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A EXPOSIÇÃO
Caros Amigos Artistas,
Segue uma boa parte das poesias de Carlos Pena Filho para que
todos possam selecionar a que mais possa lhe inspirar. Algumas
estão marcadas de vermelho pois já foram selecionadas ou
solicitadas por artístas específicos. Por exemplo, havia uma
poesia que foi escrita por Carlos para Francisco Brennand e este
irá desenvolver uma obra baseada neste poema
Aguardamos a seleção de todos para então pedir a autorização
da Sra. Tânia, viúva de Carlos Pena, e que detém os direitos
autorais. Isto será necessário para confecção do livro e para a
apresentação dos textos na exposição em si.
Os textos escolhidos devem ser encaminhados para Séphora ou
Sérgio, curadores da mostra. É importante colocar no e-mail o
nome do artista e o número/nome da poesia.
Que todos se inspirem à altura da poesia desta grande
personalidade pernambucana e que, possamos juntos trabalhar
para resgatar sua importante obra.
A curadoria
1 - OLINDA DO ALTO DO MOSTEIRO, UM FRADE A VÊ
A Gilberto Freyre
Os acidentes, na luz,
não são, existem por ela.
Não há nem pontos ao menos,
nem há mar, nem céu, nem velas.
Quando a luz é muito intensa
é quando mais frágil é:
planície, que de tão plana
parecesse em pé.”
2 - EPISÓDIO SINISTRO DE VIR- II
GULINO FERREIRA A feira de Vila Bela
A Jorge Amado e Odorico Tavares tem chocalhos para vacas.
Na feira de Vila Bela,
I feijão e pó nas barracas.
Sobre um chão de sol manchado, Na feira de Vila Bela,
passeavas pelos campos arreios, cordas e facas.
o teu cangaço sem rumo. Na feira de Vila Bela,
Com um olho na morte e o outro chapéus de couro, alpercatas.
no fel que se elaborava Na feira de Vila Bela,
em tua vida sem prumo. um ceguinho pede esmola.
Teus olhos apenas viam Na feira de Vila Bela,
fogo, sol, lâmina, fumo o cego e sua viola:
e apetrechos de emboscada. -”Dona, siga o meu conselho,
Em vez de chapéu, possuías vá rezar uma oração,
um céu de couro à cabeça porque eu já vejo, à distância,
com três estrelas fincadas. a ira de Lampião.
Tua missão neste mundo Fiquem somente os soldados,
era governar o escuro: o sargento e o capitão.
acender uma fogueira Fico eu também que sou cego
com os mil destroços da fúria. e não sei da claridade.
Cultivar lavoura estranha: Se Lampião me matar,
semear em sepultura. mata somente a metade,
E arriscar, que é certo o risco que a outra já levou Deus
na profissão da aventura. por sua agreste vontade”
Nos sítios onde campeavas,
nordeste avaro e sinistro III
de sóis sem fim do sertão, Às cinco horas, a tarde
povoavas as campinas, aguardava a escuridão.
as vastidões desoladas Uma cabra ruminava
com tua negra solidão. e um boi dormia no chão.
A solidão que habitava Pelo silêncio voava
teu sono e tua ração o vento da solidão
e que ia mesmo até onde e o longo céu transformava
não ia um boi nem um cão, seu ourazul em carvão.
onde não chegava um homem Às seis e meia da noite,
nem sua degradação, Corisco cuspiu no chão,
onde não iam aves Volta Seca olhou em torno,
nem ia a recordação, fez sinal a Lampião.
onde só ia ela mesmo, Às sete e meia da noite,
em tua perseguição. Virgulino disse: não.
Só meia hora depois
cuspiu fogo a sua mão.
Na frente seguem as balas
e, logo após, o trovão.
Depois dele vai Lusbel
no corpo de Lampião.
Por dez minutos, o chumbo coragem e tua mão
passeou na escuridão, ficarão paralisados,
entrou no medo de alguns Virgulino Lampião.
e, de outros, no coração. De nada adiantará
Entrou também, de repente, aquela forte oração
na branca imaginação que te deu em Juazeiro
das mocinhas que dormiam Padre Cícero Romão.
com os seios presos na mão. A morte será tão grande
-”Venha o chefão”! Ele veio. que até mesmo a solidão
Foi passado no facão. que há tantos anos te habita
-”Venha agora o carcereiro será cortada a facão.
que é homem sem precisão.
Saia o vigário da igreja VI
para me dar sua benção. A feira de Vila Bela
Volta Seca, solte os presos tem chocalhos para vacas.
que o mundo já é prisão”. Na feira de Vila Bela,
feijão e pó nas barracas.
IV Na feira de Vila Bela,
Veio o sol imperecível arreios, cordas e facas,
e iluminou toda a vila, Na feira de Vila Bela,
pôs luz no ar e no medo chapéus de couro, alpercatas.
na carne, no pó, na argila. Na feira de Vila Bela,
Banhou de luz um vaqueiro um ceguinho pede esmola.
que vinha de uma fazenda, Na feira de Vila Bela,
parou na almofada de uma o cego e sua viola:
avó que fazia renda. -”A lenda tem pés ligeiros
Desceu ao chão e secou e corre mais no sertão,
sangue rubro derramado, corre mais do que lembrança,
brilhou nos botões da farda mais que soldado fujão.
do cadáver de um soldado. Corre mais que tudo, só
Na meia-manhã, a vila não corre mais que oração
preparava um pelotão e isso mesmo quando é feita a
para sair pelos campos Padre Cícero Romão.
afora, em perseguição. Hoje todo o mundo sabe
Mas norte, sul, este e oeste, quem foi ele, o capitão.
pra toda a parte é sertão Junta o sabe e o não sabe
e nele ninguém descobre e inventa outro Lampião.
Virgulino Lampião. Mas, dele mesmo, não sabem
e nem nunca saberão,
V pois ele nunca viveu,
Um dia é apenas um dia, não era sim, não era não,
pois os dias, dias são. como essas coisas que existem
Um dia será teu dia, dentro da imaginação.
Virgulino Lampião. Quem puder que invente outro
Teus olhos míopes, tua Virgulino Lampião.
3 - MEMÓRIAS DO BOI SERAPIÃO e a grande sede que mora
A Aloísio Magalhães e José Meira no abismo de cada um.
A Francisco Brennand
— Pois, se o encontrares,
traze-O ao meu amor.
— E que lhe ofereces,
velho pecador?
— Minha fé cansada,
meu vinho, meu pão,
meu silêncio limpo,
minha solidão.
24 - A MESMA ROSA AMARELA
Carlos Pena Filho