V SRST – SEMINÁRIO DE REDES E SISTEMAS DE TELECOMUNICAÇÕES

INSTITUTO NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES – INATEL

ISSN 2358-1913
SETEMBRO DE 2016

Metamateriais e Aplicações em
Telecomunicações
Achiles Fontana da Mota1, Arismar Cerqueira Sodré Junior2

aplicações de interesse científico e tecnológico, como sensores

Abstract—Metamaterials are artificially designed in order to
provide electromagnetic proprieties not found in nature. As a
consequence, metamaterials have been shown very attractive for
many areas. This article is focused on the applicability of
metamaterials in telecommunications, including analog signal
processing and antennas. The state of the art is first presented,
followed by the metamaterials mathematical. Finally, two
applications are proposed, namely: an approach capable of
temporally compress a 5 ns Gaussian chirped pulse by a factor of
50%; a metamaterial-based antenna design.
Index Terms—Antennas, dispersion and metamaterials.
Resumo— Os metamateriais são materiais artificialmente
criados de forma a terem características eletromagnéticas
particulares não encontradas na natureza. Devido a esta
propriedade estes materiais têm sido explorados na literatura
para aplicações em telecomunicações. Este trabalho tem por
objetivo demonstrar algumas dessas aplicações (aplicação de
processamento analógico de sinais e de antenas), e mostrar como
esses materiais podem aumentar a eficiência desses processos. A
introdução apresenta uma fundamentação teórica sobre os
metamateriais, seguida pelo formalismo matemático necessário
para a caracterização eletromagnética desses meios. Em sequência
será apresentado um método, utilizando metamateriais capaz de
comprimir temporalmente pulsos chirpados na faixa de micro-
ondas em até 50%. Para finalizar será demonstrado como os
metamateriais podem ser utilizados no projeto de antenas.
Palavras chave— Antenas, dispersão e metamateriais.
I. INTRODUÇÃO
O advento dos metamateriais proporcionou o surgimento de
um novo paradigma no desenvolvimento de dispositivos
eletromagnéticos. Isso porque essa classe de materiais,
constituída por "átomos" macroscópicos, permite que suas
características elétricas e magnéticas sejam manipuladas pela
simples escolha da geometria de sua célula unitária [1]. Por
conta disso, os metamateriais vêm sendo intensamente
pesquisados nos mais diversos centros de pesquisa no mundo
[1]–[4]. Essa facilidade na manipulação de suas propriedades
elétricas faz com que esses meios sejam utilizados em diversas
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Nacional de
Telecomunicações, como parte dos requisitos para a obtenção do Certificado
de Pós-Graduação em Engenharia de Redes e Sistemas de Telecomunicações.
Orientador: Prof. Dr. Arismar Cerqueira Sodré Junior. Trabalho aprovado em
06/2016.
[5], antenas [6], lentes [7], [8], e mantos de invisibilidade
eletromagnética [9], [10]. Porém, a principal característica que
chamou a atenção dos pesquisadores nestes últimos anos foi a
possibilidade de se criar materiais que apresentem índice de
refração (n) negativo. Para que um apresente este
comportamento, é necessário que a permissividade (ε) e a
permeabilidade (µ) apresentem valores negativos [1].
A intenção de se manipular materiais convencionais para
obtenção de propriedades eletromagnéticas desejadas pode ser
vista desde 1948, quando W. E. Kock organizou
periodicamente um conjunto de lentes para manipular o índice
de refração do meio [11]. Posteriormente, G. H. B. Thompson,
mostrou que é possível obter ε<0 utilizando um arranjo
periódico de ferritas [12].
O trabalho com metamateriais foi deixado de lado por
várias décadas devido às dificuldades em se obter materiais
com essas características, até que em 2000, J. B. Pendry
mostrou teoricamente que era possível se criar lentes perfeitas
utilizando materiais que apresentem índice de refração
negativo [7]. A partir disso, os metamateriais se tornaram um
assunto emergente no cenário mundial, dando início a uma
nova e promissora tecnologia.
Atualmente, os metamateriais são criados a partir de células
unitárias que apresentam seu tamanho muito menor que o
comprimento de onda no espaço livre (λ0). Fazendo uma
analogia com materiais convencionais, que são constituídos de
átomo, o comprimento de onda no visível é muito maior que o
tamanho de um átomo, por isso a onda eletromagnética “vê”
esse material como homogêneo. Sendo assim, a resposta de um
átomo isolado não interessa, e sim o comportamento do meio
como um todo. O mesmo raciocínio pode ser utilizado no
conceito de metamateriais. Se forem criados estruturas
periódicas, cujo o tamanho de uma célula unitária é muito
menor que o comprimento de onda, o meio irá se comportar
como um meio homogêneo para aquele comprimento de onda
[1]. A Fig. 1 mostra como um arranjo de células unitárias pode
representar um conjunto atômico e se comportar como um
meio homogêneo.

Fig. 1. Arrajo atômico e arranjo de células Unitárias que compõe o
metamaterial. Fonte: [13].
Na literatura são encontrados diversos modelos de células
unitárias que permitem a criação de meio com índice de
refração negativo [14-19]. Todos estes trabalhos possuem em
comum que o meio apresenta ε e µ menores do que zero. Para
que a permissividade seja menor que zero, é necessário que os
elétrons possam se movimentar livremente em determinada
direção. Já para projetar um meio com permeabilidade
negativa é necessário que se tenha um circuito ressoador, e que
o campo magnético excite correntes nesses circuitos de forma
a fazê-lo ressoar. Utilizando conjuntamente as técnicas, ambos
ε e µ apresentam parte real menor que zero, fazendo com que o
meio se comporte com n<0. A célula Omega por exemplo
(ilustrada na Fig. 2) quando arranjada periodicamente se
comporta como um meio com índice de refração negativa. Esta
célula se comporta com índice de refração negativo pois as
hastes desta célula permitem a movimentação livre dos
elétrons (ε<0) e por ser metálica, o circuito equivalente desta
célula é um RLC (a indutância e a resistência é gerada pela
própria trilha de cobre e a capacitância é gerada pelo gap entre
as 2 hastes), gerando µ<0.
Fig. 2. Celula Omega [13].
Os metamateriais com índice de refração negativo
apresentam propriedades físicas nunca antes observadas na
literatura, e por essa razão se tornou importante nas pesquisas
[2],[20],[21]. Uma das principais características de tais meios
é a inversão da direção do vetor de onda ( ). Em meios
convencionais (double positive - DPS) é paralelo ao vetor de
Poynting ( ), entretanto metamateriais com n<0, é chirpados [28-32]. Em [33], os autores propuseram um arranjo
antiparalelo a . Essa propriedade pode ser observada na Fig.
3, onde tem-se a orientação dos campos para uma onda
propagando em um meio DPS e na Fig. 3 (b) para um meio
com n<0.
Outro importante efeito desses materiais é a inversão da Lei
de Snell. Quando uma frente de onda plana se depara com uma
interface DPS/metamaterial, o ângulo que a onda se propaga
no meio com n<0 é negativo, caracterizando a inversão da lei
de Snell. Essa propriedade pode ser utilizada para lentes, pois
estes materiais podem focalizar um dipolo novamente em um
ponto quando se depara com esta interface, como é
apresentado na Fig. 4 (a). A Fig. 4 (b) ilustra a inversão do
ângulo de Snell.
Fig. 3. Orientação dos campos, do vetor de onda e do vetor de Poynting para
(a) meios DPS e (b) meios com n<0 [13].
Fig. 4 a) Direção dos vetores e em uma interface DPS/metamaterial. b)
Ângulo de propagação negativo em uma interface DPS/metamaterial [13].
Além da inversão da lei de Snell, também foi constatado a
inversão da radiação de Cherenkov [22], a inversão do efeito
Doppler [23]. Estas são alguma propriedade físicas que é
possível se obter utilizando metamateriais, porém neste
trabalho pretendemos demonstrar algumas aplicações dos
metamateriais para resolução de problemas de engenharia.
Como será visto na próxima seção, o comportamento
eletromagnético dos metamateriais é altamente dependente da
frequência, significando que estes materiais são altamente
dispersivos [16], [24]–[26]. Existem algumas aplicações que
fazem com que esta propriedade seja prejudicial, como por
exemplo em aplicações que exijam banda larga. Entretanto, a
alta dispersão destes materiais também pode ser utilizada com
sucesso para outras aplicações, como por exemplo a realização
de processamento analógico de sinais (PAS) [27]. Nós estamos
na era onde o processamento digital (PDS) de sinais está muito
avançado, porém eles não apresentam desempenho muito bom
na faixa de micro-ondas [27]. Nessa faixa de frequência, a taxa
de amostragem para se realizar o processamento deve ser
muito alta, limitando o funcionamento de alguns equipamentos
digitais, o que torna os PAS’s uma boa alternativa em relação
aos PDS’s. Na literatura, é possível observar a utilização de
metamateriais para realizar a compressão temporal de pulsos
de metamateriais capazes de realizar compressão temporal de
pulsos de micro-ondas em até 50%, além de demonstrarem a
compensação de dispersão que estes meios podem apresentar.
Este artigo será mais explorado na sessão III deste trabalho.
Os metamateriais também têm sido vastamente utilizado
para melhorar o desempenho de antenas [34-39]. Eles são
utilizados para melhorar algumas características básicas de
antenas, como a diretividade, a largura de banda, a eficiência,
entre outros. Na sessão IV será apresentado um projeto de uma
patch antena baseada em metamaterial. Neste projeto será
apresentado as características básicas desta antena.
O objetivo deste trabalho é mostrar como os metamateriais
podem ser utilizados para a aplicações em telecomunicações.
Para isso, é apresentado primeiramente uma aplicação em
PAS, onde será realizada a compressão temporal de pulsos.
Outra aplicação é na área de antenas, onde será apresentado
um projeto de uma antena baseada em estruturas
metamateriais.
Sendo assim, a organização deste trabalho de conclusão de
curso é feita da seguinte forma: na sessão II será apresentado o
todo o formalismo matemático do método utilizado para
realizar a extração dos parâmetros eletromagnéticos dos
metamateriais periódicos, na sessão III será mostrado como a
dispersão dos metamateriais pode ser utilizada no
processamento analógico de sinais, na sessão IV será
apresentado o projeto de uma antena com aplicações em
micro-ondas e as conclusões deste trabalho serão apresentadas
na sessão V.
II. EXTRAÇÃO DE PARÂMETROS DOS METAMATERIAIS
Como explicado anteriormente, os metamateriais são
estruturas que possuem propriedades eletromagnéticas não
encontradas na natureza. Sendo assim, é muito importante que
se tenha um método para extrair as propriedades destes meios.
Devido à complexidade das células, essa extração é realizada
por meio de métodos numéricos. Para isso, é preciso
considerar que o metamaterial, conforme ilustra a Fig. 5 (a),
tenha um comportamento eletromagnético semelhante a um
slab homogêneo com de espessura t, ilustrado na Fig. 5 (b).
Portanto, espera-se que ambos meios produzam os mesmos
parâmetros de espalhamento (parâmetros S) quando uma frente
de onda plana é incidida sobre o material. Nesta sessão, o
método para extrair as características eletromagnéticas do
metamaterial por meio dos parâmetros de espalhamento será
apresentado.
Fig. 5. a) Estrutura metamaterial e (b) o equivalente eletromagnético deste
meio.
O processo de extração de parâmetros ocorre em 2 etapas.
Primeiramente é necessário obter-se numericamente, como por
exemplo utilizando o método dos elementos finitos, os
parâmetros de espalhamento gerados pelo metamaterial. Em
seguida utiliza-se as equações que serão deduzidas nesta
sessão para se determinar ε e µ.
A. Parâmetros de Espalhamento de um Slab homogêneo
Existem na literatura diversos formalismos para se calcular
os parâmetros de espalhamento de um slab homogêneo com
permissividade ε e permeabilidade µ. Neste trabalho utiliza-se
um método onde primeiramente é necessário calcular os
coeficientes de transmissão (T) e reflexão (R) de uma interface
ar-meio homogêneo. Considerando uma onda incidente,
ilustrada na Fig. 5 (b), denotada pelo sub índice i), quando
incidida em uma interface, parte da onda é refletida, conforme
ilustra a Fig. 5 (b), denotada pelo super índice r e parte é
transmitida para dentro do meio, ilustrado na Fig. 5 (b),
denotada pelo sub índice t. Para este procedimento considera-
se a incidência normal de uma onda TEM, com campo elétrico
( ) no eixo x, campo magnético ( ) no eixo y e a propagação
no eixo z. Sendo assim, pode-se escrever a equação de onda
em função do campo elétrico, dada por
(1)
onde k0 é a constante de propagação no vácuo. A solução para
esse sistema considerando a propagação no sentido positivo de
z é dada pela equação
(2)
onde β é a constante de propagação de onda no meio
homogêneo. Substituindo (2) em (1), tem-se que
(3)
onde n é o índice de refração do meio homogêneo. Com essa
relação, e utilizando as equações de Maxwell [20], pode-se
escrever os campos elétricos e magnéticos das ondas
incidentes, refletidas e transmitidas exatamente na interface ar-
meio homogêneo, dado pelas equações
, (4)
onde η0 é a impedância do vácuo (aproximadamente 377 Ω), e
η é impedância do meio homogêneo, . Conhecendo
os campos tangenciais à interface, basta aplicar a condição de
contorno para obter os coeficientes de transmissão e reflexão
desta interface, representados matematicamente por

(5)
(6)
Uma vez que são conhecidos R e T, os parâmetros de
espalhamento (S11 e S21) de um slab homogêneo com espessura
t pode ser calculado utilizando as equações [20]
(7)
(8)
B. Extração dos parâmetros do meio a partir dos
parâmetros de espalhamento
Neste ponto, os parâmetros de espalhamento do
metamaterial obtidos via simulação eletromagnética e as do
meio homogêneo, ilustrada na Fig. 5 (b), obtidas pelas
equações (7) e (8) já foram calculadas. Sendo assim, para se
obter os parâmetros constitutivos do metamaterial, é
necessário resolver (7) e (8) em função de η e β. Por isso,
invertendo (7) e (8), tem-se
(9)
(10)
onde o sinal de (9) é escolhido de forma que Re{η}>0, para
garantir o princípio da casualidade do meio [26], e l é um
número inteiro que pode ser obtido utilizando o Phase
Unwrapping Method [26]. Por fim, basta calcular a
permissividade e a permeabilidade do meio utilizando as
expressões
(11)
(12)
O método de extração de parâmetros de um metamaterial
pode ser sintetizado pelas etapas:
1) Extrai-se os parâmetros de espalhamento da célula
metamaterial desejada utilizando softwares comerciais,
tais como o HFSS, Lumerical FDTD, CST entre outros;
2) Com os parâmetros de espalhamento, utiliza-se (9) e (10)
para calcular o índice de refração e a impedância do
meio;
3) Por fim, utiliza-se (11) e (12) para se calcular a
permissividade e a permeabilidade do meio.
III. ANÁLISE DE DISPERSÃO EM METAMTERIAIS
Como visto na seção anterior, os parâmetros intrínsecos dos
metamateriais (ε e µ) são altamente dependentes da frequência,
consequentemente, os metamateriais apresentam uma elevada
dispersão. Meios dispersivos são normalmente vistos como
meios desafiadores aos sistemas de telecomunicações,
principalmente quando se realiza a análise de propagação de
pulsos. Entretanto, existem cenários em que a dispersão pode
ser utilizada como um artefato benéfico ao pulso, como por
exemplo, utilização em PAS [28]–[32]. Entre as aplicações do
PAS, pode-se destacar: a compensação de dispersão e a
compressão temporal de pulsos. Neste trabalho será realizado
uma análise do artigo [33], no qual o autor demonstrou que é
possível a compressão temporal de pulsos eletromagnéticos
utilizando metamateriais dispersivos.
Como ε e µ são dependentes da frequência, observando (11)
e (12) fica claro que o índice de refração n também será
dependente da frequência. Esta dependência é crucial para a
propagação de pulsos, pois em meios dispersivos,
componentes espectrais viajam com velocidades diferentes,
fazendo com que o pulso se deforme durante a propagação.
Este fenômeno é chamado de dispersão cromática [40].
Matematicamente, pode-se escrever a dispersão D por meio da
equação [40]
(13)
Quando D>0 (regime de dispersão anômala), as
componentes espectrais de maior frequência viajam mais
rápido que as de baixa frequência. O oposto ocorre quando
D<0 (regime de dispersão normal) [40]. Um método simples
para compensar a dispersão, é realocar temporalmente as
componentes espectrais no pulso. Ou seja, colocar as
componentes espectrais mais lentas na borda dianteira do
pulso, e as mais rápidas na borda traseira do pulso. Isto pode
ser feito por meio de uma simples modulação em frequência
do pulso no tempo, conhecido como chirp. Matematicamente,
pode-se descrever um pulso gaussiano chirpado (U(t)) com
largura de meia potência TFWHM, frequência da portadora fp e o
fator de chirp C pela equação
(14)
Em (14), quando C >0, as componentes de menor
frequência se deslocam temporalmente para a borda dianteira
do pulso, e o oposto ocorre quando C<0. Como o chirp é uma
modulação de frequência, quando |C| aumenta, o espectro do
pulso também aumenta, porém o envelope temporal do pulso
permanece o mesmo [40].
Existem na literatura inúmeras células capazes de se obter
índice de refração negativo [14]–[19], porém o autor escolheu
trabalhar com a célula Ômega com a configuração e geometria
ilustrada na Fig. 6.
Fig. 6. Céulula Omega [33].
Para que esta célula se comporte como um metamaterial
com índice de refração negativo, é necessário que o campo
elétrico esteja orientado paralelo as hastes do Ômega (eixo z) e
o campo magnético normal ao substrato (eixo y). Sendo assim,
a direção de propagação da onda será na direção x. O substrato
utilizado foi a alumina (εr=9.2 + 0.012i), e as células possuem
periodicidade de 5 mm nos eixos z e x. As dimensões das
células, destacadas na Fig. 6, foram selecionadas para que o
metamaterial ressoasse em 11GHz. Outra característica desta
placa de metamaterial, é que foi projetada de tal forma, que
quando posicionadas em série (no eixo x, para aumentar a
distância de propagação, e com isso obter maiores efeitos da
dispersão), elas apresentassem um fraco acoplamento
eletromagnético, e que suas propriedades intrínsecas fossem
preservadas. Sendo assim, foram extraídos os parâmetros
eletromagnéticos deste arranjo considerando, 1,3,5 e 7 células,
utilizando os procedimentos descritos na sessão II deste artigo.
Os índices de refração para todos os cenários de 1, 3, 5 e 7
células posicionadas em sequência, podem ser observados na
Fig. 7.
Fig. 7. Parte real e imaginária do indice de refração da célula omega
considerando 1, 3, 5 e 7 camadas [33].
A dispersão das células metamateriais considerando os
índices de refração já calculados podem ser observados na Fig.
8.
Fig. 8. Curva de Dispersão da célula omega considerando 1, 3, 5 e 7 camadas
[33].
Na Fig. 7, nota-se que o índice de refração possui valores
negativos na faixa de frequência entre 11 GHz e 11,75 GHz.
Como o objetivo é realizar a análise de dispersão de pulsos na
faixa de frequências onde o índice de refração é negativo, os
autores selecionaram a frequência da portadora fp=11,25 GHz.
Neste ponto de frequência, a atenuação do metamaterial
(propriedade proporcional a parte imaginária do índice de
refração) é próxima a zero, porém a dispersão apresenta um
valor elevado (D=0,3 ns/mm2 e n=-1+0.12i, o que representa
uma atenuação de 1,21 dB/cell aproximadamente). O formato
temporal do pulso selecionada para à análise foi do pulso
gaussiano chirpado definido por (14).
Para observar o comportamento dispersivo, dos
metamateriais, o chirp foi escolhido entre -3 ≤ C ≤ 3. O valor
|C| < 3 foi escolhido, pois conforme mencionado
anteriormente, quando se aumenta |C|, a largura da banda
também aumenta, com isso limita-se a largura de banda do
pulso. A largura de meia potência do pulso inicial é de TFWHM
= 5ns.
A Fig. 9 ilustra o comportamento temporal do pulso em
função de C após a propagação por 1, 3, 5 e 7 células do
metamaterial projetado. Pode-se observar que após a
propagação por 1 célula, há uma pequena variação da largura
temporal, embora não seja causada pela dispersão. Pela Fig. 7
é possível observar que o metamaterial apresenta uma alta
atenuação maior para frequências mais baixas. Por isso, essa
compressão temporal é devido a atenuação de componentes
que se encontram na parte dianteira ou traseira do pulso, e por
esse motivo a curva é simétrica em relação a C=0. Como o
regime de dispersão do metamaterial é anômalo, valores
positivos de chirp tendem a comprimir o pulso, como pode ser
observado na Fig. 8. Outra importante análise é que para C=3,
o pulso pode ser comprimido temporalmente em até 50 %
utilizando 5 ou 7 células. Para 3 células o pulso é comprimido
por um fator de 40%. Além da compressão temporal, o chirp
também pode ser utilizado para realizar a compensação de
dispersão. Considerando o cenário com 5 células, utilizando C
= -1, a dispersão cromática pode ser totalmente compensada,
ou seja, o pulso retorna a ter TFWHM=5ns.
 Fig. 10. Esquemático da antena projetada para aplicações em microondas
baseada em metamateriais.
Fig. 9. Variação do TFWHM em função do falor de chirp C para um pulso
propagando por 1, 3, 5 e 7 células [33]. A antena apresentada na Fig. 10 foi simulada utilizando o
Outra figura de mérito importante a ser analisada é a software High Frequency Structure Simulator (HFSS). O
atenuação. Quando maior a quantidade de células coeficiente de reflexão da antena (S11) pode ser observado na
metamateriais, maior a atenuação. A energia do pulso Fig. 11. É perceptível que a antena apresenta 3 ressonâncias
calculada após a propagação sofre uma atenuação de 10 dB (1 muito fortes, uma em 2,425 GHz, outra em 3,61 GHz e por fim
célula), 10.61 dB (3 células), 13.6 dB (5 células), e 15.6 dB (7 uma em 5,65 GHz. A banda de operação de uma antena pode
células). Nota-se que o crescimento da atenuação não é linear, ser medida como a faixa de frequência em que o coeficiente de
e isso se deve ao fato de que parte dessa atenuação é reflexão é menor que 10dB. Sendo assim, a Tabela I mostra a
proveniente do descasamento entre o ar e o metamaterial, o banda relativa a cada ressonância da antena, e a faixa de
que provoca a reflexão da onda eletromagnética na interface. operação.
Considerando todas as informações, é possível concluir que TABELA I
BANDA DE OPERAÇÃO DA ANTENA METAMATERIAL.
o melhor cenário para realizar a compressão temporal de pulso
é utilizando 5 células, pois apresenta uma compressão de 50% Frequência Central (GHz) Faixa de Operação (GHz) Banda (MHz)
e ainda com uma atenuação 2 dB menor do que a apresentada 2,425 2,300 – 2,550 250
no cenário de 7 células. Em [33] são analisados também outros 3,610 3,285 – 3,715 430
comportamentos provenientes da propagação, entretanto, o 5,650 5,605 – 5,695 90
objetivo desta sessão é somente destacar a compressão dsa Reflexão da Antena HFSSDesign1

temporal e a compensação de dispersão utilizando arranjos 0.00

periódicos de metamateriais. -5.00

Name X Y

m1 2.3000 -10.0526 m1 m2 m3 m4 m5
m6
-10.00 m2 2.5500 -9.9475
IV. ANTENAS COM METAMATERIAIS m3
m4
3.2850
3.7150
-10.0667
-10.0000
-15.00 m5 5.6050 -9.9816
S11 [dB]

Outra aplicação de metamateriais que têm estado em -20.00

m6
m7
5.6950
2.4250
-10.0273
-34.4405
m8 3.6100 -37.0196
evidência na literatura é no desenvolvimento de antenas [34- m9 5.6500 -37.7820
-25.00
39]. Devido a vasta maleabilidade dos metamateriais, é
-30.00
possível projetar estruturas que permitam melhorar o m7
desempenho de antenas. Para mostrar essa propriedade dos -35.00 m8 m9

metamateriais, nesta seção, será proposta uma antena que pode
ser utilizada em três faixas de frequência.
Para isto foi utilizado uma antena ressoadora, baseada em
metamateriais, conforme apresentada na Fig. 10. Esta antena
ressoadora pode ser modelada como um circuito RLC, onde a
indutância se deve ao efeito indutivo dos condutores
metálicos, a resistência é intrínseca do condutor e a
capacitância é gerada pelos gaps da estrutura e o espaçamento
entre os condutores. Como a antena apresenta três anéis com
diferentes dimensões do gap, a resposta apresenta mais de uma
ressonância. A antena é projetada em um substrato da Rogers
Corporation RO7880 (εr=2,2) e com 1,6mm de espessura.
-40.00
1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00
Freq [GHz]
Fig. 11. Coeficiente de reflexão da Antena metamaterial.
Outra propriedade de antenas que é extremamente
importante para aplicações em telecomunicações é seu
diagrama de radiação. Existem aplicações em que é
interessante se obter diagramas muito direcionais, por exemplo
em aplicações onde existem 2 dispositivos fixos se
comunicando. Entretanto, com o advento dos dispositivos
móveis, aplicações para antenas que irradiam igualmente em
todas as direções (antenas omnidirecionais) possuem diversas
aplicações.
As Fig. 12 apresenta os diagramas de radiação da antena
metamaterial na frequência de 2,425 GHz (a), 3,61 GHz (b) e
5,65 GHz (c). A curva vermelha representa a o diagrama de
radiação do plano de elevação e a curva cinza no plano de
Azimute. Sendo assim, é possível perceber que ambas antenas
apresentam um diagrama de radiação praticamente circular
(omnidirecional) no plano de elevação. Devido a esta
propriedade e banda de frequência em torno de 2,425 GHz, a
antena projetada pode ser utilizada para aplicações em Wi-Fi.
O novo padrão de Wi-Fi, também utiliza uma faixa de
frequência em 5 GHz para a transmissão de dados com uma
banda de 200MHz. A antena metamaterial proposta neste
trabalho apresenta uma banda nesta faixa de frequência,
entretanto a banda ainda não é larga o suficiente para ser
utilizada em ambas bandas de Wi-Fi.
O objetivo é ilustrar a aplicabilidade de metamateriais na
área de antenas para telecomunicações. Sendo assim, a antena
proposta na Fig. 10 é pequena em relação a antenas
convencionais (monopolo, dipolo) e pode ser utilizada em
dispositivos para se conectar a redes Wi-Fi na banda de 2,4
GHz. Além disso, alterando um pouco a geometria, é possível
que se possa obter uma antena que funcione na segunda banda
do Wi-Fi, em 5 GHz. Sendo assim, está antena de
metamaterial relativamente pequena pode ser utilizada para
substituir 2 antenas convencionais para uma importante
aplicação em telecomunicações. Ainda, a antena apresenta
uma banda intermediária, em 3,61 GHz, que pode ser utilizada
em outras aplicações.

V. CONCLUSÕES
Este trabalho de conclusão de curso teve objetivo apresentar
o conceito de metamateriais, assim como suas aplicações na
área de telecomunicações. Para isso foi feita uma breve
introdução aos conceitos sobre metamateriais e as suas
principais propriedades, tai como índice de refração negativo,
inversão do efeito Doppler. Em seguida foi apresentado o
método utilizado pela literatura para se caracterizar os meios
metamateriais, e assim se obter suas propriedades
eletromagnéticas.
Foram apresentadas duas possíveis aplicações para os
metamateriais, sua utilização para compressão temporal de
pulso e para o projeto de antenas. No primeiro quesito, foi
mostrado que é possível se realizar a compressão temporal de
50% de pulsos gaussianos chirpados utilizado 5 placas de
metamateriais com geometria ômega. Esta compressão possui
aplicação direta em processamento analógico de sinais. Por
fim, foi apresentado o projeto de uma antena baseada em Fig. 12. Diagrama de Radição do plano de elevação (vermelha) e de azimute
(cinza) da antena Metamaterial na frequência de (a) 2,425 GHz, (b) 3,610
metamateriais ressoadores. Esta antena pode operar em 3 GHz e (c) 5,650 GHz.
bandas de frequência e ainda pode ser utilizada para
aplicações em Wi-Fi.
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Achiles Fontana da Mota nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, ES, em
02 de outubro de 1989. Formou-se em Engenharia Elétrica pela universidade
de São Paulo em 2012 com formação ênfase em Eletrônica. Durante a
graduação ele obteve o certificado de estudos especiais em telecomunicações.
Em 2015, ele tornou-se mestre em Telecuminicações pela Universidade de
São Paulo e atualmente é aluno de doutorado pela mesma universidade e de
pós-graduação (lattus senso) pelo Instituto Nacional de Telecomunicações
(Inatel). Também trabalhou como professor do curso de engenharia elétrica
durante 10 meses na Universidade de Araraquara (Uniara).
Atualmente trabalha com análise de dispersão em metamateriais com
ênfase em metamateriais anisotrópicos tanto na faixa de micro-ondas como
em frequências ópticas. Também realiza pesquisa na parte de sensores e
antenas. Em frequências ópticas trabalhas com metamateriais hiperbólicos
com destaque em incrementar o fator de Purcell de átomos frios e moléculas
fluorescentes.
 Arismar Cerqueira Sodré Junior possui Graduação em Engenharia
Elétrica pela Universidade Federal da Bahia (2001), Mestrado em Engenharia
Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (2002), Ph.D. em
Engenharia de Telecomunicações pela Scuola Superiore Sant´Anna - Itália e
University of Bath - Inglaterra (2006) e Pós-Doutorado em Engenharia
Elétrica pela UNICAMP (2009). Trabalha atualmente como Professor
Adjunto IV do Instituto Nacional de Telecomunicações (INATEL). De Março
de 2009 a Agosto de 2011, foi Professor concursado da UNICAMP na área de
Telecomunicações. Por diversas vezes foi Invited Researcher de universidades
renomeadas internacionalmente, tais como University of Bath - Inglaterra
(2004,2005 e 2007), Max Planck Institute- Alemanha (2010) e Technical
University of Denmark-Dinamarca (2013). As suas principais áreas de
pesquisa são: Fotônica de Micro-ondas, Antenas e Radares, Sistemas Rádio
sobre Fibra (RoF), Comunicações Ópticas, Óptica Não-linear, Comunicações
Móveis, Fibras de Cristais Fotônicos (PCFs), Rádio Cognitivo e Rede de
Sensores sem Fio (WSN). Arismar tem 06 patentes, 15 produtos transferidos
para a indústria e 143 artigos publicados em periódicos e congressos
internacionais e nacionais.