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O pós-guerra (1919-1929)
O período de vinte anos que separa o primeiro conflito do segundo pode
dividir-se em capítulos. Num primeiro tempo as dificuldades prevalecem, depois a
partir de 1925-1926 as dificuldades tinham sido superadas e que a Europa entra num
período de estabilidade e de equilíbrio antes da crise económica de 1929 conjugada
com a crise vivida pelas instituições da democracia parlamentar. O Estudo dos anos de
1919-1929 divide-se em duas partes 1º nos anos de 1919-1925 em que as dificuldades
são dominantes e a 2ª a partir de 1925 em que as coisas parecem entrar na ordem.
Nem a assinatura dos armistícios no Outono de 1918 nem a rectificação dos
tratados de paz em 1919-1920 resolveram todos os problemas resultantes da guerra.
As fronteiras permanecem indecisas mesmo quando foram definidas por
tratados. Certos Estados recusam reconhecer as disposições territoriais como a
Turquia que recusa validar o Tratado de Sévres e aceitar o seu desmembramento. Uma
sublevação militar leva ao poder um general Mustafá Kemal e depõe o sultão. Kemal
empreende uma ofensiva vitoriosa contra os Gregos e em 1922 esmaga o exército
Grego.
Nos limites da Rússia na guerra entre a Polónia e a União Soviética sucedem-se
vitórias e derrotas. Os Polacos chegam às portas de Quieve a velha capital ucraniana
meses mais tarde é a vez dos Russos de invadirem Varsóvia e colocarem em perigo a
independência da Polónia.
A América regressa ao isolamento e à neutralidade tradicional, em 1920 dá-se a
derrota dos democratas que ocupavam a Casa Branca e chegam à presidência os
republicanos.
As divergências acentuam-se entre a França e a Grã-Bretanha com a retirada
dos Estados Unidos, a França sai da guerra ferida e pretende fazer a Alemanha pagar
fazendo aplicar o Tratado de Versalhes.
A Grã-Bretanha continua com a sua política tradicional de equilíbrio continental
na Europa. A Alemanha está vencida e a França vitoriosa. A Alemanha recusa-se a
honrar os compromissos e a França em 1933 ocupa o Rur a região mais produtiva. A
ocupação do Rur enfrenta grandes dificuldades diplomáticas devido às resistências do
governo, dos industriais, da população da Alemanha. Mas a França consegue quebrar
com a resistência.
Revolução Soviética:
- Que perigos representa esta revolução? A revolução bolchevique constitui
um duplo perigo externo e interno. Perigo externo para os seus vizinhos, para essas
jovens nações que acabam de alcançar a independência ou de a recuperar como a
Polonia, Estádios Bálticos, Finlândia, Roménia que temem uma retaliação que
restabeleceria o domínio da nação russa sobre os povos estrangeiros. Ameaça a
existência de todos os regimes políticos e da ordem social. Esta revolução aterroriza os
governos e as classes dirigentes.
Na Alemanha a minoria de esquerda espartaquista que censura o
comportamento dos dirigentes sociais-democratas e desencadeia em Janeiro de 1919
as jornadas revolucionárias de Berlim.
Em França as eleições de 16 de Novembro de 1919 levou o palácio de Bourbon
uma maioria de direita. É a primeira vez na história da III Republica que a direita é
maioritária é a camara do bloco nacional.
Os conflitos entre a recusa de concessões dos governos e das maiorias
conservadoras e as reivindicações operárias traduzem-se numa agitação, surtos
grevistas e actos de violência, as jornadas do 1º de Maio em 1919 e em 1920 na maior
parte dos países da Europa Ocidental.
Na Alemanha criaram-se no momento da derrota sovietes de soldados de
marinheiros e de operários.
Afastada da Europa Ocidental esmagada pela Europa Central, a revolução foi
repelida para a sua origem para o seu centro: a Rússia. Na própria Rússia a luta dura
vários anos opondo o exército vermelho e os contra-revolucionários, ajudados pela
França no mar Negro, pela Grã-Bretanha no Norte, nas áreas de Arkhangelsk e
Murmansk e por um destacamento checo e pelos japoneses na Sibéria. O governo
bolchevique faz um esforço para resistir e cria 16 exércitos. É o período do chamado
comunismo de guerra caracterizado pela centralização política, a instauração do terror
policial. O recurso a estes meios permite à União Soviética triunfar sobre os seus
adversários. A partir de 1920 os exércitos brancos são expulsos ou esmagados para o
exterior. Em 1921 a Rússia assina tratados com os seus vizinhos reconhecendo a
independência das nacionalidades alógenas, da Finlândia, dos países Bálticos, da
Polonia através do tratado de Riga, em que estes tratados fixam as fronteiras e
consagram importantes amputações territoriais.
O governo soviético abandona a política de expansão revolucionaria pela força.
Nos anos de 1920-1924 a União Soviética estivera presente em todas as frentes, dava
assistência aos nacionalistas chineses em luta contra o imperialismo ocidental. Quando
renúncia na frente europeia sacrifica também o partido comunista chinês. É também
durante estes anos que os dirigentes soviéticos deixam Kemal liquide o partido
comunista da Turquia. O governo Soviético renuncia a propagar a revolução,
internamente inicia-se o regresso a uma situação mais normal, ao comunismo de
guerra sucede a NEP (a nova política económica).
A União Soviética devido à sua originalidade do seu regime e ao estado das
suas relações com o resto do Mundo, recupera as suas forças, reconstitui a sua
economia. Após o rigor do comunismo de guerra surge a nova política económica. É
também o apelo ao concurso externo a União Soviética contrata a preço de ouro
especialistas estrangeiros para a ajudarem a por a sua economia a funcionar. O ano de
1928 assinala a mudança é o começo dos planos quinquenais e e esta breve a
colectivização da agricultura e o fim dos Kulaks no inverno de 1929-1930.
A crise de 1929 e a grande depressão: Os anos de 1925-1930 afiguravam-se um
período feliz, próspero na Europa, mas não tarda a verificar-se uma inversão dessa
tendência. É no plano das actividades económicas, da produção, das trocas que essa
inversão é mais espectacular e mais brutal.
Em que consiste o acontecimento de 1929? É mais uma crise
económica que se tinham reproduzido no seculo XIX. Estas crises tiveram um papel
determinante no nascimento do pensamento socialista.
A crise estala nos Estados Unidos em Outubro de 1929 em plena prosperidade.
É em primeiro lugar uma crise de crédito e estala na Bolsa de Nova Iorque, em Wall
Street uma falha do mecanismo do crédito que se acredita ser momentânea. Na
quinta-feira negra ou seja a 24 de Outubro de 19129 os títulos postos á venda não
encontram compradores numa proporção inquietante.
A crise instala-se e perdura atingindo outros sectores da economia americana e
também outros países. Muitas empresas começam rapidamente a sentir dificuldades e
vêem-se obrigadas a suspender os pagamentos e a abrandar as suas actividades. A
maior parte das empresas reduzem os horários de funcionamento e dispensam parte
do seu pessoal sobrevém o desemprego total ou parcial que provoca uma redução de
poder de compra que gera uma redução da procura. Os stocks acumulam-se sem que
surja comprador. A agricultura é atingida os consumidores diminuem e os excedentes
agrícolas acumulam-se.
Tradicionalmente a economia da América vivia voltada para o seu interior e as
suas crises pouco afectava a economia da Europa Ocidental, mas desta vez a crise
chega à Europa devido aos laços estabelecidos desde a guerra dos Estados Unidos e as
economias inglesas, alemã, austríaca.
Desde do fim da guerra a Europa reconstitui o seu potencial económico e em
1929-1930 concluía a reconstrução, os novos países entram em competição com a
Europa Industrial, superprodução industrial, superprodução agrícola.
As trocas contraem-se, a marinha mercante é imobilizada, as receitas
diminuem e o abrandamento da economia priva o orçamento de uma parte dos seus
recursos.
A Grã-Bretanha e a Alemanha são os primeiros a serem atingidos, a França mais
tarde nos princípios de 1932, ela só é parcialmente afectada por não estar ainda
envolvida no ciclo de uma economia altamente industrializada. A Alemanha é muito
perturbada por se ter superequipada em virtude da crise de 1923. Na Grã-Bretanha
uma crise conjuntural sobrepõe-se a uma crise estrutural a do envelhecimento do
equipamento industrial.
A consequência mais visível é a do desemprego, em 1923 existem pelo menos
30 milhões de desempregados no mundo. Estas convulsões abalam uma economia que
parecia estar em prosperidade, tiveram contudo consequências propriamente políticas
que se dividem em efeitos psicológicos na opinião pública e as consequências na
estrutura do governo e a organização dos poderes.
A opinião pública perde confiança nas instituições democráticas que identifica
com o capitalismo e na inspiração liberal da democracia parlamentar. Não existe
duvida que o nacional-socialismo recrutou nas massas de desempregados uma parte
das suas tropas, o que não quer dizer que o nacional-socialismo tenha saído da crise
económica visto que a grande crise só atinge a Alemanha em 1930 num momento em
que Hitler já esta na posse do seu sistema. O nacional-socialismo não sai da crise assim
como o fascismo mas a crise ampliou o fenómeno trazendo ao movimento os grande
batalhões indispensáveis para chegar ao poder num regime de sufrágio universal.
Quanto às consequências sobre a política dos Estados e as estruturas do poder
é notável a falência do sistema liberal e a coerência da iniciativa privada obriguem o
poder publico a intervir. Os governos são levados a transgredir as máximas liberais que
interditavam ao Estado intervir em domínios deixados à iniciativa privada, individual
ou colectiva. Os governos tomam nas suas mãos a direcção da economia iniciam
grandes obras para reanimar os mecanismos. A expressão mais completa desta
mudança de política é a revolução que o new deal constitui no país da livre iniciativa.
Os estados intervêm também na esfera monetária instituindo alguns o controle
cambial.
As relações externas são afectadas pela política económica dos governos. A fim
de protegeram a sua produção nacional contra a concorrência estrangeira os países
fecham-se às importações agravam as suas tarifas alfandegárias, estabelecem
contingentações. Por toda a parte o nacionalismo económico provoca um egoísmo nas
relações comerciais, convidam-se os consumidores a comprar francês, inglês, alemão
mas as trocas tornam-se raras e a Alemanha negoceia na base da troca directa com os
países danubianos.
Assim no lapso entre 1929 e 1932 a grande depressão levou ao abandono dos
princípios liberais, identificados com a prosperidade europeia, à falência da economia
liberal, à transformação das relações entre os grupos sociais e mesmo as relações das
relações entre nações. A democracia política é atingida pelo reflexo da provação por
que se passa o liberalismo económico. O fascismo italiano ou o comunismo soviético
tem todos os trunfos para usarem a crise do liberalismo como pretexto depara
demostrarem o fracasso da democracia.
O comunismo e a União Soviética: A revolução de Outubro de 1917 é o ponto de
partida de um movimento histórico cujas consequências chegam até nós e que ainda
não esgotou todos os seus efeitos. A revolução Soviética é sob vários aspectos
comparável á revolução de 1789.
A revolução soviética modificou um país, transformou-lhe as estruturas e
estabeleceu uma nova ordem política e social. Esta foi banida pela Europa civilizada.
Os governos Ocidentais, os aliados vencedores França, Inglaterra, a Rússia soviética
faz-lhes frente e finalmente sai vencedora.
A história do comunismo e da Rússia soviética desenvolve-se simultaneamente
em dois planos: dentro dos limites da antiga Rússia, do império dos czares amputado
em 1918-1922 que se tornou a União das Republicas Socialistas Soviéticas, a luta da
jovem revolução contra as forças revolucionarias e dos seus esforços para construir um
novo Estado, edificar uma sociedade, transformar a economia.
Esta revolução anunciava-se há muito tempo, o mal era antigo, o regime estava
dilacerado por múltiplas forças de desagregação, oposições políticas, forças sociais,
partidos socialistas, minorias estrangeiras resistindo à política de russificação. As
reformas empreendidas tinham abalado mais a estabilidade do edifício do que para a
sua regeneração. Os revessos militares da guerra da Rússia contra o Japão em 1904-
1905 tinham enfraquecido o regime, em que esta revolução terminara em 1905 sem
renovar o império.
Os sofrimentos impostos ao povo russo, a organização deficiente do comando,
dos reabastecimentos, da economia de guerra, prepararam a explosão que culmina
com a abdicação do czar em Março de 1917 (é a segunda revolução russa). Estabelece-
se então um governo provisório da burguesia liberal constitucional, este regime é
apenas uma transição pois não possui autoridade. É uma coligação heteróclita de
forças que só tem em comum a oposição ao regime czarista. As forças centrífugas não
tardam a sobrepor-se á autoridade do governo central, a quem a guerra coloca um
problema aquase insolúvel.
O povo espertava que com a queda do czarismo uma mudança de regime que
pusesse fim á guerra. O governo provisório não está em situação de impor a
continuação de um esforço sobre-humano. O poder desliza gradualmente dos liberais
para os democratas, dos democratas para os socialistas, com o governo de Kerensky.
Os bolcheviques mantem-se numa oposição irredutível e apoiam-se num poder
de facto, os sovietes. Neles coexistem várias tendências á uma coligação onde os
próprios bolcheviques são minoritários, mais é uma minoria homogénea que sabe o
que quer, conduzidos por um chefe lúcido e decidido, Lenine que triunfará. No
princípio de Outubro de 1917 os bolcheviques desencadeiam uma terceira revolução a
definitiva e tomam o poder. Os não bolcheviques são expulsos dos sovietes, afastados
do poder, nos primeiro anos Lenine apenas dispõe de um poder limitado e precário.
Desta forma pode-se distinguir três momentos na revolução soviética:
1º o do comunismo de guerra vai da revolução de Outubro até ao fim
de 1921
2º retira o seu nome da NEP decorre entre 1922 e 1927/8
3º dominado pela personagem de Estaline e pela edificação do
socialismo num só país até 1939.
1º- O período do comunismo de guerra: Esta fase é dominada pela guerra
interna e externa uma guerra que os bolcheviques não quiseram, que lhes é imposta
por uma herança do regime derrubado. O concelho do Povo decide fazer as pazes com
a Alemanha em que esta é comprada através do Tratado de Brest-Litovsk no princípio
de 1918, este tratado poes fim às hostilidades entre a Rússia e a Alemanha mas nem
por isso a guerra termina. Ressurge numa guerra civil que opõe o exército vermelho
aos exércitos brancos, no Sul, na Ucrânia, no Leste, no Norte, na Região de Murmansk.
O governo bolchevique está completamente cercado pelas forças contra-
revolucionárias, esta guerra civil é ao mesmo tempo uma guerra estrangeira.
Os exércitos brancos têm o apoio das principais potências, Grã-Bretanha,
França e Japão. O general Trotsky organiza o exército vermelho, para aniquilar o
inimigo interno e afastar o externo.
Estabelece-se um regime rigoroso em todos os domínios: coacção económica,
direcção autoritária. Recolhem-se os produtos que os camponeses recusam a entregar
anarquismo da revolução de Outubro torna-se inimiga da revolução comunista, é a
ditadura do proletariado uma ditadura que prepara o poder de Estaline e anuncia a sua
era.
Em 1921 a guerra está praticamente ganha, os exércitos brancos foram batidos,
os aliados desistem da luta e a União Soviética impõe aos vizinhos o seu
reconhecimento e a delimitação das fronteiras. A revolução está salva, o essencial
preservado.
2º A NEP: Começa então um segundo período muito diferente do precedente
um período de liberalização. A sociedade russa desmoronou-se e os seus quadros
desagregaram-se. É necessário referir que em 1921 acontece uma sublevação dos
marinheiros de Cronstadt o que chama a atenção de Lenine.
Às necessidades psicológicas juntam-se as necessidades práticas
nomeadamente da economia que exigem uma certa liberalização. A produção é quase
nula, pois a economia esta desorganizada e a coacção revela ineficaz para a por em
circulação. Assim é preciso fazer renascer a confiança, estimular a iniciativa, fazer
apelo a motivações que sejam de ordem dos interesses. É esta a inspiração daquilo a
que se chama a nova política económica.
A Rússia ainda não esta preparada para criar a sociedade sem classes, em
consequência o governo empenha-se em reorganizar a economia e em restituir os
quadros antes de retomar a marcha em frente para a instauração do socialismo. É um
regresso á liberdade económica restitui-se o capitalismo privado. A partir de então
coexistem dois sectores, um do Estado e outro do privado, recorre-se também ais
capitalistas e técnicos estrangeiros.
A produção recupera e desemprego é reabsorvido uma nova moeda é posta em
circulação. A sociedade reconstitui-se aos poucos. A condição camponesa melhora,
sobre as ruinas da antiga sociedade edifica-se uma classe nova, uma burguesia de
comerciantes, de artesãos, de proprietários: os NEPmen, pu seja os homens da NEP os
Kulaks, grande ou médios proprietários com dinheiro que são os principais
beneficiários da destruição da sociedade tradicional.
Os resultados da NEP e as suas consequências sociais não são afectados pela
rivalidade gerada pela sucessão de Lenine que falece em Janeiro de 1924. Os
candidatos eram Trotsky e Estaline. Trotsky era o símbolo da revolução, criador do
exército vermelho, o organizador da vitória, tinha o dom da palavra e da escrita ao
contrário de Estaline que era apenas uma simples figura.
Trotsky era um visionário mais voltado para o exterior sonha com a revolução
permanente e universal, encerra possibilidades que os comunistas devem instaurar a
revolução no mundo inteiro. Estaline tem um raciocínio contrário, este é calculista,
realista e prudente que pretende realizar paulatinamente a edificação do comunismo.
Estaline joga habilmente com as divisões entre os seus rivais apoia-se primeiro
em Zinoviev e Kamenev para isolar Trotsky. Em 1927 Trotsky é derrotado. A partir de
1927/8 Estaline torna-se senhor incontestado da União Soviética ate á sua morte em
1953.
3º A edificação do socialismo:
6- Os Fascismos: A terceira linhas de forças do período entre as duas guerras
juntamente com a crise da democracia clássica e a irradiação da experiencia soviética.
O termo que designa estas diversas forças encontra a sua origem na experiencia
politica italiana que vem do nome fascio as associações compostas essencialmente por
antigos combatente que se formaram a seguir à guerra e conquistaram o poder em
1922. O nome alarga-se da organização do regime por extensão denomina-se fascismo
o regime que em Itália durara de Outono de 1992 quando o rei Vítor Manuel III confia
a Mussolini a responsabilidade de formar governo até a queda de Mussolini que se
passa entre Julho de 1943 e Maio de 1945. O uso do termo alarga-se a designar todos
os regimes, todos os movimentos, todas as organizações que apresentam alguma
afinidade com o regime de Mussolini.
O fascismo torna-se um elemento essencial do quadro da Europa nos anos 30
uma das componentes do sistema de forças e a partir de 1935 a opção entre fascismos
e antifascismo torna-se a principal linha de separação a ponto de eclipsar certos
conflitos mais antigos que opunha as gerações da democracia de inspiração liberal à
democracia socialista.
O autor menciona que pretende ver no fascismo e no comunismo duas formas
gémeas de um mesmo fenómeno totalitário, é a tendência de muitos especialistas
americanos de ciência politica que negam a especificidade do fascismo tanto como a
do comunismo e neles vêem apenas a forma contemporânea da tirania. Mas não é
esta a opinião do autor, porque considera o fascismo um fenómeno original que não se
deixa reduzir nem á reacção tradicional nem ao capitalismo nem ao totalitarismo.
O fascismo é um protesto do instinto, um sobressalto das forças elementares
contra o racionalismo. É também um movimento pragmático que poe a tónica na
eficácia nos valores da acção e não se incomoda em propor ele mesmo um sistema
completo uma formulação explicita. O fascismo italiano só se define depois da tomada
do poder e não antes.
O fascismo encontrou o seu meio de eleição num país vencido, a Alemanha
onde encarnara o protesto contra o Diktat imposto pela violência, contra os
vencedores e seus cúmplices. É a lenda da punhalada pelas costas, em que o exército
alemão não foi vencido mas traído no interior, a cumplicidade dos socialistas, dos
comunistas, dos judeus com os Aliados do Ocidente desarmou a Alemanha.
Encontram-se movimentos análogos entre os vencedores quando consideram
que a vitória não foi compensadora. Assim se explica a anomalia que o fascismo
italiano constitui, pois a Itália faz parte dos vencedores, cresceu territorialmente
obteve satisfação de várias das suas reivindicações sobre as terras irredentes, contudo
não esquece a humilhação da derrota de Corporetto. A Itália jovem nação
recentemente unificada é vítima de um nacionalismo exacerbado, por isso é que se
constituiu um meio de eleição para a eclosão do fascismo.
Os fascismos transformaram em argumento a crise das democracias, a
inadaptação das estruturas tradicionais aos novos problemas e às novas necessidades.
O funcionamento defeituoso das instituições democráticas fornece um tema essencial
á propaganda das doutrinas fascistas. Os próprios valores e princípios de que a
democracia reclama são opostos aos do fascismo.
A democracia dedica-se a preservar e a garantir os direitos dos indivíduos, o
fascismo é anti-individualista, em que o individuo não tem direitos próprios, só tem
aqueles que a colectividade entende por bem reconhecer-lhe. O fascismo exalta os
valores do grupo, da colectividade, da comunidade nacional. O sucesso do fascismo
provém em parte da vontade de constituir uma só alma, na exaltação de todos
pensarem, viveram, agirem em conjunto. Uma das primeiras medidas tomadas por
estes regimes consiste em suprimir tudo o que é diferente, tudo o que sustenta a
diversidade, o pluralismo como a dissolução dos partidos políticos para se livrarem da
oposição mas também dos sindicatos, dos agrupamentos profissionais.
O fascismo é antiliberal, é contra todas as liberdades que possam enfraquecer a
autoridade do poder, contra a liberdade de exprimir opiniões, a liberdade do debate
oral e escrito: entre as primeiras medidas que consagram a tomada do poder aquilo
que se chama na Alemanha nazi que aparecem no inicio de 1993 a censura a todas as
informações, o controle das conversas , a vigilância policial, é na Itália fascista o
desterro para as ilhas Lipari e na Alemanha a abertura em 1933 dos primeiros campos
de concentração. Alguns destes regimes conservam um simulacro de assembleia
representativa mas que representa exclusivamente o partido no poder, estas
assembleias não são mais do que camaras de confirmação destinadas a dar
publicidade às manifestações oratórias dos chefes do regime e a aprovar por
unanimidade as decisões tomadas fora delas.
A democracia apresenta-se como um regime racional, a democracia esforça-se
por convencer e dirige-se ao espirito dos cidadãos. O fascismo é uma reacção anti
intelectualista de todas as forças irracionais, dos poderes sensíveis, da afectividade
contra a racionalidade da democracia.
O fascismo é o adversário da democracia, mas é dela que emana pois sem a
revolução de 1789 e a transferência de soberania do monarca para o povo o fascismo
seria inconcebível. O fascismo reclama-se da soberania nacional. Entre o fascismo e a
democracia há uma certa ligação, ambos se referem ao povo e consultam-no e
mantem-se um simulacro das eleições aquilo a que se chama Fuhrer Prinzip em que o
führer recebe o seu poder do povo, se este é o chefe legitimo do povo alemão é
porque o povo o delegou nele o poder.
Mussolini militou no socialismo revolucionário antes de se tornar o animador
do fascismo. A maioria que constitui o fascismo não pertence á aristocracia tradicional,
nem á burguesia, são antigos combatentes, jovens sem emprego, desempregados
crónicos, toda uma população marginal.
O fascismo aparece numa primeira vaga como a expressão de uma recusa e de
uma recção de protesto de indivíduos a quem a sociedade vira as costas e que não
conseguem integrar nos quadros tradicionais.
Na Alemanha esta primeira vaga vem juntar-se uma segunda composta por
pessoas que tiveram uma profissão, uma situação mas que a crise económica privou da
posição lançada. É assim que a crise de 1929 teve uma importância decisiva no
desenvolvimento do nacional-socialismo e dos movimentos paralelos, a crise não criou
estes movimentos mas concedeu-lhes as massas que lhes faltavam.
Se a filosofia do fascismo não é igualitária se é uma filosofia elitista então o
fascismo atrai não as elites tradicionais mas novas elites forjadas pelo partido.
O fascismo é utilizado como um instrumento pelas classes dirigentes e pelos
partidos da ordem, mas a situação muda porque estas classes queriam uma regime
conservador e não um regime ditatorial.
O século XIX acreditava na independência do Estado mas com os regimes
fascistas e comunistas deixa de haver independência e imparcialidade do Estado, pois
o Estado é conquistado pelo partido.
O marxismo-leninismo afirma a universalidade da luta de classes o fascismo
pretende suprimi-la. Para os fascistas as divergências entre classes são superficiais
perante a unidade nacional. O marxismo-leninismo é universalista a sua doutrina tem
valor universal e a sua inspiração é internacionalista. O fascismo não procura converter
o planeta aos seus princípios e valores.
Os movimentos foram numerosos entre 1919 e 1939 quase não existe país que
não tenha sido tentado pelo fascismo. Donde provém a fraqueza dos primeiros e
porque tiveram os outros força para resistir á contaminação? Primeiro elemento de
expedição tradições intelectuais e políticas mais antigas. Na Alemanha o nacional-
socialismo insere-se numa tradição Nacionalista, anti-semita. Segundo factor a posição
internacional dos países considerados nos casos em que o sentimento foi ulcerado
pela derrota ou pela maneira sobranceira como aliados trataram a Itália. Semelhante
situação favorece as manobras fascistas. Terceiro factor é interno. As convulsões
sociais que se seguem às crises económicas. No caso da Alemanha convém falar no
plural visto que a grande sobrevém num país cuja economia foi já atingida em 1923. Os
países que melhor resistiram à crise em virtude de a sua economia como a França
foram menos afectados pelo contágio. Quarta causa a gravidade do perigo comunista,
o fascismo é uma reacção de defesa sua infiltração.
Em que medida foram os fascismos responsáveis pela eclosão da segunda
guerra mundial? Qual é a responsabilidade? A guerra estala numa Europa onde os
fascismos estão largamente implantados. Para o nacional-socialismo a resposta não
suscita muitas dúvidas apela á aventura e traz consigo a fatalidade da guerra. Hitler e o
nacional-socialismo visam empreender a dominação universal acabando por recorrer á
guerra. A resposta é menos evidente no caso de Mussolini e do fascismo italiano entre
1922 e 1934 a Itália fascista pratica uma política de boa vizinhança. É somente a partir
da guerra da Etiópia que a Itália fascista envereda por uma via perigosa.
A guerra procede o fascismo de várias maneiras, decorre da sua doutrina e das
forças que o fascismo desencadeia. Por isso é possível considerar que a segunda
Guerra Mundial é consequência dos fascismos. Os fascismos não são a única causa
foram várias componentes que estão ligada á economia, á relação de forças as
paixões, as ideologias.
Nota: os vintes anos que separam a assinatura do tratado de Versalhes do desencadeamento do segundo conflito pode
se dividir em duas fases: 1930 pode se chamar o pós-guerra e a partir de 1932-1933 já são os sinais percussores de
outra guerra, é o pré-guerra.