Anais

As funções dos parques urbanos da cidade de Manaus

Elias de Oliveira MORAES*, Ester Patricia dos Santos REIS, Fernando Ferreira VASCONCELOS,
Juliane Batalha de OLIVEIRA, Sonja Garcia Aquino de SOUZA, Victória de Souza CANDEIRA
Escola Municipal Carolina Perolina Raimunda Almeida – Manaus, AM. BRASIL
E-mail: moraes.elias@yahoo.com.br*

RESUMO
A pesquisa em tela tem o objetivo precípuo de descrever as funções ecológicas, sociais e estéticas dos parques públicos
urbanos da cidade de Manaus. Para alcançarmos esse objetivo recorremos a pesquisas bibliográficas, visitas e elaboração
de um mapa temático para análise dessas áreas. As funções que os parques desempenham estão diretamente relacionadas
com a qualidade de vida na cidade. A função ecológica, por exemplo, ocorre devido ao predomínio da vegetação arbórea
e do solo não impermeabilizado que contribuem para melhorar a qualidade do ar, da água, do solo e da diversificação da
fauna existente.A função social está relacionada com as opções de lazer que estas áreas podem proporcionar à sociedade
e contribuem com o embelezamento da cidade.Esses espaços constituem, ainda, uma função educativa, devido à
possibilidade de realização de programas de educação ambiental. Por fim, os parques promovem uma função psicológica,
visto que, as pessoas em contato com os elementos naturais, sentem um efeito repousante e relaxam. Portanto, a presença
de áreas verdes na cidade de Manaus, que possui um número insuficiente de parques, precisa ocupar posição relevante
nas ações de planejamento urbano, pois influenciam a saúde física, social e mental de seus habitantes.
PALAVRAS-CHAVE: parques, funções e espaço urbano.

The rolls of urban parks in the city of Manaus

ABSTRACT
The present research aims mainly to describe the ecological, social and aesthetic rolls of urban public parks in the city
of Manaus and, use bibliographic searches, visits and preparation of a thematic map for analysis of these areas, so as to
achieve its main purpose. The rolls parks play are directly related to the quality of life in the city. The ecological one, for
instance, comes about due to the dominance of plant vegetation and water absorbing soil, which enhance the quality
of air, water, soil and diversification of existing fauna. The social one is related to the entertainment options these areas
can provide society and contribute to the beautification of the city. These spaces also provide an educational function,
due to the possibility of carrying out environmental education programs. Finally, the parks promote a psychological
function, since people in touch with the natural elements, feel restful and relaxed. Therefore, the presence of green
areas in the city of Manaus, which has an insufficient number of parks, must occupy important position in the urban
planning, since they influence the physical, social and mental health of its inhabitants.
KEYWORDS: parks, functions and urban space.

INTRODUÇÃO
Quase sempre, a imagem que temos da cidade,
especialmente dos grandes centros urbanos, é marcada,
de um lado, pelo amontoado de objetos urbanos - casas,
prédios, indústrias, avenidas, escolas etc. De outro, pelo
movimento acelerado de pessoas, ônibus, automóveis e
motocicletas, transportando trabalhadores, mercadorias,
dinheiro etc.
Esse cenário, característico da grande cidade, confirma
o pensamento de Santos (2002, p. 63) sobre a organização
espacial da sociedade: “O espaço é formado por um
conjunto indissociável, solidário e também contraditório,
de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados
isoladamente, mas como quadro único no qual a história
se dá”

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Dessa forma, a cidade vai se constituindo como
resultado da ação humana no espaço, e não devemos
esquecer que a sociedade é formada por classes sociais
diferenciadas e, por isso, o espaço da cidade também é
fragmentado e ao mesmo tempo articulado, como lembra
Corrêa: “Eis o que é o espaço urbano: fragmentado e
articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de
símbolos e campo de lutas. É assim a própria sociedade em
uma de suas dimensões, materializada nas formas espaciais”
(Corrêa, 2002, p. 9).
Cada porção da cidade é apropriada por um certo
número de cidadãos e constitui o lócus de suas relações
cotidianas, ou seja, o lugar apropriado para a vida em
sociedade, como aponta Carlos: “O lugar é a porção do
espaço apropriável para a vida – apropriada através do
corpo, dos sentidos, dos passos de seus moradores, é o
bairro, é a praça, é a rua”(2009, p. 20) e, nesse sentido,
jamais poderia ser a metrópole ou a cidade, a menos que
seja a pequena Vila ou comunidade; vivida, sentida e
reconhecida em todos os cantos.
O espaço urbano vai se constituindo, eliminando
gradativamente antigas referências, destruindo a memória
social e fragmentando o espaço e as relações do indivíduo
por meio da descaracterização de antigas construções ou
mesmo de bairros inteiros, assim como a eliminação dos
pontos de encontro, de antigas festas, brincadeiras infantis
etc. trazendo em si a lógica de uma classe dominante que
procura impor suas normas. “O mundo dos homens passa
a ser o mundo das coisas, das mercadorias, enquanto o
mundo da mercadoria captura o lazer, transformando-o
em produto vendível” (CARLOS, 2009, p. 80).
Na maioria das cidades brasileiras, o crescimento urbano
apresenta uma série de contradições. A modernidade
aparente convive lado a lado com grandes problemas
sócio ambientais, tais como: enchentes, barulho excessivo,
poluição de diversos tipos, corrupção, violência e a falta
de espaços públicos destinados ao lazer e ao tempo livre.
Assim sendo, apresentamos uma breve reflexão sobre
a importância dos parques urbanos, definido pelo código
ambiental do município de Manaus (2001) como uma
área verde, com função ecológica, estética e de lazer, cuja
extensão é maior que as praças e jardins públicos.
Os parques urbanos são áreas verdes e espaços públicos
importantes, em muitos casos fundamentais para promover
o bem estar de grandes áreas da cidade. Assim sendo, o
principal objetivo da pesquisa em tela é descrever as funções
ecológicas, sociais e estéticas dos parques públicos urbanos
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da cidade de Manaus, por meio de pesquisas bibliográficas
relacionadas com o tema.
Especificamente, pretendemos estimular a plantação de
mudas de diferentes espécies arbóreas na escola que sedia a
pesquisa, a partir da percepção sobre a importância de áreas
verdes, além da elaboração e análise de um mapa temático
da cidade de Manaus demonstrando a identificação e
distribuição espacial dos parques públicos urbanos. Intenta-
se com isso, contribuir com a discussão sobre elementos
que cooperam para melhorar a qualidade de vida na cidade.
MATERIAL E MÉTODOS
Para alcançarmos os objetivos propostos, seguimos
um caminho que inclui duas fases distintas, mas
complementares entre si:
Primeira fase: pré-implementação. Esta fase
compreendeu:
Pesquisas bibliográficas sobre o processo histórico e
as funções dos parques públicos urbanos da cidade de
Manaus. Essa etapa incluiu leituras, discussão de textos
e atividades de grupo, a fim de proporcionar um amplo
conhecimento sobre o tema da pesquisa. Essa fase ocorreu
com mais frequência nos dois primeiros meses de execução
do programa, mas as leituras e discussões teóricas ocorreram
durante todo o período de execução da pesquisa.
Segunda fase: Implementação. Esta fase compreendeu:
Pesquisas de campo em seis parques urbanos de
Manaus – Bosque da Ciência, Jardim Botânico Adolpho
Ducke, Mindu, Lagoa do Japiim, Jéferson Péres e parque
Ponte dos Bilhares. Nesta etapa, consideramos o histórico,
características, manutenção e principalmente as funções
ecológicas, estéticas e sociais que estes parques realizam no
espaço urbano da cidade. Para realização dessa atividade,
o proponente da pesquisa, juntamente com o diretor
da escola, convocaram os pais dos alunos envolvidos
para solicitar a autorização prévia para que seus filhos
participassem dessa fase da pesquisa.
Plantação de mudas de diferentes espécies no terreno da
escola envolvendo os demais alunos, para que estes também
sejam motivados para preservar e reconhecer a importância
da vegetação para a qualidade de vida na cidade e na escola.
Elaboração de um mapa temático da cidade de
Manaus, demonstrando a distribuição espacial dos parques
públicos da cidade. Esse mapa facilitou a discussão sobre

a necessidade de uma distribuição espacial mais justa e
democrática dos parques na cidade.
_Por fim, os resultados da pesquisa foram divulgados
para todas as turmas da escola pelos próprios alunos
do programa, por meio de apresentações expositivas
e discursivas, com auxílio de imagens projetadas em
Datashow.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
AS RELAÇÕES CIDADE E NATUREZA
A discussão sobre os problemas ambientais,
especialmente nas últimas décadas, tornou-se uma condição
obrigatória no cotidiano das cidades e, no bojo dessa
temática, as áreas verdes ocupam posição de destaque pela
sua degradação e o exíguo espaço que lhes é destinado nos
centros urbanos.
No Brasil, o momento de crise estrutural das cidades em
decorrência dos problemas de ordem econômica, política,
social e ambiental tem conduzido o fenômeno da crescente
e acelerada urbanização a um destino incerto e cada vez
mais transformando as ciências em forças produtivas e o
espaço urbano em mercadoria.
Santos (2002) afirma que a cidade é cada vez mais um
Meio artificial, pois se até mesmo no início dos tempos
modernos as cidades ainda contavam com jardins, isso vai
se tornando cada vez mais raro. “O meio ambiente urbano
é cada vez mais um meio artificial, fabricado com restos da
natureza primitiva crescentemente encoberta pelas obras
dos homens” (Santos, 2002, p. 42).
Apesar dos incríveis avanços das técnicas de produção,
informação e mobilidade, assistimos em nossos grandes
centros urbanos a inúmeros problemas decorrentes da
relação nada harmoniosa entre a cidade e a natureza. Assim,
podemos observar a substituição de valores naturais por
ruídos, concretos, máquinas, edificações, poluição etc.
Sendo assim, é impossível haver qualidade de vida em uma
grande cidade que desconsidere os elementos naturais em
suas ações de planejamento urbano.
Além do empobrecimento da paisagem urbana, são
inúmeros e de diferentes amplitudes os problemas que
podem ocorrer em virtude da interdependência dos
múltiplos subsistemas que coexistem no espaço urbano.
Di Fidio preconiza que:
As manifestações mais características de um macro-
sistema urbano industrial são: população humana com
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altos valores demográficos; multiplicidade e intensidade
de intervenções humanas; importação de relevante
quantidade de matéria e energia externa; eutrofização dos
ecossistemas bióticos terrestres e aquáticos; compactação
e impermeabilização do solo, nas áreas de loteamento e
infra-estrutura de transporte; mudança da morfologia
do solo mediante escavações e transporte; redução do
nível do lençol freático e subsidência do solo; formação
de um clima urbano essencialmente distinto daquele
circundante à cidade (isolamento térmico); geração e
exportação de grande quantidade de resíduos sólidos, de
afluentes domésticos e industriais, de emissões de poeiras
e gases, que sobrecarregam o próprio ambiente urbano
e o ambiente periférico, com efeitos também, a grandes
distâncias; e, mudanças substanciais das populações de
plantas e de animais nativos e das cadeias tróficas da
biocenose anteriormente existente, como consequência
da modificação dos biótopos e da introdução de espécies
exóticas(1985, p. 7).
É consenso entre todos os cidadãos a importância
do planejamento urbano, mas em pleno século XXI,
esse planejamento centraliza suas preocupações nas
características sócio-econômicas, desconsiderando os
elementos naturais e assim sendo, sofremos drásticas
conseqüências, visto que a qualidade de vida na cidade
está relacionada diretamente com fatores que incluem
infra-estrutura, desenvolvimento sócio-econômico e
aqueles ligados às questões ambientais e nesse sentido as
áreas verdes ocupam posição relevante, pois influenciam
a saúde física, social e mental da população. Todavia, o
que percebemos nas cidades brasileiras, especialmente no
século XXI, é a tendência de criação de áreas verdes em
ambientes climatizados e privados, como nos shopping-
Centers e condomínios fechados.
AS FUNÇÕES DOS PARQUES URBANOS
Devido ao predomínio da vegetação existente, os
parques urbanos agem simultaneamente sobre o lado físico,
social, educativo e mental da população. Segundo Llardent
(1981), Cavalheiro (1990), Di Fidio (1990), Lombardo
(1990), podemos destacar os seguintes:
COMPOSIÇÃO ATMOSFÉRICA URBANA
Redução da poluição por meio de processos de
oxigenação;
Purificação do ar por depuração bacteriana e de outros
microorganismos;
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Ação purificadora por reciclagem de gases em processos
fotossintéticos;
Ação purificadora por fixação de gases tóxicos;
Ação purificadora por fixação de poeiras e materiais
residuais;
EQUILÍBRIO ENTRE SOLO, CLIMA E VEGETAÇÃO:
Luminosidade e temperatura: a vegetação, ao filtrar a
radiação solar, suaviza as temperaturas extremas;
Enriquecimento da umidade por meio da transpiração
da fitomassa (300 – 450 ml de água/metro quadrado de
área);
Umidade e temperatura: a vegetação contribui para
conservar a umidade dos solos, atenuando sua temperatura;
Redução na velocidade dos ventos;
Mantém a permeabilidade e a fertilidade do solo;
Diminuição do escoamento superficial de áreas
impermeabilizadas;
Abrigo à fauna existente;
Influência no balanço hídrico.
ATENUANTE DOS NÍVEIS DE RUÍDO
Amortecimento dos ruídos de fundo sonoro contínuo
e descontínuo de caráter estridente, ocorrente nas grandes
cidades;
MELHORIA DA ESTÉTICA URBANA
Quebra da monotonia da paisagem das cidades, causada
pelos grandes complexos de edificações;
Valorização visual e ornamental do espaço urbano;
Caracterização e sinalização de espaços, constituindo-se
em um elemento de interação entre as atividades humanas
e o meio ambiente.
FUNÇÃO SOCIAL
Possibilidade de realização de programas de educação
ambiental;
Espaço privilegiado para conscientização ambiental e
aprendizagem sobre a interação entre os elementos naturais.
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Os parques constituem excelentes espaços de lazer e
convivência familiar;
Valorização das propriedades do entorno e geração de
emprego e renda;
Recuperação intra-psíquica, importante para uma
pessoa sentir-se saudável;
O prazer intelectual, proporcionado pela tranqüilidade
e pelo silêncio;
Conforto propiciado por um ambiente despoluído,
limpo e ordenado.
Apesar dos inúmeros e inegáveis benefícios dos parques
urbanos, a quantidade desses espaços ainda é insignificante
na grande maioria das cidades do Brasil e, quase sempre,
estão localizadas nas áreas onde as pessoas possuem
maior poder aquisitivo. Enquanto isso, os trabalhadores,
especialmente a grande maioria com menor ganho
aquisitivo e sem poder usufruir desses espaços vê-se acuada
entre o local de trabalho e sua moradia.
Dessa forma, as cidades crescem e transformam-se em
paraísos tecnológicos oferecendo falsas benesses aos seus
habitantes. Atividades simples como crianças brincando
nas ruas, praças e pontos de encontro estão desaparecendo.
As ruas estão cada vez mais perigosas e agitadas, as praças
impermeabilizadas por concreto prevalecem, a violência
assusta os moradores e tudo isso faz com que as pessoas
percam suas próprias referências (CARLOS, 2009).
Brincadeiras de rodas e de grupos estão sendo substituídas
por jogos eletrônicos e individuais. Houve um tempo em
que o lazer era simples e não custava quase nada. Hoje em
dia está cada vez mais caro porque o capitalismo capturou
o lazer.
As atividades recreativas e opções de lazer requerem
espaços livres e apropriados, esparsos por toda cidade; as
zonas verdes para o jogo e para o esporte perto das casas,
os parques dos bairros, os parques da cidade, os parques
como um direito de todo cidadão e não somente para as
pessoas que podem pagar por um espaço seguro e fechado,
isolado do restante da população.
OS PARQUES URBANOS DA CIDADE DE MANAUS
Historicamente, a implantação de áreas verdes na
cidade de Manaus ganhou destaque na segunda metade do
século XIX e início do século XX quando a alta arrecadação
de impostos decorrentes da exploração da borracha
favoreceu a execução de uma série de obras que visavam
o embelezamento, saneamento e modernização da cidade,

a fim de inserir Manaus no rol das cidades “civilizadas”.
Nesse período os parques limitavam-se aos jardins e praças
públicas na área central da cidade (MESQUITA, 2009,
p. 212).
A intenção de criar áreas verdes e mesmo parques
urbanos na cidade foi expressa por vários administradores.
Em regra geral essa intenção referia-se à arborização da
cidade e embelezamento de praças, quase sempre ignorando
a rica diversidade da flora amazônica, importando espécies
vegetais de outras regiões do país.
Em 1898 o governador do Amazonas anunciou os
projetos para a construção de um grande parque no centro
da cidade e de um bosque na área da Cachoeira Grande
(MESQUITA, 2009).
O projeto do parque teria mais de cem mil metros
quadrados. Assim, estaria limitado pelas ruas Getúlio
Vargas, Leonardo Malcher, Ramos Ferreira e Ferreira Pena e
já haviam sido realizados diversas desapropriações e serviços
de terraplanagem no local. Já o Bosque 22 de Junho,
anunciado pelo governador, teria uma extensão de 4.652
metros, entre o bairro de São Jorge e a Avenida Constantino
Nery; área atualmente ocupada pelo Colégio Solon de
Lucena, algumas empresas privadas e alguns condomínios
residenciais. Segundo as palavras do governador: “O local
é magnífico; as belezas naturaes são attrahentes” (Ferreira,
op. Cit., 1898, p. 49).
Se realizados, os dois grandes projetos de valorização
das áreas verdes teriam dado uma enorme contribuição
para o embelezamento da cidade e meio ambiente local.
Cem anos mais tarde, essas obras ainda seriam grandiosas,
principalmente se considerarmos que essas áreas são
estratégicas para a cidade e ao longo do tempo praticamente
perderam suas áreas verdes, a mata que compunha a área
do bosque foi totalmente dizimada e o igarapé aterrado.
Enquanto isso, esses locais deram lugar ao asfalto, concreto,
intensa circulação de veículos, uso indiscriminado de
aparelhos de refrigeração, barulho estridente e diversos
padrões de utilização que aumentam o calor, a poluição e
o estresse da população.
De acordo com Oliveira (2003, p. 102), entre 1920 –
1967 as áreas verdes da cidade de Manaus estavam limitadas
às praças e jardins públicos, localizadas na área central da
cidade. Neste mesmo período, várias foram desconfiguradas
ou mesmo desapareceram.
Entre as praças que foram reconfiguradas podemos
citar: a Praça Adalberto Vale nos anos cinqüenta com a
construção do Hotel Amazonas; a Praça Tamandaré, em
frente à Capitania dos Portos; a Praça dos Remédios; a
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Praça General Osório, ocupada como área exclusiva do
Colégio Militar. Entre as praças que desapareceram estão:
a Praça Visconde do Rio Branco, para a construção do
Instituto Federal do Amazonas; a Praça General Carneiro
e Floriano Peixoto no bairro da Cachoeirinha. A primeira
foi transformada em dois campos de futebol, sendo
gradativamente ocupada pelo Conjunto Kubitschek e,
posteriormente, pelo Palácio Rodoviário. A segunda foi
doada ao Exército para a construção do Hospital Geral e
conjunto residencial para os militares.
Com o crescimento acelerado da cidade nas
últimas décadas e a ineficiência de políticas públicas de
planejamento urbano, Manaus passou a apresentar uma
série de problemas ambientais, incluindo grande perda da
massa arbórea. Essa perda contribuiu para a formação de
ilhas de calor, especialmente nos lugares mais impactados
pela urbanização, além de alagações, desabamento de
encostas, barulho excessivo, poluição do ar etc. Sendo
assim, a presença de parques urbanos esparsos pela cidade
constitui um elemento atenuante para graves problemas
ambientais (LOMBARDO, 1985).
Ainda hoje, a cidade de Manaus possui uma quantidade
ínfima de parques urbanos, se viermos a considerar toda
dimensão de seu espaço urbano. Os principais parques da
cidade foram construídos em um período relativamente
curto de sua história, entre 2000-2012, com exceção do
zoológico do CIGS, inaugurado em 1969. Vale a pena
ressaltarmos um breve histórico sobre estas áreas de lazer,
indispensáveis para a cidade.
Zoológico do CIGS:Criado no ano 1967 a partir
da necessidade de apresentar aos alunos do Curso de
Operações na Selva do exército, elementos da fauna e flora
amazônicas importantes na formação de guerreiro de selva,
o zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva
(CIGS) conta atualmente com quase 200 animais, de 56
espécies diferentes, divididos entre mamíferos, répteis e
aves, como as onças-pintadas, preta e parda, os macacos-
pregos e aranhas, as araras Canindé e Canga, o gavião real,
o jacaré Açu, entre outros, e constitui um dos principais
pontos turísticos de Manaus.
O Parque Municipal do Mindu:Com 42,05  ha
de biodiversidade, é uma Unidade de Conservação e
vitrine das espécies de flora, fauna e outros elementos do
ecossistema amazônico.
O Parque do Mindu foi criado em 1989, a partir de um
movimento popular dos moradores do bairro Parque Dez,
como forma de proteger o habitat do Sauim-de-Manaus,
primata que hoje é o mascote da cidade.
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Bosque da Ciência:Inaugurado em 1º de abril de 1995, homenageia o japiim, passarinho encontrado com

o Bosque da Ciência que é uma área de aproximadamente
treze hectares, localizado no perímetro urbano da cidade
de Manaus na zona central - leste. Projetado e estruturado
para fomentar e promover o desenvolvimento do programa
de difusão científica e de educação ambiental do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, preservando
ao mesmo tempo os aspectos da biodiversidade existente
no local.
O jardim botânico Adolpho Ducke: Localizado no bairro
Cidade de Deus, zona Norte, é o maior jardim botânico do
mundo, possuindo mais de 5 km² de área para pesquisas.
Foi criado em 2000 pela prefeitura da cidade em parceria
com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia –
INPA, com o objetivo de buscar alternativas para conter o
avanço da ocupação desordenada nas zonas norte e leste de
Manaus e proteger as florestas da região. O Jardim Botânico
ocupa uma faixa de 500 hectares, correspondente a 5% da
área total da Reserva Florestal Adolpho Ducke.
frequência quando a área foi ocupada para a construção
do conjunto habitacional, na década de 1970.
Parque Senador Jéfferson Péres: Construído em 2009, é
uma das obras entregues pelo Programa Social e Ambiental
dos Igarapés de Manaus – PROSAMIM. Batizado com o
nome de um dos maiores políticos que o Amazonas já teve,
o parque ocupa uma extensa área do centro de Manaus
que, da mesma forma que o igarapé do Mestre Chico, era
ocupado por centenas de palafitas. Em formato de Y, graças
ao encontro de dois igarapés que juntos deságuam no Rio
Negro, o espaço também surgiu a partir do aterramento
parcial dos igarapés.
Parque Cidade da Criança: Inaugurado em 2012, o
parque temático Cidade da Criança foi reformado a partir
das instalações do antigo Horto Municipal. O parque ocupa
uma área de quase dois hectares, na avenida André Araújo,
bairro Aleixo, Zona Centro-Sul da capital.

Parque Municipal do Idoso: Instalado em uma área de A imagem a seguir apresenta a distribuição espacial dos
11 mil metros quadrados, em um bairro de classe média parques urbanos da cidade de Manaus.
alta da capital amazonense, o complexo de atendimento
aos idosos foi inaugurado em 2002. O local tem piscina,
ginásio coberto, auditório, pista de caminhada, salas de
aula, dança e artesanato, lanchonete, restaurante e salão
de beleza.

O parque estadual Samaúma: Criado através do decreto

nº23.721 de5 de setembro de 2003 com uma área de 51
hectares, o parque Samaúma é a primeira Unidade de
Conservação Estadual localizada na cidade de Manaus.
A criação desta Unidade de Conservação é parte do
programa de Unidades de Conservação da SDS/IPAAM
(Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas),
numa tentativa de proteger uma das poucas áreas verdes
preservadas na cidade de Manaus.
Figura 1 - Parques urbanos da cidade de Manaus - 2013.
Parque dos Bilhares: Está localizado às margens do
igarapé do Mindu, tendo como limites as avenidas Djalma
A mais breve visualização da imagem 01 nos leva a
Batista e Constantino Nery e os igarapés do Mindu e da
perceber a distribuição desigual dos parques no espaço
Cachoeira. Foi inaugurado no dia 24 de outubro de 2006
urbano da cidade. Junto à distribuição desigual soma-
pela Prefeitura de Manaus, data de aniversário da cidade.
se uma concentração no eixo Norte – Sul da cidade,
Parque Lagoa do Japiim: Construído em uma área de justamente nas áreas onde a população apresenta maior
41 mil metros quadrados, o equivalente a quatro hectares poder aquisitivo.
ou a quatro campos de futebol, o parque custou aos
As zonas Norte e Leste da cidade, onde há a maior
cofres públicos mais de R$ 6 milhões. Cercado por vários
concentração populacional e maiores índices de urbanização
conjuntos habitacionais como Japiim 1 e 2,  Suframa
caracterizam-se pela deficiência ou mesmo inexistência de
e próximo de bairros como Japiinlândia, Coroado,
parques, no caso específico da zona Leste, que não possui
Petrópolis, Raiz, São Francisco e Distrito Industrial. O
nenhuma área verde como opção de lazer.
parque foi construído em 2008 no bairro cujo nome

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Este quadro nos possibilita compreender quais as
prioridades que norteiam as políticas públicas da cidade.
Assim, as políticas públicas voltadas para a solução
dos problemas urbanos não superam a visão de cidade
funcional, aplicadas numa cidade e para uma cidade vista
apenas como espaço das relações econômicas.
É preciso ressaltar que a cidade não é apenas o espaço
das relações econômicas. Ela é também o lugar de morar,
de trabalhar, de circular, de cuidar do corpo e do espírito.
Nesse sentido, as políticas públicas devem ser o principal
instrumento que possibilite a criação de espaços públicos
destinados ao lazer e encontros que ultrapassam a troca de
coisas. Em toda história das cidades, desde os gregos, estes
espaços são as praças, os parques e áreas verdes.
CONCLUSÃO
A presença de áreas verdes na cidade de Manaus, que
possui um número insuficiente de parques, precisa ocupar
posição relevante nas ações de planejamento urbano, pois
influenciam a saúde física, social e mental de seus habitantes
e com isso, contribui para o resgate da cidadania.
Cidadania significa a oportunidade de uma vida
decente, onde a população tenha acesso a trabalho, saúde,
educação, moradia, energia, saneamento básico e opções
de lazer. Se esses elementos são essenciais, não menos
importantes são os parques, praças e áreas verdes, acessível
e segura para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.
Não podemos aceitar que uma cidade com uma
economia pujante como Manaus, desconsidere nas
políticas de planejamento urbano a criação e manutenção
de parques, bem distribuídos por toda cidade, acessível
para todos os cidadãos, independente de classe social ou
lugar de moradia.
Assim, gostaríamos de concluir com a análise de
Guiducci (1975, p. 47), salientando que devemos: “...
construir sim, mas com um mundo claro e humano, ser
bons construtores. Construir com todos os instrumentos
oferecidos pelo progresso da técnica e da indústria, porém
lembrando que o homem necessita de ar, de sol, de verde
e de um espaço para seus movimentos”.
AGRADECIMENTOS
À Secretaria Municipal de Educação - SEMED,
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
Anais
– FAPEAM e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
– INPA pelo apoio financeiro e institucional.
À equipe de alunos pesquisadores e apoio técnico deste
projeto: Sonja Garcia Aquino de Souza (Apoio técnico),
Ana Graziela do Nascimento Botelho, Ester Patrícia dos
Santos Reis, Fernando Ferreira Vasconcelos, Juliane Batalha
de Oliveira e Victória de Souza Candeira. Ofereço a vocês
esta pesquisa com amor de quem semeia na terra uma
valiosa semente.
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Recebido em 23.03.2014
Aceito em 23.04.2014
ISSN: 2317-1804 / VOL. 2 (1) 2014: 77-83. MORAES et al. 83