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Coordenadores da coleção
Eduardo França Paiva
Carla Maria Junho Anastasia
CAPjTULO I
Editoração eletrônica Clio~ a grande virada da História ...................................... 07
Waldênia Alvarenga Santos Ataíde
CAPÍTULQ II
Revisão
Precursores e redescobertas:
Ana Elisa Ribeiro
a arqueologia da História Cultural.. ..... . ········ 19
CAPÍTULO VI
Uma difusão mundial: a História sem fronteiras ................ 99
2004
Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora. CAPÍTULO VII
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, Os novos parceiros da História: nas
seja por meios mecânicos, eletrônico, seja via cópia xerográfica
sem a autorização prévia da editora.
fronteiras do conhecimento .......................... . .l07
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que ::~scrita c leitura süo mdn/isíveís vemos que ela.~ podem se dar por aproxima\:ao com as
intcrnJ<:diário entre pro-- ras Ja literatura. Isso nilo irnp!ica um endosso indi.~crímína-
C Vel- do de um ttnn, nem uma 111 locrum.
na aná- das de Haydcn \\rllitc\ qu'-~ apaga as cr entre
texto c !eítuu. a História e a Literatura. Talvez nwsmo
Em se tratando ela o historiador lan~:a ria rLcusar afí de Ro!and Banhes quando Lda da úni--
as perguntas sobre quem fala e de onde fala. ac1 cnfocar o texto conslruída pelo discurso. Iv1as to-
o que se faia t' como se fala e na análise da das ess~ls n::presemanL !sso sim, urn exercício
pelo h ístoriador ser~í discutir para de reflexão para entender as entre a rcprc-
esta central para
entre ~::~ssas
instilncias não são dirctas nem a História Culrmal.
discurso narrativo, sen- Nessa 111ed ·esse modo rcfer\~ncl<d VI
do o seu quase infimto. A realidade é fraf'mcnUHla c é o cnr.:~ndunenlo da Htstôria Cultural pode ser o ela met~tlora, ou
seja, o discurso explica, fala de algo que se pch:ebc e se cnkn--
as panes com o us sujeitos co1n o de como real, como um outro deste real. Ele fala por uma mo-
o sensível com o racionaL o singular com o universal. dalidade referencial de indicar uma ·ricação para além deste
Se p~:.~nsar as relaçõt::s que se estabelecem entre o envoivendo uma hermenêutica. Ele diz mais, diz
,; o real -· ou da representaçüo com o seu referente - , diz de outra forma para dízer mais.
A postura metafórica, ou da hermenêutica do texto, é ~~
que mdhor concentra a idéia de que uma escrita
1ncnsagens ,~ mas que .ser lidos de vária<>
ll1<H1eiras.
Ora, esta História Cultural, debruce-se e!a sobrt~ a escrita
do texto, sobre a edicto do l1vro ou sobre a
rc:constntir o de pesquisa, tentar atin~ir a
dos indivíduos no
ambiçôes c temores.
pensar a descontinuidade da História c a
to o Historiador como o lcitm diante de wna alteridade de
sentidos diante do mundo.
(~ ainda nesta correníe que se insere a discussào sobre a
fv1ulher it-.-·nd(J lOlU.J na História c do notencial das fonte-; como documcn!o
cur:o. Johannc~ que estabelecer verdades so-
Vermet:r, século X V li.
bre o Por outro !ado, é ,unda por esse campo que se
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COLEÇAU "Ht)TURIA & -- REflfXÜE5" História & Históna Cultural
coloca o estatuto específico da narrativa histórica, onde ela se Os elementos do micro, recolhidos pelo historiador, são
aproxima e se afasta do discurso literário. como a ponta de um iceberg que aflora e que permite cristalizar
Uma outra corrente historiográfica é a da micro-história, algo e atingir outras questões que não se revelam a um primeiro
vertente que tem sido associada à vertente italiana de fazer olhar. Ele é o elemento que não só permite pensar o todo como,
História, particularmente aos nomes de Cario Ginzburg e Gio- inclusive, possibilita elevar a escala de interpretação a um pla-
vanni Levi. A micro-história, como o próprio nome indica, no mais amplo e distante, para além do espaço e do tempo, pen-
realiza uma redução da escala de análise, seguida da explora- sando na circularidade cultural ou na difusão dos traços e signi-
ção intensiva de um objeto de talhe limitado. Esse processo é ficados produzidos pelos homens em todas as épocas.
acompanhado de uma valorização do empírico, exaustivamente
trabalhado ao longo de extensa pesquisa de arquivo.
Tal escolha implica o recurso do uso da metonímia como
figura metodológica de ação, o que permite que, a partir do
fragmento, se consiga obter um espectro mais amplo de pos-
sibilidades de interpretação. O aprofundamento do processo
explicativo, pela análise microscópica, leva, por seu turno, a
uma pluralidade de respostas possíveis para uma mesma si-
tuação dada.
Enquanto novo enfoque ou tendência, ao enunciar seus
propósitos de redução de escala para potencializar a interpre-
tação, vendo, no micro, o macro, a micro-história põe em prá-
tica uma metodologia de abordagem do social. Justo na aparen-
te imobilidade do fato, os historiadores buscavam surpreender a
dinâmica da História, unindo o dado arquivístico à multiplici- Banquete nupcial camponês. Pieter Bruegel, século XVI.
dade das relações sociais. Por meio de um entrecruzamento má-
ximo de relações, os historiadores damicro-história acabam por Há, contudo, riscos: a hipertrofia das potencialidades
demonstrar que o social passado não é um dado posto, um fato metonímicas do traço pode levar àquilo que Andréa Dei Col
definido, mas algo reconstruído a partir de interrogações e ques- chamou de excesso interpretativo da obra O queijo e os ver-
tões postas. Recusando evidências, trabalhando com detalhes mes, de Cario Ginzburg, esta figura exponencial da micro-
e traços secundários, tais historiadores se voltam para a preo- história. O erudito Cario Ginzburg incorreria, por vezes, nessa
cupação de atingir, no micro, a dinâmica da vida, construindo prática de superinterpretação, ao levar mais longe que o ad-
versões sobre o passado por meio da pesquisa empírica exaus- missível a sua capacidade de estabelecer relações de signifi-
tiva, que tanto combina uma espécie de descrição densa, aque- cado, muito distantes no tempo e no espaço, e realizar a
la do viés antropológico, quanto a do método indiciário anun- descoberta de coincidências extraordinárias ou a extrapola-
ciado por Ginzburg. ções interpretativas.
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Couc,.Ao "H1~r( >RIA & .. REHt:xoE:.." T
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História & Históna Cultu1al
discursos distanciados do real, mas que são legitimados e acei- e artigos em revistas especializadas, na definição de temas e
tos, com curso de verdade, foi um elemento que pôs na ordem questões a serem discutidas em congressos e seminários, na
o dia as questões relativas ao imaginário. Mais do que em ou- produção de teses e de dissertações, ou ainda nas pesquisas
tros campos, foi possível retornar às mesmas fontes com ou- feitas ou disciplinas oferecidas nos cursos universitários.
tros olhos, formulando novas questões.
Tais cotTentes se traduzem em campos temáticos de pesqui-
Sem dúvida, essa história política renovada teve, a rigor, sa, em tomo dos quais se agregam os trabalhos de investigação.
ainda muito a ver com as novas formas assumidas pelos movi- Um deles seria o das cidades. Já existe uma ampla pro-
mentos políticos, fazendo uso da mídia e, cada vez mais, apos-
dução acumulada sobre a cidade, particularmente no que diz
tando na credibilidade obtida pelas imagens e pelos discursos.
respeito a uma abordagem econômico-social. Muito já se es-
Abandonando formas ainda herdadas de uma tradição creveu, tanto sob uma perspectiva quantitativa e evolutiva,
positivista, linear, seqüencial e causal de análise do político, quanto sob uma abordagem marxista, sobre o fenômeno urba-
ou ainda de um viés marxista, a ver a política como manifesta- no. Chamamos de perspectiva quantitativa e evolutiva aquele
ção superestrutura! de uma infraestrutura socioeconômica, ou tipo de abordagem sem qualquer outro compromisso teórico
ainda mesmo a uma vertente da ciência política, a estudar os maior, empenhada na descrição da história de uma cidade, re-
comportamentos políticos dos grupos, os partidos e as elei- traçando a sua evolução, arrolando dados, nomes, retraçan-
ções, o renascimento da história política, a aproximação com do seu crescimento e sua evolução urbanística. Informativas,
a história cultural rendeu bons frutos. tais histórias de cidades não estabelecem reflexões maiores
Se a História Cultural visa a atingir as representações, in- sobre o fenômeno da urbanização em si, o que não ocorre den-
dividuais e coletivas, que os homens constroem sobre o mundo, tro de uma abordagem de conotação marxista.
a História Cultural do Político difundiu-se, tendo como uma de Segundo essa postura, as cidades comparecem como o
suas preocupações centrais a definição de uma cultura política. locus da acumulação de capital, como o epicentro da transfor-
Esta corresponderia ao conjunto das representações que nutrem mação capitalista do mundo. Mesmo assim, a cidade é ainda
um grupo no plano político, ou, como diz Jean-François Sirine- abordada na sua dimensão espacial: ela é o território onde se
lli, uma visão de mundo partilhada, uma leitura comum do pas- realiza um processo de produção capitalista e onde se reali-
sado, uma projeção no futuro a ser vivido em conjunto. zam as relações capitalistas, onde se enfrentam as classes.
A renovação do campo conceituai-teórico permitiu, ain- Mas a cidade representa o que se poderia chamar de um
da, juntar tanto as performances individuais e as análises dos campo de pesquisa e discussão interdisciplinar: trabalham so-
acontecimentos, próprias a um tempo curto, quanto uma histó- bre ela não só historiadores como geógrafos, sociólogos, eco-
ria mais global, de movimentos ou estruturas de poder, naqui- nomistas, urbanistas, antropólogos. O que cabe destacar é a
lo que Sirinelli chamaria de fecundidade heurística dessa re- abordagem introduzida pela História Cultural: ela não é mais
novação ou mesmo renascimento do político. considerada só como um locus, seja da realização da produção
Essas correntes da História Cultural aqui apresentadas ou da ação social, mas sobretudo como um problema e um
não esgotam esses domínios, e pretendem referir-se a ten- objeto de reflexão. Não se estudam apenas processos econô-
dências amplas, constatadas a partir da publicação de livros micos e sociais que ocorrem na cidade, mas as representações
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CotrçÃo "HisTóRIA& ... REHEXOE::.s''
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! Hrstória & Histórta Cultural
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Mas a modernidade urbana propicia também pensar ou-
São ambas, como se viu e como apresentou Ricoeur, refigu-
tros tipos de representação: aqueles referentes aos planos e
rações de um tempo, configurando o que se passou, no caso da
utopias construídos sobre o futuro da cidade, inscrevendo uma
História, ou o que se teria passado, para a voz narrativa, no caso
cidade sonhada e desejada em projetos urbanísticos. Realiza-
da Literatura. Ambas são formas de explicar o presente, inventar
dos ou não, eles são a inscrição de uma vontade e de um pen-
o passado, imaginar o futuro. Valem-se de estratégias retóricas,
samento sobre a cidade, logo são matéria da história, porque
estetizando em narrativa os fatos dos quais se propõem falar.
fazem parte da capacidade imaginária de transformar o mun-
São ambas formas de representar inquietudes e questões que
do. Da mesma forma, uma cidade que se transforma se apressa
mobilizam os homens em cada época de sua história, e, nesta
em registrar a memória e o conhecimento daquilo que foi um
medida, possuem um público destinatário e leitor. Isso tudo diz
dia: assim é que se elaboram os mitos das origens, se recolhem
respeito às aproximações que unem a História e a Literatura.
as lendas, se constrói uma história da cidade. Assim como pensa
o seu futuro, a cidade inventa o seu passado, sempre a partir
das questões do seu presente.
Uma cidade é objeto de muitos discursos, a revelar sabe-
res específicos ou modalidades sensíveis de leitura do urbano:
discursos médicos, políticos, urbanísticos, históricos, literários,
poéticos, policiais, jurídicos, todos a empregarem metáforas
para qualificar a cidade. Uma cidade é também objeto de pro-
dução de imagens - fotográficas, pictóricas, cinematográfi-
cas, gráficas- a cruzarem ou oporem sentidos sobre o urbano.
Como fala Ítalo Calvino, uma cidade contém muitas cidades e
esse tem se revelado um campo de pesquisa muito amplo no
âmbito da História Cultural.
Outro campo de investigação que se apresenta de forma
expressiva no âmbito da História Cultural diz respeito às rela-
ções entre a História e a Literatura. Jovem mulher lendo. Fragonard, século XVIII.
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ci,_·ntífico? J;1 vimos que a l~m um texto? O que é recorrt•nte cm umd o que e:,;um-
ela'~ uma daíiza. o que emociona, o que(' aceito socialmente e o que é
tal como pelo fato de que lida sempre co1n o Para alérn das disnosícôes lctraís ou
ra variem as formas ck~ reDrcsentar aquilo que aconte,;_·etL .A Hís- de uma ·~:' a l1tera!ura que
quc ~;:statx:h:cc com o seu fornece os indícios para pensar como e por que as pessoas
agiam desta c daquela forma.
do
Por outro lado. a Literatura é fonte de si mesma. Ela nào
A nova questão que se e que é centra! para a defini- fala de coisas ocorridas. nüo traz nenhuma verdade do aconte-
de estabcieccr uma nova c cido, seus personagens nüo exisl!rarn. nem mesmo os fatos
da CulturaL é a do uso da Literatura História. narrados tiveram existf·ncia reaL A Literatura é
L~
a História que formula as perguntas e de si própria. portanto o que conta para o historiador nào é o
que a Literatura opera como fon- da narrativa, mas sim o da escrita. Ela é tomada a par-
ocupa, no caso, a fun\'áo de traço, que se trans- tir do autor c sua época, o que clú pistas sobre a escolha do
em documento e que passa a responder üs questóes for- tema e de seu erm.:do, ta! corno sobre o horizonte de
historiador. Não se trata, no caso, de estabelecer vas de urna
entre História e Literatura. rnas sim de Pensemos, pois, algumas modalidades temporais da es-
saro lugar de onde se faz a pergunta. crita do textt• litcrúio para que possamos apreciar as possibi-
Por outro lado, o historiador que se vale da Literatura deve lidades de seu uso pelo hístoriador. No caso de um texto litt'r:í-
em conta qu::: se a prcocupaçüo da pt~sqwsa é a detennina- rio que fale do seu tempo -- seja ele a obra de Balzac ou de
ção de um fato ou de um personagem do real passado, ou se Machado de Assis --, o historiador sobre ele se debruça a res-
pretender conferir se algo rerá ocorrido de fato, nào é a esse t1pu lídades, as razões e os sentimentos de uma épo-
de fonte que deve recorrer. 1\bs, cm se tratando da História c a, esteticamente cm narrativa pdo autor.
Cultural, não scr~1o essas as perguntas ou as o tt::xto I iterário fala do como un1 ro-
Se a Iiistória Cultural está cm busca do das reprc- mance hístórico - tal como Sir \h/alter Scott com Jvan!we ou
sentaçôcs se aquele reduto de sensibílí- Verfssimo com O tempo e o vento -, o historiador não
e de mvestimento do mundo, a busca nele a verdade de um outro tempo, vendo no discurso de
Literatura é uma fonte realmente dar ao hís- mas a
algo a mais que outras fontes nüo fornecerão. de no tempo da escritura.
A Literatura permite o acesso à sintonia fina ou ao clima Já no caso da literatura de ficção científica, que
de uma época. ao rnodo pelo qual as pessoas pensavam o mun- enl urna
quais os valores que guiavam seus passos, quais não trmlscorrída. ela pode interessar ao historiador da
medos c sonhos. Ela d:í a ver sensib!l se ele estiver interessado ern saber como urna pen·
da é fonte sava o seu futuro. Por trás de todas essas modalidades de uso
para a do texto !iterúrio se encontra a idéia, cara à l-!istória
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'!-!!:.;li F:ti-~ r.\' Hi-:-;t6ru .:~- r !b~··.-Jri,1 Culluul
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ou tema qut: cabt" atingir. Em suma, ver como uma epoca se hú um sístcrna ck vas no sociai e, nüo sendo u ulhar fcH···
retraia ou retrata o passado, se for o caso, ou ver, na irnagen1, tuito ou neutro, u ou dis
quais os v,tlorcs e os Stc'ntimentos que se husca transmitír, mesrm.l a inventar sígnifi--
c's sonhos e fantasias de um tt.;mpo dado, ou quats os valores c t:: um carnpo que se abre ao historiador, a
as pensar na de
a imagem tem, para o historiador, sem dúvida, Da pintura ao cinema, da história em il foto-
um valor mas nüo tomado no seu senti- elo desenho à televisão, taís imagens povoam a vida e a
do é ver como os homens se repre- <1fereccndo urn campo enorme às pesquisas dos
t~ quais os valore~ e con- historiadores. diz~::·r, então, do !catro, que n;1o sô dú a ver
ceitos que expcrimenravam e que queriam passar, de maneira como chí a ler, além de encenar, ao vivo e em cores. aquilo que
ou sublnninar, com o que se :ltinge a dimensiío simbôli- ao
. Trabalhos como os do historiador As tdcnrtdades sao. seu lado. um outro c~unpo ck
das imagens na são pesquisa para a História Cultura! ~o--
como no texto, é precise• ter cm conta que é o especta-- O 28 de julho d,, /830. A Liberdade guiando o povo.
dor de cada énoca que füz a Ínl<Hzem. Como diz Eugcnc Delacnnx. s('e~t!o XlX.
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~l;:,t\'liiJ ~l.~. l ih\\·):<.1 C.t.dtur"l
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glonos<b ccmlor- .'')llpos c nunond:;_ Da mt~sma
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na vid;l .\ncia! e material, por c é um dado nosto uelo mundo niio só o de-
por sua vez. se revela por tambérn bate sobre o tema como reflexôes acerca da prcscn~~a de ta1s
lambérn, muitos, e nodemo.<; <-'Onvtvercorn no imaginúrÍiJ social que os hofílens construíram
para SI ao longo da Histc)ria. Nessa medida, esse dado contem-
ou, no seu caso- !imite, em klTnos repõe, para o historiador, o interesse pelo estudo de
sobretudo sobre a cficícia simbólica das reprc:-
(;,no caso, no:s movimentos sociais d~:::
qt Iz~ nasc~c
,; do olhar de quem designa o Nesse ponto. cabe referir mais un1 campo de
da rcicicTin dn csrioma :_:.do pre- para o:s historiadores atuais que se insere também dentro da
a es(e cultural da História: referimo-no;, à His1ôria do
presente. Ora, tal c::nnpo ímpliL·a tomar cs!a História na
rck~C ao rt1Uildo dos - os acontccírnentos est<io aincb a se desenvolver. Trata-se
dt:· urna História ainda não acabada, cm que o historiador rúo
cumpre o seu de rl"construir urn processo de
que se conhecem o fim e as Não se trata,
da construção ex-iYosr de algo que ocorreu por fora da cxpe-·
riéncia do vivido, pt)ÍS o historiador é contemporüneo e, de
urna certa forma, testemunha ocular de um processo que ainda
se desdobra e tb que nüo se conhece o ténníno.
Sem tal História cm curso, da qual o histonaúor é
e/ou participante. comporta riscos, como, por exenl-
o do envolvimento díreto, com todo o curso de paixões e
posicionamentos que aca!Tcta, a prejudicar a distôncia que de
deve guardar com relação a seu objeto. Essa ausência de distan-
ciamento histórico, que coloca o histcKiador no centro do proces-
so vi vi do e que deve ser o objeto de sua narTaliva, pode lorn::i-!o
Ct rosro do guerra. Sal vadur J);J!i. século XX
para avaliar aquilo que vive. Por omro lado. se as conclu-
sücs de um historiador sobre um fato ou contexto devem ser ad-
JVlcsrno que se possa dizer que, em um mundo .tza- mitidas sempre como versües sobre uma temporalidade transcor-
tais recortes de pertcncímenlc•, nacimJ<Hs ou neste caso da História do kmpo presente as conclusões s;Jo
sam de ter
to de outras realidades o processo se encontra ainda em curso.
recente ten1 mostrado um recru- De uma certa este campo de da História
de reconhecimento ck Cultural comparece como uma nova forma dos estudos sobre
u~
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:ii ·~t..:A.O t-\H'U
His:{\ri,"J S & -it'>lúri,l (_--ltltur,_•i
mov11nenros Sík'lais ou sobre a pol ftica ao lado dcss~1 hJ. uma outra I'vlcmória. a
conceitos que ·-·
u da wwmnesc, que vt;m a .~er o trabalho de deli-
culiur;L das imagens ,; dos discur- das
sos na composi<,:i:io de un1 H rnobi l i:-:ador sao funda- de rccupenr,
mentais para que os pesqu tais proces- O final
desst: processo de remcnHm1\';[o seria dado
ao vi vo, da
to_ por aqude que rememora, da certeza do acontecido: f01
sociais que se. apn::sentam aos olhns do f01 lá, foi entüo. fui assim. () reconhecimcmo s::: opera por um
o IV!ovimemo dos Sem Tcna é um desses ob- alo de confianca, que confere vêracidack ú
que St.: aprcsemam ú pesquisa. ?v1ovimento socta! que se
Para o historiador que trabalha com a seJa por
t:ncontra cm curso. que nilo ec;t;í acabado, ncn1 dele Sl: prevê o
meio dos registros escritos trnnsformados em narrativas
desfecho. o I\1ST possui uma riqueza simbólica e uma capaci-
de cunho recolhimento ao
dade de mobilizaçüo política aprc:ciôveL tornando se um
que rc~memora, há que Íe·-
to da Hls!ória Cultural.
nesse processo.
Ma1s um campo de pesquisa que se apn:senta ú História
Em primeiro lugar, o gup da temporalidade transcorrida
Cultural é aquele que diz
entre a época em que teve lugar o acontecimento evocado e o
t.:ste (:,a rigor, um campo derivado, de forma especial, da
momento em que se d:í a evocação, ou seja, entre o tempo do
corrente que discute a t:scríta da Htstória, realizando aproxi-
vivido e o lcrnpo do lembrado e narrado. O indívícluo que r,:-
com a ?vkmória.
memora amadureceu duran!e esse intervalo, ele re-eiabora o
História c süo narrativas que se que VlVCU a r do tempo
uma reconstruçao elo passado e que se poderia cha- decorrências da sltua~~cio outrora
mar de rcEÍs!ro de uma ausencia no lembra nZ1o é rn:us o que viveu. No seu relato
que se pos- julgamento, ressignificaçào do fato remcrnorado. Ele incorpo-
sa lembrar sem a prcsenç·a da coisa ou da pessoa evocada, sim- ra não sô o relembrado no nlano da mentôria pessoal, mas tarn-
plesmcnte corn a presença de uma nívcl de uma mcn1óna
de fruto de uma e ck um traba-
uma por a memóna individual se rnescla com a
nmt:'me, que diz respeito à presen\.·a involuntária de tais irrm- presença de uma memória social, pois aquele que lembra, re--
gens do passado no espírito, que surgem por"'';,-,,--,,_,;·; memora ern um contexto dado . jú marcado por um Jogo de
tânea ou que podem ser desperladas por um aw ou ODJcto que, lernbrar e esquecer.
uma experiência e uma sensat;ão, permitam fa- cabe diza que a contrapartida da ?v'lemó-
zer aflorar urna lembrança. Nessa medida, a mnenw aristotdi-- na o esquecimento. Nüo é possível tudo lembrar, pois a lVlc--
lç
ca aproxima-se da memória involuntária prot!stiana, apresen-- rnóría é seletiva, tal corno a Inatéría do escmccimcnto tamb<~m
tada na clássica passagen1 da
c: de processos que a escala do inconsciente.
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Por outro lado, se formos kr tõm coma esla mescla que:;,; pro- suspens,1 ncts larqo,~, o Inundo dos arqu1vos diante
cessa entre memória individu:tl e mcruóría coletív~1, h;i que dos olhus e das müos. :"~essa med tudo pode vir a tornar-;-,c
pensar que as pessoas sikl ensinadas a lernbrar e a csqueu:r. fonte ou para a dcpenck'ndo da
fazendo com que determinados acontecinll::ntos n{io scjarn con- q llt~
siderados · ou mesmo que: nào tenham acontecido. Font<~s corres-
A qucsti.lo colocada por Paul Rícoeur c ia oficial, an~us de
da é de yuc á História. es:a outra forma de do gnv,~rnador, H:'gls!açao c
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CoLEÇÃO "HISTORIA & ... REFLExút~"
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