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Diluindo nessa postura até então nunca experimentadas as pequenas loucuras do amor
irrealizável
A cada espera
Inerte, absolutamente
Absoluta
Tensão da presença
Tão amargo e tão doce, vil sensação de que as sensações nada são
Que delas não devemos esperar senão que passem, que mudem, que signifiquem, que sugiram
E o teu olho, que eu queria sobre mim, não sinto mais nem a abstração desse desejo
Quantos amores e cores e flores e yoga, e sushi, e música, e álcool, só existem porque a fibra
óptica é resistente e não se quebra?
Não sei o que de mim foi feito, mas tornei-me demasiado teórica. Socorro
É que não entendo como posso amar não amando. Como posso estar não estando. Não há
buraco visível, mas está lá. Tratando de deixar cada um de um lado. Não vejo. Não consigo ver.
Os grandes abcessos e que só a fibra óptica junta.
Não há como acreditar que há alguma coisa de nobre segurando isso. Não há nada, tudo não é
mais nem ruína. É pó, areia, grande vastidão de terra num deserto imperdoável. Um deserto.
Longe de tudo, longe inclusive da companhia um do outro. Nos relacionamos na base do grito.
Gritamos nossas experiências pro outro, o barulho do vento no deserto levando longe essa voz
que fica fraca, mas não emudece. E o vento leva e traz as notícias. É nosso mediador. Não
podemos mais nos falar diretamente. Toda nossa relação de troca é mediada pelo vento. Agora
percebo que quando lembro dos olhos mortos dele me olhando enquanto falava na verdade
estavam vivos, olhando firmemente o vento enquanto lhe repassava o que quer que fosse que
queria me dizer. Os olhos morreram para mim, como todo o paraíso, como o oásis. Quando
abre o olho, nem lembra, já foi.
O sentimento desgraçado que tenho é de sombra, daquela que se faz sombra, que só existe
enquanto atrás de alguém. Passa atrás. Passa atrás. Não decide o que faz no dia, se decide não
faz, não decide o que faz no cabelo. Não vai nunca à praia, porque sombra não anda só.
Eu não sinto. Só sinto raiva. Só a raiva de quem deu tudo a vida inteira, e que agora olha pros
lados e não tem nada em que se apoiar. Foi tudo embora com todos os que passaram por mim.
Tudo foi construído pra eles? Construí tudo pra eles? Cadê a parte que me cabe dessa zelação?
Mas eu não quero ficar pensando nisso. Quero pensar no que eu sinto. O que é que eu sinto?
Até isso me foi levado? A chance de sentir. Aí fico lesando achando que só posso sentir alguma
coisa se alguém sentir alguma coisa por mim. Que viadagem é essa ué?
As estradas fogem de mim. Estou no meio do nada, esperando esse quadrinho ser desenhado.
Socorro. Sou aquela que quer dizer, mas dizer o quê?
As formas de encarar uma frustração. Você pode sempre cultivar o espírito. Cavar nessa
direção. Estabelecer momentos de interação interior. Porque penso, penso muito, mas penso
muito em coisas que não estão nas minhas mãos. Penso na rejeição, no abandono, na
decepção, e paraliso. Não sei para onde andar. Nunca soube. Sempre carregada pelo braço. Os
pés quase nunca encostando no chão. A água vem em enxurrada e leva e nunca mais encosto
no chão os pés, viro peixe. Um peixinho muito angustiado de tantos pensamentos e tantas
acusações gravíssimas, de não saber amar, de amar mal, de não ser exemplo, de ser Severina.
Se eu pensar nas coisas que estão nas minhas mãos, como elas seriam?
As coisas que estão nas minhas mãos, sem a presunção de dizer que a vida é como é, eu posso
trabalhar. Escrever. Quê mais? Empreender ideias coerentes com os meus ideais. Posso
escrever histórias de casos em que a vida é mero pretexto pro brilhantismo da energia.
É só o que eu penso em fazer? Escrever ? poderia também viajar, não fosse minha mania de
sombra.
Quero dizer, quero dizer que não fui injustiçada a não ser por mim mesma. Todas essas
atrocidades aconteceram porque acreditei em coisas que não existiam. Eu sou a única culpada
de tudo. Não há desculpas para a minha falta. Faltei para comigo mesma. Faltei e não me
reconheço.
O que eu amo? Não sei. Uso com tanta facilidade a palavra amor pra estabelecer vínculos, mas
percebo que meus vínculos últimos não passam de objetos, objetos que me trazem muito
prazer, isto sim, mas e o que mais? Não há um olhar que eu ame, um cheiro, uma mão, dedos,
um nariz. Digo isso e penso imediatamente nele. Penso nele enquanto corpo que já foi muito
amado. Mas não significa mais nada, tanto que já esqueci.
Lembranças.
Fodam-se.
Queria uma história bonita? Conta como conheceu este que me tirou de mim, a única
lasquinha que eu tinha, um caquinho que não teve força pra agüentar o vento e sol, e se
desfez, murchou, morreu. Não sei. Quem é ela? Quem sou eu?
A ferida não existe mais. Não existe mais choro ou solução, ou o que quer que seja o que foi.
Passou o passado em vista. Ele não sai da vista. Ele não existe. Nada dele mais existe.
Lembrança, coisa maldita, vai-te pras profundezas. Elas não têm que doer. Que não doam, ora
bolas!
Foste para mim o que havia de mais bonito. Já não sei o que é bonito, só vejo miséria. Mas não
no campo. No campo vejo a esperança brotando verde, brilhando nos olhos do gado. Os
animais são felizes. Eles não têm passado. Eu não sei que diabos estou fazendo.
Queria sair. Isso sim. Estou pensando seriamente em dar uma volta sozinha. Uma sombra solta
na cidade. Que será dela caminha nas vielas tentando encontrar novamente o porquê de estar
aqui. As coisas que poderiam ter sucedido!
Não que eu precise encontrar significado na vida. Ela por si só já é beleza. Só preciso encontrar
onde está escondida, toda sua riqueza e brilho de jóia.
Não há sentimentos porque não há agitações. Tudo tão parado, esperando alguém chegar pra
brilhar de novo. Queria ver de novo os olhos dele vivos! Queria vê-los, mesmo, por outra
mulher. Quero a vida dele. Quero ele vivo! Viva, meu caro!
Da minha não sei o que fazer. Mas sei o que quero. Quero ele vivo!
Na contramão dos acontecimentos, ou inclusive do que eu achava que sentia por ele, parece
que caminhamos mesmo melhor separados. Quero ele vivo. Quero descobrir minha vida
também!
Quero redescobrir o gosto pelas coisas que antes me interessavam. Quero trabalhar quero
escrever!
A incrível luta
As ruas de percepção
Eu quero, eu quero
Cadê?
Reage
Escreve
Palavras de ordem
Amor
Liberdade
Vida
Cante
Dance
Ria
E ficamos desentranhados
Encarnamos um outro rosto, desconhecido, ele não substitui e nos deixa mutilados
Eu quero chuva
- Quem és?
E dá gaitadas na minha cara.
- quem és?
A pele já comprometida
Era nessa época de chuva que nossas solidões se davam as mãos. Tão quentinhas e agradáveis
E a queda é certa
Quem és?