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‘Agradivel¢ altamenteinsirutvo... Um verdadeiro presente. Sunday Telegraph Temos aqui um exemplo de estudoliterrio humanizado 0 melhor tratado sobre afego desde Aspectos do romance, de Forster Financial Times 0 aclamado romancista e académico britinico David Lodge Presenteia com este lio todos aqueles que tém interesse em saber como funciona a arte da ficeZo. Em cinquenta artigos curtos,escrtos em linguagem coloquial, cheios de verve e humor, silo abordados aspectos do fazer lterdrio como a construgio do comeco edo final dos romances, a manipulacdo temporal, o uso do suspense, a escolha do ponto de vista, do nome dos personagens, do thulo eda estratra narrativa,Langando mao de suas habilidades, como professor de literatura e escrito, Lodge usa como exemplos, trechos tirados de obras-primas de grandes autores e conduz 0 letior por um incrivel passeio pelo universo da fio. David Lodge nascew na Inglaterra, em 1935. £ um dos mais renomados romancistas de lingua inglesa da atualidade, autor de tirios ttulos sobre literatura e de mais uma dezena de levos de {fecio, entre os quaisPicturegoers (1960), seu romance de estreta, ¢ ‘Surdo mundo (L&PMA EDITORES, 2070), www.lpm.com.br TEXTO INTEGRAL i iN Ama des dbo do sl Hh 203s! Colegéo L&PMA POCKET, vol. 879 Tero de aco coma nov otra “ilo origi: The Ar of Fon ‘te lo publ pla LAP EDITORES, em formato M2, em 209, Frmeit cision Coleco LAIMA POCKET: msi de 2010 Trade Guiherme da Siva Brg (apa ran Pair Machado Mase: A ior, de Vincent Van Gogh, lea sobre (1888, Colt Parti) Proprio Saldanha ‘Revi: aria Roch Ferman Lisboa (C1-Brasi. Caalogagso-m-Fonte Siniato Nacional ds Editors de Lito, RI 8 Lodge, Davi, 1935 “Aare da fc20/ David Lodge; rad de Githerme da i Alegre 18M, 2010 2p. ~ (Colegio LAP POCKET,» 879) Thahutode The ArtofFtion ocaiindice “Ura coletinea dos args pblicados no Independent on Sandy e 0 We ‘ington Post™ TSBN97#-85-254-20381 Braga Porta 2. Feo ingles Histria crtica~ Tera, 2. iyo americana - Hina ¢ ‘ta Feo 3 rie -Terminologis 4 Fo Tecnica. Th I Seve, lox. ‘cDp- 823.009 CDU BLT 309) © David Lodge, Todos dios data digo reservados + LAPM Bales Ros Comendador Cru 34, fj Horesta 90.200 180 Porto algre=RS— Bras / Bone 5132255777 Fa 513221-5360 Protos & Durr, Contact vends@ipm.com be Fu coc nfl conor seve ore Iimpreo no Basi (Cutono de 2010 NOTA Do TRADUTOR Ista digo brs de Aare ds fg apresenta 2 i tor trades nite pac das ech eras dont ulate de trades existent fi uma posbiidade abandonada logo de ino. Nem todos os titulos ctados esto Ricans 8 put de tod ia itched Ie sind ines exigiram trades igument ines. Alem deo may certosttuloe dspontes no Brasil (ou mestno em Porrugal contam apenas com trades antiga, que sara datads a itor de ho) Meamo no ct de obras que dlspem de trades bose recente haveri a dfcldade post pelo comentiris feos pelo autor em reas apalavasespecnseaspcios formas to criginal ngs que nem sempre foram rproduaios nasa ges extentes “0 qu mais una ver at orarsinadequodas ‘ait, optel por taduse todos os techoscitadon tendo tm mente ot eftiondiscaidos plo aor, conalando, sempre te poste as tadugbesexsentes pars melhor me onenar maure Guilherme da Silva Braga SUMARIO Prefécio, ‘Ocomego (Jane Austen, Ford Madox Ford). O autor intrometido (George Eliot, E. M. Forster. Suspense (Thomas Hardy). 1, Skaz adolescente (J. D. Salinger) (O romance epistolar (Michael Fray) Ponto de vista (Henry James) Mistério (Rudyard Kipling) 8, Nomes (David Lodge, Paul Aust) om 9, Fluxo de conscigncia (Virginia Wool) 10, Mondlogo interior (James Joyce) 1. Estranhamento (Charlotte Bronté) 12, Ambientagio (Martin Amis) anu 13 Listas (F. Scott Fitzgerald) an 14, Apresentagio do personagem (Christopher Isherwood) 15, Surpresa ( Williams Makepeace Thackeray) 16, Manipulacio temporal (Muriel Spark) 17. O leitar no texto (Laurence Sterne) 18, Clima (Jane Austen, Charles Dickens) gway). nir Naboko1), 21, Intertextualidade (Joseph Conrad) 22. 0 romance experimental (Henry Green) 23. O romance comico (Kingsley Amis. 24, Realismo magico (Milan Kundera). 25, A narrativa superficial (Malcolm Bradbury) 26, Mostrar e dizer (Henry Fielding). 27, Polifonia (Fay Weldon). 28. A impressio do passado (John Fowles). 29. 0 futuro imaginado (George Orwell 30, Simbolismo (D. H. Lawrence) 31. Alegoria (Samuel Butler). 32. Epifania John Updike) 33. Coincidéncia (Henry James) 34, O narrador ndo confidvel (Kazuo Ishiguro). 35.0 extico (Graham Greene) 36. Capitulos ete. (Tobias Smollet, Laurence Sterne, Sir Walter Scott, George Blios, James Joyce) 37. 0 telefone (Evelyn Waugh 38, Surrealism (Leonora Carrington) 39, Ironia (Araold Bennett). 40. Motivagio (George Eliot). 41. Duragio (Donald Barthelme) 42. Implicatura (William Cooper). 43. 0 titulo (George Gissng).. 4. Ideias (Anthony Burgess), 45.0 romance de nio ficgdo (Thomas corp) 46, Metaficgao (John Barth), 47.0 estranho (Edgar Allan Poe) 48, Estrutura narrativa (Leonard Michal 49. Aporia (Samuel Becket), 50.0 fim Jane Austen, Williams Golding) Indice onoméstico Indicagdes bibligréticas.. PrerAcio Por doze meses, entre 1990 © 1991, 0 poeta James Fenton es- ‘reveu uma coluna semanal para as paginas literétias do The Independent on Sunday chamada “Ars Poetica”, titulo de um famoso tratado sobre poesia escrito por Horicio, o poeta roma- no. Toda semana Fenton publicava um breve poema ou um ex- Certo ¢ escrevia um comentario destinado a esclarecer 0 texto e também algum aspecto geral da arte poética, Ne inicio de 1991, © editor literario do jornal, Blake Morrison, me dew um tele- fonema e perguntou se eu nao estaria interessado em escrever algo parecido sobre prosa ficcional quando Fenton terminasse oservigo dele. Em geral eu demoro para responder propostas de jornais «na maioria das vezes, acabo recusandos mas dessa ver eu ji tinha me decidido a aceitar quase antes de blake terminar o con- vite. Por quase trinta anos, entre 1960 e 1987, fui académico ¢ romancista, e dei aulas de literatura inglesa na Universidade de Birmingham. Nesse periodo, publiquei muitos livros de crt ‘allteraria, a maioria sobre romances ou sobre “O Romance", durante muitos anos ministrei um curso chamado Form in Fiction, Depois de me aposentar antes do tempo como professor da universidade, em 1987, descobri que eu tinha pouca vontade «© pouca motivacao para continuar escrevendo critica destinada ao publico académico; mas eu sentia que ainda tinha coisas a dizer sobre a arte da ficga0 ea historia do romance que podiam interessar a um pablico mais abrangente de leitores e que uma coluna semanal em um jornal seria 6 formato perfeito para essa empreitada, Logo me decidi por um formato centradoem t6picose nto ro texto em si, jf que um romance, ao contrério do que acorre com muitos poemas excelentes, nao pode ser citado por inteiro em um artigo de jornal. Toda semana eu escolhia uma ou duas, passagens breves de romances ou contos, clissicos e modernos, para ilustraralgum aspecto da “Arte da Ficgio”. (A exemplo da “Ars Poetica” de Fenton, esse era um nome mais ou menos ine vitével para. sie, e decidi manté-lo também no livro, apesar de Preftcio! 9 ‘um certo desconforto ao repetiro titulo de um aclamado ensaio de Henry James.) Com algumas poucas excesdes —Jane Austen, Henry James, George Eliot -, os ensaios semanas quase sempre traziam exemplos de autores diferentes. Procurei me restringir 408 autores ingleses e americanos, pois e38a ¢ a “minha tea”, como se diz na academia, ¢ me sinto menos seguro ao analisat em detalhe romances que fujam a essa especialidade. Bu jé ha- via comentado algumas dessas passagens em outras publicagécs, ‘mas ndo exatamente nos mesmos termos. Comecei com “O comego” ¢ sempre tive a intengio de encerrar com “O fim”. Entre um e 0 outro, as vezes 0 artigo cde uma semana sugeria o tema para a semana seguinte, mas eu nio planejeia série como uma introdugao sistematicae gradual A teoria do romance. Ao revisar os textos para a publicagao em. livro, inclu’ algumas referéncias cruzadas eelaborei um indice, 0 que deve organizat um pouco a ordem mais ou menos aleatéria ddos assuntos. Uma ver professor, sempre professor. Ainda que olivro destine-se ao “leitor comum’, usei, com as devidas expli ‘ages, alguns termos técnicos que podem ser estranhos a esse leitor, uma ver que nao ¢ possivel analisar um texto lterdrio sem © vocabulirio descritivo apropriado mais do que seria possivel desmontar um motor sem o conjunto de ferramentas aclequa- as, Alguns desses termos sio modernos, como “intertextuali dade” ¢“metaficgao”, enquanto outros sio antigos, como 0s no. mes das figuras delinguagem da retria cléssica (*metonimia” “sinédoque” etc.) que a linguistica moderna ainda utiliza. Um titulo alternativo para este livro, se Wayne Booth jé ndo o tives se usado, seria A retdrica da ficgao. Eu sempre entendi a ficea0. ‘como uma arte essencialmente ret6rica - em outras palavras, 0 romancista ou contista nos convence a partilhar uma deter. ‘inada visio de mundo pela duracdo da nossa leitura e assim. ‘opera, se tudo der certo, a deliciosa imersio em uma realidade ‘imaginada que Van Gogh retratou com tanta maestria em sua Pintura A leitora de romances. Mesmo 0s romancistas que deci- ‘dem quebrar essa ilusdo para atingir seus fins artsticos come- ‘gam sempre por cié-l, Os artigos originais tinham uma extenséo predetermi- ‘nada, mas em geral eu enviava cépias um pouco mais longas € deixava a tarefa de edité-las para caber no espaco disponi vel nas habeis mifos de Blake Morrison e de sew assistente Jan 10/ Precio D pare Miro'€ aprimicastheie tal pot at tase a i © comeco Emma Woodhouse, clegante, espertae rica, com uma casa agra divel e indole alegre, parecia reunir algumas das maiores dé divas da existencia;¢ ja vivera quase 21 anos no mundo con ‘muito pouco a Ihe causar tristeza ou aborrecimento. Tra a irma mais nova das duas filhas de uma mle aferuo sissima e de um pai indulgente e, em virtude do casamento d: firma, tornara-se senhora da casa desde a mais tenra idade. / smile morrera-Ihe havia tanto tempo que tinha apenas lembran «as dfusas de seus carinhos, e esse lugar fora assumido por um: excelente mulher que, como governanta, deixara pouco a dese jar em afto, Por dezesseis anos a srta, Taylor havia estado com a fa inflia do st. Woodhouse, menos como governanta do que com« amiga, muito préxima das duas filhas, mas em especial d Emma, Entre as duas havia uma intimidade como aquela entre irmiis, Mesmo quando a srta, Taylor ainda ocupava o cargo no minal de governanta, sua brandura de caréter mal deixava qu mpusesse quaisquer limites; ¢ entdo, com a sombra da auto ridade esquecida no passado, viviam juntas como duas amiga muito apegadas, Emma fazendo apenas o que Ihe aprazia; tend nna mais alta conta o juizo da stta. Taylor, mas seguindo acim de tudo o seu proprio. (Os verdadeiros males na situagao de Emma eram o pode de conseguir tudo feito a seu modo e uma certa endéncia a pen ‘sar um pouco bem demais de si; eis as desvantagens que amea ‘gavam macular seus muitos prazeres. O perigo, no entanto, ve tao despercebido que nada disso pareceu desventaroso, A tristeza veio — uma tristeza Suave—mas nao na forma d tum pensamento indesejado: a sra, Taylor casou. Jase Austey Enima (1816 Esta & a historia mais triste que j4 ouvi. Conheciamos © ‘Ashburnham de nove temporadas passadas em Nauheim cor O-comega 1 um grande inimidade—ou tor com ume proximidade sl- inefelleao meso tempo esteita como ura bos ava hae Fue minha expos conhecamos o Capito est Asnburhams Hi bem quanto se pode conhecer qualquer pesos po ore Indo, nl sabiamos absolutamente nada a respi dlen Cele quetna situate como eas ¢possivlcom inglur seers de quem, ainda hoje, quando setae tentodejfuro quanto se sobre ee rit asunt, endo sabia nada, Ses mass trae snd connate sem din rihaaso oat profundeas de um crag inglés Eu concer apenas a superficie. a " es Foro Maoox Fos © bom soldado (1915) Quano ust Rowanice Comers? A pergunta é quase tho difell de responder quanto dizer com precsio em que momento o em. brigo bumano se torna uma pessoa. E raro um novo romance comeyar com as primeiras palavras escritas ou datilografadas. ‘A maioria dos escritores faz algum trabalho preliminar, ainda que apenas de cabeg2. Muitos se preparam com todo o enidado Por semanas ou meses, fazendo esqucmas da trama, compilando, Vs para os personagens, enchendo cademos de ideas, cena. tis, stuagdese pindas a serem usados durante a composigao. Cada autor tem seu jeito proprio de trabalhar, Henry James fer nots para Os e—pios de Poynton que s4o quase tao longas e in, fetessntes quanto 0 préprio romance. Muriel Spark, segundo entendo,elabora mentalmente o conceito de um novo romance émto poe a caneta no papel enquanto nio iver pensado em uma boa frasedeabertura, P Paraoletor, no entanto,o roma < 0 romance sempre comesa com 4 frase de abertura (que, € claro, pode muito bem no set api mera frase que o romancista escreveu). Depois ver a fase se- fun logo depois a outa. Quando ocomeo de um romance scaba € outta pergunta dificil de responder. O comeyo € 0 pri- ineiro pardgrafo, as primeiras piginas ou o primeiro capitulo? ‘Qualquer que sea a definicto, 0 comeso de um romance é a 14/ Ocomego fronteira que separa o mundo real que habitamos do mund que 0 romancista imaginou. Assim, ele deve nos “transportar como se costuma dizer. Nao € uma tarefa simples. Ainda ndo estamos acostum: dos com o tom de vor do autor, com 0 seu vocabulério, cot seus habitos sintéticos, A leitura comega devagar ¢ hesitant ‘Temos um bocado de novas informagées para absorver e gua dar, como 0 nome dos personagens, suas telagdes de afinidac ‘econsanguinidade e os detalhes relativos a tempo e espago, set (05 quais 6 impossivel acompanhar a historia, Seré que todo es esforco vai valer a pena? A maioria dos leitores dao autor unr ‘chance de pelo menos algumas paginas antes de decidir volt: atris. Com os dois exemplos mostrados aqui, no entanto, nos hesitagao tende a ser minima ou inexistente. Somos cativadc desde a primeira frase. Aabertura de Jane Austen é clissica: hicida, comedidl ‘objetiva, com implicaturas irdnicas escondidas por baixo da el gante luva de veludo do estilo, A sutileza com que a frase < abertura prepara a queda da heroina! O romance serd o aves da historia de Cinderela, o triunfo da heroina subestimada, qt dde Orgulho e preconceito a Mansfield Park j vinha despertand aimaginacio de Jane Austen. Emma € uma princesa que preci ser humilhada para atingir a verdadeira felicidade. “Elegante (em vex de graciosa ou bela — talvez haja um toque de determ nnaco masculina nesse epiteto andrégino), “esperta” (um te ‘mo ambiguo para a inteligéncia, as vezes usado em conotaga ofensiva, como em “esperta até demais”)e “rica”, com todas associagoes biblicas e proverbiais sobre os perigos morais da r (queza: esses trés adjetivos, combinados com grande apuro (ur uestdo de ritmo e de fonologia—tente reordens-os), encerrat toda a especiosidade da alegria “aparente” de Emma. Depois ¢ Squase 21 anos no mundo com muito pouco a Ihe causar tris: za ou aborrecimento”, ela esté prestes a enfrentar uma situaga dificil, Com quase 21 anos completos, & beira da maioridad Emma deve tomar as rédeas de sua vida, e para uma mulher ¢ sociedade burguesa no inicio do século XIX isso significa decid se ela desejacasar e, om aso afirmativo, com quem. Emma te! uma liberdade bastante incomum para tomar essa decisio, um. vez que jd é “senhora” da casa, cicunstncia bastante propic para o surgimento de uma certa areogincia, especialmente pc © comezo! 1 ter sido criada por uma governanta que the deu todo o afeto de tuma mae mas ndo (por implicatura) toda a diseiplin, A insinuacio adquire maior forga no terceiro pardgrafo; mus, 40 mesmo tempo, ¢ interessante notar que comecamos a «scutara vor da propria Emma no discurso, ao lado da voz crite, fsa objet do natraor, “Entre as duas avi una intinida le como aquela entre irmas.” *Viviam juntas como duas ami {.J* Nas dus fasespodemos como que guvirs daserglo oe {anto autoindulgente que a propria Emma faz do relacione. mento com a governanta, que a permitia fazer “apenas o que Ihe apraza”. A estruturairdnica do fim do pardgeafo ~ “tendo ta mais alta conta o jufzo da srta. Taylor, mas seguindo acima de tudo o seu préprio” ~ equilibra, por meio da simetria, duas afirmagdes que sto incomapativeis em termos logicos, e assim in- dlicam afalha no caréter de Emma que o narrador menciona ex. Plicitamente no quarto pardgrafo. Eo casamento da stta Taylor ue di inicio & histria: com a auséncia da amiga e na falta de bons conselhos, Emma toma sob seus cuidados uma protegida ~ Harriet ~ que incentiva sua vaidade e por quem clase envolve ‘1 uma intriga amorosa de consequericias desastrosas AA famosa frase inicil de Ford Madox Ford & um estra- {agema descarado para prender a atengéo do leitor, que prat camente nos arrasta a forga para o outro lado da fronteira. Ao mesmo tempo, no entanto,o sentimento tipicamente moderna de incerteza e desconcerto, de inquietacao relativa & possibli. dade de se descobrir a verdade, contamina a narrative, Quem € essa pessoa que nos dirige a palavra? Ele fala inglés, mas nao inglés. Conhece o casal de inglses que parecem ser os prota. fonistas dessa “histéria mais triste” hd pelo menos nove anos, ¢ "mesmo assim afirma nao saber “nada” a respeito dos ingleses até © exato momento em que a narrativa se dé. “Ouvi”, na primeira fase, sugere que ele vai narrar a historia de um tereeiro, mas 20 mesmo tempo fica quase implicito que o nartador, etalver esposa dele, seam eles préprios parte da historia. © narrador cconhece os Ashburnham na intimidade — mas néo sabe nada 8 seu respeito, Essas contradides sio racionalizadas como um feito da anglicidade, da disparidade entre as aparéncias ¢ area. lidade no comportamento da classe média inglesa; esse inicio faz soar uma nota tematica que nos lembra de Emma, ainda que 16/ Ocomeco suas vibrades premonitsrias sejam trigicas em ver de cémicas. A palavra “triste” € repetida no fim do parigrafo, ¢ uma outa palavra-chave, “coragio” (dois personagens tm supostos pro- ‘blemas cardiacos, e todos eles tém vidas emocionais conturba- das), aparece na pentlima frase Usei a metifora da luva para descrever o estilo de Jane ‘Austen, um estilo que afirma seu carter autoral em parte ao abrir ‘mo da metifora (sendo esta uma figura de linguagem poética ‘em sua esséncia, no polo oposto i raz2o e ao senso comm). A ‘mesma metéfora aparece no pardgrafo inicial de O bom soldado, ainda que com outro significado. Aqui ela simboliza a polidez no {rato social, 0s mods féceis mas contidos que acompanham a 1 queza ¢ 08 gostos sofistcados (faz-se mengio a uma “boa” lava) porém com uma nota de dissimulacao ou de “acabertamento” Alguns dos enigmas suscitados no primeiro parigrato sio logo cexclarecidos — gragas, por exemplo, a informacao de que o natra- dor é um americano morando na Europa. Mas a veracidade do telato, ao lado da dissimulagdo dos outros personagens, orna-se ‘um ponto crucial nessa mais triste das historias Existem, € claro, inimeras outras formas de se comecar tum romance, ¢ 0s letores que folhearem este livro terio opor- tunidade de conhecer algumas delas, pois muitas vezes escolhi 0 parigrafo inicial de um romance ou de um conto pata ilustrar ‘outros aspectos da arte da ficelo (assim nao preciso resumir 0 enredo). Mas talvez valha a pena indicar aqui o leque de possi- bilidades. Um romance pode comegar com a descrigio estitica do cenirio ou da cidade que servira de pano de fundo para a his- {6ria ~ 0 mise-en-scdne, como se diz no jargio de cinema: como exemplos, temos a descrigio somibria de Egdon Heath no inicio de O regresso, de Thomas Hardy, ou o retrato de Chandrapore, em prosa elegante ¢ urbana, com jeito de guia de viagem, na abertura de Passagem: para a India, de E. M, Forster, Um roman ce pode muito bem comerar no meio de uma conversa, como Um punkado de pé, de Evelyn Waugh, ou as obras idiossincré ticas de Ivy Compton-Burnett, Pode comegar com uma apre sentagao cativante do narrador, “Me chame de Ishmael” (Moby Dick de Herman Melville), ou com um gesto rebelde contra a tradigao lteraria da autobiografia: "a primeira coisa que voce deve querer saber é onde eu nasci, e como foi a droga da minha Infancia, ¢ 0 que meus pais faziam e tudo mais antes de eu nas- © comego 117 cer, essas merdas estilo David Copperfield, mas eu nao estou a fim de falar a respeito” (O apanhador no campo de centei, J.D. Salinger). O romancista pode comesar com uma reflexio filo- “O passado 6 uma terra estrangeira las coisas sio de outro jeito” (L, P. Hartley, O mensageiro) - ou precipitar um ‘personagem ao perigo extremo ja na primeira frase: "Hale es- tava em Brighton havia menos de trés horas quando soube que pretendiam mati-lo” (Graham Greene, O condenado). Muitos romances comecam com uma “historia dentro da historia”, que explica como a historia principal foi descoberta ou descreve-a enquanto ¢ contada a uma plateia ficcional. Em O eoragto das trevas, 0 narrador anénimo de Conrad desereve Marlow con- tando suas experigncias no Congo para um circulo de amigos sentados no convés de um iole no estuério do Tamisa (“E esse também é um dos lugares escuros da terra”, comeca Marlow), A volta do parafuso, le Henry James, 60 diftio de uma mulher jf falecida, lido em voz alta para os convidados de uma festa na casa de campo onde se divertem com hist6rias de fantasmas « acabam se surpreendendo talvex um pouco mais do que es- peravam. Kingsley Amis comeca sua historia de fantasmas, The Green Man, com um pastiche espirituoso do The Good Food Guide: “Vocé mal tem tempo para se recobrar da surpresa de encontrar uma estalagem legitima a menos de sessenta quild ‘metros de Londres~ea menos de dez da MI ~antes de comesar 4 admirar a qualidade da comida igualmente inglesa.” Se unt Viajarte numa noite de inverno, de Italo Calvino, comeca assim: “Voce esté prestes a comeyar 0 nova romance de Italo Calvino, ‘Se um viajante numa noite de inverno”. O Finnegans Wake de James Joyce comeca no meio de uma frase: “corridorrio, pas sando Eva e Adio, da costa curva a beira da bata, nos leva gragas 2 um commodius vicus recirculador de volta a Howth Castle ¢ Arredores”. O trecho faltante conclu o livro: “Ao longe ao largo ao léu amor a0 longo do” ~ e assim de volta ao inicio, como a ‘gua que volta a circular no ambiente, do rio ao mar a0 céu chuva e a0 rio, como a incansavel produsao de sentido na leitura a fiega0, 18 / Ocomeco 2 O autor InTROMETIDO Com um tinico pingo de tinea por espelho, 0 fetcir exp fa capaz de revelar os forascios que o procuravam vibes lim passado longing. E 0 que me proponho a faze por vo: letor. Com um pingo de tinta na ponta da pena, vou mostr The a amplaoficina de Jonathan Burge, capintir e constr do vilareo de Faysope, tl como era no dia 18 de juno do a do Nosso Senhor de 1798 ‘Geonot Euior O triste moivado de Adam Bede (185 Para Margaret ~ espero que oer nfo a reprove por isa sari de Kings Cros sempre sgeriraTnfinitude prop Bhsgto do Inge ~ um pout srt do pled perc St. Pancras ~ isinuava comenttios sobre o materialise Mid Aqules dois enormesacos, sem or, ver vid, ombrea do ente sun reldgo sem grag, eram portals conveniente time aventura eterna, que podria até ser papers, mas c feria nio hava de expressarse na linguagem comin fposperdade Se voc! achar to i dial, lembrese Gor fo € Margaret quem o cons epee crescent fiais depres poste que elas chegaran com tempo desl pa estghoe que asta, Mun ficra com umasent confor Ge frente pa a locomotv, mas mo pet de © Margaret ao relornat para Wickham Place, eparow-te com sequin telegram Tudo acabado, Queria nao ter escrito. Nto conte nadi hhinguém, ~ Helen. Mas Tia Juley jé havia partido ~ partido definitivamen cenada no mundo seria capar de deté-la, EM. Fosstex Howards End (19) © autor intrometido | ‘A mantina nats saeits de contar uma histéria é através da voz de um narrador, que pode ser a vor anénima do conto pope lar ("Era uma ver. uma linda princesa”), a vor do bardo épi- co (como as “Armas ¢ 0 vardo” de Virgilio) ow a voz camplice, ‘companheira e sentenciosa do autor, encontrada na fcyao cis. sica de Henry Fielding a George Eliot. No comego de O triste noivado de Adam Bede, gragas a ‘um truque retorico muito sagaz com o pingo de tinta, que é 20 ‘mesmo tempo espelho e meio, George Eliot transforma o ato de escrever em uma espécie de fala, uma interpelagao dieta mas confessional ao leitor, e nos convida a “cruzar a fronteita” do romance ¢, lteralmente, cruzar a porta da oficina de Jonathan Burge. Por meio de uma implicatura, ela compara seu modo de narrar objetivo ao extremo ¢ fiel & histéria com as revelagoes suspeitas da magica e da supersticio. O trecho sobre as téenicas do feticero egipeio ndo tem nenhuma outra fungio narrativa, mas nem por isso € desprovido de intetesse. Afinal de contas, lemos ficgao nao s6 pela histéria, mas também para ampliar © ‘nosso conhecimento e a nossa compreensio do mundo; ea vor autoral € um dos recursos narratives mais aptos a incorporar 0 conhecimento enciclopédico ea sabedaria proverbial ao text. Contudo, na virada do século, a vox intrusiva do autor sain de moda, em parte porque prejudica a ilusio de realida- dee reduz o impacto emocional da experiéncia representada a0 chamar a atengio para o ato de narrar. A voz autoral também reclama para si uma autoridade e uma onisciéncia divina que a sociedade céticae relativista em que vivemnos nega a quem quer {que sea. A ficso moderna tende a suprimir ou a eliminar a vor do autor, apresentando a acio por meio da consciéncia dos per. sonagens ou delegando a eles a tarefa de narrar. Nas vezes em ue a vor intrusiva do autor & empregada na ficgio moderna, em geral se faz acompanhar de uma consciéncia irdnica de st propria, como na passagem de Howards End, O trecho encerra ‘o segundo capitulo, em que Margaret Schlegel, de Bloomsbury, pos receber noticias de que sua irma Helen apaixonou-se pelo filho mais jovem de Henry Wilcox, capitéo da industria e novo- ico, manda sua tia (asta, Munt) averiguar a sit Howards Endé um romance sobrea situagioda Inglaterra, «© € representagao do campo como um todo otganico, com um passado agririo e inspirador e um futuro problematico 4 som. 20 / Oautor intrometido bra do comércio da industria, o que confere uma importin: simbélica aos personagens e as relagdes entre eles. O tema alea ga.um Spice visionério no capitulo 19, quando, em um local vista privilegiada, no alto das montanhas Purbeck, o autor pe gunta se a Inglaterra pertence aos que forjaram sua fortuna es poder ou a “aqueles que [..] de alguma forma viram-na, vie {oda ailha em um s6 olhar, como uma pedra preciosa em mr de prata, navegando qual um navio de almas, com toda a esq dra do bravo mundo a acompanhi-la rumo a eternidade”, “Tanto © autor quanto Margaret pertencem, sem divi 420 rol dos visionarios. A infinitude que Margaret associa &« tagdo King’s Cross equivale & eternidade para onde 0 navio Inglaterra singra, enquanto o materialismo e a prosperidade King’s Cross fazem um comentério critico sobre o mundo 4 Wilcox. O estilo evidencia os sentimentos compartilhados px autor. pela heroina: no plane da gramatica, apenas o uso de b tempo passado (“insinuava comentirios”; “eram portais com Fis) cstiogue os pensmentx de Marguvt de vor doe tor. Forster tem uma atitude protetora talver até demais ~¢ relacio a heroina, “Para Margaret ~ espero que o leitor nio a reprove p {sso [4.]” "Se voc’ achar tudo isso ridiculo, lembre-se de q no é Margaret quem o conta” ~essas sio manobrasarrscad que por pouco nao criam o efeito que Erving Goffman chat de breaking frame 9 momento em que a regra ou convens que rege um determinado tipo de experiéncia ¢ transgredic Frases assim escancaram algo que a ilusio de realidade, em co digBes normais, exige que o leitor suprima ou ponha de lado consciéncia de que estamos lendo um romance sobre pessoa acontecimentos inventados. Esse artificio € muito valorizado por escritores pas-m ernos, que renegam a f€ no realismo tradicional ao expot ‘mecanismo de seus construtos ficionais. Veja, por exemplo surpreendente intromissio do autor no meio de Gold vale ou de Joseph Heller (1980): Gold se preparava para mais um almogo ~ dessa vez ec Spotty Weinrock — quando notou que estava passando tet po demais comendo e conversando neste livro. Nao hat muito mais 0 que fazer com ele. Volta e meia cu 0 coloca, © utorintrometido | ‘ne cama com Andrea e deixava a mulher e 08 filhos no sc- gundo plano... Sem ddvida Gold conheceria uma professora Ie de quatro fllhose se apaixonaria loucamente por ea, € Por um breve period eu acenaria coma promessa tentadora, de transformi-lo no primeiro secretirio de Estado judeu no pais, mas no fim no cumpriria a minha promessa, Forster nao arrisca de modo tao radical a ilusto de vida ‘que sua historia cri e, assim, desperta em nds um interesse 50- lidério pelos personagens e pela sorte deles ao trati-los como se fossem pessoas de verdade. Entao, o que o autor pretende 40 chamar nossa atengfo para 2 lacuna entre a experiencia de Margaret e a narragio que faz dessa experiencia? Creio que, a0 apontar com graga eum pouco de desprezo a sua propria fungio retdria, de certo modo ele obtém licenca para fazer as elucubra {es histdricas e metafisicas (como a visto da Inglaterra do alto das montanhas Purbeck) que se encontram espalhadas ao longo do romance e que Ihe pareceram essenciais a0 propdsito tems co da obra. O humor refinado é uma forma eficaz de evitar que Oo leitorreaja com um *Corta essa!” ds generalizacoes feitas pelo ‘autor. Forster também transforma em piada a interrupgio do ‘movimento narrative que essas passagens exigem quando, em tom apologético, leva-nos “o mais depressa possivel” de volta a historia ¢, entdo, encerra o capitulo com um suspense todo especial ‘Mas o suspense & um assunto & parte. 22 / Oautorintrometida 3 ‘SUSPENSE, NNo inicio, quando a morte pareciaimprovivel por nunca Ihe ter feito uma vista antes, Knight ndo conseguia pensar no futuro nem em nada referente ao passado. S6 era capaz de langar am thar duro & Natureza pérfda que tentara dar-Ihe um fim e de Intar contra ela ‘Como o penascoformasse a face interna do segmento de tum cilindro oco, com céu no alto ¢o mar embaixo, zodeando a bia quase pela extensio de um semicirulo ele enxergava face vertical curvando-se a direita ea esquerda. Olhou para baixo do patedo e percebeu com mais clarezao quanto estava ameacado, Ohorror aparecia em cada detalhe ¢, até as entranhas,aquela forma hostl era pura desolago. Gragas a uma dessa coincidéncias familiares com que o ‘mundo inanimado instiga a fantasia do homem que para em momentos de suspense, diante do olhar de Knight havia um {ssl incrustado, surgindo em baixo-relevo na rocha. Era uma criatura com olhos. Os olhos, mortosepetrificados, ainda assim 6 encaravam, Era um dos antigos crustceos chamados tiobi- tas Separados por milhoes de anos em vida, Knight ea criatura pareciam ter se encontrado na hora da morte. Até onde a vista alcangava, essa cra a nica ocorréncia de algo que um dia how- ‘ese estado vivo e tido um corpo a salvar, como ele tinha agora de salvar ose ‘Tuowas Hanoy Um par de olhosacuis (1873) ROWANCHS SKo NARRATIVAS, € narrativas de todos os formatos — livro, filme ou tira ~ prendem a atengio do piblico fazendo perguntas e tardando a respondé-tas, As perguntas pertencem, {rosso modlo, a duas categorias:a da causalidade (“quem foi?”) ¢ Ada temporalidade (“o que vai acontecer agora?”). As duas apa Suspense} 23 recem em sua forma mais pura na historia clissica de detetive € na historia de aventura, respectivamente. O suspense é um efei to associado particularmente & histéria de aventura € a0 misto de historia de detetive e historia de aventura conhecido como thriller. Essas narrativas si0 concebidas de modo a por o herdi ua heroina em diversas situagoes de perigo extrema, uma atris a outra, o que leva oleitor a compartilhar os medos do her6i e a ficaransioso em relagdo ao desfecho. O suspense tem uma relacdo bastante estreita com a fie~ so popular, ¢ por esse motivo foi muitas vezes desprezado, ‘2uao menos rebaixado, por romancistas do periodo modemo, Em Ulises por exemplo, James Joyce sobrepés os aconteci ‘mentos banais e inconclusivos de um dia comum em Dublin & histéria heroica e devidamente fechada do retorno de Odisseu a Guerra de Troia, insinuando que a realidade & menos emo- cionante e menos determinada do que a ficsio tradicional nos leva a crer. Mas ji houve escritores importantes, em especial ‘no século XIX, que se apropriaram dos artficios geradores de Suspense encontrados na fic¢io popular usaram-nos & sua r6pria maneira ‘Um desses escritores foi Thomas Hardy, cujo romance de cestreia, Desperate Remedies (1871), foi um “romance de sensa. 0” 8 moda de Wilkie Collins. O terceiro, Uin par de olhos azuis (1873), era mais liico e mais psicol6gico, tendo por inspiraco 9 cortejo de Hardy & sua primeira esposa no cenério romantico do norte da Commuatha, era 0 zomance favorito do mestre da ficjdo autobiogrifica moderna, Marcel Proust. Mesmo assim 0 livro tem uma cena clissica de suspense que, até onde sei, fot completamente inventada. A origem da palavra remonta a uma forma latina do verbo “suspender” e, de fato, poucas situagocs setiam capazes de produzir tanto suspense quanto a de um ho- mem que se vé agarrado pela ponta dos dedos a beira de um penhasco que nao consegue escala. La pela metade de Unt par de ofhos azuis, a jovem Eltiede, filha de um vigério da Cornualha ¢ heroina algo volivel do ro mance, leva um telesc6pio até o alto de um penhasco que so- branceia © Canal de Bristol para observar 0 navio que taz da India 0 jovem arquiteto com quem noivou em segredo. Ela estd acompanhada por Henry Knight, amigo de sua madrasta, um intelectual de mais idade que faz alguns avangos e por quem 24 | Suspense Gide comega a enim aap cha de cups. Engoante 0s dis esto sentados no alto do penhasco,o vento sopra c hapa de Knight para perto da beirada; ao tela ecuper lo Kei dab mae der ah ge fa gue termina em uma queda ve de centens de me ttc A yreciptyto deeds uo aad lo lors coas fe quando se srasta de vols am Ingae sone Jovem fz com que Knight ecoregu anda nas em depo a catistoe *Enquanto excorreqava centimetre or centimeto Knight desu dime impulio desesperado em dtedo ao tao mai Bao da vegragio um emaread de eras scas onde «ro cha spare em toda ssa deol. Ass ek pode deter a gueda Mas nse instante Knight xa ltramante sparse Palos bragos 1" (dco meu) Eliade ome do campo de tao de Knight, provavelnenteem busca de judo, mas aight fahe qu eros quilomctios de qualquer outta pesoe 1 ie scontece «seg? Sad Foon! O suspen fant m3 fas tardar avr. Ua das manciras dea do cinema (co eft Handy mites vere anerpou com 9 forte apelo visual desta fico, seria alternareenas da ang de Knight com cenas do estoy frend que a heroin faz pars salvo, Mas Hardy dsj surpeendr Knit amb O kor) com a eagi de Hifede a ea emeginci, e aim Tesringe a nrragao de oda cena ao pont devia de Knight O suspense proongase com una deseigo minacion de seus pensamentos enquanto sara 4 penhascoy so c6 pens eos elt nar cn gue ce a eda historia natural da posn eo eopecalotrbalho Bs Dern cara uns impo peer Tre ec titra escrito elem de Hardy pads ter sera passage em ee Knight persbeetar olan nos elhos “mone ep ic” de um aarp fs hoe cos nes pits, snc einen perspective arse bina humanidede inn dart do vsiogino Unies dees aro-tempo, que na epoca ecém comeyve a se apreenda {20 tips dos obra Sexe personages ivaravehmest per ebem na deparidae dese excl uma certamaldade csi que ¢ um equvoco bastante conpreensie, Ao defrntar-¢ com cae morta do fis, mn se campo de sto subs Suspense (25, tu ovine aliar ale edo de Eid, Knight prcebe a eon eee dloroade sun propionic ae snc Simestendese po suas pginas core sesmw ar ii: ellos Hest sotre polo se svete €- aparete desdem da maturerao ent tga de Knghachova asia seu rote, 9 wl bro ctaanes ahs decsetno) sempre macadespor pergntagne penne 0 fod murat Sert gue a hoa hata chad Be en tana sao, mas 0 que ima atta pons aes nio arco menor movinente Sd que ¢ wee cnet estendia-lhe a mao?” Ne Ser in iid, cro, consequat, Com? Ni vou den mas oo inentvo odo qu nolan fa Ne Bane gos tra tas rope 26 Suspense 4 ‘SKAZ ADOLESCENTE ‘velha Sally nao falou muito, s6 para rasgar a seda dos Lunt, que ela estava ocupada bisbilhotando tudo e sendo bacana. de repente, cla viu um otério conhecido dela no outro lado Sagudo. O cara estava com um desses ternos de flanela bem. fxcuros e um colete xadrez. Coisa de almofadinha da Ivy League. “Grande coisa. Ele estava escorado na parede, famando desespe- ‘ado e aborrecido nas tltimas. A velha Sally ficou dizendo “Eu sconheso aquele cara de algwm lugar”. Ela seripre conhecia al- {uem, em tudo que era lugar, ou pelo menos achava que conhe- ia. E ficou repetindo es:2 papo até eu encher o saco nas iltimas, ‘ei eu perguntei “Entdo por que vocé nao vai até Ié e beija ele ‘na boca, se vocts se conhecem? Ele vai curtir.” Ela ficou de cara Aino fim o otirio viu ela e veio dar um oi. Eu queria que voce ¥isse oeito que eles se deram oi. Parecia que os dois nao se via ‘a vinte anos. Parecia que eles tinham tomado banho juntos na ‘mesma banheira ou algo do tipo quando eram pequenos, Velhos onhecidos, Era nojento, O mais engragado ¢ que provavelmen- tees s6 tinham se visto uma ver numa festa babsca qualquer. Depois de um tempo, quando eles pararam de se baba, a yelha Sally nos apresentou. O nome dele era George nao sei das quan ‘tas eu nem lembro~ e ele estudava em Andover. Ah, grande ‘oise. Vocé tinha que ter visto a cara dele quando a velha Sally pperguntou se ele tina gostado da pega. © eara era tipo de um babaca que precisa de espago para responder uma pergunta. Ele eu um passo para tris pisou em cheio no pé da mulher que festava ld. Acho que ela quebrou todos os dedos do corpo, Ai ele disse que a pesa nao era nenhuma obra-prima, mas que os Lunt, claro, eram mesmo uns anjos. Anjos. Pelamor. Anjos. Foi o fim da picada. Dat ele © a velha Sally comegaram a falar sobre um. monte de gente que eles conheciam. Foi « conversa mais babaca {que voce jé ouviu em toda a sua vida, J.D. Saucer O apanhador no campo de centeio (1951) ‘Skee adolescente 27, ‘kaze vw ratavnosnia RuSSA muito interessante que designa uma narrativa em primeira pessoa escrita numa linguagem que mais lembra a fala do que 0 texto escrito, Nesse tipo de histéria, 0 narrador é um personagem que se refere a si mesmo camo “cu” trata 0 leitor por “voce”. Fle (ou ela) usa o vocabulitio ¢ a sintaxe tipicos da lingua falada e dé a impressio de estar fazendo lum relato espontineo da histéria em ver de nos apresentar um registro escrito, laborado com toda atencio e cuidado. Somos _mais ouvintes do que leitores - & como se escutéssemos alguém ‘bom de papo que acabamos de encontrar num pub oa num va- gio de trem. Desnecessério dizer, isso é apenas ilusio, 0 resul- {ado de um esforso calculado e de reescrita minuciosa por parte do autor “real”. Um estilo narrative que imitasse conversas reais ‘com toda a perfeigio seria quase impossivel de entender, como acontece as transcrigdes ce conversas gravadas. Mas essa ilusio tem 0 efeito poderoso de parecer auténtica e sincera, de parecer verdade. Para os romancistas americanos oskazera uma forma éb- via de se livrar das tradigoes literdrias herdadas da Inglaterra e da Europa. O impulso decisivo foi dado por Mark Twain, “Toda a literatura americana moderna saiu de um livro de Mark Twain chamado Huckleberry Finn’, disse Ernest Hemingway - sem Jeo de parent an seal ecu proponents Per Salle George Azorei formal dalinguage ene tot de praca pare mas dvrida do eco e"Ache poe dha quero todos or dds do compo una dtr det. dese oon do corpo” emai unt eres persia, Out Ivo € que linguager de Holder nino mas do que ie Nese ech, sings que mio recone fe sviogue Hades est com cies de eu sl George or mas que ee ame desperar sas ropes desman ses mods cepts © pathos stuseo de ldo Cull aque no ete So lv. gn em ten dade ustamente por io sr epit Em lin ns nants ross sured os com un posi ineperia, ne sil manipula dan se dla convencional que atorna um paz dee ee sl Como dae os jis cat singe “O que eu nao consigo aceitar éque por um instante la tenha me dado razto, reconhecido meus direitos. Tenho vontade de dar Telefone. Tocando. Esper [Nao $6 um aluno surtado, Bem, que me dé vontade de uivar para a lua é saber que ela ets lem Londres rabiscando como se nada tivesse acontecido, Eu s6 queria que ela evantasse a cabera daquele mundinho de faz de conta, por um instante que fosse, e disses... ‘Mas, nao, tive uma outra idea, Pode ser que ela néo es {ejarabiscando como se nada tivesse acontecido. Ela pode estar farendo um relato dos acontecimentos no quarto de héspedes. Uma de suas heroinas incrivelmente perspicazes, excéntricas teardilosas pode estar saindo de lado com um jeito bizarro a0 Magrar @ cuca roxa de um jovem académico pretensioso. Pot favor nao me olhe com essa cara —consigo pereeberaironia sem nenhuma ajuda, obrigado. Mas ¢ diferente ~ 0 que ela esté es revendo nao € uma carta para algum amigo num pas distant. B para os meus amigos. Para os meus inimigos. Para os meus oles. Para os meus alunos. Como? A minha cusca é roxa? Claro que nto! Seri que ‘voct nto sabe nada sobre 0 meu gosto? Mas ela pode estar di ‘endo por af que a minha cueca éroxal E isso 0 que essa gente faz. Enfeitam, melhoram a verdade~ enfin, mentem, Mucitar. Faas The Trick of (1989) Rovaxces escnrros na forma de cartas foram muito populares ‘no século XVIII. Os longos romances epistolares moralistas € ‘profundamente psicoldgicos de Samuel Richardson sobre a s- ‘dusio, Pamela (1741) © Clarissa (1747), foram marcos na his 30/ Skaz adolescente © romance epistolar 31 tsi fd europea einpraram muitos imiadors como Routeaw (A nova Heo) Lacs (As ign parse) Prineiro rastnho que Jane Austen fe de'Ransoe Savon eran forma de carta, mas logo a autor previa denen da, romance eistolaeno seo XIX Na era do telefon sees

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