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MENTES TRANSTORNADASV

ESfUIZiFRENIA ,

Vozes imaginárias,
delíros. Esse distúrbio
já foi sinonimo
de loucura, mas
não deveria. Com
tratamentos que
reintegram pacientes
à sociedade, falta
apenas vencer o
estigma de doença.

REALIDADE

ESPECIAL MISTÉRIOS DA M E N T E
AR
TEXTO E D U A R D O SZKLARZ
FOTOS R E N A T O PI22UTTO

matemático america-
no John Forbes Nash
foi um génio precoce.
Em 1949, aos 21 anos,
escreveu uma tese de
doutorado de apenas
27 páginas sobre a Te-
oria dos Jogos, que re-
volucionou a economia. Mas sua chama
criativa se apagou aos 30 anos, quando
começou a ouvir vozes e perdeu conta-
to com a realidade. A mulher o internou
num hospital psiquiátrico, onde lhe diag-
nosticaram esquizofrenia. "Eu me sentia
perseguido. Achava que o presidente, o
papa e outras pessoas conspiravam con-
tra m i m " , recordou Nash ao canal ame-
ricano PBS em 1995, após ganhar o Nobel
de Ciências Económicas pelas ideias que
desenvolveu na juventude.

E S P E C I A L M I S T É R I O S DA M E N T E
MENTES TRANSTORNADASy
ESfUIZtFRENIA
Aos 82 anos, Nash está há mais de 5 Se não fosse um génio precoce, Nash dor do Projeto Esquizofrenia do Instituto
décadas lutando contra o transtorno, certamente padeceria o transtorno no de Psiquiatria do Hospital da Clínicas da
numa história que inspirou o filme Uma anonimato, como ocorre com a imensa Faculdade de Medicina da USP.
Mente Brilhante (2001). A esquizofrenia maioria dos esquizofrênicos. E eles são Hoje, os remédios são muito mais efi-
não ataca de uma vez. Em vez disso, en- muitos: 2 milhões no Brasil e 70 milhões cientes e as internações, mais breves,
via sinais. A pessoa começa a mudar o no mundo. Esse transtorno não tem cura, necessárias apenas para controlar as cri-
jeito de ser entre o final da adolescência mas pode ser tratado, apesar de ainda ser ses. "Quando são adequadamente diag-
e o início da idade adulta: fica mais re- incompreendido tanto pela população nosticados e tratados, os portadores de
traída, isolada. Depois, tem delírios - ou geral como por suas vítimas. esquizofrenia convivem normalmente
seja, ideias incompatíveis com a realida- O primeiro passo para entendê-lo é se com a sociedade, perfeitamente inte-
de-, alucinações, como vozes comen- livrar do preconceito. "Durante muito grados, como qualquer pessoa sem a do-
tando sobre seus atos e pensamentos, e tempo, a esquizofrenia e outros transtor- ença", afirma Louzã. Mas não era assim
fala e comportamento desorganizados. nos mentais foram tratados como loucu- nos tempos da escultora Camille Claudel,
O trabalho, a relação com os outros e o ra. Os doentes chegavam a ser internados nascida na França em 1864.
cuidado de si são gravemente afetados, a vida toda sem dispor de tratamentos Depois de ser aluna, confidente e
caso a pessoa não seja tratada. adequados", diz Mário Louzã, coordena- amante do mestre escultor Auguste Ro-
din, ela o acusou de querer roubar suas
obras para expô-las como dele. Seus
A E S Q U I Z O F R E N I A A T I N G E 1 % DA surtos se manifestaram em 1905, quando
Camille já era famosa por moldar blocos
POPULAÇÃO M U N D I A L - S E M DISTINÇÃO DE de pedra. Ela destruiu diversas estátuas
COR; C U L T U R A ; R E L I G I Ã O E C L A S S E S O C I A L . e sumiu por longos períodos. Morreu em
1943, após 30 anos num asilo.

E S P E C I A L MISTÉRIOS DA M E N T E
gativos", como diminuição de expressão
Q U E M N A S C E E V I V E EM C I D A D E S T E M A das emoções, apatia, isolamento social e
2 VEZES MAIS CHANCE D E D E S E N V O L V E R | uma desesperança profunda. Tanto que o
índice de suicídio entre esquizofrênicos é
A D O E N Ç A . T A L V E Z E S T R E S S E , P O L U I Ç Ã O OU I maior que o da população em geral. Mé-
V Í R U S AUMENTEM O RISCO. dicos ainda consideram um 3 grupo de
o

sintomas, os "cognitivos", que incluem


dificuldade de abstração, déficit de me-
O que se passa pela cabeça do porta- Sim: a esquizofrenia prega peças em mória, comprometimento da linguagem
dor da doença? Isso varia conforme o suas vítimas. Muitas suspeitam que os e falhas no aprendizado. "Às vezes, a
paciente. Ele é tomado por delírios, que vizinhos escutam atrás da porta, que o pessoa entra na faculdade, tem o primei-
são sempre pensamentos. Mas também telefone está grampeado ou que o rádio ro surto e depois não consegue obter o
pode ter alucinações, ou seja, percepções envia mensagens secretas. Outras acham rendimento de antes", diz Louzã.
irreais dos órgãos dos sentidos. Na esqui- que o jornalista da TV está falando sobre Isso também acontece no trabalho. A
zofrenia, as alucinações são tipicamente elas - o que os médicos chamam de i n - pessoa ascende na carreira, sofre o pri-
auditivas. Alguns relatam ouvir vozes terpretação delirante. meiro surto e jamais retorna à posição
quando estão sozinhos. Podem também Alucinações, delírios e desorganização que tinha. Que o diga o russo Vaslav Ni-
achar que estão sendo vigiados pela po- do pensamento fazem parte dos chama- jinski, um dos bailarinos mais virtuosos
lícia, pela máfia ou por uma organização dos "sintomas positivos" da esquizofre- da história. Aos 10 anos, entrou na len-
secreta. Nash acreditava que comunistas nia. Eles ficam mais intensos nas crises dária Escola de Balé Imperial da Rússia.
e não-comunistas estavam em seu encal- agudas - os surtos psicóticos - , que são Aos 18, já era famoso por dar saltos que
ço, armando contra ele enquanto dispu- intercaladas por períodos de remissão. desafiavam a lei da gravidade. Mas sua
tavam o xadrez da Guerra Fria. Mas também existem os "sintomas ne- carreira acabou aos 29, quando a esqui-

OS SUBTIPOS DE
ESQUIZOFRENIA
Eles são diagnosticados de acordo
com os sintomas.

PARANOIDE
A pessoa tem delírios e alucinações.

HEBENEFRÊNICO
OU DESORGANIZADO
Sobressaem alterações da afetividade e
desorganização do pensamento.

CATATÔNICO
0 indivíduo apresenta alterações motoras.

SIMPLES
Em vez de delírios e alucinações, ocorrem
alterações da motivação e da afetividade.

RESIDUAL
Prevalecem os sintomas negativos, como
embotamento afetivo e pobreza da fala.
Em geral, os demais subtipos evoluem
para o quadro residual.

ESPECIAL MISTÉRIOS DA M E N T E
M ENTES TRANSTORNAD

ESfUIZtFRENIA

zofrenia o abateu em pleno voo. A partir


daí, Nijinski vagou entre hospitais psi- EM 2 0 0 2 , A E S Q U I Z O F R E N I A C U S T O U
quiátricos - e nunca voltou aos palcos.
US$ 62 BILHÕES AOS EUA, DESDE
Genética e ambiente O TRATAMENTO ATÉ A A S S I S T Ê N C I A SOCIAL.
A doença golpeou Nijinski em 1919,
É A D O E N Ç A M E N T A L MAIS C A R A .
quando pouco se sabia sobre ela. Fazia
apenas 11 anos que o psiquiatra suíço Paul
Bleuer havia cunhado seu nome para d i - na infância e na adolescência, até culmi- to, da USP. Além disso, parece não haver
ferenciá-la de outros transtornos. Bleu- nar com o aparecimento dos sintomas. dúvida quanto à faceta progressiva da
er chegou a examinar Nijinski, mas não A maioria dos psiquiatras considera que doença. Ou seja: quanto maior o número
tinha o conhecimento nem os remédios as crises dos esquizofrênicos acontecem de crises, mais o cérebro vai adoecendo.
antipsicóticos necessários para tratá-lo. justamente por causa desse desenvolvi- É por isso que os medicamentos bus-
Desde então, o diagnóstico e o mane- mento cerebral anormal. Ele geraria um cam evitar novas recaídas, além de dimi-
jo da esquizofrenia avançaram muito. desequilíbrio das substâncias que enviam nuir os sintomas agudos. A partir dos 50
Mesmo assim, a origem da doença ainda mensagens entre os neurónios - os cha- anos, a turbulência diminui e o transtor-
intriga os especialistas. mados neurotransmissores. no tende a se estabilizar.
Ao que tudo indica, ela tem um com- "Acreditamos que haja excesso des- Ok, os médicos estão bastante seguros
ponente genético e neurodesenvol- sas substâncias em algumas regiões do quanto a esses processos, mas admitem
vimental. Ou seja: já no útero, o feto cérebro e diminuição em outras", diz não saber o que está por trás deles. O fa-
começa a sofrer uma alteração em seu o psiquiatra Jaime Hallak, professor da tor genético pode ser inferido por uma
sistema nervoso. Esse quadro progride Faculdade de Medicina de Ribeirão Pre- questão matemática: se seu pai tem es-

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tumbas e roubava partes de corpos femi-
ninos para guardar como troféus. Fazia
roupas com as peles (e depois as vestia)
e móveis com os ossos. Sua casa também
abrigava uma coleção de órgãos sexuais
femininos e máscaras feitas com as caras
das vítimas. Em 1957, Ed Gein admitiu
ter matado 2 mulheres para destrinchá-
las. Acabou confinado em hospitais psi-
quiátricos até sua morte, em 1984.
Para o público em geral, é tentador
chamar Ed Gein de esquizofrénico. E não
só ele, mas toda a gama de personagens
de ficção que inspirou, como Norman
Bates, protagonista do filme Psicose,
de Alfred Hitchcock, Leatherface, de O
Massacre da Serra Elétrica, e Buffalo
Bill, o travesti de Silêncio dos Inocentes,
que matava suas vítimas para tirar a pele
feminina e implantá-la em seu corpo.
Mas essa comparação revela outro es-
tigma. "A fantasia que muitas pessoas
têm do esquizofrénico é misturada com
H á ainda o transtorno delirante, em que a pessoa acredita em ideias sem l ó g i c a , mas n ã o
personagens que possuem algo bizarro.
tem a l i n q ^ a ç e - e : : : ~ f i l a m e n t o t ã o prejudicados. J á no transtorno esquizoafetivo,
Assim, acham que o esquizofrénico é uma
ocorre uma mescia de a l t e r a ç õ e s na p e r c e p ç ã o com m u d a n ç a s bruscas de humor.
pessoa bizarra, com comportamentos es-
Ou seja, fica bem f á r i l confundir tudo. E é o que o cinema faz. Poucos filmes representam
quisitos. Na verdade, isso é um exagero",
claramente um e s q u i z o f r é n i c o . Boas e x c e ç õ e s s ã o Spider (2002), de David Cronenberg,
afirma Louzã. "Um esquizofrénico bem
e S/?/ne(1996). deScottHi:* s Nele. o pianista David Helfgott luta para voltara tocar
tratado e com medicação controlada vai
depois do prime-': s _ ~ : e um exemplo de s u p e r a ç ã o da d o e n ç a .
ter um comportamento bem natural."
Mesmo entre os não-tratados, só uma
quizofrenia. oriscode você ter a doença Segundo Hallak, perder um paren- minoria é violenta. Na verdade, são re-
salta de 1 para 10%. Se sen pai e sua mãe te querido ou migrar para outro país traídos e têm mais chances de causar da-
tiverem, o risco sobe para 25%. Mas os aumentaria o risco de 1 para 3%. Usar nos a si próprios que aos demais. Claro
genes sozinhos não resolvem essa equa- drogas é ainda pior: se você fumou mui- que alguns cometem atos violentos e por
ção. Veja o caso dos gémeos univitelinos ta maconha na adolescência, o risco de motivos bizarros - como um homem que
(idênticos): se um deles tem esquizofre- desenvolver esquizofrenia pode subir até abre a cabeça da mãe para tirar ideias de
nia, o outro tem 50% de risco de tam- 10 vezes quando ficar adulto. lá. Mas casos assim são exceções, e o res-
bém ter - quando se esperariam 100%. E todos esses fatores são cumulativos. to leva a fama. "Toda vez que ocorre al-
"E mesmo conhecendo esse padrão ge- "Se você tiver uma perda familiar impor- gum crime violento envolvendo um pa-
nético, não sabemos qual ou quais genes tante, for demitido, tiver usado maco- ciente com esquizofrenia, a repercussão
estão alterados", diz Hallak. nha desde a adolescência e ainda migrar nos meios de comunicação é enorme. E
Se a genética não responde por todo. para outro país, o seu risco pode chegar as pessoas ficam com a impressão de que
fatores ambientais também estariam a 20%", diz Hallak. "Mas o componen- esses pacientes são mais violentos que a
ligados à doença. Infecções durante a te genético é fundamental. Aqueles que população em geral", diz Louzã.
gravidez, por exemplo, poderiam alu- não têm essa propensão dificilmente vão
ar como disparadores. Mais: mudanças desenvolver a doença."
importantes na infância e na adolescên- PARA SABER MAIS
cia também podem gerar uma situação Esquizofrênicosdapaz Esquizofrenia: Manual do Cuidador
de estresse que vai obrigar a pessoa a se O americano Edward Theodore Gein M á r i o L o u z ã , Planmark, 2008.
reorganizar. E é nessa fase de adaptação cometeu alguns dos crimes mais bizarros Uma Mente Brilhante
que a esquizofrenia pode se manifestar da história. Nascido em 1906 no povoado Sylvia Nasar, Record, 2002.
em quem tem a propensão genética. de Plainfield, no Wisconsin, ele violava

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