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ESTATUTO DO DESARMAMENTO – LEI 10.826/2003 2018.1
APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................... 4
PARTE GERAL ............................................................................................................................... 5
1. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA ..................................................................................................... 5
2. NOÇÕES PRELIMINARES ...................................................................................................... 5
3. CLASSIFICAÇÃO DAS ARMAS DE FOGO ............................................................................. 6
3.1. ARMAS DE FOGO DE USO PERMITIDO ........................................................................ 6
3.2. ARMAS DE FOGO DE USO RESTRITO .......................................................................... 6
3.3. ARMAS DE FOGO DE USO PROIBIDO ........................................................................... 6
4. REGISTRO E PORTE DE ARMA DE FOGO ........................................................................... 6
4.1. 1ª ETAPA: AQUISIÇÃO DA ARMA DE FOGO .................................................................. 7
4.2. 2ª ETAPA: REGISTRO ..................................................................................................... 7
4.3. 3ª ETAPA: AUTORIZAÇÃO PARA O PORTE................................................................... 8
4.4. AUSÊNCIA DO REGISTRO OU DE AUTORIZAÇÃO PARA O PORTE E ADEQUAÇÃO
TÍPICA ........................................................................................................................................ 9
4.5. REGISTRO DE ARMA DE FOGO E LEI MARIA DA PENHA .......................................... 12
DOS CRIMES E DAS PENAS....................................................................................................... 13
1. POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO ....................................... 13
1.1. PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES INCIAIS ........................................................ 13
1.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA............................................................................................. 13
1.3. SUJEITOS DO DELITO .................................................................................................. 13
1.3.1. Sujeito ativo ............................................................................................................. 13
1.3.2. Sujeito passivo ........................................................................................................ 13
1.4. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ...................................................................................... 13
1.5. GUARDA DE ARMA DE FOGO COM REGISTRO VENCIDO ........................................ 14
1.6. AÇÃO PENAL ................................................................................................................. 15
1.7. ABOLITIO CRIMINIS TEMPORÁRIA .............................................................................. 15
1.8. PENA .............................................................................................................................. 16
2. OMISSÃO DE CAUTELA ....................................................................................................... 16
2.1. PREVISÃO LEGAL ......................................................................................................... 16
2.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA............................................................................................. 17
2.3. SUJEITOS DO DELITO .................................................................................................. 17
2.3.1. Sujeito ativo ............................................................................................................. 17
2.3.2. Sujeito passivo ........................................................................................................ 17
2.4. ELEMENTO SUBJETIVO ............................................................................................... 17
2.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ...................................................................................... 17
2.6. FIGURA EQUIPARADA À OMISSÃO DE CAUTELA ...................................................... 17
2.6.1. Objetividade jurídica ................................................................................................ 18
2.6.2. Sujeitos do delito ..................................................................................................... 18
2.6.3. Observações importantes ........................................................................................ 18
2.6.4. Consumação e tentativa .......................................................................................... 18
3. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO................................................ 18
3.1. PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES...................................................................... 19
3.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA............................................................................................. 19
3.3. SUJEITOS DO DELITO .................................................................................................. 19
3.3.1. Sujeito ativo ............................................................................................................. 19
3.3.2. Sujeito passivo ........................................................................................................ 19
3.4. ELEMENTO NORMATIVO.............................................................................................. 19
Olá!
Dois livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a)
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar),
ano 2016 e b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano 2017, ambos da Editora
Juspodivm.
Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.
Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante!! As bancas costumam repetir certos temas.
1. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA
O primeiro diploma legislativo a tratar sobre armas de fogo foi a Lei de Contravenções
Penais, em seu art. 19, o qual foi parcialmente revogado (em relação às armas de fogo), mas
continua válido no que se refere às armas brancas (dotada de ponta ou gume).
Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, sem
licença da autoridade:
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos
mil réis a três contos de réis, ou ambas cumulativamente.
Em 1997 editou-se a Lei 9.437, que tratava sobre armas de fogo. Note que o porte ilegal de
arma de fogo, a posse ilegal de arma de fogo, antes meras contravenções, a partir de 1997 passo
a ser considerados crimes.
Ressalta-se que todos os crimes estavam previstos no art. 10 da Lei (posse, porte, comércio,
disparo etc.), sujeitos a uma mesma pena. Ou seja, tínhamos condutas de gravidades totalmente
diferentes, submetidas a uma mesma pena. Era uma violação ao princípio da proporcionalidade e
da individualização da pena (que também se dirige ao poder legislativo). Vejamos a redação do art.
10 da Lei 9.437/97, revogado pela Lei 10.826/03.
Lei 9.437/97 Art. 10. Possuir, deter, portar, fabricar, adquirir, vender, alugar,
expor à venda ou fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda
que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda e
ocultar arma de fogo, de uso permitido, sem a autorização e em desacordo
com determinação legal ou regulamentar.
Por fim, em 2003 foi editada a Lei 10.826/03, conhecida como Estatuto do Desarmamento,
fruto de um processo de conscientização da retirada das armas de fogo de circulação, a qual
revogou integralmente a Lei 9.437/97.
O estatuto pune a posse (art. 12), porte (art. 14), posse/porte de uso proibido (art. 16),
disparo (art. 15), comércio (art. 17), tráfico internacional (art. 18). Agora, o Estatuto atende à
proporcionalidade e à individualização da pena.
2. NOÇÕES PRELIMINARES
Antes, o controle de armas era exercido por cada Estado através da Polícia Civil.
O art. 2º, parágrafo único é claro ao ressalvar que o Estatuto do Desarmamento não é
aplicado as Forças Armadas, observe:
O Estatuto separa as armas de fogo em três grandes grupos, a seguir veremos cada um
deles.
São aquelas cuja utilização pode ser autorização tanto a pessoas físicas quanto a pessoas
jurídicas.
A relação das armas de fogo de uso permitido encontra-se no art. 17 do Decreto 3.665/2000
(nova redação do Regulamento para Fiscalização de Produtos Controlados – R. 105).
São aquelas em que há total vedação ao uso. Não foram definidas no decreto.
São necessárias três etapas: compra da arma de fogo (1ª etapa), registro da arma de fogo
(2ª etapa) e autorização para o porte (3ª etapa)
• Integrante dos órgãos definidos no art. 144 da CF (polícia civil, polícia militar, polícia
federal);
• Integrante das guardas municipais das capitais dos Estados (pouco importante a
população) e dos Municípios com mais de 500 mil habitantes;
• Integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, das escoltas de presos
e as guardas portuárias;
Art. 28. É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir arma de fogo,
ressalvados os integrantes das entidades constantes dos incisos I, II, III, V,
VI, VII e X do caput do art. 6o desta Lei.
• Comprovação de idoneidade
• Ocupação lícita
• Residência
Art. 4º (...)
§ 1o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após
atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente
e para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização.
§ 2o A aquisição de munição somente poderá ser feita no calibre
correspondente à arma registrada e na quantidade estabelecida no
regulamento desta Lei.
Para que a arma de fogo seja levada trazida consigo em via pública ou em local distinto,
será necessária a autorização para o porte, nos termos do art. 6º e seguintes do Estatuto do
Desarmamento.
Em regra, o porte é vedado em todo o território nacional, conforme se depreende do art. 6º,
in verbis:
Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo
o território nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será
concedida após autorização do Sinarm.
§ 1o A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia
temporária e territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e
dependerá de o requerente:
I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade
profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física;
II – atender às exigências previstas no art. 4o desta Lei;
III – apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o
seu devido registro no órgão competente.
§ 2o A autorização de porte de arma de fogo, prevista neste artigo, perderá
automaticamente sua eficácia caso o portador dela seja detido ou abordado
em estado de embriaguez ou sob efeito de substâncias químicas ou
alucinógenas.
Ressalta-se que o porte funcional, conforme entendimento do STJ (Info 554), não se estende
aos aposentados, eis que não exercem mais a função pública
Outrossim, a autorização para o porte não permite o porte ostensivo da arma de fogo, ou de
entrar ou com ela permanecer em locais públicos ou com aglomeração de pessoas, conforme
dispõe o art. 26 do Decreto 5.123/2004. Quando se viola tal regra haverá a cassação da autorização
e apreensão da arma de fogo.
Decreto 5.123/2004 Art. 26. O titular de porte de arma de fogo para defesa
pessoal concedido nos termos do art. 10 da Lei no 10.826, de 2003, não
poderá conduzi-la ostensivamente ou com ela adentrar ou permanecer em
locais públicos, tais como igrejas, escolas, estádios desportivos, clubes,
agências bancárias ou outros locais onde haja aglomeração de pessoas em
virtude de eventos de qualquer natureza. (Redação dada pelo Decreto nº
6.715, de 2008).
§ 1o A inobservância do disposto neste artigo implicará na cassação do Porte
de Arma de Fogo e na apreensão da arma, pela autoridade competente, que
adotará as medidas legais pertinentes.
§ 2o Aplica-se o disposto no §1o deste artigo, quando o titular do Porte de
Arma de Fogo esteja portando o armamento em estado de embriaguez ou
sob o efeito de drogas ou medicamentos que provoquem alteração do
desempenho intelectual ou motor.
Por fim, o porte na categoria “caçador de subsistência” poderá ser concedido pela Policia
Federal aos residentes em áreas rurais que comprovem depender do emprego de arma de fogo
para prover a subsistência alimentar familiar, desde que se trate de arma portátil, de uso permitido,
de tiro simples, com um ou dois canos, de alma lisa e de calibre igual ou inferior a 16.
Para melhor compreensão, reproduzimos o quadro elaborado pelo Prof. Cleber Masson,
observe:
Arma permitida – ausência de registro Posse ilegal de arma de fogo (art. 12)
Atenção para o Info 597 do STJ, observe a explicação do Prof. Márcio Cavalcante (Dizer o
Direito):
João é Delegado de Polícia. Durante uma busca e apreensão realizada em sua residência
para apurar crimes contra a administração pública, foi encontrada uma arma de fogo de uso
permitido. A arma encontrada estava registrada em nome de outra pessoa (que não João) na
"Divisão de Fiscalização de Armas e Explosivos do Rio de Janeiro". Vale ressaltar, no entanto, que
a arma não possuía registro na Polícia Federal nem cadastro no SINARM, conforme exige o Decreto
nº 5.123/2004, que regulamenta o Estatuto do Desarmamento.
Diante disso, o Ministério Público denunciou João pela prática de posse irregular de arma
de fogo, conduta prevista no art. 12 da Lei nº 10.826/2003.
A defesa alegou que João, por ser Delegado de Polícia, possui porte de arma e que a falta
de registro na Polícia Federal e cadastro no SINARM seria mera irregularidade administrativa.
Argumentou-se também que poderia ser aplicado ao caso o princípio da adequação social. Por fim,
afirmou-se que não existiu crime porque não houve ofensa ao princípio da lesividade.
É típica e antijurídica a conduta de policial civil que, mesmo autorizado a portar ou possuir
arma de fogo, não observa as imposições legais previstas no Estatuto do Desarmamento, que
impõem registro das armas no órgão competente.
Quanto ao legislador, esse princípio serve como norte para que as leis a serem editadas não
punam como crime condutas que estão de acordo com os valores atuais da sociedade.
Quanto ao intérprete, esse princípio tem a função de restringir a interpretação do tipo penal
para excluir condutas consideradas socialmente adequadas. Com isso, impede-se que a
interpretação literal de determinados tipos penais conduza a punições de situações que a sociedade
não mais recrimina.
Assim, de acordo com este princípio, não se pode reputar como criminosa uma ação ou
omissão aceita ou tolerada pela sociedade, ainda que formalmente subsumida a um tipo legal
incriminador.
Possuir arma de fogo sem registro no órgão competente e que somente foi descoberta após
cumprimento de mandado de busca e apreensão não é conduta socialmente tolerável e adequada
no plano normativo penal, mesmo que tenha sido praticada por um Delegado de Polícia.
Por fim, analisando o fato sob a ótica do princípio da lesividade, tem-se que houve sim perigo
à incolumidade pública, considerando que o objetivo do Estatuto do Desarmamento foi o de ter
absoluto controle sobre as armas de fogo existentes no país.
Segundo a denúncia, Pedro, mesmo sendo equiparado a magistrado, não poderia possuir
uma pistola calibre 9mm. Isso porque, de acordo com a Portaria ComEx n. 209 de 14.3.2014 (do
Comando do Exército), os magistrados somente poderão adquirir, para uso particular, armas de uso
restrito limitadas aos calibres ponto 357 Magnum e ponto 40. Logo, a pistola calibre 9mm está fora
da autorização concedida pela Portaria.
A questão foi julgada pelo STJ. Para o Tribunal, houve crime? NÃO.
O Conselheiro do Tribunal de Contas Estadual que mantém sob sua guarda arma ou
munição de uso restrito não comete o crime do art. 16 da Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento). STJ. Corte Especial. APn 657-PB, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
21/10/2015 (Info 572).
Ressalta-se que o Estatuto do Desarmamento prevê tipos penais preventivos, que criam
uma espécie de obstáculos, o legislador antecipa a tutela penal. Assim, o legislador incrimina de
Caso continue com a arma, estará praticando o crime de posse ilegal de arma de fogo.
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou
munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda
no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do
estabelecimento ou empresa:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo, inclusive o proprietário da arma (pagou, mas não
possui registro).
Obs.: Por conta da permanência, devemos lembrar que: a) será possível a prisão em flagrante,
enquanto não cessada a permanência; b) o curso do prazo prescricional somente se inicia com a
Não é ilegal a prisão realizada por agentes públicos que não tenham
competência para a realização do ato quando o preso foi encontrado em
estado de flagrância. Os tipos penais previstos nos arts. 12 e 16 da
Lei n. 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) são crimes
permanentes e, de acordo com o art. 303 do CPP, o estado de
flagrância nesse tipo de crime persiste enquanto não cessada a
permanência. Segundo o art. 301 do CPP, qualquer do povo pode prender
quem quer que seja encontrado em situação de flagrante, razão pela qual a
alegação de ilegalidade da prisão - pois realizada por agentes que não tinham
competência para tanto - não se sustenta. HC 244.016-ES, Rel. Min. Jorge
Mussi, julgado em 16/10/2012.
Além disso, é um crime de mera conduta ou de simples atividade, eis que o tipo penal
se limita a descrever uma conduta, não há resultado naturalístico. O crime se consuma com a mera
posse irregular, não importa a finalidade.
A cada três anos, o titular da arma de fogo deve renovar o seu registro, nos termos do art.
5º, § 2º do Estatuto do Desarmamento, in verbis:
Nos casos em que o agente mantém a arma de fogo, sem renovar o registro, o STJ entende
que não há o crime do art. 12, mas mera infração administrativa. Vejamos, a sempre excelente,
explicação do Prof. Márcio Cavalcante (Dizer o Direito) sobre o tema, no Info 572 do STJ:
O Estatuto do Desarmamento estabeleceu, em seu art. 30, um prazo de 180 dias para que
os possuidores e proprietários de armas de fogo de uso permitido fizessem a solicitação de registro.
Após sucessivas prorrogações, o prazo limite foi estipulado em 31 de dezembro de 2009, nos
termos do art. 20 da Lei 11.922/20.
Com base neste dispositivo, passou-se a entender que houve uma abolitio criminis
temporária para o crime de posse irregular de arma de fogo de uso permitido. De fato, se o cidadão
1.8. PENA
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a
um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam
a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
Salienta-se que, como a pena não ultrapassa quatro anos, o próprio delegado poderá arbitrar
a fiança.
Por fim, estando presentes os requisitos do art. 44 do CP, é perfeitamente possível que a
pena seja convertida em restritiva de direitos, pois cabe a conversão quando a pena aplicada, ao
crime doloso, sem violência ou grave ameaça, não ultrapassa quatro anos.
2. OMISSÃO DE CAUTELA
Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor
de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere
de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade:
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
• A coletividade
• O menor de 18 anos
É crime material, o qual depende da produção do resultado naturalístico. Assim, não basta
que o agente seja negligente, é necessário que o menor ou que o portador de transtorno mental se
apodere da arma.
O parágrafo único traz um crime diferente em que é aplicado a mesma pena do art. 13,
vejamos:
Art. 13, Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor
responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem
Nos casos em que ocorre a perda, furto, roubo ou outra forma de extravio de arma de fogo,
a empresa de segurança tem a obrigação de comunicar à autoridade competente em 24h, sob pena
de responder pelo delito do art. 13, parágrafo único.
a) Sujeito ativo
Trata-se de crime próprio ou especial, uma vez que somente pode ser praticado pelo
proprietário da empresa ou pelo diretor responsável.
b) Sujeito passivo
• O registro e autorização para o porte, expedido pela Polícia Federal, deverão ser
elaborados no nome da empresa.
Obs. Caso o funcionário da empresa seja surpreendido com a arma de fogo, fora do horário de
trabalho, responderá por porte ilegal de arma de fogo.
Assim, a consumação ocorrerá após o transcurso das 24h sem que haja a comunicação.
O delito de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido está previsto no art. 14 do Estatuto
do Desarmamento, vejamos:
Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar,
ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob
guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem
autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a
arma de fogo estiver registrada em nome do agente. (Vide Adin 3.112-1)
Ressalta-se que o STF, na ADI 3.112/1, considerou o parágrafo único inconstitucional, pois,
atualmente, apenas a CF pode dizer, de forma genérica e abstrata, que um crime é inafiançável.
Cuidado com o disposto no art. 20 do Estatuto do Desarmamento que traz uma causa de
aumento de pena, quando o crime é praticado por um dos integrantes dos órgãos e empresas
constantes nos arts. 6º, 7º e 8º da Lei.
Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é
aumentada da metade se forem praticados por integrante dos órgãos e
empresas referidas nos arts. 6o, 7o e 8o desta Lei.
O tipo penal do art. 14 contém um elemento normativo, qual seja: “sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar”.
Desta forma, conclui-se que é possível portar legalmente uma arma de fogo.
É possível a tentativa quando, por exemplo, o agente inicia os atos de execução, mas não
logra êxito em adquirir a arma de fogo de uso permitido.
Significa que a lei presume, de forma absoluta, que a arma de fogo representa um perigo à
segurança pública.
O STJ, no Info 570, entendeu que é atípica a conduta de portar arma de fogo ineficaz.
Vejamos a ótima explicação do Prof. Márcio Cavalcante (Dizer o Direito):
Prevalece o entendimento que o agente responde apenas por um crime, sendo que a
pluralidade de armas influi na dosimetria da pena.
Igualmente, prevalece o entendimento que irá responder por um único crime (o mais grave),
a pluralidade de armas influirá na dosimetria da pena.
O mero porte de arma de brinquedo não é considerado crime, não houve a incriminação pelo
Estatuto do Desarmamento, proíbe a fabricação, a importação, a exportação de réplicas de arma
de fogo, nos termos do art. 26.
É aquele que contém dois ou mais núcleos, configurando um único crime quando for
praticado contra o mesmo objeto material.
Info 699 STF: Asseverou-se que o tipo penal do art. 14 da Lei 10.826/2003
comtemplaria crime de mera conduta, sendo suficiente a ação de portar
ilegalmente a arma, ainda que desmuniciada.
A posse ou o porte apenas da munição (ou seja, desacompanhada da arma) configura crime.
Isso porque tal conduta consiste em crime de perigo abstrato, para cuja caracterização não importa
o resultado concreto da ação. O objetivo do legislador foi o de antecipar a punição de fatos que
apresentam potencial lesivo à população, prevenindo a prática de crimes. STF. 2ª Turma.HC
119154, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/11/2013. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp
1442152/MG, Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 07/08/2014.
Obs.: O STJ possui julgado, de 2012, considerando atípico o porte de apenas um projetil, analisou
o caso concreto.
O STF considerou atípica a conduta do agente que portava uma munição como pingente,
sem possuir arma de fogo.
O crime se aperfeiçoa com o disparo de arma de fogo ou, simplesmente, com o acionamento
da munição (engatilhar a arma).
Importante destacar a expressão “desde que essa conduta não tenha como finalidade a
prática de outro crime”, a qual configura um crime expressamente subsidiário. Trata-se do princípio
da subsidiariedade expressa na solução do conflito aparente de normas.
• Agente dispara arma de fogo sem nenhum intuito, responderá pelo art. 15 do Estatuto
do Desarmamento;
• Agente dispara arma de fogo para matar outra pessoa, responderá por homicídio (art.
121 do CP). O disparo será absorvido pelo homicídio.
É crime comum ou geral, tendo em vista que pode ser praticado por qualquer pessoa.
É crime de mera conduta. Assim, será consumado com o disparo da arma de fogo ou com
o acionamento da munição.
É preciso que realmente ocorra o disparo de uma arma de fogo. Assim, disparo de arma de
borracha não configura este crime.
O agente irá responder apenas pelo crime mais grave. O disparo fica absorvido.
Para determinar os crimes que o agente irá responder, é necessário analisar o contexto
fático, a fim de determinar se há ou não ligação entre as condutas. Observe a seguir as seguintes
hipóteses:
1ª HIPÓTESE – João está em sua residência, assistindo ao jogo de seu time de futebol.
Após o gol, dirige-se até a rua e efetua um disparo para o alto. Em seguida, retorno para sua casa.
Perceba que João portou ilegalmente a arma de fogo apenas com a finalidade de efetuar o disparo.
Assim, o disparo irá absorver o porte ilegal.
2ª HIPÓTESE – João saiu de sua residência, com a arma de fogo, atravessou a cidade
inteira para chegar ao estádio de futebol, após o jogo, novamente, atravessou a cidade para voltar
para casa. Ocasião em que efetuou um disparo para o alto. Nesta hipótese, temos dois contextos
distintos, por isso João irá responder pelos dois delitos (porte e disparo) em concurso material de
crimes.
4.6. PENA
• Não é possível a transação penal, pois a pena máxima supera os dois anos;
• Não é possível a suspensão condicional do processo, pois a pena mínima prevista para
o crime ultrapassa um ano;
• É muito provável que a pena seja convertida em restritiva de direitos, desde que
cumpridos os requisitos legais;
Obs.: o parágrafo único foi declarado inconstitucional pelo STF. Cabe sim fiança.
A posse e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito estão previstas no art. 16 do Estatuto
do Desarmamento. Há nos incisos do parágrafo primeiro uma série de figuras equiparadas (veremos
abaixo). Observe o dispositivo:
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar,
manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso
proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal
ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação
de arma de fogo ou artefato;
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la
equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar
ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com
numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado,
suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo,
acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de
qualquer forma, munição ou explosivo.
Quando a arma de fogo é de uso restrito, o crime será o mesmo tanto para a posse ilegal
quanto para o porte ilegal. De outra banda, quando se trata de arma de fogo de uso permitido, os
crimes serão distintos: posse ilegal (art. 12) e porte ilegal (art. 14)
Assim, como nos demais crimes do Estatuto protege-se a incolumidade pública, mais
especificamente a segurança pública.
Aqui, novamente, aplica-se a regra do art. 20 do Estatuto, segundo a qual a pena será
aumentada quando o crime for praticado por integrantes dos órgãos e empresas referidas nos arts.
6º, 7º e 8º.
O tipo penal contém um elemento normativo, qual seja: sem autorização e em desacordo
com determinação legal ou regulamentar. Ou seja, são possíveis o porte legal e a posse legal de
arma de fogo de uso restrito quando o agente possuir autorização para tanto (porte) ou registrar
(posse).
A aquisição de arma de fogo de uso restrito deve ser concedida pelo Comando do Exército,
e seu registro também será feito nesse órgão.
Obs.: O porte funcional é válido para qualquer arma de fogo. Assim, é perfeitamente possível que
porte uma arma de fogo de uso restrito.
É crime de perigo abstrato, a lei presume o perigo com a prática de qualquer uma das
condutas descritas no art. 16.
Tratam-se de crimes autônomos com condutas e objetos materiais próprios, para os quais
se aproveitou a pena do art. 16, caput.
Obs.: As condutas não precisam ser relacionadas a arma de fogo de uso restrito ou proibido.
5.6.1. (I) Suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de indicação de arma de
fogo ou artefato
Pune-se apenas o responsável pela modificação, qualquer outra pessoa que a porte ou
possua irá responder pelo caput do art. 16.
Aqui, tem-se um crime formal. Não incide o art. 347 do CP, que pune o crime de fraude
processual.
5.6.3. (III) Possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar
Em relação aos artefatos explosivos, este dispositivo prevalece sobre o art. 253 do CP.
5.6.4. (IV) Portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração,
marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado
Quem porta, possui, adquiri, transporta ou fornece responde pelo inciso IV.
Ressalta-se que pode ser qualquer tipo de arma de fogo, isto é, de uso restrito ou permitido.
Não há vinculação ao caput.
Info 558 STF – Para a caracterização do crime previsto no art. 16, parágrafo
único, IV, da Lei 10.826/2003, é irrelevante se a arma de fogo é de uso
permitido ou restrito, bastando que o identificador esteja suprimido.
Pode ser qualquer arma, de uso restrito ou permitido, acessório, munição ou explosivo.
Se o apoderamento por parte de menor de idade ou doente mental for culposo, incide o
crime do art. 13 (estudado acima).
5.6.6. (VI) Produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer
forma, munição ou explosivo
A referida Lei já entrou em vigor, de forma que, se a pessoa praticar o crime do art. 16 da
Lei nº 10.826/2003 de hoje em diante, estará submetido às consequências penais e processuais
inerentes aos crimes hediondos, sendo a mais gravosa delas a existência de requisitos objetivos
diferenciados para progressão de regime (art. 2º, § 2º).
A Lei nº 13.497/2017 é mais gravosa e, por isso, não tem efeitos retroativos, de forma que,
quem cometeu o delito até o dia de ontem (26/10/2017), não é abrangido pelo tratamento
dispensado aos crimes hediondos.
5.8. PENA
A pena será de três a seis anos e multa. Novamente, trata-se de crime de elevado potencial
ofensivo (aplica-se tudo o que foi dito acima)
O dispositivo deixa claro que a atividade não precisa ser formal, mas deve ser habitual.
Tutela-se, mais uma vez, a segurança pública. Visando evitar que armas de fogo, acessórios
ou munições circulem livremente na sociedade.
É crime próprio, ou seja, exige-se qualidade especial do agente, que deve exercer atividade
comercial ou industrial, ainda que de forma irregular ou em residência.
O tipo penal do art. 17 não faz distinção entre arma de fogo de uso permitido e arma de fogo
de uso restrito. Assim, o crime será o mesmo.
Cuidado, contudo, com o disposto no art. 19 da Lei, o qual configura uma causa de aumento
quando for de uso restrito ou proibido.
Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da
metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou
restrito.
Então, podemos concluir, que se consuma com a prática de qualquer uma das condutas
previstas em lei, presumindo-se, de forma absoluta, o perigo ao bem jurídico.
6.7. PENA
A pena é de reclusão de quatro a oito anos, e multa. Por isso, não é possível aplicação dos
institutos despenalizadores, como a transação penal e a suspensão condicional do processo.
Por fim, o último crime previsto no Estatuto do Desarmamento está previsto no art. 18 e trata-
se do tráfico internacional de arma de fogo, observe o dispositivo legal:
Destaca-se que o tipo penal prevê o tráfico internacional de arma de fogo. Não existe, aqui,
o tráfico interestadual, que entrará em outra conduta.
Pode ser qualquer arma de fogo, acessório ou munição, tanto de uso restrito ou permitido.
Quando for de uso restrito, incide o art. 19, aumentando-se a pena de metade.
É a coletividade.
A lei presume de forma absoluta o perigo à segurança pública com a entrada de uma arma
clandestina.