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Universidade Federal de São Carlos

Centro de Educação e Ciências Humanas – CECH

Programa de Pós-Graduação Ciência Tecnologia e Sociedade – PPGCTS

Título do Projeto de Pesquisa:


ANÁLISE DO IMPACTO DA PIRATARIA NO FAZER CIENTÍFICO

Código do Projeto

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Mestrado

Linha de Pesquisa
1 – Dimensões Sociais da Ciência e Tecnologia

Orientador sugerido (opcional)


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São Carlos / 2018

1
RESUMO

A prática científica, enquanto atividade coletiva, tem na comunicação a sua força


motriz. Revistas científicas surgem como meio mais eficaz de difundir informação e
fazer com que os atores do campo científico dialoguem, possibilitando assim que a
Ciência avance. Nesta pesquisa buscarei analisar o efeito que a pirataria de artigos
científicos causa no fazer científico e na fruição da ciência. Diante de um novo modelo
de divulgação e comunicação científicas, onde a internet consiste na principal
ferramenta de pesquisa, o monopólio sobre um produto da ciência como um artigo
científico se torna cada vez mais difícil. Ainda assim, as grandes editoras lutam pela
propriedade sobre as pesquisas publicadas em suas revistas. Neste cenário, surgem
mecanismos alternativos que buscam eliminar por completo as barreiras da
comunicação científica e acesso à informação. No processo de produção e
legitimação de um fato científico um mesmo conhecimento passa por diferentes
ambientes - laboratórios - editoras - centros de ensino - empresas -, sendo todos estes
locais essenciais para a sua formulação, porém erros de tradução na passagem do
conhecimento científico entre estes diferentes campos podem ocasionar em uma
desvirtualização deste conhecimento, transformando por ventura um fato científico em
mercadoria ou um conhecimento cristalizado num artigo científico em uma publicação
mensurada por um valor econômico.

PALAVRAS-CHAVE: Pirataria científica; direito autoral; comunicação científica;


epistemologia

1 Introdução ao Problema e sua pertinência ao campo CTS e aderência à linha


de pesquisa

“O mais importante e menos estudado dos veículos retóricos é o artigo científico ”


LATOUR1

O século XXI insere na comunicação cientítica um novo modelo de difusão das


informações. Num cenário onde o conhecimento circula através de mídias digitais, o
mercado editorial perde gradativamente o controle sobre as propriedades intelectuais
publicadas em suas revistas. Em decorrência da diminuição nos lucros das editoras
científicas (e do mercado impresso de maneira geral), estas são obrigadas a tomarem
medidas para manterem o mercado lucrativo, aumentando o valor pago para o acesso
aos artigos científicos. Situações como essa forçam milhões de pesquisadores a
recorrerem a formas alternativas de adquirirem os materiais de que necessitam para
fazerem suas pesquisas, do contrário teriam simplesmente de abandonar suas

1
LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São
Paulo, Editora Unesp, tradução de Ivone C. Benedetti, p.55, 2000
2
pesquisas e carreiras acadêmicas. A disponibilização de artigos científicos
gratuitamente por plataformas como o Sci-hub, objeto principal deste estudo, cria um
impasse ético sobre a prática. Disponibilizar e consumir artigos piratas é um roubo
que sabota a própria Ciência, ou uma medida necessária para a própria prática
científica? Essa pesquisa tem como intuito também detalhar algumas características
nessa relação: quem adquire os artigos ilegalmente, e qual o conteúdo desses
materiais?
A prática científica sempre se mostrou refém da comunicação para atingir o
avanço. É a comunicação ao longo da história que permite a um único pesquisador
“sentar no ombro de gigantes”, como na famosa frase atribuída a Isaac Newton, e
assim obter respostas para problemas que até então pareciam insolúveis. Sendo
coletivo por excelência, o conhecimento científico avança na mesma proporção que
as informações caminham de um ator à outro. Na era da informação, ou era digital,
gerir a maneira como a informação circula passa a ser um conhecimento tão relevante
quanto qualquer disciplina secular.

A prática científica entendida enquanto prática social é uma concepção


relativamente recente. O século XX inaugurou uma nova abordagem do fazer
científico, que pela primeira vez o colocava como passível de influências sociais,
compreendendo as verdades científicas como mais um dos frutos produzidos pelo
momento e pela sociedade a que se referem. A aceitação do caráter social da ciência
implica a necessidade de analisa-la à luz dos interesses, crenças e critérios de
validade compartilhados, que orientam a atividade dos cientistas e a sua intenção com
outros atores sociais. Thomas Kuhn (1922-1996) foi o primeiro teórico a nomear essa
classe de pessoas que colocava a ciência em prática, chamando de comunidade
científica a unidade produtora e legitimadora do conhecimento científico. Por trás da
constituição de uma comunidade científica estaria um paradigma consolidado, assim
todos aqueles que compartilham um paradigma fariam parte de uma mesma
comunidade. O paradigma além de identificar a comunidade dos seus praticantes,
determina quais assuntos são relevantes e passivos de pesquisa, selecionando assim
quais verdades devem com mais urgência ser descobertas (Hochman, 1993). Neste
sistema descrito por Kuhn, os cientistas comunicam-se e relacionam-se com seus
pares de maneira quase exclusiva, diferenciando a comunidade científica de qualquer

3
outra comunidade profissional, onde as relações com o “lado de fora” sempre se fazem
necessárias. Dessa forma, o conhecimento científico seria produzido, reproduzido e
legitimado dentro de uma mesma esfera, a comunidade científica, e nenhum processo
ou decisão relevante ocorreria fora dela, o que além de enclausurar a produção do
saber cria um círculo entre comunidade científica e paradigma, onde uma coisa gera
a outra mas não fica claro o que vem primeiro.
Diferentes abordagens teórico-metodológicas surgiram depois de Kuhn,
descrevendo a prática científica como específica, mas não autônoma. O conceito de
campo científico introduzido por Pierre Bourdieu (Bourdieu, 1983) busca traduzir de
maneira fiel a dinâmica da prática científica, sob a acusação de que descrições como
as de Kuhn representavam cientistas interessados como sujeitos neutros em busca
da verdade. No lugar da harmônica comunidade científica Bourdieu adota o conflitivo
campo científico, definido pelo sociólogo como:

(...) o locus de uma competição no qual está em jogo especificamente o monopólio da


autoridade científica, definida, de modo inseparável, como a capacidade técnica e o
poder social, ou, de outra maneira, o monopólio da competência científica, no sentido
da capacidade – reconhecida socialmente – de um agente falar e agir legitimamente
em assuntos científicos (BOURDIEU, 1975:19)

Para Bourdieu todo campo é um microcosmo relativamente autônomo,


podendo sofrer pouca ou muita interferência do macrocosmo social e de outros
campos. Quanto mais autônomo um campo maior a sua capacidade de refração das
influências externas, ou seja, maior sua capacidade de transfigurar as imposições
externas ao ponto delas tornarem-se irreconhecíveis (Bourdieu, 2003 [1997]). É esta
talvez a teoria que me ajuda a aproximar-me do meu objeto de estudo, a relação do
fazer científico com a publicação. Na relação entre os campos econômico e científico
é nítido que o mercado obtém uma maior autonomia, já que a produção científica se
transforma num outro produto ao chegar às editoras2, ao passo que as imposições do
mercado acabam regendo o fazer científico e a própria definição do que é ciência. A
analogia que Bourdieu faz vai além de comparar o campo científico com o mercado
capitalista, ele propõe que esse é mais um mercado particular dentro da ordem
capitalista (Hochman, 1993). O campo científico integra a sociedade junto com os

2
É possível dizer que o capital científico obtido pelo pesquisador através de um artigo escrito, se transforma
em capital econômico quando é publicado e agrega valor a um periódico.
4
diversos outros campos, sofrendo e exercendo influência sobe estes a todo momento;
inexistindo, portanto, a completa autonomia que teóricos passados atribuíram à
prática científica. A relação entre ciência e sociedade (ou mercado) é então não só
necessária como obrigatória, assim ao percorrer os caminhos traçados por um fato
científico por ventura se atingiria uma lógica mercadológica. Essa abordagem nos
obriga a trazer o sujeito novamente para dentro da prática científica, esse já não é
mais neutro, cooperativo e desinteressado, e sim um agente que faz escolhas e
decisões científicas que ao mesmo tempo atendem a demandas políticas e sociais.
A produção científica pode se apresentar enquanto mercadoria de diversas
formas: enquanto patentes compradas por empresas, “descobertas” científicas que
modificam grandes mercados, e artigos científicos. Esta última pode ser vista como a
mais emblemática e passível de análise. O texto é não só o resultado cristalizado de
um extenso processo em busca de resultados como é palco da coletividade científica.
No artigo, um único autor/pesquisador fala em conjunto com muitos outros:

“O adjetivo "científico" não é atribuído a textos isolados que sejam capazes de se opor
a opinião das multidões por virtude de alguma misteriosa faculdade. Um documento se
torna científico quando tem pretensão a deixar de ser algo isolado e quando as pessoas
engajadas na sua publicação são numerosas e estão explicitamente indicadas no texto.
Quem o lê é que fica isolado.” (LATOUR, 2000:58)

Com uma proposta diferente das macroanálises vistas até então, as teses
construtivistas da Ciência buscam encontrar na prática, através de exemplos
específicos, de que forma a Ciência é de fato feita. Bruno Latour e Steve Woolgar
(Latour; Woolgar, 1997) buscam através do método etnográfico descobrir de que
maneira os fatos científicos são construídos no laboratório. Esta nova abordagem
difere da teoria estruturalista de Bourdieu e me dá mais mecanismos para
compreender a natureza do artigo científico, e o que ele representa na relação entre
os dois campos. Durante a prática científica muitas pessoas e equipamentos são
mobilizados visando a solução de um problema, a negação de um fato anterior e/ou a
comprovação de um novo fato científico. Diante de um resultado relevante, o cientista
precisa comunicá-lo aos seus pares. É este portanto o papel do artigo, agir sobre o
campo científico. Porém, no que consiste este conjunto de caracteres, gráficos e
tabelas, e de onde provém toda a sua relevância e agência? Muito mais do que uma
mera enunciação dos fatos, o artigo científico se transforma num simulacro de todo

5
aquele empreendimento e prática científicos, carregando nas suas linhas todas as
ações e pessoas envolvidas no processo. Por isso os autores de A Vida de Laboratório
dizem que os fatos científicos são construídos através de um processo de inscrição
literária, visando transformar práticas científicas e matérias em escrita. Este resultado
quando atingido - seja ele um gráfico ou uma tabela com números - torna todo o
percurso para a sua obtenção dispensável de enunciação. Estando toda aquela
prática científica traduzida verbalmente têm-se agora matéria-prima para a construção
do artigo, o produto final de uma extensa trajetória composta por muitas práticas que
diferem bastante do ato de escrever. É esta a peculiaridade do artigo científico que o
faz ser tão eficaz na comunicação entre cientistas; ele comprime processos longos e
dispendiosos em poucas linhas ou na curva de um gráfico, possibilitando a dinâmica
necessária à prática científica.
Apesar das diferentes abordagens que a sociologia do conhecimento recebeu,
uma unanimidade no estudo social da Ciência é o seu caráter coletivo, e a
impossibilidade de um cientista trabalhar sem nenhum tipo de associação ou parceria.
Como atividade coletiva, a comunicação passa a ser a força motriz da Ciência,
fazendo com que esta só avance quando as informações caminham de um agente a
outro, produzindo assim novas informações. Neste sistema as publicações surgiram
como meio mais eficaz de difundir informação. Essas, que antes serviam aos moldes
e aos anseios do campo científico, foram com o passar das décadas ganhando uma
espécie de autonomia, e servindo como um sistema de economia do capital científico
para pesquisadores. A publicação ou citação de um artigo científico é agora mais um
dos passos, e talvez um dos mais fundamentais, em torno da construção de um fato
científico.
Revistas científicas existem já há mais de 350 anos, com as primeiras
publicações do Jounal des sçavans e Philosophical Transactions of the Royal Society,
na França e Inglaterra respectivamente, e durante muito tempo essa relação entre o
mercado, no papel das revistas, e a Ciência se mostrou vantajosa, difundindo o
conhecimento e possibilitando a comunicação entre os pesquisadores. Hoje é possível
dizer que a publicação e editoração constitui um campo autônomo, tornando-se um
universo inteiro de questões (Knorr-Cetina, 1999), sendo mais uma das habilidades
que o pesquisador precisa dominar caso queira obter sucesso no campo científico.

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O mercado editorial científico cresceu na mesma proporção que a comunicação
científica, podendo ser estimado como um negócio de cerca de U$10 bilhões hoje
(Murphy, 2016). Muitos pesquisadores têm criticado a natureza comercial da
publicação científica, que explora tanto o pesquisador autor dos artigos quanto
aqueles que pagam pra ter acesso aos periódicos, lucrando de ambos os lados da
relação. Na chamada era digital uma parte considerável da informação encontra-se
online, o que alterou muito a logística do mercado editorial que se viu diante da perda
do monopólio e acesso aos artigos e publicações.
Um estudo publicado na Plos One, revista open access, de acesso gratuito
portanto, mostra o oligopólio existente no mercado editorial de revistas científicas
(Larivière, V. Haustein, S. Mongeon, P. 2015). O levantamento é feito com base em 45
milhões de artigos publicados entre 1973-2013, e mostra que a produção neste
período não só cresceu em níveis quantitativos, como a concentração dessas
publicações entre as grandes editoras científicas aumentou ainda mais. Os resultados
mostraram que as maiores editoras controlam mais da metade do mercado de
produções científicas de revistas das Ciências Naturais e Médicas e nas Ciências
Sociais - sendo que nessas áreas apenas 5 grandes editoras concentram mais de 50%
de toda a publicação científica atual: Reed-Elsevier, Wiley-Blackwell, Springer, Wolters
Kluwer e Taylor & Francis. A participação dessas cinco editoras comerciais no mercado
de publicações científicas saltou de apenas 20% em 1973 para 30% em 1996,
alcançando 50% em 2006 e mantendo esse nível até 2013, quando então atingiu os
atuais 53%, crescendo graças a fusões e aquisições de revistas de outras editoras
menores.
O termo capitalismo editorial, muito adequado à esta discussão, foi cunhado
primeiramente por Benedict Anderson em Comunidades Imaginadas (2008 [1991]),
citado como um dos ingredientes fundamentais para desenhar a ideia de nacionalismo
que conhecemos hoje. Amparado na tese de Anderson, arrisco dizer que a mesma
imprensa que teve o poder de através da compilação de vários textos construir e
consolidar a história de nações, pode também desenhar o campo científico e
estabelecer suas prioridades, assim como dividi-lo em disciplinas que operam de
maneira semelhante às bordas geográficas entre os países:

7
“Se o desenvolvimento da imprensa como mercadoria é a chave para a criação de
ideias inteiramente novas sobre a simultaneidade, ainda estamos simplesmente no
ponto em que tornam possível as comunidades do tipo horinzontal-secular,
transtemporais. Por que a nação se tornou tão popular dentro desse tipo de
comunidade? Evidentemente, os fatores são múltiplos e complexos, mas podemos
sustentar com fundadas razões que o principal deles foi o capitalismo”3
ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. 2008(1991). p.71

A publicação se tornou, conforme o avanço e estruturação da ciência, um passo


fundamental para a conclusão de uma pesquisa. Editoras científicas podem hoje ser
consideradas sócias dos laboratórios na construção e legitimação do conhecimento.
Porém, como mostra Knorr-Cetina (Knorr-Cetina, 1981), há um processo de tradução
quando o conhecimento deixa o laboratório e vai para as revistas em forma de artigo
científico. A linguagem científica pode estar presente nos dois ambientes, mas o
significado do mesmo conhecimento possui valores distintos nos dois cenários. Até aí,
nada fora do previsto, mas o que ocorre segundo cientistas que apoiam o livre acesso
ao conhecimento científico, é a sobre determinação da prática editorial sobre a prática
científica, fazendo com que esta esteja sendo regida por valores criados pelo mercado
editorial. A publicação se torna a moeda de troca na academia, medindo
quantitativamente (pelo nº de citações) os critérios científicos naturalmente
qualitativos.
O alto custo aliado a uma espécie de propriedade intelectual que as editoras
exercem sobre os artigos fez com que esse sistema ruísse aos poucos. Um
movimento pela democratização do conhecimento deu início na década de 1990 às
revistas de acesso aberto (open access), onde o acesso a artigos científicos pode ser
feito sem restrições, livre de qualquer cobrança de taxa. A partir dos anos 2000 é
possível observar uma intensa expansão deste tipo de publicação, inclusive com
grandes editores tornando open access uma parte de seus periódicos. Porém, ainda
com uma parcela representativa das publicações pertencendo às grandes editoras,
formas alternativas de obter acesso aos artigos pagos surgiram com mais intensidade

3
Anderson também cita como um dos fatores aglutinadores da imprensa a criação de línguas oficiais que con-
tribuía para a padronização das narrativas e do público: “(...)o capitalismo tipográfico criou línguas oficiais dife-
rentes dos vernáculos administrativos anteriores. Inevitavelmente, alguns dialetos estavam “mais próximos” da
língua impressa e acabaram dominando suas formas finais. Os primos pobres, que ainda podiam ser assimila-
dos na língua impressa em formação, acabaram perdendo posição, principalmente por que não conseguiram
(ou conseguiram apenas em parte) ter sua própria forma impressa” ANDERSON. 2008, p.81. Dinâmica que pode
ser observada também no mercado editorial científico atual, onde a publicação em língua inglesa de um artigo
é quase obrigatória na maioria dos casos.
8
nos últimos 10 anos. Seja por conveniência ou necessidade, a pirataria científica
constitui uma realidade de acesso a informação, mas seus efeitos são difíceis de
traçar devido justamente ao caráter ilegal da comunicação. Inserido no debate em
torno das editoras e seu acesso a informação científica, compreender qual o papel
que a pirataria vem exercendo no fazer científico me parece fundamental para pensar
em soluções futuras possíveis para a crise programada do mercado editorial científico.
Das muitas iniciativas que surgiram na última década a que recebe
protagonismo atualmente é o site hospedado na Rússia chamado Sci-Hub. O Sci-hub
é um website criado em 2011 que conta atualmente com mais de 70 milhões de papers
acadêmicos e artigos científicos disponíveis para download. O que torna o Sci-Hub
um causador de conflito no campo científico e/ou editorial é o fato de grande parte do
material disponível no site só ser acessível tradicionalmente mediante pagamento do
leitor. O site foi criado pela cazaque Alexandra Elbakyan como uma reação ao alto
custo de acesso a papers de pesquisa, que circulam em torno de US$30 por artigo
em média. Dessa forma, a grande barreira na comunicação científica é criada pelo
mercado editorial dominante, que não só cobra do cientista pela publicação do
material como cobra valores pouco acessíveis aos seus leitores, principalmente nos
casos de países em desenvolvimento 4 . Sendo assim, no cerne do protesto de
Elbakyan, que aos poucos ganhou apoio de boa parte do corpo científico, está o livre
acesso a produções científicas de qualquer natureza, removendo todas as barreiras
no caminho da ciência. Uma vez que os cientistas não ganham dinheiro das editoras
diretamente, e as pesquisas são financiadas com dinheiro público em boa parte do
mundo, não há por que o ramo editorial possuir alguma espécie de propriedade
intelectual sobre artigos que por vezes são fontes primárias necessárias para a
pesquisa.
O Sci-Hub opera da seguinte forma para tornar gratuitos artigos científicos
privados: cientistas solidários a ideia do Sci-Hub cedem suas senhas de acesso ao
site, popularizando assim o conteúdo das revistas das quais eles são assinantes. A
partir daí cada artigo que é baixado passa a fazer parte de um banco de dados do
próprio Sci-Hub, ficando disponível para um próximo download sem passar por esse

4
Esse sistema pode variar dependendo do país, onde o cientista pode não pagar nada como até ser
ressarcido pela divulgação do material. Mas existem casos onde o pesquisador paga pela publicação do
artigo, mesmo após a revisão por pares, e depois precisa pagar caso queira ter acesso ao próprio material
na revista.
9
processo novamente. O Sci-Hub e outros sites semelhantes não podem ser vistos
como uma causa do freio nos lucros das grandes revistas, e sim como uma
consequência de uma ciência mais democrática, cujo intuito é tornar o acesso a suas
produções disponíveis do entusiasta da ciência ao pesquisador de ponta. Mesmo
assim, em 2017, a corte de Nova York determinou que o Sci-Hub juntamente com o
Library Genesis Project - outro site que opera de maneira análoga ao Sci-Hub -
deveriam pagar mais de US$ 15 milhões de dólares ao grupo editorial Elsevier5. Isso
porque mais de 50% do material baixado no Sci-Hub pertence a apenas três grupos
editoriais, sendo a Elsevier o principal deles.

2 Objetivos

O objetivo desta pesquisa é encontrar quais os efeitos que sites que


disponibilizam artigos privados gratuitamente causam no fazer científico e na fruição
da ciência, e se esses efeitos são positivos ou não, tomando como objeto principal o
Sci-Hub devido ao seu protagonismo na discussão. Dentro do modelo estruturado de
publicação científica, o mercado editorial é responsável por pré-determinar a prática
científica, uma vez que cientistas são obrigados a publicar nas principais revistas, por
uma questão de prestígio ou como resultado dos próprios critérios de evolução na
carreira acadêmica.
Um outro dado que busco coletar é a caracterização dos pesquisadores em
torno desse debate. Qual seria o perfil do cientista que baixa artigos piratas através
de mecanismos como o Sci-Hub? Qual o papel que as elites científicas ocupam nessa
discussão? Perguntas que me ajudariam a responder qual a natureza da relação entre
laboratórios e editoras científicas; se há, como parte da literatura mostra, um embate
entre os dois campos, ou se essas bordas não existem, e um mesmo ator circula entre
os dois campos de forma harmoniosa e complementar.

5
Ler a respeito em:<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/06/26/Como-est%C3%A1-a-briga-
do-Sci-Hub-o-%E2%80%98Robin-Hood-da-ci%C3%AAncia%E2%80%99-com-as-grandes-editoras>
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3 Metodologia

A metodologia utilizada pra compreender os efeitos da pirataria no fazer


científico tem caráter experimental e/ou provisório. Através de um banco de dados
disponibilizado por Alexandra Elbakyan, fundadora do Sci-Hub, a um jornalista da
Science6, escolherei um artigo entre os mais baixados, e procurarei por referências ao
artigo escolhido por pesquisadores brasileiros. Assim, através de ferramentas como o
Science Citation Index, buscarei seguir o artigo pirateado e analisar os efeitos que o
acesso a esse material pode ter proporcionado. Em seguida farei o mesmo processo
com um artigo não pirateado, e acessado somente mediante pagamento do leitor. A
análise comparativa dos dois casos me fornecerá dados para avaliar uma possível
maior disseminação do conhecimento científico por mecanismos que facilitam o seu
acesso. O estudo será feito com maior profundidade e nível de detalhes somente entre
esses dois artigos ainda a serem selecionados (um pirateado e outro não-pirateado),
porém dados secundários que analisam uma amostra maior serão unidos a tese como
forma de sustentar a conclusão.

4 Resultados Esperados

Desta forma, busco através de alguns casos isolados compreender com maior
nível de detalhes o efeito da pirataria no fazer científico, bem como o seu público-alvo.
Se demonstrada uma agência eficaz da pirataria na comunicação científica, enxergo
nesse resultado mais uma maneira de questionar a forma como a editoração científica
é conduzida, para assim pensar em formas alternativas necessárias de disseminação
da informação.

6
Endereço da reportagem: http://www.sciencemag.org/news/2016/04/whos-downloading-pirated-papers-
everyone?utm_source=sciencemagazine
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6 Cronograma das atividades

Atividade 2019 2020


1º semestre 2º semestre 1º semestre 2º semestre
Disciplinas e créditos X X X X
Encontros orientador X X X X
Pesquisa bibliográfica X X X X
Análise dos artigos X X
Coleta de dados
quantitativos sobre os X X
artigos
Ajuste e finalização X
Exame de qualificação X
Defesa da tese X

7 Referências

BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In “Pierre Bourdieu - Sociologia” ORTIZ,


Renato (org.). São Paulo: Atica. 1983.

BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo
científico. São Paulo: Editora UNESP. 2004

BOURDIEU, Pierre. Para uma sociologia da ciência. Lisboa: Edições 70, LDA. 2004

HOCHMAN, Gilberto. A Ciência entre a comunidade e o mercado. In “Filosofia,


história e sociologia das ciências I: abordagens contemporâneas”. PORTOCARRERO,
V. (org.) Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1994

KNORR-CETINA, Karin. A comunicação na ciência. In “A Ciência tal qual se faz”.


GIL, Fernando (ed). Lisboa: Edições João Sá da Costa, 1999

KNORR-CETINA, Karin. The Manufacture of Knowledge. Pergamum Press Ltd.


Oxford. 1981.

LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros


sociedade afora. São Paulo. Editora UNESP. 2000

LATOUR, Bruno. A Esperança de Pandora: ensaios sobre a realidade dos


estudos científicos. Bauru, SP: EDUSC. 2001

LATOUR, Bruno; WOOLGAR, Steve. A vida de laboratório: a produção dos fatos


científicos. Rio de Janeiro: Relume Dumará. 1997

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LATOUR, Bruno. O reino do texto científico. In: WITKOWSKI, (Coord). Ciência e
Tecnologia Hoje. São Paulo: Ensaio; 1995. p. 399-401.

KUHN, Thomas. Estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Editora


Perspectiva S.A. 1998

ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas: reflexões sobre a origem e a


difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras. 2008

CAREGNATO, Sônia; Medeiros, Jackson. Compartilhamento de dados e e-


science: explorando um novo conceito para comunicação científica. Liinc em
Revista, v.8, n.2, setembro, 2012, Rio de Janeiro, p. 311-322

MACHIN-MASTROMATTEO, Juan. Piracy of scientific papers in Latin America:


An analysis of Sci-Hub usage data. Information Development 2016, Vol. 32(5)
1806–1814

BOHANNON, John. Who's downloading pirated papers? Everyone. Science. Abril


28, 2016. disponível em: http://www.sciencemag.org/

Assinale abaixo a alternativa referente à necessidade de aprovação do projeto pelo


comitê de ética em pesquisas.

( ) EXIGE aprovação

( X ) NÃO EXIGE aprovação

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