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ADOLESCENTES EM LIBERDADE ASSISTIDA E A ESCOLA PÚBLICA: COMBATENDO A

VULNERABILIDADE SOCIAL DOS ALUNOS INFRATORES

Mirian Cristina Siqueira de Cristo1

Resumo:

O presente trabalho analisa a vulnerabilidade social dos adolescentes, especialmente aqueles que
praticaram atos infracionais e que se encontram em Liberdade Assistida, realizando uma estreita ligação
entre esses fatos, abordando as responsabilidades do Estado, da família e da sociedade. Além disso,
demonstra o papel que a escola pública assume para os adolescentes que cumprem medidas
socioeducativas, apresentando tantos os aspectos negativos quanto os positivos das instituições de ensino
públicas, trazendo alternativas para que a educação possa combater a vulnerabilidade social dos
adolescentes infratores.
Palavras-chaves: Vulnerabilidade Social; Escola pública; Adolescentes infratores; Medidas
socioeducativas; Liberdade assistida.
Abstract:

The present study analyzes the social vulnerability of adolescents, especially those who have committed
acts of misconduct and are in Assisted Living, making a close connection between these facts, addressing
the responsibilities of the State, the family and society. In addition, it demonstrates the role that the public
school plays in adolescents who comply with socio-educational measures, presenting both the negative
and positive aspects of public educational institutions, bringing alternatives so that education can combat
the social vulnerability of the offending adolescents.
Keywords: Social vulnerability; Public school; Teenage offenders; Educational measures; Assisted
freedom.

1
Graduada em História pela Universidade Estácio de Sá, cursou Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão Escolar: Orientação
e Supervisão pela Faculdade de Educação São Luís, Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado em História pela Universidade
Salgado de Oliveira, atualmente cursando a Pós-Graduação Lato Sensu em Educação, Política e Sociedade pela Faculdade
de Educação São Luís. E-mail: mirian.de.cristo.1978@gmail.com.
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1.1.Introdução

Para falar da vulnerabilidade social dos adolescentes em liberdade assistida e da importância da


escola pública para esses alunos em específico é preciso primeiramente definir o que é adolescência e o
que é vulnerabilidade social. Segundo o artigo 2º da Lei Nº 8.069, de 13 de Julho de 1990 2 adolescente
é a pessoa entre doze e dezoito anos de idade. Já no Estatuto da Juventude temos a definição de jovens
como pessoas com idade entre quinze e vinte e nove anos (BRASIL, 2013). A autora Avila Lisélen Freitas
realizou em seu texto As medidas socioeducativas em meio aberto e a relação com a judicialização das
violências nas escolas na cidade de Porto Alegre a distinção entre a adolescência e a juventude:

Nesta perspectiva, adolescência e juventude se constituem como categorias múltiplas e


diversas. Enquanto a adolescência se apresenta como uma etapa de desenvolvimento da
pessoa, que acarreta em transformações físicas e psicossociais, constituindo-se como
etapa evolutiva no ciclo vital, a juventude se constitui como uma categoria sociológica,
onde são consideradas outros indicadores que não somente o processo de
desenvolvimento para sua compreensão, mas também determinações históricas,
políticas, sociais, econômicas e culturais. A juventude, enquanto categoria sociológica,
é tradicionalmente reconhecida como uma fase intermediária de transição da
adolescência para a vida adulta, referindo-se a um período de mudanças sociais, culturais
e biológicas, que variam de acordo com as sociedades, as culturas, as etnias, as classes
sociais e os gêneros. Esta categoria deve ser compreendida na sua heterogeneidade, pois
não existe somente um grupo de indivíduos em um mesmo ciclo de vida, ou seja, apenas
uma juventude. Esta transversalidade é perpassada por uma série de relações, vivências
e oportunidades em função de classe social, situação econômica, gênero, raça etc.
(FREITAS, 2013, p. 69).

Nesse trabalho em específico irá ser abordado o período da adolescência e suas particularidades,
o que não impede de também ser citado a criança3 em diversas vezes, como forma de maior compreensão
sobre o tema.
Tornar-se adolescente é entrar em uma etapa do desenvolvimento humano, físico, mental, social,
onde ocorre uma construção e desconstrução da identidade, da visão do mundo e das relações familiares
(FREITAS, 2013, p.68). A palavra adolescente, do verbo latim adolescer que significa crescer,
desenvolver, envolve muito mais do que uma etapa do desenvolvimento. Representa a transformação, a
passagem, mudança e inconformidade frente ao que já está estabelecido. Para muitos é uma fase de crise,
compreendida por conflitos e luto. Luto pela perda do corpo da infância, dos pais que já não o tratam

2
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
3
Segundo o ECA, considera-se criança a pessoa até doze anos de idade incompletos.
3

como criança, luto pelas modificações. Crescer dói fisicamente e emocionalmente, causando conflitos
necessários para a integração no mundo adulto (BRASIL, 2014, p. 5).
Esses conflitos e essas dores tornam-se ainda maiores quando o adolescente encontra-se em
vulnerabilidade social. Vulnerabilidade social é o conceito que caracteriza a condição dos grupos de
indivíduos que estão à margem da sociedade, ou seja, pessoas ou famílias que estão em processo de
exclusão social, principalmente por fatores socioeconômicos. A vulnerabilidade ocorre principalmente
pela pobreza, ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos e, ou, fragilização de
vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento social como discriminações etárias, étnicas, de gênero
ou por deficiências, dentre outras (BRASIL, 2004, p. 33). Cabe aqui uma distinção entre risco social e
vulnerabilidade social. Risco social não poder ser identificado como vulnerabilidade, embora se possa
estabelecer uma relação entre eles. O primeiro conceito se refere à situação de grupos, e o segundo deve
ser usado para a situação fragilizada de indivíduos (JANCZURA, 2012, p. 307). Ou seja, o risco social
abrange amplamente e a vulnerabilidade é específica ao indivíduo:

A sociedade pós-industrial é uma sociedade de risco, principalmente pelos efeitos que o


mundo globalizado produziu, no qual as ações individuais podem ter efeito sobre o
planeta e as modificações em algum lugar do globo ter efeitos sobre os indivíduos do
mundo todo (JANCZURA, 2012, p. 307).

Para Lima e Veronese (2008, p. 13-14), estado de vulnerabilidade é intrínseco a adolescência,


pois estar adolescente significa um ser que ainda não está completo, transitando entre a infância e o
mundo adulto. O adolescente por si só é um ser vulnerável e sujeito a uma vasta gama de situações que
o colocam em risco. Além disso, historicamente crianças e adolescentes no Brasil são objeto de
exploração desde a época colonial (MELLO, 1999, p.129) e expostas a inúmeros tipos de violências
físicas e emocionais. Essas violações dos direitos das crianças e adolescentes são partes de uma cruel
face da história sócio-política-cultural de toda humanidade. Ezio Flavio Bazzo deixa essa afirmação bem
clara em sua obra, quando trata da violência histórica cometida contra as crianças e adolescentes:

Para onde quer que se olhe neste imenso vácuo mental que é a história da humanidade,
rastros de sangue e de massacres perpetrados sempre pelos mesmos patriarcas e sempre
pelos mesmos sacerdotes, seja da religião, da cultura ou do Estado que, apesar das
batinas serem distintas, sempre estiveram a serviço dos mesmos ideais e das mesmas
demagogias grotescas (2004, p.30).

Na Grécia, Roma Antiga e Idade Média as crianças viviam no anonimato, não existindo
preocupação social com elas. Misturavam-se com os adultos, transformando-se em miniaturas. As mortes
eram frequentes e não se faziam muita questão, sendo muito comum o infanticídio e os maus tratos. A
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partir do final do século XVII começou a aparecer uma modificação social no que se refere à infância.
Com a transição do Feudalismo para o Capitalismo, a infância passou a ser considerada um estado
separado. A Burguesia trouxe a ideia que a crianças deveriam ser educadas de forma especial, a fim de
se prepararem para quando fossem adultas (SOUSA, 2005, p. 52). Tratando-se de sociedades
contemporâneas, adolescente é aquele que não é mais criança, mas ainda não é um adulto. Por diversas
vezes espera-se dele comportamento infantil, dócil e maleável. Em muitas outras espera-se a maturidade
adulta, ponderação e racionalidade. Nessas sociedades inexistem rituais de passagem objetivos para a
fase adulta. A compreensão do que é o adulto, ou mesmo do que é o adolescente, depende de fatores
relacionados à condição social do sujeito e, especialmente, ao exercício de experiências afirmativas da
identidade adulta, como trabalhar, engravidar, ter filhos, ter uma vida sexualmente ativa e sustentar a
família (AGRÁRIO, 2016, p. 15). Crianças e adolescentes sempre foram inseridos em um processo sócio-
político de trabalho precoce, futuro subalterno, controle político, disciplina e obediência vigiada, quadro
que, ao olhar de hoje, mostra-se completamente inadequado para o desenvolvimento de crianças e
adolescentes saudáveis (FALEIROS; FALEIROS, 2008, p.25).
Mesmo assim, de modo geral somente a partir dos anos 1990 que os altos números de
mortalidade da população infanto-juvenil tornou-se mais visível e que a violência passou a ser tema da
agenda da saúde pública (BARROS, 2005, p. 17). Aqui no Brasil a doutrina da proteção integral
recomendada pela ONU só foi inserida a partir da Constituição de 1988, materializando-se no Estatuto
da Criança e Adolescente. Ao analisar o contexto histórico e social no Brasil, o ECA surgiu como garantia
de proteção integral a criança e ao adolescente, mudando de maneira profunda o antigo código de
menores. O Eca passa então a considerar a criança e o adolescente como sujeito de direitos e de condições
específicas de desenvolvimento, vindo não só validar a Declaração Universal dos Direitos das Crianças
como promover os mesmos a categoria de cidadãos (SOUSA, 2005, p. 55):

O processo histórico permite visualizar como crianças e adolescentes foram, ao longo


do tempo, envolvidos em relações de agressões e maus tratos por diversas instituições
sociais. As gradativas transformações socioculturais, incluindo a caracterização desse
grupo social como “sujeitos de direito”, exigiram a mobilização de diferentes segmentos
da sociedade pública e civil (FALEIROS; FALEIROS, 2008, p.15-16).

Essa promoção enquanto cidadão por muitas vezes não consegue sair da esfera legal e ir para a
prática social. A violência social é enorme contra a criança e o adolescente e a vulnerabilidade dos
mesmos tornou-se uma questão social. Segundo Vicente de Paula Faleiros, a violência não é entendida
somente como ato isolado, psicologizado pelo descontrole, pela doença, pela patologia, mas como um
desencadear de relações que envolvem a cultura, o imaginário, as normas, o processo civilizatório de um
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povo (FALEIROS, 1998). A miséria e as desigualdades contribuem para essa violência e ainda mais...
contribuem para o processo discriminatório das crianças e adolescentes vindos de comunidades pobres e
violentas, possibilitando a criminalização desses indivíduos (BARROS et al, 2005, p. 74). A estrutura
social do Estado brasileiro favorece a divisão entre as conquistas jurídicas institucionais e a eficácia das
políticas sociais para efetivar direitos e a proteção integral:

A expansão do capitalismo tem gerado profundas contradições sociais, que se


expressam pela sociedade desigual e pela pobreza crescente da grande maioria da
população. Podemos considerar que estas desigualdades são expressas pelas violações
de direitos sociais, pelas condições de privação e pela iniquidade e abandono a que
estão submetidas crianças, adolescentes e suas famílias (BARROS et al, 2005, p. 74).

Com a ausência de redes de proteção social é certo que os adolescentes expostos a pobreza de
comunidades carentes, dominados pela falta de empregos ou subempregos buscará no capitalismo de
pilhagem, formas de sobrevivência. O preconceito racial, a hierarquia de classes naturalizam a exclusão
social dos adolescentes (WACQUANT, 2001, p. 5), tornando pobreza e exclusão a mesma face da moeda
no Brasil.

1.2. Vulnerabilidade social e o ato infracional

A adolescência é uma etapa da vida marcada pela construção e afirmação de uma identidade
individual e por uma busca de pertencimento cultural. Nessa fase da vida o ser humano está buscando
necessidades psicossociais de formação como pessoa, procurando emancipação, aceitação pelos grupos
e durante todo esse processo não é incomum perceber manifestações violentas por parte dos adolescentes.
Essas ações que por muitas vezes terminam em ato infracional e geralmente estão relacionadas com a
vulnerabilidade social que o adolescente se encontra, atrelados pela incapacidade da família, da sociedade
e do Estado, que deixam de garantir uma proteção integral ao mesmo (VERONESE, 2008, p. 13-14).
Ressalta-se aqui o significado de ato infracional: “Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta
descrita como crime ou contravenção penal” (BRASIL, 1990):

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – considera o jovem até 18 anos como


inimputável, ou seja, todo adolescente que porventura pratica um ato infracional não
pode ser condenado como se fosse adulto, segundo doutrina que estabelece a criança e
o adolescente como sujeitos de direito à proteção integral. Assim sendo, elimina-se a
culpabilidade do jovem, o que não implica deixar o autor de ato infracional isento de
consequências, mas submetê-lo às normas de legislação especial (GALLO; DE
ALBUQUERQUE WILLIAMS, 2008, p.42).
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Mas qual é realmente a ligação entre a vulnerabilidade social do adolescente e a prática do ato
infracional? Como já dito, a adolescência por si só já se caracteriza por um momento de risco social, mas
essa condição fica muito maior quando o adolescente está inserido nos grupos em exclusão social.
Mesmo assim, não podemos nunca observar esses adolescentes de um modo homogêneo. O estudo da
violência e da prática dos atos infracionais resulta em situá-los enquanto um fenômeno multifacetado,
marcado pela heterogeneidade e constituído por múltiplas determinações que permeiam a realidade social
(FREITAS, 2013, p.13-14).
A influência do ambiente na gênese da violência praticada por esses adolescentes é comum e
fato de inúmeros estudos. O abuso sexual na infância, relações familiares violentas, residir em
comunidades com altos índices de crimes são entendidos como fatores de risco que estão associados a
alta probabilidade de ocorrência de resultados negativos ou indesejáveis, sendo que dentre tais fatores se
encontram os comportamentos que podem comprometer a saúde, o bem-estar ou o desempenho social
do adolescente (GALLO, 2008, p. 44). A questão do consumo de drogas na adolescência, fator de grande
vulnerabilidade e constantemente associada aos atos infracionais praticados aparece associada a ideia de
construção de identidade e de pertencimento. A cultura do consumo se apresenta sob o espectro do status,
do reconhecimento social, do prazer, do ter para ser (FREITAS, 2013, p.13-14).
Na verdade, o que se observa é a grande ausência do Estado em relação a esses adolescentes.
As desigualdades sociais, a pobreza, a extrema pobreza e as diferenças raciais gritantes da nossa
sociedade impulsionam o aumento da criminalidade. Hoje vivemos em um contexto de questionamento
dos padrões éticos, de limitações de direitos sociais, da hipervalorização do consumo, da transformação
do cidadão em consumidor, da interferência extrema da mídia no espaço privado, da precariedade das
garantias legais, a ideologia predominante vai travestindo o velho de novo, de maneira a desvalorizar a
vida e dificultar a implementação dos direitos da população. A organização dos direitos sociais nunca foi
concebida a partir da igualdade, mas de maneira hierarquizada, colocando os desfavorecidos em situação
de tutela, como se eles não pudessem ocupar o espaço de sujeitos de direitos, em face de sua pobreza
(BARROS et al, 2008, p. 142). Tutelados desamparados, marginalizados e excluídos, muitas vezes
cercados pelas falas meritocratas que os culpabilizam pelas próprias condições em que são obrigados a
viverem.
No contexto social dessas construções ideológicas preconceituosas, permeiam as desigualdades
sociais e subjazem à questão social da pobreza e vão, na atualidade, modificando-se e incorporando novos
argumentos que interferirão na ação daqueles que sobrevivem nela. Os elementos mais pobres são sempre
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citados como constitutivo do processo de criminalização. São além de excluídos, considerados como
potencialmente perigosos para a “ordem social”. Assim na relação da violência e dos adolescentes, os
mais pobres sempre são alvos das críticas midiáticas e das intervenções repressivas quando cometem
algum tipo violência, em comparação das situações das quais são vítimas, pois tais contextos, de forma
geral, são naturalizados e banalizados. A morte de um jovem negro, periférico não choca tanto a
sociedade quanto a morte de um jovem branco, de classe média ou alta. Falas preconceituosas rondam a
morte dos adolescentes pobres, como se fosse aceitável e até necessário a extinção desses jovens para a
manutenção da sociedade. Sem dúvida, a violência tem se expressado nas políticas de segurança, em que
a morte de jovens só tem significado para suas famílias, o que somente reforça a histórica invisibilidade
que o grupo tem, quando se trata de ter seus direitos preservados. Na perspectiva da institucionalização
e disciplinamento, porém, é esse segmento que mais tem visibilidade, sendo as políticas mencionadas
acima dirigidas a ele, de maneira quase que exclusiva (BARROS et al, 2008, p. 143-144).
A grande vulnerabilidade e a exclusão social facilitam a entrada no mundo infrator. A exclusão
social significa fundamentalmente desintegração social a diferentes níveis: econômico, social, cultural,
ambiental e político. Negligência, abandono, pobreza, criminalidade e violência na família, escola,
comunidade e na sociedade como um todo são situações comuns nos adolescentes em conflito com a lei.
Vários sinais tornam evidente a desigualdade que acomete os adolescentes que cometem atos infracionais
no Brasil: supremacia de jovens afrodescendentes (40% são pardos e 21% negros); predomínio de jovens
pobres (66% vivem em famílias cujo rendimento mensal varia de menos de um até dois salários-mínimos
vigentes em outubro de 2002) (ASSIS, 2005, p. 83). A exclusão social é assim um conceito mais
abrangente do que a noção de pobreza, traduzindo-se pela falta de vários tipos de poder: econômico, de
decisão, de influência e de participação na vida da comunidade, como exercício pleno dos direitos e
deveres de cidadão (RICHARDSON, 2008, p. 39):

O termo exclusão social começou a ser utilizado na França, na década de 60, como forma
de fazer referência, de um modo impreciso, a problemas de pobreza. A partir da década
de 80, os países europeus vem observando um aumento do número de pessoas que se
encontram em situação precária, uma “nova pobreza” o quarto mundo – o terceiro mundo
dentro do primeiro. Essa nova pobreza se caracteriza pelo desemprego estrutural,
concentração de população nas periferias das grandes cidades, falta de emprego,
particularmente para pessoas, problemas migratórios, falta de moradia, etc. Assim, a
nova pobreza não se restringe à escassez de recursos materiais. Mais que isso, expressa
a falta de participação no padrão de vida dominante, devido a fatores como a
escolaridade, a idade, o domínio das novas tecnologias e a integração no vasto mundo
da informação cibernética (RICHARDSON, 2008, p. 35-36).
8

Existe também o processo de “naturalização da exclusão”. Esse processo serve para explicitar,
especificamente no caso da sociedade brasileira, a natureza da incidência dos mecanismos que promovem
o ciclo de reprodução do fenômeno da exclusão, representado pela aceitação tanto ao nível social, como
do próprio excluído, expressa em afirmações como "isso é assim e não há nada para fazer". Esse olhar
“natural” sobre o fenômeno acaba por contribuir para a manutenção do ciclo da exclusão, reforçando-o
e reproduzindo-o. O excluído torna-se estigmatizado, marcado, cicatrizado, onde passa a enfrentar um
processo de desqualificação que o empurra para a marginalidade (WANDERLEY, 1999, p. 23-24).
É comum em nossa sociedade essa estigmatização, sobretudo quando se trata da pobreza,
mesmo quando a sociedade tenta de alguma forma assistir essa grande parcela da população:

Ao ser considerada intolerável pelo conjunto da sociedade, a pobreza assume um status


social desvalorizado. Os pobres são obrigados a viver numa situação de isolamento,
procurando dissimular a inferioridade de seu status no meio em que vivem e mantendo
relações distantes com todos os que se encontram na mesma situação. A humilhação os
impede de aprofundar, desse modo, qualquer sentimento de pertinência a uma classe
social (PAUGAM, 1999, p. 69).

O estigma criado e as representações sociais da população pobre enquanto “classe perigosa”


expressam a singularidade dos espaços sociais no processo de reprodução social, espaço onde a miséria
e a ausência das garantias de cidadania são peculiares, acrescidas da negação dos padrões próprios
culturais e das estratégias de sobrevivência desenvolvidas (BARROS, 2005, p. 23). Esse processo de
criminalização nasce na estrutura do Estado, que leva milhares de adolescentes a condição de infratores,
em um evidente processo seletivo que tem como base inicial a privação dos Direitos Humanos. O Estado
nega inúmeros direitos, especialmente aqueles de segunda geração, como os sociais e econômicos,
colocando na ponta do sistema criminal a população infanto-juvenil. Já no momento da aplicação penal,
se dirige se dirige de maneira prioritária aos grupos sociais mais vulneráveis. Entre eles encontramos as
crianças e os adolescentes empobrecidos pela negação de direitos dos Estados. Nesta fase do processo
de criminalização, fica evidente que a norma penal não se aplica de maneira isonômica na sociedade
(NICODEMOS, 2009, p. 62).
Em locais desassistidos em educação, saúde e segurança, o processo de marginalização social
torna-se mais aparente e compulsivo, transformando em uma reação instintiva ao meio social, podendo
constituir-se na primeira etapa de uma sucessão de tragédias, que irão esfacelar as fases de
desenvolvimento da vida da criança e do adolescente. Assim a ausência de atenção médica e alimentar
adequadas desde o pré-natal irá resultar em um rendimento escolar razoável, que se refletirá em sua
integração social, numa reação negativa em cadeia, cujo resultado final será um adolescente
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completamente desajustado e de complicada recuperação, propenso a violência e a criminalidade (PAES,


1996, p. 11-12).
A família também participa do processo de criminalização dos adolescentes:

A família mantém interações com o contexto social em que está inserida, de forma
dinâmica. É uma organização complexa, espaço de intimidade e socializações,
constitutiva de identidades pessoais e grupais, de conflitos e conquistas. Na família se
organizam, se formam, se produzem e reproduzem as interações de seus membros e
destes com a sociedade em geral. Os conflitos familiares são permeáveis às experiências
individuais e destes com outros segmentos sociais, permitindo interações sociais e
socializações, caracterizando uma estrutura dinâmica. A desconstrução de um modelo
familiar idealizado e estático pressupõe uma visão de família como uma unidade
dinâmica inserida em relações sociais, que interagem com as transformações cotidianas
da realidade social e não podem ser uniformizada nem universalizada enquanto
paradigma único de funcionamento da sociedade. A idealização da família faz com que
pareça que em seu interior as relações sejam um bloco, todo harmônico e solidamente
construído, as relações estabelecidas desfiguradas em um todo estruturado, onde as
diferenças e conflitos devem ser camuflados em nome de uma aparente perfeição. E se
os conflitos inerentes a todas as relações sociais são camuflados, as distorções destas
relações são ainda mais veladas (BARROS et al, 2005, p. 76).

Como parte social do Estado e vítima do mesmo, tendem a ser mostradas como potenciais
fatores de risco para que o adolescente pratique atos infracionais, revelando extremo grau de fragilidade,
por várias situações: precária situação socioeconômica; deficiente supervisão por separação dos pais;
ausência da mãe do lar devido ao trabalho ou distanciamento da figura paterna; mortes e doenças
rotineiras na família; relacionamentos marcados por agressões físicas e emocionais, precário diálogo
intrafamiliar e dificuldades em impor disciplina (ASSIS, 2005, p. 83). Famílias abandonados pelo Estado
tendem a reproduzir o mesmo abandono com seus filhos. Também é alto o número de adolescentes
infratores em famílias monoparentais, chefiadas pela mãe ou avó. A mulher, em inúmeras das vezes
chefiando tais famílias, são obrigadas a conviver com o estresse de manter financeiramente a casa e de
educar os filhos. Não é o simples fato de viver em famílias monoparentais que implica problemas no
desenvolvimento infantil, mas a relação que essa condição tem com outras variáveis de risco. Por
exemplo, mães com baixa escolaridade (ensino fundamental incompleto) e trabalhando em subempregos,
com baixa qualificação e remuneração lidam com um nível de estresse maior para prover financeiramente
a casa e cuidar dos filhos, sem o apoio do parceiro.
Dessas famílias monoparentais chefiadas por mulheres, encontram-se 61,9% formadas por
mulheres negras contra 29,9% por mulheres brancas, causando o fenômeno da feminização da pobreza
da mulher negra (CACCIAMALI, TATEI, 2008, p.121). São as mulheres negras, sem parceiros, que
sustentam as famílias que mais estão à margem da pobreza e da pobreza extrema. Essas dificuldades
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junto com uma rede de apoio ineficaz (ausência de apoio do parceiro, falta de recursos na comunidade
como creches, entre outros), pode afetar diretamente o estilo parental que é estabelecido, como pode se
observar na letra dos Racionais Mc’s, grupo de rap paulista que fala em suas letras da vulnerabilidade
social, periferias, mundo do crime e racismo:

Daria um filme uma negra


E uma criança nos braços
Solitária na floresta
De concreto e aço[...]
[...] Família brasileira
Dois contra o mundo
Mãe solteira
De um promissor
Vagabundo (BROWN; ROCK, 2002).

Violência familiar são relatadas constantemente pelos adolescentes infratores. Adolescentes


agressivos geralmente apresentaram alto histórico de violência doméstica. Crianças expostas à violência
doméstica aprendem com seus pais um modelo de resolução de conflito fundamentado no uso da
violência, gerando um círculo vicioso com a utilização da força e da agressividade para a resolução dos
problemas e conflitos. Tem-se também que ser considerada que a própria violência doméstica seja a
causa da alta incidência de famílias monoparentais chefiadas por mulheres. Ou seja, mulheres submetida
a violência pelos seus companheiros optaram pela separação. Nesse caso, a variável violência poderia
ser um evento de risco mais sério do que a baixa escolaridade e/ou pobreza das mães (GALLO; DE
ALBUQUERQUE WILLIAMS, 2008, p. 50):

E nada vim, nada enfim


Recria sozinho
Com a alma cheia de mágoa e as panelas vazias
Sonho imundo só água na geladeira
E eu querendo salvar o mundo
No fundo é tipo David Blaine
A mãe assume, o pai some de costume
No máximo é um sobrenome (EMICIDA; RIMA, 2013).

Problemas escolares também contribuem para a entrada no mundo infrator. Adolescentes em


conflito com a lei tendem a ter poucos anos de estudo, com abandono escolar secundário dada a
necessidade de trabalhar, dificuldade de conciliar escola com trabalho, desentendimento com professores
e colegas, desestímulo quanto à competência escolar atestado por reprovações repetidas, baixa qualidade
do ensino, pouca supervisão familiar no que se refere à frequência escolar do jovem (ASSIS, 2005, p.
11

83). Esse cenário também faz parte da desigualdade social em que esses adolescentes são expostos, com
a precarização das escolas públicas e a falta de oferta de ensino de qualidade para a população mais
pobre. A escola passa muitas vezes a ser um espaço de reprodução de pobreza e desigualdades.
Educação familiar autoritária, com o desejo de punir aqueles que vão contra os valores
convencionais, famílias construídas através do respeito pela força, desprezando a fraqueza, intolerantes
a ambiguidade e escolas com estilo cognitivo que utilizam clichês e estereótipos, de maneira rígida,
generalizando-os a todas as pessoas de uma mesma categoria, sem levar em conta as diferenças
individuais, não sendo capaz de mudá-los na presença de informações novas ou contraditórias, também
especificam o funcionamento do preconceito (JODELET, 1999, p. 57), reproduzem desigualdades e
empurram os adolescentes para o mundo das ruas e por consequência, da criminalidade.
Fica claro, após a análise de diversos autores que a vulnerabilidade social é sim um fator que
impulsiona o adolescente a cometer atos infracionais e que a desigualdade social, a estigmatização da
população pobre e a ausência do Estado são criadores dessa vulnerabilidade. Não se pode aqui deixar de
mencionar a parcela de responsabilidade da família, principalmente as monoparentais chefiadas pelas
mulheres, que abandonada pelo Estado e por seus companheiros reproduz o abandono nos adolescentes.
É claro que as famílias monoparentais também são vítimas de uma sociedade machista, que aceita de
forma corriqueira o abandono masculino, colocando sobre as mulheres da família toda a responsabilidade
de criação dos filhos e deixando para o homem somente a manutenção financeira (que em muitas vezes
também não ocorre). Sobre as mulheres pesam o nascimento e criação dos filhos, que obviamente não
vieram ao mundo somente através dos óvulos.
Cita-se também a responsabilidade da escola, que reproduz as desigualdades, exclui ao invés de
incluir e que muitas vezes não oferece um ensino adequado que possibilite a permanência do adolescente.
Excluídos e marginalizados, muitos não conseguem enxergar outras opções e praticam os atos
infracionais, sendo condenados a cumprirem medidas socioeducativas, dentre elas a Liberdade Assistida
(L.A).

1.3. Liberdade Assistida e a escola pública: Combatendo a vulnerabilidade social do adolescente


infrator

Como já dito, o estatuto da criança e do adolescente (ECA) considera o jovem de até 18 anos
inimputável, ou seja, incapaz de ser condenado como adulto quando pratica algum ato infracional, já que
segundo o próprio ECA toda a criança e adolescentes são sujeitos a ter o direito da proteção integral.
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Assim sendo, elimina-se a culpabilidade do jovem, o que não implica deixar o autor de ato infracional
isento de consequências, mas submetê-lo às normas de legislação especial (GALLO; DE
ALBUQUERQUE WILLIAMS, 2008, p. 42). Vale aqui ressaltar novamente que ato infracional é todo
crime ou contravenção praticado por adolescentes.
De acordo com o artigo 112 do ECA, após verificada a prática de ato infracional, poderá o Poder
Judiciário aplicar medida socioeducativa, por meio da Justiça da Infância e Juventude ou, em sua
ausência, pela Vara Civil correspondente, ou ainda, pelo juiz singular. Ainda de acordo com o artigo 112,
constituem medidas socioeducativas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de
serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semiliberdade; VI - internação
em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. As medidas
socioeducativas são aplicadas aos adolescentes entre doze e dezoito anos em razão de atos infracionais
cometidos. Excepcionalmente, estas poderão ser cumpridas entre os dezoito e os vinte e um anos, quando
o ato infracional foi cometido antes dos dezoito anos (AGRÁRIO, 2016, p. 14-24).
De maneira complementar ao ECA, a Lei do SINASE, no parágrafo 2º do art.1º, define os
seguintes objetivos das medidas socioeducativas: I – a responsabilização do adolescente quanto às
consequências lesivas do ato infracional, sempre que possível incentivando a sua reparação; II – a
integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais, por meio do
cumprimento do seu plano individual de atendimento; e III – a desaprovação da conduta infracional,
efetivando as disposições da sentença como parâmetro máximo de privação de liberdade ou restrição de
direitos, observados os limites previstos na Lei (AGRÁRIO, 2016, p. 32). Já as medidas de Prestação de
Serviços à Comunidade - PSC e de Liberdade Assistida - LA são conhecidas como medidas
socioeducativas em meio aberto porque não implicam em privação de liberdade, mas em restrição de
direitos, visando à responsabilização, à desaprovação da conduta infracional e à integração social
(AGRÁRIO, 2016, p. 25). O adolescente é responsabilizado e punido, mas não fica isolado do seu grupo
social.
A medida socioeducativa de Liberdade Assistida – L.A. (art. 112 do ECA) destina-se a
acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente autor de ato infracional. Trata-se de uma medida
socioeducativa que implica em certa restrição de direitos, pressupõe um acompanhamento sistemático,
no entanto, não impõe ao adolescente o afastamento de seu convívio familiar e comunitário. Existem
especificidades metodológicas a serem consideradas no processo de execução da medida de liberdade
assistida, salientando o necessário acompanhamento individualizado do adolescente pela equipe do
serviço. O planejamento das ações deve considerar que a medida será fixada pelo prazo mínimo de seis
13

meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, a partir de
avaliação técnica, ouvidos o Ministério Público e o Defensor (AGRÁRIO, 2016, p. 26). O Programa de
Liberdade Assistida atende não só o adolescente, mas toda a sua família, uma vez que esta muitas vezes
é a causa principal da entrada do jovem no mundo do crime e não raras as vezes em que se constitui no
núcleo delinquencial. A Liberdade Assistida ou L.A. deve ser estruturada em nível municipal, localizado,
de preferência, na comunidade de origem do adolescente. Assim, busca-se, por meio das medidas
socioeducativas em meio aberto, reverter a tendência crescente de internação dos adolescentes, assim
como confrontar a sua eficácia invertida, constatando que a elevação do rigor das medidas não tem
melhorado a inclusão social dos egressos do sistema socioeducativo (FREITAS, 2013, p. 51).
De acordo com a Tipificação Nacional de Serviços Sócioassistenciais, o Serviço de MSE em
Meio Aberto deve garantir aquisições aos adolescentes, que consistem nas seguranças de acolhida, de
convivência familiar e comunitária e de desenvolvimento de autonomia individual, familiar e social
(AGRÁRIO, 2016, p. 37).
A Tipificação estabelece os seguintes objetivos para o Serviço de Proteção Social a
Adolescentes em Cumprimento de MSE em Meio Aberto: 1. Realizar acompanhamento social a
adolescente durante o cumprimento da medida, bem como sua inserção em outros serviços e programas
sócioassistenciais e de outras políticas públicas setoriais; 2. Criar condições que visem a ruptura com a
prática do ato infracional; 3. Estabelecer contratos e normas com o adolescente a partir das possibilidades
e limites de trabalho que regrem o cumprimento da medida; 4. Contribuir para a construção da
autoconfiança e da autonomia dos adolescentes e jovens em cumprimento de medidas; 5. Possibilitar
acessos e oportunidades para ampliação do universo informacional e cultural e o desenvolvimento de
habilidades e competências; 6. Fortalecer a convivência familiar e comunitária (AGRÁRIO, 2016, p. 38).
A vida do adolescente em cumprimento de medidas é influenciada por inúmeros fatores culturais
e sociais como: condição socioeconômica, escolaridade, origem socioterritorial, religiosidade, questões
de gênero, de sexualidades, de raça/cor, enfim, uma série de fatores que incidirão sobre a sua fala, a sua
forma de se vestir, a forma como se relaciona socialmente, as suas aspirações e os seus receios. Portanto,
esse universo, ao ser incorporado ao planejamento e às intervenções do acompanhamento técnico, pode
proporcionar o estabelecimento de um vínculo de maior confiança entre o técnico e o adolescente,
resultando em intervenções mais adequadas. Com o aumento da idade, também aumenta a gravidade dos
delitos cometidos. Isto é, os adolescentes mais novos tendem a praticar infrações mais leves e o grau de
severidade da infração aumenta progressivamente, conforme a idade (GALLO; DE ALBUQUERQUE
WILLIAMS, 2008, p. 47).
14

Não se pode deixar nunca de mencionar a vulnerabilidade que se encontram esses adolescentes,
fato que ajuda na criação do perfil descrito acima. Só na cidade do Rio de Janeiro, a taxa de homicídios
entre adolescentes de 15 a 19 anos é cerca de duas vezes maior do que a da Colômbia (onde essa taxa foi
de 50,2 por 100 mil habitantes entre 15 e 19 anos) e dez vezes maior do que a dos Estados Unidos, que
apresentaram uma taxa de homicídios de 10,3 por 100 mil habitantes na mesma faixa etária (GALLO;
DE ALBUQUERQUE WILLIAMS, 2008, p. 42). Ser adolescente, negro, pardo e pobre no Rio de Janeiro
é viver sob constante ameaça de morte, independente se está ou não na criminalidade.
O acompanhamento ao adolescente em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto
pressupõe uma dupla dimensão para sua execução: a proteção social e a responsabilização (AGRÁRIO,
2016, p. 50). Já o perfil desse adolescente infrator segue principais características: violação persistente
de normas e regras sociais, comportamento desviante das práticas culturais vigentes, dificuldade para
socializar, uso precoce de tabaco, de drogas e bebida alcoólica, história de comportamento antissocial,
envolvimento em brigas, impulsividade, humor depressivo, tentativas de suicídio, ausência de sentimento
de culpa, hostilidade, destruição de patrimônio público, institucionalização, incidentes incendiários,
vandalismo, rejeição por parte de professores e colegas, envolvimento com pares desviantes, baixo
rendimento acadêmico, fracasso e evasão escolar (GALLO; DE ALBUQUERQUE WILLIAMS, 2008,
p. 43).
E se tratando de evasão escolar, os dados mais do que surpreendem: tornam-se significativos. A
entrada ao mundo da criminalidade e a prática do ato infracional está intimamente ligada ao abandono e
infrequência escolar. Mais da metade (60,2%) dos adolescentes em conflito com a lei não frequentava a
escola, sendo que 43,2% alegaram ter saído por desinteresse. Considera-se que “desinteresse” (43,2%),
“abandono” (13,5%), “conflitos” (13,5%), “fracasso escolar” (5,4%) e “suspensão das aulas” (1,3%)
podem ser agrupados em uma mesma categoria, pois representam as dificuldades que as escolas
apresentam para manter tais alunos nas salas de aula, chega-se a 76,9% dos adolescentes, ou seja, grande
parte da amostra. A maioria dos participantes (61,8%) tinha o ensino Fundamental (6º ao 9º ano), seguida
por 27,6% com escolaridade até o 5° ano; o ensino médio correspondeu a 10,6%. Poucos (14,6%) faziam
algum curso profissionalizante, sendo o de computação o mais comum (os demais cursos foram
marcenaria, padaria, inglês, eletricista e mecânica). Os participantes apresentaram, no geral, baixa
escolaridade, o que condiz com diversos estudos realizados no Brasil e no exterior (GALLO; DE
ALBUQUERQUE WILLIAMS, 2008, p. 51). E nesse contexto, voltamos as famílias monoparentais: a
ausência da figura do pai ou da mãe no cotidiano das crianças está relacionada com a evasão escolar,
haja vista que essas famílias apresentam percentuais superiores de filhos que não estão matriculados na
15

escola – com exceção das mulheres brancas – especialmente no caso dos domicílios chefiados por
homens (CACCIAMALI, TATEI, 2008, p.131). Números apresentados apontam que quanto mais alto o
nível de escolarização, há menos adolescentes em cumprimento de medidas matriculados nestas séries,
o que demonstra uma relação entre o fracasso escolar e envolvimento em atos infracionais (ZANELLA,
2015, p. 9)
Estar fora da escola é um dos caminhos para que o adolescente entre na criminalidade. E depois
de entrar? Qual é o papel da escola? A escola, como formadora, tem um papel fundamental na
desconstrução da violência simbólica e da cultura da inferiorização de gênero, de raça, de classe social e
de geração (FALEIROS; FALEIROS, 2008, p.33). Em se tratando de L.A. devem permear a prática dos
serviços, dentre esses a educação, a saúde, o trabalho, a assistência social, a cultura, o esporte, o lazer,
entre outras (FREITAS, 2013, p. 49). O cumprimento da medidas socioeducativas implica o acesso à
educação formal. O Estatuto da Criança e do Adolescente especifica que os jovens em cumprimento de
medidas socioeducativas devem frequentar o ensino regular. Se por acaso tal medida não ocorrer, o
orientador da deverá encaminhá-los para o ensino formal. Isso na teoria, na prática as coisas não ocorrem
bem assim. É comum os relatos de rejeição pelas escolas das matrículas dos adolescentes em L.A. usando
como argumento o temor de antigos conflitos ou novos. Rejeitam esses alunos por seu histórico de
conflitos e pelo estigma de estarem cumprindo medidas socioeducativas e assim o ciclo de exclusão se
repete (GALLO; DE ALBUQUERQUE WILLIAMS 2008, p. 50-51). A escola assume o papel de
reprodutora dos preconceitos e das desigualdades sociais, muitas vezes por não ter nenhum preparo para
lidar com esses alunos. O maior problema que as escolas enfrentam ao lidar com adolescentes em conflito
com a lei são seus comportamentos inadequados, que levam a escola a adotar medidas disciplinares
coercitivas, que por sua vez facilitam a evasão escolar. O professor brasileiro não recebe capacitação e
incentivo para lidar com essa população. A falta de capacitação aos professores para atuarem com alunos
que apresentam problemas de comportamento, tal como os jovens em conflito com a lei, associada aos
baixos salários que os desestimulam, é assunto premente.
Apesar de haver uma diretriz para inclusão de adolescentes em conflito com a lei no sistema de
ensino, os jovens infratores brasileiros são continuamente expulsos pelas escolas que não conseguem
lidar com os desafios de seus comportamentos. Existindo o reconhecimento do problema (exclusão de
alunos e incapacidade das escolas para lidar com eles), mais recursos poderiam ser disponibilizados a
essas escolas, como, por exemplo, a capacitação de professores para lidarem com alunos cujos
comportamentos são problemáticos e que necessitam de atuação especial, tais como classes com número
reduzido de alunos, aconselhamento e apoio psicológico (GALLO; DE ALBUQUERQUE WILLIAMS,
16

2008, p. 55-56). Não se pode esquecer que a escola tem também a função de atendimento, ou seja, de
proteger seus estudantes crianças e adolescentes contra qualquer violação de seus direitos e de garantir
oportunidades de condições de pleno desenvolvimento escolar, mental, psicológico, sexual, moral e
social. Obviamente, essas responsabilidades não são exclusivas da escola, mas de toda a Rede de
Proteção, da qual ela é parte integrante e na qual tem papel fundamental (FALEIROS; FALEIROS, 2008,
p. 86).
O adolescente em L.A. se vê em um círculo cruel, tendo obrigatoriedade de frequência escolar
e ao mesmo tempo vivendo um processo de exclusão, às vezes mais escancarado e às vezes mais sutil.
Esse processo tem graves consequências em suas vidas, por isso, compreender o problema da exclusão
pressupõe não apenas identificar quem é excluído, mas conhecer também os processos e as implicações
dessa exclusão sobre quem a sofre. A oferta escolar não é homogênea e, por isso, não produz sempre nos
alunos o mesmo desempenho nem alcança a mesma eficácia. Diversos mecanismos próprios do
funcionamento da escola acabam beneficiando os alunos mais favorecidos socialmente e que já dispõem
de maiores recursos para o sucesso do que os outros. Se isso é verdade para o estudante de classes
desfavorecidas, é mais verdadeiro ainda para aquele que, além de viverem nessas condições
socioeconômicas, cometeram ato infracional e cumprem medida socioeducativa enquanto estão
matriculados nas escolas (SILVA, SALLES, 2011, p. 361).
Há que se rever a política nacional de educação especial para que seja maximizada a inclusão
social dos alunos em L.A, que certamente possuem necessidades educativas especiais. As Diretrizes
Nacionais para Educação Especial na Educação Básica (resolução 2/2001 da Câmara da Educação Básica
do Conselho Nacional de Educação) expressam que a ação da educação especial deve abranger não
apenas as condições, disfunções, limitações e deficiências, mas também aquelas não vinculadas a uma
causa orgânica específica, considerando que, por dificuldades cognitivas, psicomotoras e de
comportamento, alunos são frequentemente negligenciados dos apoios escolares (GALLO; DE
ALBUQUERQUE WILLIAMS, 2008, p. 55-56).
Então o que pode ser feito para tentar reverter esse quadro, sabendo que se o abandono escolar
está intimamente ligado a entrada ao mundo do crime e que a permanência na escola é fundamental para
aqueles que já cometeram o ato infracional e estão em processo socioeducativo? Primeiramente é
começar a enxergar o aluno em L.A. como um aluno portador de necessidades especiais e que necessita
de um trabalho pedagógico específico como qualquer outro aluno NEE. A formação e a capacitação de
todos os membros escolares para receber esse aluno e conseguir bons resultados de aprendizagem é
fundamental para que não ocorra processos discriminatórios e por consequência a evasão.
17

A Educação Integral é outro caminho para a inclusão e permanência desses alunos. Se o tempo
de permanência nas ruas ocasionado pelo ócio é apontado como fator relevante para a transgressão das
normas legais, permanecer mais tempo na escola combate a vulnerabilidade social desses alunos,
diminuindo as chances do retorno as práticas ilícitas. Mas para que ocorra uma Educação Integral e um
amparo a esses adolescentes, as escolas precisam estar intimamente ligadas a comunidade, uma escola
“sem muros”. Ao pensar em uma Escola sem muros se tem um grande desconforto devido ao tempo de
violência que vive a sociedade atualmente. Todos estão cada vez mais propensos ao isolamento, como
forma de tentar garantir a segurança de todos os atores do contexto escolar, ou seja, pais, alunos,
funcionários, professores, gestores. Abre-se mão da convivência com a comunidade (principalmente
aquelas que são consideradas áreas de risco devido ao tráfico de drogas e demais atividades ilícitas).
É cada vez mais frequente ver escolas cercadas de grades, portões, equipamentos de segurança
que fornecem uma falsa sensação de segurança. Falsa porque apesar dessas barreiras físicas realmente
impedirem ações externas, os alunos que ultrapassam os portões trazem consigo a violência interiorizada,
fruto de todos os problemas sociais que são submetidos e que sempre explodem dentro do ambiente
escolar de várias formas: agressões físicas e verbais, depredações, furtos, intolerância, desrespeito e na
prática do bullying. A cidade e seus bairros não oferecem somente violência. Eles também dispõem de
inúmeras possibilidades educadoras. A vivência na cidade se constitui num espaço cultural de
aprendizagem permanente por si só (CRISTO, 2017, p. 9).
A escola e a cidade assumem então o papel de proteger o aluno L.A. proporcionando espaços
livres da violência, dos abusos sexuais e psicológicos. A saída para o problema da violência está
relacionada em como a escola conduz sua relação com a comunidade que está inserida e como ela pode
passar a ser um espaço para a construção da cidadania, onde assumirá o papel não da escola que segrega,
mas da escola que protege. É nesse aspecto que entra a Educação Integral como base para grandes ações,
principalmente relacionada à proteção do adolescente infrator. Quando mais tempo o aluno passar dentro
do ambiente escolar, mais tempo ele estará longe da violência das ruas, do tráfico de drogas e da violência
familiar. O artigo 227 da constituição e o artigo 4º do ECA que o transcreve, definem os seus direitos.

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público


assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária. (ECA, 1990)

Cria-se um círculo mais que necessário para que ações significativas na Educação Integral
possam ocorrer: proteger o aluno-abrir espaço para a comunidade-combater a violência-criar vínculos-
18

aumentar o tempo escolar-proteger o aluno. (CRISTO, 2017, p. 10). Não é somente a parceria da escola
e da comunidade que irá proporcionar melhores resultados na Educação Integral. A relação com a família,
a micro célula social que representa a comunidade, será fundamental também para esse processo, já que
comprovadamente ela tem responsabilidade significativa para a entrada do adolescente no mundo do
crime. Pode-se dizer que a relação entre escola e família está presente, de forma compulsória, desde o
momento em que a criança é matriculada no estabelecimento de ensino. De maneira direta ou indireta,
essa relação continua viva e atuante na intimidade da sala de aula. Assim, sempre que a escola se
perguntar o que fazer para apoiar os professores na relação com os alunos, provavelmente surgirá a
necessidade de alguma interação com as famílias. Nesta corrente, cabe aos sistemas de ensino o
estabelecimento de programas e políticas que ajudem as escolas a interagir com as famílias, apoiando
assim o processo desenvolvido pelos professores junto aos alunos. Apesar de ser uma atribuição formal
e inevitável da escola, a interação escola-família não será tratada neste estudo como um fim em si mesmo.
Sabe-se que ela pode estar a serviço de diversas finalidades, tais como: o cumprimento do direito das
famílias à informação sobre a educação dos filhos; o fortalecimento da gestão democrática da escola; o
envolvimento da família nas condições de aprendizagem dos filhos; o estreitamento de laços entre
comunidade e escola; o conhecimento da realidade do aluno; entre outras.
Afirma-se que “se queremos uma educação de qualidade para todos, precisamos de todos pela
qualidade da educação”. Partindo desse princípio é que irá se construir ações para que a Educação Integral
não seja somente uma ampliação da jornada escolar e sim de espaços, valores, conceitos e de relações,
transformando a comunidade em um espaço de aprendizagem, convertendo o ato de educar em uma ação
não somente escolar e sim uma responsabilidade coletiva (CRISTO, 2017, p. 12-13).
A grande problemática sobre a Educação Integral é que além de ter uma oferta inferior a
necessidade da população em geral e em específico, aos alunos em L.A., ser um adolescente infrator é
quase a garantia certa de ter a matrícula direcionada para a Educação de Jovens e Adultos, modalidade
que não cabe a Educação Integral. Com o argumento de corrigir a distorção série/idade que a maioria dos
adolescentes com medidas socioeducativas apresentam, matriculam-se quase a totalidade desses alunos
na EJA. Ser adolescente em L.A. não é impedimento para que o mesmo possa cursar o Ensino Regular,
mas é cada vez mais visível a utilização da Educação de Jovens e Adultos como depósito sem propósito
algum de alunos em L.A. Cria-se assim não só uma estigmatização desses alunos que ficam de forma
mais concentrada, quanto do próprio curso, que passa a ser enxergado pela sociedade como reduto de
menores infratores, fazendo surgir um grande preconceito sobre a EJA.
19

1.4. Conclusão

A criança e o adolescente, desde o início da história da humanidade foram sempre a parte mais
flagelada da sociedade e mesmo após introdução do pensamento burguês, onde se passou a enxergar
essas fases da vida como um estado separado, pertencer a esses grupos continuou a ser um grande risco
social. Estar adolescente por sim só já é estar em vulnerabilidade social, pois a vulnerabilidade é
intrínseca a adolescência. Não ser um ser completo, transitar pela infância e o mundo adulto torna-o
sujeito a uma enorme gama de situações de risco, estando submetido a explorações físicas, emocionais e
a diversos tipos de abusos. E isso não é um mal da modernidade: a sociedade sempre foi infanticida.
Estando já o adolescente em vulnerabilidade só por pertencer a esse período da vida humana, a
situação torna-se insustentável quando o mesmo vive na miséria e na desigualdade social e muito mais
quando pertence a grupos discriminados: negros, pardos, moradores e comunidades violentas, criados
em famílias monoparentais. A ausência de redes de proteção social empurra esses adolescentes para o
capitalismo de pilhagem e para a prática de infrações. Pobreza e exclusão tornam-se a mesma face da
moeda, impulsionando o aumento da criminalidade nessa faixa etária. A Negligência, abandono, pobreza,
criminalidade e violência na família, escola, comunidade e na sociedade como um todo são situações
comuns nos adolescentes em conflito com a lei. Em locais desassistidos em educação, saúde e segurança,
o processo de marginalização social torna-se mais aparente e compulsivo, transformando em uma reação
instintiva ao meio social, podendo constituir-se na primeira etapa de uma sucessão de tragédias. O núcleo
familiar, desamparado pelo Estado, reproduz o abandono em suas crianças e adolescentes. Como parte
social do Estado e vítima do mesmo, tendem a ser mostradas como potenciais fatores de risco para que
o adolescente pratique atos infracionais, revelando extremo grau de fragilidade, principalmente nas
famílias monoparentais sem a presença da figura paterna.
A ausência de uma educação inclusiva, emancipadora e adaptada aos grupos sociais mais frágeis
contribui para a entrada no mundo infrator. Adolescentes em conflito com a lei tendem a ter poucos anos
de estudo e alegam que a evasão ocorre principalmente pela falta de interesse nos estudos e pelas ações
discriminatórias encontradas no ambiente escolar. O aluno não encontra representação, nem estímulos e
nem objetivos para estudar. O ensino fundamental continua opressor e segregador, excluindo quase
intencionalmente os alunos pobres e negros e as escolas públicas, principalmente das periferias
reproduzem a desigualdade social, com currículos que ao invés de atrair, causam repulsa.
Sem amparo do Estado, familiar e sem frequência escolar, o adolescente cai nas malhas do
mundo do crime e nos atos infracionais. Mesmo eliminada a culpabilidade do menor de idade, ele será
20

obrigado a arcar com as consequências de seus atos, cumprindo uma legislação especifica, com aplicação
de medidas socioeducativas. Dentre elas encontra-se a Liberdade Assistida ou L.A. que implica em certa
restrição de direitos, pressupõe um acompanhamento sistemático, no entanto, não impõe ao adolescente
o afastamento de seu convívio familiar e comunitário.
Estar fora da escola é um dos caminhos para que o adolescente entre na criminalidade. A
inclusão escolar é fator fundamental para o cumprimento da L.A. Como incluir esse adolescente infrator
em um ambiente que na maioria das vezes negam matrículas ao saber que o aluno está cumprindo
medidas socioeducativas? Gera assim um círculo perigosíssimo de exclusão: o adolescente em L.A.
precisa estar na escola, a escola não está apta nem preparada para lidar com esse aluno que é claramente
portador de necessidades especiais de ensino, a evasão escolar é um dos maiores fatores de contribuição
para o cometimento de atos infracionais e o aluno que já está cumprindo medidas socioeducativas é
discriminalizado pelas unidades escolares. Ou seja, se antes de cometer os atos infracionais a escola era
fundamental, após o cometimento ela torna-se essencial para que se rompa o ciclo da criminalidade. Mas
como fazer isso se a mesma não aceita, discrimina e não tem currículo, professores e funcionários
preparados para receber esses alunos?
Tem que se rever a política nacional de educação especial para que seja maximizada a inclusão
social dos alunos em L.A, com formação e a capacitação de todos os membros escolares para receber
esse adolescente. A Educação Integral também é um caminho para a inclusão, permanência e proteção
desses alunos, pois permanecer mais tempo na escola combate a vulnerabilidade social, diminuindo as
chances do retorno as práticas ilícitas. A escola torna-se assim além de um ambiente de formação
intelectual e emocional, um ambiente de proteção social, criando-se um círculo mais que necessário para
que ações significativas na Educação Integral possam ocorrer: proteger o aluno-abrir espaço para a
comunidade-combater a violência-criar vínculos-aumentar o tempo escolar-proteger o aluno. A escola é
um espaço privilegiado para a construção da cidadania, tendo um papel fundamental na desconstrução
da violência simbólica e da cultura da inferiorização de gênero, de raça, de classe social e de geração
além da a função de atendimento, protegendo seus estudantes crianças e adolescentes contra qualquer
violação de seus direitos, garantindo oportunidades de condições de pleno desenvolvimento escolar,
mental, psicológico, sexual, moral e social.
A matrícula quase compulsória do adolescente cumprindo medidas socioeducativas na
Educação de Jovens e Adultos além de limitar a forma de ensino, cria um preconceito com essa
modalidade. O aluno em L.A. pode e deve ser integrado no ensino regular e não somente na EJA, que
ainda não disponibiliza a Educação Integral.
21

A oferta de ensino profissionalizante, esportes e da adaptação curricular para esses alunos em


L.A. dentro de uma Educação Integral seria uma excelente alternativa para que os mesmos encontrassem
oportunidades de ressocialização. Não se pode esquecer que a formação das crianças e adolescentes é
reflexo das instituições a que eles pertencem. Ser penalizado por suas ações infracionais sem oferecer
caminhos para mudanças não irá afastar o adolescente da criminalidade e permitir tempos ociosos na
vida desse aluno, tampouco.
A escola pública assume assim dois grandes papéis pela ressocialização dos alunos em L.A. Se
despreparada e reprodutora das desigualdades sociais, exclui os alunos com currículos distantes da
realidade, causando evasão e por consequência o aumento da possibilidade do retorno desses alunos aos
atos infracionais; adaptadas com profissionais qualificados, preparados para atender os adolescentes em
L.A. que são portadores de necessidades especificas educacionais, com currículos voltados para a
formação cidadã, ajustados à realidade dos alunos e principalmente, com oferta de uma Educação Integral
que ofereça além de esportes, oportunidades de profissionalização e reintegração social, garante a saída
por completo dos adolescentes do círculo da evasão e da criminalidade, além de fornecer uma rede de
proteção para esses alunos. Comprovadamente a evasão está ligada aos atos infracionais e
proporcionalmente a permanência escolar está vinculada ao distanciamento do mundo do crime, então
fica claro que a educação é uma arma poderosa para evitar a entrada e retirar o adolescente da
criminalidade.
Contudo, colocar somente sobre a escola essa responsabilidade continuará sendo ineficaz. O
Estado, a família e a sociedade com suas parcelas significativas de responsabilidade pela inclusão dos
adolescentes na prática de atos infracionais devem repensar sobre a proteção social que são exercidas ou
não sobre as crianças e adolescentes. Enquanto o Estado não formular mediadas eficazes contra a
exclusão social, o combate à miséria, ao preconceito, amparando as famílias em vulnerabilidade social,
criando estratégias para afastar os jovens da violência, continuaremos a ter o grande número de
adolescentes infratores. É preciso repensar em nossas práticas sociais e como combatemos a
criminalidade crescente. Se pobreza e miséria andam juntas com o aumento da violência, fica claro o que
devemos combater para diminuir os crimes na sociedade.
22

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