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O ladrão de cadáveres
Tradução
Andréa Rocha
O ladrão de cadáveres
Todas as noites do ano, nós quatro nos sen-
távamos juntos na pequena sala de estar do
George, uma estalagem em Debenham: o
agente funerário, o proprietário, Fettes e eu.
Às vezes havia outras pessoas, mas, não im-
portava o quanto ventasse, chovesse, nevasse
ou geasse, nós quatro sempre estávamos lá,
cada um instalado em sua poltrona. Fettes
era um velho bêbado escocês, homem de in-
egável instrução e também de algumas
posses, já que vivia na ociosidade. Chegara a
Debenham anos antes, ainda jovem, e
acabou adotado como cidadão do lugar
meramente por ter ficado por lá. Sua capa de
chamalote azul era uma antiguidade local,
assim como a agulha na torre da igreja. Seu
lugar na sala de estar do George, sua ausên-
cia da igreja e seus antigos e vergonhosos ví-
cios de beberrão eram todos bastante con-
hecidos em Debenham. Era de opiniões
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“Fettes! É você!”
“Ora”, disse o outro, “eu mesmo. Também
achou que eu estivesse morto? Não pense
que é assim tão fácil nos livrar dos nossos
conhecidos.”
“Shhh, quieto!”, exclamou o médico.
“Fique quieto! Jamais poderia imaginar
encontrá-lo aqui; vejo que você está muito
debilitado. Confesso que a princípio mal o
reconheci; mas estou exultante com a opor-
tunidade. Por ora fiquemos apenas no como-
vai-e-até-logo, porque minha carruagem me
aguarda, e não posso perder o trem; mas vo-
cê tem de… deixe-me ver… sim, precisa me
dar seu endereço, e pode estar certo de que
logo, logo lhe mandarei notícias. Precisamos
fazer alguma coisa por você, Fettes. Receio
que esteja em apuros, mas vamos cuidar
disso, em nome dos velhos tempos, como
costumávamos cantar durante os jantares.”
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