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Comparação, história e interpretação

Por uma ciência política histórico-interpretativa*

Renato Perissinotto

Apresentação único caso que, embora mais modestos do ponto


de vista de seu alcance teórico, contribuem para o
Em uma afirmação bastante conhecida, o an- avanço do conhecimento por meio da observação e
tropólogo Guy E. Swanson diz que “pensar sem da interpretação rigorosas dos fatos. Não há dúvi-
comparar é impensável”, pois, “uma vez ausente da, porém, de que o procedimento comparativo é o
a comparação, estarão ausentes também a pesqui- que produz explicações mais robustas do ponto de
sa e o pensamento científicos” (Swanson, 1973, p. vista científico, pois fornece ao pesquisador vários
145). Não iria tão longe. Há certamente formas de casos estratégicos a partir dos quais ele pode con-
fazer ciência que não invocam diretamente o pro- trolar a relação entre as variáveis analisadas.
cedimento comparativo, como os trabalhos de pes- Este texto pretende responder três questões: 1)
quisa essencialmente descritivos e limitados a um como definir exatamente o procedimento compa-
rativo; 2) como operacionalizá-lo; 3) seria a busca
* Este texto é fruto parcial de pesquisa realizada durante de relações de causalidade o fim único da pesquisa
estágio de pós-doutorado no Latin American Centre em ciência política ou seria necessário ainda com-
da University of Oxford, entre 2011 e 2012, financia- plementá-la com um procedimento interpretativo?
do pelo CNPq. O autor agradece aos colegas Marcio
Sergio Batista de Oliveira e Paolo Ricci e aos parece- Na seção inicial, apresentamos o que entendemos
ristas anônimos da Revista Brasileira de Ciências Sociais por comparação e discutimos as possibilidades e
pelos comentários. os limites de sua aplicação nas ciências sociais; em
Artigo recebido em 12/08/2011 seguida, apontamos as vantagens teóricas da aná-
Aprovado em 03/04/2013 lise comparativa de poucos casos baseada em uma
RBCS Vol. 28 n° 83 outubro/2013
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perspectiva histórica (o tipo de trabalho executado logic, publicada em 1886. Nesse livro, Mill identi-
pelos chamados “sociólogos históricos” ou “compa- ficou cinco procedimentos comparativos, cada um
rativistas históricos”); por fim, defendemos que o com limites e potencialidades próprios: o método
procedimento comparativo não esgota o empreen- da semelhança (agreement method), o método da
dimento científico nas ciências sociais, já que re- diferença (method of difference), o método indireto
velar as causas dos fenômenos sociais não implica da diferença (indirect method of difference), o mé-
revelar como eles são produzidos. Por essa razão, todo dos resíduos (methods of residues) e o método
acreditamos que uma perspectiva compreensiva das variações concomitantes (method of concomitant
é complementar (e não antagônica) à análise causal variations) (Mill, 1886, pp. 254-259). Neste arti-
comparativa. go, essencialmente voltado para a análise histórica
comparativa, interessa-nos em particular os méto-
dos da semelhança e o método indireto da diferen-
Comparação como operação mental ça (uma variação do método da diferença), ampla-
mente utilizados por comparativistas históricos.3
Giovanni Sartori (1991, p. 243) observou que O método da semelhança é aquele em que os
são assumidas duas definições distintas do procedi- casos comparados são muito diferentes entre si, mas
mento comparativo. Há aqueles que, a exemplo de se assemelham em dois aspectos: primeiro, todos os
Arend Lijphart (1971, pp. 682-684), entendem a casos contêm o fenômeno a ser explicado; segundo,
comparação como uma técnica de pesquisa especí- todos eles possuem uma condição em comum que,
fica utilizada especialmente no estudo comparativo exatamente por isso, supõe-se ser a causa do fenôme-
de poucos casos, diferente, portanto, da técnica es- no em questão. Chama-se “método da semelhança”
tatística. Ao mesmo tempo, há quem considera a justamente porque os casos assemelham-se entre si
comparação uma “operação mental” que pode ser pelo fenômeno que ser quer explicar e pelo fato de
realizada lançando-se mão de técnicas de pesquisa a circunstância que supostamente o explica estar
diversas (experimental, estatística, histórica), como presente em todos eles. Assim, qualquer circuns-
Neil Smelser (1976, cap. 1). tância que não seja essa comum a todos os casos
Neste artigo adotamos a posição de Smelser poderia ser retirada sem prejuízo à ocorrência do
(1976, p. 5). Compreendemos o método compa- fenômeno.
rativo como uma “operação mental”, cujo objeti- No método da diferença, o investigador com-
vo mais ambicioso (mas não o único) é controlar para casos que são similares entre si, mas se dife-
“variáveis”1 a fim de testar proposições causais. renciam em dois aspectos: primeiro, alguns casos
As técnicas específicas de controle de variáveis (os casos positivos) contêm o fenômeno a ser ex-
(experimen­tal, estatística, histórica), porém, dife- plicado, enquanto outros (os casos negativos), não;
rem enormemente em tipo, efetividade e utilidade segundo, todos os casos positivos partilham uma
científica, mas todas podem ser percebidas como condição que, entretanto, está ausente em todos os
esforços para explicar fenômenos sociais à medida casos negativos. Essa circunstância comum, presen-
que se controle suas condições de variação. Nesse te apenas nos casos positivos, é tida como a causa
sentido, tanto a técnica experimental como a esta- do fenômeno em questão. Como se percebe, cha-
tística e a histórica lançam mão das mesmas ope- ma-se método da diferença porque os casos, apesar
rações mentais quando são utilizadas a serviço da de similares nos demais aspectos, diferem-se no que
comparação. Diferem entre si, porém, quanto à diz respeito à presença do fenômeno e em relação à
questão de pesquisa, à natureza do objeto estudado, presença da circunstância que o explica, encontrada
ao número de casos analisados, ao tipo de explica- somente nos casos positivos.
ção fornecida e às técnicas empregadas.2 O método da diferença seria o procedimento
Como “operação mental”, os princípios lógi- típico do método experimental. Um experimento
cos do método comparativo foram sistematizados consiste exatamente na produção arbitrária pelo
por John Stuart Mill no livro III da obra System of investigador de situações distintas que lhe permi-
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tam comparar o impacto produzido por uma va- A impossibilidade de realizar o controle exigido por
riável, presente ou ausente, de acordo com a ma- esses métodos
nipulação conduzida por ele. Como esse método
é muito exigente quanto à capacidade de controle No âmbito das ciências sociais, o primeiro a
sobre as variáveis, Stuart Mill definiu uma varian- rejeitar o uso desses métodos foi Émile Durkheim.
te menos rígida, chamada por ele de “método in- De um lado, o método da semelhança exige que
direto da diferença”. os casos comparados sejam inteiramente diferentes
No método indireto da diferença, o investiga- entre si e se assemelhem apenas pela presença da va-
dor primeiramente utiliza uma série de exemplos riável causal e do fenômeno a ser explicado; de ou-
que contam com o fenômeno que ele pretende ex- tro, o método da diferença exige que os casos sejam
plicar e isola a variável recorrente em todos eles. inteiramente semelhantes entre si, diferenciando-se
Na sequência, ele utiliza outros casos que não con- somente pela presença do fenômeno e da variável
tam com o fenômeno em questão para avaliar se a causal. Durkheim avaliava então que a aplicação
variável recorrente encontrada anteriormente está desses métodos seria impossível em sociologia, pois
ausente dos casos negativos. No entanto, em vez nenhum inventário plausível dos fatos poderia per-
de um experimento artificial propriamente dito, o mitir a um investigador estar certo “de que duas so-
pesquisador analisa os casos positivos e negativos ciedades concordam ou diferem em relação a todos
tal como eles aparecem na natureza (ou na his- os aspectos, exceto um” (Durkheim, 1978, p. 113).
tória, diríamos nós). O método é “indireto” por- A forma como ele rejeitou a possibilidade de aplicar
que a diferença não é produzida diretamente pelo os métodos da semelhança e da diferença ao estudo
pesquisador, por meio de experimentos artificiais, dos fenômenos sociais nos parece equivocada por
mas por meio da comparação de casos negativos duas razões.
e positivos cuja existência independe dele (Idem, Primeiramente, exigir que o pesquisador te-
pp. 258-259). Outro nome dado a esse método é nha pleno controle sobre as variáveis em questão,
“método conjunto da semelhança e da diferença” ao “comparar sociedades”, a ponto de garantir que
(Idem, p. 259).4 tais sociedades se assemelhem ou se diferenciam em
O uso desses métodos permite ao investigador todos os aspectos exceto um tornaria tais métodos
descartar causas potencialmente necessárias e sufi- impraticáveis. Mas o procedimento seria bem me-
cientes. Conforme Mahoney (2008, p. 341-342), nos exigente se nos dedicássemos a comparar não
no caso do método da semelhança, como o resul- “sociedades”, como sugere Durkheim, mas fenô-
tado a ser explicado está em todos os casos esco- menos restritos e bem delimitados. Nesse sentido,
lhidos para estudo, é logicamente impossível que Skocpol e Somers (1997, p. 90) e Collier e Collier
uma causa hipotética não partilhada por todos seja (1991, p. 14, nota 15) observam que a aplicabili-
individualmente necessária para explicar o fenôme- dade da análise histórica comparativa com base
no. No que diz respeito ao método da diferença, o nos métodos sistematizados por Mill só é viável se
fenômeno analisado está presente apenas em alguns o problema pesquisado for muito bem delimitado.
casos, portanto, se uma causa hipotética está pre- Ninguém, de fato, compara países ou sociedades.
sente em todos os casos, positivos e negativos, ela não Vale lembrar, aliás, que François Simiand (2003,
pode ser considerada suficiente, pois nem todos os pp. 82, 101-102), discípulo de Durkheim, defen-
casos que contam com a presença da causa hipoté- de posição contrária em suas considerações sobre o
tica contam também com a presença do fenômeno. método histórico.
A busca (e a eliminação) de causas necessárias Além disso, o próprio Durkheim fornece um
e/ou suficientes é uma das principais características importante argumento em defesa da aplicação dos
desses métodos, que exatamente por essa razão ten- métodos de Mill (notadamente o método indireto
dem a ser rejeitados e considerados inaplicáveis ao da diferença) ao estudo dos fenômenos sociais. A
estudo dos fenômenos sociais. São três as críticas eficácia desses métodos certamente aumentaria se
dirigidas a sua aplicação nas ciências sociais. comparássemos problemas específicos em socieda-
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des “de uma mesma espécie e num mesmo estágio te”). Haveria, segundo seus críticos, dois proble-
de desenvolvimento” (Durkheim, 1978, pp. 118 e mas nesse procedimento. O primeiro, do qual o
121-122)5 “Sociedades da mesma espécie” facilitam próprio Mill tinha consciência, seria a produção
o procedimento comparativo porque aumentam o de uma amostra enviesada, apenas com casos que
número de condições comuns às sociedades com- contivessem o fenômeno a ser estudado; seria pos-
paradas (as “condições paramétricas”, conforme sível evitar esse risco ao selecionar também casos
Smelser, 1976, p. 154) e, por conseguinte, dimi- negativos para a análise. O segundo problema seria
nuem a quantidade de diferenças que precisarão ser escolher casos em que a variável dependente não
pensadas como possíveis causas. Como se percebe, varia; desse modo, o analista não teria como me-
o que está em questão é a capacidade de o pesqui- dir o impacto de supostas variáveis causais sobre a
sador fazer valer a cláusula ceteris paribus. Quan- variável dependente simplesmente porque não há
to mais delimitado for o problema e quanto mais variação alguma. Isso se resolve, contudo, se o que
semelhantes forem os casos comparados, mais fácil se procura saber não é o impacto linear de uma va-
será garantir que as demais condições importantes riável sobre outra, mas a presença/ausência de con-
para o fenômeno permaneçam constantes e que a dições necessárias e/ou suficientes para a produção
diferença fundamental entre eles incida sobre a pre- do fenômeno (Landmann, 2008, p. 72); nesses
sença/ausência da suposta causa.6 casos, selecionar a partir da variável dependente é
Comparar sociedades da mesma espécie nos adequado. Apenas a título de ilustração, basta pen-
permite ainda respeitar outra característica funda- sar na análise weberiana da relação entre Estado
mental do método comparativo. O procedimento moderno e capitalismo racional. Weber não busca
comparativo não pode ser efetuado entre entidades identificar o impacto quantitativo que uma condi-
absolutamente idênticas – já que não faz sentido ção causal produz sobre um dado fenômeno, mas
comparar uma coisa com ela mesma – nem entre se os casos que contêm o fenômeno (o capitalis-
entidades absolutamente diferentes – o que impos- mo racional) contam também com a presença da
sibilitaria qualquer tipo de controle. Toda com- causa em questão (o Estado racional) e, ao mesmo
paração pressupõe certo grau de semelhança e de tempo, se os casos negativos evidenciam a ausência
diferença entre as coisas comparadas, evitando-se, dessa mesma causa.7
assim, comparar o incomparável. Uma boa solu-
ção é comparar “sociedades da mesma espécie”, o Os pressupostos determinísticos desses métodos não se
que pressupõe o uso de bons critérios de classifi- aplicam aos fenômenos sociais
cação para juntar entidades que de fato partilham
alguns atributos importantes, como recomenda Os métodos da semelhança e da diferença,
Sartori (1970, pp. 1035-1036 e 1040; 1991, pp. como dissemos, estão preocupados em identificar
245-249). Valendo-se desse método, autores como e/ou excluir causas necessárias e/ou suficientes, o
Alexis de Tocqueville (1977), Max Weber (1964), que, segundo alguns, geraria dois problemas signi-
Otto Hintze (1975), Karl Polanyi (2000), Barring- ficativos.
ton Moore Jr. (1983), Theda Skocpol (1984), Ellen Quanto às causas necessárias, os críticos dizem
Kay Trimberger (1978) e vários outros produziram que há potencialmente inúmeras causas desse tipo,
análises clássicas nas ciências sociais. a maior parte delas sem importância ou triviais (por
exemplo, a existência de seres humanos é necessá-
A inadequação de escolher os casos pela “variável ria para uma revolução social). Da mesma forma,
dependente” causas suficientes podem ser óbvias ou tautológicas
(por exemplo, a guerra é causa suficiente de morte
Ao utilizar o procedimento comparativo como em larga escala). No entanto, Mahoney tem razão
sistematizado por Mill, devemos escolher os casos ao observar que os cientistas sociais que usam os
em função da presença ou ausência do fenôme- métodos sistematizados por Mill quase nunca co-
no que ser quer explicar (a “variável dependen- metem esses erros, conseguindo diferenciar clara-
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mente causas necessárias triviais das não triviais e cativas em termos de causas necessárias e/ou sufi-
causas suficientes tautológicas das não tautológicas cientes. Seu objetivo é sempre identificar “causas
(Mahoney, 2008, p. 348; 2004). adequadas” prováveis, definindo-as da seguinte
O segundo problema, mais grave, deve-se a forma: “Dizemos [...] que uma sucessão de fatos é
esses métodos utilizarem pressupostos determi- ‘causalmente adequada’ na medida em que, segun-
nísticos inválidos para entender um mundo social do as regras da experiência, exista a seguinte proba-
governado por leis probabilísticas. Pressupostos bilidade: que sempre transcorra de igual maneira”
determinísticos podem levar a se tomar como cau- (Weber, 1984, p. 11, grifo nosso).8 Portanto, o uso
sas certas aquelas que são apenas prováveis ou a se do método da diferença por Weber – e por vários
descartar causas prováveis porque não parecem cer- outros autores – não implica aderir aos pressupos-
tas (Borges, 2007, pp. 3-4). Dito de outra forma, tos determinísticos originalmente presentes na sis-
tais métodos podem equivocadamente eliminar tematização de Stuart Mill.
de seu modelo fatores causais probabilísticos, pois
um modelo determinístico exclui qualquer causa
que não esteja presente em todos os casos. Assim, Por que comparar poucos casos e por que
valendo-se do método da semelhança, um analista comparar usando a história?
que examinasse três casos de acidente de carro, por
exemplo, eliminaria a bebida alcoólica como causa Como dissemos no item anterior, a compara-
se ela estivesse presente em apenas dois casos; da ção, tal como sistematizada por Stuart Mill e uti-
mesma forma, usando o método da diferença, o lizada por inúmeros cientistas sociais, é uma ope-
analista eliminaria a bebida como causa se ela es- ração lógica passível de ser operacionalizada por
tivesse presente tanto em casos com acidente como diferentes técnicas de pesquisa. Cabe agora defen-
em casos sem acidentes (Mahoney, 2008, p. 349). der um modo específico de fazer comparação, isto
É verdade que esse tipo de procedimento com- é, estudos comparativos de poucos casos baseados
parativo, que busca causas necessárias e suficientes, no conhecimento histórico aprofundado de cada
não permite avaliar o “efeito líquido” do impacto um deles. A principal crítica que se faz aos estu-
de uma variável sobre outra. No entanto, mostra- dos de N pequeno é que eles formam um desenho
-se corretamente que beber não é nem condição de pesquisa que inviabilizaria o controle científi-
necessária nem condição suficiente para acidentes co, pois conjugam poucos casos e muitas variáveis.
(mantendo o exemplo dado por Mahoney), pois Esse problema, por sua vez, impossibilitaria a for-
nem todo acidente é causado por bebida nem todo mulação de inferências causais seguras e, conse-
motorista que dirige bêbado causa acidente. O mé- quentemente, a produção de ganhos teóricos – isto
todo ajuda a descobrir se dirigir bêbado em combi- é, a produção de generalizações. Acreditamos que
nação com outras variáveis é uma causa suficiente quatro argumentos possam ser apresentados contra
(ou quase suficiente) para acidentes de carros numa essa crítica.
população específica de casos (Mahoney, 2008, pp.
349-350). Estudos de N pequeno e ontologia causal complexa
Alguns pesquisadores contemporâneos de-
fendem que as exigências colocadas por tais pres- A crítica acerca da conjugação de poucos casos
supostos podem e devem ser atenuadas para que com muitas variáveis deve ser prontamente aceita,
o uso de tais procedimentos produza resultados mas deve ser também qualificada, já que os estu-
frutíferos nas ciências sociais (por exemplo, Hall, diosos que lançam mão de estudos dessa natureza o
2008). Quanto a este ponto, vale a pena citar Max fazem exatamente porque desconfiam da possibili-
Weber e o seu conceito de “causa adequada”. We- dade de formulação de leis universais ou de amplas
ber defende explicitamente o uso do método in- generalizações, supostamente factíveis a partir de
direto da diferença na pesquisa sociológica (1984, estudos de N grande. Ao contrário, seus objetivos
p. 10), mas jamais formula suas proposições expli- consistem fundamentalmente na formulação de
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“generalizações modestas”, historicamente embasa- uso dos most likely cases ou dos least likely cases. Os
das, válidas para contextos claramente delimitados most likely cases são aqueles que, de acordo com
(Tilly, 1984, cap. 4).9 Esse tipo de estratégia analíti- uma dada teoria, deveriam produzir um determi-
ca, baseada no conhecimento histórico10 de poucos nado fenômeno, mas não o produzem; portanto,
casos, seria mais adequada a outra concepção de tais casos são usados para refutar uma teoria e ge-
causalidade do mundo social que não a causalida- rar outras hipóteses. Dito de outro modo, se a te-
de linear (Hall, 2008). O entendimento de que a oria não passa nesse caso que lhe é mais favorável,
complexidade e a historicidade dos eventos sociais é provável que não passe em outros. Os least likely
não podem ser adequadamente captadas nem por cases são aqueles que, de acordo com uma teoria,
uma visão linear de causalidade nem por uma vi- menos deveriam produzir um resultado, mas o
são panorâmica de infinitos casos demandaria uma produzem. Se a teoria passa com sucesso por esses
estratégia analítica distinta, orientada pela busca casos que lhes são menos favoráveis, então seria
de “combinações causais múltiplas” que operassem capaz de passar também por outros. Os least likely
em contextos específicos e que só poderia ser posta cases são os mais interessantes, pois permitem sub-
em prática por estudos de N pequeno e pela análise meter a teoria a um teste mais rigoroso. Esse as-
histórica. pecto é particularmente importante para e­ studos
Esse tipo de análise seria, assim, em tudo di- de um único caso, em que a unidade analisada
ferente das pesquisas baseadas em técnicas quanti- arca com um peso muito grande sobre o objetivo
tativas que, segundo Charles Ragin, limitam-se a de produzir provas. Assim, quanto mais detalha-
avaliar separadamente o impacto de cada variável do for o teste propiciado pelo caso, mais robustas
independente sobre a variável dependente. Nesses são as conclusões produzidas pelo estudo (Ger-
casos, o objetivo principal é estimar a contribuição ring, 2007, p. 117; Rueschmeyer, 2008, p. 311;
separada de cada causa para a produção do resul- Landmann, 2008, p. 89).
tado analisado e não o efeito diferenciado de uma Estudos de caso podem cumprir outras fun-
combinação de causas. As técnicas estatísticas apli- ções além de testar teorias e gerar novas hipóteses.
cadas às ciências sociais, portanto, não permitiriam Eles são importantes também para a produção de
pensar em termos de “causação múltipla” (Ragin, descrições contextuais profundas e exaustivas, con-
1987, p. 64). Desse modo, um investigador pode tribuindo para a identificação de novos “tipos” e,
determinar, por exemplo, que a presença de X1 au- consequentemente, para a produção de classifica-
menta a probabilidade de Y ocorrer em 10%, en- ções mais refinadas, o que é fundamental para qual-
quanto a presença de X2 aumenta a probabilidade quer ciência (Landmann, 2008, pp. 86-87).
de Y em 15%. Concluir-se-ia, então, que X1 e X2
aumentariam, juntos, a probabilidade de Y ocorrer Estudos de N pequeno e recusa de modelos causais
em 25%. Esse objetivo de estimar a contribuição universais
independente de cada causa à probabilidade de
ocorrência de Y é inconsistente com o objetivo de A atenção à historicidade e à complexidade das
determinar as diferentes combinações de condições relações causais permitiria ainda aos estudos de N
que causam Y.11 pequeno baseados em análises históricas evitar o sé-
rio problema da homogeneidade do modelo causal,
Estudos de N pequeno permitem testar teorias [sub 2] recorrente em estudos de N grande. Nesse tipo de
estudo, o pesquisador frequentemente aplica um
Os estudos aprofundados de poucos casos po- único modelo causal a todos os casos analisados,
dem contribuir para testar teorias, confirmando- assumindo que o efeito da suposta causa seja o mes-
-as, refutando-as ou reformulando-as. Na verdade, mo em diferentes contextos (Hall, 2008, p. 383;
até mesmo estudos de um único caso (single case Ragin, 1987, p. 167; Gerring, 2007, p. 3). Ou seja,
studies) podem ser úteis a esses propósitos. Nesse não se percebe que X pode ter o mesmo impacto
desenho de pesquisa, o analista pode optar pelo quantitativo sobre Y nos contextos A e B, mas o
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modo pelo qual X afeta Y no contexto A pode ser Estudos de N pequeno permitem formular teorias a
completamente diferente do modo pelo qual afeta Y partir do conhecimento histórico
no contexto B, exatamente porque o modo de arti-
culação de X com as demais variáveis e com Y pode A recusa de modelos causais universais não
ser completamente diferente em cada contexto.12 implica dizer que os adeptos dos estudos de N pe-
A constatação de correlações entre variáveis quenos rejeitam a possibilidade de qualquer tipo de
pouco nos revela acerca dos processos e mecanis- generalização e de ganhos teóricos. A comparação
mos que vinculam uma variável a outra, processos exaustiva de poucos casos complexos pode levar a
e mecanismos que podem alterar qualitativamente elaboração de teorias válidas para contextos simila-
a natureza da correlação entre elas (Borges, 2007, res por quatro razões.
p. 7; Gerring, 2007, pp. 5 e 43). Não se trata, por- Primeiramente, se operado por meio da lógi-
tanto, de dizer apenas que A causa B, ou de pres- ca comparativa (sobretudo no método indireto da
supor os efeitos causais de A sobre B, mas também diferença), esse tipo de estratégia analítica não está
de captar os eventos intermediários que vinculam condenado a produzir um conhecimento estrita-
causalmente A e B.13 Conforme Sartori (1991, pp. mente idiográfico, sendo capaz de produzir expli-
253-254), correlações significativas podem ser mal cações com alguma possibilidade de generalização
interpretadas se não houver uma teoria que ajude a na medida em que a comparação histórica permita
interpretar os dados e a considerar o contexto para identificar padrões de ocorrência dos eventos (re-
evitar afirmações fictícias. É preciso, portanto, evi- voluções, industrialização, construção de Estados
tar o comparativista ignorante do contexto, isto é, nacionais, reforma agrária etc.). Ao mesmo tempo,
produzir uma (má) informação quantitativa que porém, por ser uma comparação histórica, esse tipo
possa ser usada sem qualquer conhecimento subs- de procedimento produz “generalizações modestas”,
tantivo do fenômeno sob consideração (Sartori, que reconhecem a especificidade dos padrões detec-
1970, p. 1039). tados, válidos para certas épocas e regiões do planeta.
Esse tipo de problema levou Charles Tilly a A comparação histórica, portanto, permite a produ-
sugerir a inversão dos procedimentos de pesqui- ção de generalizações historicamente embasadas, um
sa usualmente aceitos. Normalmente, os investi- meio termo entre o conhecimento estritamente idio-
gadores se dedicam a fazer estudos quantitativos gráfico e a formulação de supostas leis universais (co-
de muitos casos e, somente depois, análises mais nhecimento nomotético). De acordo com Bendix, o
aprofundadas sobre casos exemplares que cum- objetivo da análise histórica comparativa é formular
prem um mero papel ilustrativo. Para Tilly, nas proposições “que são verdades para mais de uma
pesquisas de N grande a familiaridade com o con- sociedade, mas não para todas as sociedades” (Ben-
texto declina dramaticamente14 e, por isso, estudos dix, 1963, p. 539) ou, nas palavras de Karl Popper,
históricos detalhados de poucos casos devem ser proposições que indiquem que “sob certas circuns-
feitos antes da análise estatística de muitos casos, tâncias, certos desenvolvimentos virão a ocorrer”
pois o conhecimento do contexto permite validar me- (Popper, 1993, p. 3). Para tanto, conforme Arthur
lhor a comparação (1984, pp. 74 e 77). Como afir- Stinchcombe (1978), o uso de “analogias históricas”
ma Landmann (2008, p. 35), “Esse conhecimento permite comparar eventos não em busca de simila-
‘local’ pode identificar lacunas entre conceitos te- ridades substantivas entre os processos comparados,
óricos e sua aplicação e resultar em comparações mas com o objetivo de identificar equivalências em
mais significativas”. Um ganho adicional produzi- termos de causas e consequências passíveis de serem
do pelo conhecimento histórico seria propiciar ao generalizadas em alguma medida. É o que Ruesche-
analista casos contrafatuais legítimos, uma inesti- meyer (1995) chamou de “indução histórica analíti-
mável ferramenta de trabalho para estudos de N ca”.16 Portanto, os estudos de N pequeno conferem
pequeno, pois, desse modo, permitiria aumentar o lugar de destaque à narrativa histórica como passo
número de casos em análise (Fearon, 1991; King importante para elaborar teorias com base em ana-
e Zeng, 2005).15 logias históricas sem recorrer a “teorias epocais”, que
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formulam explicações universais e apriorísticas sobre meiro, reconhece que os desenvolvimentos causais
épocas inteiras da história humana (Stinchcombe, de grande importância para o entendimento de um
1978, pp. 7, 10, 19-22 e 25-26).17 dado fenômeno ocorrem com frequência bem no
Em segundo lugar, como a comparação histórica início de uma longa cadeia causal; segundo, sugere
é inerentemente preocupada com a identificação de que ocorrências iniciais podem mudar o contex-
padrões (semelhanças) e de singularidades (diferen- to de um caso tão radicalmente que os desenvol-
ças), ela se torna um instrumento adequado para a vimentos subsequentes de um mesmo fenômeno
produção de classificações pertinentes. Dessa manei- terão diferentes efeitos em casos diferentes (Hall,
ra, a comparação histórica nos permite evitar aquilo 2008, pp. 384-385). Nesse sentido, não se pode
que Sartori (1991) chamou de catdogs, ficções ine- pressupor que o impacto do evento X será o mesmo
xistentes, fruto sobretudo de maus procedimentos em qualquer contexto. A intensidade e a natureza
classificatórios. Boas classificações representam ines- do impacto de X dependerão de que ele ocorra an-
timáveis ganhos teóricos para qualquer ciência, além tes ou depois de W, por exemplo. Por essa razão,
de produzirem por si só algum grau de generalização. “teorias da path dependence explicitamente dirigem
Em terceiro lugar, como dissemos anteriormen- a nossa atenção para a importância da narrativa his-
te, a comparação histórica permite ir além da sim- tórica. Elas implicam que resultados correntes rara-
ples constatação da existência de correlação entre mente podem ser explicados apenas com referência
variáveis. O conhecimento da história é, por defini- ao presente ou ao passado imediato” (Hall, 2008,
ção, o conhecimento do processo, do modo e da se- p. 385). Novamente, a análise histórica comparada,
quência em que os fatos ocorrem. Assim, a narrativa com seu pendor para reconhecer as singularidades
histórica permite revelar a cadeia causal que preen- contextuais, desconfia fortemente de modelos cau-
che o “espaço vazio” entre as variáveis independentes sais homogêneos, o que é plenamente coerente com
e as variáveis dependentes. A recuperação histórica a perspectiva da path dependence.18
de um processo permite realizar aquilo que Peter Do que foi dito, podemos concluir mais uma
Hall chamou de process tracing, ou análise sistemá- vez que a comparação historicamente embasada
tica de processos, isto é, o rastreamento do processo permite evitar tanto generalizações abstratas e va-
que vai de uma variável causal até o seu efeito. É zias, de um lado, como, de outro, a “história to-
importante observar, entretanto, que a narrativa his- tal” à la Fernand Braudel, isto é, o conhecimento
tórica na análise comparativa não deve ser confun- exaustivo de todos os detalhes de uma época (Tilly,
dida com a descrição exaustiva e detalhista de uma 1964, pp. 65-74). Dizer que o conhecimento his-
infinidade de eventos e fatos históricos desconexos. tórico comparativo está a serviço da produção de
Não se trata, portanto, de “contar história”. A narra- generalizações modestas (mas não artificiais), signi-
tiva só reconstruirá efetivamente a “­cadeia causal” se fica dizer que ele pode gerar ganhos teóricos tanto
for feita em termos de identificação e encadeamento para a sociologia como para a ciência política. Ao
de causas adequadas, recuperando aqueles fatos cuja contrário do que sugere Neil Smelser (1976, pp.
presença for fundamental para a produção do fenô- 157-158), portanto, o uso da história comparativa
meno que se pretende explicar. No procedimento não serve apenas para fins ilustrativos, mas contri-
comparativo-histórico, a narrativa e a descrição de bui para revelar as relações causais que produzem os
casos diversos desenvolvem-se juntas a serviço da fenômenos sociais em determinadas épocas.
explicação causal, pois revelam padrões e singulari-
dades (Collier e Collier, 1991, p. 14).
Por fim, a análise histórica é fundamental para Limites da perspectiva causal e a necessidade
uma perspectiva analítica amplamente utilizada de interpretação
atualmente pelos cientistas sociais, a saber, a pers-
pectiva da path dependence. Segundo Peter Hall, a Apesar das vantagens apontadas anterior-
literatura sobre path dependence enfatiza dois pon- mente, é preciso observar que o método histórico
tos com sérias implicações para a análise causal: pri- comparativo não permite ao pesquisador ir além
Comparação, história e interpretação  159

da identificação de relações causais e de sua abran- países em que o capitalismo moderno está presen-
gência, o que representa importante limitação desse te com países em que ele não ocorre, constatamos
procedimento, pois, conforme Stuart Mill (1886, que, grosso modo, o Estado racional é a única variá-
p. 213), o processo de identificação da causa nada vel que os diferencia. No entanto, isso nada revela
tem a ver com o desvendamento do “modo de pro- ao investigador sobre o modo pelo qual esse tipo de
dução do fenômeno” em análise. Segundo Rihoux Estado contribui para causar aquele tipo de capita-
e Ragin (2009, p. 159), esses “métodos lógicos [...] lismo. Para conhecer melhor essa relação de causali-
não fornecem, em si mesmos, uma explicação do dade, é preciso saber de que modo normas jurídicas
processo real envolvido”, já que métodos históricos racionais empiricamente válidas afetam condutas
comparativos se preocupam apenas em identificar orientadas para a aquisição de utilidades (Weber,
as condições que estão presentes ou ausentes quan- 1984, p. 251). Num primeiro momento, a relação
do um dado resultado é ou não observado (Idem, causal entre Estado racional e capitalismo moderno
p. 160) e não em revelar como as coisas ocorrem. O é captada pela operação lógica da comparação, mas
procedimento comparativo, portanto, não permite o modo pelo qual condutas juridicamente orien-
abrir a “caixa-preta” dos fenômenos sociais.19 tadas potencializam a racionalidade econômica só
Um modo de fazê-lo (mas não o único) é lan- pode ser conhecido pela interpretação da conduta
çar mão de uma sociologia compreensiva. Segundo de agentes, ou seja, mostrando como um ambiente
essa perspectiva, os fenômenos sociais não podem jurídico estável e a existência de garantias contratu-
ser plenamente entendidos sem que se conheçam os ais tidas como válidas pelos agentes potencializam
sentidos subjetivos que os agentes sociais atribuem a disposição para o planejamento econômico. Esse
às suas ações. A plena compreensão de um fenôme- procedimento interpretativo é fundamental, pois
no social exigiria, portanto, que o analista identi- a relação entre Estado racional e capitalismo mo-
ficasse o “sentido experiencial”20 que o caracteriza, derno é uma relação entre condutas subjetivamente
pois a disposição para realizar um dado ato não orientadas em “ordens” diferentes da sociedade e
pode ser entendida sem referência aos sentimentos não apenas entre “fatos objetivos”.
experimentados pelo ator. Essa referência é impor- Para Stinchcombe (1978, p. 22), os conceitos
tante para a plena compreensão do ato na medida gerais nas ciências sociais devem ser formulados a
em que condutas exteriormente idênticas podem estar partir da comparação entre “ações e sentimentos”
vinculadas a sentimentos radicalmente distintos.21 As- de atores envolvidos em situações históricas concre-
sim, as ciências do homem têm inescapavelmente tas. A comparação entre fatos históricos pode nos
uma dimensão interpretativa e não podem se limi- revelar estruturas causais importantes, mas, além
tar a detectar relações causais entre eventos. disso, é preciso compreender de que modo deter-
No entanto, ao contrário do que sugerem minadas predisposições produzem certos eventos.
Mahoney e Rueschmeyer (2008, p. 11), acredi- Eventos sociais são frutos, desejados ou não, de
tamos que uma análise causal, típica das aborda- ações subjetivamente motivadas. Assim é que se
gens históricas comparativas, é complementar e pode chegar, por exemplo, a partir da comparação
não antagônica a uma perspectiva interpretativa de situações históricas tão diferentes (revoluções
das ciências sociais. Para que não nos alonguemos russa e francesa), a uma teoria sobre o processo psi-
desnecessariamente nesse ponto, dois exemplos pa- cológico básico de erosão da autoridade, por meio
recem-nos suficientes: as análises de Max Weber e do qual ocorre “a gradual difusão da convicção de
Arthur Stinchcombe. que talvez uma melhor alternativa seja realmente
Max Weber, como se sabe, lança mão do mé- possível” (Idem, p. 40). Ou seja, é preciso se per-
todo histórico comparativo para identificar a “causa guntar quais são os motivos que levam os agentes
fundamental” do capitalismo ocidental. Dessa for- sociais a deslegitimar uma dada autoridade e se,
ma, sabemos que o “Estado racional” é “o único ter- nesse ponto, há algo em comum nas várias situa-
reno sobre o qual pode prosperar o capitalismo mo- ções revolucionárias analisadas que possa ser trans-
derno” (Weber, 1964, p. 285) porque, ao comparar formado num tipo ideal de predisposição à revo-
160  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 28 N° 83

lução. Assim, além de identificar a estrutura de pertinentes” (Ringer, 1997, pp. 107-109), nos
sequência de eventos que conduzem às revoluções quais estão inseridos os agentes e a coleta de
sociais, algo magistralmente feito por Theda Sko- informações sobre o contexto social em que a
cpol (1984), é preciso também analisar as motiva- conduta se desenvolve, obrigando-o a discutir
ções típicas que caracterizam processos de corrosão com seus pares acerca do modo mais adequado
das autoridades legítimas sem as quais nenhuma de coletar tais informações e de sua qualidade.
revolução efetivamente ocorreria.22
Por fim, os procedimentos analíticos de Max A adoção do procedimento interpretativo não
Weber nos permitem ainda evitar a radicalização do elimina a necessidade (nem a possibilidade)
caráter hermenêutico das ciências sociais, tal como de controle dos efeitos externos da ação in-
sugerida por Charles Taylor, e a redução da prática terpretada. Segundo Weber: “Como em todas
interpretativa a uma simples repetição das justifica- as hipóteses, é indispensável o controle da
tivas que os atores dão de suas condutas. interpretação compreensiva de sentidos pe-
A primeira posição refere-se ao inescapável los resultados: a direção que manifesta a re-
“circuito hermenêutico” identificado por Taylor. alidade” (Weber, 1984, p. 10). Por exemplo,
Para ele, as ciências do homem estão baseadas ex- ao afirmar que as orientações subjetivas A e
clusivamente na interpretação e enquanto tais seus B produzem o evento C, o passo seguinte é
dados primeiros seriam leituras de significados. verificar se C ocorreu de fato a partir de sua
Com relação a isso, diz ele, não há como provar ligação com A e B; trata-se, portanto, de saber
efetivamente que uma interpretação é melhor que se o “desenvolvimento real da ação” se deu de
outra: “se nossas leituras soarem implausíveis, ou acordo com a teoria.
ainda mais, se não forem compreendidas pelo nos-
so interlocutor, não há procedimento de verifica- O melhor instrumento de verificação é a com-
ção em que possamos nos apoiar. Apenas podemos paração por meio do uso do método indireto
continuar a oferecer interpretações; estamos num da diferença (Weber, 1984, p. 11). Qualquer
círculo interpretativo” (Taylor, 1987, pp. 75-76). interpretação é apresentada em termos de uma
Pensamos ser importante fazer três observações a sequência causal. Desse modo, se alguém diz
esse respeito: que a sequência de eventos A, B e C produz D,
é possível a qualquer outro analista investigar
A interpretação de uma ação não é um ato tão outros casos positivos e negativos para testar a
arbitrário como sugere Taylor, pois o procedi- validade e o alcance desse enunciado causal.
mento interpretativo exige não apenas que se
descreva o sentido da conduta manifestamente Esses três procedimentos – a descrição do con-
atribuído pelo agente, mas também (e prin- texto em que uma ação se desenvolve, a observação
cipalmente) que se interprete a ação a partir do desenvolvimento real da ação e, sobretudo, a
da sua inserção num contexto mais amplo de comparação – permitem ao analista sair do circuito
ações, isto é, numa “conexão de sentido”. A hermenêutico a que se refere Taylor, sem que isso
“compreensão explicativa”, para usar a expres- implique necessariamente a pretensão de produzir
são do próprio Weber, permite ao sociólogo, ao “a explicação causal válida” (Weber, 1984, p. 9).
mesmo tempo, captar as “conexões de sentido Por fim, os procedimento analíticos de Max
compreensíveis” de uma ação (inferidas pelo Weber são também uma garantia contra o equívoco
analista a partir de uma análise contextual) e de se entender a interpretação como uma simples
explicar o “desenvolvimento real da ação” – reprodução da explicação que os próprios atores
isto é, os impactos objetivos da conduta que dão de sua conduta, o que, em última instância,
escapam ao controle do agente que a realizou transformaria o sociólogo ou o cientista político
(Weber, 1984, p. 9).23 Exige-se, portanto, do em pesquisadores de opiniões. O procedimento in-
investigador “análises extensas dos contextos terpretativo é bem mais do que isso. Em relação a
Comparação, história e interpretação  161

esse ponto, Weber observa que os motivos apresen- sociológica. Pensamos que a comparação histórica,
tados pelos atores sociais não raro escondem, para aliada ao procedimento interpretativo, permite rea­
o próprio agente, “a conexão real da trama de sua lizar pesquisas baseadas numa visão complexa de
ação”, de modo que o testemunho subjetivo, ainda causalidade, por ser histórica; identificar relações
que sincero, tem valor apenas relativo. Nesses casos, causais e produzir ganhos teóricos significativos, por
continua Weber, a tarefa do sociólogo é averiguar e ser comparativa24 e, por estar atenta às motivações
interpretar essa conexão, mesmo que não esteja na subjetivas da ação social, qualificar melhor os me-
consciência daquele que age (Idem, p. 9). canismos causais e revelar aspectos qualitativamente
Desse ponto de vista, o conceito de “conexão distintos de condutas aparentemente similares.
de sentido” desempenha papel fundamental na
socio­logia weberiana, pois, para Weber, o objetivo
fundamental do sociólogo é identificar o vínculo da Notas
ação analisada com uma conexão de sentido mais
ampla a que ela está conectada. Uma conduta, por- 1 Segundo Sartori (1970, p. 1045), o termo “variável”
tanto, nunca é investigada apenas em si mesma, só poderia ser utilizado para coisas mensuráveis; tomo
mas sempre se levando em conta a cadeia de ações a liberdade de utilizá-lo para me referir às condições
em que ela está inserida. Essa perspectiva abrangen- sociais e políticas que devem ser controladas durante o
procedimento comparativo. Considerações similares a
te, reiteramos, permite ao pesquisador não apenas
que faço nos itens I e II deste texto podem ser encon-
reconhecer significados da conduta dos quais o tradas em Perissinotto (2012).
agente não tem consciência alguma como também
2 Para uma posição similar a Smelser, ver também Sar-
investigar os seus efeitos não antecipados, tão im- tori (1970, pp. 1033-1036), Rihoux e Ragin (2009,
portantes para a conformação dos fenômenos so- p. xviii), Mahoney e Rueschmeyer (2008, pp. 11-15),
ciais (Bendix, 1974, p. xxii). Mahoney (2008, p. 337), Landman (2008, pp. 15 e
24-26), Gerring (2007, pp. 155-156).
3 Contemporaneamente, esses métodos ficaram conhe-
Conclusão cidos como Most Similar Systems Design (MSSD) e
Most Different System Design (MDSD). Cf. Przewor-
O objetivo deste texto não é defender qualquer sky e Teune (1982). Ver também Landmann (2008,
estratégia de pureza metodológica, a nosso ver sem- pp. 70-78).
pre infrutífera. Cientistas sociais devem ter uma re- 4 O leitor poderá encontrar uma sistematização gráfica
lação utilitária com métodos e técnicas de pesquisa. desses métodos em Skocpol e Somers (1997, p. 80).
Dependendo do objeto de análise e da questão de Essas descrições apresentam tipos ideais de desenho de
pesquisa, alguns procedimentos são analiticamente pesquisa que na prática, como bem observam Collier
mais rentáveis que outros. e Collier (1991, pp. 15-19), podem ser utilizados con-
juntamente; o livro desses autores, aliás, é um ótimo
No entanto, esse não parece ser o espírito que
exemplo do uso conjunto do método da semelhança
vigora na ciência política contemporânea. O que e da diferença.
presenciamos no presente parece ser a defesa, ora
5 Essa recomendação pode ser encontrada também em
implícita, ora explícita, de que a única pesquisa Bloch (1998a, p. 123; 1998b, p. 130), Gerschenkron
real­mente válida é aquela ancorada em estudos que (1976, p. 64), Przeworsky e Teune (1980, p. 26),
abarcam muitos casos e em técnicas estatísticas de Lijphart (1971, pp. 687-689) e Landmann (2008,
controle de variáveis. Sem a menor intenção de re- pp. 70-71). Não seguir tal recomendação pode gerar
futar a validade desse tipo de estratégia investigativa, conclusões que são, na verdade, artefatos criados pela
procuramos, porém, apontar alguns de seus limites, metodologia; sobre esse ponto, ver Burawoy (1989,
raramente expostos por seus adeptos, e como eles p. 769).
podem ser contornados por formas alternativas – e 6 É importante insistir nesse ponto: a cláusula ceteris
complementares – de investigação, notadamente paribus não exige que todas as condições permaneçam
o uso da comparação histórica e da interpretação iguais, mas somente aquelas sistematicamente rela-
162  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 28 N° 83

cionadas com as prováveis causas e com o fenômeno determinado é a arma do crime da análise causal [...].
analisado. Cf. Fearon (1991, p. 174, nota 11). Sobre Certamente, é possível formular fortes argumentos
a importância das condições de comparabilidade e em favor de uma relação causal com base apenas em
os problemas técnicos a serem resolvidos, ver Ragin evidências de covariação entre X e Y, particularmen-
(1987, pp. 47-49; Bloch 1998b, p. 132), Smleser te se a evidência da covariação for obtida por meio
(1976, pp. 164-165), Przeworsky e Teune (1982, pp. de procedimentos experimentais. Contudo, o argu-
95-107) e Landmann (2008, pp. 33-36). mento será ainda mais forte se o pesquisador puder
7 De qualquer forma, o pesquisador que optar pela com- também especificar um mecanismo causal” (Gerring,
paração histórica entre poucos casos precisa ter sempre 2007, p. 72 e nota 15, tradução do autor).
em mente que qualquer escolha intencional (isto é, não 14 Na verdade, os adeptos dos estudos de N grande e de
aleatória) de casos deve ser criteriosa e muito bem jus- técnicas estatísticas defendem a possibilidade de inser-
tificada. O uso do método da diferença, que conjuga ção de dados contextuais, por exemplo, por meio do
casos negativos e positivos, é a melhor forma de evitar uso de variáveis dummies, que indicariam a presença
o viés da seleção arbitrária de casos, mas, mesmo aqui, ou ausência de uma dada qualidade contextual. Ver,
também a escolha de casos negativos deve ser muito por exemplo, Przeworsky e Teune (1983, pp. 13 e 26).
bem justificada. Cf. Landmann (2008, pp. 36-40). No entanto, é preciso observar que o uso desse pro-
8 Vale observar ainda que Max Weber sempre definiu cedimento de dicotomização pressupõe um profundo
seus conceitos sociológicos em termos probabilísticos; conhecimento do contexto histórico dos casos anali-
por exemplo, ver os conceitos de “relação social”, “po- sados a fim de que essa codificação não seja mera fic-
der” e “dominação” em Weber (1984, pp. 21 e 43). ção. De qualquer forma, apesar de útil, ele representa
sempre uma ostensiva simplificação da realidade. Ver
9 Segundo David Fischer (1970, p. 129), generaliza-
também Rihoux e Ragin (2009).
ções históricas devem ter duas características funda-
mentais: devem ser espacial e temporalmente limita- 15 Raciocínios contrafatuais ilegítimos, ao contrário,
das; devem ser apresentadas na forma de enunciados seriam aqueles demasiadamente dependentes de mo-
probabilísticos. delos explicativos sem base histórica, que desprezam
teorias já amplamente aceitas ou que não respeitam a
10 Seguindo Charles Tilly (1984, p. 79; 2005, p. 4,
regra (também histórica) da “cosustentabilidade” (co-
nota 1), o conhecimento histórico é aquele que re-
tenability). Cf. Fearon (1991). Nas palavras de Weber
vela como o contexto em que os eventos ocorrem e
(2004, pp. 167-186), ao discutir o procedimento da
a sequência em que se dão são fundamentais para a
“possibilidade objetiva”, seriam ilegítimos os raciocí-
definição do resultado que se quer explicar. Assim,
nios contrafatuais que não estivessem baseados no co-
o desconhecimento do contexto e da sequência dos
nhecimento positivo de “regras empíricas”, que nada
eventos comprometeria radicalmente a explicação dos
mais são, no seu caso, do que regularidades históricas.
fenômenos sociais. Para uma definição de contexto de
acordo com a perspectiva de Tilly, ver Goodin e Tilly 16 No caso de Weber, a comparação histórica permite
(2006, pp. 3-32); para uma definição mais complexa, não apenas a identificação de relações causais e de re-
ver Kalberg (1994, pp. 143-177). gularidades historicamente delimitadas (algo próxima
da indução histórica identificada por Rueschemeyer),
11 Comentários sobre os limites dos estudos de N grande
mas também a produção de modelos que funcionam
podem ser encontrados em Sartori (1970, 1991), Hall
como formuladores de hipóteses causais passíveis de
(2008), Tilly (1984), Mahoney (2008), Ragin (1987),
serem testadas empiricamente. Tipos ideais são cons-
Rihoux e Ragin (2009), Przeworsky e Teune (1982),
tructos inerentemente históricos e comparativos.
Borges (2007), Stinchcombe (1978, pp. 6-7) e Smel-
Sobre esse ponto, ver Roth e Schluchter (1979, pp.
ser (1976, pp. 164-165).
195-206), Roth (1971) e Kalberg (1994, pp. 81-142).
12 Para uma interessante ilustração histórica desse ponto,
17 No entanto, como observam Skocpol e Somers
ver Gerschenkron (1976, pp. 113 e 123-124) e tam-
(1997), caso o investigador não queira identificar re-
bém Gerring (2007, p. 50).
lações causais por meio do que as autoras chamam de
13 “Deve-se ter em mente que todo argumento causal “análise macrocausal”, poderá ainda utilizar a compa-
pressupõe um mecanismo causal ou um conjunto de ração histórica para testar teorias (demonstração pa-
mecanismos. Um mecanismo é aquele que explica as ralela de teoria) ou para identificar os aspectos singu-
supostas relações entre X e Y. É o caminho causal ou o lares da ocorrência de determinados macroprocessos
fio que conecta X a Y. Um caminho causal específico e sociais em contextos diferentes (contraste de contex-
Comparação, história e interpretação  163

tos). Charles Tilly (1984, pp. 82-83 e 87-143) produz 22 Um exemplo literário desse processo pode ser encon-
uma sistematização dos usos da história comparativa trado nas memórias de Maksim Górki, Minhas uni-
um pouco diferente, mas muito próxima. Ver tam- versidades (São Paulo, Cosac Naify, 2007). O relato
bém Collier e Collier (1991, p. 13). A sistematização de seu dia a dia na cidade de Kazan narra o cotidiano
de Skocpol e Somers parece-nos mais clara e precisa. de miséria do povo russo e as movimentações de es-
Landmann (2007, pp. 4-11) também identifica di- tudantes, letrados e trabalhadores em direção à ação
ferentes razões para comparar: descrição contextual, revolucionária. Gorki descreve a existência de um mo-
classificação, teste de hipótese e predição. vimento não coordenado, que pouco a pouco vai se
18 Para uma distinção entre uma concepção mais ampla espalhando até produzir a consciência de que outra
e mais estreita de path dependence, ver Pierson (2000). forma de organizar o mundo não é apenas desejável,
como possível. A sua descrição sugere que a tomada
19 Segundo Abell, o que ele chama de “trindade positivis-
do poder pelos bolcheviques é apenas a ponta de um
ta” seria formada pela seguinte ordem de procedimen-
iceberg, cuja base residiria num longo processo de
tos: comparação, generalização e, por fim, explicação.
transformação das consciências protagonizado por
Nada impede, porém, que se comece fornecendo a
uma infinidade de ações isoladas e não coordenadas e
narrativa de uma sequência causal singular de ações
potencializado por um ambiente intelectual revolucio-
(explicação) e, em seguida, se pergunte quão genera-
nário, o qual caracteriza a intelectualidade russa desde
lizável ela seria. Essa inversão da trindade positivista,
o início do século XIX. Para uma análise da complexa
que coloca a explicação antes da generalização, seria
interação entre orientações subjetivas, ideias, interes-
uma forma de defender a validade teórica desse tipo
ses e posições sociais, ver Roth e Schluchter­(1979, em
de procedimento e, como sugere Charles Tilly, me-
especial pp. 15-18).
lhor validar o procedimento comparativo. A “explica-
ção narrativa” sugerida por Abell, válida apenas para 23 Para uma análise da complexa interação entre orien-
ações propositalistas, é particularmente adequada às tações subjetivas, ideias, interesses e posições sociais,
considerações que fazemos a seguir a favor de uma es- ver Roth e Schluchter (1979, em especial pp. 15-18).
tratégia interpretativa. Cf. Abell (2004, pp. 292-293) 24 Sobre a ausência, no Brasil, de pesquisas na área de
e Burawoy (1989, pp. 771 e 783-786). ciência política explicitamente baseadas em desenhos
20 Taylor chama de “sentido experiencial” a conjugação comparativos, ver Amorim Neto (2010).
de três dimensões do ato de atribuição de sentido: a)
o sentido de uma situação é sempre atribuído por um
sujeito; b) o sentido refere-se sempre a alguma coisa, de Bibliografia
modo que podemos distinguir um dado elemento –
uma situação, uma ação, por exemplo – e seus sen-
ABELL, Peter. (2004), “Narrative explanations: an
tidos e c) as coisas só têm sentido num dado campo.
“Sentido assim entendido – chamemo-lo de sentido alternative to variable-centered explanation?”.
experiencial – é para um sujeito, de alguma coisa, Annual Review of Sociology, 30: 287-310.
num campo” (Taylor, 1987, p. 42, tradução do au- AMORIM NETO, Octavio. (2010), “A política
tor). Dito de outra forma, a atribuição de sentido exi- comparada no Brasil: a política dos outros”,
ge sempre um sujeito, um objeto e uma relação. Sobre in C. B. Martins e R. Lessa (orgs.), Horizontes
a necessidade de interpretação para complementar ex- das ciências sociais no Brasil: ciência política, São
plicações causais, ver Gerring (2007, pp. 68-70). Paulo, Instituto Ciência Hoje/Barcarolla/Dis-
21 Para um exemplo disso, ver Taylor (1987, p. 43). Tal- curso Editorial/Anpocs, pp. 321-340.
vez o mais clássico exemplo de atos dotados de seme- BENDIX, Reinhard. (1963), “Concepts and gene-
lhança externa, porém radicalmente distintos do pon- ralizations in comparative sociological studies”.
to de vista dos sentidos que os atores lhes atribuem, American Sociological Review, 28: 532-539.
seja a distinção weberiana entre poder e dominação.
. (1968), “Concepts in comparative his-
Um analista despreocupado com a dimensão subjetiva
da conduta tenderia a interpretar ambos como mera
torical analysis”, in S. Rokkan (ed.), Compa-
expressão de um comportamento obediente, quando, rative research across cultures and nations, Paris,
na verdade, os motivos da obediência são opostos e The Hague.
com efeitos divergentes no que diz respeito, por exem- . (1974), Work and authority in indus-
plo, à estabilidade das relações políticas. try: ideologies of management in the course of
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240  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 28 N° 83

Comparação, história e COMPARISON, HISTORY AND Comparaison, histoire


interpretação: por uma INTERPRETATION: IN FAVOR OF et interprÉtation: en
ciência política histórico- A HISTORICO-INTERPRETATIVE faveur d’une science
interpretativa POLITICAL SCIENCE politique, historique et
interprÉtative

Renato Perissinotto Renato Perissinotto Renato Perissinotto

Palavras-chave: Comparação; História; In- Keywords: Comparison; History; Caus- Mots-clés: Comparaison; Histoire; Inter-
terpretação; Causalidade; Ciência Política. al relationship; Interpretation; Political prétation; Causalité; Science Politique.
Science.

Este texto pretende responder três ques- This article intends to answer three ques- Ce texte prétend répondre à trois ques-
tões: 1) como podemos definir exata- tions. Firstly, how can we define com- tions: 1) comment nous pouvons définir
mente o procedimento comparativo; 2) parison? Secondly, how can we handle it? exactement la procédure comparative;
como operacionalizá-lo; 3) seria a busca Thirdly, is the search for causal relation- 2) comment l’opérationnaliser; 3) est-ce
de relações de causalidade o fim único da ships the ultimate purpose of researches que la recherche de relations de causalité
pesquisa em ciência política ou seria ne- in political science or should we comple- serait le seul but de la recherche dans la
cessário ainda complementá-la com um ment it with an interpretive procedure? science politique ou faudrait-il encore la
procedimento interpretativo? Inicialmen- In the first part the article presents what compléter avec une procédure interpréta-
te, o texto apresenta o que entendemos we shall understand for comparison; in tive? Initialement, le texte présente notre
por comparação e discute as possibili- the following part, [the article] it points définition de « comparaison » et aborde
dades e os limites de sua aplicação nas out the theoretical advantages of com- les possibilités et les limites de son appli-
ciências sociais; em seguida, aponta as parative analysis of few cases based on cation dans les sciences sociales. Ensuite,
vantagens teóricas da análise comparativa a historical perspective; in the third sec- à partir d’une perspective historique, il
de poucos casos baseada em uma pers- tion, it makes the case for the comple- indique les avantages théoriques de l’ana-
pectiva histórica; por fim, defende que o mentarity between a causal analysis and a lyse comparative de quelques cas, fondé
procedimento comparativo não esgota o comprehensive perspective. sur une perspective historique. Finale-
empreendimento científico nas ciências ment, il défend que la procédure compa-
sociais, já que revelar as causas dos fenô- rative n’épuise pas l’entreprise scientifique
menos sociais não implica revelar como dans les sciences sociales, puisque révé-
eles são produzidos. Por essa razão, acre- ler les causes des phénomènes sociaux
ditamos que uma perspectiva compreen- n’implique pas de révéler comment ils
siva é complementar (e não antagônica) à sont produits. C’est pour cela que nous
análise causal comparativa. croyons qu’une perspective compréhen-
sive est complémentaire (et non antago-
nique) à l’analyse causale comparative.

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