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Surgida no mesmo ano em que o Autor publicou o romance Angústia para o Jantar – mais
tarde também adaptado ao teatro – esta peça contribuiu para celebrizar Luís de Sttau Monteiro
como dramaturgo, tendo sido bem recebida pela crítica do seu tempo.
CLASSIFICAÇÃO
De acordo com Brecht, Sttau Monteiro proporciona uma análise crítica da sociedade,
mostrando a realidade, de modo a levar os espectadores a reagir criticamente e a tomar uma
posição.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
LINGUAGEM: natural, viva e maleável; frases em latim com conotação irónica, frases
incompletas por hesitação ou interrupção, marcas de características do discurso oral e recurso
frequente à ironia e ao sarcasmo.
Esta técnica acaba por aproximar o actor e o espectador, de tal modo que ambos se
distanciam da historia narrada, podendo assim como pessoas reais fazerem os respectivos juízos
ou criticas de forma precisa e consciente sobre o que se passa em palco.
Assim, Luís de Sttau Monteiro, através desta técnica, pretende levar o espectador a ter um
olhar crítico para se aperceber e criticar as injustiças e opressões.
TEMPO
b) tempo da escrita: 1961, época dos conflitos entre a oposição e o regime salazarista
ESPAÇO
Espaço físico: a acção desenrola-se em diversos locais, exteriores e interiores, mas não há
nas indicações cénicas, referência a cenários diferentes
Espaço social: meio social em que estão inseridas as personagens, havendo vários espaços
sociais, distinguindo-se uns dos outros pelo vestuário e pela linguagem das várias personagens
O TÍTULO
O título da peça aparece duas vezes ao longo da peça, ora inserido nas falas de um dos
elementos do poder – D. Miguel – ora inserido na fala final de Matilde. Em primeiro lugar é
curioso e simbólico o facto de o título coincidir com as palavras finais da obra, o que desde logo
lhe confere circularidade.
1) página 131 – D. Miguel: salientando o efeito dissuasor das execuções, querendo que o
castigo de Gomes Freire se torne num exemplo
Para Matilde, estas palavras são fruto de um sofrimento interiorizado reflectido, são a
esperança e o não conformismo nascidos após a revolta, a luz que vence as trevas, a vida que
triunfa da morte. A luz do luar (liberdade) vencerá a escuridão da noite (opressão) e todos
poderão contemplar, enfim, a injustiça que está a ser praticada e tirar dela ilações. Há que
imperiosamente lutar no presente pelo futuro e dizer não à opressão e falta de liberdade, há que
seguir a luz redentora e trilhar um caminho novo.
CONTEXTO HISTÓRICO:
Luís de Sttau Monteiro denuncia a opressão vivida na época em que escreve esta obra, isto
é, em 1961, durante a ditadura de Salazar. Assim, o recurso à distanciação histórica e à descrição
das injustiças praticadas no início do século XIX, permitiu-lhe, também, colocar em destaque as
injustiças do seu tempo.
A peça "Felizmente há luar" é uma peça épica, inspirada na teoria marxista, que apela à
reflexão, não só no quadro da representação, como também na sociedade em que se insere. O
teatro de Brecht pretende representar o mundo e o homem em constante evolução de acordo
com as relações sociais. Estas características afastam-se da concepção do teatro aristotélico que
pretendia despertar emoções, levando o espectador a identificar-se com o herói. O teatro
moderno tem como preocupação fundamental levar os espectadores a pensar, a reflectir sobre
os acontecimentos passados e a tomar posição na sociedade em que se insere. Surge assim a
técnica do distanciamento que propõe um afastamento entre o actor e a personagem e entre o
espectador e a história narrada, para que, de uma forma mais real e autêntica possam fazer
juízos de valor sobre o que está a ser representado. Luís Sttau Monteiro pretende, através da
distanciação, envolver o espectador no julgamento da sociedade, tomando contacto com o
sofrimento dos outros. Deste modo o espectador deve possuir um olhar crítico para melhor se
aperceber de todas as formas de injustiça e opressões.
PERSONAGENS:
GOMES FREIRE: protagonista, embora nunca apareça é evocado através da esperança do
povo, das perseguições dos governadores e da revolta da sua mulher e amigos. É acusado de ser
o grão-mestre da maçonaria, estrangeirado, soldado brilhante, idolatrado pelo povo. Acredita na
justiça e luta pela liberdade. É apresentado como o defensor do povo oprimido; o herói (no
entanto, ele acaba como o anti-herói, o herói falhado); símbolo de esperança de liberdade.
D. MIGUEL FORJAZ: primo de Gomes Freire, assustado com as transformações que não
deseja, corrompido pelo poder, vingativo, frio e calculista, prepotente; autoritário; servil (porque
se rebaixa aos outros);
PRINCIPAL SOUSA: defende o obscurantismo, é deformado pelo fanatismo religioso;
desonesto, corrompido pelo poder eclesiástico, odeia os franceses
BERESFORD: cinismo em relação aos portugueses, a Portugal e à sua situação; oportunista;
autoritário; mas é bom militar; preocupa-se somente com a sua carreira e com dinheiro; ainda
consegue ser minimamente franco e honesto, pois tem a coragem de dizer o que realmente
quer, ao contrário dos dois governadores portugueses. É poderoso, interesseiro, calculista,
trocista, sarcástico.
VICENTE: sarcástico, demagogo, falso humanista, movido pelo interesse da recompensa
material, hipócrita, despreza a sua origem e o seu passado; traidor; desleal; acaba por ser um
delator que age dessa maneira porque está revoltado com a sua condição social (só desse modo
pode ascender socialmente).
MANUEL: denuncia a opressão a que o povo está sujeito. É o mais consciente dos
populares; é corajoso.
MATILDE DE MELO: corajosa, exprime romanticamente o seu amor, reage violentamente
perante o ódio e as injustiças, sincera, ora desanima, ora se enfurece, ora se revolta, mas luta
sempre. Representa uma denúncia da hipocrisia do mundo e dos interesses que se instalam em
volta do poder (faceta/discurso social); por outro lado, apresenta-se como mulher dedicada de
Gomes Freire, que, numa situação crítica como esta, tem discursos tanto marcados pelo amor,
como pelo ódio.
SOUSA FALCÃO: inseparável amigo, sofre junto de Matilde, assume as mesmas ideias que
Gomes Freire, mas não teve a coragem do general. Representa a amizade e a fidelidade; é o
único amigo de Gomes Freire de Andrade que aparece na peça; ele representa os poucos amigos
que são capazes de lutar por uma causa e por um amigo nos momentos difíceis.
FREI DIOGO: homem sério; representante do clero; honesto – é o contraposto do Principal
Sousa.
DELATORES: mesquinhos; oportunistas; hipócritas.
MIGUEL FORJAZ, BERESFORD e PRINCIPAL SOUSA perseguem, prendem e mandam
executar o General e restantes conspiradores na fogueira. Para eles, a execução à noite,
constituía uma forma de avisar e dissuadir os outros revoltosos, mas para MATILDE era uma luz a
seguir na luta pela liberdade.
LINGUAGEM E ESTILO
Linguagem:
- natural, viva e maleável, utilizada como marca caracterizadora e individualizadora de
algumas das personagens
- uso de frases em latim com conotação irónica, por aparecerem no momento da
condenação e da execução
- frases incompletas por hesitação ou interrupção
- marcas características do discurso oral
- recurso frequente à ironia e sarcasmo
SAIA VERDE: A saia encontra-se associada à felicidade e foi comprada numa terra de
liberdade: Paris, no Inverno, com o dinheiro da venda de duas medalhas, "alegria no
reencontro"; a saia é uma peça eminentemente feminina e o verde encontra-se destinado à
esperança de que um dia se reponha a justiça. Sinal do amor verdadeiro e transformador, pois
Matilde, vencendo aparentemente a dor e revolta iniciais, comunica aos outros esperança
através desta simples peça de vestuário. O verde é a cor predominante na natureza e dos
campos na Primavera, associando-se à força, à fertilidade e à esperança.
TÍTULO: duas vezes mencionado, inserido nas falas das personagens (por D. Miguel, que
salienta o efeito dissuador das execuções e por Matilde, cujas palavras remetem para um
estímulo para que o povo se revolte).
A LUZ – como metáfora do conhecimento dos valores do futuro (igualdade, fraternidade e
liberdade), que possibilita o progresso do mundo, vencendo a escuridão da noite (opressão, falta
de liberdade e de esclarecimento), advém quer da fogueira quer do luar. Ambas são a certeza de
que o bem e a justiça triunfarão, não obstante todo o sofrimento inerente a eles. Se a luz se
encontra associada à vida, à saúde e à felicidade, a noite e as trevas relacionam-se com o mal, a
infelicidade, o castigo, a perdição e a morte. A luz representa a esperança num momento trágico.
NOITE: mal, castigo, morte, símbolo do obscurantismo
LUA: simbolicamente, por estar privada de luz própria, na dependência do Sol e por
atravessar fases, mudando de forma, representa: dependência, periodicidade. A luz da lua,
devido aos ciclos lunares, também se associa à renovação. A luz do luar é a força extraordinária
que permite o conhecimento e a lua poderá simbolizar a passagem da vida para a morte e vice-
versa, o que aliás, se relaciona com a crença na vida para além da morte.
LUAR: duas conotações: para os opressores, mais pessoas ficarão avisadas e para os
oprimidos, mais pessoas poderão um dia seguir essa luz e lutar pela liberdade.
FOGUEIRA: D. Miguel Forjaz – ensinamento ao povo; Matilde – a chama mantém-se viva e
a liberdade há-de chegar.O fogo é um elemento destruidor e ao mesmo tempo purificador e
regenerador, sendo a purificação pela água complementada pela do fogo. Se no presente a
fogueira se relaciona com a tristeza e escuridão, no futuro relacionar-se-á com esperança e
liberdade.
MOEDA DE CINCO REIS: símbolo do desrespeito que os mais poderosos mantinham para
com o próximo, contrariando os mandamentos de Deus.
Tambores – símbolo da repressão sempre presente.
OS TRAIDORES DO POVO:
Vicente
Andrade Corvo
Morais Sarmento
Os dois polícias
O CONSELHO DE REGÊNCIA
D. Miguel Forjaz
Marechal Beresford
Principal de Sousa
Ø Representante da nobreza.
Ø Representante do domínio britânico sobre o nosso país.
Ø Representante da influência da Igreja.
Ø Todos são hostis ao General Gomes Freire: receiam perder o seu statu.
Situação: Gomes Freire está encarcerado no forte de S. Julião da Barra, no final, depois de
esgotadas todas as tentativas para lhe alcançarem o perdão é executado e queimado.
Ø Desanimados, sentem que a luta está perdida e que a situação ainda é pior do que era
antes.
Ø Manuel afirma: “Se tínhamos fome e esperança, ficamos só com fome…Se durante uns
tempos, acreditámos em nós próprios, voltamos a não acreditar em nada…”
Ø Rita aconselha: “Nunca te metas nestas coisas, Manuel! Haja o que houver, nunca te
metas com eles. Prefiro ver-te com fome, a perder-te”.
AS FORÇAS DA ORDEM
Dois Polícias
OS TRAIDORES DO POVO
Vicente
Ø Como recompensa, assume novas funções de chefe de polícia.
Ø Imaginando-se nas suas futuras funções, afirma: “Os degraus da vida são logo esquecidos
por quem sobe a escada…”
O CONSELHO DE REGÊNCIA
Beresford
D. Miguel Forjaz
Principal de Sousa
Ø Exibem o pior do seu carácter: ambição, prepotência, arrogância e oportunismo,
hipocrisia, falta de sentimentos humanos, mediocridade.
Ø São intolerantes e inflexíveis perante os argumentos de Matilde.
Ø Pretendem amedrontar e dominar pelo medo e pelo terror da repressão.
Bibliografia: