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Desde muito cedo Frankl já se questionava se a finitude da vida não tiraria dela
o seu sentido. Com quatro anos de idade expressou seu desejo de ser médico.
Na sua adolescência já lia muito sobre fisiologia, física, química e aos quinze
anos começou a se corresponder com Freud, que iria encontrar uma única vez
pessoalmente em um parque próximo à Universidade de Viena. Essas correspondências
foram perdidas, confiscadas pelos guardas nazistas no período da segunda guerra
mundial. Viena era um local envolvido pela boa educação e cultura, Frankl aí cresceu
tendo também contato com a religião judaica professada por seus pais. Essa
religiosidade iria imprimir em Frankl uma marca indelével que lhe seria de grande
importância por toda a sua vida, mas principalmente durante os três anos que passou nos
campos de concentração nazistas.
Quando ainda tinha 13 anos, seu professor de ciências ensinava que a vida não
passava de um processo de oxidação e combustão; tal concepção niilista fez com que
Frankl questionasse o mestre: “Que sentido tem então a vida?” (Frankl, 1989, p. 31).
Esse clima intelectual niilista, ou do “nada mais que”, pode assim ser
descrito:
Tudo se tornou, na herança por nós recebida desse e dos outros séculos, objeto de dúvida, de
crítica e sistemática desconfiança: não só as cosmologias teológicas e metafisicas, como
inclusive as tábuas de valores e dos fins postos à vida humana que as acompanhavam
(Heimsoeth, 1982, p. 106).
Frankl foi fortemente influenciado por Max Scheler, Karl Jaspers, Martin
Heidegger, Ludwig Binswagner e Martin Buber. Todos esses autores contribuíram para
o projeto de reumanização da medicina proposta por Frankl (Aquino, 2013, p. 20).
Após sua formação como médico, Frankl atuou como psiquiatra e neurologista
e responsável pelo pavilhão de suicidas do hospital psiquiátrico Am Steinhof onde
trabalhou por quatro anos. Eram os anos da década de 1930, Frankl crescia na sua
brilhante carreira enquanto Hitler era eleito chanceler da Alemanha. Estes foram anos
em que o antissemitismo crescia em toda a Europa e o exército alemão invadiu a
Áustria.
Com aumento da perseguição nazista aos judeus, Frankl poderia fugir para os
EUA e dar continuidade à brilhante carreira, no entanto, ele preferiu permanecer com
seus pais e honrá-los até o fim.
Em 1941 Frankl casou-se com Tilly Grosser, ele a amava muito... Ela estava
grávida de cinco mesesquando foi presa pela Gestapo e obrigada a abortar. Tilly veio a
falecer na colina Bergen-Belsen (Alemanha), no campo de concentração de
Theresienstadt, mas Frankl manteve seu amor por toda a vida, guardando sua foto na
sala de estar, ao lado de um desenho de Freud e de uma foto com o filósofo Heidegger.
O pai e a irmã de Tilly imigraram para o Brasil, eles moraram em Porto Alegre/RS.
Frankl reencontrou sua cunhada quando veio ao Brasil em abril de 1984.
[...] ele sempre falava como ex-preso de um campo de concentração e da primeira mulher que
muito amou e morreu [...]. Então, na saída do aeroporto, na despedida final, uma senhora
atravessa a nossa frente e fala em iídiche com ele. E ele respondeu, quando voltou da conversa
com essa senhora, com lágrimas caindo, que era a senhora nos braços da qual morreu a sua
primeira esposa e ele tomou conhecimento dos detalhes.
Com relação à família Frankl, o irmão Walter tentou fugir parta a Itália, mas foi
deportado para Auschwits e lá faleceu. Sua irmã teve mais sorte e se refugiou na
Austrália. Uma de suas primas ficou durante toda a guerra na casa de um a baronesa
católica em Viena.
O senhor Gabriel morreu aos 81 anos, Theresienstad, amparado pelo filho Viktor, que
nos últimos momentos lhe aplicou uma dose de morfina para aliviar o sofrimento. Sobre
sua mãe, relata que morrera nas câmaras de gás de Auschwits.
Os seres humanos passam por sofrimentos físicos e psicológicos, estes são aqueles
sobre os quais mais nos referimos, no entanto, Viktor Frankl nos faz perceber que nós
seres humanos temos uma outra dimensão que pode ser causa de sofrimento, é a
dimensão nooética. Essa palavra refere-se à dimensão espiritual, mas como ela não se
refere ao espiritual em uma conotação religiosa apenas, fez-se necessário usar outro
termo para diferenciá-la.