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Gustavo Matte Rafa, bom dia.

No ano passado, reparei numa movimentação diferente


na literatura gaúcha, especialmente de Porto Alegre. Na década passada, ela tinha
passado por uma espécie de boom, com muitos escritores premiados e atingindo
circulação nacional. A minha impressão, no entanto, é que essa literatura com dicção
sóbria, com uma tendência de se levar mais a sério e de seguir as recomendações de
razoabilidade artística, digamos assim, está começando a ser contestada por um setor de
autores jovens, do qual acho que tu faz parte, que possuem um tom mais irônico, às
vezes sarcástico ou escrachado, que zomba de si mesma ou mesmo que está apenas em
busca de mais inventividade e liberdade expressiva. Tô viajando? Como tu vê a
produção literária porto alegrense hoje em relação à geração anterior?

Rafael Escobar Gustavo, brigado mesmo por ter pilhado essa entrevista aqui. Sobre
essa pergunta, eu realmente não curto me colocar na posição de alguém que “fala sobre
a cena”, do passado ou do presente. Sei que eu, pelo menos, por enquanto, não consigo
achar que eu esteja fazendo qualquer grande coisa, e sento pra escrever só pra ver de
quantas maneiras ridículas, bizarras, esdrúxulas, eu posso colocar o que eu sinto, o que
eu penso, o que eu não sinto, o que eu não penso, e qualquer outra ideia que eu por
acaso tenha. Não é que eu não “me leve a sério”, mas eu simplesmente não consigo no
momento escrever muito seriamente sobre qualquer coisa sem ter uma autoconsciência
da possibilidade de ser apenas uma estupidez, e expor isso no texto, ou escrever muito
estupidamente sobre qualquer coisa sem ter a autoconsciência da possibilidade de existir
alguma seriedade, e também expor isso no texto.

Gustavo Matte Interessante tu responder assim. Essa relatividade, a dificuldade de


encontrar e acreditar numa resposta objetiva pras coisas (postura que tende pro
irracionalismo e/ou subjetivismo), eu considero uma das marcas mais evidentes da tua
produção literária. O teu livro recém publicado, por exemplo, se chama Elogio dos
tratados sobre a crítica dos discursos, o que me parece evidente tiração de sarro com as
pretensões intelectualistas. Será que todo pensamento não passa de encheção de
linguiça? Inclusive esta entrevista? Inclusive a tua autoconsciência? Inclusive o teu
livro?

Rafael Escobar Tanto o título do livro quanto o próprio conteúdo dele e tal, não sei se
são uma tiração de sarro dos intelectualismos que existem por aí, talvez tudo isso seja
também um devaneio intelectualoide disfarçado em bobagens absurdas. Pra mim, me
parece mais adequado pensar que qualquer coisa pode ser encarada de qualquer jeito, se
a gente fizer alguns movimentos mentais. Bem essa relativização que tu falou. Gosto de
pensar que algo que eu acho maravilhoso também pode ser considerado uma porcaria a
partir de tal ou tal ponto de vista, e o contrário também. Adoro trabalhar com a ideia de
avacalhar tudo quanto é coisa, talvez até principalmente aquelas onde eu boto mais fé.
Eu gosto muito de filosofia, em vários sentidos, e procuro explorar esse interesse de
diferentes maneiras, uma delas é através de escrituras confusas e autoavacalhadoras. No
livro que eu tô escrevendo agora tem alguns trechos de um livro teórico que um
personagem escreveu, e é tudo colocado de um jeito bem sério, apesar de algumas ideias
serem absurdas ou inusitadas. Acho legal fingir que existe uma certeza sobre algo, tipo
um “sei lá, foda-se” disfarçado de “penso isso e aquilo” através de uma voz incerta,
incoerente. Não acho que todas essas coisas sejam encheção de linguiça, só não consigo
confiar muito em qualquer coisa, muito menos nas que eu faço, e acho que eu também
tô defendendo algo com o que eu escrevo, só não sei exatamente o quê, e gosto de pular
de um pensamento pra outro, talvez até oposto, e ficar perdido nesse lance fazendo as
coisas como vão vindo. Não consigo traçar um objetivo de onde quero chegar, e talvez
essa não seja uma maneira muito boa de encarar as coisas nos assuntos mais objetivos
da vida, mas na arte pra mim é assim que é mais prazeroso.

Gustavo Matte Esse caráter de busca por liberdade criativa, no sentido de não encarar a
ficção como um percurso narrativo preestabelecido, também me parece uma marca forte
do Elogio. É como se as noções de "início", "meio" ou "fim" não tivessem qualquer
importância, e o teu narrador funciona meio que como um flâneur
caminhando pelo texto e com o texto só pra ver onde ele vai dar. Mas, ao mesmo tempo,
é um texto que possui uma "memória" muito clara de si mesmo, obsessiva até, que não
deixa o leitor ficar perdido no meio do caos (ou da falta) do enredo. Pelo contrário:
elementos deixados em suspenso e detalhes aparentemente desimportantes são sempre
retomados, como se tudo estivesse sob controle. Na minha opinião, é um livro que
consegue a feliz tarefa de ser absolutamente delirante e, ao mesmo tempo, incrivelmente
metódico, rigoroso e obsessivo. Isso tem algo a ver com o teu processo criativo? Pode
falar mais sobre ele?

Rafael Escobar Acho que entendo bem o que tu quer dizer e, realmente, eu sei muito
pouco sobre o que vou escrever quando decido escrever. O meu planejamento tem uma
distância máxima bem curta. Sou o oposto daqueles escritores que planejam muito bem
as coisas antes de sentar pra escrever, de fato. O que eu gosto é justamente de ver aonde
a coisa vai indo, de um jeito meio sem querer mesmo. Agora, algo que eu faço o tempo
todo enquanto tô escrevendo um livro, ou um texto menor, é reler ele. Me obrigo a volta
e meia sentar e reler tudo, pra perceber coisas, ter novas ideias, me ligar em coisas que
podem ser recuperadas depois, acrescentar em partes anteriores coisas que dizem
respeito a algo que escrevi depois, e assim que eu acho que vai surgindo essa “costura”
que tu falou. Pra mim é assim que funciona. Em vez de um plano já elaborado que vou
colocando em prática, eu tenho mais um planejamento constante que vai mudando o
tempo todo, mas não sei se funciona direito, não sei se é pra funcionar direito.

Gustavo Matte Depende do ponto de vista (risos). Bem, é óbvio que uma cena não se
faz só de escritores, tampouco só de leitores, mas também – o que é essencial – de
lugares e plataformas para circulação das obras e encontro entre o escritor e seu público.
Como tem sido isso pra ti? Como e onde tu encontrou e segue encontrando os teus
leitores? Tem havido trocas, retorno, conversa?

Rafael Escobar Acho que foi em 2009 que eu fiz meu primeiro blog, e depois dele
vieram vários outros. Em 2012 fiz o blog Fragmento de Frase, onde eu postava os
textos que também postava no Face. Em 2013 apaguei o blog e criei a página no Face.
A internet sempre foi minha plataforma, foi onde eu construí alguma espécie de coisa, e
até hoje não consigo e nem quero me desvincular disso. Por mais que eu tenha meus
projetos de publicação em papel, pelo jeito não consigo parar de publicar coisas no
Facebook. É na internet também que eu leio muitas pessoas, conheço outros escritores,
etc. Sou fascinado pela ideia de literatura na internet, e acho uma pena que os supostos
preocupados com literatura contemporânea normalmente deem pouca ou nenhuma
atenção pra isso tudo. Existem sim muitas trocas, não tenho ideia de quantos artistas de
tudo quanto é tipo de arte eu já conheci por causa da internet, inclusive alguns que se
tornaram amigos.
Gustavo Matte Concordo. Também acho uma pena. Tem alguma coisa que tu gostaria
de dizer e que talvez as minhas perguntas não tenham te dado chance?

Rafael Escobar Pedro Dziedzinski, Rafael Iotti, Caroline Schmidt, Mattheus


Tvardowski, Christine Gryschek, Lucas Reis Gonçalves, são pessoas que escrevem
poemas maravilhosos e postam pelos facebooks, a Christine também faz umas artes
visual muito afudês, e o Lucas tira umas foto mais que fodas; o Daniel Senna Irgang é
um doido que escreve umas doideira de explodir o cérebro, e logo tá publicando um
livro; o Felipe Brandão tem um projeto musical chamado Coxido, que tá no spotify, no
youtube, em tudo quanto é lugar, e é ótimo; a Gabriela Loss faz uns artesanatos muito
fodas e vende a um preço justo; a Laura Moreira tira fotos fodíssimas; a Manoela Wolff
canta demais e volta e meia tá tocando por aí; o Dado Vargas é um músico sensacional,
e tem algum pouco material dele pelo facebook; a Veronica Stigger é pra mim
provavelmente a pessoa brasileira que tá viva que tem a literatura mais afudê; Vinícius
Perez, Sergio Trentini e Johnny Oliveira são caras que escrevem nas internets coisas
fodas; o Ozeias Alves é um louco do interior do Espírito Santo que eu acompanho há
um bom tempo, e gosto muito do que ele escreve; a René Gaertner é uma guria do RJ
que tem umas prosas loucas maravilhosas e uns trabalhos visuais muito legais também;
Vinícius Edilberto é um poeta e músico que vazou do RS mas permanece postando uns
lance mucho loco pelo face; a Thays Prado é uma cantora sensacional que também volta
e meia tá tacando pau nos lugares portoalegrentos; RVST é uma banda foda; João
Gutkoski é um ilustrador que eu admiro muito, que posta seus lances principalmente no
instagram; a Atena Beauvoir é uma escritora e filósofa muy fueda; a Taverna e a Aldeia
são os lugar mais legal com a literatura dessa cidade; tu escreveu um livro muito doido
e foda; e é óbvio que tem mais gente, muito mais, mas vou encerrar por aqui. Muito
obrigado mesmo pela oportunidade, Gustavo, desculpa pelas desculpas, e espero que
alguém se interesse em procurar pelo menos um entre todos esses retardado que eu
mencionei aqui.

Gustavo Matte Rafa, nós que agradecemos. Um beijo.

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