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Dec 19, 2015 · 14 min read
HACKER
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06/07/2016 COMO OS YUPPIES HACKEARAM O ETHOS HACKER — Medium
Hackers acreditam que lições essenciais podem ser aprendidas sobre os sistemas
— e sobre o mundo — desmontando coisas, observando como elas funcionam e
utilizando esse conhecimento para criar coisas novas e ainda mais interessantes.
Essa dinâmica não é exclusiva da internet. Ela está em muitas outras esferas
da vida. Considere os engraçadinhos que adulteram catracas de estações de
trem, para que fiquem desbloqueadas e outros possam passar sem pagar. Eles
podem até não se autodenominarem hackers, mas eles carregam uma ética do
desdém em relação a sistemas fechados em que cidadãos estão submetidos.
Essa subculturas, próximas à cultura hacker, não se vêem necessariamente em
termos políticos. No entanto, elas compartilham uma tendência comum no
sentido de uma criatividade rebelde, voltada para aumentar o poder daqueles
menos favorecidos.
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uma maneira que os escravos tinham de praticar uma arte marcial sob o
pretexto de estarem dançando. Sob a abordagem da rebelião, isso
denota atos sutis de desobediência, como os descritos por James Scott em
Weapons of the Weak: Everyday forms of Peasant Resistance (1986).
Hackear parece ser um prática com raízes muito profundas — tão primitiva e
originalmente humana quanto a desobediência. O que torna tudo isso ainda
mais perturbador hoje é que o “hackear” para ter sido hackeado.
Talvez seja imprudente dar uma essência à este personagem. Uma gama de
pessoas muito diferentes entre si podem pensar sobre si mesmos nesses
termos — do nerd solitário mexendo em um rádio faça-você-mesmo em uma
garagem, ao jornalista investigativo imerso em revelações políticas
bombásticas. Entretanto, não me parece um comportamento hacker objetivar
uma espécie de empoderamento convencional, como arrumar emprego em
uma corporação blue-chip enquanto lê Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente
Eficazes. O impulso hacker é crítico. Ele desafia, por exemplo, as ambições
corporativas.
No meu livro, O Guia Herético das Finanças Globais (2013), eu utilizei essa
imagem do hacker como um modelo para os leitores que desejam desafiar o
sistema financeiro global. Existe uma tendência de enxergar o maquinário do
capital global como complexo, incapacitante e alienante. O método
tradicional de contestá-lo se dá através da criação de grupos — como o Occupy
Wall Street — para influenciar os políticos e a mídia. Mas isso cria uma
dinâmica familiar: o ativista devotado contra os interesses arraigados da elite
empresarial. Cada grupo então se define contra o outro, estabelecendo então
uma guerra de trincheiras fixas. Esses ativistas acabam sendo frequentemente
desmoralizados, principalmente do ponto de vista da inabilidade em impactar
o sistema. Eles criam uma identidade baseada em uma espécie de martírio,
que os mantém na superfície através de uma solidariedade fetichizada com
outros na mesma posição.
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Esta é uma sensibilidade útil para ser cultivada frente aos sistemas que criam
barreiras ao acesso, sejam elas psicológicas, políticas ou econômicas. No
contexto de um sistema complexo — computacional, financeiro ou do
submundo — a divisão política é sempre entre os que agem por dentro do
sistema, ativos e bem organizados, versus os que agem por fora do sistema, de
forma passiva e difusa. Os hackers desafiam esse binarismo buscando o
acesso, seja literalmente através da derrubada das cercas— invasão — ou
através da redefinição das fronteiras entre o que é ou não permitido. Podemos
chamar isso de apropriação
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ser construído era de um gênio precoce, que utilizava seu conhecimento para
controlar certas situações ou entrar em disputa com outros hackers. Esse
estereótipo se mantem popular nos dias de hoje. No filme do James Bond
Skyfall (2012), o personagem gadget-master Q é reinterpretado pelo ator Ben
Whishaw como um jovem hacker munido de um laptop, controlando linhas de
código com uma eficiência quase sobrehumana, tendo seu próprio cérebro
conectado diretamente ao computador.
Através das lentes do pânico moral, emerge a narrativa dos hackers como um
exército contra os computadores. As primeiras características são a
agressividade e a imoralidade. Como se proteger deles? Como ratificar a
narrativa tradicional do bem contra o mal? Criando o estigma de uma classe
de invasores da propriedade privada. Então surge a construção dos hackers
white-hat, gênios da computação voltados para o bem comum.
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Se esse ciclo for repetido centenas de vezes, o risco percebido das construtoras
e dos yuppies vai gradualmente erodindo. De repente, chega o ponto de
inflexão. Através de uma miríade de ações individuais, sem o controle de
qualquer pessoa, o exótico se torna seguro: interessante, cool, excitante, mas
não ameaçador. Torna-se disponível para um voyeurismo despreocupado,
como um tigre transformado em um animal de zoológico… a imagem do
tigre, o vestido de tigresa super na moda… Algo parece gentrificado quando
essa estética superficial do tigre substitui a autêntica experiência de estar em
seu habitat.
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este cenário resultou numa ênfase crescente aos elementos mais neutros, em
detrimento dos mais subversivos da cultura hacker.
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Então eu vou aqui fixar uma posição e dizer que o verdadeiro espírito hacker
não reside no Google, cujo objetivo é basicamente o lucro. O impulso hacker
não deveria tratar apenas de redesenhar produtos ou criar “soluções”. Um
hack despojado de intenções não-convencionais não pode ser um hack. Se
trata apenas de inovação em negócios, que fique claro.
Go home, yuppies!
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