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E Q U E STÕ ES PARA

UM GUIA D D A E D U C AÇÃO
AIS
PROFISSION

Adaptação

Mitigação
ática
Mudança Clim

Educação Padrões de
Consumo
Pegada de
Carbono

MUDANÇA
CLIMÁTICA
GUIA BÁSICO
Autores Coordenação da publicação
Seraphine Haeussling, PNUMA
Este guia é resultado de uma iniciativa coletiva de co- Julia Heiss, UNESCO
legas do PNUMA, da UNESCO e da OMS, e de outros
participantes que planejaram as seções temáticas de Edição
suas especialidades. A UNESCO e o PNUMA agradecem David McDonalds
o tempo e o trabalho dos autores: Thad Mermer

Alejandro Deeb, Amber French, Julia Heiss, Jason Jab-


Projeto/ Layout
bour, Dominique LaRochelle, Arkadiy Levintanus, Anna
Thad Mermer
Kontorov, Rummukainen Markku, Gerardo Sanchez Mar-
tinez, Rosalyn McKeown, Nicolay Paus, Antoine Pecoud,
Guillaume Pénisson, Daniel Puig, Vanessa Retana, Ser- Créditos das fotos
ban Scrieciu, Morgan Strecker, Vimonmas Vachatima- Capa ©Thad Mermer
nont, Benjamin Witte, Noriko Yamada.
Folha de rosto ©UNESCO/Marc Hofer
Revisão por pares Capítulo 1 – primeira página e cabeçalhos: ©NASA
As pessoas a seguir contribuíram com seus comentários Capítulo 2 – primeira página e cabeçalhos: ©Pawel Kaz-
e opiniões: mierczyk
Capítulo 3 – primeira página e cabeçalhos: ©iStockphoto
Mozaharul Alam, Jeanette Clover, Sanye Gülser-Corat, Capítulo 4 – primeira página e cabeçalhos: ©Build Africa
John Crowley, Alejandro Deeb, Paul de Guchteneire, Pier- Contracapa ©Thad Mermer
re de Jouvancourt, Janet Macharia, Karen Holm Olsen, Outras fotos são creditadas dentro da publicação.
Mahesh Pradhan, Merlyn VanVoore, Kaveh Zahedi.

TOS
AGRADECIMEN ADE
& TE R M O D E RESPONSABILID
RAIS
DIREITOS AUTO

Publicado pela Organização das Nações Unidas para a As denominações empregadas e a apresentação do
Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO material nesta publicação não expressam a opinião da
7, place de Fontenoy, 75352 Paris 07 SP, França UNESCO ou do PNUMA a respeito da situação legal de
e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Am- qualquer país, território, cidade ou área; de suas autori-
biente – PNUMA dades; ou com relação à delimitação de suas fronteiras
15 rue de Milan, 75441 Paris CEDEX 09, França. e divisas.

Os autores são responsáveis pela escolha e apresenta-


© UNESCO/PNUMA (UNEP) 2011 ção dos fatos contidos neste livro e das opiniões aqui
Todos os direitos reservados. expressas, que não necessariamente correspondem à
visão da UNESCO e do PNUMA e não devem, portanto,
ISBN 978-92-3-101001-9 comprometer tais Organizações.

Impresso na França
UCAÇÃO
PROFISSIONAIS DA ED
UESTÕES PARA
UM GUIA DE Q

MUDANÇA
CLIMÁTICA
GUIA BÁSICO
O
APRESENTAÇÃ
climáticas, os impactos previstos e observados e as

N
diversas possibilidades de resposta. O guia também
as duas últimas décadas, poucas questões
abrange os impactos de tais mudanças na sociedade,
trouxeram tantos desafios quanto as mudanças
além das respostas políticas e educacionais a elas.
climáticas. Das alterações nos padrões atmos-
féricos que ameaçam a produção de alimentos até o
A Organização das Nações Unidas para a Educação,
aumento do nível do mar que aumenta o risco de inun-
a Ciência e a Cultura (UNESCO) colabora com seu co-
dações catastróficas, as mudanças climáticas têm
nhecimento profundo de áreas como educação, cultu-
impacto mundial sem precedentes. Apesar de tais
ra e ciências sociais. A UNESCO enfatiza principalmen-
mudanças serem globais, seus impactos negativos
te a importância da educação no apoio à adaptação e
afetam mais aos países e pessoas pobres. Sem ações
mitigação das mudanças climáticas, tanto ajudando a
drásticas no presente, a adaptação futura a esses im-
construir recursos e habilidades quanto formando os
pactos será mais difícil e dispendiosa, debilitando os
valores, atitudes e comportamentos necessários para
esforços para o desenvolvimento nacional e atrasando
colocar o mundo em um caminho mais sustentável.
o progresso rumo aos Objetivos de Desenvolvimento
do Milênio.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Am-
biente (PNUMA) trabalha com diversos países para
Com a grande conscientização em torno do impacto
ajudá-los a aprimorar sua capacidade de adaptação
das mudanças climáticas em nossos países e comuni-
às mudanças climáticas, seguir rumo ao crescimento
dades, os cidadãos e políticos passaram a ver a comu-
de baixo carbono, reduzir emissões originadas pelo
nidade educacional como parte da resposta a essas
desmatamento e degradação de florestas, melhorar
mudanças.
a compreensão da ciência climática e aumentar a
consciência pública sobre as mudanças climáticas. O
Os profissionais da educação estão cada vez mais
PNUMA auxilia países a aproveitarem as oportunida-
conscientes da necessidade de incluir a mudança cli-
des para mudar para o crescimento de baixo carbono,
mática em seus programas, para informar as próximas
enquanto melhoram a saúde e o bem-estar humano
gerações e ajudá-las a enfrentar os desafios climáti-
com a geração de empregos verdes e a mudança para
cos que virão. Entretanto, o ensino interdisciplinar das
uma economia verde.
mudanças climáticas se apresenta como um desafio
para os professores, que devem compreender uma ci-
Através desta publicação, ambas as organizações em-
ência complexa e em formação para então comunicá-
barcam em um processo colaborativo pela educação
-la às próximas gerações.
sobre mudanças climáticas – educação esta que pre-
tendemos construir e expandir de agora em diante.
Este guia busca ser um auxílio para que os educado-
res compreendam melhor a ciência das mudanças

Sylvie Lemmet Mark Richmond


Diretora da Divisão de Tecnologia, Diretor da Divisão de Educação
Indústria e Economia para a Paz e o Desenvolvimento
PNUMA Sustentável
UNESCO

2 Mudanças climáticas – Guia básico


ÍNDICE

Apresentação 2

Visão geral do Guia 4

Capítulo 1 – A ciência das mudanças climáticas 5


1.1 O que é “clima”? 7

1.2 O que causa as mudanças climáticas? 8

1.3 O que mudou até agora? 13

Capítulo 2 – A sociedade e as mudanças climáticas 18


2.1 Migração – Minando o desenvolvimento e desenraizando pessoas? 20

2.2 Pobreza – Por que os mais pobres do mundo são mais vulneráveis? 25

2.3 Saúde – As mudanças climáticas vão deixar você doente? 29

2.4 Gênero – Homens e mulheres são afetados da mesma forma? 31

2.5 Ética – Quem é responsável pelo quê? 34

Capítulo 3 – Respondendo às mudanças climáticas 38


3.1 Mitigação e adaptação – Uma abordagem dupla 40

3.2 Mitigação – Modos de reduzir GEEs 41

3.3 Mitigação – Opções políticas para estimular a redução 42

3.4 Adaptação – Encarando uma nova realidade 45

3.5 Economia e seus aspectos – Parte do problema e da solução 48

3.6 Respostas internacionais – Políticas globais 51

Capítulo 4 – A educação e as mudanças climáticas 54


4.1 Educação para o desenvolvimento sustentável – Levando a educação climática além da ciência 55

4.2 Educação para a mitigação – Mudando de comportamento para o bem comum 58

4.3 Educação para a adaptação – Aprendendo a lidar com as mudanças locais 60

4.4 Educação para redução do risco de desastres – Preparação para o pior 62

Glossário de termos usados 67

Um guia de questões para profissionais da educação 3


OG UIA
VISÃO GERAL D

O Próximos passos
guia “Mudanças climáticas – Guia básico” pro-
porciona uma introdução e um panorama para
profissionais da educação a respeito das diver- As aulas devem se concentrar na preparação dos es-
sas questões relacionadas às mudanças climáticas tudantes para as alterações em seu ambiente e enfa-
e à educação para tais mudanças, incluindo causas, tizar a adaptação às mudanças climáticas, como no
impactos, estratégias para adaptação e mitigação, e caso das áreas costeiras próximas ao nível do mar?
alguns princípios gerais econômicos e políticos. Ou é mais apropriado abordar padrões e comporta-
mentos não sustentáveis para contribuir com a miti-
Este guia pretende servir como ponto de partida para gação das mudanças climáticas? Este guia ajuda os
a integração entre o currículo escolar e a educação so- educadores a encontrarem um equilíbrio entre a ênfa-
bre as mudanças climáticas. Ele foi criado para ajudar se na adaptação e a ênfase na mitigação, e a adequar
profissionais da educação a compreenderem essas o escopo e o conteúdo ao contexto local, à estrutura
questões, analisando e avaliando sua relevância con- do sistema educacional e à função desempenhada.
forme determinado contexto local ou nacional, e faci-
litando o desenvolvimento de políticas educacionais,
currículos, programas e planos de ensino.

Abordamos quatro grandes áreas temáticas:


1. A ciência das mudanças climáticas, que explica
as causas e as mudanças observadas;
2. Os aspectos sociais e humanos da mudança
climática, incluindo gênero, saúde, migração,
pobreza e ética;
3. Respostas políticas para as mudanças climáticas,
incluindo medidas para adaptação e mitigação;
4. Abordagens educacionais, como educação para
o desenvolvimento sustentável, redução de
desastres e estilos de vida sustentáveis.

Ao final de cada área temática oferecemos uma se-


leção de fontes para aprofundamento, composta por
publicações e sites da Internet.

4 Mudanças climáticas – Guia básico


CA P Í T U LO 1

A CIÊNCIA
DAS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS
CAPÍTULO 1
O Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental

O
clima pode ser definido como um “tempo at- sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de 2007 confirmou
mosférico médio”, definido através da média e que o aquecimento do clima global existe e provavel-
da variabilidade de suas características (como mente está relacionado às atividade humanas (tam-
temperatura, precipitação e vento) durante um perí- bém conhecidas como atividades antropogênicas),
odo de tempo cronológico que pode ir de meses a apresentando aumento desde o início da industrializa-
milhares ou milhões de anos. O clima reflete o funcio- ção (por volta de 1750). Entre as atividades que levam
namento do tempo atmosférico a longo prazo. Esse ao aumento da concentração de GEE na atmosfera,
tempo está relacionado a condições atmosféricas par- podemos colocar a queima de combustíveis fósseis
ticulares e cotidianas, como a precipitação, a tempe- como carvão, petróleo e gasolina, o desmatamento e
ratura e o vento. diversas práticas agrícolas.

As condições atmosféricas (como a temperatura mé- Os impactos do aquecimento global já são perceptí-
dia da superfície da Terra) mudam com o tempo. Pe- veis através do derretimento das geleiras, do aumen-
quenas mudanças nessas condições podem resultar to na frequência de eventos atmosféricos extremos
em eras glaciais ou períodos de aquecimento. Duran- como secas, ciclones ou tempestades, do aumento
te o último século foi observado um aumento de cer- no nível do mar e das mudanças no crescimento das
ca de 0,76°C na temperatura média da superfície da plantas que afetam a agricultura e a produção de ali-
Terra. mentos. Essas e outras mudanças percebidas devem
se intensificar e ter um impacto drástico sobre as
Diversos fatores naturais podem influenciar o clima, sociedades humanas e o meio ambiente de todo o
como alterações na órbita da Terra ao redor do Sol, mundo, sobretudo se não tomarmos medidas drásti-
erupções vulcânicas ou períodos de aumento ou di- cas para reduzir as emissões de GEEs na atmosfera.
minuição na atividade solar. Entretanto, a tendência
atual de aquecimento que estamos vivenciando está Este capítulo explica os componentes do sistema cli-
relacionada sobretudo ao aumento na concentração mático, descreve os fatores principais das mudanças
de gases de efeito estufa (GEEs) na atmosfera, como climáticas observadas e, por fim, apresenta os impac-
dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitro- tos de tais mudanças observados atualmente.
so (N2O).

MÉDIA ANUAL DE INSOLAÇÃO GLOBAL

Círculo
FIGURA 1

Ártico
66º ~2000 km
400
Energia (watts por metro quadrado

350 Trópico de Câncer


23,5º

Hemisfério
300
Norte
Equador
~1000 km Radiação solar
250 0º
Hemisfério
200 Sul

Trópico de Capricórnio
23,5º
150

100 ~2000 km
66º
Círculo
Antártico

6 Mudanças climáticas – Guia básico


DA N ÇAS CLIM ÁTICAS
DAS M U
A CIÊNCIA
de Capricórnio e Câncer (ver Figura 1). Se não houves-
se um mecanismo para transferir essa energia para
outros locais, o equador seria incrivelmente quente e
inóspito para a vida. Por outro lado, devido ao formato
1.1 O que é “clima”? esférico da Terra, os polos norte e sul recebem menos
radiação solar e refletem ou devolvem mais radiação
Tempo X clima ao espaço. Se não houvesse um mecanismo de en-
trada de energia, essas regiões seriam muito gélidas
Para definir “clima” é importante distingui-lo de “tem- para possibilitar qualquer tipo de vida. Entretanto, to-
po”. O tempo que experimentamos diariamente é um das as regiões citadas são habitáveis por humanos e
estado atmosférico momentâneo caracterizado por espécies animais e vegetais.
temperatura, precipitação, vento, entre outros, e pa-
rece variar de forma irregular, sem seguir padrões par- Podemos dizer que a região do equador tem exces-
ticulares. so constante de radiação solar (fazendo com que ela
seja muito quente) e os polos têm falta constante da
Se considerarmos escalas maiores de tempo, o tempo mesma energia (o que os torna muito frios). O siste-
atmosférico pode ter variações recorrentes em escala ma climático da Terra torna possível o equilíbrio entre
local, regional ou global. Isso é o que chamamos de excesso e falta de energia e aquecimento. Ele usa o
clima. Enquanto o tempo se refere a condições mo- ar e o vapor da atmosfera e a água dos oceanos para
mentâneas, o clima se refere a valores médios, como transportar a energia pelo planeta, alcançando certo
a temperatura média anual, variações típicas como equilíbrio a despeito do desequilíbrio regional de ener-
temperatura máxima e mínima de determinado perí- gia do sistema (ver Figura 2).
odo, e frequência de acontecimentos extremos como
monções, furacões e ciclones. Geralmente a escala Em termos gerais, o clima permanece estável por lon-
de tempo usada para calcular estatísticas climáticas é gos períodos de tempo caso os diversos elementos
de trinta anos (de 1981 a 2010, por exemplo). do sistema também permaneçam estáveis. Caso um
componente sofra alteração, a estabilidade de todo
o sistema é comprometida, podendo gerar funciona-
A função do sistema climático da mentos atípicos e originar condições atmosféricas
Terra fora das expectativas comuns. Essa situação pode ser
descrita como uma mudança climática.
Uma enorme quantidade de energia do Sol atinge a
Terra como radiação solar na região entre os trópicos

RADIAÇÃO SOLAR – EXCESSO X FALTA


Círculo
Ártico
FIGURA 2

66º Saída de
radiação
terrestre

Hemisfério 23,5º
Norte

Equador
0º Transporte Radiação solar
de calor

Hemisfério
Sul
23,5º
Entrada de
radiação
solar
66º
Círculo -100 0 100 200 300 400
Antártico Energia (watts por metro quadrado

Um guia de questões para profissionais da educação 7


CAPÍTULO 1
1.2 O que causa as Mudanças
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mu-
danças Climáticas (CQNUMC) define mudança climá-
Climáticas?
tica como “uma mudança no clima direta ou indire- Como o clima funciona e como
tamente atribuível à atividade humana, que altera a
composição da atmosfera global e está além das va- sabemos que ele está mudando
riações naturais observadas em períodos comparáveis
Nos últimos séculos foram realizados muitos debates
de tempo”
sobre as influências e os acionadores das mudanças
climáticas radicais da Terra, de eras glaciais a períodos
Outras referências úmidos e vice-versa. Os cientistas modernos suspei-
1. ‘The Climate System: An Overview’, A.P.M taram durante muito tempo que a atividade humana
Baede, E. Ahlonsou, Y. Ding and D. Schimel, fosse capaz de afetar o clima. Até períodos recentes
Chapter 1 of the Working Group 1 Report of the não tínhamos compreensão abrangente sobre os pro-
IPCC Third Assessment Report (TAR) Climate cessos complexos que afetam tanto o equilíbrio da
Change 2001: The Scientific Basis. Cambridge energia da Terra quanto os fluxos de energia dentro do
University Press, 2001. http:// www.grida.no/ sistema climático global.
climate/ipcc_tar/wg1/pdf/ TAR-01.pdf
As últimas décadas representaram grandes progres-
2. Intergovernmental Panel on Climate Change. sos nos estudos dos sistemas da Terra, conforme
http://www.ipcc.ch/ cientistas aprimoraram a quantificação dos fluxos
3. WMO home page for basic climate information de energia e matéria que determinam as dinâmicas
for young people. http://www.wmo.int/youth/ desses sistemas. Isso permitiu que eles chegassem
climate_en.html a uma compreensão mais clara de como o clima fun-
4. WMO page on climate. http://www.wmo.int/ ciona e a uma imagem mais nítida dos fatores que
pages/themes/climate/index_en.php# influenciam as mudanças no sistema climático global
(ver Figura 3).
COMPONENTES DO SISTEMA CLIMÁTICO DA TERRA
FIGURA 3

Radiação solar Trópicos


POLOS
Gases de
efeito estufa

Retorno de
radiação

Precipitação Evaporação

Calor
Vento
Manto de
gelo
Banco de gelo
Produção de Erosão Escoamento Nível do mar
carbono
Ressurgência

Enterro do
carbono
Águas pro-
fundas

Levantamento

Movimentação
Expansão
de placas

Subd
ucçã
o

Latitude

Clark College, 2003.

8 Mudanças climáticas – Guia básico


DA N ÇAS CLIM ÁTICAS
DAS M U
A CIÊNCIA
órbita da Terra ao redor do Sol; (ii) variações na produ-
ção de energia solar; (iii) alterações na circulação dos
oceanos, resultantes de oscilações na ressurgência
O clima da Terra é afetado por diversos fatores que das águas profundas e frias no Oceano Pacífico tro-
acontecem sob variadas escalas de tempo e resultam pical; e (iv) mudanças na composição da atmosfera.
em mudanças diferentes, em escalas geográficas e As primeiras três influências estão além do controle
eras geológicas distintas. O movimento do calor ao humano. Entretanto, a composição da atmosfera foi
redor da Terra é realizado através do sistema climático alterada pelas atividades humanas durante os últimos
global, que abrange a atmosfera, os oceanos, os man- 200 anos.
tos de gelo e a biosfera (todos os organismos vivos),
além de solos, sedimentos e rochas. O sistema cli- Composição da atmosfera
mático é composto por vários subsistemas. Diversos
processos acontecem dentro de cada subsistema e A atmosfera é uma camada relativamente fina de ga-
entre os subsistemas. Essas interações complexas ses que se atenua conforme a altitude, não possuindo
resultam em fenômenos periódicos e mutáveis, como um limite definido¹. Cerca de 80% da massa da at-
o El Niño e a Oscilação do Atlântico Norte (ver caixa mosfera fica até os 10km de altitude (ver Figura 4). Se
de texto a seguir). considerarmos o raio da Terra, a atmosfera correspon-
de apenas a um sexto de um por cento. Ainda assim
A situação do clima da Terra é determinada pela quan- é uma camada multifuncional e extremamente impor-
tidade de energia armazenada pelo sistema climático, tante, composta por diversos gases em proporções e
sobretudo pelo equilíbrio entre a energia recebida do disposições variadas que cumprem funções diferen-
Sol e a fração dessa energia que é devolvida ao es- tes. É predominantemente composta por nitrogênio
paço. O equilíbrio da energia global é regulado em (78%) e oxigênio (21%). Além do vapor de água, diver-
grande parte por fluxos de energia dentro do sistema sos outros gases encontram-se presentes em quan-
climático global. tias menores (monóxido de carbono (CO), dióxido de
carbono (CO2), neônio (Ne), óxidos de nitrogênio, me-
As mudanças de longo prazo no clima da Terra pos- tano (CH4), criptônio (Kr) e Ozônio (O3)).
suem quatro influências principais: (i) mudanças na
A mistura de gases favorece a natureza multifuncional
da atmosfera: por um lado, permite que parte da ra-
El Niño / La Niña (Osen) e a Oscilação diação solar na direção da Terra atinja a superfície; por
do Atlântico Norte outro, inibe o retorno da radiação de ondas longas (na
forma de calor) ao espaço. Essa função de armazena-
A Oscilação Sul – El Niño/ La Niña (ou OSEN) é um mento de calor é conhecida como “efeito estufa”, e é
padrão climático que acontece no Oceano Pacífico o que mantém a superfície da Terra em temperatura
Tropical aproximadamente a cada cinco anos. É ca- adequada para manter as formas de vida que conhe-
racterizada por variações na temperatura da super- cemos (ver Figura 5). Depois do vapor de água, os
fície do Oceano Pacífico tropical oriental (o aqueci-
mento é conhecido como El Niño, e o resfriamento
como La Niña) e na pressão superficial do ar no Pa- CAMADAS DA ATMOSFERA
cífico tropical ocidental (a Oscilação Sul). As causas
para essas oscilações ainda estão sendo estudadas.
FIGURA 4

Atmosfera
A OSEN causa eventos atmosféricos extremos
como enchentes e secas em diversas regiões do 80% da massa da
atmosfera está a até
mundo. A frequência e a intensidade da OSEN estão 10 km da superfície
possivelmente sujeitas a mudanças drásticas devido terrestre
ao aquecimento global, e atualmente são estudadas
também sob esse aspecto. Crosta
Oscilação do Atlântico Norte: Um sistema per- Manto
manente de baixa pressão na região da Islândia (a
“Depressão da Islândia”) e um sistema permanente
de alta pressão na região dos Açores (o “Anticiclone Núcleo
dos Açores”), que controlam a direção e a força dos externo
ventos ocidentais na Europa. A força e a posição re- Núcleo
lativas desses sistemas variam conforme o ano, e interno
essa variação é conhecida como Oscilação do Atlân-
tico Norte.
1 Se considerarmos o tamanho de um globo usado em sala
de aula, a atmosfera teria aproximadamente a espessura da
camada de tinta em sua superfície.

Um guia de questões para profissionais da educação 9


CAPÍTULO 1
Esses GEEs permanecem ativos na atmosfera por
“gases de efeito estufa” (GEE) mais importantes são longos períodos de tempo (ver Tabela 1). Após perío-
o dióxido de carbono, o metano e o ozônio. dos menores, partículas e gases emitidos por grandes
erupções vulcânicas, como a do Monte Pinatubo em
1991, também podem afetar o clima global (ver caixa
de texto “Os efeitos das erupções vulcânicas”). Por
O EFEITO ESTUFA outro lado, fatores como a posição relativa e o movi-
Parte é refle- mento dos continentes também afetam o clima glo-
Parte tida de volta Sol bal, mas após milhões de anos.
FIGURA 5

evade para o ao espaço


espaço
Parte é refle-
tida de volta
à Terra Entrada de Diversas atividades que emitem GEE são cruciais para
Gases de efeito estufa radiação
solar
a economia global, compondo parte essencial da vida
(GEE) de fontes
antropogênicas
Energia
moderna. O dióxido de carbono gerado pela queima
irradiada pela de combustíveis fósseis é a maior fonte de emissões
Terra Parte é
absorvida pela
de GEE por atividades humanas. O fornecimento e o
atmosfera uso dos combustíveis fósseis responde por cerca de
Parte alcança 80% das emissões de dióxido de carbono (CO2) da
Indústria a superfície da
Terra humanidade, um quinto do metano (CH4) e uma quan-
tidade significativa de óxido nitroso (N2O). Os setores
que mais contribuem com as emissões antropogêni-
Transporte
cas de GEE são eletricidade e aquecimento (24,9%),
indústria (14,7%), transporte (14,3%) e agricultura
Desmatamento
(13,8%) (ver Figura 6).

EMISSÕES MUNDIAIS DE GASES DE EFEITO ESTUFA POR SETOR


Emissões mundiais de gases de efeito estufa em 2005
FIGURA 6

Total: equivalente a 44,153t CO2


Setor Uso/ Atividade final Gás

Rodoviário 10,5%
Transporte 14,3%
Aéreo 1,7%
Vias férreas, marít. e outros meios 2,5%

Construções residenciais 10,2%


E N E R G I A

Eletricidade e aquecimento 24,9% Construções comerciais 6,3%

Combustões não alocadas 3,8%

Aço e ferro 4,0% Dióxido de carbono


Alumínio e metais não ferrosos 1,2% (CO2) 77%
Maquinário 1,0%
Polpa, papel e impressão 1,1%
Outras combustões 8,6% Comida e tabaco 1,0%

Produtos químicos 4,1%

Cimento 5,0%

Indústria 14,7% Outras indústrias 7,0%

Perdas em Trein. e Desenvolvimento 2,2%


Mineração de carvão 1,3%

Emissões fugitivas 4,0% Extração, refinamento e 6,4%


processamento de petróleo e gasolina
Processamentos industriais 4,3%
(apenas trópicos)
Desmatamento 11,3%
Reflorestamento -0,4% HFCs, PFCs,
Mudanças no uso do solo* 12,2% SF6 1%
Colheita/ Gestão 1,3%

Uso de energia pela agricultura 1,4%


Metano
Solos para agricultura 5,2%
(CH4) 15%
Agricultura 13,8% Criações e excrementos 5,4%

Cultivo de arroz 1,5%


Outras formas de agricultura 1,7% Óxido nitroso
Resíduos 3,2% Aterros sanitários
Águas residuais, outras águas
1,7%
1,5%
(N2O) 7%
Fontes e observações: Todos os dados são de 2005. Cálculos baseados em equivalentes de CO2, usando potenciais de aquecimento em 100 anos do IPCC (1966) baseados em uma estimativa global total do equivalente
a 44.153 em toneladas de CO2. Caso deseje consultar as fontes dos dados, descrições detalhadas dos setores ou definições de cada uso ou atividade final, consulte o Apêndice 2 de Navigating the Numbers Greenhouse
Gas Data & International Climate Policy (WRI, 2005). Linhas pontilhadas representam fluxos de menos de 0,1% do total de emissões de GEE.
* Mudanças no uso do solo com emissões e absorções. Informações baseadas em análises que usam métodos revisados em comparação às versões antigas deste gráfico. Esta tabela pode conter informações incertas.

World Resources Institute, 2005.

10 Mudanças climáticas – Guia básico


DA N ÇAS CLIM ÁTICAS
DAS M U
A CIÊNCIA

Os efeitos das erupções vulcânicas


Medindo mudanças de temperatura Em 1990, o Monte Pinatubo injetou 20 milhões de
toneladas de dióxido de enxofre na estratosfera.
Desde o final do século dezenove, diversos instru-
Isso foi observado em todas as áreas mundiais
mentos terrestres e marítimos vêm sendo usados
localizadas na região equatorial. Como resultado,
para medir com certa precisão a temperatura do ar
as temperaturas médias desse hemisfério caíram
próximo à superfície da Terra. Nos últimos quarenta
entre 0,2°C e 0,5°C durante um período de 1 a 3
anos, a adoção de instrumentos por satélite possibili-
anos.
tou leituras extremamente precisas. Partindo do prin-
cípio de que a existência de instrumentos para medir
e registrar a temperatura e outras variáveis climáticas
corresponde a uma pequena fração da história da Ter-
ra, perspectivas maiores sobre a evolução climática
devem ser estudadas através de fenômenos naturais
que dependem do clima, cujos vestígios podem ser
encontrados em anéis de árvores, núcleos de gelo e
sedimentos do relevo oceânico (ver Figura 7).

Durante o século vinte, o ritmo acelerado das desco-


bertas e controvérsias a respeito das complexidades
do Sistema Terrestre aumentou o interesse sobre o
assunto entre os cientistas, sobretudo com relação
a uma tendência significativa no aquecimento global. AMOSTRAS DE NÚCLEOS DE GELO
Os cientistas começaram a investigar até que pon-
to a atividade humana poderia ter provocado esta e
FIGURA 7

outras mudanças no sistema terrestre. Nos últimos


vinte e cinco anos, dezenas de milhares de pesquisa-
dores empregaram seus conhecimentos técnicos na
investigação intensiva e na análise científica desses
fenômenos (facilitadas e inspiradas pelo Painel Inter-
governamental sobre Mudanças Climáticas) para de-
terminar as fontes de GEE, monitorar as mudanças
contínuas no clima global e compreender os impactos
ambientais e socioeconômicos de tais mudanças.

Durante o último século foi observado um aumento de


©University of Alaska Geophysical Institute
cerca de 0,76°C na parte mais baixa da atmosfera e na
temperatura média da superfície da Terra. Se conside-
rarmos que os registros começaram no início dos anos
CONTRIBUIÇÕES RELATIVAS DOS GEEs
1860, o apogeu da revolução industrial, a temperatura
MAIS IMPORTANTES PARA O EFEITO
média da superfície terrestre sobe de forma contínua.
ESTUFA E CICLOS DE VIDA NA ATMOSFERA
Nas últimas duas décadas, o ritmo de elevação nas
temperaturas globais apresentou aceleração equiva- GEE CONTRIBUIÇÃO (%) CICLO VIDA MÉDIO
lente a 1,0°C por século. Nove dos anos mais quentes
TABELA 1

Vapor de 36% a 66% 9 dias


já registrados ocorreram na última década (ver Figura água
8, próxima página). Durante esse período registrado
de aquecimento global, a concentração de gases de Dióxido de 9% a 26% Dezenas de milhares
carbono de anos
efeito estufa na atmosfera também aumentou. Esse
aumento está diretamente relacionado às atividades Metano 4% a 9% 12 anos
humanas, especialmente à queima de combustíveis
Ozônio 3% a 7% 9 a 11 dias
fósseis para energia e transporte, ao desmatamento e
a outras mudanças no uso do solo. Nos últimos vinte Observação: “A determinação do ciclo de vida do CO2 na
anos vem aumentando a preocupação de que ambos atmosfera costuma ser extremamente subestimada, pois
os fenômenos estejam altamente relacionados. No a maioria dos cálculos ignora incorretamente os fluxos
momento, as emissões de gases de efeito estufa pela compensatórios de CO2 da atmosfera para outras reservas,
humanidade são a única explicação para o aquecimen- conforme o mesmo é removido pela mistura no oceano,
fotossíntese e outros processos. São as mudanças na
to da superfície terrestre desde 1970. concentração líquida de diversos GEE por todas as fontes e
escoadouros que determinam o ciclo de vida na atmosfera, e
não apenas os processo de remoção.” Fonte: D. Archer, ‘Fate
of fossil fuel CO2 in geologic time’, Journal of Geophysical
Research 110(C9): C09S05.1–5.6, 2005.

Um guia de questões para profissionais da educação 11


CAPÍTULO 1
bre o clima global. Simplificando: os seres humanos
contribuem para o aquecimento global observado3. O
Atual consenso científico atual consenso da comunidade científica é de que as
conclusões básicas dispostas a seguir representam
Em 2003, a União Geofísica dos Estados Unidos – apenas um relance das mudanças que as gerações
AGU (American Geophysical Union) concluiu que os futuras terão de aceitar e enfrentar:
humanos não alteraram os rumos naturais do siste-
ma climático 2, mesmo tendo transformado cidades • O planeta está aquecendo devido ao aumento
em florestas, colocado poeira e fuligem na atmosfera, na concentração de gases de efeito estufa em
transformado milhões de acres de deserto em plan- nossa atmosfera.
tações irrigadas e lançado gases de efeito estufa na • No último século, grande parte do aumento
atmosfera. Por mais que as mudanças climáticas con- dessa concentração ocorreu devido a atividades
tinuem sendo um assunto extremamente complexo humanas, sobretudo à queima de combustíveis
e debatido (tanto de forma política quanto por publici- fósseis e ao desmatamento.
dade), o aquecimento global é um fato inegável. Além
disso, o resultado das evidências indica claramente
que os seres humanos têm perceptível influência so-

3 R.K. Pachauri and A. Reisinger (eds) Climate Change


2 American Geophysical Union, Eos 84(51), 574 (2003). 2007: Synthesis Report, IPCC, p. 104.

VARIAÇÕES NA TEMPERATURA MÉDIA DA SUPERFÍCIE TERRESTRE – DE 1000 A 2100


Variação em ° Celsius (com relação ao índice em 1990)
FIGURA 8

Exames globais
por instrumentos
Exames, hemisfério norte, dados representativos Projeções
6.0
O Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática (IPCC) estabeleceu
diversos cenários de emissões de GEE e projeções das temperaturas da
5.5
superfície entre 2000 e 2100. Essas projeções nos dão uma ideia antecipada
sobre a dimensão das próximas mudanças . A melhor hipótese de cenário
5.0 apresenta um aumento de 1,8°C na temperatura média durante o século, com
variação provável de 1,1 a 2,9°C. Esse cenário considera um mundo convergente
4.5 com uma população global que atinge seu pico no meio do século e passa
então a declinar, e apresenta rápida mudança das estruturas econômicas em
direção à economia de serviços e informações. Ele apresenta reduções no
4.0 consumo, introdução de tecnologias limpas, uso eficiente dos recursos e ênfase
nas soluções globais sustentáveis, incluindo melhor distribuição de recursos,
3.5 sem que existam outras iniciativas climáticas2. Na pior hipótese de cenário
a temperatura aumenta 4°C até o final do século em comparação aos níveis
entre 1980 – 1999 3. Essa estimativa de aumento se baseia em um mundo de
3.0 rápido crescimento econômico, população global que atinge seu pico no meio
do século e declina daí em diante, e na introdução de tecnologias novas e mais
2.5 eficientes ainda fundamentadas em sistemas de energia fóssil 4.

2.0
1 Projected climate change and its impacts, in the Synthesis Report - IPCC
Fourth Assessment Report: Climate Change 2007
1.5 2 Climate in Peril: A popular guide to the latest IPCC reports (UNEP, 2009),
p.25 Cenários
1.0 3 Op. cit. IPCC Fourth Assessment Report
4 http://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar4/wg1/ar4-wg1-spm.pdf A1B
0.5 A2
B1
0.0 B2
As barras mostram
-0.5 a variação de
temperatura em
2100 segundo
-1.0
diversos modelos.

1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 1900 2000 2100
Fonte: UNEP&GRID/Arendal, Vital Climate Graphics Update, 2005. Ano
Zoï Environment Network and GRID-Arendal 2009

12 Mudanças climáticas – Guia básico


DA N ÇAS CLIM ÁTICAS
DAS M U
A CIÊNCIA
Os efeitos das atividades humanas também foram
identificados em muitos outros aspectos do sistema
• As causas naturais sempre interferiram nas climático, como as mudanças no aquecimento dos
mudanças de clima da Terra, mas vêm sendo oceanos, na umidade atmosférica e nos bancos de
sobrepujadas pelas mudanças induzidas pelos gelo do Ártico.
humanos.
• Aquecer o planeta mudará diversos outros Essas conclusões se baseiam em evidências de di-
padrões climáticos sob um ritmo inédito nos versas fontes. A primeira é o exame dos registros das
tempos modernos, aumentando os índices mudanças climáticas durante os últimos 1.000 a 2.000
de elevação do nível do mar e alterando o anos, que demonstra que as temperaturas registra-
ciclo hidrológico, por exemplo. O aumento na das na superfície global durante as últimas décadas
concentração de dióxido de carbono também são maiores do que qualquer temperatura dos últi-
tornará os oceanos mais ácidos. mos 400 anos, no mínimo (1.000 anos no Hemisfério
• Os impactos das mudanças climáticas já estão Norte). A segunda fonte é nossa compreensão cada
aparentes, incluindo padrões atmosféricos vez maior a respeito dos mecanismos pelos quais os
mais frequentes e extremos, mudanças no GEEs prendem o calor, das respostas do sistema cli-
crescimento das plantas que afetam a agricultura mático ao aumento dos GEEs e da influência de fato-
e a produção de alimentos, extinção ou migração res naturais e humanos sobre o clima. Como resul-
de espécies animais e vegetais que não tado de tais compreensões, observa-se uma grande
conseguem se adaptar, mudanças no contágio correspondência entre as mudanças observadas no
de doenças infecciosas em termos de índices clima e as simulações em modelos computadorizados
e expansão do alcance, alteração no fluxo das de alterações climáticas em resposta às atividades
correntes oceânicas e mudanças nas estações. humanas. Por último, temos vastas evidências esta-
• A combinação dessas mudanças climáticas tísticas. A comunidade científica relacionada ao IPCC
complexas ameaça comunidades e cidades em 2007 identificou 765 mudanças significativas ob-
costeiras, o fornecimento de água e comida, servadas no sistema físico (neve, gelo e solos conge-
ecossistemas marinhos e de água doce, lados, processos litorâneos e hidrológicos), das quais
ambientes de montanhas altas, entre outros 4. 94% tinham relação com as mudanças climáticas.
Além disso, observações de sistemas biológicos (ter-
restres, marinhos e de água doce) observaram 28.671
Outras referências mudanças significativas, e 90% delas correspondiam
1. Climate Change 2007: Mitigation. Contribution aos impactos esperados das mudanças climáticas.
of Working Group III to the Fourth Assessment
Report of the Intergovernmental Panel on Aumento do aquecimento
Climate Change (IPCC). Cambridge University
Press, 2007. Como já mencionamos, a temperatura média da su-
2. Climate Change Science Compendium 2009, C. perfície terrestre subiu cerca de 0,76°C desde 1900, e
McMullen and J. Jabbour (eds) United Nations a maioria desse aumento aconteceu a partir de 1970.
Environment Programme, EarthPrint, 2009. A mudança estimada na temperatura média da super-
http://www.unep.org/compendium2009/ fície terrestre é baseada em medições realizadas em
3. Understanding Climate Change: A Beginner’s milhares de navios, boias e estações meteorológicas
CGuide to the UN Framework Convention and its de todo o mundo, além de diversos satélites. Essas
Kyoto Protocol. UNEP, 1999. http:// www.unep. medições são compiladas, analisadas e processadas
org/dec/docs/info/ccguide/ beginner-99.htm de forma independente por grupos diferentes de pes-
quisadores. A tendência ao aquecimento que aparece
em todos esses registros é confirmada por outras ob-
1.3 O que mudou até agora? servações não relacionadas, como o derretimento dos
bancos de gelo do Ártico (ver Figura 9, próxima pági-

E
studos mostram que o aquecimento climático é na), o retrocesso das geleiras de montanha em todos
evidente. A causa primária para o aquecimento os continentes, a redução na extensão da camada de
global dos últimos cinquenta anos é o aumento neve, o derretimento dos mantos de gelo da Groen-
na emissão de gases de efeito estufa (GEE) por ativi- lândia e da Antártica e o florescimento antecipado das
dades humanas. Essas emissões vêm sobretudo da plantas na primavera.
queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e
gasolina), além do desmatamento, das práticas agrí- A elevação da temperatura acontece por todo o plane-
colas e de outras atividades. ta, sendo maior em latitudes superiores ao norte. Nos
últimos 100 anos, a média das temperaturas árticas
quase dobrou com relação às médias globais. As regi-
4 ‘Climate Change and the Integrity of Science’, J. Sills, ões sólidas aqueceram mais rapidamente do que os
Science 328: 691–92, 2010. oceanos. Estudos mostram que a temperatura média
do oceano mundial aumentou até profundidades de

Um guia de questões para profissionais da educação 13


CAPÍTULO 1
no mínimo 3.000 metros, e que o oceano está absor-
REDUÇÃO NA EXTENSÃO DOS vendo mais de 80% do aquecimento que chega ao
BANCOS DE GELO sistema climático. As medições por satélite das tem-
Extensão mínima dos bancos de gelo peraturas aéreas em locais de alta elevação mostram
índices de aquecimento similares aos observados na
FIGURA 9

Anormalidades nos bancos de gelo do hemisfério norte temperatura da superfície.


Milhões de quilômetros quadrados
1.5 Alterações nos padrões das
precipitações
1.0

De forma geral, as precipitações apresentam uma


0.5
média de 1966 a 1990 pequena tendência ascendente, com grande parte
0.0
do aumento acontecendo durante as estações chu-
vosas. Regionalmente, os aumentos na média anual
-0.5 de precipitação ocorreram nas latitudes superiores do
hemisfério norte, nas regiões mais ao sul da América
-1.0 do Sul e nas regiões ao norte da Austrália. A região
tropical da África e as áreas ao sul da Ásia tiveram re-
-1.5 dução em suas precipitações. As mudanças medidas
nas precipitações estão de acordo com as alterações
-2.0 observadas no fluxo dos rios, nos níveis dos lagos e
Menor índice de todos os tempos, na umidade do solo (nos locais com dados disponíveis
-2.5
registrado em setembro de 2007 e analisados) (ver Figura 10).
-3.0
1980 1985 1990 1995 2000 2005
Cientistas também notaram alterações no tipo, quan-
1978 2008 tidade, intensidade e frequência da precipitação. Nos
Fonte: US National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), 2008. últimos 100 anos, aumentos consideráveis na precipi-
Zoï Environment Network and GRID-Arendal 2009
tação foram observados na região oriental da América

MUDANÇAS OBSERVADAS NA PRECIPITAÇÃO

Mudanças na precipitação anual entre 1901 e 2004


FIGURA 10

“-20” indica redução de 20 % durante o século, em comparação à média calculada para o período de 1961 a 1990

Fontes: Atlas Environnement du Monde Diplomatique, 2007, GRID-Arendal, 2005

Zoï Environment Network and GRID-Arendal 2009

14 Mudanças climáticas – Guia básico


DA N ÇAS CLIM ÁTICAS
DAS M U
A CIÊNCIA

Preocupações sobre a água


As mudanças climáticas já alteraram o ciclo da água,
afetando onde, quando e quanta água estará dispo-
do Norte, no sul da América do Sul e no norte da Eu- nível para todos os usos. Além disso, provavelmente
ropa. Reduções foram observadas no Mediterrâneo e haverá pouquíssima água em alguns lugares, água em
na maior parte da África e do sul da Ásia. A quantidade excesso em outros, e piora na qualidade geral de toda
de água caindo nas chuvas mais pesadas aumentou a água. Algumas localizações possivelmente enfren-
em média 20% no século passado. Essa tendência tarão todas essas condições durante o decorrer do
deve prosseguir, com aumentos maiores nos locais ano. As mudanças no ciclo da água devem continuar,
mais úmidos. Evidências do aumento na potência afetando de forma adversa a produção hidrelétrica, a
dos furacões e ciclones foram documentadas e rela- disponibilidade da água potável, a saúde humana, o
cionadas ao aumento da temperatura da superfície do transporte, a agricultura e os ecossistemas. 5
mar e ao aquecimento do ar (ver Figura 11).

As alterações na distribuição geográfica das secas e Ecossistemas vulneráveis


inundações são complexas. Em algumas regiões, a As mudanças climáticas afetam diversos ecossiste-
ocorrência de ambas aumentou. Conforme o mun- mas em todo o mundo. Talvez os impactos mais di-
do esquenta, as áreas montanhosas e as regiões vulgados do aquecimento global sejam aqueles que
ao norte apresentam mais precipitações em forma ocorreram nos ecossistemas do Ártico, dependentes
de chuva do que como neve. Também ocorreram dos bancos de gelo que estão derretendo e possivel-
aumentos frequentes nas precipitações pesadas,
mesmo em locais nos quais a quantidade total de 5 Essas mudanças estão associadas ao seguinte fato: o ar
chuvas diminuiu. mais quente retém uma maior quantidade do vapor de água
que evapora das superfícies terrestres e oceânicas. O aumento
do vapor da água na atmosfera vem sendo acompanhado por
medições via satélite.

AUMENTO NA QUANTIDADE DE DESASTRES RELACIONADOS AO CLIMA


FIGURA 11

Quantidade de
desastres por ano
450
Tendências na quantidade de
desastres relatados
Todos os desastres
400 Boa parte do aumento na quantidade de eventos
perigosos relatados provavelmente se deve à
melhoria significativa no acesso à informação e
350 ao crescimento populacional, mas a quantidade
“Todos os desastres”
incluem: secas, terremotos, de inundações e ciclones relatados permanece
temperaturas extremas, crescendo em comparação à quantidade de
escassez de alimentos, terremotos.
300 inundações, infestações
por insetos, erupções
vulcânicas, ondas gigantes,
incêndios florestais,
250 tempestades de vento. 250

200 200
Terremotos
Terremotos X desastres
climáticos
150 150 Inundações

100 100

Terremotos
50 50 Ciclones
Terremotos

0 0
1900 1920 1940 1960 1980 2000 2010 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
Fonte: CRED Annual Disaster Statistical Review 2006, 2007.
Zoï Environment Network and GRID-Arendal 2009

Um guia de questões para profissionais da educação 15


CAPÍTULO 1
que controlam o crescimento e o desenvolvimento
nos ecossistemas. Aumentos na temperatura geral-
mente desaparecerão totalmente durante os verões
mente aceleram o crescimento das plantas, os índi-
do século vinte e um. As algas que crescem na parte
ces de decomposição e a velocidade dos ciclos dos
inferior dos bancos de gelo formam a base de uma ca-
nutrientes, apesar desses indicadores também serem
deira alimentar que relaciona animais microscópicos e
influenciados por fatores como a existência de água
peixes a baleias, ursos polares e pessoas. Quando os
suficiente, por exemplo. O crescimento das florestas
bancos de gelo desaparecerem, essas algas também
aumentou nas últimas décadas devido a diversos fato-
desaparecerão. O gelo também é uma plataforma vi-
res: as florestas jovens atingiram a maturidade, houve
tal para espécies que dependem dele para dar à luz,
aumento na temperatura e na concentração de CO2
alimentar seus filhotes e descansar, como a foca-ane-
na atmosfera, a estação de cultivo ficou mais longa e
lada. Os ursos polares usam o gelo como plataforma
a quantidade de nitrogênio depositado na atmosfera
para caçar. As morsas descansam no gelo próximo
subiu. Separar os efeitos de cada fator permanece um
à plataforma continental entre seus mergulhos para
desafio.
comer moluscos. Conforme as margens de gelo se
retraírem das plataformas às áreas mais profundas,
Uma concentração maior de CO2 na atmosfera faz
não haverá mais moluscos por perto.
com que as árvores e as outras plantas coletem mais
Impactos observados e documentados das mudanças carbono da atmosfera, mas experiências mostram
climáticas incluem o aumento no nível do mar, que que as plantas convertem a maioria desse carbono
ameaça habitats costeiros e povoações humanas; o extra na produção de raízes, não na produção de ma-
aumento na temperatura da superfície do mar com deira. O efeito do CO2 no aumento do crescimento
maior frequência de ondas de calor no oceano, cau- também parece ser relativamente baixo, e geralmen-
sando o branqueamento e a morte dos corais (ver te é visto em florestas jovens em solos férteis que
Figura 12); a acidificação dos oceanos (devido ao au- possuem água suficiente para sustentar seu cresci-
mento na absorção de dióxido de carbono (CO2) pelas mento. Sempre que houver seca, a produtividade das
águas da superfície do mar), que dificulta a formação florestas diminuirá e a morte das árvores aumentará.
de conchas e recifes de corais (ver Figura 13); o der-
retimento das geleiras e capas de neve, incluindo o Outros impactos observados
rápido retraimento das geleiras tropicais e a perda da
função natural de regulação da água (ver Figura 14); a Outras mudanças compatíveis com o aquecimento
maior frequência de incêndios nas florestas; a propa- observado nas últimas décadas e não mencionadas
gação de doenças e pestes em áreas naturalmente anteriormente incluem:
protegidas por suas condições climáticas; as altera-
ções na produtividade das plantas e a possibilidade • Reduções no gelo de lagos e rios
de incompatibilidade entre ciclos de vida simbióticos • Mudanças no escoamento e na umidade do solo
interligados, entre outros.
ACIDIFICAÇÃO DO OCEANO MUNDIAL
Florestas: beneficiárias das Concentração pH ácido
FIGURA 13

mudanças climáticas? de CO2 no da água do


oceano oceano
O clima tem grande influência sobre os processos 380 8.14
BRANQUEAMENTO DE CORAL
360 8.12
FIGURA 12

340 8.10

320 8.08

300 8.06
1985 1990 1995 2000 2005 1985 1990 1995 2000 2005
Fonte: IPCC, 2007.

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16 Mudanças climáticas – Guia básico


DA N ÇAS CLIM ÁTICAS
DAS M U
A CIÊNCIA

EQUILÍBRIO DA MASSA DAS


Outras referências
GELEIRAS GLOBAIS 1. National governments have reported local
observations of climate change, as well as their
vulnerabilities to the effects of global warming,
FIGURA 14

Variação anual Perda cumulativa to the United Nation Framework Convention on


Centenas de milhares de Centenas de milhares de
milhões de toneladas milhões de toneladas
Climate Change (UNFCCC). http://unfccc.int/
national_reports/ items/1408.php
1
1992 2. Contribution of Working Groups I, II and III
Aumento
to the Fourth Assessment Report of the
0 0 Intergovernmental Panel on Climate Change.
Core Writing Team, Pachauri, R.K. and Reisinger,
A. (Eds.) IPCC, Geneva, Switzerland. http://www.
-1 - 20
ipcc.ch/publications_and_data/ publications_
ipcc_fourth_assessment_ report_synthesis_
-2 - 40 report.htm
Perda 3. Climate in Peril: A Popular Guide to the Latest
-3 - 60 IPCC Reports. UNEP/GRID Arendal, 2009. http://
www.grida.no/publications/climate-in-peril/
-4 - 80

-5
1960 1970 1980 1990 2000 2003

Fonte: IPCC, 2007.

Zoï Environment Network and GRID-Arendal 2009


• Mudanças na extensão de camadas de terra
congeladas (permafrost)
• Mudanças nas cadeias alimentares dos
ecossistemas marinhos
• Extinção generalizada de espécies
• Floração precoce
• Aumento na variabilidade das condições
atmosféricas

Apesar de diversas incertezas permanecerem e de


esperarmos outras surpresas, é evidente que os im-
pactos que listamos não acontecem de forma isolada.
Cada um deles tem consequências que podem (e pro-
vavelmente vão) induzir uma cadeia de impactos pe-
quenos e grandes entre os ecossistemas interligados
de cada região e em cada continente. Assim como in-
terrupções cujas consequências podem ser acompa-
nhadas por toda a cadeia alimentar, essas consequên-
cias se infiltrarão pela flora, pela fauna e por diversas
espécies – até exercerem um impacto conjunto sobre
a sociedade humana. Fica o questionamento sobre
como a humanidade reagirá à ameaça das mudanças
climáticas e quais preparações terão de ser feitas para
lidar com todos os desafios impostos por um clima
futuro incerto e imprevisível.

Um guia de questões para profissionais da educação 17


C A P Í T U LO 2

A SOCIEDADE E
AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS
N Ç AS CLIMÁT ICAS
AS M U DA
A SOCIEDADE E
As ligações entre as mudanças climáticas e as ques-
tões relacionadas à pobreza e ao subdesenvolvimento
são complexas. Apesar de ter menor responsabilidade
O aumento das temperaturas, as alterações no nível sobre as causas das mudanças climáticas, a popula-
do mar, as mudanças nos padrões das precipitações, ção pobre é sempre mais atingida pelos impactos de
as modificações nas estações e diversas outras alte- tais mudanças. Pessoas pobres são menos equipadas
rações ambientais trazidas pelas mudanças climáticas para a adaptação às mudanças climáticas, mais vulne-
já começaram a atingir as sociedades humanas de di- ráveis a impactos como escassez e doenças e mais
versas formas. Às vezes esses fenômenos impõem propensas a serem desalojadas.
desafios novos e dificultam os antigos. O aumento do
Mulheres e crianças miseráveis são especialmente
nível do mar, por exemplo, ameaça diretamente as po-
vulneráveis. Com renda menor do que os homens,
voações em áreas costeiras baixas. E a maior frequên-
mais responsabilidades domésticas e menos acesso
cia de tempestades e inundações afeta comunidades
à educação e à informação, as mulheres costumam
de todo o planeta.
ter menos condições de adaptação às mudanças cli-
Mudanças climáticas aumentam problemas que afe- máticas. As crianças também sofrem mais, sobretudo
tam indivíduos, comunidades e nações inteiras (em devido à escassez e às doenças relacionadas à mu-
diversos graus), como a pobreza, as doenças e a desi- dança de clima. Os esforços para ajudar as comuni-
gualdade de gênero. O Artigo 1 da CQNUMC declara dades a se prepararem e se adaptarem às mudanças
que os efeitos adversos das mudanças climáticas não climáticas não devem ignorar questões relacionadas à
surgem apenas em ecossistemas naturais e cultiva- desigualdade de gênero e às necessidades das crian-
dos, mas também surtem “significativo efeito degra- ças. Mulheres e crianças não são apenas vítimas: são
dante” na “operação de sistemas socioeconômicos agentes essenciais. As crianças podem ser grandes
ou na saúde e no bem-estar humano”. O impacto das agentes da mudança ao usarem sua energia e suas
alterações climáticas também representa a oportuni- ideias para encontrar e implementar soluções.
dade para uma transformação social positiva com foco
Este capítulo explora os impactos sociais das mudan-
específico nas necessidades dos mais vulneráveis,
ças climáticas, com foco na migração e destaque para
dentro de uma estrutura de desenvolvimento abran-
a pobreza, a saúde, os gêneros e a ética.
gente e sustentável.

Para as autoridades políticas, o desafio é garantir que


as políticas e medidas relacionadas ao clima propor-
cionem ao mesmo tempo melhores condições de Direitos humanos e migração forçada
vida para a sociedade, como trabalhos mais dignos,
melhores condições de saúde, habitações adequadas, Em maio de 2008, o Ciclone Nargis devastou a re-
educação, igualdade de gênero, segurança alimentar, gião do Delta de Irrawaddy em Mianmar, afetando
proteção dos direitos humanos, proteção social para gravemente 2,4 milhões de pessoas e levando ao
os mais vulneráveis, redução da pobreza e desenvol- deslocamento de 800.000 indivíduos. O aumento na
vimento sustentável, garantindo processos justos de densidade populacional da vizinhança colaborou com
desenvolvimento de baixo carbono. a disseminação de doenças, enquanto os serviços
de saúde e educação se mostraram inadequados
para acomodar o fluxo repentino de pessoas, privan-
do-as de seus direitos básicos.

Vulnerabilidade dos países em


desenvolvimento
O Relatório Stern, preparado pelo economista Sir
Nicholas Stern por solicitação do governo britânico,
argumenta que os países em desenvolvimento são
particularmente vulneráveis por conta de suas geo-
grafias, altos índices de crescimento populacional,
grande dependência da agricultura e da urbanização
feita às pressas, além de infraestruturas frágeis e fal-
ta de recursos.
http://www.direct.gov.uk/en/Nl1/Newsroom/
DG_064854 ©Khin Maung Win/AFP/Getty Images

Um guia de questões para profissionais da educação 19


CAPÍTULO 2
2.1 Migração – Minando
Medidas do deslocamento o desenvolvimento e
Migração, aumento populacional, uso não sustentável de desenraizando pessoas?
recursos, pobreza, guerra civil: todos contribuem para a
vulnerabilidade diante de desastres naturais e climáticos. A mudança climática tem impactos extremos e perió-
Dois departamentos das Nações Unidas, o Escritório dicos (cada vez mais frequentes), como grandes tem-
para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA – pestades e ondas de calor; e efeitos contínuos lentos
Office for the Coordination of Humanitarian Affairs) e o e cumulativos, como a extinção de formas de vida e
Centro de Monitoramento dos Deslocamentos Internos aumento do nível do mar. Esses efeitos podem inter-
(IDMC – Internal Displacement Monitoring Centre) exa- romper subsistências e desalojar populações huma-
minaram dados de 2008 e descobriram que ao menos nas (ver caixa de texto “Medidas do deslocamento”).
36 milhões de pessoas foram deslocadas por “desastres
naturais de início repentino”. Dessas pessoas, 20 milhões As manifestações das mudanças climáticas (como
foram deslocadas devido ao início repentino de desas- aumento do nível do mar, desertificação, escassez
tres relacionados ao clima, incluindo 6,5 milhões de pes- de água, variabilidade extrema do clima e eventos
soas na Índia. “Pesquisas de outras fontes sugerem que como ciclones e inundações) não acontecem no meio
milhões de pessoas são desalojadas anualmente como do nada. Elas podem desabrigar milhões de pessoas
resultado do início repentino de desastres relacionados
através da erosão de regiões litorâneas, da inundação
ao clima, como secas”, acrescenta.
costeira e da interrupção da agricultura6. Cientistas
estão cada vez mais seguros a respeito da identifica-

Os direitos humanos e as mudanças climáticas


Artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, selecionados por sua relação com os impactos das
mudanças climáticas.
Artigo 3. vre arbítrio com relação a seu emprego, a condições
Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o
segurança pessoal. desemprego.

Artigo 6. Artigo 25.


Todo ser humano tem direito a ser reconhecido (1) Todo ser humano tem direito a um padrão de vida
como pessoa perante a lei de todos os lugares. adequado à saúde e ao bem-estar próprio e de sua
família, incluindo alimentos, vestimentas, moradia,
Artigo 13. serviços médicos e serviços sociais necessários, e
(1) Todos têm o direito à liberdade de circulação e direito à segurança em caso de desemprego, enfer-
residência dentro das fronteiras de cada Estado. midade, invalidez, viuvez, idade avançada ou outra
(2) Todos têm o direito a deixar qualquer país, inclusi- falta de meio de sustento em circunstâncias além
ve o próprio, e a este regressar. de seu controle.
(2) A maternidade e a infância têm direito a assistên-
Artigo 21.
cia e cuidados específicos. Todas as crianças devem
(1) Todos têm direito ao acesso igualitário aos servi- gozar da mesma proteção social, sejam fruto de um
ços públicos de seu país. casamento ou não.
Artigo 22. Artigo 26.
Como membro da sociedade, todo ser humano tem (1) Todo ser humano tem direito à educação. A edu-
direito à segurança social e à realização dos direitos cação deve ser gratuita ao menos nos estágios ele-
econômicos, sociais e culturais indispensáveis para mentar e fundamental. A educação elementar deve
sua dignidade e para o desenvolvimento livre de sua ser obrigatória. A educação profissional e técnica
personalidade, através do esforço nacional e da coo- deve estar ao alcance de todos, e o ensino superior
peração internacional e conforme a organização e os deve ser disponibilizado a todos com base em seus
recursos de cada Estado. méritos.
Artigo 23. Ver http://www.un.org/en/documents/udhr/index.
(1) Todo ser humano tem direito ao trabalho, ao li- shtml

20 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
AS M U DA
A SOCIEDADE E
bitantes de diversas cidades e populações costeiras
ficarão sob ameaça. Entre as megalópoles em risco
estariam, por exemplo, Buenos Aires, Rio de Janeiro,
ção dos impactos das mudanças climáticas no meio Los Angeles, Nova York, Lagos, Cairo, Karachi, Mum-
ambiente. Olhando esses dados sob a perspectiva bai, Calcutá, Dhaka, Xangai, Osaka-Kobe e Tóquio. Di-
dos direitos humanos, fica claro que a projeção dos versas cidades costeiras menores sofreriam os mes-
impactos ameaça diversos direitos humanos, como o mos impactos.
direito à segurança alimentar e à água potável ou o
direito à saúde e à moradia adequada (ver caixa de Debilitação do crescimento
texto “Os direitos humanos e as mudanças climáti- econômico
cas”). Da mesma forma, a perspectiva dos direitos
humanos mostra que a mudança climática acaba por Ciclones e inundações não danificam apenas máquinas
atingir as comunidades e os países pobres de forma e outros bens materiais: também tumultuam a disponi-
mais severa. bilidade dos recursos humanos necessários para movi-
mentar a produção e o consumo da economia.
A relação entre as mudanças climáticas e o desloca-
mento é complexa e está sempre relacionada ao con- A migração em massa de “capital humano” debilita
texto. Possui diversos fatores fundamentais políticos, os sistemas de produção e enfraquece mercados do-
econômicos e sociais. Mudanças climáticas podem mésticos através da perda da mão de obra necessária
intensificar extremamente o deslocamento humano e dos investimentos em educação. Isso pode estabe-
tanto nacional quanto regional, fazendo com que co- lecer um padrão autossustentável de oportunidades
munidades concorram por recursos naturais e reper-
cutindo sobre a estabilidade da economia global.

As dificuldades que afetam os migrantes ambientais A desertificação leva à migração


são multidimensionais, abrangendo questões econô- Na Nigéria, 3.500km² (1.350 milhas²) de terra são
micas e de desenvolvimento, direitos humanos, con- transformados em deserto a cada ano, fazendo com
flitos, saúde pública, gênero e governo. que a desertificação seja o problema primário do
país. Conforme o deserto aumenta, os fazendeiros e
Um grande deslocamento populacional em resposta
pastores são obrigados a mudar para as áreas cada
às mudanças no meio ambiente gera pelo menos qua-
vez menores de terra habitável ou migrar para as ci-
tro grandes preocupações relacionadas ao desenvol-
dades já superpopuladas.
vimento:
1. aumento da pressão sobre os serviços e O México tem uma longa história de imigração e é o
infraestruturas urbanos; segundo maior país em número de imigrantes para
o exterior (OECD, 2007). 164 milhões de imigrantes
2. debilitação do crescimento econômico;
deixaram o país somente em 2005. Também é um
3. aumento nos riscos de conflitos; país sujeito à variabilidade climática extrema através
4. piora nos indicadores de saúde, educacionais e de secas nas regiões ao norte e ao centro do país.
sociais entre os próprios migrantes. Por exemplo: em Zacatecas, entre 2005 e 2006, cer-
ca de 85% das safras foram destruídas por secas,
Infraestrutura e serviços urbanos de acordo com a imprensa mexicana. Além disso, a
desertificação que afeta as regiões de sequeiro leva
Os sistemas de infraestrutura urbana proporcionam à migração anual de 600.000 a 700.000 pessoas
serviços como controle de inundações, fornecimento dessas áreas (IOM, 2008).
de água, drenagem, gestão de águas residuais, gestão
de resíduos sólidos e perigosos, energia, transporte,
construções para atividades residenciais, comerciais
e industriais, comunicação e recreação. O verdadeiro
valor da infraestrutura está na imprescindibilidade de
seus serviços socioeconômicos e ambientais: sem
eles a economia pode deixar de funcionar e diversos
sistemas humanos e ambientais podem entrar em co-
lapso.

Caso o nível do mar suba um metro por consequência


de uma mudança climática, a infraestrutura e os ha-
©BOND
6 Migration and Climate Change, IOM Migration Research
Series, No. 31, p. 9

Um guia de questões para profissionais da educação 21


CAPÍTULO 2
2. Os desastres naturais ameaçam a segurança
alimentar de diversas formas, como a perda de
econômicas limitadas, que contribuem para migrações
solo produtivo através da elevação do nível do
futuras. O fenômeno de evasão de capital humano (co-
mar, destruição de safras e danos às redes de
nhecido como brain drain – “fuga de cérebros”) já pre-
distribuição de alimentos;
ocupa países em desenvolvimento, que se esforçam
para reter sua parcela altamente instruída da popula- 3. A concorrência por terra e água escassas é
ção. Esse segmento essencial para o funcionamento exacerbada por mudanças no clima regional e
da economia é mais propenso a ter recursos para mi- também é um fator essencial em conflitos locais
grar de áreas sob ameaça constante de eventos atmos- (como Darfur): quando o sustento é ameaçado
féricos induzidos pelas mudanças climáticas. pela redução de recursos, as pessoas podem
mudar, fugir (“refugiados ambientais”) ou entrar
em conflito7. (ver caixa de texto “A desertificação
Ameaças à segurança leva à migração” na página anterior).
As mudanças climáticas não costumam ser vistas
como causas diretas de conflitos, mas sim como Entretanto, o impacto das mudanças climáticas sobre
multiplicadoras de ameaças que intensificam as vul- as questões de segurança não é direto e acontece
nerabilidades existentes e mudam a distribuição e o através de uma longa corrente de causas. Estudos de
fornecimento de recursos. Portanto, as mudanças cli- conflitos passados e recentes não chegaram a provas
máticas podem ter ação indireta, gerando condições de que tais conflitos se originaram de impactos am-
para conflitos de diversos níveis (ver Figura 15). Além bientais resultantes de mudanças climáticas8.
disso, seus impactos podem ser ampliados ou mitiga-
dos por condições subjacentes de pobreza, governo Degradação dos indicadores sociais,
e gestão de recursos, assim como pela natureza do educacionais e de saúde
impacto regional ou local.
O deslocamento populacional debilita a provisão de
Ao fazermos relações entre as mudanças climáticas e serviços médicos e programas de vacinação, dificul-
a segurança, podemos ver três áreas especialmente tando o combate às doenças infecciosas e tornando-
preocupantes:
7 Address by UN Under-secretary-General and UNEP
1. O aumento do nível do mar, acompanhado por Executive Director Achim Steiner at UN Security Council
ondas gigantes e outros eventos atmosféricos debate on The Impact of Climate Change on Maintaining
extremos, representa grande uma ameaça à International Peace and Security, 20 July 2011.
8 Ragnhild Nordås and Nils Petter Gleditsch. Climate Change
segurança, sobretudo às pequenas ilhas e zonas and Conflict. 2007.Centre for the Study of Civil War (CSCW) at
costeiras no nível do mar; the International Peace, Research Institute, Oslo (PRIO) and
Department of Sociology and Political Science, Norwegian
University of Science and Technology, Trondheim

SITUAÇÃO DE ALGUMAS REGIÕES DE CONFLITO


FIGURA 15

Migração induzida por Declínio na produção Degradação dos recursos Aumento de desastres por
causas ambientais alimentar por causas de água doce por causas causas climáticas: tempestades
climáticas climáticas e inundações

22 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
AS M U DA
A SOCIEDADE E
de deslocamento que podem se relacionar a fatores
-as mais fatais. As populações de refugiados estão ambientais. De fato, noções como “deslocamento”,
sujeitas a condições de saúde piores do que as po- “migração” e “desabrigo” (assim como a quantidade
pulações locais9. Migrantes forçados também estão de pessoas envolvidas em cada um desses itens) po-
expostos aos riscos da exploração sexual, do tráfego dem se referir a situações que vão desde algumas ho-
humano e sexual e da violência de gênero. ras dentro de um abrigo temporário temendo um fura-
cão à realocação de comunidades inteiras cujas terras
A migração resultante de problemas climáticos tam- desapareceram com o aumento do nível do mar. Os
bém pode disseminar doenças epidêmicas. A Leish- termos diversos que aparecem em discursos oficiais
maniose visceral (LV) é um exemplo. A LV é uma e não oficiais incluem: migrante ambiental¹², refugia-
doença parasitária comum, com incidência global de do ambiental¹³, deslocamento populacional induzido
500.000 casos humanos por ano. No nordeste do Bra- pelo meio ambiente – EIPM (Environmentally Induced
sil, ondas epidêmicas periódicas de LV estão associa- Population Movement), pessoa deslocada por causas
das a migrações para as áreas urbanas após longos ambientais – EDP (Environmentally Displaced Person)
períodos de seca10. (com três subgrupos: migrante ambiental, desabriga-
do ambiental e desabrigado de desenvolvimento) e
Mudanças ambientais que afetam o sustento domés- refugiado14.
tico, como secas, podem ter impacto negativo sobre
os níveis de instrução das populações afetadas. Para Questões conceituais geram diversas das dificulda-
conseguir lidar com a escassez de alimentos gerada des do debate sobre mudanças climáticas e migra-
pela seca, famílias podem ser forçadas a adotar es- ção. Um dos problemas para o reconhecimento dos
tratégias e atividades econômicas voltadas à obten- migrantes ambientais como uma situação oficial é
ção de suas necessidades alimentares imediatas. que a migração forçada por motivos ambientais não
Uma estratégia comum é interromper os estudos das é um fenômeno novo, e há muito tempo vem sendo
crianças para que elas trabalhem11. Os impactos das uma estratégia de adaptação de indivíduos e comuni-
mudanças climáticas sobre o acesso de crianças e dades. Também pode ser difícil distinguir entre migra-
adolescentes à educação deve ser considerado parte ções por motivos ambientais ou econômicos.
integrante de todas as estruturas internacionais esta-
belecidas para abordar a mudança climática global. Até o momento, a amplitude do problema não foi ple-
namente reconhecida. Entretanto, dado o número e
As considerações sobre inclusão social e mudanças o impacto crescente de mudanças ambientais extre-
ambientais também descrevem grandes desafios mas atribuídas às mudanças climáticas, a quantidade
para os migrantes ambientais. Assim como outros e a escala das migrações que virão implicam em desa-
grupos marginalizados, eles geralmente são intrusos fios futuros quanto ao destino dos migrantes.
em seu novo ambiente e contam com uma rede de
apoio menor para ajudá-los a seguir em frente, ficando Isso suscita questões sobre a melhor proteção para
em desvantagem durante a adaptação às novas condi- os migrantes ambientais (por exemplo, sua situação
ções de vida e à nova cultura. Também estão expostos legal) e as responsabilidades da comunidade interna-
a um risco maior de estresse crônico, já que o des- cional com relação a eles. Os migrantes ambientais
locamento forçado é associado a diversas questões acabam vetados pelos processos das políticas in-
sociais e de saúde, incluindo isolamento social e do- ternacionais de imigração e refúgio, e aqui se inclui
enças mentais. a resistência considerável à ideia de expandir a defi-
nição de refugiados políticos de forma a incorporar
<< A migração afeta homens e mulheres de forma “refugiados climáticos”. Os participantes do debate
diferente. Para mais detalhes, veja a seção 2.4.>> internacional sobre migração ambiental compartilham
preocupações centrais, como a multicausalidade e
o reconhecimento da constituição social da vulnera-
Proteção internacional de migrantes bilidade. No entanto, precisamos de mais pesquisas
ambientais: os desafios para construir uma compreensão melhor dos desafios
ambientais enfrentados pelos migrantes, acompanha-
Para compreender o impacto das mudanças climáticas das por estratégias de adaptação e políticas melhores
sobre a migração, é preciso separar os diversos tipos para proteger os direitos humanos dos migrantes.

9. Migration and Climate Change. International Organization


for Migration, Geneva, 2008. p. 34.
10. Ibid. p. 34. 12 Termo usado pela Organização Internacional para as
11. Carvajal, Liliana (2007). Impacts of Climate Change on Migrações (IOM).
Human Development. Human Development Report 2007-2008, 13 MC/INF/288 background paper presented at the 94th IOM
“Fighting Climate Change: Human Solidarity in a Changing Council in 2007.
World” (available at http://hdr.undp.org/en/reports/global/ 14 United Nations Geneva Convention, 1951. Environmental
hdr2007-8/papers/Liliana-Carvajal-revised.pdf) references are absent from this definition.

Um guia de questões para profissionais da educação 23


CAPÍTULO 2
(UNHCR). http://www.unhcr.org/4901e81a4.
html
Algum progresso já foi feito a esse respeito, como de-
monstrado pelo texto sobre “aumento das ações rela- 3. McLeman, R. (2011) Climate change, migration
cionadas à adaptação” do acordo da COP (Conferência and international security considerations.
das Partes) 16 da CQNUMC, em Cancun. O texto con- International Organization for Migration. IOM
vida as Partes a aprimorarem suas ações relacionadas Migration Research Series, No. 42. http://
à adaptação através de medidas para compreensão, publications.iom.int/ bookstore/free/MRS42.pdf
cooperação e coordenação dos deslocamentos, mi- 4. Migration and Climate Change (2008) IOM
grações e realocações planejados e induzidos pelas Migration Research Series, No. 31. http:// www.
mudanças climáticas, sejam eles regionais, nacionais iom.int
ou internacionais15. 5. Migration, Climate Change and the Environment
(2009) IOM Policy Brief. http:// www.iom.int/
O caminho rumo às políticas: lidando jahia/webdav/shared/shared/ mainsite/activities/
env_degradation/iom_ policybrief_may09_en.pdf
com a pobreza
6. M. Leighton. “Drought, desertification and
Mudanças climáticas são relativamente recentes migration: past experiences, predicted impacts
como área política, mas a maioria das questões apre- and human rights issues”, Migration and Climate
sentadas neste capítulo representa desafios antigos Change, UNESCO/Cambridge University Press
para os Estados e a comunidade internacional. Po- (2011)
demos concluir que as políticas voltadas à migração 7. Morton, A., Boncour, P., and Laczko, F., Human
relacionada às mudanças climáticas devem ser acom- Security Policy Challenges, Climate Change and
panhadas pela renovação dos esforços para combater Displacement, FMR 31. http://www. fmreview.
o contexto que mais torna as pessoas vulneráveis: a org/FMRpdfs/FMR31/05-07.pdf
pobreza. 8. Piguet, A., Pécoud, A. and de Guchteneire,
P. (2010) Migration and Climate Change: an
No geral, os impactos e respostas às mudanças cli- Overview. Working Paper No. 79, University of
máticas devem ser avaliados e integrados aos docu- Oxford, Centre on Migration, Policy and Society
mentos de estratégias para redução da pobreza e às (COMPAS). http://www.compas. ox.ac.uk/
estratégias para redução de conflitos. As autoridades fileadmin/files/docs/WP1079%20
políticas devem reconhecer que as medidas de adap-
tação sustentável devem ser adequadas a cada con- Piguet-Pecoud-de%20Guchteneire_01.pdf
texto, e que as respostas políticas devem integrar a 9. Refugee Studies Centre (2008) Climate Change
participação dos envolvidos locais e usar abordagens and Displacement, Forced Migration Review,
com foco na comunidade. As políticas de desenvol- Issue 31, Oxford University Press . http://www.
vimento direcionadas aos possíveis impactos migra- forcedmigration.org/browse/ thematic/climate-
tórios das mudanças climáticas devem enfatizar a change
abordagem à adaptação, à sustentabilidade e aos re- 10. Rodriguez, J., F. Vos, et al. (2009) Annual Disaster
cursos. Programas e projetos de desenvolvimento e Statistical Review 2008, The numbers and
redução da pobreza devem incorporar elementos de trends. http://www.emdat.be
resiliência em suas estratégias16. 11. Stern, N. (2007) The Economics of Climate
Change. Cambridge, Cambridge University Press
Outras referências 12. International Crisis Group. Climate Change and
1. Brown, L.B. (2006) Plan B 2.0: Rescuing a Planet Conflict. http://www.crisisgroup.org/en/key-
Under Stress and a Civilization in Trouble. http:// issues/climate-change-and-conflict.aspx
www.earth-policy.org/books/ pb2/pb2ch6_ss6 13. IOM Migration Research Series No. 33 (2008)
2. Climate change, natural disasters and human “Climate Change and Migration: Improving
displacement: A UNHCR Perspective (2009) Methodologies to Estimate Flows”.
United Nations High Commissioner for Refugees

15 UNFCCC. Cancun Adaptation Framework. Paragraph 14f,


2010.
16 Forced Migration Online. Environmentally displaced
people: understanding the linkages between environmental
change, livelihoods and forced migration. http://repository.
forcedmigration.org/show_metadata.jsp?pid=fmo:4960

24 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
AS M U DA
A SOCIEDADE E
vulneráveis devido à projeção das mudanças sobre a
média de escoamento dos rios e disponibilidade de
água, à redução na produtividade das safras em regi-
ões tropicais e secas, à exposição de áreas costeiras
2.2 Pobreza – Por que os mais a ciclones, ondas gigantes, erosões, subsidência cos-
pobres do mundo são mais teira e aumento do nível do mar (ver caixa de texto
“O caso de Bangladesh”). Por isso, os países com
vulneráveis? menos recursos arcarão com os maiores prejuízos da
mudança climática em termos de perda de vidas e de
É possível encontrar pessoas vivendo na pobreza em seus impactos sobre os investimentos e a economia.
países desenvolvidos e países em desenvolvimento, Geralmente eventos atmosféricos extremos atrasam
entre jovens e velhos, mulheres e homens. A vulnera- o processo de desenvolvimento em décadas.
bilidade de uma pessoa ou comunidade às mudanças
climáticas varia conforme a combinação das caracte- Mesmo que os países em desenvolvimento estejam
rísticas acima. Entretanto, é fato comum a todos que destinados a enfrentar os impactos mais graves da
os impactos das mudanças climáticas dificultarão ain- mudança climática, eles estão menos preparados
da mais as vidas daqueles que são pobres. para esses desafios do que os países desenvolvidos.
Por exemplo, desastres atmosféricos relacionados às
Há muitas décadas a comunidade internacional vem mudanças climáticas (como inundações e ciclones)
trabalhando em formas de lidar com a pobreza, e a es- estão propensos a causar mais mortes em países
trutura dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
foi criada para incentivar esses processos. Alcançar
esses objetivos ajudará a suavizar alguns dos sofri-
mentos futuros que as mudanças climáticas levarão
O caso de Bangladesh
aos cidadãos mais pobres do mundo. Assim como as
estratégias e ações para lidar com a pobreza, as estra- O caso de Bangladesh ilustra bem uma sociedade
tégias para lidar com os impactos das mudanças cli- gravemente afetada pelas mudanças climáticas. O
máticas também devem considerar as características país tem um litoral baixo, alta densidade populacio-
das pessoas vivendo na pobreza, pois não existe solu- nal e economia extremamente dependente da agri-
ção perfeita para lidar com todos os grupos diferentes cultura. Ciclones frequentes e seus efeitos, como a
de uma só vez. As abordagens precisam se adequar intrusão de água salgada, tornam os solos agrícolas
aos gêneros, idades e situações locais. improdutivos e ameaçam a vida e a subsistência do
povo de Bangladesh. Além disso, o país frequente-
O que define uma pessoa como mente sofre grandes inundações. Em 1998, cerca
de 68% da área geográfica do país estava inunda-
pobre? da, afetando mais de 30 milhões de pessoas. Es-
ses eventos climáticos levaram muitas vidas huma-
Na Cúpula Mundial das Nações Unidas pelo Desenvol- nas, reduziram o acesso à água potável e tiveram
vimento Social (1995), a Declaração de Copenhague impacto negativo sobre a segurança alimentar.
descreveu pobreza como “condição caracterizada pela
grave privação das necessidades humanas básicas, in- Fonte: Poverty and Climate Change: Reducing the vulnerabil-
cluindo alimento, água potável, instalações sanitárias, ity of the Poor through Adaptation (ver referência ao final do
saúde, abrigo, educação e informação.” Quando uma capítulo).
pessoa não tem meios para se alimentar, ir à escola
ou ter acesso a qualquer serviço de saúde, ela pode
ser considerada pobre a despeito de sua renda.

Capacidades diferentes de superação


A capacidade de um país ou região de superar com
êxito uma mudança climática depende extremamente
dos seus níveis de desenvolvimento humano e eco-
nômico. As disparidades no desenvolvimento mundial
fazem com que os países sejam afetados de forma
desigual pelos impactos das mudanças climáticas.
De acordo com o Quarto Relatório de Avaliação do
IPCC (2007), os países em desenvolvimento devem
sofrer mais com os impactos negativos das mudan-
ças climáticas. Países em desenvolvimento da Ásia e
da África, além de pequenas ilhas, podem ser mais

Um guia de questões para profissionais da educação 25


CAPÍTULO 2
ambientes torna essas populações vulneráveis a con-
dições de vida precárias tanto ambientais quanto geo-
em desenvolvimento, sobretudo entre as populações
gráficas, socioeconômicas, institucionais ou políticas,
mais vulneráveis que frequentemente residem em
mesmo antes de qualquer consideração relacionada
áreas geográficas precárias e em moradias abaixo do
às ameaças decorrentes da mudança climática. Even-
padrão. A capacidade institucional para lidar de forma
tos atmosféricos extremos são mais propensos a ter
bem-sucedida com tais eventos é comparativamente
efeito prejudicial sobre essas vidas já precárias.
baixa. Cerca de 96% das mortes relacionadas a de-
sastres dos últimos anos aconteceram em países em
desenvolvimento 17.
Falta de diversificação da subsistência
As mudanças de longo prazo nas condições atmos-
Os países em desenvolvimento estão menos prepara-
féricas, como aumentos na temperatura média ou a
dos para lidar com o aumento do nível do mar, com a
ocorrência mais frequente de períodos de seca mais
falta de água, com uma maior quantidade de eventos
intensos, também têm grandes efeitos negativos so-
extremos ou com os efeitos negativos das mudanças
bre as pessoas que vivem na pobreza. Em áreas nas
climáticas na agricultura. Todos esses impactos au-
quais as formas de subsistência são limitadas, uma
mentam a pressão sobre os recursos dos governos
elevação na temperatura pode reduzir a disponibilida-
desses países.
de dos recursos de água potável, ameaçando as vidas
das populações e de suas criações – que frequente-
Por que as mudanças climáticas mente são a base da subsistência da comunidade. Se-
afetam de forma mais grave as vidas e cas severas reduzem os resultados das safras, poden-
do desencadear períodos de escassez. Durante esses
subsistências das populações pobres períodos as pessoas podem ser compelidas a vender
do mundo em desenvolvimento? bens materiais como terras e utensílios agrícolas, pre-
judicando sua subsistência no longo prazo. A África,
Uma combinação de circunstâncias a Ásia e a América Latina podem ser extremamente
afetadas. O acesso reduzido à água potável e a amea-
As pessoas que vivem na pobreza geralmente não ça à segurança alimentar são duas das principais pre-
possuem bens ou recursos materiais, humanos, so- ocupações com relação aos impactos das mudanças
ciais ou naturais, e também têm acesso limitado a climáticas sobre as populações pobres.
recursos financeiros que possibilitariam lidar melhor
com mudanças rápidas de impacto negativo sobre << Mulheres compõem a maioria dos pobres do mun-
suas vidas e subsistências. Quando a vida na pobreza do que dependem do próprio ambiente, sobretudo
acontece em um país em desenvolvimento, é possí- com relação às necessidades de nutrição, água e ener-
vel que existam poucos recursos institucionais para gia doméstica. A seção 2.4 contém mais informações
lidar com quaisquer mudanças rápidas que afetem a sobre gêneros, pobreza e mudanças climáticas. >>
estabilidade ambiental, econômica e social do país.
Ou seja: o governo de um país desenvolvido provavel- Os pobres das áreas urbanas
mente pode ajudar os mais pobres de sua população
afetada a retomarem suas vidas após um furacão ou Os pobres das áreas urbanas estão entre os mais vul-
inundação. O governo de um país em desenvolvimen- neráveis aos impactos das mudanças climáticas por
to geralmente não tem as mesmas condições. diversos motivos:
• maior exposição a riscos (habitam residências
Localização física provisórias em locais e áreas não seguros,
altamente vulneráveis a desmoronamentos e
Muitas das populações mais pobres do mundo vivem eventos atmosféricos extremos);
próximas ou em terras marginais como desertos, • falta de infraestrutura para redução de riscos
planícies de inundação e áreas baixas. Viver nesses (como sistemas de drenagem ou vias que
permitam o acesso de veículos de emergência);
17 Poverty and Climate Change: Reducing the Vulnerability • menos recursos para adaptação (como
of the Poor through Adaptation, African Development
Bank, Asian Development Bank, DfID (United Kingdom),
capacidade de mudar para casas de melhor
Directorate-General for Development (European qualidade ou áreas menos perigosas);
Commission), Federal Ministry for Economic Cooperation • menor provisão de assistência pelo Estado em
and Development (Germany), Ministry of Foreign Affairs caso de desastre (em vez disso, a ação do Estado
Development Cooperation (The Netherlands), OECD,
UNDP, UNEP, The World Bank, 2003. http://siteresources. pode aumentar a exposição aos riscos, limitando
worldbank.org/INTCC/817372-1115381292846/20480623/ o acesso aos locais seguros para moradia);
PovertyAndClimateChangeReportPart12003.pdf
• menor proteção jurídica e financeira (não
possuem qualquer propriedade sobre seu local

26 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
AS M U DA
A SOCIEDADE E
das mudanças climáticas. Quando a restrição de re-
de residência, além de bens e seguros); cursos exigir a definição de prioridades, tais grupos
têm direito a receber atenção prioritária.
• menos opções para diversificação da renda.
Isso é necessário pelo bem da igualdade, que é um
Entre os impactos sobre os pobres das áreas urbanas dos princípios essenciais do tratamento almejado pe-
podemos citar: los direitos humanos. Além disso, o conhecimento a
• impactos diretos, como inundações mais respeito das consequências das mudanças climáticas
frequentes e perigosas; sobre as populações vulneráveis é essencial para se
• impactos menos diretos, como menor ter sucesso no planejamento, na implementação e na
disponibilidade de fornecimento de água potável avaliação de estratégias de desenvolvimento e redu-
aos grupos mais pobres; ção da pobreza que sejam resistentes ao clima e te-
• impactos indiretos, como eventos atmosféricos nham baixa emissão de carbono.
relacionados às mudanças climáticas que
acabam por subir o preço dos alimentos ou
danificar as bases patrimoniais.18 As mudanças climáticas e os
Objetivos de Desenvolvimento do
Como podemos enfrentar as Milênio (ODMs)
mudanças climáticas e a pobreza? Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs)
estão entre as principais iniciativas da comunidade in-
A importância da integração aos
ternacional para lidar com a pobreza. Os ODMs foram
programas de redução da pobreza lançados em setembro de 2000 por líderes de 189
nações na Assembleia Geral das Nações Unidas (ver
As mudanças climáticas já comprometem recursos e
caixa de texto com os ODMs na próxima página).
esforços para reduzir a pobreza dos países em desen-
volvimento. As mudanças climáticas e a pobreza não O primeiro objetivo (ODM1) é erradicar a miséria e a
podem ser abordadas de forma separada: as ações
devem ser abrangentes e abordar ambas as questões,
considerando, sobretudo, os impactos na agricultura,
nos recursos hídricos, no padrão e predomínio das do- Dados estatísticos separados
enças transmitidas pela água e na infraestrutura. por gênero
Melhorar a capacidade de adaptação dos governos, Ainda precisamos de dados desagregados pre-
comunidades e habitações aos impactos das mudan- cisos para verificar o quanto as estratégias de
ças climáticas é essencial para reduzir tais impactos desenvolvimento e redução da pobreza são ade-
sobre as populações vulneráveis e aumentar sua resi- quadas, e para monitorar como as mudanças cli-
liência. As estratégias de redução da pobreza devem máticas afetam as populações vulneráveis. Na
aumentar a resiliência da subsistência, dos bens e da América Latina, pouquíssimos relatórios sobre os
infraestrutura. Entretanto, tais estratégias devem in- ODMs possuem dados desagregados que descre-
corporar os conhecimentos já existentes e as estra- vam situações e disparidades que afetem comuni-
tégias de sobrevivência das populações vulneráveis, dades rurais, costeiras e indígenas, por exemplo,
sendo planejadas em conjunto com as comunidades- e que possam ser gravemente influenciadas pelas
-alvo e permitindo que elas tenham acesso às informa- mudanças climáticas.
ções sobre o clima. A desigualdade social pode afetar
As louváveis exceções ficam por conta de México
esse acesso, impedindo a adoção de uma estratégia
e Bolívia, que possuem departamentos nacionais
apropriada de sobrevivência.
de estatísticas que coletam dados desagregados
Sob a perspectiva dos direitos humanos, não basta oficiais. No México, as agências das Nações Uni-
identificar a proporção de pobres na população. É pre- das conseguem usar dados desagregados porque
ciso identificar grupos específicos (por características o censo nacional contém questões relacionadas
variadas como gênero, localização geográfica, etnia, à etnia e ao idioma. A Bolívia tenta desagregar os
religião, idade ou profissão) nos quais a pobreza esteja dados coletados no censo através de questões re-
arraigada, para que o problema da pobreza possa ser lacionadas ao idioma falado e à autoidentificação
abordado e decomposto o máximo possível (ver caixa como indígena. Entretanto, ainda precisamos de
de texto “Dados desagregados em estratégias para pesquisas mais sólidas para usar os dados coleta-
redução da pobreza: a necessidade de políticas sensí- dos e abordar corretamente a pobreza no contexto
veis às questões climáticas”). Depois, é preciso iden- da mudança climática.
tificar entre a população pobre grupos que estejam
particularmente desprovidos e vulneráveis aos efeitos
18 Ibid.

Um guia de questões para profissionais da educação 27


CAPÍTULO 2
fome. A base da solução para esses problemas envol-
ve produção agrícola e segurança alimentar, acesso a
recursos de água limpa e abundante e empregos mais
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio lucrativos – e todos esses recursos são vulneráveis às
mudanças climáticas.
ODM1: Acabar com a fome e a miséria
Objetivo 1: Entre 1990 e 2015, reduzir pela metade O ODM2 (“Educação básica de qualidade para todos”)
a porcentagem de pessoas cuja renda seja inferior a
US$ 1 por dia. também é relacionado aos impactos das mudanças
Objetivo 2: Entre 1990 e 2015, reduzir pela metade a climáticas. Os problemas trazidos por tais mudanças
porcentagem de pessoas que sofrem com a fome.
podem aumentar a necessidade de mão de obra para
a produção agrícola ou para outras atividades de sub-
ODM2: Educação básica de qualidade para todos
Objetivo 3: Até 2015, garantir que todas as crianças sistência (como a coleta de água), forçando famílias
de todos os lugares e gêneros possam concluir o a tirarem as crianças da escola. Para cumprirmos os
ensino primário.
objetivos educacionais, as atividades de subsistência
devem se tornar mais resilientes às mudanças climáti-
ODM3: Igualdade entre sexos e valorização da cas futuras. Essas mudanças também ameaçam des-
mulher truir infraestruturas, forçar fechamentos temporários
Objetivo 4: Eliminar as diferenças de gênero nos
ensinos primário e secundário, preferencialmente (de escolas, por exemplo) e aumentar o deslocamen-
até 2015, e em todos os níveis de ensino até 2015. to e a migração de famílias, debilitando e limitando as
ODM4: Reduzir a mortalidade infantil oportunidades de educação.
Objetivo 5: Entre 1990 e 2015, reduzir em dois
terços os índices de mortalidade entre crianças de As mudanças climáticas também estão ligadas ao
até cinco anos. ODM7, “Qualidade de vida e respeito ao meio am-
ODM5: Melhorar a saúde das gestantes biente”, pois ameaçam a sustentabilidade ambiental,
Objetivo 6: Entre 1990 e 2015, reduzir em três causando alterações nas relações essenciais dos
quartos o índice de mortalidade materna. ecossistemas, alterando a qualidade e a quantidade
ODM6: Combater a AIDS, a malária e outras doenças de recursos naturais disponíveis e reduzindo a pro-
Objetivo 7: Reduzir pela metade a disseminação do dutividade dos ecossistemas. Em diversos locais em
HIV/AIDS até 2015 e começar a reduzir os índices
de contaminação. desenvolvimento pelo mundo, as pessoas que vivem
Objetivo 8: Reduzir pela metade a disseminação na pobreza dependem desses recursos para sua so-
da malária e de outras doenças graves até 2015 e brevivência e subsistência diária.
começar a reduzir os índices de contaminação.
ODM7: Qualidade de vida e respeito ao meio O impacto das mudanças climáticas com relação ao
ambiente
Objetivo 9: Integrar os princípios do desenvolvimento acesso à água potável e segura e à perda de recursos
sustentável aos programas e políticas de cada país e ambientais devido aos fenômenos climáticos (como a
reverter os índices de perda de recursos ambientais. intrusão salina, as secas e inundações) está extrema-
Objetivo 10: Até 2015, reduzir pela metade a
porcentagem de pessoas sem acesso sustentável mente relacionado ao ODM7. Além disso, as mudan-
à água potável e ao saneamento básico. ças climáticas não afetarão somente a realização dos
Objetivo 11: Até 2020, melhorar de forma substancial as vidas de
pelo menos 100 milhões de moradores de favelas. ODMs 1, 2 e 7: elas se relacionam aos outros ODMs
ODM8: Uma parceria global rumo ao desenvolvimento relacionados à saúde, à segurança alimentar, aos di-
Objetivo 12: Desenvolver um sistema financeiro reitos humanos, ao governo e à igualdade de gêneros.
e comercial aberto, regulamentado, previsível e
não discriminatório, comprometido com governos
de boa qualidade, desenvolvimento e redução da
pobreza tanto nacional quanto internacional.
Outras referências
Objetivo 13: Abordar as necessidades específicas 1. Annual Report of the United Nations High
dos Países Menos Desenvolvidos (incluindo acesso dos Países Commissioner for Human Rights and Reports
Menos Desenvolvidos à exportação sem tarifas ou cotas; um
programa aprimorado para alívio da dívida de países pobres muito
of the Office of the High Commissioner and The
endividados (Iniciativa HIPC – Heavily Indebted Poor Countries); Secretary-General Report of the Office of the
cancelamento oficial de débitos bilaterais; e assistência oficial United Nations High Commissioner for Human
mais ampla ao desenvolvimento dos países comprometidos com
a redução da pobreza). Rights on the relationship between climate
Objetivo 14: Abordar as necessidades especiais dos países em change and human rights, A/ HRC/10/61, 15
desenvolvimento sem acesso ao mar e dos pequenos países January 2009.
insulares em desenvolvimento (através do Programa de Ação para
o Desenvolvimento Sustentável dos Pequenos Estados Insulares 2. Biodiversity Conservation and Response to
em Desenvolvimento e das provisões da 22ª Assembleia Geral).
Climate Change Variability at the Community
Objetivo 15: Abordar de forma abrangente os problemas de
endividamento dos países em desenvolvimento através de Level, IUCN, UNEP, UNU, 2009.
medidas nacionais e internacionais que tornem suas dívidas 3. Climate Change Adaptation: Enabling people
sustentáveis em longo prazo.
living in poverty to adapt, K. Pettengell, Oxfam
Research Report, 2010.
4. The Costs to Developing Countries of Adapting to
Climate Change: New Methods and Estimates /
28 Mudanças climáticas – Guia básico
N Ç AS CLIMÁT ICAS
AS M U DA
A SOCIEDADE E

2.3 Saúde – As mudanças


The Global Report of the Economics of Adaptation climáticas deixarão você doente?
to Climate Change Study (Consultation Draft),

P
The World Bank, 2010. esquisadores observam há muito tempo a rela-
5. Intergovernmental Panel on Climate Change ção entre clima e saúde humana. Não houve sur-
(IPCC) Third Assessment Report: Impacts, presa, portanto, quando se chegou à conclusão
Adaptation and Vulnerability, UNEP, GRID de que as mudanças no clima global podem afetar os
Arendal, 2001. requisitos essenciais para uma boa saúde em qual-
6. Poverty and Climate Change: Assessing Impacts quer lugar: ar limpo, água potável e segura, alimentos
in Developing Countries and the Initiatives of suficientes e abrigo seguro.
the International Community, C. McGuigan,
R. Reynolds and D. Wiedmer, London School As mudanças climáticas já surtem efeitos negativos
of Economics (Consultancy project for the sobre a saúde em todo o mundo. A Organização Mun-
Overseas Development Institute), 2002. dial de Saúde (OMS) estima que o aquecimento global
entre 1970 e 2004 tenha causado mais de 140.000
7. Poverty and Climate Change: Reducing the
mortes adicionais por ano19 e dificultado o controle
Vulnerability of the Poor through Adaptation,
de doenças infecciosas graves, como a malária e a
African Development Bank, Asian Development
diarreia. Essas tendências devem piorar no futuro pró-
Bank, DfID (United Kingdom), Directorate-General
ximo, a despeito do empenho atual no corte de emis-
for Development (European Commission),
sões de gases de efeito estufa (GEE) e na mitigação
Federal Ministry for Economic Cooperation
dos problemas climáticos.20
and Development (Germany), Ministry of
Foreign Affairs Development Cooperation (The Dependendo da região afetada, um clima mais quente
Netherlands), OECD, UNDP, UNEP, The World e variável também pode aumentar a frequência e a
Bank, 2003. intensidade das ondas de calor, elevar os índices de
alguns poluentes no ar, aumentar a transmissão de
doenças através da água e de alimentos contamina-
dos, comprometer a produção agrícola e aumentar os
riscos dos eventos atmosféricos extremos. As ame-
aças impostas à saúde pela mudança climática po-

19 Global health risks: Mortality and burden of disease


attributable to selected major risks. WHO, 2009.
20 Climate and health factsheet. WHO, 2005.

PROBLEMAS DE SAÚDE QUE PODEM SER CAUSADOS POR MUDANÇAS CLIMÁTICAS


Evento atmosférico Impactos sobre a saúde humana
TABELA 2

Ondas de calor e massas de • Insolação, afetando, sobretudo, crianças e idosos.


ar estagnado • Aumento na frequência das doenças respiratórias.
• Doenças cardiovasculares.
Temperaturas mais altas e • Maior exposição a doenças transmitidas por vetores (como mosquitos, roedores e
padrões de chuva atípicos carrapatos), como a malária e a encefalite japonesa, entre outras.

Eventos de precipitação • Aumento do risco de doenças transmitidas através da água contaminada e de alimentos
intensa não seguros. O esgotamento das fontes de água potável e as más condições sanitárias
podem aumentar a incidência de doenças diarreicas, como o cólera.

Secas • Má nutrição e inanição, afetando, sobretudo, o crescimento e o desenvolvimento infantil.


• Redução na produção das safras causando estresse (“estresse psicossocial”) para
agricultores e suas famílias, que podem não conseguir pagar suas dívidas durante períodos
de secas longas e/ou repetidas.

Eventos atmosféricos • Perda de vidas, ferimentos, invalidez permanente.


intensos (ciclones, • Danos à infraestrutura da saúde pública, como postos de saúde, hospitais e clínicas.
tempestades) • Perda de vidas, propriedades e terras. O deslocamento e a migração forçados por
desastres podem causar estresse psicossocial e afetar a saúde mental.

Aumento do nível do mar e • Perda de subsistências e desaparecimento do solo, desencadeando migração em massa
tempestades costeiras e causando possíveis conflitos sociais que afetarão a saúde mental.

Um guia de questões para profissionais da educação 29


CAPÍTULO 2
duos mais pobres do mundo. As pessoas que vivem
em pequenos estados insulares em desenvolvimento
dem variar conforme o local e ao longo do tempo. Por
(SIDS – Small Island Developing States) e outras áreas
exemplo: cidades que ocasionalmente sofrem com
costeiras, em megalópoles e em regiões montanhosas
períodos de calor podem esperar maior intensidade
e polares são especialmente vulneráveis. Assim como
em tais períodos; áreas propensas à malária podem
nos países em desenvolvimento, os sistemas de saúde
apresentar aumento de epidemias. A Tabela 2 mostra
e as populações dessas regiões terão de se adaptar às
alguns problemas de saúde frequentemente causa-
novas condições climáticas e enfrentar novas neces-
dos pelas mudanças climáticas.
sidades devido às condições favoráveis para doenças
<< Os impactos das mudanças climáticas sobre a infecciosas transmitidas por alimentos, água e outros
saúde afetam homens e mulheres de formas diferen- agentes. As áreas com pior infraestrutura de saúde (a
tes. Para mais detalhes, veja a seção 2.4.>> maioria delas em países em desenvolvimento) estarão
menos preparadas para a ação (ver Figura 16).
Distribuição desigual de riscos
Outras referências
Assim como outros impactos previstos das mudanças 1. Climate and health factsheet. World Health
climáticas, os efeitos negativos de tais mudanças so- Organization (WHO), 2005. http://www.who.
bre a saúde também estão distribuídos de forma de- int/globalchange/publications/factsheets/
sigual e afetam, sobretudo, os países, grupos e indiví- fsclimandhealth/en/index.html

PAÍSES COM ALTAS EMISSÕES X PAÍSES COM MAIOR IMPACTO SOBRE A SAÚDE
FIGURA 16

Bilhões de toneladas de carbono

Mortalidade da população – em milhões

Patz, Jonathan et al. Climate Change and Global Health: Quantifying a Growing Ethical
Crisis, as published in EcoHealth 4, 397–405, 2007.

30 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
AS M U DA
A SOCIEDADE E

A ligação entre gênero e mudança


climática
2. Fourth Assessment Report, Intergovernmental Um exame da correlação gênero-pobreza pela história
Panel on Climate Change, Working Group II, revela o quanto a falta de acesso à educação, saúde,
Section 8 (human health). http://www.ipcc.ch/ água, saneamento, alimentação e a exposição ao HIV
publications_and_data/ar4/wg2/en/ch8.html geram vulnerabilidades e capacidades de adaptação
3. Global health risks: Mortality and burden of diferentes em homens e mulheres com relação aos
disease attributable to selected major risks. impactos de mudanças climáticas, desastres e ges-
WHO, 2009. http://www.who.int/healthinfo/ tões ambientais ineficazes.
global_burden_disease/GlobalHealthRisks_
report_full.pdf O clima tende a ampliar essas diferenças, e o fardo
4. Protecting health from climate change. mais pesado fica com as mulheres e meninas. Essa
Messages to different groups and sectors correlação acaba por reforçar de diversas formas os
(Young people, 16–24 years old). WHO, 2008. efeitos das mudanças climáticas sobre as mulheres:
http://www.who.int/globalchange/ publications/
factsheets/WHD2008_young_ people_2.pdf Migração
5. WHO Manual for Students (South Asia Regional
Mulheres deslocadas por problemas climáticos que mi-
Office). http://www.searo.who.int/ LinkFiles/
gram em busca de trabalho enfrentam desafios para
World_Health_Day_2008_Toolkit- Student-
encontrar emprego, moradia e serviços sociais adequa-
Manual.pdf
dos, sendo prejudicadas pela discriminação de gênero.
6. WHO Manual for Teachers (South Asia Regional Outra situação possível é a de casas rurais dependen-
Office). http://www.searo.who. int/LinkFiles/ tes da agricultura: na ausência de recursos, os chefes
World_Health_Day_2008_ TeacherManual.pdf de família podem migrar para a cidade à procura de em-
7. WHO portal on climate change and health. http:// prego. Na falta de seus parceiros, as mulheres podem
www.who.int/globalchange/en/ ter maior autonomia e arbítrio caso assumam o papel
do chefe da família. Mas nem sempre isso acontece.
Em diversas regiões de Bangladesh e do Paquistão, por
2.4 Gênero – Homens e exemplo, as mulheres não podem tomar decisões im-
mulheres são afetados da mesma portantes que afetem suas famílias sem que haja per-
missão de um familiar do sexo masculino.
forma?
Desastres induzidos pelas mudanças
O que é gênero? climáticas

O
conceito de gênero descreve as funções e res- Um estudo de 200722 analisou desastres em 141 pa-
ponsabilidades dos homens e mulheres criados íses e descobriu que, nas sociedades cujos direitos
em nossas famílias, sociedades e culturas. Ele sociais e econômicos das mulheres não são garanti-
abrange expectativas sobre características, aptidões dos, a maior parte das mortes em desastres é de mu-
e prováveis comportamentos de mulheres e homens, lheres. Em sociedades cujos direitos são iguais para
respectivamente descritos como “feminilidade” e ambos os gêneros, os índices de fatalidades relacio-
“masculinidade”.21 nadas a desastres são semelhantes para homens e
mulheres23 (ver caixa de texto “Em desastres, o aces-
As funções e expectativas de gênero são aprendidas. so limitado à informação é mortal”).
Elas podem mudar com o passar do tempo e entre
diversas culturas. As funções de gênero não são bio- Agricultura
logicamente predeterminadas ou imutáveis.
A gestão e o uso dos recursos naturais também po-
Mulheres e meninas não são vulneráveis por serem o dem diferenciar homens e mulheres. Em países em
“sexo frágil”: elas são mais vulneráveis e apresentam desenvolvimento, mulheres e meninas de áreas rurais
fragilidades diferentes devido às suas funções sociais arcam com grande parte da responsabilidade sobre a
particulares. produção de alimentos fundamentais – uma ativida-
de extremamente vulnerável a eventos relacionados

22 The Gendered Nature of Natural Disasters: The Impact of


Catastrophic Events on the Gender Gap in Life Expectancy,
1981–2002, E. Neumayer and T. Plümper, 2007.
21 UNESCO Gender Mainstreaming Implementation
23 Training Manual on Gender and Climate Change, IUCN,
Framework 2002–2007, UNESCO, 2003.
UNDP, GGCA, 2009.

Um guia de questões para profissionais da educação 31


CAPÍTULO 2

às mudanças climáticas, como inundações ou secas. Em desastres, o acesso limitado à in-


Isso ameaça a produção de alimentos dessas agricul- formação é fatal
toras, e, portanto, seus recursos para sobreviver.24
Durante os ciclones ocorridos em Bangladesh em
A perda de recursos naturais como resultado de
1991, 90% das 140.000 pessoas que morreram
uma mudança climática afeta mulheres e meninas,
eram mulheres. A sociedade de Bangladesh é ex-
podendo por fim aumentar as desigualdades de tremamente segregacionista com relação a gênero.
gênero (ver Figura 17). Nesse caso, os primeiros sinais de alerta não chega-
ram à maior parte das mulheres porque as informa-
Água ções foram transmitidas nos mercados – aos quais a
maioria das mulheres não possuía acesso fácil.
Homens e mulheres têm funções e responsabilidades
diferentes com relação à água, definidas conforme o Fonte: Training Manual on Gender and Climate Change,
sexo, idade, tradições, religião, crenças e leis consue- (ver referência ao final desta seção).
tudinárias. Na maior parte do mundo as mulheres e
meninas devem garantir que haja água suficiente para
as atividades domésticas cotidianas (beber, comer, uso doméstico.25
limpar, irrigar plantas, etc.), e passam boa parte de
seu tempo coletando e usando água. Em áreas afe- Saúde
tadas pela seca, desertificação ou chuva irregular, a
coleta de água é especialmente difícil e demorada, O gênero é uma das principais variáveis na determi-
fazendo com que as mulheres e meninas tenham me- nação dos impactos diretos e indiretos das mudan-
nos tempo para outras atividades como a educação ças climáticas sobre a saúde. Por exemplo: estudos
(ver Figura 18). Em 2007, as meninas correspondiam comprovam que ondas de calor causam diferentes
a 54% da população global fora da escola, em parte problemas de saúde em homens e mulheres, tanto
devido à sua responsabilidade de encontrar água para por motivos fisiológicos quanto por motivos sociais.

24 Resource Guide on Gender and Climate Change, UNDP, 25 Education for All Global Monitoring Report, UNESCO, 2010.
2009.

DISTRIBUIÇÃO DE EMPREGOS ENTRE HOMENS E MULHERES POR SETOR


FIGURA 17

100%
90%
% de emprego de homens e mulheres

80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%

Países em África América Latina e Leste e Sudeste Oriente Médio e Norte Sul da Ásia
desenvolvimento Subsaariana Caribe da Ásia da África

Agricultura Indústria Serviços

FAO. The Role of Women in Agriculture. ESA Working Paper No. 11-02, 2011.

32 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
AS M U DA
A SOCIEDADE E
das mudanças climáticas;
• aumentar o acesso das mulheres e meninas à
As funções de gênero construídas pela sociedade ge- educação, aos conhecimentos e treinamentos,
ralmente tornam as mulheres mais vulneráveis do que divulgando informações sobre os riscos
os homens durante os desastres naturais, levando a associados às mudanças climáticas;
índices mais altos de mortalidade e morbidade. Isso
• desenvolver respostas e estratégias específicas
acontece ainda mais em países cujas mulheres te-
para a gestão de desastres gerados por
nham educação, conscientização e posição socioeco-
mudanças climáticas, colocando a dimensão do
nômica inferior aos homens, limitando sua mobilidade
gênero como um dos aspectos essenciais dos
e seu acesso à informação.26
programas e políticas.
Mulheres também ficam na linha de frente para o
contato com pessoas doentes. Quando o impacto das Outras referências
mudanças climáticas sobre a saúde aumenta os índi-
1. Resource Guide on Gender and Climate
ces de doenças transmitidas por vetores e/ou água, o
Change, UNDP, 2009. http://content.undp.
costume é chamar as mulheres para cuidar dos enfer-
org/go/cms-service/download/publication/?v
mos. Isso reduz o tempo delas para outras atividades
ersion=live&id=2087989
pelas quais são responsáveis, aumentando sua carga
de trabalho e estresse. 2. Training Manual on Gender and Climate Change,
IUCN, UNDP, GGCA, 2009. http:// www.gender-
climate.org/pdfs/Training%20Manual%20
Suavizando os impactos negativos
on%20Gender%20and%20Climate%20
das mudanças climáticas sobre as Change.pdf
mulheres e meninas 3. Gender, Climate Change and Community-based
Adaptation, UNDP, 2010. http://www.beta.
Não devemos ver as mulheres e meninas apenas undp.org/undp/en/home/librarypage/womens-
como vítimas das mudanças climáticas: elas também empowerment/gender-climate-change-and-
são poderosos agentes da mudança. Ajudá-las a admi- community-based-adaptation.html
nistrar os riscos das mudanças climáticas é essencial
para limitar tais riscos, assim como seus impactos. 4. Women, Gender Equality and Climate Change,
UN WomenWatch, 2009. http:// www.un.org/
Entre as possíveis soluções, podemos citar: womenwatch/feature/climate_ change/
• aumentar o patrimônio das mulheres, permitindo downloads/Women_and_Climate_ Change_
que elas lidem melhor com as consequências Factsheet.pdf
5. Gender and Climate Forum, UNESCO,
26 Bart W. Édes. Climate Change Impacts on Health and
Migration. Asian Development Bank. Prepared Remarks for the 2009. http://unesdoc.unesco.org/
Plenary Session on Vulnerability and Resilience in the Context images/0018/001863/186309e.pdf
of Climate Change Delhi Sustainable Development Summit, 5
February 2011.

MÉDIA DE TEMPO COLETANDO ÁGUA (1998 A 2005)


6.3
FIGURA 18

5.4
5.1
4.8

3.8
3.6
3.2 3.2
2.7
2.2 2.1
1.9
1.4 1.3
1.0 1.1 1.0
.5 .75
.25
Benin Gana Guiné Madagascar Malawi África do Sul
Média de horas gastas por semana com a coleta de água
Adaptado de Myriad Editions, “Water Carriers”

Um guia de questões para profissionais da educação 33


CAPÍTULO 2
• a degradação de sistemas alimentares e de
subsistência devido aos eventos climáticos
6. Gender and Climate Change: Mapping the
extremos;
Linkages - A Scoping Study on Knowledge and
Gaps, BRIDGE , 2008. http://www.bridge.ids. • o impacto sobre a saúde da migração de vetores,
ac.uk/reports/Climate_Change_DFID.pdf causada pelo deslocamento de criadouros de
insetos;
7. Education for All Global Monitoring Report,
UNESCO, 2010. http://www.unesco.org/new/ • o desaparecimento de heranças culturais e
en/education/themes/leading- the-international- formas de vida tradicionais e únicas.
agenda/efareport/ reports/2010-marginalization/
As ocorrências atuais e futuras de processos e even-
8. Gender differences in human loss and
tos climáticos e a possibilidade de aumento na quanti-
vulnerability in natural disasters: A case study
dade de migrantes ambientais28 desabrigados trazem
from Bangladesh, K. Ikeda, Indian Journal of
diversas questões éticas à tona.
Gender Studies, 2(2), 171–93, 1995.
9. UNESCO Gender Mainstreaming Quem receberá essas pessoas quando os impactos
Implementation Framework 2002–2007, de um desastre forem muito amplos e atingirem um
UNESCO, 2003. http://unesdoc.unesco.org/ país inteiro, por exemplo? Um Estado pode ter sua in-
images/0013/001318/131854e.pdf fraestrutura total ou parcialmente destruída, não con-
10. The Gendered Nature of Natural Disasters: The seguindo socorrer sua própria população. Quem arca-
Impact of Catastrophic Events on the Gender rá com essas responsabilidades? Os países vizinhos?
Gap in Life Expectancy, 1981–2002, E. Neumayer A comunidade internacional inteira? Ou os países
and T. Plümper, 2007. historicamente comprovados como os maiores emis-
sores de GEEs? De forma mais ampla ainda, quem
custeará as despesas? E como os custos serão distri-
buídos: entre governos ou entre agentes particulares?
2.5 Ética – Quem é responsável Nós, como seres inteligentes, devemos ser responsá-
pelo quê? veis pela proteção dos animais e das outras espécies
que vivem neste planeta, já que nossas atitudes são

O
s melhores modelos climáticos da atualidade responsáveis por sua sobrevivência ou extinção?
preveem que, a despeito de todos os esforços
para mitigação, os impactos negativos das mu- Essas questões são complexas, sobretudo por conta
danças climáticas afetarão diretamente centenas de das diversas reivindicações subjacentes envolvidas
milhões de pessoas durante os próximos 100 anos.27 (que muitas vezes se sobrepõem e entram em con-
Considerando as limitações e incertezas de nosso co- flito), e podem ter tanto dimensões corretivas e inde-
nhecimento científico, essas previsões colocam duas pendentes quanto dimensões processuais e formais.
opções para a humanidade: (a) desenvolver uma abor- Outro fator é que os danos das mudanças climáticas
dagem ética para análise e resposta aos efeitos da são difíceis de serem transferidos por meio do direi-
mudança climática global sobre nossos estilos de vida, to internacional, que frequentemente se mostra inefi-
escolhas e interações com outros ecossistemas; ou (b) caz na abordagem de casos climáticos a despeito dos
esperar soluções científicas e tecnológicas, ignorando princípios já estabelecidos, sobretudo com relação à
totalmente o aumento de conflitos entre humanos, responsabilidade dos Estados “garantirem que as ati-
seus estilos de vida e seus impactos na atmosfera. vidades dentro de seu controle ou jurisdição não danifi-
quem o meio ambiente de outros Estados ou de áreas
que estejam além dos limites da jurisdição nacional”.29
Ética e impactos das mudanças
Os instrumentos normativos existentes (como o
climáticas princípio das responsabilidades comuns, mas dife-
renciadas30) precisam ser mais analisados para que
Descrevemos nas seções anteriores alguns desafios
impostos pela mudança no clima global, como:
28 O uso de terminologias específicas pode ter grandes
• a ameaça à vida de pessoas, animais e repercussões sobre a abrangência das leis internacionais. O
ecossistemas globais e locais; termo “refugiado” tem maior proteção das leis internacionais
do que o termo “migrante”. Para mais detalhes, veja Migration
and Climate Change, No. 31. IOM, 2008.
29 Cf. UNFCCC preamble, Principle 21 of the Stockholm
27 The Ethical Implications of Global Climate Change, World Declaration (1972); Principle 2 of the Rio Declaration on
Commission on the Ethics of Scientific Knowledge and Environment and Development (1992); and Article 3 of the
Technology (COMEST), UNESCO, 2010. p. 12 Convention on Biological Diversity (1993).

34 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
AS M U DA
A SOCIEDADE E
Geoengenharia

saibamos se eles são suficientes para articulação de A geoengenharia envolve a manipulação intencional
respostas políticas apropriadas em situações reais. do meio ambiente da Terra para limitar o aquecimento
Como o espectro da migração em massa cresce junto global. Diversas técnicas estão sendo examinadas e
com a mudança climática, os riscos locais e globais pesquisadas (ver Figura 19):
têm de ser antecipados, sobretudo com relação às • a fertilização dos oceanos com ferro para
questões de justiça e direitos humanos.31 aumentar o crescimento do plâncton, que usa
Além de examinarmos e analisarmos as implicações CO2 da atmosfera para produzir matéria orgânica.
éticas e sociais dos processos ou eventos climáticos, Essa matéria orgânica também é uma forma de
devemos agir pela adaptação e mitigação das mudan- aumentar a população de peixes, ajudando a
ças climáticas. Essa é uma forma de limitar diversas alimentar a população global em expansão.
ameaças climáticas e suas consequências prejudiciais • a Redução de Dióxido de Carbono (CDR – Carbon
ao mesmo tempo. Dioxide Removal), que geralmente envolve a
captura de CO2 nas fontes de emissão (como
centrais elétricas) e seu sequestro subterrâneo
Ética e soluções para as mudanças em seguida.
climáticas • a Gestão de Radiação Solar (SRM – Solar
Quando examinamos possíveis respostas às emis- Radiation Management), procedimento pelo
sões de gases de efeito estufa, encontramos impor- qual a disseminação de partículas na estratosfera
tantes questões éticas – como no exemplo a seguir: durante muito tempo e em grande quantidade
leva ao resfriamento da atmosfera pelo bloqueio
na entrada da radiação solar.
30 Este é o sétimo princípio da Declaração do Rio, e foi mais
aprofundado no Artigo 3 da CQNUMC. Ao contrário da lei Essas técnicas podem ser consideradas antiéticas,
formal, ele incorpora questões de igualdade sem desconsiderar
a existência de diferenças substanciais entre países pois sua aplicação pode ser usada para justificar a
independentes. ausência de ações sobre as causas humanas das
31 More details on that these topics can be found in Climate mudanças climáticas. Além disso, as alterações dos
Change and Human Rights: A Rough Guide. International sistemas globais (como a atmosfera e os oceanos) po-
Council on Human Rights Policy, 2008. http://www.ichrp.org/
files/reports/45/136_report.pdf

MÉTODOS DA GEOENGENHARIA PARA ALTERAR DELIBERADAMENTE O CLIMA TERRESTRE


FIGURA 19

Produtos químicos
para poupar o ozônio Pulverização de nuvens
Refletores gigantes em
órbita
Partículas na
estratosfera
Plantio de árvores
Plantações
geneticamente
modificadas Cultivar plantas
Fertilização do mar no deserto
com ferro

Bombear CO2 líquido


no fundo do mar Bombear CO2 líquido
em rochas

Australian Academy of Science (adaptado com permissão do Lawrence Livermore


National Laboratory).

Um guia de questões para profissionais da educação 35


CAPÍTULO 2
abordagens éticas locais. Ela é muito importante para
intensificar as mudanças comportamentais de longo
dem gerar efeitos irreversíveis e consequências des-
prazo e promover a adoção de tais mudanças por to-
conhecidas para a vida e os ecossistemas.
dos. Também contribui para incentivar a adoção pelas
bases de soluções para problemas que não podem
Abordagens éticas indiretas para ser abordados pelas “elites”. Por exemplo, as crianças
superar dilemas éticos geralmente aprendem sobre desastres naturais na es-
cola e transmitem essas informações aos seus pais
Embora os debates e decisões sobre as formas de li- (ver Figura 20). Isso é comum em países em desen-
dar com a mudança climática sejam internacionais, as volvimento que possuem programas que abordam es-
abordagens éticas locais são essenciais. Objetivos éti- sas questões, mas também acontece em Estados de-
cos como a saúde ou a satisfação das necessidades senvolvidos.33 Após informados, os adultos têm mais
básicas humanas podem trazer a discussão para os condições de participar da sociedade civil e influenciar
padrões de desenvolvimento sustentável.32 Por exem- decisões sobre questões que os afetem, sobretudo
plo, uma abordagem ética indireta pode ser priorizar quando tais questões forem locais.
mecanismos que permitam o acesso de todos à ener-
gia. Essas abordagens podem incentivar soluções O ensino formal ou informal pode abordar diversos ou-
com consequências positivas sobre as mudanças cli- tros princípios e discussões éticas34 relacionados às
máticas, com implementação imediata e benefícios mudanças climáticas, com resultados especialmente
sociais. As abordagens éticas indiretas são eficazes eficazes quanto à promoção da reflexão crítica. Ver
por proporcionarem respostas a problemas concretos as mudanças climáticas em termos éticos destaca o
e cotidianos. Entretanto, para aceitar essas soluções quanto o comportamento de todos contribui, mesmo
as pessoas devem estar conscientes da necessidade
de alterar o seu modo de viver, e de que essas altera- 33 A educação também contribui para salvar vidas nos países
ções trarão melhores condições de vida. em desenvolvimento simplesmente ensinando mulheres
e crianças a nadar ou a realizar alguns procedimentos
emergenciais em caso de inundações ou outros desastres
A educação é um fator essencial na promoção de
naturais.
34 Para fins explanatórios, podemos mencionar outros
princípios importantes com relação às mudanças climáticas:
32 O direito ao desenvolvimento reconhecido pelos Objetivos o princípio do acesso igualitário às descobertas médicas,
de Desenvolvimento do Milênio tende a proporcionar uma científicas e tecnológicas, com compartilhamento de
estrutura relevante para a prática dos direitos humanos. Essa conhecimentos e benefícios; o princípio de proteção e
perspectiva deve considerar que alguns países rejeitam o promoção dos interesses das gerações atuais e futuras; o
conceito mais amplo de desenvolvimento como uma noção princípio de que o contaminador deve arcar com os custos; o
ocidental preconceituosa. princípio da prevenção.

CRIANÇAS PODEM APRENDER SOBRE OS RISCOS PARA DEPOIS ENSINAR SEUS PAIS
FIGURA 20

36 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
AS M U DA
A SOCIEDADE E

que indiretamente, para influenciar as tendências dos


sistemas ambientais e sociais. Quando pensamos e
agimos conforme nossas responsabilidades, compar-
tilhamos benefícios não só entre sociedades, mas en-
tre humanos, plantas, animais, ecossistemas e toda a
“comunidade biótica”.35

Outras referências
1. The UNESCO climate change initiative:
notably its Climate Change Education for
Sustainable Development flagship programme
and its research programme on the ‘social,
human, ethical and gender dimensions of
climate change’. http://unesdoc.unesco.org/
images/0018/001896/189620e.pdf
2. The Ethical Implications of Global Climate
Change, World Commission on the Ethics of
Scientific Knowledge and Technology (COMEST),
UNESCO, 2010.
3. Migration and Climate Change (No. 31), pp.
13–15, International Organisation for Migration,
2008. http://www.migrationdrc. org/publications/
resource_guides/Migration_ and_Climate_
Change/MRS-31.pdf
4. Climate Change and Human Rights: A Rough
Guide, International Council on Human Rights
Policy, 2008. http://www.ichrp.org/files/
reports/45/136_report.pdf
5. Environmental Education, Ethics and Action,
UNEP, 2006. http://www.unep.org/training/
downloads/PDFs/ethics_en.pdf

35 De acordo com A., Leopold (ecologista americano),


“as coisas estão certas quando preservam a integridade,
estabilidade e beleza da comunidade biótica, e estão erradas
quando não o fazem”, A Sand Country Almanach (1949).

Um guia de questões para profissionais da educação 37


C A P Í T U LO 3

RESPONDENDO
ÀS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS
N Ç AS CLIMÁT ICAS
ÀS M U DA
RE SPONDENDO
mar). As ações de adaptação podem aumentar nos-
sa capacidade de prevenção ou administração dos

O
aumento na concentração observada de gases impactos prejudiciais, ou nos ensinar a aproveitar as
de efeito estufa (GEE) desde 1750 provavel- novas condições favoráveis que surgirão. O aumento
mente condenou o mundo a um aquecimento da temperatura global e as transformações resultan-
de 1,4 a 4,3°C (em comparação à temperatura da su- tes das mudanças climáticas indicam que precisamos
perfície antes da industrialização). Pesquisadores su- adotar essas estratégias de adaptação agora.
gerem que um aquecimento inicial de 0,76°C já acon-
teceu e que outro aquecimento de 1,6°C acontecerá Este capítulo detalha estratégias de mitigação e
nos próximos cinquenta anos e assim sucessivamen- adaptação e apresenta diversas opções para cada
te durante todo o século vinte e um (ver Figura 21).
Registros recentes estimam um metro de elevação
do nível do mar até 2100. Através de empenhos ativos Trends in global
TENDÊNCIA average surface temperature
DA TEMPERATURA GLOBAL
para mitigação do CO2 podemos limitar os aumentos
Variações na tempera- Média estimada da

FIGURA 21
desses índices, mas não conseguiremos reduzir os tura entre 1961 e 1990 temperatura global
impactos associados às mudanças climáticas que já Média em °C em °C
estão acontecendo (ver Figura 22). 0.6 14.6

Os impactos observados e as mudanças previstas no 0.4 14.4


clima global pedem uma abordagem dupla que en-
volva mitigações e adaptações, lidando tanto com as
0.2 14.2
causas quanto com seus impactos. As ações de mi-
tigação visam a reduzir a extensão das mudanças cli-
máticas, diminuindo as emissões de GEE ou aceleran- 0.0 14.0

do sua remoção da atmosfera. Quanto mais ações de


mitigação realizarmos no presente, menos ações de - 0.2 13.8
adaptação serão necessárias no futuro. A mitigação
insuficiente nesse momento também aumenta o ris- - 0,4 13.6
co de resultados catastróficos, cujos custos de adap-
tação sejam excessivos ou que sejam mais potentes - 0,6 13.4
do que qualquer recurso humano (por exemplo: o der- 1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000
retimento do manto de gelo da Antártida Ocidental Fonte: US National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), 2008.
causaria um aumento de 5 a 15 metros no nível do
Zoï Environment Network and GRID-Arendal 2009

AUMENTO DO NÍVEL DO MAR – PROJEÇÕES ATÉ 2100


Nível total do mar em metros
FIGURA 22

Registros de Projeções
instrumentos do futuro
ativa
estim
Nova
CC
IP

AMAP, 2009. Summary – The Greenland Ice Sheet in a Changing Climate: Snow, Water, Ice and Permafrost
in the Arctic (SWIPA) 2009. Arctic Monitoring and Assessment Programme (AMAP), Oslo.

Um guia de questões para profissionais da educação 39


CAPÍTULO 3
a prevenir uma perigosa interferência antropogênica
uma. Também apresenta um estudo econômico das no sistema climático” (Convenção-Quadro das Na-
mudanças climáticas, examinando a contribuição da ções Unidas sobre mudanças Climáticas).
economia global para esse fenômeno e apresentando
avaliações econômicas dos impactos de tais mudan-
ças, além de diretrizes econômicas para o desenvol-
3.1 Mitigação e adaptação –
vimento de opções políticas. Por último, explicamos Uma abordagem dupla
a estrutura da política internacional de abordagem às
mudanças climáticas e os acordos globais negociados Os esforços proativos para reduzir as emissões de ga-
atualmente para “conseguir estabilizar as concentra- ses de efeito estufa (conhecidos como mitigação) e
ções de gases de efeito estufa na atmosfera de forma diminuir os danos dos impactos das mudanças climá-

IMPACTOS ASSOCIADOS COM DETERMINADOS AUMENTOS NA MÉDIA DA


TEMPERATURA GLOBAL
Impactos regionais associados à mudança na temperatura global
FIGURA 23

Os impactos podem variar conforme a dimensão da adaptação,


Média anual de mudança na temperatura global entre 1980 e 1999 o índice de mudança da temperatura e os rumos socioeconômicos

+1 ° +2 o +3 o +4 o +5 o
Espécies subsaarianas em risco de extinção:
10 a 15% 25 a 40%
ÁFRICA
Aumento de 5 a 8% das áreas semiáridas e áridas
Pessoas com escassez de água:
75 a 250 milhões 350 a 600 milhões Outras pessoas afetadas

Redução das colheitas: Redução de 5 a 12% na produção de arroz da China


Redução de 2 a 5% na produção de milho e trigo da Índia

ÁSIA Aumento na quantidade de pessoas em risco de inundações costeiras por ano:


Até 2 milhões Até 7 milhões
Pessoas expostas à escassez de água:
0,1 a 1,2 bilhão 0,2 a 1,0 bilhão Outras pessoas afetadas

entre 3000 e mais de 5000 mortes relacionadas ao calor por ano


AUSTRÁLIA/ Fluxo dos rios - 10% - 50%
Murray – Darling:
NOVA ZELÂNDIA Redução na segurança da água no leste da Austrália e em regiões da Nova Zelândia

Disponibilidade da água:
Norte da Europa: +5 a +15% +10 a +20%
Sul da Europa: 0 a -25% -5 a -35%
EUROPA
Colheitas de trigo:
Norte da Europa: +2 a +10% +10 a +25% +10 a +30%
Sul da Europa: +3 a +4% -10 a +20% -15 a +30%

Possível extinção de 25% das espécies de Possível extinção de 45% das


árvore do cerrado brasileiro espécies de árvore da Amazônia
AMÉRICA
Desaparecimento de diversas geleiras tropicais Desaparecimento de diversas geleiras de latitude média
LATINA
Aumento das pessoas expostas à escassez de água:
10 a 80 milhões 80 a 180 milhões Outras pessoas afetadas

5 a 20% de aumento na
produção das colheitas 70% a 120% de aumento nas áreas
AMÉRICA queimadas das florestas do Canadá
Cerca de 70% de aumento nos dias
DO NORTE perigosos da camada de ozônio Aumento de 3 a 8 vezes nos dias com
Redução no uso de aquecedores e aumento no uso de condicionadores de ar ondas de calor em algumas cidades

20 a 35% de redução das áreas de permafrost do Ártico Substituição de 10 a 50% da


REGIÕES tundra do Ártico por florestas
Aumento da profundidade do degelo
sazonal do permafrost 10 a 15% 15 a 25% 30 a 50% 15 a 25% do deserto polar
POLARES
do Ártico: substituído pela tundra

Aumento das inundações costeiras e dos danos à infraestrutura devido ao aumento do nível do mar
PEQUENAS Colonização das ilhas de média e alta latitude por espécies não nativas
ILHAS Perdas agrícolas de até % do PIB em ilhas localizadas
em áreas altas e até 20% em ilhas em locais baixos

Zoï Environment Network Network


Zoï Environment and GRID-Arendal 20092009
and GRID-Arendal

40 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
ÀS M U DA
RE SPONDENDO
Técnicas e tecnologias de eficiência energética po-
dem ser integradas aos setores com maior emissão
ticas (a adaptação) proporcionam abordagens diferen- de GEEs para que eles continuem produzindo os mes-
tes e complementares para tais mudanças. A mitiga- mos serviços e mercadorias usando menos energia
ção lida com as causas das mudanças e a adaptação ou nossas reservas atuais de energia. Isso inclui proje-
lida com seus efeitos sobre a sociedade e o ambiente. tos para edifícios com isolamento térmico e economia
no aquecimento, resfriamento e iluminação; aumento
A mitigação é necessária para que evitemos os impac- da eficiência do combustível usado no transporte ou
tos da mudança climática. A urgência pela redução de alteração da fonte de energia dos veículos (híbrida,
emissões de GEEs se baseia na ideia de que menos conectável e híbrida, biocombustíveis); mudança do
ações de mitigação no presente resultarão em mu- transporte rodoviário para o ferroviário; incineração de
danças climáticas maiores, que exigirão mais adapta- dejetos e captura do metano dos aterros sanitários
ção no futuro. Caso as emissões não sejam reduzidas, com recuperação de energia; e recuperação de aque-
a concentração de GEEs na atmosfera pode atingir o cimento e/ou calor pela indústria.
dobro dos níveis pré-industriais até 2035, praticamen-
te obrigando o planeta a um aumento de temperatura A captura e o armazenamento de carbono visam
de mais de 2°C. No longo prazo, haveria mais de 50% a conter as emissões em suas fontes antes que elas
de possibilidade do aumento da temperatura exceder cheguem a alturas da atmosfera nas quais possam
os 5°C. Esse aquecimento é equivalente à diferen- causar danos, além de reter permanentemente tais
ça entre a temperatura média da última era do gelo emissões. Fontes como centrais de energia elétrica
(10.000 a 12.000 anos atrás) e a temperatura atual. são ideais para esse procedimento, que ainda não é
Uma alteração tão radical geraria mudanças enormes comercializado. O uso de biomassas (como florestas)
nos locais onde as pessoas vivem e em suas formas como escoadouros de carbono já é uma técnica
de subsistência. Também podem significar mudanças aprovada de sequestro de carbono. Pesquisas em de-
radicais em cada região do mundo (ver Figura 23). senvolvimento visam a melhorar o desempenho do
sequestro de carbono de algumas espécies de árvo-
A adaptação às mudanças climáticas observadas e res. Manter as florestas existentes é essencial para
previstas já está acontecendo, apesar de ser limitada. o êxito do sequestro, mas as mudanças climáticas
Entre os exemplos de medidas de adaptação sendo também causam o aumento dos períodos de seca em
implementadas podemos citar a introdução de culti- algumas áreas, gerando mais incêndios nas florestas.
vos tolerantes à seca, a construção de casas mais re-
sistentes aos eventos climáticos, a introdução de pro- O consumo humano é o principal propulsor das emis-
teções costeiras e contra inundações e a recuperação sões de gases de efeito estufa. Ou seja: se não con-
de manguezais para reduzir a vulnerabilidade às ondas sumíssemos mercadorias e serviços, não existiriam
gigantes e ao aumento do nível do mar. emissões antropogênicas de GEE. Mas o aumento
da população global e de seus bens associado à ado-
3.2 Mitigação – Modos de ção do estilo ocidental de consumo está aumentando
uma lista já extensa de problemas de poluição am-
reduzir GEEs biental que afetam o solo, a água e a atmosfera. Mu-
danças no estilo de vida e escolhas de consumo de
É possível reduzir as emissões dos gases de efeito baixo carbono como comprar produtos locais, comer
estufa através de uma combinação de técnicas, tec- menos carne e usar transporte público não motoriza-
nologias e outras medidas, como por exemplo: do são ações práticas e individuais para mitigação dos
• uso de fontes de energia que gerem pouco ou GEE (ver Figura 24, próxima página).
nenhum carbono; As ações de mitigação devem combinar, coordenar
• aumento na economia e no uso consciente da e equilibrar todos os meios disponíveis por um
energia; resultado final melhor e mais econômico. Além
disso, a mitigação não deve ser necessariamente
• captura e armazenamento do carbono e aumento
vista como um custo. Diversos benefícios em
de seus escoadouros;
desenvolvimento econômico, criação de mercados,
• escolha de formas de consumo e modos de vida saúde e desenvolvimento tecnológico surgem
de baixo carbono.
dessas ações – além da própria redução de GEEs.
Entre as mais novas técnicas e fontes de energia com
baixa ou nenhuma emissão de carbono estão as ener-
gias renováveis (solar, eólica, geotérmica, hídrica, das
marés e oceânica), os biocombustíveis e a biomassa,
a troca de combustíveis (como do carvão para o gás
natural) e, de forma mais controversa, a energia nu-
clear.

Um guia de questões para profissionais da educação 41


CAPÍTULO 3
3.3 Mitigação – Opções
Outras referências políticas para estimular a redução
1. Intergovernmental Panel on Climate Change.
http://www.ipcc.ch/ Já temos diversas estratégias que (se implementadas
2. United Nations Environment Programme. http:// logo) podem reduzir as emissões de gases de efeito
www.unep.org/climatechange/ estufa (GEE) e ajudar a mitigar as consequências mais
graves das mudanças climáticas.
3. United Nations Framework Convention on
Climate Change. http://unfccc.int/2860.php
As autoridades políticas são fundamentais para a cria-
ção das estruturas institucionais, políticas, jurídicas
e regulatórias necessárias para permitir e incentivar
reduções significativas nas emissões. O equilíbrio cer-

COMPARAÇÃO ENTRE EMISSÕES DE GEE DE DIVERSOS ESTILOS DE VIDA


Quilos de CO2 Atividades organizadas da maior à
emitido por dia menor diferença entre ambos os
FIGURA 24

consumidores.
9
.
Mesmo conforto, emissões diferentes .
Aqueci-
mento
Uma diferença de um grau
(ambiente um pouco mais frio)
. equivale a uma redução de 6%
Neste exemplo, as emissões diárias de CO2 de duas pessoas residentes em .
Munique são decompostas entre as diversas atividades que compõem tais .
emissões, mostrando como é fácil emitir menos CO2 sem deixar de atender às .
próprias necessidades. 38kg de CO2 emitido por um consumidor padrão contra .
14kg de um consumidor mais consciente.

Mesmo que o consumi-


dor seja consciente, o
aquecimento geralmente
corresponde ao maior
A diferença se refere às gasto de energia. Lâmpadas
4
emissões de CO2 que podem comuns X
ser evitadas sem perder muito econômicas
CO2 emitido conforto.
por um consu-
midor padrão Ligados X
desligados à
Fechar ou não o chuveiro 3 noite e durante o
para lavar o cabelo almoço

Importado por via marítima


Esteira X correr (Nova Zelândia) ou rodoviária
no parque (Bavária)

2
CO2 emitido por um Banho
consumidor consciente das
questões climáticas
Almoço Lavanderia
Carne bovina X 90°C X 60°C
vitela
Secagem de
roupas 1
Carro X metrô
Esportes
Transporte Secadora X Petisco de
varal Lava-louças
maçã
Marca D X marca A

Equipamentos de
Importado por via aérea (África escritório
do Sul) ou rodoviária (Itália)

24 h
Petisco de morango Luz
(500 gramas) Aquecimento no
Pão fogão X torradeira
6 5 4 3 2 1 0 Jantar
Despertador Vegetais conge-
Elétrico X Refrige- lados X vegetais
analógico Secagem rador frescos
Observação: o cálculo é baseado em uma residência media- Secagem elétrica dos cabelos Modem DSL
na, onde um kilowatt por hora significa 530 gramas de CO2.
X por exposição Escova de
Esses valores podem ser melhorados com o uso de fontes
dentes Aquecimento Classificação A X
renováveis de energia elétrica. ao ar DVD TV da água classificação A++
Em standby X
Elétrica X
desligado
comum Em standby X
desligado Fogão elétrico X
chaleira

Zoï Environment Network and GRID-Arendal 2009

42 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
ÀS M U DA
RE SPONDENDO
meio do aumento nos impostos. É importante que os
índices dos impostos e taxas sejam altos o suficiente
para provocar uma alteração nos padrões de compor-
to entre políticas bem planejadas que incluam instru- tamento e não apenas encarecer o produto.
mentos econômicos e regulatórios pode superar as
Incentivos financeiros como abatimentos ou isen-
barreiras do mercado, sejam econômicas, tecnológi-
ções de impostos podem ser usados para estimular
cas, comportamentais ou de informações.
novos mercados para tecnologias inovadoras. Por
exemplo, a restituição do imposto de consumo sobre
Instrumentos políticos
Políticas integradas incluem as mudanças climáticas Criando incentivos financeiros para a ins-
no desenvolvimento de políticas abrangentes, facili- talação de aquecimento solar da água
tando a implementação dos mecanismos de mitiga- Às vezes uma melhor taxa de juros ajuda a fazer o
ção. melhor pelo planeta: energia limpa.
Normas regulatórias proporcionam coerência e se- Apesar de os aquecedores solares de água serem
gurança sobre os níveis de emissão, desencorajando uma solução óbvia para economia de energia em pa-
uma postura “acomodada”. Através das normas obri- íses quentes e ensolarados, seu custo ainda é proi-
gatórias os governos podem proibir materiais e equi- bitivo para muitas pessoas. Muitas vezes os bancos
pamentos considerados prejudiciais ao clima ou in- desconhecem os custos e benefícios da energia lim-
centivar sua troca. Essas normas podem ser aplicadas pa, fazendo com que não existam muitos emprésti-
à eficiência energética de construções e equipamen- mos com essa finalidade. Mas aquecedores solares
tos domésticos, ao uso de combustíveis por veículos de água podem devolver o investimento feito neles
motorizados e ao conteúdo dos combustíveis. em questão de quatro anos e proporcionar anos de
água quente “gratuita” depois desse prazo.
Redução das Emissões de Desmatamento e De- Uma residência comum com quatro pessoas e aque-
gradação (REDD+): abordagens políticas e incentivos cimento elétrico de água é responsável por cerca de
às discussões relacionadas à redução das emissões oito toneladas anuais de emissões de CO2, quase o
de GEE pelo desmatamento e degradação de flores- dobro das emissões de um carro moderno típico.
tas, além da conservação, do desenvolvimento sus- Um bom exemplo é o Prosol (iniciativa conjunta do
tentável e do aumento das reservas de carbono das PNUMA, do Ministério Italiano de Meio Ambiente, Ter-
florestas. ra e Mar e da Agência Nacional de Energia Elétrica da
Tunísia), que ajudou 105.000 famílias tunisianas a insta-
Acordos voluntários entre a indústria e o governo larem mecanismos de aquecimento solar da água com
são formas de incentivar ações do setor industrial empréstimos que somaram mais de US$ 60 milhões,
quanto às questões ambientais, entre outras, e fre- uma grande alavancagem se considerarmos que o cus-
quentemente são precursores de regulamentações. to inicial do Prosol era de US$ 2,5 milhões. O mercado
Teoricamente as indústrias são compelidas a reduzir tunisiano de aquecedores solares de água se desen-
as emissões de GEEs caso temam controles regula- volveu muito quando empréstimos com juros baixos
tórios mais dispendiosos. foram disponibilizados às famílias, com pagamentos
coletados através de faturas comuns.
Ações voluntárias (empresas, governos, grupos civis Isso reduziu o risco para os bancos locais e ao mes-
e não lucrativos) podem estimular a ação e a inova- mo tempo demonstrou à população o impacto do
ção. (ver caixa de texto “Ação voluntária de prefeitos aquecimento solar na conta de energia elétrica. O
americanos”) sucesso do programa levou o governo da Tunísia a
estabelecer uma meta ambiciosa de 750.000m² de
Instrumentos econômicos aquecedores solares de água entre 2010 e 2014,
equiparando o país à Itália ou à Espanha, países com
Impostos e taxas impõem um custo aos emissores populações muito maiores. Também houve geração
sobre cada unidade de poluentes liberados. Por exem- de empregos, com criação de 42 fornecedores e
plo, o imposto sobre o carbono é um imposto ambien- mais de 1000 empresas de instalação. Os setores
tal cobrado sobre o carbono contido em combustíveis. do turismo e da indústria também estão adotando
Ele pode ser aplicado sobre a queima de combustíveis a iniciativa, com 47 hotéis envolvidos até o final de
fósseis (carvão, gás natural e produtos à base de pe- 2009 e planos para incentivar o uso amplo da energia
tróleo, como gasolina e combustível para aviões) con- solar pela indústria.
forme seus índices de carbono, tornando o uso de tais
Reproduzido a partir do Relatório Anual UNEP 2010.
combustíveis mais caro. Além disso, o imposto sobre http://www.unep.org/annualreport/2010/
o carbono aumenta a competitividade de tecnologias
sem emissões (como as energias eólica, solar, hídrica
e nuclear), ajudando a proteger o meio ambiente por

Um guia de questões para profissionais da educação 43


CAPÍTULO 3
a compra e instalação de painéis solares pode incenti-
var empresas e residências a investirem na instalação
Relatório Stern: um estudo econômico dessa tecnologia (ver caixa de texto “Criando incenti-
vos financeiros para a instalação de aquecimento so-
das ações precoces sobre as mudanças lar da água” na página anterior)
climáticas
“Este Relatório teve como base diversas evidências A comercialização de emissões cria um mercado e
sobre os impactos das mudanças climáticas e seus um valor de mercado (preço) para a poluição – nesse
custos, usando diversas técnicas para avaliar custos caso, o carbono. É definido um limite para as emis-
e riscos. De todas as perspectivas adotadas, os resul- sões permitidas, que é então distribuído entre as fon-
tados do Relatório levam a uma conclusão simples: tes autorizadas de emissão (indústrias) na forma de
os benefícios da ação precoce e intensa ultrapassam licenças. Os proprietários das licenças podem tanto
extremamente os custos econômicos da inércia. usá-las quanto comercializá-las no mercado de for-
ma semelhante ao comércio de ações. Governos ou
As mudanças climáticas afetarão os elementos bá- empresas que precisem aumentar suas emissões de-
sicos da vida humana em todo o mundo: o acesso à vem adquirir licenças daqueles que tiverem estoque
água, a produção de alimentos, a saúde e o ambien- excedente. Na prática, o comprador paga uma taxa
te. Com o aquecimento global, centenas de milhões por poluir e o vendedor é recompensado por reduzir
de pessoas podem sofrer com a fome, a escassez
de água e as inundações costeiras.
Usando os resultados de modelos econômicos for- Ação voluntária de prefeitos
mais, o Relatório estima que a falta de ação no pre-
sente gerará custos e riscos equivalentes à perda americanos
de pelo menos 5% do PIB global a cada ano para Acordo de proteção ao clima da conferência de
sempre. Se considerarmos uma variedade maior de prefeitos americanos
riscos e impactos das mudanças climáticas, os da- Em 16 de fevereiro de 2005, o Protocolo de Kyoto
nos estimados podem chegar a 20% do PIB ou mais. (acordo internacional para lidar com os problemas
Em comparação, os custos das ações (redução das climáticos) foi adotado como lei pelos 141 países
emissões de gases de efeito estufa, evitando os pio- subscritos até tal data. No mesmo dia, Greg Nickels,
res impactos das mudanças climáticas) podem ser Prefeito de Seattle, lançou essa iniciativa para pro-
limitados a cerca de 1% do PIB a cada ano. mover os objetivos do Protocolo de Kyoto através da
liderança e ação de pelo menos 141 cidades ame-
Os investimentos realizados nos próximos 10 a 20 ricanas. Em maio de 2007, Kathy Taylor, Prefeita de
anos terão efeito profundo sobre o clima da segunda Tulsa, tornou-se a 500ª prefeita a aderir. As cidades
metade deste século e do próximo. As ações que participantes do Acordo se comprometem com as
realizarmos nesta e nas próximas décadas podem seguintes ações:
colocar em risco nossas atividades econômicas e
financeiras em escala semelhante à associada às • Esforçar-se para realizar ou ultrapassar os objetivos
grandes guerras e à depressão econômica da primei- do Protocolo de Kyoto em suas próprias comunida-
ra metade do século 20. E reverter essas mudanças des através de ações que vão de políticas contra o
será muito difícil – ou impossível. alastramento urbano a projetos de recuperação de
florestas, passando por campanhas de informação
Portanto, precisamos de ações intensas desde já. ao público;
Como a mudança climática é um problema global, a • Pressionar os governos estaduais e o governo fe-
resposta a ela deve ser internacional, baseada em uma deral por programas e políticas que visem a realizar
visão compartilhada de objetivos de longo prazo e es- ou ultrapassar os objetivos de redução na emissão
truturas para acelerar o ritmo das ações durante a pró- de gases de efeito estufa sugeridos para os Estados
xima década e construída sobre abordagens de reforço Unidos pelo Protocolo de Kyoto (redução de 7% nos
mútuo nos âmbitos nacional, regional e internacional.” índices de 1990 até 2012);
Extraído do Resumo Executivo da revisão publicada por • Pressionar o Congresso americano por uma legis-
Sir Nicholas Stern, Chefe do Serviço Econômico do Go- lação bipartidária para redução dos gases de efeito
verno e Conselheiro de economia de mudanças climáti- estufa, que estabeleceria um sistema nacional de
cas e desenvolvimento em 2007. comércio de emissões.
http://www.hm-treasury.gov.uk/media/9/9/CLOSED_ http://www.usmayors.org/climateprotection/agree-
SHORT_executive_summary.pdf ment.htm

44 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
ÀS M U DA
RE SPONDENDO
mudanças climáticas presentes e futuras.

suas emissões. Portanto, quem puder reduzir suas


Adaptação na teoria: categorias de
emissões a um custo menor do que o custo da aqui-
sição de licenças vai fazê-lo, reduzindo a poluição ao adaptação
menor custo para a sociedade.
As respostas de adaptação podem ser divididas em
Diversas dessas políticas estabelecem preços reais diversas subcategorias que descrevem os fatores de-
ou implícitos para o carbono, criando incentivos signifi- sencadeadores, períodos e sistemas envolvidos. A Ta-
cativos para que produtores e consumidores invistam bela 3 lista exemplos de atividades de adaptação para
em produtos, tecnologias e processos com emissões diversas categorias.
menores. Com o aumento no preço dos combustíveis
fósseis, as alternativas de baixa ou nenhuma emissão A adaptação autônoma não é uma resposta cons-
de carbono se tornarão mais competitivas. ciente às mudanças climáticas: é desencadeada por
alterações ecológicas nos sistemas naturais e por al-
A necessidade de começar a agir terações de mercado ou bem-estar nos sistemas hu-
manos.
Os países podem usar diversas estratégias para re-
duzir as emissões de GEE, desde que comecem a Por outro lado, a adaptação planejada é resultado de
agir. As atitudes de agora aumentam a possibilidade decisões políticas deliberadas e baseada na consciên-
de evitar várias das consequências mais graves da cia de que as condições mudaram ou mudarão em
mudança climática global. Atitudes como estabelecer breve.
preços eficazes para o carbono, intensificar regula-
mentações como padrões de eficiência e aumentar o A adaptação antecipatória é feita antes que os impac-
financiamento governamental para a pesquisa, o de- tos apareçam, enquanto a adaptação reativa ocorre
senvolvimento e a comprovação de fontes de energia depois que os impactos iniciais da mudança se ma-
com pouca ou nenhuma emissão de carbono podem nifestam.
incentivar soluções climáticas.
Também é possível fazer uma diferenciação baseada
Manter procedimentos “acomodados” e atrasar a no sistema vivo no qual a adaptação ocorre: o sistema
implementação das estratégias de mitigação prova- humano ou o sistema natural. Dentro do sistema hu-
velmente gerará um futuro com maior quantidade de mano, as adaptações públicas e privadas descrevem
emissões, aumentando o risco de impactos graves e se interesses públicos ou privados motivaram a deci-
irreversíveis das mudanças climáticas. Quanto mais são pela adaptação.
esperarmos para agir, mais gastaremos tentando li-
mitar as mudanças climáticas e nos adaptando às EXEMPLOS DE OPÇÕES DE ADAPTAÇÃO
inevitáveis consequências (ver caixa de texto sobre o Antecipatória Reativa
TABELA 3

Relatório Stern na página anterior). - Mudanças


na duração da
estação de
Outras referências germinação
1. Intergovernmental Panel on Climate Change. Sistemas - Mudanças na
naturais composição dos
http://www.ipcc.ch/
ecossistemas
2. United Nations Framework Convention on - Migração para os
Climate Change. http://unfccc.int/2860.php pântanos
3. United Nations Environment Programme. http:// - Aquisição de - Mudanças nas
www.unep.org/climatechange/ seguros práticas de cultivo
- Constr. de casas - Mudanças nos
Público

sobre estacas prêmios dos


3.4 Adaptação – Encarando uma - Alteração dos seguros
projetos de - Aquisição de
nova realidade perfuratrizes condicionadores
Sistemas petrolíferas de ar
A variabilidade e as mudanças climáticas resultam em humanos - Sistemas de - Pagamentos
impactos (descritos nas seções 1 e 2 deste guia) que alertas antecipados compensatórios e
exigem alterações nos sistemas naturais e humanos. - Novas regras subsídios
Privado

para projetos e - Reforço das


A adaptação é voltada à realização de tais alterações construções regras para
para reduzir danos ou explorar oportunidades benéfi- - Incentivos para a construções
cas. Apesar de indivíduos e comunidades estarem em realocação - Recuperação de
adaptação permanente às variações climáticas, essa praias
experiência não é suficiente para atender à escala das

Um guia de questões para profissionais da educação 45


CAPÍTULO 3
Adaptação na prática: estágios
essenciais no planejamento para a
Avaliação de riscos e vulnerabilidades adaptação
Uma avaliação típica de riscos e vulnerabilidades
possui diversas etapas: O primeiro estágio do planejamento para a adaptação
é a identificação das vulnerabilidades presentes e fu-
1. registro ou listagem de todos os bens materiais turas e a determinação dos riscos climáticos. A vulne-
ou sociais a serem avaliados; rabilidade pode ser definida como quanto um siste-
2. determinação das consequências das mudanças ma é suscetível ou indefeso com relação aos efeitos
climáticas sobre os bens listados (como aumento adversos das mudanças climáticas. A vulnerabilidade
do nível do mar, períodos prolongados de seca, de um sistema se relaciona à sua exposição, sensi-
temperaturas mais altas no verão, etc.) com clas- bilidade e capacidade adaptativa. As avaliações de
sificação de “insignificante” a “catastrófica”; vulnerabilidade consideram mudanças nas condições
3. avaliação da probabilidade das consequências se ambientais e socioeconômicas, impactos biofísicos e
tornarem reais com base em conhecimentos e socioeconômicos dos estresses climáticos e a capaci-
modelos atuais; dade adaptativa do sistema.
4. referências cruzadas entre a gravidade das con- Para compreender o potencial de vulnerabilidade fu-
sequências e a probabilidade de as mesmas se tura, é preciso identificar os agentes ocultos da vul-
tornarem reais, usando uma matriz de riscos (ver nerabilidade. Para avaliação de riscos climáticos, às
Tabela 5). vezes é possível usar cenários e modelos no desen-
Na análise final, os bens materiais e sociais mais su- volvimento de projeções.
jeitos a impactos catastróficos são priorizados no pla-
nejamento de adaptações. Bens com probabilidade Após estabelecer uma compreensão das vulnerabi-
mínima ou consequências insignificantes têm menor lidades e dos riscos climáticos de uma comunidade
prioridade. ou área é preciso identificar as possíveis opções de
adaptação. Essas opções podem ser planejadas para
Os sites a seguir têm mais informações sobre as proporcionar benefícios em todos os cenários futuros
avaliações de riscos e vulnerabilidades: possíveis, incluindo a ausência de mudanças climáti-
• http://cses.washington.edu/db/pdf/snoveretalgb-
cas (as medidas sem chance de arrependimento – no
574ch8.pdf
regrets), ou podem ser compostas por medidas espe-
• http://cses.washington.edu/db/pdf/snoveretalgb-
cialmente criadas para antecipar as mudanças climá-
574ch9.pdf
• http://www.lgant.asn.au/sustainability-environment/ ticas (medidas adaptadas ao clima – climate justified).
climate-change-risk-assessment-and-adaptation
A Tabela 4 mostra alguns exemplos de possíveis medi-
das de adaptação para diferentes problemas climáticos.

OPÇÕES DE ADAPTAÇÃO PARA ALGUNS PROBLEMAS RELACIONADOS AO CLIMA


Problema Exemplos de opções de adaptação
TABELA 4

Secas Coleta das águas pluviais; Conservação e redução do desperdício de água; Restauração de
ecossistemas; Alterações nas práticas agrícolas, como mudanças para cultivos resistentes
à seca e cultivos alternados; Armazenamento de grãos; Diversificação econômica.

Inundações Restauração da vegetação próxima aos leitos dos rios; Construções elevadas (casas,
hospitais, escolas, etc.); Vias resistentes a inundações; Planejamento do uso do solo;
Sistemas de alertas antecipados.

Aumento do nível do mar Proteção e restauração dos pântanos, brejos e manguezais costeiros; Defesas e muros
costeiros; Consideração dos impactos das mudanças climáticas durante o planejamento de
infraestruturas.

Temperaturas extremas Ajustes nos períodos e locais de pastagem; Plantio de árvores frondosas; Mudança
para cultivos resistentes ao calor; Melhorias na saúde pública; Controle e erradicação de
doenças.

Ventanias e ciclones Casas e infraestruturas resistentes ao vento; Reflorestamento; Plantio de vegetação


quebra-vento; Sistemas de alertas antecipados.

46 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
ÀS M U DA
RE SPONDENDO
Existem formas de combinar os programas de adap-
tação e mitigação. Por exemplo, cultivar manguezais
ao longo de uma área costeira sequestra carbono ao
mesmo tempo em que proporciona defesa contra on-
As opções de adaptação identificadas geralmente são das gigantes.
avaliadas para classificação e seleção das medidas de
adaptação a serem implementadas. Alguns dos crité- Os esforços para mitigação também podem aumentar
rios possíveis para essa avaliação incluem a eficiência, a resiliência e a capacidade de adaptação das comu-
o custo, a viabilidade, os impactos socioeconômicos nidades às mudanças nas condições climáticas locais.
e a sustentabilidade da opção de adaptação cogitada Reduzir a perda de habitats naturais e o desmatamen-
(ver caixa de texto “Avaliação de riscos e vulnerabilida- to pode ter diversos benefícios quanto à conservação
des” na página anterior). da biodiversidade, do solo e da água. Essa redução
pode ser implementada de formas sustentáveis, tanto
Adaptação inclusiva econômicas quanto sociais. Por exemplo, o reflores-
tamento e as plantações sustentáveis de bioenergia
A integração das medidas de adaptação aos proces- podem recuperar terras degradadas, administrar o
sos e atividades de desenvolvimento existentes é co- escoamento da água, reter o carbono do solo e be-
nhecida como “inclusão”. Ela envolve a consideração neficiar economias rurais37, melhorando a capacidade
sistemática dos riscos das mudanças climáticas em de adaptação das comunidades aos impactos das mu-
todo o processo de planejamento para o desenvolvi- danças climáticas.
mento. Devido às relações entre as mudanças climá-
ticas, o desenvolvimento e a redução da pobreza, as
adaptações devem ser sustentadas por uma aborda-
Outras referências:
gem política integrada. Por mais que algumas situa- 1. OECD (2009) Policy Guidance on Integrating
ções precisem de medidas autônomas de adaptação, Climate Change Adaptation into Development
na maioria dos casos as atividades de adaptação de- Co-operation. http://www.oecd.org/
vem ser implementadas como parte de um conjunto dataoecd/0/9/43652123.pdf
de medidas dentro dos ciclos de decisões e proces- 2. USAID (2007) Adapting to Climate Variability and
sos de desenvolvimento já existentes.36 Change: A Guidance Manual for Development
Planning. http://pdf.usaid.gov/ pdf_docs/
Integrar a adaptação às mudanças climáticas com as PNADJ990.pdf
atividades de desenvolvimento é essencial para que 3. UNDP (2010) Designing Climate Change
os governos realizem os Objetivos de Desenvolvimen- Adaptation Initiatives: UNDP Toolkit for
to do Milênio, além dos objetivos nacionais relacio- Practitioners. http://www.adaptationlearning.
nados de erradicação da pobreza e desenvolvimento net/sites/default/files/ Toolkit_for_Designing_
sustentável. C l i m a t e _ C h a n g e _ Ad a p t a t i o n _ I n i t i a t i ve s
November_2010.pdf
Natureza complementar da mitigação e 4. Schipper and Burton (2008) The Earthscan
da adaptação Reader on Adaptation to Climate Change
5. UNFCCC Nairobi work programme on impacts,
A adaptação e a mitigação climáticas não funcionam vulnerability and adaptation to climate change:
de formas separadas, mas como um conjunto com- http://unfccc.int/adaptation/nairobi_work_
plementar de ações que se combinam para compor programme/items/3633.php
uma estratégia abrangente de redução das emissões
6. Eldis Climate Change Adaptation. http://www.
de GEE e dos impactos das mudanças climáticas.
eldis.org/go/topics/dossiers/climate-change-
36 Policy Guidance on Integrating Climate Change Adaptation adaptation
into Development Co-operation, 2009. http:// www.oecd.org/
dataoecd/0/9/43652123.pdf) 37 Intergovernmental Panel on Climate Change (2007).
Climate Change 2007: Synthesis Report. Geneva, Switzerland.
MATRIZ DE RISCOS
TABELA 5

Consequências
Propensão
Insignificante Menor Moderada Maior Catastrófica
Quase certa médio alto alto extremo extremo
Provável médio médio alto alto extremo
Possível baixo médio alto alto alto
Improvável baixo baixo médio médio alto
Rara baixo baixo médio médio alto

Swan River Trust. Climate Change Risk Assessment Project.. 2010

Um guia de questões para profissionais da educação 47


CAPÍTULO 3
Separando o crescimento econômico
7. WeAdapt. http://www.weadapt.org da depredação ambiental
8. Adaptation Learning Mechanism. http://www.
adaptationlearning.net O crescimento econômico ajuda a gerar empregos e
a tirar as pessoas da pobreza. O crescimento verde
9. UNEP Climate Change Adaptation. http://www.
também pode levar à implementação de práticas de
unep.org/climatechange/adaptation
produção e consumo mais sustentáveis com os bene-
10. IPCC (2007) Climate Change 2007 – Impacts, fícios da gestão mais eficiente de recursos e da redu-
Adaptation and Vulnerability. Contribution of ção nas emissões de GEE.
Working Group II to the Fourth Assessment
Report of the IPCC Os níveis de consumo nacional determinam direta-
mente quantos recursos naturais são necessários
3.5 Economia e seus aspectos para atender à demanda total da sociedade por mer-
cadorias e serviços, além de determinar indiretamen-
– Parte do problema e da solução te quantos resíduos são gerados. Isso é relevante, so-
bretudo, para o mundo desenvolvido, que demonstra
Como a economia contribui com a historicamente altos índices de crescimento econômi-
co e consumo, mas também começa a ter relevância
mudança climática? em algumas grandes economias emergentes.
Os principais desencadeadores das mudanças climá-
A produção e a provisão de mercadorias e serviços
ticas antropogênicas são as escolhas feitas pelos indi-
tradicionalmente causa deterioração ambiental. En-
víduos, empresas e governos durante a produção, co-
tretanto, os progressos políticos, tecnológicos, de
mercialização e consumo de mercadorias e serviços.
gestão de recursos e pensamento comercial criaram
Um bom exemplo disso é a dependência (sobretudo
a possibilidade de uma “economia verde” que separa
dos países desenvolvidos) de transporte, aquecimen-
o crescimento econômico dos danos ambientais (ver
to e eletricidade com altas emissões de carbono, ba-
caixa de texto “Rumo à economia verde”).
seados na combustão de combustíveis fósseis. As de-
cisões econômicas que possibilitam um cenário não
são determinadas apenas pelos mercados e preços: Mudanças na tecnologia
também são influenciadas por fatores ambientais,
políticos, sociais e culturais. Uma economia nacional As mudanças tecnológicas se relacionam aos tipos de
pode colaborar com as mudanças climáticas de três tecnologias em desenvolvimento, sobretudo, em seto-
formas: separando o crescimento econômico da dete- res de alto consumo energético (geração de energia,
rioração ambiental, mudando as tecnologias e o tama- transporte e indústrias como mineração, cimento, pro-
nho de sua população. dutos químicos, ferro e aço). A maioria das tecnologias

COMPARAÇÃO ENTRE AS EMISSÕES DE GEE TOTAIS E PER CAPITA


FIGURA 25

Emissões totais (milhões de toneladas métricas de CO2) Emissões per capita (Toneladas de CO2 /capita)
7000 35

6000 30

5000 25

4000 20

3000 15

2000 10

1000 5

0 0
Rú os

ita
a

Uc a
Áfr tália
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Co Unid

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Swan River Trust. Climate Change Risk Assessment Project.. 2010

48 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
ÀS M U DA
RE SPONDENDO
nados às mudanças climáticas. Cada grupo da popula-
estabelecidas atualmente ajuda a sustentar o cresci- ção contribui de uma forma. A idade das construções,
mento econômico dos países, mas faz isso às custas o tamanho da residência, a distribuição espacial e,
da natureza e do clima. Isso acontece porque a maioria sobretudo, o nível de desenvolvimento: todos afetam
dessas tecnologias depende de energias obtidas de as emissões per capita. Na maioria dos casos os paí-
combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gasolina). ses com índices mais altos de pobreza e crescimento
populacional contribuem menos para a emissão de
É importante compreender que o crescimento econô- gases de efeito estufa. Mas se os países com menor
mico não é a única causa para o problema climático, renda não trilharem novos caminhos de desenvolvi-
mas é parte integrante do crescimento e do tipo de mento com menores emissões de carbono, a melhora
desenvolvimento perseguidos: a economia baseada em seus padrões de vida trará maior emissão de ga-
em combustíveis fósseis que domina nossa socieda- ses de efeito estufa per capita.
de. A princípio podemos respeitar a natureza e o clima
e sustentar nossos níveis de consumo e crescimento Ao observarmos as emissões de GEE de diversos pa-
econômico usando as energias de forma mais eficien- íses vemos que os índices variam conforme o critério
te e mudando para tecnologias energéticas de pouca usado, se emissões totais ou per capita. Se usarmos
ou nenhuma emissão de carbono. o total de emissões como critério, a Figura 25 mos-
tra que a China e os Estados Unidos são os maiores
Tamanho da população emissores de carbono. Mas, ao considerarmos as
emissões per capita, os maiores emissores são a Aus-
Diversos problemas ambientais são afetados pelo trália, os Estados Unidos, o Canadá e a Arábia Saudi-
crescimento populacional, inclusive aqueles relacio- ta. As emissões per capita são um bom indicador de
quais países podem motivar mudanças no estilo de
vida para reduzir as emissões de GEE.
Rumo à economia verde
Nos últimos dois anos vimos a ideia de “economia
Como a economia avalia os impactos
verde” sair das discussões dos especialistas em das mudanças climáticas e contribui
economia ambiental e invadir a maioria dos discur- com as respostas políticas?
sos políticos.
O PNUMA define economia verde como aquela que Avaliando os impactos das mudanças
resulta em melhoria no bem-estar humano e na climáticas
igualdade social ao mesmo tempo em que reduz os
riscos ambientais e a escassez ecológica. Em sua A determinação precisa dos impactos das mudanças
expressão mais simples, uma economia verde tem climáticas é essencial para construir boas políticas cli-
baixas emissões de carbono, é eficiente quanto aos máticas de adaptação e mitigação: ela permite que os
recursos e socialmente inclusiva. Em uma economia governos calculem o valor dos danos a serem evitados
verde o aumento de renda e empregos deve ser di- e o custo atribuído a determinada ação de controle cli-
recionado por investimentos públicos e privados que mático. É possível avaliar algumas mudanças climáti-
reduzam as emissões de carbono e a poluição, au- cas que se associam aos preços de mercado ou aos
mentem a eficiência energética e do uso de recursos “impactos de mercado” (como a destruição dos bens
e previnam a perda da biodiversidade e das ativida- materiais de uma empresa por um desastre relaciona-
des do ecossistema. do ao clima). Outros aspectos são difíceis de avaliar por
O programa rumo à economia verde (principal resul- não estarem sujeitos a transações de mercado: são
tado da Iniciativa pela Economia Verde) demonstra os “impactos não comerciais” (como o valor ecológi-
que tornar uma economia verde não é um atraso co das reservas florestais destruídas, a perda de vidas
no crescimento, mas sim um novo mecanismo de humanas ou a redução no número de pessoas com
desenvolvimento, uma nova fonte para trabalhos acesso à água potável). Em outras palavras, as mudan-
dignos e uma estratégia vital para a eliminação da ças climáticas podem não só resultar em danos econô-
pobreza persistente. micos graves e diretos como também limitar o desen-
volvimento econômico devido aos danos às pessoas e
Fonte http://www.unep.org/greeneconomy aos sistemas naturais. A avaliação das atividades dos
ecossistemas também pode ajudar no processo deci-
sório da adaptação e da mitigação.

As consequências das políticas e ações de mitigação


climática dependem extremamente da abordagem eco-
nômica adotada para avaliação das mudanças climáticas.
Por isso é importante distinguir entre os dois tipos de
abordagem: modelos tradicionais/ convencionais e no-
vas formas alternativas de se olhar para um problema.

Um guia de questões para profissionais da educação 49


CAPÍTULO 3
das políticas públicas. A ACB compara os custos do
controle das emissões de GEE com os benefícios da
Modelos tradicionais/ convencionais contenção dos danos induzidos pelo clima. Ela já foi
questionada tanto da perspectiva fundamental da teo-
Os modelos econômicos tradicionais usam duas abor- ria econômica quanto da perspectiva da ética e justiça
dagens: (1) concentração exclusiva nos impactos de social por distorcer o significado dos valores associa-
mercado; ou (2) determinação de valores monetários dos ao bem-estar social.39, 40 Evidências mostram que
para todos os impactos possíveis e agregá-los sob um o uso das abordagens econômicas tradicionais leva à
único valor. inércia quanto às iniciativas climáticas, fazendo com
que as pessoas prefiram adiar seus esforços. Isso
A primeira abordagem subestima boa parte das mu- acontece a despeito das evidências científicas que
danças climáticas. Por exemplo: o Relatório Stern38 demonstram que as mudanças climáticas podem ter
indica que o custo das mudanças climáticas para a consequências catastróficas no longo prazo, justifi-
economia global é de 5% se considerarmos apenas cando ações imediatas.41
os impactos de mercado, mas sobe para 20% quando
os impactos não comerciais são incluídos. Quando os Formas alternativas de encarar o
impactos não comerciais são considerados, tendem
problema
a receber valores arbitrários e controversos devido ao
uso da Análise Custo-Benefício (ACB) na construção
O pensamento novo e alternativo na área de econo-
38 The Economics of Climate Change. The Stern Review, N. mia climática está emergindo. Um de seus exemplos
Stern, Cambridge University Press, 2007. é a abordagem preventiva ao controle climático, que
não precisa de informações perfeitas a respeito dos
possíveis danos e benefícios (como a economia tradi-
Desenvolvendo a análise de cional exigiria).42
critérios múltiplos
A mudança climática é um problema complexo e Sob essa abordagem, uma política climática pode ser
difuso e seus impactos são cercados de incertezas baseada em princípios de risco ou segurança que le-
multifacetadas. A definição de prioridades é atrasada vam a investimentos para proteção contra eventos
pela falta de descrições sistemáticas e abrangentes que nem sempre acontecem, mas que podem causar
das questões abordadas, e pelas ligações e conces- enormes danos se ocorrerem.
sões envolvidas. É preciso ter uma direção estrutu-
rada para apoiar o planejamento de políticas de lon- Uma alternativa promovida é a avaliação de políticas
go prazo na área das mudanças climáticas, e essa climáticas através de critérios multidimensionais eco-
direção deve considerar custos e impactos diretos e
indiretos, tanto econômicos quanto sociais, ambien-
tais e institucionais. 39 A análise custo-benefício pode, por exemplo, levar à
conclusão de que os resíduos tóxicos devem ser despejados
O objetivo da abordagem e do projeto MCA4climate no mundo em desenvolvimento. Afinal, os países em
é ajudar a preencher essa lacuna, evidenciando dire- desenvolvimento já têm expectativas de vida curtas, e seu
baixo rendimento e produtividade significam que os depósitos
ções metodológicas para permitir que governos na- de lixo são possíveis tanto como ação como consequência.
cionais (sobretudo de países em desenvolvimento) http://www.bmj.com/content/330/7499/1091.1.extract
identifiquem escolhas políticas de mitigação e adap- 40 Priceless: On Knowing the Price of Everything and the
Value of Nothing, F. Ackerman and L. Heinzerling, New Press,
tação que tenham baixo custo, sejam eficientes e 2004.
não prejudiquem a população pobre. Esse programa 41 ‘Summary for Policymakers’, S. Solomon, D. Qin, M.
busca dissipar o temor dos altos custos de mitigação Manning, Z. Chen, M. Marquis, K.B. Averyt, M. Tignor and H.L.
e adaptação relacionados às ações climáticas. A me- Miller (eds)] Climate Change 2007: The PhysicalScience Basis,
Contribution of Working Group I to the Fourth Assessment
todologia desenvolvida é baseada em uma aborda- Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change
gem multicriterial (MCA – Multi-Criteria Approach), (IPCC), Cambridge University Press, 2007.
oferecendo uma ferramenta de planejamento para 42 ‘Reducing abrupt climate change risk using the Montreal
priorização e divulgação de medidas concretas e es- Protocol and other regulatory actions to complement cuts
in CO2 emissions’, M. Molina, D. Zaelke, K.M. Sarma, S.O.
tratégias climáticas econômicas. Andersen, V. Ramanathan and D. Kaniaru, Proc. Natl. Acad. Sci.
Fonte http://www.mca4climate.info USA, 106(49) 20616–21, 2009.
43 ‘Multi-criteria analysis for climate change: developing
guidance for sound climate policy planning (MCA4climate)’,
undergoing project of UNEP’s Energy Branch in the Division
of Technology, Industry, and Economics, 2011. http://www.
mca4climate.info/

50 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
ÀS M U DA
RE SPONDENDO
ram um dos assuntos mais proeminentes na ciência,
nômicos, sociais, ambientais e institucionais.48 Nesse na política e na mídia. A consciência e preocupação
caso, os danos climáticos evitados são avaliados em global a respeito das mudanças climáticas aumenta-
unidades naturais conforme o tipo de impacto sob ram desde o meio da década de 1980, sobretudo des-
investigação. Por exemplo: os impactos à saúde são de que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças
expressos pela quantidade de pessoas expostas ao Climáticas (IPCC) produziu seu Primeiro Relatório de
risco de determinada doença ocasionada pela mudan- Avaliação sobre a Mudança Climática (1990). Naque-
ça climática, em vez de estimativas de valores contro- la época as mudanças no clima global estavam se
versos em dólares para a vida e a morte (por exemplo, evidenciando, assim como a suspeita de que a hu-
US$ 4 milhões pela vida de uma pessoa). Essas abor- manidade era o principal agente de tais mudanças.
dagens alternativas argumentam a favor de uma ação Seguindo essa tendência, surgiram diversas negocia-
climática imediata, além de proporcionarem uma ideia ções internacionais sobre a mudança climática, que
mais abrangente dos custos, riscos e oportunidades culminaram na Cúpula da Terra (1992) realizada no Rio
envolvidos (ver caixa de texto “Desenvolvendo a aná- de Janeiro. Além dos líderes de cada país, os deba-
lise de critérios múltiplos”). tes contaram com participações internacionais como
alguns líderes da indústria e Organizações Não Gover-
Critérios políticos namentais de Ambiente (ONGAs). Essa abordagem
foi inovadora e coerente com a política de participação
dos envolvidos, promovida pelo conceito de desenvol-
Políticas climáticas bem planejadas podem contribuir
vimento sustentável. Na Cúpula da Terra, as mudan-
para a eficiência da mitigação e da adaptação, além
ças climáticas passaram a ser uma questão abordada
de melhorarem os prospectos de empregos, mante-
pela comunidade internacional.
rem o crescimento econômico, reduzirem a pobreza e
conseguirem outros benefícios sociais e econômicos.
As ações políticas a respeito do clima podem propor- CQNUMC – Uma aliança global para
cionar muitas das oportunidades desejadas para co- combater a mudança climática
locar os países na direção da “economia verde”. Essa
economia pode trazer o bem-estar humano e a redu- A Cúpula da Terra acompanhou o estabelecimento
ção das desigualdades ao longo do tempo, reduzindo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as
ao mesmo tempo a exposição das gerações futuras Mudanças Climáticas – CQNUMC. Essa convenção é
a grandes riscos ambientais e à escassez ecológi- uma aliança internacional que visa a um processo de
ca.44 Os fatores que sustentam nossas economias, negociação intergovernamental entre países (chama-
como o emprego, a qualidade ambiental, a igualdade dos “Partes”) para limitar a interferência antropogêni-
e a justiça social (ou seja, a qualidade de vida geral) ca que ameaça o clima da Terra. A Convenção possui
são critérios melhores para avaliação do desempenho diversos fundamentos: o princípio da prevenção, a
político, devendo ter precedência sobre as metas de responsabilidade histórica dos países desenvolvidos
crescimento econômico. (ou seja, os países do Anexo I) e o direito dos países
em desenvolvimento ao progresso (ou seja, os países
Outras referências não listados no Anexo I).
1. Green Economy Report: A Preview. UNEP, 2007.
http://www.unep.org/GreenEconomy/ As discussões da CQNUMC acontecem em dois gru-
pos maiores: o Órgão Subsidiário de Implementação –
2. ‘Multi-criteria analysis for climate change: SBI (Subsidiary Body for Implementation), que desen-
developing guidance for sound climate policy volve recomendações auxiliares para que as Partes
planning (MCA4climate)’. On-going project of avaliem e analisem a implementação da Convenção;
UNEP / DTIE - Energy Branch, 2011. http:// www. e o Órgão Subsidiário para Aconselhamento Científico
mca4climate.info/ e Tecnológico – SBSTA (Subsidiary Body for Scientific
3. The Economics of Climate Change. The Stern and Technological Advice), que serve como ligação en-
Review, N. Stern, Cambridge University Press, tre as necessidades de orientação política da Conven-
2007. http://siteresources.worldbank.org/ ção e as avaliações e informações científicas, técnicas
e tecnológicas proporcionadas por diversos grupos
3.6 Respostas internacionais – externos (ver Figura 26 na próxima página).

Políticas globais Em 2009 foram criados o Grupo de Trabalho Ad Hoc


para Ação Cooperativa de Longo Prazo sob a Con-
Durante a última década, as mudanças climáticas fo- venção – AWG-LA e o Grupo de Trabalho Ad Hoc para
Outros Compromissos das Partes do Anexo I sob o
Protocolo de Kyoto – AMG-KP. O AWG-LCA é uma
44 Green Economy Report: A Preview, United Nations estrutura para discussões entre todas as Partes que
Environment Programme (UNEP), 2007: http://www.unep. org/ visa à promoção de um processo abrangente, permi-
GreenEconomy/.
tindo implementação total, eficiente e sustentável da

Um guia de questões para profissionais da educação 51


CAPÍTULO 3
Convenção através de ações cooperativas de longo
prazo. O AWG-KP guia o processo para consideração
As emissões globais de CO2 atingi- de outros compromissos dos países signatários do
ram seu índice máximo em 2010 Protocolo de Kyoto (Partes do Anexo I) no período
posterior a 2012.
Em 2010, as emissões de dióxido de carbono (CO2)
relacionadas à energia foram as mais altas da histó-
ria, de acordo com as últimas estimativas da Agên-
cia Internacional de Energia (AIE). Após uma redução ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA CQNUMC
em 2009 devido à crise financeira global, estima-se

FIGURA 26
que as emissões tenham atingido o recorde de 30,6 Nações Unidas OMM & PNUMA
gigatoneladas (Gt) – um aumento de 5% em compa-
ração ao recorde anterior de 2008, quando os níveis
chegaram a 29,3 Gt. Em termos de combustíveis,
44% das emissões estimadas em 2010 vieram do Painel
carvão, 36% do petróleo e 20% do gás natural. Intergovernamental
sobre Mudanças
Além disso, a AIE estima que 80% das emissões Climáticas (IPCC)
projetadas para o setor energético em 2020 já estão
garantidas, pois virão de centrais elétricas que já es- Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
tão em operação ou construção. Mudanças Climáticas

Melhorar e manter a qualidade de vida das pessoas


em todos os países e ao mesmo tempo limitar as
emissões de CO2 nunca foi tão desafiador. Apesar Protocolo de
de a AIE estimar que 40% das emissões globais de Kyoto
2010 vieram dos países participantes da Organização Conferência das
Reunião das
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – Partes (CoP)
Partes (MoP)
OCDE, esses países respondem por apenas 25%
do aumento nas emissões com relação a 2009. Os
países não pertencentes à OCDE (sobretudo a Índia
e a China) apresentaram grandes aumentos em suas Órgãos
subsidiários
emissões, que acompanharam a aceleração de seu
crescimento econômico. Em base per capita, entre- SBI
tanto, os países da OCDE emitiram coletivamente AWG-LCA SBSTA AWG-KP
10 toneladas – contra 5,8 toneladas da China e 1,5
tonelada da Índia.
http://www.iea.org/index_info.asp?id=1959

DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DOS ACORDOS INTERNACIONAIS SOBRE A MUDANÇA CLIMÁTICA


Negociações climáticas com o passar dos anos
FIGURA 27

Protocolo de Kyoto:
meta de emissões globais de GEE: -5% até 2012
Voltando ao passado: começo do comércio de emissões de GEE
Reunião da União Internacional para a A Assembleia Geral da ONU Plano de ação
declara a mudança climática um o planeta parece estar aquecendo de Buenos Aires:
Conservação em Copenhague, 1954
“problema de toda a humanidade” a atividade humana parece ser a culpada o “resultado das evidências” como realizar os
1ª Cúpula da Terra em Estocolmo, 1972 Criação do IPCC é preciso mais tempo para confirmar essas indica uma “perceptível objetivos
duas suposições influência humana sobre o
clima global”.
A Conferência COP 4 da
Científica de Toronto CQNUMC
sobre as Mudanças 2ª Cúpula da Terra 2º relatório do IPCC Buenos Aires
na Atmosfera pede Rio de Janeiro
redução de 20% nas Criação da CQNUMC COP 1 da Conferência
emissões de GEE A Convenção do Rio pede CQNUMC de Kyoto
1ª Conferência Mundial sobre Berlim (COP 3)
o Clima entre 1988 e 2005 estabilização das emissões
Genebra de GEE até 2000
1º relatório do IPCC negociações intensivas

1979 1988 1990 1992 1995 1997 1998

Fontes: CQNUMC, IPCC, Greenpeace. Publicado primeiramente em: GRID-Arendal,Vital Climate Graphics, 2005.

52 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
ÀS M U DA
RE SPONDENDO
mitigação e a adaptação, de forma a conseguir imple-
mentação total da Convenção. Entretanto, a questão
da prorrogação do Protocolo de Kyoto (e de suas me-
O Protocolo de Kyoto definiu que os países do Anexo tas de redução obrigatória) para um segundo período
I devem reduzir suas emissões em 5,2% com rela- de compromisso ainda não foi definida.
ção aos índices de 1990, tendo 2012 como prazo. O
Protocolo de Kyoto é um progresso considerável em Enfrentando o desafio comum
termos de negociações internacionais, pois permitiu a
criação de um sistema flexível para mitigação de emis- As mudanças climáticas desafiam os governos na-
sões através de três mecanismos principais: o comér- cionais a pensarem além de suas fronteiras, agindo
cio de emissões, o mecanismo de desenvolvimento pelos interesses de toda a comunidade internacional
limpo – MDL e a implementação conjunta – IC. Como de uma forma coordenada e unificada inédita. A com-
o final do primeiro período de compromisso será em preensão das complexidades das mudanças climáti-
dezembro de 2012, o AWG-KP ficou responsável pelas cas também desafiou a comunidade científica inter-
negociações para extensão do Protocolo. nacional a trabalhar em conjunto para proporcionar os
modelos e informações necessários para tomarmos
A Conferência das Partes – COP (Conference of Par- decisões realistas e eficazes. Mas ainda falta muito
ties) é o órgão supremo da CQNUMC, composto pe- para superar o desafio global representado pela mu-
los países que ratificaram ou acederam à CGNUMC. dança climática.
O COP é o órgão executivo, ou seja, o órgão que toma
e acata as decisões. As reuniões do COP são realiza- Outras referências
das anualmente em diversos locais do mundo e as
1. UNFCCC. http://www.unfccc.int
reuniões de intermediação dos Órgãos Subsidiários
da CQNUMC (SBI e SBSTA) são realizadas em Bonn 2. Local Government Climate Roadmap. http://
(ver Figura 27). O processo decisório é baseado no www.iclei.org/index.php?id=7694
princípio do consenso das Nações Unidas. 3. World Resources Institute - Climate, Energy and
Transport. http://www.wri.org/climate
A última COP 16, realizada em dezembro de 2010 em 4. Green Economy Report: A Preview, UNEP, 2007.
Cancun (México), visou ao reforço do conhecimento http://www.unep.org/GreenEconomy/
internacional das seguintes necessidades: limitar o
5. IPCC (2007). Climate Change 2007: Synthesis
aquecimento global a até 2°C em 2010, realizar ações
Report. Geneva, Switzerland. http://www. ipcc.
práticas e tangíveis para reduzir as emissões de GEE e
ch/publications_and_data/publications_ ipcc_
disponibilizar fundos adequados para tais ações. Além
fourth_assessment_report_synthesis_ report.
disso, as Partes se comprometeram a considerar o
htm
objetivo mais rigoroso de 1,5°C nos próximos anos.
Nessa convenção também foi estabelecida uma nova
estrutura para adaptação, que descreveu as principais
atividades e estruturas necessárias para intensificar a
ação e o progresso na adaptação. Um novo Mecanis-
mo Tecnológico reforçará ações de desenvolvimento
tecnológico e ações de apoio e transferência para a

16 de fevereiro: o Protocolo de Kyoto Adoção do Fundo Verde para o


passa a vigorar Roteiro de Bali Clima & Centro de
Tecnologia Climática
Rússia ratifica o Protocolo de Kyoto COP 13 da CQNUMC
Bali
COP 10 da CQNUMC
Plano de ação de
Acordo de Marraquesh COP 15 da COP 16 da
Montreal: Acordo
COP 10 da CQNUMC CQNUMC
para as ações pós-
evidências científicas CQNUMC Copenhague Cancun
-Kyoto
do aquecimento Buenos Aires
global COP 11 da “o aquecimento do
CQNUMC sistema climático é COP 14 da COP 17 da
3ª Cúpula da Terra Montreal evidente” CQNUMC CQNUMC
Joanesburgo Poznán Durban
3º relatório do 4º relatório do IPCC negociações intensivas
IPCC

2000 2001 2002 2004 2005 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Swan River Trust. Climate Change Risk Assessment Project.. 2010

Um guia de questões para profissionais da educação 53


C A P Í T U LO 4

A EDUCAÇÃO E
AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS
N Ç AS CLIMÁT ICAS
AS M U DA
A EDUCAÇÃO E
assombrosa, por mais que indivíduos e comunidades
cumpram seus papéis ao contribuir ou mitigar o que
for possível em cada um desses problemas. Este capí-

A
educação é um recurso estratégico importan- tulo descreve a função da educação e dos educadores
te na luta contra as mudanças climáticas e na para que sigamos em frente.
preparação para seus impactos presentes e
futuros. Os currículos e as políticas educacionais de- 4.1 Educação para o
vem promover estratégias de abordagem (mitigação
e adaptação) às mudanças climáticas, ampliando o desenvolvimento sustentável –
conhecimento e a compreensão de suas causas e im- Levando a educação climática
pactos. Também é preciso aprimorar conhecimentos,
habilidades, valores e atitudes para conseguir uma além da ciência
mitigação eficaz, usando pedagogias apropriadas vol-
tadas à ação. A abordagem tradicional da educação para as mu-
danças climáticas (EMC) no ensino formal se limita a
A Educação para o Desenvolvimento Sustentável ensinar composição e processos da atmosfera sob a
(EDS) proporciona uma estrutura para a educação perspectiva das ciências naturais. A ciência climática
para as mudanças climáticas. Ela abrange diversas é tradicionalmente lecionada em geografia (como cli-
respostas educacionais a tais mudanças e promove matologia) e ciências (como meteorologia). Essa parte
a compreensão sistêmica e multidisciplinar das cau- da EMC pode ser facilmente atualizada nos ensinos
sas e consequências. Também propõe abordagens primário e secundário através de revisões cíclicas do
educacionais para construção do pensamento crítico currículo de ciências, que em diversos países são re-
e de habilidades de resolução de problemas, além de alizadas uma vez a cada década.45 Mas a educação cli-
atitudes e conhecimentos que possibilitam que indiví- mática é maior do que a ciência climática, abrangendo
duos e comunidades tomem decisões responsáveis diversas disciplinas.
e informadas.
Tanto a mitigação quanto a adaptação às mudanças cli-
A educação para a mitigação deve conscientizar as máticas exigirão mais do que o conhecimento sobre
pessoas a respeito dos impactos que as emissões de ciências naturais. Em locais nos quais os impactos das
gases de efeito estufa (GEE) causam ao clima devido mudanças climáticas não forem imediatos ou extre-
aos nossos padrões de consumo e estilos de vida, e mos, a mitigação e a solidariedade são bons objetivos
também deve ensinar soluções alternativas e mais educacionais: todos no trabalho conjunto na redução
sustentáveis. das mudanças climáticas, por nós e pelo mundo. A mi-
tigação exige uma mudança global nos padrões de con-
A educação para a adaptação prepara os estudantes sumo e de uso de combustíveis. Para isso precisamos
para futuros incertos, que encerram riscos e oportu- de campanhas de conscientização pública e de grande
nidades. As mudanças climáticas têm impacto espe- escala (ou seja, da educação não formal) convocando
cialmente grave sobre a vida de populações rurais, todas as pessoas de todas as idades a mudarem seus
comunidades costeiras e mulheres e meninas. Os comportamentos. Entretanto, a EMC também precisa
programas educacionais devem visar essas popula- abranger treinamentos para a mão de obra, além da
ções de forma a aumentar suas capacidades adapta- educação formal (escolas) e informal (como a mídia).
tivas, além da resiliência geral de toda a comunidade
aos riscos relacionados ao clima. A educação para a adaptação é essencial em locais
com nível do mar em ascensão, secas afetando a
Preparar e proteger estudantes, sistemas e infraestru- terra ou inundações destruindo casas e campos. As
turas educacionais contra os impactos das mudanças habilidades necessárias para adaptação das pessoas
climáticas também é extremamente importante. De- às mudanças climáticas devem englobar a tomada de
sastres induzidos pelas mudanças climáticas podem decisões, para promover mudanças positivas em um
danificar ou destruir as estruturas das escolas, tornan- cenário de incerteza e instabilidade. Mas a discussão
do os sistemas educacionais não seguros, ameaçan- relacionada aos outros temas que a EMC deve abor-
do a segurança física e o bem-estar psicológico das dar é complexa: informação e conhecimento são im-
comunidades e interrompendo a continuidade dos portantes, mas habilidades, valores e princípios tam-
estudos. Os programas de preparação para desastres bém o são. Felizmente contamos com a estrutura da
são essenciais para salvar vidas, ensinando aos estu- Educação para o Desenvolvimento Sustentável (ESD)
dantes como reagir nessas situações. para ajudar a esclarecer a complexidade da EMC e agi-
lizar sua implementação.
Mudanças climáticas, crescimento populacional, de-
gradação ambiental, escassez de água, conflitos, cri- 45 ‘Rethinking Climate-Change Education: Everyone wants
it, but what is it?’The Green Teacher, 89, R. McKeown and C.
ses na saúde global… A lista dos problemas globais Hopkins, Summer, 2010.
atuais e dos impactos das mudanças climáticas é

Um guia de questões para profissionais da educação 55


CAPÍTULO 4
A EDS pode ser implementada de incontáveis formas,
tornando o programa relevante e apropriado para cada
Educação para o desenvolvimento local e cultura e refletindo as condições ambientais,
sociais e econômicas específicas de cada localidade.
sustentável: uma estrutura valiosa Além disso, a EDS aumenta a capacidade da popu-
para a EMC lação através do aprimoramento da mão de obra, da
tolerância social, da administração ambiental, da par-
Boa parte dos parceiros das Nações Unidas que tra- ticipação comunitária na tomada de decisões e da
balham na EMC (como PNUMA, a UNESCO e o UNI- qualidade de vida. Essas características fazem com
CEF) concordam que a EDS é a melhor estrutura dis- que a educação para as mudanças climáticas adquira
ponível para lidar com as mudanças climáticas através significado e aplicabilidade maiores e mais profundos
da educação. De modo geral, a EDS é uma contribui- quando associada com a EDS (ver caixa de texto “A
ção coletiva da educação mundial, da conscientização educação para o desenvolvimento sustentável”).
pública e dos sistemas de treinamento para o desen-
volvimento sustentável. A educação para o desenvolvimento sustentável pos-
sui quatro objetivos:
A estrutura e as pedagogias da EDS formam uma 1. Melhorar o acesso à educação básica de
estrutura educacional para diversas questões am- qualidade, assim como sua capacidade de
bientais, sociais, econômicas, éticas e políticas, ca- retenção;
racterizando, portanto, a abordagem ideal para os 2. Reorientar os programas educacionais existentes
diversos impactos relacionados às mudanças climá- para que abordem a sustentabilidade;
ticas. 3. Aumentar a consciência pública;
4. Proporcionar treinamento.46

A educação para o desenvolvimento A educação para as mudanças climáticas se encaixa


sustentável: em todos os quatro objetivos. Assim como a EDS, ela
• é baseada nos princípios e valores que fundamen- precisa ensinar a todas as faixas etárias e se envolver
tam o desenvolvimento sustentável; nas educações formal, não formal e informal. A próxi-
• lida com o equilíbrio do bem-estar entre as três ma seção descreve como a EMC é compatível com
esferas da sustentabilidade: o ambiente, a socie- cada um dos quatro objetivos da EDS.
dade e a economia;
• promove o aprendizado permanente; Melhorar o acesso à educação básica
• é localmente relevante e culturalmente apropria-
da; de qualidade
• baseia-se em necessidades, percepções e con-
dições locais, mas reconhece que atender às Como já descrevemos nas seções anteriores deste
necessidades locais muitas vezes tem efeitos e guia, os impactos das mudanças climáticas causa-
consequências internacionais; rão grandes alterações ambientais, sociais e eco-
• envolve a educação formal, não formal e informal; nômicas. Todas elas trarão grandes desafios aos
• compreende a evolução contínua do conceito de sistemas educacionais.
sustentabilidade;
• direciona o conteúdo considerando o contexto, as O efeito da pobreza sobre as famílias e comuni-
questões globais e as prioridades locais; dades também tem impacto sobre os índices de
• constrói a capacidade da população de tomar de- matrícula. É preciso ter políticas e programas que
cisões em conjunto, a tolerância social, a admi- garantam que as crianças sejam matriculadas e as-
nistração ambiental, a adaptabilidade da mão de sim o permaneçam, a despeito da pobreza induzida
obra e da qualidade de vida; pelas mudanças climáticas.
• é interdisciplinar. Nenhuma disciplina pode se
apropriar da EDS, mas todas as disciplinas podem Essas mudanças provavelmente causarão grandes
contribuir para ela; migrações. Os países e regiões de destino dessas
• usa diversas técnicas pedagógicas que promo-
migrações devem garantir que as crianças e as fa-
vem o aprendizado participativo e as habilidades
mílias desalojadas continuem tendo oportunidades
para melhor raciocínio.
de aprendizado ou educação (ver caixa de texto

46 United Nations Decade of Education for Sustainable


Development (2005–2014): International Implementation
Scheme.

56 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
AS M U DA
A EDUCAÇÃO E
cer o conhecimento e a experiência dos estudan-
tes, além de tornar os conteúdos relevantes para a
vida cotidiana. Os métodos de instrução e os pro-
Reação do sistema escolar aos cessos de aprendizagem devem ser alterados de
desastres forma a mobilizar amplamente os estudantes atra-
A reação dos sistemas escolares que proporciona- vés de diversos estilos de aprendizado.47
ram serviços educacionais às famílias desabrigadas
de Nova Orleans e outras cidades costeiras quando Aumentar a consciência pública
os furacões Katrina e Rita atingiram a Costa do Golfo
(EUA) em 2005 é um exemplo de acomodação de Induzir todos os indivíduos a responderem às mu-
crianças afetadas por um evento atmosférico extre- danças climáticas também exige mudanças compor-
mo. As escolas e as secretarias de ensino acelera- tamentais significativas. Para a mitigação, a resposta
ram as matrículas de forma a garantir que as crianças envolve mudanças ponderadas com relação ao uso da
não permanecessem fora da escola durante muito energia e aos hábitos de consumo. Para iniciar as al-
tempo. O Congresso dos EUA aprovou financia- terações apropriadas no estilo de vida precisamos de
mentos para escolas que aceitaram os estudantes grandes campanhas de conscientização pública com
desabrigados. Algumas famílias retornaram às suas informações imparciais e confiáveis. Ações individu-
cidades quando as escolas foram reabertas. Outras ais e coletivas (como participação pública no apoio à
famílias se estabeleceram permanentemente em implementação de uma legislação relacionada às mu-
suas novas comunidades, e as escolas conseguiram danças climáticas) têm função essencial em qualquer
lidar com a variação nas matrículas. resposta ampla às mudanças climáticas.

“Reação do sistema escolar aos desastres”).


Proporcionar treinamento
Muitos dos adultos da atualidade receberam educa-
Reorientar os programas ção antes de a mudança climática ser um problema.
Consequentemente, precisamos de treinamento e
educacionais existentes para que desenvolvimento profissional sobre essas mudanças
abordem a sustentabilidade para a mão de obra de todos os setores, de forma a
reduzir as emissões atmosféricas de gases de efeito
Para que possamos educar as novas gerações a
estufa e seguir em direção a uma economia verde.
respeito da mudança climática e estimular as ha-
Atualmente, mais de 95% das empresas são de pe-
bilidades de solução de problemas e pensamento
queno e médio porte. As empresas menores geral-
crítico necessárias para gerar soluções locais e glo- mente não podem realizar treinamentos próprios a
bais, precisamos de revisões curriculares não só respeito das mudanças climáticas, dependendo de re-
no ensino de ciências e matemática mas também cursos externos para o desenvolvimento profissional.
nas ciências sociais e humanas. Em algumas áre-
as geográficas essa reorientação precisa ser ainda
mais profunda. No caso da migração induzida pelo
Integração eficiente da EMC
clima, habilidades novas podem ser necessárias Para a EMC ser eficaz, precisa ser incorporada aos
para a convivência com membros de outros grupos planejamentos e políticas educacionais. É preciso rea-
étnicos e/ou para enfrentar um ambiente que sofre lizar mudanças nos sistemas educacionais e em seus
alterações físicas. Essas habilidades precisarão ser programas, práticas e políticas. Por exemplo, as mu-
inclusas no currículo. danças no currículo primário e secundário devem ser
acompanhadas por mudanças na avaliação e na for-
Reorientar os currículos para abordar a sustentabi- mação de professores. As leis que exijam informação
lidade e a mudança climática exige a inclusão de ao público para ajudar a atingir os objetivos de conser-
conhecimentos, habilidades, perspectivas e valo- vação devem ser acompanhadas por financiamentos.
res relevantes, além de métodos para aplicá-los ao
estudo das questões relacionadas. Também exige As mudanças climáticas trazem um senso de urgência
a mudança nos métodos pedagógicos para estimu- ao qual a comunidade educacional está respondendo
lar a melhoria das habilidades de raciocínio, auxiliar – mas ela não pode fazer tudo sozinha. Seu empenho
precisa de apoio político e coordenação para que a
processos decisórios, abranger o aprendizado par-
mudança aconteça de verdade.
ticipativo e estimular a formulação de questões. As
metodologias de ensino também devem reconhe-
Outras referências
1. Climate Change Education for Sustainable
47 Contributing to a More Sustainable Future: Quality
Education, Life Skills and Education for Sustainable Development, UNESCO, 2010. http://www.
Development. UNESCO, 2005b. unesco.org/new/en/education/themes/ leading-
the-international-agenda/climate- change-
education/

Um guia de questões para profissionais da educação 57


CAPÍTULO 4
4.2 Educação para a mitigação
2. Contributing to a More Sustainable Future:
Quality Education, Life Skills and Education – Mudando de comportamento
for Sustainable Development. UNESCO,
2005b. http://unesdoc.unesco.org/
para o bem comum
images/0014/001410/141019e.pdf Segundo as Nações Unidas, a mitigação das mudan-
3. Food Security and Climate Change Challenge ças climáticas é a intervenção humana para redução
Badge. World Association of Girl Guides and Girl das fontes de emissões de gases de efeito estufa
Scouts. 2009. http://www.wagggsworld. org/en/ (GEE) relacionadas primariamente às ações humanas
resources/document/view/3833 de produção e consumo.
4. Hurricane Katrina and Rita: The School Impact.
Education Week. http://www.edweek.org/ew/ Todos os dias, apresentamos diversos graus de consu-
collections/hurricane-katrina/index.html mo: alimentação, transporte, vestimentas e abrigo fa-
5. ‘Rethinking Climate-Change Education: Everyone zem parte de nossas rotinas diárias. A economia global
wants it, but what is it?’ The Green Teacher, 89, existe para permitir que esse consumo aconteça, pro-
R. McKeown and C. Hopkins, Summer, 2010 duzindo e entregando bens e serviços que desejamos,
precisamos e podemos comprar. Nossas escolhas de
6. ‘United Nations Decade of Education for estilos de vida nos definem, relacionam e diferenciam.
Sustainable Development (2005–2014): Elas representam as formas com as quais conduzimos
International Implementation Scheme’, nossas vidas e interagimos com os outros em uma so-
UNESCO, 2005. http://unesdoc.unesco.org/ ciedade global de cerca de 7 bilhões de pessoas.
images/0014/001486/148650E.pdf
Em escala global, nossas escolhas e vidas diárias
parecem mais uma gota do oceano, sobretudo
Satisfazer o consumo global consome
recursos de 1,5 Terra Informações voltadas aos jovens sobre
A pegada ecológica humana mais que dobrou desde
a mitigação das mudanças climáticas
2006. Em 2007, a humanidade usou o equivalente a O UNEP/UNESCO Youth X Change Guidebook on
1,5 planeta para amparar suas atividades. Climate Change and Lifestyles (Jovens X Mudança
– Manual PNUMA/UNESCO sobre mudanças climá-
Mesmo que as projeções das Nações Unidas se-
ticas e estilos de vida) pode ser usado em sala de
jam modestas para o crescimento populacional, do
aula para ensinar a explorar as relações entre estilos
consumo e das mudanças climáticas, em 2030 a
de vida e mudanças climáticas, ajudando os jovens a
humanidade precisará dos recursos de duas Terras
considerarem ações possíveis com relação a estilos
para absorver os resíduos de dióxido de carbono e
de vida mais sustentáveis. Ele proporciona exem-
manter seu consumo de recursos naturais.
plos e estudos de casos sobre ações, promovendo
A humanidade enfrenta diversos desafios não ape- maior compreensão das mudanças climáticas e dos
nas para preservar a biodiversidade, mas também estilos de vida entre os jovens. Você pode encontrar
para interromper as mudanças climáticas e corres- esse guia em www.youthxchange.net.
ponder às aspirações de desenvolvimento humano
(como reduzir a fome e a pobreza mundial). Ainda
assim, mudar é possível.
Fonte: The Global Footprint Network 2010 Living Planet Re-
port. http://www.footprintnetwork. org/en/index.php/GFN/
page/2010_living_ planet_report/

Pegada ecológica relativa de quatro conjuntos de países


2007

OCDE BRIC AU ANSA/ASEAN

58 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
AS M U DA
A EDUCAÇÃO E
te apresentar novos conteúdos sobre as mudanças
quando enfrentamos desafios que possuem gran- climáticas, suas causas e consequências. A educa-
des implicações ambientais, sociais e econômicas. ção para as mudanças climáticas também deve aju-
Mas os cientistas têm mostrado que pequenas va- dar os educadores a compreenderem e abordarem
riações podem afetar sistemas gigantescos: nosso os impactos do aquecimento global atual, incenti-
estilo de vida não tem impacto apenas sobre nós, vando ao mesmo tempo mudanças nas atitudes e
mas também sobre o meio ambiente e as socieda- comportamentos que coloquem nosso mundo em
des de todo o mundo (ver caixa de texto “Satisfazer um caminho mais sustentável.48 Ela deve prover
o consumo global consome recursos de 1,5 Terra”). valores, conhecimentos e habilidades para que as
Nossas escolhas individuais e coletivas encerram pessoas façam escolhas e decisões que diminuam
diversas oportunidades para começar a mudança e o uso dos recursos naturais, as emissões o desper-
criar soluções para estilos de vida sustentáveis. Na dício e a poluição, além de fomentar o desenvolvi-
prática, isso envolve adotar atitudes e aprender ha- mento e o progresso socioeconômico para todos
bilidades para reduzir o consumo de energia, usar e contribuir para o desenvolvimento de novas so-
formas renováveis de energia, planejar tecnologias luções. Deve possibilitar que cada pessoa repense
mais verdes, fazer mudanças nos padrões de con- sua forma de viver, comprar e consumir. Também
sumo, mitigar a perda de biodiversidade, entre ou- deve levar à reconsideração de como organizamos
tros, ao mesmo tempo em que garantimos qualida- nossos cotidianos, alterando as formas de as pes-
de de vida para todos. De políticos a educadores, soas sociabilizarem, trocarem, compartilharem,
diretores e estudantes, todos temos nossa parte educarem e criarem identidades.
na facilitação da mudança para um estilo de vida
mais sustentável. A educação para a mitigação também não deve se
contentar apenas em ensinar sobre os problemas glo-
A educação para a mitigação não deve simplesmen- bais relacionados às mudanças climáticas, divulgando
também soluções locais que emergem atualmente
em todo o mundo. Isso exige abordagens contextu-
alizadas para desenvolvimento e implementação de
Crianças e jovens como agentes das um currículo relacionado à mitigação das mudanças
climáticas. As soluções locais para reduzir emissões
mudanças de CO2, como transporte público ou exemplos de con-
A Associação Mundial das Escoteiras e Bandeiran- sumo colaborativo (como jardins comunitários) são
tes (WAGGGS – World Association of Girl Guides apenas dois dos exemplos que podem ser usados por
and Girl Scouts), com 10 milhões de membros ao profissionais, educadores e educandos. As escolas
redor do mundo, tem um distintivo de especialidade podem dar o exemplo reforçando programas de miti-
de Segurança Alimentar e Mudança Climática para gação (como “reusar, reduzir, reciclar”) ou integrando
as faixas etárias de 5 a 10, 11 a 15 e 16 a 20 anos. novos programas (como jardins escolares).
Um guia para jovens e um conjunto de atividades
auxiliam a obtenção deste distintivo. Ele motiva as Adolescentes e jovens adultos começando a vida
jovens a realizarem ações que melhorem suas vidas como cidadãos e profissionais podem atuar como
e incentivem suas comunidades locais para que se catalisadores para inovações sociais, culturais e tec-
tornem mais favoráveis ao meio ambiente. O Guia nológicas. Também são agentes essenciais na altera-
conscientiza sobre a contribuição das atividades diá- ção de estilos de vida e tendências de consumo. Em
rias para a mudança climática. um mundo globalizado e virtualmente conectado os
jovens geralmente são os propulsores da inovação e
©WAGGGS (Cancun COP 16) os agentes das mudanças essenciais para construir
um planeta sustentável (ver caixa de texto “Crianças
e jovens como agentes das mudanças”).

Outras referências
1. UNEP UNESCO YouthXChange Guidebook
Towards Sustainable Lifestyles: This programme
and guidebook (translated into eighteen lan-
guages) aims to engage young people world-
wide on issues of sustainable consumption.
http://www.YouthXchange.net/ http://www.
unep.fr/scp/youth/publications/

48 Koïchiro Matsuura, former Director-General of UNESCO,


2009.

Um guia de questões para profissionais da educação 59


CAPÍTULO 4
A educação pode ter um papel importante ao facilitar
a adaptação aos desafios impostos por essas mudan-
2. The Story of Stuff: This resourceful website and
ças. Ela pode ajudar a reduzir a vulnerabilidade das co-
twenty-minute video animation exposes the
munidades, além de melhorar a capacidade de adap-
connections between a number of environmental
tação às mudanças no ambiente social, econômico e
and social issues, and provides solutions to
ecológico – e a um futuro incerto. Mais importante:
create a more sustainable world. http://www.
a educação ajuda os indivíduos a tomarem decisões
storyofstuff.com/blog/
informadas sobre a adaptação das próprias vidas e
3. 350.org: This international campaign works to subsistências aos efeitos das mudanças climáticas e
build a movement to unite the world around sobre a redução de riscos e vulnerabilidades.
solutions to climate change. http://www.350.org
4. Looking for Likely Alternatives/Sustainable
Everyday Project: This website includes case
studies, videos and pedagogical tools to teach Monitoramento comunitário
sustainability in a creative way. http://www. O monitoramento comunitário (CBM – Community-
sustainable-everyday.net -based monitoring) é um campo de pesquisa intrinca-
5. Eco-Schools – Foundation for Environmental do que vem se tornando um componente essencial (e
Education: This programme promotes muitas vezes obrigatório) nas pesquisas acadêmicas
sustainable development through environmental e na gestão de recursos naturais (Fleener et al., 2004;
education (formal school education, training Huntington, 2008). Geralmente é usado como valida-
of staff and general awareness raising). http:// ção dos resultados produzidos por modelos tradicio-
www.eco-schools.org/ nais de pesquisa. O CBM permite que os pesquisado-
res ultrapassem as estratégias tradicionais de coleta
6. Create your Future: developed for children by
de dados através dos melhores conhecimentos dis-
the organization Japan for Sustainability, this
poníveis, sejam eles acadêmicos, indígenas ou locais.
interactive website contains many new ideas and
ways to rethink current consumption patterns. O Programa de Monitoramento da Biodiversidade
http://www.kidsforfuture.net Circumpolar (Circumpolar Biodiversity Monitoring
7. Facing the Future provides curriculum resources, Program) solicitou a produção de um guia de moni-
teacher workshops, and service learning toramento comunitário (Gofman and Grant Friedman,
2010). Este guia destaca a função das observações da
opportunities used by teachers, schools, and
comunidade nos projetos atuais e futuros de pesqui-
districts in all 50 U.S. states and over 120
sa sobre o Ártico, assim como recomendações que
countries. http://www. facingthefuture.org
também podem ser aplicadas para iniciativas mais
amplas de monitoramento em regiões não árticas.
Inspirações para currículos, planos O Guia analisa diversos programas de monitoramen-
de ensino e vídeos to comunitário contínuo e é destinado a um público
diversificado composto por cientistas, estudantes,
1. The Green Education Foundation. http://www.
moradores de comunidades árticas e funcionários do
greeneducationfoundation.org/ governo.
2. The Center for Environmental Education. http://
www.ceeonline.org/ Entre os projetos analisados podemos citar:
• Cooperativa de conhecimento ecológico sobre as
3. Do the GreenThing. http://www.dothegreenthing. fronteiras do ártico (Arctic Borderlands Ecological
com Knowledge Co-op) (http://taiga.net/coop/)
4. The Green School. http://www.thegreenschool. • Projeto comunitário de monitoramento de alces
org e Projeto de monitoramento ecológico comuni-
tário (Community Moose Monitoring Project and
Community Ecological Monitoring Project), ECO-
4.3 Educação para a adaptação RA (Integrated Ecosystem Approach to Conserve
– Aprendendo a lidar com as Biodiversity and Minimize Habitat Fragmentation
in the Russian Arctic, http:// www.grida.no/ecora/)
mudanças locais • Projeto dos guardas marinhos da Austrália (www.
atns.net.au/agreement.asp?EntityID=4923)
As mudanças climáticas têm impacto sobre as vidas • Projeto Siku-Inuit-Hila (Capítulo 3.10) e Rede de
de pessoas e comunidades de todo o mundo. Seus mudanças na neve da Finlândia (http://www. sno-
efeitos forçam pessoas a mudarem suas formas de wchange.org)
subsistência, a se prepararem para desastres (e a se
recuperarem deles) e às vezes até mudarem para no-
vos locais ou países.

60 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
AS M U DA
A EDUCAÇÃO E
bretudo em áreas rurais onde a subsistência depende
A educação para a adaptação não é uma tarefa fácil. do tempo. Os programas educacionais podem ajudar
O futuro das comunidades vulneráveis localizadas em a aumentar a conscientização sobre as mudanças
áreas costeiras, desertos ou montanhas é pratica- nas necessidades agrícolas e incorporar informações
mente incerto no curto prazo. Portanto, essa educa- climáticas no processo de decisão das comunidades
ção tem de preparar para futuros caracterizados pelas rurais. Na agricultura, por exemplo, as opções de edu-
incertezas. A adaptação às mudanças climáticas exige cação para adaptação podem explorar oportunidades
que os indivíduos estejam conscientes das possíveis para reduzir a dependência dos cultivos dependentes
mudanças no clima e compreendam as implicações de chuva através da adoção de variedades resistentes
das mesmas sobre as suas vidas. E exige que eles à seca e de desenvolvimento rápido, além do melhor
avaliem os riscos que tais mudanças trazem ao futuro, uso e gestão das águas pluviais através de sua coleta.
tomando decisões informadas sobre como adaptar as Para isso pode ser necessário usar estratégias de ação
próprias vidas e subsistências. investigativa tanto no ensino quanto no aprendizado.
O ensino de qualidade proporciona pensamento crí- A educação de mulheres e meninas tem impacto
tico e habilidade de resolução de problemas, aumen- notável sobre a capacidade das comunidades de se
tando as capacidades de adaptação das comunida- adaptarem às mudanças climáticas. A responsabilida-
des afetadas. Programas educacionais que preparam de pela comida, água e energia para cozinhar frequen-
explicitamente para desastres e promovem conhe- temente fica com elas, que geralmente assumem a
cimentos nativos, estilos de vida sustentáveis e o liderança em caso de desastre. Mulheres também
desenvolvimento sustentável também ampliam tais costumam participar de grandes redes sociais dentro
capacidades. das comunidades, exercendo função vital na gestão
coletiva de riscos e mudanças e treinando colegas
A educação para a adaptação tem função fundamen- para tal função.
tal no aumento da resiliência das comunidades, so-
O conhecimento local e de populações nativas tam-
bém é um recurso essencial na compreensão do meio
Os educadores podem conscientizar a ambiente e na avaliação e adaptação aos impactos
respeito de problemas de saúde rela- das mudanças climáticas. Tal conhecimento deve ser
reforçado e integrado aos programas educacionais. É
cionados às mudanças climáticas preciso fazer com que os estudantes conheçam as co-
Descubra quais problemas de saúde estão propen- munidades locais, seus sistemas culturais e de valo-
sos à piora devido às mudanças climáticas de sua res. Isso torna a educação para as mudanças climáticas
região. Os sites da OMS, incluindo os de departa- mais autêntica e relevante para situações específicas,
mentos regionais e nacionais, contêm informações ajudando a encontrar soluções locais, realistas e aces-
científicas e para argumentação sobre a relação en- síveis para a adaptação.
tre mudanças climáticas e saúde. O Painel Intergo-
vernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) Em locais que enfrentam impactos imediatos e extre-
publica periodicamente Relatórios de Avaliação com mos (como pequenas ilhas no nível do mar) as escolas
uma seção sobre saúde humana. Diversos gover- também podem preparar a população para a migra-
nos nacionais, organizações científicas e de saúde ção. Elas podem garantir que os estudantes tenham
e autoridades governamentais também publicam in- habilidades e qualificações nos idiomas necessários
formações a respeito dos impactos das mudanças para adaptação ao novo país e estabelecimento de
climáticas sobre a saúde em seus territórios. nova subsistência. As estratégias de adaptação tam-
bém devem reforçar a capacidade dos sistemas edu-
cacionais dos países que receberão migrantes, permi-
tindo que eles recebam novos fluxos de migração e
possuam as habilidades necessárias para auxiliar na
adaptação.

Os sistemas educacionais e a infraestrutura relacio-


nada precisam ser equipados para adaptação às mu-
danças climáticas. Comunidades escolares inteiras
(incluindo autoridades, equipes administrativas, pro-
fessores e pais) devem ser preparadas para garantir

49 Os Códigos de Segurança Climática são declarações curtas


©Michael Dubose compostas por valores e mensagens de “o que fazer” e “o que
não fazer” em situações de adaptação e mitigação. Eles podem
ficar expostos em pontos estratégicos das escolas onde os
professores possam lê-los com frequência, internalizando-os e
adotando-os como parte de seu sistema de valores.

Um guia de questões para profissionais da educação 61


CAPÍTULO 4
5. Climate and health factsheet. WHO, 2005.
um ambiente escolar seguro com relação ao clima http:// w w w. w h o . i n t / g l o b a l c h a n g e /
– por exemplo, através do desenvolvimento de “có- publications/ factsheets/fsclimandhealth/en/
digos de segurança climática”49 e planos de ação co- index.html
munitários e escolares. 6. Fourth Assessment Report, Intergovernmental
Panel on Climate Change, Working Group II,
A adaptação também precisa ser considerada durante Section 8 (human health). http://www.ipcc.ch/
a construção de escolas, garantindo que as mesmas publications_and_data/ar4/wg2/en/ch8.html
estejam localizadas em terrenos seguros e tenham 7. Global health risks: Mortality and burden of
projeto à prova de condições atmosféricas extremas. É disease attributable to selected major risks.
preciso realizar avaliações de risco meticulosas ao es- World Health Organization, 2009. http://www.
colher terrenos para escolas e reformar as construções who.int/healthinfo/global_burden_disease/
existentes para que resistam às condições atmosféri- GlobalHealthRisks_report_full.pdf
cas rigorosas causadas pela mudança climática. 8. Protecting health from climate change. Messages
to different groups and sectors (Young people, 16–
Os efeitos negativos das mudanças climáticas sobre 24 years old). World Health Organization, 2008.
a saúde provavelmente definirão diversos fatores da http://www.who.int/globalchange/publications/
vida adulta dos atuais estudantes.50 Crianças (sobretu- factsheets/WHD2008_young_people_2.pdf
do aquelas que vivem em países pobres ou têm doen-
ças preexistentes como asma) estão entre as popula- 9. WHO Manual for Students (South Asia Regional
ções mais vulneráveis, e ficarão expostas durante boa Office). http://www.searo.who.int/LinkFiles/
parte de sua vida aos riscos à saúde resultantes de World_Health_Day_2008_Toolkit- Student-
tais mudanças, assim como às suas consequências. Manual.pdf
Portanto, é essencial que os estudantes sejam cons- 10. WHO Manual for Teachers (South Asia Regional
cientizados dos impactos atuais e futuros das mudan- Office). http://www.searo.who.int/LinkFiles/
ças climáticas para que possam ter ações que prote- World_Health_Day_2008_ TeacherManual.pdf
jam melhor tanto a si quanto à saúde de suas famílias. 11. WHO portal on climate change and health. http://
A educação em saúde pode ajudar na preparação dos www.who.int/globalchange/en/
estudantes para o confronto com tais desafios (ver
caixa de texto “Os educadores podem conscientizar a
respeito de problemas de saúde relacionados às mu- 4.4 Educação para redução do
danças climáticas” na página anterior). risco de desastres – Preparação
Outras referências para o pior
1. Climate Frontlines: a platform for indigenous
peoples, small islands and vulnerable Qual a relação entre as mudanças
communities’ knowledge on climate change, climáticas e riscos e desastres
UNESCO. http://www.climatefrontlines.org/ naturais?
2. Guide on climate change and indigenous peoples,
TEBTEBBA, 2009. http://www.tebtebba.org/ Espera-se que as mudanças climáticas aumentem a
index. php?option=com_docman&task=doc_ frequência e a intensidade de riscos relacionados ao
download&gid=468&Itemid=27 clima, como inundações, secas e ondas de calor.
3. Participatory Learning in Practice: Community
Based Adaptation to Climate Change, A capacidade de resistência das comunidades (so-
International Institute for Environment and bretudo de países de baixa renda) pode ser reduzida
Development (IIED), 2009. http://www. em consequência das mudanças climáticas, através
childreninachangingclimate.org/database/other/ da degradação contínua dos ecossistemas, da menor
Publications/NP_PLA_ CBA_14573IIED.pdf disponibilidade de água e comida e da perda de biodi-
versidade e recursos naturais.
4. Sandwatch manual: Adapting to Climate Change
and Educating for Sustainable Development,
Quando comunidades vulneráveis não possuem re-
UNESCO, 2009. http://www. sandwatch.ca/
siliência e recursos para resistir a um risco, o risco
New%20Sandwatch%20Manual/Manual.pdf
se torna um desastre. Outras variáveis como o cres-
cimento populacional podem exacerbar os impactos
50 Climate and health factsheet. World Health Organization, das mudanças climáticas, aumentando a propensão
2005. a desastres.

62 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
AS M U DA
A EDUCAÇÃO E
mecanismos para enfrentar essas situações com uma
postura positiva. A educação pode ser uma ferramen-
Os riscos de desastres se multiplicam conforme a in- ta para construir a capacidade local de lidar com os
tensidade do risco e a vulnerabilidade social e ambien- momentos posteriores aos desastres e ajudar os es-
tal da sociedade e de seu ambiente. Por outro lado tudantes e a comunidade a retornarem à vida normal.
podem ser reduzidos pela habilidade da sociedade
enfrentar tais riscos, como na equação abaixo:51 De forma semelhante, as instalações educacionais
podem representar um local seguro para as crianças
Risco de desastre = Vulnerabilidade X Riscos naturais em um ambiente não seguro. A educação também
Capacidade do sistema social representa um componente crítico das respostas de
Redução de Riscos de Desastres (RRD), ajudando in-
Quais são os impactos dos desastres divíduos e comunidades a se prepararem para desas-
tres e mitigarem suas vulnerabilidades a riscos.
sobre a educação?
Os desastres naturais podem destruir escolas e inter-
romper o funcionamento dos sistemas educacionais,
Redução do risco de desastres e
afetando a segurança física e o bem-estar psicológico atividades educacionais
de indivíduos e comunidades. O número das matrícu- Existem muitas atividades concretas de RRD que
las pode reduzir entre os mais vulneráveis, sobretudo podem ser planejadas e implementadas por profis-
garotas, populações que vivem na pobreza, residên- sionais da educação tanto em sala de aula quanto
cias chefiadas por crianças ou alunos matriculados na cidade ou país, ajudando a garantir a continuidade
na escola, mas que raramente comparecem às aulas. educacional e a reforçar os sistemas educacionais e
Os desastres também podem reduzir a qualidade de o aprendizado de RRD. Programas educacionais e de
ensino. De acordo com o UNICEF, nos próximos 10 RRD bem-sucedidos geralmente têm três componen-
anos cerca de 175 milhões de crianças podem ser afe- tes: (1) construção de escolas seguras; (2) educação
tadas pelo aumento esperado nos desastres naturais para prevenção de desastres, incluindo desenvolvi-
relacionados às mudanças climáticas52. A Estratégia mento de currículo, integração de conscientização e
Internacional para Redução dos Riscos de Desastres – conhecimentos sobre RRD na educação proporciona-
ONU/EIRD estima que mais de meio milhão de crian- da; e (3) integração da RRD no planejamento e nas
ças sejam deslocadas anualmente de suas escolas políticas educacionais.
devido às inundações53, que são o desastre natural
mais frequente por todo o mundo.
1) Construção de escolas seguras
Por que a educação é importante para Instalações seguras são essenciais para o planeja-
mento e, em último caso, para a redução de riscos.
redução dos riscos de desastres? As autoridades políticas devem defender legislações
Enquanto os efeitos negativos dos desastres sobre a para financiamento de instalações escolares seguras,
educação têm de ser considerados e remediados para garantindo que as novas escolas a serem construídas
garantirmos a permanência das dimensões de prote- estejam em conformidade com padrões satisfatórios
ção do sistema escolar, a educação é um instrumento e sejam resistentes a possíveis desastres e riscos
para prevenção dos próprios desastres. Diversas si- locais relacionados ao clima, e que as escolas exis-
tuações só são desastres devido ao comportamento tentes sejam avaliadas e reformadas caso necessário.
humano ou à falta de preparação. Quando se trata de Tais legislações também devem exigir que escolas
evitar ou limitar as consequências prejudiciais de um não sejam construídas em locais propensos a riscos
desastre frequentemente os conhecimentos de uma ou desastres, como terrenos sujeitos a inundações.
pessoa são mais importantes do que suas posses. Também deve haver foco no treinamento e incentivo
para que as empreiteiras locais cumpram com os pa-
Garantir a qualidade da educação antes, durante e drões de resistência a desastres. Além disso, a mídia
depois de desastres pode ajudar a construir a resili- (rádio, televisão, jornais, internet, etc) pode destacar
ência individual e comunitária para desastres futuros. os riscos que escolas não seguras representam para
Pode reduzir a vulnerabilidade a riscos, equipando os as crianças e incentivar uma cultura de segurança. Os
estudantes e suas comunidades com conhecimentos princípios orientadores da Rede Interinstitucional para
que podem salvar vidas e ajudando-os a desenvolver a Educação em Situação de Emergência – INEE (Inter-
-Agency Network for Education in Emergencies)54 são
um importante instrumento para abordar grandes la-
51 ‘The role of local institutions in reducing vulnerability cunas com relação à construção resistente a desas-
to recurrent natural disasters and in sustainable livelihoods
development in high-risk areas’, Asian Disaster Preparedness tres e à adequação de prédios escolares.
Centre, FAO Case Study, 2003.
52 UNICEF Humanitarian Action Report, 2010.
53 UNESCO Framing Paper for DRR and Education, 2010, 54 INEE Guidance Notes on Safer School Construction, http://
Internal document. gfdrr.org/docs/Guidance_Notes_Safe_Schools.pdf

Um guia de questões para profissionais da educação 63


CAPÍTULO 4
2) Educação para prevenção de desastres

Os governos devem se comprometer com o trei-


namento de professores e o desenvolvimento de
Componentes do kit para desastres currículos, dando suporte ao ensino de RRD em
O UNISDR Guidance on School Emergency and Di- grande escala. A prevenção e a prontidão para de-
saster Preparedness (Guia da ONU/EIRD de pron- sastres devem ser incorporadas em todo o currícu-
tidão para desastres e emergências escolares) su- lo e por meios cocurriculares e informais. Os es-
gere um “kit de primeiros socorros”. Ele cita como tudantes podem aprender sobre desastres e seus
exemplo kits de primeiros socorros da Cruz Verme- impactos como parte dos currículos de ciências e
lha – EUA para uma família com quatro pessoas, habilidades vitais. As aulas devem familiarizar os
que inclui: estudantes com os riscos locais e os procedimen-
• 2 compressas absorventes (12 x 23 cm) tos de emergência, enquanto uma abordagem mul-
• 25 curativos adesivos de diversos tamanhos tidisciplinar instrui os estudantes sobre os diversos
• 1 rolo de esparadrapo (10 metros x 2,5 centíme-
riscos existentes. As autoridades políticas podem
tros)
envolver os estudantes e professores na adapta-
• Pomada antibiótica
ção, no desenvolvimento e no teste de materiais
• 5 pacotes de lenços antissépticos
• 2 embalagens de aspirina (81 mg cada) interativos e estratégias de alta qualidade para en-
• 1 manta (manta isotérmica) sino de RRD, enquanto os professores precisam
• 1 máscara para respiração boca a boca ser treinados para conseguirem gerar ambientes
• 1 compressa fria instantânea seguros de aprendizado que promovam a proteção
• 2 pares de luvas (exceto látex), tamanho grande e o bem-estar dos estudantes. A educação para re-
• Pomada de hidrocortisona
• Tesouras
• 1 rolo de gaze (7,5 cm de largura)
• 1 rolo de gaze (10 cm de largura) Preparando um plano escolar de pron-
• 5 compressas de gaze (7,5 x 7,5 cm) tidão para emergências
• 5 compressas de gaze (10 x 10 cm)
O UNISDR Guidance on School Emergency and Di-
• Termômetro de via oral (que não seja de mercú-
saster Preparedness descreve os componentes de
rio ou vidro)
um plano escolar de emergência e prontidão para
• 2 gazes triangulares
RRD.
• Pinças
• Guia de instruções para primeiros socorros http://www.unisdr.org/preventionweb/files/15655_1
msshguidenotesprefinal0313101.pdf
http://readyclassroom.discoveryeducation.com/
media/pdfs/SCHOOL-EMERGENCY-SUPPLIES-
GO-KIT.pdf

Guidance
Notes
School Emergency and Disaster Preparedness

1 Million Safe Schools and Hospitals Campaign i

64 Mudanças climáticas – Guia básico


N Ç AS CLIMÁT ICAS
AS M U DA
A EDUCAÇÃO E
cação. Esse é o segredo para garantir o sucesso e
a sustentabilidade. As autoridades devem garantir a
dução dos riscos de desastres deve ser integrada existência de uma política clara de RRD para a edu-
a todos os tipos e níveis de educação. Diversos re- cação, e a adequação dos planos de contingência em
cursos e publicações foram produzidos pelas prin- caso de risco ou desastre. Os sistemas financeiros e
cipais organizações, como a INEE, a ONU/EIRD, a de gestão também são necessários para a realização
COGS e a TPKE.55 dos planos e políticas. Da mesma forma, a educação
deve ser agregada aos planos nacionais de resposta e
3) Políticas e planejamento RRD para garantir sua distribuição e implementação.

As iniciativas de educação e redução de riscos de As medidas no âmbito escolar podem envolver o


desastres devem envolver políticos, planejadores e estabelecimento de comitês escolares de seguran-
autoridades relacionados a todos os níveis da edu- ça e o desenvolvimento de planos de prontidão para
desastres e emergências escolares. Esses planos
55 INEE: Rede Internacional para Educação em Emergências; podem envolver políticas e procedimentos que pro-
EIRD: Estratégia Internacional para Redução de Desastres; movam a segurança e o bem-estar dos estudantes
COGS: Coalizão para Segurança das Escolas Globais e
Educação para Prevenção de Desastres; TPKE: Plataforma e a proteção das construções, mobílias e materiais
Temática para o Conhecimento e a Educação. da escola (ver caixa de texto “Preparando um plano
escolar de prontidão para emergências”). É preciso
realizar exercícios de emergência com frequência
Intervenção na educação e RRD: dois para desenvolver a capacidade de resposta dos
exemplos estudantes a desastres e identificar necessidades
Após o ciclone Nargis, que devastou Mianmar em de treinamento. Kits de primeiros socorros ou para
2008, o Programa de Recuperação do Ensino em
Mianmar (MERP – Myanmar Education Recovery
Programme) da UNESCO proporcionou auxílio técni- Estudantes influenciam a mudança da
co para complementar os esforços humanitários do escola para um local mais seguro
governo e do sistema das Nações Unidas. O objeti-
vo era aumentar a resiliência do setor educacional, Nas Filipinas, após aprenderem com uma avaliação
garantindo que a redução de risco de desastres e de riscos que sua escola estava sob alto risco de
a prontidão para emergências integrassem o plane- deslizamento, organizações infantis conduziram
jamento e a administração do sistema educacional. campanhas de educação sobre os processos físi-
A UNESCO se concentrou na promoção de uma cos dos deslizamentos e diversos estudantes es-
cultura de segurança através de uma abordagem creveram à Superintendência da Divisão Escolar
participativa, envolvendo autoridades educacionais expressando seu desejo de mudar. O diretor da es-
de todos os níveis e representantes de comunida- cola decidiu realizar um referendo comunitário para
des locais para que todos pudessem fazer sua parte realocar a escola. Inicialmente os pais eram contra
na implementação e no monitoramento eficaz do a ideia, mas os esforços dos estudantes geraram
programa de resposta, reabilitação e recuperação. conscientização e votos suficientes para que a es-
A organização também se envolveu na entrega de cola fosse mudada para um local mais seguro.
embalagens com recursos de RRD para autoridades História completa: http://www.plan-uk.org/what-
educacionais das cidades, diretores, professores e -we- do/disasters/increasing-resilience/25540/
cerca de 400.000 estudantes das cidades afetadas.
Após as inundações na Namíbia no início de 2009,
a UNESCO desenvolveu as lições aprendidas com
a resposta às inundações no setor educacional e
compartilhou suas boas práticas com autoridades
nacionais e organizações parceiras. Assim como
em Mianmar, a agência adotou uma abordagem de
diversos níveis que visou tanto o governo quanto a
comunidade. Foram realizadas oficinas para fortale-
cer os recursos nacionais de educação para pron-
tidão em emergências. Ao mesmo tempo em que
manuais escolares de RRD eram desenvolvidos com
base nos conhecimentos nativos, foram realizados
treinamentos em RRD com os jornalistas locais e
programas de rádio sobre a redução de riscos de ©Plan UK
desastres.

Um guia de questões para profissionais da educação 65


CAPÍTULO 4
esprefinal0313101.pdf
desastres criados a partir de kits de sobrevivência 2. UNISDR. Let our children teach us. http://
a terremotos devem ser disponibilizados às escolas www.unisdr.org/eng/partner-netw/ knowledge-
caso necessário, juntamente com o treinamento education/docs/Let-our-Children-Teach-Us.pdf
para seu uso (ver caixa de texto “Componentes do 3. UNISDR. Disaster Prevention for Schools
kit para desastres”). Guidance for Education Sector Decision-Makers.
http://www.preventionweb.net/ files/7344_
DPforSchoolssm.pdf
Princípios orientadores
4. UNCRD. Reducing Vulnerability of School Children
to Earthquakes. http://www.preventionweb.net/
1) Estudantes como agentes das mudanças
files /4001_ UNCRDSESIpublication2008.pdf
Crianças, jovens e outros estudantes devem ser in- 5. IFRC. Better be Prepared: Protected School.
centivados e apoiados na divulgação a conhecimen- http://www.proventionconsortium.org/ themes/
tos de RRD. Apesar de frequentemente serem mais default/pdfs/CRA/VCA4_en.pdf
vulneráveis em situações de desastres, os estudantes 6. INEE Guidance Notes on Safer School
podem exercer funções essenciais na construção da Construction. http://gfdrr.org/docs/ Guidance_
resiliência da comunidade, agindo como pontes entre Notes_Safe_Schools.pdf
famílias e comunidades. Transferir habilidades de RRD 7. American Red Cross. Anatomy of a First Aid Kit.
às crianças e aos jovens aumenta a possibilidade de http://www.redcross.org/ services/hss/ lifeline/
conhecimentos vitais sobre redução de riscos serem fakit.html
transmitidos às próximas gerações. Escolas e asso-
ciações de crianças e jovens podem exercer uma fun- 8. UNISDR. Towards a Culture of Prevention:
ção essencial na prevenção de desastres, envolvendo Disaster Risk Reduction Begins at School
as crianças em atividades de conscientização (jogos, – Good Practices and Lessons Learned.
apresentações musicais e teatro de rua, entre outros). http://www.unisdr.org/eng/about_isdr/isdr-
Cartazes também podem ser ferramentas úteis para publications/11-education-good-practices/
conscientização sobre a RRD. As crianças e jovens education-good-practices.pdf
também podem ser diretamente envolvidos em ou- 9. Save the Children. Child-led Disaster Risk
tras iniciativas de RRD, como plantio de árvores, co- Reduction: A Practical Guide
leta de água e irrigação por gotejamento (ver caixa de
Part 1. http://sca.savethechildren.se/upload/
texto “Estudantes influenciam a mudança da escola
para um local mais seguro” na página anterior). A in-
scs/SEAP/publication/publication%20 pdf/
clusão de mensagens de RRD em programas de rádio Disaster/Child-led%20Disaster%20Risk%20
feitos por crianças e jovens ou destinados a esse pú- Reduction-A%20practical%20guide-
blico também pode alcançar uma comunidade maior, part%201.pdf
sobretudo em áreas rurais. Part 2. http://sca.savethechildren.se/upload/
scs/SEAP/publication/publication%20
pdf/ Disaster/Child-led%20Disaster%20
2) Visar os mais vulneráveis Risk%20Reduction-A%20practical%20Guide-
Part%202.pdf
É importante alcançar os mais vulneráveis, que ape- 10. UNICEF and UNISDR. Let’s Learn to Prevent
sar de frequentemente serem os mais afetados por Disasters: educational kit and Riskland game.
desastres geralmente são ignorados no trabalho de
http://www.preventionweb.net/files/2114_
preparação (e até mesmo em algumas respostas
VL108012.pdf
emergenciais). Isso inclui idosos, deficientes físicos,
crianças e jovens que vivem ou trabalham nas ruas ou
cuidam de suas próprias residências, ou alunos matri-
culados na escola, mas que raramente comparecem
às aulas. A educação de RRD deve visar especialmen-
te esses grupos, e os programas devem ter consciên-
cia sobre a dinâmica local de gêneros.

Outras referências
1. UNISDR. Guidance Notes on School Emergency
and Disaster Preparedness. http://www.unisdr.
org/preventionweb/files/15655_1msshguidenot

66 Mudanças climáticas – Guia básico


D E T E RMOS USADOS
GLO S SÁ R IO

gias nacionais para administrar as emissões de gases


de efeito estufa e se adaptar aos impactos esperados,
Acidificação oceânica: Diminuição do pH da água do incluindo provisão de apoio financeiro e tecnológico
mar devido à absorção do dióxido de carbono antro- aos países em desenvolvimento; iii) cooperam com a
pogênico. preparação para a adaptação aos impactos das mu-
danças climáticas.
Adaptação: Alterações em sistemas naturais ou hu-
manos ocorridas ao longo do tempo de forma a refletir Desastre: Grave interrupção do funcionamento de
um ambiente novo ou em transformação. Exemplos uma comunidade ou sociedade envolvendo grandes
de adaptações: reativa e antecipada, privada e pública, perdas e impactos humanos, materiais, econômicos
autônoma e planejada. ou ambientais, e excedendo a capacidade da comuni-
dade ou sociedade afetada de abordar a situação com
Aquecimento global: Aumento gradual (observado seus próprios recursos.
ou projetado) na temperatura da superfície global, co-
nhecida como “temperatura global”. Uma das conse- Desenvolvimento sustentável: Desenvolvimento
quências da intensificação do efeito estufa, induzido que visa a atender nossas necessidades atuais sem
por emissões antropogênicas de gases de efeito es- comprometer as gerações futuras. É uma visão de de-
tufa na atmosfera. senvolvimento que abrange populações, espécies de
animais e plantas, ecossistemas e recursos naturais,
Biodiversidade: A variabilidade entre os organismos integrando questões como combate à pobreza, igual-
vivos de todos os ambientes (como terrestre, marinho dade de gêneros, direitos humanos, educação para to-
e outros ecossistemas aquáticos) e as comunidades dos, saúde, segurança humana e diálogo intercultural.
biológicas das quais esses organismos fazem parte.
Engloba a diversidade dentro de cada espécie, entre Desertificação: Transformação do solo em área árida,
diversas espécies e entre ecossistemas. semiárida ou subúmida seca ocasionada por diversos
fatores, como mudanças climáticas e atividades hu-
Capacidade adaptativa: Conceito geralmente usado manas. Um dos principais impactos da desertificação
para descrever a habilidade de um sistema de se alte- é a redução na biodiversidade e na capacidade pro-
rar (ou seja, se adaptar) em resposta a uma mudança dutiva.
climática. Aprimorar a capacidade adaptativa de um
sistema é essencial para reduzir sua vulnerabilidade Deslocamento humano: Migração forçada de um
aos riscos das mudanças climáticas. Em sistemas grupo de pessoas devido a alterações nas circunstân-
ecológicos, a capacidade adaptativa está relacionada cias locais (como enchentes, conflitos, secas, entre
à diversidade. Em sistemas sociais, as instituições e outros).
redes desempenham uma função imprescindível.
Ecossistema: Sistema dinâmico e complexo compos-
Ciclo hidrológico: Movimento da água ao evaporar to por organismos vivos e seu meio ambiente físico,
dos rios, lagos e oceanos, retornar à terra como preci- que interagem entre si como unidade funcional. A
pitação, fluir para os rios e evaporar novamente. extensão de um ecossistema pode variar de escalas
espaciais muito pequenas à Terra inteira.
Clima: “Tempo meteorológico médio” calculado atra-
vés da média e da variabilidade de índices relevantes Efeito estufa: Termo que descreve a função da atmos-
(como temperatura, precipitação e vento) durante um fera terrestre no isolamento e aquecimento da super-
período de tempo que pode ir de meses a milhares fície terrestre. Sem esse efeito, a Terra seria um plane-
ou milhões de anos. Clima também pode descrever a ta gélido, cuja superfície teria temperatura média de
situação do sistema atmosférico, incluindo descrições -18°C (cerca de 0°F).
estatísticas. O período normalmente usado é de 30
anos (OMM). El niño: Padrões sistemáticos e recorrentes no tem-
po meteorológico do sistema oceânico-atmosférico
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mu- do Pacífico tropical, com consequências importantes
danças Climáticas – CQNUMC: A Convenção sobre para o tempo de todo o planeta.
Mudanças Climáticas dispõe uma estrutura geral para
as iniciativas governamentais lidarem com os desafios Gás de efeito estufa (GEE): Componentes gasosos
impostos pelas mudanças climáticas. Ela reconhece da atmosfera, como vapor de água (H2O), dióxido de
que o sistema atmosférico é um recurso compartilha- carbono (CO2), óxido nitroso (N2O), metano (CH4) e
do cuja estabilidade pode ser afetada por emissões ozônio (O3). Esses gases naturais e antropogênicos
industriais, entre outras, de dióxido de carbono e ou- podem absorver e emitir ondas de radiação em de-
tros gases de efeito estufa. A Convenção conta com terminados comprimentos dentro do espectro da ra-
participações de praticamente todo o mundo. Sob ela, diação infravermelha térmica emitida pela superfície
os governos: i) obtêm e compartilham informações a terrestre, pela atmosfera e por nuvens, causando o
respeito de emissões de gases de efeito estufa, polí- efeito estufa.
ticas nacionais e melhores práticas; ii) lançam estraté-

Um guia de questões para profissionais da educação 67


T E R M OS USA DOS
GLOSSÁ R IO D E
desses sistemas variam conforme o ano, e essa varia-
Geoengenharia: Opções tecnológicas que visam a ção é conhecida como Oscilação do Atlântico Norte.
manipular propositalmente o clima da Terra, produzin-
do um efeito de resfriamento global para reduzir o im- Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climá-
pacto do aquecimento global resultante das emissões ticas – IPCC (Intergovernamental Panel on Climate
de gases de efeito estufa. Change): Principal órgão internacional para avalia-
ção das mudanças climáticas. Foi estabelecido pelo
Mecanismos do mercado de carbono: O Protocolo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambien-
de Kyoto possui três mecanismos fundamentados no te – PNUMA (em inglês, United Nations Environment
mercado: o comércio de emissões, o mecanismo de Programme – UNEP) para proporcionar uma visão
desenvolvimento limpo e a implementação conjunta. científica clara sobre a situação atual das mudanças
Esses mecanismos foram criados para ajudar os paí- climáticas e seus possíveis impactos ambientais e so-
ses a cumprirem suas metas de emissão de gases de cioeconômicos. A Assembleia Geral das Nações Uni-
efeito estufa (previstas no próprio Protocolo) e para das endossou a ação conjunta do PNUMA e da OMM
incentivar o setor privado e os países em desenvolvi- para estabelecer o IPCC. O IPCC é um órgão científi-
mento a contribuírem com as iniciativas para redução co. Ele analisa e avalia as mais recentes informações
de emissões. científicas, técnicas e socioeconômicas produzidas
em todo o mundo e relevantes para a compreensão
Migração: A migração humana é o movimento físico das mudanças climáticas. Não conduz, pesquisa ou
de seres humanos de uma área a outra, às vezes por monitora parâmetros e dados relacionados ao clima.
longas distâncias e/ou em grandes grupos. Atualmen-
te o movimento populacional prossegue sob duas for- Pegada de carbono: Medida do impacto que nossas
mas: a migração voluntária e a migração involuntária, atividades têm sobre o meio ambiente, principalmen-
sendo que ambas podem ocorrer entre áreas, regiões te sobre as mudanças climáticas. Está relacionada à
ou países. quantidade de gases de efeito estufa que produzimos
em nosso cotidiano através da queima de combustí-
Mitigação: Intervenção humana para reduzir as fon- veis fósseis para obter eletricidade, aquecimento e
tes dos gases de efeito estufa ou aumentar sua dis- transporte, entre outros. É indicada por toneladas (ou
sipação. kg) do equivalente em dióxido de carbono.

Mudança climática: Alteração no estado do sistema Redução das Emissões de Desmatamento e De-
atmosférico ao longo do tempo devido à variabilida- gradação (REDD+): Conjunto de etapas planejado de
de natural ou como resultado da atividade humana. A forma a usar incentivos financeiros e de mercado para
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudan- reduzir as emissões de gases de efeito estufa resul-
ças Climáticas (CQNUMC) define mudança climática tantes do desmatamento e da degradação das flores-
como “uma mudança no clima direta ou indiretamen- tas. Seu objetivo original é reduzir os gases de efeito
te atribuível à atividade humana, que altera a compo- estufa, mas pode contar com “benefícios colaterais”
sição da atmosfera global e está além das variações como conservação da biodiversidade e mitigação da
naturais observadas em períodos comparáveis de pobreza.
tempo”.
Redução do risco de desastres – RRD: Conceitos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM): e práticas para redução dos riscos de desastres atra-
Série de oito objetivos de desenvolvimento interna- vés de iniciativas sistemáticas de análise e gestão
cional combinados para realização até 2015 pelos 192 dos fatores causais dos desastres, como redução da
Estados-membros das Nações Unidas e por pelo me- exposição a riscos, diminuição da vulnerabilidade de
nos 23 organizações internacionais. Entre eles estão imóveis e pessoas, administração prudente do solo e
a erradicação da pobreza extrema, a redução dos ín- do ambiente e melhoria na prontidão e capacidade de
dices de mortalidade infantil, o combate a doenças resposta a eventos adversos.
epidêmicas (como a AIDS) e o desenvolvimento de
uma parceria global para o desenvolvimento.

Oscilação do Atlântico Norte: Um sistema perma-


nente de baixa pressão na região da Islândia (a “De-
pressão da Islândia”) e um sistema permanente de
alta pressão na região dos Açores (o “Anticiclone dos
Açores”) que controlam a direção e a força dos ven-
tos ocidentais na Europa. A força e a posição relativas

68 Mudanças climáticas – Guia básico


INICIATIVA UNESCO SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS
QUATRO PROGRAMAS PRINCIPAIS
1. Ciência e conhecimentos climáticos 3. Mudanças climáticas, diversidade bio-
Desenvolvimento pela UNESCO de um fórum com lógica e cultural e herança cultural
embasamento científico sobre a adaptação às mu- Desenvolvimento de um observatório global de mu-
danças climáticas. danças climáticas em campo nos Sítios da UNESCO.
O objetivo do Fórum é informar as pessoas envolvi- O objetivo desses Observatórios é usar as reser-
das (autoridades políticas nacionais, mulheres e co- vas de biosfera e os Sítios de Patrimônio Mundial
munidades vulneráveis, mídia local, redes culturais e da UNESCO como referências prioritárias para com-
científicas e organizações científicas locais, regionais preender os impactos das mudanças climáticas na
e internacionais) com agricultura, pesca (incluindo diversidade cultural e nas sociedades humanas; nas
aquicultura), administração florestal, energias alterna- atividades dos ecossistemas e de biodiversidade;
tivas, água potável, oceanografia, ciências ambientais na herança cultural e natural do mundo; além das
e atividades costeiras, tanto no setor possíveis estratégias de adaptação
público quanto no privado, a respeito e mitigação, como as relacionadas à
das previsões climáticas de longo pra- REDD+.
zo e seus possíveis impactos, além de
aprimorar os recursos das estratégias
apropriadas de resposta.

2. Educação sobre as Mudan- 4. Dimensões das mudanças


ças Climáticas – CCE (Climate climáticas nas ciências huma-
Change Education) no contex- nas, sociais e éticas
to global da Educação para o Desenvolvimento de um novo Progra-
Desenvolvimento Sustentável – EDS ma de Pesquisa estrategicamente relevante e orien-
tado por ações nas dimensões de gênero, sociais,
Desenvolvimento de uma Educação sobre as Mu-
humanas e éticas das mudanças climáticas.
danças Climáticas para o Programa de Desenvolvi-
mento Sustentável. O programa se concentrará no planejamento e im-
plementação de ações apropriadas para adaptação às
O programa usará abordagens educacionais inova-
mudanças climáticas, com base no programa MOST
doras para auxiliar um grande público (com foco par-
(Management of Social Transformations – Gestão
ticular nos jovens) a compreender, abordar, mitigar e
das Transformações Sociais) e em programas de éti-
se adaptar aos impactos das mudanças climáticas,
ca ambiental, visando ao benefício dos indivíduos
incentivando as alterações necessárias nos compor-
mais vulneráveis aos problemas comuns de gestão
tamentos e atitudes para que coloquemos nosso
de água, biosfera e energia, e à melhor compreensão
mundo no caminho para um desenvolvimento mais
das questões relacionadas às mudanças climáticas
sustentável, e formando uma nova geração de cida-
com relação à igualdade de gêneros.
dãos conscientes sobre as mudanças de clima.

Para mais informações, acesse: www.unesco.org/en/climatechange

QUATRO PROGRAMAS PRINCIPAIS


TRABALHO DO PNUMA EM MUDANÇAS CLIMÁTICAS
1. Resiliência a um clima em mudanças 3. Crescimento de baixo carbono
Apoio para países na redução da própria vulnerabi- O PNUMA auxilia países na transição para o cresci-
lidade e no uso das atividades de seus ecossiste- mento de baixo carbono e a economia verde, pro-
mas com o objetivo de fortalecer a própria resiliên- porcionando acesso a produtos financeiros e pro-
cia contra os impactos das mudanças climáticas. movendo fontes renováveis de energia limpa, além
2. Redução das Emissões de Desmatamento da eficiência no uso e conservação da energia.
e Degradação das Florestas 4. Compreensão e consciência da ciência
(REDD+) climática
O PNUMa auxilia países no desen- Como uma organização com bases científi-
volvimento de estratégias REDD e cas, o PNUMA trabalha para proporcionar
no teste de projetos-piloto REDD, informações e conhecimentos científicos
incluindo considerações dos bene- sobre as mudanças climáticas para que
fícios colaterais das estratégias e as autoridades, os negociadores, os
ações REDD sobre a biodiversida- grandes grupos, a sociedade civil e
de e a subsistência, por exemplo. o setor privado tomem melhores
decisões a esse respeito.
Para mais informações, acesse: www.unep.org/climatechange

An Issues Guide for Education Planners and Practitioners 69


Adaptação
Mitigação
a
Mudança Climátic

Padrões de
Educação Consumo
Pegada de
Carbono

N Ç A C L IM ÁTICA
MUDA
O
GUIA BÁSIC SIONAIS DA EDUCAÇÃ
O
U E STÕ E S PARA PROFIS
UM GU IA DE Q

Mais informações

Para mais informações a respeito do trabalho da UNESCO sobre mudanças climáticas,


acesse nosso site:
http://www.unesco.org/en/climatechange

Para mais informações a respeito do trabalho do PNUMA sobre mudanças climáticas,


acesse nosso site:
http://www.unep.org/climatechange

Impresso em julho de 2011 em Paris, França, usando tinta à base de soja sobre papel
reciclado. Após a leitura, recicle ou deixe esta publicação com um amigo ou conhecido.

A UNESCO e o PNUMA Década da educação para o


agradecem os recursos fornecidos desenvolvimento sustentável
pelo Ministério de Relações UNESCO
Exteriores da Dinamarca. 7, Place de Fontenoy
75253 Paris 07 SP
França

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