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Quinta, 08 de Fevereiro de 2018 04h30
1. INTRODUÇÃO
O Direito Penal, sistema normativo de direito público, tem como fim regular o
convívio em sociedade. Para isso, é formado por um conjunto de leis e princípios que
buscam combater a prática de crimes e contravenções penais, por meio da imposição de
sanção penal.
Cezar Roberto Bitencourt (2009, p. 2), nesse mesmo sentido, ensina que “esse
conjunto de normas e princípios, devidamente sistematizados, tem a finalidade de tornar
possível a convivência humana”.
Guilherme de Souza Nucci (2011, p. 67), por outro lado, conceitua o Direito Penal
como um conjunto de normas jurídicas voltado à fixação dos limites do poder punitivo do
Estado, instituindo infrações penais e as sanções correspondentes, bem como regras
atinentes à sua aplicação.
E, ainda, sob outro aspecto, Mirabete (2010, p. 1) dispõe que o Direito em tela
“também é o sistema de interpretação da legislação penal, ou seja, a Ciência do Direito
Penal, conjunto de conhecimentos e princípios [...], com vistas em sua aplicação aos
casos ocorrentes”.
Desse modo, esse conjunto de princípios e leis penais, que estabelece ações e
omissões delitivas com a finalidade de ordenar o convívio social, bem como estabelecer
balizas ao poder punitivo do Estado, denomina-se Direito Penal.
2. A proteção de bens jurídicos
O Direito Penal tem como função principal a proteção de bens jurídicos
fundamentais ao indivíduo e à sociedade.
O conceito de bem jurídico surgiu no Iluminismo, o qual definia bem jurídico como
direito subjetivo do indivíduo. Porém, ao longo do tempo, tal conceito passou por
significativas mudanças, de modo que, atualmente, abrange os bens da coletividade.
Bitencourt (2009, p. 7), de forma clara e precisa, esclarece que “o bem jurídico
pode ser definido ‘como todo valor da vida humana protegido pelo Direito’[...]”.
Observa-se, assim, que os bens jurídicos são interesses e valores reconhecidos e
protegidos pelo Direito, uma vez que são imprescindíveis ao homem e à sociedade.
Todavia, nem todos os bens jurídicos gozam de proteção pelo Direito Penal. Por
isso, é necessário ter em vista que este ramo do Direito tutela os bens mais relevantes e
valiosos.
Nesse sentido, é a lição de Nucci:
Quando o ordenamento jurídico opta pela tutela de um
determinado bem, não necessariamente a proteção deve dar-se no
âmbito penal. A este, segundo o princípio da intervenção mínima,
são reservados os mais relevantes bens jurídicos, focando-se as
mais arriscadas condutas, que possam, efetivamente, gerar dano
ou perda ao bem tutelado. (NUCCI, 2011, p. 70)
Nesta acepção, Daniel Sarmento, citado por Ivan Luiz da Silva, dispõe:
[...] os princípios constitucionais desempenham também um
papel hermenêutico constitucional, configurando-se como genuínos
vetores exegéticos para a compreensão e aplicação das demais
normas constitucionais e infraconstitucionais. Neste sentido, os
princípios constitucionais representam o fio condutor da
hermenêutica jurídica, dirigindo o trabalho do intérprete em
consonância com os valores e interesses por eles abrigados.
(SILVA, 2011. p. 55)
E, por fim, como função supletiva, os princípios integram a ordem jurídica quando
constatada a ausência de norma reguladora do caso concreto.
4.4. Princípios Implícitos
Os princípios nem sempre estão dispostos de forma explícita no sistema jurídico,
ou seja, há princípios em estado de latência. Estes são chamados de princípios
implícitos.
O fundamento que legitima a existência de princípios implícitos está no fato de
que o Direito não se exaure na lei; e, por isso, há norma mesmo na ausência de texto
legal.
Os princípios implícitos são descobertos por meio da interpretação e
concretização das normas jurídicas pelo intérprete e aplicador do Direito.
Eros Grau, citado por Ivan Luiz da Silva, ao tratar do assunto, discorre:
Não se trata, portanto, de princípios que o aplicador do direito
ou intérprete possa regatar fora do ordenamento, em uma ordem
suprapositiva ou no Direito Natural. Insista-se: eles não são
descobertos em um ideal de ‘direito justo’ ou em uma ‘idéia de
direito’. Trata-se, pelo contrário – e nesse ponto desejo referir
explicitamente os princípios descobertos no seio de uma
Constituição – não de princípios declarados (porque anteriores a
ela) pela Constituição, mas sim de princípios que, embora nela não
expressamente enunciados, no seu bojo estão inseridos. (SILVA,
2011, p. 49 e 50)
A Constituição Federal de 1988, conforme entendimento majoritário da doutrina,
em seu artigo 5º, § 2º, reconhece expressamente a existência dos princípios implícitos,
nos seguintes termos:
Art. 5º
[...]
§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte.
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e Das Penas. 2ª ed. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 1997.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 26ª ed. São
Paulo: Malheiros, 2009.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 26ª ed. São Paulo: Editora
Atlas, 2010.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 7ª ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2011.
SILVA, Ivan Luiz da. Princípio da Insignificância no Direito Penal. 2ª ed. Curitiba:
Editora Juruá, 2011.
SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. 6ª ed. São Paulo:
Editora Malheiros, 2009.
Conforme a NBR 6023:2000 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em
periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: BARRETO, Rafaela Afonso. Os Princípios Jurídicos de Direito
Penal. Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 08 fev. 2018. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?
artigos&ver=2.590326>. Acesso em: 12 set. 2018.