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Resenha indicativa

2016
Resenha Temática
Resenha Crítica

Manual de Resenhas

Ms. Magna Campos


Manual de Resenhas

A RESENHA COMO UM GÊNERO ACADÊMICO1


Ms. Magna Campos

1. Sobre o gênero textual resenha:

Dentre os gêneros comuns de serem elaborados em um curso superior


(resumo, resenha, artigos e ensaios), a resenha figura como um dos mais
recorrentes em alguns cursos, especialmente, de graduação e de especialização.
Pertencente à categoria de gêneros apreciativo-avaliativos, os quais
avaliam as contribuições, os argumentos, o estilo e o posicionamento de dado texto
ou obra, esse gênero pode contribuir para desenvolver não apenas a escrita, mas
também a leitura crítica do estudante, uma vez que aprender a realizar uma resenha
é aprender a realizar a análise crítica de um texto, fundamentando-a em parâmetros
que extrapolem o senso comum ou a superficialidade do texto e adentrem as
discussões acadêmico-científicas de dada questão. Pois, de acordo com Motta-Roth
e Hendges (2010, p. 27)2, a resenha é “um gênero discursivo usado na academia 1
para avaliar – elogiar ou criticar – o resultado da produção intelectual em uma área
do conhecimento” nela o resenhador basicamente “descreve e avalia uma dada obra
a partir de um ponto de vista informado pelo conhecimento produzido anteriormente
sobre aquele tema. Seus comentários devem se conectar com área do saber em
que a obra foi produzida”.
O gênero textual resenha, de acordo com Alcoverde e Alcoverde (2007)3,
assim como muitos outros gêneros, possui suas especificidades e configurações.
Assim, o mero ensino da organização global de um gênero não é suficiente para
fazer com que o aprendiz chegue a uma produção adequada. Precisa-se, também,
levar em consideração qual o papel social e o propósito desse gênero. Afinal, como
ensina Bakhtin (2003)4, o domínio de um repertório de gêneros relevantes ao nosso

1
Texto adaptado dos livros: CAMPOS, Magna. Letramento acadêmico e argumentação: incursões
teóricas e práticas. Mariana: EA, 2015. 142p. ISBN: 978-85-918919-4-8 e CAMPOS, Magna. Manual
de gêneros acadêmicos: resenha, fichamento, memorial, resumo científico, relatório, projeto de
pesquisa, artigo científico/paper, normas da ABNT. Mariana: EA, 2012-2015. ISBN: 978-85-918919-1-
7.
2
MOTTA-ROTH, Désirée; HENDGES, Graciela. Produção textual na universidade. São Paulo:
Parábola, 2010.
3
ALCOVERDE, Maria Divanira; ALCOVERDE, Rossana Delmar. Produzindo gêneros textuais: a
resenha. Natal: UEPB/UFRN, 2007.
4
BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: ______. Estética da criação verbal. 4.ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 277-326.
Magna Campos

contexto social nos possibilita a participação nessa vida grupal de maneira mais
igualitária, espontânea e verdadeira.
Motta-Roth e Hendges (2010) contribuem, quando ensinam que a análise do
gênero textual resenha evidencia que resenhar um texto implica quatro ações:
apresentar, descrever, avaliar, (não) recomendar o livro. Essas ações tendem, em
geral, a aparecerem nesta ordem ou, dependendo do estilo do resenhador, a
descrição e a avaliação aparecem juntas: à medida que se descreve, avalia-se.
Nesta perspectiva, Campos (2012-2015) explica que a resenha consiste,
portanto, na apresentação sucinta do texto resenhado e de seu autor, no resumo, na
apreciação crítica do conteúdo e do estilo e na indicação de leitura, sendo
antecedida pela referência do texto resenhado. A resenha deve levar ao leitor
informações objetivas sobre o assunto de que trata a obra, destacando, assim, a
contribuição do autor no que tange à abordagem inovadora do tema ou problema,
aos novos conhecimentos, às novas teorias, às relações com os saberes de uma
determinada área do conhecimento, dentre outras possibilidades de avaliação
crítica, além de ser capaz indicar o “leitor virtual” mais adequado para a leitura da
obra, por isso o recomendar ou não sua leitura.
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2. Tipos de resenhas5:

O gênero textual resenha, conforme Campos (2012-2015), apresenta três


espécies distintas: a resenha indicativa ou descritiva, a resenha temática e a
resenha crítica.
A) A resenha indicativa é aquela encontrada em jornais e encartes de Dvds,
por exemplo, cuja função é fazer uma breve apresentação da obra (livro ou filme),
seguida de uma classificação do material, além de fazer uma indicação de público-
alvo (leitor virtual).
Apresenta comumente:
1. Resumo bem sintético;
2. Dados gerais da obra;
3. Apreciação.

Quadro 01: Exemplo de resenha indicativa de filme:


A MAÇÃ
O filme narra a história de duas irmãs gêmeas que ficaram aprisionadas em casa por onze
3
dos seus treze anos de vida. Vítimas da obediência extrema a um preceito do Alcorão que reza que
"meninas são como flores que, expostas ao sol, murchariam", foram libertadas após uma denúncia
feita pelos vizinhos e publicada nos jornais. Samira Makhmalbaf, uma menina de 18 anos, decide
filmar o processo de libertação e adaptação das irmãs à vida social. Este processo é marcado por
muitos desafios e descobertas do mundo externo como andar nas ruas, ir à feira, conviver com outras
crianças, tudo balizado por um novo prazer de viver. As cenas são fortes e comoventes, revelando a
descoberta da liberdade e da vida. Vale a pena!

FICHA TÉCNICA
Características: filme iraniano, colorido, legendado, com 86 minutos, produzido em 1998.
Direção: Samira Makhmalbaf
Gênero: drama
Distribuição em vídeo: Cult Filmes
Qualificação:

Fonte: portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Profa/cat_res.pdf

5
Na internet, há inúmeras confusões sobre o que é de fato uma resenha. Alguns sites inclusive
apontam o resumo crítico como sendo uma resenha, o que configura uma falha descritiva e
conteudística.
Magna Campos

B) A resenha temática trata de uma leitura apreciativa de um mesmo tema


em textos diferentes ou em diferentes autores. De acordo Köche, Boff e Pavani
(2009, p. 105)6 “a resenha temática consiste em um gênero textual que sintetiza
mais de um texto ou obra, em torno de um só assunto, estabelecendo relações entre
suas ideias”.

Geralmente esse tipo de resenha segue o seguinte ordenamento:


1. Título
2. Apresentação do tema
3. Resumo os textos ou dos posicionamentos
4. Apreciação/comparação/conclusão
5. Fontes bibliográficas.

Quadro 2: Exemplo de resenha temática:

Entre anima e corpo


Este trabalho refere-se a uma brevíssima comparação da visão de homem que perpassa a
Filosofia e as Ciências Naturais. Para isso, toma os conceitos de mecanicismo e como vértice
explicativo do homem, na dualidade, mente e alma, de René Descartes; passa pelo dualismo "mente
e comportamento”, de Skinner e o comportamento operante; indo até Richard Dawkins e o homem
funcional dotado de intenção biológica, imbuído e "destinado" a ser uma "maquina gênica".
É necessário para uma melhor compreensão voltarmos ao século XVII, no qual o filósofo
René Descartes confere ao homem uma parte no mundo puramente mecânica semelhante às
marionetes manipuladas por fios e cordas do teatro francês. O dualismo cartesiano aparta o homem
da besta-fera, quando lhe confere o que chama de "substância" (alma/mente).
Skinner formula a teoria do comportamento operante, já que o comportamento seria a base
explicativa da ação do homem sob o meio. Skinner entende que o comportamento do homem é produto
da relação deste com o meio e propõe que três seriam os determinantes da modelagem do
comportamento: a filogenia, ontogenia e a cultura. A alma ou mente é deixada de lado e, segundo essa
perspectiva, não poderia determinar nem influenciar no comportamento humano. Toda a explicação
influenciada pela metafísica ou que inferiria que a entidade "mente" influencia ou opera sobre o
somático é tida como mentalista ou uma explicação “fictícia", que não tem base, nem valor científico.
Dawkins resgata e o mecanicismo ingênuo de Descartes, e com a cientificidade da biologia
inverte o conceito do antropomorfismo e devolve ao homem o "status" de animal, desprovido de
característica ou ancestralidade divina. Como Skinner, deixa de lado o fator alma ou razão metafisica
para explicar o razão da existência e comportamento humano. Como zoólogo, Dawkins vincula a
existência humana a uma espécie de "padrão fixo de ação”, ou seja, a replicação gênica e
perpetuação da espécie (homo sapiens).
O pensamento mecanicista e pragmático de homem "máquina", dotado de estruturas ou
conjuntos orgânicos com uma funcionalidade previsível, não é uma corrente epistemológica nova,
mas, remete-nos a origem do pensamento racional e é anterior ao "positivismo" Comtiano.
Descartes entendia o homem como semelhante aos animais na forma e estrutura fisiológica.
Assim, a mecânica hidráulica de seu tempo servia-lhe de inspiração, e se houve um "erro" cometido
por Descartes, segundo Damásio (1996), é o de não ter alocado no encéfalo do homem o que ele
chamava de "substância" ou mente. Damásio, como neurologista, entende a tal "mente" intrínseca a
processos neuronais.

6
KÖCHE, Vanilda; BOFF, Odete; PAVANI, Cinara. Prática textual: atividades de leitura e escrita.
6.ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
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Skinner, seguindo a influência do behaviorismo de Watson quanto a necessidade da


cientificidade e operacionalização da psicologia, cria o behaviorismo radical que não nega sentimentos
ou emoções humanas, mas, procura entende-los como uma forma de comportamento possível de
análise.
Assim, a filosofia do comportamento entende o homem como sendo determinado pelas
contingências ambientais. Skinner cria uma psicologia empirista e pragmatica, deixando para o senso
comum conceitos como alma, mente ou espírito. Para ele, o homem é influenciado pelo ambiente e
difere-se da marionete pensada por Descartes, por esse não ser um autômato. Segundo Skinner, o
homem modifica e interage com o meio, e por este é transformado. Ou seja, não é passivo, atua e é
modificado, transformado, vive uma relação dinâmica com o meio, que modela seu comportamento
cria novas contingências tornando-o mais adaptado à sobrevivência no meio.
Dawkins, como cientista da biologia, influencia a discussão quanto ao comportamento, pois
parece concordar com a ideia de que processos neurais e comportamentais enquadram-se em modelos
computacionais. O homem seria uma “máquina”, um organismo dotado de racionalidade, porém,
puramente biológico, livre de influências externas de caráter divino como mente ou espírito. Dawkins é
mais radical que Skinner e propõe que os experimentos com animais podem ser realizados de forma
simulada em um ambiente totalmente controlado.
Pode-se depreender, portanto, que a ideia dos dois últimos autores difere bastante da ideia
de Descartes. Skinner e Dawkins, mesmo entendendo a singularidade do homem e respeitando-a,
apresenta fortes argumentos de que o "animal" homem é multideterminado em seu comportamento,
mas nao é superior, ou melhor, que um animal infra-humano (ratos e pombos). Já Descartes, introduz
a ideia de que o homem seria uma máquina que pensa, os seus músculos são comandados pelo
cérebro através do sistema nervoso, além de figurar um dualismo: o corpo capaz de movimento
resultante do engenho divino e um corpo autómato capaz de movimento resultante do engenho
humano.

Referências bibliográficas:
DAWKINS, R. O gene egoísta. São Paulo: EDUSP. 1979.
DAMÁSIO, A. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das
5
Letras. 1996.
DESCARTES, R.. Discurso do método. São Paulo, SP: Editora Escala, 2006
SKINNER, B. F. Ciência e comportamento humano. 8. Ed. São Paulo: Martins Fontes. 1993.
Fonte: Texto reescrito e adaptado a partir do texto de Hilton Caio Vieira. Disponível em:
http://pt.scribd.com/doc/61000137/Resenha-Tematica-Hilton-Caio-Vieira.
Magna Campos

C) A resenha crítica, por sua vez, é a espécie de resenha mais comum no


meio acadêmico, e se inicia pela referência bibliográfica do texto resenhado,
apresenta o autor e a obra, resume as principais ideias do texto, apresenta uma
apreciação crítica tanto de aspectos formais quando conteudísticos desse mesmo
texto e ainda faz a recomendação ou não de quem deve lê-lo. Não raro, as resenhas
trazem também, em sua construção, material extratexto, ou seja, outros
posicionamentos ou posicionamentos que corroboram a perspectiva do autor
resenhado, como forma de expansão da análise e comparação de ideias. Neste
caso, o material extratexto deve ser mencionado nas referências bibliográficas
posteriores ao texto, uma vez que a referência que abre a resenha é a de
apresentação técnica apenas do texto resenhado.
Em Campos (2012-2015), aproveitando-se os ensinamentos da sociorretórica,
especialmente o modelo CARS7 de Swales (1990) e a adaptação proposta por
Motta-Roth (2010), apresenta-se um esquema potencial deste gênero (apresentar,
descrever, avaliar, (não) recomendar o texto), elaborado pela autora deste capítulo e
empregado nas disciplinas em que ensina aos estudantes a elaborarem a resenha
crítica.
Dessa forma, é possível entender que elaborar uma resenha crítica implica
construir de modo persuasivo cada um dos estágios, movimento-ação, a fim
trabalharem para levar o leitor a validar ou não a apreciação/avaliação realizada,
além de evidenciar o resenhador como membro capaz de avaliar criticamente um
texto, de forma plausível, consistente e coerentemente.
Em cursos de graduação, a resenha é solicitada tanto como uma atividade de
leitura quanto de escrita, e recai mais sobre a apreciação de capítulos de livros e de
artigos científicos, não sendo muito comum, pelos menos nos períodos iniciais,
resenhar-se um livro teórico inteiro. Todavia, no caso de textos literários, mesmo na
graduação, é comum solicitar-se a resenha do livro inteiro.

(Ver esquema completo na próxima página)

7
Create a Research Space. Modelo de organização retórica de um gênero textual.
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QUADRO 3: ESQUEMA DETALHADO DO GÊNERO TEXTUAL RESENHA CRÍTICA


(passo a passo)8

Movimento 1 REFERENCIANDO O LIVRO


Passo 1 Nome do organizador e dos autores.
Passo 2 Título completo e exato da obra: subtítulo.
Passo 3 Número da edição. Lugar da publicação:
Passo 4 Nome da Editora.
Passo 5 Data da publicação. Número de páginas
(todos dentro das normas da NBR 6023 para referências bibliográficas)

Movimento 2 APRESENTANDO O LIVRO


Passo 6 Informando sobre o autor/a / suas credenciais acadêmicas
Passo 7 Falando sobre a obra / Definindo o tópico geral do livro

Movimento 3 ESQUEMATIZANDO O LIVRO/ RESUMO


Passo 8 Delineando a organização geral do livro: capítulos, seções, tópicos etc.
Passo 9 Resumindo cada capítulo ou subdivisão: o que trata e/ou porque trata
e/ou como trata e/ou para que trata. (ou resumo geral) 7
Passo 10(opcional) Citando material extratexto: material de apoio, outro(s) autor(es) que
confirma(m) ou contrapõe(m) posicionamentos

Movimento 4 AVALIANDO O LIVRO/POSICIONAMENTO


Passo 11 Avaliando estrutura formal do texto: linguagem, organização, exemplos,
informatividade
Passo 12 Avaliando a parte conteudística do texto e discutindo o assunto: o
assunto, a abordagem, argumentos, o que o diferencia ou o aproxima de
outros autores, posicionamento, relação do texto com uma disciplina,
com acontecimentos do mundo (realidade sócio-histórica ou
sociocultural)...
Passo 15(opcional) Avaliando partes específicas
Movimento 5 FORNECENDO AVALIAÇÃO FINAL DO LIVRO/REFERÊNCIAS
Passo 16 Recomendando a leitura do texto
Passo 17 Bibliografia de apoio utilizada (se foi usado algo além do texto
resenhado).
Fonte: CAMPOS, Magna. Manual de gêneros acadêmicos. Mariana: Edição do autor, [2012]-2015.

8
Não se separam as seções da resenha por tópicos, texto elaborado com sequência de parágrafos
normais.
Magna Campos

Exemplo de resenha crítica com indicação das partes-movimentos (formatação


padrão)
Movimento
1:
referência
SANTIN, Janaína Rigo. O Município no Constitucionalismo Brasileiro e o tratamento
bibliográfica histórico do poder local. São Paulo, Revista Lex, n. 23, abr./ 2006.
do texto
resenhado.
Janaína Rigo Santin é Doutora em Direito das Relações Sociais, pela
Universidade Federal do Paraná, Mestre em Instituições Jurídico-políticas, pela
Universidade de Santa Catarina, professora do Curso de Direito e do Programa de
Movimento 2: Mestrado em Historia da Universidade de Passo Fundo e Advogada.
credenciais
da autora e O artigo apresentado por Santin, no II Congresso Sul-Americano de História,
apresentação
da obra
na cidade de Passo Fundo no ano de 2005, traz à memória a formação do poder
local no Brasil, perseguindo a influência e a condução de políticas públicas desse
poder sobre a sociedade civil. A autora ressalta os períodos dos governos nacionais
e a projeção de limites dados aos municípios a cada época, relacionando ainda em
seu texto a participação civil e o conceito de democracia para os dias atuais. O
objetivo dessa obra é fazer com que a sociedade organizada reflita sobre as
influências no processo de formação do Estado brasileiro.
Na primeira parte do artigo, a autora contextualiza a formação do município
no Brasil, estabelecendo uma ligação do modelo atual com as épocas da colônia, do
império e das constituições de 1824, 1891, 1934, 1946 e 1967, dada ao
ordenamento jurídico português. Nessa parte, a autora versa ainda sobre a
autonomia municipalista mostrando que no período colonial a autonomia foi mais
abrangente que no período imperial.

Movimento 3: Santin descreve que, ao longo do tempo, com sucessivas formas de governo
resumo
informativo e no constitucionalismo brasileiro, acontece novas restrições de autonomia
do texto
municipalista. Mesmo com a implantação de autonomia de direito, de fato acontece
o contrário, pois os sucessivos golpes militares restringiram o poder político
administrativo e financeiro dos municípios, impondo intervenções de governabilidade
de todos eles.
Na segunda parte do artigo, menciona sobre as práticas influenciadoras que
caracterizaram a formação do poder local no Brasil, estendendo-as ao poder central
e a perpetuação ainda vista nos dias de hoje. A pesquisadora destaca o clientelismo
e o personalismo como sendo o principal comprometedor das políticas públicas em
prol do cidadão. Essas práticas herdadas do império português se alastraram como
Manual de Resenhas

um câncer nas relações políticas entre coronéis, poder central e cidadão. Os


recursos liberados eram para atender, como forma de agradecimento, aos favores
dos coronéis que garantiam governabilidade ao poder central com imposição por
força e temor aos eleitores.
São destacadas nessa parte do texto as práticas coronelistas representados
na pessoa dos proprietários de terra e dos detentores do poder econômico local.
Continuação Segundo a autora, esses homens eram dominadores pelo carisma, pelo medo e pelo
do
Movimento conhecimento técnico-intelectual, além do econômico. Esse período que antecede a
3
constituição cidadã de 1988, conforme Santin, é marcado por uma forte atuação do
fenômeno político social chamado de coronelismo. O poder é muito maior quando a
localidade ou um município é mais distante dos centros urbanos. O contato dos
cidadãos com os políticos se dava em época de eleição, quando ocorriam as trocas
de favores “personalismo e clientelismo”.
Na última parte do texto, a doutora define poder local como paradigma de
legitimação do poder político e da nova democracia em que difere do “demos” do
passado no qual o povo exercia a soberania (Grécia antiga). Hoje justificada numa 9
visão liberal e individualista de representatividade. A autora encerra narrando o
poder local como alternativa para criar novas formas de representação tradicional,
em que os cidadãos de forma organizada possam participar do processo político
ativamente na sua comunidade local.
Movimento
4: crítica à O texto apresentado por Santin é conciso, possui uma linguagem de fácil
parte
formal do entendimento, pois adota o critério de divisão cronológica, o que facilita o
texto
acompanhamento da perspectiva apresentada. Além disso, os fatos descritos no
texto demonstram que ainda hoje se convive com as práticas de nepotismo, de
personalismo e clientelismo embutidos nas administrações locais.
A abordagem de Santin sobre o poder local serve ao debate sobre o
Movimento
4: crítica nepotismo, não somente na esfera do agora, mas, principalmente, na observação de
ao
conteúdo ser este um traço tristemente arraigado em nossa história política. Elemento que
do texto
pode ser exemplificado, segundo os casos mencionados pela autora e que
encontram reverberação nos noticiários atuais, como a manchete a seguir: “PF
investigará denúncia por compra de votos na Bahia” (FOLHA DE S. PAULO, p. 8, 15
jul. 2014).
Em uma realidade atual, em que a corrupção e a descrença política são
notórias, haja vista o grande número de denúncias de políticos envolvidos com
Magna Campos

lavagens de dinheiro, recebimentos de propina, desvios de verbas públicas tanto no


âmbito municipal, quanto estadual e federal, o texto da autora e seus argumentos
fortemente desenvolvido servem para evidenciar também, além da formação do
Movimento
4: crítica
ao
poder público e político municipal, que o Brasil convive com política de favores e de
conteúdo
do texto apropriação indevida de dinheiro público há mais tempo que muitos supunham.
continuação
Ainda, uma grande contribuição da autora é na articulação dos estudos de
poder local e de suas relações com o Estado nacional no Brasil, definido claramente
e exemplificando conceitos básicos como mandonismo, coronelismo, clientelismo,
patrimonialismo.
Movimento Dada a importante retomada histórica para evidenciar as raízes do
5:
Indicação “nepotismo” na política brasileira, no âmbito do poder local, o texto pode ser muito
de leitura
e útil aos leitores mais preocupados com as questões políticas em geral, pois
referência
de outros
textos
apadrinhamento é algo que se tornou um “desvirtuoso” traço cultural em nossa
usados.
sociedade e precisa ser entendido para que possa ser combatido.

Referência Bibliográfica:
PF investigará denúncia por compra de votos na Bahia. Folha de São, p. 8, 15 jul.
2014.
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Quadro 4: Exemplo 2 de resenha crítica

PEREIRA, Maurício Gomes. Artigos científicos: como redigir, publicar e avaliar. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2014.

O autor, Dr. Mauricio Gomes Pereira, é médico com especialização em pediatria e em saúde
pública e professor titular da Universidade de Brasília. Tem vários livros publicados, entre eles
Epidemiologia: teoria e prática, e vasta experiência na área de metodologia científica e de
epidemiologia. O livro Artigos Científicos: como redigir, publicar e avaliar torna maior sua contribuição
para o ensino e a pesquisa no Brasil, foi lançado recentemente pela Editora Guanabara Koogan. Com
o objetivo de orientar os potenciais autores sobre como vencer as muitas barreiras na elaboração e
publicação de artigos científicos, o livro aborda cada uma das etapas desse processo em 24
capítulos.
Os três primeiros capítulos tratam dos aspectos da preparação do trabalho. O primeiro
capítulo, Pesquisa e Comunicação Cientifica, versa sobre a necessidade de divulgação dos
resultados das pesquisas como forma de finalização da mesma. Aborda, de modo geral, a evolução
da comunicação cientifica nas ciências da saúde, menciona os periódicos de acesso livre e a situação
atual de elevada competição para publicar .
No segundo capítulo, Canais de Comunicação Cientifica, o autor descreve os tipos de
periódicos, os tipos de artigos, as formas de publicação e as normas que as regem.
Do terceiro ao décimo quinto capítulo é apresentada cada parte da estrutura de um trabalho
cientifico, começando pelo planejamento, abordando a estrutura, redação e revisão do texto, a
introdução, o método, os resultados, a discussão, as referências bibliográficas, o título, a autoria, o
resumo, as palavras-chave, a escolha do periódico e um capítulo com temas para a complementação
do artigo (capítulo 15).
Somam-se a esse conjunto de capítulos, que orientam a elaboração de cada seção do artigo
cientifico, outros três capítulos que exploram a Estatística (capítulo 18), a Preparação de Tabelas
(capítulo 19) e a Preparação de Figuras (capítulo 20). 11
O leitor irá encontrar também capítulos sobre a Submissão do Artigo para a Publicação, sobre
a Avaliação de artigo Cientifico e sobre Ética (capítulo 21).
Os três últimos capítulos do livro versam sobre temas auxiliares, enfocando a motivação para
divulgar os resultados de uma pesquisa e os recursos para publicá-los. O capítulo 22 , Vale a pena
publicar Artigo Científico?, lista os motivos pelos quais esta prática é cada vez mais importante e
competitiva assim como os auxílios disponíveis para uma escrita de qualidade. O capitulo seguinte,
Como ter Artigo aprovado para Publicação, aponta as particularidades dos textos recusados, como
falta de relevância do tema, pouca originalidade, os erros mais comuns de redação, entre outros
aspectos que devem ser evitados para que um trabalho seja aprovado para publicação.
O livro termina com Síntese das Sugestões sobre Redação Científica, onde são agregadas as
informações que resumem os demais capítulos do livro.
Os capítulos são estruturados em itens, apresentados com texto curto e com um ou mais
exemplos, quando pertinente. A estrutura do texto obedece a lógica de apresentação de cada tópico,
do geral ao especifico, havendo dois itens comuns a todos os capítulos, o item Sugestões e outro
com Comentário final.
Os temas são apresentados com uma linguagem clara e direta. Além disso, vários recursos
utilizados pelo autor facilitam a leitura, como a inclusão de exemplos e o resumo do conteúdo de cada
capítulo, apresentado em tabela, fazendo referência à seção onde cada tema aparece.
O leitor pode esperar instruções sobre cada etapa do processo de elaboração de um texto
científico para publicação, com a exposição de cada detalhe envolvido e dicas sobre o que deve ser
considerado para se obter um resultado apropriado.
Além disso, aspectos importantes relacionados ao encaminhamento e à publicação do artigo
são abordados na obra. Entre esses, como preparar uma carta ao editor, como lidar com o processo
de revisão, e como proceder para avaliar um artigo cientifico.
A inclusão de um capítulo sobre estatística, assim como sobre a preparação de tabelas e
figuras reflete a abrangência da obra. Nota-se, em toda a obra, uma abordagem além do que seria
esperado para os temas propostos.
O autor não se limita a identificar o conteúdo básico de cada item de um artigo cientifico e a
explorar formas de preparar cada parte do trabalho, oferecendo ao leitor a chance de rever cada
tópico da preparação do estudo. Por exemplo, o capítulo de Método aborda detalhes de cada um dos
seus itens como tipos de estudo, características da amostra, classificação das variáveis, erros a
Magna Campos

serem evitados, entre outros. No capítulo Resultados, somado à seqüência de apresentação dos
dados, o autor também descreve as formas estatísticas para apresentar o efeito encontrado no
estudo.
No capítulo sobre Complementação do Artigo o leitor encontrará instruções sobre as revisões
para o aprimoramento do artigo, os erros e os vícios de linguagem a serem evitados, normas para o
uso de siglas e de citação de números no texto, tempos verbais a serem usados em cada parte do
artigo, entre outros aspectos necessários a uma redação correta.
A abrangência do conteúdo torna inevitável algumas repetições, até porque alguns temas
apresentados se sobrepõem.
Ainda que o foco seja a redação de artigo cientifico, é evidente a quantidade de informação
teórica sobre pesquisa epidemiológica disponibilizada. O livro não se limita a propor normas de
redação, como uma receita do que deve conter a introdução, a parte de métodos ou as demais partes
do artigo, mas inclui um conteúdo teórico sobre temas relacionados a cada tópico. Desta forma, o
livro pode ser útil para aqueles que querem um roteiro ou orientação para aprimorar seus manuscritos
científicos e que têm dúvidas específicas, mas também para os iniciantes, que se beneficiarão ao ler
um texto mais extenso, com um teor maior de informação sobre cada aspecto envolvido na produção
cientifica.
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-790X2012000200021. Acesso
em: 19 out. 2015.

Quadro 5: Exemplo 3 de resenha crítica

BAUMAN, Zygmunt. Tempos Líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, 119p.

Respeitado sociólogo da atualidade, Zygmund Bauman é professor emérito de sociologia


das universidades de Leeds e Varsóvia, e autor de diversas obras publicadas como,
Modernidade e Ambivalência, Modernidade Líquida e Medo Líquido, Amor Líquido: sobre a
fragilidade dos laços humanos. Em Tempos Líquidos, o autor atesta a ambivalência, a incerteza
e o medo contemporâneos, seus usos e funções na dinâmica social do mundo “líquido-
moderno”, que promovem a existência de transformações profundas e sem precedentes na
sociedade, com implicações diretas na vida dos indivíduos e na ordem societal. Para conseguir
expor seu pensamento, Bauman divide o texto de seu livro em 5 capítulos: 1) A vida Líquido-
Moderna e Seus Medos; 2) A Humanidade em Movimento; 3) Estado, Democracia e a
Administração dos Medos; 4) Fora de Alcance Juntos e 5) A utopia na era da incerteza.
No primeiro, dos cinco capítulos que compõe a obra, intitulado A vida Líquido-Moderna e
Seus Medos, Bauman retoma a sabedoria dos antigos que associa a paz à justiça para
caracterizar, pela ausência desses valores e a perda dessa associação nos tempos atuais, as
raízes morais dos males que nos assolam no presente tempo, sintetizados pelo medo, pela
insegurança e pela completa falta de controle e previsibilidade quanto a esta realidade e, mais
especificamente, quanto à superação dos problemas decorrentes, nesse sentido.
Coloca na base desse contexto o que ele denominou de “globalização negativa”, definida
por um tipo de “sociedade aberta”, em que tudo o que acontece nos mais longínquos espaços
não escapa ao nosso conhecimento, nem deixa de atingir diretamente a vida social e individual.
O negativo da globalização está mais especificamente no caráter seletivo do comércio e do
capital, da vigilância e da informação, da violência e das armas, do crime e do terrorismo, em
proporções que ultrapassam as fronteiras territoriais, atingindo as esferas da vida privada de
todos os indivíduos, indistintamente.
O autor conferirá maior ênfase num contexto histórico em que as bases sociais que
outrora legitimaram o Estado-nação, sobretudo na forma do estado de bem-estar social, foram
solapadas com a globalização. Assim, vivemos a fabricação de um discurso em prol da
segurança que servirá a uma nova forma de legitimação política. O medo e a consequente
obsessão por segurança se transformam num fator motriz da vida humana social e, sobretudo,
individual, adentrando todas as dimensões da esfera da privacidade – a saúde, a segurança
pessoal contra a criminalidade, as relações inter-pessoais, a segurança previdenciária, etc – ,
sendo sustentados de forma midiática e imagética por meio dos mass media em proporções
internacionais, de forma que o problema do terrorismo e da criminalidade nos mais longínquos
cantos do mundo se tornam matéria de interesse a indivíduos em qualquer parte do mundo.
Manual de Resenhas

Nesse sentido, o autor cunha as expressões “capital do medo”, “círculo vicioso do medo”,
“fantasma do medo” para caracterizar o estado obsessivo em que nos encontramos,
consequência de uma intencionalidade política que não se legitima mais pelos padrões sociais
do estado de bem-estar social, agora substituído pelo discurso em torno do “Estado da proteção
pessoal”, assentado no sentimento do medo.
No segundo capítulo, intitulado A Humanidade em Movimento, Bauman explicita uma das
faces mais perversas do discurso em torno da segurança – a que tem a ver com a condição
social dos refugiados e imigrantes. Partindo do que a filósofa Rosa Luxemburgo havia previsto
acerca da característica de o capitalismo se nutrir de ambientes não-capitalistas, o autor
debruça-se sobre o que ele considerará o “lixo humano” produzido pelo capitalismo global
contemporâneo.
Bauman se refere a um enorme contingente humano de imigrantes refugiados, oriundo,
sobretudo, de contextos bélicos e de dissidências étnicas e políticas que acabam sendo
expulsos e indo parar em outros países, mas ficando confinados em “campos de refugiados” que
lhe servem de “abrigo”. Os refugiados, no entanto, não mais têm caminho de volta ou qualquer
tipo de reintegração social (quer nos seus países de origem, onde deixaram tudo que possuíam,
quer nos países onde se encontram agora), cumprindo os “campos de refugiados” o papel
implícito de manterem-nos afastados, excluídos, haja vista não serem mais reintegrados à esfera
econômica e, consequentemente, sociocultural, já que tais vítimas da globalização crescem
muito mais rapidamente do que a própria capacidade de a produção econômica é capaz de
absorvê-los. Conforme argumenta Bauman, os refugiados são a própria encarnação do “lixo
humano”, sem função útil a desempenhar na terra em que chegam onde permanecerão
temporariamente, e sem a intenção ou esperança realista de serem assimilados e incluídos no
novo corpo social (BAUMAN, 2007, p 47)
O autor destaca ainda dois pontos que corroboram para a análise que empreende acerca

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dos refugiados. A primeira delas diz respeito às próprias políticas implementadas pelos poderes
públicos dos principais Estados, a maioria destes, centrais do capitalismo, que atuam no sentido
de reduzir e dificultar a entrada de imigrantes, integrando a isso as ações de deportação. A
segunda, concernente à ajuda humanitária que contraditoriamente acaba, sob certas
circunstâncias, por corroborar com tais políticas. O autor conclui sua análise da condição em que
se encontram os imigrantes refugiados definindo-a como de um movimento para lugar nenhum,
ou “de via única” já que perderam sua pátria de origem e não foram integrados a nenhuma outra.
A ausência de uma identidade que os localize em algum lugar resume essa condição de
“permanentemente temporária”, não sendo nem sedentários, nem nômades, “suspenso num
vácuo espacial em que o tempo foi interrompido”; lixo humano, porém sem direito nem à
reciclagem.
No terceiro capítulo, intitulado Estado, Democracia e a Administração dos Medos,
Bauman explicita as origens e características da insegurança e medo na sociedade
contemporânea, mais especificamente, na segunda fase da modernidade, no contexto das
transformações históricas, no que pesa o papel do Estado e o da democracia. Nesse sentido,
distingue três fases históricas, assim enumeradas: fase pré-moderna, caracterizada por
vínculos sociais estabelecidos e duradouros, na qual prevaleciam a comunidade e as
corporações; primeira fase da modernidade, com a sobrevalorização do indivíduo, sob os
auspícios do Estado, com um aparato institucional que lhe asseguraria direitos políticos – à qual
o autor se refere como “fase sólida da modernidade”, e que se caracterizava pelo pacto entre o
direito político e o direito pessoal como forma de proteção social contra os medos decorrentes
das vicissitudes e arbitrariedades reais da época pré-moderna; e fase líquida da modernidade,
que coincide com o momento que vivemos hoje, caracterizada sobretudo pela desintegração dos
vínculos estabelecidos na primeira fase da modernidade, uma vez que não bastou a associação
entre os direitos políticos e pessoais para que a democracia deixasse de ser restritiva, limitada
somente a uma classe minoritária de ricos, como forma de proteção.
É a essa terceira fase que o autor se dedicará mais especificamente, assim como em
toda a obra, para caracterizar os medos e as incertezas que atingem a numerosa classe dos
excluídos sociais, desencaixada em relação tanto às formas de “solidariedade natural”, que
caracterizou a fase pré-moderna, quanto à “solidariedade legal”, sob os auspícios do Estado, no
início da fase moderna e mais ainda no atual momento histórico, em função da crise de
administração e planejamento que atravessa o próprio Estado, sob os efeitos da globalização.
Magna Campos

No quarto capítulo, intitulado Fora de Alcance Juntos, o autor desenvolverá a relação


entre cidade, insegurança e medo, iniciando pela transformação que a cidade sofrera de um
primeiro sentido, associado à segurança, ao sentido contrário que se tem hoje, como lugar de
medo e insegurança. As construções de muralhas e fossos separando as antigas cidades de seu
entorno sinalizavam a proteção que seus habitantes sentiam contra o que lhe era externo,
representação do perigo. Mas contemporaneamente as grandes cidades, moldadas pela
“estética da segurança”, retrata uma crescente polarização e uma distância cada vez maior
entre os mundos das duas categorias em que se dividem os habitantes: “o espaço da camada
superior geralmente está conectado à comunicação global e a uma vasta rede de intercâmbio,
aberta a mensagens e experiências que envolvem o mundo inteiro. Na outra extremidade do
espectro, redes locais segmentadas, frequentemente de base étnica, recorrem a sua identidade
como o recurso mais valioso para defender seus interesses e, em última instância, sua
existência.
Desta forma, as pessoas da “camada superior” não pertencem ao lugar que habitam,
pois suas preocupações estão em outro lugar. Segundo Bauman, além de ficarem sozinhas, e
portanto, livres para se dedicarem totalmente a seus passatempos, e terem os serviços
indispensáveis a seu conforto diário assegurados, elas não têm outros interesses investidos na
cidade em que se localizam suas residências.
Por outro lado, o mundo em que vive a outra camada de moradores da cidade, a camada
“inferior”, é o exato oposto da primeira. Os cidadãos urbanos da camada inferior são
“condenados a permanecer locais”. Para eles, é dentro da cidade que habitam que a batalha
pela sobrevivência, e por um lugar decente no mundo, é lançado, travada e, por vezes, vencida,
mas na maioria das vezes perdida. Conforme suas próprias palavras, “nossas cidades se
transformam rapidamente de abrigos contra o perigo em principal fonte desse mesmo perigo”
(p.84).
No último capítulo intitulado A Utopia na Era da Incerteza, são feitas algumas
considerações acerca dos projetos humanos, da felicidade, das frustrações e realizações, dos
esforços e empreendimentos, dentre outros pontos no sentido de lançar bases para a
convivência social numa época de incertezas e medo. Viver em um mundo incerto com a
esperança de dias mais equilibrados é necessário para o progresso. Bauman revisita nesse
capítulo, a afirmação de Anatole France para quem “sem as utopias de outras épocas, os
homens ainda viveriam em cavernas, miseráveis e nus. Foram os utopistas que traçaram as
linhas da primeira cidade[…]” (apud BAUMAN, 2007, p.98).
Para nascer, o sonho dos utopistas necessitava de duas condições. Primeiro, um
sentimento irresistível de que o mundo não estava funcionando de maneira adequada e de que
era improvável consertá-lo sem uma revisão completa. Segundo, a confiança na capacidade
humana de realizar essa tarefa, a crença de que “nós, humanos, podemos fazê-lo”, armados
como estamos da razão capaz de verificar o que está errado no mundo e descobrir o que usar
para substituir suas partes doentes, assim como da capacidade de construir as armas e
ferramentas necessárias para enxertar esses projetos na realidade humana.
Neste sentido, o autor apresenta três metáforas, diferentes entre si, mais relacionadas ao
modo de interagir com o mundo vivido. A primeira diz respeito ao guarda-caça, que tem por
princípio defender a terra sob sua guarda contra toda interferência humana, a fim de proteger e
preservar. A segunda é a do jardineiro, o qual presume que não haveria nenhuma espécie de
ordem no mundo, não fosse por sua atenção e esforços constantes. Essas duas metáforas
tipificam a autoridade investida aos Estados-Nações. A terceira metáfora é a do caçador, o qual
não dá a menor importância ao “equilíbrio” geral “das coisas”, seja ele “natural” ou planejado e
maquinado. A única tarefa que os caçadores buscam é outra “matança”, suficientemente grande
para encherem totalmente suas bolsas. Esses são produtos da globalização e do
enfraquecimento do Estado-Nação. Contudo, nem todos podem tornar-se caçadores.
Em Tempos Líquidos, todos os capítulos contribuem progressivamente para que
entendamos a tese defendida por Bauman de que as transformações que vêm ocorrendo na era
contemporânea estão promovendo mudanças e consequências em nível planetário. Em um
mundo globalizado, a sociedade não é mais protegida pelo Estado, ou pelo menos é pouco
provável que confie na proteção oferecida por este, fenômeno que provoca cada vez mais a
sensação de insegurança. E é sob o fio condutor do tema, insegurança, que Bauman une todos
os capítulos, escritos numa linguagem acessível e sem muitos rodeios teóricos.
Manual de Resenhas

No entanto, para o maior aproveitamento das questões tratadas neste livro, é importante
a leitura de outro livro do mesmo autor, no qual Bauman lança as bases de suas teorias dos “era
dos líquidos”, trata-se do livro Modernidade Líquida. Muitas questões em Tempos Líquidos
podem ser mais bem entendidas quando subsidiadas pelas postulações daquele livro. A falta de
leitura desse livro anterior pode incorrer em falhas ou vazios no entendimento e interpretação
das proposições de Bauman (2007).
As provocações de Bauman, no livro aqui resenhado, no que tange a sensação de
insegurança, podem ser consideradas pertinentes se pensarmos, por exemplo, no acirramento
da segmentação social que pode ser observada pelo aumento vertiginoso dos condomínios
fechados, como os existentes na Barra da Tijuca – RJ, Região dos Lagos – RJ, São Paulo – SP,
Alphaville – BH (MG) e em outras grandes cidades brasileiras que sofrem pelo aumento dos
índices de violência contra a vida e ao patrimônio. Pois, como afirma Bauman, qualquer um que
tenha condições adquire uma residência num “condomínio”, planejado para ser uma habitação
isolada, fisicamente dentro da cidade, mas social e espiritualmente fora dela. O traço mais
proeminente do condomínio é seu “isolamento e distância da cidade […] isolamento que
significa a separação daqueles considerados socialmente inferiores. As cercas têm dois lados
[…] Elas dividem em “dentro” e “fora” um espaço que seria uniforme” (p. 79).
Ainda, poderíamos verificar que essa sensação global de insegurança não está
relacionada apenas à questão criminal, mas também a questão da insegurança em termos de
saúde, fato que pode ser observado no caso dos surtos de gripes pandêmicas que provocam
“pânico” mundial.
Esses pequenos exemplos, mostra-nos a pertinência teórica das proposições de Bauman
e o seu valor explicativo não só para as ciências sociais, mas para as ciências contemporâneas
de uma forma geral, pois nos incita à reflexão sobre o mundo em que vivemos de uma forma
mais crítica e menos casual, possibilitando-nos um melhor entendimento das formas como se

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dão as relações sociais.
Por isso, esse livro se torna uma leitura importante para todos aqueles que queiram
entender mais criticamente a realidade em que vivemos e, especialmente, para os que estão
estudando na área das ciências sociais, uma vez que suas proposições apresentam grande
poder explicativo.

3. Considerações finais:

Cada espécie do gênero textual resenha implica, como pode ser observado
nos processos descritos anteriormente, aprendizado que envolve propósitos
comunicativos e movimentos retóricos específicos, além de diferentes tipos de
conhecimentos. Sendo assim, o ensino deve levar em consideração tais
especificidades, uma vez que o ensino da produção textual não pode ser o mesmo
para todo e qualquer espécie e gênero a ser estudado.

ATENÇÃO:

Na avaliação da resenha crítica, além da qualidade da escrita acadêmica


empregada, é indicado que se atribua mais peso, sempre que possível:

1° - a qualidade da crítica desenvolvida (forma e conteúdo);


Magna Campos

2° - a qualidade do resumo (bem sintético, mas representativo do conteúdo


principal);
3° - a qualidade das credenciais (apresentação do autor) e da apresentação
do texto;
4° a qualidade da indicação de leitura e a percepção crítica de pessoas a
serem beneficiadas pela leitura do texto resenhado;
5° - a correção da referência bibliográfica e da formatação do texto.

FORMATAÇÃO DA RESENHA ACADÊMICA DIGITADA

Cabeçalho com: nome da faculdade, disciplina, professor, aluno(s) e data


Fonte: Arial
Tamanho da fonte: 12 (salvo nas citações longas e legendas, nestes casos, usar
fonte arial 10, texto justificado).
Alinhamento do texto: justificado
Espacejamento entre linhas: 1,5 (salvo nas citações longas e notas de rodapé,
espaço simples)
Margens: esquerda e superior – 3 cm / direita e inferior – 2 cm
Separação entre as seções do trabalho: um enter entre o cabeçalho e a
referência bibliográfica inicial, e entre essa referência e o corpo do texto da resenha.

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