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SEE-BA
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
Edital de Abertura de Inscrições – SAEB/02/2017, de 09 de Novembro de 2017
NB036-2017
DADOS DA OBRA
Professora
Silvana Guimarães
Produção Editorial/Revisão
Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Camila Lopes
Suelen Domenica Pereira
Capa
Joel Ferreira dos Santos
Editoração Eletrônica
Marlene Moreno
Gerente de Projetos
Bruno Fernandes
APRESENTAÇÃO
CURSO ONLINE
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SUMÁRIO
Conhecimentos Específicos
O Projeto Político Pedagógico: o marco para a autonomia da unidade escolar, sua construção coletiva e sua implemen-
tação na escola.......................................................................................................................................................................................................... 01
O Projeto Político Pedagógico como diretriz para o planejamento da organização e do desenvolvimento do currículo
escolar: planos de ensino, aulas, reconfigurações das ações e avaliação cíclica do executado. .............................................. 06
O Projeto Político Pedagógico como guia para a participação, gestão colegiada e ambiente das representações da de-
mocracia escolar........................................................................................................................................................................................................ 14
O Projeto Político Pedagógico como dispositivo institucional a favor interação, integração e (re)invenção das práticas
pedagógicas............................................................................................................................................................................................................... 19
O Projeto Político Pedagógico à luz da LDB vigente: estratégia convergente para a cultura organizacional de uma escola
que se preocupa com a finalidade dos saberes no cotidiano da vida dos estudantes e nos seus grupos de interação
social.............................................................................................................................................................................................................................. 22
Implicações da interdisciplinaridade no processo de ensino e aprendizagem e na formação dos profissionais: dilemas,
desafios e perspectivas........................................................................................................................................................................................... 24
A interdisciplinaridade e a perspectiva de um novo paradigma para o trabalho docente em sala de aula......................... 32
A interdisciplinaridade e seu foco para a organização de conteúdos em áreas de conhecimento......................................... 35
A interdisciplinaridade e a interação entre conhecimentos: a comunicação entre saberes escolares. ................................. 40
A interdisciplinaridade como estratégia pedagógica para a renovação da didática..................................................................... 41
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
6. Participar da administração da escola. Conclusão: Contribuir para o debate sobe a sua profissio-
- Elaborar, negociar um projeto da instituição; nalização, com responsabilidade numa formação continua.1
- Administrar os recursos da escola;
- Coordenar, dirigir uma escola com todos os seus par- Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicio-
ceiros (serviços para escolares, bairro, associações de pais, nantes de ordem sociopolítica que implicam diferentes
professores de línguas e cultura de origem); concepções de homem e de sociedade e, consequente-
- Organizar e fazer evoluir, no âmbito da escola, a par- mente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola e
ticipação dos alunos. da aprendizagem, inter alia. Assim, justifica-se o presente
estudo, tendo em vista que o modo como os professores
7. Informar e envolver os pais. realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses pres-
- Dirigir reuniões de informação e de debate; supostos teóricos, explícita ou implicitamente.
- Fazer entrevistas;
- Envolver os pais na construção dos saberes. TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS
Segundo LIBÂNEO (1990), a pedagogia liberal sustenta
8. Utilizar novas tecnologias. a ideia de que a escola tem por função preparar os indi-
As novas tecnologias da informação e da comunicação víduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo
transformam as maneiras de se comunicar, de trabalhar, de com as aptidões individuais. Isso pressupõe que o indiví-
decidir e de pensar. O professor predica usar editores de duo precisa adaptar-se aos valores e normas vigentes na
textos, explorando didáticas e programas com objetivos sociedade de classe, através do desenvolvimento da cul-
educacionais. tura individual. Devido a essa ênfase no aspecto cultural,
- Discutir a questão da informática na escola; as diferenças entre as classes sociais não são consideradas,
pois, embora a escola passe a difundir a ideia de igualdade
- Utilizar editores de texto; de oportunidades, não leva em conta a desigualdade de
- Explorar as potencialidades didáticas dos programas condições.
em relação aos objetivos do ensino;
- Comunicar-se à distância por meio da telemática; TENDÊNCIA LIBERAL TRADICIONAL
- Utilizar as ferramentas multimídia no ensino. Segundo esse quadro teórico, a tendência liberal tra-
dicional se caracteriza por acentuar o ensino humanístico,
Assim, quanto à oitava competência de Perrenoud, que de cultura geral. De acordo com essa escola tradicional, o
trabalhos nessa pesquisa, a Informática na Educação, nos aluno é educado para atingir sua plena realização através
fez perceber que cada vez mais precisamos do computa- de seu próprio esforço. Sendo assim, as diferenças de clas-
dor, porque estamos na era da informatização e por isso
se social não são consideradas e toda a prática escolar não
é primordial que nós profissionais da educação estejamos
tem nenhuma relação com o cotidiano do aluno.
modernizados e acompanhando essa tendência, visto que
Quanto aos pressupostos de aprendizagem, a ideia de
assim como um simples pagamento no banco, utilizamos o
que o ensino consiste em repassar os conhecimentos para
computador , para estarmos atualizados necessitamos ob-
o espírito da criança é acompanhada de outra: a de que a
ter mais esta competência para se fazer uma docência de
capacidade de assimilação da criança é idêntica à do adul-
qualidade.
to, sem levar em conta as características próprias de cada
9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. idade. A criança é vista, assim, como um adulto em minia-
- Prevenir a violência na escola e fora dela; tura, apenas menos desenvolvida.
- Lutar contra os preconceitos e as discriminações se- No ensino da língua portuguesa, parte-se da concep-
xuais, étnicas e sociais; ção que considera a linguagem como expressão do pensa-
- Participar da criação de regras de vida comum refe- mento. Os seguidores dessa corrente linguística, em razão
rente á disciplina na escola, às sanções e à apreciação da disso, preocupam-se com a organização lógica do pensa-
conduta; mento, o que presume a necessidade de regras do bem
- Analisar a relação pedagógica, a autoridade, a comu- falar e do bem escrever. Segundo essa concepção de lin-
nicação em aula; guagem, a Gramática Tradicional ou Normativa se constitui
- Desenvolver o senso de responsabilidade, a solidarie- no núcleo dessa visão do ensino da língua, pois vê nessa
dade e o sentimento de justiça. gramática uma perspectiva de normatização linguística,
tomando como modelo de norma culta as obras dos nos-
10. Administrar sua própria formação contínua. sos grandes escritores clássicos. Portanto, saber gramática,
- Saber explicitar as próprias práticas; teoria gramatical, é a garantia de se chegar ao domínio da
- Estabelecer seu próprio balanço de competência e seu língua oral ou escrita.
programa pessoa de formação contínua;
- Negociar um projeto de formação comum com os co-
legas (equipe, escola, rede); 1 Fonte:
- Envolver-se em tarefas em escala de uma ordem de Perrenoud, Philippe. 10 Novas Competências para Ensinar.
ensino ou do sistema educativo; Porto Alegre: ARTMED, 2000. Reimpressão 2008
- Acolher a formação dos colegas e participar dela.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Assim, predomina, nessa tendência tradicional, o ensi- Conforme MATUI (1988), a escola tecnicista, baseada
no da gramática pela gramática, com ênfase nos exercícios na teoria de aprendizagem S-R, vê o aluno como depositá-
repetitivos e de recapitulação da matéria, exigindo uma rio passivo dos conhecimentos, que devem ser acumulados
atitude receptiva e mecânica do aluno. Os conteúdos são na mente através de associações. Skinner foi o expoente
organizados pelo professor, numa sequencia lógica, e a ava- principal dessa corrente psicológica, também conhecida
liação é realizada através de provas escritas e exercícios de como behaviorista. Segundo RICHTER (2000), a visão beha-
casa. viorista acredita que adquirimos uma língua por meio de
imitação e formação de hábitos, por isso a ênfase na repe-
TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA PROGRESSIVISTA tição, nos drills, na instrução programada, para que o aluno
Segundo essa perspectiva teórica de Libâneo, a tendên- forme “hábitos” do uso correto da linguagem.
cia liberal renovada (ou pragmatista) acentua o sentido da A partir da Reforma do Ensino, com a Lei 5.692/71, que
cultura como desenvolvimento das aptidões individuais. implantou a escola tecnicista no Brasil, preponderaram as
A escola continua, dessa forma, a preparar o aluno para influências do estruturalismo linguístico e a concepção de
assumir seu papel na sociedade, adaptando as necessidades linguagem como instrumento de comunicação. A língua –
do educando ao meio social, por isso ela deve imitar a vida. como diz TRAVAGLIA (1998) – é vista como um código, ou
Se, na tendência liberal tradicional, a atividade pedagógica seja, um conjunto de signos que se combinam segundo re-
estava centrada no professor, na escola renovada progres- gras e que é capaz de transmitir uma mensagem, informa-
sivista, defende-se a ideia de “aprender fazendo”, portanto ções de um emissor a um receptor. Portanto, para os estru-
centrada no aluno, valorizando as tentativas experimentais, turalistas, saber a língua é, sobretudo, dominar o código.
a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social, No ensino da Língua Portuguesa, segundo essa con-
etc, levando em conta os interesses do aluno. cepção de linguagem, o trabalho com as estruturas lin-
Como pressupostos de aprendizagem, aprender se tor- guísticas, separadas do homem no seu contexto social, é
na uma atividade de descoberta, é uma autoaprendizagem, visto como possibilidade de desenvolver a expressão oral e
sendo o ambiente apenas um meio estimulador. Só é retido escrita. A tendência tecnicista é, de certa forma, uma mo-
dernização da escola tradicional e, apesar das contribui-
aquilo que se incorpora à atividade do aluno, através da
ções teóricas do estruturalismo, não conseguiu superar os
descoberta pessoal; o que é incorporado passa a compor a
equívocos apresentados pelo ensino da língua centrado na
estrutura cognitiva para ser empregado em novas situações.
gramática normativa. Em parte, esses problemas ocorreram
É a tomada de consciência, segundo Piaget.
devido às dificuldades de o professor assimilar as novas
No ensino da língua, essas ideias escolanovistas não
teorias sobre o ensino da língua materna.
trouxeram maiores consequências, pois esbarraram na prá-
tica da tendência liberal tradicional.
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS
Segundo Libâneo, a pedagogia progressista designa as
TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA NÃO-DIRETIVA tendências que, partindo de uma análise crítica das realida-
Acentua-se, nessa tendência, o papel da escola na for- des sociais, sustentam implicitamente as finalidades socio-
mação de atitudes, razão pela qual deve estar mais preo- políticas da educação.
cupada com os problemas psicológicos do que com os
pedagógicos ou sociais. Todo o esforço deve visar a uma TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTADORA
mudança dentro do indivíduo, ou seja, a uma adequação
pessoal às solicitações do ambiente. As tendências progressistas libertadoras e libertárias
Aprender é modificar suas próprias percepções. Ape- têm, em comum, a defesa da autogestão pedagógica e o
nas se aprende o que estiver significativamente relacionado antiautoritarismo. A escola libertadora, também conhecida
com essas percepções. A retenção se dá pela relevância do como a pedagogia de Paulo Freire, vincula a educação à
aprendido em relação ao “eu”, o que torna a avaliação esco- luta e organização de classe do oprimido. Segundo GA-
lar sem sentido, privilegiando-se a auto-avaliação. Trata-se DOTTI (1988), Paulo Freire não considera o papel informati-
de um ensino centrado no aluno, sendo o professor apenas vo, o ato de conhecimento na relação educativa, mas insis-
um facilitador. No ensino da língua, tal como ocorreu com te que o conhecimento não é suficiente se, ao lado e junto
a corrente pragmatista, as ideias da escola renovada não- deste, não se elabora uma nova teoria do conhecimento e
diretiva, embora muito difundidas, encontraram, também, se os oprimidos não podem adquirir uma nova estrutura
uma barreira na prática da tendência liberal tradicional. do conhecimento que lhes permita reelaborar e reordenar
seus próprios conhecimentos e apropriar-se de outros.
TENDÊNCIA LIBERAL TECNICISTA Assim, para Paulo Freire, no contexto da luta de classes,
A escola liberal tecnicista atua no aperfeiçoamento da o saber mais importante para o oprimido é a descoberta
ordem social vigente (o sistema capitalista), articulando-se da sua situação de oprimido, a condição para se libertar da
diretamente com o sistema produtivo; para tanto, emprega exploração política e econômica, através da elaboração da
a ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecno- consciência crítica passo a passo com sua organização de
logia comportamental. Seu interesse principal é, portanto, classe. Por isso, a pedagogia libertadora ultrapassa os limi-
produzir indivíduos “competentes” para o mercado de tra- tes da pedagogia, situando-se também no campo da eco-
balho, não se preocupando com as mudanças sociais. nomia, da política e das ciências sociais, conforme Gadotti.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Como pressuposto de aprendizagem, a força motivadora receptor, descendente, top-down, segundo os inatistas, mas
deve decorrer da codificação de uma situação-problema que ascendente/descendente, ou seja, a partir de uma negociação
será analisada criticamente, envolvendo o exercício da abs- de sentido entre enunciador e receptor. Assim, nessa aborda-
tração, pelo qual se procura alcançar, por meio de represen- gem interacionista, o receptor é retirado da sua condição de
tações da realidade concreta, a razão de ser dos fatos. Assim, mero objeto do sentido do texto, de alguém que estava ali
como afirma Libâneo, aprender é um ato de conhecimento para decifrá-lo, decodificá-lo, como ocorria, tradicionalmen-
da realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo edu- te, no ensino da leitura.
cando, e só tem sentido se resulta de uma aproximação crítica As ideias desses psicólogos interacionistas vêm ao
dessa realidade. Portanto o conhecimento que o educando encontro da concepção que considera a linguagem como
transfere representa uma resposta à situação de opressão a forma de atuação sobre o homem e o mundo e das moder-
que se chega pelo processo de compreensão, reflexão e crí- nas teorias sobre os estudos do texto, como a Linguística
tica. Textual, a Análise do Discurso, a Semântica Argumentativa
No ensino da Leitura, Paulo Freire, numa entrevista, sinte- e a Pragmática, entre outros.
tiza sua ideia de dialogismo: “Eu vou ao texto carinhosamente. De acordo com esse quadro teórico de José Carlos Li-
De modo geral, simbolicamente, eu puxo uma cadeira e con- bâneo, deduz-se que as tendências pedagógicas liberais,
vido o autor, não importa qual, a travar um diálogo comigo”. ou seja, a tradicional, a renovada e a tecnicista, por se de-
clararem neutras, nunca assumiram compromisso com as
TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA transformações da sociedade, embora, na prática, procu-
A escola progressista libertária parte do pressuposto de rassem legitimar a ordem econômica e social do sistema
que somente o vivido pelo educando é incorporado e utiliza- capitalista. No ensino da língua, predominaram os méto-
do em situações novas, por isso o saber sistematizado só terá dos de base ora empirista, ora inatista, com ensino da gra-
relevância se for possível seu uso prático. A ênfase na apren- mática tradicional, ou sob algumas as influências teóricas
dizagem informal via grupo, e a negação de toda forma de do estruturalismo e do gerativismo, a partir da Lei 5.692/71,
repressão, visam a favorecer o desenvolvimento de pessoas da Reforma do Ensino.
mais livres. No ensino da língua, procura valorizar o texto pro- Já as tendências pedagógicas progressistas, em oposi-
duzido pelo aluno, além da negociação de sentidos na leitura. ção às liberais, têm em comum a análise crítica do sistema
capitalista. De base empirista (Paulo Freire se proclamava
TENDÊNCIA PROGRESSISTA CRÍTICO-SOCIAL DOS CON- um deles) e marxista (com as ideias de Gramsci), essas ten-
TEÚDOS dências, no ensino da língua, valorizam o texto produzido
Conforme Libâneo, a tendência progressista crítico-social pelo aluno, a partir do seu conhecimento de mundo, assim
dos conteúdos, diferentemente da libertadora e libertária, como a possibilidade de negociação de sentido na leitura.
acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto com as A partir da LDB 9.394/96, principalmente com as difu-
realidades sociais. A atuação da escola consiste na preparação sões das idéias de Piaget, Vygotsky e Wallon, numa pers-
do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecen- pectiva sócio-histórica, essas teorias buscam uma aproxi-
do-lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos mação com modernas correntes do ensino da língua que
e da socialização, para uma participação organizada e ativa na consideram a linguagem como forma de atuação sobre o
democratização da sociedade. homem e o mundo, ou seja, como processo de interação
Na visão da pedagogia dos conteúdos, admite-se o prin- verbal, que constitui a sua realidade fundamental.
cípio da aprendizagem significativa, partindo do que o alu-
no já sabe. A transferência da aprendizagem só se realiza no TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS BRASILEIRAS
momento da síntese, isto é, quando o aluno supera sua visão As tendências pedagógicas brasileiras foram muito in-
parcial e confusa e adquire uma visão mais clara e unificadora. fluenciadas pelo momento cultural e político da sociedade,
pois foram levadas à luz graças aos movimentos sociais e
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PÓS-LDB 9.394/96 filosóficos. Essas formaram a prática pedagógica do país.
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de Os professores Saviani (1997) e Libâneo (1990) pro-
n.º 9.394/96, revalorizam-se as ideias de Piaget, Vygotsky e põem a reflexão sobre as tendências pedagógicas. Mos-
Wallon. Um dos pontos em comum entre esses psicólogos é trando que as principais tendências pedagógicas usadas
o fato de serem interacionistas, porque concebem o conhe- na educação brasileira se dividem em duas grandes linhas
cimento como resultado da ação que se passa entre o sujeito de pensamento pedagógico. Elas são: Tendências Liberais e
e um objeto. De acordo com Aranha (1998), o conhecimento Tendências Progressistas.
não está, então, no sujeito, como queriam os inatistas, nem no Os professores devem estudar e se apropriar dessas
objeto, como diziam os empiristas, mas resulta da interação tendências, que servem de apoio para a sua prática peda-
entre ambos. gógica. Não se deve usar uma delas de forma isolada em
toda a sua docência. Mas, deve-se procurar analisar cada
Para citar um exemplo no ensino da língua, segundo essa uma e ver a que melhor convém ao seu desempenho aca-
perspectiva interacionista, a leitura como processo permite a dêmico, com maior eficiência e qualidade de atuação. De
possibilidade de negociação de sentidos em sala de aula. O acordo com cada nova situação que surge, usa-se a ten-
processo de leitura, portanto, não é centrado no texto, as- dência mais adequada. E observa-se que hoje, na prática
cendente, bottom-up, como queriam os empiristas, nem no docente, há uma mistura dessas tendências.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Deste modo, seguem as explicações das características Libertária – Procura a transformação da personalidade
de cada uma dessas formas de ensino. Porém, ao analisá num sentido libertário e autogestionário. Parte do pressu-
-las, deve-se ter em mente que uma tendência não substitui posto de que somente o vivido pelo educando é incorpo-
totalmente a anterior, mas ambas conviveram e convivem rado e utilizado em situações novas, por isso o saber siste-
com a prática escolar. matizado só terá relevância se for possível seu uso prático.
Enfoca a livre expressão, o contexto cultural, a educação
Tendências Liberais - Liberal não tem a ver com algo estética. Os conteúdos, apesar de disponibilizados, não são
aberto ou democrático, mas com uma instigação da so- exigidos pelos alunos e o professor é tido como um conse-
ciedade capitalista ou sociedade de classes, que sustenta a lheiro à disposição do aluno.
ideia de que o aluno deve ser preparado para papéis sociais “Crítico-social dos conteúdos” ou “Histórico-Crítica”
de acordo com as suas aptidões, aprendendo a viver em - Tendência que apareceu no Brasil nos fins dos anos 70,
harmonia com as normas desse tipo de sociedade, tendo acentua a prioridade de focar os conteúdos no seu con-
uma cultura individual. fronto com as realidades sociais, é necessário enfatizar o
Tradicional - Foi a primeira a ser instituída no Brasil por conhecimento histórico. Prepara o aluno para o mundo
motivos históricos. Nesta tendência o professor é a figura adulto, com participação organizada e ativa na democra-
central e o aluno é um receptor passivo dos conhecimen- tização da sociedade; por meio da aquisição de conteúdos
tos considerados como verdades absolutas. Há repetição de e da socialização. É o mediador entre conteúdos e alunos.
exercícios com exigência de memorização. O ensino/aprendizagem tem como centro o aluno. Os co-
Renovadora Progressiva - Por razões de recomposição nhecimentos são construídos pela experiência pessoal e
da hegemonia da burguesia, esta foi a próxima tendência subjetiva.
a aparecer no cenário da educação brasileira. Caracteriza- Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
se por centralizar no aluno, considerado como ser ativo e (LDB 9.394/96), ideias como de Piaget, Vygotsky e Wallon
curioso. Dispõe da ideia que ele “só irá aprender fazendo”, foram muito difundidas, tendo uma perspectiva sócio-his-
valorizam-se as tentativas experimentais, a pesquisa, a des- tórica e são interacionistas, isto é, acreditam que o conhe-
coberta, o estudo do meio natural e social. Aprender se tor-
cimento se dá pela interação entre o sujeito e um objeto.
na uma atividade de descoberta, é uma autoaprendizagem.
Alguns dos principais expoentes da história educacio-
O professor é um facilitador.
nal nacional e internacional debruçaram-se sobre a ques-
Renovadora não diretiva (Escola Nova) – Anísio Teixeira foi
tão das tendências pedagógicas. Autores como Paulo Frei-
o grande pioneiro da Escola Nova no Brasil. É um método cen-
re, Luckesi, Libâneo, Saviani e Gadotti, entre outros não me-
trado no aluno. A escola tem o papel de formadora de atitudes,
preocupando-se mais com a parte psicológica do que com a nos importantes, dedicaram grande parte de suas vidas a
social ou pedagógica. E para aprender tem que estar significa- estudos que pudessem contribuir para o avanço da Educa-
tivamente ligado com suas percepções, modificando-as. ção, desenvolvendo teorias para nortear as práticas peda-
Tecnicista – Skinner foi o expoente principal dessa cor- gógicas, objetivando melhorar a qualidade do ensino que é
rente psicológica, também conhecida como behaviorista. aplicado nas escolas. Essa é a função das tendências peda-
Neste método de ensino o aluno é visto como depositário gógicas no universo educacional. O que se pretende neste
passivo dos conhecimentos, que devem ser acumulados na trabalho é justamente trazer à tona essa questão, erguendo
mente através de associações. O professor é quem deposi- a bandeira das tendências pedagógicas contemporâneas,
ta os conhecimentos, pois ele é visto como um especialista buscando, assim, contribuir para uma melhor assimilação
na aplicação de manuais; sendo sua prática extremamente delas por parte de alguns professores de escolas públicas.
controlada. Articula-se diretamente com o sistema produ-
tivo, com o objetivo de aperfeiçoar a ordem social vigente, A relação entre as tendências pedagógicas e a prática
que é o capitalismo, formando mão de obra especializada docente
para o mercado de trabalho. As tendências pedagógicas são de extrema relevân-
Tendências Progressistas - Partem de uma análise crítica cia para a Educação, principalmente as mais recentes, pois
das realidades sociais, sustentam implicitamente as finalida- contribuem para a condução de um trabalho docente mais
des sociopolíticas da educação e é uma tendência que con- consciente, baseado nas demandas atuais da clientela em
diz com as ideias implantadas pelo capitalismo. O desenvol- questão. O conhecimento dessas tendências e perspectivas
vimento e popularização da análise marxista da sociedade de ensino por parte dos professores é fundamental para a
possibilitou o desenvolvimento da tendência progressista, realização de uma prática docente realmente significativa,
que se ramifica em três correntes: que tenha algum sentido para o aluno, pois tais tendên-
Libertadora – Também conhecida como a pedagogia cias objetivam nortear o trabalho do educador, ajudando-o
de Paulo Freire, essa tendência vincula a educação à luta e a responder a questões sobre as quais deve se estruturar
organização de classe do oprimido. Onde, para esse, o sa- todo o processo de ensino, tais como: o que ensinar? Para
ber mais importante é a de que ele é oprimido, ou seja, ter quem? Como? Para quê? Por quê?
uma consciência da realidade em que vive. Além da busca E para que a prática pedagógica em sala de aula alcan-
pela transformação social, a condição de se libertar através ce seus objetivos, o professor deve ter as respostas para
da elaboração da consciência crítica passo a passo com sua essas questões, pois, como defende Luckesi (1994), “a Pe-
organização de classe. Centraliza-se na discussão de temas dagogia não pode ser bem entendida e praticada na escola
sociais e políticos; o professor coordena atividades e atua sem que se tenha alguma clareza do seu significado. Isso
juntamente com os alunos. nada mais é do que buscar o sentido da prática docente”.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Essas tendências pedagógicas, formuladas ao longo dos Redentora, a Educação Reprodutora e a Educação Transfor-
tempos por diversos teóricos que se debruçaram sobre o madora da sociedade. A primeira é otimista, acredita que a
tema, foram concebidas com base nas visões desses pensa- educação pode exercer domínio sobre a sociedade (peda-
dores em relação ao contexto histórico das sociedades em gogias liberais). A segunda é pessimista, percebe a educa-
que estavam inseridos, além de suas concepções de homem ção como sendo apenas reprodutora de um modelo social
e de mundo, tendo como principal objetivo nortear o tra- vigente, enquanto a terceira tendência assume uma postura
balho docente, modelando-o a partir das necessidades de crítica com relação às duas anteriores, indo de encontro tanto
ensino observadas no âmbito social em que viviam. ao “otimismo ilusório” quanto ao “pessimismo imobilizador”
Sendo assim, o conhecimento dessas correntes peda- (Pedagogias Progressivistas).
gógicas por parte dos professores, principalmente as mais Em consonância com estas leituras filosóficas sobre as re-
recentes, torna-se de extrema relevância, visto que possibili- lações entre educação e sociedade, Libâneo (1985), ao realizar
tam ao educador um aprofundamento maior sobre os pres- uma abordagem das tendências pedagógicas, organiza as di-
supostos e variáveis do processo de ensino-aprendizagem, ferentes pedagogias em dois grupos: Pedagogia Liberal e Pe-
abrindo-lhe um leque de possibilidades de direcionamento dagogia Progressivista. A Pedagogia Liberal é apresentada nas
do seu trabalho a partir de suas convicções pessoais, profis- formas Tradicional; Renovada Progressivista; Renovada Não
sionais, políticas e sociais, contribuindo para a produção de diretiva; e Tecnicista. A Pedagogia Progressivista é subdividida
uma prática docente estruturada, significativa, esclarecedora em Libertadora; Libertária; e Crítico-social dos Conteúdos. 2
e, principalmente, interessante para os educandos.
A escola precisa ser reencantada, precisa encontrar moti-
vos para que o aluno vá para os bancos escolares com satis-
fação, alegria. Existem escolas esperançosas, com gente ani- A DIDÁTICA E O PROCESSO DE ENSINO/
mada, mas existe um mal-estar geral na maioria delas. Não APRENDIZAGEM: PLANEJAMENTO,
acredito que isso seja trágico. Essa insatisfação deve ser apro- ESTRATÉGIAS, METODOLOGIAS E AVALIAÇÃO
veitada para dar um salto. Se o mal-estar for trabalhado, ele DA APRENDIZAGEM.
permite avanços. Se for aceito como fatalidade, ele torna a
escola um peso morto na história, que arrasta as pessoas e as
impede de sonhar, pensar e criar (Moacir Gadotti, em entre- À primeira vista, a definição do que é ensino e aprendizagem
vista para a revista Nova Escola, edição de novembro/2000). parece ser simples, mas existem profundas diferenças entre epis-
Desse modo, creio que seja essencial que todos os profes- temologias das abordagens da psicologia e da pedagogia. Desde
sores tenham um conhecimento mais aprofundado das tendên- o século 19 suas definições tem sofrido muitas alterações e de
cias pedagógicas, pois elas foram concebidas para nortear as fato, tem se dado ênfase as teorias baseadas em evidencias como
práticas pedagógicas. O educador deve conhecê-las, principal- o Behaviorismo seguido pelo Construtivismo e o Cognitivismo.
mente as mais recentes, ainda que seja para negá-las, mas de A luz do Behaviorismo Radical podemos dizer que to-
forma crítica e consciente, ou, quem sabe, para utilizar os pon- dos os fenômenos humanos podem e devem ser entendi-
tos positivos observados em cada uma delas para construir uma dos como comportamentos, portanto, processos de ensino e
base pedagógica própria, mas com coerência e propriedade. aprendizagem também devem ser vistos como uma série de
Afinal, como já defendia Snyders (1974), é possível “pen- comportamentos que entrelaçados, geram uma consequência
sar que se pode abrir um caminho a uma pedagogia atual; especifica que pode ser compreendida como a modelagem de
que venha fazer a síntese do tradicional e do moderno: sín- novos repertórios comportamentais pelo educador em dire-
tese e não confusão”. O importante é que se busque tirar a ção ao aluno que o absorve em forma de aprendizagem.
venda dos olhos para enxergar, literalmente, o alunado e as- Dentro da psicologia de forma geral, existem diversas teo-
sim poder dar um sentido político e social ao trabalho que rias e formas de se entender o processo de ensino e apren-
está sendo realizado, pois, como afirma Libâneo, aprender é dizagem. Basicamente as explicações se devem mais a epis-
um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é, da si- temologia da escola psicológica que a quer definir do que a
tuação real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta leis gerais e amplas de entendimento aceitas por uma classe
de uma aproximação crítica dessa realidade, o que está em de profissionais, seja da psicologia, seja da pedagogia. Skinner
consonância com o que diz Saviani (1991): a Pedagogia Críti- define aprendizagem em seu artigo Are the Theories of Lear-
ca implica a clareza dos determinantes sociais da educação, a ning Necessary? (1950) como uma mudança na probabilidade
compreensão do grau em que as contradições da sociedade de uma resposta especifica. Diferentemente de algumas es-
marcam a educação e, consequentemente, como é preciso se colas da psicologia, Skinner não apenas considera o aparelho
posicionar diante dessas contradições e desenredar a educa- biológico do estudante, mas também considera que além do
ção das visões ambíguas para perceber claramente qual é a aparato biológico (Variável Filogenética), existe um ambiente
direção que cabe imprimir à questão educacional. externo ao organismo que em determinadas condições, sejam
Para Luckesi (1994), a “Pedagogia se delineia a partir de elas planejadas ou não, ajudam ou atrapalham na instalação
uma posição filosófica definida”. Em seu livro Filosofia da de novos repertórios e mudança nas taxas de resposta emiti-
Educação, o autor discorre sobre a relação existente entre das ( Variável Ontogenética e Variável Cultural ). Skinner então
a Pedagogia e a Filosofia e busca clarificar as perspectivas chamou a interação entre a variável filogenética, ontogenética
das relações entre educação e sociedade. No seu trabalho, e cultural de Níveis de Seleção do Comportamento.
Luckesi apresenta três tendências filosóficas responsáveis por
interpretar a função da educação na sociedade: a Educação 2 Texto adaptado de Delcio Barros da Silva
6
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A noção de interação constante entre organismo e ção aversiva e o comportamento de não aprender aparece,
ambiente está presente na obra de Skinner fazendo com seja por fuga-esquiva, seja por agressão direta ao profes-
que a sua teoria de aprendizagem se torne essencialmente sor. Para Skinner o professor é o responsável pelo ensino
interacionista e não ambientalista, e derruba criticas que de repertórios comportamentais de forma mais rápida, efi-
apenas é baseada em eventos observáveis e com a noção ciente e que se não for por modelagem direta, de certo
de homem que apenas responde passivamente a estímu- não seriam aprendidos de outra forma. Segundo a aborda-
los como erroneamente tem se pregado em clara confu- gem comportamental o método mais eficiente de ensino
são entre a Teoria Behaviorista Metodológica de J. B. Wat- é simplesmente arranjar contingências de reforço para o
son (1878-1958) e o Behaviorismo Radical de B. F. Skinner comportamento de aprender. Segundo os defensores des-
(1904-1990). sa abordagem, o que falta nas escolas é o reforço positivo.
A abordagem Skineriana como citado por HUBNER Criando-se condições mais favoráveis de ensino ba-
(pág. 48) defende a escola como instituição facilitadora do seadas em reforço positivo e não em coerção, a tendência
ensino, pois para existir comportamento é necessário uma é que o processo de aprendizagem se torne mais efetivo
interação entre organismo e ambiente e dessa interação por parte do aluno e mais prazeroso do ponto de vista do
certos repertórios vão ser selecionados pelas suas conse- educador criando então um ambiente propicio para o pro-
quências. Para que haja uma maior eficiência na transmis- cesso ensino-aprendizagem adequado. Segundo Skinner (
são de repertórios comportamentais, a escola pode fazer citado por Milhollan & Forisha; 1972) o papel principal da
a modelagem dos mesmos sem que seja essencialmente escola seria de acelerar o processo de transmissão de co-
necessária a seleção por consequências, tornando o ensino nhecimento modelando grande quantidade de respostas
mais rápido e efetivo. colocando o comportamento de aprender sobre numero-
O ensino é importante do ponto de vista cultural, pois sos controles de estímulos. O educador baseado em uma
o educador passa o conhecimento que já aprendeu e que estratégia comportamental tem a sua disposição ferramen-
foi passado de individuo para individuo historicamente de tas importantes capazes de aumentar a probabilidade do
alguém que em algum momento não foi ensinado, portan- comportamento de aprender arranjando contingências
to não precisando mais sofrer as limitações e dificuldades adequadas ao ensino.
enfrentadas pelo primeiro organismo a ter seu repertório A análise do comportamento tem estabelecido leis ge-
selecionado. O processo de transmissão de conhecimento rais do comportamento que podem ser utilizadas a favor
já não depende mais da tentativa e erro e da seleção por do educador como os procedimentos de reforçamento, os
consequências, potencializando, portanto a instalação de estudos sobre controle coercitivo, procedimento e efeitos
repertórios comportamentais. Skinner diz que ensinar é o colaterais da punição, controle de estímulos, equivalência,
ato de facilitar a aprendizagem, no sentido de que quem análise de contingências entre outros procedimentos fa-
é ensinado aprende mais rapidamente do que quem não cilitadores do processo de ensino-aprendizagem. Alguns
é (1972, p. 4). Segundo HÜBNER, (1998) as contingências educadores têm como forma de ensinar um método de
predominantes nas escolas, de acordo com a perspectiva passar conhecimento e esperam que com isso os alunos o
comportamental (ou behaviorista) vêm afastando o aluno absorvam sem considerar que cada organismo é diferente
da sala de aula, no sentido de punir muito mais do que re- e portanto precisa de ritmos, espaços, estratégias e tem-
forçar positivamente o que o aluno faz na direção do saber. pos diferentes para aprender. Tal método que basicamente
Essas contingências predominantes como nos diz força o individuo a decorar aquilo que lhe é passado não
HUBNER (1998) se referem a praticas de punição com bai- é uma estratégia de ensino inteligente já que não é basea-
xa frequência de uso de reforçadores positivos na pratica da em reforçamento positivo e sim em controle aversivo. E
dos educadores. Tal uso indiscriminado de punição causa como nos diz SIDMAN (1995), a coerção gera estados de
como efeito colateral uma evasão escolar cada vez mais contra controle e de fuga esquiva além de estimular res-
alta com notável aversão ao ambiente escolar com alunos postas alternativas as esperadas.
se utilizando de frases como “aprender é pouco legal, as Skinner brilhantemente fecha a questão de forçar o es-
aulas são chatas, os colegas não gostam de aprender etc…” tudante a aprender por métodos coercitivos quando diz:
como apontam CALDAS, 2000 e HÜBNER, 1998. A Análise “Você não pode impor felicidade. Você em ultima instancia,
do Comportamento apoiada pela sua filosofia da ciência não pode impor coisa alguma. Nós não usamos a força!
conhecida como behaviorismo Radical tem em seu corpo Tudo que precisamos é de uma engenharia comportamen-
de conhecimento estratégias de ensino poderosas que po- tal adequada. (Skinner, 1948, p149)”3
dem de fato contribuir com o processo de aprendizagem. Nas palavras do educador Paulo Freire, não existe en-
Um dos maiores expoentes da psicologia da apren- sino sem aprendizagem. Para ele e para vários educadores
dizagem, Fred Keller propõe um ensino individualizado contemporâneos, educar alguém é um processo dialógi-
defendendo com isso que problemas comumente vistos co, um intercâmbio constante. Nessa relação educador e
dentro das escolas como a coerção e a punição sejam mi- educando trocam de papeis o tempo inteiro: o educando
nimizados ou mesmo sanados. No contexto educacional, o aprende ao passo que ensina seu educador e o educador
controle aversivo pode desencadear tentativas de buscar ensina e aprende com seu estudante.
alivio ou escapar desses estímulos que causam sofrimento
(Skinner, 1990; Sidman, 1995; Oliveira, 1998). O contra con- 3 www.psicologiaeciencia.com.br – Texto adaptado de
trole aparece na tentativa de evitar e eliminar a estimula- Marcelo C. Souza
7
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Ainda para Freire, no processo pedagógico, alunos e b. Aprendizagem organizada: É aquela que tem por
professores devem assumir seus papeis conscientemente finalidade específica aprender determinados conhecimen-
– não são apenas sujeitos do “ensinar” e do “aprender”, e tos, habilidades e normas de convivência social. Este tipo de
sim, seres humanos com histórias e trajetórias únicas. Para aprendizagem é transmitido pela escola, que é uma orga-
o educador, no processo de ensino-aprendizagem é pre- nização intencional, planejada e sistemática, as finalidades
ciso reconhecer o Outro (professor e aluno) em toda sua e condições da aprendizagem escolar é tarefa específica do
complexidade, em suas esferas biológicas, sociais, culturais, ensino (LIBÂNEO, 1994. Pág. 82).
afetivas, linguísticas entre outras. Esses tipos de aprendizagem tem grande relevância na
O ensino-aprendizagem promove o diálogo entre o assimilação ativa dos indivíduos, favorecendo um conheci-
conteúdo curricular (formal) e os conteúdos únicos (vivên- mento a partir das circunstâncias vivenciadas pelo mesmo.
cias, história, individualidade) tanto do professor quanto do O processo de assimilação de determinados conheci-
estudante.4 mentos, habilidades, percepção e reflexão é desenvolvido
por meios atitudinais, motivacionais e intelectuais do aluno,
Didática é considerada como arte e ciência do ensi- sendo o professor o principal orientador desse processo de
no, o objetivo deste artigo é analisar o processo didático assimilação ativa, é através disso que se pode adquirir um
educativo e suas contribuições positivas para um melhor melhor entendimento, favorecendo um desenvolvimento
desempenho no processo de ensino-aprendizagem. Como cognitivo.
arte a didática não objetiva apenas o conhecimento por Através do ensino podemos compreender o ato de
conhecimento, mas procura aplicar os seus próprios prin- aprender que é o ato no qual assimilamos mentalmente os
cípios com a finalidade de desenvolver no individuo as ha- fatos e as relações da natureza e da sociedade. Esse proces-
bilidades cognoscitivas, tornando-os críticos e reflexivos, so de assimilação de conhecimentos é resultado da refle-
desenvolvendo assim um pensamento independente. xão proporcionada pela percepção prático-sensorial e pelas
Nesse Artigo abordamos esse assunto acerca das vi- ações mentais que caracterizam o pensamento (Libâneo,
sões de Libâneo (1994), destacando as relações e os pro- 1994). Entendida como fundamental no processo de ensino
a assimilação ativa desenvolve no individuo a capacidade de
cessos didáticos de ensino e aprendizagem, o caráter edu-
lógica e raciocínio, facilitando o processo de aprendizagem
cativo e crítico desse processo de ensino, levando em con-
do aluno.
sideração o trabalho docente além da organização da aula
Sempre estamos aprendendo, seja de maneira sistemá-
e seus componentes didáticos do processo educacional
tica ou de forma espontânea, teoricamente podemos dizer
tais como objetivos, conteúdos, métodos, meios de ensi-
que há dois níveis de aprendizagem humana: o reflexo e o
no e avaliação. Concluímos o nosso trabalho ressaltando a
cognitivo. O nível reflexo refere-se às nossas sensações pelas
importância da didática no processo educativo de ensino e
quais desenvolvemos processos de observação e percepção
aprendizagem. das coisas e nossas ações físicas no ambiente. Este tipo de
aprendizagem é responsável pela formação de hábitos sen-
1.0 PROCESSOS DIDÁTICOS BÁSICOS, ENSINO E sório motor (Libâneo, 1994).
APRENDIZAGEM. O nível cognitivo refere-se à aprendizagem de determi-
A Didática é o principal ramo de estudo da pedagogia, nados conhecimentos e operações mentais, caracterizada
pois ela situa-se num conjunto de conhecimentos pedagó- pela apreensão consciente, compreensão e generalização das
gicos, investiga os fundamentos, as condições e os modos propriedades e relações essenciais da realidade, bem como
de realização da instrução e do ensino, portanto é consi- pela aquisição de modos de ação e aplicação referentes a es-
derada a ciência de ensinar. Nesse contexto, o professor sas propriedades e relações (Libâneo, 1994). De acordo com
tem como papel principal garantir uma relação didática esse contexto podemos despertar uma aprendizagem autô-
entre ensino e aprendizagem através da arte de ensinar, noma, seja no meio escolar ou no ambiente em que estamos.
pois ambos fazem parte de um mesmo processo. Segundo Pelo meio cognitivo, os indivíduos aprendem tanto pelo
Libâneo (1994), o professor tem o dever de planejar, dirigir contato com as coisas no ambiente, como pelas palavras que
e controlar esse processo de ensino, bem como estimular designam das coisas e dos fenômenos do ambiente. Portan-
as atividades e competências próprias do aluno para a sua to as palavras são importantes condições de aprendizagem,
aprendizagem. pois através delas são formados conceitos pelos quais pode-
A condição do processo de ensino requer uma clara mos pensar.
e segura compreensão do processo de aprendizagem, ou O ensino é o principal meio de progresso intelectual
seja, deseja entender como as pessoas aprendem e quais dos alunos, através dele é possível adquirir conhecimentos
as condições que influenciam para esse aprendizado. Sen- e habilidades individuais e coletivas. Por meio do ensino, o
do assim Libâneo (1994) ressalta que podemos distinguir professor transmite os conteúdos de forma que os alunos as-
a aprendizagem em dois tipos: aprendizagem casual e a similem esse conhecimento, auxiliando no desenvolvimento
aprendizagem organizada. intelectual, reflexivo e crítico.
a. Aprendizagem casual: É quase sempre espontâ- Por meio do processo de ensino o professor pode al-
nea, surge naturalmente da interação entre as pessoas com cançar seu objetivo de aprendizagem, essa atividade de en-
o ambiente em que vivem, ou seja, através da convivência sino está ligada à vida social mais ampla, chamada de prática
social, observação de objetos e acontecimentos. social, portanto o papel fundamental do ensino é mediar à
4 www.educacaointegral.com.br relação entre indivíduos, escola e sociedade.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
1.1 O CARÁTER EDUCATIVO DO PROCESSO DE ENSINO • Orientar as tarefas de ensino para objetivo educa-
E O ENSINO CRÍTICO. tivo de formação da personalidade, isto é, ajudar os alunos
De acordo com Libâneo (1994), o processo de ensino, a escolherem um caminho na vida, a terem atitudes e con-
ao mesmo tempo em que realiza as tarefas da instrução de vicções que norteiem suas opções diante dos problemas e
crianças e jovens, também é um processo educacional. situações da vida real (LIBÂNEO, 1994, Pág. 71).
No desempenho de sua profissão, o professor deve ter Além dos objetivos da disciplina e dos conteúdos, é fun-
em mente a formação da personalidade dos alunos, não damental que o professor tenha clareza das finalidades que
apenas no aspecto intelectual, como também nos aspectos ele tem em mente, a atividade docente tem a ver diretamen-
morais, afetivos e físicos. Como resultado do trabalho esco- te com “para que educar”, pois a educação se realiza numa
lar, os alunos vão formando o senso de observação, a ca- sociedade que é formada por grupos sociais que tem uma
pacidade de exame objetivo e crítico de fatos e fenômenos visão diferente das finalidades educativas.
da natureza e das relações sociais, habilidades de expressão Para Libâneo (1994), a didática trata dos objetivos, con-
verbal e escrita. A unidade instrução-educação se reflete, as- dições e meios de realização do processo de ensino, ligando
sim, na formação de atitudes e convicções frente à realidade, meios pedagógico-didáticos a objetivos sócio-políticos. Não
no transcorrer do processo de ensino. há técnica pedagógica sem uma concepção de homem e
O processo de ensino deve estimular o desejo e o gosto de sociedade, sem uma competência técnica para realiza-la
pelo estudo, mostrando assim a importância do conheci- educacionalmente, portanto o ensino deve ser planejado e
mento para a vida e o trabalho, (LIBÂNEO, 1994). ter propósitos claros sobre suas finalidades, preparando os
Nesse processo o professor deve criar situações que es- alunos para viverem em sociedade.
timule o indivíduo a pensar, analisar e relacionar os aspectos É papel de o professor planejar a aula, selecionar, or-
estudados com a realidade que vive. Essa realização cons- ganizar os conteúdos de ensino, programar atividades, criar
ciente das tarefas de ensino e aprendizagem é uma fonte de condições favoráveis de estudo dentro da sala de aula, es-
convicções, princípios e ações que irão relacionar as práticas timular a curiosidade e criatividade dos alunos, ou seja, o
educativas dos alunos, propondo situações reais que faça professor dirige as atividades de aprendizagem dos alunos a
com que os individuo reflita e analise de acordo com sua fim de que estes se tornem sujeitos ativos da própria apren-
realidade (TAVARES, 2011). dizagem.
Entretanto o caráter educativo está relacionado aos ob- Entretanto é necessário que haja uma interação mútua
jetivos do ensino crítico e é realizado dentro do processo de entre docentes e discentes, pois não há ensino se os alunos
ensino. È através desse processo que acontece a formação não desenvolverem suas capacidades e habilidades mentais.
da consciência crítica dos indivíduos, fazendo-os pensar in- Podemos dizer que o processo didático se baseia no
dependentemente, por isso o ensino crítico, chamado as- conjunto de atividades do professor e dos alunos, sob a
sim por implicar diretamente nos objetivos sócio-políticos e direção do professor, para que haja uma assimilação ativa
pedagógicos, também os conteúdos, métodos escolhidos e de conhecimentos e desenvolvimento das habilidades dos
organizados mediante determinada postura frente ao con- alunos. Como diz Libâneo (1994), é necessário para o plane-
texto das relações sociais vigentes da prática social, (LIBÂ- jamento de ensino que o professor compreenda as relações
NEO, 1994). entre educação escolar, os objetivos pedagógicos e tenha
È através desse ensino crítico que os processos mentais um domínio seguro dos conteúdos ao qual ele leciona, sen-
são desenvolvidos, formando assim uma atitude intelectual. do assim capaz de conhecer os programas oficiais e adequá
Nesse contexto os conteúdos deixam de serem apenas ma- -los ás necessidades reais da escola e de seus alunos.
térias, e passam então a ser transmitidos pelo professor aos Um professor que aspira ter uma boa didática necessita
seus alunos formando assim um pensamento independente, aprender a cada dia como lidar com a subjetividade do alu-
para que esses indivíduos busquem resolver os problemas no, sua linguagem, suas percepções e sua prática de ensino.
postos pela sociedade de uma maneira criativa e reflexiva. Sem essas condições o professor será incapaz de elaborar
problemas, desafios, perguntas relacionadas com os conteú-
1.2 A DIDÁTICA E O TRABALHO DOCENTE dos, pois essas são as condições para que haja uma aprendi-
Como vimos anteriormente à didática estuda o processo zagem significativa. No entanto para que o professor atinja
de ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos efetivamente seus objetivos, é preciso que ele saiba realizar
fazem parte, de modo a criar condições que garantam uma vários processos didáticos coordenados entre si, tais como
aprendizagem significativa dos alunos. Ela ajuda o professor o planejamento, a direção do ensino da aprendizagem e da
na direção, orientação das tarefas do ensino e da aprendi- avaliação (LIBÂNEO, 1994).
zagem, dando a ele uma segurança profissional. Segundo
Libâneo (1994), o trabalho docente também chamado de 1.3 A ORGANIZAÇÃO DA AULA E SEUS COMPONENTES
atividade pedagógica tem como objetivos primordiais: DIDÁTICOS DO PROCESSO EDUCACIONAL
• Assegurar aos alunos o domínio mais seguro e du- A aula é a forma predominante pela qual é organizado
radouro possível dos conhecimentos científicos; o processo de ensino e aprendizagem. É o meio pelo qual o
• Criar as condições e os meios para que os alunos professor transmite aos seus alunos conhecimentos adquiri-
desenvolvam capacidades e habilidades intelectuais de do no seu processo de formação, experiências de vida, con-
modo que dominem métodos de estudo e de trabalho inte- teúdos específicos para a superação de dificuldades e meios
lectual visando a sua autonomia no processo de aprendiza- para a construção de seu próprio conhecimento, nesse sen-
gem e independência de pensamento; tido sendo protagonista de sua formação humana e escolar.
9
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
É ainda o espaço de interação entre o professor e o indi- Os objetivos são exigências que requerem do professor
víduo em formação constituindo um espaço de troca mútua. um posicionamento reflexivo, que o leve a questionamentos
A aula é o ambiente propício para se pensar, criar, desenvolver sobre a sua própria prática, sobre os conteúdos os materiais
e aprimorar conhecimentos, habilidades, atitudes e conceitos, e os métodos pelos quais as práticas educativas se concreti-
é também onde surgem os questionamentos, indagações e zam. Ao elaborar um plano de aula, por exemplo, o profes-
respostas, em uma busca ativa pelo esclarecimento e entendi- sor deve levar em conta muitos questionamentos acerca dos
mento acerca desses questionamentos e investigações. objetivos que aspira, como O que? Para que? Como? E Para
Por intermédio de um conjunto de métodos, o educa- quem ensinar?, e isso só irá melhorar didaticamente as suas
dor busca melhor transmitir os conteúdos, ensinamentos e ações no planejamento da aula.
conhecimentos de uma disciplina, utilizando-se dos recursos Não há prática educativa sem objetivos; uma vez que es-
disponíveis e das habilidades que possui para infundir no tes integram o ponto de partida, as premissas gerais para o
aluno o desejo pelo saber. processo pedagógico (LIBÂNEO, 1994- pág.122). Os objetivos
Deve-se ainda compreender a aula como um conjunto são um guia para orientar a prática educativa sem os quais
de meios e condições por meio das quais o professor orienta, não haveria uma lógica para orientar o processo educativo.
guia e fornece estímulos ao processo de ensino em função Para que o processo de ensino-aprendizagem aconteça
da atividade própria dos alunos, ou seja, da assimilação e de modo mais organizado faz-se necessário, classificar os
desenvolvimento de habilidades naturais do aluno na apren- objetivos de acordo com os seus propósitos e abrangência,
dizagem educacional. Sendo a aula um lugar privilegiado da se são mais amplos, denominados objetivos gerais e se são
vida pedagógica refere-se às dimensões do processo didáti- destinados a determinados fins com relação aos alunos, cha-
co preparado pelo professor e por seus alunos. mados de objetivos específicos.
Aula é toda situação didática na qual se põem objetivos, a. Objetivos Gerais: exprimem propósitos mais amplos
conhecimentos, problemas, desafios com fins instrutivos e acerca do papel da escola e do ensino diante das exigências
formativos, que incitam as crianças e jovens a aprender (LI- postas pela realidade social e diante do desenvolvimento da
BÂNEO, 1994- Pág.178). Cada aula é única, pois ela possui personalidade dos alunos (LIBANÊO, 1994- pág. 121). Por isso
seus próprios objetivos e métodos que devem ir de acordo
ele também afirma que os objetivos educacionais transcen-
com a necessidade observada no educando.
dem o espaço da sala de aula atuando na capacitação do in-
A aula é norteada por uma série de componentes, que
divíduo para as lutas sociais de transformação da sociedade,
vão conduzir o processo didático facilitando tanto o de-
e isso fica claro, uma vez que os objetivos têm por fim formar
senvolvimento das atividades educacionais pelo educador
cidadãos que venham a atender os anseios da coletividade.
como a compreensão e entendimento pelos indivíduos em
b. Objetivos Específicos: compreendem as intencio-
formação; ela deve, pois, ter uma estruturação e organiza-
ção, afim de que sejam alcançados os objetivos do ensino. nalidades específicas para a disciplina, os caminhos traçados
Ao preparar uma aula o professor deve estar atento às para que se possa alcançar o maior entendimento, desen-
quais interesses e necessidades almeja atender, o que pre- volvimento de habilidades por parte dos alunos que só se
tende com a aula, quais seus objetivos e o que é de caráter concretizam no decorrer do processo de transmissão e assi-
urgente naquele momento. A organização e estruturação di- milação dos estudos propostos pelas disciplinas de ensino e
dática da aula têm por finalidade proporcionar um trabalho aprendizagem. Expressam as expectativas do professor sobre
mais significativo e bem elaborado para a transmissão dos o que deseja obter dos alunos no decorrer do processo de
conteúdos. O estabelecimento desses caminhos proporcio- ensino. Têm sempre um caráter pedagógico, porque explici-
na ao professor um maior controle do processo e aos alunos tam a direção a ser estabelecida ao trabalho escolar, em tor-
uma orientação mais eficaz, que vá de acordo com previsto. no de um programa de formação. (TAVARES, 2001- Pág. 66).
As indicações das etapas para o desenvolvimento da aula,
não significa que todas elas devam seguir um cronograma rígi- 1.3.2 CONTEÚDOS
do (LIBÂNEO, 1994-Pág. 179), pois isso depende dos objetivos, Os conteúdos de ensino são constituídos por um con-
conteúdos da disciplina, recursos disponíveis e das característi- junto de conhecimentos. É a forma pela qual, o professor ex-
cas dos alunos e de cada aluno e situações didáticas especificas. põem os saberes de uma disciplina para ser trabalhado por
Dentro da organização da aula destacaremos agora seus ele e pelos seus alunos. Esses saberes são advindos do con-
Componentes Didáticos, que são também abordados em junto social formado pela cultura, a ciência, a técnica e a arte.
alguns trabalhos como elementos estruturantes do ensino Constituem ainda o elemento de mediação no processo de
didático. São eles: os objetivos (gerais e específicos), os con- ensino, pois permitem ao discente através da assimilação o
teúdos, os métodos, os meios e as avaliações. conhecimento histórico, cientifico, cultural acerca do mundo
e possibilitam ainda a construção de convicções e conceitos.
1.3.1 OBJETIVOS O professor, na sala de aula, utiliza-se dos conteúdos da
São metas que se deseja alcançar, para isso usa-se de di- matéria para ajudar os alunos a desenvolverem competên-
versos meios para se chegar ao esperado. Os objetivos edu- cias e habilidades de observar a realidade, perceber as pro-
cacionais expressam propósitos definidos, pois o professor priedades e características do objeto de estudo, estabelecer
quando vai ministrar a aula já vai com os objetivos definidos. relações entre um conhecimento e outro, adquirir métodos
Eles têm por finalidade, preparar o docente para determinar de raciocínio, capacidade de pensar por si próprios, fazer
o que se requer com o processo de ensino, isto é prepará comparações entre fatos e acontecimentos, formar concei-
-lo para estabelecer quais as metas a serem alcançadas, eles tos para lidar com eles no dia-a-dia de modo que sejam
constituem uma ação intencional e sistemática. instrumentos mentais para aplicá-los em situações da vida
10
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
prática (LIBÂNEO 2001, pág. 09). Neste contexto pretende- cada disciplina e assimilação, além disso, esses métodos im-
se que os conteúdos aplicados pelo professor tenham como plica o conhecimento das características dos alunos quanto à
fundamento não só a transmissão das informações de uma capacidade de assimilação de conteúdos conforme a idade e
disciplina, mas que esses conteúdos apresentem relação com o nível de desenvolvimento mental e físico e suas característi-
a realidade dos discentes e que sirvam para que os mesmos cas socioculturais e individuais.
possam enfrentar os desafios impostos pela vida cotidiana. A relação objetivo-conteúdo-método procuram mostrar
Estes devem também proporcionar o desenvolvimento das que essas unidades constituem a linhagem fundamental de
capacidades intelectuais e cognitivas do aluno, que o levem compreensão do processo didático: os objetivos, explicitan-
ao desenvolvimento critico e reflexivo acerca da sociedade do os propósitos pedagógicos intencionais e planejados de
que integram. instrução e educação dos alunos, para a participação na vida
Os conteúdos de ensino devem ser vistos como uma social; os conteúdos, constituindo a base informativa con-
relação entre os seus componentes, matéria, ensino e o co- creta para alcançar os objetivos e determinar os métodos; os
nhecimento que cada aluno já traz consigo. Pois não basta métodos, formando a totalidade dos passos, formas didáti-
apenas a seleção e organização lógica dos conteúdos para cas e meios organizativos do ensino que viabilizam a assimi-
transmiti-los. Antes os conteúdos devem incluir elementos da lação dos conteúdos, e assim, o atingimento dos objetivos.
vivência prática dos alunos para torná-los mais significativos, No trabalho docente, os professores selecionam e orga-
mais vivos, mais vitais, de modo que eles possam assimilá-los nizam seus métodos e procedimentos didáticos de acordo
de forma ativa e consciente (LIBÂNEO, 1994 pág. 128). Ao com cada matéria. Dessa forma destacamos os principais
proferir estas palavras, o autor aponta para um elemento de métodos de ensino utilizado pelo professor em sala de aula:
fundamental importância na preparação da aula, a contextua- método de exposição pelo professor, método de trabalho
lização dos conteúdos. independente, método de elaboração conjunta, método de
a. Contextualização dos conteúdos trabalho em grupo. Nestes métodos, os conhecimentos, ha-
A contextualização consiste em trazer para dentro da sala bilidades e tarefas são apresentados, explicadas e demons-
de aula questões presentes no dia a dia do aluno e que vão tradas pelo professor, além dos trabalhos planejados indivi-
contribuir para melhorar o processo de ensino e aprendiza- duais, a elaboração conjunta de atividades entre professores
gem do mesmo. Valorizando desta forma o contexto social e alunos visando à obtenção de novos conhecimentos e os
em que ele está inserido e proporcionando a reflexão sobre o trabalhos em grupo. Dessa maneira designamos todos os
meio em que se encontra, levando-o a agir como construtor e meios e recursos matérias utilizados pelo professor e pelos
transformador deste. Então, pois, ao selecionar e organizar os
alunos para organização e condução metódica do processo
conteúdos de ensino de uma aula o professor deve levar em
de ensino e aprendizagem (LIBÂNEO, 1994 Pág. 173).
consideração a realidade vivenciada pelos alunos.
b. A relação professor-aluno no processo de ensino e
1.3.4 AVALIAÇÃO ESCOLAR
aprendizagem:
A avaliação escolar é uma tarefa didática necessária
O professor no processo de ensino é o mediador entre
para o trabalho docente, que deve ser acompanhado pas-
o indivíduo em formação e os conhecimentos prévios de
so a passo no processo de ensino e aprendizagem. Através
uma matéria. Tem como função planejar, orientar a direção
dos conteúdos, visando à assimilação constante pelos alunos da mesma, os resultados vão sendo obtidos no decorrer do
e o desenvolvimento de suas capacidades e habilidades. É trabalho em conjunto entre professores e alunos, a fim de
uma ação conjunta em que o educador é o promotor, que constatar progressos, dificuldades e orientá-los em seus tra-
faz questionamentos, propõem problemas, instiga, faz desa- balhos para as correções necessárias. Libâneo (1994).
fios nas atividades e o educando é o receptor ativo e atuante, A avaliação escolar é uma tarefa complexa que não se
que através de suas ações responde ao proposto produzindo resume à realização de provas e atribuição de notas, ela
assim conhecimentos. O papel do professor é levar o aluno a cumpre funções pedagógico-didáticas, de diagnóstico e de
desenvolver sua autonomia de pensamento. controle em relação ao rendimento escolar.
A função pedagógico-didática refere-se ao papel da
1.3.3 MÉTODOS DE ENSINO avaliação no cumprimento dos objetivos gerais e especí-
Métodos de ensino são as formas que o professor organi- ficos da educação escolar. Ao comprovar os resultados do
za as suas atividades de ensino e de seus alunos com a finali- processo de ensino, evidencia ou não o atendimento das fi-
dade de atingir objetivos do trabalho docente em relação aos nalidades sociais do ensino, de preparação dos alunos para
conteúdos específicos que serão aplicados. Os métodos de enfrentar as exigências da sociedade e inseri-los ao meio so-
ensino regulam as formas de interação entre ensino e apren- cial. Ao mesmo tempo, favorece uma atitude mais responsá-
dizagem, professor e os alunos, na qual os resultados obtidos vel do aluno em relação ao estudo, assumindo-o como um
é assimilação consciente de conhecimentos e desenvolvimen- dever social. Já a função de diagnóstico permite identificar
to das capacidades cognoscitivas e operativas dos alunos. progressos e dificuldades dos alunos e a atuação do profes-
Segundo Libâneo (1994) a escolha e organização os mé- sor que, por sua vez, determinam modificações do processo
todos de ensino devem corresponder à necessária unidade de ensino para melhor cumprir as exigências dos objetivos.
objetivos-conteúdos-métodos e formas de organização do A função do controle se refere aos meios e a frequência das
ensino e as condições concretas das situações didáticas. Os verificações e de qualificação dos resultados escolares, pos-
métodos de ensino dependem das ações imediatas em sala sibilitando o diagnóstico das situações didáticas (LIBÂNEO,
de aula, dos conteúdos específicos, de métodos peculiares de 1994).
11
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
No entanto a avaliação na pratica escolar nas escolas O processo educacional, notadamente os objetivos,
tem sido bastante criticada sobre tudo por reduzir-se à sua conteúdos do ensino e o trabalho do professor são regidos
função de controle, mediante a qual se faz uma classificação por uma série de exigências da sociedade, ao passo que a
quantitativa dos alunos relativa às notas que obtiveram nas sociedade reclama da educação a adequação de todos os
provas. Os professores não tem conseguido usar os proce- componentes do ensino aos seus anseios e necessidades.
dimentos de avaliação que sem dúvida, implicam o levanta- Porém a prática educativa não se restringe as exigências da
mento de dados por meio de testes, trabalhos escritos etc. vida em sociedade, mas também ao processo de promo-
Em relação aos objetivos, funções e papel da avaliação na ver aos indivíduos os saberes e experiências culturais que
melhoria das atividades escolares e educativas, tem-se ve- o tornem aptos a atuar no meio social e transformá-lo em
rificado na pratica escolar alguns equívocos. (LIBÂNEO, Pág. função das necessidades econômicas, sociais e políticas da
198- 1994). coletividade (LIBÂNEO, 1994 pág.17). O professor deve for-
O mais comum é tomar a avaliação unicamente como mar para a emancipação, reflexão, criticidade e atuação so-
o ato de aplicar provas, atribuir notas e classificar os alunos. cial do indivíduo e não para a submissão ou o comodismo.
O professor reduz a avaliação à cobrança daquilo que o alu-
no memorizou e usa a nota somente como instrumento de Os diversos conceitos de avaliação
controle. Tal ideia é descabida, primeiro porque a atribuição No sistema educacional, a avaliação é usada para a co-
de notas visa apenas o controle formal, com objetivo clas- leta de informação, necessária aos diversos componentes
sificatório e não educativo; segundo porque o que impor- do sistema (os responsáveis pela determinação das políti-
ta é o veredito do professor sobre o grau de adequação e cas educacionais; os diretores de escolas; os professores; os
conformidade do aluno ao conteúdo que transmite. Outro alunos) em sua tomada de decisões.
equívoco é utilizar a avaliação como recompensa aos bons A avaliação educacional pode ser considerada como
alunos e punição para os desinteressados, além disso, os um dos temas que, ao serem abordados, sempre requerem
professores confiam demais em seu olho clínico, dispensam um exercício de “olhar para o passado” para entender o que
verificações parciais no decorrer das aulas e aqueles que re- reserva o futuro. “Enfim, terá de ser o instrumento do re-
jeitam as medidas quantitativas de aprendizagem em favor conhecimento dos caminhos percorridos e da identificação
de dados qualitativos (LIBÂNEO, 1994). dos caminhos a serem perseguidos” (Luckesi, 1995, p. 43).
O entendimento correto da avaliação consiste em con- Começou-se a falar na avaliação aplicada à educação
siderar a relação mútua entre os aspectos quantitativos e com Tyler (1949), considerado como o pai da avaliação
qualitativos. A escola cumpre uma função determinada so- educacional. Ele a encara como a comparação constante
cialmente, a de introduzir as crianças, jovens e adultos no entre os resultados dos alunos, ou o seu desempenho e
mundo da cultura e do trabalho, tal objetivo não surge es- objetivos, previamente definidos. A avaliação é, assim com-
pontaneamente na experiência das crianças, jovens e adul- preendida, o processo de determinação da extensão com
tos, mas supõe as perspectivas traçadas pela sociedade e que os objetivos educacionais se realizam.
controle por parte do professor. Por outro lado, a relação pe- Outros autores - Bloom, Hastings e Madaus (1971) -
dagógica requer a independência entre influências externas também relacionam a avaliação com a verificação de ob-
e condições internas do aluno, pois nesse contexto o profes- jetivos educacionais. Em função da finalidade da avaliação,
sor deve organizar o ensino objetivando o desenvolvimento consideram três tipos de avaliação: uma preparação inicial
autônomo e independente do aluno (LIBÂNEO, 1994). para a aprendizagem, uma verificação da existência de di-
ficuldades por parte do aluno durante a aprendizagem e o
1.4 A PROFISSÃO DOCENTE E SUA REPERCUSSÃO SO- controle sobre se os alunos atingiram os objetivos fixados
CIAL previamente. Os tipos de avaliação referidos representam,
Segundo Libâneo (1994) o trabalho docente é a parte respectivamente, a avaliação diagnóstica, a avaliação for-
integrante do processo educativo mais global pelo qual os mativa e a avaliação certificativa.
membros da sociedade são preparados para a participação Também Noizet e Caverni (1985) e Cardinet (1993) se
da vida social. Com essas palavras Libâneo deixa bem claro referem à avaliação como um processo de verificação de
o importante e essencial papel do professor na inserção e objetivos, em que a produção escolar dos alunos é compa-
construção social de cada individuo em formação. O edu- rada a um modelo. Para o último autor, o processo de ava-
cador deve ter como principal e fundamental compromisso liação contribui para a eficácia do ensino, porque consiste
com a sociedade formar alunos que se tornem cidadãos ati- na observação e interpretação dos seus efeitos. No limite,
vos, críticos, reflexivos e participativos na vida social. permite orientar as decisões necessárias ao bom funciona-
O docente no processo de ensino e aprendizagem é a mento da escola.
ponte de mediação entre o aluno em formação e o meio De Ketele (1993) referencia, também, a avaliação ao
social no qual está inserido; uma vez que ele vai através de processo de verificação de objetivos previamente defini-
instruções, conteúdos e métodos orientar aos seus alunos a dos. Segundo este autor, é no próprio processo de ensino
viver socialmente. Sendo a educação um fenômeno social -aprendizagem que surge a avaliação, funcionando como
necessário à existência e funcionamento de toda a socieda- um mecanismo que verifica se os objetivos pretendidos são
de, exige-se a todo instante do professor as competências efetivamente atingidos.
técnicas e teóricas para a transmissão desses conhecimentos
que são essenciais para a manutenção e progresso social.
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Atribuindo à descrição do processo um papel impor- • diagnóstica - é inicial, quando aplicada no início
tante na avaliação, Stufflebeam (1985) refere que é preciso, do processo que se quer avaliar, tendo, por exemplo, a fun-
primeiro, identificar as necessidades educacionais e só de- ção de identificar o estágio de aprendizagem ou desen-
pois elaborar programas de avaliação centrados no proces- volvimento em que os alunos se encontram, esclarecendo
so educativo, para que seja possível aperfeiçoar este pro- aquilo que eles já detêm dos pré-requisitos necessários ao
cesso. O modelo C.I.P.P., sugerido por este autor, procura ingresso numa nova etapa de ensino. Também pode ocor-
definir a avaliação como um processo racional onde existe rer num momento durante o processo de ensino e apren-
um contexto (C), uma entrada ou input (I), um processo (P) dizagem quando, por exemplo, buscam-se as causas do
e um produto (P). A informação recolhida com a avaliação fracasso que possa ocorrer na aprendizagem.
permite aos agentes educativos reunirem dados para to- Quanto a quem avalia: de acordo com quem a realiza,
marem decisões, subsequentemente. existem três tipos de avaliação: a autoavaliação, a heteroa-
Comparar a avaliação a um sistema de comunicação é valiação e a avaliação mista ou coavaliação:
Autoavaliação: neste caso, quem emite o juízo de valor
a perspectiva apresentada por outros autores, como Cardi-
sobre o que é examinado é o próprio objeto da avaliação,
net (1993), que considera a avaliação como um sistema de
ou seja, o avaliador é o próprio avaliado.
comunicação entre professores e alunos, por meio de um
A autoavaliação tem um enorme potencial formativo e
processo sistemático de coleta de informação.
permite que as pessoas e as organizações conheçam suas
Para além da verificação de objetivos, Scriven (1967) potencialidades e limitações, além de permitir a reflexão
considera que na avaliação há uma descrição com um jul- sobre a própria realidade, que é um passo essencial no pro-
gamento, ou seja, são apreciados os objetivos de ensino. cesso de sua transformação.
Este autor foi o primeiro a definir os conceitos de avaliação Por exemplo, a autoavaliação docente é um bom ponto
formativa e somativa, que serão abordados mais adiante. de partida para a melhora dos processos de ensino-apren-
Perrenoud (1978, 1982), por seu lado, considera que a dizagem; a avaliação da aprendizagem pelos próprios alu-
avaliação participa na gênese da desigualdade existente ao nos permite que eles descubram seus erros, o que gera
nível da aprendizagem e do êxito dos alunos. Segundo ele, mais facilmente o conflito cognitivo necessário para toda
avaliação escolar, na sua forma corrente, é uma avaliação aprendizagem.
de referência normativa. A função reprodutora da escola, A heteroavaliação: ao contrário da autoavaliação, a he-
para o autor, concretiza-se através de práticas avaliativas teroavaliação é realizada por uma outra pessoa ou por uma
de referência normativa que reproduzem as desigualdades equipe. Pode ser executada, por exemplo, pelo professor
sociais. ao avaliar seus alunos, pelo diretor de uma escola ao avaliar
Entende-se, hoje, que a avaliação é uma atividade sub- o trabalho docente, por uma Secretaria Municipal ou Esta-
jetiva, envolvendo mais do que medir, a atribuição de um dual de Educação ou mesmo pelo Ministério da Educação,
valor de acordo com critérios que envolvem diversos pro- ao avaliarem escolas ou redes.
blemas técnicos e éticos. É muito útil para conhecimento de aspectos do proces-
Características e funções da avaliação so com os quais os avaliadores e os avaliados estão muito
A avaliação caracteriza-se de acordo com vários aspec- envolvidos, pois o avaliador lança um olhar externo sobre o
tos: objeto da avaliação, podendo assim contribuir com visões
Quanto à forma pode ser: (i) escrita, com respostas cur- diferentes das do avaliado sobre a função da educação, os
tas (as que requerem a marcação de alternativas de respos- padrões de desempenho desejável e os métodos de ava-
tas) ou discursivas (aquelas em que os alunos constroem liação.
Como exemplo de heteroavaliações podem ser citadas
e redigem uma resposta); (ii) oral; (iii) por observação e
as avaliações feitas pelos professores em sala de aula, os
anotações sobre o objeto; (iv) por análise documental; (v)
vestibulares, as avaliações dos sistemas nacionais de edu-
por monitoramento do objeto de estudo, estando ele sob
cação ou as de programas educacionais, entre outras.
influência da inserção ou retirada de um fator ambiental.
A coavaliação: neste processo participam tanto agentes
Quanto às funções: externos (como os gestores e financiadores) quanto aque-
De acordo com a sua finalidade, pode-se identificar os les que executam quotidianamente a educação formal. Este
seguintes tipos de avaliação: tipo de avaliação possibilita a formulação de diferentes
• somativa - realizada em uma única oportunidade, pontos de vista sobre a valoração do objeto avaliado e o
relativa aos processos ocorridos num período de tempo contraste de resultados.
passado; por isso também é uma avaliação final, cujas fun- A avaliação dos sistemas de ensino, por exemplo, deve
ções se destinam a verificar se os objetivos inicialmente es- se basear também na avaliação das escolas por si próprias.
tabelecidos são os resultados alcançados ao término de um Neste caso, além de ser avaliada por agentes externos, cada
processo, sendo que sua aplicação está geralmente voltada escola deve se autoavaliar em função de seus programas,
para a certificação, promoção ou seleção; projetos, materiais pedagógicos, recursos, professores,
• formativa - é contínua pois se realiza ao longo de gestão, pessoal de apoio, alunos e infraestrutura. “A avalia-
todo o processo educacional e tem como finalidade permi- ção deve passar de um discurso de descrição e julgamento
tir o acompanhamento e análise dos pontos fortes e fracos para um discurso de diálogo” (Nevo, 1988). Toda a comu-
desse processo, para que se possa aperfeiçoá-lo quando nidade da escola deve ser preparada para poder combinar
ainda estiver ocorrendo. os produtos das heteroavaliações e autoavaliações.
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Principais Avaliação com foco em objetos di- Avaliação com foco em objetos dimensionais
características mensionais no âmbito da escola em âmbitos extraescolares
Na maioria das vezes é aplicada na forma de tes-
Geralmente realizada por meio de tes-
Quanto à tes escritos e questionários socioeconômicos, mas
tes escritos ou orais, podendo ser utiliza-
forma também pode ser realizada de outras formas, como
das outras formas
a investigação documental
Geralmente a função somativa tem sido
enfatizada, mas acredita-se que o ideal é a
Quanto à Pode apresentar quaisquer funções inclusive reu-
aplicação das outras duas funções (diag-
função nindo as duas ou as três numa única avaliação
nóstica e formativa) em complementação
a esta
Quanto à
Pode-se concretizar como autoavalia- Assim como a avaliação no âmbito escolar, pode
relação sujeito-
ção, heteroavaliação ou coavaliação apresentar as três relações entre sujeito e objeto
-objeto
Quanto ao
Os processos e resultados das ações de Os processos e resultados da educação enquan-
foco de inte-
ensino-aprendizagem to fenômeno social
resse
Investiga e atende aos interesses da O universo que investiga e os interesses a que
Quanto à
comunicade escolar imediata (pais, alunos, atende amiúde são muito extensos, voltando-se
amplitude/ex-
diretores, professores, corpo de funcioná- para a sociedade como um todo ou para parcelas
tensão
rios da escola) da mesma
O mais tradicional objeto da avaliação educacional é o aluno, que, durante todo o ano escolar, é avaliado por seus
professores. No entanto, os focos de interesse da avaliação são cada vez mais diversificados, tornando mais frequentes e
mesmo comuns, no cotidiano da sociedade, as referências à avaliação de cursos, de escolas, de instituições, de professores,
de diretores, de rendimento dos alunos, de desempenho dos sistemas de ensino, de materiais didáticos, de currículos, de
experiências e inovações educacionais, etc. Considerando o desenvolvimento e a produção acadêmica da área, é possível
afirmar que quase todos os aspectos da educação e também fatores a ela relacionados são passíveis de se tornar objeto
de avaliação.
A existência deste leque tão grande de interesses e possibilidades na área da avaliação educacional torna imprescindí-
vel, em qualquer projeto de avaliação, a delimitação e a definição precisa do objeto a ser avaliado. A precisão e qualidade
da resposta à pergunta o que avaliar definem o nível e a abrangência da avaliação, assim como os indicadores a serem
considerados, os dados a serem coletados e como todas as informações serão analisadas.
Assim, o processo de avaliação pode abranger o sistema educacional de um país, ou uma rede de ensino, ou um grupo
de escolas, ou uma escola, ou uma turma de alunos, ou até mesmo um único aluno.
O entendimento de que todo processo educacional é composto por diferentes aspectos e sofre influências de fatores
externos a ele faz com que os projetos de avaliação sejam abrangentes e tenham diversos objetos de interesse, para os
quais existem instrumentos específicos de avaliação, como por exemplo: a aprendizagem dos alunos, os condicionantes
socioeconômicos e culturais dos alunos, o perfil do professorado, a prática docente, as condições de funcionamento das
escolas, as características da gestão escolar e o clima organizacional, entre outros.
Por isso, é tendência atual da avaliação educacional o desenvolvimento de projetos que buscam articular, compatibili-
zar e utilizar distintos modelos, ferramentas e instrumentos, de modo a melhor apreender os multifacetados aspectos do
processo educacional, objeto da avaliação.5
Avaliação da Aprendizagem
A avaliação é parte integrante do processo ensino/aprendizagem e ganhou na atualidade espaço muito amplo nos
processos de ensino. Requer preparo técnico e grande capacidade de observação dos profissionais envolvidos.
Segundo Perrenoud (1999), a avaliação da aprendizagem, no novo paradigma, é um processo mediador na construção
do currículo e se encontra intimamente relacionada à gestão da aprendizagem dos alunos.
Na avaliação da aprendizagem, o professor não deve permitir que os resultados das provas periódicas, geralmente de
caráter classificatório, sejam supervalorizados em detrimento de suas observações diárias, de caráter diagnóstico.
5 Fonte: www.educacaopublica.rj.gov.br – Por Maria Cândida Trigo
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O professor, que trabalha numa dinâmica interativa, tem Eram realizados experimentos relativos à produtividade e
noção, ao longo de todo o ano, da participação e produti- à moral dos operários, à eficácia de programas de saúde pú-
vidade de cada aluno. É preciso deixar claro que a prova é blica, à influência de programas experimentais universitários
somente uma formalidade do sistema escolar. Como, em ge- sobre a personalidade e atitudes dos alunos, etc.
ral, a avaliação formal é datada e obrigatória, devem-se ter A avaliação da aprendizagem tem seus princípios e carac-
inúmeros cuidados em sua elaboração e aplicação. terísticas no campo da Psicologia, sendo que as duas primeiras
A avaliação, tal como concebida e vivenciada na maioria décadas do século XX foram marcadas pelo desenvolvimento
das escolas brasileiras, tem se constituído no principal meca- de testes padronizados para medir as habilidades e aptidões
nismo de sustentação da lógica de organização do trabalho dos alunos.
escolar e, portanto, legitimador do fracasso, ocupando mes- A avaliação é uma operação descritiva e informativa nos
mo o papel central nas relações que estabelecem entre si os meios que emprega, formativa na intenção que lhe preside
profissionais da educação, alunos e pais. e independente face à classificação. De âmbito mais vasto e
Os métodos de avaliação ocupam sem duvida espaço re- conteúdo mais rico, a avaliação constitui uma operação indis-
levantes no conjunto das práticas pedagógicas aplicadas ao pensável em qualquer sistema escolar.
processo de ensino e aprendizagem. Avaliar, neste contexto, Havendo sempre, no processo de ensino/aprendizagem,
não se resume à mecânica do conceito formal e estatístico; um caminho a seguir entre um ponto de partida e um ponto
não é simplesmente atribuir notas, obrigatórias à decisão de de chegada, naturalmente que é necessário verificar se o tra-
avanço ou retenção em determinadas disciplinas. jeto está a decorrer em direção à meta, se alguns pararam por
Para Oliveira (2003), devem representar as avaliações não saber o caminho ou por terem enveredado por um desvio
aqueles instrumentos imprescindíveis à verificação do apren- errado.
dizado efetivamente realizado pelo aluno, ao mesmo tempo É essa informação, sobre o progresso de grupos e de cada
que forneçam subsídios ao trabalho docente, direcionando o um dos seus membros, que a avaliação tenta recolher e que é
esforço empreendido no processo de ensino e aprendizagem necessária a professores e alunos.
de forma a contemplar a melhor abordagem pedagógica e A avaliação descreve que conhecimentos, atitudes ou ap-
o mais pertinente método didático adequado à disciplina –
tidões que os alunos adquiriram, ou seja, que objetivos do en-
mas não somente -, à medida que consideram, igualmente,
sino já atingiram num determinado ponto de percurso e que
o contexto sócio-político no qual o grupo está inserido e as
dificuldades estão a revelar relativamente a outros.
condições individuais do aluno, sempre que possível.
Esta informação é necessária ao professor para procurar
A avaliação da aprendizagem possibilita a tomada de
meios e estratégias que possam ajudar os alunos a resolver
decisão e a melhoria da qualidade de ensino, informando as
essas dificuldades e é necessária aos alunos para se aperce-
ações em desenvolvimento e a necessidade de regulações
berem delas (não podem os alunos identificar claramente as
constantes.
suas próprias dificuldades num campo que desconhecem) e
Origem da avaliação tentarem ultrapassá-las com a ajuda do professor e com o pró-
Avaliar vem do latim a + valere, que significa atribuir va- prio esforço. Por isso, a avaliação tem uma intenção formativa.
lor e mérito ao objeto em estudo. Portanto, avaliar é atribuir A avaliação proporciona também o apoio a um processo a
um juízo de valor sobre a propriedade de um processo para a decorrer, contribuindo para a obtenção de produtos ou resul-
aferição da qualidade do seu resultado, porém, a compreen- tados de aprendizagem.
são do processo de avaliação do processo ensino/aprendi- As avaliações a que o professor procede enquadram-se
zagem tem sido pautada pela lógica da mensuração, isto é, em três grandes tipos: avaliação diagnostica, formativa e so-
associa-se o ato de avaliar ao de “medir” os conhecimentos mativa.
adquiridos pelos alunos.
A avaliação tem sido estudada desde o início do século Evolução da avaliação
XX, porém, segundo Caro apud Goldberg & Souza (1982), A partir do início do século XX, a avaliação vem atraves-
desde 1897 existem registros dos relatos de J. M. Rice sobre sando pelo menos quatro gerações, conforme Guba e Lincoln,
uma pesquisa avaliativa utilizada para estabelecer a relação apud Firme (1994). São elas: mensuração, descritiva, julgamen-
entre o tempo de treinamento e o rendimento em ortografia, to e negociação.
revelando que uma grande ênfase em exercícios não levava – Mensuração – não distinguia avaliação e medida. Nessa
necessariamente a um melhor rendimento. fase, era preocupação dos estudiosos a elaboração de instru-
As duas primeiras décadas deste século, de acordo com mentos ou testes para verificação do rendimento escolar. O
Borba & Ferri (1997), foram marcadas pelo desenvolvimento papel do avaliador era, então, eminentemente técnico e, neste
de testes padronizados para medir as habilidades e aptidões sentido, testes e exames eram indispensáveis na classificação
dos alunos e influenciados, principalmente nos Estados Uni- de alunos para se determinar seu progresso.
dos, pelos estudos de Robert Thorndike. – Descritiva – essa geração surgiu em busca de melhor en-
Nessa época, as pesquisas avaliativas voltavam-se parti- tendimento do objetivo da avaliação. Conforme os estudiosos,
cularmente para a mensuração de mudanças do comporta- a geração anterior só oferecia informações sobre o aluno.
mento humano. Caro apud Goldberg & Souza (1982) aponta Precisavam ser obtidos dados em função dos objetivos
várias destas pesquisas realizadas nos anos 20 para medir por parte dos alunos envolvidos nos programas escolares,
efeitos de programas de diversas áreas sobre o comporta- sendo necessário descrever o que seria sucesso ou dificuldade
mento das pessoas. com relação aos objetivos estabelecidos.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Neste sentido o avaliador estava muito mais concentrado Representa o principal meio através do qual o estudante
em descrever padrões e critérios. Foi nessa fase que surgiu o passa a conhecer seus erros e acertos, assim, maior estímulo
termo “avaliação educacional”. para um estudo sistemático dos conteúdos.
– Julgamento – a terceira geração questionava os testes Outro aspecto destacado pela autora é o da orientação
padronizados e o reducionismo da noção simplista de ava- fornecida por este tipo de avaliação, tanto ao estudo do alu-
liação como sinônimo de medida; tinha como preocupação no como ao trabalho do professor, principalmente através de
maior o julgamento. mecanismos de feedback.
Neste sentido, o avaliador assumiria o papel de juiz, in- Estes mecanismos permitem que o professor detecte e
corporando, contudo, o que se havia preservado de funda- identifique deficiências na forma de ensinar, possibilitando re-
mental das gerações anteriores, em termos de mensuração formulações no seu trabalho didático, visando aperfeiçoa-lo.
e descrição. Para Bloom, Hastings e Madaus (1975), a avaliação for-
Assim, o julgamento passou a ser elemento crucial do mativa visa informar o professor e o aluno sobre o rendimen-
processo avaliativo, pois não só importava medir e descrever, to da aprendizagem no decorrer das atividades escolares e
era preciso julgar sobre o conjunto de todas as dimensões do a localização das deficiências na organização do ensino para
objeto, inclusive sobre os próprios objetivos. possibilitar correção e recuperação.
– Negociação – nesta geração, a avaliação é um proces- A avaliação formativa pretende determinar a posição do
so interativo, negociado, que se fundamenta num paradigma aluno ao longo de uma unidade de ensino, no sentido de
construtivista. Para Guba e Lincoln apud Firme (1994) é uma identificar dificuldades e de lhes dar solução.
forma responsiva de enfocar e um modo construtivista de fazer. – Função somativa – Tem como objetivo, segundo Miras
A avaliação é responsiva porque, diferentemente das e Solé (1996, p. 378) determinar o grau de domínio do aluno
alternativas anteriores que partem inicialmente de variáveis, em uma área de aprendizagem, o que permite outorgar uma
objetivos, tipos de decisão e outros, ela se situa e desenvolve qualificação que, por sua vez, pode ser utilizada como um si-
a partir de preocupações, proposições ou controvérsias em nal de credibilidade da aprendizagem realizada.
relação ao objetivo da avaliação, seja ele um programa, pro- Pode ser chamada também de função creditativa. Tam-
jeto, curso ou outro foco de atenção. Ela é construtivista em bém tem o propósito de classificar os alunos ao final de um
substituição ao modelo científico, que tem caracterizado, de período de aprendizagem, de acordo com os níveis de apro-
um modo geral, as avaliações mais prestigiadas neste século. veitamento.
Neste sentido, Souza (1993) diz que a finalidade da ava- A avaliação somativa pretende ajuizar do progresso rea-
liação, de acordo com a quarta geração, é fornecer, sobre o lizado pelo aluno no final de uma unidade de aprendizagem,
processo pedagógico, informações que permitam aos agen- no sentido de aferir resultados já colhidos por avaliações do
tes escolares decidir sobre as intervenções e redirecionamen- tipo formativa e obter indicadores que permitem aperfeiçoar
tos que se fizerem necessários em face do projeto educativo, o processo de ensino. Corresponde a um balanço final, a uma
definido coletivamente, e comprometido com a garantia da visão de conjunto relativamente a um todo sobre o qual, até
aprendizagem do aluno. Converte-se, então, em um instru- aí, só haviam sido feitos juízos parcelares.
mento referencial e de apoio às definições de natureza peda-
gógica, administrativa e estrutural, que se concretiza por meio Objetivos da avaliação
de relações partilhadas e cooperativas. Na visão de Miras e Solé (1996, p. 375), os objetivos da
avaliação são traçados em torno de duas possibilidades: emis-
Funções do processo avaliativo são de “um juízo sobre uma pessoa, um fenômeno, uma si-
As funções da avaliação são: de diagnóstico, de verifica- tuação ou um objeto, em função de distintos critérios”, e “ob-
ção e de apreciação. tenção de informações úteis para tomar alguma decisão”.
– Função diagnóstica - A primeira abordagem, de acor- Para Nérici (1977), a avaliação é uma etapa de um proce-
do com Miras e Solé (1996, p. 381), contemplada pela avalia- dimento maior que incluiria uma verificação prévia. A avalia-
ção diagnóstica (ou inicial), é a que proporciona informações ção, para este autor, é o processo de ajuizamento, apreciação,
acerca das capacidades do aluno antes de iniciar um processo julgamento ou valorização do que o educando revelou ter
de ensino/aprendizagem, ou ainda, segundo Bloom, Hastings aprendido durante um período de estudo ou de desenvolvi-
e Madaus (1975), busca a determinação da presença ou au- mento do processo ensino/aprendizagem.
sência de habilidades e pré-requisitos, bem como a identifi- Segundo Bloom, Hastings e Madaus (1975), a avaliação
cação das causas de repetidas dificuldades na aprendizagem. pode ser considerada como um método de adquirir e proces-
A avaliação diagnóstica pretende averiguar a posição do sar evidências necessárias para melhorar o ensino e a apren-
aluno face a novas aprendizagens que lhe vão ser propostas dizagem, incluindo uma grande variedade de evidências que
e a aprendizagens anteriores que servem de base àquelas, no vão além do exame usual de ‘papel e lápis’.
sentido de obviar as dificuldades futuras e, em certos casos, É ainda um auxílio para classificar os objetivos signifi-
de resolver situações presentes. cativos e as metas educacionais, um processo para determi-
– Função formativa - A segunda função á a avaliação for- nar em que medida os alunos estão se desenvolvendo dos
mativa que, conforme Haydt (1995, p. 17), permite constatar modos desejados, um sistema de controle da qualidade, pelo
se os alunos estão, de fato, atingindo os objetivos pretendi- qual pode ser determinada etapa por etapa do processo en-
dos, verificando a compatibilidade entre tais objetivos e os sino/aprendizagem, a efetividade ou não do processo e, em
resultados efetivamente alcançados durante o desenvolvi- caso negativo, que mudança devem ser feitas para garantir
mento das atividades propostas. sua efetividade.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Modelo tradicional de avaliação versus modelo mais A consequência mais grave é que essa arrogância não per-
adequado mite o aperfeiçoamento do processo de ensino e aprendiza-
Gadotti (1990) diz que a avaliação é essencial à edu- gem. E este é o grande dilema da avaliação da aprendizagem.
cação, inerente e indissociável enquanto concebida como O entendimento da avaliação, como sendo a medida dos
problematização, questionamento, reflexão, sobre a ação. ganhos da aprendizagem pelo aluno, vem sofrendo denúncias
Entende-se que a avaliação não pode morrer. Ela se faz há décadas, desde que as teorias da educação escolar recolo-
necessária para que possamos refletir questionar e trans- caram a questão no âmbito da cognição.
formar nossas ações. Pretende-se uma mudança da avaliação de resultados
O mito da avaliação é decorrente de sua caminhada para uma avaliação de processo, indicando a possibilidade de
histórica, sendo que seus fantasmas ainda se apresentam realizar-se na prática pela descrição e não pela prescrição da
como forma de controle e de autoritarismo por diversas aprendizagem.
gerações. Acreditar em um processo avaliativo mais eficaz
é o mesmo que cumprir sua função didático-pedagógica CONSIDERAÇÕES FINAIS
de auxiliar e melhorar o ensino/aprendizagem. Com este artigo podemos perceber o importante papel
A forma como se avalia, segundo Luckesi (2002), é cru- que a didática desempenha no processo de ensino e aprendi-
cial para a concretização do projeto educacional. É ela que zagem. Como vimos ela proporciona os meios, as condições
sinaliza aos alunos o que o professor e a escola valorizam. pelos quais a prática educacional se concretiza. Ela orienta o
trabalho do professor fazendo-o significativo para que possa
A avaliação da aprendizagem como processo constru- guiar de forma competente, expressiva e coerente as práticas
tivo de um novo fazer de ensino. Através dos componentes que constituem o pro-
O processo de conquista do conhecimento pelo alu- cesso de ensino, visa propiciar os meios para a atividade pró-
no ainda não está refletido na avaliação. Para Wachowicz pria de cada aluno, busca ainda formá-los para serem indiví-
& Romanowski (2002), embora historicamente a questão duos críticos, reflexivos capazes de desenvolverem habilidades
tenha evoluído muito, pois trabalha a realidade, a prática e capacidades intelectuais.6
mais comum na maioria das instituições de ensino ainda é
um registro em forma de nota, procedimento este que não
tem as condições necessárias para revelar o processo de
aprendizagem, tratando-se apenas de uma contabilização A SALA DE AULA COMO ESPAÇO DE
dos resultados. APRENDIZAGEM.
Quando se registra, em forma de nota, o resultado ob-
tido pelo aluno, fragmenta-se o processo de avaliação e in-
troduz-se uma burocratização que leva à perda do sentido Quando entendida na perspectiva do senso comum,
do processo e da dinâmica da aprendizagem. a relação ensino-aprendizagem é linear; assim, quando há
Se a avaliação tem sido reconhecida como uma função ensino, deve necessariamente haver aprendizagem.
diretiva, ou seja, tem a capacidade de estabelecer a direção Ao inverso, quando não houve aprendizagem, não
do processo de aprendizagem, oriunda esta capacidade de houve ensino. Desse modo, o ensino é subordinado à
sua característica pragmática, a fragmentação e a burocra- aprendizagem. Essa subordinação é expressa em concep-
tização acima mencionadas levam à perda da dinamicidade ções que compreendem o professor como facilitador da
do processo. aprendizagem, ou ainda como mediador do conhecimento.
Os dados registrados são formais e não representam Aqui a proposta é discutir referências teóricas e me-
a realidade da aprendizagem, embora apresentem conse- todológicas que possam revelar uma concepção não linear
qüências importantes para a vida pessoal dos alunos, para da relação em foco, bem como criticar as concepções de
a organização da instituição escolar e para a profissionali- professor facilitador e professor mediador.
zação do professor. A mediação no campo educacional é geralmente con-
Uma descrição da avaliação e da aprendizagem pode- siderada como o produto de uma relação entre dois termos
ria revelar todos os fatos que aconteceram na sala de aula. distintos que, por meio dela podem ser homogeneizados.
Se fosse instituída, a descrição (e não a prescrição) seria Essa homogeneização elimina a diferença entre eles e, por
uma fonte de dados da realidade, desde que não houvesse conseguinte, a possibilidade de conflito entre ambos. Por-
uma vinculação prescrita com os resultados. tanto, quando se compreende a mediação como o resul-
A isenção advinda da necessidade de analisar a apren- tado, como um produto, a necessária relação entre dois
dizagem (e não julgá-la) levaria o professor e os alunos a termos se reduz à sua soma, o que resulta na sua anulação
constatarem o que realmente ocorreu durante o processo: mútua, levando-os ao equilíbrio. Essa ideia concebe a me-
se o professor e os alunos tivessem espaço para revelar os diação como o resultado da aproximação entre dois termos
fatos tais como eles realmente ocorreram, a avaliação seria que, embora distintos no início, quando totalmente sepa-
real, principalmente discutida coletivamente. rados, tendem a igualar-se à medida que se aproximam um
No entanto, a prática das instituições não encontrou do outro.
uma forma de agir que tornasse possível essa isenção: as 6 Fonte: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br - Eliei-
prescrições suplantam as descrições e os pré-julgamentos de Pereira dos Santos/Isleide Carvalho Batista/Mayane Leite da
impedem as observações. Silva Souza
17
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Em estudos desse contexto discute-se o conceito de que se utilizam com frequência desses recursos nutrem a
mediação local, indicando que mediar implica solucionar esperança de que essas práticas sejam capazes de estabele-
conflitos por meio de ações educativas. Assim, a mediação cer mediações que eles, os professores, talvez não se sintam
restringe-se a uma ação pragmática, circunscrita a uma si- seguros para desenvolver. Alguns professores precisam ser
tuação de conflito. Este entendimento da mediação não é lembrados de que sala de aula não é sala de cinema nem
muito distante daquele em que ela é compreendida na si- oficina de terapia ocupacional.
tuação da sala de aula. Os professores que se utilizam desses artifícios o fazem
A mediação na sala de aula é também pragmática, pois muitas vezes no intuito de facilitar a aprendizagem; porém,
pretende que o aluno aprenda de modo imediato. Nos dois sendo a relação entre o ensino e a aprendizagem uma luta
casos, em que mediar é agir de modo pragmático, todo con- de contrários, não há como facilitá-la. Ao inverso, o profes-
flito pode ser “solucionado”, e o aluno pode “aprender”. sor deve dificultar a vida cotidiana do aluno inserindo nela o
Para compreendermos a mediação na sala de aula, é conhecimento, e, dessa forma, negando-a. Pois, na vida coti-
preciso, em primeiro lugar, estabelecermos que o estudan- diana não há conhecimento e sim experiência. Desse modo,
te está sempre no plano do imediato, e o professor está, não há como facilitar o que é difícil. Aprender é difícil.
ou deveria estar, no plano do mediato. Assim, entre eles se será sempre necessário que ela [criança] se fatigue a
estabelece uma mediação que visa, como já o dissemos, a fim de aprender e que se obrigue a privações e limitações
superação do imediato no mediato. Em outras palavras, o de movimento físico isto é que se submeta a um tirocínio
estudante deve superar a sua compreensão imediata e as- psicofísico. Deve-se convencer a muita gente que o estudo
cender a outra que é mediata. E isso só pode ocorrer pela é também um trabalho e muito fatigante com um tirocínio
ação do professor que medeia com o aluno, estabelecendo particular próprio, não só muscular-nervoso mas intelectual:
com ele uma tensão que implica negar o seu cotidiano. Por é um processo de
outro lado, o aluno tentará trazer o professor para o cotidia- adaptação, é um hábito adquirido com esforço, aborre-
no vivido por ele, aluno, negando, assim, o conhecimento cimento e mesmo sofrimento. (Gramsci, 1985, p. 89)
veiculado pelo professor. Nessa luta de contrários – profes- Como assinala Gramsci, a aprendizagem depende do
sor e aluno, conhecimento sistematizado esforço pessoal de cada estudante. É claro que o professor
pela humanidade e experiência cotidiana – é que se dá a sempre poderá intervir, de modo direto, neste processo, au-
mediação; e ela ocorre nos dois sentidos, tanto do professor xiliando o aluno. Ele deve esforçar-se para que os estudantes
para o aluno quanto do a É uma luta de contrários. aprendam, mas não pode minimizar nem esconder as difi-
Esse modo de compreender a mediação não aceita a culdades inerentes à aprendizagem.
ideia do professor mediador do conhecimento, tampouco a Quando se compreende a relação ensino-aprendizagem
noção de professor facilitador da aprendizagem. na sala de aula como mediação, o ensino e aprendizagem
Essas duas acepções são equivocadas, porque, em pri- são opostos entre si e se relacionam por meio de uma tensão
meiro lugar, o professor não é o único mediador, pois o alu- dialética. Desse modo, esses termos, apesar de negarem-se
no também medeia, e, em segundo lugar, a mediação não se mutuamente, se completam, mas, como já o dissemos, essa
estabelece com o conhecimento e sim entre o aluno e o pro- unidade não se estabelece de modo linear.
fessor. Trata-se de uma automediação no segundo sentido Neste artigo, conceituaremos primeiro o ensino e, pela
atribuído por Mészáros; ou seja, a mediação entre o homem sua negação, conceituaremos aprendizagem. Sabemos da
e os outros homens: aluno para o professor. Em outros ter- dificuldade de conceituar esses dois termos, pois de modo
mos, a mediação, na escola, é um processo que ocorre a sala geral os estudiosos da área de educação e os professores,
de aula e promove a superação do imediato no mediato por talvez por influência das pedagogias contemporâneas, não
meio de uma tensão dialética entre pólos opostos. o fazem; pois preocupam-se quase exclusivamente com
A relação entre o homem e a natureza é ‘automediado- o “como ensinar”, ou mais precisamente como facilitar a
ra’ num duplo sentido. aprendizagem dos alunos.
Primeiro, porque é a natureza que propicia a mediação A ideia principal que informa o nosso conceito de ensino
entre si mesma e o homem; segundo, porque a própria ativi- é a de que ele expressa a relação que o professor estabe-
dade mediadora é apenas um atributo do homem, localiza- lece com o conhecimento produzido e sistematizado pela
do numa parte específica da natureza. Assim, humanidade. Assim, o ensino constitui-se de três atividades
na atividade produtiva, sob o primeiro desses dois as- distintas a serem desenvolvidas pelo professor.
pectos ontológicos a natureza faz a mediação entre si mes- A primeira consiste em, diante de um tema, selecionar o
ma e a natureza; e, sob o segundo aspecto ontológico - em que deve ser apresentado aos alunos; por exemplo, no tema
virtude do fato de ser a atividade produtiva inerentemente “Revolução Francesa”, próprio da História, selecionar o que é
social - o homem faz a mediação ente si mesmo e os demais mais importante ensinar aos alunos da 5ª série (nomenclatu-
homens. (Mészáros, 1981, p.77-78) ra brasileira). Já o professor do 1º ano do Ensino Médio deve
Sendo a mediação na sala de aula uma automediação, defrontar-se com a mesma pergunta; a mesma situação se
não podemos abrir mão da relação direta entre professor e coloca ao professor universitário encarregado de abordá-lo.
aluno. Desse modo, não podemos substituí-la por falsos me- Dessa forma, o docente deve preocupar-se em compatibilizar
diadores, como por exemplo, a exibição de filmes quando a a seleção do conhecimento a ser ensinado com a possibilida-
temática não corresponde àquela tratada pelo professor, ou de de aprendizagem dos alunos. Nos dias de hoje, é bastante
a execução aleatório de atividades de ensino. Os professores comum que a seleção seja abrangente; e isso pode levar os
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
professores a apresentarem aos seus alunos informações su- Não é possível discutir a aprendizagem como fizemos com
pérfluas, que, quando confundidas com conhecimento, não o ensino, porque ela é de cunho singular e, dessa forma, ocorre
lhes permitem fazer as sínteses necessárias para a superação de modo diverso em cada estudante. A discussão da aprendiza-
do cotidiano, produzindo neles uma “erudição balofa” que gem na perspectiva deste texto, ou seja, em oposição ao ensino,
pode ao contrário encerrá-los na vida cotidiana. Esse equívo- ainda deve ser elaborada e, certamente, não poderá sê-lo pela
co ocorre, por exemplo, quando o professor de História, ao psicologia, mas sim pela filosofia. A única possibilidade, ainda
abordar a Revolução francesa, preocupa-se com detalhes da que remota no âmbito da psicologia, estaria no desenvolvimen-
vida privada de Maria Antonieta ou com a moda ditada por to do pensamento de Vigotski, desde que compreendido numa
Luís XV. Ainda exemplificando, o mesmo pode ocorrer com perspectiva filosófica, pois a psicologia como ciência tem por
o professor de Literatura que expõe aos alunos os períodos objeto o comportamento, e aprender não é o mesmo que com-
literários e seus principais expoentes sem apresentar as rela- portar-se, em que pese o esforço das pedagogias contemporâ-
ções entre os autores, bem como entre os períodos literários, neas em desenvolver esta associação. Do nosso ponto de vista,
ocultando assim a historicidade inerente à literatura. o que a psicologia, no seu estado atual, pode fazer é controlar a
A erudição balofa pode também estar presente nas dis- aprendizagem, o que é diferente de compreendê-la.
ciplinas ligadas às ciências naturais; ela tem levado os pro- Quando a relação ensino-aprendizagem é tomada na
fessores a acreditar que quanto maior a quantidade de infor- perspectiva da mediação no seu sentido original, ao mes-
mações mais os alunos sabem. mo tempo em que não há uma relação direta entre ensino
A segunda atividade desenvolvida pelo professor é a e aprendizagem, não há também uma desvinculação desses
organização, ou seja, diante da seleção feita a partir de um dois processos. Ou seja, para haver aprendizagem, necessaria-
tema é preciso organizar esta seleção para apresentá-la aos mente deve haver ensino.
alunos. Desde o momento em que fazemos a seleção já não Porém, eles não ocorrem de modo simultâneo. Dessa for-
podemos falar mais em temas; devemos preocupar-nos com ma, o professor pode desenvolver o ensino – selecionar, orga-
os conceitos que os constituem. Agora o que o professor nizar e transmitir o conhecimento – e o aluno pode não apren-
deve fazer é organizar os conceitos e as relações entre eles. der. Para que o aluno aprenda, ele precisa desenvolver sua sín-
Esse processo, de acordo com Lefebvre (1983), implica dois tese singular do conhecimento transmitido, e isso se dá pelo
confronto, por meio da negação mútua, desse conhecimento
movimentos: a retrospecção e a prospecção.
com a vida cotidiana do aluno. Como cada aluno tem um co-
A retrospecção permite que o estudante compreenda o
tidiano, e o conhecimento é aprendido por meio da síntese
processo de formação e desenvolvimento do conceito abor-
já explicitada, o conhecimento não pode ser aprendido igual-
dado e a prospecção possibilita o entendimento do esta-
mente por todos os alunos, embora aquele transmitido pelo
do atual do conceito a partir das relações que o conceito
professor seja único. Assim, a relação ensino-aprendizagem
estudado estabelece com outros, tanto com aqueles que o
na perspectiva aqui apresentada expressa o vínculo dialético
corroboram quanto com os que a ele se opõem. A pros- entre unidade e diversidade. Por isso, o conhecimento trans-
pecção do conceito permite o estabelecimento de relações mitido pelo professor pode ser uno e aquele aprendido pelo
interdisciplinares, a que temos chamado de interdisciplinari- aluno pode ser diverso. A unidade e a diversidade são opostos
dade conceitual para distingui-la daquela que é corrente na que se completam, ou e é próprio do humano.
escola, a interdisciplinaridade temática. Não podemos ensi-
nar por meio do tema, devemos fazê-lo por meio do con- Fonte: Revista Lusófona de Educação
ceito. Evitamos o uso da expressão conteúdo de ensino em Texto adaptado de José Luís Vieira de Almeida e Teresa
virtude da sua imprecisão. Quando a organização do ensino Maria Grubisich
é baseada nos processos de retrospecção e prospecção de
conceitos, o fundamental são as relações que se estabele-
cem nos dois processos. No primeiro, elas dizem respeito ao
desenvolvimento do conceito, à oposição entre a sua origem AS TEORIAS DO CURRÍCULO.
e o estado atual, no segundo, elas tratam dos vínculos entre
conceitos. Assim, podemos afirmar que ensinar é fazer rela-
ções. Por isso, ensinar é tão difícil quanto aprender. Na busca da constituição do conhecimento, outro ter-
A terceira tarefa do professor é transmitir aos alunos mo a ser levado em consideração é o currículo, palavra de
aquilo que foi previamente selecionado e organizado. Dessa origem latina currere, que se refere à carreira, a um percur-
forma, a transmissão é a única etapa do processo de ensi- so, que deve ser realizado.
no que ocorre efetivamente na sala de aula. Em que pese o A escola está e não está em crise, ela reproduz a ideo-
preconceito sobre a palavra transmissão, não abrimos mão logia do capital, e ao mesmo tempo oferece condições
dela, porque é isso o que o professor faz na sala de aula. É de emancipação humana. Podendo assim, conservar ou
na transmissão do conhecimento que ocorrem as mediações reproduzir, e é nesta contradição que é preciso analisar o
entre professores e alunos. currículo da escola, pois, ele deve refletir as mais diversas
Se o ensino é a relação que o professor estabelece com formas de cultura.
o conhecimento, a aprendizagem ao contrário é a relação Segundo Saviani (1984) “o currículo deve expressar um
que o estudante estabelece com o conhecimento e, portan- caminho pelo qual teoricamente todos deveriam percorrer
to, é nela que a mediação se efetiva: pela superação do ime- rumo ao projeto social, passando a ser entendido como
diato no mediato. forma de contestação do poder”.
19
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Um sistema escolar é complexo, frequentado por mui- O planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui
tos alunos e, portanto, deve organizar-se. O que se deve en- tanto a previsão das atividades em termos de organização
tão ensinar já que o currículo também é uma seleção limita- e coordenação em face dos objetivos propostos, quanto a
da da cultura? Com certeza um currículo que compreenda sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensi-
um projeto de vida, socializado e cultural, com um conjunto no. O planejamento é um meio para programar as ações
de objetivos de aprendizagem selecionados que possam docentes, mas é também um momento de pesquisa e re-
dar lugar à criação de experiências, para que nele se operem flexão intimamente ligado à avaliação. Há três modalidades
as oportunidades, que se privilegiem conhecimentos neces- de planejamento, articulados entre si o plano da escola, o
sários para entender o mundo e os problemas reais e que plano de ensino e o plano de aulas.
mobilize o aluno para o entendimento e a participação na
vida social. Sendo pertinente formar um aluno crítico, refle- A importância do planejamento escolar
xivo e participativo das tomadas de decisões da sociedade, O planejamento é um processo de racionalização, orga-
que não sejam apenas cidadãos, mas que saibam praticar nização e coordenação da ação docente, articulando a ativi-
e exercer sua cidadania ativa conectada com seus direitos dade escolar e a problemática do contexto social. A escola,
e deveres. os professores e alunos são integrantes da dinâmica das
A produção do conhecimento deve ser o resultado da relações sociais; tudo o que acontece no meio escolar está
relação entre o homem e as relações sociais, através da ati- atravessado por influências econômicas, políticas e culturais
vidade humana, ou seja, o trabalho como práxis humana e que caracterizam a sociedade de classe. Isso significa que
produtiva. os elementos do planejamento escolar - objetivos-conteú-
Para Saviani (1981) “é preciso privilegiar a relação entre dos-métodos – estão recheados de implicações sociais, têm
o que precisa ser conhecido e o caminho que precisa ser tri- um significado genuinamente político. Por essa razão o pla-
lhado para conhecer, ou seja, entre conteúdo e método, na nejamento, é uma atividade de reflexão a cerca das nossas
perspectiva da construção da autonomia intelectual e ética”. opções e ações; se não pensarmos didaticamente sobre o
Hoje, há um consenso entre educadores de que o rumo que devemos dar ao nosso trabalho, ficaremos entre-
“aprender” é o papel mais importante de toda e qualquer gues aos rumos estabelecidos pelos interesses dominantes
instituição educacional. E que nesta linha, o compromisso da sociedade.
político do professor apoiada pela equipe e direção se exi- O planejamento tem assim as seguintes funções:
gem mutuamente e se interpenetram, não sendo mais pos- a) Explicar os princípios, diretrizes e procedimentos do
sível dissociar uma da outra. trabalho docente que as segurem a articulação entre as ta-
Para Sacristán (2.000): organizar currículo e programas refas da escola e as exigências do contexto social e do pro-
de conteúdo é contribuir na formação das novas gerações cesso de participação democrática.
da humanidade com possibilidades de traçar caminhos pos- b) Expressar os vínculos entre o posicionamento filosó-
síveis para superar dificuldades. E, que nós cidadãos partici- fico, político-pedagógico e profissional e as ações efetivas
pantes deste processo, professores pedagogos e gestores, que o professor irá realizar na sala de aula, através de objeti-
consigamos construir outra escola, onde todos possam ser vos, conteúdos, métodos e formas organizativas de ensino.
sujeitos de suas próprias histórias e parceiros na construção c) Assegurar a racionalização, organização e coordena-
de uma sociedade mais democrática e mais humana. ção do trabalho docente, de modo que a previsão das ações
Sob este ponto de vista o currículo caracteriza-se por docentes possibilite ao professor a realização de um ensino
uma estratégia de abordagem do objeto, que é o aluno. de qualidade e evite a improvisação e a rotina.
Estratégia esta que significa um modo de observar, de pen- d) Prever objetivos, conteúdos e métodos a partir de
sar e de agir do educador sobre o alunado, construindo a consideração das exigências postas pela realidade social, do
partir das teorias que suportam a formação profissional do nível de preparo e das condições sócio-culturais e indivi-
educador como sobre a sua experiência, sistema de valores, duais dos alunos.
ideologia e estilo pessoa. e) Assegurar a unidade e a coerência do trabalho do-
As atividades didáticas devem ser planejadas de acordo cente, uma vez que torna possível inter-relacionar, num pla-
com os níveis de ensino da língua escrita: sistema de escrita, no, os elementos que compõem o processo de ensino: os
leitura e produção de textos escritos e uso social da língua objetivos (para que ensinar), os conteúdos (o que ensinar),
escrita. A diversidade de atividades pedagógicas propostas os alunos e suas possibilidades (a quem ensinar), os méto-
em sala de aula precisa se apresentar para as crianças de dos e técnicas (como ensinar) e avaliação que intimamente
modo organizado e coeso. Isso pode ser garantido se forem relacionada aos demais.
observados dois critérios didáticos: a sequência das ativida- f) Atualizar os conteúdos do plano sempre que for pre-
des e a integração entre elas. ciso, aperfeiçoando-o em relação aos progressos feitos no
A sequência das atividades garante que as ações de campo dos conhecimentos, adequando-os às condições de
aprendizagem sejam contínuas, ou seja, que partam conse- aprendizagens dos alunos, aos métodos, técnicas e recursos
cutivamente umas das outras, permitindo o aprofundamen- de ensino que vão sendo incorporados nas experiências do
to e a ampliação do conhecimento dos alunos. A integração cotidiano.
diz respeito ao relacionamento entre as ações pedagógicas, g) Facilitar a preparação das aulas: selecionar o material
visando dar unidade às temáticas abordadas em sala de didático em tempo hábil, saber que tarefas professor e alu-
aula e à exploração de determinados recursos pedagógicos nos devem executar. Replanejar o trabalho frente a novas
e materiais escritos. situações que aparecem no decorrer das aulas.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Para que os planos sejam efetivamente instrumentos para Na preparação de aulas, o professor deve reler os obje-
a ação, devem ser como guia de orientação e devem apre- tivos gerais da matéria e a sequência de conteúdos do plano
sentar ordem sequencial, objetividade, coerência, flexibilidade. de ensino. Não pode esquecer que cada tópico novo é uma
continuidade do anterior; é necessário assim, considerar o
O plano é um guia para orientar o professor em suas nível de preparação inicial dos alunos para a matéria nova.
ações educativas Deve, também, tomar o tópico da unidade a ser de-
O plano é um guia de orientação, pois nele são estabeleci- senvolvido e desdobrá-lo numa sequência lógica, na forma
das as diretrizes e os meios de realização do trabalho docente. de conceitos, problemas, ideias. Trata-se de organizar um
Sua função é orientar a prática partindo da exigência da pró- conjunto de noções básicas em torno de uma ideia central,
pria prática. formando um todo significativo que possibilite ao aluno
O plano deve ter uma ordem sequencial, progressiva. Para percepção clara e coordenada do assunto em questão. Ao
alcançar os objetivos, são necessários vários passos, de modo mesmo tempo em que são listadas as noções, conceitos,
que a ação docente obedeça a uma sequência lógica. ideias e problemas, é feita a previsão do tempo necessário.
Por objetividade entendemos a correspondência do plano A previsão do tempo, nesta fase, ainda não é definitiva, pois
com a realidade que se vai aplicar. Não adianta fazer previsões poderá ser alterada no momento de detalhar o desenvolvi-
fora das possibilidades humanas e materiais da escola, fora das mento metodológico da aula.
possibilidades dos alunos. Em relação a cada tópico, o professor redigirá um ou
Deve haver coerência entre os objetivos gerais, objetivos mais objetivos específicos, tendo em conta os resultados es-
específicos, os conteúdos, métodos e avaliação. Coerência é perados na assimilação de conhecimentos e habilidades (fa-
relação que deve existir entre as ideias e a prática. tos, conceitos, ideias, relações, métodos e técnicas de estu-
O plano deve ter flexibilidade no decorrer do ano letivo, do, princípios e atitudes etc.) estabelecer os objetivos é uma
o professor está sempre organizando e reorganizando o seu tarefa tão importante que deles vão depender os métodos e
trabalho. Como já dissemos o plano é um guia e não uma de- procedimentos de transmissão e assimilação dos conteúdos
cisão inflexível. e as várias formas de avaliação (parciais e finais).
Existem pelo menos três níveis de planos: o plano da esco- O desenvolvimento metodológico será desdobrado nos
la, o plano de ensino, o plano de aula. seguintes itens, para cada assunto novo: preparação e intro-
O plano da escola é um documento mais global; expres- dução do assunto; desenvolvimento e estudo ativo do as-
sa orientações gerais que sintetizam, de um lado, as ligações sunto; sistematização e aplicação; tarefas de casa. Em cada
da escola com o sistema escolar mais amplo e, de outro, as um desses itens são indicados os métodos, procedimentos e
ligações do projeto pedagógico da escola com os planos de materiais didáticos, isto é, o que o professor e alunos farão
ensino propriamente ditos. para alcançar os objetivos.
O plano de ensino (ou plano de unidade) é a previsão dos Em cada um dos itens mencionados, o professor deve
objetivos e tarefas do trabalho docente para o ano ou semes- prever formas de verificação do rendimento dos alunos. Pre-
tre; é um documento mais elaborado, dividido por unidades cisa lembrar que a avaliação é feita no início (o que o aluno
sequenciais, no qual aparecem objetivos específicos, conteú- sabe antes do desenvolvimento da matéria nova), durante e
dos e desenvolvimento metodológicos. no final de uma unidade didática. A avaliação deve conjugar
O plano de aula é a previsão do desenvolvimento do con- várias formas de verificação, podendo ser informal, para fins
teúdo para uma aula ou conjunto de aulas e tem um caráter de diagnóstico e acompanhamento do progresso dos alu-
específico. nos, formal para fins de atribuição de notas ou conceitos.
O plano de aula é um detalhamento do plano de ensino. Os momentos didáticos do desenvolvimento metodoló-
As unidades e subunidades (tópicos) que foram previstas em li- gico não são rígidos. Cada momento terá duração de tempo
nhas gerais são agora especificadas e sistematizadas para uma de acordo com o conteúdo, com o nível de assimilação dos
situação didática real. A preparação de aulas é uma tarefa indis- alunos. Às vezes ocupar-se-á mais tempo com a exposição
pensável e, assim como o plano de ensino, deve resultar em um oral da matéria, em outras, com o estudo da matéria. Outras
documento escrito que servirá não só para orientar ações do vezes, ainda, tempo maior pode ser dedicado a exercício de
professor como também para possibilitar constantes revisões e fixação e consolidação. Por exemplo, pode acontecer que
aprimoramentos de ano para ano. Em todas as profissões o apri- os alunos dominem perfeitamente os conhecimentos e ha-
moramento profissional depende da acumulação de experiên- bilidades necessárias para enfrentar a matéria nova; nesse
cias conjugando a prática e reflexão criteriosa sobre ela, tendo caso, a preparação e introdução do tema pode ser mais bre-
em vista uma prática constantemente transformada para melhor. ve. Entretanto, se os alunos não dispõem de pré-requisitos
Na elaboração de um plano de aula, deve-se levar em bem consolidados, a decisão do professor deve ser outra,
consideração, em primeiro lugar, que a aula é um período de gastando-se mais tempo para garantir uma base inicial de
tempo variável. Dificilmente completamos em uma só aula o preparo através da recapitulação, pré-testes de sondagem
desenvolvimento de uma unidade ou tópico de unidade, pois e exercícios.
o processo de ensino e aprendizagem se compõe de uma se- O desenvolvimento metodológico pode se destacar
quência articulada de fases: preparação e apresentação de ob- aulas com finalidades específicas: aula de exposição oral da
jetivos, conteúdos e tarefas; desenvolvimento da mataria nova; matéria, aula de discussão ou trabalho em grupo, aula de
consolidação (fixação, exercícios, recapitulação, sistematiza- estudo dirigido individual, aula de demonstração prática ou
ção); aplicação, avaliação. Isso significa que devemos planejar estudo do meio, aula de exercícios, aula de recapitulação,
não uma aula, mas um conjunto de aulas. aula de verificação para avaliação.
21
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O professor consciencioso deverá fazer uma avalia- tes do início das aulas essa atitude traz algumas reflexões:
ção da própria aula. Sabemos que o êxito dos alunos não se uma boa prática implica um grau de conhecimento da
depende unicamente do professor e do seu método de realidade que ela vai transformar e também das exigências
trabalho, pois a situação docente envolve muitos fatores às quais ela precisa responder, como planejar antes de co-
de natureza social, psicológica, o clima geral da dinâmi- nhecer a turma em que se vai atuar? Até que ponto o pla-
ca da escola etc. Entretanto, o trabalho docente tem um nejamento deve «amarrar» o fazer em sala de aula? Como
peso significativo ao proporcionar condições efetivas para deve ser: diário, semanário, mensal, bimestral ou anual?
o êxito escolar dos alunos. Ao fazer a avaliação das aulas, Quando e como deve ser feito? Quais as possibilidades e
convém ainda levantar questões como estas: Os objetivos e os limites de sua realização? Inúmeras questões como es-
conteúdos foram adequados à turma? O tempo de duração tas permeiam o dia-a-dia do professor e o coloca em dúvi-
da aula foi adequado? Os métodos e técnicas de ensino da sobre como deve realmente ocorrer o planejamento na
foram variados e oportunos em suscitar a atividade mental escola. Infelizmente, entre outros motivos, a sua formação
e prática dos alunos? Foram feitas verificações de aprendi- não permite refletir sobre tais indagações e por isso acaba
zagem no decorrer das aulas (informais e formais)? O re- fazendo uso do tão famoso «formulário», argumentando
lacionamento professor-aluno foi satisfatório? Houve uma resumidamente que está cumprindo com seu dever.
organização segura das atividades, de modo ter garantido A partir de Fusari, é preciso dizer que o “formulário”
um clima de trabalho favorável? Os alunos realmente con- utilizado pelos professores para registro do planejamen-
solidaram a aprendizagem da matéria, num grau suficiente to foi criado pela Divisão de Assistência Pedagógica, em
para introduzir matéria nova? Foram propiciadas tarefas de julho de 1970, no Estado de São Paulo, à luz do behavio-
estudo ativo e independente dos alunos? rismo americano, onde em um programa de treinamento
A escola sendo lugar propício para trabalhar com o de professores criam-se os elementos objetivos, conteúdo,
conhecimento, tem em suas funções levar o aluno à com- estratégias e avaliação para garantir um ensino eficiente
preensão da realidade para através do conhecimento atuar e eficaz. Para Fusari, a competência em sala é algo muito
de forma a contribuir para que haja mudança. Aí surge uma mais importante do que apenas saber fazer um bom plano,
questão a ser respondida. Que realidade se defende na es- pois quando se fala em plano de ensino, automaticamen-
cola? Como afirma Kuenzer “Toda forma de conhecer uma te vem em mente a estrutura do documento da Divisão
realidade, para nela intervir, pressupõe uma determinada de Assistência Pedagógica. “Este foi o modelo elaborado e
concepção desta realidade”. Para conhecer a realidade faz- implantado em todas as escolas brasileiras e é este modelo
se necessário planejamento. De uma maneira geral, po- que os professores rejeitam e que os técnicos de supervi-
de-se dizer que o ato de planejar suas ações acompanha o são, na maioria dos casos, valorizam” (1984).
homem desde o início de sua existência, pois a história dele Ao adotar o “formulário” de 1970, importado de fora,
é resultado do presente e do passado, ou seja, ao procurar assumia-se a ideia implícita de produtividade, de eficiência
satisfazer suas necessidades o homem produziu diferentes e de eficácia do ensino para dar conta da necessidade da
relações, dentre elas, as educativas. produção da sociedade. Porém, o que se percebia inclusive
De uma maneira simplificada pode-se dizer que o pla- os próprios especialistas, é que o que constava na teoria
nejamento educacional possui dois aspectos. O primeiro do plano não representava a realidade prática do profes-
refere-se ao planejamento estrutural. Ele é burocrático e sor. O aluno acabava sendo privado do conteúdo, pois as
explica as ações que a educação faz. É produzido em ga- metodologias ativas de ensino acabavam impedindo que
binetes, pelas secretarias: federal, estadual e municipal. o professor tivesse segurança em dar o conteúdo. O fato é
Trata principalmente dos recursos financeiros. Com relação que numa sociedade o planejamento da educação é esta-
ao porquê dessa característica do planejamento Calazans belecido a partir das regras e relações, herdando as formas,
afirma que, nas últimas décadas ele possui um caráter au- os fins, as capacidades e os domínios do modelo do capital
toritário e manipulador. O outro caráter explica o peda- monopolista do Estado.
gógico, ou seja, planeja as ações que vão “desembocar” O Estado assumindo o papel de agente interventor,
na sala de aula, na prática do professor e do aluno. Tendo normalizador da ordem, em suas políticas educacionais
como pressuposto que só ocorre a mudança de uma de- tenta mascarar os sistemas de relações sociais que dividem
terminada situação quando ao planejar se tem certeza de a sociedade, por isso a centralidade da educação traz con-
onde quer chegar, deve-se se ter claro que o ato do plane- sigo que o planejamento deve ser proposto pelo Estado.
jamento educacional é muito sério e exige compromisso, é Desta maneira, pode-se dizer que há certa confusão no
um ato de intervenção técnica e política, não podendo ser que diz respeito à explicação das formas de planejar. Na
visto como uma simples rotina. Planejar, também, implica realidade o que os professores desenvolvem como “pla-
conhecer limitações e possibilidades. nejamento” acaba seguindo certo “ritual”. Inicialmente o
É possível visualizar na atual realidade do professor do professor recebe os conteúdos para desenvolver o planeja-
Ensino Fundamental que as denominadas semanas de pla- mento. Tais conteúdos fazem parte dos documentos onde
nejamento escolar que ocorrem no início de cada ano leti- consta o plano de curso contendo as propostas de educa-
vo, nada mais têm sido além de um momento de preencher ção que o Estado necessita e impõe. Como por exemplo,
formulários para serem arquivados na gaveta do diretor ou pode-se citar os Parâmetros Curriculares Nacionais que são
de um intermediário do processo pedagógico, como coor- tidos como um referencial e mesmo não tendo força de Lei,
denador ou o supervisor. Além do mais sendo realizado an- constituem um currículo que é seguido pelos professores.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Ao aprofundar sobre o conceito do que significa plane- entre os educadores e entre os próprios educandos (1989
jar na escola encontra-se que o planejamento é “um con- p. 10). Enquanto que o plano de ensino é um momento
junto de ações coordenadas visando atingir os resultados de documentação do processo educacional escolar como
previstos de forma mais eficiente e econômica” (LUCKESI, um todo. É, pois, um documento elaborado pelo docente,
1992). Este conceito, porém, está articulado à teoria da contendo suas propostas de trabalho, numa área e/ou dis-
Administração Científica representada por Taylor e Fayol. ciplina específica.
Essa teoria é decorrente da necessidade de organização O plano de ensino é mais abrangente do que aquilo
do trabalho na sociedade capitalista, com a intenção de que está registrado no planejamento do professor. Nesse
racionalizar o trabalho, aumentando então a produção de entendimento, planejamento e plano se complementam
excedente. Taylor (americano) desenvolveu a chamada es- e se interpenetram no processo da prática docente. Um
cola da administração científica preocupada em aumentar profissional da Educação bem preparado supera eventuais
a eficiência da indústria, por meio, inicialmente da raciona- limites do seu plano, a partir das reflexões vivenciadas. Um
lização do trabalho operário, ou seja, quanto mais repetida bom plano não transforma, em si, a realidade da sala de
fosse a tarefa do operário, mais eficaz seria o seu resultado. aula, pois ele depende da competência e do compromisso
Fayol (europeu) desenvolveu a chamada teoria clássica, social do docente. Se um bom plano necessita de compro-
preocupada em aumentar a eficiência da aplicação de prin- misso técnico e político, como é possível medir como tais
cípios gerais da administração em bases científicas. Essas aspectos ocorrem? Que caminho pode levar a essa percep-
teorias influenciaram também a educação já que na socie- ção? Partindo do pressuposto que a metodologia deve ser
dade capitalista o objetivo da escola é reparar o indivíduo entendida enquanto caminho ou meio que professores e
para atuar e adaptar-se a ela, contribuindo para sua con- alunos devem percorrer para atingir o objetivo colocado
solidação, como bem explica Zanardini: sob este ponto de no processo de ensino - aprendizagem e que as realida-
vista “administrativo Capitalista”, a escola é concebida como des em sala de aula são dinâmicas, pode-se afirmar que
uma organização formal como outra qualquer, desvinculada ela não deve ser um conjunto sequencial de procedimen-
do contexto social e de sua especificidade, isto porque os tos engessados. Mas, sim enquanto uma prática dinâmica
eficientes princípios, métodos e técnicas que promovem a flexível que pode ser revista e reorientada de forma que
evolução e produtividade na empresa devem estar presen- garanta a qualidade do ensino. Neste sentido Rays afirma
tes também na escola. A organização do trabalho escolar a que “a atividade metódica - se em correspondência com o
partir da ótica capitalista enfatiza aspectos burocráticos, e objetivo almejado - faz com que o homem se relacione de
como tal, prioriza a formalidade, o profissionalismo, a im- forma mais adequada com o mundo da natureza e com o
pessoalidade, a hierarquia e a especialização (1998). mundo da cultura” (1991). Dessa maneira, é possível afir-
mar que “um método de ensino torna-se concreto quando
Percebe-se que ainda mesmo hoje essa teoria acom-
o mesmo se converte em método de aprendizagem”. Desta
panha a intenção do Estado. A maneira através da qual as
forma, não se pode esquecer que o método de ensino tem
secretarias propõem o planejamento na escola, está articu-
que considerar em seus determinantes não só a realidade
lada com os interesses da classe dominante, mesmo que o
vital da escola (representada principalmente pelas figuras
Estado afirme o caráter de neutralidade na continuidade do
do educador e do educando), mas, também a realidade só-
trabalho, esses interesses estão claros.
cio-cultural em que está inserida.
Lukesi conceitua o planejamento como “a atividade in- Pode-se dizer que sendo o ensino um processo dialé-
tencional pela qual se projetam fins e se estabelecem meios tico, seu movimento essência estará no ideário político -
para atingi-los. É uma ação ideologicamente comprometi- pedagógico que se operará em suas contradições internas
da não possui caráter de neutralidade” (1992). Por isso o e externas. Como afirma Frigotto, no processo dialético
planejamento será um ato ao mesmo tempo político-social, de conhecimento da realidade, o que importa fundamen-
científico e técnico. talmente não é a crítica pela crítica, o conhecimento pelo
Ao realizar o planejamento na escola não basta que o conhecimento, mas a crítica e o conhecimento crítico para
professor apenas esteja atento aos meios, faz-se necessário uma prática que altere e transforme a realidade anterior no
também os fins, os objetivos da educação. Uma das formas plano do conhecimento e no plano histórico-social (1987).
de estar atento é percebido no plano de aula. Fusari afirma Desta maneira, o conhecimento deve ser o instrumento
que o preparo das aulas é um encontro curricular, no qual, que contribuirá para que o indivíduo possa se inserir na so-
ano a ano, vai-se tecendo a rede do currículo escolar pro- ciedade e ao mesmo tempo interferir nela para que tenha
posto para determinada faixa etária, modalidade ou grau melhores condições de sobrevivência.
de ensino (1992). Nessa visão, a aula deve ser concebida Na história do planejamento de ensino é possível ver
como um momento curricular importante, no qual o edu- que o processo da educação se condiciona por suas con-
cador faz a mediação competente e crítica entre os alunos tradições objetivas e subjetivas. Esse condicionamento re-
e os conteúdos do ensino, sempre procurando direcionar a presenta o vetor principal do processo de ensino de apren-
ação docente para a aprendizagem do aluno. dizagem que conduz à unidade da teoria e da prática peda-
Fusari apresenta uma distinção entre plano e planeja- gógica. A contradição é, sem dúvida, o elemento gerador
mento. Para ele planejamento - é o processo que envolve que leva a ação didática a proporcionar a assimilação crítica
a atuação concreta dos educadores no cotidiano do seu e criativa do conhecimento e a produção de conhecimen-
trabalho pedagógico, envolvendo todas as suas ações e si- tos em situações didáticas específicas e às manifestações
tuações, o tempo todo, envolvendo a permanente interação de fenômenos de natureza diversa.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Um aspecto importante a ser lembrado é que o profes- de Educação do professor, mas, apenas o rol de atividades
sor não pode perder de vista que a escolha das metodolo- que o mesmo desenvolve. Propõe-se que o método orga-
gias está articulada aos princípios e finalidades da educação nizatório pode encaminhar satisfatoriamente a “montagem”
por ele preconizada. Tal procedimento é importante, visto da escola como local de transmissão do saber. Para esclare-
que as metodologias possuem fundamentação político filo- cer a diferença entre as concepções sobre o método Veiga
sófica, portanto não se constitui um elemento neutro. afirma: a metodologia que se faz coletiva e solidariamente é
Enfim, não se pode esquecer que a escola necessita de- diferente daquela que é determinada a priori, de cima para
senvolver o seu trabalho pedagógico, em longo prazo, com baixo, a respeito de como devem ser realizadas as atividades
objetivos a serem atingidos no bimestre, semestre ou no ano em sala de aula (1995).
letivo. Mesmo que isto seja difícil num país em que não se A pergunta que muitos professores ainda fazem é qual
tem clareza política e econômica do que vai ocorrer ama- método seguir ao se propor à prática o planejamento? Há
nhã, este argumento não pode ser utilizado para que a es- um discurso preconizado entre os professores de que “o
cola planeje somente para o dia seguinte. Para compreender melhor método é não seguir nenhum ou analisar todos e
como ocorre o plano de ensino faz-se necessário entendê extrair deles o que é mais interessante” afirma-se que a “re-
-lo desde o momento em que é determinado pelas políticas ceita correta” é a experiência do professor. Na verdade esse
educacionais até chegar à sala de aula. pensamento traz como pano de fundo uma desculpa para
O caminho que se desenvolve na ação do planejamento não se explicar qual concepção de educação que embasa o
começa no plano de curso (planejamento macro), advindo trabalho pedagógico.
na maioria das vezes pronto dos próprios órgãos que coor- A insegurança acaba dando margem para que o ensino
denam o trabalho nos estados, municípios e chega a esco- ocorra na forma tradicional. Será que o tradicional garan-
la onde são elaborados os planos de ensino. A partir dele te a aprendizagem? Que tipo de aprendizagem atinge-se?
o professor conclui e organiza seu plano de aula sem uma Nessa visão é comum se ouvir que “professor é aquele que
maior pesquisa sobre os conteúdos necessários para a série ensina e não aquele que se preocupa com o método”. Tais
que irá atuar. Pode-se perceber que o planejamento é um atitudes expressam que há certa confusão do que seja en-
elemento que necessita de muita discussão, pois, sendo ini- sinar. O método enquanto concepção vai caracterizar a prá-
ciado de maneira para não dar certo, o ato do planejamento tica pedagógica, pois, não é o conteúdo do conhecimento
já começa de forma inadequada. Como superação dessas que fará isso, mas o meio pelo qual este conhecimento é
dicotomias alguns teóricos apontam o planejamento coleti- transmitido, que vai reelaborá-lo, transformando-o em sa-
vo ou participativo. Entende-se que existe na escola o Pro- ber conservador ou progressista.
jeto Político - Pedagógico e que este sendo construído de Neste sentido, Fusari chama a prática do planejamen-
forma coletiva, todas as ações da escola também deveriam to de “ecletismo pedagógico” porque é possível identificar
ser, por isso, o planejamento do trabalho deve fazer parte num professor cujo discurso é marcadamente progressista,
da concepção da escola. Diante da pesquisa sobre o que comportamentos bastante conservadores no trato com os
é planejar surge uma pergunta que precisa ser respondida: conteúdos do ensino e na própria interação com os alunos.
Afinal se o planejamento é necessário como deve ocorrer? Não há, assim uma correspondência necessária entre dis-
É preciso conhecer a realidade do aluno, ou seja, não deve curso e prática pedagógica (1993).
acontecer uma semana pedagógica de planejamento e sim Há autores que afirmam ter uma diferença entre o mé-
de estudo e de avaliação do Projeto Político - Pedagógico todo científico da apreensão da realidade e o método de
da escola, para que todos os envolvidos no processo escolar ensino pelo qual a população escolar se apropria do co-
possam participar. Veiga (1995), afirma que o Projeto Polí- nhecimento então produzido. Por outro lado, esses autores
tico - Pedagógico (PPP) não pode ser visto como um mero complementam que em ambos os métodos, há uma base
documento que é exigido pelas secretarias, uma burocracia. comum, porque tratam do método do pensamento. Na ma-
Tem que ser construído coletivamente. É uma necessidade neira pela qual ocorre a obtenção do saber enquanto objeto
e ao mesmo tempo um desafio para a escola. Enquanto co- de apropriação por parte da população escolar e da não
letivo, o PPP pressupõe superar a fragmentação, buscar o transmissão por parte dos professores, levanta por sua vez a
trabalho articulado, exigindo assim um esforço político do questão educacional, de como se realiza sua apropriação na
conjunto da comunidade escolar. É um planejamento que escola. O “como” tido como a questão do método. Segundo
busca unificar a direção dos envolvidos na escola. É político, Álvaro Vieira Pinto “as regras do método indicam ainda o
porque nele está inserida uma intencionalidade e é peda- modo segundo o qual se deve operar experimentalmente
gógico porque estabelece caminho para que a escola atinja sobre o mundo com o propósito de investigá-lo e desentra-
seu objetivo para garantir o compromisso com a democra- nhar dele seus conteúdos inteligíveis” (1985).
tização da mesma. O espaço onde ocorre o desenrolar dos conteúdos sis-
Ao planejar o PPP a escola deveria expressar o método tematizados é a sala de aula, Wachowicz faz uma reflexão
que realiza suas ações. Na prática, é possível perceber que sobre esse espaço e diz que mesmo sendo o lugar ao qual
a questão do método é algo que traz muita discussão, pois jamais chegou o interesse efetivo da maioria dos políticos
ainda se acredita ou se proclama que para resolver adequa- e administradores, é ao mesmo tempo o suporte para que
damente os problemas de sala de aula, é necessário detectar ocorra a educação. Por isso a sala de aula, apesar das interfe-
a ausência do método de ensino no trabalho do professor. rências da política administrativa e educacional, bem como
Visto desta maneira o método não representa a concepção da situação histórico- social do país, ainda pode ser um es-
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
paço que possui “a fascinação das coisas vitais” (1995). Por os objetivos sejam alcançados Fusari afirma que a relação
isso, para dar conta de tornar o conhecimento socializado, o da especificidade da escola com competência técnica e o
método didático tem que se tornar necessário, como aque- compromisso político do educador poderá contribuir para
le capaz de fazer o aluno ler criticamente a prática social na que o planejamento participativo ocorra. As questões que
qual vive. Não se pode esquecer que esse processo não se permeiam o planejamento de ensino não se esgotam aqui,
realiza individualmente, nem mesmo numa relação a dois, já que a escola está diretamente ligada com a própria his-
entre professor e aluno, mas é um processo coletivo pelo tória do ser humano e este faz parte do movimento da rea-
qual um grupo de pessoas se depara com o conhecimento lidade que é dinâmica e sofre constantes transformações.
e no qual não se perde a perspectiva individual. As relações educativas, que ocorrem no ambiente escolar,
Com relação ao trabalho coletivo Fusari esclarece que são diversas e ao mesmo tempo com permanente constru-
o trabalho coletivo exige educadores que tenham pontos ção e reconstrução. Por isso, um relato de uma experiência
de partida (princípios) e pontos de chegada (objetivos) é limitado, tendo em vista a dinâmica do processo histórico.
comuns (1993). Neste sentido, Falkembach, demonstra No entanto, as certezas construídas no trabalho coletivo, o
a possibilidade do coletivo chegar ao objetivo alcançado comprometimento, a clareza da concepção da escola pode-
quando o planejamento participativo torna-se instrumento rão fazer uma prática estar voltada ao compromisso político
teórico-prático capaz de facilitar a convergência entre o re- e a competência técnica dos envolvidos nessa realidade. Esta
fletir e o agir, no espaço escolar (1995). última entendida não como um “dom” e muito menos como
As grandes perguntas que se deve responder ao discu- neutra, mas construída e inserida num tempo e num espaço.
tir o planejamento é o quê, para quê, para quem e o como É necessário questionar não só “o que” do saber a ser ensi-
deve ocorrer o trabalho pedagógico na escola? Se hoje o nado na escola, mas também “o como” se pretende ensinar,
caráter redentor da escola não é mais visto como único e pois, a pergunta que deve ser respondida é como se ensina
verdadeiro é porque se acredita que deva existir uma forma bem? Quem pode afirmar sobre as prioridades de uma escola
de planejar o ensino sem que seja reproduzida a situação no que se refere à aprendizagem dos alunos? Planejar implica
imposta pelo poder dominante. Nessa perspectiva aponta- preocupar-se com a aprendizagem, com a obtenção do co-
da, um grupo de professores do qual faço parte, procurou nhecimento e como ninguém pode dar o que não tem, como
encontrar um meio concreto para que os objetivos propos- ajudar alguém para “conhecer” sem se ter o conhecimento?
tos pela escola fossem alcançados. Uma maneira de realizar O domínio do conteúdo é a base sólida que vai determi-
o planejamento de forma mais coerente com a realidade nar se o trabalho é coletivo ou não. Desta maneira, o planeja-
dos professores. Não se trata de mais um ecletismo peda- mento implica discutir a questão como diz Pinto, 1984, “sobre
gógico, mas, uma tentativa de se desenvolver o coletivo na o conteúdo e a forma” da educação. O conteúdo entendido
escola. Cabe lembrar que a “quebra” de paradigmas cau- como o conjunto de conhecimentos que são transmitidos
sa um certo desconforto entre os professores. É mais fácil pelo professor ao aluno, ou seja, os conhecimentos organiza-
dos e distribuídos em forma de disciplina curricular. A forma
desacreditar do novo do que desconstruir a imagem do
insere os procedimentos ou técnicas de ensino, é ela que de-
velho, do tradicional. Esse está sendo um dos desafios a ser
fine a concepção que um determinado trabalho pedagógico
enfrentado na prática que se propõe a fazer.
assume. É através da forma que se percebe na postura de um
Até o momento descobriu-se que há a certeza de que
professor em que é fundamentada a concepção de homem,
a forma que orientava a elaboração do planejamento não
de educação e de sociedade que se pretende trabalhar. A for-
condizia com a concepção que se tinha da educação e este
ma e o conteúdo estão inter-relacionados, um depende do
foi o motivo que levou o grupo a estudar uma maneira outro, por isso na relação conteúdo forma, ao conteúdo cabe
diferente de expressar seu planejamento. Durante a nova o papel determinante, porém essa determinação não é ab-
prática surgiram questionamentos sobre o objetivo do tra- soluta.
balho, onde se queria chegar com tal prática. Entre as res- Apesar de alguns teóricos como Fusari afirmarem que o
postas está a mais importante: o resgate do conteúdo na professor possui domínio do conteúdo que ensina e que mes-
escola. Temos procurado perceber quais são efetivamente mo pautado em técnicas e métodos através da metodologia
os conteúdos necessários a cada série, pesquisado biblio- do professor é possível perceber qual é o conteúdo ensinado,
grafias que abordam os conteúdos, para que os mesmos na prática dos professores é possível detectar que é justamen-
ficassem claros para os professores sistematizado num do- te aí que está o grande problema.
cumento o que foi planejado. A sociedade mudou, as condições econômicas mudaram
O diálogo, análise e estudo constante embasam a prá- e estão mudando constantemente, porém, os conteúdos que
tica e muitos entraves já foram enfrentados: a resistência o professor domina continuam sendo os mesmos que foram
ao novo, a falta de formação sobre qual a concepção de determinados há uma década, ligados ao Currículo. Os PCNs
educação que se procura defender na escola e a dificulda- contribuíram para que a confusão ficasse ainda pior e em
de no registro escrito, enquanto instrumento que expressa consequência o professor continua sem saber o que e como
o pensamento e a realidade humana. As conquistas aos planejar sua ação pedagógica. Embora com limites, tenha
poucos estão aparecendo, porém este trabalho ainda não conseguido desvelar a forma como vem sendo elaborado o
foi concluído, seus resultados poderão ser sistematizados planejamento nas séries iniciais do Ensino Fundamental, nota-
futuramente, já que ao desenvolvê-lo está sendo questio- se ainda que a construção de um planejamento que garanta
nada e reelaborada a especificidade da escola enquanto o conhecimento acumulado ao longo da história da humani-
local privilegiado de obtenção do conhecimento. Para que dade depende, entre outros, também do nosso compromisso
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
político e de nossa competência técnica. O que se pretende Diante das mudanças visíveis nas sociedades contempo-
dizer é que a educação de um povo é determinada pelas ne- râneas levanta-se razões para que se busque uma transfor-
cessidades decorrentes da forma pela qual ele está organiza- mação curricular, diante dos paradigmas que privilegiam o
do para produzir os meios de vida de que necessita. Por isso, desenvolvimento de novas competências.
pode - se afirmar que o que se ensina, o como se ensina, o Em termos de mudanças, destaca-se a necessidade de
espaço onde se ensina e os objetivos do ensino são determi- encaminhar pela via da ação pedagógica, uma recuperação
nados historicamente nas relações sociais e econômicas. do sentido de totalidade, ou seja, um currículo multidiscipli-
nar com visão fragmentada e deformada do mundo, para
Em tempos modernos um outro aspecto referente à cur- um currículo interdisciplinar onde as informações, percep-
rículo se destaca: a questão da interdisciplinaridade, e tem ções e conceitos compõem uma totalidade.
como objetivo principal mostrar que em função da rapidez Assim, são levantadas algumas concepções e reflexões
das mudanças em todos os setores da sociedade atual (cien- sobre a prática interdisciplinar, trazendo à tona possíveis
tífico, tecnológico, cultural ou econômico), faz-se necessário metodologias para o desenvolvimento da mesma, procuran-
analisar e repensar o atual modelo de currículo escolar. Os do-se caracterizar a atitude interdisciplinar, questionando os
estudos apontam para um currículo multidisciplinar atual, obstáculos e possibilidades para a sua aplicação.
onde permanece um modelo fragmentado, em que há justa- Uma possibilidade de resposta à questão da interdisci-
posição de disciplinas diversas, sem relação aparente entre si. plinaridade, consiste em explicitar a necessidade de inter-
Enquanto que no novo modelo curricular, de base interdisci- dependência entre os diversos campos de conhecimento,
plinar, o mundo não é visto de forma fragmentada. As infor- apontando algumas características fundamentais para que
mações, as percepções e os conceitos compõem uma signifi- ocorra uma verdadeira transformação curricular, a qual en-
cação total, completa. A intenção de analisar o atual currículo volve, desde mudanças de atitude, novas metodologias e
escolar, faz-se no primeiro momento, no sentido de reorien- procedimentos, passando pelos grandes agentes da mudan-
ta-lo rumo à nova proposta, pois, quanto mais se acelera a ça : os educadores.
produção do saber humano mais se faz necessário garantir I – Currículo: perspectivas atuais
que não se perca a visão do todo. E, num segundo momen- À medida que o currículo transformou-se em objeto de
to, questiona-se que no processo multidisciplinar, presente estudos e críticas mais aprofundados, alguns aspectos im-
na escola, desconsidera–se as características e necessidades portantes da relação escola/sociedade adquiriram relevo.
do desenvolvimento cognitivo do aluno, dificultando essa Passou-se a compreender o caráter eminentemente político
percepção do todo. A interdisciplinaridade é apontada nos da ação da escola, os vínculos entre educação, currículo e
estudos como sendo uma nova concepção de ensino e de sociedade em suas dimensões históricas por natureza e, por-
currículo, baseados na interdependência entre os diversos tanto, contraditórias; a educação e a escola como processo
ramos do conhecimento, a interação e a comunicação exis- que viabilizam interesses sociais de grupos hegemônicos.
tentes entre as disciplinas, levando-se a um conhecimento O currículo se define hoje como instrumento de com-
harmônico e significativo. São levantadas algumas concep- preensão do mundo. Basta um breve estudo sobre o que
ções e reflexões sobre a prática interdisciplinar, evidencian- tem sido escrito a respeito deste termo para se perceber que
do-se que a mesma, em seu sentido estrito, corresponde a existem diferentes maneiras de compreendê-lo.
uma interseção estrutural da diversidade de conhecimentos De uma concepção tecnicista e reducionista de currícu-
ensinados, observando-se também o papel do educador, lo – associada comumente a listagens de conteúdos tidos
seu envolvimento e formação. Esse texto propõe que, por como universais e indispensáveis para serem ensinados nas
via da ação pedagógica através da interdisciplinaridade, haja diferentes disciplinas – até a sua percepção como prática so-
a construção de uma escola participativa, norteada por um cial cotidiana que produz significados e dá sentido ao mun-
Projeto educacional centrado na intencionalidade definida do, existe uma distância semântica enorme, tradutora de
com base nos objetivos a serem alcançados pelos sujeitos diferentes olhares e perspectivas sobre a temática curricular.
educandos. E que tem como propósito a formação do sujeito O currículo está associado à técnica, ao planejamento
social apoiada na mudança de atitude, procedimentos e pos- do que deve ser ensinado, às inúmeras diretrizes e docu-
tura por parte dos educadores. mentos oficiais, ou pensá-lo a partir da ampliação do campo
A explanação sobre o Currículo em tempos modernos - conceptual e articulá-lo a outros conceitos com a cultura,
a questão da interdisciplinaridade -aponta para as diversas representação, poder ou identidade, são posturas e escolhas
compreensões e argumentações acerca do currículo, definin- cujas implicações políticas e pedagógicas são bem diferen-
do-o como instrumento de compreensão do mundo, inse- tes.(silva, 1995, p.18 )
rindo-o como construção social, uma prática que revela seu Tanto as técnicas, como o planejamento, as diretrizes e
compromisso com os indivíduos, a história, a sociedade e a documentos oficiais ligados ao currículo traduzem a própria
cultura. Avançando nesse sentido de superar uma visão es- compreensão do significado de escola e das relações que
treita de currículo, são propostas algumas temáticas que nos esta instituição estabelece com a sociedade, na qual está in-
parecem pertinentes para contribuir com uma atitude ressig- serida.
nificadora da escola, no sentido de romper grades curricu- Segundo o mesmo autor, as tendências mais atuais do
lares, à busca de uma identidade social que expresse as ne- campo do currículo são no sentido de privilegiar a inserção
cessidades de nossa época apontando para a importância de deste termo em uma rede conceptual mais ampla e com-
uma escola à altura de seu tempo, trazendo para si a respon- plexa sem, no entanto, perder de vista a especificidade do
sabilidade de investigar as questões postas pela sociedade. espaço no qual ele é pensado e produzido.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O conhecimento esse produzido num espaço social O currículo é utilizado por diferentes sociedades tanto
com funções sociais formativas e normativas, precisa ser para desenvolver os processos de conservação, transforma-
devidamente considerado. Assumir a não neutralidade dos ção e renovação dos conhecimentos historicamente acumu-
conteúdos escolares e suas implicações político-pedagógi- lados como, para socializar as crianças e os jovens segundo
cas e culturais não autoriza, no entanto, cair em um relati- valores tidos como desejáveis.( moreira, 2005,p. 11 )
vismo radical que permite afirmar que qualquer saber ou Pode-se afirmar que o currículo é formado não só pelas
valor ético-cultural pode e deve ser ensinado nas escolas. ( oportunidades, no sentido de ampliar sua visão de mundo.
moreira,1995, p. 28) Sob esta perspectiva, ele é sempre uma construção social,
Não se trata de negar a necessidade de selecionar os uma prática que revela seu compromisso com os indivíduos,
conteúdos escolares, mas sim de explicitar os critérios desta a história, a sociedade e a cultura.
seleção de forma consciente e em sintonia com o projeto Não é preciso ir longe para saber que as experiências es-
de escola e de sociedade no qual se acredita e pelo qual colares mudam as pessoas e que as pessoas são capazes de
se luta. A experiência escolar deve encaminhar para uma mudar o mundo. O currículo escolar se constitui e se institui
compreensão crítica e construtiva da realidade, ou seja, o no conflitante campo de debates que intenciona compreen-
conhecimento só faz sentido , em última instância, quando der os diversos “fazeres” e “pensares” que repercutem no
contribui para a transformação da sociedade. interior da escola. Os estudos curriculares representam um
Nesse sentido Coll ( 2003, p. 45),afirma que enquan- poderoso artefato para o movimento de observação, refle-
to projeto, o currículo é um guia para os encarregados de xão e intervenção na dinâmica escolar.
seu desenvolvimento, um instrumento útil para orientar a A exigência interdisciplinar que a educação indica reves-
prática pedagógica, uma ajuda para o professor.” Sendo te-se sobretudo de aspectos pluridisciplinares e transdisci-
assim cabe interrogar-nos sobre as funções que ele deve plinares que permitirão novas formas de cooperação, prin-
desempenhar. Baseado nessas funções, não pode limitar-se cipalmente o caminho no sentido de um policompetência.
a enunciar uma série de intenções, princípios e orientações (fazenda,2003 p.12 )
gerais que sejam de escassa ou nula ajuda para os professo- É notório que a maioria das sociedades contemporâ-
res. O currículo deve levar em conta as condições reais nas
neas está passando por rápidas mudanças que representam
quais o projeto vai ser realizado, situando-se justamente
um grande desafio, sob vários perspectivas. Surge, no mun-
entre as intenções, princípios, orientações gerais, a prática
do do trabalho, um novo paradigma que privilegia o desen-
pedagógica e a sociedade que ele irá atender. A partir dessa
volvimento de competências ligadas ao raciocínio lógico,
compreensão, pode-se dizer que o currículo imprime uma
à capacidade de iniciativa, de cooperação e de autonomia.
identidade à escola e aos que dela participam. Permite, ain-
Nesse aspecto a LDB em seu Art. 22, norteia que a educação
da perceber que o conhecimento trabalhado no ambiente
básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental
escolar extrapola os limites de seus muros, uma vez que
impulsiona o movimento dialético de (re) criação de um e ensino médio tem por finalidades desenvolver o educan-
conhecimento escolar para a sociedade , mediante a ação do, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o
dos que compartilham a vida escolar, apropriando –se dos exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir
conhecimentos sociais. no trabalho e em estudos posteriores.
Nesta perspectiva, o currículo tem necessidade de en- Sendo assim, a educação torna-se base fundamental do
caminhar, através da ação pedagógica, uma recuperação do desenvolvimento econômico emergente. Mudam-se as rela-
sentido de totalidade, ou seja, um todo estruturado, no qual ções sociais, as de trabalho, e a educação precisa ser trans-
fatos de qualquer natureza possam ser racionalmente com- formada. Diante das novas exigências da sociedade moder-
preendidos. Entram em questão os processos de inovação na, a ação educativa precisa ser redimensionada dentro do
curricular como a interdisciplinaridade e a contextualização. cenário político-econômico e do próprio discurso educa-
Discutir o currículo é, portanto, debater uma perspec- cional, pois ambos repercutem na organização do trabalho
tiva de mundo, de sociedade e de ser humano. Um debate escolar.
que não se reduz a uma visão tradicional de mudanças de II – Interdisciplinaridade – concepções e reflexões sobre
conteúdos escolares. Sacristán (2000, p.26 ) remete à impor- a prática
tante reflexão de que “o currículo já é por si o resultado de Percebe-se então, que o conceito de interdisciplinarida-
decisões que obedecem a fatores determinantes diversos: de vem se desenvolvendo também nas ciências da educa-
culturais, econômicos políticos e pedagógicos .” Nessa visão ção. A interdisciplinaridade é uma forma de pensar. Piaget
sua realização posterior ocorre em um contexto prático no sustentava que a interdisciplinaridade seria uma forma de se
qual se realizam tipos de práticas pedagógicas muito diver- chegar a transdisciplinaridade, etapa que não ficaria na in-
sas sendo estas a condensação da função social e cultural teração e reciprocidade entre as ciências, mas alcançaria um
da instituição escolar. estágio onde não haveria mais fronteiras entre as disciplinas.
Isso significa, compreender que o currículo escolar tra- A interdisciplinaridade surgiu no final do século passa-
duz marcas impressas de uma cultura nem sempre visíveis, do, pela necessidade de dar uma resposta à fragmentação
mas que estão latentes nas relações sociais de uma época. causada por uma epistemologia de cunho positivista. As
Por tudo isso, currículo é ação, é trajetória, é caminho ciências haviam se dividido em muitas disciplinas e a inter-
que se constitui para cada grupo, em cada realidade escolar, disciplinaridade restabelecia, pelo menos, um diálogo entre
de forma diferenciada. É, portanto, um processo dinâmico, elas, embora não resgatasse ainda a unidade e a totalidade
mutante , sujeito a inúmeras influências. do saber.( fazenda,2003,p.110 )
27
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
No Brasil, vários educadores têm se interessado pelo Entende-se que no campo de um projeto, o educador
tema, principalmente a partir das colocações de Hilton Ja- poderá articular seu projeto pessoal, existencial, ao projeto
piassu em Interdisciplinaridade e categoria do saber, sem global da sociedade na qual se encontra. O projeto viabiliza
contudo ocorrer o aprofundamento e a abrangência que a instauração de um universo de relações sociais onde se
um estudo dessa natureza requer. desenvolvem as condições da cidadania e da democracia,
De acordo com os PCNs ( Parâmetros Curriculares Na- entendidas como dois referenciais dos seres humanos numa
cionais ), fica mais claro quando se considera o fato tri- realidade histórica.
vial de que todo conhecimento mantém um diálogo per- Nos projetos educacionais a interdisciplinaridade se ba-
manente com outros conhecimentos, que podem ser de seia em alguns princípios como a noção de tempo, a relação
questionamento, de confirmação, de complementação, de direta e pessoal com a aquisição do saber, o projeto de vida,
negação, de ampliação, de iluminação de aspectos não dis- o significado do conteúdo e nas metodologias de trabalho.
tinguidos. III – Interdisciplinaridade – obstáculos e possibilidades
A interdisciplinaridade visa garantir a construção de Fazenda ( 1999, p. 17 ),diz que “ o que caracteriza a ati-
um conhecimento globalizante, rompendo as fronteiras tude interdisciplinar é a ousadia da busca, da pesquisa : é
das disciplinas. Para isso, integrar conteúdos não seria sufi- a transformação da insegurança num exercício do pensar ,
ciente. Seria preciso uma atitude e postura intersdisciplinar. num construir”.
Atitude de busca, envolvimento, compromisso, reciproci- Segundo a mesma autora, várias barreiras de ordem
dade diante do conhecimento interdisciplinar. material, pessoal, institucional poderão ser transpostas pelo
Normalmente, professores e educadores em geral ex- desejo de inovar, de criar, de ir além para superar barreiras e
pressam sua compreensão a partir de uma leitura imediata dificuldades institucionais e pessoais. A solidão que caracte-
e linear do próprio termo interdisciplinaridade, reduzindo riza o pensar interdisciplinar pode diluir-se na troca, no diá-
-o a uma prática de cruzamento de disciplinas, ou melhor, logo, no aceitar o pensar do outro.
de partes dos conteúdos disciplinares, que eventualmente Partindo da constatação de que no ensino, os conheci-
ofereçam pontos de contato nas atividades letivas. (casci- mentos são organizados em função das disciplinas, e de que
estas são um meio cômodo de dividir os conhecimentos e
no, 2000, p. 67 )
partes sobre as quais são organizadas experiências de ensino
Segundo o mesmo autor, nesse caso, tem–se que as
e pesquisa, corre–se o risco de certas disciplinas ocuparem o
práticas ditas interdisciplinares aconteçam, geralmente,
centro, posicionando-se frente às demais para assegurar seu
com professores cujas disciplinas possuem a priori afini-
lugar na instituição escolar e a manutenção de seu poder.
dades, ou que “coincidam” na organização dos horários de
Para superar esse obstáculo, a instituição não poderia refor-
aulas, facilitando a “integração” das mesmas disciplinas.
çar o capitalismo epistemológico de determinadas discipli-
A imagem de “encontro” de partes do conteúdo que
nas, pois ao permitir isso estaria bloqueando a possibilidade
se “parecem” revela a existência de uma representação da
de comunicação com o restante do espaço mental, portanto
interdisciplinaridade bastante precária. Integrar matérias limitando sua própria possibilidade de crescer.
e / ou conteúdos aos pares, aos trios de “matéria”, como Certos educadores, entretanto, vêm utilizando–se desse
geralmente ocorre nas escolas, indica a precariedade da termo sem pensar no seu significado mais profundo se refe-
reflexão sobre esse conceito-chave para a reconstrução da rindo ao fato de que, quando o projeto existe os educadores
ideia de educação. que irão executá-lo muitas vezes desconhecem o real signi-
A ação interdisciplinar deverá estabelecer a relação do ficado do mesmo, ou seja, são movimentos de “cima para
“ser-no-outro”, aí estaria o ponto de partida para o proces- baixo”. (fazenda, 1999, p.30 )
so interdisciplinar, a construção de dialogar estruturados O desconhecimento, o não envolvimento acarreta nos
nas diferenças, abraçando a riqueza derivada da diversida- educadores certo medo de perder prestígio, medo de ver
de. seu saber dividido entre outros e medo de perder seu lugar
As novas posições de educação requererão a conju- na instituição. Uma das formas de superar essa situação seria
gação de outros esquemas teórico-didáticos que poderão uma redefinição das diretrizes centrais da instituição, envol-
eventualmente contribuir para as construções interdiscipli- vendo os educadores na proposta de interdisciplinaridade,
nares, baseadas em superações, reformulações, no olhar prestigiando seu trabalho e valorizando-o.
atento, na magia das práticas. O obstáculo seguinte estaria na metodologia de traba-
Nesse sentido, as aprendizagens do conhecer, do fazer lho, na escolha das etapas a serem atingidas, nas condições
e do ser conduziriam a uma proposta de aprendizagem em de trabalho dos componentes da equipe, o estabelecimento
convivência com situações novas, onde a produção do co- de regras iniciais e na redefinição da proposta a cada etapa
nhecimento superaria o acúmulo de informações. vencida.
A interdisciplinaridade supõe três condições elementa- Outro obstáculo refere-se a uma questão maior: for-
res: trabalhar em um mesmo objeto de pesquisa, combinar mação do educador. A resposta a ela é um somatório de
as linhas metodológicas, definindo uma problemática co- questões:
mum, e recorrer a conceitos teóricos transversais, estraté- Fazenda ( 2003, p.174 ) , diz” a formação passa sempre
gias científicas, trazendo informações úteis à compreensão pela mobilização de vários tipos de saber: saberes de uma
dos problemas estudados, ou seja, trabalhar com base em prática reflexiva, saberes de uma teoria especializada, sabe-
projetos. ( silva, 2005, p.27 ) res de uma militância pedagógica .”
28
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Poderá o educador engajar-se num trabalho interdis- O novo modelo curricular, de base interdisciplinar exige
ciplinar, sendo sua formação fragmentada? Existem condi- uma nova visão de escola criativa, ousada e com um nova
ções para o educador entender como o aluno aprende, se concepção onde não haja divisão do divisão do saber.
não lhe foi reservado espaço para perceber como ocorre Num currículo multidisciplinar os alunos recebem infor-
sua própria aprendizagem? Que condições terá para trocar mações incompletas e têm uma visão fragmentada e defor-
com outras disciplinas, se ainda não dominou o conteúdo mada do mundo. Num currículo interdisciplinar as informa-
específico da sua ? Poderá entender, esperar, dizer, criar e ções, as percepções e os conceitos compõem uma totalidade
imaginar se não foi educado para isso? Buscará a transfor- de significação completa e o mundo já não é visto como um
mação social se ainda não iniciou o processo de transfor- quebra-cabeça desmontado.
mação pessoal? A ideia de um currículo interdisciplinar, mesmo sendo
Os estudos apontam que somente na troca, numa ati- muito sido discutida, com a introdução dos PCNs ( Parâme-
tude conjunta entre educadores e educandos, visando um tros Curriculares Nacionais ), ainda não alcançou a sala de
conhecer maior e melhor, que a interdisciplinaridade no aula ou o contexto escolar, de um modo geral. Há uma con-
ensino ocorrerá como meio de conseguir uma melhor for- fusão em relação ao que seja a interdisciplinaridade. Ela ainda
mação geral, como meio de atingir uma formação de pes- é vista apenas como a integração das disciplinas de conteúdo
quisadores e pesquisa, como condição para uma educação escolar e não como a superação dessas fronteiras através da
perenemente, como superação da dicotomia ensino/pes- criação de uma equipe interdisciplinar, em que as atitudes
quisa e como forma de compreender e modificar o mundo. dos membros, ainda que representando sua respectiva área
Saviani ( 2003, p. 53 ),argumenta que” a interdisciplina- de conhecimento, colabore para o enriquecimento do grupo.
ridade é, acima de tudo processo de co-participação, diá- Avançar para um currículo interdisciplinar significa co-
logo, que caracterizam a integração não apenas das disci- meçar a pensar interdisciplinarmente, isto é, ver o todo, não
plinas mas de todos os envolvidos no processo educativo.” pela simples somatória de que tudo sempre está em tudo,
No entanto, se o objetivo dessa troca for apenas in- tudo repercute em tudo, permitindo que o pensamento
tegração dos conteúdos e dos programas das disciplinas, ocorra com base no diálogo entre as diversas áreas do saber.
sem um questionamento de problemas relativos a clientela,
Enquanto instituição social, a escola é sempre orientada
à comunidade, aos recursos humanos, materiais e tecnoló-
pelo tipo de homem que deseja formar. Portanto, o século
gicos, visando uma mudança social, a interdisciplinaridade
XXI exige um novo modelo de escola, pois fragmentando-se
pode resultar apenas numa rotulação para velhos proble-
o conhecimento, fragmenta-se o próprio homem ( o aluno e
mas.
o professor ) , que ficam então fragilizados e são facilmente
A ação pedagógica, através da interdisciplinaridade,
dominados.
aponta para a construção de uma escola participativa e de-
A rapidez das mudanças em todos os setores da socieda-
cisiva na formação do sujeito social.
de atual, o acúmulo de conhecimentos, as novas exigências
Uma interdisciplinaridade no ensino com vistas a no-
vos questionamentos e buscas supõe uma mudança de do mercado de trabalho, têm apontado para a necessidade
atitude no compreender e entender o conhecimento, uma de uma revisão didático-pedagógica no processo de educa-
troca em que todos saem ganhando: alunos, professores e ção escolar.
a própria instituição. Essa nova concepção de ensino e de currículo, baseada
Ao analisar o atual modelo de currículo e evidenciar na interdependência entre os diversos campos do conhe-
uma nova proposta sobre o mesmo é preciso considerar cimento, deve realmente superar o modelo fragmentado e
que um dos grandes problemas da transformação curricu- compartimentado da estrutura curricular fundamentada no
lar é o fato da escola ser uma das instituições sociais resis- isolamento dos conteúdos.
tentes a mudanças. Considerar as razões psicopedagógicas, pensar o conhe-
É evidente, através dos estudos, que modelo multidis- cimento e o currículo como uma rede de significações e a
ciplinar presente na escola, ainda hoje, desconsidera as ca- escola como lugar não apenas de transmissão do saber, mas
racterísticas e necessidades do desenvolvimento cognitivo também de sua construção coletiva é de suma importância.
do aluno, dificultando a percepção da inteireza do saber e Conclui-se que o grande passo rumo à nova proposta é
do ser humano, impossibilitando a visão da totalidade. a mudança do paradigma de escola e da postura dos profes-
Quando se coloca a questão da interdisciplinaridade, sores. A função da escola já não é integrar as novas gerações
pensa-se logo num processo integrador, articulado, or- ao tipo de sociedade pré-existente, mas tem como objetivo
gânico, de tal modo que, em que pesem as diferenças de oferecera o educando uma ideia integrada da vida e das rela-
formas, de meios, as atividades desenvolvidas levam ao ções dos seres vivos entre si e a natureza, pois o mundo não
mesmo fim. Sempre uma articulação entre a totalidade e está dividido em física, química ou biologia.
unidade. (fazenda, 2003, p.42 ). É preciso rever o funcionamento da escola não só quanto
Quanto mais se acelera a produção do saber, mais se a conteúdos, metodologias e atividades, mas quanto à ma-
faz necessário garantir que não se perca a visão do todo. neira de tratar o aluno e comportamentos que deve estimu-
Mas, na prática, o que vemos acontecer é a simples coor- lar: auto expressão, auto valorização, co-responsabilidade,
denação de matérias, garantindo-se assim, a integração curiosidade e autonomia na construção do conhecimento.
vertical. Entre outros, somados a uma administração e metodologia
participativa.
29
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
É necessário que se dê atenção ao estágio em que o e ciência. Outra perspectiva desse currículo é a fundamen-
corpo docente de uma escola se encontra, em relação ao tação no pós-estruturalismo que acredita que o conheci-
processo interdisciplinar, e motiva-lo a expressar e discutir mento é algo incerto e indeterminado. Questiona também
em conjunto os problemas principais do ensino e seus es- o conceito de verdade, já que leva em consideração o pro-
forços, sob a ótica da elaboração globalizadora do conheci- cesso pelo qual algo se tornou verdade.
mento. (luck, 1994, p.34 ) É por causa dessa divergência entre as teorias curricu-
Uma prática interdisciplinar exige mudanças de atitude, lares que a escola deve procurar discutir qual currículo ela
procedimento, postura por parte dos educadores, dentre quer adotar para se chegar ao objetivo desejado. Essa esco-
elas: historicizar e contextualizar os conteúdos, valorizar o lha deve ser pensada a partir da concepção do seu Projeto
trabalho em parceria, desenvolver a atitude de busca, pes- Politico Pedagógico, esse que deve fundamentar a prática
quisa, trabalhar com pedagogia de projetos, definir base teórica da instituição e as inquietudes dos alunos.8
teórica, dinamizar a coordenação de área e resgatar o sen-
tido humano, o mais profundo e significativo eixo da in-
terdisciplinaridade – perguntando-se a todo momento em
que tal conteúdo contribui para que os alunos se tornem OS CONHECIMENTOS SOCIOEMOCIONAIS NO
mais humanos,/–se, assim, a proposta da interdisciplinari- CURRÍCULO ESCOLAR.
dade. Porém, não se pode ignorar sobre as atuais condições
dos trabalhadores da educação e suas preocupações com
as questões comuns do cotidiano escolar.7 Uma revista informativa brasileira, no mês de abril de
2015, apresentou uma entrevista com James Heckman, Prê-
Teorias do Currículo mio Nobel de Economia no ano de 2001. Entretanto, diferen-
O currículo escolar abrange as experiências de apren- temente do que se possa imaginar, as páginas jornalísticas
dizagens implementadas pelas instituições escolares e que não traziam elementos vinculados à área estritamente econô-
deverão ser vivenciadas pelos estudantes. Nele estão conti- mica, mas ampliavam seu campo de intervenção para pensar
dos os conteúdos que deverão ser abordados no processo a educação das crianças de nosso País. Heckman (2015)3, na
de ensino-aprendizagem e a metodologia utilizada para os referida entrevista, assumia como um de seus posicionamen-
diferentes níveis de ensino. tos que “tentar sedimentar num adolescente o conhecimento
Ele deve contribuir para construção da identidade dos que deveria ter sido apresentado a ele dez anos antes custa
alunos na medida em que ressalta a individualidade e o mais e é menos eficiente”. Mais que evidenciar um conjunto
contexto social que estão inseridos. Além de ensinar um de pressupostos para pensar as políticas de escolarização, a
determinado assunto, deve aguçar as potencialidades e a partir do engendramento de uma matriz econômica, a entre-
criticidade dos alunos. vista com o professor da Universidade de Chicago enuncia
Nessa perspectiva, a função da teoria curricular é com- uma racionalidade política contemporânea que posiciona a
preender e descrever fenômenos da prática curricular. É educação escolar como objeto de intervenção governamen-
através da teoria que teremos a compreensão do objeto e tal, equacionada enquanto um investimento econômico.
intenções de um determinado grupo social. Temos como Todavia, o referido texto não é uma elaboração ocasional.
teorias do currículo: Em uma significativa trama governamental, são inúmeros os
• Teorias tradicionais: ela tem como objetivo princi- institutos, organizações não governamentais, agências mul-
pal preparar para aquisição de habilidades intelectuais atra- tilaterais, atores políticos e grupos educacionais que operam
vés de práticas de memorização. Esse tipo de currículo teve na difusão desses princípios. (SHORE; WRIGHT, 1997; PENN,
origem nos Estados Unidos e tem como base a tendência 2002; BALL, 2014). Evidencia-se, em nosso tempo, uma difu-
conservadora, baseada nos princípios de Taylor, esse que são de modelos de currículos socioemocionais que tomam a
igualava o sistema educacional ao modelo organizacional e infância como alvo privilegiado para o investimento econô-
administrativo das empresas. mico. Mais uma vez recorrendo a Heckman (2015), as próprias
• Teorias críticas: argumenta que não existe uma teo- famílias passam a ser reposicionadas no interior dessa lógica
ria neutra, já que toda teoria está baseada nas relações de política. Em suas palavras, “elas indicam que qualquer tipo
poder. Isso está implícito nas disciplinas e conteúdos que de intervenção que consiga despertar o interesse dos pais
reproduzem a desigualdade social que fazem com que mui- e fazê-los estimular, desde cedo, o aprendizado cognitivo e
tos alunos saem da escola antes mesmo de aprender as ha- emocional dos filhos tem excelente custo-benefício”. Pensar a
bilidades das classes dominantes. Percebe o currículo como escolarização em termos de investimentos econômicos sobre
um campo que prega a liberdade e um espaço cultural e a vida nos inquieta, do ponto de vista investigativo.
social de lutas. Ao colocarmos em exame os regimes de implementação
• Teorias pós-críticas: nessa perspectiva o currículo das políticas curriculares em curso em determinadas regiões
é tido como algo que produz uma relação de gêneros, pois de nosso país, imediatamente encontraremos a proliferação
predomina a cultura patriarcal. Essa teoria critica a desvalo- de uma nova gramática formativa. (NASCIMENTO, 2013). No-
rização do desenvolvimento cultural e histórico de alguns ções como competências socioemocionais, habilidades do
grupos étnicos e os conceitos da modernidade, como razão século XXI, paradigma holístico, currículo socioemocional e
abordagem transversal tornaram-se recorrentes nos debates
7 Fonte: www.webartigos.com – Por Vera Nilse Pe- educacionais mobilizados pelos diferentes sistemas de ensi-
reira 8 Fonte: www.infoescola.com
30
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
no, especialmente no período em que estivemos envolvidos lo universal de desenvolvimento humano, os argumentos
nas questões atinentes à base nacional comum curricular. apresentados nos estudos dos economistas estão dissemi-
Que racionalidades governamentais operam na implemen- nando-se através dos documentos produzidos pelo Banco
tação dessas políticas de currículo? Quais sentidos de co- Mundial e tornando-se referência para o planejamento e a
nhecimento escolar e formação humana são engendrados operacionalização de políticas de Educação Infantil em di-
no interior dessa trama discursiva? Como as propostas cur- versos países. Todavia, conforme Moss (2011), o que chama
riculares são ressignificadas no contexto das competências a atenção é o fato de que, nos Estados Unidos, país no qual
socioemocionais? emergiram os estudos de intervenção precoce4, na década
Com essas interrogações, organizamos o presente artigo de 1960, as taxas de pobreza entre as crianças estavam 22%
em três seções. Na primeira, produzimos um breve diagnós- mais altas em 2010 do que em 1965, quando se iniciaram os
tico das possíveis articulações entre infância, escolarização e programas citados pelos pesquisadores.
neoliberalismo, valendo-nos de uma abordagem pluralista Nas análises econômicas, de acordo com Esping-An-
para o estudo das políticas educacionais. (TELLO; MAINAR- dersen (2007), a infância que está à margem das condições
DES, 2015). A seguir, na segunda seção, exploramos alguns de vida consideradas produtivas pelo Estado neoliberal
desdobramentos subjetivos da teorização contemporânea é considerada um risco social que demanda intervenção,
nomeada como Big Five, inspiradora das atuais reformas acompanhamento e avaliação. Por esse motivo, as crianças
com ênfase nas competências socioemocionais. Por fim, a oriundas de famílias de baixa renda têm sido vistas como
partir da implementação de uma experiência colocada em capital humano a ser desenvolvido em termos de conheci-
ação no Rio de Janeiro, analisamos a promoção de currículos mentos específicos, habilidades e destrezas.
socioemocionais centrados nas competências no século XXI. Corroborando o argumento, Nascimento (2013) des-
taca que os analistas econômicos têm defendido o inves-
Infância, escolarização e neoliberalismo: um diagnóstico timento em Educação Infantil como promotor de vanta-
Pesquisas internacionais de longo prazo sobre progra- gens para as classes de baixa renda, devido à ampliação
mas de educação para crianças pobres insistem em evi- do tempo que as famílias têm, enquanto os filhos estão
denciar que intervenções precoces são eficientes, porque na escola, para se dedicarem ao trabalho e gerarem renda.
aumentam significativamente os resultados em avaliações Desse modo, é possível observar, por meio das políticas de
de larga escala e a probabilidade de que o estudante com- escolarização contemporâneas, que os investimentos em
plete o ciclo educacional básico. Além disso, tais programas capital humano infantil estão se efetivando predominante-
são apontados como promotores da redução da retenção mente por meio da educação da criança desde a mais tenra
escolar, do tempo de permanência dos estudantes em clas- idade, tendo em vista a preparação de indivíduos capaci-
ses especiais, da criminalidade, das taxas de natalidade e da tados para uma atividade laboral futura. (LUPTON, 1999).
delinquência entre os jovens. (CUNHA et al., 2005). Pesqui- O argumento central utilizado de modo recorrente pe-
sadores como James Heckman. (CUNHA; HECKMAN, 2011; los pesquisadores é que uma educação de qualidade pos-
HECKMAN, 2006, 2008), anteriormente referido, defendem sibilita a formação de pessoas mais eficientes economica-
a eficiência econômica da Educação Infantil e a importância mente, pois tem efeitos diretos sobre fatores socioeconô-
de programas de educação da primeira infância como solu- micos, como o aumento de emprego, renda e escolaridade
ção dos diversos problemas de ordem econômica, política e a redução de riscos, como o número de gestações inde-
e social que afetam os países em desenvolvimento. Desse sejadas, de atitudes violentas, dentre outros aspectos que
modo, a inclusão da população infantil de baixa renda em trazem prejuízos ao desenvolvimento dos países. As contri-
programas de educação, conforme Fumagalli (2010), visa buições decorrentes do investimento educacional realiza-
assegurar as condições básicas de sobrevivência dos indi- do, conforme Heckman (2006, 2008) e Cunha e Heckman
(2011), aumentam indefectivelmente a renda nacional, a
víduos e, ao mesmo tempo, incluí-los no jogo do mercado,
redução dos níveis de pobreza e a menor necessidade de
gerenciando e minimizando os riscos que aqueles cobertos
programas sociais compensatórios.
por tais políticas representam para si mesmos, para os ou-
Desse modo, a partir de uma formalização cada vez
tros e para o Estado.
maior das políticas para a educação no Brasil, em 2001 foi
De acordo com Penn (2002), os preceitos de interpre-
aprovado o primeiro Plano Nacional de Educação (PNE),
tação e de práticas modeladas para crianças nos Estados
para o período de 2001 a 2010, previsto na Constituição
Unidos são divulgados de forma indiscriminada como per-
Federal. (BRASIL, 1988). O primeiro PNE previu a ampliação
feitamente legítimos para o mundo majoritário (subdesen- do atendimento da Educação Infantil e a extensão da esco-
volvido do Sul, do Terceiro Mundo). Para a referida autora, os laridade obrigatória para crianças de 6 anos de idade. Em
pesquisadores alegam que a única evidência e experiência 2006, as crianças de 6 anos de idade foram transferidas da
válida provém dos Estados Unidos, pois defendem a ideia de Educação Infantil para o Ensino Fundamental, uma vez que
que ninguém mais testou os pressupostos relativos à primei- a Lei nº 11.114, de 16 de maio de 2005, instituiu o início
ra infância com a mesma intensidade que eles – desconside- da obrigatoriedade do Ensino Fundamental aos 6 anos. A
rando que outros países possam não considerar válida ou ampliação do Ensino Fundamental de oito para nove anos
necessária a operacionalização de programas de interven- de duração, de acordo com Correa (2011), ocasionou mu-
ção precoce para justificar gastos com crianças pequenas. danças no currículo da pré-escola e, em muitos casos, uma
Fundamentada na confluência dos estudos da neurociência intensificação precoce do processo de escolarização das
e da economia que tomam como parâmetro um mode- crianças na Educação Infantil.
31
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Argumentando na mesma linha analítica, Moss (2011) Esse instrumento tomou como padrão normativo de
destaca que o modelo de prontidão para a escola está im- excelência de desenvolvimento a classe média branca esta-
plicado em uma lógica que define a educação das crianças dunidense. Os resultados da avaliação realizada apontaram
como estratégia de retorno econômico. Conforme o autor, que 26% das crianças cariocas submetidas aos testes se en-
tal modelo não é recente, mas tem acentuado os argumen- contram em desvantagem em relação aos seus pares estadu-
tos de pesquisadores da área da economia sobre a impor- nidenses. No site da SAE, ainda, foi apresentado um ranking
tância do investimento na pequena infância. Isso porque o das creches que obtiveram os “melhores” resultados em ter-
saber decorrente da expertise econômica possibilita ado- mos de desenvolvimento das crianças.
tar, no campo da intervenção governamental, técnicas e Sem dúvida alguma, tratou-se de uma interpretação eco-
estratégias que objetivam governar os homens e as coisas. nomicista da educação, baseada em parâmetros produzidos
(FOUCAULT, 2008). no contexto estadunidense do que seja uma Educação Infantil
Além disso, no que diz respeito à preocupação com a de qualidade, a qual, devido à crítica dos pesquisadores do
preparação das crianças para o Ensino Fundamental e, de campo da Educação Infantil no Brasil, não foi levada adiante
modo correlato, para as avaliações em larga escala (Provi- enquanto política de avaliação das crianças. Esses parâmetros
nha Brasil, Prova Brasil, dentre outros) comumente utiliza- são criticados por Penn (2002) e Moss (2011) quando afirmam
das em nosso país, temos também evidenciado a contrata- que os Estados Unidos dispõem de um dos mais desiguais
ção de sistemas privados de ensino por redes educacionais e injustos sistemas de Educação Infantil do mundo. Corro-
públicas e a adoção de apostilas para o trabalho pedagógi- borando o argumento apresentado, Shore e Wright (1997)
co das diferentes etapas da Educação Básica. Esse trabalho indicam, por meio de suas pesquisas, quais pressupostos e
pedagógico apostilado, segundo Nascimento (2012), não práticas neoliberais estão sendo reportados para os países em
atende às proposições das Diretrizes Curriculares Nacio- desenvolvimento, a partir da implantação de modos particu-
nais, caracterizando-se fundamentalmente como “curso lares de governar. As autoras destacam ainda que, frente à
preparatório” para as etapas posteriores da escolarização. existência dos problemas sociais contemporâneos, as políticas
A Emenda Constitucional nº 59, de 11 de novembro de introduzem formas particulares de definir e de solucionar os
2009, tornou obrigatória a matrícula de crianças de 4 e 5 problemas sociais. Do ponto de vista dos investimentos sub-
anos, o que também foi modificado na Lei de Diretrizes e jetivos, como evidenciaremos na próxima seção, constatamos
Bases da Educação pela Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. uma ênfase nas teorizações nomeadas como Big Five.
Nesse sentido, a Emenda Constitucional aponta para uma
ruptura da Educação Infantil entre 0 e 3 anos e 4 e 5 anos, o Big Five: novos investimentos subjetivos
que causa um impacto negativo na oferta de atendimento Do ponto de vista da fabricação das subjetividades con-
às crianças menores. Conforme Rosemberg (2010), o aten- temporâneas, para ampliar as formas de abordagem das
dimento de 0 a 3 anos no Brasil é muito deficitário, e, com racionalidades governamentais que, em nossa perspectiva,
a emenda, corre-se o risco de que esse déficit seja amplia- operam em rede e das possibilidades de capitalização de
do através de conveniamentos, terceirizações e incentivo vida através da inovação, importa trazer as contribuições de
ao desenvolvimento de programas de ação familiar. Outro Miller e Rose (2012). Seria conveniente pensarmos nos mo-
ponto de grande impacto a ser considerado é a probabili- dos pelos quais as questões da inscrição e do cálculo se tor-
dade de escolarização precoce das crianças de 4 e 5 anos, a nam tecnologias de governo.
partir do aumento do número de crianças por sala de aula Com a emergência da estatística, no decorrer do sé-
para garantir o atendimento e a antecipação do currículo culo XVIII, passamos a representar de diferentes formas os
desenvolvido no Ensino Fundamental. objetos a serem governados. A estatística foi considerada o
Reafirmando a obrigatoriedade da Educação Infantil a conhecimento das forças e dos recursos que caracterizavam
partir dos 4 anos de idade, o novo PNE (2011-2020), em o Estado, como, por exemplo, conhecimento da população
sua primeira meta, apresenta o propósito de universaliza- (número de indivíduos, de mortos, de nascidos), estimativa
ção do ensino escolar da população de 4 e 5 anos até 2016 da riqueza dos indivíduos, das diferentes categorias de in-
e a ampliação do atendimento das crianças de até 3 anos, divíduos, das riquezas que o Estado possuía, entre outros
de forma a cobrir 50% dessa população. Além disso, vale aspectos que passaram a ser o conteúdo essencial do saber
mencionar que o novo PNE apresenta como uma das estra- do soberano. (SENRA, 2005). As questões relativas à saúde,
tégias da Meta 1 “[...] avaliar a Educação Infantil com base à longevidade, à educação e à capacidade produtiva da po-
em instrumentos nacionais, a fim de aferir a infraestrutura pulação, enquanto coletivo a ser administrado, passaram a
física, o quadro de pessoal e os recursos pedagógicos e ser uma preocupação do Estado. A partir de então, o Estado
de acessibilidade empregados na creche e na pré-escola”. passou a focar sua atenção na população, através da defi-
(CORREA, 2011, p. 107). nição de objetivos a serem alcançados e da proposição de
Tal estratégia, de acordo com Nascimento (2013), gerou ações que visavam potencializar as ações produtivas, identifi-
várias controvérsias, pois serviu de justificativa para a Se- cando os problemas e minimizando-os por intervenções que
cretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), órgão diretamente buscavam a organização dos indivíduos de modo mais eficaz
vinculado à Presidência da República, aplicar uma avaliação (LUPTON, 1999). A primeira estratégia vinculou-se à elabo-
de larga escala (ASQ-3) na cidade do Rio de Janeiro, tendo ração de “dispositivos de inscrição”. (MILLER; ROSE, 2012, p.
em vista a aferição do desenvolvimento das crianças e a 84). Mediante a operacionalização desses dispositivos, as in-
qualidade dos serviços prestados por instituições públicas formações sobre a população passaram a ser traduzidas em
de Educação Infantil5. debates e diagnósticos, tornando as realidades comparáveis.
32
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Miller e Rose (2012, p. 85) assinalam que as formas de As teorizações centradas nos modelos do Big Five apon-
inscrição da realidade passaram a se constituir como “centros tam um conjunto de cinco grandes fatores que, enquanto
de cálculo”. Isso porque as informações inscritas em determi- traços de personalidade, podem ser medidos cientificamen-
nadas racionalidades governamentais adquirem intensa po- te, em especial em seu potencial para as organizações. De
tencialidade quando calculadas. No caso deste artigo, esse acordo com Fruyt (2014), em atividade desenvolvida pelo
sentido político atribuído à inscrição e ao cálculo possibilita Instituto Ayrton Senna, a referida teorização apresenta sig-
pensar como uma racionalidade específica do nosso tempo nificativos impactos para a escolarização contemporânea,
– o investimento no desenvolvimento de competências so- sobretudo ao enfatizar questões como a amabilidade, a ex-
cioemocionais – organiza determinadas formas de conduzir troversão, a estabilidade emocional, a conscienciosidade e a
as condutas dos sujeitos e das populações, possibilitando o abertura a mudanças. No limite, segundo o psicólogo, além
planejamento de estratégias relativas à gestão de fatores de de intensificar a busca por resultados educacionais futuros,
risco que podem ser desencadeados pela falta de investi- a teoria do Big Five permite um ensino mais personalizado.
mento em tal campo. Essas estratégias, conforme apresen- De fato, o Big Five é exatamente sobre isso. Ele propor-
taremos posteriormente, são planejadas sob a justificativa de ciona uma descrição do indivíduo nas características que
que o risco social de “produzir” cidadãos que não tenham diferenciam uma criança/jovem de seus pares e cria, então,
competências socioemocionais desenvolvidas, além de gerar a possibilidade de alinhar o ambiente de aprendizagem de
altos custos para o país, torna uma parcela da população de- acordo com a individualidade, proporcionando por isso um
pendente da tutela do Estado para resolver seus problemas. ensino melhor. Por exemplo, considerando dois alunos com
Como destacaremos nos documentos a serem analisa- diferenças no cruzamento entre Abertura e Conscienciosida-
dos, a educação é significada nas análises dos experts do de: Manuela é menos criativa, mas metódica e comprometi-
campo da economia como um espaço de intervenção que da, enquanto Luis gosta de criar e experimentar coisas, mas
deve ser conhecido e administrado por meio de programas tem dificuldade de se manter um planejamento. Ambos irão
governamentais, como é o caso da proposição de currículos aprender de formas muito diferentes e os professores de-
socioemocionais. Isso porque é o caráter calculável da po- verão oferecer um suporte diferente a cada um: o professor
pulação que passa pela escola que enseja a possibilidade de
de Manuela terá que usar tempo extra para elaborar uma
intervenções cada vez mais precisas, dirigidas à miríade de
tarefa pré-estruturada de aprendizagem para ela, enquanto
problemas que afetam a vida das crianças e jovens. Isso ocor-
Luis vai preferir uma atividade mais aberta, mas que exigirá
re, conforme O’Malley (1996), Lupton (1999) e Bujes (2010),
de seu professor um acompanhamento mais intenso sobre
porque a noção de risco e as práticas dela derivadas estão
seu progresso. (FRUYT, 2014, p. 1).
associadas à sociedade de segurança, a qual permite inserir
Os investimentos econômicos na escolarização asso-
determinados fenômenos dentro de uma série de aconteci-
mentos prováveis. ciados às emergentes demandas por personalização dos
Pode-se depreender, então, que os dispositivos de ins- percursos formativos caracterizam as políticas curriculares
crição se tornaram o terreno comum das formas contempo- examinadas neste artigo. Como podemos diferenciar os per-
râneas de racionalidade política, orientando, de acordo com cursos formativos dos estudantes? Que possibilidades de in-
Foucault (2008), Miller e Rose (2012), as tarefas dos gover- tervenção subjetiva se derivam dessa grade de intervenção
nantes em termos de supervisão e maximização calculada pedagógica? Quais sentidos de formação humana emergem
das forças da sociedade a partir do processo de escolarização dos investimentos econômicos mobilizados em tais políti-
de crianças e jovens. Além disso, é evidente o imperativo de cas? Que resultados se fazem possíveis das avaliações de
que sejam inventados indivíduos, desde a infância, com mais larga escala colocadas em ação em tais contextos? A seguir,
habilidades e flexibilidade para mudanças, de forma que exploraremos como exemplar analítico algumas estratégias
possam se tornar adultos produtivos, participantes do jogo mobilizadas na implementação do projeto Dupla Escola, no
do consumo e empreendedores de si mesmos. (LÓPEZ-RUIZ, Estado do Rio de Janeiro. Entretanto, antes de situá-lo no in-
2007; GADELHA, 2009). terior de determinadas racionalidades políticas, assinalamos
A partir do argumento apresentado, é evidente que entendimentos provisórios sobre as formas interventivas
a população escolar pobre se torna o centro das ações de mobilizadas por um Estado que opera em rede. (BALL, 2014).
governo, implicando investimentos que buscam priorizar
esforços em direção a racionalidades de governamento da Currículos socioemocionais e competências no século
conduta das crianças e das pessoas envolvidas com sua edu- XXI: um estudo curricular
cação. Nessas bases, a tarefa do governo, prescrita pelos eco- Como sinalizamos acima, para produzirmos uma análi-
nomistas, é estruturar estratégias que potencializem o de- se das formas contemporâneas de organização dos Estados,
senvolvimento de competências socioemocionais em crian- em especial no que tange às políticas educacionais, uma das
ças e jovens, reduzindo riscos futuros. Para tanto, as análises noções importantes é a de redes políticas, evidenciada nos
dos economistas partem de pressupostos universais sobre o estudos recentes de Ball (2014). De acordo com o sociólo-
desenvolvimento socioemocional de crianças e jovens, cons- go, redes políticas “[...] são um tipo de ‘social’ novo, envol-
truindo suas argumentações a partir de um modelo “padrão” vendo tipos específicos de relações sociais, de fluxos e de
definido pela expertise psicológica. (SMOLKA et al., 2015). É a movimentos”. (BALL, 2014, p. 29). A rede passa a funcionar
partir desse modelo que são propostos programas curricula- como um operador analítico para a compreensão da tes-
res baseados no Big Five, tendo em vista o desenvolvimento situra política de nosso tempo, na qual agentes públicos e
de competências socioemocionais. privados se entrelaçam na efetivação das intencionalidades
33
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
compartilhadas para pensar as questões sociais e suas pos- [...] a ênfase recai em aspectos socioemocionais que capaci-
síveis soluções. Em tais condições, um conjunto de novos tam as pessoas para buscarem o que desejam, tomarem decisões,
atores políticos adquire centralidade no direcionamento dos estabelecerem objetivos e persistirem no seu alcance mesmo em
discursos da política, seja por meio de novas articulações, situações adversas, de modo a serem protagonistas do seu próprio
seja através da validação de novos argumentos e comunida- desenvolvimento e de suas comunidades e países. (IAS, 2014, p. 5).
des produtoras de sentidos. Em outras palavras, encaminha-se como forma mais efi-
São variadas as formas de conexão e de relacionamento caz para a escolarização do século XXI “[...] um investimento
entre os integrantes dessas redes políticas. Na acepção do nos aspectos socioemocionais para alavancar a aprendiza-
autor, “a política está sendo privatizada em vários sentidos”. gem”. (IAS, 2014, p. 6, grifo dos autores).
(BALL, 2014, p. 32). Podemos depreender, então, que a no- As competências propostas pelo Instituto Ayrton Senna são
ção de rede se torna relevante para descrevermos as novas apresentadas como vetores para direcionar as inovações curricula-
formas de governança em ação. Todavia, cabe explicitar que res, sobretudo ao focalizarem aspectos cognitivos e socioemocio-
“[...] as formas de governança em rede não são fixas e podem nais. Responsabilidade, colaboração, comunicação, criatividade e
conter alguns componentes fugazes, frágeis e experimen- autocontrole se tornam questões a serem priorizadas nas propo-
tais” (BALL, 2014, p. 33). Agências internacionais, governos sições curriculares, ao mesmo tempo que objetos de avaliação em
larga escala. (IAS, 2014). Retomando o documento examinado, um
locais, institutos diversos, consultores e “empreendedores de
breve vocabulário explicativo enuncia alguns desses pressupostos:
políticas” passam a mobilizar-se de forma “estruturalmente
Competência: capacidade de mobilizar, articular e colo-
acopladas”. (JESSOP, 2006).
car em prática conhecimentos, valores, atitudes e habilida-
Uma das decorrências analíticas dessas novas formas de des, seja no aspecto cognitivo, seja no aspecto socioemocio-
governança diz respeito à emergência de variadas formas de nal, ou na inter-relação dos dois.
mobilidade das políticas. Ou seja, empresas e agentes priva- No aspecto da competência socioemocional: para se relacio-
dos diversos, no âmbito da mobilidade, assumem protago- nar com os outros e consigo mesmo, compreender e gerir emo-
nismo na difusão de novos pressupostos orientadores das ções, estabelecer e atingir objetivos, tomar decisões autônomas e
políticas educacionais, em/para diferentes regiões do plane- responsáveis e enfrentar situações adversas de maneira criativa e
ta. Em escala global, tais ações “[...] incluem novas formas de construtiva. As competências socioemocionais priorizadas nesse
filantropia e de ajuda para o desenvolvimento educacional, contexto são aquelas que desempenham um papel crucial na ob-
para os processos de mercado de crescimento e expansão tenção do sucesso escolar e na vida futura das crianças e jovens.
de capital e a busca por parte das empresas de novas opor- No aspecto da competência cognitiva: para interpre-
tunidades para lucro”. (BALL, 2014, p. 37). Como derivação tar, refletir, raciocinar, pensar abstratamente, assimilar ideias
dessa atuação, dentre outras questões, poderíamos assina- complexas, resolver problemas e generalizar aprendizados.
lar a fabricação de novas formas de “convergência”. (BALL, (IAS, 2014, p. 9, grifos dos autores).
2014), desenvolvidas através de intensa atuação política dos A partir desse conjunto de competências, assinala-se
novos atores integrantes da rede política, no âmbito local. a importância da efetivação de políticas públicas e práticas
Examinando publicações recentes, engendradas no pedagógicas sintonizadas com esses princípios. Implica-se
contexto de determinada rede política contemporânea, en- também que, para a construção do século XXI, precisamos
contramos algumas conexões discursivas envolvendo a pro- de currículos apropriados, formação de professores e o esta-
moção de competências socioemocionais, educação para o belecimento de padrões de inovação. (IAS, 2014).
século XXI e aprendizagens permanentes. Um desses do- Exemplar nessa direção é o projeto Solução Educacional
cumentos, publicado pelo Instituto Ayrton Senna, parte do para o Ensino Médio conduzido pelo Instituto Ayrton Senna,
pressuposto de que “[...] formar crianças e jovens para supe- em parceria com a OCDE e a Secretaria Estadual de Educação
rar os desafios do século XXI requer o desenvolvimento de do Rio de Janeiro. Esse projeto, alicerçado na inovação e na
um conjunto de competências necessárias para aprender, vi- diferenciação dos currículos escolares,
[...] propõe-se ensinar os conteúdos curriculares a partir
ver, conviver e trabalhar em um mundo cada vez mais com-
de uma matriz de competências para o século XXI, flexível e
plexo”. (IAS, 2014, p. 4). Em tais condições, constata-se uma
customizável a diferentes modelos de escola – que combina
crítica aos modelos curriculares mais convencionais, centra-
competências cognitivas – como a resolução de problemas e
dos em conhecimentos disciplinares, uma vez que, de acor- o pensamento crítico – com competências socioemocionais
do com os formuladores do documento, a sociedade espera – como a colaboração e a responsabilidade. (IAS, 2014, p. 13).
jovens com outro perfil formativo. A solução de problemas Em torno do projeto Solução Educacional, para além da
de maneira colaborativa, o pensamento crítico e criativo e a própria centralidade das competências socioemocionais, des-
capacidade de fazer escolhas responsáveis são algumas das pertam nossa atenção as estratégias mobilizadas para sua ava-
demandas apresentadas para a escola do novo século. liação em larga escala. A intenção explicitada nesse documento
Inspirado em paradigmas holísticos da educação, ge- se vincula ao objetivo de “[...] ampliar o repertório de ferramen-
ralmente vinculados ao desenvolvimento humano, o docu- tas de avaliação que compõem esses sistemas – e contribuir,
mento analisado prioriza a educação como promotora de portanto, para a ampliação das fronteiras do que se entende
oportunidades, capaz de preparar indivíduos aptos a realizar por educação de qualidade”. (IAS, 2014, p. 22, grifos dos au-
escolhas e a transformar suas competências em potencial. tores). A referida modalidade de avaliação de competências se
(IAS, 2014). Para tanto, é proposta uma concepção de edu- mobiliza em duas dimensões, quais sejam, formativa e somati-
cação na qual va (IAS, 2014), aproximando-as de questões socioeconômicas.
34
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Para o acompanhamento desse processo, foi desenvolvido o sistema SENNA (Social and Emotional or Non-cognitive
Nationwide Assessment). Tal sistema “[...] será disponibilizado para apoiar gestores e educadores na tarefa de formular, exe-
cutar e reorientar políticas públicas e práticas pedagógicas destinadas a melhorar a qualidade da educação no Brasil”. (IAS,
2014, p. 22). A matriz orientadora do sistema SENNA contém tanto as competências a serem adquiridas pelos indivíduos
quanto as atitudes esperadas que os alunos desenvolvam em suas condutas cotidianas. Ou seja, a matriz orientadora pode
ser considerada, em última instância, um tipo de tecnologia que busca programar e controlar os estudantes em sua forma
de agir, sentir, pensar e situar-se diante de si mesmos, da vida que levam e do mundo em que vivem. (O’MALLEY, 1996;
GADELHA, 2009). O Quadro 1 dá visibilidade para essa lógica organizativa.
O modelo de classificação das competências, acima evidenciado, é colocado em ação através de dois questionários
preenchidos pelos estudantes e pelos professores. O Questionário Socioemocional é respondido pelos estudantes do 5º
ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. De acordo com o documento examinado, “[...] as questões que
compõem o instrumento dizem respeito às atitudes, sentimentos ou percepções dos alunos em relação a si mesmos e só
admitem uma resposta como mais adequada”. (IAS, 2014, p. 25). Ele pode ser aplicado pelos professores como uma tarefa
específica de aula com duração aproximada de 40 minutos. O Quadro 2, a seguir, apresenta um exemplo de questão.
Considerando que tais estratégias interventivas são mobilizadas no âmbito de um Estado em rede, bem como pela sua
intencionalidade dirigida aos investimentos econômicos e à personalização dos percursos formativos, constatamos que as
racionalidades políticas orientadoras da escolarização contemporânea são deslocadas para o âmbito dos indivíduos. Esse
deslocamento da racionalidade interventiva, mais do que enunciar uma predominância do neoliberalismo enquanto grade
de inteligibilidade, supõe um uso econômico para a constituição subjetiva dos indivíduos. Como é possível perceber a partir
da leitura das tabelas, a linguagem da expertise psicológica é utilizada como pressuposto de viabilização de comparações.
Nesse sentido, pode-se dizer que se constitui um rol de palavras, de definições, de conceitos, a partir de uma linguagem
específica que permite as operações de notação, inscrição e cálculo das competências socioemocionais dos alunos. (MIL-
LER; ROSE, 2012).
35
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Considerações finais
Ao finalizarmos nossa composição analítica, podemos
ASPECTOS LEGAIS E POLÍTICOS DA
afirmar que, a partir da produção de saberes estatísticos
(SENRA, 2005) sobre as competências socioemocionais ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA.
dos alunos, tornam-se os traços da população discente
calculáveis e inteligíveis. Em decorrência desse processo,
planejam-se ações com o intuito de agir sobre os aspec- Muitas são as dificuldades dos gestores escolares em
tos levantados como problemáticos pelos cálculos esta- relação à gestão democrática da escola que envolve co-
tísticos, a partir da análise dos questionários respondidos nhecimentos sobre as bases legais da educação e sobre a
pelos alunos. Desse modo, desenvolve-se um processo de organização administrativa e pedagógica da escola.
inteligibilidade sobre a população discente, para posterior- O conhecimento sobre os aspectos da organização
mente poder operar sobre ela por meio de políticas edu- administrativa e pedagógica é necessário para a condução
cacionais e práticas pedagógicas, cujo foco é a potencia- dos processos de elaboração e ou atualização do Proje-
lização das aprendizagens com base no desenvolvimento to Político-Pedagógico, do Regimento Escolar e, mais re-
das competências nas quais os alunos apresentam menos centemente, do PDE-Escola, documentos que traduzem o
destaque (ESPING-ANDERSEN, 2007). Em suma, potenciali- planejamento estratégico da escola em prol da melhoria
zar o desenvolvimento das competências socioemocionais dos serviços prestados à comunidade e da qualidade da
educação.
dos estudantes torna-se um imperativo de um Estado que
Bem, esse é o objetivo deste texto, ou seja, propiciar,
procura extrair da população a potência produtiva e, com
aos gestores escolares, conhecimentos sobre a organiza-
isso, minimizar situações que possam gerar despesas futu-
ção administrativa e pedagógica das instituições de ensino.
ras ligadas às áreas da segurança, da saúde e da educação.
A partir da dinâmica apresentada, constituída pelos Afinal o que é Projeto Político-Pedagógico, Regimento
processos de inteligibilidade e operacionalidade (FARHI Escolar e Plano de Desenvolvimento da Escola?
NETO, 2008), evidenciam-se as formas de atuação do Es- Uma vez que já aprendemos sobre as bases concei-
tado através de agenciamentos políticos envolvendo par- tuais do Projeto Político-Pedagógico, prosseguiremos com
cerias, organizações não governamentais e organismos a organização do trabalho pedagógico. O gestor escolar,
internacionais, colocando em ação uma forma de “gover- no desempenho desta função, precisa conhecer as bases
nança em rede” (BALL, 2014, p. 188), como sinalizamos an- legais que normatizam o trabalho pedagógico e a organi-
teriormente. Tal forma de governança, com maior ou me- zação da escola, principalmente, sobre os documentos que
nor intensidade, dá visibilidade para uma nova arquitetura auxiliam a gerência da escola, sendo eles: Projeto Político
institucional. Para além da predominância de novas formas -Pedagógico (PPP), Regimento Escolar e Plano de Desen-
de “economização da vida social”, o que já seria represen- volvimento da Educação (PDE).
tativo, as atuais formas de intervenção estatal definem seus O art. 12 da Lei de Diretrizes e Bases, Lei nº 9394/96,
critérios de sucesso, especialmente no que tange à escola- estipula a elaboração e execução da proposta pedagógica
rização pública. da escola em consonância com as normas comuns e a dos
Como consequência das discussões apresentadas no respectivos sistemas de ensino e, no inciso I do art. 14, es-
decorrer do artigo, é interessante compartilhar o argu- tabelece a “participação dos profissionais da educação na
mento defendido por Simons e Masschlein (2008, p. 193): elaboração do projeto pedagógico da escola”.
“[...] a educação pode ser considerada como uma indústria O conhecimento da base legal que fundamenta a or-
do conhecimento”. Desse modo, é possível inferir que é a ganização escolar e o trabalho pedagógico é fulcral para a
partir dessa “indústria educacional”, motivada contempora- melhoria da qualidade da educação. Vale lembrar que no
neamente pela emergência de currículos socioemocionais, caso da educação, a Lei nº 9394/96 e as Diretrizes Curri-
habilidades do século XXI e o imperativo de investimen- culares Nacionais estabelecem normas mandatárias para
to econômico em educação, que são planejadas refinadas todas as escolas brasileiras, ou seja, todas as instituições de
ensino privadas e públicas, da Educação Básica ao Ensino
tecnologias que operam no mapeamento e na tentativa de
Superior deverão obedecê-las.
potencialização das competências socioemocionais dos
O que precisamos buscar na legislação?
alunos, tendo em vista a qualificação do capital humano.9
Na atual LDB, podemos encontrar as diretrizes para a
organização da proposta curricular; diretrizes para o pro-
cesso avaliativo, determinações para o trabalho escolar;
objetivos de cada nível e modalidade de ensino; princípios
e finalidades da educação, responsabilidades dos governos
federal, estadual e municipal e formação dos profissionais
da educação.
As orientações didático-pedagógicas constam nas
diretrizes curriculares e na proposta pedagógica de cada
sistema de ensino. Já no Estatuto da Criança e do Adoles-
9 Fonte: www.scielo.br – Por CARVALHO, Rodrigo Sa- cente, os direitos das crianças e jovens brasileiros, direitos e
balla de / SILVA, Roberto Rafael Dias da. deveres da família, principalmente, em relação à educação.
36
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Vocês já sabem que o Projeto Político-Pedagógico é o • organização da vida escolar (calendário, matrícula,
documento que orienta a concepção e a organização do transferência, cancelamento de matrícula, frequência);
trabalho educativo, estabelece os objetivos da escola, o • normas de convivência escolar: as sanções para
perfil de sociedade e de cidadão que pretendem formar. alunos e funcionários da escola.
É, portanto, um documento norteador da ação educati-
va e não pode abster-se da definição dos pressupostos teó- O Regimento Escolar é
ricos que irão respaldar e subsidiar os trabalhos pedagógi- [...] um documento que, por natureza, reclama elabo-
cos e as relações na escola. O Projeto Político-Pedagógico ração coletiva, envolvendo toda comunidade escolar. Exa-
deve ser compreendido como documento de reflexão que tamente por ser a tradução formal do projeto político-pe-
tem como objetivo maior, a busca da qualidade do ensino. dagógico da escola [...] não é documento que se elabore às
Segundo Veiga (1995), a possibilidade de construção pressas, mas exige que se disponha de certo tempo, para
do PPP permitir que o processo participativo – moroso quase sem-
[...] passa pela autonomia da escola, de sua capacidade pre - possa acontecer. (CEED/RS, 1998, p. 7)
de delinear sua própria identidade. Isto significa resgatar a Assim, para que o processo de construção do Projeto
escola como espaço público, lugar de debate, de diálogo, Político-Pedagógico e do Regimento Escolar da escola e
fundado na reflexão coletiva. [...] é preciso entender que o a consolidação do texto final destes documentos não se
PPP da escola dará indicações necessárias à organização
resumam a uma atividade burocrática, com o propósito
do trabalho pedagógico, que inclui o trabalho do professor
de cumprir uma exigência legal, é preciso que os gestores
na dinâmica da sala de aula (p. 14).
escolares viabilizem as condições necessárias para a sua
Nesta concepção, o PPP é um documento orientador
construção, execução, acompanhamento, avaliação e (re)
do trabalho pedagógico realizado pela escola, e para a or-
construção. São algumas dessas condições:
ganização deste documento, a dinâmica da sala de aula e
1. a delimitação e organização do tempo para a dis-
o trabalho do professor são os grandes referenciais. Nele
cussão, elaboração e acompanhamento do projeto;
estão estabelecidos os pilares e as ações para que a escola
possa desempenhar sua função social, além dos direciona- 2. estabelecimento de possibilidades e de limitações
mentos administrativos e financeiros. do trabalho da escola e definição de prioridades;
A construção do PPP bem como o processo de atuali- 3. acompanhamento da execução da proposta peda-
zação deste documento é marcada por contradições e con- gógica.
flitos, uma vez que, a participação efetiva dos profissionais É necessário, ainda, que os envolvidos neste processo
da escola, alunos e seus familiares, comunidade externa e tenham acesso às informações necessárias à elaboração
órgãos públicos trazem para as discussões diversas con- destes documentos e que compreendam os impactos e a
cepções, crenças, práticas, demandas, convicções, interes- abrangência das decisões tomadas para a escola, para a
ses que precisam ser aglutinados para a elaboração de um comunidade e, principalmente, para a vida das crianças e
compromisso político e pedagógico coletivo. jovens atendidos pela escola.
Se o PPP é tudo isso. O que é, então, o Regimento Es- De maneira geral, o processo de elaboração desses do-
colar? cumentos envolve negociações, consensos, expectativas,
O Regimento Escolar estabelece a organização admi- idas e vindas, impasses, conflitos. Isso porque supõe
nistrativa, didático-pedagógica e disciplinar da escola. Nele [...] rupturas com o presente e promessas para o futu-
estão descritas as formas de trabalho, as normas dentro ro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável
das quais o trabalho será realizado, os direitos e deveres para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade em
dos profissionais da escola, dos alunos e dos pais. função da promessa que cada projeto contém de estado
Cada sistema de ensino estipula as normas para a ela- melhor que o presente. [...] As promessas tornam visíveis
boração deste documento. Ao contrário do PPP que não os campos de ação possível, comprometendo seus atores e
possui um modelo padrão para orientar sua elaboração, o autores. (GADOTTI, 1994, p.579).
Regimento Escolar possui, sendo ele: Resumindo, o Projeto Político-Pedagógico contempla
• identificação e objetivos da escola; a concepção, realização e avaliação do projeto educativo
• etapas da educação básica que a escola oferece; da escola. Ele é político, pois, representa um compromisso
• organização administrativa e técnico-pedagógica com a formação do cidadão para um tipo de sociedade
(atribuições da direção, o corpo técnico-pedagógico, a se- e pedagógico no sentido de definir as ações pedagógicas
cretaria, os serviços auxiliares, o corpo docente e discente); necessárias à efetivação da intencionalidade da escola, que
• organização e função dos órgãos colegiados (con- é a formação do cidadão participativo, responsável, crítico
selho escolar, associação de pais e mestres, grêmio estu- e criativo, capaz de atuar como agente de transformação
dantil etc.); da sociedade.
• estrutura de ensino: orientações didático-pedagó- O Regimento Escolar é um instrumento, uma ferramen-
gicas, processo avaliativo (definição clara dos instrumentos, ta que dá vida ao PPP. Nele ficam estabelecidos os proce-
critérios e formas de comunicação dos resultados), acom- dimentos metodológicos, avaliativos, disciplinares, as rela-
panhamento do rendimento escolar e seus aspectos didá- ções estabelecidas na ação educativa que a escola validou
ticos, promoção do aluno (cálculo de notas e médias, orga- por meio da gestão democrática. Enfim,
nização de boletins, certificados etc.), recuperação paralela,
reuniões pedagógicas e de pais, etc.;
37
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
38
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O PDE-Escola é disponibilizado no SIMEC – Sistema Integrado de Planejamento, Orçamento e Finanças. A escola, a partir do
PPP e do Regimento Escolar, tendo como base as etapas especificadas no PDE, devem elaborar plano de ação, com a participação
das comunidades interna e externa, para a melhoria dos seus resultados.
O PDE viabiliza o plano de ação da escola por meio do apoio técnico e financeiro do MEC.
Os três documentos estudados nesta unidade, o Projeto Político-Pedagógico, Regimento Escolar e PDE-Escola, estão in-
terligados e constituem o planejamento estratégico da gestão escolar. Muitas dificuldades estão relacionadas ao processo de
construção e ou atualização destes documentos, uma delas está relacionada à falta de referências e diretrizes claras necessárias
à formação do indivíduo crítico, reflexivo, criativo, consciente, capaz de interagir em uma sociedade dinâmica e com as diversas
interfaces do mundo laboral. Outra dificuldade enfrentada é a definição da práxis pedagógica, pois, ela se define e se delineia
nas estratégias de aprendizagem e nos meios empregados para se atingir as metas estipuladas pelas escolas e, para defini-la é
preciso um processo coletivo, participativo, dialógico e reflexivo (GADOTTI, 1994).
É preciso que os envolvidos no processo de elaboração desses documentos participem em condições de igualdade e que
cada segmento – gestão, equipe pedagógica, família e comunidade, alunos - possa contribuir para a ampliação do diálogo em
prol da melhoria da qualidade do ensino e da formação para a cidadania. Os documentos estudados são as ferramentas da
gestão democrática, pois, contemplam todos os eixos do planejamento de uma instituição de ensino sendo eles: organização
administrativa, organização pedagógica e avaliação institucional.
Organização Administrativa da Escola
Os gestores de uma instituição de ensino precisam ter conhecimento sobre a organização administrativa e pedagógica de
uma escola e sobre como utilizar os resultados das avaliações em larga escala da educação para a melhoria da qualidade do
ensino. Pensar a organização administrativa de uma escola é considerar a especificidade da gestão escolar, ou seja, a sua função
pedagógica.
Assim, a compreensão da especificidade da escola enquanto instituição social bem como das finalidades da educação e dos
objetivos sociais da escola é fundamental para todos os envolvidos no processo de gestão da uma instituição de ensino uma vez
que a educação escolar não é toda a educação, conforme a atual LDBEN, a educação ocorre nos mais variados espaços, na escola
onde é uma atividade sistemática e intencional, na família, nas diversas relações sociais.
Diversos são as dificuldades enfrentadas pelos gestores escolares em relação à organização administrativa e pedagógica de
uma escola, sendo elas:
• dificuldades na compreensão das bases legais da educação, principalmente, em relação à organização dos sistemas de
ensino, construção da proposta pedagógica, avaliação da aprendizagem e institucional, financiamento;
• falta de unidade que se traduz na dificuldade em articular, em prol da proposta política e pedagógica da escola, os
profissionais dos diversos turnos de trabalho da escola;
• dificuldades no estabelecimento de parcerias com a família e com a comunidade;
• dificuldades na articulação entre o planejamento administrativo, pedagógico da escola e os recursos financeiros;
• dificuldades na implantação da proposta político-pedagógica.
• Vamos então, compreender como está estruturado o Sistema Nacional de Ensino. Veja o esquema abaixo:
39
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O Sistema Nacional de Ensino é integrado e cada ente federativo, União, Estados, Distrito Federal e Municípios podem
organizar seus respectivos sistemas de ensino. Além disso, as instâncias administrativas precisam trabalhar em regime de
colaboração na oferta, financiamento e garantia da qualidade da educação. No entanto, ainda não há definição de como
correrá plenamente a articulação e dos mecanismos de colaboração entre as esferas de poder.
As concepções de gestão escolar se refletem nas posições políticas e nas concepções de homem e de sociedade. O
modo como a escola se organiza e se estrutura tem um caráter pedagógico e, na gestão democrática, são priorizados
modelos de gestão que valorizam o trabalho coletivo e a participação de todos. A estrutura organizacional das escolas se
diferencia conforme a legislação dos Estados e Municípios e com as concepções de organização e gestão adotadas, mas,
de modo geral, podemos perceber uma estrutura básica conforme modelo a seguir:
O Conselho Escolar tem atribuições consultivas, deliberativas e fiscais em questões definidas na legislação estadual ou
municipal e no Regimento Escolar.
Essas questões, de modo geral, envolvem aspectos pedagógicos, administrativos e financeiros. Gestores e represen-
tados dos docentes, dos especialistas em educação, dos funcionários, dos pais e dos alunos devem compor o Conselho
Escolar observando, em princípio, a paridade dos integrantes da escola (50%) e usuários (50%).
A Gestão da Escola é o núcleo executivo que planeja, organiza, coordena, avalia e integra todas as atividades desenvol-
vidas no âmbito da unidade escolar. São algumas das atribuições da equipe de gestão:
• gerir a escola, cumprindo e fazendo cumprir a legislação em vigor, bem como os regulamentos, diretrizes e nor-
mas emanadas dos órgãos superiores e as disposições do Projeto Político-Pedagógico e do Regimento Escolar, de modo a
garantir a consecução dos objetivos do processo educacional;
• coordenar e garantir a elaboração, a execução e a avaliação da proposta pedagógica da escola;
• garantir o funcionamento da organização escolar;
• zelar pelo patrimônio físico e cultural da escola e da comunidade;
• promover a administração do pessoal da escola e dos recursos materiais e financeiros necessários para o aperfei-
çoamento do trabalho educacional.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O processo de instrumentalização da comunidade sobre o sentido de sua participação é legítimo e função da equipe
de gestão da escola.É importante consolidar a escola como espaço de instrumentalização e socialização do conhecimento
(SAVIANI, 1991), conhecimento que passa pela tomada de consciência da comunidade sobre o seu papel na construção de
uma proposta de gestão que, de fato, contribua para a solução dos problemas enfrentados pela escola e para a melhoria
da qualidade do ensino.
As escolas precisam gerir diversos recursos financeiros que devem ser empregados na aquisição de material perma-
nente; manutenção, conservação e pequenos reparos da unidade escolar; aquisição de material de consumo necessário
ao funcionamento da escola; avaliação de aprendizagem; implementação de projeto pedagógico; e desenvolvimento de
atividades educacionais.
Os recursos financeiros, de modo geral, são repassados às escolas uma vez por ano, é calculado a partir do número de
alunos relatado pela escola no censo escolar do ano anterrior. As escolas devem prestar contas anualmente dos recursos
financeiros. Uma escola pode receber recursos financeiros do FNDE, PDDE, PDE-ESCOLA, etc.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Além da observância das diretrizes curriculares e das A proposta pedagógica da escola deve partir do pres-
bases legais referentes à construção da proposta peda- suposto que o conhecimento é uma construção coletiva
gógica da escola, é necessária a formação continuada do mediada pelo diálogo (FREIRE, 2004). O procecesso de
corpo docente para a melhoria da prática pedagógica e da construção do conhecimento deve partir da realidade dos
melhoria da qualidade do ensino. sujeitos, de seus interesses sem deixar de lado o conhe-
A formação continuada, principalmente, diante da di- cimento técnico-científico e cultural produzido pelas so-
fusão das tecnologias da informação e da comunicação ciedades ao longo dos anos e os conteúdos previtos nas
(TICs) que têm impactado fortemente a prática pedagógica diretrizes curriculares nacionais e a dos respectivos siste-
e, consequentemente, a organização do trabalho pedagó- mas de ensino.
gico, abre novo leque de possibilidades de metodologias É preciso, além da seleção da concepção de apren-
e práticas de ensino, novas formas de acesso ao conheci- dizagem que norteará o trabalho pedagógico da escola,
mento, novos conhecimentos, novas formas de aprender e da seleção de conteúdos, da especificação do processo
superação de barreiras físicas em relação ao conhecimento avaliativo é necessário a escolha e utilização de metodolo-
e espaços de aprendizagens. gias de ensino que favoreçam o diálogo, a interação com
Cabe à coordenação pedagógica ou ao profissional o objeto de estudo, a experimentação (consulte a obra de
que desempenha essa função na escola oportunizar mo- Dewey), que seja desafiadoras e que permitam a (re)cria-
mentos de estudo e discussão sobre temáticas relaciona- ção do conhecimento pelos sujeitos.
das ao trabalho docente, ao processo de ensino-aprendi- Freire (2004) chama a atenção para o fato de que a es-
zagem, à educação de maneira geral, trocas de experiên- cola precisa ressignificar o processo de ensinar e aprender
cias, estabelecimento de parcerias a fim de possibilitar a de forma a possibilitar, ao sujeito aprendente, o estabele-
formação destes profissionais no ambiente de trabalho. cimento de conexções e relações entre os conhecimentos
Muitos sistemas de ensino, cientes da importância da produzidos pela humanidade e a realidade na qual está
formação continuada e troca de experiências, estabelece- inserido. Para o autor, os conhecimentos significativos
ram, dentro da carga horária dos profissionais da escola, promovem o diálogo, provocam questionamentos e dis-
cussões, propiciando a interação entre sujeito e conheci-
momentos para os encontros da equipe pedagógica. Tais
mento.
momentos recebem nomes diversos sendo ‘Reunião de
Para dar conta de tudo isso, a proposta pedagógica e
Módulo’ o mais comum.
a organização curricular devem ser flexíveis, deve prever a
No entanto, as funções são as mesmas: fórum perma-
possibilidade de mudança e alterações e propor uma sele-
nente de discussão das concepções de educação, das me-
ção intencional, sistemática e criteriosa de conteúdos.
todologias de ensino, sobre os conhecimentos teóricos e
A proposta pedagógica da escola como parte inte-
experiências que desenvolvam as competências profissio-
grante do PPP representa uma determinada concepção de
nais do professor, estabelecimento de grupos de estudos
educação e de sociedade e deve ser construída pelos pro-
e pesquisas, discussões sobre os problemas enfrentados
fessores dos diversos compontentes curriculares, mediada
na sala de aula e fora dela, estabelecimento de parcerias pela equipe pedagógica. Para a elaboração da proposta
para a realização de projetos, avaliação da proposta peda- pedagógica e da organização curricular da escola, os do-
gógica e das práticas de ensino, análise das avaliações em centes e a coordenação pedagógica precisa lançam mão
larga escala, dentre outras (LIBÂNEO, 2001; SAVIANI, 2007; dos fundamentos curriculares. Para dar vida à proposta
VEIGA, 1995). pedagógica da escola e à organização curricular, é preciso
É preciso que o coordenador pedagógico planeje, an- a elaboração dos planos de ensino e de aula que sistema-
tecipadamente, esses momentos de encontro da equipe tizam o planejamento do trabalho pedagógico.
pedagógica e conduza o processo. Como a organização O currículo escolar não é neutro. Ele sintetiza a con-
pedagógica e administrativa deve estar integrada, o gestor cepção de homem, de mundo e de sociedade que se de-
escolar pode participar dos encontros da equipe pedagó- seja formar. A organização curricuar estabelece a organiza-
gica, mas, é preciso ter cuidado para que esses encontros ção dos espaços e tempos em que a escola vai desenvol-
não se torne momentos de mera prestação de contas de ver os diferentes conhecimentos e valores. A escola pode,
reivindicações diversas. O Conselho de Classe, também, se conforme a atual LDBEN, se organizar em regime seriado
configura como momento de encontro da equipe pedagó- (organização curricular exclusivamente temporal) ou regi-
gica, mas, não deve ser confundido com os momentos de me cilcado (dividido em tempos que variam de dois a três
formação e discussão sobre o trabalho pedagógico. anos e consideram as variações evolutivas dos alunos e
O Conselho de Classe é constituído para discussão das seus ritmos de aprendizagem).(SILVA, 1999).
vivências em sala de aula e envolve todos os atores partici- Esses documentos devem contemplar recorte dos
pantes do processo de ensino-aprendizagem. O Conselho conteúdos selecionados para cada período educativo,
de Classe, de modo geral, ocorre logo após a finalização apresentar a intencionalidade da proposta pedagógica e
de cada etapa pedagógica – bimestre ou trimestre – e do professor em relação às competências e habilidades a
pressupõe avaliação do desenvolvimento dos aprendentes serem desenvolvidas junto aos educandos e traduzidas a
e da prática pedagógica dos professores. (SILVA, 1999). partir dos objetivos de ensino e critérios avaliativos.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Para que a proposta pedagógica se efetive no cotidiano A gestão escolar envolve a organização administrativa e
escolar e, portanto, se consolide como uma rotina peda- pedagógica de uma escola e deve garantir que todos os seg-
gógica da escola se faz necessário a participação ativa da mentos envolvidos na práxis educativa consquistem seu lu-
equipe pedagógica na construção do PPP e que os profes- gar na construção do Projeto Político-Pedagógico da escola.
sores tenham pleno conhecimento da organização curricu- Lagarde (1993) chama a atenção para o fato de que poder se
lar da escola: conteúdos (intencionalidade-objetivos), me- faz presente nas relações cotidianas, em ações, em gestos, na
todologias a serem utilizadas para que se possa atingir os linguagem, na capacidade de decidir sobre a vida do outro.
objetivos de aprendizagem e como os aprendentes serão As relações de poder permeiam todas as relações sociais
avaliados (critérios e instrumentos de avaliação) e sobre as presentes na escola e, ao contruirmos a proposta político-pe-
possibilidades de intervenção para aqueles que não conse- dagógica da escola, estamos tomando decisões que impac-
guiram alcançar os objetivos de aprendizagem. tarão a vida das crianças e jovens que passarão pela escola,
Aspecto importante da organzação pedagógica e tam- ou seja, estamos tamando decisões que impactarão a vida
bém da organização administrativa, a avaliação em larga do outro, seja esse outro, o aluno, o professor, os pais, a co-
escala, no caso da Educação Básica, o Sistema de Avaliação munidade...
da Educação Básica (SAEB), mostra os resultados sobre os Ao elaborarmos coletivamente o PPP da escola e ao abrir-
índices de aprendizagem e servem, para os gestores escola- mos espaços para o diálogo nas esferas administrativas e pe-
res, como sensor da qualidade da educação oferecida. dagógicas da gestão escolar, estaremos contribuindo para a
O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica formação de sujeitos críticos, refleximos, criativos, pensantes.
(SAEB) foi implantado em 1990 e é coordenado pelo Insti- O gestor escolar é figura central neste processo, pois, define,
tuto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio planeja, organiza, coordena, avalia e integra todas as ativida-
Teixeira (INEP). Consiste na sistematização e análise de da- des desenvolvidas no âmbito da unidade escolar.10
dos sobre o ensino fundamental e médio. O SAEB fornece
subsídios para a formulação de politicas e diretrizes educa-
cionais para as escolas de todo o país.
O SAEB é composto por duas avaliações complemen- POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO
tares, a Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), ava- BÁSICA: AS DIRETRIZES CURRICULARES
lia os estudantes matriculados no 5º e 9º anos do ensino NACIONAIS.
fundamental e no 3º ano do ensino médio e a Avaliação
Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), mais conhecida
como Prova Brasil, que avalia alunos de 5º e 9º anos do en-
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) são normas
sino fundamental público, nas redes estaduais, municipais e
obrigatórias para a Educação Básica que orientam o pla-
federais em escolas que tenham no mínimo 20 alunos ma-
triculados na série avaliada. As avaliações do SAEB ocorrem nejamento curricular das escolas e dos sistemas de ensino.
a cada dois anos, a Aneb é amostral e a Anresc, censitária. Elas são discutidas, concebidas e fixadas pelo Conselho Na-
Como vimos, a avaliação é parte integrante da proposta cional de Educação (CNE).
pedagógica da escola e, a avaliação em larga escola possi- Atualmente, existem diretrizes gerais para a Educação
bilita que a escola identifique suas fragilidades em relação Básica. Cada etapa e modalidade da dela (Educação Infan-
ao processo de ensino-aprendizagem, as competências e til, Ensino Fundamental e Ensino Médio) também apresen-
habilidades que precisam ser desenvolvidas e reveja suas tam diretrizes curriculares próprias. A mais recente é a do
estratégias de ensino. Ensino Médio.
A avaliação em larga escala possibilita, também, que As diretrizes buscam promover a equidade de apren-
a escola se localize em relação à qualidade do ensino em dizagem, garantindo que conteúdos básicos sejam ensina-
relação às escolas do município, do estado e do país e a dos para todos os alunos, sem deixar de levar em conside-
partir dos índices de desempenho dos alunos, estabelecer ração os diversos contextos nos quais eles estão inseridos.
estratégias que possibilitem a melhoria do ensino e, conse-
quentemente, o rendimento dos alunos. O que são e qual é a função das diretrizes curriculares?
A adoção de metodologias de ensino mais adequadas As Diretrizes Curriculares Nacionais são um conjunto
ao contexto da escola e da comunidade atendida e que de definições doutrinárias sobre princípios, fundamentos e
foram selecionadas a partir de uma análise criteriosa dos procedimentos na Educação Básica que orientam as esco-
resultados obtidos pela escola no SAEB e fruto do diálogo las na organização, articulação, desenvolvimento e avalia-
e da reflexão da equipe pedagógica sobre a proposta pe- ção de suas propostas pedagógicas.
dagógica da escola propiciam a aprendizagem dos alunos As DCNs têm origem na Lei de Diretrizes e Bases da
com consequente melhoria dos indicadores de rendimento Educação (LDB), de 1996, que assinala ser incumbência da
escolar da escola. União «estabelecer, em colaboração com os estados, Distri-
É importante que tenham a compreensão de que se faz to Federal e os municípios, competências e diretrizes para a
necessário que a equipe pedagógica e os gestores escolares Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio,
interpretem e analisem as avaliações do SAEB para de fato que nortearão os currículos e os seus conteúdos mínimos,
implementarem as mudanças necessárias no espaço escolar de modo a assegurar a formação básica comum».
e na comunidade, principalmente, para subsidiar mudanças
das açoes pedagógicas nas salas de aula. 10 Fonte: www.escoladegestores.virtual.ufc.br
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O processo de definição das diretrizes curriculares conta Enfim, a legislação educacional brasileira traz uma enor-
com a participação das mais diversas esferas da sociedade. me quantidade de diretrizes curriculares nacionais. O que se-
Dentre elas, o Conselho Nacional dos Secretários Estaduais riam essas diretrizes? Normas obrigatórias para a Educação
de Educação (Consed), a União Nacional dos Dirigentes Mu- Básica que possuem como objetivo maior a orientação para
nicipais de Educação (Undime), a Associação Nacional de elaboração dos planejamentos curriculares tanto nas unida-
Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), além de des escolares quanto nos sistemas de ensino. São elaboradas
docentes, dirigentes municipais e estaduais de ensino, pes- com a colaboração de todos os entes federados e existe um
quisadores e representantes de escolas privadas. convite aberto para auxílio nessa construção, porém são fixa-
das pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Sua origem
As diretrizes curriculares preservam a autonomia dos é a norma descritiva, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
professores? (LDB), que traz em seu texto a incumbência de criação de dire-
As diretrizes curriculares visam preservar a questão da trizes que nortearão os currículos da Educação Básica.
autonomia da escola e da proposta pedagógica, incentivan- Existe, atualmente, uma resolução que traz as diretrizes
do as instituições a montar seu currículo, recortando, dentro gerais para a Educação Básica, a Resolução n. 4/2010 do Con-
das áreas de conhecimento, os conteúdos que lhe convêm selho Nacional de Educação – essa resolução é alvo frequente
para a formação daquelas competências explícitas nas DCNs. das aulas nas graduações, bem como dos concursos para ad-
Desse modo, as escolas devem trabalhar os conteúdos missão de professores. Cada etapa da Educação Básica (Edu-
básicos nos contextos que lhe parecerem necessários, consi- cação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio), porém,
derando o perfil dos alunos que atendem, a região em que também apresenta suas diretrizes curriculares próprias. Em
estão inseridas e outros aspectos locais relevantes. suma, um dos objetivos é garantir um ensino de qualidade,
centrado nas aprendizagens e no desenvolvimento do edu-
Quais são as diferenças entre as diretrizes curriculares e cando, além de estratégias de participação coletiva da co-
os parâmetros curriculares? munidade escolar no planejamento da escola e sua efetiva
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) são diretri- gestão democrática.
zes separadas por disciplinas elaboradas pelo governo fede- Segundo o próprio parecer de 2010, que originou as
ral e não obrigatórias por lei. Elas visam subsidiar e orientar atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Bási-
a elaboração ou revisão curricular; a formação inicial e con- ca, trata-se de uma delimitação de um conjunto de definições
tinuada dos professores; as discussões pedagógicas internas doutrinárias sobre princípios, fundamentos e procedimentos
às escolas; a produção de livros e outros materiais didáticos na Educação Básica (…) que orientarão as escolas brasileiras
e a avaliação do sistema de Educação. Os PCNs foram cria- dos sistemas de ensino na organização, na articulação, no de-
dos em 1997 e funcionaram como referenciais para a reno- senvolvimento e na avaliação de suas propostas pedagógicas.
vação e reelaboração da proposta curricular da escola até a Verifica-se que sua existência está condicionada a um
definição das diretrizes curriculares. movimento de atualização das políticas educacionais que
Já as Diretrizes Curriculares Nacionais são normas obri- consubstanciem o direito de todo brasileiro à formação hu-
gatórias para a Educação Básica que têm como objetivo mana e cidadã e à formação profissional, na vivência e con-
orientar o planejamento curricular das escolas e dos siste- vivência em ambiente educativo, conforme preconizado pela
mas de ensino, norteando seus currículos e conteúdos míni- Constituição Federal e pela Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
mos. Assim, as diretrizes asseguram a formação básica, com cação Nacional.
base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), defi- Os objetivos descritos nas DCNs são: sistematizar os prin-
nindo competências e diretrizes para a Educação Infantil, o cípios e diretrizes gerais da Educação Básica contidos na Cons-
Ensino Fundamental e o Ensino Médio. tituição, na LDB e demais dispositivos legais, traduzindo-os em
Quais são as diferenças entre as diretrizes curriculares orientações que contribuam para assegurar a formação básica
e as expectativas de aprendizagem (direitos de aprendiza- comum nacional, tendo como foco os sujeitos que dão vida
gem)? ao currículo e à escola; estimular a reflexão crítica e propositiva
As expectativas de aprendizagem definem o que se es- que deve subsidiar a formulação, execução e avaliação do pro-
pera que todos os alunos aprendam ao concluírem uma sé- jeto político-pedagógico da escola de Educação Básica; orien-
rie e um nível de ensino. Elas foram previstas pelo CNE nas tar os cursos de formação inicial e continuada de profissionais
diretrizes gerais da Educação Básica. – docentes, técnicos, funcionários – da Educação Básica, os sis-
Diferentemente das diretrizes, que são mais amplas e temas educativos dos diferentes entes federados e as escolas
genéricas, as expectativas contemplam recomendações ex- que os integram, indistintamente da rede a que pertençam.
plícitas sobre os conhecimentos que precisam ser abordados Em regra, suas normas não são distintas daquelas pro-
em cada disciplina. Contudo, as expectativas de aprendiza- postas na LDB e estabelecerão bases comuns nacionais para
gem não configuram uma listagem de conteúdos, compe- a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio,
tências e habilidades, mas sim um conjunto de orientações bem como para as modalidades com que podem se apresen-
que possam auxiliar o planejamento dos professores, como tar, a partir das quais os sistemas federal, estaduais, distrital e
materiais adequados, tempo de trabalho e condições neces- municipais, por suas competências próprias e complementa-
sárias para colocá-lo em prática. No momento, as expecta- res, formularão as suas orientações, assegurando a integração
tivas de aprendizagem (direitos de aprendizagem) estão em curricular das três etapas sequentes desse nível da escolariza-
discussão no MEC.11 ção, essencialmente para compor um todo orgânico.
11 Fonte: www.todospelaeducacao.org.br – Por Lucas Ro- drigues
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Dentro do panorama educativo atual, diversos são os No que se refere à fragmentação do conhecimento,
apontamentos que se direcionam às necessidades de re- estudos justificam o desgaste desta prática diante dos
formulações quanto às práticas e metodologias de ensino tempos atuais, indicando ser “insuficiente para a solução
existentes, as quais relacionam-se diretamente aos proces- de problemas reais e concretos” (Ibidem, p.19). Para tanto,
sos de ensino e de aprendizagem do público que permeia a superação desta concepção de saber estabelecido histo-
o espaço escolar. Pierson e Neves (2001) mencionam que ricamente no modelo tradicional de escola, exige a con-
os problemas gerados pelas transformações sócio-econô- junta reflexão em torno da constituição do entendimento
micas da atualidade vêm preocupando a sociedade e, que do currículo escolar, em uma proposição de metodologia
diante disso, podem-se verificar movimentos que objeti- mais integrada. Diante disto, Santomé (1998, p. 41) corro-
vam discutir a racionalidade técnica presente no modelo bora e menciona que “[...] quanto maior for a comparti-
de produção de conhecimento e a excessiva especializa- mentação dos conteúdos, mais difícil será sua compreen-
ção das ciências fechadas em disciplinas (fragmentação), são, pois a realidade torna-se menos precisa”.
oriundas do paradigma positivista. Souza, Vian, Oliveira, Por disciplina, Santomé (1998, p. 55) define como “[...]
Del Pino & Marchi Revista Brasileira de Pesquisa em Edu- uma maneira de organizar e delimitar um território de tra-
cação em Ciências Vol. 16 No 1, 2016 131 balho, de concentrar a pesquisa e as experiências dentro
de um determinado ângulo de visão”. A partir deste termo,
Observando o contexto social, econômico e tecno- as disciplinaridades são as inúmeras relações entre várias
lógico atual, é possível constatar um descompasso real disciplinas, sendo que a diferença conceitual está baseada
deste com o sistema educativo vigente, especialmente nas diferentes graduações que envolvem as articulações
tratando-se da educação básica e pública do país. Diver- entre os saberes disciplinares (FAZENDA, 1993; JAPIASSU,
sos autores atentam para esta situação: Alarcão (2008) 1976). Estas relações dão origem aos vocábulos Multidis-
indica o contexto desafiador em que a escola se insere, ciplinaridade, Pluridisciplinaridade, Interdisciplinaridade e
uma vez que disputa com diversos meios de divulgação de Transdisciplinaridade.
informação e, desta maneira, concorre com formas mais A interdisciplinaridade enquanto um princípio pedagó-
gico capacita os estudantes para lidar com a complexida-
interativas de busca e comparação de dados. No mesmo
de da sociedade atual a partir de uma visão integrada do
sentido, Neubauer et al (2011) também relaciona a cons-
conhecimento e da interação com os demais alunos, uma
tituição do conhecimento nesta era globalizada, indican-
vez que as ações humanas se repercutem reciprocamente
do da necessidade da escola prover meios para incentivar
(HARTMANN; ZIMMERMANN, 2007). Conforme os PCNs:
novas habilidades cognitivas. Junto das críticas ao modelo
Na perspectiva escolar, a interdisciplinaridade não tem
escolar desconfigurado em relação aos fatos gerais, tam-
a pretensão de criar novas disciplinas ou saberes, mas de
bém são percebidas interrogativas quanto a constituição
utilizar os conhecimentos de várias disciplinas para resolver
de um modelo curricular escolar engessado. Diante das
um problema concreto ou compreender um determinado
mudanças apontadas para a melhor sintonia entre escola/ fenômeno sob diferentes pontos de vista. Em suma, a in-
sociedade, é pertinente que reflexões em torno de mudan- terdisciplinaridade tem uma função instrumental. Trata-se
ças nas concepções de currículo também ganhem respal- de recorrer a um saber diretamente útil e utilizável para
do. Conforme Sacristán (2013) o currículo tem o sentido responder às questões e aos problemas sociais contempo-
de constituir a carreira do estudante, consistindo em um râneos (BRASIL, 2000, p. 21).
plano de estudos ordenados relacionado aos conteúdos Tendo em vista a proposta dos PCNs de promover um
trabalhados na escola. Ao que se trata da organização cur- ensino contextualizado, de base interdisciplinar, faz-se ne-
ricular, é possível perceber que esta vem sendo discutida cessária a compreensão deste termo, muito embora não
e modificada com o passar dos tempos. O que pode jus- haja um conceito específico e considerado correto para tal.
tificar esta afirmativa é que, desde a LDB 9394/96 (BRA- Segundo Veiga Neto (2010), mesmo que os Estudos Disci-
SIL, 1996) existe a preocupação com a constituição de um plinares a mais de três décadas vêm discutindo a integra-
currículo contextualizado, ao mesmo tempo que procura ção disciplinar parece que ainda estamos longe de chegar
atender às peculiaridades regionais e locais. Ainda no que a acordos satisfatórios sobre o que é a interdisciplinarida-
se refere ao currículo, é possível indicar que outras leis ou de, sobre o que se quer dizer quando se fala em currícu-
decretos, como os PCNs (BRASIL, 2000) e as DCNs (BRASIL, los interdisciplinares, pluridisciplinares, multidisciplinares
2012), apresentam propostas que visam atender as proble- ou transdisciplinares e como podem eles ser planejados,
máticas atuais, especialmente focadas às novas formas de executados e avaliados. Em outras palavras: mesmo que a
constituição do saber. bibliografia nacional em torno das disciplinas seja muito
Para atingir o objetivo de se trabalhar com as comple- ampla, numerosa e variada, ainda há muito por fazer. Mes-
xidades do contemporâneo há uma clara necessidade de mo que a temática da interdisciplinaridade seja tratada nos
se promover e superar a fragmentação dos saberes no en- documentos mais recentes da educação básica e já citados
sino, em busca de uma visão e ação globalizadora e mais no decorrer deste texto, torna-se evidente que sua com-
humana (LÜCK, 2010). preensão ainda seja um entrave para que ocorra de fato
em sala de aula. O assunto contudo, não é relativamente
novo no meio escolar, uma vez que Fazenda (1993) insere
a temática no campo educativo a partir da década de 60.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Os fundamentos psicológicos:
Do ponto de vista psicológico e afetivo, não há dúvida
14 Fonte: www.seer.ufmg.br – Por Lauren Heineck de de que é na interação com o grupo e com as diferenças de
Souza/Vanessa Vian/Eniz Conceição Oliveira/José Claudio Del sexo, de cor, de idade, de condição social e com as diferen-
Pino/Miriam Ines Marchi ças de aptidões e de capacidades físicas e intelectuais exis-
tentes no grupo que a criança vai construindo sua identida-
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
de, vai testando seus limites, desafiando suas possibilidades positivados em lei: são direitos originários, fundamentais,
e, consequentemente, aprendendo. Este é o mundo real. E que decorrem do simples fato de o sujeito desses direitos
quanto mais diversificadas forem essas experiências, quan- ser pessoa humana. Em geral, porém, para, de um lado, se-
to mais instigantes esses desafios, mais a criança aprende. rem melhor explicitados e ganharem mais força cogente, e,
Segregar a pessoa com deficiência é negar-lhe o direito a por outro, para que fiquem mais claras as responsabilidades
viver num mundo real, é negar-lhe o direito a aprender pela de quem lhes deve garantir a eficácia, esses direitos aca-
convivência com pessoas ditas não deficientes. bam sendo recepcionados em textos legais que vão desde
CRSTIANE T. SAMPAIO e SÔNIA R. SAMPAIO, na sua os tratados internacionais até uma simples portaria minis-
obra Educação Inclusiva - o professor mediando para a terial ou parecer de um órgão colegiado, passando pelas
vida, escrevem: leis ordinárias e pela própria constituição do país. Foi o que
“Os diferentes ritmos, comportamentos, experiências aconteceu com os direitos das pessoas com deficiências,
imprimem ao cotidiano escolar a possibilidade de troca de particularmente, com o direito à educação, visto na pers-
repertórios, de visões de mundo, confrontos, ajuda mútua pectiva da educação inclusiva, não como um movimento
e consequente ampliação das capacidades individuais.” de mão única, mas como um processo de mão dupla, onde,
As mesmas autoras, com base na teoria de VIGOTSKY por um lado, se reconhece à pessoa com deficiência direi-
(A formação social da mente: o desenvolvimento dos pro- to a frequentar e a usufruir todos os espaços e condições
cessos psicológicos superiores. São Paulo. Martins Fon- de vida, as mais normais possíveis, e, por outro, se atribui
tes.1998), ressaltam: à sociedade, através do poder público, a responsabilida-
“Se construir conhecimentos implica uma ação com- de de garantir à pessoa com deficiência reais condições de
partilhada, já que é através dos outros que as relações entre acessibilidade a todos os bens materiais e culturais social-
sujeito e objeto de conhecimento são estabelecidas, a di- mente produzidos e disponíveis, eliminando toda e qual-
versidade de níveis de conhecimento de cada criança pode quer barreira - física, cognitiva, cultural - que se interponha
propiciar uma rica oportunidade de troca de experiências, entre a pessoa com deficiência e esses bens. Do conceito
questionamentos e cooperação. A aceitação da criança de integração, que acentua o processo de adaptação do
deficiente pelos colegas vai depender muito do professor aluno com deficiência ao grupo, passa-se ao conceito de
colocar em prática uma pedagogia inclusiva que não pre- inclusão, que enfatiza a responsabilidade da sociedade de
tenda a correção do aluno com deficiência, mas a manifes- se reorganizar de forma a garantir, por meio de políticas
tação do seu potencial. A escola, nesta perspectiva, deve públicas definidas e concretas, condições físicas, materiais,
buscar consolidar o respeito às diferenças, vistas não como de recursos humanos, de equipamentos e de instrumentos
um obstáculo para o cumprimento da ação educativa, mas legais que permitam à pessoa com deficiência ser um cida-
como fator de enriquecimento e melhoria da qualidade de dão como qualquer outro e ter a possibilidade concreta de
ensino e aprendizagem para todos, tanto para alunos com usufruir de tudo o que a sociedade oferece para que a in-
deficiência quanto para aqueles sem deficiência.” clusão escolar realmente se efetive, na sua total dimensão.
Por isso, numa perspectiva de escola inclusiva, o am- Sem ter a pretensão de esgotar o tema referente às
biente escolar deve representar, com a maior fidelidade bases legais de uma concepção de educação inclusiva, va-
possível, a diversidade dos indivíduos que compõem a so- mos fazer referência apenas aos documentos que nos pa-
ciedade. São as diferenças que possibilitam enriquecer as recem fundamentais e que, na sua essência, apontam para
experiências curriculares e que ajudam a melhor assimilar a mesma direção: o direito da criança com deficiência à
o conhecimento que se materializa nas disciplinas do cur- educação, e, decorrente dele, o direito dessa criança de ser
rículo. Somente numa escola em que a sociedade, sempre matriculada numa turma de escola comum, junto com as
plural e heterogênea, esteja equitativamente representada, crianças da sua idade, com garantia de meios e recursos
com alunos com deficiências ou não, é que o currículo es- que supram os seus impedimentos à aprendizagem e ao
colar pode cumprir sua função: construir a cidadania e pre- seu desenvolvimento afetivo e cognitivo.
parar os alunos para viverem em harmonia fora da escola, Fundamentado em sólidos pressupostos filosóficos e
dotados de habilidades e competências que a experiência psicológicos, o direito da criança com deficiência de fre-
de escola e o conhecimento nela construído os ajudou a quentar a escola comum e de receber nela um atendimen-
desenvolver. to educacional especializado encontra-se hoje legalmente
Nessa concepção de escola que não exclui ninguém, reconhecido e solidamente regulamentado.
em que a deficiência, seja ela qual for, não deve constituir Esse direito, na verdade, foi reconhecido pela primeira
barreira para a criança permanecer na escola e aprender, vez, de forma solene, na Declaração Universal dos Direitos
vem assumindo particular importância e papel decisivo o do Homem, em 1948, onde se proclama que todas as pes-
atendimento educacional especializado, que tem como soas nascem livres e iguais em dignidade e direitos, sem
pressuposto fundamental o direito da criança com defi- distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política
ciência a frequentar a escola comum e de nela progredir, ou de qualquer outra natureza. Ao afirmar que todas as
dentro de seus limites e possibilidades. pessoas nascem iguais em dignidade e direitos, os signatá-
rios dessa declaração estavam dizendo também, indubita-
Os fundamentos legais: velmente, que o direito à educação, pública e gratuita, não
A rigor, como já dito acima, os direitos da pessoa com está condicionado a nenhum tipo de performance, seja ela
deficiência em relação à educação nem precisariam estar física, auditiva, visual ou cognitiva.
49
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Passo importante no caminho do reconhecimento dos pessoas, e define como discriminação toda e qualquer dife-
direitos das pessoas deficientes foi a resolução aprovada renciação ou exclusão com base na deficiência, que impeça
pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas ou negue o exercício dos direitos humanos e das liberdades
em 9 de dezembro de 1975, conhecida como Declaração fundamentais.
dos direitos das pessoas deficientes, na qual se afirma que a - Em 2001, a Declaração Internacional de Montreal sobre
pessoa com deficiência, qualquer que seja a origem, a natu- Inclusão, aprovada em 5 de junho de 2001 pelo Congresso
reza e a gravidade dessa deficiência, tem os mesmos direitos Internacional “Sociedade Inclusiva”, realizado em Montreal,
fundamentais que seus concidadãos da mesma idade, o que Canadá.
implica, antes de tudo, o direito de desfrutar de uma vida - Em 2002, em Madrid, Espanha, a Declaração de Ma-
decente, tão normal e plena quanto possível, inclusive, e so- drid, onde se reconhece e se proclama que as pessoas com
bretudo, no que diz respeito à educação. deficiência têm os mesmos direitos humanos de todos os
Quarenta anos depois da Declaração Universal dos Di- demais cidadãos.
reitos Humanos, sensível à reflexão que se vinha fazendo no - Em 2007, promulgação da Convenção sobre os Direi-
mundo inteiro, e, particularmente, aqui no Brasil, acerca do tos das Pessoas com Deficiência, adotada pela ONU em de-
tema, o constituinte de 1988, ao explicitar os deveres do Es- zembro de 2006, e firmada pelo Brasil em março de 2007.
tado brasileiro em relação à educação, estabelece que um No Brasil, após a Constituição de 1988, a discussão em
dos serviços que devem ser garantidos para o cumprimento torno do tema da educação especial ganhou espaço e se
desse dever é o do atendimento educacional especializado aprofundou. Fruto dessa reflexão, foram sendo editados tex-
às pessoas com deficiência, que deve ser oferecido preferen- tos legais nos quais, não obstante alguns recuos, a idéia da
cialmente na rede regular de ensino (CF, art. 208, inciso III). inclusão escolar entendida como direito de acesso da crian-
A partir dos anos 90, a reflexão em torno da natureza e ça com deficiência na escola comum e de nela receber o
das políticas relativas à educação especial foram se inten- atendimento de que necessita para vencer as barreiras que
sificando e vários documentos foram aprovados, tanto no lhe dificultam a aprendizagem se consolida em definitivo.
âmbito nacional quanto internacional, consolidando em leis Dois anos após a promulgação da Constituição, em 1990,
a linha de discussão que se vinha fazendo em torno do tema, esse direito foi reforçado no Estatuto da Criança e do Ado-
sempre no sentido de que a criança com deficiência, seja lescente (art. 54, inciso III).
essa deficiência física, visual, auditiva, cognitiva ou de qual-
quer outro tipo, tem direito de ser matriculada em escolas Sem querer esgotar a matéria, elencamos a seguir os
comuns, nelas permanecer e de receber nelas o atendimen- principais textos legais que se referem ao tema:
to de que necessita para superar os impedimentos e as bar- Lei nº 7.853/89. Dispõe sobre o apoio às pessoas com
reiras que lhe dificultam a aprendizagem, o pleno exercício deficiências, sua integração social e pleno exercício de direi-
da cidadania e a inserção no mundo do trabalho, nos limites tos sociais e individuais.
de suas capacidades. LDB nº 9.394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação
No âmbito internacional, apenas para citar os mais im- Nacional. A LDB dedica à educação especial os artigos 58,
portantes, e os que mais diretamente tratam do direito das 59 e 60 do Capítulo V. A exemplo do que fizera o Estatuto da
pessoas deficientes à educação em escolas comuns, desta- Criança e do Adolescente, a LDB considera a educação es-
camos os seguintes documentos: pecial uma modalidade de educação escolar, a ser oferecida,
- Em 1990, em Washington DC, a XXIII Conferência Sani- preferencialmente, na rede regular de ensino.
tária Panamericana OPSOrganização Mundial de Saúde. Parecer CNE/CEB nº 16/99. Dispõe sobre educação pro-
- Em 1990, em Jon Tien, Tailândia, a Declaração Mundial fissional de alunos com necessidades educacionais especiais.
de Educação para Todos - UNICEF. Resolução CNE/CEB nº 4/99. Dispõe sobre educação
- Em 1994, em Salamanca, Espanha, a Declaração de Sa- profissional de alunos com necessidades educacionais es-
lamanca: princípios, políticas e prática em Educação Espe- peciais.
cial, que trata especificamente da criação e manutenção de Decreto nº 3.298/99. Regulamenta a Lei 7.853/89, dis-
sistemas educacionais inclusivos. “Todas as escolas devem põe sobre a política nacional para integração da pessoa por-
acolher todas as crianças, independentemente de suas con- tadora de deficiências, consolida as normas de proteção ao
dições pessoais, culturais e sociais, crianças com eficiências e portador de deficiências.
bem dotadas, crianças de rua, de minorias étnicas, lingüísti- Lei nº 10.098/2000. Estabelece normas gerais e crité-
cas ou culturais, dezonas desfavorecidas ou marginais.” rios básicos para a promoção de acessibilidade das pessoas
- Em 1999, em Londres, Carta para o 3º Milênio, aprova- portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida e dá
da pela Assembléia Governativa da Rehabilitation Internatio- outras providências.
nal, que estabelece oportunidades iguais para pessoas com Resolução CNE/CEB nº 2/2001. Institui Diretrizes e Nor-
deficiência.) mas para a Educação Especial na Educação Básica. No seu
- Em 1999, na Guatemala, a Convenção interamericana art. 2º, assim dispõe a Resolução: “Os sistemas de ensino
para eliminação de todas as formas de discriminação contra devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas or-
as pessoas portadoras de deficiências, promulgada, no Bra- ganizar-se para o atendimento aos educandos com neces-
sil, pelo Decreto nº 3.956, de outubro de 2001. A Convenção sidades educacionais especiais, assegurando as condições
proclama que as pessoas com deficiência têm os mesmos necessárias para uma educação de qualidade para todos.”
direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais (MEC/SEESP, 2001).
50
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Parecer CNE/CEB nº 17/2001. Diretrizes Nacionais para O conjunto de documentos oficiais e textos legais rela-
a Educação Especial na Educação Básica. cionados acima, certamente incompleto, aponta para uma
Lei nº 10.172/2001. Aprova o Plano Nacional de Educa- concepção de educação especial de natureza inclusiva, não
ção - PNE e dá outras providências. divorciada da escola comum. Ao ler esses documentos, não
No tópico 8 do texto aprovado, o PNE aponta diretrizes obstante as resistências que ainda se esboçam e as con-
para a política de educação especial no Brasil e indica obje- testações que ainda se ouvem, não há como ignorar o fato
tivos e metas para a política de educação de pessoas com de que, sobretudo nas últimas duas décadas, o direito da
necessidades educacionais especiais. criança com deficiência de frequentar a escola comum e de
Decreto nº 6.094/2007. Dispõe sobre a implementação nela encontrar os meios e recursos necessários para superar
do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação. No suas deficiências, encontra-se irreversivelmente estabeleci-
art. 2º, inciso IX, o documento aponta como uma das di- do. Nesse ponto da caminhada, não há como voltar atrás.
retrizes do plano, na qual devem se empenhar Municípios, O que importa agora é pais, professores, gestores educacio-
Estados, Distrito Federal e União, a garantia de acesso e nais, Municípios, Estados e União atuarem como parceiros
permanência das pessoas com necessidades educacionais a fim de que se garantam os recursos, os meios e os ins-
especiais nas classes comuns do ensino regular, fortalecen- trumentos para que as experiências de inclusão escolar de
do a inclusão educacional nas escolas públicas. crianças com deficiência bem sucedidas se multipliquem, e
Decreto nº 186/2008. Aprova o texto da Convenção so- aquilo que está contemplado em lei se concretize na prática
bre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Pro- de todas as escolas do país.15
tocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em 30 de
março de 2006.
Decreto nº 6571/2008. Dispõe sobre o atendimento CONVENÇÃO DA ONU SOBRE DIREITOS
educacional especializado. DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA.
Resolução CNE/CEB nº 4/2009. Institui as diretrizes
operacionais para o atendimento educacional especializa-
do na Educação Básica, modalidade Educação Especial.
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Defi-
Além desses documentos, de natureza legal, cabe re-
ciência e seu respectivo Protocolo Facultativo foram ratifica-
ferir, ainda, como textos fundamentais na reflexão e na di-
dos pelo Congresso Nacional em 09/07/2008 pelo decreto
fusão de idéias, conceitos e diretrizes afinadas com a con-
legislativo nº 186/2008 e todos os seus artigos são de apli-
cepção de educação especial na perspectiva da educação
cação imediata.
inclusiva, os seguintes documentos:
2004 - O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas
Preâmbulo.
e Classes Comuns da Rede Regular, do Ministério Público Os Estados Partes da presente Convenção,
Federal, que teve por objetivo disseminar os conceitos e a. Relembrando os princípios consagrados na Carta
diretrizes mundiais para a inclusão, reafirmando o direito e das Nações Unidas, que reconhecem a dignidade e o va-
os benefícios da escolarização de alunos com e sem defi- lor inerentes e os direitos iguais e inalienáveis de todos os
ciência nas turmas comuns do ensino regular. membros da família humana como o fundamento da liber-
2008 - O documento Política Nacional de Educação Es- dade, da justiça e da paz no mundo;
pecial na Perspectiva da Educação Inclusiva, elaborado pelo b. Reconhecendo que as Nações Unidas, na Decla-
Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria nº 555/2007, ração Universal dos Direitos Humanos e nos Pactos Inter-
prorrogada pela Portaria nº 948/2007, entregue ao Minis- nacionais sobre Direitos Humanos, proclamou e concordou
tro da Educação em 07 de janeiro de 2008. que toda pessoa faz jus a todos os direitos e liberdades ali
2010 - A Nota Técnica SEESP nº 10/2010 Orientações estabelecidos, sem distinção de qualquer espécie;
para institucionalização da oferta do atendimento educa- c. Reafirmando a universalidade, a indivisibilidade, a
cional especializado (AEE) em Salas de Recursos Multifun- interdependência e a inter-relação de todos os direitos hu-
cionais implantadas nas escolas regulares. manos e liberdades fundamentais, bem como a necessidade
2010 - O documento Construindo o Sistema Nacional de que todas as pessoas com deficiência tenham a garantia
Articulado de Educação: o Plano Nacional de Educação – de poder desfrutá-los plenamente, sem discriminação;
Diretrizes e Estratégias de Ação, aprovado pela Assembleia d. Relembrando o Pacto Internacional dos Direitos
da Conferência Nacional da Educação (CONAE), em 1º de Econômicos, Sociais e Culturais, o Pacto Internacional dos
abril de 2010. No Eixo VI do referido documento - Justiça Direitos Civis e Políticos, a Convenção Internacional sobre a
Social, Educação e Trabalho: Inclusão, diversidade e igual- Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, a
dade - ao tratar especificamente da educação especial, o Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Dis-
texto aponta as responsabilidades do poder público no criminação contra a Mulher, a Convenção contra a Tortura e
que tange à educação especial, as metas a serem perse- Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degra-
guidas, os instrumentos, os recursos e os modos operacio- dantes, a Convenção sobre os Direitos da Criança e a Con-
nais para atingi-las, enfatizando sempre o direito da criança venção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos
com deficiência de ser atendida na escola comum. os Trabalhadores Migrantes e Membros de suas Famílias;
15 Fonte: www.assistiva.com.br – Por Mara Lúcia Sarto-
retto
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
para esse Estado. Não poderá haver qualquer restrição ou ARTIGO 8 - CONSCIENTIZAÇÃO.
derrogação de qualquer dos direitos humanos e liberdades 1. Os Estados Partes se comprometem a adotar medi-
fundamentais reconhecidos ou vigentes em qualquer Es- das imediatas, efetivas e apropriadas para:
tado Parte da presente Convenção, em conformidade com a. Conscientizar toda a sociedade, inclusive as famílias,
leis, convenções, regulamentos ou costumes, sob a alega- sobre as condições das pessoas com deficiência e fomentar
ção de que presente Convenção não reconhece tais direitos o respeito pelos direitos e pela dignidade das pessoas com
e liberdades ou que os reconhece em menor grau. deficiência;
5. As disposições da presente Convenção se aplica- b. Combater estereótipos, preconceitos e práticas no-
rão a todas as unidades de Estados federativos, sem limi- civas em relação a pessoas com deficiência, inclusive os ba-
tação ou exceção. seados em sexo e idade, em todas as áreas da vida; e
c. Promover a consciência sobre as capacidades e
ARTIGO 5 - IGUALDADE E NÃO-DISCRIMINAÇÃO. contribuições das pessoas com deficiência.
1. Os Estados Partes reconhecem que todas as pes- 2. As medidas para esse fim incluem:
soas são iguais perante e sob a lei e que fazem jus, sem a. Dar início e continuação a efetivas campanhas pú-
qualquer discriminação, a igual proteção e igual benefício blicas de conscientização, destinadas a:
da lei; I. Cultivar a receptividade em relação aos direitos das
2. Os Estados Partes deverão proibir qualquer discri- pessoas com deficiência;
minação por motivo de deficiência e garantir às pessoas II. Fomentar uma percepção positiva e maior cons-
com deficiência igual e efetiva proteção legal contra a dis- ciência social em relação às pessoas com deficiência; e
criminação por qualquer motivo; III. Promover o reconhecimento dos méritos, habilida-
3. A fim de promover a igualdade e eliminar a discri- des e capacidades das pessoas com deficiência e de sua con-
minação, os Estados Partes deverão adotar todos os passos tribuição ao local de trabalho e ao mercado laboral;
necessários para assegurar que a adaptação razoável seja b. Fomentar em todos os níveis do sistema educacio-
provida; nal, incluindo neles todas as crianças desde tenra idade, uma
4. Nos termos da presente Convenção, as medidas atitude de respeito para com os direitos das pessoas com
específicas que forem necessárias para acelerar ou alcançar deficiência;
a efetiva igualdade das pessoas com deficiência não deve- c. Incentivar todos os órgãos da mídia a retratar as
rão ser consideradas discriminatórias. pessoas com deficiência de maneira compatível com o pro-
pósito da presente Convenção; e
ARTIGO 6 - MULHERES COM DEFICIÊNCIA. d. Promover programas de conscientização a respeito
1. Os Estados Partes reconhecem que as mulheres das pessoas com deficiência e de seus direitos.
e meninas com deficiência estão sujeitas à discriminação
múltipla e, portanto, deverão tomar medidas para assegu- ARTIGO 9 - ACESSIBILIDADE.
rar a elas o pleno e igual desfrute de todos os direitos hu- 1. A fim de possibilitar às pessoas com deficiência vi-
manos e liberdades fundamentais. ver com autonomia e participar plenamente de todos os as-
2. Os Estados Partes deverão tomar todas as medi- pectos da vida, os Estados Partes deverão tomar as medidas
das apropriadas para assegurar o pleno desenvolvimento, apropriadas para assegurar-lhes o acesso, em igualdade de
o avanço e o empoderamento das mulheres, a fim de ga- oportunidades com as demais pessoas, ao meio físico, ao
rantir-lhes o exercício e o desfrute dos direitos humanos transporte, à informação e comunicação, inclusive aos siste-
e liberdades fundamentais estabelecidos na presente Con- mas e tecnologias da informação e comunicação, bem como
venção. a outros serviços e instalações abertos ou propiciados ao
público, tanto na zona urbana como na rural. Estas medidas,
ARTIGO 7 - CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA. que deverão incluir a identificação e a eliminação de obs-
1. Os Estados Partes deverão tomar todas as medi- táculos e barreiras à acessibilidade, deverão ser aplicadas,
das necessárias para assegurar às crianças com deficiência entre outras, a:
o pleno desfrute de todos os direitos humanos e liberdades a. Edifícios, rodovias, meios de transporte e outras
fundamentais, em igualdade de oportunidades com as de- instalações internas e externas, inclusive escolas, moradia,
mais crianças. instalações médicas e local de trabalho; e
2. Em todas as ações relativas às crianças com defi- b. Informações, comunicações e outros serviços, in-
ciência, o que for melhor para elas deverá receber conside- clusive serviços eletrônicos e serviços de emergência;
ração primordial. 2. Os Estados Partes deverão também tomar medidas
3. Os Estados Partes deverão assegurar que as apropriadas para:
crianças com deficiência tenham o direito de expressar a. Desenvolver, promulgar e monitorar a implemen-
livremente sua opinião sobre todos os assuntos que lhes tação de padrões e diretrizes mínimos para a acessibilidade
disserem respeito, tenham a sua opinião devidamente va- dos serviços e instalações abertos ou propiciados ao público;
lorizada de acordo com sua idade e maturidade, em igual- b. Assegurar que as entidades privadas que oferecem
dade de oportunidades com as demais crianças, e recebam instalações e serviços abertos ou propiciados ao público le-
atendimento adequado à sua deficiência e idade, para que vem em consideração todos os aspectos relativos à acessibi-
possam realizar tal direito. lidade para pessoas com deficiência;
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
c. Propiciar, a todas as pessoas envolvidas, uma capa- sejam isentas de conflito de interesses e de influência in-
citação sobre as questões de acessibilidade enfrentadas por devida, sejam proporcionais e apropriadas às circunstâncias
pessoas com deficiência; da pessoa, se apliquem pelo período mais curto possível
d. Dotar, os edifícios e outras instalações abertas ao e sejam submetidas à revisão regular por uma autoridade
público, de sinalização em braile e em formatos de fácil lei- ou órgão judiciário competente, independente e imparcial.
tura e compreensão; As salvaguardas deverão ser proporcionais ao grau em que
e. Oferecer formas de atendimento pessoal ou as- tais medidas afetarem os direitos e interesses da pessoa.
sistido por animal e formas intermediárias, incluindo guias, 5. Os Estados Partes, sujeitos ao disposto neste Arti-
leitores e intérpretes profissionais da língua de sinais, para go, deverão tomar todas as medidas apropriadas e efetivas
facilitar o acesso aos edifícios e outras instalações abertas para assegurar às pessoas com deficiência o igual direito de
ao público; possuir ou herdar bens, de controlar as próprias finanças e
f. Promover outras formas apropriadas de atendi- de ter igual acesso a empréstimos bancários, hipotecas e
mento e apoio a pessoas com deficiência, a fim de assegu- outras formas de crédito financeiro, e deverão assegurar
rar-lhes seu acesso a informações; que as pessoas com deficiência não sejam arbitrariamente
g. Promover o acesso de pessoas com deficiência a destituídas de seus bens.
novos sistemas e tecnologias da informação e comunica-
ção, inclusive à internet; e ARTIGO 13 - ACESSO À JUSTIÇA.
h. Promover o desenho, o desenvolvimento, a produ- 1. Os Estados Partes deverão assegurar o efetivo
ção e a disseminação de sistemas e tecnologias de informa- acesso das pessoas com deficiência à justiça, em igualdade
ção e comunicação em fase inicial, a fim de que estes siste- de condições com as demais pessoas, inclusive mediante
mas e tecnologias se tornem acessíveis a um custo mínimo. a provisão de adaptações processuais e conformes com a
idade, a fim de facilitar seu efetivo papel como participan-
ARTIGO 10 - DIREITO À VIDA. tes diretos ou indiretos, inclusive como testemunhas, em
Os Estados Partes reafirmam que todo ser humano tem todos os procedimentos jurídicos, tais como investigações
o inerente direito à vida e deverão tomar todas as medidas e outras etapas preliminares.
necessárias para assegurar o efetivo desfrute desse direito 2. A fim de assegurar às pessoas com deficiência o
pelas pessoas com deficiência, em igualdade de oportuni- efetivo acesso à justiça, os Estados Partes deverão promo-
dades com as demais pessoas. ver a capacitação apropriada daqueles que trabalham na
área de administração da justiça, inclusive a polícia e o pes-
ARTIGO 11 - SITUAÇÕES DE RISCO E EMERGÊNCIAS soal prisional.
HUMANITÁRIAS.
Em conformidade com suas obrigações decorrentes do ARTIGO 14 - LIBERDADE E SEGURANÇA DA PESSOA.
direito internacional, inclusive do direito humanitário inter- 1. Os Estados Partes deverão assegurar que as pes-
nacional e do direito internacional relativo aos direitos hu- soas com deficiência, em igualdade de oportunidades com
manos, os Estados Partes deverão tomar todas as medidas as demais pessoas:
necessárias para assegurar a proteção e a segurança das
a. Desfrutem o direito à liberdade e à segurança da
pessoas com deficiência que se encontrarem em situações
pessoa; e
de risco, inclusive situações de conflito armado, emergên-
b. Não sejam privadas ilegal ou arbitrariamente de
cias humanitárias e ocorrência de desastres naturais.
sua liberdade e que toda privação de liberdade esteja em
conformidade com a lei, e que a existência de uma defi-
ARTIGO 12 - RECONHECIMENTO IGUAL PERANTE A LEI.
ciência não justifique a privação de liberdade;
1. Os Estados Partes reafirmam que as pessoas com
2. Os Estados Partes deverão assegurar que, se pes-
deficiência têm o direito de serem reconhecidas em qual-
soas com deficiência forem privadas de liberdade mediante
quer parte como pessoas perante a lei.
2. Os Estados Partes deverão reconhecer que as pes- algum processo, elas, em igualdade de oportunidades com
soas com deficiência têm capacidade legal em igualdade as demais pessoas, façam jus a garantias de acordo com o
de condições com as demais pessoas em todos os aspectos direito internacional relativo aos direitos humanos e sejam
da vida. tratadas em conformidade com os objetivos e princípios
3. Os Estados Partes deverão tomar medidas apro- da presente Convenção, inclusive mediante a provisão de
priadas para prover o acesso de pessoas com deficiência adaptação razoável.
ao apoio que necessitarem no exercício de sua capacidade
legal. ARTIGO 15 - PREVENÇÃO CONTRA A TORTURA OU OS
4. Os Estados Partes deverão assegurar que todas as TRATAMENTOS OU AS PENAS CRUÉIS, DESUMANAS OU
medidas relativas ao exercício da capacidade legal incluam DEGRADANTES.
salvaguardas apropriadas e efetivas para prevenir abusos, 1. Nenhuma pessoa deverá ser submetida à tortura
em conformidade com o direito internacional relativo aos ou a tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degra-
direitos humanos. Estas salvaguardas deverão assegurar dantes. Em especial, nenhuma pessoa deverá ser sujeita a
que as medidas relativas ao exercício da capacidade legal experimentos médicos ou científicos sem seu livre consen-
respeitem os direitos, a vontade e as preferências da pessoa, timento.
55
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
2. Os Estados Partes deverão tomar todas as medi- a. Tenham o direito de adquirir e mudar nacionalida-
das efetivas de natureza legislativa, administrativa, judi- de e não sejam privadas arbitrariamente de sua nacionali-
cial ou outra para evitar que pessoas com deficiência, do dade por causa de sua deficiência;
mesmo modo que as demais pessoas, sejam submetidas à b. Não sejam privadas, por causa de sua deficiên-
tortura ou a tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou cia, da competência de obter, possuir e utilizar documento
degradantes. comprovante de sua nacionalidade ou outro documento
de identidade, ou de recorrer a processos relevantes, tais
ARTIGO 16 - PREVENÇÃO CONTRA A EXPLORAÇÃO, como procedimentos relativos à imigração, que forem ne-
VIOLÊNCIA E ABUSO. cessários para facilitar o exercício de seu direito de movi-
1. Os Estados Partes deverão tomar todas as me- mentação.
didas apropriadas de natureza legislativa, administrativa, c. Tenham liberdade de sair de qualquer país, inclu-
social, educacional e outras para proteger as pessoas com sive do seu; e
deficiência, tanto dentro como fora do lar, contra todas as d. Não sejam privadas, arbitrariamente ou por causa
formas de exploração, violência e abuso, incluindo aspec- de sua deficiência, do direito de entrar no próprio país.
tos de gênero. 2. As crianças com deficiência deverão ser registra-
2. Os Estados Partes deverão também tomar todas das imediatamente após o nascimento e deverão ter, desde
as medidas apropriadas para prevenir todas as formas de o nascimento, o direito a um nome, o direito de adquirir
exploração, violência e abuso, assegurando, entre outras nacionalidade e, tanto quanto possível, o direito de conhe-
coisas, formas apropriadas de atendimento e apoio que cerem seus pais e de serem cuidadas por eles.
levem em conta o gênero e a idade das pessoas com defi-
ciência e de seus familiares e atendentes, inclusive median- ARTIGO 19 - VIDA INDEPENDENTE E INCLUSÃO NA
te a provisão de informação e educação sobre a maneira COMUNIDADE.
de evitar, reconhecer e denunciar casos de exploração, vio- Os Estados Partes desta Convenção reconhecem o
lência e abuso. Os Estados Partes deverão assegurar que os igual direito de todas as pessoas com deficiência de viver
serviços de proteção levem em conta a idade, o gênero e a
na comunidade como as demais e deverão tomar medidas
deficiência das pessoas.
efetivas e apropriadas para facilitar às pessoas com defi-
3. A fim de prevenir a ocorrência de quaisquer for-
ciência o pleno desfrute deste direito e sua plena inclusão
mas de exploração, violência e abuso, os Estados Partes
e participação na comunidade, inclusive assegurando que:
deverão assegurar que todos os programas e instalações
a. As pessoas com deficiência possam escolher seu
destinados a atender pessoas com deficiência sejam efeti-
local de residência e onde e com quem morar, em igual-
vamente monitorados por autoridades independentes.
dade de oportunidades com as demais pessoas, e que não
4. Os Estados Partes deverão tomar todas as medi-
sejam obrigadas a morar em determinada habitação;
das apropriadas para promover a recuperação física, cogni-
tiva e psicológica, inclusive mediante a provisão de serviços b. As pessoas com deficiência tenham acesso a uma
de proteção, a reabilitação e a reinserção social de pessoas variedade de serviços de apoio em domicílio ou em insti-
com deficiência que forem vítimas de qualquer forma de tuições residenciais ou a outros serviços comunitários de
exploração, violência ou abuso. Tal recuperação e reinser- apoio, inclusive os serviços de atendentes pessoais que
ção deverão ocorrer em ambientes que promovam a saúde, forem necessários como apoio para viverem e serem in-
o bem-estar, o auto-respeito, a dignidade e a autonomia cluídas na comunidade e para evitarem ficar isoladas ou
da pessoa e levem em consideração as necessidades de segregadas da comunidade; e
gênero e idade. c. Os serviços e instalações da comunidade para a
5. Os Estados Partes deverão adotar efetivas leis e população em geral estejam disponíveis às pessoas com
políticas, inclusive legislação e políticas voltadas para mu- deficiência, em igualdade de oportunidades, e atendam às
lheres e crianças, a fim de assegurar que os casos de ex- suas necessidades.
ploração, violência e abuso contra pessoas com deficiência
sejam identificados, investigados e, se couber, processados. ARTIGO 20 - MOBILIDADE PESSOAL.
Os Estados Partes deverão tomar medidas efetivas para
ARTIGO 17 - PROTEÇÃO DA INTEGRIDADE DA PESSOA. assegurar às pessoas com deficiência sua mobilidade pes-
Toda pessoa com deficiência tem o direito a que sua soal com a máxima autonomia possível:
integridade física e mental seja respeitada, em igualdade a. Facilitando a mobilidade pessoal das pessoas com
de oportunidades com as demais pessoas. deficiência, na forma e no momento em que elas quiserem,
a um custo acessível;
ARTIGO 18 - LIBERDADE DE MOVIMENTAÇÃO E NA- b. Facilitando às pessoas com deficiência o acesso
CIONALIDADE. a tecnologias assistivas, dispositivos e ajudas técnicas de
1. Os Estados Partes deverão reconhecer os direitos qualidade, e formas de assistência direta e intermediária,
das pessoas com deficiência à liberdade de movimentação, tornando-os disponíveis a um custo acessível;
à liberdade de escolher sua residência e à nacionalidade, c. Propiciando às pessoas com deficiência e ao pes-
em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, soal especializado uma capacitação sobre habilidades de
inclusive assegurando que as pessoas com deficiência: mobilidade; e
56
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
d. Incentivando entidades que produzem ajudas téc- b. Sejam reconhecidos os direitos das pessoas com
nicas de mobilidade, dispositivos e tecnologias assistivas a deficiência de decidir livre e responsavelmente sobre o nú-
levarem em conta todos os aspectos relativos à mobilidade mero de filhos e o espaçamento entre eles e de ter acesso
de pessoas com deficiência. a informações adequadas à idade e a orientações sobre
planejamento reprodutivo e familiar, bem como os meios
ARTIGO 21 - LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DE OPINIÃO necessários para exercer estes direitos; e
E ACESSO A INFORMAÇÃO. c. As pessoas com deficiência, inclusive crianças,
Os Estados Partes deverão tomar todas as medidas conservem sua fertilidade, em igualdade de condições com
apropriadas para assegurar que as pessoas com deficiên- as demais pessoas.
cia possam exercer seu direito à liberdade de expressão e 2. Os Estados Partes deverão assegurar os direitos e
opinião, inclusive à liberdade de buscar, receber e fornecer responsabilidades das pessoas com deficiência, relativos a
informações e idéias, em igualdade de oportunidades com guarda, custódia, curatela e adoção de crianças ou institui-
as demais pessoas e por intermédio de todas as formas de
ções semelhantes, caso estes conceitos constem na legisla-
comunicação de sua escolha, conforme o disposto no Arti-
ção nacional. Em todos os casos, será primordial o que for
go 2 da presente Convenção, entre as quais:
melhor para a criança. Os Estados Partes deverão prestar a
a. Provisão, para pessoas com deficiência, de infor-
devida assistência às pessoas com deficiência no exercício
mações destinadas ao público em geral, em formatos aces-
síveis e tecnologias apropriadas a diferentes tipos de defi- de suas responsabilidades na criação dos filhos.
ciência, em tempo oportuno e sem custo adicional; 3. Os Estados Partes deverão assegurar que as crian-
b. Aceitação e facilitação, em trâmites oficiais, do uso ças com deficiência terão iguais direitos em relação à vida
de línguas de sinais, braile, comunicação aumentativa e al- familiar. Para a realização destes direitos e para evitar ocul-
ternativa, e de todos os demais meios, modos e formatos tação, abandono, negligência e segregação de crianças
acessíveis de comunicação, escolhidos pelas pessoas com com deficiência, os Estados Partes deverão fornecer infor-
deficiência; mações rápidas e abrangentes sobre serviços e apoios a
c. Instância junto a entidades privadas que ofere- crianças com deficiência e suas famílias.
cem serviços ao público em geral, inclusive por meio da 4. Os Estados Partes deverão assegurar que uma
internet, para que forneçam informações e serviços em for- criança não poderá ser separada de seus pais contra a von-
matos acessíveis, que possam ser usados por pessoas com tade deles, exceto quando autoridades competentes, su-
deficiência; jeitas à revisão judicial, determinarem, em conformidade
d. Incentivo à mídia, inclusive aos provedores de in- com as leis e procedimentos aplicáveis, que a separação é
formação pela internet, para tornarem seus serviços acessí- necessária, por ser melhor para a criança. Em nenhum caso,
veis a pessoas com deficiência; e uma criança deverá ser separada dos pais sob alegação de
e. Reconhecimento e promoção do uso de línguas deficiência dela ou de um ou ambos os pais.
de sinais. 5. Os Estados Partes deverão, caso a família imediata
de uma criança com deficiência não tenha condições de
ARTIGO 22 - RESPEITO À PRIVACIDADE. cuidar dela, fazer todo esforço para que cuidados alternati-
1. Nenhuma pessoa com deficiência, qualquer que vos sejam oferecidos por outros parentes e, se isso não for
seja seu local de residência ou tipo de moradia, deverá ser possível, por uma família da comunidade.
sujeita a interferência arbitrária ou ilegal em sua privacida-
de, família, domicílio ou correspondência ou outros tipos ARTIGO 24 - EDUCAÇÃO.
de comunicação, nem a ataques ilícitos à sua honra e repu- 1. Os Estados Partes reconhecem o direito das pes-
tação. As pessoas com deficiência têm o direito à proteção
soas com deficiência à educação. Para realizar este direito
da lei contra tais interferências ou ataques.
sem discriminação e com base na igualdade de oportuni-
2. Os Estados Partes deverão proteger a privacidade
dades, os Estados Partes deverão assegurar um sistema
dos dados pessoais e dados relativos à saúde e à reabili-
educacional inclusivo em todos os níveis, bem como o
tação de pessoas com deficiência, em bases iguais com as
demais pessoas. aprendizado ao longo de toda a vida, com os seguintes
objetivos:
ARTIGO 23 - RESPEITO PELO LAR E PELA FAMÍLIA. a. O pleno desenvolvimento do potencial humano e
1. Os Estados Partes deverão tomar medidas efetivas do senso de dignidade e auto-estima, além do fortaleci-
e apropriadas para eliminar a discriminação contra pessoas mento do respeito pelos direitos humanos, pelas liberda-
com deficiência, em todos os aspectos relativos a casamen- des fundamentais e pela diversidade humana;
to, família, paternidade e relacionamentos, em igualdade b. O desenvolvimento máximo possível personalida-
de condições com as demais pessoas, de modo a assegurar de e dos talentos e criatividade das pessoas com deficiên-
que: cia, assim de suas habilidades físicas e intelectuais;
a. Seja reconhecido o direito das pessoas com defi- c. A participação efetiva das pessoas com deficiência
ciência, em idade de contrair matrimônio, de casar-se e es- em uma sociedade livre.
tabelecer família, com base no livre e pleno consentimento 2. Para a realização deste direito, os Estados Partes
dos pretendentes; deverão assegurar que:
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
III. Garantia da livre expressão de vontade das pes- b. Assegurar que as pessoas com deficiência possam
soas com deficiência como eleitores e, para tanto, sempre organizar, desenvolver e participar em atividades esporti-
que necessário e a seu pedido, permissão para que elas se- vas e recreativas específicas para pessoas com deficiência
jam atendidas na votação por uma pessoa de sua escolha; e, para tanto, incentivarão a provisão de instrução, treina-
b. Promover ativamente um ambiente em que as mento e recursos adequados, em base de igualdade com
pessoas com deficiência possam participar efetiva e ple- as demais pessoas;
namente na condução das questões públicas, sem discri- c. Assegurar que as pessoas com deficiência tenham
minação e em igualdade de oportunidades com as demais acesso a locais de eventos esportivos, recreativos e turís-
pessoas, e encorajar sua participação nas questões públi- ticos;
cas, mediante: d. Assegurar que as crianças com deficiência possam,
I. Participação em organizações não-governamen- em base de igualdade com as demais crianças, participar
tais relacionadas com a vida pública e política do país, bem de jogos e atividades recreativas, esportivas e de lazer, in-
como nas atividades e na administração de partidos polí- clusive no sistema escolar; e
ticos; e e. Assegurar que as pessoas com deficiência tenham
II. Formação de organizações para representar pes- acesso aos serviços prestados por pessoas envolvidas na
soas com deficiência em níveis internacional, regional, na- organização de atividades recreativas, turísticas, esportivas
cional e local, e sua afiliação a tais organizações. e de lazer.
60
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
c. Facilitar a cooperação em pesquisa e acesso a co- Partes entre seus nacionais. Nestas sessões, cujo quorum
nhecimentos científicos e técnicos; e deverá ser de dois terços dos Estados Partes, os candidatos
d. Propiciar, segundo for apropriado, assistência téc- eleitos para o Comitê deverão ser aqueles que obtiverem o
nica e financeira, inclusive mediante facilitação do acesso, maior número de votos e a maioria absoluta dos votos dos
para compartilhamento, a tecnologias acessíveis e de apoio, representantes dos Estados Partes presentes e votantes.
bem como por meio de transferência de tecnologias. 6. A primeira eleição deverá ser realizada, o mais tar-
2. O disposto neste artigo não prejudica as obriga- dar, até seis meses após a data de entrada em vigor da pre-
ções de cada Estado Parte de cumprir com suas obrigações sente Convenção. Pelo menos quatro meses antes de cada
decorrentes da presente Convenção. eleição, o Secretário-Geral das Nações Unidas deverá dirigir
uma carta aos Estados Partes, convidando-os a submeter os
ARTIGO 33 - IMPLEMENTAÇÃO E MONITORAMENTO nomes de seus candidatos dentro de dois meses. O Secre-
NACIONAL. tário-Geral deverá, subseqüentemente, preparar uma lista
1. Os Estados Partes, de acordo com seu sistema or- em ordem alfabética de todos os candidatos apresentados,
ganizacional, deverão designar um ou mais de um ponto indicando que foram designados pelos Estados Partes, e
focal no âmbito do Governo para assuntos relacionados deverá submeter essa lista aos Estados Partes da presente
com a implementação da presente Convenção e deverão Convenção.
dar a devida consideração ao estabelecimento ou designa- 7. Os membros do Comitê deverão ser eleitos para
ção de um mecanismo de coordenação no âmbito do Go- um mandato de quatro anos. Eles deverão ser elegíveis para
verno, a fim de facilitar atividades correlatas nos diferentes a reeleição uma única vez. Contudo, o mandato de seis dos
setores e níveis. membros eleitos na primeira eleição deverá expirar ao fim
2. Todo Estado Parte, em conformidade com seus de dois anos; imediatamente após a primeira eleição, os
sistemas jurídico e administrativo, deverão manter, refor- nomes desses seis membros serão selecionados por sorteio
çar, designar ou estabelecer uma estrutura, inclusive um pelo presidente da sessão a que se refere o parágrafo 5 des-
ou mais de um mecanismo independente, segundo couber, te Artigo.
para promover, proteger e monitorar a implementação da 8. A eleição dos seis membros adicionais do Comitê
presente Convenção. Ao designar ou estabelecer tal meca- deverá ser realizada por ocasião das eleições regulares, de
nismo, os Estados Parte deverão levar em conta os prin- acordo com as disposições pertinentes deste Artigo.
cípios relativos ao status e funcionamento das instituições 9. Em caso de morte, demissão ou declaração de um
nacionais de proteção e promoção dos direitos humanos.
membro de que, por algum motivo, não poderá continuar a
3. A sociedade civil e, particularmente, as pessoas
exercer suas funções, o Estado Parte que o tiver indicado de-
com deficiência e suas organizações representativas deve-
verá designar um outro perito que tenha as qualificações e
rão ser envolvidas e participar plenamente no processo de
satisfaça aos requisitos estabelecidos pelos dispositivos per-
monitoramento.
tinentes deste Artigo, para concluir o mandato em questão.
10. O Comitê deverá estabelecer as próprias normas de
ARTIGO 34 - COMITÊ DOS DIREITOS DAS PESSOAS
procedimento.
COM DEFICIÊNCIA.
11. O Secretário-Geral das Nações Unidas deverá pro-
1. Um Comitê sobre os Direitos das Pessoas com De-
ficiência (doravante denominado simplesmente “Comitê”) ver o pessoal e as instalações necessários para o efetivo de-
deverá ser estabelecido, para desempenhar as funções aqui sempenho das funções do Comitê ao amparo da presente
estabelecidas. Convenção e deverá convocar sua primeira reunião.
2. O Comitê deverá ser composto, quando da entrada 12. Com a aprovação da Assembléia Geral, os membros
em vigor da presente Convenção, por 12 peritos. Quando a do Comitê estabelecidos sob a presente Convenção deverão
presente Convenção alcançar 60 ratificações ou adesões, o receber emolumentos dos recursos das Nações Unidas sob
Comitê será acrescido por seis membros, perfazendo um termos e condições que a Assembléia possa decidir, tendo
total de 18 membros. em vista a importância das responsabilidades do Comitê.
3. Os membros do Comitê deverão atuar a título pes- 13. Os membros do Comitê deverão ter direito aos pri-
soal e deverão apresentar elevada postura moral e com- vilégios, facilidades e imunidades dos peritos em missões
petência e experiência reconhecidas no campo abrangido das Nações Unidas, em conformidade com as disposições
pela presente Convenção. Ao designar seus candidatos, os pertinentes da Convenção sobre Privilégios e Imunidades
Estados Partes são instados a dar a devida consideração ao das Nações Unidas.
disposto no Artigo 4.3 da presente Convenção.
4. Os membros do Comitê deverão ser eleitos pelos ARTIGO 35 - RELATÓRIOS DOS ESTADOS PARTES.
Estados Partes, observando-se uma distribuição geográfica 1. Cada Estado Parte deverá submeter, por intermé-
equitativa, representação de diferentes formas de civiliza- dio do Secretário-Geral das Nações Unidas, um relatório
ção e dos principais sistemas jurídicos, representação equi- abrangente sobre as medidas adotadas em cumprimento de
librada de gênero e participação de peritos com deficiência. suas obrigações ao amparo da presente Convenção e sobre
5. Os membros do Comitê deverão ser eleitos por vo- o progresso alcançado neste aspecto, dentro de dois anos
tação secreta em sessões da Conferência dos Estados Partes, após a entrada em vigor da presente Convenção para o Es-
a partir de uma lista de pessoas designadas pelos Estados tado Parte pertinente.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
2. Depois disso, os Estados Partes deverão submeter ARTIGO 38 - RELAÇÕES DO COMITÊ COM OUTROS ÓRGÃOS.
relatórios subseqüentes pelo menos a cada quatro anos ou A fim de fomentar a efetiva implementação da presente
quando o Comitê o solicitar. Convenção e de incentivar a cooperação internacional na
3. O Comitê deverá determinar as diretrizes aplicá- esfera abrangida pela presente Convenção:
veis ao teor dos relatórios. a. As agências especializadas e outros órgãos das Na-
4. Um Estado Parte que tiver submetido ao Comitê ções Unidas deverão ter o direito de se fazer representar
um relatório inicial abrangente, não precisará, em relató- quando da consideração da implementação de disposições
rios subseqüentes, repetir informações já apresentadas. da presente Convenção que disserem respeito aos seus res-
Ao elaborar os relatórios ao Comitê, os Estados Partes são pectivos mandatos. O Comitê poderá convidar as agências
instados a fazê-lo de maneira franca e transparente e a le- especializadas e outros órgãos competentes, segundo jul-
var em devida conta o disposto no Artigo 4.3 da presente gar apropriado, a oferecer consultoria de peritos sobre a
Convenção. implementação da Convenção em áreas pertinentes a seus
5. Os relatórios poderão apontar os fatores e as difi- respectivos mandatos. O Comitê poderá convidar agências
culdades que tiverem afetado o cumprimento das obriga- especializadas e outros órgãos das Nações Unidas a apre-
ções decorrentes da presente Convenção. sentar relatórios sobre a implementação da Convenção em
áreas pertinentes às suas respectivas atividades;
ARTIGO 36 - CONSIDERAÇÃO DOS RELATÓRIOS. b. No desempenho de seu mandato, o Comitê deverá
1. Os relatórios deverão ser considerados pelo Comi- consultar, se apropriado, outros órgãos pertinentes instituí-
tê, que deverá fazer as sugestões e recomendações gerais dos ao amparo de tratados internacionais de direitos huma-
que julgar pertinentes e deverá transmiti-las aos respecti- nos, a fim de assegurar a consistência de suas respectivas
vos Estados Partes. O Estado Parte poderá responder, for- diretrizes para a elaboração de relatórios, sugestões e reco-
necendo ao Comitê as informações desejadas. O Comitê mendações gerais e de evitar duplicação e superposição no
poderá pedir informações adicionais aos Estados Partes, desempenho de suas funções.
concernentes à implementação da presente Convenção.
ARTIGO 39 - RELATÓRIO DO COMITÊ.
2. Caso um Estado Parte se atrase consideravelmen-
A cada dois anos, o Comitê deverá submeter à Assem-
te em submeter um relatório, o Comitê poderá notificá-lo
bléia Geral e ao Conselho Econômico e Social um relatório de
sobre a necessidade de verificar a implementação da pre-
suas atividades e poderá fazer sugestões e recomendações
sente Convenção pelo Estado Parte, com base em informa-
gerais baseadas no exame dos relatórios e nas informações
ções disponíveis ao Comitê, se o relatório em questão não
recebidas dos Estados Partes. Estas sugestões e recomen-
for submetido dentro de três meses após a notificação. O
dações gerais deverão ser incluídas no relatório do Comitê,
Comitê deverá convidar o Estado Parte a participar desta
acompanhadas, se houver, de comentários dos Estados Partes.
verificação. Se o Estado Parte responder, apresentando o
relatório em questão, aplicar-se-á o disposto no parágrafo ARTIGO 40 - CONFERÊNCIA DOS ESTADOS PARTES.
1 deste Artigo. 1. Os Estados Partes deverão reunir-se regularmente
3. O Secretário-Geral das Nações Unidas deverá dis- em uma Conferência dos Estados Partes a fim de considerar
ponibilizar os relatórios a todos os Estados Partes. matérias relativas à implementação da presente Convenção.
4. Os Estados Partes deverão tornar seus relatórios 2. No mais tardar, seis meses após a entrada em vigor
amplamente disponíveis ao público em seus países e facili- da presente Convenção, a Conferência dos Estados Partes
tar o acesso às sugestões e recomendações gerais a respei- deverá ser convocada pelo Secretário-Geral das Nações
to de tais relatórios. Unidas. As reuniões subseqüentes deverão ser convocadas
5. O Comitê deverá transmitir os relatórios dos Esta- pelo Secretário-Geral das Nações Unidas a cada dois anos
dos Partes, caso julgue apropriado, às agências e aos fun- ou conforme decisão da Conferência dos Estados Partes.
dos e programas especializados das Nações Unidas e a ou-
tros organismos competentes, para que possam considerar ARTIGO 41 - DEPOSITÁRIO.
pedidos ou indicações da necessidade de consultoria ou O Secretário-Geral das Nações Unidas deverá ser o de-
assistência técnica, constantes nos relatórios, acompanha- positário da presente Convenção.
dos de eventuais observações e recomendações do Comitê
a respeito de tais pedidos ou indicações. ARTIGO 42 - ASSINATURA.
A presente Convenção deverá ser aberta à assinatura
ARTIGO 37 - COOPERAÇÃO ENTRE OS ESTADOS PAR- por todos os Estados e por organizações de integração re-
TES E O COMITÊ. gional na sede das Nações Unidas em Nova York a partir de
1. Cada Estado Parte deverá cooperar com o Comitê 30 de março de 2007.
e auxiliar seus membros no desempenho de seu mandato.
2. Em suas relações com os Estados Partes, o Comitê ARTIGO 43 - CONSENTIMENTO EM OBRIGAR-SE.
deverá dar a devida consideração aos meios e modos de A presente Convenção deverá ser submetida à ratifica-
aprimorar as capacidades nacionais para a implementação ção pelos Estados signatários e à confirmação formal por
da presente Convenção, inclusive mediante cooperação in- organizações de integração regional signatárias. Ela deverá
ternacional. ser aberta à adesão por qualquer Estado ou organização de
integração regional que não a houver assinado.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
c. A mesma matéria já foi examinada pelo Comitê ou 4. Dentro de seis meses após o recebimento das con-
tem sido ou está sendo examinada sob um outro procedi- clusões, comentários e recomendações transmitidas pelo
mento de investigação ou resolução internacional; Comitê, o Estado Parte em questão submeterá suas obser-
d. Não foram esgotados todos os recursos domésti- vações ao Comitê.
cos disponíveis. Esta não deve ser a regra se a aplicação dos 5. A referida investigação será realizada confidencial-
recursos estiver demorando injustificadamente ou se ela mente e a cooperação do Estado Parte será solicitada em to-
provavelmente não trará solução efetiva; das as fases do processo.
e. A comunicação estiver precariamente fundamen-
tada ou não for suficientemente substanciada; ou ARTIGO 7.
f. Os fatos, objeto da comunicação, ocorreram antes 1. O Comitê poderá convidar o Estado Parte em ques-
da entrada em vigor do presente Protocolo para o Estado tão a incluir em seu relatório, submetido em conformidade
Parte em apreço, salvo se os fatos continuaram ocorrendo com o disposto no artigo 35 da Convenção, pormenores a
após aquela data. respeito das medidas tomadas em conseqüência da investi-
gação realizada em conformidade com o artigo 6 do presen-
ARTIGO 3. te Protocolo.
Sujeito ao disposto no Artigo 2 do presente Protoco- 2. Caso necessário, o Comitê poderá, encerrado o pe-
lo, o Comitê deverá levar ao conhecimento do Estado Parte ríodo de seis meses a que se refere o parágrafo 4º do artigo
pertinente toda comunicação confidencialmente submeti- 6 acima, convidar o Estado Parte em questão a informá-lo a
da a ele. Dentro de seis meses, o Estado pertinente deverá respeito das medidas tomadas em consequência da referida
submeter ao Comitê explicações ou declarações por escrito, investigação.
esclarecendo a matéria e a eventual solução adotada pelo
referido Estado. ARTIGO 8.
Todo Estado Parte poderá, quando da assinatura ou ra-
ARTIGO 4. tificação do presente Protocolo ou de sua adesão a ele, de-
1. A qualquer momento após receber uma comuni- clarar que não reconhece a competência do Comitê, a que se
cação e antes de determinar seus méritos, o Comitê pode- referem os Artigos 6 e 7.
rá transmitir ao Estado Parte pertinente, para sua urgente
consideração, um pedido para que o Estado Parte tome as ARTIGO 9.
medidas provisórias que forem necessárias para evitar pos- O Secretário-Geral das Nações Unidas deverá ser o de-
síveis danos irreparáveis à vítima ou às vítimas da violação positário do presente Protocolo.
alegada.
2. Caso o Comitê exerça discrição ao amparo do pa- ARTIGO 10.
rágrafo 1 deste Artigo, isso não implicará determinação so- O presente Protocolo deverá ser aberto à assinatura dos
bre a admissibilidade ou sobre os méritos da comunicação. Estados e organizações de integração regional signatários da
Convenção, na sede das Nações Unidas em Nova York, a par-
ARTIGO 5. tir de 30 de março de 2007.
O Comitê deverá realizar sessões fechadas para exami-
nar comunicações a ele submetidas em conformidade com ARTIGO 11.
o presente Protocolo. Depois de examinar uma comunica- O presente Protocolo deverá estar sujeito à ratificação
ção, o Comitê deverá enviar suas sugestões e recomenda- pelos Estados signatários do presente Protocolo que tiverem
ções, se houver, ao Estado Parte pertinente e ao requerente. ratificado a Convenção ou aderido a ela. Ele deverá estar su-
jeito à confirmação formal por organizações de integração
ARTIGO 6. regional signatárias do presente Protocolo que tiverem for-
1. Caso receba informação confiável de que um Es- malmente confirmado a Convenção ou a ela aderido. Deve-
tado Parte está cometendo violação grave ou sistemática rá ficar aberto à adesão de qualquer Estado ou organização
de direitos estabelecidos na Convenção, o Comitê convida- de integração regional que tiver ratificado ou formalmente
rá o referido Estado Parte a colaborar com a verificação da confirmado a Convenção ou a ela aderido e que não tiver
informação e, para tanto, a submeter suas observações a assinado o Protocolo.
respeito da informação em pauta.
2. Levando em conta as eventuais observações sub- ARTIGO 12.
metidas pelo Estado Parte em questão, bem como quais- 1. “Organização regional de integração” deverá ser
quer outras informações confiáveis em seu poder, o Comitê entendida como uma organização constituída por Estados
poderá designar um ou mais de um de seus membros para soberanos de uma determinada região, à qual seus Esta-
realizar uma investigação e submeter-lhe urgentemente um dos membros tenham delegado competência sobre matéria
relatório. Caso se justifique e o Estado Parte consinta, a in- abrangida pelo presente Protocolo. Tais organizações deve-
vestigação poderá incluir uma visita a seu território. rão declarar, em seus documentos de confirmação ou adesão
3. Após examinar as conclusões de tal investigação, formal, o alcance de sua competência em relação de matéria
o Comitê comunicará essas conclusões ao Estado Parte em abrangida pela Convenção e pelo presente Protocolo. Subse-
questão, acompanhadas de eventuais comentários e reco- qüentemente, elas deverão informar ao depositário qualquer
mendações. alteração substancial no alcance de sua competência.
64
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O tema proposto nesse artigo busca esclarecer a histó- A DIVERSIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR
ria de lutas do povo negro e indígena, desmistificar o pre- O Brasil é um país socialmente falando diverso somos
conceito na nossa sociedade por meio do reconhecimento vários povos em uma só nação, índios, brancos, negros, es-
do negro como edificador e parte integrante da gênese do trangeiros vindos de várias partes do mundo convivendo
Brasil. Com esse propósito objetivamos saber como cur- nesse emaranhado de culturas, resultando assim em uma
sa a implementação da lei 10.639/2003 elaborada pelo grande miscigenação. De acordo com Gomes (2008, p.70):
movimento negro que institui história e cultura Africana, Em uma sociedade multirracial e pluricultural, como é
Afro-brasileira nos currículos escolares das séries iniciais o caso do Brasil, não podemos mais continuar pensando a
das escolas públicas e particulares. A problemática desse cidadania e a democracia sem considerar a diversidade e o
trabalho fundamenta-se em fazer uma análise a cerca da tratamento desigual historicamente imposto aos diferentes
implementação da referida lei na escola pública por meio grupos sociais e étnico-raciais.
de pesquisa de campo baseado no viés “compreensivista” Então a discussão sobre diversidade não deve reduzir-
e na abordagem qualitativa está pesquisa encontra-se em se apenas a um conceito de igualdade, pois esse compor-
andamento. Para esse estudo instrumentalizamos as teo- tamento deu origem a uma forma de preconceito negado
rias de autores de GOMES (2010), CANDAU (2008), ABRA- tornado-se assim mais difícil o reconhecimento dessa plu-
MOWICZ (2008), LARAIA (2004), dentre outros. ralidade. Pois uma das formas de segregação de indivíduos,
que perduraram ao longo da história de composição da
A DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL nação foi as referentes às questões raciais ligadas princi-
A DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL EM UM PAÍS MULTI- palmente a cor da pele. Nesse sentido Candau (2005, p.19)
CULTURAL. afirma que: Não se deve contrapor igualdade a diferença.
Devemos partir da premissa que nos mostra o signi- “De fato, a igualdade não está oposta a diferença, e sim
ficado do conceito de diversidade, refere-se a variedades, à desigualdade, e diferença não se opõem a igualdade, e
diferenças, que estão presentes em nossa sociedade de sim a padronização, a produção em série, à uniformidade,
forma bem delineada na variabilidade de raça, opção se- a sempre o “mesmo”, a mesmice”.
Isto é, através do conhecimento das desigualdades
xual, culto religioso, cultura e padrões socioeconômicos
raciais e dos problemas enfrentados as discussões destas
que existem em um país pluricultural e pluriétnico, como
tornará menos complexa, pois a construção da identidade
é o Brasil. De acordo com Abramowick (2006 apud Saraiva
racial desvelará este estereótipo do negro ligado sempre
(2012) a diversidade pode significar variedade, diferença,
a um ser marginalizado. Como frisa Bento (2011,p.99), “A
multiplicidade. A diferença é que torna especial o que é
complexidade do ser negro em uma sociedade em que
diferente; o que diferencia uma coisa da outra, a falta de
essa condição aparece associada a pobreza, inferioridade,
igualdade ou semelhança. Isto é, podemos afirmar que
incompetência, feiura, atraso cultural tornam a construção
onde a diversidade existe diferenças.
da identidade racial dos negros e negras um grande desa-
A diversidade cultural refere-se a uma quantidade va- fio.”
riada de grupos humanos e estes que advém de múltiplas Quer-se dizer, a edificação desses estereótipos com re-
culturas que precisão ser conhecidas e estudadas. Como lação aos Afrodescendentes deu origem ao racismo. Mas o
assegura Vera Maria Candau (2008, p.26). que é racismo? É a defesa da superioridade de certos gru-
Tendemos a uma visão homogeneizadora e estereoti- pos étnicos ou Culturas, que de forma oculta torna-se um
pada de nós mesmos, em que nossa identidade cultural é pensamento social nesse sentido foram criadas as raças e
muitas vezes vista como um dado “natural”. Desvelar esta de acordo com as características de cada individuo deno-
realidade e favorecer uma visão, dinâmica, contextualiza- mina-se a qual raça pertence. Hoje é comprovado cientifi-
da e plural das nossas identidades culturais é fundamental, camente que elas não existem somos todos pertencentes
articulando-se a dimensão pessoal e coletiva destes pro- de uma mesma espécie a humana quando se fala em dife-
cessos. renças de povos podemos nos referir no máximo a grupos
A conscientização da reconstrução histórica de nos- humanos diferenciados.
sas identidades culturais é de relevante importância nesse O preconceito racial é produto do racismo, sócio e
processo de desvelar a homogeneização que se criou em historicamente construídos, ou seja, não conheço e dou o
relação as diferenças que constituem a nossa nação. Pois julgamento que acho ser coerente. E no Brasil vai de acor-
através da admissão das especificidades de cada pessoa, do com as aparências quanto mais característica da matriz
cidades e grupo humano é possível valorizar e respeitar, africana trouxer consigo maior será a discriminação que é
por meio de dinamismo nas práticas educativas. Como as- diferente do preconceito norte-americano que não impor-
sinala Candau (2008, p.26): ta se o número de características brancas for maior do que
Ser conscientes de nossos enraizamentos culturais, dos as negras se houver sangue negro já é fator exclusão.
processos de hibridização e de negação e silenciamento de “Nosso preconceito racial atém-se mais ás aparências,
determinadas pertencimentos culturais, sendo capazes de ás marca fenóticas quanto mais traços físicos negros, mais
reconhecê-los constitui um exercício fundamental. problemas, diferente do preconceito de origem, norte-a-
mericano, em que uma gota de sangue negro é fator de
exclusão, independente de a pessoa ter mais traços bran-
cos do que negro.”
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Joel Araujo Zito, cineasta. (revista USP, n°69, p.75, mar/ O comportamento cultural fez do homem um ser so-
maio 2006) E para que não reafirmemos esse comporta- cial e muitos autores dedicaram seus estudos a entender
mento racista que exclui os negros e os demais grupos sobre o nascimento da cultura e sua importância na vida.
formadores de nossa nação que encontram-se a margem, “LÉVI-STRAUSS (1976 apud LARAIA (2004) frisa que “a cul-
necessita-se cada vez mais da nossa conscientização e esta tura surgiu no momento em que se instituiu a primeira
ocorrerá através do conhecimento da história de nossos regra segundo ele está seria a proibição do incesto, pa-
antepassados que é essencial no reconhecer-se como parte drão de comportamento comum a todas as sociedades
integrante de determinado grupo social e no compor de humanas.”
nossa identidade racial A estruturação da identidade racial Ou seja, e a partir do aprimoramento das regras e nor-
é um processo de importância impar, pois significa aquilo mas delineou-se a identidade de cada comunidade, torna-
que somos e “deste modo está vai sendo constituída ao do alguns símbolos presentes e aceito no modo de vida
longo da vida, em meio às interações e identificações com de uma sociedade e ilícita em outra. E, com efeito, LARAIA
diferentes pessoas grupos que convivemos socialmente e diz: (2004, p.55)
vamos criando elos com essa multiplicidade de indivíduos” “Como, por exemplo, a cor preta significa luto entre
(MOREIRA,2008). Reconhecer-se como negro, pois a infor- nós e entre os chineses é o branco que exprime esse sen-
mação e consolidação das raízes de sua identidade cultural timento.”
definirão o posicionamento de suas concepções sobre as Por conseguinte é primordial ao analisar uma cultu-
questões que norteiam esse reconhecimento. No que se ra e entender sua essência e símbolos para depois deste
refere á construção da identidade racial Bento (2011,p.99) discorremos sobre um posicionamento crítico, pois os se-
salienta: res humanos que habitam determinada comunidade vive
As experiências de vida dos negros com o patrimônio de acordo com os preceitos desta e consequentemente
cultural de seu grupo e com o do “outro”, do grupo branco, molda-se ao seus ritos, valores, comportamentos. E neste
o grau de miscigenação e a presença de traços negróides sentido corrobora LARAIA (2004, p. 57) “é de importância
em seu fenótipo, as experiências de discriminação racial fundamental para o nosso ponto de vista sobre a natureza
que vivenciou, a consciência de seus direitos enquanto
do homem que se torna, assim, não apenas o produtor da
povo fundante do Brasil, estão entre os elementos centrais
cultura, mas também, num sentido especificamente bioló-
que definirão a maneira como vai reconhecer ou não.
gico, o produto da cultura”.
Desta forma fica evidente que o conhecimento dos su-
Contudo cultura está estritamente ligado com a dis-
jeitos sobre a história cultural e étnica de seus antepassados
cussão de manifestação da diversidade dos grupos hu-
é de essencial relevância, uma vez que inibem a existência
manos e por meio desta o conhecimento e afirmação de
do preconceito mesmo por que o processo de edificação
cada sujeito tal como é torna-se possível, do contrário a
de nossa identidade racial faz com que a questionemos e
consciência cultural hoje no Brasil tende a homogeneizar
junto dela os fatores sociais que rodeiam, já que está não
é estática vive em constante mudança. De tal modo (SILVA, os indivíduos em um modelo estereotipado.
2000) citado por (MORREIRA, 2008) diz: “Nossa identidade, “O que tenho constatado é a pouca consciência que
assim, não é uma essência, não é um dado, não é fixa, não em geral temos destes processos e do cruzamento de
é estável, nem centrada, nem unificada, nem homogênea, culturas presente neles. Tendemos a uma visão homoge-
nem definitiva. neizadora e estereotipada de nos mesmos, em que nossa
É uma construção, um efeito, um processo de produ- identidade cultural é muitas vezes vista como um dado
ção, um ato performativo”. “ natural”. Desvelar esta realidade e favorecer uma visão
dinâmica, contextualizada e plural das nossas identidades
CULTURA E DIVERSIDADE NO ESPAÇO ESCOLAR culturais é fundamental. ”. (CANDAU, 2008, p 26).
Cultura tem um conceito muito amplo que está ligada A discussão sobre diversidade cultural deve ser feita
a vida em sociedade a relação dos sujeitos no decorrer des- no espaço escolar, pois este é um espaço de conflito já que
sa vivência e ao conjunto de símbolos que emanam desta, é o local onde toda esta pluralidade cultural se encontra,
definindo o modo de agir dos seres de acordo com a so- e a melhor forma para desmistificar esses preconceitos é
ciedade em que reside. E assim assimila WHITE (1955 apud questionando, estudando, pesquisando e conhecendo os
LARAIA (2004,p.55) grupos humanos formadores de nossa nação. Porque an-
Todo comportamento humano se origina no uso de tes de tudo esse é um processo de conhecimento onde
símbolos. Foi o símbolo que transformou nossos ancestrais devemos propor aos nossos alunos investigar, rever, re-
antropóides em homens e fê-los humanos. Todas as civili- construir e entender sobre uma cultura que é de todos. E
zações se espalharam e perpetuaram somente pelo uso de nesse sentido que aparece nas diretrizes curriculares na-
símbolos... . Toda cultura depende de símbolos. É o exercí- cionais.
cio da faculdade de simbolização que cria a cultura e o uso “Questionem relações ético-raciais baseadas em pre-
de símbolos que torna possível a sua perpetuação. Sem o conceitos que desqualifiquem os negros e salientem es-
símbolo não haveria cultura, e o homem seria apenas ani- tereótipos depreciativos, palavras, atitudes que velada ou
mal, não um ser humano. explicitamente violentas, expressão sentimentos de supe-
...O comportamento humano é o comportamento sim- rioridade em relação aos negros, próprios de uma socieda-
bólico. de hierárquica e desigual” (Diretrizes, 2005, p. 12)
67
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A abordagem sobre as diferenças tem que ser um as- A criança é um ser pré-moldado que é aperfeiçoado
sunto exercitado no cotidiano escolar, pois a desconstrução a partir da convivência no universo em que esta inserida
do comportamento racista deve acontecer através da dis- e este é formado por vários segmentos e a escola é um
cussão e do conhecimento, ao invés de silenciamento por destes que muitas vezes torna-se omissa diante de atitudes
que optando por essa prática compactuamos com a dis- racistas, no entanto nos como professores parte integran-
seminação deste problema social. Podendo também desse te do processo de aprendizagem das crianças devemos a
modo construir uma formação educacional cada vez mais cada dia repensarmos nossa prática para não reafirmar ati-
social que situe o educando como sujeito de sua realidade. tudes discriminatórias como pontua (Abramowicz, Oliveira
Como aponta (GOMES E SILVA, 2005) e Rodrigues,2010:p.85)
“Inserir essa complexa problemática na abordagem do Podemos concluir que as crianças, aos 4 anos de idade,
cotidiano escolar exige que seja repensada uma nova con- já passaram por processos de subjetivação que as levaram
cepção de formação educacional. a concepções já tão arraigados no nosso imaginário social
Em que o profissional de educação seja visto como su- sobre o branco e o negro e conseqüentemente sobre as
jeito sociocultural do processo educacional, ou seja, aquele positividades e negatividades atribuídas a um e outro gru-
que atribui sentido a sua existência através de suas refe- po racial.
rências e do espaço que está inserido além da instituição Portanto é muito importante que a escola esteja bem
escolar”. instruída para essas questões da discussão e instrução so-
Pois o campo educacional é abrangente, educar exige a bre a diversidade seja de gênero, étnico-racial, religiosa ou
participação dos pais da escola da comunidade que acerca de sexo, desmistificando estereótipos, pois este é o primei-
e além de tudo dos acontecimentos globais, sociais, polí- ro contato social da criança com a pluralidade cultural que
ticos e culturais. De acordo com Gomes e Silva (2005,p.18) existe ao seu redor.
A educação escolar, entendida com parte constituinte
do processo de humanização, socialização e formação, tem CONSIDERAÇÕES FINAIS
pois, de estar associada aos processos culturais, á constru- A diversidade étnico-racial que o Brasil possui é a sua
ção das identidades de gênero, de raça, de idade, de esco- identidade, por isso é de pertinente valor que aprenda-
lha sexual, entre outros. mos a conviver com a diversidade, conhecendo e discutin-
E nesse processo de inserção de novas práticas educa- do e acima tudo respeitando, pois o reconhecer-se como
tivos todos os sujeitos que compõe a comunidade escolar pertencente a um grupo sem preconceitos e de essencial
necessitam estar cientes sobre o contexto da diversidade importância para que mostremos uma sociedade livre e
e reconhecer-se como transformadores da sociedade que consciente. Tendo como primeiro passo desconsidera a
conseguem identificar a diferença não como um problema diversidade com sinônimo de igualdade assumindo que
mais como parte da humanização dos indivíduos. Eassim todos nos temos particularidade e que a ideia de homoge-
Gomes e Silva (2005,p.18) asseguram: neização da sociedade e no mínimo enganadora, pois o ser
A sociedade brasileira é pluriétnica e pluricultural. Alu- humano nunca vai ser enquadra em um padrão.
nos, professores e funcionários de estabelecimentos de Contudo cada grupo social tem sua cultura e com esta
ensino são, antes de mais nada sujeitos sociais – homens seus costumes, regras e comportamentos dotados de par-
e mulheres, crianças, adolescentes, jovens e adultos, per- ticularidades e assim sendo a cultura é sim responsável
tencentes a diferentes grupos étnico-raciais, integrantes de pela formação da personalidade do indivíduo constituin-
distintos grupos sociais. São sujeitos com histórias de vida, do seres diversos que também são preceptores de culturas
representações, experiências, identidades, crenças, valores ímpares.
e costumes próprios que impregnam os ambientes edu- A escola é o principal instrumento nesse processo, pois
cacionais por onde transitam com suas particularidades e e responsável pelo primeiro contato social do ser humano
semelhanças, compondo o contexto da diversidade. então tem que está preparada para receber, integrar e tra-
A diversidade étnico–cultural é um assunto que deve balhar as diversidades tornado a formação social da criança
fazer parte dos currículos escolares, pois notam-se atitudes multicultural e pluriétinica, pois, esta é responsável por um
segregatórias das crianças, é necessário que ensinemos e desenvolvimento livre para que se construa um cidadão
aprendamos a conviver com as diferenças respeitando-as, consciente da realidade em que vive e essa constituição
pois todos temos direitos iguais perante a sociedade, so- é de essencial importância e tem que ser executada com
mos um país de muitas etnias, cores e cultos e essas diver- maestria pela escola, pois este é um espaço de conflitos
sidades estão presentes em nosso dia-a-dia. que devem ser discutida, construídos e refeitos com ins-
Por isso devemos prestar mais atenção de que forma truções que desmistifiquem estereótipos e a lei 10639/03 é
o ambiente em que a criança vive a influencia nas suas um recurso muito rico nesse processo, pois informa o aluno
opiniões, pois é fato que crianças entre quatro e seis anos e o professor e a comunidade em geral.17
se espelham nos comportamentos dos adultos com quem
convive. Isto é, “a criança absorve papéis e atitudes dos
outros, isto é, interioriza-os, tornando-os seus. Por meio
desta identificação, ela torna-se capaz de identificar a si
mesma, de adquirir uma identidade subjetivamente coe- 17 Fonte: www.editorarealize.com.br – Por Rayssa Mar-
rente e plausível.” (BERGER,1994 ) tins Alves
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(VI) direito de herdar; 3. A primeira eleição será realizada seis meses após a
(VII) direito à liberdade de pensamento, de consciência data da entrada em vigor da presente Convenção. O Secre-
e de religião; tário-Geral das Nações Unidas enviará uma carta aos Esta-
(VIII) direito à liberdade de opinião e de expressão; dos Partes, com uma antecedência de no mínimo três meses
(IX) direito à liberdade de reunião e de associação pa- antes da data de cada eleição, convidando-os a apresenta-
cíficas; rem seus candidatos no prazo de dois meses. O Secretário-
e) direitos econômicos, sociais e culturais, nomeada- Geral preparará uma lista, em ordem alfabética, de todos os
mente: candidatos assim nomeados, indicando os Estados Partes
(I) direitos ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a que os nomearam, e a comunicará aos Estados Partes.
condições equitativas e satisfatórias de trabalho, à prote- 4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma
ção contra o desemprego, a um salário igual para um tra- reunião dos Estados Partes convocada pelo Secretário-Ge-
balho igual, a uma remuneração eqüitativa e satisfatória; ral na sede das Nações Unidas. Nessa reunião, em que o
(II) direito de fundar sindicatos e de filiar-se a eles; quorum será alcançado com dois terços dos Estados Partes,
(III) direito à habitação; serão eleitos membros do Comitê os candidatos que obtive-
(IV) direito à saúde, a cuidados médicos, à previdência rem o maior número de votos e a maioria absoluta dos votos
social e aos serviços sociais; dos representantes dos Estados Partes presentes e votantes.
(V) direito à educação e à formação profissional;(vi) di- 5. a) Os membros do Comitê serão eleitos por quatro
reito a igual participação nas atividades culturais; anos. Todavia, o mandato de nove dos membros eleitos na
f) direito de acesso a todos os lugares e serviços desti- primeira eleição expirará ao fim de dois anos; imediatamen-
nados ao uso público, tais como meios de transporte, ho- te após a primeira eleição, o Presidente do Comitê sorteará
téis, restaurantes, cafés, espetáculos e parques. os nomes desses nove membros.
b) Para preencher as vagas fortuitas, o Estado Parte cujo
Artigo VI perito deixou de exercer suas funções de membro do Comi-
Os Estados Partes assegurarão às pessoas que estive- tê nomeará outro perito dentre seus nacionais, sob reserva
rem sob sua jurisdição proteção e recursos eficazes perante da aprovação do Comitê.
6. Os Estados Partes suportarão as despesas dos mem-
os tribunais nacionais e outros órgãos do Estado compe-
bros do Comitê durante o período em que os mesmos exer-
tentes, contra todos os atos de discriminação racial que,
cerem suas funções.
contrariando a presente Convenção, violem os seus direitos
individuais e as suas liberdades fundamentais, assim como
Artigo IX
o direito de pedir a esses tribunais satisfação ou reparação,
1. Os Estados Partes comprometem-se a apresentar ao
justa e adequada, por qualquer prejuízo de que tenham
Secretário-Geral, para ser examinado pelo Comitê, um rela-
sido vítimas em virtude de tal discriminação. tório sobre as medidas de caráter legislativo, judiciário, ad-
ministrativo ou outras que tomarem para tornarem efetivas
Artigo VII as disposições da presente Convenção:
Os Estados Partes comprometem-se a tomar medidas a) no prazo de um ano, a contar da entrada em vigor da
imediatas e eficazes, sobretudo no campo do ensino, edu- Convenção para cada Estado em questão; e
cação, cultura e informação, para lutar contra preconcei- b) a partir de então, a cada dois anos e sempre que o
tos que conduzam à discriminação racial e para favorecer Comitê o solicitar.
a compreensão, a tolerância e a amizade entre nações e O Comitê poderá solicitar informações complementares
grupos raciais e étnicos, bem como para promover os ob- aos Estados Partes.
jetivos e princípios da Carta das Nações Unidas, da Decla- 2. O Comitê submeterá todos os anos à Assembléia Ge-
ração Universal dos Direitos Humanos, da Declaração das ral da Organização das Nações Unidas, por intermédio do
Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Secretário-Geral, um relatório sobre suas atividades e po-
Discriminação Racial e da presente Convenção. derá fazer sugestões e recomendações de ordem geral ba-
seadas no exame dos relatórios e das informações recebidas
PARTE II dos Estados Partes. Levará ao conhecimento da Assembléia
Artigo VIII Geral essas sugestões e recomendações de ordem geral,
1. Será constituído um Comitê para a Eliminação da juntamente com as observações dos Estados Partes, caso
Discriminação Racial (doravante denominado “o Comitê”) existirem.
composto por 18 peritos reconhecidos pela sua imparciali-
dade e alta estatura moral, que serão eleitos pelos Estados Artigo X
Partes dentre seus nacionais e exercerão suas funções a 1. O Comitê adotará seu regulamento interno.
título individual, levando-se em conta uma repartição geo- 2. O Comitê elegerá sua mesa diretora por um período
gráfica eqüitativa e a representação das distintas formas de dois anos.
de civilização, assim como dos principais sistemas jurídicos. 3. O Secretário-Geral das Organização das Nações Uni-
2. Os membros do Comitê serão eleitos, em escrutínio das fornecerá os serviços de secretaria ao Comitê.
secreto, de uma lista de candidatos designados pelos Esta- 4. O Comitê reunir-se-á normalmente na sede da Orga-
dos Partes. Cada Estado Parte poderá designar um candi- nização das Nações Unidas.
dato escolhido dentre seus nacionais.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
teressado junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas, que questões diretamente relacionadas com os princípios e ob-
enviará cópias aos outros Estados Partes. Uma declaração jetivos da presente Convenção e expressará sua opinião e
poderá ser retirada a qualquer momento através de notifi- apresentará recomendações sobre essas petições, quando
cação endereçada ao Secretário-Geral, mas tal retirada não examinar as petições dos habitantes dos territórios sob tu-
prejudicará as comunicações que já tenham sido estudadas tela ou sem governo próprio ou de qualquer outro territó-
pelo Comitê. rio a que se aplicar a Resolução 1.514 (XV) da Assembléia
4. O órgão criado ou designado nos termos do pará- Geral, relacionadas com questões incluidas na presente
grafo 2 do presente artigo deverá possuir um registro das Convenção e que sejam recebidas por esses órgãos.
petições, e todos os anos cópias autenticadas do registro b) O Comitê receberá dos órgãos competentes da Or-
serão entregues ao Secretário-Geral das Nações Unidas, ganização das Nações Unidas cópia dos relatórios referen-
pelas vias apropriadas, ficando entendido que o conteúdo tes às medidas de ordem legislativa, judiciária, administrati-
dessas cópias não será divulgado ao público. va ou outras que digam respeito diretamente aos princípios
5. Em não obtendo reparação satisfatória do órgão e objetivos da presente Convenção, que as potências admi-
criado ou designado nos termos do parágrafo 2 do presen- nistradoras tiverem aplicado nos territórios mencionados
te artigo, o peticionário terá o direito de dirigir uma comu- na alínea a). do presente parágrafo, e expressará opiniões e
nicação ao Comitê dentro do prazo de seis meses. fará recomendações a esses órgãos.
6. a) O Comitê levará as comunicações que lhe tenham 3. O Comitê incluirá em seus relatórios à Assembléia
sido endereçadas, confidencialmente, ao conhecimento do Geral um resumo das petições e dos relatórios que houver
Estado Parte que supostamente violou qualquer das dis- recebido de órgãos da Organização das Nações Unidas, as-
posições desta Convenção; todavia, a identidade da pes- sim como as opiniões e recomendações que tais petições e
soa ou dos grupos de pessoas interessadas não poderá ser relatórios houverem merecido de sua parte.
revelada sem o consentimento expresso dessa pessoa ou 4. O Comitê solicitará ao Secretário-Geral da Organiza-
grupos de pessoas. O Comitê não receberá comunicações ção das Nações Unidas o fornecimento de qualquer infor-
anônimas. mação relacionada com os objetivos da presente Conven-
b) Nos três meses seguintes, o referido Estado subme- ção de que ele dispuser sobre os territórios mencionados
terá, por escrito, ao Comitê, as explicações ou declarações na alínea a) no parágrafo 2 do presente artigo.
que esclareçam a questão e indicará, quando for o caso, as Artigo XVI
medidas corretivas que houver adotado. As disposições desta Convenção relativas às medidas
7. a) O Comitê examinará as comunicações, à luz de to- a serem adotadas para a solução de uma controvérsia ou
das as informações que lhe forem submetidas pelo Estado queixa serão aplicadas sem prejuízo de outros processos
Parte interessado e pelo peticionário. O Comitê não exami- para solução de controvérsias ou queixas no campo da
nará nenhuma comunicação de um peticionário sem ter-se discriminação previstos nos instrumentos constitutivos das
assegurado de que o mesmo esgotou todos os recursos Nações Unidas e suas agências especializada, ou em con-
internos disponíveis. Entretanto, esta regra não se aplicará venções adotadas por essas organizações, e não impedirão
se tais recurso excederem prazos razoáveis. os Estados Partes de recorrerem a outros procedimentos
b) O Comitê remeterá suas sugestões e recomenda- visando solucionar uma controvérsia de conformidade com
ções ao Estado Parte interessado e ao peticionário. os acordos internacionais gerais ou especiais pelos quais
8. O Comitê incluirá em seu relatório anual um resu- estejam ligados.
mo destas comunicações e, quando houver, também um
resumo das explicações e declarações dos Estados Partes PARTE III
interessados, assim como das suas próprias sugestões e re- Artigo XVII
comendações. 1. A presente Convenção ficará aberta à assinatura de
9. O Comitê somente terá competência para desempe- todos os Estados membros da Organização das Nações
nhar as funções previstas neste artigo se pelo menos dez Unidas ou membros de uma de suas agências especializa-
Estados Partes nesta Convenção estiverem obrigados por das, dos Estados Partes no Estatuto da Corte Internacional
declarações feitas nos termos do parágrafo 1 deste artigo. de Justiça, bem como dos Estados convidados pela Assem-
bléia Geral da Organização das Nações Unidas a serem
Artigo XV partes na presente Convenção.
1. Esperando a realização dos objetivos da Declara- 2. A presente Convenção estará sujeita a ratificação e
ção sobre a Concessão de Independência aos Países e aos os instrumentos de ratificação serão depositados junto ao
Povos Coloniais, contida na Resolução 1.514 (XV) da As- Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.
sembléia Geral da ONU, de 14 de dezembro de 1960, as
disposições da presente Convenção em nada restringem o Artigo XVIII
direito de petição concedido a esses povos por outros ins- 1. A presente Convenção estará aberta à adesão dos
trumentos internacionais ou pela Organização das Nações Estados mencionados no parágrafo 1 do artigo XVII.
Unidas ou suas agências especializadas. 2. A adesão será efetuada pelo depósito de um instru-
2. a) O Comitê, constituído nos termos do artigo VIII mento de adesão junto ao Secretário-Geral da Organização
desta Convenção, receberá cópia das petições provenien- das Nações Unidas.
tes dos órgãos das Nações Unidas que se ocuparem de
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18 Fonte: www.mpsp.mp.br
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Assim, a aprendizagem ao longo da vida desenvolve-se que seja conhecido o contexto de trabalho desses poten-
em espaços variados (muitas vezes em situações de traba- ciais participantes, porque toda organização tem uma iden-
lho ou tendo o trabalho como princípio), por meio de for- tidade própria. Cada posto de saúde, centro de atendimen-
mas distintas e sob a responsabilidade de vários e diferen- to, ambulatório ou hospital tem uma cultura própria, e as
tes protagonistas. relações e processos que lá ocorrem são únicos e devem ser
conhecidos e reconhecidos, ampliando, assim, as possibili-
Adesão voluntária dades de sucesso dos programas de formação.
As oportunidades de formação que profissionais rece-
bem no âmbito das suas relações de trabalho se constituem Avaliar e preservar a memória
em um ganho para o empregador, mas também podem ser Uma das políticas públicas mais importantes do Brasil
consideradas um ganho pessoal para os profissionais que é hoje desenvolvida no SUS. Decorrência da sua própria
participam. Nesse sentido, é muito importante que os pro- natureza essencial e do grande universo de beneficiários,
fissionais possam escolher livremente se querem ou não o é também por ser uma das mais bem-sucedidas ações
participar de um dado programa de formação. A sua adesão de descentralização de políticas públicas. Existem, natural-
voluntária possibilita um grau de compromisso que contri- mente, grandes problemas, mas, comparativamente com
bui, em grande medida, para um melhor aproveitamento outras políticas públicas – nos campos da educação ou da
e até mesmo para um melhor gerenciamento do progra- segurança, por exemplo –, é a que mais avançou. É de ex-
ma, na medida em que este, inevitavelmente, deverá exigir trema importância que as ações de formação desenvolvi-
dos seus participantes algum tipo de sacrifício pessoal, pelo das sejam objeto de permanente e contínua avaliação, pois
menos no que diz respeito ao tempo. A adesão voluntária só assim se consegue aprimorá-las.
dos participantes traduz um maior compromisso por parte Embora a avaliação não seja o tema central deste ar-
dos mesmos, fazendo com que eventuais sacrifícios sejam tigo, é necessário fazer algumas observações. Usualmente,
assimilados individualmente e não se transformem em pro- quando consideramos a avaliação no âmbito de situações
blemas coletivos. formativas, costumamos pensar na avaliação da aprendiza-
Assim, devemos sempre que possível evitar “convoca- gem dos participantes – isto é, se os indivíduos aprende-
ções” de funcionários para programas de formação. ram ou não. Embora esse seja um aspecto que obviamente
Os participantes potenciais devem, sim, ser informados merece ser considerado, é importante que a avaliação seja
da natureza, objetivo e das condições de desenvolvimento utilizada também em uma dimensão mais ampla. O apren-
do trabalho de formação e, sempre que possível, devem po- dizado, isto é, a incorporação de novas informações que
der escolher participar ou não. serão operadas adequadamente pelos participantes do
programa, tendo em vista uma mudança, é fundamental,
Conhecer a realidade dos participantes mas é importante que o olhar da avaliação examine as con-
Em um dos mais bonitos filmes do Claude Lelouch, Re- dições gerais que contribuem para que isso ocorra ou que,
tratos da Vida (Les Uns et les Autres), um dos personagens ao contrário, conspirem contra.
diz, a certa altura, que a vida são apenas quatro ou cinco É importante que, quando for possível, sejam desen-
histórias que se repetem. De fato, as histórias de vida são volvidos procedimentos de avaliação no decorrer do pro-
muito semelhantes e circunstâncias que fogem ao nosso grama, tendo em vista o seu aprimoramento ou correções
controle pleno acabam determinando um sem número de de rota. A avaliação contínua, através do olhar atento à re-
histórias parecidas. Entretanto, também é verdade que, de ceptividade dos formandos, permite que se alterem pontos
longe, muita coisa se parece, mas de perto podemos ver de programa e se avance com mais segurança na direção
que o que pareceu semelhante à distância, é muito diferen- das grandes metas e direções pretendidas na ação. Tam-
te de perto. bém é fundamental que seja previsto um momento final de
É extremamente provável que quem trabalha na saú- avaliação do trabalho realizado. Os instrumentos podem
de há algum tempo consiga identificar as causas de um ser variados: formulários preenchidos pelos participantes6,
sem número de problemas (de contaminação hospitalar uma roda de avaliação oral onde todos possam falar, ferra-
ao atendimento ao usuário do serviço, passando pela rela- mentas desenvolvidas para a WEB etc.
ção entre médicos e demais funcionários, entre outros), os Feita a avaliação, é muito importante que sejam pre-
quais podem ser resolvidos com relativa facilidade por meio servadas as memórias da ação formativa. Novos progra-
de programas de formação profissional em serviço. Não é mas de formação para grupos ou organizações específicas
difícil imaginarmos programas de formação ou cursos que devem ser desenvolvidos considerando o que já aconteceu
podem ser desenvolvidos em muitos lugares onde ocorre naquele espaço e com aqueles indivíduos.
uma determinada situação que precisa ser alterada. Entre- A memória dos eventos que já aconteceram serve para
tanto, embora os problemas sejam os mesmos ou muito alimentar as novas propostas elaboradas, e deve também
parecidos, os vetores que explicam a sua incidência podem ser apresentada aos participantes dos novos programas,
e costumam ser diferentes. É por isso muito importante que, de maneira que se tornem conscientes ou se relembrem
antes de implementar programas de formação ou cursos, os do que já viveram, e outros conheçam o que já aconteceu
seus responsáveis procurem “ouvir” com atenção as expli- naquela instituição ou naquele grupo do qual agora fazem
cações ou entendimentos que os potenciais participantes parte.
têm sobre a situação que deve ser alterada. É fundamental
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Apoiar, acolher...
As mudanças de práticas e procedimentos não são fáceis, espe- AÇÃO DA ESCOLA, PROTAGONISMO JUVENIL.
cialmente para adultos que vivem um tempo em que s mudanças são
aceleradas, sentindo ainda o peso da ignorância ao se confrontarem
com tecnologias consideradas por muitos banais. Equipamentos so-
fisticados e modernos são considerados superados em pouco tempo. A palavra protagonismo vem de “protos”, que em la-
Novos procedimentos são incorporados ao dia a dia de tim significa principal, o primeiro, e de “agonistes”, que quer
uma forma espantosamente rápida. Assim, quando os adultos dizer lutador, competidor. Este termo, muito utilizado pelo
são chamados a responder a novas necessidades e/ou práti- teatro para definir o personagem principal de uma encena-
cas, nem sempre se sentem confortáveis. É normal que isso ção, foi incorporado à Educação por Antonio Carlos Gomes
ocorra; afinal, também não tem sentido mudar apenas por- da Costa, educador mineiro que vem desenvolvendo uma
que os outros querem que mudemos. nova prática educativa com jovens.
A mudança, efetiva e ativa, só ocorre quando tem sentido para
Dentro da idéia de protagonismo juvenil proposta por
quem muda. Não ocorre mudança quando há submissão a uma
Gomes da Costa, o jovem é tomado como elemento central
ordem, mas sim quando há aceitação e compreensão do novo.
da prática educativa, que participa de todas as fases desta
Quando isso acontece, o novo passou a ter sentido para o indivíduo.
Além disso, o trabalho cotidiano nas organizações muitas prática, desde a elaboração, execução até a avaliação das
vezes conspira contra movimentos de mudanças. ações propostas. A idéia é que o protagonismo juvenil pos-
Não são raras as situações em que um determinado gru- sa estimular a participação social dos jovens, contribuindo
po encerra uma atividade de formação estimulado e disposto não apenas com o desenvolvimento pessoal dos jovens
a viver as mudanças necessárias, a experimentar novos cami- atingidos, mas com o desenvolvimento das comunidades
nhos. Entretanto, quando retorna às suas instituições ou aos em que os jovens estão inseridos. Dessa forma, segundo o
seus espaços de trabalho, as forças conservadoras e as relações educador, o protagonismo juvenil contribui para a formação
cotidianas instaladas vão, aos poucos, minando o entusiasmo de pessoas mais autônomas e comprometidas socialmente,
inicial e fazendo com que a descrença nas possibilidades de com valores de solidariedade e respeito mais incorporados,
mudança tomem corpo. O espaço institucional, regado pelas o que contribui para uma proposta de transformação social.
águas que podem fertilizar o campo para que práticas novas “Protagonismo juvenil é a participação do adolescente
possam brotar, vai secando, e o rio volta ao seu leito original, em atividade que extrapolam os âmbitos de seus interesses
deixando no seu rastro apenas restos de iniciativas que po- individuais e familiares e que podem ter como espaço a es-
deriam ser o início de promissoras mudanças, mas que, nessa cola, os diversos âmbitos da vida comunitária; igrejas, clu-
circunstância, são vistos apenas como coisas inúteis, entulhos. bes, associações e até mesmo a sociedade em sentido mais
Para ajudar a alimentar as forças de mudança, é importan- amplo, através de campanhas, movimentos e outras formas
te que os programas de formação incorporem alguns proce- de mobilização que transcendem os limites de seu entorno
dimentos que permitam um efetivo acolhimento e apoio aos sócio- comunitário ” (Costa, 1996:90)
seus participantes. Depois de um curso de formação profis- Antonio Carlos Gomes da Costa acredita que toda Edu-
sional que teve como objetivo oferecer aos seus participantes cação deva levar em conta duas perguntas básicas: Que
um novo arsenal de recursos e possibilidades, é fundamental tipo de homem se pretende formar e que tipo de sociedade
que esses participantes possam contar com um espaço pos- pretendemos construir? A primeira questão ele responde a
terior de apoio e acolhimento, uma interlocução que aconteça partir da reflexão sobre as principais características do sécu-
de tempos em tempos, a possibilidade de buscar ajuda ou lo XX, em que o mundo capitalista desenvolveu um homem
socializar informações e descobertas. Além de eventuais reen-
excessivamente autônomo e pouco solidário tendo o mun-
contros presenciais, os recursos da WEB são amplos e podem
do socialista desenvolvido o contrário.
ser utilizados de forma bastante criativa e estimulante. Mas é
Assim, ele acredita que, com as principais mudanças do
preciso que isso aconteça de fato, e que as próprias equipes
e atividades de formação reconheçam o quanto a mudança mundo atual, entre elas o final da separação entre os mun-
em situações instaladas é complexa, e o quanto esses profis- dos capitalista e socialista, nosso desafio seja exatamente
sionais precisam e demandam, mesmo depois das ações de formar um homem solidário e autônomo simultaneamente;
formação, apoio, incentivo, encorajamento e estímulo. que seja capaz de apreender as novas linguagens que sur-
É também importante que os responsáveis pelo desen- gem diariamente e ganhar espaços no disputado mercado
volvimento de programas de formação procurem desenvolver de trabalho ao mesmo tempo em que possa dar conta das
ações que influenciem os espaços de trabalho dos participan- terríveis conseqüências da globalização, como a desigual-
tes, para que estes encontrem receptividade ao retornarem às dade e a exclusão social.
suas atividades cotidianas. Para a formação deste homem autônomo e solidário,
Entender “formação pelo trabalho” inclui perceber a neces- Antonio Carlos parte de uma concepção de Educação que
sidade de apoiar os profissionais no seu dia a dia, e não apenas está de acordo tanto com a Constituição de 1988 como com
durante as atividades e cursos de formação. Se quisermos formar a LDB de 1996 .Ele parte do artigo 205 da Constituição Fe-
profissionais ativos, dinâmicos e autônomos, conscientes das suas deral que diz:
necessidades e prioridades, precisaremos criar situações formati- “A educação é um direito de todos, dever do Estado e
vas em que possam desenvolver as suas capacidades pessoais, e da família, com a colaboração da sociedade civil, visando o
não apenas profissionais, dedinamismo, autonomia e decisão.20 pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exer-
20 Fonte: www.scielo.br – Por Ricardo Ribeiro cício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
78
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
E do artigo 1o, da Lei 9394/96, LDB, que diz: Isso pressupõe uma concepção muito positiva de ju-
“A educação abrange os processos formativos que se ventude, em que os jovens possam ser enxergados como
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no detentores de potencial de ação e transformação sociais
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos mo- muito fortes, passando a ser agentes do processo educa-
vimentos sociais e organizações da sociedade civil e nos cional e não meros receptores de conhecimentos e de pro-
movimentos culturais” postas pré-definidas:
Para responder a questão sobre qual tipo de sociedade “O protagonismo juvenil parte do pressuposto de que
pretendemos construir, o educador recorre ao artigo 3o da o que os adolescentes pensam, dizem e fazem pode trans-
Constituição Federal: cender os limites do seu entorno pessoal e familiar e influir
“Constituem objetivos fundamentais da República Fe- no curso dos acontecimentos da vida comunitária e social
derativa do Brasil: mais ampla. Em outras palavras, o protagonismo juvenil é
I- Construir uma sociedade livre, justa e solidária; uma forma de reconhecer que a participação dos adoles-
II- Garantir o desenvolvimento nacional; centes pode gerar mudanças decisivas na realidade social,
III- Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as ambiental, cultural e política onde estão inseridos. Nesse
desigualdades sociais e regionais; sentido, participar para o adolescente é envolver-se em
IV- Promover o bem de todos, sem preconceitos de processos de discussão, decisão, desenho e execução de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de ações, visando, através do seu envolvimento na solução de
discriminação”. problemas reais, desenvolver o seu potencial criativo e a
sua força transformadora. Assim, o protagonismo juvenil,
Assim, a concepção de Educação contida na propos- tanto como um direito, é um dever dos adolescentes” (Cos-
ta de protagonismo juvenil deve ser entendida de forma ta,1996:65).
abrangente, não podendo limitar-se à Educação escolar,
mas incluindo outros aspectos que possam auxiliar os jo- Por que a participação social dos jovens?
vens no exercício da vida pública, como o desenvolvimento Nesse sentido, seria função do processo educativo criar
oportunidades que pudessem garantir aos jovens uma vivên-
pessoal, profissional, as relações sociais e o trato com as
cia e um aprendizado das questões do mundo adulto, pro-
questões do bem-comum. Ao mesmo tempo os espaços
porcionando o fortalecimento de um autoconceito positivo,
educacionais devem ser compreendidos como múltiplos,
a formação de vínculos saudáveis e o desenvolvimento de
ultrapassando os muros das escolas e atingindo outros es-
potencialidades e talentos, o que ao mesmo tempo em que
paços de referência, como organizações sociais, movimen-
favoreceria os próprios jovens, contribuiria com a construção
tos sociais, etc…
de uma sociedade menos violenta e desigual. Além disso,
O protagonismo juvenil deve priorizar a intervenção
Antonio Carlos Gomes da Costa acredita que o envolvimento
comunitária, procurando,com a ação concreta dos jovens,
dos jovens em projetos sociais e comunitários possa auxiliá
contribuir para uma sociedade mais justa, a partir da incor- -los na criação de projetos de vida, elemento fundamental
poração de valores democráticos e participativos por parte para o desenvolvimento pessoal e social dos jovens.
dos jovens e da vivência do diálogo, da negociação e da A participação social dos jovens não é um elemento
convivência com as diferenças sociais. Assim, o protago- novo na história brasileira, tendo se desenvolvido de acor-
nismo juvenil pressupõe sempre um compromisso com a do com o contexto histórico e econômico a que estivemos
democracia. submetidos. A juventude dos anos 60 e 70 ficou notada-
Entretanto, para que se desenvolva o protagonismo mente conhecida pela sua participação social e política,
juvenil é necessário desenvolver um novo tipo de relacio- que teve nos estudantes seus principais protagonistas, os
namento entre jovens e adultos, em que o adulto deixa de quais tomavam as ruas para manifestar o descontentamen-
ser um transmissor de conhecimentos para ser um cola- to não apenas com as questões estudantis da época, mas
borador e um parceiro do jovem na descoberta de novos com questões nacionais e mundiais.
conhecimentos e na ação comunitária. A esta época, “política” era um termo aplicado quase
Para que isso aconteça, é necessário, no entanto, que totalmente aos partidos políticos e as relações sociais eram
haja uma mudança na visão do educando, em que este fortemente hierarquizadas, fruto do regime autoritário vi-
possa ser visto como fonte de iniciativa, fonte de liberdade gente no país. Além disso, a juventude estudantil era uma
e de compromisso. Isso quer dizer que os jovens devem juventude vinda de extratos sociais mais favorecidos social-
ser estimulados a tomarem iniciativa dos projetos a serem mente, justamente aqueles que tinham acesso ao ensino
desenvolvidos, ao mesmo tempo em que devem vivenciar universitário da época.
possibilidades de escolha e de responsabilidades. Justamente esta juventude foi considerada como mo-
O desenvolvimento do Protagonismo Juvenil, dessa delo de participação social e foi a partir desta geração de
forma,está de acordo com as disposições contidas no Es- jovens que se descobriu o potencial transformador presen-
tatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em que crianças te na condição juvenil. As gerações que se seguiram foram
e adolescentes são entendidos como “sujeitos de direitos”, sempre comparadas às gerações de 60/70, como se nunca
ou seja, devem estar no centro das políticas de atenção mais aparecesse na História uma geração de jovens capaz
para este segmento. de propor um modelo novo de sociedade, tendo sido en-
tendidas como despolitizadas ou apáticas.
79
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Ocorre que as juventudes dos anos 80 e 90 foram criadas em ambientes que de forma alguma estimularam a politiza-
ção e a participação dos jovens, ao mesmo tempo em que foram bombardeadas pelos meios de comunicação de massa em
direção ao consumo e ao individualismo. Isso quer dizer que se os jovens desta geração nos parecem indiferentes, é porque
houve todo um processo educativo que contribuiu para isso.
Entretanto, os tempos mudaram e novas juventudes, mais especificamente a juventude pobre, ganham voz na vida
pública com o processo de redemocratização do país, ao mesmo tempo em que uma nova concepção de política é desen-
volvida a partir da ampliação do que possa vir a ser o “público” e o “privado”.
Assim, hoje, o que é “público” é o que está a serviço de todos e as responsabilidades do que é público não são mais
apenas do Estado, sendo divididas com a sociedade civil. Assim, criam-se novas formas de participação política, entendida
aqui como “habilidade no trato das relações humanas com vistas à obtenção dos resultados desejados” (Aurélio) e a partir
da constituição de 1988 torna-se possível também se expressar politicamente a partir dos diferentes Conselhos ligados às
políticas públicas e nas próprias instituições públicas, como Por Exemplo a Escola.
Isso mostra, na verdade, que é possível.
Assim, promover a participação dos jovens a partir do protagonismo juvenil é também facilitar o acesso do jovem aos
novos espaços de participação social e política, resgatando o elemento transformador inerente à condição juvenil e canali-
zando-o para uma atuação saudável.
O desenvolvimento do protagonismo juvenil, de acordo com Antonio Carlos Gomes da Costa, diferencia-se do prota-
gonismo juvenil de outras épocas principalmente em função de que na proposta do educador, as idéias e iniciativas devam
ser sempre oriundas dos próprios jovens, o que em outras épocas foi determinado pelos adultos em ideários já pré-defi-
nidos dentro dos partidos políticos.
O papel do educador
O educador, dentro da proposta de desenvolvimento do protagonismo juvenil, deve ceder seu espaço “cênico” ao jo-
vem, passando a ter uma função de “bastidor” ou de suporte. Isso, de forma alguma significa abandonar a função educativa,
mas ao contrário, significa colocar os jovens em posição de destaque no que diz respeito aos processos decisórios, ado-
tando uma postura de apoio e colaboração. Isso requer uma presença constante junto aos jovens, numa posição diferente
à posição do educador tradicional, estabelecendo uma relação mais “horizontal” junto aos jovens sem, contudo, perder o
seu papel de educador.
Uma relação mais “horizontal” entre educador e educando pressupõe estar de acordo com o contexto atual, em que
não são mais toleradas as formas hierárquicas dentro e fora das instituições, que tiveram origem em períodos de repressão
e ditadura. Vivemos, ao contrário, um momento de abertura à diversidade e ao diálogo, em que o respeito às diferenças e
a busca do bem comum são agora valorizados e estimulados.
O papel do educador, desta forma, se constitui numa função chave do desenvolvimento do protagonismo juvenil, à
medida que tem a intenção clara de desenvolver a autonomia dos jovens. Nesse sentido, todas as suas ações e estratégias
devem estar direcionadas para uma resposta autônoma e criativa por parte dos jovens, evitando aquelas ações e estratégias
que promovam a dependência ou a acomodação.
Nesse sentido, Antonio Carlos Gomes da Costa desenvolve um quadro com etapas da relação educador/educando que
devem progressivamente caminhar da relação de dependência para uma relação de autonomia, passando neste percurso,
por atitudes que promovam a colaboração entre jovens e adultos:
Etapas de desenvol-
Dependência Colaboração Autonomia
vimento de uma ação
Discussão conjunta so-
Iniciativa unilateral
Iniciativa da ação bre assumir ou não uma Iniciativa parte dos jovens
do educador
iniciativa
Planejamento da O educador plane- Planejamento em con- Os jovens planejam sem o edu-
ação ja sozinho junto cador o que será realizado
O educador exe- Educadores e jovens
Os jovens executam sozinhos o
Execução da ação cuta e o jovem recebe executam juntos a ação pla-
que foi planejado
a ação nejada
Educadores e jovens
Os educadores Os próprios jovens avaliam a
Avaliação da ação discutem o que e como
avaliam os jovens ação realizada
avaliar a ação realizada
Os resultados são Educador e jovens com- Os jovens se apropriam dos re-
Apropriação dos re-
apropriados pelo partilham os resultados da sultados e respondem pelas conse-
sultados
educador ação desenvolvida qüências da ação
80
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Assim, percebemos que o papel do educador no desen- Art. 2º - São diretrizes orientadoras do PEE-BA:
volvimento do protagonismo juvenil tem um método e uma I - erradicação do analfabetismo;
direção muito claros, que devem proporcionar a autonomia II - universalização do atendimento escolar;
e a liberdade de escolha dos jovens de maneira gradativa a III - superação das desigualdades educacionais, com ên-
partir das atitudes e atividades planejadas e propostas: fase no desenvolvimento integral do sujeito, na promoção
“Além do compromisso ético, a opção pelo desenvolvi- da cidadania e na erradicação de todas as formas de discri-
mento de propostas, que tenham por base o protagonismo minação;
juvenil, exige do educador uma clara vontade política da sua IV - melhoria da qualidade da educação;
parte, no sentido de contribuir- através do seu trabalho- V - formação para o desenvolvimento integral do sujei-
para a construção de uma sociedade, que respeite os direi- to, para a cidadania e para o trabalho, com ênfasenos valores
tos de cidadania e aumente progressivamente os níveis de morais e éticos nos quais se fundamenta a sociedade;
participação de sua população”. (Costa, 1996:115) VI - promoção do princípio da gestão democrática da
Além disso, é importante ressaltar que o protagonismo educação no Estado;
juvenil não é militância partidária nem tampouco uma ação VII - promoção humanística, científica, cultural e tecno-
educativa a cargo do próprio educando, mas antes de tudo lógica do Estado;
é um processo que pretende facilitar a inserção dos jovens VIII - valorização dos profissionais da educação;
no mundo adulto a partir do exercício da participação social IX - promoção dos princípios do respeito aos direitos
dentro dos espaços a que os jovens pertencem. humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental.
Para tanto, é função central do educador auxiliar os jo- Art. 3º - O PEE-BA fica estruturado, na forma do Anexo
vens no reconhecimento desses espaços, favorecendo uma Único desta Lei, em 20 (vinte) metas, seguidas de suas es-
reflexão crítica a respeito do funcionamento e das possibili- tratégias específicas, que terão como referência a Pesquisa
dades de atuação dentro dos mesmos.21 Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, o censo demo-
gráfico e os censos nacionais da Educação Básica e Supe-
rior, em bases a serem atualizadas e observadas ao longo do
A LEI ESTADUAL Nº 13.559, DE 11 DE MAIO DE processo de acompanhamento deste PEE-BA, sem prejuízo
2016: O PLANO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO. de outras fontes e informações relevantes.
§ 1º - As estratégias definidas no Anexo Único desta Lei
serão implementadas, considerando a articulação interfede-
rativa das políticas educacionais e ainda:
O plano envolve políticas públicas alinhadas às 20 me-
I - a articulação das políticas educacionais com as de-
tas do Plano Nacional de Educação que devem ser adotadas
mais políticas sociais, particularmente as culturais e as de
nos próximos 10 anos.
O plano prevê políticas públicas relacionadas a questões inserção produtiva no mundo do trabalho;
como a erradicação do analfabetismo, universalização do aten- I - a articulação das políticas educacionais com as de-
dimento escolar, melhoria da qualidade da educação, valoriza- mais políticas sociais, particularmente as culturais e as de
ção da carreira docente e aumento de vagas no ensino superior. inserção produtiva no mundo do trabalho;
O Plano Estadual de Educação institui metas para desen- II - o atendimento das necessidades específicas das
volver a educação na Bahia desde o nível fundamental até populações do campo, das comunidades indígenas e qui-
o superior, prevendo ainda a educação indígena, do campo lombolas e de grupos itinerantes, asseguradas a equidade
e de jovens e adultos, além do magistério, financiamento educacional e a diversidade cultural;
e gestão. Uma das diretrizes é a elaboração de calendários III - o atendimento das necessidades específicas na Edu-
escolares flexíveis, adequados à realidade econômica e geo- cação Especial, assegurado o sistema educacional inclusivo
gráfica de cada região. em todos os níveis, etapas e modalidades.
§ 2º - As metas e estratégias deverão ser cumpridas no
Atos do Poder Executivo prazo de vigência deste PEE-BA, se outro prazo inferior não
LEIS tiver sido definido para metas e estratégias específicas.
LEI Nº 13.559 DE 11 DE MAIO DE 2016 Art. 4º - A execução do PEE-BA, o alcance de suas dire-
Aprova o Plano Estadual de Educação da Bahia e dá ou- trizes e a eficácia de suas metas e estratégias serão objeto
tras providências. de processo de monitoramento contínuo e avaliações perió-
O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber dicas, realizadas pelas seguintes instâncias:
que a Assembleia Legislativa decreta e eu sanciono a se- I - Secretaria da Educação - SEC, que o coordenará;
guinte Lei: II - Comissão de Educação da Assembleia Legislativa;
Art. 1º - Fica aprovado o Plano Estadual de Educação - III - Conselho Estadual de Educação - CEE;
PEE-BA, com vigência de 10 (dez) anos, a contar da publica- IV - Fórum Estadual de Educação da Bahia - FEE-BA.
ção desta Lei, em consonância com o disposto no art. 214 da § 1º - Compete, ainda, às instâncias referidas no caput
Constituição Federal, no art. 250 da Constituição Estadual e deste artigo:
na Lei Federal nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que apro- I - divulgar os resultados do monitoramento e das ava-
vou o Plano Nacional de Educação - PNE. liações nos respectivos sítios institucionais da internet;
21 Fonte: www.fundacaotelefonica.org.br – Por Branca II - analisar e propor políticas públicas para assegurar a
Sylvia Brener implementação das estratégias e o cumprimento das metas;
81
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
III - analisar e propor a revisão do percentual de inves- e a utilização de estratégias que levem em conta as iden-
timento público em educação. tidades e especificidades socioculturais e linguísticas de
§ 2º - No processo de monitoramento e avaliação do cada comunidade envolvida, assegurada a consulta prévia
PEE-BA, os representantes das entidades indicadas nos in- e informada a essa comunidade.
cisos I a IV do caput deste artigo poderão consultar espe- § 5º - As estratégias definidas neste PEE-BA não ex-
cialistas, institutos de pesquisa, universidades, outras insti- cluem a adoção de medidas adicionais em âmbito local ou
tuições e órgãos colegiados de caráter consultivo. de instrumentos jurídicos que formalizem a cooperação
§ 3º - O Poder Público buscará ampliar o escopo das entre os entes federados, podendo ser complementadas
pesquisas com fins estatísticos, de forma a incluir informa- por mecanismos nacionais e locais de coordenação e cola-
ção detalhada sobre o perfil das populações de 04 (quatro) boração recíproca.
a 17 (dezessete) anos, particularmente as com deficiência. Art. 8º - Ficam criados, no âmbito dos Núcleos Regio-
Art. 5º - As Conferências Estaduais de Educação são nais de Educação - NRE, foros de negociação, cooperação e
instâncias com o objetivo de avaliar a execução deste PEE pactuação entre gestores do Estado e dos Municípios inte-
-BA e de formular subsídios para a Conferência Nacional de grantes da regional, para integração de políticas e progra-
Educação, bem como elaborar o Plano Estadual de Educa- mas dos serviços de educação, na forma do regulamento.
ção para o decênio subsequente. § 1º - O fortalecimento do regime de colaboração en-
§ 1º - As Conferências Estaduais de Educação antece- tre o Estado e os Municípios dar-se-á, inclusive, mediante
derão a Conferência Nacional de Educação e deverão ser a adoção de arranjos institucionais, considerando o enlace
precedidas de conferências municipais ou intermunicipais, entre educação, território e desenvolvimento e o comparti-
articuladas e coordenadas pelo Fórum Estadual de Educa- lhamento de competências políticas, técnicas e financeiras,
ção da Bahia. na perspectiva de um sistema nacional de educação.
§ 2º - As Conferências Estaduais de Educação realizar- § 2º - O Estado fomentará o consorciamento como mo-
se-ão com intervalo de até 04 (quatro) anos entre elas e delo de articulação territorial para superar a descontinuida-
deverão ser convocadas com, no mínimo, 01 (um) ano de de das políticas educacionais.
antecedência. Art. 9º - O Estado atuará nos limites de sua compe-
§ 3º - O Estado promoverá a realização de, pelo menos, tência e observada a política de colaboração, a capacidade
02 (duas) Conferências Estaduais de Educação até o final de atendimento e o esforço fiscal de cada ente federado,
para, em consonância com o art. 212 e o inciso VI do art.
do decênio.
214, ambos da Constituição Federal, e o art. 60 do Ato das
Art. 6º - Fica reconhecido o Fórum Estadual de Edu-
Disposições Constitucionais Federais Transitórias, alcançar
cação da Bahia - FEE-BA, instância de caráter consultivo e
a Meta 20 do Anexo Único deste PEE-BA.
organizativo, ao qual compete, além das atribuições previs-
§ 1º - A meta progressiva do investimento público em
tas no art. 4º desta Lei, promover a até o final do decênio.
educação será avaliada no quarto ano de vigência do PEE
Art. 6º - Fica reconhecido o Fórum Estadual de Educa-
-BA e poderá ser ampliada por meio de lei para atender
ção da Bahia - FEE-BA, instância de caráter consultivo e or-
às necessidades financeiras do cumprimento das demais
ganizativo, ao qual compete, além das atribuições previstas
metas.
no art. 4º desta Lei, promover a articulação das Conferên- § 2º - Os Planos Plurianuais - PPA, as diretrizes orça-
cias Estaduais de Educação com as conferências municipais mentárias e os orçamentos anuais do Estado serão formu-
ou intermunicipais que as precederem. lados de maneira a assegurar a consignação de dotações
Art. 7º - O Estado atuará em regime de colaboração orçamentárias compatíveis com o disposto neste artigo e
com a União e os municípios, visando ao alcance das metas nas diretrizes, metas e estratégias deste PEE-BA, a fim de
e à implementação das estratégias objeto do PNE, deste viabilizar sua plena execução.
PEE-BA e dos Planos Municipais de Educação - PME. Art. 10 - O Estado deverá, no primeiro ano de vigência
§ 1º - É de responsabilidade dos gestores estaduais dos deste PEE-BA, aprovar lei específica de seu Sistema Esta-
sistemas públicos de educação a adoção das medidas ne- dual de Ensino, disciplinando a organização da Educação
cessárias ao alcance das metas previstas neste PEE-BA. Básica e da Educação Superior, e a
§ 2º - O Estado colaborará com a União na instituição Art. 10 - O Estado deverá, no primeiro ano de vigência
do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, nos deste PEE-BA, aprovar lei específica de seu Sistema Esta-
termos do art. 11 da Lei Federal nº 13.005, de 25 de junho dual de Ensino, disciplinando a organização da Educação
de 2014, como fonte de informação para a avaliação da Básica e da Educação Superior, e a gestão democrática da
qualidade da Educação Básica e para a orientação das polí- educação pública no âmbito do Estado, observado o dis-
ticas públicas desse nível de ensino. posto nos arts. 247 a 249 da Constituição Estadual.
§ 3º - O processo de monitoramento e avaliação referi- Art. 11 - Até o final do primeiro semestre do nono ano
do no art. 4º desta Lei poderá ser ampliado, em regime de de vigência deste PEE-BA, o Poder Executivo Estadual en-
colaboração com os Municípios, para alcançar o acompa- caminhará à Assembleia Legislativa, sem prejuízo das prer-
nhamento das metas e estratégias dos PME. rogativas deste Poder, o Anteprojeto de Lei referente ao
§ 4º - Será objeto de regime de colaboração específi- Plano Estadual de Educação a vigorar no período subse-
co a implementação de modalidades de educação escolar quente, que incluirá diagnóstico, diretrizes, metas e estra-
que necessitem considerar territórios étnico-educacionais tégias para o próximo decênio.
82
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Art. 12 - Fica revogada a Lei nº 10.330, de 15 de setem- 1.6) fomentar e subsidiar a elaboração, de modo parti-
bro de 2006. cipativo, no âmbito do Conselho Estadual de Educação, de
Art. 13 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. diretrizes e orientações para organização e funcionamento
PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, em 11 de instituições de Educação Infantil, no Sistema Estadual de
de maio de 2016. Educação, em cumprimento à legislação em vigor, até o se-
RUI COSTA gundo ano de vigência deste PEE-BA;
Governador 1.7) fomentar normas, procedimentos e prazos para que
Bruno Dauster os sistemas municipais de educação realizem a chamada pú-
Secretário da Casa Civil blica ou censo anual da demanda por creches e pré-escolas
Osvaldo Barreto Filho nos Municípios da Bahia, a partir do primeiro ano de vigên-
Secretário da Educação cia do PEE-BA;
1.8) estimular, em regime de colaboração entre a União,
ANEXO ÚNICO o Estado e os Municípios baianos, até o fim do primeiro ano
de vigência do PEE-BA, o incremento da oferta de vagas
Da Educação Infantil para creche e pré-escola nas redes públicas de Educação In-
fantil, conforme os Parâmetros Nacionais de Qualidade e as
Meta 1: Assegurar a discussão com os sistemas muni- especificidades de cada Município;
cipais de educação a respeito da universalização da pré-es- 1.9) estimular a ampliação da oferta de vagas em regime
cola para as crianças de 04 (quatro) a 05 (cinco) anos de de tempo integral, em creches e pré-escolas da rede pública
idade, nos termos do disposto pela Emenda Constitucional de ensino, de modo que, progressivamente, todas as crian-
Federal nº 59, de 11 de novembro de 2009, e estimular a ças de 0 (zero) a 05 (cinco) anos tenham acesso à Educação
ampliação da oferta de Educação Infantil em creches. Integral, conforme estabelecido nas Diretrizes Curriculares
Nacionais da Educação Infantil;
Estratégias: 1.10) estimular a criação ou ampliação de áreas verdes
1.1) impulsionar a busca ativa de crianças em idade cor- nas instituições de Educação Infantil, bem como a garantia
respondente à Educação Infantil, do campo, de comunidades de espaços adequados para jogos, brincadeiras e outras ex-
tradicionais, indígenas, quilombolas e urbanas, em parceria periências da cultura lúdica infantil, promovendo o respeito
com órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção às relações da infância com a cultura, o meio ambiente e a
à infância dos sistemas municipais, no intento de enfatizar a educação;
compulsoriedade da universalização da pré-escola; 1.11) apoiar, técnica e pedagogicamente, os Municípios
1.2) incentivar o atendimento da Educação Infantil de para a criação de um setor específico de Educação Infantil
populações do campo, urbanas, de comunidades indíge- nas secretarias municipais de educação, estimulando os con-
nas, quilombolas e comunidades tradicionais, nos respecti- selhos municipais de educação a elaborarem orientações e
vos espaços de vida, redimensionando, quando for o caso, diretrizes municipais para a Educação Infantil, até o fim do
a distribuição territorial da oferta, configurando a nuclea- segundo ano de vigência deste PEE-BA;
ção de escolas e evitando-se o deslocamento de crianças, 1.12) estimular, em regime de colaboração entre a
respeitadas as especificidades dessas comunidades; União, o Estado e os Municípios, políticas públicas de for-
1.3) assegurar a indissociabilidade das dimensões do mação inicial e continuada de professores, coordenadores
cuidar e do educar no atendimento a esta etapa da Edu- pedagógicos, gestores escolares e demais profissionais da
cação Básica; educação que trabalham em instituições de Educação Infan-
1.4) estimular, em regime de colaboração, o Programa til (creche e pré-escolas), de modo que, progressivamente, o
Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos atendimento na Educação Infantil (do campo e urbano) seja
para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil, em áreas realizado por profissionais com formação em nível superior,
rurais e urbanas, respeitando as normas de acessibilidade, a partir do segundo ano de vigência do PEE-BA;
a partir do primeiro ano de vigência deste PEE-BA; 1.13) estimular a articulação entre Pós-Graduação, nú-
1.5) estimular a atuação nas especificidades da Educa- cleos de pesquisa e cursos de formação para profissionais
ção Infantil na organização das redes escolares, salvaguar- da educação, de modo a garantir a elaboração de propos-
dadas as diferenças de aspectos culturais entre campo e tas pedagógicas das escolas e de cursos de formação inicial
cidade, garantindo o atendimento da criança de 0 (zero) que incorporem os avanços de pesquisas ligadas às teorias
a 05 (cinco) anos em estabelecimentos de ensino que se educacionais no atendimento da população de 0 (zero) a 05
encaixem nos parâmetros nacionais de qualidade e à arti- (cinco) anos;
culação com a etapa escolar seguinte, visando ao ingresso 1.14) incentivar e apoiar todos os Municípios para que a
da criança de 06 (seis) anos de idade completos no Ensino sua política pública para a Educação Infantil esteja consoli-
Fundamental; dada até 2019, em acordo com a legislação vigente;
1.6) fomentar e subsidiar a elaboração, de modo par- 1.15) estimular e apoiar a formulação, pelos Municípios,
ticipativo, no âmbito do Conselho Estadual de nacionais das propostas pedagógicas para a Educação Infantil, obser-
de qualidade e à articulação com a etapa escolar seguinte, vando as orientações e a legislação educacional em vigor
visando ao ingresso da criança de 06 (seis) anos de idade para o atendimento de crianças de 0 (zero) a 05 (cinco) anos
completos no Ensino Fundamental; de idade, até o fim do terceiro ano de vigência deste PEE-BA;
83
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
1.16) fomentar a avaliação da Educação Infantil, a ser 2.2) realizar parceria entre a Secretaria da Educação -
realizada a cada 02 (dois) anos, com base nos Indicadores SEC e as Secretarias dos Municípios no fomento ao atendi-
da Qualidade na Educação Infantil orientados pelo MEC, a mento socioeducativo;
fim de aferir a infraestrutura física, o quadro de pessoal, as 2.3) promover a busca ativa de crianças e adolescentes
condições de gestão, os recursos pedagógicos, a situação fora da escola, no campo e na cidade, em parceria com
de acessibilidade, entre outros indicadores relevantes, a órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à
partir do segundo ano de vigência deste PEE-BA; infância, adolescência e juventude, a partir do primeiro ano
1.17) estimular o acesso à Educação Infantil das crianças de vigência deste PEE-BA;
com deficiência, transtornos globais do 2.4) estimular o desenvolvimento de tecnologias pe-
desenvolvimento e altas habilidades e fomentar a oferta dagógicas que combinem, de maneira articulada, a orga-
do atendimento educacional especializado, complementar nização do tempo e das atividades didáticas entre a escola
e suplementar, assegurando a educação bilíngue para crian- e o ambiente comunitário, considerando as especificidades
ças surdas e a transversalidade da Educação Especial nesta curriculares, seja no âmbito das escolas urbanas, do campo,
etapa da Educação Básica; desenvolvimento e altas habi- das comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas e no
lidades e fomentar a oferta do atendimento educacional atendimento de grupos itinerantes;
especializado, complementar e suplementar, assegurando a 2.5) estimular a oferta do Ensino Fundamental para as
educação bilíngue para crianças surdas e a transversalidade populações do campo, indígenas e quilombolas, comuni-
da Educação Especial nesta etapa da Educação Básica; dades tradicionais nas próprias comunidades, garantindo
1.18) dispor orientações estruturadas sobre a alimenta- condições de permanência dos estudantes nos seus espa-
ção escolar adequada para todas as crianças atendidas nas ços socioculturais;
instituições de Educação Infantil, do campo e urbanas, pú- 2.6) promover a articulação entre os sistemas e redes
blicas e conveniadas; municipais de ensino e apoiar a elaboração e o encami-
1.19) estimular a criação e a ampliação do acervo lite- nhamento ao Conselho Estadual de Educação, precedida
rário, de materiais e objetos educativos, de jogos, de instru- de consulta pública, de proposta de direitos e objetivos de
mentos musicais e de tecnologias educacionais nas escolas aprendizagem e desenvolvimento para os estudantes do
Ensino Fundamental, considerado o caráter específico de
de Educação Infantil, para garantir à criança o acesso a pro-
espaços socioculturais onde se situam as escolas, até o final
cessos de construção, articulação e ampliação de conheci-
do primeiro ano de vigência deste PEE-BA; considerado o
mentos e aprendizagens em diferentes linguagens;
caráter específico de espaços socioculturais onde se situam
1.20) promover o desenvolvimento de projetos e ações,
as escolas, até o final do primeiro ano de vigência deste
em caráter complementar, com foco no desenvolvimento
PEE-BA;
integral das crianças de até 03 (três) anos de idade, articu-
2.7) indicar o Conselho Estadual de Educação para pro-
lando as áreas de educação, saúde e assistência social; por normativas sobre o acompanhamento e o apoio indi-
1.21) promover a colaboração da Secretaria da Educa- vidualizado aos estudantes do Ensino Fundamental com
ção com os Municípios na elaboração de proposta de di- dificuldades de aprendizagem de qualquer natureza;
retrizes curriculares para a Educação Infantil, precedida de 2.8) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento
consulta pública, e no encaminhamento ao Conselho Esta- do acesso, da permanência e do êxito escolar dos filhos
dual de Educação das propostas das redes municipais que dos beneficiários de programas de transferência de renda,
não se constituem como sistema, até o final do primeiro visando à garantia de condições adequadas para a apren-
ano de vigência deste PEE-BA; dizagem destes alunos, em colaboração com as famílias e
1.22) estruturar, até o fim do primeiro ano de vigência do com órgãos públicos de assistência social, saúde e prote-
PEE-BA, um setor específico na Secretaria da Educação para ção à infância, adolescência e juventude;
tratar da orientação sobre os assuntos da Educação Infantil. 2.9) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento
de crianças e adolescentes em situação de discriminação,
Do Ensino Fundamental preconceitos e violências na escola, visando à garantia de
condições adequadas para a aprendizagem desses es-
Meta 2: Universalizar o Ensino Fundamental de 09 tudantes, em colaboração com as famílias e com órgãos
(nove) anos para toda a população de 06 (seis) a 14 (ca- públicos de assistência social, saúde e proteção à infância,
torze) anos e garantir que, pelo menos, 95% (noventa e adolescência e juventude;
cinco por cento) dos alunos concluam essa etapa na idade 2.10) sugerir aos Conselhos Estadual e Municipais de
recomendada, até o último ano de vigência deste PEE-BA. Educação a elaboração de normas regulatórias sobre a par-
ticipação dos docentes e gestores escolares na organização
Estratégias: do trabalho pedagógico e das ações de gerenciamento, so-
2.1) formalizar procedimentos orientadores para que bretudo nas responsabilidades adstritas às atividades pre-
o Ensino Fundamental seja o espaço de aprendizagem e vistas nos arts. 12, 13 e 14 da Lei Federal nº 9.394, de 20 de
apropriação do legado cultural da nossa civilização e de dezembro de 1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação
desenvolvimento das habilidades cognitivas essenciais à Nacional - LDB, na programação do tempo e horário da
atuação livre e autônoma dos indivíduos na sociedade, pri- escola para o desenvolvimento dessas ações previstas, com
vilegiando trocas, acolhimento e senso de pertencimento, destaque para a adequação do calendário escolar à realida-
para assegurar o bem-estar das crianças e adolescentes; de local, à identidade cultural e à territorialidade;
84
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
85
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
3.11) promover a busca ativa da população de 15 (quin- 3.23) fomentar o desenvolvimento de programas de
ze) a 17 (dezessete) anos fora da escola, em articulação com formação de professores da Educação Básica, em todas as
os serviços de assistência social, saúde e proteção à adoles- suas etapas, níveis e modalidades, que contribuam para
cência e à juventude; uma cultura de respeito aos direitos humanos, visando ao
3.12) redimensionar a oferta de Ensino Médio nos turnos enfrentamento do racismo e de outras formas de discrimi-
diurno e noturno, bem como a distribuição territorial das es- nação e intolerância, respeitando os direitos humanos e o
colas de Ensino Médio, de forma a atender a toda a deman- combate a todas as formas de discriminação e intolerância,
da, de acordo com as necessidades específicas dos estudan- à luz do conceito de supralegalidade presente no ordena-
tes e das comunidades; mento jurídico brasileiro.
3.13) desenvolver formas de oferta do Ensino Médio, ga-
rantida a qualidade, para atender a adolescentes, jovens e Da Educação Especial/Inclusiva
adultos de grupos étnicos e famílias itinerantes, bem como
de adolescentes e jovens em instituições socioeducativas; Meta 4: Universalizar, para a população de 04 (quatro)
3.14) estruturar políticas de proteção ao estudante con- a 17 (dezessete) anos com deficiência, transtornos globais
tra formas de exclusão, como medida de prevenção do aban- do desenvolvimento e altas habilidades, o acesso à Edu-
dono escolar, motivadas por preconceito ou quaisquer for- cação Básica e ao atendimento educacional especializado,
mas de discriminação; nas redes regulares de ensino, com a garantia de sistema
3.15) estimular, por meio de orientação profissional, a educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais,
participação dos adolescentes e jovens nos cursos das áreas classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou
tecnológica e científica, estabelecendo acordos com as IES e conveniados, até o último ano de vigência deste PEE-BA.
a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecno-
lógica para a realização de estágios e visitas técnicas, articula- Estratégias:
das com as atividades de ensino, pesquisa e extensão; 4.1) desenvolver e aplicar tecnologias pedagógicas que
3.16) encorajar o aproveitamento dos estudos feitos em combinem, de maneira articulada, a organização do tempo,
programas complementares como ações de melhoria aos
as atividades didáticas e o ambiente comunitário, conside-
currículos do Ensino Médio, a ser regulamentado por ato do
rando as especificidades educativas do ambiente escolar
Conselho Estadual de Educação, ouvida a Secretaria da Edu-
inclusivo, respeitada a natureza das escolas urbanas, do
cação no que concerne à orientação quanto aos programas
campo, do ethos cultural das comunidades indígenas, qui-
complementares;
lombolas e dos povos itinerantes;
3.17) incentivar a oferta de escolas do Ensino Médio no
4.2) institucionalizar o combate à discriminação entre
campo, em espaços quilombolas, indígenas e de comunida-
des tradicionais, com a criação de escolas ou classes vincu- grupos sociais diferenciados, de todas e quaisquer fontes
ladas; diretas ou indiretas de incitação e indução ao preconceito
3.18) fortalecer o acompanhamento e o monitoramen- e à discriminação eventualmente presentes nos conteúdos
to do acesso e da permanência dos jovens beneficiários de curriculares, nas práticas pedagógicas, nos livros, nos ma-
programas de transferência de renda no Ensino Médio, em teriais didáticos e nos comportamentos individuais e cole-
colaboração com as famílias e com órgãos públicos de assis- tivos no espaço escolar, a fim de coibi-los, cabendo à esco-
tência social, saúde e proteção à adolescência e à juventude; la, por meio dos Colegiados Escolares, o zelo, a precaução
3.19) consolidar as normativas relacionadas com as esco- e o comportamento institucional vigilante e ao Conselho
las agrícolas, nos termos da Lei nº 11.352, de 23 de dezembro Estadual de Educação o preparo de ato normativo de ação
de 2008, garantida a prerrogativa técnica da pedagogia da orientadora para esta questão, discutida com os sistemas
alternância para a concepção e organização do currículo nes- de ensino;
tas escolas, para o Ensino Médio; 4.3) ampliar a implantação de salas de recursos mul-
3.20) implementar, no currículo do Ensino Médio, con- tifuncionais, até o sexto ano de vigência deste Plano, em
teúdos e atividades pertinentes à dimensão trabalho, que parceria com o Governo Federal, bem como fomentar a
não se confunde com a profissionalização, mas aproxima o formação continuada de professores para o atendimento
adolescente e jovem do mundo do trabalho, e articular tais educacional especializado nas escolas urbanas, do campo,
conteúdos com a orientação profissional e o acesso a cursos indígenas, das comunidades quilombolas e em áreas onde
técnicos e de qualificação profissional; vivem povos de comunidades tradicionais;
3.21) articular a Educação Superior com a Educação Bá- 4.4) direcionar orientações para o atendimento educa-
sica, visando ao fortalecimento do currículo, ao desenvolvi- cional especializado em salas de recursos multifuncionais,
mento de proficiências e à melhoria dos resultados educa- preferencialmente na própria unidade escolar, ou em ser-
cionais; viços especializados, públicos ou conveniados, nas formas
3.22) assegurar, por meio de normativa do Conselho complementar e suplementar, para todos os estudantes
Estadual de Educação, que o respeito às diversidades seja com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento
objeto de tratamento didático-pedagógico transversal no e altas habilidades matriculados na rede pública de Educa-
desenvolvimento dos currículos das escolas de Ensino Mé- ção Básica, conforme necessidade identificada por meio de
dio, respeitando os direitos humanos e o combate a todas as avaliação, ouvidos a família e, quando possível, o estudan-
formas de discriminação e intolerância, à luz do conceito de te, no prazo de vigência deste PEE-BA;
supralegalidade presente no ordenamento jurídico brasileiro;
86
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
4.5) promover a articulação intersetorial para estimular a 4.13) definir, no segundo ano de vigência deste PEE-BA,
criação de centros multidisciplinares de apoio, pesquisa e as- indicadores de qualidade e políticas de avaliação e supervi-
sessoria, articulados com instituições acadêmicas e integra- são para o funcionamento de instituições de ensino, públi-
dos por profissionais das áreas de saúde, assistência social, cas e privadas, que prestam atendimento a estudantes com
pedagogia, psicologia e tecnologia assistiva, para apoiar o deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
trabalho dos professores da Educação Básica de estudantes habilidades, sob o aval do Conselho Estadual de Educação;
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e 4.14) promover iniciativas, em parceria com o Ministério da
altas habilidades; Educação e órgãos de pesquisa, demografia e estatística, no sen-
4.6) incentivar a participação de sistemas e instituições tido de obter informações detalhadas sobre o perfil das pessoas
públicas de educação nos programas suplementares de com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
acessibilidade em que se incluem, a adequação arquitetô- habilidades, na faixa etária de 0 (zero) a 17 (dezessete) anos;
nica, a oferta de transporte acessível, a disponibilização de 4.15) incentivar a inclusão, como temática formativa, nos
material didático próprio e recursos de tecnologia assistiva; cursos de licenciatura e nos demais cursos de formação para
4.7) estimular a oferta de educação bilíngue, em Língua profissionais da educação, inclusive em nível de Pós-Gradua-
Brasileira de Sinais - LIBRAS, como primeira língua, e na mo- ção, observado o disposto no caput do art. 207 da Consti-
dalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua, tuição Federal, dos referenciais técnicos relacionados com
aos estudantes surdos e com deficiência, em escolas e classes o atendimento educacional de estudantes com deficiência,
bilíngues e em escolas inclusivas, nos termos do que dispõe transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades;
o Decreto Federal nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, e 4.16) promover parcerias com instituições comunitárias,
os arts. 24 e 30 da Convenção Internacional sobre os Direitos confessionais ou filantrópicas, sem fins lucrativos, convenia-
das Pessoas com Deficiência, promulgada pelo Decreto Fe- das com o poder público, visando ampliar a oferta de forma-
deral nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, bem como a adoção ção continuada e a produção de material didático acessível,
do Sistema Braille de leitura para cegos e surdos-cegos; assim como os serviços de acessibilidade necessários, par-
4.8) fortalecer a oferta de Educação Inclusiva, combaten- ticipação e aprendizagem dos estudantes com deficiência,
do a exclusão de pessoas com deficiência no ensino regular e
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
assegurando a articulação pedagógica entre o ensino regular
matriculados na rede pública de ensino;
e o atendimento educacional especializado;
4.17) disponibilizar recursos de tecnologia assistiva, ser-
4.9) acompanhar e monitorar o acesso à escola e ao
viços de acessibilidade e formação continuada de professo-
atendimento educacional especializado, bem como da per-
res, apoio técnico e demais profissionais da educação para o
manência e do desenvolvimento escolar dos estudantes com
atendimento educacional especializado complementar, nas
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades, beneficiários de programas de transferência de escolas urbanas e do campo;
renda, juntamente com o combate às situações de discrimi- 4.18) desenvolver indicadores específicos de avaliação
nação, preconceito e outras formas de violência, em colabo- da qualidade da Educação Especial, bem como da qualidade
ração com as famílias e com os órgãos públicos de assistên- da educação bilíngue para surdos, com o aval do Conselho
cia social, de saúde e de proteção à infância, à adolescência Estadual de Educação, em comum acordo com os Conselhos
e à juventude; Municipais de Educação.
4.10) fomentar o desenvolvimento de pesquisas interdis-
ciplinares para subsidiar a formulação de políticas públicas Da Alfabetização Infantil
intersetoriais que atendam às especificidades educacionais
de estudantes com deficiência, transtornos globais do de- Meta 5: Mobilizar esforços para alfabetizar todas as
senvolvimento e altas habilidades, que requeiram medidas crianças, no máximo, até o final do terceiro ano do Ensino
de atendimento especializado; Fundamental.
4.11) promover a articulação intersetorial entre órgãos
e políticas públicas de saúde, assistência social e direitos Estratégias:
humanos, em parceria com as famílias, com a finalidade de 5.1) instituir protocolo de colaboração entre as redes
desenvolver modelos voltados para a continuidade do aten- públicas de ensino, com o fito de ampliar e consolidar os
dimento escolar, na Educação de Jovens e Adultos - EJA com processos de alfabetização para as crianças do campo, qui-
deficiência e transtornos globais do desenvolvimento com lombolas, indígenas, de populações e grupos itinerantes e
idade superior à faixa etária de escolarização obrigatória, de comunidades tradicionais;
forma a assegurar a atenção integral; 5.2) estimular os Municípios na alfabetização de crianças
4.12) estruturar, até o fim do quinto ano de vigência do do campo, indígenas, quilombolas, de comunidades tradi-
PEE-BA, a ampliação das equipes de profissionais da educa- cionais de grupos étnicos e trabalhadores itinerantes, com a
ção para o atendimento educacional especializado, com pro- produção de materiais didáticos específicos, a serem vincu-
fessores, pessoal de apoio ou auxiliares, tradutores e intér- lados a programas de formação continuada de professores
pretes de LIBRAS, guias-intérpretes para surdos-cegos, pro- alfabetizadores;
fessores de LIBRAS, a fim de estruturar o serviço de Educação 5.3) desenvolver instrumentos de acompanhamento que
Especial nas escolas, para atender à demanda do processo considerem o uso da língua materna pelas comunidades in-
de escolarização dos estudantes com deficiência, transtornos dígenas e a identidade cultural das comunidades quilom-
globais do desenvolvimento e altas habilidades; bolas, comunidades tradicionais e de outros grupos étnicos;
87
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
5.4) estimular os sistemas de ensino e as escolas a cria- 6.4) estabelecer protocolo de medidas pedagógicas,
rem seus respectivos instrumentos de avaliação e monitora- normatizado pelo Conselho Estadual de Educação e reite-
mento, implementando medidas pedagógicas para alfabeti- rado pelos conselhos municipais de educação para garantir
zar todos os estudantes até, no máximo, o final do terceiro a ampliação do tempo de permanência dos estudantes na
ano do Ensino Fundamental, tendo como referência a ava- escola, sem distinção entre turnos e com perfil de sequen-
liação nacional; ciamento de atividades curriculares, integradas ou não com
5.5) fomentar o desenvolvimento e a aplicação de tec- outros espaços educativos da sociedade;
nologias educacionais e de práticas pedagógicas inovadoras 6.5) fomentar a articulação da escola com os diferentes
que assegurem a alfabetização e favoreçam a aprendizagem espaços educativos, culturais e esportivos e com equipa-
dos estudantes, consideradas as diversas abordagens meto- mentos públicos, como brinquedotecas, centros comunitá-
dológicas e sua efetividade; rios, bibliotecas, praças, parques, museus, teatros, cinemas,
5.6) promover e estimular a formação inicial e continua- planetários e outros;
da de professores para a alfabetização de crianças, com o 6.6) estimular a oferta de atividades voltadas à am-
conhecimento de novas tecnologias educacionais e práticas pliação da jornada escolar de estudantes matriculados nas
pedagógicas inovadoras, estimulando a articulação entre escolas de Educação Básica, por meio da participação de
programas de Pós-Graduação stricto sensu e ações de for- entidades da sociedade civil, de forma concomitante e em
mação continuada de professores para a alfabetização; articulação com a rede pública de ensino;
5.7) apoiar a alfabetização de crianças com deficiência, 6.7) incentivar a educação em tempo integral, para
considerando as suas especificidades, inclusive a alfabetiza- pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvol-
ção bilíngue de pessoas surdas, e seus tempos e necessida- vimento e altas habilidades na faixa etária de 04 (quatro) a
des de aprendizagem; 17 (dezessete) anos, estimulando atendimento educacional
5.8) estruturar os processos pedagógicos de alfabeti- especializado complementar e suplementar ofertado em
zação nos anos iniciais do Ensino Fundamental, articulan- salas de recursos multifuncionais da própria escola ou em
do-os com as estratégias desenvolvidas na pré-escola, com instituições especializadas;
qualificação e valorização dos professores alfabetizadores e
6.8) estimular, nas escolas, projetos de enriquecimento
com apoio pedagógico específico, a fim de garantir a con-
curricular de formação integral dos estudantes nas áreas
tinuação e consolidação da alfabetização plena de todas as
de ciência, arte, música, cultura, esporte e cultura corporal,
crianças;
com vistas ao desenvolvimento de habilidades, saberes e
5.9) promover, nos anos iniciais do Ensino Fundamen-
competências para a convivência, o trabalho coletivo e a
tal, a inseparabilidade das dimensões do educar e do cuidar,
promoção do bem-estar biopsicossocial;
considerando a função social desta etapa da educação e sua
centralidade que é o educando, pessoa em formação, na sua 6.9) fortalecer os procedimentos de acesso à escola em
essência humana. tempo integral aos adolescentes que cumprem medida so-
cioeducativa.
Da Educação Integral
Do Aprendizado Adequado na Idade Certa
Meta 6: Oferecer educação em tempo integral em, no míni-
mo, 25% (vinte e cinco por cento) das escolas públicas da Edu- Meta 7: Fomentar a qualidade da Educação Básica em
cação Básica, até o final do período de vigência deste PEE-BA. todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo es-
colar e da aprendizagem, tendo como parâmetro o avanço
Estratégias: dos indicadores de fluxo revelados pelo Censo Escolar e
6.1) incentivar que as unidades escolares do campo e dos indicadores de resultados de desempenho em exames
das comunidades tradicionais se associem aos programas padronizados, nos termos da metodologia do Índice de
nacionais para Educação Integral, considerando as peculiari- Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB.
dades locais na estruturação curricular;
6.2) adotar medidas para otimizar o tempo de perma- Estratégias:
nência dos estudantes na escola, direcionando a expansão 7.1) estimular práticas pedagógicas inovadoras que as-
da jornada com o efetivo trabalho escolar combinado com segurem a melhoria da aprendizagem e do fluxo escolar,
atividades de aplicação de conhecimento científico, recreati- considerando o uso de softwares livres e de recursos edu-
vas, esportivas e culturais, sempre conciliadas com o princí- cacionais abertos;
pio da contextualização e com a abordagem interdisciplinar; 7.2) incentivar a melhoria da educação escolar ofere-
6.3) promover, com o apoio da União, a oferta de Educa- cida no campo, para crianças, jovens e adultos de popula-
ção Básica pública em tempo integral, por meio de ativida- ções tradicionais, de populações e grupos itinerantes e de
des de acompanhamento pedagógico e multidisciplinares, comunidades indígenas e quilombolas,
inclusive culturais e esportivas, de forma que o tempo de 7.2) incentivar a melhoria da educação escolar oferecida
permanência dos estudantes na escola, ou sob sua respon- no campo, para crianças, jovens e adultos de populações tra-
sabilidade, passe a ser igual ou superior a 07 (sete) horas dicionais, de populações e grupos itinerantes e de comunida-
diárias durante todo o ano letivo, com a ampliação progres- des indígenas e quilombolas, respeitando a articulação entre
siva da jornada de professores em uma única escola, até o os ambientes escolares e comunitários, de modo a orientar
sexto ano de vigência deste PEE-BA; para corrigir fluxo e aumentar os níveis de proeficiência;
88
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
7.3) garantir, no currículo da Educação de Jovens e 7.13) garantir, nos currículos escolares, conteúdos sobre
Adultos, a temática da sustentabilidade ambiental e a pre- a história e as culturas afro-brasileira e indígena, incluin-
servação das respectivas identidades culturais, a participa- do a dos povos ciganos, assegurando-se o cumprimento
ção da comunidade na definição do modelo de organiza- das respectivas diretrizes curriculares nacionais, por meio
ção pedagógica e de gestão das instituições, consideradas de ações colaborativas com fóruns de educação e grupos
as práticas socioculturais e as formas particulares de orga- étnico-raciais, conselhos escolares, equipes pedagógicas e
nização do tempo escolar; representantes da sociedade civil;
7.4) encorajar a oferta bilíngue na Educação Infantil e 7.14) mobilizar as famílias e setores da sociedade civil,
nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em língua mater- articulando a educação formal com experiências de educa-
na das comunidades indígenas e em Língua Portuguesa; ção popular e cidadã, com o propósito de que a educação
7.5) garantir a oferta de programa para a formação ini- seja assumida como responsabilidade de todos e de am-
cial e continuada de profissionais da educação aos grupos pliar o controle social sobre o cumprimento das políticas
e o atendimento em Educação Especial para populações públicas educacionais;
tradicionais, populações de grupos itinerantes e de comu- 7.15) promover, com especial ênfase, em consonância
nidades indígenas e quilombolas, em articulação com o com as diretrizes do Plano Estadual do Livro e da Leitura,
Ministério da Educação - MEC; aprovado pelo Decreto nº 15.303, de 28 de julho de 2014,
7.6) estabelecer e implantar, até o segundo ano de vi- a formação de leitores e leitoras e a capacitação de pro-
gência deste PEE-BA, mediante pactuação interfederativa, fessores.
diretrizes pedagógicas para a Educação Básica e a base
nacional comum dos currículos, com direitos e objetivos Da Escolaridade Média da População
de aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes para
cada ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, res- Meta 8: Assegurar políticas para elevar a escolaridade
peitada a diversidade regional, estadual e local; média da população de 18 (dezoito) a 29 (vinte e nove)
7.7) assegurar mecanismos de indução da melhoria da anos, com vistas à continuidade de esforços para a redução
proficiência dos estudantes do Ensino Fundamental e do
da diferença entre o campo e áreas urbanas, nas regiões
Ensino Médio, em todas as escolas públicas por meio de
de menor escolaridade e com incidência de maiores níveis
programas e processos destinados a esse objetivo;
de pobreza e entre negros e não negros declarados à Fun-
7.8) estabelecer, em colaboração entre a União, o Es-
dação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
tado e os Municípios, um conjunto de indicadores de ava-
liação institucional com base no perfil dos estudantes e do
Estratégias:
corpo de profissionais da educação, nas condições de in-
fraestrutura das escolas, nos recursos pedagógicos dispo- 8.1) estimular a política de Educação de Jovens e Adul-
níveis, nas características da gestão e em outras dimensões tos - EJA em todas as redes públicas de ensino, que con-
relevantes, considerando as especificidades das modalida- tribuam para ampliar a escolaridade da população baiana,
des de ensino; com reforço nas condições de atendimento às especifici-
7.9) induzir processo contínuo de autoavaliação das dades;
escolas de Educação Básica, por meio da construção de 8.2) implementar programas de Educação de Jovens e
instrumentos que orientem as dimensões a serem forta- Adultos - EJA para os segmentos populacionais que este-
lecidas, destacando-se a elaboração de planejamento es- jam fora da escola e com defasagem idade/ano, associados
tratégico, a melhoria contínua da qualidade educacional, a estratégias que garantam a continuidade da escolariza-
a formação continuada dos profissionais da educação e o ção após a alfabetização inicial, respeitadas as condições
aprimoramento da gestão democrática, até o quarto ano culturais do campo e da cidade, do urbano e do rural, de
de vigência deste PEE-BA; maneira a se assumirem as peculiaridades culturais como
7.10) fortalecer os processos de fomento ao apoio téc- paradigma curricular;
nico e financeiro para a gestão escolar, garantindo a parti- 8.3) promover articulações intersetoriais para expansão
cipação da comunidade escolar no planejamento e na apli- da escolaridade da população baiana, em parceria com as
cação desses recursos, visando à consolidação da gestão áreas da ciência e tecnologia, saúde, trabalho, desenvolvi-
democrática; mento social e econômico, cultura e justiça, priorizando o
7.11) garantir políticas de combate à violência na esco- apoio aos estudantes com rendimento escolar defasado e
la, por meio do desenvolvimento de ações destinadas a ca- considerando-se as particularidades dos segmentos popu-
pacitar profissionais da Educação Básica para detecção dos lacionais específicos, ressaltada a integração com a Educa-
sinais de suas causas, dentre estas a violência doméstica e ção Profissional;
sexual, favorecendo a adoção das providências adequadas 8.4) estimular ordenamento escolar diferenciado, na
para promover a construção da cultura de paz e um am- estrutura e funcionamento e no currículo, que garanta
biente escolar dotado de segurança para a comunidade; acesso gratuito a exames de certificação de conclusão do
7.12) implementar políticas de inclusão e permanência Ensino Fundamental e do Ensino Médio para os que não
na escola para adolescentes e jovens que se encontrem em tiveram oportunidade de matrícula à época da oferta regu-
regime de privação de liberdade e em situação de rua, as- lar ou para os que têm escolaridade deficitária, insuficiente
segurando os princípios da Lei Federal nº 8.069, de 13 de ou incompleta;
julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente;
89
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
90
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
9.8) estabelecer mecanismos e incentivos que integrem 10.3) fomentar a produção de material didático, o de-
os segmentos empregadores, públicos e privados, e os sis- senvolvimento de currículos e de metodologias específicas,
temas de ensino, para promover a compatibilização da jor- os instrumentos de avaliação, o acesso a equipamentos e
nada de trabalho dos empregados com a oferta das ações laboratórios e a formação inicial e continuada de docen-
de alfabetização e de Educação de Jovens e Adultos - EJA; tes das redes públicas que atuam na Educação de Jovens e
9.9) promover a integração da Educação de Jovens e Adultos - EJA integrada à
Adultos - EJA com políticas públicas de saúde, trabalho, 10.3) fomentar a produção de material didático, o de-
meio ambiente, cultura e lazer, entre outros, na perspectiva senvolvimento de currículos e de metodologias específicas,
da formação integral dos cidadãos; os instrumentos de avaliação, o acesso a equipamentos e
9.10) fazer proposições de programas colaborativos de laboratórios e a formação inicial e continuada de docen-
capacitação tecnológica da população jovem e adulta, di- tes das redes públicas que atuam na Educação de Jovens e
recionados para os segmentos com baixos níveis de esco- Adultos - EJA integrada à Educação Profissional;
larização formal e para os estudantes com deficiência, arti- 10.4) fomentar a diversificação curricular da Educação
culando os sistemas de ensino, a Rede Federal de Educação Profissional articulada à Educação de Jovens e Adultos -
Profissional, Científica e Tecnológica, as universidades, as EJA, promovendo a interrelação entre teoria e prática nos
cooperativas e as associações, por meio de ações de ex- eixos da ciência, do trabalho, da tecnologia, da cultura e
tensão desenvolvidas em centros vocacionais tecnológicos, da cidadania, de forma a organizar o tempo e o espaço
com tecnologias assistivas que favoreçam a efetiva inclusão pedagógicos adequados às características e necessidades
social e produtiva dessa população; dos jovens e adultos;
9.11) articular parcerias intersetoriais entre as políticas 10.5) implementar e ampliar mecanismos de reconhe-
de Educação de Jovens e Adultos - EJA e as políticas cultu- cimento e valorização dos saberes e experiências de jovens
rais, para que estudantes e educadores e profissionais da e adultos trabalhadores, adquiridos em contextos externos
EJA sejam beneficiados por ações que permitam o acesso à ao espaço escolar, a serem considerados na integralização
expressão e à produção cultural, em suas diferentes lingua- curricular nos cursos de formação inicial e continuada e nos
gens e expandindo possibilidades de oferta da Educação
cursos técnicos de nível médio, por meio do aproveitamen-
Profissional da área cultural para a EJA, em plena aderência
to de estudos ou de certificação profissional.
com a Lei Federal nº 13.018, de 22 de julho de 2014, que
dispõe sobre a Política Nacional de Cultura Viva;
Da Educação Profissional
9.12) garantir aumento progressivo da matrícula de
egressos de programas de alfabetização de jovens e adul-
Meta 11: Ampliar as matrículas da Educação Profissio-
tos, nos níveis seguintes da Educação Básica e da Educação
Profissional, tendo em vista a continuidade dos estudos e a nal Técnica de nível médio, assegurando a qualidade da
elevação da escolaridade desses sujeitos. oferta e pelo menos 50% (cinquenta por cento) da expan-
são no segmento público.
Da Educação de Jovens e Adultos - EJA integrada à
Educação Profissional Estratégias:
11.1) expandir a oferta de Educação Profissional Técni-
Meta 10: Ampliar a oferta em 25% (vinte e cinco por ca de nível médio na rede pública estadual de ensino, com
cento), das matrículas de Educação de Jovens e Adultos - ênfase nas modalidades integradas, de modo que a pro-
EJA, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, na forma porção de técnicos na população economicamente ativa se
integrada à Educação Profissional. aproxime da demandada pelo mundo do trabalho;
11.2) articular a expansão das matrículas de Educação
Estratégias: Profissional Técnica de nível médio na Rede Federal de
10.1) expandir a oferta da Educação Profissional integrada Educação Profissional, Científica e Tecnológica, levando em
à Educação de Jovens e Adultos - EJA, nos níveis Fundamental consideração a responsabilidade dos Institutos na orde-
e Médio, em cursos planejados, inclusive na modalidade de nação territorial, sua vinculação com arranjos produtivos,
Educação à Distância, de acordo com as características do pú- sociais e culturais, locais e regionais, bem como a interiori-
blico e considerando as especificidades das populações itine- zação da Educação Profissional;
rantes e do campo, das comunidades indígenas, quilombolas, 11.3) expandir o atendimento da Educação Profissional in-
das comunidades tradicionais e dos privados de liberdade; tegrada ao Ensino Médio para as populações do campo e para
10.2) implementar programas de formação profissio- as comunidades indígenas, quilombolas e povos das comuni-
nal para a população jovem e adulta, direcionados para os dades tradicionais, de acordo com as expectativas territoriais e
segmentos com baixos níveis de escolarização formal, do escuta das representações institucionais dessas comunidades;
campo e da cidade, bem como para os (as) estudantes com 11.4) reduzir as desigualdades étnico-raciais e regio-
deficiência, articulando os sistemas de ensino, a Rede Fe- nais, com destaque para as peculiaridades do campo e
deral de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, as da cidade, da cultura local e da identidade territorial, no
universidades, as centrais e sindicatos de trabalhadores, as acesso e permanência na Educação Profissional Técnica de
cooperativas e as associações, por meio de ações de exten- nível médio, inclusive mediante a adoção de políticas afir-
são desenvolvidas em centros tecnológicos, com tecnolo- mativas, na forma da lei, no âmbito do Sistema Estadual de
gias assistivas que favoreçam a efetiva inclusão social; Ensino da Educação Básica;
91
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
11.5) estimular a oferta da Educação Profissional Tec- 11.17) articular com as IES o prosseguimento do per-
nológica, de Graduação e de Pós-Graduação, em integra- curso formativo dos concluintes dos cursos técnicos de ní-
ção com a Rede Federal de Educação Profissional, Científica vel médio com os respectivos cursos superiores análogos;
e Tecnológica e com as instituições universitárias de Educa- 11.18) mapear, de forma contínua, a demanda e fo-
ção Superior, levando em consideração a responsabilidade mentar a oferta de formação de pessoal técnico de nível
dos Institutos na ordenação territorial, sua vinculação com médio, considerando as necessidades do desenvolvimento
arranjos produtivos, sociais e culturais, locais e regionais, do Estado, particularmente do semiárido e das manchas de
bem como a interiorização da Educação Profissional; pobreza extrema.
11.6) fomentar a expansão da oferta de Educação Pro-
fissional técnica de nível médio na modalidade de Educa- Da Educação Superior
ção à Distância, com a finalidade de ampliar o atendimento
e democratizar o acesso à Educação Profissional pública e Meta 12: Focalizar o crescimento gradativo da taxa lí-
gratuita, assegurando padrão de qualidade; quida de matrícula na Educação Superior, a partir da vi-
11.7) estimular a expansão do estágio na Educação gência deste PEE - BA, de maneira que se atinja a taxa de
Profissional Técnica de nível médio, preservando-se seu 12% (doze por cento) em relação à população estimada de
caráter pedagógico integrado ao itinerário formativo do 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos de idade no ano de
aluno, visando à formação de qualificações próprias da ati- 2025, contribuindo para equilibrar a meta nacional e, do
vidade profissional, à contextualização curricular e ao de- mesmo modo, concentrar esforços para que a taxa bruta
senvolvimento da juventude; de matrícula se situe em torno de 30% (trinta por cento)
11.8) fomentar a oferta pública de certificação profis- nesse mesmo ano.
sional como reconhecimento de saberes para fins de vali-
dação, em parte ou no todo, da qualificação profissional e Estratégias:
dos cursos técnicos; 12.1) coordenar com as IES públicas e privadas o pro-
11.9) ampliar a oferta de matrículas gratuitas de Edu- pósito da expansão do acesso à Educação Superior, tendo,
cação Profissional Técnica de nível médio pelas entidades no horizonte, o esforço progressivo para se proporcionar
privadas de formação profissional vinculadas ao sistema a elevação de ambas as taxas de matrícula, alinhada à ex-
sindical e entidades sem fins lucrativos pansão com o respeito à natureza institucional das IES, às
11.9) ampliar a oferta de matrículas gratuitas de Edu- respectivas demandas de cada região onde estão inseridas
cação Profissional Técnica de nível médio pelas entidades e novos formatos de mecanismos de acesso ao Ensino Su-
privadas de formação profissional vinculadas ao sistema perior;
sindical e entidades sem fins lucrativos de atendimento à 12.2) estimular a formação de profissionais da educa-
pessoa com deficiência; ção na perspectiva de participação nos processos de aten-
11.10) estruturar sistema de avaliação da qualidade da dimento específico a populações do campo, comunidades
Educação Profissional Técnica de nível médio das redes es- indígenas e quilombolas, a povos ciganos, a comunidades
colares públicas e privadas; tradicionais e a pessoas com deficiência, transtornos do
11.11) expandir a oferta de Educação Profissional Téc- desenvolvimento e altas habilidades;
nica de nível médio para as pessoas com deficiência, trans- 12.3) articular um fórum de interlocução entre as insti-
tornos globais do desenvolvimento e altas habilidades; tuições públicas que atuam na Educação Superior, comuni-
11.12) estruturar sistema estadual de informação pro- dades tradicionais e a pessoas com deficiência, transtornos
fissional, articulando a oferta de formação das instituições do desenvolvimento e altas habilidades;
especializadas em Educação Profissional aos dados do 12.3) articular um fórum de interlocução entre as insti-
mercado de trabalho e às consultas promovidas em enti- tuições públicas que atuam na Educação Superior, no âm-
dades empresariais e de trabalhadores; bito de suas ações de ensino, pesquisa e extensão, fundado
11.13) ofertar cursos de Educação Profissional aos es- no fortalecimento da colaboração interfederativa, no pacto
tudantes em cumprimento de medidas socioeducativas, cooperativo e no diálogo interinstitucional, na reafirmação
observando as ressalvas da legislação vigente; das competências instituídas pela Lei Federal nº 9.394, de
11.14) articular a oferta de Educação Profissional com 20 de dezembro de 1996 - LDB, e pelo disposto no art. 214
o sistema público de emprego, trabalho e renda, com as da Constituição Federal;
políticas de desenvolvimento territorial e com as ações de 12.4) incentivar programa específico de formação de
inclusão produtiva, municipais, estaduais e federais; professores e outros profissionais da educação para esco-
11.15) organizar serviços de orientação profissional las urbanas e do campo, das comunidades indígenas e qui-
para divulgação da Educação Profissional no último ano do lombolas, dos povos das comunidades tradicionais, bem
Ensino Fundamental; como para a Educação Especial, em conjunto com as IES
11.16) promover, em parceria com as Instituições de públicas - universitárias ou não;
Ensino Superior - IES e os Institutos Federais de Educação, 12.5) encaminhar protocolo de referência para o Gover-
Ciência e Tecnologia, oferta de cursos de Licenciatura e no Federal, no sentido de buscar ampliação para as políticas
Pós-Graduação na área de Educação Profissional, priori- de inclusão e de assistência estudantil dirigidas aos discentes
zando a formação dos profissionais que atuam nos cursos de instituições públicas de Educação Superior baianas, com
técnicos de nível médio e de qualificação profissional; destaque aos estudantes das universidades estaduais;
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Meta 14: Fortalecer o aumento gradual do número Meta 15: Articular a continuidade do Plano Nacional
de matrículas na Pós-Graduação stricto sensu, de modo a de Formação de Professores da Educação Básica - PARFOR,
atingir a titulação anual de 1.900 (um mil e novecentos) em regime de colaboração entre a União, o Estado e os
mestres e 500 (quinhentos) doutores, de maneira contínua Municípios, visando atingir a expectativa de que todos os
e gradativa. professores da Educação Básica possuam formação espe-
cífica de nível superior, obtida em curso de Licenciatura na
Estratégias: área de conhecimento em que atuam.
14.1) articular com as Instituições de Educação Supe-
rior - IES a construção de um plano estratégico para co- Estratégias:
bertura de demandas para expansão de matrículas em cur- 15.1) planejar a disponibilização de vagas em pro-
sos de Pós-Graduação, com destaque para a educação do gramas contínuos de aperfeiçoamento da docência para
campo, quilombola, indígena, de comunidades tradicionais docentes do nível da Educação Básica, em quaisquer das
e de povos ciganos, Educação Especial, dos privados de li- modalidades, com o fito de aprofundar a compreensão
berdade, educação científica e alfabetização; sobre a aceitação das diferenças, da marca cultural e da
14.2) fomentar a articulação entre as universidades sempre possível convivência democrática entre os grupos
e os institutos federais, objetivando a oferta de Pós-Gra- humanos distintos entre si, com atenção especial para a
duação stricto sensu voltada para as áreas prioritárias de educação do campo, educação escolar indígena, educação
desenvolvimento integrado do Estado, particularizando as quilombola, educação especial, educação prisional e aten-
vocações intrarregionais e interregionais; dimento socioeducativo;
14.3) estimular o planejamento do conjunto dos cam- 15.2) estimular a melhoria da qualidade dos cursos de
pos para formação de mestres e doutores, consideradas pedagogia e licenciaturas, por meio de discussões perma-
as necessidades do desenvolvimento territorial baiano, da nentes com as IES, de modo a consolidar a aquisição das
convivência com o semiárido e mitigação dos efeitos da
qualificações necessárias para conduzir os 15.2) estimular a
seca, da gestão dos recursos hídricos e ambientais, da bio-
melhoria da qualidade dos cursos de pedagogia e licencia-
diversidade e da geração de emprego e renda, construin-
turas, por meio de discussões permanentes com as IES, de
do, de forma coletiva, esse plano de formação junto às IES
modo a consolidar a aquisição das qualificações necessá-
baianas;
rias para conduzir os diversos processos pedagógicos que
14.4) estimular a integração e a atuação articulada en-
combinem formação geral e específicas, em reciprocidade
tre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ní-
com o princípio pedagógico da contextualidade, da inter-
vel Superior - CAPES e as agências estaduais de fomento à
disciplinaridade, da simetria invertida, da residência docen-
pesquisa;
14.5) implementar ações para reduzir as desigualdades te e da articulação entre formação acadêmica e base nacio-
étnico-raciais e regionais e para favorecer o acesso das po- nal comum do currículo da Educação Básica;
pulações do campo e das comunidades indígenas e qui- 15.3) reprogramar, em regime de colaboração entre
lombolas a programas de Mestrado e Doutorado; União, Estado e Municípios, as ações do Plano Estratégico
14.6) fomentar a expansão do programa de acervo di- de Formação de Profissionais do Magistério da Rede Públi-
gital de referências bibliográficas para os cursos de Pós- ca de Educação Básica, de modo que assegure a formação
Graduação, assegurada a acessibilidade às pessoas com em licenciatura a todos os professores, até o último ano de
deficiência; vigência deste PEE-BA;
14.7) estimular a participação das mulheres nos cursos 15.4) fomentar, nas IES, a criação e a consolidação dos
de Pós-Graduação stricto sensu, em particular aqueles li- Fóruns de Licenciatura e Comitês Gestores de Formação
gados às áreas de Engenharia, Matemática, Física, Química, Inicial e Continuada de Professores, institucionalizando es-
Informática e outros no campo das ciências em que as mu- sas instâncias, até o fim do primeiro ano de vigência desse
lheres ainda sejam a minoria; PEE-BA, de modo a incluí-los nos projetos institucionais de
14.8) fomentar pesquisas, com foco em desenvolvi- cada IES;
mento e estímulo à inovação, bem como incrementar a 15.5) criar um banco de dados referente à necessida-
formação de recursos humanos para a inovação nos Terri- de de formação de docentes e não docentes, por nível de
tórios de Identidade e nos Municípios; ensino, etapas e modalidades da educação, até o fim do
14.9) estimular programas de incentivo à cooperação primeiro ano de vigência desse PEE;
entre empresas, IES e ICT, de modo a incrementar a inova- 15.6) estimular o desenvolvimento de modelos de for-
ção e a produção e respectivos registros de patentes, esti- mação docente para a Educação Profissional que valorizem
mulando-se o desenvolvimento de tecnologia para gestão a experiência prática, por meio da oferta, nas redes federal
de recursos. e estaduais de Educação Profissional, de cursos voltados à
complementação e à certificação didático-pedagógica de
profissionais experientes;
94
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
15.7) estimular programa de formação para produção Da Formação Continuada e Pós-Graduação de Pro-
e uso de tecnologias e conteúdos multimidiáticos para o fessores
contexto das novas tecnologias educativas, garantindo
acesso aberto aos mesmos e sua disseminação coletiva; Meta 16: Formar, em nível de Pós-Graduação, 50% (cin-
15.8) consolidar ações de natureza interinstitucional quenta por cento) dos professores da Educação Básica, até
que reforcem os objetivos da Lei Federal nº 10.639, de 09 o último ano de vigência deste PEE-BA, e garantir a todos
de janeiro de 2003, e da Lei Federal nº 11.645, de 10 de os profissionais da Educação Básica formação continuada
março de 2008, com inclusão curricular dos objetos a que em sua área de atuação, considerando as necessidades, de-
se referem essas Leis, em articulação com os sistemas de mandas e contextualizações dos sistemas de ensino.
Educação Básica;
15.9) promover em articulação com as IES o reconheci- Estratégias:
mento da escola de Educação Básica e demais instâncias da 16.1) realizar, até o segundo ano de vigência deste PEE
educação como espaços estratégicos da formação inicial e -BA, em regime de colaboração, o diagnóstico e o planeja-
continuada dos professores e dos demais profissionais do mento estratégico para dimensionamento da demanda por
magistério; formação continuada de professores da Educação Básica
15.10) fomentar as IES para a ampliação da oferta de do Estado e dos Municípios, ficando o Fórum Estadual Per-
cursos de formação inicial e continuada de professores manente de Apoio à Formação Docente como núcleo para
para a educação escolar indígena, do campo, quilombo- organizar o citado plano estratégico;
la, das comunidades tradicionais, da educação de jovens e 16.2) instituir áreas prioritárias para a Política Estadual
adultos, inclusive para privados de liberdade, considerando de Formação de Docentes da Educação Básica, sob aval do
o ensino intercultural e bilíngue, a diversidade cultural, o Conselho Estadual de Educação e colaboração da União
desenvolvimento regional e as especificidades étnico-cul- Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - UNDI-
turais e circunstanciais de cada comunidade ou de grupos; ME e da União Nacional dos Conselhos Municipais de Edu-
15.11) promover o avanço das discussões sobre o fi- cação - UNCME, no âmbito da discussão estadual sobre a
nanciamento estudantil de estudantes matriculados em formação docente e as necessidades do Sistema Estadual
cursos de licenciatura com avaliação positiva pelo Sistema de Ensino;
Nacional de Avaliação da Educação Superior - SINAES, res- 16.3) fortalecer o Plano Estadual do Livro e da Leitura,
peitando-se o disposto pela Lei Federal nº 10.861, de 14 de aprovado pelo Decreto nº 15.303, de 28 de julho de 2014,
abril de 2004; vinculando-o à formação continuada de docentes e insti-
15.12) oferecer apoio técnico-pedagógico aos progra- tuindo-o como dispositivo de referência aos sistemas de
mas de iniciação à docência a estudantes matriculados em ensino, para consolidar a prática de leitura e de formação
cursos de licenciatura, a fim de aprimorar a formação de de leitores, de modo especial à área das linguagens;
profissionais para atuar no Magistério da Educação Básica; 16.4) articular, em colaboração entre o Estado, os Mu-
15.13) valorizar as práticas de ensino e os estágios nos nicípios e a União, a oferta especial de cursos de Pós-Gra-
cursos de formação de nível médio e superior dos profis- duação para a formação de professores de LIBRAS, por-
sionais da educação, visando ao trabalho sistemático de tuguês escrito para surdos como segunda língua, desde a
articulação entre a formação acadêmica e as demandas da alfabetização até os anos iniciais, bem como de professores
Educação Básica; alfabetizadores para atendimento educacional especializa-
15.14) fomentar a oferta de cursos técnicos de nível do, para qualquer modalidade da Educação Básica, incluí-
médio e tecnológicos de nível superior destinados à forma- das obras de literatura e dicionários.
ção, nas respectivas áreas de atuação, dos profissionais da
educação de outros segmentos que não os do magistério, Da Valorização do Professor
no prazo de cinco anos de vigência do PEE-BA;
15.14) fomentar a oferta de cursos técnicos de nível Meta 17: Valorização dos docentes das redes públicas
médio e tecnológicos de nível superior destinados à forma- da Educação Básica em conformidade com o conjunto de
ção, nas respectivas áreas de atuação, dos profissionais da medidas regulamentares à disposição constitucional que
educação de outros segmentos que não os do magistério, pressupõe Planos de Carreira definidos em lei, ingresso por
no prazo de cinco anos de vigência do PEE-BA; concurso público de provas e títulos, composição da jorna-
15.15) assegurar que as questões de diversidade cultu- da de trabalho e formação continuada.
ral, étnica, religiosa e sexual sejam tratadas como temáticas
nos currículos de formação inicial e continuada de profes- Estratégias:
sores, sob égide do Plano Nacional de Educação em Direi- I.incentivar a implementação de política de atenção à
tos Humanos e das diretrizes nacionais para a educação saúde para os profissionais da educação, com ênfase na
em direitos humanos emanadas pelo Conselho Nacional de prevenção de doenças decorrentes do trabalho, destacan-
Educação; do as relacionadas com a saúde vocal, a saúde mental e os
15.16) promover programas de formação inicial e con- distúrbios osteomusculares, por meio de medidas de pro-
tinuada dos profissionais e de todos os atores que atuam moção da saúde, numa perspectiva biopsicossocial e com
na educação prisional ou no atendimento socioeducativo. ações intersetoriais de saúde, educação e assistência social;
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Do Financiamento da Educação 20.8) colaborar para que seja implantado nos siste-
mas públicos o Custo Aluno-Qualidade inicial - CAQi,
Meta 20: Assegurar os recursos financeiros para cum- no contexto da formulação nacional deste parâmetro e
primento das metas de competência do Estado estabele- salvaguardado o princípio dos reajustes indispensáveis à
cidas por este Plano Estadual de Educação, buscando-se proteção financeira para o sucesso do processo de ensino
ampliar o investimento público em educação e consolidar e de aprendizagem, à luz da implantação plena do Custo
o disposto no art. 159 da Constituição do Estado da Bahia, Aluno-Qualidade - CAQ;
incluindo este PEE-BA no contexto dos programas de du- 20.9) desenvolver, por meio de articulações interse-
ração continuada. toriais, estudos, formas de controle e acompanhamento
regular da aplicação de investimentos de custo por aluno
Estratégias: da Educação Básica, da Educação Profissional e da Educa-
20.1) promover a avaliação da porcentagem de inves- ção Superior públicas;
timento e custeio em educação, a cada 02 (dois) anos, con- 20.10) aperfeiçoar o gerenciamento dos recursos des-
siderados os investimentos em cada nível da oferta, para tinados à educação no Estado e nos Municípios, median-
se obter, de modo permanente, a supervisão das necessi- te a formação de gestores das redes públicas estadual e
dades financeiras para o cumprimento das metas do PEE municipais, com vistas à melhoria contínua do uso legal e
-BA, em discussão com os Poderes Legislativo e Executivo; eficiente dos recursos públicos, nos termos dispostos pelo
20.2) otimizar a destinação de recursos à manutenção Título VII da Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro de
e ao desenvolvimento do ensino aos recursos vinculados, 1996 - LDB;
nos termos do art. 212 da Constituição Federal; 20.11) estimular os segmentos que integram cada co-
20.3) pactuar o Estado com os Municípios, sob aval munidade escolar a realizarem consultas aos portais de
do regime de colaboração com a União, na formulação de transparência das receitas e despesas do total de recursos
estratégias que assegurem novas fontes de financiamento
destinados ao funcionamento dos sistemas de educação
permanentes e sustentáveis para todas as etapas e moda-
no âmbito do Estado e, também, a desempenharem pa-
lidades da Educação Básica;
pel ativo na fiscalização da aplicação desses recursos, por
20.4) consolidar a capacidade de atendimento e do es-
meio de conselhos civis, assessoramento do Ministério
forço fiscal do Estado e dos Municípios, com vistas a aten-
Público e colaboração técnica do Tribunal de Contas do
der às suas demandas educacionais, à luz das normativas
Estado da Bahia.22
nacionais, com destaque para a Lei Federal nº 11.494, de
20 de junho de 2007, que regulamenta o FUNDEB;
20.5) garantir mecanismos de articulação entre o Pla-
no Nacional de Educação - PNE, o Plano Estadual de Edu-
cação e cada Plano Municipal de Educação, no âmbito do
Estado da Bahia, para que os instrumentos orçamentários
utilizados pelos entes federados - Plano Plurianual - PPA,
Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO e Lei de Orçamento
Anual - LOA - sejam harmônicos e sistemicamente vincula-
dos entre si, de modo a sublinhar procedimentos técnicos
que assegurem o cumprimento das metas e estratégias
deste PEE-BA;
20.6) regulamentar a destinação dos recursos advin-
dos da exploração de petróleo e gás natural para a manu-
tenção e desenvolvimento da educação pública no Estado
da Bahia, em conformidade com o disposto na Lei Federal
nº 12.858, de 09 de setembro de 2013;
20.7) fortalecer os mecanismos e os instrumentos que
assegurem a transparência e o controle social na utiliza-
ção dos recursos públicos aplicados em educação, espe-
cialmente a realização de audiências públicas, a criação de
portais eletrônicos de transparência e a capacitação dos
membros de conselhos de acompanhamento e controle
social do FUNDEB, com a colaboração entre o Ministé-
rio da Educação, a Secretaria da Educação, as secretarias
de educação dos Municípios e os Tribunais de Contas da
União, do Estado e dos Municípios;
22 Fonte: simec.mec.gov.br
97
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O Sistema de Avaliação da Educação Básica – Saeb, instituído em 1990, é composto por um conjunto de avaliações
externas em larga escala e tem como principal objetivo realizar um diagnóstico da educação básica brasileira e de alguns
fatores que possam interferir no desempenho do estudante, fornecendo um indicativo sobre a qualidade do ensino ofer-
tado. O levantamento produz informações que subsidiam a formulação, reformulação e o monitoramento das políticas pú-
blicas nas esferas municipal, estadual e federal, visando a contribuir para a melhoria da qualidade, equidade e eficiência do
ensino. Além disso, procura também oferecer dados e indicadores sobre fatores de influência do desempenho dos alunos
nas áreas e anos avaliados.
Em 2005, o Saeb foi reestruturado e passou a ser composto por duas avaliações: a Avaliação Nacional da Educação
Básica (Aneb), que manteve as características, os objetivos e os procedimentos da avaliação efetuada até aquele momento
pelo Saeb, e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), conhecida como Prova Brasil, criada com o objetivo de
avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas das redes públicas.
Em 2013, a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) foi incorporada ao Saeb para melhor aferir os níveis de alfabeti-
zação e letramento em Língua Portuguesa (leitura e escrita) e Matemática.
Hoje o Saeb é composto pelas três avaliações externas em larga escala:
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Histórico
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Fonte: http://portal.inep.gov.br/educacao-basica/saeb
Abaixo algumas reflexões sobre os aspectos que envolvem e ampliam a discussão a cerca da avaliação da educação
básica.
Os sistemas nacionais de avaliação, criados desde há algum tempo em muitos países, entre os quais o Brasil, têm cer-
tamente potencial para esclarecer os diversos setores da sociedade sobre as tendências da educação. Eles foram criados
para estimular a assunção de responsabilidades e a visibilidade que devem ter os sistemas educativos na informação dos
diversos atores, em nível individual, institucional, governamental e no conjunto da sociedade.
A questão da avaliação, porém, não é simples. Pelo papel que desempenha no julgamento de valor dos programas e
sistemas, a avaliação tem grande poder e, por isso, a importância de uma reflexão aprofundada sobre os diferentes aspec-
tos que a permeiam. Não se pode negar que a avaliação tem força para transformar, justificar ou até desacreditar aquilo
que avalia.
No caso dos Sistemas educacionais, entre os múltiplos fatores que influenciam a avaliação, dois se destacam: a autono-
mia da escola de um lado e a responsabilidade do Estado de outro. O Estado não pode restringir a autonomia das escolas,
mas é imperioso que ele se responsabilize pela qualidade de seus sistemas educativos, nas esferas pública e privada.
102
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
É fundamental a distinção entre avaliar a política edu- A avaliação da aprendizagem e os padrões mínimos de
cativa e avaliar o que acontece na escola. Embora em dife- qualidade
rentes níveis de abrangência, a avaliação da escola e a ava- A definição de padrões mínimos de qualidade é um de-
liação do sistema não são estanques, elas apresentam forte safio para a avaliação. Especificamente quanto A avaliação
interrelação. da aprendizagem dos educandos, os critérios e indicadores
Isso reforça a necessidade da avaliação ser realizada em devem se relacionar diretamente aos resultados obtidos em
dois níveis: micro, relacionado a cada estabelecimento de termos dos graus de domínio de competências, capacidades
ensino, o que deve ser pautado pela noção de especifici- ou habilidades, na perspectiva de uma educação vista não
dade de cada contexto e macro, ou seja, uma avaliação do exclusivamente como pragmática.
sistema, o que imprime a ela um caráter de generalidade. Outro aspecto importante é o da avaliação de acompa-
Outra discussão é sobre as dimensões interna e externa nhamento dos educandos. É a fase de transição entre o in-
que deveriam caracterizar a avaliação de cada estabeleci- terno da escola e a sociedade. A ideia é a de que a qualidade
mento de ensino. de uma escola também precisa agregar a seus resultados in-
A avaliação interna de cada escola do ensino privado ternos as peculiaridades e variáveis específicas de cada alu-
está diretamente relacionada às formas de sua gestão edu- no que a deixa, quer seja na evasão ao longo do processo,
cativa e ao seu projeto pedagógico, harmonizado com as quer seja ao final da formação.
diretrizes da educação. Isso significa que os estabelecimen- Isso implica avaliação formativa, mesmo que sejam ne-
tos escolares não são inteiramente específicos, particulares, cessários alguns cortes no processo, de modo a que se pos-
únicos, o que obriga ao próprio sistema educativo em que sam obter dados para
estão inseridos a refletirem sobre critérios mais amplos de uma análise na amplitude do sistema educacional priva-
qualidade. do e público. O caráter formativo diz respeito à orientação
Desta maneira, na dimensão interna, a avaliação deve constante na melhoria das
alimentar a reflexão da própria escola, ou seja de sua co- ações em nível institucional, curricular e de cada edu-
munidade, sobre as formas de sua gestão educativa e sobre cando.
seus propósitos e resultados, representados no seu projeto Em termos mais específicos do processo de ensino e
pedagógico. Uma das formas de processar essa análise in- aprendizagem, apesar de a prática avaliativa ser familiar aos
terna poderia ser a da auto avaliação. O pressuposto é o de docentes, deve-se estimulá-los para que compreendam os
que antes de criticar, deve-se praticar a autocrítica. motivos da avaliação em dimensão mais ampla. Essa com-
Contudo, essa é apenas uma alternativa; a própria es- preensão levará A melhoria da aprendizagem e da avaliação
cola deveria criar suas metodologias de avaliação, sempre dos alunos. isso implica capacitação precedida e acompa-
considerando que não existe uma única metodologia capaz nhada por sensibilização constante Reforçando a questão
de medir e garantir a qualidade de ensino do aprendiz. da temporalidade, a escola deverá avaliar suas ações numa
O importante é que a escola realize, além de uma ava- perspectiva de presente, passado e futuro. Isso caracteriza
liação interna, uma avaliação externa para que possa ser o aspecto longitudinal dos estudos, tendo como alvo o res-
considerada de qualidade no conjunto do sistema e não gate dos fatos que configuram a história de vida de cada
apenas intra-muros. escola.
A avaliação de cada escola baseada na dupla perspec-
tiva - interna e externa - pode proporcionar a criação de A integração entre o sistema público e o sistema privado
uma cultura avaliativa e pode propiciar o alcance de alguns Operacionalmente, o sistema de avaliação do ensino
objetivos básicos: processo de contínuo aperfeiçoamento privado poderia se iniciar com um projeto, pelo qual escolas
de sua missão de educar, instrumento de gestão educativa, privadas
elemento importante de informação para políticas públicas, comporiam uma amostra da sua população. Evidente-
e prestação de conta aos educandos e seus familiares. mente, alguns critérios deveriam nortear a composição des-
O desafio é buscar o equilíbrio entre a avaliação interna sa amostra. Um desses
representada pela reflexão dos atores sobre suas práticas e critérios é o da representatividade, outro o da estratifi-
a avaliação externa na perspectiva do desejo de transparên- cação. O critério de estratificação deve garantir que a análise
cia das ações e no fomento de um debate sobre o sistema. dos resultados possa ser
Uma avaliação exclusivamente interna pode impedir a feita no contexto regional, com respeito aos aspectos
escola de situar-se criticamente nos desempenhos do sis- culturais. Antes de propor uma integração entre os sistemas
tema de ensino. público e privado deve
Uma avaliação de caráter apenas externo, por outro haver uma análise aprofundada da adequação de ambas
lado, pode ressaltar meramente um espírito de competição as partes.
entre escolas, e tomar-se nefasta ao assumir um enfoque de Importante, também, que haja clareza sobre os objetos
concorrência. Cumpre ressaltar que a avaliação que exacer- de avaliação. Para isso, talvez seja necessário definir algumas
ba a classificação pode deturpar fins educacionais. dimensões, por exemplo, dimensão humana (ou de pessoal),
É evidente que sempre haverá uma certa diferenciação de ensino, aprendizagem e orientação dos educandos (o
entre as escolas; a uniformidade é totalitarismo. Embora di- que exige a análise de alguns componentes essenciais do
ferentes, contudo, é preciso que tenham um eixo norteador processo, como: abordagens educativas, objetivos, conteú-
que não prejudique a qualidade da formação dos educan- dos, metodologias, estratégias, abordagens e formas de
dos. avaliação) e material (ou física).
103
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
104
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
• Ao professor deve ser dada capacitação para que a Ademais, pesquisas sobre este campo de estudos “For-
avaliação da aprendizagem ressalte seu aspecto fornativo de mação de professores” tornam‐se importante, pois segun-
melhoria dos desempenhos dos educandos. do André (2010) seus resultados contribuem como subsí-
• Uma cultura avaliativa sadia depende da saúde de dios para formulação de políticas públicas, além de aferir
todas as instâncias que realizam a avaliação. reconhecimento à formação de professores como elemen-
• Depois de realizada a avaliação, é de responsabili- to fundamental para uma escola pública de qualidade.
dade do sistema o gerenciamento das necessidades de me-
lhoria detectadas.23 As Licenciaturas em um contexto interdisciplinar: mu-
danças e perspectivas
Recentemente tivemos a aprovação das novas Diretri-
AS LICENCIATURAS INTERDISCIPLINARES zes Curriculares para a Educação Básica, Resolução CNE/
COMO PARADIGMA ATUAL DA FORMAÇÃO CEB n° 04/2010 ‐ DCNEB, Parecer CNE/CEB nº 07/2010 e,
DOCENTE. mais recentemente para o Ensino Médio, a Resolução CNE/
CEB n° 02/2012 – DCNEM e, o Parecer CNE/CEB nº 05/2011.
Estes documentos normativos trazem em seu texto um
novo panorama para a Educação Nacional, preconizando a
A melhoria da qualidade da formação docente implica
no aprendizado de novas maneiras de ensinar e desenvolver necessidade de um ensino interdisciplinar, conforme pode-
estratégias de aprendizagem. A carência nacional de profes- mos observar, nas DCNEM:
sores para atender à Educação Básica em todas as áreas de Art. 8º O currículo é organizado em áreas de conheci-
conhecimento, especialmente a da rede pública, tornou-se, mento, a saber:
no Brasil, um problema crônico tendo como agravante a má I ‐ Linguagens;
formação docente, a qual repercute na baixa qualidade edu- II ‐ Matemática;
cacional e dos altos índices de evasão e repetência escolar no III ‐ Ciências da Natureza;
País. Essa realidade exige a participação da Universidade em IV ‐ Ciências Humanas.
projetos que objetivem mudanças substanciais nesses indica- § 1º O currículo deve contemplar as quatro áreas do
dores, principalmente por meio de uma atuação na Educação conhecimento, com tratamento metodológico que eviden-
Básica, com qualidade social. cie a contextualização e a
interdisciplinaridade ou outras formas de interação e
As discussões e pesquisas sobre formação de professores articulação entre diferentes campos de saberes específicos.
em nível superior não são novas, mas ainda são um desafio, (BRASIL, 2012, pág. 2‐3)
pois implicam compreender e discutir as concepções de for- Aparece também a necessidade de um ensino interdis-
mação, as condições de trabalho, a carreira dos professores, sua ciplinar nas DCNEB:
configuração identitária profissional dentre outros elementos. Art 13º (...) § 3º(...) III – escolha da abordagem didático‐
Ademais, discutir a formação de professores implica em pedagógica disciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar ou
questões de múltiplas naturezas com enfoques políticos, transdisciplinar pela escola,
epistemológicos, culturais e profissionais, constituindo‐se que oriente o projeto político‐pedagógico e resulte de
assim um processo multifacetado que demanda estudos e pacto estabelecido entre os profissionais da escola, con-
pesquisas nestes diversos enfoques. selhos escolares e comunidade, subsidiando a organiza-
Sabemos que ao abranger a temática da formação do- ção da matriz curricular, a definição de eixos temáticos e a
cente de um modo geral, somos remetidos a um grandio- constituição de redes de aprendizagem; (BRASIL, 2010, s/p)
so volume de publicações e discussões de autores da área,
Como podemos observar as politicas públicas que
tanto nacionais como internacionais, tais como: Tardif (2002,
implicam em reformas curriculares para educação básica
2005), Nóvoa (1995a, 1995b) Alarcão (2001, 2007), Zeichner
apontam para a interdisciplinaridade.
(1993,2002), Garcia (1995), Pimenta (2002), Veiga (2002), Frei-
re (1983,2000), Diniz‐Pereira (2000), Freitas (1999,2007), Shei- A partir destas novas orientações que regem a educa-
be (1999, 2002, 2004), Krahe (2000), Mello (2010). ção nacional, observamos um movimento no sentido de
Para afirmar que a Formação de Professores se constitui repensar a formação de professores, conforme nos sinaliza
campo de estudos, recorremos ao estudo de André (2010) Ilma Passos Alencastro Veiga (2010) em sua obra intitulada:
baseado em Marcelo Garcia (1999). Segundo a autora, Mar- “A escola mudou. Que mude a formação de professores!”.
celo propõe cinco critérios para atestar a delimitação do Todo esse contexto parece indicar que a proposição de
campo de formação de professores, que são: um novo modelo de escola, provocada pela implementa-
(...) existência de um objeto próprio, uso de metodolo- ção das atuais políticas educacionais para as escolas pú-
gia específica, uma comunidade de cientistas que define um blicas de Educação Básica, pode estar contribuindo de ma-
código de comunicação próprio e integração entre os parti- neira relevante para necessidade de repensar a formação
cipantes no desenvolvimento da pesquisa e reconhecimento inicial de professores.
da formação de professores como um elemento fundamen- Demarcamos inclusive a orientação que o próprio do-
tal na qualidade da ação educativa. (MARCELO, 1999, p. 24 cumento apresenta:
‐26 apud ANDRÉ, 2010, p.175). Art 2º Estas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
23 Fonte: www.fcc.org.br – Por Léa Depresbiteris para a Educação Básica têm por objetivos:
105
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
inciso III ‐ orientar os cursos de formação inicial e con- É este o viés que buscamos discutir neste estudo. Não
tinuada de docentes e demais profissionais da Educação aprofundaremos as discussões no sentido de problemati-
Básica, os sistemas educativos dos diferentes entes federa- zar o conceito da interdisciplinaridade. Ressaltamos que
dos e as escolas que os integram, indistintamente da rede nossa intenção neste estudo é demarcar a lacuna de es-
a que pertençam (Brasil, 2010,s/p) tudos e pesquisas na sobre a formação interdisciplinar do
Assim pensamos nas Licenciaturas Interdisciplinares professor, ou seja, sobre o processo de formação e não a
como uma nova perspectiva de formação de professores, à prática pedagógica desenvolvida.
luz das novas diretrizes para Educação Básica e Ensino Mé-
dio, bem como os novos contextos da educação nacional. Sobre a interdisciplinaridade na formação de profes-
Embora tenhamos ressaltado o aspecto da interdisci- sores
plinaridade na legislação da Educação Básica, esta orienta- Conforme procuramos apresentar anteriormente, os
ção para os currículos não é recente. estudos e pesquisas sobre a temática interdisciplinar não
Se observarmos as legislações anteriores1 percebemos são recentes e, concentram‐se principalmente nos estudos
uma orientação para que a escola se organize de forma a das práticas interdisciplinares dos professores e na defini-
contemplar a interdisciplinaridade, na organização do seu ção de um conceito.
currículo, em sua metodologia. Basta lembrarmo‐nos tam- A discussão sobre a interdisciplinaridade na formação
bém dos Parâmetros Curriculares Nacionais ‐ PCNs. de professores de nível superior, também não é recente
A professora Ivani Fazenda, grande estudiosa da temá- sendo observado um adensamento nestes estudos partir
tica no Brasil e coordenadora do Grupo de Estudos e Pes- dos anos 2000.
quisa sobre Interdisciplinaridade, nos afirma que investiga Nosso entendimento é de que a partir da aprovação
a temática há 30 anos, “Fecunda produção teórica, porém da Resolução CNE/CP 1/2002, que institui as Diretrizes Cur-
difícil de ser implementada, porque infelizmente o rito das riculares Nacionais para Formação de Professores da Edu-
cabeças deformadas pelo acúmulo de conteúdos ainda im- cação Básica3, em nível superior, em curso de licenciatura,
pera” (FAZENDA, 2006, p. 9) de graduação plena, houve um aumento no surgimento de
Ocorre que estas pesquisas procuram investigar prin- cursos que pautam sua organização a partir da interdisci-
cipalmente as práticas realizadas pelos professores bem plinaridade.
como a concepção adotada por estes do que seja a inter- Ademais, também tivemos reformulações nas políticas
disciplinaridade. de Educação Superior. No Brasil, a aprovação da LDB nº
Ao desenvolver nossos estudos buscando acrescentar 9.694/96, que revogou a antiga lei nº 5.540/68, (e também
dados à construção de uma teoria da Interdisciplinaridade a Lei 5692/71) apresenta uma nova configuração para a
na Educação investigamos sistematicamente o cotidiano Educação Superior do país.
de professores do ensino fundamental, médio e superior. Atualmente, percebemos uma ênfase nesta reconfigu-
(FAZENDA e FERREIRA, 2013, p18) ração quando o decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007,
Garcia (2006) já nos chamava a atenção para o fato de implanta o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação
constar na literatura muitos estudos sobre o conceito da e Expansão das Universidades Federais – REUNI. Este pro-
interdisciplinaridade e poucos dando visibilidade às práti- grama, dentre suas ações, apresenta uma significativa vin-
cas realizadas. culação de recursos às propostas de renovação acadêmica:
Neste mesmo artigo ele vai chamar de “práticas invisí- “As universidades devem exercer sua autonomia insti-
veis”, as práticas interdisciplinares que estão presentes nas tucional para propor cursos novos, 3 Antecedida pelo Pare-
escolas, mas que não tem visibilidade. E chama também cer CNE/CP 09/2001. Estes documentos normativos trazem
de “práticas invisíveis”, o que não acontece na escola acer- em seu texto a orientação para a organização da matriz
ca da interdisciplinaridade. Devido aos inúmeros estudos, curricular do curso a partir da dimensão da interdisciplina-
pesquisas, publicações sobre a interdisciplinaridade, esta ridade, dentre outras.
deveria estar muito mais presente nas escolas, o que infe- Outro marco importante para a Educação Superior
lizmente não ocorre. no país é a proposta da Universidade Nova, gestada por
Diante do contexto apresentado, vale refletir: Já te- Naomar de Almeida Filho na Universidade Federal da Bah-
mos um acúmulo de produção sobre interdisciplinaridade, ia (UFBA), depois estendida para Universidade Federal do
já temos uma legislação que orienta a ação da escola de ABC (UFABC). Esta proposta de universidade marca a for-
Educação Básica para um ensino interdisciplinar, por que mação para interdisciplinaridade.
efetivamente ainda se vê pouco da interdisciplinaridade na Podemos observar a partir dos apontamentos acima
escola? que a normatização referente à formação de professores
Podemos arrazoar que ainda não estamos pensando em nível superior4, tem fomentado a criação ou reformula-
na formação deste professor que atua na escola. Será que ção dos cursos pautados pela flexibilização curricular e pela
podemos requerer mais práticas interdisciplinares na es- interdisciplinaridade.
cola se o professor não recebe esta formação? Será que Assim encontramos na literatura estudos de cursos de
os cursos de formação disciplinar conseguirão formar para formação de professores em nível superior – principalmen-
uma perspectiva interdisciplinar? (GARCIA, 2006). te cursos de Pedagogia e Educação no Campo ‐, que se
organizam a partir de eixos ou temas interdisciplinares.
106
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Percebemos então a quase inexistência da perspectiva Conforme análise de Krahe (2000), as outras reformas
interdisciplinar na Educação Superior, em cursos de licen- educacionais, ou seja, período até 1990 privilegiavam um
ciaturas por áreas de conhecimento. ensino baseado na racionalidade técnica, voltado basica-
Novamente encontramos uma limitação dos estudos e mente ao ensino de métodos e técnicas de ensino nos cur-
das pesquisas e defendemos ser necessário demarcar essa sos de formação de professores.
lacuna sobre o processo de formação interdisciplinar nas Ao tentar compreender como se constitui as Licencia-
demais licenciaturas. turas Interdisciplinares é necessário buscar compreender
o contexto no qual estão inseridas. Para isso entendemos
As Licenciaturas Interdisciplinares como necessário a análise do contexto global e o contexto
Diante do contexto exposto até o momento, gostaría- nacional em que foram e têm sido produzidas as Licenciatu-
mos então de nos debruçarmos brevemente sobre os cur- ras Interdisciplinares, bem como compreender as decisões e
sos de formação inicial de professores caracterizados como ações em torno da produção desta perspectiva de formação.
Licenciaturas Interdisciplinares. Torna‐se necessário mapear o contexto sócio histórico
Podemos dizer que as Licenciaturas Interdisciplinares em que se encontram.
são cursos de formação em nível superior para professores Preliminarmente, é possível afirmar que o momento real
que podem ser organizadas por áreas do conhecimento, no qual as Licenciaturas Interdisciplinares se encontram é
por temas ou eixos temáticos. um período particular do capitalismo, que busca novos mo-
As Licenciaturas Interdisciplinares constituem atual- delos de acumulação, centrando suas ações na redefinição
mente uma nova perspectiva para a formação de professo- das políticas mundiais, em todas as áreas. É um contexto que
res da Educação Básica, tanto que muitas universidades fe- sofreu e ainda sofre com as implicações de um novo modelo
derais estão oferecendo cursos de licenciaturas nessa nova de acumulação do capital, traçadas já no séc. XX.
arquitetura curricular. As discussões acerca das políticas de formação de pro-
Cursos de Lis em desenvolvimento no país: fessores conduzem ao entendimento de que tais políticas
• Universidade Federal do Maranhão são balizadas pelas estratégias econômicas de ordem neoli-
• Universidade Federal de Roraima
beral. Por sentirmos em nossa sociedade atual as implicações
• Universidade Federal do Mato Grosso
e influência das estratégias econômicas adotadas ao longo
• Universidade Federal dos Vales de Jequitinhonha e
do séc. XX considera‐se relevante analisar tal momento his-
Mucuri
tórico, destacando, deste período, as políticas educacionais
• Universidade Federal de Juiz de Fora
e priorizando, como base desta discussão, as políticas de
• Universidade Federal do ABC (em projeto)
formação de professores. Interessa destacar a importância
• Universidade Federal do Oeste do Pará
de se compreender a natureza e o sentido que este processo
• UNILAB (em projeto)
assume, na tentativa de explicitar os fundamentos orienta-
• Universidade Federal da Bahia
• Universidade Federal do Pampa dores das propostas oficiais de formação docente.
• Universidade Federal do Paraná Destas discussões Gentili afirma: (1996, p.16):
• Universidade Federal da Integração Latino‐americana A possibilidade de conhecer e reconhecer a lógica dis-
• Universidade Federal da Fronteira Sul cursiva do neoliberalismo obviamente não é suficiente para
• E outras. frear a força persuasiva de sua retórica. No entanto pode
Como cursos de formação de professores, é necessá- ajudar‐nos a desenvolver mais e melhores estratégias de luta
rio considerar as normativas legais, Resolução CNE/CP n° contra as intensas dinâmicas de exclusão social promovida
1/2002, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para por tais políticas.
a Formação de Professores da Educação Básica (DCNFPEB) Parte‐se do final do século XX, a fim de explicitar como
e o Parecer CNE/CP n° 09/2001, pois são documentos que é possível, na atual sociedade, perceber as implicações e in-
normatizam a formação docente no país, requerendo obri- fluências das estratégias econômicas adotadas naquele pe-
gatoriedade de seu cumprimento. Na referida resolução, ríodo, pois conforme afirma Peroni:
em seu artigo 14 encontramos a orientação: Os anos de 1990 ficaram marcados, para os países da
Art. 14. Nestas Diretrizes, é enfatizada a flexibilidade América Latina, como aqueles em que se aprofundou o pro-
necessária, de modo que cada instituição formadora cons- cesso de inserção no mercado globalizado e pela aplicação
trua projetos inovadores e próprios, integrando os eixos das políticas neoliberais (2003, p.11).
articuladores nelas mencionados. As discussões deste período particular do capitalismo
§ 1º A flexibilidade abrangerá as dimensões teóricas e centram‐se na redefinição das políticas mundiais – que bus-
práticas, de interdisciplinaridade, dos conhecimentos a se- ca novos modelos de acumulação; redefinição do papel do
rem ensinados, dos que fundamentam a ação pedagógica, Estado, atingindo diretamente os países e suas políticas mais
da formação comum e específica, bem como dos diferen- direcionadas para o atendimento da população, e alterações
tes âmbitos do conhecimento e da autonomia intelectual nas políticas públicas de educação. A educação, nesse novo
e profissional. (BRASIL. RESOLUÇÃO CNE/CP 1, 2002, p. 6) modelo, é entendida como importante ferramenta para o
As atuais propostas curriculares nacionais para forma- desenvolvimento, sendo destacado o papel da escolarização
ção de professores evidenciam a preocupação com a flexi- básica e a formação dos professores que atuam nesse nível.
bilização e, em especial, a interdisciplinaridade.
107
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Inicialmente, é importante registrar que os estudos Apesar destes questionamentos, temos algumas hipóte-
apontam que em nenhuma outra época se presenciou um ses: a formação de professores pelas licenciaturas interdiscipli-
contingente de reformas educacionais desta ordem, não só nares pode contribuir para uma mudança paradigmática nes-
no Brasil, mas também nos demais países da América Lati- ta área; mesmo sem destituir as especialidades, esta formação
na. Também não se pode afirmar que este foi um processo parece pretender romper limites disciplinares historicamente
limitado a uma determinada época, década de 1990, pois instituídos; as LIS demandarão não só a criação novos cursos,
ainda hoje vivenciamos um contexto reformista. mas também de “novos professores”.
Buscamos em autores como Oliveira (2003); Maúes A formação dos educadores, ao mesmo tempo em que
(2003) Tommasi (1996), Shiroma, Moraes, Evangelista é uma possibilidade de efetivação da interdisciplinaridade, é
(2004), Gentili, Silva (1994,1996), a constatação de que as um desafio para sua concretização, pois há necessidade de re-
reformas educacionais efetivadas no Brasil, desde os anos visitar os cursos de formação destes profissionais. Para tanto,
de 1990 até os dias atuais, procuraram traduzir as deman- a aproximação com as Universidades com é uma necessidade
das postas pela lógica do capital e pela ideologia neoli- constante e vemos que há um longo percurso a ser feito.24
beral, exigindo maior eficiência e produtividade dos traba-
lhadores a fim de que eles se adaptem mais facilmente às
exigências do mercado. OS MOVIMENTOS DE APROXIMAÇÃO ENTRE
Considerando a análise exposta, é possível afirmar que A EDUCAÇÃO BÁSICA E EDUCAÇÃO SUPERIOR
existe uma relação direta entre a globalização da econo- NA BAHIA NO MOMENTO PRESENTE:
mia, a necessidade de regulação do Estado, a reforma na CONTEXTO DO DECRETO ESTADUAL Nº 16.718,
educação e políticas de valorização e formação docente. DE 11 DE MAIO DE 2016.
Podemos pensar nas Licenciaturas Interdisciplinares
como uma forma de atender a esta demanda de flexibiliza-
ção e produtividade, na medida em que habita o professor
egresso deste curso a atuar numa área do conhecimento, É consenso que a Educação deve contribuir para que es-
tudantes e professores atuem propositivamente.
por exemplo, Ciências da Natureza e trabalhar com quími-
Alguns fatores, porém, vêm comprometendo esta ques-
ca, física e biologia.
tão a exemplo da heterogeneidade sociocultural e econômica
dos discentes que, submetida a um currículo que se pretende
Ao nos propormos discutir a formação inicial dos pro-
uniforme para todos, compromete a valorização das diversas
fessores, olhando para as Licenciaturas Interdisciplinares,
manifestações culturais. Assim, a Escola da modernidade, ain-
sabíamos que estávamos adentrando numa área muito in-
da em vigor, encontra dificuldades para dar conta de uma for-
cipiente e que encontraríamos muito mais dúvidas e ques-
mação ativa para a contemporaneidade. As discussões atuais
tionamentos a certezas e respostas.
sobre a formação docente apontam para uma revisão da
Pensar a formação interdisciplinar do professor é um compreensão da prática pedagógica, tendo o professor como
desafio, pois requer analisar os elementos que produzem mobilizador de saberes.
esta formação enquanto ela ainda está sendo implemen- Historicamente, a Educação institucionalizou-se para
tada. Encontramos muitos estudos sobre as práticas inter- atender às necessidades de uma classe social emergente
disciplinares e sobre a conceituação do que seja a inter- (burguesia comercial), visando satisfazer uma nova ordem
disciplinaridade, mas não a proposta de uma formação de econômica: o capitalismo da Revolução Industrial no século
professores adotando este princípio. XVIII. Neste momento, surge a necessidade de formação de
As Licenciaturas Interdisciplinares podem ter sido pro- um novo trabalhador que seguiria os princípios norteadores
duzidas pelos impactos das novas normatizações da Edu- próprios da indústria: pontualidade (início do trabalho), obe-
cação Básica nos cursos de formação de professores; po- diência (cumprimento da tarefa) e repetição (produção em
dem ter sido produzidas pelos impactos da reconfiguração série). Aplicando esses princípios aos modelos educacionais
da Educação Superior, e dai podemos pensar a partir da formais, conhecidos até hoje, podemos dizer que qualquer
aprovação da LDB nº 9.694/96, REUNI, impactos da Decla- semelhança não é coincidência.
ração do Processo de Bolonha. No Brasil do século XIX, para superar a situação de opres-
Ainda podemos pensar que as Licenciaturas Interdisci- são do Império e inaugurar uma nova sociedade, foi necessá-
plinares podem ter sido produzidas pelos impactos do con- rio buscar “romper” com a barreira da “ignorância”, devendo
texto socioeconômico, que impele à Educação, principal- surgir daí um ser “esclarecido”, apto para exercer seus direitos.
mente a Educação Superior a formação de trabalhadores Tem-se, então, um modelo educacional centrado no professor
que se adaptem à ordem econômica vigente. como o detentor e veiculador do conhecimento, que repro-
Nos ficam mais dúvidas que certezas: O que sabemos duz a estrutura de uma sociedade estratificada em classes,
sobre as Licenciaturas Interdisciplinares? O que podemos atendendo aos interesses sócio-econômicos dos setores do-
mapear sobre esta perspectiva de formação de professo- minantes. Para Veiga-Neto (in Moreira 1999, p.232):
res? Que concepção de formação docente é possível inferir
a partir deste estudo? O que estes estudos nos revelarão 24 Fonte: www.xanpedsul.faed.udesc.br - Por Maria
acerca das Licenciaturas Interdisciplinares e das políticas das Graças C. da S. M. Gonçalves Pinto/Aline Souza da Luz
para formação de professores? Gonçalves Pinto
108
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Na sua incansável tentativa de distinguir a ordem do Tradicionalmente, a pesquisa tem sido estruturada nos
caos, o progresso do atraso, a luz da escuridão, a moder- currículos de graduação de forma dicotômica - como se a
nidade levou às últimas consequências os exercícios de pesquisa fosse algo restrito às funções técnicas (bacharéis)
nomear e classificar, com a promessa de fixar ultimamente e não à sala de aula (professores). Independente da tipo-
todos os sentidos, de exorcizar a casualidade, determinar a logia de pesquisa - científica, acadêmica, pedagógica... -,
causalidade, eliminar o imprevisto, incluir toda a diferença, temos constatado que ela não está presente no cotidiano
domesticar a ambivalência. docente do Ensino Fundamental e Médio. A visão acadê-
A dualidade típica da modernidade tem configurado mica sobre a pesquisa tende a não incluí-la como com-
um processo de ensino e aprendizagem descontextualiza- ponente transversal na/para formação docente. Logo, se o
do, sem o vínculo com a realidade do educando e do edu- professor não investiga, e não aprende a investigar como
cador, e enfatizado uma relação professor-aluno, na qual será sua prática pedagógica? Esta pode ser uma das ques-
ocorre a predominância da palavra do professor, em regras tões que têm levado o profissional do ensino a ter uma
impostas. prática limitada a repassar as informações e a transmitir o
Isto porque “a concepção de professor, principalmente conhecimento.
do licenciado, é tributária dos ideais educativos associados Ao supervisionarmos o Estágio Curricular observarmos
à figura e ao papel do professor preceptor” (Azanha, 1998, que os estudantes, no geral, estão estimulados a inovar em
p. 07). suas aulas; romper com a idéia da mera descrição e es-
Em sua formação inicial, os licenciandos ainda viven- timular seus alunos para o aprendizado. Mas, na prática,
ciam esse caráter preceptoral – modelo no qual seus pro- repetem o modelo de ensino da sua formação inicial que
fessores também foram formados. Nesse modelo, há uma tem ênfase nos conteúdos.
preocupação predominante com o domínio do conteúdo A dicotomia ensino-pesquisa ainda é forte nos cur-
a ser ensinado. Esta pode ter sido uma das questões que rículos das Licenciaturas e isso é claramente perceptível
vêm contribuindo para que o professor não se sinta, muitas quando debatemos com os estudantes sobre a temática
vezes, como parte atuante da comunidade escolar: o seu escolhida para ser investigada, que culminará no Trabalho
de Conclusão de Curso - TCC. Há uma idéia equivocada
saber não
de que só os estudantes que pesquisam sobre educação
tem sido articulado a sua prática profissional.
estão se aproximando da relação (possível) entre o ensino
Temos uma tendência crescente das pesquisas educa-
e a pesquisa. Para muitos, os temas de pesquisa ligados
cionais que valorizam os saberes construídos pelos profes-
aos conteúdos científicos da diferentes areias (Geografia,
sores, buscando a superação do tradicional modelo de en-
História, Biologia...) aproximam-se mais do saber científico
sino que ora valoriza os saberes específicos, ora valoriza os
(?) do que dos saberes escolares. Destacamos aqui que o
aspectos didáticos e metodológicos, com ênfase o domínio
estudante pesquisador não precisa (nem deve) estar restri-
dos conteúdos. Segundo o parecer CNE/CP 009/2001,
to a uma temática específica de um dado campo científico,
Nos cursos atuais de formação de professor, salvo raras tornando-se um especialista. O que é relevante é que ele
exceções, ou se dá grande ênfase à transposição didática problematize os conteúdos científicos da sua área de for-
dos conteúdos, sem sua necessária ampliação e solidifica- mação e que entenda que estes conteúdos, ao serem trata-
ção – pedagogismo; ou se dá atenção quase que exclusiva dos na Licenciatura, são conteúdos educacionais.
a conhecimentos que o estudante deve aprender – conteu- Entramos em um novo século e outras demandas fo-
dismo, sem considerar as relevâncias e sua relação com os ram atribuídas à Escola, repercutindo na formação docente
conteúdos que ele deverá ensinar nas diferentes etapas da que deve responder a desafios como “desenvolver práticas
educação básica. (Brasil, 2001.a, p. 20) investigativas; elaborar e executar projetos para desenvol-
O discurso educacional, buscando superar este mode- ver conteúdos curriculares; utilizar novas metodologias,
lo, só passou a ter um caráter sociopolítico nos anos 1980, estratégias e materiais de apoio” (Brasil, 2001.b, p. 04), ou
quando avançou para a busca de novos enfoques como a seja, práticas inerentes à atividade docente para a contem-
análise da prática pedagógica dos anos 1990 para cá, no poraneidade, que demandam a presença da pesquisa. Mas,
Brasil, dando voz ao professor. Segundo Nóvoa: a formação inicial do professor ainda se mantém predo-
Esta nova abordagem (que dá voz ao professor) veio minantemente tradicional e com (super) valorização dos
em oposição aos estudos anteriores que acabavam por re- conteúdos específicos da área de formação profissional do
duzir a profissão docente a um conjunto de competências e docente.
técnicas, gerando uma crise de identidade dos professores
em decorrência de uma separação entre o eu profissional e Vários projetos estão sendo desenvolvidos no Estado,
o eu pessoal. (Nóvoa, 1995, p.72) através de parcerias com secretarias de educação, universi-
Identificando essa separação na formação do profes- dades e outras instituições, com objetivos de
sor é que se faz necessário refletir criticamente sobre as • Promover a inserção de graduandos/as das licen-
questões desta formação com a prática do ensino com e ciaturas no seu campo de atuação;
pela pesquisa, a fim de criar condições para viabilizar uma • Refletir sobre o papel da Escola e da Universidade;
educação que coadune com as demandas da/na contem- • Analisar e discutir a problemática educacional
poraneidade. através do diálogo acadêmico com a experiência universi-
tária e de docentes em exercício;
109
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
110
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
VII - desenvolvimento de processos curriculares que Art. 8º - A emissão dos certificados de conclusão dos
dinamizem ações direcionadas para a prática interdiscipli- cursos ofertados nos CIEs competirá a cada uma das ins-
nar nas áreas de conhecimento, fortalecendo a integração tituições de Educação Básica ou de Educação Superior, em
entre saberes produzidos socialmente ao longo da história, conformidade com seu âmbito de competência.
na busca pela transformação da natureza e da sociedade. Art. 9º - A estrutura organizacional de todos os CIEs
§ 1º - Aos CIEs serão asseguradas as condições peda- será composta, além do quadro de professores e apoio ad-
gógicas, administrativas e financeiras necessárias para o ministrativo:
desenvolvimento das suas atividades, na forma disciplina- I - pela direção da unidade escolar, vinculada à Secre-
da pela Secretaria da Educação. taria da Educação, com:
§ 2º - Os CIEs são considerados unidades escolares de a) 01 (um) Diretor;
porte especial, em decorrência de suas características es- b) 03 (três) Vice-Diretores;
pecíficas. c) 01 (um) Secretário Escolar;
Art. 2º - Constituem objetivos primordiais dos Comple- II - pelo Núcleo de Gestão Pedagógica;
xos Integrados de Educação: III - pelo Conselho de Gestão Administrativa.
I - assegurar a oferta de Ensino Médio Integral em tem- § 1º - Os Vice-Diretores dos CIEs exercerão suas fun-
po integral, por meio da ampliação da jornada escolar no ções em regime de 40 (quarenta) horas semanais, enquan-
período diurno; to vinculados às referidas atividades, em atendimento às
II - garantir o ensino noturno na perspectiva da educa- peculiaridades desta espécie de unidade escolar, observa-
ção contextualizada; das as disposições previstas na Lei nº 8.261, de 29 de maio
III - responsabilizar-se pelo estabelecimento de par- de 2002.
cerias e articulações com IES, com vistas à promoção de § 2º - A nomeação dos Diretores e Vice-Diretores dos
inovações pedagógicas nos campos do ensino e da apren- Complexos Integrados de Educação será realizada por ato
dizagem, do aprimoramento de processos da gestão esco- específico do Secretário da Educação, observados os requi-
lar, da reorganização de práticas curriculares, de acompa- sitos constantes no art. 6º do Decreto nº 16.385, de 26 de
nhamento pedagógico e de aperfeiçoamento da formação outubro de 2015.
docente; Art. 10 - Os Núcleos de Gestão Pedagógica serão res-
IV - proporcionar a integração e interdisciplinaridade ponsáveis pelas mediações relativas aos processos de en-
curricular, dando significado e relevância aos conhecimen- sino e aprendizagem, integração das ações e dinamização
tos e vivência da realidade social e cultural, consentâneos e inovação dos espaços pedagógicos, com o objetivo de
com o exercício da cidadania, o acesso ao trabalho como assegurar a reciprocidade didático-pedagógica entre do-
princípio educativo, o aprimoramento do profissional do centes e discentes na consolidação dos objetivos e direitos
magistério e aperfeiçoamento da prática educativa. de aprendizagem no Ensino Médio.
Art. 3º - Os CIEs ofertarão Ensino Médio integral, po- Art. 11 - O Núcleo de Gestão Pedagógica será formado
dendo ser em tempo integral ou ensino noturno, em con- por representantes:
vergência com as práticas pedagógicas previstas em seu I - das Instituições de Ensino Superior parceiras:
projeto pedagógico. a) coordenação pedagógica da Instituição;
Art. 4º - Os CIEs poderão dispor na sua arquitetura ins- b) preceptores das residências pedagógicas;
titucional, por meio da articulação entre a IES e o sistema c) residentes pedagógicos;
de Educação Básica, através de convênio firmado pela Se- d) liderança estudantil do âmbito das licenciaturas;
cretaria da Educação, de espaços formais dedicados: II - da Secretaria da Educação:
I - à residência docente; a) articuladores pedagógicos da Educação Básica;
II - à renovação dos procedimentos de estágio supervi- b) articuladores de cada área do currículo do Ensino
sionado para a docência da Educação Básica; Médio;
III - à melhoria pedagógica na condução curricular; c) liderança de classe escolar;
IV - à produção de novas dinâmicas metodológicas d) representante da direção da unidade escolar.
para o desenvolvimento do currículo escolar; Parágrafo único - O Secretário da Educação designará
V - à formação continuada da equipe técnica da uni- os representantes para a execução das atividades a serem
dade escolar. desenvolvidas no Núcleo de Gestão Pedagógica, salvo na
Art. 5º - Cada CIE, como unidade escolar, será implan- hipótese do inciso I do caput deste artigo, cuja designação
tado por ato próprio do Secretário da Educação, conferin- competirá ao Reitor da IES parceira.
do-lhe estrutura e administração compatíveis. Art. 12 - Fica criado um Conselho de Gestão Adminis-
Art. 6º - A gestão administrativa dos Complexos Inte- trativa nos CIEs, colegiado de caráter consultivo e com a
grados de Educação competirá à Secretaria da Educação, finalidade de assessorar a administração institucional, nas
que poderá firmar instrumentos jurídicos com IES sem fins suas atribuições e funções gerenciais, especialmente no
lucrativos, com vistas ao apoio e assessoramento da gestão que concerne às práticas administrativas, à dinâmica orga-
pedagógica de cada CIE. nizativa e, ainda, às despesas, às receitas e ao orçamento, e
Art. 7º - A gestão pedagógica dos CIEs é de responsa- será composto por:
bilidade da IES, compartilhada e assessorada pela Secreta- I -01 (um) representante da IES parceira;
ria da Educação. II -01 (um) representante do Colegiado Escolar;
111
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
III -01 (um) representante do Núcleo de Gestão Peda- Renunciando-se a discutir diversos aspectos correlatos,
gógica; como a hierarquia dos tratados na ordem constitucional
IV -01 (um) representante da direção da unidade escolar; brasileira, a questão da aplicabilidade imediata, a natureza
V -01 (um) representante do corpo docente da Educa- materialmente ou formalmente constitucional dos direitos
ção Básica; humanos, a identidade ou diferença de direitos humanos e
VI -01 (um) representante do corpo discente da unidade direitos fundamentais, far-se-á uma crítica seguida de uma
escolar. proposição quanto à metódica de aplicação e interpretação
Parágrafo único - O Secretário da Educação designará do direito voltado à proteção do ser humano, seja ele inter-
os representantes para a execução das atividades a serem no, seja ele internacional.
desenvolvidas no Conselho de Gestão Administrativa, salvo
na hipótese do inciso I do caput deste artigo, cuja designa- 1.O julgamento do HC 87.585-8/TO pelo STF: breve re-
ção competirá ao Reitor da IES parceira. lato, avanços e crítica.
Art. 13 - O Secretário da Educação poderá designar ser- O habeas corpus n. 87.5858-8/TO origina-se da inad-
vidores para a execução das atividades a serem desenvol- missão, pelo Superior Tribunal de Justiça, de recurso or-
vidas nos CIEs, observadas as especificidades das unidades dinário contra decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª
escolares de porte especial. Região. No processo em questão, buscava-se a soltura do
Art. 14 - Fica acrescido o inciso IX ao art. 24 do Decreto nº paciente, preso em 2005 como depositário infiel.
16.385 , de 26 de outubro de 2015, com a seguinte redação: A controvérsia jurídica veiculada prende-se à manuten-
“Art. 24 - ................................................................................................. ção ou aplicabilidade, no ordenamento jurídico brasileiro,
................................................................................................................ da hipótese contemplada em norma constitucional que
IX - aos Complexos Integrados de Educação - CIEs.” prevê a prisão do depositário infiel (art. 5º, LXVII) .
Art. 15 - Este Decreto entra em vigor na data da sua Disposições da Convenção Americana de Direitos Hu-
publicação. manos de 1969 (art. 7º) e do Pacto Internacional de Direi-
PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, em 11 tos Civis e Políticos de 1966 (art. 11), ambos ratificados pela
de maio de 2016. República Federativa do Brasil, vedam a prisão civil, exce-
RUI COSTA tuando o primeiro instrumento apenas a hipótese relativa
Governador ao devedor de alimentos.
Bruno Dauster Tais dispositivos reputavam-se, no habeas corpus em
Secretário da Casa Civil questão, içados à condição de normas constitucionais,
Osvaldo Barreto Filho tendo em vista a inclusão, pela Emenda Constitucional n.
Secretário da Educação 45/2004, do parágrafo 3º ao artigo 5º da Constituição da
Imprimir República Federativa do Brasil, reconhecendo o status hie-
“Este texto não substitui o publicado no Diário Oficial rárquico de norma constitucional aos tratados internacio-
do Estado.” nais de direitos humanos aprovados pelo Congresso Na-
Fonte: www2.uesb.br cional segundo o procedimento ali preconizado, similar ao
das Emendas à Constituição.
A posição até então dominante no STF quanto à ma-
téria perfilhava entendimento no sentido da paridade hie-
O PARADIGMA DA SUPRALEGALIDADE
rárquico-normativa dos instrumentos internacionais com a
COMO NORMA CONSTITUCIONAL PARA legislação infraconstitucional, com base nos artigos 102, III,
OS TRATADOS DOS DIREITOS HUMANOS: b e 105, III, a, ambos da Constituição da República de 1988 .
SUA IMPORTÂNCIA PARA OS SISTEMAS DE O Ministro Celso de Mello, em seu voto proferido em
EDUCAÇÃO E PARA A CULTURA ESCOLAR. data de 12.03.2009, esposou entendimento no sentido da
hierarquia constitucional dos tratados internacionais de
Direitos Humanos após a Emenda Constitucional n. 45/04.
Os problemas decorrentes da interação entre direito Nada obstante, foi vencedora a posição que perfilhou
interno e Direito Internacional constituem motivo de dis- a tese da hierarquia supralegal – mas infraconstitucional
senso na doutrina há longa data, revelando ser um tema – dos tratados internacionais de direitos humanos ante-
sensível, sobretudo devido às implicações de tal interação riormente ratificados que não tenham sido aprovados pelo
relativamente a questões da maior grandeza, como a da procedimento estatuído pelo novo § 3º, a despeito do teor
soberania nacional e a da supremacia da Constituição. literal dos §§ 1º e 2º do artigo 5º da CRFB/88.
Tal problema, ainda sem solução, sobretudo em virtude Do quanto foi aqui sucintamente historiado, de se fazer
de tais aspectos particularmente problemáticos, veio nova- uma brevíssima crítica acerca dos avanços e retrocessos na
mente à baila por ocasião do julgamento do HC n. 87.585- matéria encarnados na paradigmática decisão para, depois,
8/TO pelo Supremo Tribunal Federal, ocorrido no ano de fazer uma incursão na teoria do direito no sentido de in-
2008 que aqui serve de pano de fundo para a análise da vestigar outras possibilidades de interpretação e aplicação
interpretação e aplicação do direito. do direito que se mostrem mais adequadas à resolução de
problemas envolvendo a interação dos ordenamentos na-
cional e internacional dos direitos humanos.
112
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Em primeiro lugar, adotando-se abertamente uma pos- Pode a antinomia ser definida, segundo Norberto Bob-
tura em favor dos direitos humanos e do reconhecimento de bio, como a situação na qual “são colocadas em existência
status hierárquico superior para seus instrumentos, vislum- duas normas, das quais uma obriga e a outra proíbe, ou
bra-se um avanço em relação à posição clássica do Supremo uma obriga e a outra permite, ou uma proíbe e a outra per-
na matéria, eis que a tese da supralegalidade mostra-se mais mite o mesmo comportamento.”
progressista e mais adequada para com os fins estatuídos Parece ser evidente que o contato entre ordenamen-
pela Constituição de 1988 e pelo Direito Internacional dos tos jurídicos nacionais e outros, como o Direito Comunitário
Direitos Humanos do que o tradicional entendimento da pa- e o Direito Internacional, sói constituir fonte de conflitos,
ridade com a legislação infraconstitucional. gerando antinomias na medida em que normas de teores,
Abrem-se, portanto, novas possibilidades, como a de origens e hierarquia normativa diversos são destinadas a in-
controle de convencionalidade das leis e atos normativos , o cidir no mesmo âmbito espacial e temporal.
que constitui inequívoco avanço. Nada obstante, ainda que Tal problema torna-se ainda mais agudo diante de dis-
reconhecido tal importante passo no sentido da efetividade posições que determinam a incorporação do Direito Inter-
dos direitos humanos no Brasil, de se consignar que a deci- nacional ao direito interno e a aplicabilidade imediata das
são ficou aquém do esperado, revelando caráter conserva- normas constantes de instrumentos internacionais, como,
dor em certa medida. v.g., os §§ 1º e 2º do art. 5º da CRFB/88.
Nesse diapasão, de se consignar, inicialmente, a inexis- Não se pretende adentrar aqui, por fugir ao escopo
tência de suporte normativo para a tese da mera supralegali- do trabalho, o problema do Direito Comunitário, fixando
dade. A doutrina mais avançada já reconhecia, com base nos a atenção na questão do Direito Internacional Público, ou,
§§ 1º e 2º do art. 5º da CRFB/88 a hierarquia constitucional mais especificamente, do Direito Internacional dos Direitos
dos instrumentos internacionais consagradores de direitos Humanos.
humanos . A inclusão do § 3º ao mesmo artigo reconhece, Em regra se tem buscado solucionar o conflito entre
igualmente, hierarquia constitucional, e não infraconstitu- direito nacional e Direito Internacional através dos clássi-
cional, às referidas normas. cos critérios de solução de antinomias, especialmente pelo
Ademais, o reconhecimento de caráter meramente su-
já referido o critério hierárquico (lex superior derogat lex
pralegal representa-se inconsistente com outras decisões
inferior), como se pôde ver do breve escorço sobre o HC
em situações semelhantes de recepção de normas , sendo
87.585-8/TO.
que, a rigor, os instrumentos internacionais de direitos hu-
manos deveriam ter sido reconhecidos como recepcionados
Assim, com relação aos tratados internacionais, além da
com hierarquia constitucional pelo novo § 3º do art. 5º da
polêmica entre monistas e dualistas , firmaram-se diversos
Constituição, independentemente do procedimento ali pre-
conizado . entendimentos doutrinários no sentido da constitucionali-
Assim, ainda que se vislumbre avanço na tese da su- dade, da supralegalidade e da paridade hierárquico-norma-
pralegalidade em face da tese até então dominante (parida- tiva destes.
de), de se reconhecer que a decisão ficou muito aquém do Tais teses, ao buscar resolver eventuais incompatibili-
esperado, tendo em vista a teleologia que transparece das dades entre as disposições de direito interno e as disposi-
normas constitucionais em mesa. ções de Direito internacional a partir do critério hierárquico
Nada obstante, para além da discussão concernente à , acabam forçosamente por aderir à ideia de estabelecer, de
hierarquia das normas internacionais instituidoras de direitos maneira apriorística e desvinculada do caso concreto, uma
humanos, tema de grande relevância e bastante debatido, escala hierárquica prestabelecida na qual se inserem os di-
interessa-nos aqui fazer breve incursão na teoria do direito versos diplomas normativos, dotando uns de prevalência
para, distinguindo situações diversas de conflito de normas, sobre os outros.
colisão de direitos fundamentais e concorrência de normas É nessa esteira que se insere a recente decisão do STF
protetivas de direitos humanos e de direitos fundamentais, que consagrou a tese da supralegalidade quanto aos trata-
sustentar outra maneira de enfocar, compreender e buscar dos previamente ratificados, como visto, debatendo-se os
solucionar o problema, independentemente do status hie- Ministros acerca da posição hierárquica a ser conferida aos
rárquico conferido às espécies normativas em interação. tratados internacionais instituidores de direitos humanos
Assim, tendo como pano de fundo a decisão em co- em nosso ordenamento.
mento, propor-se-ão formas distintas de resolução dos pro- Está a parecer, conforme se sustentará no item conclusi-
blemas atinentes à interação do direito interno e do Direito vo, que tal solução simplista está longe de satisfazer as ne-
Internacional em diferentes circunstâncias, o que se passa a cessidades e peculiaridades da situação complexa em que
fazer. convergem normas constitucionais e internacionais proteti-
vas da pessoa, cujos catálogos podem coincidir no todo ou
Conflito de normas no tempo e no espaço. em parte , embora sejam dotados de evidente consentanei-
São amplamente conhecidas as regras de solução dos dade axiológica e teleológica.
conflitos de normas no tempo e no espaço, razão pela qual a Outro problema, distinto das antinomias, na qual duas
presente seção será uma revisão muito sucinta sobrevoo das ou mais normas são total ou parcialmente incompatíveis,
já conhecidas regras lex superior, lex posterior e lex specialis como é sabido, radica na questão da colisão de direitos fun-
, estando a preocupação central centrada na caracterização damentais, que não se pode resolver pelos critérios tradicio-
do conflito de normas. nais, conforme se passa, muito sucintamente, a demonstrar.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Art. 72. A Constituição assegura a brasileiros e a es- A Constituição de 1934 se preocupou também com a
trangeiros residentes no país a inviolabilidade dos direitos qualificação dos professores. Neste sentido, estabeleceu a
concernentes á liberdade, á segurança individual e á pro- realização de concurso de títulos e provas para o provi-
priedade nos termos seguintes: mento em cargos do magistério que, a partir de então, pas-
[...] savam a contar com a garantia de vitaliciedade e inamo-
§6° Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimen- vibilidade. Somente poderiam ser contratados professores
tos publicos. sem concurso por prazo determinado.
A educação na Constituição da República dos Estados A educação na Constituição dos Estados Unidos do
Unidos do Brasil de 1934 Brasil de 1937
Com uma série de avanços na área educacional, a A Carta Constitucional outorgada em 1937 foi instru-
Constituição de 1934 foi uma das Constituições brasileiras mento de notável retrocesso em matéria educacional. Parte
que mais reconheceu a importância da educação para o das conquistas alcançadas com a Constituição de 1934 foi
desenvolvimento sócio-cultural do país. descaracterizada pela Constituição do “Estado Novo”.
Deve-se ressaltar que os progressos na área educacio- João Baptista Herkenhoff define muito bem quais os
nal inseridos no texto final da Carta Constitucional de 1934 princípios norteadores da política educacional getulista:
se deram em virtude do grande debate acerca do tema Sob a inspiração do fascismo, via-se o Estado promo-
existente à época. De um lado estavam os defensores da vendo a disciplina moral e o adestramento físico da juven-
chamada “Educação Nova” – influenciados pelas doutrinas tude, de maneira a prepará-la para o cumprimento de seus
pedagógicas surgidas na década de 30 – e, de outro, os deveres com a economia e a defesa da Nação. Foi dada
adeptos da corrente católica que continuavam a exercer ênfase ao ensino cívico, que se confundia com o culto ao
grande influência na área educacional. regime e à pessoa do ditador.
O resultado dessa discussão foi a inserção de um ca- A política educacional assumiu um caráter centraliza-
pítulo especial na Constituição sobre família, educação e dor, em consonância com o centralismo do Estado autori-
cultura. tário. Suprimido o Parlamento, o chefe de Estado legislou,
A educação passava a ser vista como um direito de discricionariamente, em matéria de ensino, como em todas
as outras matérias.
todos, devendo ser ministrada pelo Estado e pela família.
Concedeu-se grande privilégio ao ensino particular.
Neste sentido, caberia ao Estado traçar, com exclusividade,
Exemplo disso é a subsidiariedade do ensino público em
as diretrizes da educação nacional. Esta foi a primeira ten-
relação ao ensino privado. A preferência pelo ensino parti-
tativa na história constitucional brasileira de se estabelecer
cular demonstrava a intenção do governo getulista em se
bases concretas para a criação de um projeto educacional
eximir da responsabilidade no que tange à matéria educa-
de longo prazo que contemplasse todo o território nacio-
cional.
nal. A educação tornara-se, deste modo, responsabilidade
Os Estados e o Distrito Federal deveriam organizar os exclusiva das famílias e da sociedade civil.
seus próprios sistemas de ensino, tendo sempre em vista No texto constitucional não havia nenhuma indicação
as diretrizes estabelecidas pela União. Além disso, deve- de recursos a serem utilizados pela União e pelos Estados
riam ser organizados os conselhos estaduais de educação na criação e manutenção dos sistemas de ensino.
com funções semelhantes àquelas atribuídas ao Conselho Para que os objetivos político-econômicos da gestão
Nacional. de Getúlio Vargas fossem plenamente realizáveis, deu-se
A liberdade de cátedra foi uma das maiores conquistas preferência ao ensino profissionalizante das classes me-
atribuídas ao magistério no texto constitucional. É impossí- nos favorecidas. Esta “preferência” demonstrava uma po-
vel imaginar uma verdadeira educação baseada na liberda- lítica educacional totalmente discriminatória: aos pobres
de e no respeito mútuo sem que o professor tenha a plena era oferecido ensino profissionalizante e aos ricos cabia o
garantia de que não sofrerá retaliações por manifestar seu privilégio de frequentar uma escola secundária voltada à
pensamento. formação intelectual da elite. Depreende-se da leitura do
Pela primeira vez a Constituição estabeleceu valores art. 129 da Constituição de 1937 a opção pela distinção na
mínimos a serem aplicados em educação: educação de ricos e pobres:
Art. 156. A União e os Municípios aplicarão nunca Art. 129. À infância e à juventude, a que faltarem os re-
menos de dez por cento, e os Estados e o Distrito Federal cursos necessários à educação em instituições particulares,
nunca menos de vinte por cento, da renda resultante dos é dever da Nação, dos Estados e dos Municípios assegurar,
impostos, na manutenção e no desenvolvimento dos siste- pela fundação de instituições públicas de ensino em todos
mas educativos. os seus graus, a possibilidade de receber uma educação
Parágrafo único. Para a realização do ensino nas zonas adequada às suas faculdades, aptidões e tendências voca-
rurais, a União reservará, no mínimo, vinte por cento das cionais.
quotas destinadas á educação no respectivo orçamento O ensino profissional destinado às classes menos fa-
anual. vorecidas é, em matéria de educação, o primeiro dever do
A Constituição determinou, ainda, a prestação de au- Estado. Cumpre-lhe dar execução a esse dever, fundando
xílios subsidiários à educação, tais como: atendimento mé- institutos de ensino profissional e subsidiando os de inicia-
dico-dentário e alimentação aos alunos mais carentes (art. tiva dos Estados, dos Municípios e dos indivíduos ou asso-
157, §2º). ciações particulares e profissionais.
116
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
É dever das indústrias e dos sindicatos econômicos infantil a partir dos doze anos (art. 158, X). Mais um retro-
criar, na esfera de sua especialidade, escolas de aprendizes, cesso da política social do Governo Militar, uma vez que a
destinadas aos filhos de seus operários ou de seus associa- Carta de 46 estipulara em quatorze anos a idade mínima
dos. A lei regulará o cumprimento desse dever e os pode- para o trabalho de adolescentes.
res que caberão ao Estado sobre essas escolas, bem como O acesso gratuito ao ensino pós-primário foi restringi-
os auxílios, facilidades e subsídios a lhes serem concedidos do, pois se passou a exigir a demonstração de aproveita-
pelo poder público. mento escolar para que a continuação dos estudos fosse
A educação na Constituição dos Estados Unidos do patrocinada pelo Poder Público (art. 168, §3º, III) .
Brasil de 1946 Isto significa, mais uma vez, a valorização do ensino
A Constituição promulgada após o fim do “Estado particular em detrimento do dever estatal de oferecer edu-
Novo” procurou restabelecer a ordem democrática e, em cação gratuita em todos os níveis de formação.
matéria educacional, buscou recompor o modelo edu- Foram abolidos os percentuais orçamentários a serem
cacional idealizado pela Constituição de 1934 e que fora aplicados em educação, perpetuando o desinteresse dos
completamente esquecido pela Carta outorgada em 1937. governantes em propiciar condições econômicas mínimas
Estabeleceu que a União seria competente para legislar para o desenvolvimento das atividades escolares.
sobre as diretrizes e bases da educação nacional, modifi- A educação na Emenda Constitucional n. 1, de 1969
cando sensivelmente a centralização das políticas educa- A Emenda Constitucional n.º 1/69 funcionou como uma
cionais adotada por Getúlio Vargas. dura continuação dos princípios arbitrários estabelecidos
A educação volta a ser direito de todos, a ser ministra- em 1967. No que se refere à educação, todos os retroces-
da no lar e na escola, devendo inspirar-se nos princípios da sos foram mantidos, aumentando, inclusive, o caráter dita-
liberdade e nos ideais de solidariedade humana (art. 166). torial instituído em 1964. Exemplo disso foi a substituição
O Estado deveria assegurar a oferta de ensino público em da liberdade de cátedra pela “liberdade de comunicação
todos os níveis, sendo, no entanto, livre o ensino pela ini- dos conhecimentos” (art. 176, §3°, VII), em nítido prejuí-
ciativa particular desde que respeitadas as leis reguladoras. zo a qualquer processo educacional baseado na liberdade
Retornou a obrigação da aplicação de percentuais mí- como ferramenta mais eficaz de construção do saber.
nimos da renda dos impostos em educação: 10% para a Como exposto acima, a Emenda Constitucional de
União e 20% para os Estados, Distrito Federal e Municípios 1969 apenas ratificou os princípios de ensino que interes-
(art. 169).
savam ao Regime Ditatorial.
A Constituição determinou a criação dos sistemas esta-
A educação na Constituição da República Federativa do
duais de ensino, tendo o sistema federal atuação supletiva,
Brasil de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente
ou seja, atuaria somente para suprir eventuais deficiências
A educação na Constituição Federal de 1988
locais (art. 171).
No que respeita ao mundo infanto-juvenil, as políticas
A educação na Constituição do Brasil de 1967
públicas devem estar voltadas à garantia dos direitos esta-
Continuando a alternância entre Constituições outor-
gadas e promulgadas, chega-se à primeira Constituição belecidos no art. 227 da Constituição Federal (CF). Os direi-
pós Golpe Militar: a Constituição de 1967. O “Novo Regi- tos garantidos por este artigo são: direito à sobrevivência,
me” necessitava legitimar seu poder e a melhor maneira ao desenvolvimento e à integridade. O caput do artigo 227
encontrada foi a outorga de uma Constituição aparente- da Constituição consagra toda esta luta em torno dos direi-
mente legítima, mas que, na verdade, não passava de mais tos da criança e do adolescente ao estabelecer que:
uma imposição da Ditadura. Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado
A educação era um importante instrumento para que o assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta priori-
governo militar pudesse implantar sua política da “unidade dade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
e da segurança nacional”, ou seja, o ensino era a melhor ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao res-
forma de impor posições ideológicas capazes de atender a peito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
todos os interesses dos novos governantes do país. A edu- além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
cação serviria para legitimar os princípios da “Revolução”: discriminação, exploração, crueldade e opressão.
Ao definir as diretrizes ideológicas da educação, a O direito à sobrevivência significa garantir a vida, a
Constituição de 1967 acrescentou, entre os princípios que saúde e a alimentação de todas as crianças do país. Já o
deveriam ser objetivados, o da unidade nacional, conceito direito ao desenvolvimento deve ser efetivado com a ga-
bastante equívoco no Brasil pós-64, quando unidade e se- rantia principal do acesso à educação e, também, da ga-
gurança nacional foram confundidos com unidade ideoló- rantia de acesso à cultura, ao lazer e à profissionalização.
gica e segurança do regime ditatorial. O direito à integridade (física, psicológica e moral) dar-se-á
Dando força à privatização no ensino, a Carta de 67 pela garantia da dignidade, da liberdade, do respeito e da
determinou aos poderes públicos que prestassem assistên- convivência familiar e comunitária.
cia técnica e financeira ao ensino particular, sem cogitar de A garantia da educação, como concretização do di-
quaisquer regras ou restrições para essa ajuda. reito ao desenvolvimento de crianças e adolescentes, está
Uma notável contradição acompanhou o advento da expressa de forma muito clara na Constituição (arts. 205
Carta de 67: ao mesmo tempo em que o texto constitucio- – 214), na Lei n.º 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da
nal estendia a obrigatoriedade do ensino para a faixa dos Educação Nacional (LDB) e nos artigos 53 a 59 da Lei n.º
sete aos quatorze anos (art. 168, §3º, II), permitia o trabalho 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
117
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Até 1988 não havia uma preocupação real em criar me- Em educação, o vocábulo sistema é entendido como
canismos que fossem eficazes na garantia do direito à edu- um conjunto de instituições educacionais e de normas
cação. Durante muito tempo a única ação do Poder Público vinculadas a determinada esfera da administração, seja a
foi tornar obrigatória a matrícula escolar, como se isto fosse União, estados e ou municípios. Esse conjunto de normas
suficiente para garantir a educação. A Constituição Federal e instituições que formam um sistema é uma realidade,
(art. 208, §1º) estabelece que o ensino obrigatório gratuito objetiva e atuante, principalmente, no que toca à criação,
(ensino fundamental) é direito público subjetivo (pode ser autorização de funcionamento e reconhecimento de cur-
exigido do Estado a qualquer tempo). O Estatuto da Criança sos e estabelecimentos. Essas normas têm consequências
e do Adolescente reforçou a disciplina constitucional ao es- diretas para o aluno, especialmente na regularização de sua
tabelecer a proteção judicial para combater a não oferta ou vida escolar, e para o professor, no particular de sua carreira
o oferecimento irregular do ensino obrigatório (art. 208, I). docente. Atingem também o servidor, o próprio estabele-
A Constituição e o Estatuto não deixam toda a responsabi- cimento e representantes legais, pelo direito de recorrer às
lidade de garantir tal direito ao Estado. Tanto a Carta Constitu- instâncias superiores, e a toda a comunidade educacional.
cional quanto o Estatuto da Criança sepultam a visão de Estado O texto constitucional demonstra grande preocupação
paternalista ao estabelecerem que a responsabilidade no que com a questão específica da escolarização em detrimento
tange aos direitos de crianças e adolescentes não é exclusiva: de um processo educativo mais abrangente. Todavia, falar
cabe ao Estado, à família e à sociedade civil (art. 205, CF). em direito à educação implica falar em direito à educação
O processo constituinte que resultou na Constituição de escolar. O acesso à educação escolar se realiza através da
1988 foi o que contou com a maior participação popular na his- concretização de vários direitos presentes na legislação e
tória do constitucionalismo pátrio. A comunidade educacional se que podem ser classificados da seguinte forma:
mobilizou e se fez presente nos debates que acompanharam a • Universalidade do acesso e da permanência: art. 206,
Assembleia Nacional Constituinte. Como resposta a esta ampla I, da CF eart. 3°, I, da LDB. O acesso à educação escolar deve
participação da comunidade interessada, a educação ocupou lu- ser dado a todos indistintamente, ou seja, qualquer forma
gar de destaque em todos os anteprojetos de Constituição. de discriminação deve ser repelida. A universalidade impli-
O Regimento da Assembleia Nacional Constituinte aco- ca, além do acesso à vaga, também o acesso ao ingresso,
à permanência na escola e ao sucesso dentro dos estudos;
lheu pedido do Plenário Nacional Pró-Participação Popular
• Gratuidade e obrigatoriedade do ensino fundamen-
na Constituinte e admitiu a iniciativa de emendas populares,
tal: art. 208, §1°, da CF e art. 54, I. A Constituição estabelece
de modo a permitir que a população tivesse participação
que é direito público subjetivo o ensino fundamental gra-
mais direta na elaboração constituinte. Assim, nada menos
tuito e obrigatório para qualquer cidadão brasileiro maior
que dezoito emendas populares trataram direta e exclusi-
de 7 anos. Se o Estado não ofertar esse ensino, as autorida-
vamente do problema da educação ou, abrangendo tam-
des competentes podem responder por crime de respon-
bém outros assuntos, tocaram em pontos relacionados com sabilidade. Os pais, por sua vez, têm o dever de matricular
a questão educacional. Essas dezoito emendas populares os filhos em idade escolar, sendo que se assim não fizerem
alcançaram o total de 2.678.973 assinaturas, o que demons- poderão ser responsabilizados pelo crime de abandono in-
tra o interesse pela discussão da escola, no amplo leque da telectual (art.246 do Código Penal);
mobilização popular em torno da Constituinte. • Atendimento especializado aos portadores de neces-
Um dos maiores reflexos da efetiva participação popular sidades especiais: arts. 58 a 60 da LDB e art. 203, IV e V, da
nas discussões em torno da educação foi a exigência cons- CF. A inclusão escolar é um dos aspectos da inclusão social
titucional de democratizar a gestão do ensino público (art. dos portadores de necessidades especiais;
206, VI, CF). Tal dispositivo foi regulamentado pelo art. 14 da • Creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos:
Lei de Diretrizes e Bases que estabelece como princípios da art. 11, V, da LDB. O oferecimento de vagas em creches e
gestão democrática da educação básica a participação dos pré-escolas é de competência do sistema de ensino mu-
profissionais da educação na elaboração do projeto pedagó- nicipal. A oferta deste tipo de ensino deve ser vista como
gico da escola, bem como a participação das comunidades uma política social básica da educação e não como forma
escolar e local nos conselhos escolares ou seus equivalentes. de apoio sócio-familiar;
Outro ponto a ser destacado é o dispositivo constitu- • Ensino noturno regular e adequado às condições do
cional que prevê o regime de colaboração entre os sistemas adolescente trabalhador: art. 54, VI, do ECA e art. 4°,VI e VII,
de ensino da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos da LDB. A universalidade do acesso deve atender também
Municípios (art. 211, caput, CF). A União deve exercer, no àqueles adolescentes que necessitam, para a própria sub-
que se refere à matéria educacional, função redistributiva e sistência ou a de sua família, trabalhar;
supletiva, garantindo igualdade de oportunidades educa- • Programas suplementares: além da obrigatoriedade
cionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante de matrícula e da oferta de vaga, todas as outras condições
assistência técnica e financeira aos demais entes federados necessárias para a educação escolar, como material didáti-
(art. 211, §1º, CF). A prioridade de atuação dos Municípios co, transporte, alimentação e saúde, devem estar presentes
deve ser a educação infantil e o ensino fundamental (art. no dia-a-dia do educando;
211, §2º, CF). Já os Estados e o Distrito Federal devem prio- • Direito de ser respeitado pelos educadores: art. 227,
rizar o ensino fundamental e médio (art. 211, §3º, CF). Edi- caput, da CF e art. 17, do ECA. O respeito mútuo é a base
valdo Boaventura define muito bem o que se deve entender fundamental sobre a qual vai se desenvolver todo o pro-
pelo termo “sistema” quando aplicado à educação: cesso educativo;
118
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
• Direito de contestar critérios avaliativos e de recorrer Art. 53 – A criança e o adolescente têm direito à edu-
às instâncias escolares superiores: art. 53, III do ECA. Este cação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
direito representa a clara manifestação da cidadania. É mui- preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o
to importante que crianças e adolescentes possam exercer trabalho, assegurando-se-lhes:
a prerrogativa de cidadãos já dentro do universo escolar; I – igualdade de condições para o acesso e permanên-
• Direito de organização e participação em entidades cia na escola;
estudantis: a liberdade de associação e de reunião é as- II – direito de ser respeitado por seus educadores;
segurada pelo art. 5°, XVI e XVII, da CF. Aos estudantes é III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo
assegurado o direito de participar de entidades estudantis recorrer às instâncias escolares superiores;
independentes das escolas ou dos IV – direito de organização e participação em entida-
sistemas de ensino; des estudantis;
• Participação dos pais no processo pedagógico e na V – acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
proposta educacional: como os pais são responsáveis pelos
residência.
filhos e estão sujeitos a várias obrigações, nada mais justo
Parágrafo único – É direito dos pais ou responsáveis ter
que lhes atribuir o direito de participar do processo educa-
ciência no processo pedagógico, bem como participar da
cional do filho.
Para que a educação funcione como instrumento de definição das propostas educacionais.
construção de uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, O dispositivo supra mencionado ( juntamente com o
I, CF) é imprescindível que o modelo pedagógico adotado art. 54 do ECA) praticamente reproduz o texto da Seção I
esteja baseado em um novo paradigma: a opressão deve (Da educação), Capítulo III (Da educação, da cultura e do
ceder lugar à liberdade e os valores inerentes à condição desporto), Título VIII (Da ordem social) da Constituição de
humana devem ter presença garantida nos currículos esco- 1988, confirmando os deveres do Estado, da família e da
lares de todos os níveis de ensino. Além disso, é necessário sociedade para com a educação de crianças e adolescentes.
que a mudança do sistema educacional seja acompanhada O art. 57 do Estatuto estabelece que o Poder Público
de uma mudança no sistema econômico a fim de acabar deve estimular pesquisas, experiências e novas propostas
com diferenças no acesso à educação formal. Neste sen- relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia,
tido: didática e avaliação, com o objetivo de inserir crianças e
A transformação do nosso sistema pedagógico deve adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório.
ser feita, entretanto, à base de uma mudança do sistema Esta imposição legal mostra-se extremamente necessária
econômico, pois a escola sempre corresponde a novas es- no contexto educacional brasileiro, tendo em vista a dificul-
truturas sociais. Só uma política de planejamento educacio- dade em manter na escola crianças e adolescentes oriun-
nal levada em termos integrais, acarretando de outro lado dos de famílias mais pobres. A pobreza, aliada a concep-
um desenvolvimento do poder de assimilação das classes ções conservadoras de ensino, leva ao desmantelamento
deserdadas, mediante uma melhor nutrição, da estrutura escolar:
despertando-lhe o interesse pelo ensino e renovando O fracasso institucional escolar tem raízes históricas.
os métodos de ensino à base de um novo esquema peda- Além das já mencionadas [a pobreza, por exemplo], ou-
gógico, poderá concorrer para uma revitalização do ensino samos elencar, dentre outras, o próprio acesso não demo-
no país. cratizado à escola, a falta de qualidade do ensino, a ina-
A educação no Estatuto da Criança e do Adolescente dequação na formação do educador, além da degradação
Após as garantias constitucionais era preciso elaborar das condições de seu trabalho – e não podemos esquecer
a Lei Ordinária que regulamentasse a proteção da criança e
da proposta ‘político-pedagógica’ imposta e definida para
do adolescente, revogando definitivamente toda a legisla-
sacramentar a incompetência, intelectual, emotiva e de
ção do período autoritário.
aprendizagem, dos poucos que conseguem nela permane-
Com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescen-
cer; materializada não só por currículo irreal, bem como
te, desaparece a figura do menor, expressão estigmatizada,
e passa-se a falar em crianças e adolescentes, agora como por uma concepção metodológica, formal, mecanicista e
sujeitos de direitos, protegidos juridicamente, alvo de res- aviltadora dos que participam do ato educativo.
peito e preocupação através da Doutrina da Proteção Inte- A educação na Lei de Diretrizes e Bases da educação
gral. Referida doutrina afirma que crianças e adolescentes A Constituição Federal de 1988 veio trazer novas pers-
são sujeitos de direitos e que, pela condição peculiar na pectivas ao país. Também quanto à educação era neces-
qual se encontram, devem ter prioridade absoluta no esta- sário reformular estruturas e conceitos com o intuito de
belecimento das políticas públicas. tornar realidade as expectativas trazidas pelo novo texto
O Estatuto da Criança e do Adolescente veio para ser o constitucional.
instrumento de garantia da satisfação das necessidades de Diferentemente da tradição brasileira, na qual todas as
crianças e adolescentes, assegurando o cumprimento dos iniciativas de reformas educacionais sempre foram propos-
seus direitos à proteção integral. tas pelo Poder Executivo, a iniciativa de criar uma nova Lei
A educação de crianças e adolescentes é regulada no de Diretrizes e Bases partiu do Legislativo, tendo por base
Livro I, Capítulo IV – Do Direito à Educação, à Cultura, ao Es- uma proposta de lei nascida na comunidade educacional
porte e ao Lazer – do Estatuto da Criança e do Adolescente. brasileira.
O art. 53 do Estatuto estabelece:
119
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Este projeto de lei começou a tramitar na Câmara dos Com isso, abriu-se espaço para que Darcy Ribeiro pu-
Deputados em dezembro de 1988, tendo por relator o Dep. desse apresentar um novo substitutivo de sua autoria. Em
Jorge Hage. O substitutivo elaborado pelo deputado apre- virtude de inúmeras contestações feitas à “manobra re-
sentava vários aspectos positivos, dentre os quais: gimental” utilizada, o Senador Ribeiro apresentou várias
• significativa abrangência da lei; emendas que atenuariam as resistências ao seu projeto, até
• criação de um sistema nacional de educação; que o mesmo fosse aprovado pelo plenário do Senado, em
• regulamentação da pré-escola como parte da educa- 8 de agosto de 1996.
ção infantil; O projeto então voltou à Câmara dos Deputados, sen-
• avanços no ensino médio; do aprovado em 17 de dezembro de 1996, e sancionado,
• redução na jornada de trabalho para aqueles que cur- sem vetos (fato raro na história da legislação educacional),
sassem o ensino noturno; pelo Presidente da República, em 20 de dezembro de 1996,
• instituição do salário-creche; exatamente 35 anos depois da aprovação da primeira Lei
• descrição de quais despesas poderiam ser considera- de Diretrizes e Bases da educação nacional.
das como despesas referentes à educação. Pode-se dizer que prevaleceu a concepção neoliberal
Concomitantemente ao projeto da Câmara, passou a de educação no texto da nova Lei de Diretrizes, favorecen-
tramitar também no Senado, em maio de 1992, um projeto do, destarte, um modelo de política educacional pautado
de lei, de autoria do Senador Darcy Ribeiro, que buscava por transformações parciais em detrimento da aplicação de
adiantar-se ao projeto em tramitação na Câmara dos De- um plano de mudanças estruturais.
putados. Interessante notar que o projeto do Senador era A Lei n.º 9.394/96 é, segundo Dermeval Saviani, “mi-
bastante diferente do projeto em tramitação na Câmara e nimalista” ou seja, está centrada na concepção de Estado
parecia ter sofrido certa influência do governo Collor, dei- Mínimo. Como todas as propostas de LDB, esta também se
xando de contemplar aspectos importantes como o Sistema preocupou em reduzir investimentos e Despesas do Estado
Nacional de Educação. através de uma divisão (que é normalmente denominada
O substitutivo da Câmara demonstrava estar ligado à de “parceria”) de responsabilidades com a iniciativa privada
democracia participativa já que seu projeto tinha origens na e com organizações não governamentais.
comunidade educacional. O projeto do Senado, por sua vez, No entanto, aspectos positivos também estão presen-
deixava claro que o princípio da representação deveria pre- tes no texto da Lei de Diretrizes e Bases. Pedro Demo apre-
ponderar no que se refere à criação das leis e que, portanto, senta vários deles. À presença do Senador Darcy Ribeiro,
não cabia à comunidade educacional elaborar um projeto mesmo que contestada por seu aspecto antidemocrático,
de Lei de Diretrizes e Bases para a educação nacional. Em podem ser atribuídos alguns dos aspectos positivos da
1993, por questões de regimento interno, o primeiro proje- LDB, como por exemplo:
to do Senador Darcy Ribeiro é definitivamente abandonado. • espírito de progressividade representado pela não
O substitutivo do Deputado Jorge Hage é aprovado imposição do ensino de tempo integral;
com algumas alterações de índole conservadora pela Câ- • abertura no que diz respeito à organização da educa-
mara dos Deputados sendo, em seguida, enviado ao Sena- ção nacional (art. 8° e seguintes da LDB);
do Federal. • autonomia administrativa, pedagógica e financeira;
A relatoria do projeto na Comissão de Educação do Se- • sistemas de ensino organizados através da coopera-
nado coubera ao Senador Cid Sabóia (que já havia relatado ção entre União, Estados e Municípios;
o 1° projeto de Darcy Ribeiro). • valorização do Município como local propício para
O substitutivo apresentado por esse Senador levou em organizar a educação, já que vivencia de perto os proble-
conta a opinião da comunidade educacional, bem como mas relacionados a esta área.
a opinião do governo e dos partidos políticos. No final, o Segundo o texto da nova Lei de Diretrizes e Bases, a
substitutivo incorporou algumas partes do projeto original educação básica é composta pela educação infantil, pelo
do Senador Darcy Ribeiro e deu uma forma mais rebuscada ensino fundamental e pelo ensino médio – art. 21, I. No
ao projeto. momento, é a que interesse analisar, uma vez que é a edu-
O substitutivo Cid Sabóia, depois de aprovado na Co- cação básica o modelo educacional a atuar diretamente na
missão de Educação, foi encaminhado à Comissão de Cons- formação escolar das crianças e adolescentes.
tituição e Justiça do Senado. Nesta Comissão, a relatoria do O art. 22 da Lei n.º 9.394/96 caracteriza quais são as
substitutivo coube ao Senador Darcy Ribeiro. quatro dimensões essenciais da formação da criança e do
Segundo parecer emitido pelo Senador Darcy Ribei- adolescente e que devem ser objeto da ação da educação
ro, em 1995, tanto o projeto original da Câmara quanto o básica: a pessoa humana, o cidadão, o trabalhador e o indi-
substitutivo Cid Sabóia eram inviáveis por apresentarem víduo preparado para estudos posteriores.
inconstitucionalidades de todo tipo. As inconstituciona- Para entender melhor as alterações (ou mesmo a per-
lidades apresentadas se referiam, de maneira particular, à petuação de certas realidades) trazidas pela nova Lei de
criação do Conselho Nacional de Educação que, segundo Diretrizes e Bases da educação, faz-se necessário traçar um
interpretação do Senador, seria prejudicial ao princípio da paralelo entre a legislação anterior, ou seja, entre a antiga
democracia representativa, pois, como órgão decisório, es- Lei de Diretrizes – e as alterações por ela sofrida durante o
taria influenciando nas atividades administrativas do poder regime ditatorial através das Leis n.º 5.692/71 e 7.044/82 –
Executivo. e a atual Lei n.º 9.394/96.
120
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
121
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A duração do ensino fundamental é de 8 anos (dos 7 No contexto desta eterna indefinição, e na tentativa
aos 14 anos, de preferência), sendo que sua oferta é res- de encontrar uma posição capaz de amenizar este quadro,
ponsabilidade dos sistemas de ensinos estadual e municipal surgem os debates em torno de uma nova lei de Diretrizes
(arts.10, VI, e 11, V, da LDB). e Bases da Educação. A proposta feita pela comunidade
A progressão da permanência na escola, uma das ideias educacional, através do Fórum Nacional em Defesa da Es-
mais defendidas por Darcy Ribeiro, é uma das metas esta- cola Pública, foi a concepção da politecnia (não formar ex-
belecidas no art. 34 da LDB. clusivamente técnicos, mas dar-lhes a possibilidade de ter
Tal progressão não foi imposta na lei, demonstrando uma formação mais geral) unida a uma proposta de educa-
um de seus fatores positivos: a flexibilização, que favore- ção geral. “Tais cursos teriam, necessariamente, a educação
ce uma prática mais democrática no desenvolvimento da geral como eixo unificador, ficando a oferta de disciplinas
educação. e atividades profissionalizantes condicionadas à ampliação
Ao contrário da lei anterior, extremamente sintética de sua duração, sem dispensar um conteúdo organicamen-
quanto às finalidades do ensino fundamental, a atual LDB te estruturado”.
apresenta uma série de finalidades que devem ser alcança- A Lei nº. 9.394/96, contudo, não trouxe a perspectiva
das através do ensino fundamental (art. 32 e incisos, LDB). da politecnia já que a tramitação da lei no Congresso Na-
Algumas dessas finalidades são mais do que lógicas: certa- cional não permitiu esta alteração.
mente a educação deve proporcionar o domínio da leitura, A educação profissional, assim como está regulada
da escrita e do cálculo (art. 32, I). O que não pode acontecer pela LDB, mostra-se ineficiente para efetivar a inserção da
é fazer com que o ensino fundamental restrinja sua atuação profissionalização como aspecto ligado à educação.
somente à obrigação de ensinar a leitura, a escrita e os nú- Uma mudança, porém, representa um avanço: a deno-
meros. A educação deve ir além, se deseja ser instrumento minação do capítulo passou de “Educação técnico-profis-
na construção de uma sociedade cidadã, proporcionando sional” para “Educação Profissional”.
aos educandos o diálogo e conscientização como fatores A Lei de Diretrizes e Bases trata da educação profissio-
de produção do conhecimento. nal nos artigos 39 a 42. Estes artigos foram regulamenta-
O inciso IV do mesmo artigo estabelece que o ensino dos pelo Decreto Federal n.º 2.208, de 17 de abril de 1997.
fundamental deve favorecer “[...] o fortalecimento dos vín- A Emenda Constitucional n.º 14, ao alterar a expressão
culos de família, dos laços de solidariedade humana e de do art. 208, I, da Constituição de “extensão da obrigatorie-
tolerância recíproca em que se assenta a vida social”. Se o dade” para “progressiva universalização do ensino médio”,
inciso I pode restringir a educação ao ensino da leitura, da reduziu a obrigatoriedade constitucional no que se refere
escrita e dos números, o inciso IV representa a importân- ao ensino médio. Este fato demonstra um retrocesso, visto
cia do ensino fundamental na conscientização de crianças e que quanto maior a obrigação no oferecimento de níveis
adolescentes sobre a necessidade de estabelecer determi- educacionais maior a possibilidade de tornar conscientes e
nados valores essenciais para o convívio em sociedade, tais livres os membros de uma sociedade.
como solidariedade e tolerância. O direito à educação infanto-juvenil, que se corporifica
O ensino médio através da garantia de acesso e de qualidade da educação
Denominado de 2º grau pela Lei n.º 5.692/71, a nova básica, conforme a regulamentação da LDB, está intima-
Lei de Diretrizes e Bases passou a chamar de ensino médio mente relacionado ao exercício da cidadania por parte das
a etapa posterior ao ensino fundamental. crianças e adolescentes brasileiros.
Na antiga legislação, a ênfase maior era dada à edu- Educar para cidadania é, primordialmente, garantir o
cação profissional tanto que a 5692/71 obrigava a profis- direito à educação.
sionalização em todos os cursos de 2º grau. Em virtude de Esse direito é assegurado de forma bastante clara na
fortes contestações (vindas, de maneira particular, da classe Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança e do
média, que exigia formas de ensino voltadas para a pre- Adolescente e na Lei de Diretrizes e Bases da educação.
paração ao ensino superior), esta obrigatoriedade foi, mais Não se pode afirmar que a legislação brasileira seja
tarde, revogada. omissa no que se refere à garantia do direito à educação;
Como forma de assentar a preponderância do ensino são diversos os dispositivos constitucionais e infraconstitu-
de 2º grau voltado para a formação profissional, surge a Lei cionais que tratam da matéria. O que se observa, na prática,
n.º 7.044/82 que regulamentava a profissionalização do en- é um distanciamento entre o ser e o dever ser, isto é, as
sino de 2º grau. De acordo com estas alterações, o art. 1º da normas jurídicas e os planos curriculares – desenvolvidos
Lei n.º 5.692/71 passou a vigorar com a seguinte redação: “o pelos órgãos competentes – determinam de maneira clara
ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar como deveria ser estabelecida a educação no país. Todavia,
ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de a prática educacional institucionalizada tem demonstrado
suas potencialidades como elemento de auto-realização, a ineficácia dos dispositivos legais e a total falta de com-
preparação para o trabalho e para o exercício consciente promisso com uma educação voltada para a cidadania.
da cidadania”. A partir do estudo realizado, é possível afirmar que as
A grande crise do ensino médio sempre residiu no fato Constituições promulgadas, em sua maioria, detalharam
de sua indefinição: ora deve ser um fim em si mesmo e, com mais precisão a função do Estado na oferta da educa-
desta forma, ser profissionalizante, ora deve ser um meio ção. As Constituições outorgadas, a seu turno, detiveram-
para atingir realidades subsequentes, isto é, o ensino médio se mais nas questões formais, procurando atribuir à família
deve ser instrumento de preparação para o ensino superior. e à sociedade civil o papel principal na oferta da educação.
122
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
No que se refere à educação infanto-juvenil na Consti- • Ensino Fundamental – anos iniciais (do 1º ao 5º
tuição Federal de 1988, dois aspectos podem ser destaca- ano) e anos finais (do 6º ao 9º ano) – É obrigatório e gra-
dos: a participação da sociedade civil organizada na elabo- tuito. A LDB estabelece que, gradativamente, os municípios
ração dos dispositivos que regulam a educação nacional e serão os responsáveis por todo o ensino fundamental. Na
o tratamento dado ao ensino fundamental, elevado à cate- prática os municípios estão atendendo aos anos iniciais e
goria de direito público subjetivo. os Estados os anos finais.
O Estatuto da Criança e do Adolescente praticamente • Ensino Médio – O antigo 2º grau (do 1º ao 3º ano).
repete os dispositivos da Constituição relativos à educação, É de responsabilidade dos Estados. Pode ser técnico profis-
tendo em vista que os mesmos se encontram em plena sin- sionalizante, ou não.
tonia com a Doutrina da Proteção Integral que deve reger
as políticas públicas voltadas à infância e à juventude. Ensino Superior:
Do texto da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação É de competência da União, podendo ser oferecido por Es-
Nacional podem ser destacados os seguintes aspectos: es- tados e Municípios, desde que estes já tenham atendido os ní-
pírito de progressividade representado pela não imposição veis pelos quais é responsável em sua totalidade. Cabe a União
do ensino de tempo integral; abertura no que diz respeito autorizar e fiscalizar as instituições privadas de ensino superior.
à organização da educação nacional (art. 8° e seguintes da
LDB); autonomia administrativa, pedagógica e financeira; A educação brasileira conta ainda com algumas mo-
sistemas de ensino organizados através da cooperação en- dalidades de educação, que perpassam todos os níveis da
tre União, Estados e Municípios e a valorização do Municí- educação nacional. São elas:
pio como local propício para organizar a educação. • Educação Especial – Atende aos educandos com
Saliente-se, por fim, que a verdadeira educação asse- necessidades especiais, preferencialmente na rede regular
gurada pela Constituição Federal é aquela voltada ao diá- de ensino.
logo, à tolerância e, sobretudo, à liberdade. • Educação a distância – Atende aos estudantes em
A educação para a liberdade somente poderá ser efe- tempos e espaços diversos, com a utilização de meios e
tecnologias de informação e comunicação.
tivada através do diálogo e da hierarquização dos valores
intrínsecos à natureza humana no sentido de permitir à
• Educação Profissional e Tecnológica – Visa prepa-
rar os estudantes a exercerem atividades produtivas, atuali-
criança e ao adolescente uma possibilidade real de atuar
zar e aperfeiçoar conhecimentos tecnológicos e científicos.
como protagonista na construção de sua condição especial
• Educação de Jovens e Adultos – Atende as pessoas
de ser humano em desenvolvimento.28
que não tiveram acesso a educação na idade apropriada.
• Educação Indígena – Atende as comunidades indí-
Lei 9.394/96
genas, de forma a respeitar a cultura e língua materna de
cada tribo.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB
9394/96) é a legislação que regulamenta o sistema educa- Além dessas determinações, a LDB 9394/96 aborda te-
cional (público ou privado) do Brasil (da educação básica mas como os recursos financeiros e a formação dos profis-
ao ensino superior). sionais da educação.29
Na história do Brasil, essa é a segunda vez que a educa- Recentemente o Governo Federal anunciou a Reforma
ção conta com uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que vêm
que regulamenta todos os seus níveis. A primeira LDB foi causando muitas dúvidas, sobretudo entre os professores.
promulgada em 1961 (LDB 4024/61). Tais mutações, cujas consequências é difícil prever, fazem
A LDB 9394/96 reafirma o direito à educação, garan- parte do pacote de mudanças que o atual governo preten-
tido pela Constituição Federal. Estabelece os princípios da de realizar no âmbito da educação.
educação e os deveres do Estado em relação à educação Para ajudar você a compreender quais são as principais
escolar pública, definindo as responsabilidades, em regime alterações promovidas pela referida reforma, listamos nes-
de colaboração, entre a União, os Estados, o Distrito Fede- te artigo as mudanças na LDB. Acompanhe!
ral e os Municípios.
Segundo a LDB 9394/96, a educação brasileira é divi- 1. Disciplinas obrigatórias nas mudanças na LDB
dida em dois níveis: a educação básica e o ensino superior. Antes o currículo dos ensinos médio e fundamental de-
veria abranger obrigatoriamente as disciplinas de Língua
Educação básica: Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais e da Realidade
• Educação Infantil – creches (de 0 a 3 anos) e pré Política e Cultural, sobretudo a do Brasil.
-escolas (de 4 e 5 anos) – É gratuita mas não obrigatória. É Com as mudanças na LDB, as disciplinas mencionadas
de competência dos municípios. ficam sujeito ao que versam os artigos 31, 32 e 36 da Lei de
Diretrizes e Bases, sendo que esse último sofre alterações.
Com as mudanças, o art. 36 da LDB dita o seguinte:
28 Fonte: www.dialnet.unirioja.es - Por Josiane Rose 29 Fonte: www.infoescola.com
Petry Veronese/Cleverton Elias Vieira
123
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto Quanto à carga horária:
pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários for- A carga horária mínima anual será de oitocentas horas
mativos específicos, a serem definidos pelos sistemas de para o ensino fundamental e para o ensino médio, distribuí-
ensino, com ênfase nas seguintes áreas de conhecimento das por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho es-
ou de atuação profissional: colar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando
I – linguagens; houver;
II – matemática; Esta carga deve ser ampliada progressivamente, no en-
III – ciências da natureza; sino médio, para mil e quatrocentas horas, devendo os sis-
IV – ciências humanas; e temas de ensino oferecer, no prazo máximo de cinco anos,
V – formação técnica e profissional. pelo menos mil horas anuais de carga horária, a partir de 2
2. Disciplinas de março de 2017.
As disciplinas que compõem a grade curricular do en- Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de edu-
sino médio também deve sofrer mudanças, tais como as cação de jovens e adultos e de ensino noturno regular, ade-
disciplinas de Língua Estrangeira. quado às condições do educando.
A partir do sexto ano do ensino fundamental, as aulas A carga horária destinada ao cumprimento da Base Na-
de inglês passam a ser obrigatórias e o ensino de outros cional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e oi-
idiomas como o espanhol passa a ser optativo. Antes a de- tocentas horas do total da carga horária do ensino médio, de
terminação é que uma língua estrangeira, escolhida pela acordo com a definição dos sistemas de ensino.
comunidade escolar, deveria ser ensinada a partir do quin-
to ano. Ensino da Arte de acordo com a Lei 13.415/2017
3. Professor sem formação específica O ensino da arte, especialmente em suas expressões
Até a reforma, os professores selecionados para le- regionais, constituirá componente curricular obrigatório da
cionar uma disciplina deveriam ter formação específica na educação básica.
área. Com as mudanças, entretanto, os docentes podem No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto
ano, será ofertada a língua inglesa. A integralização curricu-
ser selecionados com base no saber notório sobre o con-
lar poderá incluir, a critério dos sistemas de ensino, projetos
teúdo, sem ter formação específica. Tal medida consiste em
e pesquisas envolvendo os temas transversais.
uma das mais polêmicas entre as que compõem a reforma.
A inclusão de novos componentes curriculares de cará-
4. Vestibular na mudança na LDB
ter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular depen-
As universidades até agora eram livres para decidir o
derá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e de
conteúdo cobrado nas provas de vestibulares para a sele-
homologação pelo Ministro de Estado da Educação.
ção de candidatos, com base no currículo do ensino médio
nacional. A partir das mudanças na LDB, o valor da taxa Áreas de Conhecimento da Base Nacional Comum Cur-
cobrada pelos vestibulares será determinado pela Base Na- ricular
cional Comum. A Base Nacional Comum Curricular definirá direitos e
Essas medidas entram em vigor no ano de 2018. Além objetivos de aprendizagem do ensino médio, conforme di-
da carga horária das disciplinas, que passa de 800 para retrizes do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes
1.200 horas aula, outras transformações importantes es- áreas do conhecimento:
tão sendo implementadas. Apesar do ponto mais discutido – linguagens e suas tecnologias;
dessas mudanças ser as disciplinas, existem diversos outros – matemática e suas tecnologias;
aspectos que devem influenciar os rumos da educação pú- – ciências da natureza e suas tecnologias;
blica no Brasil.30 – ciências humanas e sociais aplicadas.
Acesse o link a seguir e veja na íntegra a Lei com as Obrigatoriedade de matérias
referidas atualizações: A Base Nacional Comum Curricular referente ao ensino
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de edu-
cação física, arte, sociologia e filosofia.
Lei 13.415/17 O ensino da língua portuguesa e da matemática será
obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada às
A Lei 13.415/2017 tornou obrigatórias nos três anos de comunidades indígenas, também, a utilização das respecti-
Ensino Médio as matérias de matemática, língua portugue- vas línguas maternas.
sa e inglês, fazendo com que o currículo fique dividido em Os currículos do ensino médio incluirão, obrigatoria-
duas partes, uma que será aplicada a todos os estudantes e mente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar outras
outra voltada aos itinerários formativos, que dizem respeito línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferencialmente
as linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tecno- o espanhol, de acordo com a disponibilidade de oferta, lo-
logias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências hu- cais e horários definidos pelos sistemas de ensino.
manas e sociais aplicadas formação técnica e profissional. Os currículos do ensino médio deverão considerar a for-
mação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho
voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua
30 Fonte: www.blog.portabilis.com.br formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais.
124
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Banco do Brasil:
• Distribuir recursos e manter contas específicas do B) AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS
Fundo, de estados e municípios.
PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA DO CONSELHO
Caixa Econômica Federal
• Manter contas específicas do Fundo, de estados e NACIONAL DE EDUCAÇÃO – DCNS (PARA A
municípios. EDUCAÇÃO INFANTIL, PARA A EDUCAÇÃO
DE JOVENS E ADULTOS, PARA O ENSINO
Atuação FUNDAMENTAL, PARA O ENSINO MÉDIO,
Atuação da Coordenação Geral de Operacionalização PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, PARA A
do Fundeb e de Acompanhamento e Distribuição da Arre- EDUCAÇÃO DO CAMPO, PARA A EDUCAÇÃO
cadação do Salário Educação (CGFSE) relacionada ao Fun- ESPECIAL, PARA A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES
deb: ÉTNICO-RACIAIS, PARA A EDUCAÇÃO
• Dar apoio técnico acerca do Fundo aos estados, QUILOMBOLA, PARA A EDUCAÇÃO ESCOLAR
DF, municípios, conselhos e instâncias de controle; INDÍGENA, PARA O ENSINO FUNDAMENTAL DE
• Divulgar orientações e dados;
9 ANOS), A RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº. 4/2010.
• Realizar estudos técnicos com vistas ao valor refe-
rencial anual por aluno que assegure qualidade do ensino;
• Monitorar a aplicação de recursos.
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) são nor-
Legislação mas obrigatórias para a Educação Básica que orientam o
O Fundeb foi instituído pela Emenda Constitucional planejamento curricular das escolas e dos sistemas de en-
nº 53, de 19 de dezembro de 2006 e regulamentado pela sino. Elas são discutidas, concebidas e fixadas pelo Conse-
Medida Provisória nº 339, de 28 de dezembro do mesmo lho Nacional de Educação (CNE).
ano, convertida na Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007, Atualmente, existem diretrizes gerais para a Educação
e pelos Decretos nº 6.253 e 6.278, de 13 e 29 de novembro Básica. Cada etapa e modalidade da dela (Educação Infan-
de 2007, respectivamente. til, Ensino Fundamental e Ensino Médio) também apresen-
A quem se destina? tam diretrizes curriculares próprias. A mais recente é a do
São destinatários dos recursos do Fundeb os estados, Ensino Médio.
Distrito Federal e municípios que oferecem atendimento na As diretrizes buscam promover a equidade de apren-
educação básica. Na distribuição desses recursos, são con- dizagem, garantindo que conteúdos básicos sejam ensina-
sideradas as matrículas nas escolas públicas e conveniadas, dos para todos os alunos, sem deixar de levar em conside-
apuradas no último censo escolar realizado pelo Instituto ração os diversos contextos nos quais eles estão inseridos.
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC).
O que são e qual é a função das diretrizes curriculares?
Os alunos considerados, portanto, são aqueles aten- As Diretrizes Curriculares Nacionais são um conjunto
didos: de definições doutrinárias sobre princípios, fundamentos
§ nas etapas de educação infantil (creche e pré-escola), e procedimentos na Educação Básica que orientam as es-
ensino fundamental (de oito ou de nove anos) e ensino colas na organização, articulação, desenvolvimento e ava-
médio; liação de suas propostas pedagógicas.
§ nas modalidades de ensino regular, educação es- As DCNs têm origem na Lei de Diretrizes e Bases da
pecial, educação de jovens e adultos e ensino profissional Educação (LDB), de 1996, que assinala ser incumbência
integrado;
da União «estabelecer, em colaboração com os estados,
§ nas escolas localizadas nas zonas urbana e rural;
Distrito Federal e os municípios, competências e diretrizes
§ nos turnos com regime de atendimento em tempo
para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino
integral ou parcial (matutino e/ou vespertino ou noturno).32
Médio, que nortearão os currículos e os seus conteúdos
Acessando o link http://www.fnde.gov.br/financiamen-
mínimos, de modo a assegurar a formação básica comum».
to/fundeb/sobre-o-plano-ou-programa/legislacao-fundeb
terás acesso à todas a legislações pertinentes ao FUNDEB.
O processo de definição das diretrizes curriculares conta
com a participação das mais diversas esferas da sociedade.
Acesse o link a seguir e veja na íntegra a Lei 11.494/07
atualizada: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- Dentre elas, o Conselho Nacional dos Secretários Estaduais
2010/2007/lei/l11494.htm de Educação (Consed), a União Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação (Undime), a Associação Nacional
de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), além
de docentes, dirigentes municipais e estaduais de ensino,
pesquisadores e representantes de escolas privadas.
32 Fonte: www.fnde.gov.br
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
TÍTULO II TÍTULO IV
REFERÊNCIAS CONCEITUAIS ACESSO E PERMANÊNCIA PARA A CONQUISTA DA
QUALIDADE SOCIAL
Art. 4º As bases que dão sustentação ao projeto nacio-
nal de educação responsabilizam o poder público, a família, Art. 8º A garantia de padrão de qualidade, com pleno
a sociedade e a escola pela garantia a todos os educandos acesso, inclusão e permanência dos sujeitos das aprendi-
de um ensino ministrado de acordo com os princípios de: zagens na escola e seu sucesso, com redução da evasão,
I - igualdade de condições para o acesso, inclusão, per- da retenção e da distorção de idade/ano/série, resulta na
manência e sucesso na escola; qualidade social da educação, que é uma conquista coletiva
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar de todos os sujeitos do processo educativo.
a cultura, o pensamento, a arte e o saber; Art. 9º A escola de qualidade social adota como cen-
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; tralidade o estudante e a aprendizagem, o que pressupõe
IV - respeito à liberdade e aos direitos; atendimento aos seguintes requisitos:
V - coexistência de instituições públicas e privadas de I - revisão das referências conceituais quanto aos dife-
ensino; rentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimen- sociais na escola e fora dela;
tos oficiais; II - consideração sobre a inclusão, a valorização das
VII - valorização do profissional da educação escolar; diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma da cultural, resgatando e respeitando as várias manifestações
legislação e das normas dos respectivos sistemas de ensino; de cada comunidade;
IX - garantia de padrão de qualidade; III - foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela
X - valorização da experiência extraescolar; aprendizagem e na avaliação das aprendizagens como ins-
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e trumento de contínua progressão dos estudantes;
as práticas sociais. IV - inter-relação entre organização do currículo, do tra-
Art. 5º A Educação Básica é direito universal e alicerce in- balho pedagógico e da jornada de trabalho do professor,
dispensável para o exercício da cidadania em plenitude, da qual tendo como objetivo a aprendizagem do estudante;
depende a possibilidade de conquistar todos os demais direi- V - preparação dos profissionais da educação, gestores,
tos, definidos na Constituição Federal, no Estatuto da Criança professores, especialistas, técnicos, monitores e outros;
e do Adolescente (ECA), na legislação ordinária e nas demais VI - compatibilidade entre a proposta curricular e a in-
disposições que consagram as prerrogativas do cidadão. fraestrutura entendida como espaço formativo dotado de
Art. 6º Na Educação Básica, é necessário considerar as efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e
dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabilida- acessibilidade;
de, buscando recuperar, para a função social desse nível da VII - integração dos profissionais da educação, dos es-
educação, a sua centralidade, que é o educando, pessoa tudantes, das famílias, dos agentes da comunidade interes-
em formação na sua essência humana. sados na educação;
VIII - valorização dos profissionais da educação, com
TÍTULO III programa de formação continuada, critérios de acesso, per-
SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO manência, remuneração compatível com a jornada de tra-
balho definida no projeto político-pedagógico;
Art. 7º A concepção de educação deve orientar a ins- IX - realização de parceria com órgãos, tais como os
titucionalização do regime de colaboração entre União, de assistência social e desenvolvimento humano, cidadania,
Estados, Distrito Federal e Municípios, no contexto da es- ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte, saúde,
trutura federativa brasileira, em que convivem sistemas meio ambiente.
educacionais autônomos, para assegurar efetividade ao Art. 10. A exigência legal de definição de padrões mí-
projeto da educação nacional, vencer a fragmentação das nimos de qualidade da educação traduz a necessidade de
políticas públicas e superar a desarticulação institucional. reconhecer que a sua avaliação associa-se à ação planejada,
§ 1º Essa institucionalização é possibilitada por um Sis- coletivamente, pelos sujeitos da escola.
tema Nacional de Educação, no qual cada ente federativo, § 1º O planejamento das ações coletivas exercidas pela
com suas peculiares competências, é chamado a colaborar escola supõe que os sujeitos tenham clareza quanto:
para transformar a Educação Básica em um sistema orgâni- I - aos princípios e às finalidades da educação, além do
co, sequencial e articulado. reconhecimento e da análise dos dados indicados pelo Ín-
§ 2º O que caracteriza um sistema é a atividade inten- dice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou
cional e organicamente concebida, que se justifica pela outros indicadores, que o complementem ou substituam;
realização de atividades voltadas para as mesmas finalida- II - à relevância de um projeto político-pedagógico
des ou para a concretização dos mesmos objetivos. concebido e assumido colegiadamente pela comunidade
§ 3º O regime de colaboração entre os entes federados educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a plu-
pressupõe o estabelecimento de regras de equivalência ralidade cultural;
entre as funções distributiva, supletiva, normativa, de su- III - à riqueza da valorização das diferenças manifesta-
pervisão e avaliação da educação nacional, respeitada a au- das pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos
tonomia dos sistemas e valorizadas as diferenças regionais. segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultural;
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
IV - desenvolvida a agregação de competências para Art. 31. Como modalidade da Educação Básica, a Edu-
o trabalho; cação Profissional e Tecnológica ocorre na oferta de cursos
V - promovida a motivação e a orientação permanente de formação inicial e continuada ou qualificação profissio-
dos estudantes, visando maior participação nas aulas e seu nal e nos de Educação Profissional Técnica de nível médio.
melhor aproveitamento e desempenho; Art. 32. A Educação Profissional Técnica de nível médio
VI - realizada, sistematicamente, a formação continua- é desenvolvida nas seguintes formas:
da, destinada, especificamente, aos educadores de jovens I - articulada com o Ensino Médio, sob duas formas:
e adultos. a) integrada, na mesma instituição; ou
b) concomitante, na mesma ou em distintas institui-
Seção II ções;
Educação Especial II - subsequente, em cursos destinados a quem já te-
nha concluído o Ensino Médio.
Art. 29. A Educação Especial, como modalidade trans- § 1º Os cursos articulados com o Ensino Médio, orga-
versal a todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, é nizados na forma integrada, são cursos de matrícula única,
parte integrante da educação regular, devendo ser prevista que conduzem os educandos à habilitação profissional téc-
no projeto político-pedagógico da unidade escolar. nica de nível médio ao mesmo tempo em que concluem a
§ 1º Os sistemas de ensino devem matricular os es- última etapa da Educação Básica.
tudantes com deficiência, transtornos globais do desen- § 2º Os cursos técnicos articulados com o Ensino Mé-
volvimento e altas habilidades/superdotação nas classes dio, ofertados na forma concomitante, com dupla matrícu-
comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional la e dupla certificação, podem ocorrer:
Especializado (AEE), complementar ou suplementar à es- I - na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as
colarização, ofertado em salas de recursos multifuncionais oportunidades educacionais disponíveis;
ou em centros de AEE da rede pública ou de instituições II - em instituições de ensino distintas, aproveitando-se
comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucra- as oportunidades educacionais disponíveis;
III - em instituições de ensino distintas, mediante con-
tivos.
vênios de intercomplementaridade, com planejamento e
§ 2º Os sistemas e as escolas devem criar condições
desenvolvimento de projeto pedagógico unificado.
para que o professor da classe comum possa explorar as
§ 3º São admitidas, nos cursos de Educação Profissio-
potencialidades de todos os estudantes, adotando uma
nal Técnica de nível médio, a organização e a estruturação
pedagogia dialógica, interativa, interdisciplinar e inclusiva
em etapas que possibilitem qualificação profissional inter-
e, na interface, o professor do AEE deve identificar habili-
mediária.
dades e necessidades dos estudantes, organizar e orientar
§ 4º A Educação Profissional e Tecnológica pode ser
sobre os serviços e recursos pedagógicos e de acessibili-
desenvolvida por diferentes estratégias de educação con-
dade para a participação e aprendizagem dos estudantes. tinuada, em instituições especializadas ou no ambiente de
§ 3º Na organização desta modalidade, os sistemas de trabalho, incluindo os programas e cursos de aprendiza-
ensino devem observar as seguintes orientações funda- gem, previstos na Consolidação das
mentais: Leis do Trabalho (CLT).
I - o pleno acesso e a efetiva participação dos estudan- Art. 33. A organização curricular da Educação Profissio-
tes no ensino regular; nal e Tecnológica por eixo tecnológico fundamenta-se na
II - a oferta do atendimento educacional especializado; identificação das tecnologias que se encontram na base de
III - a formação de professores para o AEE e para o de- uma dada formação profissional e dos arranjos lógicos por
senvolvimento de práticas educacionais inclusivas; elas constituídos.
IV - a participação da comunidade escolar; Art. 34. Os conhecimentos e as habilidades adquiridos
V - a acessibilidade arquitetônica, nas comunicações e tanto nos cursos de Educação Profissional e Tecnológica,
informações, nos mobiliários e equipamentos e nos trans- como os adquiridos na prática laboral pelos trabalhadores,
portes; podem ser objeto de avaliação, reconhecimento e certifica-
VI - a articulação das políticas públicas intersetoriais. ção para prosseguimento ou conclusão de estudos.
Art. 30. A Educação Profissional e Tecnológica, no cum- Art. 35. Na modalidade de Educação Básica do Campo,
primento dos objetivos da educação nacional, integra-se a educação para a população rural está prevista com ade-
aos diferentes níveis e modalidades de educação e às di- quações necessárias às peculiaridades da vida no campo e
mensões do trabalho, da ciência e da tecnologia, e articula- de cada região, definindo-se orientações para três aspectos
se com o ensino regular e com outras modalidades educa- essenciais à organização da ação pedagógica:
cionais: Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial e I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas
Educação a Distância. às reais necessidades e interesses dos estudantes da zona
rural;
133
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
II - organização escolar própria, incluindo adequação Art. 40. O credenciamento para a oferta de cursos e pro-
do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condi- gramas de Educação de Jovens e Adultos, de Educação Espe-
ções climáticas; cial e de Educação Profissional Técnica de nível médio e Tec-
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. nológica, na modalidade a distância, compete aos sistemas
Art. 36. A identidade da escola do campo é definida estaduais de ensino, atendidas a regulamentação federal e as
pela vinculação com as questões inerentes à sua realidade, normas complementares desses sistemas.
com propostas pedagógicas que contemplam sua diversi-
dade em todos os aspectos, tais como sociais, culturais, po- Seção VII
líticos, econômicos, de gênero, geração e etnia. Educação Escolar Quilombola
Parágrafo único. Formas de organização e metodolo-
gias pertinentes à realidade do campo devem ter acolhidas, Art. 41. A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida
como a pedagogia da terra, pela qual se busca um trabalho em unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura,
pedagógico fundamentado no princípio da sustentabilida- requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade
de, para assegurar a preservação da vida das futuras gera- étnico-cultural de cada comunidade e formação específica de
ções, e a pedagogia da alternância, na qual o estudante par- seu quadro docente, observados os princípios constitucionais,
ticipa, concomitante e alternadamente, de dois ambientes/ a base nacional comum e os princípios que orientam a Educa-
situações de aprendizagem: o escolar e o laboral, supondo ção Básica brasileira.
parceria educativa, em que ambas as partes são correspon- Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento das
sáveis pelo aprendizado e pela formação do estudante. escolas quilombolas, bem com nas demais, deve ser reconhe-
cida e valorizada a diversidade cultural.
Seção V
Educação Escolar Indígena TÍTULO VII
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS PARA A ORGANIZA-
Art. 37. A Educação Escolar Indígena ocorre em uni- ÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS GE-
dades educacionais inscritas em suas terras e culturas, as RAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA
quais têm uma realidade singular, requerendo pedagogia
própria em respeito à especificidade étnico-cultural de cada Art. 42. São elementos constitutivos para a operaciona-
povo ou comunidade e formação específica de seu quadro lização destas Diretrizes o projeto político-pedagógico e o
docente, observados os princípios constitucionais, a base regimento escolar; o sistema de avaliação; a gestão democrá-
nacional comum e os princípios que orientam a Educação tica e a organização da escola; o professor e o programa de
Básica brasileira. formação docente.
Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamen-
to das escolas indígenas, é reconhecida a sua condição de CAPÍTULO I
possuidores de normas e ordenamento jurídico próprios, O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E O REGIMENTO
com ensino intercultural e bilíngue, visando à valorização ESCOLAR
plena das culturas dos povos indígenas e
à afirmação e manutenção de sua diversidade étnica. Art. 43. O projeto político-pedagógico, interdependente-
Art. 38. Na organização de escola indígena, deve ser mente da autonomia pedagógica, administrativa e de gestão
considerada a participação da comunidade, na definição do financeira da instituição educacional, representa mais do que
modelo de organização e gestão, bem como: um documento, sendo um dos meios de viabilizar a escola
I - suas estruturas sociais; democrática para todos e de qualidade social.
II - suas práticas socioculturais e religiosas; § 1º A autonomia da instituição educacional baseia-se na
III - suas formas de produção de conhecimento, proces- busca de sua identidade, que se expressa na construção de seu
sos próprios e métodos de ensino-aprendizagem; projeto pedagógico e do seu regimento escolar, enquanto ma-
IV - suas atividades econômicas; nifestação de seu ideal de educação e que permite uma nova
V - edificação de escolas que atendam aos interesses e democrática ordenação pedagógica das relações escolares.
das comunidades indígenas; § 2º Cabe à escola, considerada a sua identidade e a de
VI - uso de materiais didático-pedagógicos produzidos seus sujeitos, articular a formulação do projeto político-pe-
de acordo com o contexto sociocultural de cada povo in- dagógico com os planos de educação – nacional, estadual,
dígena. municipal –, o contexto em que a escola se situa e as necessi-
dades locais e de seus estudantes.
Seção VI § 3º A missão da unidade escolar, o papel socioeducati-
Educação a Distância vo, artístico, cultural, ambiental, as questões de gênero, etnia
e diversidade cultural que compõem as ações educativas, a
Art. 39. A modalidade Educação a Distância caracteriza- organização e a gestão curricular são componentes integran-
se pela mediação didáticopedagógica nos processos de en- tes do projeto político-pedagógico, devendo ser previstas as
sino e aprendizagem que ocorre com a utilização de meios prioridades institucionais que a identificam, definindo o con-
e tecnologias de informação e comunicação, com estudan- junto das ações educativas próprias das etapas da Educação
tes e professores desenvolvendo atividades educativas em Básica assumidas, de acordo com as especificidades que lhes
lugares ou tempos diversos. correspondam, preservando a sua articulação sistêmica.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Art. 49. A aceleração de estudos destina-se a estudan- § 1º As instituições, respeitadas as normas legais e as
tes com atraso escolar, àqueles que, por algum motivo, en- do seu sistema de ensino, têm incumbências complexas e
contram-se em descompasso de idade, por razões como abrangentes, que exigem outra concepção de organização
ingresso tardio, retenção, dificuldades no processo de en- do trabalho pedagógico, como distribuição da carga horá-
sino-aprendizagem ou outras. ria, remuneração, estratégias claramente definidas para a
Art. 50. A progressão pode ser regular ou parcial, sendo ação didático-pedagógica coletiva que inclua a pesquisa,
que esta deve preservar a sequência do currículo e obser- a criação de novas abordagens e práticas metodológicas,
var as normas do respectivo sistema de ensino, requerendo incluindo a produção de recursos didáticos adequados às
o redesenho da organização das ações pedagógicas, com condições da escola e da comunidade em que esteja ela
previsão de horário de trabalho e espaço de atuação para inserida.
professor e estudante, com conjunto próprio de recursos § 2º É obrigatória a gestão democrática no ensino pú-
didáticopedagógicos. blico e prevista, em geral, para todas as instituições de en-
Art. 51. As escolas que utilizam organização por série sino, o que implica decisões coletivas que pressupõem a
podem adotar, no Ensino Fundamental, sem prejuízo da participação da comunidade escolar na gestão da escola
avaliação do processo ensino-aprendizagem, diversas for- e a observância dos princípios e finalidades da educação.
mas de progressão, inclusive a de progressão continuada, § 3º No exercício da gestão democrática, a escola deve
jamais entendida como promoção automática, o que su- se empenhar para constituir-se em espaço das diferenças e
põe tratar o conhecimento como processo e vivência que da pluralidade, inscrita na diversidade do processo tornado
não se harmoniza com a ideia de interrupção, mas sim de possível por meio de relações intersubjetivas, cuja meta é
construção, em que o estudante, enquanto sujeito da ação, a de se fundamentar em princípio educativo emancipador,
está em processo contínuo de formação, construindo sig- expresso na liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e di-
nificados. vulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber.
Art. 55. A gestão democrática constitui-se em instru-
Seção III mento de horizontalização das relações, de vivência e con-
vivência colegiada, superando o autoritarismo no planeja-
Avaliação institucional
mento e na concepção e organização curricular, educando
para a conquista da cidadania plena e fortalecendo a ação
Art. 52. A avaliação institucional interna deve ser pre-
conjunta que busca criar e recriar o trabalho da e na escola
vista no projeto políticopedagógico e detalhada no plano
mediante:
de gestão, realizada anualmente, levando em consideração
I - a compreensão da globalidade da pessoa, enquanto
as orientações contidas na regulamentação vigente, para
ser que aprende, que sonha e ousa, em busca de uma con-
rever o conjunto de objetivos e metas a serem concreti-
vivência social libertadora fundamentada na ética cidadã;
zados, mediante ação dos diversos segmentos da comu-
II - a superação dos processos e procedimentos buro-
nidade educativa, o que pressupõe delimitação de indica- cráticos, assumindo com pertinência e relevância: os planos
dores compatíveis com a missão da escola, além de clareza pedagógicos, os objetivos institucionais e educacionais, e
quanto ao que seja qualidade social da aprendizagem e da as atividades de avaliação contínua;
escola. III - a prática em que os sujeitos constitutivos da comu-
nidade educacional discutam a própria práxis pedagógica
Seção IV impregnando-a de entusiasmo e de compromisso com a
Avaliação de redes de Educação Básica sua própria comunidade, valorizando-a, situando-a no con-
texto das relações sociais e buscando soluções conjuntas;
Art. 53. A avaliação de redes de Educação Básica ocorre IV - a construção de relações interpessoais solidárias,
periodicamente, é realizada por órgãos externos à escola e geridas de tal modo que os professores se sintam estimula-
engloba os resultados da avaliação institucional, sendo que dos a conhecer melhor os seus pares (colegas de trabalho,
os resultados dessa avaliação sinalizam para a sociedade estudantes, famílias), a expor as suas ideias, a traduzir as
se a escola apresenta qualidade suficiente para continuar suas dificuldades e expectativas pessoais e profissionais;
funcionando como está. V - a instauração de relações entre os estudantes, pro-
porcionando-lhes espaços de convivência e situações de
CAPÍTULO III aprendizagem, por meio dos quais aprendam a se com-
GESTÃO DEMOCRÁTICA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA preender e se organizar em equipes de estudos e de práti-
cas esportivas, artísticas e políticas;
Art. 54. É pressuposto da organização do trabalho pe- VI - a presença articuladora e mobilizadora do gestor
dagógico e da gestão da escola conceber a organização e no cotidiano da escola e nos espaços com os quais a escola
a gestão das pessoas, do espaço, dos processos e procedi- interage, em busca da qualidade social das aprendizagens
mentos que viabilizam o trabalho expresso no projeto po- que lhe caiba desenvolver, com transparência e responsa-
lítico-pedagógico e em planos da escola, em que se con- bilidade.
formam as condições de trabalho definidas pelas instâncias
colegiadas.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
137
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Apresenta a seguinte concepção de proposta pedagógica: las, caiçaras, povos da floresta, devem reconhecer os modos
a) Objetivo: garantir à criança acesso a processos de apro- próprios de vida no campo como fundamentais para a cons-
priação, renovação e articulação de conhecimentos aprendiza- tituição da identidade das crianças moradoras em territórios
gens de diferentes linguagens, assim como o direito à prote- rurais; ter vinculação inerente à realidade dessas populações,
ção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, suas culturas, tradições e identidades, assim como a práticas
à brincadeira; à convivência; e à interação com outras crianças. ambientalmente sustentáveis; flexibilizar, se necessário, calen-
b) Concepção: oferecer condições e recursos para que as dário, rotinas e atividades respeitando as diferenças quanto à
crianças usufruam seus direitos civis, humanos e sociais; as- atividade econômica dessas populações; valorizar e eviden-
sumir a responsabilidade de compartilhar e complementar a ciar os saberes e o papel dessas populações na produção de
educação e cuidado das crianças com as famílias; possibilitar a conhecimentos sobre o mundo e sobre o ambiente natural;
convivência entre crianças e entre adultos e crianças quanto à prever a oferta de brinquedos e equipamentos que respeitem
ampliação de saberes e conhecimentos de diferentes nature- as características ambientais e socioculturais da comunidade.
zas; promover a igualdade de oportunidades educacionais no e) Eixos norteadores do currículo: interações e brinca-
que se refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades de deiras. As creches e pré-escolas, na elaboração da proposta
vivência da infância; construir novas formas de sociabilidade e curricular, de acordo com suas características, identidade ins-
de subjetividade comprometidas com a ludicidade, a demo- titucional, escolhas coletivas e particularidades pedagógicas,
cracia, a sustentabilidade do planeta e com o rompimento de estabelecerão modos de integração dessas experiências.
relações de dominação etária, socioeconômica, étnico- racial, f) Avaliação: as instituições de Educação Infantil devem
de gênero, regional, linguística e religiosa. criar procedimentos para acompanhamento do trabalho pe-
c) Organização de espaço, tempo e materiais: assegurar dagógico e para avaliação do desenvolvimento das crianças,
o cuidado como algo indissociável ao processo educativo; a sem objetivo de seleção, promoção ou classificação, garantin-
indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, afetiva, do a observação crítica e criativa das atividades, das brinca-
cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural da criança; deiras e interações das crianças no cotidiano; a utilização de
a participação, o diálogo e a escuta cotidiana das famílias, o múltiplos registros realizados por adultos e crianças; a conti-
respeito e a valorização de suas formas de organização; o es- nuidade dos processos de aprendizagens por meio da cria-
tabelecimento de uma relação efetiva com a comunidade local ção de estratégias adequadas aos diferentes momentos de
e de mecanismos que garantam a gestão democrática e a con- transição vividos pela criança; documentação específica que
sideração dos saberes da comunidade; o reconhecimento das permita às famílias conhecer o trabalho da instituição junto às
especificidades etárias, das singularidades individuais e cole- crianças e os processos de desenvolvimento e aprendizagem
tivas das crianças, promovendo interações entre crianças de da criança na Educação Infantil; e a não retenção das crianças
mesma idade e crianças de diferentes idades; os deslocamen- na Educação Infantil.
tos e os movimentos amplos das crianças nos espaços internos
e externos às salas de referência das turmas e à instituição; g) Transição para o Ensino Fundamental: a proposta pe-
a acessibilidade de espaços, materiais, objetos, brinquedos e dagógica deve prever formas para garantir a continuidade no
instruções para as crianças com deficiência, transtornos glo- processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças,
bais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação; a respeitando as especificidades etárias, sem antecipação de
apropriação pelas crianças das contribuições histórico-cultu- conteúdos que serão trabalhados no Ensino Fundamental.
rais dos povos indígenas, afrodescendentes, asiáticos, euro-
peus e de outros países da América; o reconhecimento, a valo- Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Funda-
rização, o respeito e a interação das crianças com as histórias e mental de 9 anos
as culturas africanas, afro-brasileiras, bem como o combate ao Síntese elaborada pela conselheira Malvina Tania Tuttman
racismo e à discriminação; a dignidade da criança como pes- Parecer CNE/CEB nº 11/2010 (Relator: Cesar Callegari)
soa humana e a proteção contra qualquer forma de violência Resolução CNE/CEB nº 7/2010
– física ou simbólica – e negligência no interior da instituição O Parecer e a Resolução citados fixam Diretrizes Curricu-
ou praticadas pela família, prevendo os encaminhamentos de lares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove anos),
violações para instâncias competentes: a serem observadas na organização curricular dos sistemas
d) Diversidade: autonomia dos povos indígenas na esco- de ensino e de suas unidades escolares. Aplicam-se a todas as
lha dos modos de educação de suas crianças de 0 a 5 anos de modalidades do Ensino Fundamental previstas na Lei de Dire-
idade; proporcionar uma relação viva com os conhecimentos, trizes e Bases da Educação Nacional, bem como à Educação
crenças, valores, concepções de mundo e as memórias de seu do campo, à Educação Escolar Indígena e à Educação Escolar
povo; reafirmar a identidade étnica e a língua materna como Quilombola.
elementos de constituição das crianças; dar continuidade à Fundamentos
educação tradicional oferecida na família e articular-se às prá- É dever do Estado garantir a oferta do Ensino Fundamen-
ticas socioculturais de educação e cuidado coletivos da comu- tal público, gratuito e de qualidade, sem requisito de seleção.
nidade; adequar calendário, agrupamentos etários e organi- O direito à educação constitui o fundamento maior
zação de tempos, atividades e ambientes de modo a atender destas Diretrizes
as demandas de cada povo indígena; crianças filhas de agri- O Ensino Fundamental deve comprometer-se com uma
cultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, ribeiri- educação de qualidade social, igualmente entendida como
nhos, assentados e acampados da reforma agrária, quilombo- direito humano.
138
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A educação de qualidade é, antes de tudo, relevante Valores, atitudes, sensibilidade e orientações de con-
(promoção de atividades significativas), pertinente (atendi- duta são veiculados não só pelos conhecimentos, mas por
mento às necessidades e às características dos estudantes meio de rotinas, rituais, normas de convívio social, festivi-
de diversos contextos sociais e culturais e com diferentes dades, pela distribuição do tempo e organização do espa-
capacidades e interesses) e equitativa (tratamento de forma ço educativo, pelos materiais utilizados na aprendizagem
diferenciada, assegurando a todos a igualdade de direito à e pelo recreio, enfim, pelas vivências proporcionadas pela
educação). escola.
Princípios Os conhecimentos escolares são aqueles que as dife-
Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e autonomia; rentes instâncias que produzem orientações sobre o currí-
de respeito à dignidade da pessoa humana e de compro- culo, as escolas e os professores selecionam e transformam
misso com a promoção do bem de todos, contribuindo para a fim de que possam ser ensinados e aprendidos, ao mes-
combater e eliminar quaisquer manifestações de preconceito mo tempo em que servem de elementos para a formação
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas ética, estética e política do aluno.
de discriminação. Base nacional comum e parte diversificada: comple-
Políticos: de reconhecimento dos direitos e deveres de mentaridade
cidadania, de respeito ao bem comum e à preservação do O currículo do Ensino Fundamental tem uma base na-
regime democrático e dos recursos ambientais; da busca da cional comum, complementada em cada sistema de ensino
equidade no acesso à educação, à saúde, ao trabalho, aos e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversi-
bens culturais e outros benefícios; da exigência de diversi- ficada.
dade de tratamento para assegurar a igualdade de direitos A base nacional comum e a parte diversificada do cur-
entre os alunos que apresentam diferentes necessidades; da rículo do Ensino Fundamental constituem um todo inte-
redução da pobreza e das desigualdades sociais e regionais. grado e não podem ser consideradas como dois blocos
Estéticos: do cultivo da sensibilidade juntamente com o distintos.
da racionalidade; do enriquecimento das formas de expres- Os conhecimentos que fazem parte da base nacional
são e do exercício da criatividade; da valorização das dife- comum a que todos devem ter acesso, independentemen-
rentes manifestações culturais, especialmente a da cultura te da região e do lugar em que vivem, asseguram a ca-
brasileira; da construção de identidades plurais e solidárias. racterística unitária das orientações curriculares nacionais,
Objetivos das propostas curriculares dos Estados, do Distrito Federal,
Desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo dos Municípios, e dos projetos político-pedagógicos das
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita escolas.
e do cálculo. Os conteúdos curriculares que compõem a parte di-
Compreensão do ambiente natural e social, do sistema versificada do currículo serão definidos pelos sistemas de
político, das artes, da tecnologia e dos valores em que se fun- ensino e pelas escolas, de modo a complementar e enri-
damenta a sociedade. quecer o currículo, assegurando a contextualização dos co-
Aquisição de conhecimentos e habilidades e formação nhecimentos escolares em face das diferentes realidades.
de atitudes e valores como instrumentos para uma visão crí- Os conteúdos que compõem a base nacional comum
tica do mundo. e a parte diversificada têm origem nas disciplinas cientí-
Fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de so- ficas, no desenvolvimento das linguagens, no mundo do
lidariedade humana e de tolerância recíproca em que se as- trabalho, na cultura e na tecnologia, na produção artística,
senta a vida social. nas atividades desportivas e corporais, na área da saúde e
Matrícula e carga horária ainda incorporam saberes como os que advêm das formas
O Ensino Fundamental abrange a população na faixa diversas de exercício da cidadania, dos movimentos sociais,
etária dos 6 (seis) anos aos 14 (quatorze) anos de idade e da cultura escolar, da experiência docente, do cotidiano e
se estende, também, a todos os que, na idade própria, não dos alunos.
tiveram condições de frequentá-lo. Os conteúdos são constituídos por componentes cur-
É obrigatória a matrícula no Ensino Fundamental de riculares que, por sua vez, se articulam com as áreas de
crianças com 6 (seis) anos completos ou a completar até o conhecimento, a saber: Linguagens, Matemática, Ciências
dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula. As crian- da Natureza e Ciências Humanas.
ças que completarem 6 (seis) anos após essa data deverão As áreas de conhecimento favorecem a comunicação
ser matriculadas na Educação Infantil (pré-escola). entre diferentes conhecimentos sistematizados e entre
A carga horária mínima anual do Ensino Fundamental re- estes e outros saberes, mas permitem que os referenciais
gular será de 800 (oitocentas) horas-relógio, distribuídas em, próprios de cada componente curricular sejam preserva-
pelo menos, 200 (duzentos) dias de efetivo trabalho escolar. dos.
Currículo O currículo da base nacional comum do Ensino Funda-
Constituído pelas experiências escolares que se desdo- mental deve abranger, obrigatoriamente, conforme o art.
bram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações 26 da LDB, o estudo da Língua Portuguesa e da Matemáti-
sociais, buscando articular vivências e saberes dos alunos ca, o conhecimento do mundo físico e natural e da realida-
com os conhecimentos historicamente acumulados e contri- de social e política, especialmente a do Brasil, bem como o
buindo para construir as identidades dos estudantes. ensino da Arte, a Educação Física e o Ensino Religioso.
139
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Os componentes curriculares obrigatórios do Ensino Outras leis específicas que complementam a Lei nº
Fundamental serão assim organizados em relação às áreas 9.394/96 determinam que sejam ainda incluídos temas
de conhecimento: relativos à condição e aos direitos dos idosos (Lei nº
I – Linguagens: 10.741/2003) e à educação para o trânsito (Lei nº 9.503/97).
a) Língua Portuguesa; A transversalidade constitui uma das maneiras de tra-
b) Língua materna, para populações indígenas; balhar os componentes curriculares, as áreas de conheci-
c) Língua estrangeira moderna; mento e os temas sociais em uma perspectiva integrada.
d) Arte; Aos órgãos executivos dos sistemas de ensino compe-
e) Educação Física; te a produção e a disseminação de materiais subsidiários
ao trabalho docente, que contribuam para a eliminação de
II – Matemática; discriminações, racismo, sexismo, homofobia e outros pre-
III – Ciências da Natureza; conceitos e que conduzam à adoção de comportamentos
IV – Ciências Humanas: responsáveis e solidários em relação aos outros e ao meio
a) História; ambiente.
b) Geografia; Na parte diversificada do currículo do Ensino Funda-
V – Ensino Religioso. mental será incluído, obrigatoriamente, a partir do 6º ano,
O Ensino Fundamental deve ser ministrado em língua o ensino de, pelo menos, uma língua estrangeira moderna,
portuguesa, assegurada também às comunidades indíge- cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar. Entre as
nas a utilização de suas línguas maternas e processos pró- línguas estrangeiras modernas, a língua espanhola poderá
prios de aprendizagem. ser a opção, nos termos da Lei nº 11.161/2005.
O ensino de História do Brasil levará em conta as con- Projeto político-pedagógico
tribuições das diferentes culturas e etnias para a formação O currículo exige a estruturação de um projeto edu-
do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, cativo coerente, articulado e integrado, de acordo com os
africana e europeia. modos de ser e de se desenvolver das crianças e adoles-
A história e as culturas indígena e afro-brasileira, pre-
centes nos diferentes contextos sociais.
sentes, obrigatoriamente, nos conteúdos desenvolvidos no
Ciclos, séries e outras formas de organização a que se
âmbito de todo o currículo escolar e, em especial, no en-
refere a Lei nº 9.394/96 serão compreendidos como tem-
sino de Arte, Literatura e História do Brasil, assim como a
pos e espaços interdependentes e articulados entre si, ao
História da África, deverão assegurar o conhecimento e o
longo dos 9 (nove) anos de duração do Ensino Fundamen-
reconhecimento desses povos para a constituição da na-
tal.
ção.
Gestão democrática e participativa como garantia do
A Música constitui conteúdo obrigatório, mas não ex-
direito à educação
clusivo, do componente curricular Arte, o qual compreende
também as artes visuais, o teatro e a dança. As escolas deverão formular o projeto político-peda-
A Educação Física, componente obrigatório do currícu- gógico e elaborar o regimento escolar de acordo com a
lo do Ensino Fundamental, integra a proposta político-pe- proposta do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, por
dagógica da escola e será facultativa ao aluno apenas nas meio de processos participativos relacionados à gestão de-
circunstâncias previstas no § 3º do art. 26 da LDB. mocrática.
O Ensino Religioso, de matrícula facultativa ao aluno, é O projeto político-pedagógico da escola traduz a pro-
parte integrante da formação básica do cidadão e constitui posta educativa construída pela comunidade escolar no
componente curricular dos horários normais das escolas exercício de sua autonomia, com base nas características
públicas de Ensino Fundamental, assegurado o respeito à dos alunos, nos profissionais e recursos disponíveis, tendo
diversidade cultural e religiosa do Brasil e vedadas quais- como referência as orientações curriculares nacionais e dos
quer formas de proselitismo. respectivos sistemas de ensino.
Os componentes curriculares e as áreas de conheci- Será assegurada ampla participação dos profissionais
mento devem articular em seus conteúdos a abordagem da escola, da família, dos alunos e da comunidade local
de temas abrangentes e contemporâneos que afetam a na definição das orientações imprimidas aos processos
vida humana em escala global, regional e local, bem como educativos e nas formas de implementá-las, tendo como
na esfera individual. apoio um processo contínuo de avaliação das ações, a fim
Temas como saúde, sexualidade e gênero, vida familiar de garantir a distribuição social do conhecimento e con-
e social, assim como os direitos das crianças e adolescen- tribuir para a construção de uma sociedade democrática e
tes, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescen- igualitária.
te (Lei nº 8.069/90), preservação do meio ambiente, nos O regimento escolar deve assegurar as condições ins-
termos da política nacional de educação ambiental (Lei nº titucionais adequadas para a execução do projeto político
9.795/99), educação para o consumo, educação fiscal, tra- -pedagógico e a oferta de uma educação inclusiva e com
balho, ciência e tecnologia, e diversidade cultural devem qualidade social, igualmente garantida a ampla participa-
permear o desenvolvimento dos conteúdos da base nacio- ção da comunidade escolar na sua elaboração
nal comum e da parte diversificada do currículo.
140
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
141
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola, no uso Os sistemas, as redes de ensino e os projetos político
de sua autonomia, fizerem opção pelo regime seriado, será -pedagógicos das escolas devem expressar com clareza o
necessário considerar os três anos iniciais do Ensino Funda- que é esperado dos alunos em relação à sua aprendizagem.
mental como um bloco pedagógico ou um ciclo sequencial Os resultados de aprendizagem dos alunos devem ser
não passível de interrupção, voltado para ampliar a todos os aliados à avaliação das escolas e de seus professores, tendo
alunos as oportunidades de sistematização e aprofundamen- em conta os parâmetros de referência dos insumos básicos
to das aprendizagens básicas, imprescindíveis para o prosse- necessários à educação de qualidade para todos nesta eta-
guimento dos estudos. pa da educação e respectivo Custo Aluno Qualidade inicial
Do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental os componen- (CAQi), consideradas inclusive as suas modalidades e as
tes curriculares Educação Física e Arte poderão estar a cargo formas diferenciadas de atendimento como a Educação do
do professor de referência da turma, aquele com o qual os Campo, a Educação Escolar Indígena, a Educação Escolar
alunos permanecem a maior parte do período escolar, ou de Quilombola e as escolas de tempo integral.
professores licenciados nos respectivos componentes. A melhoria dos resultados de aprendizagem dos alu-
Nas escolas que optarem por incluir língua estrangeira nos e da qualidade da educação obriga:
nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o professor deve- a) os sistemas de ensino a incrementarem os disposi-
rá ter licenciatura específica no componente curricular. Nos tivos da carreira e de condições de exercício e valorização
casos em que esses componentes curriculares sejam desen- do magistério e dos demais profissionais da educação e a
volvidos por professores com licenciatura específica deve ser oferecerem os recursos e apoios que demandam as escolas
assegurada a integração com os demais componentes traba- e seus profissionais para melhorar a sua atuação;
lhados pelo professor de referência da turma. b) as escolas a uma apreciação mais ampla das opor-
Avaliação: parte integrante do currículo tunidades educativas por elas oferecidas aos educandos,
A avaliação dos alunos é redimensionadora da ação pe- reforçando a sua responsabilidade de propiciar renovadas
dagógica e deve: oportunidades e incentivos aos que delas mais necessitem.
a) assumir um caráter processual, formativo e participati-
vo, ser contínua, cumulativa e diagnóstica;
A educação em escola de tempo integral
b) utilizar vários instrumentos e procedimentos, tais
Considera-se como de período integral a jornada es-
como a observação, o registro descritivo e reflexivo, os traba-
colar que se organiza em 7 (sete) horas diárias, no mínimo,
lhos individuais e coletivos, os portfólios, exercícios, provas,
perfazendo uma carga horária anual de, pelo menos, 1.400
questionários, dentre outros, tendo em conta a sua adequa-
(mil e quatrocentas) horas.
ção à faixa etária e às características de desenvolvimento do
A proposta educacional da escola de tempo integral
educando;
c) fazer prevalecer os aspectos qualitativos da aprendiza- promoverá a ampliação de tempos, espaços e oportunida-
gem do aluno sobre os quantitativos, bem como os resulta- des educativas e o compartilhamento da tarefa de educar
dos ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; e cuidar entre os profissionais da escola e de outras áreas,
d) assegurar tempos e espaços diversos para que os alu- as famílias e outros atores sociais, sob a coordenação da
nos com menor rendimento tenham condições de ser devi- escola e de seus professores.
damente atendidos ao longo do ano letivo; O currículo da escola de tempo integral, concebido
e) prover, obrigatoriamente, períodos de recuperação, como um projeto educativo integrado, implica a ampliação
de preferência paralelos ao período letivo, como determina da jornada escolar diária mediante o desenvolvimento de
a LDB; atividades como o acompanhamento pedagógico, o refor-
f) assegurar tempos e espaços de reposição dos con- ço e o aprofundamento da aprendizagem, a experimenta-
teúdos curriculares, ao longo do ano letivo, aos alunos com ção e a pesquisa científica, a cultura e as artes, o esporte
frequência insuficiente, evitando, sempre que possível, a re- e o lazer, as tecnologias da comunicação e informação, a
tenção por faltas; afirmação da cultura dos direitos humanos, a preservação
g) possibilitar a aceleração de estudos para os alunos do meio ambiente, a promoção da saúde, entre outras, arti-
com defasagem idade/série. culadas aos componentes curriculares e às áreas de conhe-
cimento, a vivências e práticas socioculturais.
Os procedimentos de avaliação adotados pelos profes- As atividades serão desenvolvidas dentro do espaço
sores e pela escola serão articulados às avaliações realizadas escolar conforme a disponibilidade da escola, ou fora dele,
em nível nacional e às congêneres nos diferentes Estados e em espaços distintos da cidade ou do território em que está
Municípios, criadas com o objetivo de subsidiar os sistemas situada a unidade escolar, mediante a utilização de equipa-
de ensino e as escolas nos esforços de melhoria da qualidade mentos sociais e culturais aí existentes e o estabelecimento
da educação e da aprendizagem dos alunos. de parcerias com órgãos ou entidades locais, sempre de
A avaliação externa do rendimento dos alunos refere-se acordo com o respectivo projeto político-pedagógico.
apenas a uma parcela restrita do que é trabalhado nas esco- Os órgãos executivos e normativos da União e dos
las, de sorte que as referências para o currículo devem conti- sistemas estaduais e municipais de educação assegurarão
nuar sendo as contidas nas propostas político-pedagógicas que o atendimento dos alunos na escola de tempo integral
das escolas, articuladas às orientações e propostas curricu- possua infraestrutura adequada e pessoal qualificado, além
lares dos sistemas, sem reduzir os seus propósitos ao que é do que, esse atendimento terá caráter obrigatório e será
avaliado pelos testes de larga escala. passível de avaliação em cada escola.
142
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Educação do Campo, Educação Escolar Indígena e Edu- A Educação de Jovens e Adultos, voltada para a garan-
cação Escolar Quilombola tia de formação integral, da alfabetização e das demais eta-
A Educação do Campo, tratada como educação rural pas de escolarização ao longo da vida, inclusive àqueles em
na legislação brasileira, incorpora os espaços da floresta, da situação de privação de liberdade, é pautada pela inclusão
pecuária, das minas e da agricultura e se estende, também, e pela qualidade social.
aos espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e extrativistas. A idade mínima para o ingresso nos cursos de Educa-
A Educação Escolar Indígena e a Educação Escolar ção de Jovens e Adultos e para a realização de exames de
Quilombola são, respectivamente, oferecidas em unidades conclusão de EJA será de 15 (quinze) anos completos (Pa-
educacionais inscritas em suas terras e culturas e, para es- recer CNE/CEB nº 6/2010 e Resolução CNE/CEB nº 3/2010).
sas populações, estão assegurados direitos específicos na A oferta de cursos de Educação de Jovens e Adultos,
Constituição Federal que lhes permitem valorizar e preser- nos anos iniciais do Ensino Fundamental, será presencial e
var as suas culturas e reafirmar o seu pertencimento étnico. a sua duração ficará a critério de cada sistema de ensino,
O atendimento escolar às populações do campo, po- nos termos do Parecer CNE/CEB nº 29/2006, tal como re-
vos indígenas e quilombolas requer respeito às suas pecu- mete o Parecer CNE/CEB nº 6/2010 e a Resolução CNE/CEB
liares condições de vida e a utilização de pedagogias con- nº 3/2010. Nos anos finais, ou seja, do 6º ano ao 9º ano,
dizentes com as suas formas próprias de produzir conhe- os cursos poderão ser presenciais ou a distância, devida-
cimentos, observadas as Diretrizes Curriculares Nacionais mente credenciados, e terão 1.600 (mil e seiscentas) horas
Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 de duração.
e Resolução CNE/CEB nº 4/2010). Tendo em conta as situações, os perfis e as faixas etá-
Educação Especial rias dos adolescentes, jovens e adultos, o projeto político
O projeto político-pedagógico da escola e o regimento -pedagógico da escola e o regimento escolar viabilizarão
escolar, amparados na legislação vigente, deverão contem- um modelo pedagógico próprio para essa modalidade de
plar a melhoria das condições de acesso e de permanência ensino que permita a apropriação e a contextualização das
dos alunos com deficiência, transtornos globais do desen- Diretrizes Curriculares Nacionais.
volvimento e altas habilidades/superdotação nas classes A inserção de Educação de Jovens e Adultos no Siste-
comuns do ensino regular, intensificando o processo de ma Nacional de Avaliação da Educação Básica, incluindo,
inclusão nas escolas públicas e privadas e buscando a uni- além da avaliação do rendimento dos alunos, a aferição
versalização do atendimento. de indicadores institucionais das redes públicas e privadas,
Os recursos de acessibilidade são aqueles que asse- concorrerá para a universalização e a melhoria da qualida-
guram condições de acesso ao currículo dos alunos com de do processo educativo.
deficiência e mobilidade reduzida, por meio da utilização A implementação destas Diretrizes: compromisso soli-
de materiais didáticos, dos espaços, mobiliários e equipa- dário dos sistemas e redes de ensino
mentos, dos sistemas de comunicação e informação, dos Tendo em vista a implementação destas Diretrizes,
transportes e outros serviços. cabe aos sistemas e às redes de ensino prover:
O atendimento educacional especializado aos alunos a) os recursos necessários à ampliação dos tempos e
da Educação Especial será promovido e expandido com o espaços dedicados ao trabalho educativo nas escolas e a
apoio dos órgãos competentes. Ele não substitui a escola- distribuição de materiais didáticos e escolares adequados;
rização, mas contribui para ampliar o acesso ao currículo, b) a formação continuada dos professores e demais
ao proporcionar independência aos educandos para a rea- profissionais da escola em estreita articulação com as ins-
lização de tarefas e favorecer a sua autonomia (conforme tituições responsáveis pela formação inicial, dispensando
Decreto nº 6.571/2008, Parecer CNE/CEB nº 13/2009 e Re- especiais esforços quanto à formação dos docentes das
solução CNE/CEB nº 4/2009). modalidades específicas do Ensino Fundamental e àqueles
O atendimento educacional especializado poderá ser que trabalham nas escolas do campo, indígenas e quilom-
oferecido no contra turno, em salas de recursos multifun- bolas;
cionais na própria escola, em outra escola ou em centros c) a coordenação do processo de implementação do
especializados e será implementado por professores e currículo, evitando a fragmentação dos projetos educativos
profissionais com formação especializada, de acordo com no interior de uma mesma realidade educacional;
plano de atendimento aos alunos que identifique suas ne- d) o acompanhamento e a avaliação dos programas e
cessidades educacionais específicas, defina os recursos ne- ações educativas nas respectivas redes e escolas e o supri-
cessários e as atividades a serem desenvolvidas. mento das necessidades detectadas.
Educação de Jovens e Adultos
Os sistemas de ensino assegurarão, gratuitamente, aos O Ministério da Educação, em articulação com os Esta-
jovens e adultos que não puderam efetuar os estudos na dos, os Municípios e o Distrito Federal, deverá encaminhar
idade própria, oportunidades educacionais adequadas às ao Conselho Nacional de Educação, precedida de consulta
suas características, interesses, condições de vida e de tra- pública nacional, proposta de expectativas de aprendiza-
balho mediante cursos e exames, conforme estabelece o gem dos conhecimentos escolares que devem ser atingidas
art. 37, § 1º, da LDB. pelos alunos em diferentes estágios do Ensino Fundamen-
tal.
143
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para o Ensino Médio Como afirmado no Parecer CNE/CEB no 11/2010 (Dire-
Síntese elaborada pelo conselheiro José Fernandes de Lima trizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental),
Parecer CNE/CEB nº 5/2011 (Relator: José Fernandes de o conceito de qualidade da educação é uma construção
Lima) histórica que assume diferentes significados em tempos e
Resolução CNE/CEB nº 2/2012 espaços diversos e tem relação com os lugares de onde
Introdução falam os sujeitos, os grupos sociais a que pertencem, os
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, interesses e os valores envolvidos, os projetos de sociedade
definidas pelo Parecer CNE/CEB no 5/2011 e pela Resolução em jogo.
CNE/CEB no 2/2012, revisam o Parecer CNE/CEB nº 15/98 e a Tendo em vista ser um objetivo fundamental da Repú-
Resolução CNE/CEB nº 3/98 e reúnem princípios, fundamen- blica Federativa do Brasil a construção de uma sociedade
tos e procedimentos para orientar as políticas educacionais livre, justa e solidária, a erradicação da pobreza e a promo-
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios ção do bem de todos sem preconceitos, o sistema nacional
quando da oferta de Ensino Médio. A citada revisão mos- de educação, além de contribuir para o desenvolvimento
trou-se necessária em virtude das mudanças sofridas pela econômico e social, deve contribuir para a diminuição das
LDB e também para levar em consideração as novas exigên- desigualdades sociais e regionais. Nesse sentido, a educa-
cias educacionais decorrentes da aceleração da produção de ção escolar de qualidade social deve ser identificada como
conhecimentos, da ampliação do acesso às informações, da aquela comprometida com a igualdade de acesso ao co-
criação de novos meios de comunicação, das alterações do nhecimento a todos e especialmente empenhada em ga-
mundo do trabalho e das mudanças de interesse dos ado- rantir esse acesso aos grupos da população em desvanta-
lescentes e jovens, sujeitos dessa etapa educacional. gem na sociedade.
As novas Diretrizes Curriculares Nacionais, construídas Com o objetivo de orientar as atividades das escolas e
a partir de um grande debate nacional, partem do princípio dos sistemas educativos no sentido da garantia da oferta
de que a educação é um processo de produção e socializa- de uma educação de qualidade, as novas Diretrizes tratam
ção da cultura da vida, no qual se constroem, se mantêm e da definição da identidade e das finalidades do Ensino
se transformam conhecimentos e valores. Adotada com a
Médio, analisam as características e as necessidades dos
devida qualidade social, a educação deve contribuir para a
estudantes, discutem a organização curricular e tratam do
construção do projeto de nação.
papel que deve ser desempenhado pelos sistemas educati-
Os objetivos da República Federativa do Brasil estão
vos e pelo Ministério da Educação.
definidos no art. 3o da Constituição Federal, onde se lê:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da Repúbli-
Identidade e finalidades do Ensino Médio
ca Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; A identidade do Ensino Médio se configura quando
II – garantir o desenvolvimento nacional; afirmamos que ele é a última etapa da Educação Básica
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir e como tal é um direito de todos que deve ser garantido
as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de pelo Estado e incentivado pela sociedade. Nos moldes do
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e art. 3o da Resolução CNE/CEB nº 2/2012, o Ensino Médio é
quaisquer outras formas de discriminação. um direito social de cada pessoa e dever do Estado na sua
Ainda de acordo com a Constituição Federal, a educa- oferta pública e gratuita.
ção é um direito de todos e um dever do estado. De acordo A Resolução CNE/CEB nº 2/2012 reforça essa identi-
com o art. 205, “a educação, direito de todos e dever do Es- dade quando lista, no seu art. 5º, os princípios que devem
tado e da família, será promovida e incentivada com a cola- nortear o Ensino Médio na sua oferta e organização:
boração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento Art. 5o O Ensino Médio em todas as suas formas de
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua oferta e organização, baseia-se em:
qualificação para o trabalho”. I – Formação integral do estudante.
Ao afirmar que a educação visa o pleno desenvolvi- II – Trabalho e pesquisa como princípios educativos e
mento da pessoa, a Constituição definiu que a educação pedagógicos, respectivamente.
deve ser integral. Em outras palavras, isso significa dizer III – Educação em Direitos Humanos como princípio
que a Educação Básica obrigatória deve contemplar as di- nacional norteador.
versas dimensões da formação humana: trabalho, ciência, IV – Sustentabilidade ambiental como meta universal.
tecnologia e cultura. V – Indissociabilidade entre educação e prática social,
De modo semelhante, ao afirmar que a educação é um considerando-se a historicidade dos conhecimentos e dos
direito de todos, a Constituição Federal define que o Esta- sujeitos do processo educativo, bem como entre teoria e
do deve garantir o acesso e a permanência com sucesso prática no processo de ensino-aprendizagem.
de todos os alunos, independentemente de suas condições VI – Integração de conhecimentos gerais e, quando for
econômicas, sociais, de cor, raça, sexo ou idade. o caso, técnico-profissionais realizada na perspectiva da in-
Essa garantia implica na organização das escolas para terdisciplinaridade e da contextualização.
que elas se tornem capazes de atender os estudantes na VII – Reconhecimento e aceitação da diversidade e da
diversidade. Implica constituir um sistema nacional de edu- realidade concreta dos sujeitos do processo educativo, das
cação, baseado no regime de colaboração, capaz de ofere- formas de produção, dos processos de trabalho e das cul-
cer educação de qualidade. turas a eles subjacentes.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
VIII – Integração entre educação e as dimensões do estudantes; saber quais sentidos e significados os jovens
trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura como base atribuem à experiência escolar; conhecer como os jovens
da proposta e do desenvolvimento curricular. interagem com a diversidade e em que medida a cultura
§ 1º O trabalho é conceituado na sua perspectiva on- escolar instituída se aproxima ou se distancia das expecta-
tológica de transformação da natureza, como realização tivas dos jovens estudantes.
inerente ao ser humano e como mediação no processo de Além disso, é importante verificar se a experiência es-
produção da sua existência; colar oferecida guarda alguma relação com os interesses
§ 2º A ciência é conceituada como o conjunto de co- pessoais e os projetos de vida dos estudantes; identificar
nhecimentos sistematizados, produzidos socialmente ao em que medida as atividades desenvolvidas na escola po-
longo da história, na busca da compreensão e transforma- dem contribuir para que os estudantes elaborem seus pro-
ção da natureza e da sociedade. jetos de futuro; e verificar se há aspectos que necessitam
§ 3º A tecnologia é conceituada como a transformação ser modificados no sentido de favorecer a permanência
da ciência em força produtiva ou mediação do conheci- dos estudantes, com sucesso, na escola.
mento científico e a produção, marcada, desde sua origem, Esses temas devem pautar as discussões de professo-
pelas relações sociais que a levaram a ser produzida. res e gestores ao decidir a organização dos estabelecimen-
§ 4º A cultura é conceituada como o processo de pro- tos escolares. Essas discussões devem ser realizadas com
dução de expressões materiais, símbolos, representações e particular atenção quando do atendimento aos estudan-
significados que correspondem a valores éticos, políticos tes do Ensino Médio noturno, estudantes da Educação de
e estéticos que orientam as normas de conduta de uma Jovens e Adultos (EJA), estudantes indígenas, do campo,
sociedade. quilombolas e estudantes da Educação Especial.
No mesmo diapasão, a Resolução traz no art. 4º as fi- O currículo do Ensino Médio
nalidades do Ensino Médio. Nessas Diretrizes Curriculares Nacionais, o currículo
Art. 4o São finalidades do Ensino Médio: é entendido como a seleção de conhecimentos historica-
I – a consolidação e o aprofundamento dos conheci- mente acumulados, considerados relevantes e pertinentes
mentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando em um dado contexto histórico, e definidos tendo por base
o prosseguimento de estudos; o projeto de sociedade e de formação humana que a ele
II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania se articula. O currículo se expressa por meio de uma pro-
do educando para continuar aprendendo, de modo a ser
posta pela qual se explicitam as intenções da formação e se
capaz de se adaptar a novas condições de ocupação ou
concretiza por meio das práticas escolares realizadas com
aperfeiçoamento posteriores;
vistas a dar materialidade a essa proposta.
III – o aprimoramento do educando como pessoa hu-
Os conhecimentos escolares são reconhecidos como
mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da
aqueles produzidos pelos homens no processo histórico
autonomia intelectual e do pensamento crítico;
de produção de sua existência material e imaterial, valori-
IV – a compreensão dos fundamentos científico-tec-
nológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria zados e selecionados pela sociedade e pelas escolas que os
com a prática. organizam a fim de que possam ser ensinados e aprendi-
Os sujeitos/estudantes do Ensino Médio dos, tornando-se elementos do desenvolvimento cognitivo
A decisão sobre a oferta e organização do Ensino Mé- do estudante, bem como de sua formação ética, estética e
dio deve ser precedida de uma análise dos destinatários e política.
sujeitos dessa etapa educacional que são, predominante- No atendimento ao que estabelece a LDB, o currículo
mente, adolescentes e jovens. do Ensino Médio tem uma base comum, complementada
Estas Diretrizes Curriculares concebem a juventude em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento es-
como condição sócio-histórico-cultural de uma categoria colar por uma parte diversificada. A base nacional comum
de sujeitos que necessita ser considerada em suas múlti- e a parte diversificada constituem um todo integrado e não
plas dimensões, com especificidades próprias que não es- podem ser consideradas como dois blocos distintos. A ar-
tão restritas às dimensões biológica e etária, mas que se ticulação entre ambas possibilita a sintonia dos interesses
encontram articuladas com uma multiplicidade de atraves- mais amplos da formação básica do cidadão com a reali-
samentos sociais e culturais, produzindo múltiplas culturas dade local e dos estudantes, perpassando todo o currículo.
juvenis ou muitas juventudes. Entender o jovem do Ensino Em atendimento ao que determina a LDB, o currículo é
Médio dessa forma significa superar uma noção homoge- organizado em quatro áreas do conhecimento: linguagens,
neizante e naturalizada desse estudante, passando a per- matemática, ciências naturais e ciências sociais.
cebê-lo como sujeito com valores, comportamentos, visões Destaca-se que o currículo deve contemplar as qua-
de mundo, interesses e necessidades singulares. Além dis- tro áreas de conhecimento, com tratamento metodológico
so, deve-se aceitar a existência de pontos em comum que que evidencie a contextualização e a interdisciplinaridade
permitam tratá-lo como uma categoria social. ou outras formas de interação e articulação entre diferen-
Nesse sentido, sugere-se que, para viabilizar o atendi- tes campos de saberes específicos.
mento a todos os estudantes do Ensino Médio, faz-se ne- A legislação nacional determina os componentes obri-
cessário discutir as características sócio-econômico-cultu- gatórios que constituem a base nacional comum e que de-
rais dos jovens que o frequentam; entender as representa- vem ser tratados em uma ou mais áreas de conhecimento
ções que a escola, seus professores e dirigentes fazem dos na composição do currículo. São eles:
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Cabe, ainda, aos sistemas prover os recursos finan- Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educa-
ceiros e materiais necessários à ampliação dos tempos e ção Profissional Técnica de Nível Médio
espaços dedicados ao trabalho educativo nas unidades Síntese elaborada pelo conselheiro Francisco Apareci-
escolares; garantir professores com jornada de trabalho e do Cordão
formação adequadas para o desenvolvimento do currículo, Parecer CNE/CEB nº 11/2012 (Relatores: Adeum Hilá-
bem como dos gestores e demais profissionais das unida- rio Sauer, Francisco Aparecido Cordão, José Fernandes de
des escolares; acompanhamento e avaliação dos progra- Lima, Mozart Neves Ramos)
mas e ações educativas nas respectivas redes e unidades Resolução CNE/CEB nº 6/2012
escolares. Introdução
O papel do Ministério da Educação. Em 20 de dezembro de 1996, foi sancionada a Lei nº
Ao Ministério da Educação, como representante da 9.394, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação
União, cabe oferecer subsídios e apoio para implementa- Nacional (LDB), atendendo ao mandato constitucional do
ção das Diretrizes Curriculares Nacionais e a elaboração de inciso XXIV do art. 22 da Constituição Federal. Essa Lei
proposta que explicite os direitos e objetivos de aprendi- apresenta a Educação Profissional e Tecnológica entre os
zagem e desenvolvimento dos estudantes, que orientem níveis e as modalidades de educação e ensino, situando-a
e subsidiem os estabelecimentos escolares e os sistemas na confluência de dois dos direitos fundamentais do cida-
de ensino na busca da garantia de educação de qualidade. dão: o direito à educação e o direito ao trabalho, consagra-
Cabe ainda ao MEC instituir uma política de formação de dos no art. 227 da Constituição Federal como direito à pro-
professores e organizar as avaliações externas em concor- fissionalização, a ser garantido com absoluta prioridade.
dância com estas Diretrizes. O capítulo da LDB sobre a Educação Profissional foi
Conclusão inicialmente regulamentado pelo Decreto nº 2.208/97. Na
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Mé- sequência, a Câmara de Educação Básica (CEB) do Conse-
dio atualizam a discussão sobre o trabalho nessa etapa lho Nacional de Educação (CNE), com base no Parecer CNE/
educacional e trazem as principais discussões realizadas CEB nº 16/99, instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais
nos diversos cantos do globo. Ao fazer isso, fornecem um para a Educação Profissional de Nível Técnico, pela Resolu-
caminho seguro para oferta de um Ensino Médio de qua- ção CNE/CEB nº 4/99.
lidade. Em 23 de julho de 2004, o Decreto nº 2.208/97 foi subs-
As Diretrizes Curriculares Nacionais afirmam que o En- tituído pelo Decreto nº 5.154/2004, o qual trouxe de volta a
sino Médio deve ser único, deve proporcionar uma educa- possibilidade de integrar o Ensino Médio à Educação Pro-
ção integral que contemple o trabalho, a ciência, a tecno- fissional Técnica de Nível Médio, a par das outras formas de
logia e a cultura como dimensões da formação humana e organização e oferta dessa modalidade de Educação Pro-
que prepare simultaneamente para o aprofundamento dos fissional e Tecnológica. Em decorrência, a Câmara de Edu-
estudos, para o exercício da cidadania e para o trabalho. cação Básica atualizou as Diretrizes Curriculares Nacionais
Recomendam que sejam consideradas as especificida- para o Ensino Médio e as Diretrizes Curriculares Nacionais
des dos sujeitos estudantes do Ensino Médio, que cons- para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio, por
tituem diversas juventudes e apostam na capacidade das meio da Resolução CNE/CEB nº 1/2005, com fundamento
escolas de organizarem seus projetos político-pedagógicos no Parecer CNE/CEB nº 39/2004.
de forma flexível, capaz de atender às diversidades regio- Posteriormente, a Resolução CNE/CEB nº 3/2008, que
nais e sociais. teve como base o Parecer CNE/CEB nº 11/2008, dispôs so-
Explicitam os temas que devem ser tratados e sugerem bre a instituição do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos
a adoção de uma abordagem interdisciplinar como forma de Nível Médio, sendo que seu art. 3º determina que os
de valorização da complexidade dos temas abordados. 42 cursos constantes desse Catálogo sejam organizados por
eixos tecnológicos definidores de um projeto pedagógico
Alertam para a necessidade de explicitação dos direitos que contemple as trajetórias dos itinerários formativos e
de aprendizagem e discorrem sobre as tarefas que devem estabeleça exigências profissionais que direcionem a ação
ser feitas pelos sistemas de ensino para garantir a oferta de educativa das instituições e dos sistemas de ensino na ofer-
um Ensino Médio com qualidade social. ta da Educação Profissional Técnica de Nível Médio.
Resta torcer para que estas Diretrizes, que foram cons- São significativas as alterações promovidas na LDB pela
truídas mediante um grande debate nacional com gestores, Lei nº 11.741/2008, incorporando os dispositivos essenciais
professores, estudantes, pais e formadores de opinião, che- do Decreto nº 5.154/2004, ao qual se sobrepôs, inserindo
guem às escolas e sejam incorporadas aos procedimentos -os no marco regulatório da educação nacional. Essas alte-
das mesmas, na perspectiva da garantia de uma educação rações ocorreram no Titulo V da LDB. Foi inserida a Seção
de qualidade para todos, nos moldes do preconizado pela IV-A do Capitulo II, que trata da Educação Básica. Assim,
Constituição Federal. além da Seção IV, que trata do Ensino Médio, foi acres-
centada a Seção IV-A, que trata da Educação Profissional
Técnica de Nível Médio, com a inserção de quatro novos
artigos: 36-A, 36-B, 36-C e 36-D. Foi acrescentado, ainda,
o § 3º ao art. 37, já na Seção V, que trata da Educação de
Jovens e Adultos. Finalmente, foi alterada a denominação
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
do Capítulo III do Título V, para tratar da Educação Pro- condutoras do País como necessário para a maior parcela
fissional e Tecnológica, bem como foi alterada a redação da população de trabalhadores, não reconhecendo vínculo
dos dispositivos legais constantes dos arts. 39 a 42 da LDB. necessário entre a educação escolar formal e o exercício
Recentemente, o Decreto nº 5.154/2004 teve sua redação profissional no mundo do trabalho.
alterada pelo Decreto nº 8.268, de 18 de junho de 2014, Até o último quartil do século passado, a formação pro-
inclusive para ajustar-se aos termos da Lei nº 12.513/2011, fissional no Brasil, praticamente limitava-se ao treinamento
que institui o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Téc- operacional para a produção em série e padronizada, com a
nico e Emprego (PRONATEC). incorporação maciça de operários semiqualificados, adap-
Em 2010, a CEB concluiu longo e proveitoso debate, tados aos respectivos postos de trabalho, desempenhando
definindo Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para tarefas simples, rotineiras e previamente especificadas e de-
a Educação Básica, pela Resolução CNE/CEB nº 4/2010, limitadas. Apenas uma minoria de trabalhadores precisava
com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 7/2010. Poste- contar com o desenvolvimento de conhecimentos, saberes
riormente, esta Câmara ainda aprovou a Resolução CNE/ e competências profissionais em níveis de maior comple-
CEB nº 2/2012, com base no Parecer CNE/CEB nº 5/2011, xidade, em virtude da rígida separação entre as atividades
que definiu Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de planejamento, supervisão e controle de qualidade e as
Médio. Finalmente, em 2012, aprovou a Resolução CNE/ de execução, no chamado chão de fábrica ou similar. Havia
CEB nº 6/2012, com base no Parecer CNE/CEB nº 11/2012, pouca margem de autonomia para o trabalhador manual,
definindo Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação uma vez que o monopólio do conhecimento técnico-cien-
Profissional Técnica de Nível Médio, a qual é agora sinteti- tífico e organizacional cabia, quase sempre, apenas aos
camente apresentada aos educadores brasileiros. níveis gerenciais. Nesse ambiente, a baixa escolaridade da
O mundo do trabalho como referência para a Educação massa trabalhadora não era considerada entrave significa-
Profissional: a história e as mudanças sociais tivo à expansão econômica. Somente a partir da década de
A evolução tecnológica e as lutas sociais têm modifi- 80 foi que as novas formas de organização e de gestão do
cado significativamente as relações no mundo do trabalho. trabalho começaram a passar por modificações estruturais
Devido a essas tensões, atualmente, não se admite mais cada vez mais aprofundadas e um novo cenário econômico
a existência de trabalhadores que desempenhem apenas e produtivo começou a ser desenhado no Brasil. Este foi
tarefas mecânicas. O uso das tecnologias de comunicação o cenário da definição das primeiras Diretrizes Curricula-
e da informação tem transformado o trabalho em algo me- res Nacionais para a Educação Profissional. A Câmara de
nos sólido. Espera-se que o mundo do trabalho avance na Educação Básica definiu Diretrizes Curriculares Nacionais
direção de relações trabalhistas mais justas. Isso implica para a Educação Técnica e o Conselho Pleno definiu Dire-
numa maior participação dos trabalhadores nos destinos e trizes Curriculares Nacionais Gerais para a organização e o
nos processos de trabalho. Para que isso aconteça é neces- funcionamento dos cursos superiores de tecnologia, pela
sário que o trabalhador tenha conhecimento da tecnologia, Resolução CNE/CP nº 3/2002 e Parecer CNE/CP nº 29/2002.
da ciência e dos processos necessários em sua produção. A Na virada do século, multiplicaram-se estudos refe-
escola especializada ou voltada para a formação profissio- rentes aos impactos das novas tecnologias no mundo do
nal deve atentar para essa necessidade. trabalho, os quais revelaram a exigência de profissionais
A educação para o trabalho, por outro lado, não tem cada vez mais polivalentes e capazes de interagir em si-
sido tradicionalmente colocada na pauta da sociedade bra- tuações novas e complexas, em constante processo de
sileira como de um direito universal. O não entendimento mutação. Como resposta a esse desafio, escolas e institui-
dessa abrangência da Educação Profissional na ótica dos ções de Educação Profissional buscaram diversificar pro-
direitos universais à educação e ao trabalho, associando a gramas e cursos profissionais, atendendo a novas áreas
Educação Profissional unicamente à formação de mão-de profissionais, estruturando programações diversificadas e
-obra, tem reproduzido o dualismo existente na sociedade articuladas por eixos tecnológicos, elevando os níveis de
brasileira entre as chamadas elites condutoras e a maioria qualidade da oferta dos programas educacionais voltados
da população trabalhadora. Como a escravidão no Brasil, para o aprimoramento do processo de profissionalização
infelizmente, perdurou por mais de três séculos, esta trá- dos trabalhadores. De um lado, os empregadores, públi-
gica herança cultural reforçou no imaginário popular a dis- cos e privados, passaram a exigir trabalhadores cada vez
tinção e dualidade no mundo do trabalho, a qual deixou mais qualificados, uma vez que equipamentos e instalações
marcas profundas de preconceitos em relação à catego- complexas estavam requerendo trabalhadores com níveis
ria social de quem executa trabalho manual, como se este de educação e qualificação cada vez mais elevados. Por
não fosse pleno de inteligência. Independentemente da outro lado, as próprias mudanças aceleradas no sistema
boa qualidade do produto e da sua importância na cadeia produtivo passaram a exigir uma permanente atualização
produtiva, esses trabalhadores sempre foram relegados a das qualificações e habilitações existentes, a partir da iden-
uma condição social inferior. Essa herança colonial escra- tificação de novos perfis profissionais e de novos saberes e
vista tem influenciado bastante todas as relações sociais e competências profissionais exigidas.
visão da sociedade sobre a própria educação ou formação Todo esse contexto relacionado ao exercício profis-
profissional. Nesse contexto, o próprio desenvolvimento sional das atividades técnicas de nível médio, associado a
intelectual proporcionado pela educação escolar acadê- grandes mutações decorrentes de mudanças de ordem so-
mica, nem sempre tem sido visto pelas chamadas elites ciopolítica, as quais implicam na construção de uma nova
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
sociedade que enfatiza a cidadania, superando assim as dade única e exclusiva dos trabalhadores, como se houves-
condicionantes econômicas impostas pelo mercado de tra- se uma relação causal direta entre a Educação Profissional
balho, orienta para a adoção de uma nova concepção de e Tecnológica e o nível de empregabilidade do trabalhador
Educação Profissional e Tecnológica. certificado. O conjunto das Diretrizes Curriculares definidas
Atualmente, não se concebe mais uma Educação Pro- pela Câmara de Educação Básica, de certa forma, desmis-
fissional identificada como simples instrumento de políti- tifica a pretensa correspondência direta entre qualificação
ca assistencialista ou linear ajustamento às demandas do ou habilitação profissional e emprego ou oportunidades de
mercado de trabalho, mas sim como importante estratégia trabalho. Esta relação linear e fictícia ainda é fortemente
para que os cidadãos tenham efetivo acesso às conquis- disseminada pela mídia brasileira e assumida por muitos
tas científicas e tecnológicas da sociedade. Impõe-se a su- políticos e governantes como o eixo central dos seus dis-
peração do enfoque tradicional da formação profissional cursos políticos. Ela é, até mesmo, considerada de funda-
fundamentada apenas na preparação para a execução de mental importância quando da definição das políticas pú-
um determinado conjunto de tarefas a serem executadas. blicas nas áreas da educação e do trabalho, contribuindo
A Educação Profissional requer, para além do domínio ope- para uma explosão da oferta de cursos e programas de
racional de um determinado fazer, a compreensão global Educação Profissional desconectados da realidade desse
do processo produtivo, com a apreensão do saber tecnoló- mundo do trabalho em estado de permanente evolução,
gico, a valorização da cultura do trabalho e a mobilização o qual está passando por profundas alterações estruturais
dos valores necessários à tomada de decisões no mundo e conjunturais, tanto no nível regional ou nacional, quanto
do trabalho. internacional.
As atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu- Tem sido assumido praticamente como consenso que,
cação Profissional Técnica de Nível Médio, portanto, estão nas sociedades pós-industriais, na era da informação e da
centradas exatamente nesse compromisso ético das insti- revolução da alta tecnologia, o deslocamento tecnológico
tuições educacionais que se dedicam à Educação Profis- impacta pesadamente em todas as áreas da produção. Re-
sional e Tecnológica em relação à constituição de saberes sulta daí um significativo declínio da oferta de empregos,
e competências profissionais, ofertando uma Educação que acaba acarretando mudanças relevantes no mundo
Profissional mais ampla e politécnica, comprometida com do trabalho, tais como contínuo deslocamento dos tra-
o desenvolvimento profissional dos trabalhadores em sua balhadores e precarização das relações de trabalho, com
ação transformadora no mundo do trabalho. As mudanças a adoção dos chamados serviços terceirizados. Diferente-
sociais e a revolução científica e tecnológica, bem como mente de períodos históricos anteriores, que podem ser
o processo de reorganização do trabalho demandam uma caracterizados muito mais por inovações que substituíam
completa revisão dos currículos, tanto da Educação Básica o trabalho em alguns setores, mas que eram compensados
como um todo, quanto, particularmente e de modo espe- em outros, no momento atual, a transformação tecnoló-
cial, da Educação Profissional, uma vez que é exigido dos gica atinge praticamente todos os setores da produção,
trabalhadores, em doses cada vez mais crescentes, maior promovendo uma crise global na sociedade do trabalho. O
capacidade de raciocínio, autonomia intelectual, pensa- emprego está deixando de ser o eixo seguro em torno do
mento crítico, iniciativa própria e espírito empreendedor, qual se fixam identidades e projetos de vida, reduzindo-se
bem como capacidade de visualização e resolução de pro- a importância do trabalho formal tradicional, embora este
blemas. O que é necessário, paralelamente, acompanhan- ainda mantenha especial relevância social.
do de perto o que já vem sendo historicamente constituído Está ficando cada vez mais evidente que o que está
como processo de luta dos trabalhadores, é reverter tais mudando, efetivamente, é a própria natureza do traba-
exigências do mercado de trabalho com melhor remunera- lho. Está adquirindo importância cada vez mais essencial
ção, que sejam suficientes para garantir condições de vida o conhecimento científico e a incorporação de saberes e
digna, mantendo os direitos já universalmente conquista- competências profissionais em detrimento do emprego de
dos, em termos de trabalho decente e promotor do desen- massa, sem qualificação profissional e desempenho inte-
volvimento sustentável. lectual. O valor do conhecimento passa a assumir signifi-
Concepções, posturas e significações das Diretrizes cativa centralidade nessa nova organização da sociedade
Nessa perspectiva, as atuais Diretrizes Curriculares Na- pós-industrial, onde o mundo se apresenta como mais ins-
cionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio tável e carregado de incertezas. Antigos postos de trabalho
adotam uma concepção educacional que não a considera e emprego, bem como direitos trabalhistas consagrados,
como a única variável de salvação messiânica da nação. A podem acabar desaparecendo rapidamente, abrindo pers-
Educação Profissional e Tecnológica não é concebida como pectivas para a definição de novas políticas públicas para
a porta estreita da empregabilidade, até mesmo porque o trabalho, inclusive no campo da Educação Profissional e
nunca houve e nem haverá congruência direta entre um Tecnológica. Essas novas políticas públicas devem contem-
curso realizado e o respectivo emprego obtido ou trabalho plar oferta mais flexível de cursos e programas objetiva-
garantido. É bastante evidente que a Educação Profissio- mente destinados à profissionalização dos trabalhadores
nal e Tecnológica não é uma condição individual neces- de acordo com itinerários formativos que lhes possibilitem
sária para o ingresso e a permanência do trabalhador no contínuo e articulado aproveitamento de estudos e de
mercado de trabalho. A manutenção das oportunidades de conhecimentos, valorizando seus saberes e competências
emprego não pode ser considerada como de responsabili- profissionais já constituídas.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Nesse contexto, a educação para a vida, em sentido lhes ferramentas adequadas para aperfeiçoar a sua atuação
lato, poderá propiciar aos trabalhadores o desenvolvimen- como cidadão pleno de direitos e deveres. Por isso mesmo,
to de conhecimentos, saberes e competências profissionais é essencial considerar alguns pressupostos, tais como com-
que os habilitem efetivamente para analisar, questionar e preender que homens e mulheres são seres histórico-so-
entender os fatos do dia a dia com mais propriedade, do- ciais que atuam no mundo concreto para satisfazerem suas
tando-os, também, de capacidade investigativa diante da necessidades subjetivas e sociais e, nessa ação, produzem
vida, em sua forma mais criativa e crítica, tornando-os mais conhecimentos. Assim, a história da humanidade é a histó-
aptos para identificar necessidades e oportunidades de ria da produção da existência humana e a história do co-
melhorias para si, suas famílias e a sociedade na qual vivem nhecimento é a história do processo de apropriação social
e atuam como cidadãos trabalhadores. dos potenciais da natureza para o bem do próprio homem,
Visão integradora, em regime de colaboração mediada pelo trabalho.
Para que a educação integrada e inclusiva possa se O trabalho é uma importante mediação ontológica e
constituir em efetiva política pública educacional, entre- histórica na produção de conhecimentos e saberes presen-
tanto, é necessário que esta assuma uma amplitude ver- tes em toda ação humana. Outro pressuposto é o de que a
dadeiramente nacional, a fim de que as ações realizadas realidade concreta deve ser entendida como uma totalida-
nesse âmbito possam enraizar-se em todo o território bra- de, que é síntese de múltiplas relações. A totalidade signifi-
sileiro. Para que isso ocorra, é fundamental que as ações ca um conjunto estruturado e dialético, do qual ou no qual
desencadeadas nesse domínio sejam orientadas por um um fato ou conjunto de ocorrências pode ser racionalmen-
regime de coordenação, colaboração e cooperação entre te compreendido pela determinação das relações que os
todas as esferas públicas, nos diferentes níveis de poder, constituem. Desses dois pressupostos decorre um princípio
como já se encontra previsto nas metas e estratégias defi- de ordem epistemológica da maior importância, que con-
nidas pelo Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei siste em compreender o conhecimento como resultante
nº 13.005/2014. Uma política educacional dessa natureza de uma produção do pensamento pela qual se apreende e
requer sua articulação com outras políticas setoriais vincu- se representam as relações que constituem e estruturam a
ladas a diversos Ministérios responsáveis pela definição e realidade objetiva. Para apreender e determinar essas rela-
implementação de políticas públicas estruturantes da so- ções é exigido um método que parta do concreto empírico
ciedade brasileira. Portanto, ao se pensar a Educação Pro- – forma como a realidade se manifesta – e, mediante uma
fissional de forma integrada e inclusiva como política pú- determinação mais precisa, seja possível chegar às relações
blica educacional, o Conselho Nacional de Educação pro- gerais, as quais são determinantes da realidade concreta
curou pensá-la também na perspectiva de sua contribuição vivenciada pelas pessoas.
para a consolidação, por exemplo, das políticas de ciência Nessa perspectiva, o processo de conhecimento impli-
e tecnologia, de geração de emprego e renda, de desen- ca, após a análise, a elaboração da síntese que representa
volvimento agrário, de saúde pública, de desenvolvimento o concreto, agora como uma reprodução do pensamento,
de experiências curriculares e de implantação de polos de conduzido pelas determinações que o constituem. Assim, a
desenvolvimento da indústria e do comércio, entre outras, formação humana se expressa com base na integração de
na necessária caracterização de um papel estratégico no todas as dimensões da vida no processo educativo, visando
marco do projeto de desenvolvimento socioeconômico à formação omnilateral dos sujeitos. Essas dimensões são
sustentável, inclusivo e solidário do estado brasileiro. o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura. O trabalho
A organização curricular da Educação Profissional Téc- compreendido como realização humana inerente ao ser
nica de Nível Médio (sentido ontológico) e como prática econômica (sentido
O currículo de Educação Profissional e Tecnológica, ob- histórico, associado ao modo de produção); a ciência e a
viamente valorizando o próprio projeto político-pedagógi- tecnologia compreendidas como os conhecimentos produ-
co da unidade educacional, nos termos dos arts. 12 e 13 da zidos pela humanidade e que possibilitam o contraditório
LDB, deve considerar os saberes e as experiências incorpo- avanço das forças produtivas; e a cultura, que corresponde
rados pelo trabalhador, o qual já tem desenvolvido, de uma aos valores éticos, estéticos e políticos, é a orientadora das
ou de outra forma, o seu próprio saber sobre a tecnologia normas de conduta da sociedade.
e seu processo de produção, contemplando as demandas Assim, quando se trata da Educação Profissional Téc-
atuais de trabalhadores que estão retornando à escola em nica de Nível Médio articulada com o Ensino Médio, em
busca da Educação Profissional e Tecnológica. quaisquer das suas formas de oferta, o que se quer dizer
Para tanto, o Plano Nacional de Educação considera com essa concepção é que a formação geral do aluno deve
essencial superar a tradicional e ultrapassada redução da se tornar inseparável da formação profissional e vice-versa,
preparação para o trabalho ao seu aspecto meramente em todos os campos onde se dá a preparação para o traba-
operacional, simplificado e linear, escoimado dos conhe- lho, seja nos processos produtivos, seja nos processos edu-
cimentos que estão na sua gênese científico-tecnológica cativos, tais como o Ensino Fundamental e o Ensino Médio,
e na sua apropriação histórico-social e cultural. Como ele- seja na formação inicial ou qualificação profissional, seja na
mento essencial da formação humana do cidadão, o que formação continuada de trabalhadores. A Educação Profis-
se busca é garantir ao adolescente, ao jovem e ao adulto sional Técnica ou Tecnológica, em quaisquer circunstâncias,
trabalhador o direito a uma formação plena, que possibilite deve sempre enfocar o trabalho como princípio educativo,
o aprimoramento da sua leitura do mundo, fornecendo- objetivando superar a tradicional e preconceituosa dicoto-
150
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
mia entre trabalho manual e trabalho intelectual, incorpo- Nesse contexto, uma formação que seja realmente in-
rando a dimensão intelectual ao trabalho produtivo e vi- tegrada, não somente possibilita o acesso a conhecimentos
ce-versa, objetivando a formação de trabalhadores capazes científicos e tecnológicos, mas também promove a reflexão
de atuar democraticamente como cidadãos, na posição de crítica sobre os padrões culturais que se constituem em
dirigentes ou de subordinados. Para tanto, como está defi- normas de conduta de um grupo social, assim como sobre
nido no inciso IV do art. 35 da LDB, é preciso propiciar aos a apropriação de referências e tendências estéticas que se
alunos a “compreensão dos fundamentos científico-tec- manifestam em tempos e espaços históricos, os quais ex-
nológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria pressam concepções, problemas, crises e potenciais de uma
com a prática, no ensino de cada disciplina”. sociedade que se vê traduzida e/ou questionada nas suas
No trabalho pedagógico, é essencial que o método de manifestações e obras artísticas, evidenciando a unicidade
estudo restabeleça as relações dinâmicas e dialéticas entre entre as dimensões científicas, tecnológicas e culturais.
os conceitos, reconstituindo as relações que configuram a Desse modo, os cursos de Educação Profissional Técni-
totalidade concreta da qual se originaram, de modo que o ca de Nível Médio são organizados por eixos tecnológicos
objeto a ser conhecido se revele gradativamente em suas constantes do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos de Ní-
peculiaridades próprias. É pressuposto essencial do chama- vel Médio, proposto pelo MEC e aprovado pela Câmara de
do currículo integrado, a organização do conhecimento e Educação Básica, pelo Parecer CNE/CEB nº 11/2008 e Reso-
o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem lução CNE/CEB nº 3/2008.
de tal maneira que os conceitos sejam apreendidos como O Parecer CNE/CEB nº 11/2008 caracteriza eixo tec-
sistema de relações de uma totalidade concreta que se pre- nológico como sendo a “linha central de estruturação de
tende explicar e compreender, de sorte que o estudante um curso, definida por uma matriz tecnológica, que dá
desenvolva um crescente processo de autonomia em re- a direção para o seu projeto pedagógico e que perpassa
lação aos objetos do saber. Trabalho, ciência, tecnologia transversalmente a organização curricular do curso, dan-
e cultura são, desta forma, entendidos como dimensões do-lhe identidade e sustentáculo”. Em decorrência desta
indissociáveis da formação humana, partindo-se do con- orientação, foram revogados os anexos da Resolução CNE/
ceito de trabalho, simplesmente pelo fato de ser o mesmo
CEB nº 4/99, referentes à organização da oferta da Educa-
compreendido como uma mediação de primeira ordem no
ção Profissional Técnica por áreas profissionais, sendo os
processo de produção da existência e de objetivação da
mesmos substituídos pelo Catálogo Nacional de Cursos
vida humana. A dimensão ontológica do trabalho é, assim,
Técnicos de Nível Médio, instituído pela Portaria Ministe-
o ponto de partida para a produção de conhecimentos e de
rial nº 870/2008. A organização curricular, consubstanciada
cultura pelos diferentes grupos sociais.
no plano de curso e com base no princípio do pluralismo
Desafios da sociedade do conhecimento e do trabalho:
de concepções pedagógicas, é prerrogativa e responsabi-
quem formar e como formar
lidade de cada instituição educacional, nos termos destas
A revolução industrial, o taylorismo e o fordismo, de
um lado, e a automação e a microeletrônica, de outro lado, Diretrizes e de seu projeto pedagógico. Os cursos, portanto,
expressam momentos diferentes da história da tecnologia podem e devem ter seu currículo organizado com estrutura
nos marcos da transformação da ciência em força produti- curricular que mantenha a necessária sinergia com a con-
va, pelo trabalho humano. Definem, assim, duas caracterís- cepção pedagógica livremente adotada pela instituição, de
ticas da relação entre ciência e tecnologia. Na primeira, tal acordo com o inciso III do art. 206 da Constituição Federal
relação se desenvolve basicamente com a produção indus- e do inciso III do art. 3º da LDB, bem como o prescrito nos
trial. Na segunda, esse desenvolvimento visa à satisfação arts. 12, 13, 14 e 15 da LDB. As orientações desse Parecer em
de necessidades que a humanidade se coloca, o que nos relação ao planejamento, estruturação e organização dos
leva a perceber que a tecnologia é, efetivamente, uma ex- cursos e currículos se restringem à indicação de critérios a
tensão das capacidades humanas. A partir do nascimento serem contemplados, com base em princípios norteadores
da ciência moderna, podemos definir a técnica e a tecnolo- da Educação Profissional Técnica de Nível Médio, tais como:
gia, portanto, como mediação entre o conhecimento cien- a) relação orgânica com formação geral do Ensino Mé-
tífico, em termos de apreensão e desvelamento do real, e a dio na preparação para o exercício das profissões técnicas,
produção, em termos de intervenção humana na realidade visando à formação integral do estudante;
das coisas. b) respeito aos valores estéticos, políticos e éticos, na
Entender cultura como o processo de produção de perspectiva do desenvolvimento de aptidões para a vida
símbolos, de representações, de significados e, ao mesmo social e produtiva;
tempo, prática constituinte e constituída do e pelo tecido c) integração entre educação e trabalho, ciência, tec-
social, como norma de comportamento dos indivíduos nologia e cultura como base da proposta e do desenvolvi-
numa sociedade e como expressão da organização político mento curricular;
-econômica desta sociedade, no que se refere às ideologias d) indissociabilidade entre educação e prática social,
que cimentam o bloco social, significa entender cultura em considerando-se a historicidade dos conhecimentos e dos
seu sentido o mais ampliado possível, ou seja, como a ar- sujeitos da aprendizagem;
ticulação entre o conjunto de representações e comporta- e) integração de conhecimentos gerais e profissionais,
mentos e o processo dinâmico de socialização, constituin- na perspectiva da articulação entre saberes específicos, ten-
do o modo de vida de uma determinada população. do a pesquisa como eixo nucleador da prática pedagógica;
151
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
f) trabalho e pesquisa, respectivamente, como princí- Para a concretização dessa diretriz central a ser adotada
pios educativo e pedagógico; pelas instituições educacionais dedicadas ao desenvolvimen-
g) indissociabilidade entre teoria e prática no processo to da profissionalização das pessoas, o Parecer CNE/CEB nº
de ensino-aprendizagem; 11/2012 fixa a seguinte orientação quanto às etapas a serem
h) interdisciplinaridade que supere a fragmentação de conhe- observadas na organização curricular de seus cursos de Edu-
cimentos e a segmentação da organização curricular disciplinar; cação Profissional e Tecnológica e consequente elaboração
i) contextualização que assegure estratégias favoráveis dos planos de curso a serem submetidos à apreciação dos
à compreensão de significados e integrem a teoria à vivên- órgãos superiores competentes, em cada sistema de ensino:
cia da prática profissional; a) aferição da consonância do curso com o projeto peda-
j) articulação com o desenvolvimento socioeconômico gógico da instituição de ensino;
e ambiental dos territórios onde os cursos ocorrem, deven- b) definição do perfil profissional de conclusão do curso,
do observar os arranjos produtivos locais; a partir da identificação dos itinerários formativos e de pro-
k) reconhecimento das diversidades dos sujeitos, inclu-
fissionalização que possibilitem contínuo e articulado apro-
sive de suas realidades étnico-culturais, como as dos negros,
veitamento de estudos;
quilombolas, povos indígenas e populações do campo;
c) identificação das competências profissionais definido-
l) reconhecimento das diversidades das formas de pro-
dução, dos processos de trabalho e das culturas a eles sub- ras do perfil profissional de conclusão proposto para o curso;
jacentes, que estabelecem novos paradigmas; d) organização curricular por componentes disciplinares,
m) autonomia da instituição educacional na concepção, projetos, núcleos temáticos ou outros formatos, desde que
elaboração, execução, avaliação e revisão do seu projeto recomendados pelo processo de ensino e aprendizagem;
pedagógico, construído como instrumento de trabalho da e) definição de critérios e procedimentos de avaliação da
comunidade educacional; aprendizagem;
n) flexibilidade na construção de itinerários formativos f) identificação das reais condições técnicas, tecnológi-
diversificados e atualizados, segundo interesses dos sujeitos cas, físicas, financeiras e de pessoal habilitado para implantar
e possibilidades das instituições educacionais; o curso proposto;
o) identidade dos perfis profissionais de conclusão de g) elaboração do plano de curso a ser submetido à apro-
curso, que contemplem competências profissionais, obje- vação dos órgãos competentes do sistema de ensino;
tivando desempenho eficiente e eficaz de atividades re- h) inserção dos dados do plano de curso de Educação
queridas pela natureza do trabalho, pelo desenvolvimento Profissional Técnica de Nível Médio aprovado pelo respec-
tecnológico e pelas demandas socioeconômico-ambientais, tivo sistema de ensino no Cadastro do Sistema Nacional de
configurando o técnico a ser formado; Informações da Educação Profissional e Tecnológica (SISTEC),
p) atualização permanente dos cursos e currículos, es- mantido pelo MEC, para fins de validade nacional dos certifi-
truturados com base em ampla e confiável base de dados. cados e diplomas emitidos;
i) avaliação da execução do respectivo plano de curso.
Nesse sentido, o currículo de quaisquer dos cursos da moda- Fazer e pensar a prática
lidade de Educação Profissional e Tecnológica deve ser construí- Os planos de curso, coerentes com os projetos pedagó-
do a partir de dois eixos norteadores essenciais: o trabalho como gicos institucionais, devem conter obrigatoriamente, no mí-
princípio educativo e a pesquisa como princípio pedagógico. Es- nimo:
tes dois princípios devem estar presentes em toda a Educação a) identificação do curso;
Básica e, de modo especial, na Educação Profissional Técnica de b) justificativa e objetivos;
Nível Médio, em todas as suas formas de oferta e de organização.
c) requisitos e formas de acesso;
Assim, os currículos dos cursos de Educação Profissional Técnica
d) perfil profissional de conclusão;
de Nível Médio devem proporcionar aos estudantes:
e) organização curricular;
a) diálogo com diversos campos do trabalho, da ciência, da tec-
f) critérios de aproveitamento de conhecimentos e expe-
nologia e da cultura como referências fundamentais de sua formação;
b) elementos para compreender e discutir as relações riências anteriores;
sociais de produção e de trabalho, bem como as especifici- g) critérios e procedimentos de avaliação;
dades históricas nas sociedades contemporâneas; h) biblioteca, instalações e equipamentos;
c) recursos para exercer sua profissão com competên- i) perfil do pessoal docente e técnico;
cia, idoneidade intelectual e tecnológica, autonomia e res- j) certificados e diplomas.
ponsabilidade, orientados por princípios éticos, estéticos e
políticos, bem como compromissos com a construção de O item referente à organização curricular deve explici-
uma sociedade democrática; tar os componentes curriculares de cada etapa, com a indi-
d) domínio intelectual das tecnologias pertinentes ao cação da respectiva bibliografia básica e complementar; as
eixo tecnológico do curso, de modo a permitir progressi- indicações e a orientação metodológica; a prática profissio-
vo desenvolvimento profissional e capacidade de construir nal intrínseca ao currículo, desenvolvida nos ambientes de
novos conhecimentos e desenvolver novas competências aprendizagem; e o estágio profissional supervisionado, em
com autonomia intelectual; termos de prática profissional em situação real de trabalho,
e) instrumentais de cada habilitação, por meio da vivên- assumido como ato educativo da instituição educacional,
cia de diferentes situações práticas de estudo e trabalho. quando previsto.
152
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
As instituições educacionais devem comprovar a exis- Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e
tência das necessárias instalações e equipamentos na mes- Adultos
ma instituição ou em instituição distinta, cedida por tercei- Síntese elaborada pelo conselheiro Antonio Ibañez
ros, com viabilidade de uso devidamente comprovada. Ruiz
Para a autorização do curso, deve ser observado se Parecer CNE/CEB nº 6/2010 (Relatores: Adeum Hilário
o mesmo corresponde às aspirações e interesses dos ci- Sauer, Cesar Callegari, Clélia Brandão Alvarenga Craveiro,
dadãos e às especificidades e demandas socioeconômico Francisco Aparecido Cordão, Maria das Dores de Oliveira,
-ambientais, de modo a potencializar os processos produ- Mozart Neves Ramos e Raimundo Moacir Mendes Feitosa)
tivos e a inclusão social. Devem ser observadas, ainda, as Resolução CNE/CEB nº 3/2010
Diretrizes Curriculares Gerais para a Educação Básica e, no Introdução
que couber, as Diretrizes Curriculares Nacionais definidas São orientações que explicam como as Diretrizes Cur-
para o Ensino Médio pela Câmara de Educação Básica do riculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos
(EJA), aprovadas pelo CNE em 2000, serão implementadas.
Conselho Nacional de Educação, bem como as Normas
Isto não significa ausência de normas para a aplicação das
Complementares dos respectivos Sistemas de Ensino e as
Diretrizes aprovadas naquele ano. Na realidade, as Diretri-
exigências de cada Instituição de ensino, nos termos de
zes Operacionais de 2010 são uma revisão daquelas Dire-
seu Projeto Pedagógico, conforme determina o art. 36-B
trizes, mais especificamente em relação à duração da EJA
da atual LDB. para o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, à idade mí-
Podem, também, ser implementados cursos e currícu- nima para o ingresso, certificação nos exames de EJA e EJA
los experimentais não constantes do Catálogo Nacional de desenvolvida mediante Educação a Distância.
Cursos Técnicos de Nível Médio, desde que ajustados ao Além dessas revisões, foi feita a substituição do termo
disposto nestas Diretrizes e previamente aprovados pelo “supletivo” pelo termo de “EJA”.
órgão competente do respectivo sistema de ensino. Ao As presentes Diretrizes Operacionais mantêm os prin-
MEC, cabe organizar e divulgar Cadastro Nacional de Ins- cípios e os objetivos das Diretrizes Curriculares Nacionais
tituições de Ensino voltadas para a Educação Profissional para a Educação de Jovens e Adultos, estabelecidas pela
e Tecnológica, cursos de Educação Profissional Técnica de Resolução CNE/CEB nº 1/2000, com base no Parecer CNE/
Nível Médio, e Estudantes Matriculados e Certificados ou CEB nº 11/2000.
Diplomados, no âmbito do Sistema Nacional de Educação Duração de EJA para o Ensino Fundamental e o Ensino
Profissional Técnica de Nível Médio (SISTEC). Médio
De acordo com a LDB, a Educação Profissional Técni- Para os anos iniciais do Ensino Fundamental, a duração
ca de Nível Médio abrange tanto a habilitação profissional fica a critério dos sistemas de ensino. Já para os anos finais,
específica, quanto as qualificações profissionais iniciais ou a duração mínima deve ser de 1.600 (mil e seiscentas) ho-
intermediárias, organizadas de forma independente ou, ras. No caso do Ensino Médio, a duração mínima deve ser
preferencialmente, como etapas ou módulos de um de- de 1.200 (mil e duzentas) horas.
terminado itinerário formativo do técnico de nível médio, A duração da Educação Profissional Técnica de Nível
bem como a complementar especialização profissional da Médio integrada com o Ensino Médio, na EJA, é de 1.200
habilitação profissional técnica de nível médio, presente no (mil e duzentas) horas destinadas à educação geral, mais
respectivo itinerário formativo. a carga horária mínima para a respectiva habilitação pro-
A habilitação profissional refere-se à profissionalização fissional de Nível Médio, conforme Resolução CNE/CEB nº
do técnico de nível médio. Seu concluinte faz jus ao diplo- 4/2005, que atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais
ma de técnico de nível médio, desde que tenha cumprido para o Ensino Médio e para a Educação Profissional Técnica
de nível médio.
todas as etapas previstas pelo plano de curso e haja con-
De acordo com o Parecer CBE/CNE nº 2/2005, que tra-
cluído o Ensino Médio. Aquele que não concluir o Ensino
ta do Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação,
Médio recebe tão somente certificado, correspondente à
Qualificação e Ação Comunitária (ProJovem), a duração do
qualificação profissional técnica que tenha concluído, re- curso é de 1.600 (mil e seiscentas) horas.
ferente à etapa ou módulo que esteja previsto com ter- Idade mínima para o ingresso
minalidade no curso. A habilitação profissional técnica de Respeitada a prioridade para o atendimento da escola-
nível médio é sempre habilitação plena, uma vez que não rização obrigatória, a idade mínima para inscrição nos cur-
existe mais aquela fictícia habilitação parcial, criada pelo sos de EJA e para a realização de exames de conclusão de
Parecer CFE nº 45/72 unicamente para garantir a continui- EJA do Ensino Fundamental é de 15 anos completos.
dade de estudos nos termos da revogada Lei nº 5.692/71. Para a EJA do Ensino Médio, a idade mínima para ins-
No regime da atual LDB, ou ela é plena ou não é habilitação crição e realização de exames de conclusão é de 18 anos
profissional. completos.
É importante ressaltar que o art. 4º da LDB estabelece
que é dever do Estado “a oferta de educação escolar re-
gular para jovens e adultos, com características e modali-
dades adequadas às suas necessidades e disponibilidades,
garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições
de acesso e permanência na escola”.
153
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
154
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
É preciso conhecer a comunidade, pois ela é muitas ser um o legado de uma cultura histórica que aos poucos
vezes o mundo da criança do campo, é o lugar onde con- vem sendo mudado, mas que por muito tempo proibia o
vivem, se relacionam, aprendem a trabalhar e se distrair, agrário, as mulheres, os indígenas, e negros a escolariza-
valorizando o contexto cultural dos alunos incluindo os sa- ção, pois para o trabalho agrícola não precisavam apren-
beres rurais e as tradições locais. Daí a importância de se der a ler e escrever. E também a própria necessidade das
ressaltar o valor da ação de movimentos sociais, Conselhos, crianças terem que contribuir com os afazeres do campo e
Secretarias, Universidades, Organizações governamentais e de casa impossibilitando-os de frequentar a escola regular.
não governamentais que trabalhem para garantir esses di- No entanto, há por parte dos governantes e legislado-
reitos. res uma preocupação com o atendimento escolar, expandi-
De um lado, a exigência da qualidade no ensino para do nas zonas urbanas e rurais. Pode ainda não atender aos
todos, do outro, a tentativa de situações adversas sendo anseios das particularidades de cada comunidade, mas não
tratadas, como inclusivas. A dimensão do perímetro não se pode dizer que não há ações governamentais. E muito
-urbano e a ligação com a nossa própria história é muito há que se fazer pela Educação no país. Então não pode-
grande. mos cruzar os braços, devemos nos motivar a estar sempre
A Educação no Campo é tratada como educação rural, aprendendo e nos inteirando das evoluções da sociedade,
dela fazem parte os habitantes das florestas, os extrativis- para assim, contribuirmos com uma educação de qualida-
tas, os da pecuária, das minas, da agricultura, os ribeiri- de, inclusiva e interativa.
nhos, os pesqueiros e os caiçaras. Assim como a tecnologia tem nos mostrado que é de
Durante algum tempo a literatura brasileira passava em suma importância todas as raças e etnias estarem alfabe-
suas linhas a ideia de que o campo seria um lugar de paz, tizadas e por dentro de toda a evolução que nossa socie-
abundância e felicidade. Com o progresso urbano batendo dade está inserida, pois mesmo se optarem por mera ne-
nas portas do mundo agrário, o olhar se volta para outras cessidade, ou mesmo por opção, ficarem no meio agrário,
questões que não eram mencionadas. Hoje em dia tem-se a tecnologia nos apresenta ferramentas que ampliam a
a noção de que o campo é um lugar com existência social produtividade da terra, e, para poder fazer uso de todas
em que se explora a ideia de posse e poder em relação as variantes que os avanços tecnológicos proporcionam na
ao trabalhador, de espaços múltiplos e heterogêneos e agricultura se faz necessário uma escolarização forte, res-
das pluralidades econômicas. ponsável e eficaz. É preciso que haja uma conectividade
Até 1937 não havia um interesse efetivo por parte da entre as mídias e as escolas rurais,que os alunos tenham
União em relação ao campo, embora fôssemos conside- acesso a internet, integrando tecnologias e culturas e que
rados um país eminentemente agrário, foi somente a par- isso traga para o professor novas perspectivas ao desen-
tir daí, que se denota uma pequena preocupação com volvimento local.
educação do campo. As leis daquele período salientavam a Por isso as escolas precisam adaptar-se as novas tec-
necessidade de treinar, disciplinar e manter os jovens atre- nologias e permitir que a cultura digital seja inserida no
lados ao mundo rural. espaço educacional. Com essas ferramentas a possibilidade
Mesmo com as novas tendências educacionais e refor- de se alcançar um aprendizado significativo é bem mais
mas no ensino a nova constituição de 1946, considerava provável, já que os alunos são digitais e, portanto, a escola
o ensino técnico-agrícola acessível as classes baixas e que não deve continuar analógica.
para não prejudicá-los foram equiparados as demais for- A Educação no Campo tem como objetivo oferecer
mas de cursos educacionais. Também surgiria uma nova uma educação que esteja de acordo como produção da
regulamentação sobre a participação e formação das mu- vida, do conhecimento e da cultura do campo. Ter um cur-
lheres, ressaltando é claro algumas peculiaridades voltadas rículo flexível e participativo é o ponto de partida para po-
para a “fragilidade feminina”. Isto mostra claramente o pa- der desenvolver ações coletivas com a comunidade escolar
pel da escola tanto rural como urbana a forma hierarquiza- visando qualificar o processo de ensino e aprendizagem.
da a partir do gênero A tecnologia, que está cada vez mais difusa, deve ser
A lei transfere parte da tarefa de educar para os donos um item importante a ser incorporado na educação no
de empresas a fim de manter o ensino primário gratuito, campo, pois propicia troca de conhecimento e informa-
perdurando até 1988, quando a nova Constituição prevê ções, de forma mais rápida e efetiva, aproximando o a co-
que a educação é direito de todos e dever do Estado abran- munidade da escola.
ger todas as modalidades de ensino em qualquer parte do Ao longo dos anos, vê-se leis sendo estabelecidas e
Brasil. Porém observa-se que são modestas e periféricas as moldadas conforme as necessidades que surgiam para
alterações relacionadas a educação rural. Além disto, quan- qualificar o ensino dos sujeitos do campo. Mas, sempre é
do são identificadas elas são resultados das pressões dos bom questionarmos se nestes ensinamentos são levados
movimentos sociais do campo que se voltam às necessida- em consideração os aspectos culturais e identitários, bem
des dos mesmos. como a diversidade encontrada no meio em que estão in-
Muitas são as dificuldades de manter os alunos es- seridos.
tudando a partir do ensino médio e com a educação no A população do campo nunca foi respeitada, princi-
campo não é diferente. A alta evasão escolar, a baixa esco- palmente no processo de cultivo, pois, muitos não tinham
larização, o alto índice de repetência, são uns dos grandes preparação, contribuindo assim, para o descaso das auto-
problemas que o meio rural também enfrenta. Isso pode ridades.
155
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A educação no campo oferece uma educação escolar Dentro do cenário brasileiro a Educação do Campo se
especifica associada à produção da vida do conhecimento adapta as características de cada região onde vai expan-
e da cultura. Porém não podemos abrir mão que os alu- dindo e interiorizando o ensino. Além disto, alguns Estados
nos do campo tenham conhecimento de outras culturas e já tem políticas de valorização do educador e de sua efeti-
assim aprofundando o conhecimento e diminuindo as de- vação enquanto agente de conhecimento. Neste contexto
sigualdades no ambiente escolar. Para que esses objetivos destaca-se a educação do RS que é a única que dispõe um
sejam alcançados é preciso ter uma estrutura organizada projeto estruturado para o conjunto do país e dá sentido
como, biblioteca, sala de informática, coordenação peda- à implementação da reforma agrária e aos direitos do tra-
gógica e supervisão pedagógica. balhador do campo. Consequentemente, existem muitas
Enquanto instituição, a escola do campo precisa cer- variações nas Cartas dos vários Estados brasileiros que vão
tamente trabalhar a diversidade cultural, proporcionando desde a implementação de conteúdos específicos a calen-
aos alunos compreender e entender as diversas formas de dários voltados a acompanhar os ciclos de cultivo do solo.
organizações sociais e culturais. Sem esquecer de trabalhar Nos dias atuais percebe-se um desejo do poder pú-
e cultivar conhecimento científico a partir da realidade rural blico em transportar os alunos do meio rural até a escola
e desenvolver ações coletivas com a comunidade escolar, mais próxima da sede – zona urbana, pois a manutenção da
de forma a valorizar a agricultura familiar, numa perspecti- escola com um número reduzido de alunos torna-se mais
va de qualificar o processo de ensino e aprendizagem. O dispendioso do que o gasto com o transporte. Em contra-
processo educativo deve criar oportunidades de conheci- partida verificamos um desejo muito grande das comuni-
mento da realidade, construção de saberes, transformação, dades rurais em manter suas escolas no meio rural. A oferta
desenvolvimento e realização individual e coletiva. É fun- da Educação Básica no campo garante benefícios ao meio
damental que haja políticas públicas para garantir recursos rural, pois a presença da escola, em muitas comunidades,
e perspectivas para que os estudantes e pessoas da comu- consiste em a única presença do poder público nestas co-
nidade sejam protagonistas nas transformações sociais e munidades, sendo considerado o meio de preservação de
econômicas nos espaços em que vivem. Há de se pensar valores que mantêm as populações rurais vinculadas aos
em uma Educação de responsabilidades, onde todos se seus modos de vida e convivência. A escola é importante
sintam capazes e encorajados a ser agentes de transfor- instrumento transformador da realidade, de mobilização,
mação. podendo desenvolver ações necessárias ao desenvolvi-
O artigo 2º das Diretrizes Curriculares para a Educação mento rural na formação de uma sociedade mais justa e
no Campo evidencia que a definição da identidade da es- equilibrada.
cola dessa modalidade passa, primordialmente, pelo perfil Muitas escolas do meio rural foram construídas com a
dos indivíduos a que está destinada. Sendo assim, a identi- participação da comunidade no entorno sendo, a mesma,
dade da escola do campo não pode ser restrita a uma loca- mantenedora das raízes e tradições culturais da comunida-
lização geográfica, mas sim estar vinculada à comunidade de. É o local previsto para a socialização: reuniões, festas,
do campo, além de estar intrinsecamente relacionada às comemorações.
questões da realidade social dos povos do campo. Esta necessidade de reduzir gastos faz com que as es-
Segundo o Art. 7º A Educação do Campo deverá ofe- colas da zona rural entrem em processo de nucleação es-
recer sempre o indispensável apoio pedagógico aos alu- colar. Tendo ênfase no contexto da educação do campo, os
nos, incluindo condições infra-estruturais adequadas, bem estados e municípios vêm adaptando suas respectivas re-
como materiais e livros didáticos, equipamentos, laborató- des escolares uma redução que sejam por meio da multis-
rios, biblioteca e áreas de lazer e desporto, em conformi- seriação ou pelo fechamento de instituições (nucleação es-
dade com a realidade local e as diversidades dos povos do colar), sendo assegurado em lei, no Art. 28º dos Parâmetros
campo, com atendimento ao art. 5º das Diretrizes Opera- Curriculares Nacionais (1996), onde os sistemas de ensino
cionais para a Educação Básica nas escolas do campo. § 1º promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às
A organização e o funcionamento das escolas do campo peculiaridades da vida rural e de cada região.
respeitarão as diferenças entre as populações atendidas Esse descaso com a educação rural reflete no pensa-
quanto à sua atividade econômica, seu estilo de vida, sua mento do trabalhador pois não vê seus anseios atendidos
cultura e suas tradições. na sua grande maioria. Pois para boa parte da sociedade
Atualmente a Educação do Campo proporciona aos jo- brasileira é o campo o sustentáculo de sua economia. Por
vens uma possibilidade que até poucos anos era quase isso alguns investimentos que são feitos no agronegócio e
impossível. O êxodo rural era muito comum, os jovens se na agricultura familiar e dentro disso, vê-se a necessidade
quisessem estudar teriam que sair de perto de sua família de se trabalhar diferentes modelos de educação do campo
para cursar o mínimo, a educação básica que dirá o ensino deixando de lado a ideia de que a escola urbana é superior
superior. Essa oportunidade veio diminuir esse fato que há ao ensino campesino. Com isso surge uma necessidade de
anos impossibilita o meio rural de crescer, voltar o ensino uma Política Nacional de Educação do Campo.
e tralhado para o local de origem dos estudantes traz a Em outras palavras: o que se deseja é que a Educação
possibilidade de crescimento do meio que alimenta e dá do Campo não funcione como um mecanismo de expulsão
suporte ao meio urbano. das populações campesinas para as cidades, mas que ofe-
reça atrativos àqueles que nele desejarem permanecer e
vencer ( PARECER CNE/CEB Nº 23/2007, p. 290)
156
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Para que a escola do campo contribua no fortaleci- Mesmo assim a educação no campo ainda enfren-
mento das lutas de resistência dos camponeses, é impres- ta obstáculos pois por se tratar de regiões afastadas dos
cindível garantir a articulação político- -pedagógica entre aglomerados urbanos conta com pessoas que realmente
a escola e a comunidade, a partir da democratização do desejam que a educação aconteça como por exemplo as
acesso ao conhecimento científico. As estratégias adequa- escolas com salas multisseriadas ou unidocentes. No en-
das ao cultivo desta participação devem promover a cons- tanto essa questão está sendo revista, pois o ensino rural
trução de espaços coletivos de decisão sobre os trabalhos está passando por mudanças de nucleação onde as crian-
a serem executados e sobre as prioridades das comunida- ças são transportadas para escola de ensino regular.Isto
des nas quais a escola pode vir a ter contribuições. Outra acontece mais com alunos do ensino fundamental final e
dimensão significativa nas escolas do campo é a lógica do médio sendo ainda muito com as escolas multisseriadas
trabalho e da organização coletiva. Ensinar os alunos e a onde os recursos humanos são diminutos emo quadro de
própria organização escolar a trabalharem a partir de cole- funcionários é reduzido.
tivos é um relevante mecanismo de formação e aproxima- Mesmo assim o governo brasileiro vê com bons olhos
ção das funções que a escola pode vir a ter nos processos a educação no campo:
de transformação social. Esta dimensão envolve também “a presença da escola na comunidade é forte elemento
as vivências e experiências de resolução e administração na preservação de valores que mantêm as populações ru-
de conflitos e diferenças decorrentes das práticas coleti- rais vinculadas aos seus modos de vida e convivência;
vas, gerando aprendizados para atitudes e relações fora • a escola é importante instrumento de mobilização
da escola. A participação e gestão por meio de coletivos para o diálogo com a realidade e, na medida em que ofe-
é mecanismo importante para a criação de espaços que rece educação – entendida em seu sentido mais amplo –
cultivem a auto-organização dos educandos, no sentido do pode aglutinar as ações necessárias ao desenvolvimento
aprendizado, do convívio da analise,da tomada de decisões rural integrado, trabalhando por um projeto de ser humano
e do encaminhamento de deliberações coletivas . vinculado a um projeto de sociedade mais justa e equili-
Analisando artigos sobre a educação rural ou também brada;
chamada de educação do campo, percebe-se um sério • o direito à educação somente estará garantido se
descaso, assim como o restante da educação pública bra-
articulado ao direito à terra, à água, ao saneamento,ao ali-
sileira, principalmente em investimentos em estrutura física
mento, à permanência no campo, ao trabalho, às diferentes
adequada e tecnologia para facilitar a conectividade, inclu-
formas de reprodução social da vida, à cultura, aos valores,
sive da própria comunidade do campo com outras, e fácil
às identidades e às diversidades das populações do campo;
acesso à escola, muitos alunos se deslocam a pé quando
• a educação, ao desenvolver o complexo processo
não há transporte que busque em suas casas. Faltam políti-
de formação humana, encontra nas práticas sociais o prin-
cas que integrem os poderes Federal, Estadual e Municipal,
deveria haver um sistema integrado eficiente para que as cipal ambiente dos seus aprendizados; ela é mantenedora
verbas sejam distribuídas às escolas não somente rurais, das raízes e tradições culturais da comunidade; é o lugar das
mas todas. reuniões comunitárias, do encontro dos sujeitos e espaço
Apesar de a legislação educacional brasileira assegurar de socialização pelas festas e comemorações que estimu-
os direitos à educação das populações rurais adequadas la; muitas pequenas escolas rurais foram construídas com a
à clientela, nota-se que a mesma compartilha o descaso, participação das famílias e da comunidade do seu entorno; e
a falta de infraestrutura e as mazelas já conhecidas e so- • a manutenção das escolas no campo, com quali-
fridas pelas populações urbanas com relação à educação. dade, sempre que possível e desejável, é condição para se
Percebe-se, assim, um contrassenso: a legislação concede o assegurar a educação como direito de todos e, evidentemen-
direito, mas o poder público não cumpre as atribuições que te, dever do Estado (PARECER CNE/CEB Nº 23/2007, p. 292).
a lei obriga. Dessa forma, o caminho para se atingir os ob- Ao longo da história de nosso país temos um processo
jetivos traçados nas Diretrizes Nacionais para a Educação de exclusão social, política, econômica e social que ao qual
no Campo ainda é árduo para que haja, verdadeiramente, se estudarmos a educação no campo não há como não
respeito e concretização da educação para as comunidades pensarmos nessas questões. Devemos não ver a educação
do campo. no campo como forma de sanar essas questões de exclu-
Dentro de toda essa gama de situações que envolve são, mas sim como um recurso que venha a valorizar as ca-
o homem do campo ainda surge movimentos sociais que racterísticas de um povo, de sua cultura, pois assim mesmo
buscam atrair a atenção do governo para uma série de ne- com todos os avanços nas leis, nos métodos pedagógicos,
cessidades do povo. O Movimento dos Sem Terras ou MST ainda há muito o que se fazer para obter uma educação
que teve sua origem em nosso Estado (RS), já manifestou para as pessoas que vivem no campo.35
uma preocupação com a questão da educação, principal-
mente com a alfabetização, pois o número de analfabetos
era surpreendente. Assim surgiram as escolas de assenta-
mento, acampamento e itinerante com um número cada
vez mais crescente de estudantes. O movimento descobriu
na educação não só o fato do letramento, mas todo um
universo de conhecimentos que estão alencados a mesma,
como formas de plantio, questões econômicas, e entender
as situações de conjuntura da realidade vigente. 35 Fonte: https://pt.wikibooks.org
157
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Diretrizes Curriculares para a Educação Indígena e falando por volta de 180 línguas2. Os dados referem-se
aos chamados povos aldeados localizados em praticamen-
Abaixo um texto que aborda a questão da Educação te todos os estados da Federação. Vivem em 628 terras
Escolar Indigena e o cenário onde está inserida, para trazer indígenas descontínuas, totalizando 12,54% do territorial
um pouco de conhecimento sobre o assunto antes de en- nacional. Apesar da ampla distribuição, mais de 60% da po-
trar diretamente no dispositivo solicitado no edital. pulação indígena está concentrada na região da Amazônia
O presente material trata da legislação específica de Legal. No Mato Grosso do Sul, a segunda maior população
educação escolar indígena e suas consequências burocrá- indígena do país (15%) ocupa apenas 0,6% do total das
ticas e curriculares. Recupera a história de integração e de terras indígenas.
homogeneização cultural pontuando os desdobramentos De modo geral, os povos indígenas no Brasil confor-
legais que garantem a efetivação da escola indígena di- mam grupos com baixa densidade populacional: mais de
ferenciada pós-Constituição de 1988 exigindo do Siste- 50% desses povos são constituídos por menos de 500 indi-
ma Nacional de Educação novas políticas de tratamento víduos e apenas 3 povos são formados por mais de 20.000
atendendo particularidades e peculiaridades culturais dos pessoas, como os Guarani e Kaiowá e os Terena, em Mato
diferentes grupos em uma perspectiva intercultural. As re- Grosso do Sul. Os dados do Censo Escolar INEP/MEC 20063
flexões têm como referência pesquisas e assessorias reali- (BRASIL, 2007) apontam a existência de 2.422 escolas fun-
zadas no contexto nacional e, particularmente, no MS. cionando em terras indígenas atendendo a mais de 174
Tratar das relações entre a Educação Escolar Indígena mil estudantes. Nestas escolas trabalham aproximadamen-
e Sistema Nacional de Educação tem sido, no contexto da te 10.200 professores, 90% deles indígenas. 1.113 escolas
implementação e da implantação das políticas já efetiva- estão vinculadas diretamente às Secretarias Estaduais de
das, uma ação isolada, diríamos, descoladas das ações glo- Educação. Outras 1.286 escolas, principalmente nos esta-
bais dos diversos órgãos que compõem o Sistema. O mes- dos do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Pará,
mo pode-se dizer com relação aos trabalhos acadêmicos, Paraná, Bahia, Paraíba e Espírito Santo, são mantidas por
sobretudo aqueles que abordam as questões de políticas, Secretarias de Educação de 179 Municípios. Existem ainda
gestão, financiamento, avaliação institucional, formação de algumas escolas indígenas mantidas por projetos especiais,
professores, os quais, geralmente, tratam estes temas no como da Eletronorte, e por entidades religiosas. Estas esco-
contexto dos Sistemas como se a Educação Escolar Indíge- las são declaradas no Censo Escolar como “escolas particu-
na não existisse. lares”. Segundo estimativa da Fundação Nacional do Índio
(FUNAI, 2005), cerca de 2,5 mil índios estão matriculados
Embora isso possa parecer especulação, e efetivamen- no ensino superior nas universidades de todo o Brasil, um
te carece de uma investigação mais rigorosa, os nossos percentual baixo, de apenas 0,1%4.
contatos com as linhas de pesquisa de diversos Programas Feitas estas considerações iniciais o texto trata do
de Pós- Graduação e Grupos de Pesquisa têm nos enca- percurso da educação escolar indígena antes e depois
minhado para essas evidências. Apesar do tema ‘educação da Constituição de 1988, dando ênfase às políticas con-
indígena’ mobilizar de modo crescente a produção aca- sequentes das novas condições jurídicas postas para os
dêmica em educação ela tem sido realizada quase que a povos indígenas, o que representa um grande avanço no
grosso modo em ‘guetos acadêmicos’, diferentemente do contexto da Educação Básica e do Ensino Superior. Por fim
que se observa com outras modalidades e/ou níveis como aponta para as dificuldades dos Sistemas e Secretarias em
Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos e Edu- mudar os seus paradigmas de atendimento às políticas que
cação Infantil , por exemplo, que normalmente aparecem se propõem o respeito às diferenças e o fortalecimento das
nos quadros gerais e análises realizadas por pesquisadores identidades étnicas inseridas no âmbito de um Sistema
nesta área de conhecimento. ‘Nacional’ de Educação.
Em alguns fóruns nem mesmo como um tema especí- EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA: LUTAS E CONQUIS-
fico, isolado, a Educação Escolar Indígena tem participado. TAS NA LEGISLAÇÃO NACIONAL
Após a leitura da programação deste evento “XXIII Simpó-
sio Brasileiro de Política e Administração da Educação”, “V A escola como espaço de fronteiras entre culturas, par-
Congresso Luso-Brasileiro de Política e Administração da ticularmente em terras indígenas, segue historicamente no
Educação” e “I Colóquio Ibero-Americano de Política e Ad- Brasil orientações e tendências político-pedagógicas que
ministração da Educação” - POR UMA ESCOLA DE QUALI- vão desde a proposta de aculturação, integração e assimi-
DADE PARA TODOS -, este nos parece ser o caso da ANPAE. lação dos povos indígenas aos princípios do Estado Nacio-
nal até as decisões tomadas pelos movimentos contempo-
Segundo dados do Ministério da Educação e Cultura râneos dos povos de transformá-la em recurso institucional
(BRASIL, 2007), estima-se que exista no Brasil uma popula- de construção de autonomia e emancipação, garantindo o
ção indígena de 450.000 indivíduos distribuídos em cerca fortalecimento de suas identidades, a partir da história de
de 220 sociedades mantendo em um processo dinâmico contato, da articulação e troca de conhecimentos com os
estilos próprios de organização social, política e econômica quais estão envolvidas as diversas realidades indígenas.
158
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Em um primeiro lado desta relação, a história da edu- mente da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) que contam
cação escolar em terras indígenas faz parte do processo com a prestação de serviços e/ou parcerias com o Summer
de inclusão dos primitivos no mundo da civilização. “Um Institute of Linguistcs (SIL) e outras missões religiosas que
espaço ocidental que ameaça a sobrevivência indígena” sofreram/sofrem severas críticas apontadas durante o “I
(TASSINARI, 2001, pág.56). Apesar da grande diversidade Encontro Nacional de Educação Indígena”, publicados por
de povos indígenas a temática, até muito pouco tempo, foi Silva em 1981, por terem “contribuído para o fortalecimen-
sempre abordada pelo viés da generalidade, passando a to de uma relação de desigualdade entre os segmentos
idéia de homogeneidade caracterizada pelo destaque dos indígenas e a sociedade nacional” (FERREIRA, 2001,
sinais comuns entre as diversas “tribos” e pelo ocultamento pág. 81), embora tenham tido sempre a intenção de “in-
ou, a não visibilidade dos aspectos distintos da cultura de cluir” os povos indígenas nos estatutos da sociedade na-
cada povo/etnia. cional.
Vietta (2002) destaca dois momentos no processo co- A emergência do sujeito-índio no cenário nacional se
lonizador que faz do outro “um corpo sem corpo. Uma voz dá no bojo das discussões que começaram a acontecer de
que fala sem voz. Que diz sem dizer” (SKLIAR, 2003, pág. maneira mais organizada e formalizada a partir da década
142). de 70, do Século XX. Fortalecidos pelos movimentos polí-
Para Vietta o primeiro momento caracteriza-se pela in- ticos ocorridos na época (importante momento histórico
clusão dos índios na categoria de seres humanos. Conside- brasileiro dentro do processo de abertura, perante o esgo-
rados como criaturas próximas dos animais este conceito tamento da ditadura militar de 1964), os índios começam
se relativiza com a promulgação da Bula Papal em 1537 a emergir de um processo de resistência já existente, mas,
que declara os índios seres com alma, portanto, humanos, ainda assim, subjugados pela política de Estado que des-
mas que precisam ser “educados”, pois são considerados caracterizava o quadro de diversidade e desestruturava, no
sem lei, sem rei e sem religião, ou seja, não fazem par- interior das comunidades, o conceito e o desejo de alteri-
te do universo da cultura legitimada como humana pelos dade.
colonizadores. O projeto de inclusão na civilização busca Os discursos que demandam por uma escola que res-
transformá-los em cidadãos. A escola, em suas diversas peite o contexto cultural, a diversidade social e linguística
configurações, cumpre a sua parte enquanto catequizado- passam a ter um significado fundamental também por vol-
ra e transmissora/reprodutora da cultura superior e etno-
ta dos anos 60 e 70, quando se reconheceu a necessidade
cêntrica: aquela que vem da Europa.
de uma escola diferenciada e específica não apenas como
O segundo momento apontado por Vietta (2002,
portadora de condições prévias para a aprendizagem, mas
pág.02), desponta nos meados do século XX e “traz uma
também como foco de garantia do fortalecimento e pre-
visão muito mais realista, mas sedimenta uma falsa ideia,
servação da identidade étnica - pessoal e social – dos seus
a da aculturação”. Baseada nos ideais positivistas o projeto
sujeitos-atores. No campo da educação escolar destacam-
de aniquilamento cultural ganha contornos pedagógicos
se as diversas associações e organizações de professores
de uma política de integração nacional, de assimilação da
indígenas no país que promovem Encontros regionalizados
sociedade envolvente. A crença de que o intenso contato
leva as populações indígenas à perda/extinção de cultura e nacionais produzindo documentos significativos reivindi-
possibilita que os órgãos responsáveis pelas escolas de- cando a reinvenção das escolas até então existentes.
senvolvam mecanismos onde a própria cultura seria usada A expectativa por uma escola diferenciada e voltada
como recurso facilitador para a transmissão de novos va- para dentro, ou seja: as pedagogias nativas e o direito de
lores. Valores que se contrapõem aos saberes tradicionais assegurar a continuidade de suas etnias surgiram inicial-
ignorando a capacidade indígena de conferir significados mente ao lado de projetos alternativos em contraposição
aos conteúdos que lhe são “impostos” de acordo com a sua aos modelos de educação formal até então existentes nas
lógica de interpretação, a partir das exigências que fogem aldeias cujos objetivos eram sempre voltados para fora –
ao modelo único ou de inserirem, sem prejuízo de suas fossem eles os da FUNAI e de seus convênios ou os ‘bilín-
‘tradições’, novos códigos. O fato dos objetivos para a es- gües’ promovidos pelo SIL e missionários evangélicos; na
cola serem tendenciosamente ‘aculturalistas’ não garantem sequência, ganhando consistência com a realização de
o purismo na significação das experiências vividas media- grandes reuniões por todo o país.
das por conhecimentos produzidos pela tradição indíge- Os projetos alternativos tinham como eixo fundamen-
na. A presença resistente dos povos indígenas no cenário tal estabelecer a discussão entre o que se convencionou
nacional reivindicando respeito às suas diferenças histori- tratar como educação para o índio e educação indígena.
camente construídas revela o poder relativo dos projetos A primeira é caracterizada como a educação colonizadora,
de homogeneização. Revela que os sentidos e significados integracionista, formal e desintegradora; a segunda seria
são produzidos no espaço da tradução, das negociações, a educação tradicional da cultura indígena, que se dá no
“o entre-lugar - que carrega o fardo do significado da cul- interior das comunidades e sem necessidade da instituição
tura” (BHABHA, 2003, pág, 69). escolar para tanto, orientada pela pedagogia de cada etnia.
Neste segundo momento de relação entre a instituição Porém, os idealizadores dos projetos alternativos (pro-
escolar e os povos indígenas as experiências educativas de fessores - índios e assessores), têm consciência de que se
caráter integracionista são desenvolvidas sob a responsa- por um lado, a escola colonizadora promove uma educação
bilidade do Serviço de Proteção Indígena (SPI) posterior- inadequada para as populações indígenas – por fomentar
159
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
uma educação para a mudança, para a ruptura com a sua Após passarmos por seis Constituições, a sétima, em
tradição – por outro lado, não se pode negar, na atuali- vigor a partir de 1988, exige do Sistema Nacional de Edu-
dade, a necessidade da escola nas aldeias. O desafio era, cação novas políticas de tratamento, atendendo particu-
e ainda é: que outra escola deveria/deve servir ao índio e laridades e peculiaridades culturais dos diferentes grupos
qual a sua função? Ou seja: que proposta político-pedagó- étnicos, em uma perspectiva intercultural. Com a Consti-
gica deve nortear o currículo das escolas indígenas? Quais tuição de 1988 os diversos povos indígenas tiveram reco-
os princípios epistemológicos e metodológicos devem ser nhecidos as suas organizações sociais, costumes, línguas,
considerados em uma escola que tenha como paradigma crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras
atender as expectativas colocadas pelo professor guarani que tradicionalmente ocupam (art.231). Esses povos con-
Valentim Pires (1998), quando em uma reunião realizada quistam para a escola uma nova função social tendo como
para discutir a formação dos professores indígenas Guarani referência as relações entre cultura(s), currículo e identida-
e Kaiowá de Mato Grosso do Sul argumentava: de: um novo espaço, um espaço de fronteiras sociais.
O curso tem que lavar o que foi colocado dentro de Os documentos oficiais e as formulações dos próprios
indígenas refletem e explicitam claramente temas como:
nós e fazer a gente gostar mesmo das nossas coisas, da
currículo e formação especializada. Os indígenas exigem
nossa coisa. Magistério tem que ser assim, construindo jun-
políticas integradas de ensino e pesquisa, buscando a for-
tos, aprendendo juntos, para repassar o conhecimento.
mulação de princípios pedagógicos, antropológicos, lin-
Para nós mesmos fica muito mais fácil na língua. Para
güísticos, epistemológicos, semióticos entre outros que
lidar com a criança sem gritar, é um meio de dominar a
devem nortear as diferentes realidades curriculares expe-
criança tendo o que dar para ela. rienciadas nos diferentes contextos e que atendam as de-
Falando guarani fica mais alimentado, mais instrumen- mandas diferenciadas por escolarização, emanadas pelos
talizado. O comportamento guarani é outra coisa. Propos- povos indígenas. O atendimento a estas demandas, garan-
ta pedagógica tem que valorizar limpar o que foi imposto. tidas por Lei, implica em oferecer alternativas de formação
Recuperar a nossa educação, os nossos valores – a língua com pedagogias, conteúdos e dinâmicas específicas plane-
é o principal instrumento dos valores – a escola tem que jadas com anuência das comunidades indígenas.
repassar para as crianças o respeito às autoridades dentro Estudos anteriores, Nascimento (2003) trata parcial-
da comunidade. O professor tem que mudar dentro dele mente esta questão e aponta que em nível nacional, o en-
para não ficar sempre em conflito se deve ou não fazer volvimento oficial dos órgãos governamentais da União,
alguma coisa: perguntar-se sempre o que é ser um bom dos Estados e de alguns Municípios vai acontecer mais efe-
professor guarani. Ser pesquisador de sua história, de sua tivamente, pelo menos teoricamente, com:
cultura. A gente aprendeu alguma coisa na escola de bran- 1-) o Decreto Presidencial nº 26/91, que atribui ao Mi-
co, mas aprendemos muito mais depois que começamos se nistério de Educação a competência de coordenar a edu-
analisar como professor guarani. Os índios é que entendem cação escolar indígena cabendo aos sistemas de ensino
de índios. estaduais a execução das ações. O Decreto desencadeia a
O acesso à escola diferenciada e, inclusive, com a mais formulação de uma política nacional de educação escolar
nova demanda de acesso às universidades sustenta-se em indígena tendo como orientação principal a formação de
toda uma instituição jurídica com relação ao tratamento professores indígenas, novos responsáveis pela gestão e
epistemológico e pedagógico que deve ser reservado às docência das escolas localizadas em Terras Indígenas;
populações indígenas do país, no sentido de lhe serem res- 2-) a Portaria Interministerial nº 559.91, que define as
peitadas a diferença e a especificidade, referentes à edu- ações e as formas de como o MEC irá assumir as novas
cação escolar e à formação/capacitação desses povos não funções e prevê a criação do Comitê de Educação Escolar
só como recurso de fortalecimento de identidades, mas, indígena, em instância nacional;
3-) em 1994, as organizações da região amazônica pu-
também, enquanto recursos de construção de autonomia
blicam um documento “Declaração de Princípios”5 com o
e emancipação para o enfrentamento dos problemas que a
objetivo de “reafirmar “ os princípios que vinham sendo
eles se põe na contemporaneidade.
marcos para um novo modelo paradigmático para as esco-
Todo esse processo de recuperação da diferença e,
las indígenas e que assumem um caráter de estatuto nor-
dentro da diferença, da diversidade dos povos indígenas,
teador para as discussões em todo o país.
conhece um marco histórico com a promulgação da Carta 4-) a Lei de Diretrizes e Bases Nacional (LDB), 9394/96
Constitucional de 1988 quando os índios, pela primeira vez, que estabelece normas para todo Sistema Nacional Brasi-
são tratados como cidadãos com direito a terem direitos leiro desde a educação infantil até a educação superior e
às suas diferenças. Os estudos da história e da pedagogia distingue a educação escolar indígena no artigo 32, § 3º,
brasileira deixam indícios de que nenhum outro segmen- confirmando o direito ao uso da língua materna e os pro-
to da população brasileira foi capaz de, pela sua presença cessos próprios de aprendizagem (previstos na Constitui-
identitária, provocar a necessidade do Sistema Nacional de ção) e nos artigos 78 e 79 no Título das Disposições Gerais,
Educação rever sua postura de forma a atender e respeitar preconizando como dever do Estado a oferta de educação
as diversas lógicas de produção de conhecimento e cos- escolar bilíngüe e intercultural aos povos indígenas, com
movisões de mundo diferentes. os objetivos de:
160
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
1º) proporcionar aos índios, suas comunidades e po- E que o ponto de partida dos trabalhos do Colegiado
vos, a recuperação de suas memórias históricas, a reafir- foi a consideração de que todos os povos indígenas, inde-
mação de suas identidades étnicas e a valorização de suas pendentemente da instituição escolar, possuem mecanis-
línguas e ciências; mos de transmissão de conhecimentos e de socialização de
2º) garantir aos índios, suas comunidades e povos, o seus membros e que a instituição da escola é fruto histó-
acesso às informações, conhecimentos técnicos e científi- rico desses povos com segmentos da sociedade nacional.
cos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas Coerentes com essa lógica o Parecer propõe a criação
e não – índias. O artigo 79 concedendo às comunidades da categoria Escola Indígena assegurando às comunidades
indígenas a participação direta nos programas planeja- a autonomia de terem uma identidade própria (não serem
dos, bem como, preconiza que os referidos programas consideradas como escolas rurais ou serem extensões de
a serem incluídos no Plano Nacional de Educação terão outras escolas – rurais ou urbanas) por meio de um projeto
como objetivos: a formação de pessoal especializado para pedagógico especifico, assim como, o gerenciamento do
o atendimento das escolas indígenas, desenvolver currícu- funcionamento e dos recursos financeiros públicos para a
los e programas específicos contemplando os conteúdos manutenção da escola.
culturais correspondentes às respectivas comunidades e a Para a concretização da escola indígena o Parecer in-
elaboração e publicação de material didático específico e dica:
diferenciado. • que a responsabilidade pela oferta da Educação Esco-
5-) o Referencial Curricular Nacional para as Escolas lar Indígena é do Estado tendo em vista as peculiaridades
Indígenas (RCNEi) publicado pelo Ministério da Educação dessa modalidade de ensino: “ um povo localizado em mais
e Cultura em 1998, foi elaborado por uma equipe de pes- de um município; formação e capacitação diferenciada de
quisadores, assessores e professores índios e não-indios o professores indígena
documento conta com a contribuição de professores in- [...] ; ensino bilíngüe; processos próprios de aprendiza-
dígenas de diversas regiões, dos cursos em andamento gem”. A participação dos Municípios, que tenham condi-
para formação de professores indígenas, com dezenas de ções para tanto, deve ser feita por meio de termo de cola-
pareceristas e de Instituições diretamente ligadas às ques- boração com o Estado.
tões indígenas, particularmente, aos projetos de educação • a formação do professor indígena: “ Para que a Edu-
diferenciada que aconteciam em diversas regiões que en- cação Escolar Indígena seja realmente específica[...] é ne-
viaram as suas sugestões. Embora tenha recebido críticas o cessário que os profissionais que atuam nas escolas per-
Referencial tem sido um documento importante para sub- tençam às sociedades envolvidas no processo escolar”.
sidiar, em especial, as reflexões em torno de fundamentos Alerta que os professores índios
como: multietnicidade, pluralidade e diversidade; [...] deverão ter acesso a cursos de formação inicial e
educação e conhecimentos indígenas, autodetermina- continuada “especialmente planejados para o trato com as
ção e comunidade educativa indígena tendo como pers- pedagogias indígenas”.
pectiva um projeto escolar que contemple a educação • a flexibilidade do currículo fundamentada nos ante-
intercultural, comunitária, específica e diferenciada. O re- cedentes legais que garantem às comunidades indígenas
ferencial está organizado em duas partes: aprimeira, com o uso das línguas maternas, de seus processos próprios
fundamentos políticos, históricos, legais e antropológicos de aprendizagem e a inclusão de conteúdos culturais re-
tem como destinatários os gestores e professores das es- ferentes a cada sociedade indígena. “[...] não é suficiente
colas, principalmente, os agentes que atuam nos sistemas que os conteúdos sejam ensinados por meio do uso das
de ensino e demais órgãos afins que foram impactados línguas maternas: é necessário incluir conteúdos curricula-
com a obrigatoriedade de atender culturas diversas e ade- res propriamente indígenas e acolher modos próprios de
quar as suas práticas no contexto das diferenças de cada transmissão do saber indígena. “Além destes avanços no
grupo social; a segunda parte dedica-se à implementação campo do currículo o Parecer sustenta práticas quase que
das escolas indígenas: prática pedagógica, formação de inusitada na experiência brasileira na elaboração de currí-
professores indígenas, o contexto escolar. culos escolares sendo incisivo quando recomenda que:” é
6-) o Parecer 14/99 - no desdobramento, o Conselho imprescindível que a elaboração dos currículos entendidos
Nacional de Educação aprova em setembro de 1999, por como processo sempre em construção, se faça em estreita
meio do Parecer 14/99 as Diretrizes Nacionais da Educação sintonia com a escola e a comunidade indígena a que serve
Escolar Indígena. Logo na Introdução do documento o re- e sob a orientação desta última.”
lator declara que a Câmara de Ensino Básico do Conselho • a criação da categoria professor indígena garantin-
Nacional de Educação: do profissionalização e plano de carreira que respeitem as
estudou os documentos e preparou um Parecer e uma suas realidades socioculturais e lingüísticas específicas e
Resolução visando contribuir para que os povos indígenas particulares de cada grupo.
tenham assegurado o direito a uma educação de qualida- A conclusão (item 05) do Parecer 14/99/CNE/CEB,
de, que respeite e valorize seus conhecimentos e saberes orienta a elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais
tradicionais e permita-lhes acesso a conhecimentos univer- da Educação Escolar Indígena, faz menção clara para a ne-
sais, para que possam participar ativamente como cidadãos cessidade de capacitar/formar os grupos indígenas para
plenos do país. que tenham autonomia e poder traçar seus próprios desti-
nos e defender os seus direitos.
161
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
É necessário que ações concretas para o fortalecimento contribuir para a criação e implementação de programas
da Educação Escolar Indígena sejam realizadas nos dife- de formação que se mostrem “ eficazes para enfrentar o
rentes sistemas de ensino do país de maneira articulada, grande desafio que é propiciar uma formação intercultu-
coordenada e com continuidade, de forma que possam ral de qualidade para os professores indígenas do país”. (
contribuir para a inversão do processo de degradação, que pág.5).
põe em risco a sobrevivência das culturas indígenas, e, as- 10-) o Parecer, CNE/CP 010/2002 – Com os avanços
sim, promover o desenvolvimento auto-sustentável e de das regulamentações sobre a gestão administrativa e pe-
progresso permanente, sem a perda da identidade étnica dagógica das escolas pelos próprios indígenas e, a con-
e da cidadania em sua plenitude. solidação de oferta de vagas no ensino fundamental, mais
7-) a Resolução 3/99/CNE - as indicações feitas pelo notadamente nas séries iniciais, as comunidades começam
Parecer 14/99 no sentido de conceituar Escola Indígena e a movimentar-se para que os estudantes das séries finais
os seus desdobramentos são normatizadas na Resolução do ensino fundamental e do ensino médio continuem seus
nº 3/99 que fixa Diretrizes para o funcionamento das esco- estudos nas aldeias. Crescem as demandas que exigem for-
las indígenas e dá outras providências. A Resolução cria as mação de professores em nível superior. A primeira expe-
categorias escolas indígenas e professor indígena e estabe- riência nesse sentido se dá com a implantação do 3º Grau
lece princípios e pressupostos que norteiam o novo ideário Indígena – Projeto de Formação de Professores Indígenas
político - pedagógico desta escola. Entre outras diferenças, – oferecido pela UNEMAT em parceria com diversos outros
confirma as “diretrizes curriculares do ensino intercultural e órgãos o que desencadeia um grande movimento em to-
bilíngüe, visando à valorização plena das culturas dos po- das as regiões com populações indígenas. As Universida-
vos indígenas e a afirmação e manutenção de sua diversi- des enfrentam dificuldades burocráticas e epistemológicas
dade étnica” (Artigo 1º). para atenderem essa nova demanda social que se faz pre-
8-) o Plano Nacional de Educação - Lei nº 10.172/2001 sente. Atendendo uma consulta da universidade federal de
– estabelece Diretrizes, Objetivos e Metas para a Educa- Roraima o Conselho Nacional de Educação aprova o Pare-
ção Escolar Indígena tratada como modalidade de ensino cer CNE/CP 010/2002, que teve como relator o Conselheiro
no item número 9. Ao relatar o Diagnóstico que orienta os Carlos Roberto Jamil Cury. Este Parecer trata da formação
Objetivos e Metas o Plano aponta dificuldades que ainda de professor indígena em nível universitário, emite posições
hoje persistem na efetivação da escola indígena. Entre elas, argumentando quanto ao direito das populações indígenas
a desarticulação e fragmentação das ações no quadro ge- à cidadania, satisfazendo com isto o princípio da igualdade
ral da educação escolar indígena no Brasil, a não definição (art. 5º CF/88), mesclando na discursividade do texto jurídi-
clara das responsabilidades entre a União, os Estados e os co a diferença identitária. Atualmente existem sete univer-
Municípios dificultando a implementação e o encaminha- sidades públicas com o desafio de atender esta população
mento das demandas por parte das comunidades, a não por meio de cursos diferenciados, os quais têm como eixo
regularização jurídica das escolas indígenas. Dos 21 Ob- norteador a perspectiva da interculturalidade. Para encer-
jetivos e Metas programadas pelo Plano, com caracterís- rar este momento de direitos conquistados vale destacar
ticas bastante ousadas, pode-se dizer que nenhuma delas a Convenção 169 /1989 da Organização Internacional do
foi contemplada plenamente nem pela União e nem pelos Trabalho (OIT) ratificada pelo Brasil, que no que concerne à
Estados. educação, prevê a participação dos povos na formulação e
9-) os Referenciais para a Formação de Professores In- execução dos seus programas de educação; prevê também
dígenas (SEF/MEC/2002) - considerando o aparato legal e o direito de criarem suas próprias instituições e meios de
as pressões reivindicatórias para a regularização das esco- educação, de alfabetizarem em sua própria língua o que
las indígenas, as várias iniciativas isoladas de projetos de reforça o direito dos povos indígenas de terem autonomia
formação inicial de professores indígenas, em nível médio, nos seus processos educativos. Lembrar, ainda, da recente
muitas vezes assumido pelas próprias comunidades em aprovação da Declaração de Direitos dos Povos Indígenas
parcerias com Universidades, Organizações Não-Governa- pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007.
mentais, Funai e Secretarias de Educação o MEC compõe As experiências vividas na mediação entre as comu-
uma equipe de trabalho envolvendo professores indígenas, nidades indígenas e os Sistemas de Educação aos quais
consultores e especialistas de diversas universidades, coor- estão vinculados (estadual e municipal) têm indicado uma
denadores de programas de formação, técnicos de secreta- postura centrada no etnocentrismo e de políticas com ten-
rias de educação e representantes de órgãos governamen- dências homogeneizadoras orientadas, geralmente, por
tais e não governamentais e consulta à pareceristas, após ausência de informações sobre os grupos locais, atitudes
dois anos de estudos e reuniões técnicas publica os Refe- de preconceito e discriminação.
renciais para a Formação de Professores Indígenas. Tendo Cury (s/d., p.10) em um texto em que discute as novas
como questão de fundo a responsabilidade das Secreta- possibilidades legais da Educação Escolar Indígena observa
rias Estaduais de Educação e dos Conselhos Estaduais de que : “ a atuação dos sistemas ainda é bastante dispersa,
Educação que devem propor, regulamentar e executar os as responsabilidades entre os sistemas ficam diluídas e o
Cursos de Formação dentro dos novos marcos referenciais respeito ao regime de colaboração está longe de ser cum-
para as escolas indígenas o documento preconiza poder prido”.
162
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Isto se evidencia nos impasses para que estas conquis- Este Parecer e o Projeto de Resolução anexo instituem
tas e avanços se realizem. Entre eles podemos citar: - a não as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Esco-
criação das escolas indígenas; a não realização de concur- lar Indígena na Educação Básica. As Diretrizes resultam do
sos específicos para professores – índios; a não produção crescente papel que o protagonismo indígena tem desem-
de material didático específico; a exigência de projetos po- penhado no cenário educacional brasileiro, seja nos dife-
líticos pedagógicos adequados a modelos padronizados rentes espaços de organizações de professores indígenas
pelas redes de ensino; a não capacitação do pessoal técni- nas suas mais diversas formas de associações, seja por
co-administrativo que atendem as escolas indígenas; a não meio da ocupação de espaços institucionais estratégicos
transparência do financiamento para a educação escolar como as escolas, as Coordenações Indígenas nas Secreta-
indígena dentre outras dificuldades. rias de Educação, no Ministério da Educação, bem como a
representação indígena no Conselho Nacional de Educação
Não há e nem pode haver um único modelo de esco- (CNE).
la indígena a ser desenvolvido em todo país. O Ministério O protagonismo indígena, refletido de modo signifi-
da Educação tem procurado, junto aos sistemas de ensi- cativo na I Conferência Nacional de Educação Escolar Indí-
no, apoiar a consolidação de experiências particulares de gena, realizada em 2009, também é exemplificado no mo-
organização escolar, discutidas e construídas a partir dos mento histórico em que, pela primeira vez, uma indígena
interesses e da participação de cada comunidade indígena. assume a relatoria de Diretrizes Curriculares Nacionais para
Como se vê, no entanto, ainda que sob regulamentação a Educação Escolar Indígena no CNE. É, então, no momento
recente, os sistemas de ensino já deveriam estar operando em que se busca a construção de uma relação mais respei-
com o reconhecimento dessa nova categoria de escola, tosa e promotora da justiça social por meio das práticas da
condição sine qua non para a realização dessa modalidade educação escolar que se dá a construção destas Diretrizes
particular de ensino, que é a educação escolar indígena. Em como forma de promover a ampliação do diálogo intercul-
todo o Brasil, porém, essas escolas apresentam diferentes tural entre o Estado brasileiro e os povos indígenas.
situações de reconhecimento legal, não havendo números Na busca pela construção deste diálogo, o Conselho
precisos sobre quais são reconhecidas como escolas indí- Nacional de Educação, por meio de sua Câmara de Educa-
genas. Até bem pouco tempo atrás, em sua grande maio- ção Básica, instituiu em 1999 as primeiras Diretrizes Nacio-
ria, as escolas indígenas eram consideradas como escolas nais para a Educação Escolar Indígena. O Parecer CNE/CEB
rurais ou salas de extensão de escolas urbanas, seguindo nº 14/99 e a Resolução CNE/CEB nº 3/99 fixaram normas
calendários e currículos próprios destes estabelecimentos. para o funcionamento das escolas indígenas, no âmbito da
O reconhecimento das escolas das aldeias como escolas in- Educação Básica.
dígenas, com estatuto diferenciado, é, portanto, algo novo De 1999 até a atualidade, a Educação Escolar Indíge-
no sistema, e está em processo em todo o Brasil na vem sendo objeto de pauta nesse colegiado, tanto, de
As conquistas legais permitem constatar que os indí- modo geral, por meio da sua inserção nas questões relacio-
genas estão amparados pela legislação, estão motivados nadas à Educação Básica, quanto na apreciação das maté-
pelas suas organizações sociais e políticas e movidos pelas rias que tratam de suas especificidades, como por exemplo,
necessidades geradas pela história de contato e os proces- o Parecer CNE/CEB nº 1/2011, que trata das funções do
sos de hibridação. Motivados pela quebra do monopólio Conselho de Educação Escolar Indígena do Amazonas e o
tutelar exercido pelo Estado, os indígenas estão com os Parecer CNE/CEB nº 10/2011, que orienta a oferta de língua
horizontes abertos para a auto-gestão. estrangeira nas escolas indígenas de Ensino Médio.
Novidade para Sistema Nacional de Educação a educa- Além destes documentos, a presença de conselheiros
ção escolar indígena diferenciada hoje é demanda para to- indígenas no CNE1, desde 2002, tem evidenciado o reco-
dos os níveis da Educação Básica e para o Ensino Superior nhecimento gradativo, por parte do Estado brasileiro, da
com o propósito de qualificar a construção da autonomia e importância política e pedagógica da temática escolar indí-
da sustentabilidade. gena na construção das diretrizes da educação nacional. Os
Romper com políticas e paradigmas conservadores e movimentos sociais dos índios, por sua vez, consideram o
integracionistas tem sido o grande desafio dos sistemas e CNE uma importante agência política que tem contribuído
dos movimentos indígenas na trajetória da reinvenção da para a garantia do direito a uma educação escolar diferen-
escola indígena. ciada.
Ao longo dessa trajetória há que se destacar ainda a
Quanto às diretrizes curriculares nacionais para edu- atuação especifica da CEB e de seus conselheiros nos espa-
cação escolar indígena na educação básica, acesse o link a ços de interação com as comunidades escolares indígenas.
seguir e veja na íntegra todo seu conteúdo. Em 2007, por exemplo, a Câmara de Educação Básica reali-
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO zou, no período de 25 a 27 de março, reunião ordinária no
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO município de São Gabriel da Cachoeira, AM, região do Alto
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Es- Rio Negro.
colar Indígena O evento se converteu num marco histórico da CEB,
PARECER CNE/CEB Nº: 13/2012 tendo em vista ser uma das primeiras reuniões ordinárias
COLEGIADO: fora de sua sede em Brasília. Suas sessões contaram com
uma grande audiência pública, notadamente indígena,
163
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
quando foi posta em relevo a situação da Educação Esco- d) assegurar que o modelo de organização e gestão
lar Indígena daquela região. Segundo a conselheira Clélia das escolas indígenas leve em consideração as práticas
Brandão Alvarenga Craveiro, presidente da CEB na época, socioculturais e econômicas das respectivas comunidades,
o evento refletiu a preocupação da Câmara de Educação bem como suas formas de produção de conhecimento,
Básica em estar próxima da comunidade indígena para dis- processos próprios de ensino e de aprendizagem e proje-
cutir a formulação e a implementação da política nacional tos societários;
de Educação Escolar Indígena. e) fortalecer o regime de colaboração entre os sistemas
Essa atuação também pode ser exemplificada por meio de ensino da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
da participação dos conselheiros da CEB em diversos even- Municípios, fornecendo diretrizes para a organização da
tos locais, regionais e nacionais promovidos tanto por ins- Educação Escolar Indígena na Educação Básica, no âmbito
tituições dos sistemas de ensino, quanto pelo movimento dos territórios etnoeducacionais;
indígena, tais como conferências, seminários, audiências f)normatizar dispositivos constantes na Convenção
públicas, encontros de professores, dentre outros. 169, da Organização Internacional do Trabalho, ratificada
É, então, nesse contexto de busca de fortalecimento no Brasil, por meio do Decreto Legislativo nº 143/2003, no
dos diálogos interculturais que a Câmara de Educação Bá- que se refere à educação e meios de comunicação, bem
sica estabelece as Diretrizes Nacionais para a Educação Es- como os mecanismos de consulta livre, prévia e informada;
colar Indígena na Educação Básica, no âmbito da comissão g) orientar os sistemas de ensino da União, dos Esta-
instituída em 2010, pela Portaria CNE/CEB nº 4/2010, com- dos, do Distrito Federal e dos Municípios a incluir, tanto nos
posta pelos seguintes conselheiros: Adeum Hilário Sauer, processos de formação de professores indígenas, quanto
Clélia Brandão Alvarenga Craveiro, Nilma Lino Gomes (Pre- no funcionamento regular da Educação Escolar Indígena,
sidente) e Rita Gomes do Nascimento (Relatora), conforme a colaboração e atuação de especialistas em saberes tra-
proposto pela Indicação CNE/CEB n° 3/2010. dicionais, como os tocadores de instrumentos musicais,
A construção dessas Diretrizes se deu em diálogo ins- contadores de narrativas míticas, pajés e xamãs, rezadores,
tituído entre o CNE, a Comissão Nacional de Educação Es- raizeiros, parteiras, organizadores de rituais, conselheiros
colar Indígena do Ministério da Educação (CNEEI/MEC) e e outras funções próprias e necessárias ao bem viver dos
o Grupo de Trabalho Técnico Multidisciplinar, criado pela povos indígenas;
Portaria nº 593, de 16 de dezembro de 2010, no âmbito da
h) zelar para que o direito à educação escolar diferen-
Secretaria de Educação, Alfabetização e Diversidade (SE-
ciada seja garantido às comunidades indígenas com quali-
CAD) do MEC.
dade social e pertinência pedagógica, cultural, linguística,
Foram relevantes, ainda, nesse processo as manifes-
ambiental e territorial, respeitando as lógicas, saberes e
tações apresentadas nos dois seminários sobre Diretrizes
perspectivas dos próprios povos indígenas.
para a Educação Escolar Indígena realizados pelo CNE,
ocorridos em 2011 e 2012, em Brasília, bem como as con- A Educação Escolar Indígena, como um todo orgânico,
tribuições provindas da reunião técnica ocorrida durante o será orientada por estas Diretrizes específicas e pelas Di-
último desses seminários. retrizes próprias a cada etapa e modalidade da Educação
Nesse sentido, estas Diretrizes constituem o resultado Básica, instituídas nacional e localmente.
de um trabalho coletivo, que expressa o compromisso de
representantes de diferentes esferas governamentais e não O direito à educação escolar diferenciada
governamentais, com participação marcante de educado- Nas últimas décadas as comunidades indígenas têm
res indígenas, envolvidos com a promoção da justiça social buscado construir projetos de educação escolar diferencia-
e a defesa dos direitos dos povos indígenas na construção da em contraposição à tradição assimilacionista e integra-
de projetos escolares diferenciados, que contribuam para a cionista de experiências escolares vivenciadas do período
afirmação de suas identidades étnicas e sua inserção digna colonial até recentemente. Estas experiências tinham como
na sociedade brasileira. uma de suas finalidades o apagamento das diferenças cul-
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação turais, tidas como entraves ao processo civilizatório e de
Escolar Indígena, de caráter mandatório, objetivam: desenvolvimento do País.
a) orientar as escolas indígenas de educação básica e A instituição escolar ganhou, com isso, novos papéis e
os sistemas de ensino da União, dos Estados, do Distrito significados. Abandonando de vez a perspectiva integra-
Federal e dos Municípios na elaboração, desenvolvimento cionista e negadora das especificidades culturais indígenas,
e avaliação de seus projetos educativos; a escola indígena hoje tem se tornando um local de afir-
b) orientar os processos de construção de instrumen- mação de identidades e de pertencimento étnico. O direito
tos normativos dos sistemas de ensino visando tornar a à escolarização nas próprias línguas, a valorização de seus
Educação Escolar Indígena projeto orgânico, articulado e processos próprios de aprendizagem, a formação de pro-
sequenciado de Educação Básica entre suas diferentes eta- fessores da própria comunidade, a produção de materiais
pas e modalidades, sendo garantidas as especificidades didáticos específicos, a valorização dos saberes e práticas
dos processos educativos indígenas; tradicionais, além da autonomia pedagógica, são exemplos
c) assegurar que os princípios da especificidade, do bi- destes novos papéis e significados assumidos pela escola.
lingüismo e multilinguismo, da organização comunitária e Nos processos de reelaboração cultural em curso em
da interculturalidade fundamentem os projetos educativos várias terras indígenas, a escola tem se apresentado como
das comunidades indígenas, valorizando suas línguas e co- um lugar estratégico para a continuidade sociocultural de
nhecimentos tradicionais; seus modos de ser, viver, pensar e produzir significados.
164
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Nesta nova perspectiva, vislumbra-se que a escola possa do o direito a sua organização social, costumes, línguas e
tanto contribuir para a melhoria das condições de vida tradições e os direitos originários sobre as Terras que tra-
das comunidades indígenas, garantindo sustentabilidade, dicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las,
quanto promover a cidadania diferenciada dos estudantes proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
indígenas. O direito a uma educação diferenciada também encon-
Esse movimento que nasce de dentro das comunida- tra respaldo na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da
des indígenas parece começar a encontrar ressonância no Educação Nacional), que estabelece uma série de princí-
Estado brasileiro, quando a questão das diferenças passa a pios gerais para o ensino, dentre eles o pluralismo de ideias
ganhar um novo sentido, sendo gradativamente assumida e de concepções pedagógicas; a valorização do profissional
como um valor ético e político que orienta algumas de suas de educação escolar; a valorização da experiência extraes-
políticas públicas. O direito à diferença cultural, por exem- colar; a vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as
plo, tem sido bandeira de luta do movimento indígena práticas sociais, dentre outros.
desde a década de 1970, articulado a outros movimentos No que diz respeito à Educação Escolar Indígena, a
da sociedade civil organizada em prol da democratização atual LDB, rompendo com o silêncio da lei anterior, regu-
do país. Na busca pela defesa de seus direitos e interesses lamenta as formulações contidas na Constituição de 1988,
de continuidade sociocultural, os povos indígenas criaram determinando, em seu art. 78, que a União, em colabora-
organizações sociopolíticas com o intuito de superar a si- ção com as agências de fomento à cultura e de assistência
tuação de tutela a que historicamente foram submetidos. É aos índios, deverá desenvolver programas integrados de
importante destacar que a mobilização política dos índios ensino e pesquisa para a oferta de educação escolar bilín-
gue e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes
tem contado com a parceria de entidades indigenistas, al-
objetivos:
gumas delas criadas ainda em meados da década de 1970.
I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos,
A luta do movimento indígena e de seus aliados re-
a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação
percutiu na redefinição conceitual e pragmática das rela-
de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas
ções entre o Estado e os povos indígenas, concretizada na e ciências;
Constituição Federal do Brasil de 1988, que estabeleceu o II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o
paradigma do reconhecimento, manutenção e proteção da acesso às informações, conhecimentos técnicos e científi-
sociodiversidade indígena nas políticas públicas. No campo cos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas
da educação, novas diretrizes passaram a orientar as prá- e não-índias.
ticas pedagógicas e curriculares nas escolas indígenas, no O art. 79 define como competência da União, apoiar
rumo de uma educação escolar própria ou, como passou a técnica e financeiramente os sistemas de ensino no provi-
ser concebida, uma Educação Escolar Indígena diferencia- mento da Educação Escolar Indígena, por meio de progra-
da, específica, intercultural e bilíngue e multilíngue. mas integrados de ensino e pesquisa, visando:
A Constituição de 1988, superando a perspectiva as- I - fortalecer as práticas sócio-culturais e a língua ma-
similacionista que marcara toda a legislação indigenista terna de cada comunidade indígena;
precedente, e que entendia os índios como uma categoria II - manter programas de formação de pessoal espe-
étnica e social provisória e transitória, apostando na sua in- cializado, destinado à educação escolar nas comunidades
corporação à comunhão nacional, reconhece a pluralidade indígenas;
cultural e o Estado brasileiro como pluriétnico. Delineia-se, III - desenvolver currículos e programas específicos,
assim, um novo quadro jurídico a regulamentar as relações neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes às
entre o Estado e a sociedade nacional e os grupos indí- respectivas comunidades;
genas. A estes se reconhece o direito à diferença cultural, IV - elaborar e publicar sistematicamente material di-
isto é, o direito de serem índios, reconhecendo-lhes “sua dático específico e diferenciado.
organização social, costumes, línguas, crenças e tradições”. Na esteira do que regulamenta a Constituição Federal
Fica, portanto, a partir da Constituição de 1988 asse- e a LDB, o Conselho Nacional de Educação, por meio do Pa-
gurado aos índios suas especificidades étnico-culturais, ca- recer CNE/CEB nº 14/99 e da Resolução CNE/CEB nº 3/99,
bendo à União o dever de protegê-las, respeitá-las e pro- estabeleceu as primeiras Diretrizes Curriculares Nacionais
movê-las. Essa mudança de perspectiva e de entendimen- da Educação Escolar Indígena, definindo: fundamentos e
conceituações da educação indígena, a criação da catego-
to do lugar dos grupos indígenas na sociedade brasileira
ria escola indígena, a definição da esfera administrativa, a
propiciou a superação de concepções jurídicas há muito
formação do professor indígena, o currículo e sua flexibili-
tempo estabelecidas, fazendo com que a velha prática da
zação, a flexibilização das exigências e das formas de con-
assimilação cedesse lugar à proposição da afirmação da
tratação de professores indígenas, a estrutura e o funciona-
convivência e respeito na diferença. No âmbito da propo- mento das escolas indígenas, bem como a proposição de
sição desse novo marco jurídico, a educação diferenciada ações visando à concretização de propostas de Educação
encontra amparo legal. Escolar Indígena.
O art. 210, § 2º, assegura às comunidades indígenas O Parecer CNE/CEB nº 14/99, reconhece que a escola
também a utilização de suas línguas maternas e proces- indígena é uma experiência pedagógica peculiar e como
sos próprios de aprendizagem. No art. 231 é reconheci- tal deve ser tratada pelas agências governamentais, pro-
165
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
movendo as adequações institucionais e legais necessárias Educação Escolar Indígena. Dada a importância política e
para garantir a implementação de uma política de governo pedagógica do evento para os novos rumos da Educação
que priorize assegurar às sociedades indígenas uma edu- Escolar Indígena, a CONEEI e seu documento final serão
cação diferenciada, respeitando seu universo sociocultural. considerados adiante.
Essas Diretrizes se constituem num marco importante O direito das comunidades indígenas de participarem
no cenário educacional brasileiro ao normatizar as expe- ativamente da elaboração e implementação de políticas pú-
riências de educação diferenciada das comunidades indí- blicas a elas dirigidas e de serem ouvidas por meio de con-
genas. sultas livres, prévias e informadas nos projetos ou medidas
Nesse sentido, a Resolução CNE/CEB nº 3/99, em seu legais que as atinjam direta ou indiretamente, de acordo
art. 1°, estabelece no âmbito da Educação Básica, a estru- com a recomendação da Convenção 169, da Organização
tura e o funcionamento das escolas indígenas, reconhecen- Internacional do Trabalho (OIT) de 1989, coaduna-se com
do-lhes a condição de escolas com normas e ordenamen- os preceitos que regulamentam o direito a educação esco-
to jurídico próprios, e fixando as diretrizes curriculares do lar diferenciada. Poder decidir e participar no processo de
ensino intercultural e bilíngüe, visando à valorização plena elaboração e implementação de projetos escolares é ex-
das culturas dos povos indígenas e à afirmação e manuten- pressão das novas relações e diálogos estabelecidos entre
ção de sua diversidade étnica. povos indígenas e Estado nacional.
O direito a Educação Escolar Indígena também foi con-
templado no Plano Nacional de Educação (PNE), instituído No Brasil esta Convenção foi ratificada pelo Con-
pela Lei no 10.172/2001, que vigorou até o ano de 2011. gresso Nacional em 2002 e promulgada pelo Decreto n°
Nele é apresentado um diagnóstico da oferta de Educa- 5.051/2004. O que motivou a aprovação desta Convenção
ção Escolar Indígena, desde o século XVI aos dias atuais, foi o fato dos povos indígenas e tribais, em muitas partes
apontando para a definição de diretrizes, objetivos e metas do mundo, não gozarem dos direitos humanos fundamen-
que dependem da iniciativa da União e dos Estados para a tais na mesma proporção que o resto da população. Há,
implantação dos programas de Educação Escolar Indíge- além disso, o reconhecimento de que tais povos deveriam
na, bem como ressalvando que estes só deverão acontecer assumir o controle de suas próprias instituições, seu modo
com a anuência das comunidades indígenas. de vida e seu desenvolvimento econômico.
O direito diferenciado a uma educação escolar voltada Corroborando com esta visão que aponta para as ideias
de protagonismo e autonomia dos indígenas, é preciso dar
para os interesses e necessidades das comunidades indí-
relevo ainda à Declaração da União das Nações Unidas so-
genas também é assegurado pelo Decreto nº 6.861/2009,
bre o Direito dos Povos Indígenas, de 13 de setembro de
que define a organização da Educação Escolar Indígena em
2007, que reconhece a urgente necessidade de respeitar e
territórios etnoeducacionais. Nele é proposto um mode-
promover os direitos intrínsecos dos povos indígenas, que
lo diferenciado de gestão que visa fortalecer o regime de
derivam de suas próprias estruturas políticas, econômicas
colaboração na oferta da Educação Escolar Indígena pelos
e sociais e de suas culturas, de suas tradições espirituais,
sistemas de ensino. Em seu art. 1° determina que a Educa-
de sua história e concepção de vida, especialmente os di-
ção Escolar Indígena será organizada com a participação
reitos às terras, aos territórios e recursos; reconhecendo,
dos povos indígenas, observada a sua territorialidade e res- sobretudo, a urgente necessidade de respeitar e promover
peitando suas necessidades e especificidades. os direitos dos povos indígenas assegurados em tratados,
Os territórios etnoeducacionais, definidos pelo Minis- acordos e outros pactos construtivos com os Estados; ce-
tério da Educação, compreenderão, independentemente lebrando que os povos indígenas estejam se organizando
da divisão político-administrativa do País, as terras indíge- para promover seu desenvolvimento político, econômico,
nas, mesmo que descontínuas, ocupadas por povos indí- social e cultural, com o objetivo de pôr fim a todas as for-
genas que mantêm relações intersocietárias caracterizadas mas de discriminação e opressão onde quer que ocorram.
por raízes sociais e históricas, relações políticas e econômi- Todo este aparato legal impulsiona e dá sustentação ao
cas, filiações linguísticas, valores e práticas culturais com- direito à diferença, fenômeno ligado a práticas e discursos
partilhados. políticos que celebram a igualdade de direitos, a promo-
O Decreto reafirma ainda a garantia das normas pró- ção das diversidades e a dignidade humana. Tais práticas
prias e Diretrizes Curriculares específicas para as escolas e discursos estão ligados à ideia de Direitos Humanos, en-
indígenas que, deste modo, gozam de prerrogativas espe- tendidos como direitos universais relacionados à promo-
ciais na organização de suas atividades escolares com ca- ção de um conjunto de direitos fundamentais, dentre eles
lendários próprios, independentes do ano civil, que respei- a educação.
tem as atividades econômicas, sociais, culturais e religiosas Neste cenário, as políticas públicas encontram o de-
de cada comunidade, nos termos de seu art. 3°. safio de unir universalização de direitos e ações políticas
Evidenciando a consolidação e o aperfeiçoamento do com o efetivo respeito e valorização das diferenças cultu-
processo de implantação deste direito específico dos po- rais como princípio orientador para as políticas educativas
vos indígenas a uma educação escolar própria, a I Confe- voltadas aos grupos indígenas. Em tais políticas, igualdade
rência Nacional de Educação Escolar Indígena (CONEEI), e diversidade não devem ser antagônicas, constituindo-se
após as etapas locais e regionais, aprovou documento final nos fundamentos de uma sociedade democrática promo-
em que são apresentadas propostas para as políticas de tora da justiça social.
166
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A Educação Escolar Indígena para sua realização plena, origem. Tais estudantes também precisam ter garantido o
enquanto um direito constitucionalmente garantido, preci- direito de expressão de suas diferenças étnico-culturais, de
sa estar alicerçada em uma política linguística que assegure valorização de seus modos tradicionais de conhecimento,
o princípio do biliguismo e multilinguismo, e em uma polí- crenças, memórias e demais formas de expressão de suas
tica de territorialidade, ligada à garantia do direito a terra, diferenças.
a auto-sustentabilidade das comunidades e a efetivação de Para tanto, as escolas não indígenas devem desenvol-
projetos escolares que expressem os projetos societários e ver estratégias pedagógicas com o objetivo de promover e
visões de mundo e de futuro dos diferentes povos indíge- valorizar a diversidade cultural, tendo em vista a presença
nas que vivem no território nacional. de “diversos outros” na escola. Uma das estratégias ancora-
Como dever do Estado brasileiro para com os povos das na legislação educacional vigente diz respeito à inser-
indígenas a Educação Escolar Indígena deverá se constituir ção da temática indígena nos currículos das escolas públi-
num espaço de construção de relações interétnicas orien- cas e privadas de Educação Básica. Os conteúdos referentes
tadas para a manutenção da pluralidade cultural, pelo reco- a esta temática “serão ministrados no âmbito de todo o
nhecimento de diferentes concepções pedagógicas e pela currículo escolar, em especial nas áreas de educação artís-
afirmação dos povos indígenas como sujeitos de direitos. tica e de literatura e história brasileiras”, nos termos do art.
A escola indígena será criada em atendimento à rei- 26-A da LDB com a redação dada pela Lei n° 11.645/2008.
vindicação ou por iniciativa da comunidade interessada, Para o cumprimento efetivo da lei, faz-se necessário
ou com a anuência da mesma, respeitadas suas formas de que os cursos de formação inicial e continuada de pro-
representação, e terá como elementos básicos para sua or- fessores proporcionem aos docentes o conhecimento de
ganização, estrutura e funcionamento: estratégias pedagógicas, materiais didáticos e de apoio
a) a centralidade do território para o bem viver dos po- pedagógico, além de procedimentos de avaliação que con-
vos indígenas e para seus processos formativos e, portanto, siderem a realidade cultural e social destes estudantes com
a localização das escolas em terras habitadas por comuni- o objetivo de lhes garantir o direito à educação escolar (Pa-
dades indígenas, ainda que se estendam por territórios de recer CNE/CEB nº 14/2011). Direito que, para ser efetivado,
diversos Estados ou Municípios contíguos; carece de maior democratização do acesso, de assistência
b) a importância do uso das línguas indígenas e dos re- estudantil para permanência do estudante na escola e da
gistros linguísticos específicos do português para o ensino qualidade social do ensino para conclusão com sucesso
dos estudos realizados nas escolas não indígenas.
ministrado nas línguas indígenas de cada povo e comuni-
Estas condições, alicerçadas numa concepção e práti-
dade, como uma das formas de preservação da realidade
ca de educação em direitos humanos, ajudam a eliminar
sociolinguística de cada povo;
toda forma de preconceito e discriminação, promovendo
c) a organização escolar própria, nos termos detalha-
a dignidade humana, a laicidade do Estado, a igualdade
dos no Projeto de Resolução em anexo;
de direitos, o reconhecimento e valorização das diferenças
d) a exclusividade do atendimento a comunidades in-
e das diversidades, de acordo com as Diretrizes Nacionais
dígenas por parte de professores indígenas oriundos da
para a Educação em Direitos Humanos (Parecer CNE/CP nº
respectiva comunidade.
8/2012).
Na organização da escola indígena deverá ser conside-
rada a participação de representantes da comunidade, na I Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena
definição do modelo de organização e gestão, bem como De 16 a 21 de novembro de 2009, o MEC, em parce-
suas estruturas sociais; suas práticas socioculturais, religio- ria com o Conselho Nacional de Secretários de Educação
sas e econômicas; suas formas de produção de conheci- (CONSED) e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), reali-
mento, processos próprios e métodos de ensino-aprendi- zou, em Luziânia, GO, a I Conferência Nacional de Educação
zagem; o uso de materiais didático-pedagógicos produzi- Escolar Indígena (CONEEI), que teve como tema “Educação
dos de acordo com o contexto sociocultural de cada povo Escolar Indígena: Gestão Territorial e Afirmação Cultural”.
indígena; e a necessidade de edificação de escolas com ca- A CONEEI foi precedida de conferências locais, realizadas
racterísticas e padrões construtivos de comum acordo com em 1.836 escolas indígenas, com a participação de cerca de
as comunidades usuárias, ou da predisposição de espaços 45.000 pessoas entre estudantes, professores, pais e mães
formativos que atendam aos interesses das comunidades de estudantes, além de lideranças indígenas.
indígenas. Dessas conferências locais saíram propostas que foram
É importante lembrar ainda, no que diz respeito ao re- discutidas em 18 conferências regionais, reunindo cerca
conhecimento das especificidades dos povos indígenas no de 3.600 delegados, 400 convidados e 2.000 observado-
ambiente educacional, a necessidade de se considerar os res, entre representantes dos povos indígenas, dirigentes
casos dos estudantes indígenas que estudam em escolas e gestores dos sistemas de ensino, FUNAI, instituições de
não indígenas, como por exemplo, nas situações em que ensino superior, entidades da sociedade civil e demais ins-
estes estudantes, mesmo morando em suas aldeias, são tituições. Nas conferências regionais foram aprovadas pro-
obrigados a procurar escolas não indígenas pela ausência postas para serem discutidas e apreciadas na Conferência
de escolas diferenciadas ou da oferta de todas as etapas Nacional, etapa que congregou 604 delegados, 100 convi-
da Educação Básica em suas comunidades, além dos casos dados e 100 observadores, totalizando 804 participantes.
em que os indígenas residem fora de suas comunidades de Estiveram representados 210 povos indígenas.
167
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A Conferência Nacional teve como principais objetivos genas e do plurilinguismo individual e comunitário, exis-
consultar representantes dos povos indígenas, das organi- tentes nas terras indígenas e em outros contextos urbanos
zações governamentais e da sociedade civil sobre as rea- regionais marcados pela presença indígena;
lidades e as necessidades educacionais para o futuro das b) a necessidade de criação, pelo MEC, em parceria
políticas de Educação Escolar Indígena; discutir propostas com as instituições envolvidas com a Educação Escolar In-
de aperfeiçoamento de sua oferta, principalmente em rela- dígena, de formas diferenciadas de avaliação institucional
ção ao modelo de gestão, propondo diretrizes que possibi- e do desempenho dos estudantes indígenas, bem como do
litem o avanço da Educação Escolar Indígena em qualidade reconhecimento dos cursos de licenciatura indígena. Isto
sociocultural e efetividade. significa que a Educação Escolar Indígena deve ter proces-
Entre as principais propostas aprovadas pelos partici- sos próprios de avaliação, levando-se em consideração as
pantes da Conferência estão a criação de um sistema pró- diferenças de cada comunidade, os projetos político-peda-
prio de Educação Escolar Indígena articulado ao sistema gógicos das escolas e dos cursos de formação de profes-
nacional de educação; a implantação dos territórios etnoe- sores indígenas;
ducacionais; a necessidade de ampliação do controle social c) a necessidade de se reconhecer o caráter diferencia-
a partir da ótica e das necessidades de cada povo indíge- do das escolas indígenas, com seus programas, currículos,
na, de modo que os novos modelos de gestão garantam e calendários e materiais didáticos próprios e específicos, ba-
ampliem o protagonismo indígena em todas as instâncias lizados por projetos político-pedagógicos que espelhem os
propositivas e deliberativas. projetos societários de cada povo, contemplando a gestão
Além desses, 17 outros itens foram discutidos e pro- territorial e ambiental das Terras Indígenas e a sustentabili-
postos com o objetivo de orientar a elaboração das Dire- dade das comunidades;
trizes Nacionais para a Educação Escolar Indígena, defini- d) a necessidade de se estabelecer diretrizes para de-
das pelo Conselho Nacional de Educação, dando ênfase à mandas cada vez mais presentes em todos os territórios
perspectiva intercultural como parte das estratégias de au- etnoeducacionais para níveis ou modalidades de ensino
tonomia política dos povos indígenas. Nessa perspectiva, até então não regulamentadas no contexto da legislação
a escola indígena deve trabalhar temas e projetos ligados para Educação Escolar Indígena: Educação Infantil, Ensino
aos modos de vida de suas comunidades, à proteção das Médio Regular ou Integrado à Educação Profissional, Edu-
terras indígenas e dos recursos naturais, devendo para isso cação de Jovens e Adultos, Educação Especial e Educação
dialogar também com outros saberes. Superior.
Neste sentido, destaca-se a recomendação para que os O Documento Final contém cerca de 50 proposições
projetos educativos reconheçam a autonomia pedagógica votadas e aprovadas pelos delegados participantes da I
das escolas e dos povos ao contemplar os conhecimentos CONEEI, também aprovadas, em sua integralidade, na Con-
e modos indígenas de ensinar, o uso das línguas indígenas, ferência Nacional de Educação (CONAE) ocorrida em 2010.
a participação dos sábios indígenas independente da es- Na orientação das mudanças necessárias na oferta e con-
colaridade, a participação das comunidades valorizando os dução da política nacional de Educação Escolar Indígena, é
saberes, a oralidade e a história de cada povo, em diálogo fundamental que tanto o Ministério da Educação e as Se-
com os demais saberes produzidos por outras sociedades cretarias de Educação, quanto os órgãos de normatização,
humanas. como os Conselhos Estaduais de Educação, incorporem
Na CONEEI foi proposto também que os sistemas de e assumam essa agenda de proposições na formulação e
ensino da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos execução das políticas públicas dirigidas aos povos indíge-
Municípios, em parcerias com as organizações indígenas, nas e suas escolas.
Organizações não governamentais da sociedade civil e
demais órgãos governamentais como instituições de Edu- Organização da Educação Escolar Indígena
cação Superior, FUNAI, criassem programas de assessoria Uma comparação dos dados sobre escolas indígenas
especializada e pesquisas em Educação Escolar Indígena disponíveis no MEC, nos últimos anos, permite constatar
para dar suporte aos projetos político-pedagógicos e ao que tem havido um aumento progressivo no número de
funcionamento das escolas indígenas. Os órgãos governa- escolas indígenas a cada ano em que se registram dados
mentais devem garantir recursos financeiros para a cons- sobre elas. Em 1999, quando foi realizado um primeiro cen-
trução de infraestrutura adequada à oferta de educação de so específico da Educação Escolar Indígena, foram identifi-
qualidade (transporte, merenda, equipamentos e prédios cadas 1.392 escolas.
escolares), a formação inicial e continuada de professores Nos anos seguintes, os dados, que foram obtidos por
indígenas, a produção de materiais didáticos e assessoria meio do censo escolar, realizado anualmente em todas as
técnica e jurídica. escolas do país pelo Instituto Nacional de Estudos e Pes-
Pode-se destacar, ainda, como preocupações e propo- quisas Educacionais (INEP) do MEC, apontam para esse
sições centrais da Conferência: crescimento: em 2004, esse número saltou para 2.228; em
a) a importância de se implementar políticas linguísti- 2005, para 2.323; em 2006, para 2.422; em 2007, para 2.480;
cas, tendo em vista a riqueza cultural e linguística de certas em 2008, para 2.633; em 2009, para 2.672 e em 2010, para
regiões do país. Faz-se necessário, nesse sentido, a elabo- 2.836 escolas indígenas.
ração e implantação de políticas a partir de consulta livre,
prévia e informada a favor da valorização das línguas indí-
168
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Esse aumento progressivo do número de escolas indí- equipamentos e materiais didático-pedagógicos próprios,
genas verificado no período focalizado (1999-2010) deve- que permitam o exercício e a prática da educação intercul-
se não só a um maior rigor no fornecimento de informa- tural e diferenciada almejada pelas comunidades indígenas
ções para o censo escolar, mas também ao fato de que, nos e garantida na legislação educacional brasileira.
últimos anos, os sistemas de ensino estaduais e municipais Os sistemas de ensino deverão, também, assegurar às
passaram a regularizar as escolas das aldeias, reconhecen- escolas indígenas estrutura adequada às necessidades dos
do-as como escolas indígenas. Isto implicou em processos estudantes e das especificidades pedagógicas da educação
de reconhecimento de “salas de aulas” localizadas em al- diferenciada, garantindo laboratórios, bibliotecas, espaços
deias que antes eram consideradas como salas de extensão para atividades esportivas e artístico-culturais, assim como
de escolas rurais e urbanas. equipamentos que garantam a oferta de uma educação es-
Deve-se, ainda, ao abandono da dinâmica de nuclea- colar de qualidade sociocultural.
ção de escolas, quando várias escolas são vinculadas a um
único endereço e, portanto, aparecem como um único es- Projeto político-pedagógico das escolas indígenas
tabelecimento. Esse aumento também se explica pela im- O projeto político-pedagógico (PPP), expressão da
portância que a escola passou a ter nos últimos anos para autonomia e da identidade escolar, é uma referência im-
os grupos indígenas, não só como forma de acesso a co- portante na garantia do direito a uma educação escolar
nhecimentos e práticas que se quer dominar, mas também diferenciada, devendo apresentar os princípios e objetivos
pela possibilidade de benefícios que a acompanham, como da Educação Escolar Indígena de acordo com as diretrizes
o recebimento de alimentação escolar ou assalariamento curriculares instituídas nacional e localmente, bem como as
de membros da comunidade, por meio da contratação de aspirações das comunidades indígenas em relação à edu-
professores, diretores, merendeiras, faxineiras e vigilantes. cação escolar.
Em termos de vinculação administrativa, os dados re- Este documento deverá apresentar o conjunto dos
velam que a maior parte das escolas indígenas hoje está princípios, objetivos das leis da educação, as Diretrizes
vinculada aos municípios: são 1.508 escolas municipais Curriculares Nacionais e a pertinência à etapa e ao tipo de
(53,17%) e 1.308 escolas indígenas estaduais (46,13%). programa ofertado dentro de um curso, considerados a
Nessas escolas estudam 194.449 estudantes indígenas, qualificação do corpo docente instalado e os meios dispo-
distribuídos pelos 25 Estados da Federação que regis- níveis para pôr em execução o projeto. (Parecer CNE/CEB
tram escolas indígenas (dados de 2010). Destes estudan- nº 11/2000).
tes 151.160 estavam no Ensino Fundamental, sendo que Nas escolas indígenas, o PPP, intrinsecamente relacio-
109.919 estavam matriculados nos anos iniciais, enquan- nado com os modos de “bem viver” dos grupos étnicos
to apenas 41.241 estavam nos anos finais; 19.565 estavam em seus territórios, devem estar assentados nos princípios
matriculados na Educação Infantil; 10.004 no Ensino Médio da interculturalidade, bilingüismo e multilinguismo, espe-
e 15.346 na modalidade de Educação de Jovens e Adultos. cificidade, organização comunitária e territorialidade que
Em termos percentuais, a situação de matrícula dos estu- fundamentam as propostas de Educação Escolar Indígena.
dantes indígenas em 2010 é a seguinte: Como já demonstrado existem vários dispositivos le-
Educação Infantil 10% gais, como a Constituição Federal de 1988 e a LDB, que
Ensino Fundamental Total 77,5% garantem à escola indígena a autonomia para a definição
Anos iniciais (72,7%) de seu PPP, estabelecendo a sua forma de funcionamento,
Anos finais (27,3%) objetivos e metas.
Ensino Médio 5% O projeto político-pedagógico das escolas indígenas
Educação de Jovens e Adultos 7,5% deve ser construído de forma autônoma e coletiva, valo-
A distribuição desses estudantes, pelos níveis e moda- rizando os saberes, a oralidade e a historia de cada povo
lidades de ensino, mostra que há ainda um grande dese- em diálogo com os demais saberes produzidos por outras
quilíbrio na progressão dos anos de estudo, havendo uma sociedades humanas. Deve, com isso, integrar os projetos
forte concentração dos estudantes indígenas nas primei- societários etnopolíticos das comunidades indígenas con-
ras séries do Ensino Fundamental: eles representam 56,5% templando a gestão territorial e ambiental das Terras Indí-
do total de estudantes matriculados. Já no Ensino Médio, genas e a sustentabilidade das comunidades.
contabiliza-se apenas 5% do total dos estudantes indíge- Na garantia do direito à especificidade dos projetos
nas. Essa é uma situação que tem marcado a expansão da de escolarização dos grupos indígenas, é necessário que a
escola indígena pelo país, ainda que se registre, em anos organização dos projetos político-pedagógicos possibilite
recentes, uma pequena melhora nesse quadro. aos estudantes indígenas desenvolverem estratégias para
Porém, uma melhor adequação da distribuição dos es- a apropriação de conhecimentos técnicos e tecnológicos
tudantes pelos diferentes níveis e modalidades de ensino úteis ao desenvolvimento econômico, social e cultural de
exige um esforço maior por parte dos sistemas de ensino suas comunidades.
do país, no sentido de garantir e ampliar os programas de Estas precisam tomar parte em todas as etapas de ela-
formação de professores indígenas, tanto em nível de ma- boração e implementação dos PPP, com o objetivo de lhes
gistério na modalidade normal quanto superior; construir, assegurar o protagonismo na construção de suas propos-
reformar e equipar as escolas indígenas, provendo-as com tas de educação escolar.
169
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A associação entre proposta pedagógica e as realida- Assim, não obstante o exemplo de algumas experiên-
des e problemáticas de cada comunidade deve possibilitar cias escolares indígenas bem sucedidas, ainda carecendo
a discussão a respeito dos diferentes processos formativos de maior publicidade, continua sendo de importância es-
dos estudantes indígenas, no âmbito de suas realidades tratégica preocupar-se com a garantia do direito de apren-
comunitárias. Nesse sentido, as escolas precisam reconhe- der; com a proposição de modelos de gestão escolar efe-
cer o valor sociocultural e pedagógico desses processos tivamente diferenciados; com os processos de avaliação
formativos diversos não estabelecendo hierarquias entre e sua finalidade; com a construção de metodologias que
eles. Com isso, a escola estará contribuindo para a valori- considerem, de fato, os processos de ensino aprendizagem
zação dos diferentes papéis que os estudantes podem vir próprios das comunidades indígenas, dentre outros. Nesse
a exercer. sentido, é bom lembrar que estes aspectos também consti-
A questão da territorialidade, associada à sustenta- tuem a dimensão política do ato pedagógico.
bilidade socioambiental e cultural das comunidades in- Na sequência, alguns destes aspectos, postos como
dígenas, deve orientar todo processo educativo, definido questões prioritárias pela I CONEEI, dadas as crescentes
no PPP. A relação entre territorialidade e Educação Escolar complexificações das propostas de educação escolar dife-
Indígena, então, deve ser um eixo estruturante dos proje- renciada, serão apreciados.
tos político-pedagógicos na Educação Básica. Desse modo 5.1 Currículo da Educação Escolar Indígena
as propostas de educação escolar poderão contribuir para O currículo, ligado às concepções e práticas que defi-
a continuidade dos grupos indígenas em seus territórios, nem o papel social da escola, deve ser concebido de modo
favorecendo o desenvolvimento de estratégias que viabili- flexível, adaptando-se aos contextos políticos e culturais
zem o bem viver das comunidades indígenas. nos quais a escola está situada, bem como aos interesses e
Os projetos político-pedagógicos das escolas indíge- especificidades de seus atores sociais.
nas devem ser, assim, elaborados pelos professores indí- Componente pedagógico dinâmico, o currículo diz res-
genas em articulação com toda a comunidade educativa peito aos modos de organização dos tempos e espaços da
– lideranças, pais, mães ou responsáveis pelo estudante, os escola, de suas atividades pedagógicas, das relações so-
próprios estudantes de todas as etapas e modalidades da ciais tecidas no cotidiano escolar, das interações do am-
Educação Básica na Educação Escolar Indígena – contando biente educacional com a sociedade, das relações de poder
com assessoria dos sistemas de ensino e de suas institui- presentes no fazer educativo e nas formas de conceber e
ções formadoras, das organizações indígenas e órgãos in- construir conhecimentos escolares. Está presente, desse
digenistas do estado e da sociedade civil. Devem, ainda, modo, nos processos sociopolíticos e culturais de constru-
em cumprimento ao disposto na Convenção 169 da OIT,
ção de identidades.
serem legitimados socialmente, no âmbito das comunida-
Nesse mesmo sentido, as Diretrizes Curriculares Na-
des indígenas. Para tanto, devem ser objeto de consulta
cionais Gerais para a Educação Básica definem o currículo
livre, prévia e informada, para sua aprovação comunitária e
como conjunto de valores e práticas que proporcionam a
reconhecimento junto aos sistemas de ensino.
produção e a socialização de significados no espaço so-
É importante ressaltar que as escolas indígenas, em
cial e que contribuem, intensamente, para a construção de
seus limites e possibilidades, consolidando o direito de
identidades sociais e culturais dos estudantes. Entendido
aprender dos estudantes, dão suporte às estratégias su-
desta forma, ele se refere não apenas aos conteúdos sele-
pracitadas que necessitam, para se efetivarem, da atuação
de outras agências institucionais. É necessária, para isso, a cionados, ensinados e apreendidos por meio das ativida-
promoção de políticas públicas coordenadas para as co- des de leitura, escrita, interpretação de textos, pesquisas,
munidades indígenas que tenham como objetivo fortalecer dentre outras estratégias de ensino e de aprendizagem,
e instrumentalizar os grupos na construção de seus proje- mas também aos mais variados tipos de rituais da escola,
tos societários etnopolíticos e educativos. tais como as atividades recreativas, as feiras culturais, os jo-
No âmbito destas políticas, o MEC e as Secretarias de gos escolares, as atividades comemorativas, dentre outros.
Educação, em parceria com as organizações indígenas, ins- No que tange às escolas indígenas, os currículos,
tituições de ensino superior, outras organizações gover- em uma perspectiva intercultural, devem ser construídos
namentais e não governamentais, devem criar programas considerando-se os valores e interesses etnopolíticos das
de assessoria especializada em Educação Escolar Indígena comunidades indígenas em relação aos seus projetos de
visando dar suporte ao funcionamento das escolas na exe- sociedade e de escola, definidos nos Projetos Político-Pe-
cução do seu projeto educativo. dagógicos. Para sua construção há que se considerar ainda
Por fim, faz-se necessário chamar a atenção para as as condições de escolarização dos estudantes indígenas
preocupações políticas e pedagógicas que se apresentam em cada etapa e modalidade de ensino; as condições de
no horizonte do movimento indígena com a construção trabalho do professor; os espaços e tempos da escola e de
das propostas de escolarização diferenciada. A apropriação outras instituições educativas da comunidade e fora dela,
da instituição “escola” pelo movimento indígena nos seus tais como museus, memoriais da cultura, casas de cultura,
processos de organização política, visando dar visibilidade centros culturais, centros ou casas de línguas, laboratórios
às suas demandas por direitos particulares, trouxe ques- de ciências, informática.
tões complexas ligadas às implicações políticas do universo Na organização curricular das escolas indígenas, de-
do pedagógico. vem ser observados os critérios:
170
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
a) de reconhecimento das especificidades das escolas tuguesa e nas línguas indígenas, que reflitam a perspectiva
indígenas quanto aos seus aspectos comunitários, bilín- intercultural da educação diferenciada, elaborados pelos
gues e multilíngues, de interculturalidade e diferenciação; professores indígenas e seus estudantes, devem ser apoia-
b) de flexibilidade na organização dos tempos e es- dos, subsidiados e publicados pelos respectivos sistemas
paços curriculares, tanto no que se refere à base nacional de ensino, bem como pelo MEC, para todas as etapas da
comum, quanto à parte diversificada, de modo a garantir a Educação Básica.
inclusão dos saberes e procedimentos culturais produzidos 5.2 Avaliação
pelas comunidades indígenas, tais como línguas indígenas, A avaliação, como um dos elementos que compõe o
crenças, memórias, saberes ligados à identidade étnica, às processo de ensino aprendizagem, é uma estratégia di-
suas organizações sociais, às relações humanas, às mani- dática que deve ter seus fundamentos e procedimentos
festações artísticas, às práticas desportivas; definidos no projeto político-pedagógico, ser articulada
c) de duração mínima anual de duzentos dias letivos, à proposta curricular, às metodologias, ao modelo de pla-
perfazendo, no mínimo, oitocentas horas, respeitando-se nejamento e gestão, à formação inicial e continuada dos
a flexibilidade do calendário das escolas indígenas que po- docentes e demais profissionais da educação, bem como
derá ser organizado independente do ano civil, de acordo ao regimento escolar. Em outras palavras, ligada às concep-
com as atividades produtivas e socioculturais das comuni- ções de educação, a avaliação deve servir para aprimorar o
dades indígenas; projeto político-pedagógico das escolas.
d) de adequação da estrutura física dos prédios escola- No que diz respeito à Educação Escolar Indígena, a
res às condições socioculturais e ambientais das comunida- avaliação deve estar associada aos processos de ensino
des indígenas, bem como às necessidades dos estudantes e aprendizagem próprios, reportando-se às dimensões
nas diferentes etapas e modalidades da Educação Básica; participativa e de protagonismo indígena da educação di-
e) de interdisciplinaridade e contextualização na arti- ferenciada. Tais dimensões visam à formação de sujeitos
culação entre os diferentes campos do conhecimento, por socio-históricos autônomos, capazes de atuar ativamente
meio do diálogo transversal entre disciplinas diversas e do na construção do bem viver de seus grupos comunitários.
estudo e pesquisa de temas da realidade dos estudantes e A avaliação do processo de ensino e aprendizagem nas
de suas comunidades; escolas indígenas terá como base os aspectos qualitativos,
f) de adequação das metodologias didáticas e pedagó- quantitativos, diagnósticos, processuais, formativos, dialó-
gicas às características dos diferentes sujeitos das aprendi- gicos e participativos, considerando-se o direito de apren-
zagens, em atenção aos modos próprios de transmissão do der, as experiências de vida dos sujeitos e suas caracterís-
saber indígena; ticas culturais, os valores, as dimensões cognitiva, afetiva,
g) da necessidade de elaboração e uso de materiais emocional, lúdica, de desenvolvimento físico e motor, den-
didáticos próprios, nas línguas indígenas e em português, tre outros. Pautando-se numa abordagem historicamente
apresentando conteúdos culturais próprios às comunida- situada, a avaliação deve possibilitar a transformação pes-
des indígenas; soal e social dos estudantes indígenas em suas relações in-
h) de cuidado e educação das crianças nos casos em traétnicas e interétnicas.
que a oferta da Educação Infantil for solicitada pela comu- Processos de avaliação excludentes são incoerentes
nidade; com os princípios de uma educação escolar diferenciada.
i) de atendimento educacional especializado, comple- O direito à educação, à diferença e à aprendizagem pode
mentar ou suplementar à formação dos estudantes indíge- ser cerceado em decorrência de avaliações padronizadas e
nas que apresentem tal necessidade. homogeneizantes que não considerem as especificidades
A observação destes critérios demandam, por parte das escolas, dos estudantes e dos professores.
dos sistemas de ensino e de suas instituições formadoras, As escolas indígenas, na construção da educação di-
a criação das condições para a construção e o desenvolvi- ferenciada almejada, precisam desenvolver práticas de au-
mento dos currículos das escolas indígenas com a partici- toavaliação que possibilitem a reflexão de suas ações peda-
pação das comunidades indígenas, promovendo a gestão gógicas no sentido de reorientá-las para o aprimoramento
comunitária, democrática e diferenciada da Educação Es- dos seus projetos educativos, da relação com a comunida-
colar Indígena, bem como a formação inicial e continua- de, da relação entre professor e estudante, bem como da
da dos professores indígenas – docentes e gestores – que gestão comunitária nas escolas. Isto implica na revisão do
privilegie a discussão a respeito das propostas curriculares conjunto de objetivos e metas do projeto políticopedagó-
das escolas indígenas em atenção aos interesses e especifi- gico que expressa a função sociopolítica da escola e sua
cidades de suas respectivas comunidades. preocupação com a qualidade social das aprendizagens.
Por fim, é preciso considerar a importância da pesqui- Nos processos de regularização das escolas indígenas,
sa e da produção de materiais didáticos próprios, especí- os Conselhos de Educação devem criar parâmetros de ava-
ficos e diferenciados, que possam subsidiar uma Educação liação interna e externa que atendam às especificidades
Escolar Indígena de qualidade sociocultural, que permita das comunidades indígenas, considerando suas estruturas
aos povos indígenas, nos termos preconizados pela LDB, sociais; suas práticas socioculturais e religiosas; suas formas
a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de produção de conhecimento, seus processos próprios e
de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas métodos de ensino aprendizagem; suas atividades econô-
e ciências. Estes materiais didáticos, escritos na língua por- micas; a construção de escolas de acordo com suas neces-
171
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
sidades socio-educativas e ambientais e o uso de materiais tados para a elaboração, o desenvolvimento e a avaliação
didático-pedagógicos produzidos de acordo com o con- de currículos e programas próprios, bem como a produção
texto sociocultural de cada povo indígena. Busca-se, com de materiais didáticos específicos e a utilização de metodo-
isso, garantir o reconhecimento das normas e ordenamen- logias adequadas de ensino e pesquisa.
tos jurídicos próprios das escolas indígenas legalmente as- Os sistemas de ensino e suas instituições formadoras
segurados pela legislação educacional. devem garantir os meios do acesso, permanência e con-
Diante do papel central da avaliação na formulação e clusão exitosa, por meio da elaboração de planos estra-
implantação das políticas educacionais, a inserção da Edu- tégicos diferenciados, para que os professores indígenas
cação Escolar Indígena nos processos de avaliações institu- tenham uma formação com qualidade sociocultural, em re-
cionais das redes da Educação Básica deve estar condicio- gime de colaboração com outros órgãos de ensino. Devem
nada à adequação desses processos às especificidades das assegurar, ainda, a formação continuada dos professores
escolas indígenas. indígenas, compreendida como componente essencial da
A avaliação institucional da Educação Escolar Indígena profissionalização docente e estratégia de continuidade do
deve contar necessariamente com a participação e contri- processo formativo, articulada à realidade da escola indí-
buição de professores e lideranças indígenas e conter ins- gena e à formação inicial dos seus professores.
trumentos avaliativos específicos que atendam aos proje- O atendimento às necessidades de formação continua-
tos político-pedagógicos das escolas indígenas da de profissionais do magistério indígena dar-se-á pela
5.3 Professores indígenas: formação e profissionaliza- oferta de cursos e atividades formativas criadas e desen-
ção volvidas pelas instituições públicas de educação, cultura
No cenário indigenista nacional, parece ser hoje um e pesquisa, em consonância com os projetos das escolas
consenso a proposta de que escolas indígenas de qualida- indígenas e dos sistemas de ensino. Esta formação poderá
de sociocultural só serão possíveis se à sua frente estive- ser realizada por meio de cursos presenciais ou cursos à
rem, como docentes e como gestores, os próprios indíge- distância, por meio de atividades formativas e cursos de
nas, pertencentes às suas respectivas comunidades. atualização, aperfeiçoamento, especialização, bem como
Os professores aparecem, em muitos casos, no cenário programas de mestrado ou doutorado.
político e pedagógico como um dos principais interlocuto- Organizações indígenas e indigenistas podem ofertar
res nos processos de construção do diálogo intercultural, formação inicial e continuada de professores indígenas,
mediando e articulando os interesses de suas comunida- desde que solicitadas pelas comunidades indígenas, e te-
des com os da sociedade nacional em geral e com os de rem suas propostas de formação autorizadas e reconhe-
outros grupos particulares, promovendo a sistematização e cidas pelos respectivos Conselhos Estaduais de Educação.
organização de novos saberes e práticas. É deles também a Além do desafio da formação inicial, ofertada em ser-
tarefa de refletir criticamente e de buscar estratégias para viço e, quando for o caso, concomitante com sua própria
promover a interação dos diversos tipos de conhecimentos escolarização, os professores indígenas precisam ter ga-
que se apresentam e se entrelaçam no processo escolar: rantida sua atuação como profissionais do magistério nos
de um lado, os conhecimentos ditos universais, a que todo quadros dos sistemas de ensino. Assim, é imperioso que
estudante, indígena ou não, deve ter acesso, e, de outro, tais sistemas criem a categoria professor indígena como
os conhecimentos étnicos, próprios ao seu grupo social de carreira específica do magistério e promovam concursos
origem, que, outrora negados, hoje assumem importância adequados às particularidades linguísticas e culturais das
crescente nos contextos escolares indígenas. comunidades indígenas. Nesse processo de regularização
Formar indígenas para serem professores e gestores da carreira do professor indígena devem ser garantidos
das mais de 2.836 escolas localizadas em terras indígenas os mesmos direitos atribuídos aos demais professores dos
é hoje um dos principais desafios e prioridades para a con- respectivos sistemas de ensino, com níveis de remuneração
solidação de uma Educação Escolar Indígena pautada pelos correspondentes ao seu nível de qualificação profissional e
princípios da diferença, da especificidade, do bilinguismo e condigna com suas condições de trabalho, garantindo-lhes
da interculturalidade. também jornada de trabalho conforme estabelecido na Lei
A formação de professores indígenas – docentes e ges- nº 11.738/2008.
tores – é, portanto, um compromisso público do Estado Essas garantias devem ser aplicadas não só aos pro-
brasileiro que deve ser garantido pelos sistemas de ensi- fessores indígenas que exercem a docência, mas também
no e suas instituições formadoras. A formação inicial deve àqueles que exercem as funções de gestão – diretor, coor-
ocorrer em cursos específicos de licenciaturas e pedago- denador, secretário, dentre outros – nos sistemas de ensino,
gias interculturais ou complementarmente, quando for o tanto nas próprias escolas indígenas quanto nas Secretarias
caso, em outros cursos de licenciatura específica ou, ainda, de Educação ou nos seus órgãos afins. Para estes últimos,
em cursos de magistério indígena de nível médio na mo- os sistemas de ensino devem também promover a forma-
dalidade normal. ção inicial e continuada com foco nos processos de ges-
Os cursos de formação de professores indígenas, em tão democrática, comunitária e diferenciada da Educação
nível médio ou licenciatura, devem enfatizar a constituição Escolar Indígena. Tais formações visam o desenvolvimento
de competências referenciadas em conhecimentos, sabe- de habilidades para a elaboração, execução e avaliação do
res, valores, habilidades e atitudes pautadas nos princípios projeto político-pedagógico das escolas e das redes de en-
da Educação Escolar Indígena. Tais cursos devem estar vol- sino.
172
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Recomenda-se aos sistemas de ensino a criação de próprias, autônomas e específicas no sistema estadual; o
uma comissão paritária composta pelos representantes das provimento de recursos financeiros, humanos e materiais
Secretarias de Educação, das lideranças comunitárias e dos visando ao pleno funcionamento das escolas indígenas; a
professores indígenas para a regularização do magistério regulamentação do magistério indígena por meio da cria-
indígena bem como, quando de sua implantação, a sua ção da categoria de professor indígena, admitido nos qua-
adequada avaliação, visando à elaboração e implementa- dros do magistério público mediante concurso específico;
ção de políticas públicas voltadas para a garantia da quali- a promoção da formação inicial e continuada de profes-
dade sociocultural da Educação Escolar Indígena. sores indígenas; a elaboração e publicação sistemática de
Essa comissão será formada e terá suas funções acom- material didático, específico e diferenciado, para uso nas
panhadas no âmbito dos espaços institucionais criados nos escolas indígenas.
diferentes sistemas de ensino para tratar das políticas de Já aos Conselhos Estaduais de Educação compete o es-
Educação Escolar Indígena tais como comitês, fóruns, co- tabelecimento de critérios específicos para criação e regu-
missões ou Conselhos de Educação Escolar Indígena. larização das escolas indígenas e dos cursos de formação
6 Ação colaborativa para a garantia da Educação Esco- de professores indígenas; a autorização para o funciona-
lar Indígena mento e reconhecimento das escolas indígenas; a regula-
O direito à educação escolar diferenciada, fundamen- rização da vida escolar dos estudantes indígenas, quando
tada nos princípios comunitário, da interculturalidade, do for o caso.
bilinguismo e da especificidade, é assegurado, no plano Conforme o que estabelece a referida Resolução é fa-
formal, por dispositivos jurídicos que passam a orientar cultado aos municípios a oferta da Educação Escolar Indí-
as políticas educacionais brasileiras nas últimas décadas. gena em regime de colaboração com os respectivos esta-
Reflexo de uma conjuntura nacional e internacional preo- dos e anuência das comunidades indígenas. Foi estabele-
cupada com a garantia de uma educação escolar como di- cido o prazo de três anos para que as escolas indígenas
reito humano fundamental, as políticas de construção da mantidas pelos municípios fossem estadualizadas, caso
Educação Escolar Indígena na atualidade requerem do Es- não atendessem às exigências de terem se constituído em
tado brasileiro o reconhecimento deste direito por meio da sistemas de educação e possuírem dotações orçamentárias
construção e implementação de políticas públicas promo- para o atendimento dessa demanda escolar.
toras de justiça e equidade social e respeito à diversidade. Não obstante o avanço das Diretrizes estabelecidas por
Tais políticas carecem, para se efetivar, da articulação essa Resolução, algumas de suas determinações não fo-
entre os diferentes sistemas de ensino, definindo-se suas ram cumpridas a contento. O processo de estadualização
competências e corresponsabilidades. Desse modo, o re- ou de celebração do regime de colaboração entre Estados
gime de colaboração exigido pressupõe, no plano institu- e Municípios, por exemplo, não ocorreu em muitos casos,
cional, administrativo e organizacional, o estabelecimento mesmo quando as comunidades indígenas expressaram tal
e cumprimento de normas pelos entes federados na oferta vontade. Cabe aqui reafirmar que a coordenação das Po-
e promoção da educação escolar diferenciada para os gru- líticas de Educação Escolar Indígena é de competência do
pos indígenas. MEC, mas sua execução compete aos estados que têm a
A definição destas competências é estabelecida nos in- prerrogativa de executá-la em colaboração com os municí-
cisos I, II e III do art. 9° da Resolução CNE/CEB nº 3/99, com pios, ouvidas as comunidades indígenas.
base na Constituição Federal de 1988 e na LDB. De acordo Os Conselhos Estaduais ou Municipais de Educação
com o documento, é de responsabilidade da União legislar não criaram normas específicas para a regularização das
privativamente e definir diretrizes e políticas nacionais para escolas indígenas que funcionam, em sua maioria, sem o
a Educação Escolar Indígena; apoiar técnica e financeira- devido reconhecimento legal. O mesmo ocorre com os cur-
mente os sistemas de ensino na oferta de educação inter- sos de formação de professores indígenas, em nível médio,
cultural às comunidades indígenas, desenvolvendo progra- que carecem de uma legislação específica ainda não insti-
mas integrados de ensino e pesquisa com a participação tuída por muitos sistemas de ensino. Diante destas ques-
dessas comunidades em seu acompanhamento e avaliação, tões, faz-se necessário que os Conselhos de Educação, na
bem como na oferta de programas de formação de pro- construção de normas com vistas à regulamentação das
fessores indígenas e do pessoal técnico especializado; criar escolas indígenas e seus projetos de formação docente,
ou redefinir programas de auxílio ao desenvolvimento da reconheçam, efetivamente, as especificidades da Educação
educação, de modo que atenda às necessidades escolares Escolar Indígena, por meio de normas adequadas às suas
indígenas; orientar, acompanhar e avaliar o desenvolvimen- necessidades.
to de ações na área da formação inicial e continuada de No âmbito de uma perspectiva de ação colaborativa,
professores indígenas; elaborar e publicar, sistematicamen- é recomendável a criação dos Conselhos de Educação Es-
te, material didático específico e diferenciado, destinado às colar Indígena para que, em parceria com os Conselhos de
escolas indígenas. Educação, possam garantir o direito das comunidades indí-
Quanto ao papel dos Estados, caberá a estes a oferta genas terem seus processos de educação escolar regulari-
e execução da Educação Escolar Indígena, diretamente ou zados e reconhecidos. É importante ressaltar ainda que os
por meio do regime de colaboração com seus municípios; Conselhos de Educação Escolar Indígena, visando dar cele-
a regulamentação administrativa das escolas indígenas, ridade e legitimidade aos processos de reconhecimento e
nos respectivos estados, integrando-as como unidades regularização das escolas e cursos de formação inicial em
173
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
nível médio, podem assumir, além de funções consultivas Dentre tais ações podem se destacar a criação dos Con-
e deliberativas, funções normativas, conforme orientações selhos de Educação Escolar Indígena, da Comissão Nacio-
do Parecer CNE/CEB nº 1/2011, homologado pelo Ministro nal de Educação Escolar Indígena no MEC, das comissões
de Estado da Educação, em 15 de abril de 2011. interinstitucionais compostas por representantes indígenas
Ainda no que se refere às competências dos entes fe- e de diversas instituições nas Secretarias de Educação, Fó-
derados estabelecidas na Resolução CNE/CEB nº 3/99, ve- runs de Educação Escolar Indígena, Observatórios de Edu-
rifica-se que não foi cumprida a contento a determinação cação Escolar Indígena criados nas universidades públicas,
de criação ou adaptação de programas destinados ao de- a criação dos territórios etnoeducacionais e a realização da
senvolvimento da educação com vistas ao atendimento das I CONEEI.
especificidades da Educação Escolar Indígena, tais como Estas ações apontam para uma necessária ampliação
programas de alimentação, transporte e construção de e consolidação dos espaços de discussão para que estes
prédios escolares. Faz-se necessário então reafirmar o di- venham a desempenhar cada vez mais um papel decisório
reito das comunidades indígenas de serem ouvidas e par- e de orientação de políticas públicas educacionais, expres-
ticiparem ativamente da criação e implementação destes e sando as formas de construção de protagonismo indígena
de outros programas que afetem seus modos de constru- e do bem viver de suas comunidades ou grupos. Espera-se,
ção de continuidade sociocultural. com isso, que tais espaços assumam não apenas funções
Quanto à alimentação escolar, embora o MEC tenha consultivas junto aos diferentes sistemas de ensino, mas
estabelecido valor diferenciado para o atendimento deste que também possam deliberar e acompanhar as ações re-
programa nas escolas indígenas, há ainda a necessidade de lativas às Políticas de Educação Escolar Indígena, legitima-
criação e implantação de Conselhos de Alimentação Esco- das, sobretudo, pela participação ativa dos grupos nelas
lar, viabilizando a participação dos indígenas em sua exe- envolvidas. Em outras palavras, o que se espera que ocorra
cução e monitoramento. No tocante ao transporte escolar, é a legitimação e institucionalização dos espaços políticos
sua oferta sistemática, garantindo o acesso e permanência organizadores do diálogo entre povos indígenas, seus par-
dos estudantes indígenas nas escolas, poderá contribuir ceiros e o Estado.
para que seja atendida a demanda de ampliação do Ensi- Na construção destes espaços de debates e de deci-
no Fundamental e de criação do Ensino Médio nas escolas são, espera-se ainda que outras conferências de Educação
Escolar Indígena celebrem e fortaleçam os seus princípios
indígenas. Já no que diz respeito à construção de prédios
no intuito de consolidação do processo democrático e de
escolares, o desafio está ligado à superação de entraves
respeito e promoção das diferenças socioculturais como
burocráticos que dificultam tanto a adoção de modelos ar-
direito fundamental dos povos indígenas. Este direito está
quitetônicos adequados às peculiaridades das comunida-
ligado à garantia da utilização de processos próprios de
des indígenas, quanto a liberação e aplicação dos recursos
construção de conhecimentos e de reprodução social de
destinados a este programa, carecendo de maior flexibili-
grupos, de acordo com as lógicas e dinâmicas culturais
zação das regras instituídas pelos órgãos de financiamento
particulares às suas visões de mundo, as formas de cons-
e de execução.
trução de suas sustentabilidades e de suas relações inter-
Outra determinação não cumprida diz respeito à ques- societárias.
tão da regularização do magistério indígena por meio da Sendo assim, os processos de territorialização que
criação da categoria professor indígena e sua admissão nos orientam as relações socioculturais e históricas dos povos
quadros do serviço público via concurso específico. Para indígenas, constituindo-se em diretrizes básicas para as po-
tanto, a mobilização dos professores indígenas e o reco- líticas educacionais, devem respeitar, dentre outros impera-
nhecimento, por parte dos sistemas de ensino, da neces- tivos sociais das comunidades indígenas, o uso e gestão da
sidade de valorização e regularização jurídica do exercício Terra Indígena de acordo com os valores e conhecimentos
profissional dos docentes indígenas, constituem-se em fa- considerados adequados aos interesses e necessidades das
tor decisivo para a promoção da qualidade sociocultural da comunidades. A criação dos territórios etnoeducacionais,
Educação Escolar Indígena almejada pelos diferentes ato- em atenção a estas e outras questões demandadas pelos
res sociais nela envolvidos. grupos indígenas e seus movimentos sociais, visa construir
Estas questões, somadas a outras, se converteram em os espaços institucionais em que os entes federados, o
temas recorrentes nos vários espaços políticos de discussão movimento indígena e seus parceiros devem pactuar um
da Educação Escolar Indígena com vistas à construção de conjunto de ações no intuito de promover uma Educação
propostas escolares que efetivamente atendam às necessi- Escolar Indígena efetivamente adequada às realidades so-
dades e interesses dos grupos indígenas, como encontros ciais, históricas, culturais e ambientais dos grupos e comu-
de professores, assembleias das organizações indígenas, nidades indígenas.
cursos de formação, reuniões de fóruns ou comissões de Os territórios etnoeducacionais objetivam, então, pro-
Educação Escolar Indígena, seminários nacionais, dentre mover o regime de colaboração para promoção e gestão
outros. A partir destes debates e seus espaços institucio- da Educação Escolar Indígena, definindo as competências
nais, tanto o Estado, quanto o movimento indígena e seus comuns e privativas da União, Estados e Municípios. Têm o
parceiros, têm adotado determinadas ações no sentido de intuito, portanto, de aprimorar os processos de gestão e de
solucionar os desafios que continuam a se apresentar na financiamento da Educação Escolar Indígena. É importante
construção da Educação Escolar Diferenciada. salientar que a definição destas competências também im-
174
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
plica na definição de corresponsabilidades. Assim, agindo b) articulação com universidades que desenvolvem ati-
de forma cooperativa e colaborativa, os diferentes atores vidades de ensino, pesquisa e extensão junto aos povos
envolvidos na criação e implementação dos territórios et- indígenas, com o objetivo de oferecer cursos de especiali-
noeducacionais devem enfrentar em conjunto os desafios zação e mestrado em Educação Escolar Indígena para téc-
que se apresentam na relação entre políticas educacionais nicos que trabalham na gestão de programas de Educação
e os processos de territorialidades indígenas. Escolar Indígena, docentes formadores de professores indí-
Um destes desafios está ligado ao processo de pac- genas e implantar cursos de licenciatura para professores
tuação e execução dos planos de ação a serem firmados indígenas;
entre povos indígenas, sistemas de ensino e demais insti- c) ampliação da oferta da segunda fase do Ensino Fun-
tuições envolvidas. Faz-se necessário, para isso, a criação damental e do Ensino Médio nas escolas indígenas;
ou adaptação de mecanismos jurídicoadministrativos que d) produção de materiais didáticos que reflitam as rea-
permitam a constituição dos territórios etnoeducacionais lidades sociolinguísticas, a oralidade e os conhecimentos
em unidades executoras com dotação orçamentária pró- dos povos indígenas;
pria. Nesse sentido, os processos de colaboração e coo- e) estruturação da rede física de acordo com os interes-
peração podem ser efetivados, por exemplo, mediante o ses das comunidades, suas realidades ambientais e princí-
modelo de arranjos de desenvolvimento da educação, em pios de sustentabilidade;
conformidade com o Parecer CNE/CEB nº 9/2011 e Resolu- f) criação de espaços institucionais de diálogo, inter-
locução e compreensão, por parte dos sistemas de ensino,
ção CNE/CEB nº 1/2012, ou ainda por meio da formação de
das perspectivas sociopolíticas dos povos indígenas;
consórcios públicos (Lei nº 11.107/2005). Isto possibilitará a
g) estabelecimento de nova operacionalização dos
implementação de um modelo de gestão das políticas edu-
programas de alimentação escolar para os estudantes in-
cacionais indígenas pautado pelas ideias de protagonismo
dígenas, respeitando os padrões alimentares destas popu-
indígena, interculturalidade na promoção do diálogo entre lações e possibilitando a aquisição da produção indígena
povos indígenas, sistemas de ensino e demais instituições para suprimento dessa merenda;
envolvidas, bem como pelo aperfeiçoamento do regime de h) adequação consistente dos diversos programas fe-
colaboração. derais e estaduais de desenvolvimento da educação, tais
Nos territórios etnoeducacionais, as Comissões Gesto- como transporte escolar, livro didático, biblioteca nas esco-
ras são as responsáveis pela elaboração, pactuação, exe- las, dinheiro direto na escola, às particularidades sociocul-
cução, acompanhamento e avaliação dos planos de ação. turais e necessidades das comunidades indígenas;
Recomenda-se a criação e estruturação de uma comissão i) flexibilização das formas de contratação de professo-
nacional gestora dos territórios etnoeducacionais, com re- res e outros profissionais para as escolas indígenas, garan-
presentações de cada território, para acompanhamento e tindo-se direitos trabalhistas concomitantemente aos di-
avaliação das políticas educacionais instituídas nesses es- reitos e perspectivas coletivas das comunidades indígenas;
paços. j) articulação com outros órgãos responsáveis pelas
Na busca pelo estabelecimento deste diálogo e da políticas indigenistas, como os gestores dos programas
definição de ações colaborativas, o Conselho Nacional de de atenção à saúde indígena, proteção do meio ambiente,
Secretários da Educação (CONSED) também tem se apre- desenvolvimento sustentável etc., para melhor implemen-
sentado como agência política de importância na definição tar as ações de Educação Escolar Indígena, em particular
das políticas educacionais. Em sua reunião sobre Educa- o ensino técnico, a ser desenvolvido em harmonia com os
ção Escolar Indígena, ocorrida em Manaus, nos dias 14 e projetos de futuro de cada povo.
15 de abril de 2005, aquele colegiado expressa, na “Carta A Carta recomenda ainda que seja firmado o compro-
do Amazonas”, seus compromissos para a construção das misso entre as Secretarias Estaduais de Educação e o Minis-
ações colaborativas garantidoras da qualidade da Educa- tério da Educação visando à consolidação de orçamentos
ção Escolar Indígena. Segundo a Carta, a reunião objetivou específicos para fomento da Educação Escolar Indígena,
definir “estratégias de consolidação da Educação Escolar à qualificação e ao fortalecimento das equipes de gestão
Indígena nos sistemas de ensino”, a partir de “uma nova dos programas de Educação Escolar Indígena por meio
da oferta de cursos de formação sobre a Educação Esco-
agenda interinstitucional” estabelecida entre as Secretarias
lar Indígena e de ampliação destas equipes. Estas seriam
Estaduais de Educação e o MEC “visando garantir a quali-
estratégias interinstitucionais que aperfeiçoariam o regime
dade da educação básica intercultural oferecida nas aldeias
de colaboração “em benefício da qualidade da educação
indígenas em nosso País”. Esta qualidade seria então al-
escolar ofertada aos povos indígenas no Brasil”.
cançada por meio de ações colaborativas que deveriam ser A ação colaborativa, em síntese, constitui-se em condi-
realizadas pelo MEC e pelos sistemas estaduais de ensino. ção basilar para a garantia da qualidade social da Educação
Escolar Indígena, requerendo, dos entes federados, o com-
Para tanto, o documento adverte que alguns desafios promisso com a execução de ações formuladas, elaboradas
ainda precisam ser enfrentados, tais como: e avaliadas juntamente com as respectivas comunidades
a) formação inicial de professores indígenas no magis- indígenas. O direito a uma educação diferenciada e de
tério específico e licenciaturas interculturais para oferta de qualidade está ancorado na ideia do protagonismo indí-
educação escolar no interior das terras indígenas; gena, do desejo das comunidades indígenas em manterem
175
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
suas línguas e tradições e participarem, ativamente, da ci- Para uma analise mais detalhada segue a resolução
dadania brasileira. O cumprimento destas diretrizes requer abaixo ou vide o endereço eletrônico a seguir: (http://por-
a ação colaborativa dos entes federados, responsáveis pe- tal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0201.pdf)
las políticas de Educação Escolar Indígena, o compromisso
com a universalização da educação básica com qualidade RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2, DE 11 DE SETEMBRO DE
sociocultural para os diferentes grupos indígenas, e o diá- 2001.
logo verdadeiro e construtivo com as comunidades educa- Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial
tivas indígenas. na Educação Básica.
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con-
DIRETRIZES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL selho Nacional de Educação, de conformidade com o dis-
NA EDUCAÇÃO BÁSICA posto no Art. 9o, § 1o, alínea “c”, da Lei 4.024, de 20 de
dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei 9.131, de
A Resolução n° 2/2001, aprovada pela Câmara de Edu- 25 de novembro de 1995, nos Capítulos I, II e III do Título
cação Básica do Conselho Nacional de Educação, coloca V e nos Artigos 58 a 60 da Lei 9.394, de 20 de dezembro
para os sistemas de ensino o desafio de se organizar para de 1996, e com fundamento no Parecer CNE/CEB 17/2001,
incluir os alunos e atender suas necessidades educacionais homologado pelo Senhor Ministro de Estado da Educação
especiais. em 15 de agosto de 2001, RESOLVE:
Da Resolução CNE No. 02, de 11 de setembro de 2001,
destacamos os seguintes itens:
Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Na-
cionais para a educação de alunos que apresentem neces-
1. Define os educandos com necessidades educacio-
sidades educacionais especiais, na Educação Básica, em
nais especiais como sendo os que apresentam: “dificulda-
des acentuadas de aprendizagem ou limitações no proces- todas as suas etapas e modalidades.
so de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento Parágrafo único. O atendimento escolar desses alunos
das atividades curriculares”; vinculadas a uma causa orgâ- terá início na educação infantil, nas creches e pré-escolas,
nica específica ou relacionadas a condições, disfunções, li- assegurando-lhes os serviços de educação especial sem-
mitações ou deficiências; “dificuldades de comunicação e pre que se evidencie, mediante avaliação e interação com
sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a família e a comunidade, a necessidade de atendimento
a utilização de linguagens e códigos aplicáveis”; “altas ha- educacional especializado.
bilidades / superdotação, grande facilidade de aprendiza- Art 2º Os sistemas de ensino devem matricular todos
gem que os leve a dominar rapidamente conceitos, proce- os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o aten-
dimentos e atitudes”. dimento aos educandos com necessidades educacionais
Estabelece que a identificação das necessidades edu- especiais, assegurando as condições necessárias para uma
cacionais especiais dos alunos deve ser realizada pela es- educação de qualidade para todos.
cola, com assessoramento técnico, mediante sua avaliação Parágrafo único. Os sistemas de ensino devem co-
no processo de ensino e aprendizagem. nhecer a demanda real de atendimento a alunos com ne-
cessidades educacionais especiais, mediante a criação de
2. Reitera que o atendimento aos alunos com ne- sistemas de informação e o estabelecimento de interface
cessidades educacionais especiais deve ocorrer em classes com os órgãos governamentais responsáveis pelo Censo
comuns, indicando que as escolas comuns devem garantir: Escolar e pelo Censo Demográfico, para atender a todas
professores comuns capacitados e professores de educa- as variáveis implícitas à qualidade do processo formativo
ção especial especializados; flexibilizações e adaptações desses alunos.
curriculares; serviços de apoio especializado realizado nas Art. 3º Por educação especial, modalidade da educação
classes comuns (“mediante: colaboração de professor es- escolar, entende-se um processo educacional definido por
pecializado em educação especial, atuação de professores uma proposta pedagógica que assegure recursos e servi-
-intérpretes das linguagens e códigos aplicáveis e atuação ços educacionais especiais, organizados institucionalmente
de outros apoios necessários à aprendizagem, à locomoção
para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns ca-
e à comunicação”); extraordinariamente, classes especiais
sos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a
em caráter transitório, além de condições para reflexão e
garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento
elaboração teórica da educação inclusiva.
das potencialidades dos educandos que apresentam ne-
Estabelece, ainda, que o atendimento pode se dar, ex-
traordinariamente, em escolas especiais públicas e priva- cessidades educacionais especiais, em todas as etapas e
das, em classes hospitalares e no domicílio. modalidades da educação básica.
Refere-se à responsabilidade dos sistemas públicos de Parágrafo único. Os sistemas de ensino devem consti-
ensino pela “garantia do atendimento às necessidades du- tuir e fazer funcionar um setor responsável pela educação
cacionais especiais de seus alunos, observados os princí- especial, dotado de recursos humanos, materiais e finan-
pios da educação inclusiva”.36 ceiros que viabilizem e deem sustentação ao processo de
construção da educação inclusiva.
36 Texto adaptado de Dr. Marcos J. S. Mazzotta
176
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Art. 4º Como modalidade da Educação Básica, a edu- beneficiem das diferenças e ampliem positivamente as ex-
cação especial considerará as situações singulares, os perfis periências de todos os alunos, dentro do princípio de edu-
dos estudantes, as características bio-psicossociais dos alu- car para a diversidade;
nos e suas faixas etárias e se pautará em princípios éticos, III – flexibilizações e adaptações curriculares que con-
políticos e estéticos de modo a assegurar: siderem o significado prático e instrumental dos conteú-
I - a dignidade humana e a observância do direito de dos básicos, metodologias de ensino e recursos didáticos
cada aluno de realizar seus projetos de estudo, de trabalho diferenciados e processos de avaliação adequados ao de-
e de inserção na vida social; senvolvimento dos alunos que apresentam necessidades
II - a busca da identidade própria de cada educando, educacionais especiais, em consonância com o projeto
o reconhecimento e a valorização das suas diferenças e pedagógico da escola, respeitada a frequência obrigatória;
potencialidades, bem como de suas necessidades educa- IV – serviços de apoio pedagógico especializado, reali-
cionais especiais no processo de ensino e aprendizagem, zado, nas classes comuns, mediante:
como base para a constituição e ampliação de valores, ati- a) atuação colaborativa de professor especializado em
tudes, conhecimentos, habilidades e competências; educação especial;
III - o desenvolvimento para o exercício da cidadania, b) atuação de professores- intérpretes das linguagens
da capacidade de participação social, política e econômica e códigos aplicáveis;
e sua ampliação, mediante o cumprimento de seus deveres c) atuação de professores e outros profissionais itine-
e o usufruto de seus direitos. rantes intra e interinstitucionalmente;
Art. 5º Consideram-se educandos com necessidades d) disponibilização de outros apoios necessários à
educacionais especiais os que, durante o processo educa- aprendizagem, à locomoção e à comunicação.
cional, apresentarem: V – serviços de apoio pedagógico especializado em
I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limi- salas de recursos, nas quais o professor especializado em
tações no processo de desenvolvimento que dificultem o educação especial realize a complementação ou suplemen-
acompanhamento das atividades curriculares, compreen- tação curricular, utilizando procedimentos, equipamentos e
materiais específicos;
didas em dois grupos:
VI – condições para reflexão e elaboração teórica da
a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica espe-
educação inclusiva, com protagonismo dos professores,
cífica;
articulando experiência e conhecimento com as necessida-
b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limita-
des/possibilidades surgidas na relação pedagógica, inclu-
ções ou deficiências;
sive por meio de colaboração com instituições de ensino
II – dificuldades de comunicação e sinalização diferen-
superior e de pesquisa;
ciadas dos demais alunos, demandando a utilização de lin- VII – sustentabilidade do processo inclusivo, median-
guagens e códigos aplicáveis; te aprendizagem cooperativa em sala de aula, trabalho de
III - altas habilidades/superdotação, grande facilidade equipe na escola e constituição de redes de apoio, com a
de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente con- participação da família no processo educativo, bem como
ceitos, procedimentos e atitudes. de outros agentes e recursos da comunidade;
Art. 6º Para a identificação das necessidades educacio- VIII – temporalidade flexível do ano letivo, para aten-
nais especiais dos alunos e a tomada de decisões quanto der às necessidades educacionais especiais de alunos com
ao atendimento necessário, a escola deve realizar, com as- deficiência mental ou com graves deficiências múltiplas,
sessoramento técnico, avaliação do aluno no processo de de forma que possam concluir em tempo maior o currícu-
ensino e aprendizagem, contando, para tal, com: lo previsto para a série/etapa escolar, principalmente nos
I - a experiência de seu corpo docente, seus diretores, anos finais do ensino fundamental, conforme estabelecido
coordenadores, orientadores e supervisores educacionais; por normas dos sistemas de ensino, procurando-se evitar
II - o setor responsável pela educação especial do res- grande defasagem idade/série;
pectivo sistema; IX – atividades que favoreçam, ao aluno que apresente
III – a colaboração da família e a cooperação dos servi- altas habilidades/superdotação, o aprofundamento e en-
ços de Saúde, Assistência Social, Trabalho, Justiça e Espor- riquecimento de aspectos curriculares, mediante desafios
te, bem como do Ministério Público, quando necessário. suplementares nas classes comuns, em sala de recursos ou
Art. 7º O atendimento aos alunos com necessidades em outros espaços definidos pelos sistemas de ensino, in-
educacionais especiais deve ser realizado em classes co- clusive para conclusão, em menor tempo, da série ou etapa
muns do ensino regular, em qualquer etapa ou modalidade escolar, nos termos do Artigo 24, V, “c”, da Lei 9.394/96.
da Educação Básica. Art. 9o As escolas podem criar, extraordinariamente,
Art. 8o As escolas da rede regular de ensino devem classes especiais, cuja organização fundamente-se no Capí-
prever e prover na organização de suas classes comuns: tulo II da LDBEN, nas diretrizes curriculares nacionais para a
I - professores das classes comuns e da educação es- Educação Básica, bem como nos referenciais e parâmetros
pecial capacitados e especializados, respectivamente, para curriculares nacionais, para atendimento, em caráter tran-
o atendimento às necessidades educacionais dos alunos; sitório, a alunos que apresentem dificuldades acentuadas
II - distribuição dos alunos com necessidades educa- de aprendizagem ou condições de comunicação e sinaliza-
cionais especiais pelas várias classes do ano escolar em que ção diferenciadas dos demais alunos e demandem ajudas e
forem classificados, de modo que essas classes comuns se apoios intensos e contínuos.
177
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
§ 1o Nas classes especiais, o professor deve desenvol- a língua de sinais, sem prejuízo do aprendizado da língua
ver o currículo, mediante adaptações, e, quando necessá- portuguesa, facultando- lhes e às suas famílias a opção
rio, atividades da vida autônoma e social no turno inverso. pela abordagem pedagógica que julgarem adequada, ou-
§ 2o A partir do desenvolvimento apresentado pelo vidos os profissionais especializados em cada caso.
aluno e das condições para o atendimento inclusivo, a Art. 13. Os sistemas de ensino, mediante ação integra-
equipe pedagógica da escola e a família devem decidir da com os sistemas de saúde, devem organizar o atendi-
conjuntamente, com base em avaliação pedagógica, quan- mento educacional especializado a alunos impossibilitados
to ao seu retorno à classe comum. de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde
Art. 10. Os alunos que apresentem necessidades edu- que implique internação hospitalar, atendimento ambula-
cacionais especiais e requeiram atenção individualizada torial ou permanência prolongada em domicílio.
nas atividades da vida autônoma e social, recursos, ajudas § 1o As classes hospitalares e o atendimento em am-
e apoios intensos e contínuos, bem como adaptações cur- biente domiciliar devem dar continuidade ao processo de
riculares tão significativas que a escola comum não consiga desenvolvimento e ao processo de aprendizagem de alu-
prover, podem ser atendidos, em caráter extraordinário, em nos matriculados em escolas da Educação Básica, contri-
escolas especiais, públicas ou privadas, atendimento esse buindo para seu retorno e reintegração ao grupo escolar,
e desenvolver currículo flexibilizado com crianças, jovens
complementado, sempre que necessário e de maneira ar-
e adultos não matriculados no sistema educacional local,
ticulada, por serviços das áreas de Saúde, Trabalho e Assis-
facilitando seu posterior acesso à escola regular.
tência Social.
§ 2o Nos casos de que trata este Artigo, a certificação
§ 1º As escolas especiais, públicas e privadas, devem
de frequência deve ser realizada com base no relatório ela-
cumprir as exigências legais similares às de qualquer escola borado pelo professor especializado que atende o aluno.
quanto ao seu processo de credenciamento e autorização Art. 14. Os sistemas públicos de ensino serão respon-
de funcionamento de cursos e posterior reconhecimento. sáveis pela identificação, análise, avaliação da qualidade e
§ 2º Nas escolas especiais, os currículos devem ajustar- da idoneidade, bem como pelo credenciamento de escolas
se às condições do educando e ao disposto no Capítulo II ou serviços, públicos ou privados, com os quais estabele-
da LDBEN. cerão convênios ou parcerias para garantir o atendimento
§ 3o A partir do desenvolvimento apresentado pelo às necessidades educacionais especiais de seus alunos, ob-
aluno, a equipe pedagógica da escola especial e a família servados os princípios da educação inclusiva.
devem decidir conjuntamente quanto à transferência do Art. 15. A organização e a operacionalização dos cur-
aluno para escola da rede regular de ensino, com base em rículos escolares são de competência e responsabilidade
avaliação pedagógica e na indicação, por parte do setor dos estabelecimentos de ensino, devendo constar de seus
responsável pela educação especial do sistema de ensino, projetos pedagógicos as disposições necessárias para o
de escolas regulares em condição de realizar seu atendi- atendimento às necessidades educacionais especiais de
mento educacional. alunos, respeitadas, além das diretrizes curriculares nacio-
Art. 11. Recomenda-se às escolas e aos sistemas de en- nais de todas as etapas e modalidades da Educação Básica,
sino a constituição de parcerias com instituições de ensino as normas dos respectivos sistemas de ensino.
superior para a realização de pesquisas e estudos de caso Art. 16. É facultado às instituições de ensino, esgotadas
relativos ao processo de ensino e aprendizagem de alunos as possibilidades pontuadas nos Artigos 24 e 26 da LDBEN,
com necessidades educacionais especiais, visando ao aper- viabilizar ao aluno com grave deficiência mental ou múlti-
feiçoamento desse processo educativo. pla, que não apresentar resultados de escolarização previs-
Art. 12. Os sistemas de ensino, nos termos da Lei tos no Inciso I do Artigo 32 da mesma Lei, terminalidade
10.098/2000 e da Lei 10.172/2001, devem assegurar a aces- específica do ensino fundamental, por meio da certificação
sibilidade aos alunos que apresentem necessidades educa- de conclusão de escolaridade, com histórico escolar que
cionais especiais, mediante a eliminação de barreiras arqui- apresente, de forma descritiva, as competências desenvol-
vidas pelo educando, bem como o encaminhamento devi-
tetônicas urbanísticas, na edificação – incluindo instalações,
do para a educação de jovens e adultos e para a educação
equipamentos e mobiliário – e nos transportes escolares,
profissional.
bem como de barreiras nas comunicações, provendo as es-
Art. 17. Em consonância com os princípios da educa-
colas dos recursos humanos e materiais necessários.
ção inclusiva, as escolas das redes regulares de educação
§ 1o Para atender aos padrões mínimos estabelecidos profissional, públicas e privadas, devem atender alunos que
com respeito à acessibilidade, deve ser realizada a adapta- apresentem necessidades educacionais especiais, median-
ção das escolas existentes e condicionada a autorização de te a promoção das condições de acessibilidade, a capacita-
construção e funcionamento de novas escolas ao preenchi- ção de recursos humanos, a flexibilização e adaptação do
mento dos requisitos de infraestrutura definidos. currículo e o encaminhamento para o trabalho, contando,
§ 2o Deve ser assegurada, no processo educativo de para tal, com a colaboração do setor responsável pela edu-
alunos que apresentam dificuldades de comunicação e si- cação especial do respectivo sistema de ensino.
nalização diferenciadas dos demais educandos, a acessibi- § 1o As escolas de educação profissional podem rea-
lidade aos conteúdos curriculares, mediante a utilização de lizar parcerias com escolas especiais, públicas ou privadas,
linguagens e códigos aplicáveis, como o sistema Braille e tanto para construir competências necessárias à inclusão
178
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
de alunos em seus cursos quanto para prestar assistência § 4º Aos professores que já estão exercendo o magisté-
técnica e convalidar cursos profissionalizantes realizados rio devem ser oferecidas oportunidades de formação con-
por essas escolas especiais. tinuada, inclusive em nível de especialização, pelas instân-
§ 2o As escolas das redes de educação profissional po- cias educacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal
dem avaliar e certificar competências laborais de pessoas e dos Municípios.
com necessidades especiais não matriculadas em seus cur- Art. 19. As diretrizes curriculares nacionais de todas as
sos, encaminhando-as, a partir desses procedimentos, para etapas e modalidades da Educação Básica estendem-se
o mundo do trabalho. para a educação especial, assim como estas Diretrizes Na-
Art. 18. Cabe aos sistemas de ensino estabelecer nor- cionais para a Educação Especial estendem-se para todas
mas para o funcionamento de suas escolas, a fim de que as etapas e modalidades da Educação Básica.
essas tenham as suficientes condições para elaborar seu Art. 20. No processo de implantação destas Diretrizes
projeto pedagógico e possam contar com professores ca- pelos sistemas de ensino, caberá às instâncias educacionais
pacitados e especializados, conforme previsto no Artigo 59 da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
da LDBEN e com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais em regime de colaboração, o estabelecimento de referen-
para a Formação de Docentes da Educação Infantil e dos ciais, normas complementares e políticas educacionais.
Art. 21. A implementação das presentes Diretrizes Na-
Anos Iniciais
cionais para a Educação Especial na Educação Básica será
do Ensino Fundamental, em nível médio, na modali-
obrigatória a partir de 2002, sendo facultativa no período
dade Normal, e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para
de transição compreendido entre a publicação desta Reso-
a Formação de Professores da Educação Básica, em nível lução e o dia 31 de dezembro de 2001.
superior, curso de licenciatura de graduação plena. Art. 22. Esta Resolução entra em vigor na data de sua
§ 1º São considerados professores capacitados para publicação e revoga as disposições em contrário.
atuar em classes comuns com alunos que apresentam ne- FRANCISCO APARECIDO CORDÃO
cessidades educacionais especiais aqueles que comprovem Presidente da Câmara de Educação Básica
que, em sua formação, de nível médio ou superior, foram
incluídos conteúdos sobre educação especial adequados
ao desenvolvimento de competências e valores para: DIRETRIZES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO DAS RE-
I – perceber as necessidades educacionais especiais LAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
dos alunos e valorizar a educação inclusiva; O parecer e a resolução que instituíram as “Diretrizes
II - flexibilizar a ação pedagógica nas diferentes áreas curriculares nacionais para a educação das relações étnico
de conhecimento de modo adequado às necessidades es- -raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira
peciais de aprendizagem; e africana” foram aprovados pelo Conselho Nacional de
III - avaliar continuamente a eficácia do processo edu- Educação (CNE) em março de 2004 e homologados pelo
cativo para o atendimento de necessidades educacionais Ministério da Educação (MEC) em junho do mesmo ano.
especiais; A resolução foi resultante do Parecer CNE/CP 3/2004, que
teve como relatora a conselheira Petronilha Beatriz Gon-
IV - atuar em equipe, inclusive com professores espe-
çalves e Silva, da Câmara de Educação Superior do CNE. As
cializados em educação especial.
“Diretrizes” visam a atender à Lei nº 10.639/2003, que esta-
§ 2º São considerados professores especializados em beleceu a obrigatoriedade do ensino de história e cultura
educação especial aqueles que desenvolveram competên- afro-brasileira e africana nas escolas do país.1
cias para identificar as necessidades educacionais especiais Desde o final da década de 1990, as noções de cultura e
para definir, implementar, liderar e apoiar a implementação diversidade cultural, assim como de identidades e relações
de estratégias de flexibilização, adaptação curricular, pro- étnico-raciais, começaram a se fazer presentes nas norma-
cedimentos didáticos pedagógicos e práticas alternativas, tizações estabelecidas pelo MEC com o objetivo de regular
adequados ao atendimentos das mesmas, bem como tra- o exercício do ensino fundamental e médio, especialmente
balhar em equipe, assistindo o professor de classe comum na área de história. Isso não aconteceu por acaso. É na ver-
nas práticas que são necessárias para promover a inclusão dade um dos sinais mais significativos de um novo lugar
dos alunos com necessidades educacionais especiais. político e social conquistado pelos chamados movimentos
§ 3º Os professores especializados em educação espe- negros e anti-racistas no processo político brasileiro, e no
cial deverão comprovar: campo educacional em especial.2
I - formação em cursos de licenciatura em educação Como reza um velho ditado, não é bom perguntar
especial ou em uma de suas áreas, preferencialmente de como são feitas as leis e as salsichas. Determinações legais
modo concomitante e associado à licenciatura para educa- são fruto do encontro de múltiplas intenções e vontades.
ção infantil ou para os anos iniciais do ensino fundamental; Os documentos finais nesse tipo de processo são, antes de
tudo, o resultado de muita negociação. Uma maneira co-
II - complementação de estudos ou pós-graduação em
mum de os especialistas fazerem uma leitura crítica desses
áreas específicas da educação especial, posterior à licencia-
documentos, especialmente aqueles que não se envolve-
tura nas diferentes áreas de conhecimento, para atuação
ram com o processo de sua preparação, é procurar des-
nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio; tacar suas falhas, simplificações e possíveis contradições.
179
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Não é o que faremos aqui. Tanto os “Parâmetros curricula- realidades brasileiras? Como estimular a convivência e a to-
res nacionais” (PCNs) como as “Diretrizes curriculares na- lerância interculturais sem pensar em mestiçagens e trocas,
cionais para a educação das relações étnico-raciais e para especialmente culturais, mesmo que agora no plural? O
o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana” têm que deve significar, de fato, a noção de pluralidade cultural
hoje força de lei e representam uma vontade de democrati- quando aplicada à realidade escolar brasileira? Esses são
zação e correção de desigualdades históricas na sociedade pontos-chave para uma leitura crítica da noção de plurali-
brasileira. Na prática, eles serão o que as escolas e os pro- dade cultural nos PCNs. O texto aprovado não impõe uma
fessores que os implementarem fizerem. O que é possível leitura unívoca da questão.
fazer a partir deles? De fato, pensar tal prática implica enfrentar, mesmo
Este artigo foi originalmente pensado como texto-base que rapidamente, algumas questões teóricas. Que concei-
para um Curso de Ensino de História e Cultura Africana e to de cultura deverá ser utilizado quando as “pluralidades
Afro-Brasileira. Construído a partir de nossa experiência de culturais” forem efetivamente problematizadas em sala de
ensino e pesquisa, possui um sentido evidentemente prá- aula, em cada uma das disciplinas que compõem a grade
tico, ao procurar criar subsídios para o trabalho dos histo- do ensino fundamental?
riadores. Em uma certa leitura dos documentos, parte-se do
princípio de que a uma cultura corresponde sempre uma
O tema transversal da “pluralidade cultural” nos PCNs
identidade. Nesse caso, o leitor é levado a trabalhar com
Os PCNs, aprovados pelo MEC em 1996, introduziram
dois modelos opostos para a relação cultura-identidade:
no ensino conteúdos de história africana. Sem dúvida, pre-
o velho modelo cultura brasileira mestiça = identidade
cederam e prepararam as “Diretrizes”. As conexões entre os
dois textos, produzidos por governos de orientação política brasileira mestiça versus um novo modelo, multicultural,
distinta, revelam como esse tipo de intervenção resultou formado a partir do somatório das diversas subculturas =
principalmente do crescimento da força política dos movi- identidades formadoras da nacionalidade brasileira (afro
mentos negros na sociedade brasileira pós-redemocratiza- -brasileira, ítalo-brasileira, polonesa-brasileira, alemã-bra-
ção, e da formação de um novo consenso no campo peda- sileira etc.).
gógico em relação ao chamado “mito da democracia racial” Pode-se, porém, formular o problema de outra forma.
no Brasil. Pelos dois documentos oficiais, fica evidente que Podemos pensar a cultura como processo, e as identidades
não é mais possível pensar o Brasil sem uma discussão da coletivas como construções culturais, por isso históricas e
questão racial. relacionais. Nesse modelo, as identidades culturais são li-
Os PCNs definiram como tema transversal a ser abor- teralmente construídas no processo histórico. Não existem
dado em todo o ensino fundamental a “pluralidade cultu- antes ou além dele. Dependem, em cada caso, das formas
ral”: históricas em que as fronteiras entre nós e os outros se
A idéia veiculada na escola de um Brasil sem diferenças, constroem, se reproduzem ou se modificam (Barth, 2000;
formado originalmente pelas três raças - o índio, o branco Cerutti, 1998). Nesse sentido, as pluralidades culturais po-
e o negro - que se dissolveram dando origem ao brasileiro, dem permitir problematizar de forma criativa a multiplici-
também tem sido difundida nos livros didáticos, neutra- dade (ou homogeneidade) cultural que efetivamente com-
lizando as diferenças culturais e, às vezes, subordinando põe cada ambiente escolar. Podem ajudar a investigação,
uma cultura à outra. Divulgou-se, então, uma concepção na sala de aula, na escola e no bairro, sobre as identidades
de cultura uniforme, depreciando as diversas contribuições construídas pelos alunos ou a eles atribuídas. Todos os alu-
que compuseram e compõem a identidade nacional. (Bra- nos se atribuem as mesmas categorias de cor, religião ou
sil, 1998: 126). ascendência? Estamos num ambiente multiétnico e plural
De fato, essa concepção de uma cultura uniforme é do ponto de vista cultural, religioso ou musical? Como isso
uma construção fortemente enraizada na produção de ma- se produziu historicamente? O tema transversal da plura-
terial didático no Brasil e faz parte de uma das representa- lidade cultural, entendido de forma dinâmica e histórica,
ções mais comuns da chamada identidade brasileira. Uma
possui um grande potencial de inclusão e de educação
identidade que se construiu a partir de percepções conver-
para a tolerância, objetivos centrais a serem perseguidos
gentes, eruditas e populares, da efetividade de uma cultura
pelos educadores.
brasileira. Ou seja, a uma cultura brasileira mestiça corres-
Muitos dos críticos do texto dos PCNs - e por exten-
ponderia uma identidade brasileira igualmente mestiça,
sem conflitos, hierarquias e diferenças. O texto dos PCNs são do das “Diretrizes” - o acusam de estar baseado numa
enfatiza o papel homogeneizador dessa formulação ante- perspectiva que transforma as subculturas étnicas e raciais
rior, que encobria com o silêncio, entre outras diferenças, em conjuntos fechados, homogêneos e sem conflitos, a
uma realidade de discriminação racial reproduzida desde exemplo do que antes se fazia com a noção de cultura e
cedo no ambiente escolar (Brasil, 1998: 15). identidade nacional mestiça. Apesar de esta ser efetiva-
Na prática, porém, como romper com a noção de mente uma leitura possível e comum dos sentidos do tema
um Brasil mestiço sem reificar grupos culturais igualmen- transversal da pluralidade cultural nos PCNs, o texto tam-
te homogêneos, fechados ou semifechados, num padrão bém se abre a outras interpretações. Em alguns trechos, os
multicultural bastante difundido a partir da experiência autores buscaram enfatizar que não se tratava de dividir
norte-americana, mas certamente artificial em relação às a sociedade brasileira em grupos culturalmente fechados,
180
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
mas de educar com vistas a estimular a convivência entre De fato, em muitos trechos do documento, negros e
tradições e práticas culturais diferenciadas presentes na so- brancos aparecem como expressões distintas e bem defi-
ciedade brasileira, educar para a tolerância e o respeito às nidas, diretamente referidas a descendentes de senhores
diversidades, fossem elas culturais, lingüísticas, étnico-ra- (europeus) e de escravos (africanos), como se tal operação
ciais, regionais ou religiosas (Brasil, 1998: 124-125). fosse simples e possível.
Por outro lado, em muitos outros trechos, o documen-
Educação das relações étnico-raciais e identidade ne- to esclarece que entende a noção de raça como construção
gra social e histórica produzida pelo advento do racismo mo-
Já nos PCNs, portanto, ainda que sem uma proposta derno, optando por abordar historicamente a construção
específica, a questão da educação das relações étnico-ra- da noção de identidade negra.
ciais formava um importante pano de fundo para o eixo Em primeiro lugar, é importante esclarecer que ser ne-
transversal da pluralidade cultural. Ela se tornará o foco gro no Brasil não se limita às características físicas. Trata-se,
central da Lei nº 10.639/2003 e do parecer aprovado pelas também, de uma escolha política. Por isso, o é quem assim
“Diretrizes”. Diferentemente dos PCNs, as novas medidas se define. [...]
aprovadas não se referem apenas à pluralidade cultural, É importante tomar conhecimento da complexidade
que envolve o processo de construção da identidade negra
mas se propõem desenvolver diretamente políticas de re-
em nosso país. Processo esse marcado por uma sociedade
paração e de ação afirmativa em relação às populações
que, para discriminar os negros, utiliza-se tanto da desva-
afro-descendentes. As “Diretrizes” trazem para o âmbito lorização da cultura de matriz africana como dos aspectos
da escola, pela primeira vez, a importante discussão das físicos herdados pelos descendentes de africanos. Nesse
relações raciais no Brasil e o combate ao racismo, tantas processo complexo, é possível, no Brasil, que algumas pes-
vezes silenciado ou desqualificado pelas avaliações de que soas de tez clara e traços físicos europeus, em virtude de o
o Brasil era uma democracia racial. É importante lembrar, pai ou a mãe ser negro(a), se designem negros; que outros,
entretanto, que a construção da idéia de democracia racial com traços físicos africanos, se digam brancos. É preciso
no Brasil se fez, especialmente a partir das décadas de 30 e lembrar que o termo negro começou a ser usado pelos
40 do século XX, em oposição às teorias racistas, anteriores senhores para designar pejorativamente os escravizados e
e concorrentes, que pregavam o “branqueamento” da po- este sentido negativo da palavra se estende até hoje. Con-
pulação brasileira (Guimarães, 2002: cap. 3). De fato, foi a tudo, o Movimento Negro ressignificou esse termo dando-
relativa continuidade entre a ideologia do branqueamento lhe um sentido político e positivo. Lembremos os motes
e a noção de democracia racial que fez essa perspectiva ser muito utilizados no final dos anos 1970 e no decorrer dos
avaliada, especialmente a partir da década de 1960, como anos 1980, 1990: Negro é lindo! Negra, cor da raça brasilei-
um mito (Fernandes, 1978: 249-269). É o chamado “mito da ra! Negro que te quero negro! 100% Negro! Não deixe sua
democracia racial”, um dos eixos centrais abordados e de- cor passar em branco! Este último utilizado na campanha
nunciados pelas “Diretrizes”. Também redigido por especia- do censo de 1990. (Brasil, 2004: 15)
listas, no âmbito do campo especificamente pedagógico, Assim, de acordo com o parecer aprovado nas “Dire-
o texto do parecer aprovado pelas “Diretrizes” possui um trizes”, é a forma de auto-identificação que conta, e ela
tom claramente mais político que o dos PCNs, já que di- pode se alterar de pessoa a pessoa, dependendo de como
retamente relacionado à questão do combate ao racismo. cada um se relaciona, do ponto de vista político, com a
De maneira inequívoca, educadores diretamente ligados memória de uma ascendência africana em qualquer nível.
aos movimentos negros respondem agora pela redação do De fato, de um ponto de vista histórico, a identidade bran-
documento. Nesse sentido, o parecer se propõe “oferecer ca se construiu no Brasil em aproximação com a condição
uma resposta, entre outras, na área da educação, à deman- de liberdade e a memória dela, e a identidade negra, em
aproximação com a escravidão. Tais identidades se consti-
da da população afro-descendente, no sentido de políticas
tuíram como pólos entre os quais circula uma expressiva
de ações afirmativas, isto é, de políticas de reparações, e
maioria de mestiços biológicos ou culturais. De um jeito
de reconhecimento e valorização de sua história, cultura,
ou de outro, portanto, efetivamente há estigmas a serem
identidade”. combatidos e revertidos.
Os objetivos mais evidentemente políticos do parecer Desde o período colonial, as cores hierarquizavam não
fizeram crescer as críticas acadêmicas ao texto. Uma crítica apenas livres e escravos, mas uma crescente população li-
à “essencialização” dos grupos culturais, ou seja, a pensá vre descendente de antigos escravizados que se alforria-
-los como realidades fixas e imutáveis que precedem os vam das mais diversas maneiras. Silenciar sobre elas foi
processos sociais em que estão inseridos, se aprofundou. uma das formas históricas encontradas para tentar negar
De fato, muitos críticos consideraram especialmente da- essas hierarquias (Mattos, 2000). De fato, elas continuavam
nosa essa tendência, que levaria a uma naturalização dos a atuar, mesmo depois do fim da escravidão, discriminando
grupos étnico-raciais, com a possibilidade de tornar mais todos aqueles que não podiam por seu fenótipo escapar
rígidas e tensas fronteiras étnico-raciais tradicionalmente da classificação de “negro”. Esse o sentido profundo da res-
bastante difusas na sociedade brasileira. Para esses críti- significação levada a cabo pelos movimentos negros da se-
cos, a aprovação do parecer podia acabar por favorecer o gunda metade do século XX. Assumir-se negro(a) passou a
oposto dos seus objetivos, acirrando contradições raciais significar a incorporação, com orgulho, da herança cultural
explícitas, até então tidas como pouco expressivas na maior de milhões de africanos aqui chegados como escravos ao
parte do país. longo de mais de três séculos.
181
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Mesmo assim, não é possível no Brasil, em termos his- Colocando no centro do debate conceitos de raça,
tóricos, separar de forma rígida negros e brancos como identidade negra, racismo, democracia racial, cultura ne-
se fossem, respectivamente, descendentes de senhores e gra, cultura afro-brasileira, pluralidade cultural e cultura
de escravos. Muitos africanos e descendentes de africanos brasileira, a política educacional proposta pelas “Diretrizes”
tornaram-se senhores de escravos; as relações interétnicas exige o aprofundamento desses conceitos e sua contex-
e a chamada ideologia do branqueamento tornaram bran- tualização no processo histórico. Para além do evidente
cos muitos descendentes de cativos. Por sobre eles, uma envolvimento de educadores, as “Diretrizes” convocam os
prática de silenciar a respeito das cores, ou de multiplicá profissionais de história para uma ampla reflexão sobre a
-las num quase arco-íris descritivo, procurou também des- história da cultura afro-brasileira, em suas dimensões de
construir o continuum hierárquico branco/preto, herdado pesquisa e ensino.
da experiência colonial. Negros e brancos são construções Nos últimos anos, diversos grupos dos movimentos ne-
históricas bastante problemáticas e de fronteira difusa na
gros, artistas, integrantes de grupos culturais e intelectuais
experiência brasileira. Trata-se, portanto, de uma opção
negros da academia têm reivindicado o “reconhecimento”,
política de combate ao racismo quando o parecer apro-
vado pelas “Diretrizes” se refere à dicotomia negro/branco a valorização e a afirmação da identidade e dos direitos
como se fosse um dado permanente e imutável, não sujeito dos afro-brasileiros. Como afirmam as próprias “Diretrizes”,
a controvérsias, nas relações sociais vigentes no país, como o “reconhecimento” exige justiça e igualdade de direitos
no trecho a seguir: sociais, civis, econômicos e culturais, assim como “a adoção
Pedagogias de combate ao racismo e a discriminações de políticas educacionais e de estratégias pedagógicas que
elaboradas com o objetivo de educação das relações étni- valorizem a diversidade, visando superar a desigualdade
co/raciais positivas têm como objetivo fortalecer entre os étnico-racial presente na educação escolar brasileira, nos
negros e despertar entre os brancos a consciência negra. diferentes níveis de ensino” (Brasil, 2004: 12).
Entre os negros, poderão oferecer conhecimentos e segu- O “reconhecimento” ainda exige o questionamento
rança para orgulharem-se da sua origem africana; para os das visões sobre as relações raciais no Brasil, assim como
brancos, poderão permitir que identifiquem as influências, a valorização e o respeito à história da resistência negra
a contribuição, a participação e a importância da história e da cultura dos africanos e seus descendentes. Recentes
e da cultura dos negros no seu jeito de ser, viver, de se pesquisas sobre a organização e os significados da família
relacionar com as outras pessoas, notadamente as negras. escrava, sobre as lutas dos escravos e libertos pela reali-
(Brasil, 2004:16) zação de suas festas e crenças, sobre as fugas, quilombos
A diversidade de posições sobre questão tão contro- e revoltas, ou sobre a luta dos próprios escravos e seus
versa, no interior do próprio campo intelectual ligado aos
descendentes pela abolição já têm recebido espaço de di-
movimentos negros, parece estar de alguma forma inscrita
vulgação, embora ainda pequeno, nos livros didáticos, nos
nas “Diretrizes” aprovadas. Levando isso em conta, enten-
de-se como perspectivas opostas ou conflitantes de fixa- cursos de atualização de professores e em revistas de gran-
ção de uma determinada cultura negra, por um lado, e de de circulação.
historicização da identidade negra, por outro, podem estar A história da cultura afro-brasileira e africana, entretan-
presentes e se alternar ao longo do texto. to, assim como a problematização desses conceitos, não
Como no caso dos PCNs, a resolução dessa tensão não tem recebido a mesma atenção e divulgação. Como todos
pode ser encontrada no texto do documento aprovado. os conceitos, eles precisam ser entendidos como catego-
Será feita pelas escolhas do educador em cada escola e rias politicamente construídas ao longo da história por su-
sala de aula. jeitos e movimentos sociais que os trouxeram à tona (ou os
recriaram) e os elegeram como fundamentais.
Diretrizes para o ensino de história e cultura afro-bra- Assumir naturalmente a existência de identidades ne-
sileira e africana gras ou de uma cultura afro-brasileira é perder a dimensão
A divulgação das “Diretrizes curriculares nacionais para das lutas travadas em torno da construção de identidades
a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de - mestiça, indígena, popular, brasileira ou regional - ao lon-
história e cultura afro-brasileira e africana” trouxe aos pro- go da história do Brasil. Sendo assim, é preciso chamar a
fissionais de história, professores e pesquisadores, novos atenção para a importância de pensar a história dos con-
desafios. Questões diversas vezes levantadas por historia- ceitos da cultura negra (e/ou afro-brasileira) e das identi-
dores e por sujeitos sociais ligados aos movimentos ne-
dades negras.
gros, como a continuidade das desigualdades raciais após
Em termos culturais, a tendência do documento das
a abolição da escravidão, tornam-se, com essa oportunida-
de, motivo e incentivo para a implantação de uma política “Diretrizes” é afirmar a existência de uma cultura negra e
educacional. Visando à educação e à transformação das africana em oposição a um padrão cultural e estético bran-
relações étnico-raciais, e criando pedagogias de combate co e europeu. Persistiria no Brasil um “imaginário étnico
ao racismo e às discriminações, o caminho escolhido pelas -racial” que ignora ou pouco valoriza as raízes indígena,
“Diretrizes” foi a valorização da história e cultura dos afro africana e asiática de nossa cultura (Brasil, 2004:14). As
-brasileiros (Brasil, 2004: 9). Sendo assim, é preciso chamar “Diretrizes”, com essa perspectiva, acabam sugerindo e
a atenção para a importância dos conceitos de cultura e defendendo a existência das culturas européia, africana e
identidade negras (e/ou afro-brasileiras). indígena, abrindo mão de pensar o quanto as identidades
182
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
culturais são construções e campos de luta também histo- um elemento fundamental da cultura política negra desde
ricamente datados, como a própria utilização dos termos o período escravista, quando era negado aos escravos o
que fazem referência ao conceito de raça. Os processos de direito à alfabetização. Talvez exatamente por isso a “mú-
troca cultural e hibridização das culturas não são mencio- sica negra” tenha sido escolhida, já no início do século XX,
nados como possibilidades reais de trabalho com culturas. pela liderança negra norte-americana e caribenha, como
Se, em termos políticos, é bastante compreensível a o maior símbolo de uma imaginada autenticidade racial.
utilização dos conceitos de cultura negra e/ou afro-brasi- Mas, em meio a políticas de autenticidade, é fundamental
leira, deve-se levar em conta seus problemas em termos não perder de vista a existência dos intercâmbios culturais,
interpretativos ou descritivos. O que realmente é negro na dos processos de hibridez e sincretismo de idéias que se
cultura brasileira, ou, como formulou Stuart Hall, “que ‘ne- processavam (e se processam) nos dois lados do mundo
gro’ é esse na cultura negra”? (Hall, 2003: 335) Os negros atlântico.
não poderiam partilhar da dita cultura européia ou branca? Mas como articular identidades negras e culturas híbri-
E os reconhecidos brancos não poderiam se identificar com das? Para Gilroy, procurando livrar-se dos essencialismos
práticas culturais costumeiramente atribuídas aos descen- culturais. As tradições inventadas de expressão musical ne-
dentes de africanos no Brasil? gra são pensadas dentro de uma prática de cultura política
A idéia do nascimento de uma cultura afro-americana e política cultural. As disputas atuais sobre a autenticidade
tem sido pensada na sua dimensão política, conceitual e da música negra (no caso do Brasil, as discussões sobre a
histórica. Se há uma série de práticas culturais no Brasil, ou origem do samba e do funk são emblemáticas) devem ser
nas Américas, que podem ser “localizadas” na África, é im- vistas como portadoras de uma inegável significação polí-
portante discutir os significados dessas continuidades. Mas tica. Para o autor, “as culturas do Atlântico negro teriam um
não só das continuidades, já que não é possível pensar a caráter desavergonhadamente híbrido” (Gilroy, 2001: 204).
permanência de uma cultura apenas africana (e/ou negra) Stuart Hall, por sua vez, também aborda o impasse en-
nas Américas. Ou seja, inversamente, também é importante tre identidade negra e essência cultural. Para o autor, “o
pensar as descontinuidades, ou o que os descendentes de momento essencializante é fraco porque naturaliza e des
africanos fazem (ou fizeram) no Brasil que não se encontra -historiciza a diferença, confunde o que é histórico e cultu-
na África. Como pensar a herança africana nas Américas? ral com o que é natural e biológico e genético. No momen-
Até que ponto os africanos não criaram uma nova cultura, to em que o significante ‘negro’ é arrancado de seu encaixe
nesse sentido mais (ou tanto mais) americana que africa- histórico, cultural e político, e é alojado em uma categoria
na? (Abreu, 2005: 423) Esses são os desafios colocados aos racial biologicamente construída, valorizamos, pela sua in-
historiadores e educadores que pretendem aplicar as “Di- versão, a própria base do racismo que estamos tentando
retrizes”. desconstruir” (Hall, 2003: 345). Entre as tentações que essa
Como afirmaram Mintz and Price, “as suposições a res- perspectiva provoca, corre-se sempre o risco de defender a
peito do que parece e não parece (ou tem ou não tem jeito crença numa purificação do impuro.
de ser) culturalmente ‘africano’ continuam a atormentar os O que fazer, então? Como articular políticas de com-
estudos afro-americanos” (Mintz e Price, 2003: 9). Propor bate ao racismo, especialmente na escola, sem tropeçar
a idéia de uma cultura afro-brasileira a partir dos resíduos em essencialismos culturais? Mais desafios. Como sugere
africanos que permaneceram, se, por um lado, pode faci- o próprio Hall, uma boa possibilidade talvez seja dirigir
litar as avaliações simplistas sobre a resistência, por outro, “a nossa atenção criativa para a diversidade e não para a
acaba desprezando o potencial de criatividade e transfor- homogeneidade da experiência negra”, apesar da eviden-
mação dos escravos e seus descendentes. te distinção de um conjunto de experiências negras histo-
Quando se rompe com uma perspectiva essencialista ricamente datadas (Hall, 2003: 346), como a diáspora e a
das relações entre identidade e cultura, decorre que qual- escravidão.
quer abordagem das ambigüidades da identidade negra Em meio a tantos desafios, as “Diretrizes” têm aberto
no Brasil torna-se indissociável do entendimento da expe- caminhos e nos feito pensar. A despeito de prognósticos
riência da escravidão moderna e de sua herança racializada pessimistas, é notório o crescimento do interesse de pro-
espalhada pelo Atlântico. No Brasil, esse processo não se fessores e secretarias de educação pela sua implementa-
apresenta diferente, mesmo que se tenha desenvolvido de ção, o que evidencia uma premente demanda social na luta
forma peculiar. A construção de uma identidade negra nas contra o racismo. Algumas estratégias sugeridas pelas “Di-
Américas não se fez como contrapartida direta da existên- retrizes” podem ajudar a aprofundar a discussão.
cia ou da “sobrevivência” de práticas culturais africanas no O parecer sugere, primeiramente, que o ensino de his-
continente, mas como resposta ao racismo e à sua difusão tória afro-brasileira abarque, com prioridade, iniciativas e
nas sociedades americanas (Mattos, 2003: 129). organizações negras. O texto completo relativo a essa su-
Paul Gilroy tem trazido a essa discussão uma série de gestão envolve diversos e diferentes elementos, que mui-
reflexões que ajudam a pensar as relações entre identida- tas vezes sugerem uma continuidade básica e estrutural da
des políticas negras e afirmações culturais (culturas políti- história e da cultura afro-brasileira, quando, por exemplo,
cas, portanto), e são fundamentais para serem discutidas relaciona o quilombo de Palmares, do século XVII, com as
com professores de história e agentes sociais ligados à comunidades negras hoje classificadas como remanescen-
educação das relações étnico-raciais. Para o caso da mú- tes de quilombos. Porém, sua principal e mais fecunda in-
sica, Paul Gilroy salientou o quanto ela teria expressado tenção é, sem dúvida, o incentivo ao trabalho com a his-
183
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
tória local, buscando conhecer a história das associações dental, sobre a construção cultural das comunidades qui-
que se identificam enquanto organizações negras (que têm lombolas. Assim, sugiro leitura do documento que estabe-
contribuído para o desenvolvimento de comunidades, bair- lece as Diretrizes Curriculares para Educação Quilombola, a
ros, localidades, municípios, regiões). Exemplos: remanes- partir do endereço eletrônico: http://www.educacao.rs.gov.
centes de quilombos, associações negras recreativas, cultu- br/dados/dp_cga_diretrizes_quilombola.pdf
rais, educativas, artísticas, religiosas (irmandades católicas O CNE disponibilizou no seu site, no período de junho
ou grupos evangélicos), de assistência, de pesquisa, grupos a dezembro de 2011,o documento: Texto-Referência para
do movimento negro. Nesse sentido, o foco do trabalho a elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
escolar sobre essas associações pode se colocar sobre sua Educação Escolar Quilombola”, o qual subsidiou as audiên-
historicidade, destacando exatamente o processo histórico cias, tornou público o debate e recebeu críticas e suges-
de construção da identidade negra do grupo, e as diversas tões. As contribuições recebidas foram enviadas ao e-mail
matrizes culturais (africanas, portuguesas, norte-america- institucional audienciaquilombola@mec.gov.br. Esse mes-
nas etc.) por ele acionadas. Assim, os estudantes podem mo texto foi encaminhado às redes sociais e circulou nos
reconhecer, de forma prática, que tradições e experiências fóruns dedicados à questão quilombola no Brasil.
confluíram para definir, hoje, a identidade negra dos gru- As audiências públicas realizadas tiveram como tema
pos estudados. Além do mais, abre-se a possibilidade de “A Educação Escolar Quilombola que temos e a que que-
se avaliar a atuação política dos afro-descendentes para remos” e contaram com a participação significativa de re-
além do período de luta contra a escravidão, perspectiva presentantes das comunidades quilombolas, gestores, do-
que predomina nos livros didáticos e no próprio ensino de centes, estudantes, movimentos sociais, ONGs, fóruns esta-
história. duais e municipais de educação e diversidade étnico-racial,
Em uma outra estratégia de ensino, um certo sentido pesquisadores e demais interessados no tema.
de valorização do tradicional como aquilo que formalmen-
te resiste a mudanças não deixa de estar presente quando Educação Quilombola
o texto das “Diretrizes” sugere que se traga para a escola A Resolução nº 4 em 13 de julho de 2010 instituciona-
congadas, moçambiques, rodas de samba ou maracatus, liza a Educação Escolar Quilombola como modalidade de
como formas de ser e viver da cultura negra. No entanto, educação, cuja definição, se encontra em seu artigo. 41 que
tais manifestações têm história, precisam de tempo e lugar menciona ser “A Educação Escolar Quilombola desenvol-
para acontecer, e isso pode ser destacado pelo professor, vida em unidades educacionais inscritas em suas terras e
para não se correr o risco de mumificar tais manifestações cultura, requerendo pedagogia própria em respeito à espe-
no trabalho em sala de aula, com resultados contrários aos cificidade étnico-cultural de cada comunidade e formação
que pretendem as “Diretrizes” aprovadas. Sempre que pos- específica de seu quadro docente, observados os princípios
sível, tal abordagem pode ser feita associada a grupos e constitucionais, a base nacional comum e os princípios que
associações que desenvolvem essas manifestações hoje, orientam a Educação Básica brasileira.” E, em seu parágrafo
de forma que elas sejam percebidas como manifestações único enfatiza que em sua estruturação e no seu funciona-
culturais vivas, ligadas a lutas políticas e sociais atuais e, mento ser reconhecida e valorizadas a diversidade cultural
portanto, sujeitas a transformações de significados ao lon- (Seção VII, Resolução nº 4, CEB/CNE, 2010).
go do tempo.37 De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais Ge-
Acesse o link a seguir e veja na íntegra o dispositivo rais para a Educação Básica, a educação escolar quilombola
em questão: www.acaoeducativa.org.br/fdh/.../DCN-s-Edu- se constitui das seguintes perspectivas:
cacao-das-Relacoes-Etnico-Raciais.pdf A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em
unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura,
DIRETRIZES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO QUILOM- requerendo pedagogia própria em respeito à especifici-
BOLA dade étnico-cultural de cada comunidade e formação es-
pecífica de seu quadro docente, observados os princípios
A partir das Diretrizes Curriculares para a Educação constitucionais, a base nacional comum e os princípios que
Quilombola -Resolução de nº 08 do MEC de 20 de novem- orientam a educação Básica brasileira. Na estruturação e
bro de 2012, que estabelece os fundamentos da educação no funcionamento das escolas quilombolas, deve ser re-
quilombola, a saber: memória coletiva, língua reminiscente conhecida e valorizada sua diversidade cultural.(p. 42) A
, marcos civilizatórios, práticas culturais, tecnologias e for- educação nas escolas dos Quilombos é valorizada pela co-
mas de produção do trabalho, acervos e repertórios orais, munidade recebe nomes simbólicos, típico da cultura Qui-
festejos ,usos e tradições e demais elementos que formam lombola. Entretanto, ainda existe um distanciamento entre
o patrimônio cultural, bem como a territorialidade - é pre- o ambiente escolar e a vivência da comunidade. Mas a bus-
ciso colocar em debate a formação de professores para ca entre escola e comunidade permanece viva no cerne da
atender a essas comunidades. Para além do conhecimento comunidade quilombola a qual agrega à educação formal
teórico, é preciso que a experiência acumulada com os tra- suas danças, músicas, costumes e crenças.
balhos nestas comunidades, bem como o respeito pela cul- O diálogo entre os diferentes saberes é uma premissa
tura local. De outra forma é possível que haja um processo nas escolas, inclusive nas situadas em quilombos. As comu-
de aculturação - da nossa educação europeia, branca, oci- nidades quilombolas possuem a consciência da importân-
37 Fonte: www.scielo.br – Por Martha Abreu/Hebe Mattos cia do ensino oferecido pela escola formal, sobretudo na
184
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
construção da autonomia do indivíduo na sociedade. Isso Desta forma o respeito à diversidade cultural que com-
significa reconhecer a capacidade do povo quilombola na põe a sociedade brasileira está sendo contemplado. Para
tomada de decisões conscientes em todos os campos de tanto, é fundamental que se conheça suas ideosincrasias,
sua vida e, sobretudo, nas relações estabelecidas com as mesmo quem não faz parte dessas comunidades. Desse
pessoas de fora da comunidade. modo, cumpre-se também o que dispõe a Lei 10.639/03
Embora ainda sejam pouco conhecidas, as comunida- que destaca a importância da cultura negra na formação
des quilombolas foram reconhecidas pela Constituição de cultural do Brasil. É a ignorância histórico-antropológica
1988 as quais foi assegurado o direito a terras. No entanto, a principal motivadora de preconceito racial que, embora
foi com o decreto 4887/03 que essas comunidades passa- muitas vezes latente, ainda se faz sentir na realidade bra-
ram a ter assegurado o direito à saúde, á educação e ao sileira.
saneamento básico. Assim, no campo político é importante lembrar uma
Diante desse direito, o Ministério da Educação, passou conquista histórica para as populações negras no Brasil, as
a assegurar ao povo quilombola uma educação de quali- políticas de ações afirmativas, em especial, as cotas nas uni-
dade que abrange desde a formação dos professores para versidades. Nesta perspectiva, é preciso entender também
a área de remanescentes de quilombos, como A educação que muitas são as resistências às políticas públicas educa-
quilombola é compreendida como um processo amplo – cionais dirigidas para a população afro-brasileira. Assim, o
que inclui a família, a convivência com os outros, as rela- processo de formação continuada de gestores e docentes
ções de trabalho e com o sagrado e as vivências nas esco- é importante para a promoção da igualdade étnico-racial,
las, nos movimentos sociais e em outras organizações da bem como, no trato dos problemas sociais brasileiros e, em
comunidade. especial, aqueles relacionados com os chamados excluídos
No que tange a educação, é importante compreender sociais como é o caso das populações negras, quilombolas,
que ela é um processo que faz parte da humanidade e está mulheres, indígenas, deficientes físicos, pessoas com orien-
presente em toda e qualquer sociedade, sendo a esco- tações sexuais diferenciadas e outros, para que uma efetiva
larização um recorte do processo educativo mais amplo. equidade racial e de gênero estejam de fato corporificadas
Na perspectiva da escolarização quilombola existe pouca e interseccionadas em nossa sociedade.
informação oficial sobre as taxas de escolaridade, evasão As políticas públicas e seus programas aproximam o
e aproveitamento, ou seja, indicadores sobre a educação Estado das comunidades quilombolas e ocupam o lugar
em comunidades quilombolas. Porém é possível afirmar - a fundamental no processo de reconhecimento e inserção
partir da relação com as organizações quilombolas -, que das comunidades nas redes sociais, econômicas, educacio-
na maioria das comunidades falta escola, e as que existem nais e culturais locais.
funcionam precariamente. Considerando que a educação é É preciso que se estabeleçam diálogos nas nossas es-
um dos direitos humanos básicos para a formação da pes- colas com o objetivo de verificar ser a diversidade cultural
soa, os quilombolas estão lutando para conquistar não só está inclusa e como ela vem sendo trabalhada pelos pro-
o direito ao acesso, mas principalmente as condições de fessores e pela escola. Mas o objetivo é evidenciar a Educa-
permanência e bom aproveitamento e poder atuar para a ção Escolar Quilombola, então, faz-se necessário, conhecer
construção de uma escolarização que contemple sua iden- a resolução nº 8, de 20 de novembro de 2012 que Define
tidade, sua cultura, seus valores. as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar
Nesse sentido os quilombos eram locais de refúgio dos Quilombola na Educação Básica e que no TÍTULO VII trata
escravos africanos e afrodescendentes. Hoje, os quilombos do Projeto Político-pedagógico das escolas quilombolas.
são constituídos por grupos que desenvolveram práticas Nas comunidades quilombola, há presente uma luta
cotidianas de moradia em prol da conservação de seus há- para manter vivo os conhecimentos tradicionais da cultura
bitos culturais, com o intuito de compartilhar a identidade que perpassa a escola quilombola e constrói a identidade
de seu povo às demais culturas. ampliação da rede escolar desse povo. Por esse viés é importante destacar a existên-
e a produção e aquisição de material didático adequado. cia de quilombos tanto na zona urbana quanto na zona ru-
Resgatar no espaço escolar a memória tem grande rele- ral. Embora estejam situadas em vários cidades do estado
vância para as comunidades negras, pois preservar seus do Rio Grande do Sul e em outros estados brasileiros. No
valores, práticas religiosas, técnicas e outras expressões passado os quilombos urbanos serviam de dormitório dos
culturais, é uma herança passada pelos antepassados pela negros fugitivos enquanto que os quilombos rurais eram
tradição da oralidade e que se mantem viva no espaço de campos de trabalho árduo e de mão de obra barata.
construção dos saberes: a escola. A educação quilombola deve considerar as vivências,
As comunidades quilombolas descobrem cada vez realidades e histórias das comunidades quilombolas do
mais seus direitos, sua atuação política afirmando sua ne- país, de forma a considerar suas especificidades étnico-cul-
gritude, se reconhecem como cidadãos e passam a exer- turais. As populações africanas não vieram ao Brasil porque
cerem a cidadania, a exigir cumprimento da mesma e a quiseram. Foram aprisionadas, feitas cativas nas mãos de
ter responsabilidade consigo e com a coletividade. Diante europeus que diziam-se civilizados e donos de uma cul-
disso a luta social nas comunidades quilombolas se torna tura que julgavam ser superior. Por séculos estes europeus
um processo pedagógico por ser um espaço de troca de e seus descendentes fizeram questão de anular os costu-
saberes, respeito a diferença, construção de cidadania por mes nativos africanos. Os subjugaram, os escravizaram, os
meio da ocupação do território e do espaço geográfico. obrigaram as seguir moldes e padrões europeus no que se
185
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
refere à língua, religiosidade e tantos outros hábitos que cer a importância de incluir a Cultura Indígena, Africana e
eram incomuns para os africanos. Nos preocupamos hoje Afro-brasileira no currículo, não apenas pela necessidade
em ensinar nas nossas salas de aula a história dos ante- de cumprir a Lei 10.639, mas como estratégia da constru-
passados e dos remanescentes que integram comunidades ção de uma sociedade mais justa, igualitária e includente,
quilombolas, tentamos reacender uma chama que foi in- reconhecendo esses povos como alguns dos formadores
cessantemente sufocada. da sociedade e cultura brasileira.
A educação quilombola é compreendida como um A educação quilombola é compreendida como um
processo amplo – que inclui a família, a convivência com processo amplo – que inclui a família, a convivência com
os outros, as relações de trabalho e com o sagrado e as os outros, as relações de trabalho e com o sagrado e as
vivências nas escolas, nos movimentos sociais e em outras vivências nas escolas, nos movimentos sociais e em outras
organizações da comunidade. organizações da comunidade.
Assim, compreende-se a educação como um proces- Então, compreender a educação como um processo
so que faz parte da humanidade e está presente em toda que faz parte da humanidade e está presente em toda e
e qualquer sociedade, e a escolarização é um recorte do qualquer sociedade, e a escolarização é um recorte do pro-
processo educativo mais amplo. Na perspectiva da esco- cesso educativo mais amplo. Na perspectiva da escolari-
larização quilombola existe pouca informação oficial sobre zação quilombola existe pouca informação oficial sobre as
as taxas de escolaridade, evasão e aproveitamento, ou seja, taxas de escolaridade, evasão e aproveitamento, ou seja,
indicadores sobre a educação em comunidades quilombo- indicadores sobre a educação em comunidades quilombo-
las. Porém é possível afirmar - a partir da relação com as las.
organizações quilombolas -, que na maioria das comunida- No entanto é possível afirmar - a partir da relação com
des falta escola, e as que existem funcionam precariamen- as organizações quilombolas -, que na maioria das comu-
te. Considerando que a educação é um dos direitos hu- nidades falta escola, e as que existem funcionam precaria-
manos básicos para a formação da pessoa, os quilombolas mente. Considerando que a educação é um dos direitos
estão lutando para conquistar não só o direito ao acesso, humanos básicos para a formação da pessoa, os quilom-
mas principalmente as condições de permanência e bom bolas estão lutando para conquistar não só o direito ao
aproveitamento e poder atuar para a construção de uma acesso, mas principalmente as condições de permanência
escolarização que contemple sua identidade, sua cultura, e bom aproveitamento e poder atuar para a construção de
seus valores. uma escolarização que contemple sua identidade, sua cul-
Desse modo, considerar que a Educação é um proces- tura, seus valores.
so que faz parte da humanidade e está presente em toda e Diante disso, percebe-se que a educação quilombola
qualquer sociedade, podemos assim dizer que a Educação segue a proposta política de um currículo construído, ba-
Quilombola é aquela própria de um povo, diversa e vincu- seado nos saberes, conhecimentos e respeito a suas ma-
lada a uma especificidade cultural. Embora com algumas trizes culturais. Trata-se de uma educação diferenciada em
semelhanças entre comunidades, em suas maneiras de es- que se trabalha a realidade a partir da luta e resistência
tabelecer processos educativos, cada uma tem sua dinâ- desses povos bem como dos seus valores civilizatórios. A
mica influenciada pelas formas tradicionais de organização educação escolar quilombola está fundamentada na vivên-
social. Na maioria destas comunidades, a socialização dos cia e organização coletiva, valores ancestrais, relação da
conhecimentos, das tradições, do “ser quilombola”, se dá a terra e com o sagrado, dos quais precisam ser incorpora-
partir da convivência e observação dos mais velhos, tendo dos no espaço escolar das escolas quilombolas e das esco-
a tradição oral como o mais importante meio de transmis- las que atendem estudantes quilombolas.
são do conhecimento. É um processo amplo de relações A Lei 10.639/2003 institui no Brasil um marco legal
que inclui família, membros da comunidade, relações de para que se inclua no currículo oficial das redes de ensi-
trabalho, relações com o sagrado e as vivências inclusive no a obrigatoriedade da História e Cultura Africana, Afro
nas escolas, nos movimentos sociais ou em outras organi- -Brasileira e Indígena. Esta Lei, apesar de não ser específica
zações. (CASTILHO, 2008; SILVA, 2005 e OLIVEIRA, 2009). para Quilombos, apresenta a possibilidade de se construir
Os cidadãos que construíram uma identidade sociocul- propostas de escolarização para quilombolas, pois não se
tural significativa na região Noroeste significativa na região pode falar de História e Cultura Afro-Brasileira sem abordar
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e que mantem a formação dos Quilombos.
especificidades no modo dos outros munícipes. È o qui- A formação educacional quilombola deve contribuir
lombo Corrêa, comunidade rural organizada no distrito de para que as pessoas do grupo continuem nos seus terri-
São Paulo das Tunas, no município de Giruá, fica a 20 qui- tórios, pensar a educação quilombola implica relacionar a
lômetros da sede, a família de origem habita o local desde dimensão da identidade com outros temas, como a relação
1910. existente no dia-a-dia das pessoas com a terra, o sagra-
do, a cultura, a história, a memória, as diversas formas de
Proposta Da Educação Quilombola organização desse povo entre as gerações e com o meio
A escola deve-se construir como um espaço de diálogo ambiente do território.
entre o conhecimento e a realidade local, portanto o Proje- Para combater o racismo e a discriminação na socie-
to Pedagógico Participativo é um instrumento de luta por dade brasileira é necessário atuar em diversos campos e a
um ideal sócio cultural, a partir disso, é necessário reconhe- educação é um campo extremamente importante, porque
186
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
ela influencia no modo de pensar e de se relacionar com os Fruto dessa união de forças, muitos direitos foram con-
outros, convivendo e respeitando as identidades e multi- quistados constitucionalmente por esses povos, principal-
plicidades culturais, que é constituinte da condição do ser mente o direito à educação. Para os quilombolas, esta deve
humano, estando no Brasil ou em outra parte do mundo. ser preferencialmente nas comunidades onde os alunos
É importante considerar que a sociedade brasileira é estão inseridos com direito ao saber comum bem como o
formada por pessoas que pertencem a grupos étnicos di- saber diversificado segundo a sua realidade e, sobretudo
ferentes entre si, que possuem cultura e história próprias e com a valorização de sua cultura, além de, poder contar
valiosas, e em conjunto constroem a nação brasileira. com profissionais oriundos dessa comunidade e com for-
Para elevar a qualidade da educação oferecida às co- mação adequada para atuar. No entanto, o que se percebe
munidades quilombolas, o Ministério da Educação ofere- é uma prática muito diferente da teoria para muitas reali-
ce, anualmente, apoio financeiro aos sistemas de ensino.
dades quilombolas.
Os recursos são destinados para a formação continuada
de professores para áreas remanescentes de quilombos, O fato de escolas estarem localizadas em uma comuni-
ampliação e melhoria da rede física escolar e produção e dade quilombola ou atender crianças, adolescentes, jovens
aquisição de material didático. Levantamento feito pela e adultos nesses territórios não garante que o ensino, o
Fundação Cultural Palmares, órgão do Ministério da Cul- currículo e o Projeto Político Pedagógico dialoguem com a
tura, aponta a existência de 1.209 comunidades remanes- realidade local desses povos, nem que os profissionais que
centes de quilombos certificadas e 143 áreas com terras já ali atuam conheçam a história dos quilombos, dos avanços
tituladas. e dos desafios das suas lutas antirracistas no Brasil. Além
As comunidades quilombolas no Brasil são múltiplas disso, muitos estudantes quilombolas estudam fora de sua
e variadas e se encontram distribuídas em todo o territó- comunidade de origem, frequentando escolas públicas
rio nacional. Em algumas regiões elas são mais numero- e privadas que não conhecem, tão pouco cultivam a his-
sas e em outras não. Existem comunidades remanescentes tória de seu povo. Os materiais didáticos e pedagógicos
de quilombos em quase todos os estados, exceto no Acre, enviados pelo Ministério da Educação a essas escolas são
Roraima e no Distrito Federal. Os que possuem o maior
engavetados e o currículo segue com uma única cultura
número de comunidades remanescentes de quilombos são
Bahia (229), Maranhão (112), Minas Gerais (89) e Pará (81). predominante e hegemônica na sociedade, a dos brancos.
Há comunidades que ficam no campo (rurais) e outras que Dessa forma, os aspectos relevantes quando se pensa
ficam nas cidades (urbanas); que se constituem por meio em Diretrizes do Currículo Nacional quanto à tradição cul-
de fortes laços de parentesco e herança familiar ou não; tural de valorização dos antepassados calcada numa Dessa
que receberam as terras como doação e que se organiza- história identitária comum sob regras de pertencimento e
ram coletivamente e adquiriram a terra. Para os quilombo- consciência de luta pela terra de que usufruem, baseada
las, pensar em território é considerar um pedaço de terra em experiências vividas compartilhadas de uma trajetória
como algo de uso de todos da comunidade (é uma terra de coletiva, dando referência a “quilombos contemporâneos”
uso coletivo) e algo que faz parte deles mesmos, uma ne- tornam-se insignificantes. Sendo assim, não há uma apren-
cessidade cultural e política da comunidade que está ligada dizagem significativa, uma vez que toda a consciência polí-
ao direito que possuem de se distinguirem e se diferencia- tica formada através das lutas pelos seus territórios, marca
rem das outras comunidades e de decidirem seu próprio de sua identidade, é ignorada nos âmbitos educacionais.
destino. Eles vivem em territórios que podemos chamar de
Outros fatos que mostram que as conquistas dos di-
tradicionais: “Os territórios tradicionais são espaços neces-
reitos educacionais nas teorias constitucionais dos povos
sários à reprodução cultural, social e econômica dos povos
e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de forma quilombolas, mas que não se confirmam na prática são a
permanente ou temporária(...)”. (Artigo 3, da Política Nacio- falta de infraestrutura das escolas e as péssimas condições
nal de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comuni- de transporte. Segundo Hage (in Diretrizes Curriculares,
dades Tradicionais, instituída pelo Decreto 6.040 de 07 de 2013, p. 455), as escolas das áreas rurais são descaracteri-
fevereiro de 2007). zadas como prédio escolar sendo improvisadas em igrejas,
salões, barracões em condições precárias para que aulas
Educação Quilombola na atualidade sejam ministradas. Isso subestima a cultura desses povos
A história da população quilombola tem se construído além de colocar ainda mais os estudantes e suas famílias
por meio de lutas, principalmente contra o racismo, pelo em situação de desestímulo, discriminação e preconceito.
território, pela a vida, pela sua cultura, pelos direitos do Tal descaso se reflete ainda na falta de transporte escolar
cidadão como saúde, moradia, trabalho e educação. Logo, para os estudantes rurais e de nucleações, onde as condi-
no Brasil, a garantia mínima desses direitos deu-se por ções de moradias no que confere estradas, energia elétri-
meio de lutas antirracistas tal como os demais negros. As-
ca, telefonia, saneamento básico, saúde e emprego são tão
sim, a discriminação e o preconceito raciais são elementos
muito marcantes em situações de violência e de luta por di- precárias que a frequência mínima nas escolas e desenvol-
reitos pela cidadania, tanto dos povos quilombolas, negros, vimento educacional sofrem consequências alarmantes de
indígenas e população do campo. Essa condição de luta insucesso, a começar pelo fato de que as rodovias de aces-
constante possibilitou maior aproximação entre os movi- so não permitem que o transporte escolar consiga chegar
mentos e organizações, entre esses povos marginalizados até os estudantes onde moram, em condições subumanas,
na sociedade. e levá-los aos bancos escolares.
187
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Portanto, tudo o que está garantido em lei para o sis- Além da dizer como o Estado tem que funcionar e as
tema de ensino aos povos quilombolas com material di- relações que podem se estabelecer entre os diferentes ór-
dático voltado à realidade dessas comunidades, com a ali- gãos e poderes, a Constituição também estabelece objeti-
mentação escolar com uma política de prática agrícola com vos a serem alcançados pela sociedade como um todo, e
técnicas de plantio, colheita e conservação de alimentos estabelece quais são as responsabilidades do Estado para
voltada ao conhecimento tradicional dessa população, com que tais objetivos sejam alcançados.
um currículo flexível as peculiaridades e as características Assim, no artigo 3 da Constituição Federal, afirma-se
próprias desses estudantes, com um calendário escolar que que “Constituem objetivos fundamentais da República Fe-
inclua comemorações locais como fonte de sua história de derativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e
lutas e conquistas que sejam pedagogicamente relevantes solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – er-
para estudo e significativas para a sua cultura e, principal- radicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigual-
mente, com um PPP que dialogue com as especificidades dades sociais e regionais.”
históricas, sociais, culturais, econômicas e étnico-raciais da Para realizar estes objetivos mais amplos, a Constitui-
comunidade quilombola com os conflitos com a questão ção assegura o direito à educação a todas e todas no ter-
do racismo, com relação à terra, a importância do território, ritório Brasileiro, sem discriminação de qualquer espécie,
a cultura, o trabalho, a memória e a oralidade é de fun- e estabelece que é responsabilidade do Estado garanti-lo.
damental importância que se efetive na prática de ensino Além do direito à educação estar previsto no art. 6, há um
para que esses povos se recuperem como indivíduos, que capítulo na Constituição que trata exclusivamente sobre o
se sintam verdadeiramente parte integrante da sociedade, direito à educação (art. 205 a art. 214).
como cidadãos úteis e necessários em todos os âmbitos A educação é um direito garantido pela Constituição
da mesma. Federal de 1988. Logo em seu art. 6º, o documento jurídico
Observa-se ainda, que embora as situações de conflito mais importante do nosso país diz que a educação – jun-
e violência contra as comunidades quilombolas não seja tamente com a moradia, o trabalho, o lazer, a saúde, entre
tão evidente na contemporaneidade, torna-se preocupante outros – é um direito social. Ou seja, não é um favor do
perceber o aumento significativo do descomprometimento Estado para as pessoas. Pelo contrário, como é entendida
governamental e social com esses povos, sobretudo com como um direito, a educação pode e deve ser exigida dos
a falta de políticas públicas. Essa violência que deturpa a órgãos competentes quando esse direito for violado ou
identificação quilombola é também reforçada pela depre- desrespeitado.
ciação do poder da mídia. Diante disso, percebe-se que o Mais à frente, o art. 205 da Constituição afirma:
caminho de vida, de força, de identidade cultural, de luta A educação, direito de todos e dever do Estado e da fa-
dos povos quilombolas é tão verdadeiro e lícito quanto a mília, será promovida e incentivada com a colaboração da
todas as outras comunidades e culturas, portanto, o que se sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
atribui é valorizar e manter a história identitária dos qui- seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualifica-
lombos, preservar sua cultura com respeito aos seus dife- ção para o trabalho.
rentes modos de agir, de viver e, sobretudo, de desenvol- Aqui fica explícito o dever do Estado e o direito de to-
ver as ciências e as artes nas escolas. Ressalta-se então, a das as pessoas, sem qualquer distinção, com relação à edu-
importância de os profissionais educadores conhecerem a cação. Também está definido que a família tem deveres (os
formação histórica desses povos, especialmente nos âmbi- pais e mães, por exemplo, são obrigados a matricular seus
tos educacionais onde há estudantes oriundos dos quilom- filhos e filhas na escola) e que a educação tem como obje-
bolas, para que esses aprendizes não se sintam arrancados tivo o desenvolvimento integral da pessoa e a preparação
de sua cultura, mas que a veja como parte formadora das para a inserção cidadã.
multiculturas que integram a sociedade brasileira.38 O fato de a Constituição citar ainda a qualificação
para o trabalho não significa ser esse seu objetivo prin-
cipal, como muitas vezes se tenta interpretar. A educação
profissional, para respeitar sua natureza de direito social
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. constitucional, precisa estar integrada à concepção ampla
de educação, possibilitando a inserção autônoma e qualifi-
cada no mundo do trabalho.
Não se nega que as necessidades da vida e o avanço
A constituição Federal na parte referente à Edu- tecnológico exijam que as pessoas estejam cada vez mais
cação qualificadas para o trabalho e que uma das formas de se
conseguir isso é por meio da educação. No entanto, o de-
A Constituição Federal de 1988 é o conjunto de normas senvolvimento da pessoa implica muitas outras dimensões,
que regula o Estado Brasileiro. principalmente o pleno desenvolvimento das capacidades
Nela, há normas que estabelecem quais são e as fun- humanas e o consequente preparo ao exercício da cidada-
ções e competências dos diferentes órgãos do Estado (po- nia.39
deres judiciário, legislativo, executivo, municípios, estados,
união, defensoria pública, ministério público, entre outros).
38 Fonte: https://pt.wikibooks.org 39 Fonte: www.direitoaeducacao.org.br
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
§ 3º - O ProEASE incluirá preocupação sobre os am- Art. 8º - Estabelecem-se os projetos relacionados a se-
bientes naturais e o uso ecoeficiente dos recursos naturais guir como aqueles referendados pela Secretaria da Educa-
como a água, gastos supérfluos de energia e a lida pela ção para que as unidades escolares realizem suas progra-
redução de resíduos. mações institucionais correlatas à programação de carga
Art. 3º - A Portaria N.º 1.892/2008, que formaliza a horária e institucionalização de projetos.
programação dos Projetos Sócio-Educativos está suspensa a. Mais Educação
em 2010, reiterando-se que a revisão e reorganização das b. Centro Juvenil de Ciência e Cultura
matrizes curriculares dos ensinos fundamental e médio te- c. Escola de Tempo Integral
rão como foco as aprendizagens prioritárias decorrentes da d. Escola Aberta
base nacional comum. e. Ensino Médio Inovador
Art. 4º - A presente Portaria estabelece o currículo refe- f. Ensino Médio no Campo com Intermediação Tecno-
renciado, com ênfase no cuidado para com os componen- lógica
tes da base nacional comum, sem nenhum componente de g. Pro-Jovem Campo/Saberes da Terra
natureza estritamente profissional no segundo segmento h. Escola Ativa
do ensino fundamental e no ensino médio, exceto o vincu- i. Rede das Escolas Famílias Agrícolas
lado diretamente com a formação profissional técnica de j. Artes (Festival Anual da Canção Estudantil; Artes Vi-
nível médio assegurado pela Superintendência de Educa- suais Estudantis; Tempos de Arte Literária)
ção Profissional – SUPROF. k. Ressignificação da Dependência
Parágrafo único – Entende-se como currículo referen- l. Educação Ambiental – ProEASE
ciado o que privilegia a ênfase nos componentes curricu- m. Altas Habilidades
lares da base nacional comum, vistos como fonte técnica n. Gestar
de apropriação dos conteúdos universalmente aceitos para o. Jogos Estudantis da Rede Pública
a estruturação dos currículos escolares e, sobremaneira, o Parágrafo único – Subentende-se que o ato contido no
alcance disso na ordem social, em que a escola formal se caput direciona a ação educativa da escola para valorização
constitui em um dos elementos essenciais. da base nacional comum e seus efeitos na ordem social a
Art. 5º - O currículo referenciado da educação básica partir da escolarização formalizada, ficando estes mencio-
da rede pública de escolas estaduais será constituído à luz nados projetos e programas na pauta da programação da
das Diretrizes Curriculares Nacionais em vigência. carga horária docente fora do âmbito dos componentes
§ 1º - Para a escola de ensino fundamental, reitera-se a listados no currículo referenciado, no limite de 20 horas.
Resolução CNE/CES Nº. 2/98, destacando-se que as áreas Art. 9º - O Anexo I estabelece o padrão de organização
de conhecimento ali mencionadas devem enfatizar a cor- curricular que sustenta a noção de currículo referenciado
relação entre as disciplinas formais destas áreas com a vida e se constitui no fundamento para as unidades escolares
cidadã, por intermédio dos nexos transversais entre estas realizarem a programação de carga horária dos docentes.
ditas disciplinas e os campos da saúde, sexualidade, vida Art. 10º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua
familiar e social, meio ambiente, trabalho, ciência e tecno- publicação e os casos omissos serão resolvidos pelo núcleo
logia, cultura e linguagens. inter-setorial da Secretaria da Educação.
§ 2º - Para a escola de ensino médio, reitera-se a Re- Salvador, 27 de janeiro de 2010.
solução CNE/CES Nº. 3/98, destacando-se as referências OSVALDO BARRETO FILHO
da organização curricular nas três áreas de conhecimento Secretário da Educação
constantes nesta Resolução e, também, a importância dos
princípios da interdisciplinaridade e contextualização no Fonte: www.sec.ba.gov.br
desenvolvimento das atividades escolares.
§ 3º - Considera-se a Diretoria Regional de Educação – LEI 8.261/02
DIREC como órgão responsável pela supervisão da propos- Dispõe sobre o Estatuto do Magistério Público do En-
ta curricular advinda das escolas, estando apta para efetuar sino Fundamental e Médio do Estado da Bahia e dá outras
ajustes e sugerir alterações para, em seguida, notificar a providências.
Superintendência de Desenvolvimento da Educação Básica O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber
– SUDEB sobre a finalização da proposição de cada escola, que Assembléia Legislativa decreta e eu sanciono a se-
cabendo à mesma a o registro e acompanhamento geren- guinte Lei:
cial.
Art. 6º - A formação profissional técnica de nível mé- CAPÍTULO I -
dio poderá conter componentes de profissionalização no DISPOSIÇÕES PRELIMINARES E PRINCÍPIOS
sentido estrito, nos termos das orientações legais advin-
das do Ministério de Educação e do Conselho Nacional de Art. 1º - Esta Lei disciplina o regime jurídico do Magis-
Educação. tério Público do Ensino Fundamental e Médio do Estado da
Art. 7º - Ficam estabelecidas as datas 11 de feverei- Bahia e consubstancia o seu estatuto especial previsto na
ro de 2010 para a conclusão dos trabalhos de organização Constituição Estadual.
do currículo pelas escolas e seu encaminhamento para a Parágrafo único - Ao Magistério Público aplica-se, sub-
DIREC e 19 de fevereiro de 2010 para a remessa de cada sidiariamente, o Estatuto dos Servidores Públicos Civis do
DIREC para a SUDEB. Estado e correspondente legislação complementar.
191
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Art. 2º - O exercício do magistério, fundamentado nos Art. 6º - O Quadro do Magistério compõe-se dos se-
direitos primordiais da pessoa humana, ampara-se nos se- guintes cargos escalonados:
guintes princípios: I - Professor - P;
I - liberdade de ensinar, pesquisar e divulgar o saber II - Coordenador Pedagógico - CP.
produzido pela sociedade, através de um atendimento es- Art. 7º - São atribuições do Professor:
colar de qualidade; I - participar da elaboração da proposta pedagógica e
II - crença no poder da educação que contemple todas do plano de desenvolvimento do estabelecimento de en-
as dimensões do saber e do fazer no processo de huma- sino;
nização crescente e de construção da cidadania desejada; II - elaborar e cumprir plano de trabalho e de aula, se-
III - reconhecimento do valor do profissional de educa- gundo a proposta pedagógica do estabelecimento de en-
ção, asseguradas as condições dignas de trabalho e com- sino;
patíveis com sua tarefa de educador; III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
IV - garantia da participação dos sujeitos na vida nacio- IV - estabelecer estratégias de aprendizagem e de re-
nal, no que diz respeito ao alcance dos direitos civis, sociais cuperação para os alunos de menor rendimento;
e políticos; V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos,
V - promoção na carreira; além de participar integralmente dos períodos dedicados
VI - gestão democrática fundada em decisões colegia- ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento pro-
das e interação solidária com os diversos segmentos esco- fissional;
lares; VI - colaborar com as atividades de articulação da es-
VII - conjunção de esforços e desejos comuns, expres- cola com as famílias e a comunidade;
sos na noção de parceria entre escola e comunidade; VII - atuar em projetos pedagógicos especiais desen-
VIII - qualidade do ensino e preservação dos valores volvidos e aprovados pela Secretaria da Educação;
regionais e locais. VIII - exercer outras atribuições correlatas e afins.
Art. 8º - São atribuições do Coordenador Pedagógico:
CAPÍTULO II - I - coordenar o planejamento e a execução das ações
DA ORGANIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO pedagógicas nas Unidades Escolares e/ou DIREC;
II - articular a elaboração participativa do Projeto Peda-
Art. 3º - Para os efeitos desta lei, entende-se por: gógico da Escola;
I - Quadro do Magistério - conjunto de cargos de pro- III - acompanhar o processo de implantação das dire-
vimento efetivo e em comissão, quantitativamente indica- trizes da Secretaria relativas à avaliação da aprendizagem e
dos e distribuídos em carreiras, na área da Educação, lota- dos currículos, orientando e intervindo junto aos professo-
dos na Secretaria da Educação do Estado da Bahia; res e alunos quando solicitado e/ou necessário;
II - Cargo - o conjunto orgânico de atribuições e res- IV - avaliar os resultados obtidos na operacionalização
ponsabilidades cometidas a um servidor com as caracterís- das ações pedagógicas, visando a sua reorientação;
ticas essenciais de criação por lei, com denominação pró- V - coordenar e acompanhar as atividades dos horários
pria, número certo e pagamento pelos cofres do Estado; de Atividade Complementar em Unidades Escolares, viabi-
III - Nível - unidade básica da carreira, integrada pelo lizando a atualização pedagógica em serviço;
agrupamento de cargos com a mesma denominação e VI - estimular, articular e participar da elaboração de
iguais responsabilidades, identificados pela natureza e projetos especiais junto à comunidade escolar;
complexidade de suas atribuições e pelo grau de conheci- VII - elaborar estudos, levantamentos qualitativos e
mento e escolaridade exigível para seu desempenho; quantitativos indispensáveis ao desenvolvimento do siste-
IV - Carreira - cargos escalonados segundo a especifi- ma ou rede de ensino ou da escola;
cidade das atribuições e responsabilidades; VIII - elaborar, acompanhar e avaliar, em conjunto com
V - Rede Estadual de Ensino - o conjunto de escolas a Direção da Unidade Escolar, os planos, programas e pro-
estaduais pertencentes à Secretaria da Educação do Estado jetos voltados para o desenvolvimento do sistema e/ou
da Bahia; rede de ensino e de escola, em relação a aspectos pedagó-
VI - Diretoria Regional de Educação - DIREC - órgão gicos, administrativos, financeiros, de pessoal e de recursos
de administração educacional pertencente à Secretaria da materiais;
Educação do Estado da Bahia; Ver tópico IX - promover ações que otimizem as relações inter-
VII - Local de trabalho - Unidade Escolar ou Adminis- pessoais na comunidade escolar;
trativa onde o servidor desempenha suas atividades. X - divulgar e analisar, junto à comunidade escolar, do-
Art. 4º - Compõem o Magistério Público Estadual do cumentos e projetos do órgão Central, buscando imple-
Ensino Fundamental e Médio os servidores que exerçam mentá-los nas Unidades Escolares, atendendo às peculia-
atividades de docência e de suporte pedagógico direto à ridades regionais;
docência, incluídas as de direção, planejamento, adminis- XI - analisar os resultados de desempenho dos alunos,
tração escolar e coordenação pedagógica. visando a correção de desvios no Planejamento Pedagó-
Art. 5º - O Quadro do Magistério de Ensino Fundamen- gico;
tal e Médio compreende os cargos de Professor e Coorde- XII - propor e planejar ações de atualização e aperfei-
nador Pedagógico. çoamento de professores e técnicos, visando a melhoria de
desempenho profissional;
192
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
XIII - conceber, estimular e implantar inovações peda- Art. 13 - Os professores especializados em educação
gógicas e divulgar as experiências de sucesso, promovendo especial deverão comprovar:
o intercâmbio entre Unidades Escolares; I - formação em curso de licenciatura em educação
XIV - identificar, orientar e encaminhar, para serviços especial ou em uma de suas áreas, preferencialmente de
especializados, alunos que apresentem necessidades de modo concomitante e associado à licenciatura para os
atendimento diferenciado; anos iniciais do ensino fundamental;
XV - promover e incentivar a realização de palestras, II - complementação de estudos ou pós-graduação em
encontros e similares, com grupos de alunos e professores áreas específicas da educação especial, posterior à licencia-
sobre temas relevantes para a educação preventiva integral tura nas diferentes áreas de conhecimento, para atuação
e cidadania; nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.
XVI - propor, em articulação com a direção, a implanta- Parágrafo único - Aos professores em exercício do ma-
ção e implementação de medidas e ações que contribuam gistério em educação especial, na data da entrada em vigor
para promover a melhoria da qualidade de ensino e o su- desta Lei, serão asseguradas oportunidades de formação
cesso escolar dos alunos; continuada, inclusive em nível de especialização pelas ins-
XVII - organizar e coordenar a implantação e imple-
tituições educacionais públicas ou conveniadas.
mentação do Conselho de Classe numa perspectiva ino-
Art. 14 - O Quadro do Magistério Público do Ensino
vadora de instância avaliativa do desempenho dos alunos;
Fundamental e Médio do Estado da Bahia é constituído de:
XVIII - promover reuniões e encontros com os pais, vi-
I - cargos de provimento efetivo;
sando a integração escola/família para promoção do su-
cesso escolar dos alunos; II - cargos de provimento em comissão.
XIX - estimular e apoiar a criação de Associações de Art. 15 - São de provimento efetivo os cargos de Pro-
Pais, de Grêmios Estudantis e outras que contribuam para fessor e Coordenador Pedagógico criados e classificados
o desenvolvimento e a qualidade da educação; na forma e número fixado no Anexo I desta Lei.
XX - exercer outras atribuições correlatas e afins. Parágrafo único - O quantitativo necessário para o
Art. 9º - A formação do Professor para atuar no ensino exercício do cargo de Coordenador Pedagógico é definido
fundamental e médio, far-se-á: de acordo com o porte da Unidade Escolar, conforme pre-
I - ensino superior, em curso de licenciatura, de gra- visto no Anexo II desta Lei.
duação plena, em universidades e institutos superiores de Art. 16 - Os cargos da carreira do Magistério Público
educação, admitida, como formação mínima, a oferecida Estadual de Ensino Fundamental e Médio ficam estrutura-
pelo ensino médio completo, na modalidade Normal, para dos em níveis, na forma estabelecida no Anexo III desta Lei.
o exercício do magistério nas quatro primeiras séries do Art. 17 - Os cargos em comissão do Magistério Público
ensino fundamental; Estadual de Ensino Fundamental e Médio são os constan-
II - ensino superior, em curso de licenciatura, de gra- tes no Anexo IV desta Lei.
duação plena, em universidades e institutos superiores de Art. 18 - Somente poderão exercer os cargos em co-
educação legalmente reconhecidas, com habilitações es- missão do Magistério Público Estadual do Ensino Funda-
pecíficas em área própria, para o exercício do magistério mental e Médio, exceto o de Secretário Escolar, os ocupan-
nas séries finais do ensino fundamental e no ensino médio; tes de cargo permanente da carreira de magistério, com
III - formação superior em universidades e institutos formação em licenciatura plena, após aprovação prévia em
superiores de educação legalmente reconhecidas, em área processo seletivo interno e certificação, conforme critérios
correspondente e complementação nos termos da legisla- e procedimentos estabelecidos em regulamento.
ção vigente, para o exercício do magistério em áreas espe- Regulamentado pelo Decreto nº 11.218 , de 18 de se-
cíficas das séries finais do ensino fundamental e no ensino tembro de 2008.
médio. § 1º - Na hipótese de não haver na Unidade Escolar
Art. 10 - A formação de profissionais para a Coordena-
profissionais com formação em licenciatura plena o candi-
ção Pedagógica no ensino fundamental e médio, será feita
dato ao cargo em comissão deverá contar com o mínimo
em curso de graduação em pedagogia ou em nível de pós-
de 05 (cinco) anos de exercício de magistério na Unidade
graduação, a critério da instituição de ensino, garantida,
Escolar.
nesta formação, a base comum nacional.
Art. 11 - Para o exercício do Magistério de Ensino Fun- § 2º - No caso de vacância dos cargos em comissão
damental e Médio, além dos requisitos previstos em outros do Magistério Público Estadual do Ensino Fundamental e
diplomas legais específicos, exigir-se-á o diploma com o Médio, o titular da Secretaria da Educação designará um
registro expedido pelos órgãos competentes. integrante da carreira pró-tempore, até novo preenchi-
Art. 12 - As atividades de docência ou técnico-peda- mento do cargo pelo mesmo processo previsto no caput
gógicas em classes especiais ou de alunos com necessida- deste artigo.
des educacionais especiais serão exercidas por professores Art. 19 - O cargo em comissão de Secretário Escolar
que possuírem especialização adequada em nível médio ou somente poderá ser exercido por servidor público estadual
superior, para atendimento especializado, bem como por após aprovação prévia em processo seletivo interno e certi-
professores de ensino regular capacitados para a integra- ficação, conforme critérios e procedimentos estabelecidos
ção desses educandos nas classes comuns. em regulamento.
193
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Art. 20 - Os integrantes do Magistério Público Estadual VIII - coletar, analisar e divulgar os resultados de de-
de Ensino Fundamental e Médio relacionados por área, sempenho dos alunos, visando a correção de desvios no
grau, disciplina e função, lotados na Secretaria da Educação Planejamento Pedagógico;
serão distribuídos, por ato competente, entre os diversos IX- assegurar a participação do Colegiado Escolar na
estabelecimentos de ensino. elaboração e acompanhamento do plano de desenvolvi-
Art. 21 - O ingresso nos cargos da carreira do magis- mento da escola;
tério público estadual depende de aprovação prévia em X - gerenciar o funcionamento das escolas, zelando
concurso público de provas e títulos, de acordo com a na- pelo cumprimento da legislação e normas educacionais e
tureza e a complexidade do cargo, na forma prevista nesta pelo padrão de qualidade do ensino;
Lei e observada as demais legislações específicas para cada XI - cumprir e fazer cumprir as disposições contidas na
caso. Programação Escolar, inclusive com referência a prazos;
XII - supervisionar a distribuição da carga horária obri-
CAPÍTULO III - gatória dos servidores da escola;
DA ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA XIII - emitir certificados, atestados, guia de transferên-
cia e demais documentos que devam ser emitidos pelo di-
Art. 22 - Na organização administrativa e pedagógica rigente máximo da Unidade Escolar;
das unidades escolares, haverá, de acordo com a categoria XIV - controlar a freqüência dos servidores da Unidade
da respectiva unidade escolar e o nível de escolaridade do Escolar;
titular do cargo, os cargos em comissão de Diretor, Vice-Di- XV - elaborar e controlar a escala de férias dos servido-
retor e Secretário Escolar, na forma estabelecida no Anexo res e enviar via específica à DIREC;
V desta Lei. XVI - promover ações que estimulem a utilização de
Parágrafo único - A classificação dos cargos em comis- espaços físicos da Unidade Escolar, bem como o uso dos
são de Diretor e Vice-Diretor, de acordo com o nível de recursos disponíveis para a melhoria da qualidade de en-
escolaridade do titular, é a seguinte: sino como: bibliotecas, salas de leitura, televisão, laborató-
I - Nível 1: ocupante de cargo efetivo classificado nos rios, informática e outros;
níveis 1 ou 2; XVII - estimular a produção de materiais didático-pe-
II - Nível 2: ocupante de cargo efetivo classificado nos dagógicos nas Unidades Escolares, promover ações que
níveis 3 ou 4. ampliem esse acervo, incentivar e orientar os docentes
Art. 23 - O Diretor e o Secretário Escolar exercerão o para a utilização intensiva e adequada dos mesmos;
cargo em regime de tempo integral e o Vice-Diretor em XVIII - coordenar as atividades administrativas da Uni-
regime de tempo parcial, de conformidade com o disposto dade Escolar;
no Anexo VI desta Lei, podendo o Vice-Diretor vir a ser XIX - convocar os professores para a definição da dis-
submetido ao regime de tempo integral nas hipóteses a tribuição das aulas de acordo com a sua habilitação, ade-
serem definidas em decreto regulamentar. quando-as à necessidade da Unidade Escolar e do Profes-
Art. 24 - São atribuições do Diretor: sor;
I - administrar e executar o calendário escolar; XX - manter atualizadas as informações funcionais dos
II - elaborar o planejamento geral da unidade escolar, servidores na Unidade Escolar;
inclusive o planejamento da proposta pedagógica; XXI - zelar pelo patrimônio da escola, bem como o uso
III - promover a política educacional que implique no dos recursos disponíveis para a melhoria da qualidade de
perfeito entrosamento entre os corpos docente, discente, ensino como: bibliotecas, salas de leitura, televisão, labora-
técnico-pedagógico e administrativo; tórios, informática e outros;
IV - informar ao servidor da notificação, ao dirigente XXII - analisar, conferir e assinar o inventário anual dos
máximo da Secretaria, da necessidade de apurar o descum- bens patrimoniais e do estoque do material de consumo;
primento dos deveres funcionais, inclusive o não cumpri- XXIII - responder pelo cadastramento e registros rela-
mento regular da jornada obrigatória de trabalho e tomar cionados com a administração de pessoal;
a ciência do faltoso ou juntar aos autos declaração de duas XXIV - programar, registrar, executar e acompanhar as
ou mais testemunhas no caso de recusa do servidor de re- despesas da Unidade Escolar;
ceber a informação e dar ciência; XXV - coordenar as atividades financeiras da Unidade
V - comunicar à Diretoria Regional de sua jurisdição Escolar;
a necessidade de professores ou existência de excedentes XXVI - controlar os créditos orçamentários da Unidade
por área e disciplina; Escolar oriundos dos recursos Federais, Estaduais ou Mu-
VI - manter o fluxo de informações atualizado, inclusive nicipais;
as ocorrências funcionais dos servidores, com a DIREC; XXVII - elaborar e responder pela prestação de contas
VII - acompanhar e avaliar os planos, programas e pro- dos recursos da Unidade Escolar;
jetos voltados para o desenvolvimento do sistema e/ou XXVIII - registrar e controlar as obrigações a pagar da
rede de ensino e de escola, em relação a aspectos pedagó- Unidade Escolar;
gicos, administrativos, financeiros, de pessoal e de recursos XXIX - adotar medidas que garantam as condições fi-
materiais; nanceiras necessárias à implementação das ações previstas
no plano de desenvolvimento da Unidade Escolar;
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Parágrafo único - Além da ordem de prioridade previs- Art. 38 - Considera-se atividade de magistério, para
ta neste artigo, observar-se-á a seguinte preferência: efeito de aplicação da progressão por avanço vertical, a
I - de mais tempo de efetivo exercício do magistério preparação, ministração de aulas, controle e avaliação do
estadual, na localidade de onde requer remoção; rendimento escolar, recuperação dos alunos, atuação em
II - de nível mais elevado; projetos especiais, coordenação pedagógica e direção es-
III - mais antigo no magistério; colar.
IV - mais antigo no serviço público estadual; Art. 39 - O preenchimento mediante progressão fun-
V - de idade maior. cional por avanço vertical, dos cargos criados por esta Lei,
obedecerá ao limite máximo de 60% (sessenta por cento)
SEÇÃO II - das vagas existentes anualmente.
AVANÇO Redação do art. 39 de acordo com o art. 1 da Lei nº
9.838, de 19 de dezembro de 2005. Redação original: “Art.
Art. 32 - Ao servidor do magistério é assegurado o di- 39 - O preenchimento mediante progressão funcional por
reito à percepção de vantagem de avanço em virtude de avanço vertical, dos cargos criados por esta Lei, obedecerá
tempo de efetivo exercício no Magistério Público do Ensino ao limite máximo de 40% (quarenta por cento) das vagas
Fundamental e Médio do Estado da Bahia ou de obtenção existentes anualmente.”
de titulação específica. Art. 40 - O interstício será apurado em dias de efetivo
Parágrafo único - O avanço poderá ser horizontal e exercício no nível, sendo considerado para este efeito os
vertical. afastamentos por motivos de:
Art. 33 - Consiste o avanço horizontal por tempo de I - por 1 (um) dia, para doação de sangue;
serviço na majoração do vencimento básico por quinquê- II - por 2 (dois) dias, para alistamento eleitoral;
nio de efetivo exercício no Magistério Público do Ensino III - por 8 (oito) dias consecutivos, por motivo de:
Fundamental e Médio do Estado da Bahia. a) casamento;
§ 1º - O avanço horizontal por tempo de serviço será b) falecimento de cônjuge, companheiro, pais, padrasto
devido à razão de 5% (cinco por cento), sobre o vencimen- ou madrasta, filhos, enteados, menor sob guarda ou tutela
to básico, por qüinqüênio, aos servidores do quadro do e irmãos, desde que comprovados com atestado de óbito.
Magistério do Ensino Fundamental e Médio, que estejam IV - até 15 (quinze) dias, por período de trânsito, com-
no efetivo exercício, contínuo ou interpolado, de atividades preendido como o tempo gasto pelo servidor que mudar
de regência de classe, coordenação pedagógica e direção de sede, contados da data do desligamento.
de unidades de ensino, até o limite máximo de 30% (trinta V - férias;
por cento). VI - participação em programa de treinamento regular-
§ 2º - A gratificação prevista neste artigo somente al- mente instituído;
cançará aos servidores beneficiados pela disposição do § VII - participação em júri e em outros serviços obriga-
2º do artigo 3 da Lei nº 4.694, de 09 de junho de 1987, tórios por lei;
quando a vantagem pessoal que lhes foi assegurada for VIII - missão ou estudos em outros pontos do território
inferior ao limite percentual máximo estabelecido no pa- nacional ou no exterior, quando o afastamento houver sido
rágrafo precedente e apenas para completar aquele limite. autorizado pela autoridade competente;
Art. 34 - O avanço horizontal por tempo de serviço será IX - abono de falta, a critério do chefe imediato do ser-
devido a partir do dia imediato àquele em que o servidor vidor, no máximo de 72 (setenta e dois) dias por quinquê-
do magistério completar o quinquênio de efetivo exercício, nio;
contínuo ou interpolado. X - licença:
Art. 35 - Consiste o avanço vertical na progressão do a) à gestante, à adotante e licença-paternidade;
servidor para o nível imediatamente superior na carreira, b) para tratamento da própria saúde;
em virtude de obtenção de titulação específica. c) por motivo de acidente em serviço ou por doença
Art. 36 - O avanço vertical far-se-á, à vista da qualifica-
profissional;
ção obtida pelo servidor.
d) prêmio por assiduidade;
Parágrafo único - A progressão de que trata este artigo
e) para o servidor-atleta.
é condicionada à conclusão do curso de formação profis-
XI - exercício de cargo comissionado no âmbito da Ad-
sional, conforme estabelecido no Anexo III desta Lei.
ministração, em atividades relacionadas à área da Educa-
Art. 37 - São requisitos para progressão por avanço
ção.
vertical:
Art. 41 - A contagem do interstício será suspensa na
I - estar o servidor no efetivo exercício de atividades do
Magistério, correspondentes às atribuições do cargo que data do afastamento do servidor por motivo de:
ocupe; I - falta injustificada ao serviço;
II - cumprir o interstício mínimo de 03 (três) anos de II - suspensão disciplinar ou preventiva;
permanência no nível atribuído ao cargo ocupado; III - licença com perda de vencimento;
III - comprovar o servidor possuir titulação específica, IV - readaptação em função estranha ao magistério;
correspondente à formação profissional exigida para o ní- V - colocação à disposição de qualquer órgão ou enti-
vel pretendido, conforme previsto no Anexo III desta Lei. dade da administração pública direta ou indireta, Federal,
Estadual ou Municipal;
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Art. 48 - A valoração dos critérios para a alteração do Art. 53 - O docente da 1ª a 4ª série do ensino funda-
regime de trabalho será feita de acordo com a seguinte mental, submetido ao regime de tempo parcial ou integral
pontuação: com efetiva regência de classe, receberá uma gratificação
I - à assiduidade serão atribuídos 06 (seis) pontos para de 15% (quinze por cento) sobre o seu vencimento básico,
cada ano letivo sem anormalidades na freqüência; a título de atividades complementares, que passará a ser
II - à antiguidade serão atribuídos, sem qualquer possi- de 27% (vinte e sete por cento) a partir de 1º de janeiro
bilidade de cumulação: de 2003
a) a cada ano letivo de magistério na unidade escolar, Parágrafo único - O docente com carga horária de 40
03 (três) pontos para o docente e demais servidores que (quarenta) horas semanais que exercer as atividades letivas
exerçam atividade de suporte pedagógico direto à docên- na 1ª a 4ª série do ensino fundamental somente por 20
cia e 04 (quatro) pontos para o exercente do cargo de Di- (vinte) horas semanais, receberá uma gratificação de 7,5%
retor; (sete e meio por cento) sobre o seu vencimento básico, a
b) a cada ano letivo de magistério público estadual, 02 título de atividades complementares, que passará a ser de
(dois) pontos;
13,5% (treze e meio por cento) a partir de 1º de janeiro de
c) a cada ano civil de serviço no funcionalismo público
2003.
estadual será atribuído 01 (um) ponto.
Art. 54 - Poderá ser concedido horário especial ao ser-
Parágrafo único - Na hipótese de ter o docente ou os
vidor do Magistério Público Estadual do Ensino Fundamen-
demais servidores que exerçam atividade de suporte pe-
dagógico direto à docência, no curso de um mesmo ano tal e Médio, estudante, quando comprovada a incompatibi-
letivo, atuado em mais de uma das situações figuradas nas lidade de horário escolar com o da Unidade de Ensino, sem
alíneas do inciso II deste artigo, a contagem dos pontos prejuízo do exercício do cargo.
para efeito de aferição da antiguidade será feita propor- Parágrafo único - Para efeito do disposto neste artigo,
cionalmente. será exigido a compensação de horários da Unidade de En-
Art. 49 - A alteração do regime de trabalho para redu- sino, respeitada a duração da jornada de trabalho semanal.
ção da carga horária, de 40 (quarenta) horas para 20 (vinte) Art. 55 - Para desenvolvimento das atividades comple-
horas semanais, ocorrerá unicamente no período de reces- mentares dos professores da 5ª a 8ª séries do Ensino Fun-
so escolar, devendo o requerimento respectivo ser instruí- damental e os do Ensino Médio deverão ser reservadas 25%
do com os seguintes documentos: (vinte e cinco por cento) da carga horária correspondente
I - declaração do docente ou dos demais servidores ao regime de trabalho a que os mesmos se subordinem, e
que exerçam atividade de suporte pedagógico direto à do- a partir de 1º de janeiro de 2003 deverão ser reservadas as
cência declinando o motivo da sua pretensão, de modo a cargas horárias estabelecidas no anexo VII desta Lei.
deixar claro que a redução não lhe trará prejuízo de qual- Art. 56 - Considera-se Atividade Complementar, a car-
quer ordem; ga horária destinada, pelos professores em efetiva regência
II - manifestação expressa do superior hierárquico de classe, com a participação coletiva dos docentes, por
quanto à possibilidade da redução de carga horária plei- área de conhecimento, à preparação e avaliação do traba-
teada. lho didático, às reuniões pedagógicas e ao aperfeiçoamen-
Art. 50 - O prazo máximo para requerer alteração de to profissional, de acordo com a proposta pedagógica de
regime de trabalho é de 60 (sessenta) dias antes do térmi- cada Unidade Escolar.
no do semestre letivo. Art. 57 - É obrigatória a participação de todos os pro-
Art. 51 - Os docentes e os demais servidores que exer- fessores em efetiva regência nas Atividades Complementa-
çam atividade de suporte pedagógico direto à docência res, em dia e hora determinados pela direção da Unidade
submetidos ao regime de tempo parcial, quando no exer- Escolar, sendo essas atividades supervisionadas pelo Coor-
cício do cargo de Diretor das Unidades Escolares, quando
denador Pedagógico, sem prejuízo da carga horária desti-
designado para exercer atividades no Núcleo de Tecnolo-
nada à efetiva regência de classe.
gia ou no Programa de Enriquecimento Instrumental - PEI,
Art. 58 - A distribuição da carga horária do professor
terão o seu regime de trabalho temporariamente alterado
deverá ser feita conforme estabelecido no Anexo VII desta
para o regime de 40 (quarenta) horas, quando o funciona-
mento do estabelecimento assim o exigir e houver dispo- Lei.
nibilidade de recursos. § 1º - A distribuição de carga horária do professor em
Parágrafo único - Aplica-se o disposto neste artigo ao sala de aula obedecerá, prioritariamente, à sua formação
exercente do cargo de Vice-Diretor nas hipóteses previstas profissional, considerando a modalidade de ensino da Uni-
em decreto regulamentar. dade Escolar e à seguinte ordem de preferência:
Art. 52 - O docente ou os demais servidores que exer- I - maior tempo de serviço em efetiva regência de clas-
çam atividade de suporte pedagógico direto à docência, se na Unidade Escolar;
em regime de 40 (quarenta) horas semanais, somente terá II - nível mais alto de enquadramento no quadro de
assegurada a percepção de proventos de inatividade neste Magistério Público Estadual;
regime, se nele houver permanecido por, no mínimo, 05 III - assiduidade.
(cinco) anos consecutivos e imediatamente anteriores à § 2º - A distribuição da carga horária do professor de-
data do requerimento de aposentadoria. verá ser feita, considerando:
198
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
I - as atividades em sala de aula - Regência de Classe; Art. 62 - O docente e demais servidores que exerçam
II - as Atividades Complementares - AC, destinadas à atividade de suporte pedagógico direto à docência devida-
preparação e avaliação do trabalho didático, às reuniões mente matriculados em cursos de pós-graduação a nível
pedagógicas e ao aperfeiçoamento profissional; de especialização, mestrado ou doutorado, que tenham
III - as atividades de livre escolha - destinadas à prepa- correlação com a sua formação profissional e com as atri-
ração de aulas e a avaliação de trabalhos de alunos. buições definidas para o cargo que ocupa, poderão ser
liberados das atividades educacionais ou técnicas, parcial
SEÇÃO V - ou totalmente, sem prejuízo das vantagens do cargo e de
acordo com o interesse da Administração.
DO ENQUADRAMENTO § 1º - A ausência não excederá a 02 (dois) anos, pror-
rogável por mais 1 (um) e, findo o curso, somente após de-
Art. 59 - Fica assegurado aos atuais professores não corrido o mínimo de 05 (cinco) anos poderá ser permitida
licenciados o direito ao enquadramento na Carreira do Ma- nova ausência.
gistério Público Estadual do Ensino Fundamental e Médio, § 2º - Ao servidor beneficiado pelo disposto neste ar-
quando obtiverem a habilitação específica para o exercício tigo não será concedida exoneração, licença para tratar de
do magistério. interesse particular ou aposentadoria antes de decorrido
§ 1º - Para fins do disposto no caput deste artigo, con- período igual ao do afastamento, ressalvada a hipótese do
sideram-se professores não licenciados os servidores em ressarcimento das despesas correspondentes.
exercício de magistério sem titulação específica, nos ter- § 3º - O afastamento previsto neste artigo não será
mos da legislação federal e das resoluções do Conselho concedido ao servidor exercente de cargo comissionado.
Estadual de Educação. Art. 63 - Não é permitido ao Professor ou Coordenador
§ 2º - Os professores não licenciados permanecerão, Pedagógico exercer, em regime de disposição ou requisi-
obrigatoriamente, em regência de classe, salvo os que vie- ção, qualquer função pública estranha ao magistério.
rem a ocupar Cargos em Comissão, nos termos desta Lei. Parágrafo único - Não se compreendem na proibição
§ 3º - Os cargos de professor não licenciado, estrutu- deste artigo as seguintes situações:
I - exercício da função de governo ou administração
rados em níveis, são os constantes no Anexo VIII desta Lei.
federal, no território nacional ou no exterior, por nomeação
§ 4º - Aos atuais professores nao licenciados que se en-
do Presidente da República;
contrem no exercicio do magisterio a titulo precario e nao II - exercício de funções de Secretário de Estado, dire-
preenchem os requisitos previstos no Anexo VIII desta Lei ção de entidades da administração estadual descentraliza-
serao atribuidos vencimentos correspondentes ao Nivel 02. da, e de cargos em comissão, por nomeação do Governa-
dor;
SEÇÃO VI III - opção, de acordo com o disposto no parágrafo úni-
- AFASTAMENTOS E VANTAGENS co do artigo 30.
Art. 64 - Os Professores do Magistério Público Estadual
Art. 60 - Ao professor ou Coordenador Pedagógico que do Ensino Fundamental e Médio, portadores de habilitação
contrair doença pela natureza ou por conta da sua ativida- específica decorrente de curso regularmente reconhecido,
de, serão assegurados os direitos previstos na Lei nº 6.677 com carga horária mínima e integralizada em um único
, de 26 de setembro de 1994. curso de 360 (trezentos e sessenta) horas/aula, perceberão
uma gratificação especial de 20% (vinte por cento), calcu-
Art. 61 - Serão considerados de efetivo exercício os
lada sobre o valor do vencimento base do nível do cargo
afastamentos do servidor do magistério para:
ocupado, enquanto estiver na regência de classes com alu-
I - licença para tratamento de saúde; nos com necessidades educacionais especiais.
II - seu aperfeiçoamento, especialização ou atualização Parágrafo único - A gratificação prevista neste artigo
em instituições nacionais ou estrangeiras; será concedida a pedido do docente, pela autoridade com-
III - comparecer a reuniões ou congressos relacionados petente e à vista do comprovante do ato oficial de designa-
com a atividade docente que lhe seja pertinente; ção para a regência de classe de excepcionais.
IV - cumprir programa de educação ou ensino resul- Art. 65 - A Gratificação de Estímulo às Atividades de
tante de acordo cultural com outra nação; Classe será concedida aos ocupantes do cargo de Profes-
V - prestar assistência técnica relacionada com sua ati- sor do Magistério Público Estadual do Ensino Fundamental
vidade docente; e Médio que se encontrem em efetiva regência de classe,
VI - quando no exercício de um mandato legislativo no percentual de 40% (quarenta por cento) sobre o venci-
compor a Comissão de Educação; mento básico atribuído ao cargo ocupado pelo beneficiá-
VII - abono de falta, a critério do chefe imediato do rio desde que preenchidos, cumulativamente, os seguintes
servidor, no máximo de 72 (setenta e dois) dias por quin- requisitos:
quênio; I - que a regência de classe esteja sendo exercida em
Parágrafo único - Nos casos dos incisos II a V deste ar- Unidades Escolares da Rede Pública Estadual ou em Uni-
tigo a autoridade competente para permitir o afastamento dades Escolares conveniadas ou municipalizadas mediante
convênio celebrado com o Estado da Bahia, por intermédio
deverá considerar a conveniência e o interesse do ensino.
da Secretaria da Educação;
199
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
200
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limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou Como parte do suporte para a jornada, a Secretaria de
mental, garantindo-se-lhe o vencimento do cargo de que é Educação disponibiliza uma série de materiais de apoio no
titular e as vantagens que lhe seja asseguradas pelo exercí- Portal da Educação, onde é possível acessar a programa-
cio destas novas funções. ção da jornada e as informações sobre os projetos estru-
Parágrafo único - E garantida à gestante atribuições turantes para o setor. Também estão disponíveis materiais
compatíveis com seu estado físico, nos casos em que hou- de apoio aos professores, como Plano de Aula, Plano de
ver recomendação clínica, sem prejuízo de seus vencimen- Unidade por Componente Curricular e Plano por Área de
tos e demais vantagens do cargo. Conhecimento. O Portal oferece, ainda, os instrumentos de
Art. 95 - Ficam extintas a Gratificação de Incentivo à avaliação das experiências positivas e os ajustes que de-
Qualificação Profissional, a partir de 31 de dezembro de vem ser feitos para o sucesso das atividades desenvolvidas,
2002, e a Gratificação por Desempenho e Qualificação Pro- dando subsídios para o fortalecimento do trabalho peda-
fissional e o Abono de Permanência em Atividade, a partir gógico, durante o ano letivo.40
da entrada em vigor desta Lei, para os integrantes do Ma- Em 2017:
gistério Público Estadual do Ensino Fundamental e Médio. A escolha do tema da Jornada Pedagógica 2017 Esco-
la e Comunidade para Educar e Transformar é um convite
Art. 96 - O Poder Executivo expedirá os atos regula-
à comunidade escolar para reflexão sobre esse movimen-
mentares necessários à execução da presente Lei.
to, que junta escola e comunidade, na definição de ações
Art. 97 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua pu-
prioritárias, com vistas ao alcance dos objetivos e metas
blicação.
propostos no Projeto Político Pedagógico.
Art. 98 - Revogam-se as disposições em contrário, es- Acesse o link a seguir e tenha todos os detalhes sobre a
pecialmente a Lei nº 3.375 , de 31 de janeiro de 1975. PA- Jornada Pedagógica: (http://jornadapedagogica.educacao.
LÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, em 29 de ba.gov.br)
maio de 2002.
OTTO ALENCAR
Governador Ruy Tourinho Secretário de Governo Ana Exercícios
Lúcia Barbosa Castelo Branco Secretária da Educação
01. Assinale a alternativa que associa corretamente
Fonte; https://governo-ba.jusbrasil.com.br/legisla- os números do primeiro bloco de palavras à(s) letra(s) do
cao/85404/lei-8261-02 segundo bloco.
1. Pedagogia Tradicional.
2. Tecnicismo.
3. Construtivismo.
O PLANEJAMENTO DA JORNADA PEDAGÓGICA a. Prática pedagógica altamente controlada e dirigida
ANUAL DA REDE PÚBLICA ESTADUAL: pelo professor, com atividades mecânicas inseridas numa
FUNÇÃO E RESULTADOS. proposta educacional rígida e passível de ser totalmente
programada em detalhes.
b. As idéias de descobrir, inventar, redescobrir, criar,
A Jornada Pedagógica é um momento em que profis- sendo que aquilo que se faz é tão importante quanto o
sionais da educação partilham ideias, ensinam e aprendem motivo e a maneira que se faz.
na coletividade, com o propósito de promover o fortaleci- c. Prática pedagógica altamente controlada e dirigida
pelo professor; proposta educacional rígida, com ativida-
mento do processo educativo, por meio da análise dos in-
des mecânicas.
dicadores educacionais, dos valores e da cultura das esco-
d. Prática pedagógica que se caracteriza pela sobre-
las. O tema escolhido é um convite à comunidade escolar
carga de informações veiculadas ao aluno; processo de
para evidenciar práticas educativas e o trabalho desenvol-
aquisição de conhecimento muitas vezes destituído de
vido com a leitura, na perspectiva das diversas linguagens e significação.
áreas do conhecimento. As práticas que educam e a leitura e. O conhecimento já adquirido pelo aluno não é va-
abrem a discussão entre o coletivo da unidade escolar na lorizado, sendo a cartilha sequencialmente seguida, a base
Jornada Pedagógica e devem ser consideradas ao longo do processo de alfabetização
do ano letivo para a garantia do direito de aprender dos
nossos estudantes. a) 1A, 1D, 2B, 3C e 3E.
A Jornada Pedagógica traz atividades diversificadas b) 1B, 2C, 2D, 3A e 3E.
para o fortalecimento de práticas educativas e socialização c) 1D, 1E, 2A, 2C e 3B.
de metodologias que despertem o interesse, a participação d) 1C, 1E, 2A, 2B e 3D.
e a aprendizagem dos estudantes. Durante os três dias de e) 1E, 2C, 2B, 3A e 3D.
trabalho, os participantes fazem uma avaliação do ano le-
tivo e discutem o Projeto Político Pedagógico das escolas, 40 Fonte:
além do planejar as atividades interdisciplinares a serem www.carlosbritto.com
realizadas em cada unidade escolar no ano seguinte.
203
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
02. (CEFET-AL - 2013 - IF-AL ) Considerando a tendên- 05. (CESPE - 2012 - TJ-RO) A aprendizagem, de acor-
cia pedagógica liberal tecnicista, é falso afirmar que: do com a concepção pedagógica liberal renovadora não
a) O tecnicismo educacional ganhou autonomia en- diretiva:
quanto tendência pedagógica nos anos 60, inspirada na a) consiste em modificar as percepções da realidade.
teoria behaviorista da aprendizagem e na abordagem sis- b) baseia-se na motivação e na estimulação de pro-
têmica do ensino. blemas.
b) A tendência tecnicista está interessada na racionali- c) baseia-se no desempenho do aluno.
zação do ensino, no uso de meios e técnicas mais eficazes, d) prioriza a resolução de situações-problema a partir
prevalecendo o uso de manuais de caráter instrumental. de temas geradores.
c) Os livros didáticos utilizados nas escolas que adotam e) ocorre a partir da interação social, da construção de
essa tendência são elaborados com base na tecnologia da conhecimento em grupo.
instrução.
d) A tendência tecnicista foi imposta às escolas pelos 06. (Professor – Anos Iniciais – 2013 – ICAP). Um pro-
órgãos oficiais do governo populista, por ser compatível jeto pedagógico poderá ser orientado por três grandes di-
com a orientação econômica, política e ideológica vigente retrizes:
nesse período. I. Posicionar-se em relação às questões sociais e inter-
e) No tecnicismo, o professor é um administrador e pretar a tarefa educativa como uma intervenção na realida-
executor do planejamento, que é organizado com objeti- de no momento presente;
vos, conteúdos, estratégias e avaliação. II. Não tratar os valores apenas como conceitos ideais;
III. Incluir essa perspectiva no ensino dos conteúdos
03. (FUNCAB - 2013 - SEDUC-RO) Na tendência tradi- das áreas de conhecimento escolar.
cional, a Pedagogia Liberal se caracteriza por: Assinale a alternativa correta:
a) subordinar a educação à sociedade, tendo como a) Apenas o item I está correto.
função a preparação de recursos humanos por meio da b) Apenas o item II está correto.
profissionalização. c) Apenas o item III está correto.
b) valorizar a autoeducação, a experiência direta sobre d) Apenas os itens I e III estão corretos.
o meio pela atividade e o ensino centrado no aluno e no e) Todos os itens estão corretos.
grupo. 07. A justaposição de disciplinas e o trabalho com um
c) acentuar o ensino humanístico, de cultura geral, único tema por diferentes disciplinas são ações que garan-
através do qual o aluno deve atingir pelo seu próprio es- tem o sucesso do trabalho educativo na perspectiva inter-
forço, sua plena realização. disciplinar.
d) considerar a educação um processo interno, que ( ) certo
( ) errado
parte das necessidades e dos interesses individuais.
e) focar no aprender a aprender, ou seja, é mais im-
08. A Constituição Federal em seu artigo 206, inciso VI,
portante o processo de aquisição do saber do que o saber
estabelece a gestão democrática no ensino público como
propriamente.
um entre os sete princípios necessários para se ministrar o
ensino em nosso país, por extensão, para gerir as escolas
04. (FUNCAB - 2012 - MPE-RO) As práticas do cotidia- públicas. Coloque SIM (S) para os itens que são pertinentes
no escolar têm vários condicionantes políticos e sociais que a uma gestão democrática e NÃO (N) para as que não são
configuram diferentes concepções de homem e socieda- pertinentes.
de e, em consequência, diferentes concepções de escola, ( ) Pessoas a serviço da organização.
aprendizagem, relação professor/a – aluno/a, técnicas pe- ( ) Hierarquia verticalizada.
dagógicas, entre outras. Conforme Libâneo (1992), as ten- ( ) Responsabilidade compartilhada.
dências pedagógicas classificam-se ( ) Foco no cumprimento de normas e regulamento.
em duas grandes vertentes: ( ) Relacionamento interpessoal.
a) Pedagogia Liberal (tradicional, renovada não diretiva ( ) Preocupação com processos e resultados.
e tecnicista) e Pedagogia Emancipatória (libertadora, reno-
vada progressista, libertária e crítico-social dos conteúdos). A sequência CORRETA, de cima para baixo, é:
b) Pedagogia Liberal (libertadora, libertária e crítico-so- (A) N, N, S, N, S, S.
cial dos conteúdos) e Pedagogia Progressista (tradicional, (B) S, S, N, S, S, N.
renovada progressista, renovada não diretiva e tecnicista). (C) N, S, S, N, N, S.
c) Pedagogia Liberal (tradicional, renovada progressis- (D) N, S, N, N, S, S.
ta, renovada não diretiva e tecnicista) e Pedagogia Progres-
sista (libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos). 09. “Qual é o papel da avaliação no processo de ensino
d) Pedagogia Autoritária (tradicional, renovada pro- aprendizagem? É certo que podermos separar o fato de
gressista, renovada não diretiva e tecnicista) e Pedagogia ensinar do fato de ensinar e avaliar? Antes de ensinar, sem-
Capitalista (libertadora, libertária e crítico-social dos con- pre fazemos uma avaliação inicial?” BASSEDAS, HUGUETE,
teúdos). SOLE, 1999. São muitos os questionamentos sobre avalia-
e) Pedagogia Liberal (tradicional, renovada progressis- ção. Analise as afirmativas a seguir e marque a alternativa
ta, renovada não diretiva e tecnicista) e Pedagogia Capita- INCORRETA:
lista (libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos).
204
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
a) A avaliação é utilizada para ajustar ou modificar as c) implicam na planificação pedagógica e as ações do-
atividades em função dos conhecimentos e as dificuldades centes fundamentadas em critérios que definem o que o
no início de uma sequência de ensino e de aprendizagem. aluno deve aprender; como e quando aprender; que for-
b) Uma prática de avaliação formativa supõe um do- mas de organização do ensino são mais eficientes para o
mínio do currículo e dos processos de ensino e de apren- processo de aprendizagem; como e quando avaliar o aluno.
dizagem. d) auxiliam no intercambio com as instituições simila-
c) Ao elaborar uma avaliação, o educador deve obser- res para o controle oficial dos órgãos de fomento de como
var a contextualização, a interdisciplinaridade e a parame- avaliar cada instituição e os docentes que estão realizando
trização. trabalhos diferenciados com cada aluno com necessidades
d) A avaliação se restringe ao julgamento sobre suces- especiais.
so ou fracasso do aluno e pode ser compreendida como e) impedem a evasão escolar e promovem escolas de
um conjunto de ações que orientam a intervenção peda- educadores especializados em alfabetização de alunos es-
gógica. peciais para avaliar o resultados dos testes destinados a
clientela que se pretende incluir na escola regular com vis-
10. A Lei de Diretrizes e Bases, Lei nº. 9394/96, em seu tas a socialização dos familiares no processo educativo.
art. 3º enfatiza os princípios norteadores do ensino no Bra- Parte inferior do formulário
sil. Analise-os:
I. Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a 13. (NUCEPE/2015 - SEDUC-PI) O processo de inclusão
cultura, o pensamento, a arte e o saber. escolar pode prever como uma das metodologias a indi-
II. Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas. vidualização do ensino, através de planos específicos de
III. Respeito à liberdade e apreço à tolerância. aprendizagem para o aluno. No entanto, deve-se evitar
Está(ão) correto(s) apenas o(s) princípio(s): a) fazer um currículo individual paralelo para alguns
a) I, II alunos. Caso isto aconteça, estes alunos ficam à margem
b) II do grupo, pois as trocas significativas feitas em uma sala
c) III de aula necessariamente acontecem em torno dos objetos
d) I, II, III de aprendizagem.
b) levar em conta a diversidade, pois em uma sala de
11. (FUNIVERSA/2015 - Secretaria da Criança – DF) As- aula as aprendizagens necessariamente acontecem em tor-
sinale a alternativa que apresenta o termo correspondente no dos objetos de aprendizagem que são pensados para
à definição a seguir: caracteriza-se como nova concepção todos os alunos.
de divisão do saber e visa à interdependência, à interação e c) as flexibilizações curriculares no processo de inclu-
à comunicação existentes entre as áreas do conhecimento. são educativa, pois é necessário pensá-las para um grupo
Há a interação e o compartilhamento de ideias, opiniões e de alunos e as diversidades que o compõem, e não para
explicações. alguns alunos tomados isoladamente.
a) multidisciplinaridade d) atender as outras diversidades que aparecem coti-
b) interdisciplinaridade dianamente na comunidade. Deve-se atender individual-
c) contextualização mente quem realmente precisa, ou seja, os alunos com
deficiências.
12. (BIO-RIO/2015 - IF-RJ) No processo de planeja- e) trabalhar os temas com todos os alunos da turma,
mento de adaptações curriculares aos alunos com neces- pois alguns alunos, com determinados problemas, não pre-
sidades especiais, há dimensões do currículo que precisam cisam alcançar objetivos de natureza acadêmica, e sim de
ser levadas em consideração para que ele reflita um modo natureza funcional.
de entender a educação e a cultura escolar. No Brasil, este
tópico é abordado legalmente nos Parâmetros Curriculares 14. (CS-UFG/2014 - IF-GO) Na escola há uma certa ma-
Nacionais: Adaptações Curriculares. No documento brasi- neira de organização do trabalho, da vida e da convivência.
leiro, as adaptações curriculares: As exigências de procedimento, regras e métodos para se
a) ajustam as diferentes instancias curriculares, para realizar algo é o que se convencionou chamar de
responder às necessidades dos professores, e assim fa- a) currículo escolar.
vorecer as condições que lhe são necessárias para que se b) tradição escolar.
efetive o máximo possível de ensino e aprendizagem para c) disciplina escolar.
que assim os alunos especiais tenham tarefas semelhantes e) estatuto escolar.
a todos os demais alunos.
b) consideram que a diversidade esta presente em sala 15. (COPEVE-UFAL/2011 – UFAL) O financiamento da
de aula e que as diferentes formas de aprender enriquecem Educação Básica não se restringe aos recursos do FUNDEB
o processo educacional favorecendo a igualdade e promo- – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
vendo atitudes pedagógicas com vistas a criar condições Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação. Al-
de manutenção de um planejamento homogêneo. guns programas como Programa Nacional do Livro Didá-
205
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
tico, Programa Biblioteca Escolar, Programa de Transporte a) Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Mé-
e de Merenda Escolar, contribuem para a manutenção da dio e Educação Especial.
educação e são desenvolvidos pelo b) Educação Especial, Educação Profissional e Tecnoló-
a) FUNDEF – Fundo de Manutenção e Desenvolvimen- gica, Pedagogia da Terra e Educação Escolar Indígena.
to do Ensino Fundamental. c) Educação de Tempo integral, Educação Tecnológica,
b) FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação do Campo, Educação Escolar Indígena e Educa-
Educação. ção a Distância.
c) PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola. d) Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial,
d) Programa Brasil Alfabetizado. Educação Profissional e Tecnológica, Educação do Campo,
e) PNLEM – Programa Nacional do Livro para o Ensino Educação Escolar Indígena e Educação a Distância.
Médio. e) Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional
e Tecnológica, Educação do Campo e Educação a Distância
16. (Professor – Anos Iniciais – 2013 – ICAP). A contri- e Educação Religiosa.
buição da escola é a de:
a) Não eleger a cidadania como eixo vertebrador da 19. UTFPR/2017 – UTFPR) Segundo o documento Po-
educação escolar. lítica Nacional da Educação Especial na perspectiva da
b) Colocar-se contra valores e práticas sociais. Educação Inclusiva, a educação especial está voltada para
c) Desenvolver um projeto de educação comprometida alunos com:
com o desenvolvimento de capacidades que permitam in- a) transtornos globais de desenvolvimento e altas habi-
tervir na realidade para transformá-la. lidades e dificuldades de aprendizagem.
d) Desrespeitar princípios e descomprometer-se com b) dificuldades de aprendizagem, transtornos globais
as perspectivas e decisões que as favoreçam. de comportamento e deficiência.
e) Não valorizar conhecimentos que permitam desen- c) transtornos globais de desenvolvimento, altas habili-
volver as capacidades necessárias para a participação efe- dades/superdotação e deficiência.
tiva. d) altas habilidades/superdotação, deficiência e trans-
tornos globais socioemocionais.
17. (ACAFE/2017 -SED/SC) “A educação das relações e) deficiência, superdotação e dificuldades de aprendi-
étnico-raciais/ERER tem por alvo a formação de cidadãos, zagem em mais de uma área.
mulheres e homens empenhados em promover condições
de igualdade no exercício de direitos sociais, políticos, eco- 20 . (FUNRIO/2016 – IF/PA) A interdisciplinaridade
nômicos, dos direitos de ser, viver, pensar, próprios aos pode ser assim definida:
diferentes pertencimentos étnico-raciais e sociais.” Nesse a) Os conteúdos escolares são apresentados por maté-
sentido, todas as alternativas estão corretas, exceto a: Fon- rias ou disciplinas independentes umas das outras. O con-
te: Proposta Curricular de Santa Catarina – 2014 p.66/67.
junto de matérias é proposto simultaneamente aos estu-
a) A abertura proposta pela ERER para os currículos
dantes. Trata-se de uma organização somativa.
encaminha novos saberes, novas formas de ensinar e novos
b) A interação entre duas ou mais disciplinas, que pode
comportamentos para aqueles a quem se dará essa opor-
ir desde a simples comunicação entre elas até a integração
tunidade de aprender.
recíproca de conceitos fundamentais podendo implicar, em
b) A abertura proposta pela ERER para os currículos
alguns casos, em um novo corpo disciplinar.
encaminha novos saberes, novas formas de ensinar e novos
c) O grau máximo de relações entre as disciplinas, daí
comportamentos para aqueles a quem se dará essa opor-
que supõe uma integração global dentro de um sistema
tunidade de aprender.
c) A ERER reconhece a presença de sujeitos étnicos globalizador, com o propósito de explicar a realidade sem
de matriz africana e indígena no território do conhecimen- parcelamento do conhecimento.
to (currículos oficiais). d) Uma multiplicidade de disciplinas e, cada uma delas,
d) A ERER fomenta ações educativas de combate ao em sua especialização, cria um corpo diferenciado, deter-
racismo e às discriminações. Esse princípio encaminha para minado por um campo ou objeto material de referência.
que se estabeleça conexão entre os objetivos da escola e e) Temas voltados para a compreensão e para a cons-
os dos sujeitos negros e indígenas, na busca por igualdade trução da realidade social, que são assim adjetivados por
e equidade. não pertencerem a nenhuma disciplina específica, mas por
atravessarem todas elas como se a todas fossem pertinen-
18. (IF/TO/2017 - IF-TOA Resolução CNE/CEB nº tes.
04/2010 estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Básica. Conforme esse documento para 21. (COPEVE-UFAL/2017 - Prefeitura de Maceió – AL)
a organização da Educação Básica, devem-se observar as As questões sobre o currículo estão no centro das discus-
Diretrizes Curriculares Nacionais comuns a todas as suas sões atuais. Segundo Marisa Vorraber Costa (2001), as teo-
etapas, modalidades e orientações temáticas, respeitadas rias curriculares expressam determinadas visões de mundo
as suas especificidades e as dos sujeitos a que se destinam. e de currículo. Na teoria pós-crítica, o currículo precisa le-
São consideradas modalidades da Educação Básica. var em consideração, principalmente,
206
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
a) identidades, classe social, currículo oculto, diferen- educacional, melhorando o ambiente de trabalho e apren-
ças e avaliação. dizado. Em suma, se todos agirem de forma ética na escola
b) identidades, diferenças, alteridades, gênero e multi- todos ganhará, pois os resultados serão positivos:
culturalismo. Mediante o exposto acima assinale a alternativa COR-
c) conteúdos, identidades, planejamento de ensino, RETA:
avaliação e multiculturalismo. a) Os pais ou responsáveis não tem o direito ter ciência
d)classe social, identidades, avaliação, planejamento e do processo pedagógico, bem como participar da defini-
avaliação da aprendizagem. ção das propostas educacionais.
e) conteúdos, avaliação da aprendizagem, planejamen- b) Das implicações estatutárias para a escola e do direi-
to de ensino, classe social e identidades. to á educação, é o Art. 53 diz que a criança e o adolescente
têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento
22. (MPT/2017 – MPT) Acerca da Convenção das Na- de sua pessoa, preparo para o exercício de sua cidadania e
ções Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência qualificação para o trabalho, assegurando-se - lhes: igual-
e de seu Protocolo Facultativo, ratificada pelo Brasil, analise dade de condições para o acesso e permanência na escola;
as seguintes proposições: direito de ser respeitado por seus educadores; direito de
I - O núcleo da definição de pessoas com deficiência é contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instân-
a interação dos impedimentos que essas pessoas têm com cias escolares superiores.
as diversas barreiras sociais, que resultam na obstrução de c) No processo educacional respeitar-se-ão somente
sua participação plena e efetiva na sociedade, com igualda- os valores culturais, artísticos e históricos próprios do con-
de de condições com as demais pessoas. texto social da criança e do adolescente, sendo de suma
II - Para os conceitos da Convenção, a deficiência se importância que a instituição escolar tome conhecimento
encontra na sociedade, uma vez que as barreiras sociais do Estatuto da Criança e do Adolescente, somente para a
impedem a interação plena e efetiva das pessoas que pos- sua prática educacional.
suem características de impedimentos físicos, mentais, sen- d) Nenhuma das alternativas.
soriais e intelectuais.
III - Tendo a Convenção sido aprovada na forma previs- GABARITO
ta no art. 5º, §3º, da Constituição da República, esta equiva-
le a emenda constitucional, pelo que não se aplica nenhum 1 C
conceito anterior de pessoa com deficiência contido em
normas infraconstitucionais que se contraponha ao concei- 2 D
to trazido na Convenção. 3 C
IV - Considerando-se o novo conceito adotado pela
4 C
Convenção, se o impedimento apresentado não acarreta
à pessoa dificuldade de integração social, seja no trabalho, 5 A
seja no desenvolvimento das atividades cotidianas, esta 6 E
não se enquadra no conceito de pessoa com deficiência.
7 ERRADO
Assinale a alternativa CORRETA:
a) Apenas as assertivas I, II e III estão corretas. 8 A
b) Apenas as assertivas I, II e IV estão corretas. 9 D
c) Apenas as assertivas II, III e IV estão corretas.
d) Todas as assertivas estão corretas. 10 A
e) Não respondida. 11 B
12 C
23. (Instituto Excelência/2017 - Prefeitura de Tremem-
bé – SP) A escola precisa construir espaços de diálogo e 13 A
de participação no dia-a-dia de suas atividades curricula- 14 C
res e não curriculares, de forma a permitir que estudan- 15 B
tes, docentes e a comunidade se tornem atores e atrizes
efetivos de fato, da construção da cidadania participativa. 16 C
Na escola, os distúrbios disciplinares, a violência e o autori- 17 C
tarismo nas relações interpessoais são alguns dos maiores 18 C
problemas sociais da atualidade e vêm comprometendo a
busca por uma educação de qualidade, e de forma demo- 19 C
crática, para que os conflitos cotidianos sejam enfrentados 20 B
nas escolas, busca-se a construção de valores de ética e
21 B
de cidadania por parte dos membros da comunidade es-
colar. A escola é um ambiente propício para o exercício e 22 D
aprendizado da ética. Através dela, professores, alunos e 23 B
funcionários podem obter resultados positivos no processo
207
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
208
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
4. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A Edu- O currículo tem que ser entendido como a cultura real
cação, neste método, é tecida em conjunto por alunos e que surge de uma série de processos, mais que como um
professores, frente aos exercícios da leitura e da escrita objeto delimitado e estático que se pode planejar e depois
praticadas exaustivamente nas aulas. Assim, mestres implantar; aquilo que é, na realidade, a cultura nas salas de
e aprendizes atuam juntos na construção do conheci- aula, fica configurado em uma série de processos: as deci-
mento, assessorados pela incidência da problemática sões prévias acerca do que se vai fazer no ensino, as tarefas
social mais atual e pelo arsenal de saberes já edifica- acadêmicas reais que são desenvolvidas, a forma como a
dos, patrimônio intransferível do ser humano. O texto vida interna das salas de aula e os conteúdos de ensino se
se refere a: vinculam com o mundo exterior, as relações grupais, o uso
A) Teoria do saber. e o aproveitamento de materiais, as práticas de avaliação,
B) Teoria do Ler e Saber. etc (Sacristán, J.G., 1995).
C) Teoria da Paradidática.
D) Teoria do Construtivismo. RESPOSTA: “C”.
Para Piaget, a pessoa, a todo o momento interage com 6. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Para ser
a realidade, operando ativamente objetos e pessoas. O considerada como possuidora de certa habilidade, a crian-
conhecimento é construído por informações advindas da ça tem que demonstrar que pode cumprir a tarefa sem
interação com o ambiente, na medida em que o conheci- nenhum tipo de ajuda. Denomina- se essa capacidade de
mento não é concebido apenas como sendo descoberto realizar tarefas de forma independentes:
espontaneamente, nem transmitido de forma mecânica A) NDP - Nível de Desenvolvimento Potencial.
pelo meio exterior, mas como resultado de uma interação B) ZDP - Zona de Desenvolvimento Proximal.
na qual o sujeito é sempre um elemento ativo na busca ati- C) PDH - Processo de Desenvolvimento de habilidade.
va de compreender o mundo que o cerca (MOREIRA, 1999). D) NDR - Nível de Desenvolvimento Real.
Entende-se, então, de acordo com essa teoria, que o de- Para Vygotsky, a aprendizagem e o desenvolvimento
senvolvimento cognitivo é resultado de situações e expe-
estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida do
riências desconhecidas advinda da interação com o meio,
indivíduo. Nível de desenvolvimento real: Referente as con-
onde o sujeito procura compreender e resolver as interro-
quistas que já estão consolidadas na criança, ela já apren-
gações. Com isso, o aluno exerce um papel ativo e constrói
deu e domina. Indica os processos mentais da criança que
seu conhecimento, sob orientação do professor, buscando
já se estabeleceram. Representa as funções já amadureci-
informações, propondo soluções, confrontando-as com as
das. Exemplos: andar de bicicleta, cortar com tesoura, do-
de seus colegas, defendendo-as e discutindo. Essa teoria
permite utilizar todo o potencial de interação da internet minar o teclado.
para criar um ambiente que gere conhecimento teórico e *Texto adaptado de Raquel D`Ely. Disponível em: https://
prático através da construção gradual do conhecimento repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/116361/
por meio de participação ativa. Oferece oportunidade para TEORIA%20SOCIO%20INTERACIONISTA.pdf?sequence=1
reflexão. A construção do conhecimento pelos alunos é fru-
to de sua ação, o que faz com que eles se tornem cada vez RESPOSTA: “D”.
mais autônomos intelectualmente.
*Referências: 7. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) É um tipo
MOREIRA, Marco Antonio. Teorias de Aprendizagem. de avaliação que tem por função básica a classificação dos
São Paulo: Epu, 1999. alunos, sendo realizada no final de um curso ou unidade de
ensino, classificando os alunos de acordo com os níveis de
RESPOSTA: “D”. aproveitamento previamente estabelecidos. O texto acima
descreve uma:
5. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A con- A) Avaliação formativa.
cepção de organização curricular expressa formas de B) Avaliação somativa.
concretização das intenções pedagógicas. Com base C) Avaliação diagnostica.
nesta temática é FALSO afirmar: D) Avaliação personalizada.
A) O currículo real acontece dentro da sala de aula com
professores e alunos a cada dia em decorrência de um pro- Avaliação Somativa: É uma modalidade avaliativa pon-
jeto pedagógico e dos planos de ensino. tual que ocorre ao fim de um processo educacional (ano,
B) Currículo é o conjunto de todas as experiências de semestre, bimestre, ciclo, curso etc.). Atém-se à determina-
conhecimento, proporcionada pela instituição aos educan- ção do grau de domínio de alguns objetivos pré-estabe-
dos. lecidos propondo-se a realizar um balanço somatório de
C) A organização é um currículo a partir da lógica seria- uma ou várias sequencias de um trabalho de formação. É
da a analise do progresso dos educandos. também chamada de avaliação das aprendizagens.
D) O currículo é a ligação entre a cultura e a socieda- *Disponível em: http://www.portalavaliacao.caedufjf.net/
de exterior à escola e à educação; entre o conhecimento pagina-exemplo/tipos-de-avaliacao/avaliacao-somativa/
e a cultura herdada e a aprendizagem dos alunos; entre a
teoria e a pratica possível, dadas determinadas condições. RESPOSTA: “B”.
209
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
8. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A respeito Logo, a relação entre professor e aluno depende, fun-
da Avaliação Formativa, é INCORRETO afirmar: damentalmente:
A) A avaliação formativa não tem como objetivo classi- I. Do clima estabelecido pelo aluno.
ficar ou selecionar. II. Da relação empática com seus alunos.
B) Fundamenta-se nos processos de aprendizagem em III. Da sua capacidade de ouvir, refletir e discutir.
seus aspectos cognitivos, afetivos e relacionais. IV. Da criação das pontes entre seu conhecimento e os
C) Uma avaliação não precisa conformar-se a nenhum deles.
padrão metodológico para ser formativa. Assinale a alternativa correta.
D) O sentido e a finalidade da avaliação formativa deve A) Somente I, II e III estão corretas.
ser o de conhecer melhor o professor, suas competências e B) Somente I, II e IV estão corretas
suas técnicas de trabalho. C) Somente II, III e IV estão corretas
D) Somente I, III e IV estão corretas
Também chamada de avaliação para as aprendizagens,
a avaliação formativa tem seu foco no processo ensino Becker (1997), afirma que na transferência, constituir
-aprendizagem. Alguns teóricos chegam a nomear essa uma identificação simbólica é uma forma de desenvolver
modalidade com o nome de avaliação formativa diagnós- ao adolescente sua posição discursiva. Verificar-se, que o
tica. A avaliação formativa não tem finalidade probatória aluno precisa admitir estar numa relação transferencial com
e está incorporada no ato de ensinar, integrada na ação o professor que não estar ali só para transferir informações,
de formação. Alguns autores consideram que a avaliação mais para considerar cada aluno singularmente. O sujeito
formativa englobe as outras modalidades de avaliação já do qual ocupa a psicanálise é o sujeito do inconsciente en-
que ela se dá durante o processo educacional. Seu caráter quanto manifestação única e singular. Para o aluno ser to-
é especificamente pedagógico. mado como sujeito é necessário que o educador também o
*Disponível em: http://www.portalavaliacao.caedufjf. seja, que envolva sua prática com aquilo que lhe é peculiar,
net/pagina-exemplo/tipos-de-avaliacao/avaliacao-forma- o estilo. Logo a relação professor-aluno depende funda-
tiva/
mentalmente do clima estabelecido pelo professor, da rela-
ção empática com seus alunos, de sua capacidade de ouvir,
RESPOSTA: “D”.
refletir e discutir o nível de compreensão dos alunos e da
criação das pontes entre o seu conhecimento e o deles.
9.(SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A avaliação
*Referências:
______________________ é realizada no início do processo en-
Texto adaptado de Andréia Freitas;
sino-aprendizagem, com a finalidade de detectar eventuais
dificuldades de aprendizagem auxiliando o ______________ BECKER, F. Da ação à operação: o caminho da apren-
no planejamento de suas ações. dizagem em J.piaget e Paulo Freire. Rio de Janeiro: DPIA
Assinale a alternativa que completa correta e respecti- Editora Palmarinca, 1997
vamente as lacunas.
A) Diagnostica / Professor. RESPOSTA: “C”.
B) Formativa / Gestor
C) Formativa / Coordenador pedagógico. 11. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGOGIA -
D) Somativa / Professor. BIORIO/2011) Por gestão participativa entende-se:
I - envolvimento de todos que fazem parte direta ou
O conceito de avaliação diagnóstica não recebe uma indiretamente no processo educacional;
definição uniforme de todos os especialistas. No entanto II - compartilhamento na solução de problemas e nas
pode-se, de maneira geral, entendê-la como uma ação tomadas de decisão do diretor escolar;
avaliativa realizada no início de um processo de aprendi- III - implementação, monitoramento e avaliação dos
zagem, que tem a função de obter informações sobre os resultados;
conhecimentos, aptidões e competências dos estudantes IV - estabelecimento de objetivos claros e democráti-
com vista à organização dos processos de ensino e apren- cos;
dizagem de acordo com as situações identificadas. V - visão de conjunto associada a uma posição hierár-
*Disponível em: http://www.portalavaliacao.caedufjf. quica.
net/pagina-exemplo/tipos-de-avaliacao/avaliacao-diag- Estão corretas as afirmativas:
nostica/ A) I, II e III;
B) I, III e IV;
RESPOSTA: “A”. C) II, III e V;
D) I, IV e V;
10. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Na relação
profesor-aluno envolve interesses e intenções, sendo esta O trabalho escolar é uma ação de caráter coletivo, rea-
interação o expoente das consequências, pois a educação lizado a partir da participação conjunta e integrada dos
é uma das fontes mais importantes do desenvolvimento membros de todos os segmentos da comunidade escolar.
comportamental e agregação de valores nos membros da Portanto, afirmar que sua gestão pressupõe a atuação par-
espécie humana. ticipativa representa um pleonasmo de reforço a essa im-
210
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
portante dimensão da gestão escolar. Assim, o envolvimen- B) o aspecto técnico e emocional, que se refere ao de-
to de todos os que fazem parte, direta ou indiretamente, senvolvimento da autonomia e das qualidades morais e
do processo educacional no estabelecimento de objetivos, o aspecto intelectual, que se refere a aprendizagem com
na solução de problemas, na tomada de decisões, na pro- vistas a orientação de trabalhos independente dos alunos;
posição, implementação, monitoramento e avaliação de C) o aspecto psicopedagógico clínico, que diz respeito
planos de ação, visando os melhores resultados do proces- ao sujeito aprendente e ao aspecto acadêmico, que diz res-
so educacional, é imprescindível para o sucesso da gestão peito aos objetivos do processo de ensino, a transmissão
escolar participativa (Luck, Freitas, Girling, Keith, 2002). de conhecimentos, hábitos e atitudes;
D) o aspecto cognoscitivo, que diz respeito a formas
RESPOSTA: “B”. de comunicação dos conteúdos escolares e o aspecto só-
cio- emocional, que diz respeito às relações pessoais entre
12. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGOGIA - professor e alunos e às normas disciplinares indispensáveis
BIORIO/2011) O FUNDEB – Fundo de Manutenção e De- ao trabalho educativo;
senvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação é formado: Podemos ressaltar dois aspectos da interação professor
A) por vínculos financeiros com a esfera Federal, Esta- -aluno no trabalho docente: O aspecto cognoscitivo (que
dual e Municipal de acordo com o censo demográfico; diz respeito a formas de comunicação dos conteúdos es-
B) com apoio do Banco do Brasil para a criação de um colares e às tarefas escolares indicadas pelos alunos) e o
fundo de créditos em favor dos Estados e Municípios; aspecto sócio-emocional (que diz respeito as relações pes-
C) pelos recursos do Governo Federal, Estadual e Mu- soais entre o professor e o aluno e as normas disciplinares
nicipal para definir um orçamento exclusivamente para a indispensáveis ao trabalho docente) afirma Libâneo (1998).
educação; *Referências:
D) com recursos provenientes das três esferas do gover- SOUZA, Verônica Alves de M. A relação professor-aluno
no (Federal, Estadual e Municipal), sendo um fundo contábil; na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Arlindo
Ramalho nas séries iniciais do Ensino Médio Noturno no
O FUNDEB não é considerado Federal, Estadual, nem município de Solânea-PB. 2007. 60 f. Monografia (Especia-
Municipal, por se tratar de um Fundo de natureza contá- lização) CFT/UFPB.
bil, formado com recursos provenientes das três esferas de
governo (Federal, Estadual e Municipal); pelo fato da arre- RESPOSTA: “D”.
cadação e distribuição dos recursos que o formam serem
realizadas pela União e pelos Estados, com a participação 14. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGOGIA -
do Banco do Brasil, como agente financeiro do Fundo e, BIORIO/2011) A escola, por ser uma instituição social com
por fim, em decorrência dos créditos dos seus recursos se- propósito explicitamente educativo, tem o compromisso
rem realizados automaticamente em favor dos Estados e de intervir efetivamente para promover o desenvolvimento
Municípios de forma igualitária, com base no nº de alunos. e a socialização de seus alunos. Essa função socializadora
Esses aspectos do FUNDEB o revestem de peculiaridades remete a dois aspectos:
que transcendem sua simples caracterização como Federal, A) a intersocialização entre diferentes grupos e a aqui-
Estadual ou Municipal. Assim, dependendo da ótica que se sição de conhecimentos científicos;
observa, o Fundo tem seu vínculo com a esfera Federal (a B) a compreensão do mundo acadêmico e integração
União participa da composição e distribuição dos recursos), entre os sujeitos aprendentes;
a Estadual (os Estados participam da composição, da distri- C) a capacidade de crítica e o desenvolvimento de técnicas;
buição, do recebimento e da aplicação final dos recursos) e D) o desenvolvimento individual e o contexto social e cultural;
a Municipal (os Municípios participam da composição, do
recebimento e da aplicação final dos recursos). Essa função socializadora remete a dois aspectos: o de-
*Disponível em: http://www.londrina.pr.gov.br/index. senvolvimento individual e o contexto social e cultural. É
php?option=com_content&view=article&id=734&Itemi- nessa dupla determinação que os indivíduos se constroem
d=373&fontstyle=f-smaller&limitstart=2 como pessoas iguais, mas, ao mesmo tempo, diferentes de
todas as outras. Iguais por compartilhar com outras pes-
RESPOSTA: “D”. soas um conjunto de saberes e formas de conhecimento
que, por sua vez, só é possível graças ao que individual-
13. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGOGIA - mente se puder incorporar. Não há desenvolvimento in-
BIORIO/2011) A interação professor-aluno é um aspecto dividual possível à margem da sociedade, da cultura. Os
fundamental da organização da situação didática. Segundo processos de diferenciação na construção de uma identi-
Libâneo, podem-se ressaltar dois aspectos para a realiza- dade pessoa e os processos de socialização que conduzem
ção do trabalho docente: a padrões de identidade coletiva constituem, na verdade,
A) o aspecto social, que se refere à integração de cada as duas faces de um mesmo processo (PARÂMETROS CUR-
aluno ao seu meio social e o aspecto atitudinal, que se re- RICULARES NACIONAIS, 1997).
fere à aquisição de conhecimentos acadêmicos a serem uti-
lizados na vida pessoal de cada aluno; RESPOSTA: “D”.
211
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
RESPOSTA: “D”.
212
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
213
EDUCAÇÃO BRASILEIRA TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
214
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
1
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Cidadão é o nacional, isto é, aquele que possui o vín- Para Reale6, a evolução histórica demonstra o domí-
culo político-jurídico da nacionalidade com o Estado, que nio de um valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma
goza de direitos políticos, ou seja, que pode votar e ser ordem gradativa entre os valores; mas existem os valores
votado (sufrágio universal). fundamentais e os secundários, sendo que o valor fonte
Destacam-se os seguintes conceitos correlatos: é o da pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de
a) Nacionalidade: é o vínculo jurídico-político que liga Reale7: “partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que a
um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que ele pessoa humana é o valor-fonte de todos os valores. O ho-
passe a integrar o povo daquele Estado, desfrutando assim mem, como ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo
de direitos e obrigações. entre outros indivíduos, um ente animal entre os demais da
b) Povo: conjunto de pessoas que compõem o Estado, mesma espécie. O homem, considerado na sua objetividade
unidas pelo vínculo da nacionalidade. espiritual, enquanto ser que só realiza no sentido de seu de-
c) População: conjunto de pessoas residentes no Estado, ver ser, é o que chamamos de pessoa. Só o homem possui
nacionais ou não. a dignidade originária de ser enquanto deve ser, pondo-se
Depreende-se que a cidadania é um atributo conferi- essencialmente como razão determinante do processo his-
do aos nacionais titulares de direitos políticos, permitindo a tórico”.
consolidação do sistema democrático. Quando a Constituição Federal assegura a dignidade
da pessoa humana como um dos fundamentos da Repúbli-
1.3) Dignidade da pessoa humana ca, faz emergir uma nova concepção de proteção de cada
A dignidade da pessoa humana é o valor-base de in- membro do seu povo. Tal ideologia de forte fulcro huma-
terpretação de qualquer sistema jurídico, internacional ou nista guia a afirmação de todos os direitos fundamentais e
nacional, que possa se considerar compatível com os valores confere a eles posição hierárquica superior às normas or-
éticos, notadamente da moral, da justiça e da democracia. ganizacionais do Estado, de modo que é o Estado que está
Pensar em dignidade da pessoa humana significa, acima de para o povo, devendo garantir a dignidade de seus mem-
tudo, colocar a pessoa humana como centro e norte para bros, e não o inverso.
qualquer processo de interpretação jurídico, seja na elabo-
ração da norma, seja na sua aplicação. 1.4) Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa
Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou Quando o constituinte coloca os valores sociais do tra-
plena, é possível conceituar dignidade da pessoa humana balho em paridade com a livre iniciativa fica clara a percep-
como o principal valor do ordenamento ético e, por con- ção de necessário equilíbrio entre estas duas concepções.
sequência, jurídico que pretende colocar a pessoa humana De um lado, é necessário garantir direitos aos trabalhado-
como um sujeito pleno de direitos e obrigações na ordem res, notadamente consolidados nos direitos sociais enume-
internacional e nacional, cujo desrespeito acarreta a própria rados no artigo 7º da Constituição; por outro lado, estes
exclusão de sua personalidade. direitos não devem ser óbice ao exercício da livre iniciativa,
Aponta Barroso4: “o princípio da dignidade da pessoa mas sim vetores que reforcem o exercício desta liberdade
humana identifica um espaço de integridade moral a ser as- dentro dos limites da justiça social, evitando o predomínio
segurado a todas as pessoas por sua só existência no mun- do mais forte sobre o mais fraco.
do. É um respeito à criação, independente da crença que Por livre iniciativa entenda-se a liberdade de iniciar a
se professe quanto à sua origem. A dignidade relaciona-se exploração de atividades econômicas no território brasi-
tanto com a liberdade e valores do espírito como com as leiro, coibindo-se práticas de truste (ex.: monopólio). O
condições materiais de subsistência”. constituinte não tem a intenção de impedir a livre iniciativa,
O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, do até mesmo porque o Estado nacional necessita dela para
Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante conceito crescer economicamente e adequar sua estrutura ao aten-
numa das decisões que relatou: “a dignidade consiste na dimento crescente das necessidades de todos os que nele
percepção intrínseca de cada ser humano a respeito dos vivem. Sem crescimento econômico, nem ao menos é pos-
direitos e obrigações, de modo a assegurar, sob o foco de sível garantir os direitos econômicos, sociais e culturais afir-
condições existenciais mínimas, a participação saudável e mados na Constituição Federal como direitos fundamentais.
ativa nos destinos escolhidos, sem que isso importe destila- No entanto, a exploração da livre iniciativa deve se dar
ção dos valores soberanos da democracia e das liberdades de maneira racional, tendo em vista os direitos inerentes
individuais. O processo de valorização do indivíduo articula a aos trabalhadores, no que se consolida a expressão “valores
promoção de escolhas, posturas e sonhos, sem olvidar que o sociais do trabalho”. A pessoa que trabalha para aquele que
espectro de abrangência das liberdades individuais encontra explora a livre iniciativa deve ter a sua dignidade respeitada
limitação em outros direitos fundamentais, tais como a hon- em todas as suas dimensões, não somente no que tange
ra, a vida privada, a intimidade, a imagem. Sobreleva registrar aos direitos sociais, mas em relação a todos os direitos fun-
que essas garantias, associadas ao princípio da dignidade da damentais afirmados pelo constituinte.
pessoa humana, subsistem como conquista da humanidade, vista n. 259300-59.2007.5.02.0202. Relator: Alberto Luiz Bresciani
razão pela qual auferiram proteção especial consistente em de Fontan Pereira. Brasília, 05 de setembro de 2012j1. Disponível em:
indenização por dano moral decorrente de sua violação”5. www.tst.gov.br. Acesso em: 17 nov. 2012.
4 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da 6 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo: Sa-
Constituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 382. raiva, 2002, p. 228.
5 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Re- 7 Ibid., p. 220.
2
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
A questão resta melhor delimitada no título VI do texto ciário”. Se, por um lado, o Estado é uno, até mesmo por se
constitucional, que aborda a ordem econômica e financei- legitimar na soberania popular; por outro lado, é necessá-
ra: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização ria a divisão de funções das atividades estatais de maneira
do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim equilibrada, o que se faz pela divisão de Poderes.
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames O constituinte afirma que estes poderes são indepen-
da justiça social, observados os seguintes princípios [...]”. dentes e harmônicos entre si. Independência significa que
Nota-se no caput a repetição do fundamento republicano cada qual possui poder para se autogerir, notadamente
dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. pela capacidade de organização estrutural (criação de car-
Por sua vez, são princípios instrumentais para a efeti- gos e subdivisões) e orçamentária (divisão de seus recursos
vação deste fundamento, conforme previsão do artigo 1º e conforme legislação por eles mesmos elaborada). Harmo-
do artigo 170, ambos da Constituição, o princípio da livre nia significa que cada Poder deve respeitar os limites de
concorrência (artigo 170, IV, CF), o princípio da busca do competência do outro e não se imiscuir indevidamente em
pleno emprego (artigo 170, VIII, CF) e o princípio do tra- suas atividades típicas.
tamento favorecido para as empresas de pequeno porte A noção de separação de Poderes começou a tomar
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede forma com o ideário iluminista. Neste viés, o Iluminismo
e administração no País (artigo 170, IX, CF). Ainda, assegu- lançou base para os dois principais eventos que ocorre-
rando a livre iniciativa no exercício de atividades econômi- ram no início da Idade Contemporânea, quais sejam as
cas, o parágrafo único do artigo 170 prevê: “é assegurado Revoluções Francesa e Industrial. Entre os pensadores que
a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, lançaram as ideias que vieram a ser utilizadas no ideário
independentemente de autorização de órgãos públicos, das Revoluções Francesa e Americana se destacam Loc-
salvo nos casos previstos em lei”. ke, Montesquieu e Rousseau, sendo que Montesquieu foi
o que mais trabalhou com a concepção de separação dos
1.5) Pluralismo político Poderes.
A expressão pluralismo remete ao reconhecimento da Montesquieu (1689 – 1755) avançou nos estudos de
multiplicidade de ideologias culturais, religiosas, econômi- Locke, que também entendia necessária a separação dos
cas e sociais no âmbito de uma nação. Quando se fala em Poderes, e na obra O Espírito das Leis estabeleceu em de-
pluralismo político, afirma-se que mais do que incorporar finitivo a clássica divisão de poderes: Executivo, Legislativo
esta multiplicidade de ideologias cabe ao Estado nacional e Judiciário. O pensador viveu na França, numa época em
fornecer espaço para a manifestação política delas. que o absolutismo estava cada vez mais forte.
Sendo assim, pluralismo político significa não só res- O objeto central da principal obra de Montesquieu8
peitar a multiplicidade de opiniões e ideias, mas acima de não é a lei regida nas relações entre os homens, mas as leis
tudo garantir a existência dela, permitindo que os vários e instituições criadas pelos homens para reger as relações
grupos que compõem os mais diversos setores sociais pos- entre os homens. Segundo Montesquieu9, as leis criam
sam se fazer ouvir mediante a liberdade de expressão, ma- costumes que regem o comportamento humano, sendo
nifestação e opinião, bem como possam exigir do Estado influenciadas por diversos fatores, não apenas pela razão.
substrato para se fazerem subsistir na sociedade. Quanto à fonte do poder, diferencia-se, segundo Mon-
Pluralismo político vai além do pluripartidarismo ou tesquieu10, do modo como se dará o seu exercício, uma vez
multipartidarismo, que é apenas uma de suas consequên- que o poder emana do povo, apto a escolher mas inapto
cias e garante que mesmo os partidos menores e com pou- a governar, sendo necessário que seu interesse seja repre-
cos representantes sejam ouvidos na tomada de decisões sentado conforme sua vontade.
políticas, porque abrange uma verdadeira concepção de Montesquieu11 estabeleceu como condição do Estado
multiculturalidade no âmbito interno. de Direito a separação dos Poderes em Legislativo, Judi-
ciário e Executivo – que devem se equilibrar –, servindo o
2) Separação dos Poderes primeiro para a elaboração, a correção e a ab-rogação de
A separação de Poderes é inerente ao modelo do Es- leis, o segundo para a promoção da paz e da guerra e a
tado Democrático de Direito, impedindo a monopolização garantia de segurança, e o terceiro para julgar (mesmo os
do poder e, por conseguinte, a tirania e a opressão. Resta próprios Poderes).
garantida no artigo 2º da Constituição Federal com o se- Ao modelo de repartição do exercício de poder por in-
guinte teor: termédio de órgãos ou funções distintas e independentes
de forma que um desses não possa agir sozinho sem ser
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmôni- limitado pelos outros confere-se o nome de sistema de
cos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. freios e contrapesos (no inglês, checks and balances).
A separação de Poderes é inerente ao modelo do Es- 8 MONTESQUIEU, Charles de Secondat. O Espírito das Leis.
tado Democrático de Direito, impedindo a monopolização Tradução Fernando Henrique Cardoso e Leôncio Martins Rodrigues. 2.
do poder e, por conseguinte, a tirania e a opressão. Resta ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 25.
garantida no artigo 2º da Constituição Federal com o se- 9 Ibid., p. 26.
guinte teor: “Art. 2º São Poderes da União, independentes 10 Ibid., p. 32.
e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judi- 11 Ibid., p. 148-149.
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Racismo é a prática de atos discriminatórios baseados Em termos comparativos à clássica divisão tridimen-
em diferenças étnico-raciais, que podem consistirem vio- sional dos direitos humanos, os direitos individuais (maior
lência física ou psicológica direcionada a uma pessoa ou a parte do artigo 5º, CF), os direitos da nacionalidade e os
um grupo de pessoas pela simples questão biológica her- direitos políticos se encaixam na primeira dimensão (direi-
dada por sua raça ou etnia. tos civis e políticos); os direitos sociais se enquadram na se-
Sendo o Brasil um país que prega o pacifismo e que é gunda dimensão (direitos econômicos, sociais e culturais) e
assumidamente pluralista, ambas práticas são considera- os direitos coletivos na terceira dimensão. Contudo, a enu-
das vis e devem ser repudiadas pelo Estado nacional. meração de direitos humanos na Constituição vai além dos
direitos que expressamente constam no título II do texto
4.9) Cooperação entre os povos para o progresso constitucional.
da humanidade Os direitos fundamentais possuem as seguintes carac-
A cooperação internacional deve ser especialmente terísticas principais:
econômica e técnica, a fim de conseguir progressivamen- a) Historicidade: os direitos fundamentais possuem
te a plena efetividade dos direitos humanos fundamentais antecedentes históricos relevantes e, através dos tempos,
internacionalmente reconhecidos. adquirem novas perspectivas. Nesta característica se en-
Os países devem colaborar uns com os outros, o que é quadra a noção de dimensões de direitos.
possível mediante a integração no âmbito de organizações b) Universalidade: os direitos fundamentais perten-
internacionais específicas, regionais ou globais. cem a todos, tanto que apesar da expressão restritiva do
Em relação a este princípio, o artigo 4º se aprofun- caput do artigo 5º aos brasileiros e estrangeiros residentes
da em seu parágrafo único, destacando a importância da no país tem se entendido pela extensão destes direitos, na
cooperação brasileira no âmbito regional: “A República Fe- perspectiva de prevalência dos direitos humanos.
derativa do Brasil buscará a integração econômica, políti- c) Inalienabilidade: os direitos fundamentais não
ca, social e cultural dos povos da América Latina, visando possuem conteúdo econômico-patrimonial, logo, são in-
à formação de uma comunidade latino-americana de na- transferíveis, inegociáveis e indisponíveis, estando fora do
comércio, o que evidencia uma limitação do princípio da
ções”. Neste sentido, o papel desempenhado no MERCO-
autonomia privada.
SUL.
d) Irrenunciabilidade: direitos fundamentais não po-
dem ser renunciados pelo seu titular devido à fundamenta-
4.10) Concessão de asilo político
lidade material destes direitos para a dignidade da pessoa
Direito de asilo é o direito de buscar abrigo em outro
humana.
país quando naquele do qual for nacional estiver sofrendo
e) Inviolabilidade: direitos fundamentais não podem
alguma perseguição. Tal perseguição não pode ter mo-
deixar de ser observados por disposições infraconstitucio-
tivos legítimos, como a prática de crimes comuns ou de
nais ou por atos das autoridades públicas, sob pena de nu-
atos atentatórios aos princípios das Nações Unidas, o que lidades.
subverteria a própria finalidade desta proteção. Em suma, f) Indivisibilidade: os direitos fundamentais compõem
o que se pretende com o direito de asilo é evitar a con- um único conjunto de direitos porque não podem ser ana-
solidação de ameaças a direitos humanos de uma pessoa lisados de maneira isolada, separada.
por parte daqueles que deveriam protegê-los – isto é, os g) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não
governantes e os entes sociais como um todo –, e não pro- se perdem com o tempo, não prescrevem, uma vez que são
teger pessoas que justamente cometeram tais violações. sempre exercíveis e exercidos, não deixando de existir pela
“Sendo direito humano da pessoa refugiada, é obriga- falta de uso (prescrição).
ção do Estado asilante conceder o asilo. Entretanto, preva- h) Relatividade: os direitos fundamentais não po-
lece o entendimento que o Estado não tem esta obrigação, dem ser utilizados como um escudo para práticas ilícitas
nem de fundamentar a recusa. A segunda parte deste ar- ou como argumento para afastamento ou diminuição da
tigo permite a interpretação no sentido de que é o Estado responsabilidade por atos ilícitos, assim estes direitos não
asilante que subjetivamente enquadra o refugiado como são ilimitados e encontram seus limites nos demais direitos
asilado político ou criminoso comum”15. igualmente consagrados como humanos.
O título II da Constituição Federal é intitulado “Direitos O capítulo I do título II é intitulado “direitos e deveres
e Garantias fundamentais”, gênero que abrange as seguin- individuais e coletivos”. Da própria nomenclatura do capí-
tes espécies de direitos fundamentais: direitos individuais tulo já se extrai que a proteção vai além dos direitos do
e coletivos (art. 5º, CF), direitos sociais (genericamente indivíduo e também abrange direitos da coletividade. A
previstos no art. 6º, CF), direitos da nacionalidade (artigos maior parte dos direitos enumerados no artigo 5º do texto
12 e 13, CF) e direitos políticos (artigos 14 a 17, CF). constitucional é de direitos individuais, mas são incluídos
15 SANTOS FILHO, Oswaldo de Souza. Comentários aos arti-
alguns direitos coletivos e mesmo remédios constitucionais
gos XIII e XIV. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declara- próprios para a tutela destes direitos coletivos (ex.: manda-
ção Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008, p. 83. do de segurança coletivo).
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
O direito à igualdade é um dos direitos norteadores Neste sentido, as discriminações legais asseguram
de interpretação de qualquer sistema jurídico. O primeiro a verdadeira igualdade, por exemplo, com as ações afir-
enfoque que foi dado a este direito foi o de direito civil, mativas, a proteção especial ao trabalho da mulher e do
enquadrando-o na primeira dimensão, no sentido de que menor, as garantias aos portadores de deficiência, entre
a todas as pessoas deveriam ser garantidos os mesmos outras medidas que atribuam a pessoas com diferentes
direitos e deveres. Trata-se de um aspecto relacionado à condições, iguais possibilidades, protegendo e respeitando
igualdade enquanto liberdade, tirando o homem do ar- suas diferenças18. Tem predominado em doutrina e juris-
bítrio dos demais por meio da equiparação. Basicamente, prudência, inclusive no Supremo Tribunal Federal, que as
estaria se falando na igualdade perante a lei. ações afirmativas são válidas.
No entanto, com o passar dos tempos, se percebeu
que não bastava igualar todos os homens em direitos e - Direito à vida
deveres para torná-los iguais, pois nem todos possuem Abrangência
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a prote-
as mesmas condições de exercer estes direitos e deveres.
ção do direito à vida. A vida humana é o centro gravitacio-
Logo, não é suficiente garantir um direito à igualdade for-
nal em torno do qual orbitam todos os direitos da pessoa
mal, mas é preciso buscar progressivamente a igualdade
humana, possuindo reflexos jurídicos, políticos, econômi-
material. No sentido de igualdade material que aparece
cos, morais e religiosos. Daí existir uma dificuldade em con-
o direito à igualdade num segundo momento, pretenden- ceituar o vocábulo vida. Logo, tudo aquilo que uma pessoa
do-se do Estado, tanto no momento de legislar quanto possui deixa de ter valor ou sentido se ela perde a vida.
no de aplicar e executar a lei, uma postura de promoção Sendo assim, a vida é o bem principal de qualquer pessoa,
de políticas governamentais voltadas a grupos vulneráveis. é o primeiro valor moral inerente a todos os seres huma-
Assim, o direito à igualdade possui dois sentidos no- nos19.
táveis: o de igualdade perante a lei, referindo-se à apli- No tópico do direito à vida tem-se tanto o direito de
cação uniforme da lei a todas as pessoas que vivem em nascer/permanecer vivo, o que envolve questões como
sociedade; e o de igualdade material, correspondendo à pena de morte, eutanásia, pesquisas com células-tronco e
necessidade de discriminações positivas com relação a aborto; quanto o direito de viver com dignidade, o que
grupos vulneráveis da sociedade, em contraponto à igual- engloba o respeito à integridade física, psíquica e moral,
dade formal. incluindo neste aspecto a vedação da tortura, bem como
a garantia de recursos que permitam viver a vida com dig-
Ações afirmativas nidade.
Neste sentido, desponta a temática das ações afirmati- Embora o direito à vida seja em si pouco delimitado
vas,que são políticas públicas ou programas privados cria- nos incisos que seguem o caput do artigo 5º, trata-se de
dos temporariamente e desenvolvidos com a finalidade de um dos direitos mais discutidos em termos jurisprudenciais
reduzir as desigualdades decorrentes de discriminações e sociológicos. É no direito à vida que se encaixam polêmi-
ou de uma hipossuficiência econômica ou física, por meio cas discussões como: aborto de anencéfalo, pesquisa com
da concessão de algum tipo de vantagem compensatória células tronco, pena de morte, eutanásia, etc.
de tais condições.
Quem é contra as ações afirmativas argumenta que, Vedação à tortura
em uma sociedade pluralista, a condição de membro de De forma expressa no texto constitucional destaca-se
um grupo específico não pode ser usada como critério de a vedação da tortura, corolário do direito à vida, conforme
inclusão ou exclusão de benefícios. Ademais, afirma-se previsão no inciso III do artigo 5º:
que elas desprivilegiam o critério republicano do mérito
Artigo 5º, III, CF. Ninguém será submetido a tortura nem
(segundo o qual o indivíduo deve alcançar determinado
a tratamento desumano ou degradante.
cargo público pela sua capacidade e esforço, e não por
pertencer a determinada categoria); fomentariam o racis-
A tortura é um dos piores meios de tratamento de-
mo e o ódio; bem como ferem o princípio da isonomia por sumano, expressamente vedada em âmbito internacional,
causar uma discriminação reversa. como visto no tópico anterior. No Brasil, além da disciplina
Por outro lado, quem é favorável às ações afirmativas constitucional, a Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997 define
defende que elas representam o ideal de justiça compen- os crimes de tortura e dá outras providências, destacando-
satória (o objetivo é compensar injustiças passadas, dívi- se o artigo 1º:
das históricas, como uma compensação aos negros por
tê-los feito escravos, p. ex.); representam o ideal de justiça
distributiva (a preocupação, aqui, é com o presente. Busca- 18 SANFELICE, Patrícia de Mello. Comentários aos artigos I e
se uma concretização do princípio da igualdade material); II. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal
dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008, p. 08.
bem como promovem a diversidade.
19 BARRETO, Ana Carolina Rossi; IBRAHIM, Fábio Zambitte.
Comentários aos Artigos III e IV. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comen-
tários à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: For-
tium, 2008, p. 15.
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Quanto ao direito de petição, de maneira prática, Prevê o artigo 5º, LXVII, CF:
cumpre observar que o direito de petição deve resultar
em uma manifestação do Estado, normalmente dirimindo Artigo 5º, LXVII, CF. Não haverá prisão civil por dívi-
(resolvendo) uma questão proposta, em um verdadeiro da, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário
exercício contínuo de delimitação dos direitos e obriga- e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário
ções que regulam a vida social e, desta maneira, quando infiel.
“dificulta a apreciação de um pedido que um cidadão quer
apresentar” (muitas vezes, embaraçando-lhe o acesso à Nos termos da Súmula Vinculante nº 25 do Supremo
Justiça); “demora para responder aos pedidos formula- Tribunal Federal, “é ilícita a prisão civil de depositário infiel,
dos” (administrativa e, principalmente, judicialmente) ou qualquer que seja a modalidade do depósito”. Por isso, a
“impõe restrições e/ou condições para a formulação de única exceção à regra da prisão por dívida do ordenamen-
petição”, traz a chamada insegurança jurídica, que traz de- to é a que se refere à obrigação alimentícia.
sesperança e faz proliferar as desigualdades e as injustiças.
Dentro do espectro do direito de petição se insere, por Liberdade de trabalho
exemplo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar O direito à liberdade também é mencionado no artigo
cópias reprográficas e certidões, bem como de ofertar de- 5º, XIII, CF:
núncias de irregularidades. Contudo, o constituinte, talvez
na intenção de deixar clara a obrigação dos Poderes Pú- Artigo 5º, XIII, CF. É livre o exercício de qualquer tra-
blicos em fornecer certidões, trouxe a letra b) do inciso, o balho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
que gera confusões conceituais no sentido do direito de profissionais que a lei estabelecer.
obter certidões ser dissociado do direito de petição.
Por fim, relevante destacar a previsão do artigo 5º, LX, O livre exercício profissional é garantido, respeitados
CF: os limites legais. Por exemplo, não pode exercer a profis-
são de advogado aquele que não se formou em Direito e
Artigo 5º, LX, CF. A lei só poderá restringir a publicida-
não foi aprovado no Exame da Ordem dos Advogados do
de dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou
Brasil; não pode exercer a medicina aquele que não fez
o interesse social o exigirem.
faculdade de medicina reconhecida pelo MEC e obteve o
cadastro no Conselho Regional de Medicina.
Logo,o processo, em regra, não será sigiloso. Apenas
o será quando a intimidade merecer preservação (ex: pro-
Liberdade de reunião
cesso criminal de estupro ou causas de família em geral)
Sobre a liberdade de reunião, prevê o artigo 5º, XVI,
ou quando o interesse social exigir (ex: investigações que
CF:
possam ser comprometidas pela publicidade). A publici-
dade é instrumento para a efetivação da liberdade de in-
formação. Artigo 5º, XVI, CF. Todos podem reunir-se pacifica-
mente, sem armas, em locais abertos ao público, inde-
Liberdade de locomoção pendentemente de autorização, desde que não frustrem
Outra faceta do direito à liberdade encontra-se no ar- outra reunião anteriormente convocada para o mesmo lo-
tigo 5º, XV, CF: cal, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade com-
petente.
Artigo 5º, XV, CF. É livre a locomoção no território
nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos Pessoas podem ir às ruas para reunirem-se com de-
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus mais na defesa de uma causa, apenas possuindo o dever
bens. de informar tal reunião. Tal dever remonta-se a questões de
segurança coletiva. Imagine uma grande reunião de pes-
A liberdade de locomoção é um aspecto básico do di- soas por uma causa, a exemplo da Parada Gay, que chega
reito à liberdade, permitindo à pessoa ir e vir em todo o a aglomerar milhões de pessoas em algumas capitais: seria
território do país em tempos de paz (em tempos de guerra absurdo tolerar tal tipo de reunião sem o prévio aviso do
é possível limitar tal liberdade em prol da segurança). A li- poder público para que ele organize o policiamento e a
berdade de sair do país não significa que existe um direito assistência médica, evitando algazarras e socorrendo pes-
de ingressar em qualquer outro país, pois caberá à ele, no soas que tenham algum mal-estar no local. Outro limite é
exercício de sua soberania, controlar tal entrada. o uso de armas, totalmente vedado, assim como de subs-
Classicamente, a prisão é a forma de restrição da liber- tâncias ilícitas (Ex: embora a Marcha da Maconha tenha
dade. Neste sentido, uma pessoa somente poderá ser pre- sido autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, vedou-se
sa nos casos autorizados pela própria Constituição Fede- que nela tal substância ilícita fosse utilizada).
ral. A despeito da normativa específica de natureza penal,
reforça-se a impossibilidade de se restringir a liberdade de
locomoção pela prisão civil por dívida.
11
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Liberdade de associação Artigo 5º, XX, CF. Ninguém poderá ser compelido a as-
No que tange à liberdade de reunião, traz o artigo 5º, sociar-se ou a permanecer associado.
XVII, CF:
- Direitos à privacidade e à personalidade
Artigo 5º, XVII, CF. É plena a liberdade de associação
para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar. Abrangência
Prevê o artigo 5º, X, CF:
A liberdade de associação difere-se da de reunião por
sua perenidade, isto é, enquanto a liberdade de reunião é Artigo 5º, X, CF. São invioláveis a intimidade, a vida
exercida de forma sazonal, eventual, a liberdade de associa- privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
ção implica na formação de um grupo organizado que se direito a indenização pelo dano material ou moral decorren-
mantém por um período de tempo considerável, dotado de te de sua violação.
estrutura e organização próprias.
Por exemplo, o PCC e o Comando vermelho são associa- O legislador opta por trazer correlacionados no mesmo
ções ilícitas e de caráter paramilitar, pois possuem armas e o dispositivo legal os direitos à privacidade e à personalida-
ideal de realizar sua própria justiça paralelamente à estatal. de.
O texto constitucional se estende na regulamentação da Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimida-
liberdade de associação. de, ao abordar a proteção da vida privada – que, em resu-
O artigo 5º, XVIII, CF, preconiza: mo, é a privacidade da vida pessoal no âmbito do domicílio
e de círculos de amigos –, Silva22 entende que “o segredo
Artigo 5º, XVIII, CF. A criação de associações e, na forma da vida privada é condição de expansão da personalidade”,
da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo mas não caracteriza os direitos de personalidade em si.
vedada a interferência estatal em seu funcionamento. A união da intimidade e da vida privada forma a pri-
vacidade, sendo que a primeira se localiza em esfera mais
Neste sentido, associações são organizações resultantes estrita. É possível ilustrar a vida social como se fosse um
da reunião legal entre duas ou mais pessoas, com ou sem grande círculo no qual há um menor, o da vida privada, e
personalidade jurídica, para a realização de um objetivo co- dentro deste um ainda mais restrito e impenetrável, o da
mum; já cooperativas são uma forma específica de associa- intimidade. Com efeito, pela “Teoria das Esferas” (ou “Teoria
ção, pois visam a obtenção de vantagens comuns em suas dos Círculos Concêntricos”), importada do direito alemão,
atividades econômicas. quanto mais próxima do indivíduo, maior a proteção a ser
Ainda, tem-se o artigo 5º, XIX, CF: conferida à esfera (as esferas são representadas pela intimi-
dade, pela vida privada, e pela publicidade).
Artigo 5º, XIX, CF. As associações só poderão ser compul- “O direito à honra distancia-se levemente dos dois an-
soriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por teriores, podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa
decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em tem de si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fa-
julgado. zem os outros (honra objetiva), conferindo-lhe respeitabi-
lidade no meio social. O direito à imagem também pos-
O primeiro caso é o de dissolução compulsória, ou seja, sui duas conotações, podendo ser entendido em sentido
a associação deixará de existir para sempre. Obviamente, é objetivo, com relação à reprodução gráfica da pessoa, por
preciso o trânsito em julgado da decisão judicial que assim meio de fotografias, filmagens, desenhos, ou em sentido
determine, pois antes disso sempre há possibilidade de re- subjetivo, significando o conjunto de qualidades cultivadas
verter a decisão e permitir que a associação continue em pela pessoa e reconhecidas como suas pelo grupo social”23.
funcionamento. Contudo, a decisão judicial pode suspender
atividades até que o trânsito em julgado ocorra, ou seja, no Inviolabilidade de domicílio e sigilo de correspon-
curso de um processo judicial. dência
Em destaque, a legitimidade representativa da associa- Correlatos ao direito à privacidade, aparecem a invio-
ção quanto aos seus filiados, conforme artigo 5º, XXI, CF: labilidade do domicílio e o sigilo das correspondências e
comunicações.
Artigo 5º, XXI, CF. As entidades associativas, quando ex- Neste sentido, o artigo 5º, XI, CF prevê:
pressamente autorizadas, têm legitimidade para representar
seus filiados judicial ou extrajudicialmente. Artigo 5º, XI, CF. A casa é asilo inviolável do indivíduo,
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do mo-
Trata-se de caso de legitimidade processual extraordi- rador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
nária, pela qual um ente vai a juízo defender interesse de prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
outra(s) pessoa(s) porque a lei assim autoriza.
A liberdade de associação envolve não somente o direi- 22 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional
to de criar associações e de fazer parte delas, mas também positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
o de não associar-se e o de deixar a associação, conforme 23 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito cons-
artigo 5º, XX, CF: titucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
O domicílio é inviolável, razão pela qual ninguém pode “A manifestação do pensamento é livre e garantida
nele entrar sem o consentimento do morador, a não ser em nível constitucional, não aludindo a censura prévia em
EM QUALQUER HORÁRIO no caso de flagrante delito (o diversões e espetáculos públicos. Os abusos porventura
morador foi flagrado na prática de crime e fugiu para seu ocorridos no exercício indevido da manifestação do pensa-
domicílio) ou desastre (incêndio, enchente, terremoto...) mento são passíveis de exame e apreciação pelo Poder Ju-
ou para prestar socorro (morador teve ataque do coração, diciário com a consequente responsabilidade civil e penal
está sufocado, desmaiado...), e SOMENTE DURANTE O DIA de seus autores, decorrentes inclusive de publicações inju-
por determinação judicial. riosas na imprensa, que deve exercer vigilância e controle
Quanto ao sigilo de correspondência e das comunica- da matéria que divulga”24.
ções, prevê o artigo 5º, XII, CF: O direito de resposta é o direito que uma pessoa
tem de se defender de críticas públicas no mesmo meio
Artigo 5º, XII, CF. É inviolável o sigilo da correspondên- em que foram publicadas garantida exatamente a mes-
cia e das comunicações telegráficas, de dados e das comuni- ma repercussão. Mesmo quando for garantido o direito
cações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, de resposta não é possível reverter plenamente os da-
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de nos causados pela manifestação ilícita de pensamento,
investigação criminal ou instrução processual penal. razão pela qual a pessoa inda fará jus à indenização.
A manifestação ilícita do pensamento geralmente cau-
O sigilo de correspondência e das comunicações está sa um dano, ou seja, um prejuízo sofrido pelo agente, que
melhor regulamentado na Lei nº 9.296, de 1996. pode ser individual ou coletivo, moral ou material, econô-
mico e não econômico.
Personalidade jurídica e gratuidade de registro Dano material é aquele que atinge o patrimônio (ma-
Quando se fala em reconhecimento como pessoa pe- terial ou imaterial) da vítima, podendo ser mensurado fi-
rante a lei desdobra-se uma esfera bastante específica dos nanceiramente e indenizado.
direitos de personalidade, consistente na personalidade “Dano moral direto consiste na lesão a um interesse
jurídica. Basicamente, consiste no direito de ser reconheci- que visa a satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapa-
do como pessoa perante a lei. trimonial contido nos direitos da personalidade (como a
Para ser visto como pessoa perante a lei mostra-se ne- vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro,
cessário o registro. Por ser instrumento que serve como a intimidade, os sentimentos afetivos, a própria imagem)
pressuposto ao exercício de direitos fundamentais, asse- ou nos atributos da pessoa (como o nome, a capacidade, o
gura-se a sua gratuidade aos que não tiverem condição estado de família)”25.
de com ele arcar. Já o dano à imagem é delimitado no artigo 20 do Có-
Aborda o artigo 5º, LXXVI, CF: digo Civil:
Artigo 5º, LXXVI, CF. São gratuitos para os reconhe- Artigo 20, CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à
cidamente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de administração da justiça ou à manutenção da ordem públi-
nascimento; b) a certidão de óbito. ca, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a
publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma
O reconhecimento do marco inicial e do marco final pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem pre-
da personalidade jurídica pelo registro é direito individual, juízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra,
não dependendo de condições financeiras. Evidente, seria a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins
absurdo cobrar de uma pessoa sem condições a elabora- comerciais.
ção de documentos para que ela seja reconhecida como
viva ou morta, o que apenas incentivaria a indigência dos - Direito à segurança
menos favorecidos. O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro-
teção do direito à segurança. Na qualidade de direito in-
Direito à indenização e direito de resposta dividual liga-se à segurança do indivíduo como um todo,
Com vistas à proteção do direito à privacidade, do di- desde sua integridade física e mental, até a própria segu-
reito à personalidade e do direito à imagem, asseguram-se rança jurídica.
dois instrumentos, o direito à indenização e o direito de No sentido aqui estudado, o direito à segurança pes-
resposta, conforme as necessidades do caso concreto. soal é o direito de viver sem medo, protegido pela soli-
Com efeito, prevê o artigo 5º, V, CF: dariedade e liberto de agressões, logo, é uma maneira de
garantir o direito à vida.
Artigo 5º, V, CF. É assegurado o direito de resposta,
proporcional ao agravo, além da indenização por dano 24 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26.
material, moral ou à imagem. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
25 ZANNONI, Eduardo. El daño en la responsabilidad civil.
Buenos Aires: Astrea, 1982.
13
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Nesta linha, para Silva26, “efetivamente, esse conjunto de Com efeito, a proteção da propriedade privada está li-
direitos aparelha situações, proibições, limitações e proce- mitada ao atendimento de sua função social, sendo este o
dimentos destinados a assegurar o exercício e o gozo de requisito que a correlaciona com a proteção da dignidade
algum direito individual fundamental (intimidade, liberdade da pessoa humana.
pessoal ou a incolumidade física ou moral)”.
Especificamente no que tange à segurança jurídica, tem- Uso temporário
se o disposto no artigo 5º, XXXVI, CF: No mais, estabelece-se uma terceira limitação ao direito
de propriedade que não possui o caráter definitivo da desa-
Artigo 5º, XXXVI, CF. A lei não prejudicará o direito ad- propriação, mas é temporária, conforme artigo 5º, XXV, CF:
quirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
Artigo 5º, XXV, CF. No caso de iminente perigo público,
Pelo inciso restam estabelecidos limites à retroatividade a autoridade competente poderá usar de propriedade par-
da lei. ticular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se
Define o artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do houver dano.
Direito Brasileiro:
Se uma pessoa tem uma propriedade, numa situação
Artigo 6º, LINDB. A Lei em vigor terá efeito imediato e de perigo, o poder público pode se utilizar dela (ex: montar
geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e uma base para capturar um fugitivo), pois o interesse da
a coisa julgada. coletividade é maior que o do indivíduo proprietário.
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado se-
gundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. Direito sucessório
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o O direito sucessório aparece como uma faceta do direi-
seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles to à propriedade, encontrando disciplina constitucional no
cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição artigo 5º, XXX e XXXI, CF:
pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão Artigo 5º, XXX, CF. É garantido o direito de herança;
judicial de que já não caiba recurso.
Artigo 5º, XXXI, CF. A sucessão de bens de estrangei-
- Direito à propriedade ros situados no País será regulada pela lei brasileira em be-
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a prote- nefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não
ção do direito à propriedade, tanto material quanto intelec- lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
tual, delimitada em alguns incisos que o seguem.
O direito à herança envolve o direito de receber – seja
Função social da propriedade material devido a uma previsão legal, seja por testamento – bens de
O artigo 5º, XXII, CF estabelece: uma pessoa que faleceu. Assim, o patrimônio passa para ou-
tra pessoa, conforme a vontade do falecido e/ou a lei de-
Artigo 5º, XXII, CF. É garantido o direito de propriedade. termine. A Constituição estabelece uma disciplina específica
para bens de estrangeiros situados no Brasil, assegurando
A seguir, no inciso XXIII do artigo 5º, CF estabelece o que eles sejam repassados ao cônjuge e filhos brasileiros nos
principal fator limitador deste direito: termos da lei mais benéfica (do Brasil ou do país estrangeiro).
Artigo 5º, XXIII, CF. A propriedade atenderá a sua função Direito do consumidor
social. Nos termos do artigo 5º, XXXII, CF:
A propriedade, segundo Silva27, “[...] não pode mais ser Artigo 5º, XXXII, CF. O Estado promoverá, na forma da
considerada como um direito individual nem como institui- lei, a defesa do consumidor.
ção do direito privado. [...] embora prevista entre os direitos
individuais, ela não mais poderá ser considerada puro direi- O direito do consumidor liga-se ao direito à propriedade
to individual, relativizando-se seu conceito e significado, es- a partir do momento em que garante à pessoa que irá adqui-
pecialmente porque os princípios da ordem econômica são rir bens e serviços que estes sejam entregues e prestados da
preordenados à vista da realização de seu fim: assegurar a forma adequada, impedindo que o fornecedor se enrique-
todos existência digna, conforme os ditames da justiça so- ça ilicitamente, se aproveite de maneira indevida da posição
cial. Se é assim, então a propriedade privada, que, ademais, menos favorável e de vulnerabilidade técnica do consumidor.
tem que atender a sua função social, fica vinculada à conse- O Direito do Consumidor pode ser considerado um ramo
cução daquele princípio”. recente do Direito. No Brasil, a legislação que o regulamen-
26 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional tou foi promulgada nos anos 90, qual seja a Lei nº 8.078, de
positivo... Op. Cit., p. 437. 11 de setembro de 1990, conforme determinado pela Cons-
27 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional tituição Federal de 1988, que também estabeleceu no artigo
positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias:
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Artigo 48, ADCT. O Congresso Nacional, dentro de cento ano seguinte à divulgação da obra se esta for de natureza
e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará có- audiovisual ou fotográfica. Estes, por sua vez, abrangem,
digo de defesa do consumidor. basicamente, o direito de dispor sobre a reprodução, edi-
ção, adaptação, tradução, utilização, inclusão em bases de
A elaboração do Código de Defesa do Consumidor foi dados ou qualquer outra modalidade de utilização; sendo
um grande passo para a proteção da pessoa nas relações que estas modalidades de utilização podem se dar a título
de consumo que estabeleça, respeitando-se a condição de oneroso ou gratuito.
hipossuficiente técnico daquele que adquire um bem ou “Os direitos autorais, também conhecidos como co-
faz uso de determinado serviço, enquanto consumidor. pyright (direito de cópia), são considerados bens móveis,
podendo ser alienados, doados, cedidos ou locados. Res-
Propriedade intelectual salte-se que a permissão a terceiros de utilização de cria-
Além da propriedade material, o constituinte protege ções artísticas é direito do autor. [...] A proteção consti-
também a propriedade intelectual, notadamente no artigo tucional abrange o plágio e a contrafação. Enquanto que
5º, XXVII, XXVIII e XXIX, CF: o primeiro caracteriza-se pela difusão de obra criada ou
produzida por terceiros, como se fosse própria, a segunda
Artigo 5º, XXVII, CF. Aos autores pertence o direito ex- configura a reprodução de obra alheia sem a necessária
clusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas permissão do autor”28.
obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
- Direitos de acesso à justiça
Artigo 5º, XXVIII, CF. São assegurados, nos termos da lei: A formação de um conceito sistemático de acesso à
a) a proteção às participações individuais em obras justiça se dá com a teoria de Cappelletti e Garth, que apon-
coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, in- taram três ondas de acesso, isto é, três posicionamentos
clusive nas atividades desportivas; básicos para a realização efetiva de tal acesso. Tais ondas
b) o direito de fiscalização do aproveitamento eco- foram percebidas paulatinamente com a evolução do Di-
nômico das obras que criarem ou de que participarem aos reito moderno conforme implementadas as bases da onda
criadores, aos intérpretes e às respectivas representações anterior, quer dizer, ficou evidente aos autores a emergên-
sindicais e associativas; cia de uma nova onda quando superada a afirmação das
premissas da onda anterior, restando parcialmente imple-
Artigo 5º, XXIX, CF. A lei assegurará aos autores de in- mentada (visto que até hoje enfrentam-se obstáculos ao
ventos industriais privilégio temporário para sua utiliza- pleno atendimento em todas as ondas).
ção, bem como proteção às criações industriais, à proprie- Primeiro, Cappelletti e Garth29 entendem que surgiu
dade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos uma onda de concessão de assistência judiciária aos po-
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvi- bres, partindo-se da prestação sem interesse de remunera-
mento tecnológico e econômico do País. ção por parte dos advogados e, ao final, levando à criação
de um aparato estrutural para a prestação da assistência
Assim, a propriedade possui uma vertente intelectual pelo Estado.
que deve ser respeitada, tanto sob o aspecto moral quanto Em segundo lugar, no entender de Cappelletti e Garth30,
sob o patrimonial. No âmbito infraconstitucional brasileiro, veio a onda de superação do problema na representação
a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, regulamenta os dos interesses difusos, saindo da concepção tradicional de
direitos autorais, isto é, “os direitos de autor e os que lhes processo como algo restrito a apenas duas partes indivi-
são conexos”. dualizadas e ocasionando o surgimento de novas institui-
O artigo 7° do referido diploma considera como obras ções, como o Ministério Público.
intelectuais que merecem a proteção do direito do autor Finalmente, Cappelletti e Garth31 apontam uma ter-
os textos de obras de natureza literária, artística ou científi- ceira onda consistente no surgimento de uma concepção
ca; as conferências, sermões e obras semelhantes; as obras mais ampla de acesso à justiça, considerando o conjunto
cinematográficas e televisivas; as composições musicais; de instituições, mecanismos, pessoas e procedimentos uti-
fotografias; ilustrações; programas de computador; coletâ- lizados: “[...] esse enfoque encoraja a exploração de uma
neas e enciclopédias; entre outras. ampla variedade de reformas, incluindo alterações nas for-
Os direitos morais do autor, que são imprescritíveis, mas de procedimento, mudanças na estrutura dos tribunais
inalienáveis e irrenunciáveis, envolvem, basicamente, o di-
reito de reivindicar a autoria da obra, ter seu nome divul- 28 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais:
teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da Constituição da Repú-
gado na utilização desta, assegurar a integridade desta ou
blica Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. São Paulo: Atlas,
modificá-la e retirá-la de circulação se esta passar a afron- 1997.
tar sua honra ou imagem. 29 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça.
Já os direitos patrimoniais do autor, nos termos dos ar- Tradução Ellen Grace Northfleet. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris
tigos 41 a 44 da Lei nº 9.610/98, prescrevem em 70 anos Editor, 1998, p. 31-32.
contados do primeiro ano seguinte à sua morte ou do 30 Ibid., p. 49-52
falecimento do último coautor, ou contados do primeiro 31 Ibid., p. 67-73
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Por fim, a competência para julgamento é dos crimes A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 define os crimes
dolosos (em que há intenção ou ao menos se assume o resultantes de preconceito de raça ou de cor. Contra eles
risco de produção do resultado) contra a vida, que são: não cabe fiança (pagamento de valor para deixar a prisão
homicídio, aborto, induzimento, instigação ou auxílio a provisória) e não se aplica o instituto da prescrição (perda
suicídio e infanticídio. Sua competência não é absoluta e é de pretensão de se processar/punir uma pessoa pelo de-
mitigada, por vezes, pela própria Constituição (artigos 29, curso do tempo).
X / 102, I, b) e c) / 105, I, a) / 108, I). Não obstante, preconiza ao artigo 5º, XLIII, CF:
Anterioridade e irretroatividade da lei Artigo 5º, XLIII, CF. A lei considerará crimes inafian-
O artigo 5º, XXXIX, CF preconiza: çáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
Artigo5º, XXXIX, CF. Não há crime sem lei anterior terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.
evitá-los, se omitirem.
É a consagração da regra do nullum crimen nulla poe-
Anistia, graça e indulto diferenciam-se nos seguintes
na sine praevia lege. Simultaneamente, se assegura o prin-
termos: a anistia exclui o crime, rescinde a condenação e
cípio da legalidade (ou reserva legal), na medida em que extingue totalmente a punibilidade, a graça e o indulto
não há crime sem lei que o defina, nem pena sem prévia apenas extinguem a punibilidade, podendo ser parciais; a
cominação legal, e o princípio da anterioridade, posto que anistia, em regra, atinge crimes políticos, a graça e o in-
não há crime sem lei anterior que o defina. dulto, crimes comuns; a anistia pode ser concedida pelo
Ainda no que tange ao princípio da anterioridade, Poder Legislativo, a graça e o indulto são de competência
tem-se o artigo 5º, XL, CF: exclusiva do Presidente da República; a anistia pode ser
concedida antes da sentença final ou depois da condena-
Artigo 5º, XL, CF. A lei penal não retroagirá, salvo para ção irrecorrível, a graça e o indulto pressupõem o trânsito
beneficiar o réu. em julgado da sentença condenatória; graça e o indulto
apenas extinguem a punibilidade, persistindo os efeitos do
O dispositivo consolida outra faceta do princípio da crime, apagados na anistia; graça é em regra individual e
anterioridade: se, por um lado, é necessário que a lei tenha solicitada, enquanto o indulto é coletivo e espontâneo.
definido um fato como crime e dado certo tratamento pe- Não cabe graça, anistia ou indulto (pode-se considerar
nal a este fato (ex.: pena de detenção ou reclusão, tempo que o artigo o abrange, pela doutrina majoritária) contra
de pena, etc.) antes que ele ocorra; por outro lado, se vier crimes de tortura, tráfico, terrorismo (TTT) e hediondos
uma lei posterior ao fato que o exclua do rol de crimes ou (previstos na Lei nº 8.072 de 25 de julho de 1990). Além
que confira tratamento mais benéfico (diminuindo a pena disso, são crimes que não aceitam fiança.
ou alterando o regime de cumprimento, notadamente), Por fim, prevê o artigo 5º, XLIV, CF:
ela será aplicada. Restam consagrados tanto o princípio da
irretroatividade da lei penal in pejus quanto o da retroati- Artigo 5º, XLIV, CF. Constitui crime inafiançável e im-
vidade da lei penal mais benéfica. prescritível a ação de grupos armados, civis ou militares,
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
Menções específicas a crimes
O artigo 5º, XLI, CF estabelece: Personalidade da pena
A personalidade da pena encontra respaldo no artigo
5º, XLV, CF:
Artigo 5º, XLI, CF. A lei punirá qualquer discriminação
atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.
Artigo 5º, XLV, CF. Nenhuma pena passará da pessoa
do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
Sendo assim confere fórmula genérica que remete ao decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, es-
princípio da igualdade numa concepção ampla, razão pela tendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite
qual práticas discriminatórias não podem ser aceitas. No do valor do patrimônio transferido.
entanto, o constituinte entendeu por bem prever trata-
mento específico a certas práticas criminosas. O princípio da personalidade encerra o comando de o
Neste sentido, prevê o artigo 5º, XLII, CF: crime ser imputado somente ao seu autor, que é, por seu
turno, a única pessoa passível de sofrer a sanção. Seria fla-
Artigo 5º, XLII, CF. A prática do racismo constitui crime grante a injustiça se fosse possível alguém responder pelos
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, atos ilícitos de outrem: caso contrário, a reação, ao invés de
nos termos da lei. restringir-se ao malfeitor, alcançaria inocentes. Contudo, se
uma pessoa deixou patrimônio e faleceu, este patrimônio
responderá pelas repercussões financeiras do ilícito.
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Se uma pessoa possui identificação civil, não há por- Consolida-se o princípio da presunção de inocência,
que fazer identificação criminal, colhendo digitais, fotos, pelo qual uma pessoa não é culpada até que, em definitivo,
etc. Pensa-se que seria uma situação constrangedora des- o Judiciário assim decida, respeitados todos os princípios e
necessária ao suspeito, sendo assim, violaria a integridade garantias constitucionais.
moral.
Ação penal privada subsidiária da pública
Nos termos do artigo 5º, LIX, CF:
Devido processo legal, contraditório e ampla de-
fesa
Artigo 5º, LIX, CF. Será admitida ação privada nos cri-
Estabelece o artigo 5º, LIV, CF:
mes de ação pública, se esta não for intentada no prazo
legal.
Artigo 5º, LIV, CF. Ninguém será privado da liberdade
ou de seus bens sem o devido processo legal. A chamada ação penal privada subsidiária da pública
encontra respaldo constitucional, assegurando que a omis-
Pelo princípio do devido processo legal a legislação são do poder público na atividade de persecução criminal
deve ser respeitada quando o Estado pretender punir al- não será ignorada, fornecendo-se instrumento para que o
guém judicialmente. Logo, o procedimento deve ser livre interessado a proponha.
de vícios e seguir estritamente a legislação vigente, sob
pena de nulidade processual. Prisão e liberdade
Surgem como corolário do devido processo legal o O constituinte confere espaço bastante extenso no ar-
contraditório e a ampla defesa, pois somente um procedi- tigo 5º em relação ao tratamento da prisão, notadamente
mento que os garanta estará livre dos vícios. Neste senti- por se tratar de ato que vai contra o direito à liberdade.
do, o artigo 5º, LV, CF: Obviamente, a prisão não é vedada em todos os casos, por-
que práticas atentatórias a direitos fundamentais implicam
Artigo 5º, LV, CF. Aos litigantes, em processo judicial ou na tipificação penal, autorizando a restrição da liberdade
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o daquele que assim agiu.
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a No inciso LXI do artigo 5º, CF, prevê-se:
ela inerentes.
Artigo 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em fla-
O devido processo legal possui a faceta formal, pela grante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
qual se deve seguir o adequado procedimento na apli- autoridade judiciária competente, salvo nos casos de trans-
cação da lei e, sendo assim, respeitar o contraditório e a gressão militar ou crime propriamente militar, definidos em
ampla defesa. Não obstante, o devido processo legal tem lei.
sua faceta material que consiste na tomada de decisões
justas, que respeitem os parâmetros da razoabilidade e da Logo, a prisão somente se dará em caso de flagran-
te delito (necessariamente antes do trânsito em julgado),
proporcionalidade.
ou em caráter temporário, provisório ou definitivo (as duas
primeiras independente do trânsito em julgado, preenchi-
Vedação de provas ilícitas
dos requisitos legais e a última pela irreversibilidade da
Conforme o artigo 5º, LVI, CF:
condenação).
Aborda-se no artigo 5º, LXII o dever de comunicação
Artigo 5º, LVI, CF. São inadmissíveis, no processo, as ao juiz e à família ou pessoa indicada pelo preso:
provas obtidas por meios ilícitos.
Artigo 5º, LXII, CF. A prisão de qualquer pessoa e o lo-
Provas ilícitas, por força da nova redação dada ao arti- cal onde se encontre serão comunicados imediatamente ao
go 157 do CPP, são as obtidas em violação a normas cons- juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele
titucionais ou legai, ou seja, prova ilícita é a que viola regra indicada.
de direito material, constitucional ou legal, no momento
da sua obtenção. São vedadas porque não se pode aceitar Não obstante, o preso deverá ser informado de todos
o descumprimento do ordenamento para fazê-lo cumprir: os seus direitos, inclusive o direito ao silêncio, podendo
seria paradoxal. entrar em contato com sua família e com um advogado,
conforme artigo 5º, LXIII, CF:
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Artigo 5º, LXIII, CF. O preso será informado de seus direi- 6) Tratados internacionais incorporados ao ordena-
tos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe asse- mento interno
gurada a assistência da família e de advogado. Estabelece o artigo 5º, § 2º, CF que os direitos e garan-
tias podem decorrer, dentre outras fontes, dos “tratados
Estabelece-se no artigo 5º, LXIV, CF: internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte”.
Artigo 5º, LXIV, CF. O preso tem direito à identificação Para o tratado internacional ingressar no ordenamen-
dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório po- to jurídico brasileiro deve ser observado um procedimento
licial. complexo, que exige o cumprimento de quatro fases: a ne-
gociação (bilateral ou multilateral, com posterior assinatura
Por isso mesmo, o auto de prisão em flagrante e a ata do Presidente da República), submissão do tratado assina-
do depoimento do interrogatório são assinados pelas auto- do ao Congresso Nacional (que dará referendo por meio
ridades envolvidas nas práticas destes atos procedimentais. do decreto legislativo), ratificação do tratado (confirmação
Ainda, a legislação estabelece inúmeros requisitos para da obrigação perante a comunidade internacional) e a pro-
que a prisão seja validada, sem os quais cabe relaxamento, mulgação e publicação do tratado pelo Poder Executivo33.
tanto que assim prevê o artigo 5º, LXV, CF: Notadamente, quando o constituinte menciona os tratados
internacionais no §2º do artigo 5º refere-se àqueles que
Artigo 5º, LXV, CF. A prisão ilegal será imediatamente tenham por fulcro ampliar o rol de direitos do artigo 5º, ou
relaxada pela autoridade judiciária. seja, tratado internacional de direitos humanos.
O §1° e o §2° do artigo 5° existiam de maneira originá-
Desta forma, como decorrência lógica, tem-se a previ- ria na Constituição Federal, conferindo o caráter de prima-
são do artigo 5º, LXVI, CF: zia dos direitos humanos, desde logo consagrando o prin-
cípio da primazia dos direitos humanos, como reconhecido
Artigo 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou nela pela doutrina e jurisprudência majoritários na época. “O
mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com princípio da primazia dos direitos humanos nas relações
ou sem fiança. internacionais implica em que o Brasil deve incorporar os
tratados quanto ao tema ao ordenamento interno brasilei-
Mesmo que a pessoa seja presa em flagrante, devido ro e respeitá-los. Implica, também em que as normas vol-
ao princípio da presunção de inocência, entende-se que ela tadas à proteção da dignidade em caráter universal devem
não deve ser mantida presa quando não preencher os re- ser aplicadas no Brasil em caráter prioritário em relação a
quisitos legais para prisão preventiva ou temporária. outras normas”34.
Regra geral, os tratados internacionais comuns ingres-
Indenização por erro judiciário sam com força de lei ordinária no ordenamento jurídico
A disciplina sobre direitos decorrentes do erro judiciário brasileiro porque somente existe previsão constitucional
encontra-se no artigo 5º, LXXV, CF: quanto à possibilidade da equiparação às emendas consti-
tucionais se o tratado abranger matéria de direitos huma-
Artigo 5º, LXXV, CF. O Estado indenizará o condenado nos. Antes da emenda alterou o quadro quanto aos trata-
por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do dos de direitos humanos, era o que acontecia, mas isso não
tempo fixado na sentença. significa que tais direitos eram menos importantes devido
ao princípio da primazia e ao reconhecimento dos direitos
Trata-se do erro em que incorre um juiz na apreciação e implícitos.
julgamento de um processo criminal, resultando em conde- Por seu turno, com o advento da Emenda Constitucio-
nação de alguém inocente. Neste caso, o Estado indenizará. nal nº 45/04 se introduziu o §3º ao artigo 5º da Consti-
Ele também indenizará uma pessoa que ficar presa além do tuição Federal, de modo que os tratados internacionais de
tempo que foi condenada a cumprir. direitos humanos foram equiparados às emendas consti-
tucionais, desde que houvesse a aprovação do tratado em
5) Direitos fundamentais implícitos cada Casa do Congresso Nacional e obtivesse a votação em
Nos termos do § 2º do artigo 5º da Constituição Fede- dois turnos e com três quintos dos votos dos respectivos
ral: membros:
Artigo 5º, §2º, CF. Os direitos e garantias expressos nesta Art. 5º, § 3º, CF. Os tratados e convenções interna-
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos cionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
em que a República Federativa do Brasil seja parte. quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalen-
tes às emendas constitucionais.
Daí se depreende que os direitos ou garantias podem 33 VICENTE SOBRINHO, Benedito. Direitos Fundamentais e
estar expressos ou implícitos no texto constitucional. Sendo Prisão Civil. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 2008.
assim, o rol enumerado nos incisos do artigo 5º é apenas 34 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacio-
exemplificativo, não taxativo. nal Público e Privado. Salvador: JusPodivm, 2009.
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§ 2o O poder público garantirá que o segmento da III - desenvolvimento de campanhas educativas, inclu-
população negra vinculado aos seguros privados de saúde sive nas escolas, para que a solidariedade aos membros da
seja tratado sem discriminação. população negra faça parte da cultura de toda a sociedade;
Art. 7o O conjunto de ações de saúde voltadas à popu- IV - implementação de políticas públicas para o forta-
lação negra constitui a Política Nacional de Saúde Integral lecimento da juventude negra brasileira.
da População Negra, organizada de acordo com as diretri-
zes abaixo especificadas: Seção II
I - ampliação e fortalecimento da participação de li- Da Educação
deranças dos movimentos sociais em defesa da saúde da
população negra nas instâncias de participação e controle Art. 11. Nos estabelecimentos de ensino fundamental
social do SUS; e de ensino médio, públicos e privados, é obrigatório o es-
II - produção de conhecimento científico e tecnológico tudo da história geral da África e da história da população
em saúde da população negra; negra no Brasil, observado o disposto na Lei no 9.394, de 20
III - desenvolvimento de processos de informação, co- de dezembro de 1996.
municação e educação para contribuir com a redução das § 1o Os conteúdos referentes à história da população
vulnerabilidades da população negra. negra no Brasil serão ministrados no âmbito de todo o cur-
Art. 8o Constituem objetivos da Política Nacional de rículo escolar, resgatando sua contribuição decisiva para o
Saúde Integral da População Negra: desenvolvimento social, econômico, político e cultural do
I - a promoção da saúde integral da população negra, País.
priorizando a redução das desigualdades étnicas e o com- § 2o O órgão competente do Poder Executivo fomenta-
bate à discriminação nas instituições e serviços do SUS; rá a formação inicial e continuada de professores e a elabo-
II - a melhoria da qualidade dos sistemas de informa- ração de material didático específico para o cumprimento
ção do SUS no que tange à coleta, ao processamento e à do disposto no caput deste artigo.
análise dos dados desagregados por cor, etnia e gênero; § 3o Nas datas comemorativas de caráter cívico, os ór-
III - o fomento à realização de estudos e pesquisas so- gãos responsáveis pela educação incentivarão a participa-
bre racismo e saúde da população negra; ção de intelectuais e representantes do movimento negro
IV - a inclusão do conteúdo da saúde da população para debater com os estudantes suas vivências relativas ao
negra nos processos de formação e educação permanente tema em comemoração.
dos trabalhadores da saúde; Art. 12. Os órgãos federais, distritais e estaduais de fo-
V - a inclusão da temática saúde da população negra mento à pesquisa e à pós-graduação poderão criar incen-
nos processos de formação política das lideranças de mo- tivos a pesquisas e a programas de estudo voltados para
vimentos sociais para o exercício da participação e controle temas referentes às relações étnicas, aos quilombos e às
social no SUS. questões pertinentes à população negra.
Parágrafo único. Os moradores das comunidades de Art. 13. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos
remanescentes de quilombos serão beneficiários de incen- competentes, incentivará as instituições de ensino superior
tivos específicos para a garantia do direito à saúde, incluin- públicas e privadas, sem prejuízo da legislação em vigor, a:
do melhorias nas condições ambientais, no saneamento I - resguardar os princípios da ética em pesquisa e
básico, na segurança alimentar e nutricional e na atenção apoiar grupos, núcleos e centros de pesquisa, nos diversos
integral à saúde. programas de pós-graduação que desenvolvam temáticas
de interesse da população negra;
CAPÍTULO II II - incorporar nas matrizes curriculares dos cursos de
DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPOR- formação de professores temas que incluam valores con-
TE E AO LAZER cernentes à pluralidade étnica e cultural da sociedade bra-
Seção I sileira;
Disposições Gerais III - desenvolver programas de extensão universitária
destinados a aproximar jovens negros de tecnologias avan-
Art. 9o A população negra tem direito a participar de çadas, assegurado o princípio da proporcionalidade de gê-
atividades educacionais, culturais, esportivas e de lazer nero entre os beneficiários;
adequadas a seus interesses e condições, de modo a con- IV - estabelecer programas de cooperação técnica, nos
tribuir para o patrimônio cultural de sua comunidade e da estabelecimentos de ensino públicos, privados e comuni-
sociedade brasileira. tários, com as escolas de educação infantil, ensino funda-
Art. 10. Para o cumprimento do disposto no art. 9o, os mental, ensino médio e ensino técnico, para a formação
governos federal, estaduais, distrital e municipais adotarão docente baseada em princípios de equidade, de tolerância
as seguintes providências: e de respeito às diferenças étnicas.
I - promoção de ações para viabilizar e ampliar o aces- Art. 14. O poder público estimulará e apoiará ações
so da população negra ao ensino gratuito e às atividades socioeducacionais realizadas por entidades do movimento
esportivas e de lazer; negro que desenvolvam atividades voltadas para a inclusão
II - apoio à iniciativa de entidades que mantenham es- social, mediante cooperação técnica, intercâmbios, convê-
paço para promoção social e cultural da população negra; nios e incentivos, entre outros mecanismos.
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Art. 50. Os Poderes Executivos estaduais, distrital e mu- I - promoção da igualdade de oportunidades em edu-
nicipais, no âmbito das respectivas esferas de competência, cação, emprego e moradia;
poderão instituir conselhos de promoção da igualdade ét- II - financiamento de pesquisas, nas áreas de educação,
nica, de caráter permanente e consultivo, compostos por saúde e emprego, voltadas para a melhoria da qualidade
igual número de representantes de órgãos e entidades pú- de vida da população negra;
blicas e de organizações da sociedade civil representativas III - incentivo à criação de programas e veículos de co-
da população negra. municação destinados à divulgação de matérias relaciona-
Parágrafo único. O Poder Executivo priorizará o repas- das aos interesses da população negra;
se dos recursos referentes aos programas e atividades pre- IV - incentivo à criação e à manutenção de microem-
vistos nesta Lei aos Estados, Distrito Federal e Municípios presas administradas por pessoas autodeclaradas negras;
que tenham criado conselhos de promoção da igualdade V - iniciativas que incrementem o acesso e a perma-
étnica. nência das pessoas negras na educação fundamental, mé-
dia, técnica e superior;
CAPÍTULO IV VI - apoio a programas e projetos dos governos esta-
DAS OUVIDORIAS PERMANENTES E DO ACESSO À duais, distrital e municipais e de entidades da sociedade
JUSTIÇA E À SEGURANÇA civil voltados para a promoção da igualdade de oportuni-
dades para a população negra;
Art. 51. O poder público federal instituirá, na forma da VII - apoio a iniciativas em defesa da cultura, da memó-
lei e no âmbito dos Poderes Legislativo e Executivo, Ouvi- ria e das tradições africanas e brasileiras.
dorias Permanentes em Defesa da Igualdade Racial, para § 1o O Poder Executivo federal é autorizado a adotar
receber e encaminhar denúncias de preconceito e discri- medidas que garantam, em cada exercício, a transparên-
minação com base em etnia ou cor e acompanhar a imple- cia na alocação e na execução dos recursos necessários ao
mentação de medidas para a promoção da igualdade. financiamento das ações previstas neste Estatuto, explici-
Art. 52. É assegurado às vítimas de discriminação étni- tando, entre outros, a proporção dos recursos orçamentá-
ca o acesso aos órgãos de Ouvidoria Permanente, à Defen- rios destinados aos programas de promoção da igualdade,
soria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, especialmente nas áreas de educação, saúde, emprego e
em todas as suas instâncias, para a garantia do cumprimen- renda, desenvolvimento agrário, habitação popular, desen-
to de seus direitos. volvimento regional, cultura, esporte e lazer.
Parágrafo único. O Estado assegurará atenção às mu- § 2o Durante os 5 (cinco) primeiros anos, a contar do
lheres negras em situação de violência, garantida a assis- exercício subsequente à publicação deste Estatuto, os ór-
tência física, psíquica, social e jurídica. gãos do Poder Executivo federal que desenvolvem políticas
Art. 53. O Estado adotará medidas especiais para coi- e programas nas áreas referidas no § 1o deste artigo dis-
bir a violência policial incidente sobre a população negra. criminarão em seus orçamentos anuais a participação nos
Parágrafo único. O Estado implementará ações de programas de ação afirmativa referidos no inciso VII do art.
ressocialização e proteção da juventude negra em conflito 4o desta Lei.
com a lei e exposta a experiências de exclusão social. § 3o O Poder Executivo é autorizado a adotar as me-
Art. 54. O Estado adotará medidas para coibir atos de didas necessárias para a adequada implementação do
discriminação e preconceito praticados por servidores pú- disposto neste artigo, podendo estabelecer patamares de
blicos em detrimento da população negra, observado, no participação crescente dos programas de ação afirmativa
que couber, o disposto na Lei no 7.716, de 5 de janeiro de nos orçamentos anuais a que se refere o § 2o deste artigo.
1989. § 4o O órgão colegiado do Poder Executivo federal res-
Art. 55. Para a apreciação judicial das lesões e das ponsável pela promoção da igualdade racial acompanhará
ameaças de lesão aos interesses da população negra de- e avaliará a programação das ações referidas neste artigo
correntes de situações de desigualdade étnica, recorrer-se nas propostas orçamentárias da União.
-á, entre outros instrumentos, à ação civil pública, discipli- Art. 57. Sem prejuízo da destinação de recursos ordi-
nada na Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985. nários, poderão ser consignados nos orçamentos fiscal e
da seguridade social para financiamento das ações de que
CAPÍTULO V trata o art. 56:
DO FINANCIAMENTO DAS INICIATIVAS DE PRO- I - transferências voluntárias dos Estados, do Distrito
MOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL Federal e dos Municípios;
II - doações voluntárias de particulares;
Art. 56. Na implementação dos programas e das ações III - doações de empresas privadas e organizações não
constantes dos planos plurianuais e dos orçamentos anuais governamentais, nacionais ou internacionais;
da União, deverão ser observadas as políticas de ação afir- IV - doações voluntárias de fundos nacionais ou inter-
mativa a que se refere o inciso VII do art. 4o desta Lei e nacionais;
outras políticas públicas que tenham como objetivo pro- V - doações de Estados estrangeiros, por meio de con-
mover a igualdade de oportunidades e a inclusão social da vênios, tratados e acordos internacionais.
população negra, especialmente no que tange a:
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada. Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou for-
§ 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de dis- ma, o casamento ou convivência familiar e social.
criminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do Pena: reclusão de dois a quatro anos.
preconceito de descendência ou origem nacional ou étni- Art. 15. (Vetado).
ca: (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do car-
I - deixar de conceder os equipamentos necessários go ou função pública, para o servidor público, e a suspen-
ao empregado em igualdade de condições com os demais são do funcionamento do estabelecimento particular por
trabalhadores; (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) prazo não superior a três meses.
II - impedir a ascensão funcional do empregado ou Art. 17. (Vetado).
obstar outra forma de benefício profissional; (Incluído pela Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta
Lei nº 12.288, de 2010) Lei não são automáticos, devendo ser motivadamente de-
III - proporcionar ao empregado tratamento diferen- clarados na sentença.
ciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao Art. 19. (Vetado).
salário. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou
§ 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência na-
serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção cional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra Pena: reclusão de um a três anos e multa. (Redação
forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
de aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas § 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular sím-
atividades não justifiquem essas exigências. bolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda
Pena: reclusão de dois a cinco anos. que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de di-
Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento vulgação do nazismo. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de
comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente 15/05/97)
ou comprador. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído
Pena: reclusão de um a três anos.
pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingres-
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é co-
so de aluno em estabelecimento de ensino público ou pri-
metido por intermédio dos meios de comunicação social
vado de qualquer grau.
ou publicação de qualquer natureza: (Redação dada pela
Pena: reclusão de três a cinco anos.
Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído
de dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço).
pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá de-
hotel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento si-
terminar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste,
milar.
Pena: reclusão de três a cinco anos. ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediên-
Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em cia: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão
abertos ao público. dos exemplares do material respectivo;(Incluído pela Lei
Pena: reclusão de um a três anos. nº 9.459, de 15/05/97)
Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em II - a cessação das respectivas transmissões radiofôni-
estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes cas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer
sociais abertos ao público. meio;(Redação dada pela Lei nº 12.735, de 2012)
Pena: reclusão de um a três anos. III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas
Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em de informação na rede mundial de computadores. (Incluí-
salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de mas- do pela Lei nº 12.288, de 2010)
sagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades. § 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da conde-
Pena: reclusão de um a três anos. nação, após o trânsito em julgado da decisão, a destrui-
Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edi- ção do material apreendido. (Incluído pela Lei nº 9.459, de
fícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada de 15/05/97)
acesso aos mesmos: Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publica-
Pena: reclusão de um a três anos. ção. (Renumerado pela Lei nº 8.081, de 21.9.1990)
Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes pú- Art. 22. Revogam-se as disposições em contrário. (Re-
blicos, como aviões, navios barcas, barcos, ônibus, trens, numerado pela Lei nº 8.081, de 21.9.1990)
metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido. Brasília, 5 de janeiro de 1989; 168º da Independência
Pena: reclusão de um a três anos. e 101º da República.
Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao ser-
viço em qualquer ramo das Forças Armadas.
Pena: reclusão de dois a quatro anos.
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Considerando que as Nações Unidas têm condena- 2. Esta Convenção não se aplicará ás distinções, exclu-
do o colonialismo e todas as práticas de segregação e sões, restrições e preferências feitas por um Estado Parte
discriminação a ele associados, em qualquer forma e onde nesta Convenção entre cidadãos e não cidadãos.
quer que existam, e que a Declaração sobre a Conces- 3. Nada nesta Convenção poderá ser interpretado
são de Independência, a Partes e Povos Coloniais, de 14 de como afetando as disposições legais dos Estados Partes,
dezembro de 1960 (Resolução 1.514 (XV), da Assembleia relativas a nacionalidade, cidadania e naturalização, desde
Geral afirmou e proclamou solenemente a necessidade de que tais disposições não discriminem contra qualquer na-
levá-las a um fim rápido e incondicional, cionalidade particular.
Considerando que a Declaração das Nações Unidas sobre 4. Não serão consideradas discriminação racial as me-
eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, de didas especiais tomadas com o único objetivo de assegurar
20 de novembro de 1963, (Resolução 1.904 ( XVIII) da As- progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou
sembleia-Geral), afirma solenemente a necessidade de eli- de indivíduos que necessitem da proteção que possa ser
minar rapidamente a discriminação racial através do mun- necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos
do em todas as suas formas e manifestações e de assegurar igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades
a compreensão e o respeito à dignidade da pessoa humana, fundamentais, contando que, tais medidas não conduzam,
Convencidos de que qualquer doutrina de superioridade em consequência, à manutenção de direitos separados
baseada em diferenças raciais é cientificamente falsa, mo- para diferentes grupos raciais e não prossigam após terem
ralmente condenável, socialmente injusta e perigosa, em que, sido alcançados os seus objetivos.
não existe justificação para a discriminação racial, em teoria
ou na prática, em lugar algum, Artigo II
Reafirmando que a discriminação entre os homens por 1. Os Estados Partes condenam a discriminação racial
motivos de raça, cor ou origem étnica é um obstáculo a e comprometem-se a adotar, por todos os meios apropria-
relações amistosas e pacíficas entre as nações e é capaz de dos e sem tardar uma política de eliminação da discrimi-
disturbar a paz e a segurança entre povos e a harmonia de nação racial em todas as suas formas e de promoção de
pessoas vivendo lado a lado até dentro de um mesmo Estado, entendimento entre todas as raças e para esse fim:
Convencidos que a existência de barreiras raciais repugna a) Cada Estado parte compromete-se a efetuar nenhum
os ideais de qualquer sociedade humana, ato ou prática de discriminação racial contra pessoas, gru-
Alarmados por manifestações de discriminação racial ain- pos de pessoas ou instituições e fazer com que todas as
da em evidência em algumas áreas do mundo e por políti- autoridades públicas nacionais ou locais, se conformem
cas governamentais baseadas em superioridade racial ou ódio, com esta obrigação;
como as políticas de apartheid , segregação ou separação, b) Cada Estado Parte compromete-se a não encorajar,
Resolvidos a adotar todas as medidas necessárias para
defender ou apoiar a discriminação racial praticada por
eliminar rapidamente a discriminação racial em, todas
uma pessoa ou uma organização qualquer;
as suas formas e manifestações, e a prevenir e combater
c) Cada Estado Parte deverá tomar as medidas efica-
doutrinas e práticas raciais com o objetivo de promover o
zes, a fim de rever as politicas governamentais nacionais e
entendimento entre as raças e construir uma comunidade
locais e para modificar, ab-rogar ou anular qualquer dispo-
internacional livre de todas as formas de separação racial e
sição regulamentar que tenha como objetivo criar a discri-
discriminação racial,
Levando em conta a Convenção sobre Discrimina- minação ou perpetrá-la onde já existir;
ção nos Emprego e Ocupação adotada pela Organiza- d) Cada Estado Parte deverá, por todos os meios apro-
ção internacional do Trabalho em 1958, e a Convenção contra priados, inclusive se as circunstâncias o exigirem, as me-
discriminação no Ensino adotada pela Organização das didas legislativas, proibir e por fim, a discriminação racial
Nações Unidas para Educação a Ciência em 1960, praticadas por pessoa, por grupo ou das organizações;
Desejosos de completar os princípios estabelecidos na e) Cada Estado Parte compromete-se a favorecer,
Declaração das Naçõs unidas sobre a Eliminação de todas as quando for o caso as organizações e movimentos multi-ra-
formas de discriminação racial e assegurar o mais cedo possí- ciais e outros meios próprios a eliminar as barreiras entre
vel a adoção de medidas práticas para esse fim, as raças e a desencorajar o que tende a fortalecer a divisão
Acordaram no seguinte: racial.
2) Os Estados Partes tomarão, se as circunstâncias o
PARTE I exigirem, nos campos social, econômico, cultural e outros,
as medidas especiais e concretas para assegurar como
Artigo I convier o desenvolvimento ou a proteção de certos grupos
1. Nesta Convenção, a expressão “discriminação racial” raciais ou de indivíduos pertencentes a estes grupos com
significará qualquer distinção, exclusão restrição ou preferên- o objetivo de garantir-lhes, em condições de igualdade, o
cia baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional pleno exercício dos direitos do homem e das liberdades
ou etnica que tem por objetivo ou efeito anular ou restringir fundamentais.
o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano,( em Essas medidas não deverão, em caso algum, ter a fina-
igualdade de condição), de direitos humanos e liberdades lidade de manter direitos grupos raciais, depois de alcança-
fundamentais no domínio político econômico, social, cultural dos os objetivos em razão dos quais foram tomadas.
ou em qualquer outro domínio de vida pública.
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5. O Secretariado previsto no parágrafo 3 do artigo 10 pres- 4. O órgão criado ou designado de conformidade com
tará igualmente seus serviços à Comissão cada ver que uma o parágrafo 2 do presente artigo, deverá manter um re-
controvérsia entre os Estados Partes provocar sua formação. gistro de petições e cópias autenticada do registro serão
6. Todas as despesas dos membros da Comissão serão depositadas anualmente por canais apropriados junto ao
divididos igualmente entre os Estados Partes na controvérsia Secretário Geral das Nações Unidas, no entendimento que
baseadas num cálculo estimativo feito pelo Secretário-Geral. o conteúdo dessas cópias não será divulgado ao público.
7. O Secretário Geral ficará autorizado a pagar, se for 5. Se não obtiver repartição satisfatória do órgão cria-
necessário, as despesas dos membros da Comissão, antes do ou designado de conformidade com o parágrafo 2 do
que o reembolso seja efetuado pelos Estados Partes na presente artigo, o peticionário terá o direito de levar a
controvérsia, de conformidade com o parágrafo 6 do pre- questão ao Comitê dentro de seis meses.
sente artigo. 6. a) O Comitê levará, a título confidencial, qualquer co-
8. As informações obtidas e confrontadas pelo Comi- municação que lhe tenha sido endereçada, ao conhecimento
tê serão postas à disposição da Comissão, e a Comissão do Estado Parte que, pretensamente houver violado qualquer
poderá solicitar aos Estados interessados sde lhe fornecer das disposições desta Convenção, mas a identidade da pes-
qualquer informação complementar pertinente. soa ou dos grupos de pessoas não poderá ser revelada sem
o consentimento expresso da referida pessoa ou grupos de
Artigo XIII pessoas. O Comitê não receberá comunicações anônimas.
1. Após haver estudado a questão sob todos os seus b) Nos três meses seguintes, o referido Estado subme-
aspectos, a Comissão preparará e submeterá ao Presidente terá, por escrito ao Comitê, as explicações ou recomenda-
do Comitê um relatório com as conclusões sobre todas ass ções que esclarecem a questão e indicará as medidas cor-
questões de fato relativas à controvérsia entre as partes e retivas que por acaso houver adotado.
as recomendações que julgar oportunas a fim de chegar a 7. a) O Comitê examinará as comunicações, à luz de to-
uma solução amistosa da controvérsia. das as informações que forem submetidas pelo Estado par-
2. O Presidente do Comitê transmitirá o relatório da te interessado e pelo peticionário. O Comitê so examinará
Comissão a cada um dos Estados Partes na controvérsia. uma comunicação de peticionário após ter-se assegurado
Os referidos Estados comunicarão ao Presidente do Comitê que este esgotou todos os recursos internos disponíveis.
num prazo de três meses se aceitam ou não, as recomen- Entretanto, esta regra não se aplicará se os processos de
dações contidas no relatório da Comissão. recurso excederem prazos razoáveis.
3. Expirado o prazo previsto no paragrafo 2º do pre- b) O Comitê remeterá suas sugestões e recomendações
sente artigo, o Presidente do Comitê comunicará o Relató- eventuais, ao Estado Parte interessado e ao peticionário.
rio da Comissão e as declarações dos Estados Partes inte- 8. O Comitê incluirá em seu relatório anual um resumo
ressadas aos outros Estados Parte na Comissão. destas comunicações, se for necessário, um resumo das
explicações e declarações dos Estados Partes interessados
Artigo XIV assim como suas próprias sugestões e recomendações.
1. Todo o Estado parte poderá declarar e qualquer 9. O Comitê somente terá competência para exercer as
momento que reconhece a competência do Comitê para funções previstas neste artigo se pelo menos dez Estados
receber e examinar comunicações de indivíduos sob sua Partes nesta Convenção estiverem obrigados por declara-
jurisdição que se consideram vítimas de uma violação pelo ções feitas de conformidade com o parágrafo deste artigo.
referido Estado Parte de qualquer um dos direitos enun-
ciados na presente Convenção. O Comitê não receberá Artigo XV
qualquer comunicação de um Estado Parte que não houver 1. Enquanto não forem atingidos os objetivos da reso-
feito tal declaração. lução 1.514 (XV) da Assembleia Geral de 14 de dezembro
2. Qualquer Estado parte que fizer uma declaração de de 1960, relativa à Declaração sobro a concessão da inde-
conformidade com o parágrafo do presente artigo, poderá pendência dos países e povos coloniais, as disposições da
criar ou designar um órgão dentro de sua ordem jurídica presente convenção não restringirão de maneira alguma
nacional, que terá competência para receber e examinar as o direito de petição concedida aos povos por outros ins-
petições de pessoas ou grupos de pessoas sob sua jurisdi- trumentos internacionais ou pela Organização das Nações
ção que alegarem ser vitimas de uma violação de qualquer Unidas e suas agências especializadas.
um dos direitos enunciados na presente Convenção e que 2. a) O Comitê constituído de conformidade com o
esgotaram os outros recursos locais disponíveis. parágrafo 1 do artigo 8 desta Convenção receberá cópia
3. A declaração feita de conformidade com o parágrafo das petições provenientes dos órgãos das Nações Unidas
1 do presente artigo e o nome de qualquer órgão criado que se encarregarem de questões diretamente relaciona-
ou designado pelo Estado Parte interessado consoante o das com os princípios e objetivos da presente Convenção e
parágrafo 2 do presente artigo será depositado pelo Esta- expressará sua opinião e formulará recomendações sobre
do Parte interessado junto ao Secretário Geral das Nações petições recebidas quando examinar as petições recebidas
Unidas que remeterá cópias aos outros Estados Partes. A dos habitantes dos territórios sob tutela ou não autônomo
declaração poderá ser retirada a qualquer momento me- ou de qualquer outro território a que se aplicar a resolução
diante notificação ao Secretário Geral mas esta retirada não 1514 (XV) da Assembleia Geral, relacionadas a questões
prejudicará as comunicações que já estiverem sendo estu- tratadas pela presente Convenção e que forem submetidas
dadas pelo Comitê. a esses órgãos.
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Artigo 20 Artigo 26
1. O Comitê se reunirá normalmente todos os anos por 1. Qualquer Estado-Parte poderá, em qualquer mo-
um período não superior a duas semanas para examinar mento, formular pedido de revisão desta revisão desta
os relatórios que lhe sejam submetidos em conformidade Convenção, mediante notificação escrita dirigida ao Secre-
com o Artigo 18 desta Convenção. tário-Geral das Nações Unidas.
2. As reuniões do Comitê realizar-se-ão normalmente 2. A Assembleia Geral das Nações Unidas decidirá so-
na sede das Nações Unidas ou em qualquer outro lugar bre as medidas a serem tomadas, se for o caso, com respei-
que o Comitê determine. to a esse pedido.
Artigo 21 Artigo 27
1. O Comitê, através do Conselho Econômico e Social 1. Esta Convenção entrará em vigor no trigésimo dia
das Nações Unidas, informará anualmente a Assembléia a partir da data do depósito do vigésimo instrumento de
Geral das Nações Unidas de suas atividades e poderá apre- ratificação ou adesão junto ao Secretário-Geral das Nações
sentar sugestões e recomendações de caráter geral basea- Unidas.
das no exame dos relatórios e em informações recebidas 2. Para cada Estado que ratificar a presente Convenção
dos Estados-Partes. Essas sugestões e recomendações de ou a ela aderir após o depósito do vigésimo instrumento
caráter geral serão incluídas no relatório do Comitê junta- de ratificação ou adesão, a Convenção entrará em vigor
mente com as observações que os Estados-Partes tenham no trigésimo dia após o depósito de seu instrumento de
porventura formulado. ratificação ou adesão.
2. O Secretário-Geral transmitirá, para informação, os
relatórios do Comitê à Comissão sobre a Condição da Mu- Artigo 28
lher. 1. O Secretário-Geral das Nações Unidas receberá e en-
As Agências Especializadas terão direito a estar repre- viará a todos os Estados o texto das reservas feitas pelos
sentadas no exame da aplicação das disposições desta Estados no momento da ratificação ou adesão.
Convenção que correspondam à esfera de suas atividades. 2. Não será permitida uma reserva incompatível com o
O Comitê poderá convidar as Agências Especializadas a objeto e o propósito desta Convenção.
apresentar relatórios sobre a aplicação da Convenção nas 3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer mo-
áreas que correspondam à esfera de suas atividades. mento por uma notificação endereçada com esse objetivo
ao Secretário-Geral das Nações Unidas, que informará a
PARTE VI todos os Estados a respeito. A notificação surtirá efeito na
data de seu recebimento.
Artigo 23
Nada do disposto nesta Convenção prejudicará qual- Artigo 29
quer disposição que seja mais propícia à obtenção da 1. Qualquer controvérsia entre dois ou mais Estados
igualdade entre homens e mulheres e que seja contida: -Partes relativa à interpretação ou aplicação desta Con-
a) Na legislação de um Estado-Parte ou venção e que não for resolvida por negociações será, a
b) Em qualquer outra convenção, tratado ou acordo in- pedido de qualquer das Partes na controvérsia, submetida
ternacional vigente nesse Estado. a arbitragem. Se no prazo de seis meses a partir da data
do pedido de arbitragem as Partes não acordarem sobre a
Artigo 24 forma da arbitragem, qualquer das Partes poderá subme-
Os Estados-Partes comprometem-se a adotar todas as ter a controvérsia à Corte Internacional de Justiça mediante
medidas necessárias em âmbito nacional para alcançar a pedido em conformidade com o Estatuto da Corte.
plena realização dos direitos reconhecidos nesta Conven- 2. Qualquer Estado-Parte, no momento da assinatura
ção. ou ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, pode-
rá declarar que não se considera obrigado pelo parágrafo
Artigo 25 anterior. Os demais Estados-Partes não estarão obrigados
1. Esta Convenção estará aberta à assinatura de todos pelo parágrafo anterior perante nenhum Estado-Parte que
os Estados. tenha formulado essa reserva.
2. O Secretário-Geral das Nações Unidas fica designa- 3. Qualquer Estado-Parte que tenha formulado a reser-
do depositário desta Convenção. va prevista no parágrafo anterior poderá retirá-la em qual-
3. Esta Convenção está sujeita a ratificação. Os instru- quer momento por meio de notificação ao Secretário-Geral
mentos de ratificação serão depositados junto ao Secretá- das Nações Unidas.
rio-Geral das Nações Unidas.
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ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comerciali- VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Mi-
zar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que litar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos
a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados
a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prosti- no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia;
tuição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipu- VIII - a promoção de programas educacionais que dis-
lação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos seminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da
sexuais e reprodutivos; pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer etnia;
conduta que configure retenção, subtração, destruição IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos humanos, à equidade de gênero e de raça ou etnia e ao
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas ne- problema da violência doméstica e familiar contra a mulher.
cessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer condu- CAPÍTULO II
ta que configure calúnia, difamação ou injúria. DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
TÍTULO III
DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE Art. 9o A assistência à mulher em situação de violên-
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR cia doméstica e familiar será prestada de forma articulada
CAPÍTULO I e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Or-
DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO gânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no
Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e
Art. 8o A política pública que visa coibir a violência políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando
doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de for o caso.
§ 1o O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da
um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do
mulher em situação de violência doméstica e familiar no ca-
Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governa-
dastro de programas assistenciais do governo federal, esta-
mentais, tendo por diretrizes:
dual e municipal.
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do
§ 2o O juiz assegurará à mulher em situação de vio-
Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas
lência doméstica e familiar, para preservar sua integridade
de segurança pública, assistência social, saúde, educação,
física e psicológica:
trabalho e habitação;
I - acesso prioritário à remoção quando servidora públi-
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e
ca, integrante da administração direta ou indireta;
outras informações relevantes, com a perspectiva de gê- II - manutenção do vínculo trabalhista, quando neces-
nero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às conse- sário o afastamento do local de trabalho, por até seis meses.
qüências e à frequência da violência doméstica e familiar § 3o A assistência à mulher em situação de violência
contra a mulher, para a sistematização de dados, a serem doméstica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios
unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos re- decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico,
sultados das medidas adotadas; incluindo os serviços de contracepção de emergência, a
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e
valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros
a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exa- procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de
cerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o violência sexual.
estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e
no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal; CAPÍTULO III
IV - a implementação de atendimento policial especia- DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL
lizado para as mulheres, em particular nas Delegacias de
Atendimento à Mulher; Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de vio-
V - a promoção e a realização de campanhas educati- lência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade
vas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de
mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, imediato, as providências legais cabíveis.
e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste
direitos humanos das mulheres; artigo ao descumprimento de medida protetiva de urgência
VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, deferida.
termos ou outros instrumentos de promoção de parceria Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violên-
entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades cia doméstica e familiar o atendimento policial e pericial
não-governamentais, tendo por objetivo a implementação especializado, ininterrupto e prestado por servidores - pre-
de programas de erradicação da violência doméstica e fa- ferencialmente do sexo feminino - previamente capacita-
miliar contra a mulher; dos. (Incluíd pela Lei nº 13.505, de 2017)
45
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
§ 1o A inquirição de mulher em situação de violência II - colher todas as provas que servirem para o esclare-
doméstica e familiar ou de testemunha de violência do- cimento do fato e de suas circunstâncias;
méstica, quando se tratar de crime contra a mulher, obede- III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, ex-
cerá às seguintes diretrizes: (Incluído pela Lei nº pediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para
13.505, de 2017) a concessão de medidas protetivas de urgência;
I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emo- IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de
cional da depoente, considerada a sua condição peculiar delito da ofendida e requisitar outros exames periciais ne-
de pessoa em situação de violência doméstica e fami- cessários;
liar; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) V - ouvir o agressor e as testemunhas;
II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar
em situação de violência doméstica e familiar, familiares aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando
e testemunhas terão contato direto com investigados ou a existência de mandado de prisão ou registro de outras
suspeitos e pessoas a eles relacionadas; (Incluí- ocorrências policiais contra ele;
do pela Lei nº 13.505, de 2017) VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito po-
III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas licial ao juiz e ao Ministério Público.
inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível § 1o O pedido da ofendida será tomado a termo pela
e administrativo, bem como questionamentos sobre a vida autoridade policial e deverá conter:
privada. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) I - qualificação da ofendida e do agressor;
§ 2o Na inquirição de mulher em situação de violência II - nome e idade dos dependentes;
doméstica e familiar ou de testemunha de delitos de que III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas
trata esta Lei, adotar-se-á, preferencialmente, o seguinte solicitadas pela ofendida.
procedimento: (Incluído pela Lei nº 13.505, de § 2o A autoridade policial deverá anexar ao documento
2017) referido no § 1o o boletim de ocorrência e cópia de todos
I - a inquirição será feita em recinto especialmente os documentos disponíveis em posse da ofendida.
projetado para esse fim, o qual conterá os equipamentos
§ 3o Serão admitidos como meios de prova os laudos
próprios e adequados à idade da mulher em situação de
ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos
violência doméstica e familiar ou testemunha e ao tipo e à
de saúde.
gravidade da violência sofrida; (Incluído pela Lei
Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na formula-
nº 13.505, de 2017)
ção de suas políticas e planos de atendimento à mulher em
II - quando for o caso, a inquirição será intermedia-
situação de violência doméstica e familiar, darão priorida-
da por profissional especializado em violência doméstica
de, no âmbito da Polícia Civil, à criação de Delegacias Espe-
e familiar designado pela autoridade judiciária ou poli-
cializadas de Atendimento à Mulher (Deams), de Núcleos
cial; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
III - o depoimento será registrado em meio eletrônico Investigativos de Feminicídio e de equipes especializadas
ou magnético, devendo a de gravação e a mídia integrar o para o atendimento e a investigação das violências graves
inquérito. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) contra a mulher.
Art. 11. No atendimento à mulher em situação de vio- Art. 12-B. (VETADO). (Incluído pela Lei nº
lência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, 13.505, de 2017)
entre outras providências: § 1o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505,
I - garantir proteção policial, quando necessário, co- de 2017)
municando de imediato ao Ministério Público e ao Poder § 2o (VETADO. (Incluído pela Lei nº 13.505,
Judiciário; de 2017)
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saú- § 3o A autoridade policial poderá requisitar os servi-
de e ao Instituto Médico Legal; ços públicos necessários à defesa da mulher em situação
III - fornecer transporte para a ofendida e seus depen- de violência doméstica e familiar e de seus dependen-
dentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco tes. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
de vida;
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para asse- TÍTULO IV
gurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência DOS PROCEDIMENTOS
ou do domicílio familiar; CAPÍTULO I
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nes- DISPOSIÇÕES GERAIS
ta Lei e os serviços disponíveis.
Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das
familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, de- causas cíveis e criminais decorrentes da prática de violência
verá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as nor-
procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código mas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da
de Processo Penal: legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e idoso que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei.
tomar a representação a termo, se apresentada;
46
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preven-
contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com compe- tiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivo para
tência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem
Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o pro- razões que a justifiquem.
cesso, o julgamento e a execução das causas decorrentes Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos pro-
da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. cessuais relativos ao agressor, especialmente dos pertinen-
Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar- tes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intima-
se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de ção do advogado constituído ou do defensor público.
organização judiciária. Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar inti-
Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os mação ou notificação ao agressor.
processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado:
I - do seu domicílio ou de sua residência; Seção II
II - do lugar do fato em que se baseou a demanda; Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam
III - do domicílio do agressor. o Agressor
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à re-
presentação da ofendida de que trata esta Lei, só será admi- Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e
tida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá
especialmente designada com tal finalidade, antes do rece- aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separada-
bimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. mente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre
Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência do- outras:
méstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas,
ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei
de pena que implique o pagamento isolado de multa. no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência
com a ofendida;
CAPÍTULO II
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das
Seção I
testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre es-
Disposições Gerais
tes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemu-
Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofen-
nhas por qualquer meio de comunicação;
dida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas:
c) frequentação de determinados lugares a fim de pre-
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre
servar a integridade física e psicológica da ofendida;
as medidas protetivas de urgência; IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar
de assistência judiciária, quando for o caso; ou serviço similar;
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
providências cabíveis. § 1o As medidas referidas neste artigo não impedem a
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre
concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigi-
ou a pedido da ofendida. rem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério
§ 1o As medidas protetivas de urgência poderão ser Público.
concedidas de imediato, independentemente de audiência § 2o Na hipótese de aplicação do inciso I, encontran-
das partes e de manifestação do Ministério Público, deven- do-se o agressor nas condições mencionadas no caput e
do este ser prontamente comunicado. incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de
§ 2o As medidas protetivas de urgência serão aplicadas 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou
isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e
qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que determinará a restrição do porte de armas, ficando o supe-
os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou vio- rior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da
lados. determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de
§ 3o Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.
ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas proteti- § 3o Para garantir a efetividade das medidas protetivas
vas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento,
necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de auxílio da força policial.
seu patrimônio, ouvido o Ministério Público. § 4o Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no
Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da que couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art.
instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de
decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Processo Civil).
Público ou mediante representação da autoridade policial.
47
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não for Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de
parte, nas causas cíveis e criminais decorrentes da violência Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas
doméstica e familiar contra a mulher. criminais acumularão as competências cível e criminal para
Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de vio-
outras atribuições, nos casos de violência doméstica e fa- lência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as
miliar contra a mulher, quando necessário: previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação
I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, processual pertinente.
de educação, de assistência social e de segurança, entre Parágrafo único. Será garantido o direito de preferên-
outros; cia, nas varas criminais, para o processo e o julgamento das
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particu- causas referidas no caput.
lares de atendimento à mulher em situação de violência
doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas ad- TÍTULO VII
ministrativas ou judiciais cabíveis no tocante a quaisquer DISPOSIÇÕES FINAIS
irregularidades constatadas;
III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar Art. 34. A instituição dos Juizados de Violência Domés-
contra a mulher. tica e Familiar contra a Mulher poderá ser acompanhada
pela implantação das curadorias necessárias e do serviço
CAPÍTULO IV de assistência judiciária.
DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
nicípios poderão criar e promover, no limite das respectivas
Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e crimi- competências:
nais, a mulher em situação de violência doméstica e fami- I - centros de atendimento integral e multidisciplinar
liar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado o para mulheres e respectivos dependentes em situação de
previsto no art. 19 desta Lei. violência doméstica e familiar;
48
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
II - casas-abrigos para mulheres e respectivos depen- f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de re-
dentes menores em situação de violência doméstica e fa- lações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou
miliar; com violência contra a mulher na forma da lei específica;
III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços ........................................................... ” (NR)
de saúde e centros de perícia médico-legal especializados Art. 44. O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
no atendimento à mulher em situação de violência domés- dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as
tica e familiar; seguintes alterações:
IV - programas e campanhas de enfrentamento da vio- “Art. 129. ..................................................
lência doméstica e familiar; ..................................................................
V - centros de educação e de reabilitação para os § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, des-
agressores. cendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem
Art. 36. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o
nicípios promoverão a adaptação de seus órgãos e de seus agente das relações domésticas, de coabitação ou de hos-
programas às diretrizes e aos princípios desta Lei. pitalidade:
Art. 37. A defesa dos interesses e direitos transindivi- Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
duais previstos nesta Lei poderá ser exercida, concorrente- ..................................................................
mente, pelo Ministério Público e por associação de atuação § 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será
na área, regularmente constituída há pelo menos um ano, aumentada de um terço se o crime for cometido contra
nos termos da legislação civil. pessoa portadora de deficiência.” (NR)
Parágrafo único. O requisito da pré-constituição po- Art. 45. O art. 152 da Lei no 7.210, de 11 de julho de
derá ser dispensado pelo juiz quando entender que não há 1984 (Lei de Execução Penal), passa a vigorar com a se-
outra entidade com representatividade adequada para o guinte redação:
ajuizamento da demanda coletiva. “Art. 152. ...................................................
Art. 38. As estatísticas sobre a violência doméstica e Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica
familiar contra a mulher serão incluídas nas bases de dados
contra a mulher, o juiz poderá determinar o compareci-
dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e Segurança a fim
mento obrigatório do agressor a programas de recupera-
de subsidiar o sistema nacional de dados e informações
ção e reeducação.” (NR)
relativo às mulheres.
Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco)
Parágrafo único. As Secretarias de Segurança Públi-
dias após sua publicação.
ca dos Estados e do Distrito Federal poderão remeter suas
Brasília, 7 de agosto de 2006; 185o da Independência
informações criminais para a base de dados do Ministério
e 118o da República.
da Justiça.
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, no limite de suas competências e nos termos
das respectivas leis de diretrizes orçamentárias, poderão CÓDIGO PENAL BRASILEIRO (ART. 140).
estabelecer dotações orçamentárias específicas, em cada
exercício financeiro, para a implementação das medidas
estabelecidas nesta Lei.
Art. 40. As obrigações previstas nesta Lei não excluem Injúria
outras decorrentes dos princípios por ela adotados. Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade
Art. 41. Aos crimes praticados com violência domésti- ou o decoro:
ca e familiar contra a mulher, independentemente da pena Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
1995. I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou
Art. 42. O art. 313 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de ou- diretamente a injúria;
tubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar II - no caso de retorsão imediata, que consista em ou-
acrescido do seguinte inciso IV: tra injúria.
“Art. 313. ................................................. § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato,
................................................................ que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se consi-
IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar derem aviltantes:
contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa,
a execução das medidas protetivas de urgência.” (NR) além da pena correspondente à violência.
Art. 43. A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei § 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição
a vigorar com a seguinte redação: de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação
“Art. 61. .................................................. dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
................................................................. Pena - reclusão de um a três anos e multa.
II - ............................................................
.................................................................
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§ 2º - A Superintendência de Políticas para as Mulheres Redação de acordo como o art. 39 da Lei nº 13.204,
tem por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompanhar, de 11 de dezembro de 2014.
controlar e executar programas e atividades voltadas à im- Redação original: “Art. 9º - O Gabinete do Governa-
plementação de políticas para as mulheres, implementar dor, órgão de assistência direta e imediata ao Governa-
ações afirmativas e definir ações públicas de promoção da dor, tem a seguinte estrutura básica:
igualdade entre homens e mulheres e de combate à discri- a) Chefia do Gabinete;
minação. b) Ouvidoria Geral do Estado;
§ 3º - A Superintendência de Promoção da Igualda- c) Secretaria Particular do Governador;
de Racial tem por finalidade orientar, apoiar, coordenar, d) Cerimonial;
acompanhar, controlar e executar programas e atividades e) Assessoria Especial do Governador;
voltadas à implementação de políticas e diretrizes para a f) Assessoria Internacional;
promoção da igualdade e da proteção dos direitos de in- g) Escritório de Representação do Governo;
divíduos e grupos raciais e étnicos, afetados por discrimi- h) Diretoria de Administração e Finanças.
nação racial e demais formas de intolerância. Parágrafo único - Fica criado o cargo de Chefe de Ga-
§ 4º - Fica acrescida à composição do Conselho de De- binete do Governador, ao qual são asseguradas as prerro-
senvolvimento da Comunidade Negra e do Conselho Es- gativas, representação, remuneração e impedimentos de
tadual de Defesa dos Diretos da Mulher, de que tratam as Secretário de Estado, cabendo-lhe a supervisão e a coor-
alíneas a e b do art. 17 da Lei nº 4.697/87, a representação denação dos órgãos integrantes da estrutura do Gabinete
da Secretaria de Promoção da Igualdade - SEPROMI. do Governador, a elaboração da agenda e o exercício de
Art. 8º - A Secretaria de Desenvolvimento e Integração outras atribuições designadas pelo Governador.”
Regional - SEDIR tem por finalidade planejar e coordenar a Art. 10 - A Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e
execução da política estadual de desenvolvimento regional Esporte - SETRE tem por finalidade planejar e executar as
integrado; formular, em parceria com o Conselho Estadual de políticas de emprego e renda e de apoio à formação do tra-
Desenvolvimento Econômico e Social, os planos e programas balhador, de economia solidária e de fomento ao esporte.
regionais de desenvolvimento; estabelecer estratégias de in- Parágrafo único - Fica criada na Secretaria do Trabalho,
tegração das economias regionais; acompanhar e avaliar os Emprego, Renda e Esporte - SETRE a Superintendência de
programas integrados de desenvolvimento regional. Economia Solidária, com a finalidade de planejar, coorde-
§ 1º - A Secretaria de Desenvolvimento e Integração nar, executar e acompanhar as ações e programas de fo-
Regional - SEDIR tem a seguinte estrutura básica: mento à economia solidária.
I - Órgãos Colegiados: Art. 11 - A Secretaria de Desenvolvimento Social e
a) Conselhos Regionais de Desenvolvimento. Combate à Pobreza - SEDES tem por finalidade planejar,
II - Órgãos da Administração Direta: coordenar, executar e fiscalizar as políticas de desenvolvi-
a) Gabinete do Secretário; mento social, segurança alimentar e nutricional e de assis-
b) Diretoria de Administração e Finanças; tência social.
c) Coordenação de Políticas do Desenvolvimento Re- § 1º - A Superintendência de Apoio à Inclusão Social,
gional; passa a ser denominada Superintendência de Inclusão e
d) Coordenação de Programas Regionais; Assistência Alimentar, com a finalidade de promover as
III - Entidade da Administração Indireta: ações de inclusão social e de assistência alimentar, confor-
a) Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional - me dispuser o regulamento.
CAR. § 2º - Fica extinta a Superintendência de Articulação e
§ 2º - As coordenações têm por objetivo o planejamen- Programas Especiais.
to, a execução e o controle das atividades a cargo da Se- Art. 12 - A Secretaria de Desenvolvimento Social e
cretaria de Desenvolvimento e Integração Regional - SEDIR, Combate à Pobreza - SEDES tem a seguinte estrutura básica:
conforme dispuser o regulamento. I - Órgãos Colegiados:
Art. 9º - O Gabinete do Governador, órgão de assistên- a) Comissão Interinstitucional de Defesa Civil - CIDEC;
cia direta e imediata ao Governador, tem a seguinte estru- b) Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Ado-
tura básica: lescente - CECA;
a) Chefia do Gabinete; c) Conselho Estadual de Assistência Social - CEAS;
b) Secretaria Particular do Governador; d) Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do
c) Cerimonial; Estado da Bahia - CONSEA BA;
d) Assessoria Especial do Governador; II - Órgãos da Administração Direta:
e) Assessoria Internacional; a) Gabinete do Secretário;
f) Escritório de Representação do Governo. b) Diretoria Geral;
Parágrafo único - Fica criado o cargo de Chefe do Gabi- c) Superintendência de Assistência Social;
nete do Governador, ao qual são atribuídas as atividades de d) Superintendência de Inclusão e Assistência Alimentar;
supervisão e coordenação dos órgãos integrantes da estru- III - Órgão em Regime Especial de Administração Direta:
tura do Gabinete do Governador, bem como a elaboração a) Coordenação de Defesa Civil - CORDEC.
da agenda e o exercício de outras atribuições designadas IV - Entidade da Administração Indireta:
pelo Governador. a) Fundação da Criança e do Adolescente - FUNDAC.
53
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Parágrafo único - O Secretário do Desenvolvimento Art. 18 - Fica o Poder Executivo autorizado a praticar
Social e Combate à Pobreza - SEDES passa a integrar na os atos necessários à continuidade dos serviços, até a de-
condição de presidente, o Conselho Estadual de Assistência finitiva estruturação dos órgãos criados ou reorganizados
Social - CEAS, o Conselho Estadual dos Direitos da Criança por esta Lei.
e do Adolescente - CECA e a Comissão Interinstitucional de Art. 19 - Esta Lei entrará em vigor em 1º de janeiro de
Defesa Civil - CIDEC. 2007.
Art. 13 - A Secretaria de Turismo - SETUR tem por finali- Art. 20 - Revogam-se as disposições em contrário.
dade planejar, coordenar e executar políticas de promoção PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, em 28
e fomento ao turismo. de dezembro de 2006.
§ 1º - A Secretaria de Turismo - SETUR tem a seguinte
estrutura básica: LEI Nº 12.212 DE 04 DE MAIO DE 2011
I - Órgãos da Administração Direta:
a) Gabinete do Secretário; Modifica a estrutura organizacional e de cargos em
b) Diretoria Geral; comissão da Administração Pública do Poder Executivo
c) Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos; Estadual, e dá outras providências.
d) Superintendência de Serviços Turísticos.
II - Entidade da Administração Indireta: O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber
a) Empresa de Turismo da Bahia S/A - BAHIATURSA. que a Assembleia Legislativa decreta e eu sanciono a se-
§ 2º - A Superintendência de Serviços Turísticos tem guinte Lei:
por finalidade planejar e executar programas e projetos de Art. 1º - A estrutura da Administração Pública do Poder
qualificação de serviços e mão-de-obra, capacitação em- Executivo Estadual fica modificada, na forma da presente Lei.
presarial, certificação de qualidade, regulação e fiscalização Art. 2º - Fica criada a Secretaria de Políticas para as
de atividades turísticas. Mulheres - SPM, com a finalidade de planejar, coordenar e
Art. 14 - Ficam criadas: articular a execução de políticas públicas para as mulheres,
I - na Secretaria da Agricultura - SEAGRI: a Superinten-
tendo a seguinte estrutura organizacional básica:
dência de Agricultura Familiar, com a finalidade de orientar,
I - Órgão Colegiado:
apoiar, coordenar, acompanhar, controlar e executar pro-
a) Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher
gramas e atividades voltados ao fortalecimento da agricul-
- CDDM;
tura familiar.
II - Órgãos da Administração Direta:
II - na Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Huma-
a) Gabinete da Secretária;
nos - SJCDH:
b) Diretoria de Administração e Finanças;
a) a Coordenação Executiva de Defesa dos Direitos da
Pessoa com Deficiência, com a finalidade de promover e c) Coordenação de Articulação Institucional e Ações
fortalecer o desenvolvimento dos programas e ações vol- Temáticas;
tados para a defesa dos direitos da pessoa portadora de d) Coordenação de Planejamento e Gestão de Políticas
deficiência; para as Mulheres.
b) a Coordenação de Políticas para os Povos Indígenas, Art. 3º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da
vinculada à Superintendência de Apoio e Defesa aos Direi- Mulher - CDDM, órgão consultivo, tem por finalidade esta-
tos Humanos. belecer diretrizes e normas relativas às políticas e medidas
Art. 15 - Para atender à implantação dos novos órgãos que visem eliminar a discriminação e garantir condições de
criados por esta Lei e às adequações na estrutura da Admi- liberdade e equidade de direitos para a mulher, asseguran-
nistração Pública Estadual, ficam criados 04 (quatro) cargos do sua plena participação nas atividades políticas, sociais,
de Secretário de Estado e os cargos em comissão constan- econômicas e culturais do Estado.
tes do Anexo Único desta Lei. Parágrafo único - As normas de funcionamento do
Art. 16 - Ficam extintos os cargos em comissão cons- CDDM serão estabelecidas em Regimento próprio.
tantes do Anexo Único desta Lei. Art. 4º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da
Art. 17 - Fica o Chefe do Poder Executivo autorizado a Mulher - CDDM tem a seguinte composição:
promover, no prazo de 120 (cento e vinte) dias: I - a Secretária de Políticas para as Mulheres, que o pre-
I - a revisão e a elaboração dos regimentos, estatutos sidirá;
e outros instrumentos regulamentadores para adequação II - 06 (seis) servidoras estaduais, representantes das
das alterações organizacionais decorrentes desta Lei; Secretarias de Promoção da Igualdade Racial, da Educação,
II - as modificações orçamentárias necessárias ao cum- da Saúde, da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, do Tra-
primento desta Lei, respeitados os valores globais constan- balho, Emprego, Renda e Esporte e da Segurança Pública;
tes do orçamento do exercício de 2007. III - 12 (doze) representantes da sociedade civil, sendo:
Parágrafo único - As modificações de que trata o in- a) 05 (cinco) membros de organizações de mulheres,
ciso II deste artigo incluem a abertura de créditos espe- legalmente constituídas;
ciais destinados, exclusivamente, à criação de categorias de b) 02 (duas) de notória atuação na luta pela defesa dos
programação indispensáveis ao funcionamento de órgãos direitos da mulher;
criados ou decorrentes desta Lei, respeitado o Art. 7º da Lei c) 01 (uma) da comunidade acadêmica vinculada ao es-
Orçamentária de 2007. tudo da condição feminina;
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XII - estimular a adoção dos recursos tecnológicos l) 01 (um) representante dos veículos comunitários ou
proporcionados pela digitalização da radiodifusão priva- alternativos;
da, pública e comunitária, no incentivo à regionalização da m) 03 (três) representantes das Organizações Não-Go-
produção cultural, artística e jornalística, e democratização vernamentais - ONGS ou entidades sociais vinculadas à co-
dos meios de comunicação; municação;
XIII - recomendar a convocação e participar da execu- n) 01 (um) representante dos movimentos sociais de
ção da Conferência Estadual de Comunicação e suas etapas comunicação;
preparatórias; o) 03 (três) representantes de entidades de movimentos
XIV - elaborar e aprovar o seu Regimento Interno, para sociais organizados;
posterior homologação por ato do Chefe do Poder Execu- p) 01 (um) representante de entidades de jornalismo
tivo; digital.
XV - convocar audiências e consultas públicas sobre § 1º - A SECOM convocará, por meio de edital, publi-
comunicação e políticas públicas do setor; cado no Diário Oficial do Estado, reunião para eleição dos
XVI - acompanhar a criação e o funcionamento de con- representantes, citados no inciso III deste artigo, cabendo-
selhos municipais de comunicação; lhe, ao final, encaminhar o resultado das indicações para
XVII - fomentar a inclusão digital e o acesso às redes deliberação do Governador do Estado.
digitais em todo o território baiano, como forma de demo- § 2º - Os membros do Conselho e seus suplentes serão
cratizar a comunicação; nomeados pelo Governador do Estado e tomarão posse na
XVIII - fomentar a adoção de programas de capacita- 1ª (primeira) reunião do Colegiado, e serão substituídos, em
ção e formação, assegurando a apropriação social de novas suas ausências e impedimentos, pelos respectivos suplen-
tecnologias da comunicação. tes, previamente indicados.
Art. 41 - O Conselho Estadual de Comunicação Social § 3º - O mandato dos Conselheiros e de seus respecti-
tem a seguinte composição: vos suplentes será de 02 (dois) anos, permitida uma recon-
I - o Secretário de Comunicação Social, que o presidirá; dução por igual período.
II - 06 (seis) representantes do Poder Público Estadual, Art. 42 - O Gabinete do Secretário tem por finalidade
indicados pelo Titular da respectiva Pasta, sendo: prestar assistência ao Titular da Pasta, em suas tarefas técni-
a) 01 (um) representante da Secretaria de Comunica- cas e administrativas.
ção Social - SECOM; Art. 43 - A Assessoria de Imprensa do Governador tem
b) 01 (um) representante da Secretaria de Cultura - SE- por finalidade divulgar os atos e expressar a opinião do
CULT; Governador do Estado em comunicações à sociedade e à
c) 01 (um) representante da Secretaria da Educação - imprensa, em articulação com as demais Unidades da Se-
SEC; cretaria.
d) 01 (um) representante da Secretaria de Ciência, Tec- Art. 44 - A Diretoria Geral tem por finalidade a coor-
nologia e Inovação - SECTI; denação dos órgãos setoriais, dos sistemas formalmente
e) 01 (um) representante da Secretaria da Justiça, Cida- instituídos, responsáveis pela execução das atividades de
dania e Direitos Humanos - SJCDH; programação, orçamentação, acompanhamento, avaliação,
f) 01 (um) representante do Instituto de Radiodifusão estudos e análises, material, patrimônio, serviços, recursos
Educativa da Bahia - IRDEB; humanos, modernização administrativa e informática, e ad-
III - 20 (vinte) representantes da sociedade civil, sendo: ministração financeira e de contabilidade.
a) 01 (um) representante da entidade profissional de Art. 45 - A Coordenação de Comunicação Integrada tem
classe; por finalidade coordenar e acompanhar o desenvolvimento
b) 01 (um) representante das universidades públicas, de campanhas publicitárias institucionais do Governo, bem
com atuação no Estado da Bahia; como avaliar a sua publicidade.
c) 01 (um) representante do segmento de televisão Art. 46 - A Coordenação de Jornalismo tem por finali-
aberta e por assinatura comercial; dade divulgar os atos do Governo para a sociedade e a im-
d) 01 (um) representante do segmento de rádio comer- prensa, bem como articular-se com os órgãos e entidades
cial; governamentais, para fins de comunicação social.
e) 01 (um) representante das empresas de jornais e re- Art. 47 - As Secretarias de Estado e demais órgãos e
vistas; entidades da Administração Pública Estadual prestarão o
f) 01 (um) representante das agências de publicidade; apoio e os recursos técnicos, quando solicitados pelo Secre-
g) 01 (um) representante das empresas de telecomu- tário de Comunicação Social, necessários à implementação
nicações; do Plano Estadual de Comunicação Social, a ser estabeleci-
h) 01 (um) representante das empresas de mídia exte- do pelo Conselho Estadual de Comunicação Social.
rior; Art. 48 - Fica transferida a vinculação estrutural do Insti-
i) 01 (um) representante das produtoras de audiovisual tuto de Radiodifusão Educativa da Bahia - IRDEB, da Secre-
ou serviços de comunicação; taria de Cultura - SECULT para a Secretaria de Comunicação
j) 01 (um) representante do movimento de radiodifu- Social - SECOM, mantendo a mesma natureza jurídica.
são comunitária; Parágrafo único - Ficam excluídas da finalidade e com-
k) 01 (um) representante das entidades de classe dos petências da SECULT as atividades/funções de radiodifusão
trabalhadores do segmento de comunicação social; cultural e educativa.
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 62 - O Gabinete do Secretário tem por finalidade Art. 73 - A estrutura de cargos em comissão da Secre-
prestar assistência ao Titular da Pasta, em suas tarefas téc- taria da Indústria, Comércio e Mineração fica alterada, na
nicas e administrativas. forma a seguir indicada:
Art. 63 - A Diretoria de Administração e Finanças tem I - ficam criados 01 (um) cargo de Superintendente,
por finalidade o planejamento e coordenação das ativida- símbolo DAS-2A, 06 (seis) cargos de Diretor, símbolo DAS
des de programação, orçamentação, acompanhamento, -2B, 03 (três) cargos de Assessor Especial, símbolo DAS-2C,
avaliação, estudos e análises, administração financeira e de 01 (um) cargo de Coordenador II, símbolo DAS-3 e 06 (seis)
contabilidade, material, patrimônio, serviços, recursos hu- cargos de Assessor Administrativo, símbolo DAI-4;
manos, modernização administrativa e informática. II - ficam extintos 02 (dois) cargos de Assistente III,
Art. 64 - A Coordenação de Projetos para Assuntos da símbolo DAI-4, 02 (dois) cargos de Coordenador III, sím-
Copa tem por finalidade acompanhar e monitorar a imple- bolo DAI-4, 04 (quatro) cargos de Coordenador IV, símbolo
mentação dos projetos e ações relacionadas ao evento es- DAI-5, 01 (um) cargo de Secretário Administrativo I, símbo-
portivo, bem como a coordenação dos Grupos Executivos lo DAI-5 e 06 (seis) cargos de Secretário Administrativo II,
de Trabalho da Copa 2014. símbolo DAI-6.
Art. 65 - A Coordenação de Marketing para Assuntos Art. 74 - O Quadro de Cargos em Comissão da Secre-
da Copa tem por finalidade planejar e viabilizar a estratégia taria da Indústria, Comércio e Mineração é o constante do
de marketing relacionada aos projetos e ações da Copa e Anexo VII, que integra esta Lei.
ao fomento das relações públicas da Secretaria. Art. 75 - Fica criada, na estrutura organizacional da Se-
Art. 66 - A SECOPA funcionará, a partir da data de pu- cretaria de Relações Institucionais - SERIN, a Coordenação
blicação desta Lei, até 31 de dezembro de 2014, ficando de Políticas de Juventude, com a finalidade de coordenar,
extinta em 01 de janeiro de 2015. articular e integrar os programas e ações do Governo do
Art. 67 - Para atender à implantação da Secretaria de Estado, voltados à população jovem.
Políticas para as Mulheres - SPM, da Secretaria de Adminis- Parágrafo único - Para atender ao disposto no caput
tração Penitenciária e Ressocialização - SEAP, da Secretaria deste artigo, ficam criados, na estrutura de cargos em co-
de Comunicação Social - SECOM e da Secretaria Estadual missão da SERIN, 01 (um) cargo de Coordenador Executivo,
para Assuntos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 - símbolo DAS-2B, 01 (um) cargo de Coordenador I, símbolo
SECOPA, ficam criados 04 (quatro) cargos de Secretário de DAS-2C, 02 (dois) cargos de Coordenador II, símbolo DAS-
Estado, sendo que os Quadros de Cargos em Comissão das 3 e 01 (um) cargo de Secretário Administrativo I, símbolo
Secretarias de Estado, ora criadas, são os constantes dos DAI-5.
Anexos III, IV, V e VI, respectivamente, que integram esta Art. 76 - Ficam criados, na estrutura de cargos em
Lei. comissão da SERIN, 02 (dois) cargos de Coordenador I,
Art. 68 - Com a extinção da SECOPA, conforme data símbolo DAS-2C, alocados na Coordenação de Assuntos
prevista no art. 66 desta Lei, serão extintos os cargos em Federativos e na Coordenação de Articulação Social, res-
comissão constantes do Anexo VI desta Lei, bem como pectivamente.
transferidos para os órgãos da Administração Pública do Art. 77 - A estrutura de cargos em comissão do Ga-
Poder Executivo Estadual os bens adquiridos para o desen- binete do Governador do Estado fica alterada, na forma a
volvimento das ações e projetos a critério do Poder Execu- seguir indicada:
tivo Estadual. I - ficam criados 01 (um) cargo de Chefe de Gabinete,
Art. 69 - A Secretaria da Indústria, Comércio e Minera- símbolo DAS-2A, 01 (um) cargo de Coordenador de Escri-
ção - SICM passa a ter por finalidade formular e executar a tório, símbolo DAS-2A, 01 (um) cargo de Chefe de Cerimo-
política de desenvolvimento e apoio à indústria, ao comér- nial, símbolo DAS-2A, 07 (sete) cargos de Assessor Especial,
cio, aos serviços e à mineração do Estado. símbolo DAS-2B, 01 (um) cargo de Coordenador Executivo,
Art. 70 - O Conselho de Desenvolvimento Industrial símbolo DAS-2B, 04 (quatro) cargos de Assessor Especial,
- CDI passa a denominar-se Conselho de Desenvolvimen- símbolo DAS-2C, 01 (um) cargo de Coordenador I, símbolo
to da Indústria e do Comércio - CDIC, órgão de natureza DAS-2C, 13 (treze) cargos de Coordenador Técnico, símbo-
consultiva, com a finalidade de opinar sobre a formulação lo DAS-2D, 03 (três) cargos de Assessor Técnico, símbolo
da política de desenvolvimento industrial e comercial do DAS-3, 02 (dois) cargos de Secretário de Gabinete, símbolo
Estado. DAS-3, 01 (um) cargo de Assessor Administrativo, símbolo
Art. 71 - Fica criada, na estrutura organizacional da Se- DAI-4, 02 (dois) cargos de Assistente III, símbolo DAI-4, 01
cretaria da Indústria, Comércio e Mineração, a Superinten- (um) cargo de Assistente Orçamentário, símbolo DAI-4 e 04
dência de Desenvolvimento Econômico, com a finalidade (quatro) cargos de Coordenador III, símbolo DAI-4.
de viabilizar a implementação das políticas de desenvol- II - ficam extintos 01 (um) cargo de Assessor Especial
vimento produtivo, competitividade e comércio exterior, do Governador, símbolo DAS-2A, 01 (um) cargo de Diretor,
acompanhando e avaliando os seus projetos estratégicos, símbolo DAS-2A e 01 (um) cargo de Coordenador de Escri-
relacionados às atividades finalísticas da Secretaria. tório, símbolo DAS-2B.
Art. 72 - A Superintendência de Comércio e Serviços Art. 78 - Os cargos em comissão de Secretário Particu-
passa a ter por finalidade propor políticas relativas ao de- lar do Governador, símbolo DAS-2A e de Chefe de Cerimo-
senvolvimento comercial e de serviços, e das micro, pe- nial, símbolo DAS-2A, alocadas no Gabinete do Governa-
quenas e médias empresas, bem como planejar e elaborar dor, serão ocupados, preferencialmente, por portadores de
estudos e projetos. diploma de nível superior.
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 79 - O Quadro de Cargos em Comissão do Gabine- Art. 87 - Fica extinto, na estrutura de cargos em comis-
te do Governador - GABGOV é o constante do Anexo VIII são da Secretaria de Cultura, 01 (um) cargo de Assistente
que integra esta Lei. de Execução Orçamentária, símbolo DAI-5.
Art. 80 - Ficam criados, na estrutura de cargos em co- Art. 88 - Ficam criadas, na estrutura organizacional da
missão da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Fundação Pedro Calmon - Centro de Memória e Arquivo
Agrária - SEAGRI, 01 (um) cargo de Diretor, símbolo DAS Público da Bahia - FPC, as seguintes Unidades:
-2C, 08 (oito) cargos de Coordenador II, símbolo DAS-3, 03 I - Centro de Memória da Bahia, com a finalidade de
(três) cargos de Coordenador III, símbolo DAI-4 e 02 (dois) exercer a coordenação e supervisão geral dos acervos do-
cargos de Assessor Administrativo, símbolo DAI-4, aloca- cumentais para subsidiar a realização de pesquisas e estu-
dos na Superintendência de Agricultura Familiar - SUAF. dos na área da história política e administrativa da Bahia;
Art. 81 - Ficam criados, na estrutura de cargos em co- II - Diretoria do Livro e da Leitura, com a finalidade de
missão da Secretaria da Segurança Pública - SSP, 01 (um) planejar, coordenar, avaliar e apoiar programas e ações re-
cargo de Assessor de Comunicação Social, símbolo DAS lacionadas ao desenvolvimento da leitura, da produção li-
-2C, na Polícia Militar da Bahia - PM/BA, 01 (um) cargo de
terária e da cadeia produtiva do livro, no âmbito do Estado
Assessor de Comunicação Social, símbolo DAS-2C e 01
da Bahia, bem como incentivar estas ações;
(um) cargo de Assessor de Comunicação Social I, símbolo
III - Diretoria do Arquivo Público do Estado da Bahia,
DAS-3 e, na Polícia Civil do Estado da Bahia - PC/BA, 01
(um) cargo de Assessor de Comunicação Social I, símbolo com a finalidade de planejar, coordenar, promover, acom-
DAS-3. panhar, avaliar e apoiar as ações pertinentes ao processo
Art. 82 - A estrutura de cargos em comissão da Secre- de preservação de documentos de valor histórico e cultural
taria da Saúde - SESAB fica modificada, na forma a seguir do Estado da Bahia.
indicada: Art. 89 - Ficam criados, na estrutura de cargos em co-
I - ficam criados 01 (um) cargo de Diretor, símbolo DAS missão da Fundação Pedro Calmon - Centro de Memória e
-2C e 01 (um) cargo de Diretor, símbolo DAS-2D; Arquivo Público da Bahia - FPC, 02 (dois) cargos de Coor-
II - ficam extintos 01 (um) cargo de Coordenador II, denador II, símbolo DAS-3, 01 (um) cargo de Coordenador
símbolo DAS-3 e 03 (três) cargos de Coordenador III, sím- III, símbolo DAI-4, e 02 (dois) cargos de Secretário Adminis-
bolo DAI-4. trativo II, símbolo DAI-6.
Art. 83 - Fica alterada a estrutura organizacional e de Art. 90 - Fica extinto, na estrutura de cargos em co-
cargos em comissão da Secretaria de Cultura - SECULT, da missão da Fundação Pedro Calmon - Centro de Memória e
Fundação Pedro Calmon - Centro de Memória e Arquivo Arquivo Público da Bahia - FPC, 01 (um) cargo de Assistente
Público da Bahia - FPC, do Instituto do Patrimônio Artístico III, símbolo DAI-4.
e Cultural da Bahia - IPAC e da Fundação Cultural do Estado Art. 91 - Ficam criadas, na estrutura organizacional do
da Bahia - FUNCEB. Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia - IPAC,
Art. 84 - A Superintendência de Cultura da SECULT pas- as seguintes Unidades:
sa a denominar-se Superintendência de Desenvolvimento I - Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural,
Territorial da Cultura, com a finalidade de propor políticas com a finalidade de planejar, coordenar e promover ações
e programas para o desenvolvimento da cultura territoriali- para o resgate e preservação da memória cultural baiana
zada, bem como coordenar, desenvolver e acompanhar es- em todas as suas manifestações;
tudos, pesquisas e ações de apoio à criação, produção, di- II - Diretoria de Projetos, Obras e Restauro, com a finali-
fusão e ao consumo dos bens culturais no Estado da Bahia. dade de planejar, coordenar, executar e avaliar as atividades
Art. 85 - Fica criada, na estrutura organizacional da SE- pertinentes a projetos, obras, conservação e restauração
CULT, o Centro de Culturas Populares e Identitárias, com a dos bens móveis e imóveis culturais do Estado da Bahia.
finalidade de planejar, coordenar, fomentar e difundir in-
Art. 92 - Ficam extintas, na estrutura organizacional do
formações sobre culturas populares indígenas e afro-des-
Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia - IPAC,
cendentes e sedimentar o processo de desenvolvimento da
as seguintes Unidades:
cultura regional do Estado, bem como promover a dinami-
zação e gestão cultural do Centro Histórico de Salvador. I - Diretoria de Preservação do Patrimônio Artístico e
Art. 86 - Ficam criados, na estrutura de cargos em co- Cultural;
missão da Secretaria de Cultura, 02 (dois) cargos de Asses- II - Diretoria de Ações Culturais.
sor Especial, símbolo DAS-2C, 01 (um) cargo de Coordena- Art. 93 - Ficam criados, na estrutura de cargos em co-
dor I, símbolo DAS-2C, 01 (um) cargo de Diretor, símbolo missão do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da
DAS-2C, 01 (um) cargo de Assessor Técnico, símbolo DAS- Bahia - IPAC, 04 (quatro) cargos de Coordenador II, símbolo
3, 17 (dezessete) cargos de Coordenador II, símbolo DAS-3, DAS-3, 02 (dois) cargos de Coordenador III, símbolo DAI-4,
02 (dois) cargos de Assessor Administrativo, símbolo DAI-4, 01 (um) cargo de Coordenador IV, símbolo DAI-5, e 01 (um)
17 (dezessete) cargos de Coordenador de Centro de Cultu- cargo de Secretário Administrativo II, símbolo DAI-6.
ra, símbolo DAI-4, 07 (sete) cargos de Coordenador III, sím- Art. 94 - Ficam extintos, na estrutura de cargos em co-
bolo DAI-4, 02 (dois) cargos de Coordenador IV, símbolo missão do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da
DAI-5, 01 (um) cargo de Secretário Administrativo I, símbo- Bahia - IPAC, 02 (dois) cargos de Gerente, símbolo DAS-3, e
lo DAI-5 e 18 (dezoito) cargos de Secretário Administrativo 01 (um) cargo de Supervisor, símbolo DAI-5.
II, símbolo DAI-6.
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 95 - Ficam extintas, na estrutura organizacional da Art. 102 - Ficam extintos, na estrutura da Administra-
Fundação Cultural do Estado da Bahia - FUNCEB, as seguin- ção Pública do Poder Executivo Estadual:
tes Unidades: I - o Instituto do Meio Ambiente - IMA, previsto no
I - Diretoria de Literatura; art. 5 da , de 06 de junho de 2008, anteriormente denomi-
II - Diretoria de Música e Artes Cênicas. nado Centro de Recursos Ambientais, autarquia estadual
Art. 96 - Ficam criadas, na estrutura organizacional da criada pela Lei Delegada nº 31 , de 03 de março de 1983;
Fundação Cultural do Estado da Bahia - FUNCEB, as seguin- II - o Instituto de Gestão das Águas e Clima - INGÁ,
tes Unidades: previsto no art. 10da , de 06 de junho de 2008, anterior-
I - Diretoria das Artes, com a finalidade de propor e mente denominado Superintendência de Recursos Hídri-
estimular políticas públicas de fomento às artes visuais, à cos - SRH, autarquia estadual criada pela Lei nº 6.812 , de
música, ao teatro, à dança e à literatura; 18 de janeiro de 1995.
II - Centro de Formação em Artes, com a finalidade de Art. 103 - Fica criado o Instituto do Meio Ambiente e
planejar, coordenar, executar e avaliar ações e projetos ar- Recursos Hídricos - INEMA, como autarquia vinculada à Se-
tístico-educativos, promovendo a democratização do aces- cretaria do Meio Ambiente - SEMA, dotada de personalida-
so aos cursos, o funcionamento regular e a dinamização de jurídica de direito público, autonomia administrativa e
das diversas linguagens artísticas. financeira e patrimônio próprio, o qual reger-se-á por esta
Art. 97 - A Diretoria de Administração, Orçamento e Lei e demais normas legais aplicáveis.
Finanças passa a denominar-se Diretoria de Administração § 1º - O INEMA terá sede e foro na cidade de Salvador,
e Finanças, com a finalidade de executar as atividades de Estado da Bahia e prazo de duração indeterminado.
administração geral, modernização e informática, adminis- § 2º - O INEMA gozará, no que couber, de todas as
tração financeira e contabilidade da Fundação Cultural do franquias e privilégios concedidos aos órgãos da Adminis-
Estado da Bahia - FUNCEB, em articulação com a Diretoria tração Direta do Estado.
Art. 104 - Os recursos orçamentários e financeiros, bem
Geral da Secretaria de Cultura e os respectivos Sistemas
como os acervos e obrigações do IMA e do INGÁ passam a
formalmente instituídos.
ser transferidos para o INEMA, que os sucederá ainda nos
Art. 98 - A Assessoria Técnica passa a ter por finalidade
direitos, créditos e obrigações decorrentes de lei, ato ad-
desempenhar as atividades de planejamento, programação
ministrativo ou contrato, inclusive nas respectivas receitas.
e orçamentação, em articulação com o respectivo Sistema
Art. 105 - O Instituto do Meio Ambiente e Recursos
Estadual de Planejamento.
Hídricos - INEMA tem por finalidade executar a Política Es-
Art. 99 - Ficam criados, na estrutura de cargos em co-
tadual de Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversidade,
missão da Fundação Cultural do Estado da Bahia - FUNCEB,
a Política Estadual de Recursos Hídricos, a Política Estadual
01 (um) cargo de Diretor, símbolo DAS-2B, 06 (seis) car- sobre Mudança do Clima e a Política Estadual de Educação
gos de Coordenador I, símbolo DAS-2C, 02 (dois) cargos Ambiental.
de Coordenador II, símbolo DAS-3, e 11 (onze) cargos de Art. 106 - O INEMA tem as seguintes competências:
Coordenador III, símbolo DAI-4. I - executar as ações e programas relacionados à Políti-
Art. 100 - Ficam extintos, na estrutura de cargos em ca Estadual de Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversi-
comissão da Fundação Cultural do Estado da Bahia - FUN- dade, da Política Estadual de Recursos Hídricos, da Política
CEB, 02 (dois) cargos de Diretor, símbolo DAS-2C, 04 (qua- Estadual sobre Mudança do Clima e da Política Estadual de
tro) cargos de Coordenador Técnico, símbolo DAS-2D, 01 Educação Ambiental;
(um) cargo de Assessor Técnico, símbolo DAS-3, 02 (dois) II - participar da elaboração e da implementação do
cargos de Gerente, símbolo DAS-3, 06 (seis) cargos de Ad- Plano Estadual de Meio Ambiente, do Plano Estadual de
ministrador de Espaço Cultural, símbolo DAI-4, 01 (um) Recursos Hídricos e do Plano Estadual sobre Mudança do
cargo de Assistente III, símbolo DAI-4, 15 (quinze) cargos Clima;
de Coordenador de Centro de Cultura, símbolo DAI-4, 03 III - realizar ações de Educação Ambiental, consideran-
(três) cargos de Diretor, símbolo DAI-4, 05 (cinco) cargos do as práticas de desenvolvimento sustentável;
de Subgerente, símbolo DAI-4, 01 (um) cargo de Assistente IV - promover a gestão florestal e do patrimônio gené-
Administrativo-Financeiro, símbolo DAI-5, 02 (dois) cargos tico, bem como a restauração de ecossistemas, com vistas
de Assistente de Apoio Técnico, símbolo DAI-5, 05 (cinco) à proteção e preservação da flora e da fauna;
cargos de Coordenador IV, símbolo DAI-5, 02 (dois) cargos V - promover as ações relacionadas com a criação, a
de Supervisor, símbolo DAI-5, e 15 (quinze) cargos de Se- implantação e a gestão das Unidades de Conservação, em
cretário Administrativo II, símbolo DAI-6. consonância com o Sistema Estadual de Unidades de Con-
Art. 101 - O Quadro de Cargos em Comissão da Se- servação - SEUC, bem como elaborar e implementar os Pla-
cretaria de Cultura - SECULT, da Fundação Pedro Calmon nos de Manejo;
- Centro de Memória e Arquivo Público da Bahia - FPC, do VI - promover a gestão das águas superficiais e subter-
Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia - IPAC râneas de domínio do Estado;
e da Fundação Cultural do Estado da Bahia - FUNCEB pas- VII - fomentar a criação e organização de Comitês de
sam a ser os constantes dos Anexos IX, X, XI e XII, respecti- Bacia Hidrográfica, visando garantir o seu funcionamento,
vamente, desta Lei. bem como acompanhar a implementação dos seus respec-
tivos planos;
62
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 114 - A Coordenação de Atendimento Ambiental Art. 124 - O Diretor Geral será nomeado pelo Governa-
tem por finalidade executar a triagem técnica e adminis- dor do Estado.
trativa de documentos, formar, exercer o acompanhamen- Art. 125 - Aos Diretores e demais dirigentes do INEMA
to, controle e guarda de processos, bem como realizar o incumbe planejar, dirigir, avaliar o desempenho, coordenar,
controle e a expedição de correspondências destinadas ao controlar e orientar a execução das atividades de sua área
Instituto ou geradas por este. de competência e exercer outras atribuições que lhes fo-
Art. 115 - A Coordenação de Interação Social tem por rem cometidas pelo Diretor Geral da entidade.
finalidade coordenar, gerir e executar, de forma descentra- Art. 126 - Constituem patrimônio do INEMA, os bens
lizada e participativa, as ações relativas à implementação e móveis e imóveis, valores, rendas e direitos atualmente
funcionamento dos Conselhos Gestores das Unidades de pertencentes ao IMA e ao INGÁ ou que lhe venham a ser
Conservação, dos Comitês de Bacia Hidrográfica e das Au- adjudicados ou transferidos.
diências Públicas. § 1º - Os bens, diretos e valores do INEMA serão utiliza-
Art. 116 - A Coordenação de Gestão Descentralizada dos, exclusivamente, no cumprimento dos seus objetivos,
tem por finalidade promover a articulação, a gestão e a permitida, a critério da Diretoria Geral, a utilização de uns e
integração das Unidades Regionais, bem como apoiar a outros para obtenção de rendas destinadas ao atendimen-
desconcentração e descentralização da gestão ambiental to de suas finalidades.
do Estado. § 2º - Em caso de extinção do INEMA, seus bens e di-
Parágrafo único - As Unidades Regionais são unidades reitos reverterão ao patrimônio do Estado da Bahia, salvo
de desconcentração da gestão das atividades da Autarquia, disposição em contrário expressa em lei.
que têm por finalidade executar a Política Estadual do Meio Art. 127 - Constituem receitas do INEMA:
Ambiente e de Proteção à Biodiversidade e a Política Es- I - os créditos orçamentários que lhe forem consigna-
tadual de Recursos Hídricos, nas suas respectivas regiões, dos pelo Orçamento Geral do Estado;
através do licenciamento, monitoramento e fiscalização II - os recursos correspondentes a 95% (noventa e cin-
ambiental, além de prestar apoio aos municípios no de- co por cento) dos valores das multas administrativas por
senvolvimento da gestão ambiental local, em articulação
atos lesivos ao meio ambiente, a serem repassados pelo
com a SEMA.
Fundo de Recursos para o Meio Ambiente - FERFA;
Art. 117 - A Diretoria de Regulação tem por finalidade
III - os valores correspondentes às multas administra-
planejar, organizar e coordenar as ações necessárias para
tivas por descumprimento da legislação estadual de recur-
emissão das licenças ambientais e dos atos autorizativos
sos hídricos;
de meio ambiente e de recursos hídricos, na forma da lei.
IV - os valores da arrecadação da Taxa de Controle e
Art. 118 - A Diretoria de Fiscalização e Monitoramen-
Fiscalização Ambiental, incidente sobre as atividades utili-
to Ambiental tem por finalidade fiscalizar o cumprimento
zadoras de recursos naturais e atividades potencialmente
da legislação ambiental e de recursos hídricos, bem como
coordenar, executar, acompanhar, monitorar e avaliar a poluidoras do meio ambiente, prevista no art. 3º da Lei Es-
qualidade ambiental e de recursos hídricos. tadual nº 11.631, de 30 de dezembro de 2009;
Art. 119 - A Diretoria de Águas tem por finalidade im- V - os recursos correspondentes a até 25% (vinte e cin-
plementar os planos de recursos hídricos, bem como pro- co por cento) dos previstos no inciso III do art. 1º da Lei
mover estudos, implementar e avaliar medidas, ações, pro- Estadual nº 9.281, de 07 de outubro de 2004, referentes às
gramas e projetos, visando assegurar o gerenciamento do compensações financeiras previstas no § 1º do art. 20 da
uso, a qualidade e conservação dos recursos hídricos e o Constituição Federal, a serem repassados pelo FERFA;
atendimento da demanda e da oferta hídrica estadual. VI - os recursos correspondentes a 20% (vinte por cen-
Art. 120 - A Diretoria de Biodiversidade tem por fina- to) da cobrança pelo fornecimento de água bruta dos re-
lidade coordenar a gestão florestal e do patrimônio gené- servatórios;
tico, bem como a execução de programas e projetos de VII - os valores provenientes da remuneração pela aná-
proteção e restauração de ecossistemas. lise dos processos de licenciamento ambiental e pela pres-
Art. 121 - A Diretoria de Unidades de Conservação tem tação de serviços;
por finalidade coordenar as ações relacionadas com a cria- VIII - os valores provenientes da cobrança de emolu-
ção, a implantação e a gestão das Unidades de Conserva- mentos administrativos para expedição das outorgas de
ção, em consonância com o SEUC, bem como elaborar e direito de uso dos recursos hídricos;
implementar os Planos de Manejo. IX - os valores correspondentes às multas aplicadas
Art. 122 - A Diretoria Administrativa e Financeira tem pelo descumprimento de Termo de Compromisso celebra-
por finalidade executar as atividades de programação, or- do pela Entidade;
çamentação, acompanhamento, avaliação, estudos e aná- X - os valores provenientes da venda de publicações
lises, material, patrimônio, serviços, recursos humanos, ou outros materiais educativos e técnicos produzidos pela
modernização administrativa e informática, administração Entidade;
financeira e de contabilidade, e de arrecadação. XI - os recursos oriundos de convênios, acordos ou
Art. 123 - Ato do Chefe do Poder Executivo estabe- contratos celebrados com entidades públicas ou privadas,
lecerá as Unidades Regionais, definindo as suas áreas de organismos ou empresas nacionais, estrangeiras ou inter-
abrangência. nacionais;
64
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
XII - as doações, legados, subvenções e quaisquer ou- III - promover a integração das políticas ambientais do
tras fontes ou atividades. Estado entre si e com as políticas públicas setoriais, bem
§ 1º - Será destinado a projetos de melhoria ambiental como a articulação de sua atuação com o Sistema Nacional
o percentual de 80% (oitenta por cento) do valor resultan- do Meio Ambiente - SISNAMA e com o Sistema Nacional
te do recurso previsto no inciso II do caput deste artigo. de Gerenciamento de Recursos Hídricos - SINGREH;
§ 2º - Fica mantida a destinação de 80% (oitenta por IV - elaborar o Plano Estadual de Meio Ambiente, o Pla-
cento) dos recursos previstos no inciso VI do caput deste no Estadual de Recursos Hídricos e o Plano Estadual sobre
artigo para o órgão responsável pela administração, ope- Mudança do Clima, supervisionando a sua implementação;
ração e manutenção do reservatório. V - gerir o Fundo de Recursos para o Meio Ambiente -
Art. 128 - A prestação de contas do INEMA, relativa à FERFA, o Fundo Estadual de Recursos Hídricos - FERHBA e a
administração dos bens e recursos obtidos, no exercício ou Câmara de Compensação Ambiental, exercendo o controle
na gestão, será elaborada em conformidade com as dispo- orçamentário, financeiro e patrimonial dos mesmos;
VI - exercer a Secretaria Executiva do CEPRAM e do CO-
sições constitucionais sobre a matéria, com o disposto em
NERH;
lei, no Regimento e demais normas legais aplicáveis, de-
VII - gerir e operacionalizar o SEIA, promovendo a in-
vendo ser encaminhadas ao Tribunal de Contas do Estado.
tegração com os demais sistemas relacionados com a sua
Art. 129 - O exercício financeiro do INEMA coincidirá
área de atuação;
com o ano civil. VIII - planejar, coordenar e executar ações para a pro-
Art. 130 - O regime jurídico do pessoal do INEMA é o moção de estudos e pesquisas voltados ao desenvolvimen-
estabelecido para o serviço público estadual. to tecnológico e científico para o uso sustentável e racional
§ 1º - A admissão de servidores do INEMA dar-se-á dos recursos ambientais e hídricos;
mediante concurso público e com observância ao plano IX - apoiar o fortalecimento da gestão ambiental muni-
de cargos e salários e benefícios previstos em lei. cipal, podendo delegar competência;
§ 2º - Os cargos efetivos do INGÁ e do IMA passam X - promover e estimular a celebração de convênios e
a integrar o quadro do INEMA, onde desempenharão as acordos entre entidades públicas, privadas e organizações
suas respectivas atribuições legais. não-governamentais, nacionais, estrangeiras e internacio-
§ 3º - Ficam transferidos da estrutura de cargos efeti- nais, com vistas à otimização da gestão ambiental e de re-
vos do IMA e do INGÁ para o INEMA os cargos de Procura- cursos hídricos no Estado.
dor Jurídico e suas respectivas classes, previstos no Anexo Art. 134 - A SEMA tem a seguinte estrutura organiza-
II da Lei nº 8.208, de 04 de fevereiro de 2002. cional básica:
§ 4º - O Poder Executivo poderá colocar à disposição I - Órgãos Colegiados:
do INEMA servidores públicos do seu quadro para auxiliar a) Conselho Estadual do Meio Ambiente - CEPRAM;
no desempenho de programas ou projetos específicos. b) Conselho Estadual de Recursos Hídricos - CONERH;
Art. 131 - Fica criado o Sistema Estadual de Informa- II - Órgãos da Administração Direta:
ções Ambientais e de Recursos Hídricos - SEIA, que absor- a) Gabinete do Secretário;
verá o Sistema Estadual de Informações Ambientais - SEIA b) Coordenação de Ações Estratégicas;
e o Sistema Estadual de Informações de Recursos Hídricos c) Coordenação de Gestão dos Fundos;
- SEIRH. d) Diretoria Geral;
Art. 132 - A Secretaria do Meio Ambiente - SEMA, cria- e) Superintendência de Estudos e Pesquisas Ambientais;
da pela Lei n° 8.538, de 20 de dezembro de 2002, alterada f) Superintendência de Políticas e Planejamento Am-
pelas Leis nº 9.525, de 21 de junho de 2005, nº 10.431, de biental;
III - Entidades da Administração Indireta:
20 de dezembro de 2006 e nº 11.050, de 06 de junho de
a) Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hí-
2008, tem por finalidade planejar, coordenar, supervisionar
dricos - INEMA;
e controlar a política estadual e as diretrizes governamen-
b) Companhia de Engenharia Ambiental da Bahia -
tais fixadas para o meio ambiente, a biodiversidade e os
CERB.
recursos hídricos. Art. 135 - O CEPRAM, órgão superior do Sistema Esta-
Art. 133 - A SEMA passa a ter as seguintes competên- dual do Meio Ambiente, com funções de natureza consul-
cias: tiva, normativa, deliberativa e recursal, tem por finalidade
I - planejar, coordenar, supervisionar e controlar a Polí- o planejamento e acompanhamento da política e das di-
tica Estadual de Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversi- retrizes governamentais voltadas para o meio ambiente, a
dade, da Política Estadual de Recursos Hídricos, da Política biodiversidade e a definição de normas e padrões relacio-
Estadual sobre Mudança do Clima e da Política Estadual de nados à preservação e conservação dos recursos naturais.
Educação Ambiental; Art. 136 - O CONERH, órgão superior do Sistema Esta-
II - planejar, coordenar, orientar e integrar as ações re- dual de Gerenciamento de Recursos Hídricos, com caráter
lativas ao Sistema Estadual do Meio Ambiente - SISEMA e consultivo, normativo, deliberativo, recursal e de represen-
ao Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídri- tação, tem por finalidade o planejamento e acompanha-
cos - SEGREH; mento da política e das diretrizes governamentais voltadas
para a gestão dos recursos hídricos.
65
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Art. 137 - O Gabinete do Secretário tem por finalidade Art. 146 - Ficam extintos os cargos em comissão pre-
prestar assistência ao Titular da Pasta em suas tarefas téc- vistos nos Quadros de Cargos em Comissão do IMA e do
nicas e administrativas. INGÁ, constantes dos Anexos II e III da Lei nº 11.050, 06 de
Art. 138 - A Coordenação de Ações Estratégicas tem junho de 2008.
por finalidade coordenar ações que promovam a melhoria Art. 147 - Fica alterado o Quadro de Cargos em Co-
da gestão e do aperfeiçoamento do SEIA, de acordo com missão da SEMA, que passa a ser o constante do Anexo
as diretrizes e prioridades estabelecidas nas políticas go- XIV desta Lei.
vernamentais voltadas para a otimização do desempenho Art. 148 - Fica o Poder Executivo autorizado a promo-
organizacional e fortalecimento dos resultados institucio- ver, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, os atos neces-
nais, em articulação com a Diretoria Geral. sários:
Art. 139 - A Coordenação de Gestão dos Fundos tem I - à elaboração dos atos regulamentares e regimentais
por finalidade exercer a gestão orçamentária, financeira e que decorram, implícita ou explicitamente, das disposi-
patrimonial do FERFA, do FERHBA e da Câmara de Com- ções desta Lei, inclusive os que se relacionam com pessoal,
pensação Ambiental. material e patrimônio, bem como as alterações organiza-
Art. 140 - A Diretoria Geral tem por finalidade a coor- cionais e de cargos em comissão decorrentes desta Lei;
denação dos órgãos setoriais e seccionais dos sistemas for- II - à utilização, para o funcionamento das Secreta-
malmente instituídos, responsáveis pela execução das ativi- rias de Estado, ora criadas, mediante processo formal de
dades de programação, orçamentação, acompanhamento, cessão, de servidores das demais Secretarias, Autarquias
avaliação, estudos e análises, material, patrimônio, serviços, e Fundações do Estado da Bahia, bem como de servidores
recursos humanos, modernização administrativa e infor- de outras esferas governamentais, por meio de instrumen-
mática, e de administração financeira e de contabilidade. to próprio adequado;
Art. 141 - A Superintendência de Estudos e Pesquisas III - à abertura de créditos adicionais, necessários ao
Ambientais tem por finalidade planejar, coordenar e execu- funcionamento das Secretarias e demais órgãos e entida-
tar ações para a promoção do conhecimento, informação e
des da Administração Pública Indireta do Poder Executivo
inovação, direcionadas ao desenvolvimento tecnológico e
Estadual;
científico em gestão ambiental, bem como aprimorar seus
IV - à continuidade dos serviços, até a definitiva es-
instrumentos de gestão ambiental na busca do desenvolvi-
truturação das Secretarias e demais órgãos e entidades da
mento sustentável e da qualidade ambiental.
Administração Pública Indireta do Poder Executivo Esta-
Art. 142 - A Superintendência de Políticas e Planeja-
dual, em especial os processos licitatórios;
mento Ambientais tem por finalidade planejar as políticas
V - à transferência dos contratos, convênios, protoco-
de meio ambiente e de recursos hídricos, bem como coor-
los e demais instrumentos vigentes, necessária à imple-
denar e supervisionar a execução de seus programas e pro-
mentação das alterações das competências definidas nesta
jetos de gestão, promovendo a articulação institucional e a
educação ambiental. Lei, procedendo-se às devidas adequações orçamentárias;
Art. 143 - A Companhia de Engenharia Ambiental da VI - à elaboração de estudos sobre o quadro de car-
Bahia - CERB, criada pela Lei nº 2.929, de 11 de maio de gos efetivos para atendimento às atividades inerentes às
1971, alterada pelas Leis nº 6.074, de 22 de maio de 1991, competências da SEMA e do INEMA, a ser definido em lei;
nº 8.538, de 20 de dezembro de 2002 e nº 11.050, de 06 de VII - às modificações orçamentárias que se fizerem ne-
junho de 2008, passa a denominar-se Companhia de Enge- cessárias ao cumprimento do disposto nesta Lei, respeita-
nharia Ambiental e Recursos Hídricos da Bahia - CERB. dos os valores globais constantes do orçamento vigente e
Art. 144 - A Companhia de Engenharia Ambiental e Re- no Plano Plurianual.
cursos Hídricos da Bahia - CERB, sociedade de economia Art. 149 - Revogam-se as disposições em contrário,
mista de capital autorizado, vinculada à Secretaria do Meio em especial a Lei nº 11.050, de 06 de junho de 2008, os
Ambiente, tem a finalidade de executar programas, pro- artigos 49, 51 e 52 da Lei nº 11.612 , de 08 de outubro
jetos e ações de engenharia ambiental e aproveitamento de 2009, e o artigo 171, caput e parágrafo único da Lei
dos recursos hídricos, perenização de rios, perfuração de nº 10.431 , de 20 de dezembro de 2006.
poços, construção, operação e manutenção de barragens e Art. 150 - Esta Lei entra em vigor na data de sua pu-
obras para mitigação dos efeitos da seca e convivência com blicação.
o semi-árido, bem como a execução de outros programas, PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, em 04
projetos e ações relativas a obras de infraestrutura que lhe de maio de 2011.
venham a ser atribuídas dentro da política de Governo do
Estado para o setor.
Parágrafo único - A estrutura organizacional e funcio-
nal da CERB, bem como a definição de suas competências,
inclusive das unidades organizacionais que a compõem, se-
rão definidas em seu Estatuto Social e Regimento Interno.
Art. 145 - O Quadro de Cargos em Comissão do INEMA
é o constante do Anexo XIII desta Lei.
66
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
JAQUES WAGNER
Governador
Eva Maria Cella Dal Chiavon
Secretária da Casa Civil Manoel Vitório da Silva Filho
Secretário da Administração
Eduardo Seixas de Salles
Secretário da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária
Carlos Martins Marques de Santana
Secretário da Fazenda
Zezéu Ribeiro
Secretário do Planejamento
Osvaldo Barreto Filho
Secretário da Educação
Otto Alencar
Secretário de Infra-Estrutura
Almiro Sena Soares Filho
Secretário da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos
Jorge José Santos Pereira Solla
Secretário da Saúde
James Silva Santos Correia
Secretário da Indústria, Comércio e Mineração
Nilton Vasconcelos Júnior
Secretário do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte
Maurício Teles Barbosa
Secretário da Segurança Pública
Antônio Albino Canelas Rubim
Secretário de Cultura
Eugênio Spengler
Secretário do Meio Ambiente
Cícero de Carvalho Monteiro
Secretário de Desenvolvimento Urbano
Paulo Francisco de Carvalho Câmera
Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação
Wilson Alves de Brito Filho
Secretário de Desenvolvimento e Integração Regional
Domingos Leonelli Neto
Secretário de Turismo
Vanda Sampaio de Sá Barreto
Secretária de Promoção da Igualdade, em exercício
Paulo Cézar Lisboa Cerqueira
Secretário de Relações Institucionais
Carlos Alberto Lopes Brasileiro
Secretário de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
ANEXO I
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DO INSTITUTO DE RADIODIFUSÃO EDUCATIVA DA BAHIA - IRDEB
ANEXO II
QUADRO ESPECIAL DE CARGOS EM COMISSÃO DA CASA CIVIL
ANEXO III
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES - SPM
68
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
ANEXO IV
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA E RESSOCIALIZA-
ÇÃO - SEAP
ANEXO V
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - SECOM
69
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
ANEXO VI
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA SECRETARIA ESTADUAL PARA ASSUNTOS DA COPA DO MUNDO DA
FIFA BRASIL 2014 - SECOPA
ANEXO VII
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA SECRETARIA DA INDÚSTRIA COMÉRCIO E MINERAÇÃO - SICM
70
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
ANEXO VIII
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DO GABINETE DO GOVERNADOR - GABGOV
71
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
ANEXO IX
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA SECRETARIA DE CULTURA - SECULT
72
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
ANEXO X
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA FUNDAÇÃO PEDRO CALMON - CENTRO DE MEMÓRIA E ARQUIVO
PÚBLICO DA BAHIA - FPC
73
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
ANEXO XI
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO E CULTURAL DA BAHIA -
IPAC
74
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
ANEXO XII
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA - FUNCEB
75
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
ANEXO XIII
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DOINSTITUTO DO MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS ? INEMA
ANEXO XIV
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE ? SEMA
76
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
77
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
78
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
VII - Ministro de Estado dos Transportes em cargo de Art. 9o Para fins do disposto no art. 1o, os cargos ine-
Ministro de Estado dos Transportes, Portos e Aviação Civil; rentes aos órgãos comuns, nos termos em que os define
VIII - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- o art. 28 da Lei no 10.683, de 28 de maio de 2003, serão
nistério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior suprimidos por ocasião da publicação dos decretos das
em cargo de Natureza Especial de Secretário-Executivo do estruturas regimentais dos órgãos que incorporarem as
Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços; respectivas competências.
IX - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- Art. 10. O acervo patrimonial e o quadro de servidores
nistério da Ciência, Tecnologia e Inovação em cargo de efetivos dos órgãos e entidades extintos, transformados,
Natureza Especial de Secretário-Executivo do Ministério da transferidos, incorporados ou desmembrados por esta
Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações; Lei serão transferidos aos órgãos que absorverem as suas
X - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- competências, bem como os respectivos direitos, créditos
nistério do Trabalho e Previdência Social em cargo de Na- e obrigações decorrentes de lei, atos administrativos ou
tureza Especial de Secretário-Executivo do Ministério do contratos, inclusive as receitas e despesas.
Trabalho; Parágrafo único. Aplica-se às dotações orçamentárias
XI - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- dos órgãos e entidades de que trata o caput o disposto
nistério da Justiça em cargo de Natureza Especial de Secre- no art. 52 da Lei no 13.242, de 30 de dezembro de 2015.
tário-Executivo do Ministério da Justiça e Cidadania; Art. 11. Ficam transferidas aos órgãos que recebam
XII - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- as atribuições correspondentes e a seus titulares as com-
nistério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome em petências e as incumbências, estabelecidas em lei, dos
cargo de Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- órgãos transformados e de seus titulares, transferidos ou
nistério do Desenvolvimento Social e Agrário; extintos por esta Lei.
XIII - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- Art. 12. A Lei no 10.683, de 28 de maio de 2003, passa
nistério do Planejamento, Orçamento e Gestão em cargo a vigorar com as seguintes alterações:
de Natureza Especial de Secretário-Executivo do Ministério “Art. 1o .......................................................................
do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão; .....................................................................................
XIV - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- IV - (revogado);
nistério dos Transportes em cargo de Natureza Especial de .....................................................................................
Secretário-Executivo do Ministério dos Transportes, Portos VI - pelo Gabinete de Segurança Institucional da Pre-
e Aviação Civil; sidência da República;
XV - Natureza Especial de Secretário-Executivo da Con- .....................................................................................
troladoria-Geral da União em cargo de Natureza Especial XI - (revogado);
de Secretário-Executivo do Ministério da Transparência, XII - (revogado);
Fiscalização e Controladoria-Geral da União - CGU; ......................................................................................
XVI - Natureza Especial de Subchefe-Executivo da Se- § 1o ..............................................................................
cretaria de Comunicação Social da Presidência da Repúbli- ......................................................................................
ca em cargo de Natureza Especial de Secretário Especial da X - (revogado).
Secretaria de Comunicação Social da Casa Civil da Presi- ......................................................................................
dência da República; § 3o (VETADO).
XVII - Natureza Especial de Secretário Especial de Di- I - (revogado);
reitos Humanos do Ministério das Mulheres, da Igualdade ............................................................................” (NR)
Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos em cargo de “Art. 2o .................................................................
Natureza Especial de Secretário Especial de Direitos Huma- I - ..........................................................................
nos do Ministério da Justiça e Cidadania; ......................................................................................
XVIII - Natureza Especial de Secretário Especial de Po- e) na formulação e implementação da política de co-
líticas de Promoção da Igualdade Racial do Ministério das municação e divulgação social do Governo Federal;
Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direi- f) na implementação de programas informativos;
tos Humanos em cargo de Natureza Especial de Secretário g) na organização e desenvolvimento de sistemas de
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do informação e pesquisa de opinião pública;
Ministério da Justiça e Cidadania; h) na coordenação da comunicação interministerial e
XIX - Natureza Especial de Secretário Especial de Po- das ações de informação e difusão das políticas de gover-
líticas para as Mulheres do Ministério das Mulheres, da no;
Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos em i) na coordenação, normatização, supervisão e contro-
cargo de Natureza Especial de Secretário Especial de Políti- le da publicidade e de patrocínios dos órgãos e das enti-
cas para as Mulheres do Ministério da Justiça e Cidadania; e dades da administração pública federal, direta e indireta, e
XX - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- de sociedades sob controle da União;
nistério das Comunicações em Natureza Especial de Secre- j) na convocação de redes obrigatórias de rádio e te-
tário Especial dos Direitos da Criança e do Adolescente do levisão;
Ministério da Justiça e Cidadania.
79
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
80
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
81
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
k) articulação com os Governos dos Estados, do Distri- d) assistência e acompanhamento do Ministério do De-
to Federal e dos Municípios, com a sociedade civil e com senvolvimento Social e Agrário e do Instituto Nacional de
órgãos do Governo Federal para estabelecimento de dire- Colonização e Reforma Agrária - INCRA nas ações de re-
trizes para as políticas nacionais de ciência, tecnologia e gularização fundiária, para garantir a preservação da iden-
inovação; tidade cultural dos remanescentes das comunidades dos
l) (revogada); quilombos;
III - Ministério da Defesa: e) (revogada);
a) política de defesa nacional, estratégia nacional de f) (revogada);
defesa e elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional; g) (revogada);
b) políticas e estratégias setoriais de defesa e militares; h) (revogada);
c) doutrina, planejamento, organização, preparo e em- V - Ministério da Fazenda:
prego conjunto e singular das Forças Armadas; a) moeda, crédito, instituições financeiras, capitaliza-
d) projetos especiais de interesse da defesa nacional; ção, poupança popular, seguros privados e previdência pri-
e) inteligência estratégica e operacional no interesse da vada aberta;
defesa; b) política, administração, fiscalização e arrecadação
f) operações militares das Forças Armadas; tributária e aduaneira;
g) relacionamento internacional de defesa; c) administração financeira e contabilidade públicas;
h) orçamento de defesa; d) administração das dívidas públicas interna e externa;
i) legislação de defesa e militar; e) negociações econômicas e financeiras com gover-
j) política de mobilização nacional; nos, organismos multilaterais e agências governamentais;
k) política de ensino de defesa; f) preços em geral e tarifas públicas e administradas;
l) política de ciência, tecnologia e inovação de defesa; g) fiscalização e controle do comércio exterior;
m) política de comunicação social de defesa; h) realização de estudos e pesquisas para acompanha-
n) política de remuneração dos militares e pensionistas; mento da conjuntura econômica;
o) política nacional:
i) autorização, ressalvadas as competências do Conse-
1. de indústria de defesa, abrangendo a produção;
lho Monetário Nacional:
2. de compra, contratação e desenvolvimento de Pro-
1. da distribuição gratuita de prêmios a título de pro-
duto de Defesa - PRODE, abrangendo as atividades de
paganda quando efetuada mediante sorteio, vale-brinde,
compensação tecnológica, industrial e comercial;
concurso ou operação assemelhada;
3. de inteligência comercial de Prode; e
2. das operações de consórcio, fundo mútuo e outras
4. de controle da exportação e importação de Prode e
formas associativas assemelhadas, que objetivem a aquisi-
em áreas de interesse da defesa;
ção de bens de qualquer natureza;
p) atuação das Forças Armadas, quando couber, na ga-
rantia da lei e da ordem, visando à preservação da ordem 3. da venda ou da promessa de venda de mercadorias
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, na a varejo, mediante oferta pública e com recebimento ante-
garantia da votação e da apuração eleitoral e sua coopera- cipado, parcial ou total, do preço;
ção com o desenvolvimento nacional e a defesa civil e no 4. da venda ou da promessa de venda de direitos, in-
combate a delitos transfronteiriços e ambientais; clusive cotas de propriedade de entidades civis, como hos-
q) logística de defesa; pital, motel, clube, hotel, centro de recreação ou alojamen-
r) serviço militar; to e organização de serviços de qualquer natureza, com ou
s) assistência à saúde, social e religiosa das Forças Ar- sem rateio de despesas de manutenção, mediante oferta
madas; pública e com pagamento antecipado do preço;
t) constituição, organização, efetivos, adestramento e 5. da venda ou promessa de venda de terrenos lotea-
aprestamento das forças navais, terrestres e aéreas; dos a prestações mediante sorteio; e
u) política marítima nacional; 6. da exploração de loterias, inclusive os sweepsta-
v) segurança da navegação aérea e do tráfego aquaviá- kes e outras modalidades de loterias realizadas por entida-
rio e salvaguarda da vida humana no mar; des promotoras de corridas de cavalos;
w) patrimônio imobiliário administrado pelas Forças j) previdência; e
Armadas, sem prejuízo das competências atribuídas ao Mi- k) previdência complementar;
nistério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão; VI - Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Servi-
x) política militar aeronáutica e atuação na política ae- ços:
roespacial nacional; a) política de desenvolvimento da indústria, do comér-
y) infraestrutura aeroespacial e aeronáutica; e cio e dos serviços;
z) operacionalização do Sistema de Proteção da Ama- b) propriedade intelectual e transferência de tecnolo-
zônia - SIPAM; gia;
IV - Ministério da Cultura: c) metrologia, normalização e qualidade industrial;
a) política nacional de cultura; d) políticas de comércio exterior;
b) proteção do patrimônio histórico e cultural; e) regulamentação e execução dos programas e ativi-
c) regulação de direitos autorais; e dades relativas ao comércio exterior;
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XXI - Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil: § 5o A competência relativa aos direitos dos índios atri-
a) política nacional de transportes ferroviário, rodoviá- buída ao Ministério da Justiça e Cidadania na alínea c do
rio, aquaviário e aeroviário; inciso VIII do caput inclui o acompanhamento das ações de
b) marinha mercante e vias navegáveis; saúde desenvolvidas em prol das comunidades indígenas.
c) formulação de políticas e diretrizes para o desen- .....................................................................................
volvimento e o fomento do setor de portos e instalações § 8o As competências atribuídas ao Ministério dos
portuárias marítimos, fluviais e lacustres e execução e ava- Transportes, Portos e Aviação Civil, nos termos das alí-
liação de medidas, programas e projetos de apoio ao de- neas a, b e i do inciso XXI do caput, compreendem:
senvolvimento da infraestrutura e da superestrutura dos .....................................................................................
portos e instalações portuárias marítimos, fluviais e lacus- III - a elaboração e a aprovação dos planos de outor-
tres; gas, ouvida, tratando-se da exploração da infraestrutura
d) formulação, coordenação e supervisão das políticas aeroportuária, a Agência Nacional de Aviação Civil - ANAC;
nacionais do setor de portos e instalações portuárias ma- .....................................................................................
rítimos, fluviais e lacustres; V - a formulação e a supervisão da execução da polí-
e) participação no planejamento estratégico, no es- tica referente ao Fundo da Marinha Mercante, destinado
tabelecimento de diretrizes para sua implementação e na à renovação, recuperação e ampliação da frota mercante
definição das prioridades dos programas de investimentos nacional, em articulação com os Ministérios da Fazenda e
em transportes; do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão;
f) elaboração dos planos gerais de outorgas; VI - o estabelecimento de diretrizes para afretamento
g) estabelecimento de diretrizes para a representação de embarcações estrangeiras por empresas brasileiras de
do País nos organismos internacionais e em convenções, navegação e para liberação do transporte de cargas pres-
acordos e tratados referentes às suas competências; critas;
h) desenvolvimento da infraestrutura e da superestru- VII - a elaboração de estudos e projeções relativos aos
tura aquaviária dos portos e instalações portuárias em sua assuntos de aviação civil e de infraestruturas aeroportuária
esfera de competência, com a finalidade de promover a e aeronáutica civil e sobre a logística do transporte aéreo
segurança e a eficiência do transporte aquaviário de car- e do transporte intermodal e multimodal, ao longo de ei-
gas e de passageiros; e xos e fluxos de produção, em articulação com os demais
i) aviação civil e infraestruturas aeroportuária e de ae- órgãos governamentais competentes, com atenção às exi-
ronáutica civil, em articulação, no que couber, com o Mi- gências de mobilidade urbana e acessibilidade;
nistério da Defesa; VIII - a formulação e a implementação do planejamen-
j) (revogada); to estratégico do setor aeroviário, definindo prioridades
XXII - (revogado); dos programas de investimentos;
XXIII - (revogado); IX - a proposição de que se declare a utilidade públi-
..................................................................................... ca, para fins de desapropriação ou instituição de servidão
XXV - (revogado); administrativa, dos bens necessários à construção, manu-
XXVI - Ministério da Educação: tenção e expansão da infraestrutura aeronáutica e aeropor-
a) política nacional de educação; tuária;
b) educação infantil; X - a coordenação dos órgãos e das entidades do sis-
c) educação em geral, compreendendo ensino funda- tema de aviação civil, em articulação com o Ministério da
mental, ensino médio, ensino superior, educação de jovens Defesa, no que couber; e
e adultos, educação profissional, educação especial e edu- XI - a transferência, para Estados, o Distrito Federal ou
cação a distância, exceto ensino militar; Municípios, da implantação, da administração, da opera-
d) avaliação, informação e pesquisa educacional; ção, da manutenção e da exploração de aeródromos públi-
e) pesquisa e extensão universitária; cos, direta ou indiretamente.
f) magistério; e .....................................................................................
g) assistência financeira a famílias carentes para a es- § 14. Ao Ministério da Transparência, Fiscalização e
colarização de seus filhos ou dependentes. Controladoria-Geral da União - CGU, no exercício de suas
..................................................................................... competências, cabe dar o devido andamento às represen-
§ 3o A competência atribuída ao Ministério da In- tações ou denúncias fundamentadas que receber, relativas
tegração Nacional de que trata a alínea k do inciso VII a lesão ou ameaça de lesão ao patrimônio público, velando
do caput será exercida em conjunto com o Ministério da por seu integral deslinde.
Defesa. § 15. Ao Ministério da Transparência, Fiscalização e
§ 4o A competência atribuída ao Ministério do Meio Controladoria-Geral da União - CGU, por seu titular, sempre
Ambiente, nos termos da alínea f do inciso XVI do caput, que constatar omissão da autoridade competente, cumpre
será exercida em conjunto com o Ministério da Agricultu- requisitar a instauração de sindicância, procedimentos e
ra, Pecuária e Abastecimento, o Ministério do Planejamen- processos administrativos, e avocar aqueles já em curso
to, Desenvolvimento e Gestão, o Ministério da Indústria, perante órgão ou entidade da administração pública fede-
Comércio Exterior e Serviços e o Ministério da Integração ral, visando à correção do andamento, inclusive mediante a
Nacional. aplicação da penalidade administrativa cabível.
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R: D. O artigo 1º, CF traz os princípios fundamentais C) Construir uma sociedade livre, justa e solidária,
(fundamentos) da República Federativa do Brasil: “I - a so- garantindo o desenvolvimento nacional com erradicação
berania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa huma- da pobreza e da marginalização, reduzindo as desigual-
na; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; dades sociais e regionais, promovendo o bem de todos,
V - o pluralismo político”. O princípio de “A” se encontra sem preconceitos de origem, raça, cor, idade e quaisquer
no inciso V; o de “B” no inciso IV; o de “C” no inciso III, outras formas de discriminação.
pois viola a dignidade humana da mãe forçá-la a dar luz D) Promover a defesa nacional contra atos de Esta-
à um filho que resulte de estupro; o de “E” decorre dos dos estrangeiros que intervierem nos assuntos internos
incisos I e II e é previsão do artigo 2º, que dispõe que “são da nação.
Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Somente resta a al- R: C. O constituinte trabalha no artigo 3º da Consti-
ternativa “D”, que apesar de realmente trazer um objetivo tuição Federal com os objetivos da República Federativa
da República Federativa brasileira – previsto no artigo 3º, do Brasil, nos seguintes termos: “Art. 3º Constituem obje-
IV, não tem a ver com os princípios fundamentais, mas sim tivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I -
com os objetivos. construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir
o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a
003 - (DPE/DF - Analista - Assistência Judiciária - marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regio-
FGV/2014) Sobre os Princípios Fundamentais da Repúbli- nais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de
ca Federativa do Brasil, à luz do texto constitucional de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
1988, é INCORRETO afirmar que: de discriminação”. Somente a alternativa “C” resume to-
A) a República Federativa do Brasil tem como funda- dos os objetivos elencados neste dispositivo.
mentos: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa
humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa 005 - (TCE/PI - Assessor Jurídico - FCC/2014) Pelo
e o pluralismo político. princípio da justeza ou da conformidade funcional da
B) a República Federativa do Brasil tem como objetivos Constituição Federal,
fundamentais: construir uma sociedade livre, justa e soli- A) as normas constitucionais devem ser interpretadas
dária; garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a po- no sentido de terem a mais ampla efetividade social, re-
breza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais conhecendo a maior eficácia possível aos direitos funda-
e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos mentais.
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas B) partindo da ideia de unidade da constituição, os
de discriminação. bens jurídicos constitucionalizados deverão coexistir de
C) todo o poder emana do povo, que o exerce unica- forma harmônica na hipótese de eventual conflito ou
mente por meio de representantes eleitos. concorrência entre esses bens e princípios, por inexistir
D) entre outros, são princípios adotados pela Repú- hierarquia entre eles.
blica Federativa do Brasil nas suas relações internacionais, C) o intérprete máximo da constituição, ao concretizar
os seguintes: a independência nacional, a prevalência dos a norma constitucional, será responsável por estabelecer
direitos humanos e o repúdio ao terrorismo e ao racismo. sua força normativa, não podendo alterar a repartição de
E) a autodeterminação dos povos, a não intervenção funções constitucionalmente estabelecidas pelo consti-
e a defesa da paz são princípios regedores das relações tuinte originário.
internacionais da República Federativa do Brasil. D) as normas constitucionais devem ser interpretadas
em sua globalidade, afastando-se as aparentes antino-
R: C. A democracia brasileira adota a modalidade se- mias legais.
midireta, porque possibilita a participação popular direta E) na resolução dos problemas jurídico-constitucio-
no poder por intermédio de processos como o plebiscito, nais deve-se dar primazia aos critérios que favoreçam a
o referendo e a iniciativa popular. Como são hipóteses res- integração política e social, e o reforço da unidade política
tritas, pode-se afirmar que a democracia indireta é pre- do estado.
dominantemente adotada no Brasil, por meio do sufrágio
universal e do voto direto e secreto com igual valor para R: C. O princípio da conformidade funcional ou da jus-
todos. Contudo, não é a única maneira de se exercer o po- teza é um dos princípios interpretativos das normas cons-
der (artigo 14, CF e artigo 1º, parágrafo único, CF). titucionais e prescreve que ao intérprete da Constituição,
o Supremo Tribunal Federal, é defeso, proibido, modificar
004 - (TJ/MG - Juiz - FUNDEP/2014) Assinale a alter- a repartição de funções fixadas pela própria Constituição
nativa que descreve COMPLETAMENTE os objetivos funda- Federal.
mentais da República Federativa do Brasil.
A) Erradicar a pobreza e o analfabetismo.
B) Garantir o desenvolvimento pessoal dos cidadãos e
construir a riqueza de sua gente.
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R: C. A alternativa “A” está de acordo com o previsto no individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
artigo 216, §1º, CF; a alternativa “B” está de acordo com o administrativas”. A facultatividade da filiação afirmada na
artigo 216, §5º, CF; a alternativa “D” está conforme o artigo letra “C” é previsão confirmada no artigo 8º, V, CF e a li-
184, §5º, CF. Somente não guarda compatibilidade com a berdade de associação ressaltada na alternativa “E” de fato
Constituição a alternativa “C”, porque, nos termos do artigo observa os ditames legais, notadamente os dos incisos do
185, parágrafo único, “a lei garantirá tratamento especial à artigo 8º.
propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimen- Somente resta a alternativa “D”, que capciosamen-
to dos requisitos relativos a sua função social”. te afirma que é obrigatória a intervenção dos sindicatos
patronais em quaisquer negociações coletivas. De fato, o
003 - (TCE/PI - Assessor Jurídico - FCC/2014) A teo- artigo 8º da CF traz em seu inciso VI que “é obrigatória a
ria da reserva do possível participação dos sindicatos nas negociações coletivas de
A) significa a inoponibilidade do arbítrio estatal à efeti- trabalho”, mas esta previsão não se refere aos sindicatos
vação dos direitos sociais, econômicos e culturais. patronais, compostos por representantes de todas empre-
B) gira em torno da legitimidade constitucional do sas da área, e sim aos sindicatos profissionais, compostos
controle e da intervenção do poder judiciário em tema de por representantes dos trabalhadores. Logo, um sindicato
implementação de políticas públicas, quando caracterizada profissional pode promover uma negociação coletiva com
hipótese de omissão governamental. uma única empresa, não apenas com o sindicato patronal.
C) considera que as políticas públicas são reservadas
discricionariamente à análise e intervenção do poder judi- 005 - (PGE/AC - Procurador - FMP-RS/2014) Analise
ciário, que as limitará ou ampliará, de acordo com o caso as afirmativas abaixo.
concreto. I - Somente quando expressamente autorizado pela
D) é sinônima, em significado e extensão, à teoria do Constituição, o legislador pode restringir ou regular algum
mínimo existencial, examinado à luz da violação dos direi- direito fundamental.
tos fundamentais sociais, culturais e econômicos, como o II - De acordo com a jurisprudência do STF, a liberda-
direito à saúde e à educação básica. de de expressão ocupa uma posição superior no sistema
E) defende a integridade e a intangibilidade dos direi- constitucional brasileiro, prevalecendo sempre em caso de
tos fundamentais, independentemente das possibilidades colisão com outros direitos fundamentais, individuais ou
financeiras e orçamentárias do estado. sociais.
III - No âmbito das relações de submissão, os direitos
R: B. A teoria da reserva do possível busca impedir fundamentais acabam submetidos por outros direitos pe-
que se argumente por uma obrigação infinita do Estado culiares a tais relações.
de atender direitos econômicos, sociais e culturais. No en- IV - Viola o princípio da igualdade toda e qualquer
tanto, não pode ser invocada como muleta para impedir ação discriminatória, mesmo de caráter afirmativo, pro-
que estes direitos adquiram efetividade. Se a invocação da duzida pelo legislador ou, mesmo, por meio de políticas
reserva do possível não demonstrar cabalmente que o Es- públicas.
tado não tem condições de arcar com as despesas, o Poder A) Todas as alternativas são verdadeiras.
Judiciário irá intervir e sanar a omissão. B) Todas as alternativas são falsas.
C) Apenas a alternativa I está correta.
004 - (TRT/23ª REGIÃO (MT) - Juiz Substituto - TRT D) Apenas as alternativas II e III estão corretas.
23R/2014) Em face do artigo 8º da Constituição Federal,
assinale a alternativa INCORRETA: R: B. I está incorreta porque, a princípio, todo direito
A) O aposentado filiado tem o direito a votar e ser vo- fundamental pode ser objeto de regulamentação específi-
tado nas organizações sindicais. ca e eventual restrição, desde que esta regulação ou restri-
B) Ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses ção não atentem contra o próprio direito; II está incorreta
coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões porque a liberdade de expressão sofre diversas limitações,
judiciais ou administrativas. como a honra e a moral das pessoas, não sendo um direi-
C) Ninguém será obrigado a filiar-se ou manter-se filia- to fundamental que deva ser priorizado em relação aos
do a sindicatos. outros; III está incorreta porque a relação de submissão
D) É indispensável a participação do sindicato patronal não exclui o direito fundamental (ex.: trabalhador e em-
em qualquer negociação coletiva. pregador); IV está incorreta porque é pacífico que as ações
E) É livre a associação profissional ou sindical, observa- afirmativas são constitucionais.
dos os ditames legais.
006 - (PGE/AC - Procurador - FMP-RS/2014) A Con-
R: D. Nos termos do artigo 8º, VIII, CF, “o aposentado venção sobre os direitos das pessoas com deficiência foi
filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações incorporada no ordenamento brasileiro com hierarquia su-
sindicais”, o que torna a alternativa “A” correta. Já o artigo pralegal, mas infraconstitucional. Em relação à afirmativa,
8º, III, CF confirma a alternativa “B” prevendo que “ao sin- assinale a alternativa verdadeira.
dicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou
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R: A. A alternativa “A” está em consonância com o artigo R: C. Nos termos do artigo 5º, LI, CF, “nenhum brasileiro
225, §3º, CF: “As condutas e atividades consideradas lesivas será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime
ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas comum, praticado antes da naturalização, ou de compro-
ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, indepen- vado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e
dentemente da obrigação de reparar os danos causados”. drogas afins, na forma da lei”. Embora a condenação tenha
ocorrido após a naturalização, o crime comum foi pratica-
010 - (PC/SP - Escrivão de Polícia - VUNESP/2014) do antes dela, permitindo a extradição de Pietro.
Assinale a alternativa correta a respeito dos direitos e ga-
rantias fundamentais previstos na Constituição Federal de 012 - (PC/TO - Delegado de Polícia - Aroeira/2014)
1988. Dispõe a Constituição Federal, no Título dos Direitos e Ga-
A) A lei só poderá restringir a publicidade dos atos rantias Fundamentais, que a prisão ilegal será imediata-
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse mente:
social o exigirem. A) revogada pela autoridade policial competente.
B) Conceder-se-á habeas data sempre que a falta de B) substituída por fiança.
norma regulamentadora torne inviável o exercício dos di- C) relaxada pela autoridade judiciária.
reitos e liberdades constitucionais. D) substituída por monitoração eletrônica.
C) A lei regulará a individualização da pena e adotará, R: C. É o disposto no artigo 5º, LXV, CF: “a prisão ilegal
entre outras, a privação ou a restrição da liberdade, a perda será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária”.
de bens e o banimento
D) Constituem crimes inafiançáveis e imprescritíveis o 013 - (PC/TO - Delegado de Polícia - Aroeira/2014)
racismo, a tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e os No caso de condenação criminal transitada em julgado,
definidos como crimes hediondos. enquanto durarem seus efeitos, o condenado terá seus di-
E) Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturali- reitos políticos:
zado, em caso de crime comum praticado antes da natura- A) mantidos.
lização, ou de comprovado envolvimento com terrorismo. B) cassados.
C) perdidos.
R: A. Preconiza o artigo 5º da Constituição em seu in- D) suspensos.
ciso LX: “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse R: D. Os direitos políticos nunca podem ser cassados ou
social o exigirem”, restando “A” correta. “B” está incorre- perdidos, mas no máximo suspensos. A condenação crimi-
ta porque descreve a finalidade do mandado de injunção; nal transitada em julgado justifica a suspensão dos direitos
“C” está incorreta porque perda de bens (confisco) e bani- políticos, o que é disposto no artigo 15, III, CF: “é vedada a
mento são penas vedadas; “D” está incorreta porque estes cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só
crimes não são imprescritíveis, mas sim “insuscetíveis de se dará nos casos de: [...] III - condenação criminal transita-
graça ou anistia”, além de inafiançáveis; “E” está incorreta da em julgado, enquanto durarem seus efeitos”.
porque após a naturalização somente se extradita por en-
volvimento com tráfico ilícito de entorpecentes. 014 - (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) Os
remédios constitucionais são as formas estabelecidas pela
011 - (TRT/16ª REGIÃO/MA - Analista Judiciário - Constituição Federal para concretizar e proteger os direitos
FCC/2014) Pietro, nascido na Itália, naturalizou-se brasilei- fundamentais a fim de que sejam assegurados os valores
ro no ano de 2012. No ano de 2011, Pietro acabou come- essenciais e indisponíveis do ser humano.
tendo um crime de roubo, cuja autoria foi apurada apenas Assim, é correto afirmar, exceto:
no ano de 2013, sendo instaurada a competente ação pe- A) O habeas corpus pode ser formulado sem advogado,
nal, culminando com a condenação de Pietro, pela Justiça não tendo de obedecer a qualquer formalidade processual,
Pública, ao cumprimento da pena de 05 anos e 04 meses e o próprio cidadão prejudicado pode ser o autor.
de reclusão, em regime inicial fechado, por sentença tran- B) O habeas corpus é utilizado sempre que alguém so-
sitada em julgado. Neste caso, nos termos estabelecidos frer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação
pela Constituição federal, Pietro em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso
A) não poderá ser extraditado, tendo em vista a quan- de poder.
tidade de pena que lhe foi imposta pelo Poder Judiciário. C) O autor da ação constitucional de habeas corpus re-
B) não poderá ser extraditado, pois o crime foi cometi- cebe o nome de impetrante; o indivíduo em favor do qual
do antes da sua naturalização. se impetra, paciente, podendo ser o mesmo impetrante, e
C) poderá ser extraditado. a autoridade que pratica a ilegalidade, autoridade coatora.
D) não poderá ser extraditado, pois não cometeu crime D) Caberá habeas corpus em relação a punições disci-
hediondo ou de tráfico ilícito de entorpecentes e drogas plinares militares.
afim. E) O habeas corpus será preventivo quando alguém se
E) não poderá ser extraditado, pois a sentença conde- achar ameaçado de sofrer violência, ou repressivo, quando
natória transitou em julgado após a naturalização. for concreta a lesão.
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R: “D”. O habeas corpus é garantia prevista no artigo governamental da administração direta ou indireta. Por sua
5º, LXVIII, CF: “conceder-se-á habeas corpus sempre que vez, o item “IV” reflete o artigo 5º, LXXI, CF, do qual decorre
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência logicamente o item “V”, posto que a demora do legislador
ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade em regulamentar uma norma constitucional de aplicabi-
ou abuso de poder”. A respeito dele, a lei busca torná-lo lidade mediata, que necessita do preenchimento de seu
o mais acessível possível, por ser diretamente relacionado conteúdo, evidencia-se em risco aos direitos fundamentais
a um direito fundamental da pessoa humana. O objeto de garantidos pela Constituição Federal.
tutela é a liberdade de locomoção; a propositura não de-
pende de advogado; o que propõe a ação é denominado 016 - (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) O
impetrante e quem será por ela beneficiado é chamado pa- devido processo legal estabelecido como direito do cida-
ciente (podendo a mesma pessoa ser os dois), contra quem dão na Constituição Federal configura dupla proteção ao
é proposta a ação é a denominada autoridade coatora; e é indivíduo, pois atua no âmbito material de proteção ao
possível utilizar habeas corpus repressivamente e preventi- direito de liberdade e no âmbito formal, ao assegurar-lhe
vamente. Por sua vez, a Constituição Federal prevê no ar- paridade de condições com o Estado para defender-se.
tigo 142, §2º que “não caberá habeas corpus em relação a Com base na afirmação acima, analise as questões a
punições disciplinares militares”. seguir e assinale a alternativa correta.
I - Ninguém será processado nem sentenciado senão
015 - (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) Ain- pela autoridade competente.
da em relação aos outros remédios constitucionais analise II - A lei só poderá restringir a publicidade dos atos
as questões a seguir e assinale a alternativa correta. processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse
I - O habeas data assegura o conhecimento de infor- social o exigirem.
mações relativas à pessoa do impetrante, constantes de III - São admissíveis, no processo, as provas obtidas por
registros ou banco de dados de entidades governamentais meios ilícitos.
ou de caráter público. IV - Ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
II - Será concedido habeas data para a retificação de quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem
dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, fiança.
judicial ou administrativo. V - Não haverá prisão civil por dívida, nem mesmo a do
III - Em se tratando de registro ou banco de dados de depositário infiel.
entidade governamental, o sujeito passivo na ação de ha- A) Apenas I, II e IV estão corretas.
beas data será a pessoa jurídica componente da adminis- B) Apenas I, III e V estão corretas.
tração direta e indireta do Estado. C) Apenas III e IV estão corretas.
IV - O mandado de injunção serve para requerer à au- D) Apenas IV e V estão corretas.
toridade competente que faça uma lei para tornar viável o E) Todas as questões estão corretas.
exercício dos direitos e liberdades constitucionais.
V - O pressuposto lógico do mandado de injunção é a R: A. Nos termos do artigo 5º, LIII, CF, “ninguém será
demora legislativa que impede um direito de ser efetivado processado nem sentenciado senão pela autoridade com-
pela falta de complementação de uma lei. petente”, restando o item “I” correto; pelo artigo 5º, LX, CF,
A) Todas as afirmações estão corretas. “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos proces-
B) Apenas I, II e III estão corretas. suais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o
C) Apenas II, III e IV estão corretas. exigirem”, motivo pelo qual o item “II” está correto; e prevê
D) Apenas II, III e V estão corretas. o artigo 5º, LXVI, CF que “ninguém será levado à prisão
E) Apenas IV e V estão corretas. ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisó-
ria, com ou sem fiança”, confirmando o item “IV”. Por sua
R: A. No que tange ao tema, destaque para os seguintes vez, o item “III” está incorreto porque “são inadmissíveis, no
incisos do artigo 5º da CF: “LXXI - conceder-se-á mandado processo, as provas obtidas por meios ilícitos” (artigo 5º,
de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora LVI, CF); e o item “V” está incorreto porque a jurisprudência
torne inviável o exercício dos direitos e liberdades consti- atual ainda aceita a prisão civil do devedor de alimentos,
tucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à sendo que o texto constitucional autoriza tanto esta quan-
soberania e à cidadania; LXXII - conceder-se-á habeas data: to a do depositário infiel (artigo 5º, LXVII, CF).
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas
à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos 017 - (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014)
de dados de entidades governamentais ou de caráter pú- “Mandado de segurança é o meio constitucional posto à
blico; b) para a retificação de dados, quando não se prefira disposição de toda pessoa física ou jurídica, para proteção
fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo”. de direito individual ou coletivo, líquido e certo, não ampa-
Os itens “I” e “II” repetem o teor do artigo 5º, LXXII, CF. rado por habeas corpus ou habeas data, lesado ou ameaça-
Já o item “III” decorre logicamente da previsão dos direi- do de lesão, por ato de autoridade”. (Meirelles, Helly Lopes.
tos fundamentais como limitadores da atuação do Estado, Mandado de segurança. São Paulo: Revista dos Tribunais,
logo, as informações requeridas serão contra uma entidade 1997, p. 03)
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
Conforme a lição de Helly L. Meirelles, analise as ques- A) o direito à vida é considerado inviolável, razão pela
tões abaixo e marque a alternativa correta. qual não comporta exceções, sendo inconstitucionais as
I - O mandado de segurança é conferido aos indivíduos regras fixadas no art. 128, incisos i e ii, do código penal,
para que eles se defendam de atos ilegais ou praticados que preveem aborto necessário e sentimental.
com abuso de poder, constituindo-se verdadeiro instru- B) os direitos fundamentais diferenciam-se das garan-
mento de liberdade civil e liberdade política. tias fundamentais na medida em que os direitos se decla-
II - O mandado de segurança coletivo pode ser impe- ram, enquanto as garantias têm um conteúdo assecurató-
trado por partido político com representação no Congres- rio daqueles
so Nacional. C) a característica principal dos direitos fundamentais é
III - Organização sindical, entidade de classe ou asso- a indivisibilidade, o que significa reconhecer que os direitos
ciação legalmente constituída há pelo menos dois anos fundamentais não comportam divisão no tempo, sendo,
pode impetrar mandado de segurança em defesa de seus portanto, imprescritíveis.
membros ou associados. D) a igualdade de todos perante a lei repele qualquer
IV - O âmbito de incidência do mandado de segurança prática discriminatória ainda que empreendida com propó-
é definido residualmente, pois somente caberá seu ajuiza- sito afirmativo.
mento quando o direito líquido e certo a ser protegido não E) os direitos fundamentais são de titularidade exclusi-
for amparado por habeas corpus. va das pessoas naturais, dado que decorrentes do princípio
V - O direito líquido e certo, capaz de ensejar o manda- da dignidade da pessoa humana.
do de segurança, é aquele que não pode ser demonstrado
de plano, necessitando de produção de provas. R: B. A ligação entre direitos e garantias é justamente o
A) Todas as afirmações estão corretas. caráter instrumental/assecuratório da garantia em relação
B) Apenas a afirmação III está correta. ao direito, em consonância com a alternativa “B”.
C) Apenas III, IV e V estão corretas. Todo direito fundamental comporta exceções, mesmo
D) Apenas II, III e IV estão corretas. o direito à vida, sendo constitucionais as previsões que au-
E) Apenas I e II estão corretas. torizam o abordo no Código Penal, logo, “A” está incorreta.
Já a indivisibilidade não corresponde à imprescritibilidade,
R: E. No que tange ao mandado de segurança, desta- restando incorreta a letra “C”. A igualdade que a lei assegu-
ca-se o artigo 5º, nos seguintes incisos: “LXIX - conceder- ra é material, o que permite ações afirmativas em favor de
se-á mandado de segurança para proteger direito líquido grupos prejudicados, tratando os desiguais de maneira de-
e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sigual, razão pela qual “D” está incorreta. “E” resta afastada
quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de po- porque direitos fundamentais podem abranger grupos de
der for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no pessoas, nascituros, a coletividade, etc.
exercício de atribuições do Poder Público; LXX - o mandado
de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido 019 - (DPE/DF - Analista - Assistência Judiciária -
político com representação no Congresso Nacional; b) or- FGV/2014) A natureza dos tratados internacionais de di-
ganização sindical, entidade de classe ou associação legal- reitos humanos sempre geraram debates na doutrina e
mente constituída e em funcionamento há pelo menos um na jurisprudência. A controvérsia, entretanto, foi reduzida
ano, em defesa dos interesses de seus membros ou asso- após a aprovação da Emenda Constitucional n° 45/2004,
ciados”. O caráter subsidiário do mandado de segurança, que inseriu o § 3° do Art. 5° na Constituição da República.
permitindo a defesa de direito líquido e certo não ampara- Sobre o tema, é correto afirmar que:
do por habeas corpus ou habeas data, o coloca na posição A) os tratados internacionais de direitos humanos pos-
de instrumento de defesa de todos direitos fundamentais suem hierarquia de lei ordinária.
do cidadão, notadamente, liberdades civis e políticas (item B) os tratados internacionais de direitos humanos
“I”). O item “II” é confirmado pelo artigo 5º, LXX, “a”, CF. aprovados antes da Emenda Constitucional n° 45/2004
O item “III” está incorreto porque não é preciso 2 anos possuem hierarquia de lei ordinária.
de constituição, bastando 1 ano (artigo 5º, LXX, “b”, CF). C) os tratados internacionais de direitos humanos apro-
O item “IV” apenas está incorreto porque não menciona vados de acordo com o procedimento previsto no Art. 5, §
que o direito também não pode ser amparado por habeas 3° da Constituição Federal de 1988 têm status de emenda
data (artigo 5º, LXIX, CF). O item V está “incorreto” porque constitucional.
classicamente o direito líquido e certo deve ser provado D) os tratados internacionais de direitos humanos
de plano, com meros documentos acostados à inicial, não aprovados de acordo com o procedimento previsto no Art.
havendo fase probatória neste tipo de ação. Logo, corretas 5, § 3° da Constituição Federal de 1988 possuem status su-
apenas “I” e “II”. pralegal e infraconstitucional.
E) antes da Emenda Constitucional n° 45/2004, o Su-
018 - (DPE/GO - Defensor Público - UFG/2014) A premo Tribunal Federal entendia que os tratados interna-
Constituição Federal de 1988 é conhecida como a “Cons- cionais de direitos humanos possuíam status supralegal.
tituição Cidadã” em função de seu vasto rol de direitos e
garantias fundamentais. Nesse sentido,
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
R: Os tratados de direitos humanos, a partir da Emenda R: E. “A” está incorreta porque o habeas corpus cabe
Constitucional n° 45/04, cumpridas as condições do artigo “sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de so-
5°, §3° são considerados como emendas constitucionais. No frer violência ou coação em sua liberdade de locomoção,
mais, o Supremo Tribunal Federal decidiu no dia 05 de de- por ilegalidade ou abuso de poder” (artigo 5º, LXVIII, CF);
zembro de 2008, após a Emenda Constitucional nº 45/2004, “B” está incorreta porque “o preso será informado de seus
que é ilegal a prisão civil do depositário infiel, utilizando-se direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
da tese de que os tratados de direitos humanos têm status assegurada a assistência da família e de advogado” (arti-
supralegal, ou seja, encontram-se acima das leis ordinárias, go 5º, LXIII, CF), logo, assegura-se a assistência da família
porém abaixo da Constituição Federal. Neste sentido, a sú- mas não a remoção do estabelecimento; “C” está errada
mula vinculante n° 25 e Habeas Corpus n° 87.585-8/TO. porque “o preso tem direito à identificação dos responsá-
veis por sua prisão ou por seu interrogatório policial” (arti-
020 - (TRT/18ª REGIÃO/GO - Juiz do Trabalho - go 5º, LXIV, CF), regra que vale mesmo nos crimes inafian-
FCC/2014) O exercício do direito de greve pelos servidores çáveis pois a Constituição não cria exceção; “D” está errada
públicos civis da Administração direta porque a comunicação ao juiz é imediata (artigo 5º, LXII,
A) deve ser considerado inconstitucional, até que seja CF) e não no primeiro dia útil. Somente resta a alternativa
editada a lei definidora dos termos e limites em que possa “E”, que traz o teor do artigo 5º, LXVI, CF: “ninguém será
ser exercido, a fim de preservar a continuidade da prestação levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a
dos serviços públicos. liberdade provisória, com ou sem fiança”.
B) deve ser considerado abusivo se exercido por servi-
dores públicos em estágio probatório. 022 - (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP/2014)
C) é constitucional, visto que previsto em norma da É privativo de brasileiro nato o cargo de
constituição federal com aplicabilidade imediata, não ne- A) Ministro do Supremo Tribunal Federal.
cessitando de regulamentação, nem de integração normati- B) Senador.
va, para que o direito nela previsto possa ser exercido. C) Juiz de Direito.
D) é constitucional, devendo, no entanto, observar a D) Delegado de Polícia.
regulamentação legislativa da greve dos trabalhadores em E) Deputado Federal.
geral, que se aplica, naquilo que couber, aos servidores pú-
blicos enquanto não for promulgada lei específica para o R: A. Conforme disciplina o artigo 12, § 3º, CF, “São pri-
exercício desse direito. vativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e
E) é constitucional e poderá ensejar convenção coletiva Vice-Presidente da República; II - de Presidente da Câmara
em que seja prevista a majoração dos vencimentos dos ser- dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV -
vidores públicos. de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V - da carreira
diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas; VII - de Mi-
R: D. A greve é um direito do servidor público, previsto nistro de Estado da Defesa”. O motivo da vedação é que em
no inciso VII do artigo 37 da Constituição Federal de 1988, determinadas circunstâncias o Ministro do Supremo Tribu-
portanto, trata-se de um direito constitucional. Nesse sen- nal Federal pode assumir substitutivamente a Presidência
tido já decidiu o Superior Tribunal de Justiça ao julgar o re- da República.
curso no Mandado de Segurança nº 2.677, que, em suas
razões, aduziu que “o servidor público, independente da lei 023 - (PC/SP - Investigador de Polícia - VU-
complementar, tem o direito público, subjetivo, constitucio- NESP/2014) Considerando o disposto na Constituição Fe-
nalizado de declarar greve”. Esse direito abrange o servidor deral sobre os direitos e garantias fundamentais, assinale a
público em estágio probatório, não podendo ser penalizado alternativa correta.
pelo exercício de um direito constitucionalmente garantido. A) Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas,
em locais abertos ao público, desde que obtida prévia au-
021 - (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP/2014) torização do delegado de polícia e não frustrem outra reu-
Quanto às garantias constitucionais e à privação da liberda- nião anteriormente convocada para o mesmo local
de, assinale a alternativa correta. B) É reconhecida a instituição do júri, com a organi-
A) Conceder-se-á habeas corpus sempre que a lei admi- zação que lhe der a lei, assegurada a competência para o
tir a liberdade provisória. julgamento dos crimes dolosos e culposos contra a vida.
B) O preso será informado de seus direitos, dentre os C) A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis
quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a re- de graça ou anistia, entre outros, a prática da tortura e o
moção para estabelecimento perto de sua família. tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins
C) O preso tem direito à identificação dos responsáveis D) É inviolável o sigilo da correspondência e das co-
por sua prisão ou por seu interrogatório policial, exceto nos municações telegráficas, de dados e das comunicações te-
crimes inafiançáveis. lefônicas, salvo, no último caso, por ordem do juiz ou do
D) A prisão de qualquer pessoa e o local onde se en- promotor de justiça, na forma da lei.
contre serão comunicados no primeiro dia útil ao juiz com- E) A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
petente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo
E) Ninguém será levado à prisão ou nela mantido quan- em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
do a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança. socorro, ou, durante à noite, por determinação judicial.
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
R: C. “A” está incorreta porque a autorização é dispen- este que estava localizado em sua sede. Na mesma deci-
sada (artigo 5º, XVI, CF); “B” porque o júri não julga crimes são, o juiz autorizou o uso de força policial, se necessário
culposos contra a vida, só dolosos (artigo 5º, XXXVIII, CF); fosse, para que o oficial de justiça ingressasse no imóvel da
“D” porque a ordem deve ser judicial e não pode partir do devedora. Munido dessa decisão, o oficial de justiça com-
Ministério Público (artigo 5º, XII, CF); “E” porque o ingresso pareceu à sede da empresa, mas foi impedido de ingressar
por determinação judicial se dá durante o dia (artigo 5º, no imóvel pelo responsável. Diante dessa situação, o oficial
XI, CF). Somente resta “C”, que traz a previsão do artigo 5º, de justiça.
XLIII, CF: “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetí- A) não poderá ingressar no imóvel sem autorização do
veis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito proprietário, ainda que autorizado por ordem judicial, em
de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos razão do direito à inviolabilidade de domicílio.
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandan- B) não poderá ingressar no imóvel sem autorização do
tes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”. proprietário, o que poderia ser feito apenas se determina-
do por ordem expressa de delegado de polícia.
024 - (TJ/DF - Juiz - CESPE/2014) A respeito dos di- C) poderá ingressar no imóvel, mesmo sem autorização
reitos e garantias fundamentais, dos direitos sociais e dos do proprietário, em qualquer horário, independentemente
direitos políticos, assinale a opção correta. de autorização judicial, uma vez que o direito à inviolabili-
A) Caso determinado trabalhador rural ajuíze ação vi- dade de domicílio não se aplica à pessoa jurídica.
sando obter provimento que lhe assegure o recebimento da D) poderá ingressar no imóvel, mesmo sem autoriza-
remuneração pelo trabalho noturno superior à remunera- ção do proprietário, em qualquer horário, visto que autori-
ção do trabalho diurno, o juiz deverá rejeitar o pedido, pois zado por decisão judicial
a CF não conferiu ao trabalhador rural o direito postulado. E) poderá ingressar no imóvel, mesmo sem autorização
B) Embora a CF estabeleça a inviolabilidade do sigilo do proprietário, e desde que durante o dia, visto que auto-
das comunicações telefônicas, o juiz poderá, de ofício, de- rizado por decisão judicial.
terminar a interceptação de comunicação telefônica na in-
vestigação criminal e na instrução processual penal. R: E. Neste sentido, o artigo 5º, XI, CF prevê: “a casa é
C) Caso tenha sido impetrado habeas corpus cujo ob- asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo pe-
jeto seja o indevido cerceamento pelo poder público do di- netrar sem consentimento do morador, salvo em caso de
reito de reunião, o juiz deverá admitir a ação, uma vez que flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou,
se trata de instrumento adequado à proteção do direito de durante o dia, por determinação judicial”.
reunião.
D) Se determinada associação impetrar mandado de 026 - (Prefeitura de Recife/PE - Procurador -
segurança coletivo para defesa de interesses de seus asso- FCC/2014) A Emenda Constitucional nº 72, promulgada
ciados, mas não juntar a autorização destes nos autos, o juiz em 2 de abril de 2013, tem por finalidade estabelecer a
deverá denegar a segurança, pois a CF exige expressamente igualdade de direitos entre os trabalhadores domésticos e
a autorização dos filiados. os demais trabalhadores urbanos e rurais. Nos termos de
E) O juiz deverá rejeitar a ação rescisória ajuizada para suas disposições, a Emenda
fins de reaquisição dos direitos políticos se a perda decor- A) determinou a extensão ao trabalhador doméstico,
rer do cancelamento da naturalização por sentença judicial dentre outros, dos direitos à remuneração do serviço ex-
transitada em julgado, por se tratar de instrumento proces- traordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento a
sual descabido para a finalidade pretendida. do normal e à proteção do mercado de trabalho da mulher,
mediante incentivos específicos.
R: B. Quanto ao sigilo de correspondência e das comu- B) instituiu vedação ao legislador para conferir tra-
nicações, prevê o artigo 5º, XII, CF: “XII - é inviolável o si- tamento diferenciado aos trabalhadores domésticos, em
gilo da correspondência e das comunicações telegráficas, relação aos trabalhadores urbanos e rurais.
de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último C) não determinou a extensão ao trabalhador domés-
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a tico, dentre outros, dos direitos à proteção em face da au-
lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instru- tomação e à proteção do mercado de trabalho da mulher,
ção processual penal”. O sigilo de correspondência e das mediante incentivos específicos.
comunicações está melhor regulamentado na Lei nº 9.296, D) determinou a extensão ao trabalhador doméstico,
de 1996, mas a Constituição já deixa claro que é possível a dentre outros, dos direitos à proteção em face da automa-
quebra mediante ordem judicial, razão pela qual “B” está ção e ao piso salarial proporcional à extensão e à comple-
correta. xidade do trabalho.
E) não determinou a extensão ao trabalhador domés-
025 - (TRT 19ª Região/AL - Analista Judiciário - Ofi- tico, dentre outros, dos direitos à remuneração do serviço
cial de Justiça Avaliador - FCC/2014) Em um processo de extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cen-
execução e em atenção a requerimento formulado pelo cre- to a do normal e ao piso salarial proporcional à extensão e
dor, foi proferida decisão judicial determinando a expedição à complexidade do trabalho.
de mandado de penhora e avaliação de máquina industrial
pertencente à empresa executada-devedora, equipamento
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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
R: C. A Emenda Constitucional nº 72/2013, que ficou R: B. Trata-se do direito individual assegurado no ar-
conhecida no curso de seu processo de votação como PEC tigo 5º, XLV, CF: “nenhuma pena passará da pessoa do
das domésticas, deu redação ao parágrafo único do ar- condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
tigo 7º, o qual estende alguns dos direitos enumerados decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
nos incisos do caput para a categoria dos trabalhadores estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o
domésticos, quais sejam: “IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, limite do valor do patrimônio transferido”. Logo, a obri-
XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, gação se transfere nos limites da herança, sendo que em
atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a eventual sucessão se apurará no patrimônio do falecido o
simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, suficiente para pagamento da reparação do dano e, even-
principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho tual saldo remanescente, será transmitido aos herdeiros.
e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX,
XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência 029 - (PC/MG - Investigador de Polícia - FU-
social”. Os direitos descritos na alternativa “C” estão pre- MARC/2014) Sobre a Lei Penal, é CORRETO afirmar que
vistos nos incisos XXVII e XX do artigo 7º da Constituição, A) não retroage, salvo para beneficiar o réu.
não estendidos aos empregados domésticos pela emenda. B) não retroage, salvo se o fato criminoso ainda não
for conhecido.
027 - (Prefeitura de Recife/PE - Procurador- C) retroage, salvo disposição expressa em contrário.
FCC/2014) O texto constitucional assegura gratuidade D) retroage, se ainda não houver processo penal ins-
A) à obtenção de certidão de óbito pelos reconhecida- taurado.
mente pobres e, às ações de habeas data, habeas corpus e
mandado de injunção. R: A. Preconiza o artigo 5º, XL, CF: “XL - a lei penal
B) ao transporte coletivo urbano para pessoas maiores não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. Assim, se vier
de sessenta anos e, na forma da lei, aos atos necessários uma lei posterior ao fato que o exclua do rol de crimes ou
ao exercício da cidadania. que confira tratamento mais benéfico (diminuindo a pena
C) ao transporte coletivo urbano para pessoas maiores ou alterando o regime de cumprimento, notadamente), ela
de sessenta anos e às ações de habeas corpus e habeas será aplicada.
data.
D) ao casamento religioso e às ações de habeas data, 030 - (PC/MG - Investigador de Polícia - FU-
habeas corpus e mandado de injunção. MARC/2014) Sobre as garantias fundamentais estabeleci-
E) à obtenção de certidão de óbito pelos reconhecida- das na Constituição Federal, é CORRETO afirmar que
mente pobres e, na forma da lei, aos atos necessários ao A) a Lei Penal é sempre irretroativa.
exercício da cidadania. B) a prática do racismo constitui crime inafiançável e
imprescritível.
R: E. Prevê o artigo 5º, LXXVI, CF: “LXXVI - são gratui- C) não haverá pena de morte em nenhuma circuns-
tos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: tância.
a) o registro civil de nascimento; b) a certidão de óbito”. D) os templos religiosos, entendidos como casas de
Ainda, o artigo 5º, LXXVII, CF: “são gratuitas as ações de Deus, possuem garantia de inviolabilidade domiciliar.
habeas corpus e habeas data, e, na forma da lei, os atos
necessários ao exercício da cidadania”. R: B. Neste sentido, prevê o artigo 5º, XLII, CF: “XLII
- a prática do racismo constitui crime inafiançável e im-
028 - (PC/MG - Investigador de Polícia - FU- prescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da
MARC/2014) Quanto aos princípios constitucionais de lei”, restando “B” correta. “A” é incorreta porque a lei penal
natureza penal, NÃO é correto o que se afirma em: retroage para beneficiar o réu; “C” é incorreta porque é
A) As penas no Brasil têm caráter preventivo e retri- aceita a pena de morte para os crimes militares praticados
butivo. em tempo de guerra; “D” é incorreta porque igrejas não
B) A obrigação de reparar o dano produzido pelo cri- possuem inviolabilidade domiciliar.
me não pode se estender aos familiares do preso, sob for-
ma de sucessão.
C) O princípio constitucional da responsabilidade pes-
soal significa que a pena não pode passar da pessoa do
condenado.
D) O princípio da proporcionalidade significa que
a pena deve ser proporcional ao crime, ou seja, guardar
equilíbrio entre a infração praticada e a sanção imposta.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
O Projeto Político Pedagógico: o marco para a autonomia da unidade escolar, sua construção coletiva e sua implemen-
tação na escola.......................................................................................................................................................................................................... 01
O Projeto Político Pedagógico como diretriz para o planejamento da organização e do desenvolvimento do currículo
escolar: planos de ensino, aulas, reconfigurações das ações e avaliação cíclica do executado. .............................................. 06
O Projeto Político Pedagógico como guia para a participação, gestão colegiada e ambiente das representações da de-
mocracia escolar....................................................................................................................................................................................................... 14
O Projeto Político Pedagógico como dispositivo institucional a favor interação, integração e (re)invenção das práticas
pedagógicas............................................................................................................................................................................................................... 19
O Projeto Político Pedagógico à luz da LDB vigente: estratégia convergente para a cultura organizacional de uma escola
que se preocupa com a finalidade dos saberes no cotidiano da vida dos estudantes e nos seus grupos de interação
social.............................................................................................................................................................................................................................. 22
Implicações da interdisciplinaridade no processo de ensino e aprendizagem e na formação dos profissionais: dilemas,
desafios e perspectivas........................................................................................................................................................................................... 24
A interdisciplinaridade e a perspectiva de um novo paradigma para o trabalho docente em sala de aula........................ 32
A interdisciplinaridade e seu foco para a organização de conteúdos em áreas de conhecimento......................................... 35
A interdisciplinaridade e a interação entre conhecimentos: a comunicação entre saberes escolares. ................................. 40
A interdisciplinaridade como estratégia pedagógica para a renovação da didática..................................................................... 41
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
Não há separação entre fins e meios, uma vez que a ação micas e culturais do país. Sendo assim, pensar a construção
incide sobre ambos, pois “(...) os fins só se concretizam na dos Projetos político-pedagógicos é refletir sobre a escola,
medida em que discutem os meios adequados à situação seu papel, sua função, seus fins e seus desafios no contexto
concreta” (idem, ibid.). atual. Para tanto, deve-se considerar que os discursos que
Em estudos desenvolvidos (VEIGA, 2001), destaca que permeiam o processo de construção e implementação do
a intencionalidade permeia todo o processo inovador e, PPP estão entrelaçados com os discursos normativos pos-
consequentemente, o processo de construção, execução tos nas leis e diretrizes da educação nacional (LDB e PNE),
e avaliação do projeto político-pedagógico. Os processos estadual (Plano Estadual de Educação) e nos planos muni-
inovadores lutam contra as formas instituídas e os meca- cipais de educação. Assim, estão em um campo de relações
nismos de poder. É um processo de dentro para fora. Essa de poder que são influenciadas por decisões políticas, que
visão reforça as definições emergentes e alternativas da instituem normas, diretrizes, mas que, ao serem instituídos,
realidade. Assim, ela deslegitima as formas institucionais, esses projetos não deixam de ser ressignificados no pro-
a fim de propiciar a argumentação, a comunicação e a so-
cesso de sua elaboração e implementação nos espaços das
lidariedade.
escolas, a partir das peculiaridades locais.
Em resumo, a inovação emancipatória ou edifican-
A Constituição de 1988 demarca, na história da edu-
te pressupõe uma ruptura que, acima de tudo, predispo-
cação brasileira, o início de um processo de discussões
nha as pessoas e as instituições para a indagação e para a
emancipação. Consequentemente, a inovação não vai ser sobre a gestão democrática nas escolas. Em seu capítulo
um mero enunciado de princípios ou de boas intenções... dedicado à educação, no artigo 206, incisos III e VI, esta-
A inovação emancipatória ou edificante é de natureza éti- belece-se como um dos princípios orientadores a gestão
co-social e cognitivo-instrumental, visando à eficácia dos democrática dos sistemas de ensino público, a igualdade
processos formativos sob a exigência da ética. A inovação de condições de acesso à escola e a garantia de padrão de
é produto da reflexão da realidade interna da instituição qualidade. Por sua vez, esse discurso posto na referida lei
referenciada a um contexto social mais amplo. Este ponto institui às escolas mudanças nas formas de gerir os proces-
é de vital importância para se avançar na construção de um sos e as tomadas de decisões.
Projeto político-pedagógico que supere a reprodução acrí- Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da
tica, a rotina, a racionalidade técnica, que considera a prá- Educação (LDB 9.394/96), o discurso da gestão democrá-
tica um campo de aplicação empirista, centrada nos meios. tica da escola é regulamentado, estabelecendo orienta-
Insistimos na ideia de apostar na construção dos PPP ções para a organização do espaço físico, para o trabalho
como possiblidade edificante de organizar as atividades- pedagógico, para a participação dos educadores e para a
fim e meio da instituição educativa sob a ótica da inovação integração entre escola e comunidade. A regulamentação
emancipatória e edificante, pois traz consigo a possibilida- da gestão democrática das escolas públicas, instituída pela
de de alunos, professores, servidores técnico-administrati- LDB, demarca uma periodização em relação aos PPPs. “Por
vos unirem-se e separarem-se de acordo com as necessi- sua vez, legitimada na base de imperativos de moderni-
dades do processo. zação e de reforma educativa, a lei pode comprometer a
Partilhamos da ideia de que a instituição educativa não ação política e pedagógica inerente a ambos” (DE ROSSI,
é apenas uma instituição que reproduz relações sociais 2006, p.13).
e valores dominantes, mas é também uma instituição de A partir de então, houve a emersão fervorosa da dis-
confronto, de resistência e proposição de inovações. A ino- cussão sobre a elaboração dos Projetos Políticos Pedagó-
vação educativa deve produzir rupturas e, sob essa ótica, gicos nas escolas públicas. Na referida lei, o PPP é citado
ela procura romper com a clássica cisão entre concepção e como “proposta pedagógica” e “projeto pedagógico da
execução, uma divisão própria da organização do trabalho
escola”, nos artigos 12, 13 e 14, como se pode ver a seguir:
fragmentado.
“Artigo 12 - Os estabelecimentos de ensino, respeita-
Nesta perspectiva, o Projeto pedagógico inovador am-
das as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão
plia a autonomia da escola e esta “nunca é empreendida
a incumbência de:
a partir do isolamento e do saudosismo, mas a partir do
intercâmbio e da cooperação permanente como fonte de I) elaborar e executar sua proposta pedagógica.
contraste e enriquecimento” (Carbonell, 2002, p. 21). As- Artigo 13 - Os docentes incumbir-se-ão de:
sim apresentaremos algumas configurações discursivas em I) participar da elaboração da proposta pedagógica;
torno do PPP nas políticas curriculares e, em seguida con- II) elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a
frontaremos algumas falas sobre o processo de construção proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
desse instrumental no “chão da escola”. Artigo 14 - Os sistemas de ensino definirão as normas
de gestão democrática do ensino público na educação bá-
Discursos em torno da democratização da educa- sica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os
ção: O Projeto político pedagógico em enunciações po- seguintes princípios:
líticas I) participação dos profissionais da educação na ela-
Os estudos acerca dos Projetos político-pedagógicos boração do projeto pedagógico da escola.
inserem-se na contextualização da atual conjuntura das po- II) participação das comunidades escolar e local em
líticas educacionais que refletem as condições socioeconô- conselhos escolares ou equivalentes”.
2
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
A legislação aprovada propôs profundas mudanças na cação (CONAE), realizada no período de 28 de março a 1º
educação brasileira, através dos diversos artigos nos quais de abril de 2010. A organização da CONAE era um com-
os discursos enunciavam a democratização e a autono- promisso institucional do Ministério da Educação assumi-
mia da escola, ressaltando a importância da participação do, em 2008, durante a Conferência Nacional de Educação
dos profissionais da educação e da comunidade escolar Básica.
em conselhos escolares. Esses discursos atribuem papéis A CONAE estabelece, em seu documento final, diretri-
cada vez mais complexos à gestão da escola, “a qual deve zes e estratégias de ação para a configuração de um Sis-
responsabilizar-se não apenas pelo funcionamento do sis- tema Nacional de Educação e de um novo Plano Nacional
tema escolar, mas também pela realização dos princípios de Educação. Segundo as discussões expostas neste docu-
fundamentais de igualdade de oportunidades educativas e mento,
de qualidade do ensino” (FONSECA 2003, p. 306). “A ausência de um efetivo sistema nacional de educa-
Paralelo ao discurso da democratização emergia o ção configura a forma fragmentada e desarticulada do pro-
discurso da descentralização dos recursos, os quais refor- jeto educacional ainda vigente no País. Assim, a sua criação
çavam o discurso da autonomia da escola enunciado na passa, obrigatoriamente, pela regulamentação do regime
LDB 9.394/96, no Art. 15, o que define que “os sistemas de de colaboração, que envolva as esferas de governo no
ensino assegurarão às unidades escolares públicas de edu- atendimento à população em todas as etapas e modalida-
cação básica que os integram progressivos graus de auto- des de educação, em regime de corresponsabilidade, utili-
nomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, zando mecanismos democráticos, como as deliberações da
observadas as normas gerais de direito financeiro público”. comunidade escolar e local, bem como a participação dos/
Essas propostas de descentralização e autonomia da das profissionais da educação nos projetos político-peda-
escola foram postas em ação a partir da década de 1990, gógicos das instituições de ensino.” (CONAE, 2010, p.22)
por meio de políticas públicas que se efetivaram através do Esse discurso, expresso no fragmento anterior do do-
Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), do Programa cumento final da CONAE (2010), já apresenta o PPP como
de Descentralização de Recursos Financeiros (PDRF) e de um processo participativo, democrático, que deve envolver
iniciativas de acordos entre o Banco Mundial (BIRD) e o toda a comunidade escolar. Nesse mesmo documento o
governo brasileiro, entre os quais incluem-se os programas PPP é apresentado também em algumas ações propostas,
Pró-Qualidade e FUNDESCOLA. Deste último origina-se como as destacadas a seguir:
o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), que visa “à Para existência de um regime de colaboração (CONAE,
modernização da gestão e o fortalecimento da autonomia 2010, p. 25),
da escola, mediante a adoção do modelo de planejamento “Articular a construção de projetos político-pedagógi-
estratégico que se apoia na racionalização e na eficiência cos e planos de desenvolvimento institucionais, sintoniza-
administrativa” (FONSECA 2003, p. 306). dos com a realidade e as necessidades locais.”
Segundo os estudos de Fonseca (2003), a concepção “Promover e garantir autonomia (pedagógica, admi-
de gestão disseminada pelo FUNDESCOLA contrapõe-se à nistrativa e financeira) das instituições de educação básica,
proposta de Projeto Político Pedagógico, visto que o Plano profissional, tecnológica e superior, bem como o aprimo-
de Desenvolvimento da Escola se sobrepõe a este, insti- ramento dos processos de gestão, para a melhoria de suas
tuindo uma forma de gestão que descarta a base política ações pedagógicas.” “Estabelecer mecanismos democráti-
inerente ao PPP e fortalece o viés tecnicista do PDE, que cos de gestão que assegurem a divulgação, a participação
tem como pressupostos a visão sistêmica, segundo a qual de profissionais da educação, estudantes, mães/pais e/ou
os objetivos são orientados racionalmente para resultados responsáveis e da comunidade local na elaboração e im-
ou produtos. plementação orgânica de planos estaduais e municipais de
Ao final da década da educação, estabelecida na LDB educação, bem como de projetos político-pedagógicos e
(9394/96), um novo cenário é delineado, através de uma planos de desenvolvimento institucionais.”
globalização contra-hegemônica, que se contrapõe ao dis- O Sistema Nacional de Educação deve prover (CONAE,
curso neoliberal. Surgem discursos híbridos a partir dos 2010):
movimentos sociais e da organização da sociedade, contri- “Projeto Pedagógico (educação básica) e Plano de De-
buindo para as mudanças nesse cenário, cujo tema centra- senvolvimento Institucional (educação superior) construí-
se nas discussões que tem como horizonte o PNE para o dos coletivamente e que contemplem os fins sociais e pe-
período 2011-2020 e um Sistema Nacional de Educação. dagógicos da instituição, a atuação e autonomia escolar, as
O novo Plano Nacional de Educação está sendo dis- atividades pedagógicas e curriculares, os tempos e espaços
cutido de forma democrática através da parceria que se de formação, a pesquisa e a extensão.”
estabeleceu entre os sistemas de ensino, os órgãos edu- “Disponibilidade de docentes para todas as atividades”
cacionais, o Congresso Nacional e a sociedade civil, o que “Planejamento e gestão coletiva do trabalho pedagó-
se constituiu em mobilização de vários setores através das gico.”
conferências municipais ou intermunicipais, realizadas no Todo esse arcabouço oficial que regem a educação
primeiro semestre de 2009, e conferências estaduais e do brasileira (Constituição, LDB, PNE), é resultado de conquis-
Distrito Federal, no segundo semestre de 2009. Toda essa tas da sociedade civil organizada, e são documentos refe-
mobilização culminou com a Conferência Nacional de Edu- rência para elaboração dos Planos Estaduais de Educação e
3
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
Planos Municipais de Educação. Nessa perspectiva os dis- As discussões e produções teóricas acerca do Projeto
cursos sobre o PPP, a gestão democrática e a autonomia político-pedagógico são tratadas por autores como Veiga
se inserem nos diversos documentos das escolas (PPP, Re- (2003, 2006, 2008), Rossi (2003, 2006) Padilha (2007), Perei-
gimento escolar) e decretos das Secretarias de Educação. ra (2004), Vasconcelos (1999), Gadotti (1997), Carrer (1999),
Vejamos: e especificamente na Paraíba por ALBINO (2006, 2010) e
“o PPP compreendido como um conjunto de ações só- BARBOSA(2010), que vão valorizar os enunciados docen-
ciopolíticas, técnicas e pedagógicas que definem a propos- tes em torno da construção do PPP.
ta curricular de cada instituição escolar, com clareza quanto Se Veiga (2006, p.11) entende o projeto político-pe-
aos seus conteúdos e metodologias, a partir de fins e obje- dagógico como “a própria organização do trabalho peda-
tivos pré-estabelecidos, não devendo reduzir-se a um sim- gógico da escola como um todo”, para Araújo (2003, p.73)
ples elenco de disciplinas e respectivas horas aula” (CME de isso quer dizer que “os projetos pedagógicos configuram-
João Pessoa, 002/2000). se como um espaço organizado para o desenvolvimento
“O Projeto Político Pedagógico entendido como ex- profissional ao estabelecer critérios que orientam a prática
pressão das perspectivas da nossa comunidade escolar, educativa”. Pereira (2004, p.21) corrobora com essas ideias
tem suas bases alicerçadas nos princípios da autonomia, dizendo que na organização da escola, a autonomia e a
gestão democrática, participação efetiva da comunidade gestão democrática são princípios norteadores, e assumi
escolar e articulação entre escola, família e comunidade, -los como ponto de partida possibilitará uma maior arti-
princípios estes norteadores e essenciais para construção culação das dimensões filosófica, pedagógica, financeira e
da escola que queremos” (PPP da Escola, 2010, p. 14). jurídica da escola.
“O Projeto Político Pedagógico é o ato de a escola pen- De acordo com Moura (2001, p. 27), o projeto orien-
sar a sua função e ação, é o instrumento que indica o rumo ta as ações educativas a partir de objetivos educacionais,
e a direção que a escola deve seguir pra cumprir as suas pois “ele contém os elementos que definem a condição
intenções educativas” (PPP da Escola, 2010, p. 14). humana: possui metas, define ações, elege instrumentos
“O PPP é antes de tudo, um processo permanente de e estabelece critérios que permitirão avaliar o grau de su-
reflexão e discussão dos problemas da escola, na busca de cesso alcançado na atividade educativa”.
alternativas viáveis à efetivação de sua intencionalidade”
Para Silva (2003, p. 296), o Projeto político-pedagó-
(PPP da Escola, 2010, p. 14).
gico “é um documento teórico-prático que pressupõe re-
lação de interdependência e reciprocidade entre os dois
Avaliação do Projeto político pedagógico: vozes
pólos, elaborado coletivamente pelos sujeitos da escola
que (de)(a)nunciam
e que aglutina os fundamentos políticos e filosóficos em
Não existe o Projeto político-pedagógico sem utopia,
que a comunidade acredita”.
a busca pelo que parece “impossível”, é que leva a escola
Para Santiago (2008, p. 142),
a refletir sobre sua realidade e transformar suas práticas.
“(...) na sua essencialidade um projeto político-peda-
Esse significado faz pensarmos o projeto da escola com
gógico opera com relações de conhecimento e de poder,
uma visão para um futuro, um futuro utópico, entenden-
do a utopia como a “exploração de novas possibilidades e são as discussões em torno de uma mudança paradigmá-
vontades humanas, por via da oposição da imaginação à tica que centralizam as preocupações dos educadores no
necessidade do que existe, em nome de algo radicalmente processo de reestruturação curricular demandado pela
melhor que a humanidade tem direito de desejar e porque exigência do próprio projeto em construção e pelas atuais
merece lutar” (SANTOS, 1995, p. 323). políticas educacionais.”
Em meados da década de 1990, mais precisamente Por fim, em meio a estas concepções, De Rossi (2006,
após a promulgação da LDB, as Secretarias de Educação, os 2003) apresenta a discussão sobre duas concepções de
diretores e os educadores de um modo geral começaram a Projeto político-pedagógico: os reguladores e os emanci-
se preocupar e a pensar a organização dos Projetos político padores. O primeiro é concebido como um projeto estra-
-pedagógicos das escolas públicas. Segundo Araújo (2003) tégico que serve ao controle das políticas, assemelha-se
e Carrer (1999), intensificaram-se, nesse período as produ- ao empresarial, segue a normas prescritas, valoriza mais o
ções teóricas e as pesquisas sobre o projeto pedagógico produto em detrimento do processo, e não admite confli-
de autores não só brasileiros, mas também portugueses e tos. O segundo modelo envolve gestão democrática, com
franceses. objetivos que vislumbram a emancipação, comportando
Paralelamente, também vão surgindo e se proliferando ideais, utopias e conflitos.
os nomes e siglas usados para nomear o projeto no campo Conhecendo ambas as concepções, defende-se nes-
educacional. No cenário nacional, encontram-se as seguin- te trabalho a segunda ideia, de um projeto emancipador,
tes nomenclaturas: proposta pedagógica, projeto político pois o Projeto político-pedagógico compreende proces-
-pedagógico, projeto educacional (CARRER, 1999). Já em sos vividos nas práticas educativas das escolas e estes não
alguns países europeus, os projetos receberam diferentes acontecem tal como são prescritos pelos órgãos regulado-
nomes: “Projeto do chefe”, “Projeto-plágio”, “Projeto-gave- res, pois as vivências cotidianas e as exigências e necessi-
ta”, “Projeto ficção, Projeto-cerimônia, dentre outros (ROS- dades de cada escola são heterogêneas. Portanto, os Pro-
SI, 2006. p.8). jetos político-pedagógicos partem de orientações oficiais
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
e são recriados e ressignificados de acordo com as neces- No processo de avaliação de vozes discentes o que
sidades de cada escola. Nesse entendimento, ele garante podemos perceber é que, parece haver uma forte “prisão
as especificidades culturais, ideológicas, históricas, políticas simbólica” em relação aos que ditam as normas para as
da escola, sem negar o instituído e projetar o instituinte. ações dos educadores, mas também é importante lembrar
Por fim a compreensão do PPP e do processo de sua o que Fairclough (2001, p.28) nos coloca sobre a “estrutu-
elaboração e significação no espaço da escola, concebe ração de textos” e “ordens do discurso”, quando acredita
este “Projeto político-pedagógico como organização do que “as pessoas podem resistir às mudanças que vem de
trabalho da escola que deve está fundamentado nos prin- cima ou delas se apropriar”, como também, simplesmente
cípios que deverão nortear a escola democrática, pública as seguir. Com a ironia da professora fica evidente uma
e gratuita”; que assegure igualdade, qualidade, gestão resistência, mesmo que talvez descomprometida, mas
democrática, liberdade (associada à ideia de autonomia) que pode indicar uma não conformação.
e valorização do magistério VEIGA (2006, p. 11- 33). Foi alguma coisa feita mais pelos técnicos e que
A avaliação dos processos educativos são sempre deveria ser entregue na Secretaria de Educação./ Por
permeados por polêmicas em torno dos seus critérios e isso que eu digo que não participei efetivamente/eu
instrumentos. Apesar de não ser uma tarefa simples de estive lá/ouvi algumas reuniões.../ mas dizer assim, da
desenvolver, é importante considerá-la no processo de minha palavra mesmo, assim como os demais educa-
construção do projeto político-pedagógico. O exercício dores, não foi levada em consideração(sic), visto que o
de sistematizar e avaliar aquilo que fazemos no interior corpo técnico que elaborou./ É como se fosse o P.P.P dos
das instituições escolares tem contribuído para a prolife- técnicos.(risos) (P.06)
ração de discursos inautênticos que só vão configurar a Alguns discursos sobre o processo histórico de cons-
atividade docente como não profissional. trução do projeto político-pedagógico são reveladores:
Acompanhar as atividades e avaliá-las levam-nos a re- Não. Não participei não/ Porque eu acho assim
flexão com base em dados concretos sobre como a escola que o que eu vejo dentro do programa de educação da
organiza-se para colocar em ação seu projeto político rede municipal deixa muito a desejar em relação a dar
-pedagógico. A avaliação do Projeto político-pedagógico, espaço para que a escola... e pra escola... quando eu
numa visão crítica, parte da necessidade de se conhecer falo escola eu falo tudo... pra que essa escola se reúna
a realidade escolar, busca explicar e compreender cetica- pra ter essa... essa... autonomia né?/ Esse ano quando
mente as causas da existência de problemas bem como a gente iniciou o ano, a gente tava caminhando com
suas relações, suas mudanças e se esforça para propor um programa de... de... um programa muito bom, a
ações alternativas (criação coletiva). Esse caráter criador é gente tava começando assim: ‘pronto agora a gente
conferido pela autocrítica. vai firmar nessa proposta’ aí muda/ Muda prefeito,
Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão muda direção da secretaria de educação, aí muda tudo
global analisam o Projeto político-pedagógico, não como né? Como se tudo que a gente fizesse fosse jogado na
algo estanque desvinculado dos aspectos políticos e so- lata do lixo/ A gente vê assim que a coisa tá boa, tá
ciais. Não rejeitam as contradições e os conflitos. A ava- caminhando, a gente tá trabalhando com o pé mais
liação tem um compromisso mais amplo do que a mera firme sabendo o que a gente tá fazendo em sala de
eficiência e eficácia das propostas conservadoras. Portan- aula, sabendo que tá com respaldo bom, aí a gente
to, acompanhar e avaliar o Projeto político-pedagógico é joga tudo fora... aí eu acho que é isso que complica
avaliar os resultados da própria organização do trabalho muito a história da educação.(P. 05):
pedagógico. A resposta ao questionamento acerca das orientações
Considerando a avaliação dessa forma é possível recebidas para a elaboração do PPP revela a insuficiência
salientar dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação do apoio pedagógico, inclusive, a falta de embasamento
é um ato dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao teórico.
projeto político-pedagógico. Segundo, ela imprime uma [...] Mas essas informações nunca foram suficien-
direção às ações dos educadores e dos educandos. O pro- tes pra gente entender o que era esse projeto, porque a
cesso de avaliação envolve três momentos: a descrição e gente tinha que desenvolver. Tudo era muito discutido
a problematização da realidade escolar, a compreensão por cima. A gente precisa dessa formação constante
crítica da realidade descrita e problematizada e a propo- para entender melhor as coisas, já que o dia-a-dia é
sição de alternativas de ação, momento de criação co- muito corrido pra gente. (P07)
letiva. A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode Como se vê, os processos são caracterizados por uma
ser instrumento de exclusão dos alunos provenientes das desobrigação do poder público aos problemas constituin-
classes trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática, deve tes da prática pedagógica e, o que é posto como uma
favorecer o desenvolvimento da capacidade do aluno de maior “conferência de autonomia aos estabelecimentos”,
apropriar-se de conhecimentos científicos, sociais e tecno- não passa de um engodo para enxugar os quadros pro-
lógicos produzidos historicamente e deve ser resultante de fissionais em nome de um trabalho coletivo. Assim como
um processo coletivo de avaliação diagnóstica. pensar, segundo Freire (2000, p.36) um “movimento para a
liberdade”? Eis um desafio.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
Embora a escola seja desafiada a oferecer respostas e A construção do projeto político-pedagógico requer
condições às novas exigências da reestruturação produti- continuidade das ações, descentralização, democratiza-
va “global”, compreendemos que a sua ação se inscreve ção do processo de tomada de decisões e instalação de
num local com temporalidades culturais diferenciadas, um processo coletivo de avaliação de cunho emancipa-
conforme as subjetividades envolvidas no seu cotidiano. tório. Finalmente, há que se pensar que o movimento de
Sem dúvida, o tempo do capital invade o tempo do tra- luta e resistência dos educadores é indispensável, tanto
balho e investe na transformação da escola pública numa para ampliar as possibilidades, bem como apressar as
“organização” movida pelos princípios administrativos da mudanças que se fazem necessárias dentro e fora dos
gerência empresarial. No entanto, o trabalho de ambas muros da escola.2
é diferente – material e imaterial – e realiza-se de forma
diferenciada, embora o controle de resultados esteja em
evidência. Na escola, os resultados alimentam as estatís- O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO COMO
ticas justificadoras dos empréstimos, que movimentam o
DIRETRIZ PARA O PLANEJAMENTO DA
capital financeiro.
ORGANIZAÇÃO E DO DESENVOLVIMENTO
A descentralização, enquanto enfoca a construção
do Projeto político-pedagógico pela escola, confirma-se DO CURRÍCULO ESCOLAR: PLANOS DE
como “desconcentração” ou delegação restrita de tarefas ENSINO, AULAS, RECONFIGURAÇÕES
e decisões às esferas locais sob fiscalização e controle téc- DAS AÇÕES E AVALIAÇÃO CÍCLICA DO
nico. O excesso de projetos impostos à escola retira dos EXECUTADO.
docentes a possibilidade de pensar e de decidir acerca das
finalidades que guiam a respectiva prática pedagógica.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E O CURRÍCU- A construção do (PPP), antes de tudo, não pode ser
LO ESCOLAR nem mera reprodução do “senso comum pedagógico” vi-
CONCEITO DE PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO gente, nem implantação de propostas “novidadeiras”. Tal
COMO CONSTRUÇÃO COLETIVA NA GESTÃO DEMOCRÁ- instrumento (PPP) exige uma verdadeira e corajosa prática
TICA E SEU PAPEL COMO NORTEADOR DAS AÇÕES DA do senso crítico-filosófico. É esta dimensão que fará com
ESCOLA que a proposta seja segura, sustentável e viável. No fundo,
O Projeto Político Pedagógico (PPP) compreende as revelará que tipo de sociedade e de educação os envolvi-
propostas e programas de ações planejadas, para serem dos assumem. Segundo Vasconcelos (2002, p. 183): “Aqui
executadas e avaliadas em função dos princípios e diretri- são expressas as grandes opções do grupo (utopia fim).
zes educativas. Relaciona-se ainda às finalidades que cada Contém os critérios gerais de orientação da instituição”.
instituição pretende alcançar, sendo um documento nor- Na concepção de Vasconcelos (2002, p. 183), os seguintes
teador das políticas escolares e também articulador das pontos são imprescindíveis para a elaboração e construção
intenções, das prioridades e das estratégias para a realiza- do PPP de toda e qualquer instituição:
ção de sua função social. Diogo (1998, p. 17) sintetiza bem
- Que tipo de sociedade queremos construir?
o que se pode compreender por Projeto Político-Pedagó-
- Que tipo de homem/pessoa humana queremos cola-
gico, embora utilize outra terminologia:
borar na formação?
O Projeto Educativo é, claramente, um documento de
planificação escolar que poderíamos caracterizar do seguin- - Que finalidade queremos para a escola? Que papel
te modo: de longo prazo quanto à sua duração; integral desejamos para a escola em nossa realidade?
quanto à sua amplitude, na medida em que abarca todos
os aspectos da realidade escolar; flexível e aberto; democrá- Toda escola deve ter definida, para si mesma e para
tico porque elaborado de forma participada e resultado de sua comunidade escolar, uma identidade e um conjunto
consensos. orientador de princípios e de normas que iluminem a ação
Os PPPs apresentam uma característica prospectiva, a pedagógica cotidiana. O Projeto político pedagógico vê a
busca de um rumo, de uma direção, é uma construção in- escola como um todo em sua perspectiva estratégica, não
tencional, em busca de um compromisso coletivo, no sen- apenas em sua dimensão pedagógica. É uma ferramenta
tido de aperfeiçoar a realidade presente. Por ser processo, gerencial que auxilia a escola a definir suas prioridades es-
não se apresenta de modo linear e conclusivo, abre pos- tratégicas, a converter as prioridades em metas educacio-
sibilidades de rever, de refazer, de repensar. Desse modo, nais e outras concretas, a decidir o que fazer para alcançar
apresenta-se como espaço para constantes mudanças, as metas de aprendizagem, a medir se os resultados foram
discussão das preocupações, das práticas, das possibilida- atingidos e a avaliar o próprio desempenho.
des, das limitações para o alcance dos objetivos da escola, A escola deve ser um espaço onde todos participem
dos princípios e fins da Educação Nacional. do planejamento e execução de todas as sua ações, onde
O Projeto Político- Pedagógico da escola apresenta o conjunto de valores, normas e relações obedecem a uma
duas dimensões interdependentes: a política que supõe o dinâmica singular e viva” (VEIGA e RESENDE, 1998).
conjunto de decisões quanto à organização, aos propósitos Para alcançar tal objetivo, é necessário que o plane-
e aos modos operativos da escola e a pedagógica que supõe jamento de todas as suas ações (PPP) sejam de forma co-
o elenco de decisões/ações de ordem educativa e pedagógi- letiva e democrática, dando a todos que estão direta ou
ca, viabilizadora de suas intencionalidades quanto à forma- indiretamente ligados a escola, oportunidade de participa-
ção do cidadão. http://www.portalensinando.com.br. rem da elaboração de um “projeto de vida”, de um pro-
A administração escolar, nela incluída o ato de plane- jeto que irá afetar de forma positiva ou não os destinos
jar as ações educacionais através do PPP, pode ser feita de
de todos que por ele serão influenciados. Citamos ainda
forma centralizada e autoritária, ou de forma participativa
Vasconcellos (1995, p. 92), que dá grande ênfase ao pla-
e democrática. Quando a mesma assume a forma partici-
nejamento das ações educacionais, afirmando que “cabe
pativa, permite uma maior eficiência social e educacional,
ao planejamento a oportunidade de repensar todo o fazer
havendo a necessidade de ser elabora em conjunto com
todos os interessados ao sistema educativo, sendo estes: escolar, como um caminho de formação dos educadores e
educandos e seus familiares, educadores, funcionários e dos educandos, bem como de humanização, de desalienação
membros da comunidade e de libertação.” Nesse sentido, o projeto político pedagó-
Neste sentido, o PPP tem a necessidade de expres- gico, passa a ser um instrumento democrático para que a
sar as reflexões e o trabalho realizado em conjunto por comunidade escolar possa se organizar e construir dentro
todos os profissionais da escola, bem como às necessida- de seu espaço, a sua autonomia, que será o impulsionador
des locais e específicas de sua clientela, caracterizando o da descentralização de suas ações e o fortalecimento de
cidadão que se pretende formar. Neste sentido, segundo atitudes democráticas e comunicativas.
Ferreira (2003, apud FERREIRA, 2006, p 17), o PPP: A autonomia e a gestão democrática da escola pública
[...] deve ser pensado, estudado, refletido, debatido e a qual nos referimos, se faz necessária para a democrati-
construído coletivamente com o que existe, no mundo, de zação do espaço escolar e das ações por ela planejada. A
mais atual, mais avançado e de melhor qualidade para montagem do seu plano de educação com base em um
formar “seres humanos fortes intelectualmente, ajustados “projeto de vida”, que deve envolver toda a comunidade,
emocionalmente, capazes tecnicamente e ricos de caráter. tornando essa escola um local de educação para todos
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
e não apenas para os seus alunos, permitindo com isso, O currículo escolar é importantíssimo por ser um instru-
mobilizar essa comunidade na construção de um projeto mento que norteia o trabalho desenvolvido na escola, e ser
que permita o surgimento de uma nova sociedade, onde marcado pela visão de mundo da sociedade do momento; e
a sua cultura e os seus valores possam ser preservados e sua prática reflete na visão de mundo expressado nos docu-
ensinados, e que todos possam participar dos rumos dessa mentos orientadores por meio das formas efetivas de ação
nova escola. Para nós, esse projeto é o Projeto Político-Pe- dos agentes educacionais, e, dos valores, normas, hábitos,
dagógico. atitudes que governam as relações nas salas de aula.
Nesse sentido, o currículo é o mediador entre escola e
CURRÍCULO COMO ELEMENTO FUNDAMENTAL NA comunidade, e ao realizar essa mediação, o currículo pos-
ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA E SUA RELAÇÃO COM O PRO- sibilita a construção da ação pedagógica através da articu-
JETO POLÍTICO PEDAGÓGICO lação entre os conhecimentos construídos na prática social
O currículo pode ser definido pelo conjunto de saberes e transmitidos, organizados e transformados na pratica
produzidos na escola. Ele reflete todas as experiências em escolar, por isso, o currículo também precisa estar em con-
termos de conhecimento que serão proporcionados aos sonância com o Projeto Político-Pedagógico da instituição.
alunos de um determinado curso. Em contrapartida tem-se que a perfeita observação
O mais antigo e persistente significado que se associa de todos esses elementos direciona à verdadeira práxis do
a currículo é o de matérias, geralmente organizadas como currículo, ou seja, a articulação entre a teoria e a prática
disciplinas escolares que foram escolhidas para serem en- curriculares em sala de aula. Construir o currículo na sala
sinadas a alguém. Freqüentemente tanto para educadores de aula requer profissionalismo e competência por parte
como leigos, o currículo é, ainda, equivalente ao conteúdo dos professores quanto à utilização de uma importante fer-
dos livros de texto usados pelos professores nas suas aulas. ramenta pedagógica: a vivência sociocultural das crianças.
Muitas vezes, também, o currículo é visto como um progra- Além do Currículo explícito na prática escolar, existe
ma publicado (ou impresso) ou um guia para os professo- também o Currículo oculto o qual não é tão aparente aos
res de uma disciplina ou conjunto de disciplinas. nossos olhos, porém pode ser muito significativo na vida
No Brasil, não existe um currículo único nacional, po- escolar e na percepção do aluno.
rém, os Parâmetros Curriculares Nacionais trazem como Um exemplo da presença do currículo oculto nas salas
sugestão, uma forma de definição das disciplinas e distri- de aula é a própria forma de organização da classe. Geral-
buição dos conteúdos entre os componentes curriculares mente as carteiras são dispostas em filas indianas em que
cada aluno tem sua atenção voltada sempre para frente
propostos. Devido à dimensão territorial e à diversidade
com o fim único de interromper toda e qualquer forma de
cultural, política e social do país, nem sempre os Parâme-
comunicação com os outros alunos. Esse exemplo é reflexo
tros Curriculares chegam às salas de aula.
de uma grande relação de poder em que o professor ocupa
Falar em currículo escolar é falar também na vida do
a posição central da sala e é detentor do conhecimento
aluno e da escola em constante e em dinâmica ação, ou
produzido e acabado. Os alunos são considerados como
seja, educandos e educadores, no espaço escolar, cons-
sujeitos pacientes desse tipo de organização educacional
troem e formam, através de processos de valorização e do e, no geral, são simples reprodutores do conhecimento re-
cotidiano que vivenciam, o currículo ideal para o desen- cebido.
volvimento de habilidades necessárias ao desempenho es- Para a perspectiva crítica, o que se aprende no currícu-
colar dos alunos. Mesquita (in http://www.webartigos.com) lo oculto são fundamentalmente atitudes, comportamentos,
apresenta ainda outras características do currículo nos dias valores e orientações que permitem que crianças e jovens se
atuais: ajustem da forma mais conveniente às estruturas e às pautas
[...] o currículo escolar passa a ser definido como sendo de funcionamento, consideradas injustas e antidemocráticas
todas as situações vividas pelo aluno dentro e fora da es- e, portanto, indesejáveis, da sociedade capitalista. Entre ou-
cola, seu cotidiano, suas relações sociais, as experiências de tras coisas o currículo oculto ensina, em geral, o conformis-
vida acumuladas por esse aluno ao longo de sua existência, mo [...] Numa perspectiva mais ampla, aprendem-se através
as quais contribuem para a formação de uma perspectiva do currículo oculto, atitudes e valores próprios de outras es-
construcionista educacional. [...] Logo, o que se quer dizer é feras sociais, como, por exemplo, àqueles ligados à naciona-
que a escola deve buscar na experiência cotidiana do alu- lidade. (SILVA, 2005, p. 29)
no elementos que subsidiem a sua ação pedagógica e, ao Assim, o currículo oculto transforma a escola em um
mesmo tempo, recursos que contribuam para a formação do espaço de transmissão da doutrina capitalista, a qual, se-
currículo escolar. gundo SILVA (2005) produz e legitima os interesses eco-
Todas as atividades de cunho educativo que venham nômicos e políticos das elites empresariais. O que ocorre é
a ser exploradas pela escola constituem elementos essen- que a escola, de modo particular a sala de aula, passa a ser
ciais e de mesma importância na formação do currículo es- um local exclusivo do reprodutivismo dos valores, das ati-
colar, o qual interfere de maneira significativa na formação tudes e dos comportamentos da classe privilegiada. Estes
do caráter e da personalidade dos alunos. Considerando elementos acabam sendo impostos nos currículos escola-
que a personalidade humana se caracteriza pelo modo res, mas não são parte integrante da vida e do cotidiano de
próprio de ser apresentado por cada indivíduo, acredita-se muitas crianças, as quais são preparadas para a absorção
na força de sua expressão como fator operante nas teorias de uma cultura que não as satisfaz e que, portanto, nada
do currículo. tem a contribuir em sua formação.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
Contudo, o currículo oculto reproduz, através da cultura escolar, as estruturas sociais e a ideologia dominante do capi-
talismo. Com isso, o currículo oculto interfere na subjetividade dos alunos, os quais passam a ser inibidos e impedidos de
manifestarem-se quanto à própria atuação no mundo.
Vale ressaltar que o currículo escolar precisa ser analisado e elaborado com muita atenção e reflexão, pois os currículos
em nossas escolas atendem a massificação do ensino, ou seja, não se planeja para cada aluno, mas sim para muitos alunos,
numa hierarquia de séries.
Numa proposta de Projeto de aprendizagem é preciso rever essa organização curricular, pois a proposta é trabalhar
projetos com grupos de alunos que tenham interesses comuns, partindo deles a escolha dos temas de estudo. Daí a idéia
de disciplina aos poucos vai se tornando interdisciplinar, e o professor poderá organizar para que alguns temas sejam
trabalhados em todos os grupos, explorando a criatividade e os diferentes pontos de vista. Nessa perspectiva, a idéia da
aprendizagem de determinados conteúdos por séries, deixa de ter sentido, pois nessa dimensão nos apoiamos nas idéias
de Piaget, onde a aprendizagem parte daquilo que o aluno já sabe, ou seja, das suas certezas provisórias em busca das
respostas às suas dúvidas, e essas respostas poderão abranger diferentes séries e disciplinas, enriquecendo a grade de
conteúdos.
Dessa forma, a construção e reconstrução do currículo devem ser a todo instante refletidos e como tais eles não se-
guem uma direção única, mas de acordo com cada contexto as reflexões serão diferentes. Nesta perspectiva, o Projeto
Político-Pedagógico e a prática pedagógica devem estar diretamente relacionadas ao currículo e ao local em que estes se
concretizarão.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
O que é um plano?
•É um documento que registra o que se pensa fazer, como fazer, quando fazer, com que fazer e com quem fazer.
•É um norte para as ações educacionais.
•Plano é a formalização dos diferentes momentos do processo de planejamento.
•É a apresentação sistematizada e justificada das decisões tomadas.
Planejamento Planos
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
Avaliação
Uma prática de avaliação...
Para além da classificatória, excludente, seletiva e anti-democrática,
DEVE SER
Inclusiva - Democrática
Emancipadora - Crítica – Reflexiva
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Critérios de Avaliação
Definem os propósitos do que especialmente se avalia e em que dimensão; representam a intencionalidade do conteú-
do (função social do conteúdo) - por que ensinar? (partem do conteúdo e não do instrumento);
Instrumentos de Avaliação
•Possibilitam a verificação do processo de aprendizagem; devem ser elaborados tendo em vista a intencionalidade
(objetivo) e critérios dos conteúdos.
–Avaliações descritivas
–Avaliações orais
–Auto avaliação
–Seminários
–Exposições
–Peças teatrais, entre outros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após o desenvolvimento do trabalho, percebemos a importância do PPP e do currículo como norteadores das ativida-
des escolares, onde a importância de sua construção coletiva é embasada na gestão democrática, planejando as atividades
escolares na busca do atendimento adequado da escola frente a comunidade na qual está inserida, buscando cumprir seu
papel social que é formar para a autonomia e cidadania.
A elaboração do PPP e do currículo de forma democrática insere nas atividades da escola todos os profissionais nela
envolvidos, buscando autonomia para atender os alunos de acordo com suas necessidades, diante de uma sociedade glo-
balizada, onde o desenvolvimento escolar deve formar cidadãos aptos a serem agentes de transformação social.
Percebemos que o PPP e o currículo, em consonância, são os planos que direcionam a escola na busca do cumprimento
dos seus objetivos, sendo eles flexível diante das necessidades de adaptação surgidas no cotidiano escolar e precisam ser
construídos e/ou reconstruídos constantemente, tendo em vista que a sociedade está em profundas mudanças.
Mediante o citado acima, podemos afirmar que nossos objetivos foram alcançados, pois como acadêmicos do curso de
Gestão do Trabalho Pedagógico, essas questões estão implícita e explicitamente relacionadas ao nosso trabalho cotidiano
como gestores do trabalho pedagógico na escola em que trabalhamos.3
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
além da participação de todos os segmentos da comuni- de ingresso, por transparecer objetividade na escolha por
dade escolar na construção do Projeto Político-Pedagógico méritos intelectuais. Por entendermos que a gestão escolar
e na definição da aplicaçãodos recursos recebidos pela não se reduz à dimensão técnica, mas configura-se como
escola. ato político, consideramos que essa modalidade valoriza
Nesse sentido, para a efetivação da gestão democrá- demais as atividades administrativas e burocráticas e se-
tica na escola, devem ser observados os seguintes pontos cundariza o processo político-pedagógico, mais abran-
básicos: os mecanismos de participação da comunidade gente. A defesa do concurso público de provas e títulos
escolar e a garantia de financiamento das escolas pelo po- é bandeira a ser empunhada e efetivada como forma de
der público. ingresso na carreira dos profissionais da educação. Mas a
Para que haja a participação efetiva dos membros da prática tem mostrado que não é a forma mais apropriada
comunidade escolar, é necessário que o gestor, em parce- de escolha de dirigentes escolares. Além de desconsiderar
ria com o conselho escolar, crie um ambiente propício que a participação da comunidade escolar, possui limites, como
estimule trabalhos conjuntos, que considere igualmente a transformação de diretores em “donos da escola”, que
todos os setores, coordenando os esforços de funcioná- fica condenada a ter uma gestão identificada com a pessoa
rios, professores, pessoal técnico-pedagógico, alunos e do dirigente até sua aposentadoria. A indicação por meio
pais envolvidos no processo educacional. de listas tríplices, sêxtuplas ou a combinação de processos
(modalidade mista) consiste na consulta à comunidade es-
Modalidades de escolha de dirigentes escolares no colar, ou a setores desta, para a indicação de nomes dos
Brasil e o papel político pedagógico do diretor na es- possíveis dirigentes, cabendo ao executivo ou a seu repre-
cola sentante nomear o diretor dentre os nomes destacados e/
As discussões acerca das modalidades de escolha de ou submetê-los a uma segunda fase, que consiste em pro-
dirigentes escolares no Brasil vêm, a partir da década de vas ou atividades de avaliação de sua capacidade cognitiva
1980, adquirindo papel significativo nos estudos realiza- para a gestão da educação.
dos pelos pesquisadores interessados na democratização Tal modalidade tem duas vantagens: um mandato tem-
da educação e da escola. Entre esses estudos, situam-se poral definido e a participação da comunidade escolar no
aquelas abordagens que indicam que a modalidade de es- início do processo. Entretanto, como cabe ao executivo de-
liberar sobre a indicação final do diretor, corre-se o risco
colha influencia no processo de democratização da gestão
de ocorrer uma indicação por critérios não políticopedagó-
escolar.
gicos, com uma suposta legitimação da comunidade esco-
Pretendemos aqui indicar e discutir as modalidades
lar, em nome do discurso de participação/democratização
de escolhas de dirigentes escolares existentes no Brasil,
das relações escolares. As eleições diretas para diretores,
as implicações de cada modalidade, sua importância no
historicamente, têm sido a modalidade considerada mais
processo de democratização da gestão escolar e o papel
democrática pelos movimentos sociais, inclusive dos traba-
político-pedagógico do diretor na escola, particularmente,
lhadores da educação em seus sindicatos. Mas ela não está
num processo de gestão democrática.
livre de uma grande polêmica. A defesa dessa modalidade
Em relação à escolha de diretores, as formas ou pro- vincula-se à crença de que o processo conquista ou reto-
postas mais usuais na gestão das escolas públicas têm ma o poder sobre os destinos da gestão. A eleição direta
sido: a) diretor livremente indicado pelos poderes públi- tem sido apontada como um canal efetivo de democratiza-
cos; b) diretor de carreira; c) diretor aprovado em concurso ção das relações escolares. Trata-se de modalidade que se
público; d) diretor indicado por listas tríplices ou sêxtuplas propõe valorizar a legitimidade do dirigente escolar como
ou processos mistos; e) eleição direta para diretor. coordenador do processo pedagógico no âmbito escolar.
Ao analisar as modalidades, podemos afirmar que a Em que pese aos limites que se interpõem no curso
livre indicação dos diretores escolares pelos poderes pú- dessa modalidade, fruto da cultura autoritária que permeia
blicos se identificava com as formas mais usuais de clien- as relações sociais e escolares, a eleição para dirigentes se
telismo. O critério de escolha era o favorecimento, sem configura em uma modalidade a ser problematizada e ava-
considerar a competência ou o respaldo da comunidade liada, articulada ao estabelecimento de premissas e princí-
escolar. Essa lógica eliminava qualquer candidato que se pios básicos, visando à democratização da escola. A parti-
opusesse à força do prefeito ou governador. Permitia a cipação dos servidores nesse processo é fundamental para
transformação da escola em espaço instrumentalizador a escola e para a constituição de sua identidade.
de práticas autoritárias, evidenciando forte ingerência do O processo de eleição de diretores é muito variado nos
Estado na gestão escolar. Já o diretor de carreira – mo- estados e municípios que o adotam. O colégio eleitoral
dalidade pouco utilizada – tinha acesso ao cargo vincu- pode incluir toda a comunidade escolar ou ser restrito a
lado a critérios como: tempo de serviço, merecimento e/ parte dela, com diferentes ponderações para o voto dos
ou distinção, escolarização, entre outros. Representa uma professores, funcionários, estudantes e pais. Em alguns ca-
tentativa de aplicação no setor público da tese meritocrá- sos, há definição legal e operacional para o andamento e
tica, alijando também a participação da comunidade esco- a transparência do processo, como data, local, horário, re-
lar na escolha de seu dirigente. A modalidade de acesso gras de propaganda e de debates. Em outros, a comissão
por concurso público nasce como contraponto à indicação eleitoral se incumbe de regulamentar as diferentes etapas
política. Vários interlocutores têm defendido essa forma da eleição. É fundamental garantir a participação de todos
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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e ter consciência de que a eleição não é a panacéia para Assim, eficiência, eficácia e efetividade social da escola
todos os problemas da escola. Há que se cuidar de não revelam a compreensão e o alcance da função social da
transpor para a escola os vícios das eleições gerais, como educação e da escola que a comunidade escolar quer. A
o “voto de cabresto” e as “trocas de favores”. Portanto, democratização da escola não é uma via de mão única.
além da melhoria dos processos de escolha de diretores, Existem várias possibilidades e alternativas para a sua im-
há que se garantir a institucionalização e o fortalecimento plementação, resultantes dos embates e das várias pos-
de outros mecanismos de participação colegiada na escola, sibilidades políticas desencadeadas coletivamente pelos
como os conselhos e assembléias escolares. diferentes atores em cada unidade escolar.
Embora as eleições se apresentem como um legítimo Assim, a gestão da escola configura-se em ato políti-
canal na luta pela democratização da escola e das relações co, pois requer sempre uma tomada de posição política.
sociais mais amplas – não sendo o único, é necessário com- Exige um posicionar-se diante das alternativas. A gestão
preender os vícios e as limitações do sistema representa- escolar não é neutra, pois todas as ações desenvolvidas
tivo numa sociedade de classes, assentada em interesses na escola envolvem atores e tomadas de decisões. Nesse
antagônicos e irreconciliáveis. Por isso, não consideramos sentido, ações simples, como a limpeza e a conservação
a eleição, por si só, garantia da democratização da gestão, do prédio escolar, até ações mais complexas, como as de-
mas referendamos essa modalidade enquanto instrumento
finições pedagógicas, o trato com situações de violência,
para o exercício democrático. A forma de provimento no
entre outras, indicam uma determinada lógica e horizonte
cargo pode não definir o tipo de gestão, mas, certamente,
de gestão, pois são ações que expressam interesses, prin-
interfere no curso desta. Assim, visualizar a eleição como
cípios e compromissos que permeiam as escolhas e os
ação terminal é incorrer no equívoco de se negar o cará-
ter histórico do processo, pois a eleição deve ser um ins- rumos tomados pela escola.
trumento associado a outros na luta pela democratização Para sintetizar, diríamos que o processo de demo-
possível das relações escolares. cratização da escolha de diretores tem contribuído para
A idéia básica é a da gestão como um processo de idas se repensar a gestão escolar e o papel do diretor e do
e vindas, construído por meio da articulação entre os dife- conselho escolar. A democratização da gestão por meio
rentes atores, que vão tecendo a feição que esse processo do fortalecimento dos mecanismos de participação na
vai assumindo. A gestão democrática é a expressão de um escola, em especial do conselho escolar e da escolha de
aprendizado de participação pautado pelo dissenso, pela diretor, pode apresentar-se como uma alternativa criativa
convivência e pelo respeito às diferenças, em prol do es- para envolver os diferentes segmentos das comunidades
tabelecimento de espaços de discussão e deliberação co- local e escolar nas questões e nos problemas vivenciados
letivos. pela escola.
Dessa forma, quaisquer políticas direcionadas para a Entendemos que a eleição para dirigentes é um im-
democratização das relações escolares devem considerar portante instrumento no processo da autonomia e da de-
o contexto em que elas se inserem. As necessidades daí mocratização da escola, por favorecer o envolvimento da
decorrentes e as condições objetivas em que elas se efe- comunidade escolar nas discussões do cotidiano da esco-
tivam serão o diferencial no processo de gestão que se la e a sua participação no processo de tomada de decisão.
quer efetivar. Quanto maior a participação, maiores são as
possibilidades de acerto nas decisões a serem tomadas e Autonomia da unidade escolar: suas condições in-
efetivadas na escola. ternas e externas
Outro aspecto fundamental refere-se à noção de ges- Quando falamos em autonomia, logo nos vem a idéia
tão como resultado de ações coletivas. É totalmente dife- de independência, de liberdade; logo pensamos na possi-
rente uma decisão do diretor de uma decisão do colegia- bilidade de fazermos aquilo que queremos e que enten-
do. Estamos acostumados com a lógica de gestão centrada demos ser o melhor para nós, num determinado momen-
na figura do gestor, do diretor de escola. A efetivação da to. Apresentaremos e discutiremos agora os conceitos de
gestão democrática implica ações compartilhadas que re-
autonomia, abordando aspectos relativos à autonomia da
sultem na participação de todos, contrariando a lógica car-
unidade escolar, às formas de autonomia e às suas dimen-
torial e hierárquica vigente na gestão das escolas. Não se
sões na instituição educativa.
muda a cultura escolar sem o trabalho coletivo, mas com
Ao discutir a autonomia da escola, Veiga (1998) des-
discussões conjuntas e a busca de resolução dos proble-
mas, de modo participativo. taca quatro dimensões consideradas básicas para o bom
Nessa ótica, pensar um novo cenário para a escola im- funcionamento de uma instituição educativa e que, se-
plica a articulação de três noções fundamentais: eficiência, gundo ela, devem ser relacionadas e articuladas entre si:
eficácia e efetividade social. De fato, a escola tem de ser Você pode perceber a importância de se compreen-
eficiente, mas o que significa ser eficiente? Eficiente em re- der as dimensões da autonomia e o quanto elas estão
lação a quê? A mesma questão se coloca para eficácia. O articuladas entre si. Essa ênfase na autonomia da unidade
que é uma escola eficaz? A noção de efetividade social, ou escolar não é aleatória. Está pautada na crença de que
seja, de garantia de acesso e de permanência, com quali- cada escola tem suas especificidades e, como tal, requer
dade social para todos, nos diferentes níveis e modalidades projetos e ações pensadas e elaboradas no seu interior
de ensino, é que vai indicar as respostas a essas questões. pelos segmentos que a compõem.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
Nessa perspectiva, conhecer as leis que regulamen- A escola, no desempenho dessa função, precisa ter
tam o sistema de ensino, ou a sua estrutura organiza- clareza de que o processo de formação para uma vida
cional, não é suficiente para uma compreensão clara cidadã e, portanto, de gestão democrática passa pela
da realidade escolar, tendo em vista que a escola é um construção de mecanismos de participação da comuni-
universo específico cuja realidade, assim como a ação de dade escolar, como: Conselho Escolar, Associação de Pais
seus agentes, só pode ser compreendida a partir do co- e Mestres, Grêmio Estudantil, Conselhos de Classes etc.
nhecimento do que é vivenciado no seu cotidiano. A escola, no cumprimento do seu papel e na efetiva-
Ao discutir sobre a unidade escolar, Silva (1996) re- ção da gestão democrática, precisa não só criar espaços
comenda duvidar das intenções declaradas ou avaliações de discussões que possibilitem a construção do projeto
feitas por aqueles que dirigem o sistema, distantes que educativo por todos os segmentos da comunidade esco-
estão da realidade da escola, pois, para compreender o lar, como consolidá-los como espaços que favoreçam a
seu funcionamento, é essencial que se veja o que con- participação.
cretamente acontece na unidade escolar. Sendo assim, Para que a tomada de decisão seja partilhada e cole-
para que haja mudanças significativas no ensino, é funda- tiva, é necessária a efetivação de vários mecanismos de
mental que a escola constitua-se “no lugar estratégico de participação, tais como: o aprimoramento dos processos
mudança do sistema escolar”, à medida que esse é o local de escolha ao cargo de dirigente escolar; a criação e a
onde se concretiza o que é planejado globalmente para consolidação de órgãos colegiados na escola (conselhos
o ensino aprendizagem. Nesse sentido, ele enfatiza que a escolares e conselho de classe); o fortalecimento da parti-
unidade escolar é o lugar onde se concretiza o objetivo cipação estudantil por meio da criação e da consolidação
máximo do sistema escolar, ou seja, o atendimento direto de grêmios estudantis; a construção coletiva do Projeto
de seus usuários nas relações de ensinoaprendizagem. Político-Pedagógico da escola; a redefinição das tarefas e
É nela que as metas governamentais são atingidas ou funções da associação de pais e mestres, na perspectiva
não, e que as políticas educacionais se realizam tal como de construção de novas maneiras de se partilhar o poder
o previsto ou sofrem distorções. e a decisão nas instituições. É nessas direções que se im-
plementam e vivenciam graus progressivos de autonomia
Os mecanismos de participação e a gestão demo- da escola.
crática Toda essa dinâmica deve ocorrer como um processo
As escolas e os sistemas de ensino precisam criar de aprendizado político, fundamental para a construção
mecanismos para garantir a participação da comunidade da gestão democrática e, conseqüentemente, para a insti-
escolar no processo de organização e gestão dessas ins- tuição de uma nova cultura na escola.
tâncias educativas. Nesse sentido, a democratização da gestão escolar
A participação só será efetiva se os agentes que com- implica a superação dos processos centralizados de deci-
põem a comunidade escolar conhecerem as leis que a são e a vivência da gestão colegiada, na qual as decisões
regem, as políticas governamentais propostas para a nasçam das discussões coletivas, envolvendo todos os
educação, as concepções que norteiam essas políticas segmentos da escola num processo pedagógico. A partir
e, principalmente, se estiverem engajados na defesa de dele, vai ser efetiva a autonomia da unidade escolar.
uma escola democrática que tenha entre seus objetivos A gestão democrática, no sentido lato, pode ser en-
a construção de um projeto de transformação do sistema tendida como espaço de participação, de descentraliza-
autoritário vigente. ção do poder e de exercício de cidadania. Nesse senti-
Assim, entendemos que a democratização começa no do, reafirmamos a necessidade de instituir processos de
interior da escola, por meio da criação de espaços nos efetiva participação política: a gratuidade do ensino; a
quais professores, funcionários, alunos, pais de alunos etc. universalização da educação básica e superior; o plane-
possam discutir criticamente o cotidiano escolar. Nesse jamento e a coordenação descentralizados dos processos
sentido, a função da escola é formar indivíduos críticos, de decisão e de execução; o fortalecimento das unidades
criativos e participativos, com condições de participar cri- escolares por meio da efetivação da sua autonomia; a ar-
ticamente do mundo do trabalho e de lutar pela demo- ticulação entre os diferentes níveis de ensino; a definição
cratização da educação em nosso país. coletiva de diretrizes gerais para a educação nacional; a
É necessário ter em mente que a democratização da exigência de planos de carreira para o magistério público;
gestão educacional não ocorrerá sem uma compreensão a vinculação de verbas para a educação; a democratização
mais ampla da função política e social da escola, locus das formas de acesso, permanência e gestão.
privilegiado da educação sistematizada, e da sua impor- Todos esses itens vinculam-se ao princípio de gestão
tância no processo de transformação da sociedade, à democrática, à medida que conferem à educação nacional
medida que ela se compromete com a função de “pre- o papel de um dos instrumentos de promoção do exercí-
parar e elevar o indivíduo ao domínio de instrumentos cio de cidadania, a ser assegurada por meio de mecanis-
culturais, intelectuais, profissionais e políticos” (RODRI- mos de participação ativa dos segmentos da sociedade
GUES, 1987, p. 43). civil nas instâncias consultivas, deliberativas e de controle
social da educação. Construir uma nova lógica de gestão
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os fundamentos necessários. Vasconcellos (2010, p. 184) atividades e manifestações: artes, ciências, costumes, siste-
define que, “se deixarmos de lado determinado elemento, mas, leis, religião, crenças, esportes, mitos, valores morais e
não estabeleceremos o ideal do grupo sobre ele, e conse- éticos, comportamento, preferências, invenções e todas as
quentemente, tanto o Diagnóstico quanto a Programação maneiras de ser (PPP 2014, p.37).
sobre este aspecto da instituição ficarão prejudicados”. Apesar das evoluções pelas quais passa o mundo, a
Nesse sentido, Gadotti e Romão (2004, p.37) reforçam: cultura tem a capacidade de permanecer quase intacta,
“O projeto da escola depende, sobretudo da ousadia dos possibilitando serem passadas aos descendentes como
seus agentes.” Pode-se concluir que, apesar de traba- uma memória coletiva, lembrando que a cultura é um
lhoso, o Marco Operativo deve ser elaborado com muita elemento social, impossível de se desenvolver individual-
atenção para não comprometer as demais partes do Pro- mente.
jeto. E também, Veiga (2005, p.13) argumenta que “O pro- A concepção de mundo diz que:
jeto busca um rumo, uma direção. É uma ação intencional, O mundo é o local onde ocorrem as interações homem/
com um sentido explícito, com um compromisso definido homem e homem/meio social caracterizada pelas diversas
coletivamente”. culturas e pelo conhecimento. Devido à rapidez dos meios
Percebe-se que a participação do coletivo, mais uma de comunicação e tecnológicos e pela globalização torna-
vez, é indispensável para que se concretize o trabalho e se necessário proporcionar igualmente ao homem o alcan-
se possa dar continuidade ao processo de construção do ce dos objetivos materiais, políticos, culturais e espirituais
Projeto. para que sejam superadas as injustiças sociais, diferenças,
A escola tem como eixo norteador de seu trabalho o distinções e divisões na tentativa de se formar o ser huma-
princípio da inclusão, pelo qual os direitos e deveres são no. Isto será possível se a escola for um espaço que contri-
realmente respeitados e os indivíduos estão comprome- bua para a efetiva mudança social. (PPP, 2014 p.38).
tidos com a vida, com seu semelhante e com a natureza. A educação deve ter a intenção de contribuir na cons-
É preciso ter sempre presente o propósito da trans-
trução de uma sociedade justa, socialmente equitativa e
formação da sociedade, para que exista igualdade sem
solidária, politicamente democrática, culturalmente plura-
exclusão, a dignidade seja preservada, as diferenças sejam
lista e religiosamente ecumênica, de diálogo, pautada pe-
respeitadas e o saber esteja sempre superando o poder,
los princípios éticos e políticos, onde todos sejam verda-
pois, o homem é um sujeito de transformações, que pode
deiramente reconhecidos e respeitados em sua dignidade
libertar-se da ignorância, do egoísmo, da ambição e da
humana e em suas diferenças; tenham a possibilidade de
alienação por meio da coletividade.
desenvolver as suas potencialidades; contribuam para que
Nesse sentido, a escola deve deixar de contribuir para
a autoridade, o saber, os bens naturais e os produzidos
manter a ordem vigente, quando esta não está em conso-
nância com os anseios de seu povo e transformar-se num pelo esforço comum estejam a serviço do crescimento e
espaço de libertação. sejam partilhados coletivamente; tenham a liberdade e o
O Marco Conceitual contempla as concepções de direito de se associar; onde todos tenham a liberdade de
como a instituição escolar pode contribuir com a forma- pensamento, de expressão e consciência; tenham acesso
ção do sujeito para que este transforme a sociedade em ao conhecimento científico e recursos tecnológicos.
que vive bem como a melhor forma de nela viver. Na concepção de escola está previsto que
Nas palavras de Vasconcellos (2010, p. 183) “o Marco A prática filosófico-pedagógica deve ter como funda-
Filosófico ou Conceitual corresponde à direção, ao hori- mentos os seguintes enfoques metodológicos: educação
zonte maior, ao ideal geral da instituição. É a proposta de contextualizada, identificando o que pretendemos como
pessoas, educação e de sociedade, que o grupo assume. algo integrante de um determinado contexto cultural/es-
Aqui são expressas as grandes opções do grupo. Contém pacial/ temporal; interdisciplinaridade, relação entre as
os critérios gerais de orientação da instituição”. diversas disciplinas que compõem o conhecimento; mul-
Na concepção de Educação está previsto que o pro- tidisciplinaridade, discutindo o objeto de investigação re-
cesso educacional deve contemplar um tipo de ensino e lacionando-o com o contexto geral; currículo integrado,
aprendizagem que ultrapasse a mera reprodução de sa- compreendendo a integração do desenvolvimento afetivo,
beres “cristalizados” e desemboque em um processo de emocional, cognitivo e social; pensamento crítico, desmisti-
produção e de apropriação de conhecimento, possibili- ficando a verdade única e imutável. (PPP, 2014 p. 42).
tando, assim, que o cidadão torne-se crítico e que exer- Estamos vivendo um período de grandes mudanças
ça a sua cidadania, refletindo sobre as questões sociais e que podem ser percebidas por três aspectos importantes:
buscando alternativas de superação da realidade. as facilidades de se adquirir a informação, a multiplicação
Uma educação que propicia a formação nos aspectos e a diversificação das formas de saber e de conhecer e a
biopsíquico, econômico, social, religioso, político e cul- demanda por uma educação contínua e eficiente, princí-
tural, num processo formativo e contínuo do desenvolvi- pios que poderão contribuir para que a atual sociedade se
mento humano. torne cada vez mais alinhada com o conhecimento.
A concepção de cultura expressa no PPP diz que Cul- Assim, é imprescindível que se desenvolva a cultura de
tura é o conjunto de manifestações artísticas, sociais, lin- avaliação criteriosa, tanta da instituição, como dos profes-
guísticas e comportamentais de um povo ou civilização. sores, quanto do processo de ensino e de aprendizagem.
Portanto, fazem parte da cultura de um povo as seguintes A concepção de avaliação preceitua que ela merece “um
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destaque a parte, pois diz respeito a um processo mais Já o currículo que é uma produção social, construído
amplo e abrangente que abarca todas as ações desenvol- por pessoas que vivem em determinados contextos histó-
vidas na ação pedagógica, assim como todos os sujeitos ricos e sociais; portanto, não se almeja construir uma pro-
envolvidos.” (PPP , 2014, p44). Portanto, deve estar claro posta curricular prescritiva, mas uma intervenção a partir
para aquele que avalia que ele também é parte integrante do que está vivido, pensado e realizado na e pela escola.
do processo avaliativo uma vez que foi o responsável pela Essa produção, necessariamente, deve se dar coletivamen-
mediação no processo deensino- aprendizagem. te, num fazer e pensar articulado. Sendo que a troca e as
A avaliação escolar tem como dimensão de análise, o reflexões coletivas contribuam tanto para o crescimento
desempenho do aluno, do professor e de toda a situação individual, quanto para o coletivo.
de ensino que se realiza no contexto escolar. Sua principal Ao longo do tempo a tecnologia tornou-se indispen-
função é subsidiar o professor, a equipe escolar e o próprio
sável a qualquer pessoa, pois está relacionada à vida coti-
sistema no aperfeiçoamento do ensino. Quando utilizada
diana de todos.
com cautela fornece informações que possibilitam tomar
decisões sobre quais recursos educacionais devem ser or- Mais que um mero documento ele é o verdadeiro re-
ganizados para tornar a aprendizagem mais trato da instituição, construído coletivamente a partir de
significativa ou efetiva. seus dados que ficarão registrados e devem ser revistos e
A concepção de ensino-aprendizagem diz que, Numa reprogramados sempre que necessário, para atingir seus
perspectiva construtivista, o ensino não determina a apren- objetivos sejam eles a curto, médio ou longo prazo.
dizagem. Enquanto esta é uma atividade do sujeito que Portanto, o Projeto Político-Pedagógico é um docu-
aprende, o ensino é uma intervenção externa, que pode ser mento que organiza e facilita todo o funcionamento de
facilitadora. Cabe ao professor apresentar situações capazes uma instituição de ensino. Sua construção e constantes re-
de favorecer a construção do conhecimento, de gerar confli- flexões e (re)elaborações devem acontecer para que aten-
tos cognitivos que desestabilizem hipóteses anteriores. (PPP, da as reais necessidades da instituição de ensino.5
2014 p. 47).
A função específica da escola é o ensino intencional PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E SUAS IMPLI-
sistematizado e a transmissão de conhecimentos histori- CAÇÕES NO COTIDIANO DA ESCOLA
camente construídos. Ela faz parte de um período na vida A construção do Projeto Político-Pedagógico tem con-
do indivíduo, embora a aprendizagem não ocorra somente tornos próprios de cada instituição porque é a expressão
nesse período. de uma escola, dentro da sua realidade, com expectativa
A alfabetização promove a socialização, pois possibilita
e visão de mundo daquele grupo social (VEIGA, 2000); por
o estabelecimento de novos tipos de trocas simbólicas com
isso, é único, singular e original. Oliveira (1999, p.32) reve-
outros indivíduos, acesso a bens culturais e a facilidades
la que “[...] a construção de uma sociedade democrática
oferecidas pelas instituições sociais. A alfabetização é um
fator propulsor do exercício consciente da cidadania e do implica o desenvolvimento de uma ação democrática con-
desenvolvimento da sociedade como um todo daí a im- creta em todos os espaços de interação social, inclusive na
portância desse processo ser um dos mais importantes da escola”. Assim, o compromisso com a mudança é algo que,
escolarização. se não estiver internalizado no “corpo” e na “cultura es-
A concepção de alfabetização e letramento diz que colar”, o Projeto Político-Pedagógico tem poucas chances
Pessoa letrada é aquela que aprende a ler e a escrever e que de materialização, porque a prática e a vivência cotidiana
passa a fazer é a mola propulsora para que ele tome materialidade. A
uso da leitura e da escrita, a envolver- se em práticas construção do Projeto Político-Pedagógico, como aponta
sociais de leitura e de escrita, ou seja, que faz uso freqüente e Vasconcellos (2000, p. 173) [...] vai depender muito da ma-
competente da leitura e da escrita. A pessoa letrada passa a neira como a comunidade escolar vai se posicionar. Quando
ter outra condição social e cultural, muda o seu lugar social, vemos escolas fazendo projeto ‘porque o MEC está a exigir’,
seu modo de viver, sua inserção na cultura e consequente- é claro que não podemos esperar muito diante deste risco
mente uma forma de pensar diferente. Tornar-se letrado traz de manipulação. Por outro lado, quando a escola despertou
consequências linguísticas, cognitivas. (PPP, 2014, p. 49). para a necessidade de se definir, de construir coletivamente
Apropriar-se da escrita é torná-la própria, ou seja, as- sua identidade e de se organizar para concretizá-la, então
sumi-la como propriedade. Um indivíduo alfabetizado, não o projeto pode ser um importante instrumento de luta [...].
é necessariamente um indivíduo letrado, pois ser letrado
Nesse sentido, Oliveira (1999, p.27-28) mostra que a
implica usar socialmente a leitura e a escritura e responder
educação não ocorre pela assimilação de discursos, mas
às demandas sociais de leitura e de escrita.
Por ser a escola uma agência de letramento, cabe a ela que ela pode “contribuir para o desenvolvimento da auto-
trazer para o espaço escolar os usos sociais da leitura e es- nomia dos sujeitos e dos grupos sociais e isto não é algo
crita e considerar que a vivência e participação em atos de que se possa fazer apenas pelo discurso [...]”. Sem a prática
leitura podem alterar as condições de alfabetização. efetiva, cai no vazio, quando não, no descrédito. Sendo
Portanto, alfabetização e letramento são dois proces- assim, a participação, em especial, do professor na cons-
sos que devem ser desenvolvidos simultânea e indissocia- trução do Projeto da sua escola é um tempo único e, ver-
velmente propiciando, assim, ao educando, uma entrada 5 Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br – Por MILANI, Natalia
plena no mundo da escrita. Ossoski/COLLARES, Solange Aparecida
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dadeiramente, um momento em que a reflexão possibilita O gestor deve agir de maneira democrática na elabora-
uma ação educativa engajada e uma prática pedagógica ção desse projeto, integrar a sociedade no ambiente esco-
mais consciente, comprometida e multidimensional, visan- lar respeitando sempre seu marco referencial, aceitando
do a uma educação como instrumento de libertação (FREI- opiniões do corpo docente e funcionários, com isso po-
RE, 1983). de-se restaurar o senso crítico e participativo de todos. O
Nesse sentido, entender a escola como espaço de gestor não é único nessa elaboração, talvez essa seja uma
transformação é vivenciar situações de reflexão numa ativi- das grandes falhas existentes nos dias atuais.
dade multidimensional comprometida com uma ação inte- Planejar e construir um PPP, é ter compromisso com
gradora e de reconstrução do conhecimento, das práticas, uma educação de qualidade e participativa, é a união
das inter-relações, enfim, ações estas que podem possibi- entre escola e comunidade, comunidade e escola, pois
litar o enfrentamento dos desafios cotidianos do processo ambos são indissociáveis. É trilhar um caminho com foco
educativo, favorecendo a que a teoria caminhe com a prá- na aprendizagem, participar de opiniões e responder os
tica, pois verificamos, na escola, amiúde, uma dissociação questionamentos.
entre estas. Assim sendo, o espaço escolar, à medida que Um dos aspectos importantes em relação ao Pro-
desenvolve mecanismos que estimulem a participação da jeto Político Pedagógico é que pode ser alterado, se
comunidade educativa, estimula, ao mesmo tempo, a que não estiver atendendo as necessidades do seu públi-
alunos, pais, professores e os demais membros que partici- co alvo, que são as realidades educacionais e sociais. E
pam do coletivo escolar se responsabilizem pela condução para que essas questões não ocorram faz-se necessário
e pela real efetivação das propostas, a partir de um contra- que antes da elaboração haja uma reflexão e conheci-
to coletivo.6 mento amplo da classe que será beneficiada com o pro-
jeto, uma percepção crítica e harmoniosa de mundo.
Uma instituição que se organiza na elaboração e cons-
trução do PPP, certamente será uma instituição em busca
O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO do conhecimento, de novas concepções sempre partici-
À LUZ DA LDB VIGENTE: ESTRATÉGIA pativas. Além de trabalhar, o gestor e seus colaboradores
CONVERGENTE PARA A CULTURA devem elaborar o Projeto Político Pedagógico embasado
ORGANIZACIONAL DE UMA ESCOLA QUE nas leis (LDB 9394-96) pondo em prática conteúdo critico
SE PREOCUPA COM A FINALIDADE DOS e reflexivo.
SABERES NO COTIDIANO DA VIDA DOS O Projeto Político Pedagógico não deve ser ela-
ESTUDANTES E NOS SEUS GRUPOS DE borado apenas para cumprir uma determinação legal,
INTERAÇÃO SOCIAL muito menos ficar engavetado ou ausente do cotidia-
no escolar. A proposta pedagógica é muito mais que
isso, é o ápice da educação, é a ponte que liga esco-
la e sociedade, propondo meios para desconstruir pa-
radigmas e concepções pré-formadas, tentando res-
O Projeto Político Pedagógico nasceu após a Consti- taurar princípios e construindo novos conhecimentos.
tuição de 88, para dar autonomia às escolas na elabora- “O projeto é um documento que propõe uma direção
ção da própria identidade. Esse projeto é o referencial de política e pedagógica para o trabalho escolar, formula
quaisquer instituições de ensino. Regido pela LDB (Lei de metas, prevê as ações, institui procedimentos e instru-
Diretrizes e Bases da Educação) 9394-96, sancionada em mentos de ação.” LIBÂNEO (2005, p.345).
dezembro do mesmo ano possui 92 artigos voltados para Com isso ilustrar o Projeto seria imaginar três pis-
a educação. Ou seja, o marco do Projeto Político Pedagó- tas: uma no centro com a seta vá em frente espa-
gico é a LDB, que intensifica a elaboração e autonomia da ço para discussões e novas perspectivas, uma curva
construção de projetos diferenciados de acordo com as ne- a esquerda sinalizando um precipício evite genera-
cessidades de cada instituição. lizações e egocentrismo e uma curva a direita indi-
O artigo 12 da LDB diz: “Os estabelecimentos de en- cando pista escorregadia o trabalho não é individual.
sino respeitando as normas comuns e as do seu sistema Neste caso um verdadeiro gestor escolherá o centro,
de ensino, terão a incumbência de elaborar e executar sua contribuindo para o bem da escola respeitando os dis-
proposta pedagógica”. centes, docentes pais, responsáveis, funcionários e toda
Está é realmente a afirmação de liberdade, podendo-se a comunidade que integram o bairro onde a escola está
constatar que a escola é “livre” para essa elaboração, prin- localizada.
cipalmente no que diz respeito à gestão, já que com ampla Demo em seu livro A Nova LDB Ranços e Avanços
autonomia o diretor tornou-se gestor executando variadas (1997), traz provocações interessantes: Como tratar de
funções tais como: escolha do quadro docente (instituições Lei em educação, já que é um direito e não uma obriga-
privadas) equipe de colaboração e demais funcionários que ção? Depois nos faz refletir ainda mais questionando os
contribuem para o funcionamento da escola. leitores sobre o que é educação e ensino. Será que o en-
6 Fonte: www.uece.br - Por Tania de Assis Souza Granja/Sonia sino não faz parte da educação, ou a educação deixou de
Maria Cerqueira de Brito ser ensino?
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Surgem questionamentos sobre a formação docente, No artigo 14, em que são definidos os princípios da
já que o artigo 13 fala sobre os profissionais de educação gestão democrática, o primeiro deles é a participação dos
que devem participar da elaboração da proposta pedagó- profissionais da educação na elaboração do projeto pedagó-
gica do estabelecimento de ensino. Está na lei, mas será gico da escola.
que esses profissionais tem acesso realmente a esse tra- No artigo 15, concedeu à escola progressivos graus de
balho de elaboração e construção? Ou encontram projetos autonomia pedagógica, administrativa e de gestão finan-
prontos construídos apenas pelos gestores? ceira. O que isso significa? Ter autonomia significa cons-
O que pensar sobre educação de qualidade em pro- truir um espaço de liberdade e de responsabilidade para
jetos arquitetados e muitas das vezes confundidos como elaborar seu próprio plano de trabalho, definindo seus ru-
simples projetos pedagógicos de educação? São questões mos e planejando suas atividades de modo a responder às
problematizadoras e intrigantes que nos levam a refletir demandas da sociedade, ou seja, atendendo ao que a so-
sempre sobre o nosso papel profissional, devemos ser au- ciedade espera dela. A autonomia permite à escola a cons-
tores de um projeto de qualidade e não sermos apenas trução de sua identidade e à equipe escolar uma atuação
atores de roteiros prontos para serem decorados e apli- que a torna sujeito histórico de sua própria prática.
cados. A Resolução nº 17/99/CEE/SC DE 13/04/99, estabelece
Será que houve inovação na educação após a LDB? A diretrizes para a elaboração do PPP. No Capítulo IV, art. 8ª,
aprendizagem deve ser continua e prazerosa, inovar é uma define o prazo final para as escolas aprovarem o seu proje-
arte e não uma obrigação. to político pedagógico até o dia 31 de dezembro de 1999.
A lei deve investir em educação, sobre isso não há du- No parecer nº 405 aprovado em 14/12/2004, o PPP
vidas, mas onde está inserido o investimento no profissio- aparece como: PPP como direito e dever: o PPP se apre-
nal de ensino? As campanhas politicas não citam os peda- senta como direito ao permitir a escola consolidar sua au-
gogos como prioridade. Lutamos por uma educação igua- tonomia pensando, executando e avaliando o próprio tra-
litária e democrática, mas foge um pouco a nossa realidade balho, ao mesmo tempo que, explicita a intencionalidade
na Constituição de um país que não investe em pesquisa de suas ações. O PPP se apresenta como dever por se vin-
e não capacita o profissional que com muita dedicação e cular aos aspectos legais que emanam da Lei de Diretrizes
amor alfabetizou um dia os mesmos políticos que redigem e Bases da Educação Nacional, Lei do Sistema Estadual de
essas leis. Educação e diretrizes emanadas pelo Conselho Estadual
Falar sobre um Projeto Politico Pedagógico, nada mais
de Educação de Santa Catarina. (Proc. PCEE 781/045 fl. 4).
é do que falar em DEMOCRATIZAÇÂO e PARTICIPAÇÂO de
Quando a escola solicita auxílio para elaboração de
uma comunidade escolar. O projeto faz com que a escola
sua proposta, ela não está se referindo apenas ao docu-
saia da rotina, é uma união perfeita entre escola e socie-
mento em questão, mas também busca subsídios que a
dade.7
ajude a enfrentar os desafios presentes no seu cotidiano.
Os cursos de formação também poderiam incentivar
O PPP na LDB
as escolas a reestruturarem o seu PPP, utilizando o curso
A construção do Projeto Político Pedagógico – PPP,
como estratégia de motivação (ou sensibilização) para se
pelas Instituições Educacionais é uma necessidade sem
repensar a prática e os objetivos da escola, como também
precedência, disposto na Lei de Diretrizes e Bases - LDB nº
9.394/96, especificamente nos artigos 12, 13, e 14. propor mudanças necessárias.
Pensar no processo de construção de um projeto polí- As escolas já não sabem mais como trabalhar as ques-
tico-pedagógico requer uma reflexão inicial sobre seu sig- tões de violência e falta de ambiente favorável à aprendi-
nificado e importância. Vamos verificar como a LDB ressalta zagem. Professores e alunos cada vez mais estressados e
a importância desse instrumento: desesperançados. Estamos vivendo um momento de con-
No artigo 12, inciso I, que vem sendo chamado o “ar- flitos interiores e exteriores. O que fazer? Como fazer? São
tigo da escola” a Lei dá aos estabelecimentos de ensino perguntas que nos atormentam constantemente.
a incumbência de elaborar e executar sua proposta peda- (SILVA, 2004, p. 32).
gógica. “Discutir com os professores assuntos relacionados a
O artigo 12, inciso VII define como incumbência da es- esta temática foi considerado de grande importância neste
cola informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o período, para efetivar melhorias no relacionamento dentro
rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua das instituições escolares. Porém, cabe destacar que esses
proposta pedagógica. assuntos podem ser resolvidos dentro da própria escola,
No artigo 13, chamado o “artigo dos professores”, buscando os pressupostos filosóficos presentes nos PPPs e
aparecem como incumbências desse segmento, entre ou- considerando os problemas apontados no cotidiano de cada
tras, as de participar da elaboração da proposta pedagógica uma delas.”
do estabelecimento de ensino, elaborar e cumprir plano de Pensar no processo de construção de um projeto po-
trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimen- lítico-pedagógico requer uma reflexão inicial sobre seu
to de ensino. significado e importância. Como vimos anteriormente a
7 Fonte: www.artigos.netsaber.com.ber - Por Monique Millet LDB ressalta a importância desse instrumento em vários
De Lima de seus artigos. É bom lembrar que, pela primeira vez no
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Dadas a natureza e a especificidade deste artigo, to- Para Goldman (1979, p. 3-25), um olhar interdiscipli-
mar-se-á como principal ponto de reflexão o papel da in- nar sobre a realidade permite que entendamos melhor
terdisciplinaridade no processo de ensinar e de aprender a relação entre seu todo e as partes que a constituem.
na escolarização formal, buscando-se articular as abor- Para ele, apenas o modo dialético de pensar, fundado na
dagens pedagógica e epistemológica, com seus avanços, historicidade, poderia favorecer maior integração entre as
limitações, conflitos e consensos. ciências. Nesse sentido, o materialismo histórico e dialéti-
Edgar Morin (2005), um dos teóricos desse movimen- co resolveu em parte o problema da fragmentação do co-
to, entende que só o pensamento complexo sobre uma nhecimento quando colocou a historicidade e as leis do
realidade também complexa pode fazer avançar a refor- movimento dialético da realidade como fundamentos para
ma do pensamento na direção da contextualização, da todas as ciências. Desde então, o conceito de interdisci-
articulação e da interdisciplinarização do conhecimento plinaridade vem sendo discutido nos diferentes âmbitos
produzido pela humanidade. Para ele: científicos e muito fortemente na educação. Sem dúvida,
[...] a reforma necessária do pensamento é aquela tanto as formulações filosóficas do materialismo histórico
que gera um pensamento do contexto e do complexo. O e dialético quanto as proposições pedagógicas das teo-
pensamento contextual busca sempre a relação de inse- rias críticas trouxeram contribuições importantes para esse
parabilidade e as inter-retroações entre qualquer fenô- novo enfoque epistemológico.
meno e seu contexto, e deste com o contexto planetário. De fato, é no campo das ciências humanas e sociais que
O complexo requer um pensamento que capte relações, a interdisciplinaridade aparece com maior força. A preocu-
inter-relações, implicações mútuas, fenômenos multidi- pação com uma visão mais totalizadora da realidade cog-
mensionais, realidades que são simultaneamente solidá- noscível e com a conseqüente dialogicidade das ciências
rias e conflitivas (como a própria democracia, que é o foi objeto de estudo primeiramente na filosofia, posterior-
sistema que se nutre de antagonismos e que, simultanea- mente nas ciências sociais e mais recentemente na epis-
mente, os regula), que respeite a diversidade, ao mesmo temologia pedagógica. Trabalhos como o de Kapp (1961),
tempo que a unidade, um pensamento organizador que Piaget (1973), Vygotsky (1986), Durand (1991), Snow (1959)
conceba a relação recíproca entre todas as partes. (p. 23) e Gusdorf (1967) são alguns exemplos desse movimento.
Nesse sentido, a interdisciplinaridade será articulado- Goldman (1979) destaca que, inicialmente, a interdis-
ra do processo de ensino e de aprendizagem na medida ciplinaridade aparece como preocupação humanista, além
em que se produzir como atitude (Fazenda, 1979), como da preocupação com as ciências. Desde então, parece
que todas as correntes de pensamento se ocuparam com
modo de pensar (Morin, 2005), como pressuposto na or-
a questão da interdisciplinaridade: a teologia fenomeno-
ganização curricular (Japiassu, 1976), como fundamento
lógica encontrou nesse conceito uma chave para o diálo-
para as opções metodológicas do ensinar (Gadotti, 2004),
go entre Igreja e mundo; o existencialismo buscou dar às
ou ainda como elemento orientador na formação dos
ciências uma cara mais humana; a epistemologia buscou
profissionais da educação.
desvendar o processo de construção do conhecimento e
garantir maior integração entre as ciências, e o materialis-
Origem e conceitos de interdisciplinaridade
mo histórico e dialético buscou, no método indutivo-dedu-
A interdisciplinaridade, como um enfoque teórico-
tivo-indutivo, uma via para integrar parte e todo.
metodológico ou gnosiológico, como a denomina Ga-
Mais voltado à pedagogia, Georges Gusdorf lançou na
dotti (2004), surge na segunda metade do século passa- década de 1960 um projeto interdisciplinar para as ciências
do, em resposta a uma necessidade verificada principal- humanas apresentado à Organização das Nações Unidas
mente nos campos das ciências humanas e da educação: para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Sua obra
superar a fragmentação e o caráter de especialização do La parole (1953) é considerada muito importante para en-
conhecimento, causados por uma epistemologia de ten- tender a interdisciplinaridade. O projeto de interdisciplina-
dência positivista em cujas raízes estão o empirismo, o ridade nas ciências passou de uma fase filosófica (humanis-
naturalismo e o mecanicismo científico do início da mo- ta), de definição e explicitação terminológica, na década de
dernidade. 1970, para uma segunda fase (mais científica), de discussão
Sobretudo pela influência dos trabalhos de grandes do seu lugar nas ciências humanas e na educação a partir
pensadores modernos como Galileu, Bacon, Descar- da década de 1980.
tes, Newton, Darwin e outros, as ciências foram sendo Gadotti (1993) ressalta que atualmente, no plano teó-
divididas e, por isso, especializando-se. Organizadas, rico, se busca fundar a interdisciplinaridade na ética e na
de modo geral, sob a influência das correntes de pen- antropologia, ao mesmo tempo em que, no plano prático,
samento naturalista e mecanicista, buscavam, já a partir surgem projetos que reivindicam uma visão interdiscipli-
da Renascença, construir uma concepção mais científica nar, sobretudo no campo do ensino e do currículo. No Bra-
de mundo. A interdisciplinaridade, como um movimento sil, o conceito de interdisciplinaridade chegou pelo estudo
contemporâneo que emerge na perspectiva da dialogi- da obra de Georges Gusdorf e posteriormente da de Pia-
cidade e da integração das ciências e do conhecimento, get. O primeiro autor influenciou o pensamento de Hilton
vem buscando romper com o caráter de hiperespecializa- Japiassu no campo da epistemologia e o de Ivani Fazenda
ção e com a fragmentação dos saberes. no campo da educação.
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Ainda é incipiente, no contexto educacional, o desen- o sujeito de sua realidade mais ampla, auxilia os apren-
volvimento de experiências verdadeiramente interdis- dizes na compreensão das complexas redes conceituais,
ciplinares, embora haja um esforço institucional nessa possibilita maior significado e sentido aos conteúdos da
direção. Não é difícil identificar as razões dessas limi- aprendizagem, permitindo uma formação mais consis-
tações; basta que verifiquemos o modelo disciplinar e tente e responsável.
desconectado de formação presente nas universidades, A nova espacialidade do processo de aprender e en-
lembrar da forma fragmentária como estão estruturados sinar e a desterritorialidade das relações que engendram
os currículos escolares, a lógica funcional e racionalista o mundo atual indicam claramente o novo caminho da
que o poder público e a iniciativa privada utilizam para educação diante das demandas sociais, sobretudo as me-
diadas pela tecnologia. Nessa direção, emergem novas
organizar seus quadros de pessoal técnico e docente, a
formas de ensinar e aprender que ampliam significativa-
resistência dos educadores quando questionados sobre
mente as possibilidades de inclusão, alterando profunda-
os limites, a importância e a relevância de sua disciplina
mente os modelos cristalizados pela escola tradicional.
e, finalmente, as exigências de alguns setores da socieda-
Num mundo com relações e dinâmicas tão diferentes,
de que insistem num saber cada vez mais utilitário. a educação e as formas de ensinar e de aprender não
Embora a temática da interdisciplinaridade esteja em devem ser mais as mesmas. Um processo de ensino ba-
debate tanto nas agências formadoras quanto nas esco- seado na transmissão linear e parcelada da informação
las, sobretudo nas discussões sobre projeto político-pe- livresca certamente não será suficiente.
dagógico, os desafios para a superação do referencial di- Para Ivani Fazenda (1979, p. 48-49), a introdução
cotomizador e parcelado na reconstrução e socialização da interdisciplinaridade implica simultaneamente uma
do conhecimento que orienta a prática dos educadores transformação profunda da pedagogia, um novo tipo de
ainda são enormes. formação de professores e um novo jeito de ensinar:
Para Luck (2001), o estabelecimento de um trabalho Passa-se de uma relação pedagógica baseada na
de sentido interdisciplinar provoca, como toda ação a transmissão do saber de uma disciplina ou matéria, que
que não se está habituado, sobrecarga de trabalho, certo se estabelece segundo um modelo hierárquico linear, a
medo de errar, de perder privilégios e direitos estabeleci- uma relação pedagógica dialógica na qual a posição de
dos. A orientação para o enfoque interdisciplinar na prá- um é a posição de todos. Nesses termos, o professor pas-
tica pedagógica implica romper hábitos e acomodações, sa a ser o atuante, o crítico, o animador por excelência.
implica buscar algo novo e desconhecido. É certamente Para Gadotti (2004), a interdisciplinaridade visa ga-
um grande desafio (p. 68). rantir a construção de um conhecimento globalizante,
Não obstantes as limitações da prática, a interdisci- rompendo com as fronteiras das disciplinas. Para isso,
plinaridade está sendo entendida como uma condição integrar conteúdos não seria suficiente. É preciso, como
fundamental do ensino e da pesquisa na sociedade con- sustenta Ivani Fazenda (1979), também uma atitude in-
temporânea. A ação interdisciplinar é contrária a qual- terdisciplinar, condição esta, a nosso ver, manifestada no
quer homogeneização e/ou enquadramento conceitual. compromisso profissional do educador, no envolvimen-
Faz-se necessário o desmantelamento das fronteiras ar- to com os projetos de trabalho, na busca constante de
tificiais do conhecimento. Um processo educativo desen- aprofundamento teórico e, sobretudo, na postura ética
volvido na perspectiva interdisciplinar possibilita o apro- diante das questões e dos problemas que envolvem o
conhecimento.
fundamento da compreensão da relação entre teoria e
Pedro Demo (2001) também nos ajuda a pensar so-
prática, contribui para uma formação mais crítica, criativa
bre a importância da interdisciplinaridade no processo de
e responsável e coloca escola e educadores diante de no-
ensino e aprendizagem quando propõe que a pesquisa
vos desafios tanto no plano ontológico quanto no plano
seja um princípio educativo e científico. Para ele, disse-
epistemológico. minar informação, conhecimento e patrimônios culturais
Por certo as aprendizagens mais necessárias para es- é tarefa fundamental, mas nunca apenas os transmitimos.
tudantes e educadores, neste tempo de complexidade e Na verdade, reconstruímos. Por isso mesmo, a aprendi-
inteligência interdisciplinar, sejam as de integrar o que zagem é sempre um fenômeno reconstrutivo e político,
foi dicotomizado, religar o que foi desconectado, proble- nunca apenas reprodutivo.
matizar o que foi dogmatizado e questionar o que foi im- Para Paulo Freire (1987), a interdisciplinaridade é o
posto como verdade absoluta. Essas são possivelmente processo metodológico de construção do conhecimento
as maiores tarefas da escola nesse movimento. pelo sujeito com base em sua relação com o contexto,
Na sala de aula, ou em qualquer outro ambiente de com a realidade, com sua cultura. Busca-se a expressão
aprendizagem, são inúmeras as relações que intervêm no dessa interdisciplinaridade pela caracterização de dois
processo de construção e organização do conhecimento. movimentos dialéticos: a problematização da situação,
As múltiplas relações entre professores, alunos e obje- pela qual se desvela a realidade, e a sistematização dos
tos de estudo constroem o contexto de trabalho dentro conhecimentos de forma integrada.
do qual as relações de sentido são construídas. Nesse De todo modo, o professor precisa tornar-se um pro-
complexo trabalho, o enfoque interdisciplinar aproxima fissional com visão integrada da realidade, compreender
que um entendimento mais profundo de sua área de for-
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mação não é suficiente para dar conta de todo o processo O que apresentamos até agora nos permite afirmar
de ensino. Ele precisa apropriar-se também das múltiplas que a interdisciplinaridade, tanto em sua dimensão epis-
relações conceituais que sua área de formação estabelece temológica quanto pedagógica, está sustentada por um
com as outras ciências. O conhecimento não deixará de ter conjunto de princípios teóricos formulados sobretudo por
seu caráter de especialidade, sobretudo quando profundo, autores que analisam criticamente o modelo positivista
sistemático, analítico, meticulosamente reconstruído; to- das ciências e buscam resgatar o caráter de totalidade do
davia, ao educador caberá o papel de reconstruí-lo dialeti- conhecimento. Abordagens teóricas construídas pela óp-
camente na relação com seus alunos por meio de métodos tica da dialética, da fenomenologia, da hermenêutica e do
e processos verdadeiramente produtivos. paradigma sistêmico são formulações que sustentam esse
A escola é um ambiente de vida e, ao mesmo tempo, movimento produzindo mudanças profundas no mundo
um instrumento de acesso do sujeito à cidadania, à cria- das ciências em geral e da educação em particular.
tividade e à autonomia. Não possui fim em si mesma. Ela A interdisciplinaridade, como fenômeno gnosiológico
deve constituir-se como processo de vivência, e não de e metodológico, está impulsionando transformações no
preparação para a vida. Por isso, sua organização curricu- pensar e no agir humanos em diferentes sentidos. Reto-
lar, pedagógica e didática deve considerar a pluralidade ma, aos poucos, o caráter de interdependência e interati-
de vozes, de concepções, de experiências, de ritmos, de vidade existente entre as coisas e as idéias, resgata a visão
culturas, de interesses. A escola deve conter, em si, a ex- de contexto da realidade, demonstra que vivemos numa
pressão da convivialidade humana, considerando toda a grande rede ou teia de interações complexas e recupera
sua complexidade. A escola deve ser, por sua natureza e a tese de que todos os conceitos e teorias estão conec-
função, uma instituição interdisciplinar. tados entre si. Ajuda a compreender que os indivíduos
Olga Pombo (2003) afirma que há um alargamento do não aprendem apenas usando a razão, o intelecto, mas
conceito de ciência e, por isso, a necessidade de reorgani- também a intuição, as sensações, as emoções e os sen-
zação das estruturas da aprendizagem das ciências e, por timentos. É um movimento que acredita na criatividade
conseqüência, das formas de aprender e de ensinar. Em das pessoas, na complementaridade dos processos, na
outras palavras: o alargamento do conceito de ciência é inteireza das relações, no diálogo, na problematização, na
tão profundo que muitas vezes é difícil estabelecer a fron- atitude crítica e reflexiva, enfim, numa visão articulado-
teira entre a ciência e a política, a ciência e a economia, a ra que rompe com o pensamento disciplinar, parcelado,
ciência e a vida das comunidades humanas, a ciência e a hierárquico, fragmentado, dicotomizado e dogmatizado
arte e assim por diante. Por isso, quanto mais interdiscipli- que marcou por muito tempo a concepção cartesiana de
nar for o trabalho docente, quanto maiores forem as rela- mundo.
ções conceituais estabelecidas entre as diferentes ciências, Portanto, a interdisciplinaridade é um movimento im-
quanto mais problematizantes, estimuladores, desafiantes portante de articulação entre o ensinar e o aprender. Com-
e dialéticos forem os métodos de ensino, maior será a preendida como formulação teórica e assumida enquanto
possibilidade de apreensão do mundo pelos sujeitos que atitude, tem a potencialidade de auxiliar os educadores e
aprendem. as escolas na ressignificação do trabalho pedagógico em
Só haverá interdisciplinaridade no trabalho e na pos- termos de currículo, de métodos, de conteúdos, de ava-
tura do educador se ele for capaz de partilhar o domínio liação e nas formas de organização dos ambientes para a
do saber, se tiver a coragem necessária para abandonar o aprendizagem.8
conforto da linguagem estritamente técnica e aventurar-
se num domínio que é de todos e de que, portanto, nin- Interdisciplinaridade e Formação do Profissionais
guém é proprietário exclusivo. Não se trata de defender
que, com a interdisciplinaridade, se alcançaria uma forma As rápidas transformações pelas quais a sociedade
de anular o poder que todo saber implica (o que equiva- contemporânea vem passando, culmina no contexto es-
leria a cair na utopia beata do sábio sem poder), mas de colar, na medida em que a escola como pertencente a
acreditar na possibilidade de partilhar o poder que se tem, esta sociedade também se modifica. Diante disso o pro-
ou melhor, de desejar partilhá-lo. cesso de formação de docentes exige discussões acerca
A abordagem interdisciplinar, como proposta de re- dos desafios na educação mediante a essas rápidas trans-
visão do pensamento positivista na educação, está forte- formações.
mente presente nas atuais correntes, tendências e concep- Para isso abordaremos a interdisciplinaridade como
ções teóricas que tratam do fenômeno da aprendizagem. uma ferramenta necessária a formação docente, possibi-
Maria Cândida Moraes (2002), ao discutir as implicações litando uma visão holística sobre os objetos de análises.
do paradigma educacional emergente, destaca a presen- Através do trabalho interdisciplinar, expande-se o
ça desse enfoque no construtivismo piagetiano, na pe- desejo dos alunos em seguir aprendendo ao longo da
dagogia libertadora de Freire, na teoria das inteligências vida, pois o ensino como se teve até o momento, pouco
múltiplas de Gardner, na abordagem histórico-cultural de contribuiu para que o aluno tivesse uma visão global do
Vygotsky, na teoria da complexidade de Morin, nas for- conhecimento, já que são instruídos a compreenderem as
mulações de Capra, Papert, Prigogine, Bohm, Boaventura partes isoladas do objeto de estudo de sua área.
Sousa Santos e vários outros. 8 Fonte: www.scielo.br - Porv Juares da Silva Thiesen
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Como metodologia foi realizada a discussão de textos, “delimitar um objeto para investigação não é fragmen-
participação em palestras, elaboração de aulas na perspec- tá-lo, ou limitá-lo [...] isto não significa que tenhamos
tiva interdisciplinar em que os diversos olhares se voltam que abandonar as múltiplas determinações que o consti-
para o objeto de estudo a fim de enriquecê-lo. Muito se tuem”. (FRIGOTTO, 1995, p. 36).
tem discutido a questão da interdisciplinaridade, mas o A interdisciplinaridade se mostra também como um
que ela significa? Qual a sua função na educação? Como é problema, na medida em que se impõe como desafio a
o educador interdisciplinar? Procuramos ao longo da dis- ser descoberto. Segundo Frigotto (1995) um dos fatos
cussão encontrar respostas para estas questões. que a coloca como problema é a limitação do sujeito, no
momento de construção do conhecimento de uma reali-
Conhecendo a Interdisciplinaridade dade, bem como pelo caráter histórico desta realidade e
O conceito de interdisciplinaridade é fundamental na por sua complexidade.
educação contemporânea, porém a sua compreensão per- O problema se dá primeiramente na forma como os
siste em um desafio para os educadores. A ideia enfatizada seres humanos estabelecem as relações sociais e secun-
é a de que a interdisciplinaridade seria uma prática a ser dariamente o problema se manifesta no plano teórico e
desenvolvida através de projetos instigantes no currículo e na práxis. Frigotto discute que a produção do conheci-
para isso requer uma profunda imersão nos conceitos de mento não é alheia aos conflitos que se estabelecem nas
escola, currículo ou didática. A historicidade desses con- relações sociais, salienta que na divisão do trabalho se
ceitos, entretanto requer igualmente uma profunda pes- consuma a alienação e a exclusão, na qual os homens
quisa dos saberes requeridos ou a requerer de quem as produzem a vida material e consciência social. “O modo
estiver praticando ou pesquisando (FAZENDA, 2003). de pensar fragmentário, linear, produz conhecimentos
Percebe-se que não há um único conceito que defina que, transformados em ação, trazem inúmeros proble-
a interdisciplinaridade, cada autor aborda de uma maneira mas concretos ao conjunto da humanidade”. (FRIGOTTO,
diferente, porém os conceitos se assemelham. Para tanto, 1995, p. 49)
escolhemos alguns autores, como Pontuschka (1999), Fri- A interdisciplinaridade surge então da necessidade
gotto (1995) e Fazenda (2008), para compreender o que é de uma resposta para a fragmentação das disciplinas,
a interdisciplinaridade. ela é um diálogo entre as diversas áreas do conhecimen-
Na visão de Fazenda (2008), cada disciplina deve ser to, um modo de trabalhar o conhecimento. Para BOVO
analisada nos saberes que contempla e não somente pelo (2005, p. 02) A interdisciplinaridade anseia a passagem
lugar que ocupa na grande curricular e relata que as dis- de uma concepção fragmentada para uma concepção
cussões acerca da interdisciplinaridade convergem desde unitária, para isso precisa de uma escola participativa,
a década de 1960, buscando sentidos existenciais para com uma visão ampla e não fragmentada, que se torne
este conceito. espaço de reflexão, de trocas de conhecimentos e clareza
O conceito de interdisciplinaridade, como ensaiamos nos objetivos.
em todos nossos escritos desde 1979 e agora aprofunda- [...] a metodologia interdisciplinar parte de uma liber-
mos, encontra-se diretamente ligado ao conceito de disci- dade científica, alicerça-se no desejo de inovar, de criar, de
plina, onde a interpenetração ocorre sem a destruição bá- ir além e suscita-se na arte de pesquisar, não objetivando
sica às ciências conferidos. Não se pode de forma alguma apenas a valorização técnico-produtiva ou material, mas
negar a evolução do conhecimento ignorando sua história. sobretudo, possibilitando um acesso humano, no qual de-
Assim, se tratamos de interdisciplinaridade na educação, senvolve a capacidade criativa de transformar a concre-
não podemos permanecer apenas na prática empírica, mas ta realidade mundana e histórica numa aquisição maior
é necessário que se proceda a uma análise detalhada dos de educação em seu sentido de ser no mundo (FAZENDA,
porquês dessa prática histórica e culturalmente contextuali- 1979, p.10-18 apud BOVO, 2005 p. 02).
zada. (FAZENDA, 2008, p. 21) A interdisciplinaridade insinua uma maneira de pro-
Pontuschka (1999) cita Severino (1989) para dizer que: dução do conhecimento que implica em uma troca de
A conceituação de interdisciplinaridade é, sem dúvida teorias e metodologias, produzindo então novos con-
uma tarefa inacabada: até hoje não conseguimos definir ceitos, procurando assim atender a natureza múltipla de
com precisão o que vem a ser essa “vinculação, essa re- complexidades fenomenológicas, tratando-se a impor-
ciprocidade, essa interação, essa comunidade de sentido tância de averiguar a pertinência e a relevância das diver-
essa complementaridade entre as várias disciplinas. É que sas áreas do conhecimento a serem ensinados e estimu-
a situação da interdisciplinaridade é uma situação da qual lados no currículo escolar.
não tivemos ainda uma experiência vivida e explicitada, sua Existe um grande desafio teórico, epistemológico e
prática concreta, sendo assim processo tateante na elabora- metodológicos que é a relação entre as disciplinas, onde
ção do saber. (SEVERINO, 1989) cada uma deve respeitar o limite da outra e ainda assim
Para Frigotto (1995) a interdisciplinaridade se impõe haver um consenso entre elas para a construção de um
como um problema e uma necessidade. Ele discorre a ne- saber diferenciado. Frigotto (1995) aborda que a interdis-
cessidade da interdisciplinaridade como algo que deve ciplinaridade precisa, acima de tudo, de uma discussão
imperar na produção e socialização do conhecimento, de paradigma, situando o problema no plano teórico-
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metodológico. Precisa-se segundo ele, perceber que a ciplinas, pois ficam presos somente a que eles ministram,
interdisciplinaridade não se efetiva se não transcender- não há as vezes uma troca de saberes, por isso que a in-
mos a visão fragmentada e o plano fenomênico, ambos terdisciplinaridade exige uma nova postura da escola, dos
marcados pelo paradigma empirista e positivista. professores e dos próprios alunos.
O professor interdisciplinar, na visão de Fazenda
A interdisciplinaridade na formação do professor (1994, p.31), é um ser que busca, pesquisa, tem compro-
Visto que a sociedade está passando por rápidas misso com seus alunos, identifica-se como alguém insatis-
transformações e que a escola, como parte dessa socie- feito com o que realiza, é um profissional que luta por uma
dade também se modifica, as práticas tradicionais de en- educação melhor e busca por projetos interdisciplinares
sino já são mais efetivas no processo de aprendizagem do em diversas áreas do conhecimento.
aluno. Diante deste novo cenário, a escola necessita de A interdisciplinaridade possibilita aos futuros profes-
estratégias de ensino inovadoras, criativas, visando rom- sores a quebra de paradigmas, antes preso somente ao
per com o conhecimento fragmentado. contexto da área em formação, para novos olhares sobre
O trabalho interdisciplinar é algo que deveria existir a forma de pensar um objeto de estudo, principalmente
nas escolas e muitas vezes não ocorre, e um dos proble- no despertar do trabalho em equipe, tornando as práticas
mas está na fragmentação que existe entre os conteúdos em sala de aula momentos de debates, reflexões e olhares
e as disciplinas. “É que a situação de interdisciplinaridade diferentes sobre temas como diversidade cultural.
é uma situação da qual não tivemos ainda uma experiên- Com todos os conhecimentos adquiridos até o mo-
cia vivida e explicitada, sua prática concreta, sendo assim mento, acreditamos que é possível que o trabalho inter-
ainda um processo tateante na elaboração do saber, na disciplinar ocorra na escola e na graduação, porém faz-se
atividade de ensino, pesquisa e na ação social”. (SEVERI- necessário ter pessoas empenhadas para que isso aconte-
NO, 1989 apud PONTUSCHKA, 1999 p. 100). ça, deixando de lado o modelo existente e buscando um
Esse é um dos motivos pelos quais os professores novo modelo de construção do conhecimento. No projeto
muitas vezes não trabalham determinado conteúdo, pois tivemos a oportunidade de após estudarmos a interdisci-
consideram pertinentes a outra disciplina e deste modo plinaridade colocá-la em prática, é possível ao trabalhar-
cada qual faz seu planejamento e não permite que o mes- mos com um tema, relacioná-lo aos conhecimentos das
mo seja flexível. Falta formação suficiente e força de von- demais disciplinas, fazendo com que o objeto de estudo
tade para se pensar a interdisciplinaridade, pois se deter- seja analisado por diferentes olhares.
minadas disciplinas possuem o mesmo conteúdo, porque Em suma, percebe-se que a interdisciplinaridade pre-
não trabalhá-los em perspectivas diferentes? “Propostas cisa ser vivenciada, exercida, praticada nas escolas e para
interdisciplinares na prática pedagógica que não rompe- isso exige que a comunicação, o diálogo seja trabalhado
rem com essa tradição estão fadadas a reforçar o senso em primeiro lugar, para que assim haja a troca de conhe-
comum” (FRIGOTTO, 1995, p. 54) cimentos entre as disciplinas, a sistematização das ideias e
Como relata Pontuschka (1999) o trabalho interdisci- busca por um trabalho e conjunto.
plinar não terá seus resultados imediatos, pois pensar e A interdisciplinaridade tem sido muito discutida por
agir interdisciplinar é uma tarefa árdua em que se passa educadores, já que é prevista nos Parâmetros Curriculares
de um trabalho individual para um trabalho coletivo, de- Nacionais. Percebe-se o quanto essa prática é construtiva,
ve-se trabalhar etapa por etapa, cada professor primeira- visto que facilita a integração do aluno a mais de uma área
mente conhece a sua disciplina, depois busca conhecer do conhecimento. Porém, ainda é um grande desafio, que
a disciplina de outro e assim o trabalho interdisciplinar deve ser visto pelos professores que estão presentes hoje
começa a ser construído. na sala de aula, encarando-a como uma atividade atrativa
[...] Por isso, entendemos o seguinte cada disciplina aos alunos, afinal é difícil a aceitação de algumas discipli-
precisa ser analisada não apenas no lugar que ocupa ou nas, pois muitos alunos possuem preferências por algumas
ocuparia na grade, mas, nos saberes que contemplam, nos e deixam as outras de lado, mas fica claro que a superação
conceitos enunciados e no movimento que esses saberes dessa visão única, começa a ser transformada quando os
engendram, próprios de seu lócus de cientificidade. Essa futuros professores tem acesso a essas práticas interdisci-
cientificidade, então originada das disciplinas ganha status plinares como vem acontecendo neste programa, onde o
de interdisciplina no momento em que obriga o professor próprio grupo já possibilita essa nova visão e superação da
a rever suas práticas e a redescobrir seus talentos, no mo- disciplina pela disciplina, para um trabalho conjunto que
mento em que ao movimento da disciplina seu próprio mo- seja alimentado pelas diversas áreas.9
vimento for incorporado. (FAZENDA, 2008)
A interdisciplinaridade “é algo pressentido, desejado,
buscado, mas ainda não atingido” (PONTUSCHKA, 1999,
p. 100) e isso deve-se ao fato de que os padrões já im-
postos não foram rompidos, ainda existe a dificuldade por 9 Fonte: www.uniso.br – Por Moacir Umbelino/ZABINI, Fran-
parte dos professores e se relacionar com as demais dis- ciele Oliveira
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compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia uma A interdisciplinaridade acontece naturalmente se hou-
disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, tal- ver sensibilidade para o contexto, mas sua prática e sis-
vez vários. Explicação, compreensão, intervenção são pro- tematização demandam trabalho didático de um ou mais
cessos que requerem um conhecimento que vai além da professores. Por falta de tempo, interesse ou preparo, o
descrição da realidade mobiliza competências cognitivas exercício docente na maioria das vezes ignora a interven-
para deduzir, tirar inferências ou fazer previsões a partir do ção de outras disciplinas na realidade ou fato que está tra-
fato observado (Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensi- balhando com os alunos.
no Médio. Brasília: MEC, 2002, p. 88 e 89). Há inúmeras formas de realizar atividades ou traba-
Ainda prevalece o modelo antigo de aprendizagem no lhos interdisciplinares. Muitos professores do ensino fun-
qual existe a informação dada pelo professor e a assimila- damental trabalham de modo interdisciplinar. Mesmo o
ção pelo aluno. A aprendizagem escolar depende de uma professor disciplinarista pode realizar a interdisciplinarida-
interação complexa entre alunos, professores, conteúdos, de de um professor só, identificando e fazendo relações
tarefas e do próprio contexto educacional. entre o conteúdo de sua disciplina e o de outras, existentes
Como na escola o aprendizado é um resultado desejá- no currículo ou não. Numa mesma área de conhecimento
vel, é o próprio objetivo do processo escolar, a intervenção as possibilidades de abordagem interdisciplinar são ainda
é um processo pedagógico privilegiado. O professor tem mais amplas, seja pelo fato de um professor assumir mais
o papel explícito de intervir e provocar nos alunos avan- de uma disciplina da área, seja pela proximidade entre elas
ços que não correriam espontaneamente. (FRISON, 2000 que permite estabelecer conexões entre os conteúdos.
p. 129) Por mais que os professores possam contribuir para
No mundo atual, moderno e informativo o professor que a aprendizagem se realize será o próprio aluno que
já não é mais o provedor de conhecimento, agora ele atua deverá ser capaz de elaborar os próprios conteúdos de
como mediador da aprendizagem. Deve provocar e ques- aprendizagem. Ele é o agente transformador que vai modi-
tionar o aluno, levando-o ao sucesso de suas pesquisas e ficar enriquecer e construir novos métodos de interpreta-
consequentemente suas respostas desejadas. ção de conhecimentos. O aluno será sempre um agente da
A escola compreende professor e aluno, envolvidos aprendizagem, sempre se atualizando e sendo orientados
emocionalmente, a essa junção só surgirá aprendizagem pelo professor deverá buscar sempre, fazendo leitura ex-
se o professor lançar desafios e o aluno ser capaz de en- traclasse, pesquisando, aprofundando e melhorando seus
frentá-los. Del Prette e Del Prette (2001) ressaltam que as conhecimentos.
escolas são ambientes ideais para o ensino de uma condu- A construção do conhecimento sobre os conteúdos es-
ta social de qualidade. O professor encontra no ambiente colares são influenciado pelo meio ambiente, pelos meios
escolar um campo fértil, não só para o ensino-aprendiza- de comunicação, professores e colegas. O professor deve
gem de habilidades acadêmicas, mas também um espaço lançar problemas atuais, além dos tradicionais, explorar
de interação mútua que o possibilita levar o aluno a cres- mais como usar símbolos, idéias, imagens que reflitam a
cer, respeitar-se e respeitar os outros. O professor tem em realidade.
suas mãos a possibilidade de elaborarem objetivos e pro- Assim, práticas formativas referem-se a maneiras bem
cedimentos que tenham por meta melhorar ou promover a identificáveis de ensinar, mas também à qualidade das re-
competência social e as relações interpessoais dos alunos. lações entre professor e aluno, ao exemplo profissional, à
O professor deverá ser capaz de inovar, variar suas autoridade intelectual do professor formador, entre mui-
técnicas de ensinar, buscar qualidade e não se deter em tas outras ocorrências que os alunos podem avaliar como
importante para o aprendizado do ser professor. (GUIMA-
quantidades de conteúdos, ter bom relacionamento com
RÃES, 2004, p. 56)
as crianças, e além do mais ser amigo. O professor deve
Cabe ao professor tornar suas experiências bem suce-
ensinar seus alunos para conviverem em sociedade, valo-
didas para que haja mudanças de comportamento, o aluno
rizar sempre as questões sociais como dignidade, caráter,
por si só constrói suas relações consigo mesmo sendo ca-
bondade e honestidade.
paz de aprender.
Do ponto de vista cognitivo, Bassedas et al. (1996)
Tudo que se aprende e se ensina na sala de aula, são
consideram que cabe ao professor o papel de orientação
inevitavelmente transmitidos aos pais e ao ambiente fami-
e ajuda com o objetivo de possibilitar aos alunos a apren- liar, pois são esses fatores que interferem na aprendizagem
dizagem de determinados conteúdos. O professor desem- dos alunos dia a dia.
penha papel fundamental na organização de atividades Quando são captados, estudados, discutidos e ava-
e na formulação de situações que propiciem aos alunos liados, tais conteúdos causam mudanças significativas no
oportunidades de aprendizagem de forma significativa. diálogo, tanto no cotidiano escolar como na comunidade e
Do ponto de vista afetivo, estes autores consideram que o na família, pois os alunos transmitem seus conhecimentos
professor representa confiança para o aluno, poder social, adquiridos na escola de maneira prazerosa e positiva.
intelectual e um modelo (possível) a seguir, além da con- Segundo Hamze (s/d), aprendizagem é um processo
sequente motivação do desejo de saber. Ressaltam, ainda, de mudança de comportamento obtido através da expe-
que a importância da qualidade do vínculo afetivo entre o riência construída por fatores emocionais, neurológicos,
professor e seus alunos exerce grande influência sobre o relacionais e ambientais. Aprender é o resultado da intera-
relacionamento que crianças e jovens estabelecem entre si. ção entre estruturas mentais e o meio ambiente. De acordo
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com a nova ênfase educacional, centrada na aprendizagem, de depende das possibilidades delineadas pelas formas de
o professor é co-autor do processo de aprendizagem dos pensamento em que dispõe naquela fase do desenvolvi-
alunos. Nesse enfoque centrado na aprendizagem, o co- mento, dos conhecimentos que já construiu anteriormente
nhecimento é construído e reconstruído continuamente. e do ensino que recebe.
A interdisciplinaridade, portanto, não precisa necessaria- No ensino, a interdisciplinaridade não pode ser uma
mente de um projeto científico. Pode ser incorporada no “junção de conteúdos, nem uma junção de métodos, mui-
plano de trabalho do professor de modo contínuo; pode to menos a junção de disciplinas” (FAZENDA, 1993, p. 64).
ser realizada por um professor que atua em uma só disci- Ela implica num novo pensar e agir, numa postura que
plina ou por aquele que dá mais uma, dentro da mesma privilegia a abertura para uma vivência interativa media-
área ou não; pode, finalmente, ser objeto de um proje- da por conhecimentos diversificados. Busca-se superar a
to, com um planejamento específico, envolvendo dois ou linearidade do currículo escolar, reorganizando-os de for-
mais professores, com tempos e espaços próprios. (Refe- ma a superar a tendência de um mero seguimento da lista
renciais Curriculares do Estado do Rio Grande do Sul: Ciên- pronta por série.
cias da Natureza e suas Tecnologias/ Secretaria de Estado É nesse sentido que se busca instruir a nova pratica
da Educação- Porto Alegre, 2009, p. 125). curricular, produzindo uma nova ambiência social na qual
Dentro desse contexto, o trabalho interdisciplinar os conhecimentos das ciências venham a fazer parte de
pode requerer que uma vez pode ser simples, parte da novas formas de interlocução, interpretação e ação, valori-
prática cotidiana dos alunos A interdisciplinaridade é uma zando relações com o dia-a-dia fora da escola.
proposta que visa superar o tratamento do conhecimento Diálogo e questionamento sustentados pelo com-
escolar. Por essa perspectiva, os múltiplos conhecimentos partilhamento de saberes sistematicamente enriquecidos
se interligam e se relacionam com a realidade na comuni- de novos discursos, olhares e vozes enriquecem as novas
dade na qual o aluno esta inserido. Desta forma, quanto formas de pensamento e ação articuladas numa perspec-
maior o diálogo melhor será o entendimento escolar, res- tiva transformadora de culturas diversificadas. (GALIAZZI;
saltando e valorizando as aprimorações da aprendizagem. AUTH; MORAES; MANCUSO, 2008, p. 39).
É fundamental que as escolas, ao manterem a organi-
Vamos analisar um pouco da interdisciplinarida- zação disciplinar, pensem em organizações curriculares que
de e as áreas de conhecimento, vendo a a ligação das possibilitem o diálogo entre os professores das disciplinas da
Ciências Naturais com a interdisciplinaridade. área de Ciências da Natureza, na construção de propostas
Nos últimos anos, o ensino de Ciências Naturais , as- pedagógicas que busquem a contextualização interdiscipli-
sim como de outras áreas do conhecimento, vem sendo nar dos conhecimentos dessa área. O que se precisa é ins-
marcado por uma dicotomia que constitui um desafio para tituir os necessários espaços interativos de planejamento e
os educadores. acompanhamento coletivo da ação pedagógica, de acordo
O objetivo fundamental do ensino de ciências passou com um ensino com característica contextual e interdiscipli-
a ser o de dar condições para o aluno identificar proble- nar (BRASIL, 2006, p. 105).
mas a partir das observações sobre um fato, levantar hipó- A interdisciplinaridade é uma ponte para o melhor en-
teses, testá-las, refutá-las e abandoná-las quando fosse o tendimento das disciplinas entre si. É importante porque
caso, trabalhando de forma para se virar sozinho. abrange temas e conteúdos permitindo dessa forma re-
O aluno deveria ser capaz de “redescobrir” o já conhe- cursos ampliados e dinâmicos, onde as aprendizagens são
cido pela ciência, apropriando-se de sua forma de traba- entendidas. Conceber o processo de aprendizagem como
lho, compreendida então como o “método científico”: uma propriedade do sujeito implica valorizar o papel determi-
sequência rígida de etapas preestabelecidas. (Parâmetros nante da interação com o meio social e, parcialmente, com
Curriculares Nacionais: Ciências Naturais / Secretaria de a escola. Situações escolares de ensino e aprendizagem
Educação Fundamental. – Brasília: MEC, 1997, p. 20). são situações comunicativas, nas quais os alunos e pro-
Baseadas em repetições e memorizações as limitações fessores co-participam, ambos com um influencia decisiva
típicas ao ensino tradicional, confirmam a maneira linear e para o êxito do processo.
fragmentada de organização do conhecimento no currícu- O plano de trabalho do professor não deve ser elabo-
lo escolar. Mesmo que aprovados em provas, muitas vezes rado individualmente. Deve ser o resultado da construção
são precários os significados atribuídos, descaracterizan- coletiva pela equipe de professores, e principalmente pelo
do o ensino das ciências como uma área que se preocupa aluno, nada pode o substituir na tarefa de modificar, en-
com aspectos diversos da vida, com o desenvolvimento riquecer e construir novos e mais potentes instrumentos
de uma visão crítica sobre o homem em seu meio natural de ação e interpretação de determinada área do conhe-
e cultural e sobre seu papel no mundo em transformação cimento.
(SANTOMÉ, 1998, p. 55). Todos ganham com a interdisciplinaridade, primei-
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, o co- ramente pelo conhecimento recuperar sua totalidade e
nhecimento é o resultado de um processo de modificação, complexidade; os professores pela necessidade de me-
construção e reorganização utilizado pelos alunos para as- lhorarem sua interação com os colegas e repesar da sua
similar e interpretar os conteúdos escolares. O que o aluno prática docente; os alunos por estarem em contato com
pode aprender em determinado momento da escolarida- o trabalho em grupo, tendo o ensino voltado para com-
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preensão do mundo que os cerca; por fim a escola, que No processo de estruturação de um currículo esco-
tem sua proposta pedagógica refletida a todos instante e lar emerge conjuntos de questões, e sua construção de-
ganham como grandes parceiros a comunidade, porque manda o tratamento de dimensões políticas, educacionais,
o entendimento do mundo que está inserido os alunos, histórico-sociais, culturais e epistemológicas. Neste senti-
partem do principio de se ouvir também a comunidade. do, torna-se imprescindível pensar, durante a organização
Considerando que a interdisciplinaridade é um as- do trabalho pedagógico do professor, nos elementos fun-
sunto amplo e complexo, no que diz respeito às práticas dantes que constituem a área enquanto unidade de conhe-
educacionais, principalmente no que se refere ao ensino cimento. Este movimento leva à percepção e apropriação,
de ciências, realizamos este trabalho para nortearmos por parte do professor, da unidade epistemológica que
nas atividades futuras como educadores. funda cada área a partir de seus objetos de estudo comuns,
Constatamos, que um trabalho interdisciplinar, antes ou seja, a identidade do conhecimento da área. Tal unidade
de garantir associação temática entre diferentes discipli- não pode submergir frente às especificidades e fragmen-
nas, ação possível, mas não imprescindível, deve buscar tações dos campos de conhecimentos desenvolvidos pela
unidade em termos de prática docente, ou seja, inde- pesquisa científica a partir do século XX, expressados na
escola pelos componentes curriculares.
pendentemente dos temas/assuntos tratados em cada-
Apropriar-se da unidade epistemológica e conceitual
disciplina isoladamente. Em nossa proposta, essa prática
fundante de cada área significa perceber que a interdis-
docente comum está centrada no trabalho permanente-
ciplinaridade do conhecimento é inerente ao processo de
mente voltado para o desenvolvimento de competências
produção do mesmo. Na escola, o conhecimento apresen-
e habilidades, apoiado na associação ensino, pesquisa ta-se fragmentado, entretanto, a especificidade de cada
e no trabalho com diferentes fontes expressas em dife- componente curricular se produz a partir de uma unidade
rentes linguagens, que comportem diferentes interpre- (objeto comum). Cabe ao professor, pelo trabalho pedagó-
tações sobre os temas/assuntos trabalhados em sala de gico, perceber, apropriar-se e promover a interdisciplinari-
aula. Portanto, esses são os fatores que dão unidade ao dade, a contextualização, compreendendo assim a realida-
trabalho das diferentes disciplinas, e não a associação de a partir do conhecimento escolar e vice-versa.
das mesmas em torno de temas supostamente comuns a O currículo que constitui a escola elementar, de um
todas elas. (BRASIL, 2002b, p. 21-22). lado de vertente natural, e de outro, social e cultural, pode
Desta maneira, a motivação dos educandos da disci- ser percebido de certa forma como uma extensão, ou até
plina de Ciências Naturais depende da metodologia mi- mesmo afirmação do trabalho humano intervindo e trans-
nistrada em sala de aula. O educador deve primar pela formando a natureza para atender as necessidades de so-
utilização de práticas metodológicas e estratégias que brevivência.
possam dinamizar o trabalho pedagógico. O conhecimento da natureza fez-se (e faz-se) funda-
Portanto, cabe ao professor o papel de “encantar” os mental, pois o homem necessitou (e necessita) da com-
alunos pela sua forma de selecionar, organizar, contex- preensão de sua constituição e de suas dinâmicas para
tualizar os conteúdos, promovendo assim seu desenvol- a intervenção pela ação do trabalho. Nesse sentido, as
vimento intelectual, e auxiliando-os na construção como Ciências Naturais se desenvolveram concomitantemente à
sujeito, isto é, como ser social. transformação da natureza, inserindo-se, posteriormente,
Portanto, a interdisciplinaridade na escola vem com- como conhecimento à escola. Saviani (2003, p. 135) aborda
plementar as disciplinas, criando no conceito de conhe- que “as ciências naturais compõem um bloco do currícu-
cimento uma visão de totalidade, onde os alunos pos- lo da escola elementar”. Como não basta para o homem,
sam perceber que o mundo onde estão inseridos é com- nem para outros animais, adaptar-se à natureza, torna-se
posto de vários fatores, que a soma de todos formam fundamental conhecê-la para a sobrevivência2. E a escola,
uma complexidade.11 desde a elementar, constitui-se como espaço privilegiado
para o conhecimento.
No Brasil, ao tratar da organização curricular por
Não há como dissociar, nem em tempo e nem em
área de conhecimento para a última etapa da Educação
espaço, as relações do homem com a natureza e com os
Básica, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o En-
próprios homens. Os homens não agem sozinhos, e sim,
sino Médio (PCN), lançados em 1999, os PCN + (2002) e
interagem coletivamente, mediados por normas de convi-
as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2008)1, vência. Nesse sentido, Saviani (ibidem) também aponta “a
consubstanciados na Lei de Diretrizes e Bases da Educa- necessidade de um outro bloco do currículo da escola ele-
ção Nacional (lei 9.934/96), apresentam três áreas: Lin- mentar, o bloco das ciências sociais (...)”. E ainda, continua
guagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natu- Saviani, o currículo da escola elementar pressupõe além do
reza, Matemática e suas Tecnologias e Ciências Humanas conhecimento científico, social (histórico/cultural), o mate-
e suas Tecnologias. Em 2012, com as Diretrizes Curricula- mático e “o domínio da linguagem escrita” (SAVIANI, 2003,
res Nacionais para o Ensino Médio, desagrega-se a área p. 136).
da Matemática das Ciências da Natureza. Assim, os conhecimentos científicos/sociais/históricos/
11 Fonte: http://www.ucs.br – Por Andréia Bonatto/Caroline Ra- culturais/matemáticos/linguísticos, produzidos historica-
mos Barros/Rafael Agnoletto Gemeli/Tatiana Bica Lopes/Marli Dallag- mente pela atividade humana, constituem a base do cur-
nol Frison rículo da escola. O científico – essência metodológica das
38
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
Ciências da Natureza – elaborado a partir de métodos e Não há como dissociar, nem em tempo e nem em
processos sistemáticos, os quais, com o desenvolvimento espaço, as relações do homem com a natureza e com os
da ciência de modo geral, especializam-se e ampliam-se a próprios homens. Os homens não agem sozinhos, e sim,
outros campos, constituindo-se sob “uma unidade episte- interagem coletivamente, mediados por normas de con-
mológica que significa a definição clara de seu objeto de vivência. Nesse sentido, Saviani (ibidem) também aponta
estudo e dos métodos para se abordá-lo” (BRASIL, 2013, p. “a necessidade de um outro bloco do currículo da escola
12). Unidade essa que, decorrente da fragmentação, racio- elementar, o bloco das ciências sociais (...)”. E ainda, con-
nalidade técnica e especialização, submerge a essência da tinua Saviani, o currículo da escola elementar pressupõe
referência de identidade, porém não desaparece. além do conhecimento científico, social (histórico/cultu-
As especificidades dos objetos de estudo de cada cam- ral), o matemático e “o domínio da linguagem escrita”
po das ciências, como da natureza, por exemplo – química, (SAVIANI, 2003, p. 136).
física, biologia – relacionam-se e vinculam-se a uma unida- Assim, os conhecimentos científicos/sociais/históri-
de que é própria da realidade – a natureza. Se trazermos ao cos/culturais/matemáticos/linguísticos, produzidos histo-
debate o campo das ciências humanas, neste, a realidade ricamente pela atividade humana, constituem a base do
da vida social, psíquica, histórica e cultural, constitui-se em currículo da escola. O científico – essência metodológica
unidade epistemológica das Ciências da Natureza – elaborado a partir de métodos
e metodológica para a conhecimento de seus objetos e processos sistemáticos, os quais, com o desenvolvimen-
de estudos. Unidade que “sob o prisma da organização cur- to da ciência de modo geral, especializam-se e ampliam-
ricular permite a integração mútua de conceitos, da termi- se a outros campos, constituindo-se sob “uma unidade
nologia, da metodologia e dos procedimentos de análise” epistemológica que significa a definição clara de seu ob-
(BRASIL, 2013, p, 15), possibilitando a articulação e diálogo jeto de estudo e dos métodos para se abordá-lo” (BRASIL,
entre os campos de saber – história, geografia, sociologia, 2013, p. 12). Unidade essa que, decorrente da fragmen-
filosofia – pelo princípio da interdisciplinaridade. tação, racionalidade técnica e especialização, submerge
Mesmo perante a fragmentação e a especialização da a essência da referência de identidade, porém não desa-
ciência no século XX, mantêm-se a unidade epistemológica parece.
que define o objeto de estudo das áreas de conhecimento. As especificidades dos objetos de estudo de cada
Retomando o campo das Ciências da Natureza, por exem- campo das ciências, como da natureza, por exemplo –
plo, o estudo da Biologia se desenvolve tendo como ele- química, física, biologia – relacionam-se e vinculam-se a
mento fundante a vida orgânica; a Química, a constituição uma unidade que é própria da realidade – a natureza. Se
das matérias orgânicas e inorgânicas e suas transforma- trazermos ao debate o campo das ciências humanas, nes-
ções, e a Física, os fenômenos da natureza e suas proprie- te, a realidade da vida social, psíquica, histórica e cultural,
dades de movimento e energia (BRASIL, 2013). constitui-se em unidade epistemológica e metodológica
Biologia, Química e Física constituem-se em uma uni- para a conhecimento de seus objetos de estudos. Uni-
dade de conhecimento (área para a educação escolar) por- dade que “sob o prisma da organização curricular per-
que mesmo reconhecendo suas especificidades, é possível mite a integração mútua de conceitos, da terminologia,
identificar uma relação de identidade entre os objetos de da metodologia e dos procedimentos de análise” (BRASIL,
estudo: a natureza que se constitui por vida, matéria, trans- 2013, p, 15), possibilitando a articulação e diálogo entre
formação, energia, movimento (BRASIL, 2013). Essa unida- os campos de saber – história, geografia, sociologia, filo-
de faz parte da realidade concreta, vivida pelos homens sofia – pelo princípio da interdisciplinaridade.
no cotidiano, a qual, pelo conhecimento, é elevada ao pla- Mesmo perante a fragmentação e a especialização da
no do pensamento, promovido pelo ensino na escola. O ciência no século XX, mantêm-se a unidade epistemoló-
currículo que constitui a escola elementar, de um lado de gica que define o objeto de estudo das áreas de conhe-
vertente natural, e de outro, social e cultural, pode ser per- cimento. Retomando o campo das Ciências da Natureza,
cebido de certa forma como uma extensão, ou até mesmo por exemplo, o estudo da Biologia se desenvolve tendo
afirmação do trabalho humano intervindo e transformando como elemento fundante a vida orgânica; a Química, a
a natureza para atender as necessidades de sobrevivência. constituição das matérias orgânicas e inorgânicas e suas
O conhecimento da natureza fez-se (e faz-se) funda- transformações, e a Física, os fenômenos da natureza e
mental, pois o homem necessitou (e necessita) da com- suas propriedades de movimento e energia (BRASIL,
preensão de sua constituição e de suas dinâmicas para 2013).
a intervenção pela ação do trabalho. Nesse sentido, as Biologia, Química e Física constituem-se em uma
Ciências Naturais se desenvolveram concomitantemente à unidade de conhecimento (área para a educação esco-
transformação da natureza, inserindo-se, posteriormente, lar) porque mesmo reconhecendo suas especificidades,
como conhecimento à escola. Saviani (2003, p. 135) aborda é possível identificar uma relação de identidade entre os
que “as ciências naturais compõem um bloco do currícu- objetos de estudo: a natureza que se constitui por vida,
lo da escola elementar”. Como não basta para o homem, matéria, transformação, energia, movimento (BRASIL,
nem para outros animais, adaptar-se à natureza, torna-se 2013). Essa unidade faz parte da realidade concreta, vivida
fundamental conhecê-la para a sobrevivência2. E a escola, pelos homens no cotidiano, a qual, pelo conhecimento, é
desde a elementar, constituise como espaço privilegiado elevada ao plano do pensamento, promovido pelo ensino
para o conhecimento. na escola.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
A interdisciplinaridade nos convida a um exercício pe- mentação entre as disciplinas. Proporcionando um diálogo
dagógico diário voltado a comunicação, ao estudo e ao entre estas, relacionando-as entre si para a compreensão
planejamento no ambiente escolar. da realidade. A interdisciplinaridade busca relacionar as
A escola resgata sua importância e amplia sua ação disciplinas no momento de enfrentar temas de estudo.
educativa na construção de valores que integram o ho- Segundo Libâneo (1994), o processo de ensino se ca-
mem cidadão, com a responsabilidade de articular seu racteriza pela combinação de atividades do professor e
conhecimento formal em detrimento da sociedade e, não dos alunos, ou seja, o professor dirige o estudo das ma-
meramente para a sua formação pessoal, e, ou familiar. O térias e assim, os alunos atingem progressivamente o de-
indivíduo é chamado a refletir sobre as ações já realiza- senvolvimento de suas capacidades mentais. É importante
das e aquelas que irá empreender. Sobre os impactos que ressaltar que o direcionamento do processo de ensino ne-
poderá causar e como sanar os que aconteceram. Como cessita do conhecimento dos princípios e diretrizes, méto-
pensar para agir e como mediar as suas ações, a fim de dos, procedimentos e outras formas organizativas.
diminuir os efeitos que possam comprometer os ambien- Ela implica na articulação de ações disciplinarares que
tes que integram a sua vida e a vida de outros seres vivos? buscam um interesse em comum. Dessa forma, a interdis-
Com isso, a escola cresce nutrindo-se através do exercício ciplinaridade só será eficaz se for uma maneira eficiente de
da articulação entre os diferentes saberes.13 se atingir metas educacionais previamente estabelecidas e
compartilhadas pelos atores da unidade escolar.
A interdisciplinaridade no ensino brasileiro A interdisciplinaridade oferece uma nova postura
A interdisciplinaridade começou a ser abordada no diante do conhecimento, uma mudança de atitude em
Brasil a partir da Lei Nº 5.692/71. Desde então, sua presen- busca do contexto do conhecimento, em busca do ser
ça no cenário educacional brasileiro tem se tornado mais como pessoa integral. A interdisciplinaridade visa garantir
presente e, recentemente, mais ainda, com a nova Lei de a construção de um conhecimento globalizante, rompen-
Diretrizes e Bases Nº 9.394/96 e com os Parâmetros. Além do com os limites das disciplinas.
da sua grande influência na legislação e nas propostas cur- Trabalhar nessa perspectiva exige uma postura do pro-
fessor que vai além do que está descrito nos PCNS, pois
riculares, a interdisciplinaridade tornou-se cada vez mais
é necessário que ele assuma uma atitude endógena e que
presente no discurso e na prática de professores.
faço uso de metodologias didáticas adequadas para essa
perspectiva. É através do ensino interdisciplinar, dentro do
aspecto histórico-crítico, que os professores possibilitarão
aos seus alunos uma aprendizagem eficaz na compreen-
são da realidade em sua complexidade.14
A INTERDISCIPLINARIDADE COMO
ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA PARA A
RENOVAÇÃO DA DIDÁTICA.
41
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
o outro, estando disposto a vivenciar a dialogicidade que, O processo reflexivo torna-se alicerce para que se
segundo Freire (1996), entrelaça as ações de saber ouvir, construa um processo interdisciplinar efetivo no coti-
falar, enxergar, calar, interagir pela via da comunicação, do diano, por meio de uma prática pedagógica que esteja
diálogo e da troca mútua. impregnada de pesquisa, discussão, análise e desenvol-
Neste sentido, a interdisciplinaridade resgata a im- vimento metacognitivo dos professores e alunos sobre o
portância do “outro”, sem o qual não pode haver a troca conhecimento construído de forma individual e coletiva.
mútua da evolução do pensamento e da linguagem, e É um processo de desestruturação situacional do pré-
amplia os horizontes dentro do processo sócio histórico vio, do possuído e do conhecido, para buscar uma nova
educacional, resgatando a importância do conhecimento estruturação do pensamento. É necessária a passagem
das potencilidades, dos limites, das diferenças e do pro- do pensamento linear lógico-formal para o pensamento
cesso criativo de cada ciência, respeitando-se, assim, a dialético, em que se efetivem:
relatividade entre elas. • as contradições dos fenômenos;
Há, pois, a transformação de um pensamento lógico • as relações múltiplas dos saberes;
formal em um pensamento não-linear configurado como • a problematização da rivalidade;
dialético, porque não pressupõe a unificação de diferen- • a busca pela integração do pensar + fazer e/ou fa-
tes saberes, mas a construção incessante de relações en- zer + pensar;
tre si. • o processo contínuo de ação — reflexão — ação;
Dentro desse âmbito de observação é cabível per- • a superação da dependência, da passividade e da
ceber que a prática da interdisciplinaridade está inteira- rivalidade;
mente relacionada à pesquisa, conforme podemos ob- • a autonomia, a ação reflexiva e a cooperação.
servar na seguinte citação: Quando refletimos sobre o papel e a importância do
O professor, na perspectiva da interdisciplinaridade, trabalho interdisciplinar na Escola Básica, é preciso pen-
não é um mero repassador de conhecimentos, mas é re- sar a organização do ensino, pois a forma como o co-
construtor juntamente com seus alunos; o professor é, nhecimento é adquirido, refletido e organizado dentro da
consequentemente, um pesquisador que possibilita aos matriz curricular retrata a própria concepção de ensino e
alunos, também, a prática da pesquisa. A problematiza- aprendizagem.
ção como metodologia para a reconstrução de constru- Assim, o estudo do currículo acaba por envolver uma
tos dá condições ao aluno de mover-se no âmbito das análise micro e macro da realidade escolar, sendo um
teorias, das diferentes áreas do saber, construindo a teia processo aberto que movimenta a própria realidade edu-
de relações que vai torná-lo autônomo diante da auto- cativa.
ridade do saber. O professor pesquisador constitui-se, Infelizmente, a ideia do currículo é empregada na
portanto, em agente necessário de uma formação calça- escola como um manual descritivo de ações a serem se-
da na interdisciplinaridade (Tomazetti, 1998, p. 13). guidas pelos professores, alunos e profissionais de ensi-
A perspectiva epistemológica da interdisciplinarida- no de forma mecânica, acrítica e destituída de sentido e
de não pressupõe unicamente a integração, mas a intera- significado.
ção das disciplinas, de seus conceitos e diretrizes, de sua O currículo acaba por não se configurar como um
metodologia, de seus procedimentos, suas informações conjunto de orientações e hipóteses de trabalho, origi-
na organização do ensino, enfim, traz a ideia da não glo- nários de um processo reflexivo por parte de todos que
balização dos conteúdos simplesmente, mas, sobretudo, compõem o contexto escolar.
de trabalhar as diferenças, criando a partir disso novos Quando analisamos a construção e a implementação
caminhos epistêmicos e metodológicos como forma de do currículo, torna-se necessária uma atitude reflexiva
compreender e enriquecer conhecimentos sobre as mais permanente da própria comunidade sobre como o co-
diversas áreas do saber. nhecimento escolar é construído (para quê, por quê, e
A interdisciplinaridade é o elo que possibilita o es- o quê ensinar), não esquecendo jamais que ele é consti-
tabelecimento de inúmeras relações das disciplinas com tuído pela interconexão entre conhecimentos científicos
e sociais.
a realidade, num processo recíproco de aprendizagens
Entretanto, não é fácil estabelecer parâmetros de
múltiplas e intermináveis. Assim, professor e aluno de-
ação educativa que delimitem o trabalho docente, tanto
verão estabelecer diferentes interconexões entre a epis-
na concepção do currículo como no desenho da própria
temologia dos conhecimentos e o mundo que os cerca,
matriz curricular.
a fim de exercitar cotidianamente seus saberes e as rela-
Nesse sentido, há inúmeros desafios que precisam
ções entre teoria e prática. ser analisados. Dentre eles, destacamos a importância de
Percebe-se que todo o processo interdisciplinar deve os professores, nas suas práticas, ao elaborarem seus pla-
estar pautado na reflexão, o que podemos observar in- nejamentos de ensino, buscarem estabelecer:
clusive nas concepções de Schon (1983), que retrata a • a interconexão dos objetivos;
importância do conhecimento na ação, da reflexão na • as interfaces dos conteúdos;
ação e da reflexão sobre a ação permeando as situações • a interação dos objetivos e os conteúdos por meio
educativas. de atividades criativas, críticas e emancipatórias.
42
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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O planejamento das atividades docentes e discentes • Temporal: enfoca a transitoriedade dos aconteci-
não apenas passa pelas questões sociológicas, epistemo- mentos e a importância da herança cultural e da histórica
lógicas, psicológicas e didáticas, mas estas devem ser o acumulada;
centro de análise e reflexão pelo qual perpassará o Proje- • Psicológica/sociocultural: revela a interdependên-
to Político Pedagógico da própria escola. cia entre o contexto e as outras dimensões.
A integração do professor na sociedade, tendo clareza As relações sociais estabelecidas na escola delimitam
de por que e para que ensinar, o resgate dos conhecimen- muitas vezes os processos de ensino e aprendizagem, a
tos prévios e a promoção de um ambiente educativo que própria filosofia da escola, o PPP que ela busca atingir, e
favoreça a aquisição de novas ideias, o trabalho coletivo, as propostas educativas inerentes a ela e ao seu papel na
as discussões epistemológicas e metodológicas nas dife- sociedade.
rentes áreas, tudo isso deve ser perseguido. Por isso, os Nesse sentido, quando configuramos a escola como
objetivos deverão estar conectados com os conhecimentos um contexto social, o ambiente em sala de aula torna-se
dos alunos, da sociedade, das interfaces dos conteúdos e um espaço central para a aquisição de novos conhecimen-
da concepção filosófica que delimita as condições naturais tos e a reestruturação de outros, uma vez que é estabeleci-
e sociais. da uma interação entre professores e alunos mediados por
Em função do exposto, a planificação e a operaciona- um processo dialógico/discurso.
lização dos conhecimentos escolares na matriz curricular A valorização da comunicação e o uso e a análise do
deve propiciar uma dimensão vertical que implica a ideia discurso no processo dialógico tornam-se necessárias para
de profundidade e complexidade crescente de conteúdo, o estabelecimento de espaços alternativos de saber ouvir,
e uma dimensão horizontal que estabelece a interação dos pensar, falar, enfim, de se comunicar, por meio de turnos
conhecimentos com as outras disciplinas/áreas. A ideia da alternativos, possibilitando a interlocução dos sujeitos, a
implementação de práticas interdisciplinares deve dese- análise do conteúdo do discurso e o tema a ser discutido e
nhar, tecer e alinhavar a verticalidade e a horizontalidade debatido, instrumentalizando professores e alunos para o
da Matriz Curricular, para que os professores tenham cla- ato de interagir de forma responsável e dinâmica.
ras as interfaces das disciplinas e as possíveis interrelações Neste processo dialógico, as ideias, os pontos de vista,
provenientes delas. as formas de pensamento e as inúmeras experiências dos
Assim, ao integrar o conhecimento escolar com as professores e alunos acabam oportunizando o exercício
conceitos científicos, procedimentos, valores e atitudes do pensar e da própria metacognição, gerando a apren-
sociais, há um movimento espiral, contínuo e permanente dizagem por meio da mediação dos conflitos. A partilha
dos conteúdos.
dos significados pela linguagem gera, no contexto comu-
As ideias são consideradas fundamentais para com-
nicativo, a colaboração mútua por meio de um trabalho
preender como os marcos curriculares inseridos nos PPPs
que envolve tutoramento e grupos de colaboração.
(Projetos Políticos Pedagógicos) das escolas devem estar
Uma sala de aula que propicia um espaço interativo
em consonância com a finalidade educativa, a filosofia da
de diálogo em complexidade crescente potencializa o pa-
escola e, dentre outras coisas, com a interlocução dos con-
pel do professor e do aluno. O professor torna-se tutor
teúdos, objetivos e metodologia contemplados pelo traba-
do processo de construção dos conhecimentos e dos sig-
lho docente por meio de atividades de ensino.
nificados inerentes a eles e, em parceria com os alunos,
Contudo, muitas vezes os profissionais de ensino não
problematiza o contexto escolar e social via grupos cola-
se percebem como sujeitos do fazer educativo, deixando
de constituir e construir suas próprias identidades pessoais borativos e cooperativos.
e profissionais, gerando um espaço isolado e desconstituí- Ao desenvolver seu trabalho pedagógico, o professor
do de significados. deve, pois, promover atividades de ensino que instiguem
Ao analisarmos a escola, é preciso refletir sobre o con- os alunos a desenvolver suas potencialidades e a superar
texto que a fundamenta e as relações que lá são estabe- suas dificuldades, desafiando-os diariamente. O professor
lecidas. Sendo a escola um contexto social formado por Manoel Oriosvaldo Moura, em seu artigo intitulado “A ati-
pessoas, está embuída e vive das diferentes relações huma- vidade de Ensino como Unidade Formadora”, conceitua
nas que são estabelecidas por meio das inúmeras situações atividade como
educativas. um processo psicologicamente caracterizado por uma
Como a escola é um contexto social importante, urge meta a que o processo se dirige (seu objeto), coincidindo
analisarmos as inúmeras dimensões que devem ser valori- sempre com o objeto que estimula o sujeito a executar
zadas, respeitadas e trabalhadas, pois essas dimensões são esta atividade, isto é, o motivo [...]atividades que são prin-
frutos e se alimentam das relações estabelecidas entre as cipais em certo estágio da vida, determinando o desenvol-
pessoas que compõem o ambiente escolar. vimento psíquico da criança, construindo, ainda, o critério
As dimensões são as seguintes: de mudança de um estágio para o outro.
• Social: relacionada com a comunidade escolar e to- Destaca-se aqui o papel fundamental do planejamen-
das as pessoas que fazem parte dela; to de ensino e da ação responsável e competente do pro-
• Física: delimitação do aspecto geográfico, histórico, fessor, haja vista que ele, ao dimensionar os conhecimen-
sociológico, antropológico e econômico; tos escolares, deverá traduzi-los em atividades de ensino
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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que encaminhem a ações carregadas de sentido, motivo e Nesse documento, a escola, ao assumir um projeto que
necessidades, exigindo da criança que ela se aproprie de implique a reestruturação curricular pela via da interdisci-
uma série de conhecimentos e trabalhe com as suas fun- plinaridade e pela formação continuada de seus formado-
ções psíquicas superiores via ação coletiva dos seus pares res, necessitaria assumir os seguintes pontos:
e nas interfaces das relações sociais e pessoais que per- • delimitação dos papéis da comunidade, dos profes-
meiam os ambientes sociais. sores, dos alunos, da equipe diretiva;
Leontiev preocupou-se em especificar as atividades • proposição de reflexões coletivas;
das crianças em cada idade, e a mudança de atividade • recuperação do papel do professor;
estaria, para ele, na base da periodicidade do desenvol- • construção de conhecimentos com base na realidade;
vimento da criança e determinaria as suas mudanças psi- • revisão do papel da escola;
• propiciar um ambiente educativo que retrate a pro-
cológicas, assim como sua consciência, suas relações com
dução, criação e erradicação de culturas;
seu ambiente e com sua vida interior e exterior.
• priorizar a construção coletiva.
A atividade não deve, pois, ser entendida apenas pelo A escolha dos temas geradores é feita pelos profes-
desenvolvimento de habilidades específicas, uma vez que sores com os alunos, por meio de discussões que levem
consiste num processo metacognitivo por meio de uma em conta a interpretação e a inter-relação das situações,
situação intitulada “problemas de aprendizagem”. agrupando-as.
O problema de aprendizagem não deve ser, assim, Na construção do programa curricular, o tema gerador
confundido com um problema concreto a ser resolvido na tem a grande função de produzir mais e mais temas que
prática. Ele é classificado dentro de uma organização de deverão se entrelaçar, produzindo eixos temáticos que de-
problemas que busca analisar os conceitos teóricos funda- verão contemplar:
mentais a serem estruturados, organizados e trabalhados. • a visão de cada área do conhecimento;
Só a partir da análise do conceito teórico construído ha- • os fatores cognitivos, afetivos, sociais e psicológicos;
verá a elaboração de um modo de ação generalizado que • a realidade e as situações significativas: fator principal
permitirá a abordagem dos problemas concretos. na construção de um programa e seleção dos conteúdos;
Para que os problemas de aprendizagem possam ca- • privilegiar a metodologia dialógica;
racterizar-se como atividade cognitiva, urge que a criança • o conhecimento acumulado e o conhecimento cons-
seja colocada num ambiente socialmente favorável para truído e reconstruído.
a aprendizagem, pois o resultado desse trabalho coletivo Com os eixos temáticos contemplados, os temas gera-
dores necessitam ser trabalhados por meio de três grandes
dependerá da ação, interação e participação ativa de cada
momentos:
um.
Quando há cooperação nas atividades, os processos Primeiro:
sociointeracionistas acabam por promover a organização • perceber as relações existentes entre os temas;
interpessoal e intrapessoal de todos os envolvidos, e as • relacionar os conteúdos para compreender a reali-
funções psíquicas superiores das crianças acabam por se dade;
desenvolver nessas atividades de ensino. • desdobrar os conteúdos propostos em outros.
A prática pedagógica interdisciplinar se apoia na inter-
secção da reorientação curricular e da formação docente Segundo:
caracterizada pela formação continuada dos professores, • selecionar os conteúdos, analisando-os de forma in-
gerando o desenvolvimento pessoal, profissional e escolar. terativa;
A partir dessa ideia da reconstrução curricular e da for- • inter-relacionar conhecimentos, buscando conexões
mação docente contínua, significativa e reflexiva, impõe- com a realidade proposta.
se uma nova concepção do conhecimento; ele não pode
ser considerado estático, pois é dinâmico e inacabado. Terceiro:
Assim, a dimensão dos conteúdos escolares na apren- • seriar os conteúdos, definindo a profundidade de sua
dizagem não tem fim em si mesma, mas tem significado abordagem em cada série/turma/módulo;
quando esses conteúdos se tornam explicitadores e des- • registrar o programa a ser composto e recomposto;
• trabalhar de forma coletiva, contínua, sistemática e
veladores de uma realidade em que se pode intervir.
reflexiva.
O currículo, a partir disso e numa perspectiva da ges-
Quanto ao processo avaliativo dessa proposta, devem-
tão democrática da escola, torna-se diretamente relacio- se levar em conta três aspectos fundamentais:
nado ao coletivo da própria escola por meio do planeja- • função da avaliação no processo de ensino e de
mento participativo. aprendizagem;
No final da década de 1980, Paulo Freire (1989), o en- • os procedimentos de registro e acesso às informa-
tão Secretário da Educação do Município de São Paulo, ções;
com os professores formadores de algumas universidades • construção de um sistema avaliativo que contemple:
e professores atuantes nas escolas municipais, construiu discussões sobre as práticas avaliativas e o redimensiona-
coletivamente uma proposta de implementação de ação mento das formas de registro descritivo sobre a própria
interdisciplinar de grande valor educacional e social. avaliação.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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(C) a inserção dos indivíduos em estruturas colegiadas Está correto apenas o contido em
propicia um aprendizado, possuindo principalmente direi- (A) I e II.
tos deliberativos. (B) I e III.
(D) cada participante, por meio de uma metodologia (C) II e III.
adequada, pode objetivar o início do processo participati- (D) II e IV.
vo e de inserção. (E) III e IV.
(E) a formação da participação coletiva, nos colegia-
dos, pode garantir opiniões formadas pelo próprio mem- 07. (DIRETOR/SP – VUNESP) As diferentes manifes-
bro da instância escolar como único porta voz do grupo. tações da violência no escolar são extremamente e multi-
dimensionais. Os(As) professores(as), em geral, têm dificul-
04. (DIRETOR/SP – VUNESP) No desenvolvimento de dade de formas de violência geradas pela própria escola,
suas ideias a respeito da sociedade da informação, Alarcão não veem a cultura escolar como de violência. (Candau.
se apoia em afirmações de vários estudiosos, como Perre- Adaptado)
noud, Morin, Raposo, entre outros. Estabeleça a relação Assinale a alternativa que preenche, correta e respecti-
vamente, as lacunas do texto de Candau (1990).
entre os autores e suas ideias.
(A) ambiente ... frequentes ... aceitar ... forma
Assinale a alternativa que apresenta a relação correta.
(B) currículo ... constantes ... entender ... ponto
(A) 1 – a; 2 – b; 3 – c.
(C) espaço ... corriqueiras ... verificar ... forma
(B) 1 – b; 2 – c; 3 – a.
(D) cotidiano ... complexas ... identificar ... fonte
(C) 1 – c; 2 – a; 3 – b. (E) cotidiano ... complicadas ... aceitar ... fonte
(D) 1 – c; 2 – b; 3 – a.
(E) 1 – b; 2 – a; 3 – c. 08. (SEE/SP – VUNESP) Uma proposta de educação
em direitos humanos que tenha como eixo a recuperação
05. (DIRETOR/SP – VUNESP) Segundo o pensamento do valor da vida, segundo Candau e outros, deve envolver
do professor Azanha (1993), a democracia interna e a au- o(a)
tonomia da escola são condições necessárias para que ela: (A) pedagogia da indignação, o saber construído sobre
(A) reproduza procedimentos a partir de diretrizes, os direitos humanos e o reconhecimento da vida.
normas ou critérios administrativos. (B) sistematização de práticas coletivas que valorizam a
(B) abandone sua tarefa de captar valores e sentimen- vida em situações emergentes.
tos de uma época. (C) educação em direitos humanos com liderança da
(C) reproduza o espaço e a conveniência da participa- equipe gestora associada à prática da indignação.
ção comunitária. (D) intercâmbio e o diálogo sobre o potencial da vida
(D) assuma o papel de produção de conhecimento e para reconhecimento do seu valor.
criatividade. (E) confronto entre experiências diversas provenientes
(E) assuma a tarefa de defender e adotar a uniformi- da indignação e prática da sensibilização.
dade pedagógica.
09. (DIRETOR/SP – VUNESP) Segundo Chrispino
06. (DIRETOR/SP – VUNESP) Leia o texto. (2002), a escola, como qualquer instituição, está planificada
Na nossa sociedade, muitas vezes os processos educa- para que as pessoas sejam todas iguais. A homogeneização
tivos são impermeáveis à realidade do contexto social em é exercida por meio de mecanismos disciplinares. Existe, na
que se inserem [...]. Em muitas ocasiões, nem sequer existe escola, um ambiente de violência simbólica no cotidiano
um espaço para que os diferentes sujeitos possam expres- escolar que é indicado pelos seguintes aspectos:
sar e refletir sobre a estruturação do seu dia-a-dia, de suas I. discriminação individual e grupal, vigência de mode-
los agressivos dificultando as relações pessoais, existência
famílias e comunidades. As práticas educativas e a vida
de um currículo inflexível e pouco significativo;
parecem ser dois mundos que se ignoram. (Candau, 2007)
II. esgotamento emocional dos docentes diante das
Para superar essa tendência de insensibilidade, de
escassas expectativas, acrescido pelo exercício da homo-
passividade e de impotência, faz-se necessário:
geneização pelos mecanismos disciplinares;
I. organizar e promover constantes palestras sobre o III. desinteresse do corpo docente na relação com a co-
cotidiano escolar e suas repercussões na comunidade; munidade em busca de soluções disciplinares;
II. construir e organizar propostas educativas relacio- IV. dificuldade para trabalhar as diferenças e estabe-
nadas aos direitos humanos ampliando ações de integra- lecer a tolerância por meio do diálogo e da participação.
ção escola-comunidade; Está correto apenas o contido em
III. sistematizar e incentivar práticas coletivamente (A) I e II.
construídas promovendo sensibilidade e humanização no (B) I e III.
espaço escolar; (C) II e III.
IV. convidar frequentemente a comunidade para parti- (D) II e IV.
cipar de atividades educativas. (E) III e IV.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
10. (DIRETOR/SP – VUNESP) Leia o texto. (C) atuação consciente ... cultura ... competência ...
A implementação de reformas educacionais em um decidir
país federativo, cujos sistemas de ensino caracterizam-se (D) participação mútua ... solidariedade ... competên-
por extrema descentralização político-institucional como cia ... decidir
o Brasil, requer necessariamente a implantação de meca- (E) competência única ... participação ... colaboração
nismos de monitoramento e acompanhamento das ações ... organizar
e políticas em curso por diferentes razões. (Maria Helena
Guimarães de Castro, 2000) 13. (DIRETOR/SP – VUNESP) Os líderes escolares
Segundo a autora, esses mecanismos (monitoramen- eficazes, avaliados em pesquisas feitas com alunos e
to e acompanhamento) contribuem para: apontados por dirigentes educacionais, são capazes de
(A) assegurar a transparência das informações, cum- empregar uma série de habilidades de liderança. Para
prindo assim dois requisitos básicos da democracia: a começar são propensos para definir objetivos claros que
ampla disseminação dos resultados obtidos e a perma- servem como fonte contínua de motivação. (Luck e ou-
nente prestação de contas à sociedade.
tros)
(B) manter sob controle do governo federal as polí-
Estão presentes na ação de diretores eficazes as se-
ticas educacionais implementadas pelos estados e muni-
guintes características:
cípios, possibilitando que estes façam o monitoramento
das escolas. (A) prática de gestão participativa, organização re-
(C) assegurar ao governo federal o controle sobre as grada da rotina escolar e o estabelecimento do planeja-
políticas públicas educacionais. mento de curso.
(D) adequar as políticas educacionais dos estados e (B) participação na construção do Projeto Pedagógi-
municípios às determinações do Ministério da Educação, co da escola, relacionamento unilateral com professores
para que as escolas tenham maior autonomia na gestão e criação de regras disciplinares.
administrativa e pedagógica. (C) definição de objetivos claros discutidos com a
(E) manter o governo federal bem informado sobre equipe escolar, respeito à diversidade e prática de gestão
a destinação de verbas para os estados e os municípios. participativa.
(D) organização do plano de trabalho para uma esco-
11. (DIRETOR/SP – VUNESP) Segundo Libâneo e la de qualidade, definição de objetivos claros e relaciona-
outros (2003), as formas de atuação e da organização e mento de ordem com a comunidade.
da gestão das escolas favorecem o alcance dos objetivos (E) prática da gestão participativa, elaboração de re-
pedagógicos por ela delineados. Esses autores sugerem gras de conduta aos alunos e professores e organização
como áreas de atuação: das festas escolares para arrecadação de fundos.
(A) o planejamento técnicopedagógico, a avaliação e
a escolha de políticas administrativas sólidas. 14. (DIRETOR/SP – VUNESP) Segundo o documento
(B) o planejamento e o projeto pedagógico curricular, Progestão, existe a autonomia legal e a autonomia cons-
as práticas de gestão técnico-administrativas e pedagó- truída. A primeira refere-se à autonomia prevista na LDB
gicas e a avaliação institucional. (Lei n.º 9.394/96), já a segunda refere-se à autonomia
(C) seleção adequada dos procedimentos de ensino construída na escola.
-aprendizagem e dos processos avaliativos. Segundo o mesmo documento, o papel do gestor no
(D) valorização da equipe pedagógico-administrati- processo de elaboração do projeto pedagógico da es-
va, organização e desenvolvimento de técnicas atualiza- cola, visando ajudar na construção de sua autonomia, é:
das de gestão e de currículo.
(A) coordenar o trabalho dos professores na elabora-
(E) planejamento teórico-prático dos procedimentos
ção do projeto pedagógico da escola.
curriculares, organização administrativo-pedagógica e
(B) coordenar o processo de organização das pessoas
valorização da equipe profissional.
no interior da escola, buscando a convergência dos inte-
12. (DIRETOR/SP – VUNESP) Segundo Luck e outros, resses dos vários segmentos e a superação dos conflitos
“A participação, em seu sentido pleno, caracteriza-se por deles decorrentes.
uma força de, pela qual os membros de uma unidade (C) coordenar o trabalho de professores, alunos e
social reconhecem e assumem o seu poder de exercer funcionários administrativos na elaboração do projeto
influência na determinação da dinâmica dessa unidade pedagógico da escola, evitando, assim, que interesses
social, de sua e de seus resultados, poder esse resultante particulares se sobreponham aos interesses coletivos.
de sua e vontade de compreender, e agir em torno de (D) impor as determinações legais aos seus subor-
questões que lhe são afetas. ” dinados, para evitar interferência direta dos órgãos cen-
Assinale a alternativa que preenche, correta e respec- trais.
tivamente, as lacunas do texto. (E) manter pais e responsáveis afastados da elabo-
(A) solidariedade mútua ... cultura ... participação ... ração do projeto pedagógico da escola, pois esta é uma
integrar atribuição que cabe aos profissionais da educação, pois
(B) competência recíproca ... colaboração ... partici- assim o gestor evita conflitos de interesses.
pação... decidir
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
15. (DIRETOR/SP – VUNESP) O modelo de produção 18. (DIRETOR/SP – VUNESP) Segundo Veiga (2007), o
taylorista/fordista separa a concepção da execução. Esse Projeto Político Pedagógico, de acordo com a teoria pro-
sistema influenciou a forma de organização de todos os gressista, exige uma profunda reflexão relacionada à prá-
setores da sociedade. (Martins, 2008, CONSED, 2001). tica social e ao compromisso de solucionar os problemas
Pensando na elaboração do projeto pedagógico para a da educação, direcionados por pressupostos norteadores:
construção da autonomia da escola, podemos afirmar que: (A) pressupostos filosóficos-sociológicos e didáticos-
metodológicos.
(A) é fundamental a superação da organização tayloris- (B) pressupostos filosóficos-sociológicos, pressupos-
ta/ fordista para que o gestor possa tornar-se o centro das tos epistemológicos e os didáticos-metodológicos.
decisões escolares. (C) pressupostos didáticos-metodológicos e os pres-
(B) a superação do modelo taylorista/fordista é funda- supostos básicos do processo.
mental à construção do projeto pedagógico pelos profes- (D) pressupostos epistemológicos e básicos do pro-
sores. cesso.
(C) a construção do projeto pedagógico deve envolver (E) pressupostos básicos do processo ensino apren-
toda comunidade escolar, com objetivo de superar a divi- dizagem.
são entre concepção e execução, para construir a autono-
mia na escola. 19. (DIRETOR/SP – VUNESP) De acordo com Veiga
(D) a construção do projeto pedagógico por profes- (2007), a elaboração do Projeto Político Pedagógico não
sores, alunos e demais funcionários administrativos leva à se reduz apenas à dimensão pedagógica, nem ao conjun-
superação do modelo taylorista/fordista. to de projetos e planos isolados, mas se constitui em:
(E) cabe ao gestor a concepção e aos professores e (A) uma proposta que nasce da própria realidade sin-
funcionários administrativos a execução. gular em que a escola está inserida.
(B) uma proposta de opções explícitas na direção da
16. (DIRETOR/SP – VUNESP) Entre inúmeras pesqui- superação de problemas relacionados a questões de or-
sas e estudos no campo educacional, os trabalhos a respei- dem pedagógica.
to da família/escola desenvolvidos por Heloisa Szymanski (C) um instrumento clarificador após profunda refle-
nos permitem afirmar que xão dos agentes envolvidos, sobre a ação coletiva e edu-
(A) no século XXI, as famílias, indistintamente, enga- cativa da escola, baseada na pesquisa real no sentido de
possibilitar possíveis transformações.
jam- -se em projetos coletivos de melhoria do ensino e das
(D) processo de organização educativa de ordem di-
relações da escola com a comunidade, permitindo a fluidez
dática e administrativa que direciona as ações escolares.
das relações.
(E) propostas de ações de constante superação de
(B) as famílias das classes trabalhadoras sempre se en-
problemas do cotidiano escolar e de ordem adminis-
volvem nos projetos de melhoria do ensino e da escola,
trativa.
estabelecendo uma relação horizontal com os gestores.
(C) famílias com melhor condição financeira não valo-
20. (DIRETOR/SP – VUNESP) A Política Educacional
rizam os projetos coletivos voltados à melhoria do ensino
vigente que se articula com a Proposta Pedagógica da
e das relações escola/comunidade, dificultando a relação
escola, visando à melhoria da qualidade de ensino, tem
dialógica necessária. como princípios básicos:
(D) a relação horizontal e dialógica entre a família e I. colaboração e participação;
a escola só é possível quando se considera que os vários II. autonomia;
contextos sociais geram diferentes relações sociais. III. competitividade;
(E) a relação dialógica entre família e escola não é pos- IV. compromisso com a direção.
sível porque a ação educativa destas instituições difere em Está correto apenas o contido em
seus objetivos, conteúdos e métodos. (A) I e II.
(B) I e III.
17. (DIRETOR/SP – VUNESP) No que se refere à Di- (C) II e III.
reção por Valores (DpV), leia atentamente as informações (D) II e IV.
contidas nas colunas “A” e “B” e, em seguida, estabeleça a (E) III e IV.
relação correta entre elas.
Segundo Trigo (2008), a relação correta entre as colu- 21. (DIRETOR/SP – VUNESP) Segundo Gomes (2005),
nas “A” e “B” é: há duas abordagens sociológicas que levam às diferentes
(A) I – b; II – a; III – c; IV – d. visões da escola: o paradigma do consenso e o paradigma
(B) I – c; II – d; III – b; IV – a. do conflito. Como a escola é socialmente complexa, po-
(C) I – c; II – b; III – d; IV – a. de-se afirmar que sempre há uma dosagem de consenso
(D) I – b; II – a; III – d; IV – c. e de conflito, como ingredientes desta cultura.
(E) I – d; II – c; III – a; IV – b. Assinale a alternativa cuja frase retrata a coexistência
de situações de consenso e de conflito na escola.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
(A) Agir moralmente é agir em termos do interesse co- 24. (DIRETOR/SP – VUNESP) Segundo os estudos de
letivo. Rose Neubauer e Ghisleine Trigo da Silveira, em relação à
(B) A unidade da autoridade e a regularidade derivam autonomia da escola, as medidas que mais impactaram po-
do conceito de disciplina. sitivamente o desempenho escolar foram:
(C) O processo de negociação ocorre entre professo- (A) o aumento da autonomia financeira, a atuação dos
res e alunos, de acordo com um sistema de normas com- Conselhos Escolares e a eleição de diretores.
partilhadas. (B) o aumento da autonomia financeira e a atuação dos
(D) A escola é organizada com base no princípio da Conselhos Escolares.
autocracia para mediar conflitos latentes entre professores (C) a atuação dos Conselhos Escolares e a eleição de
e alunos. diretores.
(E) Os professores são agentes de imposição cultural (D) o aumento da autonomia financeira e a eleição de
sobre os estudantes. diretores.
(E) o aumento da autonomia financeira, a atuação dos
Conselhos Escolares, a eleição de diretores e a centraliza-
22. (DIRETOR/SP – VUNESP) Em face das mudanças
ção das decisões na figura do gestor escolar.
histórico-sociais, a escola recebe novos desafios, a que
não consegue responder imediatamente, convivendo com
25. (DIRETOR/SP – VUNESP) Segundo Dermeval Sa-
o que era e com o que tende a ser. Uma síntese de algu- viani (2010), o “aprender a aprender” está ligado à necessi-
mas tendências da escolarização tradicional e contempo- dade, constante, de ampliar a(o):
rânea está presente nas escolas. (Gomes, 2005) (A) carreira.
Assinale a alternativa que apresenta tendências de es- (B) formação técnica.
colarização contemporânea. (C) profissionalismo.
(A) Escola centrada no processo de ensino e no edu- (D) formação geral.
cador. (E) empregabilidade.
(B) Espaço restrito para a autonomia do aluno.
(C) Unicidade aparente de valores, normas e padrões 26. (DIRETOR/SP – VUNESP) A gestão democrática
de comportamento. do ensino público é um dos princípios estabelecidos na
(D) Autoridade do professor é automaticamente con- Constituição Federal/88, e a concepção de educação como
ferida pelo papel profissional. formação humana contida no texto da LDB. n.º 9.394/96
(E) Escola centrada no processo de aprendizagem e reafirma o princípio da gestão democrática do ensino pú-
no aluno. blico.
Para gerir democraticamente o ensino e a escola, é ne-
23. (DIRETOR/SP – VUNESP) Segundo Gomes (2005), cessário
“A expansão do acesso à educação, praticada por nume- (A) desenvolver ações que promovam a participação
rosos países, como o Brasil, constituiu uma democratiza- de todos de acordo com uma programação estipulada pelo
ção parcial de oportunidades. É muito mais fácil garantir corpo docente.
o acesso à escola através da oferta de vagas, do que in- (B) aplicar corretamente os recursos financeiros arreca-
terferir no processo de escolarização para reduzir as dife- dados pela escola.
renças internas, sobretudo no que concerne à qualidade.” (C) desenvolver atividades na escola que serão execu-
[...] “Assegurando o acesso, é preciso garantir condições tadas pelos alunos que tiverem melhor desempenho es-
equivalentes para que todos permaneçam no sistema e colar.
(D) estimular a participação de diferentes pessoas na
sejam bem-sucedidos ao longo do que é definido como
articulação dos aspectos financeiros e administrativos da
educação básica”.
escola.
Com relação a isso, é correto afirmar que a inclusão e
(E) programar com os docentes reuniões de planeja-
a permanência na educação básica dependem
mento para análise do resultado das avaliações, visando à
(A) da definição de formas efetivas de intervenção, melhoria da qualidade do ensino.
que impeçam que o mérito se relacione à origem social
do aluno. Respostas
(B) do desenvolvimento de um currículo único estabe-
lecido pelo sistema de ensino. 01. C/ 02. B/ 03. B/ 04. D/ 05. D/ 06. C/ 07. D/ 08.
(C) do grau de dificuldades e diferenças com que os A/ 09. A/ 10. A 11. B/ 12. B/ 13. C/ 14. B/ 15. C/ 16.
alunos ingressam na escola. D/ 17. D/ 18. B/ 19. C/ 20. A/ 21. C/ 22. E/ 23. A/ 24.
(D) de um processo educativo que diminua as desi- B/ 25. E/26. E
gualdades sociais e as possibilidades de êxito para os me-
nos favorecidos.
(E) da didática desenvolvida na sala de aula que priori-
ze a memorização dos conteúdos ministrados.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Coordenador Pedagógico Padrão P – Grau IA
4. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A Edu- O currículo tem que ser entendido como a cultura real
cação, neste método, é tecida em conjunto por alunos e que surge de uma série de processos, mais que como um
professores, frente aos exercícios da leitura e da escrita objeto delimitado e estático que se pode planejar e depois
praticadas exaustivamente nas aulas. Assim, mestres implantar; aquilo que é, na realidade, a cultura nas salas de
e aprendizes atuam juntos na construção do conheci- aula, fica configurado em uma série de processos: as deci-
mento, assessorados pela incidência da problemática sões prévias acerca do que se vai fazer no ensino, as tarefas
social mais atual e pelo arsenal de saberes já edifica- acadêmicas reais que são desenvolvidas, a forma como a
dos, patrimônio intransferível do ser humano. O texto vida interna das salas de aula e os conteúdos de ensino se
se refere a: vinculam com o mundo exterior, as relações grupais, o uso
A) Teoria do saber. e o aproveitamento de materiais, as práticas de avaliação,
B) Teoria do Ler e Saber. etc (Sacristán, J.G., 1995).
C) Teoria da Paradidática.
D) Teoria do Construtivismo. RESPOSTA: “C”.
Para Piaget, a pessoa, a todo o momento interage com 6. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Para ser
a realidade, operando ativamente objetos e pessoas. O considerada como possuidora de certa habilidade, a crian-
conhecimento é construído por informações advindas da ça tem que demonstrar que pode cumprir a tarefa sem
interação com o ambiente, na medida em que o conheci- nenhum tipo de ajuda. Denomina- se essa capacidade de
mento não é concebido apenas como sendo descoberto realizar tarefas de forma independentes:
espontaneamente, nem transmitido de forma mecânica A) NDP - Nível de Desenvolvimento Potencial.
pelo meio exterior, mas como resultado de uma interação B) ZDP - Zona de Desenvolvimento Proximal.
na qual o sujeito é sempre um elemento ativo na busca ati- C) PDH - Processo de Desenvolvimento de habilidade.
va de compreender o mundo que o cerca (MOREIRA, 1999). D) NDR - Nível de Desenvolvimento Real.
Entende-se, então, de acordo com essa teoria, que o de- Para Vygotsky, a aprendizagem e o desenvolvimento
senvolvimento cognitivo é resultado de situações e expe- estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida do
riências desconhecidas advinda da interação com o meio, indivíduo. Nível de desenvolvimento real: Referente as con-
onde o sujeito procura compreender e resolver as interro-
quistas que já estão consolidadas na criança, ela já apren-
gações. Com isso, o aluno exerce um papel ativo e constrói
deu e domina. Indica os processos mentais da criança que
seu conhecimento, sob orientação do professor, buscando
já se estabeleceram. Representa as funções já amadureci-
informações, propondo soluções, confrontando-as com as
das. Exemplos: andar de bicicleta, cortar com tesoura, do-
de seus colegas, defendendo-as e discutindo. Essa teoria
minar o teclado.
permite utilizar todo o potencial de interação da internet
*Texto adaptado de Raquel D`Ely. Disponível em: https://
para criar um ambiente que gere conhecimento teórico
e prático através da construção gradual do conhecimen- repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/116361/
to por meio de participação ativa. Oferece oportunidade TEORIA%20SOCIO%20INTERACIONISTA.pdf?sequence=1
para reflexão. A construção do conhecimento pelos alunos
é fruto de sua ação, o que faz com que eles se tornem cada RESPOSTA: “D”.
vez mais autônomos intelectualmente.
*Referências: 7. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) É um tipo
MOREIRA, Marco Antonio. Teorias de Aprendizagem. de avaliação que tem por função básica a classificação dos
São Paulo: Epu, 1999. alunos, sendo realizada no final de um curso ou unidade de
ensino, classificando os alunos de acordo com os níveis de
RESPOSTA: “D”. aproveitamento previamente estabelecidos. O texto acima
descreve uma:
5. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A con- A) Avaliação formativa.
cepção de organização curricular expressa formas de B) Avaliação somativa.
concretização das intenções pedagógicas. Com base C) Avaliação diagnostica.
nesta temática é FALSO afirmar: D) Avaliação personalizada.
A) O currículo real acontece dentro da sala de aula com Avaliação Somativa: É uma modalidade avaliativa pon-
professores e alunos a cada dia em decorrência de um pro- tual que ocorre ao fim de um processo educacional (ano,
jeto pedagógico e dos planos de ensino. semestre, bimestre, ciclo, curso etc.). Atém-se à determina-
B) Currículo é o conjunto de todas as experiências de ção do grau de domínio de alguns objetivos pré-estabe-
conhecimento, proporcionada pela instituição aos educan- lecidos propondo-se a realizar um balanço somatório de
dos. uma ou várias sequencias de um trabalho de formação. É
C) A organização é um currículo a partir da lógica seria- também chamada de avaliação das aprendizagens.
da a analise do progresso dos educandos. *Disponível em: http://www.portalavaliacao.caedufjf.
D) O currículo é a ligação entre a cultura e a socieda- net/pagina-exemplo/tipos-de-avaliacao/avaliacao-somati-
de exterior à escola e à educação; entre o conhecimento va/
e a cultura herdada e a aprendizagem dos alunos; entre a
teoria e a pratica possível, dadas determinadas condições. RESPOSTA: “B”.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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RESPOSTA: “A”.
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