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DOSSIER

TABAGISMO

Consumo de tabaco.
Efeitos na saúde.
EMÍLIA NUNES*

RESUMO
Com o presente artigo, a autora procede a uma revisão dos principais efeitos na saúde decorrentes
do consumo de tabaco, tendo por base os últimos dados de evidência recolhidos e publicados por di-
versas entidades internacionais. O consumo de tabaco induz dependência física e psicológica na gran- casos de cancro do pulmão registado a
de maioria dos consumidores, constituindo, actualmente, a primeira causa de morbilidade e de mor- partir dos anos 20 levou à realização de
talidade evitáveis, afectando todo o organismo humano. Existe hoje suficiente evidência de que o vários estudos de tipo caso-controlo,
consumo de tabaco é factor causal de cancro em diferentes localizações, de doenças respiratórias que culminaram com a publicação, na
crónicas e de doenças cardiovasculares, para além de outros efeitos no aparelho gastrointestinal, década de cinquenta, dos primeiros ar-
na saúde reprodutiva, no sistema endócrino, na saúde ocular, na saúde óssea e no envelhecimen- tigos científicos relacionando o consu-
to da pele. O consumo de tabaco está também associado aos problemas de saúde mental. Os fuma- mo de tabaco com o aparecimento de
dores apresentam piores indicadores de saúde do que os não fumadores e uma esperança de vida cancro do pulmão2,3,4.
menor. Cerca de metade dos fumadores regulares morre em resultado do consumo de tabaco, um Destes estudos, os realizados por Ri-
quarto dos quais nas idades compreendidas entre os 25 e os 69 anos. O consumo de tabaco é um chard Doll e Bradford Hill, primeiro em
factor de risco totalmente evitável. Parar de fumar reduz os riscos associados ao consumo e à mor- doentes afectados por cancro do pul-
talidade prematura. Parar de fumar tem benefícios em qualquer idade, tanto maiores quanto mais mão e depois numa coorte de médicos
cedo se verificar o abandono do tabaco. A dependência do tabaco deve, assim, ser encarada pelos ingleses, num estudo longitudinal ao
profissionais de saúde, em particular pelos médicos, como uma doença crónica, recidivante, que care- longo de cinquenta anos, iniciado em
ce de prevenção e de tratamento. 1951, foram decisivos para a compreen-
são dos efeitos na saúde relacionados
Palavras-Chave: Tabaco; Tabagismo; Efeitos na Saúde; Benefícios da cessação tabágica. com o consumo de tabaco e dos bene-
fícios que podem ser obtidos com a ces-
sação tabágica2,5.
INTRODUÇÃO Estes estudos marcaram uma clara
viragem na forma como o consumo de
esde o início do consumo tabaco passou a ser encarado pela co-

D de tabaco na Europa, em
meados do séc. XVI, até
ao final da primeira meta-
de do século XX, muito tabaco foi con-
sumido sob a forma de rapé, charutos
munidade científica. No entanto, algum
grau de descrença relativamente à evi-
dência dos malefícios para a saúde de-
correntes deste consumo tem estado
presente ao longo de várias décadas,
ou cachimbo. Em 1881, com a criação em grande parte devido às estratégias
da máquina de enrolar cigarros, o con- de marketing da indústria, persistindo
sumo de tabaco sob a forma de cigarros ainda hoje, entre a população e alguns
regista uma grande expansão, em par- profissionais de saúde, incluindo a pró-
ticular durante as duas Grandes Guer- pria classe médica6.
ras Mundiais. As consequências para a Em 1964, nos Estados Unidos, é pu-
saúde decorrentes do consumo de ta- blicado um extenso relatório – «Smoking
*Médica Especialista em baco passaram, todavia, largamente and Health» – sobre os efeitos na saúde
Saúde Pública, Mestre em despercebidas, com raras menções, em decorrentes do consumo de tabaco.
Medicina Escolar pela Faculdade
de Medicina de Lisboa. alguns livros de medicina à ambliopia, Neste Relatório, cuja divulgação públi-
Chefe da Divisão de Promoção a casos de angina provocada pelo fumo ca foi rodeada de fortes medidas de se-
e Educação para a Saúde. do tabaco, ou ao cancro do lábio ou da gurança, dadas as implicações do seu
Direcção-Geral da Saúde.
Assistente convidada da Escola língua, em fumadores de cachimbo1. conteúdo, assume-se pela primeira vez,
Nacional de Saúde Pública. No entanto, o rápido crescimento dos num relatório oficial, a existência de

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uma relação causal entre consumo de as formas e produtos de tabaco são no-
tabaco e algumas formas de cancro – civos para a saúde, não havendo um li-
pulmão e laringe – no homem. Estudos miar seguro de exposição.
posteriores vieram mostrar a associação No presente artigo, far-se-á uma re-
do consumo de tabaco com cancros em visão das consequências para a saúde
outras localizações, tanto no homem, decorrentes do consumo de tabaco por
como na mulher7. parte dos fumadores activos, funda-
Vinte anos após a publicação deste mentalmente sob a forma de cigarros e
Relatório, o U.S. Department of Health de charutos, formas mais comuns de
and Human Services fez publicar um tabaco em Portugal.
novo relatório, sobre a mesma temáti-
ca, no qual se revêm, à luz de critérios
CONSUMO DE TABACO, QUALIDADE
de evidência científica, os resultados de
quarenta anos de investigação neste do- DE VIDA E LONGEVIDADE
mínio8.
No momento actual, as consequên- O consumo de tabaco é actualmente
cias do consumo de tabaco estão bem responsável por cerca de 5 milhões de
estabelecidas para um grande número mortes anuais, constituindo a primei-
de doenças, com particular destaque ra causa de morbilidade e de mortali-
para o cancro em diferentes localiza- dade evitáveis nos países desenvolvi-
ções, para as doenças do aparelho res- dos. Se não forem instituídas medidas
piratório, para as doenças cardiovas- efectivas de prevenção e de controlo, a
culares e para os efeitos na saúde re- OMS estima que, em 2030, morrerão
produtiva. Os efeitos na saúde decor- anualmente cerca de 10 milhões de pes-
rentes da exposição ao fumo do tabaco soas em resultado deste consumo, 70%
continuam em investigação e novas si- das quais nos países em desenvolvi-
tuações patológicas, para as quais a evi- mento9.
dência não é hoje suficiente, poderão vir De acordo com os dados obtidos por
a ser incluídas em futuros relatórios. Richard Doll e colaboradores, metade
No tabaco, para além de um alcalói- dos fumadores regulares morre em re-
de com propriedades psico-activas – a sultado do consumo de tabaco, um
nicotina – existem mais de 4.500 subs- quarto dos quais nas idades compreen-
tâncias químicas, com efeitos cancerí- didas entre os 25 e os 69 anos. Os fuma-
genos, mutagénicos, tóxicos e irritantes. dores perdem em média dez anos de es-
Para além das substâncias existentes perança de vida, que podem ser recu-
na folha do tabaco e produzidas duran- perados se o fumador parar de fumar.
te a sua combustão, a indústria mani- Embora parar de fumar tenha benefí-
pula o fabrico dos cigarros e outros pro- cios em qualquer idade, quanto mais
dutos do tabaco, recorrendo à adição de cedo se verificar a cessação tabágica,
aditivos químicos, humidificantes e aro- maiores serão os benefícios e a recupe-
matizantes, cujos efeitos na saúde, uma ração de anos de vida10.
vez queimados e inalados, não são ain- Existe uma relação dose-tempo-res-
da completamente conhecidos. posta, nem sempre linear, entre o con-
No entanto, os dados de evidência já sumo de tabaco e o aparecimento de
existentes permitem concluir, conforme doenças com ele relacionadas. O risco
é reconhecido actualmente pela OMS, para algumas doenças é maior nas ida-
pela International Agency for Research des mais jovens. Por exemplo, o risco de
on Cancer (IARC), pelo U.S. Department ataque cardíaco é o dobro do verificado
of Health and Human Services e por ou- na população não fumadora, nas pes-
tras entidades internacionais, que todas soas com mais de sessenta anos, mas

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é cerca de cinco vezes maior nas pes- sencéfalo, na área ventral do tecto, le-
soas com menos de cinquenta anos11. vando à produção de dopamina e à sua
Um estudo recente, realizado na No- libertação, através de neurónios axo-
ruega, mostrou que consumos abaixo nais, no núcleo accumbens, ou estria-
de cinco cigarros por dia estão associa- do ventral – zona cerebral muito impor-
dos a um aumento de mortalidade por tante na aprendizagem, em particular
todas as causas e por doença isquémi- na atenção e na memória –, bem como
ca cardíaca, em ambos os sexos, e a um na motivação dos comportamentos, de-
aumento da mortalidade por cancro do vido às suas conexões com o sistema de
pulmão, mais acentuado nas mulhe- recompensa e com outras regiões do
res, o que vem confirmar o princípio de córtex pré-frontal13,17,18.
que não há níveis seguros de exposi- A estimulação nicotinérgica, para
ção12. além da acção sobre o sistema dopami-
Por outro lado, os riscos para a saú- nérgico e o núcleo accumbens, actua
de decorrentes do consumo de tabaco sobre outras áreas cerebrais, como o
podem ser potenciados pela presença hipocampo, provocando melhoria da
de outros factores, como sejam o con- atenção e da memória, sobre o cortex
sumo de álcool ou a exposição ocupa- pré-frontal, agindo sobre as funções de
cional a determinadas substâncias quí- comportamento social e sobre o siste-
micas. ma noradrenérgico do locus coeruleus,
na protuberância, relacionado com as
respostas ao stresse e implicado na de-
CONSUMO DE TABACO – UMA DEPENDÊNCIA pressão. Este efeito é semelhante ao
produzido por outras substâncias como
O tabaco contém um alcalóide vegetal a cocaína ou as anfetaminas18,19.
– a nicotina – substância com proprie- A nicotina é um estimulante psico-
dades psicoactivas, com elevada capa- motor e, nos novos utilizadores, reduz
cidade para induzir dependência física o tempo de reacção, melhora a atenção
e psicológica, por processos semelhan- e a memória, reduz o stresse e a ansie-
tes aos da heroína ou da cocaína13,14,15. dade e diminui o apetite. No entanto, in-
A dependência à nicotina está con- duz tolerância, ou seja, a exposição re-
templada na 10ª Classificação Interna- petida à mesma quantidade de nicotina
cional das Doenças (ICD-10) e na DSM- leva à redução dos efeitos inicialmente
-IV14,15. verificados, o que pode levar a um au-
Os sintomas de dependência à nico- mento das doses consumidas15,17,18,19.
tina podem surgir após alguns dias ou Tal como outras substâncias de abu-
semanas de uso ocasional, muitas ve- so, a nicotina pode produzir efeitos aver-
zes antes de um consumo diário e re- sivos nos novos utilizadores, como náu-
gular se ter instalado, conforme dados seas, tosse, tonturas, ansiedade, que,
recolhidos no âmbito do projecto DAN- com o uso continuado, acabam por de-
DY – de avaliação do início e desenvol- saparecer. Estes efeitos aversivos po-
vimento da dependência à nicotina em dem ajudar a explicar porque é que nem
adolescentes – parecem evidenciar. No todos os adolescentes que experimen-
entanto, nem todos os adolescentes ou tam fumar se vêm a tornar consumido-
jovens que experimentam consumir se res regulares15,17,19.
vêm a tornar dependentes16. Uma vez instalada a dependência à
Uma vez absorvida, a nicotina atin- nicotina, o não consumo provoca sín-
ge o cérebro em menos de dez segun- drome de abstinência, que, de acordo
dos. A este nível activa os receptores co- com a ICD-10 (código F17.3), se caracte-
linérgicos nicotínicos situados no me- riza por forte desejo de voltar a fumar,

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mesmo quando já existem sintomas de tual de substâncias, em situação de pri-


doença, dificuldade de concentração, vação, se voltar a sentir bem. O uso de
humor disfórico ou deprimido, irritabi- substâncias aditivas induz memórias
lidade, frustração, ansiedade, depres- de longa duração, que levam, mesmo
são, alterações do sono, diminuição do após largos períodos de abstinência
ritmo cardíaco, disforia, cansaço e au- (meses ou anos), a que acontecimentos
mento de apetite ou ganho ponderal13,15. stressantes possam fazer disparar sin-
Para além do sistema dopaminérgi- tomas agudos de abstinência e, em
co a nicotina pode estimular outros re- muitos casos, conduzam à recaída21.
ceptores, a nível da área ventral do tec- De acordo com a ICD-10, a depen-
to, como por exemplo os receptores GA- dência de substâncias contempla seis
BA (ácido gama-aminobutírico), cuja critérios. A presença de pelo menos três
activação poderá funcionar como me- desses critérios, de forma repetida, no
diadora das propriedades de reforço da ano anterior indica a existência de de-
nicotina18,20. pendência. A DSM-IV propõe critérios
Outro sistema que poderá estar im- semelhantes14,15.
plicado no processo de adição à nicoti- Critérios de dependência de acordo
na é o da neurotransmissão da seroto- com a ICD-10:
nina. Parece existir alguma evidência de 1. Um forte desejo, ou compulsão,
que a exposição crónica à nicotina pro- para consumir a substância.
duz uma diminuição selectiva da con- 2. Dificuldade em controlar o consu-
centração de serotonina no hipocampo mo, em termos do seu início, do seu ter-
e provavelmente na amígdala. Um au- mo ou da sua intensidade.
mento do número de receptores da se- 3. Síndrome de abstinência.
rotonina a nível do hipocampo foi detec- 4. Desenvolvimento de tolerância.
tado em fumadores crónicos, o que po- 5. Perda progressiva do interesse por
derá corresponder a uma resposta a actividades sociais, laborais ou de lazer,
uma diminuição da actividade dos neu- devido ao uso da substância, ou au-
rónios serotoninérgicos na referida área mento do tempo dedicado à sua obten-
cerebral. As consequências comporta- ção ou à sua utilização.
mentais ou afectivas desta neuroadap- 6. Persistência do consumo, mesmo
tação são pouco claras, mas, conside- quando já existem sintomas evidentes
rando que o défíce de serotonina tem de doença.
sido implicado na depressão e na an- De um modo geral, a grande maioria
siedade, poderá colocar-se a hipótese de dos fumadores apresenta critérios de
que estes mecanismos possam estar as- dependência, embora se verifique uma
sociados a alguns sintomas como o hu- diferente susceptibilidade individual à
mor depressivo, a irritabilidade ou a im- nicotina, traduzida por diferentes graus
pulsividade, verificados na síndrome de de dependência, que poderão, pelo me-
privação à nicotina. A nicotina parece nos em parte, ser explicados por facto-
induzir também a libertação de canabi- res genéticos. Segundo alguns autores
nóides e glicocorticóides13,18,19. cerca de metade do risco de dependên-
A manutenção do consumo de taba- cia poderá ser explicado por motivos de
co poderá, assim, ser explicada, não só natureza genética. Por outro lado, os
pelos efeitos positivos e agradáveis da factores genéticos relacionados com a
nicotina, mas também pela necessida- iniciação do consumo poderão ser dife-
de de impedir ou eliminar os sintomas rentes dos que se relacionam com a sua
de abstinência. manutenção e respectiva intensi-
Voltar a consumir é a forma mais dade13,21.
fácil e rápida para o consumidor habi- A metabolização da nicotina, em co-

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tinina, que ocorre maioritariamente no afectiva e cognitiva que conduzem ao


fígado, depende, numa primeira fase, da desejo de voltar a consumir. Por outro
acção do citocrómio P450 (CYP), que se lado, o processo de sensibilização a ní-
apresenta sob diferentes formas ou vel cerebral aos efeitos motivacionais e
isoenzimas. Pensa-se que a variabilida- de reforço de uma droga, como a nico-
de genética interindividual de um des- tina, pode aumentar a susceptibilidade
tes isoenzimas – o CYP2A6 – esteja na para a sensibilização a outras drogas de
origem de uma diferente metabolização abuso, fenómeno denominado de sen-
da nicotina. Os metabolizadores lentos sibilização cruzada13,18,19,20.
da nicotina fumam menos, enquanto Outras interacções e processos neu-
que os metabolizadores rápidos fumam robiológicos estão actualmente em in-
mais, a fim de manterem os níveis san- vestigação, no âmbito das neurociên-
guíneos e cerebrais de que necessitam cias e da genética molecular. Dos resul-
constantes13,18,22. tados desta investigação nascerá com
A nível dos receptores acetilcolinér- certeza uma melhor compreensão do
gicos nicotínicos cerebrais é possível processo de adição à nicotina e, even-
identificar várias subunidades proteicas tualmente, a outras substâncias exis-
– de tipo α ou tipo β – habitualmente tentes no tabaco, que permitirá vir a
combinadas entre si. A combinação α4 melhorar a eficácia terapêutica. A adi-
β2 tem sido bastante estudada pela sua ção a drogas de abuso, como é o caso
aparente responsabilidade nas diferen- da nicotina, será cada vez mais encara-
ças interindividuais de afinidade à ni- da como uma doença do cérebro, com
cotina. A ausência de algumas destas características crónicas e recidivan-
subunidades, designadamente a β2, in- tes13,25.
duziria baixa libertação de dopamina e Importa ter presente, no entanto, que
menor susceptibilidade à nicotina. Ex- o comportamento tabágico não pode ser
periências com ratinhos, não possui- explicado apenas pela neurobiologia da
dores desta subunidade, revelam que nicotina. Factores socioeconómicos, fa-
estes não se auto-administram com ni- miliares e pessoais, contribuem de for-
cotina, o que parece demonstrar a sua ma decisiva para o início, para a manu-
importância no desenvolvimento da de- tenção ou para a cessação deste consu-
pendência. Por seu lado, a presença da mo26.
subunidade β4 parece estar relaciona-
da com a síndrome de privação, verifi-
cando-se que a sua ausência poderá
CONSUMO DE TABACO E CANCRO
estar relacionada com uma diminuição
desta síndrome13,18,23,24. O consumo de tabaco é a primeira cau-
Alguns estudos parecem mostrar que sa evitável de cancro. De acordo com o
o cérebro do fumador possui um maior U.S. Department of Health and Human
número de receptores acetilcolinérgicos Services, o risco de morte por cancro é
nicotínicos, o que poderá corresponder 22 vezes maior nos homens fumadores
a uma reacção ao desenvolvimento de de cigarros e cerca de 12 vezes maior
tolerância. No entanto, este é apenas nas mulheres fumadoras, em compara-
um dos possíveis mecanismos para a ção com os não fumadores da mesma
instalação da dependência13,20. idade e sexo8,27.
De facto, embora a nicotina seja a Estima-se que, na União Europeia,
principal substância indutora de de- em 2000, aproximadamente 26% das
pendência, o tabaco contém outras mortes por cancro tenham sido provo-
substâncias que podem também estar cadas pelo consumo de tabaco. Quan-
relacionadas com efeitos de natureza do considerados apenas os novos dez

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Estados-Membros, este valor atinge os As alterações genéticas associadas


30%28. ao consumo de tabaco são um dos cam-
A relação entre consumo de tabaco e pos em contínua investigação. O gene
o aparecimento de cancro em diferen- supressor de tumores p53 tem sido bas-
tes localizações está hoje bem estabele- tante estudado, parecendo haver um
cida. A análise dos constituintes quími- padrão de mutação específico deste
cos do fumo do tabaco permite identi- gene nos fumadores. Outros estudos
ficar mais de 4.500 substâncias quími- têm procurado avaliar a implicação das
cas, das quais algumas cancerígenas e formas enzimáticas do citocrómio P450,
mutagénicas. Na folha do tabaco, não na génese do cancro, com base na hi-
submetida a tratamento, é possível pótese de que variações na metaboliza-
identificar dezasseis substâncias quími- ção das substâncias carcinogénicas,
cas classificadas como cancerígenas. por via destes enzimas, levariam a va-
Este número aumenta, quando a folha riações nas doses de exposição. Tam-
é queimada, para mais de 50, podendo bém, o papel das variações individuais
assim concluir-se que a maioria é pro- no processo de reparação do DNA no
duzida durante o processo de combus- aparecimento de cancro tem vindo a ser
tão. No entanto, o tabaco sem fumo é investigado8,32.
também nocivo para a saúde, dada a De acordo com o U.S. Department of
presença de substâncias cancerígenas Health and Human Services, existe evi-
na própria constituição da folha29,30. dência suficiente de que o consumo de
O consumo de tabaco e a ocorrência tabaco é causa de cancro do pulmão, da
de cancro têm uma explicação que de- cavidade oral, da faringe, da laringe, do
corre, assim, da presença das referidas esófago, do pâncreas e do estômago.
substâncias, da acção dessas substân- Existe também uma relação causal com
cias em presença de outras, do tempo os cancros da bexiga, do rim, do can-
e da dose de exposição, mas também da cro do colo do útero e com a leucemia
susceptibilidade individual, nomeada- mielóide aguda8.
mente da predisposição genética. O consumo de tabaco aumenta o ris-
Hoje, a biologia molecular permite co de todos os tipos de cancro do pul-
identificar biomarcadores da exposição mão. Actualmente o tipo histológico
a substâncias cancerígenas, bem como mais frequente é o adenocarcinoma,
a dose, a susceptibilidade e a resposta com aparecimento de cancros mais pe-
a essa exposição, em materiais biológi- riféricos, devido à inalação mais profun-
cos – tecidos e células, sangue, saliva e da do fumo, muito provavelmente em
urina. A investigação experimental per- resultado da introdução no mercado de
mite evidenciar, por exemplo, que a ex- cigarros com menor teor em nicotina8.
posição aos hidrocarbonetos aromáti- De acordo com a OMS, estima-se
cos policiclícos, um dos carcinogéneos que, nos países industrializados, o con-
existentes no fumo, actua sobre o DNA, sumo de tabaco seja responsável por
levando à formação de aductos, que po- cerca de 90% dos cancros do pulmão
dem levar a mutações e finalmente ao no homem e cerca de 70% na mulher9.
cancro. A idade de início do consumo Nos EUA, 90% dos cancros do pulmão
parece estar relacionada com o núme- quer no homem, quer na mulher, são
ro de aductos de DNA em circulação. No atribuídos ao tabaco. Uma história fa-
entanto, estas mutações podem ocorrer miliar de cancro do pulmão aumenta o
independentemente da intensidade e risco de cancro do pulmão nos fuma-
do tempo de exposição, sustentando, dores. Nas mulheres, a incidência de
assim, o princípio de que não há níveis cancro do pulmão tem vindo a registar
seguros de exposição31. um aumento significativo, em paralelo

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com o aumento de consumo do tabaco existência de associação, como é o caso


que se vem registando neste sexo, nos do cancro do ovário ou do cancro da
últimos anos. Nos EUA, registou-se um mama em determinados subgrupos de
aumento acentuado na mortalidade por mulheres8,32.
cancro do pulmão nas mulheres. Des-
de 1987, o cancro do pulmão passou a
CONSUMO DE TABACO E DOENÇAS
ser a primeira causa de morte por can-
cro, ultrapassando o cancro da mama, CARDIOVASCULARES
até aí a causa de cancro mais frequen-
te na mulher32. O consumo de tabaco é o principal fac-
O risco de cancro da laringe e do esó- tor de risco evitável de doença cardio-
fago aumenta quando, em simultâneo vascular. O risco aumenta com o núme-
com o consumo de tabaco, existe con- ro de cigarros fumados e a duração do
sumo de álcool. O consumo de álcool é consumo. Estima-se que cerca de 30%
um factor independente do risco de can- da mortalidade anual, por doença co-
cro, mas actua sinergicamente com o ronária, nos EUA, esteja relacionada
fumo do tabaco, aumentando o risco com o consumo de tabaco. Na mulher
para ambas as doenças. com menos de 50 anos, fumar é a prin-
Nos fumadores de cachimbo há evi- cipal causa de doença coronária8,9,32,34.
dência de que o consumo de tabaco está Quando ao hábito de fumar se asso-
associado ao cancro do lábio. O cancro ciam outros factores de risco, como o
da cavidade oral, na maior parte dos ca- colesterol elevado, a hipertensão ou a
sos precedido de leucoplasia, está as- obesidade, há um aumento sinérgico
sociado ao consumo de tabaco sob to- do risco de doença cardiovascular. De
das as formas – cachimbo, charuto e ta- acordo com o U.S. Department of Health
baco de mascar. Também aqui o con- and Human Services, existe evidência
sumo de álcool é um factor agravante e suficiente de que o consumo de tabaco
potenciador do risco. A mortalidade está é causa de aterosclerose, incluindo as
associada à intensidade do consumo. formas subclínicas, de doença cerebro-
As lesões de leucoplasia podem regre- vascular, de doença isquémica coroná-
dir no caso do fumador parar de fumar. ria, de doença vascular periférica e de
Nos fumadores regulares de charutos aneurisma da aorta abdominal8.
há aumento do risco de cancro do pul- O desenvolvimento de aterosclerose
mão, da cavidade oral, da laringe e do é o principal processo fisiopatológico
esófago. Existe evidência sugestiva, mas que está na origem destas doenças. O
ainda não suficiente, de que fumar está consumo de tabaco provoca lesões do
associado ao cancro colo-rectal, à poli- endotélio arterial, hipercolestorolémia,
pose adenomatosa colo-rectal e ao can- com aumento das lipo-proteínas de bai-
cro do fígado, em ambos os sexos33. xa densidade, activação das plaquetas
Existe evidência sugestiva de que o e dos leucócitos, aumento do fibrinogé-
hábito de fumar não está associado ao nio e formação de placas infllamatórias,
cancro do cérebro, da mama e da prós- trombos e embolias. Embora se pense
tata. No entanto, alguns estudos mos- que a nicotina e o monóxido de carbo-
tram um aumento de mortalidade nos no sejam os principais implicados na
fumadores, relativamente aos não fu- disfunção e lesões do endotélio arterial
madores afectados por cancro da prós- e na aterogénese, outras substâncias
tata.8 existentes no fumo do tabaco poderão
No que se refere a outros cancros a também estar implicadas8.
evidência actualmente existente não Vários estudos demonstraram a as-
permite ainda estabelecer ou negar a sociação entre consumo de tabaco e um

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decréscimo da função vasodilatadora mentado nos fumadores, bem como al-


do endotélio, uma das primeiras ma- guns factores hemostáticos, como a an-
nifestações de aterosclerose. Sabe-se titrombina III. Tudo indica que o au-
também que a resposta inflamatória é mento do fibrinogénio constitua um fac-
uma componente essencial da iniciação tor de risco independente para a doença
e evolução da aterosclerose. O consu- cardiovascular. Por outro lado há dimi-
mo de tabaco induz um processo in- nuição dos factores fibrinolíticos8,35.
flamatório a nível pulmonar, que se tra- O consumo de tabaco afecta a fun-
duz sistemicamente por uma resposta ção cardiovascular – aumenta a liberta-
inflamatória generalizada, manifestada ção de catecolaminas associadas a um
por um aumento dos leucócitos e dos ritmo cardíaco aumentado e a um au-
níveis de proteína C-reactiva. Vários es- mento do tónus vascular. No entanto,
tudos mostraram que os doentes com nos fumadores, existe habitualmente
valores aumentados dos leucócitos uma menor resposta cardíaca ao exer-
apresentam um risco mais elevado de cício físico, característica que tem esta-
doença coronária, de AVC e de morte do associada à morte súbita ou ao de-
súbita8,35. sencadeamento de arritmias. Embora
Os fumadores apresentam um perfil não exista evidência conclusiva de que
lipídico, igualmente favorável ao desen- o consumo de tabaco possa estar asso-
volvimento de aterosclerose, que se ca- ciado a hipertensão crónica, fumar pro-
racteriza por concentrações séricas voca um aumento agudo da resistência
mais elevadas de colesterol total e lipo- vascular periférica e da pressão arterial,
proteínas de baixa densidade (LDL), por efeitos estes devidos à exposição à ni-
níveis diminuídos de lipoproteínas de cotina8,35.
alta densidade (HDL) e por um aumen- Fumar está associado a uma di-
to de triglicéridos8. minuição do fluxo sanguíneo coronário
A aterosclerose é a causa mais co- e a necessidades aumentadas em
mum de obstrução dos vasos sanguíne- oxigénio do miocárdio. Fumar compro-
os periféricos, cuja manifestação clíni- mete a oxigenação dos tecidos, não ape-
ca mais frequente é a claudicação inter- nas devido aos efeitos vasomotores,
mitente. A associação causal com o con- mas também devido aos níveis aumen-
sumo de tabaco está bem estabelecida. tados de carboxihemoglobina, em re-
Em pacientes com claudicação inter- sultado da exposição ao monóxido de
mitente, os fumadores têm um risco au- carbono existente no fumo. Uma eritro-
mentado de sintomas isquémicos agu- citose compensatória pode ser encon-
dos graves e de gangrena. A doença de trada em alguns fumadores, em parti-
Buerger, uma forma rara de doença cular quando o consumo de tabaco é
vascular periférica, que afecta quase ex- elevado. Em resultado de todos estes
clusivamente fumadores jovens do sexo mecanismos os fumadores apresentam
masculino, embora de causa desconhe- uma menor capacidade de transporte
cida, está igualmente relacionada com de oxigénio e um compromisso da cir-
o consumo de tabaco. Parar de fumar é culação periférica, devido ao aumento
o único tratamento conhecido e a úni- da viscosidade sanguínea e da leucoci-
ca forma de evitar a progressão para a tose8.
gangrena8,36. Fumar é uma causa major de doença
No que se refere às doenças trombóti- coronária. O risco aumenta com a dose
cas, o consumo de tabaco está associa- e o tempo de exposição, embora de for-
do a alterações nas plaquetas, que re- ma não linear. Mesmo em mulheres
gistam uma maior activação e adesivi- com menos de cinquenta anos, em que
dade. Também o fibrinogénio está au- a incidência desta doença é relativa-

232 Rev Port Clin Geral 2006;22:225-44


DOSSIER
TABAGISMO

mente baixa, o risco é mais elevado nas


CONSUMO DE TABACO E DOENÇAS
fumadoras, aumentando com a inten-
sidade do consumo. O consumo de ta-
RESPIRATÓRIAS
baco é factor de risco para o vasospas-
mo coronário, piorando o prognóstico Fumar é lesivo para toda a árvore res-
no pós-enfarte do miocárdio8. piratória, afectando a estrutura e a fun-
O consumo de tabaco pode aumen- ção pulmonar, diminuindo as defesas
tar o risco de morte súbita por ataque contra as infecções e provocando a con-
cardíaco devido ao aumento da adesivi- tinuidade de lesões – stresse oxidativo,
dade das plaquetas, à libertação de ca- inflamação e desequilíbrio protease-an-
tecolaminas, a trombose aguda e a arri- tiprotease – que conduzem à doença
timia ventricular. De acordo com os da- pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).
dos do Framingham Heart Study, os fu- De facto, entre as possíveis causas de
madores têm um risco duas vezes e DPOC encontram-se as infecções respi-
meia superior de morte por ataque car- ratórias agudas, cuja incidência é maior
díaco do que os não fumadores8. nos fumadores, existindo uma associa-
A doença coronária provocada pelo ção causal entre fumar e infecções do
tabaco pode contribuir para o apareci- tracto respiratório superior e inferior,
mento de insuficiência cardíaca con- incluindo a pneumonia. Dados de vá-
gestiva, estimando-se que cerca de 17% rios estudos sugerem uma associação
dos casos estejam relacionados com o entre fumar e a infecção pelo bacilo da
consumo de tabaco8. tuberculose. Fumar foi identificado
O risco de acidente vascular cerebral como factor de risco para o aparecimen-
é tanto maior quanto mais intenso for to de tuberculose, parecendo haver rela-
o consumo de tabaco. A associação cau- ção com a duração do hábito, mas não
sal com o consumo de tabaco está bem com o número médio diário de cigarros
estabelecida, estimando-se que os fu- fumados8.
madores possam ter um risco acresci- Apesar do tabaco provocar uma dimi-
do de cerca de 50% de virem a sofrer um nuição das defesas contra a infecção,
acidente vascular cerebral8. não são ainda completamente claros os
O consumo de tabaco está associa- mecanismos por que tal acontece. A
do de forma causal com o aneurisma da função mucociliar nasal está diminuí-
aorta abdominal. A maioria é devida a da nos fumadores, o que diminui a ca-
aterosclerose, degradação da elastina pacidade de eliminar microorganismos.
da parede arterial e inflamação. Os es- Por outro lado, várias alterações imu-
tudos de Richard Doll nos médicos in- nológicas presentes nos fumadores po-
gleses revelaram um aumento de risco derão ajudar a compreender esta situa-
de morte, superior a quatro vezes, por ção8.
Aneurisma da Aorta Abdominal, nos fu- A inalação do fumo do tabaco expõe
madores, em comparação com os não o pulmão a substâncias tóxicas e agen-
fumadores37,8. tes oxidativos que diminuem a capaci-
De acordo com o U.S. Department of dade anti-oxidante que normalmente
Health and Human Services, os fuma- protege as células epiteliais da exposi-
dores têm um risco duas a quatro ve- ção a esses agentes. Acresce que vários
zes superior de desenvolverem doença enzimas encontrados nos pulmões ge-
coronária e o dobro do risco de sofre- ram moléculas de oxigénio reactivo que
rem um AVC. O risco de doença arte- contribui para agravar o stress oxidati-
rial periférica é cerca de dez vezes su- vo nos pulmões. As lesões epiteliais le-
perior ao verificado em não-fumado- vam à libertação de mediadores proin-
res8,27. flamatórios e células inflamatórias nas

Rev Port Clin Geral 2006;22:225-44 233


DOSSIER
TABAGISMO

paredes das vias aéreas. Este processo CONSUMO DE TABACO E DOENÇAS


inflamatório é extensivo às vias aéreas
DO APARELHO GASTROINTESTINAL
centrais e periféricas bem como ao pa-
rênquima pulmonar, mesmo em fuma-
dores com função pulmonar normal. O consumo de tabaco está associado ao
Apesar do processo inflamatório das aumento do risco de diversas doenças
vias aéreas periféricas atingir todos os do aparelho gastrointestinal, desig-
fumadores, variações genéticas podem nadamente: cancro do esófago, do estô-
justificar uma maior susceptibilidade à mago, do pâncreas, do fígado e do cólon,
DPOC8. refluxo gastro-esofágico, úlcera pépti-
De acordo com o U.S. Department of ca gástrica e duodenal, e doença de
Health and Human Services, existe Chron8,38.
evidência suficiente de que o consumo A integridade da mucosa gástrica de-
de tabaco é causa de doença pulmonar pende do equilíbrio entre factores agres-
obstrutiva crónica, de pneumonia e sivos e factores protectores, não sendo
doenças respiratórias agudas, de sin- completamente claros os efeitos do con-
tomas respiratórios em adultos, de- sumo de tabaco neste processo. Os da-
signadamente de tosse, pieira, expecto- dos relativamente ao efeito do tabagis-
ração e dispneia, e de uma maior di- mo na secreção ácida gástrica são in-
ficuldade de controlo da asma. O conclusivos. No entanto, parece haver
consumo de tabaco está associado a evidência de que o tabagismo promove
um risco dez vezes superior de morte o refluxo gastroduodenal e aumenta a
por doença pulmonar obstrutiva cró- produção de radicais livres e de vaso-
nica. Cerca de 90% das mortes por esta pressina. Por outro lado, inibe a secre-
doença, quer na mulher quer no ção de muco gástrico, a produção de
homem, são devidas ao consumo de ta- prostaglandinas citoprotectoras e a se-
baco8. creção de bicarbonato pancreático e na
Dados de investigação revelam que mucosa duodenal, diminuindo o fluxo
os fumadores têm um declínio pulmo- sanguíneo a nível da mucosa gástri-
nar prematuro e mais rápido da função ca8,38.
pulmonar. Fumar durante a infância e Nos fumadores, as úlceras são habi-
a adolescência é causa de alteração da tualmente mais graves, apresentando
maturação pulmonar, de tosse, de piei- complicações com maior frequência. Os
ra, de aumento de mucosidade e de fumadores apresentam um risco mais
dispneia, havendo uma associação cau- elevado de morte por úlcera péptica re-
sal entre fumar e o aparecimento de lativamente aos não fumadores. Fumar
sintomas asmatiformes. No que se re- aumenta o risco de úlcera péptica em
fere à asma, há evidência sugestiva de doentes helicobacter pylori positivos. O
que fumar agrava o prognóstico de helicobacter pylori é mais frequente em
asma em crianças e jovens8. fumadores, estando associado a uma
No adulto, a evidência é suficiente de maior dificuldade no tratamento e a um
uma relação causal entre fumar e sin- maior número de recidivas nestes pa-
tomas respiratórios asmatiformes e um cientes8,38.
pior controlo da asma. A evidência é su- Fumar agrava o refluxo gastroesofá-
gestiva da associação entre fumar e hi- gico, diminuindo a pressão do esfincter
per-reactividade brônquica inespecífi- esofágico inferior e aumentando o nú-
ca. Ainda não há evidência suficiente no mero de episódios de refluxo8,38.
sentido de estabelecer ou negar uma A evidência sugere que o consumo de
associação causal entre fumar e o apa- tabaco interfere com as secreções pan-
recimento de asma no adulto8. creáticas exócrinas. Alguns estudos

234 Rev Port Clin Geral 2006;22:225-44


DOSSIER
TABAGISMO

mostraram que o consumo de um úni- vasopressina, sem grandes alterações


co cigarro por dia leva à diminuição da na TSH, LH e FSH. Estes efeitos são pro-
libertação de bicarbonato e ao aumen- porcionais à dose de exposição. Nas fu-
to dos enzimas pancreáticos39. madoras crónicas, no entanto, há dimi-
O tabagismo está associado de forma nuição da prolactina, o que pode con-
causal com o cancro do pâncreas, ha- tribuir para reduzir a fertilidade e a pro-
bitualmente mais frequente nas mu- babilidade do aleitamento materno em
lheres. O consumo de tabaco constitui mães fumadoras43.
o principal factor de risco modificável É de referir que, embora a concentra-
para o desenvolvimento deste tipo de ção de gonadotrofinas não seja muito
cancro. alterada pelo tabagismo, nas mulheres
Fumar é imunosupressor e altera vá- perimenopáusicas pode haver aumen-
rias respostas imunológicas. Está asso- to da concentração de FSH, o que pode
ciado à doença de Crohn. A evolução clí- induzir o encurtamento do período de
nica é geralmente mais grave nos fuma- transição para a menopausa. No ho-
dores38. mem, as alterações das gonadotrofinas
Alguns estudos parecem mostrar que parecem ser menos significativas. A efi-
o consumo de tabaco poderá estar asso- cácia da terapêutica hormonal de subs-
ciado a um risco moderadamente dimi- tituição por via oral pode estar diminuí-
nuído de colite ulcerosa, possivelmen- da em fumadoras, devido ao aumento
te devido à sua acção imunodepresso- da clearance hepática, contrariando as-
ra. A utilização de adesivos de nicotina sim os possíveis efeitos benéficos desta
de elevada dosagem parece poder bene- terapêutica sobre a densidade óssea8,43.
ficiar a sintomatologia em situações le- Fumar altera os níveis de hormonas
ves a moderadas, embora não conduza esteróides. Alguns estudos parecem
à sua remissão. Estes estudos são, no mostrar que, em fumadores, o cortisol
entanto, ainda muito insuficientes, ca- plasmático pode estar mais elevado, em
recendo de validação40,41,42. comparação com os não-fumadores.
Fumar aumenta a libertação de vaso-
pressina. O sistema renina-angiotensi-
CONSUMO DE TABACO E na também parece ser afectado43.
PERTURBAÇÕES ENDÓCRINAS A resposta aguda ao fumar traduz-
-se por um aumento da pressão sistó-
Fumar tem múltiplos efeitos nas secre- lica e diastólica e por taquicardia. Tam-
ções endócrinas, devido não só à acção bém a aldosterona e a angiotensina po-
da nicotina, mas também a outras dem registar um aumento, não existin-
substâncias químicas presentes no fu- do alterações a nível da renina. No en-
mo, como por exemplo o tiocianato8,43. tanto, nos fumadores crónicos, a acti-
Fumar actua sobre a tiróide, consti- vidade da renina plasmática e os níveis
tuindo um factor de risco de doença de de aldosterona podem estar elevados, o
Graves, de oftalmopatia de Graves e de que pode contribuir para uma maior
alterações das hormonas tiroideias. Fu- reactividade vasoconstritiva arterial43.
mar agrava a progressão da oftalmopa- Os níveis de catecolaminas estão ele-
tia de Graves e dificulta a terapêutica. vados e a sua excreção urinária é maior
A tiroidite autoimune e bócios de peque- nos fumadores. Os fumadores hiper-
nas dimensões são mais frequentes em tensos parecem registar um aumento
fumadores8,43. de catecolaminas cerca de dez minutos
Fumar estimula a libertação de hor- após o consumo de tabaco, pelo que de-
monas hipofisárias – prolactina, ACTH, vem evitar fumar antes da medição da
hormona do crescimento e arginina pressão arterial. Os doentes hiperten-

Rev Port Clin Geral 2006;22:225-44 235


DOSSIER
TABAGISMO

sos apresentam uma maior reactivida- a albuminúria são mais frequentes em


de cardiovascular ao fumo do tabaco43. diabéticos fumadores. Da mesma for-
O consumo de tabaco pode estar as- ma, alguns estudos mostram um au-
sociado a um aumento de secreção de mento da ocorrência de neuropatia pe-
androgéneos pelas suprarenais, o que riférica em diabéticos de tipo 1. A rela-
poderá contribuir para a resistência à ção com a retinopatia não é ainda con-
insulina em fumadores e para um maior clusiva. O risco aumenta com a dose de
risco de osteoporose nas mulheres pós- exposição e com a idade de início do
-menopáusicas8,43. consumo8,45,46.
O consumo de tabaco parece ter efei- Fumar é factor de risco de osteopo-
tos anti-estrogénicos. Pode estar asso- rose, aumentando o risco de fractura,
ciado a irregularidades e perturbações em particular em mulheres pós-meno-
menstruais e a ciclos anovulatórios. Es- páusicas, muito possivelmente devido a
tes efeitos dependem da intensidade da alterações do metabolismo do cálcio –
exposição, sendo mais intensos e fre- cuja absorção se encontra diminuída
quentes nas grandes fumadoras. Os nas fumadoras – devido a mecanismos
sintomas associados à menopausa pa- não totalmente conhecidos, mas prova-
recem ser mais frequentes nas fumado- velmente relacionados com alterações
ras. A eficácia da pílula contraceptiva do sistema hormona paratiroideia (PTH)
parece poder ser afectada em mulheres – vitamina D, a par de outros mecanis-
fumadoras, devido em parte ao seu efei- mos relacionados com alterações hor-
to anti-estrogénico8,32,44. monais, em especial, o aumento do cor-
Estes efeitos diminuem a fertilidade tisol, dos androgéneos suprarenais e do
e reduzem a idade da menopausa. De- efeito anti-estrogénico já referido. Em-
vido ao efeito anti-estrogénico, algumas bora estes efeitos sejam mais notórios
doenças dependentes dos estrogéneos nas mulheres, os homens fumadores
podem ver ligeiramente diminuída a parecem apresentar também uma den-
probabilidade da sua ocorrência, como sidade óssea inferior à dos não fuma-
o cancro do endométrio e a endometrio- dores, embora a causa não esteja ain-
se. No homem, as eventuais alterações da suficientemente esclarecida8,43.
a nível da testosterona não são tão evi-
dentes, não parecendo haver diferenças
significativas nos níveis de testostero-
CONSUMO DE TABACO E SAÚDE MENTAL
na biodisponível entre fumadores e não-
-fumadores8,32,44. Vários estudos mostram que as preva-
Fumar pode estar associado a um lências de consumo de tabaco são mais
aumento da resistência à insulina, po- elevadas em pessoas com problemas de
dendo contribuir para o aparecimento saúde mental e em doentes psiquiátri-
de diabetes tipo 2, quer em homens, cos institucionalizados, relativamente
quer em mulheres, e para uma maior à população em geral47.
dificuldade de controlo da diabetes A dependência à nicotina é, em si
tipo1, embora esta seja uma área ain- mesma, uma perturbação da saúde
da em investigação. Vários estudos em mental, sendo, como já referido, classi-
fumadores diabéticos parecem mostrar ficada como tal pela DSM-IV e pela ICD-
um maior risco de morbilidade e de -10. Nem todos os fumadores, no entan-
mortalidade precoces, associado às to, desenvolvem dependência, podendo
complicações macro e microvasculares, manter níveis baixos de consumo por
bem como de um desenvolvimento pre- longos períodos e parar sem grande di-
maturo de muitas das complicações da ficuldade.
diabetes mellitus tipo 1. A nefropatia e A associação entre consumo de taba-

236 Rev Port Clin Geral 2006;22:225-44


DOSSIER
TABAGISMO

co e a depressão é bem conhecida. Al- Embora os estudos não sejam con-


gumas estimativas apontam no senti- sensuais, em doentes esquizofrénicos
do de que cerca de 60% dos fumadores fumadores poderá haver uma metabo-
(homens e mulheres) têm história de lização mais rápida dos neurolépticos,
depressão clínica. A depressão parece o que poderá conduzir ao aumento das
estar fortemente associada a níveis de dosagens prescritas. Quando estes
consumo elevados47. doentes param de fumar, podem regis-
Os vários estudos já efectuados não tar um aumento dos níveis de neuro-
parecem esclarecer se as pessoas que lépticos em circulação, o que poderá
sofrem de depressão têm maior proba- obrigar à redução das referidas dosa-
bilidade de se tornarem fumadoras, gens47.
pela procura dos efeitos da nicotina so- Pese embora a insuficiente com-
bre o humor, ou se os sintomas depres- preensão dos mecanismos subjacentes
sivos são induzidos pelo consumo pro- à associação entre o consumo de taba-
longado de tabaco, devido a alterações co e as perturbações da saúde mental,
neuroquímicas47,48. a avaliação do consumo de tabaco em
Esta associação poderá eventual- doentes com perturbações da saúde
mente ser explicada pela existência de mental é de extrema importância, não
comorbilidade ou de factores genéticos só pela sua elevada prevalência nestes
e ambientais comuns que, de forma in- doentes e possíveis associações etioló-
dependente, poderão aumentar o risco gicas, mas também pela interferência
de depressão47,48,49. com o sucesso terapêutico.
Na fase inicial de consumo, parece
haver um aumento de produção de se-
rotonina, o que diminuiria a probabili- CONSUMO DE TABACO E
dade de sintomas depressivos em indi- DOENÇAS NEUROLÓGICAS
víduos com baixos níveis deste neuro-
transmissor. Mas este efeito parece não A associação do consumo de tabaco
ser duradouro, e a acção antidepressi- com as doenças neurológicas é contro-
va da nicotina pode resultar de outros versa. Alguns estudos parecem ter en-
sistemas neuroquímicos. Qualquer que contrado uma associação negativa en-
seja o mecanismo, os fumadores que re- tre o consumo de tabaco e a ocorrência
ferem o alívio de sintomas depressivos de duas doenças neurodegenerativas –
para continuar a fumar têm grande pro- a doença de Alzheimer e a doença de
babilidade de insucesso nas tentativas Parkinson – por mecanismos ainda
para parar o consumo47,49. pouco conhecidos. É de notar, no entan-
De acordo com alguns autores, cer- to, que a possível exploração terapêuti-
ca de 90% dos doentes esquizofrénicos ca da nicotina nesta área parece limi-
são fumadores. De um modo geral apre- tada, dada a dificuldade de lidar, a lon-
sentam consumos elevados e parecem go prazo, com doenças degenerativas
necessitar de níveis mais elevados de ni- de carácter progressivo51,52.
cotina. Pode colocar-se a hipótese de
que o consumo de tabaco possa estimu-
lar o funcionamento a nivel do córtex CONSUMO DE TABACO E EFEITOS
pré-frontal, através da libertação de do- NA SAÚDE REPRODUTIVA
pamina, melhorando os sintomas da
doença. Outras explicações, centradas A mulher, para além do risco aumenta-
numa possível alteração a nível dos re- do de sofrer da maior parte das doen-
ceptores nicotínicos, têm vindo a ser in- ças acima referidas, tem uma maior
vestigadas48,50. susceptibilidade ao fumo do tabaco, de-

Rev Port Clin Geral 2006;22:225-44 237


DOSSIER
TABAGISMO

vido aos seus efeitos anti-estrogénicos, vamente às não fumadoras, havendo


embora os níveis circulantes dos estro- evidência sugestiva de sintomas meno-
géneos endógenos não se encontrem al- páusicos mais intensos8,32,53,54.
terados nas fumadoras. Fumar aumen- As mulheres pós-menopáusicas têm
ta o risco de infertilidade, aumenta um risco aumentado de osteoporose e
a dificuldade em engravidar e dificulta de fractura do colo do fémur. Podem
as tentativas de fertilização assis- apresentar um risco moderado de so-
tida8,32,53,54. frerem de artrite reumatóide8,32,53.
Há evidência suficiente de que fu- No homem fumador há evidência su-
mar, em conjugação com contraceptivos ficiente de que fumar provoca uma di-
orais combinados, aumenta o risco de minuição da qualidade e quantidade do
doença coronária. Há evidência suges- esperma e evidência fortemente suges-
tiva de aumento do risco de AVC, que tiva de que a resposta a tratamentos de
poderá ser superior a sete vezes e de fa- fertilidade pode diminuir. Existe evidên-
lhas contraceptivas8,32,53,55,56. cia sugestiva de relação com a disfun-
Relativamente às perturbações ção eréctil, que pode melhorar com a
menstruais, há evidência sugestiva de cessação tabágica8,57.
que fumar possa estar associado a dis-
menorreia e a irregularidades mens-
CONSUMO DE TABACO
truais8,32,53.
Fumar durante a gravidez consitui E ALTERAÇÕES CUTÂNEAS
um grave risco, quer para a mãe, quer
para o feto. Existe evidência suficiente O consumo de tabaco está associado a
de que o consumo de tabaco durante a numerosas perturbações cutâneas, de-
gravidez é causa de atraso de cresci- signadamente envelhecimento e forma-
mento intrauterino, de baixo-peso ao ção precoce de rugas, possivelmente de-
nascer, de ruptura precoce das mem- vido a um possível efeito fototóxico, à
branas, de placenta prévia, de descola- pior oxigenação dos tecidos provocada
mento da placenta e de gravidez de pré- pelas elevadas concentrações de carbo-
-termo. Há evidência sugestiva da as- xihemoglobina e pelo stresse oxidativo
sociação com um ligeiro aumento do inerente ao consumo. Está também as-
risco de gravidez ectópica e de aborto es- sociado a um risco acrescido de carci-
pontâneo. A associação com as malfor- noma pavimentocelular, psoríase e hi-
mações congénitas do feto não está bem dradenite supurativa. Dificulta a cica-
estabelecida, sendo apenas sugestiva trização e piora as lesões da pele asso-
relativamente à fenda palatina. As mu- ciadas à diabetes, ao lúpus e à SIDA. A
lheres fumadoras têm uma menor pro- associação com o melanoma, com o ec-
babilidade de amamentarem, ou de zema e com o acne é inconclusiva8,58,59.
amamentarem por períodos mais cur- Estudos limitados, mas consistentes,
tos. Por razões ainda não conhecidas, mostram que as fumadoras têm mais
as fumadoras têm menor risco de pré- rugas faciais do que as não fumadoras
-eclâmpsia. O risco de mortalidade pe- da mesma idade. De todas estas mani-
rinatal e de morte súbita do lactente é festações a formação precoce de rugas
mais elevado nos filhos de grávidas e faciais parece ser mais acentuada nas
mães fumadoras. As mulheres que dei- mulheres, embora afecte ambos os se-
xam de fumar antes ou durante a gra- xos e esteja associada à intensidade do
videz reduzem os riscos associados ao consumo8,60.
consumo de tabaco8,32,53,54. A maioria dos fumadores aparenta
A menopausa nas fumadoras é an- uma idade superior à real, sendo pos-
tecipada em cerca de dois anos, relati- sível na maior parte dos casos reconhe-

238 Rev Port Clin Geral 2006;22:225-44


DOSSIER
TABAGISMO

cer um fumador pela cor amarelo-aci- trabalho e uma maior utilização de ser-
zentada da pele e pelas rugas periorais viços de saúde. Dada a exposição às
e temporais8,61. múltiplas substâncias existentes no
fumo, os fumadores estão cronicamen-
te expostos a stresse oxidativo, que po-
CONSUMO DE TABACO E DOENÇA OCULAR derá ser um mecanismo geral favorece-
dor do envelhecimento e do apareci-
A catarata constitui a principal causa mento das doenças crónicas atrás re-
de perda de visão. Segundo o U.S. De- feridas. Existe, também, evidência
partment of Health and Human Services suficiente de que os níveis circulantes
a evidência é suficiente para estabele- de anti-oxidantes são menores em fu-
cer uma relação causal entre consumo madores do que em não fumadores, si-
de tabaco e a catarata nuclear. O risco tuação agravada com a intensidade do
é mais acentuado nos grandes fumado- hábito. Os fumadores apresentam si-
res. A evidência é sugestiva, mas não nais de inflamação crónica, com uma
suficiente para inferir uma relação cau- leucocitose cerca de 20%, ou mais, aci-
sal entre o consumo de tabaco e a de- ma da observada em não fumadores, si-
generescência macular atrófica e macu- tuação igualmente agravada com a in-
lar exsudativa relacionada com a idade. tensidade do consumo. Apresentam
No que se refere à retinopatia diabéti- mais complicações pós-cirúrgicas,
ca, os dados são inconclusivos, haven- maior dificuldade de cicatrização e ta-
do necessidade de prosseguir a investi- xas de sobrevivência pós-cirúrgica me-
gação. A evidência é sugestiva da asso- nores, devido à diminuição das defesas
ciação com a oftalmopatia de Graves. No e da resposta imunitária8.
que se refere ao glaucoma, não existe
evidência suficiente para confirmar ou CONSUMO DE CHARUTOS
excluir a associação com o consumo de
E EFEITOS NA SAÚDE
tabaco8.

Os consumidores de charuto, de um
CONSUMO DE TABACO E SAÚDE ORAL modo geral, inalam menos o fumo do ta-
baco, dado que a nicotina se encontra
Segundo o U.S. Department of Health habitualmente na sua forma alcalina,
and Human Services, para além da as- sendo facilmente absorvida através da
sociação com o cancro do lábio e da ca- mucosa da boca. No entanto, um cha-
vidade oral, existe evidência suficiente ruto tem uma dose bastante maior de
de associação causal entre fumar e a pe- folha de tabaco, é fumado durante mais
riodontite. Parece haver evidência su- tempo, produzindo maior quantidade
gestiva da relação entre consumo de ta- de fumo para a atmosfera. De acordo
baco e o aparecimento de cárie locali- com o National Cancer Institute (EUA), o
zada a nível da raiz do dente8. fumo do charuto pode conter mais car-
cinogéneos do que o fumo do cigarro,
sendo por isso tão ou mais carcinogéni-
OUTROS EFEITOS co do que este. As eventuais diferenças
de risco resultam fundamentalmente
Os fumadores apresentam globalmen- das diferenças a nível da utilização, de-
te piores níveis de saúde do que os não- signadamente da frequência de consu-
-fumadores, existindo evidência sufi- mo e do grau de inalação. Os consumi-
ciente de uma relação causal entre o dores de charuto que consumam vários
consumo de tabaco o absentismo ao charutos por dia e inalem profunda-

Rev Port Clin Geral 2006;22:225-44 239


DOSSIER
TABAGISMO

mente apresentam um risco aumenta- Os benefícios da cessação tabágica


do para a maioria das doenças provo- são visíveis após algumas horas. Decor-
cadas pelo consumo de cigarros. Se o ridas 12 horas após deixar de fumar, os
fumador não inalar o fumo, o risco dimi- níveis de monóxido de carbono no san-
nui, persistindo, no entanto, um risco gue voltam ao normal e os níveis de oxi-
mais elevado de cancro do lábio e da ca- génio no sangue aumentam. Decorridas
vidade oral, do esófago e da laringe, em 72 horas, a capacidade pulmonar me-
particular nos consumidores frequen- lhora e a respiração torna-se mais fácil.
tes33,62,63. Passados um a dois meses, há uma me-
lhoria do paladar e do olfacto, bem como
da cor e do aspecto da pele. Decorridas
BENEFÍCIOS DA CESSAÇÃO TABÁGICA duas semanas a três meses, o risco de
ataque cardíaco começa a diminuir.
Deixar de fumar traz vantagens ime- Após quinze anos de abstinência, o ris-
diatas e a médio/longo prazo, tanto co de doença cardiovascular é igual ao
maiores quanto mais cedo se verificar de um não fumador do mesmo sexo e
o abandono do tabaco. No entanto, con- idade. Após cinco a quinze anos de
forme foi claramente verificado por Ri- abstinência, o risco de acidente vascu-
chard Doll e colaboradores, parar de fu- lar cerebral iguala o dos não fumadores.
mar tem vantagens em qualquer idade. O prognóstico e a recuperação dos
Diminui o risco de morte prematura, doentes cardiovasculares são melhores
permitindo recuperar os anos de expec- naqueles que deixam de fumar, verifi-
tativa de vida potencialmente perdidos cando-se um aumento da taxa de so-
devido à continuação do consumo. Os brevivência64.
ex-fumadores gozam de melhor saúde Parar de fumar reduz o risco de can-
do que os fumadores que continuam a cro. Após cinco anos de abstinência do
fumar, e têm uma melhor percepção da tabaco, o risco de cancro da cavidade
sua saúde. De acordo com os estudos oral e do esófago diminui para metade,
de Richard Doll e colaboradores, os fu- em comparação com o verificado nas
madores que abandonam o hábito an- pessoas que continuam a fumar. Após
tes dos 50 anos diminuem em 50% o dez anos de abstinência, o risco de can-
risco de morrerem nos próximos 15 cro do pulmão corresponde a cerca de
anos, em comparação com os que con- 30 a 50% do risco verificado nas pes-
tinuam a fumar. Os que param antes soas que continuam a fumar. À medida
dos 30 anos diminuem quase totalmen- que o tempo de abstinência aumenta,
te o excesso de risco10,64. o risco de cancro vai diminuindo64.
É de referir que, em alguns fumado- Deixar de fumar reduz os sintomas
res, a cessação tabágica pode originar respiratórios, designadamente a tosse
um ganho de peso, de cerca de 1 a 3 qui- pela manhã, a dificuldade respiratória,
logramas, por mecanismos não com- a produção de expectoração, a pieira e
pletamente conhecidos. Nas mulheres, as infecções respiratórias, como a bron-
este é um aspecto importante a ter em quite e a pneumonia. A taxa de morta-
conta, já que pode inibir a motivação lidade nos fumadores com doença pul-
para parar de fumar. No entanto, o perfil monar obstrutiva crónica diminui com
lípídico e a distribuição da gordura cor- o deixar de fumar64.
poral registam uma melhoria. Uma ali- Deixar de fumar permite dar um bom
mentação saudável e hipocalórica asso- exemplo às crianças e jovens e contri-
ciada a um aumento dos níveis de ac- bui para evitar a exposição involuntá-
tividade física podem ajudar a contro- ria dos não fumadores ao fumo ambien-
lar este problema64,65. tal do tabaco.

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