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O Treino da Finalização
“O culto do fácil”
Em suma, mais de 80% das finalizações deitam por terra este enorme
esforço conjunto, obrigando a retomar, quase sempre do zero, todo um
trabalho aturado e laborioso, que conduz à proximidade da baliza e busca
de uma oportunidade de concretização.
Nesta perspectiva, o treino do remate deve obrigar a uma atenção
especial e a uma busca incessante de caminhos que conduzam à sua
melhor eficácia.
A questão que parece urgir tem a ver com o como treinar – de modo a
colher o chamado fruto apetecido, para o qual converge o esforço de todos
– e pouco com o treinar repetida e exaustivamente situações fáceis sem
qualquer condicionante que dificulte a sua execução, deixando o espírito
do técnico descansado e convicto de que não será por falta de treino da
finalização que vai perder o jogo.
Mas perde-se.
Perde-se por via de múltiplos caprichos do jogo e um sem número de
imponderáveis para os quais não há antídoto nem forma de subversão,
mas, em variadíssimas situações, também porque no capítulo da
finalização o trabalho de treino pode não ser o mais profícuo ou adequado,
muito embora os atacantes e médios se exercitem em treino desferindo
dezenas de remates, uns com acerto outros desastrados, ainda que
sempre sem comprometimento para a imagem do atleta; porque treino é
treino e em treino o erro ou desacerto gozam de um determinado grau de
liberdade e condescendência que descomprometem o jogador.
Esta, uma primeira regra que deve ser aplicada também ao futebol. O
atleta deve treinar o remate na parte final do treino, ou após trabalho de
acondicionamento físico, de modo a exercitar esse gesto técnico num
contexto de esforço semelhante ao jogo.
Ainda que o exemplo não colha uma inferência directa para a questão em
apreço, pode, contudo, expressar um esboço daquilo que se pretende
afirmar.
Tomemos como exemplo um maratonista cuja prova tem como distância a
percorrer 42,195 km.
O treino deste atleta não configura que percorra aquela distância como
forma de preparação. O atleta é solicitado a um trabalho específico onde,
entre outros, será submetido a piques de esforço muito superiores àqueles
a que será sujeito na prova, como forma de elevação de determinadas
capacidades de resistência ao esforço.
Ou seja, são-lhe proporcionados elementos de trabalho de intensidade
superior aos da prova em si, ainda que durante lapsos de tempo curtos, de
modo a acomodar capacidades cuja elevação tem transposição para a
complexidade da prova.
Ainda na senda deste exemplo, haverá por certo uma altura em que o
técnico pretenderá observar um determinado tipo de comportamentos no
desempenho da sua equipa na globalidade, com todos os seus sectores
ligados e em permanente interacção. Para tal promove um jogo-treino com
uma outra formação.
Neste caso, e de acordo com o princípio que aqui se procura delinear,
independentemente do valor da equipa escolhida para o confronto –
frequentemente um grupo de menor capacidade, que desde já
contestamos como uma boa opção – em nossa opinião, esta deve ser,
digamos que, mascarada, de forma a oferecer uma resistência superior
que obrigue a equipa principal a encontrar meios de superação
elaborados, que só podem proporcionar benefícios quando da sua
transposição para o jogo real.
No entanto, onde nos parece que deve incidir um maior apuro no capítulo
da finalização é naquilo a que poderíamos chamar de “má qualidade da
bola”.
E o que se pretende dizer com esta estranha qualificação?
Ocorre ainda que a zona frontal à baliza, sendo aquela que melhores
condições oferece para remate é, sem dúvida, a que maior controlo
confere por parte da equipa que defende.
Poderá pois aceitar-se que a zona frontal da baliza não carecerá de treino
apurado porque, além de todas as questões que vimos enumerando,
parece claro que o remate aí efectuado tem mais a ver com a
oportunidade que com o grau de dificuldade.
A proposta é pois proporcionar aos rematadores bolas difíceis para
remate, quer nos ângulos, quer nas trajectórias e tipo de mobilidade.
Pedro Cabrita