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A IMPORTÂNCIA DA LÓGICA JURÍDICA E DA TEORIA DA

ARGUMENTAÇÃO PARA O OPERADOR DO DIREITO

THE RELEVANCE OF JURIDICAL LOGIC AND THEORY OF


ARGUMENTATION FOR LAW PRACTIONERS

Germana Parente Neiva Belchior


Rui Verlaine Oliveira Moreira

RESUMO

A idéia do artigo surgiu de debates com discentes de graduação do curso de Direito


sobre a importância da disciplina Lógica Jurídica e Teoria da Argumentação. Muitos
questionam o porquê de estudar Lógica Jurídica e qual sua aplicabilidade para o Direito.
O objetivo do presente trabalho é tratar da Lógica em geral, destacando conceitos
básicos para a compreensão da Lógica Jurídica. Propõe-se despertar nos estudantes a
importância da lógica jurídica e da teoria da argumentação para sua formação,
imprescindível à prática jurídica. A metodologia é bibliográfica, descritiva e
exploratória. A existência da Lógica Jurídica se justifica ao encontrar formas ou
estruturas do discurso ou da linguagem normativas próprias do Direito, denominadas
apofânticas (ser) e deônticas (dever-ser). O conteúdo do direito é dinâmico, em
constante transformação. Conclui-se que o raciocínio jurídico relativo à aplicação da
norma não tem como se limitar à mera operação dedutiva, como já imaginado. A Lógica
Formal se mostra insuficiente para o Direito, marcado no período pós-positivista pela
recuperação dos princípios que aparecem com função normativa e a aceitação do juízo
de valor no Direito. A argumentação jurídica racional opera com valores aceitos num
determinado tempo e espaço. A importância do desenvolvimento de uma Teoria da
Argumentação para responder aos problemas urgentes expressos pela Teoria Jurídica
contemporânea reside na tentativa de estabelecer um método que possa ser considerado
racional.

PALAVRAS-CHAVES: LÓGICA; RACIOCÍNIO JURÍDICO; ARGUMENTAÇÃO

ABSTRACT

The idea of writing a paper on this issue emerged from discussions with Law students
about the relevance of subjects such as Juridical Logic and Argumentation Theory and
from the evidence that there is widespread controversy concerning the reasons justifying
the study of juridical logic and its relevance for Law. In this sense, the purpose of this


Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF
nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

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paper is to study Logic in general, highlighting basic notions required for understanding
Juridical Logic. We propose to present the importance of Juridical Logic and of
Argumentation Theory and to demonstrate their vital character to juridical practice.
Methodology here is bibliographical, descriptive and exploratory. The existence of a
Juridical Logic is explained as we found the structures of speech and language which
are peculiar to Law, designated as apophantic (being, present-at-hand) and deontic
(must be, that which is binding or proper). The content of Law is dynamic and in
permanent change. We finish by concluding that Juridical Reasoning regarding the
execution and enforcement of juridical principles and rules is not to be limited to a
simple inferential operation, as normally conceived. Besides that, Formal Logic is not
satisfactory to Law in present post-positivism age, in which using principles as binding
prescriptions and values as permanent references are commonplace. Rational Juridical
Argumentation works with values accepted in a determined place and timeframe. The
relevance of developing an Argumentation Theory to react to pressing issues presented
by contemporary juridical theory consists in the attempt to create a method that can be
deemed as rational.

KEYWORDS: LOGIC; JURIDICAL REASONING; ARGUMENTATION

INTRODUÇÃO

Ao ser admitido a um curso de direito, o aluno fica ansioso para estudar as disciplinas
técnicas, como Direito Penal, Direito Civil, Direito do Trabalho etc., não valorizando,
geralmente, as disciplinas de cunho propedêutico ministradas logo no início da
graduação. Talvez isso ocorra por não haver despertado o interesse suficiente ou porque
não tenha sido estimulado, carecendo a noção da importância dessas disciplinas para a
elaboração do conhecimento jurídico.

A idéia de desenvolver o presente artigo surgiu das discussões com diversos discentes
do curso de graduação em Direito acerca da importância das disciplinas de Lógica
Jurídica e Teoria da Argumentação na estrutura curricular. Muitos nos questionam o
porquê de estudar Lógica Jurídica e qual a aplicabilidade para a vida do operador do
Direito em geral. Aliás, essa geralmente é a indagação dos estudantes desinteressados
em matérias filosóficas.

Outro ponto que nos chamou a atenção foi o fato de que, ao nos deparar com livros que
tratam do tema, constatamos que vários autores partem da premissa de que os conceitos
básicos sobre Lógica já são conhecidos de leitores, o que nem sempre ocorre. Tal fato
dificulta o desenvolvimento do estudo, tornando-o distante da realidade.

O objetivo do presente estudo, portanto, é tratar da Lógica em geral, destacando


conceitos básicos para a compreensão da Lógica Jurídica. Propomos, ainda, despertar
nos jovens estudantes a importância da Lógica Jurídica e da Teoria da Argumentação
para sua formação profissional, sendo imprescindível à atuação prática do profissional
do Direito, seja ele advogado, juiz, promotor, consultor...

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É importante esclarecer que não pretendemos aprofundar o estudo das modernas teorias
da argumentação e do discurso, mas instigar o leitor para o tema, a fim de que possa
torná-lo pesquisador nesta área tão fascinante.

1 CONSIDERAÇÕES SOBRE LÓGICA

1.1 O que é Lógica

A Lógica, segundo Nérici, é uma ciência de origem antiga, uma criação do espírito
grego, cujos iniciadores são Parmênides, Zenão de Eléia e os sofistas. O verdadeiro
criador da Lógica, porém, foi Aristóteles, que lhe deu “corpo, sistematização, baseando-
a em princípios tais e tão sólidos, que até hoje são tidos como válidos”. [1]

Recebendo o qualificativo de clássica, a Lógica aristotélica permaneceu quase que


intacta através dos séculos, com pequenas modificações e ampliações feitas por seus
discípulos, conservando, assim, suas bases.

Jolivet define Lógica como “a ciência das leis ideais do pensamento, e a arte de aplicá-
las corretamente à procura e à demonstração da verdade”.[2] Lalande conceitua lógica
geral como o “estudo dos procedimentos válidos e gerais pelos quais atingimos a
verdade. Procura em que condições o nosso pensamento é claro e bem definido, os
nossos conceitos, as nossas induções sólidas, as nossas inferências justificadas”. [3]

Percebamos, outrossim, que a Lógica também é uma arte, como defendido por Santo
Tomás de Aquino, isto é, “um método que permite bem fazer uma obra segundo certas
regras”. [4]

Assim, o estudo da Lógica permite ao homem

[...] caminho seguro para alcançar a verdade e fugir do erro; porém, vemos indivíduos,
sem preparo lógico algum, raciocinarem e agirem acertadamente. É que se utilizam do
bom senso, espécie de lógica natural, inata, encontrada, mais ou menos desenvolvida,
em todos os indivíduos. Contudo, o bom senso por si só não é suficiente para guiar o
homem nos casos complicados. Assim, ele é ótimo auxiliar, mas nunca um guia
suficiente que dispense o auxílio da Lógica.[5] [6]

Perelman destaca que, no âmbito da Lógica, serão analisados a maneira de formular o


raciocínio, assim como “o estatuto das premissas e da conclusão, a validade do vínculo
que as une, a estrutura do raciocínio, sua conformidade a regras ou a certos esquemas
conhecidos de antemão”. [7]

Tendo como finalidade a procura e a demonstração da verdade[8], a Lógica se revela


imprescindível para tornar o espírito mais penetrante e para auxiliá-lo a justificar suas
operações, recorrendo aos princípios que fundam a sua legitimidade.

1.2 Busca de compreensão dos conceitos iniciais

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A Lógica, ao dirigir os atos do pensamento para o verdadeiro, divide-se em duas partes:
a primeira trata das leis gerais do pensamento, ou seja, as suas formas no que estas
tenham de igual e de comum, chamada de Lógica Formal; e a segunda que estuda as
leis particulares, a forma de cada ciência em particular, denominada de Lógica Aplicada
ou Metodológica, também chamada de Lógica Material.

A Lógica Formal, ao tratar das leis gerais do pensamento, buscando o que elas têm de
igual e comum, as torna universais e aplicáveis em todas as operações do intelecto. [9]

Nérici destaca a idéia de que podemos identificar, na Lógica Formal, três partes
distintas, constituindo um todo uno e indissolúvel, que é o pensar humano. Dessa forma,
o pensamento (ou espírito), para fins meramente didáticos, divide-se em idéia, juízo e
raciocínio. Na medida em que estes se tornam representação sensível, concreta, por
sons orais ou por quaisquer outros símbolos representativos, transformam-se,
respectivamente, em termo, proposição e argumento. [10]

Nesse sentido, Jolivet distingue três operações intelectuais diferentes: apreender, isto é,
conceber uma idéia; julgar, ou seja, afirmar ou negar uma relação entre duas idéias; e,
por fim, raciocinar, que é tirar de dois ou vários juízos dados outro juízo decorrente,
necessariamente. [11]

1.3 A Lógica Formal

Como destacado, o estudo da Lógica divide-se em Lógica Formal e Lógica Não Formal
ou Metodológica, mais conhecida como Lógica Material. Cabe-nos, em um primeiro
momento, analisar a Lógica Formal e seus institutos básicos.

Na lição de Alves, a Lógica Formal estabelece “as condições de acordo com o


pensamento consigo mesmo, estudando sua validade intrínseca, isto é, sua forma”. [12]
Ainda sobre o tema, Di Napoli explica que “a lógica formal considera o conceito, o
juízo, o raciocínio e os seus signos para que se tenha um raciocínio correto e também
legítimo”. [13](Traduzimos).

Aplicar formas lógicas significa substituir as estruturas reduzidas a variáveis e


constantes lógicas por dados ou constantes fáticas, sem considerar os elementos
materiais. [14]

1.3.1 Idéia e termo

Idéia é sinônimo de conceito, de noção e termo verbal. De acordo com Jolivet, “é a


simples representação intelectual de um objeto”. [15] Trata-se da forma por meio da
qual um objeto é percebido pela nossa inteligência.

Falcão define o objeto como sendo

[...] tudo aquilo que pode ser termo da atividade consciente do eu que conhece, isto é,
do sujeito cognoscente. [...] é objeto todo ser a respeito do qual se possa tecer ou
elaborar um juízo lógico. Dessa maneira, até o próprio ser de um eu determinado ou de
um certo sujeito cognoscente pode ser objeto do conhecimento desse mesmo eu. [...]
[16] [17]

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Insta destacar que nem todas as idéias são imagens, ou seja, têm uma forma que pode
ser concebida por meio da representação sensível. Há aquelas meramente intelectivas,
sendo produto da abstração humana. Para exemplificar, basta pensar em uma mesa ou
carro, que rapidamente fazemos uma representação intelectual desses objetos, ou seja,
há uma imagem formada. Quando, porém, pensamos em amor, paz e glória, não
fazemos representação mental alguma. Nérici esclarece que, “o que dá validade, neste
caso, à idéia é o sentido, a significação de que as mesmas são portadoras”. [18] [19]

Segundo Di Napoli, “conceito é a representação universal de alguma coisa”.


(Traduzimos). [20] Já o termo pode ser entendido como “sinal sensível, arbitrário,
expressivo do conceito”. (Traduzimos). [21] [22]

Pontos importantes que mereces ser tratados residem na compreensão e extensão da


idéia, considerando propriedades do conceito. Por compreensão da idéia, entendemos
ser a sua significação, o seu sentido, que pode ser identificado com a qualidade. Já
extensão da idéia, para Nérici, trata-se do “conjunto de indivíduos aos quais podemos
aplicá-la por se acharem compreendidos nela”.[23] Ou seja, tem ligação com a
quantidade da idéia.

Para elucidar referidas expressões, quando falamos em homem, só nos referimos aos
animais racionais, na medida em que, dizendo animal, estão subentendidos todos os
animais, sejam eles racionais ou não. Logo, homem nos traz a compreensão (pela
qualidade), enquanto animal nos releva a extensão da idéia (pela quantidade).

Relacionando compreensão e extensão da idéia, Nérici acentua:

[...] toda idéia tem compreensão e extensão determinadas, variando, porém, em ordem
inversa. Isto é, à medida que a compreensão de uma idéia aumenta, a sua extensão
diminui e vice-versa. Daí a lei: A compreensão de uma idéia está na ordem inversa da
extensão.[24]

Já o termo é “a expressão verbal da idéia”. [25] Ele permite a transmissão da idéia de


um homem para outro. O termo trata, pois, da expressão concreta e material da idéia.
Logo, ao apreender a idéia, manifestamo-la por um termo.

1.3.2 Juízo e proposição

O juízo é o ato pelo qual o espírito assere ou nega uma coisa de outra. Di Napoli define
o juízo como a “união ou desunião intelectual de dois conceitos, mas é também a união
ou desunião intelectual de algum conceito e de alguma coisa existente e singular”.
(Traduzimos). [26]

O pensamento, ou seja, o espírito, apreende no universo lógico (conjunto de todas as


idéias) duas ou mais idéias e as aproxima. Em seguida, faz uma comparação, resultando
em um julgamento de conveniência ou inconveniência entre as idéias. Referido
julgamento do espírito é a essência do juízo, residindo nele “todo o valor deste ato
intelectual”.[27] Logo, o juízo se manifesta em três fases: apreensão das idéias,
comparação destas e julgamento da conveniência ou não de uma com a outra. [28]

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Proposição é “a expressão verbal do juízo”[29], ou seja, é a oração que garante ou nega
alguma coisa do sujeito. Pode ser definida também como “uma oração enunciativa do
predicado sobre o sujeito”. [30] É constituída pelos termos sujeito, predicado e verbo. É
por meio do verbo que se liga o sujeito ao predicado e que é constatado se a proposição
afirma ou nega algo.[31]

O pensamento, portanto, apreende as idéias, que se representam por meio de termos.


Com a comparação das idéias, de uma forma positiva ou negativa, o espírito julga,
tendo, por fim, a proposição.

É oportuno salientar que essas operações acontecem praticamente ao mesmo tempo.


Não há uma divisão tão clara, pois o pensamento é indivisível, é uno. Trata-se de uma
forma didática para compreender a estrutura da Lógica.

1.3.3 Raciocínio e argumento

Perelman explica que o vocábulo “raciocínio designa tanto uma atividade da mente
quanto o produto desta atividade”.[32] No âmbito da Lógica, o raciocínio revela-se
como produto, não importando as condições para sua elaboração.

Raciocínio é o ato pelo qual o espírito, com o que ele já conhece, adquire um novo
conhecimento, ou seja, “é o ato pelo qual o intelecto infere um determinado juízo de
outros juízos”. [33]

É importante perceber que o raciocínio é feito por meio do que já é conhecido. De


acordo com Nérici, “todo raciocínio baseia-se no antecedente, o que é conhecido, para ir
ao conseqüente, que é a novidade percebida pelo espírito”. [34]

Ainda sobre o tema, Gredt explica que:

No raciocínio distingue-se a forma – uma disposição artificiosa de conceitos, para que


se manifeste a conseqüência. E a matéria – o objetivo, que é contido e manifestado pela
forma. Em razão da forma, o raciocínio é chamado de correto e em relação da matéria é
verdadeiro. [35](Traduzimos).

Notemos, todavia, que o raciocínio segue dois movimentos do pensamento: dedutivo e


indutivo. Aquele vai do geral para o particular, revelando-se como a forma de raciocínio
mais segura, embora com possibilidades limitadas para favorecer o progresso da
ciência. Consoante Lalande, a Lógica dedutiva permite o “estudo dos procedimentos
pelos quais passamos de uma verdade dada para uma outra segundo leis rigorosas e
demonstrativas”. [36]

Já o raciocínio indutivo, ao revés, vai do particular para o geral, sendo o raciocínio que
mais convém à ciência, na medida em que permite desbravar novos horizontes para o
conhecimento humano. [37] [38]

Outra análise importante feita por Aristóteles é a distinção entre os raciocínios analíticos
dos raciocínios dialéticos. Perelman, tratando da Lógica aristotélica, destaca a idéia de

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que raciocínio analítico é aquele que, “partindo de premissas necessárias, ou pelo menos
indiscutivelmente verdadeiras, redundam, graças a inferências válidas, em conclusões
igualmente necessárias ou válidas”. [39]Assim, é impossível que a conclusão seja falsa,
se o raciocínio foi feito corretamente, com suporte em premissas corretas, conforme o
padrão simbólico da Lógica Formal.

Já o raciocínio dialético busca tratar das deliberações e controvérsias, típicas de um


discurso, a fim de criticar as teses do adversário, de defender e justificar suas próprias,
utilizando argumentos. [40] Vejamos, pois, que o raciocínio dialético transcende os
aspectos meramente formais, preocupando-se em persuadir ou convencer pelo discurso.

Conceituamos argumento como a expressão material do raciocínio. Para Di Napoli,

[...] é a expressão oral ou escrita do raciocínio. A proposição que é inferida chama-se de


conclusão ou conseqüente. A proposição ou proposições das quais a conclusão é
inferida, chamam-se de antecedente. O nexo entre o antecedente e o conseqüente diz-se
conseqüência”. (Traduzimos).[41]

Logo, o argumento é formado pelas proposições que formam o antecedente e o


conseqüente do raciocínio.

Acerca das operações do pensamento, de uma forma simples, podemos perceber a


seguinte relação, elucidada pelo esquema abaixo:

DIVISÕES DO PENSAMENTO HUMANO

(ESPÍRITO)

IDÉIA à ------- apreender ------- à TERMO

JUÍZO à------- julgar ------- à PROPOSIÇÃO

RACIOCÍNIO à ------- raciocinar ------- àARGUMENTO

1.3.4 O silogismo

Um argumento interessante a ser analisado, ainda que rapidamente, é o silogismo.


Segundo Di Napoli, “silogismo é um argumento dedutivo no qual, postas duas

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proposições, necessariamente é posta a terceira”. [42] (Traduzimos). Trata-se, pois, da
forma perfeita de raciocínio dedutivo mediato, ou seja, aquele que parte do geral para o
particular, com o auxílio de um intermediário. Ele é composto de três proposições, das
quais a terceira (conclusão) é tirada das duas primeiras (premissas).

O silogismo tem três termos: maior, médio e menor. O termo maior, como o próprio
nome sugere, é aquele que tem maior extensão (quantidade), enquanto o menor é aquele
que tem a menor extensão. Já o termo médio é o de extensão intermediária do maior
com o menor.

No argumento silogístico há, ainda, três proposições, representando a união, dois a dois,
dos termos analisados, ou seja, maior, médio e menor. Em relação às proposições,
temos as premissas maior, menor e a conclusão. [43]

Como exemplo de silogismo, temos: “Todo homem é mortal; Pedro é homem; Logo,
Pedro é mortal”. Vejamos que o termo de maior extensão é o primeiro, ou seja, mortal.
O de menor extensão é Pedro, enquanto o termo intermediário é homem. O termo
intermediário ou médio convém, neste exemplo, a mortal e a Pedro. [44]

Nesse sentido, a passagem das premissas à conclusão é obrigatória, por meio de suas
inferências válidas, em razão unicamente das suas formas. [45]

1.4 A Lógica Material

Alves define a Lógica Material como a que “considera a matéria (o conteúdo) do


conhecimento e determina as vias a seguir para se chegar segura e rapidamente a
verdade”. [46] Na mesma linha, Di Napoli ressalta que “a lógica material considera o
conteúdo, ou o que é dito no raciocínio para que se tenha a verdade”. [47](Traduzimos).

Ponto interessante para discussão é a possibilidade de uma Lógica eminentemente


material, ou seja, sem as “regras” da Lógica Formal. Sobre o tema, Vilanova destaca a
noção de que a Lógica é necessariamente formal, descabendo, em sentido rigoroso,
falar-se em lógica material. Assim, “o material de que se vale a lógica é, ainda, formal:
um termo (termo-sujeito, termo-predicado) é material relativamente à forma de uma
proposição, que o tem como constituinte seu.”[48]

O desenvolvimento da ciência só é possível por meio da lógica material, baseada no


raciocínio indutivo, ou seja, aquele que parte do individual para o geral. Alves explica
que existe, dessa forma, ampliação do conhecimento porque “no argumento indutivo, a
conclusão diz algo mais do que foi dito nas premissas: a conclusão ultrapassa as forças
das premissas, não oferecendo a certeza peculiar da dedução, mas permitindo ampliar e
enriquecer a cognição sobre o mundo”. [49]

A Lógica Metodológica oferece, pois, condições para a transcendência do conhecimento


humano, já que se utiliza da experiência e não somente da razão, buscando acompanhar
as transformações da realidade.

2 A LÓGICA JURÍDICA

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Analisados os institutos básicos da Lógica, insta-nos averiguar a viabilidade da Lógica
Jurídica, e, sendo esta possível, qual sua natureza.

2.1 O apofântico (ser) e o deôntico (dever-ser)

Vilanova explica que a existência da Lógica Jurídica se justifica “se encontrarmos


formas ou estruturas no discurso ou linguagem normativa (in specie, jurídica) próprias
do direito”.[50] São as formas apofânticas e as deônticas, conforme iremos estudar a
seguir.

A partícula operatória do deôntico é o dever-ser que, segundo Vilanova,

[...] estatui relação entre sujeitos-de-direito, que tomam o papel sintático de termos-
sujeitos, e relação entre tipos de ações ou condutas, decorrentes da verificação de
pressupostos fácticos, que tomam o papel sintático de proposições antecedentes de uma
relação hipotética. A norma, que é, fenomenologicamente, a significação do enunciado
proposicional, diz que se se dá (se ocorre na realidade) um fato que através do
pressuposto a ele referido entre no universo do direito, então um sujeito deve fazer ou
omitir tal ou qual conduta face a outro sujeito, termo relato daquele termo referente.
[51]

A forma deôntica refere-se a um dever-ser objetivo. A norma traz uma estrutura lógica,
cognoscente da conduta, estando, assim, formalizada.

A Lógica Jurídica não tem como deixar de ser formal exatamente pelo fato de suas
estruturas serem aptas para acolher o objeto jurídico, que é uma espécie de objeto
deôntico (normativo). Também “representa, ainda, a formalização da linguagem do
direito positivo”, que se expressa por meio de normas. [52]

Os raciocínios jurídicos, no entanto, são acompanhados por incessantes controvérsias,


buscando uma decisão justa e com aceitabilidade social. Tal fato, segundo Perelman, é
suficiente para “salientar a insuficiência, no direito, de um raciocínio puramente formal
que se contentaria em controlar a correção das inferências, sem fazer um juízo de valor
da conclusão”. [53]

Em outras palavras, podemos dizer que o Direito pretende atender aos anseios da
sociedade, permitindo uma convivência pacífica entre os homens. Seu conteúdo, por
conseguinte, é dinâmico, estando em constante transformação, devendo ocorrer com o
sentido captado pela norma, sob pena de uma estagnação. E é exatamente nesse
conteúdo que visualizamos a forma aponfântica, ou seja, do ser, da prática, do concreto,
do que efetivamente ocorre na realidade, o que nem sempre corresponde ao que está
previsto na forma deôntica.

Logo, na formalização da norma, ocorrente pela sua estrutura deôntica, não há como
abranger todo o conteúdo do Direito. Principalmente quando verificamos, durante a
evolução histórica, que o Direito vai muito além daquilo que está explícitado na norma.
Direito é mais do que lei, mais do que regra, mais do que norma.

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E é exatamente por isso que o intérprete não pode ficar adstrito a ela, olvidando o
grande mundo que é o sistema jurídico. A norma pretende trazer a segurança, mas isso
não implica o alcance da justiça.

Esta segurança é garantida pela forma deôntica, que cuida da estrutura da norma,
impondo um dever-ser. Aqui, percebemos claramente que o movimento do pensamento
é o dedutivo, partindo do geral (norma) para o individual (regular as relações jurídicas),
cuidando os argumentos do ponto de vista da sua correção formal. A estrutura deôntica
é verificada, portanto, pela Lógica Formal.

A norma ganha uma estrutura, podendo ter vários objetos, ou seja, inúmeros conteúdos
que serão delineados pelo operador do Direito, em especial, pelo julgador no momento
de uma decisão. Como a sociedade, porém, é dinâmica e, por conseguinte, o conteúdo
do Direito também deve ser, necessária se faz outra forma, que é exatamente o
apofântico.

De acordo com Vilanova,

Dizemos que a lógica é jurídica sem deixar de ser formal porque está vinculada a uma
região ou domínio de objetos – as normas jurídicas – e se apresenta como uma
formalização da linguagem que serve de expressão aos significados que são as normas.
Sendo uma formalização dessa linguagem, a lógica jurídica, por sua vez, é uma
linguagem, quer dizer, por mais simbólica (algarítimica) que se construa, sempre seus
símbolos fazem referência geral ao domínio dos objetos jurídicos.[54]

Podemos dizer, de uma forma bem simples, que o apofântico é que permite a justiça e a
eqüidade das decisões judiciais, por meio do movimento indutivo. [55]

2.2 Raciocínios jurídicos

A prática do Direito consiste, de forma fundamental, em argumentar. O bom jurista é


definido, na maioria das vezes, como aquele que tem capacidade de formular
argumentos e manejá-los com habilidade. E a linguagem assume importante papel na
elaboração dos raciocínios jurídicos, conforme anota Stamatis:

Pode-se ilustrar esta posição no domínio particular da linguagem jurídica, invocando as


razões [...], aptas a invalidar essencialmente a força máxima de uma concepção
“realista” da linguagem jurídica. É fora de dúvida [...] que há noções que se referem à
realidade empírica. (Traduzimos). [56]

O Direito pode ser estudado na perspectiva de pelo menos dois campos diferenciados da
Lógica: Lógica Formal e Lógica Não Formal. Existem, por conseguinte, dois tipos de
raciocínios no Direito: os lógico-dedutivos ou lógico-formais e o dialético, denominado
assim por Perelman, que tratam de argumentação jurídica. Enquanto uma operação
lógico-formal prevê uma demonstração de seus postulados, a argumentação é um
mecanismo de pensamento prático.

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2.3 A insuficiência da Lógica Formal para o Direito

Desde o positivismo jurídico, a justiça passou a ser uma qualidade do que é legal,
baseada na representatividade, sendo formal, para garantir a segurança jurídica. A
legitimidade e a legalidade se confundiam.

Kelsen, formalista ao extremo, considerava a justiça como um ideal irracional,


importando-se apenas com a lei posta, que se estruturava por meio de regras. O
positivista, portanto, busca estabelecer uma separação rigorosa entre Moral e Direito,
diferentemente do Direito natural que defende um padrão de validade baseado na moral
que é superior ao do Direito positivo.

Para o positivismo, a atividade do juiz é meramente declarativa ou reprodutiva de um


direito preexistente, isto é, de um conhecimento puramente passivo e contemplativo de
um objeto já dado.

Perelman explica que, à época do positivismo, o raciocínio jurídico relativo à aplicação


da lei foi considerado mera operação dedutiva, devendo a solução ser apreciada
unicamente segundo o critério de legalidade, sem levar em conta seu caráter justo ou
injusto, razoável ou aceitável. Ignorava, por completo, os juízos de valor[57].

Percebemos que o positivismo jurídico encontra respaldo na Lógica Formal, ao


argumento de que “a expressão de um julgamento de valor, a justificação de uma
escolha ou decisão, os fundamentos de nossas ações e de uma porção significativa dos
nossos pensamentos constituem-se atos subjetivos e arbitrários”. [58]

Ocorre que, com o relativo abandono do pragmatismo no final do século XIX e início
do século XX, entra em cena a idéia de valor, que alcança também o Direito.
Atualmente, período pós-positivista, a norma jurídica é formada não só por regras, mas
também por princípios, contendo e exprimindo valores.

Atentemos para o fato de que não só a norma-princípio emana valores, mas também a
norma-regra, só que de forma diversa. O conteúdo axiológico de uma regra é bem
menor do que o teor de um princípio, já que os valores, seguindo os ditames clássicos,
são fatores que determinam a conduta humana. A estrutura fechada da regra não permite
uma análise valorativa tão grande como ocorre com a estrutura aberta e abstrata dos
princípios.

Dessa forma, parece claro que o modelo de regras, proposto pelo positivismo jurídico,
baseado na Lógica Formal, com raciocínios meramente dedutivos, é insuficiente para
atender ao Direito. O sistema jurídico, na opinião de Stamatis,

[...] forja uma ordem aberta dirigida para um horizonte de potencialidade. Rica em
possibilidades, a ordem jurídica é então potencialmente mais larga do que suas
cristalizações normativas historicamente concretas; é também uma ordem de liberdade
ao mesmo tempo que uma ordem de segurança e de coração. [59] (Traduzimos).

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Algo que já era tratado no campo da Filosofia, por meio da Teoria do Conhecimento,
que reconhece o valor como fator determinante da conduta humana, ou seja, do sujeito
cognoscente em busca do objeto cognoscível, entra na esfera jurídica.

No âmbito do Direito, percebemos que este é criação da racionalidade humana para


tolher o livre arbítrio, permitindo a convivência pacífica entre os homens. Logo, o
Direito é formado, em geral, por normas, que são criações humanas, cujas ações são
delimitadas por valores. Da mesma forma, o Direito é interpretado e aplicado pelo
homem, que, utilizando sua racionalidade, busca uma solução conveniente para o caso
concreto.

Constatamos, pois, que o homem é um ser axiológico, o que acaba reflete no direito,
sendo invadido pelos valores, demonstrando a insuficiência dos raciocínios lógico-
formais, ocorrentes por meio da dedução.

Perelman explica que isto decorre do fato de que “na concepção atual do direito já não
se trata de limitar o papel do juiz ao de uma boca pela qual fala a lei. A lei já não
constitui todo o direito; é apenas o principal instrumento que guia o juiz no
cumprimento da sua tarefa, na solução dos casos específicos”. [60]

Segundo Perelman, o recurso aos princípios gerais do Direito é hoje o sucedâneo na


busca de fundamento para o Direito no direito natural. De acordo com o Filósofo
polaco-belga, referidos princípios não são considerados regras permanentes e imutáveis,
mas critérios de legitimadores que devem ser levados em consideração.

Em relação à valoração no Direito, questiona Alexy

[...] onde e em que medida são necessárias valorações, como deve ser determinada a
relação dessas com os métodos da interpretação jurídica e com os enunciados e
conceitos da dogmática jurídica, e como podem ser racionalmente fundamentadas ou
justificadas essas valorações.[61]

Nesse sentido, o antagonismo entre jusnaturalismo e positivismo encontra-se superado,


sendo o período pós-positivista marcado pelo recobro dos princípios que aparecem com
função normativa e a aceitação do juízo de valor no Direito.

3 DIREITO, ARGUMENTAÇÃO E DISCURSO

Visualizada a insuficiência da Lógica Formal para atender o raciocínio jurídico, com


reflexos na crise do positivismo jurídico, surgem algumas indagações: como produzir
critérios que legitimem racionalmente as decisões judiciais? Como o juiz
compatibilizará a segurança e a justiça, valores-base do Estado Democrático de Direito?
Como equilibrar valor com racionalidade? Essas e outras questões serão analisadas,
ainda que rapidamente, no presente tópico.

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É para tentar encontrar respostas a esses questionamentos que surge a Teoria da
Argumentação Jurídica, sendo a racionalidade prática o denominador comum deste
campo. Atienza destaca que, no âmbito do Direito, as argumentações ocorrem em três
momentos distintos: na produção e estabelecimento da norma jurídica; na aplicação de
normas jurídicas e, por fim, na dogmática jurídica. [62]

Não há duvidas de que tudo o que foi desenvolvido até o presente momento é com o
intuito de encontrar uma forma de justificar racionalmente uma decisão judicial,
objetivando o ideal de justiça. A justiça é o objetivo maior do Direito, o valor-mestre do
qual emanam os demais, inclusive a segurança. A segurança existe para alcançar a
justiça. É um instrumento para o fim do Direito; mas que justiça é essa? Será possível
uma justiça universal, aceita em todos os povos, locais, culturas e tradições? Ela poderá
ser justificada e controlada racionalmente, a fim de evitar o arbítrio e a insegurança
jurídica?

Diante desta problemática, são vários os autores que pretendem elaborar uma teoria da
argumentação de modo a justificar racionalmente as decisões judiciais e que efetivem a
justiça material.

Toda lide implica um desacordo, um conflito, e o papel do juiz é encontrar uma solução
razoável, aceitável, ou seja, nem subjetiva, nem arbitrária. Diante disso, Perelman nos
traz a seguinte questão: “sendo a sentença uma decisão, e não uma conclusão impessoal
e impositiva a partir de premissas incontestes, ela supõe a intervenção de uma vontade.
Como mostrar que ela não é arbitrária?”[63]

Perelman pretende delimitar uma racionalidade mínima para o valor justiça, que é, para
ele, o mais confuso de todos os valores. A análise lógica da noção de justiça parece
constituir verdadeiro desafio.

Por conta disso, o autor recupera da Filosofia grega a perspectiva lógico-retórica,


adequando-a ao contexto jurídico hodierno, passando a denominá-la Nova Retórica.
Situa, assim, o conceito de argumentação no campo da Retórica.

Na opinião de Perelman, não é possível reduzir o Direito a um aglomerado de leis, pois


uma lei necessariamente terá que ser interpretada para ser aplicada. E as interpretações,
por sua vez, podem variar em função do tempo. A realidade jurídica é um campo
imensamente maior do que aquele coberto por uma legislação formalmente válida.

Para que uma justificação racional da ação e do pensamento seja possível, é necessária
uma teoria geral da argumentação que parta do paradigma da racionalidade prática,
constituindo-se a terceira via entre o racional e o irracional.

Toda justificação racional demanda uma argumentação racional porque justificar não é
calcular, mas argumentar. O uso prático da razão pretende fornecer regras e critérios
que podemos submeter à adesão de todos.

Alexy busca a institucionalização da justiça, por meio de uma correção. Define justiça
como “a correlação que tem a ver com o ato de distribuir e de compensar”. [64]
(Traduzimos). Ele destaca, no entanto, que a correção do nosso juízo de justiça depende
dos interesses e necessidades de todos os envolvidos, assim como da tradição e cultura.

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Dessa forma, é impossível elaborar um conceito de justiça que seja aplicado em
qualquer sociedade. Pode-se asserir que a justiça sempre estará presente na essência do
ser humano, por mais que ele não tenha conhecimento das normas, ou seja, terá sempre
uma pré-compreensão do Direito. O sentido, porém, sua matéria, é que será delimitada
de acordo com aspectos histórico-culturais e axiológicos.

O Direito tem uma função social a cumprir, não pode ser realizado, de modo efetivo,
sem referência à sociedade que deve reger. E a argumentação jurídica racional opera
com valores aceitos num determinado tempo e espaço. Da mesma maneira, temos a
busca efetiva pela justiça, vinculada a esta função social.

Para tentar resolver as incertezas acerca da justiça, Alexy encontra na Teoria do


Discurso uma solução para o dilema. Segundo esse autor,

A teoria do discurso oferece uma saída para este dilema. De um lado, surge o fato de
que podemos argumentar de modo racional sobre a justiça, o que nos conduz para além
da posição emotivista-subjetivista. Por outro lado, podemos perceber que uma teoria da
justiça só será aceitável quando levarmos suficientemente em conta os interesses e
necessidades bem como a tradição e cultura de todos os implicados. Isso transforma a
teoria do discurso em base de uma teoria da justiça. [65] (Traduzimos).

No procedimento discursivo, enquanto o raciocínio lógico-formal produzido no Direito


segue os postulados da inferência dedutiva ou indutiva inerentes ao esquema da Lógica
Formal, o raciocínio jurídico típico busca se legitimar mediante a aceitação do discurso
argumentativo pelos destinatários.

Acerca do discurso do Direito, Alexy ressalta que

[...] a necessidade do discurso jurídico surge da debilidade das regras e formas do


discurso prático geral, que definem um procedimento de decisão que, em numerosos
casos não leva a nenhum resultado e que, se leva a algum resultado, não garante
nenhuma segurança definitiva. [66]

Por conta disso, Alexy assinala que a Teoria do Discurso é uma teoria procedimental da
correção de normas. A norma só pode ser considerada correta se for oriunda de um
discurso prático racional.[67]

Habermas defende a ação comunicativa, revelada num procedimento argumentativo em


um discurso dirigido ao consenso. Sustenta que o discurso garante duas condições
básicas, de forma simultânea:

[...] que todo participante individual é livre, no sentido de ter autoridade epistêmica na
primeira pessoa, ao dizer “sim” e “não”. [...] que está autoridade epistêmica se exerça
com a busca de um acordo arrazoado, de modo que só se selecionem soluções que sejam
racionalmente aceitáveis para todos os implicados e atingidos. [68] (Traduzimos).

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Propõe, assim, uma ética do discurso para esclarecer não apenas as questões da
compreensão intersubjetiva, mas também identificar, por meio dos pressupostos
pragmáticos da linguagem, uma fundamentação intersubjetiva e também racional das
normas jurídicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A importância do desenvolvimento de uma teoria da argumentação no Direito para


responder aos problemas urgentes expressos pela teoria jurídica contemporânea reside
na tentativa de estabelecer um método de argumentação jurídica que possa ser
considerado racional.

A interpretação do Direito não tem como excluir a ratio legis. Além disso, as
controvérsias na atividade de aplicação da lei são inevitáveis, fazem parte da vida do
Direto. É exatamente por isso que existe a possibilidade de se recorrer ao Judiciário.
Entram aqui, sem dúvidas, a ética e a responsabilidade do julgador, já que, por mais que
se tente controlar racionalmente as decisões, sempre haverá uma margem de liberdade
do juiz, pelo fato de se constituir um ser axiológico.

Não adianta ao profissional do Direito saber tudo o que está previsto nas normas,
decorar os códigos, leis, se ele não consegue organizar suas idéias e efetivamente
aplicá-las, por meio de uma argumentação motivada e também racional. Resta
ultrapassada a idéia do jurista bitolado e limitado a um conjunto de normas. Até porque
a crise do positivismo jurídico comprova que a Lógica Formal e o raciocínio dedutivo,
por meio de estruturas fechadas, não conseguem responder às demandas levantadas pelo
Direito.

Como visto, no período pós-positivista, a norma jurídica é formada não só pelas regras,
mas também por princípios, contendo e exprimindo valores, imperando uma nova forma
de ver o Direito, de interpretar e aplicar as normas jurídicas, exigindo uma nova atitude
do julgador.

Concluímos, assim, que o estudo da Lógica Jurídica e da Teoria da Argumentação é


fundamental para o operador do Direito, na medida em que oferece meios de estabelecer
um raciocínio jurídico correto e verdadeiro, na busca da persuação e do convencimento
do seu público.

REFERÊNCIAS

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5997
[1] NERICI, Imideo Giuseppe. Introdução à Lógica. 9. ed. São Paulo: Nobel, 1985, p.
13.

[2] JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia. Rio de Janeiro: Livraria Agir, 1961, p. 25.

[3] LALANDE, André. Vocabulário técnico e crítico da Filosofia. Tradução de Fátima


Sá Correia et al. São Paulo: Martins Fontes, 1993, p. 631.

[4] Apud NERICI, op. cit., p. 16.

[5] NERICI, op.cit., p. 17.

[6] Régis Jolivet diferencia a Lógica da Ciência da Lógica Natural, na medida em que
esta se caracteriza “como uma aptidão inata do espírito para usar corretamente as
faculdades intelectuais, mas sem ser capaz de justificar racionalmente, recorrendo aos
princípios universais, às regras do pensamento correto”. JOLIVET, op. cit., p. 25.

[7] PERELMAN, Chaïm. Lógica jurídica: nova retórica. Tradução de Vergínia K. Pupi.
São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 1.

[8] Como podemos perceber, o estudo da lógica desenvolve-se em torno da verdade. E


afinal, o que se entende por verdade? Analisando a pesquisa filosófico-científica, a
verdade se desdobra em vários conceitos. De acordo com Nérici, ela pode se manifestar
em: a) correspondência entre o conhecimento e objeto, sendo o conceito mais antigo
revelando-se como o acordo do pensamento com os seus objetos; b) coerência lógica,
afirmando que o juízo será verdadeiro quando se ajustar às normas e leis do
pensamento; c) utilidade prática, que traz o conceito de funcionalidade, defendendo o
argumento de que uma teoria será verdadeira se, por meio dela, for possível explicar
uma série de fenômenos e agir mais eficientemente sobre o meio. E o erro é o oposto da
verdade. NERICI, op. cit., p. 17-18.

[9] A Lógica Formal repousa sobre quatro princípios fundamentais que permitem todo o
desenvolvimento da Lógica, que dão validade a todos os atos do pensamento, a saber: a)
o princípio de identidade trata de o que é, é; b) o princípio de contradição afirma que
uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo; c) o princípio do terceiro excluído
expressa que toda coisa deve ser ou não ser; e d) o princípio de razão suficiente formula
que todas as coisas devem ter uma razão suficiente pela qual são o que são e não são
outra coisa. NERICI, op. cit., p. 30-31.

[10] NERICI, op. cit., p. 29.

[11] JOLIVET, op. cit., p. 30.

[12] ALVES, Alaôr Caffé. Lógica: pensamento formal e argumentação. 4. ed. São
Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 141.

[13] DI NAPOLI, Joannes. Manuale Philosophiae: Introductio generalis-logica-


cosmologia. Torino: Marietti editori, 1959, p. 53.

[14] VILANOVA, Lourival. Lógica Jurídica. São Paulo: Bushatsky, 1976, p. 79.

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[15] JOLIVET, op., cit., p. 31.

[16] FALCÃO, Raimundo Bezerra. Hermenêutica. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 14.

[17] Na formação do conhecimento, temos três elementos: o sujeito cognoscente (aquele


que conhece ou quer conhecer, ser dotado de intelecto e razão), o objeto cognoscível
(aquele a ser conhecido) e a atividade, que pode ser definida como tudo o que o sujeito
cognoscente, comandado pela mente, desenvolve para interagir com o objeto.

[18] NERICI, op. cit., p. 32.

[19] O sentido é livre, mutável, porque o palco de sua criação é o pensamento. Para
Falcão, o sentido é inesgotável, pois vai depender do sujeito cognoscente, do seu
pensamento e dos valores que vão refletir nas suas escolhas. Admitir-se um sentido
rigidamente objetivo, querendo com isso dizer algo imune a qualquer ponto de vista do
sujeito cognoscente, importaria querer-se afirmar algo que existencialmente é
impossível. FALCÃO, op. cit., p. 33-35.

[20] DI NAPOLI, op. cit., p. 54.

[21] DI NAPOLI, op. cit., p. 62.

[22] Segundo Gredt, “podemos distinguir o conceito formal (subjetivo, propriamente


dito), e conceito objetivo (analogicamente dito). O conceito formal é aquilo em que
entendemos e o objetivo é aquilo que entendemos formalmente, ou seja, por si mesmo,
ou a razão objetiva, que por meio do conceito formal imediatamente se apresenta à
mente”. (Traduzimos). GREDT, Josephus. Elementa philosophiae. Vol. I. Freiburg:
Herder, 1956, p. 10.

[23] NERICI, op. cit., p. 32-33.

[24] NERICI, op. cit., p. 33.

[25] JOLIVET, op. cit., p. 31.

[26] DI NAPOLI, op. cit., p. 71.

[27] NERICI, op. cit., p. 43.

[28] Gredt explica que o “o juízo pode ser considerado logicamente e fisicamente. O
juízo logicamente considerado (como artefato lógico) é algo complexo, que une e
separa, isto é, que se refere mutuamente em relações, em razão da identidade e da
discrepância; nisso consiste a sua forma. Fisicamente considerado, o juízo é um simples
ato pelo qual a mente, percebendo a conveniência ou inconveniência entre sujeito e
predicado, diz que eles convém ou não convém entre si”. (Traduzimos). GREDT, op.
cit., p. 27.

[29] JOLIVET, op. cit., p. 37.

[30] DI NAPOLI, op. cit., p. 73.

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[31] Segundo Di Napoli, “na enunciação, a matéria são os termos (sujeito e predicado);
a forma é a afirmação e a negação. A forma é indicada pelo verbo ser, que também é
chamado de ligação, que liga (afirma) ou desliga (nega) o predicado do sujeito”.
(Traduzimos). DI NAPOLI, op. cit., p. 74.

[32] PERELMAN, op. cit., p. 1.

[33] DI NAPOLI, op. cit., p. 97.

[34] NERICI, op. cit., p. 56.

[35] GREDT, p. 8.

[36] LALANDE, op. cit., p. 631.

[37] NERICI, op. cit., p. 56-57.

[38] Alves salienta que o pensamento dedutivo é o único que interessa à Lógica Formal,
na medida em que “somente neste temos a possibilidade de fazer afirmações
concludentes, quer dizer, afirmar proposições de modo necessário (apodíticas) por
conseqüência de outras que são suas premissas. Quando tiramos, a partir de
determinadas premissas, certa conclusão que se nos impõe racionalmente e de forma
incontrolável, dizemos que estamos inferindo de modo analítico. Essa inferência
analítica diz respeito à necessidade ideal ou racional que marcha do princípio para a
conseqüência, como ocorre com os objetos matemáticos e os lógicos”. ALVES, op. cit.,
p. 120.

[39] PERELMAN, op. cit., p. 1.

[40] PERELMAN, op. cit., p. 2.

[41] DI NAPOLI, op. cit., p. 97-98.

[42] DI NAPOLI, op. cit., p. 100.

[43] Um tipo interessante de silogismo é o categórico. Gredt o define como “um


argumento em cujo antecedente são comparados dois termos com um terceiro, para que
daí seja inferido o conseqüente, que enuncia que aqueles dois termos convém ou não
entre si”. GREDT, op. cit., p. 53.

[44] O silogismo era, para Aristóteles, padrão do raciocínio analítico, enunciado pelo
clássico esquema: “Se todos os B são C e se todos os A são B, todos os A são C”.
Percebamos que, de acordo com a fórmula, o referido raciocínio é válido independente
de que termos seja A, B e C, ou seja, independentemente do conteúdo. Trata-se, assim,
de lógica formal.

[45] Inferência, segundo Copi, “é um processo pelo qual se chega a uma proposição,
afirmada na base de uma ou de outras mais proposições aceitas como ponto de partida
do processo”. Nesse sentido, “o lógico não está interessado no procedimento de
inferência, mas nas proposições que são os pontos iniciais e finais desse processo, assim

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como nas relações entre elas”. COPI, Irving M. Introdução à Lógica. São Paulo: Mestre
Jou, 1981, p. 21.

[46] ALVES, op. cit., p. 141.

[47] DI NAPOLI, op. cit., p. 127.

[48] VILANOVA, op. cit., p. 59.

[49] ALVES, op. cit., p. 128-129.

[50] VILANOVA, op. cit., p. 84-85.

[51] VILANOVA, op. cit., p. 86-87.

[52] VILANOVA, op. cit., p. 106.

[53] PERELMAN, op. cit., p. 13.

[54] VILANOVA, op. cit., p. 111.

[55] Puigarnau ressalta um dos óbices para a indução, ao acentuar que “salta la vista que
el problema de la inducción estriba en determinar cuál sea el fundamento o principio de
la misma, esto es, en justificar o legitimar el tránsito de la pluralidad a la totalidad y de
la mera realidad a la necessidad”. PUIGARNAU, Jaime M. Mans. Logica para juristas.
Barcelona: Bosch, Casa Editorial, S.A., 1978, p. 128.

[56] STAMATIS, Constantin M. Argumenter en Droit: une théorie critique de


l´argumentation juridique. Paris: Publisud, 1995, p. 128.

[57] PERELMAN, op. cit., 135.

[58] MONTEIRO, Cláudia Servilha. Teoria da Argumentação Jurídica e Nova


Retórica. 3. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 30.

[59] STAMATIS, op. cit., p. 232.

[60] PERELMAN, op. cit., p. 221-222.

[61] ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: A Teoria do Discurso


Racional como Teoria da Justificação Jurídica. 2. ed. Tradução de Zilda Hutchinson
Schild Silva. São Paulo: Landy, 2008, p. 38.

[62] ATIENZA, Manuel. As razões do Direito: teorias da argumentação jurídica. São


Paulo: Landy, 2002, p. 18-19.

[63] PERELMAN, op. cit., p. 222.

[64] ALEXY, Robert. La institucionalización de la justicia. Traducción de José Antonio


Seoane et al. Granada: Editorial Comares: 2005, p. 57.

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[65] ALEXY, op. cit., p. 59-60.

[66] ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: A Teoria do Discurso


Racional como Teoria da Justificação Jurídica. 2. ed. Tradução de Zilda Hutchinson
Schild Silva. São Paulo: Landy, 2008, p. 275.

[67] ALEXY, Robert. La institucionalización de la justicia. Traducción de José Antonio


Seoane et al. Granada: Editorial Comares: 2005, p. 60.

[68] HABERMAS, Jürgen. La ética del discurso y la cuestión de la verdad. Traducción


de Ramón Vilà Vernis. Buenos Aires: Paidós, 2006, p. 30-31.

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