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Uma casa espiritual aberta, calorosa e povoada de cores, aromas e canções. Uma casa de
vó, onde encontramos o bálsamo para as feridas mais urgentes, pedimos socorro e
recebemos o afago revitalizador. Onde também encontramos o puxão de orelha necessário
para o nosso crescimento, quando nos deparamos, enfim, com aquilo que fingimos
desconhecer, o que evitamos conceber: os nossos defeitos. Esse abrigo, esse oásis de afeto
e espiritualidade em meio ao mundo hostil das cidades, se configura como cabana de
caridade, tenda de Umbanda.
Na Umbanda, assim como na própria natureza, lidamos com muitas formas, cores, modos
de ser e de multiplicar o divino. O respeito à caminhada de cada filha e filho, a
compreensão de suas próprias batalhas a vencer, torna a gira de umbanda um ambiente
rico em histórias, conselhos e trabalhos espirituais que primam pela especificidade de
cada consulente. Estar bem consigo, com sua verdade e forma de ser feliz é premissa para
uma espiritualidade pulsante, livre de preconceitos e sem vocação para o totalitarismo.
Em Umbanda, prezamos pelo respeito às variadas orientações erótico-afetivas, diferenças
de crenças e pertenças religiosas, múltiplas etnias e formas de viver. Inspirados pelo amor
crístico generoso, cheio de misericórdia e compreensão, levantamos nossa bandeira
branca de Oxalá pela paz e diversidade!
Os múltiplos cativeiros do espírito e o poder da autolibertação
A linha das almas, formada pelos sábios pretos-velhos, nos traz uma lição ao mesmo
tempo simples e difícil. Eles nos ensinam a luta constante pela nossa própria libertação,
enquanto espíritos, dos padrões negativos que nos impedem de vivenciar uma existência
amorosa, alegre e conectada com Deus. Entidades que muito sofreram nos tempos
coloniais, vivendo no corpo e na mente as violências imputadas pelo perverso sistema
escravocrata, os pretos-velhos descem na terra, com seus modos humildes e carinhosos e
nos dão o recado: o cativeiro acabou!
Conta o belo ponto Pai José de Aruanda, preto-velho querido de nosso congá:
Ainda nos deixamos ser escravizados por forças que nos subjugam ao pessimismo,
desânimo e medo. Aproveitemos o belíssimo ensinamento dos anciões que nos assistem
em nossos problemas cotidianos, que nos dão o colo, a escuta e os conselhos que clareiam
a nossa visão. É na experiência concreta das agruras da vida, daquilo que nos parece
intransponível, onde poderemos, passo a passo, ir desatando os nós que criamos. Coragem
e paciência! São as virtudes que nos inspiram os vovôs e vovós da Umbanda para
seguirmos firmes em nossa caminhada no mundo.
Alegria e leveza: girando com as crianças
Festejar a existência, celebrar o milagre da vida. Quantas vezes nos privamos disso? No
cotidiano veloz em que nos automatizamos, muitas vezes perdemos a possibilidade de
simplesmente sorrir e gerar sorrisos. Nos tornamos secos, opacos, estressados. Deixamos
de elogiar, de abraçar e compartilhar momentos de afetividade. Assim vamos, sem
perceber, nos entristecendo. Muitas vezes ficamos doentes com um estilo de vida
cansativo e sem cor.
Todos fomos crianças, partilhamos desse estágio da vida que nos formou. Poucas vezes
nos damos conta disso! Na infância, somos espontâneos e sinceros. Brigamos e fazemos
as pazes sem demora, nos entregamos ao momento sem preocupações e somos livres o
suficiente para a diversão genuína, aquela que nos eleva a um estado de alegria por meio
das situações mais simples. A disposição para a brincadeira transforma tudo em jogo, cria
brinquedos com quaisquer objetos. A criatividade, a animação e a alegria marcam a nossa
relação com o mundo e os seus diversos seres, na medida em que voltamos a ser crianças.
Como disse o amado mestre Jesus, “Vinde a mim as criancinhas, pois delas é o Reino dos
Céus”. É em nossa condição de eternas crianças que poderemos viver com leveza as
dificuldades do caminhar, nos abrindo ao desconhecido e criando formas novas de lidar
com as nossas próprias dores. Os espíritos das crianças nos auxiliam com elaborados
trabalhos espirituais e, ao mesmo tempo, nos deixam a inspiração para reformularmos as
nossas ações, nos tornando mais puros e despretensiosos. Viva a linha das crianças! Viva
Cosme e Damião Doum!