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resenha

ZAFFARONI, Eugenio Raul. O inimigo no Direito Penal. 2. ed. Trad. Sérgio Lamarão. Rio de
Janeiro: Revan, 2007. 224 p. (Coleção Pensamento Criminológico).

Os indesejáveis no Direito Penal moderno


*
Patrícia Graziela Gonçalves

culpabilidade. Decorre disso que o


indivíduo considerado inimigo perde seu
status de cidadão e é visto como um
inimigo de toda a coletividade, tendo as
suas garantias processuais e penais
minimizadas e, até mesmo, descartadas
diante do combate do “perigo” emanado
pelos inimigos.
Logo na Introdução, Zaffaroni apresenta a
“hipótese geral ou básica” que procurará
demonstrar no decorrer dos capítulos: o
poder punitivo sempre classificou e
reconheceu um hostis, um estranho ou
Eugenio Ra indesejável, sobre o qual se aplicou um
Zaffaroni é ministro da Suprema Cor tratamento discriminatório, neutralizante e
Argentina, professor titular e diretor eliminatório, negando-lhe a sua condição
Departamento de Direito Penal e de pessoa e considerando-o em função da
Criminologia da Universidade de Buenos sua condição de coisa ou ente perigoso. E
Aires, doutor honoris causa da mais, tanto as leis quanto a doutrina
Universidade do Estado do Rio de Janeiro legitimam esse tratamento, baseadas em
(UERJ) e vice-presidente da Associação saberes pretensamente empíricos sobre a
Internacional de Direito Penal, sendo um conduta humana. Tal doutrina-penal
autor consagrado internacionalmente, com contradiz os princípios constitucionais do
obras de larga circulação nos meios Estado de Direito e mais se aproxima do
jurídicos, políticos e universitários da modelo de Estado absoluto.
América Latina. Para Zaffaroni, houve uma “transformação
A obra O inimigo no Direito Penal de regressiva” da política penal nas últimas
Zaffaroni é uma resposta ao livro de décadas, com debates que ampliaram a
Güither Jakobs, catedrático de Direito extensão do poder punitivo e colocaram o
Penal e Filosofia do Direito na tema do inimigo penal no primeiro plano
Universidade de Bonn, na Alemanha, de discussão. Segundo o autor, “o contexto
intitulado O Direito Penal do Inimigo, que mundial atual torna a reação política
foi publicado em 2003, no qual o autor obrigatória” (p. 15) contra o designado
sistematiza, de forma afirmativa, inimigo da sociedade, sobre o qual se
legitimadora e justificadora, a teoria do pretende o aniquilamento total. Em tempos
Direito Penal do Inimigo. Essa teoria está de discussões sobre os direitos humanos e
voltada para a prevenção de crimes futuros, negociação, o que ocorre, na prática, é a
sendo o inimigo punido pela sua “solução que arrasa com os direitos e, mais
periculosidade e não pela sua

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cedo ou mais tarde, acaba no genocídio” Na América Latina, a realidade do poder
(p. 17). punitivo é a do aprisionamento de grande
Em seguida, Zaffaroni faz uma análise maioria de indivíduos segundo a presunção
histórica sobre a concepção de inimigo, de sua periculosidade. Três quartos dos
demonstrando que essa idéia é pré- presos estão submetidos a medidas de
Moderna, remonta a Roma da antiguidade contenção “porque são processados não
clássica e trata-se de ressignificações do condenados”. (p. 70).
conceito jurídico de hostis do direito Posteriormente, Zaffaroni demonstra como
romano. Ao abordar conjuntamente o se deu a legitimação do tratamento dado ao
exercício real do poder punitivo e a inimigo através do discurso jurídico-penal.
legislação penal que legitimou as práticas Com a modernidade, pretendeu-se a
penais adotadas a partir do século XV, o individualização “ôntica” dos inimigos,
autor escreve que o Estado, num sendo o positivista Rafael Garofalo
determinado momento, tomou o lugar de responsável por essa teorização de
vítima dos delitos e, com isso, neutralizou periculosidade. O inimigo deixa de se
a verdadeira vítima. Seu primeiro inimigo limitar aos criminosos graves e passa a
foi Satã, representado pelos hereges, incluir os chamados indesejáveis:
feiticeiros, curandeiros etc., e, em nome de pequenos ladrões, prostitutas,
cristo, os eliminaram através dos tribunais homossexuais, bêbados, vagabundos,
inquisitoriais. jogadores, etc.
Com a revolução industrial, o inimigo Desse modo, a execução tornou-se
passou a ser a ignorância, permanecendo a inviável, assim como a deportação,
lógica de eliminação física, apesar de mais restando somente a privação da liberdade.
restrita – apenas aos criminosos graves e Como consequência, as penas para os
aos dissidentes – sendo que a solução inimigos foram substituídas por medidas de
encontrada foi o encarceramento em segurança. Surgiram, então, os sistemas
prisões. Já no século XX, surge um vicariante e duplo binário, sendo que, no
autoritarismo baseado na construção brutal primeiro, há uma substituição da pena
e irracional do inimigo, legitimada por uma limitada pela ilimitada e, no segundo, as
propaganda völkisch e também teorias penas limitadas e ilimitadas se somam,
raciais de Spencer. O nazismo, por condenado os indivíduos à reclusão por
exemplo, combinou tais elementos para tempo indeterminado, com a justificativa
justificar o genocídio cometido contra os de “neutralizar sua periculosidade”.
judeus.
Na América Latina, “o sistema penal
No século XXI, este autoritarismo tornou- oficial se divide em dos segmentos: um
se cool, ou seja, virou moda a ser seguida. cautelar ou pré-condenatório, e outro
Nos Estados Unidos, desde a década de definitivo ou de condenação, sendo o
1980, a criação do inimigo tem sido uma primeiro muito mais importante que o
preocupação entre os políticos. Buscou-se segundo, posto que a reação penal
no “crime organizado” e na corrupção tal praticamente se esgota na delinqüência
inimigo. Com os ataques de 11 de leve e média, que é, com folga, a mais
setembro de 2001, “esse sistema penal numerosa” (p. 110). Nesse sentido, a
encontrou um inimigo de certa substância periculosidade própria do sistema penal
no chamado terrorismo” (p. 65). A cautelar é a periculosidade do suspeito.
sucessão de inimigos posteriores a esse Zaffaroni ressalta que “só poderia existir
acontecimento criou um círculo vicioso um tratamento penal diferenciado
que, basicamente, apenas “aumenta a realmente ilimitado no marco de um
angústia e reclama novos inimigos” (p. 69) extremo e estrito direito penal do autor”
em busca de uma suposta pacificação.

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(p. 116). No entanto, um tratamento penal Para Zaffaroni, os Estados de direito “não
diferenciado é um afastamento de todos os são nada além da contenção dos Estados de
cidadãos do Estado de direito rumo a um polícia, penosamente conseguida como
Estado absoluto. Para o autor, esta não é resultado da experiência acumulada ao
uma opção prudente, uma vez que a longo das lutas contra o poder absoluto”
confrontação de clássicos como Rosseau e (p. 169). Para o autor, é um erro tático
Fichte com Hobbes e Kant limita a conceder espaço para o Estado de polícia
designação de inimigo as categorias de em um Estado de Direito, pois seria “como
assassinos e traidores. entregar as armas, acreditando que se
O autor recupera a tese do inimigo de chega aum armistício, quando, na
Schmitt, que concebe uma visão de realidade, trata-se de uma rendição nas
polaridade amigo-inimigo. Esta percepção piores condições” (p. 174). Este receio
conduz a existência de uma guerra justifica-se, pois o autor percebe que “o
permanente, sendo esta necessária “para verdadeiro inimigo do direito penal é o
criar e manter a paz interna” (p. 139). Essa Estado de polícia, que, por sua essência,
situação gera um ciclo vicioso através da não pode deixar de buscar o absolutismo”
criação de inimigos estranhos (p. 175).
permanentemente, sendo que estes Para finalizar, o autor escreve algumas
demandam uma união de todos os cidadãos reflexões conclusivas sobre o exposto no
para lutar contra o inimigo comum. livro. Segundo o mesmo “o direito penal
Zaffaroni faz uma crítica à teoria do sempre justificou e legitimou – com maior
Direito Penal do Inimigo de Jakobs, ou menor amplitude e prudência (ou
ressaltando que, ao propor um conceito imprudência) – o tratamento de algumas
limitado de inimigo e de guerra limitada, pessoas como inimigos” (p. 189).
numa neutralização restrita, criou uma A legitimação dada pela doutrina penal a
visão estática da situação, uma vez que, esse tratamento diferenciado dos inimigos
observando que o Estado de direito não ou estranhos “está atingindo o Estado de
está de acordo com o seu ideal, o mesmo direito concreto, real ou histórico e, ao
não funciona. mesmo tempo, está invadindo o principio
Segundo o autor, “Jakobs deve ser diretor do Estado de direito, porque toda
criticado pela introdução de elementos racionalização doutrinária nesse sentido
próprios do estado absoluto no interior do implica uma quebra do instrumento
Estado de direito, sem se dar conta de que orientador da função política do direito
isso o implode” (p. 160). A razão é que penal” (p. 190).
“todo espaço que se concede ao Estado de As discussões levantadas pela teoria do
polícia é usado por este para estender-se Direito Penal do Inimigo, de Jakobs,
até chegar ao Estado absoluto” (p. 167), contradizem o próprio Estado de direito,
enterrando, definitivamente, o seu que não deve admitir a presença da
“inimigo”: o Estado de direito. Em poucas categoria do inimigo da sociedade, sob
palavras, a teoria do direito penal do pena de descaracterizar-se.
inimigo de Gunter Jakobs “é o remédio que
mata o paciente” (p. 167).

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PATRÍCIA GRAZIELA GONÇALVES é mestranda em História pela Universidade Estadual de
Maringá.

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