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juillet/décembre 2011 -janvier /juin 2012 - julho /dezembro 2011 -janeiro /junho 2012
Resumo
Reconhecendo a linguagem patriarcal como produtora de violências discursivas que recaem, sobretudo, nas mulheres, este
trabalho, construído à luz da Análise do Discurso da linha francesa, tem o proposto de analisar os sentidos que emanam das
práticas discursivas produzidas pelas militância LGBT no contexto do “Bafão do kit gay”, isto é, no ato de expressar
posicionamento político em relação ao veto da presidenta Dilma Rousseff a todo o conteúdo do kit informativo do Projeto
Escola sem Homofobia. O corpus analisado se circunscreve a um conjunto de mensagens eletrônicas produzidas e
socializadas por militantes gays nesse contexto, fazendo alusão ao Gênero e à Sexualidade da presidenta. O interdiscurso é
produzido pelas teóricas feministas que apresentam o patriarcado e a heterossexualidade compulsória como chave de análise
da violência contra a mulher. O resultado aponta que a crise gerada em torno do referido veto visibiliza tanto a misoginia gay,
quanto a solidariedade entre as mulheres.
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Introdução
(Provérbio popular)
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Mas a mesma militância LGBT, de dentro e de fora do PT, que em 2010 foi às
ruas, fez campanha, votou e comemorou a vitória da primeira mulher brasileira a
chegar ao cargo de presidente do Brasil, em 25 de maio de 2011 foi surpreendida
com a decisão da presidenta Dilma Rousseff de vetar a divulgação dos materiais
produzidos no contexto do Projeto Escola sem Homofobia, isto é, um “kit”
informativo composto por 1 cartaz, 6 boletins, 3 vídeos e 2 cadernos.
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A surpresa inicial da militância LGBT com o veto da presidenta foi
transformada em indignação, reação. Com a mesma força empenhada na eleição da
presidenta, a militância divulgou notas de repudio e foi às ruas protestar contra
o veto. Pelas redes sociais, espaços privilegiados de produção e difusão de
sentidos, de forma quase ininterrupta, circularam, e ainda circulam, diferentes
correntes de pensamento sobre o tema “Kit gay”. A militância LGBT, sentindo-se
traída pela presidente, mostrou- se feroz, criou pelas redes sociais o “Bafão do
Kit”, um caloroso debate político em torno do veto da presidenta. Não há quem não
tenha uma opinião, contra ou a favor sobre essa polêmica, cujo pano de fundo é a
violência simbólica contra pessoas LGBT Diferentes grupos organizados, a exemplo
da AGBLT, AMB (Articulação de Mulheres Brasileiras); ABL (Articulação Brasileira
de Lésbicas, Católicas pelo direito de decidir), dentre tantas outras entidades,
produziram moções de repúdio ao veto. Mas há quem preferiu não fazer
pronunciamento público coletivo, a exemplo da LBL (Liga Brasileira de Lésbicas),
que, por não ter participado, do processo de construção do referido Kit, optou por
não produzir nota pública sobre a questão. Mas, em reunião das organizações da
sociedade civil que integram o Conselho Nacional LGBT, convocada pela Ministra
Maria do Rosário a fim de tratar da suspensão do Kit anti-homofobia, a LBL,
através da sua/nossa representante neste Conselho, apresentou um posicionamento
critico, reconhecendo que o pronunciamento da Presidenta, ao dizer que "o governo
não fará propaganda de opção sexual" (sic), autoriza no não dito, o
recrudescimento da violência homofóbica, além de abrir precedentes para outras
proibições. A represente da LBL também questionou o fato de parte da militância
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LGBT estar atuando junto ao governo, comprometendo assim, a autonomia dos
movimentos.
Busco neste estudo, analisar sentidos que emanam do “Bafão do kit gay”, isto
é, das práticas discursivas produzidas pelas militâncias LGBT, em especial da
militância gay, no ato de protestar, de expressar posicionamento político. Como
pesquisadora feminista com especial interesse na produção de sentidos sobre a
sexualidade lésbica e relação desses com a violência de gênero contra a mulher,
pensada como uma violação dos Direitos Humanos, me interessa, sobretudo,
investigar a violência do discurso como um efeito de sentido.
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Reconhecendo que a linguagem não é neutra, questiono: Quais são as redes de
sentido produzidas nas práticas discursivas da militância LGBT em torno da
polêmica “Bafão do Kit gay”? Como o lugar de fala, da memória e do imaginário LGBT
se articulam na produção de sentidos sobre o veto da presidenta? Que imagem
discursiva da presidenta é produzida pela militância LGBT no cenário em questão?
O Corpus
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Projeto Escola Sem Homofobia.] Polêmica do kit contra homofobia leva
assunto para sala de aula NAO É MACHISMO QUESTIONAR Há quanto tempo ALGUEM
NAO GOZA?[5]
O Interdiscurso
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sociais. A partir dessas categorias estruturantes da analise, outras se encaixam
na análise do interdiscurso, dentre as quais destaco: a “invisibilidade” (SWAIN,
2009; LESSA, 2003). Destaco ainda o “continuum lésbico” (RICH, 1881)
colocar o dito em relação ao não dito, o que o sujeito diz em um lugar com o
que é dito em outro lugar, o que é dito de um modo com o que é dito de outro,
procurando ouvir, naquilo que o sujeito diz, aquilo que ele não diz mas que
constitui igualmente os sentido das suas palavras.
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(Provérbio popular)
Dentre essas ações, está o Programa Brasil sem Homofobia, criado em 2004, e
a 1ª Conferência Nacional LGBT, realizada 2008, em Brasília, convocada por decreto
presidencial. Vale ressaltar que a partir das resoluções aprovadas nesta
Conferência, que contou com a participação de representantes dos poderes públicos
e da sociedade civil, oriundos de todos os 26 estados do país e do Distrito
Federal, foi produzido o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e dos Direitos
Humanos LGBT, lançado em 2009[7], uma política importante para toda a sociedade,
já que implica uma formação mais humana no campo da sexualidade. Uma das ações
contempladas neste Plano foi a criação de um projeto de cooperação público-
governamental de extensão nas escolas públicas, utilizando produções artístico-
culturais com temática de sexualidade, diversidade sexual e identidade de gênero,
com recorte de raça e etnia, como forma de educar para a diversidade.
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população LGBT, o compromisso do Estado de garantir que o MEC assegure os recursos
necessários para a implementação de políticas públicas para a educação presentes
no Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT, lançado em
maio de 2009, a exemplo do Projeto Escola sem Homofobia, apoiado pelo Ministério da
Educação/Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade
(MEC/SECAD), hoje SECADI -. Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade e
Inclusão. Esse projeto, de acordo com nota divulgada pela ABGLT, em 31/05/2011[8],
tem o seguinte propósito:
(Provérbio popular)
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expressão “kit Gay”. Por que um conjunto de material didático que trata da
diversidade sexual e do respeito à diversidade foi transformado em um “Kit gay”?
Que redes de sentido são acionadas por essa formação discursiva? Se levarmos em
conta que a produção do referido Kit é de autoria dos movimentos ligados a ABGLT
(Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Travestis), é possível dizer que a
simples substituição de uma expressão por outra revela a autoria do mesmo. Mas se
levarmos em conta que o movimento LGBT é formado por uma pluralidade de sujeitos,
é possível dizer que o termo “gay” oculta todos os outros. Cabe então questionar o
que sustenta esse ocultamento.
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· A de classe social, cujas leis exigem comportamentos distintos dos
pobres e dos ricos. Estes, para se manterem no poder, precisam dominar/explorar os
pobres [...] (SAFFIOTI, 1997: 41).
De acordo com Foucault, (2010, p.10), o louco “desde a alta Idade Média é
aquele cujo discurso não pode circular como o dos outros: pode ocorrer que sua
palavra seja considerada nula e não seja acolhida, não tendo verdade nem
importância [...]”. Foucault também evidencia que ao longo da história o
qualitativo de perverso, de doentio sempre foi associado aos homossexuais. Ainda
hoje, em especial no campo da psicanálise, ainda se encontra a associação entre a
homossexualidade e a perversão, à loucura (BARBEIRO, 2005)
Essa rede de sentidos tecida pela “gramática de gênero” desenha uma pirâmide
social onde o homem branco, heterossexual, de classe favorecida está no topo da
pirâmide, seguido dos gays brancos da mesma classe social. As mulheres e as
lésbicas, em especial as negras pobres estão na base da pirâmide. Essa hierarquia
do sistema de gênero brasileiro, que divide os gêneros em duas categorias: Homem e
Mulher, tem sido amplamente problematizado pela literatura feminista,
especialmente pelo feminismo lésbico, que tem o propósito de produzir saberes
relevantes para as lésbicas e suas/nossas lutas. Uma das pesquisadoras do
feminismo lésbico que mais contribui com o debate sobre a hierarquia dos gêneros é
Monique Wittig, que apresenta a noção de “Pensamento Hetero” (1980), que promove a
divisão da sociedade em dois sexos e faz da linguagem um forte instrumento de
dominação dos sistemas teóricos modernos e das ciências sociais. De acordo com
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Wittig, o mundo inteiro é apenas um conjunto das mais diversas linguagens, onde os
seres humanos são literalmente os signos utilizados para comunicar. Essas
linguagens, ou melhor, estes discursos, ressalta a autora, se encaixam um nos
outros, se se interpenetram, apoiam-se uns aos outros, reforçam-se, se auto-
originam, dando origem uns aos outros. O conjunto desses discursos, que tomam
como certo que a base da sociedade, de qualquer sociedade, é a heterossexualidade,
constitui o “pensamento hetero” (WITTIG, 1980), que oprime, sobretudo, as
lésbicas, as mulheres e os homens homossexuais.
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Desse ângulo de análise, o corpo gay, assim como o corpo lésbico, que escapa
ao modelo binário ao romper com a norma sexual estabelecida, é corpo abjeto,
descartável. A partir dessa relação de sentidos, isto é, a partir da gramática de
gênero apresentada por Saffiotti (1977) e da noção de “pensamento hetero”,
apresentado por Wittig, é possível afirmar que a lógica discursiva que transforma
o Kit anti homofobia em “kit gay” é uma lógica perversa de desqualificação do
material e a invisibilidade dos demais sujeitos autores do referido material. O
que está em questão é a desqualificação, a não aceitação da homossexualidade e a
supremacia masculina, independente da orientação sexual. É a linguagem
(re)produzindo a hierarquia social e legitimando discursos.
(provérbio popular)
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propõem alguma ação/intervenção política; d) deliberativas – aquelas que
apresentam uma decisão/posicionamento coletivo.
Quadro 1: mensagens eletrônicas: “Pau de sebo para Dilmá” -Lista LGBT- maio/
2011
Mensagem 1 Mensagem 2
Colegas [...]
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graduada e com ação menos homofóbica recebeu esse troféu. E, mais, sugiro uma campanha de "Impeachment" contra a
Alguém é contra? traidora da cidadania. Arrependo-me do meu voto [...]
Arrependi-me amargamente.
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“pensamento hetero”, e, ao fazê-lo, (re)produzem a “violência psicológica”,
definida no glossário do Portal da Violência contra as mulheres como
(provérbio popular)
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Nas mensagens 3 e 4, indicadas no Quadro abaixo, João Mata e Pedro Mata
refletem sobre o veto da presidenta fazendo alusão ao gênero e a sexualidade da
presidente: “Bem estilo sapatona” ; “sapatão guerrilheira”
Mensagem 3 Mensagem 4:
Colegas
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Presidente, de seu ministro porta voz e do que as pessoas usaram a opção sexual
ministro da educação. dela como forma de baixar o nível da
sua campanha, eu apostei nela e estou
[...] bastante ofendido [...].
Dilma caiu no conto dos
evangélicos, que maliciosamente entregaram
a ela um vídeo sobre sexo seguro na
prevenção da AIDS, dizendo que era o kit
da abglt, ela viu de noite, e segundo seu
porta voz, ficou indignada e divulgando
outros adjetivos altamente depreciativos.
Bem estilo sapatona. QUE temas sobre
costume tem de ser objeto de plebiscito,
etc (grifo nosso)
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pessoas doentes, perigosas, perversas, nocivas ao convívio social (NOGUEIRA, 2008:
62). Até mesmo Beauvoir (1949), matriz teórica do pensamento feminista, via as
lésbicas como seres invertidos, incompletos, irrealizados: “a homossexualidade da
mulher lésbica é uma tentativa, entre outras, de conciliar sua autonomia com a
passividade da sua carne (BEAUVOIR, 1949: 146).
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invisibilidade, no silêncio, no apagamento não só a sexualidade lésbica e toda a
sexualidade que escapa à matriz da “heterossexualidade compulsória” (RICH, 1981),
votar em uma “sapatão guerrilheira”, isto é, votar em uma mulher que rompe com
amarras grilhões históricos para presidente do Brasil não deveria ser, a
princípio, um motivo de orgulho para os ativistas LGBT, como o é para os
movimentos feministas e de mulheres? Qual o interesse em visibilizar a suposta
sexualidade lésbica da presidenta e ainda adjetivando de sapatona?
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sexual, e o direito à mente e aos corpos das mulheres. Esse mito “mulher de
verdade” é reiterado pelo “pensamento hetero”, que através dos fios da cultura,
forja o gênero a partir dos corpos sexuados, isto é, a partir das diferenças
percebidas entre o sexo (SCOTT, 1995: 86).
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discursivas que dão aos homens o direito à mente e aos corpos das mulheres. É
vulnerabilizar a sexualidade feminina.
(provérbio popular)
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Saffioti (1997) pontua que relação “exploração-dominação” é exercida pelos
homens em todas as sociedades. Para essa autora a exploração e dominação masculina
são faces de um mesmo fenômeno e a relação “Exploração-dominação” não pressupõe o
esmagamento da figura subalterna, ao contrário, integra a necessidade de
preservação da mulher, que não é vitima passiva. Como bem ressalta essa autora,
“Em todas as sociedades conhecidas as mulheres detêm parcelas de poder” (SAFFIOTI,
1997: 184), o que lhes permitem negociar a sua sobrevivência.
Mensagem 5 Mensagem 6:
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Assunto: Há quanto tempo a Assunto: NAO É MACHISMO QUESTIONAR
Homofóbica Presidenta Dilma não Goza? Há quanto tempo a Homófiva
[Sic] (sic)Presidenta Dilma não Goza?
Uma leitora de carta me revelou que [...] essa mensagem posso repassar
a Presidenta Homofobica Dilma Roussef não para as listas, né, não compromete a
goza há mais de 5 anos? politica interna [...]
Levando em conta que não há discurso que não se relaciona com outro, é
possível afirmar que a ligação entre as praticas discursivas que questionam a
ausência do gozo sexual da presidenta e aquelas que apontam a sua suposta
sexualidade lésbica evidenciam uma tentativa de controle da sexualidade e do
prazer da mulher, sustentada pela ideologia patriarcal; consequentemente, revela
uma forma vil de desqualificar o feminino. Levando em conta as redes discursivas
que definem o machismo, é possível afirmar que o dito das mensagens de Marco Mata
e João Mata são carregada de machismo explícito, reduz a mulher a nada, a um
objeto, um ser sem vida, sem desejos nem direitos. É crença no forte ou exagerado
senso de masculinidade que se manifesta por atributos como coragem, agressividade,
virilidade, exacerbação física e corporal e atitude de dominação sobre as
mulheres. Estamos diante de cenas discursivas do machismo gay, muito embora João
Mata conteste essa avaliação.
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Recorrendo ao dispositivo revelador da relação de força e poder estabelecida
entre os gêneros, considerando que aos códigos estabelecidos nas comunicações
virtuais que reconhecem a fonte maiúscula como expressão de grito, é possível
inferir que João Mata ao optar por grafar certos trechos da mensagem em caixa
alta, revela vontade de poder/saber, é uma busca de legitimar o seu lugar de poder
instituído pelo machismo. Ao socializar a mensagem de Marco Mata para outras
listas, na certeza de que não estaria ferindo a política interna da lista LGBT,
conforme o dito da mensagem, João Mata estaria, ele próprio revelando
posicionamento político pautado nos fundamentos do patriarcado, que promovem tanto
a supremacia masculina quanto a solidariedade entre os homens, garantindo assim a
permanente atualização do contrato sexual patriarca (SAFFIOTI, 2004; PATEMAN,1993)
Em texto intitulado “afinal que diabos é machismo”, assinado por Jack Deth,
o autor afirma:
A acusação de que homens gays são machistas não procede (em parte).
Dificilmente homens gays devem ter a intenção de “dominar” as lésbicas e
muito menos se consideram superiores a elas. Homens gays, ao lutar por
direitos iguais e criar uma cultura underground própria, estão apenas
construindo seu próprio espaço no mundo. Porém, homens gays, de certa
forma, são corajosos e agressivos, e até mesmo viris, ao lutar pelos seus
direitos e construir uma cultura própria, e, se nos guiarmos pelas
definições dos dicionários, nesse sentido eles são “machistas”.
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A verdade é que os homens gays estão apenas sendo homens, e isto é o que
realmente incomoda as lésbicas. Explicando melhor, homens (sejam heterossexuais ou
gays), quando estão em alguma situação ruim, se unem em busca de soluções, lutam
pelo que querem, etc
Não duvide que daqui a algum tempo apareça alguma intelectual lésbica com
teorias de que os homens gays criaram um “patriarcado” dentro do movimento LGBT
para “dominar” as mulheres lésbicas, da mesma forma que feministas adoram acusar
os homens heterossexuais (Deth, 2010: on line).
O que significa ser “apenas homem” no contexto LGBT? Levando em conta que o
patriarcado ao longo da história tem se reconfigurado, se metamorfoseado, se
modernizado, estaríamos diante de uma reedição LGBT do patriarcado, isto é,
estaríamos nós lésbicas e mulheres bissexuais vivenciando um “patriarcado gay” no
seio do movimento LGBT?
Muito embora negado, não admitido, não reconhecido, portanto, difícil de ser
desconstruído, o machismo gay, não passa tão despercebido pelas “feministas de
plantão”, sempre atentas à violência do discurso, como mostra a mensagem 7,
enviada por Marcia, em resposta à mensagens 5 e 6:
MACHISMO!
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è impressionante como o machismo aflora em situação de crise, ao menos
esse episódio lamentável da presidência,e sta servindo para tirar os
machistas do armário! [sic]
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representação, da ideologia atravessando os sujeitos que se assujeitam pela
linguagem e se contradizem nos atos falhos e no esquecimento ideológico, que
produz a evidência do sentido, a ilusão de controlar seu discurso e de que os
sentidos estão lá nas palavras. Para a AD as “ilusões” não são defeitos são uma
necessidade para que a linguagem funcione nos sujeitos e na produção de sentidos
(ORLANDI, 1999,p36).
O Continnum lésbico, diz Swain (2002: on line), que apresenta uma longa
tradição de união entre as mulheres, nega o paradigma que aponta as mulheres como
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rivais, falando tanto as relações de amizade quanto das relações de amor e ou
erótica no universo feminino. A partir do continuum lésbicos, mulheres tecem redes
de amizade, de solidariedade, proteção e enfrentamento a todas as formas de
violência contra as mulheres.
Considerações finais
Referências bibliográficas
BARBERO, G. H. Homossexualidade e perversão na psicanálise: resposta aos gays and lesbians studies. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2005
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BUTLER, J. Problemas de gênero.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
DÉPÊCHE, Marie-France. Reações hiperbólicas da violência da linguagem patriarcal e o corpo feminino. In: STEVENS,
C.M.T.; SWAIN. T. N. A Construção dos corpos: perspectiva feminista. Florianópolis: Ed. Mulheres, 2008, p.207-218.
LESSA, Patrícia. O que a história não diz não existiu: a lesbiandade em suas interfaces com o feminismo e a história das
mulheres. Em Tempo de Histórias, n°. 7, 2003. Disponível em:
http://seer.bce.unb.br/index.php/emtempos/article/view/2669/2218 >. Acesso em: 03.set. 2011.
ORLANDI, E. P.. Análise do discurso: princípios e procedimentos. Campinas, São Paulo: Pontes, 1999.
PINTO, Céli R. J. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abrano, 2003.
RICH, Adrienne. La contrainte à l'hétérosexualité et l'existence lesbienne, Nouvelles Questions Féministes, mars , n.1, p.15-
43, 1981.
SAFFIOTI, H. I. B. Contribuições feministas para o estudo da violência de gênero. Labrys Estudos Feministas, n. 1-2,
jul./dez., 2002. Disponível em: <
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_______________ (1997) Violência doméstica ou a lógica do galinheiro. In: Kupstas, Márcia (org.) Violência em
debate. São Paulo: Editora Moderna, pp. 39-57.
SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade. Porto Alegre, vol. 20, n. 2
,jul./dez. 1995, p. 71-99.
SEDGWICK, E. K. A epistemologia do armário. Cadernos Pagu, n.28, p.19 jan.- jun., 2007
SWAIN, T. N. Feminismos e lesbianismo. Labrys, Estudos Feministas, (On line), n. 1-2, jul./dez., 2002.
WITTIG, Monique. La pensée straigh: questions feminists. n. 7, Paris: Tierce, fev. 1980.
nota biográfica:
Zuleide Paiva da Silva é Bibliotecária, Professora Assistente da Universidade Estado da Bahia. Doutoranda do Programa
Multi- institucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento (DMMDC), mestre em “Gênero, Mulheres e
Feminismos”, pelo PPG/NEIM/UFBA.
[1] Trabalho orientado pelo Professor Doutor José Luiz Michinel do Doutorado Multi-Institucional e Multidisciplinar em
Didfusão do Conhecimento, da Universidade Federal da Bahia -(DMMDC UFBA)
[2] Bibliotecária, Professora Assistente da Universidade Estado da Bahia. Doutoranda do Programa Multi- institucional e
Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento (DMMDC), mestre em “Gênero, Mulheres e Feminismos”, pelo
PPG/NEIM/UFBA.
[3] Em 2010, pela primeira vez na história do Brasil, foi preciso pouco mais de uma hora de apuração após o fechamento das
urnas em todo o país para que a matemática confirmasse a eleição da primeira mulher à Presidência da Republica. A
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candidata petista Dilma Rousseff foi eleita com 55,99% dos votos.
[4<] Disponível em: http://radioleszone.com.br/pelafresta/?p=190. Acessado em 19/06/2011.
[5] Lista dos assuntos indicados nas mensagens que compõem o “Bafão do Kit gay” Reportagegem intitulada “Lula: o papai
noel dos gays”, postada em publicada na revista VEJA (2010). Disponível em: <[6]
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/lula-o-papai-noel-dos-gays/>
[7] http://portal.mj.gov.br/sedh/homofobia/planolgbt.pdf
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