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conflito (parte 1)
Álvaro Santi | sábado, 21 agosto 2010
Publicado em http://www.culturaemercado.com.br/pontos-de-vista/direito-autoral-
entendendo-o-conflito-parte-1/
Pretendo aqui argumentar que o desfecho deste debate será tão mais benéfico
para o país na medida em que nenhum desses partidos consiga impor a totalidade
de seu "programa". A polarização tende a simplificar o debate em termos de bem x
mal, e deve ser combatida através de sua ampliação. Contudo, uma análise
dessas posições extremas será útil para entendermos o que está em jogo.
Devido à complexidade do tema, abordarei inicialmente um dos lados da moeda,
ficando o outro para a continuação deste artigo.
O primeiro partido pretende que tudo fique como está. Tem a seu favor, antes de
tudo, o ter estabelecido, em nosso extenso território, um sistema efetivo de
arrecadação e distribuição de direitos musicais, construído ao longo de mais de
um século de esforços. Este sistema é gerido pelo ECAD, criado por lei em 1973,
durante a ditadura, como forma de unificar as ações das diversas sociedades
existentes. Detém o conhecimento profundo da matéria e os recursos financeiros
cuja arrecadação e distribuição a lei lhe atribui. Já outros setores da indústria
cultural não dispõem de sistemas semelhantes.
Por outro lado, em sua estratégia este campo às vezes peca por apostar na
desinformação do leitor. Exemplo recente é o texto assinado pelo compositor
Marlos Nobre , que parece não ter lido a proposta do MinC, que não fala em
"acabar com o ECAD". Outro que não quis perder tempo lendo foi Nelson Motta,
que tirou sabe-se lá de onde a idéia de uma "sociedade arrecadadora estatal",
inexistente no anteprojeto.
Aqui seria o momento de recuperar uma das diretrizes aprovadas em 2005 pela I
Conferência Nacional de Cultura, a de "criar um órgão regulador dos direitos
autorais com conselho paritário formado por representantes do Estado, dos
diversos segmentos artísticos nacionais e da sociedade civil." É disso portanto que
se trata: um órgão fiscalizador, com participação da sociedade, similar ao que por
sinal já existia, o CNDA, extinto pela lei atual, em 1998. No entanto, o MinC, tendo
já anunciado a criação deste órgão (agora sob o nome de IBDA - Instituto
Brasileiro de Direito de Autor), voltou atrás e não o manteve na proposta
publicada, demonstrando pouco respeito com a Conferência que ele próprio
conduziu, da qual participaram mais de 50 mil brasileiros.
Ainda assim, a proposta atual contém uma série de artigos novos que
regulamentam a atividade das associações e do ECAD, ficando a cargo do MinC
assegurar o seu cumprimento. Fica faltando, contudo, a garantia de representação
direta da sociedade neste processo, que a Conferência preconizou. A principal
crítica do ECAD pretende enxergar nessa simples regulamentação um suposto
"dirigismo", crítica de resto já "clássica", pelo seu uso e abuso contra outras
iniciativas do Governo Lula. E que mais uma vez aqui não resiste ao exame dos
fatos.
Sem pretender esgotar o assunto, o que foi exposto até aqui basta para ilustrar a
posição de um dos campos dessa disputa, em suas razões e limites. Na
sequência deste artigo, iremos considerar o campo oposto.