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OPCOCOOCOOO OOOO OCOO COC OOO OOOO OOOES Palavras do Tradutor Em 1950, publiquei meu primeiro trabalho a respeito da HICHA CATALOGRAFICA escola de Szondi, na revista da Universidade de La Plata (Preparaga pelo Centro de Catalossszo-na-fonte, | Depois, disse muitas vezes que o exato conhecimento da “fer- ‘Camara Brasileira do Livro, SP) | ceira escola” era essencial. Se nao tentei antes traduzir uma das | Obras do Dr. Szondi, foi porque tinha plena consciéncia das difi- r co culdades da tarefa. i Seon Lipot, 1893+ ; ; | sovsi Inlroducio a psicologia do destino: liberdade ¢ compulsio no Contudo, 0 exemplo do meu amigo Prof. Dr. Soto Yarritu, destng do homem, na eacolha da prose, nngon, esosay doensat que verteu para o castelhano a primeira obra de Szondi, ¢ 0 re tose ult Sto Maule, Mano, B78 auxilio de D, Déa Esmeralda Hochgesandt, a quem expresso aiiogrstia meus agradecimentos, aeabaram por me convencer de que che- 1. Psicologia — Ensaios 2, Teste de Szondi 1, Titulo gara o momento de apresentar esta primeira tradugao em lingua 250689 “185.2883 Portuguesa. E escolhi esta obra por tratar-se de uma coletariea, epps0.8 podendo assim atuar como um leque que nos possibilitaré outras oo aberturas posteriormente. . i Nao conhego uma outra técnica psicolégica que permita fovice parn catflogy sstemétice um diagnéstico téo rapido perfeito quanto a de Szondi. O 2. Tone 8: Seon t Prcologn 1882443 método szondiano ainda é de valor incomparével no que se refe- 2 Teste de Szond + Psicologia re ao controle do nosso trabalho durante a psicoterapia breve, rea em que me especializei. Problemas também centrais, como © aconselhamento terapéutico matrimonial, o prognéstico de éxito nas terapias das neuroses e psicoses e a orientagdo voca- cional com finalidade terapéutica, encontram em Szondi uma base sélida para um encaminhamento que, de outro modo, dificil- mente se faria, Observou-me o editor que a prova da qualidade ¢ importéncia da escola szondiana era visivel no resultado de meu trabalho, com 0 que concordo, sobretudo por tratar-se de 6 IntaopUGKO A PSICOLOGIA vo BUSTING uma escola que consegue integrar todas as outras de forma ordenada. Em 1965, quando a Editora Mestre Jou publicou minha tradugio da obra do Dr. Ungricht, j4 tinha em mente o trabalho que agora apresento. Em 1970, no Congresso Internacional dos Szondianos, em Zurique, prometi ao velho mestre que em nosso préximo congresso — a ser realizado em Paris, em setembro deste ano — entregaria o livro vertido ao portugués, comemo- rando meus trinta anos de discipulado. De fato, iniciei como discipulo de Szondi em 1946, e a partir dai venho empregando e expandindo sua metodologia que, finalmente, agora esta rece- bendo uma aceitagio cada vez maior no Brasil. E é visando incentivé-la e enriquecé-la que apresento esta tradugdo. Certa vez prometi a uma amiga norte-americana que dedi- caria a ela esta tradugdo, pois temos em comum o amor ao Brasil ¢ & escola de Szondi. Aqui esté por fim, Marjorie, 0 livro que eu prometera Sdo Paulo, julho de 1975 LAC. Miu Psic6logo Dados Biograficos Szondi completou 80 anos a 11 de marco de 1973. Expressivas homenagens foram entdo prestadas ao idealiza- dor da teoria génica das pulsdes, a “Andlise do Destino”, ¢ da técnica projetiva de diagnéstico conhecida como “Psico-Diag- néstico das Pulsdes” ou “Teste de Szondi”. A Faculdade de Medicina de sua terra natal, a Hungria, onde se formou e iniciou suas pesquisas, remeteu-lhe a maior honraria com que distingue seus ex-alunos: 0 Diploma de Honra de Ouro. Recebeu o titulo de “Doutor Honoris Causa” da Universi- dade de Lovaina, Bélgica, onde os fundamentos teéricos ¢ con- ceitos szondianos sdo ensinados, juntamente com 0 uso do “Teste de Szondi”. O Prefeito de Zurich, Suiga, onde Szondi se radicou desde © fim da Il Guerra Mundial, ofereceu, no saléo nobre da Pre- feitura, uma recepgo em honra do cientista ¢ habitante ilustre da cidade. O incansével pesquisador, o criativo cientista, 0 humanis- ta por exceléncia, viu o reconhecimento e o interesse por sua obra alastrar-se e consolidar-se. Mas a vida de Szondi — sua realizagdo humana e cientifi- ca, sua teoria querendo restabelecer a unidade entre a psicologia ea biologia — consistiu de muitos anos de lutas, glérias e de- cepc6es, prestigio e humilhacdes, acompanhados sempre da fé na “Andlise do Destino”, 8 ivtaooUGKO A PsicoLocA DO DESTIN Formando-se em medicina, © interesse cientifico de Szondi voltow-se para o problema dos retardados mentais. Sua primei- ra publicacdo & “Lues e 0 Retardado Mental”, 1920. Seguem-se varias outras, entre 1922 e 1925, ano em que foi editado seu excepcional Jivro “A Mente Retardada”, Partindo destas pesquisas estabelece sua teoria biogenética das pulsdes. E conveniente reparar que Szondi distingue “Ins- tinkt” — instinto, ¢ “Trieb” — pulsoes, Ampliando seus conhecimentos profissionais, especializa-se em psiquiatria, psicologia profunda ¢ endocrinologia. Por volta de 1930, estes conhecimentos e uma vasta experiéncia clinica levam-no a formular a teoria da “Andlise do Destino” ¢ o “Ge- notest”, seu. método psicodiagnéstico hoje conhecido como “Tes- te de Szondi”. Nessa época é professor da Escola Superior de Psicopeda- gogia de Budapest e diretor do Laboratorio de Pesquisas Cientt- ficas da mesma faculdade onde, com uma excelente equipe de médicos, psicdlogos e estudantes universitérios, pesquisa ativa- mente estabelece os fundamentos cientificos do “Genotest” baseado no efeito genotrdpico dos genes. Em 1937, a Acta Psichologica de Den Haag, Holanda, pu- blica a “Contribution to Fate Analysis”, transmitindo as bases da nova teoria do destino, de Szondi. Em 1939, publica a “Teoria ¢ Metodologia”, resumo dos seminarios ¢ aulas sobre 0 diagnéstico experimental das pulsdes. Szondi nao s6 cria um novo procedimento psicodiagnéstico, mas concebe uma nova interpreta dos dinamismos psiquicos. O destino me proporcionou a satisfac de poder estudar trabalhar com Szondi de 1937 a 1939. No domingo de Péscoa de 1939, ele escreveu-me uma car- ta longa, das montanhas onde descansava. Cito um pequeno trecho para dar a conhecer melhor o homem, o humanista, além do cientista: “O homem deve ter a coragem de ser diferente daqueles que 0 circundam, quando necessario. Deve ter a cora- jam mal com ele ow em gem de ser bom, ainda que os outros aj torno dele. © que é 0 mal? A “Anilise do Destino” me ensinou que ser mau significa ndo ter encontrado ainda a apropriada, a ade- quada saida de emergéncia para os impulsos negativos, Disse ainda nao. Portanto acredita que amanha ou depois poder: diferente” Mal sabia Szondi naquela época o quanto necessitaria num futuro néo muito distante, de sua grande compreensdo humana. Até junho de 1944 viveu com a esposa e um casal de filhos na Hungria, Com a invasdo daquele pais pelas tropas alemas, na segunda metade da guerra, Szondi concentrava toda sua ativi- dade na salvagio de médicos e amigos desesperados. Apesar de passar fome, frio, e de haver sido deportado juntamente com sua familia, esperava com serenidade © fé tem- pos mais propicios para continuar seu trabalho cientifico. Apro- veitou todas as adversidades para um enriquecimento humani: tico, transmitindo aos que com ele sofreram forga de viver e paz de espirito, No fim da guerra esté com sua familia na Sufga. Em 1946 publica 0 livro “Schicksalsanalyse” (Benno Schwabe, Basel). ‘As margens do lago de Genebra escteve 0 segundo volume — “Experimentelle Triebdiagnostik”, publicado em 1947 (H. Hu- ber, Bern). Na mesma época, provavelmente em conseqiiéncia das vivéncias durante a guerra, escreve um estudo sob o titulo de “A Humanizagao dos Instintos” © terceiro livro, “Triebpathologie”, foi publicado em 1952. Paralelamente € editada uma infinidade de artigos ¢ livros rela tivos & teoria © ao novo teste. Seria exaustivo acompanhar a bibliografia, ainda que essencial, a partir desta data. O ultimo livro editado € “Kain. Gestalten des Bésen”, em 1969, e no outono de 1973 surge o mais recente: “Moses. Antwort auf Kain” (H. Huber, Bern) ~SPSOSOSHSHOSHSSHOHOSHSHSHHOHSSHHCHSEOHOCOEOOE 10 INTRODUGKO A PSICOLOGIA DO DESTINO Atualmente, Szondi dirige na Suiga a “Fundagdo Instituto Szondi” — Krilbithistrasse 30, 8044 Zurich, Suica — formada gragas a um magnata generoso, ¢ fiel adepto da “Anélise do Destino”, trabalhando com uma equipe de doze professores & quatro assistentes na pesquisa cientifica Antes de terminar, acho que é minha obrigagio salientar que existe muito pouca divulgagdo, aqui no Brasil, sobre as teo- rias e o Teste de Szondi Sao de meu conhecimento as seguintes: 4) Na Faculdade de Filosofia da Universidade da Bahia, no ano de 1950, o ja falecido Prof. Béla Székely ministrou um curso sobre 0 “Psicodiagnéstico Experimental de Szondi b) A Revista de Psicologia Normal ¢ Patolégica, de 1955, n? 2,3 © 4, © de 1956, n® 2, publicou, de Antonius Benké S.J.: “Valores e Limites do Teste de Szondi”, um esbogo dos pontos principais da teoria ¢ da pratica do teste, talvez a tinica pesquisa ¢ publicagao cientifica feita no Brasil a respeito do assunto. ©) © Circulo Brasileiro de Psicologia Profunda, nos Estu- dos de Psicandlise, 1970, n° 4, Belo Horizonte, publicou um excelente artigo de Szondi: “Freud, o Cientista”, ¢ no Registro Bibliografico apresenta, da autoria do Prof. Dr. Malomar L. Edelweiss, também cx-aluno de Szondi, considerages refe- rentes 4 traducdo em lingua espanhola do “Tratado del Diag- nostico Experimental de los Instintos”, de Szondi. d) Na Universidade de Joao Pessoa, Paratba, o Prof. Luis F. Goncalves de Andrade ensina, no curso de formagio de psicdlogos, as teorias © o Teste de Szondi, O Prof. Andrade & formado pela Universidade de Lovaina, preparando seu douto- ramento referente as suas pesquisas com 0 Teste de Szondi. © Dr. Juan Alfredo Cesar Miller apresentou ao XIV Con- gresso Interamericano de Psicologia, realizado em 1973, em S Paulo, um trabalho relacionado ao Teste de Szondi. Sinto-me feliz pela primeira tradugao de um livro de Szondi para © portugués © grato ao tradutor — colega szondiano con- victo e meu grande amigo — pelo convite para escrever uma curta biografia de meu mestre, orientador, incentivador do tra- balho humanistico e amigo. Gostaria de crer que com a presente tradug&o iniciamos no Brasil a ampliagdo do conhecimento ¢ a divulgagao da terceira escola, como é denominada freqiientemente a teoria szondiana Sao Paulo, junho de 1975 Dr. h, ¢. PEDRO BaLAzs Psicdlogo — Professor da Escola de ‘Comunicagées ¢ Artes — EAD, Universidade de Sao Paulo. “Esta vida nao é um estado de devogéo, mas a conquista da devocao, nao é ter satide, porém conquistar a sade, nao é ser, mas vir a ser, nao é repouso, e sim atividade. Nos ainda nao somos, seremos. A vida nao esta pronta e acabada, mas em elaboragao, nao é a meta, mas é 0 caminho”. Lures0 OW. A, 7 337, 2035) INDICE Preféicio IO DESTINO Transformagio do concsito do destino na psicologia profunda A ESCOLHA A escolha determina o destino IIL AS PULSOES Teoria gtnica das pulsdes foe IV 0 EGO © EGO “Pontifex” V_ Nova Orientago para o Problema da Cisio do Ego 17 19 53 95 103 Prefacio A dignidade ¢ a responsabilidade do homem resi dem, entre outros, na capacidade de carregar conscien- temente o prdprio destino. E ele se reveste de digni- dade precixamente por ser 0 tinico ser vivo que tem capacidade de conscientizar. Porém, forgado a supe- rar antagonismos entre liberdade ¢ compulsdo, entre a propria personatidade e& a heranca familiar, carrega 0 pesado fardo da vida humana, O presente livro contém alguns artigos € disserta- es abordando 0 problema dos antagonismos, Néo oferece receitas de solucdes. Tenta apenas. indicar caminhos que podem, em certas circunsténcias, levar 4 uma solugao, Estes trabathos foram publicados em revistas dife- renfes ¢ em diversas épocas, motivo pelo qual nao pudemos evitar repetigoes. Zurich, outono de 1967 L. Szonpr O Destino - Transformagao do Conceito do Destino na Psicologia Profunda * A. GENERALIDADES SOBRE A TRANSFORMAGAO DO CONCEITO DO DESTINO A palavra destino costuma provocar penoso embarago em muitos dos cientistas contemporaneos. E esta afirmagio é verda- deira, quer seja abertamente confessada ou negada discretamente. A cadeia de associagées condicionadora deste constrangi- mento segue geralmente 0 mesmo caminho que, em seu desen- volvimento histérico, seguiu no passado a palavea destino. Queiramos ou nio, somos obrigados a pensar nos miiltiplos métodos dos ordculos (na China, Grécia e outras regides); de- pois, mais distante, no Karma como representagdo do determi- nismo interior; nas reencarnacées, no Samsara (clos hindus), ow seja, no ininterrupto ciclo da vida, do nascimento & morte; na astrologia € nos horéscopos (dos caldeus), na andnke ¢ heimar- méne, na moira e tyche (dos gregos), no fatum € necessitas (dos romanos). Podemos lembrar também, por exemplo, a Provi- déncia Crista (Sto. Agostinho) e a individuelle fortuna (da Renascenca); Schiller € os dramas do destino, do Romantis- mo [1], ¢ assim por diante, © ocultismo magico ¢ o irracional parecem estar intima- mente ligados palavra destino, A prdpria filosofia do destino, * Publicagiio comemorativa referente a Werner Leibbrand. Man- heim, 1967, 20 InTaOBUGHO A PSICOLDEIA DO UESTINO do século XIX, mal pdde alterar esta concepgio. Assim lemos na obra de Schopenhauer, de 1851, no trabalho intitulado “So- bre a aparente intencionalidade no destino de cada um": “0 fato de todo acontecimento, sem excesdo, ocorrer com a mais rigorosa ‘necessidade’ é uma verdade aprioristica, conse- gientemente inabalavel. Quero denominé-la aqui fatalismo demonstravel” [2] ‘A isto contrapée 0 filésofo 0 fatalismo transcendental, dizendo: “De qualquer forma, porém, trata-se de um fatalismo de grau superior, quando reconhecemos que tudo 0 gue acon- tece neste mundo é ao mesmo tempo planejado € inevitavel; tem atras de si uma determinagio fatalista, mas nao cega. Com este tipo de fatalismo — nao demonstriivel como o fatalismo puro e simples — todos nos defrontaremos, mais cedo ou mais tarde, talvez aceitando-o temporaria ou definitivamente, de acordo com nossa mentalidade. Podemos denomind-lo fasalismo transcendental, para distingui-lo do fatalismo comum e¢ demons- travel” [3]. E continua: “A repetida ocorréncia da mesma predeterminagao leva pouco a pouco & opinido, que muitus vezes se transforma em convicgdo, de que 0 curso da vida de cada individuo, por mais confuso que poss parecer, é um todo tao harmonioso quanto a mais bem planejada obra épica, tendo de- terminada tendéncia © sentido didatico” Isto foi corroborado por Schopenhauer em nota de rodapé: “Nem nossa agéio, nem o curso da vida é obra nossa, mas sim aquilo que ninguém considera como tal, ou seja, nossa esséncia fe existéncia, Em conseqiiéncia, a vida do homem esta irrevo- gavelmente tragada, com todos os pormenores, jé no nasci- mento...” [4] Aquilo que 0 filésofo do século XIX expés de modo pura- mente especulativo, com os pesquisadores do século XX trans: formou-se em ciéncia natural. A simples citagdo dos titulos de algumas obras contempo raneas 0 comprova. Em 1929 foi editado o tratado de Lange, “Crime como Destino” [5]; em 1931, Schultz publicou “Desti: DESTINO NA-PSICOLOGIA PROFUNDA 2 no e Neurose” [6]; em 1932, apareceu “A Hereditariedade como Destino”, estudo caracteriolégico de Pfabler [7]; de 1936 data “Destinos da Vida de Gémeos Criminosos” de Krans [8]; em 1944 publicou-se “Cardter ¢ Destino”, de Rudert [9] Hoje, caréter c hereditariedade so considerados como des- tino ¢ suas regras e leis, determinadas de modo exato por méto- dos das ciéneias naturais. No presente, néo s6 a genética se permite falar em destino, mas também a medicina interna, Em 1940, apareceu o livro de Hollmann “Doenga, Crise Vital e Des- tino Social” [10]; e em 1956 escreveu Jores em seu livro “O Homem e sua Doenga": “Todo médico atento, ao estabelecer um levantamento cuidadoso dos antecedentes familiares e pes- soais de seus pacientes, surpreende-se cada vez mais com as co- nexdes entre doenga, destino vital e destino social. Os trés fato- res se entrelagam intimamente” [11]. Na clinica médica, Von Weizsiicker foi o precursor destas idéias [12, 13], __Desta forma, 0 destino quase se tornou uma terminologia médica TRANSFORMACAO ESPECIFICA DO CONCEITO DE DESTINO NA PSICOLOGIA PROFUNDA 1. NA PSICANALISE Desde que, em 1900, Freud criou a psicologia profunda com seu livro “Interpretagao dos Sonhos”, teve que se explicar muitas vezes a respeito do conceito de destino, Isto foi feito por ele especialmente em relaco ao problema: seriam as afecgoes neuréticas de natureza endégena ou exdgena? E pronunciou-se de forma evasiva, quando escreveu em 1912: “A psicandlise nos advertiu a abandonar a infecunda contraposigao de fatores internos e externos de destino ¢ constituigdo, ensinando-nos a procurar normalmente numa determinada situagao psiquica a causa dos distirbios neurdticos, que pode manifestar-se de diver- sos modos” [14]. I —— 2 srwannigier A eRIEOLOR b Com referéncia a esses processos distingue, tres anos mais tarde, em 1915, quatro tipos dos chamados destinos pulsionais, asaber: (1) a transformagio no oposto, isto &, & converse de uma determinada pulsio da atividade para a passividade, © a conversio do contetide de amor para o dio, (2) a reagio contra si mesmo, ou masoquismo; (3) a repressio; (4) a sublimagao. Embora Freud fale aqui de “destinos” pulsionais, descobriu ainda a rclevante fungio do ego na formagao do des- tino, através das funcdes de defesa do ego. Escreveu: “Com referéncia aos motivos que se opéem a uma continuagde directa dos instintos, podemos também apontar os destinos pulsionais como uma espécie de defesa contra esas mesmas pulsoes” (15]. Em 1924, Freud dew uma definigéo mais ampla do con- ceito de destino: “A iiltima imagem da série de figuras que comega com os pais (professores, autoridades, herdis consagra- dos no ambiente social) € a poténcia obscura do destino. Mas, s6 uma minoria pode concebé-la impessoalmente, Quando _o poeta holandés Multatuli (Ed. Douwes Dekker, 1820-1887) substitui a moira dos gregos pelo par de deuses, pouco hd a odjetar. Mas todos os que atribuem a realizagio eésinica & Providéncia, a Deus ou a Deus-Natureza, despertam a suspeita de ainda continuarem a sentir (mitologicamente) estes poderes espécie de pais, crendo-se liga 16}. Conseqifentemente, para a psicanalise, 0 destino individual € condicionado pelo conflito pessoal das pulsdes como super- ego & 0 ego, inimigos das pulses. O tipo especifico da exi- géncia das pulsées ¢ as fungdes de defesa do ego formam, em conjunto, os fatores responsaveis pela forma especial do destino individual. Para Freud, aqueles momentos traumaticos que moldam o destino individual sio especialmente 0 complexo de Edipo, 0 temor da castragao © as formas de defesa de ambos, Somente em 1937, dois anos antes de sua morte, Freud r nheceu novamente a hereditariedade como fator importante na formagio do destino. Distinguiu entao, na origem das doengas psiquicas, trés fatores: (1) infludncia dos sonhos; (2) forga extremos e longinquos como uma dos a cles por tacos libidinosos” DESTINO NA PSICOLOGIA PROFUNDA 2 constitucional da pulsio; (3) mutagdo do ego. Mas, acentuo que nem sempre se deve responsabilizar a forca da pulszo por essa mutagao, pois € posstvel que a espécie e o modo de atuaeao das defesas do ego sejam de origem hereditaria [17]. Apesar de reconhecer a importincia do fator constitucional ¢ sua con, tribuigo desde 0 inicio da vida, para Freud eta admissivel contudo, que um fortalecimento da pulsdo surgido mais tarde produzisse os mesmos efeitos que a constituigao hereditaria [18], Os resultados das pesquisas psicanaliticas relativas a0 des- tino foram resumidos por Ellenberger na revista Psyche, em 1951, da seguinte maneira: Farores psicanaliticos determinantes do destino: 1) experiéncias isoladas, da primeira infancia; 2) formagéo de uma imagem paterna ou materna e seu papel na escolha no amor; 3) situagdes da primeira infancia que, como repeticdes compulsivas, condicionam 0 destino posterior. Por exemplo: (a) a situaga0 de Edipo, sobre a qual Freud escreve: “Em Ultima andlise, 0 destino também € uma projegdo posterior da influéncia paterna” (19]; (b) separacéo dos pais; 4) fixagdo ¢ regressio a qualquer grau pré-genital de de- senvolvimento. Algumas formas de destino que resultam da psicandlise: !) quanto ao problema do éxito ou do malogro na vida, segundo Reik, pode a psicandlise verificar as seguintes formas neurdticas de destino: (a) © individuo nao pode suportar o éxito ©, no momento da obtencdo, renuncia ao resultado, por auto-punigio; (b) no momento em que esta prestes a atingir © objetivo, procura interpor obstaculos ao éxito; (c) na obten- 4 Inetunougae A ySICOLAGIA no oRSTINE cio do objetivo € do resultado, a alegria e a satistagio falham ou se frustram totalmente; (d) 0 éxito surge tarde demais, por exemplo, s6 antes da morte; 2) com referéncia a satide e a doenga, séo pertinentes as opinides de Freud: “a neurose seria uma parte do destino do individuo”. H4 a considerar ainda a significacdo da escolha de sintomas, escolha do momento de adoecer, etc. (v. também Von Weizsicker [12]); 3) destinos amorosos; 4) destinos sociais, por exemplo, as formas de destino dos lideres da humanidade, rebeldes, filantropos e misintropos, fundadores de seitas, traidores (Allendy), etc. (cit. de Ellen- berger [1]). Se bem que Freud haja indicado em uma “série comple- mentar” a cooperagao de momentos constitucionais e traumati- cos, em sua escola a pesquisa psicanalitica do destino permane- ccu limitada, principalmente, & investigagio dos efeitos traumaticos até os primeiros meses de idade. Para os psicana- listas, 0 destino ainda continuou sendo destino da pulsio ¢ defesa. 2. © CONCEITO DE DESTINO NA PSICOLOGIA ANALITICA D C. G. JUNG Paradoxalmente a psicanalise, que foi taxada de “mecani- cista-materialista”, ocupou-se de modo relativamente mais inten- so com o destino humano que a psicologia espiritua! On Fake ce JORTAIE “D> pai individual corporifica inevitavelmente 0 arquétipo, que con- fere A sua imagem uma forga fascinadora, O arquétipo atua como um ressonador, ampliando exageradamente as atuacdes provenientes da imagem co pai na medida em que concorde com 6 tipo herdado” (21, p. 38}. O segundo aspecto do destino, ou astrolégico, se manifesta da Teoria da Sincronicidade de Jung. De acordo com Jung, podese falar de uma “identidade re- Jativa ou parcial entre psiqué ¢ continuidade fisica”. Ter-se-ia que compreender a psiqué, sob este aspecto, como “massa mo- vida”. De algum modo, a psiqué esta em contato com a matéria © inversamente tem a matéria de possuir uma psiqué laten- te [22]. O arquétipo poderia conseqiientemente ser de natureza ors atémica ¢ os dtomos de naturcza arquetipica [23]. Nesta vaga *) hipétese se apdia a Teoria da Sincronicidade, com auxilio da % qual Jung tenta esclarecer no $6 0s destinos, como as expe- \ Figncias parapsicoldgicus. Jung entende por sincronicidade o “encontro, nio raras vezes observado, de fatores subjetivos © — objetivos que nao pode ser definido causalmente, pelo menos = com nossos recursos atuais. Sobre esta pressuposi¢ao se basciam = a astrologia c o método do I-Ching” [23]. Com o conceito de tempo da astrologia coincide também o conceito de “tempo re- lativo” de Jung. Escreve ele “E como se 0 tempo nio fosse menos que um contetido abstrato, mas, pelo contrério, uma ‘continuidade secreta’ com qualidades © condigdes bisicas que podem manifestar-se cm relativa sincronicidade em diferentes lugares, num paralclismo impossivel de ser explicado pelas leis da causalidade” Por isso Jung fala de “qualidades de tempo”, dizendo que “tudo que neste momento nasce ou é criado tem as qualidades deste momento temporal” [24]. E, como na astrologia, também Jung conclui destas especiais qualidades de tempo para o des- 4 tino posterior. Pode-se entéo entender porque Jung — esse grande alquimista © mago do século XX — raras vezes iniciava um tratamento sem antes examinar © horéscopo do paciente. ok DESTINO NA PSICOLOGIA PROFUAIUA n 3. A ANALISE DO DESTINO Uma Nova Doutrina Cientifica do Destino: « Neo-anancologia Fazendo um retrospecto, pode-se dizer que © conceito de destino passou por muitas transformagdes desde os meados do século XIX. De acordo com a filosofia daquela época, o des- tino do individuo se caracterizava pela planificagio ¢ necessida. de, pela tendéncia concordante ¢ sentido didatico de um todo. © destino do homem estaria itrevogavelmente predestinado desde © nascimento. Conforme a psicandlise de Freud, as pulsdes e os mecanis- mos de defesa fazem o destino. Na psicologia analitica de Jung, os arquétipos do incons: ciente coletivo ¢ as qualidades, ou melhor, momentos de tempo, sio as poténcias demoniacas, que determinam o destino, Para estas duas tendéncias da psicologia profunda, od tino nao tem, todavia, a importincia de problema central Ambas estudam a questdo perifcricamente, $6 hoje a genética coloca a questo do destino no centro das suas pesquisas. Ela estuda especialmente a relagdo concordancia-discordincia na vida de gémeos uni e bivitelinos, e a fungao da heranga e do mundo circundante, mediante métodos estatisticos heredoldgicos. com isso, a pesquisa do destino transformou-se numa rami- ficagdo das ciéncias naturais Os resultados da genética, porém, concordam com os da filosofia de Schopenhauer. Para ambos, destino significa coagio, Denominamos este dominio das pesquisas sobre o destino de Arqueanancologia, A palavra anduke tem dois significados no grego antigo. Primciramente, coagéo, restrigdo da vontade por um poder externo (prisio, correntes, amarras) ¢ também por circunsténcias divinas do destino. Daf seu significado de sofrimento, atribulagdo ¢ miséria. Em segundo lugar significa também, como a palavra latina necessitas, parentesco consan- guineo (Xenofonte, Conv. 8.13; Iséerates 1.10) [25]. “POOR SHOHOHOCOHOHOSOHHOHHEHHOOHOOE OOO! 2% NNTHADEGAO A PSICOLOGIA HO DESTIN Esta teoria antiga do destino, a Arqueanancologia, conh portanto s6 0 destino coercitivo, A idéia de apresentar 0 destino como hereditariedade vem igualmente deste tiltimo significado da palavra andnke, confor- me 0 qual 0 destino € determinado pela coagao de con: dade dos ascendentes furniliares anguini- A igualdade dos destinos de gémeos univitelinos confirmou a impressdo de que a pesquisa geral do destino houvesse esta- cionado no antigo conceito de destino coercitivo, $6 as pesqui- sas mais recentes ousaram ultrapassar essa suposta etapa final, fazendo indagagdes que, para a genética académica, soavam quase como heresia, © intuito de construir wma ponte vidvel entre a genética ¢ a psicologia profunda motivou tais indaga- des. Assim, surgiu uma nova teoria sobre o destino humano, a Andlise do Destino. Esta neo-anancologia indagava Possui 0 homem realmente um destino anico? Seu destino nao oferece varias alternativas? E, se todas cssas possibilidades lhe sao conferidas hereditariamente, desde o bergo, nao tem cle liberdade de escolha? Existe para 0 homem, ao lado do destino coercitivo hereditario, também um destino de escolha livre? Se de fato existem muitas possibilidades desde 0 inicio da vida, como poderia o individuo tomar consciéncia delas? Se o homem & capaz de conscientizar-se das possibilidades que 0 destino the oferece, serd capaz também de escolher livremente? Em caso afirmativo, qual € a faculdade interior que possibilita essa es- colha? Podemos formular a pergunta também assim: pode o homem, uma vez consciente das possibilidades que seu destino oferece, efetuar uma permuta livre entre essas mesmas possil lidades? Pode ele também livrar-se de um destino coercitivo, até entio aceito, trocando-o por outro, livremente escolhido? Como qualquer pesquisa cientifica, esta investigacio de novo tipo comegou também com hipdteses de trabalho, cujas premissas mais importantes eram: Entre todos os setes vivos, 0 homem é 0 tinico capaz de tomar consciéncia das possibilidades que seu destino oferece. Uma suposigao entre outras, levantada por Rudert (9] em 1944. foi que 0 animal ndo tem destino. $6 quanto 20 homem pode- mos falar, em sentido pleno, de destino. E cunhou a expressao “relagdo existencial”, significando que “o homem percebe o es- sencial de sua situacdo”. Dizemos nds: 0 homem conscientiza as caracteristicas dessa situagao. Na opinigo de Rudert, pois, o destino s6 tem um sentido © homem — ainda que restritamente — é livre. O primeiro passo dessa liberdade ¢, parece-nos, justamente 0 fato de 0 ho- mem saber que sua existéncia oferece diversas possibilidades ¢ que pode, voluntariamente, tomar consciéncia delas [27]. Mas 86 & possivel tomar consciéncia daquilo que jé existe em nds inconscientemente, Ja constatamos que o individuo esté equipado com todas as suas possibilidades de existéncia. Isto é, que no seu incons. ciente devem existir ancestrais familiares — quase como moides ¢ figuras (Rilke), como possibilidades diversas de vida, como pattern of behaviour. Tém de estar presentes, para seu proprio destino, no inconsciente do individuo, e certamente no nucleo das células, isto é nos genes dos cromossomos. Os antepassados carregados no pattiménio hereditario esforgam-se por manifes- tar-se, Psicologicamente, esse impeto de manifestacao € expres- 0 como pretensdo dos ancestrais. Jé que tais pretenses dos ancestrais sio, na realidade, dindmicas, porém inconscientes, fala-se na psicologia profunda de um inconsciente familiar. E a sede c a sala de espera das figuras dos ancestrais, as quais se esforcam por retornar em nosso proprio destino. O sentido da hereditariedade € sem dtivida, como disse Heidegger, a repeti- cio: “A repeticdo & a tradi¢do expressa, isto é, um retorno a possibilidades da existéncia passada” [26]. Segundo a teoria da Andilise do Destino deveriam as possi bilidades familiares de cxisténcia (herdadas desse suposto in consciente fatniliar, como pretensdes dos antepassados), pene- trar na consciéncia — espontinea ou artificialmente — através de uma psicoterapia 30 InrHwUGAD A rSICOLOGIN a0 BESHINO Conseqiientemente, a Andlise do Destino se tefere a trés qualidades (nao camadas) do inconsciente: 1) 0 inconsciente pessoal (Freud), que inclui toda manifestag6es pulsionais, pessouis © reprimidas; as 2) 0 inconsciente coletivo (Jung), com todos os arqué- tipos humanos; 3) 0 inconsciente familiar, da Andlise do Destino, com as pretensdes especiais dos ancestrais, Em qualquer conduta humana (ago ¢ omisséo), em todos 95 acontecimentos predestinados, funcionam estas trés qualida- des do inconsciente. Da contextura destas qualidades do incons- ciente, s6 com ajuda de métodos especiais podemos separar as fungdes especiticas das caracteristicas individuais, © método que revela a qualidade dos apelos ancestrais inconscientes € exatamente a Técnica Analitica do Des- tino [28-33]. A Andlise do Destino &, pois, uma tendéncia da psicologia profunda que procura, antes de tudo, fornar conscientes os ape- los ancestrais inconscientes. Por ela, 0 individuo é levado a confrontar-se_com as possibitidades que seu destino the oferece (das quais nao tinha ainda consciéncia) e posto diante da alter- nativa de escolha de uma vida pessoal mais adequada. Portanto, conscientiza o homem de haver vivido Cincons- cientemente) um destino. coercitivo, repetindo o destino familiar de um de seus ancestrais; verifica que, a0 lado desse penoso des- tino coercitivo, existem outras possibilidades de existéncia, entre as quais Ihe € possivel escolher livremente, Sé entio poderd ele afirmar que conquistou seu proprio destino. Torna-se claro que a Anilise do Destino (AD) (1) tenta construir uma ponte entre a genética (preten- sdes dos ancestrais) e a psicologia profunda (conscientizagio das pretensdes inconscientes dos ancestrais) ; (2) distingue duas grandes categorias de destino: destino coercitivo e destino de livre escolha, DESTINO Ny FSICOLOGIA FKOFUNOA u Estas duas formas de destino relacionam-se numa ordem de sucesso. O conceito de destino nao perde seu cardter cocr- citivo, porém é complementado pela caracterfstica de escolha. © novo conceito de destino da neo-anancologia diz: Destino é 0 conjunto das possibilidades, herdadas e livre- mente elegiveis, que nossa existéncia oferece. A hip6tese de trabalho exposta em relagdo ao destino hu- mano serve como guia no princfpio das pesquisas, mas nao eleva ¢ transforma em realidade, imediatamente ¢ sem esforgo, 0 “so- nho do pesquisador”. Foram necessirios mais de 25 anos (1937 a 1963) para que a andlise do destino encontrasse sua adequada técnica de trabalho na genética [28, 29], na dignose [30], na patologia clinica [31], na egologia [32] e na terapia do destino [33]. 86 em tragos amplos poderemos expor aqui esse longo pro- cé&so de realizagao. Os fatores que condicionam o destino compulsive sio: (1) fungdes hereditarias dos genes; (2) fungdes pulsionais e afeti- vas; (3) fungGes sociais; c (4) ambiente mental ou cosmocon- ceitual em que o indivfduo nasceu, por forga do destino. As fungdes que condicionam o destino de livre escolha so (5) fungées do ego; (6) fungdes da mente (v. Fig. 1). Essas fungdes nfo devem ser estaticamente separadas, mas, de modo dinimico, devem completar-se reciprocamente, ou seja, dialeticamente, pois a concepgdo neo-anancolégica do destino & dialética, movimentando-se constantemente entre contradigoes ¢ oposigdes, € ndo imével c rigida. As seis funcdes vitais condi- cionantes ¢ configuradoras do destino movem-se normalmente de modo continuo, simultanco ¢ oposto. Por isto o destino se transforma também em sua forma fe- noménica com o correr do tempo. Como as cenas de teatro sobre um palco giratério, também assim, aproximadamente, gira © destino no cendrio da vida individual (v. Schopenhauer [27]). Se 0 destino se paralisa numa determinada posico desse palco 2 INRODUGIO A PSICOLOG DO BESLIN VI. A Suprema instincia Ment B. Destino de Liberds j do Ego-de Excoihe {4 7 ve ambiente | insult th Ambiente | A, Destino Mona > Soa Compuisve L yl ~ ‘I, Netureza Pulsional © Atetiva 1. Herediteriedae Figure 1 giratério da vida a ponto de petrificar-se, torna-se destino coer- citivo (por exemplo, na catatonia). Se, pelo contrario, com auxilio da mente, o ego é capaz de enfrentar vigorosamente os efeitos petrificadores das fungées determinantes do destino ¢ de continuar a mover o palco giratGrio, pode, sob circunstancias fa vordveis, estar em formagao um destino de livre escolha. As pesquisas concernentes as fungdes do ego e & terapia do destino [32, 33] comprovaram de mancira convincente que o regente mével do palco do destino so 0 ego € a mente, Um grau especial de maturidade do ego atua no destino do indivi duo como “concitiador dos opostos", como “pontifex opposito- rum”. Se o ego alcanga entao este grau de maturidade, oscila constantemente entre a heranga, a natureza pulsional e afetiva, os ambientes social ¢ ideoldgico e a mente. Esse ego é 0 exe- cutor da escolha, Pode transformar a compulsio em liberdade no destino. O ego, que se move constantemente, que concilia DESTINO NA PSICOLOGIA PROFUNDA B fungdes opostas, é capaz de escolher, e portanto muda o destino compulsivo em destino de livre escola. Conseqiientemente, da mesma forma que 0 ego, tunbém o destino esté em constante peregrinasdo, Movimenta-se entre a esfera da heranga ancestral, a propria natureza pulsional e afetiva, o ambiente social-inte- Iectual-ideologico ¢ © reino espiritual. Se o ego se paralisa em qualquer setor destas fungées, com ele também se paralisa 0 destino. Petiifica-se em destino compulsivo, interrompendo 0 proceso de humanizagao do individuo. O destino se pettifica na existéncia (assim, nos psicdticos, delingiientes contumazes, ete.) A novidade da anancologia pode-se resumir do seguinte modo: 0 destino nao € condicionado por um poder obscuro ou por um demédnio. © destino humano — como tudo no homem apdia-se num sistema de fungdes que pode ser examinado com exatidéo na medicina ¢ na psicologia. Assim como nao se pode conceber 0 homem sem um sistema nervoso, também é inimaginavel para nés um homem sem um sistema de destino. Anda que seja impossivel tornar visivel anétomo-topografica- mente esse sistema de destino, ¢ se bem que suas perturbagdes nao possam ser desvendadas mediante processo patolégico-anaté mico, apés a morte, as funcdes fisiolégicas e as perturbagdes patolégicas desse sistema ja so examinadas hoje por métodos clinicos especiais. A pesquisa clinica das fungdes do sistema de destino do homem deveria (como j& acentuaram Weizsticker, Hollman, Jores e outros) fazer parte do esquema geral de exa- me de cada paciente. Pois este sistema de destino pode tam- bem’ “adoecer”, exatamente como o sistema nervoso ou como o sistema hematolégico do homem. Daremos a seguir um resumo dessas pesquisas especiais sobre 0 destino. C. A GENETICA DO DESTINO Antes de tudo acentue-se aqui que as fungécs hereditirias do destino manifestam-se especialmente em ci'.co setores da vi- da: (1) escolha no amor; (2) na amizade- (3) na_profissio; (4) na doenga; (5) no tipo de morte, POOH OOOOH HHHOHOOHOHOOHHOOOHHOOOOOO: M wraoDuGio A PSICOLOGIA DO oESTING Sao estes os mais importantes setores de manifestago’ do destino, Se bem que na vida cotidiana se fale de “escolha”, a genética do destino descobriu fungdes hereditarias latentes € ativas no inconsciente familiar, 1, ESCOLHA DO CONJUGE, LIBIDOTROPISMO Para uma parte demasiado grande de pessoas, a escolha no amor, na amizade e na profissdo nao é livre, mas dirigida pelos genes recessivos, latentes, que existem em forma andloga no pa- triménio hereditario dos dois parceiros. Este fenémeno é deno- minado genotropismo ¢ desempenha importante fungio na gené- tica do destino. Com base em centenas ¢ centenas de andlises matrimoniais (1937 a 1963), a andlise do destino comprovou a regra genotrépica da escolha dos parceiros [28, 29]. Genotropismo é a atracdo reciproca — condicionando o destino no amor, na amizade € na profissio — dos condutores de genes andlogos, latentes, recessivos. Em consegiiéncia, nestes casos, a escolha é apenas aparente, porque nao € dirigida pelos préprios individuos, mas pelos genes anélogos (ancestrais). Essas pessoas que se atracm reciproca- mente nao sio portadoras (homozigéticos) de uma predisposi- g40 recessiva que retorna; portanto, nao sio individuos aa ou aabb, mas trazem, em estado latente, ¢ em doses individuais, os genes recessivos idénticos. Sua formula de hereditariedade mis- ta (heterozigdtica) &, por conseguinte, no proceso hercditirio monémero, Aa; no dimero recessivo, AaBb. A férmula da atragdo ¢, portanto, AaBb X AaBb. Na andlise do destino, estes condutores se denominam in- dividuos parentes de genes ou eletivos (Goethe). E seu tipo de atragao reciproca é genotrépica. Este fendémeno, que se con- firmou num nimero muito grande de individuos [28, 29}, con- duziu a um novo tipo de pesquisa familiar, que se denomina pesquisa familiar genotrépica, Consiste no seguinte: DESTINO NA FSICOLOGIA FROFUNDA 3s (1) com a Atvore genealdgica do paciente, temos cons- tantemente que apresentar também as Arvores genealdgicas de todos os individuos que esto em relagio mais estreita com ele, através da escolha no amor, amizade ou profissio; (2) além das doengas manifestadas, tem-se também que examinar com exatidao as profissdes, os caracteres, os curriculos dos parentes consanguineos e afins, sadios e doentes. Destas pesquisas familiares genotrdpicas resultou, entdo, a regra geno- irépica da escolha dos parceiros. Um exemplo: na arvore genealégica de uma assistente so- cial, psiquicamente normal, a mae figura como esquizofrénica internada, A assistente social ficou noiva duas vezes; teve, po- rém, que romper as duas ligagdes, porque nas familias dos noi- vos havia igualmente parentes préximos esquizoirénicos (tio e tia), a respeito dos quais ela e seu noivo nada sabiam anterior- mente. Segundo a genética da andlise do destino, as duas aces cletivas nao foram livres, mas de tipo genotrépico. No primeiro livro da andlise do destino [29] sao apresen tadas centenas de escolhas de parceiros, todas semelhantes; en- tre elas, as de uma amostra de 517 individuos que haviam re lizado escotha genotrdpica [29, pp. 165-200] A regra de escolha genotrépica dos parceiros foi confirma- da por Rey-Ardid (1955), em Madrid [34], em relago esquizofrenia; por Nachin (1957), em Lyon, em relacao as ps coses aleodlicas [35]; por Wagner-Simon (1963), em Richen, Basiléia, em relagao a dificuldades conjugais [36]; ¢ por muitos colaboradores da comunidade de trabalho da Anélise do Desti no, de Zurique Ainda que a regra e 0 método da pesquisa familiar do ge- notropismo continuem a ser discutidos apés 25 anos, podem apoiar-se em eminentes predecessores desse pensamento, Em particular, numa afirmagao intuitiva de Johannsen, que escreve ‘Os cAleulos (da difusio de genes recessivos anormais en- tre a populaco) nao podem pretender nem mesmo uma exati- dio aproximada. Apresentamt, contudo, certo interesse. Uma FOSOHOOCHOHHOHOHOHHHHOHHHOOHOCOOOOOOEOOO 36 inrnopugio A PSICoLOGIA po DESTIN suposigao, a respeito da qual as pesquisas populacionais apre- sentam talvez maior inexatidio, é a de que os casamentos sio concluidos ‘a0 acaso’, ou seja sem prévia escolha eletiva, que obedece a padrées diversos. E bem possivel, e até provavel, que a inclinagdo reciproca consciente ou inconsciente de indi duos andlogos Aa se faga valer e, em tais casos, o calculo ba- seado no numero de individuos realizados aa daria como resul- tado uma freqiiéncia demasiado grande do gene recessivo em questiio. E de se esperar, para a humanidade como um todo, gue esta consideragio tenha alguma validade, e que, portanto, genes recessivos anormais ndo tenham tio grande difusio, como fazem temer os cilculos acima citados” [37]. Johannsen jé presentia, portanto, a inclinagio reciproca, consciente ou inconsciente, de individuos anélogos Aa. Mas tal inclinagio, denominada genotropismo, s6 foi demonstrada pela Andlise do Destino. Como importante constatagio empfrica, mencionamos a regra bioldgica dos parceiros de Stumpil (1935). Escreve ele: “Constatou-se que o indice de criminalidade de um grupo populacional, selecionado sob um ponto de vista sociolgico unitirio, corresponde ao indice de criminalidade dos cénjuges desse grupo, isto é, esta numa correlagao numericamente defini- da. Acreditamos, com isto, haver enunciado uma regra, que se apéia no fato de que na escolha conjugal atua uma reciproca atracio de caracteres © que — apesar das miiltiplas diversidades desses caracteres — deve ser reconduzida finalmente a uma militude essencial, profunda ¢ imanente [38, pp. 28s] ‘A semclhanga entre estas pesquisas ¢ as da Anéilise do Des- tino esté em haver Stumpfl estendido igualmente suas investiga- des as familias dos cénjuges, e em considerar também a atra- Gio como um processo biolégico. A regra biolégica dos par- ceiros de Stumpfl apoia-se, embora nio definidamente, numa pro- funda semelhanca, essencial, entre os parceiros. $6 em 1937, dois anos mais tarde, pode a Andlise do Destino provar, em artigo provisério sob o titulo de “Analysis of Marriages” [28], que tal “semelhanga essencial” consiste na igualdade dos cén- DESTINO NA PSICOLOCIA PROFUNDA ” juges (individuos Aa), ou seja, numa analogia dos genes reces- sivos, latentes, dos parceiros, como ja supunha Johannsen. ‘ambém Von Verschuer menciona, entre as pressuposigdes de uma anilise genética da populagio, a par-mixia, condigao segundo a qual “a escolha matrimonial nao se dé casualmente, mas com freqiiéncia dentro de determinados grupos de pessoas (selecao de casais)” [39]. Que este “grupo de pessoas” & for- mado por individuos heterozigotos andlogos Aa ou AaBb, ¢ que os genes recessivos, andlogos, latentes, causam a atragao, eram fatos desconhecidos também deste autor. 2. ESCOLHA NA AMIZADE, SOCIOTROPISMO, Apéia-se, como a escolha dos cénjuges, na mesma igualda- de dos genes recessivos latentes [29, Casos 36, 37, 38, pp. 250- 259] 3. ESCOLHA DA PROFISSAO, OPERO OU ERGOTROPISMO. Como uma forma especial de genotropismo, possui uma alta importancia, tanto na sociologia como em relagao ao fend- meno da heterogeneidade no homem. Na escolha da profissao, um grupo de pessoas procura uma atmosfera de trabalho na qual possa colaborar com individuos portadores manifestos — em forma latente e em doses individuais — de genes andlogos. Exemplo clissico é a semelhanga das arvores genealégicas de psiquiatras, psicanalistas © psicdlogos com as de seus pacien- tes (v. drvores genealégicas 26 a, b, c, ¢ 59-69 na obra Schicks- ulsanalyse). Nas Acvores genealogicas de famosos psiquiatras e psicanalistas encontramos, cm porcentagem acima da média, parentes consanguincos ¢ de escolha psicdticos ¢ as vezes esqui- zofrénicos. No circulo familiar e seletivos de individuos homo- -sacer (sacerdotes, monges, monjas pastores rabinos), a fre~ giiéncia do morbus sacer (ou seja, parentes consanguineos epi- VOC 000000 OCOCOOOOOOOOOOOC OOO OOOO OOCE 38 rnernnougke A PSICOLOGIN > Iéticos) 6 quase 10 vezes maior entre casamento de parentes por afinidade, e quase 4 vezes mais freqiiente que na média da po- pulaciio. Este fato foi constatado em estatistica baseada numa pesquisa sobre heredjtariedade, a qual englobouw 707 parentes consanguineos ¢ 712 por afinidade de 25 sacertodes; portanto, um total de 1.419 pessoas. Assim ficou também. confirmada, de modo significativo, a exatidio do libidotropismo ¢, portant, da forma mais freqiiente de genotropismo [29, 3# ed., pp. 491- 501]. E interessante notar que, nas arvores genealdgicas de bombeiros, foram achados piromaniacos; nas de juristas, para- néicos com compulsao de querela, ¢ assim por diante. Estes resultados da Andlise do Destino provam, pela prim ra vez, que a heterose desempenha relevante fungiio também no homem. Denomina-se heterose ao fendmeno verificado nos in- dividuos heterozigotos de hereditariedade mista, portadores — em doses individuais — de genes letais ou de grave morbidez que apresentam uma forga vital, tanto vegetativa quanto germi- nativa, aumentada, A vitalidade acima da média desses hete- rozigotos foi verificada sobretudo em determinadas espécies de cereais c, parcialmente, também no reino animal (¥. trabalho de Gustafsson [40]) 4, ESCOLHA DA DOENGA, MORBOTROPISMO Assim designamos © fendémeno em virtude do qual o indi- viduo reage as vezes com uma perturbagao a surtos infecciosos (lues, etc.) ou a traumas; sendo que esta perturbagao, sem in- feccdes ou traumas, j4 existia, de forma endégena, na familia. Pode-se conseqiientemente presumir uma atuagéo dirigente dos genes Jatentes, Excmplos extraidos do livro Schickalsanalyses Em uma familia, a lues congénita conduziu & surdez; nessa familia, porém, a surdez, hereditaria ja existia em diversos mem- bros [29, 3 ed., Caso 88, p. 354]. Num outro caso [29, 3# ed., Caso 89, p. 354], a lues trans- mitida por heranga levou a epilepsia numa familia em que esta DESTINO NA PSICOLOGIA PROFUNDK 3» — sem lues — j4 existia hereditariamente. Interessante tam- bém € 0 caso daquela familia onde cinco membros tinham dif culdades auditivas. Essas dificuldades apareceram, num deles, apés um surto de tifo; num outro, apés um ferimento na cabeca; num terceiro, depois de uma inflamagao cerebral; em dois outros, apés acessos de malaria [29, 34 ed., Caso 83, p. 350]. 5. ESCOLHA DA MORTE, TANATOTROPISMO Significa, como destino, a escolha e 0 tipo do suicidio. Nesse ponto, a Anlise do Destino pode confirmar as estreitas ligagoes entre epilepsia latente e suicidio, entre homossexualida- de, esquizofrenia parandica, mania e suicidio, através de pes- quisas sobre a familia [29, 34 ed., pp. 360-366] Os suicidas do grupo hereditario parandide-homossexual preferem veneno ou revdlver; os do grupo sadista utilizam de proferéncia a corda, a navalha, a faca, o punhal, o machado ou a espada. As formas de suicidio preferidas pelo grupo heredi- tario epileptiforme so o salto em profundidade, da janela ou torre, da ponte, do trem; além disso, a morte pelo fogo ou a autocombustio (com benzina, petrdleo). O tipo mais freqiien- te de suicidio no grupo catatdnico-esquizoforme é a morte pela fome (por exemplo, na anorexia mental), ou atirando-se sob as rodas de um carro. Suicidas do tipo circular escolhem freqiien- temente tipos de morte por via oral: ingestio de morfina, Alcool, soporiferos, etc. [29, 34 ed., Casos 90-91, pp. 361-366]. No Caso 90 ha um relato sobre a existéncia de oito suicidas na mes- ma familia D. O DIAGNOSTICO EXPERIMENTAL DO DESTINO A andlise das Fungoes das Pulsdes e do Ego no Destino Coer- citivo, com Auxilio dos Testes Szondi A Andiise do Destino tentou evitar as dificuldades que se apresentam na pesquisa genotrépica do destino de certas familias, e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e 40 INTRODUGIO A FSICOLOGIA 90 DESTINO de modo que fez os pacientes escolherem, de uma colegio de 48 fotografias, as 12 mais simpaticas e as 12 mais antipaticas. As fotografias so expostas em 6 séries de oito fotografias. Cada série consta de 8 fotografias que reproduzem: (1) um her- mafrodita (h); (2) um sadista (assassino) (s); (3) um epilé- tico genuino (e); (4) um histérico (hy); (5) um cataténico (k); (6) um parandico (p); (7) um depressivo (d); (8) um manfaco (m). Pela escolha das 12 fotografias mais simpaticas € das 12 mais antipaticas ¢ estabelecido um perfil de primeiro plano do paciente; as restantes 24 fotografias sio expostas nova mente em 6 séries quadruplas, ¢ de cada série devem ser escolhi- das as 2 fotografias mais simpaticas ¢ as 2 mais antipatica Assim se origina um segundo perfil, 0 perfil complementar ex- perimental, que torna visiveis as fungdes do plano de fundo das pulsdes e do ego. Essa experiéncia de fase dupla é entdo repe- tida 10 vezes, em dias diferentes e — apés a aplicagio de um determinado método de calculo — verifica-se os resultados. O processo relative a pesquisa experimental das fungdes pulsionais ¢ do ego apdia-se num sistema de oito fatores de pul- sdo [30]. Todos eles condicionam, em grupos de dois, tendén- cias pulsionais dialeticamente opostas. Sao eles: (1) fator do amor pessoal humanitario; (2) fator do sadismo e masoquismo; (3) fator da intengio assassina de Caim e da justiga de Moisés, ou da ética; (4) fator do exibicionismo e do retraimento, da moral; (5) fator de possuir-tudo ou negar-tudo; (6) fator do ser- -tudo ¢ do ser-nada; (7) fator da procura ¢ do apego; (8) fator do agarramento ¢ da separacio (os dois iiltimos fatores origi- nam-se de Hermann). A Anilise do Destino dé 0s oito fatores pulsionais 0 nome de raizes ou radicais da vida instintiva, porque através de mi- Iénios permaneceram cssencialmente iguais. Os radicais pul- sionais hereditarios possuem efetivamente algo de nao histérico, algo de contetido ainda nao especificado totalmente, que atra- vessa toda vivéncia, comportamento e realizagio, estando con- tinuamente presentes para cada individuo (v. Jaspers) (41) DESTINO NA PSICOLOGIA PROFUNDA 4a sistema dos oito fatores pulsionais comprovou-se bem no tiltimo quarto de século, em especial por ser capaz de analisar experimentalmente os fendmenos em aparéncia unitdrios da vida pulsional, quase através de uma “andlise espectral” nas suas raf- zes nutritivas radicais, Com base em milhares de exames (na Hungria, na Suiga, no exterior), pode-se dizer o seguinte sobre essas pesquisas expe- rimentais do destino: (1) 0 teste revela as doengas psiquicas extremas de tipo familiar, cujo portador é 0 examinando; (2) torma visiveis, pois, de modo especial, as funges la- tentes das pulsdes e do ego, que pela hereditariedade ameagam © portador; (3) _ além disso, 0 teste pode revelar 17 estruturas diferen- tes de pulsoes e do ego, que podem ser avaliadas como “possibi- lidades de destino” ou formas de existéncia; 12 entre as 17 sao iaynosticaveis conio formas existenciais de perigo; as 5 restan- les, como formas existenciais de defesa; (4) determinando as proporcées das existéncias perigosas ¢ protetoras, pode-se indicar um tratamento psicoterapéutico (42) Através de um céleulo especial e também do julgamento social das reagdes individuais & escolha das fotografias, conse- gui Beeli elaborar um progndstico bastante titil do destino [43] A respeito do sistema de pulsdes de Gall, escreveram Leib- brand © Wettley em sua conhecida obra, A Loucura “Antes de Freud, Gall reconheceu a sexualidade precoce da crianga. Admitiu uma espécie de senso de estrangulamento ou de assassinato, cuja legitimidade, no homem, provém de sua participagio no género carnivoro, Gall identificava um senso de furto, uma faculdade dle imitagdo, um senso lingifstico, Iéxi- co, cromitico, tonal, Acentuava, de novo, nao se tratar abso- lutamente de predisposigdes fixas, mas de possibilidades. E justamente esse ‘conceito de possibilidade’, em sua multiplicida- ~~ FSO 0O0008OHHH0OH8HHHOOHOHHOO8OCO( 2 nrRopucko 2 PSICOLOGIA Bo BLSTING de combindvel, que estabelece o fundamento pratico para peda- gogos ¢ juizes. Gall pensava poder utilizar essa teoria no sen- tido de uma psicoterapia e psiquiatria socializada. Achou, por- tanto, o mesmo que hoje Szondi espera conseguir com sua teoria das pulsdes, isto é, que o conhecimento das possibilidades das pulsdes va Jevar A compreensio do ego. Além disso, acredita- va, assim como Szondi, que estaria em condigdes de fazer prog- ndsticos pulsionais que pudessem ser utilizados juridicamente.” Esse interessante retrospect médico-histérico [44, pp. 457- 458], destacando a Teoria das Pulsdes de Gall (1758-1828), prova mais uma vez que nada é novo debaixo do sol. E. A PATOLOGIA DO DESTINO JA foi discutido que 0 destino humano é dirigido por um sistema de funcdes. Essas fungGes criativas e dirigentes do des- tino, como, por exemplo, as fungdes hereditdrias, pulsionais, afe- tivas do ego e da mente, podem em parte « — algumas vezes na totalidade — sofrer perturbagoes ou “adoecer”. Conforme as modalidades das ligacdes funcionais perturbadas, originam-se diversas formas patolégicas de destino. Perguntamos entdo: que ligagdes funcionais especificas po- dem ser experimentalmente descobertas atrés das doengas clfni co-psiquidtricas fenomenicamente diversificadas? Neste ponto, evitando exposigdes individuais, fazemos referéncia ao livro Triebpathologie (Patologia das Pulses) no qual, para todas as doencas psiquiatricas, foram prescritos tratamentos em relagao as latentes ligagdes funcionais das pulsdes. Das pesquisas comparativas, englobando casos de psicoses diversas, neuroses, psicopatias, anomalias sexuais, como também de crimes e vicios (relacionando-se os diagnésticos clinicos e os resultados das andlises experimentais de pulsdes ¢ do ego), tira- mos as seguintes conclusdes: (1) 08 resultados das pesquisas relativas as pulsdes ¢ 20 ego de doentes mentais mostram que a idéia de uma unidade pa- DESTINO NA PSICOLOGIA FROFUNDA 4 tolégica (na concepcao de Kraepelin) no seria simplesmente “caga a um fantasma”, como acentuaram os extremistas sindro- maticos, entre eles Hoche ¢ Schneider; (2) verificou-se experimentalmente que predisposigdcs ¢s- peciais vetoriais, do ego c das pulsdes, funcionam no homem, dinamicamente, como radicais bioldgicos, que determinam se, sob certas circunstancias, poderia 0 individuo adoecer antes, de forma esquizofrénica ou na forma circular; (3) finalmente, as fungdes pulsionais ¢ do ego, conjunta- mente, como associagées de fungdo, condicionam o rumo da doenga: (a) pelo tipo especial de cisio, hereditariamente deter- minado, das fungdes pulsionais e do ego; (b) pelo setor, pulsio- nal e do ego, onde o perigo € maior; (c) pelo tipo especial de defesa do ego (v. Ich-Analyse [32]); (4) segundo esas _pesquisas experimentais, a idéia de unidade patoldgica se apdia num fato biolégico, a saber: cada individuo possui uma disposi¢ao individual, pulsional e do ego, que determina onde — sob dadas circunstancias — poderiam ocorrer os maiores riscos. Conseqiientemente, apenas nesse sentido se pode afirmar a idéia de unidade patolégica. O cara- ter da catatonia conduz 0 ego psicologicamente & negagio, & desvalorizagdo de todos os valores; o da parandia resume-se nu- ma ilimitada ego-didstole, num impulso de projegao e de infla- cao. Na depresso destaca-se 0 impulso insacidvel de busc na mania, 0 impulso imoderado de desligar-se de toda ligacao como mundo; * (5) 0 resultado mais importante destas pesquisas € 0 si guinte: cada ser humano é portador (em seu inconsciente fami- liar) de uma disposigao pulsional e do ego para todos os quatro grandes grupos de doengas, compreendendo as formas circula- res esquizofrénicas, paroxisticas ou hitero-epiléticas e da possi bilidade de doenga sexual. Assim sendo, nao ha duplicidade, mas quadruplicidade dos grupos doentios do destino, As diferengas individuais caracte- rizam-se to somente pela graduagdo proporcional dessas quatro “ lieTRaDUGHO A PSICOLOGIA vO ESTING disposicées fundamentais. A disposigfo para as psicoses here- ditérias sempre condicionada pelas proporgdes hereditarias, Estas proporgoes so evidenciadas nas experiéneias, através das proporcées de laténcia das ligagdes funcionais; (6) a psiquiatria funcional ¢ a psicologia da profundida- de distinguem-se, em conseqiiéncia, da escola de psiquiatria clas- sica, clinica, principalmente em dois pontos: (a) procura nas disposigdes pulsionais ¢ do ego os radicais biolégicos das unida- des patolégicas; (b) considera as doengas mentais sempre nas Proporsdes, nas relacdes potenciais dos diversos conjuntos fun- cionais. $6 do aspecto proporcional € possivel, em nossa opi- nido, entender, de modo multidimensional a natureza dos doentes, em todas as diregdes de suas possibilidades de destino; (7) em lugar de diagnésticos clinicos, deveriam ser espe- cificadas, em cada caso, as proporcées individuais das fungées pulsionais e do ego, como conjuntos ocultos. Nisto vemos o fundamento mais importante de uma psiquiatria funcional, Estes resultados das pesquisas experimentais relativas a con- juntos funcionais de doentes mentais concordam com os concei- tos da moderna genética, Luxemburger, um dos representan- tes desta escola, escreve: “E possivel que um esquizofrénico possua, junto a0 gendti- po esquizofrénico pleno, disposicées parciais maniaco-depressi- vas ou epiléticas © vice-versa...". E continua: “Sou até de opinido que um mesmo individuo pode tornar-se primeiramente epilético, depois esquizofrénico e, finalmente, ainda, maniaco bombeito; esquizofrenia latente > psiquiatria; mania processual latente > advogado; mania religiosa latente > psicologia da religiio, etc. Nestes casos, 0 operottopismo atua terapeuticamente, depois do paciente tomar conscigncia de que seu destino compulsive esta intima- mente ligado 4 possibilidade de escolha de uma determinada profissio; (2) inversdo_das_partes cindidas (¢, portanto, dos desti- nos complementares do ego) em determinadas doengas que acar- retam uma ciséo. Alguns exemplos: A paranéia projetiva (mania de perseguigio como uma parte cindida do ego pode, sob determinadas circunstancias, in- verter-se na outra parte cindida complementar, a existéncia de tra- balho compulsivo, Ou: a megalomania (parandia_inflativa) pode desaparecer se, pela inversio, a outra parte cincida do mesmo ego (0 ego evasor) continuar a viver como viajante pro- fissional, globo-trotter, ete. (com mais pormenores, v. [33], pp. 2728s. ¢ parte V desta obra); (3) permuta_de uma forma de existéncia doentia por outra mais inofensiva, para a qual existia uma predisposigao que sera descoberta no patriménio hereditério do paciente através do teste e do exame da arvore genealégica, Assim, € possivel que © paciente consiga permutar a parandia esquizofrénica por uma cefalalgia paroxistica (Caso 24, [33], p. 227), ow por paroxis- mos de outro tipo (Caso 25, [33], p. 278); ou a parandia e a mania por uma compulsto (Caso 26, [33], p. 279). Para promover essas permutas das formas de destino, a te- rapia analitica do destino elaborou métodos especiais (método do martelamento, do psicochoque [33, pp. 149-190]). DESTINO NA PSICOLOGIA PROFUNDA “0 Apresentamos as transformagdes do conceit de destino na psicologia profunda, e chegamos a uma psicoterapia que ousa até transformar as normas de destino do individuo, E nova essa ousadia? No livro jé citado, A Loucura, de Leibbrand ¢ Wettley estes salientam que, em 1843, Von Struve elaborou uma Frenologia Profunda destinada, sobretudo, a tornar-se a base do tratamento das doengas psiquicas. E possivel, e até provavel, que ha cem anos atras a Frenologia Profunda tivesse ‘os mesmo objetivos que tem hoje a Psicologia Profunda, Atual- mente, porém, qual dos adeptos Psicologia Profunda conhece 0 nome de Von Struve ¢ sua Frenologia Profunda? Provavelmente © mesmo destino aguarde, daqui a cem anos, os atuais represen- tantes da Psicologia Profunda, Mas, consolemo-nos com a frase de Hélderlin: “Nada somos; 0 que buscamos é tudo.” BIBLIOGRAFIA 1 ELLENDERGER, H.: Das menschliche Schicksal als wissenschaftliches Problem. Psyche, IV. H. 11, 1951, S. 576-610. 2 Sctorennaver, A.: Parerga und Paralipomena, Schopenhauer simtliche Werke, J. G. Coita'sche Buchhandlung Nachfolger, Stuttgart vu. Berlin, Achter Band, 1. Teil, S. 207, 3 Ebenda: $. 208. 4° Benda: S, 209, 5 Lancx, J.: Verbrechen als Schicksal, Thieme, Leipzig, 1929. 6 ScHULtZ-HENeKE, H.: Schicksal und Neurose. G. Fischer, Jena, 1931 7 Prauten, G.: Vererbung als Schicksal. Barth, Leipzig, 1932. 8 Kranz, H.: Lebensschicksale krimineller Zwillinge. Springer, Berlin, 1936. 9 Rupert, Ju: Charakter und Schicksal. Potsdamer Vortrige V, E. Stichnote, Potsdam, 1944. 10 HoLiMann, W.: Krankheit, Lebenskrise und soziales Schicksal. 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S. 235-508. e- e e e e e e e e e e e e e e e e e e es e e eo e e o e e e e e e e e « IL Sobre a Psicologia da Escolha * A. A ESCOLHA DETERMINA O DESTINO 1, ATOS DE ESCOLHA HEREDITARIOS, GENOTROPICOS A escolha faz 0 destino. Sobre esse axioma foi construfda, em 26 anos (1937-1963), a Analise do Destino. No ano de 1937 comegamos a procurar uma resposta para a pergunta: qual ou quais instancias dirigem a escolha no amor, na amizade, na profissio c até a “escolha” de uma determinada forma de doenga ou tipo de morte? Dos primeiros sete anos de pesquisa (1937-1944) resultou © primeiro livro sobre a anélise do destino, Schicksalsanalyse [1], que mais tarde recebeu o subtitulo de “Genética do Destino”. Esse livro relata minuciosamente a regra geral de escolha here- dobiolégica, a do chamado Genotropismo. Com base em cen- tenas de arvores genealégicas, através das quais foram analisa- das escolhas de casamento, amizade, profissio, tipos de doengas © morte, essa regra de escolha hereditariamente dirigida foi assim formulada: duas pessoas que, por heranca (bioldgica), sao portadoras de inclinagdes andlogas, recorrentes, ocultas, atraem- “se mutuamente. Na escolha genotrépica, a pessoa no tem consciéncia da atuagdo das instancias dirigentes de sua escolha, ou seja, dos * “Neue Ziircher Zeitung”, 29 de maio e 5 de julho de 1966. Em francés, na “Revue Philosophique de Louvain”, 1967. Conferéncia feita a3 de’ marco de 1966 na Faculdade de Filosofia ¢ Medicina da Univer- sidade Catélica de Louvain. 34 eTMOHUGAO A PSICOLOGIA 90 OESTINY clementos hereditarios ocultos. A escolha, porém, é conscien! A pessoa sabe que escolhe, s6 nao sabe porque escoihe exa mente assim, ¢ ndo de outro modo. No destino do individuo, 08 atos de escolha — hereditariamente dirigidos, genotrdpicos, — exercem fungao importantissima, Essa constatagio genética, baseada cxclusivamente na experiéncia, teve efeito de choque para geneticistas, psiquiatras, psicdlogos e psicanalistas. Um grupo de criticos objetou que a Andlise do Destino “anunciaria um determinismo genética levado aos extremos, ultrapassando de muito o de Freud ¢ Jung". Conforme outra repreensio, “a tendéncia de interpretar 0 destino de cada individu ¢ da familia num sentido heredobioldgico, quase como uma espécie de pre- determinagdo fatalista, seguiria uma linha paralela & doutrina calvinista”. Por varias razdes, das quais sé algumas so aqui menciona- das, pude suportar de modo relativamente facil essa tempestade de criticas ¢, malgrado a oposi¢ao, expor em cinco livros os re- sultados das pesquisas sobre o destino. A idéia do genotropismo (¢ sé mais tarde tive conhecimen- to disso) j4 fora pressentida no comego do século por um dos maiores geneticistas, professor de fisiologia botdnica da Univer- sidade de Kopenhagen, o dinamarqués Johannsen, Em sua obra clissica Elementos da Doutrina Exata da Hereditariedade cal- cula Johanssem a incidéncia dos genes regressivos recessivos pela freqiiéncia, isto ¢, pela freqiiéncia na populagao de indivi- duos de hereditaricdade idéntica (homozigéticos) manifestada. Escreve “Os cilculos nao podem pretender sequer exatidéo aproxi- mada; nao obstante tém seu valor, Uma das suposigdes, se- gundo a qual 0 quociente de erro é talvez o maior em populagSes humanas, chega a admitir que os casamentos sio concluidos de modo ‘totalmente casual’, isto é, sem prévia escolha, que obe- dece a padrées diversos”. E prossegue SOMRE 4 PSICOLOGIA DA ESCOLA 3s “E bem possivel, até mesmo provavel, a existéncia de uma inclinagao reciproca, consciente ou inconsciente, entre indi duos andlogos Aa (de hereditariedade mista)” [2]. Portanto, Johannsen j4 previa a atragdo consciente ou in- consciente dos portadores de gens andlogos recessivos com con- dutores de hereditariedade mista (heterozigéticos), sem no en- tanto ter desenvolvido uma teoria sobre o efeito genotrépico des- ses elementos hereditérios andlogos Em 1935, dois anos depois da primeira publicagéo em lin- gua inglesa dos meus resultados ¢ da minha teoria — “Analysis of marriages. An attempt at the theory of choice in love” [3] — Stumpfl, um psiquiatra alem&o que realizava investigagdes paralelas sobre as familias de criminosos ¢ seus cOnjuges, des- cobriu. uma regra que se apdia na seguinte definigao: “na escolha do cénjuge, a reciproca atragio de caracteres & redutivel, em iiltima analise, a uma semelhanga de carater profunda” [4]. Essas investigagdes, porém, visavam apenas as qualidades carac- teriolégicas, j4 manifestadas, de cénjuges criminosos. Stumpf o via ainda nessa escollia compulsiva o papel geral dos gene recessivos © ocultos, como presentira Johannsen. Contudo, ni historia das pesquisas genéticas sobre a escolha, os resultados por ele abtidos so importantes, porque estendeu suas pesquisas familiares também aos cOnjuges dos criminosos. Entre 1937 € 1939, surgiu o Teste das Fotografias, 0 “Diagndstico Experiment! da Pulsdo” [5]. © objetivo visado cra, a principio, de natureza puramente genética; sem recorrer as drvores genealdgicas, devia revelar a caracteristica pessoal de condutor do examinando, Por isso, nagucle tempo, cu ainda chamava o Teste das Fotografias de Genoteste. As primeiras experiéncias com o teste foram realizadas em 97 pares de gé- meos, a saber — 36 univitelinos (1 célula) (EZ); 36 biviteli- nos (2 células) do mesmo sexo; ¢ 25 bivitelinos de sexo oposto, A grande concordancia das reagdes de escolha do grupo univi- telino confirma a tese segundo a qual a hereditariedade pode ser fator muito importante na escolha (v. Fig, 2) ~~ GSS O0O0HHOHOOHOHHHOHOHHHH8OOOO8O( 56 inrkoougko A PSiCoLOGIA DO DESTINO Ficuna 2 — Perfis de testes de pares de gémeos univitelinos erfis de tesies de paces de. gémeos univitelinos ‘Ae B formam um par de gémeos A Amor, ternuca svi wus f 5 — Sadism, masoquismo [ € — Afetos erosseiros { P — Vide afetva {hy — Ate etevador significa, no teste experimental, a escolba de uma fot da necessidade correspondente, 1 Simpéica scam { & Anspsica Sonn A PSICOLOGIA A ESCOLIIA 3” A Figura 2 mostra acima os perfis completos dos testes de escolha dos gémeos univitelinos (1 ¢ Il). A concordancia na escolha das fotografias é extraordindria, Em baixo, através da chamada vida do ego, isto 6, através das fotografias que nos orientam sobre a vida interior das pessoas examinadas, podemos verificar a mesma concordincia. E a concordancia é particu- larmente grande aqui. Nao obstante tenham sido testados em aposentos diferentes, cada individuo separadamente, os univite- linos escolheram de modo concordante, nao sé quantitativa, mas também qualitativamente; ¢ com freqiiéncia escolheram até fotografias correspondentes a um mesmo fator da pulsio. 2. ATOS DE ESCOLHA DIRIGIDOS PELO EGO, EGOTROPICOS Mas, como entre os componentes do grupo EZ (univiteli- nos) também se verificam discorddncias, concluimos que na es- colha, ao lado dos fatores hereditarios, devem existir outros fatores influentes, As ullcriores e numerosas experiéneias com © Teste das Fotografias entao comprovaram a relevante influén- cia das fungées do ego com referéncia a escolha, Era o primeiro impulso para se chegar Aquelas experiéncias que provam que, junto as categorias de atos de escolha hereditariamente dirigi- dos ou genotrdpicos, existe uma segunda categoria de escolha: fa escolha egotrdpica orientada nao pela hereditariedade, mas pelo ego consciente. J4 om 1943, foi editada em idioma hiingaro a Experimen- telle Analyse des Ichs (Analise Experimental do Ego) [6], na qual foram expostos os fundamentos da existéncia de um desti- no de livre escolha ou destino do ego — antes mesmo da publi- cagio da Schicksalsanalyse (Andlise do Destino) em lingua alema (1944). Em 1956, surgiu a reclaborada e ampliada edicio alema da Ich-Analyse [7]. Neste livro, j4 so apresentadas as duas cate- gorias do destino humano: 1) accategoria do destino genotrépico, compulsivo-heredi- tario; ~~ Te rrrwr rrr VwTVvwTwwwwwwwweree ewe 58 nraopugio k vsicovocta 90 DrstiNo 2) a categoria do destino egotrépico livremente escolhi- do pelo ego. Baseada nessas experiéncias, temos a nova defini¢ao do destino: 0 destino & 0 conjunto das possibilidades de existéncia, herdadas e livremente clegivets O homem nao tem, portanto, um destino Unico, herdado ¢ rigidamente determinado, como ensinava a antiga doutrina do destino (Arqueanancologia), até Schopenhauer. A nova teoria do destino, ou Neo-anancologia, diz: 0 homem vem ao mundo com uma multiplicidade, com um con junto de possibilidades de existéncia, dentre as quais pode, mais tarde, escother livremente. Isto €: 1) _ se tomar consciéneia dessas possibilidades herdadas de existéncia; 2) se 0 seu ego ea ligado deste & mente forem suficien- temente fortes para uma tomada de posigio. A exatidao desta nova definicio do destino foi metodica- mente examinada e comprovada em numerosos casos, expostos no quinto livro da série Schicksalsanalytischen Therapie {8]. Esperamos que esses fatos comprovados bastem para inva- lidar, no futuro, a repreenséo de que a Andlise do Destino enun- ciaria um determinismo genético-fatalista, B. GENERALIDADES SOBRE O CONCEITO DE ESCOLHA Responderemos aqui a uma pergunta freqiientemente for- mulada: por que fala a Analise do Destino de escolha também nos casos resultantes mais provavelmente da hereditariedade que da escolha livre? Nossa resposta é a seguinte: 1) a Anilise do Destino denomina de “coergao de esco- is” as agdes hereditariamente dirigidas (geno- trépicas) dos condutores. Essas ages conduzem, como sabe- SORT © PSICOLOGIA BA KscOLA 9 mos, a destinos compulsivos. Sem diivida a pessoa acha que sua escolha & pessoal; mas tal “escolha” € de fato palilalia com- pulsiva dos ancestrais. Por isso falévamos anterformente de uma escolha inconsciente, mas sempre acentuando que, sem duvida, também af € consciente a escolha, embora permanegam inconscientes as instincias genéticas que a dirigem. Hoje, em casos idénticos, falamos preferentemente de escolha compulsiva € nio de escolha inconsciente, Isso porque, como se conclui dos trabathos posteriores, psicologicamente pode-se falar de es- colha apenas nos casos cm que dialeticamente se enfrentam tendéncias contraditérias de um par de contradigoes. Nas agdes genotrpicas nao hé dialética envolvendo o ego. Uma imagem ancestral fortemente reprimida, isto é, inconsciente (por exem- plo, um epilético, um esquizofrénico, um ciclotimico, etc.), forca o descendente-condutor a agir assim, e no de outro mo- do, Aqui, entao, é insignificante o papel do ego; com freqiién- cia ele se omite totalmente: 2) encontramos outro grupo de atos de escolha, a respei- to do qual se pode perguntar: em relacao a essa categoria de destinos compulsivos, a livre escolha do cgo no tem nenhuma importincia? Compulsao ¢ liberdade sao opostos que se con- tradizem ou, pelo contrario, se completam? Nao queremos iniciar aqui uma discussio filosdfica, mas baseados em tratamentos clinico-empiricos especialmente ana- liticos, pretendemos defender o seguinte ponto de vista: a liber- dade nem sempre é a antagonista da compulsio, mas 0 sio fre- giientemente 0 caos ¢ a anarquia. Alias, aqui, 0 conceito de liberdade inclui também uma certa compulsio. Compulsao e liberdade nao formam, em determinados casos, um par de opostos contraditérios, mas um par complementar no qual as tendéncias para a repetig¢ao hereditdria e para a liber- dade do ego estéo em permanente movimentacao. se movie mento constitui a dialética entre hereditariedade e ego. Mas, mesmo as dialéticas, como os homens, tém seus des- tinos, com muitas possibilidades. Apoiado nas exposigdes de Jaspers [9], menciono trés modalidades de solugdo da dialética: oo irRODUGKO K PSICOLOGIA bo DESTINO 1) a mutagdo, a inversio de uma tendéncia em outra, isto é, a troca das tendéncias predominantes (permuta de do: minancia). Exemplo, amor-6dio, sadismo-masoquismo; 2) a sintese das tendéncias opostas, isto é, tanto assim, como também (integragao). Exemplo, ternura mais agressio no sexo; 3) a decisiio por uma tendéncia com a exclusao da outra, isto é ou-ou, Exemplo; a decisio de desligar-se do mundo ¢ de renunciar 4 outra vida. Nas moléstias hereditarias puramente somaticas — em opo- sigdo aos padecimentos psicossomaticos — nao se pode natu- ralmente falar em dialética hereditariedade-ego. Nas perturba- Ses psiquicas, porém, assim como nas neuroses do cardter € da psiqué e em determinadas psicoses, a dialética hereditarieda de-ego tem seu papel. Para onde quer que se volte o ego, toman- do posigio contra uma estrutura de pulsio e afeto, de origem hereditaria, af se inicia uma dialética hereditariedade-ego. De acordo com a potencialidade das forgas opostas, com os fatores do mundo circundante e com a cosmoviséo ¢ espiritualidade, pode a luta — passageiramente ou para sempre — conduzir a um dos mencionados tipos: de solugio da dialética, E mais ainda, a mesma dialética circunstancialmente pode levar: (a) A inversio; (b) a sintese das duas tendéncias; (c) a uma decisio no sentido ou-ou. Como exemplos, menciono os seguintes casos da pratica analitica: ExemPLo 1: um ator, descendente de uma familia que contava entre seus membros varios homossexuais, pratica uni- camente a homossexualidade até 0 279 ano de sua vida. Depois casa-se, tem filhos, e durante muitos anos revela-se exclusiva- mente heterosexual em suas relagées com a esposa, S6 apés © nascimento dos filhos € que se torna bissexual, ¢ se entrega s duas diredes sexuais, A natureza hereditéria da homossexualidade se supde com probabilidade pelo fato de haverem sido homossexuais um pri- SOURE 4 PSICOLOGIA DA ESCOLA 6 mo e um tio, enguanto scu pai era bisexual. O paciente foi informado pela mae sobre a natureza familiar hereditaria de sua homossexualidade s6 quando, por causa da bissexualidade, seu casamento passou a correr perigo, ¢ ele recorreu a psicanilise. © caso mostra claramente de que maneira diversificada, tomando posi¢ao, o ego se colocou — com © correr dos anos — em relagéo a sua tendéncia invertedora. Neste caso, a Anilise do Destino supde uma dialética entre a hereditariedade e 0 ego. Porém, classifica como escola todos os trés tipos de solugo. Sabemos muito bem que a opinido de Jaspers difere da nossa. De acordo com este autor, deve-se falar aqui de reversdo ¢ de sintese, mas nao de escolha. Escolha € pois, na opiniio de Jaspers, exclusivamente aquele tipo de dia- lética que coloca 0 homem diante da solugio ou-ou [9]. A Anilise do Destino nao accita essa restrigio do conceito de es- colha, Aqui, os critérios do conceito de livre escolha (egotré- pica) so mais amplos: 1) na escolha dirigida pelo ego & necessdrio que a pes- soa se torne consciente das duas tendéncias de um par de opos- tos. Em nosso parecer, nao se pode af — como no genotropis- mo — falar de uma escolha “inconsciente”; 2) € necessério que 0 ego possa assumir livremente uma atitude em relagio ao par de opostos, de que anteriormente tomou consciéncia; 3) a tomada de posicio do ego pode assumir forma dife- rente em cada dialética, Assim: (a) uma vez afirmando 'e identificando (b) outra vez negando, evitando, pondo obsté- culos, reprimindo, desvalorizando, mais até, destruindo; (c) também & possivel que a tomada de posico scja ambivalente, e todo o movimento da dialética venha a ser imobilizado inten- cionalmente, por ego compulsivo, Eo estado de “nem-nem” Assim, por exemplo, nos neuréticos compulsivos. Mas, ainda ai, a ambivaléncia é compreendida como tomada de posigio; (d) finalmente, 0 ego que toma posi¢o pode socializar as opo- sigdes na profisstio ou, através da ajuda do espirito, sublimé-las na arte, na ciéncia ou na religiio, e INTRODUGAO A PSICOLAKAN IM BESTING © mencionado ator, que solucionara sua dialética uma vex pela homossexualidade ativa, outra vez pela heterossexualidade exclusiva e depois pela bissexualidade, declarou que gostaria de estudar a teoria analitica © tornarse psicanalista. Finalmente, devemos frisar aqui que também a herang psicopatoldgica pode, no inicio da doenga, se tornar conscien- te, Além disso, que também emt relagio & hereditariedade 0 ego pode tomar posigdo, como nos casos acima citados. Exrmpto 2: uma farmacéutica, forgada pelos pais, ficou noiva de um homem que no amava. Depois que a paciente desistiu de tentar mudar « opinido dos pais, foi por eles encon- trada_um dia num canto do sof, compulsivamente ajoethada. Assim ficou por dias, sem falar, sem comer, imével. O psiquia- tra consultado internou-a com o seguinte diagnéstico — con firmado no hospital — esquizofrenia cataténica. Depois de alguns meses obteve alta ¢ veio submeterse a andlise. No div do psicanalista, reconstituiu o acontecimento do seguinte modo: queria de qualquer forma desfazer 0 noivado, pois, em seu de- sespero, pensava que seu noivo pretendia envenend-la, Recor dara-se entéo que, quando mocinha, vira o irmio de sua mae em estado exatamente igual, rigido, mudo, negativamente encolhido no canto de um sofa, antes de ser internado. A pa- ciente conscientizou que possuia a mesma disposigao do tio. Suas idéias, antes relatadas, a respeito do envenenamento, Jeva- yam a essa concluso. Ela entio identificou-se com 0 tio, fez-se internar e alcangou, como prémio da doenga (Freud), a alme- jada ruptura do noivado, Contra a hipétese de uma dialética mével entre a predis- posicdo cataténica e o ego, poder-se-ia apresentar como objecao © diagnéstico de histeria. Também nao excluimos a escolha da imitagao; afirmamos, porém que s6 se pode imitar tao fieimente aquilo que jé esté predisponentemente no interior de uma pes- soa, Corroborando a exatidao dessa hipétese, apresentamos os seguintes dados: 0 irmao da mae da paciente adoeceu antes, 0 irmao do pai ¢ a propria irma dela adoeceram depois, e foram internados com 0 mesmo diagnéstico: catatonia. A identifica- SOME A FSICOLOGIA BA LSCOLHA 6 go consciente com 0 tio — relacionada com uma situagao desesperadora de sua vida — e a reflex consciente sobre as vantagens da doenga foram, neste caso, as fungdes do ego em dialética mével com a catatonia hereditéria, Para poder des- fazer 0 noivado, 0 ego precisava afirmar a heranga catatonica, A resposta da Andlise do Destino 3s questées formuladas no inicio & portanto, do seguinte’ teor: 1) num grupo de doengas psiquicas hereditérias pode faltar a dialética heranga-cgo. Af fala a Anilise do Destino em destino coercitivo, isto é em cocrgao dos ascendentes sobre a escolha; 2) num outro grupo de doengas psiquicas hereditérias — especialmente no inicio da doenga — € possivel ¢ até provavel que na alma dos pacientes se desenvolva uma dialética entre a hereditariedade especifica ¢ 0 ego tomando posi 3) a Anilise do Destino chama de escolha todos os tipos de solugdo dessa dialética hereditariedade-cgo.Portanto, a re~ versio, a sintese “assim-como-também”, a decisio “ou-ou”, bem como a indecisiio “nem-nem”, e além disso a socializagdo ¢ a sublimacdo de uma ou das duas tendéncias, sao possibilidades de escolha; 4) 0 ego que escolhe livremente pode, por conseguinte, exercer uma importante fungéo, mesmo em determinados desti- nos compulsivos; 5) compulsdo ¢ liberdade so, entéo, oposigdes comple- mentares ¢ nao contraditérias, C. DADOS ESPECIFICOS SOBRE ESCOLHA NA EXPERIMENTACAO Tendo discutido o coneeito de escolha na psiquiatria e na psicologia de modo geral, torna-se mais compreensivel 0 pro- blema em relagdo & diagnose experimental das pulsdes, ou scja, © Teste de Escolha das Fotografias. Pois as experiéncias rela ~@ 0000000000 HS0OOHHOHHHHOHHOHOEOOO( 64 Inertoougio A psicoLocta po oFStiNo tivas A escolha pretendem imitar, artificialmente, os processos de escolha na vida real. Por isso, o Teste de Escolha das Foto- grafias foi construfdo sobre um sistema pulsional que, em sua estrutura, apresenta dialética quadrupla, Isto &: 1) a dialérica de tendéucia entre duas tendéncias pulsio- nais, polarmente opostas, inerentes a todas as necessidades pul- a dialética de_necessidade (ou de fatores) entre os SS COMMTitutives de cada pulsao; 3) a dialética da_pulsdo entre as pulsdes marginais (ins- tinto sextial e de contato) e a central (censura) 4) a dialéticu_entre os agentes do_primeiro_plano_¢ os agentes do plano de fur a A Tabela 1 da parte III resume as trés primeiras dialéticas, € torna esquematicamente visivel a estrutura construtiva do sis- tema pulsional da Andlise do Destino. Sobre a quarta formula de diaiética falaremos depois. O processo experimental da escotha ¢ realizado com 0 aux’ lio de um aparetho de teste. O aparelho de teste consiste de uma caixa de seis compartimentos, contendo cada um 8 foto- grafias. Na caixa estdo, portanto, 48 fotografias. Cada foto- grafia do grupo composto de 8 unidades representa um indivi- duo que, em relagdo a um fator pulsional, estd manifestamente doente. Dentro de um grupo éctuplo, estao representados todos os 8 fatores do instinto, isto é: a cada fator pulsional corres- ponde uma fotografia, Logo, os fatores pulsionais so repre- sentados em todo o teste por 6 fotografias para cada fator. As formas patolégicas, indicadas pelas letras iniciais, referem-se as pessoas que estdo representadas na fotografia, e néio aos exami- nandos, que escolhem a fotografia correspondente. Tanto 0 total abandono das fotografias de qualquer fator pulsional, quanto a escolha demasiado freqiiente das mesmas (mais do que trés ve- zes em média), é sinal bastante sério de que o referido fator pulsional exerce, naquele momento, uma importante fungio na vida pulsional da pessoa examinada, SOnNH A FSICOLUGIA DA ESCOLA 6s © teste basico da diagnose pulsional experimental consta de duas partes. A primeira parte do teste pretende, através da escotha das doze figuras mais simpaticas ¢ das doze mais antipaticas (den- tro das 48 fotografias), conhecer tanto as pulsdes como as fun- Ges do ego, as quais por sua atualidade episddica ou por sua poténcia constitucional permanente situam-se no primeiro pla- no da personalidade. Tais tendéncias de primeiro plano, tanto da pulsdo quanto do ego, constituem porém s6 a metade da personalidade inteira. A essa metade chamamos de agente_de primeiro plano. O perfil do agente de primeiro plano € desig- nado como perfil de primeiro plano, Para a diagnose do agen- te de primeiro plano servimo-nos, conseqiientemente, nas primei- ras fases de escolha, de 24 das 48 fotografias expostas. A segunda parte do teste basico consiste na escolha das restantes 24 fotografias nao escolhidas no primeiro teste. Os resultados deste segundo proceso indicam as fungdes das pul- ses ¢ do ego, que se inserem na outra metade da personalidade, temporariamente no plano de fundo. Conseqiientemente, o cha- mado segundo perfil, que é assim obtido, representa 0 agente do plano de fundo, na forma de perfil experimental, complemen- tar, do plano de fundo. Os agentes do primeiro plano e os do plano de fundo repre- sentam 0 duplo destino do individuo: destino pulsional ¢ des- tino do ego que, opostos dialeticamente, movem-se completam- -se para o todo. Em conjunto, fornecem as bases para a avaliagao da situagdo psiquica do individuo. Os dois perfis pulsionais, porém, revelam provisoriamente apenas duas das possibilidades de destino, que se completam reciprocamente; exatamente aquelas que, no-momento dessa fase da existéncia, atuam no primeiro plano e no plano de fundo. Cada individuo traz, porém, em si mesmo, varias possibilidades de destino rela- tivas tanto as pulsdes quanto ao ego. Por isso temos que repetir © teste basico muitas vezes — se possivel oito ou dez vezes — em diversas situagdes da vida, 66 inTRODUGKO A PSICOLOGIK BO DESTINO Sob este aspecto, nao nos interessa a interpretagao dos per- fis do teste (descrita no Compéndio do Diagnéstico Experimen- tal das Pulsdes), mas exclusivamente 0 processo de escolha. ‘Apés testes de escolha realizados durante 30 anos em muitos milhares de individuos, psiquicamente sadios ou doentes, che- gamos & seguinte compreensio relativa a0 processo de escolha: 1) as fotogratias estimulantes do aparelho de teste pos- suem um cardter convidativo especial efetivo, no sentido de Lewin; 2) cada fotografia estimulante corresponde, por via asso- ciativa, as pessoas submetidas ao teste (freqiientemente até de modo chocante), atingindo aqueles pontos profundos da psiqué onde, através da natureza hereditaria recebida por transmissio e da natureza individual pulsional, reprimida naquele momen- to, as tensdes internas da necessidade sio aumentadas; 3) essa tensio pulsional, ento, manifesta-se freqiiente- mente na experiéncia justamente pelo fato de as fotos corres- ponderem Aquele fator pulsional mais atingido pela tenséo aumentada, sendo escolhidas quantitativamente acima da média trés (assim, Figs. 4, 5, 6). 4) a escolha de qualquer uma das fotografias € sempre, como confirmado pelas associagdes da psicologia profunda, uma tomada consciente de posicio relativamente 2 necessidade da pulsio que, experimentalmente, foi posta em movimento, ainda que o experimentando tente ocultar tal fato através de ba- nais respostas culturais; 5) quando as fotografias estimulantes perdem seu card ter convidativo, tratase, na maioria das vezes, de graves per- turbagdes da percepedo ¢ da compreensio, tanto em individuos dementes psicéticos, quanto noutros carregados de complexos. Sobre o carter convidativo escreveu Lewin (1926): “Um ‘estado de tensio ja por si consistente, que origina uma dispo- sigdo, uma necessidade ou uma realizagdo meio executada, dirige-se a um determinado objeto ou acontecimento, que é, por exemplo, vivido como atracdo; assim, esse sistema tenso obtém SOURE A PSICOLOGIA Os ESCOLA o dominio sobre a motricidade, Queremos dizer que esses objetos assumem 0 carater de provocago” [10]. __O8 objetos, aos quais 0 examinando reage no processo ex- perimental de escolha, sio as fotografias expostas que possuem, em relagio ao sistema da pulsdo, oito caracteres diversos de provocagio. Os estados de tenstio, com os quais 0 examinando reage as fotografias, sio as tenses da necessidade nas oito Areas dos fatores pulsionais. A exatidio da hipétese, segundo a qual a quantidade de fotografias escolhidas em relagdo a cada’ fator depende efetivamente do grau de tenso da necessidade. facik mente demonstravel, sobretudo em casos patologicos graves. ExEMPLo 3: um criminoso de guerta de 53 anos de idade coronel dos gendarmes, que na Hungria meridional mandou fuzilar milhares de sérvios judeus, sem ordem superior, foi, apés a guerra, testado na prisio por um de meus antigos cola, boradores (Dr. Noszlopi), Da mesma série décupla, 0 exami- nando escolheu uma vez todas as seis e, outra vez, cinco das seis figuras de assassinos (v. Fig. 3) W vill. Flours 3 — Dois perfis uo teste de um criminoso de guerra, No perl I escolhen como amipitcas sas fotos de ssas No perl Vil escoeu come spiens mesma th foes (eae Yee S8Ceeoeeeee 6 wraopugko & PSICoLOGIA Do DESTINO Para a compreensio: do processo de escolha € importante que se saiba que, no inicio do teste, esse assassino de massas selecionou como antipdticas as seis figuras de assassinos; e de- pois, como simpaticas, todas as seis. E sinal de haver mudado de posigdo relativamente ao assassinato. De fato, na prisdo revelou idéias fantdsticas sobre a religido. Uma série de observagdes similares mostra que, na expe- rigncia de escolha, exatamente como na vida, 0 examinando pode realmente tomar diversas posigdes em relacéo As mesmas fotografias; ocasionalmente, pode até mudar de posicao. Estdo também a nossa disposig&o provas de associagao com as fotografias, que nos ajudam a prosseguir na andlise do pro- cesso de escolha. Nao poucas dessas associagdes [11] mostram que a escolha de determinadas fotografias pode realizar-se atra- vés de recordagoes ligadas a doentes pertencentes a prdpria fa- milia do examinando ou através da identificagdo ou ndo-identi- ficagdo com estes. Seguem alguns exemplos: EXEMPLO 4: 0 examinando € professor secundario, de apro- ximadamente 30 anos. Fotografia evocativa: um_ histérico. Associagées: “Ai! (0 paciente afasta a fotografia de seu circulo visual). Eu me recordo de minha detestavel tia que representa © apoio, o sustentaculo da sociedade... Ela esté sempre em. atividade, tem muito sucesso, esforga-se por ser a detentora do poder na fami Desempenha um grande papel em asso- ciagdes beneficentes e asilos...”. EXEMPLO 5: neurético obsessivo, depois esquizofrénico. Fotografia evocativa: um epilético. Associagées:. “Um. traba- hador, alma simples... (pausa), lembra meu tio; ele era pes- soa diferente, com mania de religiéo... motreu num instituto de loucos". “Aqui, comega a se sentir chocado com seus pr6- prios pensamentos. Muito elucidativas so as associagées em que o paciente vé a si mesmo na imagem evocada, ou seu proprio quadro pato- Jégico, ou seu perseguidor, ete. EXEMPLO 6: 0 examinando era professor secundario, de 28 anos de idade. Diagnéstico — esquizofrenia parandide. SOBRE A PSICOLOGIA DA ESCOLA 6 Fotografia evocativa: um epilético, Associagéess “O homem no me € agora antipatico, se bem que o fosse anteriormente. Ele se parece comigo... nao é bem assim... € mais duro que cu... E talvez um psicstico... um esquizofrénico.... sofre de ciséo do ego-consciente... deve ter um perfodo de loucura, Agora sinto-me exatamente como se tivesse tomado uma inje- Sfo de catdiazol*... tenho medo... sinto que as convulsdes estéo chegando”. Exemrto 7: um jovem esquizofrénico de 20 anos explica & respeito da foto de um homossexual: “Quando eu via essa fotografia, sabia imediatamente que tinha sido fotografado, ¢ dizia que eu devia sorrir, que a maquina estava pronta para Tetratar meu rosto. Essa fotografia s6 pode ser a representagio de mim mesmo e de nenhum outro”, EXEMPLO 8: uma_parandide, histero-epilética, homosse- xual latente, diz a respeito da fotografia de uma mulher histé- rica: | “Desagradavel. Tenho medo deste, (Bla acha que a fotografia representa um homem). E ele sempre que esté airds de mim (portanto, seu perseguidor). Esses rostos sempre me aparecem. Tenho medo deles. Também me aparecem com méscaras finebres. S40 malignos”. A fotografia de uma mulher histérica 6 tomada aqui como @ de um homem, sendo esse o raciocinio de uma paciente ho- mossexual latente. Bem no fundo de si mesma, ela se culpa pelo desejo de ser homem ¢ amar mulheres, Em’ conseqtiéncia, sente-se perseguida por seu acompanhante masculino, que pro- jeta sobre a figura de uma mulher histérica. Os desmaios que acometiam a paciente ocorriam com mais freqiiéncia justamen- te quando provava os vestidos de uma freguesa, a mulher que cla amava. Esclaregamos que a paciente era costureira. Numerosos exemplos figuram no Compéndio de Diagnose Experimental da Pulsio. Contudo, os poucos casos acima cita- dos mostram a posigio que o examinando toma conscientemente em relago a determinadas fotografias de ascendentes e de suas * 0 paciente recebeu, anteriormente aplicagao do teste, varias vezes tratamento de choque com cardiazol, — POPOOOOHOOHOCOHHHOCESCHEHOCOSCOOCEEOS 0 INTHOBUGKO A RSICOLOGIA PO DESTINO pretensdes, nos atos de escolha artificialmente provocados. E tudo isto foi produzido nos examinandos através das experién- cias. Portanto, as hipdteses sobre o processo de escolha na vida real também se confirmaram experimentalmente. Poderfamos formular aqui a seguinte pergunta: se a And- lise do Destino admite que, em determinados casos de destino heredo-compulsivo, a liberdade do ego esta em parte inserida; que, como as experiéncias demonstraram, uma parte da coergao hereditéria esta contida no livre destino do ego; em que con- siste entao a diferenga entre destino hereditério ¢ destino do ego? Depois de tudo isso, ainda tem sentido mencionar duas categorias de destino humano? ‘A resposta é a seguinte: a diferenga entre as duas catego- ria de destino esti nas proporgdes quantitativas entre a neces- sidade coercitiva herdada e a liberdade de escolha do ego. Pois, afinal, as proporcdes quantitativas da dialética heranga-ego de- terminam exatamente 0 destino do individuo. Essa diferenga quantitativa se manifesta de dois modos (1) pelo grau de poténcia da hereditariedade em relacdo ao ego que toma posigao; (2) inversamente, pelo tempo necessario & Conscientizagao dessa forca hereditaria ¢ da pretensdo dos as- cendentes. Nos destinos fortemente coercitivos, uma pretensio doentia dos ancestrais irrompe quase instantaneamente na consciéncia (v. exemplo 2). Em conseqiiéncia, 0 ato de escolha do ego nao pode ter maior duracao que “repentina iluminacdo” das pre- tensdes ancestrais. A escolha é feita a luz dessa fulguracio. No livre destino do ego, pelo contratio, a conscientizacao das pretensdes dos ancestrais como heranga pode ser duradou- ra. Isto é, 0 conhecimento da pretensio permanece na cons- ciéncia ¢, por conseguinte, também deve ser duradoura a tomada de posigio do ego, E que toda influéncia hereditaria de que se tem consciéncia torna-se uma parte constitutiva da conscién- cia. Essa circunstincia possibilita ao ego decidir entre as mod: lidades de escolha que sdo: a constante negagio, a rejeicao; a aceitagdo, isto é, introjecdo; a socializagao ¢ a sublimacdo da SOIRE 4 PSICOLOGIA DA ESCOLA m influéncia hereditdria, etc. A terapia analitica do destino con- venceu-nos que assim € [12]. Passamos agora para um esquema das formas de escolha, D. ESQUEMA DAS FORMAS DE ESCOLHA 1. Na Psicandlise Freud estabeleceu as seguintes quatro formas de escolha: 1) _escolha objetiva anaclitica, incestuosa, de Edipo ou de apoio. Segundo a Psicandlise, esta € a forma principal e geral de escolha objetiva propria do adulto. E anaclitica porque, na escolha, 0 sujeito se apdia nas imagens de seus pais; 2) escolha objetiva narcisista, na qual o individuo nao se apéia nas imagens dos pais, mas em si mesmo ou numa de suas qualidades manifestas; 3) apoio numa das facetas da prdpria personalidade, que nfo pode aleangar pleno desenvolvimento. Por exemplo, uma menina se enamora de um menino porque ele possui qualidades smasculinas em relagdo &s quais ela néo encontra em si mesma correspondéncia aceitavel; 4) temor do incesto. © examinando procura manter-se © mais possivel afastado da imagem dos pais, irmao, irma; pro- cura parceria com alguém que forme contraste com 0 pai, mie, irmo ou irma (v. carta de Freud ao autor, Fig. 4) 2. NA ANALISE DO DESTINO Até agora justificamos teoricamente 0 processo de escolha sob 0 ponto de vista da Andlise do Destino. Neste momento, baseando-nos em tudo que foi dito, tentamos apresentar as foi- mas de escolha aplicdveis segundo 0 método da Andlise do Destino: mwtHoDUGAO A FSICOLOGIA DO NESTING Fioun 4 SOBRE 4 PSICOLOGIA DA ESCOLNA n Viena IX, Berggasse 19 18. 6, 1937. Prof. Dr. Freud Mui prezado Doutor, De seu interessante trabalho pude deduzir com satisfagio que o Sr, levou em consideragao sobretudo pontos de vista ana- liticos. Nao estou em situagio de aquilatar em que medida o Sr. poderia comprovar sua propria tese heredobiolégica através de suas pesquisas, O tema me é demasiadamente estranho, Certas objecdes contra o material apresentado me vém ao pensamento. Com muita freqiiéncia nao coincidem a escolha do casamento ¢ a do amor, Na maioria das vezes, a liberdade de escolha é muito restrita, A experiéncia psicanalitica revela uma varieda- de razodvel de aspectos do amor: a ligagio com 0 objeto de antigos amores € as impresses recebidas deles; 0 apoio narci- sista em si mesmo e muitas vezes em caracteristicas do outro sexo que ndo atingiram desenvolvimento na propria pessoa (por exemplo, 0 menino que desejou ser menina, cte.). A ligagdo amorosa pode também por & mostra uma dependéncia negativa, Portanto, 0 maior afastamento possfvel de determinadas ima- gens incestuosas da mie, irma, etc. O fator posto em relevo pelo Sr. poderia ter sua influéncia sem ser, entretanto, ‘nico ou decisivo. Desculpe-me por estas ligeiras observagdes. Com a maior estima, seu Freud 1 ©8000 00000000 OS000SOOOOOCOOOOCOOCEO: 1” eraopugio & PsicoLoatk po DESTINO 1) Coergao eletiva génica, heredo-dirigida A escolha 6 totalmente ou quase totalmente dirigida pelos ancestrais. Distinguimos: a) escolha compulsiva ou pscudo-escolha. Sem uma ver- dadeira dialética heranga-ego, a hereditariedade, isto 6, a na- tureza de condutor do examinando condiciona a escolha. b) escolha génica com dialética _hereditariedade-ego. Nesta categoria, a coergdo hereditaria dominante torna-se cons- ciente por meio do ego que, entdo, toma posicao. 2) Livre escotha dirigida pelo ego, egotrdpica Aqui a escolha determinada pela predomindncia do ego: 8) 0 examinando esté informado sobre sua natureza de condutor, Seu ego domina, porém, a hereditariedade relativa- mente enfraquecid © examinando esta informado sobre as imagens estru- na primeira infancia, isto 6, sobre as vivéncias infantis, traumiticas, mas seu ego domina os efeitos delas e escothe livre- mente. Com muita freqiiéncia, apés a andlise, 0 psicoterapeuta estimula os analisados a vivenciarem escolhas livres, egotrépi- cas, determinadas pela predominancia do ego. Porém, nada impede que certas pessoas possam também fazer esse tipo de es- colha livre sem um tratamento psicanalitico. CONCLUSAO, ‘A Andlise do Destino partiu do axioma: a escolha faz 0 destino. Tentou construir para este axioma um fundamento mé- dico-psicoldgico. Por isso, analisou duas categorias de agdes eletivas: (1) as formas de escolha génicas, hereditariamente dirigidas; (2) as formas de escolha egotrépicas, dirigidas pelo ego. SOMRE A PSICOLOGIA DA ESCOLA 75 Para poder socializar ¢ humanizar a natureza hereditévia, instintiva ¢ afetiva do homem, teriam a pedagogia, a psicologia € a psicoterapia que levar 0 paciente a tomar consciéncia de suas tendéncias eletivas hereditariamente dirigidas perigosas para, conseqiientemente, promover escolhas livres, dirigidas pelo ego. BIBLIOGRAFIA 1 Szonpi, L.: Schicksalsanalyse. Schwabe, Basel. 1. Aufl. 1944, 2. Aufl. 1948, 3. Aufl. 1965. 2 JOHANSEN, W.: Elemente der exakten Erblichkeitslehre. 1909, S. 124/125. 3 Szonvl, L.: Analysis of marriages. An attempt choise in love. Acta psychol. Den Haag, 1937, 4 Srumrrt, F.: Erbanlage und Verbrechen, Monogr. aus d. Gesamtge~ biete d. Neur. u, Psych. Heft 61. Springer, Berlin, 1935, S. 28ff. 5 Szonoi, L.: Experimentelle ‘Triebdiagnostik, 1. Aufl. Hans Huber, Bern, 1947, 6 SzonDI, L.: Az En kisérleti elemzése (Die experimentelle Analyse des Ichs). Budapest, 1943. Szonpl, L.:Ich-Analyse, Hans Huber, Bern, 1956. 8 Szonpl, L.: Schicksalsanalytische Therapie. Hans Huber, Bern, 1963. Jaspers, K.: Allgemeine Psychopathologie. Springer, Berlin. 5. Autl 1948, S. 284ff the theory of 10 Lewin, K.: Vorsatz, Wille und Bediirfnis. Springer, Berlin, 1926, S. 28. 11 Siethe Lehrbuch der experimentellen Tricbdiagnostik. 2. Aufl. S. 362-372. 12 Siche Schicksalsanalytische Therapie, Dritter Teil. Klinik S, 266-522. Ill As Pulsdes - Orientagao e Tratamento * A. TEORIA GENICA DAS PULSOES Na ordenacio de um sistema das pulsdes, cada tentativa deveria comecar pela verificacao do “género préximo” biolégi- co que revela o elemento geral, comum a todos os tipos de pul- so. $6 depois seriam pesquisadas as diferengas especificas que distinguem uns dos outros, genética fenomenologicamente, os diversos tipos de pulsdo, De acordo com a Analise do Des- tino, esse elemento geral comum é a origem génica, ¢ os genes, a fonte das pulsdes. A natureza da pulsdo é determinada pela natureza dos genes, portanto, pela natureza das fnfimas parti- culas quimicas (macromoléculas) de qualidade especial, que determinam a continuidade das reagGes pulsionais isoladas. Na teoria génica, admite-se que as agdes pulsionais so determina- das por genes especificos, denominados “genes da pulsdo”. Se as pulses forem de origem génica, obviamente sua natureza é determinada pela natureza dos genes. £ comum e proprio da natureza genética transmitir sem- pre A geragdo seguinte uma caracteristica familiar da estirpe ou da espécie. Cada gene, ensina a genética, esforga-se por resta- belecer na nova geracio um estado precedente. Portanto, se adotando 0 ponto de vista da teoria génica, afirmamos que as tendéncias pulsionais sem excegao sao de origem génica, quere- * Schweiz. Zeitschrift f. Psychologie and ihre Anewndungen. Vd. V H. 1, 1946. Relatério apresentado na V reunido da Schweiz. Gesellschaft fiir Psychologie und ihre Anwendungen. 8 inrRopUGEO A PSICOLOGIA vo DESTINO mos dizer com isso que ¢ comum as pulsdes a pretensio de re- produzir algum estado precedente. Neste ponto, a Teoria Génica da Andlise do Destino ¢ a Teoria do Instinto da Psicandlise concordam, Freud diz, lite- ralmente: “Um instinto seria, portanto, um impeto imanente 20 orginico vivo para o restabelecimento de um estado prece- dente” [1]. Porém, no respondeu & seguinte pergunta: qual 6 exatamente 0 motivo que impele os instintos a restabelecer um estado precedente? A resposta ¢ dada pela Teoria Génica evidentemente as puls6es intentam restabelecer um estado an- terior porque so de origem génica. Esta origem génica, justa- mente, as leva a reproduzir estados anteriores que ja haviam adquirido consisténcia no curso da filogénese. Destas consideragées resulta: 1) se cada pulsto & de origem génica, temos que consi- derar tantas tendéncias pulsionais quantos forem os genes da pulsao. 2) 0 dualismo das pulsdes, que hoje serve de base & Psi- candlise (instintos respectivamente sexual, do ego, de vida e de morte), ainda precisa ser complementado. O dualismo decorrente da Teoria Génica se caracteriza pelo fato de ser igualmente vilido para cada pulsio, para cada necessidade ou desejo pulsionais. Isto € mesmo conseqiiéncia direta da origem e da natureza génicas, comuns a todas as pul- soes. Esse dualismo 6 0 dualismo dos pares de pulsdes opostas. A Teoria Génica tem, portanto, sua base na prépria genética. E, de acordo com a Teoria Génica, os seres humanos em sua maioria (abstragio feita dos raros individuos chamados homo- rigéticos) so, em relacdo a todos os desejos ou necessidades pulsionais, heterozigéticos, de hereditariedade mista. Isto sig- nifica que em relagdo a um dado desejo impulsivo ou & respec- tiva necessidade, na maioria das vezes foi herdada uma tendén- cia vinda do pai em contraposicZo 4 que veio da mie. 1 Freud, S.: Ges. Schriften. Vd, VI, p. 226 (Jenseits des Lust- prinzips). AS PULSES — ORWENTAGKO E TRATAMENTO Ea Conseqiientemente, deduzimos que as necessidades ou desejos impulsivos séo determinados por pares génicos especifi- cos (alelos), dos quais dois constituintes homélogos (duas uni- dades de genes) representam na maioria das vezes tendéncias impulsivas dirigidas de modo polarmente oposto (Aa, Bb, Cc, etc.). De conformidade com a Teoria da Pulsio da Anilise do Destino, uma dada necessidade, um dado desejo impulsivo (em forma de par de impulsos opostos) sio hereditariamente pre- determinados. A expressiio “par de pulses opostas” é, na Teoria da Pul- so da Anélise do Destino, a concepedo psicolégica do conceito bioldgico: par alelomorfo que genicamente determina uma dada necessidade, um dado desejo pulsional. A expresso pulsdo significa, por conseguinte, na Teoria Génica da Pulsio, um processo dimero, bifatorial, determinado pelo menos por dois pares independentes alelomorfos que re- presentam as duas necessidades ou desejos impulsivos mende- lianos (por exemplo, Aa Bb). Por necessidade pulsional entendemos 0 processo psicolé- gico da pulsio que, tendo como base um par de alelos, conse- qiientemente € determinado por dois genes homélogos: paterno ¢ o materno (Aa ou Bb) A tendéncia da pulsio é determinada somente por um gene do par de alelos, portanto pelo gene paterno ou materno, A expressiio tendéncia da pulsdo indica, pois, um s6 dos dois processos que constituem a necessidade ou desejo impul- sivos (por exemplo, A ou a, B ou b, etc.). A Andlise do Destino considera os doentes mentais prin- cipalmente como enfermos da pulsio — pulstio do ego. A desa- gregagdo € a reconstituicdo do ego e da personalidade integra, assim como as perturbagdes do comportimento relacionadas com ela, devem ser compreendidas como formas consecutivas de reacio, freqiientemente até como mecanismos de defesa. A teoria psiquidtrica da hereditariedade classificou até agora trés tipos hereditdtios, independentes, de doengas mentais: - 000000000000 00000000000000C8C000O! 80 nermouugio A rSicoLoain po DESTIN 1) © tipo hereditério esquizoforme Sch, ao qual perten- cem as doengas mentais cataténicas e parandides (Ridin, Hoffmann, Luxemburger, ctc.); 2) 0 tipo hereditario circular ou maniaco-depressivo C (Hoffmann, Ridin, Luxemburger, Lenz); 3) os tipos hereditérios respectivamente epileptiforme (Bratz) ou paroxistico (Szondi); 4) tipo hereditatio S, que apresentamos em comple- mento aos demais, isto 6, o tipo das doengas sexuais de pulsio, nesta classe se enquadrando os homossexuais, sidicos ¢ maso- quistas. Pilz, Hirschfeld, von Romer, Lang ¢ outros comprova- ram que os sintomas patolégicos desse tipo tém uma forma hereditéria independente e especial. Correspondendo aos quatro tipos de moléstias psiquicas independentes ¢ hereditrias, no podemos admitir nem menos, nem mais que quatro pulsdes: I sexual, S; II paroxistica “de indugo”, P; III esquizoforme, SCH; IV circular de contato, C. Dispondo cada um dos quatro tipos psicopatolégicos here- ditérios de duas formas sintométicas, clinica e geneticamente distintas, devemos pressupor a existéncia de, ao todo, oito ne- cessidades ou desejos pulsionais, As oito moléstias psiquicas hereditarias, das quais cada par subordina-se a um tipo ‘hereditério comum, sio Tipo hereditério das docn- 1, homossexualidade (h) gas sexuais | 2. sadismo (s) 3. Tipo hetediiio das does [ 3._eplepsin(e) gas paroxisticas 4. histeria (hy) IIL. Tipo hereditario das doen- { 5 catatonia (k) gas esquizoformes (esqui- 4 " zofrenia) 6. parania (p) in d IV, Afeogdes circulars: estado { § genres AS PULSOES — ORIENTAGAO © TRATAMENTO 81 Baseados na pressuposigio de que os genes patolégicos ¢ fisiolégicos em processo de mutagao sao formas realizadas de genes idénticos primarios da pulsdo, admitimos oito necessida- des ou desejos especificos, dos quais cada par pertence a um tipo unitétio de pulsfo. Baseado nessas consideragées, o siste- ma de pulsio da Anélise do Destino admite oito necessidades fisiolégicas compulsivas, que denominamos “fatores de pulséo” (v. Tabela 1) Metodologia Para a investigagao das oito necessidades instintivas, ser- vimo-nos de um método de escolha que chamamos de Diagnose Experimental da Pulsio. Consiste no seguinte: reunimos foto- grafias representando figuras humanas, num total de 48. Cada série de moléstias psiquicas reconhecida como heredo-bioldgica independent é representada por um igual nimero de fotogra- fins. Cada uma das séries abrange seis fotos de: (1) herma- froditas (h); (2) assassinos, sadistas (s); (3) epiléticos (¢); (4) histéricos (hy); (5) cataténicos (k); (6) esquizofrénicos, parandides (p); (7) depressivos (d); (8) maniacos (m). Essas sérics de 8 fotografias (representada cada doenga por uma fotografia) so por seis vezes mostradas ao examinando; ele & convidado a escolher entre as 8 fotografias de cada série, duas que lhe paregam mais simpaticas e outras duas mais antipaticas. ‘Temos, portanto, no fim do teste (apés o exame das seis séries), 12 fotografias que o examinando considera simpéticas, e 12 antipaticas. Os resultados das escolhas naturalmente variam de individuo para individuo. Primeiramente, trata-se de saver quantas fotos © de quais docntes o examinando escolheu; em gundo lugar, quantas entre as figuras escolhidas considerou simpaticas, e quantas antipdticas. © resultado final da escolha é anotado num gréfico qua- driculado; ai estio apontadas em vermelho as escolhas simpati- cas, e em azul as antipaticas (v. Fig. 3, p. 67). Este grafico denomina-se perfil da pulsdo. O teste & repetido seriadamente 8 IWTRODUGAG A FSICOLOGIA BO BESTING em relagdo a cada examinando, se possivel dez vezes em perio- dos certos. Obtemos portanto de cada paciente 10 perfis. Por meio de uma técnica muito simples de contagem sio constatadas a classe e a forma de pulsio, 0 que possibilita determinar o des- tino individual pulsional, o cardter ¢ eventualmente a doenga psiquica do examinando, A possibilidade de determinar experimentalmente os desti- nos pulsionais impulsives conduziu a um psicodiagnéstico com auxilio do qual podemos separar com seguranga os pacientes normais dos doentes, os neurdticos dos psicéticos, os moraimen- te elevados dos criminosos, ¢ finalmente os humanizados dos ngo-humanizados. B. ORIENTACAO Realizamos as mencionadas experiéncias sobre os impulsos em pesquisas que incluiam gémeos, e entre os sujeitos figuravam tanto jovens escolares quanto adultos. Entre os examinandos contavam-se 36 gémeos univitelinos, 36 bivitelinos do mesmo sexo e 25 bivitelinos de ambos os sexos. E sua idade oscilava entre 8 € 38 anos. Com auxilio do método gemelar, verificamos a proporcao de forcas entre o mundo circundante e a hereditarie- dade. Na Tabela 2 mostramos a graduago da influéncia que podemos exercer sobre os oito fatores da pulsio. Das pesquisas gemelares podemos concluir, com referéncia & possibilidade de influenciar e orientar as oito necessidades ou desejos pulsionais, que existe uma graduagdo a observar. Dessas pesquisas extrafmos as seguintes formulas 1. Facilmente influenciéveis, isto 6, muito acessiveis. Constatagées: (1) necessidade de acumular até 0 paroxis- mo ¢ de descarregar mais tarde, de modo repentino, explosiva- mente, raiva, édio, ira, vinganga, inveja e citme. Resumindo, © “mal” no homem (e); Dingnéstico Ex Os8 6 cipos de tendénci Ta pare Pulsio.paroxi Pulsio do ego seh _ & z Los & £ g : 5 Inflagdo 2 333 6* 3 3 282 182 3 g oie [ge 3 3 Beoge |S g te athe g alee gage 2 ley #eL2 ~ é gee Ree é gee = para infidelidade objetos, Pulsio de Necessidade de apoio Fator m l {vu para 0 respeito 1 adesio, i é z pelo athe, pa Tendércia para a rendincia em favor de todos os homens, para a fidelidade, 14 1s 16. 8 k ez de possuir (er) Egocea: Li Sensibilidad Enerande- imento. da Medianzmente ‘orientavel Graduagéo da orientapo das pulses Avagio [Deseo ee Bios ee sor possuir TABELA 2 (Sas Aeros Facilmente orientivel ‘Acumolagzo Nevessidadee Fatores de pull i Graduagio da Influgncia ‘AS PULSDES — OnIENTAGIO E TRATAMENTO 8s (2) seve de sadismo, apetite de agressio (s); (3) pendor para a propriedade alheia, apetite de, enga- nando a outrem, tudo obter, inclusive objetos de valor perten- contes a terceiros (4). Sobre essas trés necessidades ou desejos pulsionais, a forga dos fatores ex6genos parece set maior que o poder da heredita- riedade. A respeito disto, € necessério destacar que muitas ocorréncias registradas como éxito educacional, em exame mais rigoroso, surpreendentemente se revelaram como “camuflagem”. Il. Medianamente influencidveis, ou seja, passiveis de orientagao. Desejos classificados: (4) apetite de exibicdo, impeto de estar constantemente em cena. Na estrita significagéo patolé- gica: exibicionismo (hy); (5) desejo de verbalizagao e de apoio (Hermann), impli- citamente tudo que se denomina “hedonismo” (m); Il. Dificilmente influencidveis e, conseqiientemente, de orientagao dificil. Indicagdes: (6) impeto de inflago do ego ou de fortale- cimento e engrandecimento da personalidade. Na significagao cultural, impeto de mentalizagio (p); (7) apetite de dar ¢ receber afeto, feminilidade, predis- posi¢aio ontogenética para a bissexualidade (h); (8) impeto (o mais dificil de influenciar) de dominio ¢ podor, possuir coisas, egoismo, egocentrismo, autismo ¢ nar- cisismo. Por isso, é chamado de fator de “cimento armado”. Humanizagéo Pela orientagio e pelo tratamento, podemos humanizar as pulsdes humanas? % InsrHopugie A PSICOLOGIA DO ESTING [A luz das experiéncias, os termos humanidade ¢ humanismo adquirem um novo contetido, e assim os definiriamos *Humanidade 6 0 destino pulsional, extremamente raro, de personalidades extremamente positivas, caracterizado por duas qualidade fundamentais: (1) 0 ego desses individuos escolhe na maioria das vezes 0 humano dentre os pares de impulsos opostos, humanos ¢ desumanos, herdados ou imanentes; (2) a mente dessas pessoas irradia pensamentos humanos sobre tudo 0 que no mundo é humano; Humanismo € extamente 0 movimento mental gue luta pela expansiio do amor ¢ difusio da humanidade. Humanidade significa um destino pulsional. Humanismo, pelo contrario, € um movimento puramente mental. Individuos humanizados, portanto, sio, segundo a Anélise do Destino, pessoas cujo destino é: (1) escolher sempre o hu- mano entre as oposicées das pulsagdes; (2) difundir 0 humano, nao s6 em si mesmo, entre os membros da familia e os compa- nheiros da mesma religido, classe social, raga, povo e nacio, mas também irradiar esse humanismo sobre tudo ¢ todos Na Tabela 3 so indicados os pares de pulsdes opostos, humanos € inumanos. ‘As pulsdes humanas podem ser agrupadas do seguinte modo: 1. Grupo dos fatores mental-humanos: jo, ego mental positive (1) o humano em propags (2) a sensibilidade coletiva, predisposigio para a cultura (3) 0 aulodominio com adaptagio negativo ambivalente k = negativo HI, Grupo dos fatores ético-humanos: (1) _ a justiga coletiva® ¢ = positive (2) © autodominio , coletivo, cavalheirismo, sactfici, predisposigio para a civlizagdo s —= negative (3) a resignagio d= negativo Paco. (esa AS PULSDES — ORIENTAGHO E TRATAMENTO "7 TABELA } — Necessidndes inumanes ¢ humanas ¢ suas reagSes [_ Reapio | Desejos inumanos emsTbiidade i dual cujo objeto” € Sempre ¢ exclusiva: mente uma determi Inada pessoa, familia, religiéo, classe social, aga, nagio ete. Sensbilid coletiva cujo objeto € sempre toga a humanidade, 5 = +| Apressio, eventual | s +| Cavaliere enie samo sm | coleivo, sacrifice, Iclagdo a ama deter, milage perante Iminade_pesson, Yami todos os" Homens Tia, religido, classe social, raga’ nagio © = —| Acumulagio de raiva,| e¢ = | Justiga coletiva, ‘dio, its, injostiga, piedade, } contra vima. determi nada pessoa, familia, moral religifo, raca, classe ‘social, nagio, ete hy = +] Exibir-se hy =) Pudicicia impudieamente coletiva, Autism, egoismo, ‘Autodominio © eocenteismo, adaplagdo a0 |__| aarsssme posesivo ‘olelivo. p= —| Acusagio, incrim: |p = -+| Difusio mental de c Sentimentoshuma fos em felagio ode determinada| pessoa, Tania, rell= | ido, raya, classe | coletividade. © ego | seta mage ‘mental, Poténcia do ego. © | d= +| Aquisigio de valores | od = —) — Resignagio em ‘esfavorecendo | favor de todos ‘utren, Avidez ‘os homens possessiva, |__Fistiaae Separarse de uma estos, fam raga, classe, nag, fle, Infidelidade e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e ° ° e 88 eraoougie 1 PsicoLocin po DESTINO Baseados nessas pesquisas compreendemos qui (1) © homem pode mais facilmente civilizar-se “eticamen- te” que humanizar-se “mentalmente”; (2) a civilizagao ética e a humanizagio mental sdo fend- menos parciais da humanizagio das pulsdes. Ambas as formas. fenoménicas si condicionadas pelos genes; seus fundamentos génicos sao heterogéneos; (3) Conseqiientemente, as formas fenoménicas de huma- nizagdo do homem dependem da combinagdo individualmente variavel de fatores ético-civilizadores ¢ mentalmente humani- zadores; (4) 0s impulsos que podem manifestarse em forma ético- -humana sio os mesmos que os resultados das pesquisas com gémeos apontam como mais facilmente influencidveis: (1) agressio (s); (2) acumulacdo de raiva, ddio, ira, vinganga, inveja e citme (e); (3) ambicdo de conquistar, cobiga de possuir (4). Com orientagao favordvel podem surgir, em vez da agres- sao, 0 cavalheirismo, a capacidade de sacrificio e, eventualmente, a humidade em lugar da maldade (raiva, édio, ira, vinganga) de Caim. Ea bondade, a justica, a compaixio do piedoso Abel. Finalmente, em vez da ambicao, a resignacao; (5) 05 desejos bisicos do tipo impulsivo de comporta- mento mental-humano so mais dificilmente influencidveis, Com- preendem a inflagdo do ego (p), a ego-didstole, o auto-controle com simultinea adaptacio (k) e, finalmente, a sensibilidade materno-feminina inata (h). Chegamos agora ao iiltimo capitulo de nosso tema: como exercer influéncia sobre as pulsées pela psicoterapia? C. TRATAMENTO (1) Com o auxilio do Diagnéstico Experimental da Pulsdo examinamos 0 efeito da sonoterapia ¢, sobretudo, da tera- As PULSDES — onLUNTAGHO E TRATAMENTO 8 pia de choque, eletro-choque, choque de insulina, de catdiazol, aplicada aos doentes mentai Verificamos experimentalmente, em esquizofrénicos no demasiado idosos, que o ego “humano sadio” permanece intato. Fica 8 espreita no plano de fundo para, na ocasiéio oportuna, por exemplo, sob a aco do choque, poder aparecer em cena depois da expulsao do outro, do ego “insano” esquizofrénico. A sono- terapia ¢ também a aco do choque provocam uma mudanga, uma troca na manifestago de duas estruturas constante em luta ¢ com freqiiéncia polarmente opostas. & uma experiéncia com- probatéria da hipétese seguinte: tanto o inumano quanto o humano esto simultaneamente presentes em nds; apenas o ego “escolhe” alternadamente o inumano e 0 humano. Como, por exemplo, nas psicoses, sob a acao do choque ou pela sonoterapia. Porém, esta dupla e influente atuagéo sé consegue trazer & tona a personalidade “sadia”, ou seja, humana, transitoriamente. Como se poderia conseguir que 0 ego tomador de posigio scja compelido a conceder um crédito de confianga permanente a confrontaco catartica com as tendéncias pulsionais recalcadas enigma quase insolivel. Um método que resolva 0 problema talvez nos seja indicado pelo tratamento psicoldgico profundo das neuroses. Neste tratamento existe, entretanto, se bem que de forma menos acentuada, igual problema a solucionar. Na psicandlise, a confrontagio catdrtica com as tendéncias pulsionais recalca- das, inconscientes, atua, pelo tipo de choque, em grau exata- tamente proporcional ao dos tratamentos de choque pela cletri- cidade, pela insulina ou pelo cardiazol, Pelo processo psicana- litico, porém, 0 “novo ego humano” é fixado na via de novas identificacoes [2] 2 V._“Psychoschok-Therapie” in Schecksalsanaly tis chen Therapie, Huber, Berm umd Stuttgart, 90 wraopucko A rsicoLogin po DESTINO (2) © segundo problema assim se enuncia: é realmente suficiente provocar, em todos os casos, através da conscienti- za¢o do conteddo infantil recaleado, uma mudanca de longa duragao no par de oposigdes da personalidade? Jung afirmou hd anos que muitas vezes 6 necessario realizar a confrontagio, nao somente com o inconsciente individual infantil, mas também com o inconsciente coletivo. A Anilise do Destino admite a existéncia de trés grupos de fungées do inconsciente: (a) © inconsciente individual (pessoal) com conteddo infantil recalcado, Trabalhar essas fungdes faz parte da psica- nélise freudiana; (b) 0 inconsciente familiar, pois as tendéncias impulsi- vas familiares, latentes, continuam a atuar ameagadoramente, de maneira dindmica. O confronto ¢ a reconciliago do paciente com os “ancestrais Jatentes” é, porém, tarefa exclusiva da Tera- pia Analitica do Destino; (©) © inconsciente coletivo que & tcabalhado pelo con- fronto com os arquétipos na Psicologia dos Complexos ¢ na psicoterapia, ambas de Jung. A psicandlise freudiana 6 a ontogenia; a Andlige do Desti- no, a genética; ¢ a psicologia dos complexos, de Jung, a arqueo- logia do inconsciente. Estas trés linhas da psicologia profunda apresentam certa afinidade porque seu ponto de partida ¢ a descoberta freudiana do inconsciente, iniciadora de uma nova época. Ademais, todas as trés tendéncias constroem a partir de uma mesma pressuposi gio basica: a existéncia dos fendmenos de recalcamento ¢ da transmissao, Mas existe entre as trés uma dupla diferenca: (a) cada uma delas pesquisa em diferente profundidade da_psiqué, (b) 0 método de pesquisa € proporcionalmente diferente. AS PULSES — OMLNTAGIO E TRATAMENTO 9 A ontogenia, a genética e 2 arqueclogia do inconsciente s6 em conjunto podem resultar na psicologia profunda, em sua completa acepgio. E s6 conseguimos obter seguramente a con- figuragéo total da psiqué profunda e sua revelagio quando estabelecemos uma conexdo entre as trés linhas independentes de pesquisa; (3) A altima e mais angustiosamente controvertida per- gunta é a seguinte: a conscientizagio de tendéncias instintivas latentes (infantis, familiares ou coletivas) é, com exclusio de tudo mais, suficiente para a humanizago das pulsdes? A Anélise do Destino nega tal afirmagéo. Para poder con- tinuar a viver de forma humana, imunizada contra tendéncias pulsionais perigosas, nfo basta que o individuo tenha conscién- cia das vivéncias traumaticas latentes. E preciso auxilié-lo por um método qualquer a satisfazer as tendéncias ameagadoras de que tomou consciéncia. Pois conscientizagdo nunca é igual a satisfagéo. Uma necessidade da pulsio sé se torna inofensiva quando satisjeita. E por isso que a Andlise do Destino da tanta import ia 4 escolha da profissao, das amizades, do amor. No livro Schicksalsanalyse [3], aparecido em 1944, cha- mamos a atengéo sobre as estreitas relagSes entre profissao ¢ hereditariedade. Desejamos ainda acentuar que, em reagdo ao inconsciente familiar, a escolha da profissdo é freqiientemente 0 meio de cura mais eficaz ¢ duradouro para os processos pulsionais mérbidos. Conhecemos, por exemplo, ha pouco, dois sobrinhos de um assas- sino. Um deles se transformou em agougueiro, ¢ 0 outro, em cirurgiao, Na Hungria, a filha de um carrasco tornousse freita. A irma de um matricida fez-se missionaria, O pai de um morfind- mano, que no ttatamento demonstrou obsessio por roupas {nt mas femininas, depois instalou na América uma fabrica de rou- pas femininas. Sao exemplos que nos mostram com se pode, por meio da profissio, adotar uma forma de vida que imuniza contra uma estrutura familiar pulsional perigosa. 2 Szondi, L.: Schicksalsanalyse. Bemmo Schwake, Brasil, 1944 2 Inraoougio A rsICOLOGIK Bo BUSTING © mesmo vale para a escollia dos amigos. © papel da amizade nao foi até agora perfeitamente avaliado por processo psicolégico referente & pulsdo. O companheiro ou companheira, de acordo com a psico- logia da pulsdo, é especialmente escolhido pelo individuo apés sua separacdo dos pais para completar o “triangulo biolégico do destino”: pai, mae e filho ou filha. Sem esse complemento, ‘© homem se sente como amputado. Algo Ihe falta, algo procura constantemente para se completar. Quando nao obtém éxito, pode viver em permanente busca, correndo sério risco de tornar- “se manfaco, Na Schicksalsanalyse tentamos justamente provar de que aneira se pode proteger a escolha amorosa dos perigos da pul- sic. O médico, o psicdlogo profissional, 0 educador propria- mente dito, deveriam ser uma espécie de “parteira” ‘ajudando a trazer ao mundo, “em forma social”, os desejos pulsionais que das profundezas da psiqué ameagam o individuo e a sociedade. CONCLUSAO, No correr dos debates foram reconhecidas como validas, primeiramente a utilizagéo da Andlise do Destino como novo método terapéutico, e depois a aplicagao da Diagnose Experi- mental da Pulséo na psiquiatria ¢ no diagnéstico da profissao. Mas, foram rejeitadas a Teoria Génica do Destino e das Pulsoes, que serviram de base tanto para a Terapia Analitica do Destino, quanto para a Diagnose Experimental do Destino. O analista do destino, porém, € de opinido que as escolhas, no s6 no amor, na amizade e na profissio, mas também na selegio das teorias cientificas de trabalho, sio condicionadas pela pulséo. Com muita freqiiéncia uma hipétese de trabalho € admitida ou rejeitada por simpatia ou antipatia pessoal, sem que antes da tomada de posigao se tenham realizado pesquisas. A “escolha da teoria” nesses casos é puramente subjetiva ¢ de- pende exatamente da estrutura individual instintiva do contes- As PULSOES — OMILNTAGKO E TRATAMENTO 2 tante, © destino da Teoria Génica da Pulséo é 0 mesmo da Teoria de Edipo, de Freud. Ambas as teorias atuam por choque, E compreensivel que cada paciente se sinta chocado por saber que nao escolhe livremente, mas compelido pela influéncia latente de ancestrais que, muitas vezes, foram doentes. Enquan- to 0 homem nfo tiver coragem de aceitar uma explicagio obje- tiva de seu préprio destino, formulada & luz de uma anélise anancolégica, oferece resisténcia e a rejeita. Assim foi também, de inicio, com a Psicanilise, Devemos, pois, aguardar tran- ililamente @ ago do choque e, depois de anulada a resistencia, ser possivel uma tomada de posicio objetiva IV O Ego “Pontifex” * © EGO COMO CONCILIADOR DE TODOS Os ANTAGONISMOS Os conceitos tém também, como os homens, seus destinos. Fazendo um retrospecto da trajetéria do conceito e das interpre- tagdes do significado do ego nestes dltimos trés milénios, sur- preendemo-nos em primeiro lugar com a extensdo desse signiti- cado, que abrangia tudo: 0 ego era a divindade, criador ¢ senhor do universo, dirigente interior, imanente, imortal; era 0 proprio corpo, a classe social, a propriedade dominial, 0 ambiente, 0 nome préprio, a alma de tudo 0 que age ¢ se movimenta no mundo; era o espirito, a substincia metafisica; era um feixe de percepcées, representagées vivéncias; era juizo e meméria; su- jeito e transcendéncia, parte do inconsciente, érgio de defesa, pulsiio nao-libidinosa, objeto sexual, o reservatério primitive da libido, 0 ideal do cu, um sistema de censura, a poténcia garan- tidora contra a impoténcia, o desejo de poder; era o centro da consciéncia ¢ uma parte da psiqué, logo 0 proprio ser. E necessério aceitar como realizagdo e objetivagio de pro- cessos inconscientes, como projeciio de processos coletivos vindos do inconsciente tudo que, como objeto e funcio do ego, reve- Jou-se com o passar do tempo. Em conseqiiéncia, devemos considerar seriamente todas as definigdes emergidas a cada mo: * Conferéncia realizada na Schweizerische Arbeitsgemeinschaft fur Schicksalspsychologie, 1955. “Perspektiven der Zukunft”. Oktober, 1967. Freiburg i. Br 36 sr Icio A PSIeOLOGIA BO DESTINO manto, isto 6, admitilas como realidades psiquicas. Assim, alcangamos 0 integral significado do cgo. Em outras palavras, 0 ego, como portador ¢ transmissor do passado, tem efetivamente uma intima relagio tanto com a di- yindade como com 0 criador do universo ¢ com o dirigente inte: rior, imanente; com o espfrito e também com a natureza corpé- rea da pulsdo, com onipoténcia e impoténcia, com julgamento (censura) € com meméria, Esta estreitamente conjugado com © feixe de fungdes ¢ com as unidades funcionais; cont as pulsdes libidinosas e com as néo-libidinosas; com a masculinidade ¢ feminilidade; com a consciéncia e o inconsciente; com o corpo & a psiqué; com a vigilia © o sonho; com o préximo c 0 longinquo. Nas histéricas transmutagdes do ego, isto é, na escolha dos contetidos e funcdes que compuseram 0 ego, a Anilise do Des- tino ensina que as escolhas se processam entre os pares (opostos) de fungdes e objetos que habitam o inconsciente ¢ nele se mo- vem oponentemente, de modo dindmico-dialético. Como o historiader moderno, também 0 analista do destino € de opinido que, tanto na histéria, quanto no destino do ho- mem, um acontecimento decisive, uma agéo, um julgamento diretivo, um tipo de visio, um modo de pensar nunca podem ser puro acaso. Tudo na hist6ria da humanidade, assim como no destino de cada individuo, é duplamente determinado. Essa dupla determinagao significa que o destino se subordina nao so- mente @ (ei da casualidade (como admitia 0 materialismo his- torico) mas esta sincronicamente ligado & corrente concatena- dora das conseqiiéncias; sujeita-se ainda a finalidade, & lei de conjunto do plano de vida do individuo ¢ também da huma- nidade. Sem 0 plano de vida, 0 conceito de destino 6 casca de ‘ovo sem conteddo. De acordo com a Anilise do Destino, em relagio ao destino a histéria da humanidade © do individuo é sempre 0 resultado de duas legalidades polarmente opostas, isto 6, 0 resultado final da lei da causalidade ¢ da finalidade, ou seja, da lei de conjunto. Tanto a existéncia do individuo, quanto a da humanidade, tem por base uma estrutura oponencial. Os polos opostos podem unir-se numa relagio dicotémica (© G0 "PoNTIFEX™ 7 A primeira é a relagio de oposigdo ou complementar, ¢ a segunda, a contraditéria, em que reciprocamente se processa a exclusdo dos antipodas. As oposigdes psiquicas sio quase todas de natureza complementar ¢ completam-se alternadamente. Os pares de opostos contraditérios excluem-se reciprocamente; por isso, nunca podem integrarse num s6. Mas, entre as oposicdes, temos de “escolher” um s6 dos componentes do par. Por exem- plo, escolher o ser, a vida, e renunciar ao nio-ser, ou seja, a0 suicidio, Sob este aspecto se aclara a diferenca entre integragio e escolha. A complementagio ou integragao das oposigées num todo € a solugao ideal no caso das oposigées complementares. Se 0 individuo soluciona as oposigdes complementares de sia psiqué (por exemplo, a masculinidade e a feminilidade, as pre- tenses de Caim e Abel, etc.) com a escolha de uma pulsio ¢ 0 recalcamento da outra, essa solugo pode efetivamente ser socialmente favordvel & comunidade. Para ele, porém, é perigo- sa, pois sé a integragio ou a complementaco dos antipodas coexistentes soluciona a questio com vantagens para a comuni: dade ¢ 0 individuo, Entre pares de opostos contraditérios, & correta a escolha de um dos antfpodas. Para a psicologia, porém, esto em primeiro lugar os pares opostos complemen- fares que no sao desorientadamente independentes, nem esto propriamente separados, mas simplesmente estiticos, irtelacio- nados, Os polos opostos “vivem” numa “coexisténcia complemen- tar” recfproca. Uma tal vivéncia reefproca ¢ alternativamente complementar dos polos opostos na vida corpérea ¢ psiquica sig- ica que: (1) 08 polos opostos movem-se dialeticamente, ininterrup- tamente em oposicao; (2) existe uma constante colaboragdo, uma cooperagio reeiproca alternada, entre os dois polos dos pares oponentes; (3) através dessa coexisténcia ¢ cooperagao complemen- tares dos polos opostos formam-se, tanto no mundo fisico quanto no psiquico, todas as estruturas com suas peculiares qualidades; 98 intropugio k PsicoLocta bo DESTINO (4) sea tendéncia de complementagio dos polos opostos foi interrompida ou perturbada, o homem ¢ a humanidade fi- cam involuntariamente sujeitos & catdstrofe iminente. Considerando agora 0 ego sob 0 aspecto da coexisténcia complementar ¢ da cooperagio dos polos de oposicao, chega- mos &s conclusées seguintes: na psiqué movem-se ininterrupta- mente, em oposicio, atuagées, tendéncias e idéias em formacao. ‘Assim, 0 impeto de expandir-se onipotentemente como divinda- de (ego-didstole) e ao mesmo de conformar-se as limitagbes da existéncia humana (ego-sistole); 0 impeto de atingir a perfeigao mental e, concomitantemente, o desejo de satisfazer a natureza pulsional; a pretensao de ser ao mesmo tempo homem e mulher, isto é, de atingir a plenitude da natureza andrégena [3, 4]; dese- jar simultaneamente a objetivagdo e a subjetivagao de um proceso psiquico intrinseco; o desejo de ver tudo resumido num feixe complexo e de considerar-se uma fungao isolada dese feixe; finalmente, o impulso de conscientizar processos incons- cientes e, simultaneamente, de torné-los novamente inconscientes € conservé-los permanentemente assim Esses, como todos 0s outros pares de opostos no enume- rados aqui, vivem no homem juntos, numa coexisténcia coo- peracao alternadas que reciprocamente se completam. Se assim é, devemos admitir uma instancia superior, uma administragao central da psiqué, funcionando como arbitra do acordo entre as partes em litigio. Isto quer dizer o seguinte: devemos instituir uma insténcia conciliadora acima dos pares de oposi¢do que, por assim dizer, unificasse a cooperagio reciproca e complementar dos oponen- tes. Uma tal instncia deve ser ainda distribuidora de. poder, organizadora, assumindo o encargo de controlar os antagonis- mos. A Psicologia do Destino define 0 ego como construtor de pontes, conciliador de todos os antagonismos psiquicos e afirma: 0 ego é 0 Pontifex Oppositorum. ego é, portanto, o distribuidor do poder, o organizador € mantenedor da coexisténcia e cooperagio complementares dos polos opostos da psiqué consciente e inconsciente, © 60 “ronsiay! 9 ego socializa © sublima, individualiza e humaniza todos Os antagonismos da natureza instintiva. O ego é a ponte que pode ligar todos os polos no interior da psiqué. O ego & 0 eixo complexo da roda do destino, de cujos polos pendem os pares de oposicio psiquicos. Isto quer dizer: 0 ego nao € propriamente divindade onipo- tente, nem criatura impotente; é uma combinagao do divino e do humano. O ego nao é mente, nem natureza; é a ponte entre mente € natureza pulsional. O ego nao € objeto, nem sujeito; é 0 mediador entre objeto © sujeito. O ego nao é um feixe de fungdes, nem uma fungio espe- cial independente; é a mao que coliga num feixe as fungdes isoladas, © ego nao é homem, nem mulher; € a combinagio em nds de homem e mulher. © ego nao € o centro da consciéncia, nem uma parte do inconsciente; é o eixo interligando a consciéncia ¢ 0 inconsciente. © cgo nao somente vigilia, nem somente sonho; é a ponte entre vigilia e sonho; nao est préximo, nem distante; é a ligago entre prximo e longinquo. Porém, como € possivel que uma tinica influéncia diretiva possa conciliar ¢ integrar todos os antagonismos? As condigées prcliminares da atividade do Ego Pontifex so: (1) @ transcendéncia, logo a faculdade de sobrepor-se a todos os setores; (2) a integragdo, isto 6 a capacidade de, partindo de suas partes, restabelecer 0 todo; (3) a participagdo, ou seja, © poder de unificar, de asso- ciar-se a tudo,aos homens ¢ as coisas no mundo ¢ no Universo, O ego, Pontifex Oppositorum, deve ser definido como ins- tancia transcendental, integralizadora ¢ participant. E s6 deste modo pode atuar como instincia unificadora, 1" ©HOO OOOOH HHHOHOHOHHOOHECHHCOCECOOCECCCE! 100 INtAoDUGiO A PSCOLOGIA DO DESTING A antiguissima interrogagao do Upanishad — Que é teu eu? — podemas sesponder em linguagem jatual: aquilo que tem o poder, tanto de tornar o homem semelhante a divindade, quanto de humanizar a divindade — isso é teu ego. © que distribui as forgas e poténcias da psiqué entre as instancias do ser, avidas de poder, isso é teu ego — o distri- buidor da poténcia. © que como uma poderosa roda com muitos cixos é, em seus polos, o suporte de todos os pares do oposto da psiqué, isso & teu ego — 0 Pontifex Oppositorum, 0 construtor de pontes entre todos os antagonismos. © que move os pares opostos da psiqué um em diego ao ‘outro, que os forca a uma recfproca complementagio, isso é teu ego — o complementador e o totalizador. O que compele 0 homem ao aperfeigoamento, © que impele 4 unio homem e mulher, ao perfeito comportamento os dois sexos, isso € teu ego — 0 esforcado aspirante & perfeigio. © que estimula 0 inconsciente a conscientizagio ¢ nova- mente recalca 0 consciente no inconsciente, isso é teu ego — 0 conscientizador e 0 recalcador. O que liga 0 corpo & psiqué, a vigilia a0 sonho, o préximo ao distante, isso é teu ego que estd sempre em transi O ser divindade ¢ 0 ser homem, o ser homem ¢ 0 ser ani mal, o ser corpo-natureza € 0 ser na mente; o ser no homem ¢ 0 ser na mulher, o ser no consciente e © ser no inconsciente, 0 ser na vigilia € 0 ser no sonho, o ser préximo € 0 ser distante, sao apenas posigées escolhidas na ponte de comando da psiqué; sio modalidades parciais e episédicas, possibilidades de destino sendo tudo isso contetido do ser-ego. © ser-ego € 0 inicio e 0 fim da existéncia, portanto da existéncia do homem, Pois a existéncia sem o ser-ego é 0 ser- -animal, o serplanta ou o ser-pedra, © 00 “ronmTiFEx” 108 Daf vem a justeza da afirmagdo: o nascimento do ego é de certo modo o nascimento da psiqué humana, e mais que isso — 0 nascimento do ser-humano em oposi¢do ao ser-animal. BIBLIOGRAFIA. I WeLtek, E.: Die Polaritiit im Aufbau des Charakters. Francke AG, Bera, 2 Gvarpimt, R.: Der Gegensatz. Matthias-Griinewald-Verlag, Mainz, 1955. 3 Szonot, L.: Triebpathologie, Hans Huber, Bern u, Stuttgart, S. 368. 4 Wintnuls, J.: Das Zweigeschlechterwesen, Hirschfeld, Leipzig, 1928. FTTFTFCHTHHHHHHHHOHCHOOHOOCO88H8C8G: Nova Orientagdo para o Problema da Cisao do Ego * A. GENERALIDADES fendmeno a que, em 1911, Bleuler deu 0 nome heuristic de ciso do ego [1] j4 figurava na literatura com denominagées diferentes, tais como “dissociacao”, “desintegragio da conscién- cia” (Gross), “disjungdo” (Wernicke), Esses termos hoje desa- pareceram. ‘Também com a expressio homénima “cisio da auto-consciéncia” (Foersterling), que significava um aumento da perturbagdo psicomotora, nao se podia iniciar muita coisa. Por uma determinagao conceitual mais clara devemos agradecer em primeiro lugar a Bleuler que, rebatizando a “dementia praecox” (Kraepelin) de esquizofrenia, como psicose de cisio, obteve fundamento sélido para a idéia de cisdo ego [1]. Bleuler discriminou duas classes de cisio: uma primdria, na qual associagdes de pensamentos coneretos, firmemente liga- dos, soparam-se; outra secundéria, na qual um complexo de idéias, acentuadamente afetado, se define cada vez mais c, com firmeza, alcanga na vida psiquica uma autonomia sempre crescente, Com a denominagio de esquizofrenia queria Bleuler atin- gir as duas classes de cisio porque freqiientemente se fundem numa s6. As caracteristicas da esquizofrenia sao especialmente, na opinido de Bleuler: (1) a falta de inibigao; (2) 0 autismo. Em conseqiiéncia da fatha da inibicdo, idéias incompativeis po- * Medizinische Klinik. 48.59. Jahrgang, 27. November 1964. 104 IweTmoDUGko A FSICOLOGIA Po DESTINO dem coexistir. Por exemplo, 0 esquizofrénico pode ver simul- taneamente numa mesma pessoa seu inimigo NN ¢ 0 médico XY. Como conseqiiéncia do autismo, o paciente substitui a realidade, desagradavel para cle, por um mundo irreal do desejo. Duas outras importantes afirmagées de Bleuler ficaram até agora quase esquecidas. Afirmou em primeiro lugar que os fe- némenos de’ cisio néio so préprios somente da esquizofrenia; também a psiqué sadia, tanto na vigilia, quanto no sonko pode cindir seu ego. Na opinigo de Bleuler, a cisio esquisofrénica deveria ser definida simplesmente como exagero de um fendme- no fisioldgico que separa (cindente). Disse ainda Bleuler que, em certas circunstincias, a cisio fisiolégica dos complexos pode acarretar indistintamente cisdes histéricas, epiléticas, autisticas © parandides. Fendmenos de cisio podem, conseqiientemente, surgir também em outras afecgdes. Segundo Bleuler, € de supor que 0 esquizdide venha a cindir-se demais; o sintdnico, na me- dida exata; 0 epilético, pelo contrario, insuficientemente [5] Com base ni as duas notaveis afirmagdes de Bleuler (que, em minha opiniao, ainda nao foram bem analisadas), de 1937 a 1963 estudamos a cisio do ego em individuos sadios ¢ em doentes mentais, em primitivos e civilizados, E isso por meio da Anilise Experimental do Ego [12], da observaco clinica e, em parte, também’ pela psicoterapia analitica e anélises oniroldy gas [15]. A Tabela 4 apresenta uma sinope casuistica clinica pes- quisada. Através dos resultados da Andlise Experimental do Ego, sobre os quais nos estendemos na Experimentelle Trieb- diagnostik (1947) [12], foi-nos possivel verificar o processo normal de evolugdo das fungées do ego. © exame dos casos clinicos deu-nos a oportunidade (Ich- Analyse, 1956) [4] de verificar para que grau anterior de cisdo costuma regredir muito freqiientemente 0 ego dos pacien- tes dos diferentes grupos. Essas andlises experimentais do ego, realizadas em 3.341 casos, nos estimutaram a idealizar uma Teoria Funcional do Ego ¢ a tornar exequivel, com auxilio dessa NOVA ORIENTAGO PARA © PROBLEMA DA cisko Bo EGO 10s TABELA 4 NP de casos ‘A. Negros selvagens, primitives coe . 100 B. Homens civiliandos (da inféncia a velhice) : 2.154 Desta série 1, Perfode de obstin anos 5 2, dade de jardim de infincia anos 150 3. Kade escolar anos 100 4. Pré-puberdade anos ns 5. Inicio da 2¥ puberdade anos 200 6. Fim da 2# ouberdade anos 75 7. Wade de escolha da profissio anos 100 8. Téade juvenil, anes 300 9. Idade de constituir familia anos : 300 10. dade critica anos 250 11, Inicio da velhice anos 250 12, Na velhice anos 84 13, Idade senil anos 45 2154 ©. Doentes Mentais I. Bafermas delirantes : 250 2. Psicéticos alucinados 40 3. Melancélicos 8 4. Manfacos (hipomaniacos cu. maniaco-depressivos) 35 5. Epilépticos : 156 6. Anormais sexuais : 327 7. Paicopatas fa 90 8. Neurbticos a 196 1.087 106 eraopucio teoria, uma nova orientagio para o problema das cisdes do ego [15]. B. CISOES DO EGO A LUZ DA TEORIA FUNCIONAL DO EGO De conformidade com essa teoria, 0 ego néo é um Srgio anatomicamente localizdvel, nem um aparelho psiquico (Freud) [3], mas um conjunto de quatro fungdes elementares que deno- minamos radicais do ego. Esses quatro radicais congénitos do conjunto ego-funcional sao: (1) @ participagdo, isto é a tendéncia a formar com outro o ser-uno, o ser-igual. Conduz, por projecio do poder proprio do ego, a formacao de unidades duplas. Isto é, & vida do ego no outro (unidade mac-crianca, cla-solidariedade). Apos a desintegracio dessa dupla unidade participante, a mesma tendéncia funciona como projegdo securidéria, como extravaza- mento do poder préprio do ego sobre outras pessoas que, depois, prejudicam ou até perseguem o individuo projetante. E tam- bém o estado de impoténcia proprio do ego na parandia proje- tiva (mania de perseguigao); (2) a inflacdo, isto 6, a tendéncia do ego a duplicagao de seu poder, portanto, 0 querer ser ambos-e-tudo, a “ambitendén- cia”, na definicdo de Bleuler. Também se chama inflagdo & obsesséo por duas tendéncias opostas que agem a0 mesmo tem- po, mas sem se unir, nem excluirse, Um tal estado correspon- de & cisdéo priméria, (Bleuler). Poderfamos também denomi- nar de “autismo no ser” a conseqiiéncia da inflagéo, cujo con- tedido pode variar de objeto e de intensidade. Por exemplo, desejar ser simultaneamente homem e mulher, diabo ¢ anjo, sc nhor ¢ servo, crianca e lider, homem ¢ animal. A isso denomi- namos inflagdo, segundo Jung. Domina na parandia inflativa (megalomania); (3) a ‘introjecdo, isto & a primitiva tendéncia do ego & tomada de posse, & incorporagio € & capitalizagéo dos objetos NOVA ORIENTAGKO PARK © PROBLEMA DA CISko DO ECO 107 de valor, das idéias de valor e de todos os contetidos de valor e de poder do mundo exterior ¢ interior, Em resumo: a urgén- cia de tudo possuir & de tudo saber. A tungio fisiolégica da introjecdo ¢ de servir de ponte para a percepgio externa ¢ in: terna. A forma doentia ¢ 0 autismo em relagio & posse, isto é a alucinagdo, 0 “pensamento magico”, na qualificagao de Bluler para a esquizofrenia; (4) a negagdo, ou tendéncia elementar do ego para es- quivar-se, para a negagdo, a inibigdo, 0 recalcamento, A for- ma doentia se chama negativismo, desvalorizacao total, deses- pero, encarceramento do ego, a autodestrui¢do na catatonia e © suicidio. As quatro fungdes radicais da psicopatalogia nao se restrin- gem a um conjunto de fungées cognominado “o ego”, mas fo- ram sempre consideradas isoladamente, de modo independente. A Anilise Experimental do Ego provou, porém, agora, que essas quatro fungdes clementares se interligam em sucessio reguiada hum movimento circulatério (v. Fig. 5). Representam quase que “estagdes”, tanto no desenvolvimento quanto na vida pos- terior do ego. Estagées que tém de ser percorridas por todas as manifestagées instintivas, percepgdcs internas ou externas e re- presentagdes que afloram ao psiquismo, J4 em 1947, podfa- mos comprovar que também a evolugao fisiolégica do ego segue caminho idéntico ao da circulagao: (1) participagao-projecao; (2) inflagéo; (3) introjegao; (4) negagio ou adaptaco [12] © citado movimento circulatério tem, na patologia do ego, uma importancia especial. Poderfamos demonstrar que cada cist do ego se produz devido & parada do movimento circula- trio numa “estaco” ou seja, numa fungdo elementar do ego. Melhor dizendo: cisdes do ego ndo se originam da divisdo de “contetidos”, mas da falha, da paralizagao de determinadas fun- des elementares. A natureza especial das fungdes do ego res- tantes, apés o desligamento ¢ uso exagerado, determina sempre, também, a natureza especifica dos sintomas psiquidtricos. Se queremos definir melhor a expresso “cisio” futuramente, de- vemos falar de “cisio das fungées elementares ou das tendéncias 108 rnernovugio A PsicoLocia no DESTINO clementares do ego”. As fungSes cindidas, porém, desapare- cem exclusivamente do primeiro plano. Em verdade permane- cem ilesas no plano de fundo ¢ podem, ocasionalmente, reinte- grar-se ao movimento circulatério ou, através da inversio da Totaio das pecas cindidas, ocupar solitérias 0 cendrio da vida do ego [15] Introjegao Inflagaéo Negagaio Inconsciente FiouRa $. Exposigho esquemétiea do movimento cireulatério da ego. Nessa teoria do movimento circulatério das quatro fungdes elementares do ego, tém lugar muito importante a integracio e desintegragao. Integragdo & um estado em que as fungdes elementares perfazem seu circuito conforme a regra, sem parada demasiado onga, ou seja, sem falha; melhor explicando: independentemente da qualidade do contetido psiquico existente. Isto significa que a vida do ego €integrada se todos os seus contedidos (sejam ma- NOVA ORIENTAGIO PARA © PROBLEMA DA cish0 BO ce 19 nifestag6es instintivas ou representagSes e idéias) percorrem seu citcuite, da projegao e da introjegio A negagéo. Na inte- gracio, nenhuma das quatro fungdes elementares falta, Todas siio capazes de ago. Desintegracdo, pelo contratio, indica um estado no qual as quatro fungées elementares estacionaram e, conseqiientemen- te, os conteiidos do psiquico percorrem o citcuito compulsiva- mente, “sem ego”, ou seja, no estado crepuscular (por exemplo, ataques crepusculares e epiléticos). Com. essa teoria puramente funcional, que examina em pri- meiro lugar as cisdes das fungées do ego, ¢ ndo os contetidos deste (a0 contritio de Freud) [3], tentamos responder as per- guntas que a seguir formulamos: como se dd a cisao das quatro fungées elementares do ego nos individuos primitivos (negros selvagens), nos civilizados ¢ nos doentes mentais? C, CISOES DO EGO NOS PRIMITIVOS © arquivo da Internationale Forschungsgemeinschaft flir Schicksalspsychologie (Sociedade Internacional de Pesquisa da Psicologia do Destino) de Zurique, dispée de mais de 100 ané- lises experimentais do ego com o teste Szondi, referentes a ne- gros sclvagens da Africa Equatorial, Foram realizadas por Percy, entio médico-chefe da Instituicdo Albert Schweitzer, me- diante exames feitos nos acompanhantes sadios dos doentes trat dos no hospital da floresta virgem, em Lambaréne, Os exami- nandos vinham da selva e eram selvagens. Estavam entre eles membros das tribos primitivas de Fang, Galoa, Akele, Massan- g0, Nkomi e Esfiha, De 100 negros, 42 eram portadores de uma ciséo projetiva de participacao, total; 72% deles apresen- tavam uma combinagao de cisdes, predominando a projecio. A. cisio do ego desses primitivos era idéntica Aquela encontrada (entre os civilizados) nos parandicos com mania de perseguisao, delirio egocéntrico, delitio de interpretagio e delirio de reivin- dicacio [14]. - 0000000000000 0OOOHOHOOOOHOOCOOOE! Ho nsrnowegie A Ps ninados (também na condi ) cram individuos Entretanto, os 100 negros exa do de membros da primitiva sociedade alded totalmente sadios, néo esquizofrénicos, apresentando cisses psi- coldgicus (do ego) justamente porque viviam exageradamente a fungdo sob forma de uma extrema solidariedade com o cli. E sobretudo em unificacdo total (do ego) com seus animais tote micos, suas plantas tolémicas, como era proprio de sua religido. A anulagao das trés outras fungdes do ego, a saber inflacao, in- trojecdo © negagdo — to importantes para o homem eivilizado — no fazia adoecer sua psiqué primacia Esses resultados provam duplamente: (1) que Bleuler ti- nha razdo quando admitia serem fisioldgicas as cisées, mesmo nos homens primitivos; (2) que nos primitives uma projesao total pode levar a uma sadia solidariedade com o cla ¢ @ religido totémica, enquanto em povos cultos.a mesma cisio do ego con- duz a delirios fantasmagéricos ¢ alucinacées. O julgamento das conseqiiéncias de uma projecdo esta, portanto, ligado a deter- minada época da civil D. CISOES DO EGO EM CIVILIZADOS Por caréncia de espago, temos de desistir da explanagao sobre o processo de evolugao das cisdes do ego nas diversas fases cronolégicas da vida humana, Neste momento, tratamos so- mente dos tipos de cisio do ego de dois grupos de adultos: 0 do homem comum ¢ 0 dos homens mentalmente sublimados: (1) Qualquer individuo adulto pode cindir 0 feixe das quatro fungdes do seu ego, de tal modo que, em vigilia, atuc apenas a parte cindida constante de projegiio ¢ negagio. Essa parte cindida caracteriza-se como “adaptagao social”. Na con- sisténcia psfquica do ego, essa adaptacio significa um estado de renicia (negacdo) As extrapoladas (projetadas) pretensdes do desejo. A outra parte cindida, posta fora de agéo, ser-tudo (inflagio ¢ © ter-tudo (introjegao) Para ser um homem socialmente adaptudo € indispensdvel renunciar ao ter-muito © ao ser-muito. Freqiientemente tal ompreende 0 NOVA ORIENTAGKO PARA © PROBLEMA BA cisio BO ECO nn adaptacao tem inicio no 99 ao 10° ano de vida. Na média da popu- lado, porém, sé paulatinamente atinge sua freqiiéncia maxima (54.2%). A freqiiéncia da adaptagio apresentam curva’ sem- pre ascendente: entre 13 ¢ 20 anos d cidade, 22%; 21-30 anos, 28.3%; 31-40 anos, 29,1%; 41-60 anos, 40,3%; 61-70 anos, 43%; 71-80 anos, 54,2% [12]. Na evolugao do homem primitivo a civilizado, 0 passo de- cisivo consiste, portanto, em por em agao a funcao de negagio, a rentincia as projegdes do desejo. © homem selvagem, supostamente sem pretender renunciar a esas projecdes, as satisfaz completamente, em vigflia, pela participacao e unificacZo com seu totem e seu cla. O civiliza- do, ao contrario, sé no sonho as satisfaz. (2) © homem sublimado pée em agio, num movimento circulatério continuo, todas as fungdes elementares do ego; to- dos os conteiidos da psiqué as percorrem; os contetidos do ego, porém, s6 passageiramente, durante uma breve pausa, permane- cem numa das quatro estagdes. Esses grupos humanos sem cisdes do ego so raros. Com mais freqiiéncia, encontramos o denominado “trabalhador intelectual compulsivo” que cinde so- mente a fungdo de projecdo e, pela sujeico ao trabalho, dé um cheque-mate em sua obsessio (inflacio) ou a contenta parcial- mente. E. CISOES DO EGO EM DOENTES MENTAIS Nossas pesquisas confimaram experimentalmente a tese de Bleuler relativa A existéncia de uma cisdo fisiologica do ego em homens tanto primitivos, quanto civilizados sadios. Mas, con- firmaram igualmente sua opinido de que os fendmenos de ciséo podem ocorrer no apenas no grupo das esquizofrenias, mas tam- bém em afecedes psiquicas de outro tipo. Pelo exame clinico- -psiquatrico, relativamente numeroso, de 1.087 casos de diversos paises, pudemos separar oito tipos diferentes de cisdes do ego e verificar a relagao especial dessas cisdes com determinados qua- dros mért ' 12 LpeFRODUGKO A PSICOLOGIA DO DESTINO Na enumeracdo dessas oito formas de cisio, procedemos de modo a indicar sempre, em relacao as duas partes cindidas do ego, tanto as fungdes clinicamente atuantes quanto as cindidas, com suas respectivas manifestagdes clinicas e fisiol6gicas. FORMAS DE CISAO NO GRUPO DAS ESQUIZOFRENIAS Neste grupo foram encontradas quatro formas diferentes de cisdo do ego: I* forma; cisdo projetiva-parandide: .(a) a parte cindida, clinicamente atuante, pde em ago somente a projegao total. O quadro clinico indica uma parandia projetiva, isto é, mania de petseguig&o, delirio de observagao, delirio de reivindicagao; pa- randia de base epilética, segundo Buchholz (1895) [2] e Seidel {8}. (b) A parte cindida, situada no plano de fundo, pde fora de aco a inflagdo, a introjegdo e a negaco. Essa parte condi- ciona o chamado “ego do trabalhador compulsivo”, que pode parecer apds um acesso projetivo-parandide, Com certa fre- quéncia, pode acontecer uma rapida permuta das duas partes cindidas, de modo que mal pode ser notada a fase parandide. A cisdo projetivo-parandide apresentase em seu desenvolvimento como ego precoce “‘participativo”, em forma de unidade mae- crianga, Outrora, quando ainda existia 0 “homem selvagem”, encontravamos em 42% dos primitivos, como dissemos atrés, a cisio projetivo-parandide do ego. 26 forma: cisdo do ego inflativo-parandide, inflativo-epilep- tiforme, histérico-inflativa e hebefrénica: (a) a parte cindida clinicamente atuante poe em ago somente a obsessio, a inflati- vidade. Os sintomas clfnicos sio: (1) megalomania, delirio re- ligioso, erotomania, delirio de reivindicagdo; (2) obsessio epi- leptiforme do tipo de ataques com idéias delirantes sobre a morte ou a religiéo; (3) obsessdo saltitante, incoerente, histeriforme, teatral-patética, freqiientemente retalhativo-hebefréncia com idéias megalomaniacas; (4) escroqueria hebefréncia, falsifica- go; (5) mania inflativa. (b) A parte cindida pée fora de Nova OMRSTAGIO FURL O PROBLIAH BA C1850. BO FEW us acdo a projecdo, a introjegdo e a negucio. Essa parte cindida costuma freqiientemente fazer as vezes da obsesséo, apresentan- do os sintomas clinicos da evasdo epileptiforme (fuga), da dro- momania (poriomania), da epilepsia retroflexiva, ou também de genuinos ataques epiléticos. A forma inflativa de cisto pode aparecer fisiologicamente, enquanto evasdo, em criangas de 5 a 6 anos de idade; mais tarde, na segunda puberdade (17 a 18 anos de idade) 3! forma: ciséo do ego autistica, introprojetiva e introjetiva (a) a parte cindida, clinicamente atuante, € 0 ego introproje- tivo que poe em acdo a projecdo e a introjecdo. Na psiquiatria, isto se chama autismo. Psicologicamente acontece 0 seguinte ox desejos inconscientes nao sao transferidos @ pessoas do meio- -ambiente — como na parandia projetiva — mas, ao proprio ego. Todas as pretensdes do desejo s4o incorporadas, introjetadas, ou seja, afirmadas, Em conseqiléncia, 0 doente ultrapassa os fi- mites du realidade, tem alucinagoes, age de maneira autista, disciplinada (Bleuler). No inicio da melancolia, o ego tam- bém sofre uma ciséo autista. Porém, enquanto 0 esquizofréni co autista € onipotente em relacdo a “ter”, o melanedlico torna- se impotente por uma autodesvalorizacio, auto-inculpagao e delirios de auto-acusagao e de indigéncia. Nao obstante, & tio autista quanto 0 esquizofrénico, s6 que forma idéias delirantes negativas com as quais se coloca igualmente acima dos limites da realidade. (b) A parte cindida pde fora de aco a inflagdo ea negagio, Essas duas fungdes do ego condicionam a “ini- bicdo”. Autismo e inibicdo séo sintomas clfnicos de partes cin- didas opostas. A Andlise Experimental do Ego [13] pdde também ai confirmar as afirmagGes de Bleuler. A forma autis- ta aparece fisiologicamente no periodo infantil de obstinacio. E porque freqiientemente a cisio introjetiva pura, sem projegio, pode levar ao autismo, é também chamada de tipo introjetivo de cisio. O oposto dela é a despersonalizagéo (v. a 5 forma de.cisio). 44 forma: cisto do ego negativo-cataténica: (a) a parte cindida clinicamente atuante poe em ago, nas psicoses, somente

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