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FAMÍLIA: CONCEITUAÇÃO E

CATEGORIZAÇÃO
Professoras: Me. Nathalia Barbosa Limeira
Me. Fernanda Regina Cinque de Brito
DIREÇÃO

Reitor Wilson de Matos Silva


Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho


Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha
Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Pinelli
Head de Planejamento de Ensino Camilla Cocchia
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Supervisão do Núcleo de Produção
de Materiais Nádila de Almeida Toledo
Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey
Projeto Gráfico Thayla Guimarães
Design Educacional Marcus Vinicius Almeida da Silva Machado
Design Gráfico Ellen Jeane da Silva

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação


a Distância; LIMEIRA, Nathalia Barbosa; BRITO, Fernanda Regina
Cinque de.

Dinâmica Familiar e Aprendizagem. Nathalia Barbosa


Limeira; Fernanda Regina Cinque de Brito.
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.
28 p.
“Pós-graduação Universo - EaD”.
1. Família. 2. Aprendizagem. 3. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 370


CIP - NBR 12899 - AACR/2

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


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sumário
01 9| CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A FAMÍLIA

02 13| MAS, AFINAL, O QUE É FAMÍLIA?

03 17| CICLO VITAL DA FAMÍLIA


FAMÍLIA: CONCEITUAÇÃO E CATEGORIZAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Compreender o conceito de família.
• Entender a função/papel de cada um dos membros na relação familiar.
• Compreender o ciclo vital da instituição familiar.

PLANO DE ESTUDO

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:


• Considerações iniciais sobre a família
• Mas, afinal, o que é família?
• Ciclo Vital da família
INTRODUÇÃO

Entendemos que o homem enquanto um ser naturalmente sociável, se relaciona e


precisa destas relações para sobreviver. Neste sentido, podemos supor que o homem
é dependente de seus pares. O processo de socialização do homem, de seu estado
primitivo para seu estado entendido como sociável, ocorre quando o homem abre
mão de seus instintos individuais para se socializar. O princípio do prazer é substituí-
do pelo princípio da realidade, o qual torna o homem capaz de socializar-se.
Para tratarmos acerca da dinâmica familiar, essa consideração se faz essencial.
Somente podemos falar de família quando falamos em socialização, porque em seu
sentido estrito a família é o primeiro espaço de socialização do homem.
Buscaremos, então, discutir inicialmente a questão da afetividade. Para isso, re-
portamo-nos ao historiador francês Philippe Ariès, o qual parte do pressuposto de
que a revolução da afetividade na família somente ocorre na passagem do mundo
moderno. E poderíamos falar em família sem tratarmos da afetividade?
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Por conseguinte, refletimos com base em diversos estudos sobre o que é família.
Buscamos aqui uma definição que dê conta de contemplar todos os arranjos fa-
miliares, deixando à margem desta discussão a definição que contempla somente
os componentes pai (homem), mãe (mulher) e filhos. Isso porque os novos arran-
jos familiares tornam impossível definirmos e compreendermos a família sobre esta
perspectiva tradicional.
Por fim, discutimos sobre o ciclo vital das famílias. Assim como temos um ciclo
vital em nossas vidas, nascer – desenvolver-se – morrer, a família também tem um
ciclo que lhe próprio. Porém, uma ressalva deve ser feita aqui: assim como entre o
nosso nascimento e morte não percorremos o mesmo caminho, mas tomamos de-
cisões distintas, traçamos modos diferentes de viver nosso percurso, também com
a família ocorre o mesmo.
Caro(a) aluno(a), o convidamos a iniciar seus estudos sobre esta temática.
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CONSIDERAÇÕES
INICIAIS SOBRE A
FAMÍLIA
Definir o que seja família parece-nos uma tarefa complexa. Se observarmos essa ins-
tituição ao longo dos anos e a partir do movimento da história de nossa civilização,
perceberemos que ela se modificou em cada período histórico. Mesmo que não
façamos esse retorno histórico e conceitual acerca deste termo, se olharmos à nossa
volta, perceberemos a diversidade e a complexidade de definirmos este termo.
Ariès (1981), historiador francês bastante influente nas discussões acerca da infân-
cia e da família, estuda este último termo, relacionando-o à história e cidade e, neste
sentido, sua investigação procura identificar como a noção de família modificou-se
paulatinamente, em decorrência do surgimento das cidades, ainda na Idade Média.
Sua tese inicial aponta para a ideia de que “a comunidade, mais que a família, deter-
minava o destino do indivíduo” (ARIÈS, 1981, p.13). Isso porque cada sujeito nascia
em uma comunidade formada tanto pela família quanto por vizinhos ou pessoas
com as quais mantinham uma relação de proximidade. Ocorre que ao “sair da barra
da saia da mãe” os filhos precisavam buscar seu espaço dentro desta comunidade.
A noção de domínio é fundamental aqui. A ocupação do espaço dentro da comu-
nidade marca-se como uma demarcação de domínio.
Para Ariès (1981), o domínio, ou seja, o espaço ocupado pelo homem dentro da
comunidade, embora houvesse uma determinada rigidez nas relações sociais, de-
pendia do homem, de sua agilidade em conquistar o espaço. Quando afirmo que
havia determinada rigidez nas relações sociais, refiro-me aos espaços ocupados por
cada um dos membros familiares – e que, consequentemente, compõem a comu-
nidade. A mulher tem seu papel bastante definido, tanto na comunidade quanto no
seio da família. A ela, as discussões públicas, as decisões sobre o rumo da cidade ou
o trabalho fora de casa lhe eram negados. Seu espaço de vivência restringe-se ao
núcleo familiar, o qual organiza, mantém e gera. Na comunidade, sua ação se res-
tringe à participação das cerimônias religiosas, procissões ou festas. Mas o papel a
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ser desempenhado por ela aparece como já determinado: ajudar o marido, cumprir
suas obrigações de esposa e ser religiosa.
Ainda de acordo com Ariès, três mudanças importantes, ocorridas entre os séculos
XIX e XX, vão fundar um novo conceito de família. A primeira mudança refere-se à
“[...] repugnância com que a sociedade global, isto é, o Estado, passou a encarar o
fato de certas áreas da vida escapar ao seu controle e influência” (ARIÈS, 1981, p.15).
O Estado, até então, mantinha-se neutro nas questões da vida privada de cada um
dos seus partícipes. Com o avanço das ideias iluministas, o Renascimento e a indus-
trialização, o Estado exige para si o domínio tanto da vida pública quanto da privada.
Um segundo fator importante relaciona-se à questão acima: a separação entre
o lugar do trabalho e os demais lugares, seja a casa, o campo ou a rua. De acordo
com Ariès:
Este lugar específico para o trabalho foi uma invenção desta nova sociedade,
derivada das relações capitalistas e liberais que se impunham, e daí emerge um
espaço de ocupação e de domínio que antes não existia. A terceira mudança im-
portante para o novo conceito de família decorre das modificações postas acima,
porém sua natureza é psicológica. “A grande revolução da afetividade”, como afirma
Ariès (1981, p.16), é que proporciona uma nova perspectiva sobre as relações fami-
liares. Os homens trabalhadores se dividirão entre estes dois polos: família e trabalho.
Decorre daí que aqueles que não trabalham, mulheres, crianças e velhos, têm suas
vidas absorvidas pelo ambiente familiar. Isso não significa que não haja relações de
afetuosidade no ambiente familiar, mas como são sujeitas ao controle e vigilância,
as relações estabelecidas neste polo são bastante distintas das relações desenvolvi-
das no ambiente familiar.
Neste sentido, a família incorpora, não sem intolerância e mal-estar, as atribuições
que lhe são infundidas, decorrentes da crise vivida nas cidades. A organização das
cidades, do ambiente de trabalho, da vigilância do Estado sobre os atores da cidade
insurgem na família a ideia de que somente ali pode-se ser o que é, sem o controle
externo. “A família passou então a deter o monopólio da afetividade, da preparação
para a vida, do lazer” (ARIÈS, 1981, p.23).
Para o autor, somente a partir daí é que se pode pensar nas relações familiares,
como relações de e com afetividade. Claro, nos parece que esta afirmação seja pre-
cipitada e justificam-se aqui as críticas tecidas a este historiador, já que podemos ver,
ainda na Idade Média, por exemplo, a preocupação com a educação e com a vida
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afetiva da mãe, e também mulher, com seu filho. É o caso, por exemplo, de Dhuoda
(1995), a qual, em sua obra La educacion cristiana de mi hijo, reflete acerca da for-
mação de seu filho. Escrita sob a forma de Espelho de Príncipe, no século IX, a obra
considera a ética, a fidelidade e a religião como fundamentos essenciais para se pensar
a educação. Porém, o que trago à discussão é a ideia da afetividade, tanto nas rela-
ções entre o casal quanto na formação da criança, a qual, a partir de agora, ganha
espaço nas relações familiares e sociais.

atenção

A criança, vista como adulto em miniatura, tanto em vestimenta quanto em


atitude, paulatinamente vai perdendo espaço em prol de uma nova visão
sobre a infância e sobre o sentimento e cuidados que ela impõe para si. Isso
não significa que todo o tempo anterior a este a criança era ignorada. Não.
O que ocorre é que ela ganha um espaço que lhe será próprio e específico,
decorrente do fato mesmo de que a família tenha absorvido para si a respon-
sabilidade tanto de formação social quanto da afetividade em suas relações.
Fonte: elaborado pelas autoras.

O desenvolvimento das relações de trabalho, do liberalismo e do capitalismo e a sepa-


ração entre o espaço do trabalho da vida familiar insurgem novas formas de relação,
tanto social quanto familiar. Neste sentido, é que podemos compreender a afirma-
ção de Ariès, de que “a causa profunda da crise atual da família não está na família,
mas na cidade” (ARIÈS, 1981, p.23), ou seja, as mudanças nos contextos social, políti-
co e econômico interferem na organização da família.
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MAS, AFINAL, O QUE É


FAMÍLIA?
Muitas são as definições que podemos sugerir ao termo família. Se perguntasse a
você, caro(a) aluno(a), o que é família, o que você responder-me-ia? Antes de avançar
na leitura, pare um pouco e reflita sobre isso: o que é família? Talvez você possa ter
pensado em consanguinidade, e então poderíamos afirmar que família são aqueles
que possuem relação de parentesco, dada pela consanguinidade. Mas talvez você
possa ter afirmado que família relacionasse com o vínculo afetivo que estabelece-
mos entre nossos pares e, então, não depende essencialmente da consanguinidade,
mas da afetividade, para dizermos quem é ou não parte de nossa família.
Muitas são as definições que podemos ter acerca desta instituição. Uma primeira
aproximação com o tema poderia entender família como “[...] a unidade básica da in-
teração social” (OSÓRIO, 1996, p.15). Mas esta definição nos parece genérica demais,
pois a família não pode ser vista apenas como o espaço de interação social. Aqui, per-
mito-me uma pequena exposição sobre os termos interação e relação. Fundamento
esta discussão nos trabalhos desenvolvidos por Dessen (2008), a qual difere estes
termos, afirmando que uma relação é composta por interações, ao passo que nem
todas as interações podem ser consideradas como relações.

““
A interação pode ser compreendida como incidentes ou episódios entre,
no mínimo, duas pessoas. Nestes episódios uma pessoa emite determinado
comportamento em direção à outra pessoa e esta, por sua vez, emite uma
resposta, formando cadeias de comportamento que caracterizam o fluxo da
interação. Uma relação é composta por interações já estabelecidas entre, no
mínimo, duas pessoas [...] o que essencialmente define a relação é a influên-
cia de uma interação sobre as outras (DESSEN, 2008, p.121, 122).

Na citação acima, Dessen distingue interação de relação. As interações, para esta


autora, referem-se a episódios estritamente limitados, ao passo que as relações en-
volvem uma trajetória de tempo que pressupõe passado, presente e futuro. Neste
sentido, compreender a família como unidade básica da interação social parece-nos
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equivocado, se compreendermos a família como uma unidade dinâmica. Parece-nos


mais adequado entendê-la como uma unidade básica de relações sociais.
Uma segunda aproximação com o tema, dada por Lévi-Strauss (1958), remete
o termo família a três tipos de relação fundamentais: aliança (casal), filiação (pais e
filhos) e consanguinidade (irmãos). Ainda que esta seja uma definição importante e
usualmente empregada na definição da família, ela me parece insatisfatória para a
definição que procuramos atualmente.

reflita
As mães e pais solteiros, as famílias compostas por avós e netos, ou ainda as
famílias nas quais os filhos não têm a consanguinidade como fundamento,
por serem adotados, estão fora desta definição. Não poderemos conside-
rar os casos acima expostos como família?
Fonte: elaborado pelas autoras.
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Osório (1996), na tentativa de conceituar o que seja a família, considerará três


formatos que a distingue: a nuclear, a extensa e a abrangente: “Por família nuclear,
entenda-se a constituída pelo tripé pai-mãe-filhos; por família extensa, a que se com-
ponha também por outros membros que tenham quaisquer laços de parentesco, e a
abrangente, a que inclua mesmo os não parentes que coabitem” (OSÓRIO, 1996, p.16).
A definição dada por Osório, embora não considere a consanguinidade como
fundamento destas relações, ainda supõe a família composta pelo tripé pai-mãe-fi-
lho, onde se sugere que nesta relação pai e mãe sejam heterossexuais. Se desejamos,
como psicopedagogos, uma compreensão extensa deste termo, para compreen-
dermos a dinâmica destas relações, será necessário compreendermos este termo de
modo mais amplo, dadas as modificações sociais e culturais que temos vivenciado
nas últimas décadas. A família extensa pode ser composta pelos avós, tios e mães
ou pais com filhos que convivam em um mesmo ambiente. Já a família abrangen-
te engloba outros pares que não tenham relação de consanguinidade, mas que se
insiram no contexto familiar. Este pode ser o caso, por exemplo, de um casal com
filhos que assume a responsabilidade sobre outro sujeito, ainda que temporariamente.
Mas há outras definições de família que gostaria de refletir com você. Soifer, em
seu livro Psicodinamismos da família com crianças (1982), discute o conceito de
família trazendo diversas definições, dentre as quais aquela em que a família se cons-
titui pelo:

““
[...] cuidado da vida tanto afetivo como social, onde se dão e se aprendem
noções fundamentais para a consecução de tal fim que poderíamos resumir
como se segue: procriação, cuidado da saúde, preservação da vida, aquisição
de habilidades profissionais, aprendizagem da convivência familiar e social
(SOIFER, 1982, p.11).

Neste sentido, o termo família é entendido pelo viés biológico e social, que supõe
procriação, mas também o cuidado necessário com seus pares, além da educação
para a vida social. Ou seja, o termo aparece aqui como a instância primeira e funda-
mental ao indivíduo.
16 Pós-Universo

Uma definição de família dada por Soifer e a qual corrobora com nossa concei-
tuação do que seja ela:

““
Um núcleo de pessoas que convivem em determinado lugar, durante um
lapso de tempo mais ou menos longo e que se acham unidas (ou não) por
laços consanguíneos. Este núcleo, por seu turno, se acha relacionado com a
sociedade, que lhe impõe uma cultura e ideologia particulares, bem como
recebe influências específicas (SOIFER, 1982, p. 22).

Nesta definição, podemos compreender a família como um grupo de pessoas que


vivem juntas durante determinado período de tempo e que se relacionam tanto com
o mundo exterior a ela quanto se relacionam entre si.
Outra definição que se aproxima do conceito de família que buscamos refletir
aqui é nos apresentada por Macedo (1994):

““
A família é um pequeno grupo composto por indivíduos relacionados uns
aos outros em razão de fortes lealdades e afetos recíprocos, ocupando um
lar ou um conjunto de lares que persiste por anos ou décadas. Entra-se na
família através do nascimento, adoção ou casamento e deixa-se de fazer
parte dela apenas pela morte. [...] O que define a família, ao nosso ver, são
as funções desempenhadas por seus membros em suas inter-relações, um
sem número de arranjos entre membros com tais características de lealda-
de, afeição, durabilidade de pertinência, como por exemplo: casal sem filhos,
casal com vários filhos, avós, filhos e netos, um pai ou mãe singular e filhos,
casais recasados com filhos de outras relações. Todas são famílias no sentido
dessa definição (MACEDO, 1994, p.185).

A definição exposta por Macedo configura a família de modo macro e micro: na macro
definição, apresenta a família como todos os participantes de uma mesma unidade.
São consideradas, então, partes de uma mesma família os avós, pais, tios, primos, so-
brinhos e a pluralidade de pessoas que podem compor esta instituição. Na micro
definição deste termo, podemos perceber o núcleo familiar, ou seja, as personagens
que compõem a família e que vivem em um mesmo ambiente: pode ser que seja
um pai, uma mãe e seus filhos, mas também pode ser um pai, uma mãe e seus filhos
vivendo em um mesmo ambiente com avós, tios, primos ou outros pares familiares.
Tendo definido o que entendemos por família, resta-nos refletir sobre seu ciclo vital.
Pós-Universo 17

CICLO VITAL DA
FAMÍLIA
Assim como tudo o que é vivo possui um ciclo vital, também a instituição familiar o
possui. De acordo com Macedo (1994), compreender este ciclo vital possibilita-nos
observar as características funcionais da família em cada etapa de seu desenvolvimen-
to através das gerações. Enquanto psicopedagogos, importa-nos compreender esse
ciclo na medida em que podemos, a partir dele, inferir em que estado vital a família
se encontra. Compreender o ciclo vital da família parece-nos, portanto, fundamental.
Para Osório (1996), o ciclo vital familiar pode ser resumido nos seguintes tópicos:
1. Formação de um casal para a construção de uma nova família.
2. Nascimento dos filhos.
3. Adolescência dos filhos.
4. Saída dos filhos da casa paterna.
5. Morte dos avós.
6. Envelhecimento, doença e morte dos pais.

Importa-nos, inicialmente, afirmar que a sequência acima exposta pode ou tende a


variar e, via de regra, as famílias não percorrem estas etapas de modo sequencial. Há
casos em que o filho torna-se órfão ainda pequeno, ou ainda, em que a morte dos
avós acontece antes mesmo de a criança (neto) nascer. Porém, assim como podería-
mos afirmar que nossa vida, de modo geral, possui um ciclo vital, também as famílias
o possuem. Acerca do ciclo acima descrito, afirma Osório (1996, p.23), “o ciclo vital da
família é algo dinâmico e que não pode estar rigidamente contido num esquema
descritivo”.
A formação do casal para a construção de uma nova família é o ponto inicial do
ciclo vital desta instituição. Deixar a casa dos pais para construir um novo lar marca
um momento decisivo para o novo casal: a diferença de crenças, culturas e educa-
ção familiar gera conflitos necessários ao estabelecimento de uma nova família com
características que lhe serão próprias. É do embate entre esses elementos que se or-
ganizará a personalidade do casal enquanto família. Novos hábitos, novas crenças e
a fusão das crenças e da cultura já existentes geram uma dinâmica que é própria e
18 Pós-Universo

singular de cada família. Administrar os conflitos gerados desta nova organização é


essencial para a saúde familiar.

Uma segunda grande mudança, essencial ao ciclo vital da família, é o nascimento


do primeiro filho. “A passagem de serem filhos para serem pais implica numa série
de transformações, quanto às relações entre si (casal), e com o filho, em termos de
necessidade de abrir espaço para a criança” (MACEDO, 1994, p.192). Tais mudanças
redefinem os papéis assumidos até então na configuração familiar. De esposa e filha,
a mulher passa a ser vista também como esposa, filha e mãe. Conciliar essa nova
função às funções já existentes exige tanto do esposo, quanto da esposa, dedica-
ção e entendimento de que esta nova função (paterna ou materna) não implica no
abandono das funções já agregadas (de esposo ou esposa).
O nascimento dos demais filhos gera novos conflitos na família, pois vão se mo-
dificando as regras, os costumes e as necessidades da própria instituição familiar, o
que modifica, novamente, sua estrutura interna. “São períodos críticos em que mu-
danças são necessárias, testando a flexibilidade do sistema, seus valores, seus padrões
de interação” (MACEDO, 1994, p.193). O nascimento do segundo filho pode gerar, se
não for bem administrado, ciúmes, raiva e mesmo depressão no primogênito.
Pós-Universo 19

atenção

Sabemos que o nascimento de um novo membro na família impacta a


criança e suas relações com a aprendizagem escolar. Organizar, deste modo,
junto à família, estratégias para que este nascimento não seja visto como
algo ruim à criança é necessário em seu trabalho enquanto psicopedagogo.
Fonte: elaborado pelas autoras.

A adolescência dos filhos, por sua vez, marca uma nova fase de conflitos familiares
necessários à formação do adolescente. Estes conflitos geram inseguranças tanto
nos pais, quantos nos filhos.A adolescência é marcada, nesta perspectiva, como o
início do rompimento gradual com a família, que se concluirá com a saída deste da
casa dos pais. Ainda que o vínculo e a afetividade permeiem essa relação, a adoles-
cência desloca a configuração do filho no núcleo familiar, pois paulatinamente ele
vai tornando-se independente. Isso significa que as relações estabelecidas a partir
daí serão relações entre adultos e não mais entre adultos e criança.

saiba mais

A adolescência é a fase de transição da infância para o mundo adulto. O


adolescente almeja os privilégios do adulto. Dessa forma, o adolescente
precisa sentir que controla alguns aspectos de sua vida, tais como: escolha
de amigos, horários, aparência física etc. Geralmente, tais temas são motivos
de conflitos com os pais que precisam saber lidar com os filhos nessa idade.

Fonte: EIZIRIK, Cláudio laks; BASSOLS, Ana Margareth Siqueira. O ciclo da vida
humana: uma perspectiva psicodinâmica. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.

A saída dos filhos de casa, uma quarta mudança no ciclo vital da família, é vista pelos
pais como o esvaziamento do ninho (OSÓRIO, 1996). Novamente a família precisa
reorganizar-se para acomodar essas novas modificações, seja pela saída do filho para
o estudo, trabalho ou casamento. Uma nova configuração familiar deverá ser ins-
taurada para que os pais possam então lidar com a “síndrome do ninho vazio” e, por
sua vez, um novo ciclo vital se inicia com a saída dos filhos, que agora formarão suas
próprias famílias.
20 Pós-Universo

Por fim, a morte dos avós e dos pais encerram um ciclo familiar nuclear. A morte
é encarada nesse momento como sentimento de perda, e o luto vivido de maneira
saudável é necessário à própria reorganização familiar.
Como afirmamos anteriormente, este ciclo é variável e não se constitui em uma
sequência a ser seguida rigorosamente, “os divórcios [...] face às inúmeras variáveis
que introduzem na estrutura familiar, bem como as alterações significativas que
promovem no ciclo vital da família, nos obrigam a repensá-la em novos contextos”
(OSÓRIO, 1996, p. 23).
O que nos importa na compreensão do ciclo vital familiar é a reorganização sempre
saudável e acomodativa das novas fases de expansões ou dispersões que lhe são in-
trínsecas. Claro é que dada a diversidade de organização e estruturas familiares que
temos e dada a diversidade de possibilidade de definirmos o termo família, cada uma
destas instituições organizar-se-á de forma distinta, mas algumas regularidades lhe
são intrínsecas, como a constituição de um novo núcleo familiar, o nascimento dos
filhos e a morte dos componentes familiares.
Pós-Universo 21

O processo de adaptação ao ciclo vital é de extrema importância neste sentido. A


não adaptação às mudanças ocasionadas neste ciclo podem gerar estresse e o apa-
recimento de sintomas, sinais visíveis de que o sofrimento à aceitação de uma nova
fase não foi vivida de modo saudável.

reflita

“O significado que a família atribui ao tempo e às transformações está in-


timamente ligado à possibilidade de se adquirir novos conhecimentos,
diferenciar-se do grupo de origem, através do saber e adquirir assim uma
identidade própria” (POLITY, 2001, p, 39)
Fonte: POLITY, E. Dificuldades de Aprendizagem e família: construindo novas
narrativas. São Paulo: Vetor, 2001.

Deste modo, mais que compreender o ciclo vital peculiar a cada família, importa-
-nos, enquanto psicopedagogos, compreender como a família encara o processo de
mudança necessário, mas também como permite aos seus filhos a criação de uma
identidade e personalidade que lhe seja própria.
atividades de estudo

1. Vimos em nossos estudos que o historiador francês Philippe Ariès discute acerca da
família, relacionando-a à história da cidade, ou seja, para ele a noção de família mo-
dificou-se em decorrência do surgimento das cidades. Ariès destaca três mudanças
importantes entre os séculos XIX e XX. Sobre estas mudanças, leia as assertivas e as-
sinale a correta.

a) A primeira mudança está relacionada com a propagação das ideias liberais e com
o modo de produção capitalista em ascensão. Neste momento, ocorre o que Ariès
determinou como sendo a separação entre o lugar do trabalho e o da casa.

b) A segunda mudança é caracterizada pela sua natureza econômica, ou seja, as mu-


danças do sistema de produção alicerçadas na expropriação da força de trabalho
influenciaram a organização familiar na segunda fase.

c) A terceira mudança é decorrente de mudanças de caráter psicológico, sendo que


a afetividade proporciona uma nova perspectiva sobre as relações familiares.

d) A segunda mudança está associada ao avanço das ideias iluministas, o Renascimento


e a industrialização. Neste contexto, o Estado, exige para si o domínio da vida
privada e pública.

e) Nenhuma das alternativas acima está correta.

2. Vários autores apresentam definições ao termo família. Um deles é Macedo (1994)


que propõe uma interessante definição do termo e que corrobora com a definição
proposta em nossos estudos. Sobre as ideias de Macedo em relação ao conceito de
família, leia as assertivas e assinale a alternativa correta.

I. A referida autora propõe a definição de família configurando-a de modo nuclear,


extensa e abrangente.

II. A ideia central da definição apresentada por Macedo é a função familiar desem-
penhada por cada um dos integrantes.
atividades de estudo

III. Macedo propõe que a família é uma unidade básica da interação social, sendo
que as relações estabelecidas na família é composta por interações. A autora di-
ferencia interação de relação.

IV. A definição proposta por Macedo configura a família de modo macro e micro. Em
relação ao primeiro modo a família é apresentada como todos os participantes
de uma mesma unidade. já no segundo modo, podemos perceber o núcleo fa-
miliar, ou seja, as personagens que compõem a família que vivem em um mesmo
ambiente.

a) Estão corretas apenas II e III.

b) Estão corretas apenas II e IV.

c) Estão corretas apenas I, II e III.

d) Estão corretas apenas II, III e IV.

e) Nenhuma das alternativas acima está correta.

4. O ciclo vital da família, como vimos, é de suma importância na compreensão e no en-


tendimento da dinâmica das relações que se estabelecem nesta instituição. Pensando
na discussão sobre ciclo vital, proposta por Osório (1996), apresentamos a seguir
alguns tópicos sugeridos pelo autor, analise-os e relacione as colunas.

(1) Nascimento dos filhos.

(2) Adolescência dos filhos.

(3) Saída dos filhos da casa paterna.

(4) Morte dos avós.


atividades de estudo

( ) Marca uma nova fase de conflitos familiares necessários à formação do filho nesta
etapa. Tais conflitos geram inseguranças tanto nos pais quanto nos filhos.

( ) É caracterizada pelo encerramento de um ciclo familiar nuclear e deve ser vivido


de maneira saudável , necessário à própria reorganização familiar.

( ) Implica uma série de transformações e redefinem os papéis assumidos até então


na configuração familiar, exigindo do casal dedicação e entendimento de que a nova
função não implica no abandono das funções já agregadas.

( ) É vista pelos pais como o esvaziamento do ninho e os pais devem saber lidar com
o que comumente chamamos de “síndrome do ninho vazio”.

A sequência correta é:

a) 1, 2, 3 e 4.

b) 2, 1, 4 e 3.

c) 3, 2, 4 e 1.

d) 2, 4, 1 e 3.

e) 4, 2, 1 e 3.
resumo

Ao longo deste estudo, buscamos repensar uma definição de família que desse conta de incluir
todas as modificações vividas em nosso mundo contemporâneo. De uma definição de família
constituída apenas pelo homem-mulher-filho, propomo-nos a pensar em uma definição que in-
cluísse todas as possibilidades de constituição familiar.

Com isso, nossa trajetória buscou, em diferentes autores, elementos que corroborassem com nossa
ideia de que a família, independente da forma que é organizada, constitui-se como o núcleo pri-
mordial de socialização, afetividade e humanização do homem.

Vimos que o vínculo afetivo, tão importante na conceituação de família moderna, é um fenôme-
no recente e que, embora possamos perceber esses vínculos em alguns momentos da história
de nossa civilização, o afeto e esta noção de pertencimento são acontecimentos recentes. Vimos
que a partir do historiador Ariès, a crise familiar que enfrentamos, esse questionamento e a sen-
sação de não sabermos como proceder com a educação de nossos filhos, não é causada pela
família, mas tem sua causa fora dela. A entrada do homem no mundo do trabalho, o surgimento
do liberalismo e do capitalismo e o modo de produção burguês reconfiguram a noção de família.

Além disso, discutimos o ciclo vital da família, o qual, embora possa variar de família para família,
é importante conhecermos e compreendermos, pois um ciclo malsucedido, com perdas, traumas
ou cisões, contribui para a formação de sintomas e/ou dificuldades, tanto de relacionamento
quanto de aprendizagem. A formação da personalidade e da identidade dos filhos tem sua base
na organização familiar e longe de querermos afirmar que somente as famílias com ciclos vitais
como o descrito aqui são passíveis de sucesso, o que nos importa é refletir sobre as estratégias
de compreensão da organização familiar e de sua dinâmica singular a cada núcleo familiar.
material complementar

Título: História Social da Criança e da Família

Autor: Philippe Aries

Editora: Ltc Editora

Sinopse: nesta obra, o historiador medievalista mostra como as


relações familiares se alteraram durante o século XVIII a partir do
comprometimento dos pais com seus filhos, sobretudo, após o
controle da natalidade e o alto índice de mortalidade registra-
do. Discursando sobre o nascimento do sentimento de infância,
Ariès retrata como as crianças eram compreendidas pela socie-
dade, isto é, ora como inocentes, ora como seres que mereciam controle e disciplinamento. Do
mesmo modo, o autor conceitua a família e apresenta sua trajetória histórica desde o período
medieval até a modernidade.

Título: A Canção da Estrada

Ano: 1955

Sinopse: a família Brahmin é alterada quando o pai, Harihara,


um homem sonhador e poeta, viaja em busca de novo emprego
capaz de suprir as necessidades da família. A dinâmica familiar
é alterada com essa ausência e quando o pai retorna ao vilare-
jo de Bengala encontra sua família um pouco diferente daquela
que havia deixado.

Comentário: o filme justifica-se, pois nele podemos perceber a


mudança na dinâmica familiar e como tal mudança atinge toda a família, modificando sua estrutura.
referências

ARIÈS, P. A família e a cidade. In: FIGUEIRA, S.; VELHO, G. (Orgs). Família, Psicologia e Sociedade.
Rio de Janeiro: Campus, 1981.

DESSEN, A. L. C. J. A ciência e o desenvolvimento humano [recurso eletrônico]: tendências


atuais e perspectivas futuras. Porto Alegre: Artmed, 2008.

DHUODA. La Educación Cristiana de mi Hijo. Pamplona: Ediciones Eunate, 1995.

EIZIRIK, Cláudio laks; BASSOLS, Ana Margareth Siqueira. O ciclo da vida humana: uma perspec-
tiva psicodinâmica. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.

LÉVI-STRAUSS, C. L’Antropologie Structurale. Paris: Plon, 1958.

MACEDO, R. A família diante das dificuldades escolares dos filhos. In: OLIVEIRA, V. B.; BOSSA, N.
Avaliação psicopedagógica da criança de zero a seis anos. Petrópolis: Vozes, 1994.

OSÓRIO, L. C. Família hoje. Porto Alegre: Armed, 1996.

POLITY, E. Dificuldades de Aprendizagem e família: construindo novas narrativas. São Paulo:


Vetor, 2001.

SOIFER, R. Psicodinamismos da família com crianças. Petrópolis: Vozes, 1982


resolução de exercícios

1. Alternativa C. A terceira mudança é decorrente de mudanças de caráter psicológi-


co, sendo que a afetividade proporciona uma nova perspectiva sobre as relações
familiares.

2. Alternativa B. Estão corretas apenas II e IV.

3. Alternativa D. 2, 4, 1 e 3.

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