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* Brasil
O cenário das políticas linguísticas no Brasil remonta ao período da colonização indígena pela coroa
portuguesa, no século XVI.
A fim de colonizar o espaço e os sujeitos, os invasores europeus precisaram instaurar um processo
de colonização das línguas nativas (MARIANI, 2004, p. 25).
A colonização linguística supõe:
“[...] a imposição de ideias linguísticas vigentes na metrópole e um imaginário colonizador enlaçando língua e nação em
um projeto único [...]. Trata-se de um processo histórico de confronto entre línguas com memórias, histórias e políticas
de sentidos dessemelhantes, em condições assimétricas de poder tais que a língua colonizadora tem condições políticas e
jurídicas para se impor e se legitimar relativamente à(s) outra(s), colonizada(s)” (NASCIMENTO, 2012. p. 19).
A imposição da língua portuguesa se estabeleceu como uma demanda desde os primeiros contatos.
Para auxiliar nessa tarefa, a coroa contava com o apoio da Igreja, sobretudo dos missionários jesuítas.
O Diretório pombalino tornava obrigatório o uso da língua portuguesa, exigia a expulsão dos jesuítas
do território brasileiro e proibia a utilização das línguas indígenas e da língua geral, a nudez, as
habitações coletivas, e previa a punição com morte a quem desrespeitasse as determinações.
Com isso, a política pombalina buscava combater o monopólio das ações dos jesuítas junto às
populações indígenas, estimular o povoamento da colônia e a assegurar defesa do seu território.
Embora o Diretório Pombalino tenha sido revogado em 1798, a falta de novas políticas indigenistas
fez com que a realidade sociolinguística na colônia mantivesse as mesmas características.
Direitos individuais:
* Direito a ser reconhecido como membro de uma comunidade linguística
* Direito a usar a sua própria língua em situação pública ou privada
* Direito a usar o seu próprio nome
* Direito a relacionar-se ou associar-se com outros membros da sua comunidade linguística de origem
* Direito a manter e desenvolver a sua própria cultura
Direitos coletivos:
* Direito ao ensino da própria língua e da própria cultura
* Direito ao acesso a serviços culturais
* Direito a presença igualitária de sua própria língua e cultura nos meios de comunicação
* Direito a receber atendimento, assistência de organismos oficiais e de estabelecer relações
socioeconômicas em sua própria língua
8 artigos dedicados à educação:
Artigo 27: “Todas as comunidades linguísticas têm direito a um ensino que permita aos seus membros
o conhecimento das línguas ligadas à sua própria tradição cultural, tais como as línguas literárias ou
sagradas, usadas antigamente como línguas habituais da sua comunidade”
Artigo 28. “Todas as comunidades têm direito a uma educação que permitirá a seus membros adquirir
conhecimento completo de sua herança cultural (história, geografia, literatura, e outras manifestações
culturais), bem como de conhecimento mais extenso possível de qualquer outra cultura que desejem
conhecer”
* Comunitária
“Porque conduzida pela comunidade indígena, de acordo com seus projetos, suas concepções e seus princípios. Isto se
refere tanto ao currículo quanto aos modos de administrá-la”.
* Intercultural
“Porque deve reconhecer e manter a diversidade cultural e linguística; promover uma situação de comunicação entre
experiências socioculturais, linguísticas e históricas diferentes, não considerando uma cultura superior à outra [...]”.
* Bilíngue/Multilíngue
“Porque as tradições culturais [...] são, na maioria dos casos, manifestados através do uso de mais de uma língua.
Mesmo os povos indígenas que são hoje monolíngues em língua portuguesa continuam a usar a língua de seus ancestrais
como um símbolo poderoso para onde confluem muitos de seus traços identitários, constituindo, assim, um quadro de
bilinguismo simbólico importante”.
* Específica e diferenciada
“Porque concebida e planejada como reflexo das aspirações particulares do povo indígena e com autonomia em relação
a determinados aspectos que regem o funcionamento e orientação da escola não-indígena”.
No contexto histórico da escolar indígena, podemos destacar dois principais tipos de educação
bilíngue:
- Educação bilíngue de transição: Busca que o aluno mude da língua materna para a dominante,
com o objetivo de assimilação sociocultural, o que promove um bilinguismo subtrativo, em que a
língua materna do aluno (assim como sua cultura) é substituída pela da sociedade dominante.
- Educação bilíngue de manutenção: Promove o uso da língua materna e a identidade cultural do
aluno, configurando uma modalidade de bilinguismo aditivo.
Em função das dinâmicas sociolinguísticas das culturas em interação, os diferentes graus de uso,
prestígio e influência das línguas podem fazer com que uma seja enfraquecida diante da outra nas
práticas educacionais.
“Educação bilíngue é ‘um rótulo simples para um fenômeno complexo’. Já de início é necessária uma distinção entre a
educação que usa e promove as duas línguas e a educação para crianças de grupos linguísticos minoritários. Esta é uma
diferença entre uma sala de aula em que a instrução formal é favorecer o bilinguismo e uma sala de aula em que crianças
bilíngues estão presentes, mas o bilinguismo não é promovido no currículo. O termo guarda-chuva, educação bilíngue,
tem sido usado para se referir a ambas as situações tornando-o ambíguo e impreciso” (BAKER, 1996, p. 192, apud
NASCIMENTO, 2012, p. 88)
A noção de bilinguismo pode indicar uma virtual neutralidade sociolinguística entre as línguas e
mascarar os conflitos e as diferenças nas correlações de forças entre elas. Para evitar esse problema,
é conveniente trabalhar com o conceito de diglossia.
Concebido com um caráter político, o conceito de diglossia enfatiza as relações assimétricas entre
as línguas e realça as tensões políticas, sociais, étnicas e culturais decorrentes dessas interações.
Assim, a ocorrência do bi-multilinguismo exige atenção especial do professor para alguns aspectos,
como:
- Existência de conflitos diglóssicos;
- Promoção da pluralidade de perspectivas;
- Busca de representação das diferentes vozes;
- etc.
* Ensino de Línguas
Nesses contextos, o ensino das línguas não é determinado pelo nível de proficiência ou pela
escolaridade dos alunos:
“[...] os usos das línguas no ensino bilíngue escolar não são determinados pela série ou ciclo, ou pelo tipo de bilinguismo
da comunidade, mas pelo tema contextual em debate” (PIMENTEL DA SILVA, 2001, apud
NASCIMENTO, 2012, p. 148).
* Línguas Indígenas
Em primeiro lugar, deve-se considerar que o uso das línguas indígenas em contextos educacionais
multilíngues pode criar uma relação desigual de forças e uma dinâmica sociolinguística conflituosa:
“Ao longo do desenvolvimento dos cursos e no cotidiano das relações sociais e comunicativas interétnicas, pode-se reforçar
a tendência já conhecida de enfraquecimento das línguas indígenas e de concomitante fortalecimento da língua portuguesa,
tendo como palco os processos escolares de formação” (BRASIL, 202, p. 49)
Para enfrentar esse quadro, os Referenciais para a Formação de Professores Indígenas (RFPI) defendem que
as línguas indígenas devem ser incluídas nos currículos em articulação com as demais áreas de
conhecimento, seu uso oral e escrito deve ser estimulado e seu estudo metalinguístico como objeto
de pesquisa deve ser promovido.
De acordo com o RCNEI, o ensino das línguas indígenas no currículo escolar tem o objetivo de:
“[...] possibilitar que os alunos indígenas usufruam dos direitos linguísticos que lhes são assegurados, como cidadãos
brasileiros, pela Constituição; atribuir prestígio às línguas indígenas, o que contribui para que seus falantes desenvolvam
atitudes positivas em relação a elas, diminuindo, assim, os riscos de perdas linguísticas e garantindo a manutenção da
rica diversidade linguística do país; favorecer o desenvolvimento das línguas indígenas no nível oral e escrito” (BRASIL,
1998, p. 120-121).
* Português
De acordo com o RCNEI:
“[...] a língua portuguesa pode ser, para os povos indígenas, um instrumento de defesa de seus direitos legais, econômicos
e políticos; um meio para ampliar o seu conhecimento e o da humanidade; um recurso para serem conhecidos e respeitados,
nacional e internacionalmente, em suas diversidades, e um canal importante para se relacionarem entre si e para
firmarem posições políticas comuns” (BRASIL, 1998, p. 123).
Importante destacar que, para o RCNEI, o português no contexto educacional é concebido como
uma língua franca, o que reforça sua importância como língua de relações interculturais.
Segundo o Projeto Político-Pedagógico do curso de Licenciatura Intercultural da UFG:
“A língua portuguesa é, não só, uma das principais áreas do currículo da escola indígena, mas também uma das línguas
de ensino, o meio através do qual o conhecimento é discutido, estudado e produzido” (NASCIMENTO, 2012, p.
177).
Em escolas caracterizadas por alunos que dominam apenas a língua materna, deve ser incluído nos
currículos o ensino de português como segunda língua:
“[...] a aprendizagem de uma segunda língua em contexto escolar se torna mais efetiva quando as primeiras línguas
dos alunos e alunas são valorizadas e afirmadas como língua de comunicação e como língua de conhecimento”
(NASCIMENTO, 2012, p. 239).
Nos espaços caracterizados por alunos que dominam o português, ele deve ser a língua de instrução
e disciplina curricular.
O RCNEI recomenda ainda que o contexto sociolinguístico dos professores em formação seja
considerado, e que se abordem diferentes gêneros de textos e discursos presentes nas práticas
cotidianas dos estudantes.
CONCLUSÃO
Na atualidade, os direitos e as demandas indígenas no Brasil carecem de atenção governamental em
diversos aspectos.
Muito pouco se tem feito na esfera política para cumprir os dispositivos legais e garantir a preservação
das culturas tradicionais, o reconhecimento e oficialização de suas línguas, a proteção a seus territórios
ancestrais, o acesso a serviços básicos de saúde e a melhoria de suas condições de vida.
No campo da educação, as transformações necessárias são comprometidas pelas práticas
descontínuas de governo e pela falta de articulação entre os planos de gestão na esfera federal,
estadual e municipal.
Apesar da existência de dispositivos legais e a conscientização das lideranças indígenas a respeito das
demandas educacionais, a ineficiência política não garante a oferta suficiente de professores indígenas
com formação superior, existência de materiais e equipamentos adequados, práticas pedagógicas com
calendários próprios e currículos interculturais, e assim por diante.
Em síntese, embora a necessidade da autodeterminação seja reconhecida e amparada em diversos
dispositivos legais, a prática das dinâmicas governamentais impede que ela seja satisfatoriamente
alcançada.
ATIVIDADE
Com base nos conceitos vistos em sala, discorra sobre: