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Copyright © 2003 by Sandra Jatahy Pesa vento SUMÁRIO

Projeto gráfico da capa


Jairo Alvarenga Fonseca
(Imagem: Clio. Euterpe el Thalie, séc. XVII,
Coleção de Louis X V!, Louvre)

Coordenadores da coleção
Eduardo França Paiva
Carla Maria Junho Anastasia
CAPjTULO I
Editoração eletrônica Clio~ a grande virada da História ...................................... 07
Waldênia Alvarenga Santos Ataíde
CAPÍTULQ II
Revisão
Precursores e redescobertas:
Ana Elisa Ribeiro
a arqueologia da História Cultural.. ..... . ········ 19

Pesa vento, Sandra Jatahy CAPÍTULO III


P472h História & História Cultural I Sandra Jatahy Pesa vento. Mudanças epistemológicas: a entrada em
- 2. ed. - Belo Horizonte: Autêntica, 2004. cena de um novo olhar. ....................................................... 39
132p. (Coleção História& ... Retlexões, 5)
CAPÍTULO IV
ISBN 85-7526-078-2
Em busca de um método: as estratégias
I. Cultura-história. I. Título. II. Série. do fazer História ................................................................. 63
CDU 008(091)
CAPÍTULO v
Correntes, campos temáticos e fontes:
uma aventura da História .................. . ................ ,. 69

CAPÍTULO VI
Uma difusão mundial: a História sem fronteiras ................ 99
2004
Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora. CAPÍTULO VII
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, Os novos parceiros da História: nas
seja por meios mecânicos, eletrônico, seja via cópia xerográfica
sem a autorização prévia da editora.
fronteiras do conhecimento .......................... . .l07

Autêntica Editora CAPÍTULO VIII


Rua São Bartolomeu, 160 - Nova Floresta
Os riscos da empreitada: alerta geral.., .. , ............\ ............. 115
31140-290- Belo Horizonte - MG
PABX: (55 31) 3423 3022 - TELEVENDAS: 0800 2831322
BIBLIOGRAFIA BÁSICA: PARA LER E CRITICAR ..............\ ......... 121
www.autenticaeditora.com.br e-mail: autentica@autenticaeditora.com.br
11"""'
Cni_tc,;n ·'1--1,~:-.-.-_;:c,·[,\ ,_.-:, ... R.cTuvn:-.<:> ·

contexto m<us ~-~


na de cruza-· f""A!'ÍTliLO V
com os dados ern anúlíse.
O historiador, senhor do me1ooo. comparece como um
tal co1no anuncia Gmzburg: ele explica como foi, con1o
aconteceu e. com a au!oridack da fala c o comrolc da cstraté-
valer sua rcnn•s,~nl:~<·:"in .sobre o Correntes, carnpos ternáticos c fontes:
urna aventura da :História
idéia na uma perguma na
de um método nas rnãos e um universo de
de· si a
_ Parece que o h· Este. talvez, sej;t um dos aspectos que.
po1s tudo Ihc parece capaz de menk:. mais dào visibilidade à História Cultural: 3
Tudo é das correntes da história e dos carnpos de pesquisa,
cando o universo temático c os
scz·,
tc:l11 tema e de uma , de novas fontes. CO!TlU l"C-
cortes musitados do por queslôes renovado-
atê ~~ntüo náo- visualizada
como aprovenave! pela Históna, ou então a rev1sita de velhas
fontes ilumínadas por novas pt',rgumas.
lJrna nZio somente da académica e da
pesquisa, rnas também um marcante fenômeno de mfdia. Pode-
se mesrno dizer que a História Cultural tem exerctdo urna ver-
dadeira sedu~·üo para o público leitor, o que permite aventurar
que Cho saiu revitalizada da t.ão re,nom<Hla e discutida crise
dos paradigmas. Mais é~ possível dizer que nunca se es--
crevcu nem se leu tanto sobre História CO!Tiü na última década
do século XX c neste início do novo século c rnílênio!
Quais contudo. essas novas correntes trilhadas
,,
u daquele ep1stemológi-
coe anteriormente enunciado?
zt cscri-
de análise decorrern daqueies
conceitos o da comnrcensào da His-
tória corno mna narrativa que constrÓi uma representação so-
e que se desdobra nos estudos da produção c da

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69
y-·

I ,',· 1-\:o_ill :·{i_\tOi~:i ~•.:.,, Hbff'JtiJ Cu~tur<d

que ::~scrita c leitura süo mdn/isíveís vemos que ela.~ podem se dar por aproxima\:ao com as
intcrnJ<:diário entre pro-- ras Ja literatura. Isso nilo irnp!ica um endosso indi.~crímína-
C Vel- do de um ttnn, nem uma 111 locrum.
na aná- das de Haydcn \\rllitc\ qu'-~ apaga as cr entre
texto c !eítuu. a História e a Literatura. Talvez nwsmo
Em se tratando ela o historiador lan~:a ria rLcusar afí de Ro!and Banhes quando Lda da úni--
as perguntas sobre quem fala e de onde fala. ac1 cnfocar o texto conslruída pelo discurso. Iv1as to-
o que se faia t' como se fala e na análise da das ess~ls n::presemanL !sso sim, urn exercício
pelo h ístoriador ser~í discutir para de reflexão para entender as entre a rcprc-
esta central para
entre ~::~ssas
instilncias não são dirctas nem a História Culrmal.
discurso narrativo, sen- Nessa 111ed ·esse modo rcfer\~ncl<d VI
do o seu quase infimto. A realidade é fraf'mcnUHla c é o cnr.:~ndunenlo da Htstôria Cultural pode ser o ela met~tlora, ou
seja, o discurso explica, fala de algo que se pch:ebc e se cnkn--
as panes com o us sujeitos co1n o de como real, como um outro deste real. Ele fala por uma mo-
o sensível com o racionaL o singular com o universal. dalidade referencial de indicar uma ·ricação para além deste
Se p~:.~nsar as relaçõt::s que se estabelecem entre o envoivendo uma hermenêutica. Ele diz mais, diz
,; o real -· ou da representaçüo com o seu referente - , diz de outra forma para dízer mais.
A postura metafórica, ou da hermenêutica do texto, é ~~
que mdhor concentra a idéia de que uma escrita
1ncnsagens ,~ mas que .ser lidos de vária<>
ll1<H1eiras.
Ora, esta História Cultural, debruce-se e!a sobrt~ a escrita
do texto, sobre a edicto do l1vro ou sobre a
rc:constntir o de pesquisa, tentar atin~ir a
dos indivíduos no
ambiçôes c temores.
pensar a descontinuidade da História c a
to o Historiador como o lcitm diante de wna alteridade de
sentidos diante do mundo.
(~ ainda nesta correníe que se insere a discussào sobre a
fv1ulher it-.-·nd(J lOlU.J na História c do notencial das fonte-; como documcn!o
cur:o. Johannc~ que estabelecer verdades so-
Vermet:r, século X V li.
bre o Por outro !ado, é ,unda por esse campo que se

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r
COLEÇAU "Ht)TURIA & -- REflfXÜE5" História & Históna Cultural

coloca o estatuto específico da narrativa histórica, onde ela se Os elementos do micro, recolhidos pelo historiador, são
aproxima e se afasta do discurso literário. como a ponta de um iceberg que aflora e que permite cristalizar
Uma outra corrente historiográfica é a da micro-história, algo e atingir outras questões que não se revelam a um primeiro
vertente que tem sido associada à vertente italiana de fazer olhar. Ele é o elemento que não só permite pensar o todo como,
História, particularmente aos nomes de Cario Ginzburg e Gio- inclusive, possibilita elevar a escala de interpretação a um pla-
vanni Levi. A micro-história, como o próprio nome indica, no mais amplo e distante, para além do espaço e do tempo, pen-
realiza uma redução da escala de análise, seguida da explora- sando na circularidade cultural ou na difusão dos traços e signi-
ção intensiva de um objeto de talhe limitado. Esse processo é ficados produzidos pelos homens em todas as épocas.
acompanhado de uma valorização do empírico, exaustivamente
trabalhado ao longo de extensa pesquisa de arquivo.
Tal escolha implica o recurso do uso da metonímia como
figura metodológica de ação, o que permite que, a partir do
fragmento, se consiga obter um espectro mais amplo de pos-
sibilidades de interpretação. O aprofundamento do processo
explicativo, pela análise microscópica, leva, por seu turno, a
uma pluralidade de respostas possíveis para uma mesma si-
tuação dada.
Enquanto novo enfoque ou tendência, ao enunciar seus
propósitos de redução de escala para potencializar a interpre-
tação, vendo, no micro, o macro, a micro-história põe em prá-
tica uma metodologia de abordagem do social. Justo na aparen-
te imobilidade do fato, os historiadores buscavam surpreender a
dinâmica da História, unindo o dado arquivístico à multiplici- Banquete nupcial camponês. Pieter Bruegel, século XVI.
dade das relações sociais. Por meio de um entrecruzamento má-
ximo de relações, os historiadores damicro-história acabam por Há, contudo, riscos: a hipertrofia das potencialidades
demonstrar que o social passado não é um dado posto, um fato metonímicas do traço pode levar àquilo que Andréa Dei Col
definido, mas algo reconstruído a partir de interrogações e ques- chamou de excesso interpretativo da obra O queijo e os ver-
tões postas. Recusando evidências, trabalhando com detalhes mes, de Cario Ginzburg, esta figura exponencial da micro-
e traços secundários, tais historiadores se voltam para a preo- história. O erudito Cario Ginzburg incorreria, por vezes, nessa
cupação de atingir, no micro, a dinâmica da vida, construindo prática de superinterpretação, ao levar mais longe que o ad-
versões sobre o passado por meio da pesquisa empírica exaus- missível a sua capacidade de estabelecer relações de signifi-
tiva, que tanto combina uma espécie de descrição densa, aque- cado, muito distantes no tempo e no espaço, e realizar a
la do viés antropológico, quanto a do método indiciário anun- descoberta de coincidências extraordinárias ou a extrapola-
ciado por Ginzburg. ções interpretativas.

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'r

Col_i-(_ -\" 1 F.:.u Lt\C :.f'· Hish~r\d &. H!:.;t:_')rÍd Cultural

Outro risco viria da o acontecimento, Fm suma, ;wúcro-lusrurw busca


ou per:;onagem, isolado e na tentativa de res.2atar a
ou urna regra à orckm ter uma ba- indo do iempo cu no dos dados de
e acumulada de crn termo:; de vo ao lempo nwcro de urna época dada do
para identificar o micro como massa média ou re- Uma terceira correnrc muito anui, que se nos
de um contexto dado ou como o elemento que domínios da História Cultural, sena aqu~::la relativa a uma re-
leitura do político pelo culturaL vezes
ainda ter fil1granas no olhar para \'CC no único 1-Jisrôna Pníítiro_ essa nostnu resulta do
ou na o normaL a série, a confirmação ela regra, da riadores do político, dos que
conduta e do valor vigente. Ou, em a análise na His16ria Cultural
olhar muito att:nto e acurado que vê, na a nor- taçüo. a produção e a recepção do discurso historiográfico re-
ma, ou na declarac;io da virtude,<~ t:xisténcia do formularam a comprecnsüo do poiítico.
Por outro se a 111 i cru-li ístó ria o Fala--se mesmo cm uma Históriel Cu'itural do Pol
hú que ter em conta a distin\~Úo entn: o corriqueiro e o excep- rnobilizada pelos estudos que se centrarn em torno do ímagi-
cionaL ntlo tomando o acidente como usual, nem o h1to de núrio do poder, sobre a pcrformance de atores, sobre a eficúcia
cada dia como ex!raordimírio, apenas por ser diferente. simbólica de rito<; e imagens produzidas segundo fins e usos
Na expressão de .Jacqut:s Revel, há uma descida ao rés sobre os fenômenos que presidem a reparti<,~Jo da
do desvcnc!:mdo o coridiano de geme sem e do podtêr entre grupos'-~ indivíduos, sobre mitos e
a refazer iraietórias de vida que operam como que crenças que lcvan• os homens a acreditar cm alguém ou
portas de enlrada para a compreensào de formas de agir, de da realidade sobre os mecanis-
pensar c de o mundo ,~rn uma determinada época. se constroem identidades dotadas do
Nessa hú uma nítida op\·ão. por parte desses h is-
para o recolhimento de um viés Neste cabe mostrar que a l-Iistória Cultural não
desde baixo, d.:: resgate do popular para a análise da excluí a política de suas anüliscs. como alguns de
da rnesma forma que se ck-,taca também a busca de rccornpor ~.eus críticos, Pelo conrráno, o campo do
trajetórias índinduais. A ênfase no fnH!mento e no indivíduo mon ser um dos mais ricos para o estudo das rcprescn-
aproxima a análise dos estu- com o que se pode n1esrno afirmar que a História
do das sensibilidades que as os discursos e as Cultura! trouxe novos aportes ao político, colocando ques--
prúticas oodem conter. As tões renovadoras c sugennclo novos Não seria de-
no seu na::-;ce- rnais falar cm uma verdadeira renovação do ftico. trazida
por assim dizer. pela História Cu
de uma corrente qut.~ se Sobretudo, o uso dos meios de
laboratório de expent~ncws, que ensma o
uso de fontes que, cntrecruzadas, remetem ao simbólico, à vez rnais com o fazer crer, com imagens ou

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Couc,.Ao "H1~r( >RIA & .. REHt:xoE:.." T
I
!
História & Históna Cultu1al

discursos distanciados do real, mas que são legitimados e acei- e artigos em revistas especializadas, na definição de temas e
tos, com curso de verdade, foi um elemento que pôs na ordem questões a serem discutidas em congressos e seminários, na
o dia as questões relativas ao imaginário. Mais do que em ou- produção de teses e de dissertações, ou ainda nas pesquisas
tros campos, foi possível retornar às mesmas fontes com ou- feitas ou disciplinas oferecidas nos cursos universitários.
tros olhos, formulando novas questões.
Tais cotTentes se traduzem em campos temáticos de pesqui-
Sem dúvida, essa história política renovada teve, a rigor, sa, em tomo dos quais se agregam os trabalhos de investigação.
ainda muito a ver com as novas formas assumidas pelos movi- Um deles seria o das cidades. Já existe uma ampla pro-
mentos políticos, fazendo uso da mídia e, cada vez mais, apos-
dução acumulada sobre a cidade, particularmente no que diz
tando na credibilidade obtida pelas imagens e pelos discursos.
respeito a uma abordagem econômico-social. Muito já se es-
Abandonando formas ainda herdadas de uma tradição creveu, tanto sob uma perspectiva quantitativa e evolutiva,
positivista, linear, seqüencial e causal de análise do político, quanto sob uma abordagem marxista, sobre o fenômeno urba-
ou ainda de um viés marxista, a ver a política como manifesta- no. Chamamos de perspectiva quantitativa e evolutiva aquele
ção superestrutura! de uma infraestrutura socioeconômica, ou tipo de abordagem sem qualquer outro compromisso teórico
ainda mesmo a uma vertente da ciência política, a estudar os maior, empenhada na descrição da história de uma cidade, re-
comportamentos políticos dos grupos, os partidos e as elei- traçando a sua evolução, arrolando dados, nomes, retraçan-
ções, o renascimento da história política, a aproximação com do seu crescimento e sua evolução urbanística. Informativas,
a história cultural rendeu bons frutos. tais histórias de cidades não estabelecem reflexões maiores
Se a História Cultural visa a atingir as representações, in- sobre o fenômeno da urbanização em si, o que não ocorre den-
dividuais e coletivas, que os homens constroem sobre o mundo, tro de uma abordagem de conotação marxista.
a História Cultural do Político difundiu-se, tendo como uma de Segundo essa postura, as cidades comparecem como o
suas preocupações centrais a definição de uma cultura política. locus da acumulação de capital, como o epicentro da transfor-
Esta corresponderia ao conjunto das representações que nutrem mação capitalista do mundo. Mesmo assim, a cidade é ainda
um grupo no plano político, ou, como diz Jean-François Sirine- abordada na sua dimensão espacial: ela é o território onde se
lli, uma visão de mundo partilhada, uma leitura comum do pas- realiza um processo de produção capitalista e onde se reali-
sado, uma projeção no futuro a ser vivido em conjunto. zam as relações capitalistas, onde se enfrentam as classes.
A renovação do campo conceituai-teórico permitiu, ain- Mas a cidade representa o que se poderia chamar de um
da, juntar tanto as performances individuais e as análises dos campo de pesquisa e discussão interdisciplinar: trabalham so-
acontecimentos, próprias a um tempo curto, quanto uma histó- bre ela não só historiadores como geógrafos, sociólogos, eco-
ria mais global, de movimentos ou estruturas de poder, naqui- nomistas, urbanistas, antropólogos. O que cabe destacar é a
lo que Sirinelli chamaria de fecundidade heurística dessa re- abordagem introduzida pela História Cultural: ela não é mais
novação ou mesmo renascimento do político. considerada só como um locus, seja da realização da produção
Essas correntes da História Cultural aqui apresentadas ou da ação social, mas sobretudo como um problema e um
não esgotam esses domínios, e pretendem referir-se a ten- objeto de reflexão. Não se estudam apenas processos econô-
dências amplas, constatadas a partir da publicação de livros micos e sociais que ocorrem na cidade, mas as representações

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(:ur "J-h,,r, RU!
}-ii~~t~->r!a S J---1!sk>ria Cuitw.J!

que se constrocrn na e sobn:: a '-'Hlaw:;.


dizer qu,: a a da humana, tal como pensou
l'vlas como analisa a cidade nroduzm tambl':m um;.1
e nnagcns de representa- forma de ·rica\:ão amoral c cC;tica: Baudelaire a celebra
sobre espaços, aton.::s e Drúticas sociais. como situada acnna do bem e do mal. tl)das as
regras, tal como se na mockrnidadc .
A modernidade urbana é. por sí
que mtroduz toda uma outra série de
capitalista do
individuai e coletiva, faz da
cidack mais que umíocus. um verdadeiro personagem. A emer-
da cidade modema e, sobretudo, de Paris como para-
digma e ITJÍlo da metrúpole exportável enquanto modelo para
n mundo pôe em cena uma gama de novas representações. Por
ela cidade des.._:ncadeia urna luta de
uma cidade
rnoderna é aquela que destrói para construir. arrasando para
embelezar. realizando c1rurgws urbanas para redesenhar o es-
paço em funç:io da técnica, da higiene, da estética.
Mas, dcsrruir e remodelar a urbe implica julgar aquilo
que se deve preservar, aquilo que, ern termos de espaço cons-
diz é identificado como nonto de ancoragern da mcrnóna.
a identifica,:fto c de significa- marco de reconhecimento e coletíva. de
dizer que trata das íticas de de identidades
Estas se oferecem como um carnpo de investi- urbanas sáo algumas das vias temáticas que se abn:m com esse
ao historiador. Por exemplo, são objeto de uma História carnpo de
lJrhana as fonnas pelas quaís a cidade foi pensada e
tJma cidade moderna cri<J ainda um léxico urbano para
longo dos tempos, o que poderia lidar com as
fic"ados ao espaço e às Palavras
novas para e dar sentido a t~" às materíalida-
como Voltaire a n- de::; da whc, e !ambém identidades para dt:finir reconheci--
con1o centro de difusão da e da civilização., como mentos de personagens urbanos. Bons e rnaus !ue:arcs. ct-
superior das real núcleo difusor da dadanía e exclusüo são algumas dessas cl
e do da vida: de outro, a cidade compare- ser ainda desdobrados l~m desígnaçôes legais de
cidade-pecado, ela é reduto do do urbano, a estabelecer a norma e a trans-
v do
a expor a e c o

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7l..J
CotrçÃo "HisTóRIA& ... REHEXOE::.s''
1
! Hrstória & Histórta Cultural
l
Mas a modernidade urbana propicia também pensar ou-
São ambas, como se viu e como apresentou Ricoeur, refigu-
tros tipos de representação: aqueles referentes aos planos e
rações de um tempo, configurando o que se passou, no caso da
utopias construídos sobre o futuro da cidade, inscrevendo uma
História, ou o que se teria passado, para a voz narrativa, no caso
cidade sonhada e desejada em projetos urbanísticos. Realiza-
da Literatura. Ambas são formas de explicar o presente, inventar
dos ou não, eles são a inscrição de uma vontade e de um pen-
o passado, imaginar o futuro. Valem-se de estratégias retóricas,
samento sobre a cidade, logo são matéria da história, porque
estetizando em narrativa os fatos dos quais se propõem falar.
fazem parte da capacidade imaginária de transformar o mun-
São ambas formas de representar inquietudes e questões que
do. Da mesma forma, uma cidade que se transforma se apressa
mobilizam os homens em cada época de sua história, e, nesta
em registrar a memória e o conhecimento daquilo que foi um
medida, possuem um público destinatário e leitor. Isso tudo diz
dia: assim é que se elaboram os mitos das origens, se recolhem
respeito às aproximações que unem a História e a Literatura.
as lendas, se constrói uma história da cidade. Assim como pensa
o seu futuro, a cidade inventa o seu passado, sempre a partir
das questões do seu presente.
Uma cidade é objeto de muitos discursos, a revelar sabe-
res específicos ou modalidades sensíveis de leitura do urbano:
discursos médicos, políticos, urbanísticos, históricos, literários,
poéticos, policiais, jurídicos, todos a empregarem metáforas
para qualificar a cidade. Uma cidade é também objeto de pro-
dução de imagens - fotográficas, pictóricas, cinematográfi-
cas, gráficas- a cruzarem ou oporem sentidos sobre o urbano.
Como fala Ítalo Calvino, uma cidade contém muitas cidades e
esse tem se revelado um campo de pesquisa muito amplo no
âmbito da História Cultural.
Outro campo de investigação que se apresenta de forma
expressiva no âmbito da História Cultural diz respeito às rela-
ções entre a História e a Literatura. Jovem mulher lendo. Fragonard, século XVIII.

Para a História Cultural, a relação entre a História e a


Por outro lado, há distanciamentos entre uma forma nar-
Literatura se resolve no plano epistemológico, mediante apro-
rativa e outra, colocando-se como a grande questão o já men-
ximações e distanciamentos, entendendo-as como diferentes
cionado debate entre verdade e ficção, que discute o estatuto
formas de dizer o mundo, que guardam distintas aproxima-
da História: ao admitir o uso de estratégias fictícias, ao endos-
ções com o real. Clio e Calíope participam da criação do mun-
sar que realiza reconstruções do passado e lida com a verossi-
do, como narrativas que falam do acontecido e do não-aconte-
milhança ou, no máximo, verdades cumulativas e parciais, a
cido, tendo a realidade como referente a confirmar, a negar, a
História Cultural não estaria se aproximando ou se identifi-
ultrapassar, a deformar.
cando demais com a Literatura e abrindo mão de seu caráter

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81
-.......-

·\1_; "f-·ir, r: ';;.;1:\ ,\: .. Hi>_,j,_.,\ L1 ,\.; ~-iic;!t)ri<l c:ui!.uf'.~Í

ci,_·ntífico? J;1 vimos que a l~m um texto? O que é recorrt•nte cm umd o que e:,;um-
ela'~ uma daíiza. o que emociona, o que(' aceito socialmente e o que é
tal como pelo fato de que lida sempre co1n o Para alérn das disnosícôes lctraís ou
ra variem as formas ck~ reDrcsentar aquilo que aconte,;_·etL .A Hís- de uma ·~:' a l1tera!ura que
quc ~;:statx:h:cc com o seu fornece os indícios para pensar como e por que as pessoas
agiam desta c daquela forma.
do
Por outro lado. a Literatura é fonte de si mesma. Ela nào
A nova questão que se e que é centra! para a defini- fala de coisas ocorridas. nüo traz nenhuma verdade do aconte-
de estabcieccr uma nova c cido, seus personagens nüo exisl!rarn. nem mesmo os fatos
da CulturaL é a do uso da Literatura História. narrados tiveram existf·ncia reaL A Literatura é
L~
a História que formula as perguntas e de si própria. portanto o que conta para o historiador nào é o
que a Literatura opera como fon- da narrativa, mas sim o da escrita. Ela é tomada a par-
ocupa, no caso, a fun\'áo de traço, que se trans- tir do autor c sua época, o que clú pistas sobre a escolha do
em documento e que passa a responder üs questóes for- tema e de seu erm.:do, ta! corno sobre o horizonte de
historiador. Não se trata, no caso, de estabelecer vas de urna
entre História e Literatura. rnas sim de Pensemos, pois, algumas modalidades temporais da es-
saro lugar de onde se faz a pergunta. crita do textt• litcrúio para que possamos apreciar as possibi-
Por outro lado, o historiador que se vale da Literatura deve lidades de seu uso pelo hístoriador. No caso de um texto litt'r:í-
em conta qu::: se a prcocupaçüo da pt~sqwsa é a detennina- rio que fale do seu tempo -- seja ele a obra de Balzac ou de
ção de um fato ou de um personagem do real passado, ou se Machado de Assis --, o historiador sobre ele se debruça a res-
pretender conferir se algo rerá ocorrido de fato, nào é a esse t1pu lídades, as razões e os sentimentos de uma épo-
de fonte que deve recorrer. 1\bs, cm se tratando da História c a, esteticamente cm narrativa pdo autor.
Cultural, não scr~1o essas as perguntas ou as o tt::xto I iterário fala do como un1 ro-
Se a Iiistória Cultural está cm busca do das reprc- mance hístórico - tal como Sir \h/alter Scott com Jvan!we ou
sentaçôcs se aquele reduto de sensibílí- Verfssimo com O tempo e o vento -, o historiador não
e de mvestimento do mundo, a busca nele a verdade de um outro tempo, vendo no discurso de
Literatura é uma fonte realmente dar ao hís- mas a
algo a mais que outras fontes nüo fornecerão. de no tempo da escritura.
A Literatura permite o acesso à sintonia fina ou ao clima Já no caso da literatura de ficção científica, que
de uma época. ao rnodo pelo qual as pessoas pensavam o mun- enl urna
quais os valores que guiavam seus passos, quais não trmlscorrída. ela pode interessar ao historiador da
medos c sonhos. Ela d:í a ver sensib!l se ele estiver interessado ern saber como urna pen·
da é fonte sava o seu futuro. Por trás de todas essas modalidades de uso
para a do texto !iterúrio se encontra a idéia, cara à l-!istória

82 83
.,..,

·Hi•,-:(l;~:!.\ RH li-·/)!_,'' í---li~L_)ri,! ~\ H~';t(;.ria ( -ldttii·~-tl

de que toda --a da escritura de um texto


o , mventa o constrôt o futuro'
outras cons a scrern no
caso da nl.tl do tex.to literário pt:io historiador da cul-
tura. Pensemos na no cànone l pertinente a
tal tipo de escntéJ na sua avaliL~ç~io. O valor litcrJ.rio não é
um valor absoluto para o his!oriador. no sentido de que nem
obras é que podem ser
esc ri to r detém, como
de estet1zar. cm texto as
ele é, sem dtí um leitor
pnv! ado do social.
Mas. por outro a mediocridade ser também
As f rc.~ ordens rer~re,renuuia.'l- _,t(·n·júndo ( ·nn.\·tituiçoo
por vezes. mais do que a gcniaiidade. Se a
XVII! t<:ancatur~l da <'poc·;l ela Rc:\ nlw,::lu Franer:sa).
é capturar as sensibilidades de uma cultura po-
pular, ver aquilo que causava Taí como os discursos, as imagens tem u reai como relé-
c consumido pelas camadas subalternas ou reme, nào sendo a sua mírncsis. As imagen;;
de uma maior i!ustrat;-'ào, a literatura de baixa ser reconhecíveis ou eslnmhas, na medida cm que se
e vendida cm uma determinada é fundamcn- o real, de forma realista, a represcnti.í-lo de maneira
tal como sintoma a ser levado em conta. dcfonnando-

A utiliza..,~iio do texto literário


cb irnagem veio mostrar que
mais longe o deslocamemo da veracidade ú Imagem, o :;cn valor documentaL
os efeitos de real e de vc~rdade que uma
seJ<Hn grat1cas ou pKtoncas, s;Jo
produzir, tomando o iugar do que te- Jo mundo elaboradas para sen~m vistas. Corno d1z
na Ao trabalhar com a Literatura como mont, elas nüo são scnào com esse fim.
com a necessida-
Por as imagens ioram utilizadas hisW··
de de o estatuto do texto e realizar cruzamentos entre
de corno paisagem ou retrato que
e distancíarnentos. um fato ou personagem, ou enrào, na sua vcrsií.o
Urn outro da História Cultural diz res- da cultura cm um rnonwnto
peito às , Diante de um pn::domímo ou de uma tradi-
mesmo sendo ti'io _ A redescoberta da imagem
a do süo ainda conside-- com a 1ckia da tal como se deu corn
radas um cmnpo novo no âmbito da História. a(; 1extc1 literário.

B4 85
'!-!!:.;li F:ti-~ r.\' Hi-:-;t6ru .:~- r !b~··.-Jri,1 Culluul

As imagens estabcku:m uma rncdiaçüo entre o mundo Por o urro


do e o do jJrodutor, tendo como reJtTente a .! a~
ser l 1c .1
po.~.su ies de ícones ou sig-
ml como, no caso do discurso, o texto é mediador entre o mundo ·ricados para uma
da kitura e o da e~crita. Afinal, palavras e imagens silo formas de da<b Assin1. a semiótica enfn:ntar essa leitura ci··
do mundo que constituem o irnal!in<'írio. frada da imagem. que por sua vez remete o íeitor a um cunhe-
Toda dá a ver, todo texto rL1 a ler Mas todo dis- to danuílo que está contido na imagem. l\1as,
curso se repuna a uma imagem mental, assim comu loda i ma- icado ao texto, com um ckn--
comporta uma mensagern discursiva. I\Ias, sendo repre- ço de significados codificados para as palavras, obrigando ao
do nmndn rm,d seria o diferencial da imagem com conhecimento dos lingiíisricos de uma época dada?
A discussfío podena ser ainda levada a outros
A questão, pois, é a da alteridade do mundo icô-- o efeito de real: qual a qne convence
mco. As partí!ham da.<; condiçôes de produ~,flo e rc·- a renresentacao que leva o historiador para um outro
Qual Ou, redirec ionam1o as reria mazs de
teria mais e mobi
mentos sociais c de mas as Imagens süo
a rigor, nüu é ainda uma questilo resolvida. Ao pen- dotadas de alto como Vt~rdadciros ícones
sar essa questão. Georg:cs Duby refletia qut:, na escrita, é mais de s A
dizer e não dizer. Na revelat,'àO ou no ccultamento de reconhece a !orca tk nna!!enL como comenta
o discurso favorece os torneios e as indecisões, re- pelos seus efeitos: pelo seu poder de adio. de mobilizar auto-
ta! como a retórica que ex- rt:·s, de gerar visibilidade de seus ekitos sobre cor-
é quase infinda nas suas estraté- pos e mentes.
De Gombrich a Panofsky ou \':irias são as estrat~-
dizer que o grau de percep- gtas que se ao historiador para a leitura da
visual do se dá de A 1magem possuí uma func,~üo epistêmica, de dar a co-·
mais rápida, quJse imediata, ao passo que o texto pres- uma função simbólica, de dar acesso a urn signi-
de leitura corn todas as suas de produzir sensa~ões c emoçôes no
das duas l\tlas se esse espectador é um historiador, ele deve
maior? Aquela que se vale do ter uma pergun!a a fazer a essa e vai tomú-la como
imagern e do irnpacto visual que oferece? ou sew. como ou fonte que se coloca no
Qual aprisiona maís o espectador? Seria talvez ~i ;ma- lugar do passado a que se almeja chegar.
aludido irnpacto visual, mas como se daria a libera- A partir desse mmnento, a imagem, enquanto registro de
imaginário do leitor? Qual forma de repre- no tempo, é testemunho de énonc mas testemunho tarn~
bém de si tal como o texto literúrío, ou seja. é o mo-
e o refert:ntc que mcnto de sua feitura, c não a do seu conteúdo

í\6 f;]

·t il'.íf_l-Kl-> S __ Rr:ru:\(~:__::.,' !..·ll:~h,-irJ ~< Hhk'i~·-' c·uitlF<ll

ou tema qut: cabt" atingir. Em suma, ver como uma epoca se hú um sístcrna ck vas no sociai e, nüo sendo u ulhar fcH···
retraia ou retrata o passado, se for o caso, ou ver, na irnagen1, tuito ou neutro, u ou dis
quais os v,tlorcs e os Stc'ntimentos que se husca transmitír, mesrm.l a inventar sígnifi--
c's sonhos e fantasias de um tt.;mpo dado, ou quats os valores c t:: um carnpo que se abre ao historiador, a
as pensar na de
a imagem tem, para o historiador, sem dúvida, Da pintura ao cinema, da história em il foto-
um valor mas nüo tomado no seu senti- elo desenho à televisão, taís imagens povoam a vida e a
do é ver como os homens se repre- <1fereccndo urn campo enorme às pesquisas dos
t~ quais os valore~ e con- historiadores. diz~::·r, então, do !catro, que n;1o sô dú a ver

ceitos que expcrimenravam e que queriam passar, de maneira como chí a ler, além de encenar, ao vivo e em cores. aquilo que
ou sublnninar, com o que se :ltinge a dimensiío simbôli- ao
. Trabalhos como os do historiador As tdcnrtdades sao. seu lado. um outro c~unpo ck
das imagens na são pesquisa para a História Cultura! ~o--

uma prova da fecundidade desses estudos. cJaL a identidade é uma que


Panofsky, h:1 um momcn!o de reconhecimento un; sistema compreensivo a
iconog:r;!fico de k~itura cb imagem, ,:m1ento. A identidade é. urna
se depara com ela: há que duz a COteS<} o ,;oc · como
o fundo de tela. os deta-
a paisagem e o entorno, os elementos se-
que, tai como no método indiciário. levarüo
a Jmagcm a falar e revelar identificando nJensa-
gens e rnoti . Irnplíca uma leitura dos temas e rica-
que trazem as forrnas na imagem. Jú em uma
se atmgirm o significado intrín-
intrínseco de uma
que levam a Cl1!0Cl0-

urn momento histórico


marcando a passagem para o ârnago do clima cuhural de uma
época. Nessa medída. o historiador dela sai rcalrnente da ima-
gern para recorrer ao seu de conhecimentos
que por sua vez, retornar à imagen1 para
rnai:-; elevada.

como no texto, é precise• ter cm conta que é o especta-- O 28 de julho d,, /830. A Liberdade guiando o povo.
dor de cada énoca que füz a Ínl<Hzem. Como diz Eugcnc Delacnnx. s('e~t!o XlX.

sx 89
C<,.\0 "1-1~·-lc_r;..::;·\ ,>;,- Rrr·
~l;:,t\'liiJ ~l.~. l ih\\·):<.1 C.t.dtur"l

do Indivíduo frente a uma coieuvídadc. e cstabele.._·c J


antigo, cl;íssico. -- que
A idemidade é rdacHm;d_ pois ela se constitui ;,
part:r da ident a idcnli
de uma altendack. Frenk· ;H> cu ou ao
nós do pcnencinlt:nto se coloca il
A ao encontro elas
do outro.
identidades nacionais, referência para
O que é importante considerar niio é a da as raízes de um povo. Como desdobramento de ta i..; pnxes-;o~,
que, por s; CÍ!- delineiam-se estereótipo~ e uma de chcck-!íst identitá-
anica ou de org:mizaç~ío social entre os ho- na. no dízer de Anntc-!\1aric Thiesse. ern que se rebctonam
mens, 1nas sim a maneira pela qual se constn5i pelo i
CS.\a .. datas memoráveis, fatos históricos, lugares de
ritos e práticas alusivas à nação. à à
que cria o sentimento cornida e ú festa nacional, aos traJes típicos. As Identidades
se düo no caso, fic\~ôes criativds que situam o indivíduo no espa-
de re- ço, no no mesmo no mundo.
rclaçõcs de A.-.; identidades podem dar conta dos múi
do social, sendo étnicas, raciais. rclig de
c ro, de posi\·ão social, de classe ou de renda, ou ainda então
!es que i profissionais.
e que se colocam como diferencial em rela-
Como integrantes do imaginário so-.:ial, as
identítáría ...; .s~io matrizes de soctais.
c vüo desde o eu, c: nautando as anreciacões de valor, Elas se
idadl'. aos nuí recortes do não apenas ern de atores, mas em discursos e
com que un1 mesmo indivíduo e acumule. imagens, cumprindo de verdadeiros ícones de
en1 si, diferenttc;..; perfis , ex- altamente mobilizadores.
uma com-
A identidade se constrói em torno de elementos de

tividade, que ::1greguem as pessoas en1 tomo de atributos e ca-
racterísticas valorizados, que rendam reconhecírnento social a
há uma modalidade identitária que diz
seus detentores. Assumir uma identidade implica encontrar
aos recortes de
com esse endosso. t\ identidade deve
simbólico de deve atrair a ade-
às realidades ir ao encontro das necessidades rnaís intrínsecas do ser
mesmo citadino. humano de adaptar-se e ser reconhcudo soc:alrnenk. l\llaís do
a rccor- que isso, a identidade responde, também, a uma necessidade
ícas de sentido e per- ivo e a que o índivíduo possa se cem-
atri- siderar corno pertencente. Enquanto constnH,:;]o imaginária de.
lÇücs para <-e 'd o ao
l sent~~- as Identidades fornecem como que uma compensa<;üo

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91
,'~
!--lí':J/.:rid ,')._ 1---l '-'tc)ru Cu!!u; rd

lCél<J
glonos<b ccmlor- .'')llpos c nunond:;_ Da mt~sma
tame
na vid;l .\ncia! e material, por c é um dado nosto uelo mundo niio só o de-
por sua vez. se revela por tambérn bate sobre o tema como reflexôes acerca da prcscn~~a de ta1s
lambérn, muitos, e nodemo.<; <-'Onvtvercorn no imaginúrÍiJ social que os hofílens construíram
para SI ao longo da Histc)ria. Nessa medida, esse dado contem-
ou, no seu caso- !imite, em klTnos repõe, para o historiador, o interesse pelo estudo de
sobretudo sobre a cficícia simbólica das reprc:-
(;,no caso, no:s movimentos sociais d~:::
qt Iz~ nasc~c
,; do olhar de quem designa o Nesse ponto. cabe referir mais un1 campo de
da rcicicTin dn csrioma :_:.do pre- para o:s historiadores atuais que se insere também dentro da
a es(e cultural da História: referimo-no;, à His1ôria do
presente. Ora, tal c::nnpo ímpliL·a tomar cs!a História na
rck~C ao rt1Uildo dos - os acontccírnentos est<io aincb a se desenvolver. Trata-se
dt:· urna História ainda não acabada, cm que o historiador rúo
cumpre o seu de rl"construir urn processo de
que se conhecem o fim e as Não se trata,
da construção ex-iYosr de algo que ocorreu por fora da cxpe-·
riéncia do vivido, pt)ÍS o historiador é contemporüneo e, de
urna certa forma, testemunha ocular de um processo que ainda
se desdobra e tb que nüo se conhece o ténníno.
Sem tal História cm curso, da qual o histonaúor é
e/ou participante. comporta riscos, como, por exenl-
o do envolvimento díreto, com todo o curso de paixões e
posicionamentos que aca!Tcta, a prejudicar a distôncia que de
deve guardar com relação a seu objeto. Essa ausência de distan-
ciamento histórico, que coloca o histcKiador no centro do proces-
so vi vi do e que deve ser o objeto de sua narTaliva, pode lorn::i-!o
Ct rosro do guerra. Sal vadur J);J!i. século XX
para avaliar aquilo que vive. Por omro lado. se as conclu-
sücs de um historiador sobre um fato ou contexto devem ser ad-
JVlcsrno que se possa dizer que, em um mundo .tza- mitidas sempre como versües sobre uma temporalidade transcor-
tais recortes de pertcncímenlc•, nacimJ<Hs ou neste caso da História do kmpo presente as conclusões s;Jo
sam de ter
to de outras realidades o processo se encontra ainda em curso.
recente ten1 mostrado um recru- De uma certa este campo de da História
de reconhecimento ck Cultural comparece como uma nova forma dos estudos sobre

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His:{\ri,"J S & -it'>lúri,l (_--ltltur,_•i

mov11nenros Sík'lais ou sobre a pol ftica ao lado dcss~1 hJ. uma outra I'vlcmória. a
conceitos que ·-·
u da wwmnesc, que vt;m a .~er o trabalho de deli-
culiur;L das imagens ,; dos discur- das
sos na composi<,:i:io de un1 H rnobi l i:-:ador sao funda- de rccupenr,
mentais para que os pesqu tais proces- O final
desst: processo de remcnHm1\';[o seria dado
ao vi vo, da
to_ por aqude que rememora, da certeza do acontecido: f01
sociais que se. apn::sentam aos olhns do f01 lá, foi entüo. fui assim. () reconhecimcmo s::: opera por um
o IV!ovimemo dos Sem Tcna é um desses ob- alo de confianca, que confere vêracidack ú
que St.: aprcsemam ú pesquisa. ?v1ovimento socta! que se
Para o historiador que trabalha com a seJa por
t:ncontra cm curso. que nilo ec;t;í acabado, ncn1 dele Sl: prevê o
meio dos registros escritos trnnsformados em narrativas
desfecho. o I\1ST possui uma riqueza simbólica e uma capaci-
de cunho recolhimento ao
dade de mobilizaçüo política aprc:ciôveL tornando se um
que rc~memora, há que Íe·-
to da Hls!ória Cultural.
nesse processo.
Ma1s um campo de pesquisa que se apn:senta ú História
Em primeiro lugar, o gup da temporalidade transcorrida
Cultural é aquele que diz
entre a época em que teve lugar o acontecimento evocado e o
t.:ste (:,a rigor, um campo derivado, de forma especial, da
momento em que se d:í a evocação, ou seja, entre o tempo do
corrente que discute a t:scríta da Htstória, realizando aproxi-
vivido e o lcrnpo do lembrado e narrado. O indívícluo que r,:-
com a ?vkmória.
memora amadureceu duran!e esse intervalo, ele re-eiabora o
História c süo narrativas que se que VlVCU a r do tempo
uma reconstruçao elo passado e que se poderia cha- decorrências da sltua~~cio outrora
mar de rcEÍs!ro de uma ausencia no lembra nZ1o é rn:us o que viveu. No seu relato
que se pos- julgamento, ressignificaçào do fato remcrnorado. Ele incorpo-
sa lembrar sem a prcsenç·a da coisa ou da pessoa evocada, sim- ra não sô o relembrado no nlano da mentôria pessoal, mas tarn-
plesmcnte corn a presença de uma nívcl de uma mcn1óna
de fruto de uma e ck um traba-
uma por a memóna individual se rnescla com a
nmt:'me, que diz respeito à presen\.·a involuntária de tais irrm- presença de uma memória social, pois aquele que lembra, re--
gens do passado no espírito, que surgem por"'';,-,,--,,_,;·; memora ern um contexto dado . jú marcado por um Jogo de
tânea ou que podem ser desperladas por um aw ou ODJcto que, lernbrar e esquecer.
uma experiência e uma sensat;ão, permitam fa- cabe diza que a contrapartida da ?v'lemó-
zer aflorar urna lembrança. Nessa medida, a mnenw aristotdi-- na o esquecimento. Nüo é possível tudo lembrar, pois a lVlc--

ca aproxima-se da memória involuntária prot!stiana, apresen-- rnóría é seletiva, tal corno a Inatéría do escmccimcnto tamb<~m
tada na clássica passagen1 da
c: de processos que a escala do inconsciente.

Q'
~'-' c.;;:
J ,/
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c, s . f\H-' ir" in,l S f 1!-,lcú~a CuLur,_d

Por outro lado, se formos kr tõm coma esla mescla que:;,; pro- suspens,1 ncts larqo,~, o Inundo dos arqu1vos diante
cessa entre memória individu:tl e mcruóría coletív~1, h;i que dos olhus e das müos. :"~essa med tudo pode vir a tornar-;-,c
pensar que as pessoas sikl ensinadas a lernbrar e a csqueu:r. fonte ou para a dcpenck'ndo da
fazendo com que determinados acontecinll::ntos n{io scjarn con- q llt~
siderados · ou mesmo que: nào tenham acontecido. Font<~s corres-
A qucsti.lo colocada por Paul Rícoeur c ia oficial, an~us de
da é de yuc á História. es:a outra forma de do gnv,~rnador, H:'gls!açao c

ficaria esta pequena Íl icos, bastante ut!l ízados por outras


cpJL: é o reconhecimento ou a da amentici-- agora sofrer novas leituras. No plano ameia da
dade da o ofíc· de fonte, como processos
nào esteve lá na tal temporalidade tros livro;.; de entrada da Casa de
narrativa do acon- pício ou da Santa Casa aparecem diante do histonador como
tecido opera sempre como um ser como, um terin sido, apro·- muito ricos para a análise, -;c se tratar da análise das represen-
xirnalivo e vcrossímil, mas qtK~ repre·scnta um problema para a da CXCÍUS<lO SOClal.
ina, pois o público leitor espera sempre da História um plano da se situam
relato verdadeiro.
e rc-
Nessa ao estudar a l\1cmóría, nüo lü como nüo v1stas, os livros os ron1anccs, as
aproxirná-!a da Ffistona, ao pensar as
ciamentos entre as duas formas de c
suas rnanciras de. relacionar-se com o reaL A História apresen-
ta, diz Hicoeur, uma orobicmútica de
para este pacto com a verdadt-o do
próprio da
Dessa o campo de se abre para o estudo
de corno, ao longo dos ternpos, os historiadores construíram
suas narrativas de reconstruçào das
à luz destas questões que se encontram no ;!mago da História
ou ficcionalízaçào narrativa do pas-
sado e horizonte de expectativas do plano da recq!í;üo; formas
de aproximaçiio com o referente ou maneiras de testagem e
vcn
rcitadas algumas das pnncipaís correntes e campos
df' da História CulturaL cabe dizer que o espectro
das fontes se revela quase infinito. Uma idéia na urna

')() 97
CoLEÇÃO "HISTORIA & ... REFLExút~"

viajante, as peças teatrais, a música, os jogos infantis, os guias CAPÍTULO VL


turísticos, todos os materiais relativos às sociabilidades dos dife-
rentes grupos, em clubes, associações, organizações científicas e \
culturais. Tal documentação, riquíssima, é complementada por
aquelas fontes saídas do âmbito do privado: correspondência,
diários, papéis avulsos, livros de receitas. Uma difusão mundial:
No plano das imagens, cartazes de propaganda, anúncios a História sem fronteiras
de publicidade, fotografias, mapas e plantas, caricaturas, char-
ges, desenhos, pinturas, filmes cinematográficos, tudo se ofe-
rece ao historiador, que não se limita mais ao domínio das
Há, por vezes, uma errônea identificação: a de que a Histó-
fontes textuais. Das imagens às materialidades do mundo dos
ria Cultural seja uma corrente francesa de fazer História. Fruto,
objetos, o Historiador da Cultura se dispõe a fazer as coisas
talvez, da força da tradição da Escola dos Annales, da difusão
falarem. Casas, prédios, monumentos, traçados das ruas, brin-
mundial de alguns de seus autores, do espaço que ocupam na
quedos apontam no sentido de que as coisas materiais são de-
mídia, o certo é que por vezes se confunde a História Cultural
tentoras de significados e se prestam à leitura.
com a Nova HistÓria, expressão cunhada por Jacques Le Goff
Os exemplos são muitos, pois fontes são marcas do para a historiografia dos Annales no final da década de 1970.
que foi, são traços, cacos, fragmentos, registras, vestígios
Mas, embora levardo em conta o papel de proa dos his-
do passado que chegam até nós, revelados como documento
toriadores franceses, a Hi.~tória Cultural pode ser considerada,
pelas indagações trazidas pela História. Nessa medida, elas
hoje, uma História sem fró1;1teiras, com difusão mundial.
são fruto de uma renovada descoberta, pois só se tornam fon-
tes quando contêm pistas de sentido para a solução de um enig- Sem dúvida, a França teve um papel primordial, o que
pode ser demonstrado pela reçorrência a autores franceses
ma proposto. São, sem dúvida, dados objetivos de um outro
no que chamamos de a arqueolÓgia da História Cultural ou
tempo, mas que dependem do historiador para revelar senti-
na definição do novo patamar ept~temológico que acompa-
dos. Elas são, a rigor, uma construção do pesquisador e é por
nha a nova abordagem, sejam eles h~toriadores, filósofos ou
elas que se acessa o passado.
sociólogos. Desde a primeira geração d~ Annales, com Lucien
Caso contrário, são apenas traços de um outro tempo,
Febvre, Marc Bloch ou Braudel, passando às gerações poste-
material velho, na melhor das hipóteses, vestígios de algo an-
riores, com Georges Duby, Jacques Le G~f( ou Paul Veyne, a
tigo, e, por isso, sempre interessantes, a estabelecer a estra-
França tem sido representada por um grup\ expressivo de
nheza do diferente diante da contemporaneidade ... Mas, sem a
historiadores, que, de uma certa forma, for.h:;n inovadores
questão posta, sem a formulação do problema, não serão fon- nos domínios da História, como Roger Chart~r, François
te, na acepção íntima do termo: nascente, aquilo que origina Hartog, Serge Gruzinski, Arlete Farge, Anne-Mar\ç Thiesse,
ou produz, o que, no caso da História, propicia uma resposta, Frédérique Langue.
uma explicação e uma interpretação.
A esses nomes se acrescentariam os daqueles qu\, sem
ser historiadores, foram interlocutores ou forneceram ba'se de

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