Sunteți pe pagina 1din 15

arqui

Botando para fora

arqui
so
caminh
Adhoc Cities: uma síntese, em certo sentido e ate aqui, de como vejo
arquitetura e seu social: colhida em teias de relações - construídas
na sua própria configuração; traduzidas nas comunicações,
movimentos e ações nas/entre arquiteturas (autor da imagem:
Athanasios Bampanelos, University College London, 2003)
uitetur
Caminhos em arquitetura e sociedade

itetura
VINICIUS DE MORAES NETTO

E
screvo este texto ao mesmo tempo em
conexão e desconexão com o tema deste
livro (“o arquiteto e a sociedade”). Aviso
assim, imediatamente; ainal, não tratarei do
papel do arquiteto, das suas responsabilidades
outras palavras, para que conheçamos a natureza
e o papel rico das ações que moldam a forma e
o ambiente construído, devemos conhecer as
interpenetracões entre arquitetura e seu ‘social’.
intenção não é meramente contrapor essa
possibilidade da arquitetura intensamente visual
e estética, que existe e pulsa, mas mostrar que a
arquitetura é, ao mesmo tempo, arte e muito mais
que arte. A tendência a permanecer na dimensão

ocied
sobre o espaço e suas apropriações, ou do arquiteto Uma provocação: o caminho em colisão com visual como telos da arquitetura certamente ainda
como produtor de formas que expressam uma o visualismo captura grande parte dos arquitetos e teóricos.
cultura arquitetônica, e uma cultura como um O tema “arquitetura e sociedade” leva-nos a Sempre me pareceu que ela leva a nos perdermos
todo. Aqui está a aparente desconexão entre buscar as conexões entre ambas – algumas das na “ilusão da opacidade” das formas, na expressão
o tema do livro e o meu propósito. Porém, em quais têm sido freqüentemente ignoradas, sub- de Henri Lefebvre.1 Condena-nos a uma espécie
um segundo momento, há uma ligação de fato teorizadas, invisibilizadas nos discursos que de eterno retorno à extrema visualidade, e ao
intensa que espero trazer à tona: as passagens circulam, eruditos ou de senso comum. Tais compositivo como composição apenas visual
entre o objeto da ação do arquiteto, seu leitmotiv conexões estão, no entanto, entre as coisas mais da forma.2 Em outras palavras, a ixação na
– a arquitetura, e a sociedade que a demanda e a difíceis de se “ver” ou entender em arquitetura: dimensão estética da arquitetura sempre nos
recebe. Ao fazê-lo, construirei um texto como um como entender as relações entre duas entidades remete de volta à forma; ela prende o sujeito ao
percurso através de uma série de temas latentes tão distintas quanto “sociedade” e “arquitetura”? objeto eternamente, por um único fio – o io
nessas passagens, ao mesmo tempo tão presentes e Poderíamos supor que tal relação, para existir de envolvente e reiicado da visão. Olhamos o objeto,
tão pouco evidentes; um caminho que me atraiu, fato, deva ser instrínseca? Que ela deva existir sob e olhamos nosso olhar ao objeto, e retornamos à

hos
agora percebo, exatamente por essa ambigüidade. forma de uma presença mútua – isto é, que algo nossa posição como sujeitos visuais e estéticos –
Esse texto é, ainda e inevitavelmente, uma do “social” deva estar presente na ediicação, e do e então, novamente, ao objeto como objeto da
espécie de conidência: um gesto de revelar não “arquitetônico” no social? Alerto que a intenção visão. Um io circular reconstruído na própria
um segredo, mas coisas tão caras que, expostas de entender tais presenças ou conexões entre teoria e crítica da arquitetura: da forma à estética
na conidência (na sua revelação a um exterior), algo imaterial, como o “social”, e um fenômeno da forma, e da estética da forma de volta à forma,
podem ser percorridas por um Outro, e, material, como a arquitetura, nos levará ad infinitum. Tal ixação nos força, como uma
enquanto revisitadas, reconstruídas por quem as imediatamente além da dimensão estética da espécie de prisão cognitiva, a sempre retornar à
percorreu. Esse percurso, assim espero, irá afastar- arquitetura e do foco na visualidade como valor superfície do próprio objeto, já que esse olhar não
se apenas aparentemente do tema geral – a relação superior da arquitetura e da prática da arquitetura o penetra substancialmente. Ele não evoca outras
entre o arquiteto e a sociedade à sua volta – para – qualidades que a deiniriam e a diferenciariam possibilidades da experiência do espaço e dos
aproximar-se àquilo que exatamente essa relação diz da “mera construção”. Vejo, entretanto, que ainda eventos no espaço da arquitetura. Uma atenção
respeito. Meu texto-caminho expressa, no fundo, prevalece a idéia da arquitetura como arte, e a que, portanto, tende a relegar a um segundo plano,
a vontade de desvelar simultaneamente uma arquitetura-arte como a arquitetura mais elevada; a um lugar menor, o lugar da arquitetura como
certeza íntima e uma necessidade fundamental: mais que isso: como a verdadeira arquitetura, locus ativo do modo como vivemos coletivamente;
a de que, para entendermos o papel do arquiteto, fazendo dessa qualidade de arte o horizonte, o
1. Veja Lefebvre (1991).
precisamos entender o papel da arquitetura. Em telos – o im mais nobre da arquitetura. Minha 2. Remeto aqui às longas discussões entre mim e Carlos Bahima.

211
arqui
Botando para fora

Redes de ação e movimentação no espaço urbano:


nodalidades e axialidades estruturam (e desestruturam)
encontros, como parte ativa do processo de
diferenciação das redes sociais.
Imagem: acervo do autor.

arqui
que tende a esquecer-se do sujeito da arquitetura
que a experiencia como dimensão e projeção
essenciais da sua prática e da sua imersão em
relações entre atos e entre pessoas. Essa sedução
sentidos mais amplos. Por trás da sedução da
visualidade, há uma condição epistemológica
ixada em objetos isolados, e uma redução da
arquitetura a uma idéia de forma essencialmente
ou a espacialidade. Gostaria de fazê-lo não numa
relexão sobre a forma, nem atrelando formas a um
autor ou uma genealogia formal particular, mas
como expressão de movimentações sociais, como

so
imensa da visão, essa restrição à visualidade do auto-contida, auto-suiciente, em si e em seus parte da nossa forma de vida, de nossa experiência,
objeto e ao seu impacto estético como im mais efeitos estéticos. Tal redução da arquitetura nossas práticas, e de nossa socialidade. Apontar
nobre nos condena a não enxergar seus vínculos a uma dimensão Cartesiana do objeto (e não tais temas torna-se mais que relevante: esses são
para além dela mesma ou dos nossos olhos. Não nos das suas relações), a uma dimensão Kantiana aspectos cruciais da arquitetura, mas menos
leva para fora do círculo entre forma e leitura da da auto-suiciência da espacialidade enquanto evidentes. São conexões que, apesar de estarem
forma. Por olhar e, quase exclusivamente, olhar forma estética e enquanto categoria abstrata atreladas à forma, estão naturalmente menos
a arquitetura, icamos cegos para todo o restante da experiência (e não como locus da prática), visíveis: elas tendem a escapar ao sentido da visão,
que a arquitetura é, envolve, evoca. Chamarei tal e a redução do sujeito complexo a um sujeito a requerendo outras formas de objetivação, como o
tendência de visualismo, para diferenciar entre a priori estético nos impedem de ver a arquitetura pensamento e a palavra. Assim, são bem menos
ênfase quase exclusiva da visualidade, e a própria como fenômeno produzido e colhido em tecidos perceptíveis que a auto-evidente dimensão da
dimensão visual da arquitetura, obviamente, viva de atos e relações em constante movimento e visualidade (e isso não implica que a visualidade
e importante. Ainal, a dimensão visual ocupa mudança. Quero endereçar aqui um lugar mais seja desprovida de seus próprios mistérios). Antes e
um lugar signiicativo em nossas experiências; rico e amplo da arquitetura na vitalidade da depois de nossa experiência visual do objeto, essas

caminh
ela é um problema fundamental para o nossa experiência e da constituição de um mundo são relações que continuarão sob forma de um
arquiteto. Mas essa ixação tem-nos distanciado social como horizonte ainda a ser descoberto entrelaçamento constante entre o espaço, nossas
do entendimento do objeto arquitetônico como pelo arquiteto – um horizonte também pulsante tramas de atos e comunicações e a corporeidade
necessariamente produzido para envolver além e urgente. O tradicional aprisionamento na de nossos atos – relações, ao mesmo tempo,
dos “olhos” do seu sujeito, e além da experiência visualidade da forma como sentido mais forte em causais e contingenciais. Entender o que de
da visão: produzido para envolver e impactar arquitetura não signiica suspender a existência contingencial e de causal há nesse entrelaçamento
nossos atos vividos nos cenários e estruturas da de outras conexões. Mas estas certamente será fundamental para entendermos o papel
arquitetura... que, por sua vez, estenderão tais demandam mais de nossa atenção. do arquiteto. Podemos capturar esse delicado
efeitos do objeto arquitetônico em direção a entrelaçamento, assim quero crer, através da
outros atos, e a outros lugares e estruturas. Arquitetura como parte de tramas – de atos, idéia de interpenetrações entre espacialidade e
comunicações, corporeidades socialidade.
Haveria de se investigar as origens dessa Discutirei algumas dessas conexões em um texto-
supremacia da visualidade em arquitetura – percurso sobre temas nos quais tenho mergulhado A vontade dessa captura nasceu ainda
desse visualismo que nos impede de ver; que, nos últimos 10 anos de envolvimento com durante minha graduação, quando percebi a
ironicamente, nos cega a visão do seu papel “arquitetura e sociedade”, evocando, entretanto, possibilidade de a arquitetura ter importância
na geração da vitalidade do humano em o que constitui a “arquitetura” – o próprio espaço além da estética (“o que sinto quando vejo”),
212
uitetur
itetura
da sensação ou dos efeitos psicológicos.
Suspeitei da inluência da arquitetura sobre
nossos próprios atos no espaço – um lugar do
espaço nas nossas interações, na forma como
Interessou-me a relação da arquitetura com
outras arquiteturas na construção de conjuntos e
complexos ediicados que chamamos “cidade”, e
sua relação com a vida social. A arquitetura como
espacializada dos sociólogos, a qual dominava
o problema, e à redução da segregação a um
fenômeno estático, no qual o papel do espaço
na distância entre classes era restrito ao impacto

o
ocied
convivemos, juntos ou desintegrados enquanto uma expressão de dinâmicas, com repercussões de áreas espacialmente segregadas – abordagem,
partes de uma sociedade. Creio que todos sobre as possibilidades do viver, e do viver em de fato, típica no urbanismo e na geograia. Mas
sentimos a possibilidade desse papel quase sociedade. Do urbanismo, percorri a sociologia pessoas de diferentes grupos e classes sociais
como uma latência, algo não dito, e, portanto, (de Giddens, de Luhmann) e a geograia humana deslocam-se o tempo todo no espaço, o que torna
limitado à inconsciência; todos sentimos essa (Harvey, Soja, hrift), movendo-me para discursos a visão estática dos espaços segregados um tanto
inluência possível, mesmo ainda invisibilizada da ilosoia (Habermas, Derrida), e de volta ao pálida como explicação. Ainda assim, diferentes
nos discursos e textos que conheci. Descobri, espaço da cidade e da arquitetura. Depois de grupos e classes não parecem ter uma interação
em seguida, que essa dimensão não-dita era, um breve lerte com uma idéia de “epistemologia efetiva em nossas cidades. Explorei, então, a
também, sub-teorizada. Ela contava (ainda da arquitetura” (uma sistematização crítica dos possibilidade da segregação social como um
conta) com muito menos atenção do que saberes da arquitetura e de seus limites frente aos eiciente mecanismo sócio-espacial, um efeito
merecia. Essa atenção ao espaço como parte da seus objetos), meu primeiro esforço sistemático foi de ações, rotinas e espaços pouco convergentes
vida social levou-me primeiramente a romper uma solução para minha insatisfação com a visão para os socialmente diferentes, possivelmente
com (não abandonar) meu interesse profundo de segregação espacial como resposta para uma dessincronizados em seus movimentos no tempo

ho
hos
na visualidade e composição – de fato, havia experiência intensamente brasileira: a distância de suas rotinas e no espaço de nossas cidades
sido o desenho que me levara à arquitetura – social em nossas cidades, ou o que chamei de (mesmo que eventualmente pessoas de diferentes
ainda durante a graduação. Aproximou-me em “invisibilização dos diferentes”. classes se apropriem dos mesmos espaços). Envolvi-
seguida da dimensão “urbana” da arquitetura. me com idéias de padrões e lógicas de apropriação
Um termo que nunca aceitei inteiramente, em A segregação que acompanha o corpo diferenciados em função da classe social; procurei
função da desconexão com arquitetônico que Minha intenção era a de entender como identiicar a forma como as espacializações dos
ele imediatamente instala: uma ruptura das indivíduos socialmente diferentes, mesmo móveis nossos movimentos no espaço constituem as
amarrações dos contextos físicos e humanos e apropriando-se ativamente de diferentes espaços condições de encontro e da própria formação
com a própria arquitetura, certa suspensão da cidade, poderiam seguir invisibilizados entre de redes sociais, diferenciadas por padrões de
da concretude do objeto, e a invisibilização si – queria explicar a distância social como um apropriação e por comportamentos de classe
das passagens e do que consiste a ligação ou “fenômeno em tempo real,” que se abate, antes especíicos. Essas redes sociais podiam, então, ser
sobreposição entre “urbano” e “arquitetônico”. dos espaços, sobre o próprio sujeito e o corpo do vistas espacialmente (uma forma de “ver” coisas
Um termo sem qualquer precisão quanto ao sujeito. Seguindo minha curiosidade sobre o que a rigor não deixam rastros: os movimentos
que exatamente se refere – ele, na verdade, se papel do espaço em questões sociais, movi-me em das pessoas, seus encontros e interações
refere a coisas demais. direção a um conceito dinâmico de segregação evanescentes no tempo-espaço) através de “mapas
social. Buscava uma resposta à visão fragilmente dinâmicos” da segregação dos atores e seus
213
arqui
Botando para fora

A forma segue a função? Projeto de Louis


Kahn, aparentemente flexível, mas de
fato um espaço de longa profundidade ou
sequência topológica (sem nós, canais ou
anéis de conexão não sequencial entre
diferentes partes). A estrutura reforça
uma única direção de movimento, e induz
rigidez nas trocas entre diferentes áreas.
Fonte: Architectural Archives of the

arqui
University of Pennsylvania.

movimentos e ações. Pode-se, assim, vislumbrar edifício, onde examente estaria: nos signos categorias Kantianas: a idéia de uma essência social
os espaços onde os diferentes circulam, quais e linguagem arquitetônicos, ou na própria de alguma forma imanente no espaço – uma noção
seriam os espaços de possível contato e interação estrutura dos espaços, tais quais vemos em que novamente invisibilizaria a forma da suposta
– e, sobretudo, os porquês da “invisibilização dos plantas – e como poderia o “social” estar contido presença do social na arquitetura. Antes de uma
diferentes” e da formação de diferentes mundos nessas materialidades? Estaria impresso nas ruas, imanência do social no espaço (pré-assumida e

so
sociais, mesmo sobre uma mesma cidade. Uma na sua estrutura, nas densidades de uma cidade? nunca demonstrada), busquei “traços” ou ecos
vez respondido esse problema,3 iquei interessado Esse é certamente um dos problemas que mais do social na forma ou na moldagem da própria
em questões mais gerais e penetrantes na relação capturam a imaginação de arquitetos e geógrafos materialidade do espaço – na estruturação
entre arquitetura e sociedade. Interessou-me que se dedicam ao problema das ligações entre física do espaço arquitetônico – que voltassem a
entender o lugar da arquitetura e da cidade na sociedade e espaço. Suspeitamos que tal relação repercutir sobre os atos e interações, ou atividades
construção da própria prática social: das nossas exista: que um edifício possa atender bem ou dentro de suas bordas e superfícies. Encontrar
formas de relacionar nossos atos em complexos mal uma certa “função”; que a estrutura de os limites da presença do social na própria
de atos e socialidades. O problema, assim, uma cidade seja expressão de uma forma de materialidade do espaço era um passo necessário
tornou-se mais difícil: atos parecem coisas ainda organização social, e que volte a impactar sobre antes de procurar outras formas de ligação
mais evanescentes e imateriais que o fenômeno tal organização. Na verdade, o entendimento da intrínseca – digamos, uma relação meramente
da segregação sobre o corpo. Como enxergar existência da uma relação “forma-função” em simbólica ou semiótica entre arquitetura e
o papel do espaço na relação entre coisas de tal arquitetura é baseada exatamente na idéia de uma prática. Procurei traços da prática tais como as
grau de imaterialidade, ou seu papel para cada ligação intrínseca entre sociedade e espaço: que relações entre atos mutuamente dependentes,

caminh
ação e comunicação e para sistemas sociais? Tal a arquitetura expressa e volta a repercutir sobre como teleologias parciais na construção prática,
preocupação se relaciona à atenção às ligações não a prática, e o faça já nessa dimensão ou escala sob forma de processos comunicativos desejados
visíveis entre arquitetura e sociedade. da atividade e da ação/interação de indivíduos. ou contingenciais, e relativamente relacionados
Mas como exatamente é essa ligação ou essa dentro de uma atividade. Não necessariamente
O social no espacial: os limites da relação interpenetração? Onde o espaço arquitetônico amarrados rigidamente como uma rotina, ou
forma-função poderia “conter” o social? estritamente sincronizados entre si, mas que
Onde icaria essa ligação misteriosa entre práticas potencialmente demandassem proximidade ou
(luidas, voláteis) e espaços (visíveis, rígidos, Naturalmente, a possibilidade que busquei conexão para que emergissem – que requeressem
envolventes)? Estaria só em nossas cabeças? inicialmente foi a presença do ‘social’ intrínseco na ligações por arranjos de espaços da ediicação.
Estaria nos nossos atos no espaço? Estaria própria materialidade do espaço arquitetônico: os Traços que estariam, assim, materializados
impressa no edifício? Se estivesse impressa no modos (e limites) do espaço físico das ediicações na própria seqüência de tais espaços, deinida
3. Veja Netto V, Krafta R (1999) “Segregação dinâmica urbana” para conter e expressar conteúdo ou “informação para expressar e reproduzir os requerimentos de
Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais 1, Vol.1, social” que capture algo dos atos, de intenções interação entre diferentes áreas/atores dentro da
p.133-152. Veja Netto V, Krafta R, 2001 “Socio-spatial networks:
social segregation as a real-time phenomenon” disponível
ou da natureza de uma ação ou atividade. Tal ediicação/atividade. Entendi os requerimentos
em http://undertow.arch.gatech.edu/homepages/3sss/ busca tende a correr o risco de cair facilmente em de separações, divisões, ligações sob a forma de
Proceedings_frame.htm

214
uitetur
A conversão de espaços em complexas As relações entre compartimentos é
seqüências, topologicamente ‘encurtada’ pela circulação em anel, o
profundas, raramente ocorre sem que torna os espaços internos igualmente
mudanças internas substanciais na acessíveis a partir de qualquer outro
compartimentação. A edificação acima espaço interno. Uma estrutura de baixa
expressa um nível de “informação profundidade é mais genérica como
social” específica da atividade que sedia, expressão de uma atividade, tendo pouca
na sua própria estrutura topológica e na capacidade de conter informação social
forma de seus espaços : podemos inferir específica para um tipo de atividade: não

itetura
com pouco risco de erro que trata-se de podemos inferir com precisão a atividade
uma planta hospitalar. a partir do espaço.

corredores conectando certas áreas/atores como não são, desta forma, especíicos o bastante Há, na verdade, um segundo aspecto do edifício
expressão ou traços do social impressos na própria ou fortes o bastante; eles tornam-se genéricos capaz de receber traços do social: a projeção ou
materialidade das superfícies que estruturam ou demais para ser expressão direta e inequívoca da construção de traços do social nos signos da
seqüenciam os espaços que ocupamos. atividade. Ou, de outro ponto de vista, a maior forma e linguagem do prédio, um problema
parte das atividades teria requerimentos espaciais endereçado usualmente em idéias como a de

o
ocied
Aqui parecia haver uma chave mais precisa para não-especíicos sobre suas próprias seqüências “caráter” em arquitetura, ou a capacidade dos
mostrar a presença do social no próprio espaço da de atos (e de espaços internos), na diferenciação signos em representar a natureza da atividade
arquitetura: códigos de interfaces e seqüências entre seus atores (ou entre áreas), na geometria ali materializada e reproduzida. Aqui não temos
de interações que compõem uma situação dos movimentos na execução/realização dos mais traços diretos da ação ou dos requerimentos
social podem ser agenciadas ou estruturadas seus atos (e nas dimensões e formas dos seus de conexão entre ações especíicas sobre o espaço
pelas sequências de espaços. Tal relação não é espaços ou compartimentos). Tais atividades (ou “funcionalidade,” o conceito pelo qual
uma homologia – uma relação isomórica entre deixariam traços genéricos ou supericiais reduzimos teleologicamente as ricas, dinâmicas
estrutura do evento e estrutura do seu espaço: demais no espaço, ou simplesmente semelhantes e comunicativas experiências que ocorrem dentro
ela é, naturalmente, variada.4 Contudo, um aos códigos de seqüência e forma requeridos por das ediicações), e sim, traços simbólicos dessa
problema freqüente pode ser útil no entendimento outras atividades. ação capturados semioticamente nos signos da
dos limites de tal relação: o fato de que muitos própria ediicação (como a monumentalidade
edifícios são convertidos para outros usos sem Aparentemente, poucas atividades ou programas ou a transparência para atividades mais públicas
substanciais mudanças em suas estruturas físicas. deixam marcas mais fortes no espaço quanto à ou comerciais, a opacidade para atividades

ho
hos
Casas são convertidas em lojas e escritórios; topologia ou estrutura de compartimentações (por residenciais, etc.). Mas temos ainda uma terceira
pavilhões em casas noturnas. Isso signiica que exemplo, hospitais, com suas longas sequências ligação entre a arquitetura e o social, uma
uma mesma estrutura ou planta pode guardar e braços internos) ou pela forma particular de terceira possibilidade de conexão ou presença do
“códigos” de interfaces e arranjos/sequências seus espaços (como auditórios ou teatros, onde a social no espaço: os traços do social deixados pela
de interações e comunicações em comum, que coniguração e porte de espaços internos não são própria prática no espaço – aquilo que o espaço
atendam diferentes atividades ou situações. Esses compatíveis com a espacialidade inerente de outras ‘nos diz’ sobre as ações que ali ocorrem. Assim
traços do social na materialidade da arquitetura atividades, tais como a residencial). Portanto, a como na forma de construção de signiicado
maior parte dos espaços arquitetônicos não parece anterior (semiótica), o espaço ‘nos diz’, mas
4. Devo pontuar o cuidado quanto à busca de homologias entre
estruturas do evento e estrutura de seu espaço: que atividades apresentar traços signiicativos ou especíicos do neste caso, o espaço não apenas representa a
complexas (digamos, a redação de um jornal) não requerem social na materialidade de sua própria estrutura. E ação; ele é encenado como materialidade da ação.
necessariamente espaços complexos em termos de número de
essa possibilidade diiculta a idéia de uma relação Nossos atos deixam traços que são lidos no
partições e seqüências (como um hospital ou prisão). Temos que
observar antes a dinâmica das relações internas na atividade, intrínseca entre o social e o espacial no nível da próprio espaço. Abandonamos, assim, a visão
como as seqüências de encontros e comunicações nas interfaces materialidade do edifício. Seria necessário buscar Kantiana de essências imanentes ou conteúdos
entre diferentes atores. Veja Netto V, 2005, “Is architecture an
active part of life? From the form-function paradigm to space
tal interpenetração também em outra dimensão estáveis contidos no espaço enquanto categoria
as context to practice’’ Arquiteturarevista 1(2), http://www. do espaço, além da material. da experiência, e penetramos numa relação
arquiteturarevista.unisinos.br/index.php?e=2&s=9&a=11

215
arqui
Botando para fora

arqui
semântica fundamentada e produzida pela própria
prática – uma produção de traços reconhecíveis da
prática, portanto, interpretáveis (daí sua forma
de ‘signiicados’), cuja observação tem origem
na teoria do signiicado de Wittgenstein (1953).
Mas que papel poderia ter o espaço na
comunicação e na construção comunicativa
da prática social? Teorias de comunicação
(em Habermas, Searle, e etnometodologistas
como Garinkel) costumam airmar que nossos
teve, portanto, de passar pelos limites da
materialidade para expressar informação social,
limites estes presentes no próprio problema da
relação forma-função, e que envolviam uma
proposta de resolução para o dilema de uma

so
É esse signiicado construído pela prática que discursos precisam de contextos para que possam relação não demonstrado satisfatoriamente
asseguraria, assim acreditei, um papel profundo do ser entendidos por outros sujeitos em interação. em teorias anteriores em arquitetura (Forty,
espaço na própria construção da prática. E esse seria Nossas frases só podem ser plenamente 2000; Hillier, 1996): o quanto do social ou da
um próximo desaio: entender como o espaço se entendidas se as pessoas em comunicação especiicidade prática e informacional de uma
torna parte não só do ato em si, isoladamente, mas compartilharem o mesmo “pano-de-fundo” do atividade é, de fato, impresso na espacialidade das
também do que chamo, a partir de Habermas contexto como suporte às suas interpretações. sequências internas da sua arquitetura, e quais
(1987), de sociação do ato. Elas precisam “ainar” suas interpretações os limites dessa relação? Propus que, se contidos
contra um dado comum, reconhecido pelos na materialidade da estrutura da maioria dos
Arquitetura e comunicação participantes da situação social, e aí está o papel espaços arquitetônicos, os traços do social seriam
O processo de sociação das nossas práticas é, do contexto e dos traços e signiicados lidos no genéricos ou informacionalmente frágeis demais
na verdade, um processo de comunicação, contexto. Explorei, amparado por esses teóricos, para airmarmos o espaço como substrato,
uma conexão entre nossos atos através da os traços informacionais deixados e produzidos dimensão ou parte ativa da sociação da prática; a
transmissão e compreensão da informação no próprio espaço como parte desse contexto penetração do social na materialidade do edifício

caminh
que produzimos entremeada em nossos gestos comumente reconhecido – dos signiicados que ica mais evidente em edifícios complexos e em
e ações (Habermas, 1987; Luhmann, 2002). vão amparar a fala e o entendimento mútuo atividades com alto grau de hierarquias internas
Para identiicar o papel do espaço nesse entre participantes do evento.5 ou profundidade topológica entre diferentes
processo tão importante para a construção da atores. Apontei, então, para a importância
própria possibilidade de viver coletivamente Devido à natureza do espaço arquitetônico e sua dos signiicados além daqueles expressos
e para a reprodução de uma sociedade, era difícil compreensão, o papel de deinir/apresentar/ semioticamente ou latentes no caráter do edifício, e
necessário mostrar o lugar do espaço nesse ixar os conhecimentos sociais implícitos no insisti na centralidade dos signiicados produzidos
processo comunicativo. Veriiquei, contudo, contexto da interação em si é raramente trazido pelas nossas próprias práticas no espaço. Esses
que o problema da constituição social da à atenção em nossa vida cotidiana (e também signiicados lidos por pessoas experienciando esses
prática através de nossas comunicações é muito no universo da teoria em arquitetura). O espaço espaços, diferentemente dos signiicados ainda
fragilmente ligado ao espaço da arquitetura. é uma daquelas coisas que, parafraseando sem precisão conotativa colhidos em fachadas
Arquitetos e teóricos em arquitetura não Wittgenstein sobre a língua, está “ancorada em e nos signos visuais da arquitetura (digamos,
pareciam prestar a devida atenção a esse papel todas as minhas perguntas e respostas – tão a escala e verticalidades da monumentalidade
do espaço; sociólogos e lingüistas, atentos ao ancorada que não posso tocá-la.” 6 Tal caminho das atividades de poder), têm um grande poder
fenômeno da comunicação em si, tampouco. 5. Veja texto referenciado na nota anterior.
6. Wittgenstein em Habermas (1984:336).

216
uitetur
itetura
de especiicidade: os traços deixados no espaço
pela prática e comportamentos, intrisecamente
associados a esses espaços, têm tanta especiicidade
informacional quanto a natureza das práticas ali
encenadas. Espaços “querem dizer” tanto quanto
O espaço como contexto ativo na definição dos
conteúdos da fala, das expectativas mútuas de
comportamentos, e do curso das ações no cenário
da arquitetura ou do lugar. Imagens: www.
simonsdiary.co.uk/nina/Ninasexhibition%20 e www.
w3.org/2005/03/photos/circle.jpg, respectivamente

dos participantes em uma situação


social, tendo assim o efeito de minimizar
riscos de incompreensão, airmando a
luidez da interação, e aliviando o peso
cognitivo de reairmações recursivas ou
ativa do espaço como mediador – um espaço
presente como possibilidade da conexão dos
atos, um papel usualmente reservado à língua
– precisamos entender como ele mediaria esses
atos: como o espaço passa a fazer parte da cadeia

o
ocied
meus atos – precisamente por estarem encenados constantes do contexto em comum (por de transações comunicativas e transmissões de
por meus atos. Eles não têm, certamente, tanta observação ou memória), assumido pelos informações que constituem a sociação. Se tais
precisão quanto os signiicados ricamente participantes como sendo o próprio espaço. conexões são comunicativas, isto é, transmissões
conotativos construídos através da palavra e da de informação, haveria de veriicar se o espaço
língua, mas a densidade informacional dos espaços 3. O espaço torna-se um recurso semântico tem um lugar nessas transmissões ou conexões,
encenados parece já suficiente para ancorar nossas ativo na deinição dos próprios conteúdos e na junção de agentes e seus atos, na convergência
interpretações dos atos e comunicações aos quais dinâmicas da comunicação e da produção de novos atos e comunicações que irão, por sua
ali nos expomos – como a compreensão da fala e das redes de interação. vez, levar a novos encontros, convergências, e a
das intenções do outro com quem me comunico. outros lugares. Para tanto, o espaço precisa ser: (1)
Ao inluenciar nossas interpretações, o espaço A ligação entre prática e espaço reconhecido, além do cenário da prática, como
tem efeitos sobre o curso da nossa comunicação No entanto, o papel do espaço não se encerra ‘nós’ na comunicação. Vimos que, para que seja
e ações. É parte ativa da deinição dos caminhos nas bordas temporais e espaciais de cada situação reconhecido, o espaço precisa revelar e evidenciar
desses atos. Resumi assim as relações entre espaço social. Interessou-me profundamente a idéia de (comunicar, transmitir) uma relação inerente

ho
hos
e atos de entendimento: um papel para o espaço na sociação da prática a atos particulares – em seus signos, em sua
fora das bordas do lugar ou do contexto da estrutura física, e no seu ‘encenamento’ através da
1. O espaço tem um papel contextual interação comunicativa – isto é, movendo-me prática; (2) amparar o ato não apenas isicamente,
em estabelecer as condições e códigos da do espaço como um suporte ao espaço como mas a própria transmissão de informação na
comunicação e as regras de interação uma razão ou força-motriz para atos diários, comunicação e na conexão de atos. Propus que o
nas expectativas de comportamentos, e ao papel do espaço em “ligar” nossos atos, espaço apresenta essa carga de reconhecimentos;
ao cruzarmos as bordas de espaços possibilitar sua conexão coletiva e relativamente parafraseando Derrida em outro contexto,
arquitetônicos ou urbanos. Tais bordas ou coordenada; espaços aonde atos vão se amarrando que o espaço ‘quer dizer’. Tais cargas ou traços
limites tornam-se elementos que despertam a outros atos, formando complexos de práticas de informação latente, intrínseca ou encenada
a atenção para uma nova situação social. dos quais consiste uma sociedade, comunidade no próprio espaço, iltram-se, penetram nos
ou grupo social – da casa ao bairro, à cidade, conteúdos dos próprios luxos comunicativos.
2. O espaço tem um papel contextual como ou ao mundo. Interessou-me entender o espaço Interpretados como signiicados contextuais, eles
“pano-de-fundo interpretativo” ao ser da arquitetura como dimensão material ativa amparam e inluem nas interpretações e escolhas
reconhecido como leque de signiicados que na emergência e na relacionalidade das nossas de novos conteúdos e expressões na interação ou
ancoram e sincronizam as interpretações práticas. No entanto, para ver uma presença tão na conexão entre atos.

217
arqui
Botando para fora

arqui
Busquei, então, expandir meu conceito
Wittgensteiniano de signiicado visto como
construção da prática em direção a um
conceito de signiicado como uma conexão
entre o espacial e o social, uma conexão, na
ou “referencialidade” produzida pelo significado
iria assegurar a passagem entre os significados
produzidos na comunicação e os traços de
significados produzidos e encenados no próprio
espaço da arquitetura e cidade. Iria, em seguida,
reação à forte tendência pós-estruturalista nos
estudos sócio-espaciais e na geograia humana,8
que suspende a noção de signiicado para
centrar-se no pré-lingüístico e na idéia de um
mundo como sucessão constante de luxos onde

so
verdade, múltipla, talvez a única conexão assegurar a possibilidade de continuidade e a própria identidade dos sujeitos e as qualidades
intrínseca entre coisas tão diferentes quanto implicação dos atos entre si através do espaço. inerentes das coisas são dissolvidas. Propus
“prática” e “espaço” – e um aspecto central Poderíamos, a partir dessa cola fundamental do que as referências que nos ligam às coisas são
do que vem sendo visto em estudos sócio- signiicado referencial, ver o espaço mediando produzidas no espaço bem como em outros
espaciais, de “relacionalidade inerente” no atos e conectando-os progressivamente – do sistemas semânticos. O espaço da arquitetura
mundo social e material. Busquei uma idéia momento em que o signiicado é reconhecido e da cidade se torna a própria possibilidade de
de signiicado não como “essência Kantiana”, e atrai o ato (a fusão referencial entre ato e reconhecermos e relacionarmos nossos gestos e
mas com outra qualidade fundamental: a espaço que é materializada no acesso ao espaço efeitos de gestos, e penetrarmos nessas relações;
de ser deinido somente a partir de relações da cidade e da arquitetura), até o momento da ele pode ser visto – e o mesmo vale para a língua
com outros signiicados. Em outras palavras, conexão entre atos, que ocorre durante a co- – como um enorme tecido referencial para a
o signiicado de algo (ato, objeto, palavra, presença dos corpos comunicando-se. Aqui sociação das nossas práticas, um espaço de
espaço) só pode ser deinido por suas conexões temos o momento da sociação da prática tornado continuidade e descontinuidade, estrutura ou
– com outros atos, objetos, palavras, espaços; possível pela referencialidade dos signiicados do desconexão e segregação de atos, comunicações

caminh
uma deinição que encontrei em Luhmann ato e da comunicação com aqueles produzidos e rupturas da comunicação entre indivíduos ou
como “auto-referencialidade”, a qual redeini e encenados no espaço. grupos. Assim, propus uma visão do delicado
como parte de uma “dualidade do signiicado” tecido das socialidades como passagem entre
enquanto “identidade” e “referência”.7 O Esse conceito renovado de signiicado foi atos e espaços contruídas através dos seus
signiicado é um evento em nossa experiência, proposto como uma forma de reinterpretar a signiicados, mutuamente produzidos; uma
e também uma experiência de referência a relacionalidade que vemos no mundo à nossa visão do espaço como condição material para
atos, lugares e outros signiicados. Assim, a volta – entre atos, contextos, e o lugar do espaço ações emergirem e desdobrarem-se em outras,
deinição de signiicado nunca é auto-contida da arquitetura e da cidade nessa relacionalidade e da nossa penetrabilidade nas múltiplas redes
em uma essência: ela, sempre e imediatamente, – enquanto mantém-se ativa a experiência das de ações de pessoas e grupos, da circulação
remete a outros signiicados, atos e espaços, diferenças e identidades das coisas pelo sujeito, de signos, textos, artefatos; e, inalmente, da
atravessando as “bordas” das coisas enquanto bem como das diferenças de materialidade na produção de um senso de estrutura no mundo
reairma suas diferenças e suas qualidades relação entre prática e espaço – uma “abordagem que experienciamos.
materiais e perceptivas. Essa relacionalidade referencial” para a espacialidade do mundo
7. Veja Netto V, 2008, “Practice, space and the duality of meaning”
social. Desenvolvi esse conceito como uma 8. Esse é o estado atual de boa parte desses estudos,
Environment and Planning D: Society and Space 26, 359-379. provavelmente devida a notável influência do geógrafo Nigel Thrift
Disponível em http://www.envplan.com/abstract.cgi?id=d0406 (1996; 2008).

218
uitetur
itetura
Mas qual a utilidade de uma discussão desse
fundamento material da realidade? Ver o espaço
como uma forma de estruturar e desestruturar
as redes informacionais e comunicativas onde
socialidades estão imersas. Tal visão nos mostra
Ato e espaço: a sociação da prática
Essas idéias levaram-me a acreditar irmemente
que o espaço tem um papel chave na realização
e na conectividade da prática; izeram-me
acreditar que o espaço é de fato tão importante
Espaço e língua como meios da transformação do
ato em ato social, ligado a outros atos, no processo
de emergência das socialidades. Tal processo ocorre
através da referencialidade entre comunicação e espaço:
nossos atos carregam referências aos significados e
materialidade dos espaços da arquitetura e da cidade.
Imagem: acervo do autor.

ricas espacialidades do urbano e a seu papel


na emergência das socialidades. Investiguei
a possibilidade de que a sociação da prática
envolvesse a produção de formações complexas
e profundas impressas na própria materialidade

o
ocied
que o espaço é produzido para mediar e ligar quanto a própria língua para a formação de nossas do espaço urbano. E propus essas espacialidades
práticas em construções sociais tão extensivamente socialidades. Produzimos, na verdade, esses dois como efeitos ou traços visíveis da referencialidade
quanto a língua – um substrato inconsciente mas grandes “sistemas ontológicos” para vivermos em dos atos, e entre atos e espaços, tanto quanto os
referencial que provê organização e contingência, sociedade. A língua tem enormes vantagens: ela efeitos dos signiicados produzidos e lidos no
estrutura e surpresa às comunicações nas quais encontra construções sintáticas e semânticas de espaço sobre nossas possibilidades de atuação. 9
relações sociais são encenadas. Esse espaço grande poder conotativo. Sem ela não teríamos
semântico é sinal de que o espaço participou na sido capazes de produzir as complexas relações e Mas como poderiam as complexas formações do
transformação do ato em si em ato social. Explorei, a organização social que temos, ou de produzir espaço fazer parte da evanescente produção dos
assim, a espacialidade da prática comunicativa objetos e tecnologias. Mas ela tem desvantagens: nossos atos? Não importa o quão relacionados,
sugerindo que a ausência dessa dimensão levou a como língua oral, ela desaparece no tempo e espaço e prática realizam-se em materialidades
teoria a falhar na identiicação dos traços espaciais espaço; como língua escrita, é materializada em diferentes. Gestos e comunicações são (re)criados
das relações entre nossos atos: traços ativos no textos e hipertextos nem sempre acessíveis. O constantemente, enquanto a dimensão física
exato momento da sociação da prática; traços espaço é o contra-ponto dessa imensa elusividade do espaço demanda um tempo muito maior de

ho
hos
constitutivos da própria possibilidade de qualquer ou evanescência da linguagem e da comunicação criação, destruição e recriação. Ainda assim, ações
sociação; traços produzidos e encenados através da verbal (Tab. 1). acontecem o tempo todo a partir do espaço da
interpenetração entre comunicação e espaço. Ao cidade. A resistência do espaço físico poderia ser um
construir esse esquema conceitual, as fundações A emergência da cidade como síntese entre o obstáculo a essa constante mudança. Argumentei
da minha abordagem às relações entre sociedade material e o imaterial que a relação entre prática e espaço deveria
e espaço centradas em um conceito renovado Finalmente, cheguei à possibilidade de uma apresentar condições para que suas respectivas
de signiicado referencial puderam ser lançadas: relação inerente entre coisas de materialidades estruturas (e desestruturas) sejam produzidas
clariicar o espaço como fundação material completamente distintas, enfatizando o mutuamente, e inluenciem-se mutuamente,
e semântica na comunicabilidade da prática; momento da produção social e espacial – isto mas não de acordo com uma relação especíica.
clariicar seu papel na sociedade ao mostrar um é, a improbabilidade da rígida e envolvente Ambas devem mutar-se, em suas respectivas
espaço referencial como meio para a sociação dos materialidade do espaço tomar parte na materialidades, a partir da mutabilidade da outra
atos; e clariicar nossa noção material da própria evanescente emergência da prática. Propus uma e de acordo com suas próprias temporalidades.
sociedade, ao mostrar o quão profundamente ela saída para essa antinomia: o mapeamento das Uma relação especíica – digamos, um único
depende da referencialidade entre ato e o espaço diferentes materialidades do ato e do espaço,
da arquitetura e cidade. e das continuidades e colisões na relação entre 9. Veja Netto V, 2007 Practice, Communication and Space: A
reflection on the materiality of social structures. Doctoral thesis,
atos e espaços – um problema que me levou às University of London. Disponível em http://eprints.ucl.ac.uk/5060/

219
arqui
Botando para fora

Formações espaciais em Porto Alegre. As estruturas


nodais e lineares (como a Av. Borges de Medeiros e a Av.
Independência) consistem de espaços de diversidade
social, não apenas de ações instrumentais e comerciais.
(Imagem: Google Earth)

Tab.1 – Os papéis da língua e espaço: a comparação


entre esses tecidos ontológicos pode auxiliar no

arqui
entendimento do amplo papel do espaço como forma de
comunicação, como elemento de conexão entre práticas
e entre pessoas.

Espaço Linguagem

so
Condição ontológica Durável, abrangente rigidez. Evanescente, fluida, elusiva.

Papel na comunicação Contextualidade da comunicação Comunicação efetiva:


Pano-de-fundo interpretativo, que ampara as Meio semiótico para atingir plenamente o processo
interpretações individuais na compreensão mútua comunicativo
na comunicação.

Papel informacional como meio de comunicação Define os campos de possibilidade para atos e para Endereça coisas e significados na nossa relação com o mundo.
os conteúdos dos discursos a serem realizados. Tem grande precisão para definir significados específicos.
Tem pouca precisão para definir significados Rico papel conotativo.

caminh
específicos.
Ausência de um papel conotativo.

Papel para estruturar redes comunicativas Meio para a conectividade dos atos, que produzirá Meio para a conectividade dos atos, que produzirá complexos
na reprodução social complexos de ações e socialidades. de ações e socialidades.

Condição ontológica: Enquanto sistema (“os espaços ao meu alcance”), Enquanto sistema (compartilhado por uma comunidade
nunca é produzido ou completamente conhecido linguística), nunca é produzido ou completamente conhecido
por um único indivíduo. por um único indivíduo.

Papel como dimensão da experiência e Contraponto à abstração e evanescência da O meio fluido para endereçar o mundo e o Outro, no complexo
existência humana: linguagem no processo de sociação e reprodução. processo de sociação das nossas práticas.

220
uitetur
Distintas espacialidades de Porto Alegre: (a) geometrias da convergência de encontros
no bairro Bonfim, onde diferentes grupos co-existem e a diversidade é alimentada;
(b) a espacialidade dispersa da distância entre corpos: área de condomínios verticais
junto à Av. Nilo Peçanha, onde pedestres são raramente vistos, e estranhos são
observados de perto por segurança particular – espaços controlados para interações
controladas; (c) favela na Av. Jacuí, próxima mas pouco penetrável à sua vizinhança
classe-média. (Imagens: Google Earth)

itetura
padrão espacial expressando um padrão de
organização social especíico – congelaria as
possibilidades de mudança de um sistema
social. Evitando a universalização dos padrões
espaciais e a tendência a buscar a maximização
A

produzidos em discursos e gestos que trarão


referências àqueles encenados em certos espaços
– ou mais precisamente, ao significado destes
espaços (re)conhecidos através dos traços de atos
nele encenados – como formas de relacionar-se
B C

de socialidades diversas em diversas formas de


apropriação e produção do espaço; estruturado
para uma emergência luida da prática e para as
relações entre diversas socialidades. Aqui venho
interessando-me mais e mais pelas idiossincrasias

o
ocied
de desempenhos em sistemas latentes nas com outros discursos e gestos. Mas tais formas de que expressam diferentes socialidades. Pergunto-
abordagens da geograia econômica, perguntei se sociação e reprodução social só poderiam acontecer me como tais espaços estruturariam essas
nossas comunicações poderiam ser intensiicadas se o espaço e a prática estivessem conectados socialidades internamente, e como as relações
(ou controladas) sob certas condições espaciais – intrinsicamente também ao nível da produção, entre suas espacialidades e o ambiente social
como Jane Jacobs (1969) e Edward Soja (2000) nos no modo como o ato emerge e socialidades se exterior se construiriam, como no caso radical
permitem pensar – em materialidades produzidas relacionam através da produção da diversidade de das geograias quebradas da cidade brasileira.
para estimular (ou romper) a intensidade da espaços que temos em nossas cidades. Para além
comunicação. Essa possibilidade implicaria que da contingência dessas estruturas, tão cara aos “A arquitetura como efeito” e o “efeito da
as conigurações das cidades (em espaços densos teóricos pós-estruturalistas, tais espacialidades arquitetura”
ou dispersos, próximos ou distantes, contínuos ou teriam o efeito de – e seriam, de fato, produzidas Essas observações conirmaram as suspeitas que
fragmentados) tivessem efeitos sobre o potencial para – estimular (e controlar) possibilidades de motivaram o início do meu caminho: o fenômeno
para a comunicação mediada pelo corpo. Em atos e comunicações, para incluir contingência da arquitetura não se limita aos contornos do
outras palavras, se as diferentes densidades da e causalidade à comunicação. A cidade e sua próprio edifício, e o que o edifício faz não se

ho
hos
cidade têm qualquer coisa a ver com as densidades diferenciação interna podem ser vistas como restringe a si mesmo, nem seu impacto se restringe
do movimento do corpo, elas poderiam ter de fato traços de diversas irrupções sociais sob forma aos nossos olhos ou à sensualidade do tato –
o efeito de estimular a comunicação, ou controlá- material, a qual simultaneamente dá suporte a tais ainda que estas sejam, naturalmente, dimensões
la em espaços segregados. Tomei esse ponto irrupções (nos espaços produzidos e apropriados fundamentais da arquitetura. Tais observações
controverso a sério (a possibilidade de efeitos por diferentes socialidades) e permite que tais permitiam enxergar as repercussões do edifício
de diferentes espacialidades sobre as dimensões diferenças possam se relacionar. E precisamente para além da sua visualidade, e a presença da
corporais e comunicativas da prática) para esta seria a razão para o espaço ser produzido na sua materialidade nas instâncias da prática
reinterpretar a pergunta clássica em geograia forma de cidades. humana além do óbvio suporte à funcionalidade
econômica, repetida por Soja: “O que faz as intrínseca às atividades, de modo a incluir o espaço
pessoas se aglomerarem, e quais os efeitos dessas Encontrei, assim, o espaço das múltiplas decididamente na própria construção da socialidade
aglomerações?” referencialidades e formações da prática, dos nossos atos. Assim, movi-me para além da
alimentado por requerimentos dessas práticas “arquitetura como efeito” (de decisões e atos
Argumentei que o processo de sociação, do ponto sobre um espaço ao mesmo tempo estruturado sociais e econômicos, processos mais comumente
de vista dos atores e contra a pressão do tempo e complexo – complexo para que a prática possa vistos em outras disciplinas como a geograia
na produção material, depende dos signiicados emergir com diversidade enquanto manifestação e a economia) em direção ao que chamei,

221
arqui
Botando para fora

Corpos impedidos/impelidos e divergentes – a relação


entre violência (Tschumi, 1996) e tensão entre corpos
e espaços convergentes (esquerda), e espacialidades
descontínuas e erodidas (direita): menos violência,
menos tensão entre corpo e superfícies construídas
da arquitetura. As linhas representam corpos em
movimento; os retângulos, espaços edificados.
Imagem: acervo do autor

arqui
recentemente, de “efeitos da arquitetura”.10 Meu
envolvimento com o ensino de arquitetura e
urbanismo tem sido determinante aqui. Tenho
sido trazido cada vez mais para perto da evidente
concretude do objeto arquitetônico. Isso me levou
visíveis; sobre a possibilidade de diferentes impactos
de diferentes arquiteturas. O cenário último da
realização do ato – as morfologias deinidas da
escala do edifício – é a condição para passagem
ato-espaço-ato: a realização das referencialidades
espaço. Assim, voltei-me para a questão de
como as conexões entre ato e lugar, construídas
pela referencialidade, são materializadas no
nosso percorrer do próprio espaço, e na relação
entre corpo e a espacialidade desses percursos:

so
a estender minha visão da relação entre espaço e (latentes e encenadas) e a concretização da ligação nas superfícies arquitetônicas que projetam
prática social em direção ao próprio edifício, onde inal entre ato e espaço através do corpo movido signiicado, referencialidade e potencial
tal relação deve tocar e existir, como condição pela intenção tanto quanto pela referencialidade para a prática sobre o sujeito, oferecendo
para que todas as outras relações entre social e inerente entre ato e espaço. Em outras palavras, (ou restringindo) condições para realização
material sejam, de fato, possíveis. essa passagem ocorre durante a exposição das suas ações; de como essa projeção e
de nossos corpos a essas morfologias – daí a essa realização são produzidas pelo próprio
Interessei-me pela relação da morfologia do importância de encontrarmos as condições para espaço – em espaços produzidos para projetar
espaço construído em relação ao espaço aberto gerar referencialidades no espaço – espaços que referencialidade sensorialmente sobre o sujeito,
tanto como sistema de ligação, quanto como atraiam práticas e alimentem a diversidade das através do seu corpo. Tento agora entender
geometria moldada pelos ediicios que o deinem: práticas; espaços de conectividade entre práticas, como o corpo é tensionado pelo espaço, e
a coniguração do edifício, sua diferenciação, a especialmente a oferta de tipos de espaços aptos à é tensionado diferentemente por diferentes
emergência de tipos (reais, ou criados por teorias realização de nossas atividades cotidianas. espacialidades.
de agrupamento de características), amarrados

caminh
entre si ou isolados; a morfologia dos quarteirões e A tensão entre corpo e espacialidade Um dos conceitos com mais potencial nesse
bairros – compactos ou erodidos, tecidos densos ou Minha atenção à variedade de espaços e seu sentido vem de Bernard Tschumi (1996).
esparsos, contínuos ou fragmentados. Teriam eles papel na diferenciação da prática levou-me Tschumi, provavelmente inspirado em
os mesmos efeitos sobre nossas práticas no espaço ao modo como o espaço atrai nossos atos, Derrida, airma a arquitetura e o espaço como
aberto e na busca por espaços construídos para intenções de atos, pensamentos, desejos, “violência” – as bordas e superfícies construídas
nossos atos – na nossa relação com o do espaço dos afetos – através de outra atração fundamental, da arquitetura tornam-se barreiras ao corpo
canais de ligação com as atividades sediadas nas inescapável: o próprio corpo. Recentemente, ao – barreiras ao corpo livre, em movimento.
arquiteturas da cidade? Tenho especulado sobre ser perguntado sobre o que faria de diferente Minha intenção é ver, a partir e para além dessa
a possibilidade de um “tipo”, quando repetido e se fosse iniciar naquele momento a pesquisa airmação, as tensões entre corpo e arquitetura em
predominante em um tecido, ter seus impactos da relação entre prática e espaço,11 airmei outra forma de relação: corpos não impedidos
especíicos sobre esse uso do espaço e na busca que “tentaria incluir o corpo, e veriicar suas pelo espaço, mas tensionados pelas superfícies
de atividades somados e tornados inalmente relações com o social e o espacial”, e ligar os três dos quarteirões e ediicios, moldados em canais
grandes “sistemas ontológicos”, corpo-língua- através dos quais o corpo se move – talvez
10. Veja Netto V, 2006 “O efeito da arquitetura: impactos
sociais, econômicos e ambientais de diferentes configurações de 11. O autor de tal pergunta foi Nigel Thrift, pesquisador em
impedido ao mesmo tempo que impelido
quarteirão” Arquitextos (Online), v. 079, p. 397 – http://www. geografia humana e membro da banca na defesa da minha tese de por essas mesmas superfícies e pelo que elas
vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp397.asp Doutoramento (em 21 de Setembro de 2005).

222
uitetur
itetura
escondem ou expressam. Mas o movimento
dentro dos canais moldados pelas superfícies
arquitetônicas pode ser sempre diferente:
pode sofrer, de acordo com a isicalidade
ou coniguração desse contexto, diferentes
Se o espaço tensiona corpos, essa tensão encontra
diferenças. As grandes distâncias e amplitudes
a percorrer, a ausência da atração entre corpo e
espaço construído, a completa liberdade para
o movimento, acompanhada por satisfação ou
forma de retorno, de volta, e de volta outra
vez a esse presente. Reconstruído assim, tão
brevemente, esse percurso-texto parece menos
laborioso do que realmente tem sido – luido e
truncado. Enfrentamentos de um arquiteto-

o
ocied
formas de tensão. Quando as superfícies talvez por uma melancolia da ausência do outro. pesquisador. Importa, talvez, o fato de que
mudam, a tensão entre fachadas e corpos Aqui encontramos uma ligação pouco visível em algum momento preferi voltar-me antes
parece mudar: fachadas contínuas, próximas entre sujeito, cognição (o reconhecimento dos à compreensão da arquitetura do que fazê-la
ao corpo em movimento, tensionariam o corpo signiicados e da referencialidade entre gestos (ainda que tenha me envolvido em processos de
constantemente, constantemente captando/ e espaços), e o corpo – pontes entre o que se projeto e geração da forma). E decidi que essa
atraindo os olhos, e impelindo os olhos a chamava, tradicionalmente, res mentales e res busca por uma compreensão, e a compreensão
olharem adiante, canalizados através do canal corporales. A referencialidade do signiicado, que me parecia possível, poderiam ser mais úteis
da rua. Constantemente induzindo movimento que nos prende ou liga aos espaços das nossas que as formas que seria - ou tenho sido - capaz
através de sua sutil forma de violência, ou práticas (passadas e correntes, potenciais e de fazer; que eu poderia fazer mais, ao menos
talvez no exato momento do impelir corpos futuras), é ao mesmo tempo a atração inicial na maneira como me vejo no contexto à minha
em movimento em uma ou outra direção, para o movimento do corpo, e a conclusão do volta, se falasse dessas compreensões e dessas
com espaços menos ou mais delimitados para movimento. Ela o precede e o completa. Entre dimensões da arquitetura – sobretudo essas,
mudanças de direção ou para penetrar outros esses momentos, a tensão entre corpo e espaço sutis, quase invisíveis. Esse tem sido meu papel

ho
hos
espaços . Essa tensão pode ser produzida expressa e concretiza a inerente relacionalidade como arquiteto em relação à minha sociedade:
constantemente, quando superfícies contínuas do ato. Mas como o corpo experiencia e atualiza um esforço de capturar a riqueza, complexidade,
estão à minha volta, violando meu movimento referencialidade? Como tensões no tecido sócio- a vitalidade das coisas da experiência – em
– mas tambem o impelindo, dando razões para espacial, drenando referências, movimentos, luta constante contra a bidimensionalidade
que ele emerja, sendo sua raison d’ être. Ou o corpos, atos? Essas são observações certamente do meu próprio pensamento. Vejo-me, agora,
movimento pode ser estruturado em divergência, incipientes sobre o corpo movendo e ocupando descobrindo outras dimensões – o corpo, os
enfraquecido por superfícies descontínuas, não espaço; dos graus de convergência produzidos afetos, algo que as abordagens pós-estruturalistas
mais constantes para tensionar constantemente pelo espaço sobre o corpo, e da geometria dos (em sua maioria, na geograia) têm me ensinado;
o corpo – momentaneamente ausentes em corpos ocupando ou movendo, projetada na e me vejo entremeado de atenções (e por gestos
falhas, em quarteirões erodidos, interrompidos; geometria do espaço em si... de afeto) a esses temas. Vejo também que esse
em espacialidades quebradas para o corpo caminho ou preocupação que me atravessa, toca
em movimento: a dispersão das tensões entre À guisa de uma conclusão antes a arquitetura do dia-a-dia, a arquitetura que
fachadas e corpos, seguida pela dispersão do Estes foram meus caminhos em arquitetura constitui grande parte da espacialidade que nos
olhar no espaço. e sociedade até aqui, no caso de alguém ler cerca, em nossos bairros e cidades – dos tecidos
essas palavras. Escrevi sobre eles como uma que produzimos para viver em nossos grupos e

223
arqui
Botando para fora

arqui
em nossa sociedade: que os efeitos da arquitetura
ocorrem aí mais intensamente – aí, onde eles se
descerram, desvelam sobre as nossas vidas. E que
essa vitalidade humana e social da arquitetura
tornou-se de fato meu maior interesse, o maior
Referências
FORTY, A. Words and Buildings: A Vocabulary of Modern
Architecture. New York: Thames & Hudson, 2000.
HABERMAS, J. The Theory of Communicative Action
Vol.1. Cambridge: Polity Press, 1984.

so
valor que fui capaz de ver na arquitetura. Haveria HABERMAS, J. The Philosophical Discourse of
coerência nesse caminho? Haveria mais coerência Modernity. Cambridge: Polity Press, 1987
em outros, ou caminhos incoerentes? Teremos HILLIER, B. Space is the machine. Cambridge: Polity
outras possibilidades de entrar e atalhar e sair Press, 1996.
e voltar, e becos e outros traçados dentro desse JACOBS, J. The Economy of Cities. New York: Random
emaranhado que motiva e captura e prende... House, 1969.
nos caminhos da espacialidade e socialidade; da LEFEBVRE, H. The Production of Space. Oxford:
forma, e da forma da nossa experiência do Outro, Blackwell, 1991.
das coisas, do mundo. LUHMANN, N. Theories of Distinction: Redescribing the
Descriptions of Modernity. Stanford: University Press,
Entre tantas vozes que me estimulam, esse texto é Stanford, 2002.
dedicado àquelas mais centrais em meus dez anos MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da Percepção. São
de caminhos em arquitetura e sociedade, Alejandro

caminh
Paulo: Martins Fontes Editora, 1994.
Jelvez, Romulo Krafta, e Bill Hillier; a um amigo SOJA, E. Postmetropolis: Critical Studies of Cities and Créditos dos “arqnúncios” neste Bloco(4):
distante, Frederico de Holanda; e aos meus colegas Regions. Oxford: Blackwell, 2000.
e alunos – sobretudo àqueles que têm descoberto e THRIFT, N. Spatial Formations. London: Sage, 1996. Páginas 10 e 11 - Prof. Juliano Caldas de
adentrado, pela idéia e imaginação, o tecido delicado THRIFT, N. Non-representational Theory: Space, Politics, Vasconcellos
da espacialidade de nossos atos e experiências. Affect. New York: Routledge, 2008. Páginas 28 e 29 - Prof. Ana Carolina Pellegrini
TSCHUMI, B. Architecture and Disjunction. Cambridge Página 45 - Prof. Ana Carolina Pellegrini
Vinicius Netto é Arquiteto e Urbanista (UFRGS, MA: The MIT Press, 1996. Página 65 - Acad. Eder Ramon Maciel, Germano
1997), PhD em Advanced Architectural Studies WITTGENSTEIN, L. Investigações filosóficas. Petrópolis: Luiz Klaser e Guilherme Muller
pela University College London (UCL, 2007), Vozes, 2004. Página 81 - Prof. Ana Carolina Pellegrini
Mestre em Planejamento Urbano e Regional Página 89 - Prof. Rinaldo Barbosa
(PROPUR/UFRGS, 1999). Estuda formas de Páginas 150 e 151 - Prof. Ana Carolina Pellegrini
integração entre arquitetura e urbanismo, e as Página 159 - Acad. Bruna Boeira Valentini, Etienne
relações entre prática social e espaço. Muller Buchmann e Vanessa Riani Gomes
Contato: v1n1netto@yahoo.co.uk Páginas 198 e 199 - Prof. Juliano Caldas de
Vasconcellos

224

S-ar putea să vă placă și