Mpinda, tendo enviado a embala do Rei do Congo seus
emissários. Nota-se nesta altura algumas relações de amizade, de cooperação e de certa
empatia entre os dois povos que, rapidamente caminharam para relações de subalternidade
e de tráfico de escravos.

O principal comércio praticado pelos portugueses no reino do Congo, do século XV ao


XVI, foi o tráfico de escravos. Com efeito, todos os portugueses residentes naquele
território, desde alfaiates, carpinteiros, pedreiros, professores e até missionários,
participavam neste negócio e solicitavam que os seus salários fossem pagos em escravos
(Grande enciclopédia Luso-brasileira, s/d).

Observa-se que neste período o escravo torna-se principal mercadoria, iniciando desta
forma a saída compulsiva de angolanos para o exterior, que numa primeira fase para além
de Portugal, direccionou-se também para São Tomé para trabalharem no cultivo da cana.

Na segunda metade do século XVI, quando os europeus começaram a colonizar a América,


os escravos saídos do reino Congo, passaram a ser levados para o Novo Mundo. Por volta
de 1940 saíam anualmente do Porto de Mpinda, no Congo, cerca de 1000 escravos. Em
1548 W.G.L. Randls calcula que neste ano a exportação anual do Congo devem ter sido da
ordem dos 6000 à 7000 (Lopes, p. 30).

38
Já em 1550, os portugueses transportavam cerca de 10.000 escravos para as plantações de
São Tomé e Brasil, sendo uma boa parte originária das regiões limítrofes do Reino do
Congo.
Segundo Jofre Amaral Nogueira (1955), citado por Lopes (2016), com a fundação da
capitania de Luanda são exportados a partir desta zona cerca de 9000 a 12000 escravos por
ano. Frederic Mauro (1989) referenciado por Lopes (2016), estimou que um ano após a
fundação dessa capitania eram exportados 14000 escravos anualmente.

Os números apontam para uma subida vertiginosa ano após anos, o que pressupõem que o
negócio do tráfico de escravos estava a dar lucros exorbitantes àqueles que o praticavam. O
aumento da quantidade implicava também a extensão do espaço, ou seja, implicou que os
traficantes se embrenhassem para o interior do país para obter escravos, obrigando mesmo
o uso da força (guerra), ficando mesmo conhecida pela guerra de kuata. Thorton (1998)
(citado por Lopes, 2016, deu a conhecer que “o impacto deste conflito foi tão profundo que
no final da campanha muitas aldeias encontravam-se despovoadas”.

Calcula-se que de 1680 até ao ano de 1836 cerca de dois milhões de escravos tenham sido
embarcados nos portos de Luanda e Benguela. Os números apontados não representam a
realidade do hediondo processo do tráfico de escravos uma vez que tomamos apenas
alguns anos e limitamo-nos apenas ao tráfico “legal” deixando de parte os números do
tráfico “ilegal”.
Apesar da limitação podemos concluir que nesta fase, fruto do tráfico de escravos, notou-
se um fluxo migratório que tendeu mais para a “imigração forçada” e a deslocações
internas para escapar do tráfico de escravos.

Depois das campanhas de ocupação e pacificação, Portugal inicia o período colonial


central, com a consolidação da administração colonial que se caracterizou essencialmente
com a política assimilacionista, que favorecia os colonos em detrimento dos colonizados.

É preciso mencionar, ainda, que a partir da fundação da capitania de Luanda por Paulo
Dias de Novais, em 1575, se intensificou a presença portuguesa em Angola, dando origem
o surgimento de grupos de origem europeia que, devido a colonização, descendem

39
sobretudo de portugueses de várias gerações e constituem uma população mais ou menos
dispersa em toda Angola concentrando-se nos centros urbanos.

Em Angola, o número de indivíduos brancos nunca chegou sequer a 1% da população,


entre 1920-1930 e nunca constituíram mais do que 5% dos habitantes (Zau, 2005, citado
por Lopes, 2016). Os portugueses mostraram-se relutantes em abrir as portas de Angola a
imigrantes não portugueses.

Os maiores grupos estrangeiros, que se estabeleceram em Angola, foram os Bóers e os


Alemães. Mas, a maior parte deles, já tinha saído de Angola no final da década de 30. Em
1928, quando começaram a regressar à África do Sul, correspondiam a 2 mil.

A população branca era sobretudo urbana e Portugal começa a incentivar esta imigração
branca com o intuito de reforçar o controlo político, aumentar a produção económica
colonial e expandir o mercado angolano. O nível de vida relativamente baixo em Portugal
e a alta taxa de desemprego eram factores suplementares para esse incentivo (Pimentel,
2006).

Para o povoamento branco da colónia de Angola, os portugueses recorreram aos


degredados, cujo número foi alterando-se a medida das necessidades colonias. De 1866 a
1874, Angola recebia anualmente 130 degredados.

Ao longo do povoamento branco em Angola, verificou-se a chegada de um número ínfimo


de mulheres, o que levou a miscigenação, resultando na existência de mestiços. No quadro
abaixo podemos ver a composição racial da população angolana no período de 1777 à 1970

A imigração data desde os milhares de anos com génese nos séculos XIX e XX. O
processo de descoberta de novos continentes e terras permitiu o homem tirar proveito de
tais situações. Depois da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) e com o processo da
Revolução Industrial conjugado com a necessidade de expansão económica dos sectores
como a Agricultura e a Indústria, a mão de obra passou a ser um factor imprescindível. O
processo de migração ganha contornos nunca antes vistos, iniciando a transferência da mão
de obra de um continente ou país para outro, na sua maioria, de forma obrigatória.

40
De acordo a Organização Internacional para as Migrações (OIM) considera-se migração o
movimento de população para o território de um Estado ou dentro do mesmo que abrange
todo movimento de pessoas, seja qual for o tamanho, sua composição ou causas; inclui a
migração de refugiados, pessoas deslocadas, pessoas desarraigadas, migrantes económicos.
Tal como relata o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
“aproximadamente 195 milhões de pessoas moram fora de seus países de origem, o
equivalente a 3% da população mundial, sendo que cerca de 60% desses imigrantes
residem em países ricos e industrializados. No entanto, em decorrência da estagnação
económica oriunda de alguns países desenvolvidos, estima-se que, 60% das migrações
ocorram entre países em desenvolvimento”.

O conflito e a insegurança que nos encontramos imbuídos ultimamente, têm originado uma
onda de imigrantes sem precedentes para diversos países da Europa, concretamente:
Espanha, França, Portugal, Itália e Grécia. Grande parte com origem em países em
conflito, nomeadamente: Líbia, Síria, Nigéria, Somália, Eritreia, Bangladesh e Marrocos e
outros países.

Em Angola são hoje cada vez mais visíveis os fluxos de imigração, depois de algum tempo
se ter caracterizado por um movimento contrário, o da saída em “massa” de população, isto
é, emigrar para outros países devidos essencialmente ao factor guerra. Uma vez terminada,
Angola é um país de destino de grande número de migrantes que aqui procuram colmatar
as dificuldades económicas, políticas e sociais com que vivem nos seus países de origem.

Neste contexto assiste-se de forma geral à chegada de um grande número de imigrantes de


diversos países de África, com principal realce nos países com instabilidade política,
económica e social, da Europa, com principal destaque para Portugal, da Ásia, com
principal destaque para a China e da América com principal destaque para o Brasil e Cuba.
Este último constituiu o foco da nossa investigação. A realidade acima descrita provoca nas
sociedades receptoras o multiculturalismo, em que as culturas influenciam-se e cada vez
mais existe uma clara necessidade de se compreender a diversidade e a pluralidade das
sociedades, bem como as representações sociais, entre outras repercussões.

41
2.2.1. Legislação migratória angolana

Apoiando-se em Baganha (2005), diz que, qualquer política migratória tem que começar
por resolver duas questões de natureza totalmente diversa, uma vez que uma é de ordem
quantitativa, isto é, quantos imigrantes deve o país receber, e a outra são de carácter
qualitativo, ou seja, qual deve ser o perfil dessas pessoas.

Como afirmam Sasaki e Assis (2000), a política a ser implementada depende da forma
como se tentar resolver estas duas questões, ou seja, depende do bem-estar que se pretende
promover – o dos nacionais, o dos imigrantes, o do resto do mundo, ou uma das possíveis
combinações destes três.

Não admira, assim, que a esmagadora maioria das forças políticas não defenda políticas
migratórias de porta aberta. De facto, os Estados, no exercício dos seus direitos de
soberania, definem políticas migratórias, mais ou menos restritivas, ao estabelecerem e
controlarem quem pode entrar e permanecer no seu território e, subsequentemente,
pertencer ao todo nacional.

No exercício destes direitos, os Estados promulgam e implementam legislação que visa


regulamentar os seguintes aspectos da relação cidadão estrangeiro/Estado nacional:
entrada, permanência, aquisição de nacionalidade e expulsão do território nacional
(Baganha, 2005).
Nesta conformidade em Angola, as legislações adaptadas, procuraram também preservar a
integridade nacional e respeitar os direitos fundamentais e de proteção aos imigrantes. Na
lei constitucional de 1992, no seu artigo 2º pode ler-se: “A República de Angola é um
Estado democrático de direito que tem como fundamentos a unidade nacional, a dignidade
da pessoa humana, o pluralismo de expressão e de organização política e o respeito e
garantia dos direitos e liberdades fundamentais do homem, quer como indivíduo, quer
como membro de grupos sociais organizados”.

No título II Direitos e Deveres Fundamentais, no seu Artigo 26°, garante a todo o cidadão
estrangeiro ou apátrida o direito de, pedir asilo em caso de perseguição por motivos
políticos, de acordo com as leis em vigor e os instrumentos internacionais. E no artigo 27º,

42
ponto 2 - Não é permitida a extradição de cidadãos estrangeiros por motivos políticos ou
por factos passíveis de condenação em pena de morte, segundo o direito do Estado
requisitante. (cf. Lei constitucional de 1992).

Como podemos depreender a lei constitucional de 1992, prevê a protecção dos imigrantes
e, em especial dos refugiados dando-lhes asilo, bem como a não recusa dos refugiados que
chegam. Na constituição de 2010, também estão patentes o direito aos estrangeiros e aos
refugiados, como pode-se ler no título II, direitos e deveres fundamentais no artigo 25.º,
ponto 1, os estrangeiros e apátridas gozam dos direitos, liberdades e garantias
fundamentais, bem como da protecção do Estado (cf. constituição de 2010).

Angola tem recentemente vindo a reconhecer a importância do crescimento económico


como um factor de atracção de migrantes internacionais e da necessidade de gerir fluxos
migratórios mistos de e a partir de Angola.

Neste sentido, uma nova Lei de Imigração, que regula a situação jurídica de estrangeiros
em Angola, foi adoptada pelo Parlamento. Par responder de forma específica a situação
migratória em Angola, foram-se criando vários diplomas legais, para regulamentar os
fluxos migratórios, nomeadamente: a Lei nº 8/90 de 26 de Maio sobre o Estatuto de
Refugiado em Angola; a Lei 2/94, de 14 de Janeiro sobre a impugnação dos actos
migratórios; o Decreto nº 5/95, sobre o emprego de trabalhadores estrangeiros não
residentes e de força de trabalho nacional qualificada no sector empresarial; o Decreto 3/00
de 14 de Janeiro da emissão de passaporte; o Decreto executivo nº 10/00, de 16 de Maio,
da orgânica do Serviço de Migração e Estrangeiros; o Decreto nº 06/01, de 19 de Janeiro
sobre o exercício da actividade profissional do trabalhador estrangeiro não residente; a Lei
nº 02/07 de 31 de Agosto que regula o regime jurídico de estrangeiros em Angola; o
Decreto Presidencial n.º 108/11 de 25 de Maio, Regulamento sobre o Regime Jurídico de
Estrangeiros; Angola pela Lei nº. 8/90, de 26 de Maio, aderiu à Convenção sobre o
Estatuto dos Refugiados de 1951, bem como ao Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados
de 1967 e à Convenção da OUA de 1969 sobre os Refugiados.

Assim no seu Capítulo I, estatuto do refugiado, verifica-se que adoptam a definição da


Convenção de 1951 e o protocolo de Nova York e a constante na convenção da OUA.

43
(Estatuto de Refugiado em Angola; 1990). Desta forma o estatuto procura responder às
demandas em torno dos refugiados que chegam ao país a fim de os acolher e de os
“integrar” de forma condigna.

A República de Angola desde a sua criação prestou uma especial atenção ao refugiado, no
concernente ao seu acolhimento, assistência e educação, albergando um número avultado
de refugiados não fazendo discriminação em relação aos seus nacionais.

O estrangeiro que reúna a condição de refugiado, conforme o artigo 1º da Lei n.º 8/90, Lei
sobre o Estatuto de Refugiado, que reclama protecção na fronteira da República de Angola,
não pode ser rejeitado, devolvido ou expulso nem objecto de outras medidas que obriguem
a permanecer ou regressar ao território de onde tenha tido lugar a ameaça contra a sua
segurança, desde que respeite a constituição e as Leis Angolanas, não se envolva na vida
política angolana e nem realize actividades que poderão fazer perigar ou prejudicar a
segurança nacional ou as relações de Angola com outros.

A medida que se vão aplicando os diplomas vigentes referentes a imigração ou de qualquer


outro diploma, dá-se conta que as regras de interpretação e aplicação das leis, sempre que
chamamos, têm permitido deficientemente responder às questões que são colocadas, posto
que o anterior diploma (Lei n.º 3/94), que regulava o regime jurídico dos estrangeiros, se
apresentava inadequado à actual situação política, social e económica.

Assim apresentamos alguns aspectos inovadores do novo diploma Lei n.º 2/07, sobre o
Regime Jurídico dos Estrangeiros em Angola, como abaixo se enumeram:

- Promoção da imigração legal em conformidade com as possibilidades e as necessidades


reais do país;
- Integração efectiva dos imigrantes na sociedade;
- Combate firme à imigração ilegal, sendo um quadro inovador. Neste sentido, a Lei n.º
2/07 surge, fruto da adaptação à realidade imanente a evolução do fenómeno migratório,
porquanto, contem matérias inovadoras, desde logo o alargamento da tipologia de vistos de
entrada, pois, criaram-se novos tipos (turismo, estudo, tratamento médico, privilegiado,
permanência temporária). A consagração legal dos vistos a serem concedidos em território

44
nacional e a possibilidade da transformação dos vistos consulares, bem como o
alargamento dos direitos e garantias a que os estrangeiros estão sujeitos, restringindo-se ao
máximo as disposições relativas as expulsões administrativas e privilegiando-se as
judiciais.

- Estabelece um regime sancionatório criminal adequado a prevenir e a reprimir os actos


ilícitos relacionados, por um lado, com a imigração clandestina e por outro, com a
exploração de mão-de-obra ilegal. Neste sentido, tipificou-se todo um conjunto de
condutas como criminosas, tais como, promoção e auxílio à entrada ilegal, utilização de
mão-de-obra ilegal, emprego de estrangeiro ilegal e a punição à comparticipação.

- O agravamento das multas no sentido de desencorajar a imigração ilegal. O artigo 3.º da


Lei que regula o regime jurídico dos estrangeiros na república de Angola, na sua actual
versão, subordinado a epígrafe “Princípios gerais”, dispõe, no seu n.º 1, o seguinte: O
cidadão estrangeiro que reside ou se encontre na República de Angola goza dos mesmos
direitos e garantias, estando sujeito aos mesmos deveres que os cidadãos angolanos, com
excepção dos direitos políticos e dos demais direitos e deveres expressamente reservados
por lei aos cidadãos angolanos.

- A entrada do estrangeiro em Angola deve ser efectuada, de acordo com a Lei n.º 2/07,
pelos postos de fronteira qualificados para o efeito, salvo algumas excepções estabelecidas
em acordos sobre a livre circulação de pessoas e bens de que Angola seja parte.

- Para que o estrangeiro entre em Angola em condições legais, deverá ser portador de
passaporte ou qualquer outro documento internacional de viagem permitido em Angola e
com validade superior a seis meses, possuir visto de entrada vigente e adequado à
finalidade da deslocação, possuir meios de subsistência de um montante de USD 200,00 ou
o valor equivalente em outra moeda conversível, por cada dia de permanência em Angola,
salvo se o estrangeiro provar, por meios idóneos, ter alimentação e alojamento assegurado
mediante declaração de responsabilidade assinada por um cidadão angolano ou cidadão
estrangeiro residente ou ainda, caso seja uma empresa a assumir a sua permanência, a
declaração de responsabilidade deverá ser assinada pela entidade máxima da empresa ou
instituição que convida. O cidadão estrangeiro deverá também ser titular do certificado

45
internacional de vacina e não deverá estar sujeito à proibição de entrada no território
nacional, nomeadamente: a) ter sido expulso do país há menos de cinco anos; b) ter sido
condenado em pena acessória de expulsão com trânsito em julgado; c) apresentar forte
indício de constituir uma ameaça para a ordem interna ou segurança nacional.

- Para dar sustentabilidade a Lei nº 2/07, foi aprovado o Decreto Presidencial n.º 108/11 de
25 de Maio, Regulamento sobre o Regime Jurídico de Estrangeiros em substituição do
Decreto n.º 48/94, de 25 de Novembro, que se apresentava inadequado ao actual Regime
Jurídico dos Estrangeiros na República de Angola, contendo disposições que,
eventualmente, já não se coadunavam com os princípios migratórios e os interesses
nacionais patentes na Lei n.º 2/07, de 31 de Agosto e considerando a conjugação e
clarificação dos princípios consagrados na referida Lei sobre o Regime Jurídico de
Estrangeiros e o alargamento da tipologia dos vistos de entrada, a consagração legal dos
vistos a serem concedidos em território nacional e a possibilidade da transformação dos
vistos consulares.

Constata-se algumas remodelações a fim de ajusta-la ao novo contexto. Assim pode ler-se
na nova lei, na sua parte introdutória o seguinte:
Porquanto o tempo transcorrido desde a entrada em vigor da lei nº 1312
“Lei de Migração”, de 20 de Setembro de 1976, assim como a experiência
adquirida em sua aplicação, aconselha a aperfeiçoar os regulamentos, com o
objectivo de garantir que os movimentos migratórios continuem realizando-
se de forma legal, ordenada e segura.
Porquanto o governo dos Estados Unidos de América, mantém um bloqueio ilegal
económico, comercial e financeiro contra nosso país, tem utilizado historicamente sua
política migratória contra Cuba com fins de hostilidade, subversão e desestabilização,
contra os interesses legítimos do nosso povo e da própria emigração cubana.

Nesta conformidade o Conselho de Estado no exercício das suas funções, conferidas na


constituição da Republica, resolve ditar o seguinte: Decreto-lei nº 302 modifica a Lei nº
1312, “Lei de migração” de 20 de Setembro de 1976, no seu Artigo nº 1, se modificam os
artigos 1, 2, 3, 9, 13, 14 e 15 da Lei nº 1312 de 1976. Em função da modificação da Lei de

46
migração, também se alteram e se adaptam os decretos-leis referentes à migração, como se
pode ver nas diversas disposições da presente Lei.

A nova lei, como era de esperar trouxe benefícios em vários aspectos, como por exemplo
no concernente a aquisição de passaporte (Decreto nº 305) ao tempo de permanência no
exterior, a concessão de visto de saída e entrada (Decreto nº 302), entre outras. Pode-se
notar também que permanecem algumas restrições ao pessoal médico, atletas de alta
competição e especialistas (Decreto nº 306).

2.2.2. Fenómeno da imigração ilegal em Angola

Todas as interacções humanas surjam elas entre duas pessoas ou entre dois grupos,
pressupõem representações. Na realidade, é isso que as caracteriza. “O fato central sobre as
interacções humanas, é que elas são acontecimentos e estão psicologicamente
representadas em cada um dos participantes” (Lopes, 2016).

Na verdade nós sabemos há muito tempo que a ciência antropológica advoga que, todo o
ser humano possui sua representação do mundo, que cada nação, cada esfera cultural
supranacional vive, por assim dizer, em outro mundo diferente daquele que se circunda e
nós sabemos que isto é assim para cada época histórica (Pimentel, 2006). Fruto dos fluxos
migratórios tem-se verificado um encontro de culturas em contextos socioculturais e
históricos determinados, o que tem gerado a criação de representações sociais, que em
seguida discutiremos.

Em qualquer estudo antropológico, cada individuo de acordo a sua realidade, convicções e


influências forma e/ou cria as suas representações. Segundo Vergani, (1995) (citado por
Pimentel, 2006), a cultura é um sistema de comportamento: “A cultura entendida como um
sistema de comportamentos socialmente (e não geneticamente) transmitidos apresenta-se
sob forma de herança de valores tradicionais que não só são produtos da acção humana,
mas que condicionam o desencadear de novas actividades sociais sujeitas a processos de
selecção ao longo da história”.

47
CAPITULO III. A PROBLEMÁTICA DA IMIGRAÇÃO
ILEGAL EM ANGOLA, CASO DOS SOMALIS

Os imigrantes somalis, fruto do seu contexto sociocultural têm uma forma de


comportamento, e quando entram em contacto com um novo contexto sociocultural,
reagem de acordo às convicções pré-existentes, ou seja, a pré-representação social que
possui do novo contexto social.

Portanto, a antropologia aqui serve também para analisar o quanto são importantes as
relações interculturais hoje, num mundo caracterizado pela globalização. As relações
interculturais ajudam de facto a eliminar preconceitos que poderiam constituir obstáculos
inclusive em processos laborais, o que poderia criar entraves no próprio processo de
desenvolvimento. As relações interculturais permitem a troca de experiencias, a circulação
de conhecimentos e técnicas que passam de uns para outros, contribuindo assim para um
mútuo enriquecimento, elemento fundamental para a própria evolução cultural e das
próprias sociedades.

Por outro lado, a criação de referências positivas em relação ao outro, facilita o próprio
enquadramento das pessoas no mundo global que, por sorte, hoje podemos encontrar
graças ao progresso dos meios de comunicação ou ao progresso dos meios de transporte.
Portanto, a multiculturalidade e em especial e as representações sociais constituem um
mundo vastíssimo que não conseguimos exaurir com este nosso trabalho. Muitos aspectos
ficaram por abordar e outros por aprofundar relativamente ao contributo da ciência
antropológica na compreensão meticulosa do fenómeno migratório.

3.1. A trajectória dos imigrantes somalis até Luanda

As fronteiras do Kénia, Moçambique e Congo são formas de se chegar a Angola. Bem,


constatou-se que os imigrantes somalis utilizam a rota dos grandes lagos até ao Congo,
como trajectória para chegar a Angola por fronteira marítima.

48
3.2. As estratégias de acomodação

Os somalis quando vêm para Angola, dificilmente se instalam em províncias onde não
podem tirar proveito. Por exemplo, instalam-se em províncias onde a prática de garimpo de
diamante prevalece, ou onde a prática comercial (Cantinas) é rentável. Nesse último caso,
Luanda é destino preferido, onde eles se albergam nas periferias, provavelmente para evitar
serem detetados pelos serviços de migração.

3.3. Respostas institucionais de gestão migratória

Não é por acaso que o estudo dos movimentos migratórios configura um objectivo legal
dos Serviços de Migração e Estrangeiros (SME) e a Policia de Guarda e Fronteira (PGF),
adstritas ao Ministério do Interior, a par com outros aspectos caracterizadores da sua
natureza, tais como o controlo da circulação de pessoas nas fronteiras e a permanência de
estrangeiros em território nacional.

A primeira estrutura (SME) é vocacionada ao controlo e registo dos estrangeiros no espaço


territorial é a segunda estrutura (PGF), ligada ao Comando Geral da Polícia Nacional,
criada à luz da Lei II/78, de 26 de Agosto, artigo I, do então Conselho da República,
assumindo-se como um organismo de âmbito nacional, cujo objectivo principal é exercer a
vigilância e protecção das fronteiras terrestre, marítima e fluviais da República de Angola.

Alguns actos produzidos pelo SME, tal como os vistos de trabalho e de residência, têm
natureza consular, o que significa que devem ser requeridos no país de origem e não em
Angola, a excepção daqueles casos de estrito interesse do Estado Angolano, por isso, a
compreensão de todos e a solidariedade institucional dos vários departamentos do
Governo, no sentido de exigirem que os seus parceiros estrangeiros procedam em
conformidade.

Em conformidade a estes aspectos aflorados, é difícil conceber a gestão do fenómeno


migratório, em especial no quadro dos somalis, sem uma percepção aprofundada desta
realidade, em todas as suas dimensões e vertentes. Só assim será possível assegurar uma
actuação assente no cumprimento da lei e no respeito integral pelos direitos e liberdades
fundamentais das pessoas, mormente no que se prende com a salvaguarda dos valores da
dignidade humana e da não discriminação.

49
3.4. O impacto da migração dos somalis no município do Sambizanga

O item ora levantado sobre o impacto da migração no Sambizanga, entende-se, porém, que
o interesse deste estudo para um melhor conhecimento do fenómeno da imigração no nosso
no município, designadamente caso dos somalis no Sambizanga, justifica plenamente a
cientificidade que o assunto impera, bem como a sua divulgação para além do círculo
académicos, mas também a comunidade afectada.

São, no entanto, várias as implicações da migração somali no Sambizanga, tanto é que na


vertente económica, muitos estrangeiros africanos ilegais, sua tendência e a usurpação do
comércio precário, ou seja, o pequeno comércio, isto é, tomam conta dos pequenos
negócios que deveriam ser área exclusiva dos nacionais. Sem ângulo de manobra, os
comerciantes angolanos cedem os respectivos alvarás comerciais aos estrangeiros.

Outra força destas empresas é a rede de distribuição que engaja gente da mesma cultura
sem se saber bem como cá estão. Nestas condições e não é por falta de capacidade dos
angolanos detentores de estabelecimentos rendem-se a evidência e trespassam a chave ou
sub alugam os mesmos.

Com consequência, os comerciantes angolanos estão a falir, o que os leva a ceder os


respectivos alvarás comerciais aos não nacionais. Uma prática à margem das normas que
regulam a actividade comercial. É notório também ver-se, a transformação de residências
em estabelecimentos comerciais em áreas impróprias para determinado tipo de comércio,
aliado à falta de instrumentos de segurança, como por exemplo, extintores de incêndios e à
existência de casas de banho inadequados para recintos comerciais é uma realidade, bem
como o desconhecimento das normas de segurança nos estabelecimentos comerciais, com
deficientes condições de segurança e com apenas uma porta de entrada saída é outra
realidade vivida.

Na vertente cultural, os estrangeiros normalmente trazem seus hábitos e costumes, que


diferem com os nossos que cria em certa medida algum embaraço, principalmente as
mulheres angolanas que com estes se relacionam amorosamente. Onde na sua maioria são
da cultura religiosa muçulmana que contrasta com a nossa de cristão. Isto é motivo de
muita discórdia nos relacionamentos, onde as mulheres são obrigadas a suportar e aturar
esta cultura.

50
3.5. Transferência monetária de imigrantes para o seu país de origem

A problemática das transferências monetárias dos imigrantes para a Somália, seu país de
origem é uma realidade. Dados não oficiais dos órgãos Policiais de controlo fronteiriço e
fiscalização aeroportuária, tem denunciado a apreensão de montantes volumosas de
dinheiro saírem do país, para destinos de origem dos imigrantes.

A vontade de enviar dinheiro para o seu país de origem é parte da razão para a migração. A
decisão para migrar não contempla, pelo menos numa fase inicial, um desejo de viver
permanentemente no país de destino, mas sim o desejo de melhorar as condições de vida
para os membros da família que ficaram para trás (efeitos microeconómicos) e, mais tarde,
voltar ao seu país de origem em condições económicas melhores, com possíveis efeitos
macro-económicos.

Muito recentemente esta problemática vem-se colocando também no centro das atenções,
no quadro da discussão relativa aos efeitos da migração no consumo e poupança; os
imigrantes somalis apresentam uma propensão acima da média dos nacionais para a
poupança e uma propensão abaixo da média dos nacionais para o consumo.

Castles (2005), afirma na sua obra «A era da informação: economia, sociedade e cultura»,
que a propensão à poupança do imigrante é resultado do seu projecto migratório, no qual as
remessas são um dos vectores que contribuem para a decisão de emigrar. O projecto de
migrar não concebe a ideia de instalação definitiva no país de destino, mas sim a de
melhorar o nível de vida dos familiares que ficam lá (efeitos microeconómicos) e mais
tarde permitir, ao voltar, uma instalação em condições económicas favoráveis, com efeitos
eventualmente macro-económicos.

O autor acrescenta referindo, que a elevada propensão à poupança segue esta lógica e,
nessa medida, não contribui necessariamente para um aumento do bem-estar no nosso país
porque implica a saída de capital. O imigrante passa a ter uma propensão à poupança mais
baixa, por várias razões. Por um lado, o reagrupamento familiar implica tanto menor
necessidade como menor possibilidade de envio de remessas, por outro lado, o imigrante
vai tendo necessidade de aumentar a despesa em bens duráveis não necessários para

51
estadias provisórias, mas imprescindíveis para uma instalação mais longa ou permanente.
O consumo aumenta, a poupança diminui e com isso também a possibilidade de envio de
remessas.

O conjunto, das transferências financeiras são contribuições, via migrantes temporários,


dos países receptores, ricos, aos países de origem, pobres, o que imprime às políticas
migratórias o carácter de políticas assistenciais. No cômputo dessas remessas não está
considerado o outro lado da balança, ou seja, o que foi investido nos países de origem em
seus cidadãos que se dirigem aos países ricos, nem a contribuição que estes realizam nos
países de destino, no tempo em que lá exercem suas actividades económicas,
frequentemente com remuneração baixa e aquém dos nativos que, ademais, desprezam
ocupações de pouco prestígio.

3.6. Os imigrantes somalis a segurança nacional

O sentido de migração está em trocar de região, país, estado ou até mesmo domicílio. É
algo que já acontece há muito tempo atrás, desde o começo da história da humanidade.
Migrar faz parte do direito de ir e vir, que consta nas constituições de quase todos os
países. Porém essa questão da imigração envolve muita polémica, que gira em torno das
condições em que ocorrem esses processos migratórios: se de um modo livre, que assim
está se exercendo este direito ou se de modo obrigatório, que tende a realizar interesses
políticos e económicos desumanos, visando sempre o capital, sendo algumas vezes
nacional e outras estrangeiro, marcando cada vez mais esse enorme abismo que existe entre
o mundo da riqueza e o mundo da pobreza.

A segurança dos Estados reside nas suas fronteiras, em África sobretudo, onde existem
muitos conflitos de vária ordem e nesta perspectiva o governo e a segurança do Estado, não
deve estar apenas interessados em saber apenas a origem dos conflitos e como estancá-los.
Por esta razão a ausência de controlo das autoridades nestas zonas, muitas pessoas mal-
intencionadas aproveitam-se da situação para realizar actividades pouco claras.

As grandes extensões de fronteiras de muitos países africanos facilitam a travessia de


ilegais, por isso, merecem uma atenção especial as forçam ali existentes que precisam de
melhores condições de trabalho fundamentalmente meios de transporte para o
patrulhamento marítimo, rodoviário e aéreo tendo em conta que actualmente realizam a sua

52
actividade de forma apeada. A semelhança de outras fronteiras, também ocorre muitos
casos de migrações ilegais e silenciosos. Cidadãos de outras nacionalidades estudam os
modos de actuação das fronteiras, o que constitui um perigo para a soberania dos países.

Podemos desta forma referir, que o nosso continente sendo rico em recursos naturais, a era
actual da globalização faz com que a imigração sofresse um declive acentuado, fazendo
com que houvesse imigrantes ilegais. Com o rompimento das fronteiras e a proliferação de
imigrantes uns fixam-se pela vertente procura de melhores condições de vida, outros
aproveitando-se do seu grau de experiência para desenvolver negócios observam áreas
férteis para tais práticas. É assim que muitos imigrantes procuram misturar-se com a
população do país em evidência e quando são inspeccionados exige-se a documentação
para o normal procedimento, o que para muitos é difícil de apresentar e, uns encontram a
facilidade ao partirem para o casamento comercial com uma companheira do país de
origem e fazem filhos com o objectivo de conseguir a nacionalidade e os seus intentos.

Esta realidade é também vivenciada nas fronteiras do nosso país, onde o número de
cidadãos estrangeiros tem vindo a aumentar de forma muito expressiva, em especial nos
anos mais recentes. Angola conta, assim, com um peso crescente de estrangeiros
residentes, os quais se inscrevem em diferentes fases do processo migratório.

Por estas e outras razões, ao se estabelecer um sistema de segurança, tem que ser sério na
tomada de medidas, uma vez que as fronteiras se forem bem fiscalizadas haverá certamente
garantias de segurança e estabilidade territorial. Apraz-nos referir que, o fenómeno põe
também em risco os pilares da organização do Estado angolano e os valores da sociedade.
A maioria dos cidadãos somalis que requerem asilo em Angola fazem-no com interesse no
exercício de actividades comerciais, garimpo e tráfico ilícito de diamantes, em
concorrência com a prática de outros tipos de crimes e comportamentos censuráveis. Isto
constitui uma verdadeira ameaça à paz, estabilidade político-económica, ao
desenvolvimento e a segurança nacional.

Resta no entanto, saber até que ponto esta crescente migração deixa de fazer sentido na
construção de uma política de segurança para os países, de modo que a segurança
relaciona-se com situações em que as sociedades descobrem uma ameaça em termos da
ordem e identidade pública; assim a que se combater a anarquia, o caos e a diferença,
abrigando os que pertencem a esse contexto o seu repatriamento.

53
3.7. Imigração dos somalis e a criminalidade

Na nova ordem mundial, sustentada por uma rede de relações internacionais complexa,
pela interdependência económica e ecológica e perante as ameaças das armas de destruição
maciça, os Estados-Nação tem sido forçados a reequacionar os seus papéis, assumido em
certas áreas estratégias comuns intergovernamentais, sobretudo na segunda metade do
século XX.

Não obstante, a segurança nacional continua a ser vista como uma atribuição fundamental
do Estado moderno, a quem, na tradição vestefaliana, continua a ser conferido o monopólio
do uso da força e o estabelecimento e manutenção da ordem e paz social. Compete-lhe em
todas as circunstâncias assegurar a integridade do território, proteger a população,
preservar os interesses nacionais contra ameaças e agressões.

A globalização alterou este quadro político-constitucional, por obrigar à transposição das


fronteiras do Estado-Nação e fragilizar as ligações robustas entre espaço e identidade
nacional. A circulação de pessoas e bens cria novas realidades e fenómenos sociais,
políticos e económicos, que levantam a questão da identidade nacional, agora múltipla, e
alteram a distinção entre segurança externa e interna.

Segundo Gomez, a percepção de insegurança aumenta com o carácter difuso e intangível


do conceito e com a dimensão dos volumes migratórios, que pode fazer com que partes da
sociedade de acolhimento associem o migrante a terrorismo, crime organizado e tráfico de
seres humanos. O autor, refere ainda que, o primeiro passa a ser visto em determinados
contextos como potencial ameaça ao Estado e à sociedade, muitas vezes identificado como
«mau cidadão», aquele que «não faz parte de nós», cuja entrada sem controlo e em larga
escala provocará alterações difíceis de prever.

A importância da percepção pública e da informação é assumida nos estudos realizados


pelas Nações Unidas, designadamente sobre muçulmanos e indivíduos de origem árabe. As
diferenças entre ameaças reais e construídas são classificáveis em três categorias:
refugiados e migrantes, imigrantes ilegais e terrorismo:

a) Refugiados e migrantes:

- Para as relações entre país de origem e de destino (sobretudo quando se opõem ao


regime do país de origem).

54
- Política ou de risco para a segurança do país de destino.
- Para a cultura dominante e identidade no país de destino.
- Problema social e económico para o país de destino (pressão nos sistemas).
- Manipulação contra o país de origem por parte do país ou sociedade de destino.

b) Imigrantes ilegais:

- Pressão do sistema económico e protecção social.


- Sobrevivência de máfias de tráfico de seres humanos.
- Relações complexas Sul-Norte, dada a sua origem, maioritariamente de zonas
politicamente instáveis.

c) Terroristas:

- Circulação de informação de grupos ideológicos, que mobilizam massas (grupos


excluídos económica e socialmente, segunda e terceira gerações de imigrantes).
- Dificuldade de controlar a circulação de pessoas suspeitas.

Acresce ao impacto potencialmente negativo destes grupos, a instabilidade social gerada


pela existência de minorias étnicas fortes no seio das fronteiras políticas, com dinâmicas
inter-regionais variáveis. Por isso, a análise da relação entre imigração e segurança permite
entender as várias situações em que os primeiros podem ser percepcionados como ameaça
potencial.

55
CAPÍTULO IV. TRABALHO DE CAMPO

4.1. Apresentação do trabalho de campo

Neste capítulo, foram apresentados seis (6) casos. Em cada, por questões éticas e de sigilo
profissional, o imigrante somali é identificado por duas siglas.

a) Caso I: J.C. é um jovem de nacionalidade somali de 35 anos de idade, solteiro, sem


antecedentes criminais no seu país, reside no bairro operário, onde trabalha há dois anos
numa pastelaria do tio, como balconista. Alega que por motivos sócio económicos e
políticos teve que abandonar o seu país, Somália, a fim de procurar melhorar a sua vida e
do resto da família que ficou lá (sic). Está a tentar regularizar a sua situação junto do SME,
Luanda, mas o processo é deveras burocrático. Inserido (...)

b) Caso II: B.S. é um homem de 47 anos de idade, casado. De nacionalidade somali que
vive no bairro operário desde 2010. É proprietário de quatro pastelarias em Luanda. Diz
estar bem legalizado em Angola, apesar de ser um processo muito moroso, mas, hoje está
mais tranquilo, e, consegue enviar com alguma regularidade o dinheiro para a sua família.
Há cerca de 9 meses, que está na empreitada de procurar formas de tratar da legalização
dos seus compatriotas. Questionado sobre os reais motivos da vinda dele e de muitos,
reagiu dizendo que, os factores que estão na base, são os mesmos, a procura de melhores
condições de vida, e, Angola tem inúmeras potencialidades, mas é necessário que todos se
envolvam, nacionais e estrangeiro a bem da nação angolana (…)

c) Caso III: T.M. é um homem de 45 anos de idade, solteiro, de nacionalidade somali, está
em Angola há 06 meses. Vive no bairro operário, mas tenciona mudar-se para o Zango,
pois lá existem muitos compatriotas e os negócios das fahitas e chamursas rendem mais lá,
entretanto, aqui no bairro operário se sente mais a vontade e seguro. Conseguiu arranjar
uma mulher angolana que, lhe dá mais suporte esperança de fazer dinheiro cá em Angola.

d) Caso IV: A.F, de nacionalidade somali, solteira de 24 anos de idade. Está em Angola
desde 2012, fixou-se no bairro operário, ajuda a sua mãe na comercialização de diversos
produtos numa cantina, sempre gostou de comércio a retalho, seu sonho é casar com um

56
jovem angolano e poder fixar residência e ser uma empresária cá em Angola. Quer dar
sequência da sua formação, mas encontra inúmeros entraves na regularização da sua
situação. Chegou ao país por intermédio de um barco rudimentar via RDC, mas, tem
conseguido se virar no que pode para regularizar a sua situação (…)

e) Caso V: O.M., divorciada de 49 anos de idade, de nacionalidade somalis, chegou a


Angola em 2009 de forma clandestina, todavia tem procurado manter a sua legalidade para
poder continuar a vender os seus produtos na cantina do bairro operário.

f) Caso VI: P.A, solteiro de 33 anos de idade, de nacionalidade somali, está em Angola
desde 2011 vive com seus pais, trabalha como gerente de um enorme armazém que
comercializa electro domésticos na zona Hoji ya Henda em Luanda. Diz estar muito bem
legalizado, e, tudo graças a mulher com quem vive maritalmente e dos seus pais. Já não
pensa regressar ao seu país, Somália, pois, Angola é um bom lugar para se viver (sic).

Quadro 1: Caracterização sócio demográfica dos seis (6) casos estudados

N Idade Sexo Habilitaç. Estado Ocup. Tempo Situação


Literárias Civil De Legal
Permanencia
JC 35 M Médio de Solteiro Comerciant 07 A 2 M Por
Contabilid e Regularizar.
BS 50 M Lic. Casado Gerente de 10 A6 M Regularizad
Gestão. Vendas a
T 35 M Lic. União de Téc/Informá 09 A 9 M Regularizad
M Gestão Facto tica a
AF 35 F Médio Casada Comercian 6A6 M Regularizad
Gestão
Contabilid
O 50 F Economist Casado Comerciant 09 Anos Por
M Regularizar
PA 33 M Médio de Solteiro Téc/ Frio 3 Anos Por
Contab. Regularizar

Como pode ser observado na tabela, em relação aos factores sócio demográficos, nota-se
que em relação a idade, três dos participantes, estão na faixa etária dos 35 anos, dois com
50 e um com 33 anos; a nível da escolaridade, 3 têm como habilitações literárias o ensino
superior em gestão e Economia, 3 têm o ensino médio concluído – (em Gestão e
Contabilidade).

57
Quanto ao Estado Civil, 03 são casados, 02 são solteiros e 01 que vive em união de facto;
em termos de profissão ou ocupação, de acordo o quadro, temos 04 indivíduos
comerciantes, um gerente de vendas e 01 técnico de frio.

No que diz respeito ao tempo que está em Angola, e, de acordo com a tabela, temos dois
(2) que estão no país há mais de nove anos, um que está a mais de dez anos, um que está a
mais de sete anos, um que está a mais de seis anos e por último um que está a mais de três
anos em Angola; relativamente à situação migratória, pode-se ver que 04 têm as suas
situações regularizadas, e, dois têm que regularizar quanto antes as suas situações
migratórias.

Quadro 2:Factores que determinam a imigração ilegal em Angola – caso dos somalis

Nomes Opinião dos Participantes


JC A migração ocorre geralmente por motivos pessoais ou pela busca de melhores
condições de vida e de trabalho (…).
BS A imigração ocorre para fugir de perseguições ou discriminações ligadas a
motivos religiosos ou políticos…

TM Actualmente, tornou-se e torna-se destino preferencial da migração,


principalmente africanos, motivados pelo crescimento da sua economia e para
uns por razões de segurança, isto é, populações que fogem de conflitos em seus
países
AF A vulnerabilidade das suas fronteiras é um factor muito importante.
OM Os países com melhores indicadores de bem-estar e oportunidades tornaram-se,
na sua quase totalidade, espaços de migração.
PA As oportunidades geradas pela globalização económica, os avanços das
comunicações e dos transportes e a difusão de informações sobre níveis
regionalmente diferenciados de qualidade de vida e bem-estar irão fazer
aumentar o volume de imigrantes.

Tendo em conta estes pressupostos, a migração ocorre geralmente por motivos pessoais ou
pela busca de melhores condições de vida e de trabalho, a imigração ocorre para fugir de
perseguições ou discriminações ligadas a motivos religiosos ou políticos. Actualmente,
tornou-se e torna-se destino preferencial da migração, principalmente africanos, somalis,
motivados pelo crescimento da sua economia e para uns por razões de segurança, isto é,

58
populações que fogem de conflitos em seus países. A vulnerabilidade das suas fronteiras é
um factor muito importante. Os países com melhores indicadores de bem-estar e
oportunidades tornaram-se, na sua quase totalidade, espaços de migração. As
oportunidades geradas pela globalização económica, os avanços das comunicações e dos
transportes e a difusão de informações sobre níveis regionalmente diferenciados de
qualidade de vida e bem-estar irão fazer aumentar o volume de imigrantes.

Quadro 3: Os factores que mais influem a morosidade da regularização da situação migratória


na perspectiva dos somalis em Angola

Nomes Opinião dos Participantes


JC A burocracia para atender a demanda
BS
A não aplicação de programas específicos e mais consistentes de idar com a
problemática da imigração ilegal
TM A não massificação das políticas de imigração no país actividades.
AF A não realização de intercambio permanente entre o Estado Angolano e os
Consulados, Embaixadas do nosso país;

OM A corrupção…

PA A falta de diálogo…

O quadro acima mostra-nos os factores que estão na base da morosidade no que diz
respeito a regularização dos estrangeiros no geral e em particulares somalis, que têm criado
muitos constrangimentos, na medida em que a falta de políticas, programas específicos e a
corrupção pode ter como consequências a médio e longo prazo instabilidade político e
social.

Quadro 4: Medidas que podem melhorar o processo da regularização da situação dos


somalis em Angola;

Entrevistas Opinião dos Participantes


JC Que os Serviços de Migração Estrangeiro (SME), que continuarem a
apostar no homem, de modo a que estes estejam preparados para os

59
desafios que a era da globalização impõe.
BC Uma política de avestruz apenas poderá contribuir para piorar o panorama.
TM As autoridades devem a aperfeiçoar permanentemente os mecanismos de
combate ao fenómeno, em virtude da longa fronteira terrestre e também da
sofisticação das redes;
AF Pela dimensão que hoje atingiu a migração ilegal em Angola e pelas suas
nefastas consequências, devem organizar colectivamente acordos bilaterais
ou multilaterais, fazer face ao fenómeno que anda associado a outros crimes
transnacionais, como o tráfico de seres humanos e de drogas e a lavagem de
dinheiro;
OM É preciso descentralizar os processos de vistos e afins para se evitar outras
infracções e irregularidades que se tem verificado.
PA Divulgar com mais vagar a política migratória, as cartilha e se faça
cumprir as normas…

Estas são as medidas que se forem aplicadas poderão melhorar o processo em causa, não só
para os migrantes em alusão, mas também os demais que se encontram nesta condição.

4.2. Análise e interpretação dos dados

Vimos no primeiro quadro que as idades dos entrevistados estão entre o os 35 e os 45 anos,
demonstrando assim uma grande aderência de pessoas mais adultas em Angola do que
pessoas mais jovens e/ou adolescentes. Significando, entretanto, que talvez não tenhamos
calhado com cidadãos mais novos na entrevista ou que talvez os mais jovens procuram
outros destinos em África ou Europa.

No segundo quadro podemos encarar que as pessoas têm opiniões muito variadas sobre o
que as leva virem para Angola. Isso pode se dever ao facto de cada um ter os seus próprios
objectivos na vida ou que cada foi afectado de maneira particular pelos problemas que
viveram no seu país. Explicações para esse caso podemos encontrar nas teorias do sistema
mundo e selectividade dos imigrantes.

CONCLUSÃO

A nossa pesquisa ajudou a constatar ainda o modo como o contacto e a troca de

60
experiências dos angolanos com os imigrantes somalis, exerce uma grande influência nos
valores, nas opiniões, no pensamento, o que permitiu a criação de uma nova mentalidade,
ideias muito positivas sobre o estrangeiro, os seus valores, o seu modo de vida, a sua
cultura. Tudo isto que podemos considerar, até certo ponto, uma reviravolta constitui para
os angolanos, grandes instrumentos que os ajudam a viver com imigrantes de outras
nacionalidades que acorrem para o país e em ambientes multiculturais. A pesquisa mostrou
que os contactos permanentes levam os angolanos a criarem uma certa simpatia pelos
valores de outros contextos culturais, com particular incidência para aqueles dos somalis.

Ao longo dos últimos anos, em função do fim do conflito civil e consequente instauração
do clima de paz, Angola tem vindo a conhecer uma nova realidade migratória. Deve-se
considerar que, se ao longo do conflito o fenómeno que se viveu foi o de emigração,
porque um elevado número de angolanos teve de abandonar o país, actualmente regista-se
o inverso.

Muitos estrangeiros somalis afluem para o país. Angola deixa assim o estatuto de um país
de emigração e passa para o estatuto de um país de imigração. De facto, e na condição de
um país de imigração, Angola regista um grande fluxo de imigrantes de diversas
nacionalidades.

Além destes, o país também vive grandes ondas de imigração da parte de cidadãos
provenientes de outras nações como China, Mauritânia, Rússia, Brasil, Portugal, Índia,
Mali, Líbano, Republica Democrática do Congo, Correa, para citar apenas alguns. Os
reflexos desta inversão (da emigração para a imigração) têm provocado grandes alterações
em termos de constituição da própria população angolana e consequentemente grandes
alterações nos próprios processos culturais do povo angolano e da própria sociedade
angolana, enquanto espaço de acolhimento.

Estas alterações que fazem de Angola hoje uma sociedade em transição para a
multiculturalidade, criam necessariamente as chamadas representações sociais seja da parte
dos imigrantes quanto da parte dos angolanos, que acolhem os imigrantes.

RECOMEDAÇÕES

As nossas sugestões têm que ver com algumas medidas se devem tomar para se evitar que

61
haja imigrantes somalis ilegais, e baseiam-se na entrevista que se fez com os imigrantes.

Em primeiro, lugar deve-se ter maior controlo nas fronteiras, tanto terrestres como
marítimas;

Que se capacite os polícias de fronteira com formação e meios técnicos para se registar
aquelas pessoas em situação de refugiados;

É preciso descentralizar os processos de vistos e afins para se evitar outras infracções e


irregularidades que se tem verificado;

Divulgar com mais vagas a política migratória, as cartilhas e se faça cumprir as normas.

62
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 ABRAHAMSSON, N, (1999) Moçambique em Transição – Um estudo da história


de desenvolvimento durante o período 1974 – 1992. Maputo, Padrigu/CEEI – ISRI.
 ALBUQUERQUE, R. (2008) Associativismo, Capital Social e Mobilidade:
Contributos para o Estudo da Participação Associativa de Descendentes de
Inigrantes Africanos Lusófonos em Portugal. Lisboa, Universidade Aberta (Tese de
Doutoramento em Sociologia – Especialidade Sociologia das Migrações).
 APOLLINÁRIO, Fábio (2004) Dicionário de Metodologia Científica: Um Guia
para a Produção do Conhecimento Científico. São Paulo, Editora Atlas S.A.
 BACKSTROM, Bárbara 2008 Metodologia das Ciências Sociais: Métodos
Quantitativos. Caderno de Apoio, Universidade Aberta
 BAGANHA, Luís Gonzaga Júnior (2005), Modelo cognitivo informacional de
suporte a decisão aplicado à gestão de bacias urbanas, Belém, 2005.
 BAQUERO, Raquel da Cunha (2005) Um estudo do capital social gerado a partir
de Redes Sociais no Orkut e nos Weblogs. In, Revista FAMECOS, Porto Alegre,
no.28, Dezembro 2005,quadrimestral.
 CAMACHO, Alfredo e Tavares, António (2014). O nosso dicionário, 1ª edição,
Plátano editora, Luanda.
 CARDOSO, Patrícia (2011). A Sociedade Internacional e os “ Estados Falidos”: o
combate à pirataria na costa da Somália. Brasíla, Centro Universitário de Brasília,
Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do curso de
bacharelato em Relações Internacionais no Centro Universitário de Brasília –
UniCEUB
 CASTRO, Marina Scotelaro de (2010) A instabilidade na Somália e a ineficácia
das intervenções internacionais. Texto informativo. Segurança
 CASTLES, Stephen (2005) Globalização, Transnacionalismo e Novos Fluxos
Migratórios dos Trabalhadores Convidados às Migrações Globais. Lisboa, Fim de
Século.
 CEMIRDE (2010) Relatório da Visita na Arquidiocese e ao Campo de Refugiados
em Maratane. Província de Nampula, Diocese de Nacala. CÓ,
 JOÃO,R. (2007) Os “limites” da racionalidade migratória guineense: redes,
capital social e determinantes sócio-culturais nas dinâmicas migratórias

63
contemporâneas. Centro de Investigação em Sociologia Económica e das
Organizações, Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade Técnica de
Lisboa.2004 “As associações das comunidades migrantes em Portugal e a sua
participação no desenvolvimento do país de origem: o caso guineense”.
 CRISPIM, Danilo (2003) Migrações e Seletividade: Principais Modelos e
Contribuições. Brasília, Universidade de Brasília, Departamento de Economia
 DA COSTA, Eduardo Augusto (2012) Pirataria na Somália: um novo (velho)
problema. Brasília, Universidade de Brasília Faculdade de Direito (Monografia
apresentada a Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB) como
requisito à obtenção do título de Bacharel em Direito)
 JUNIOR, Carlos Nogueira da Costa (2016). Crise Migratória na Europa em 2015 e
os limites da integração Europeia: uma abordagem multicausal, conjuntura global,
vol. 5, nº 1, Jan/Abril.
 LOPES, Aníbal Agostinho (2016). Migrações em Angola: preocupações acerca dos
fluxos ilegais Mestrado em Relações Internacionais e Estudos Europeus, Évora.
 SASAKI, Elisa Massae e Assis, Gláucia de Oliveira (2000). Teorias das migrações
Internacionais, Caxambu.
 PEIXOTO, João (2004). As teorias explicativas das migrações: teorias Micro e
Macro-sociológicas, Centro de investigação em sociologia económica e das
organizações, Universidade Técnica de Lisboa.
 PIMENTEL, Paula Cristina Teixeira (2006), Imigração e Identidade – Processos
que se cruzam, Universidade Aberta, Porto.
 ZASSALA, Carlinhos (2013) Iniciação a pesquisa científica, 2ª edição, Mayamba
editora, Luanda.
 Documentos
 Convenção de 1951 Relativa ao Estatuto dos Refugiados
 Convenção da Organização da Unidade Africana que Rege Aspectos Específicos
dos Problemas dos Refugiados em África
 Lei no. 21/91 de 31 de Dezembro, Assembleia da República de Angola
 Protocolo de 1967 Relativo ao Estatuto dos Refugiados
 Regulamento Sobre o Processo de Atribuição do Estatuto de Refugiado na
República de Angola.
 Regulamento Interno do Instituto Nacional de Apoio aos Refugiados.

64

S-ar putea să vă placă și