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Jonas Muniz de Proença

COMPREENSÃO DA LINGUAGEM DO AUTISTA ATRAVÉS DO


ESTUDO DE SUA APREENSÃO DE SIGNOS LINGUÍSTICOS:
SIGNIFICANTES E SIGNIFICADOS

Pré-projeto de pesquisa apresentado ao


Programa de Pós-Graduação em Letras
(PPGL) da Escola de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade
Federal de São Paulo
(EFLCH/UNIFESP), como requisito
parcial do processo seletivo do
programa, nível mestrado.

Linha de Pesquisa: Linguagem e


Cognição.

Orientadora: Dra Fernanda Miranda da


Cruz.

São Paulo
2018
SUMÁRIO
1. RESUMO ............................................................................................................................ 3
2. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA. ................................................................................ 3
3. OBJETIVOS........................................................................................................................ 4
3.1. Objetivos Gerais .......................................................................................................... 4
3.2. Objetivos Específicos .................................................................................................. 4
4. MÉTODO DE PESQUISA ................................................................................................. 4
5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. ..................................................................................... 5
5.1.1. Lacan e a formação da linguagem. ........................................................................... 5
5.1.2. Sujeito em relação aos significantes e significados ................................................. 8
5.2. A Linguagem do Autista .............................................................................................. 9
5.2.1. Contribuições psicanalíticas sobre o autista ......................................................... 9
5.2.2. Análise Sociointeracional ................................................................................... 11
6. CRONOGRAMA. ............................................................................................................. 12
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ............................................................................. 12
3

1. RESUMO

A linguagem é a base das relações humanas. Ela pode ser estudada sobre aspecto da
linguística quanto de outras ciências. Nesse trabalho procuraremos discutir a apreensão da
linguagem do autista sobre o aspecto da formação dos signos linguístico, o significante e o
significado, com base na psicanálise lacaniana. O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)
constitui-se em um conjunto de características específicas que dificultam o desenvolvimento de
diversas formas, atuando em limitações principalmente na área de habilidades sociais e da
linguagem. Os sujeitos comprometidos pelo autismo costumam apresentar padrões restritos de
atividades, interesses limitados e comportamentos estereotipados. Porém, não pode-se pensar
na ausência total de comunicação nestes sujeitos. Desse modo, o método de estudo da
linguagem multimodal tem trazido luz sobre outras formas de comunicação que ultrapassam o
campo da fala. Sendo assim, é com base nessa metodologia de trabalho que desenvolveremos
nosso projeto de pesquisa.
Palavras chaves: linguística; autismo; significado; significante; psicanálise.

1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA.

Os significantes e significados são estudos da área da Linguística. Sendo postulados


pelo linguista francês Ferdinand de Saussure (1996) que posteriormente também foi discutida
e reformulada pelo, também francês, psicanalista Jacques Lacan (1999) que incorporou esse
conhecimento ao campo da Psicanálise.
Segundo Saussure (1996), signos formariam elementos que compõem a linguagem,
tendo duas partes: o significante, que seria a parcela material dele, exemplo: o som da palavra;
e a outra, o significado, que seria o conceito, ou seja, a ideia associada ao significante, segundo
o autor uma é dependente da outra, ou seja estão unidas arbitrariamente. Para Lacan (1999), os
significantes seriam elementos que compõem a linguagem e seriam mais importantes que os
significados, não necessariamente irão pertencer a um determinado significado, isso depende
do contexto.
Portanto, é com base no pressuposto saussureano e com a contribuição da psicanálise
lacaniana que vamos desenvolver nosso trabalho de pesquisa. Julgamos de extrema relevância
para área da linguística, educação, clínica, e de outras áreas afins.
Do mesmo modo, concordamos que este projeto está bem entrelaçado a linha de
pesquisa “Linguagem e Cognição”, pois foca no estudo da gênese na apreensão da linguagem
4

(tema central da linha de pesquisa) e, também, está bem alinhado ao projeto de pesquisa da
professora orientadora escolhida, pois busca o estudo da linguagem do autista tento como base
a linguagem multimodal.

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivos Gerais

Analisar a linguagem do autista através da investigação da forma em que se dá a sua


apreensão dos signos linguísticos, tendo como foco a compreensão da formação de seus
significantes e significados sobre o aspecto da linguística e da psicanálise lacaniana.

2.2. Objetivos Específicos

➢ Estudo da comunicação do autista;


➢ Estudo da aquisição da linguagem pelo autista;
➢ Estudo aprofundado da apreensão dos signos linguísticos do autista e sua formação dos
significantes e significados;
➢ Contribuição para linguística na formação da linguagem do autista a partir da apreensão
dos elementos linguísticos sobre o ponto de vista da psicanálise lacaniana;
➢ Colaborar com o estudo da linguagem multimodal;
➢ Entender sobre o aspecto da psicologia lacaniana as diversas formas de linguagens do
autista que perpassam a linguagem comum (verbal).

3. MÉTODO DE PESQUISA

Procuraremos utilizar o método de pesquisa proposto por Cruz (2017), análise


multimodal a partir da análise de excertos do corpus CELA (Corpus para Estudo da Linguagem
no Autismo), pois como argumentado pela autora com base em Goodwin (1986), (2010);
Erickson e Schultz (1982), Erickson (2010); Streeck (2010); Mondada (2008), (2014), (2016);
Heath (1986), esse tipo de pesquisa interacional vem buscando a integração de vários recursos
destacados pelos sujeitos no desenvolvimento conjunto de seus atos na interação. “Esses
recursos podem ter uma materialidade sonora ou visual, uma dimensão semiótica linguística ou
5

corporal e compreendem, dessa forma, várias modalidades: prosódia, fonética, sintaxe, léxico,
gestos, olhares, mímicas faciais, movimentos de cabeça, posturas do corpo, movimentos das
mãos, objetos e artefatos do mundo material, etc”. Pois nessa perspectiva não é possível
entender uma ação ou um fenômeno a partir de uma modalidade só, fala ou gestos, mas de um
conjunto.
Quanto ao recurso CELA, utilizaremos o modelo proposto por Cruz, Cots, Luiz (2017),
que se baseia na instalação de uma câmera de vídeo fixa em vários locais da casa para que possa
filmar todos os tipos de interações rotineiras da pessoa com a família. Como citado pelos
pesquisadores, esse tipo de constituição do CELA segue os postulados da Análise da Conversa
Etnológica e dos estudos em Linguística Interacional (GARFINKEL, 1967/1984; SACKS,
1972, 1992; ATKINSON E HERITAGE, 1984; DURANTI, 1997; OSTERMANN, 2002;
SILVEIRA E GAGO, 2005; GARCEZ, 2008; ALENCAR, 2007; PASSUELLO E
OSTERMANN, 2007; OSTERMANN E OLIVEIRA, 2015).
Com essa forma de coleta de dados analisaremos esses recursos sobre o ponto de vista
da linguística e da psicanálise lacaniana.

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.

No trabalho de Costa (2006), o autor discute a relação da linguagem sobre o ponto de


vista da psicanálise, segundo ele, a linguagem para o sujeito e sempre constituída por uma
alteridade.

O sujeito, que é a razão de a língua existir, traz consigo uma ideia imanente
de intersubjetividade, segundo a qual o dizer de um falante é sempre
constituído por uma alteridade. Assim, tenta-se entender essa inclusão do
outro no dizer do eu por conjunturas que contemplam o dialogismo, a
interação, trazendo à cena um Outro elemento subjetivo: o sujeito do
inconsciente, cuja atuação na linguagem é silenciosa e constante, via de regra,
sendo materializada no discurso de um sujeito suposto saber, além dos
contornos assumidos por um outro pequeno que, em função de uma relação
imaginária, proporciona ao eu o embuste de que fala somente o que quer,
quando, na verdade, fala mais do que supõe, ou fala algo totalmente diferente
do que deseja. (COSTA, 2006, p.8)

4.1.1. Lacan e a formação da linguagem.

Como já abordado no tópico “Introdução e Justificativa”, Saussure (1996), diz que


signos formariam elementos que compõem a linguagem, tendo duas partes: o significante, que
6

seria a parcela material dele, exemplo: o som da palavra; e a outra, o significado, que seria o
conceito, ou seja, a ideia associada ao significante. Sendo assim, para ele, as duas partes
estariam unidas arbitrariamente e em função do acaso.
Porém, para Lacan (1999), os significantes seriam elementos que compõem a linguagem
e seriam mais importantes que os significados, pois estariam no lugar do Outro. Já os
significados teriam uma importância menor pois não se tem contato, está lá, mas não é
acessível1

A novidade que Lacan nos traz é demonstrar, através da leitura da obra de


Freud, que o significante sobrepõe-se ao significado, e geralmente não há
relação entre eles, muito antes, pelo contrário, há uma barra que os separa,
uma divisão, de tal forma que o sujeito ao falar, não sabe exatamente o que
está dizendo, pois sempre diz mais do que aquilo que fala, sem se dar conta.
Um dos exemplos é o sintoma que é um significante cujo significado é
inacessível ao sujeito. Sente angústia ou tristeza intensa e não sabe por que
sente isso. O sintoma é um significante a ser decifrado através da escuta do
que o sujeito revela na fala para além do que ele diz. (PATTUSSI, 20??)

Segundo Lacan (1996), os significantes podem aparecer em forma de metáforas (quando


uma palavra é substituída por outra conservando a relação com o signo primeiro). Assim como
em metonímias (substituição de termo inteiro por outro sem perder o sentido original). Com
estes argumentos Lacan atesta a supremacia dos significantes frente aos significados.
Não é possível compreender a linguagem segundo Lacan, sem rever o conceito do
pequeno e grande outro (LACAN, 1998). Sabemos que tudo que somos é fruto das experiências
que temos em nossa vida, desde o nascimento. E esta experiência é formada pela nossa cultura
que é diferente de uma sociedade para outra. Portanto, somos então formados pela relação com

1
Aqui está tratando de um dos três registros que compõem a realidade psíquica, pressupostos lacanianos (1972).
“O Real”
“O registro do simbólico é o lugar fundamental da linguagem. É a relação do sujeito e o grande Outro. No sujeito
envolve aspectos conscientes e inconscientes. Isto significa que a maneira que o inconsciente se manifesta se dá
através da linguagem.
Lacan (1998) descreve a linguagem como o simbólico, já que é por meio dela que o sistema de representações,
baseado em significantes, determinam o sujeito à sua revelia. É por meio desse sistema simbólico que o sujeito
refere-se a si mesmo ao usar a linguagem (ROUDINESCO; PLON, 1998).

O imaginário é um registro psíquico correspondente ao ego (eu) do indivíduo. O indivíduo busca no Outro
(pessoas, amor, imagem, objeto) uma sensação de completude, de unidade. No entanto, o Outro não existe para
desenvolver a imagem com que o ego (eu) quer ser sustentado.

“O real é o registro psíquico que não deve ser confundido com a noção corrente de realidade. O real é o impossível,
aquilo que não pode ser simbolizado e que permanece impenetrável no sujeito” (BRAGA, 1999, p. 2)”

https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/os-registros-psiquicos-simbolico-imaginario-e-
real/40795 acessado em 29/08/2018.
7

a nossa cultura e essa formação se dá pela linguagem. Sendo assim, muitos dos nossos
comportamentos, gestos, modos de falar, são frutos da relação que temos com as outras pessoas.
O que as pessoas falam e pensam sobre nós tem grande relevância na construção do que somos,
por exemplo: nosso nome foi dado pelos nossos pais, não escolhemos; tudo que ouvimos sobre
nós ou para nós fez sermos o que somos hoje. Outrossim, muito do que somos é fruto da
identificação com as pessoas próximas a nós, porém a maior parte é fruto do que dizem de nós,
das críticas e elogios, das palavras “lançadas” sobre nós. Isso tudo condiciona nossa existência
e molda nosso comportamento frente ao mundo. Sobre isso Lacan chamou de o grande “Outro”,
pois assim quis envolver desde a cultura ao discurso familiar o efeito da palavra. (NAPOLI,
2017)
“Isso fala no Outro, dizemos, designando por Outro o próprio lugar evocado
pelo recurso à palavra, em qualquer relação em que este intervém. Se isso fala
no Outro, quer o sujeito o ouça ou não com seu ouvido, é porque é ali que o
sujeito, por uma anterioridade lógica a qualquer despertar do significado,
encontra seu lugar significante.” (A significação do falo, Lacan, 1998, p. 696).

“O Outro é o tesouro dos significantes’, ‘O Outro é o lugar da verdade’, ‘O


inconsciente é o discurso do Outro’, ‘O desejo do homem é o desejo do Outro’,
‘O Outro não existe’, ‘não há Outro do Outro’, ‘O Outro é a mulher’, etc.”
(ALVES, 2012, p. 61).

Segundo ele a incidência da linguagem sobre nossos corpos promove o que somos, ou
seja, nos “somos aquilo que um significante representa pra outro significante”, visto que nós
não somos aquilo que acreditamos ser2, somos aquilo que representamos para o Outro. Pegamos
como referência o que foi proposto por Lacan (1988) no seminário 11, o Real, Simbólico e
Imaginário, onde em nós não há lugar para o real, pois somos completamente preenchidos pela
linguagem efeito do simbólico.

2
Aqui se refere ao imaginário(ver nota de rodapé 1), estabelecido através do estágio do espelho
“Segundo Lacan (1966), o estádio do espelho compreende: (...) como uma identificação, no sentido
pleno que a análise atribui a esse termo, ou seja, a transformação produzida no sujeito quando ele
assume uma imagem – cuja predestinação para este efeito de fase é suficientemente indicada pelo uso,
na teoria, do termo imago (LACAN, 1996, p. 97).
O Estádio do Espelho refere-se ao período que se inicia aos seis meses, aproximadamente, encerrando
aos dezoito meses, caraterizado pela representação da unidade corporal pela criança e também por sua
identificação com a imagem do outro (GARCIA-ROZA, 1999).
Garcia- Roza (1999) salienta que o estágio do espelho não se refere necessariamente à experiência
concreta da criança frente ao espelho. “O que a criança ver é um tipo de relação com seu semelhante.
Essa experiência pode se dar tanto em face de um espelho, pela mãe ou pelo outro, mas no nível do
Imaginário” (GARCIA-ROZA, 1999, p. 212-213).
Disponível em https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/psicologia/o-estadio-do-
espelho/40582 acessado em 18/08/2018
8

Entretanto, o pequeno “outro” Lacan criou para distinguir o outro semelhante do outro
eu, ou seja, as outras pessoas que passam pela nossa vida, nos influenciam é até nós nos
identificamos, elas com toda sua importância para nossa história, segundo Lacan (1998), são “o
outro”.

(...)o pequeno outro (a) é o igual, o semelhante da espécie humana, e o grande


Outro é do campo simbólico, da linguagem, que foi grafado com letra
maiúscula e com barra (Ⱥ). (ALVES, 2012, p. 1)

4.1.2. Sujeito em relação aos significantes e significados

Sujeito, segundo o ponto de vista cartesiano, é aquilo que atribuímos ou negamos algo.
Para a teoria linguística de Benveniste, o sujeito só existe porque há uma relação de um “eu”
com um “tu”. Para Vargas (2014), citando Orlandi (2007), “A constituição do sujeito na análise
discursiva se realiza quando o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia (....) A partir
disso, observa-se que, sem ideologia, o sujeito não se constitui”. Segundo a Gramática da
Língua Portuguesa, “sujeito é um termo essencial da oração, está presente na maioria delas,
explícito ou não. Sua existência, porém, não é sempre obrigatória”3.

O sujeito insere-se dentre os chamados “Termos essenciais da oração”, pois


para que uma oração seja dotada de sentido, ela necessariamente precisa
conter sujeito e predicado e, em algumas vezes, complemento4

Sendo assim, o sujeito é um lugar vazio, só faz sentido com a predicação, exemplo a
palavra “João”, isoladamente não faz sentido algum, porém quando acrescentamos o predicado
“João é aluno”, passa a ter sentido. Portando entendemos que sujeito é o mesmo que significado
e predicado o mesmo que significante, ambos propostos por Saussure.

Ele é sujeito de e é sujeito à. Ele é sujeito à língua e à história, pois para se


constituir, para (se) produzir sentidos, ele é afetado por elas. Ele é assim
determinado, pois se não sofrer os efeitos do simbólico, ou seja, se ele não se
submeter à língua e à história, ele não se constitui, ele não fala, não produz
sentidos (ORLANDI, 2007, p. 49)

3
https://www.gramatica.net.br/sujeito acessado em 16/08/2018
4
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/tipos-sujeito.htm acessado em 16/08/2018
9

Sobre isso, Lacan afirma que a linguagem seria constituída basicamente de significantes,
refutando que ela não é formada de signos através de uma relação fixa e arbitrária entre
significados e significantes, como afirma Saussure. (NAPOLI, 2017)

O signo, soma, sema, etc. Só se pode, verdadeiramente, dominar o signo,


segui-lo como um balão no ar, com certeza de reavê-lo, depois de entender
completamente a sua natureza, natureza dupla que não consiste nem no
envoltório e também não no espírito, no ar hidrogênio que insufla e que nada
valeria sem o envoltório. O balão é o sema e o envoltório o soma, mas isso
está longe da concepção que diz que o envoltório é o signo, e o hidrogênio a
significação, sendo que o balão, por sua vez, nada é. Ele é tudo para o
aerosteiro, assim como o sema é tudo para o linguista. (SAUSSURE, 1996, p.
102-103).

Conforme Sales (2008), para Lacan os significantes não teriam uma relação estática
com os significados, essa relação seria volátil, sendo assim a noção de signo (significados e
significantes) deveria ser relativizada, pois ela está presa a um dado contexto (Imaginário).
Não obstante, ele ainda diz que a linguagem se forma quando nós (sujeitos) somos
inicialmente um lugar vazio, mas ao decorrer do tempo, sobre a influência do Outro, vamos
adquirindo substância, e somos então preenchidos através da cadeia de significantes. Ou seja,
nossa linguagem é dada por um somatório de todas as “coisas” que passamos em nossa vida,
nossa história.

“O Outro é o lugar em que se situa a cadeia do significante que comanda tudo


que vai poder presentificar-se do sujeito, é o campo desse vivo onde o sujeito
tem que aparecer.” (Seminário 11, p. 193-194).
“O significante produzindo-se no campo do Outro faz surgir o sujeito de sua
significação. Mas ele só funciona como significante reduzindo o sujeito em
instância a não ser mais do que um significante, petrificando-o pelo mesmo
movimento com que o chama a funcionar, a falar, como sujeito.” (Seminário
11, p. 197).

Seguindo nesta mesma visão, a linguística bakhtiniana diz que a linguístico-social é


multifacetada, pois nenhum indivíduo capta somente uma voz social, mas muitas vozes. Sendo
assim “ele não é entendido como um ente verbalmente uno, mas como um agitado balaio de
vozes sociais e seus inúmeros encontros e entrechoques.” (FARACO, 2010)

4.2. A Linguagem do Autista

4.2.1. Contribuições psicanalíticas sobre o autista


10

Stefan (1994) argumenta que os autores lacanianos são unânimes dizer que o autismo
se desenvolve num ponto anterior ao estágio do espelho. Segundo ele, para os autores, no
autismo não existe nem Outro nem o outro, semelhante.
Vidal e Ericson (1988) citado por Stefan (1994) dizem que no autismo há uma exclusão
do auto-erotismo erógeno, que a partir da perda do objeto se constitui na significação retroativa
dado pelo narcisismo, ou seja o indivíduo volta para si.

Trabalhando o esquema óptico, colocam um primeiro momento, baseado no


esquema proposto por Lacan, onde há um único espelho, o côncavo, que seria
metáfora do Outro real. Num segundo momento, o espelho plano dá suporte à
operação de alienação, que se daria a passagem do Outro real ao Outro
simbólico, momento mítico, indicado pelo surgimento da demanda e ponto de
articulação do significante com o corpo. Citemo-las: “o menino autista estaria
situado num momento hipotético de anterioridade ao espelho plano, estando
vedado para ele o acesso as imagens i(a), i(a). Se encontra pois, num campo
uniforme onde tudo é igualmente real, indiferente. (VIDAL e ERICSON,
1988, citado por STEFAN, 1994, p. 21)

No artigo “Nos limites da linguagem. A halófrase e sua incidência na primeira infância”,


os autores Campanário e Pinto (2016), discutem um atendimento psicanalítico de mãe-bebê e o
risco de autismo. Segundo eles Lacan no Seminário 11, “Os quatro conceitos fundamentais da
psicanálise”, discute a debilidade5 onde substitui “fusão de corpos” por “fusão de significantes”,
segundo os autores a holófrase do par de significantes não permite o sujeito fazer uso da fala.

(....) a holófrase do par primordial de significantes (S1-S2)6 que, quando


solidificado, impede o advento de um sujeito capaz de fazer uso da fala em
nome próprio. Ele situa a criança débil no lugar de objeto do desejo da mãe,
"psicotizada", na medida em que o S1 adquire uma maior potência pela
identificação da criança ao significante imaginário da falta no Outro. Pela
fusão do par de significantes torna-se impossível o advento da metáfora
paterna, ficando a criança impossibilitada de interpretar o que ela significa no
campo do desejo do Outro (Santiago, 2005: 161-166, citado por
CAMPANÁRIO e PINTO, 2016, p 162).

5
Segundo Ana Lydia Santiago (2005), o trabalho de Maud Mannoni (1985) despertou grande interesse
em Lacan. A tese principal de Mannoni é de que a debilidade resulta da "fusão de corpos", ou seja, um
tipo de relação dual que a mãe da criança dita débil estabelece com seu filho na qual este fica aprisionado
à fantasia fundamental da mãe.
6
Tem a ver com significação do sujeito dada frente ao estágio do espelho, refere-se a mudança do Outro
real para o Outro simbólico. “O significante só faz sentido em relação a outro significante” Ex: Ele é
meu Pai, Pai (S1), só faz sentido em oposição a mãe (S2), Isso faz referência ao que ao que Lacan disse:
“O sujeito é o que um significante significa para outro significante” Como diz Napoli (2018), “Só
podemos explicar o que é um significante utilizando outros significantes.”
11

Segundo Tendlarz (2017) para autores pós freudianos e klaineanos (Margaret Mahler,
Meltzer, Bruno Bettelheim, Lefort, Francis Tustin, Rosine e Robert)“o autismo corresponde a
uma patologia arcaica que leva a se defender de angústias e terrores catastróficos” (p.2)

4.2.2. Análise Sociointeracional

Segundo Cruz (2017) encontramos nos sujeitos com autismos formas diversas de
interação, sendo as advindas próprias do autismo, como as de padrões interativos mais
conhecidos e praticados por todos.
Segundo a autora, ao discutir seu método de trabalho, nós construímos espaços de
interação de uma maneira multimodal, isto é, nossa linguagem verbal ou não, é construída a
partir de uma gama de sistemas semióticos diferentes, mas relacionados.

Construímos os espaços interacionais multimodalmente, ou seja, que uma


ação (verbal ou não) é construída graças a uma ecologia (Goodwin, 2010) de
sistemas semióticos, estruturalmente distintos entre si, mas intrinsecamente
relacionados. Uma perspectiva multimodal oferece então a possibilidade de
fazermos uma descrição desses vários tipos de recursos mobilizados na
interação dentro de um enquadre analítico (o socionteracional) que reconhece
a diversidade desses recursos semióticos usados pelos participantes na
interação, ao mesmo tempo em que leva em consideração como tais recursos
interagem uns com os outros para construirmos localmente as interações.
(CRUZ, 2017, p. 168)

Ainda nesse mesmo pensamento Cruz, Cots, Luiz (2017) em seu artigo “A linguagem
em micro-acontecimentos: corpo, gestos e fala explorados em uma análise multimodal de
interações envolvendo uma criança autista”, descreve, a partir de uma análise de um corpus
audiovisual de interações envolvendo uma criança com autismo, que nas interações do dia a
criança observada interage com um pouco ou nada de linguagem verbal. Porém, os
pesquisadores conseguiram ver uma sequência organizada multimodalmente de outras formas
de linguagem.

“Na análise que trazemos aqui, gostaríamos de destacar como a ausência da


fala dá lugar a sequências interacionais organizadas multimodalmente por
gestos de apontar; posturas e movimentos corporais; relações semióticas
criativas com o espaço físico imediato e com a construção de referentes, e
direcionamentos do olhar que desempenham funções variadas durante a
interação.” (CRUZ, COTS, LUIZ, 2017)
12

Nesse trabalho, os autores discutem o autor francês Fernand Deligny, “um pensador,
que dedicou-se durante décadas a explorar e traçar os modos de existência de crianças com
autismo com quem convivia.”. Esse pensador focava na observação do menor gesto perceptível
na linguagem do autista.

Ou ainda, se nos acontece de lhes fazer um sinal, nenhum sinal nos é feito em
troca. Nós fazemos sinal? Pouco importa o que nós tenhamos querido fazer?
Resta o gesto. Às vezes percebido porque a criança reage. (Deligny, Singular
Etnia, 1980/2007 :1387 citado por CRUZ, COTS, LUIZ, 2017)

Dado que, segundo os pesquisadores para Deligny ao interpretar o que essas crianças
autistas faziam e porque faziam preencheriam os dados atos de “elementos simbólicos do
mundo da linguagem ao qual estariam os ‘normais’ aprisionados.”
Dessa forma, Vargas (2014), diz que “a língua tem a propriedade de ser dialógica. As
relações dialógicas não são entendidas como um diálogo face a face; ao contrário, todos os
enunciados no processo de comunicação, independentemente de sua dimensão, são dialógicos.”

5. CRONOGRAMA.

Ano: 2019
AÇÕES/ETAPAS J F M A M J J A S O N D
Elaboração do projeto definitivo junto ao x x
orientador
Leitura do material bibliográfico x x x x x x x x x x
Coleta de dados x x x x x x
Ano: 2020
AÇÕES/ETAPAS J F M A M J J A S O N D
Coleta de dados x x x x x x
Desenvolvimento escrito da dissertação x x x x x x x x x x x
Apresentação da dissertação X

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
ALVES, V. L. V. O PEQUENO E O GRANDE OUTRO NA CONSTRUÇÃO SUBJETIVA
DO SUJEITO, VII Jornada de Saúde Mental e Psicanálise da PUCPR, dias 26 e 27 de outubro
de 2012 v. 7 n. 1 Jan. 2012.

CAMPANARIO, I. S. e PINTO, J. M.. Nos limites da linguagem: a holófrase e sua incidência


na clínica da primeira infância. Reverso [online]. 2006, vol.28, n.53, pp. 51-59. ISSN 0102-
7395.
13

COSTA, W. P. de A. Linguística e Psicanálise: uma discussão sobre o sujeito na linguagem.


Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da
Paraíba, linha de pesquisa: “Estrutura do Português: uma abordagem semântica, sintática e
pragmática”; eixo temático: “Linguística e Psicanálise, Saussure e Lacan: a constituição dos
sentidos”, como requisito institucional para a obtenção do Título de MESTRE EM LETRAS.
2006.

CRUZ, F. M. Elementos para uma análise multimodal da interação: um exemplo de correlação


linguístico gestual o autismo. IN GONCALVES-SEGUNDO, P. R.; MODOLO, A. D. R.;
SOUSA, D. R. de; FERREIRA, F. M.; COAN, G. I.; BRITTO-COSTA, L. F. (org.) Texto,
discurso e multimodalidade: perspectivas atuais. Sao Paulo: Editora Paulistana. 2017, pp.158-
179. ISBN 978-85-99829-92-9. Acessivel em: http://eped.fflch.usp.br/.

CRUZ, F. M. ; COTS, C. P.; LUIZ, R. A Linguagem em Micro-Acontecimentos: corpo, gestos


e fala explorados em uma análise multimodal de interações envolvendo uma criança autista.
Revista Intercâmbio, v. XXXIV: 34-57, 2017. São Paulo: LAEL/PUCSP. ISNN 2237-759X

LACAN (1957-58), O Seminário, livro 5: As Formações do Inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge


Zahar Editor. 1999.

NAPOLI, L. Site: Psicanálise em humanês. (https://lucasnapoli.com). Acessado de 05-


20/08/2018.

_____ (1957-58), O Seminário, livro 11: Os Quatros Conceitos Fundamentais da Psicanálise.


Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 1988.

_____, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998

_____ , Carlos. Linguagem e Diálogo. As idéias lingüísticas do Círculo de Bakhtin. São Paulo:
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