1 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE – (Suplemento)

SUBCOMISSÃO DA UNIÃO, DISTRITO Temos uma observação importante a ranças, para a eleição serena e tranqüila do
FEDERAL E TERRITÓRIOS fazer: para que não seja perdida nenhuma Presidente e do 1º e 2º-Vice-Presidentes.
das intervenções dos Constituintes durante Ainda em obediência a esse acordo, a
ATA DA 1ª REUNIÃO os trabalhos aqui realizados, a de fundamental Presidência designa para Relator desta
importância que os discursos e apartes sejam Subcomissão o Constituinte Sigmaringa Seixas.
Aos sete dias do mês de abril do ano proferidos nos microfones a este fim destinados. (Palmas.)
de mil novecentos e oitenta e sete, às dez Para tanto, roga-se a cada interrogante Nada mais havendo a trat ar, vou encerrar
horas e quarenta e cinco minutos, em sala da Subcomissão que decline seu nome antes os trabalhos da presente reunião, convocando todos
do Anexo II da Câmara dos Deputados, de iniciar qualquer fala, para possibilitar a os Srs. Constituintes, para a primeira reunião da
reuniu-se a Subcomissão da União, identificação correta, ao se proceder àtranscrição Comissão da Organização do Estado a realizar-se
Distrito Federal e Territórios, sob a da gravação pelo método taquigráfico. As amanhã, às 10 horas, na sala ao lado, quando
Presidência eventual do Senhor Constituinte orações proferidas fora do microfone ou as de iniciaremos os nossos trabalhos de organização e
Francisco Carneiro, com a presença dos difícil reconhecimento de que as produziu serão métodos para funcionamento da Comissão e das
seguintes Constituintes: Davi Alves Silva, dadas como não havidas. Subcomissões.
Vilson Souza, Ruben Figueiró, Paes de Vamos iniciar nossos trabalhos fazendo Está encerrada a reunião.
Andrade, Mozarildo Cavalcanti, Marluce a chamada dos Srs. Constituintes. Passo a
Pinto, Chagas Duarte, Messias Soares, Meira palavra ao Sr. Secretario para fazê-la. ATA RESUMIDA DA 2º REUNIÃO ORDINÁRIA
Filho, Márcia Kubitschek, Sigmaringa Serei o primeiro a votar. De acordo com
Seixas, Jofran Frejat, Paulo Mincarone, Roberto o Regimento, tenho de passar a Presidência, Aos nove dias do mês de abril do ano de
Rollemberg. Havendo número regimental, durante o período de minha votação, a um colega um mil novecentos e oitenta e sete, às dez horas e
o Senhor Presidente declarou instalada Constituinte. vinte e cinco minutos, na Sala B1 da Câmara dos
a Subcomissão e esclareceu que iria proceder Convido o Constituinte Meira Filho para Deputados, reuniu-se a Subcomissão da União,
à eleição do Presidente e Vice-Presidentes, assumir temporariamente a Presidência dos Distrito Federal e Territórios, sob a presidência do
convidando, nos termos regimentais, os Senhores trabalhos. Senhor Constituinte Jofran Frefat (PFL – DF), com a
Constituintes Márcia Kubitschek e Mozarildo (O Sr. Constituinte Meira Filho assume a presença dos seguintes Constituintes: Meira Filho
Cavalcanti para funcionarem como Presidência) (PMDB – DF), Ruben Figueiró (PMDB – MS),
escrutinadores. Realizada a eleição, e A SRA. CONSTITUINTE MÁRCIA Sigmaringa Seixas (PMDB – DF), Annibal Barcellos
verificando-se a coincidência do número de KUBITSCHEK: – Sr. Presidente, gostaria de (PFL – AP), Chagas Duarte (PFL – RR), Felipe
sobrecartas com o de votantes, apurou-se o saber se não haverá a leitura dos nomes dos Mendes (PDS – PI), Francisco Carneiro (PMDB –
seguinte resultado: para Presidente, candidatos aos diversos cargos. DF), Geovani Borges (PFL – AP), Marluce Pinto
Constituinte Jofran Frejat, com 12 votos; O SR. PRESIDENTE (Meira Filho): – (PTB – RR), Mozarildo Cavalcanti (PFL – RR),
para 1º-Vice-Presidente, Constituinte Meira Filho, Des culpe, mas quem poderá responder à Roberto Rollemberg (PMDB – SP), Vilson Souza
com 12 votos; para 2º-Vice-Presidente, indagação é o Constituinte Francisco Carneiro, (PMDB – SC). Havendo número regimental, o
Constituinte Ruben Figueiró, com 12 votos. tão logo reassuma a Presidência. Agora vou Senhor Presidente declarou iniciados os trabalhos e
Após a apuração, foram os Constituintes votar. passou à leitura da Ata da reunião anterior, que foi
referidos, proclamados eleitos. Assumindo O SR. PRESIDENTE (Francisco aprovada por unanimidade. Expediente:
a Presidência, o Senhor Constituinte Jofran Carneiro): – Atendendo à solicitação Correspondência recebida: Ofício nº 87/87 de 7 de
Frejat agradeceu em seu nome e no da Constituinte Márcia Kubitschek, leio os abril, do Senhor Líder do PDS, substituindo o
dos Senhores Meira Filho e Ruben Figueiró nomes dos candidatos; para Presidente, Deputado David Alves Silva pelo Deputado Felipe
a honra com que foram distinguidos. Em Constituinte Jofran Frejat, do PFL; para Mendes, como membro efetivo da Subcomissão.
seguida, designou o Senhor Constituinte 1º-Vice-Presidente, Constituinte Meira Filho, do Correspondência expedida; quarenta e seis ofícios,
Sigmaringa Seixas, Relator na Subcomissão, PMDB; para 2º-Vice-Presidente, Constituinte comunicando a instalação da Subcomissão,
informando aos presentes que a próxima Ruben Figueiró, do PMDB. Esta é a chapa composição da Mesa e indicação do Relator. Ofício
reunião será amanhã, dia oito, às dez existente, o que não impede que se apresentem nº 19, solicitando o fornecimento de periódicos para
horas. Nada mais havendo a tratar, o Sr. outras. a Subcomissão. O Senhor Presidente anuncia que a
Presidente às onze horas e trinta minutos, Vamos continuar o processo de finalidade da presente reunião seria para
encerrou a reunião, cujo teor será publicado, na votação procedendo à chamada dos Srs. estabelecimento do roteiro de trabalho da
íntegra, no Diário da Assembléia Nacional Constituintes. Subcomissão, sugestões para convidar
Constituinte. E, para constar, eu, Antonio (Chamada) representantes de classes, calendários das
Fernando Borges Manzan, lavrei a presente ata Temos 8 titulares. Chamaria a audiências públicas e estabelecimentos de prazos.
que, depois de lida e aprovada, será assinada Constituinte Márcia Kubitschek como Suplente. Discutiram a matéria os Senhores Constituintes:
pelo Senhor Presidente. Declaramos encerrado o processo de Felipe Mendes, Mozarildo Cavalcati, Chagas Duarte,
O SR. PRESIDENTE (Francisco votação. Marluce Pinto, Annibal Barcellos, Roberto
Carneiro): – Declaro abertos os trabalhos da Vamos convidar 2 Constituintes Rollemberg, Meira Filho, Geovani Borges e Vilson
Subcomissão da União, Distrito Federal e para complet ar a Mesa e auxiliar na Souza. O inteiro teor dos trabalhos será publicado,
Territórios. apuração dos votos. Convido os Constituintes após a tradução das notas taquigráficas e o
as
Sr. e Srs. Constituintes, a condição Márcia Kubitschek e Mozarildo Cavalcanti. competente registro datilográfico, no Diário da
regimental de menos jovem desta Assembléia me (Pausa.) Assembléia Nacional Constituinte. Nada mais
faculta o direito de presidi-la, o que é uma honra A SRA. CONSTITUINTE MÁRCIA havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por
para mim. KUBITSCHEK: – Sr. Presidente, são 12 os encerrados os trabalhos, às onze horas e quarenta e
O número regimental seria de 9. votantes e 12 as sobrecartas. cinco minutos, convocando os Senhores
Estamos com 10 Srs. Constituintes. Peço ao O SR. PRESIDENTE (Francisco Constituintes para a próxima reunião a ser realizada
Secretário, Dr. Fernando Manzan, para fazer a Carneiro): – Foi verificada a coincidência dia vinte e três de abril, às dezenove horas, para
chamada. Assim, teremos número regimental do número de votantes com o número de continuação do debat e da matéria constitucional. E,
para dar curso à sessão. cédulas. Concluída a votação, deveríamos para constar, eu, Antônio Fernando Borges Manzan,
(Chamada) anunciar o seu resultado pela ordem Secretário, lavrei a presente Ata que, depois de lida
as
O SR. PRESIDENTE (Francisco decrescente de votos. Mas, como V. Ex. e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente.
Carneiro): – Existindo número regimental, puderam verificar, todos tiveram o mesmo O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
superior a 9, vamos dar curso aos número de votos. Desta forma, vamos anunciar o Havendo número regimental, sob a proteção de
nossos trabalhos. Antes, farei esclarecimentos resultado pela ordem constante na chapa. Deus, declaro abertos os trabalhos desta
de como vai-se processar a eleição para Agradeço a Constituinte Márcia Kubitschek e aos Subcomissão. Passo a palavra ao Sr. Secretario,
Presidente e Vice-Presidentes da Subcomissão colegas Constituintes que procederam à que procedera a leitura da ata da reunião anterior.
"A". apuração dos votos. (É lida e aprovada a ata da reunião
Os Constituintes serão chamados Anuncio o resultado da votação: anterior.)
em ordem alfabética. Dirigir-se-ão à sala anexa, Presidente Constituinte Jofran Frejat; 1º-Vice- O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
onde encontrarão as cédulas e sobrecartas. Presidente, Constituinte Meira Filho; 2º-Vice- Peço ao Sr. Secretário que faca a leitura do
Colocarão as cédulas correspondentes Presidente, Constituinte Ruben Figueiró. expediente.
aos candidatos escolhidos, uma para (Palmas.) (Leitura do expediente)
Presidente e duas para Vice-Presidentes, na Convido os nobres Constituintes Jofran O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
sobrecarta. Encerrado o processo de Frejat, Meira Filho e Ruben Figueiró para Na nossa pauta de reuniões de hoje temos
votação, serão convidados 2 Constituintes assumirem a Presidência da Subcomissão. quatro itens. O primeiro deles é pedir aos
para servirem de escrutinadores. Verificada Desta forma, dou por concluídos Constituintes sugestões para a elaboração do roteiro
a coincidência do número de sobrecartas meus trabalhos. Agradeço aos nobres colegas a dos nossos trabalhos. Naturalmente vamos ter de
com o dos votantes, será iniciada a ordem com que desenvolveram a eleição. estabelecer uma rotina para agilizá-lo e para que
apuração, com abertura dos envelopes e (Palmas.) possamos nos entrosar com mais facilidade. Tenho
contagem dos votos. Em seguida será O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): a impressão de que esta é a primeira Subcomissão
anunciado o resultado na ordem decrescente – Em primeiro lugar, quero agradecer aos que se reúne e gostaríamos, realmente, de dar
dos votos, fazendo-se, de imediato, a nobres Constituintes membros tempo ao nosso Relator para que des empenhasse
proclamação dos eleitos, que tomarão posse no desta Subcomissão pela confiança suas funções com a maior tranqüilidade possível.
mesmo momento. depositada no acordo feito ent re as Lide- Em que pese ao fato de existir proposições no
 ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE – (Suplemento) 2

sentido de dilatar os prazos, tenho receio que a
própria definição do Regimento que já existe
possa impedi-lo. Por isso, creio que, se
tivermos uma rotina de trabalho, talvez seja
muito mais fácil conclui-lo rapidamente.
Gostaria, em segundo lugar, que os
Constituintes apresentassem as suas
sugestões para os convites a serem
formulados. Já estamos expedindo diversos
ofícios para Ministros. Governadores, tanto de
Estados como de Territórios e para entidades
de classe. Mas, com certeza, alguns
Constituintes têm áreas de interesse próprio,
conhecem, nas suas bases e regiões,
entidades que tenham propostas a nos
apresentar, o que irá enriquecer o trabalho
desta Subcomissão. Todos os Constituintes
que tenham interesse em convidar entidades
de classe específicas, que não foram
convidadas pela Presidência ou pela Mesa,
queiram por gentileza, encaminhar esses
pedidos para que encaminhemos a
correspondência aos locais próprios. O terceiro
item de nossa pauta diz respeito ao calendário
das audiências. Observamos que ha interesse
da Presidência da Comissão no sentido de
marcar um dia para que as audiências sejam
em conjunto com as diversas Subcomissões e
com a Comissão. Não saberia dizer se alguns
assuntos específicos vão despertar tanto
interesse na Comissão. Creio que nós, na
Subcomissão, poderemos desenvolver trabalho
no sentido de que alguns expositores e
algumas entidades possam fazer expositores
sobre assuntos específicos da União, do
Distrito Federal e dos Territórios. Desta forma,
podemos ate estabelecer o numero de sessões
de expositores pare ouvir assuntos pertinentes
a nossa Subcomissão. O quarto item é o
estabelecimento de prazos para os nossos
trabalhos. A Mesa da Assembléia Nacional
Constituinte nos encaminhou uma proposta
definindo o tempo para os diversos setores,
pare os expositores, para o Relator, para os
debatedores etc. Alguns estão muito bem
colocados, mas talvez pelo fato de não lidar
com Subcomissão, nem com audiência pública,
há situações que precisam ser estabelecidas. A
priori obedecemos a esse critério,
naturalmente ouvido o Plenário: o Relator tem
30 minutos para sua exposição, os membros
da Subcomissão terão 15 minutos e os
Constituintes não-membros da Subcomissão
terão 5 minutos. Nas reuniões públicas, o
expositor da entidade terá 30 minutos para a
apresentação de seu trabalho, o Relator tem 5
minutos para apresentar as suas
contraposições e contrapropostas, a sua crítica
e a sua avaliação, os membros da
Subcomissão terão 3 minutos e os
Constituintes não-membros também 3 minutos.
Falou, na proposta da Mesa, a resposta do
expositor, que naturalmente terá contra-
argumentação para colocar, tanto ao Relator
como aos Constituintes. Foi apresentada,
também, a proposta de 3 minutos para a
resposta do expositor às apresentações.
Gostaria de saber dos nossos companheiros se
poderemos dar curso a esse procedimento. A
palavra está franqueada aos nossos
Constituintes.
Peço aos nobres Constituintes que
fizerem use da palavra que usem o microfone,
para que seus depoimentos sejam registrados
nos Anais da Casa.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Quero, além de declinar o
nome, apresentar-me, porque estou
aqui pela primeira vez, em função
da permuta que houve, por interesse
recíproco meu e do Deputado Davi Alves
Silva. Ele queria participar da Subcomissão
dos Estados e eu da Subcomissão da União,
Distrito Federal e Territórios. De modo que
esta é a primeira reunião da qual participo.
Meu nome é Felipe Mendes, sou do PDS do
Piauí. No Piauí temos coligação com o PMDB.
Sou economista e ex-secretário de Fazenda e
Planejamento do Estado. Daí depreende-se o
interesse em participar desta Subcomissão.
Gostaria, dentre as sugestões a apresentar,
de colocar uma questão que me parece estar
em evidência, ultimamente, no Brasil, diante
da possibilidade de ser discutida na
Constituinte: o desenvolvimento regional. Vi
que aqui estão representadas todas as
regiões, principalmente a Norte, Nordeste e
Centro-Oeste. Parece-me que esta questão
regional precise ser melhor colocada a nível
de futura Constituição. Não tenho uma idéia
precisa, mas creio que as diversas regiões
têm suas peculiaridades. O País é uma
imensidão e as definições de competências
da União precisam ser colocas em nível
intermediário entre os Estados, de modo que
as atuais Superintendências Regionais de
Desenvolvimento – Sudam, Sudene, Sudeco,
entre outras possam receber delegações de
competência da União para, juntamente com
os Estado e Municípios, se ter nova feição na
Administração Pública Federal neste País.
Isso me leva também a levantar a
necessidade de esta Subcomissão atuar
muito intimamente com as demais
Subcomissões, especificamente com a de
competência do Poder Legislativo, porque
estão amarradas àquilo que é competência da
União, aquilo que a competência privativa do
Congresso Nacional. De modo que acredito
que precisaremos muito trabalhar em conjunto
com as demais Subcomissões. Talvez o
nosso Presidente e o Relator possam fazer
inicialmente o mapeamento do que é mais
urgente. Se for aceita a sugestão, cada um de
nós até poderia fazer as ligações com as
outras Subcomissões, pelo menos naquelas
em que formos suplentes.
Eram estas as nossas sugestões.
Estou disposto a colaborar com a Presidência
e com o Relator no que for necessário.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a Vossa Excelência.
O SR. CONSTITUINTE MOZARILDO
CAVALCANTI: – Sr. Presidente, anotei os
tópicos que V. Ex.ª enumerou, começando
pelo roteiro, sugestões, calendário de
audiências e prazos. Acredito que a idéia do
roteiro seja estabelecer quais os caminhos
que devemos começar a percorrer. Estamos
nos reunindo, o nosso tema é aparentemente
restrito, mas, como observou o nosso colega
do Piauí, tem implicações muito grandes. Por
exemplo: nós, de Roraima, defenderemos
aqui a transformação do Território em Estado,
o que tem implicações obviamente com a
Comissão do Sistema Tributário, a
competência da União em relação aos
encargos dessa transformação. Vejo que
precisamos, para começar a discutir tais
temas, como também a eleição do
Governador do Distrito Federal, ter subsídios.
Muitos dos companheiros aqui já
apresentaram em Plenário sugestões a
respeito desses temas. Já apresentei
proposta com relação à transformação dos
Territórios em Estados. Pelo que sei, essas
sugestões não foram encaminhadas para a
Subcomissão.
Parece-me que começaria aí o primeiro
passo para a discussão específica desses
temas. É meu interesse defender, dentro da
figura da Federação, a extinção da figura do
Território. Nós, que nascemos e vivemos em
um Território Federal, sabemos o quanto
ditatorial e draconiana é essa figura e quanto
ela realmente representa em termos de
castração de lideranças que possam se
formar nessas regiões. Todos esses temas
que podem começar a ser debatidos precisam
partir de algum ponto, que deveria ser a
existência de sugestões na Mesa para que
pudéssemos formalizar convites. Temos,
entre os Deputados de Roraima, um ex-
Governador do Território que pode dar seu
testemunho sobre a figura do Território.
Temos o companheiro Chagas Duarte,
Secretário de Governo por muito tempo em
diversas fases. Eu também fui Secretário de
Saúde no Território. Podemos também
convidar o Governador, que poderá dar um
depoimento atual. Precisaríamos começar
dizendo que passos daremos, para que a
partir daí possamos estabelecer o roteiro e,
em decorrência, o calendário para os nossos
trabalhos.
Era essa a colocação que eu queria
fazer, solicitando ao Presidente e ao
Secretário providências no sentido de fazer
chegar às Subcomissões sugestões que
digam respeito aos temas que a Sub-
Comissão analisará.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª e participo ao
Constituinte Mozarildo Cavalcante que a Mesa
da Assembléia Nacional Constituinte nos
comunicou que até o final desta semana
estarei encaminhando para as comissões as
propostas constitucionais apresentadas à
Mesa, que ainda não nos chegarem às mãos.
No momento em que isso ocorrer,
naturalmente serão distribuídas para os
Constituintes desta Subcomissão. Esta é uma
sessão de reconhecimento, de planejamento
para o início dos nossos trabalhos. Na medida
em que chegarem as propostas
constitucionais, com certeza faremos chegar
aos nossos companheiros Constituintes.
Chamo a atenção para o aspecto de
que estamos inovando em termos de
Assembléia Nacional Constituinte. Todas as
que vigeram no País o fizeram através de um
esquema do geral para o específico. Aqui,
estamos invertendo as posições: estamos
saindo do específico para o geral. Não há
esqueleto, não há uma comissão chamada de
grande comissão, para que comecemos a
trabalhar em cima do previamente fixado.
Tanto assim que já houve sugestões de vários
Constituintes no sentido de se pegar o roteiro
da Constituição de 46, o roteiro do projeto
constitucional de Afonso Arinos, o roteiro de
propostas de outros partidos. Isso, na
verdade, criou dificuldade de entendimento,
porque, de acordo com a seleção partidária,
alguns Constituintes preferiam um tipo de
Constituição já estabelecida, outros a sua
proposta. De forma que estamos inovando e
vamos precisar do espírito criativo de cada um
dos Constituintes, no sentido de darmos um
roteiro inicial para o nosso trabalho, na maior
abertura democrática que se possa fazer.
Concedo a palavra ao Constituinte
Chagas Duarte.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Sr. Presidente e membros
desta Comissão, para facilitar
os nossos trabalhos, sugerimos que as
3 ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE – (Suplemento)
pautas, os roteiros e as sugestões fossem,
na medida do possível, encaminhados
com a devida antecedência, para que
neles possamos nos debruçar, estudá-los
e não sermos em cima da hora surpreendidos,
muitas vezes sem tempo
para um raciocínio que venha a ajudar
a enriquecer as proposições. Queremos
reiterar o que colocou o constituinte Mozarildo
Cavalcanti, que, de fato, precisamos ter
contato com as demais Subcomissões e
também com as representações dos
Territórios. Ainda ontem estive na Inspetoria
Geral de Finanças. O seu dirigente, Dr.
Militino, dizia-me da importância de eles
serem ouvidos, das proposições que teriam
de ser feitas em relação ao nosso tema, o da
passagem dos Territórios a Estados.
Preocupa-me, sobretudo no Território,
representação lá existente, como a Ordem
dos Advogados. Dizia-me ontem o Presidente,
que gostaria de estar presente nesta
Subcomissão. Então, faço uma pergunta:
quem arcará com as despesas com a vinda
de representantes?
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
Não temos informações sobre se a Mesa
da Constituinte autoriza o pagamento
do transporte e estada de expositores
que venham de fora. Faremos uma
comunicação tão logo tenhamos
esclarecimentos.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Gostaria de obtê-las, tão logo
fosse possível, para transmiti-las ao Território.
A sugestão que fica é que as pautas e roteiros
nos cheguem às mãos com bastante
antecedência, se possível, para que deles
tomemos conhecimento e melhor debatamos
o assunto.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Freját): – O
pedido de V. Ex.ª Será atendido.
Gostaria de dizer ao Constituinte
Chagas Duarte que nos ainda estamos
iniciando os nossos trabalhos, porque a
eleição foi anteontem e ontem houve reunião,
quando praticamente a pauta foi feita no
sentido de começarmos a esboçar alguma
coisa.
Concedo a palavra a Constituinte Marluce
Pinto.
A SRA CONSTITUINTE MARLUCE
PINTO: – Sr. Presidente, ilustres membros
desta Subcomissão, sou Marluce Pinto, do
PTB de Roraima. Quanto a sugestão do
Constituinte Mozarildo Cavalcanti, no sentido
de o ex-Governador Ottomar Pinto vir fazer
uma exposição, gostaria de sugerir a V. Ex.ª
que ele fosse convidado para a reunião do dia
22, uma vez que V. Ex.ª ainda não recebeu da
Mesa uma definição quanto ao custeio das
despesas e ele se encontra aqui. Na sua
administração como Governador de Roraima,
Ottomar Pinto iniciou trabalho a fim de que os
Territórios fossem transformados em Estados.
Seria bastante viável que na próxima reunião
ele fizesse sua exposição, porque aquilo que
os membros desta Subcomissão achassem
útil poderia ser aproveitado. Já existe esse
trabalho, bem como um projeto de autoria do
Constituinte Mozarildo Cavalcanti, desde
1983, também neste sentido. Deve
existir, além desses, o do ex-Governador do
Amapá. Se V. Ex.ª quiser, esse convite
poderá ser feito ate por meu intermédio,
porque ele é do meu partido, é meu marido e
já estamos preparando um trabalho, que –
creio – facilitaria muito, para os
dois Territórios, a abordagem da questão. Se
os colegas de Roraima acharem por bem nos
reunirmos antes do dia 22, poderemos fazê-lo,
inclusive contando com a colaboração dos
representantes do Amapá. Fica aqui o meu
oferecimento. Aguardo a resposta da Mesa e,
naturalmente, de V. Ex.ª, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– O último argumento de V. Ex.ª é
irretorquível. Por ser, além de ex-governador,
o seu marido, ele, com certeza, será
compelido por V. Ex.ª a vir à nossa reunião.
Peço ao Sr. Secretário que formule um
convite oficial, desde que autorizado pelo
Plenário aqui estabelecido, no sentido de ser
ele o primeiro a ser convidado para a reunião
do dia 22, que, naturalmente, será a nossa
primeira reunião após esta, para que S. Ex.ª
venha expor a sua experiência. Concedo a
palavra ao Constituinte Mozarildo Cavalcanti,
pedindo-lhe que faça uso do microfone, pois
suas palavras são muito importantes para os
registros nos Anais da Assembléia Nacional
Constituinte.
O SR. CONSTITUINTE MOZARILDO
CAVALCANTI: – Sr. Presidente, gostaria
apenas de complementar. Eu havia olvidado,
durante minha exposição, o ex-governador do
Amapá, que participa da nossa Subcomissão
e que, portanto, junto com o ex-Governador
Ottomar Pinto, pode ser um dos dois primeiros
convidados a expor a problemática dos
Territórios, falando-nos de suas experiências
como governador nomeado e hoje
defendendo exatamente a tese da
transformação dos Territórios em Estados,
porque reconhece que a figura de Território é
anacrônica, não só política como
administrativamente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte Annibal
Barcellos.
O SR. CONSTITUINTE ANNIBAL
BARCELLOS: – Sr. Presidente, permita-me a
apresentação. Sou Deputado eleito pelo
Território Federal do Amapá. Essa é a
primeira legislatura de que participo. Fui
governador do Amapá durante seis anos e
quatro meses. Terminado o mandato do
Presidente João Figueiredo, continuei
governando aquele Território quatro meses, à
espera do meu substituto. Havia lá uma
disputa muito grande entre o PMDB e o PFL,
e eu fiquei aguardando durante quatro meses
– repito. Fui chamado pelo Presidente José
Sarney, que me falou da sua dificuldade em
nomear o governador daquele Território.
Afinal foi nomeado um governador neutro, um
magistrado. Essa espera não constitui, para
mim, um grande sacrifício, porque o
Presidente da Republica deu-me toda força
para continuar governando como mandatário
major daquele Território. Sabemos das
dificuldades que enfrenta o Território. Acho
que ele chegou a um ponto de
desenvolvimento que não da mais para
continuar nesta situação. Ele não tem
autorização para ficar com o ICM que é
recolhido pelo Território, por convênio que
conseguimos no Ministério da Fazenda. Esta
quantia segue para o Banco do Brasil e deste
vai ao Ministério da Fazenda, sendo, depois,
liberado em forma de EGU. Não podemos
aumentar a nossa capacidade administrativa,
nem contratar pessoal. Conseguimos dinheiro
para construir escolas, uma penitenciária
e um posto de saúde, mas ficamos
sempre presos ao Governo Federal no sentido
de obter autorização para contratação de
pessoal. Estamos prontos a dar
nossa colaboração no sentido de verificar
essa possibilidade de transformação dos dois
Territórios em Estados. Acho que chegou a
ocasião de fazê-lo e vamos aproveitá-la. Já
existe, como afirmou a Constituinte Marluce
Pinto, o trabalho de um grupo criado com
autorização do Presidente Figueiredo e
constituído no Ministério do Interior. Trata-se
de trabalho bem feito, que podemos
aproveitar de início, enviando-o à Comissão,
que também poderá estudá-lo. Estamos
prontos – repito – a colaborar com esta
SubComissão. Vamos trabalhar firmemente.
O Constituinte Ruben Figueiró, que já
conhece o Território, é um pouco pessimista,
mas vamos procurar convencê-lo e mostrar-
Ihe a necessidade disso. Quanto à
transformação – como o Constituinte
Mozarildo Cavalcanti falou – a extinguir a
figura de Território, para mim ainda é um
ponto a ser discutido. O Amapá, quarenta
anos atrás, era uma vila com dois mil e
quinhentos habitantes. Passá-lo diretamente a
Estado não é a minha idéia. Estou adiantando
esse dado, mas na discussão virão as razões.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Tenho certeza de que a colaboração de V.
Ex.ª será muito valiosa para os nossos
trabalhos. Concedo a palavra ao Constituinte
Felipe Mendes.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, gostaria de voltar
àquela sugestão a respeito das
Superintendências regionais, para solicitar
que fossem convidados os Superintendentes.
Comunico a V. Ex.as que a Sudene realizou,
na segunda e na terça-feira passadas, um
breve seminário, com a participação,
inclusive, de alguns Constituintes da região, e,
com a colaboração de técnicos, está
preparando um documento para ser
encaminhado à Assembléia Nacional
Constituinte. Parece-me que tanto aquela
como as outras Superintendências poderiam
fazer-se presentes a esta SubComissão.
Outra sugestão, prosaica, seria a de
examinarmos uma distribuição melhor dessas
cadeiras. Parece-me que outra disposição
talvez pudesse tornar mais aconchegante o
convívio com os nossos companheiros: que
uma fila em frente à outra poderia acomodar
melhor os nossos debates, a nossa
participação.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª.
Gostaria de alertar os Constituintes da
nossa Subcomissão para o fato de que
teremos entre cinco e oito sessões de
exposições de entidades e da população, de
um modo geral, através de seus
representantes. Naturalmente, gostaríamos
que os Srs. Constituintes encaminhassem à
Mesa suas solicitações para que
verificássemos a possibilidade de
compatibilizar isso, porque tenho a certeza
de que muitas propostas virão de se
trazer a esta Subcomissão pessoas de
reconhecida capacidade e que possam
trazer contribuições. Mas, naturalmente,
não podemos chamar todas, porque a
nossa limitação a regimental. De forma
que vamos receber todos os pedidos e
tentaremos compatibilizar isso com o número
de cinco a oito sessões públicas. Por outro
lado, já temos as solicitações, pelo menos
verbais, de várias entidade, não só do Distrito
Federal, mas de fora, independentemente
daquelas pessoas que tem experiência,
como ex-Governadores de Territórios que
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE – (Suplemento)
gostariam de participar. Tentaremos, então, O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
compatibilizar isso. Mas, como o tempo urge e – Agradeço a V. Ex.ª. Gostaria de aduzir
temos pela frente a Semana Santa, quando, alguma coisa ao que foi dito. Realmente,
provavelmente, não deve funcionar a nossa nossa Comissão e Subcomissão não têm sido
Subcomissão, o que, aliás, é muito das mais disputadas, talvez até porque não se
compreensível, porque os nossos tenham detido a respeito das atribuições desta
Constituintes são muito religiosos e gostariam, Comissão e suas Subcomissões, e existam os
naturalmente, de fazer suas preces nas suas "assuntos da moda" que, naturalmente, atraem
paróquias – nesse período teremos uma a atenção da imprensa e das pessoas que
semana praticamente em recesso branco. De estão buscando discutir os assuntos
forma que estaremos atrapalhados, em uma temporários. Se nos reportarmos ao texto
semana, na continuidade dos nossos constitucional vigente, vamos verificar que, no
trabalhos. Pediria aos Srs. Constituintes que capítulo da União, teremos uma importância
encaminhassem à Mesa seus pedidos. muito grande com relação à competência da
Tentaremos compatibilizar a solicitação da União, não só com relação aos Estados, aos
presença desses representantes. Municípios, ao próprio Distrito Federal e às
Continua franqueada a palavra. Regiões, mas especificamente na vida
Concedo a palavra ao Constituinte nacional, às intervenções, ao estado de
Roberto RoIlemberg. emergência, à nossa navegação aérea e
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO marítima, às telecomunicações, às concessões
ROLLEMBERG: – Sr. Presidente, ilustres das telecomunicações. São assuntos da maior
membros da Subcomissão, discutiu-se muito, importância e vão, naturalmente, no desenrolar
na formação das Comissões, a importância dos debates, suscitar interesse maior do que
das mesmas. Realmente, a maior tem suscitado até agora. Considero pertinente
predominância deu-se às subcomissões da a colocação do Constituinte Roberto
Comissão da Ordem Econômica, que Rollemberg e vamos procurar um jurista que
chamaram a atenção da imprensa e dos tenha conhecimentos suficientes, para que nos
Constituintes. A uma série de outras traga informações a respeito da nossa
Comissões atribui-se um valor extraordinário. competência. Nós, que nos consideramos
Nossa Subcomissão, a da União, do Distrito todos competentes através do voto, vamos
Federal e dos Territórios, da Comissão da buscar o conhecimento jurídico mais profundo
Organização do Estado, parece-me que não dessas pessoas. Agradeço a V. Ex.ª.
foi devidamente projetada no valor geral. Concedo a palavra ao Constituinte
Entretanto, entendo – e gostaria que os Chagas Duarte.
companheiros da Subcomissão discutissem, e O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
a Presidência tivesse isso como objetivo DUARTE: – Gostaria de apresentar uma
principal – o sentido de que a Comissão da outra sugestão, a fim de que possamos ter
Organização do Estado, por sua própria uma visão ampla, global, do andamento, da
natureza constitucional, doutrinária e feitura de nossa Constituição. Gostaria de
ideológica, realmente pode, inclusive, influir saber se há a possibilidade de a Mesa nos
no próprio tamanho, na extensão da fazer uma demonstração gráfica, através de
Constituição, se assumirmos de fato a um fluxograma, desde a entrada das
obrigação de estudar a organização do sugestões constitucionais, que surgirão na
Estado. Até pelas atribuições da União, dos Mesa, até a saída delas, depois de
Estados e dos Municípios, no conjunto da debatido o assunto. Seria possível, através
Comissão temática, poderemos avançar na de um fluxograma, essa demonstração
competência dos Estados, dos Municípios e gráfica, desde a entrada ate a saída, até
da União. Não vejo impossibilidade de ser apresentada à Comissão de
discutirmos, em termos de organização do Sistematização? Acho que isso facilitaria
Estado, regras até para as demais em muito o nosso trabalho, determinando
Comissões, no final da discussão, na as datas de tudo isso em cada Comissão,
Sistematização, por sua própria natureza, é a em cada Subcomissão. Sabemos das
base angular da Constituição, nossa datas, pois estão no Regimento Interno.
Comissão e a nossa Subcomissão passarão a Mas o fluxograma nos facilitaria, no nosso
ter uma importância fundamental. É claro que entender, os nossos trabalhos.
temos aqui companheiros absolutamente O SR. PRESIDENTE (Jofran
competentes, assim como a direção. Mas uma Frejat): – V. Ex.ª deve ter recebido uma
exposição jurídica sobre a competência da pasta onde consta esse fluxograma
Comissão da Organização do Estado e suas mostrando não só os prazos, mas o fluxo
Subcomissões, nos levará, inexoravelmente, a de encaminhamento das propostas
esta minha posição, que creio ser constitucionais, desde a Mesa até as
absolutamente correta, do ponto de vista Subcomissões e a sua volta...
técnico, da elaboração de uma constituição, O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
porque a organização do Estado tem que DUARTE: – Está demonstrado isso
estabelecer normas definitivas para toda a graficamente?
Constituição. Seria bom se ouvíssemos, a O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
critério da Presidência e dos companheiros – – Não graficamente. Vamos atender a
aqui, naturalmente, existem vários bacharéis, solicitação de V. Ex.ª e pedir ao Secretário
porque neste Brasil os bacharéis proliferam, e que peça à assessoria para elaborar um
sou um deles também –, rapidamente, um fluxograma, além do que está incluído na
jurista a ser escolhido por V. Ex.ª, Sr. pasta, para facilitar o trabalho dos nossos
Presidente, para que desse esse enfoque do Constituintes.
que a Comissão da Organização do Estado Agradeço a V. Ex.ª.
pode determinar na formação da Constituição. Continua franqueada a palavra.
Estabelecidos esses parâmetros, acredito que O SR. CONSTITUINTE MOZARILDO
nossa Comissão terá, e tem, uma função CAVALCANTI: – Sr. Presidente, só
fundamental nessa Constituinte, e que queria indagar, para objetivar, se
deveremos fazer questão de exercê-la. o oferecimento feito pela Constituinte Mar-
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luce já foi acatado pelo Plenário, já que,
parece-me, no dia 22 nada
temos especificamente estabelecido para
abordar ou debater. Parece-me que a
presença, por exemplo, do ex-Governador
para abordar o tema Territórios, pelo
menos, já seria um bom começo. Agora,
acolhendo também a idéia do Constituinte
Rollemberg, teríamos um ponto de partida,
pelo menos.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Acabamos de mandar verificar, na
Comissão, o dia da próxima reunião, para que
não haja superposição. Apriori, tínhamos
escolhido o dia 22 para a nossa próxima
sessão, e pretendíamos que fosse às 10
horas. Mas nesse horário temos a reunião da
Comissão, já anunciada pelo seu Presidente.
Temos uma opção para o dia 22, que seria
convocar uma sessão extraordinária para a
noite, porque, naturalmente, isso demanda
tempo. Evidentemente, se convocássemos o
ex-Governador para as nove horas,
ouviríamos muito pouco dele, para debates e
para conversações. E às dez horas teríamos
que estar em uma próxima sessão. De forma
que sugiro que tenhamos uma sessão
extraordinária noturna, no dia 22 para ouvir o
ex-Governador Otomar. Se estiver o Plenário
de acordo, vamos formular o convite. Ao
término da sessão da Assembléia Nacional
Constituinte, que deve ser às dezoito horas.
Podemos marcar isso para às 7 ou para 8
horas, de acordo com a conveniência dos
nossos companheiros. Tenho a impressão de
que pode ser imediatamente depois. Poder-se-
ia marcar para as 18 horas e 30 minutos ou 19
horas. (Pausa.) Então, fica para as 19 horas.
Peço ao nosso Secretário que formule
o convite oficial ao ex-Governador.
Pediria a nossa Constituinte Marluce
Pinto que desse os dados, o endereço, para
que possamos nos comunicar com o ex-
Governador Otomar.
Com a palavra o Vice-Presidente
Meira Filho, que gostaríamos de parabenizar
pela sua eleição como Presidente da
Comissão do Distrito Federal no Senado.
O SR. CONSTITUINTE MEIRA FILHO:
– Muito obrigado. Queria parabenizá-lo pela
indicação do Governador que virá nos dar uma
aula, acredito eu, porque acho que ninguém
mais que um Governador atual sabe das
necessidades de modificar as nossas leis, de
adequá-las mais ao nosso tempo. Acho que o
Governador será para nós, sem dúvida, um
mestre, um professor a nos orientar, porque,
mais do que ninguém, sabe da necessidade
das modificações que estamos precisando, não
apenas no seu Estado como em todo o País.
Feliz idéia e parabenizo o Governador.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra a Sra. Constituinte Marluce
Pinto.
A SRA. CONSTITUINTE MARLUCE
PINTO: – Quero apenas esclarecer ao nobre
Vice-Presidente, que não estava presente na
hora da minha proposta. Não é o Governador
atual; é o ex-Governador. Mas ficou quatro
anos no Território e, além de ter participado
em linha de frente, como meus colegas
poderão comprovar, esteve 18 anos na
Amazônia. Foi comandante da Comar e
construiu 32 pistas de aeroportos. Então, não
só sabe das necessidades do nosso povo
roraimense, como do nosso povo da
Amazônia. Faço este esclarecimento somente
pelo equívoco. Não é o Governador atual.
5 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE – (Suplemento)
O SR. CONSTITUINTE MEIRA
FILHO: – Não tem problema. Quero aduzir ao
que V. Ex.ª está dizendo um ditado bem
nosso, que diz: "Quem foi rei sempre será
majestade".
A SRA. CONSTITUINTE MARLUCE
PINTO: – Agradeço, como representante
roraimense, que já me considero, apesar de
não ter nascido lá. Fui, durante quatro anos, a
Primeira Dama daquele Território. Sou esposa
de Governador de Território de povo pobre – o
Território não a pobre, mas o nosso povo, sim.
Sou quase mulher de peão, e me honro muito
por ter feito aquela conquista, naquele
Território, por ter sido, sendo de fora,
abraçada por aquele povo e ter conseguido
fazer um trabalho que me levou, após ter
saído de lá por quatro anos, a voltar e a me
candidatar para que, junto com os nossos
colegas, possamos transformar aquele
Território, como realmente o povo almeja. E
sei que, modéstia à parte, porque é meu
marido, Otomar terá condições de resolver,
pelo menos em parte, algumas dúvidas que
nós porventura tenhamos. Não quero dizer
que vá ser a solução. Por isso, solicitei que a
convocação fosse feita, inicialmente para que,
principalmente nos, dos Territórios, quando
partíssemos para um trabalho oficial das
nossas propostas, já o fizéssemos baseados
naquilo que realmente vamos achar que é útil
para a transformação do Território em Estado.
Muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Eu que agradeço a V. Ex.ª.
Com a palavra o Constituinte Geovani
Borges.
O SR. CONSTITUINTE GEOVANI
BORGES: – Sr. Pr esidente, meus caros
colegas, antes de mais nada, desculpem-me
porque cheguei um pouco atrasado, razão
porque talvez possa até me perder na
colocação que vou fazer aqui. Ouvi
atentamente a explanação e a sugestão da
Constituinte Marluce, de Roraima, e viria,
acredito, para trazer maiores subsídios ao
plenário desta Subcomissão: que não fossem
ouvidos somente ex-Governadores, mas
também os atuais Governadores dos
Territórios, porque acredito que com isso
poderemos ficar mais a cavaleiro para ouvir
posições de pontos de vista anteriores e
atuais. Então, sugeriria, inclusive, se a
Presidência permitisse, que mantivéssemos
contato com nossos Governadores,
convidando-os, em data pré-fixada, para virem
a esta Subcomissão, para podermos ter um
debate e uma visão mais ampla, mais
profunda dos Territórios.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Pediria aos Constituintes que
apresentassem suas propostas de solicitação
de presença de governadores, ex-
governadores e entidades à Mesa, para que
possamos compatibilizar, em virtude de
termos de cinco a oito reuniões.
Será com muito prazer que
acolheremos, dentro da compatibilização, a
solicitação de V. Ex.ª.
O SR. CONSTITUINTE GEOVANI
BORGES: – Então a Mesa se encarregaria
do contato, do convite, data e tudo
o mais?
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– V. Ex.ª se encarregará de fazer a solicitação
oficial à Mesa, para que possamos
compatibilizar sua solicitação.
O SR. CONSTITUINTE GEOVANI
BORGES: – Agradeço a V. Ex.ª.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o Sr. Constituinte Vilson
Souza.
O SR. CONSTITUINTE VILSON
SOUZA: – Associo-me ao que já foi dito aqui,
em varias ocasiões, pelos companheiros, mas
principalmente pelo companheiro Roberto
Rollemberg, de São Paulo. Isso, de certa
maneira, tem um desdobramento da
colocação que fiz ontem, na nossa Comissão.
Vamos trabalhar sobre uma realidade, que é a
realidade brasileira. E mais essa Constituição
que vamos fazer, embora não seja uma
Constituição no sentido de que pudéssemos
chamar de "politicamente pura", em que a
sociedade outorga, da forma mais aberta,
mais livre, mais democrática, o poder
originário para fundação de um Estado, mas
vamos fundar um Estado. E começarmos a
fundar um Estado exatamente por aqui,
porque o pacto inicial é o da formação da
União. Vamos fundar um Estado. Vamos ver
que tipo de Estado. Inclusive, aqui podemos
fazer, em vez de pacto de união, um pacto de
confederação ou, então, resolvermos por um
Estado unitário. E isso está na livre disposição
do que nós temos. E algumas preocupações
assumem as minhas angustias. Vejo, muitas
vezes, alguns juristas de nomeada, alguns
cientistas políticos brasileiros falarem que
seria um ato de extrema sabedoria se os
Constituintes brasileiros chegassem a
elaborar um texto que atingisse a perfeição da
Constituição dos Estados Unidos. Lembro,
aqui, um filósofo alemão, que disse que "uma
Constituição não passa de uma folha de
papel". A Constituição escrita nada mais é do
que uma folha de papel, porque, antes dessa
folha de papel existe uma Constituição real, a
Constituição material, concreta, a forma, a
cultura de um povo, que faz com que ele viva
em sociedade. A nossa preocupação, a nossa
função é captar, efetivamente, essa realidade
que existe e transformá-la numa folha de
papel. Se tivermos a competência de captar a
realidade brasileira e transformá-la em
instituições jurídicas, certamente vamos fazer
uma Constituição duradoura. A Constituição
dos Estados Unidos dura não porque a boa
ou má; ela dura porque a organização da
sociedade, a própria constituição real da
sociedade é consistente. Tem a sua tradição,
a sua própria história. E isso aí é o que coloca
o companheiro Roberto Rollemberg. Temos
uma realidade histórica, sociológica,
econômica, política. Temos que ter a
sabedoria de debater em cima dessa
realidade. Tivemos, na Republica, a
organização da Federação. Sabemos que a
Federação, diferentemente da Confederação,
outorga ou reconhece aos Estados-Membros
a autonomia e não a soberania. Em inúmeras
Constituições Estaduais, depois da
Constituição de 91, depois do Decreto nº 1,
reconheceram, em si mesmos, direitos
soberanos dos Estados-Membros, o que é
uma incongruência. Em muitos Estados
chegaram a criar até "Secretarias de
Relações Exteriores", o que é um absurdo
em termos de Federação. Isso para mostrar a
nossa própria realidade. Preocupo-me – e me
associo ao que Roberto Rollemberg colocou –
de previamente discutirmos a questão do
desenvolvimento regional. E até sugiro mais:
temos quatro ou cinco superintendências
de órgãos regionais. Ao invés de esgotarmos
as nossas cinco sessões ouvindo cada
uma das superintendências, façamos
uma mesa-redonda com o Ministro
do Interior, que tem uma visão do todo, com
os superintendentes de todos os órgãos de
desenvolvimento regional. Além do aspecto
jurídico, de níveis de competência, há uma
realidade econômica. Por exemplo, por que
não ouvir o Presidente do BNDES, que tem
uma visão do desenvolvimento econômico de
toda a Nação? Não adianta organizarmos
tudo do ponto de vista jurídico. Essa a minha
preocupação, que sou advogado, professor
universitário. Mas vejo isto da seguinte
maneira: muitas vezes, o jurista tem uma
limitação, porque ele se prende muito na
arquitetura da norma jurídica e não se
preocupa com o que está por detrás dela.
Para termos acesso à realidade que se
esconde por detrás da norma, nada melhor do
que o cientista político, nada melhor do que o
teólogo político, do que usar das categorias
de sociologia, enfim, para aprofundarmos os
debates. Vejo aqui a preocupação dos
companheiros de Roraima, dos do Piauí e dos
do Distrito Federal. Se fizermos, única e
exclusivamente, uma Constituição voltada
para a emancipação do Território, para a
emancipação política do Distrito Federal, ou
eventualmente voltada para o
desenvolvimento regional, teremos nada mais
do que uma folha de papel. Conforme disse o
próprio La Salle, quando essa folha de papel
não corresponder à realidade dinâmica da
organização social ela não deixara de ter essa
função. É uma folha de papel, que chama
permanentemente a sua alteração. Por isso,
Sr. Presidente, se pudéssemos, discutiríamos
de forma aberta e construtiva, essa grande
realidade que é o Brasil. Conforme disse o
Constituinte Roberto Rollemberg, vamos
estabelecer normas, condicionando as demais
Comissões, como a Comissão de Sistema
Tributário e as demais, que vão debater, por
exemplo, o direito ambiental. Nós é que
vamos estabelecer se os Estados-Membros
podem ou não legislar sobre questões
ambientais.
Enfim, sobre o problema econômico, a
respeito da questão do desenvolvimento
regional, debateremos de forma aberta,
profunda, para que, talvez, tenhamos a
sabedoria de construir um texto duradouro e
que, através da organização da Federação,
possamos contribuir para a emancipação
democrática do nosso povo.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a participação muito oportuna de
V. Ex.ª, mas gostaria de tentar compatibilizar,
da melhor maneira possível, de acordo com os
membros desta Subcomissão, o sentido de
buscar um entendimento para que possamos
ter maior proveito das contribuições que aqui
surgirem. Concordando com isso, a
Constituinte Marluce Pinto já se propôs a
apresentar a sua proposição, a vinda do nosso
ex-Governador e Constituinte Otomar Pinto,
em uma sessão ordinária, não queimando,
assim, uma das audiências públicas, o que já
nos facilitará. Sendo S. Ex.ª parlamentar,
poderá utilizar a nossa tribuna e fazer à sua
apresentação como Parlamentar, como
Constituinte. Teremos, assim, a oportunidade
de convidar mais pessoas dentro daquilo que
for possível compatibilizar. De qualquer
maneira, voltaremos a apresentar ao
plenário, já que ela abriu mão desse
espaço de audiência pública, da necessidade
de convocarmos sessão extraordinária
para o dia 22 à noite, ou aguardaríamos a
posição da Comissão do dia 22, às 10
horas, e marcamos a nossa sessão para o
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE – (Suplemento) 6

dia seguinte. Acredito que perde a versário de sua morte. d) Telex: 1) NR 253, 30-4 – 5ª Feira
importância de fazer uma sessão do Vereador João Bosco, Presidente da 9:30h – General Roberto Klein, Secretário
extraordinária. Alguém mais quer se CONAM (Confederação Nacional das Especial de Defesa Civil.
manifestar? Associações de Moradores) solicitando 17:00h – Dr. José Saulo Ramos, Consultor-
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS audiência. e) Sugestões encaminhadas Geral da República Dr. Osny
DUARTE: – Não seria melhor o dia 23? pela Mesa: 1) Através do Of. nº SGC-004/87, Duarte Pereira.
Porque, no dia 22, estaremos... de 8-4-87, do Presidente da Assembléia 04-5 – 2ª Feira
O SR. PRESIDENTE (Jofran Nacional Constituinte, encaminhamento 9:30h – Dr. Getúlio Alberto de Souza Cruz
Frejat): – No dia 22 teremos a questão das Sugestões n os 01; 24; 30; 174; 189; (Gov. Roraima), Dr. Jorge Nova da
do Estado, e no dia 23... Fica modificada 230; 247; 248; 252; 259; 264; 149 e Costa (Gov. Amapá), Cap.-Mar-e-
a proposição inicial, já que houve 224. (Recebidas na Subcomissão em Guerra Gerson da Silva Monteiro
a concordância da nossa Constituinte 9-4-87). 2) Através do Of. nº SGC/ 054/87, (Gov. de Fernando de Noronha).
em vir numa sessão ordinária, para de 10-4-87, do Presidente da Assembléia 17:00h – Dr. Raimundo Azevedo Costa –
que não se perca o espaço da Nacional Constituinte, encaminhamento Prefeito de Macapá, Dr. Ruedner
audiência publica, para o dia 23, às das Sugestões n os 227; 329; 361; 381; Moreira Cavalcante (Pres. da
10 horas. 383 e 588. (Recebidas na Subcomissão OAB/RR).
Nada mais havendo a discutir, em 14-4-87). 3) Através do Of. SGC/028/87,
gostaria de fazer uma comunicação. Acabam de 9-4-87, do Presidente da Assembléia
de chegar à Mesa as primeiras propostas Nacional Constituinte, encaminhamento ATA RESUMIDA DA
encaminhadas pelo nosso Presidente das Sugestões n os 160; 170; 172; 278; 4ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA
Ulysses Guimarães, Propostas 279; 284; 425; 497 e 500. (Recebidas
Constitucionais de n os 1, 24, 30, 174, na Subcomissão em 13-4-87). f) Sugestões Aos vinte e três dias do mês de abril do
189, 230, 247, 248, 252, 259, 264, 149, encaminhadas por Entidades: 1) Ofício ano de um mil novecentos e oitenta e sete, às
224. Pediremos à nossa Assessoria Circular nº 4/PRAC/87, da Professora dezessete horas e vinte e cinco minutos, na sala B1
que tire fotocópias dessa documentação Sidneya Gaspar de Oliveira, da Universidade da Câmara dos Deputados, reuniu-se a
e as encaminhe a cada um dos Srs. Federal de Santa Catarina, encaminhando Subcomissão da Uniao, Distrito Federal e
Constituintes e, naturalmente, ao Relator, Sugestões. Correspondência Expedida Territórios, sob a presidência do Senhor Constituinte
que iniciará a Semana Santa com um pela Presidência da Subcomissão: 1) 90 Jofran Frejat (PFL – DF), e do Senhor Constituinte
trabalho as mãos. Ofícios, de nos 048 a 136/87-PRES., dirigidos Meira Filho (PMDB – DF) com a presença dos
Está encerrada a sessão. a entidades Sindicais e Associações seguintes Constituintes: Meira Filho (PMDB – DF),
do Distrito Federal, comunicando a instalação Ruben Figueiró (PMDB – MS), Sigmaringa Seixas
ATA RESUMIDA DA 3ª REUNIÃO da Subcomissão, eleição da Mesa (PMDB – DF), Chagas Duarte (PFL – RR), Felipe
ORDINÁRIA e solicitando subsídios. Findo o expediente, Mendes (PDS – PI), Francisco Carneiro (PMDB –
o Sr. Presidente enunciou que a finalidade DF), Marluce Pinto (PTB – RR), Messias Soares
Aos vinte e três dias do mês da presente reunião seria para apresentação (PMDB – RJ), Roberto Rollemberg (PMDB – SP),
de abril do ano de mil novecentos e oitenta e discussão do roteiro; e sugestões e Wilson Souza (PMDB – SC), Ottomar Pinto (PTB –
e seta, às dez horas e vinte e cinco convites à entidades de classe. Discutiram RR). Havendo o numero regimental, o Senhor
minutos, na Sala B1 da Câmara dos a matéria os Senhores Constituintes: Presidente declarou iniciados os trabalhos e passou
Deputados, reuniu-se a Subcomissão Sigmaringa Seixas, Vilson Souza, a leitura da Ata da reunião anterior, que foi aprovada
da União, Distrito Federal e Territórios, Roberto Rollemberg, Felipe Mendes, Chagas por unanimidade. A seguir, deu-se início ao
sob a presidência do Senhor Constituinte Duarte, Ruben Figueiró, Marluce Pinto, Expediente que constou da seguinte leitura:
Jofran Frejat (PFL – DF), com a presença Meira Filho, Mozarildo Cavalcanti, Messias correspondência recebida: a) Publicação –
dos seguintes Constituintes: Meira Soares e Francisco Carneiro. O inteiro "Organização do poder e institucionalização do
Filho (PMDB – DF), Ruben Figueró (PMDB – teor dos debates será publicado, após a Estado" – de José Alfredo de Oliveira Baracho –
MS), Sigmaringa Seixas (PMDB – tradução das notas taquigráficas e o Subsecretaria de Edições Técnicas do Senado
DF), Chagas Duarte (PFL – RR), Felipe competente registro datilográfico, no Diário Federal. Correspondência expedida: 1) Convites
Mendes (PDS – PI), Francisco Carneiro da Assembléia Nacional Constituinte. pare audiência: a) Ofício nº 137/87/Pres. – ao Dr.
(PMDB – DF), Marluce Pinto (PTB – RR), Nada mais havendo a tratar, o Senhor José Ribeiro Leitão, Presidente da Associação dos
Messias Soares (PMDB – RJ), Mozarildo Presidente deu por encerrado os trabalhos, Magistrados do DF; b) Ofício nº 138/87/Pres. – ao
Cavalcanti (PFL – RR), Roberto Rollemberg às onze horas e cinqüenta minutos, Dr. José Carlos Mello, Secretário do Governo do
(PMDB – SP), Vilson Souza (PMDB – SC). convocando os Senhores Constituintes Distrito Federal; c) Ofício nº 139/87/Pres. – ao Dr.
Havendo o número regimental, o Senhor para a próxima reunião a ser realizada Raimundo Azevedo Costa. Prefeito de Macapá; d)
Presidente declarou iniciados os trabalhos dia vinte e três de abril, às dezessete Ofício nº 140/87/Pres. – ao Dr. Ruedner Moreira
e passou à leitura da Ata da reunião horas, para continuação do debate de Cavalcante, Presidente da Ordem dos Advogados
anterior, que foi aprovada por unanimidade. Matéria Constitucional. E, para constar, de Roraima; e) Ofício nº 141/87/Pres. – ao Capitão-
EXPEDIENTE: Correspondência Recebida: eu, Antonio Fernando Borg es Manzan, de-Mar-e-Guerra Gerson da Silva Monteiro,
a)Ofícios: 1)Of. nº GP-O-84/87-ANC – Do Secretário, lavrei a presente Ata que, Governador do Território de Fernando de Noronha.
Sr. Presidente Ulysses Guimarães, depois de lida e aprovada, será assinada – ao Dr. Jorge Nova da Costa, Governador do
convidando o Constituinte Jofran Frejat pelo Senhor Presidente. Território do Amapá. g) Ofício nº 143/87/Pres. – ao
para uma reunião. 2) Of. nº 09/87-GAB, Dr. Getúlio Alberto de Souza Cruz, Governador do
de 21-4-87 – Do Constituinte Luiz Alberto Território de Roraima e h) Telex nº 1/87/Pres. – ao
Rodrigues, Presidente da Subcomissão CALENDÁRIO DE AUDIÊNCIAS PÚBLICAS Dr. José Sérgio Marinho Nunes, Presidente do
dos Municípios e Regiões, encaminhando Ibran. Findo o expediente, o Senhor Presidente
programação e convidando para participação apresentou esboço do calendário para audiência
nos painéis que realizar-se-ão dias 22 e 27-4 – 2ª Feira pública e concedeu a palavra ao Constituinte
23 do corrente mês. 3) Of. nº 112/87 e 22-4- 9:30h – Dr. José Carlos Mello, Secretário Ottomar Pinto, que discursou sobre os diversos
87, do constituinte Annibal Barcellos, de Estado do DF Dr. Fernando aspectos do Território de Roraima, tendo sido
encaminhando subsídios. b) Solicitações Tupinambá Valente, Conselheiro aparteado pelos Srs. Constituintes Wilson Souza,
para audiência na Subcomissão: 1) Do do Tribunal de Contas do DF. Roberto Rollemberg, Chagas Duarte e Marluce
Constituinte Felipe Mendes – para que o 17:00h – Dr. José Ribeiro Leitão, Pinto. O inteiro teor dos trabalhos será publicado,
Dr. Dorany Sampaio, Superintendente Presidente da Associação após a tradução das notas taquigráficas e o
da SUDENE compareça a esta Subcomissão. dos Magistrados do DF competente registro datilográfico, no Diário da
2) Of. IBRAM-BSB/SE/904/87, de 13-4-87, Representante do Comitê Pró - Assembléia Nacional Constituinte. Nada mais
assinado pelo Sr. Jose Mendo Mizael Diretas havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por
de Souza, Secretário Executivo do IBRAM 28-4 – 3ª Feira encerrados os trabalhos, às dezoito horas e
(Instituto Brasileiro de Mineração) 9:30h – quarenta e cinco minutos, convocando os Senhores
solicitando oportunidade de ser ouvido 17:00h – Reunião na Comissão de Constituintes para a próxima reunião a ser realizada
perante esta Subcomissão. (Ratificação ao Organização do Estado. dia vinte e sete de abril, às nove horas e trinta
Telex nº NR 0585/IBRAM-BSB/87). c) 29-4 – 4ª Feira minutos, para continuação do debate de Matéria
Telegramas: 1) Telegrama do Presidente 9:30h – Dr. José Sérgio Marinho Neves, Constitucional. E, para constar, eu.
Ulysses Guimarães convidando o Presidente do Ibram, Antônio Fernando Borges Manzan,
Sr. Constituinte Jofran Frejat para a Sessão Representante do Ministério das Secretario, Iavrei a presente Ata que, depois de lida
Solene de Homenagem ao Estadista Minas e Energia. e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente.
Tancredo Neves, por ocasião do ani- 17:00h – Professor Josaphat Marinho – Constituinte Jofran Frejat (PFL – DF), Presidente.
7 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
SUBCOMISSÃO DA UNIÃO, seu representante, a fim de argumentar
DISTRITO FEDERAL E com relação ao problema de mineração
TERRITÓRIOS no Brasil. As 17:00 hs, esta em aberto a
4ª Reunião, realizada em 23-4-87 reunião do dia 29-4. Temos proposta do
Constituinte Messias Soares, do Rio de
Notas Taquigráficas Janeiro, para convocação do
Presidente Jose Sarney; e da
O SR. PRESIDENTE (Jofran Constituinte Marluce Pinto, para
Frejat): – Havendo número regimental, convocação do ex-Presidente Ernesto
declaro abertos os trabalhos da Geisel. Naturalmente, faremos antes
reunião da SubComissão da União, contato para saber da possibilidade do
Distrito Federal e Territórios. O comparecimento das duas autoridades.
Secretário procederá à leitura da Ata As 9:30 hs, do dia 30-4, dois assuntos
da reunião anterior. que nos pareceram importantes, com
(É lida e aprovada a Ata da relação aos aspectos da União, ou seja,
reunião anterior.) o representante da defesa civil, esta
O SR. PRESIDENTE (Jofran incluída na competência da União, e o
Frejat): – Em discussão. (Pausa.) Em responsável pela segurança nacional.
votação. (Pausa.) Aprovada. O representante da defesa civil e o
Passamos à leitura do Expediente. General Roberto Klain, e o da
(Leitura do Expediente.) Segurança Nacional, o General de
O SR. PRESIDENTE (Jofran Divisão Rubens Bayma Denys. As
Frejat): – Consta da pauta da reunião 17:00 hs, se for preenchida a reunião
de hoje, como primeiro item, aquilo do dia 29-4, não precisaremos ocupar o
que se estabeleceu na reunião mesmo horário no dia 30-4, porque já
dessa manhã, quando ficamos se completariam quatro reuniões para a
encarregados de fixar a programação União e duas para o Distrito Federal.
das audiências publicas que seriam Com relações aos Territórios, no dia 4
realizadas por esta Subcomissão. encerraríamos as audiências extemas,
Fizemos um cronograma que com a seguinte programação: as 9:30
gostaríamos de submeter a analise e hs, o Governador de Roraima, Getulio
definição deste plenário: o dia 27-4, Alberto de Souza Cruz; o Governador
segunda-feira – em virtude de do Amapá, Jorge Nova da Costa; o
premência de tempo, pois hoje a Governador de Fernando de Noronha,
quinta-feira, e temos pouco mais Capitão-de-Mar-e-Guerra Gerson da
de três dias – reservamos para Silva Monteiro; e, as 17:00 hs, o
o Distrito Federal, pela facilidade Prefeito de Macapá, Raimundo
com que se podem contactar as Azevedo Costa e o Presidente da OAB
autoridades dessa área. Ás 9:30 de Roraima, Wedner Moreira
hs, ouviremos o Dr. José Carlos Cavalcante. Pareceu-nos ser esta uma
Melo, atual Secretário de Governo proposta conciliatória ao que foi
do Distrito Federal e responsável apresentado, para que possamos,
pelo orçamento da Capital da então, absorver os conhecimentos
Republica e estamos em contato dessas autoridades.
com o Dr. Fernando Tupinambá O segundo item da nossa
Valente, ex-Secretário de Finanças e programação a deferência especial do
atual Conselheiro do Tribunal de Constituinte Ottomar Pinto, que nos
Contas. Possivelmente, trará falara sobre a sua experiência como
contribuição importante com relação Governador de um Território brasileiro.
ao Distrito Federal. Para a reunião Naturalmente, houve concessão
das 17:00 hs, o Presidente do especial, e queremos agradecer de
Conselho da Magistratura, Dr. José antemão a S. Ex.ª por vir a esta sessão,
Ribeiro Leitão, e ainda o como Constituinte, exatamente para
representante do Comitê Pró-Diretas que não impedíssemos outras
do Distrito Federal. No dia 28-4, autoridades de preencherem as
estariam convidados para a nossa audiências públicas que daqui para a
reunião das 9:30 hs, os seguintes frente serão estabelecidas.
constitucionalistas ou juristas: Osny Neste sentido, gostaria, em
Duarte Pereira, José Saulo Ramos e primeiro lugar, de saber se o plenário
Josaphat Marinho. As 17:00 hs, aprova este roteiro de programação
haverá reunião da Comissão. No dia para as audiências extemas.
29-4, as 9:30 hs, teremos o Os Srs. Constituintes que
representante do Ibram e convidamos estiverem de acordo permaneçam
o Sr. Ministro das Minas e Energia como se encontram. (Pausa.)
para aqui comparecer ou mandar um Aprovado.
Em segundo lugar, convidamos
o Constituinte Ottomar Pinto para, por
gentileza, nos passar sua experiência
como Governador de um Território
brasileiro.
O SR. CONSTITUINTE
OTTOMAR PINTO: – Sr. Presidente,
Constituinte Jofran Frejat; Sr. Vice-
Presidente desta SubComissão,
Constituinte Meira Filho; nobre Relator,
Constituinte Sigmaringa Seixas; Sras e
Srs. Constituintes, em primeiro lugar,
queria apresentar o personagem da
minha fala: Roraima.
Roraima tem duzentos e trinta mil
quilômetros quadrados, conta com uma
população de pouco mais de duzentos
mil habitantes, sendo um dos vazios
demográficos do País. Limitando-se com
a Venezuela e a Guiana, a rico em
madeira, em recursos florestais, sorva,
castanhas e várias essências
madeireiras, uma pujante província
mineral. Acredita-se, por investigações
ou por levantamentos feitos através de
satélites, sobretudo cobrindo a área
ocidental do Território, que ali existem
jazimentos mais ricos até do que os de
Carajás, sobretudo pelo preciosismo das
espécies minerais: urânio, nióbio, tório,
zinco e chumbo, alem de diamante, ouro
e cassiterita, que superabundam em
todo o Território.
Tem uma grande vocação
pecuária: o nordeste de Roraima
talvez seja a maior clareira do mundo
embutida na densa floresta
Amazônica. São cerca de quarenta mil
quilômetros quadrados de savanas,
uma região extremamente propicia a
pecuária, haja vista que no século
passado ali chegou Lobo Dalmada,
despretensiosamente, com algumas
cabeças de bovinos, soltou-as ali e se
desenvolveram e cresceram a tal
ponto, que dizem os mais velhos – e o
Chagas pode dar o seu testemunho –
que os antigos habitantes do Território,
os pecuaristas, chegavam ate a dar
espingarda e munição aos vaqueiros
para abater o gado, a fim de
descansar o pasto, porque havia gado
demais em cima de uma área limitada
de pastagem nativa que, por sinal, não
a muito substanciosa.
A agricultura desenvolveu-se
sobretudo a partir de 1979, quando
o fluxo migratório se acentuou para
o Território. As levas de brasileiros
que iam para Rondônia, localizando-se
a dezenas de quilômetros das
pontas das vicinais existentes
em Rondônia, pela saturação da
migração naquele antigo Território,
hoje Estado, vinham para Roraima, on-
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 8

de havia possibilidade de fixação, de
assentamento dessas famílias, em vicinais
menos extensas que cortam as rodovias
Perimetral Norte e BR-164, a qual, saindo de
Manaus, alcança Boa Vista, a Capital do
Território, e se alonga até a fronteira com a
Venezuela, com ramificações para leste,
alcançando Bonfim, na fronteira com a
República Cooperativista da Guiana. Vis-à-vis
a Bonfim fica a cidade de Lethem, e
alcançando Normandia. A tradição diz que o
nome de Normandia foi dado porque ali
chegaram antigos detentos, egressos da Ilha
do Diabo.
Então, há uma agricultura de
subsistência, com significativa produção de
arroz de sequeiro e arroz de várzea, arroz
irrigado. Esse arroz irrigado e sobretudo
desenvolvido pelo contingente de gaúchos
que priorizou Roraima como o local para a
sua fixação, em determinada época.
Há também uma incipiente agricultura
de culturas permanentes: café, cacau,
seringueira, guaraná. E a região,
principalmente o sul, oferece amplas
perspectivas para o cultivo do dendê, que se
está alastrando na Região Amazônica,
principalmente na faixa próxima ao Equador,
onde a pluviosidade e o calor são mais
intensos.
Vislumbra-se – e é um dos projetos
nossos – não deixar que a vocação
agropecuária dessa clareira monopolize a
atividade econômica do Território, porque esta
área, com a calagem do solo, oferece amplas e
lisonjeiras perspectivas para a cultura da soja,
do amendoim, e para a fruticultura. E bom que
se diga: existe uma complementaridade entre
as economias de Roraima e da Venezuela, por
exemplo. O modelo econômico da Venezuela a
mais para o industrial, enquanto o de Roraima
a agrícola. E nos lembramos bem de que,
quando um dos Presidentes da Venezuela aqui
esteve, Herrera Campins, ele foi repetitivo nas
suas palestras, em Brasília, a respeito da
necessidade muito grande que a Venezuela
tinha de óleos comestíveis: Então, a soja ali
plantada poderá realmente servir de fonte
significativa de exportação de óleo para a
Venezuela e os passes do Caricom, uma
comunidade econômica demandante de
produtos primários, de produtos agrícolas para
a sua alimentação. Um levantamento feito pelo
Itamarati em 1980 indicava um potencial de
importação dos países do Caribe, cuja
economia estaria dentro da área de influencia
do Brasil, da ordem de quatro a cinco bilhões
de dólares. E é conveniente citar, por exemplo,
que a Venezuela compra galeto de Santa
Catarina e do Rio Grande do Sul, compra carne
suína também de 16, quando poderia adquirir
galetos produzidos em Roraima, desde que ali
se desenvolvesse essa atividade, que, aliás, se
esta implementando e se expandindo no distrito
hortigranjeiro que implantamos nas
proximidades de Boa Vista, onde já existe uma
produção de frangos e de ovos bastante
significativa, além de produtos hortigranjeiros e
outros.
Este é um breve retrato três por
quatro de Roraima. Possui oito municípios
bastante extensos e uma população mestiça
de branco com índio. Predomina no Território
contingente forte de indígenas aculturados ou
semi-aculturados na Região Setentrional, e de
indígenas primitivos a oeste, nominalmente os
Yanomanis, cuja população – segundo
números que tenho da Funai – e da ordem de
seis a seta mil indígena em Roraima. É claro
que a nação Yanomani se estende para
a Venezuela, mas o contingente indígenas do
Território a este. E na região de Surucucus,
Auaris, Mayongongs etc., chegam a 3.500 os
silvícolas, numero da Funai, repito. Muitos
nordestinos estão implantados na região das
vicinais, que se estende ao longo Perimetral
Norte e da BR-164. Esta estrada, diga-se de
passagem, é o cordão umbilical do Território,
futuro Estado. É imperativo que se faça a sua
pavimentação. Um dos pontos altos do projeto
Calha Norte, a nosso ver, é justamente o
comprometimento, em três aspectos
fundamentais, de Roraima: um a pavimentação
dessa rodovia, que não serve somente a
economia do Território, porque o Território a
periférico, a excêntrico em relação ao coração
industrial do Brasil. As distancias de transportes
são grandes. E o que mais onera o custo dos
produtos, hoje, no País, e o transporte ou frete.
Servira também a economia do Amazonas, da
Suframa. Hoje, em Manaus, existe um pólo
industrial importante, que precisa se abrir a
exportação e tem realmente um mercado
significativo no Caribe. Consideramos
significativa a viabilidade de Roraima como
Território, porque, além dos aspectos físicos e
econômicos que citamos, ele tem grandes
potencialidades, sobretudo pela posição
geoestratégica e geoeconômica.
Comparativamente com o Acre, este fica quase
no fundo do saco no Brasil. O Acre tem as suas
consolidações com o Peru e com a Bolívia,
com as regiões mais atrasadas dos dois
países, que tampouco são economicamente
saudáveis. Então, em termos de mercado
externo, o Acre não conta com coisa alguma. E
tudo o que o Acre produz Rondônia também
produz, em major escala, com major
economicidade, e com distancia de transporte
menor. Então já a outro handicap para o
Estado do Acre. Roraima, alem de ter 23
milhões de hectares de terras férteis, tem um
grande mercado potencial circundante: Guiana,
Venezuela, Manaus etc. Convém salientar
outro aspecto também significativo: a Republica
Cooperativista da Guiana pretende construir
uma rodovia ligando a cidade de Lethem, vis-à-
vis a Bonfim, com Mabura Hills.
Daí até Georgetown já existe uma
estrada. O porto de Georgetown seria livre para
os produtos da economia brasileira,
notadamente da economia de Roraima e do
pólo industrial de Manaus. Esta rodovia seria
um corredor de exportação, com um porto livre
e de amplo significado. A Guiana é um
importante membro do Caricom – Comunidade
do Mercado Comum do Caribe. Alem do mais,
existem outros aspectos importantes de
integração econômica entre Roraima e a
Venezuela. Muitos produtos na Venezuela são
baratos. A gasolina, na Venezuela, custa 10%
da nossa, ou seja Cz$ 1,40. Aqui no Brasil, do
outro lado da fronteira, e Cz$ 14,00. o Cimento,
o ferro, esquadrias de alumínio, uma serve de
produtos que a Venezuela tem, através de um
comercio formiga, desprovido da burocracia
que emperra e asfixia essa atividade, poderá
beneficiar significativamente os brasileiros que
vivem nas proximidades da Venezuela e ate
em Boa Vista. Por outro lado, Roraima tem
frango, ovos e madeira, que comercializava
muito com a Venezuela; produtos agrícolas,
dos quais a Venezuela tanto carece.
Com a Guiana, naturalmente já se
desenvolveu um comércio de regular com Boa
Vista.
Os grandes incentivadores do
comercio de Boa Vista, Capital do
Território, são justamente os guianenses,
que compram de papel higiênico a
televisores, rádios, vassouras, facas, pratos,
talheres. Por aí se vê como há convergência
de interesses complementares a nações
distintas, e que levam a uma
confraternização, a um entendimento mais
amplo entre os indivíduos que habitam países
diferentes, dentro de uma mesma área de
interesse regional.
Acho que, em rápidas pinceladas,
pude mostrar Roraima.
Vejamos agora o aspecto político.
Foram criados os Territórios Federais em
1943, no auge da ditadura. Por conseguinte, o
instituto do Território Federal a ditatorial,
centralizador. Os Territórios durante os
períodos autoritários, tiveram condições de
expandir-se, como no regime Vargas, por
exemplo, ate 1945. Durante o governo
autoritário, eles se expandiram mais,
cresceram e se desenvolveram bastante,
porque sob esse regime a representação
política estadual não a expressiva. Mas, no
regime democrático, em que a representação
política prepondera na defesa e na conquista
de interesses para a sua área, não.
Um Território com quarto Deputados,
no regime democrático, onde os pleitos são
encaminhados através das suas lideranças
políticas, não tem voz, não tem vez. E difícil, no
atual regime, Roraima e Amapá competirem
com São Paulo, Minas, Paraná, Rio Grande do
Sul, na afirmação do seu interesse, na
postulação e na obtenção daquilo de que
precisa para desenvolver-se e crescer, porque
são muito mais carentes de apoio federal do
que esses Estados. E não adianta dizer-se que
"quem não tem competência não se
estabeleça", porque sabemos que na maior
parte, os Estados da Federação, são falidos,
vivem de pires na mão, vivem da dependência
das benesses do Poder Central. E claro que a
Constituinte esta motivada não somente para a
descentralização da autoridade, como também
para uma justiça tributária, para o
distributivismo dos frutos do Fisco, dos tributos,
favorecendo, evidentemente, os Estados e os
Municípios. Volto a repetir: a figura do Território
a incompatível com o sistema democrático
representativo, para crescer e desenvolver-se.
Entramos, então, no seguinte dilema: Roraima
e Amapá não vão crescer porque não são
Estados, e não serão Estados porque não
crescem. É um círculo vicioso do qual não
sairemos, a menos que a Constituinte escreva,
nas suas disposições transitórias, a
emancipação dessas duas Unidades da
Federação, que já estão calvas, envelhecidas,
já são cidades de meia-idade, já estão com 47
anos de servidão. Hoje, os Territórios são uma
serventia do Ministério do Interior. E coma
aquele quarto que se tem em casa para
guardar coisa velha e nunca se vai lá. Qualquer
funcionário do Minter – Ministério do Interior – e
um legislador no Território. Ele chega lá e é um
senhor de barato e cutelo: define, determina,
não ouve ninguém. São diretrizes emanadas
do que eles chamam a "estruturona do Minter".
Então, a "estrututona Minter" é avassaladora, é
esmagadora.
Muitas vezes, os Ministros do Interior
cerceiam as iniciativas do Governador. Eu me
lembro – apenas citando fatos – de que o
Ministro Mario Andreazza chegou a mandar
telex proibindo, vedando a minha
comunicação, como Governador, com os
outros Ministros e, imaginem, com o
Presidente da Republica.
É possível ao Governador de
uma Unidade da Federação obter
recursos para o bem-estar da
9 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
sociedade local sem levar aos diversos
Ministérios os pleitos mais urgentes do seu
Estado?
Este a um caso que convém citar.
Cerceiam-se as iniciativas, proíbem-se
contatos com outros Ministérios. O orçamento
depende da aprovação do Ministério do
Interior. Muitas vezes, o Território elabora o
seu orçamento, faz a sua alocação de
recursos levando em consideração as
prioridades locais. Quando chega ao Minter,
ele a modificado, as prioridades do Território
passam a ser condicionadas as prioridades e
as intenções do Ministério do Interior.
Outro aspecto a considerar também e
o da Justiça, que e o mais grave. Sabemos que
o Poder Judiciário e o poder disciplinador por
excelência. A Justiça a que faz a disciplina
social. Pois bem, o Território de Roraima, com
mais de 200 mil habitantes, dispõe de três
juízes. Desses três juízes, normalmente um
está licenciado, doente; está fora. Então, são
dois para atender a toda essa área, com oito
municípios e conflitos de interesses enormes,
porque a uma região pioneira, a uma nova
fronteira agrícola. Ainda mais: existe lá apenas
o juízo singular, o juízo monocrático. A
segunda instância, o juízo plural, a aqui em
Brasília. Se foram, hoje, a Boa Vista, na
penitenciaria ha mais de vinte cidadãos com
prisão preventiva decretada, muitos deles
pobres, e, para conseguirem habeas corpus,
tem de ter no mínimo 150 mil cruzados, ou 100
mil cruzados, para pagar a passagem de
advogado, estada em hotel, alem dos
honorários advocatícios. Como a que se pode
conviver com essa estrutura, que esmaga o
cidadão no que ele tem de mais caro, que e o
seu direito de ir e vir, cerceado por
contingências administrativas, topográficas,
políticas etc.? Este e outro aspecto que só
pode ser obviado com a transformação, com a
emancipação dos Territórios, com a sua Justiça
plural, seus desembargadores, seu tribunal.
Quer dizer, existe a instantaneidade da
providencia, se o juízo singular decretar a
prisão preventiva, muitas vezes – injusta.
Sabemos que ha juizes que não revogam as
suas prisões preventivas, fazem questão de
abominar a Lei Fleury. Sei de casos em que o
indivíduo se exila de lá, para escapar à
penitenciaria. Então, abandona a fazenda, as
suas propriedades, os seus negócios. Vai tudo
à matroca, porque sabe que, se voltar, vai ficar
chaveado, já que o habeas corpus demora,
aqui, em Brasília. E outro aspecto, uma das
mazelas do figurino do Território Federal.
Do ponto de vista psicossocial, o
Território é como se fosse uma autarquia, não
somente administrativa ou político-institucional,
mas ate mesmo sócio-econômica. Acostuma
mal a pessoa, pela servidão ao Poder Central,
a ser funcionário, a esperar tudo do Governo
Federal; desalenta a livre iniciativa, a um
desestimulo por causa dos percalços
existentes. De modo que, do ponto de vista
psicossocial, a transformação em Estado fará
com que a sociedade busque auto-
sustentação, auto-suficiência, se possível.
Além do mais, estimula o surgimento de
lideranças, porque os Governadores Territoriais
são nomeados, vão de qualquer lugar,
dependendo da conjuntura. Isso não contribui
para o surgimento e o desenvolvimento de
lideranças locais. E outro aspecto desfavorável
desse modelo ditatorial do Território Federal.
Ainda outro aspecto que
merece ser mencionado a que o
Governador do Território é nomea-
do; depois vem prefeitos e vereadores eleitos.
Temos os prefeitos autônomos, dependentes
de um Governador que não a autônomo,
nomeado em Português e demitido em Latim.
Esta também e outra aberração, mormente
quando as sociedades, como e o caso de
Roraima e Amapá, atingiram o estagio de
maturidade, de conscientização dos seus
valores mais caros, mais íntimos, do seu
patrimônio cultural. E outra aberração – repito
– é um capitis diminuto para o Governador
nomeado lidar com Prefeitos, Vereadores,
Deputados Federais todos eleitos. E ha outro
aspecto também a considerar: a que, por ser
nomeado, por não ter um mandato legítimo e
definido em lei, a sua cabeça está sempre a
prêmio. Todo dia o Governador de Território
cai. Então, existe aquele clima de suspense
permanente. O Governador mal é nomeado,
dali a dois meses, três meses – caiu na rotina
– "o Deputado Fulano vai derrubá-lo", "a
Associação Comercial mandou um telex", "ele
vai cair amanhã", "ele caiu no desagrado do
Ministro do Interior". Essa situação não
estimula o ímpeto administrativo, não estimula
a elaboração de um planejamento a médio e a
longo prazo. Tudo isso contribui para cortar as
pernas de sociedades como as do Amapá e
Roraima, que tem necessidade de andar a
passos largos, de recuperar o tempo perdido,
de diminuir aquele grande gapeconômico-
social que existe entre os Territórios e os
demais Estados-Membros.
Ainda em favor da emancipação dos
Territórios, hoje, por exemplo, o ICM de
Roraima a igual, ou talvez, um pouco maior do
que o do Acre. Perguntem as lideranças do
Acre se desejam que o Estado volte a ser
Território. Muita gente pensa,
desavisadamente, que o Território, ser
tutelado, por ter sua folha de pagamentos de
funcionários as expensas do Tesouro
Nacional goza de uma situação da qual
nunca se deve apartar. E o caso de se
perguntar.
Eu me lembro – porque vivi na Região
Amazônica – como era o Acre Território.
Assisti, inclusive, a emancipação do Acre, e
sua transformação em Estado, e o que se
observa, hoje, a que, com todos os seus
handicaps, com todas as suas desvantagens,
do ponto de vista econômico, não tem para
quem vender os seus produtos; é mais
comprido do que largo, todos os grandes
caudais amazônicos cortam o Acre na direção
da sua menor dimensão. Torna-se dificílimo
fazer uma estrada, uma rodovia ali, porque se
tem de construir grandes pontes,
atravessando o rio Madeira, o Juruá, enfim
vários rios que não vem ao caso citar. Apesar
de tudo isso, o Acre tem evoluído muito mais
que os Territórios, porque a sociedade esta
convencida de que tem de caminhar por seus
pés, tem de crescer com o esforço do seu
cérebro e dos seus braços, tem de buscar, ela
mesma, as suas próprias soluções e não ficar
se balançando numa rede, esperando,que
caia, de pára-quedas, o presente do big
brother de Brasília. Era o que eu tinha
a focalizar a respeito do Território Federal
de Roraima. Repetir o que e preciso a
respeito a desnecessário. E claro que os
pontos focais para o seu desenvolvimento,
considerados adequadamente com alto
grau de precisão pelo Projeto Calha
Norte, sac) a pavimentação da BR-164, de
Manaus a Boa Vista; a BV-8, na fronteira com
a Venezuela, e Bonfin-Lethem, conjugada
com a Estrada de Lethem até Caracas,
que já está pavimentada. Da fronteira do Brasil
com a Venezuela, até lá dentro, está tudo
asfaltado. O subdesenvolvimento começa da
nossa fronteira para baixo. A estrada a
péssima, fica interrompida durante o inverno, a
uma buraqueira, não se sabe por onde passar.
E fonte de muitos acidentes e encarece o frete.
São 180 km de estrada. Um caminhão poderia
percorrer esse trecho em três ou quatro horas,
mas leva um dia e meio para chegar,
desviando-se dos buracos. Outro aspecto de
que o projeto Calha Norte cogita e o da
eletrificação, o problema energético do
Território, que precisa de eletrificação rural.
Sabemos que os recursos públicos não são
alocados para a eletrificação rural quando a
fonte de energia elétrica e térmica. Roraima
tem excelentes pontos para aproveitamento
hidroenergético. Já existe um projeto para o rio
Cotingo, uma estrada de acesso. Esse rio tem
capacidade geradora de energia suficiente para
atender as necessidades do Território. Já
havia, inclusive, entendimento para o
fornecimento de energia elétrica a Venezuela e
a Guiana. Esse é outro problema que precisa
ser urgentemente atacado, para que o
Território fique completamente independente e
possa caminhar a passos largos na direção do
progresso que toda a sociedade local deseja. O
terceiro ponto é o cuidado que se deve ter com
as comunidades indígenas, o respeito pela sua
cultura, pelos seus princípios, pelas suas
necessidades. A sociedade brasileira deve
preservar as etnias das nações indígenas.
Deve ser feito escudo racional e lógico, despido
de emocionalismo, de passionalismo e
preconceitos, a partir do levantamento de
realidade da população indígena. Que se
levem em consideração as suas necessidades.
E, a claro, na área norte, onde os índios são
semiaculturados, deve haver uma discussão
entre a sociedade civilizada e as comunidades
indígenas, para se definirem, no encontro de
opiniões, os limites considerados mais
necessários a sobrevivência e ao
desenvolvimento de seu grupo tribal. Definidas
essas áreas, sobra para o Território imensa
extensão de terras férteis, agricultáveis, que
poderão ser alocadas a iniciativa privada, aos
colonos assentados em colônias agrícolas, as
pequenas a medias empresas, com o
desenvolvimento das culturas permanentes de
café, cacau, guaraná, seringueira, dendê, com
a fruticultura, a invasão da soja nesses 40 mil
quilômetros de savanas. Tudo isso
somado aos imensos recursos florestais
madeireiros e ao tremendo potencial mineral do
Território, poderemos ter, dentro de pouco
tempo, no Setentrião do Brasil, um Estado
forte, orgulhoso, senhor do seu destino,
seguro de tudo o que a sua sociedade deseja
obter. Era o que tinha a dizer. Ponho-me
a disposição dos nobres Constituintes.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Abrindo o período de debates, concedo a
palavra ao Constituinte Vilson Souza. V. Ex.ª
dispõe de cinco minutos.
O SR. CONSTITUINTE VILSON
SOUZA: – Inicialmente, parabenizo o
companheiro Constituinte Ottomar Pinto
pela belíssima exposição a respeito do
Território de Roraima. A minha grande
preocupação a no sentido de que tivéssemos
informações mais precisas em termos
de arrecadação, de se quantificarem os
números da economia, e principalmente,
sobre o grande desafio que Roraima
encontraria como Unidade Federada au-
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 10

tônoma. Teria o futuro Estado de Roraima, na
proposição de V. Ex.ª, a capacidade de,
através de sua autonomia, custear suas
despesas, a organização da estrutura de um
Estado? Essa, a minha pergunta e a minha
grande preocupação.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– O expositor dispõe de três minutos para a
resposta.
O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR
PINTO: – Os números precisos,
evidentemente, não os tenho, porque estou
fora do Governo do Território há muitos anos.
Sei, pela leitura do relatório da Delegacia da
Receita Federal na Região Norte, relativo ao
primeiro trimestre deste ano, que contém os
números da arrecadação do ICM do ano
passado, que o Território de Roraima teve uma
arrecadação de ICM mais alta que a do Estado
do Acre. E o Amapá, uma arrecadação maior
do que a de Roraima. Lembro-me de que,
quando começou a arrecadação do ICM no
Território de Roraima, durante a minha
administração, a arrecadação de Roraima e do
Amapá corriam parelhas e eram um pouco
inferiores a do Acre e muito inferiores a de
Rondônia. Mas hoje, o ICM de Roraima já
ultrapassa o do Acre. Como não havia tradição
de arrecadação tributaria nos Territórios – não
havia nem mesmo aparelho arrecadador, só foi
instituído há cerca de cinco anos, com o
concurso para fiscal e auxiliares e implantação
de uma Secretaria de Finanças – o Território se
limitou exclusivamente a arrecadação do ICM,
recolhido pela Receita Federal, que depois o
repassava. Muitas vezes, só repassavam no
exercício seguinte. Não sei se hoje essa
anomalia já foi corrigida, mas se não foi é outra
expropriação que sofre o Território, porque
recolhe hoje e recebe a mesma quantia no ano
seguinte, já bastante erodida pela inflação.
Então, tenho certeza de que a atual
arrecadação, e a expansão dela decorrente,
combinada com a própria expansão da
economia do Território e futuro Estado, serão
capazes de prover, dentro de breve tempo, as
suas necessidades, sustentar as despesas
adicionais com o Legislativo, a Justiça estadual
e o Tribunal de Contas. As outras despesas, de
acordo com a tradição brasileira, a União
continuara pagando, e aos atuais funcionários
do Território também. A tradição constitucional
brasileira ou da lei complementar que cria
Estados prevê, durante dez anos, ajuda da
União no socorro a despesas adicionais que
surjam com o pessoal, embora nem sempre
isso aconteça. Invoco aqui o testemunho do
Deputado Ruben Figueiró. No Mato Grosso do
Sul isso não ocorreu, mas a lei complementar
assim o determina. Acredito que a futura Carta
Constitucional de aos Estados instrumentos
para cobrarem e exigirem da União o
cumprimento das leis complementares que os
criem.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte Roberto
Rollemberg.
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO
ROLLEMBERG: – Sr. Presidente, nobres
Constituintes desta Subcomissão,
cumprimento o Constituinte Ottomar Pinto
pela exposição que fez, com aquela
característica muito própria do brasileiro do
Norte e Nordeste, carregada de patriotismo.
Minha grande preocupação, principalmente
por ser do Estado de São Paulo, e a seguinte:
acho muito difícil a administração de um País
desequilibrado na distribuição da riqueza,
inclusive da tributação.
Fizemos hoje uma solicitação para
quando das audiências que a Subcomissão
fará no setor de minérios, sobre o
comportamento do País em relação a
exploração de minérios. Temos um trabalho
que será encaminhado a Subcomissão, no
sentido de que, nas concessões para
exploração de minérios, a competência, que a
da União, seja dividida com o Estado. Como
forma de fiscalização, temos a obrigação da
União de defender os interesses do País, mas
fundamentalmente em Estados pobres, cujo
potencial de minérios e enorme. Não temos no
Centro-Oeste grande potencialidade, mas
sabemos, principalmente pela exposição de V.
Ex.ª e conhecendo os problemas dos
Territórios, especialmente de Roraima, o
grande potencial que ele tem. Nossa
preocupação e no sentido de que a União não
seja absoluta nas decisões em relação a
minérios. Precisa haver major e melhor
fiscalização, através da participação dos
Estados na discussão de concessão e na
preferência e diferenciação de tratamento
quanto ao aproveitamento da arrecadação dos
impostos da riqueza retirada. Esta a uma idéia
nossa que está se transformando em uma
proposta. Queria aproveitar esta oportunidade
para ouvir o depoimento de V. Ex.ª a respeito
de como funcionam essas concessões nos
Territórios, das companhias que lá estão, qual
a vantagem imediata para o Território da
exploração dessas riquezas; como se
comporta, afinal, a União em relação ao
Estado, e qual a retribuição da eventual
exploração de riquezas minerais para o
Território. Digo Território, mas em termos já de
Estado, porque concordo perfeitamente em que
este longo tempo como Território não tem mais
significação. Entendo que o Território deveria
ter vida própria apenas para se transformar em
Estado. Essa fase de Território a de
preparação, de consolidação do Estado a ser
criado, e não de consolidação do Território. A
grande preocupação – e gostaria que o Sr.
Constituinte nos trouxesse informação nesse
sentido – inclusive ouviremos aqui o Ministério
das Minas e Energia e o IBRAM sobre o
assunto – e quais são os benefícios, se há
exploração e de que tipo, qual o retorno
imediato para o Território. Porque
pretendemos, na Constituinte, fazer com que a
riqueza retorne aos Estados e Territórios e
estes participem na discussão das concessões
para explorações de suas riquezas minerais.
O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR
PINTO: – Nobre Constituinte Roberto
Rollemberg, a sua pergunta foi muito pertinente
e me permitira dar uma resposta complementar.
A tendência da Constituinte – certamente isto irá
ocorrer – e no sentido de melhor repartição
tributaria no Brasil, para reforçar a Federação,
que existe apenas no papel. Federação, sem
dinheiro nos Estados, não tem autonomia nem
coisa alguma. Respondo a sua pergunta: sob a
égide da futura Constituição, os Estados do
Amapá e de Roraima terão dinheiro para custear
os encargos adicionais com Assembléia
Legislativa, Tribunais de Conta e de Justiça, e
ainda haverá excedente para investimentos.
Posso responder sem medo de errar, porque
tenho certeza de que os Constituintes, na
elaboração da nova Carta, irão fazer justiça a
Federação brasileira, tanto a Estados quanto
a Municípios, hoje ainda fortemente
subvencionados pelo Governo do Território, sob
pena de nada poderem realizar. A partir da nova
Constituição, os dois Territórios, transformados
em Estados, tranqüilamente pode-
rão conviver com os encargos adicionais
dessa transformação. No que tange a
concessão para exploração de minérios, eu
diria que o envolvimento do Governo local nas
concessões a nulo. O que existe lá é mais ou
menos o seguinte: os garimpeiros adentram a
mata, descobrem um jazimento. Alguns
olheiros, ligados a escritórios de concessão
de mineração em São Paulo ou no Rio,
sabem da notícia, tomam um avião ate lá,
identificam o local no mapa, fazem um
requerimento, e uma empresa – em geral
estrangeira – apropria-se da área e fica lá em
berço esplendido. Há poucos jazimentos
sendo explorados. V. Ex.ª sabe muito bem
que o IUM a outra iniqüidade tributária, os
Estados do Amazonas, do Para e de
Rondônia vivem reclamando contra o
tremendo confisco sofrido, com ele. Alem de
irrisório, a União fica com a parte expressiva.
Talvez o mais correto seja que a
responsabilidade da arrecadação do IUM
passe a ser do Estado, e ele repasse para a
União a cota mínima que a Constituição lhe
atribuir, de modo que os benefícios, em sua
maioria, fiquem no Município onde esta a
exploração, e no Estado, síndico daquele
condomínio. Quanto a nomes de empresas,
devo dizer a V. Exª que sei apenas da Taboca
e da Vale do Rio Doce, que a estatal. Ha
algumas concessões em área indígena, mas
não estão sendo exploradas. Existem
também empresas estrangeiras no Território,
com suas concessões. Hoje, se V. Exª
quiser requerer uma polegada quadrada,
talvez não consiga mais, porque esta tudo
já requerido, ha muito tempo. A legislação,
neste particular, a extremamente danosa,
ate, para os interesses nacionais; não
digo nem locais, mas nacionais. Foi dito,
em uma reunião da Petrobrás, que 12%
do Território brasileiro, justamente o filé-
mignon do seu coração mineral, estão em
mãos alienígenas.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao nobre Constituinte
Chagas Duarte.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Sr. Presidente, demais
companheiros Constituintes, congratulamo-
nos com o Constituinte Ottomar Pinto e o
parabenizamos pela brilhante exposição que,
para nos, não constituiu surpresa, pois já o
conhecemos, sabemos da sua inteligência, da
sua cultura. Talvez alguns dos companheiros
não saibam, mas o Brigadeiro Ottomar a
homem de cinco faculdades, que se fez e se
realizou por si próprio, mercê dos seus
esforços e estudos. Na sua exposição, o perfil
que mostrou do nosso Território ate certo
ponto nos engrandece e como filhos daquele
torrão pátrio. Nos, amazonenses que fomos,
porque a região pertencia ao Estado do
Amazonas, onde nascemos presenciamos o
advento do nosso Território, sabemos
perfeitamente o quanto ele progrediu, o
,quanto ele se desenvolveu. Por outro lado
presenciamos uma história de 44 anos do
Território de desacertos, de retrocessos, de
frustrações, de tutela de um povo agredido no
seu modo de viver, nos seus costumes. V.
Ex.as hão de convir, companheiros, que
governadores, militares, vindos do Rio
de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais,
que nada tinham com nossa história, ali
chegavam para nos governar. Houve, a claro,
honrosas exceções, mas diria que fomos o
povo mais tiranizado do Governo Bernardes.
Nosso Território – como disse o nos-
11 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
so companheiro Ottomar Pinto – nasceu da
ditadura e, por isso mesmo, foi mais governado
pela força das armas, pela violência, pela
opressão.
Hoje, no regime democrático, é claro
que queremos, como todos os brasileiros, ser
governados pela justiça, pela liberdade, pelo
respeito. Daí por que propugnamos hoje que o
Território passe a Estado, sobretudo porque
toda essa história de opressão, de violência,
tudo o que o Território viveu, quero dizer a V.
Ex.ª, como colocou o nosso conferencista,
nunca teve a participação do povo. Nunca o
povo foi ouvido em nada, absolutamente em
nada. Hoje, nós o queremos realmente Estado.
Perguntaria ao companheiro expositor quais os
pontos de estrangulamento que S. Ex.ª acha
que existem hoje no Território que o impedem
de se desenvolver. V. Ex.ª colocou muito bem:
o Território não passa a Estado porque não
atingiu certo grau de desenvolvimento, não é
auto-suficiente economicamente. Realmente, a
tese não é válida, dado que nenhum Estado da
União chega a ser auto-suficiente. Sabemos
todos que, através do Fundo de Participação
dos Estados e Territórios, a grande verba da
União é que supre o lado deficitário de todos os
Estados e dos Territórios. O companheiro, não
sei se propositadamente, parece que deixou
escapar um problema que, parece-me, traz
grande estrangulamento ao desenvolvimento
do nosso Território, ou seja, a questão
fundiária. Ninguém é dono de terra no
Território, por ser a terra da União. V. Ex.ª
sabem disso. Gostaria de ouvir o expositor a
respeito do assunto. Quero aproveitar a
pergunta do nosso companheiro Constituinte
Roberto Rollemberg sobre os minérios e
garimpos e lembrar que, na atual Constituição,
os minérios, todos eles, pertencem à União.
Por isso, nada fica para os Estados. Carajás aí
está. Nada ficou para o Estado do Pará. Em
Serra Pelada, também; na grande mina de
manganês do Amapá; e amanhã ou depois
poderá acontecer com Surucucu. É preciso
atentarmos para este fato, nós, que vamos
agora redigir a Constituição. Vamo-nos ater a
este problema da riqueza do subsolo, à lei que
deve reger o subsolo, para que os Estados
tenham seu quinhão, tenham participação nas
riquezas de seu solo. Gostaria de ouvir o
expositor sobre o problema fundiário.
O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR
PINTO: – Constituinte Chagas Duarte,
havíamos relacionado aqui o problema
fundiário no elenco de outros itens que incluíam
problemas de saúde, educação, lazer. O
problema fundiário é relevante no Território,
porque sabemos que existe um decreto-lei do
Governo Médici – um decreto-lei autoritário –
que estende a jurisdição da União, ou do
INCRA, sobre terras localizadas até 100 km de
cada margem das rodovias. Não bastasse
isso, sendo Roraima uma Unidade da
Federação localizada na fronteira, ainda existe
a extensa faixa de fronteira que também
pertence à União. Somente com audiência
do Conselho da Segurança Nacional essas
áreas podem ser cedidas, colonizadas
ou alienadas. Apesar de tudo, ainda sobra
espaço sobre o qual o Governo do Território
não pode dispor, porque não tem autonomia
para tal. No que tange à regularização
fundiária dessas terras que atualmente
pertencem ao INCRA, os Estados se defrontam
também com este problema: Rondônia, Pará,
Amazonas. Não é problema da estrutura
do Território, essa regularização das áreas
de colonização ao longo das rodovias. No
entanto, o que se impõe resolver é, primeiro,
que o Estado possa dispor sobre as suas
terras, com algumas exceções que a União
queira colocar; e, segundo, que os Estados
tenham o poder de titular, como acontecia
anteriormente. Hoje o INCRA, num processo
extremamente burocrático, penoso e longo,
aliza essa tarefa, mas sem a agilidade
necessária à solução de problemas que
estrangulam a economia. Porque sabemos
que o agricultor não pode levantar empréstimo
bancário se não tiver título de propriedade.
Esse é um sério problema de
estrangulamento, embora haja uma tendência
da Casa para considerar que, até 100 ha, a
propriedade será insusceptível de penhora, o
que, aliás, acho muito justo.
Respondendo ao Constituinte Chagas
Duarte, é um ponto de estrangulamento,
porque nem o Governo do Estado nem o do
Território têm como resolver o problema, não
podem titular terras.
Nem mesmo podem fazê-lo com as
terras, excluídas pelo decreto do ex-
Presidente Médici, na faixa de fronteira, que
pertencem ao Território e para as quais o
Governador poderia fazer um programa mais
ágil de colonização.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Eu pediria a atenção do nosso
expositor. V. Ex.ª não acha que, pelo fato de o
Governo da União ter competência para dar
títulos definitivos, o Território não pode, até
hoje, atrair grandes investidores? Uma das
razões de esta área não se desenvolver não
seria o fato de não irem para lá grandes
investidores? A exceção do seu tempo,
quando havia aquela fazenda, às margens da
BR-164, do grupo Bamerindus, não existia
qualquer outro investidor. Entendo que, por
causa disso, o Território não se desenvolve.
O SR. CONSTITUINTE OTOMAR
PINTO: – Durante todo o período de governos
autoritários, não houve um só titulo de terra
expedido. Quando assumi o governo, o
Presidente Geisel foi lá e ouviu esse lamento
dos produtores agrícolas, de que ninguém
possuía título de terra. Então, S. Ex.ª baixou
um decreto determinando que fossem
tituladas duas áreas. Pois bem, ele deixou o
Governo, e o Incra não conseguiu conceder
aqueles títulos. Então, quando chegamos ao
Governo, abrimos vicinais; andamos pelo
Brasil inteiro, convidando gente para ir para lá;
o povo foi ocupando as terras, e criou-se o
problema. E o Incra veio, depois, legalizando
essas terras. Não titulou todas, mas um bom
número. Colocamos no Território 12 mil
famílias, todas com lotes de 100 ha, ao longo
de vicinais. Quatro mil quilômetros de
estradas vicinais foram abertas, pela nossa
administração, para colocar essas 12 mil
famílias. Então, o Incra veio para administrar o
problema; não se antecipou em solucioná-lo,
como seria de desejar.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra à Constituinte Marluce
Pinto.
A SRA. CONSTITUINTE MARLUCE
PINTO: – Sr. Presidente, Srs. membros da
Mesa, caros colegas, ao Constituinte Ottomar
Pinto não vou fazer qualquer pergunta, porque
acho que todos os colegas da Subcomissão já
sabem que sou esposa dele. Como vivi
quatro anos em Roraima, conheço o Território
palmo a palmo. Não há lugar algum
ocupado, inclusive por indígena, por onde
não tenhamos andado. Então, é desnecessário
que eu faça qualquer pergunta ao Constituinte
Ottomar, porque das necessidades de lá e dos
anseios do povo já temos conhecimento.
Agora, como disse o nobre Constituinte
Chagas Duarte, realmente para o Território vão
governadores de fora. Fomos de fora. Ottomar
é nordestino e eu também – Ottomar é de
Pernambuco e eu sou cearense. Quando ele
assumiu o Governo do Território, já havia
convivido na Amazônia durante oito anos. Ele
chegou ao Território de Roraima como
Brigadeiro, aos 46 anos de idade, modéstia à
parte, o General mais novo das Forças
Armadas, e por isso mesmo o Ministro Délio o
distinguiu para aquele Território, tanta
necessidade havia para aquele povo de uma
pessoa que realmente conhecesse a região.
Na sua gestão no Comara, ele conseguiu
pavimentar 32 aeroportos, afora estradas na
Região Amazônica, sobre o que o nobre
Constituinte deve ter conhecimento.
Solicito aos Constituintes desta
Subcomissão que nos dêem a oportunidade de
transformar o Território em Estado. Está certo
que não acompanhei a campanha de todos os
candidatos, mas sei que nos programas que se
viam pela televisão, todos prometiam à
população carente justiça social, econômica e
política. Infelizmente, no nosso Território, ainda
não conseguimos nenhuma das três.
Ottomar foi designado para lá, no
Governo Figueiredo, possivelmente para
passar seis anos, e só conseguiu ficar quatro
anos. Os representantes da Câmara, naquela
época – não por estarem ausentes, posso dizer
– talvez um tanto enciumados com a liderança
que se estava conseguindo no Território,
aproveitando-se da época em que Andreazza
se tornou presidenciável, após darmos ao PDS
a vitória de quatro Deputados – sendo que dois
foram escolhidos por nós e seus votos
conseguiram trazer os outros dois para esta
Casa – após as eleições, solicitaram a retirada
dele, inclusive os dois por nós eleitos. Então,
estávamos ausentes há quatro anos, de abril
de 1983 até agora, praticamente, porque não
moramos realmente no Território. Fomos
solicitados a nos candidatar. Ottomar foi. Eu
resisti até à véspera da convenção, porque
achava que, como marido e mulher, poderia
haver uma divisão e "dar uma zebra". E
também por causa dos negócios que temos lá
desde 1969.
A política é uma responsabilidade
muito grande. Não faço dela meio de vida e,
sim uma missão. Embora desde 1969
empresária no meu Estado, Ceará, no ramo de
asfalto, no Território não tenho um palmo de
terra e nunca explorei atividade alguma, nem
pública, porque fiquei os quatro anos no serviço
social, como voluntária. Mas, às vésperas da
convenção, encontrei-me diante de um abaixo-
assinado e, por insistência da comunidade,
lancei minha candidatura. E o povo daquela
comunidade achava que, assim como todos
os Governadores hoje são escolhidos
através do voto, após a vitória do
candidato que realmente tivesse votação
significativa, poderia ao menos opinar sobre
a escolha do Governador. Acontece que,
em Roraima, apesar de termos cinqüenta e
três mil eleitores, os votos apurados foram
quarenta e dois mil. Somos de um partido
pequeno, o PTB, mas somos majoritários
em Roraima. Desses quarenta e dois mil
votos apurados, Ottomar teve dezesseis
mil, resultado do trabalho realizado nos
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 12

quatro anos que ali passou, embora já afastado
também há quatro.
O partido a que hoje pertence o
Governador aliou-se a mais quatro partidos. Fez
uma composição e apresentou doze candidatos.
O resultado do voto desses doze candidatos foi
aquém da votação do Constituinte Ottomar.
Então, até hoje, por mais esforços que
tenhamos empregado aqui em Brasília, existem
as promessas – ainda não foram cumpridas – de
podermos opinar pelo representante. E é o que o
povo de Roraima nos cobra constantemente.
Para se ter idéia, estávamos afastados de
Roraima desde que fomos eleitos. Retornamos
agora, em abril, na Semana Santa. Chegamos à
meia-noite. O aeroporto estava lotado. Eo povo
lá não nos cobra a moratória, não nos cobra os
juros; não nos cobra as dificuldades que
realmente Roraima está enfrentando – até bem
mais do que os outros Estados, dada a carência
e a distância. Cobra-nos uma coisa: "Vocês não
vão conseguir mudar o Governador?" E o pedem
insistentemente. É lamentável até que eu o diga,
mas é o que acontece, porque as nossas visitas
ao interior e à periferia da cidade transformaram-
se em comícios. E todos eles cobravam de mim,
dizendo: "É difícil para o Brigadeiro pedir, mas a
Senhora vai ter de insistir. A Senhora vai ter de
usar a tribuna para insistir." Então tive de explicar
ao povo que nós, Constituintes, hoje, temos
muito pouca oportunidade de fazer
reivindicações para os nossos Estados, porque
de terça-feira a sexta-feira somos Constituintes.
É por isso, caros colegas, nobres
Constituintes; que eu queria que V. Ex.ªs
analisassem bem o assunto. Está certo que
ainda não existe renda para satisfazer a todas as
necessidades. Mas onde é que está existindo?
Só se ouve dos Governadores que estão sem
dinheiro até para resgatar os salários dos
funcionários.
Vamos dar àquele povo ao menos a
liberdade de escolher os seus governantes. Até
para Presidente da República – embora a
Constituição atual determine seis anos de
mandato – sentimos nas conversas dos
bastidores que o povo quer mudança. E a
mudança não é por ser Sarney, apenas. É
porque o povo quer eleger o Presidente, como
elegeu os seus governantes de Estado.
Então aqui fica o meu apelo a V. Ex.ªs
no sentido de, pelo menos, se dar liberdade
àquele povo, não apenas aos que ali nasceram,
mas a todos que para lá se dirigiram, de outros
Estados. Aqui, todos somos representantes
desses Estados.
Muito obrigada. (Palmas).
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):–
A Presidência da Subcomissão gostaria de
agradecer ao Constituinte Ottomar Pinto a
gentileza de brindar-nos com a brilhante palestra
que nos posicionou, a todos, com relação ao seu
entendimento sobre o Território de Roraima e
que, na certa, haverá de trazer mais subsídios,
mais informações, mais conhecimento para que
os Constituintes possam decidir, com
tranqüilidade, com parcimoniosidade, a respeito
da necessidade ou não da criação de mais este
Estado brasileiro.
Quero agradecer também aos
Constituintes participantes do debate e aos
presentes pelo brilhantismo das orações
proferidas e das questões apresentadas ao
ilustre expositor.
Nada mais havendo a tratar, convocamos
os companheiros Constituintes para a próxima sés
-
são, que se dará em audiência pública, às 9:30h
do dia 27 de abril, segunda-feira, quando serão
expositores o Secretário de Governo do Distrito
Federal, que falará sobre o orçamento da Capital
da República, e o Conselheiro Fernando
Tupinambá Valente, do Tribunal de Contas do
Distrito Federal e ex-Secretário de Finanças, que
falará sobre as finanças do Distrito Federal e
sobre a participação do Tribunal de Contas nos
entendimentos de verificação de contas da
nossa Capital.
Muito obrigado a todos.
Está encerrada a reunião.
Ata Resumida da 5ª Reunião Ordinária
Aos vinte e sete dias do mês de abril do
ano de mil novecentos e oitenta e sete, às dez
horas e quatro minutos, na sala "B1" – Anexo II
da Câmara dos Deputados, reuniu-se a
Subcomissão da União, Distrito Federal e
Territórios, sob a presidência do Senhor
Constituinte Jofran Frejat, com a presença dos
seguintes Constituintes: Meira Filho, Rubem
Figueiró, Sigmaringa Seixas, Chagas Duarte,
Felipe Mendes, Francisco Carneiro, Marluce
Pinto, Mozarildo Cavalcanti, Vilson Souza
(PMDB – SC), Wagner Lago (PMDB – MA),
Pompeu de Souza (PMDB – DF) Havendo
número regimental, o Senhor Presidente
declarou iniciados os trabalhos e passou à leitura
da Ata da reunião anterior, que foi aprovada por
unanimidade. A seguir, deu-se início ao
Expediente que constou da seguinte leitura:
Correspondência recebida: 1) Telegramas: a) do
Constituinte Marcelo Cordeiro, 1º – Secretário,
cumprimentando o Presidente Jofran Frejat por
sua eleição e colocando a 1ª Secretaria à
disposição desta Subcomissão; b) nos mesmos
termos do anterior, dirigido ao Vice-Presidente
Meira Filho; c) nos mesmos termos do anterior,
dirigido ao Relator Sigmaringa Seixas; d) do
Senador Jamil Haddad, congratulando-se e
agradecendo recebimento de ofício; e) do
Ministro de Estado Extraordinário para Assuntos
de Irrigação – PRONI, Vicente Fialho,
congratulando-se e agradecendo recebimento
de ofício; f) do Presidente Ulysses Guimarães,
informando prazo de apresentação de sugestões
e autorizando reuniões das Subcomissões nas
3ª, 4ª, e 5ª às 17:00 horas; g) do Sr. Vanderley
Vallin da Silva, Presidente do Sindicato da
Indústria de Construção Civil, congratulando-se
e agradecendo recebimento de ofício. 2) Ofícios:
a) Of. Circular nº 030/87 de 22-4-87, do 1º
Secretário, Constituinte Marcelo Cordeiro,
remetendo cópia da Ordem de Serviço nº
001/87; b) s/nº/87, de 21-4-87, do 2º Secretário
da Mesa, Senador Mário Maia, congratulando-se
e agradecendo recebimento de ofício; c)
IBRAM/DRB/936/87, de 24-4-87, sugestões
remetidas pelo IBRAM. 3) Cartões: a) do 1º
Secretário Constituinte Marcelo Cordeiro, dirigido
ao Relator da Subcomissão, encaminhando
cópia do Ato da Mesa nº 9/1987; b) do General
de Exército Paulo Campos Paiva, agradecendo
recebimento de ofício. 4) Telex a) do Dr. Idair
Ceccato Guancino, Coordenador de
Assuntos Parlamentares do Ministério do
Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente,
congratulando-se e agradecendo recebimento
de ofício; b) do Dr. Glaucio de Castro Melo, do
Sindicato das Indústrias e Alimentação de
Brasília, congratulando-se agradecendo
recebimento de ofício; c) do Ministro-Chefe do
Gabinete Militar, General Rubens Bayma Denys,
congratulando-se e agradecendo recebimento
de ofício; d) do Ministro Ivan Mendes, do SNI,
congratulando-se e agradecendo recebimento
de ofício; e ) do Ministro Dante de Oliveira,
congratulando-se e agradecendo recebimento
de Ofício; f) do Dr. Romeu Tuma, Diretor-Geral
do DPF, congratulando-se com a eleição da
Mesa da Subcomissão; g) do Ministro do
Exército, General Leonidas Pires Gonçalves,
congratulando-se e agradecendo recebimento
de ofício; h) do Governador do DF, José
Aparecido de Oliveira, congratulando-se a
agradecendo recebimento de ofício; i) do
Diretor Presidente da CIBRAZEM,
congratulando-se e agradecendo recebimento
de ofício. Correspondente expedida: a) Ofício
nº 144/87/PRES, de 23-4-87, dirigida ao Dr.
Fernando Tupinambá Valente, Conselheiro do
tribunal de Contas do Distrito Federal – convite
Audiência; b) Ofício nº 145/87/PRES, de 24-4-
87, dirigido ao Dr. Osny Duarte Pereira –
Convite Audiência; c) Ofício nº 146/87/PRES,
de 24-4-87, digirido ao Dr. Josaphat Marinho –
Convite Audiência; d) Ofício nº 147/87/PRES,
de 24-4-87, dirigido ao Dr. Saulo Ramos –
Convite Audiência; d) Ofício nº 147/87/PRES,
de 24-4-87, dirigido ao Dr. Saulo Ramos –
Convite Audiência, e; e ) Oficio nº 148/87/PRES,
de 24-4-87, dirigido ao Representante do
Comitê Pró-diretas. Findo o Expediente, o
Senhor Presidente deu inicio à Audiência
Pública, passando a palavra ao Sr. José Carlos
Mello – Sec. de Governo-DF, sendo inquirido
pelos Srs. Constituintes Pompeu de Souza,
Sigmaringa Seixas, Meira Filho, Felipe Mendes
e Chagas Duarte. Após os debates, o Senhor
Presidente passou a palavra ao Senhor
Fernando Tupinambá Valente, sendo inquirido
pelos Constituintes Ruben Figueiró, Francisco
Carneiro, Felipe Mendes e Marluce Pinto. O
inteiro teor dos trabalhos será publicado, após
a tradução das notas taquigráficas e o
competente registro datilográfico, no Diário da
Assembléia Nacional Constituinte. Nada mais
havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por
encerrados os trabalhos, às doze horas e seis
minutos, convocando os Senhores
Constituintes para a próxima reunião a ser
realizada dia vinte e sete de abril, às dezessete
horas, para audiência pública com a presença
dos Senhores, Dr. José Ribeiro Leitão,
Presidente da Associação dos Magistrados
do DF e Carlos Alberto Torres, representantes
do Comitê Pró-Diretas. E, para constar, eu
Antônio Fernando Borges Manzan, Secretário,
lavrei a presente Ata que, depois de lida e
aprovada, será assinada pelo Senhor
Presidente. Constituinte Jofran Frejat,
Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):–
Havendo número regimental declaro abertos os
trabalhos desta Subcomissão.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, tendo em vista o
adiantado da hora, requeiro a V. Ex.ª que
dispense a leitura da ata da sessão anterior.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):–
Acatada a proposta de V. Ex.ª, convidamos
para participar da Mesa os dois conferencistas,
Dr. José Carlos Mello e Dr. Fernando
Tupinambá Valente.
Dando prosseguimento aos nossos
trabalhos, iniciaremos hoje a realização
das audiências públicas. E a de hoje inclui
dois nomes sobejamente conhecidos no
Distrito Federal, que nos falarão
13 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
sobre a questão orçamentária e financeira da
nossa Capital.
O Dr. José Carlos Mello, Secretário de
Governo do Distrito Federal, já ocupou diversos
cargos no Governo do Distrito Federal, na
Secretaria de Viação e Obras e na Secretaria de
Governo, com amplo conhecimento dos
problemas da nossa Capital e, é ainda,
especialista em transportes.
De outro lado, o Dr. Fernando
Tupinambá Valente, atual Conselheiro do
Tribunal de Contas do Distrito Federal, foi
durante nove anos Secretário de Finanças do
Distrito Federal, tendo amplo conhecimento
das condições financeiras, tanto no que se
refere à isenção quanto ao que diz respeito à
fiscalização através do Tribunal de Contas.
Tenho certeza de que essas duas
autoridades irão brindar-nos com informações
importantes a respeito dos problemas
orçamentários e financeiros do Distrito Federal.
Nas reuniões públicas, como todos
sabem, cada convidado terá vinte minutos
para fazer sua exposição; a seguir, o Relator
disporá de cinco minutos para fazer suas
colocações: cada integrante desta
Subcomissão terá três minutos para
apresentar seus pontos de vista, suas
propostas e suas questões e, posteriormente,
o expositor disporá de três minutos para
responder às questões levantadas pelos Srs.
Constituintes.
Com este lembrete pedimos ao Dr.
José Carlos Mello que nos brinde com sua
exposição.
O SR. JOSÉ CARLOS MELLO: – Sr.
Presidente, Constituinte Jofran Frejat; Sr.
Relator, Constituinte Luiz Carlos Sigmaringa
Seixos; Sr. ex-Presidente e Conselheiro do
Tribunal de Contas do Distrito Federal, Dr.
Fernando Tupinambá Valente, Srs.
Constituintes Meira Filho, Pompeu de Souza,
Francisco Carneiro; demais Srs. Constituintes;
Srs. Jornalistas; minhas Senhoras; meus
Senhores e quase Constituinte Carlos Alberto,
a minha palestra, tendo em vista o limitado
tempo que me foi concedido, abrangerá a
composição da receita e da despesa do
Governo do Distrito Federal, em linhas muito
gerais.
É importante o conhecimento da receita
do Distrito Federal. Temos uma receita própria
constituída de arrecadações típicas de Estado e
de Município: somos Estado na medida em que
arrecadamos ICM; somos Município, quando
arrecadamos IPTU. Esta é uma característica do
Distrito Federal. Em termos orçamentários,
temos três características e obedecemos,
portanto, a três legislações. Somos Município,
Estado e unidade orçamentária da União, e o
nosso orçamento é aprovado pelo Congresso
Nacional, através da Seplan, como o de
qualquer Ministério. O ordenador de despesa do
Distrito Federal, que é Secretário do Governo,
participa de reuniões na Seplan, com os
Secretários-Gerais, que são os ordenadores-
mores de despesa dos Ministérios.
A nossa receita própria atualmente é
de cerca de 38% da receita total, sendo
constituída pelo IPTU, ISS, ICM local, ICM do
trigo e outras receitas, como multas e taxas
de menor importância. Então, 38% do que o
GDF arrecada são receita própria; 62%
transferência da União.
As transferências da União, previstas
em lei, são constituídas por quotas-
partes de fundos e impostos por ela
recolhidos e transferidos aos Estados
e Municípios. Ao Distrito Federal cabe
cerca de 5,5% das transferências da União.
Assim, somando-se 38% aos 5,5% das
transferências previstas em lei para Estados e
Municípios, nossa arrecadação legal,
digamos, soma 43,5% da receita total. E o
restante vem de onde? De transferências
correntes dá União não previstas em
nenhuma legislação. Tais transferências vêm-
se processando ao longo dos anos e visam a
atender principalmente às despesas correntes
– custeio e despesas de capital, investimentos
nas áreas de saúde e saneamento, educação
e cultura, defesa nacional e segurança pública
– num montante de 54,5%. A União transfere
diretamente ao GDF mais da metade da
nossa receita, sem previsão em lei, mas
apenas – eu diria – por tradição. Sempre foi
assim. Então, toda a nossa despesa nas
áreas de saúde, educação e segurança
pública é custeada pela União. Nós, Distrito
Federal, na despesa total da União, pesamos
em 6%. Se não me engano, apenas cinco
Ministérios – no máximo seis – superam o
Governo do Distrito Federal em termos de
despesa da União.
Considero estes dados muito
importantes, ainda mais quando se trata de
uma Assembléia Nacional Constituinte, que
seguramente vai tratar da parte tributária, que
não é o tema a ser abordado por esta
Comissão mas está estreitamente a ele
relacionado.
Falarei também, rapidamente, sobre a
receita executada em 1986 e não sobre a
expectativa de receita para 1987, porque esta
depende da inflação, do comportamento da
economia, da existência de um momento de
depressão ou de euforia na economia.
Em 1986, em números redondos, a
receita própria foi de 37% da receita total. E o
que pesou mais foi o ICM local de 23%. A
segunda receita, excluindo outras que
somaram 5% – taxa do lixo, multas e taxas
diversas a serviço do GDF – foi o ICM do
trigo. E aqui cabe uma análise.
Existe o ICM do trigo importado. Todo
o trigo importado paga ICM a Brasília, como
se aqui fosse produzido. Evidentemente, é
uma arrecadação artificial, criada nos
primórdios de Brasília para dar sustentação
financeira ao Distrito Federal. Mas essa
arrecadação tem caído, ano a ano, com o
aumento da produção nacional. Acredito que,
com o fim do subsídio do trigo, política
anunciada pelo Ministério da Fazenda,
teremos dois fatos que afetarão essa receita:
primeiro, a queda do consumo, que vai reduzir
a importação; segundo, um estímulo à
produção nacional de trigo, o que também
fará cair a importação.
Para V. Ex.as terem uma idéia, no
início de 1986 trabalhamos, na expectativa de
receita para aquele ano, com um determinado
número para o ICM do trigo – era uma
estimativa, uma projeção de receita, para
podermos ter elemento de trabalho. Numa
projeção conservadora, esperávamos 322
milhões de cruzados a mais de ICM do trigo, e
essa arrecadação foi frustrada pelo aumento
de produção do trigo nacional. Então, o que
foi muito bom para o Brasil – produzimos mais
e importamos menos – foi muito ruim para a
nossa execução orçamentária. Perdemos,
portanto, no ano passado, em expectativa de
receita, 322 milhões do ICM do trigo.
No final do ano passado, em
meados de novembro, à Secretaria de
Governo – para os Constituintes de
outros Estados, a Secretaria de Gover-
no aqui corresponde à Secretaria de
Planejamento dos outros Estados – haviam
sido solicitados um bilhão de cruzados, pelas
secretarias setoriais, para custeio ao final do
ano. Analisadas aquelas solicitações,
verificamos que nenhuma era supérflua –
basicamente: combustível para a Polícia, para
a área de Saúde, alimento para os presos,
reposição de peças para viaturas –
destinavam-se principalmente às áreas de
saúde e segurança pública. Fizemos uma
triagem extremamente rigorosa e chegamos
aos trezentos milhões, o valor da receita do
trigo, que já sabíamos a essa altura não iria
ocorrer. Mas era o mínimo de que precisaria o
Distrito Federal de meados de outubro até o
final do ano, para chegar "com a língua de
fora", mas sobrevivente, em termos de
execução orçamentária do custeio. Não
tivemos o ICM do trigo, e aquelas eram
despesas essenciais. Tivemos, então, de
recorrer à União, para que a Seplan
transferisse ao Governo do Distrito Federal os
encargos gerais da União, a fim de cobrir o
nosso custeio. Isto se deveu à queda do ICM
do trigo, ou seja: maior arrecadação do ICM
local, 23%; ICM do trigo, 4%; ISS, 3%; IPTU,
2% – quem dera que o ICM fosse tão fácil de
arrecadar quanto o IPTU, para cujo
recolhimento basta emitir um carnê, pois os
endereços dos contribuintes constam do
Registro de Imóveis; mas o ICM é sempre
uma arrecadação difícil de executar
plenamente – finalmente, outras receitas, 5%.
Temos, assim, em números redondos,
37% de receita própria, como ocorreu em
1986. Há as transferências da União –
obrigatórias – de 5,5%; outras transferências
da União, no ano passado, 5,5%. As receitas
de convênios – convênios com o DNER, com
a EBTU, com os Ministérios da Saúde, da
Justiça, da Cultura e com vários outros órgãos
– em montantes muito variáveis totalizam
1,31%. E as operações de crédito
representam 0,36%.
Isto coloca o Distrito Federal numa
situação totalmente diferente dos demais
Estados da União. Eu diria que é uma situação
de bastante privilégio, pois o nosso nível de
endividamento é extremamente baixo.
Como foi distribuído o nosso
Orçamento? Educação e Cultura, em tomo de
25,6%; Saúde Pública e Saneamento, cerca
de 23,3%; Defesa Nacional e Segurança
Pública, em tomo de 12,11%. Assim, 70% do
Orçamento foram aplicados nas áreas de
Educação, Saúde e Segurança Pública.
Podemos prever, então, que qualquer melhora
nessas áreas repercutirá no Orçamento.
Todas elas são de alto custo operacional.
Imaginem V. Ex.as o custo operacional de uma
sala de aulas! E o Governo do Distrito
Federal, desde a administração do ex-
Secretário Pompeu de Souza, constrói uma
sala de aula por dia. Só no ano passado, para
iniciarmos o ano letivo, em face do esforço
para o aumento da construção de salas de
aula, tivemos de contratar 1.580 professores e
cerca de 1.200 auxiliares de escola. Da
mesma forma, o custo operacional na área de
saúde pública é extremamente alto. Imaginem
o custo da segurança pública em
equipamento, logística, aquartelamento, etc.
Então, em grandes números, são
estes os elementos que temos. Há ainda
as despesas com pessoal e outras correntes
e de capital. O Distrito Federal paga hoje
a 81 mil funcionários, o que aparentemente
é um exagero, mas, se entrarmos
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 14

em detalhes e compararmos esse efetivo com
o de outros Estados da União ou com o de
grandes Prefeituras, veremos que, pela sua
origem, talvez o nosso Governo seja um
grande prestador de serviços.
O Sr. Constituinte Frejat, que foi
brilhante Secretário de Saúde, por favor,
corrija-me se estiver errado. Temos doze
hospitais, um hemocentro – em controle de
sangue, é o único no Brasil; só aqui podemos
fazer uma transfusão de sangue sem medo
de ser contaminado pelo vírus da AIDS – 41
centros de saúde, sistema de controle de
zoonoses, treze postos de saúde na área
rural. Damos assistência médica primária,
secundária e terciária – assistência dentária,
consultas com hora marcada, partos,
tratamentos dos doentes crônicos e
emergenciais. E pode-se dizer que metade
dessa clientela não é do Distrito Federal, mas
de outros Estados, às vezes muito distantes
de Brasília, principalmente de alguns Estados
do Nordeste. Ou seja, nosso sistema de
saúde, que tem de ser dimensionado para as
necessidades do Distrito Federal, é
imensamente sobrecarregado com demandas
provenientes de outras áreas do País.
O mesmo ocorre com a área escolar,
que sofre uma demanda do Entorno, uma
rede maior do que a do Piauí. Em Brasília o
terceiro turno, que é comum em todas as
cidades brasileiras, resume-se a menos de
10% das matrículas, e estamos construindo
uma sala de aula por dia.
A segurança pública chegou, hoje, a
nível de calamidade em Brasília, o que é
natural. Temos um crescimento populacional
que às vezes chega a 7%; estamos com 1
milhão e setecentos mil habitantes e o quadro
de violência não pode diferir do dos demais
Estados brasileiros. Mediante aprovação pelo
Congresso, estaremos dobrando o efetivo
policial num prazo de mais dois anos, tanto a
da Polícia Militar como o da Polícia Civil e do
Corpo de Bombeiros. Estamos aumentando a
capacidade de carceragem, embora ela ainda
se mostre insuficiente. Há cerca de oitocentos
presos e dois mil e setecentos mandatos de
prisão não cumpridos. O quadro não é nada
diferente do resto do Brasil. Eu li há pouco
tempo que em Nova Iorque ocorre o mesmo.
Mas a nossa obrigação é aumentar a
capacidade de carceragem. O custo
operacional neste setor também é muito
grande.
Em termos de pessoal e encargos, em
números redondos, 80% do nosso orçamento
são gastos com esse item. Outras despesas
correntes representam 11% – e aí cabe uma
observação: enquanto a despesa com pessoal
vem aumentando – de 61% passou a 80% em
1977, principalmente pelo aumento do efetivo
docente, do efetivo de auxiliares, do efetivo
policial e pelos aumentos reais de salário do
pessoal – as outras despesas correntes têm,
auspiciosamente, diminuído. Sei que os colegas,
às vezes, ficam até um pouco irritados, mas nós,
do Governo do Distrito Federal, exercemos um
controle extremamente rígido sobre a despesa.
Temos toda a nossa despesa e receita em
computador, e a qualquer sinal vermelho o
colega é acionado, é informado. A nossa
despesa corrente, que era de 17% em 1984,
hoje é de apenas 11%. Esta é uma vitória do
atual Governo do Distrito Federal.
As despesas de capital diminuem
na medida em que as despesas
de pessoal sobem; sobra, portanto,
para investimento de recursos do Orça-
mento do Distrito Federal, um número
extremamente aquém das nossas necessidades.
Apenas 9% da nossa receita podem ser
aplicadas em investimento, entendendo-se por
investimento até grandes reformas. Parte desses
recursos vai para o FUNDEFE, que é o Fundo
de Desenvolvimento do Distrito Federal. Quando
da sua criação, sua finalidade – pensava-se –
era o desenvolvimento do Entorno, da Região
Geoeconômicas de Brasília, mas pouco a pouco
foi sendo destinado apenas ao Distrito Federal.
Esses recursos podem ser aplicados, a fundo
perdido, em obras públicas, mas
obrigatoriamente em investimentos não podem
ser aplicados em custeio – e, através do BRB,
em empréstimos para o desenvolvimento
industrial de Brasília. Em 1984, 95% dos
recursos do FUNDEFE foram aplicados em
investimento a fundo perdido, ou seja, em obras
públicas, e 5% através do BRB, em empréstimo
a empresários de Brasília, com juros subsidiados
com retorno. Em 1987, 72% dos recursos estão
sendo investidos em obras públicas e 28%,
através do empresariado de Brasília, em projetos
para implantação, visando à ampliação do nosso
parque comercial e industrial, que gera
empregos e, naturalmente, mais ICM.
As nossas operações de crédito são
feitas com a intermediação do Banco do
Brasil, da Caixa Econômica Federal e do
BRB, sendo que este último tem "dupla
personalidade", a de banco de
desenvolvimento e a de banco comercial. Por
exemplo, as linhas de crédito do
BNDES/FINAME são operadas através do
BRB.
Com relação a recursos externos,
temos pouca coisa. No momento estamos
negociando com o BID, Banco Interamericano
de Desenvolvimento – cem milhões de
dólares para desenvolvimento de projetos na
áera de abastecimento de água: a construção
da barragem de São Bartolomeu e a
ampliação do Sistema Rio Descoberto.
Essas negociações externas, como
somos unidades desta Federação, são
sempre conduzidas pela SUBIN, da SEPLAN,
agora passando para o Ministério da
Fazenda. Estamos negociando cem milhões
de dólares com o BID, já na fase de
apresentação de projetos. A missão do BID já
esteve em Brasília e a prioridade é o
abastecimento d'água, porque este ano
teremos racionamento e deveremos enfrentar
o problema a nível de calamidade, a curto
prazo.
Com o Banco Mundial temos uma
negociação através do BNH, hoje Caixa
Econômica Federal, da ordem de vinte e cinco
milhões de dólares para a despoluição do
Lago Paranoá, e, através da EBTU, da ordem
de oito a dez milhões de dólares, para a
pavimentação do sistema viário e a melhoria
da sinalização para o transporte coletivo em
cidades satélites.
Estamos negociando também com o
FIDA, Fundo Internacional do
Desenvolvimento Agrícola – da ONU – em
Roma, trinta milhões de dólares, para projetos
de irrigação e atendimento ao pequeno
produtor de hortifrutigranjeiro, um projeto
integrado no Distrito Federal.
Basicamente, são estas as
negociações externas.
Dentro do tempo que me coube, é isto o
que, em linhas gerais, teria a dizer. Estou
inteiramente à disposição dos Srs. Constituintes,
agora e depois, para esclarecimentos mais
profundos sobre qualquer um dos temas.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Está franqueada a palavra aos Srs.
Constituintes, lembrando a S. Ex.as que cada
um tem três minutos para fazer suas questões
ao expositor.
Concedo a palavra ao Sr. Constituinte
Pompeu de Souza, pedindo a S. Ex.ª que fale
ao microfone, para que sua participação fique
registrada nos Anais da Casa.
O SR. CONSTITUINTE POMPEU DE
SOUZA: – Um louvor à clareza e à
objetividade da exposição do Sr. Secretário
José Carlos Mello e ao conhecimento de
causa que revela, ao lado de memória
prodigiosa, coisa que invejo profundamente,
porque sou completamente infenso à memória
para números.
Quero fazer uma pergunta sobre algo
que me assustou, como velho habitante do
Distrito Federal, pois estou nesta unidade da
Federação há quase vinte e seis anos. Assisti
à sua construção e pretendo só sair daqui –
aliás, daqui para aqui mesmo – para o Campo
da Esperança.
S. Ex.ª nos disse que – isto, aliás, não
é novidade, porque está em todos os
noticiários – teremos racionamento de água,
já a partir deste fim de semana. Contudo,
anunciou coisa mais grave, que é esse
problema transformar-se, a curto prazo, em
situação de calamidade. Isso assusta
profundamente a nós, habitantes de Brasília,
principalmente por se tratar da Capital da
República, com projeção não apenas
nacional, mas internacional, a ponto de estar
sendo cogitada para transformar-se em
monumento da Humanidade. Isto constitui
anomalia de muita gravidade, verdadeira
vergonha nacional.
Pergunto, portanto, a V. S.ª que
medidas podemos tomar a curto prazo, para
que a médio prazo não ocorra essa
calamidade vergonhosa.
O SR. JOSÉ CARLOS MELLO: –
Obrigado pelas suas palavras, Sr. Constituinte
Pompeu de Souza.
São causas da falta de água: primeiro,
o decréscimo das chuvas nos últimos três
anos, cujo índice pluviométrico ficou muito
abaixo da média dos últimos anos; segundo, o
assoreamento e o uso abusivo do lago Santa
Maria, que abastece boa parte da cidade. Não
é preciso ser engenheiro para saber que é
necessário acumular água e que depois o
volume de água que entra tem de ser igual ao
que sai. Nesse período mais seco a crise de
abastecimento foi adiada. O lago Santa Maria,
no ano passado, foi usado em excesso, ou
seja, a vazão foi maior do que a entrada
d'água. Ele vai ter de ser fechado, para ser
recuperado. Em terceiro lugar, há falta de
grandes obras nesse setor. Lamentavelmente,
para certos setores, principalmente os de
energia, abastecimento d'água e transportes,
podemos ter soluções de curto prazo e a baixo
custo, aproveitando mais capacidades ociosas,
perdularismos ou má gerência num certo
período. Mas, num dado momento, temos de
encarar as grandes obras, que são difíceis de
executar, de obter recursos, são problemáticas
e freqüentemente, até polêmicas.
Então, neste momento, não podemos
mais adiar três questões: transportes públicos,
abastecimento d'água e saneamento. Foram
adiadas, mas isso não é mais possível.
Com relação ao abastecimento
d'água, estamos negociando com o
BID trinta milhões de dólares, cujos
contratos estão andando em prazo
15 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
recorde, para a duplicação do Sistema Rio
Descoberto. Já existem a barragem e apenas
uma adutora, que precisa ser duplicada.
Seriam necessários trinta milhões de dólares
em investimentos, cerca de um ano de obras,
prazo que pode ser reduzido um pouco.
Começamos as negociações com a SEPLAN
e com o BID em janeiro; em fevereiro, foi
realizada em Brasília a reunião com técnicos
do BID, na SEPLAN; no começo de março,
como o projeto está pronto, a Caesb levou-o a
Washington para ser submetido ao BID. Há
quinze dias a missão técnica do BID esteve
aqui em Brasília para fazer a sua avaliação. O
Governador José Aparecido terá um encontro,
em maio, em Washington, com o Presidente
do BID. Acreditamos que em prazo recorde
esse contrato será assinado e poderemos
começar a obra até o final do ano.
Ao mesmo tempo, estamos tentando
recuperar pequenos córregos para minimizar
o efeito da falta d'água.
Outra medida tomada visando a este
problema foi a criação da tarifa diferenciada;
que entra em vigor em maio: quem consome
mais paga mais. O consumo normal de uma
cidade aqui e em qualquer parte do mundo –
é da ordem de trezentos, trezentos e
cinqüenta litros per capita. Nos lagos Norte e
Sul, graças às piscinas e aos jardins, esse
consumo chega a mil litros. Mesmo em
cidades-satélites como o Guará, o consumo é
da ordem de quatrocentos, quatrocentos e
cinqüenta litros per capita. Ou seja, o
consumo de água em Brasília é muito grande.
A imprensa anuncia perdas na rede. Todo o
sistema é projetado para perda. Carlos
Alberto, que é engenheiro eletricista, deve ter
lido ontem no Jornal do Brasil, com a maior
alegria, artigo sobre os supercondutores. Um
sistema de energia perde cerca de 30% na
rede; então, o sistema de Itaipu perde cinco
milhões de quilowats na transmissão. Isto é
normal, faz parte do sistema. E os
supercondutores vão eliminar a perda. No
sistema de água, a perda é normal,
representa mais ou menos 20%.
A tarifa diferenciada já entrou em vigor
para reduzir o consumo, a partir de maio
teremos o racionamento: um dia sem água para
dois de abastecimento. Quem não economizar
não terá água; quem economizar gastará menos
e sentirá menos a falta de água. O problema só
vai ser resolvido com a barragem do São
Bartolomeu, investimento da ordem de trezentos
milhões de dólares. A Caesb até então não tinha
sequer estudo preliminar; tinha um rabisco no
papel. Agora, já encomendou à empresa
especialista de São Paulo o estudo preliminar,
que já está definindo a área de inundação e o
projeto da barragem. Agora cabe ao Governo
buscar recursos para isso. Para o início das
obras estamos negociando setenta milhões de
dólares com o BID, quantia que, evidentemente,
não é suficiente. Teremos de conseguir pelo
menos mais duzentos e trinta milhões de dólares
para evitar esta calamidade.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao nobre Constituinte
Meira Filho.
O SR. CONSTITUINTE MEIRA FILHO:
– Srs. Constituintes, Srs. componentes da
Mesa, meu querido Dr. José Carlos Mello,
sou um brasiliense de muitos anos, desde o
tempo em que bebíamos água da barragem do
Torto ou da Cabeça do Veado, que V. S.ª
deve conhecer muito bem. Quando da
inauguração do sistema de água a imprensa
dava notícia alvissareira à nossa população:
sistema do rio Descoberto, Sistema de Santa
Maria. Dizia-se que daí para a frente Brasília
não teria problema de água, nem no ano
2000. Será que nos mentiram, Dr. José Carlos
Mello? V. S.ª com sua inteligência e
capacidade – que louvo, enalteço e conheço –
poderia dizer se mentiram para a população
da nossa cidade?
Quanto à questão do abastecimento
de água, o racionamento não é pretexto para
se conseguir empréstimo? Desculpe-me V.
S.ª, mas perguntar não ofende.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o expositor.
O SR. JOSÉ CARLOS MELLO: –
Caro Constituinte, quando disseram que não
iria faltar água em Brasília, evidentemente
estavam pensando numa cidade de
quinhentos mil habitantes. Este era o
pensamento da época. Estamos com um
milhão e seiscentos mil habitantes. A
realidade nada mais tem a ver com a
prancheta. Lamentavelmente, o paraíso
projetado já foi superado pelos fatos há muito
tempo. Acredito que não tenha havido
mentira: houve a ilusão de que Brasília seria
apenas uma capital político-administrativa,
uma cidade pequena, e não um pólo de
desenvolvimento da Região Centro-Oeste. Eu,
particularmente, considero este o papel mais
importante que a Capital representou,
superando o de Capital político-administrativa.
E esse pólo de desenvolvimento naturalmente
atraiu mão-de-obra de todos os lados, até
pelo slogan "Capital da Esperança". Todos
vieram para cá buscando dias melhores. Acho
que não mentiram, mas trabalharam
realmente em cima de uma ilusão. O estudo
de Brasília tem muito arquiteto, pouco
engenheiro, pouco economista, pouco
estatístico. Freqüentemente fica-se flutuando
entre sonhos e ilusões.
O SR. CONSTITUINTE MEIRA
FILHO: – Desculpe-me, Dr. José Carlos
Mello. Não mentiram, nos iludiram.
O SR. JOSÉ CARLOS MELLO: – De
qualquer forma, ainda não enfrentamos a falta
d'água que todas as outras grandes capitais
brasileiras enfrentaram. A nossa será até
amena.
Com relação ao segundo item, essas
captações de recursos envolvem trabalhos
extremamente complexos. Para a efetivação
de um empréstimo externo são cumpridas
várias etapas. No nosso caso,
obrigatoriamente começa pela Seplan e passa
pelo Senado Federal. Num dado momento,
este será chamado a aprovar ou não esse
empréstimo e questioná-lo, em todos os seus
detalhes. Coloco à disposição de todos os
Constituintes os estudos da Caesb – estudos
de precipitação pluviométrica, de consumo, de
projeção do consumo. Sr. Constituinte Meira
Filho, projetos como este têm maturação
extremamente lenta. Uma vez decidido,
faremos a barragem do São Bartolomeu, o
que, seguramente, durará nove, dez anos:
desapropriar a área, projetar a obra em
detalhes, iniciá-la, construir o maciço,
acumular a água, distribuí-la e bombeá-la.
Essa obra, então, será concluída no ano
2000, quando teremos, segundo projeções
conservadoras, três milhões e duzentos mil
habitantes e, segundo projeções da ONU,
quatro milhões de habitantes. Se quisermos
pensar dez anos na frente, teremos,
obrigatoriamente, de começá-la hoje.
Permitir-me-ia até fazer um parêntese.
Sexta-feira última estive no Rio de Janeiro
gravando um programa para a TV Globo
chamado "A Palavra é Sua", que aborda o
problema dos transportes naquele Estado.
Perguntei até por que me chamaram e, não,
alguém da cidade. Disseram que queriam um
especialista em transportes de fora do Rio de
Janeiro. O transporte no Rio é realmente
calamitoso, supera tudo o que possamos
imaginar em termos de precariedade. Disse
que uma das causas entre as várias
existentes – não há problema complexo com
uma causa ou um efeito, os efeitos e as
causas são muitos em torno dos problemas
complexos – é que todo projeto de peso em
transporte tem maturação lenta, exige mais de
um governo. E a falta de continuidade
administrativa tem afetado brutalmente os
problemas de transportes no Rio de Janeiro,
principalmente com relação aos subúrbios. Se
quisermos recuperar os subúrbios do Rio de
Janeiro serão precisos dez, doze anos, três
governos se interessando pelo assunto.
Voltando ao abastecimento de água
local, acredito nos dados que os técnicos da
Caesb projetaram e simularam. Se for o caso,
coloco-me até à disposição de V. Ex.as para
promover uma palestra esclarecedora, uma
conferência da Caesb nesta Casa sobre o
problema do abastecimento de água em
Brasília.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Sr. Relator, que tem
cinco minutos para suas questões.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, ilustres Colegas
desta Subcomissão, em verdade estamos
aqui reunidos para discutir e elaborar uma
nova Constituição para este País. E a nós,
desta Subcomissão, cabe o título referente à
Organização do Estado. Um dos capítulos
deste tema é exatamente o Distrito Federal, a
sua autonomia.
Nesse sentido, gostaria de saber do
ilustre conferencista que sugestões pode
apresentar para que o Distrito Federal venha
a ter recursos financeiros próprios.
O SR. JOSÉ CARLOS MELLO: – A
pergunta do Constituinte Sigmaringa Seixas é
oportuna, porque no momento discute-se
muito a autonomia – e associa-se a
autonomia política à financeira.
Começaria dizendo com que o atual
sistema tributário brasileiro nenhum Estado,
nenhum Município de porte tem autonomia
financeira. Então, não somos exceção. O Acre
depende, em 96% da sua receita, de
transferências da União. Posso cometer uma
injustiça com os Estados do Nordeste, mas
acho que nenhum consegue pagar o seu
pessoal. Meu Rio Grande do Sul, que sempre
foi um Estado próspero e independente,
com ares até de certa arrogância, hoje
depende de transferências da União para
pagar o funcionalismo. Então, não há
independência.
Eu me estenderia ainda mais. A
Comissão de Tributação terá imensa
dificuldade para resolver esse problema.
Recentemente, com grande alegria, fiz em
Fortaleza uma conferência sobre tributação e
reforma tributária para as Federações de
Indústria, Agricultura e Comércio do Ceará.
Confesso que não gostaria de estar
na pele dos Constituintes que vão fazer
a reforma tributária. O tema é extremamente
complexo. V. Ex.as lembram que
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 16

todos os governos, nos últimos dez ou quinze
anos, prometeram fazer reforma tributária e
nenhum a fez. Agora vamos ver por quê.
Nos últimos dois anos foi instituída uma
Comissão de Reforma Tributária da SEPLAN.
Participamos de reuniões com os Secretários
Estaduais de Planejamento, e a coisa não
evoluiu. Na reforma tributária de 1967, a União
e os Municípios foram beneficiados e os
Estados. foram prejudicados. Então, qual é o
problema? É que o Estado tem uma despesa
alta e uma arrecadação pequena, esta
vinculada basicamente a um tributo até difícil
de arrecadar, o ICM – e o ex-Secretário
Valente sabe dessa dificuldade. Sugestão aos
Constituintes: a legislação mais dura na Itália é
a referente ao recolhimento de imposto sobre
vendas. É crime inafiançável não dar nota fiscal
e sair sem nota fiscal de uma loja. O lojista
observa se o comprador, ao adquirir a
mercadoria, está de posse da nota fiscal,
porque é crime para os dois, e ocorrem prisões.
No Brasil a sonegação é brutal, principalmente
nos Estados do Nordeste. Na conferência que
eu fazia, no Ceará, os empresários que a
assistiam confirmavam a sonegação. Então,
devemos criar tributos mais fáceis de arrecadar
e legislações associadas à tributação.
Ora, se para o Imposto de Renda
existe uma legislação severa, que vai em cima
do assalariado, por menos que este ganhe,
por que também não há penalidade para
quem sonega o ICM? Tente algum de nós não
pagar o Imposto de Renda e veja o que
acontece! Por que o comerciante e o
empresário não sofrem também uma
penalidade rigorosa com relação ao ICM?
Uma idéia para os Srs. Constituintes: vejam a
legislação italiana ou de outros países nesse
setor. Esta é a única maneira de aumentar a
arrecadação.
Os Estados foram prejudicados na
reforma de 1967, têm direito a arrecadar mais
ou menos, arrecadam mal e gastam muito. Os
Municípios foram imensamente beneficiados
na reforma de 1967. Eles poderiam participar
em até 9% da receita total do País e depois
da reforma podem chegar a 16%. Não há pior
arrecadador do que o Município.
Quando preparei, certa ocasião, uma
palestra para prefeitos no Rio Grande do Sul
sobre arrecadações e tributação, vi o que eles
podiam arrecadar e não arrecadavam. Liguei
para o IBAM, falei com o Prof. Diogo Nogueira
de Melo, um grande especialista, que confirmou:
os Estados não arrecadam o que podem.
Recentemente, conversando com um
Constituinte do Piauí, na Comissão de Finanças,
afirmou S. Ex.ª que principalmente no Nordeste
os Municípios não arrecadam nada. Então, não
adianta criar novos tributos para quem já tem o
poder de arrecadar e não arrecada. São
impasses que têm de ser pensados. Temos de
trabalhar em cima da realidade.
Por outro lado, cabe à União implantar
a infra-estrutura maior do País: energia,
transportes, distribuição de energia, ferrovias,
portos, estradas, irrigação. Os grandes
projetos de infra-estrutura já lançados nos
países desenvolvidos ainda estão sendo
implantados em nosso País, o que exige a
concentração de recursos por parte da União.
Dizem: os alemães são puramente
municipalistas; quem arrecada é o Município.
Ora, toda a infra-estrutura alemã já está
implantada.
Imagino o trabalho de quem
integra a Comissão de Tributação
e tem de analisar todos esses
parâmetros: quem tem o poder de arrecadar,
arrecada mal; a União, que arrecada um
pouco melhor, é encarregada dos grandes
projetos de infra-estrutura num País em
construção, diferentemente dos países
europeus e do próprio Estados Unidos, em
que a União também concentrou muito
recurso quando do lançamento da sua infra-
estrutura; a existência de um imposto
importante e complexo como o ICM, tributo de
fácil sonegação e, portanto, de difícil
arrecadação.
Respondendo à pergunta do ilustre
Constituinte Sigmaringa Seixas, eu diria que
apenas divaguei sobre o sistema tributário.
Estão aqui presentes pessoas como o ilustre
Constituinte, que foi Secretário da Fazenda, e
o Conselheiro Fernando Tupinambá Valente,
que estão muito mais habilitados do que eu a
falar sobre tributação. Dentro do atual sistema
tributário, falei rapidamente sobre as
dificuldades de modernizá-lo, de tomá-lo até
mais apto a dar independência política aos
Estados e Municípios. Creio que não se pode
associar uma coisa à outra, senão nenhum
Estado teria independência – acabaria a
Federação.
Agora um alerta aos Srs.
Constituintes: a União transfere para nós 55%
do orçamento sem amparo legal. E tradição –
a União pode transferir e transfere. Quando
digo sem amparo legal é porque não existe
uma lei que diga que a União tem de pagar a
Polícia do Distrito Federal, o professor, o
médico. Seria muito interessante se esta
Comissão sugerisse à Comissão que trata de
tributação que transformasse isso em lei, para
que o Governo do Distrito Federal pudesse
até ter mais independência de ação e não
ficasse dependendo simplesmente não da boa
vontade mas de uma tradição. A União nunca
vai dizer que não paga mais saúde, educação,
nem segurança pública – acredito que
ninguém é louco – mas pode atrasar,
alegando que o limite está muito alto.
As nossas negociações, como
Secretário, junto á SEPLAN não são
automáticas, simples. Temos de levar dados,
argumentar, o que é até bom sob certo
aspecto, pois nos obriga a exercer esse
controle muito grande para não ficarmos
vulneráveis às questões da SEPLAN.
Outra sugestão seria no sentido de
que, como a União exige muito da Capital da
República – Brasília não pode ser uma cidade
suja, sem iluminação perfeita, sem segurança;
tem de ter um setor de Embaixadas e um
Eixo Monumental que nenhuma outra cidade
tem – fosse fixado também um percentual
que a União teria de "pagar" – entre aspas –
transferir ao Distrito Federal, para que
possa manter essa excelência de s
erviços, em atendimento principalmente
aos desejos, à política maior da própria
República.
Quero agradecer aqui o convite que
me foi formulado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao nobre Constituinte
Felipe Mendes, do Piauí.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Gostaria apenas de fazer uma
indagação referente aos dados que V. S.ª
apresentou, que foram relativos. Qual o valor
da execução orçamentária de 1986?
E gostaria de complementar a
indagação do nosso Relator, porque
a nossa preocupação não é apenas
a de discutir a autonomia política do
Distrito Federal, dos Territórios e daqueles
Estados cuja criação também é defendida. De
que maneira, do ponto de vista da nossa
Subcomissão, esta autonomia pode ser
viabilizada?
Parece-me claro que a União tem
obrigações com o Distrito Federal, com a
cidade que é sede dos Poderes da República,
pois Brasília não é apenas dos brasilienses, e
sim de todos os brasileiros. Nós, integrantes
desta Subcomissão, teremos esta
preocupação de assegurar medidas capazes
de tornar viável a autonomia política.
O SR. JOSÉ CARLOS MELLO: – É
evidente que o casamento de Brasília com a
União é total. O Governador do Distrito
Federal recebe pessoas, presidentes,
chanceleres, ministros estrangeiros por
determinação do Cerimonial do Itamaraty ou
da Presidência da República. O vínculo é até
cerimonial. É impossível dissociar uma coisa
da outra. É o que acontece com Paris em
relação à França, onde o prefeito é eleito e de
partido diferente. Essas coisas podem ser
civilizadamente combinadas.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Pode ser atípica.
O SR. JOSÉ CARLOS MELLO: –
Pode ser atípica. Essas coisas não se
processam com facilidade. O Prefeito de Paris
é eleito pelo povo – já está com dez anos de
mandato, é de um partido diferente do
Presidente da República. De repente, vira
Primeiro Ministro e continua sendo Prefeito.
Toma-se mais importante do que o Presidente
da República. E as pessoas continuam
convivendo civilizadamente. Nem por isso
Paris deixou de ser Capital da França e nem
por isso o Governo Francês passou a isolar
Paris.
O Primeiro Ministro da Itália era da
Democracia Cristã; o Prefeito de Roma, do
Partido Comunista. Tive até a honra de
recebê-lo aqui, em Brasília. Agora, marcando
audiência para S. Ex.ª tomei conhecimento
de que o mesmo renunciou na semana
passada. Roma está com Prefeito interino.
Quando esteve aqui tivemos até uma boa
conversa.
Faço um outro parêntese. É inevitável
contarmos um fato pitoresco durante uma
conferência – depois o Presidente "puxa a
minha prelha". S. Ex.ª perguntou-me: "Em
quanto tempo os senhores aprovam um
projeto, aqui em Brasília, de obra pública?"
Respondi-lhe que dependia da obra. Por
exemplo, o projeto de uma casa, se estiver
bom, em quinze, vinte dias está aprovado; de
um edifício – se não tiver erros – em quarenta
dias. S. Ex.ª me disse: "Preciso mandar meus
engenheiros para cá; lá demora anos."
Imaginem V. Ex.as são 27 séculos de
processos e projetos. E as coisas se
processam de maneira civilizada. O Rei da
Inglaterra tem de pedir autorização ao Prefeito
para sair de Londres; para entrar, tem de
pedir nova autorização. Acho que esse
convívio é possível.
Quanto à autonomia financeira, creio
que o montante a ser transferido deveria
constar em lei. Faz vinte anos que a União
paga segurança, saúde e educação. A União
exige do Governo do Distrito Federal uma
série de serviços. Transforme-se isso em lei.
Com relação à primeira pergunta; o
Orçamento executado no ano passado, sem
as empresas públicas, apenas com a
administração direta e fundações, foi da
ordem de 8 bilhões de cruzados.
17 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao nobre Constituinte
Chagas Duarte, que já a havia solicitado
anteriormente.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Dr. José Carlos Mello, V. S.ª nos
revelou um número que me assusta e, de
resto, este País; disse que a despesa de
custeio – e aí está incluída despesa com
pessoal – é da ordem de 80% e que apenas
11% são despesas de capital.
Pediria a atenção dos Srs.
Constituintes para o grande mal deste País: a
despesa com pessoal. Ela é exacerbada,
chegando a atingir, nesses Estados de que
temos tomado conhecimento, quase 90% do
Orçamento. Vejam bem: se o Estado ou o
Distrito Federal gasta 80 a 90% com
despesas de pessoal, de custeio, quase nada
resta para investimentos. Então, o que fazem
os Estados? Vão buscar empréstimos fora
para poder investir, o que, por certo, gera
essa espiral inflacionária em que vive a
Nação, porque o Orçamento quase sempre se
refere à despesa de pessoal.
Faço, então, uma sugestão aos Srs.
Constituintes no sentido de que nos
debrucemos sobre esses números e
encontremos uma maneira de limitar esta
ação dos governadores com despesa de
pessoal. E bem verdade que estamos fazendo
uma Constituição para o nosso País. Se
limitássemos as despesas com pessoal na
União em apenas 55%, fazendo restar 45%
para investimentos, não reduziríamos a
inflação neste País, que é mais uma questão
de moral? Agora mesmo estamos
presenciando os governadores nos Estados
demitirem um sem número de funcionários, de
tal ordem que ficamos pensando se realmente
são verdadeiros esses números.
Sr. Secretário, ao discutirmos aqui a
autonomia do Distrito Federal, preocupa-nos
também a autonomia política dos nossos
Territórios. Fomos Secretário de
Administração e Finanças e fazíamos tudo
para que a despesa com pessoal, despesa de
custeio, fosse reduzidíssima. Chegamos a
apenas 45% para que investíssemos o
máximo. Considerávamos os fornecedores do
governo, os empreiteiros, uma continuidade
da administração, abrindo frentes de trabalho
e não tanto empregando. Realmente, vi
poucas administrações em que se investiu
muito e se construiu uma cidade.
Era o que tínhamos a colocar para o
nobre expositor.
O SR. JOSÉ CARLOS MELLO: – V.
Ex.ª me dá a chance de falar sobre outro tema
que me preocupa muito. Lamentavelmente, não é
da nossa cultura, é da cultura lusitana, e
importamos isso com o maior prazer, o
empreguismo no serviço público. Recentemente,
o "Jornal do Brasil" publicou que, quando veio
para cá, D. João VI trouxe 15 mil nobres e criou 11
mil empregos públicos no Rio de Janeiro para
acomodá-los. Considero impatriótico
empregarem-se parentes, familiares. O político
brasileiro moderno tem de superar essa fase de
país subdesenvolvido. O subdesenvolvimento é
muito mais mental do que econômico. E chocante
ver-se esse empreguismo desenfreado, que
felizmente agora está sendo coibido. Não sei se é
apenas publicidade de início de governo. Vai-se
ficando até cético e não se sabe se são realmente
para valer, essas demissões.
Algumas coisas têm de ser
fixadas. Em primeiro lugar, o ingresso
no Serviço Público deve constar
na Constituição, seja para a administração
direta, indireta, autarquias, empresas, seja lá o
que for, estadual, municipal e federal. Pergunta-
se o que os Municípios têm a ver com a União.
Ora, a União é que paga o salário dos
funcionários dos Municípios e dos Estados. O
ingresso no Serviço Público tem de ser
obrigatoriamente por concurso. Há certas coisas
no Brasil que não adiantam ser lei. É preciso
fixar um item na Constituição, estabelecendo
que o acesso ao Serviço Público, a qualquer
título, tem de ser por concurso público – na
empresa, na autarquia, na fundação. Neste
aspecto temos de ser draconianos.
Em segundo lugar, a mobilidade deve
ser pequena e a nível de gabinetes. O
Presidente francês tem direito a movimentar
em torno de 400 pessoas. É por isso que a
França é um grande país. Contarei um fato
que ocorreu comigo. No ano passado, no dia
em que o Ministro Chicarc tomava posse,
estava eu numa reunião com o Diretor-Geral
dos Transportes Terrestres, no Ministério dos
Transportes, em Paris. Como brasileiro, vendo
na televisão e nos jornais a mudança do
Primeiro-Ministro, achei que teria de voltar
dias depois e conversar com o substituto.
Assim, falei dessa minha preocupação para
um jovem técnico que estava à minha frente.
Ele me disse que já havia percebido que eu
pensava que, com a mudança do Primeiro-
Ministro, tudo mudaria. Disse ele: "Conheço
bem o seu País e a América Latina, onde já
trabalhei em intercâmbio técnico. Aqui nada
vai mudar. Sou funcionário de carreira,
cheguei a este posto por carreira. No começo
do Governo Mitterrand o Ministro dos
Transportes era comunista; o segundo
Ministro a que servi, cujo mandato termina
hoje, era socialista; e o próximo é direitista.
Não há Ministério que haja mudado mais do
que o dos Transportes, na França. O direitista,
na França. O direitista, na realidade é da
extrema direita. Foi uma pessoa que Chirac
quis colocar no Ministério da Economia e
Finanças e, havendo reações, nomeou para o
Ministério dos Transportes. Indaguei sobre o
que iria acontecer e ele me respondeu que o
Ministro deveria mudar seu Chefe de
Gabinete e umas 40 ou 50 pessoas para uma
assessoria mais direta. "Analisará os planos
de longo prazo, mas jamais interferirá em
algum projeto em andamento ou prestes a
começar. E assim que damos continuidade à
administração", afirmava o assessor francês.
O funcionário público brasileiro é um
desestimulado. Um engenheiro do DNER, se
for bom, tem direito a duas promoções; se for
ruim, tem direito a duas. Ora, isso não é
carreira, não estimula ninguém. Então, tem de
haver planos de carreira que promovam o
funcionário por antiguidade e por
merecimento, como ocorre no Banco do
Brasil, no Itamaraty e nas Forças Armadas.
Com isso criamos bases para um
Parlamentarismo estável. A Itália, que muda
de governo mais do que a Bolívia, continua
progredindo. Possui a economia mais
próspera da Europa e teve mais Gabinetes,
desde o fim da guerra até hoje, do que a
Bolívia teve Presidente da República. No
entanto, o país não parou de progredir, sem
inflação e sem desemprego.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– com a palavra o Constituinte Pompeu de
Souza.
O SR. CONSTITUINTE
POMPEU DE SOUZA: – Desculpo-me
por ocupar mais uma vez o micro-
fone, mas na verdade apenas sou o porta-voz
do Prof. Carlos Alberto Torres, que,
infelizmente, não é nosso companheiro de
bancada. Gostaria muito que ele fosse
Senador como eu e o Constituinte Meira Filho,
porque o Distrito Federal muito o merecia.
Pediu-me o colega que transmitisse uma
pergunta – já que não o pode fazer
diretamente – ao nosso Secretário de
Governo do Distrito Federal: há alguma
possibilidade de se saber, a grosso modo, em
quanto importaria a perda da arrecadação
com as atividades de sonegação? O
Secretário disse que o Município arrecada
mal. Isto se deve ao fato de não haver
pessoas para trabalhar ou à corrupção?
O SR. JOSÉ CARLOS MELO: – É
por tudo, até pela nossa omissão como
consumidor. Sabemos que 17% do que
compramos reverte ao Estado. Ora, qual de
nós aqui pede a nota fiscal do restaurante, da
loja? A do supermercado é compulsória, pois
vem na fita. Começa por nós a omissão do
contribuinte, do usuário. Em segundo lugar,
está a fiscalização. Eu diria que a realizada
em Brasília até é boa. Mas, segundo o que
ouvimos em palestras desse tipo, a
arrecadação em alguns Estados é calamitosa.
A entrada de Brasília deveria existir um posto
fiscal funcionando durante 24 horas,
devidamente aparelhado. Isso não acontece
porque é caro, assim como o aparelho
arrecadador.
Voltamos ao exemplo da Itália. O
povo italiano é tão indisciplinado quanto o
nosso. No entanto, todos saem das lojas com
a nota fiscal. Acredito ser muito mais simples
nesse caso uma lei draconina. A lei que
regula o Imposto de Renda é draconiana. O
dinheiro sai do seu bolso e nem chega a
entrar em sua casa. Então, existe uma lei
draconina em cima de pessoa física, do
assalariado, e não há uma lei draconina em
cima de quem seria o grande contribuinte do
estado e do Município – Estado, aí, não União
– o empresário. O que há, às vezes, é a falta
de educação das pessoas que devem
entregar nota e a nossa omissão.
Penso que neste ponto o Conselheiro
Fernando Tupinambá Valente, pela sua
experiência como Secretário de Finanças do
Distrito Federal durante nove anos – tive a
honra de ser seu colega de secretariado,
quando a arrecadação era uma das mais
exemplares, senão a mais exemplar do Brasil
– pode enriquecer muito mais essa resposta.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Não havendo mais quem queira fazer
indagações ao expositor, passo a palavra ao
segundo conferencista desta manhã, o
Conselheiro Fernando Tupinambá Valente.
O SR. FERNANDO TUPINAMBÁ
VALENTE: – Sr. Presidente Jofran Frejat; Sr.
Relator da Comissão Constituinte Luiz Carlos
Sigmaringa Seixas; Srs. Constituintes; minhas
Senhoras e meus Senhores; inicialmente
gostaria de agradecer ao antigo companheiro
de secretariado, Constituinte Jofran Frejat, a
oportunidade que nos dá, de prestar alguns
esclarecimentos que possam servir de
subsídio para as definições a cargo desta
Subcomissão, que trata da organização do
Estado e, mais especificamente, da
organização da União, Distrito Federal e
Territórios.
O Secretário José Carlos Mello,
numa brilhante exposição, e em vista
dos debates que se seguiram, já
teve oportunidade de abordar, com bas-
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 18

tante detalhes, a problemática orçamentária e
até mesmo financeira do Distrito Federal. Para
facilitar a exposição seguirei as linhas por ele
aqui colocadas, tentando situar-me dentro do
campo específico da Subcomissão.
Como vimos – e acredito que já era do
conhecimento de todos – o Distrito Federal tem
uma situação sul generis: nos campos
orçamentário e financeiro, é basicamente
inteiramente dependente da União. Se
eliminarmos do montante da receita arrecadada
pelo Distrito Federal as transferências da
União, a título – vamos dizer – de liberalidade,
as transferências decorrentes da participação
em tributos federais e até mesmo o ICM sobre
o trigo importado, que apenas por uma ficção
legal pertence ao Distrito Federal, pouco sobra.
Na realidade, devido às funções do
Distrito Federal, criou-se um mecanismo que
lhe atribui uma arrecadação que, tecnicamente,
deveria pertencer aos Estados. Criou-se a
ficção de que toda a importação de trigo
estrangeiro é feita pelo Banco do Brasil, através
de Brasília, onde o banco tem a sua sede. Por
isso, então, quando da comercialização pela
primeira vez desse cereal, há a cobrança do
imposto, que vai diretamente para os cofres do
Distrito Federal.
Foi o Ato Complementar nº 36 que,
em 1967, fez essa definição e atribuiu ao
Distrito Federal a competência para arrecadar
esse tributo. É evidente que, nesses primeiros
períodos, a arrecadação do ICM era
basicamente o sustentáculo da arrecadação
do Distrito Federal, representando mais de
50% – chegou a 60% e a 65% – de sua
receita própria. Hoje, a importância foi
tremendamente diminuída, inclusive em
função dos próprios subsídios, e não alcança
5% do Orçamento do Distrito Federal. Para o
corrente exercício, num orçamento aprovado
da ordem de 7 bilhões de cruzados, a
arrecadação do ICM do trigo está prevista em
cerca de 300 milhões, numa receita própria de
2,3 bilhões. Com isso, eu responderia à
indagação há pouco feita pelo Constituinte
Felipe Mendes, do Piauí – o valor do
orçamento do Distrito Federal para este ano é
de 7 bilhões de cruzados; a arrecadação
própria vai a 2,3 bilhões, dos quais 300
milhões correspondem à arrecadação do ICM
do trigo importado.
Evidentemente, com a eliminação do
subsídio do trigo, que vem sendo anunciado,
e não havendo uma redução drástica no
volume físico importado – o que deve ocorrer,
como mencionado pelo Dr. José Carlos Mello
– essa arrecadação poderá alcançar 1 bilhão,
ou seja, ser triplicada. Mas, mesmo assim, já
a essa altura o Orçamento do Distrito Federal
estará se aproximando, em função do
processo inflacionário, da casa dos 20
bilhões, até o final deste ano. Ainda assim
permanece a relação de 5% do total do
Orçamento.
O que resta? Temos um Distrito Federal
que depende, basicamente, de dois terços de
seu orçamento para sua sobrevivência.
Evidentemente, esta situação traz uma série de
vantagens para a administração financeira do
Estado. É tranqüilo, para um Secretário de
Finanças e mesmo para o Governador, saber
que mensalmente dois terços de sua folha de
pagamento e de suas demais despesas são
tranqüilamente repassados pela União. Por outro
lado, isso cria uma série e desvantagens. Agora
mesmo vivemos um momento em que o
Governo local, para definir uma greve,
fica dependendo do compromisso de repasses
pelo Governo Federal – Governo Federal este
que, por outro lado, vive um dilema: como
concordar em remunerar o servidor do Distrito
Federal, com recursos da União, em bases
superiores as com que a própria União
contempla seus servidores?
Outra verdade que extraímos da
exposição do Secretário José Carlos Mello é a
atipicidade do Distrito Federal, que reúne, ao
mesmo tempo, tanto no campo da despesa
quanto no da receita, competência dupla e até
mesmo tripla, diria eu. No campo da
arrecadação, arrecadamos tributos ditos
municipais – aí incluídos o Imposto sobre
Serviços e o IPTU, os maiores em expressão;
arrecada o Distrito Federal o ICM e o Imposto
de Transmissão, sendo de maior expressão o
ICM, já desdobrado de um imposto que eu já
mascararia de federal, que é o caso do ICM
sobre o tipo importado, para poder permitir
que ele seja desviado das outras unidades da
Federação; e mesmo receitas federais, já que
mais da metade de seu Orçamento são
transferências, constitucionais ou por mera
liberalidade, do Governo Federal.
Diga-se de passagem, repetindo o
que aqui já foi colocado, que é uma
liberalidade já consagrada. Basicamente, sem
estar nada escrito e sem qualquer
compromisso de ordem legal, a União assume
as despesas das áreas de segurança, saúde
e educação. Mas, por outro lado, o Distrito
Federal também assume três tipos de
despesas: aquelas tipicamente municipais, as
despesas estaduais e também despesas
tipicamente federais, porque não podemos
esquecer que aqui estão sediados os Poderes
da República: o Poder Legislativo, que legisla
para todo o Território Nacional, através de
suas duas Casas, o Senado e a Câmara dos
Deputados, e agora mais a Assembléia
Nacional Constituinte; o Poder Judiciário, com
todos os Tribunais Superiores do País; as
representações diplomáticas e os Ministérios,
que administram toda a Nação.
Evidentemente, uma série de
despesas é gerada em função da assunção,
pelo Distrito Federal, dessa tríplice tributação.
Mas acredito que a grande preocupação de V.
Ex.as, para ficar dentro do objetivo desse
encontro, é com o tipo de autonomia que pode
ser dada ao Distrito Federal. Evidentemente,
esta Constituinte, partindo das colocações
desta Subcomissão e, depois, da Comissão
de Organização do Estado, tentará refletir o
que pretende o eleitorado brasileiro, através
das pesquisas e das inúmeras manifestações
de que se tem conhecimento, diariamente,
pela imprensa. Sente-se que a maioria dos
Constituintes tem como necessária, e
correspondente a um anseio popular, a
atribuição da autonomia política ao Distrito
Federal, permitindo a eleição do seu
Governador e de uma Assembléia Legislativa,
que passaria a legislar para o Distrito Federal
e a exercitar a fiscalização financeira e
orçamentária, atualmente a cargo do Senado
Federal.
Uma das indagações feitas aqui
em plenário é justamente como atribuir ao
Distrito Federal condições de obter, ao
lado de sua autonomia política, sua autonomia
financeira. Evidentemente V.
Ex.as vão trabalhar inúmeras idéias: até
mesmo uma reformulação do sistema
tributário pode surgir como conseqüência
desses estudos, desses exames,
dessas discussões. Embora, pessoalmente,
acredite que seja difícil imaginar-se uma
complexidade de impostos que atendam ás
necessidades de todos os níveis de poder,
creio que o sistema que aí está, com alguns
retoques, com algumas adaptações, poderá
propiciar a soma de recursos necessários aos
três níveis de poder, desde que
concomitantemente lhes sejam atribuídas
funções. Estados, Municípios e Governo
Federal exercitando, em concorrência, as
mesmas funções, na área de educação, na
área de assistência, na área de saúde, etc.
Acredito que, mantido mais ou menos
o sistema tributário existente, a forma de
assegurar recursos ao Distrito Feral poderia
ser a seguinte: primeiro, mudança básica dos
sistemas de participação nos fundos federais,
porque é do conhecimento de V. Ex.as que
todas as regras existentes para sua
distribuição desfavorecem o Distrito Federal.
De modo geral eles são atribuídos em razão
direta de extensão geográfica, e da população
e em razão inversa de nível de renda. E
qualquer desses sistemas acaba penalizando
o Distrito Federal. Não seria nenhum absurdo
nisso – já que a Capital Federal é de todo o
País – abrir-se uma exceção ao Distrito
Federal na distribuição desses fundos. Outro
mecanismo a ser explorado – e já foi
trabalhado há algum tempo, mas encontrou
algumas resistências, seria justamente a
participação direta do Distrito Federal em
algumas arrecadações federais como, por
exemplo, o Imposto sobre Operações
Financeiras, cujo volume de arrecadação é
maior no Distrito Federal, porque aqui estão
as sedes do Banco Central, do Banco do
Brasil e da Caixa Econômica Federal. A
atribuição de um percentual da arrecadação
desses tributos ao Distrito Federal não
provocaria reação muito grande por parte das
outras unidades da Federação.
Evidentemente, a grande negociação, a
grande concessão deveria ocorrer a nível
federal. O mesmo poderia ser feito com outros
tributos como o Imposto de Renda, por
exemplo, recolhido pelo Banco do Brasil e
eventualmente por algumas outras entidades
estatais com sede na Capital Federal.
Acabamos de anunciar para V. Ex.as
uma verdadeira incoerência. Acredito que o
Constituinte Felipe Mendes já deve estar com
uma pergunta pronta para nos fazer: como a
execução orçamentária de 1986 foi da ordem
de oito bilhões e a previsão para 1987 é de
sete bilhões? Realmente, só uma ligeira
explicação sobre o mecanismo permite o
entendimento desse ponto.
Como foi dito e explicado pelo
Secretário Mello, o nosso orçamento é feito a
quatro mãos com a área federal. Os parâmetros
saem do Governo Federal: em abril, maio
começa-se a trabalhar o Orçamento, cuja
proposta final deve ser entregue à SEPLAN em
agosto, para que haja tempo de encaminhá-la ao
Congresso Nacional, onde será convertida em
lei até 30 de novembro. O que ocorre? O Distrito
Federal recebe os parâmetros da área federal.
Se dois terços dos recursos, ou quase isso, vêm
da área federal – esta inclui na sua proposta
determinada quantia para o Distrito Federal –
embora saiba que aquilo não corresponde à
realidade, o Governo do Distrito Federal tem de
fazer o seu orçamento tomando por base a
expectativa de receita própria e o que a União se
comprometeu a transferir.
Como estamos vivendo situação
de greves, surge a questão: que
autonomia tem o Governo do Distrito
Federal, para negociar com qualquer gru-
19 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
po classista, seja ele de professores, de
médicos, de enfermeiros, etc., se os 100%
teriam de ser repassados pelo Governo
Federal? Acreditamos que esses mecanismos
legais, constitucionais, de referência, de
mudança nas regras de participação do
Distrito Federal no bolo da arrecadação dos
tributos federais dariam ao Governo do
Distrito Federal a tranqüilidade de que
precisa, ainda mais quando ocorre aquela
hipótese provável de eleição de um Governo
que não tenha maioria na Assembléia
Legislativa ou que seja de corrente política
contrária a do Presidente da República.
Então, vai depender de maior boa vontade da
área federal, pois o Governo do Distrito
Federal tem contado com sua estreita
colaboração na concessão desses recursos.
Mas, evidentemente, uma série de barreiras
limita o aporte desses recursos, como é o
caso da política de pessoal que a própria
União estabelece para os seus servidores.
Esta é uma tarefa que V. Ex.as terão de
enfrentar. São estas as idéias que podemos
fornecer num exame superficial.
Na área do controle, que nos toca
mais de perto, temos algumas preocupações.
Há algum tempo exercitei o controle interno,
através da Secretaria de Finanças, que de um
modo geral vem funcionando como cabeça de
todo o sistema.
Atualmente estou servindo ao Tribunal
de Contas, que funciona como órgão auxiliar
do Senado Federal na apreciação das contas
do Governo do Distrito Federal. É evidente
que, redefinindo o modelo, criada a figura de
um Legislativo próprio, essas funções teriam
de ser deslocadas, falando sempre no
condicional, para a área da Assembléia
legislativa.
Há uma preocupação genérica por
parte dos Tribunais com relação ao assunto, e
alguns trabalhos têm sido apresentados, a
partir de um congresso que realizamos em
Salvador, no ano passado, os quais, acredito,
oportunamente chegarão às mãos dos Srs.
Constituintes.
Atualmente, ocupo também uma
função quase honorária. Temos um centro de
coordenação das atividades de todos os
Tribunais de Contas do País, do qual sou o
Secretário-Executivo, eleito nesse congresso
de Salvador. Semestralmente nos reunimos e
os presidentes dos tribunais, de dois em dois
anos, em congresso, quando então trocamos
idéias e oferecemos sugestões. No congresso
de Salvador foi constituída uma comissão
integrada por membros dos Tribunais de
Contas Estaduais, Tribunais de Contas no
Município do Rio de Janeiro, e por dois
Ministros do TCU. Trabalhamos uma série de
idéias que estão consubstanciadas em pontos
genéricos e partem de um tríplice controle.
Realmente, uma das grandes
necessidades do Brasil de hoje – e aqui mesmo
ouvimos várias referências a este respeito – é a
de controle dos gastos públicos. Não podemos
esquecer que vem ocorrendo uma série de
omissões no exercício desse controle, sobretudo
por falta de entrosamento entre o Poder
Legislativo e os órgãos de controle e vice-versa,
já que cada um vem trabalhando como se fosse
um controle à parte, esquecendo-se de que atrás
de tudo existe um interesse público –
evidentemente isso é uma generalização e como
tal, às vezes peca por excesso – existe o
contribuinte, existe a contribuição. E não adianta
o Legislativo querer exercitar um controle
próprio, esquecendo-se dos Tribunais de Contas
que, na realidade foram criados para prestar,
nesse particular, auxílio aos Legislativos.
Embora, eu já esteja no Tribunal de
Contas do Distrito Federal há quase cinco
anos, pouquíssimas vezes, talvez em duas ou
três oportunidades, recebemos solicitação do
Legislativo sobre a nossa atuação. Mandamos
anualmente as contas do Governo – e o
julgamento das mesmas é público, é um
julgamento político do Senado – mas
pouquíssimas vezes houve um pedido de
complementação dessas informações. Pode-
se imaginar que não seja necessário, tendo
em vista a quantidade de informações que
mandamos.
O fato é mencionado porque esta é uma
constante em todos os níveis – federal, estadual,
municipal e mesmo do Distrito. Evidentemente,
pensa-se que na futura Constituição esse
entrosamento possa ser melhor exercitado, haja
maior número de solicitações por parte do
Legislativo, que tem grande soma de
informações à sua disposição nos Tribunais, as
quais poderão ser livremente requisitados ou
solicitados. É necessário haver alguns
aperfeiçoamentos nos dispositivos da atual
Constituição, como aquele que prevê a hipótese
de suspensão de terminados contratos, uma
prerrogativa dos Tribunais. Salvo engano, o art.
72 da atual Constituição prevê que no caso da
ilegalidade de qualquer contrato ou contratação
o Tribunal de Contas represente o Legislativo e
que, se ao final de um prazo – parece-me que é
de trinta dias – não houver manifestação por
parte deste, a ilegalidade prevalece. Uma das
idéias que se apresentam é justamente inverter
essa colocação que num prazo até maior, de
sessenta ou noventa dias, o Legislativo tenha
condições de rever a posição do Tribunal e
derrubá-la; se não houver essa manifestação
contrária, prevalecerá, o que parece mais lógico,
a manifestação da ilegalidade declarada pelo
Tribunal.
São estas as observações que
poderíamos fazer no tempo em que nos foi
concedido. Estamos à disposição de V. Ex.as
para qualquer comentário posterior sobre o
tema aqui abordado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A palavra está franqueada aos Srs.
Constituintes.
Concedo a palavra ao nobre
Constituinte Ruben Figueiró.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Conselheiro, apreciei
muitíssimo a exposição de V. S.ª como
também a do seu antecessor. Talvez eu seja
o único que tem dúvidas quanto à autonomia
do Distrito Federal, mas como homem público
não posso deixar de reconhecer a vocação do
brasiliense que quer escolher o seu
Governador. As explanações feitas por V. S.ª
e pelo Secretário de Governo robusteceram
as minhas dúvidas, mas me curvo diante de
uma decisão, de uma vocação popular e, para
anto, creio que há necessidade de
encontrarmos, sobretudo nesta Subcomissão,
mecanismos tais que possibilitem a
sobrevivência do Distrito Federal, como
unidade autônoma da Federação. Daí
por que louvei muito a sua exposição;
ela me deu a idéia de sugerir ao nosso
nobre Relator, o Constituinte Sigmaringa
Seixas, que estude a possibilidade de
incluir na competência da União,
especificamente, a elaboração de planos de
investimentos para o desenvolvimento do
Distrito Federal e dos futuros Estados que
naturalmente haveremos de criar através da
Carta fundamental, como é o caso de
Roraima e do Amapá.
Sr. Conselheiro, não farei indagações,
mas gostaria de somar a exposição de V. S.ª
lembrando que entre as propostas que tive a
honra de oferecer à análise dos Srs.
Constituintes existe uma referente ao sistema
tributário e outra, justamente à área em que
V. S.ª atua, que é a dos Tribunais de Contas
dos Estados.
Com relação ao sistema tributário,
entendo que a sonegação aqui considerada
como fator básico da ausência de recursos do
Poder Público se deve justamente à mania
brasileira de multiplicar os impostos. Criamos
impostos, taxas, emolumentos para tudo que
aparece. Qualquer operação que se faça
entre o Poder Público e o contribuinte, sobre
ela incide um tributo ao qual se dá a
denominação talvez a mais estapafúrdia.
Observando isto como leigo, como cidadão,
como um contribuinte "ferrado" pelo Leão,
muito mais agora que nos anos anteriores,
procurei voltar-me àquilo a que assisti, por
exemplo, nos Estados Unidos, em viagem que
fiz a convite do Departamento do Estado, em
1980. Visitei algumas unidades federativas
dos Estados Unidos, e a que mais me
impressionou foi a do Estado do Arizona.
Notei que lá existem apenas dois tributos: o
Imposto sobre a Renda de Atividades não
Assalariadas – porque, para mim, Sr.
Conselheiro, Srs. Constituintes, salário não é
renda; não se admite, em hipótese alguma,
tributos sobre salários; salário não é renda. A
renda originária do salário, esta sim, deve ser
tributada – mas o salário em si, em hipótese
alguma – e a taxa que incide sobre operação
comercial e administrativa. Desse bolo,
referente ao Imposto de Renda, 50% vão para
a União, 30% para o Estado e 20% para o
Município. Com relação à taxa, 50% para o
Município, 30% para o Estado e 20% para a
União. Disto resulta que o Município de
Phoenix, capital do Arizona, recebe 34% da
arrecadação efetivamente realizada.
O Sr. Secretário do Governo afirmou
que hoje, no Brasil, os Municípios recebem
qualquer coisa na ordem de 16%. Isto não é
verdade. A realidade é que os Municípios
brasileiros estão recebendo, hoje, tão-
somente 4% da Receita.
Creio que devemos debruçar-nos
sobre estes assuntos e com isto teremos
condições, até aqui no Distrito Federal, de
colher mais recursos para que as suas
atividades sejam realmente cobertas com a
receita aqui originada.
Com relação ao Tribunal de Contas,
entendo que ele deve participar de um poder
judicante, do Poder Judiciário como um todo.
Segundo a minha proposta haverá um elenco
de dez ou doze tribunais, entre os quais o
Tribunal de Contas da União, que não pode
estar sujeito ao Poder Legislativo ou ser seu
órgão auxiliar. No meu entender, ele tem de
ter autonomia não só administrativa
como judicante. As suas decisões devem
valer perante qualquer cidadão, qualquer
entidade.
Estou fazendo estas observações,
embora desataviadas, apenas para dizer a V.
S.ª que o seu pronunciamento robusteceu
muito as minhas convicções com relação à
necessidade de fortalecer as nossas unidades
federativas.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte
Francisco Carneiro.
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Sr. Presidente, meus
companheiros, caro Conselheiro, disse o meu
companheiro Ruben Figueiró que a exposição
do Dr. Fernando Tupinambá Valente,
robusteceu o que S. Ex.ª pensava sobre a
inconveniência de o Distrito Federal ser uma
unidade autônoma, política e financeira. Mas,
com espírito cívico – e eu escrevi na minha
caderneta – ele se curva à vocação de o
Distrito Federal ter a sua autonomia política.
Meus amigos, o Distrito Federal é,
pelo que sei, a quarta cidade arrecadadora de
Imposto de Renda no Brasil – primeira, São
Paulo; segunda, Rio de Janeiro; terceira, Belo
Horizonte. O Distrito Federal é a sétima
cidade arrecadadora de ICM; tem, hoje, uma
população de cerca de 1 milhão e 700 mil
habitantes. Dependemos de vultosas verbas
da Federação, mas dependeremos de maior
volume de recursos à proporção que a nossa
população, crescendo num índice vegetativo
de 5,6% ao ano, atingir 4 milhões, no ano
2000. Então, a nossa vocação de autonomia
política e financeira é também uma vocação
de civismo nacional, para que livremos o País
de sustentar 4 milhões de habitantes.
Pretendemos, dentro desse esquema,
trazer para as proximidades do Distrito
Federal a SUDENE e a SUDAM, os fundos
nos quais somos prejudicados por não
participarmos deles.
Existem anomalias tremendas como,
por exemplo, a de 23 mil unidades
habitacionais no Distrito Federal não pagarem
IPTU. O Governo do Distrito Federal tem
grandes dispêndios com o Eixo Monumental,
que vai desde a Praça dos Três Poderes até o
BGP – BGP é uma cidade de 35 mil
habitantes, cujos serviços são feitos pelo
Distrito Federal, a preço zero. Temos a
pomposa região das embaixadas, cujos
serviços são pagos pelo Distrito Federal.
Somos prestadores de serviços na área da
saúde, como dizia o Secretário, em quase
50%. Então, vale a pena verificar se nas
transferências para custeio desses serviços,
que não dizem respeito ao Distrito Federal, ao
Estado em si, mas de ordem nacional,
seríamos tão dependentes da União, como
outros Estados o são, pelo federalismo
tributário.
Agora mesmo, através da fundação feita
dos Estados do Centro-Oeste, estamos
estudando a possibilidade de incorporar ao
Distrito Federal áreas do Entorno, pois já as
sustentamos. É o policiamento, são estradas.
Fizemos estradas asfaltadas para Unaí e para
Padre Bernardo. Então, há dentro disto – e
quero especial atenção – uma conotação cívica,
porque não queremos estar de pires na mão.
Quando Secretário de Indústria,
Comércio e Turismo, tive oportunidade de
fazer duas palestras, em São Paulo, quando
verifiquei o grande interesse dos industriais
em virem para Brasília, mas não por causa do
subsídio do FUNDEFE, que é pequeno. A
Estrela, por exemplo, tem grande interesse
em implantar aqui suas fábricas, porque ela
estará no centro geográfico do seu mercado.
Precisamos entender que o Distrito Federal é
um entreposto. Daqui até a margem do São
Francisco temos uma área fabulosa de
produção de gêneros, de pecuária, de
minerais. Um só ato do atual Governo fez
com que 600 toneladas de soja passassem
por aqui para serem esmagadas em Biriguí e
para cá depois voltassem. Pagamos 180
bilhões de cruzados para o transporte desse
produto. Agora vamos fazer esse
esmagamento aqui, economizando o mínima elasticidade em relação à renda. O
transporte de ida e volta dos produtos de que
necessitamos: lecitina, torta, óleo bruto, óleo
refinado, etc. E essa fábrica já trouxe uma
cascata de outras.
É preciso estudar as nossas
potencialidades. Se não nos damos liberdade
política nem financeira não podemos
desenvolver-nos. Temos cidades, aqui, com
seiscentos mil habitantes que, dentro em
breve, terão mais de um milhão. Há
conveniência de a Federação sustentar isso
ou é melhor que procuremos estruturar os
setores produtivos, para dizer que podemos
ser autônomos, também economicamente?
Esta é a visão dos brasilienses.
Agradeço ao nobre colega o seu
espírito cívico de respeitar essa idéia, mas
peço a V. Ex.ª que pondere. O tempo é curto
para abordar o assunto, mas, se quiser, um
dia poderemos conversar pessoalmente e lhe
mostrarei as grandes potencialidades que
podemos estruturar, para termos condições
de viver às nossas próprias custas.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Tem a palavra o Constituinte Felipe
Mendes.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, começo dizendo ao
nobre Conselheiro Fernando Tupinambá que
não vou questionar, justamente porque já passei
por isso, sobre essa experiência desastrosa de
querer fazer um Orçamento contando com
recursos, e muito mais, com a boa vontade e o
bom humor de quem os transfere, no caso de
Brasília. A vantagem do Governo do Distrito
Federal é a de estar aqui. A desvantagem de
quem está longe é a de ter de vir aqui para
negociar esses recursos. Mas gostei da
sugestão no sentido da criação de um
mecanismo, como do IOF, que possa
estabelecer a obrigatoriedade de a União ajudar
o Governo do Distrito Federal na manutenção de
certos serviços próprios da Capital e não de uma
cidade ou de um território, que está querendo
ampliar-se ou precisando ampliar-se – parece-
me – em uma faixa de 45 quilômetros em
direção a Goiás. Um grande convênio entre a
União e o Governo do Distrito Federal,
provavelmente já com sua autonomia política,
poderia assegurar os recursos para a
manutenção desses serviços, tipicamente de
uma cidade-capital, permitindo à população que
decida sobre seu destino, não a população que
mora no Plano Piloto – moro aqui por uma
contingência eventual – mas a que habita nas
cidades satélites, na zona rural do Distrito
Federal. E preciso assumir uma função que não
mais aquela quando da sua criação, mas de
centro dinâmico da economia do País, ja que
está definida essa função de Capital Federal.
Gostaria também de parabenizar V.
S.ª pela sua exposição e dizer da nossa
preocupação com relação ao Distrito Federal
e ao sistema tributário. Não podemos
esquecer a outra Comissão de Tributação,
pois é lá que haverá o grande debate. Aqui
será definida a competência da União, mas lá
será estabelecida a sua competência em
termos de legislação tributária.
Quando a União fez reforma tributária,
escolheu os melhores impostos, os que são
elásticos à renda e com os quais, na sua
política de desenvolvimento, haveria de ter
uma arrecadação cada vez maior – é o
caso do IPI, entre outros – deixando aos
Estados o ICM, que é o intermediário mas
não tem elasticidade em relação à renda,
20
e aos municípios aqueles que não têm a
IPTU e o ISS praticamente não crescem de
acordo com a progressão da economia.
De forma que é preciso reestudar
essa questão, simplificando a legislação
tributária. Não gostamos de pagar imposto,
entre outros motivos porque vemos o imposto
ser aplicado, não digo de forma errada, mas
de maneira a que não possamos contestar.
Não temos como, em tempo hábil, contestar
junto ao Poder Executivo aquela aplicação. E
difícil até para quem quer fazê-lo, pagar esse
imposto, tamanho o cipoal de tributos
existentes. Imagino que as pequenas
empresas sejam penalizadas não pelo valor
em si, mas pelo custo de pagamento desses
impostos. Qualquer empresa, hoje, precisa ter
um departamento de elaboração dos mapas
para pagamento dos impostos.
Parece-me, assim, que a questão não
é a de criar-se ou não essa autonomia, mas,
sim, a de termos, enquanto população, as
condições para questionar a autonomia, ou
seja, que a autonomia concedida seja de
fato do povo e não dos eventuais
governantes.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Tem à palavra a Constituinte Marluce
Pinto.
A SRA CONSTITUINTE MARLUCE
PINTO: – Sr. Presidente, quero falar muito
especialmente ao nosso Relator, porque,
como sabemos, terá contato com Relatores
de outras Comissões. Preocupa-nos muito,
também, a questão social do nosso País. Já
que estamos numa Constituinte, tudo o que
diz respeito à parte social interessa a todas as
Comissões.
No que se refere á unificação de
impostos, assunto abordado pelo Constituinte
Ruben Figueiró, seria muito bom que se
estudasse urna maneira, junto ao setor de
tributação, de efetivá-la.
O que vemos no nosso País é que os
administradores de empresa e a mão-de-obra
qualificada são até bem remunerados. Agora,
o salário mínimo do nosso povo é que não
pode continuar nos níveis em que está. Nunca
teremos um reajuste que realmente venha a
satisfazer essa população carente, se não
diminuirmos as despesas das empresas,
porque a parte administrativa de uma
empresa é muito onerosa, em relação às
obrigações sociais diversificadas. Numa
empresa, a parte de empregado corresponde
a quase 50% da parte administrativa. Isto em
termos de operários, porque no que diz
respeito à remuneração propriamente dita
atinge mais de 70%. Temos o FGTS, o
FINSOCIAL e o PIS. Por que não unificar os
impostos se tudo depende do faturamento da
empresa? Uma empresa, hoje, recolhe, para
o PIS, 0,75% do seu faturamento e, para
FINSOCIAL, 0,5%. E tudo isso depende,
mensalmente, de um levantamento. E em
decorrência disso que as empresas se
obrigam a remunerar bem os seus operários,
que são mão-de-obra qualificada, porque não
pode haver na empresa pessoas que não
sejam competentes para fazer esse serviço,
ao passo que o operário é registrado apenas
para receber o salário mínimo. E é através
desses operários que é gerada, dentro das
indústrias principalmente, toda a produção de
uma empresa; tudo que uma empresa
percebe em termos de lucros depende mais
do próprio operário do que do administrador.
E o administrador de uma empresa
21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
média recebe, hoje, não menos de trinta mil
cruzados.
Então, era isso que queria que V.
Ex.ª, através de um bom estudo, verificasse.
Se se reduzisse o número de funcionários da
parte administrativa de uma empresa de 50%
para, talvez, 20 ou 30% no máximo, os
empresários teriam condições de se
ressarcirem de despesas que não deveriam
ser feitas. O empresário hoje só trabalha para
pagar impostos e juros, e quem paga o ônus
disso é o operário, que só ganha o salário
mínimo.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a contribuição à Srª Constituinte.
Nada mais havendo a tratar,
queremos parabenizar os dois expositores
pelo brilhantismo das exposições e dizer da
importância delas para a consciência crítica
daqueles que vão decidir sobre o novo texto
constitucional.
Esta Presidência avisa que hoje, às
17 horas, teremos nova audiência pública, a
que estarão presentes o Dr. José Ribeiro
Leitão, Presidente da Associação dos
Magistrados do Distrito Federal, e o
representante do Comitê Pró-Diretas, o Sr.
Carlos Alberto Müller Lima Torres.
Muito obrigado aos Srs. Constituintes
e aos presentes.
Está encerrada a reunião.
Ata da 6ª Reunião Extraordinária,
Realizada em 27-4-87
Aos vinte e sete dias do mês de abril
do ano de mil novecentos e oitenta e sete, às
dezoito horas, na Sala "B1" – Anexo II da
Câmara dos Deputados, reuniu-se a
Subcomissão da União, Distrito Federal e
Territórios, sob a Presidência do Senhor
Constituinte Jofran Frejat, com a presença
dos seguintes Constituintes: Ruben Figueiró,
Sigmarinha Seixas, Chagas Duarte, Felipe
Mendes, Francisco Carneiro, Marluce Pinto,
Paulo Mincarone, Pompeu de Souza, Aluízio
Campos, Maurício Correia, Olavo Pires.
Havendo número regimental, o Senhor
Presidente declarou iniciados os trabalhos e
passou à leitura da Ata da reunião anterior,
que foi aprovada por unanimidade. A seguir,
deu-se início ao expediente que constou da
seguinte leitura: 1) Correspondência
Recebida: a) 50 ofícios remetidos aos
membros da Mesa e Liderança da Assembléia
Nacional Constituinte, bem como aos
Presidentes das Comissões e Subcomissões,
encaminhando Calendário de Audiência
Públicas deste órgão. Findo o Expediente, o
Senhor Presidente deu início à Audiência
Pública, passando a palavra ao Sr. José
Ribeiro Leitão – Presidente da Associação
dos Magistrados do DF, sendo inquirido pelos
Srs. Constituintes Maurício Correia e Chagas
Duarte. Após os debates, o Senhor Presidente
passou a palavra ao Sr. Carlos Alberto Müller
Lima Torres – Representante Comitê Pró-
Diretas, sendo aparteado pelo Sr. Constituinte
Maurício Correia. O inteiro teor dos trabalhos
será publicado, após a tradução das notas
taquigráficas e o competente registro
datilográfico, no Diário da Assembléia
Nacional Constituinte. Nada mais havendo a
tratar, o Senhor Presidente deu por
encerrados os trabalhos, às dezenove horas
e dezesseis minutos, convocando os
Senhores Constituintes para a próxima
reunião ser realizada dia vinte e nove de abril,
às nove horas e trinta minutos, para audiên-
cia pública com a presença dos Senhores, Dr.
José Sérgio Marinho Neves, Presidente do
IBRAM e Dr. Sylvio Baeta Neves, Diretor
Geral Substituto do Departamento Nacional
de Produção Mineral. E, para constar, eu
Antônio Fernando Borges Manzan, Secretário
lavrei a presente Ata que, depois de lida e
aprovada, será assinada pelo Senhor
Presidente. – Constituinte Jofran Frejat,
Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Havendo número regimental, declaro
abertos os trabalhos da reunião da
Subcomissão da União, Distrito Federal e
Territórios.
(É aprovado o pedido de dispensa da
leitura da Ata).
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Hoje estamos fazendo a nossa segunda
audiência pública na Subcomissão da União,
Distrito Federal e Territórios. Os dois assuntos
de hoje referir-se-ão especificamente ao
Distrito Federal.
Teremos dois expositores neste
período da tarde: O Dr. José Ribeiro Leitão,
Presidente da Associação dos Magistrados do
Distrito Federal, a quem convido para compor
a Mesa, e o representante do Comitê Pró-
Diretas, o professor Carlos Alberto Torres.
Participo aos Srs. Constituintes que
cada expositor terá vinte minutos para expor o
seu pensamento e a sua contribuição. Os Srs.
Constituintes terão, cada um, três minutos
para apresentar suas questões, o Sr. Relator,
cinco minutos, e os expositores terão três
minutos para resposta às questões
apresentadas.
Com a palavra o Dr. José Ribeiro
Leitão.
O SR. JOSÉ RIBEIRO LEITÃO: –
Exmº Sr. Presidente, Constituinte Jofran
Frejat, Exmº Sr. Relator, Constituinte
Sigmaringa Seixas, Exmos Srs. Constituintes,
autoridades, minhas senhoras, meu senhores,
o Poder Judiciário de Brasília, na
representação da Associação dos
Magistrados do Distrito Federal e Territórios,
agradece a oportunidade de trazer à eminente
Subcomissão seu pensamento a respeito do
que o povo, os jurisdicionados e o Poder
Judiciário local esperam da Assembléia
Nacional Constituinte.
O que deseja a comunidade civil do
Distrito Federal? A democracia no seu
Governo, na gestão do bem comum. E isto
que lhe foi prometido: autonomia e
representação local. Nesse momento histórico
das mudanças, o anseio da comunidade civil
é de que algo de novo nasça na vida política,
ou seja, comunidade e Governo, a bem do
povo. Essa representação política implica
eleições para os poderes que são
constitucionalmente eletivos.
Nessa primeira colocação axiomática,
dentro da tradição constitucional e jurídica
do Brasil, o Poder Judiciário não é um poder
eletivo. Nas mudanças sociais e políticas
da comunidade local, um princípio já se
exclui constitucionalmente, visceralmente
enraizado na consciência federativa: o
juiz não é eleito pelo povo. No sistema
pode-se mudar, partindo dessa experiência
centenária que deu resultados para o conceito
próprio de juiz, de eqüidistância de partes e,
portanto, refratário às influências particulares
ou coletivas na decisão de interesses
conflitantes. A imparcialidade do juiz, a
sua independência não estão conotando
substancial e necessariamente a eleição
popular para um juiz popular.
A representação política autônoma do
Distrito Federal, através do poder eleito, a
nível de Executivo e Legislativo, é realmente a
ansiedade poderosa dessa comunidade, mas
ninguém prometeu a essa comunidade a
mudança na Carta Constitucional para
passarmos a Judiciário popular. Não existe
essa promessa para o povo. E não há, na
expectativa desta comunidade, a
transformação do Poder Judiciário local em
poder originado de eleição direta de povo.
Onde fica, portanto, nessas
aspirações de mudança e de representação
popular, na estruturação do auto-govemo do
Distrito Federal, o Poder Judiciário? Ele fica
numa mudança substancial quanto às causas
finais. Queremos um Poder Judiciário popular
na eficiência à imensa maioria dos cidadãos,
que ele não seja elitista, obsoleto, seja ao pé
do povo. Essa mudança só será possível na
medida em que a comunidade ofereça a
autonomia e a independência do Poder
Judiciário, que é a mesma finalidade de todas
as mudanças na parte do Executivo e na
parte da representação legislativa dessa
comunidade. Quis-se mudar por diretas. Para
quê? Para autonomia e independência do
governo local. A finalidade é que comanda.
Primeiro, temos um fim em mente, depois
passa-se a agir. Conseqüentemente, a
finalidade também comanda na mudança do
Poder Judiciário. O fim que temos em mente é
popular, é para atingir a todos e não a
poucos, como está-se fazendo até agora. Mas
isto depende de um arcabouço de recursos
tributários, isto depende de descentralização
do Poder Judiciário, colocação das varas ao
alcance imediato do povo e acabar com a
mentalidade elitista. Por exemplo, está-se
construindo um anexo com doze andares.
Diz-se que é o edifício do foro da Justiça
local. Se não houvesse essa mentalidade
elitista, se se fizesse intentar o objetivo
popular, esse dinheiro seria aplicado na
construção de pequenos foros na Asa Sul, na
Asa Norte, no Cruzeiro, no Núcleo
Bandeirante, nas áreas territoriais que
englobam a chamada circunscrição judiciária
de Brasília. A mentalidade elitista e impopular
do Poder Judiciário, como está estruturada e
que queremos mudar, faz com que se pense
nos tribunais e não nos juízes ao pé do povo
nas comarcas. São os foros espetaculares,
mas lá está Taguatinga. Perdoem-me, mas há
juízes que levam penicos para seus
gabinetes, em Taguatinga. Vergonha! Não há
estruturação física não há estruturação de
material, não se pode atingir o povo.
Observemos bem: somos oficialmente
1 milhão, 614 mil e 929 habitantes na área
territorial do Distrito Federal. Na realidade há,
num cálculo muito propabilístico, mais de dois
milhões de habitantes hoje.
Em 1986, nesta justiça local, foram
ajuizados quarenta mil, novecentos e
sessenta e cinco feitos. Os juízes
trabalharam, porque ao final de 1986, os
juízes de Primeira Instância julgaram 45 mil e
49 processos, mais de quatro mil do que lhes
foi distribuído no ano. Trabalharam muito.
Temos que falar de Poder Judiciário
do Distrito Federal olhando a realidade
do universo da prestação jurisdicional
brasileira. Um Estado pode assemelhar-se
em população ao Distrito Federal. Sergipe
tem 1 milhão e 339 mil habitantes. A capital,
Aracaju, tem 361 mil, 544 habitantes. O
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 22

Poder Judiciário conta com 24 comarcas no
interior e 19 na Capital. Em 1986, 15 mil feitos
foram distribuídos naquela Unidade da
Federação. Sou Juiz da 4ª Vara Cível, e o Dr.
Pedro Aurélio, Vice-Presidente da Associação
dos Magistrados, é o Juiz da 5ª Vara Cível.
Nossas duas varas juntas têm mais de quinze
mil processos. Temos mais processos do que
todo o Estado de Sergipe. Isto significa que se
lá, em proporção, se atingiu uma média popular
de prestação jurisdicional na base de 0,87, aqui,
em Brasília, na área do Distrito Federal, o povo
não tem acesso à Justiça, igualmente como em
todo o País. Temos acesso à prestação
jurisdicional apenas 0,25%, considerando em
números absolutos a população local, mas
justiça é serviço essencial do Estado. Um Estado
que falha horrendamente nesta prestação
jurisdicional é um Estado que não cumpre o seu
dever essencial.
Precisamos de verbas, meios. Essa é
a grande mudança: mudança de mentalidade.
E se indaga: nessa mudança convém vincular
o Poder Judiciário do Distrito Federal ao
Governo do GDF? A resposta é não. Isto não
convém aos jurisdicionados, ao Poder
Judiciário e à lisura do Governo pelo bem
comum. Do jeito que está, em 1986, a União
repassou à Justiça do Distrito Federal 197
milhões, 819 mil 160 cruzados, e suplementou
essa verba em 100 milhões, 687 mil 974
cruzados. De repente, cancelou 17 milhões,
800 mil e 900 cruzados.
Para este ano, a verba orçamentária
triplicou. Até o momento já foram
condicionados à disposição 893 milhões e 800
mil cruzados. A verba inicial foi de 345
milhões, 19 milhões e 684 mil para o Juizado
de Menores e, para os Territórios, 28 milhões,
691 mil cruzados. Isso significa que com a
suplementação normal, três vezes, no
mínimo, por ano, vamos atingir o número
aproximado de dois bilhões de cruzados para
a manutenção da Justiça do Distrito Federal e
dos Territórios.
Ora, a arrecadação do Distrito Federal
será suficiente para essa mudança de
mentalidade elitista e obsoleta de Justiça,
para que ela se torne atuante e eficiente para
o cidadão, quando sabemos que para gerir os
seus negócios essenciais o Distrito Federal
tem uma suplementação de verba aproximada
de 68%. Trinta e dois por cento é a
arrecadação do Distrito Federal.
E V. Ex.as estão satisfeitos com tudo
que está ai? Agora, coloquem a Justiça em
cima. Em tese, incumbirá ao Distrito Federal,
autônomo, a gestão desses negócios
essenciais, inclusive o Judiciário. Pergunto: o
cidadão de Ceilândia, de Taguatinga, do
Plano Piloto, de Planaltina, de Sobradinho, do
Gama, vai ficar satisfeito, sobretudo, se
mantivermos – porque não há outra maneira –
a Justiça do Distrito Federal e dos Territórios,
com o cidadão daqui contribuindo para lá?
Precisamos, nesses anseios de mudança do
Distrito Federal, mudar a mentalidade e a
eficiência da Justiça, descentralizá-la e dar-
lhe os elementos físicos, materiais e humanos
indispensáveis. Somos setenta e quatro juízes
no Distrito Federal. Nos Territórios, são sete.
Isso é delegar justiça ao povo? Só os
ditadores gostam de sujeitar o Poder
Judiciário. Estamos com mentalidade de
governo ditador. Estamos precisando, parece,
de Judiciário fraco, pedinte e mendigo.
Uma análise dos feitos
demonstram que o povo não vem à
Justiça também porque ela é longín-
qüa, é uma enxurrada do poder econômico a
ajuizar ações: financeiras, bancos, execuções
hipotecárias, alienação fiduciária, fora os
despejos. É essa a marcha preponderante dos
feitos no Distrito Federal. E naquilo que é
essencialmente popular, nas varas de órfãos e
sucessões, a preponderância ainda é do poder
econômico. Nos feitos de demanda popular em
que há Defensoria Pública, ela é falha, pela
omissão do Estado em dar ao cidadão essa
assistência, que é diminuta, arrebanhada de
qualquer maneira, gerando um tumulto
processual horrível. Os feitos mais emperrados
são aqueles em que a Defensoria Pública age,
infelizmente, pela omissão do Estado.
Varas no Núcleo Bandeirante, no
Cruzeiro, na Ceilândia. Aumento de varas,
importando em aumento de juízes.
Necessitamos de, no mínimo, duzentos juízes no
Distrito Federal, para atender à demanda. Nós,
juízes cíveis, estamos proferindo uma média
anual de mil e poucas sentenças. Temos vinte e
cinco a trinta mil processos tombados em cada
vara. São somente dez varas cíveis, das quais
estou falando. Na grande realidade, não temos
capacidade física para passar de mil processos,
trabalhando até altas horas da madrugada, para
levar, no dia seguinte, a sentença. Com os
despachos normais, movimentamos cerca de mil
e quinhentos a dois mil processos, esta é a
verdade. O resto está arquivado, esperando.
Varas criminais são um problema sério de
Justiça impopular, contra o povo. Há quatro mil
inquéritos esperando denúncia do Ministério
Público, mais de três mil mandados de prisão, e
estão aí os assaltantes na rua. Mas é tão
obsoleta essa Justiça, é tão mal estruturada, que
o juiz trabalha, trabalha, trabalha, sentencia, e
vai o processo para o tribunal.
Tenho estatísticas de uma vara de
delitos de trânsito, que acontecem muito,
automóvel passando por cima dos outros. Isso
precisa de uma punição imediata. O juiz
sentencia, vai o processo para o tribunal e o que
acontece? Prescrição da pena em concreto,
extinta a punibilidade. Isso é justiça contra o
povo. É isso que queremos mudar: mudar a
mentalidade. Mas isto só é possível se
contarmos com recursos. Pergunto aos nobres
Constituintes, que estão refletindo em eco essa
ansiedade popular: o que V. Ex.as farão para
mudar? A consciência cívica da população do
Distrito Federal é a mais politizada do País. Ela
está muito perto do poder e está vendo o que se
faz e o que não se faz, o que se faz errado, o
que se faz certo e o que se faz mal. É por isso
que a consciência cívica desta cidade é
profundamente posicionista ao Governo
Federal. Aqui, não é preciso ser profeta para
dizer: "A oposição sempre vai ganhar. Sempre".
Por quê? Porque esta população quer o
autogoverno popular, que os bens essenciais
sejam dados a todos e a justiça também para
todos e não só para uma pequena elite.
Agora eu pergunto aos Srs.
Constituintes, num ponto sério para meditação
profunda: e o dia em que um Governo do
Distrito Federal, da oposição, defrontar-se com
um Governo Federal, de outro partido, poderá
com os recursos próprios manter essa
prestação de mudança, se o Governo Federal
fechar-lhe os canais de acesso? Mas não há
credibilidade do povo ao Poder Judiciário
se o seu juiz não for realmente independente.
Posso assegurar a V. Ex.as que o Poder
Judiciário do Distrito Federal é um dos
mais importantes do Brasil. Aqui não
recebemos telefonema do Presidente da
República, que nos nomeia, pedindo para fula-
no ou sicrano: "O processo está aí, doutor". Aqui
não recebemos telefonema do Governador do
Distrito Federal, dizendo: "Doutor, o processo
número tal está com o senhor". E ele que
experimente fazê-lo. Os juízes das varas da
Fazenda estão aí para dar testemunho.
Fui, durante dois anos, juiz da vara da
Fazenda e condenei o GDF 89 vezes, faltou
uma para 90. Mas nunca recebi telefonema
de governador ou de secretário algum
pedindo processo número tal. Nunca
sofremos influência de poder político na
prestação jurisdicional em Brasília. E agora?
É conveniente ou não ajudar a sujeição do
juiz ao poder local? É isto que o povo quer? E
a lisura da prestação jurisdicional? Não
convém ao jurisdicionado, não convém ao
Poder Judiciário, não convém à lisura da
prestação jurisdicional.
Queremos mudar. Está aí o povo
diretamente se pronunciando a respeito dos
seus objetivos em relação ao bem comum, e
isso ele o fará através de seus representantes
eleitos diretamente para o governo e para a
legislatura, mas jamais pelo Poder Judiciário,
que nunca foi poder eleito pelo povo. Aqui no
Brasil o ingresso é por concurso público e não
por eleição.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A palavra está franqueada aos Srs.
Constituintes.
Constituinte Maurício Corrêa, peço a V.
Ex.ª que fale ao microfone, a fim de que seja
registrada a sua questão nos Anais da Casa.
O SR. CONSTITUINTE MAURÍCIO
CORRÊA: – Sr. Presidente, Sr. Relator, Exmº
Sr. Presidente da Associação dos
Magistrados, caro amigo Carlos Alberto
Torres, prezados colegas Constituintes,
lamentavelmente, não pude ouvir a exposição
inteira do eminente juiz que aqui comparece
para prestar o seu depoimento perante esta
Subcomissão. Presumo, no entanto, que a
sua dissertação tenha sido dirigida à
problemática de desvincular-se ou não da
União o Poder Judiciário do Distrito Federal.
Permito-me, infelizmente, não
concordar com a sua tese no exato momento
em que a Capital busca sua plena autonomia
dentro dos limites possíveis de uma unidade
que se caracteriza e há que se caracterizar
como uma unidade sul generis e até
anômala dentro da estrutura federativa. Não
queremos, não propugnamos, não
defendemos a transformação do Distrito
Federal em uma unidade autônoma, porque aí
seria Estado. Mas, defendemos a eleição
direta do Governador e do seu vice-
Governador, defendemos a existência de um
órgão legislativo próprio, e só o Judiciário
continuará a ser gerido, no que
constitucionalmente é possível, por iniciativa
do Executivo Federal. Sabemos que existe,
sim, a mesma política de lobby na época das
nomeações dos juízes. Isto existe aqui, para
efeito de promoção, o MM. Juiz sabe disso; é
normal inclusive dentro da sistemática. Não
vejo, nesse aspecto, vamos dizer, nenhuma
diferença, e tenho, de conhecimento próprio,
como ex-Presidente da Ordem dos
Advogados de Brasília, que o Governo do
Distrito Federal mantinha, em varas da
Fazenda, funcionários da Terracap para
acompanhar processo, numa injustiça
flagrante, numa desigualdade gritante com
relação às partes. Isto não
quer dizer que o Poder Executivo do
Distrito Federal tenha influenciado, no que
tange à liberdade de sentenciar, um José
23 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
Ribeiro Leitão, um Marco Aurélio, que aqui se
encontram, e outros eminentes juízes
independentes, dignos e honrados.
Mas há, sem dúvida alguma,
funcionários, ou houve – agora, não sei – lá
nas varas de Fazenda, colocados pelo
Governo do Distrito Federal. Queremos que a
justiça passe da competência, em Brasília, do
Governo Federal para o governo local. Vou
citar apenas um exemplo aqui, porque outros
naturalmente terão que falar, que sintetiza bem
isto: tivemos um drama sério com relação à
Justiça em Taguatinga e a Subseção da Ordem
dos Advogados de lá pleiteou que o prédio
onde funcionava a circunscrição judiciária
passasse para o centro de Taguatinga. Isto foi
possível com entendimento do Presidente do
Tribunal de Justiça com o Governador do
Distrito Federal. Assim, conseguimos também,
V. Sª sabe perfeitamente disso, algumas
soluções dadas pelo Governador no que tange
às requisições de empréstimos, colocando
funcionários à disposição da Justiça em alguns
setores. Tivemos a ampliação do forum de
Taguatinga, e o Governador, na mesma
hora, conseguiu que se desse condições
para a Defensoria Pública lá funcionar. Quer
dizer, a Justiça de Brasília estando afeta à
Presidência da república, há uma parafernália
interminável que se tem que percorrer:
Ministério da Justiça, Palácio do Planalto,
Secretaria do Planejamento. Enfim, é um
inferno.
Quando pretendemos criar aqui em
Brasília, por exemplo, uma nova serventia
extrajudicial, isto é impossível. Não sei se os
Srs. Constituintes sabem que até hoje, em
Brasília, não temos serventias extrajudiciais
na cidade-satélite da Ceilândia, que é a maior
da Capital da República. Por quê? porque é
impossível penetrar nesse mundo monolítico
que é a estrutura tecnoburocrata do poder
Executivo Federal.
Queremos descentralizar a Justiça
para termos condições de criar mais cartórios
de protesto em Taguatinga, criar tabelionatos
em todas as cidades. É impossível conseguir
isso dentro da atual estrutura. O que existe,
com o maior respeito ao Dr. Leitão, é apenas
um interesse talvez de natureza estética, quem
sabe, de ficar ligado o Poder Judiciário ao
Poder Federal, porque não há, primeiro,
prejuízo das suas prerrogativas, não haverá
prejuízo dos seus vencimentos. Não mudará
absolutamente nada. Já que defendemos a
autonomia política do Distrito Federal,
queremos assegurar a descentralização do
Poder Judiciário e, se eleito o Governador, este
é quem nomeará o desembargador e fará os
provimentos públicos na forma da lei. E por que
entregar isso ao Presidente? E porque
continuar isso centralizado, se queremos a
nossa cidade emancipada nesse aspecto?
Eu poderia dizer muito mais outras
coisas. Concordo com o Dr. Leitão nos
projetos de criação de entrâncias. Acho
extraordinária a idéia de acabar com o
problema da circunscrição judiciária, mas esta
é outra questão. Os Territórios poderão ser
desvinculados do Tribunal de Justiça, como
são desvinculados os Tribunais Regionais
Eleitorais. O Tribunal Regional Eleitoral que
tem competência sobre Roraima é o Tribunal
Regional do Amazonas; o que tem sobre o
Amapá é o Tribunal Eleitoral do Estado do
Pará. Então, não há problema algum em
determinar, se mantidos os Estados, que os
tribunais de justiça com jurisdição sobre os
Territórios de Roraima e do Amapá se-
jam os tribunais de justiça dos respectivos
Estados do Pará e do Amazonas. Muito
obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– O ilustre expositor terá três minutos para
responder. Rogo que se limitem a esse
tempo, porque ainda temos um outro
expositor e todos os Constituintes para
fazerem as suas questões.
O SR. JOSÉ RIBEIRO LEITÃO: – Ouvi
com prazer e atenção o ilustre Constituinte e
nosso prezado amigo Dr. Maurício Corrêa, que,
sendo uma pessoa reconhecidamente
inteligente aproveitou-se de seu brilhantismo
para sofismar um pouco. Vejamos: Ceilândia
não tem serventia extrajudicial. Claro: pertence
a Taguatinga. Mas queremos mudar e,
mudando, haverá a Justiça do Distrito Federal,
autônoma, com vinculação ao Poder local.
Primeiramente surge o empecilho
constitucional. A Justiça do Distrito Federal é
um serviço da União, local e que no povo quando se trata de justiça, quando
extraterritorialmente, Os concursos são feitos
para juiz da Justiça do Distrito Federal e dos
Territórios. O tribunal de segundo grau dessa
Justiça ou será num Estado ou será no Distrito
Federal. Haverá tribunal de segundo grau,
portanto, nos Territórios, apenas no caso de
passarem a Estado e nunca mais o Brasil puder
criar novos Territórios, porque surgirá com isso
o mesmo problema. A Justiça do Estado do
Amazonas não é competente para julgar em
segundo grau as causas daquela população
que está encostadinho nele e que é de um
Território. Ou haverá invasão de competência,
sendo nulo o julgamento, ou será uma
excrescência jurídica não se colocar o segundo
grau na estrutura do primeiro grau. A
independência política do Distrito Federal foi
aqui tratada. Sinto muito que o nobre
Constituinte não pudesse ter-me ouvido antes
porque suas dúvidas teriam sido completamente
afastadas, pois tentei demonstrar a insuficiência
de recursos arrecadados no Distrito Federal
para a mantença da Justiça do Distrito Federal e
dos Territórios.
As injunções chamadas políticas, a
que aludiu o ilustre Constituinte a respeito de
promoções de juízes, existem, mas é isso que
queremos mudar. Nós não queremos que o
governador nomeie juízes, queremos a
autonomia financeira e administrativa do
Poder Judiciário e que o nosso presidente do
tribunal, como todos os presidentes dos
tribunais do País, nomeie os seus juízes,
justamente para fugir dessa interveniência a
que ele se propôs como exemplo. Não,
governador não vai nomear juiz no Distrito
Federal, nem Presidente da República,
porque temos certeza que esta Constituinte é
para valer e para mudar, para dar a
autonomia do Poder Judiciário nos quatro mil
municípios brasileiros e não é só aqui no
Distrito Federal, mas em todo o Brasil e a
exemplo daqui. Teremos verba própria. Nosso
presidente será autônomo, como é autônomo
o Governo do Distrito Federal. Como será
autônoma a representação legislativa, será
autônomo o Poder Judiciário do Distrito
Federal, que terá sua verba orçamentária
própria, gerirá sua verba, nomeará seus
juízes, seus funcionários. Acabará essa
ingerência que o Constituinte quis mostrar: "E
o Governador, então, agora nomeará..." Não,
o Governador não nomeará juiz no Distrito
Federal. Esperamos que aquela promessa
feita pelo Dr. Tancredo Neves no dia 29 de
setembro de 1982, feita ao Desembargador
Lincoln Rocha por escritor seja cum-
prida: "Se eu chegar à Presidência da
República, vou mudar a face do Poder
Judiciário". Será autônomo. O povo quer o juiz
imparcial, eqüidistante, e isso só se consegue
com juízes independentes e a independência
não significa sujeição do Poder Judiciário
local ao Governo do Distrito Federal.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Continua franqueada a palavra aos Srs.
Constituintes.
Concedo a palavra ao Constituinte
Chagas Duarte, do Território de Roraima.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Sr. Presidente, Srs. Constituintes,
demais membros da Mesa, parabenizamos o
nosso expositor pela maneira veemente, e até
mesmo corajosa, com que expôs os
problemas da nossa Justiça no Distrito
Federal e, de resto, desse Brasil afora.
Ele deixou bem claro na sua exposição
que o Governo pense mais nos tribunais do
se quer uma estrutura física e material mais
voltada para uma justiça para atender melhor
ao povo. V. Sª falou de quinze mil processos,
dando a entender que não há juízes suficientes
para atendê-lo; falou-nos, ainda em quatro mil
e quinhentos inquéritos e mandados de prisão.
Parece-me que V. Sª condicionou, um pouco, a
morosidade da justiça a verbas suficientes. Eu
pergunto: e se o Governo desse esse montante
de dinheiro que talvez a Justiça esteja agora a
exigir, mas que não se mudasse as estruturas
que aí estão, será que é possível que
só com os recursos financeiros mudaríamos
tudo isso?
Estou plenamente de acordo com a
tese que V. Sª defende aqui, da
independência da Justiça: que ela realmente
seja como o Poder Legislativo, o Poder
Executivo ou o Poder Judiciário e que na
somatória de tudo isso seja realmente o
governo. Eu advogo essa tese e estou
perfeitamente de acordo com essa total
independência da nossa Justiça e que ela
comande e tenha total ingerência. Nós, que
estamos elaborando uma Constituição, que
estamos voltados para o interesse de
melhorar esta Nação toda, devemos dotá-la
de mecanismos voltados para o interesse do
povo, a fim de que, de fato, o povo tenha
justiça ao seu alcance, mas não é somente o
recurso financeiro que falta.
Eu gostaria de ouvir de V. Sª uma
proposta real, com sua vivência e experiência
de Juiz, sobre o que mudar nesta lei para que
o povo, tenha uma justiça sumária e não
espere anos por ela, fazendo jus a esse
adágio que diz que a justiça tarda, mas
chega; às vezes ela nem chega, desculpe-me.
O SR. JOSÉ RIBEIRO LEITÃO: –
Esse anseio do nobre Constituinte é o anseio
do Brasil e do Poder Judiciário, mas vamos
mudar. Tudo isso que V. Ex.ª trouxe à baila é
assunto próprio da Subcomissão do Poder
Judiciário e do Ministério Público, é o
problema da autonomia do Poder Judiciário,
autonomia essa que se caracteriza,
financeiramente, pelo aumento da
percentagem na verba do orçamento da
União no que atinge à Justiça Federal em si e
à Justiça do Distrito Federal e Territórios.
Queremos justamente isso.
No orçamento da União de 1986
foram destinadas verbas para toda a Justiça
da área Federal, Tribunais Superiores,
Supremo Tribunal Federal, Tribunais Militares,
Justiça Federal de Norte a Sul do País
e Justiça do Distrito Federal e Territórios,
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
na percentagem de 0,6%, quando sabemos que
nesse mesmo orçamento foi destacado para a
Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, 393
mil e oitocentos cruzados. Queremos mudar isto.
E a nossa intenção é para a Assembléia
Nacional Constituinte já destinar, no texto
constitucional pelo menos 3% do orçamento da
União. Aí então teremos dinheiro, mas que não
atenderá a determinadas veleidades suntuárias
– vamos fazer um forum bacana, um
monumento ali. Não, isso não. Caberá ao Poder
Judiciário gerir esse dinheiro, com os seus
mecanismos de controle e de prestação de
contas. E estamos pedindo à Assembléia
Nacional Constituinte que diga sim. Os juízes
votarão no seu presidente para afastar
presidentes inoperantes. Queremos mudar e
estamos pedindo isso aos Constituintes. Quando
se pensa que o Poder Judiciário no Brasil é o
Supremo Tribunal Federal, isso é uma tristeza. O
ex-Presidente do Supremo Tribunal Federal, no
ano passado, no Congresso de Presidentes de
Tribunais, teve a coragem inaudita e vergonhosa
de dizer que a culpa da ineficiência do Poder
Judiciário no Brasil é dos juízes, quando na
Suprema Corte temos apenas dois juízes de
carreira. Quando se transforma o Supremo
Tribunal Federal em cabide de empregos para
áulicos e servidores do Governo, não podemos
esperar nada; essa mentalidade tem que mudar.
É preciso que no Supremo Tribunal a maioria
seja de juízes, porque reforma judiciária sem
procurar juiz que mexe, no chão-a-chão, com o
cidadão brasileiro, é conversa fiada. Queremos
que não haja Município algum no Brasil que não
seja comarca.
V. Ex.as viram na televisão que bastou
um juiz chegar naquela cidadezinha do
Paraná e salvou-se uma vida sexta-feira
passada. Queremos a presença do juiz
lá no rincão, para que o coronel fazendeiro
não faça justiça conforme bem entenda e de
acordo com os seus interesses. Para mudar
isso é muito pouco uma percentagem
de 0,06%.
Todo este enfoque não cabe aqui,
mas na Subcomissão do Poder Judiciário e do
Ministério Público.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A palavra continua franqueada aos Srs.
Constituintes. (Pausa.)
Não havendo quem queira manifestar-
se com relação à palestra do expositor, Dr.
José Ribeiro Leitão, passamos a palavra ao
segundo expositor, Prof. Carlos Alberto Müller
Lima Torres, representante do Comitê Pró-
Diretas do Distrito Federal.
O expositor tem vinte minutos e rogo
que não ultrapasse esse período, para que
possamos ouvir as questões e os debates a
respeito do assunto.
O SR. CARLOS ALBERTO MÜLLER
LIMA TORRES: – Sr. Presidente Jofran
Frejat, Sr. Relator, Constituinte Sigmaringa
Seixas, caros Constituintes, companheiros
de luta pela representação política,
companheira Arlete, Presidente do PT,
Senador Maurício Corrêa, Presidente do
PDT, companheiro Zakarewicz, Presidente
do PDS, companheiros do Movimento
Comunitário, companheiro Eurípedes e
demais companheiros de luta, a luta pela
representação política no Distrito Federal
tem uma característica fundamental: une
desde os trabalhadores até os empresários.
É uma luta de todas as classes, de todas
as correntes políticas e, com base
neste aspecto, foi possível algo inaudito
talvez em termos de uma proposição. Esta-
mos trazendo a esta Subcomissão um projeto
unitário, assinado pelos 22 partidos do Distrito
Federal e por associações e sindicatos,
Ordem dos Advogados do Brasil, Associação
Brasileira de Imprensa, enfim, as entidades
mais representativas desta cidade.
Elaboramos este projeto com base
consensual, mas muitos aspectos
particulares, que cada um dos partidos
eventualmente gostaria de defender, não
estão aqui apresentados. No âmbito desta
Subcomissão, provavelmente alguns
Parlamentares de cada um desses Partidos
irão apresentar, com total independência, as
suas sugestões adicionais. Então, este projeto
consubstancia aquilo com que todos
concordamos e foi elaborado a partir de uma
concepção. Achamos perfeitamente
compatível a idéia do Distrito Federal com
autonomia política e estamos convencidos de
que a difícil situação social do Distrito Federal,
hoje, tem um dos seus fatores de
agravamento exatamente no fato de que o
povo desta cidade ainda não é dono dos seus
destinos.
A recente representação popular
obtida aqui nessa Constituinte enfrenta as
maiores dificuldades. Os nossos Constituintes
efetivamente não têm condições de
encaminhar, em termos concretos e objetivos,
a solução dos problemas locais, das nossas
cidades satélites, do conjunto do Distrito
Federal.
Estamos vivendo um momento de
transição à democracia e queremos que essa
transição, dentro de um quadro de crise
econômica e social, não gere, na sociedade
brasileira, uma concomitante crise política que
faça regredir as conquistas e liberdade tão
duramente alcançadas. E vemos hoje que a
difícil relação do Governo do Distrito Federal
com a comunidade, com a vida política, com
os movimentos sociais, colocam em risco, em
termos locais, a necessidade de uma tranqüila
transição.
Achamos, portanto, que a eleição de
um governo, de uma assembléia legislativa e a
solução da representação política local das
cidades satélites sejam uma forma de dar a
esta cidade, ao contrário, talvez, do que muitos
pensam, as formas adequadas para solucionar
democraticamente, e através da ordem, das
leis, os difíceis problemas que vivemos.
Muitos têm alegado a possibilidade de
termos aqui um governo que possa ser de
outro partido que não o do Presidente da
República, e que isto seria um fator de crise,
de instabilidade adicional. Queremos crer que
a experiência das capitais dos países do
mundo quase absolutamente autônomos nas
suas formas de governos, seja através de
sistemas federativos, seja através de outras
formas governadas, normalmente por
governadores ou prefeitos eleitos pelo voto,
não demonstram esse sistema como fator de
instabilidade. Ao contrário, a grande maioria
dos países que conhecemos no mundo inteiro
tem conseguido conviver com um poder
executivo de um partido e o presidente da
república, ou o mais alto mandatário, de outro
partido, mesmo onde existe distrito federal.
Alguns têm argumentado que nos Estados
Unidos, que têm também um distrito federal,
não há autonomia completa. Mas creio
que estas são realidades totalmente
diferentes – outra história, outra cultura, outro
comportamento, outra economia, outras
tradições – das nossas. Talvez fosse
mais correto comparamo-nos com países
24
latinos, como a França, a Itália. Por exemplo,
na França, o presidente é de um partido e o
Prefeito Chirac era de outro partido. Hoje, o
Chirac é Primeiro-Ministro também. Em
Roma, o presidente era da democracia cristã
exatamente nessa cidade, onde está situado
o Vaticano, que também é um Estado – e o
prefeito da capital era um comunista. E nunca
o fato de que o maior manda-o poder
executivo da cidade fossem de partidos
diferentes produziu, nesses países, crises.
Então, acreditamos na definição do
Distrito Federal como uma unidade particular,
mas aqui não estamos propondo que deixe de
ser Distrito Federal: estamos propondo que
continue a sê-lo. Estamos certos de que
apresentamos um projeto capaz de
compatibilizar o interesse da comunidade
local de autogerir-se e resolver seus
problemas com o interesse nacional.
E trazemos aqui a nossa esperança, a
nossa convicção, a nossa certeza de que esta
Constituinte saberá compatibilizar esses dois
interesses: o interesse nacional e o interesse
da comunidade local.
Leio o projeto apresentado pelo
Comitê Pró-Diretas, que é esse projeto
consensual. Trazemos uma sugestão a esta
Subcomissão para ser debatida. Sabemos
que aqui serão encontrados pontos
controversos, mas temos esperança de que
esse projeto possa servir de base a definição
da autonomia de que este povo tanto precisa.
Temos certeza de que será difícil sair dessas
soluções, até mesmo por que esse projeto foi
amplamente debatido.
Então, incluiríamos na Constituição,
através de um artigo, cuja numeração será do
contexto da Constituição, o seguinte:
CAPÍTULO
Do Distrito Federal
Art. – O Distrito Federal, sede dos
Poderes da União, organiza-se na Federação,
de forma a possibilitar aos cidadãos
estruturarem com autonomia os Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário.
§ 1º A União suplementará o Distrito
Federal com os recursos financeiros que
necessitar para a manutenção dos seus
serviços.
§ 2º O Distrito Federal terá a sua
Constituição votada por dois terços da Assembléia
Legislativa e promulgada pela mesma,
respeitados os princípios desta Constituição.
§ 3º Atendidas as peculiaridades
determinadas nesta Constituição, o Distrito
Federal terá:
I – Poder Executivo com Governador
e Vice-Governador eleitos pelo mesmo
sistema e com mandato de quatro anos.
II – Poder Legislativo formado por
uma Assembléia Legislativa, e eleita pelo voto
universal, direto e secreto, na forma prevista
na Constituição do Distrito Federal.
III – Poder Judiciário, através de Juízes
e Tribunal de Justiça do Distrito Federal,
organizado como as Justiças Estaduais.
§ 4º A Constituição do Distrito Federal
disporá sobre as divisões administrativas e
formas organizativas locais com órgãos que
possam ter membros eleitos pelo voto direto,
secreto e universal dos cidadãos de cada
circunscrição criada.
§ 5º Lei Complementar à
Constituição estabelecerá áreas essenciais
aos Poderes da União que terão
obrigatoriamente assegurados o forne -
25 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
cimento pelo Distrito Federal dos serviços
públicos necessários.
CAPÍTULO
Das Disposições Transitórias
Art. As primeiras eleições para
Governador, Vice-Governador e Assembléia
Legislativa do Distrito Federal serão
realizadas no dia 15 de novembro de 1988,
tomando posse os eleitos no dia 1º de janeiro
de 1989 para um mandato de quatro anos.
§ 1º A primeira Assembléia Legislativa
do Distrito Federal será composta por
Deputados eleitos na forma que for disposta
em lei federal e terá como primeira atribuição
a votação da Constituição do Distrito Federal,
nos termos desta Constituição.
§ 2º Através de lei complementar à
Constituição, a União disporá sobre a
transição da antiga organização do Distrito
Federal para a forma prevista nesta
Constituição."
Um aspecto com o qual gostaríamos
de complementar é o seguinte: tivemos hoje,
nesta mesma Subcomissão, um debate sobre
questões orçamentárias e fiscais. Esse debate
demonstrou, claramente, que o Distrito Federal
não é mais dependente do que a maioria das
Unidades da Federação, e que um subsídio
particular, que é o subsídio do trigo – que foi
criado adicionalmente àquele que havia no
antigo Distrito Federal, que tinha a finalidade de
financiar os investimentos da construção da
nova capital – não chega a 4% do orçamento
do Distrito Federal. Esse subsídio, que é o
único diferenciado com relação àquele do
antigo Distrito Federal, não ultrapassa a 4% do
orçamento do Distrito Federal.
Outros recursos da União voltam-se
para a manutenção dos equipamentos
necessários ao funcionamento da Capital da
República, o Poder Judiciário, os Ministérios,
o Poder Legislativo, as embaixadas, enfim,
todo um conjunto de instalações necessárias
ao funcionamento da Capital da República. Se
esta Capital não fosse Brasília, mas São
Paulo, por exemplo, esses mesmos recursos
teriam que ser repassados para o
financiamento desses serviços, porque eles
teriam que ser pagos de qualquer forma.
Então, o Governo do Distrito Federal é
como que um prestador de serviços
absolutamente indispensáveis para o Partido Comunista Brasileiro da Regional de
funcionamento desta Capital da República.
Portanto, determinados aspectos relacionados
com a chamada dependência financeira do
Governo do Distrito Federal e que,
eventualmente, seriam fatores impeditivos de
termos autonomia, são absolutamente
falaciosos; primeiro, porque não somos os
mais dependentes. Ao contrário, somos dos
menos dependentes. Segundo, porque, hoje,
concretamente, estamos servindo bem e
mantendo muito bem os equipamentos e as
instalações necessárias para o funcionamento
do Poder Central, inclusive, desta
Constituinte. Evidentemente precisaremos
manter esses recursos.
Outras formas adicionais serão
discutidas nos marcos de uma redefinição do
sistema tributário, que permitirão,
eventualmente, solucionar questões que,
inclusive, venham ao encontro dessa ansiada
autonomia do Poder Judiciário pela qual todos
nós, brasileiros, lutamos.
Creio que esta Subcomissão
saberá relatar, finalmente, o diferente, teremos um representante do
melhor interesse desta comunidade
local, a autonomia dos diversos poderes,
solucionando, como um caso e como unidade
particular que é, os interesses comuns da
comunidade e os de todo o povo brasileiro,
porque aqui é a Capital da República.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Está franqueada a palavra aos Srs.
Constituintes.
Concedo a palavra ao ilustre
Constituinte Maurício Corrêa.
O SR. CONSTITUINTE MAURÍCIO
CORRÊA: – Sr. Presidente, apenas desejo
congratular-me com o ilustre Presidente do
Partido Comunista Brasileiro do Distrito
Federal, Prof. Carlos Alberto Müller Lima
Torres, pela dissertação feita e dizer que não
temos divergências, somente convergências,
a respeito da exposição que acaba de fazer o
nobre companheiro do Distrito Federal.
Assevero, por outro lado, aos que não o
conhecem, que o Carlos Alberto é professor
da UnB, uma das grandes figuras da nossa
Capital, de modo que tê-lo visto constituiu-se
num prazer muito grande.
Pedi a palavra apenas para dizer que
estamos de acordo com ele em gênero,
número e grau.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A palavra está franqueada aos Srs.
Constituintes.
Não havendo quem queira se
manifestar, gostaria de chamar a atenção dos
Srs. Constituintes e daqueles que nos ouvem
neste plenário para a busca dos membros da
Mesa desta Subcomissão no sentido de ouvir
as diversas correntes de pensamento do
Distrito Federal.
Ouvimos hoje pela manhã a
colocação de dois especialistas na área de
orçamento, de finanças e da fiscalização,
através do Tribunal de Contas do Distrito
Federal, de problemas concernentes à
autonomia financeira do Distrito Federal.
Ouvimos hoje à tarde as brilhantes
palestras do Dr. José Ribeiro Leitão, da
magistratura do Distrito Federal, que fez suas
colocações com relação à necessidade de
independência do Poder Judiciário do Distrito
Federal.
Ouvimos o eminente Professor Carlos
Alberto Müller Lima Torres, Presidente do
Brasília, que expôs com inusitado brilhantismo
suas colocações, que referem uma posição de
consenso de todos os partidos do Distrito
Federal e, naturalmente, de todos os
Constituintes eleitos no Distrito Federal, que
se comprometeram publicamente com a
autonomia política, administrativa e financeira.
Estão abertos, naturalmente, os
caminhos para todos aqueles membros desta
Subcomissão que têm voto, e os Constituintes
que não são da Subcomissão, mas que têm a
palavra nesta sessão, para que formem seu
pensamento, sua consciência critica a
respeito dos problemas do Distrito Federal.
Amanhã teremos uma reunião da
Comissão da Organização do Estado e, no dia
seguinte, ou seja, depois de amanhã, teremos
duas outras reuniões. A de amanhã será às
17h e na do dia 29, às 9:30h, teremos o Dr.
José Sérgio Marinho Neves, Presidente do
IBRAM, que representa uma entidade privada
interessada na pesquisa de minerais no País.
Ao seu lado, com a corrente de pensamento
Ministério das Minas e Energia para expor tam-
bém seu pensamento com relação a esse
tema. Ou seja, a posição da União sobre as
minas de nosso País. E à tarde, às 17:00h.,
teremos o Professor Josaphat Marinho que
tratará de temas constitucionais a respeito das
competências da União e do funcionamento do
Distrito Federal e dos Territórios dentro desse
novo enfoque, que é a representação política e
a autonomia administrativa e financeira do
Distrito Federal e dos Territórios.
Agradeço a presença de todos e peço
aos Srs. Constituintes que compareçam
amanhã à reunião da Organização do Estado
e, depois de amanhã, a essas reuniões da
Subcomissão.
Nada mais havendo a tratar, vou
encerrar os trabalhos desta reunião,
convocando outra para amanhã, às 17h.
Está encerrada a reunião.
ATA RESUMIDA DA
3ª REUNIÃO ORDINÁRIA
Aos vinte e três dias do mês de abril do
ano de mil novecentos e oitenta e sete, às dez
horas e vinte e cinco minutos, na Sala B1 da
Câmara dos Deputados, reuniu-se a
Subcomissão da União, Distrito Federal e
Territórios, sob a presidência do Senhor
Constituinte Jofran Frejat (PFL – DF), com a
presença dos seguintes Constituintes: Meira
Filho (PMDB – DF), Ruben Figueró (PMDB –
MS), Sigmaringa Seixas (PMDB – DF), Chagas
Duarte (PFL – RR), Felipe Mendes (PDS – PI),
Francisco Carneiro (PMDB – DF), Marluce
Pinto (PTB – RR), Messias Soares (PMDB –
RJ), Mozarildo Cavalcanti (PFL – RR), Roberto
Rollemberg (PMDB – SP), Vilson Souza
(PMDB – SC). Havendo o número regimental, o
Senhor Presidente declarou iniciados os
trabalhos e passou à leitura da Ata da reunião
anterior, que foi aprovada por unanimidade.
EXPEDIENTE: Correspondência Recebida: a)
Ofícios: 1) Of. nº GP-0-84/87-ANC – Do Sr.
Presidente Ulysses Guimarães, convidando o
Constituinte Jofran Frejat para uma reunião. 2)
Of. nº 09/87-GAB, de 21-4-87 – Do Constituinte
Luiz Alberto Rodrigues, Presidente da
Subcomissão dos Municípios e Regiões,
encaminhando programação e convidando
para participação nos painéis que realizar-se-
ão dias 22 e 23 do corrente mês. 3) Of. nº
112/87 e 22-4-87, do constituinte Annibal
Barcellos, encaminhando subsídios. b)
Solicitações para audiência na Subcomissão:
1) Do Constituinte Felipe Mendes – para que o
Dr. Dorany Sampaio, Superintendente da
SUDENE compareça a esta Subcomissão. 2)
Of. IBRAM-BSB/SE/904/87, de 13-4-87,
assinado pelo Sr. José Mendo Mizael de
Souza, Secretário Executivo do IBRAM
(Instituto Brasileiro de Mineração) solicitando
oportunidade de ser ouvido perante esta
Subcomissão. (Ratificação ao Telex nº NR
0585/IBRAM-BSB/87). c) Telegramas: 1)
Telegrama do Presidente Ulysses Guimarães
convidando o Sr. Constituinte Jofran Frejat
para a Sessão Solene de Homenagem ao
Estadista Tancredo Neves, por ocasião do
aniversário de sua morte. d) Telex: 1) NR 253,
do Vereador João Bosco, Presidente da
CONAM (Confederação Nacional das
Associações de Moradores) solicitando
audiência. e) Sugestões encaminhadas
pela Mesa: 1) Através do Of. nº SGC-004/87,
de 8-4-87, do Presidente da Assembléia
Nacional Constituinte, encaminhamento das
Sugestões nos 01; 24; 30; 174; 189; 230; 247;
248; 252; 259; 264; 149 e 224. (Recebidas na
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
Subcomissão em 9 -4-87). 2) Através do Of. nº SGC/054/87, de
10-4-87, do Presidente da Assembléia Nacional Constituinte,
encaminhamento das Sugestões nº 227; 329; 361; 381; 383 e
588. (Recebidas na Subcomissão em 14-4-87). 3) Através do
Of. SGC/028/87, de 9-4-87, do Presidente da Assembléia
Nacional Constituinte, encaminhamento das Sugestões nos
160; 170; 172; 278; 279; 284; 425; 497 e 500. (Recebidas na
Subcomissão em 13-4-87).f) Sugestões encaminhadas por
Entidades: 1) Ofício Circular nº 4/PRAC/87, da Professora
Sidneya Gaspar de Oliveira, da Universidade Federal de
Santa Catarina, encaminhando Sugestões. Correspondência
Expedida pela Presidência da Subcomissão: 1) 90 Ofícios, de
nos 048 a 136/87-PRES., dirigidos a entidades Sindicais e
Associações do Distrito Federal, comunicando a instalação da
Subcomissão, eleição da Mesa e solicitando subsídios. Findo
o expediente, o Sr. Presidente enunciou que a finalidade da
presente reunião seria para apresentação e discussão do
roteiro; e sugestões e convites à entidades de classe.
Discutiram a matéria os Senhores Constituintes: Sigmaringa
Seixas, Vilson Souza, Roberto Rollemberg, Felipe Mendes,
Chagas Duarte, Ruben Figueiró, Marluce Pinto, Meira Filho,
Mozarildo Cavacanti, Messias Soares e Francisco Carneiro. O
inteiro teor dos debates será publicado, após a tradução das
notas taquigráficas e o competente registro datilográfico, no
Diário da Assembléia Nacional Constituinte. Nada mais
havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por encerrado os
trabalhos, às onze horas e cinqüenta minutos, convocando os
Senhores Constituintes para a próxima reunião a ser realizada
dia vinte e três de abril, às dezessete horas, para continuação
do debate de Matéria Constitucional. E, para constar, eu,
Antonio Fernando Borges Manzan, Secretário, lavrei a
presente Ata que, depois de lida e aprovada, será assinada
pelo Senhor Presidente.
CALENDÁRIO DE AUDIÊNCIAS
PÚBLICAS
27-4 – 2ª Feira
9:30h – Dr. José Carlos Mello, Secretário de Estado do
DF Dr. Fernando Tupinambá Valente,
Conselheiro do Tribunal de Contas do DF.
17:00h – Dr. José Ribeiro Leitão, Presidente da
Associação dos Magistrados do DF
Representante do Comitê Pró-Diretas
28-4 – 3ª Feira
9:30h –
17:00h – Reunião na Comissão de Organização do Estado.
29-4 –4ª Feira
9:30h – Dr. José Sérgio Marinho Neves, Presidente do
Ibram, Representante do Ministério das Minas e
Energia.
17:00h – Professor Josaphat Marinho
30-4 – 5ª Feira
9:30h – General Roberto Klein, Secretário Especial de
Defesa Civil.
17:00h – Dr. José Saulo Ramos, Consultor-Geral da
República Dr. Osny Duarte Pereira.
04-5 – 2ª Feira
9:30h – Dr. Gétulio Alberto de Souza Cruz (Gov.
Roraima), Dr. Jorge , Cap. Mar-e-Guerra Gerson
da Silva Monteiro (Gov. de Fernando de
Noronha).
17:00h – Dr. Raimundo Azevedo Costa – Prefeito de
Macapá, Dr. Ruedner Moreira Cavalcante (Pres.
da OAB/RR).
26
SUBCOMISSÃO DA UNIÃO
DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
Anexo à Ata da 3ª Reunião,
Realizada em 23-4-87
(Publicada em Suplemento ao DANC de
1º-5-87).
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): – Havendo
número regimental, declaro abertos os trabalhos da reunião
desta Subcomissão.
O Sr. Secretário procederá à leitura da Ata da reunião
anterior.
(É lida e aprovada a Ata da reunião anterior.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): – O Sr.
Secretário procederá à leitura do expediente.
(Leitura do expediente.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): – A pauta da
sessão de hoje versa, em primeiro lugar, sobre a distribuição e
discussão de um roteiro para a iniciação dos nossos trabalhos.
Os Srs. Constituintes devem ter recebido, no momento da
assinatura do livro de presença, alguns documentos. Entre
eles há um fluxograma, várias propostas constitucionais e um
roteiro, elaborado pela assessoria da Subcomissão, em
conjugação com o Prodasen, no sentido de facilitar o
acompanhamento das propostas que aqui chegam. Esse
roteiro, naturalmente, estará em discussão entre os Srs.
Constituintes. É um roteiro longo, onde se procurou inserir,
praticamente, todos os itens referentes ao que existe nas
Constituições anteriores. De forma que muita coisa
provavelmente será desprezada, mas muito do conteúdo
poderá ser mantido. Não é uma coisa rígida, porque propostas
podem ser apresentadas diferentemente do que está aqui,
como também podem não ser apresentadas propostas com
relação a esses itens. Mas vale como um esqueleto
independente, onde estão incluídos os itens de várias
Constituições. Não se fixou em nenhuma delas, para que haja
essa informação direta aos Srs. Constituintes. Por outro lado,
a assessoria da Subcomissão está elaborando também um
mapa paralelo, sobre o assunto, que será distribuído
oportunamente. Na primeira coluna estarão os itens
mencionados no roteiro inicial. Na segunda coluna serão
apresentados os caputs das diversas propostas
constitucionais referentes àquele item, para que possa ser
acompanhado. A terceira coluna referir-se-á aos pareceres e
subemendas, ou emendas apresentadas. E, por último, o
anteprojeto apresentado pelo Relator, onde S. Exª definirá sua
posição final. Gostaria que os Srs. Constituintes que tivessem
alguma proposta se manifestassem a respeito do roteiro. Com
a palavra o Relator da Subcomissão.
O SR. RELATOR (Sigmaringa Seixas): – Este roteiro,
aqui apresentado pelo Presidente, foi preparado pelo
Prodasen, se não me engano, mas considerando todos
aqueles temas pertinentes à nossa Subcomissão. O Prodasen,
evidentemente, louvou-se no próprio texto constitucional
vigente, que, neste aspecto, não diverge dos anteriores.
Evidentemente, é matéria de fundo, mas há outras questões a
serem enfrentadas, porque até hoje não cumprimos sequer o
dispositivo regimental que determina as audiências públicas.
Acho que esse é o ponto inicial. A partir daí é que as idéias
serão fermentadas, colhendo-se, evidentemente, as sugestões
das entidades que aqui vieram e das autoridades, para então
começarmos a pensar em elaborar o texto de nossa
competência.
27 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
Estou verificando que o tempo está curto.
Evidentemente, fomos prejudicados pelos feriados da Semana
Santa, mas, apesar disso, tenho a impressão de que todas as
outras Subcomissões já realizaram audiências públicas –
inclusive as duas Subcomissões que integram a Comissão de
Organização do Estado. Temos prazo até o dia 11 de maio
para a apresentação do relatório do anteprojeto. Do dia 11 de
maio ao dia 19 do mesmo mês seria, então, o prazo para a
discussão e apresentação de emendas por parte dos
Constituintes. No dia 22 de maio haveria a apresentação do
parecer, que seria votado entre 22 a 25, e no dia 25, então,
ocorreria o encaminhamento do anteprojeto à Comissão.
Ora, se não trabalharmos sábado, domingo e o único feriado
que temos, nos próximos dias, e se excluirmos o dia de hoje,
teremos apenas 17 dias para os nossos trabalhos,
considerando que no dia 19 de maio se encerra o prazo para
discussão e apresentação do relatório. A partir daí, então,
começaria a fluir o prazo para o Relator. Mas, se
considerarmos a data 11 de maio para apresentação do
relatório com o anteprojeto, teremos apenas 11 dias úteis, o
que é muito pouco para um tema que não é tão simples.
Estamos pensando muito na questão do Distrito Federal e dos
Territórios, mas temos a questão da União, temos o problema
da Federação, um tema que não posso defini-lo como
complexo, também não é simples.
Diante disso, meus caros Constituintes, eu me permito
propor um esforço concentrado, que não precisa
necessariamente incluir os sábados e domingos e o feriado do
dia 1º de maio, mas precisamos utilizar melhor os demais dias.
A mesma Assembléia determinou – é possível que V.
Ex.as tenham tomado conhecimento – que às terças, quartas e
quintas, às 17 horas, poderíamos realizar sessões
extraordinárias, porque essas reuniões inserir-se-iam no
debate constitucional, exatamente o horário que o Plenário
dedica à questão. Como também temos que observar o
preceito do art. 14 do Regimento, de cinco a oito audiências
públicas, poderíamos realizar, se V. Ex. as me permitem
sugerir, mais de uma reunião por dia.
Eu me permitiria, então, apresentar o seguinte
cronograma. Amanhã seria difícil, porque teria que haver
convocação, a menos que tenhamos alguma entidade
presente na Casa, que se disponha a ser ouvida amanhã. Mas
acho que seríamos mais realistas se iniciássemos essas
audiências públicas na próxima segunda-feira, dia 27 de abril.
Realizaríamos uma audiência às 10 horas da manhã e outra
às 17 horas. No dia 28 de abril, terça-feira, só poderíamos
realizar uma única audiência, porque é propósito do
Presidente da Subcomissão convocar uma reunião da mesma
para terça-feira, não sei se pela manhã ou à tarde. No horário
que nos restasse, então realizaríamos uma reunião de
audiência pública. Na quarta-feira, faríamos duas reuniões, às
10 e às 17 horas.
Com isso, teríamos realizado cinco reuniões. Até
quarta-feira, ouviríamos, então, as entidades da sociedade
civil e as autoridades – Governadores, Ministros – enfim, todos
aqueles que se dispuserem a comparecer às reuniões. Ainda
nos restaria o dia 30 de abril, quando poderíamos realizar
mais duas reuniões, às 10 e às 17 horas. Para essas duas
reuniões, então, poderíamos convidar constitucionalistas, que
discorreriam sobre as matérias pertinentes à nossa
Subcomissão. Evidentemente, poderia até sugerir o tema, mas
prefiro, democraticamente, deixar que os colegas o façam,
embora não seja muito difícil defini-lo. Temos que d iscutir a
questão da Federação, a questão da competência, a forma de
intervenção e também os aspectos referentes ao Distrito
Federal e Territórios.
Ainda nos restaria uma última reunião. Até então,
teríamos realizado sete, mas não precisamos,
necessariamente, realizar oito audiências públicas. Mas, se
sentíssemos essa necessidade, ainda nos restaria a segunda-
feira, dia 4 de maio, para a realização da oitava audiência
pública.
Temos quatro pedidos de audiência – pelo menos, que
tenham chegado a meu conhecimento. Não sei se de ontem
para hoje não houve mais algum. Dois são formalizados. Um é
do Instituto Brasileiro de Mineração, certamente para falar
sobre a competência da legislação de recursos minerais.
Outro é uma sugestão do Constituinte Felipe Mendes para que
ouçamos o Superintendente da Sudene. Pessoalmente, fui
procurado pelo Presidente da Associação dos Magistrados do
Distrito Federal, que também gostaria de ser ouvido. Também
recebi uma comunicação do Prefeito de Macapá, no Território
do Amapá, em que afirma que gostaria de prestar um
depoimento perante esta Subcomissão.
Tenho conhecimento de que o Comitê Pró-Diretas do
Distrito Federal também gostaria de ser ouvido nesta
Subcomissão. Temos, então, cinco entre entidades e
personalidades, que pretendem prestar depoimento na nossa
Subcomissão. Se realizássemos duas audiências por dia, em
três dias resolveríamos esse problema – a menos,
evidentemente, que outras entidades se manifestem.
Quanto aos constitucionalistas, eu proporia que
ouvíssemos, na questã o dos Territórios, o Constituinte Michel
Temer – o que é fácil, pois está aqui, na Casa. S. Ex.ª tem um
trabalho sobre os Territórios nas Constituições brasileiras.
Poderíamos ouvi-lo, já que vamos tratar do problema da
Constituição. Poderíamos ouvir outros constitucionalistas,
como o Prof. Osny Duarte Pereira, que hoje vai falar numa das
Subcomissões de nossa Comissão, e também o Prof. José
Afonso, que, segundo soube, está aqui em Brasília
assessorando o Senador José Richa. Mas estas são apenas
sugestões.
Se conseguirmos cumprir esse cronograma, a partir do
dia 5 de maio poderíamos dedicar três dias para a discussão
das propostas apresentadas. Já temos mais ou menos em
tomo de vinte a trinta propostas e então dedicaríamos esses
três dias para a discussão das mesmas, a fim de que os
colegas opinem sobre elas. A partir daí, então, eu teria quatro
dias para a apresentação do relatório.
Estas são as minhas modestas sugestões para os
nossos trabalhos iniciais.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): – Peço
que o Secretário da Mesa anote as sugestões feitas pelo Sr.
Relator. A Mesa tentará compatibilizar os interesses dos
diversos setores com os horários e a disponibilidade que
teremos.
Gostaríamos de ouvir de nossos companheiros
Constituintes suas propostas de convites a serem feitos a
pessoas que seriam ouvidas aqui, em audiência pública, logo
após termos discutido o roteiro inicial, apresentado como
primeiro item da pauta. Se houver alguma sugestão, alguma
contribuição com relação a esse roteiro, gostaríamos de ouvi-
la em primeiro lugar, para, a seguir, recebermos as sugestões
dos convidados a participar dessas reuniões.
O SR. CONSTITUINTE VILSON SOUZA: – No
estabelecimento do roteiro, atendendo, inclusive, ao aqui
dito pelo nobre Relator, é importante que estabeleçam os
nele no que for pertinente às audiências públicas, a
temática de cada uma delas. Assim, esgotaríamos essas
audiências, debatendo temas. Do contrário, discutiríamos,
por exemplo, a situação dos Territórios, em três ou
quatro audiências públicas, e prejudicaríamos a questão
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 28

do federalismo regional, ou prejudicaríamos a
questão da competência concorrente entre
União, Estados e Municípios.
Então, a nível de estabelecimento do
roteiro, sugiro que assim se faça, atendendo à
ordem temática dessas audiências públicas.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª.
Com relação às audiências públicas,
teremos uma primeira audiência hoje, não
oficial, para não queimar uma das
possibilidades, do ex-Governador Ottomar
Pinto, que estará aqui às 19h, contribuindo
com a sua experiência para a nossa
Subcomissão. Essa será a primeira audiência
que teremos.
Também já enviamos convite ao
Instituto Brasileiro de Mineração – Ibram, que
por duas vezes nos solicitou a sua participação.
Naturalmente, é uma entidade privada, sem
fins lucrativos, como eles dizem, que tem o
objetivo de discutir a questão da mineração, em
relação, especificamente, à autonomia ou ao
monopólio da União na exploração das minas
brasileiras. A audiência está marcada para o
dia 29, às 9h30min da manhã. O Ibram está
convidado para audiência pública, em 29 de
abril, com os Constituintes da Subcomissão do
Distrito Federal.
Com relação aos membros das
audiências públicas, estamos aguardando as
sugestões dos Srs. Constituintes. As primeiras
recebidas o foram através de nosso Relator,
agora, de forma que, dentro dessas
propostas, compatibilizaremos o espaço de
tempo, tentando fazer as oito reuniões que
nos são permitidas pelo Regimento Interno.
Volto ao assunto do roteiro e gostaria
de ouvir discussões com relação ao mesmo,
naturalmente acatando a proposta do
Constituinte que usou o microfone há pouco,
no sentido de estabelecer por temas a
discussão do assunto. Naturalmente peço à
Mesa que os estabeleça dentro desse roteiro
temático.
Tem a palavra o Constituinte Roberto
Rollemberg.
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO
ROLLEMBERG: – Sr. Presidente,
aproveitando a oportunidade da fixação da
data da presença dos representantes do
Ibram, queria sugerir aos companheiros que,
na mesma oportunidade, fosse convidado um
representante do Ministério das Minas e
Energia, para colocar aqui a posição das
permissões e concessões de exploração de
minério, no País. Porque, se esse Instituto é
particular, deverá ter uma visão, uma posição
sobre o problema. Embora já conheçamos
pessoalmente a lamentável situação relativa à
permissão e concessão para se explorar
minérios no País, seria necessário que, ao
mesmo tempo que estivesse aqui o Ibram,
também estivesse um representante do
Ministério das Minas e Energia, trazendo
fundamentalmente informações sobre o
número e o percentual de concessão de
exploração de minério, principalmente em
relação a empresas estrangeiras.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Peço ao Secretário da Mesa que encaminhe
ao Ministro das Minas e Energia a solicitação,
explicitando que virá um ente particular,
privado, discutir o assunto "exploração de
minérios no Brasil", para que mande uma
pessoa que esteja afeita a esse tema.
Acatada a proposta de V. Ex.ª.
Continua franqueda a palavra, ainda
para falarem sobre o roteiro.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Apenas para colocar, talvez
como consulta, se haveria a possibilidade, ou
a conveniência, se caberia dentro do roteiro –
em função do problema de tempo, tendo em
vista a questão dos Territórios, pela qual,
particularmente, tenho simpatia – que a
Comissão, a Subcomissão ou parte dela
pudesse visitar os dois Territórios, o do
Amapá e o de Roraima, para que, numa ação
articulada com os Constituintes
representantes dos mesmos, em reunião com
as entidades representativas, se pudesse
colher diretamente no local as idéias que lá
circula, a fim de que aqueles outros que não
defendem diretamente os interesses dos
Territórios possam – pelo menos penso assim
– defender melhor, ou em plenário ou em
outras comissões, o que certamente será um
tema palpitante.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex .ª.
Para fazer esse tipo de visita,
teríamos que, naturalmente, utilizar o sábado
e o domingo e manter contato com os
representantes dessa área em cada um
desses locais. Vamos verificar, com a nossa
assessoria da Subcomissão, se é possível
esse contato nesse período, e se estarão
disponíveis as pessoas para prestar as
informações.
Também vale a pena lembrar aqui, a
pedido do Constituinte Chagas Duarte, que a
Mesa da Assembléia Legislativa não participa
das despesas de viagem para convidados do
serviço público, porque entende que este
poderá arcar com as mesmas. Mas, com a
apresentação de convidados não participantes
do serviço público, a Mesa poderá arcar com
as despesas, com passagem e estada.
Tem a palavra V. Ex.ª.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Primeiramente, gostaria de fazer
uma ponderação sobre o roteiro de nosso
Relator, no que diz respeito à nossa segunda
reunião, no sentido de que, o início das
reuniões ao invés de às 17 h, fosse às 19 h,
ou logo que terminasse a sessão do plenário.
Muitas vezes há ali um tema ou matéria a ser
discutida, e gostaríamos de estar presentes.
Então, que fosse colocada em votação, a
proposta no sentido de que nossas reuniões à
noite fossem a partir do término da sessão do
plenário.
Outra ponderação diz respeito às
audiências com referência aos temas. Por
exemplo, quanto ao tema "Territórios", sugiro
que, no dia marcado para serem realizadas
essas audiências públicas, falassem sobre o
assunto todos os convidados, que poderiam
ser dois, três ou quatro. Por exemplo,
para falar sobre a organização administrativa
e judiciária deve comparecer aqui o
Presidente da Ordem dos Advogados do
Território e o Governador também. Então,
proponho que nos reuníssemos todos, no
mesmo dia, no dia dedicado ao tema. E
poderiam comparecer uma, duas ou três
pessoas, naturalmente determinando a Mesa
o tempo para cada convidado que aqui
comparecesse.
Esta a nossa sugestão, que
gostaríamos que a Mesa apreciasse.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª.
A primeira reunião com um
convidado será exatamente às 19 h. A
informação que temos da Mesa
da Assembléia é no sentido de que a
partir das 17 h estarão encerrados os trabalhos
do plenário da Assembléia Nacional Constituinte,
exatamente para que possamos compatibilizar
esse horário com o nosso, das Subcomissões,
de forma que, tanto quanto possível, não
coincidam reuniões da Subcomissão com a
sessão plenária da Assembléia Nacional
Constituinte. Se as reuniões se delongarem um
pouco mais, como os Constituintes estarão
presentes, nós as realizaremos às 19 h. Nos
dias em que as sessões plenárias
permanecerem até às 17 h, nós faremos neste
horário, facilitando também os contatos dos
nossos companheiros Constituintes com suas
bases, com os outros setores da sociedade civil.
Tem a palavra o nosso Relator,
Constituinte Sigmaringa Seixas.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Gostaria de prestar apenas um
esclarecimento.
Talvez não tenha sido muito explícito.
As sessões não se encerram às 17 h. Apenas
ficou facultada às subcomissões a realização
de audiências nesse horário, porque essas
reuniões se integrariam ao debate
constitucional, que é o que o Regimento
prescreve para o plenário da Assembléia
Nacional Constituinte, a partir das 17 h.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Tem a palavra o Constituinte Ruben
Figueiró.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, Srs.
Constituintes, gostaria de registrar aqui duas
sugestões.
Entendo que nossa função fundamental
é tratar da competência da União. A ela
deveríamos dar, portanto, maior atenção. Como
as audiências públicas são apenas oito, segundo
o Regimento, eu deixaria aqui a sugestão de que
fizéssemos quatro reuniões para tratar da
competência da União. Em cada uma dessas
audiências, naturalmente, poderiam ser
realizadas três ou quatro entrevistas. Participei,
anteontem, assim como a Sra. Constituinte
Marluce Pinto, de uma audiência, à qual
compareceram quatro palestrantes. Então,
poderíamos perfeitamente atender aos
interesses de todos, mas dando realce,
principalmente, à questão da competência da
União, que, no meu entender, é o assunto que
mais pode trazer controvérsia. Para o Distrito
Federal teríamos duas reuniões de audiências e
para os Territórios mais duas reuniões.
Completaríamos, assim, o ciclo de oito reuniões.
A outra sugestão é com relação à audiência de
hoje à noite com o Constituinte Otomar Pinto. Eu
sugeriria, até para comodidade dos nossos
trabalhos, uma vez que vários dos Srs.
Constituintes têm compromissos mais tarde, que
essa audiência se antecipasse para as 17:00h,
mesmo porque o Regimento o permite. São
estas as duas sugestões que deixo aqui
registradas para a análise dos Srs. Constituintes.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Temos duas proposições com relação a
essas audiências: uma do Constituinte
Chagas Duarte, para que essas reuniões
sejam realizadas às 19:00h, a fim de que não
haja superposição com a sessão plenária; e a
outra do Constituinte Ruben Figueiró, para
que sejam às 17:00h, exatamente para
não dificultar os entendimentos dos
Constituintes lá fora. Quando se estabelecem
duas proposições diferentes, só nos resta
submetê-las à consideração do Plenário. No
caso específico do Constituinte Otomar Pinto,
S. Exª já se dispôs a aqui comparecer,
independentemente de ser uma au-
29 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
diência pública, exatamente para não impedir
que outras pessoas, não pertencentes à
Assembléia Nacional Constituinte, aqui
venham trazer seus esclarecimentos. Então,
peço ao Plenário que se manifeste a este
respeito. Aqueles que estiverem de acordo
com que a sessão de hoje se realize às
19:00h permaneçam como estão. A sessão
será marcada para as 17:00h.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Acho que poderíamos encontrar
uma solução consensual.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Depois da votação não há consenso.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Não é isso. A preocupação do
Constituinte Chagas Duarte é a de que
realizemos uma reunião às 17:00h, no
instante em que esteja sendo realizada uma
sessão importante da Assembléia Nacional
Constituinte. Esse horário corresponde, salvo
engano, ao Grande Expediente, quando os
Constituintes fazem seus discursos. Se,
eventualmente, houver um tema palpitante – e
podemos sabê-lo com antecedência –
deslocaremos essa reunião para as 19:00h.
Mas, quando não for o caso, nós a
realizaremos às 17:00h.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Têm V. Ex.ª alguma outra contribuição?
Com a palavra a Constituinte Marluce
Pinto.
A SRA. CONSTITUINTE MARLUCE
PINTO: – Sr. Presidente, considero a defesa
do Estado um tema muito polêmico,
principalmente porque entre nós não há militar
algum. Assim, para a discussão do item
1.321, que se refere à organização das
Forças Armadas e da Polícia Federal e a
segurança das fronteiras, eu sugeriria que,
como pode haver mais de um expositor numa
única audiência, convidássemos o EMFA e o
SNI a que aqui mandassem algum
representante, porque os assuntos estão
inter-relacionados, pois tratam dos militares e
da importância da sua presença nas
fronteiras, como é o caso do Batalhão das
Fronteiras. Se possível, poderíamos convidar
até o Ministério da Justiça, e numa única
audiência já ficaríamos a par de como concluir
nossas sugestões para temas tão
importantes.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a contribuição de V. Ex.ª.
Fazendo uma pequena rememoração:
entendi que no roteiro definitivo e sistemático
poderão ser incluídos ou retirados mais itens.
É só um roteiro para que os companheiros
Constituintes possam fazer um
acompanhamento dos diversos temas.
Em segundo lugar, pareceu-me de
bom alvitre fazer a complementação com
essa planilha, cujo acompanhamento não
precisa ser absolutamente rígido. Mas, com
certeza, ela dará alguma contribuição para o
fluxo do nosso trabalho.
Em terceiro lugar, creio que o fato
mais importante é a compatibilização das
diversas propostas aqui representadas, de
convites a pessoas e entidades que possam
trazer sua contribuição. Ficou decidido que
hoje, às 17h, aqui comparecerá o ex-
Governador Otomar Pinto, nosso colega
Constituinte e Deputado Federal. Quanto às
outras propostas de convocação, será feita
imediatamente a comunicação às pessoas
convidadas para que participem dessas
audiências públicas. A proposta do
Constituinte Roberto Rollemberg é de con-
vite concomitante a um representante do
Ministério das Minas e Energia, para dar sua
versão, no aspecto governamental, sobre a
exploração de minas, e a um representante
do Ibram. É um constitucionalista que
escolheremos de acordo com o nosso
Relator, para que possa trazer sua
contribuição. Já encaminhamos solicitação
aos Superintendentes da SUDAM, SUDECO
e SUDENE, no sentido de que marquem um
dos dias disponíveis para a nossa audiência
pública. Pretendemos que essas três
autoridades estejam aqui no mesmo dia, para
que possamos utilizar apenas uma reunião.
Tem a palavra o Constituinte Vilson
Souza.
O SR. CONSTITUINTE VILSON
SOUZA: – Sr. Presidente, com relação às
superindentências de desenvolvimento regional,
eu sugeriria ainda que fosse convidado o
Ministro do Interior, já que elas estão
subordinadas a esse Ministério, e todos os
superintendentes, em número de cinco. E
também poderíamos ouvir órgãos de
desenvolvimento regional, como a Comissão do
Desenvolvimento do Vale do São Francisco. São
todos órgãos relacionados com o da Ordem dos Advogados daquele
desenvolvimento regional. Poderíamos até –
quem sabe? – para concentrar todos os debates
nessa mesma reunião, convidar o Presidente do
Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico, que é responsável pela execução do
planejamento econômico do País.
Assim, esgotaríamos, nessa reunião,
todo esse tema relacionado com os
desenvolvimentos nacional e regional.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª.
Tenho a informação de que o Ministro
do Interior já viria para uma reunião na
Subcomissão dos Estados. De forma que
vamos tentar compatibilizar esta com as
outras sugestões, atendendo à proposta do
nobre Constituinte.
Com a palavra o nosso Vice-
Presidente, Constituinte Meira Filho.
O SR. CONSTITUINTE MEIRA
FILHO: – Sr. Presidente, seguindo a linha do
Constituinte Vilson Souza, quero apresentar
uma sugestão.
Já que S. Exª sugere tantos convites,
eu proporia à Mesa que convidasse os
Constituintes que fazem parte desta
Subcomissão a comparecerem à próxima
sessão. Hoje está presente menos da metade
dos que compõem esta Subcomissão. Gostaria
que o Secretário oficiasse aos Constituintes
sobre a realização das nossas reuniões.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Esta Presidência informa que todos os
Constituintes membros desta Subcomissão
foram notificados ontem e hoje, por telefone,
da reunião de hoje. De forma que a Mesa
cumpriu a sua função de comunicar a
realização desta sessão.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, eu pediria, se fosse
possível, que esta Subcomissão solicitasse ao
PRODASEN que enviasse o mesmo roteiro às
diversas outras subcomissões, tendo em vista
que alguns temas são também bastante
importantes para elas, especialmente a
Subcomissão da Ordem Econômica, onde vai
ser tratada a questão, por exemplo, da
exploração ou concessão das minas, pela União,
das telecomunicações etc.
O SR. PRESIDENTE (Jofran
Frejat): – Esta Subcomissão iniciou
o processo de criar esse ro-
teiro e a pessoa que está encarregada disso
também está trabalhando com as outras
subcomissões nesse sentido. Já
comunicamos até mesmo ao Presidente da
nossa Comissão a criação do nosso roteiro,
para que V. Ex.ª possa, juntamente com os
roteiros das outras subcomissões, incluí-lo
num roteiro maior e definitivo. Tão logo as
subcomissões aprontem seus roteiros, nós o
faremos distribuir aos Constituintes da nossa
Subcomissão.
Continua franqueada a palavra.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Eu gostaria de saber se nós
poderemos convidá-las ou se é a Mesa que
fará esse convite.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A Mesa fará o convite.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Então quero propor, Sr.
Presidente, que, na medida do possível, seja
marcada para o dia 4 de maio a reunião
destinada aos Territórios.
Desejo sugerir ainda à Mesa, para
apreciação e decisão, o convite ao
Governador de Roraima e ao Presidente
Território, para que aqui venham falar sobre a
estrutura judiciária e administrativa dos
Territórios.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Está registrada a proposta de V. Ex.ª.
Concedo a palavra ao nobre
Constituinte Mozarildo Cavalcanti.
O SR. CONSTITUINTE MOZARILDO
CAVALCANTI: – Sr. Presidente, o
Constituinte Ruben Figueiró fez uma proposta
que não foi apreciada e decidida e que me
pareceu muito sensata e coerente, porque
divide os temas por número de sessões de
audiências: especificamente quatro para a
União, duas para o Distrito Federal e duas
para os Territórios. Isto realmente colocaria
ordem, porque já existem várias sugestões de
convites a pessoas e entidade que se inter-
relacionam. E creio que é importante,
fundamental mesmo, que se estabeleçam,
aproveitando a sugestão do Constituinte
Chagas Duarte, por exemplo, dois dias para
os Territórios e dois dias para o Distrito
Federal, a fim de que possamos articular com
as entidades e autoridades do setor o seu
comparecimento no mesmo momento para o
debate do assunto.
O SR. PRESIDENTE (Jofran
Frejat): – Ficaria muito difícil para a
Presidência estabelecer exatamente os dias,
em virtude das agendas das pessoas
convidadas.
Recebemos a proposta do
Constituinte Ruben Figueiró, vamos analisá-la
após a sessão, na tentativa de realizar – e isto
foi anotado – quatro reuniões para a União,
duas para o Distrito Federal e outras duas
para os Territórios. Vamos verificar até quais
as pessoas que poderão ser convidadas para
uma mesma sessão, sem haver prejuízo para
as sessões. A Presidência se reunirá
com a Secretaria da Mesa para tentar
compatibilizar esses aspectos. No momento
em que tivermos uma agenda, nós a
transferiremos aos Srs. Constituintes. Ainda
não temos as datas porque precisamos
consultar as pessoas com relação às suas
propostas.
O Constituinte Chagas Duarte
propôs o convite ao Governador e ao
Presidente da Ordem dos Advogados
de Roraima para o dia 4 de maio.
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento 30

Naturalmente vou tentar fixar a data da
reunião dos Territórios para período próximo a
esse, a fim de que não haja dificuldades. Se já
estabelecesse de início que ela seria marcada
para o dia 30, eu encontraria dificuldade para
encaminhar outro convite para a mesma data.
Isso será compatibilizado logo depois da
nossa sessão.
Gostaria de ouvir dos Constituintes os
nomes das pessoas que gostariam fossem
convidadas.
O SR. CONSTITUINTE VILSON
SOUZA: – Sr. Presidente, volto a formular
algumas sugestões. A primeira é com relação
a nomes. Eu sugeriria o nome do Professor
Paulo Boanevides, que, se não me engano, é
professor de Direito Constitucional da
Universidade do Ceará e tem algumas obras
publicadas sobre Ciência Política e,
principalmente, estudos bastante profundos
sobre federalismo.
Desejaria ratificar também a indicação
do Constituinte Sigmaringa Seixas de
ouvirmos o ex-Desembargador e grande
analista do sistema político brasileiro,
Professor Osny Duarte Pereira.
Proponho também ao Plenário que,
para uma das próximas reuniões,
estabeleçamos, para abrir o debate, o estudo,
no Direito Constitucional. Comparado dos
demais países do mundo, da estrutura do
federalismo nos Estados Unidos, na
Alemanha Federal, na Suíça, na Austrália, na
Argentina, no México, enfim, em diversos
países, até para que, de posse desses
elementos e conhecimentos, possamos dar
seguimento e seqüência a esse trabalho.
Se for o caso de fazermos esse
trabalho junto com o Relator, proponho-me a
auxiliá-lo na pesquisa. Já fiz alguma pesquisa
sobre isso, tenho reunido alguns ensaios e
obras. Assim, contribuiríamos com a
Subcomissão no sentido de trazer
informações sobre federalismo, sobre como é
o pacto federal nos demais países do universo
e até sobre a experiência do cotidiano do
federalismo nesses países.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Esta proposta é muito bem-vinda.
Com a palavra o nobre Constituinte
Messias Soares.
O SR. CONSTITUINTE MESSIAS
SOARES: – Gostaria de sugerir que
convidássemos o Presidente José Sarney a
comparecer à nossa Subcomissão para falar
sobre a União.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A Presidência da Mesa fará o convite a S.
Exª. Dependerá, naturalmente, da
disponibilidade do Presidente a sua vinda a
esta Subcomissão.
A SRA. CONSTITUINTE MARLUCE
PINTO: – Já que vai ser convidado o
Presidente Sarney, talvez pudéssemos
também fazer um convite ao ex-Presidente
Ernesto Geisel para aqui comparecer no
mesmo dia. É certo que ele foi da época da
Revolução, mas é um homem muito
ponderado. Poderemos obter muito boas
sugestões. Acho que seria até interessante um
debate de acordo com as suas sugestões e as
do Presidente José Sarney. Considerando que
há problemas de fronteira, de Forças Armadas,
que pessoa mais indicada para isso? Apenas
aceitaríamos as sugestões que realmente
considerássemos de acordo com o nosso
regime democrático, não importando ter sido
ele Presidente na época da Revolução. O
Presidente José Sarney também fazia parte
do mesmo regime. Portanto, seria bom que
convidássemos os dois.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Naturalmente, a Mesa vai tentar
compatibilizar – novamente usando o verbo
compatibilizar – os diversos pedidos. V. Ex.as
sabem, tanto ou mais do que eu, das
dificuldades para se convidar algumas
pessoas para participarem de uma
Subcomissão e de se colocar, na mesma
mesa, pessoas com posições tão divergentes.
Temos alguns interesses específicos
e precisamos fazer uma Constituição. Não
queremos transformar nossas reuniões em
debate público de tendências políticas. O que
buscamos fazer é dar contribuição para a
nova Carta Magna. Se houver meios de,
dentro da agenda de oito reuniões, atender a
todas as propostas, a Mesa, fará todo o
esforço nesse sentido. Aqueles convites em
que houver a pressuposição de que serão
recusados ou, sendo feita a consulta, mostrar
má vontade, o convidado, evidentemente não
serão efetivados. Teremos de nos reportar
àqueles que de fato trarão alguma
contribuição imediata para nós.
Com a palavra o nobre Constituinte
Ruben Figueiró.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, gostaria também
de deixar aqui uma sugestão. Acho que seria
de grande valia para nós ouvirmos a palavra
do Constituinte Afonso Arinos de Melo Franco,
sobretudo sobre a questão da competência da
União. S. Exª vai abrir um leque de
informações extraordinário para cada um de
nós. Eu, pelo menos, não li o seu anteprojeto,
a não ser alguns destaques. Existem pontos
que são controvertidos, mas há outros que
merecem os nossos aplausos.
Portanto, fica aqui a minha
sugestão de que convide o Constituinte
Afonso Arinos para falar sobre a competência
da União.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a proposta a V. Ex.ª.
Concedo a palavra ao nobre
Constituinte Roberto Rollemberg.
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO
ROLLEMBERG: – Sr. Presidente,
companheiros Constituintes, respeito as
propostas de convite ao Presidente José
Sarney e ao ex-Presidente Ernesto Geisel. Eu
poderia até cometer um absurdo e chamar o
ex-Presidente Médici. Mas, com o devido
respeito aos companheiros, tenho a
impressão de que nossos convites seriam
para pessoas que trouxessem
esclarecimentos para uma coisa nova. Eu não
gostaria de repetir aqui o que Geisel e Sarney
fizeram, efetivamente. Queremos uma nova
Constituição. Realmente, o nosso plenário se
transformaria num foro de discussão política,
que poderia até trazer informações pessoais
de grande valia, pela cultura de cada um. Mas
o que eles representam é exatamente o que
queremos afastar com a Constituinte.
De forma que a mensagem política
até mesmo do Professor Afonso Arinos – cuja
competência jurídica todos conhecemos – já
não é mais a mensagem que desejamos
ouvir.
Não quero contestar a proposta
dos companheiros sendo antidemocrático,
mas quero colocar-me contra o convite ao
Presidente e ao ex-Presidente da República,
porque seu sentido seria muito político.
Pelo que eles representam – ressalvados
os valores e a honorabilidade pessoais
– pela atuação deles em relação à
Constituição, pelo autoritarismo, pelos
decretos-leis abusivamente utilizados, não
trariam para nós uma contribuição para o
avanço democrático na Constituinte.
De forma que eu queria ponderar aos
companheiros que fizéssemos propostas de
convites a quem nos trouxesse informações
para a elaboração de uma nova Constituição,
num novo tempo democrático.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª.
Concedo a palavra ao nobre
Constituinte Francisco Carneiro.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Sr. Presidente, o objeto
principal da minha presença já foi exposto
pelo nobre colega Constituinte Roberto
Rollemberg, na segunda parte de sua
intervenção, com a qual estou inteiramente de
acordo. Creio que temos de fazer uma
Constituição moderna, atuante, atualizada,
e, naturalmente, esses homens – o
Presidente da República e o ex-Presidente
Geisel – darão muito conteúdo político à
reunião. De forma que endosso plenamente
as palavras do Constituinte Roberto
Rollemberg.
A segunda parte da minha
intervenção é a seguinte: temos de atender a
um cronograma, embora seja um pouco
flexível, porque temos um prazo para entregar
o nosso relatório, do qual não nos podemos
afastar, sob pena de ser uma grande
decepção para a nossa Subcomissão, pois,
se não o fizermos, o Relator da Comissão de
Sistematização o fará.
Então, pergunto: ao receberem
os convites, esses convidados seriam
prevenidos de que teriam dez ou vinte
minutos para a sua exposição? Se o
fizéssemos, naturalmente eles fariam uma
sintetização do que pretendem expor. Um
cidadão desse porte, ao vir aqui, tem uma
composição de pensamento a externar, e,
desta forma, faria uma exposição dentro
daquele prazo. Então, teríamos tantos
minutos para a exposição e tantos minutos
para o debate. Assim, em cada sessão
teríamos condições de ouvir dois, três ou
quatro convidados.
Era esta a solicitação: que fosse
introduzido no nosso cronograma também
esse cronograma de sessões.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Na última sessão mencionamos nossos
prazos para debates e reuniões públicas.
Ficou definido e aprovado inicialmente
que cada expositor, em audiência pública,
teria direito a trinta minutos. Observamos
que, na reunião de ontem, os representantes
dos municípios, do IBAM, tiveram apenas
vinte minutos, exatamente porque foram
mais de dois expositores – é o que se poderia
fazer aqui. Mas, em princípio, ficou
estabelecido que o expositor teria trinta
minutos; o Relator, cinco minutos; cada um
dos membros, três minutos; os Constituintes,
três minutos; e o expositor, para resposta,
mais três minutos. Esta foi a decisão tomada
na última sessão, a qual confirmamos agora.
Naturalmente o tempo do expositor poderá
ser diminuído, se conseguirmos colocar mais
de dois expositores em cada uma das
sessões.
Como vêem V. Ex.as, na verdade
estávamos preocupados com as
poucas indicações, até agora feitas
à Mesa, de nomes para audiências públi-
31 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
cas. Agora nos depararemos com outro
problema, que é de excesso de nomes. V.
Ex.ª hão de compreender que a Mesa terá de
encontrar a solução que seja a mais viável.
Vamos definir, na medida do possível, como
foi proposto pelo Deputado Ruben Figueiró:
quatro reuniões para a União, duas para os
Territórios e duas para o Distrito Federal.
Parece-me uma solução bastante razoável.
Tentaremos colocar o maior número possível
de expositores em cada uma dessas
reuniões, para que todos possamos
acompanhar a exposição de cada um deles. É
evidente que algumas propostas poderão
ser prejudicadas. Por exemplo, se
houver dois, três ou até quatro
constitucionalistas, escolheremos um ou dois
e, naturalmente, ficaremos satisfeitos com a
exposição destes.
Com relação ao setor da União,
teremos também oportunidade de ouvir, como
foi proposto aqui, alguns organismos das
Forças Armadas que terão interesse em
discutir o assunto. Vamos tentar fazer o
mesmo com os constitucionalistas, para que
cada um discuta o tema de acordo com o seu
ângulo de visão da participação das Forças
Armadas dentro das competências que a
União lhes oferece.
De maneira que o número de
propostas apresentadas em relação às
pessoas a serem convidadas não terá
obrigatoriamente de ser obedecido. De
qualquer maneira, já existem propostas, e
estas me parecem muito importantes. Já
temos mais de vinte propostas que podem
perfeitamente ser trabalhadas pelos relatores
e adaptadas posteriormente, de acordo com
as interferências ou apresentações dos
expositores em audiência pública. Muitos dos
assuntos aqui apresentados naturalmente não
terão sequer expositores para discuti-los, de
forma que já poderão ser encaminhados e
definidos dentro da exposição ou do parecer
final do Sr. Relator.
Com a palavra o nobre Constituinte
Chagas Duarte.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Sr. Presidente, quero externar à
Mesa a preocupação exatamente quanto
ao que V. Ex.ª está abordando agora: os
temas. Entendo que deveremos oferecer os
temas aos nossos palestrantes ou
conferencistas. Por exemplo, quanto à
competência da União, há um leque de
temas. Devemos dizer-lhes o que queremos
ouvir, que contribuição podem eles nos dar, e
não deixar o conferencista à vontade, porque
pode outro expositor abordar o mesmo
assunto. Creio que há temas
importantíssimos, como o da calamidade
pública no Nordeste.
Então, a sugestão que faço é no
sentido de que seja oferecido aos nossos
conferencistas o tema a ser abordado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– As pessoas que até agora se apresentaram
como possíveis expositores definiram o seu
tema. Aqueles que forem convidados por nós,
naturalmente virão com um tema específico já
definido, diante da própria proposta feita por
V. Ex.ª, no sentido de que nos ativéssemos a
um tema específico em cada uma das
sessões.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Agradeço a V. Ex.ª.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Continua franqueada a palavra aos Srs.
Constituintes.
Nada mais havendo a tratar nesta
sessão, comunicamos que realizaremos uma
sessão hoje, às 17h, com a presença
do Deputado Otomar Pinto, que falará
sobre a sua experiência com relação aos
Territórios.
Hoje à noite tentaremos também,
tanto quanto possível, depois dos contatos
com as pessoas que foram indicadas para
aqui comparecer, estabelecer os devidos
horários e datas para sua participação. E, se
houver possibilidade, hoje à tarde já
estaremos apresentando a V. Ex.ª um roteiro.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Sr. Presidente, quero apresentar
uma sugestão. Quando viajarmos aos nossos
Territórios e Estados para tratar de assunto
da Constituição, que não seja computada
como falta a nossa ausência, desde que
previamente comunicada à Mesa a finalidade
da viagem. Porque vamos para audiências,
para contatos com as bases, ouvir sugestões
e propostas.
É uma sugestão que faço aos
companheiros e à Mesa.
O SR. PRESIDENTE (Jofran
Frejat): – Creio que é possível atender ao
nobre Constituinte, porque, segundo o
Regimento Interno da Câmara dos
Deputados, não é caracterizada como falta à
sessão a ausência do parlamentar, tanto em
caso de doença quanto em caso de ausência
justificada.
Nada mais havendo a tratar, convoco
outra sessão para hoje, às 17h.
Está encerrada a reunião.
7ª Reunião Ordinária
Realizada em 29-4-87
Aos vinte e nove dias do mês de abril
do ano de mil novecentos e oitenta e sete, às
dez horas e quarenta e cinco minutos, na Sala
"B1" – Anexo Il da Câmara dos Deputados,
reuniu-se a Subcomissão da União, Distrito
Federal e Territórios, sob a presidência do
Senhor Constituinte Jofran Frejat, com a
presença dos seguintes Constituintes: Meira
Filho, Ruben Figueiró, Sigmaringa Seixas,
Felipe Mendes, Francisco Carneiro, Marluce
Pinto, Mozarildo Cavalcanti, Roberto
Rollemberg, Maurício Correia. Havendo
número regimental, o Senhor Presidente
declarou iniciados os trabalhos e passou à
leitura da Ata da reunião anterior, que foi
aprovada por unanimidade. A seguir, deu-se
início ao Expediente que constou da seguinte
leitura: Correspondência recebida: a)
sugestões: 1) Sugestão do Sr. Máximo
Martinelli sobre "Criação de novo elemento da
Organização do Estado"; 2) Of. nº SGC – 079,
de 14-4-87, do Presidente da Assembléia
Nacional Constituinte, remetendo sugestões
de nº 424 – 961 – 562 – 628 – 688 – 691 –
694 – 738 – 739 e 751. b) Cartões: 1) Do Sr.
Flory José Lopes Peternama,
cumprimentando pela instalação e eleição da
Mesa da Subcomissão. c) Ofício: 1) Of. nº
207/87/AAP/GM/MS, de 23-4-87, da Sra
Maria Ester de Carvalho, assessora
Parlamentar do Ministério da Saúde,
cumprimentando pela instalação e alerte nesse sentido.
eleição da Mesa da Subcomissão. d)
Telegramas: 1) Do Ministro Chefe do
Gab. Civil, cumprimentando pela instalação
e eleição da Mesa da Subcomissão; 2)
Do Ministro do Interior, Dr. Ronaldo
Costa Couto, cumprimentando pela instalação
e eleição da Mesa da Subcomissão; 3) Do
Dr. João Sérgio Marinho Nunes,
Presidente do IBRAM, confirmando sua
presença na Subcomissão. Correspondência
expedida: 1) Cartão de agradecimento ao Sr.
Máximo Martinelli; 2) Of. nº 204/87/PRES. –
remetido ao Dr. Sílvio Sebastião de Castro Leite,
Prefeito de Boa Vista – convite para audiência.
Findo o Expediente, o Senhor Presidente deu
início à Audiência Pública, passando a palavra
ao Sr. José Mendo Mizael de Souza, Secretário
Executivo do IBRAM, sendo inquirido pelos Srs.
Constituintes Felipe Mendes e Roberto
Rollemberg. Após os debates, o Senhor
Presidente passou a palavra ao Sr. Sylvio Baeta
Neves, Diretor de Divisão do Fomento da
Produção Mineral do DNPM, sendo inquirido
pelos Srs. Constituintes Roberto Rollemberg,
Felipe Mendes, Mozarildo Cavalcanti, Meira
Filho e Marluce Pinto. O inteiro teor dos
trabalhos será publicado, após a tradução das
notas taquigráficas e o competente registro
datilográfico, no Diário da Assembléia
Nacional Constituinte. Nada mais havendo a
tratar, o Senhor Presidente deu por encerrado os
trabalhos, às doze horas e vinte minutos,
convocando os Senhores Constituintes para a
próxima reunião a ser realizada dia trinta de abril,
às nove horas e trinta minutos, para Audiência
Pública com a presença do General Roberto
Klein, Secretário Especial de Defesa Civil. E,
para constar, eu, Antônio Fernando Borges
Manzan, Secretário, lavrei a presente Ata que,
depois de lida e aprovada, será assinada pelo
Senhor Presidente. – Constituinte Jofran Frejat,
Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Declaro aberto os trabalhos desta
Subcomissão.
(É aprovado o pedido de dispensa da
leitura da ata.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):–
Hoje, nesta audiência pública, estarão
contribuindo para o juízo critico dos Srs.
Constituintes o representante do Ibram – Instituto
Brasileiro de Mineração, Dr. José Mendo Mizael
de Souza; o Dr. Sylvio Baeta Neves, Diretor-
Geral Substituto do Departamento Nacional de
Produção Mineral e Diretor da Divisão do
Fomento da Produção Mineral.
Como sabem, os Srs. Constituintes, o
assunto desta reunião é a exploração de
jazidas minerais em nosso País. Para abordar
o tema, passamos a palavra ao Dr. José
Mendo Mizael de Souza.
O SR. JOSÉ MENDO MIZAEL DE
SCKIZA: – Muito obrigado, Sr. Presidente.
Em nome do Instituto Brasileiro de Mineração
– Ibram, entidade privada sem fins lucrativos,
mantida pelas empresas de mineração, como
fabricantes de equipamentos, centros de
desenvolvimento, bancos estaduais de
desenvolvimento e o próprio BNDES, coloco-
me à disposição dos Srs. Constituintes, a fim
de fornecer subsídios, que consideramos
importantes para a elaboração da nova
Constituição brasileira. Pergunto a V. Ex.ª, Sr.
Presidente, qual o tempo de que disponho
para a minha exposição. Vinte minutos?
Obrigado. Costumo, às vezes, ultrapassar o
tempo que me é dado para expor, pelo meu
entusiasmo. Portanto, peço que V. Ex.ª me
Inicio minha exposição, dizendo que
sabedor de que a Assembléia Nacional
Constituinte seria e será, seguramente, o mais
importante acontecimento deste século no
Brasil, o Ibram já se dedicou a ele, há
algum tempo, como bem o demonstra o
documento entregue a V. Ex.ª sobre Minera-
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 32

ção e Constituinte. Como podem ver V. Ex.as,
a data da capa é 1986. Foi realizado no
primeiro semestre daquele ano, e procurou
prover os Srs. Constituintes de todo
tratamento constitucional que a mineração
recebeu no País, desde a nossa primeira
Constituição. Com isso, pretendemos dar uma
visão de dois aspectos, que nos parecem
essenciais. Primeiro, o reconhecimento, pelas
diversas Assembléias Nacionais Constituintes,
da importância da mineração, tanto assim que
a trataram sempre com muito interesse. Em
segundo lugar, gostaríamos de salientar a
posição das diversas Assembléias Nacionais
Constituintes em relação a esse assunto, o
que nos parece interessante destacar. Ao
mesmo tempo em que se preservaram
aqueles princípios, que provaram ser válidos
durante toda a história da mineração no País,
inovou-se, naquilo que depende do
desenvolvimento tecnológico, a complexidade
da nossa sociedade. Em nosso caso
específico, o que temos hoje a honra de expor
na Subcomissão da União, Distrito Federal e
Territórios, registramos um aspecto peculiar,
que é exatamente o da manutenção, em todas
as Constituições do Brasil, até agora – e
vamos propor aos Srs. Constituintes que
assim também procedam – da competência
privativa da União de legislar. Vale lembrar
um aspecto muito interessante dessa
evolução: as diversas Subcomissões que têm
tratado deste assunto na Assembléia Nacional
Constituinte mostram uma grande
preocupação, assim como toda a sociedade, a
propósito de como Estados e Municípios
podem participar mais do processo de
desenvolvimento nacional. Tentaremos, na
própria exposição, ferir o problema.
São três os aspectos fundamentais. O
primeiro, é o que preceitua a Constituição.
Pretendemos mostrar a V. Ex.as a importância de
que permaneça com a União a competência
exclusiva de legislar sobre minas. Em segundo
lugar, que na legislação ordinária se agasalhe
melhor a dinâmica da mineração. Finalmente,
que na operacionalização dessa legislação
ordinária, aí, sim, e cada vez mais, vejamos a
participação intensa e extensa do Estado e do
Município. Há que haver a participação global,
sim, mas não podemos deixar de registrar a
nossa visão de que é de competência exclusiva
da União o tratamento da questão,
constitucionalmente. Por quê? Antes de dizer o
porque, gostaria de lembrar algumas premissas.
Como a nossa Assembléia Nacional Constituinte
tem toda condição de, inclusive, mudar o
regime político brasileiro – e há proposta de um
Constituinte de que se volte à Monarquia –
estamos, como premissa, nesta exposição,
admitindo que o regime será não monárquico,
mas uma democracia social, com a existência
dos três Poderes – Executivo, Legislativo e
Judiciário. Então, esta é a primeira premissa,
que, evidentemente, nos conduz ao regime
aplicado atualmente no Brasil, ao passo
que a adoção do regime monárquico nos
conduziria a um regime já existente na história
da mineração do Brasil, à época do Brasil
Império. Não trataremos desta questão. Em
segundo lugar, há um aspecto muito importante.
Sendo a mineração uma atividade que, embora
da maior importância para o desenvolvimento
nacional, não está ao lado, ou no cotidiano
do consumidor, há uma incompreensão
natural quanto à importância dessa atividade.
No primeiro choque do petróleo, por exemplo,
muitas pessoas, – não é o caso de V. Ex.as,
sei-o bem – manifestarão surpresa quan-
to à gasolina que colocavam no tanque do seu
carro, quanto à produção de petróleo em um
país longínquo. Então, foi a primeira vez que
um bem mineral se tornou conhecido do
consumidor urbano, embora alguns bens
minerais, como o ouro e o diamante, façam
parte da História da Humanidade já há alguns
séculos. Encontram-se até em museus, para
serem admirados, sob a forma de máscaras,
como é o caso das múmias egípcias, por
exemplo. Então, o primeiro ponto que me
parece importante é que, muitas vezes,
sentimos que na análise da questão mineral, se
dá uma importância muito grande ao aspecto
político, enquanto temos uma visão menos
consistente ou profunda do aspecto econômico.
Em nossa opinião, a atividade de mineração
deve ser enfocada, fundamentalmente, como
uma atividade provedora de um bem básico
para a civilização. Não estaríamos, hoje, aqui
reunidos, tentando não tivesse minerado brita,
areia, argila ou calcário e feito cimento,
minerado minério de ferro e carvão mineral e
produzido aço, construindo toda esta estrutura.
E assim sucessivamente. E não se poderia ter
também uma agricultura com custos baixos e
produtividade elevada sem a calagem do solo,
através do calcário agrícola ou dos fertilizantes,
para aumento dessa produtividade. Então, não
há como, na civilização atual, imaginar seu
atual padrão de vida sem que a mineração
esteja provendo essas substâncias. Além do
mais, a mineração tem uma conseqüência
direta e imediata sobre o poder aquisitivo do
trabalhador. Vemos isso, claramente, nas
grandes concentrações urbanas, como no Rio
de Janeiro e em São Paulo, para citar dois
exemplos. Em Brasília seria a mesma coisa.
Apenas cito um exemplo de algo que está
sendo vivenciado e que nos preocupa na área
mineral. Cada vez que a cidade se expande,
ela abraça as jazidas que produzem material
de construção – brita, areia e argila. Com isso,
há a tendência de impossibilitar a produção
daquele bem mineral; novas jazidas são
colocadas em produção, a distâncias cada vez
maiores dos grandes centros. Como se trata de
produto de preço unitário muito baixo, estamos,
com essa medida, aumentando cada vez mais
o custo de um bem essencial à casa do mais
humilde, à estrada, ao viaduto, ao saneamento
básico, qualquer que seja o uso social desse
bem. Com isso, acontece que estamos fazendo
com que o trabalhador pague mais,
exclusivamente, pelo fato de o planejamento da
cidade não ter previsto que esse bem deveria
ser protegido na sua área de produção. E
temos aqui uma primeira característica da
mineração: o fato de que os minérios estão,
segundo as más línguas, onde Deus os
colocou. É o que em Economia Mineral se
chama de rigidez locacional das minas.
Evidentemente, muitos de nós gostaríamos
que as minas, ao invés de estarem no
nterior do Amazonas, estivessem em Ipanema.
Seria muito mais confortável. Mas não é o
caso. A rigidez locacional existe, é um fato. E é
isso que faz com que a mineração se
transforme num pólo de desenvolvimento.
Vamos ser o caso típico de Carajás, por
exemplo. O fato de a mina estar lá e de gerar
uma oportunidade de desenvolvimento permitiu
a construção de uma ferrovia de, praticamente,
900 quilômetros, e um porto que se
transformou, na época das chuvas, no ano
passado, na única via de acesso da
população, porque todas as estradas
e rios ficaram impraticáveis. Então, o
que é isso? É um pólo mineral provendo
o desenvolvimento. Se, ao invés de Carajás,
formos para Minas Gerais, onde o mesmo
fenômeno ocorreu, há muito mais tempo,
vamos verificar que a existência ali do minério
de ferro, em quantidade e qualidade de acordo
com a demanda da época, permitiu ao Estado,
sobre a sua região mineradora, hoje chamada
a zona metalúrgica de Minas Gerais, pudesse
construir usinas de transformação. Todos
sabem da celeuma política havida quando da
localização de Volta Redonda, na medida em
que os estudos, naquela ocasião, mostravam
que os fatores locacionais, ou seja, a existência
da mina de carvão é que determinava a
localização. No entanto, a usina de Volta
Redonda foi estabelecida, pelas razões que se
conhecem, no Rio de Janeiro. Mas isso não
modificou a vocação natural de Minas Gerais.
Tanto assim que lá foi gerada a Usiminas, fruto
da existência de uma ferrovia pertencente à
empresa de mineração Vale do Rio Doce e
que, mais do que isso, proporcionou
oportunidade de várias outras usinas serem
construídas. Graças à existência da mina de
minério de ferro de João Monlevade, onde a
Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira iniciou
suas atividades – e as iniciou com carvão
vegetal – gerou-se uma produção e um
tratamento manejo sustentado de florestas –
que se transformou no sucesso da siderurgia
do carvão vegetal no Brasil e da própria
indústria do papel e da celulose. Isso mostra
que a mineração não se esgota na mina;
enseja outros desdobramentos, que poderão
ser feitos na medida em que agasalharmos
essa mineração com a legislação adequada.
Daí por que consideramos que, respeitada a
visão política e o poder político da decisão
sobre as minas, não devemos perder de vista o
enfoque econômico da questão. Este é, então,
outro aspecto a ressaltar.
Tendo em vista a importância da
mineração, há necessidade de termos essa
disponibilidade, em função da construção civil,
da produção industrial, etc. Para se ter uma
idéia, em levantamento realizado, uma
entidade privada americana, chamada
American Mine Congress, chegou à conclusão
de que as necessidades de desenvolvimento
dos Estados Unidos levam cada indivíduo a
consumir, teoricamente, quatro toneladas de
pedra britada; praticamente quatro toneladas
de areia e cascalho; trezentos e sessenta e três
quilos de cimento; duzentos e vinte e dois de
argila; duzentos de sal; cento e quarenta de
rocha fosfática; quatrocentos e oitenta e seis
quilos de outros não-metálicos; quinhentos e
quarenta e sete de ferro e aço; vinte e cinco de
alumínio; dez de cobre; seis de chumbo; cinco
de zinco; seis de manganês e oito quilos de
outros metais gerais. Então podem ver V. Ex.as
gama de produtos minerais de que o
indivíduo necessita, por ano, na realidade
americana. Evidentemente, no caso brasileiro,
teríamos de fazer as respectivas adaptações.
Na realidade urbana brasileira – e o IBGE,
recentemente, divulgou a expectativa de que
terminaremos esta década e, sem dúvida,
chegaremos ao ano 2000 com 70% da
população nas cidades – esses números são
absolutamente válidos para o planejamento do
Brasil do futuro, no qual a pedra angular será a
nova Constituição que V. Ex.as estão a
elaborar.
Outro aspecto importante, que
não podemos perder de vista quando
falamos sobre mineração, é se a importância
que essa atividade teve, até hoje, no
Brasil, poderá continuar assim, ou seja,
33 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
tem o nosso País potencial para crescer na
mineração? A resposta é sim. Sim, por uma razão
inicial muito interessante. Se considerarmos os vinte
primeiros países produtores de matérias-primas
minerais não-energéticas, os dois maiores, segundo
estatística publicada em 1983, por Girot, são a Rússia
e os Estados Unidos. A Rússia com 20% e os
Estados Unidos com 14%. Somando, os dois, temos
um percentual de 34%. Em seguida, após esses dois
gigantes, vem a África do Sul, com 11%; o Canadá,
com 7%; a Austrália, com 5%. Isto totaliza 57%.
Finalmente, a China, com 4%, o Chile e, depois, o
Brasil. Nisso tudo ha um aspecto muito importante a
considerar. E que todos esses países, à exceção da
África do Sul, que a uma anomalia geológica, tem
duas características idênticas as do Brasil: primeiro, a
extensão territorial. Segundo, o ambiente geológico.
Tudo isso nos dá – aqueles que militamos no setor
mineral – a absoluta convicção de que este e um País
em que, aplicando-se a tecnologia da pesquisa
mineral, encontraremos reservas suficientes, não só
para nosso desenvolvimento como, e principalmente,
para gerar possibilidades de o País exportar não só
bens minerais, mas também bens gerais
transformados.
Mostrados, então, o potencial brasileiro
e nossa capacidade de continuar tendo da
mineração uma participação importante, vale
ressaltar qual e essa participação, hoje, no
Brasil.
O documento que divulga com mais
clareza esse aspecto e o editado pelo
Departamento Nacional da Produção Mineral, o
Sumário Mineral mais recente, de 1986. Ele
mostra a importância para a economia nacional
dos bens minerais, cuja produção, no ano de
1985, embora tenha incluído o petróleo, foi
avaliada em nove bilhões e trezentos milhões de
dólares, correspondentes a 4,2% do PIB, e serviu
de embasamento a uma industria de
transformação primaria mineral, como a
siderurgia, a metalurgia dos não-ferrosos, a
fabricação de cimento, de produtos químicos, de
vidro, etc., que montaram a importância de
cinqüenta e sete bilhões de dólares, ou seja,
26% do Produto Interno Bruto do Brasil no ano
de 1985, que foi de duzentos e vinte bilhões de
dólares. Assi m, ao tratarmos da mineração,
estamos tratando-a, fundamentalmente, como
uma atividade que e o alicerce exclusivo do
parque industrial, de praticamente 30% do
Produto Interno Bruto brasileiro.
Alem disso, um aspecto da maior
importância e que ela a uma ati vidade que tem
fases características, tanto que o próprio Código
de Mineração, legislação ordinária que trata da
questão, contempla essas três fases. Quais
seriam? A primeira vai desde a prospecção a
pesquisa mineral, que localiza ou não a jazida
mineral. Em segundo lugar, vem a fase da lavra,
desenvolvimento e retirada do material. Depois,
seu beneficiamento e a entrega ao consumidor
final. E ai nós estamos embutindo a questão da
tecnologia mineral. Neste particular, vale
conhecer a dinâmica da mineração. O minério de
ferro, por exemplo, produto mineral mais
expressivo na pauta de exportação brasileira e
de maior tradição de produção, mostra isso com
bastante fidelidade.
Na década de 1940 a 1950, quando
a Vale do Rio Doce foi constituída,
o mercado mundial de minério de ferro
produzia aço por um processo chamado
Síemens – Martin: Tratava-se de um forno
de aço, em que o minério de ferro entrava
para contribuir com o oxigênio necessário ao
equilíbrio do banho. Ele não podia ter nenhuma
impureza; no processo não se podiam retirar
impurezas. Por isso, o minério tinha de ser
puríssimo, como o e a hematita brasileira do
quadrilátero ferrífero, que, praticamente, tem no
chamado lump ore, que era esse minério
comercializado. O teor de fO 2O3 o minério de
ferro tinha 68, 68,5% ate 69%, que e o teor
espectrométrico do óxido de ferro.
Bem, aconteceu que, antes do
desenvolvimento tecnológico, ele saiu desse
forno de aço e passou para o processo LD, que é
um processo de injeção de oxigênio no banho.
Então, a função provedora de oxigênio desse
minério de ferro deixou de existir e,
conseqüentemente, ele saiu do mercado. Esse
processo permitiu muito maior rapidez na
produção de aço e, com isso, o crescimento da
produção em si. Conseqüentemente, passou a
ser muito mais importante a disponibilidade de
minério para altos-fornos. Nesse caso, minério
para altos-fornos deveria ser de tamanho menor
e ter uma redutibilidade, ou seja, uma porosidade
que permitisse que os gases do alto-forno por ele
passassem e fizessem a redução do minério.
Então, quem possuía jazidas de minério que
continham blocos maiores teve de britar e
peneirar esse minério, a fim de que ele pudesse
ser utilizado.
Numa terceira etapa, quando os
japoneses começaram a desenvolver a
siderurgia, usara m um processo já existente de
aglomeração de fins. Esse processo precisava
de grandes jazidas de fins que eram resultado da
lavra dos minérios anteriores. Com isso, o fino
passou a ser explorado, e o minério de ferro do
Brasil passou por um fenômeno que não a
anormal na mineração; pelo contrário, a muito
comum: mesmo que se aumente a produção, o
número de reservas conhecidas aumenta,
porque se muda a característica do bem mineral.
Então, são infundados os temores de que as
jazidas de bens minerais fiquem exauridas. De
fato, o bem mineral a finito, mas ele o e em
termos geológicos. Em termos econômicos, o
que acontece a que a pesquisa mineral, sendo
uma aplicação de recursos, seja de origem
governamental, seja de origem privada, e
devendo mensurar uma jazida mínima para
exploração econômica, se cinge exclusivamente
à mensuração de um corpo mineral que
suporte esse projeto econômico. Tanto
assim que o Clube de Roma, que, em
determinada época, exerceu influência sobre
muitas pessoas no mundo, dizendo do perigo da
exaustão física das reservas minerais, viu suas
previsões, uma a uma, serem derrubadas. Por
exemplo, para que V. Ex. as tenham uma idéia, a
respeito dos bens minerais de consumo mundial
tradicional, vou dar o exemplo do cobre. Em
1950, havia uma reserva de 100 milhões de
toneladas de metal contido, no mundo inteiro. A
produção entre 1950 e 1980 foi de 156 milhões
de toneladas de metal contido, ou seja, a reserva
já deveria ter acabado ha muito tempo. Mas
apareceram, em 1980, fim daquele prazo,
reservas medidas de 494 milhões. Por quê?
Porque, evidentemente, o crescimento do
mercado tomou possível o crescimento das
reservas.
Outro caso, o minério de ferro: 19 bilhões de
toneladas de metal contido em 1950; 11 bilhões
de produção; e uma reserva, em 1980, de 93
bilhões. Vale aqui, outra vez, trazer o exemplo de
Carajás, em relação ao minério de ferro de Minas
Gerais. Houve momentos de preocupação com a
exaustão das reservas de minério de ferro
situadas, basicamente, no quadrilátero ferrífero
de Minas Gerais. O que aconteceu? A mudança
da tecnologia do use do minério de ferro levou as
reservas, em um estudo feito pelo IBRAM, com
dados das empresas, ha 3 anos, a 30 bilhões de
toneladas, em Minas Gerais. E a descoberta de
Carajás, numa jazida de sinter feed 18 bilhões
de toneladas! Se o mundo inteiro parar de
produzir minério e se o Brasil o fornecer, teremos
ainda reservas para abastecer o mundo inteiro
por mais de 500 anos. Isso acopla outro aspecto
importante, que não podemos perder de vista, ou
seja, o desenvolvimento da tecnologia se faz
com bens minerais. Os que não forem
aproveitados em tempo hábil podem transformar-
se naquilo que já foi chamado de cadáver
geológico, ou seja, uma jazida, mas não uma
mina, sem aproveitamento econômico. Recente
publicação americana mostra um dado
interessante: quilos de metal por automóvel
norte-americano. Em 1977, o automóvel norte-
americano consumia 975 quilos de aço –
aproximadamente uma tonelada de aço por
carro. Em 1981, caiu para 826 e, em 1985, para
785. O alumínio, que era 44, subiu para 62; o
plástico, que era 76 quilos, passou para 96;
fundidos de zinco, que eram 17 quilos, passaram
para 8. Outro dado muito interessante
especialmente para aqueles brasileiros, uma
grande maioria, que gostam de tomar uma boa
cerveja gelada, o que não faz mal a ninguém –
refere-se à mudança de embalagem da cerveja
nos Estados Unidos, entre 1972 e 1984. Em
1972, as latas de cerveja tinham 91% de ferro –
quer dizer, de aço – e 9% de alumínio.
Basicamente, era a tampinha, aquela parte que
se levanta. Em 1975, isso passou para 62% de
ferro e 32% de alumínio. Chegamos a 1984 com
apenas 6% de ferro e 94% de alumínio. E
observem V. Ex.as que isso se refletiu, de
maneira geral, na economia mineral mundial,
tanto que o Brasil, que era importador de
alumínio descobriu jazidas de bauxita, e é um
dos maiores produtores mundiais de alumínio,
assim como a Venezuela e a Austrália, também
bons produtores. Então, é muito importante que
os Srs. Constituintes reflitam sobre como
agasalhar na Constituição um princípio
fundamental que crie oportunidades o para que
aqueles que investem na mineração tenham
consciência de que haverá sempre a chance de
percorrer os prazos, que são normais, de uma
jazida mineral. Carajás é um exemplo típico. Foi
descoberta em 1967 – um dos seus
descobridores esta aqui presente, o nosso
querido Breno – e com todo o apoio
governamental, com toda a importância
estratégica daquele projeto, numa época
moderna, demorou 20 anos para começar a
produzir – 19 para ser mais preciso; no ano
passado. Então, falar em mineração, e o mesmo
que dizer século XXI, em termos de projetos de
maior porte. Conseqüentemente, ha que haver,
por parte da Constituinte, a caracterização de um
prazo longo de maturação desses bens minerais.
E o que nós, no Brasil, já fizemos
até hoje? Neste documento que foi entregue a
V. Ex.as ha todo um histórico das
Constituições brasileiras, e todas elas
foram muito conformes no que respeita
a competência exclusiva da União para legislar
sobre minas. Os legisladores sempre souberam
que, como a mina está onde Deus a colocou, não
teria cabimento fazermos uma delegação para
os Estados, o que, alias, já foi feito, em parte
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 34

na Constituição de 1946, mas não nesse
aspecto específico. Poderíamos chegar ao
absurdo de, numa mesma mina, de um mesmo
bem mineral, no Amazonas, no Para, em Minas
Gerais ou no Rio Grande do Sul, ter
tratamentos diversos, contra o princípio da
economia mineral, além do mais, a
Constituição de 1934 refletiu isso no Código de
Minas. Ela distinguiu os termos solo e sub-solo,
sabedoria de que há aleatoriedade da
existência da jazida mineral, ou seja, a jazida
mineral e na realidade, estatisticamente, um
acidente. Na grande maioria das áreas
pesquisadas não são encontradas jazidas. Daí
o porque do valor do bem mineral e de a
mineração ser uma atividade internacional. Os
Estados Unidos por exemplo, dependem da
África do Sul para certos bens minerais, da
mesma forma que depende do Oriente Médio
para o petróleo, tanto que, em que pese toda a
pressão com relação ao regime político da
África do Sul, eles tem lido muita cautela em
posicionar-se, na medida em que a cessação
do suprimento desses bens minerais colocaria
a economia americana em situação
extremamente vulnerável. Isso, para mostrar a
V. Ex.as que, se esse princípio a valido a nível
mundial, naturalmente o será a nível nacional.
Então, para focalizarmos um ponto de interesse
desta subcomissão e do interesse da
Assembléia Nacional Constituinte, a proposta
concreta que o Instituto Brasileiro de Mineração
apresenta a consideração é no sentido de
mantermos o tratamento que sempre deu certo,
que e a competência privativa da União para
legislar sobre as minas. Ele a tão interessante
que passou por vários processos políticos. A
própria Constituição do Estado Novo de 1937 o
manteve, ou seja, nem quando ocorreu um
processo político, em que houve uma extrema
concentração de poder, não se modificou
este dispositivo, que nasceu a luz da
realidade da mineração e da necessidade de
tratamento unitário constitucional. Insisto,
portanto, naquele ponto a que já me referi
anteriormente.
Concluindo, gostaria de dizer aos Srs,
Constituintes que estamos a disposição de V.
Ex.as para responder a quaisquer perguntas
que queiram fazer, para esclarecer eventuais
afirmativas ou eventuais pontos que não
ficaram claros em nossa exposição.
Outrossim, pela tradição histórico
constitucional brasileira, pela importância
econômica da mineração para o País e pelas
peculiaridades que um projeto mineral encerra
– e uma delas e a questão do largo prazo –
estamos já construindo a Constituição que
nos guiará no início do século XXI.
Pediria aos Srs. Constituintes que
optassem, em razão do interesse nacional e
do interesse da economia mineral, pela
manutenção da competência privativa da
União para legislar sobre as minas. Muito
obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A palavra esta franqueada aos Srs.
Constituintes. Lembro que cada um dispõe de
três minutos para apresentar suas questões
ao expositor, e este tem três minutos para
respondê-las.
Concedo a palavra ao Constituinte
Felipe Mendes.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, Sr. Relator, Sr.
Expositor, tenho algumas preocupações sobre
a questão mineral, a qual já me vinha
dedicando um pouco. Algumas das
colocações vem naturalmente, da experiência
de um Estado apenas, ou de uma região, o
Nordeste. Sempre defendi que a União
devesse intensificar as pesquisas e a
exploração de recursos minerais no Nordeste,
justamente por ser uma atividade infensa a
seca e também porque, a partir daí, teríamos
uma base industrial mais sólida que não
dependesse só dos produtos agrícolas e
pecuários. Acho que a lei que vier a ser
votada deverá ser flexível em determinados
casos. Não me parece junto que a concessão
de lavra para pesquisa da argila, para a
exploração de tijolos, de azulejos, enfim de
produtos comuns, deva ter a mesma
burocracia, a mesma centralização que tem a
exploração do urânio ou de materiais
estratégicos. Realmente, isso deve ser de
competência exclusiva da União. Parece-me
que determinadas atividades são tão locais,
tão regionais, que não interessa a ninguém
essa centralização absurda que faz com que
uma pequena indústria, no Nordeste, se
inviabilize, ou pelos custos das pesquisas –
embora, no caso, o Governo pudesse ter a
pesquisa realizada – ou pela burocracia, pela
dificuldade de se chegar a bom termo. O
Governo deve participar mais, supletivamente,
da Área de pesquisa; deve adotar, neste
campo, a mesma atitude da área de economia
de mercado. Minha posição e esta quanto a
determinados produtos de origem mineral.
O SR. JOSÉ MENDO MIZAEL DE
SOUZA: – Meus agradecimentos ao
Constituinte Felipe Mendes. V. Ex.ª referiu com
bastante objetividade e clareza um aspecto que
muitos nos preocupa no setor mineral. Tem toda
a razão. Nós também pensamos assim, daí
aquela colocação inicial de que se trata de
matéria constitucional. O nobre Constituinte tem
toda a razão. Temos sempre defendido que o
Nordeste deveria despertar mais o seu subsolo,
por não ser sazonal. Isto é fundamental para a
região. Ousaria dizer – e sou muito imparcial
nesta observação – que se os recursos
destinados ao planejamento do Nordeste
tivessem atendido mais e melhor a este
aspecto, seguramente haveria hoje pólos de
desenvolvimento permanentes em nossa
região, independentemente das flutuações da
natureza, no que diz respeito a chuvas e secas
V. Ex.ª tem toda a razão, repito. Defendemos e
achamos da maior importância que a União
proveja, como faz o Governo Federal, como
fazem todos os países do mundo, o
mapeamento básico, ou seja, a oferta do
mapeamento da superfície mineral e daqueles
mapas metalogenéticos, ou seja, onde, como e
em que lugar ha maior probabilidade de se
descobrir determinado bem mineral. Isso a
custeado com recursos dos impostos ou pelo
Orçamento Federal. Mas os Estados recebem o
Imposto Único sobre Minerais. Defendemos a
sua manutenção na Constituição e sua
distribuição de 70% para o Estado, 20% para os
Municípios, como ainda hoje, e apenas 10%
para a União, o que já é uma desconcentração
da arrecadação, conforme e pleito nacional. E
os Estados, inclusive os do Nordeste, que estão
usando o mapeamento básico e a promoção da
mineração, estão tendo resultados
extraordinários. V. Ex.ª sabe muito bem disso.
Lembro aqui os casos da descoberta de
granito na Bahia, Pernambuco, Paraíba, por
exemplo, que não só mediram suas jazidas
como promoveram exportação, e o granito
esta tendo grande aceitação internacional.
Então, existe, de fato, oportunidade. Agora,
como a que isto deveria ser encaminhado?
A utilização dos recursos da União pro-
veria o mapeamento básico, em escala
adequada de reconhecimento. A geologia de
detalhe seria provida pelo Estado, por uma
razão ponderável: sendo a Geologia uma
ciência natural, a muito importante que os
profissionais que a ela se dedicam se
familiarizem com o solo que estudam e com o
ambiente geológico no qual se inserem.
Então, a mais possível que essa
especialização seja proporcionada pelo
Estado. Por que? Porque somos seres
humanos. O individuo que mora e cria sua
família em determinado Estado cria raízes e
procurara conhecer cada vez melhor o seu
sub-solo, porque usara a mineração como
alavanca de desenvolvimento de seu próprio
grupo social. Este a outro ponto importante.
Finalmente, o aspecto que V. Ex.ª
colocou, sobre o anteprojeto do Código de
Mineração – e tive a honra de participar da
Comissão que o elaborou – entregue ao Sr.
Ministro das Minas e Energia. Esse anteprojeto
já prevê a criação da figura da "permissão",
que a exatamente este caso, quer dizer, o de
um bem mineral localizado, porque aflorante,
em dimensão tal que o bom geólogo, o bom
profissional, o bom engenheiro de minas, tem
uma avaliação perfeita de que ele suporta o
projeto de uma pequena olaria, que a
fundamental para aquele Território, e, neste
caso, não podemos esquecer de que o
Brasil é um País continental. Quanto
mais diminuirmos o turismo mineral,
mais eficaz isso será para o País; quanto
mais incrementarmos a industrialização no
Território, mais desenvolvimento teremos, mais
desconcentração e mais distribuição de renda.
Este ponto a absolutamente fundamental e
esta já esta previsão. O que não podemos é
deixar de lembrar que em muitos casos – e o
fato de o Brasil ser um País tropical contribui
para isto – a superfície a mascarada. As
evidências geológicas, em um país onde ha
neve e, depois da neve, o degelo, que leva e
arranha a superfície, oferecem o que os
geólogos chamam de "a rocha fresca", ou seja,
a evidência mais concreta da geologia. No
Brasil, a chuva, juntamente com o vento e o
sol, acaba cobrindo as jazidas, de modo que
dificulta a pesquisa geológica, razão pela qual
temos de desenvolver tecnologia mineral
adequada para pesquisa de alguns depósitos
nossos. Estou plenamente de acordo com V.
Ex.ª. Realmente, esta e a melhor maneira de
fazer com que o bem mineral seja, de fato, um
grande apoio do desenvolvimento do
Município, e, por conseqüência, do Estado e do
País, respeitadas as duas características: o
fato de que a União legisla sobre as minas e o
Estado detalha a pesquisa realizada pela
União, porque as jazidas se encontram
erraticamente distribuídas. Em terceiro lugar,
que o Município possa ter, então, a sua
contribuição. Vale lembrar o caso de
Pernambuco, que e o exemplo da Paraíba
também. Inclusive, foram desenvolvidas
nessas regiões escolas de artesanatos, em que
pedras semipreciosas ou qualquer material de
brilho eram trabalhados por artesãos
locais. Algumas dessas peças são, exportadas,
se não sistematicamente, mas através da sua
colocação em lojas, nas cidades e, ai,
vendidas. É a valorização da mão-de-obra
local, da criatividade humana local. Então,
isso permite aquele ser humano que vive no
interior profundo do Nordeste, ter orgulho
de dizer, amanhã, a seus familiares e amigos
que uma peça por ele criada ornamenta
um museu internacional ou da grande
35 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
cidade. E nós sabemos que isso a fruto da
motivação h u m a n a .
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte Roberto
Rollemberg.
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO
ROLLEMBERG: – Sr. Presidente,
considerando as palavras finais do expositor,
em primeiro lugar, quero dizer a S. S.ª e a
todos os presentes que nosso problema e
exatamente o dos princípios constitucionais. O
desenvolvimento do assunto da exploração e
das leis ordinárias vira depois, mas toda a
legislação posterior dependera do preceito
constitucional. Ao acenar com a possibilidade
do atendimento aos Estados e Municípios,
através da legislação subseqüente pois ela
nada mais a do que uma legislação que
devera obedecer ao principio constitucional –
temos de colocar na Constituição a diminuição
da competência da União, estendendo ao
Estado, já no momento da concessão e da
permissão, o preceito que obrigara a
participação na legislação regulamentar. A
manutenção do principio de prioridade
absoluta da União vai possibilitar ao legislador
conceder ou não ao Estado a competência
para intervir. Essa a uma proposta que não me
parece interessante para os Estados, nem
para o País. O preceito fica fixado, e o
legislador poderá, amanhã, limitar essa
partici pação do Estado; mas, excluída a sua
participação, estará altamente excluída a
regulamentação posterior. Isso é um perigo
enorme. Permita-me, Sr. Presidente,
rememorar – e posso fazê-lo, pela idade e
pela militância política – que essa história se
parece muito com a do petróleo. A linguagem
hoje usada também o foi em relação ao
petróleo: acenou-se com uma potencialidade
enorme do País, desde que ficasse nas mãos
da iniciativa privada. Dizia-se que o monopólio
estatal era absurdo, não havia petróleo, as
pesquisas eram muito caras, não tínhamos
tecnologia para extrair o produto, era preciso
entregar o exploração a iniciativa privada, etc.
Parece-me que, com relação a maioria dos
minérios, a história esta se repetindo.
Votamos a favor do monopólio estatal. E eu
defendo, neste caso, que o monopólio estatal,
seja em relação a todas as riquezas minerais,
porque defendo a livre iniciativa em tudo,
menos nas riquezas naturais. O povo vive e
nós vivemos de ICM, de impostos indiretos. O
povo paga tudo quando temos um minério que
poderia suprir certos acochos que o imposto
indireto traz. Tudo é imposto indireto em cima
da população. Os minérios são,
fundamentalmente, da responsabilidade, com
lucros e vantagens, da iniciativa privada. Não
sou eu quem diz, mas consta do relatório que
nos foi apresentado pelo DNPM. Diz o relatório:
"Ao contrário da pesquisa geológica de base,
realizada pelo Governo, a prospecção mineral,
que culmina com a identificação do jazimento
mineral e com a avaliação econômica
jazimento, a uma tarefa da iniciativa privada.
Então, os ônus da descoberta da localização
e, até certo ponto, de parte da prospecção,
são de competência do Estado e da União,
obrigação nossa; depois, imediatamente, com
a identificação do jazimento mineral e a
avaliação dele e, conseqüentemente, com sua
exploração em seguida, da iniciativa privada.
O Estado está a trabalhar numa produção
mineral, propriedade do povo, a buscá-la, a
detectá-la e a encontra -la. Depois que o
Governo e com os impostos pagos, detectou o
jazimento, entrega-o à iniciativa privada".
Parece-me isso igualzinho a história da
luta pelo petróleo. A nossa posição não é
discutir grandes problemas ideológicos, mas
mostrar que eu e o expositor já sugerimos a
necessidade de maior atribuição e privada, menos para o bem mineral. Evidentemente,
competência para os Estados e Municípios.
Isso a verdade. Acredito que, em relação aos
minérios, isso a básico. Um governador de
Território fez aqui sua exposição contando da
sua experiência. Disse ele que empresas,
junto com o Governo, ou o Governo sozinho e
depois as empresas, detectam determinados
setores, onde há possibilidade de mineração,
autorizam a concessão a determinada
empresa, que, depois, para a exploração e
deixa lá o seu direito a concessão ou
permissão, e vai fazer a exploração, quando
interessar ao desenvolvimento econômico da
empresa privada. Ora, isso na mão da União, é
feito com o desconhecimento nacional. O que
devemos defender sempre aqui é que, nesses
casos, haja a predominância da União na
legislação federal. Mas desde o início da
prospecção – não sou técnico e posso
cometer erro s – da pesquisa geológica, que
isso seja atribuição da União, por conta dela.
Desde o momento em que sua identifi cação,
avaliação econômica e exploração existam, é
necessário que conste da Constituição que, do
momento da concessão a exploração, a
partici pação do Estado é fundamental na
aprovação do acordo, principalmente quando
se trata de exploração por multinacionais.
Entendo que o IBRAM, que defende a
iniciativa privada, esteja em choque com essa
tese. Por isso, havíamos solicitado a presença
aqui de um representante do Ministério, para
vermos a posição do Governo em relação a
daquele órgão. É claro que aquele instituto é a
favor da iniciativa privada; mais claro ainda a
que o Ministério deve ser a favor do povo
brasileiro. (Palmas.)
O SR. JOSE MENDO MIZAEL DE
SOUZA: – Agradeço a V. Ex.ª Constituinte
Roberto Rollemberg, mas gostaria de colocar
alguns aspectos, respondendo a sua
colocação. Em primeiro lugar, o IBRAM não
defende a iniciativa privada. Ele tem como seus
associados as empresas estatais de
mineração, seja a nível federal, seja a nível
estadual. Em segundo lugar, a ultima
colocação de V. Ex.ª que pareceu estabelecer
– se entendi adequadamente – uma dicotomia
entre povo e liberdade de iniciativa, ou seja,
se a empresa privada e agente do processo,
isso não reverteria em favor do povo. Eu me
permito discordar de V. Ex.ª respeitando,
obviamente, seu ponto de vista. Na minha
opinião, o Brasil e os demais países
desenvolvidos do mundo, inclusive os
socialistas e comunistas, como a China e a
Rússia, estão cada vez mais conhecendo e
reconhecendo a importância do agente
privado ou da livre iniciativa no
desenvolvimento econômico. Este é hoje um
movimento mundial. Além do mais, gostaria de
lembrar também um aspecto, que me parece
muito importante, nesse parâ metro...
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO
ROLLEMBERG: – Quero fazer uma
observação.
O SR. JOSE MENDO MIZAEL DE
SOUZA: – Pois não.
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO
ROLLEMBERG: – Acho que não é bem
assim. Durante minha exposição, coloquei que
sou favorável à livre iniciativa, a iniciativa
privada, em tudo, menos em relação aos
minérios.
O SR. JOSE MENDO MIZAEL DE SOUZA:
– Anotei isso e vou chegar lá. Queria partir da
afirmativa final de V. Ex.ª, porque ai poderemos
avaliar. Realmente disse que defende a iniciativa
ninguém melhor do que V. Ex.ª para estabelecerem a
regra constitucional a ser obedecida por aqueles
agentes econômicos. E este é o local apropriado para
isso. Mas será que a estatização é a melhor solução?
Vamos tentar avaliar. Em primeiro lugar, o bem
mineral exige uma etapa que os outros
empreendimentos não exigem, que é a da descoberta
da jazida e, em média mundial, em cada 10.000
prospecções descobre -se uma jazida tipo
Bonanza –Carajás, por exemplo.
Evidentemente, essa e a média. Poderíamos
chegar a isso numa primeira tentativa, ou
gastar 10.000 e não chegar a nada. Há um
aspecto fundamental: a descoberta da jazida,
que e o inicio do processo, é aleatória. Ora,
num País como o Brasil, com tantas
carências – embora sejamos o 8º PIB do
mundo, a 43ª, economia, segundo alguns, e
54ª, segundo outros – do ponto de vista
social, qual deve ser a prioridade da alocação
dos recursos governamentais que chegam
aos cofres públicos, através dos impostos
pagos pela população? Quais as carências
dessa população, se eliminamos o agente
privado da mineração? A mim me preocupa
brutalmente o desconhecimento da
importância da mineração generalizada. Isso
ocorre no mundo inteiro, não só no Brasil, pelo
fato de que o bem mineral não está no
cotidiano. Em segundo lugar, as diversas
prioridades nacionais imediatas farão com
que a alocação de recursos à mineração seja
absolutamente insuficiente. E isso acontece
em virtude da chamada curva da morte do
DNPM: reduziram, a nível brutal, a alocação
de recursos no Orçamento Federal, para a
pesquisa mineral, que chegou, em 1984, a
valores reais de 1976. E quando a União
alocou o mapeamento básico – Projeto
Radam, etc. – houve uma geração de jazidas.
Quando ele desapareceu, restaram apenas as
jazidas que descobrimos. Há um risco muito
sério de que essa decisão impeça que as
futuras gerações, para as quais esta
Constituição esta sendo escrita, disponha de
bens minerais em quantidade, qualidade e
preço adequados. Nada obsta que seja o
Governo, o agente, do ponto de vista
econômico. V. E x . ª citou o exemplo da
Petrobrás. O exemplo dessa companhia é o
melhor deles, na minha opinião. Por que?
Por que ela nasceu, sabe V. Ex.ª melhor do
que eu, de um movimento político, em que
esta Casa teve papel determinante. Estamos
com a nova Constituinte, eleita diretamente
pelo povo, em eleições livres. E V. Ex.ª foram
escolhidos para revitalizar o Congresso
Nacional. Esta a uma Casa para a qual ficará
atento o País. Ela terá condições de corri gir os
rumos do País, como aconteceu no caso do
petróleo. O que aconteceu no caso do
petróleo? O monopólio era da União. Quando
ocorreu o primeiro choque do petróleo, como
estávamos nós, brasileiros? Absolutamente
desagasalhados com relação às reservas
minerais. Na visão empresarial – e aqui não
vai nenhum julgamento de valor – o diretor de
uma empresa do Estado tem de obter eficácia
empresarial, mensurada pelos parâmetros
empresariais. A Petrobrás, que estava muito
eficaz na distribuição do petróleo, não tinha
descoberto suas jazidas na ilegível Alguns
economistas atribuem, inclusive, a esse fato
o grande ônus que o Brasil pagou naquele
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
momento. Mas em 1979, com o segundo
choque do petróleo, mais dramático, o Governo
Federal viu que a Petrobrás tinha de aplicar em
exploração, ou seja, pesquisa mineral e
produção, Iavra mineral. O que aconteceu?
Passou a aplicar 80%, 90%. Imediatamente, as
jazidas apareceram. É evidente que o petróleo
estava lá, debaixo da terra, há milhões de
anos. Então, esse petróleo estava lá durante o
choque do petróleo. E por que ele não foi
descoberto? Porque não era econômico,
porque o Brasil sempre teve muito mais
prioridades, e o aspecto político estava
presente. Não há dúvida alguma: se esta
Constituinte decidir que a mineração do Brasil
será uma atividade exclusivamente de
Governo, ela poderá continuar existindo; mas
eu temo, fundamentalmente, que isso resulte,
em primeiro lugar, em não termos reservas no
momento determinado. A história brasileira
mostrou isso, que não ocorre só no Brasil, mas
no mundo inteiro, tanto que outros países
fecharam suas empresas privadas, inclusive a
Austrália e o Canadá. A província de Colúmbia,
do Canadá, em determinado momento,
restringiu tremendamente a atividade privada.
O resultado é que, com cinco anos, estava
completamente defasada.
Encerro minhas considerações, em
função do tempo, dizendo o seguinte: a
Constituinte pode trabalhar essa decisão,
porque ela é soberana, mas, à luz da
experiência da economia mineral, não é e não
será a mais adequada para o especial para os minérios, por serem finitos os
desenvolvimento econômico brasileiro, na
nossa visão.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte
Francisco Carneiro. (Pausa.)
Lamentavelmente, S. Ex.ª não quer participar.
Passamos a palavra ao segundo
conferencista, Dr. Sylvio Baeta Neves, Diretor-
Geral Substituto do Departamento Nacional
de Produção Mineral e Diretor de Divisão do
Fomento da Produção Mineral. Rogo ao
ilustre conferencista que busque colocar o seu
pensamento em 20 minutos, para que
possamos ser brindados com as questões dos
Srs. Constituintes e as suas respostas.
O SR. SYLVIO BAETA NEVES: – Sr.
Presidente, Srs. Constituintes, infelizmente,
quem deveria estar aqui era o Diretor-Geral
do DNPM, Dr. José Belfort, que, por motivo de
viagem, não pôde comparecer a esta
Subcomissão, e pediu-me para representá-lo
nesta Casa, a fim de apresentar alguns
pontos de pensamento do Departamento, com
relação ao setor mineral brasileiro.
A terra pode ser considerada como
uma bola constituída essencialmente de
oxigênio (75%) e silício (15% ), vagando no
espaço infinito, possuindo, em alguns pontos,
em desarmonia com o todo, certas
concentrações ou anomalias de outros
elementos que constituem, para o homem, os
depósitos minerais.
Hoje, esses depósitos, com o atual
desenvolvimento tecnológico, asseguram a
existência, na terra, do gênero humano e de
todas as espécies viventes, constituindo-se no
pilar que sustenta a vida e a nossa civilização.
O progresso da Humanidade está intimamente
ligado com a habilidade de usar a energia e os
minerais e, a partir dai, impor condições
ambientais próprias para obter alimentos. De
todos os animais, o homem é o menos
equipado pela natureza para se autoproteger,
de forma a sobreviver, usando os recursos que
se renovam espontaneamente no elemento
natural. Desde o momento em que os homens
se utilizaram dos recursos da terra para se
protegerem, construir suas habitações, fabricar
adornos e ferramentas, produzir alimentos e
conhecer melhor as pedras, eles se tomaram
mineradores. Foi ai, em determinado momento,
que essa habilidade conferiu ao homem a
superioridade sobre todos os animais e, ao se
tornar consciente do poder dos metais, passou,
então, a pesquisar materiais, o que culminou
no grande salto que fez do homem um gigante,
mas também, um escravo de todos os
minérios. Nos dias que vivemos, não existe um
único bem da Humanidade que não seja
decorrente direto ou indireto da utilização
inteligente dos minerais, e podemos afirmar
que seria impossível manter o atual nível de
vida na terra, que possui bilhões de habitantes,
sem o emprego dos minerais. Toda a
alimentação que podemos produzir para o
sustento da Humanidade depende dos adubos
minerais, de equipamentos especiais, dos
tratores que revolvem a terra e colhem grãos,
dos transportes especializados, dos silos, dos
defensivos agrícolas, dos combustíveis e
muitos outros produtos minerais. Da mesma
forma, os remédios, as habitações, os
vestuários, os computadores, as tintas, todos
os equipamentos de comunicação, os
aparelhos cirúrgicos, enfim, tudo o que cerca o
homem moderno não tem outra origem senão a
da mineração. E é esse fato contundente que
nos leva a pensar num tratamento muito
depósitos minerais.
Apesar do nosso imenso espaço
territorial, não somos um gigante mineral. 0
nosso território foi apenas arranhado
geologicamente, e conhecemos pouco de
suas reais possibilidades minerais, por
desconhecermos, em profundidade, sua
constituição geológica com maior detalhe.
O esforço nacional para conhecer
melhor sua geologia, até o momento,
prendeu-se a mapeamentos em pequenas
escalas, cujo detalhe apenas possibilitou
delinear as grandes feições e ambiências
geológicas, como elementos indicadores de
possíveis jazimentos minerais. Há, portanto, a
necessidade de esmiuçar o terreno, melhorar
conhecimentos e prospectar, objetivamente,
para descobrir minérios.
Ao contrário da Pesquisa Geológica de
Base, realizada pelo Governo, a prospecção
mineral, que culmina com a identificação do
jazimento mineral e com a avaliação econômica
do jazimento, é uma tarefa da iniciativa privada.
Mas, para que o capital privado possa ser
aplicado na mineração, é imperioso existirem
regras claras que garantam o investimento
daqueles que hoje sofrem do grangsterismo das
invasões das áreas tituladas, do desrespeito aos
direitos assegurados pelo Código de Mineração
e da maledicência dos mal-informados ou
maldosamente informados, que infamam o setor
mineral, por ignorância, ou por inconfessáveis
objetivos escusos.
Hoje, o Brasil participa com
aproximadamente 1% da produção mineral
mundial e possui alta dependência do
território alheio (70%), sobressaindo aí os
minerais energéticos, Petróleo e Carvão, os
fertilizantes potássicos e nitrogenados, alguns
metalóides e não-ferrosos. Assim, a
conceituação, no caso brasileiro, do que é
estratégico, com essa altíssima dependência,
deve sofrer muitas adaptações e –
condicionamentos pertinentes, para superar
tais deficiências e evitar mudanças
36
inesperadas, em conseqüência do
desenvolvimento industrial moderno e,
conseqüentemente, das implicações de
abastecimento da indústria nacional.
Neste documento que foi apresentado
à Casa existe uma conceituação sobre
minerais estratégicos, que eu me permitiria
não ler, pois não a considero pertinente ao
assunto que esta sendo tratado neste
momento.
O Brasil é, seguramente, um dos
países do mundo com maior potencial
mineral, alinhando-se, com a África do Sul,
Canadá, Austrália, URSS e EEUU, entre
aqueles em que a mineração constitui forte
vocação da economia.
Tal potencial, reconhecido por
todos, a realçado pela extensão territorial
do País e pela variedade geológica
de seus terrenos, que, a exemplo daqueles
existentes nas nações anteriormente
mencionadas, se constituem num grande
repositório de bens minerais importantes,
como cobre, quartzo, potássio, níquel, titânio,
ouro, prata, ferro, manganês, nióbio,
vermicilita, aminato, vanádio, estanho, gemas,
entre outros.
Ao contrário, no entanto, daqueles
países é o Brasil ainda pouco conhecido
geologicamente, apesar do grande esforço
realizado da década de 70, citado pelo
representante do Ibram, Dr. José Mizael de
Souza – e retornado agora em 1985, em
trabalhos de diversos tipos, de que resultaram
inúmeras e importantes descobertas de
depósitos minerais. A par disso, é consenso,
em todo o setor mineral, a necessidade do
mapeamento básico, para permitir a busca
dos novos depósitos, sob a pena de
regredirmos rapidamente aos anos 50-60,
com um modelo francamente importador, se
permanecermos apenas lavrando as jazidas
minerais conhecidas.
Neste contexto, é interessante um
exame rápido do comportamento do setor
mineral brasileiro, a fim de proporcionar uma
melhor interpretação dos fatos, para a
compreensão da política e da estratégia que
vêm sendo adotadas.
Os bens minerais brasileiros, sob o
enfoque de dependência relacionada
somente às reservas e não a produção, são
classificados em 3 categorias conhecidas
por minerais carentes, suficientes e
abundantes, obedecendo as seguintes
definições:
– Minerais Carentes são os que
possuem reservas conhecidas insuficientes
para atender ao consumo interno, criando,
assim, a necessidade de importação ou
dependência externa.
Entre eles podemos citar.
Antimônio
Cobalto
Carvão Metalúrgico
Chumbo
Enxofre
Molidbênio
Petróleo
Platina
Prata
Total: 19 carentes
Nota: Deixamos de incluir fertilizantes
nitrogenados, por serem resultantes do
processamento de petróleo.
Mineras suficientes são
os que possuem reservas conhecidas
suficientes para atender a de-
37 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
manda interna por um prazo de até 25 anos, reservas, passando de 30 para somente 09
como: carentes e de 12 para 31 abundantes.
Amianto Entretanto, é preciso lembrar que os recursos
Bromo minerais são concentrações limitadas e, na
Cobre medida em que são lavrados e aproveitados,
Gás natural torna-se imperioso fazer novas descobertas,
Fluorita para garantia do abastecimento interno sob
Granadas pena de concordarmos com
Zinco empobrecimento mineral do País. Essas
Vanádio novas descobertas, sem que se conte com o
Total: 08 suficientes acaso como ferramenta principal, só serão
– Minerais abundantes são os que possíveis por intermédio de mapeamento
possuem reservas conhecidas para suportar a geológico sistemático, em escalas que
demanda nacional por um período muito permitam o detalhe geológico mais acurado.
grande. Paralelamente, faz-se também necessário o
Exemplos: desenvolvimento de novas tecnologias, para o
Alumínio aproveitamento não só de minerais de baixo
Fosfato teor, como também daqueles inaproveitados,
Argila por não se adaptarem aos processos de
Barita beneficiamento disponíveis, como e o caso do
Micas Manganês do Urucum, Mato Grosso.
Nióbio-Tantalita Dos minerais conhecidos no território
Gemas nacional, mesmo sendo alguns abundantes,
Ouro não são, entretanto, produzidos de forma a
Sais de Mg suprir o mercado interno. Essa deficiência tem
Sal-gema origem múltipla, desde aquela ligada a
Calcários tecnologia de aproveitamento até a que diz
Caulim respeito ao capital de investimento para a
Bentonita produção plena. Vale fazer notar aqui o caso
Pirita do potássio, em que o Brasil possui os dois
Cromita únicos grandes depósitos do Hemisfério Sul,
Berilo com reservas suficientes para suprir o
Potássio mercado interno por alguns séculos e, no
Cristal de rocha entanto, e franco importador do total das suas
Dolomito necessidades – cerca de 2 milhões de
Terras raras toneladas – passando pois esse minério ao rol
Estanho dos estratégicos, tanto no conceito amplo
Titânio como no restrito. Neste caso particular, esta
Lítio deficiência é devida, principalmente, à falta de
Tório infra-estrutura e provavelmente ao nível de
Ferro investimento superior a US$ 600 milhões no
Tungstênio depósito de nova Olinda do Norte, no
Gipsita Amazonas, como também a pequena
Magnesita produção nos depósitos de Taquari-
Urânio Vassouras, em Sergipe.
Manganês* Com este rápido preâmbulo sobre a
Talco situação mineral brasileira, conclui-se
Total: 31 abundantes facilmente por uma atenção permanente para
o comportamento da economia mineral em
* Minerais com ressalvas feitas âmbito nacional e internacional; por um maior
anteriormente. conhecimento dos nossos jazimentos; pelas
relações da reestruturação industrial; pelas
Apenas para evitar dúvidas quanto a tendências específicas em ciência e
este assunto, queremos enfatizar que esta tecnologia dos materiais; pelas necessidades
analise não se refere a produção e, sim, de abastecimento interno; pelas relações de
às reservas jacentes no subsolo. Muitos troca aviltando insumo mineral básico; pelo
minerais aqui citados como abundantes nível de investimento na mineração sem o que
são quase que totalmente importados, não será possível concluir pela
por não possuirmos produção suficiente, estrategicidade do bem mineral.
como é o caso do potássio. Outros, com I – o bem mineral é da Nação,
reservas até muito pequenas, como o inalienável e imprescritível;
tório e terras raras, são considerados II – as jazidas, minas e demais
abundantes por serem de baixo consumo no recursos minerais constituem propriedade
Brasil. distinta da propriedade do solo;
III – a exploração e o aproveitamento
Durante os últimos 20 anos, a posição de qualquer bem mineral dependerá, na forma
dos recursos minerais brasileiros evoluiu do da lei, de autorização ou concessão federal;
seguinte modo: IV – a União deve fornecer os meios e
envidar todos os esforços para conhecer o
1963 1973 1986 seu potencial mineral.
Carentes 30 15 09 Esses princípios devem ser de
Suficientes 10 12 08 limpidez cristalina, para se evitarem
Abundantes 12 25 31 interpretações dúbias. Não deve haver, pois,
qualquer situação que ponha em dúvida a
Não resta dúvida de que, nos soberania da União com respeito ao bem
últimos 20 anos, obtivemos um mineral, sob pena de qualquer exceção à regra
ótimo resultado, com respeito as vir a se tomar o lugar comum das perdas
de autoridade e da soberania nacional sobre o
seu território.
A inalienabilidade e imprescritibilidade
são condições em vigor desde a Carta
Constitucional de 1934 e que impedem
transferir ao concessionário a propriedade do
bem mineral. Trata-se de um bem que pertence
o a União. É com base neste princípio que a
União, para conceder a terceiros o direito de
pesquisa deve ressarcir-se, mediante o
condicionamento de acesso ao subsolo e o
pagamento de uma taxa anual de franquia. A
distinção entre as propriedades do solo e do
subsolo, estabelecida na Constituição de 1934 e
mantida na atual Carta Constitucional, foi, sem
dívida, elemento de vital importância para o
desenvolvimento da industria mineral do Brasil.
Na atual Constituição ainda se prevê a perda de
preferência a que tinha direito o superficiário, ao
requerer a pesquisa mineral, em áreas de sua
propriedade, mas lhe é reservado o direito de
participação nos resultados da lavra. Com esse
dispositivo, foi possível garantir ao empresário
mineral o acesso ao subsolo, para pesquisa e
lavra, o que não era objeto da industria
agropecuária. Esta ultima via apenas no solo o
motivo dos seus investimentos, que, ao
contrário do impedimento mineral, eram de
curta maturação, portanto, mais atrativos. Todas
as concessões minerais devem ser atos do
Governo Federal, pois um jazimento não
obedece a limites territoriais de natureza
política, podendo, portanto, extrapolar a
soberania dos Estados. Existe, hoje, certa
tendência de opinião no sentido de se procurar
transferir o gerenciamento do bem mineral para
a esfera dos Estados. Entretanto, esta
descentralização, a nosso ver, iria trazer alguns
problemas, principalmente no que diz respeito à
falta de unidade na concessão mineral, com o
agravante de se estabelecerem, pelo menos, 26
legislações sobre a matéria, como podemos
verificar. A União é composta de 23 Estados e 3
Territórios Federais, daí a assertiva das 26
legislações sobre a matéria. A jazida mineral
não obedece às fronteiras, e isso implica em
uma mesma concessão vir a ser regida por uma
ou mais legislações. Os impostos,
provavelmente diferentes de Estado para
Estado, poderão inviabilizar as jazidas minerais
pelo desestímulo aos investimentos, em virtude
da alta carga tributaria. Hoje, o Departamento
Nacional de Produção Mineral, com
aproximadamente 1.500 funcionários, trata
sozinho de toda a problemática de concessão,
sem qualquer interferência de fronteiras entre os
Estados e Municípios. O controle de áreas a
centralizado, o que não permite concessões
múltiplas. Caso os Estados sejam incumbidos
das concessões, haverá necessidade de cada
um deles criar o seu próprio DNPM, inclusive o
pequeno Território de Fernando de Noronha, o
que implicaria acréscimo aproximado de 10 mil
funcionários. Por fim, vale notar que nem todos
os Estados que possuem atividade mineral são
capazes de sustentar uma estrutura tipo DNPM.
Vou permitir-me não prosseguir com a
leitura, mas a mensagem que queremos deixar
clara é a de que nós, do Departamento do
Ministério das Minas e Energia, pensamos – e
estamos enviando a idéia para ser debatida
nesta Constituinte – que a União deve
permanecer com a legislação sobre o bem
mineral. Entretanto, entendemos que, neste
sentido, a União também deve estar capacitada,
através de um órgão gerenciador, que no
caso seríamos nós mesmos, do Departamento
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 38

Nacional da Produção Mineral, para gerenciar
este bem mineral e poder, assim, avaliar,
realmente, as concessões minerais que hoje
estão sendo concedidas à iniciativa privada e
também às empresas estatais que atuam no
setor mineral.
Coloco-me agora à disposição de V.
Ex.as para o debate.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao nobre Constituinte
Roberto Rollemberg.
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO
ROLLEMBERG: – Sr. Presidente, Srs.
Constituintes, nesta segunda vez, volto mais
calmo.
Por ocasião da campanha “O petróleo
é nosso” eu tinha mais ou menos 18 anos;
agora, os anos já se passaram tenho 57 anos
e fico imbuído do mesmo espírito que possuía
aos 18 anos, quando se fala em riquezas
nacionais. Naquela época, a juventude
democrática, gerada pela Constituição de
1946, que foi a mais democrática, teve
oportunidade de rebelar-se contra a
colonização deste País. Agora, neste ano de
1987, o clima é o mesmo. Esperava até que a
mocidade desta época tivesse o mesmo
espírito de luta que a de 1946, em relação aos
problemas nacionais. Quando se fala em
riqueza nacional – como foi dito pelo
representante do IBRAM – tudo depende,
realmente, de uma decisão política do
Governo. Se o Governo for nacionalista,
defenderá a riqueza mineral e conseguirá,
apesar dos embargos ao monopólio estatal,
finalmente chegar à vitória, ao sucesso. É o
caso, por exemplo, da Petrobrás, que tem hoje
um presidente absolutamente correto e
enérgico. A demora na exploração das
riquezas nacionais, por falta de tecnologia, por
obstáculos que se impõem, na minha opinião é
menos prejudicial do que a perda do
patrimônio. Vemos hoje por exemplo, a
PETROBRÁS conseguindo sucesso e sendo
respeitada, apesar das distorções que às
vezes ocorrem. Trata-se de uma opção
administrativa correta, pois a estatal, baseada
no petróleo, nos minerais, não dá prejuízo.
Esse é apenas um comportamento
administrativo, mas nós estamos falando em
tese. Para o IBRAM e o Ministério – com o
objetivo de se conseguir uniformidade na
legislação, principalmente com relação ao que
V. S.ª referiu aqui, ou seja, ao fato de, quando
determinado minério não a típico de um
Estado, é apenas regionalizado num Município
– há necessidade de uma legislação nacional.
Quanto a isto, estou perfeitamente de acordo,
é claro. Interessa-me colocar na Constituição a
participação do Estado no acompanhamento
de concessões. Mas, no momento em que se
começa a extração e a exploração, a tradição,
aquela respeitabilidade, aquele orgulho
municipal deve presidi-las, retendo-se à parte
do Estado no próprio Estado. Não digo que o
Estado discuta uma legislação que
caracteristicamente deve ser federal.
Absolutamente. Acho que ela deva ser federal.
Mas no momento em que for fixada
determinada jazida e o seu aproveitamento
econômico, daí por diante, a reposição do
dinheiro público aplicado na pesquisa, de
responsabilidade do Governo, a extração do
minério, a sua comercialização, o seu
potencial econômico, temos de garanti-los na
Constituição. É preciso que o Estado tenha
forças para reter o contrato de exploração, a
fim de que não fique submetido à União. Trata-
se de uma riqueza que sai do Estado. E no
momento que ela começa a sair, o Estado tem
a obrigação de participar do contrato,
principalmente. As empresas
caracteristicamente nacionais, que não estou
condenando, pois geram riquezas, empregos
e contribuem para sua exploração e
desenvolvimento nacional, devem deixar o
seu tributo no Estado.
Gostaria que o último expositor
apresentasse dados, se possível, sobre as
jazidas que, se não me engano, por decreto
cujo número não recordo, tiveram proibida a
sua pesquisa e lavra. Com exceção do ferro e
do petróleo, gostaria de saber qual a
porcentagem de empresas nacionais e
multinacionais que estão explorando jazidas
neste País. Consta – não tenho dados técnicos,
em mãos, mas vou tê-los na devida
oportunidade que, em relação ao diamante, por
exemplo, 93% das concessões estão nas mãos
de companhias estrangeiras. Ora, tudo isto,
inclusive acordos internacionais, que agora o
Congresso vai passar a examinar, diz respeito
à soberania. Agora, a soberania entregue
apenas a União parece-me pouco. A soberania
nasce, sobretudo, da atuação dos Municípios e
dos Estados. E, em matéria de tal importância,
de deixarmos tudo na competência da União,
todas as riquezas nacionais estarão
dependentes de uma opção política que foi
localizada a jazida e iniciada a sua exploração,
a utilização econômica a competência e direta
do Estado. Sou do Estado de São Paulo. Não
temos lá grandes riquezas minerais,
principalmente estratégicas, a serem
exploradas; mas temos terras, temos uma
industria localizada. Em certos Estados do
Brasil, principalmente no Norte e Nordeste,
temos conhecimento da existência de recursos
minerais. Com toda essa riqueza, como é que
são tão pobres? Essa política que vem de
Constituição a Constituição não trouxe
resultado para esses Estados, ricos em
minérios? (Palmas.) Então, todas as
Constituições repetem a mesma coisa, estão
erradas. Por que não propiciaram o
desenvolvimento desses Estados? Com isso o
País não pode desenvolver-se. É um País
inclinado, de zonas ricas e pobres. Ninguém
administra um País inclinado, que sobre erosão
econômica todos os dias. Precisamos equilibrar
a situação. Os minérios estão ali e não podem
ser carreados só para as indústrias do Sul
consumirem. Há necessidade de retê-los lá.
Como? Com decisões sobre a exploração dos
recursos minerais. (Palmas.)
O SR. SILVIO BAETA NEVES: – Sr.
Constituinte, concordo plenamente com as
suas posições aqui colocadas. Penso que a
União – e aí analiso a União como um todo –
deve possuir um órgão forte, tecnicamente
capaz de gerenciar os recursos minerais
brasileiros. Também defendo o ponto de vista
de que os Estados brasileiros devem possuir
suas políticas regionais a nível de setor
mineral, às vezes, o que é bom a nível de setor
mineral para Minas Gerais não é a mesma
coisa para o Estado do Amazonas, por
exemplo. São políticas regionais, que devem
ser desenvolvidas e praticadas pelos governos
estaduais. Somente há poucos anos é que as
Secretarias de Minas, a nível estadual, foram
criadas. Há dez anos o setor mineral começou
a despontar, como um segmento da economia
nacional, e participar realmente do nosso
Partido Interno Bruto. Em 1967, quando foi
elaborado o ultimo Código de Mineração; a
conjuntura mineral nacional era completamente
diferente do que é hoje. Hoje temos a lavra
do ouro. Em 1967, não se investia em ouro,
simplesmente porque o seu preço não
estimulava investimentos em pesquisa ou em
prospecção. E assim outras substâncias
minerais. Agora, com relação à transformação,
ou seja, se esse bem mineral deve ser ou não
transformado no lugar onde é gerado,
particularmente acho que as duas posições são
válidas. Em alguns casos deve ser
transformado e multiplicado no lugar onde foi
gerado. Em outros casos, não. Não há política
a ser definida aqui e agora, como generalizada.
Ela deveria ser bem mais debatida, para se
chegar a uma conclusão. Por exemplo, na
região do Estado de Minas Gerais, onde o
minério de ferro apareceu, foram geradas
usinas de metalurgia de ferrogusa. O Dr. José
Mendo colocou aqui que, quando foi
implantada a Companhia Siderúrgica Nacional,
em Volta Redonda, surgiu no Estado de Minas
Gerais uma polêmica política muito violenta,
sobre se deveria ou não ser ali implantada essa
siderúrgica. Diria mais ao ilustre Constituinte
que nem sempre a descoberta de uma jazida
viabiliza economicamente seu aproveitamento
de imediato. Uma jazida, por si só, gera
determinada riqueza, mas, para aproveitarmos
essa riqueza, em muitos casos, principalmente
no setor mineral, deve haver infra-estrutura.
Estas coisas todas precisam de ser debatidas.
O setor mineral brasileiro, atualmente, está
ganhando. Até a nossa presença aqui, hoje,
demonstra a importância desse setor. Ele
começou a emergir de uma situação anterior.
Então, esses aspectos estão abertos à
discussão e ao debate. Não temos uma
questão fechada. A legislação sobre o setor
mineral deve ser única e a nível da Federação.
Esta é a nossa opinião.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte Felipe
Mendes.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, volto ao assunto
para colocar mais uma vez a experiência de
um Estado, no caso, o Piauí. Parece-me que
o problema não é o fato de ser uma empresa
privada, estatal ou estrangeira que explora o
minério. É uma questão de uso do poder do
Estado, no sentido de fazer com que aquela
decisão política que o Governo venha a tomar
possa ser um caminho seguro para o
desenvolvimento do nosso País.
V. S.ª disse, em sua exposição, que
temos 1%, mais ou menos, da produção
mineral do mundo, mas parece-me que nossa
área geográfica é bem maior do que 1%, até
porque o País tem, nesse 1%, certa
participação de minerais estratégicos para
todo o mundo.
No Piauí, temos pesquisado e
demonstrado a viabilidade da exploração, pelo
governo do Estado, de uma jazida de mármore,
que foi entregue, naturalmente depois de uma
licitação, a uma empresa privada da Bahia, que
já fazia a exploração de mármore. Esta
empresa não encontrou naquela exploração
uma viabilidade econômica para si própria; mas
será que para outra empresa não seria viável?
Essa exploração está a zero. Existe lá,
também, uma pesquisa, iniciada pela Empresa
Estadual de Pesquisa Mineral, numa grande
jazida de níquel; mas logo em seguida,
a Vale do Rio Doce conseguiu a concessão da
lavra. Ora, sabemos que a Vale do Rio Doce
tem outras explorações de níquel, em
Goiás e em outros Estados, e que não lhe
interessa aquela exploração. Então, não é a
empresa estatal que vai resolver o proble-
39 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
ma do Piauí, no caso de minerais, e me parece
que, na sua relação, não consta se são
abundantes ou não. Não me parece que se
trate de um mineral estratégico de que o
mundo todo precise. Temos o caso das opalas,
conhecidas no mundo todo – e dizem que, em
termos quantitativos e qualitativos, são
melhores do que as da Austrália – exploradas
por uma empresa estrangeira. Em nenhum dos
casos a ingerência, seja da população, seja do
município, seja do Estado, é suficiente para
forçar uma definição do Governo. Ou aquela
empresa explora, ou essa concessão volta para
a União. O que não a possível é assistirmos
passivamente, diante de três oportunidades de
investimentos o desenvolvimento do Estado,
aos setores que compõem o sistema
econômico privado – o estadual e o estrangeiro
– não resolverem o problema.
A legislação precisa ser alterada, no
sentido de que a concessão reverta, no caso da
não-exploração, dentro de determinado prazo.
Volto à questão da descentralização.
O que é que custa o DNPM delegar
competência a seus órgãos estaduais para,
em vez de o processo vir para Brasília, ficar
mesmo em Teresina, São Luis ou Recife?
Então, são questões que, às vezes, não
competem à Constituição, são do dia-a-dia,
mas que estão sendo discutidas aqui, hoje,
porque temos de começar do início.
São estas as nossas observações.
(Palmas.)
O SR. SÍLVIO BAETA NEVES: –
Nobre Constituinte, com relação ao retorno da
concessão, vou por etapas. Existe no Código
um dispositivo Segundo o qual, se a mina não
for trabalhada – esse dispositivo é específico:
chama-se “caducar a mina” – O DNPM entra
com o processo de caducidade de mina e ela
retoma a União, sendo colocada em
disponibilidade, em licitação publica para
quem se candidatar à sua exploração em
outro período. O dispositivo já existe.
Poderíamos pensar em agilizar esse
processo de caducidade, o que é outra coisa,
mas esse dispositivo, repito, especificamente
já existe.
Com relação ao aspecto da
participação, da ingerência do Estado, acho
que isso se faz inclusive necessário, e o
Departamento quer que haja essa participação,
quer trabalhar com os Governos estaduais, a
nível de decisão regional de uma política
mineral. Temos estabelecido diversos
convênios com governos estaduais, inclusive
de projetos de conhecimento geológico do
próprio Estado, publicação de mapas
geográficos, trabalhos em conjunto,
principalmente com relação ao meio ambiente,
que hoje está em muita evidência. Com os
organismos estaduais de meio-ambiente temos
feito vários convênios. Temos desenvolvido um
programa que está em funcionamento e que se
chama “Mineração em área urbana”, e fazemos
questão absoluta de que o Estado dele
participe; caso contrário, não se tornará viável.
Há necessidade, inclusive, de um plano para se
saber como se vai expandir a mineração.
Esses tipos de projetos se tornam
cada vez mais necessários. É cada vez maior
a necessidade de integração do Governo
Federal com os Estados.
Este é o nosso ponto de vista.
Com relação ao aspecto de
descentralização do Departamento Nacional
da Produção Mineral, concordo totalmente
com V. Ex.ª Sou inteiramente contrário
ao que se chama trânsito do processo
mineral. O processo sai de Teresina, vem a
Brasília, retorna a Teresina, etc. Essa foi a
situação que a atual administração encontrou
e que está procurando modificar, ou seja, a
descentralização total do Departamento
Nacional da Produção Mineral. As decisões
devem ocorrer em nível regional também, com
uma diretriz mestra, definida pelo Ministro de
Estado das Minas e Energia. Então S. Ex.ª
definiria a política e nós daríamos a
estratégia, as normas para que ela funcione,
para que seja executada.
Ocorre, porém, como foi colocado aqui
pelo Dr. José Mendo – que atravessamos um
período crítico de recursos em nosso órgão. Até
1985, enfrentamos uma dificuldade financeira
muito grande, a ponto de quase paralisarmos
totalmente os projetos de mapeamento de
conhecimento do subsolo brasileiro. E, com isto,
houve um enfraquecimento da própria equipe do
Departamento Nacional da Produção Mineral.
Hoje, estamos procurando corrigir esses
problemas.
Há necessidade da existência, como
já falei anteriormente, de um órgão forte,
competente, técnico, com capacidade
financeira e humana para gerenciar esses
recursos minerais brasileiros, a fim de que,
realmente, o Brasil disponha em definitivo de
uma política mineral.
Este é o nosso pensamento.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte
Mozarildo Cavalcanti.
O SR. CONSTITUINTE MOZARILDO
CAVALCANTI: – Sr. Presidente, Srs.
Conferencistas, companheiros Constituintes, é
óbvio que a missão específica desta
Subcomissão é definir o alcance da União
no campo de legislar sobre o setor de
mineração. Embora tenha ouvido com muita
atenção os Constituintes que me antecederam
e os expositores, parece-me que a
preocupação com o status constitucional
tradicional – e até o frisou muito bem o
Constituinte Rollemberg – não deu certo, pelo
menos para os Estados e Territórios da
Amazônia, ricos em minerais e pobres
economicamente.
Nós, desta Subcomissão, realmente
devemos, preocupar-nos em fazer com que
na política de concessão, seja deixado de
lado o problema sobre se o setor vai ser
estatizado, privatizado, ou se vai continuar
como está. O mineral é da União. Esta
concede, algumas vezes, a exploração ao
setor privado. O que se deve definir aqui, até
para avançar, é realmente a participação dos
Estados e dos Municípios. Acredito que, sem
perder o controle, a União, conjuntamente
com os Estados, poderia passar a analisar
desde a concessão do alvará para pesquisa e
lavra até a exploração.
É necessário que da Constituição
conste que a decisão será da União,
precedida da audiência dos Estados, através
das suas Assembléias Legislativas. E mais,
que essas concessões não sejam feitas como
hoje – sem nenhum demérito ao aspecto
técnico que elas envolvem – ao arrepio, ao
afastamento do detentor do mineral, que é o
povo. Essas concessões não passam pelo
exame do Estado ou pela aprovação, nem das
Assembléias Legislativas, nem do Congresso
Nacional. Defendo a idéia de colocarmos
especificamente na Constituição esse ponto
fundamental, ou seja, que
não só a pesquisa, mas também a exploração
e a lavra sejam, após o parecer tecni-
co do Ministério, aprovadas pelas Assembléias
Legislativas dos Estados interessados e,
posteriormente, pelo Congresso Nacional. Não
devemos esquecer-nos, embora não se trate
especificamente de atribuição da nossa
Subcomissão, como Constituintes que somos,
de um ponto importante do setor mineral: a
legislação atual só se preocupa com a empresa
mineradora. Não há legislação específica para,
por exemplo, a classe dos garimpeiros.
(Palmas.) Em um País como o nosso, não
podemos ficar a copiar o exemplo de paises já
desenvolvidos, já industrializados e nos
esquecer da nossa realidade social, da grande
massa trabalhadora de garimpeiros, quase
sempre aqueles que antecedem as pesquisas,
que descobrem as jazidas e que, quando
começa a exploração, com a chegada das
grandes empresas mineradoras, são mandados
embora. (Palmas.)
No caso específico do Território de
Roraima, por exemplo, o Território está todo
requerido e, no entanto, quem está nas áreas
requeridas, buscando ou tirando ouro ou
diamante, são exatamente os garimpeiros,
que não tem nenhum tipo de amparo legal.
Gostaria de trazer à reflexão desta
Subcomissão, que vai dimensionar a
capacidade da União de legislar sobre minas,
essa preocupação social importante e
também o aspecto da autonomia e soberania
dos Estados, que é fundamental para
praticarmos um novo federalismo.
Muito obrigado. (Palmas.) – Grato a V.
Ex.as.
O SR. SÍLVIO BAETA NEVES: – Sr.
Constituinte, quanto à primeira parte da sua
intervenção, não sei como seria a agilização
da sua proposta, quer dizer, como o processo
seria encaminhado a Assembléia Legislativa,
a nível estadual e se seria dado ou não
determinado alvará de pesquisa ou
concessão de lavra.
Acho que os Estados poderiam
definir, através das Assembléias Legislativas,
a nível de política regional e setorial, qual tipo
de política a ser traçada com relação à
exploração mineral, porque os processos de
mineração são muitos. O Território de
Roraima está com um crescimento violento,
em termos de mineração. A mineração abriu
uma nova fronteira e, hoje, entra
violentamente na Amazônia como um todo.
Então, Roraima é uma área com grande
potencial mineral. E não é só ouro ou
diamantes que ali exploram: há outras
substâncias que podem gerar jazidas minerais
na região. Então, é um tanto quanto temeroso
quanto à agilização do processo em si.
Evidentemente, a Constituinte é
soberana para estabelecer as regras do jogo,
mas, falo como profissional da área e gostaria
que o assunto fosse bastante pensado e
ponderado, principalmente com relação à sua
agilização.
Quanto ao problema do garimpo, no
Código atual há alguns itens que tratam do
aspecto da garimpagem no Brasil. Quero
deixar claro que não somos contra a atividade
garimpeira. Sou de opinião que existem
espaços para a atividade garimpeira e a
atividade empresarial no Brasil. Este o meu
ponto de vista.
Agora, a regra do jogo é que tem que
ser bem definida. Daí a importância desta
Constituinte, quanto a esse aspecto, ou
seja, definir as regras do jogo. Em todas
as mudanças de Código e propostas
de mudanças de Códigos existe um
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 40

capítulo que é tratado com muito carinho por
todos aqueles que compõem as Comissões
estabelecidas, ou pelo Ministro ou pelo próprio
Diretor-Geral: do garimpo no Brasil. A
atividade garimpeira no Brasil não é mais
aquela do passado. É completamente
diferente. Então, esses aspectos também têm
de ser levados em consideração. Foi citado
pelo Dr. Mendo, o regime de permissão. Esse
regime pode ocorrer em uma atividade
garimpeira mecanizada, quer dizer, uma
jazida que seja especificamente trabalhada.
Evidentemente, temos de pensar em mediar.
Esse assunto tem de ser colocado, falado e
debatido aqui, porque é debatido também nas
Comissões do próprio Ministério, no próprio
Conselho Superior de Minas, no próprio
Departamento. Essas mudanças previstas nos
artigos que se referem, especificamente, à
atividade garimpeira no Brasil devem ser
discutidas, e inclusive deve-se acabar com os
conflitos de que temos notícias. Por outro
lado, acho que há espaço para todos, tanto
para a atividade garimpeira quanto para as
empresas de mineração.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte Meira
Filho.
O SR. CONSTITUINTE MEIRA FILHO:
– Quero apresentar os parabéns aos
expositores do IBRAM, que muito vieram
subsidiar-nos. Como brasileiro e, agora, por
uma distinção muito grande desta cidade, como
Constituinte, desejo aqui prestar uma
homenagem ao Presidente Getúlio Vargas, que
nos deu a lei do subsolo, quando tantos
estrangeiros compravam terras e mais terras
em nosso País, dizendo que aqui não havia
petróleo. Getúlio Vargas, com a lei do subsolo,
fez com que essa gente vendesse suas terras e
fosse embora do País. Como Constituinte e
como brasileiro, muito me preocupa a
corrupção na mineração. (Palmas.) Digo isto
porque antes desta palestra conversávamos
sobre o assunto. E me preocupa muito a
evasão de recursos minerais. E felicitando,
inclusive, aqueles que, com patriotismo, se
dedicam à tarefa de exploração mineral,
pergunto ao IBRAM, aos seus técnicos e
expositores, quais os elementos que teriam
para nos informar sobre a provável quantidade
de evasão de recursos minerais em nosso
País.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao expositor do
Departamento Nacional de Produção Mineral.
E como a pergunta do nobre Constituinte foi
em relação aos dos setores, tanto o setor
público, aqui representado, como o setor
privado, também aqui representado, de
maneira excepcional, concederei a palavra
para resposta à questão aos dois setores.
O SR. JOSÉ MENDO MIZAEL DE
SOUZA: – Evidentemente, a minha proposta
é no sentido de que o DNPM respondesse
primeiro, porque é da competência
deste órgão o registro das minas e da
produção mineral brasileira. Na minha opinião,
é desse órgão que devem partir as
informações mais precisas. Mas não me
furtarei à resposta.
Realmente, o nobre Constituinte Meira
Filho tem toda a razão. Há uma
grande preocupação no setor mineral com
relação à real contribuição desse setor.
Vamos dar o exemplo de como diversos bens
minerais são, de fato, contabilizados em favor
da Nação. Gostaria de lembrar que, eviden-
temente, isto não é uma peculiaridade do setor
mineral. Vários outros setores também não
contabilizam seus produtos, tanto assim que
recente artigo da revista "Exame" chegava a
atribuir 50% da economia brasileira à economia
dita informal. E isso respondia à pergunta: por
que os indicadores recessivos gerais da
economia previam que deveria tem um
movimento econômico muito menor e ele de
fato não acontecia? Isso não é uma
característica só brasileira. Ela é mundial. Onde
há ser humano, existem os que praticam os
valores "A" e os que praticam os valores "B".
Valores "A" são aqueles que a sociedade
referenda, e os "B", nem sempre. E o que
acontece na própria história mundial é que
muitas pessoas que não praticavam
determinados valores fizeram as grandes
modificações da História. Não teria havido a
Revolução Francesa, que iniciou a liberdade,
igualdade e fraternidade, se não houvesse um
povo que se rebelasse contra os princípios
vigentes. Esse aspecto é preliminarmente
importante, porque os próprios Estados Unidos
tem uma grande economia informal. A Rússia
também é um exemplo de economia informal
fortíssima. Tanto assim que o próprio partido
esta chegando à conclusão de que não adianta
tentar fechar demais porque sai pelos dedos.
Este é um dado preliminar. Vamos ao dado
concreto. A partir disso, com vários bens
minerais pode ocorrer esse fato, inclusive
porque eles podem ter circulação restrita local.
O nobre Constituinte pelo Piauí colocou o
exemplo de uma argila que a produzida por
uma olaria, numa região em que nunca a
fiscalização foi. Às vezes, pela própria
interiorização da região em que ela se localiza,
nem aquele empreendedor tem conhecimento
da parafernália da informação que deve
prestar. Para o País que pretendemos construir
essas informações são absolutamente
essenciais.
Trouxe para mostrar a V. Ex.as uma
publicação relativa a América Latina, que se
chama "La pequeña Minoria en la Región de
los Andes. Experiência de um Decênio", um
acordo da República Federal da Alemanha
com os governadores da região, e que na sua
introdução diz o seguinte:
"O que mais dificultou o
assessoramento efetivo das operações
mineiras e a planificação das melhorias da
operação foi, entre outras coisas, a falta de
dados e cifras recentes. Essas condições
tiveram como resultado a necessidade de
determinar esses dados a grande custo ou, já
que isso não foi sempre possível, a
necessidade de assumir certos dados sobre
uma base que, a miúdo, era muito pouco
fundada."
Gostaria de lembrar que a pequena e
média mineração dessa região é basicamente
de metais preciosos, como prata, ouro, etc.
Então, ter os dados é fundamental
sob todos os aspectos. Agora, como avaliar
se de fato existe ou não um chamado
descaminho de bens minerais e em que
quantidade, evidentemente, se eles não são
registrados, não há como se ter uma noção
precisa? Podemos fazer isso por outros
indicadores, como os médicos fazem com
pacientes em que não conseguem explicitar
com clareza qual a sintomatologia que
estão oferecendo. Então, quais são os
dados? Vamos considerar o exemplo
de um bem mineral, o ouro, que tem
crescido substancialmente na produção
mineral brasileira e que tem uma plêiade de
produtores, sendo José Altino o seu líder. O
que aconteceu com esse bem mineral? Existe
um registro de que no ano passado, se a
memória não me falha, a produção desse
mineral foi de vinte e quatro toneladas. Esse
registro provém da produção das minas, das
empresas e dos profissionais que se dedicam à
área do garimpo. Qual foi a produção em que
teria havido descaminho? Ninguém sabe, mas
números permitem que se tente estimá-la.
Como é que se chega a esses números ou
qual tem sido a metodologia que o DNPM tem
aplicado? Diz-se que há, de quatrocentos a
seiscentos mil garimpeiros no Brasil, hoje. É o
que a imprensa diz, mas não se sabe
exatamente. O Sindicato Nacional dos
Garimpeiros, a entidade que os engloba
sindicalmente, também tem números que não
são exatamente aqueles que a imprensa tem
divulgado. Mas, a partir de um número médio, o
DNPM imagina que se há quatrocentas mil
pessoas e elas estão vivendo e sobrevivendo,
admite-se do ponto de vista exclusivamente da
realidade brasileira, que essas pessoas vivam
com o salário mínimo. Poderia ser criticado o
balizamento, mas é um dado. O salário mínimo,
então, é transformado em grama de ouro por
garimpeiro, para que eles possam sobreviver.
Se eles não tiverem esses gramas de ouro,
ocorreria que, ou eles não são mais
garimpeiros, têm outra atividade, ou então
estão sendo mantidos pelo gerente, pelo
operador ou pelo empresário daquela região,
que imagina que serão produtores futuros
daquele bem mineral. Esse número,
multiplicado dessa forma, com o preço real que
o ouro atinge nas regiões garimpeiras, tem
indicado o DNPM – e eu sublinho a palavra
indicado, porque não é medido – uma
tonelagem correspondente. A exportação de
ouro, por exemplo, registrada pelo Uruguai, que
não é produtor de ouro, chega a trinta
toneladas. Admite-se que ela seja procedente
do Brasil, porque não está carimbado.
Qualquer ouro, do mundo inteiro, uma vez
fundido, tem as mesmas características. A
partir dessas duas premissas, o número que o
DNPM divulgou – o Dr. Sílvio tem condições de
dar mais detalhes, chegaria a cinqüenta ou
mais toneladas de ouro. Para se ter uma noção
clara e concreta, do que isso expressa, a
preços atuais do mercado, atingiria um bilhão e
meio a dois bilhões de dólares, ou seja, dois
terços, ou da ordem, da reserva brasileira de
moeda forte, que nos obrigou a uma decisão
de suspensão dos pagamentos, segundo
algumas fontes, por inexistência de reservas,
segundo outras fontes, pelo exercício da
soberania, em função da política determinada.
Não há como responder corretamente,
porque são as assunções, e toda assunção
está já maculada de um princípio de inexatidão.
Mas esses dados, que são divulgados pela
imprensa, mostram que de fato temos um
número expressivo. Essa é a razão pela qual,
na minha opinião, como profissional do setor,
há a preocupação de que seja deferida a
empresa de mineração. E, nesse caso,
qualquer brasileiro pode constituir uma
empresa de mineração, porque nada impede
que ela seja uma empresa individual. A
economia mundial concluiu ser a empresa,
devido à complexidade do tratamento
empresarial humano, que exige diferentes e
variadas experiências e especializações, o
instrumento que mais adequadamente contribui
para a função social de uma atividade
41
econômica. Tanto que, no Brasil, temos
empresas dos Governos federal, estadual,
munícipal, com capital nacional puro, com
capital multinacional e uma mistura de tudo
isso. Não sei se respondi adequadamente ao
nobre Senador por Brasília. Mas me permitiria
concluir que é muito importante, é
fundamental que o País conheça de fato o
seu ativo mineral enquanto jazida a sua
produção mineral, enquanto contribuição à
sociedade dessa riqueza que é da Nação, não
de qualquer de nós, ainda que o exercício da
atividade empresarial, que não está vedado a
nenhum brasileiro, ofereça a todos aqueles
que dela participam, salário, obrigações
trabalhistas, atendimento médico, dentário,
escolar, benefícios que ocorrem com a
agregação dos capitais no modelo
empresarial no mundo inteiro.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Diretor-Geral do
Departamento Nacional de Produção Mineral.
O SR. SYLVIO BAETA NEVES: – Sr.
Presidente, o Dr. José Mendo prestou um
esclarecimento bastante amplo sobre a
situação. Nós também estamos trabalhando
em cima de indicadores. Achamos que há um
descaminho dessa produção, especificamente
no caso de gemas e de ouro. Entretanto, para
se executar o trabalho de coordenação
dessas atividades todas, defendemos a idéia
de que isso deve ser feito por equipes
integradas, não só do Ministério das Minas e
Energia, mas também das Receitas Federal e
Estaduais, a fim de que possamos ter um
grupo integrado trabalhando na fiscalização
do descaminho do ouro. Foi citado aqui o
exemplo do Uruguai, que exporta 30
toneladas de ouro. É um número significativo.
Hoje devemos produzir, a nível de Brasil, em
tomo de vinte e tantas toneladas de ouro,
sendo que o maior percentual se refere à
atividade garimpeira Acreditamos que em
números muito otimistas, umas 50 toneladas
de ouro sejam desviadas. Em números mais
otimistas chegaríamos a 80, ou seja, entre 50
e 80 toneladas. Seria mais ou menos esse o
número. Há necessidade premente de criar-se
um instrumento capaz de exercer um controle
da parte que trata especificamente da
comercialização desses bens minerais.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A palavra está franqueada aos Srs.
Constituintes.
Com a palavra o Constituinte Roberto
Rollemberg.
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO
ROLLEMBERG: – Sr. Presidente, Srs.
Constituintes, depois desse debate e das
informações preciosas dos dois expositores,
estou mais convencido da minha tese: há
necessidade de maior fiscalização, maior
presença, maior planificação, feita em conjunto,
com a participação da União com os Estados.
A última pergunta do Senador Meira Filho
abre uma perspectiva enorme, quando fala
em evasão ou descaminho, como diz o
representante do DNPM. Estamos percebendo
claramente que existe uma riqueza nacional à
flor da terra, que não está dependendo da alta
tecnologia das multinacionais nem dependendo
de grandes recursos da União. Não há no
meu Estado garimpeiros, mas vejo aqui
Constituintes que têm defendido,
não só hoje, mas em todas as oportunidades,
a posição dos garimpeiros. Observem
bem: quem está colhendo da terra
com a mão a riqueza nacional é o
povo. (Palmas.) São os Governadores,
DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE (Suplemento)
os Vereadores, os Deputados estaduais os
representantes mais próximos da população.
Então, está evidentemente demonstrado que
cada Estado daria uma contribuição enorme
no sentido da fiscalização. Não existe, no
caso, necessidade de grande tecnologia. Não
há, repito, no meu Estado este problema, mas
como Constituinte estou preocupado com o
povo deste País. Fala-se em defesa de
fronteiras. Para mim, o exército de fronteira é
formado pelos posseiros, pelos garimpeiros,
porque o Exército não está lá. Está, sim, o
povo cuidando da riqueza nacional. É
absolutamente correto que a União, por
ocasião da concessão, ouça previamente o
Estado. A alegação de que se precisa de
inúmeros recursos para a exploração e que a
União não os tem talvez seja uma opção
política do Governo, isto é, não dar recursos
para o Ministério das Minas e Energia,
justificando que tem que concedê-los à
propriedade privada, ao empresariado privado
ou à multinacional. Pode ser uma política
antinacional do Governo. Não dou verba para
o Ministério e, assim, ele diz que não pode
colher. E vem a iniciativa privada e diz: "Eu
tenho dinheiro". E vem o americano e diz: "Eu
tenho dinheiro". Então, porque não temos
dinheiro entregamos o nosso patrimônio!
Ficou aqui demonstrado claramente
pelos Constituintes, principalmente dos Estados
que vivem o problema de forma crucial, que o
povo está recolhendo o minério que está à flor
da terra, demonstrando a capacidade de
participação imediata do próprio Estado ou
município. Estamos querendo fugir ao
problema dizendo: "Não, tem que ficar tudo nas
mãos da União". Ora, ninguém quer tirar da
União esta competência. A nossa proposta não
é no sentido de tirar da União; é no sentido de
não a deixar agir sozinha, porque a população
fiscalizadora que está trabalhando é capaz de
administrar. (Palmas.). Às vezes a gente ouve
falar em algum processo de reforma agrária,
sobre a invasão de áreas de minérios, que
companhias, grupos ou o povo invadem essas
áreas. A invasão é mais ou menos como o
problema da terra, ou seja, o trabalhador sem
terra está vendo uma vasta terra inexplorada, a
invade e é considerado criminoso. Pergunto:
será que não é criminoso quem tem aquela
terra e não produz? (Palmas.) Com relação ao
minério, é a mesma coisa. O ouro está à flor da
terra. Não há uma organização, de parte da
União, de empresas que empreguem o
trabalhador e o garantam em seu trabalho. De
repente, passa por ali um avião do exterior,
como já ocorreu neste País, e embarca todo
esse ouro. Ao tempo da campanha do petróleo,
os navios estrangeiros chegavam ao Norte e ao
Nordeste carregados de mercadorias. Nas
praias do Norte e do Nordeste, enchiam os
navios de areia monazítica. Diziam que era
para o lastro dos navios. Na verdade, era uma
fraude vergonhosa. Então, se essas riquezas
estão ali, no momento em que o povo invade
aquela propriedade, não vejo nada ilegítimo.
Não vejo nenhuma necessidade de
uma riqueza estar exposta e inaproveitada
sem que o povo possa aproveitá-la.
O Estado e o Município devem participar
da organização dos garimpeiros, dos
posseiros.
Com relação à reforma agrária,
defendo que a descentralização também é
competência do Estado, para que a União não
faça um decreto aqui em Brasília, por
exemplo, sobre interesse do Pará. (Palmas.)
O Estado deveria sugerir onde fazer a
sua reforma agrária, porque conhece o seu
povo e sabe qual a área explorada e a não
explorada.
Sr. Presidente, quero cumprimentar
os expositores. Estou convencido de que o
fato de tudo estar nas mãos da União é
resultado de um autoritarismo que se foi
centralizando cada vez mais. Está na bota de
descentralizarmos, de democratizamos. Em
matéria de riqueza nacional, um bem do povo,
as decisões têm que ser tomadas por todas
as representações populares e não só pela
União. (Palmas.)
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra à nobre Constituinte
Marluce Pinto.
A SRA. CONSTITUINTE MARLUCE
PINTO: – Quero agradecer a presença dos
expositores. Realmente, o que o nosso colega
falou há pouco sobre a questão da terra é um
caso que a União tem que levar em
consideração. Há tempos foi implantado o
Ministério da Reforma Agrária. E o que se viu
até agora para beneficiar o povo carente de
terra? Na hora que querem fazer qualquer
divisão, chegam os grupos econômicos fortes,
e não aceitam, essa divisão. As terras
improdutivas não são doadas nem mesmo
vendidas por preços irrisórios, para que o
povo sem terra as ocupe.
Quando estivemos em Roraima, para
lá foram 12.000 famílias, que até hoje ali
permanecem. Sobrevivem, graças à estrutura.
Não digo que seja a estrutura das grandes
capitais ou das áreas rurais do seu Estado,
mas para lá levaram outras famílias e ali
sobrevivem até hoje. Isso feito sem ônus.
Para o Ministério da Reforma Agrária, por
exemplo, todos sabemos das verbas que são
repassadas, e o problema não é solucionado.
Roraima tem uma população pequena para
uma área tão grande. Como V. Ex.ª sabem,
pela exposição do Sr. Govemador, temos até
dificuldades de conseguir transformar o
Território em Estado. Considera-se que não
há condições econômicas de sobrevivência
para a população. Não há, por quê?
Exatamente porque não nos dão essas
condições, porque temos muita terra e muito
minério. Falta apenas que nos dêm
autorização para explorar as riquezas
regionais, como se disse há pouco. (Palmas.)
V. Sª frisou muito bem quando disse que o
pobre, a pessoa carente, quando invade a
terra é até presa. Houve um caso, no
Território de Roraima, de um senhor idôneo
que foi preso, e meu marido foi citado como
se tivesse organizado a invasão, quando nem
havia falado com esse senhor, que para ali
levou pessoas que estavam passando fome e
queriam ganhar dinheiro na garimpagem.
Como Constituinte, não considero a crise
econômica a maior dificuldade do País. A
maior dificuldade do nosso País, hoje, está no
problema político, é a crise política, os
interesses partidários e regionais. Isso é o
que atrapalha o desenvolvimento e o
progresso do nosso País. Cada um deve
considerar que não precisamos de muito para
viver e que devemos distribuir a riqueza,
olhando para os carentes. O pobre só é usado
como inocente útil, no palanque. Quando os
candidatos usam palanques, trazem o pobre
para arrebanhar voto; mas na hora da
distribuição de renda o que se vê é que
ninguém estápensando no pobre. Todos
olham primeiramente para si e para os
problemas partidários.
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 42

Então, Srs. Constituinte, volto à
tribuna para solicitar de V. Ex.ªs que, mesmo
achando que nossos Territórios não têm
condição de sobrevivência, deixem que sejam
transformados em Estados. Qual é o Estado,
hoje, que tem sobrevivência própria? Vejam o
Rio Grande do Sul. Lembro-me de que
quando eu era empresária e dispunha de
tempo para passear, em todas as minhas
férias, eu achava lindo o Rio Grande do Sul.
Pensava até que lá não existia pobreza, que
ela existia apenas no meu Nordeste. Naquela
época eu nem conhecia o Território de
Roraima. Hoje o que se vê? O governador do
Rio Grande do Sul, como os outros
Governadores do Nordeste, pedindo dinheiro
para pagar seus funcionários. Então, porque
os Territórios não têm condições de sobreviver
se forem transformados em Estados? Nós não
podemos crescer com Territórios, porque nem
temos o direito de escolher nossos
governantes. Mais uma vez fica a minha
solicitação aos Constituintes desta
Subcomissão e ao prezado Relator. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Muito obrigado.
Não havendo mais Constituintes que
queiram usar a palavra, a Mesa agradece aos
expositores e faz questão de chamar a
atenção para o fato de que tem tentado
democraticamente ouvir as diversas correntes
de opinião. Ouvimos hoje uma corrente de
opinião representativa do setor privado, que
engloba diversas empresas de mineração, o
IBRAM, inclusive estatais. De outro lado, o
representante do Estado, através do
Ministério de Minas e Energia, que trouxe
também a sua colaboração e o seu ponto de
vista, para que os nossos Constituintes
possam ter subsídios para contribuírem na
elaboração do texto constitucional. Vimos hoje
que alguns Constituintes rebusteceram seus
pontos de vista sobre a descentralização da
política de mineração do País. Isso é muito
satisfatório para a Mesa.
Quero agradecer a todos os presentes
que vieram abrilhantar a nossa sessão pelo
calor humano que vieram trazer aos nossos
trabalhos.
Comunico a todos que amanhã, às
9h30mi, haverá, nossa próxima sessão, com a
presença do General Roberto Klein,
Secretário Especial da Defesa Civil, que nos
prestará informações a respeito do trabalho
da defesa civil em nosso País.
Está encerrada a sessão.
8ª Reunião Ordinária,
Realizada em 30-4-87
Aos trinta dias do mês de abril do ano
de mil novecentos e oitenta e sete, às dez
horas e dezesseis minutos, na Sala "B-1"–
Anexo II da Câmara dos Deputados, reuniu-se
a Subcomissão da União, Distrito Federal e
Territórios, sob a presidência do Senhor
Constituinte Jofran Frejat, com a presença
dos seguintes Constituintes: Meira Filho,
Sigmaringa Seixas, Chagas Duarte, Felipe
Mendes, Francisco Carneiro, Marluce Pinto,
Geovani Borges, Mozarildo Cavalcanti, Paulo
Mincarone e Roberto Rollemberg. Havendo
número regimental, o Senhor Presidente
declarou iniciados os trabalhos e passou à
leitura da Ata da reunião anterior, que foi
aprovada por unanimidade. A seguir, deu-se
início ao Expediente que constou da
seguinte leitura: Correspondência recebida: 1)
Of. Nº SGC 103/87, de 15-4-87, do Presidente
da ANC, rementendo a sugestão nº 820; 2) Of.
Nº 0087/87-GABI, de 14-4-87, do Dr. Alfredo
Augusto Ramalho de Oliveira, Governador
Substituto do Território do Amapá,
cumprimentando pela instalação e eleição da
Mesa da Subcomissão; 3) Telegrama do Dr.
José Hugo Castelo Branco, Ministro da
Indústria e do Comércio, cumprimentando pela
instalação e eleição da Mesa da Subcomissão;
4) Carta do Constituinte Paulo Mincarone,
Segundo Vice-Presidente, congratulando-se
com o Presidente pela sua invetidura no cargo
e colocando-se à inteira disposição; 5)
Sugestão encaminhada pela Federação
Mineira de Jiu-Jitsu. 6) Of nº 66/87, de 28-4-
87, do Líder do PMDB na ANC, solicitando
fornecimento de atas das reuniões.
Correspondência Expedida: a) Pela
Presidência: 1) Of. Nº 205/87/PRES., de 28-4-
87, encaminhando ao Presidente da Comissão
de Organização do Estado atas das reuniões
de nº 01 a 06 desta Subcomissão; 2) Of. nº
206/87/PRES., de 29-4-87, devolvendo a
Sugestão nº 01 ao Presidente da Assembléia
Nacional Constituinte. b) Pela Secretaria: OF.
nº S-026/87, de 29-4-87, ao Chefe de Gabinete
da Liderança do PMDB, encaminhando cópias
as atas das reuniões de nºs 01 a 06 desta
Subcomissão. Findo o Expediente, o Senhor
Presidente deu início à Audiência Pública,
passando a palavra ao General Roberto
Pinheiro Klein, Secretário Especial de Defesa
Civil do Ministério do Interior, sendo inquirido
pelos Srs. Constituintes Francisco Carneiro e
Meira Filho. O inteiro teor dos trabalhos será
publicado, após a tradução das notas
taquigráficas e o competente registro
datilográfico, no Diário da Assembléia Nacional
Constituinte. Nada mais havendo a tratar, o
Senhor Presidente deu por encerrado os
trabalhos, às dez horas e cinqüenta e nove
minutos, convocando os Senhores
Constituintes para a próxima reunião a ser
realizada dia trinta de abril, às dezessete horas,
para Audiência Pública com a presença do Dr.
José Saulo Ramos, Consultor-Geral da
República e do Dr. Osny Duarte Pereira. E,
para constar, eu Antônio Fernandes Borges
Manzan, Secretário, lavrei a presente Ata que,
depois de lida e aprovada, será assinada pelo
Senhor Presidente. – Constituinte Jofran
Frejat, Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Havendo número regimental declaro aberta
esta reunião da Subcomissão da União,
Distrito Federal e Territórios. Sob a proteção
de Deus iniciamos nossos trabalhos.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, requeiro a dispensa
da leitura da ata.
(É aprovado o pedido de dispensa da
leitura da ata.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):–
Temos hoje a satisfação de receber
como expositor o Gen. Roberto Klein,
responsável pela defesa civil do Ministério
do Interior. Como este é um dos capítulos
dos itens estabelecidos da competência
da União, achamos por bem
tomar conhecimento do trabalho que vem
sendo desenvolvido nessa área trazendo
o assunto a debate para posterior avaliação,
a fim de podermos inserir no novo
texto constitucional medidas que visem
a facilitar, expandir e complementar
as necessidades dessa importante área,
a defesa nacional. Convidamos
o Gen. Roberto Klein a participar da mesa. S.
Ex.ª fará uso da palavra durante 20 minutos.
Comunico aos Srs. Constituintes que, após a
exposição, terão 3 minutos cada umpara
questionar e expor seus pontos de vista; o
relator, 5 minutos, e o expositor, 3 minutos,
para sua resposta a quaisquer das questões
apresentadas.
Com a palavra o Gen. Roberto Klein.
O SR. ROBERTO PINHEIRO KLEIN:
– Sr. Presidente, Srs. Constituintes, que
minhas primeiras palavras sejam para
expressar os agradecimentos, em meu
próprio nome e de todos quantos integram a
Defesa Civil, pela honra que nos concedem
os Srs. Membros desta Subcomissão da
União, Distrito Federal e Territórios, para lhes
dizer da necessidade, da organização, do
trabalho e da estrutura da defesa civil.
A Defesa Civil surgiu como uma
resposta imperativa, necessária e capaz de
atenuar os efeitos danosos sobre a
população, da destruição provocada pela
guerra, pelos fenômenos adversos da
natureza, e, mais recentemente, como
resultado do próprio avanço científico-
tecnológico, de ameaças sempre latentes de
vazamentos de produtos químicos de alto
risco e o de substâncias radioativas, entre
outras.
De sua importância e de sua ação
permanente basta que se atente para o que
diz o Centro de Treinamento Internacional de
Defesa Civil, em Genebra:
"A Defesa Civil é necessária nas
calamidades, imprescindível na guerra e útil
todos os dias."
Conceitua-se Defesa Civil como
sendo o conjunto de medidas que tem por
finalidade prevenir e minimizar, em situação
de guerra ou de paz, os riscos e perdas a que
estão sujeitos a população, os recursos e
bens materiais de toda natureza, por ação
inimiga ou em conseqüência de quaisquer
calamidades. Compreende, também, medidas
para reparar ou restaurar os serviços públicos
essenciais e preservar o moral da população".
Entendemos por calamidade pública,
a situação de emergência provocada por
fatores anormais e adversos que afetam
gravemente a comunidade, privando-a,
total ou parcialmente, do atendimento de
suas necessidades ou ameaçada a
existência ou integridade de seus elementos
componentes.
Dentre tantas calamidades públicas
que se têm abatido sobre muitas nações e em
diferentes partes do mundo, resultantes
de fenômenos da natureza ou da
responsabilidade do homem, basta que se
cite entre outras: os terremotos da Cidade do
México e em El Salvador, as secas da Etiópia
e na Somália, os vulcões na Colômbia, e as
enchentes na China, os vendavais nos
Estados Unidos, os vazamentos tóxicos em
Bophal na índia, e desastre do reator nuclear
de Chemobil, o incêndio no hotel Plaza em
Porto Rico.
Em nosso País, temos convivido com
duas calamidades que de há muito afligem
ciclicamente nossas populações: a seca e as
inundações e, mais recentemente; uma outra
adversidade, o terremoto que veio provocar
pânico na gente humilde de João Câmara e a
preocupar as nossas autoridades.
Tanto é assim que foi
organizada uma comissão para cuidar
exclusivamente do problema João
43 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
Câmara, assistindo àquelas populações. Essa
comissão é integrada por representantes de
vários Ministérios, sob a coordenação do
Ministério do Interior. Ela tem atuado
exaustivamente, em particular na recuperação
dos edifícios e casas danificados. A par disso,
deve ser criada por estes dias outra
subcomissão, exclusivamente técnica,
coordenada pelo Ministério de Ciência e da
Tecnologia, com representantes de vários
Ministérios, inclusive o nosso, o Ministério do
Interior, no sentido de estudar cientificamente o
fenômeno, verifi car sua dimensão e, tanto quanto
possível, dar diretrizes à defesa civil, visando, em
particular à melhor ordenação e orientação no
assentamento daquelas populações e, mais
ainda, verificar possíveis riscos, inclusive os
açudes existentes na proximidade da área onde
esses fenômenos estão ocorrendo.
A par disso, como calamidades por falhas
humanas, podemos citar, entre muitas, algumas
que estão ainda bem vivas em nossa
memória, inclusive pelo farto noticiário a respeito:
os incêndios nos edifícios Joelma e Andraus,
em São Paulo, o do Andorinhas no Rio, o
da Vila Socó, em Cubatão, provocado por
vazamento de oleoduto, além de um apreciável
número de acidentes ferroviários e rodoviários,
com maior ou menor número de vítimas
fatais.
A DEFESA CIVILNO BRASIL
Estrutura Legal.
Em nosso País pode-se dizer que a
Defesa Civil tem início, ou dela se tem notícia,
à época do Império, quando o segundo monarca
teve uma preocupação, pessoal e de
governo, com a sorte dos flagelados da seca do
Nordeste. No Ceará, ainda hoje, mais de
um século depois da seca de 1877, se diz que D.
Pedro II teria dito, emocionado, diante da situação
aflitiva das populações do sertão, que venderia
até a última jóia de sua coroa, mas não permitiria
que só um cearense morresse de fome. Já
naquela época se formava o embrião da Defesa
Civil.
À preocupação do nosso segundo
Imperador, se seguiram a de nossos
Congressistas que, a partir da primeira
Constituição republicana, já consignaram
destaque a providências do Estado quanto às
calamidades públicas, quando em seu art.
59 autorizado a Nação a prestar socorro ao
Estado que, em caso de calamidade pública, o
solicitasse. Estava preservada a autonomia
do Estado, mas a União se reservava o
direito de acorrer ao Estado em caso de
necessidade. Foi o início legal da assistência
às populações atingidas por fenômenos
adversos da natureza. A Carta de 1934
seguiu de perto o modelo da de
1891, entendendo caber à União: "organizar
defesa permanente contra os efeitos da seca
nos Estados do Norte". É interessante este
aspecto porque não se colocou a seca no
Nordeste, onde ela mais se verifica até hoje,
mas nos Estados do Norte. Existe um dado
importante na Constituição de 34, que é a
organização da defesa e o sentido permanente
que a ela se quis dar. A ênfase é exclusivamente
para a seca. A Carta de 1946 amplia
essa ação, quando atribui à União "organizar
defesa permanente contra os efeitos da
seca, das endemias rurais e das inundações".
Manteve a preservação permanente e a
defesa, mas se estendeu a defesa, além dos
efeitos da seca, às endemias rurais e
às inundações. Houve aí uma ampliação. A
Constituição vigente modifica ligeiramente este
tópico quando diz caber à União "organizar a
defesa permanente contra as calamidades
púbicas, especialmente a seca e as inundações".
Manteve o "organizar a defesa permanente",
trouxe a palavra "calamidade pública" da primeira
Constituição de 1891 e deu destaque e
especificou as secas e inundações.
Organização – Estruturalmente, a
Defesa Civi l começa a ter corpo com a
participação de nosso País na última
conflagração mundial, quando foi criado o
Serviço de Defesa Passiva Antiaérea, sob a
supervisão do Ministério da Aeronáutica, para um
ano depois ser transformado em Serviço de
Defesa Civil, su bordinado ao Ministério da
Justiça e Negócios Interiores. Isso em 1943.
Posteriormente recebeu o nome, como é
conhecido até hoje, de Defesa Civil. É a primeira
vez que surge esse nome, Defesa Civil,
substituindo o de Defesa Passiva Antiaérea,
subordinando-a ao então Ministério da Justiça e
Negócios Interiores. Com o desmembramento
subseqüente ficou no Ministério do Interior, onde
permanece até hoje.
Consubstanciando estudos que se
processaram no EMFA, na ESG e no Minter, por
Decreto nº 67.347, de 5 de outubro de 1970, é
criado o Grupo Especial para Assuntos de
Calamidades Públicas – Geacap, com a
participação de vários Ministérios e com a
finalidade de orientar e coordenar, em todo
Território Nacional, as atividades relacionadas à
prevenção das calamidades públicas, a
assistência às populações atingidas e à
recuperação das áreas flageladas.
Este grupo interministerial tem três
aspectos a considerar: a prevenção, a
assistência e a recuperação. Vale dizer, antes,
durante e depois da calamidade, com a correção
dos efeitos causados pela calamidade às
populações.
Um ano antes, o Decreto-lei nº 950 já
instituíra, igualmente, no âmbito do Ministério do
Interior, o Fundo Especial para Calamidades
Públicas – Funcap, destinado a atender as
populações atingidas pelas calamidades
públicas, quando reconhecidas oficialmente pelo
Governo Federal.
Há que haver o reconhecimento pelo
Governo Federal de que os recursos desse fundo
sejam destinados ao atendimento dessas
populações nas situações de calamidade. Ainda
hoje, a coisa se processa assim: o Município
verifica a situação, o Prefeito decreta o estado de
calamidade ou de emergência, essa situação é
ratificada pelo Governo do Estado e,
posteriormente, reconhecida pelo Governo
Federal, através de portaria do Ministério do
Interior. Com esse reconhecimento os recursos
são repassados para atender aquela situação
aflitiva.
O Decreto nº 83.839, de 13 de agosto de
1979, que dispõe sobre a estrutura básica do
Ministério do Interior, cria, no seu bojo, a
Secretaria Especial de Defesa Civil – Sedec com
a finalidade de exercer, em todo o Território
Nacional, a coordenação das atividades relativas
às medidas preventivas, assistenciais e de
recuperação dos efeitos produzidos por
fenômenos adversos de quaisquer origens, bem
como aquelas dest inadas a preservar o moral da
população e o restabelecimento da normalidade
da vida comunitária.
Há três aspectos, o preventivo, o
assistencial e o de recuperação, o bimensais – para acertar providências a
atendimento aos serviços públicos
essenciais e ainda o aspecto ligado dire -
tamente à psicologia das populações, elevando e
mantendo o moral.
O mesmo diploma legal cria, também, as
Coordenadorias Regionais de Defesa Civil –
Cordec, uma em cada Superintendência
Regional. Procurou-se, justamente, acoplar
essas coordenadorias regionais às
Superintendências já existentes. Assim, junto à
Sudene temos a Coordenadoria de Defesa Civil
do Nordeste; ligado à Sudam, a Coordenadoria
da Amazônia; à Sudeco, a Coordenadoria do
Centro-Oeste; à Sudesul, a Coordenadoria do
Sul, e junto à Serse, Secretaria Esp ecial da
Região Sudeste, com sede no Rio de Janeiro,
temos a Coordenadoria Regional de Defesa Civil.
As ligações dessas coordenadorias com a
Secretaria Especial de Defesa Civil são feitas
através de um canal técnico, já que
administrativamente elas se integram às próprias
Superintendências ou Secretarias Especiais,
como no caso da do Rio de Janeiro.
A esta estrutura federal se integram as
Coordenadorias Estaduais de Defesa Civil –
Cedec – uma em cada Estado e em cada
Território, e no âmbito municipal as Comdec –
Comissões Municipais de Defesa Civil,
implantadas em 2337 dos 4.168 Municípios
existentes, com destaque especial para Rio
Grande do Sul, que as tem em seus 244
Municípios, Santa Catarina em seus 199 e Acre
que as possui em seus 12 Municípios.
Desempenho da Defesa Civil.
Para que V. Ex.ª possam ter uma idéia
do que representa o trabalho desenvolvido pela
Defesa Civil, bastaria, cremos, lhes dizer que, no
período de 1979 a 1984, 5 anos, em favor das
populações flageladas pela seca no Nordeste,
foram uti lizados 5.300 carros-pipas no mês de
maior atendimento, setembro; mais de 3 milhões
de pessoas foram empregadas em frentes de
trabalho; chegamos a distribuir 30 milhões de
metros cúbicos de água no ano de maior
carência, o de 1983. Tudo isso ocorreu
exatamente naquele período de 5 anos de seca
no Nordeste.
Em favor das populações castigadas
pelas inundações no Sul e no Nordeste, alojamos
e alimentamos mais de meio milhão de
desabrigados nos anos 1979, 1983 e 1984. E
nos dois anos da atual administração de S. Ex.ª,
o Sr. Ministro Ronaldo Costa Couto, que hoje
está sendo encerrado, a Defesa Civil aplicou em
tomo de Cz$ 131.067.860,00 para amparo às
populações atingidas pelas secas: Cz$
1.287.305.780,00 para atendimento às
populações desalojadas pelas enchentes. A
soma é vultosa, porque grande parte desses
recursos foi usado para o atendimento a obras
de recuperação no plano urbano, no saneamento
básico, além de recuperação de casas
destruídas, em função das enchentes
ocorridas.
O campo de atuação da Defesa Civil
ampliou-se quando a Secretaria Especial de
Defesa Civil passou a integrar o SIPRON –
Sistema de Proteção ao Programa Nuclear
brasileiro. E nessa oportunidade, foi dada à
SEDEC, a responsabilidade de planejar e dirigir a
evacuação em segurança, o abrigo e a
alimentação das populações de Angra dos Reis e
de Parati, no caso de um acidente nuclear
que possa pôr em risco os
residentes nas proximidades da central
nuclear.
Vários Ministérios e organismos se
reúnem periodicamente – reuniões
serem tomadas – situação que nenhum de
nós deseja, mas é possível, embora
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
sua probabilidade seja baixa – em caso de esses recursos – o próprio Ministério injeta
acidente na Usina Nuclear de Angra dos Reis, novos recursos para o atendimento, ou para
que obrigue a retirada daquela população. serem usados pela Defesa Civil.
Esses cuidados e preocupações Então não há, até o momento, essa
aumentaram muito depois do que ocorreu, autonomia administrativa. É um sonho nosso.
como citamos, em Chernobil, há um ano, nas Existe a intenção de que a Secretaria seja
proximidades de Kiev, na União Soviética. estruturada e imaginamos que isso possa
Então, há toda uma gama de ocorrer. Por isso, nós nos sentimos
providências, que exigem permanentes profundamente sensibilizados com a gentileza
modificações e aprimoramentos para que do Presidente desta Subcomissão em nos
realmente funcione com eficiência e rapidez, distinguir com esse convite. Há anos os que
uma vez que se isso vier a ocorrer, e as vivem e servem a Defesa Civil esperam por
providências não tiverem sido adotadas com esta oportunidade de solicitar a apreciação
bastante antecedência, poderá haver deste assunto na nova Carta Constitucional,
problemas muito mais sérios do que as enfatizando não apenas o aspecto específico
próprias emanações radioativas que possam da seca ou das inundações, mas também
vir a se verificar. outros fenômenos. E nós, nordestinos,
Concluindo, Sr. Presidente e Srs. testemunhamos de perto o problema das secas
Constituintes, gostaria de enfatizar que a e até das inundações. Como cidadão de
Defesa Civil se constitui em valioso Aracati, conheço as inundações do rio
instrumento governamental, necessário à Jaguaribe. Achamos, portanto, que o problema
própria segurança nacional. Tem caráter da Defesa Civil tem mais abrangência. As
permanente, suas ações são indispensáveis secas, as inundações, fenômenos outros, como
em tempo de guerra e nas situações de paz. terremotos e os vazamentos nucleares tóxicos
A Defesa Civil articula-se nos três são preocupações nossas. Tudo isso conduz a
níveis de governo, federal, estadual e municipal, que se pense em dar um destaque maior à
e exige uma participação constante, total e Defesa Civil, usada universalmente em todo o
maciça da comunidade. A Defesa Civil tem mundo, com pequenas diferenças de
sua estrutura reconhecida por dispositivos denominação de um para outro país. Em
legais. Ela teve a sua ação maior ou menor alguns chama-se Proteção Civil, em outros
reconhecida e determinada nas nossas Defesa Civil.
Cartas Magnas da fase republicana. Mas imaginamos que, com este
Sr. Presidente, Srs. Constituintes, destaque emprestado na Constituinte, se
acreditando ter apresentado, em poucas seguiria a apresentação, ao Congresso
palavras, a situação atual da Defesa Civil no Nacional – Câmara e Senado de um
Brasil, ressaltando sua importância, anteprojeto de e l i, esboçado em 1981, que
esperamos que V. Ex.ªs a ela dispensem recebeu uma série de sugestões no sentido
destaques na nova Carta Constitucional. de, transformado em lei, estruturar legalmente
Renovamos nosso agradecimento pelo a Defesa Civil e verificar a viabilidade, a
honroso convite e rara oportunidade que nos conveniência e a necessidade de a própria
foi concedida, certos de que a organização e Secretaria, como órgão maior do sistema, ter
a operacionalidade da Defesa Civil, em seus recursos próprios, para geri-los em
qualquer país, acarretam dispêndio considerável função da emergência da situação.
de recursos, exigem a participação de todos Não sei se respondi a pergunta de V.
os cidadãos, empresas e governos, mas, em Ex.ª.
compensação, proporcionam à comunidade O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
segurança, paz e tranqüilidade. CARNEIRO: – Vou fazer apenas uma
Sr. Presidente, coloco-me a complementação. Entendi que a Secretaria
disposição para algum esclarecimento em pode, em casos de calamidades, como temos
resposta a eventuais perguntas que possam tido lá no Jaguaribe, e mesmo nas grandes
ser feitas. frentes de trabalho no Nordeste, movimentar,
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): de dois a três mil homens. Nessas ocasiões ela
– A palavra está franqueada aos Srs. precisaria de verbas especiais, ou esses
Constituintes. homens são requisitados para prestação de
Com a palavra o Constituinte serviço cívico? Como funciona isso? A
Francisco Carneiro. Secretaria não pode manter um quadro de
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO pessoal a nível de atender a essas crises que
CARNEIRO: – Em primeiro lugar, quero ocorrem. Então nessa ocasião ela teria de
parabenizar o conterrâneo pela exposição, requisitar muita gente, dando orientação rápida,
embora sucinta, mas inteiramente esclarecedora, para prestarem esse serviço. Como seria isso?
de assunto que eu desconhecia totalmente. O SR. ROBERTO PINHEIRO KLEIN:
Pergunto a V. Sª se a Defesa Civil, – Eu voltaria a explicar o seguinte: realmente
através da Secretaria, tem dotação própria? a nível federal temos a Secretaria e as
Corno é feita a manutenção dessa Secretaria Coordenadorias. O número de servidores
e de todo seu staff? De onde provêm esses nossos é muito limitado, mas, no caso do
recursos? Como funciona a parte de Nordeste – só para especificar – que tem a
manutenção? Superintendência do Desenvolvimento do
O SR. ROBERTO PINHEIRO KLEIN: Nordeste, Sudene, para que V. Ex.ª tenha
– Agradeço a V. Ex.ª a oportunidade das uma idéia, a nossa Coordenadoria tem
perguntas. Diria que a Secretaria não tem dezenove pessoas trabalhando. Mas numa
autonomia administrativa. Ela está inserida no situação de emergência como a que vivemos
bojo, do Ministério do Interior. Apenas a partir naquele período de cinco anos de seca, ou no
deste ano foi destinado à Secretaria recursos caso das inundações, o que acontece é que a
no valor de cem milhões de cruzados para própria estrutura da Sudene, quase como um
aplicação em atendimento às necessidades todo, passa a viver aquele fenômeno junto
emergenciais. com a Defesa Civil.
Este seria o ponto de partida. A par disso, as coordenadorias
De acordo com a necessidade estaduais e as municipais
– que já ultrapassara de muito também se articulam, em favor das
44
populações atingidas. Então, não há essa
necessidade maior de um quadro muito
grande de pessoal, vez que ele se multiplica
com a ajuda de todas as entidades, sejam
públicas ou privadas, a nível municipal, o mais
atingido e o que vai realmente executar a
ação mais de perto. Em seguida vem a ajuda
do Estado, para depois entrar a União.
Quanto à questão dos recursos, as
providências são imediatamente tomadas, a
ação realizada, independente dos recursos
destinados e alocados a Posteriori. Nunca
houve uma demora por causa de recursos
não repassados. A ordem é dada, a
providência é adotada e os recursos seguem
em seguida por verbas suplementares ou o
que seja.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Sr. Constituinte Meira
Filho.
O SR. CONSTITUINTE MEIRA
FILHO: – Antes de mais nada, parabéns, sr.
expositor, por nos subsidiar também nessa
parte que diz respeito à Defesa Civil.
Tenho acompanhado muitas dessas
situações, pelo rádio. Sou homem de
comunicação, como V. Sª sabe e às vezes
fico curioso em saber como se faz a
convocação de pessoal, no caso de uma
calamidade, de um desastre imediato. Se a
Defesa Civil não tem centro de treinamentos,
como pode assistir a essas calamidades, a
esses acontecimentos? Como é feito isso? É
apenas questão de sensibilizar a população?
Vamos, por exemplo, o Exército, a
Aeronáutica, a sociedade civil de maneira
geral participando. Como é feita essa
convocação, essa mobilização? Existe um
período de treinamento? As Forças Armadas
treinam, o Corpo de Bombeiros treina, a
Polícia treina, na escola também treinam?
Enfim, há estágio para tudo, então, como é
feito isso?
O SR. ROBERTO PINHEIRO KLEIN:
– Nobre Constituinte Meira Filho, muito grato
a V. Ex.ª pela pergunta que nos faz.
Realmente não temos, até o
momento, centros de treinamento para isso.
Mas tanto sentimos essa necessidade que já
há estudos para instalação de dois centros de
treinamento, um no Nordeste, na cidade de
Recife, voltado mais especificamente para as
pessoas que lidam com a seca, e outro em
Florianópolis, no
Estado de Santa Catarina, com vistas às
inundações.
Como é feita essa convocação em
caso de necessidade? Os Estados, como
afirmei, têm suas coordenadorias estaduais,
cujo coordenador varia muito de Estado para
Estado. No Ceará, por exemplo, é o Secretário
da Agricultura; no Rio Grande do Norte,
o Secretário do Interior e da Justiça; no
Rio de Janeiro há uma Secretaria Especial de
Defesa Civil; em São Paulo, o chefe da
Casa Militar do Governador; em Pernambuco,
um oficial de bombeiros, subordinado à Casa
Militar. Então, há uma pequena estrutura,
uma pequena cabeça de Defesa Civil no
Estado que usa todos os seus elementos,
todas as Secretarias, em caso de emergência.
Os bombeiros, no entanto, são os mais
utilizados nessas emergências, principalmente
nos casos de incêndios e de inundações.
Com relação às secas do Nordeste, a
estrutura testada e reconhecida da
Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste dá um sentido mais efetivo
e mais eficiente a esses casos. La-
45 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
mentavelmente, até o presente, não temos
esses centros, que seriam de grande
importância, quando mais não fosse, para
uniformizar conhecimentos e assegurar
providências efetivas em casos de
necessidades.
Pretendemos e torcemos para que
isso, em breve, venha a ocorrer.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Gostaria de fazer uma colocação, antes de
nosso convidado finalizar sua exposição, sobre
a preocupação que tem esta Presidência com
o que está escrito hoje como competência da
União em relação à Defesa Civil.
Nós, muito freqüentemente, temos o
hábito de só nos preocuparmos com os fatos
depois que eles ocorrem. Ninguém, imagina
que vai atravessar uma rua e vai ser
atropelado. Isso acontece com os outros,
conosco não. Ninguém imagina que amanhã
terá um enfarte e que precisará ir a um
hospital, como não se acredita que ocorra um
terremoto aqui em Brasília, ou uma
calamidade em qualquer região do País. Esse
fato mostra a imprevisibilidade da catástrofe e
da necessidade de ação da Defesa Civil.
À época em que eu era Secretário de
Saúde, aqui no Distrito Federal, muito
freqüentemente me perguntavam por que se
mantinham tantos médicos de plantão,
quando às vezes não havia movimento para
atendimento emergencial. E a resposta era
simples, principalmente aos órgãos
governamentais, quando não queriam
contribuir com sua parcela de recursos para
manter esses profissionais em atendimento
permanente. A alegação que dávamos durante
esses episódios, era a seguinte: em Brasília,
nesta última semana, ou neste último mês,
não houve nenhum incêndio que precisasse
do trabalho do Corpo de Bombeiros. Se o
raciocínio é esse, então por que não fechar o
Corpo de Bombeiros, já que não houve
incêndios? A imprevisibilidade transcende a
tudo, exatamente por ser imprevisível. Não se
pode colocar verbas definidas num programa
de defesa civil, porque não se sabe o
momento em que vai haver uma calamidade.
Como também não se pode dispensar as
pessoas que trabalham nessa área ou que
estão dispostas a trabalhar simplesmente
porque não está prevista nenhuma
calamidade para o Nordeste ou para o Sul.
Então, gostaria de chamar a atenção
dos meus companheiros Constituintes para
esse fato, que me parece da maior importância,
e que pode ter uma conotação pessoal. O fato
de não estarmos vendo a calamidade todo dia
nos distancia muito do problema. Em geral,
tendemos a encostá-lo, como um problema de
segunda importância. Mas, de fato, durante a
calamidade, particularmente quando temos
alguém querido nela envolvido, é quando
valorizamos o trabalho desses profissionais.
Gostaria de passar a palavra ao Sr.
Roberto Pinheiro Klein para que conclua sua
exposição.
O SR. ROBERTO PINHEIRO
KLEIN: – Sr. Presidente, complementando
a resposta à pergunta primeira do Constituinte
Francisco Carneiro, gostaria de dizer
que em nossa exposição realmente
julgamos que não deveríamos mencionar
o modo, a maneira de tratar a Defesa Civil
na nova Carta Constitucional, que é
trabalho diuturno dos Srs. Constituintes. Mas
eu me permitiria, e peço vênia a V. Ex.as,
deixar aqui, nesta brilhante Subcomissão,
como contribuição de estudos realizados
por todos nós e, em especial pelo nosso setor
jurídico, uma proposição relativa à maneira de
encarar esse problema. Recebam-na, por
gentileza, apenas como subsídio
despretensioso, mas com a nossa vontade de
que o assunto seja encarado como tenho
certeza o será. Propomos duas maneiras de
inseri-lo na Constituição, já que nas anteriores
ele sempre compete à União: organizar a
defesa permanente, enfocando a seca e as
inundações. Acreditamos ter traduzido nosso
desejo a V. Ex.as, no sentido de que ela seja
mais abrangente. Então, nossa sugestão é
para que justamente no capítulo da
competência da União, no artigo que diz:
"compete à União...", em vez de dizermos: "...
organizar a defesa permanente quanto aos
efeitos das secas e inundações", que se diga:
"... planejar, promover e integrar a Defesa
Civil em todo o território nacional".
Apresentamos inclusive uma justificativa para
essa proposição. A outra maneira de fazê-lo:
no artigo que trata da competência da União,
no seu inciso XVII, que diz: "legislar sobre...",
que se inclua "... a instituição e organização
da Defesa Civil", limitando ou não esta
expressão e aproveitando o parágrafo único
para nele inserir aquilo que permite uma
legislação suplementar por parte dos Estados,
dos assuntos legislados pela União, ou seja, a
letra que corresponde a esse aspecto que
estamos propondo, qual seja, de legislar
quanto à Defesa Civil, no que diz respeito à
sua instituição e organização, que seria a letra
x.
Peço a V. Ex.as mais uma vez que
recebam isso exclusivamente como um
subsídio despretensioso, uma idéia nossa,
agradecendo a gentileza imensa que
tiveram para conosco, que vivemos a Defesa
Civil.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Não mais havendo quem queira se
manifestar, dou por encerrada a sessão,
lembrando que teremos reunião hoje, às
17:00hs, com a presença do Consultor-Geral
da República, Dr. Saulo Ramos, e do Jurista
Osni Duarte Pereira.
Muito obrigado a todos.
Está encerrada a sessão.
Termo de Reunião
Aos trinta dias do mês de abril de mil
novecentos e oitenta e sete, a Subcomissão
da União, Distrito Federal e Territórios deixou
de realizar a reunião prevista para as
dezessete horas, por falta de número
regimental. Compareceram os Senhores
Constituintes: Felipe Mendes, Paulo Micarone,
Geovani Borges, Meira Filho, Mozarildo
Cavalcanti, Jofran Frejat, Marluce Pinto,
Francisco Carneiro e Sigmaringa Seixas, e os
expositores José Saulo Ramos; Consultor-
Geral da República e Osny Duarte Pereira.
Eu, Antônio Fernando Borges Manzan,
Secretário, lavrei o presente termo que vai à
publicação.
9ª Reunião Ordinária,
Realizada em 4-5-87
Aos quatro dias do mês de maio
do ano de mil novecentos e oitenta e sete,
às dez horas e dez minutos, na Sala "B1"
– Anexo II da Câmara dos Deputados,
reuniu-se a Subcomissão da União,
Distrito Federal e Territórios, sob a presi-
dência do Senhor Constituinte Jofran Frejat,
com a presença dos seguintes Constituintes:
Ruben Figueiró, Sigmaringa Seixas, Annibal
Barcellos, Chagas Duarte, Felipe Mendes,
Francisco Carneiro, Geovani Borges, Marluce
Pinto, Mozarildo Cavalcanti, Vilson Souza,
Ottomar Pinto, Carrel Benevides. Havendo
número regimental, o Senhor Presidente
declarou iniciados os trabalhos e passou à
leitura da Ata da reunião anterior, que foi
aprovada por unanimidade. A seguir, deu-se
início ao Expediente que constou da seguinte
leitura: Correspondência recebida: 1) Of.
CNTI nº 02131, de 23-4-87, da Confederação
Nacional dos Trabalhadores da Indústria
congratulando-se com a instalação e eleição
da Mesa da Subcomissão; 2) Of. nº
00100/CAP/GM/MINC, de 15-4-87, do Sr.
João Ribeiro de Oliveira, Coordenador de
Assuntos Parlamentares do Ministério da
Cultura, cumprimentando, em nome do Sr.
Ministro, pela instalação e eleição da Mesa da
Subcomissão; 3) Telegrama do Ministro
Aureliano Chaves, das Minas e Energia,
cumprimentando pela instalação e eleição da
Mesa da Subcomissão; 4) nº 001/87, do Sr.
José Matos Mozar Rodrigues, Presidente
Regional da Associação Brasileira dos
Detetives Profissionais Particulares,
Supervisores, Inspetores e Agentes de
Segurança – ADPESIAS, encaminhando
sugestões; 5) Of. nº SGC/127/87, de 23-4-87,
do Presidente da ANC, encaminhando as
sugestões nos 0974, 1.029, 854, 867 e 857
(Recebido na Subcomissão em 30-4-87).
Correspondência expedida: 1) Of. nº
207/87/PRES., encaminha ao Presidente da
Comissão de Organização do Estado cópias
de todas as sugestões recebidas por esta
Subcomissão; 2) Of. 208/87/PRES., de 30-4-
87, devolvendo ao Presidente da ANC o ofício
nº 079/87 que encaminha a sugestão nº 688 a
esta Subcomissão. Findo o Expediente, o
Senhor Presidente deu início à Audiência
Pública, passando a palavra ao Dr. Getúlio
Alberto de Souza Cruz, Governador do
Território Federal de Roraima, sendo inquirido
pelos Srs. Constituintes Ottomar Pinto, Ruben
Figueiró, Mozarildo Cavalcanti, Annibal
Barcellos, Chagas Duarte, Marluce Pinto,
Geovani Borges e Carrel Benevides.
Terminados os debates o Senhor Presidente
passou a palavra ao Dr. Raimundo Azevedo
Costa, Prefeito de Macapá, sendo inquirido
pelos Srs. Constituintes Felipe Mendes,
Ottomar Pinto, Geovani Borges, Mozarildo
Cavalcanti, Chagas Duarte, Annibal Barcellos,
Marluce Pinto e Vilson Souza. O inteiro teor
dos trabalhos será publicado, após a tradução
das notas taquigráficas e o competente
registro datilográfico, no Diário da
Assembléia Nacional Constituinte . Nada
mais havendo a tratar, o Senhor Presidente
deu por encerrados os trabalhos, às treze
horas e dezoito minutos, convocando os
Senhores Constituintes para a próxima
reunião a ser realizada dia quatro de maio, às
dezessete horas, para Audiência Pública com
a presença do Dr. Sílvio Sebastião de Castro
Leite, Prefeito de Boa Vista e Dr. Wadner
Moreira Cavalcante, Presidente da OAB de
Roraima. E, para constar, eu, Antônio
Fernando Borges Manzan, Secretário, lavrei a
presente Ata que, depois de lida e aprovada,
será assinada pelo Senhor Presidente. –
Constituinte Jofran Frejat, Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran
Frejat): – Havendo número regimental,
declaro abertos os trabalhos
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
a reunião da Subcomissão da União, Distrito
Federal e Territórios.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, requeiro a dispensa
da leitura da Ata.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Solicitação concedida.
Hoje temos a presença do
Governador do Território de Roraima, Dr.
Getúlio Alberto de Souza Cruz, a quem peço a
honra de compor a Mesa. S. Ex.ª será o
primeiro expositor da manhã, e adiantamos
aos Srs. Constituintes que ele disporá de vinte
minutos para usar da palavra, enquanto cada
um dos Srs. Constituintes terá três minutos
para formular suas questões. O Relator terá
cinco e o expositor, três minutos para suas
respostas às questões apresentadas.
Concedo a palavra ao Dr. Getúlio
Alberto de Souza Cruz, Governador do
Território de Roraima.
O SR. GETÚLIO ALBERTO DE
SOUZA CRUZ: – Sr. Presidente desta
Subcomissão, Sr. Relator e Srs. Constituintes,
quero, inicialmente, agradecer a gentileza do
convite que me fizeram para prestar um
depoimento aos Srs. Constituintes sobre a
questão dos Territórios, particularmente do
Território de Roraima.
O SR. CONSTITUINTE GEOVANI
BORGES: – (Intervenção fora do microfone –
inaudível)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Atendendo à questão de ordem do
ilustre Constituinte Geovani Borges, convido
o Sr. Prefeito de Macapá a fazer parte da
Mesa.
O SR. GETÚLIO ALBERTO DE
SOUZA CRUZ: – Em primeiro lugar, não é
necessário dispor do tempo precioso dos Srs.
Constituintes para falar sobre o potencial
econômico de Roraima, já por demais
conhecido: região com vinte e três milhões de
hectares de campos relativamente férteis,
com uma localização geoeconômica
fantástica. Prefiro focalizar um ponto que
considero essencial: a discussão dos meios
pelos quais podemos tornar efetivamente
riqueza, do ponto de vista econômico, esse
grande potencial não só de recursos naturais
e minerais, como também da localização
geoeconômica do Território Federal de
Roraima. Gostaria de colocar uma questão
que me parece básica e que deve ser o fulcro
das preocupações dos Srs. Constituintes.
Trata-se dos recursos necessários
despendidos pela União com a finalidade de
manter uma Unidade federada chamada
Território ou, em contrapartida, dos recursos
que serão despendidos se essa Unidade
federada, o Território, for transformada em
Estado. Pela experiência que acumulamos ao
longo de alguns anos militando na vida
pública do Território, arriscamo-nos a afirmar
que a permanência de Roraima como
Território terá como conseqüência principal o
prolongamento, por tempo indeterminado, da
dependência que essa Unidade federada
chamada Território tem com relação à União,
porque, para que uma região possa
materializar sua riqueza em bens e serviços,
necessita de mecanismos que possam
potencializar essa riqueza. Apesar de todo o
vasto estoque de recursos natural e minerais
existentes em Roraima, hoje é impossível
criar-se mecanismos para que esse potencial
de riqueza possa ser explorado, por algumas
razões: apesar de a Constituição consagrar os
Territórios Federais como Unidades da
Federação, lei ordinária, especificamente o
Decreto-lei nº 411, equiparou-os, para fins de
supervisão administrativa, a autarquia,
tolhendo-lhes todos os mecanismos que
poderiam promover seu desenvolvimento.
Entre outras coisas, gostaria de citar, por
exemplo, a gestão dos recursos fundiários,
nosso maior patrimônio. O Território de
Roraima, na sua totalidade, incluindo as
zonas urbana e rural, é jurisdicionado pelo
INCRA ou pelo Serviço de Patrimônio da
União. Ora, não dispondo os Territórios da
prerrogativa de gerir seus recursos fundiários,
não podem, portanto, usá-los a serviço do seu
desenvolvimento. Não há como promover
programas de colonização racionais, não há
como atrair investimentos, quer industriais,
quer rurais, pelo simples fato de que para ser
alienado um terreno urbano, precisa o seu
processo tramitar pela área burocrática do
Ministério do Interior, subir à aprovação do
Ministro desta Pasta e passar, ainda, pelo
crivo de um chamado Conselho Territorial,
que sequer tem estrutura para prestar esse
serviço. Para que V. Ex.as tenham uma idéia,
só Boa Vista tem hoje cadastrados cerca de
trinta mil terrenos urbanos. Não há como
gerenciá-los, porque o Governo Municipal e o
Governo Territorial não podem deles dispor.
Por outro lado, na questão da política
tributária, nosso Código Tributário é o do
Distrito Federal. Assim, falta-nos mais esse
mecanismo para promover e atrair
investimentos para Roraima, gerando situações
extremamente desconfortáveis o fato de que
nosso ilustre Governador do Distrito Federal
José Aparecido de Oliveira, pode legislar sobre
Roraima. Com todo o respeito que tenho por
este Governador, ele é tão biônico quanto o
Governador de Roraima. Por outro lado, esse
tolhimento continuado da ação administrativa
dos Territórios cria também dificuldades e
óbices na promoção do desenvolvimento de
Roraima, pelo peso do Poder Público. Assim,
não pode o Governo sequer responder às
demandas mais elementares da população,
por faltar-lhe o instrumento resposta. Vou dar-
lhes um exemplo: podemos construir escolas,
hospitais, postos médicos – e já o fizemos em
grande quantidade ao longo do Território –
mas, lamentavelmente, essas escolas – só no
nosso Governo construímos vinte e quatro
novas unidades – não têm diretor, vice-diretor,
supervisor e, sequer, professores, porque não
podemos contratá-los.
Imaginem, Srs. Constituintes, a
situação de um governador que vê a
população estudantil aumentar em oito mil
alunos, como aconteceu de 86 para 87, e não
tem condições de solucionar esse aumento da
demanda da população estudantil porque não
pode nomear um diretor de escola. Para isso
ele precisa ter a audiência e a autorização do
Sr. Presidente da República. Em alguns
casos, como no da criação de cargos, tem de
haver autorização do Congresso Nacional.
Ora, na medida em que nos faltam
instrumentos para promover o perfeitamente – aos desafios da população.
desenvolvimento econômico daquela região,
ou seja, na medida em que não temos
instrumentos, quer pela ação do Poder
Público, quer pela boa gerência dos recursos
fundiários e da política tributária, o processo
de letargia e de atraso sócio-econômico dos
Territórios tende a persistir se permanecerem
esses fatores restritivos. E, em persistindo
o marasmo que campeia nas estruturas
sócio-econômicas do Território, ampliar-
se-á o dispêndio da União com a manu-
46
tenção dessa unidade federada. Isto se deve
ao crescimento constante da população muito
embora no nosso Governo, particularmente,
não tenhamos estimulado a migração. Os
brasileiros lá aportam, premidos pela estrutura
fundiária existente em outras regiões do País,
como também pela escassez, cada vez maior,
de terras no Estado de Rondônia.
Por outro lado, além da persistência e
da futura ampliação dos gastos da União com
a manutenção do Território enquanto unidade
federada, os Territórios Federais, do ponto de
vista político, são praticamente ingovernáveis,
por uma razão muito simples: satisfazendo o
anseio justo dos habitantes dos Territórios de
Roraima e, possivelmente, do Amapá,
cidadãos que, como quaisquer outros,
mourejam em outras regiões do País, hoje
temos oito prefeitos, no caso de Roraima,
inclusive o da Capital, ungidos pela vontade
do povo, que convivem com governadores
nomeados, biônicos. Isso traz dificuldades
não só para os prefeitos, que se subordinam à
questão financeira, pela depauperação
financeira dos municípios, mas sobretudo
desconforto à ação do Governo, gerando, em
conseqüência, a intranqüilidade e a
instabilidade, que impedem a implementação
da política administrativa e econômica. Isso
cria também uma dificuldade para o próprio
governador implementar mudanças
fundamentais para que possamos promover o
desenvolvimento econômico. Sentimos isso
diuturnamente.
Por outro lado, gostaria de trazer à
consideração dos Srs. Constituintes a
questão, no meu entender muito mal
interpretada, da transformação do Território
em Estado, por se pensar, à primeira vista,
que isto exigirá o dispêndio de enorme massa
de recursos pela União.
Gostaria de colocar alguns pontos
para reflexão. Em primeiro lugar, alguns
serviços, quer do Poder Judiciário, quer do
Poder Executivo ou do Poder Legislativo,
terão de ser custeados seja pelo Território,
seja pelo Estado. Não podemos negar à
população de Roraima o direito a ter uma
Justiça operosa pelo simples fato de
habitarem um Território. O Poder Executivo,
com seus programas de desenvolvimento,
terá de arcar com o ônus do Território ou do
Estado. Desta forma, se a classe política
estiver consciente da sua responsabilidade, o
acréscimo da despesa que será gerada para
a União com a transformação do Território em
Estado será relativamente residual. Senão,
vejamos: o Poder Executivo, no caso de
Roraima – e aqui me refiro particularmente a
Roraima – está praticamente completo. Com
algumas alterações que podem ser até de
forma, teremos um Poder Executivo capaz de
responder aos desafios da população. Não se
precisaria empregar mais ninguém, não
necessitaríamos criar secretarias em demasia
nem empresas públicas. Estas últimas, num
Território, respondem – e podem fazê-lo
Por outro lado, o Poder Judiciário a
ser criado com relação às despesas da União,
é particularmente o de segunda instância,
pois o de primeira instancia já existe. Lá já
existem juízes mantidos pela União. Portanto,
algumas despesas seriam criadas para o
Estado, até porque hoje, no caso de Roraima
– volto a repetir – o prédio onde funciona o
Poder Judiciário é de propriedade do Governo
do Território; setenta por cento dos
funcionários dos cartórios são do Governo,
47 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
colocados à disposição do Poder Judiciário; a
manutenção de água, luz, telefone, transporte
e até de residências de juízes é feita pelo
Governo do Território. De maneira que até o
prédio para o Tribunal de Justiça já estaria
construído. Resta – e isso é verdade – um
crescimento marginal de despesa decorrente
da criação do Poder Legislativo. Imagino que
valeria a pena o povo de Roraima gastar 5 ou
8% do seu orçamento na manutenção do
Poder Legislativo e do seu auxiliar, que seria
o Tribunal de Contas, a fim de que disponham
de um órgão fiscalizador, mas legitimado pelo
voto popular, das ações de Governo. Por isso,
buscando repassar as idéias aqui expostas,
defendemos mudanças nas estruturas
jurídico-institucionais dos Territórios.
Pelas razões apresentadas, a não
transformação do Território de Roraima em
Estado significará manter por muito mais
tempo sua dependência à União e até a
ampliação desta dependência. Politicamente,
é inconcebível a convivência de um
governador nomeado com prefeitos eleitos,
como o é também retirar do povo o direito de
escolher seus governantes. O custeio dessas
transformações não é tão alto quanto possa
parecer à primeira vista, sobretudo se nós, da
classe política, estivermos conscientes da
nossa responsabilidade, não gerarmos
empreguismo e "marajás". Assim, o Estado
poderá ser criado com despesas
relativamente pequenas.
O povo do Território de Roraima não
aceita mais esta convivência. A própria classe
política de Roraima tem um consenso com
relação a essa necessidade até porque
sentimos na pele o sofrimento do povo, a
dificuldade da classe política em gerir a coisa
pública, a falta de alternância no poder e,
principalmente, a continuidade administrativa.
Roraima a uma sucessão de crises
administrativas. Não ungidos pelo voto do
povo, os Governos dos Territórios, antes da
Revolução de 1964 e depois da Nova
República, e especialmente agora, são ungidos
por acordos políticos. E, evidentemente,
nesses acordos há grupos satisfeitos e
insatisfeitos. Isso gera um processo de
instabilidade muito grande. Na história política
e administrativa de Roraima poucos foram os
governadores que completaram seu período
de administração sem acidente de percurso.
Para se transformar Roraima em
Estado é necessário contrariar interesses que
se situam exatamente na elite que faz os
acordos. Neste caso, é muito difícil promover-
se qualquer processo de mudança. Assim,
não sendo, o governador não pode propor um
programa de desenvolvimento, porque não
sabe quanto tempo terá para implementar as
mudanças necessárias. Ele não sabe de
quanto tempo vai dispor para gerir e executar
projetos que, às vezes, extrapolam em muito
o período presumível do seu governo e são,
por vezes, abandonados pela metade, com
um dispêndio imenso de recursos,
significando enormes desperdícios. E isso
sem contar o fato de que vários governadores
se sucederam desde a criação do Território,
porque, por vezes, muito antes de se mudar o
governador, o governo já está
desestabilizado, já há um novo governo, que
fica sem condições de implementar medidas.
É este o esboço geral das nossas
idéias. E repetimos que falar sobre o
potencial econômico de Roraima nos
parece desnecessário: tempos um território
de 23 milhões de hectares, alternando
entre a floresta densa da Amazônia, os
campos limpos do nosso lavrado, as áreas
montanhosas da nossa zona de fronteira, com
minério de ouro, ferro, cassiterita, diamante, e
uma pecuária que, se estimulada e com
mecanismos razoáveis, poderia servir de
alternativa às pecuárias brasileira e da
Amazônia, sem destruir meio ambiente.
Sua localização é estratégica, pois
estamos ligados, muito de perto, à Venezuela
e, por extensão, ao Caribe. Eu mesmo estive
visitando a Venezuela, a convite oficial do
Governador do Estado de Bolívar, ha mais ou
menos um mês, e pude constatar o potencial
lá existente. A Venezuela, na região em que
faz fronteira com o Brasil, promove hoje o
desenvolvimento principalmente de indústrias
básicas de ferro e alumínio, e possui um
mercado amplo para os produtos agrícolas e
manufaturados, especialmente no que se
refere à industria leve. Roraima pode ser o
grande corredor de exportação do parque
industrial de Manaus, bastando que se
resolvam alguns problemas fundamentais.
Roraima pode ser um Estado pujante,
desde que resolvamos a questão dos
transportes, com as opções hidroviária
e rodoviária, com o asfaltamento da BR
– 174, desde que equacionemos o sério
problema da energia elétrica, que pode
nos levar ao caos. Temos uma empresa
de energia elétrica que acumula um déficit
anual de 150 milhões de cruzados,
porque a energia térmica é muito cara. O
nosso parque gerador este defasado,
quebrado, pois as máquinas são da década
de 50.
E, para que a classe política e o povo
de Roraima possam dispor de mecanismos de
promoção do desenvolvimento, sobretudo da
gerencia de seus recursos fundiários, quer
urbanos, quer rurais, da sua política tributária,
enfim, dos instrumentos de atração de
investidores e colonos, é preciso que Roraima
possa atrair pessoas de outras áreas, sem
reproduzir o quadro de miséria das outras
regiões.
Quero encerrar, reiterando meu
agradecimento pelo convite formulado e
fazendo um apelo aos Constituintes para que
levem em conta – como já tem feito – um
aspecto: o povo que vive em Roraima é tão
brasileiro quanto aquele que mora em outras
regiões do País. Não podemos nos esquecer
daquela população que cresce a olhos vistos,
até para não reproduzirmos erros ocorridos
em Rondônia, que era um caos quando foi
transformada em Estado. Esse povo espera
receber, desta Constituinte, os instrumentos
de autonomia política, de promoção do
desenvolvimento, porque todos achamos
que temos direito ao desenvolvimento.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Muito obrigado, Sr. Governador.
Estão abertos os debates. Com a
palavra o Constituinte Ottomar Pinto.
O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR
PINTO: – Sr. Presidente, Sr. Governador, Srs.
Constituintes, estamos no mesmo barco da
transformação dos Territórios em Estado.
Entendemos que o Território é uma instituição
dos regimes ditatoriais, nasceram durante a
guerra, em 1943, para atender a
circunstâncias de ordem estratégica.
Já quando aqui falamos a técnicas utilizadas na Índia, em países de
esta Subcomissão, enumeramos uma
série de razoes pelas quais acreditamos
ter justificada a necessidade impe-
riosa dessa transformação o mais rápido
possível. Mas gostaria de fazer algumas
perguntas, ao Governador de Roraima,
relacionadas com aspectos que, se não forem
implementados, irão amortecer a velocidade
do Território em direção à sua transformação
em Estado. A grande indagação e dúvida que
se levanta nos espíritos de muitos dos nossos
Constituintes é com relação ao poder
econômico do Território para enfrentar os
encargos adicionais decorrentes da conquista
da sua autonomia como Estado. E temos
enfatizado que os territórios tiveram uma
marcha vigorosa na direção desses objetivos.
Por isso é que acho oportuno este encontro
aqui, para aviventar certas lembranças com
relação a aspectos da macroeconomia e da
macroestrutura do Território que precisam ser
enfrentados para que ele possa realmente
não se constituir em um grande caos
econômico e social quando for transformado
em Estado.
Por exemplo, nobre Governador, há o
problema, a que V. Ex.ª se referiu, da energia
elétrica. Havia um projeto, muitos anos atrás,
para a construção de uma hidrelétrica no Alto
Cotingo, na região das serras, que teria
potencial para energizar uma parte
significativa do Território e, se houvesse
algum excedente de produção, ele seria
vendido à Venezuela e à Guiana.
Pela descontinuidade administrativa,
que foi bem enfatizada pelo Governador, esse
projeto, que já estava nas publicações da
Eletrobrás, já fazia parte do Projeto Dois Mil,
da Eletrobrás, já possuía uma mobilização de
recursos, foi desativado, para beneficiar uma
outra iniciativa no rio Mucajaí.
E aí temos um telex que a empresa
construtora mandou para o Governo do
Território, a funde que ele reforçasse a sua
postulação de recursos junto ao Ministro do
Interior, e esse telex diz que o potencial da
futura hidrelétrica do Paredão é de 13.500
MW, quando, hoje, Boa Vista já ultrapassa 15
MW, e, daqui a três, quatro ou cinco anos,
quando essa hidrelétrica estiver pronta –
porque seu cronograma de construção é de
36 meses, e não começou ainda, não se sabe
quando vai começar – isso pode estar muito
longe.
De modo que a construção de
Paredão implicaria a manutenção do parque
térmico velho, sucateado, de trinta e tantos
anos de existência, quase quarenta, na capital
do Território. Isso significaria que a população
do Território sofreria as agruras da falta de
energia; mais ainda, a impossibilidade de
eletrificação rural, porque os recursos federais
só são alocados para esse fim na vigência de
energia gerada por hidrelétrica.
O segundo caso também diz respeito
a outro aspecto enfocado pelo nosso
Governador; é o dos transportes pela aquavia.
Durante a nossa administração,
encomendamos um projeto – um estudo
enviado à área econômica – de
navegabilidade para o rio Branco. Foi definida
uma embarcação-tipo. O melhor laboratório
privado do Brasil, o Saturnino de Brito, do Rio
de Janeiro, que faria o projeto, foi responsável
pelo modelo reduzido de Tucuruí, de Três
Marias e de muitos projetos hidroenergéticos
de navegação exitosos no Brasil.
Pois bem, esse projeto assimilava
recursos escassos. O que era isso? Fazem
painéis de fundo ao longo do detectado
canal do rio, porque o rio é extrema-
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 48

mente arenoso, pelo continuado processo de
assoreamento. Então, esse painel de fundo
seria feito com madeira das margens do rio e,
nos lugares de corredeiras, far-se-ia um
espaço de navegação. Mas, mais
objetivamente, o trecho a que me quero
reportar é esse de painéis de fundo: madeira
local, solução usada na Índia, com recursos
próprios.
Pois bem, esse estudo de viabilidade
técnica e econômica foi perfilhado pela
Portobrás. Há pouco tempo, foi realizada uma
concorrência sem ouvir a Portobrás, sem a
ausculta de nenhum órgão técnico oficial,
fizeram-se contratos em que, se prevalecerem
os custos, em abril do ano passado seriam de
137 milhões de cruzados para se colocar uma
draga no rio Branco, para dragar 340
quilômetros de rio. Foi a Portobrás indagar
sobre o acerto desta providência. Disseram
que, no planeta, é a única obra desse tipo em
construção, porque ninguém, com o mínimo
de racionalidade, vai partir para uma solução
do tipo de dragar um rio arenoso, sem a
contrapartida de obras de engenharia
complementares. Então, o que se faz Ia é
isso: draga-se aqui, a draga se muda para
quinhentos metros adiante, quando estiver
começando lá, aqui já está assoreado.
Então, meu caro Governador, gostaria
de estriçar a utilização desses recursos, para
que o Território pudesse efetivamente alargar
suas passadas no caminho do progresso.
Ainda poderia falar sobre a
agricultura, que é a atividade básica do
Território. Em 1982, foram distribuídas 350
toneladas de sementes, um milhão e meio de
mudas de café, 800 mil de guaraná, 500 mil
de seringueira, 120 mil de cacau, 150 mil de
laranjeiras, e tal. Este ano existem míseras
minguadas 100 toneladas de sementes, no
total, de arroz, milho e feijão, que ainda não
se começou a distribuir, com a velocidade que
o ciclo agrícola exige.
Finalmente, quanto ao ângulo político
do Território propriamente dito, da sua
estrutura de municípios estáveis, gostaria de
trazer a V. Ex.ª uma lembrança e um apelo:
enquanto prefeituras como as de Normandia e
Bonfim receberam, no ano passado, do TGT –
aquele programa em que o Governo do
Território incentiva o desenvolvimento dos
municípios – cada uma, cinco milhões e
quatrocentos mil cruzados, o Município de
Baliza, que tem uma população três vezes
maior que os de Bonfim e Normandia, tão-
somente porque o prefeito é de outro grupo
político, recebeu apenas setecentos mil
cruzados.
Esses critérios não são democráticos
nem de equânimes, eles acentuam as
desigualdades numa microrregião onde este
tipo de problema não deveria acontecer.
Então, queria apenas lembrar a V. Ex.ª este
aspecto injusto da sua administração, que
pretende ser justa e operosa, e, ao mesmo
tempo, pedir que, na distribuição dos
benefícios desse orçamento, não seja
discriminado o povo de Baliza, que não tem
culpa de ter prefeito de um partido que
diverge do seu.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o expositor.
Rogamos aos Srs. Constituintes que
se atenham ao período estabelecido
anteriormente, a fim de que possamos ouvir
todos os Constituintes e também a resposta e
a experiência do Sr. Governador com relação
aos problemas de Roraima.
O SR. GETÚLIO ALBERTO DE
SOUZA CRUZ: – Sr. Presidente, Srs.
Constituintes, ouvi com atenção as
ponderações do Constituinte Ottomar Pinto.
Apenas gostaria de poupar o tempo
dos Srs. Constituintes da discussão de
problemas locais. Acho que estamos aqui
para discutir as questões prementes da vida
dos Territórios no que se refere à sua
transformação quer em Estado, quer em
alterações jurídico-institucionais. Agora, só
reafirmo ao ilustre Constituinte que, mais uma
vez, reforço a idéia de que os Governadores
dos Territórios têm que ter um órgão de
fiscalização, a sua Assembléia Legislativa, o
seu Tribunal de Contas, porque, se assim
fosse, es tes problemas todos não ocorreriam.
A questão do Paredão do Contigo é polêmica
no Território. A Eletronorte e a Eletrobrás têm
posições definidas com relação a Contigo e
ao Paredão. Não tenho dúvida de que, a
médio e longo prazo, a Contigo é a solução
para o Território; contudo, envolve recursos
estimativos, porque há ainda questões técnicas
não resolvidas, como a das rochas, se são
fraturadas ou não; se se terá que fazer canal
de desvios, perfurando rochas. A obra envolve
um volume de recursos da ordem de 350
milhões de dólares, que, num período de
escassez, são muito difíceis de mobilizar. Por
outro lado, a questão do fornecimento de
energia à Guiana e à Venezuela me parece
uma coisa um pouco visionária, porque a
nossa fronteira com a Guiana é a cidade de
Léthen, que deve ter de 150 a 200 habitantes,
e a nossa outra fronteira é feita com a cidade
de Santa Helena do Além, que deve ter
aproximadamente cinco mil habitantes. Com o
custo térmico de energia, com diesel, ao preso
de Cz$ 1,20 cambiado, não temos condições
de competitividade para fornecer essa energia.
E a eletrificação rural de Contigo
atravessa uma área de pecuária, com
fazendas que distam uma das outras dez
quilômetros. Portanto, seria manter uma rede
de eletrificação rural com um ponto a cada
dez quilômetros.
A questão, na verdade, do Rio
Branco, é muito polemica. O ilustre
Constituinte, quando governador, tentou essa
solução como uma forma de equacionar o
problema de transporte. Não temos dúvida da
competência técnica do escritório Saturnino
de Brito. Esta não é a questão. Acho que o
escritório fez um trabalho extraordinário, de
estudo sério. A nossa proposta tem recursos
do Governo Federal: dos 46 bilhões de
cruzados até agora aplicados, seis milhões
foram do Governo do Território, 40 milhões
foram do PIN-Pró-Terra. Realmente, a própria
população do Território é muito cética com
relação a essa opção.
Agora, não saberíamos a opção a
adotar se não dragarmos o rio e, a partir de
agora, fazermos estudos batimétricos para
vermos a parte de reposição. Só então
poderemos dizer se a obra é ou não viável. O
certo é que há que se buscar uma alternativa
para o Território. Agora mesmo estamos sem
diesel, sem gasolina, e por quê? Porque
sabemos do estado deplorável em que se
encontram as estradas e o rio Branco não
permite a navegação de balsas de qualquer
calado. Então, ontem, ao sair de Roraima,
aquele Território se encontrava sem diesel e
gasolina. Imaginem V. Ex.as o que pode
acontecer com uma população sem esses
combustíveis. Deveremos ter black-out,
racionamento de energia elétrica mais drás-
tico do que o já em execução. E temos que
buscar uma opção. É possível que, no
percurso dessa busca pela opção, venhamos
a cometer alguns equívocos. Agora, mais vale
o risco do equívoco do que a inanição; mais
vale o risco do equívoco do que ficar de braços
cruzados vendo o sofrimento daquele povo.
Eu gostaria que os Srs. Constituintes
pudessem assistir a algumas entrevistas de
caminhoneiros, que aplicam um capital, hoje
de Cz$ 800.000,00 num caminhão, para
destruí-lo em menos de um ano, porque a
estrada não permite tráfego.
Portanto, apenas toquei nesses pontos
em respeito ao Constituinte, até por sua
experiência de ex-Governador, mas gostaria,
efetivamente, de dizer que a nossa proposta é
discutir os problemas cruciais e fundamentais
da situação dos Territórios Federais.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte Ruben
Figueiró.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, Sr. Governador,
Srs. Constituintes, tive a honra de conhecer o
Território em questão. Lá estive por duas
vezes. A primeira vez, fui recebido
fidalgamente pelo ilustre Governador Ottomar
Pinto, como membro da Comissão do Interior,
da Câmara dos Deputados. Concordo com V.
Ex.ª, como concordo com todos os demais
representantes de Roraima, aqui
Constituintes, na luta que empreendem em
favor da transformação do Território em
Estado. Acho que estão cumprindo, aqui, o
que costumo dizer, uma vocação popular: o
povo quer, realmente, escolher os seus
dirigentes. Nada obstante esta postura, tenho
cá algumas dúvidas quanto à autonomia dos
Territórios, e me baseio no que aconteceu
com o Acre e, posteriormente, com o meu
Estado natal, Mato Grosso do Sul, e agora,
com relação a Roraima.
V. Ex.ª, Sr. Governador, ao justificar a
auto-suficiência do Território, está também
embalado pelo entusiasmo que tínhamos
quando levantamos a bandeira da criação do
Estado de Mato Grosso do Sul. V. Ex.ª
afirmou que há necessidade da presença de
recursos federais para complementar algumas
das responsabilidades do futuro Estado. Lá,
em Mato Grosso do Sul, pela Lei
Complementar nº 31, ficou estabelecido que,
no período de dez anos, o Governo Federal,
através de um programa denominado
Programa de Desenvolvimento de Mato
Grosso do Sul, alocaria recursos substanciais
para a implantação do Estado, não só quanto
à sua estrutura administrativa, mas, também,
ao seu processo de desenvolvimento.
A mesma coisa fez com relação ao
Estado de Mato Grosso. Quero afirmar a V.
Ex.ª que os recursos prometidos só foram
alocados para Mato Grosso do Sul nos seus
dois primeiros anos. Estamos concluindo o
período de dez anos e não vimos a cor do
dinheiro do Governo Federal.
Há um problema seriíssimo aqui, com
relação aos aposentados, cujo pagamento das
pensões ficaram a cargo do Governo Federal.
Pois bem. O Governo Federal não emprega
nenhum tostão para o pagamento dessas
responsabilidades com os aposentados. Este
é um ônus pesadíssimo para Mato Grosso e
para meu Estado, o Mato Grosso do Sul.
Então, confesso ao Sr. Governador
que tenho muito receio dessa co-
responsabilidade do Governador Federal,
com relação a essa administração
49 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
que será bipartite, entre o Governo do Estado
de Roraima e o Governo Federal. Tenho lá as
minhas dúvidas, consubstanciadas no que
afirmei a V. Ex.as. Também me assalta outra
preocupação: tenho ouvido aqui, através dos
ilustres representantes do Território de
Roraima, a questão das reservas indígenas,
que praticamente absorvem quase todo o
Território de Roraima relativamente às terras
férteis. Não sei como é que seria esse
relacionamento entre o Governo do Estado de
Roraima e a Funai.
Quero afirmar a V. Ex.ª, que sabe
muito melhor do que eu, porque é ligado ao
Ministério do Interior, como é difícil esse
tratamento dos Governos com a Funai. Então,
a chamada autonomia de Roraima estaria
cerceada neste setor. O Governador do
Estado talvez não pudesse realizar obras no
território indígena, que é intocável. É uma
preocupação que também tenho.
Quero, finalmente, dada a escassez
do tempo, dizer a V. Ex.ª que entreguei ao
nosso ilustre Relator, Constituinte Sigmaringa
Seixas, uma sugestão, que talvez possa vir ao
encontro do desejo de todos nós, de proceder
a eleições para Governador do Distrito Federal
e dar maior autonomia aos Territórios. Sugeri
a ele – não vou alongar-me no assunto, porque
naturalmente iremos discuti-lo depois – que se
criassem dentro do sistema federativo da
União, alguns outros estágios. Começaria
pelo Departamento Territorial – não vou dizer
com relação a outras regiões, mas falaria tão-
somente com relação ao meu Estado – que
cuidaria do Pantanal Mato-Grossense – seria
o Departamento do Pantanal – com
administração comum do Estado e da União e
que permitiria efetivamente manter aquele
formidável ecossistema que representa um
patrimônio não dos brasileiros, mas da
humanidade. A seguir, teríamos os Territórios
nas áreas fronteiriças, se necessário com a
estrutura atual, como, na escala ascendente,
teríamos, então, os Distritos Federais. Aqui,
alguém pode alegar, principalmente os
constitucionalistas, que Distrito Federal é a
sede do Governo Federal. Eu poderia dizer,
modificando o conceito, que Distritos Federais
seriam áreas de interesse da União e aí eleger-
se-iam os Governadores, as suas assembléias
legislativas. Eles teriam uma autonomia quase
que completa e contariam, efetivamente, com
expressivos recursos federais para promover
o seu desenvolvimento em busca da
autonomia plena. Na escala seguinte, teríamos
os Estados e, afinal, a União.
Seriam estas as minhas observações
à guisa destas perguntas que deixo a V. Ex.ª,
sobretudo com relação à questão indígena.
Muito grato.
O SR GETÚLIO ALBERTO DE
SOUZA CRUZ: – Muito obrigado, nobre
Constituinte Ruben Figueiró. Colocaria
apenas algumas questões acima dessas que
V. Ex.ª colocou. Em primeiro lugar, a questão
indígena do Território tem que ser vista sob
alguns ângulos.
No Território existem populações
indígenas com um grau muito elevado de
integração à sociedade envolvente – é o caso
dos índios makuxis/wapixanas – e há
populações indígenas com um grau bastante
pequeno de contato, como é o caso das
populações yanomamis.
No caso dos makuxis/wapixanas
é um erro pensar que eles constituem
obstáculo ao desenvolvimento de
Roraima. Esses índios situam-se nas
áreas de campos naturais, são exímios
vaqueiros, sabem cuidar do gado, com as
práticas de Roraima, melhor do que qualquer
branco. Esses índios podem ser incorporados
ao processo de desenvolvimento desde que
sejam dadas a eles condições para que
possam exercitar as aptidões que
aprenderam, sem violentar excessivamente o
seu ambiente cultural.
Por outro lado, perdoe-me o ilustre
Constituinte, é muito mais fácil para um
Governador eleito, ungido pela vontade
popular, fazer prevalecer a vontade daqueles
que o elegeram do que para um Governador
de Território, que, se pode ser um ditador
internamente, por ser o maior empregador,
por ser o maior contratador de obras, é, a
nível de Planalto, um funcionário de escalão
inferior do Ministério do Interior. É difícil a um
governador chegar aqui e falar positivamente
sobre as questões que dizem respeito ao
desenvolvimento do Território, como a
questão das áreas indígenas, quando ele é
um funcionário do Governo Federal.
Em alguns pontos não há convergência
entre os interesses de segmentos do Governo
Federal e os interesses do povo de Roraima.
Se consultarmos a opinião pública de Roraima,
não me constranjo em afirmar que 90% da
população é visceralmente contra essas áreas
de pretensão de reservas indígenas, como o
Parque Yanomami ali situado. É impossível que
se queira formar um parque de seis milhões de
hectares, quando sequer se sabe o número
de índios que lá existem. O mais interessante
é que o Parque Yanomami começou a ser
gestado a partir de levantamentos efetuados
pelo Landsat, que detectou imensos
jazimentos minerais nessa área de pretenso
Parque Yanomami. Além disso, garimpeiros
descobriram cassiterita com elevadíssimo teor
de estanho nesta área, e a partir daí cresceu
o coro pela criação do Parque Yanomami.
Portanto, parece-me que a questão
indígena não seja óbice ao desenvolvimento
de Roraima, desde que dê ao seu povo os
instrumentos legítimos para que ele possa,
legitimamente, fazer prevalecer os seus
direitos. Hoje, temos Constituintes. E não é à-
toa que V. Ex.ª deve ter percebido certo
consenso na questão da autonomia do
território, embora haja divergência no campo
político entre os nossos Constituintes. Isto
acontece porque todos nós, de uma forma ou
de outra, vivenciamos, lá, esta experiência.
Por outro lado, não me parece que a
criação e manutenção de Distritos Federais ou
Territórios Federais possa ser o veículo que
nos vai permitir receber os recursos federais.
Vou dizer aos Srs. Constituintes uma coisa
que, talvez, só os Constituintes de Roraima, e
particularmente o Constituinte Ottomar Pinto,
porque foi Governador, saibam. Os únicos
recursos que o Ministério do Interior nos
repassa – e são importantes – são os de
pessoal. Todo recurso recebido pelo Território
hoje é proveniente dos fundos federais,
constitucionalmente definidos para os
Territórios.
Não temos recursos da União para
investimento. Os investimentos são feitos com
recursos do Fundo da Participação e não é a
condição de Território que nos tem
assegurado a manutenção desses recursos.
Muito pelo contrário. O Governador de
Território, que tem que responder às mesmas
expectativas de um Governador de Estado,
não pode, ao pé da letra, dirigir-se a outro
Ministério. O Ministério do Interior, com todo
apoio e não posso queixar-me, no meu caso,
do Ministro Ronaldo Costa Couto, que foi, ao
longo do tempo em que esteve à frente do
Ministério, um grande companheiro – é hoje
um veículo a mais no encaminhamento dos
pleitos do povo de Roraima. Tudo tem que
passar pelo Ministério do Interior, mas o
Ministério não tem instrumentos para
viabilizar, por exemplo, a questão do aumento
do contingente da Polícia Militar, como é o
nosso caso lá. Estamos com o Território
despoliciado. Tem o Ministério do Interior
especialista em segurança pública para dar
parecer sobre se necessitamos ou não de
aumento do contingente da Polícia Militar?
A questão, por exemplo, da educação,
que tem um Ministério setorial, o Ministério da
Educação. Têm o Ministério do Interior
equipes técnicas que possam dar um parecer
sobre questão da educação em Roraima?
Temos ainda a questão da saúde e dos
transportes. Hoje, o Ministro do Interior é
muito mais um amigo, num escritório de
representação, mais um companheiro a lutar,
a pedir, mas não tem instrumentos que
possam promover o desenvolvimento do
Território.
Parece-me que não é o fato de ser
Território ou Distrito Federal que assegura
recursos. A falta de continuidade na definição
de recursos deriva, evidentemente, da falta de
um planejamento nacional. Todos os
brasileiros reclamam disso. O País não tem
uma política de longo nem de curto prazo.
Estamos num processo inflacionário que
impõe ao Governo uma administração de
curtíssimo prazo. Ele tem de trabalhar, de
tentar administrar as conseqüências, e disso
deriva a falta de continuidade no repasse
desses recursos.
Por último, ilustre Constituinte Ruben
Figueiró, gostaria apenas de fazer uma
colocação. Com todas as dificuldades que
existem nos Estados do Acre e de Rondônia e
mesmo no seu Estado, imagino o que
aconteceria se V. Ex.ª perguntasse à
população sobre a volta a Território. Posso
garantir-lhe que a população não quer isto.
O SR CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – É óbvio.
O SR GETÚLIO ALBERTO DE
SOUZA CRUZ: – Se perguntarmos para a
população se ela quer a volta do Território, eu
lhe garanto que a resposta será negativa,
porque sabe que há mais instrumentos de
negociação política, por recursos, para os
Estados. Podem os Constituintes, os
Parlamentares, o Governador falar até mais
grosso, mas a alocação de verbas é uma
questão política. Todas as verbas são
limitadas e a sua alocação em termos de
prioridade é uma questão puramente política.
Embora guarde estreitos limites com os
aspectos técnicos do desenvolvimento, é
sobretudo uma opção política. E falece ao
Governador do Território a legitimidade
política para, politicamente discutir a alocação
de recursos. Gostaria de dizer que Roraima
não recebe um centavo a mais, afora em
termos de pessoal, por ser Território, apesar
de na lei de criação dos territórios ter ficado
bem expresso e explícito que os Territórios
seriam criados com vistas à sua
transformação em Estado. No entanto, nunca
foi feito um programa visando à sua
transformação.
O SR PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao nobre Constituinte
Mozarildo Cavalcanti.
 DIÁRIO DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE (SUPLEMENTO)
O SR. CONSTITUINTE MOZARILDO
CAVALCANTI: – Sr. Presidente, Srs.
Constituintes, meu caro Governador de
Roraima, entendo que as audiências
públicas promovidas por esta Subcomissão,
bem como pelas demais, têm o objetivo
de discutir o caráter institucional, o
aspecto constitucional dos temas. Não
concebo que seja este o local para a
discussão de problemas, pequenos ou
internos, em qualquer aspecto que sejam
abordados.
O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR
PINTO: – Sr. Presidente, peço a palavra para
uma questão de ordem.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Assim que o Constituinte Mozarildo
Cavalcanti terminar, concederei a palavra a V.
Ex.ª, para uma questão de ordem.
O SR. CONSTITUINTE MOZARILDO
CAVALCANTI: – Entendo que o tema
União, Distrito Federal e Territórios Federais
deve ser abordado e discutido nesta
Subcomissão com vistas a escrever uma
Constituição justa, moderna, que atenda
realmente aos legítimos anseios do povo
brasileiro. Assim, devemos trazer à discussão
temas relevantes.
Tenho observado a apresentação de
propostas, como a do Constituinte Ruben
Figueiró – a quem respeito – com relação à
criação dos distritos federais; a postulação
dos Constituintes do Amapá, que defendem,
por exemplo, a manutenção do nome de
Território Federal, mas defendem a eleição de
governador, de vice-governador, senadores,
deputados federais e deputados à Assembléia
Legislativa. Este deve ser realmente
o tema sobre o qual devemos debruçar-nos
e analisar. Como disse o nosso Governador,
todos nós, Constituintes, temos uma
missão histórica, que não se situa
simplesmente no exato momento dos
debates, mas, muito além, no produto dos
nossos trabalhos.
Assim sendo, quero deixar ao
Governador meu apoio à sua tese. O Território
Federal pode ter sido um projeto válido para
promover o desenvolvimento
até determinado momento. Mas não
concebo, por exemplo, que a permanência
dessas figuras esdrúxulas na Federação posse
contribuir para a prática de um federalismo
justo, no qual exista uma só classe de
cidadãos. Hoje encontramos
várias classes de cidadãos: os dos Estados,
que têm a plenitude dos seus direitos;
os do Distrito Federal que elegem deputados e
senadores; os dos territórios do Amapá
e de Roraima que elegem apenas seus
deputados federais, prefeitos e vereadores;
e, por fim os do Território de Fernando
de Noronha que não elegem ninguém.
Então é preciso sim – e esta é a nossa
tarefa – corrigir estas injustiças. Neste sentido,
estamos no mesmo barco do Constituinte
Ottomar Pinto; no mais, porém, estamos
realmente no barco maior, que é o da Nação.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Antes de passar a palavra ao expositor,
para sua resposta, concedo a palavra ao
nobre Constituinte Ottomar Pinto, para uma
questão de ordem.
O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR
PINTO: – Sr. Presidente, Srs. Constituintes,
pedi a palavra por causa de uma
referência às colocações que fiz ao
Governador do Território de Roraima. Gos-
taria de esclarecer que não são questões
menores as que dizem respeito ao
desenvolvimento do Território.
Afinal de contas a Constituição não é
apenas um elenco de teses teóricas, mesmo
porque as ilações abstratas que a
Constituição encerra, resultam dos fatos do
quotidiano social, das aspirações gerais da
sociedade. Então, os Territórios não poderão
vir a ser Estados se não tiverem o mínimo, em
termos de condição econômica e social,
dentro das suas fronteiras.
O nosso próposito, repito, não foi
trazer ao debate questões menores, apenas
alertar os Constituintes para iniciativas que
estão sendo tomadas e que poderiam ser
otimizadas, a fim de beneficiar a população do
Território. Citei os exemplos em relação a
dragagem, energia e assim por diante. Não
entrei em considerações menores. Poderia
dizer, por exemplo, que os recursos utilizados
na dragagem estariam melhor aplicados na
recuperação das pontes da BR-174, no
conserto das balsas e assim por diante. Trata-
se de assuntos locais, mas Roraima não é um
ente abstrato, perdido nas especulações
filosóficas dos administradores brasileiros.
Roraima é uma realidade sofrida, sangrenta e
suada. Toda vez que colocarmos em pauta os
problemas, as angústias do povo de Roraima,
não estaremos fazendo colocações menores,
mas mostrando que honramos a confiança e o
mandato que seu povo nos entregou.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª a colocação. A
Presidência estranha, pois é a primeira vez
que ocorre uma discussão, sendo os pontos
de vista maiores coincidentes.
Concedo a palavra ao expositor.
O SR. GETÚLIO ALBERTO DE
SOUZA CRUZ: – Gostaria de dizer ao ilustre
amigo Constituinte Mozarildo Cavalcanti, que
há realmente um consenso em todos nós,
com relação à transformação do Território em
Estado. Mais adiante diria que temos
questões muito mais sérias com relação à
permanência de Território.
Nos nossos municípios, por exemplo,
os prefeitos municipais não têm, hoje, sequer
um tribunal de contas ou um conselho aos
quais prestar contas. Há a questão da
segurança pública. Há necessidade, repito, de
amplo ambiente onde possamos discutir as
questões regionais e locais. Se uma
assembléia legislativa tivesse que aprovar
nosso orçamento, as discussões dos
problemas dos Territórios, no que diz respeito
às questões internas, certamente seriam
realizadas neste amplo forum , que hoje não
existe.
O governador do Território, repito, se
desejar exercer o governo de forma imperial,
internamente, tem todos os instrumentos à
sua disposição, principalmente em termos de
pressão, das obras, do comércio, do emprego,
mas ao mesmo tempo, em Brasília, é um
simples funcionário do Ministério do Interior.
Temos ainda a questão da Justiça,
que é a mais premente em Roraima e no
Amapá, onde é profundamente injusta com os
mais pobres. Os mais pobres só têm acesso à
Justiça em primeira instância, onde os juízes
estão sujeitos às pressões das forcas políticas
e econômicas. Às vezes, as mais esdrúxulas
decisões têm que ser absorvidas pelos
pobres, pelos mais humildes, porque não
têm condições de buscar a segunda instância,
50
pois o custo é extremamente caro. A população
de Roraima sente este problema. Em Roraima
gera-se a impunidade mais do que em todo o
País. Ela é uma constante no território
exatamente pela capacidade de influência dos
grupos de pressão política e econômica. Os
juízes retardam audiências quando envolvem
alguém de peso político ou econômico. Isto é
verdade tanto para nós, como para as pessoas
que discordam do que dizemos. O certo é que
o povo mais humilde sente na carne essa
injustiça. Não há um pobre em Roraima que
tenha condições de recorrer à segunda
instância. O distanciamento do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e dos Territórios é
muito grande, pela própria aceitação dos
desembargadores. Ele é muito mais do Distrito
Federal do que dos Territórios. Então, por
exemplo, a administração da justiça torna-se
deficiente pela falta de uma corregedoria mais
ágil. As correições são feitas depois de muito
apelo. Quando para lá vai um desembargador,
este não conhece a realidade e, às vezes, ouve
as pessoas erradas nessa correição. Tal fato
faz com que, comumente, apesar de termos
três juízes, Roraima fique com apenas um juiz
para duas circunscrições e para quatro ou
cinco varas; aliás, às vezes até sem
nenhum juiz. Darei um exemplo. Se eu,
governador do Território, ou um secretário meu,
prender alguém – e já aconteceu isso em
Roraima – de forma arbitrária e injusta, esse
cidadão ter que amargar na cadeia até
conseguir um harbeas corpus dado pelo
Tribunal de Justiça do Distrito Federal. E, às
vezes, não encontra o desembargador e fica
injustamente detido pelo poder do arbítrio dos
poderosos de Roraima.
Estas são questões fundamentais que
dizem respeito à cidadania daquela população.
É por isso que, apesar de estarmos de olhos
nos custos, mais caro e mais injusto é manter
um povo sem o direito à sua plena cidadania.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte Annibal
Barcellos.
O SR. CONSTITUINTE ANNIBAL
BARCELLOS: – Sr. Presidente, Srs.
Constituintes, Sr. Governador do Território de
Roraima, reforço tudo o que disse o
Governador Getúlio Alberto de Souza Cruz e
acrescento informações sobre as condições
do Território Federal do Amapá. Estamos
construindo no Território e já está quase tudo
pronto – a Assembléia Legislativa e o Banco
do Estado do Amapá. Deixamos pronto um
projeto completo para o Tribunal de Contas.
Quando resolvi iniciar a construção da
Assembléia Legislativa e do Banco do Estado
do Amapá, recebi uma representação popular
perguntando por que o Amapá estava
construindo uma Assembléia se não tinha
deputados, como estava construindo um
banco se não tinha uma carta patente. Essa
representação foi ao juiz, que citou
justamente o que o Dr. Getúlio Alberto de
Souza Cruz falou, ou seja, que compete ao
governador do Estado criar toda a infra-
estrutura necessária para a transformação
dos Territórios em Estados. Já começamos,
portanto, a avançar neste sentido. Já estamos
prontos, esperando apenas a transformação
do Território Federal do Amapá em Estado,
para então, desenvolvermos completa
autonomia política e administrativa.
No Amapá ocorre algo um
pouco diferente do que disse o
nosso amigo Constituinte Ruben Fi-
51 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
gueiró. Os pensionistas e aposentados
são pagos pelo Governo Federal. No
Mato Grosso, parece que eram pagos pelo
Estado. De maneira que no Amapá não haverá
problema neste aspecto, porque eles
são funcionários aposentados do Governo
Federal. Todos os funcionários públicos
do Território são funcionários federais. Assim,
na transformação do Amapá em Estado, como
foi feito em Rondônia, o Governo Federal
garantirá o pagamento do funcionalismo
público durante dez anos. E é dada ao
funcionalismo público a opção de continuar
como federal ou passar para estadual.
Compete aos funcionários discernir e resolver.
Eu, por exemplo, sempre direi àqueles que me
pedirem opinião que continuem como
funcionários federais, porque estes são
colocados à disposição do Estado e, durante
dez anos, o Governo Federal continuará
pagando seus vencimentos.
O Tribunal Federal de Segunda
Instância a que se referiu o Dr. Getúlio Alberto
de Souza Cruz, também representa um
assunto muito triste para o Território. Com
recursos próprios, construímos também o
Tribunal de Justiça de Primeira Instância.
Estamos lutando para criar o de Segunda
Instância. Já existe parecer favorável da OAB,
Sessão Amapá, pois, de acordo com a
Constituição vigente, sua criação depende de
projeto de lei que o Presidente da República
deve mandar para o Congresso. Não sei se
mandou. Procurei informar-me a respeito e hoje
recebi um expediente do atual Presidente da
Ordem dos Advogados dizendo que havia
mandado para o Presidente da República
projeto de lei propondo a criação do Tribunal
Federal de Segunda lnstância no Amapá. Já
temos no Território um arcabouço, um local
para instalar esse Tribunal de Justiça de
Segunda Instância. É o prédio velho do
tribunal, com arquitetura clássica, com um pé
direito de seis metros. Existe o anteprojeto.
Num andar intermediário, em frente ao rio
Amazonas estará um Tribunal Federal de
Segunda Instância.
Poderia citar, muitos outros
inconvenientes do Território. Por exemplo, a
criação de novos municípios. Roraima teve a
felicidade de criar mais quatro ou cinco
municípios ainda no tempo da Velha República.
Propus a criação de mais dois; o Município de
Laranjal de Jari e o Município Ferreira Gomes.
Essa proposta percorreu todas as Comissões
da Câmara. Nosso amigo, Constituinte Gerson
Peres, deu parecer favorável, mas quando a
proposição chegou à Comissão do Interior, um
deputado do Amapá, que não era da minha
linha política, pediu vista do processo, que foi
engavetado. De maneira que o Território tem
apenas cinco municípios. Há necessidade de
serem criados mais três ou quatro, a fim de se
levar o desenvolvimento a todos os pontos do
Amapá.
Pagamos à ESAF, que formou agentes
de tributos. Esses agentes pertencem ao Plano
de Classificação de Cargos e não podem ser
contratados pela CLT, devem ser estatutários.
Até hoje não se conseguiu avançar nesse
sentido, porque isso depende, como disse o
nosso amigo Getúlio Alberto de Souza Cruz, do
Ministério do Interior, que tem boa vontade,
mas depende do DASP. E assim vai uma
cadeia de empecilhos que vão dificultando,
cada vez mais, a situação do nosso território.
Em relação à Polícia Civil ocorre a
mesma coisa. A Polícia Civil não pode ser
celetista, tem de ser estatutária.
Todos esses problemas atingem o
Amapá e, por conseguinte, também o Território
de Roraima. São empecilhos que atrasam
nosso desenvolvimento.
Não quero prolongar-me, mas gostaria
de dizer ainda que o território alcançou um
patamar de desenvolvimento de tal sorte que
não há mais condições de continuar como tal.
Temos de passar para Estado e, daí, criar
todos os órgãos necessários. A nossa lotação,
em termo de organização, já esta defasada. A
organização foi feita para ser revista depois de
cinco anos. É melhor, depois, adaptá-la a uma
situação mais moderna. Quisemos criar uma
Secretaria de Indústria e Comércio, como era a
minha intenção, mas não pudemos porque,
enfim, estamos sempre presos ao Ministério do
Interior. Este, por sua vez, este preso à
Secretaria de Planejamento da Presidência da
República. Isso tudo depende de recursos, e o
território depende do Ministério do interior para
o pagamento de pessoal.
Quanto à área urbana de Macapá e
Santana, tivemos a felicidade, ainda no nosso
Governo, de conseguir decreto do Presidente
da República, doando essas áreas à Prefeitura
de Macapá. Enquanto isto, tentávamos
conseguir uma área de expansão urbana de
Macapá. Nesse meio tempo, o INCRA
começou a dar licença de ocupação, não sei se
no sentido de atrapalhar a nossa expansão, e
ficamos presos. Macapá está preso por causa
dessas licenças de ocupação que o INCRA foi
dando, assim, sem muito critério. E estamos
presos também por causa da lnfraero, porque o
governador anterior, não sei por que cargas
d'água, deu-lhe uma área de mais de mil
hectares, no sentido perpendicular à pista, que
não vai adiantar para nada, porque é uma área
urbana. É igual à área urbana de Macapá.
Muito obrigado por esta oportunidade.
Poderei, em outras ocasiões, falar a respeito
desse querido território que deve transformar-
se em Estado. É esta a minha opinião. Espero
que os Constituintes estudem com muito
carinho essa transformação, pois é a única
maneira de promovermos nosso
desenvolvimento. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):–
Agradeço ao ex-Governador Annibal Barcellos,
atual Constituinte pelo Amapá, seu
depoimento, que constitui naturalmente o fruto
da sua experiência durante o período em que
foi governador daquele território e que,
conseqüentemente, ha de robustecer a opinião
daqueles que desejam a transformação dos
territórios em Estados.
Passo a palavra ao Constituinte
Chagas Duarte.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Sr. Presidente, Sr. Prefeito
de Macapá, companheiro Relator, Sr.
Governador, Sr as e Srs. Constituintes, sabemos
que o companheiro está muito preocupado
com o tempo que se está esgotando, mas
procuraremos ser rápidos. Gostaria,
inicialmente, de congratular-me com o nosso
expositor e parabenizá-lo pela maneira
brilhante, objetiva e clara com que relatou
a situação sócio-econômica e política do
Território de Roraima. Quero aproveitar
a oportunidade para dizer algo ao meu
ilustre Líder, Deputado Ruben Figueiró,
que externou a sua preocupação de homem
que está vivendo a experiência de Estado
novo da Federação. Companheiro Ruben
Figueiró, não devemos ter medo da
nossa liberdade. Isto é bíblico. O povo israelita,
eleito por Deus quando saía do jugo dos
egípcios, na sua caminhada de quarenta anos
percorrendo quarenta quilômetros, várias
vezes se arrependia e dizia preferir estar sob
o jugo dos egípcios. No entanto, quando
chegaram à Terra Prometida, começaram a
administrar o que era seu, elegendo seus
juízes, os seus dirigentes; nunca mais
pensaram nem falaram em voltar ao jugo dos
egípcios. Então, companheiro, devo dizer-lhe
– isto já foi claramente dito – que nós, como
território, somos um povo totalmente
dependente. Tudo recebe da União; tudo nós
é dado. Chego a dizer que nem temos a
oportunidade de dar. Recebemos tanto e não
damos quase nada.
Depois da experiência de quarenta e
quatro anos de Território, com raras e
honrosas exceções – já tive oportunidade de
fazer tal afirmação – fomos sempre
governados pela força, pela violência, pela
opressão, pela perseguição, pela tutela e,
muitas vezes, como o expositor ressaltou, em
meio a desacordos e retrocessos. Ontem,
discutia-se que deveria ser construída a
Hidrelétrica Paredão. Foi o primeiro projeto do
território. Não construímos Paredão. Fomos
para Cotingo. Depois do Cotingo fomos ao
Bem-Querer, retornamos ao Cotingo e, hoje,
estamos novamente na Hidrelétrica Paredão.
Por que, companheiros? Porque o
Governador não é eleito. A própria políticas
no Território é ditada pelos Ministérios. Hoje
somos um povo amadurecido, queremos ser
governados pelo direito, pela liberdade, não
mais pelo livre arbítrio. Creio piamente, pelo
que ouço nesta Assembléia Nacional
Constituinte, que passaremos a Estado.
Tenho absoluta certeza de que o nosso ilustre
companheiro Ruben Figueiró, depois de ouvir,
estudar, pensar e meditar um pouco sobre o
assunto, também vai dar o seu voto para que
sejamos Estado. Não tenho dúvida disto,
companheiros.
Há outro aspecto que me leva a
propugnar pelo Estado, a defender
ardentemente a passagem para Estado,
embora, como disse o companheiro Ruben
Figueiró – volto a citá-lo – reconheço que as
nossas dificuldades como Estado serão
enormes. Não duvido disto, mas passaremos
a pensar por nós, deixaremos de ser um povo
esclerosado, vamos andar com as nossas
próprias pernas. O que nos leva a defender
esta bandeira é a participação do povo,
que até hoje não teve oportunidade. Elegem-
se quatro deputados e depois não há, por
parte do povo, a menor interferência em
nosso mandato. As antecâmaras não
funcionam. Se não houver um governador
democrata, as pressões são enormes para
não emitirmos nossa opinião. Ninguém pode
emitir sua opinião porque os governadores
não deixam. Então, companheiro, defendo
esta mudança.
(Intervenção fora do microfone.
Inaudível.)
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Não concordo, companheiro, em
absoluto. O atual a um homem democrático.
Está governado o Território...
(Intervenção fora do microfone.
Inaudível.) (Palmas.)
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Por que? Porque não quer,
companheiro. Quantas vezes V. Ex.ª foi ao
Território e falou livremente. Agora mesmo, foi
ao Território e fez um comício livremente.
(Intervenção fora do microfone.
Inaudível.)
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (SUPLEMENTO) 52

O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – V. Ex.ª não pode dizer isto. Está
cometendo uma injustiça.
(Intervenção fora do microfone.
Inaudível.)
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Não. Em absoluto. Então, vai
provar, companheiro.
(Debates paralelos.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A palavra está com a presidência.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Ao contrário, cerceou a liberdade
daquele povo, porque era ditador. V. Ex.ª era
militar. Não acato, não aceito suas
acusações.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Rogo ao Sr. Constituinte que se atenha à
solicitação.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Mas quero dizer, Sr.
Presidente...
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Rogo ao Sr. Constituinte que se ilmite à
solicitação de informações ao Sr.
governador.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Sr. Presidente, devo dizer-lhe
que estamos num regime democrático e o
debate é sempre salutar.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– O debate sim, mas, quando discussão
acalorada, pode levar a problemas
maiores que não pretendemos ter
nesta Subcomissão. Peço à Srª Constituinte,
a próxima a utilizar o microfone,
que aguarde sua oportunidade para
falar.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Companheiro Presidente, nesta
Subcomissão, estamos defendendo duas
teses: uma, da passagem do Território para
Estado e, outra, para eleição do governador
do Território. Então, gostaria de ouvir do
governador sua opinião sobre o assunto. De
fato, não concordamos com a eleição para
governador. Entendemos que a eleição vai
dar ao governador ainda mais poderes para
ser um pequeno ditador dentro do Território.
Por isto gostaria de ouvir a opinião do
nosso Governador, que reputo um homem
autenticamente democrático. Assim, há
de concordar conosco. Creio que os demais
Constituintes não querem eleição para
governador e, sim, Estado de Roraima,
Estado do Amapá, onde somam seiscentos
mil habitantes, sendo duzentos mil de
Roraima e quatrocentos mil do Amapá. Sem
dúvida, acredito que estejam pleiteando, isto
sim, a passagem dos dois Territórios para
Estado.
Era o que tinha a dizer.(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):–
Solicito aos Srs. Constituintes que ajudem esta
Presidência a levar a bom termo esta sessão,
que me parece da maior importância e versa
basicamente sobre a necessidade ou não de
transformação dos Territórios em Estados.
Gostaria que se ativessem a esse tema
básico e deixassem as questões políticas locais
para os palanques, para as televisões e
para as rádios de Roraima e, naturalmente
para o plenário da Câmara dos Deputados,
onde terão grandes oportunidades de debater
seus pontos de vista e expor à Nação o seu
pensamento.
Com a palavra o Sr.Expositor.(Palmas.)
O SR. GETÚLIO ALBERTO DE
SOUZA CRUZ: – Sr. Presidente, Srs.
Constituintes, agradeço as palavras carinhosas
do Constituinte Chagas Duarte, ao mesmo
tempo em que reafirmo a tese de que é
necessário que o governo do território tenha
um órgão de fiscalização, como a assembléia
legislativa, porque há uma tendência, realmente,
natural do ser humano, ao exercitar o poder, de
fazê-lo de forma autoritária, e o exercício de
quem quer exercê-lo com democracia é o
permanente exercício de autovigilância.
Por outro lado, insisto no fato de que
estes debates acalorados estão ocorrendo
aqui por falta de um foro adequado em
Roraima. Se lá tivéssemos esse foro, as
ações do Poder Executivo, do Governo,
estariam respaldadas na aprovação de
deputados estaduais eleitos pelo povo, portanto,
com delegação do povo para decidir os destinos
da política econômico-social de Roraima.
Também queria, apenas para dar
mais contundência às afirmações do nobre
Constituinte Annibal Barcellos, nosso amigo
particular, dizer da nossa experiência referente,
por exemplo, à Polícia. A Polícia, como bem
afirmou S. Ex.ª, que tem todas as prerrogativas
e experiências para dizer assim, tem de ser
estatutária. Vou lhes falar sobre a experiência
de Roraima. São 230.000 Km2 de extensão
territorial e nós dispomos, hoje, de um quadro
de 90 agentes policiais, dos quais 72 são
prestadores de serviços. Somos obrigados,
diariamente, a assinar decretos delegando
competência a funcionários, que sequer são
funcionários do Governo, para presidir inquéritos
policiais. Isso, por si só, já torna difícil, mais
tarde, o trabalho da Justiça, porque as partes
envolvidas podem, inclusive, questionar sobre a
autoridade de quem presidiu o inquérito.
Vejam a questão dos agentes fiscais.
Nós arrecadamos os tributos de natureza
estadual, mas que nos territórios são federais,
tais como o ICM, o ITBI – Imposto de
Transmissão de Bens Intervivos – o IPVA, que
substitui a TRU, por convênio com o Ministério
da Fazenda. Temos uma equipe de fiscais
treinados, mas que até hoje não teve a sua
categoria funcional inserida no quadro de
pessoal dos territórios. Portanto, se formos
autuar alguns comerciantes desonestos, eles
também podem argüir a ilegalidade da nossa
autuação. E pior, estamos remunerando os
fiscais com um salário tão vil que é um convite
à corrupção. Um agente fiscal no território de
Roraima ganha 5 mil cruzados – valor
correspondente ao "DX" de uma multa razoável.
Sr. Presidente, são esses os
problemas do cotidiano, afora o problema maior
do exercício da democracia, da plenitude da
nossa cidadania, que nos leva a defender a
transformação do território em Estado. Como
disse o companheiro Chagas Duarte, não
temos medo de enfrentar o futuro e queremos
nos preparar para ele, porque imagino
que mais importante do que discutir a
transformação do território em Estado, que é
um imperativo da atualidade, é que nós,
políticos, estejamos preparados para gerenciar
esse Estado e para tomar as experiências
maléficas. O caso de Rondônia, citado pelo
nobre Constituinte Ruben Figueiró, é típico. Foi
transformado em Estado por um casuísmo
político e, talvez, até com retardamento, sem a
inserção de dispositivos legais que impedissem
a expansão e sem controle do quadro de
funcionários. O Estado do Acre é um caso
típico. Todos os governadores que por lá
já passaram sabem que a grande questão do
Acre é que o Estado é um Estado dentro de um
território feudal. São os imensos latifúndios,
que se apropriaram de fertilíssimas terras, bem
como a sua situação geoeconômica que têm
impedido que esse Estado possa caminhar
mais rapidamente rumo ao desenvolvimento,
que toda a população do Acre almeja.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra à Constituinte Marluce
Pinto.
A SRA. CONSTITUINTE MARLUCE
PINTO: – Sr. Presidente, Sr. Relator, Srs.
membros desta Subcomissão, Sr. Governador
do território de Roraima, Sr. Prefeito da
Capital, Macapá, não há necessidade de que
eu faça aqui um discurso repetitivo, porque,
desde a primeira reunião que aqui houve,
tenho o testemunho não só do meu
Presidente e do meu Relator sobre a luta que
venho travando, usando este Plenário para
solicitar dos meus colegas Constituintes a
transformação do nosso território em Estado.
Não queremos, de maneira alguma, que
permaneça como território. O nobre Relator
até já brincou comigo, certa vez, dizendo que
só iria me ver triste se eu não conseguisse
transformar o território de Roraima em Estado.
E não é necessário que se diga aqui que a
política, quando feita em prol do povo carente,
que realmente precisa do apoio daqueles que
elege e neles deposita a sua confiança,
através do voto, é que lhes dá maioria.
Ficamos 4 anos em Roraima. Meu
marido, o Constituinte Ottomar, na época do
regime militar, fez parte do Governo do
Território mas a prova de que ele não torturou
é que, ausente por 4 anos, quando Roraima
obteve apenas 42 mil votos, que foi todo o
eleitorado, ele, sozinho, Sr. Constituinte
Chagas Duarte, obteve 16 mil votos,
quantidade esta que ultrapassou o número de
votos obtido por 12 candidatos apoiados pelo
Governo do Território, com uma coligação do
seu partido com mais 4 partidos. Então, este
fato é uma prova real de que ali, naquela
época, quando não estávamos sob regime
democrático, fizemos uma administração
democrática, incluindo até a distribuição de
terras, que é esta reforma agrária que, agora,
está sendo implantada em nosso País.
Os governos militares sempre foram
autoritários e o que me consta é que ele
sempre fez parte do alto escalão do Governo
do Território. E eu jamais teria até mesmo um
cargo subalterno se visse meu povo ser
torturado por um Governador e eu fizesse
parte daquele Governo. Então, é isso que não
dá para entender, porque eu não morava ali.
Só cheguei ao Território em 1980 e, até
aquela data nunca havia feito qualquer
trabalho social, nunca havia exercido qualquer
cargo público, mas não sou uma mulher
inativa. É preciso que se diga, não para se
elogiar, mas para que os nobres Constituintes
entendam por que apelo para que
transformem o meu Território em Estado –
lamentavelmente, hoje, aqui, temos poucos
Constituintes presentes, talvez por ser
segunda-feira. Não adianta repetir o que já
falei aqui, o que já citei de nossas riquezas
naturais, nosso potencial, da vontade do povo
de ter seus governadores eleitos; não adianta
repetir porque os presentes já me ouviram.
Perdoem-me os visitantes, mas, se algum dos
presentes tiver interesse em saber isso, é só
pegar no Departamento de Taquigrafia cópia
das notas taquigráficas das reuniões,
53 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
porque não posso tomar muito tempo. Quero
dizer, Sr. Chagas, que, apesar de não haver
nascido ali, de sempre ter trabalhado em
iniciativa privada, empenhei-me realmente na
luta em defesa daquele povo. O povo diz que
quem é empresa. Até confesso que até 1979
talvez só tivesse visto isso, muito embora eu
seja uma empregadora que desde que iniciei
minhas atividades empresariais, em 1979,
tenho os meus funcionários comigo, regidos
pelas leis trabalhistas. Se fosse torturadora,
não respeitasse seus direitos e não lhes
desse minha amizade, eles não estariam mais
comigo. Quando lá cheguei, ninguém tinha se
interessado em levar um presentinho ao filho
do índio. Eu o fiz, porque já fazia com os filhos
de meus funcionários, na minha casa, na casa
de meus pais, para criar um ambiente amigo,
para que eles almoçassem com a minha
família – somos doze. Foi assim que fui
criada, na religião, embora não cite fatos
bíblicos. Quero dizer que mais do que nunca
me empenho e que, se realmente existe
regime autoritário é este de agora, lá – não no
nosso País – porque dois representantes
desta Casa obtiveram 18.500 votos e não
tiveram direito de opinar quanto ao
governador, enquanto que os outros,
somando 2.700 votos, puderam se manifestar.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Solicito à Srª Constituinte que conclua seu
pronunciamento.
A SRA. CONSTITUINTE MARLUCE
PINTO: – Vou atender a V. Ex.ª, Sr.
Presidente, porque lhe tenho muito apreço e
V. Ex.ª sabe disso. No meu Território trabalho
até pelo seu partido e não posso ser contra
um apelo seu, mas quero fazer duas
perguntas ao Sr. Governador, que não são
geradas por insatisfações, são apenas
dúvidas.
Falou V. Ex.ª, em seu
pronunciamento, das escolas sem diretores,
sem professores, fato que V. Ex.ª não podia
admitir. Depois, ao longo de sua palestra,
falou que lá não precisava admitir sequer
funcionários – foi dito mais ou menos
isso.
Peço este esclarecimento não para
mim, porque não preciso de esclarecimentos
quanto à necessidade e aos anseios do povo
de Roraima, por conhecer aquele Território
totalmente. Já disse aqui, uma vez, que onde
tiver gente, estive lá. Ultimamente tenho ido
em menor escala por causa do inverno. Faço
a indagação para que não pairem dúvidas ou
incertezas em nossos Constituintes quanto à
necessidade da transformação. Creio que já
havia convencido a tantos, que até me
abraçavam, quando terminava minha palestra,
ao ver minha luta para transformar nosso
Território em Estado. Quero que V. Ex.ª
esclareça este fato. Disse V. Ex.ª que o povo
tem de escolher seus governantes. Lá, V. Ex.ª
falam que não podem perder espaço político.
Indago se é o espaço político que prevalece
ou a vontade do povo, através dos votos, que
se pronunciou no último pleito. Gostaria que
V. Ex.ª desse essa pequena explicação. Fico
satisfeita por tudo e quero agradecer a
tolerância do meu amigo Jofran Frejat, que
sabe, porque é político, que essas coisas às
vezes até incentivam os outros a trabalhar.
Muito obrigada a todos.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Muito obrigado a V. Ex.ª
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Pela ordem, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Pela ordem, concedo a palavra ao Sr.
Constituinte Chagas Duarte. Rogo, mais uma
vez aos Srs. Constituintes que se atenham às
questões da transformação dos Territórios em
Estados, não se limitando a discussões locais
que não trarão qualquer contribuição maior à
nossa Subcomissão.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Sr. Presidente, Srs. Constituintes,
apenas para prestar um esclarecimento à
ilustre Constituinte Marluce Pinto, que não
conhece nossa história, que não é de
Roraima, indo para lá quando o ilustre
Deputado Ottomar Pinto foi Governador.
Disse V. Ex.ª que sempre
participamos da administração, para nós é
motivo de orgulho termos participado por
várias vezes, sendo Secretário de Governo.
Mas ilustre Constituinte, para conhecer nossa
história, saiba do seguinte: fomos uma vez
exilados, exonerados por não concordarmos
com a política do então governador. De outra
vez, fomos deportados para o Serviço de
Transportes, onde nos encontrávamos
quando o ilustre Constituinte foi nomeado
governador, por não concordarmos com a
política do então governador do território.
Depois de estarmos Presidente da Caesr, na
política do ilustre Constituinte, também por
discordarmos de S. Ex.ª, entregamos o cargo
e mantivemo-nos Presidente do Diretório do
PDS e, lá, fomos lutando politicamente. Isso
para nós sempre foi um orgulho. É esta a
maneira de nos comportarmos e, por isso
mesmo e pelo nosso passado de honradez, é
que o povo nos elegeu seu representante.
Quero esclarecer estes fatos a V. Ex.ª,
porque, longe de qualquer desonra ou
menosprezo a administrações passadas, isso
sempre nos honrou. Por aí se vê que
palmilhamos sempre o caminho certo quando
éramos convidados para Secretário. Era o
esclarecimento que queria prestar a V. Ex.ª.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª Passo a palavra ao
Governador Getúlio Alberto de Souza Cruz.
O SR. GETÚLIO ALBERTO DE
SOUZA CRUZ: – Gostaria de dizer que,
pessoalmente, nos recusamos a entrar em
debates que não digam respeito às reais
intenções pelas quais viemos aqui prestar
esse depoimento. Respondendo à pergunta
pertinente da Constituinte Marluce Pinto,
queria fazer alguns reparos: primeiro, S. Ex.ª
disse que o Poder Executivo do território está
pronto e acabado, com algumas alterações de
forma. Com relação ao quadro de funcionários
do Governo de Roraima, insisto num fato:
temos, hoje, 8.300 funcionários. Parece-me
que esses funcionários, bem treinados, bem
motivados, bem remanejados, são os
necessários para o funcionamento do Poder
Executivo. Gostaria de deixar este testemunho
pessoal de quem é contra qualquer forma de
empreguismo. Quando assumi o governo de
Roraima, há quase dois anos, encontrei um
quadro de pessoal de 8.500 funcionários, agora
reduzido a 8.300, tendo um autopoliciamento
constante para evitar o empreguismo. A
questão básica do funcionalismo daquele
território – como deve ser do Amapá, como é
deste País e motivo pelo qual rogo aqui aos
Constituintes – é a forma de ingresso dos
servidores públicos na administração pública
do território. Quase ninguém, em Roraima,
teve ingresso por concurso público. Quase
todos entraram pela janela, com apadri-
nhamentos políticos, sem sequer dar
oportunidade aos mais humildes – isso sim é
que é gostar dos mais humildes – ao direito
de participar do serviço público. Eu mesmo,
tenho testemunho do DASP, do atual CEDAP,
do Ministério do Interior, de minha luta
constante palia que definamos um período fixo
no qual os concursos públicos serão
realizados para prover as vagas existentes
nos quadros públicos de Roraima, a fim de
que quem tiver interesse em ingressar no
serviço público saiba, por exemplo, que no
mês de outubro lizados os concursos públicos.
E digo isto com a consciência tranqüila de ser
um governador que não empregou. Poucos
governadores podem dizer isto: é a razão pela
qual temos uma distorção no quadro de
funcionários do Governo. Temos um número
excessivo de funcionários administrativos e
temos carência de professores, médicos e
paramédicos. Não temos, até hoje, uma
política de pessoal de interiorização. Com
referência ao aspecto político, en passant, eu
queria dizer à ilustre Constituinte que cada
eleição é uma eleição. A Constituinte se
esquece de que na eleição majoritária, onde
se disputava o Poder Executivo, nós
ganhamos em sete dos oito municípios, no
ano passado. Essa distorção representa
sobre tudo uma tentativa de iludir a opinião
pública. Por isso concito os Srs. Constituintes:
vamos transformar o território em Es tado e
fazer eleições cristalinas e limpas e o povo
dirá quem deve ser o governador.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Sr. Constituinte
Geovani Borges.
O SR. CONSTITUINTE GEOVANI
BORGES: – Sr. Presidente, Sr. Governador,
Sr. Prefeito, Srs. membros da Mesa, Srª e
Srs. Constituintes, nobres Vereadores que
hoje brindam com a sua presença a nossa
Subcomissão, neste momento histórico em
que estão sendo tratados assuntos da maior
relevância, visando aos interesses maiores
dos territórios, aqui está praticamente traçado
o futuro daquelas unidades federativas.
Meu ilustre colega, mestre e Líder
Ruben Figueiró, realmente o seu pensamento
comunga com o meu. Fico feliz em saber que
V. Ex.ª é a favor dos territórios com urna nova
fisionomia, uma nova roupagem, como é,
naturalmente, a conquista das eleições diretas
para governador, para uma assembléia
territorial, para o Senado Federal, haja vista
que o nosso sistema é bicameral. Os
territórios têm representação na Câmara dos
Deputados, mas no Senado Federal não
temos representação alguma. Realmente, fica
difícil a atuação dos Parlamentares dos
territórios federais no Congresso Nacional. Os
nossos projetos são aprovados na Câmara,
vão para o Senado Federal e lá não temos
qualquer representante para defender os
interesses maiores das bancadas dos
territórios Federais. Apresentei a esta
Subcomissão, através do Plenário da
Câmara, sugestão no sentido de que os
territórios conquistem essas prerrogativas, a
exemplo do Distrito Federal, ou seja,
representação em todos os segmentos, e a
autonomia administrativa e política. Sou, por
esta tese, que vi V. Ex.ª defender diante da
experiência do desmembramento do seu
Estado, o Mato Grosso do Sul. Acredito que
esta também é uma alternativa para que os
nossos Constituintes analisem, julguem e
votem conforme as suas consciências.
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 54

Apresento esta sugestão, somando à
experiência e ao cuidado de V. Ex.ª. Não estou
tentando discordar do pensamento dos
Constituintes de Roraima. Em parte
comungamos do mesmo pensamento, só que
de forma diferente. Quero que o nosso
território, no caso específico do Amapá,
continue como território, mas com essas
alternativas, dando ao povo da minha terra o
direito de eleger o seu governador, para que
ele possa ter autonomia, liberdade e legitimação
para defender os interesses maiores da região.
Quero que os nossos territórios conquistem o
direito de ter representação no Senado e
também uma assembléia territorial para fiscalizar
os atos do Poder Executivo. Naturalmente, em
conseqüência disso, conseguiremos também
conquistar toda liberdade e autonomia diante
dos poderes constituídos do nosso País. Um
exemplo patente é que o nosso governador fica
atrelado à legislação e às decisões do gabinete
do Ministério do Interior.
Foi levantado pelo vereador um
problema de um departamento para defender
a ecologia do nosso território. Trata-se do
problema da usina hidrelétrica que temos o
privilégio de ter. Ela é, naturalmente, o sangue
para qualquer movimento propulsor do
desenvolvimento. Com a extração da
manganês, já sentimos o problema da
poluição nos nossos rios.
Enfim, queremos um governador na
essência de palavra, eleito pela vontade livre
e soberana do nosso povo. Eram estas as
colocações que eu queria fazer.
Quero também parabenizar-me com
esse jovem roraimense, que governa os
destinos de Roraima, pela sua brilhante
explanação. Desejo aos Srs. Constituintes
êxito nos seus trabalhos nesse clima de
debate democrático e, acima de tudo, de
respeito pelas idéias, pelos pensamentos e
pelas teses aqui submetidas à apreciação de
todos. Era o que tinha a dizer. Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª pela intervenção. Concedo
a palavra ao Sr. Governador de Roraima.
O SR. GETÚLIO ALBERTO DE
SOUZA CRUZ: – Sr. Presidente, Srs.
Constituintes, permito-me discordar de S. Ex.ª,
tendo em vista poder privar da intimidade do
nosso companheiro Geovani Borges, para
relatar fato ocorrido há dois anos, quando em
Roraima, enfrentávamos a opinião pública,
naquela época desfavorável à criação do
Estado, quando tivemos a coragem cívica de
fazer uma campanha para que ele fosse
criado. Num debate, questionava-se muito a
questão da transformação em Estado, as
incertezas, os recursos, e um companheiro
nosso inventou a doutrina da "meia-sola": quer
dizer, ao invés de nos transformarmos em
Estado, colocássemos um salto novo na figura
do Território. Então, ele propôs a eleição de
um governador, a criação de um tribunal de
contas, de um tribunal de justiça e de uma
assembléia territorial. Um outro companheiro
nosso, muito sarcástico e irônico, disse para
esse companheiro: "Escuta, Liberato, tu estás
querendo um animal com cabeça de leão,
com pata de leão, com pelo de leão, com cara
de leão e queres chama-lo de gato." Na
verdade, refletimos e discutimos muito sobre
isso. A questão de eleição do governador é a
que o companheiro Chagas Duarte colocou
aqui. Se tivermos um governador eleito sem
ter uma Assembléia Legislativa que fiscalize
as ações desse governador, sem ter um
tribunal de contas a quem ele deve prestar
contas, como poder auxiliar do Poder
Legislativo, poderemos tomar maior a
possibilidade de postura autoritárias no
governo para quem for exercê-lo. Por outro
lado, criar uma assembléia territorial é apenas
trocar a expressão territorial por estadual. As
questões fundamentais são que há necessidade
de uma câmara para legislar, para fiscalizar,
há necessidade de um Tribunal de Contas, de
um Tribunal de Justiça. Portanto, acho que a
questão é apenas de nominação: territorial ou
estadual, não sei o nome que se possa dar.
Mas a grande verdade, meu caro Geovani –
perdoe-me tratar-lhe assim, pela intimidade
com que nos relacionamos – é que é muito
difícil colocarmos "meia-sola" numa figura
jurídica que tem uma origem ditatorial. O que
é fundamental? É que tenhamos um governo
legitimado pelo voto, ao mesmo tempo em
que tenhamos uma assembléia que possa
fiscalizar e legitimar os atos desse governador.
E aí a questão apenas é de nome, porque
numa primeira etapa a União vai ter que arcar
com uma parcela residual de recursos.
Imagino que não deve chegar a 10% do
aumento marginal do orçamento necessário
para isto. Mas o fundamental é que, além de
permitirmos o exercício da cidadania, vamos
dotar o Poder Executivo de mecanismos para
a promoção do desenvolvimento dessas
áreas, quer de Roraima, quer do Amapá.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o Constituinte Carrel
Benevides, do PMDB do Amazonas.
O SR. CONSTITUINTE CARREL
BENEVIDES: – Sr. Presidente, Sr. Relator, em
primeiro lugar, quero pedir desculpas pela
intromissão. Pertencemos à Comissão
temática de Orçamento e Finanças, onde
respondemos pela Primeira Vice-Presidência
da Subcomissão de Orçamento e Fiscalização,
mas não poderia perder a oportunidade de
discutir, aproveitando a presença do
Governador de Roraima, uma posição que nós,
da Amazônia, já temos como definida.
Acreditamos que Roraima, com o apoio não só
do Amazonas, mas de toda aquela região que
acompanha e compreende a situação do seu
Território, há de vir a termo constitucional como
Estado. Hoje, mais do que nunca, vendo os
Constituintes de Roraima defendendo com
tanta veemência suas teorias e postulados,
nos convencemos de que esse Território está
inteiramente preparado politicamente para gerir
e assumir seus destinos.
O Amapá realmente necessita, até por
sugestão nossa, que a Comissão dos Estados
forme uma comissão e vá, In loco, conversar
com os representantes das Câmaras Municipais
e associações (Palmas), para trazer uma
posição que seja fruto, reflexo e pensamento
do povo daquele Território. Tenho impressão
de que essa comissão já está sendo criada,
com componentes suprapartidários e de outras
regiões, que irão especificamente fazer um
levantamento da real posição dos habitantes do
Território. Mais do que isso, eminente
Governador, venho, diante de V. Ex.ª,
questionar algumas colocações com relação ao
Território. Embora tenhamos sido praticamente
eleitos pela cidade de Manaus, assumimos
compromissos com uma região muito distante
de Manaus; o Alto Solimões e o Alto Juruá.
Nessas regiões há em discussão, nas Câmaras
Municipais, um pleito que gostaríamos
de ver nesse momento transformado em
realidade, que é a criação do Território do Alto
Amazonas, abrangendo as regiões do Alto
Solimões, do Médio e Alto Juruá. Estudamos o
assunto e já estamos com a sugestão proposta
na Subcomissão dos Estados. Observei que,
das críticas que V. Ex.ª fez com relação aos
Territórios, a questão fundiária preocupa muito
a administração local do Território, mas tenho a
impressão de que este fato é contornável.
Discuto este tema com V. Ex.ª porque não
estamos encontrando outra saída. Hoje estamos
discutindo especificamente Roraima e Amapá.
Queremos acabar com a figura do Território,
uma vez que Fernando de Noronha vai ser
agregado a outro Estado. A tendência que há
dentro da Constituinte é de fazer com que
desapareça essa figura histórica dentro do
federalismo brasileiro, que, tenho impressão, já
prestou serviço a outras regiões. Temos hoje o
Acre e Rondônia vingados, e Roraima com
todas as qualidades e características para ser
transformado em Estado. Temos o próprio
Amapá, que, pelas poucas oportunidades que
tive de ir àquela região, entendo que já pode
caminhar com seus próprios pés. Mas há
outras regiões dentro da Amazônia que não
têm hoje condição de auto-suficiência Iveria
seus problemas, porque não teríamos nem a
parte física, a parte plástica, para a instalação
dos seus governos, das suas secretarias, dos
seus tribunais, ainda que em primeira instância.
Observamos que no Território, ainda que tenha
sido criado em momentos autoritários e de
arbítrio, se fizéssemos alguns reparos – e aí
não seria uma "meia-sola" – viria ao encontro
da própria aspiração da Nação brasileira a
eleição para seu governador. Não advogamos
as assembléias, que são características do
próprio Estado. Se conseguíssemos uma
representação, ainda que de quatro
parlamentares, no âmbito federal, esse estágio
se iniciaria no estado exato intermediário entre
um aglomerado de municípios e um Estado.
Naquela região ainda precisamos do
paternalismo da União para que possamos, em
primeiro lugar, criar nossas próprias estruturas,
para que possamos instalar um governo. Não
vejo de forma tão negativa a figura do Território
e defendo a idéia de que, na região do
Amazonas, só temos uma saída, que é a
criação do Território e que a Constituição
mantenha essa figura como veículo, como meio,
como maneira de se promover esse estágio
como um aglomerado de municípios a Estado.
Sobre os temas que V. Ex.ª combate,
como o conselho de contas, nós, que
defendemos a autonomia municipal, achamos
que esses institutos fatalmente deixarão de
existir. Estamos defendendo que as Câmaras
Municipais fiscalizem os próprios atos do
Executivo Municipal. O conselho de contas, a
nos basearmos pela experiência do Amazonas,
foi o instrumento mais malfadado, mais nefasto,
pela sua própria criação, depois do governo
arbitrário do Governador José Lindoso, que o
compôs com os derrotados nas eleições, com
seus apaniguados, homens inteiramente
despreparados e desqualificados, que vivem,
no interior, a promover uma série de
arbitrariedades e injustiças com as câmaras e
as prefeituras. A questão fundiária, tenho
certeza, se não como tema constitucional, mas
em lei complementar, criaria a possibilidade de
o Território poder gerir, administrar sua área
territorial. Quanto à eleição direta, não a
defendo como uma "meia-sola". E gostaria que
V. Ex.ª, nas respostas, pudesse especificar o
tema da segurança pública, que V. Ex.ª,
levantou mas não ficou muito claro. Mas V. Ex.ª
55 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
está de parabéns, como está de parabéns hoje sa área, com pessoas na fronteira com a
o Território de Roraima. Tenho certeza de que Guiana, Venezuela, Pará, Amazonas e, até,
todos nós, Constituintes, que não pertencemos me aventuraria a dizer, com a Funai.
a esse Território, saímos daqui com a convicção Dispomos, como todos os Estados, de um
e a certeza de que Roraima está inteiramente aparelho de segurança que, de um lado, tem
preparado para assumir, pela sua jovem um policiamento fardado ostensivo, que é a
liderança política, os destinos do seu povo. Polícia Militar, e, de outro lado, a Polícia Civil,
Muito obrigado, Sr. Presidente. basicamente judiciária. Acontece que a
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): população cresce, espraia-se, e os Territórios,
– Agradeço a V. Ex.ª via de regra, são áreas de expansão pioneira,
Com a palavra, o Sr. Governador de com contingente migratório muito grande,
Roraima. necessitam de um aparelho de segurança que
O SR. GETÚLIO ALBERTO DE acompanhe o crescimento da população:
SOUZA CRUZ: – Sr. Presidente, Srs. mas, por outro lado, há uma alternância,
Constituintes, Sr. Constituinte Cartel Benevides, um sair-e-entrar de funcionários, pelas
gostaria inicialmente de dizer que é uma grata características de área de expansão pioneira.
surpresa conhecê-lo pessoalmente. Já conhecia Para ser realizado um concurso público, por
através da imprensa a sua combatividade, e exemplo, temos de fazer um expediente ao
gostaria de dizer a V. Ex.ª que me deixou Ministro do Interior, que o submete a toda a
numa situação muito difícil. Em primeiro lugar, estrutura burocrática do Minter, consulta a
a mim, particularmente, parece que a criação Cedap, o Planejamento, e leva ao Presidente
de Territórios não seria o melhor mecanismo da República. Isso fez com que em Roraima
para desenvolver áreas sujeitas a crescimento tenha, hoje, 80% dos seus quadros policiais
estagnado. O mais razoável seria fortalecer os ocupados por pessoas que não são
municípios, as bases municipais e, a partir funcionárias do Governo.
daí, poder-se-ia consultar a população dos O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
municípios envolvidos sobre o seu desejo de – Agradeço a V. Ex.ª.
se transformar em Estado. A experiência de Não havendo mais nenhum Constituinte
Roraima – e falo particularmente de Roraima inscrito para o debate, passarei a palavra ao
– tem demonstrado que muitos malefícios Prefeito de Macapá, Dr. Raimundo Azevedo
foram criados a partir da figura do Território. Costa. Peço que o calor do Amazonas não se
Nós, que fomos Município do Estado do transfira para os debates, como aconteceu com
Amazonas, reconhecemos que a o Governador Getúlio Alberto de Souza Cruz.
transformação em Território trouxe-nos O SR. RAIMUNDO AZEVEDO
inúmeros benefícios, mas gerou diversas COSTA: – Exmº Sr. Deputado Constituinte e
distorções. Contudo, se este é o caminho Presidente desta Subcomissão, Deputado
mais viável – criação de Territórios Federais – Jofran Frejat, Relator Sigmaringa Seixas, meu
parece-me que alguns pontos devem ser amigo de sacrifícios e lutas nos Territórios
objeto de preocupação na criação e Federais, Governador Getúlio Cruz, Srs.
formulação de uma lei orgânica para esses Constituintes, é um prazer assistir aos
Territórios. Em primeiro lugar, é necessário vereadores de todo o Território do Amapá, e
que os povos dessa região tenham uma não somente do Município do Macapá, dando
justiça própria. A criação de um Território que uma força inconteste à libertação daquela área,
possa ser enxuto pressuporia a questão da para se quebrar os grilhões e as amarras que,
nomeação de governador. Neste ponto ao longo de 44 anos, sofre aquele povo. Falar
assaltam-me algumas dúvidas: como do Território do Amapá aqui é repetir tudo o
poderíamos viabilizar uma nomeação que que foi dito pelo Governador Getúlio Cruz.
pudesse guardar estreito relacionamento com Roraima, pelas suas dificuldades e
a classe política local? O mais razoável seria necessidades, é um retrato fiel do Território do
que a indicação de governador de um Amapá. Daremos aos Srs. Constituintes um
Território tivesse que passar pela aprovação depoimento das nossas necessidades, embora
de uma assembléia legislativa ou, no caso, da tenha certeza de que isso já foi feito nesta
Câmara dos Deputados. De qualquer forma, é Subcomissão pelos Constituintes que
necessário que a indicação e a nomeação de representam minha terra. Garanto a V. Ex.ª
governadores possa guardar sintonia com a que, com nossas potencialidades, já está
classe política local, até que o povo possa aquele pedaço de chão pátrio a necessitar uma
manifestar-se, para evitar os descaminhos mudança institucional. Por isso, perdi algumas
que ocorreram nos Territórios. Por outro lado, horas do meu viver, mas ganhei algumas horas
que na lei orgânica dos Territórios fosse com o sentido de mostrar, por escrito, a esta
criada uma legislação que permitisse, com Subcomissão o que é, o que tem e o que
controle, que aquele que fosse exercer o necessita o Amapá. Colocamos como título: "O
Poder Executivo o fizesse sem as amarras povo do Amapá rejeita a dependência."
administrativas que hoje existem. Poderia ser Na qualidade de Prefeito Municipal de
copiado o modelo, por exemplo, do Distrito Macapá, Capital do Território do Amapá,
Federal, que tinha uma Comissão tenho a honra de estar aqui prestando meu
Permanente no Senado, porque, se singelo depoimento a tão nobre Comissão,
deixarmos isto ao nível da tecnocracia e da que ao final de seus trabalhos poderá propor
burocracia, vamos postergar, e muito, as a extinção de uma das maiores contradições
decisões necessárias a uma área na qual políticas e administrativas desta República
queremos promover o desenvolvimento, Federativa: a transformação dos Territórios
porque as transformações são muito rápidas. em Estados, resgatando em definitivo a
No estágio atual, com a legislação que emancipação política e a maioridade, como
hoje existe, a ação e reação do Estado é muito cidadãos, para milhares de brasileiros.
retardada pelos caminhos da burocracia. Falar-lhes-ei mais especificamente
Chegarei no caso da polícia, na questão da sobre a situação que vivemos hoje no
segurança pública. Resumirei o caso de Território Federal do Amapá, inserido na região
Roraima. Roraima tem 230 mil Km2, é quase que se denomina a "Guiana brasileira",
um terço do território da Venezuela, com uma das províncias minerais mais ricas
sua população espraiada ao longo des- do planeta, cheia de terras férteis, com
imensos recursos fluviais e naturais, crivado
de atrações turísticas de nível internacional,
com uma gama enorme de oportunidades
para investimentos empresariais e terra do
inigualável fenômeno da "pororoca".
Terra também de visíveis
desigualdades sociais, fruto da ocupação
acelerada do solo, e ainda carente de certa
infra-estrutura, principalmente nos setores de
habitação, saúde, saneamento e educação,
como de resto acontece em todo o País.
Assim como a linha do Equador divide
o Território entre os dois hemisférios (Norte e
Sul), uma linha, que não é imaginária, nos
impede de enfrentar adequadamente estes
desafios: a total falta de autonomia do Amapá,
que, na categoria de Território, já atingiu o seu
limite máximo de desenvolvimento. Para que
haja uma continuidade deste processo, e não a
relativa estagnação que sofremos hoje, será
imprescindível nos libertarmos das amarras
que nos prendem ao Governo Federal. O povo
do Amapá rejeita esta dependência que a cada
dia assume caráter mais opressivo.
A tutela do governo central é
prejudicial ao Amapá, mais ainda porque o
Território está geograficamente isolado do
resto do País. Como as decisões estão todas
centralizadas em Brasília, até as questões
mais simples arrastam-se meses e meses
para um desfecho final.
Dizia, numa visita anterior que fiz a
Brasília, à imprensa que o mais simples caso
de polícia nos Territórios Federais terá que
ser resolvido em Brasília. Além disso,
praticamente toda a produção mineral e a
extração de outras riquezas do Território não
revertem um cruzado aos cofres públicos
amapaenses: são canalizados diretamente
para Brasília e não mais retornam, a não ser
em migalhas, àquele povo.
Digo isto consciente de que é
fundamental, neste processo de transformação,
um apoio mais concreto do Governo Federal
em termos de recursos indispensáveis para o
incremento de nossas potencialidades latentes.
Estes recursos deverão vir principalmente na
forma de incentivos para a ampliação do
parque industrial e comercial, uma vez que a
instalação do governo estadual está facilitada.
Já foram construídos, conforme depoimento
feito aqui, nesta oportunidade, pelo ex-
Governador, hoje Constituinte, Deputado
Annibal Barcellos, os prédios da futura
Assembléia Legislativa do Estado, do Banco
do Estado do Amapá, da Justiça em Primeira
Instância, e há um conjunto administrativo que
abrigaria perfeitamente as repartições
estaduais na Capital do Território do Amapá.
Por outro lado, existe a dificuldade da
iniciativa privada local em produzir, a custos
competitivos, os produtos que hoje são
importados, por motivos ligados à situação
geográfica do Território, distante dos grandes
centros consumidores nacionais, e à
necessidade de um mínimo na escala de
produção, a fim de torná-la viável e lucrativa.
Assim, é preciso, de imediato, quebrar
o círculo vicioso que está formado: não
podendo produzir em escala – em virtude do
baixo poder aquisitivo da população e da
inexistência de mercado consumidor local –
não há geração de novos empregos.
Sugerimos desde já o fomento pelo
Governo Federal, através de programas
específicos com recursos assegurados, a
implantação de novas unidades industriais
ligadas ao mercado consumidor local,
tais como cerâmicas, pesca, agrope-
 DIÁRIO DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 56

cuária, madeireira, pois toda nossa produção
sal do Território.
Da mesma forma, a preciso incentivar
o aporte de capital externo – nacional ou
estrangeiro – com uma política fiscal
vantajosa, para vencer barreiras típicas de
empreendimentos pioneiros. Neste caso, os
obstáculos a serem vencidos se iniciam já na
fase de implantação das instalações, com os
preços dos materiais de construção muito
elevados, ate a fase de comercialização.
Somente estes incentivos poderiam oferecer a
mesma rentabilidade de outras regiões.
Outra questão que esta diretamente
ligada a necessidade de transformação do
Território em Estado, e portanto ao efetivo
desenvolvimento da região, diz respeito a
segurança nacional. O Território Federal do
Amapá possui fronteiras internacionais com o
Suriname (52 km) e com a Guiana Francesa
(655 km). Durante anos a posse da região foi
contestada pela França. Ainda hoje a grande
a influencia deste país na área, graças ao
desnível existente. Tanto é que os índios da
reserva do Oiapoque realizam comércio regular
com a Guiana Francesa, através de St.
George. Muitos deles falam e compreendem
melhor o "criollo" – dialeto da Guiana – do que
o português. Na reserva indígena, assim como
na cidade de Oiapoque, há maior audiência
de programas da Rádio da Guiana do que de
emissoras locais. Tudo, apesar do grande
aparato policial e militar existente na região.
Dito isto, parece-me claro que
somente a revitalização política e econômica
regional seria capaz de mudar o panorama
atual. É preciso colocar um ponto final na
apatia reinante nos Territórios, principalmente
no meu – somos nativos daquela área – e
partir para uma nova fase, para um novo
Amapá, para o Estado do Amapá.
Só assim poderemos cobrar com mais
veemência o término das dificuldades de acesso
e comunicação, resultantes da situação
geográfica do Território no extremo Norte do
País, sem vias terrestres que a unam as outras
Unidades da Federação. As duas principais
rodovias do Amapá, a BR-156, Macapá –
Oiapoque e a BR-210, Macapá–Roraima, estão
sendo penalizadas por não dar o Governo
Federal prioridade aos Territórios e,
principalmente, aos amapaenses. Basta uma
rápida análise da economia focal para
constatar os prejuízos que estamos sofrendo
com essa demora. Inseridos no conjunto da
economia regional, verificamos uma perda de
posição relativa, ano a ano, em todos os
setores. Além da falta de um mercado
consumidor externo, enfrentamos a inconstância
das exportações de matérias primas. Qualquer
oscilação brusca no mercado internacional gera
graves repercussões internas, com sérios
agravantes sociais. Baseando-se em
levantamentos do IBGE, pode-se afirmar que
85% das famílias do Território possuem
rendimentos inferiores a seis salários mínimos.
Portanto, a grande maioria dos amapaenses
não está preparada para enfrentar essas
flutuações com seus orçamentos domésticos.
Outro fato importante a ser considerado a que
a administração das cidades, como a de
Macapá, não esta suficientemente preparada
para arcar com esse tipo de responsabilidade.
Não há disponibilidades de recursos
nem mesmo para atender ao rápido
crescimento das cidades. A oferta de
água potável, esgotos, energia elétrica,
serviços de educação e saúde, com algumas
exceções, não cresce tão rapidamente quan-
to as necessidades da população, havendo,
em conseqüência, a deterioração da
qualidade de vida, afetando com isso a
comunidade. É conveniente observar que uma
cidade que cresce a taxa de 5% ao ano
duplica a sua população a cada quinze anos.
Ou seja, é preciso urgentemente dotar esta
gente norte brasileira de um governo próprio,
capaz de interpretar suas aspirações, que
sinta na carne seu drama; um governo
autônomo e comprometido com as
dificuldades e peculiaridades dessa terra rica
e linda, porem desprezada pela distância que
a separa de seus governantes. Muito
obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao nobre Constituinte
Felipe Mendes.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, Sr. Relator, Sr.
Governador, Sr. Prefeito, e Srs. Constituintes,
a minha colocação aqui serve também para a
exposig6o feita pelo nosso governador de
Roraima e, especificamente, para trazer
novamente a minha palavra de nordestino em
apoio a esta reivindicação dos Estados – já
posso chamá-los assim – de Roraima e do
Amapá. Ontem mesmo, participando de uma
reunião, em Brasília, de vereadores do Brasil
– não sei se se encontra algum vereador aqui
presente – ouvi os representantes daqueles
territ6rios, e do Estado do Amazonas, também
na parte fronteiriça, falarem de problemas que
normalmente não ocorrem no restante do
nosso País. Isso só reforça a minha convicção
de que o Governo Federal, ao contrario desse
tratamento injusto dado, deveria, como eu
disse, através do próprio Ministro do Interior,
até mesmo pagam a esses brasileiros que
estão lá sacrificados, ocupando esses
territórios e levando aos mesmos o
desenvolvimento. De forma que quero aqui
trazer o meu abraço e a minha palavra de lê
no sentido de que essa luta dos brasileiros de
Roraima a do Amapá haver de ser
compreendida por esta Assembléia Nacional
Constituinte, e todos nos haveremos
brevemente de ter mais dois Estados no País.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço ao Deputado Felipe Mendes o seu
depoimento e concedo a palavra ao
Constituinte Ottomar Pinto.
O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR
PINTO: – Sr. Presidente, Srs. Constituintes, Sr.
Governador de Roraima, Getúlio Alberto
de Souza Cruz, Sr. Prefeito de Macapá,
Raimundo Azevedo da Costa, inicialmente,
congratulo-me com V. Ex.ª pelo retrato
postal que fez do Amapá, território que tive o
privilégio de conhecer, lá tendo estado
por muitas vezes, quando o nobre Constituinte,
Comandante Barcellos, dirigia aquele
rincão brasileiro. Sabemos que realmente o
Amapá tem riquezas incomensuráveis,
as quais V. Ex.ª, acabou de mencionar, como
os grandes bancos camaroneiros, o litoral
piscoso, valiosos e volumosos maciços
madeireiros, riqueza mineral, área de
cerrado extremamente propicia a bovinocultura,
a cultura dos búfalos; enfim, existe
realmente uma grande população coesa.
Não posso asseverar, por não ter uma
convivência maior com ela, mas acredito
que, pela voz de suas lideranças, essa
população deseja a autonomia daquele
território. Realmente, foi enfatizado
aqui diversas vezes que o colete do território
já esta muito apertado para o Amapá
e para Roraima. É até possível, como foi
mencionado pelo Governador de Roraima, que
novos territórios possam vir a ser criados
através de modificações institucionais
significativas. Por exemplo, a Comissão do
Senado, a exemplo do que ocorre no Distrito
Federal, dará poderes a uma entidade qualquer,
talvez a nível de Brasília, para promover o
Impeachment de governadores que venham a
ser eleitos para os territórios, se for este o caso,
e acho que deva ser, porque e inadmissível,
nos ventos que sopram nesta Nova Republica,
a figura do governador nomeado. Realmente,
com o governador sendo eleito sem haver um
instituto parlamentar que promova o seu
Impeachment, fica Deus no céu e ele na terra;
só um golpe da polícia do território a que
poderá destituir um governador. De modo que
queremos, sobretudo, nos congratular com V.
Ex.ª pelas colocações que fez e dizer que, a
exemplo dos demais Constituintes desta
Subcomissão e da Assembléia Nacional
Constituinte, há uma compreensão generalizada
no sentido de que as figuras autoritárias de
administração não poderão mais prosperar
nesta República. Ao mesmo tempo, desejo
endossar o meu apoio e a minha estima a
liderança política do Amapá pelo esforço que
vem promovendo no sentido de conquistar um
grau crescente e definitivo de autonomia paras
aquele próspero território. Nenhuma colocação
terra a fazer, porque o que tinha a dizer já o fiz
aqui para o expositor que me antecedeu.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª pela exposição.
Concedo a palavra ao Sr. Constituinte
Geovani Borges.
O SR. CONSTITUINTE GEOVANI
BORGES: – Sr. Governador e meu prezado
amigo, não pude responder as colocações
alegres, latas e serias que V. Ex.ª fez aqui no
plenário, mas alcancei plenamente o seu
raciocínio e o respeito. O Sr. Presidente da
Mesa, com muita habilidade e espírito
democrático, não sabia dizer "não" ao
Constituinte quando ele quer se pronunciar, e
n6s respeitamos e acatamos satisfeitos.
Quanto ao ilustre Prefeito do Município de
Macapá, Raimundo Azevedo Costa, em cuja
gestão conseguimos uma das primeiras
vit6rias para os Territórios Federais, que foi a
formação do sistema administrativo e político
do município, com a eleição de vereadores e
prefeitos escolhidos pelo povo, quero
parabenizá-lo por sua explanação, ao
demonstrar mais uma vez conhecer os
problemas do Território, não só do seu
município, dando uma visão abrangente ao
Constituinte sobre o Amapá Estado. Continuo
mantendo minha posição – vamos por etapas.
Este é o ponto de vista que procurarei
defender no plenário da Subcomissão, mas,
de antemão, não poderia aqui deixar de dar-
Ihe as nossas boas vindas. Desejamos que
fique nos Anais da Constituinte a participação
do Executivo Municipal. Esta e a oportunidade
que o nosso Presidente da de uma abertura
ampla, a fim de que os Constituintes possam
ir a plenário declarar o seu "sim" ou "não",
conscientes daquilo que viram e analisaram.
Aqui ficam, portanto, meus parabéns a V. Ex.ª
pela sua explanação. Quero deixar registrada
a minha posição no sentido de que
conquistamos a nossa autonomia político
administrativa na qualidade de Território.
Meu prezado Governador Getúlio
Souza Cruz, compreendo sua observação,
mas não estou querendo, digamos
assim, Territórios como Estados
57 DIÁRIO DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
sem face. Não é esta a minha intenção, mas a Portanto, concluo parabenizando V.
de assegurar repasses de recursos com a Ex.ª pela defesa da tese da transformação
garantia do Governo Federal, para que não dos Territórios em Estados. (Palmas.)
corramos o risco de ficar na mesma situação O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
do Estado de Rondônia, cujo Governador esta – Agradeço a V. Ex.ª o depoimento e concedo
pedindo a volta do Estado a Território, esta a palavra ao Constituinte Chagas Duarte.
com saudade do Território de Rondônia. Isso O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
realmente me faz tomar essa posição. Já fui DUARTE: – Sr. Presidente, Sr. Prefeito de
simpático a tese de Estado, mas, devido a Macapá, Governador Getulio Souza Cruz, Sr.
minha convivência aqui na Câmara, áj pela e Srs. Constituintes, parabenizamos o Dr.
segunda Legislatura, e pela observação e Raimundo Azevedo Costa por duas
aprofundamento do assunto, hoje tenho essa afirmativas importantes que fez durante sua
posição firmada. palestra. Primeiro, a de que o povo de Amapá
Parabenizo-me com o ilustre Prefeito rejeita o estado de dependência em que vive.
pelo seu brilhantismo. V. Ex.ª foi meu colega Acho isso primordial e importante para essa
concorrente, vencendo-me na eleição, mas passagem de Território a Estado, o povo esta
aqui estou porque quem venceu não foi V. consciente de que não quer ficar mais nesse
Ex.ª, mas a democracia, Amapá, por tê-lo estado de dependência humilhante, anticristã
escolhido para comandar os destinos de e antidemocrática, como também o povo de
Macapá. Muito obrigado. Roraima. Segundo, quando V. Ex.ª disse que
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): o Território, assim como Roraima, chegou a
– Agradeço a V. Ex.ª Passo a palavra ao Dr. um estado de estagnação que, daí em diante,
Raimundo Azevedo Costa, Prefeito de não haverá mais desenvolvimento. E
Macapá. sabemos, Srs. Constituintes – e importante
O SR. RAIMUNDO AZEVEDO que afirmemos isso alto e bom som – que ele
COSTA: – Queremos, na oportunidade, chegou a esse estado de estagnação porque
apenas fazer um registro que talvez alguns dos as linhas organizacionais desses Territórios
Constituintes não saibam e os presentes estão obsoletas, velhas, arcáicas, e diria ate
também. Geovani Borges a meu conterrâneo, que, não adianta mais o governo investir tanto
nascemos na mesma terra, e meu se não vai haver mais desenvolvimento, nem
contemporâneo político. Fomos vereadores por crescimento. É algo para se meditar. Inclusive
duas legislaturas, disputamos eleições federais o nosso Constituinte e ilustre amigo Geovani,
e Geovani Borges foi eleito Deputado Federal, tenho certeza absoluta, vai se engajar nesta
disputamos eleições municipais e Azevedo arrancada para a transformação dos
Costa e Prefeito Municipal. Quero dizer com Territórios em Estados. Realmente, sentimos,
isto que ninguém melhor do que nos conhece meu caro Prefeito de Macapá, que o povo do
as necessidades de nossa terra e o nosso Território esta desestimulado, não he
desejo de nos libertarmos. Por isso dou esse criatividade nem interesse em lutar pelo seu
testemunho, fazendo essas colocações, porque crescimento, porquanto ele se sente castrado
tenho certeza de que o meu amigo Constituinte pelo poder central, por não permitir que ali o
Geovani Borges quer realmente a povo cresça. Costumo dizer que o povo não
transformação do Território do Amapá em nasce feito, ele se faz na sua caminhada e
Estado. Se elege governador, deputados, creio que agora e chegada a hora de se
assembléia legislativa, tribunal de contas, transformarem em Estados pujantes, fortes,
tribunal de justiça, a Estado. Falou bem o porque tem riqueza, como ficou claro e
nosso Governador. evidenciado durante sua palestra e diante da
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): exposição do Governador.
– Com a palavra o Constituinte Mozarildo Congratulo-me com V. Ex.ª e o
Cavalcanti. parabenizo pela sua palestra. Oxalá,
O SR. CONSTITUINTE MOZARILDO possam ir todos a Roraima. Preguem o
CAVALCANT: – Meu Caro Dr. Azevedo Estado e nos, de Roraima, iremos a
Costa, Prefeito de Macapá, quero Macapá pregar o Estado junto a vocês.
cumprimentá-lo por sua brilhante palestra, por (Palmas.)
sua clareza e objetividade, como também pelo O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
exemplo de grandeza políticas e de elegância – Agradeço a V. Ex.ª Concedo a palavra ao
com que se houve, inclusive com um Constituinte Anníbal Barcellos.
adversário político; mas, acima de tudo, esse O SR. CONSTITUINTE ANNIBAL
cavalheirismo da parte de V. Ex.ª como do BARCELLOS : – Vou dizer poucas palavras,
companheiro Geovani Borges, demonstra Sr. Presidente, nosso Prefeito e nosso
claramente a importância da convivência amigo Getúlio Souza Cruz, a respeito de
políticas em alto nível. Sou testemunha das uma situação lá no Território. Nos, que
lutas travadas quando da nomeação do governamos aquele Território durante
governador do seu Território, como também seis anos, deixamos projetos para sua
do nosso Território, e sei quantas vezes emancipação política e administrativa.
discordâncias houve. Hoje V. Ex.ª está Iniciamos o asfaltamento da BR-156, que já
preocupado exatamente com o melhor para o vai caminhando. Fizemos uma ponte sobre o
Território e, acima de tudo, com a alto rio Araguari de seiscentos metros lineares de
discussão da tese da transformação dos extensão. Deixamos um projeto pronto para
Territórios em Estados; se se deve criar novos fazer duas mil usinas, uma no rio Cricô, e
Territórios, e por quê, estando acima de tudo outra no Amapá Grande. São duas usinas que
preocupado com o momento histórico e com o beneficiarão não só o município do Amapá,
futuro das populações do Território. Tenho como também o do Oiapoque, alcançando
dito em Roraima que somos muito poucos no mesmo o município de Calçoene. Enfim,
contexto nacional: cerca de duzentos mil levamos para lá o Grupo Caeme, que
habitantes; portanto, um município médio implantou ali um projeto com mais de 4 mil
neste Brasil, e somos uma representação de hectares de dendê plantados, conseguindo
quatro deputados apenas. Se fossemos todos recursos da Sudam. E Ia existe uma usina de
unidos, teríamos pouca voz no cenário político beneficiamento de dendê, começando o
nacional e, desunidos, menos ainda. trabalho com o óleo de dendê, a fim de levar
o progresso ao nosso Território, O pinus está
sendo agora cortado. E, mais tarde, o Grupo
pretende fazer ali uma fábrica de celulose,
começando com a pasta de cavaco. Enfim,
fizemos alguma coisa por aquele Território.
Tenho certeza absoluta de que com a
transformação do Território Federal do Amapá
em Estado outros projetos virão e teremos um
maior desenvolvimento.
Congratulo-me com o Prefeito
Raimundo Azevedo Costa pela sua brilhante
exposição. Estou certo de que ele vai cerrar
fileiras em tomo de todos aqueles que
desejam a emancipação política dos nossos
Territórios.
E quanto à eleição para governador,
Raimundo Azevedo Costa já disse tudo. De
que adianta uma eleição para governador,
uma câmara legislativa que vai apoiar, por
exemplo, alguns projetos do governador
eleito, mas que estar sempre amarrada, presa
ao Ministério do Interior? Não vai adiantar
nada. Imagine que o Governador quer fazer
um projeto criando mais três municípios,
manda-o para o Congresso e este o aprova. E
dai? Como disse o Governador de Roraima e
o nosso Prefeito, Raimundo Azevedo Costa,
se já existe condição, por que não transformá-
lo em Estado? Muito obrigado mais uma vez a
todos.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª e peso a palavra a
Constituinte Marluce Pinto.
A SRA. CONSTITUINTE MARLUCE
PINTO: – Sr. Presidente, Sr. Relator, Sr.
Prefeito, Sr. Governador do Território e
Constituintes, quero parabenizar V. Ex.ª, Sr.
Prefeito, pela maneira como expôs o assunto.
Não tenho perguntas a fazer.V. Ex.ª foi tão
claro que já deu para termos uma idéia do
que e o seu município. Só faço um apelo ao
Constituinte Geovani Borges. Temos agora –
pelo menos acho isso – mais um argumento
para que V. Ex.ª venha a aderir a nossa causa
(palmas), porque a maneira elegante cirada
pelo meu caro colega Constituinte Mozarildo
Cavalcanti a exatamente por que V. Ex.ª,
Constituinte Geovani Borges, não tem nem
como questionar nada ao Dr. Raimundo
Azevedo, pelo fato de que ele a um prefeito
eleito, sabe que o povo do seu Território o
elegeu. E questionar o que? diferente quando
questionamos, porque todos sabemos que
não freqüentamos esta Casa porque somos
instruídos ou temos recursos, ou somos
pobres, mas sim porque o povo nos elege
para sermos seus representantes. E a minha
luta por Roraima a aquilo que todos já sabem,
nem preciso discutir. O povo quer mudanças
e por isso que lutamos, não por deselegância,
nem porque achamos que não e o Dr. Getúlio
Souza Cruz que pode continuar lá. Não sou,
eu como representante nesta Casa, que não
desejo que ele fique, foram as urnas. Por
isso quero que V. Ex.ª Constituinte
Geovani Borges veja como a fácil para um
prefeito ou um governador quando ele a
eleito.
Sei que todos erramos, só não erra
quem não trabalha, mas, quando somos
escolhidos, até os erros são, entendidos e
aceitos e, quando não o somos, às vezes até
as virtudes se transformam em defeitos.
Então, apelo ao Geovani, no sentido de que
os quatros representantes de Roraima,
esqueçam as divergências partidárias e
pensem em nosso povo. Depois,
com a transformação do Território em
Estado, cada um lute pelo seu interesse
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (SUPLEMENTO)
pessoal. A minha luta não a pessoal, nem
política sou, porque, conforme falou o Sr.
Chagas Duarte, não conheço o seu Território,
mas ele sabe muito bem que não a verdade,
porque o Ottomar passou Ia quatro anos e eu,
teste. Às vezes, três anos representam mais do
que cem. Para que V. Ex.ª saibam, meus caros
colegas, eu, estranha ao Território, tendo lá
ficado três anos e ha quatro ausente, fui
solicitada pela comunidade para ser candidata,
mas ate as vésperas da Convenção não queria
aceitar o convite e tenho provas. Isso
aconteceu exatamente pela administração que
se fez, pela luta do Ottomar. Esta mulher que
V. Ex.ª hoje estão vendo, de sapato alto,
representando este povo não e a que vive lá no
Território. Quero dizer que não temos duas
personalidades, mas duas representações. Lá
eu ando de calça jeans e tênis e ninguém pode
desmentir isso. Ate em cima de carroceria de
caminhão dormi com meu marido quando
fomos dar assistência as malocas indígenas.
Essa foi a nossa luta e por isso levanto essa
bandeira. Quem sabe um dia, depois que
tivermos todos os nossos representantes
eleitos, existira essa elegância, Constituinte
Mozarildo, e teremos aqui só elogio a dar um
ao outro. O que não podemos e, como
representantes do povo, ir de encontro aos
seus interesses.
Mais uma vez, muito obrigado ao Sr.
Presidente Jofran Frejat e a todos os
Constituintes que nos prestigiaram, porque ha
muitos aqui que não fazem pane de nossa
Comissão; também queremos agradecer a
presença dos convidados voluntários. Esta
aqui também nos ouvindo o Prefeito de Boa
Vista. Muito obrigado a todos os presentes,
porque ha outros aqui que fazem parte da
política, que são, os vereadores. O meu
obrigado a todos os brasileiros que estão
presentes nesta Comissão. E vamos
continuar, porque a luta não a só do Território
do Amapá, nem de Roraima, mas brasileira.
Especialmente nesses dois Territórios há
menos roraimenses do que pessoas que vão
de outras terras e que, ao Ia chegar, já se
consideram roraimenses como eu e o
Ottomar. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte Vilson
Souza.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Sr. Presidente, pela ordem,
porque fui citado nominalmente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra, para uma questão de
ordem, ao Constituinte Chagas Duarte.
Imaginava, Srs. Constituintes, que a chuva do
bom senso já tivesse diminuído o calor do
debate sobre a Amazônia, mas vejo que ele
continua. Rogo novamente aos Srs.
Constituintes que se dispam das questões
locais e se atenham aquelas mais
importantes, que e a transformação ou não
dos territórios de Roraima e Amapá em
Estados.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Sr. Presidente, Srs. Constituintes,
agradecemos a Mesa pela advertência, mas,
vejam bem, isso faz pane do debate e muito
interessante para que possamos nos
compreender melhor.
Estamos aqui numa missão muito
nobre: a de fazermos uma Constituição.
Quero dizer a nobre representante de
Roraima, mais uma vez, que S. Ex.ª confundiu
as afirmativas que aqui fizemos. não disse
que os ilustres Constituintes não conhecem o
território; longe de mim. Sou testemunha”.
da sua atividade como esposa de governador
que administra o território de dentro de um
avião, viajando por toda a região. Disse, isso
sim, minha ilustre Constituinte, e reafirmo, que
V. Ex.ª não conhece a nossa História, o nosso
passado, a nossa luta, a luta de homens que
nos legaram aquele território. E não a
obrigado a conhecer isto, porquanto V. Ex.ª é
oriunda de um Estado muito distante do
nosso, o Ceará, e chegou Ia em 1980.
Nascemos no território, presenciamos e
testemunhamos o seu nascimento, em 1943,
e quando passou a território. Foi o que quis
dizer a V. Ex.ª que, realmente, a um fato. Isso
também não a nenhum demérito, em
absoluto. V. Ex.ª agora, como representante
do território, se estiver engajada na nossa
luta, vai nos orgulhar por defender um
patrimônio que te foi legado. Era o que queria
colocar e deixar bem claro. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª. Com a palavra o
Constituinte Vilson Souza.
O SR. CONSTITUINTE VILSON
SOUZA: – Sr. Presidente, Sr. Relator,
ilustre Governador do Território de Roraima,
ilustre Prefeito da cidade de Macapá, Sr.
Prefeito da cidade de Boa Vista,
companheiros Constituintes, nobres e do Brasil, de outro lado, são os mercados para
valorosos vereadores aqui presentes, venho
de um Estado muito pequeno em termos
territoriais, que e o de Santa Catarina. E
quando o companheiro Ottomar, na sua
exposição, fazia comparação pelos dados que
trazia de Roraima – duzentos e trinta mil
quilômetros quadrados – com o meu Estado,
com cerca de oitenta mil quilômetros
quadrados, portanto um terço dessa área – o
território com oito municípios, o nosso Estado
com cento e noventa e nove – e a diversidade
do seu parque industrial, da sua economia,
isso aumentou consideravelmente a minha
angustia, porque venho para esta Assembléia
não com espírito corporativista, nem
regionalistas, mas acho que chegou o
momento de alcançarmos a maturidade
política para vermos este Pais, primeiro, com
muita seriedade, segundo, com o espírito do
seu conjunto, não mais com esses
particularismos que só no.dividem. Através
dessa exposição e pelo valor dos debates de
hoje, sinto angustia com relação à gente que
vive nos Territórios de Roraima e do Amapá,
bem como desse imenso território desabitado
do Brasil, carente de infra-estrutura, de um
mínimo de atendimento em todos os campos.
Realmente, é um desafio imenso e muito
grande paras a nossa gente. já motivado ate
por algumas discussões aqui neste final de
semana, aproveitando o feriado, estive
visitando a região de Cuiabá, Poconé e do
Pantanal, sem fazer nenhum contica,
procurando falar com o homem ribeirinho, o
homem sofrido do Estado do Mato Grosso, a
fim de sentir as suas dificuldades. Isso
aprofunda, inclusive, a nossa angustia. Acho,
governador, prefeitos e companheiros, que
temos que ousar, porque não a mais possível
que a uma população de um território tão
grande possa ter sido negado os seus direitos
mínimos, como o de Justiça, onde a
concentração de renda e a diversidade do
desenvolvimento regional ensejam uma
profunda injustiça. Pelos depoimentos
aqui trazidos hoje, o arbítrio muitas vezes
incontido de algumas autoridades contra
aqueles menos favorecidos pela sorte
leva-os a condições inumanas. Lembro-me
da colocação do Governador Getulio
quando dizia que ha necessidade de uma
58
autodisciplina muito grande para se tomar
democrático. E recordaria ainda Montesquieu,
que e certamente o precursor e o inspirador
maior do constitucionalismo moderno, quando
dizia que todo homem que tem o poder tende a
dele abusar, se não houver um sistema de
contra poderes que lhe freie, lhe limite o poder.
Esta não e a chave de todo o
constitucionalismo, mas da própria democracia.
De outro lado, não a mais possível que uma
parte considerável do território brasileiro seja
considerada mera autarquia territorial
administrada pelos ventos, pelos sopros e pela
instabilidade que existe no Planalto. Temos que
vir aqui com o espírito de solidariedade, não só
para com os territórios, mas para com as
regiões mais pobres e carentes destes Pais.
Nos, que viemos de Estados mais
desenvolvidos, em que o processo de
desenvolvimento já fez acentuadamente a
valorização da vida humana, devemos trazer
aqui o nosso depoimento e propor,
urgentemente, que no pacto federativo,
tenhamos o dever e a obrigação de financiar,
através da criação, provavelmente, de um
fundo, os desequilíbrios regionais (palmas),
para fazer com que os Estados do Sul e do
Centro se desenvolvam, porque essas regiões
o seu produto. Lembro-me, ha muito tempo, ao
ler a obra de Celso Furtado à frente da Sudene
e no Ministério do Planejamento, então no
Governo Juscelino Kubitscheck, de quando ele
falava da necessidade de se fazer no Brasil um
fundo, no sentido de que a Federação tinha a
obrigação de desenvolver o Norte e o Nordeste
não por uma concessão, mas para, pura e
simplesmente reequilibrar a geração de
riquezas que esses Estados nos dão. O
Nordeste, hoje, poderia estar na OPEP – e isso
deve ser dito e inclusive reconhecido por nós –
só que de lá a extraído petróleo em função da
unicidade econômica do território brasileiro,
não havendo a devolução desses recursos
para lá. Da mesma forma, os Estados do Norte
e Nordeste, principalmente do Norte, com a sua
riqueza e o seu potencial mineral, não só de
hoje, com a reserva que nos dão para o futuro,
tem o direito de receber a nossa atenção e
principalmente a nossa preocupação, ainda
mais porque ali se encontram cidadãos
brasileiros, irmãos nossos, que vivem
provavelmente em situação de pobreza, de
miséria e em completo abandono. Por isso, o
meu depoimento aqui é no sentido de
encampar a bandeira não só dos senhores,
mas do Brasil, no sentido de elevar Roraima e
Amapá a condição de Estados. (Palmas.) E
mais: há necessidade da criação de fundos
para alocação de recursos naquela região. De
outro lado – só para terminar, Sr. Presidente –
este Pais tem sido administrado com absoluta
incompetência, impropriedade e
irresponsabilidade e vemos a dispersão de
recursos públicos em gastos absolutamente
inadequados, à corrupção campear solta. Se
tivéssemos a possibilidade de alocar parte
disso, certamente teríamos condições de
acelerarmos o desenvolvimento dessas
regiões.
Era este o meu depoimento, Sr.
Presidente, companheiro. E tem aqui o meu
aval e o meu apoio a essa pretensão. Muito
obrigado. (Palmas)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª pelo depoimento. Não
havendo mais Constituintes inscritos para o
debate, aviso aos participantes
desta Comissão que o governador do Amapá
nos comunicou, antes da sessão, que
59 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (SUPLEMENTO)
estava com dificuldade de transporte e pediu inteiro teor dos trabalhos será publicado, após
a transferência da sua participação para a tradução das notes taquigráficas e o
amanhã, as 17 horas. Teremos hoje, ás 17 competente registro datilográfico, no Diário
horas, a participação nas audiências públicas da Assembléia Nacional Constituinte. Nada
do Sr. Prefeito de Boa Vista, Dr. Silvio mais havendo a tratar, o Senhor Presidente
Sebastião de Castro Leite e ainda do deu por encerrados os trabalhos, às dezoito
Presidente da OAB de Roraima, Dr. Uedner horas e quarenta e três minutos, convocando
Moreira Cavalcanti. os Senhores Constituintes para a próxima
Nada mais havendo a tratar, vou reunião a ser realizada dia cinco de maio, às
encerrar a reunião, convocando outra para nove horas e trinta minutos, para Audiência
hoje a tarde, ás 17 horas. Publica com a presença do Sr. Osny Duarte
Esta encerrada a reunião. Pereira. E, para constar, eu Antonio
Fernandes Borges Manzan, Secretario, lavrei
10ª Reunião Extraordinária, Realizada em a presente Ata que, depois de lida e
4-5-87 aprovada, será assinada pelo Senhor
Presidente. – Constituinte Jofran Frejat,
Aos quatro dias do mês de maio do Presidente.
ano de mil novecentos e oitenta e sete, as O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
dezessete horas e trinta e três minutos, na – Havendo número regimental, e sob a
sala "B1" – Anexo II da Câmara dos proteção de Deus, declaro abertos os
Deputados, reuniu-se a Subcomissão da trabalhos da reunião da Subcomissão da
União, Distrito Federal e Territórios, sob a União, Distrito Federal e Territórios.
presidência do Senhor Constituinte Jofran A SRA. CONSTITUINTE MARLUCE
Frejat, com a presença dos seguintes PINTO: – Sr. Presidente, de acordo com o
Constituintes: Meira Filho, Ruben Figueiró, Regimento, solicito a dispensa da leitura da
Sigmaringa Seixas, Annibal Barcellos, Chagas ata.
Duarte, Felipe Mendes, Francisco Carneiro, O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
Geovani Borges, Marluce Pinto, Mozarildo – Solicitação concedida.
Cavalcanti, Vilson Souza e Ottomar Pinto. Em prosseguimento a nossa
Havendo numero regimental, o Senhor audiência pública, hoje terá presentes aqui as
Presidente declarou iniciados os trabalhos e seguintes autoridades: o Dr. Silvio Sebastião
passou a leitura da Ata da reunião anterior, de Castro Leite, Prefeito de Boa Vista, a quem
que foi aprovada por unanimidade. A seguir, convido para compor a Mesa, e o Dr. Wedner
deu-se inicio ao Expediente que constou da Moreira Cavalcante, Presidente da OAB de
seguinte leitura: Correspondências recebidas: Roraima, a quem também convido para
1) Carta encaminhando documento do 1º completar a composição da Mesa.
Congresso Estadual de Profissionais da Área Lembro aos presentes que cada um
Tecnológica do RS – Ijuí; 2) Of. nº SNSRI/P – dos expositores tem vinte minutos para
021/87, de 28-4-87, encaminhando calendário apresentação do seu pensamento; cada
de audiência publica de Subcomissão da Constituinte terá três minutos para apresentar
Nacionalidade, da Soberania e das Relações suas colocações; o Sr. Relator terá cinco
Internacionais; 3) Sugestão encaminhada pelo minutos; e os expositores terão três minutos
Senador Mauro Borges; 4) Cartão do Dr. para responder a cada uma das perguntas
Pedro Wilson Carrano Albuquerque, dos Srs. Constituintes.
Coordenador de Assuntos Parlamentares do Com a palavra o Dr. Sílvio Sebastião
MIC, congratulando-se com a instalação e de Castro Leite, Prefeito de Boa Vista.
eleição da Mesa da Subcomissão; 5) Telex O SR. SÍLVIO SEBASTIAO DE
NR 035, de 28-4-87, do Dr. Wedner Moreira CASTRO LEITE: – Exmº Sr. Presidente desta
Cavalcante, confirmando a presença em Subcomissão, Exmº Sr. Relator, ilustres
audiência nesta Subcomissão; 6) Telex NR Constituintes, neste momento, pela primeira
453/CAP/GM, de 29-4-87, do Sr. Jose vez, o Território Federal de Roraima aqui se
Roberto Almeida Neves, Chefe de Gabinete faz presente, através do Prefeito da sua
do Sr. Ministro dos Transportes, transmitindo Capital, para expor algo concreto, distante
congratulações pela instalação e eleição da cinco mil quilômetros, em Brasília. Significa
Mesa desta Subcomissão; 7) Telegrama do dizer que o Prefeito de sua Capital também
Sr. Antonio Gouveia, Secretário de Assuntos se acha preocupado com a situação
Legislativos do Ministério da Fazenda, esdrúxula e até certo ponto anômala daquela
transmitindo congratulações pela instalarão Unidade Federativa, que, apesar de ostentar
e eleição desta Subcomissão; 8) Telegrama tal condição, não tem representação no
do Sr. Ministro da Ciência e Tecnologia, Senado. necessariamente importante que os
Renato Archer, congratulando-se com a ilustres Constituintes, que receberam o
Subcomissão pela instalação e eleição mandato popular, saibam, tenham a convecção
da Mesa; 9) Of. TRT. JR. nº 095/87, de 23-4- e a certeza de que, em que pese haver
87, do Dr. João Rosa, Juiz Classista partidos políticos diferentes em Roraima,
representante das categorias profissionais as nossas idéias, hoje, se voltam, de modo real
do Tribunal Regional do Trabalho, 10ª e responsável, para a transformação do
Região, encaminhando publicação e Território em Estado. Neste instante não
colocando-se a disposição para apresentação existem partidos políticos, neste instante não
de sugestão referente a representação existem interesses de grupos, mas sim a
classista na Justiça do Trabalho; 10) união do povo de Roraima em tomo do
Of. nº 5/87, de 14-4-87, do Sr. Constituinte nosso ideal maior que e a transformação
Euclides Scalco, 1º Vice-Líder do PMDB do Território Federal de Roraima em Estado.
encaminhando os novos espelhos das Pela Constituição de 1937, o antigo Território
Subcomissões. Findo o expediente, o do Rio Branco foi criado. Mas o objetivo major
Senhor Presidente deu inicio a Audiência da sua criação e de outros Territórios Federais
Publica, passando a palavra aos Srs. Silvio era preencher os vazios na fronteira. Pretendia-
Sebastião de Castro Leite e Wedner Moreira se levar o povo a procurar e a encontrar,
Cavalcante, sendo inquiridos pelos Srs. nos Territórios e nas Zonas de Fronteiras,
Constituintes Felipe Mendes, Mozarildo algo que o sensibilizasse, para que, juntamente
Cavalcanti, Ottomar Pinto e Chagas Duarte. O com aqueles que lá viviam, fosse per-
medida a integração total do brasileiro a terra
Em que pese ter sido o Território criado em
1937, pela Constituição, só foi implantados
seis anos depois, ou seja, em 1943. Hoje,
temos, então, um Território com duzentos e
trinta mil, cento e quatro quilômetros
quadrados. É a décima terceira qualidade da
Federação em área territorial, mas não
passou ainda de um Território.
Ilustres Constituintes, ha esta visão
regional de que os Territórios foram criados
para povoar as fronteiras. Hoje, este objetivo
não tem mais radio de ser, pois, passados
quarenta e quatro anos de existência do
Território, aquela região já se encontra, não
diria adulta, mas uma adolescente de 16 ou 17
anos, que já pode vislumbrar o horizonte de
seu futuro. Neo a admissível; não se concebe
que Roraima permaneça ainda como Território.
A desculpa ou a alegação dos apologistas
contrários a tese da transformação vem sempre
acompanhada do exemplo de uma situação
econômico-financeiro difícil, acompanhada de
exemplos de outros Territórios que se
transformaram em Estados e que talvez não
tenham dado certo totalmente. Mas quem a
que sabe mais sobre a situação de Roraima do
que nos que a residimos? As decisões de
gabinete hoje estarão sepultadas pela
instalação da Assembléia Nacional
Constituinte, que teve a felicidade de ouvir
aqueles que moram nessas regiões
completamente abandonadas. Temos o direito
de dirigir os nossos destinos, porque somos
adultos. O Território Federal de Roraima possui
hoje, senão a condição total para se
transformar em Estado, pelo menos a
possibilidade de que, com sua transformação,
não continue o status quo atual. Hoje o
Território Federal de Roraima possui oito
Municípios; seu comércio cresceu, em certas
áreas, de 100 a 150%; suas atividades
econômica e agropecuária e sua extração de
madeira são exemplos pujantes de que tem
condições de ser transformado em Estado.
Para que V. Ex.as tenham idéia, somente em
1982, o Território Federal de Roraima exportou
5 milhões de dólares em madeira serrada e
laminada para a Venezuela, e em 1984
produziu 500 kg de ouro. Suas províncias são
riquíssimas, isso sem contarmos com dados
oficiais em relação a diamantes, e – porque
não dizer – urânio e estanho, inexplorados. São
essas as realidades vivas que os ilustres
Constituintes precisam saber, para terem a
certeza de que o anseio do povo do Território
de Roraima no e falácia, não é quimera, muito
pelo contrario. Os Territórios foram criados em
termos transitórios, provisórios, não para se
perpetuarem no tempo e no espaço, como
querem fazer. A industria .já desponta em
Roraima, não com grande ênfase, ate por dos
problemas crônicos, não só do Território, como
do Brasil, que saca energia elétrica e as
estradas, que entravam o desenvolvimento. O
binômio energia estrada significa desenvolver
o Território Federal de Roraima. No instante
em que se apresenta a possibilidade de
o Território Federal de Roraima poder
ser transformado em Estado, a necessário
que nossos Constituintes lembrem-se de
que, se isso não ocorrer, através da
Assembléia Nacional Constituinte, talvez
tenhamos que esperar mais 44 anos para
vermos nosso pleito, nossa vontade, nosso
desejo de ser atendido. Vejam o exemplo do
Tocantins. Caso essa transformação seja
aprovada por outros meios que o a
Constituinte, poder haver veto, alegando-se
falta de recursos financeiros, e mais uma
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (SUPLEMENTO) 60

vez os Territórios ficarão abandonados. Este,
então, é o único momento possível que têm
os Territórios Federais de Roraima e Amapá,
para, se possível, até através da criação de
um lobby, alcançar objetivos maiores – a
transformação em Estados. Dizia eu antes,
que o Território Federal de Roraima possui
oito Municípios, que já representam uma
considerável parcela de seu desenvolvimento
e de seu crescimento. Podemos criar mais
cinco Municípios. E aí os ilustres Constituintes
poderão indagar: mas não existe uma lei que
proíbe que sejam criados determinados
Municípios, a não ser que haja recursos
mínimos, como população, renda, etc.?
Ocorre que temos um exemplo claro
do que ocorreu em Rondônia, na época do
falecido Governador Teixeira, quando foram
criados cinco Municípios que hoje
representam o maior surto de progresso e
desenvolvimento daquele Estado. São os
Municípios de Ji-Paraná, Ariquemes, Cacoal,
Vilhena, e um outro. Esses Municípios foram
criados independentemente dos requisitos
mínimos exigidos em lei. Isso consta da Lei nº
64/48. Então, ilustres Constituintes, vamos
criar os Municípios, vamos criar o Estado de
Roraima, sem medo, para que amanhã
também possamos, pelo menos, ter nossos
representantes, mesmo em menor escala,
defendendo os interesses de nossa terra.
Entendem aqueles que conheceram ou irão
conhecer o Território Federal de Roraima –
para onde fui a fim de passar um mês e onde
já estou há 17 anos – ser necessário que aqui
não só viessem o Prefeito, o Governador, a
OAB, mas todas as associações que
pudessem também externar seu pensamento
em relação a uma causa tão justa e que até
agora ficou distante de nós durante esses 44
anos. Argumenta-se também que o Território,
por não ter infra-estrutura compatível, não
deva ser transformado em Estado. Este
argumento, data venia, parece equivocado.
Tenho certeza absoluta de que o Território
Federal de Roraima, sendo transformado em
Estado, terá total condição de construir sua
hidrelétrica sem precisar de recursos do
Governo Federal, assim como de fazer suas
estradas. Apresentamos o meio pelo qual
poderíamos fazer isso. O Território Federal de
Roraima fica no extremo Norte do país,
fazendo fronteira com a Guiana e a
Venezuela. Temos uma proposta concreta a
fazer aos ilustres Constituintes – que, se não
for matéria constitucional, será matéria para
lei ordinária – de que seja criada, para que
não precisemos mendigar recursos da União,
uma Zona Franca na cidade de BV-8, que faz
fronteira com a cidade ,de Santa Helena do
Airem, na Venezuela. Digo aos ilustres
Constituintes que esta Zona Franca, ou zona
livre, que lá poderá ser criada e que poderá
também ser muito polêmica, seria um dos
meios pelos quais o Governo do Território, o
povo do Território obteria benefícios quase
que impensáveis. Já existe uma certa
sensibilidade do Governo em tomo de um
comércio formiga, que seria a compra e venda
de produtos, num limite mínimo, entre
Santa Helena do Airem e BV-8. Entendo
que este procedimento já é o primeiro passo
para a criação desta Zona Franca em BV-8,
que, da cidade de Boa Vista dista
aproximadamente 190 a 210 km. Com isso,
quais os benefícios que o povo de Roraima
iria ter? Um bolívar hoje equivale a
um cruzado e trinta e cinco centavos. O
quilo do tomate hoje, em Santa Helena, custa
dez bolívares, ou seja, treze cruzados e
cinqüenta centavos. E o quilo do tomate em
Boa Vista custa quarenta cruzados. O quilo da
batata em Santa Helena custa dez Bolívares,
ou seja, treze cruzados e cinqüenta centavos.
Em Boa Vista custa trinta cruzados. Isto em
relação a gêneros alimentícios.
Podemos comprar, entre outras coisas,
até implementos agrícolas que venham
beneficiar a nossa agricultura e a agropecuária.
Todavia, o mais espantoso e quase
inacreditável, Srs. Constituintes, é que um litro
de gasolina na Venezuela custa um bolívar e
trinta e cinco centavos, que no Brasil equivale a
um cruzado e trinta e cinco centavos, enquanto
no Brasil custa quatorze cruzados e cinqüenta
centavos. Na Venezuela, um litro de gasolina
custa um bolívar e trinta e cinco centavos. Isto
custaria para nós, em dinheiro da Venezuela, um
cruzado e cinqüenta e cinco centavos.
Entretanto, o preço da gasolina aqui é de
quatorze cruzados e trinta e cinco centavos. O
litro do diesel custa trinta e cinco centavos de
bolívares; no Brasil, cinco cruzados, ou cinco
cruzados e quarenta centavos. E isto não iria
mexer na estrutura do País. Iria proporcionar,
para uma região abandonada, meios próprios
para subsistir e viver. É muito simples: não
precisaríamos de nada, de recursos tão grandes,
pois bastaria a interveniência do Presidente da
República, ou uma orientação da Assembléia
Nacional Constituinte para que se fizesse isso,
como foi criado em Manaus. Hoje desvirtuaram a
Zona Franca, criada através do Decreto-Lei nº
288 pelo falecido Presidente Castello Branco.
Queremos só isso, ter o direito de nos autodirigir,
até porque isso é muito natural.
A propósito, ilustres Constituintes, hoje o
Território Federal de Roraima possui projeto que
diz respeito às áreas de zonas de fronteiras: é o
projeto Calha Norte. Este projeto,
verdadeiramente, irá beneficiar o Território,
porque, através dele serão instalados pelotões de
segurança nas fronteiras. Estes pelotões irão,
garantir, inclusive, a colonização da área através
de um convênio do projeto Calha Norte e os
órgãos territoriais. Temer o quê? O que hoje nós,
do Território Federal de Roraima, em particular,
podemos dizer que podemos temer? Nada.
Temos duzentos e trinta mil quilômetros
quadrados para trabalhar. A reforma agrária em
Roraima é inexistente. Precisamos de
assentamento das pessoas que vão trabalhar em
Roraima, porque lá há muita terra para todos.
Srs. Constituintes, isto é o que o
Prefeito do Município de Boa Vista pensa
acerca da transformação do Território em
Estado. Entendo mais, que V. Ex.as terão
sensibilidade para com uma cidade que fica a
quase quatro mil quilômetros de distância
desta Capital. Para eu vir de lá até aqui gasto
dois mil cruzados de passagem, sem falar em
hotel, estada, e outras coisas. O Território
Federal de Roraima tanto quanto o Território
Federal do Amapá se assemelham nas suas
formas originárias: o Território Federal de
Roraima umbilicalmente ligado ao Estado do
Amazonas e o Território do Amapá
umbilicalmente ligado ao Estado do Pará.
Nesta similitude das nossas áreas, em que
pese ter o Amapá área territorial menor do
que Roraima, mas tem indústria e uma
hidrelétrica. Nós não temos isso. O Amapá
teve um pouco mais de sorte que Roraima.
Mas para que os dois possam crescer,
adquirir maioridade é unicamente necessário
que sejam transformados em Estado. Tenho
certeza absoluta de que a idéia, se me
permite o ilustre representante do Amapá,
Deputado Geovani Borges, de ser criada uma
Assembléia Territorial e ser escolhido um
governador eleito apenas pelo povo não irá
solucionar o problema dos nossos Territórios.
Não é a situação da eleição do Governador
apenas ou de uma Assembléia Territorial que
está em jogo para que se melhorem as
condições materiais do Território. Queremos
uma libertação. Queremos que a nossa
autarquia, hoje como um departamento
estanque do Ministério do Interior, tenha a
liberdade necessária para se desenvolver, pois
lá enquanto os prefeitos eleitos têm a liberdade
de organizar a sua programação, o seu
trabalho e o seu plano de governo, até porque
tudo isso é previsto com um fim determinado e
certo, o Governador não pode pensar desta
maneira. Ele pode, inclusive, dormir governador
e acordar peão, dependendo da sua
qualificação profissional. Então, como poderão
os governadores fazer um governo melhor,
mais preocupado com planos sociais, se eles
não têm um prazo certo nem determinado para
ver o seu programa de trabalho ser aquele que
os governadores esperam? Não entendo de
modo diferente. A libertação dos Territórios só
pode vir, neste momento, com a transformação
de todos eles em Estado. Tenho consciência
própria de que o momento é histórico e, se o
deixarmos passar, teremos dificuldades em
alcançar o nosso objetivo. E não é culpa nossa,
Srs. Constituintes, se hoje os Territórios
Federais não alcançaram seu desenvolvimento
sócio-econômico. Isto não é apanágio do povo
dos Territórios. Cabe à União, de acordo com o
Decreto-Lei nº 411/69, administrar os territórios,
proporcionando-lhes condições sócio-
econômicas para que ascendam à condição de
Estado. Então, não cabe culpa alguma aos
homens públicos e aos políticos do Território se
os Territórios ainda não têm estrutura
econômica para passarem a Estado. Cabe,
sim, à União, porque é ela que os administra.
Nesta linha de raciocínio, peço que os
Constituintes façam uma reflexão profunda
sobre o desequilíbrio regional que ocorre nas
Regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Norte, como
falou um dos nossos companheiros. É
necessário que, neste instante, não se pense
em partidos – em PTB, PMDB ou PFL – mas
sim num povo que precisa ter sua liberdade.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Tem a palavra o Dr. Wedner Moreira
Cavalcante. Deixaremos os debates para
após a segunda palestra.
O SR. WEDNER MOREIRA
CAVALCANTE: – Sr. Constituinte Jofran
Frejat, Presidente desta Subcomissão, Sr.
Constituinte Sigmaringa Seixas, Relator, Dr.
Silvio Leite, Prefeito de Boa Vista, Srs.
Constituintes, não tivemos oportunidade ainda
de reunir os advogados de Roraima para que
se pudesse tomar uma posição definitiva em
relação à transformação do nosso Território
em Estado, nem a nível de Conselho
Seccional. Todavia, como a OAB de Roraima
é a expressão, a voz, o interlocutor da voz do
povo, não há dúvida de que todos os seus
integrantes são favoráveis à criação dos
Estados de Roraima e do Amapá.
Entendemos que o Estado de Rondônia foi
criado de afogadilho, inesperadamente. As
dificuldades e os percalços por que passou a
sua primeira administração foram realmente
sérios, a ponto de, hoje, o governador
eleito estar consertando o que foi feito de
errado, em princípio. Todavia, isso não
significa que a vontade soberana do rorai-
61 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
mense e do amapaense não seja consagrada
nessa nova Constituição. Particularmente
somos de opinião que em primeiro plano,
deveríamos pensar na eleição direta para
governador do Território, criando, a exemplo
da antiga Roma, como que uma espécie de
Sinédrio, que hoje corresponderia ao Senado
Federal, com um determinado número de
Conselheiros, para que, num prazo fixado
pela própria Constituinte, de dois ou três anos,
pudéssemos superar alguns problemas de
infra-estrutura, como o da energia e o da
ligação terrestre com Manaus. Vejam só que
Roraima está no extremo setentrião brasileiro.
Nas épocas invernosas, ficamos praticamente
ilhados. Não podemos pensar unicamente
com o coração, mas devemos pensar com
vontade firme de que Roraima passe a ser um
Estado bem representado e com situação
financeira regular. A nossa intervenção, nesta
oportunidade, Sr. Presidente, é muito
pequena. Queremos deixar simplesmente
bem claro que a vontade do povo de Roraima,
das suas associações de classe, dos
habitantes de seus bairros, com os quais
temos a oportunidade de conviver no dia-a-
dia, é pela transformação do Território em
Estado. Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Tem a palavra o Constituinte Felipe
Mendes. Eu pediria ao Sr. Constituinte que
direcionasse sua questão para um ou outro
dos expositores, ou para ambos.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, Sr. Relator, Sr.
Prefeito, Sr. Presidente da OAB de Roraima,
recordei-me, agora há pouco, de que um
governador do Acre, na legislatura passada,
reclamava do fato de ter sido eleito pelo povo
através de um partido e antes da Emenda
Constitucional que devolveu aos Municípios
das Capitais, aos Municípios de fronteira e
aos Municípios com estâncias hidrominerais a
eleição direta dos Prefeitos. Então os 12
Municípios de seu Estado tinham Prefeitos
nomeados pelo Governo Federal, portanto, de
partido contrário ao dele. E parece que nos
Territórios de Roraima e Amapá há, de
alguma forma, esta questão, só que do lado
inverso, ou seja, o governador é que é
nomeado. Isso reforça ainda mais a tese de
que é preciso solucionar o impasse, com a
criação de dois Estados. Acho que a questão
do suporte financeiro e administrativo não
deve ser colocada como grande problema.
Parece-me que todas as questões aqui
levantadas pelos dois conferencistas vêm
confirmar tudo aquilo que já ouvimos, e
debateremos aqui a respeito desses pontos
referentes a Roraima e ao Amapá. Portanto,
esta intervenção é mais para congratular-me
com V. Ex.as e também para manter acesa
essa chama. Acho que, enquanto a
Constituinte aqui trabalha, cumpre àqueles
que lá estão fazer o mesmo. Refiro-me
particularmente ao Presidente da OAB de
Roraima, uma vez que, se já não for assim,
que seja feita a mobilização das entidades de
classe e da população. Esta mobilização deve
ser feita não só dos representantes eleitos do
Território, mas também das suas entidades de
classe, para que tenhamos, em tempo hábil,
elementos que nos possam dar uma visão
mais real desta luta. Tivemos aqui os debates
e as palestras, e acho de fundamental
importância que tenhamos subsídios sobre a
história, a economia e a realidade atual dos
dois Territórios, porque ainda teremos um
longo caminho a percorrer até vermos che-
gada a hora que todos tanto sonham, da
criação dos dois Estados.
De forma que peço também
aos representantes de outras entidades
dos dois Territórios que mandem, se for
possível, alguma informação adicional
além daquelas que já tivemos aqui dos
ilustres conferencistas. Muito obrigado.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o Prefeito de Boa Vista.
O SR. SILVIO SEBASTIÃO DE
CASTRO LEITE: – Nobre Constituinte Felipe
Mendes, elaboramos um pequeno esboço já
de alguma coisa que poderia fazer com que V.
Ex.ª tomasse como ponto de partida. Era só
isso, obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte
Mozarildo Cavalcanti.
O SR. CONSTITUINTE MOZARILDO
CAVALCANTI: – Sr. Presidente, Sr. Relator,
Sr. Prefeito de Boa Vista, Sr. Presidente da
OAB de Roraima. Quero inicialmente
cumprimentar tanto o Prefeito de Boa Vista
quanto o Presidente da OAB pela serenidade
e pelo equilíbrio com que apresentaram e
defenderam a tese da transformação do
Território em Estado.
Da palestra do Sr. Prefeito quero
pegar um tópico que me pareceu importante:
é no momento em que se refere à
oportunidade histórica que se apresenta para
que transforme mos Roraima e Amapá em
Estados. Na Legislatura passada, no ano de
1983, apresentei projeto de lei complementar
que trata da transformação de Roraima em
Estado, e posteriormente fizemos um
substitutivo incluindo também o Território do
Amapá nessa condição.
Paralelamente, fizemos um trabalho
administrativo junto ao então Ministro do
Interior, Coronel Mário Andreazza, e
obtivemos de S. Ex.ª o empenho pessoal na
transformação de Roraima em Estado,
inclusive contra a resistência da área técnica
daquele Ministério, que basicamente resistia
em abrir mão de determinados poderes que
tem sobre os Territórios Federais. E por
determinação expressa do Ministro, com a
autorização do Presidente João Figueiredo, foi
instituído um grupo de trabalho encarregado
de estudar a viabilidade da transformação dos
dois Territórios em Estados.
Esse grupo de trabalho, composto de
elementos da área técnica do Ministério e
contando com a participação dos Deputados
Federais dos dois Territórios e dos seus
respectivos Governadores, concluiu pela
viabilidade da transformação de Roraima e
Amapá em Estados.
Lamentavelmente, na hora precisa do
Presidente da República encaminhar ao
Congresso Nacional mensagem propondo a
mencionada transformação, houve a que existem grandes possibilidades de haver
interferência de forças ocultas que vetaram
esse encaminhamento. Misteriosamente, o
Presidente, que havia prometido
pessoalmente a nós, Deputados de Roraima,
pelo menos, essa transformação, passou a
desconversar o assunto. Então passamos
uma legislatura toda nessa história e
perdemos a oportunidade de levar a efeito
nosso disiderato.
Portanto, o Prefeito Silvio Leite foi
muito feliz ao dizer que este momento da
Constituinte é realmente a oportunidade
que teremos para propor essa
transformação e efetivá-la, porque se deixar-
mos para a lei complementar tratar do
assunto, obviamente que interesses
superiores e misteriosos haverão de surgir
para retardá-la cada vez mais. Ocorrendo
isso, essa transformação deverá demorar
mais quarenta e três anos, como ele próprio
frisou.
Assim acho que devemos todos nos
empenhar nessa tarefa, mesmo sabendo que
talvez atravessemos momentos difíceis na
consolidação da infra-estrutura econômica do
Estado. Mas essa é tarefa com que vamos
arcar.
Quanto à afirmativa do nosso
Presidente da OAB de Roraima de que ainda
não houve manifestação daquela entidade
sobre o assunto, gostaria de lembra-lhe que
na legislatura passada, sob a presidência do
Dr. Esmone Saraiva Granjeiro, aquela
Seccional se pronunciou favoravelmente à
transformação do Território em Estado.
Referido Presidente nos enviou documento da
OAB – Roraima que foi, inclusive, através de
um meu requerimento, transcrito nos Anais da
Câmara dos Deputados. Tal documento
representava, pelo menos naquela época, o
pensamento da classe dos advogados do
Território a respeito dessa transformação.
Acho, portanto, que nesse momento,
inclusive, como foi frisado também pelo
Prefeito de Boa Vista, em que partidos
diferentes PMDB, PTB e Frente Liberal – do
Território convergem para o objetivo comum
da transformação de Roraima em Estado, os
nobres Constituintes, e em especial o nosso
querido Relator, haverão de entender que não
são apenas interesses pequenos, pessoais,
que estão movendo essas forças todas nesse
sentido. Muito maior que tudo isso é a
responsabilidade que temos não só com o
passado e com o presente daquela terra, mas
muito mais com o futuro dos nossos filhos e
dos nossos netos, que hão de conduzir
aquele povo para melhores dias.
Portanto, quero cumprimentar os dois
conferencistas e parabenizá-los pelas
exposições. Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o Presidente da OAB de
Roraima, Wedner Moreira Cavalcante.
O SR. WEDNER MOREIRA
CAVALCANTE: – Sr. Presidente, Srs.
Constituintes e demais presentes,
gostaríamos de deixar bem claro que, quando
sugerimos no mínimo a possibilidade de
eleições diretas para o Governo dos
Territórios, voltamos unicamente para que a
democracia chegue na sua plenitude àquelas
áreas e que acabem, de uma vez por todas,
essas nomeações temporárias de seus
governantes.
Queremos deixar bem claro também
que somos totalmente favoráveis à criação
dos novos Estados. Entretanto, parece-nos
eleição direta para Governador do Distrito
Federal, concomitantemente com a
possibilidade de uma Assembléia. Para nós,
roraimenses, isso já seria um grande avanço.
Na pior das hipóteses, que venha no bojo
desta Constituinte o direito de elegermos
diretamente o Governador do Território de
Roraima. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte Ottomar
Pinto.
O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR
PINTO: – Sr. Presidente, Sr.
Relator, Sr. Prefeito de Boa Vista,
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 62

Sr. Presidente da OAB-Seccional de Roraima,
Srs. Constituintes, ao começar minha
exposição eu gostaria de, inicialmente,
congratular-me com o Prefeito de Boa Vista,
Silvio Leite, do PMDB, pelas colocações
precisas, realistas, racionais, da problemática
do Território, sem ufanismos, mas com o
conhecimento do cotidiano daquela terra onde
ele, há dezessete anos, moureja e onde
constituiu família, numa vivência contínua e
permanente até com os estamentos mais
humildes da sua população. Ele realmente
tem numerosas antenas sensíveis para captar
as aspirações do povo do Território,
mormente daqueles mais carentes.
O nosso Presidente da OAB também
fez colocações respeitáveis e quero me
congratular com S. Sª pela seriedade com que
colocou seus pontos de vista. Permita-me,
todavia, fazer um reparo quando deu ênfase
às eleições diretas para Governador do
Território e para Presidente da Assembléia do
Distrito Federal. Eu gostaria de lembrar a S.
Sª que tão importante quanto isso também é a
justiça plural no Território.
Este é o ponto que mais machuca e
angustia a sociedade, porque S. Sª sabe,
como técnico, que o direito à Justiça é fator de
disciplina social por excelência. Não adianta
encher as ruas de policiais e a cidade de
detetives. Enquanto não tivermos juízes para
administrar a Justiça, o nível de disciplina
social se exaure em que pese o grande
número de policiais. De maneira que é muito
importante o Estado, justamente para se
implantar na capital do antigo Território seus
tribunais, a Justiça plural, que, conhecendo os
cidadãos, agilizarão o processo da
administração e da Justiça, para se evitar o
que hoje ocorre: vinte a trinta homens
recolhidos à penitenciária com prisão
preventiva decretada pelo juiz. Ocorre que, se
eles não tiverem recursos, como mandarão
um advogado a Brasília para aqui permanecer
dez a trinta dias, ou até mais, hospedado em
hotéis, além das despesas de transporte? O
Tribunal pede informações ao Juiz de Boa
Vista. Tudo isso demora e burocratiza a
administração da Justiça. Sabe S. Sª que a
Justiça já é morosa, mesmo quando os juízes
monocráticos e plurais são contíguos, quanto
mais quando estão distantes mais de cinco mil
quilômetros. Então é também importante para
o Estado tudo isso. Até farei uma
consideração sobre a tese dos distritos
federais propostos pelo... (Soa a campainha):
Eu mal comecei, Sr. Presidente. Peço um
pouco de liberalidade para um Constituinte de
outra Subcomissão, que tem vindo aqui para
aprender mais alguma coisa.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Peço que V. Ex.ª considere o aspecto
regimental, mas a Presidência lhe concede
tempo para que conclua o seu discurso.
O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR
PINTO: – Obrigado pela liberalidade, Sr.
Presidente. Então, com relação aos distritos
federais, entendi a preocupação do
Constituinte Ruben Figueiró. É para que
tenham tudo que o Estado tem, mais a
mantença, o dinheiro pelo horário ou erário?
Público. Isso é ótimo.
Agora é muito mais difícil vender a
transformação em Estado do que em
distritos federais. É muito mais difícil por
causa da novidade da iniciativa, pelo inusitado
do instituto do Distrito Federal
plural dentro do Estado-Nação. De maneira
que é esta a consideração. Se isso pudesse
ser aprovado – "Hosana nas alturas" –
teríamos tudo, toda autonomia, e ainda dinheiro
para investir bem, assim a certeza de que os
funcionários ficariam per omnia secular
seculorum recebendo os seus proventos e
salários do Governo Federal. Para encerrar,
queria apenas focalizar em flashes: os
governos atuais são pro tempore, não podem
se programar porque não depende deles sua
continuidade no tempo. É difícil, isso os
manietas, e sentimos sso, i nosso querido
amigo Anníbal Barcellos, eu e o atual
governador que aqui colocou a questão.
Ficamos realmente em situação difícil porque
não se pode programar nada. Com a
fiscalização da Assembléia Legislativa haverá
uma participação maior no processo decisório.
Então, problemas como aqueles que alegamos
pela manhã sobre a dragagem de um rio
arenoso, esses recursos, em torno de
quarenta, cinqüenta ou sessenta milhões de
cruzados talvez otimizassem a relação custo-
benefício, pois é esta a preocupação do setor
público e não o custo-lucro. Então o custo-
benefício seria mais alto se o investisse em
estradas, na conservação e renovação se suas
pontes de madeira, na transformação dessas
pontes, etc. Bastaria que duas ou três fossem
transformadas em pontes de concreto, que
seriam definitivas e permanentes; a melhoria
de até duas balsas de travessia, e tudo mais.
Enfim, com a Assembléia Legislativa, o
governador não tomaria decisões solitárias.
Suas decisões seriam solidárias com a
Assembléia Legislativa. Isto dá
responsabilidade e participação muito maiores
à comunidade nas soluções que decidirão
sobre seu bem-estar e seu progresso. Mais
uma razão a favor do Estado. A submissão à
burocracia do Minter, que o governador
mencionou com bastante propriedade, é
realmente um processo que acanha, que
humilha e prejudica a ação governamental. O
Minter não tem condições, com a sua estrutura,
sequer de administrar seu quadro de pessoal,
quanto mais de se envolver na administração
de Unidades da Federação, como os Territórios,
que são quase Estados, com uma pletora de
problemas que a cada dia aumentam e se
modificam. Além do mais há os problemas
indígenas. Com um governador e uma
Assembléia Legislativa, ambos solidários e
eleitos pelo povo, como representantes do povo
soberano, essa Assembléia e esse governador
terão muito maior carga de autoridade para se
posicionarem inflexivelmente a respeito daquilo
que é a melhor solução para a sociedade dos
Territórios, e não ficarem curvados e submissos
a imposições, temerosos de críticas, ou de áreas
de atrito na estrutura do Minter. Ainda mais, Sr.
Presidente, Sr. Relator e Srs. Constituintes, trinta
por cento do Território de Roraima, onde estão
os jazimentos minerais mais ricos, estão nas
mãos de multinacionais. Quarenta por cento da
área de Rondônia, justamente aquela onde
estão os seus jazimentos minerais mais ricos,
são hoje concessões de multinacionais, como
Sarna, Alcan, Anglo América, e tantas outras.
Cinqüenta e dois por cento do Amapá, aqui
representado pelo Constituinte Aníbal
Barcellos, estão nas mãos de multinacionais. E
por que isso aconteceu? Porque essas
decisões foram tomadas ao arrepio da critica e
do debate da sociedade dessas áreas
territoriais brasileiras. Se isso tivesse que ser
decidido com a audiência do governador, da
Assembléia Legislativa e das sociedades de
classe dessas Unidades, evidentemente
essa liberalidade perniciosa e prejudicial
aos interesses do povo brasileiro não teria
ocorrido.
Encerro, Sr. Presidente, fazendo
questão de frizar a vantagem do.problema do
comércio de fronteira, que foi focalizado aqui
pelo Prefeito Sílvio Leite. Esse comércio está
sendo tolhido no seu progresso e benefício aos
dois lados – porque a Venezuela também
compraria de Roraima a carne bovina, frutas,
cereais e grãos que lá são produzidos – por
uma Portaria que é mais difícil de derrubar do
que fazer uma alteração na Constituição
vigente. Então, são esses os tipos de entraves
que fazem com que as classes políticas, as
lideranças dos Territórios e o seu povo sintam-
se frustrados e desesperançosos. E essa
Constituinte abre uma nova perspectiva, abre
um luzeiro de esperança para os brasileiros de
segunda classe, de segunda categoria que
vivem em Roraima e no Amapá. Eles
esperam e confiam em que os representantes
do povo nesta Casa ao elaborar a
Constituição que dizem será a cara do Brasil,
que pelo menos nos seus dedos mínimos,
que são os territórios, apareçam
configurados seus interesses mais legítimos.
(Palmas).
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a colaboração de V. Ex.ª. Passo a
palavra ao Dr. Wedner Moreira Cavalcante,
Presidente da OAB.
O SR. WEDNER MOREIRA
CAVALCANTE: – Sr. Presidente; Deputado
Ottomar de Sousa Pinto, apenas
relembrando, gostaríamos de deixar bem
claro que existem Municípios no interior do
Estado do Pará com vinte mil habitantes e
com mais de três Varas. Às vezes, quatro,
cinco Varas criminais e cíveis.
Hoje em Roraima temos uma
população superior a cem mil habitantes e
continuamos com apenas três Varas.
Estamos pleiteando um projeto de lei
que aumente para os Territórios Federais
dezessete Varas, criando novamente a figura
do juiz substituto. Estamos acompanhando
esse projeto no Ministério da Justiça, no
Departamento de Assuntos Judiciários. A
OAB tem procurado fiscalizar, de toda forma,
a ordem jurídica de Roraima. No dia-a-dia,
estamos com os nossos juízes, quase todos
muito problemáticos. Por isso é que o nosso
desejo de que Roraima passe a Estado é
muito grande.
Voltamos àquela premissa de que, na
pior das hipóteses, tenhamos um governador
eleito, para que, num prazo fixado no mínimo
em dois anos, possa criar o Tribunal de
Contas e o Tribunal de Justiça do futuro
Estado de Roraima.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Passo a palavra ao Prefeito, Dr. Sílvio
Sebastião de Castro Leite.
O SR. SÍLVIO SEBASTIÃO DE
CASTRO LEITE: – Desejo apenas que os
Constituintes entendam que eu ia fazer uma
observação em relação a uma colocação feita
pelo expositor, no que diz respeito ao número
de habitantes de Boa Vista.
Consultei o Presidente e não posso
fazê-la. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte Chagas
Duarte.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Sr. Presidente, Sr. Prefeito
Municipal de Boa Vista, Dr. Sílvio Leite,
Presidente da OAB, Dr. Wedner Moreira
Cavalcante, Sr. Relator, Dr. Sigmaringa
63 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
Seixas, Sr.as e Srs. Constituintes. Parabenizo
os Srs. Sílvio Leite e Wedner Cavalcante pela
exposição feita, pelos argumentos
apresentados, favoráveis à passagem do
território a Estado. Todos os argumentos, que
eu diria aqui quase esgotados, são favoráveis
à criação do Estado de Roraima.
Sr. Presidente, queremos aqui apenas
robustecer a idéia do nobre Constituinte
Felipe Mendes, do Piauí, quando fala da
necessidade da manifestação do povo de
Roraima quanto à criação do nosso Estado. É
verdade. Acho que, através dos partidos,
secção de Roraima, que são sem dúvida os
catalisadores da opinião pública, através das
associações de classe também, deve
haver manifestação nesse sentido, como
células vivas da sociedade e do próprio
povo diretamente, embora tenhamos
procuração para falar em nome do povo de
Roraima.
Seria interessante, companheiros,
para que fosse fortalecida aqui a nossa
idéia, robustecida essa nossa posição, que o
povo de Roraima se manifestasse. Creio
que poderá fazê-lo através de comitê pró-
Estado de Roraima, agora. É apenas
uma sugestão. Deixaria para o prefeito
– permita-me – homem eleito por aquele
povo, a criação desse comitê. E também
para o Presidente da OAB, embora o órgão
ainda não tenha se manifestado. Mas poderão
fazer perfeitamente uma mobilização do
povo nesse sentido, com telegramas e telex
para a Comissão de Organização do Estado,
para a nossa Subcomissão, para os
Presidentes, a fim de que realmente os
Constituintes ouvissem a manifestação do
povo com relação ao desejo ardente de ser
Estado.
Era o que tínhamos a manifestar e no
mais o nosso prazer. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Prefeito Sílvio
Leite.
O SR. SÍLVIO SEBASTIÃO DE
CASTRO LEITE: – Sr. Presidente, Sr.
Relator, Srs. Constituintes, entendo que a
idéia do Constituinte Chagas Duarte é
altamente viável. Uma idéia com a qual, a
princípio, concordo totalmente, porque acho
que desse modo nós já estamos
sensibilizados em relação à transformação do
Território em Estado. Mas falta ainda
transmitir ao nosso povo do Território de
Roraima aquilo que sentimos e aquilo que
precisamos fazer. Acato totalmente a idéia e o
meu Município está à disposição de todos
nós, para darmos início, de imediato, a esses
distritos, se for o caso, ou qualquer uma outra
coisa que a venha fazer com que o povo
entenda ser ele também árbitro da
transformação do Território Federal em
Estado. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Não havendo mais Constituintes inscritos
para o debate, gostaria de agradecer o
Prefeito Sílvio Leite, de Boa Vista, uma cidade
com mais de duzentos mil habitantes, e ao
Presidente de Roraima...
O SR. CONSTITUINTE MOZARILDO
CAVALCANTI: – São duzentos mil habitantes
no Estado e cento e vinte na cidade.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):–
Colhi informações do próprio Prefeito. Então
são duzentos mil habitantes no Estado e cento
e vinte na cidade. Agradeço também ao
Presidente da OAB de Roraima, entidade que
congrega duzentos advogados na cidade.
Na verdade não houve aqui um
debate com relação à necessidade, ao
interesse ou não de se criar o Estado de
Roraima. Mas há praticamente um consenso,
uma orientação no mesmo sentido.
Como esgotamos praticamente as
audiências externas com relação ao território
de Roraima, gostaria de mencionar aqui
algumas conclusões que pude apreender de
tudo o que ouvi.
Na verdade, parece-me que
se estabeleceu um impasse técnico. O
Território de Roraima não se desenvolve
porque não lhe são oferecidas condições para
que possa, dentro da sua limitada autonomia,
ou quase nenhuma autonomia, desenvolver
sua capacidade. Por outro lado, essa
capacidade se encontra limitada, exatamente
porque funciona, na verdade, dirigida como se
fosse uma autarquia. Então, temos
um confronto de posições que limitam
a possibilidade de o Território de Roraima
atingir aquelas condições estabelecidas em lei,
para que ele possa se transformar em Estado.
Na verdade, como a Assembléia
Nacional Constituinte é uma entidade
inovadora, tenho certeza de que os Srs.
Constituintes já formaram suas opiniões e
seguramente vão traduzir o desejo da
população daquele Território quase Estado.
Por outro lado, queremos agradecer a
todos os Constituintes que desta reunião
participaram, com um debate muitas vezes
acalorado, mas todo ele com o objetivo de
fazer desta terra um País maior e melhor, para
que possamos dar à nossa população aquilo
que ela espera de nós, ou seja, servir à nossa
Pátria.
Está encerrada esta sessão, não sem
antes lembrar que amanhã, às 9:30 h,
teremos uma palestra do Dr. Osny Duarte
Pereira. Foi cancelada a palestra do Dr. José
Saulo Ramos, em virtude de problemas
havidos na Consultoria, que o impedem de
comparecer a esta Subcomissão. E às 17:00
h teremos a presença do Professor Josaphat
Marinho, um constitucionalista conhecido, e
ainda a do Dr. Jorge Nova da Costa,
Governador do Amapá.
Está encerrada a sessão. Muito
obrigado a todos.
Ata da 11ª Reunião Ordinária,
Realizada em 5-5-87
Aos cinco dias do mês de maio do
ano de mil novecentos e oitenta e sete, às
dez horas e trinta e nove minutos, na
Sala "B1" – Anexo II da Câmara dos
Deputados, reuniu-se a Subcomissão da
União, Distrito Federal e Territórios, sob a
presidência do Senhor Constituinte Jofran
Frejat, com a presença dos seguintes
Constituintes: Meira Filho, Ruben Figueiró,
Sigmaringa Seixas, Annibal Barcellos, Chagas
Duarte, Felipe Mendes, Francisco Carneiro,
Geovani Borges, Marluce Pinto, Mozarildo
Cavalcanti, Vilson Souza, Wagner lago,
Ronan Tito. Havendo número regimental,
o Senhor Presidente declarou iniciados os
trabalhos e passou à leitura da Ata da reunião
anterior, que foi aprovada por unanimidade. A
seguir, deu-se início ao Expediente que
constou da seguinte leitura: Correspondência
recebida: a) Oficio nº SGC/152/87, de 27-4-
87, do Sr. Presidente da Assembléia Nacional
Constituinte, encaminhando a Sugestão
nº 909. (Recebido na Comissão em
4-5-87). Findo o Expediente, o Senhor
Presidente deu início à Audiênca Pública,
passando a palavra ao Dr. Osny Duarte Pereira,
que foi inquirido pelos Srs. Constituintes Marluce
Pinto, Felipe Mendes e Vilson Souza. O inteiro
teor dos trabalhos será publicado, após a
tradução das notas taquigráficas e o competente
registro datilográfico, no Diário da Assembléia
Nacional Constituinte . Nada mais havendo a
tratar, o Senhor Presidente deu por encerrados
os trabalhos, às doze horas, convocando os
Senhores Constituintes para a próxima reunião a
ser realizada dia cinco de maio, às dezessete
horas, para Audiência Pública com a presença
do Professor Josaphat Marinho e do Dr. Jorge
Nova da Costa, Governador do Amapá. E, para
constar, eu, Antônio Fernando Borges Manzan,
Secretário, lavrei a presente Ata que, depois de
lida e aprovada, será assinada pelo Senhor
Presidente. – Constituinte Jofran Frejat,
Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
Havendo número regimental, declaro abertos
os trabalhos da reunião da Subcomissão da
União, Distrito Federal e Territórios.
(É aprovado o pedido de dispensa da
leitura da ata)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
Hoje teremos, dentro da seqüência de
audiências públicas, a exposição do Dr. Osny
Duarte Pereira, que dispensa apresentações.
Convido S. S.ª para compor a Mesa. Fazer a
apresentação do Dr. Osny Duarte Pereira é
realmente dispensável, repito. Todos o
conhecem e sabem-no um homem cujos
méritos e cuja fama já ultrapassaram os limites
das nossas fronteiras. De forma que, para não
retardarmos aos nossos Constituintes o prazer
de serem brindados com palavras de tão ilustre
personalidade, passamos diretamente a
palavra ao nosso convidado, Dr. Osny Duarte
Pereira.
Lembro aos Srs. Constituintes que o
expositor tem vinte minutos para fazer a sua
exposição; os Srs. Constituintes terão três
minutos para apresentar suas questões, o
Relator terá cinco minutos e o expositor terá
três minutos para responder a cada questão
dos Srs. Constituintes.
O SR. OSNY DUARTE PEREIRA: –
Exmº Sr. Presidente desta Subcomissão,
Exmº Sr. Relator e demais membros da Mesa,
Srs. Constituintes, minhas senhoras e meus
senhores, fiquei muito honrado em ser
convidado para depor nesta Subcomissão
onde se lançam as bases de nova
estruturação constitucional para deter o
desequilíbrio federativo da Nação.
Evidentemente, não seria eu quem deveria
encontrar-se aqui, trazendo contribuições
válidas, tantos são os homens públicos, no
campo do Direito Constitucional, que
proporcionariam o que esta Subcomissão, na
realidade, procura, neste afã patriótico de
bem dotar nossa Pátria de instituições que
permitam maior progresso integrado e maior
justiça social. Agradeço a generosidade.
Talvez nada de novo saberei informar.
Entretanto, com muito empenho, esforçar-me-
ei para colocar diante de V. Ex.ª as
observações hauridas em mais de meio
século de participação na luta que todos
empreendemos por um Estado mais
democrático e mais justo.
Fiz, na Subcomissão dos Estados,
algumas considerações que valem igualmente
para esta e que me permito repetir.
Somos, desde o descobrimento, um povo
periférico na ordem internacional. Embora
nominalmente um País soberano
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
desde 1822, temos sido colônia portuguesa, nacional a ampliar o mercado interno, susta o
britânica e, por último, até norte-americana. êxodo para a formação de cinturões de
Destes últimos, através de uma dívida externa que miséria e de criminalidade em tomo das
contraímos para benefícios que não chegaram à cidades. Tais medidas reclamam a maneira definitiva o pronunciamento desta
maioria do povo e que, em grande parte, devem descentralização administrativa, e principiam
estar em bancos no exterior. Pagamos, no ano aí as tarefas desta Subcomissão. Como
passado, um bilhão de dólares mensalmente, que salientava inicialmente, sempre sofremos a
equivaleriam a cento e trinta e três mil toneladas influência de um comando externo. As
de feijão ou duzentos milhões de litros de leite por capitanias dividiram-nos em fatias isolados
dia. Dizíamos que os benefícios dessa dívida não como se fôssemos países. Comunicávamo-
chegaram à maioria do povo porque, no mesmo nos com a Corte, porém não entre nós. Isso
ano, mais de trezentos mil crianças morreram de visava a enfraquecer-nos. Desde a
fome; 67,4% dos assalariados ganharam até dois Inconfidência, em 1792, até o movimento de
salários mínimos, e 29,3% até um salário mínimo, 1932, mais de trinta rebeliões ocorreram, e
segundo a Pesquisa Nacional por Amostragem e em todas havia uma constante: o isolamento
Domicílio – PNDA, do IBGE. e o caráter utópico de todas elas, o que
Neste panorama geral de miséria, a demonstra a eficácia do método de dividir
maior carga de sacrifícios incide sobre o Norte para governar. Não obstante a tentativa de
e o Nordeste, onde 54% da população estabelecer o regime federativo em 89,
recebem um e meio salário mínimo ou menos, atribuindo-se o nome de República dos
quando a média nacional é de 29%; abriga Estados Unidos do Brasil, em uma
vinte e dois milhões de analfabetos; 80% não preocupação pouco criativa de imitar a
se alimentam suficientemente; 80% das casas confederação norte-americana, na prática
não participam da rede de esgotos e, além de sempre foi insignificante o caminho para a
tudo isso, metade da população aufere 89% descentralização. Nisto tudo ocorreu um
da renda, enquanto que a outra metade deve aspecto positivo: preservou-se a unidade
contentar-se com os 11% restantes do bolo, nacional. O mal consistiu na facilidade que
como relata o economista Luiz Otávio de Melo isto representou para o ilegível da República,
Cavalcanti, e pode-se ver em matéria do estava controlado todo o vasto território
Jornal do Brasil do dia 25 de julho de 1986. nacional.
E continuamos nesse plano inclinado para O comando norte-americano sobre
baixo, pois o salário mínimo, em 1º de maio nossa economia, a partir de 1964, não se
de 1984, correspondia a sessenta e cinco contentava com o exercício totalitário do
dólares; e em 19 de maio de 1986, havia poder, mudaram até o nome, República do
descido para cinqüenta e cinco dólares, e Brasil, e depois, em uma concessão do rótulo,
agora se encontra em tomo de quarenta passou a República Federativa do Brasil.
dólares, um dos mais baixos do mundo. Na Constituição em vigor, os
Em uma Nação marcada pela pobreza e Governadores ficaram reduzidos à condição
ameaçada pelo desespero dos marginalizados, a de burocratas em que a divergência possibilita
administração pública deve caracterizar-se pela aplicar-se sanções extremamente eficazes. A
credibilidade e pela participação e pautar-se crescente democratização veio acompanhada
sempre pela austeridade e moralidade – é o que de medidas superficiais de afrouxamento das
está escrito no programa da Aliança Democrática. rédeas federais, e aqui estamos reunidos para
Com esses pressupostos, a aumentar essa autonomia e essa
Assembléia Nacional Constituinte terá de descentralização.
montar uma nova estrutura da União, dos A solução ideal iniciar-se-ia por uma
Estados e Municípios. redivisão territorial do Brasil, em que este
Esses desníveis que acabamos de desequilíbrio populacional e de distribuição do
observar nas estatísticas devem ser reduzidos território nacional não pesasse de maneira tão
de modo a que os bolsões de miséria onerosa e injusta sobre os Estados mais
absoluta, mancha vergonhosa de uma Nação pobres da Federação por outro lado, ainda
que se apresenta como a oitava economia do sobre os Estados mais pobres, pesa o ônus
mundo, sejam eliminados para sempre. As da baixa representatividade política – os
medidas fundamentais são ainda de ordem Constituintes das regiões mais necessitadas
capitalista. Primeiro eliminar a ação nociva são, em regra, os mais conservadores,
dos monopólios internacionais, que levaram infensos às reformas e à modernização das
todo o Terceiro Mundo a esta situação. Para instituições. O eleitor pobre e abandonado na
isso deveríamos, a meu ver, criar selva troca seu voto por gratidão ao favor do
instrumentos válidos de defesa das indústrias, candidato que, certa feita, apenas praticou
da agricultura e da pecuária nacionais contra uma gentileza ou um ato de caridade. Eleitos,
a espoliação internacional e nacional dos esses candidatos em nada se sobressaem na
grandes bancos, que sugam parasitariamente luta por aquele paria e apenas voltam ao
o resultado do trabalho produtivo. mesmo na eleição seguinte para buscar-lhe o
O depoimento do industrial Mário voto. Infortunadamente, esse comportamento
Amato na Subcomissão da Ordem Econômica aparece nas estatísticas e a miséria e o
revelou a imaturidade que ainda persiste na marasmo prosseguem sai ano, entra ano.
grande burguesia nacional. Ele invocou o Há, entretanto, que pesar corretamente a
filósofo Laotsé, fundador do Taoísmo, que descentralização, nem tão insignificante que
viveu quatro séculos antes de Cristo, e repetiu afogue as comunidades periféricas, nem tão
que suas prédiças seriam válidas para os exagerada que represente uma fragmentação e
nossos dias. Perguntado sobre a exponha comunidades indefesas à cobiça
conveniência de disciplinar o capital internacional. Há os exemplos da Itália, das lutas
estrangeiro, afirmou que isso não cabia numa separatistas no Sul do nosso País e o episódio da
economia de mercado. Não leu, sem dúvida, Hiléia Amazônica.
os livros de Aiko Morita e de Lee Lacocca, Penetrando no exame da
que são best-sellers nacionais. competência desta Subcomissão para
A segunda medida que me discriminar os bens da União, entendo
parece importante é a reforma que se deveria estabelecer, no desenrolar da
agrária, porque, ajudando a produção apreciação das diferentes naturezas de bens,
64
uma definição dos bens de tal ordem que, nas
Comissões em que se divide todo o trabalho
da Assembléia Constituinte, seja recebido de
Subcomissão sobre as respectivas matérias.
Explico-me melhor: em relação, por
exemplo, à propriedade do subsolo, que se
declara pertencer à União, entendo que, ao
estabelecer-se essa discriminação, se deva fazer,
desde logo, uma conceituação dessa propriedade
de tal sorte que o pensamento desta
Subcomissão, em relação ao que é subsolo e
como deve ser utilizado, já seja, um pensamento
definido, para que o subsolo seja utilizado de
maneira a preencher a finalidade de conservar
para a nacionalidade o seu uso, porém sem
prejudicar os Estados ou os Municípios a sua
utilização de maneira supletiva ou concorrente
com a utilização federal.
Em relação à fiscalização da
produção e do comércio de material bélico, de
armas e explosivos, entendo que há a
necessidade de uma limitação constitucional
para refrear corridas armamentistas em um
País onde 300 mil crianças morrem de fome e
que começa a ser acusado de armar
plantadores de vegetais entorpecentes e
traficantes de drogas, além de criar problemas
nas relações internacionais.
Em relação à Polícia Federal, parece-
me que deveria ser estabelecido, desde logo,
que o exercício desse policiamento não fosse
submetido ao Ministro da Justiça, como é
atualmente, porém articulado e submetido ao
Poder Judiciário, para que não ocorram
irregularidades, os abusos que
freqüentemente sucedem, em detrimento da
autonomia dos Estados, em detrimento dos
interesses da Justiça, pelo poder que é
utilizado pelo Ministro da Justiça ao manejar
os recursos e a atuação da Polícia Federal.
A fiscalização de operações de crédito e
de seguros deveriam ser limitadas explicitamente,
já nesta Subcomissão, a brasileiros com capital
brasileiro, exceto quanto aos bancos de depósitos,
que, a meu ver, deveriam ficar reservados ao
Poder Público Federal, Estadual e Municipal.
Quanto ao planejamento de
desenvolvimento nacional, entendo que não se
pode pensar nele sem a participação expressa
dos Estados e dos Municípios interessados.
A defesa permanente contra as
calamidades pela União em caráter supletivo
é matéria que, nas Constituições e no Projeto
Afonso Arinos, está delimitada à União. Com
isso, há distorções e assistência inadequada
nos casos de calamidades, nos casos de
secas, nos casos de inundações e nos casos
de utilização predatória, como ocorre hoje
praticamente em todo o País. Era necessário
que essa competência não fosse da União,
mas, sim, preliminarmente, dos Municípios,
porque são estes, sobretudo, juntamente com
suas populações, as vítimas imediatas dos
descalabros decorrentes das secas e das
inundações, as quais por sua vez, derivam do
uso irregular da terra, do uso irregular das
florestas, dos desmatamentos nas cabeceiras
dos rios, toda uma forma de depredação que
se realiza nos Municípios. Reservada essa
competência à União, e esta não
comparecendo, porque o território é imenso e
não há serviços de fiscalização federal, os
municípios ficam impossibilitados de exercer
uma ação eficaz e direta nos casos de
calamidades.
Há ainda os casos de
poluição nos Municípios. Como todos
sabem, Cubatão, Belo Horizonte e
65 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
outras cidades sofreram sempre os horrores de
uma poluição que atinge, mata e deforma as
crianças. Essa poluição permaneceu sempre
impossível de ser controlada ou extinta, porque
a competência foi recolhida para a União e os
donos das fábricas, das indústrias, os que
detêm o poder econômico, podiam conseguir
no Planalto que nada se fizesse contra eles,
que permaneciam sem tomar as medidas
adequadas para impedir essa poluição. Estes
serviços, a meu ver, devem ser concedidos aos
municípios, e a União e os Estados ficam com
a obrigação de fornecer os recursos, que
devem ser utilizados em conformidade com os
interesses que estão mencionados em primeiro
lugar aos municípios.
A exploração de serviços de
telecomunicações e de eletricidade deveriam
ser realizados diretamente ou por concessão
de empresas estatais, ressalvados
hidrelétricas de interesse estritamente dos
distritos municipais, caso em que poderiam as
empresas ser de capital privado.
Na competência da União está
reservado o direito de legislar sobre o processo.
Entendo que se deveria permitir a legislação
supletiva estadual e municipal, quando houver
peculiaridades locais em conflito com a lei
federal e para adequação a essas condições. É
um absurdo que se faça um Código de Processo
Penal para todo o País, quando as
peculiaridades da Amazônia e as circunstâncias
especiais do interior de muitos Estados estão de
tal forma em conflito que as disposições
processuais não podem ser cumpridas.
O direito de mineração. Essa
permissão está admitida no parágrafo único
do art. 72 do Ante-projeto Afonso Arinos. A
meu ver, deve subsistir. Nos demais casos, o
Anteprojeto da Comissão não precisa de
retoques em matéria de competência em
relação à mineração.
Um outro ponto que me parece
importante é o da federalização da Justiça, no
que se refere à manutenção e democratização
do Poder Judiciário. Uma das falhas mais
gritantes da independência dos juízes é a
subordinação a que eles estão sujeitos pelo
sistema atual, em que a manutenção da Justiça
fica a cargo dos Estados. E sou testemunha das
dificuldades e dos processos utilizados por
Governadores para, por essa maneira,
controlarem a Justiça Estadual e os juizados de
comarcas. Entendo que essa deveria ser uma
tarefa federal. Deveria haver um poder acima
dos Estados que fornecesse os recursos, e o
Judiciário autonomamente, utilizaria estes
recursos de modo que nunca fosse necessário a
um juiz, ou a um desembargador, ir ao Palácio
do Governo do Estado para mendigar uma
melhor situação para a magistratura. E não fosse
possível as oligarquias locais servirem-se desse
poder econômico para pressionar a reduzir a
independência do Poder Judiciário.
Em relação aos impostos, há
preocupação de dividir a arrecadação em
percentuais que são atribuídos aos Estados e
Municípios. Se persistir o atual sistema de
arrecadação, significará que a descentralização
será um mito, porque se é a União quem
arrecada e é ela quem vai entregar aos
Estados e aos Municípios os percentuais,
jamais vai acabar essa prática lamentável
de Governadores e Prefeitos virem a
Brasília ou constituírem empresas de
despachantes para obter dos burocratas o
levantamento das importâncias que tocam às
suas unidades. Era preciso que a arrecadação
atribuída a um órgão independente, de que
participassem a União, os Estados e os
Municípios, livre da interferência do poder
federal, para que, em igualdade de condições,
esse organismo fizesse a arrecadação e,
desde logo, a distribuição, sem qualquer
interferência decorrente dessa subordinação e
dessa eliminação do poder dos Estados e dos
Municípios no uso dos recursos que lhes
cabem.
Haveria outros pontos a debater,
porém eu me reservo para na ocasião de
responder às perguntas porventura feitas para
completar o meu raciocínio, se é que ele pode
ser útil na elaboração do trabalho que
corresponde a essa Subcomissão.
Agradeço a oportunidade de
comunicar-me com V. Ex.as e faço votos que
esta Subcomissão, pela importância que tem
na elaboração da Carta do nosso País, pela
distribuição de poderes que é de sua
competência, possa efetivamente dar ao
nosso Brasil, de uma vez por todas, uma
Carta democrática e justa.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra à Constituinte Marluce
Pinto.
A SRA. MARLUCE PINTO: – Sr.
Presidente, Sr. Relator, Sr. Vice-Presidente,
Dr. Osny, meus nobres Constituintes, a
exposição de V. Sª foi extremamente válida,
até mesmo para assuntos que não são da
competência da nossa Subcomissão, como,
por exemplo, da reforma agrária. Mas, pelo
que sabemos, o nosso Relator tem acesso às
outras Subcomissões, e há de levar aos
outros Relatores as opiniões aqui expendidas.
V. Sª levantou três assuntos e nos
mostrou os problemas que realmente nos
preocupam.
O primeiro deles é o salário mínimo.
Até já me referi nesta Subcomissão sobre
esse desnível existente em nosso País.
Poderia ser motivo de orgulho para os
brasileiros o fato de hoje sermos a oitava
economia mundial. Mas, ao contrário, não
podemos disso orgulhar-nos, porque, em
compensação, a maior parte do nosso povo
tem a vida social dos africanos. Então, não é
digno de louvor termos atingido esse grau na
economia mundial. E ainda mais com essa
dívida externa... Sabemos que o crescimento
do nosso País não se deu através de recursos
próprios, pela exploração de suas riquezas
naturais, mas com o dinheiro importado, que
hoje estamos pagando com a fome do povo.
Então, Sr. Relator, é preciso que a
Comissão competente faça constar nesta
nova Carta um determinado valor básico para
o salário mínimo. Como nosso expositor
referiu há pouco, em 1984, quando o nosso
povo já reclamava da fome, o salário mínimo
representava 65 dólares, e hoje corresponde
a cerca de 40 dólares. Não há qualquer
possibilidade de, com 1.641 cruzados, um
chefe de família arcar sequer com a primeira
alimentação para os seus filhos Já não me
refiro a uma alimentação condigna, mas à
primeira, enquanto tantos vivem com tanto
luxo, desperdiçando o dinheiro do povo.
Também, nobre Constituinte
Sigmaringa Seixas, como Constituinte e
representante de uma região tão carente, vejo
necessidade de uma lei proibindo gastos nas
eleições. A maior dívida dos Estados é feita
na época das eleições. Dinheiro que deveria
ser empregado em escolas e em estradas,
para minimizar as carências do nosso povo, é
desperdiçado na compra de votos. Isso onera
demais os cofres públicos, porque quase todo
ano enfrentamos um pleito eleitoral. Se nós,
políticos, não dermos o exemplo, como vai
ficar a Nação?
O segundo ponto é a reforma agrária.
Cada Estado deveria apresentar um percentual
das áreas improdutivas, destinadas à doação
ou venda, de acordo com a renda dos que
tivessem necessidade de um lote para fazer a
sua casa, antes que fossem vendidas, às
vezes até por preços irrisórios, a grupos
econômicos, que, muitas vezes, vêm de outros
Estados para regiões onde os pobres não têm
sequer um lugar para fazer a sua casa. A
reforma agrária não deve ficar só a nível de
Ministério. Não é desconsiderando o Ministro,
não, absolutamente – mas há tantos problemas
– e o nosso expositor os mencionou – o nosso
País é tão grande que por mais boa vontade
que os Ministros tenham em fazer um bom
trabalho, às vezes até pela falta de
conhecimento das carências das regiões, eles
nada conseguem. É isso o que vejo lá no meu
território: oito ou dez pessoas morando num
quartinho, a ponto de serem despejadas,
porque não têm o dinheiro para pagar o
aluguel, quando há tanta terra improdutiva e
desocupada. Isso é uma coisa bastante
preocupante. O terceiro ponto é sobre o Poder
Judiciário. Realmente, o Poder Judiciário é de
grande importância – não quero dizer que seja
mais do que os outros. Apesar de tantas
inovações propostas na Constituinte, não
vemos nenhum político nem o povo manifestar-
se para que os membros do Poder Judiciário
sejam escolhidos através do voto, exatamente
porque todos sabem da sua responsabilidade.
Então, já que esses homens são os
responsáveis pela administração da Justiça em
nosso país, eles não deveriam ficar na
dependência dos Governadores de Estado.
Tem que haver um orçamento específico para
ele, tem de haver dinheiro suficiente para o
Poder Judiciário arcar com a sua
responsabilidade, para evitar que juízes
recebam favores, com isso muitas vezes
causando injustiças ou deixando certos crimes
sem penalidade, porque têm que atender a um
pedido de um político.
Então foi muito boa essa sua
advertência; tomara que isso conste na
Constituição. A partir de hoje, vou informar-
me, junto à Comissão competente e
conversar com os seus membros, saber o
andamento desta matéria, a fim de que
possamos conseguir um orçamento para o
Poder Judiciário. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a colaboração de V. Ex.ª Concedo
a palavra ao Constituinte Felipe Mendes.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, Sr. Relator, Sr.
Vice-Presidente, Dr. Osny, a explanação que
V. Sª fez bastante ampla e ao mesmo tempo,
bastante curta, em virtude do período que lhe
foi destinado. Então, eu gostaria de saber a
opinião de V. Sª a respeito de dois tópicos
que abordarei a seguir. O primeiro deles é
que estamos precisando redefinir uma
sociedade, a partir dos seus próprios
governantes. Acho que temos que
descentralizar o poder da União para os
Estados e para os Municípios; temos que
descentralizar o poder da esfera do
Executivo para o Legislativo e Judiciário, e
temos que desconcentrar o poder do Estado,
em beneficio da sociedade. Esta é
uma primeira abordagem. Gostaria, pois, de
ouvir a sua opinião a respeito de que
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
maneira poderíamos traduzir essa aspiração de trabalho, um projeto de código florestal,
na nova Carta Constitucional. aliás, é o Código Florestal que está em vigor.
Em segundo lugar, gostaria de também Na ocasião, sentimos que não se podia
ouvir a sua opinião a respeito de algumas das estabelecer um código florestal pura e
questões que V. Sª colocou. Por exemplo: a simplesmente determinando as medidas
competência da União. Quando alguém fala necessárias para preservar as florestas e
que deve ser esta ou aquela a competência da manter a sua função hidrogeológica, pois era
União, dos Estados e dos Municípios, necessária uma fiscalização que não poderia
geralmente provoca uma polêmica, uma ser realizada pelo Ministério da Agricultura,
discussão, porque cada um tem uma opinião. através do serviço florestal do Governo
Assim, é preciso que a Constituição defina a Federal. Imaginávamos que seria preciso
competência da União. Não sou estudioso do fiscalização com participação do povo. Era
Direito Constitucional, ou da Teoria do Estado, preciso que se desse poder às autoridades
apenas um curioso, mas acho que a estaduais, às autoridades municipais e aos
Constituição, pelo menos a do Brasil, que Municípios, aos moradores, para que eles
temos de fazer moderna e para o futuro, deve pudessem participar dessa fiscalização e
traduzir determinados mecanismos, que eu realizar um processo criminal rápido e com
chamaria – utilizando o termo da contabilidade multas, das quais os denunciantes pudessem
– de princípio das partidas dobradas, ou seja, a participar, a fim de que fosse possível, neste
cada crédito corresponde um débito, ou vice- caso, fazer valer a lei florestal e ela não ser o
versa. Por exemplo, quando definirmos na que é atualmente, uma lei puramente
Constituição que é da competência da União, decorativa que não tem tido utilidade alguma.
digamos, legislar sobre minas, sobre o subsolo, Fizemos um capítulo com essas
deve também constar a obrigação da União determinações. Jânio renunciou, João Goulart
nesta matéria. Quando a legislação determina mandou o projeto para o Congresso, porém
que é competência da União tratar, digamos, ele foi engavetado, porque o poder dado ao
das inundações, das secas – e isso me toca povo para fiscalizar as violações das florestas
particularmente, porque sou do Nordeste – é ia entrar em conflito com os interesses dos
preciso que ali se encontre o tipo de obrigação latifundiários, dos fazendeiros, de todos
que a União tem. A propósito disso, acho que aqueles que querem ter absoluta liberdade e
temos determinadas peculiaridades e não não sofrer nenhuma fiscalização sobre a
podemos avançar tanto na descentralização. maneira como utilizam suas matas.
Parece-me que nossa experiência, ao longo da Esse projeto ficou engavetado. Veio o
História, não permite, ou não permitiria, que movimento de 64 e o Presidente Castelo
entregássemos ao Município a Branco enviou uma nova mensagem com o
responsabilidade, portanto a competência, para mesmo projeto, porém sem o capítulo da
tratar de inundações ou de secas, eis que, fiscalização. Se V. Ex.as verificarem nos Anais,
muitas vezes, o fato não se resume à área de vão notar que o projeto encaminhado pelo
determinado Município, mas envolve o território Presidente Castelo Branco é ipsis litteris o
de outros Municípios e até de outros Estados. enviado pelo Presidente João Goulart e por
É o caso também das nascentes de rios. Quem mim redigido.
cuidaria de rios como o São Francisco, do De modo que esta é a dificuldade que
Parnaíba e tantos outros, que banham existe em relação ao problema ecológico: a
vários Estados. São rios federais? Que fiscalização. E é impossível exercê-la sem dar
Estados ou que Municípios teriam oportunidade ao povo que está assistindo às
competência, na prática, para cuidar daquilo irregularidades, está assistindo aos crimes
que constitui um bem da União, que seria que estão sendo cometidos. O mesmo
responsabilidade, em princípio da União, mas acontece nas obras feitas em casos de
que agora é proposto para ficar a cargo dos inundações ou de secas. As verbas não
Municípios? Enfim, são as duas colocações chegam ao seu destino, porque são
que faço. Gostaria de ouvir sua resposta, dada desviadas, são apropriadas já na Capital da
sua experiência e seu conhecimento de República e ninguém tem possibilidade de
especialista do Direito. reclamar, nem os prefeitos têm poder de
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): interferir, porque não é a eles que compete a
– Com a palavra o expositor Osny Duarte aplicação desses recursos. Então, o que é
Pereira. necessário, a meu ver, é a democratização, é
O SR. OSNY DUARTE PEREIRA: – a forma de se poder obrigar a utilização
Ilustre Constituinte, em relação à distribuição correta desses recursos e a fiscalização, com
dos poderes, a matéria já está sendo discutida a predominância do interesse municipal, a
em outras Comissões. Então, será decidido primeira vítima dos crimes ecológicos. Era
que atribuições serão dadas ao Poder esta a resposta que me cumpria dar.
Legislativo, para que se possa definir o regime O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
que se vai seguir, se presidencialista, – Concedo a palavra ao Constituinte Vilson
parlamentarista, ou misto, e de que forma Souza.
essas atribuições serão discriminadas. Daí O SR. CONSTITUINTE VILSON
resultará a maior ou menor democratização SOUZA: – Sr. Presidente, Sr. Vice-Presidente,
do poder e a maior ou menor participação do eminente Relator, Dr. Osny Duarte Pereira, sua
povo na administração pública. exposição é tão rica de dados, e principalmente
Em relação aos Municípios se de temas, que acredito que poderemos ficar
incumbirem dos problemas relacionados com discutindo um dia inteiro ou horas seguidas
secas e inundações, há efetivamente matérias sem esgotar as questões levantadas. E
nesta área em que escapam ou que são da sua exposição surgem alguns
superiores à capacidade e à competência questionamentos e algumas colocações. V.
deles. Mas, na maioria dos casos, as medidas Ex.ª da Constituição de 1891, da introdução
tomadas acabam sendo executadas e do federalismo no Brasil com a Proclamação
realizadas nos Municípios. da República. Mas, ao imitarmos de maneira
Eu me lembro de que no servil o federalismo americano, nós o
Governo Jânio Quadros fui convidado fizemos com um grande defeito: soubemos
para elaborar, com um grupo copiar os defeitos do federalismo ameri-
66
cano, mas não as vantagens das suas
instituições. Mas, ao falarmos nisso, temos de
fazer algumas análises. A primeira é quanto
ao próprio nascimento do Estado e da
sociedade no Brasil e na América latina.
Enquanto na Europa, o Estado e as
instituições, de uma maneira muito genérica,
não passam de uma síntese do processo
histórico da formação dessas sociedades
milenares, e da mesma forma nos Estados
Unidos; enquanto lá as sociedades
anteciparam o Estado – prime i ro nasceram as
sociedades que depois criaram as instituições
políticas e fundaram o Estado – no Brasil e na
América latina o processo é completamente o
inverso. Primeiro nasceu o Estado e depois
ele foi preenchido com uma sociedade.
Quando, em 1500, os portugueses aportaram
na costa da América do Sul, primeiro veio a
Coroa, que montou aqui unidades bélicas e
fortificações, e depois a sociedade.
Ainda ontem, quando ouvíamos a
História de Roraima e do Amapá, isso ficou
claramente patente. A fundação desses
Territórios se deu por fortificações militares,
por uma ação militar do Estado, por seu braço
armado, e depois pela sociedade.
Então é uma colocação extremamente
curiosa, valiosíssima á nível de teoria
constitucional, á nível de sociologia política
para informarmos o nosso trabalho.
Esta é a constatação: no Brasil, o
Estado antecede à sociedade e,
conseqüentemente, a determina, a limita e a
sufoca. Enquanto nos Estados Unidos as
instituições vão ser discutidas, debatidas no
interior da sociedade, no Brasil vai acontecer
de forma diversa. Diferentemente do que
ocorre na América do Sul, onde a
independência das possessões espanholas
faz surgir diversas Nações, a independência
do Brasil é feita unitariamente.
E quando nós chegamos na República,
a Federação não nasce, como nos Estados
Unidos, por uma agregação dos Estados
soberanos, que detinham soberania e que no
pacto federal renunciam à sua soberania,
transferindo-a para um ente maior. Não. O
Estado unitário, que detém a soberania
absoluta, abre mão de uma parcela da sua
soberania para outorgar às antigas Províncias
a condição de Estados com algumas
autonomias. E isso é que marca o federalismo.
Essa a diferença do federalismo
brasileiro para federalismo americano, que
nasce da união de treze colônias que se
tomaram independentes, transformaram-se
em países e depois formam a confederação e
a federação. Também é diferente do
federalismo alemão, em que os principados,
que são países independentes, se agregam,
renunciando à sua soberania para integrar um
ente maior. Difere do federalismo australiano,
em que os diversos Estados conservam até
hoje a Constituição que tinham enquanto
países independentes. Então, o federalismo
no Brasil já nasce viciado por isso. E a cópia
servil do modelo americano não serve para o
Brasil. E passamos a conviver efetivamente
com um Estado centralizado.
Nos Estados Unidos temos a introdução
de um sistema de governo: o presidencialismo.
Ele nasce nos Estados Unidos como
uma improvisação. Os federalistas americanos
vão buscar em teorias nascidas na
Revolução Francesa, em iluministas
franceses, como Rousseau e Montesquieu, os
fundamentos jurídicos para suas instituições
políticas. De repente, ficam sem a figura
67 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
do rei da Inglaterra, e a mantêm na Basta um exemplo: o número de fábricas de
Constituição na pessoa do Presidente da automóveis que o Brasil tinha em 1962/1963,
Republica. Tanto que nos artigos que se era o dobro do numero hoje. A nível mundial, a
referem a federação, o Presidente da quantidade de fábricas de aviões, por exemplo,
Republica não tem sequer prevista a duração era cinco a seis vezes major do que hoje.
de mandato. Muitos advogavam um mandato Hoje a atividade econômica a
vitalício e o primeiro Presidente dos Estados centralizadora, e como o econômico vai
Unidos, George Washigton, foi quem resolveu acabar condicionando o político e o social, a
abrir mão do mandato que lhe outorgava necessidade e a realidade econômica
aquela Assembléia Constituinte. moderna exigem uma profunda centralização.
Muito bem, mas ha o poder E a centralização política que vivemos no
concentrado, centralizador, monocrático e que Brasil com o golpe de 1964 foi decorrente da
tende, se não for controlado, a tomar-se adaptação do Estado as necessidades da
abusivo. E os americanos buscam nos modernização econômica. Então, temos de ter
franceses, principalmente em Montesquieu, os consciência de que se, de um lado, ha um
instrumentos para regular suas instituições. reclamo de descentralização política e do
Eles introduzem a celebre forma dos freios e poder, de outro, conspirando contra esse
dos contrapesos – o poder controlando e princípio, age o princípio da centralização
limitando o poder. Então, ao poder central do econômica. A isso se assiste no mundo
Presidente da Republica, ha o contrapoder do inteiro: os conflitos entre os Estados
Congresso Nacional. Mas ha um outro federados – ate nos Estados Unidos – e a
contrapoder fundamental, dividindo e União. A União passa a deter cada vez mais
limitando o poder do Presidente da Republica, uma parcela crescente da competência.
o poder residual, mas muito forte, da Fala-se hoje em duas pressões: ou
federação. Então, a própria federação é uma federalismo cooperativo ou Estado Federal
limitação ao poder central. Unitário. São as tendências modernas de
Isso no Brasil não acontecerá, porque federalismo que encontramos principalmente
tão logo E promulgada a Constituição, uma cópia em países de regimes democráticos bastante
do modelo americano, temos não uma ação acentuados, como a Alemanha e os Estados
política e o exercício do poder feito em benefício Unidos. Os países da Europa, hoje, unem-se
e no interior da sociedade, mas uma ação no Mercado Comum Europeu por uma razão
política entre o Presidente da Republica e os econômica e tem inclusive o Parlamento
Governadores. O Presidente da República, que Europeu, numa tendência de confederação ou
detém o poder central e alguns Governadores até – quem sabe? – de uma federação
passam a dominar verdadeiramente o País. européia. Isso só para termos consciência do
Torna-se um poder tirânico. Nenhum rei, que e a tendência econômica no sentido de
nenhum tirano, nenhum ditador, em toda a condicionar as determinações políticas.
História, teve mais poderes do que tem qualquer De outro lado, Dr. Osny, se houver
Presidente da Republica deste País. Só para dar meramente descentralização de atribuições
um exemplo concreto: nenhum rei conseguiu políticas aos entes federados, aos Municípios e
mudar um sistema econômico ou a moeda como aos Estados, e não for acompanhadas
fez o Presidente Sarney, de uma canetada, por efetivamente de uma federação tributaria,
um simples decreto-lei. Trata-se de um poder reforçaremos essa situação caótica que já existe.
altamente concentrado, ainda decorrente das Na década de 60, ou, mais
mazelas da nossa formação histórica. A precisamente, em 1965 ou 1966, grande parte
Federação do Brasil leva, então, a esse Estado dos Estados tinha 50% dos seus orçamentos
unitário, absolutamente centralizador. Á medida – ou ate menos, 40 ou 45% – comprometidos
que o tempo vai passando, ha fatos histórico e com a folha de pessoal, e 55 a 60%
sociológico que se contrapõem. Claro que o destinados a investimentos. Hoje, em função
exercício do poder deve ser feito para ele ser da centralização tributaria e também de uma
democrático, descentralizado, porque se atribuição crescente de competências aos
democracia e fiscalização e participação do Estados e Municípios, temos o orçamento
cidadão no processo decisório e no processo de praticamente comprometido com a folha de
governo, essa participação e fiscalização só se pagamento. Isso quando a folha de
tomam possíveis quando o poder a exercido na pagamento não ultrapassa, inclusive, a
base. Como o cidadão vai controlar, fiscalizar e arrecadação do Estado, como acontece em
participar do poder exercido a nível central, na inúmeras unidades federadas do Brasil.
Presidência da Republica – como muito bem E aí vem um outro problema, que não
disseram V. S.ª e o Constituinte Felipe Mendes – nos vai tocar diretamente, mas tem influência:
ou do planejamento nacional? Como que ele vai como fazer esse federalismo tributário?
participar do planejamento? Como que os Vamos descentralizar. Ao tirar da União para
assuntos de Roraima e do Amapá, de Mato repassar aos Estados, quebramos uma certa
Grosso e de Rondônia serão decididos pela sua capacidade que a União tem de investir.
população, se o plano é feito aqui de forma Então, a única viabilidade pratica que vejo a
exotérica, num departamento, pelo poder? aumentar a carga tributária.
Então, ha necessidade de descentralizar para Fico muito preocupado com o
que haja efetiva participação. Isso é sinônimo de discurso de alguns empresários e de alguns
democracia. falsos teóricos e filósofos políticos e
Mas ao mesmo tempo com que tributários, quando dizem que a carga
reclamamos a desconcentração, a tributaria no Brasil a excessivamente elevada.
descentralização política – conseqüentemente Isso não a verdadeiro. A carga tributaria no
o fortalecimento da Federação – ha uma Brasil corresponde a alguma coisa em tomo
realidade perversa, que age exatamente em de 22% do PIB. Em países como os Estados
sentido contrario: com a modernização Unidos, corresponde a 33%, e em países da
da técnica e principalmente com a Europa, como Suíça e Suécia, chega ate a
complexidade econômica, a economia 52% do PIB.
moderna torna-se altamente centralizada. Então a carga tributaria no
A atividade econômica hoje e exercida Brasil não é alta. Ela é até
de forma oligopólica e monopólica. relativamente baixa. O que acontece
é que ela é muito, mas muito mal imposta.
Inclusive, dentro dela há toda a contradição
que permeia a organização e a forma de
exercício do poder político no Brasil.
De um lado, não se tributa, com a
devida imposição, os ganhos de capital. Ha
incentivo até à especulação financeira, com a
não tributação de certos ganhos de capital.
Nisso os nossos economistas incorrem num
grande erro: incentivam a poupança privada,
isentando os ganhos financeiros decorrentes
dessas aplicações, transformando a
poupança no motor de desenvolvimento,
quando isso a uma mentira, quando isso não
e verdade.
Por exemplo, os investimentos nos
Estados Unidos não são feitos e nunca foram
feitos com a poupança privada. Hoje o capital a
ologopólico. Ele mesmo determina e quantifica
a poupança das empresas. Nos Estados
Unidos, os investimentos no setor econômico
são feitos pelos recursos havidos das próprias
empresas. E a poupança privada naquele País
– falo nos Estados Unidos, como modelo de
uma economia mais avançada – a poupança
pessoal e individual talvez represente 10 ou
11% da poupança geral, porque ela a
realmente feita pelas empresas.
O que acontece no Brasil? Incentiva-
se a poupança, mas não a poupança
produtiva. E incentiva-se a especulação. E as
empresas no Brasil, diversamente do que
acontece nos Estados Unidos, ao invés de
investirem a sua poupança, o seu lucro, na
produção, na geração de novos produtos, de
novas riquezas, de novos empregos, passam
a alocá-los na especulação financeira,
transformando este País num cassino, numa
ciranda, que a realidade prática esta a
mostrar. lsso por que? Pela má utilização dos
mecanismos tributários. Eu só entendo uma
unidade produtiva quando sua função a
produzir e não ter lucros através da
especulação financeira, que a um capital
improdutivo e não adiciona riqueza, emprego
e bem-estar coletivo.
Este o problema da federalização ser
acompanhada, professor, da federalização a
nível tributário.
E, para terminar, V. S.ª fala da
competência concorrente da União, dos
Estados e dos Municípios.
Eu lhe perguntaria: qual a sua visão
de distribuir hoje a competência para
realização e execução da reforma agrária
entre a União e os Estados? A questão do
subsolo. O companheiro Roberto Rollemberg,
aliás ausente, tem uma proposta, já
apresentada ou por apresentar, no sentido de
atribuir também aos Estados a competência
na concessão da exploração do subsolo. Da
mesma forma, quanto ao meio ambiente, a
que V. S.ª já se referiu. Como ficaria, na sua
visão, a reforma agrária e o subsolo, com
relação à competência concorrente da União,
dos Estados e dos Municípios?
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o expositor.
O SR. OSNY DUARTE PEREIRA: –
Ouvimos uma aula de Direito Constitucional
da maior valia para o que estamos debatendo
e para a formação de uma consciência em
relação à elaboração de uma nova Carta para
o País.
Entendo que a concentração
do poder, que existe em nosso País,
e que existe no mundo inteiro, no
fato de estabelecer-se sempre um poder
maior para a União, a decorrência do regime
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
capitalista – e o regime da concentração da riqueza. O
regime capitalista, a par das suas grandes vantagens, tem
suas desvantagens: ele torna o rico cada vez mais rico e o
pobre cada vez mais pobre. O Brasil não escapa a essa
regra. Estamos vendo, através das estatísticas, sempre
uma maior concentração da riqueza. Como assinalou o
ilustre Constituinte Vilson Souza, sempre um número cada
vez menor de empresas controla a riqueza do País. Os
bancos, por exemplo. Nós hoje temos um numero de
bancos que e, talvez, a quarta ou quinta parte do que
existia em 1964. Essa concentração decorre do regime
capitalista.
E forma-se, em relação ao Brasil, até um
imperialismo interno, imperialismo que se concentra no Rio
e em São Paulo, onde estão localizadas as grandes
fortunas, imperialismo que explora e reduz o poder de
desenvolvimento dos Estados periféricos, dos Estados
mais afastados.
O Imposto de Circulação de Mercadorias, por
exemplo, a um veículo, de que se queixa todo o Nordeste,
de transferência de recursos e de riquezas para São Paulo
e para o Rio, para as áreas industrializadas. Os próprios
industriais que se estabelecem no Nordeste, que recebem
recursos e que amealham fortunas, logo que podem
transferem-se para o Rio, para São Paulo, e então se
estabelece esse processo de pauperização progressiva da
periferia do País. Contra esse processo e que nós
devemos lutar.
Não podemos imaginar que uma democratização
possa consagrar essa concentração. Os impostos devem
ser recolhidos em todo o País, porém onerando em
primeiro lugar os centros onde há maior concentração da
riqueza. Efetivamente, porque não somos um País
democrático, os Governos são frutos dessas oligarquias
que dominam o País e as grandes riquezas não são
oneradas com impostos.
A Caderneta de Poupança não representa
praticamente nada, no que se refere ao recolhimento de
recursos para o País. Ela tem apenas a função social de
reduzir, para a classe média, a sua própria pauperização,
para fugir da desvalorização da moeda decorrente da
inflação.
As grandes riquezas se formam pelos subsídios aos
impostos das grandes industrias, pelos empréstimos no
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e em
todas as áreas onde se recolhe a riqueza do povo e se
entrega a um grupo determinado de empresas, que aufere
então esses benefícios que deixam o País com esse
desnível de desenvolvimento cada vez maior.
Veja-se, por exemplo, o caso das empreiteiras, cuja
função a de construir estradas, realizar obras, etc. Hoje
temos três ou quatro grandes empreiteiras que tem um
fabuloso poder econômico, fruto dessa estrutura de
concentração de poder, de concentração de riqueza.
E é por isso que nos compete, como estamos
fazendo uma nova Constituição, deter essa concentração,
eliminar esse poder econômico, insurgir-nos contra ele e,
tanto quanto possível, democratizar a administração, para
que, assim, seja possível onerar com impostos essas
grandes concentrações.
Os bancos, que auferem lucros fabulosos e que tem
uma atividade puramente parasitária, estão à margem de
todo o processo produtivo do País, foram inclusive isentos
do congelamento do Cruzado: os juros foram permitidos e
por aí começou a degringolar o processo do congelamento.
68
Em relação à pergunta sobre a competência dos
Estados para disciplinar a exploração do subsolo,
entende perfeitamente possível. Aliás, parece que
consta no próprio Projeto Afonso Arinos a possibilidade
de a União transferir para os Estados matérias que são
de sua competência. Considero realmente importante
que, pelo menos em relação a certos minerais, seja
possível, depois do Código de Mineração, transferir a
competência para os Estados. Não é possível, não é
concebível que, para uma pesquisa de minério que se
queira fazer na Amazônia, em um lugar distante, remoto,
seja necessário constituir um procurador em Brasília e
montar todo um esquema altamente dispendioso para
obter um alvará. Deve haver a possibilidade de se
transferir o poder de competência para os Estados e até
para os Municípios permitirem determinadas pesquisas.
E há ainda – isso é muito importante – a necessidade de
se eliminar a dependência de autorizações para a
exploração de determinados minerais de uso corrente,
como é o caso do barro para a cerâmica e pedras para
construção, que, pelo sistema atual, estão sujeitos a
autorizações – e, em decorrência dessas autorizações,
determinadas empresas de grande capital dominam até
a produção de telhas para a construção civil, através de
royalties que eles cobram dos construtores e das
cerâmicas municipais.
Em relação à reforma agrária, acho que também
pode ser deferida a competência, para a desapropriação
de terras e a sua efetiva realização. Claro que isso
não deve ser uma medida genérica e definitiva, porque
somos uma economia em transformação – o País
está passando por um processo de politização muito
grande. Estados que, porventura, hoje não têm
maturidade política ou condições econômicas para
exercer determinadas tarefas reservadas à União,
amanhã podem ter e essa descentralização é desejável,
e deve ser permitida. No Projeto Afonso Arinos ela está
compreendida.
Era o que tinha a dizer.
O SR. CONSTITUINTE VILSON SOUZA: – Na
questão do subsolo, transfere V. Sª para os Estados, mas
mantém a competência comum?
O SR. OSNY DUARTE PEREIRA: – Não.
Mantenho a competência da União, com a possibilidade
de transferir para os Estados. Aliás, está no Projeto
Afonso Arinos.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): – Não
havendo mais Constituintes inscritos para o debate,
concedo a palavra à Constituinte Marluce Pinto, pela
segunda vez.
A SR.ª CONSTITUINTES MARLUCE PINTO: –
Gostaria de fazer alguns comentários sobre a exposição do
nobre colega. Não estou discordando, mas talvez haja
diferenças regionais. O nobre Constituinte falou das
dificuldades das empresas, do imposto e da caderneta de
poupança.
O que vejo, principalmente no Nordeste, é que
hoje o maior problema das médias empresas – não
digo das grandes, mas das médias – são as taxas de
juros. Fala-se que estão sendo desativadas – e realmente
estão, não na sua totalidade porque isso só acontece
quando se chega a um processo de falência – mas nós
sabemos que as médias empresas no Nordeste hoje
não usam nem 50% da sua capacidade de produção. Isso
é devido à falta de capital de giro. No ano passado,
69 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE (Suplemento)
quando aumentou muita a produção, faziam-se
empréstimos e se pagava 3% de juros ao banco. O
empréstimo para capital de giro, faça-se por noventa
dias; quando chega a época de resgatá-lo, paga-se
apenas 20%, renova-se, paga-se mais 20% e assim até
sua liquidação total. Hoje as empresas estão com o
ônus de resgatar esse débito com juros de 22,25%,
dependendo do banco, porque alguns bancos
particulares estão cobrando até 27%. Ao invés de
empregar pequeno capital que ainda restam, os
empresários preferem aplicar no overnight, porque,
como vemos, há dias em que o overnight atinge 27%.
Qual é hoje a empresa – até mesmo a grande empresa
– que tem lucro líquido de ao menos 10%? Nenhuma.
Até as empresas automobilísticas apresentam um lucro
bruto em tomo de 34%. Se o bruto é 34%, depois de
tirar as despesas, não podem restar nunca 10%. Essa é
a realidade.
Se não houver redução na taxa de juros, será um
caos. Sei de empreiteiras no Ceará – nem uma está
incluída entre os quatros principais, a que o senhor se
referiu, porque sei quais são essas empresas – que têm
um quadro de empregados muito grande e que no mês
passado demitiram dois mil e quinhentos funcionários,
porque não há frentes de serviço. Engenheiros com
quinze anos de casa foram dispensados exatamente
porque a empresa não tem condições de arcar com as
despesas fixas. Na hora em que não se está
trabalhando, está certo, não se paga. Quando a
produção não é muito grande, os impostos caem, mas
existem obrigações sociais que permanecem, existem
os salários e outras despesas fixas, quer a empresa
fature ou não. A crise nacional é conseqüência dos
juros, porque já estamos até acostumados com os
impostos.
Acha-se muito alta a tributação – eu pelo menos
acho, tanto para a pessoa física, como para a pessoa
jurídica. Acho que em nosso País paga-se muito
imposto, mas, pelo menos, quando há renda tem-se
condições de arcar com essa responsabilidade. Agora,
o problema é quando não se tem produção, quando
falta tudo, até matéria-prima. Além do mais, não de
pode fazer empréstimos em bancos, porque os juros
são muitos altos. Ao se adquirir matéria-prima, hoje se
paga antecipadamente. Para se poder produzir, é
necessária a aquisição de matéria-prima, e no nosso
País, tem-se que pagar antecipadamente, e, ficando-se
às vezes, na dependência de recebê-la num prazo que
varia de sessenta a noventa dias. Esse o grande
problema do País.
Muito obrigado.
O SR. CONSTITUINTE NILSON SOUZA – Sr.
Presidente, posso dar um esclarecimento?
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat) – Claro
que pode. Depois da brilhante aula de Direito
Constitucional que deu, não será uma liberalidade
da Presidência, mas a aceitação de mais uma
colaboração de V. Ex.ª.
O SR. CONSTITUINTE VILSON DE SOUZA – É
só um esclarecimento. Não falo em aumentar a
carga tributária para determinados tipos de operações
ou para determinados tributos específicos. Falo
da má aplicação do instrumento impositivo do tributo
sobre determinados ganhos. Por exemplo, na área
de ganhos financeiros há uma má imposição: o
Governo deixa de impor tributos sobre ganhos
financeiros para incentivar a aplicação financeira. Isso é
um erro.
V. Ex.ª fala que a taxa de juros está alta, mas
se olharmos o mecanismo que funciona por detrás
disso, veremos que ela está alta exatamente porque
os grandes setores oligopolizados – inclusive o Dr.
Osny deixou isso muito claro – que dispõem de
poupança, de reserva, ao invés de alocarem esses
recursos no setor produtivo da economia, com
novos investimentos, com novas fábricas, com
investimentos no Nordeste, por exemplo, o que
fazem? Como o objetivo deles é lucro, eles vão
aplicar esse capital, sem qualquer risco, no mercado
financeiro, e passam a pressionar as taxas, elevando-
as. E o capital nacional, a empresa nacional é
que se toma a vítima da especulação financeira,
determinada pelos grandes. Não são somente os
bancos sozinhos que elevam as taxas de juros.
Quem procura aumentar as taxas de juros são
exatamente as Volkswagen, as Fords e tantas
outras empresas que dispõem de poupança e
que, ao invés de investirem, aplicam no setor
financeiro.
Esse é o esclarecimento da minha exposição.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat) – Agradeço a
V. Ex.ª.
Não havendo mais Constituintes inscritos para
o debate, queremos externar o agradecimento da
Presidência desta Subcomissão ao Dr. Osny Duarte
Pereira que, com sua experiência, sua sapiência
e sua vivência dos problemas brasileiros, depois
de tantas lutas exitosas e vencidos, traz aqui, a nós,
o seu conhecimento, para que possamos fazer
aquilo que chamamos de juízo critico da nossa
Subcomissão para a elaboração do texto da
Constituição.
Queremos agradecer a participação, também,
dos nossos Constituintes, pelo brilhantismo com
que se houveram nesta Subcomissão, esperando
que essa contribuição, realmente, tenha nos
ajudado nesse processo de elaboração da Carta
Magna.
Está encerrada a sessão, lembrando que
teremos a nossa última audiência pública
hoje, às 17 horas, com as presenças
do Prof. Josaphat Marinho, que também é
especialista em Direito Constitucional, e do Dr.
Jorge Nova da Costa, Governador do Amapá.
Muito obrigado.
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 70

SUBCOMISSÃO DA UNIÃO, nhores Constituintes para a próxima reunião a dos Constituintes, é saber se, na
DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS ser realizada dia onze de maio, às dezessete discriminação dos órgãos ou das entidades
horas, para continuação do debate de matéria que compõem a Federação, devem entrar o
Ata da 12ª Reunião Extraordinária, constitucional. E, para constar, eu Antônio Distrito Federal e os Territórios.
realizada em 5-5-87 Fernandes Borges Manzan, Secretário, lavrei a Tenho lido algumas sugestões que
presente Ata que, depois de lida e aprovada, declaram que a República Federativa
Aos cinco dias do mês de maio será assinada pelo Senhor Presidente. – Brasileira representa a associação da União,
do ano de mil novecentos e oitenta e Constituinte Jofran Frejat, Presidente. dos Estados, do Distrito Federal e dos
sete, às dezessete horas e trinta e Territórios. Já vi inclusive documento em que
cinco minutos, na Sala “B1” – Anexo 11 12º Reunião Extraordinária não se arrola a União. Cogita-se apenas dos
da Câmara dos Deputados, reuniu-se Notas taquigráficas Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
a Subcomissão da União, Distrito Federal Tenho para mim, com o maior respeito a
e Territórios, sob a presidência do Senhor O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): todas essas sugestões, que o Distrito Federal e
Constituinte Jofran Frejat, com a presença – Havendo número regimental, e sob a os Territórios, tecnicamente, não devem entrar
dos seguintes Constituintes: Meira proteção de Deus, declaro abertos os na definição da República Federativa. Em
Filho, Ruben Figueiró, Sigmaringa Seitas, trabalhos da reunião da Subcomissão da verdade, a associação que forma ou constitui a
Annibal Barcellos, Chagas Duarte, Felipe União, Distrito Federal e Territórios. República Federal é integrada pela União e
Mendes, Francisco Carneiro, Geovani Dando prosseguimento às nossas pelos Estados. É que os Estados sendo
Borges, Marluce Pinto, Wilson Souza, audiências públicas, teremos hoje dois entidades autônomas, têm o poder de associar-
Aluizio Campos, Ottomar Pinto, Leur expositores: o Prof. Josaphat Marinho e o Dr. se. E é da tradição que assim ocorra, porque,
Lomanto, Sérgio Brito, Benito Gama, Jorge Nova da Costa, Governador do Amapá, em regra, primeiro se constituem províncias ou
Eraldo Trindade. Havendo número os quais convido para participarem da Estados, para que depois se estrutura a forma
regimental, ao Senhor Presidente declarou composição da Mesa. federativa de Estado. Mas o Distrito Federal e os
iniciados os trabalhos é passou (É aprovado o pedido de dispensa da Territórios são, por natureza, entidades
à leitura da ata da reunião anterior, que foi leitura da Ata) dependentes da União Federal. O Distrito
aprovada por unanimidade. A seguir, O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): Federal representa a sede do Governo Federal
deu-se início ao Expediente que constou – Esta é a nossa última audiência pública ou da União, e os Territórios, em realidade, são
da seguinte leitura: Correspondências nesta Subcomissão. unidades ou entidades administrativas,
Recebidas: 1) Of. Nº SGS212/87, de Temos o prazer de receber duas submetidas à jurisdição da União. E certo que,
28/04/87, do Presidente da Assembléia autoridades, que seguramente nos irão com a diversificação no tempo, as normas que
Nacional Constituinte, encaminhando brindar com suas experiências e regulam a vida dessas duas entidades também
as Sugestões nºs: 1154, 1191, 1240, conhecimentos. variam. Por isso, não se há de admitir que haja
1245, 1460, 1710 e 1769. (Recebido na Lembro aos participantes desta princípios imutáveis.
Subcomissão em 05/05/87); 2) Of. Subcomissão que cada expositor disporá de Os poderes, no Distrito Federal, têm
Nº SGS/184/87, de 27/04/87, do vinte minutos para apresentar o seu variado, sobretudo no que diz respeito ao
Presidente da Assembléia Nacional pensamento, cada Constituinte terá três reconhecimento de sua representação no
Constituinte, encaminhando as Sugestões minutos para apresentar suas questões, o Sr. Congresso Nacional. De qualquer modo,
nºs: 1119, 1155, 1161, 1162, 1164, 1185 e Relator, cinco minutos, e os expositores terão geralmente a doutrina sustenta que o Distrito
1305. (Recebido na Subcomissão em trinta minutos para responder ás questões que Federal não pode ser equiparado aos
05/05/87); 3) Carta do 1º Secretário lhes forem formuladas. Estados, exatamente porque lhe falta o
Marcelo Cordeiro, de 04/05/87, Com a palavra o Prof. Josaphat requisito básico de autonomia.
encaminhando cópia do ato nº 13/87 da Marinho. Maior é a dificuldade com relação aos
ANC. (Recebido na Subcomissão em O SR. JOSAPHAT MARINHO: – Sr. Territórios, sobretudo porque estes quase
05/05/87); 4) Of. Nº SGC/307/87, de Presidente desta Subcomissão, Sr. Governador nunca representam uma situação permanente
04/05/87, do Presidente da Assembléia do Amapá, ilustre Parlamentares, minhas no quadro político, administrativo e
Nacional Constituinte, encaminhando as Senhoras, meus Senhores, numa Comissão da econômico. São entidades que resultam de
Sugestões nºs :1758, 2127, 2182, 2214, Assembléia Nacional Constituinte, cuidar de determinadas situações históricas ou
2355, 2046 e 2696. (Recebido na matéria vinculada à União, ao Distrito Federal e políticas. Lembre-se, apenas para exemplo,
Subcomissão em 05/05/87); 5) Of. Nº aos Territórios impõe, ao que me parece, uma que, no Brasil, a Constituição de 1891 não
SGC239/87, de 30/04/87, do Presidente da observação preliminar. O assunto está ligado à cuidou de regular a matéria, porque, até então
Assembléia Nacional Constituinte, estrutura e ao funcionamento do regime não havia nenhum Território. Somente
encaminhando as Sugestões nos: 1725, federativo. Como sabemos hoje, no mundo toda quando o Brasil adquiriu o Território do Acre à
1740 e 1828. (Recebido na Subcomissão doutrina sustenta que não há federação, mas Bolívia, é que se tomou necessário disciplinar
em 05/05/87); 6) Cópia Sugestão nº 2200, federações. São tantas as diferenciações, a matéria. E aí se ajustou a Constituição ao
remetida através da Comissão variam de tal modo os princípios reguladores do fato político e institucional criado. Depois é
de Organização do Estado. (Recebida regime que não se pode falar em unidade do que as Constituições que sobrevieram
nesta Subcomissão em 05/05/87). Findo regime federativo. Se há alguns princípios que cuidaram do assunto, porém, sempre
o Expediente, o Senhor Presidente deu prevalecem, nem mesmo esses têm a mesma deixando os Territórios como entidades
início à Audiência Pública, passando a dimensão ou o mesmo conteúdo nas diferentes subordinadas à administração da União.
palavra ao Dr. Josaphat Marinho, que federações. É certo, por exemplo, que, onde E tanto a situação não é definitiva
foi inquirido pelos Srs. Constituintes quer que se cogite de Federação, presume-se a que, apesar de terem sido criado vários
Geovani Borges, Ruben Figueiró, partilha de Poderes entre a União e os Estados, Territórios, à medida que as circunstâncias
Francisco Carneiro, Chagas Duarte e ou, como no nosso caso, entre a União, os favoreceram, foram transformados em
Ottomar Pinto. Ao final dos debates o Sr. Estados e os Municípios. Mas, ainda em tomo Estados. De certo, será o que em tempo
Presidente passou a palavra ao Dr. Jorge dessa partilha de competência, a diversificação é próprio ocorrerá com os atuais Territórios.
Nova da Costa, que foi inquirido pelos Srs. intensa, não havendo uniformidade nos A Constituinte será evidentemente
Constituintes Ottomar Pinto, Geovani diferentes sistemas constitucionais. Quando, soberana para dizer a esse respeito, mas não
Borges, Annibal Barcellos, Marluce Pinto pois, se cogita do exame da matéria e, me parece que seja prudente deliberar a
e Chagas Duarte. O inteiro teor sobretudo, para o objetivo de elaboração de uma Constituinte sobre a conversão de Territórios
dos trabalhos será publicado, após norma ou de um conjunto de normas de em Estados. Parece prudente, quando muito,
a tradução das notas taquigráficas e natureza constitucional, é evidente que essa numa disposição transitória, prever a
o competente registro datilográfico, observação haverá de ser feita previamente, transformação, deixando, porém, que o
no Diário da Assembléia Nacional como base de esclarecimento de quaisquer legislador ordinário decida a esse respeito, de
Constituinte. Nada mais havendo a tratar, observações pormenorizadas que possam ser maneira que o Congresso Nacional apure as
o Senhor Pr esidente deu por encerrados feitas em tomo do assunto. circunstâncias políticas, geográficas e
os trabalhos, às vinte horas e cinqüenta Com esta observação, quero assinalar que econômicas que aconselhem o momento dessa
e cinco minutos, convocando os Se- a primeira divergência que se verifica, do interesse transformação dos Territórios em Estados.
71 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
Fora daí não me parece que, com
relação aos Territórios, haja grandes
novidades que possam ser incluídas no texto
constitucional. É conveniente ressaltar ainda
uma vez que não parece de boa técnica
incluí-los entre as entidades que formam a
Federação.
Ainda que do ponto de vista técnico o
Distrito Federal, como já disse, também se
encontre em posição assemelhada, já em
outras Constituições nossas se incluiu o
Distrito Federal como entidade integrante da
Federação. Nesse particular, poder-se-á
atender ao costume constitucional já
estabelecido, fazendo uma concessão ao rigor
da técnica. Cogitar-se-á certamente do
problema da eleição do Governador do
Distrito Federal, uma vez que já está
estabelecido o princípio da representatividade
no Congresso Nacional. Se a matéria foi
examinada do ponto de vista técnico, creio
que não há precedente, do meu
conhecimento pelo menos, de eleição para o
Chefe do Executivo do Distrito Federal.
Não invoco o pormenor fundado
precipuamente em posição de caráter político.
A inconveniência não resulta rigorosamente
da circunstância de que possa ocorrer, num
dado momento, desentendimento entre o
Chefe do Executivo do Distrito Federal e o
Governo da União, que nele tem sede. Ainda
que isso possa ocorrer, parece-me que o
problema deve ser visto do ângulo mais
importante. O risco da eleição é que o Prefeito
ou Governador do Distrito Federal, em regra,
não dispõe de recursos financeiros para a
manutenção própria, autônoma dos serviços
locais. Pelas limitações geográficas, pelas
condições econômicas, o Distrito Federal
necessita indispensavelmente do rigoroso
apoio do Governo Federal para a sustentação
do seu Governo, dos seus serviços, enfim,
dos recursos pelos quais se promove o bem-
estar social.
Se, portanto, não houver um clima
de segura confiança e cordialidade entre o
Poder federal e o Poder Executivo do Distrito
Federal, poderá este sofrer graves limitações
nas suas atividades, com extensos reflexos
sobre a população e os seus interesses.
O que parece fundamentalmente
importante é que, na nova Constituição, o Distrito
Federal e os Territórios recebam os benefícios
de ordem financeira, devidamente assegurados
para a garantia do desempenho regular de suas
atividades políticas e administrativas. Quando se
vê que, de modo geral, nos projetos
apresentados, inclusive no anteprojeto originário,
da Comissão Afonso Arinos, por exemplo, a
segurança do Distrito Federal será mantida pelo
Governo Federal, é evidente que pressupõe
perfeito entendimento, que poderá não ocorrer
se o Governador resultar de eleição. Também
nos projetos correntes, de modo geral, é comum
prever-se que a União assegura os recursos
necessários à manutenção dos serviços, quer do
Distrito Federal, quer dos Territórios.
É evidente que as taxas e
contribuições de melhoria conferidas ao
Distrito Federal para arrecadação autônoma
não bastam para prover as despesas gerais
da administração e a realização do bem
público. Haverá sempre necessidade,
portanto, de repousar a administração do
Distrito Federal na garantia dos recursos
financeiros provindos da União. O constituinte
soberanamente apurará, então, o que será
mais próprio: assegura-se a eleição
do Governador do Distrito Federal, admi-
tindo a hipótese de divergências; ou não
estabelecer a eleição e prover o Distrito
Federal do máximo de recursos que for
possível para a segurança do
desenvolvimento de suas atividades políticas
e administrativas. Esses recursos são tanto
mais indispensáveis quanto atravessamos
uma fase de transição social e política, em
que a população tem viva participação nas
decisões dos governos. Na medida em que os
recursos forem suficientes, a angústia coletiva
poderá reduzir-se; na medida em que forem
deficientes, as tensões, por certo, crescerão,
perturbando a atividade normal da autoridade
executiva no Distrito Federal. E tanto mais
fortemente quanto se sabe que, por ser o
centro político do País, a Capital Federal
propicia movimentos de opinião de natureza
diversa, com vivas pressões sobre o Governo
Federal e o Governo local.
Com relação aos Territórios, a
situação já será menos grave, porque acredito
que não se cogita de dar a autonomia aos
Territórios, nem, conseqüentemente, de
assegurar a eleição de governadores. Mas, se
disso se tratar, as circunstâncias que
envolverão a vida dos Territórios serão
assemelhadas às que incidirão sobre o
Governo e a população do Distrito Federal.
Enfim, e para ser atento à limitação do
tempo a que o Presidente se referiu
justamente de início, no equilíbrio da decisão
que a Assembléia Nacional Constituinte
adotar é que estará a solução adequada.
O problema não é propriamente de
natureza política circunstancial, mas, ao
contrário, é de índole permanente, que exige,
por isso mesmo, um conjunto de normas
reguladoras de decisões capazes de durar,
sobretudo quando todos, Constituinte e povo,
estamos empenhados em que desta vez não
se faça uma Constituição que, a prazo breve,
seja suscetível de reforma e,
conseqüentemente, de insubsistência.
É o que, na exposição, posso dizer
aos presentes, agradecendo-lhes a atenção a
aguardando o momento das perguntas, para
acudir ao que me for possível esclarecer.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Há solicitações de alguns constituintes para
que o segundo expositor faça de imediato a
sua exposição e depois se parta para os
debates. Entretanto, o assunto tratado pelo
Prof. Josaphat Marinho é tão palpitante que
vou voltar ao sistema que foi estabelecido
anteriormente, porque sei que muitos
gostariam de colocar as suas questões
para o Professor, independentemente do
posicionamento do nosso Governador com
relação ao seu Território e que, seguramente,
há de nos trazer informações preciosas nesse
debate e algumas contestações com relação à
posição de não haver eleições no Distrito
Federal.
Concedo a palavra ao Constituinte
Geovani Borges.
O SR. CONSTITUINTE GEOVANI
BORGES: – Sr. Presidente, Sr. Relator, Sr.
Governador do Amapá, Sr. Palestrante,
Prof. Josaphat Marinho, ouvimos
atentamente os subsídios que V. Sª traz a
este plenário, naturalmente nos dando uma
luz para reflexão e análise sobre o Distrito
Federal e os Territórios, onde terá o seu
verdadeiro papel na futura Constituição do
País.
Vou-me ater um pouco nos Territórios
Federais.
Os Territórios conseguiram
conquistar, ao longo do tempo, eleições
diretas e livres para Vereadores, Deputados
Federais, como também temos o privilégio de
escolher os nossos Prefeitos. Quanto ao
sistema Câmara e Prefeitos, funciona a
fiscalização do Poder Executivo junto com o
Poder Legislativo. O sistema da Câmara dos
Deputados é bicameral: Câmara e Senado.
Hoje os Territórios dispõem de representantes
na Câmara, mas não temos representantes
no Senado Federal. Assim, os trabalhos dos
Deputados Federais praticamente se
estagnam na Câmara. No. Senado Federal,
não temos uma voz para defender os
interesses dos Territórios Federais. Já, quanto
ao Distrito Federal, o sistema funciona a
contento. É o sistema bicameral, com
representação no Congresso, Câmara e
Senado Federal, numa conquista recente do
Distrito Federal.
Comenta-se sobre eleições diretas
para Governadores. Vou ater-me ao exemplo
do Distrito Federal e dos Territórios Federais,
que também levantam essa bandeira, não só
para a eleição de Governadores, como
também de Senadores e até mesmo de uma
Assembléia Territorial, uma Assembléia
Legislativa.
Estou trazendo esses subsídios ao
ilustre palestrante para que, com sua
experiência, nos oriente, dando uma posição
até de critica, mas que venha assegurar-nos,
na hora da votação, uma opção pelo futuro
dos Territórios Federais e do Distrito Federal.
Prof. Josaphat Marinho, não conheço a
técnica legislativa, a forma constitucional de se
transformar Territórios em Estados. V. Sª
levantou a tese de que não seria o ideal para o
momento. Talvez possam passar quando
conseguirem condições econômicas,
conquistar o seu espaço, sua segurança, não
em termos de matéria constitucional, mas
numa legislação complementar, ordinária, para
poder definir a transformação dos Territórios
em Estados. Mas sugeri, em tese, que os
Territórios continuassem na sua posição atual.
Entretanto, que procurassem conquistar sua
autonomia política e administrativa,
naturalmente com a segurança e com o
repasse da União. Levanto aqui um ponto. Os
Territórios e o Distrito Federal deveriam ter
perfeito relacionamento com o Executivo, para
conseguirem atingir seu objetivo na
administração pública. E os Estados? Será que
não dependem também, constantemente, do
Governo Federal, nos casos específicos, com
Governadores eleitos, Senadores, Deputados
Federais e tudo mais? De antemão, quero
parabenizá-lo pela brilhante explanação e pelos
subsídios que V. Sª trouxe para nossa
apreciação. Deixo essas indagações para a
reflexão de V. Sª e também para nos ajudar no
nosso trabalho.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Prof. Josaphat
Marinho.
O SR. JOSAPHAT MARINHO: –
Agradeço ao nobre Constituinte a atenção
que deu à exposição e saliento a
oportunidade de suas indagações. Se me
permitisse, diria que compreendo que haja
interesse em perguntar por que os Territórios
também não têm representação no Senado.
Queria lembrar que o que as federações, de
modo geral, encerram, no particular, e o que
vem da tradição do regime federativo, nascido
nos Estados Unidos. Gerou-se
a representação dos Estados, ao
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 72

lado da representação popular, exatamente
para garantir a igualdade dos Estados na
Federação. Por que tal coisa ocorreu? Porque,
na verdade, havia colônias que abdicavam de
sua soberania para ficarem sujeitas apenas a
um regime de autonomia, como entre nós se
verificou de forma diversa. As províncias, que
não tinham autonomia no regime imperial,
vieram a tê-la com o sistema federativo. Nos
Estados Unidos, o regime, quando se instituiu,
criou a representação dos Estados. Era uma
forma de fazer presentes as antigas Colônias e
em igualdade, ou seja, dois Senadores por
Estado, por um mesmo prazo. Isto porque os
Estados, quando se configuram como
entidades autônomas na Federação, têm vida
permanente, enquanto os Territórios não.
Então, será mais próprio, pelo que a
experiência histórica tem mostrado,
desenvolver os Territórios, promover o seu
desenvolvimento e, ao transformá-los em
Estados, assegurar-lhes a mesma posição das
demais unidades federadas.
Creio que a conveniência, no
momento, sobretudo, aconselharia a esse
procedimento de não precipitar-se essa
transformação. Assistimos à lamúria geral dos
Estados, que estão argüindo a impossibilidade
de manter os seus serviços, caso não haja
uma reforma tributária de emergência. A
transformação – e o ilustre Parlamentar não
divulgou a hipótese – dos Territórios em
Estados, através de norma transitória da
Constituição, por exemplo, teria um
inconveniente: o de não aguardar que esse
desenvolvimento se verificasse, para que a
autonomia dos Territórios fosse conquistada
em melhores condições de sobrevivência e de
desenvolvimento de suas atividades. Acredito
que, efetivamente, essa transformação deve
ser condicionada à lei de caráter
complementar, precisamente porque,
exigindo, como, de certo, a Constituição assim
estabelecerá, quorum qualificado, dificultará
qualquer decisão que seja imprópria, num
determinado momento.
São estas as ponderações que faço
em resposta às indagações de V. Ex.ª Se,
porventura, não fui entendido, V. Ex.ª poderá
objetar, pois estarei pronto a complementar o
que for possível.
O SR. CONSTITUINTE GEOVANI
BORGES: – Pela ordem, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A Presidência solicita ao nobre Constituinte
que fale junto ao microfone, para que sua
intervenção fique, assim, registrada nos Anais
da Casa.
O SR. CONSTITUINTE GEOVANI
BORGES: – Obrigado. As colocações de V.
Sª realmente irão ajudar na dissipação de
muitas dúvidas. Mas gostaria de fazer mais
uma indagação. O Distrito Federal só agora
conseguiu conquistar eleições para o Senado
Federal, para a Câmara dos Deputados, e
levantou a bandeira de eleições diretas para
Governador. Os Territórios Federais não
poderiam, digamos, conquistar essas mesmas
prerrogativas, na qualidade de Territórios, a
exemplo do que fez o Distrito Federal? V. Sª
pode esclarecer essa questão?
O SR. JOSAPHAT MARINHO: – A
Constituinte será soberana para decidir sobre
isto. Tecnicamente, ponderaria que a eleição
para o Executivo pressupõe autonomia. Se o
Distrito Federal e os Territórios não a
possuem, isto gera uma situação mais
delicada. Será pelo menos uma inovação no
quadro federativo.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao nobre Constituinte
Ruben Figueiró.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Srs. membros da Mesa, Sr.
Governador José Nova da Costa, do Amapá,
brilhante Prof. Josaphat Marinho, a quem
neste instante rendo meus respeitos pela
erudição e inteligência jurídico-constitucional.
Eu talvez, Sr. Professor, dos únicos – ou
talvez o único – nesta Comissão, que acata,
em toda sua plenitude, as idéias expostas por
V. Sª, tenho, sinceramente, profundas
preocupações com relação à eleição do
governador do Distrito Federal, como também
com relação à autonomia dos Territórios do
Amapá e de Roraima.
Não vou aqui aduzir razões, porque
elas já foram colocadas de maneira eloqüente
por V. Sª. Modestamente, endosso-as todas.
Mas estamos aqui, neste momento, na
Assembléia Nacional Constituinte, procurando
vocalizar o pensamento político do povo
brasileiro como um todo e também das regiões.
Não posso negar que no Distrito
Federal existe latente vocação pelo voto
popular na escolha do seu governador, como
também não posso desconhecer o intrépido
trabalho que vem sendo realizado pelos ilustres
representantes do Amapá e de Roraima em
favor da emancipação dos seus Territórios.
Tive oportunidade, de 1979 a esta
data, de visitar por duas vezes aqueles
Territórios, e lá pude perceber perfeitamente
que sua maior aspiração era realmente a de
se tornarem unidades federativas autônomas
deste País. Assim, a minha tendência é
acompanhar essa vocação popular. Tudo
indica que votarei, nesta Subcomissão, pela
eleição do Governador do Distrito Federal e
também pela autonomia dos dois Territórios,
transformando-os em Estados, mas – e daí a
minha pergunta – gostaria de fazer uma
ressalva. Desejo que essas unidades
sobrevivam, para que possam promover o
equilíbrio político e o desenvolvimento
econômico. Assim, ofereci à consideração
desta Subcomissão uma proposta. É uma
proposta inovadora, que não tem respaldo,
absolutamente, na tradição constitucional
brasileira.
Estamos aqui para inovar, para
solidificar, para estruturar novas idéias, se
possível. Foi com essa fundamentação que me
aventurei a lançar a idéia que gostaria que
merecesse, aqui e agora, uma análise de V. Sª.
Pensei que se pudesse criar, no regime
federativo do País, mais duas figuras. Numa
espécie de escada, o primeiro degrau seria o
departamento territorial. Es se departamento
territorial não teria autonomia: seria
administrado pelo governo Federal, pelo
governo do Estado ou dos Estados e Territórios
desmembrados para sua formação. Até citei,
em reunião anterior, que no meu Estado, Mato
Grosso do Sul, e no Estado de Mato Grosso,
temos um território peculiar, que talvez no
mundo não exista outro igual, que é o Pantanal
mato-grossense. As condições do Pantanal
exigem permanente atenção dos Governos,
sobretudo do Governo federal. Criar-se-ia,
portanto, um departamento territorial para o
Pantanal, como talvez se criasse para Carajás,
para Tapajós, para a região mais setentorial
do Estado do Pará. Esse departamento
territorial, portanto, teria uma administração
bipartite ou tripartite, mas sob o comando
maior da União, que injetaria os recursos
necessários para que ali realmente se manti-
vesse a sua ecologia, o seu ecossistema,
enfim, aquela estruturação que hoje existe e
que deve ser preservada.
A seguir, viriam os Territórios
Federais, que se localizariam basicamente
nas faixas de fronteiras, como o são
atualmente, com exceção do Território de
Fernando de Noronha. Evidentemente, a
figura jurídica e constitucional seria a mesma.
Não se alteraria nada.
A terceira figura seria dos distritos
federais. Alguém afirmou aqui que, segundo
as nossas tradições constitucionais, distrito
federal é tão-somente a sede do Governo
Federal, a sede da União. Entendo que
distrito federal poderia ser também onde a
União tivesse que manter o seu interesse, no
sentido da subsistência política, o
desenvolvimento econômico-social daquela
região. Nessa hipótese, a administração teria
participação efetivamente popular, porque
estaria em um estágio de pré-Estado. Assim,
a autonomia do Distrito Federal seria relativa,
mas com a escolha do seu governador, do
seu vice-governador, da sua Assembléia
Legislativa, da sua representação federal. E aí
atenderíamos ao desejo do nobre
representante do Amapá, Constituinte
Geovani Borges, de se ver representado
também no Senado da República, por essa
particularidade, de uma autonomia quase que
total.
Desta forma, creio que poderíamos,
perfeitamente, atender a essa vocação
popular do Distrito Federal e dos Territórios.
A escada seguinte seria dos Estados
e, finalmente, a União, que comporiam, então,
o quadro da Federação brasileira.
Gostaria, sinceramente, que V. Sª
fizesse uma análise crítica dessa minha
proposta, pois representa uma preocupação
minha, e esta é uma oportunidade ímpar, que
temos aqui, de ouvir de um constitucionalista
emérito como V. Sª opinião sobre a
Constituição. Agora mesmo venho de uma
reunião da minha bancada do PMDB com o
Líder Mário Covas. E foram várias as
perguntas, que se fizeram lá, sobre se
deveríamos elaborar uma Constituição
enxuta, sintética ou uma Constituição ampla,
guardando os moldes do Projeto Afonso
Arinos. Tenho uma concepção a respeito do
assunto, mas é uma concepção de leigo, e
gostaria, sinceramente, de também ouvir a
opinião de V. Sª. Muito grato pela atenção que
me dispensou.
O SR. JOSAPHAT MARINHO: –
Antes de V. Ex.ª concluir, Constituinte Ruben
Figueiró, eu indagaria, para meu
esclarecimento: como seriam criados esses
distritos federais e onde funcionariam?
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Os distritos federais, além do
distrito-mãe, vamos dizer, Brasília, seriam os
atuais Territórios, que têm condições de pré-
Estados. Não quero ofender absolutamente
os nobre representantes dos dois Territórios,
mas guardo a convicção de que eles ainda
não dispõem de condições para ter a
autonomia desejada. Eles não seriam
Territórios: teriam condições de possuir uma
administração local, própria, vocacionada aos
seus interesses maiores. Também reconheço
que a escolha do Governador, através de uma
determinação tão-somente do Governo
federal, fere os direitos de cidadania dos
habitantes daqueles Territórios. Então, para
esclarecer a V. Sª: distritos federais seriam o
de Brasília, o do Amapá e o de Roraima.
73 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
Esta é uma inovação. Evidentemente, por isto,
gostaria de ouvir a sua crítica.
O SR. JOSAPHAT MARINHO: –
Começaria respondendo ao nobre
Constituinte Ruben Figueiró que também sou
favorável a que prevaleça, quanto possível
for, o regime da eleição direta, a livre escolha
pelos cidadãos não apenas dos seus
representantes às casas legislativas, como
dos seus governantes. Parto desta tese, e não
recusaria, mesmo, a simpatia que tenho pelo
crescimento do Distrito Federal.
Em boa parte, eu o vi desenvolver-se,
pois que aqui cheguei como Senador em 1963
e fui morador constante de Brasília durante o
exercício do meu mandato. Aqui permaneci
depois, permanentemente, por vários anos. E
aqui ainda tenho residência e escritório de
advocacia. Porém coloco o problema de outro
ângulo, o ângulo institucional. Sem dúvida, o
regime federativo está-se transformando, e
órgãos ou fórmulas que antes se
desconheciam hoje prevalecem. Já temos as
regiões metropolitanas. Hoje já funcionam
administrações municipais em consórcio. São
inovações que a experiência vai modelando.
Isso significa que outras entidades poderão
ser criadas, ao modo da sugestão agora
mesmo feita. Queria apenas ponderar que sua
observação me fez recordar o que nos
adverte ilustre publicista, o Ministro Oswaldo
Trigueiro, quando lembra que a expressão
Distrito Federal é até imprópria, porque a
palavra distrito é representativa da unidade
política e administrativa menor, no quadro da
Federação. Distritos compõem os Municípios.
A expressão não é, conseqüentemente, de
boa técnica, mas ingressou no Direito
Constitucional brasileiro. Outras expressões e
outras figuras foram criadas no Direito
Constitucional Universal, antes mesmo que as
leis as consagrassem. Não havia, na
Inglaterra, nenhuma lei, nem havia, no Brasil
Imperial, nenhuma lei que falasse em
primeiro-ministro. E havia primeiro-ministro lá
e cá. Isto significa que a prática, a experiência
vai transformando o rigor teórico dos regimes.
Mas por que não se pensar em promover o
mais rápido desenvolvimento dos Territórios,
para convertê-los em Estados? Sobretudo
quando os atuais Estados passam por uma
grave crise, todos eles, à exceção talvez de
São Paulo? E crise tão grande que os
Estados do Nordeste, sobretudo, argúem que
não têm condições de continuar mantendo
seus serviços se não houver profunda
reformulação na política tributária do País. O
Constituinte é soberano para criar outras
unidades com autonomia, transformar os
atuais Territórios em Estados. O que se
indaga é da conveniência de fazê-lo, correndo
o risco de criar mais dois ou três Estados sem
condições normais de sobrevivência, o que
perturba gravemente sua autonomia política e
administrativa. Não basta dizer que é Estado.
O importante, do ponto de vista da estrutura
federativa, é que a unidade declarada
autônoma tenha condições de vida própria, de
desenvolvimento, sem grave dependência do
Poder federal. E isto é tanto mais de
ponderar-se quanto o próprio Governo
Federal passa por uma grave crise de ordem
financeira, obrigado a limitar serviços, a
conter obras, a suspender empreendimentos.
O Constituinte atentará, de certo, para
essas circunstâncias e poderá dar a forma
própria. Por exemplo, estabelecer que o
Governo Federal acentue o desenvolvimento
dos Territórios, de maneira a aplicar
determinado percentual de recursos por um
prazo determinado, findo o qual, criadas
condições adequadas, processar-se-á a
transformação deles em Estados. São formas
– estou dando aqui apenas uma sugestão –
que podem surgir para conciliar a justa
aspiração de autonomia do Distrito Federal e
dos Territórios com a realidade dentro da qual
a Constituição vai ser elaborada.
Pode a Constituinte adotar o sistema de
dar configuração própria a determinadas
situações, como a referida pelo nobre Deputado,
ao cuidar da criação do Departamento Territorial.
Mas não sei se conviria multiplicar o número de
entidades dentro da Federação. Talvez fosse
mais próprio estabelecer o Constituinte
determinadas normas que obrigassem os
Estados a dar tratamento diferenciado a certas
regiões de seus territórios, para corrigir as
anomalias econômicas que resultam de
dificuldades geográficas. A experiência de
vários povos mostra que essa multiplicação de
entidades ou de órgãos nem sempre produz o
efeito devido no curso do tempo. Temos a
experiência de que a obrigatoriedade da
concessão de recursos pode corrigir, dentro de
determinado prazo, o quadro de uma região. O
Constituinte já estabeleceu no Brasil – e
prevaleceu por vinte anos – a obrigatoriedade
da aplicação de um percentual determinado de
recurso para a região do Vale do São
Francisco. E, desde a criação da chamada
Comissão do Vale do São Francisco, os
trabalhos se desenvolveram, propiciando
melhoria sensível de todo o quadro econômico
e social da região.
Para uma região como esta de Mato
Grosso talvez a solução estivesse na
obrigatoriedade da outorga de recursos por
determinado prazo, e não na criação de uma
nova entidade. É certo que, na medida em que
o Constituinte regularizar essas situações,
estaria alargando o âmbito da Constituição.
E aí nem a pergunta que me foi feita: se
a Constituição deve ser analítica ou sintética.
Poucas Constituições do mundo de hoje são
sintéticas. Nem se justifica mesmo que o Estado
hoje possa elaborar uma Constituição resumida,
como é o caso da Constituição dos Estados
Unidos. Ela foi feita noutro clima filosófico,
cultural e econômico. Foi feita em pleno domínio
do Estado liberal, das idéias liberais. Hoje não.
Hoje o Estado não é o Estado abstencionista; é
o Estado intervencionista. Não depende nem da
nossa preferência política ou filosófica. O Estado
é intervencionista no domínio social e
econômico, pelos deveres e obrigações que
cabem aos governos.
Para tanto, é indispensável que as
Constituições cuidem dos problemas da
educação, da saúde, do meio ambiente. As
Constituições regulam o uso da informática
para evitar o abuso no desenvolvimento da
técnica, para resguardar a privacidade. A
Constituição é obrigada a conter normas que
disciplinam fatos que antes pareciam até
escapar ao poder do legislador ou fora dele.
Mas as Constituições hoje dispõem sobre isso
porque a realidade social mostrou que era
preciso corrigir determinadas distorções, que
envolviam graves injustiças sociais. Então, a
Constituição não pode ser sintética; ela não
deve ser demasiado analítica, para não se
transformar em lei ordinária.
Participei da Comissão Afonso
Arinos, e acho que o projeto ficou demasiado
longo. Acabou-se fazendo um projeto
que é maior do que a maior Constituição
que conheço, a da Iugoslávia, que
tem 400 artigos e mais alguns adendos. O
ante-projeto Afonso Arinos tem mais de 400
artigos. Não é preciso tanto, porque na
medida em que o Constituinte se estende em
normas demasiado pormenorizadas gera
dificuldades no tempo para o cumprimento da
Constituição. A Constituição é feita hoje para
regular e prover situações que se desdobram
no curso do tempo.
Portanto, na medida em que, ela for
flexível, ainda que abrangendo extensa gama
de fatos e situações, é sábia, porque abrange
múltiplos fatos, mas sem descer a
pormenores, a fim de que o legislador
ordinário possa estabelecer as variações que
as circunstâncias sociais políticas e
econômicas aconselham.
Para concluir, poderia ilustrar esta
resposta com um fato que, dizem, ocorreu no
Rio de Janeiro, num dia de ebulição política.
Quando o Senador Pinheiro Machado
deixava o Senado, seu motorista lhe perguntou:
"Depressa ou devagar, Senador?" E o velho
líder respondeu: "Nem muito devagar, para não
ser provocação, nem muito depressa, para não
parecer covardia. "É o caso. No equilíbrio é que
estará a boa solução.
A Constituição deve conter tudo
quanto for conveniente. Estamos em fase
semelhante àquela posterior à 1º Grande
Guerra, quando se falou na racionalização do
poder, isto é, na conveniência de conter na lei
o máximo dos fatos e relações da vida social.
Só que a Constituição não deve entrar em
pormenores que dificultem sua própria
sobrevivência.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte
Francisco Carneiro.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Sr. Presidente, Sr.
Governador, Sr. Relator, Prof. Josaphat
Marinho, confesso que aqui cheguei de mãos
frias. Venho das camadas mais humildes.
Estou em Brasília há 28 anos e agora achei
por bem candidatar-me. De forma que não
tenho nenhuma cultura. Frente à estatura da
cultura de V. Sª, só vim falar porque há muito
tempo defendo a eleição para Governador do
Distrito Federal.
Acredito que minhas palavras vão ser
meio tumultuadas, mas, pelo conhecimento
que V. Sª possui, sei que acabará tirando daí
urna conceituação, concluirá bem. O Distrito
Federal, justamente no termo restrito, como V.
Sª colocou no sentido de Distrito Federal,
criado para sede administrativa do Brasil,
perdeu completamente sua característica. Sei
que V. Sª sabe bem mais do que aquilo que
vou dizer, mas só quero afirmar a idéia. Hoje
somos um conglomerado de cidade, com uma
população em torno de 1 milhão e 700 mil
habitantes; possuímos 40 mil empresas, entre
micros, pequenas e médias empresas
industriais, que propiciam ao Distrito Federal
ser a quarta cidade arrecadadora de Imposto
de Renda do Brasil e a sétima em ICM e em
ISS.
Agora, com essa reunião dos
Governadores do Centro-Oeste, tudo indica
que o Distrito Federal terá de absorver
mais 11 municípios da periferia do Distrito
Federal. Brasília é o entreposto. Em
Brasília passam, para São Paulo e Rio de
Janeiro, grandes quantidades de cereais e
gado. E Brasília se comporta como um
possível centro industrial não poluente. É
quase impossível sairmos da vocação
histórica de que onde se situa o poder
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 74

e onde existe o ouro para aí existe uma corrida
muito grande. É o que está acontecendo aqui.
A ONU prognostica para Brasília, no
ano 2000, uma população de 4 milhões de
habitantes. Mesmo sem considerar essa
estatística da ONU, deveremos ter 3.200.000
habitantes, pelo crescimento vegetativo,
mesmo com a curva descensional que já
possuímos, de seis para 3,5 – crescimento
vegetativo. Parece-nos que a Capital
administrativa já perdeu a sua característica.
Não pretendemos jamais que isto seja
um Estado, mas em Brasília tudo converge
para duas salas – a do Governador e a do
ajudante do Governador. E as mazelas têm
atingido volumes incríveis, a ponto de hoje
sabermos que dentro de mais dois anos
Brasília não terá água para sua população,
por causa do desprovimento dos governos
tais ou quais. Não sou homem de criticar, sou
homem de soluções, porque assim pautei
toda minha vida. Nós, habitantes de Brasília,
não temos como conseguir soluções práticas,
efetivas para educação, saúde, habitação
assistência às populações carentes, enfim,
para essas coisas que são próprias de quem
mora aqui. Defendo a eleição para
Governador, para Vice-Governador, para uma
Assembléia Legislativa, com autonomia
política, administrativa, legislativa e financeira.
O tema de V. Sª se situava muito na parte
financeira, na dependência do Governo eleito
sobre o Presidente da República de outro
partido, coisa que terá de ocorrer certamente.
Por isso, imagino autonomia financeira em
que já conste da Constituição um percentual
ou um valor para as despesas do Governo
Federal, no que tange ao Governo Federal.
Três milhões e 200 mil habitantes não
precisariam do Eixo Monumental, com toda a
pompa que existe; não precisariam das
Embaixadas, dos monumentos que aí estão,
que se tornam necessários e imprescindíveis,
porque na capital do País. Mas não é possível
toda essa população viver desatrelada de
escolher por si só seus próprios governantes
– seremos 3 milhões, 3 milhões e duzentos.
É do seu conhecimento que
acompanhei toda a vida de V. Sª em Brasília,
pois aqui cheguei antes da inauguração.
Pergunto quais os inconvenientes, já que
estamos formando uma nova Constituição,
coisas que hoje são tecnicamente
recomendáveis amanhã podem não ser,
podem surgir novas condições, e nós,
Constituintes, estamos aqui para ver isso.
Deixo de lado essa parte. Queria saber como
realmente pode conviver um Governo
"biônico" com uma população de 4 milhões de
habitantes, com duas das cidades satélites já
marchando para a casa de 1 milhão de
habitantes cada uma? Dentro de mais 6 anos
poderá conviver com governo simplesmente
indicado? Podemos continuar cassados do
direito inalienável de escolher nossas próprios
governantes? São as perguntas que faço a V.
Sª. Desculpe-me as expressões, que não são
muito dentro do estilo, já que estou aqui
arremedando as coisas. Muito obrigado.
O SR. JOSAPHAT MARINHO: –
Deputado Francisco Carneiro, a intervenção
de V. Ex.ª indica a vantagem de ter o
Distrito Federal sua representação. V. Ex.ª
acaba de dar demonstração de perfeito
conhecimento dos problemas do Distrito
Federal e de como eles podem ser
encaminhados no plano legislativo.
Disse, no princípio, que a Assembléia é
sobena para estabelecer eleição di-
reta. Apenas ela estará criando uma inovação
que acredito inexistente em qualquer outro
regime federativo. Creio que não estou
cometendo exagero, mas não será apenas a
escolha direta que resolverá o volume de
problemas a que V. Sª se referiu. A prova está
na atual situação de quase todos os Estados
brasileiros. Isso não significa que o Constituinte
não possa pensar numa forma de assegurar a
participação da sociedade local na escolha do
seu dirigente. Se a Constituinte não preferir
manter o regime atual, nem estabelecer a
eleição direta, há fórmulas intermediárias, que
poderão ser estabelecidas, não apenas para a
escolha do governante do Distrito Federal.
Acredito, por exemplo, que, para a escolha dos
Ministros do Tribunal de Contas, do
Procurador-Geral da República etc., o processo
deveria ser o de possibilitar a intervenção de
outros órgãos, de maneira a que a preferência
não fosse unipessoal. O Constituinte poderia
estabelecer que o Governador do Distrito
Federal só seria nomeado se obedecidas
adas condições, que houvesse a participação
da comunidade por determinados órgãos
legitimamente constituídos, estes e outros
podendo fazer indicações, de sorte que a
escolha se procedesse numa lista múltipla, e
não apenas na aprovação do poder pessoal
do Presidente da República. Essas são
fórmulas que vão limitando o poder pessoal
do Presidente da República como convém
limitar, e que vão representando também os
chamados mecanismos parlamentaristas
introduzidos no regime presidencial.
Compreendo sua preocupação e o Constituinte
será soberano para atentar se tais razões
bastam para instituir um procedimento
inteiramente inovador, ou se poderá marchar
para uma fórmula intermediária, da natureza da
que estou suscitando.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Prof. Josaphat Marinho, V. Sª
falou, mais de uma vez, da situação em que
se encontram os Estados. Eles estão falidos.
Estados como o Rio Grande do Sul e o
Paraná estão falidos por desgovernos. Não
quero incriminar, A, B, ou C. Temos 470
empresas estatais, das quais 320 recebem
proventos do Governo federal, dinheiro
recolhido do imposto, que deve voltar à
sociedade através de benefícios sociais como
é no Japão, através de educação, saúde,
moradia, de atenção às populações carentes.
Se examinarmos o orçamento da Nação,
vamos encontrar vultosas verbas destinadas à
manutenção de empresas estatais que nada
têm a ver com a ação social do País. Aqui no
Distrito Federal, o Estado possui, entre as
suas estatais, cinco que são subvencionadas
polpudamente com recursos advindos da
Federação e do povo de Brasília. O que há é
o desgoverno total. Precisamos realmente
corrigir isso. Eis por que temos hoje 19
Estados falidos na Federação. Era o que
queria acrescentar. Pr ecisamos é de Governo,
e V. Sª sabe disso muito bem. Hoje sou
empresário, mas comecei na enxada,
plantando com meu pai. Nunca tive auxílio
senão de Deus. Constituí um grupo tirando
leite e água da pedra, mas Governos como o
do Rio Grande do Sul, do Paraná, e outros – o
que é isso, minha gente? – são desgovernos.
O SR. JOSAPHAT MARINHO: – Para
corrigir as irregularidades que V. Ex.ª com
tanta ênfase acabou de pôr em relevo,
tenho impressão, e assim venho
advogando em vários estudos, que um dos
benefícios que o Constituinte pode prestar
à Nação é estabelecer o regime de Governo
que possa ser extensivos aos Estados e
municípios. (Palmas). Mas não apenas
normas genéricas, e sim determinadas
cláusulas constitucionais, que obriguem os
Poderes federal, estadual e municipal a
instituírem planos de ação e seguir o que
neles está estabelecido, isto é, planos com
caráter imperativo, de maneira que a
população possa acompanhar a execução
das providências, de acordo com o que neles
foi largamente noticiado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte Chagas
Duarte.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Sr. Presidente, Governador Jorge
Nova da Costa, Srª e Srs, Constituintes –,
Prof. Josaphat Marinho, não tive a honra de
ouvir toda a conferência de V. Sª, mas
somente parte dela. Parece-me que S. Ex.ª
desaconselha a transformação dos territórios
em Estados em razão, primeiro, da crise
financeira que o País atravessa; segundo,
porque entende que os territórios ainda não
atingiram um grau de desenvolvimento que
possa justificar sua promoção a Estado.
Não sei, Prof. Josaphat Marinho, se V.
Sª tem outros dados com relação ao
desenvolvimento dos territórios, mas posso
dizer-lhe que o Território de Roraima, depois
de quarenta e quatro anos, atingiu, na parte
física, toda estrutura que têm os Estados. Os
investimentos, depois desses quarenta e
quatro anos, já são mais ou menos
admissíveis para a transformação do território
em Estado.
Os territórios hoje, vivem de duas
fontes de recursos. Uma da União, para pagar
unicamente o pessoal – o maior montante,
vamos dizer assim; e a outra do Fundo de
Participação dos Estados, do Distrito Federal
e dos Territórios, que quase sempre é para
investimentos, e que é também para os
Estados, e obedecem ao rateio feito pelo
Tribunal de Contas da União, na forma
constitucional.
Então, Prof. Josaphat Marinho, em
relação à situação financeira dessas duas
fontes de recursos, transformando-se o
Território em Estado seria possível que depois
de dez ou quinze anos, a exemplo de
Rondônia, viesse a perder uma fonte de
recursos da União para os novos funcionários
que fossem admitidos, a partir daí não para os
que estão em exercício agora e aposentados.
Quanto ao Fundo de Participação dos
Estados, eles continuariam a recebê-lo,
juntamente com outras fontes de recursos,
que são para o restante dos Estados.
Sobre essa questão financeira, eu
queria trazer a V. Sª um dado importante,
para que possa avaliar e aquilatar o que
significa ir ao encontro das aspirações de um
povo que acha que já está amadurecido, que
não é apenas o povo, a bem da verdade, é
bom que se diga: são a classe política e as
associações. Como bem disse o Deputado
Ruben Figueiró, a vontade daquele povo é
passar a Estado. E por quê? Aí vem outra
história. Veja bem o seguinte: administrar as
coisas públicas, ser o gerente dos bens
públicos, que é uma função do Governador do
Território, é uma coisa, mas ser Governador
de um povo é outra coisa. É preciso que esse
homem nasça no seio dessa comunidade e a
conheça bem, para merecer a confiança do
seu povo e governá-lo. Parece-me que já na
Grécia antiga – perdoem-me se estou
75 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONALCONSTITUINTE (Suplemento)
enganado – a escolha de um governante era
feita através de uma moeda que se jogava,
para fugir à escolha individual da vontade de
um homem. O Estado vai proporcionar isto ao
povo! Que, através de uma eleição, o povo
escolha o mais competente, o mais capaz, o
mais probo. É um princípio que deve ser
obedecido. Há outra coisa que me leva a
pensar assim, é uma incoerência a Assembléia
Nacional Constituinte negar a passagem dos
Territórios para Estado pelo fato de o País estar
vivendo uma crise econômico-financeira. Todos
nós, brasileiros, dizemos, de alto e bom som,
que a situação deste País só poderá ser
resolvida quando escolhermos diretamente o
Presidente da República. Estaríamos sendo
incoerentes, usando dois pesos e duas
medidas, se resolvêssemos que, pelo fato de
estarmos em crise, os Territórios não possam
passar a Estado. Seria o caso, desculpe-me a
ênfase Prof. Josaphat Marinho, de advogarmos
que os Estados passassem a Territórios, que a
União administrasse tudo. Como disse o
debatedor que me antecedeu, os Estados
estão falidos. Mas, veja, o Estado vai
proporcionar àqueles 200 mil brasileiros de
Roraima e 400 mil do Amapá a capacidade de
andar com as suas próprias pernas,
possibilidade de exercerem sua criatividade,
serem os artífices da sua caminhada, os
construtores da sua liberdade. Compreendo
todo esse sofrimento e essa dor, sendo V. Sª
um homem amadurecido, com a sua
experiência, com a sua cultura e com a sua
vivência. É normal a sua preocupação.
Comungo com ela. Por outro lado, temos que
pensar naqueles que vivem nos Territórios,
como nós onde o Governador é todo-poderoso.
É o homem que pode o menos e pode o mais.
E quando ele sai do Território, muitas vezes ele
esquece as angústias, as aspirações e
reclamos do povo que está governando e vai
ao encontro dos desejos do Poder Central, que
não está de acordo com muita coisa que o
povo gostaria de ter.
Prof. Josaphat Marinho, mesmo nesse
estado de crise, mesmo nessa situação, o
Território recebendo isto que V. Sª diz, como
Estado parece-me que ele teria a grande
possibilidade de ajudar o Governo a amenizar
esses gastos todos, porque ele só recebe
como uma verdadeira colônia.
Gostaria de ouvir a opinião de V. Sª a
esse respeito.
O SR. JOSAPHAT MARINHO: –
Nobre Deputado Chagas Duarte, lamento que
V. Ex.ª não estivesse presente no início da
palestra para verificar que não entrei nos
pormenores do exame de dificuldades que
atualmente atingem os territórios, para lhes
negar, por esse motivo, fundamentalmente, o
direito à eleição de governadores. Ponderei
que na estrutura do regime federativo os
territórios sempre foram considerados uma
entidade dependente da União. Não tendo
autonomia, não podem eleger o governador.
Mas tenho assinalado, durante este debate,
em vários momentos, que a Assembléia
Constituinte é soberana para dizer se deve,
primeiro, autorizar a eleição de governadores
para os territórios. Fere a técnica de
organização do sistema federativo, mas a
Assembléia é soberana para fazê-lo.
Segundo, se a Assembléia Constituinte deve,
numa disposição transitória, operar a
transformação dos atuais territórios em
Estados. Ponderei que seria mais conveniente
que a Constituinte estabelecesse
determinadas condições, mediante as quais
se apressasse a transformação em Estados,
porque isso permitiria ao legislador ordinário,
no momento próprio, examinar detidamente a
matéria, o que será difícil fazer no curso da
elaboração da Constituição. Seguramente,
não serão examinados em profundidade os
fatos, as circunstâncias, os motivos que
envolvem a vida de cada território. Os
problemas maiores da organização geral dos
poderes, das garantias de direitos, da ordem
social e econômica absorverão o debate,
reduzindo a apreciação da matéria. Sob esse
ângulo é que examinei. Não entrei no
pormenor da situação de cada território, que
não conheço. Deste ângulo, apenas ponderei
que, se os atuais Estados estão em
dificuldades, não me parecia de prever-se que
novos Estados, resultantes de território,
nascessem em melhor situação. Até porque,
no momento em que se declarar a conversão
dos territórios em Estados, eles passam a ser
autônomos. Conseqüentemente, devem
manter-se com os recursos que a Constituição
estabelecer, em plano de igualdade, para
todos os Estados. Se o Constituinte quiser
estabelecer determinadas prioridades de
recursos para esses Estados recém-criados,
porventura, todos os outros quererão iguais
privilégios, pelas dificuldades por que estão
passando. Enfim, o que quero assinalar é que
não podemos pensar que o Constituinte
deliberará sobre a transformação dos
territórios em Estados, sem atentar para
essas dificuldades gerais que estão
alcançando todos os Estados.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte Ottomar
Pinto.
O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR
PINTO: – Sr. Presidente, Sr. Prof. Josaphat
Marinho, Sr. Governador do Amapá, Exmº Sr.
Relator, Srs. Constituintes. De tudo o que
pude depreender ao longo desta brilhante
exposição, Prof. Josaphat Marinho, percebi
que não existe divergência entre as
aspirações atuais das comunidades dos
territórios e da sua classe política e a
pregação técnica e jurídica que V. Sª acabou
de fazer. V. Sª enfatizou que a realidade
sócio-econômica é que vai apontar a direção
para o Constituinte ou para o legislador
ordinário na legislação complementar.
Realmente, Prof. Josaphat Marinho, isso é
absolutamente veraz. O que se deve dizer
aqui e repisar é que as atuais condições dos
territórios, do ponto de vista sócio-econômico,
são amplamente justificados de sua
transformação em Estado. A proposta feita
por V. Sª é no sentido da inserção nas
disposições transitórias da nova Carta de uma
citação expressa, explícita de que os atuais
territórios deverão ser transformados em
Estados: Lei complementar num prazo
determinado, para poder, digamos assim,
balizar no tempo essas providências
reclamadas pelos habitantes dos territórios.
Acredito que a solução território
poderá ser válida até para novas áreas ainda
primitivas. Por exemplo, um território no Alto
Solimões, um território no Juruá, um território
no Alto Rio Negro, onde vivem mais
populações indígenas, onde a rarefação
demográfica é um fato, as prefeituras não
têm recursos. Talvez até esse figurino possa
servir, desde que modificado. A estrutura, o
colete dos territórios é extremamente
ditatorial. Eles foram engendrados na
época da ditadura, e somente nos
regimes autoritários é que cresceram,
haja vista que, de suas criações, em 1943, até
o Governo Vargas, tiveram impulso. Entrou o
País para a área democrática, ficaram
estagnados. Começou o regime autoritário de
1964 para cá, tiveram uma expansão
fulminante, cataclísmica. Agora, se não forem
elevados à condição de Estados, vão voltar à
estagnação, porque a sua representação
política não terá voz, nem vez, pela sua
insignificância, pela sua inexpressividade
numérica em relação às bancadas de outros
Estados. De modo que não vou fazer
pergunta, vou apenas corroborar o que V. Sª
disse. Os territórios hoje precisam
urgentemente de recursos.
Há o problema da justiça plural; lá
quem é pobre fica preso, se não tem duzentos
mil cruzados para apelar para a Justiça aqui
em Brasília. Há o problema da burocracia do
Ministério do Interior. O Minter não tem
condições sequer de administrar o pessoal
das suas Secretarias, dos seus órgãos
endógenos, quanto mais de administrar os
problemas múltiplos e variados do território. O
governador do território, por não ser eleito
pelo povo e não ter um mandato definido, tem a
sua cabeça sempre a prêmio. Veja a crise
política no Brasil hoje. Seu ceme está
justamente na indefinição do tempo que o
Presidente deverá permanecer. É um dos fatos
que mais contribuem para o alarido que se
forma em torno da continuidade ou
descontinuidade do atual período presidencial.
Eram estas as considerações que eu
queria fazer. Estou maravilhado com o que V.
Sª expôs e quero enfatizar que colima
perfeitamente com as aspirações da
representação dos territórios. Vou aproveitar a
deixa do Constituinte Ruben Figueiró. Como
constitucionalista, V. Sª foi solicitado por ele.
Agora eu me dirijo ao professor, eleitoralista
dos mais insignes deste País – quem não
sabe, fique sabendo. Em breves palavras,
para não cansar o nosso Governador, que
também deve estar aprendendo muito, diga
um pouco sobre o voto distrital e o voto misto.
Qual é o entendimento de V. Sª com relação
ao que será melhor para o nosso País e a
algumas medidas que possam ser arroladas
para coibir os abusos do poder econômico e o
desvio de autoridade nas eleições brasileiras,
que a cada época eleitoral se tomam mais
sofisticados, mais esmagadores e alarmantes,
deformando a representação política e
desviando a manifestação da vontade do povo
brasileiro na escolha de seus representantes.
O SR. JOSAPHT MARINHO: –
Rapidamente, eu diria ao nobre Deputado
Ottomar Pinto que efetivamente não há
divergência substancial de aspirações entre
tudo quanto foi aqui reclamado e tudo quanto
sustentei. Apenas coloquei alguns problemas,
como me cumpria fazer, do ponto de vista
técnico. Do ponto de vista do Direito
Constitucional geral a ser traduzido em normas
do Direito Positivo, fiz as ponderações que me
pareceram cabíveis, em função da estrutura de
uma república federativa. O Constituinte é que
terá, soberanamente, o poder de dar a decisão
política. Por isso, eu também diria ao nobre
Vereador Alceu Ramos Filho que, infelizmente,
ainda não pude residir em nenhum território. De
modo que não conheço as suas
particularidades. Mas sou favorável a que se
corrijam todas as distorções existentes. O
problema é encontrar o caminho próprio para
fazê-lo. Nesta linha é que, em poucas palavras,
já que o nosso Governador nos espera há
algum tempo, eu diria ao nobre parlamentar
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 76

que sou contra o voto distrital. Sei que há uma
parcela grande de representação favorável. A
meu ver, o voto distrital vai agravar o abuso
do poder econômico. Hoje há abuso do poder
econômico. Sempre houve, e não há país em
que não haja. Também não devemos querer
fazer disso privilégio do Brasil. Esse abuso
existe em todos os países onde ocorrem
eleições populares, e nós temos visto até
escândalos bem mais graves em países
econômico-cultural e politicamente mais
desenvolvidos do que entre nós. A meu ver, o
voto distrital vai concentrar o abuso do poder
econômico. Hoje, quem usa o poder
econômico tem de diversificá-lo em várias
partes de cada Estado, o que nem sempre
produz o efeito devido. Mas, transformado o
País ou cada Estado em distritos, quem
dispuser de poder econômico vai concentrar
os recursos numa área determinada e, por
isso mesmo, a meu ver, terá mais facilidade
de obter os resultados que queremos
condenar. Além disso, o voto distrital não é o
mais compatível com o regime democrático.
Na medida em que estabelecermos o voto
distrital, mesmo que seja misto, vamos
ofender os direitos das minorias. E, a meu ver,
é preciso ter muita atenção para isso.
Nenhum procedimento jurídico com finalidade
eleitoral deve ser estabelecido sem atentar-se
para o fato de que é preciso garantir a
representação das minorias políticas. Elas é
que, na verdade, garantem a sobrevivência do
regime democrático. Onde quer que se
instaure o regime de maioria maciça de
determinados partidos, a tendência é esses
partidos abusarem do número, contra a
qualidade das decisões. Esta é uma
observação generalizada no mundo também,
e é preciso temas cuidado sobretudo porque
temos tido vários períodos de ditadura e,
quando estamos saindo de uma delas,
devemos ter toda a cautela, para não
incidirmos em outros equívocos que venham
abalar essa democracia de hoje, que, como a
de 1946, ainda é aquela plantinha tenra a que
um dia se referiu o Deputado Otávio Manga-
beira.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Não havendo mais constituintes inscritos
para o debate, passo a palavra ao
Governador do Amapá, Dr. Jorge Nova da
Costa.
O SR. JORGE NOVA DA
COSTA: – Exmº Sr. Presidente da Mesa,
Exmo Sr. Relator, eminente Prof. Josaphat
Marinho, Srª Constituinte de Roraima, Srs.
Constituintes do Território do Amapá, de
Roraima, do Distrito Federal, demais Estados
aqui presentes, ex-Governador de Roraima,
nosso Governador de Roraima, Dr. Getúlio,
meus companheiros do Ministério do
Interior, Sr. Prefeito da Capital do Território,
Vereadores aqui presentes, da Capital do
Território, Srs. Técnicos, minhas Sr.as e
meus Srs., sinto-me sobremodo honrado, e –
por que não dizer – até privilegiado
nesta tarde, porque a nossa exposição, na
verdade, já perde muito do seu conteúdo
diante das brilhantes colocações do eminente
Prof. Josaphat Marinho. Não obstante,
permito-me aqui tecer algumas
considerações, para entrarmos logo,
objetivamente, no problema. O tempo já está
bastante adiantado, e quase todos aqui
conhecem o Território. Vou, então, abordar
alguns aspectos de sua ocupação e sua
ambiência histórica, também em relação aos
outros territórios.
O território surgiu em 1943. Veio com
a finalidade de promover a ocupação dos
espaços vazios de uma região que não estava
integrada, nem à economia do Estado, nem à
economia do País. Diversas legislações
tentaram discipliná-lo. Talvez o primeiro
equívoco tenha sido dar uma roupagem de
organização de Estado, quando se deveria,
na época, estabelecer um programa, um
projeto de desenvolvimento em que se
definissem as infra-estruturas básicas e dos
setores necessários, setores produtivos, os
requisitos de recursos humanos, para se
proceder à ocupação do Estado. Mas cada
história tem sua época. Quero crer que, numa
visão global de economia clássica, de
definição do crescimento absoluto da região, e
pensando em infra-estruturas setoriais
dissociadas de um planejamento regional, de
um espaço em que se considerasse a sua
potencialidade, os recursos humanos e o que
se devesse traçar como política e diretriz, não
só considerando a sua tradição, mas a sua
etnia, a sua fase pioneira, a sua realidade
econômica, tradicional, poderíamos
estabelecer o plano que deveria promover o
desenvolvimento social e econômico e, além
do mais, ajustar os instrumentos para que
projetos pudessem ser executados e
fortalecida a autonomia do território.
O território é um potencial econômico.
Tem um litoral muito grande, rico, tem camarão
de alta qualidade, de exportação, tem pescas,
tem terras boas para agricultura e pecuária,
tem uma das maiores reservas florestais, de
espécies nobres. E, para contrastar com a
baixa fertilidade que domina 80% dos solos
firmes do Amapá, o território é dotado de uma
das maiores reservas mineralógicas da
Amazônia. Tem manganês e exporta quase um
milhão de toneladas por ano; tem caulim que
viabiliza o Projeto Jari financeiramente; tem
ouro, que fundamentou a sua economia antes
de ser Território. E também foi responsável por
ambições de outros países em ocuparem
aquela área, que foi uma região de contestado
e, a partir do laudo suíço, se integrou ao nosso
espaço físico. O Amapá tem outros inúmeros
minérios, como a coronita, que vai possibilitar
um projeto de ferro-liga; tem tantalita, tem
bauxita refratária, tem ferro, enfim, uma série
de minérios. O território tem madeira, tem uma
região de lagos com um potencial
extraordinário, tem infra-estrutura já se pode
dizer razoável. Nesses quarenta e quatro anos,
o Território fez muito. Os que por ali passaram
realizaram uma infra-estrutura bem expressiva.
Basta dizer que foi a primeira unidade da
Federação na Amazônia a ter uma hidrelétrica,
que oferece 40 megawatts de energia. Naquele
tempo, o projeto era considerado um
elefante branco. O território tem uma infra-
estrutura de rodovias já bem razoável; tem um
eixo de Brs, tem a Br-156, que liga o vale do
Jari ao Oiapoque. O Oiapoque é marco de
referência do atual planejamento do Governo.
Tem a BR-210, que penetra para o Oeste e
que já permitiu determinado nível de
colonização; tem estradas de ferro que fazem a
ligação. E não foge à tradição do resto
do País: as ferrovias surgidas no Brasil não
foram para promover o seu desenvolvimento,
fora para exportar as suas riquezas, todo
mundo sabe disso, mesmo porque as bitolas
são até desiguais. Em cada época eram
financiados por determinado país. Por isso é
que não temos bitolas uniformes. O Amapá
também tem sua ferrovia, de cento e noventa e
oito quilômetros; tem um porto com capa-
cidade para receber navios de quarenta mil
toneladas. Recebe, além dos navios de
minérios, cerca de cem outros, e tem uma
posição privilegiada para conquistar os
mercados internacionais. Contribui para o
balanço de pagamentos na ordem de quase
oitenta milhões de dólares. Podemos dizer,
assim, que já não é tão pesado à União.
Pois bem, esse Território, com todas
essas potencialidades, com toda essa infra-
estrutura, é urna economia primária
exportadora; quer dizer, é uma economia
deprimida, que precisa ser alterada, precisa
ser transformada. Se analisarmos o setor
primário, veremos que sua participação
tributária é de cerca de 2%. A economia mais
expressiva está no setor secundário, porque a
exploração de minério é considerada indústria
– o que é discutível, pois é uma simples
transformação. O minério, no Território, aflora.
É extraído e exportado. O minério, mais o
caulim e outros minerais, contribuem com
uma parcela mínima para a economia do
território. Isso deve estar na ordem de 53% de
uma arrecadação global que, a nível de 1984
e 1985, não chegava a 29 milhões de
cruzados. Essa é a economia do território.
Os territórios receberam dois fluxos de
investimento. O Território do Amapá recebeu
os investimentos do Governo; são
investimentos que vieram de fora para o
território. A economia que se processou de
setores produtivos foi voltada para fora. Não só
ele é abastecido pelas grandes praças
industriais de fora do Território como também
exporta muito capital, porque os investimentos
nele realizados – como não poderia deixar de
ser – em infra-estruturas em prédios, em
urbanização geraram um custo médio de
emprego muito alto. O custo médio de emprego
gerado nos territórios, quando se realizaram
determinados investimentos urbanos, foi muito
alto. Por outro lado, os setores produtivos não
tiveram um desenvolvimento que pudesse
gerar benefícios à população economicamente
ativa – e é preciso que se atente para isso, a
população econômica ativa do território tem um
grau de dependência com a população em
geral que me preocupa muito: são vinte e dois
trabalhadores para cada cem habitantes. No
entanto, o aspecto demográfico decorrente de
taxas altíssimas, em função da migração, em
função dos primeiros investimentos para
exploração do manganês, gerou uma corrida
muito grande no território, gerou uma pirâmide
de base larga: 50% da população do território
tem de zero a 18 anos. Isso nos deixa por
demais preocupado, pois temos de sustentar
um território autônomo, com uma economia
debilitada e voltada para fora, como é
atualmente. As indústrias ali colocadas ainda
são insuficientes. São oriundas de
transformação de madeira como as de móveis.
Enfim, de procedimentos de transformação das
matérias-primas que o território tem.
Quanto à pesca, a exportação do
pescado nada mais é do que um
acondicionamento do pescado exportado,
com o congelamento que se faz nas fábricas.
Bem, esta é a realidade econômica
do território. Sendo uma entidade
administrativa vinculada ao Ministério do
Interior, atualmente o Governo segue
uma diretriz de desenvolvimento regional.
Temos diretrizes de trabalho. Seguimos
diretrizes emanadas não só da Presidência
da República como também do Ministério.
Tivemos a honra de receber o
Presidente José Sarney no Território.
77 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
Foi o primeiro Presidente da República a
visitar o extremo norte do Território, o
Oiapoque, marco de referência do atual
Governo, cujo eixo de desenvolvimento tem
que ser acelerado para permitir ocupações
econômicas de setores produtivos.
O Território, como disse, já tem
determinada infra-estrutura, mas muitos
projetos ainda precisam ser implantados.
Precisamos de mini-usinas. Duas, pelo
menos, já encontrei projetadas. Devemos
moldar bastante a estrutura viária, que vai
interligar os grandes eixos das BRs 156 e
210, as malhas rodoviárias do território, as
malhas vicinais, para poder viabilizar as áreas
potenciais que o território tem no interior, não
só favoráveis à agricultura como à pesca.
Precisamos, a curto prazo, consolidar a
Universidade do Território, dentro das
peculiaridades da sua população – e o
Deputado Geovani Borges muito se bate por
esse projeto como os demais Deputados do
Território. Temos de implantar escolas técnico-
industriais, que o território já teve. Depois, com
a transformação do ensino, elas praticamente
desapareceram. Temos que instalar escolas
agrotécnicas e fazer a infra-estrutura de
saneamento, que é o que mais me preocupa. A
Capital do Território tem três sistemas de
esgoto, que não cobrem ainda 30%, para uma
população que já chega a 170 mil. O
abastecimento de água já está comprometido.
O nosso abastecimento de água, captada do
Amazonas, só atende a 80 mil pessoas, e já
vamos para 170 mil habitantes. Se não fossem
os sistemas isolados de poços artesianos,
estaríamos diante de um colapso de
abastecimento de água.
Temos o problema da macrodrenagem
na Capital. São obras caríssimas, de
investimento elevado, para poder sanear o
Território. Precisamos modernizar o porto,
visando a desenvolver o projeto de turismo.
Estamos recebendo os navios que vêm da
Europa, para poder captar mais recursos de fora,
dentro das situações e condições favoráveis que
aquele território oferece à indústria de turismo.
Trata-se de urna indústria que não polui, não
agride o meio ambiente, trazendo uma grande
contribuição para o desenvolvimento da
economia do território.
Como pretendemos corrigir as
distorções? As distorções existentes no
Território derivam justamente dos
investimentos. E o Território do Amapá
facilitou isso, porque sua Capital está logo na
chegada. Era natural que absorvesse um
volume grande de infra-estrutura. Isto gerou o
quê? Um crescimento urbano desequilibrado,
área periféricas de baixa renda e uma
distribuição espacial de população que não
corresponde, como ao tempo em que o
Governo Federal injetou recursos, uma
ocupação equilibrada e ordenada.
O Território precisa planejar um
zoneamento que envolva todos os aspectos
básicos da agricultura atualizados. O
Território tem 80% de uma cobertura florestal
que ainda precisa de estudos que disciplinem
a sua ocupação. Tenta-se interiorizar o seu
desenvolvimento e descentralizar os
investimentos, que foram realizados a nível da
Capital, provocando uma população urbana
muito grande.
Não me vou alongar mais, mas quero
dizer que, em termos de saúde, o
Território tem uma rede razoável de
hospitais, de centros médicos, de postos
médicos, de unidades mistas. Esse é
até um indicador muito interessante: em
relação à leito – segundo os indicadores da
Organização de Saúde até extrapola a faixa
normal – o Território tem 55 leitos para mil
habitantes. Mas quando se vê o espaço
restante do Território, com os seus seiscentos
e pouco quilômetros que demandam até o
Oiapoque, já não temos uma rede equilibrada.
Precisamos descentralizar e ampliar a rede de
saúde.
O mesmo também ocorre com a
educação, que é muito centralizada. Ela
precisa ser descentralizada, exigindo novos
investimentos, a fim de assegurar a fixação da
população no interior.
Esses são aspectos do atual programa
de Governo: interiorizar os serviços de saúde, os
serviços de educação, levar assistência técnica,
abrir espaços econômicos de colônia. Mas não
pelo processo tradicional da colonização
brasileira - a história de se doar terreno e lote
apenas criou especulação imobiliária. A
configuração logo desaparece; os lotes são
vendidos para o primeiro especulador que surge
e a ocupação espacial já não obedece a uma
diretriz que venha de fato a promover o
desenvolvimento do setor agropecuário, ou – por
que não dizer? – do setor primário.
São aspectos que não podemos deixar
de levar em consideração. Há uma preocupação
nossa também com os instrumentos de crédito
no Território, que precisam ser ajustados, em
que pese o Finan alocar recursos excepcionais.
O Governador deveria definir o tipo de
investimento nem sempre pelo zoneamento, no
momento em que se deseja uma expansão de
projetos pecuários, em detrimento de outros
projetos; definir uma linha de crédito para a
expansão da média e pequena empresa que
respondem com um percentual muito grande de
emprego no território, com a relação a
investimento e emprego bem razoáveis. Enfim,
seria necessária a modificação dos instrumentos
existentes.
Como tivemos oportunidade de
discutir, nesse encontro de Governadores,
ficou evidenciado que a região tem
instrumento de pressão: a Amazônia conta
com 118 Deputados, e 18 Senadores. Uma
vez definido o seu planejamento integrado, o
grupo de Governadores da Região Amazônica
poderia trazer uma contribuição no sentido de
corrigir as diversas distorções.
Buscamos também conseguir a
emancipação no que se refere ao sistema
tributário, para que nos sejam atribuídas as
mesmas prerrogativas atribuídas ao Distrito
Federal, a fim de que tenhamos o direito de
instituir os nossos impostos, participar do
Conselho da Fazenda, e também analisar, na
primeira instância, a questão financeira,
tributária e fiscal. São estes aspectos que
preocupam a atual administração.
Vamos agora ao ponto central do
debate: o Amapá como Estado. Considero
uma opção política válida. Quando examino a
participação relativa da economia do nosso
Território e analiso a sua economia totalmente
voltada para fora, vejo o modelo exportador
de matéria-prima, que exporta milhões de
unidades físicas a baixa unidade monetária e
as importa para o Território, para completar a
sua infra-estrutura, a preço altíssimo, numa
desvantajosa troca de mercadorias. É
preciso que essa transformação se
processe – como bem colocou aqui o
eminente Prof. Josaphat Marinho – com os
requisitos que venham a assegurar a
continuidade da infra-estrutura física de que o
Território precisa da União, para que não
venha depois a reclamar – como fazem
determinados companheiros de governo da
Amazônia – recursos para a implementação
de novas infra-estruturas físicas e básicas
necessárias.
Não temos infra-estrutura rodoviária
ainda completa, nem oferta de energia que
permita a entrada de novos projetos, porque
os que já estão delineados, praticamente,
visam à instalação de uma terceira unidade na
hidrelétrica de Paredão ou Hidrelétrica Coraci
Nunes.
Por outro lado, também, o Governo
delineia uma série de perfis de projetos, que
estamos estudando através da Secretaria de
Planejamento. São vários os projetos que o
mercado oferece, mas alguns não são
implantados por deficiência de energia, outros
por falta de definição de uma linha de crédito.
Hoje o nosso Governador Getúlio Cruz
fez uma observação muito válida. No Brasil
ofereceram subsídios para todas as regiões do
País. No entanto, foram eliminados numa
região que ainda necessitava daquela ajuda,
daquele processo indutor, para vencer as suas
dificuldades e, dentro do diferencial espacial e
de mercado, chamar o empresário para a
região. Isso é muito importante, porque aí é
que temos privilégios; temos que ter
determinados incentivos diferenciados, não em
termos globais. Os territórios também precisam
ser contemplados, para não ficar na
dependência do investidor. O território tem que
entrar com uma força bem decisiva para que,
quando a Superintendência da SUDAM
analisar esses projetos, o Governador tenha a
autoridade necessária. Não podemos deixar
que os representantes dos Ministérios se
sobreponham à autoridade do Governador,
uma vez que ele já tem o seu plano de infra-
estrutura equacionado e aprovado – não
simplesmente planos setoriais isolados, que
não levam a nada, mas planos setoriais
ajustados a um programa de desenvolvimento
regional equilibrado. E aí, então, teríamos mais
tranqüilidade para a curto prazo, transformar
essa economia voltada para fora – toda ela é
uma economia voltada para fora – numa
economia mais sólida. É preciso que aqueles
recursos normais, que não vão deixar de ser
remetidos aos Territórios, como o FPE e outros
impostos arrecadados da área federal, possam,
juntamente com o setor produtivo, consolidar a
economia e dar-lhe tranqüilidade.
É importante que se promova uma
pesquisa de opinião se estamos querendo
consolidar o poder civil, se estamos querendo
consolidar as instituições democráticas. Por
que não ouvir o povo, por que não fazer uma
sondagem sobre o que ele deseja? Posso
dizer que já assisti, na televisão, a diversos
pronunciamentos no Amapá, e observei uma
certa insegurança da população a respeito da
imagem de Estado. Essa insegurança teria
que ser melhor pesquisada, pois talvez eles
estejam preocupados com o pagamento de
seus salários. A televisão hoje oferece uma
integração expressiva: acompanha-se tudo o
que se passa no País e no mundo. Essa seria
uma medida importante. Não devemos
simplesmente concretizar o desejo de
transformar o Território em estado sem que se
faça uma avaliação muito meticulosa,
analisando as bases técnicas, a aspiração
política, as condições da economia e sua
potencialidade. Defendo, portanto, um
processo gradual. Sou favorável ao estado –
quem não é?
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
Estamos lá para administrar o espaço e
transformá-lo em território autônomo.
Não me vou deter nessa parte de
autonomia, porque fui um privilegiado – o
eminente Professor Josaphat Marinho já deu
aqui todos os subsídios para que se possa
estruturar uma Constituição à altura das
aspirações do povo brasileiro, mormente do
Amapá. Eu, com a minha equipe de
assessoria, discutimos bem esse problema.
Numa primeira instância, ainda neste Governo,
dotaríamos o Território do Amapá daquilo que
ele precisa: criação de tribunais; maior
amplitude do sistema tributário; maior ação
nessa parte de tributação. Na verdade, temos
que formar equipes. Através de um convênio
realizado – se não me engano, em 1981 – o
território já formou equipes. Mas os servidores
ainda estão dependendo de convênio, e
precisam ser reconhecidos como Técnicos em
Tributação. Já podemos fazer a tributação do
ICM, do IPVA de modo que precisamos, então,
obter mais um prazo. A nossa equipe de
finanças já esteve na Subcomissão e
apresentou um documento bem detalhado.
Então, nessa primeira etapa
alcançaríamos não só uma certa autonomia,
como também daríamos autonomia aos
Governadores, para que eles pudessem
prover os seus cargos. Não podemos corrigir
e atender às distorções de demanda de saúde
e de educação através dos tradicionais
convênios, que vão sacrificar por demais as
outras verbas – as do FPE e outras –
comprometendo, com isto, o atendimento de
outras infra-estruturas básicas do território.
Então, aí, nesse espaço de tempo,
estaríamos retirando um pouco aquela
dependência dos órgãos federais. A grande
maioria dos órgãos federais estão decidindo,
em Belém, por nós. Contudo, já temos
condições de abrigar aqueles órgãos federais
que precisam estar no Território.
Há Estados reclamando até hoje a
falta de uma delegacia do INAMPS, reclamam
também a presença de unidades ligadas à
mineração e energia. Quer dizer, há Estados
reclamando a presença federal para melhor
ajustar a sua programação. Por que não
podemos logo, ainda neste Governo, corrigir
essas distorções?
Diz o dito popular: quem sabe o que
quer alcança o seu objetivo, para quem não
sabe o que quer, qualquer caminho é bom. Nós
sabemos o que queremos, tanto em Roraima
como no Amapá. Acho que está na hora, diante
dos subsídios que o eminente Prof. Josaphat
Marinho ofereceu, e diante de tudo que ouvimos
aqui, dos ilustres representantes de Roraima e do
Distrito Federal, de o Território passar a Estado.
Então, temos que fazer um
planejamento, porque Rondônia reclama de uma
situação que nos deixa apreensivos. Viemos de
uma reunião onde uma série de reclamações
feitas pelo Governador de Rondônia, do
Amazonas, de Mato Grosso, de Goiás e do Pará
se enquadram dentro das nossas aspirações de
ordem executiva, de ordem administrativa.
Temos aspectos a considerar nesse processo de
emancipação: uma melhor estruturação
administrativa. Não temos uma Secretaria de
Interior e Justiça, uma Secretaria de Cultura,
uma Secretaria de Minas e Energia.
O Território do Amapá é ocupado,
oitenta e três mil quilômetros quadrados, com
projeto de pesquisa e exploração, e o
Governador não tem condições de gerência
nessa exploração, nesse reordenamento.
Temos, sim, uma integração ex-
cepcional com o Ministério das Minas e
Energia, porque criamos uma unidade do
Departamento Nacional de Produção Mineral
e acompanhamos de perto a sua ocupação.
Ora, queremos uma convivência bem
favorável entre o garimpo e as empresas, mas
essa convivência favorável depende de um
reordenamento da exploração minera-lógica,
que é a maior expressão econômica do
território.
Então, nesse primeiro estágio
faríamos suprir toda a infra-estrutura
administrativa e, ainda neste Governo – é
uma sugestão que se traz aqui a debate –
quando fosse realizada a eleição do próximo
Presidente, faríamos a eleição do Governador
do Território. E, se por acaso, nesse período,
novos Governadores tivessem que ser
escolhidos, que o fossem mediante um critério
que talvez a lei ordinária pudesse estabelecer,
para não ser uma escolha pessoal, e
houvesse uma maior análise do processo.
São estas as considerações que tinha
a fazer, apressadamente porque preocupado já
com o adiantado da hora. Gostaria de dizer que
estou à disposição de V. Ex.as para alguma
pergunta que seja necessária, certo de que
todos nós desejamos que o Amapá, a curto
prazo, seja transformado em estado, mas com
uma estrutura financeira que lhe permita arcar
com as suas responsabilidades. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o nobre Constituinte Ottomar
Pinto.
O SR. CONSTTTUINTE OTTOMAR
PINTO: – Sr. Presidente, Sr. Governador do
Amapá, Srs. Constituintes, ouvimos V. Ex.ª
com atenção, Governador Nova da Costa – a
quem muito admiramos. Realmente nos
surpreendemos quando V. Ex. reclama que os
órgãos federais em Belém decidem sobre os
assuntos de interesse do Amapá sem a
presença do Governador, o que demonstra
falta de atenção e consideração. V. Ex.ª
reclama mais força e poder para o
Governador do Território do Amapá, e
protesta porque 52% da sua superfície –
justamente onde estão suas melhores jazidas
minerais – estão nas mãos das
multinacionais. Mas V. Ex. não quer ser um
Governador eleito. Então, está no caso
daquele indivíduo que queria fazer uma
omelete sem quebrar os ovos. É impossível.
(Palmas.)
Quando V. Ex.ª descreveu as
potencialidades e o gigantismo econômico do
seu Território, quase Estado, aplaudo-o de pé,
porque sei que o Amapá tem essa
potencialidade. Mas quando diz que a
economia é primária, que faltam estradas, que
falta energia elétrica, embora tenha a
hidrelétrica do Paredão, parece que estou
vendo os Estados do Acre, de Rondônia, do
Amazonas antes da Suframa, do Pará antes
de Carajás e seu Estado do Maranhão em
1962, 1963. Estes tinham uma economia
primária, mas seu povo era orgulhoso e tinha
a certeza de que iria para a frente. Por isso
não é novidade dizer que o Amapá precisa de
uma infra-estrutura viária, de miniusinas – as
cidades incham e a população fica
marginalizada nas franjas da cidade. Este é
um problema brasileiro e até em São Paulo
isso acontece.
A economia primária é O SR. JORGE NOVA DA COSTA: –
fundamentalmente a de muitos Estados
das nossas Regiões Norte e Nordeste, e o
modelo econômico brasileiro é dependente.
O Brasil está nas mãos dos grandes
78
empresários, dos grandes bancos e das
multinacionais. Esta é a realidade brasileira. É
por isso que somos um País fabulosamente
rico, como o Amapá o é, mas com um povo
tremendamente pobre. O Amapá é o
microcosmo do Brasil, e assim como o Brasil
não abre mão da sua independência, soberania
e do desejo de ver-se livre dessas amarras e
de o povo decidir sobre o seu destino.
Tenho a certeza de que o povo do
Amapá, ouvindo na televisão e no rádio a
pregação encorajadoura e cívica dos seus
líderes, dos quais V. Ex.ª é o maior, seguirá o
mesmo passo de convencimento que hoje
existe no Território de Roraima, onde o povo
quer emancipar-se deixar de colocar o seu
projeto de vida sob condição de ser
funcionário público.
O povo do Amapá, como o de
Roraima – posso dizer isso a despeito do que
V. Ex.ª disse – quer progresso, ser senhor de
seu destino e evitar que a decisão sobre
quem vai minerar em seu Estado seja
resolvida lá fora. Está aí o resultado: a United
States Steel Corporation tirou bilhões de
metros cúbicos do valoroso e valioso
manganês do Amapá e está fazendo reservas
estratégicas na Pensilvânia e desertos do
Novo México. Sei do caso de um amigo meu,
da Força Aérea, que foi visitar um
companheiro numa cidade da Pensilvânia, o
qual queria mostrar-lhe uma coisa
interessante. Foram a um determinado sítio
distante, onde havia uma grande montanha,
igual à Serra do Navio. Disse ele que aquele
manganês era procedente do Amapá. No
entanto, o que existe no Amapá é buraco e
cratera.
Essas decisões foram tomadas sem
audiências e participação da sociedade
amapaense, sem ouvir a voz os líderes
daquela região, responsáveis pelo acerto das
coisas, pelas soluções que otimizem os
benefícios da população que lá vive. Então,
não é só o Amapá que tem economia
primária, a maior parte do Norte e Nordeste
também tem.
Todos sabem – e V. Ex.ª disse – que
a renda da mineração em relação à atividade
primária é ínfima. Sabemos que o minério de
ferro é tirado em Carajás, é britado, colocado
em um vagão, roda 900 quilômetros numa
estrada - que devia ser eletrificada, por causa
de Tucuruí, e no entanto a tração e a diesel –
é colocado no costado do navio e o Brasil o
vende por 17 dólares. Posteriormente compra
do japonês um chassis de televisão, que não
pesa 200g, por 50 dólares. Enquanto
permanecer esse estado de dependência, de
economia primária, as rendas não crescerão.
Há um círculo vicioso, que
detectamos em Roraima, como o saudoso
Governador Teixeira detectou em Rondônia.
Roraima não se desenvolve mais velozmente
porque não é Estado, e não é Estado porque
não se desenvolve velozmente. Este círculo
precisa ser quebrado. O povo do Amapá, pela
voz de seus líderes aqui, espera que V. Ex.ª
seja o grande artífice dessa transformação,
não só institucional mas de mentalidade, que
faz com que um povo altivo, de tradições de
luta, não queira condicionar seu projeto de
vida à condição permanente de submissão de
funcionário público. (Palmas.)
Quero dizer ao eminente Deputado Ottomar,
amigo antigo, que fiz uma análise
de uma economia clássica. Ninguém quer
um Estado autônomo com a maio-
79 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
ria da população miserável. Ninguém quer
isso. No Amapá, felizmente, pela assistência
que recebe, temos áreas periféricas, existe a
dualidade e nem por isso direi que São Paulo
é o modelo de desenvolvimento do País. É
certo que estamos atrelados a um processo
de desenvolvimento regional.
Na análise que fiz aqui evidencio
dados técnicos. Não temos ainda dados
conjunturais nem para lhe dizer qual é a renda
per capita do Território, porque os
indicadores que tenho – e V. Ex.ª sabe, pois
já foi Governador – são ainda insuficientes até
para uma análise mais profunda. O modelo de
território foi criado para chegar a Estado,
senão seria um contra-senso. Só não entendo
a pressa. Levantei aqui problemas que
precisam ser resolvidos. Se a pressa é uma
opção política, então que se consulte o povo
do Amapá para ver se ele quer ver o território
transformado em Estado já no próximo ano.
Se é uma opção política, por que não se faz
um plebiscito? Levantei isso aqui justamente
para provocar o debate. Não me afasto da
planificação de desenvolvimento regional,
embora esteja lutando e seguindo diretrizes
para o território chegar a Estado. Não sou
contra o Estado, só não concordo com o
imediatismo de o Amapá tornar-se Estado
hoje sem que se dê condições. Não é
possível. O eminente professor que me
antecedeu já mostrou as incongruências e
incompatibilidades de natureza técnica.
Embora o Constituinte seja soberano, pensem
bem o que se vai gerar no território se houver
um processo precipitado. Posso até dizer que
o território já tem infra-estrutura, já tem uma
Assembléia pronta – o ex-Governador, hoje
Deputado, iniciou-a, e dei continuidade – já
tem também um banco pronto, esperando que
o Banco Central aprove o projeto. É preciso
que se faça um processo, aproveitando ainda
os recursos disponíveis de investimento que a
Nação vai oferecer agora, que aproveitemos o
CNDU, os recursos existentes que possam
acelerar esta infra-estrutura, e, ainda no atual
Governo, proceder à eleição. Não vai nisso o
desejo de ficar lá até a próxima eleição. Até
pode ser escolhido, dentro do critério
estabelecido, quem deve conduzir esse
processo. Como técnico, não podia chegar
aqui e dizer que o território tem condições
excepcionais para passar a Estado, de
imediato. A diferença de nossa posição talvez
seja o imediatismo.
Mas V. Ex.ª apenas analisou uma
economia dual, brasileira, e queremos acabar
com esta economia dual. Temos dois brasis:
um no Nordeste, outro em São Paulo. São
Paulo, com um milésimo da superfície do País,
com 10% da população brasileira, contribui
com 40% da renda nacional. O Centro-Oeste,
com 25% da superfície, com 5% da população,
contribui com 4% da renda nacional. O
Nordeste, com 30% da população, 20% da
superfície do País, contribui com 12% da renda
nacional. Quanto à Amazônia não vou nem
entrar em detalhe porque sabemos que não
contribui nem com 3% da renda nacional. Esse
é o desenvolvimento equilibrado brasileiro? É
isso que deseja a Nova República? É isso que
queremos ver: aumentar o número de
favelados, de marginais e dos que sobram do
processo de ocupação integral? E é o território
que vai acabar com a exploração primária do
manganês?
Hoje, o meu amigo e ilustre Governador
de Estado, Hélio Gueiros reclama a exportação de
30 milhões de toneladas de minério de ferro
do Pará, quando uma rede de energia passa
pelo Estado e ele não usufrui nada. Trata-se
de uma questão de disciplinar alguns
problemas, para que a nível do Congresso
possam ser resolvidos, como a reforma do
Código Mineral e outros aventados aqui com
muita propriedade.
Então, só vejo diferença de tempo e a
visão da economia espacial por uma questão
de informação e opção. Embora os
economistas clássicos defendam a economia
global, para depois o bolo ser distribuído, o
mercado internacional, para exportar, e a
análise de valores globais, a minha formação
defende outra linha de conduta. Não sou
contra o território. Apenas peço prudência e
cautela no processo de emancipação, que é
válido, é justo e é uma aspiração política a
considerar.
O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR
PINTO: – Sr. Presidente apenas para uma
indagação de um minuto.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Excepcionalmente, tem a palavra V.
Ex.ª.
O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR
PINTO: – Agradeço a V. Ex.ª e diria que até
seria uma retribuição por ter comparecido a
esta Subcomissão, da qual sou titular. Meu
prezado Governador, fico honrado com os
esclarecimentos que V. Ex.ª aduziu. Devo dizer
a V. Ex.ª que, com relação à queixa do
Governador Hélio Gueiros, que conheço de
perto – sou, inclusive, membro da Federação
das indústrias do Pará – essa grita é muito
justa. É melhor e mais eficaz acender uma vela
do que reclamar contra a escuridão. V. Ex.ª
colocou bem a economia dual brasileira. Se o
Brasil todo é assim, será que V. Ex.ª quer fazer
do Amapá um estado diferenciado, distinto dos
demais estados brasileiros? Não seria isto um
sonho louvável, mas um
sonho retardador. Por que V. Ex.ª disse
pressa? Não quer açodamento. Muito bem,
mas já se vão 44 anos desde que esta
estrutura difícil, se arrasta, prendendo-o,
dando-lhe desassossego, e fazendo com que
V. Ex.ª não possa planejar seu futuro, porque
não sabe porquanto tempo será Governador.
Obriga V. Ex.ª a viver colocando algodão entre
cristais para acomodar interesses políticos nem
sempre convergentes. Era a isto que queria
reportar-me, meu querido amigo Governador.
Realmente, já se esperou muito.
Para encerrar e não tomar mais
tempo dos Srs. membros desta Subcomissão
queria dizer que o povo sabe, bem, formar
suas sentenças populares: "O perfeito é
inimigo do bom". Quem vai atrás do
perfeccionismo nunca chega ao sofrível,
quanto mais assim. E além do mais – e aí
falo em economista – não existem parâmetros
definidores de determinados índices que
uma comunidade deve atingir do ponto de
vista sócio-econômico para se transformar
em estado. Não existe esse parâmetro.
Esses parâmetros são eminentemente
subjetivos. Para o perfeccionista Nova da
Costa esses parâmetros podem ser muito
altos. Já para, digamos, os peladeiros
Ottomar Pinto e Anníbal Barcellos, eles
podem ser menores, contanto que a aquisição
de um novo status político permita a
agilização do processo de desenvolvimento
econômico, político e social daquelas
comunidades.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao nobre Constituinte
Geovani Borges.
O SR. CONSTITUINTE GEOVANI
BORGES: – Meu ilustre Presidente, quero
parabenizar a Mesa pela iniciativa de nos
submeter a duas sessões conjuntas para
ouvir palestrantes. Esta é a última, depois
teremos programação para discutir as
proposições.
Sr. Governador, Prof. Marinho, Sr.
Relator, companheiros, realmente a cada dia
temos uma aula a mais, absorvemos mais
know -how, mais conhecimentos. Foi muito
lucrativo o debate democrático entre o
Governador Jorge Nova da Costa, nobre
palestrante de hoje, e o ex-Governador e hoje
Constituinte colega da Câmara.
Na minha concepção, não de
economista, mas de leigo no assunto, homem
prático, porque aprendi o que a vida me ensinou
– foi a minha grande universidade –, vejo que os
Territórios devem continuar no mesmo estágio.
Entretanto, sua política jurídico-institucional tem
que ter outra conotação, tem que receber uma
nova roupagem, porque é inadmissível que ao
longo dos 44 anos ainda não tenhamos
conseguido chegar ao patamar necessário à sua
transformação em Estado. Mas vejo que a
Constituinte irá nos proporcionar estes
mecanismos para mantermos a condição de
Territórios, ou, corno falou o nobre Deputado
Ruben Figueiró, criar novos distritos federais,
com autonomia política e administrativa,
aumentar o poder do Governador quando seu
nome for homologado pelo povo que representa,
aqui no Distrito Federal e em qualquer parte do
País. E os Senadores e Deputados Federais,
aumentando suas bancadas, com seu poder
político, naturalmente pressionarão as
autoridades quanto à distribuição de recursos
para os Territórios.
Esta é a minha posição, mas louvo a
posição do Governador e respeito a posição
do Constituinte Ottomar Pinto, pela sua
experiência, pela sua luta, pela sua visão à
frente do Governo de Roraima, por conhecer
profundamente as aspirações daquele povo.
Também sou favorável ao desafio que o
Governador lançou aqui aos Constituintes, no
sentido de que façamos simpósios e
pesquisas de opinião pública, a fim de
sabermos se ela é favorável ou não à
transformação dos Territórios em Estados.
Precisamos adotar critérios que vão ao povo e
às entidades representativas de classe para
saber se são a favor ou contra a
transformação dos Territórios em Estados. Se
a favor, por quê? Por estas e estas razões,
por estas e estas vantagens. Se contra, por
quê? Não sei, sou contra porque sou contra.
Que não se faça uma campanha de
massificação, mas de esclarecimento sobre
as vantagens e desvantagens da
transformação dos Territórios em Estados.
Inclusive conclamo os companheiros, os
prefeitos que foram palestrantes aqui, e os
governadores, no sentido de que promovam
esse amplo debate com o povo dos nossos
queridos territórios federais. É uma sugestão.
Louvo o desafio que V. Ex.ª lançou aqui, mas
que nos proporcionem meios, nos veículos de
comunicações, de se promover esse
debate, inclusive convidando autoridades
conhecedoras do assunto, estudiosos, para
que vão ao Amapá e a Roraima debater e
discutir a questão da transformação dos
Territórios em Estados.
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 80

Era o que tinha a dizer, Sr.
Presidente. Muito obrigado. Parabenizo o
Governador do Território pela palestra
brilhante.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª a colaboração e
concedo a palavra ao nobre Constituinte
Annibal Barcellos.
O SR. CONSTITUINTE ANNÍBAL
BARCELOS: – Sr. Presidente, membros da
Mesa, estou aqui como Constituinte e ex-
Governador do Território Federal do Amapá.
Desde a época do Ministro Mário Andreaza
propugnando pela transformação dos territórios
em Estados. Por determinação do Presidente
da República da época, João Figueiredo, foi
nomeada uma comissão, com muitos
membros, presidida pelo Sr. Paulo Leal,
Coordenador dos Territórios. E lá chegamos à
conclusão política de que era necessária a
transformação dos dois territórios em Estados.
Já tinha atingido um patamar tal que se isto
não ocorresse não haveria mais oportunidade
de desenvolvimento.
O nosso Governador, com a sua
palavra, elucidou muitos pontos. S. Ex.ª é um
profundo estudioso da matéria e sabe colocar
muito bem as coisas.
Mas acho que o Território não tem
mais condições de sobreviver. A criar mais dois municípios, o Presidente da
transformação dos dois territórios não deverá
ocorrer assim que a Constituição for
promulgada. Vai ser motivo de uma lei
complementar, que será elaborada num prazo
determinado e, depois, então, será fixada a
data. E pode ser até coincidente, como o
Governador falou, como os atuais
governadores que foram eleitos em 1986, e
concluirão seu mandato em 15 de março de
1991. De maneira que isso vai depender da lei
complementar. Então, nesse prazo que vai
decorrer, da aprovação da lei complementar
até a promulgação dos dois territórios, haverá
tempo suficiente para trabalhar todos esses
inconvenientes que o nosso Governador citou.
Além disso, temos que frisar que a lei
complementar feita para Rondônia,
estabeleceu, num artigo, que o Governo federal
é responsável pelos programas especiais,
senão me engano, durante dez anos. Nessa
ocasião, muita gente reclamou. O nosso
Deputado Constituinte Ruben Figueiró disse
que no Mato Grosso do Sul, também, a lei
complementar especificou que o Governo
deveria pagar aos aposentados. E até hoje o
Governo do Mato Grosso do Sul não viu nem o
cheiro do dinheiro. Hoje, conversando com S.
Ex.ª, esclareci que no Amapá é diferente: todos
são funcionários públicos federais, a União,
portanto tem obrigação de pagar àqueles
funcionários. E no bojo da Lei Complementar
para Rondônia saiu que ao funcionário público
é dada a oportunidade de optar se quer
continuar federal ou passar para estadual. Se
ele continuar federal, é colocado à disposição
do território para ali trabalhar, até a sua
aposentadoria.
De maneira que gostaria de colocar
que já é tempo de nós, nesta Constituição –
vai ser uma oportunidade ímpar nas
Disposições Transitórias, fixarmos que
os territórios serão transformados em
Estados. Uma lei complementar fixará
todos esses artigos, que saíram da
experiência de Rondônia e do Mato Grosso do
Sul. Felicito o Governador Jorge Nova da
Costa pela brilhante exposição que fez,
provando, mais uma vez, que é conhecedor
profundo de nossas necessidades.
Também quero dizer que somos favoráveis à
lei complementar que fixará este prazo. Nesse
meio tempo o Governador do Território
batalhará para tirar todos esses
inconvenientes que tem o Território.
O Território, como S. Ex.ª falou, tem
uma rede tributária, mas não recolhe o tributo,
que vai ao Banco do Brasil, ao Ministério da
Fazenda, depois volta, dois ou três meses
depois – agora que a inflação começou outra
vez, volta com vinte ou quarenta por cento.
Quando alguém lá faz uma sonegação, ela é
resolvida pela Receita Federal, em
Brasília. De maneira que ele não tem
autonomia sequer de criar novas
secretarias, não pode. Será que com a Nova
Constituição os Territórios do Amapá e
Roraima serão extintos e eles terão sua
autonomia para mudar sua organização
administrativa? Tentamos organizar a mas da consciência do povo brasileiro de
administração, que seria revista com 5 anos.
Já passados os cinco anos, a Polícia Civil
está do mesmo jeito, e o Governador está
lutando para que esse pessoal seja
estatutário. Pela Lei de Classificação de
Cargos, a Polícia Civil não pode ser
contratada pela CLT.
Não se pode criar municípios, embora
haja interesse nisso. Fiz uma proposta para
República concordou, fez uma exposição de
motivos, mandou para o Senado e para a
Câmara. Quando aqui chegou, a Comissão do
Interior pediu vistas do processo e o
engavetou. De maneira que o nosso Território
tem cinco municípios; Roraima, se não me
engano, tem oito. E com isso aumentou até o
FPE deles. Eles têm um FPE superior ao do
Amapá, que tem uma população maior e uma
superfície menor.
Macapá é a entrada natural do rio
Amazonas, pelo braço norte daquela
Capital. Ali passam todos os navios que
vão para o Estado do Amazonas, para
Carajás, para Tucuruí. De maneira que
é uma cidade colocada estrategicamente,
banhada pelo rio Amazonas. Temos orgulho
de dizer isso. A linha do Equador passa
por lá, dividindo o hemisfério Norte e
hemisfério Sul. Temos um potencial
turístico de primeira ordem. Agradeço ao
Governador Jorge Nova da Costa, ao nosso
Professor Josaphat Marinho, ao nosso
relator, nosso grande Presidente, que está
orientando esses trabalhos, sempre com
muita eficiência e muita probidade. Muito
obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço V. Ex.ª a colaboração e concedo
a palavra à nobre Constituinte Marluce
Pinto.
A SRA. CONSTITUINTE MARLUCE
PINTO: – Sr. Presidente, Sr. Relator Josaphat
Marinho, Governador do Amapá, ainda não
tinha parabenizado o professor por sua
brilhante palestra porque estava aguardando
o pronunciamento do nosso Governador,
para saber se as suas colocações
mudariam um pouco o perfil dos territórios,
aquele perfil que V. Ex.ª tão bem conhece. Sei
que V. Ex.ª é uma pessoa que tem grande
conhecimento da economia do nosso País,
mas, como nos falou, não conhece Roraima e
nem o Amapá. Talvez o essencial seja a
vontade do povo no tocante à transformação
dos territórios em Estados. Principalmente no
meu Território, posso assegurar-lhes, o
povo deseja essa transformação. Então,
até louvo o professor por ter o cuidado
de não querer essa transformação agora. V.
Ex.ª vê a situação em que estão os outros
Estados. Mas isso não vai fazer nenhuma
diferença para o nosso Território, porque,
como falou aqui o nosso Governador, não
adianta apressar essa transformação. O povo
vai continuar pobre no nosso Território, seja
ele Território ou Estado.
Ainda hoje alguns constituintes aqui
presentes ouviram o pronunciamento de um
grande jurista, que nos disse que em 1984, não
tão distante, o nosso salário mínimo era
equivalente a sessenta e cinco dólares, e hoje
corresponde a quarenta dólares. Desde 1984,
o nosso povo já vinha passando fome. Então,
qual a idéia que se faz no momento? Essa
mudança, Sr. Governador, não vai depender de
nós, lá do Território; vai depender da economia
do nosso País. Não digo nem da economia,
aceitar uma distribuição melhor, porque esses
reajustes salariais de seis em seis meses, ou
esses gatilhos mensais, não vão resolver a
situação do nosso povo carente. O que
realmente vai resolver é, que o povo ganhe o
suf iciente ao menos para alimentar seus filhos
– não falo em passeios, porque o pobre não
questiona isso. O pobre não questiona o fato
de não andar arrumado, ou de não ter carro. O
pobre não se importa de andar a pé, ou de não
ter três refeições por dia. Ele faz questão
apenas de não ver seus filhos chorarem,
pedindo comida, sem ele tê-la para dar.
Então, não é fato de os Territórios de
Roraima e do Amapá serem transformados
em Estados que vai mudar o perfil do nosso
País. Muito pelo contrário: o povo de Roraima,
mais pobre ou menos pobre, vai ficar muito
mais satisfeito. Quando falo em Roraima,
peço desculpas ao povo do Amapá – não
quero dizer, com isso que, vocês não queiram
essa transformação. Falo como representante
de Roraima, porque conheço os anseios
daquele povo. É preferível que eles estejam
passando fome, mas estejam satisfeitos com
a transformação em Estado, porque poderão
escolher o seu governador, mesmo que
depois, essa escolha não venha a satisfazê-
los. Mas ao menos eles ficam conscientes de
que quem está ali governando é uma pessoa
que eles próprios escolheram – certo ou
errado, foi escolha deles. Eles não vão mais
admitir que todos os Estados escolham seus
governantes e lá eles sejam impostos,
simplesmente porque alguém, algum Ministro
exigiu que assim fosse.
O povo, mesmo sem cultura, mesmo
analfabeto, não aceita mais essa imposição.
Talvez até o povo aceitasse se não se falasse
isso e a pessoa fosse para lá nomeada. Podia
achar que se trata da condição de Território.
Mas não aceita a imposição. Sou contrária a
qualquer imposição, por isso sou contrária até
ao voto distrital. Acho que a pessoa adulta,
culta ou analfabeta, rica ou pobre, tem que ter
sua autonomia e lutar por ela.
Meu caro Geovani, sempre o
questiono, porque gosto muito de V. Ex.ª, que
nos aconselha a usar os meios de
comunicação para que o povo saiba o quer,
quer. Eu até admito que no Amapá isso
seja necessário, mas, sinceramente, no
nosso Território não há essa necessidade,
porque aquele povo acha que, na hora me
escolhe os seus representantes, já nos
outorga o direito de escolhermos o melhor
para eles. Tenho a certeza de que, se eu for
amanhã ao Território de Roraima e fizer uma
reunião na periferia da cidade – porque
81 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
o povo mais culto não precisa de nós porque
já decidiu – eles vão perguntar-me o que eu
acho melhor para eles, já que estou na
Constituinte e conheço melhor os problemas
do País. Talvez não digam com estas
palavras, mas esta seria a intenção deles.
O nosso Território não tem a facilidade
dos meios de comunicação. Temos dois
jornais, que saem três vezes por semana,
no máximo, às vezes, duas, muitas vezes
uma só vez por semana. O nosso povo não
tem a cultura que tem o povo de São Paulo,
que tem vários canais de televisão, vários
jornais, que vive numa capital muito
adiantada, freqüenta fábricas e, mesmo
servindo cafezinho, está no meio de pessoas
que estão falando sobre os problemas
nacionais.
Então, veja V. Ex.ª, o nosso povo – e
eu me incluo nele – não é menos inteligente
que o paulista. Não é, mas há falta
de comunicação. Infelizmente o pobre
sofre, Professor, porque muitas vezes não
questiona seus direitos por ignorar que
eles existem. Ele nem sabe, realmente, quais
são seus direitos e é por isso que nos elege,
para que possamos dizer para ele o que é
melhor.
Se hoje os representante de Roraima
lá chegarem e usarem o canal de televisão,
para dizer ao povo que chegaram à conclusão
de que, de acordo com a economia do
nosso País, vamos esperar um pouco
mais, para nos tornar autônomos, eles vão
ficar um pouco confusos, vão ficar tristes,
porque estão esperando essa autonomia –
mas não vão reivindicar. Nós temos que lutar
por eles, saber o que eles querem, saber
realmente das suas necessidades. Aliás, já
sabemos, porque até mesmo o Prof. Josaphat
Marinho, que não conhece o nosso território,
faz a sua avaliação pela pobreza que vê,
mesmo aqui em Brasília, nas cidades-
satélites.
O povo daqui não tem a necessidade
que tem o nosso, porque pelo menos aqui
existem fábricas e eles podem trabalhar. E
nos territórios, o que existe? Um único
empregador, que é o Governo. Se a pessoa
não for funcionária pública, não tem onde
trabalhar, porque as empresas particulares
são muito limitadas e até elas só sobrevivem
quando trabalham para o Governo. Então, é
preciso que os territórios sejam transformados
em estados, até para que haja incentivo aos
grupos mais fortes que queiram ir para lá, não
para requisitar áreas de terra e abandoná-las,
não para ficar com o direito à mineração,
sem explorá-la. Deveremos ter exatamente o
cuidado de defender o nosso povo na
hora em que as empresas nacionais,
ou até mesmo multinacionais requererem,
licença pra lá instalar-se. Não sou jurista – V.
Ex.ª até poderia tirar-me esta dúvida –
por isso não sei se é uma lei complementar ou
ordinária que obriga ao cumprimento
de um prazo para a exploração de minérios
nos territórios, e até nos estados, porque
não há uma lei única para os territórios,
e que seja aproveitada a mão-de-obra local.
Quando esses grandes grupos implantam
uma empresa, geralmente levam todo o seu
pessoal. Então, deve haver a obrigação de
aproveitar a mão-de-obra local, para que o
povo tenha como sobreviver. Muito obrigada.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª com a palavra o
Constituinte Chagas Duarte.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Sr. Presidente, meu caro
Governador Jorge Nova da Costa, Prof.
Josaphat Marinho, caro Relator, Srªs, e Srs.
Constituintes, quero, inicialmente, congratular-
me com meu particular amigo Dr. Jorge Nova
da Costa pela maneira objetiva e clara com
que fez sua exposição.
S. Ex.ª não é contra o Estado, pois
deixou bem claro que é a favor da transformação
dos Territórios em Estados, apenas condicionou-
a – para-fraseando o Presidente Geisel – a que
seja lenta e gradual no tempo, que é o elemento
mais importante dessa passagem.
Queremos argumentar exatamente
com esse fator. V. Ex.ª, que está passando
por essa experiência no Território do Amapá,
enfrenta inúmeros problemas, no seu dia-a-
dia, que precisam de solução. Notamos que
os erros e vícios nos Territórios agravam-se,
acumulam-se, dado que o poder do seu
Governador é concentrado, com
personalismo, e independe até da vontade e
do seu estilo de administrar. Sabemos que
esse poder concentrado é fruto da sua
responsabilidade, sobretudo perante o
Tribunal de Contas da União. Mesmo
delegando poderes através de procuração, ele
não deixa de ser, em última instância, o
responsável pela aplicação dos dinheiros
públicos no Território.
Pois bem, nobre Governador, será
que com a dilatação desse prazo para que os
Territórios sejam transformados em Es tados,
a marginalização, a alienação, o fluxo
migratório existente nesses dois territórios,
esses problemas que aumentam cada vez
mais, não irão tornar cada vez mais difícil que
se atinja essa economia suficiente para que o
Território passe a Estado?
Dei, aqui, o testemunho de que, em
1982, os líderes políticos foram à rua reclamar
a transformação do nosso Território em
Estado, junto com Rondônia, que nasceu,
cresceu e se desenvolveu juntamente com os
outros dois Territórios. Mas acabou não
acontecendo.
Acredito que naquela época
estivéssemos um pouco mais perto desses
desejados parâmetros de auto-suficiência do
que agora, quando há tantas dificuldades, e a
população, como dizem os técnicos, inchou.
Houve, não um crescimento da população,
mas um dimensionamento, e,
conseqüentemente, aumentaram seus
problemas. É certo que as nossas dificuldades
são cada vez maiores e crescerão cada vez
mais em virtude da crise financeira por que
estamos passando e que não nos possibilitará
crescer para resolvermos determinados
problemas do território, e, conseqüentemente,
estaremos distanciando-nos cada vez mais.
Caro Governador, gostaria de ouvi-lo.
Como técnico, V. Ex.ª não acha que esse
pedido será contra nós? Veja bem o grande
potencial que tem o Amapá, que não pode ser
explorado porque tudo é da União, que dita
essa política. Acredito que só como Estado
poderemos adequar a situação do povo a
essa crise.
Volto a dizer que se prorrogarmos
esse prazo estaremos distanciando-nos dessa
transformação.
Quanto a ouvirmos o povo desses
Territórios, estou plenamente de acordo.
Aliás, fiz essa proposição hoje de manhã,
ao prefeito de Boa Vista. O nosso povo já
está mais conscientizado, pois desde
1982 estamos pregando isso. Todavia,
acho isso muito relativo, não é importante
nem essencial. Lembro-me – a História
registra isso – de que na Proclamação da
República o povo brasileiro não foi ouvido. Ao
contrário, os historiadores dizem que o povo
ficou estarrecido. Há até uma passagem
muito interessante. Quando Benjamin
Constant levava o Marechal Deodoro da
Fonseca para montar no seu cavalo e
conduzir as tropas – diziam que ele estava
preso – tal era a obediência ao Imperador
naquela época que ele, ao montar no seu
cavalo, não disse "viva a República", mas
"viva o Imperador". Então, Benjamin Constant
lhe disse: "Que Imperador, nada. Viva a
República."
Então, nobre Governador, acho
que o Território deve ser ouvido, mas as
lideranças devem conduzir o processo. Acho
que chegou a hora de o nosso Território
passar a Estado, porque se protelarmos
será muito mais difícil o dia de amanhã.
(Palmas).
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Dr. Jorge Nova da
Costa.
O SR. JORGE NOVA DA COSTA: –
O Constituinte Chagas Duarte disse muito
bem; queremos o Amapá como Estado. Cada
um tem suas peculiaridades. O Amapá vem
num processo de planejamento, querendo
corrigir distorções que se vêm arrastando de
ano para ano – deixei claro aqui – em termos
de planejamento.
Ora, vim de uma reunião em que os
governadores de Estado reclamavam
posições que o Amapá reclama como
Território. Hoje mesmo o Governador Hélio
Gueiros reclamava isenção de ICM para
a madeira que simplesmente é transformada
de toras em pranchas. Há uma alteração
na tributação, lesando o próprio Estado.
Isso não depende da condição de ser
Estado.
Então, vamos aproveitar os
diagnósticos que estão aí para corrigir as
distorções. Desenvolvimento regional não é
desenvolvimento da economia clássica: é esta
a posição que coloco aqui. Respeito os
economistas clássicos, os que querem ajuntar
riquezas, mas não sou obrigado a defender
uma economia dual. Aliás, o Amapá não tem
miseráveis nem pobres: tem carentes, porque,
apesar do subemprego, há uma população
economicamente ativa, ainda que, como eu
disse, com um grau de dependência muito
grande.
O Território ainda apresenta
características bem saudáveis. O povo é
tranqüilo, não há problemas de segurança da
população, mas a área periférica exige infra-
estrutura.
Por exemplo, sendo o Amapá um
Estado, se eu fosse pedir o empréstimo que
consegui agora na Caixa Econômica, talvez
não o conseguisse. Eu o consegui porque tive
o aval do Governo. Ele assegurou-me, mas
ao Estado não iria assegurar. Sou o mutuário
final para um plano de metas que abrange
três áreas: complementação urbana –
pavimentação, drenagem pluvial, esgoto e
saneamento; projeto de habitação, porque o
Amapá tem um déficit de vinte e duas mil
habitações – não vou entrar em detalhes.
Também consegui um projeto para
financiamento. Feito o diagnóstico, levei-o ao
Ministério, e consegui do então Ministro João
Sayad a aprovação do nosso empréstimo.
Como Estado talvez não conseguisse.
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 82

Atualmente, transformado em OTN,
teremos um Bilhão e quinhentos milhões de
cruzados para aplicar em obras de infra-
estrutura.
Fizemos uns filmetes que foram
projetados na televisão. Para promover o
Governo? Para promover a minha
administração? Não. Para levar ao resto do
País as potencialidades do território. Já
estamos recebendo cartas, e o nosso
Coordenador de Comunicação Social já
recebeu cartas até do Rio Grande do Sul.
Perguntam: tem saneamento? Tem água?
Tem água tratável? Tem energia? É esse o
aspecto que queremos aproveitar com a
vantagem de ser território, buscar recursos
da União, e em pouco tempo dotar o território
dessa infra-estrutura e iniciar os trabalhos.
Concluí todas as obras do meu antecessor,
não deixei nenhuma por concluir. Fui
até criticado, mas elas estão lá: Assembléias,
banco, teatros, tudo que foi iniciado,
uma infra-estrutura de alto investimento, de
alto porte, com monumentos que até
poderiam ter uma nova programação. Isso
embeleza, como falou o ilustre Constituinte,
compõe a beleza, e é compensado pelo
turismo.
É esse o ponto. Não vejo divergência,
porque conquistamos essa transição
democrática e todos desejamos que ela seja
consolidada.
E vou dizer mais: no Amapá ninguém
vai sofrer, nesses dois anos, para arrumar
melhor essa infra-estrutura básica e corrigir as
distorções. É isso, meu caro Constituinte
Chagas Duarte, que desejamos em termos de
planejamento, baseado na ciência regional,
onde se considera muito o espaço, o homem
que está lá, a fim de que ele não seja alijado
de uma economia dual. Não quero de maneira
alguma, da noite para o dia, transformar essa
dualidade, mesmo porque no Amapá ela
existe mas não é tão acentuada. Não temos
assaltos, não temos marginais, e a
criminalidade é considerada razoável para o
nível, não digo de desenvolvimento, mas de
crescimento do território.
O planejamento que está sendo feito
é no sentido de aproveitar as oportunidades
que o Governo oferece pelo fato de ser
Território. O apoio que os Constituintes estão
querendo dar, a curto prazo, é para elevá-lo à
condição de Estado. Tenho que me valer de
lei ordinária para conseguir o aumento da
nossa Polícia, a criação da Polícia Feminina,
da Polícia Montada, para menores custos
operacionais da administração, para criar as
Secretarias. Ora, teremos eleições já para o
ano. O Governo atual vai administrar três
eleições. Por que não coincidir essa eleição
para governador junto com as outras que
virão aí, normalmente?
Digo-lhe que fui um privilegiado,
porque sou um técnico, um profissional do
Governo, e nunca teria condição de dar a
forma.
Algumas considerações que eu
trouxe aqui são provenientes da realidade,
não inventei nada. Comecei minha
vida profissional em 1950; formei-me
no Rio de Janeiro e fui para o Amapá,
onde fiquei dez anos no interior,
depois fui embora. Segui minha
vida profissional, servi a dois Ministérios.
Hoje trago uma experiência muito grande
do Ministério do Interior, porque onde
trabalhei durante 17 anos. Ajudei os
territórios fiz o primeiro plano para Rondônia,
colaborei com Roraima – está aí o ex-
Governador Hélio Campos – no plano de
modernização, da agricultura, sempre
procurando aumentar a capitalização do
nosso agricultor.
Agora, podemos aceitar essa
discriminação, insinuado que a agricultura
ficou para trás? Não. Podemos aceitar uma
colonização que é mais uma especulação
imobiliária? Não. Vamos pensar numa
cooperativa de arrendamento, onde a
capitalização se faz dentro da cooperativa e o
arrendatário nunca vai perder a sua terra pela
especulação que chega. Quando saí da
escola, conheci Dourados. E hoje, o que
existe lá? Foi totalmente ocupada por uma
economia que talvez não fosse a ideal. Quer
dizer, a ciência agronômica oferece todos os
ingredientes para se promover uma ocupação
espacial, dentro daquilo que possa trazer
renda para a população. Queremos emprego
no Amapá. Posso até dizer que no Amapá a
iniciativa privada ilustre, digna Deputada
Constituinte, já oferece bastante emprego.
Temos indústria, temos um volume de
emprego considerável no Amapá, mais que
não são geridos. Acredito que a metade dos
empregos são oriundos do Governo, mas a
outra metade é da iniciativa privada. Temos
vários empreendimentos. Há um investimento
que deveria constar em lei: o investidor
dessas multinacionais, dessas empresas que
exploram o minério, tal como o ouro, e o
jogam para fora, seriam obrigados a investir o
seu lucro. Não me refiro ao lucro líquido, mas
ao faturamento, porque o lucro líquido nunca
aparece. O faturamento não seria do projeto
que eles escolhessem, mas do que o
Governador o escolhesse, dentro de um plano
espacial de ocupação, dentro de uma vocação
pedológica, geomorfológica, enfim, com a sua
aptidão agrícola, porque o CEPATSA – Centro
de Pesquisa de Trópico e Semi-árido já
definiu vinte e duas variedades que produzem
muito bem. Embora o nosso alto solo tenha
baixa fertilidade, tem excelente estrutura
física. Mas dependemos de aplicação de
fertilizantes. A viabilização desses fertilizantes
só se faz através de uma determinada
economia de escala dentro da agricultura.
Então, teríamos que ter esse zoneamento, a
pedir o retorno. Peço a compensação do
câmbio dos oitenta milhões, já que não
podemos alterar a saída do minério.
Felizmente no Amapá ele não faz buraco,
porque o manganês lá dá na montanha e eles
até estão fazendo a cobertura com vegetação.
Mas há o ferro-liga, e descobrimos o cromo.
Mas não basta só o ferro-liga. É preciso que
haja um dispositivo legal que obrigue as
empresas que ganham e faturam nos
territórios a empregar parte do seu
faturamento no próprio território. Ao contrário
não vamos romper essa economia primária
exportadora que é uma tristeza, pois, em
outras palavras, somos colônias de outra
região.
Acho que esclareci bem o meu ponto
de vista. Espero que o território passe a
Estado, mas vamos aproveitar as
prerrogativas do território.
Acredito que não conhecemos a
metade dos instrumentos que o Governo
federal oferece. E se estamos numa fase de
transição, com um Governo mais participativo,
vamos esperar que o Governo os apresente,
porque conheço bem a disposição do
Presidente da República e do nosso atual
Ministro do Interior: ambos estão interessados
em dar um avanço nesse território e criar
melhores condições de emprego. Vamos
exigir ou, uma palavra mais adequada,
solicitar que os instrumentos da média e
pequena empresas sejam uma realidade.
Quem está cobrando isso é o Governo do
Pará, também. E não é pelo fato de ser Estado
que ele conta com o incentivo para média e
pequena empresas. Podemos fazer isso com o
apoio dos parlamentares. O Amazônia tem 118
deputados federais e 18 senadores, que em
bloco podem ajudar a região amazônica. E
quem tem a Amazônia não pode temer o
futuro, como diz o Presidente Sarney.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
Quero agradecer, em nome desta Subcomissão,
aos eminentes expositores desta noite. De um
lado, o Professor Josaphat Marinho, com sua
legendária cultura e eloqüência e, de outro, não
menos eloqüente, pois o demonstrou a força de
sua argumentação, o Dr. Jorge Nova da Costa,
Governador do Amapá, que realmente nos
brindaram com algumas horas bastante
agradáveis, que muito elucidaram nosso
raciocínio e muito nos subsidiaram com vistas ao
nosso discernimento final.
Não deixamos de colocar a posição dos
nossos companheiros constituintes, que trazem,
na sua esteira, naturalmente a veemência das
postulações populares, que são inseparáveis do
político e que, naturalmente vêm a esta
Assembléia Nacional Constituinte com esse calor
e essa vontade de fazer o melhor pela população.
Vimos que o assunto polêmico foi
dominante. Até fugimos muito da questão das
competências da União – nem sempre tão
competente, mas assim rotulada, e que temos
que aceitar In limine .
Vimos, nesta exposição, que houve
uma tentativa de colocar alguma prudência
dentro do calor e da eloqüência e, às vezes, –
por que não dizer? – até da emoção das
posições dos Srs. constituintes. Vale a pena,
para nós todos, refletirmos sobre a prudência,
até aproveitando o mote concedido pelo
Professor Josaphat Marinho quando
mencionou o episódio de Pinheiro Machado,
que, saindo de local buliçoso e efervescente,
no Rio de Janeiro, dizia que sua retirada não
deveria ser nem tão devagar que parecesse
provocação, nem tão depressa que parecesse
covardia. Poderíamos dizer aqui que a opinião
que colho dos dois conferencistas é a de que
não seja nem tão devagar que pareça
provocação, nem tão depressa que pareça
açodamento. Seria parafrasear o mote
concedido pelo Professor Josaphat Marinho.
Mas também vale a pena citar duas
outras lições: uma, é a do dilema hamletiano
com que todos chegamos aqui: "ser ou não
ser" – ter ou não ter nosso Distrito Federal,
nossos Territórios transformados em Estados
– Territórios, e o Distrito Federal com sua
autonomia. Mas vale também lembrar outra
lição shakespeariana: "há coisas para se ver e
coisas para se sonhar".
Boa noite e muito obrigado. (Palmas).
83 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
COMISSÃO DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
SUBCOMISSÃO DA UNIÃO, DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS
13ª Reunião (Extraordinária), realizada em 11 de
maio de 1987
Aos onze dias do mês de maio do ano de mil
novecentos e oitenta e sete, às dezenove horas e vinte
e nove minutos, na Sala "B1" – Anexo II da Câmara dos
Deputados, reuniu-se a Subcomissão da União, Distrito
Federal e Territórios, sob a presidência do Senhor
Constituinte Jofran Frejat, com a presença dos
seguintes Senhores Constituintes: Sigmaringa Seixas,
Anníbal Barcellos, Chagas Duarte, Felipe Mendes,
Francisco Carneiro, Mozarildo Cavalcanti, Paulo
Mincarone, Roberto Rollemberg, Ruy Bacelar, Vilson
Souza. Havendo número regimental, o Senhor
Presidente declarou iniciados os trabalhos e passou à
leitura da ata da reunião anterior, que foi aprovada por
unanimidade. A seguir, deu-se início ao Expediente que
constou da seguinte leitura: Expediente-
correspondências recebidas; 1) Documento contendo
exposição de dados originais e fatos ocorridos com os
garimpeiros da Amazônia; 2) Cartão do Dr. Ricardo
Pires de Mello, Subchefe de Gabinete do Ministro da
Previdência e Assistência Social, congratulando-se com a
instalação da Comissão e eleição da Mesa; 3) Carta do
Constituinte José Guedes, de 29-4-87, encaminhando
Projeto de Resolução; 4) Of. SGC161/87, de 27-4-87, do
Presidente da ANC, encaminhando a Sugestão nº 1.307.
(Recebida na Comissão em 5-5-87); 5) Sugestão nº
1.167 encaminhada através da Comissão de
Organização do Estado (Recebida na Comissão em 5-5-
87); 6) Cópia de roteiro de tramitação de projeto de
Constituição, a partir do recebimento dos anteprojetos
das Comissões Temáticas, pela Comissão
de Sistematização. (Recebido em 5-5-87); 7) Sugestão
encaminhada pela Associação Comercial, Industrial
e Agropecuária de Planaltina – GO – ACIAPLA;
8) Propostas remetidas pelo Sr. José Lucindo Pi-
nheiro, representante da Associação dos Vereadores
do Triângulo Mineiro; 9) Proposta remetida
pela Comissão Pró-participação popular na Constituinte
– Tauá/CE; 10 Of. nº SGC 384/87, de 5-5-87,
do Presidente da ANC, encaminhando as Sugestões
nº 2.752, 2.753 e 2.759; 11) Sugestões remetidas
ao Presidente e Relator desta Subcomissão
pelo Constituinte José Lins; 12) Carta do Dr. João
Vicente de Abreu Neto, Diretor do CENDEC,
enviando programação do "Seminário Internacional
sobre Constitucionalismo e Democracia"; Instituições
Políticas para o Século XXI" e solicitando divulgação;
13) Telegrama do Líder do PFL – Agradecendo
o recebimento do calendário de audiências públicas;
14) Of. nº SGC 161/87 – do Presidente da
ANC, encaminhando a Sugestão nº 1.307; 15) Of.
nº SGC 277/87, do Presidente da ANC, encaminhando
a Sugestão nº 1.921; 16) Of. nº SGC 238/87,
do Presidente da ANC, encaminhando a Sugestão
nº 1.167; 17) Of. nº SGC 384/87, do Presidente da
os
ANC, encaminhando as Sugestões n 2.752, 2.753
e 2.759; 18) Of. nº 332, do Presidente da
ANC, encaminhando as Sugestões nº 2.229,
2.336, 2.372, 2.616, 2.643 e 1.834; 19) Of. nº SGC
454/87, do Presidente da ANC, encaminhando
s
as Sugestões nº 3.008, 3.057, 3.068, 3.255,
3.259, 3.261, 3.488, 3.533, 3.593, 3.664, 3.675, 3.802,
3.854, 3.917, 3.976, 3.990, 4.024 e 4.072; 20)
Of. SGC 427/87, do Presidente da ANC, encaminhando
os
as Sugestões n 3.043, 3.045, 3.075, 3.088,
3.102, 3.119, 3.127; 21) Of. CT-825/87, de 6-5-87,
do Subchefe de Gabinete para Assuntos Parlamentares
do Ministério da Agricultura, congratulando-se em nome
do Sr. Ministro, pela instalação da Subcomissão e
eleição da Mesa; 22) Publicação do Professor José
Octacílio de Saboya Ribeiro "Planificação e
Desenvolvimento"; 23) Of. PSC Circ. 064/87, de 7-5-87,
do Constituinte Marcelo Cordeiro, 1º-Secretário,
indicando assessores para esta Subcomissão; 24) Of.
051/87, de 30-5-87, do Diretor da Assessoria Legislativa
da Câmara dos Deputados, apresentando o Assessor
Alziro Silva Filho a esta Subcomissão; Correspondên-
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
cias Expedidas: 1) 40 Ofícios, de nos 210 a
250/87/PRES., encaminhando às Lideranças
e à Mesa da ANC quadro das audiências
públicas realizadas nesta Subcomissão; 2) 36
Ofícios, de nos 251 a 286/87/PRES.,
encaminhando a todos os membros da
Subcomissão, quadro das audiências públicas
realizadas. Findo o Expediente, o Senhor
Presidente anunciou os trabalhos do dia.
Sigmaringa Seixas leu Parecer, Relatório e
Ante-projeto. Foi aparteado por Felipe
Mendes e Anníbal Barcellos. O inteiro teor dos
trabalhos será publicado, após a tradução das
notas taquigráficas e o competente registro
datilográfico, no Diário da Assembléia
Nacional Constituinte. Nada mais havendo a
tratar, o Senhor Presidente deu por encerrados
os trabalhos, às vinte horas e cinqüenta e dois
minutos, convocando os Senhores
Constituintes para a próxima reunião a ser
realizada dia quatorze de maio, às dez horas,
para continuação do debate de Matéria
Constitucional. E, para constar, eu, Antônio
Fernando Borges Manzan, Secretário, lavrei a
presente Ata que, depois de lida e aprovada,
será assinada pelo Senhor Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Havendo número regimental, sob a proteção
de Deus, declaro abertos os trabalhos desta
Subcomissão.
(É aprovado o pedido de dispensa da
leitura da ata.)
A pauta do dia de hoje começará pela
leitura do expediente.
(Leitura do expediente.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Passamos à ordem do dia. Em primeiro
lugar, quero congratular-me com esta
Subcomissão pela dinâmica dos trabalhos,
pela eficiência de sua atuação até agora.
Temos cumprido os nossos prazos com
relativa tranqüilidade e segurança.
Terminamos o período das audiências
públicas, e acabou-se igualmente o de
apresentação das propostas. Hoje, dia 11,
devemos ter a apresentação do Relatório com
anteprojeto, pelo Relator.
Antes disso, e de dar a palavra a S.
Ex.ª, menciono alguns fatos importantes:
tivemos, na Subcomissão, 267 sugestões.
Dessas, 155 nos foram apresentadas na noite
de sábado, o que sobrecarregou,
sobremaneira, o Sr. Relator no atinente ao
acolhimento das propostas, embora S. Ex.ª
tivesse tido toda a boa vontade em fazê-lo.
Esse trabalho tirou-lhe algumas noites de sono.
Entretanto, nada impedirá que S. Ex.ª
apresente o seu Relatório e anteprojeto, para
posterior distribuição, em forma de avulso, a
todos os colegas. Combinei com o Sr. Relator
no sentido de que busque fazer relatório o mais
sucinto possível, pois o trabalho ainda sofrerá
algumas alterações. O anteprojeto,
entrementes, já estará pronto para ser
apresentando hoje.
Lembro aos Srs. Constituintes que a
apresentação, hoje, desse anteprojeto levará
os nossos trabalhos a ter o seguinte
desenvolvimento: a distribuição dos avulsos
será até o dia 14, para todos os Constituintes;
o encerramento, da discussão far-se-à entre
14 e 19 de maio, com essa última data para o
limite final dessas discussões.
Com certeza, em virtude de o nosso
prazo ser corrido, não se interrompendo
em domingos e feriados, o final de semana,
entre 14 e 19, estará comprometido com
esta Subcomissão. Rogo aos Srs.
Constituintes que tragam a sua contribuição
para a discussão que vamos ter nesse
período de final de semana, quando serão,
seguramente, convocados. Teremos a
apresentação do parecer do Relator no dia 22
do corrente mês de maio. Entre 22 e 24,
teremos o encerramento da votação e, no dia
25, esse anteprojeto será encaminhado à
Comissão de Organização do Estado.
Com essa lembrança, passo a palavra
ao Sr. Relator para que apresente o seu
Relatório e o seu anteprojeto.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, Srs. Constituintes,
quero em primeiro lugar, se me permitem,
lavrar um pequeno protesto. Entendeu a Mesa
da Assembléia Nacional Constituinte ou, pelo
menos, o seu Presidente, de prorrogar o
prazo para oferecimento de sugestões de
normas.
Entretanto e estranhamente, essa
mesma Mesa entendeu de não prorrogar o
prazo de apresentação do anteprojeto pelo
Relator. Com isso, acho que não só este,
como todos os demais Relatores, viram-se
sacrificados e, mais que os Relatores, os
autores das próprias sugestões.
No meu caso específico, recebi, só no
sábado à noite, aproximadamente 150
sugestões de normas. Apreciei-as todas –
evidentemente que, pela exigüidade do
tempo, não com a dedicação e atenção
desejáveis – mas, de qualquer forma, dei toda
a atenção a cada uma delas. Isso, entretanto,
criou-me um pequeno problema.
Ao apreciar essas sugestões vimos
que muitas delas, por absolutamente
pertinentes e da melhor qualidade, teriam de
ser acolhidas pelo Relator, e isso importou a
necessidade de alteração ou adaptação do
relatório que inicialmente já havíamos feito.
Com isso, Srs. Constituintes – como já foi
salientado pelo eminente Presidente desta
Subcomissão –, vejo-me na contingência de
requerer a V. Ex.ª mais 24 horas de prazo
para o oferecimento do meu relatório. Mesmo
que, como disse, esse trabalho necessita de
adaptação, de ser alterado em alguns pontos,
em razão do acolhimento dessas sugestões.
De qualquer maneira, farei um
relatório sucinto, demonstrando as razões que
me levaram a elaborar o anteprojeto, e logo
em seguida darei conhecimento desse
trabalho a esta douta Subcomissão.
Na parte das disposições
preliminares, quanto aos bens da União,
procurei seguir, como de resto, nos outros
capítulos, o anteprojeto da Comissão
provisória de estudos constitucionais.
Acrescento, porém, na questão relativa aos
bens, a garantia, aos Estados e Municípios
litorâneos, de participação no resultado da
exploração econômica, da plataforma
continental e do mar territorial.
Também há a garantia aos Estados,
ao Distrito Federal – já que vamos falar da
autonomia do Distrito Federal – e aos
Municípios da sua participação na exploração
econômica dos recursos minerais do subsolo.
Mantive as terras ocupadas pelos índios como
bem da União, assegurando-lhes a sua posse
permanente, usufruto dos recursos naturais
do solo e a participação na exploração
econômica dos recursos naturais do subsolo.
Asseguro, também, que o mar
territorial e patrimonial é de duzentas milhas.
Na questão da Federação, atendendo ao
anseio dos Estados e Municípios, procuro
criar um modelo descentralizado, que se
contrapõe ao atual, centralizado, com uma
84
gama incalculável de competências da União,
sendo reservada aos Estados apenas uma
competência supletiva e aos Municípios, uma
competência residual.
Estabeleço, como forma de mudança
do modelo centralizado para o
descentralizado, um processo gradual,
criando uma área de competência comum à
União, aos Estados e aos Municípios. Assim
como o processo de consolidação da
Federação centralizada foi gradual, é preciso
que também o seja o processo de
descentralização – esta é a minha concepção
do problema.
Quanto ao Distrito Federal, acolho
todas as propostas referentes à sua
autonomia, seja política, legislativa,
administrativa e financeira. Não adoto a
autonomia constitucional, nem a jurisdicional.
Quanto aos Territórios, proponho, no
capítulo das Disposições Transitórias, a
transformação de Roraima e Amapá em
Estados. (Palmas.) Deixo, entretanto, à lei
complementar a fixação dos prazos para a
eleição dos seus futuros dirigentes e demais
condições de transformação.
Antes de passar à leitura do
anteprojeto, quero dizer, fazendo uma
pequena retificação, que, em verdade,
recebemos 289 sugestões e normas que
foram apresentadas no prazo regimental.
Destas, 37 foram devolvidas aos seus autores
por não terem pertinência com a matéria.
Todas foram devidamente apreciadas pelo
Relator e a maioria mereceu acolhimento, no
mérito. Algumas apresentaram excelentes
contribuições, sendo incorporadas ao texto.
Devido à exigüidade do tempo, como já
ressaltei, não foi possível descrever e alongar
os pareceres sobre cada uma delas. Adotou-
se o critério da divisão temática para a
classificação dessas sugestões. Assim, foram
separadas em seis grupos, a saber, sobre:
princípios gerais da organização do Estado;
bens da União; competência da União;
intervenção federal; Distrito Federal e
Territórios; e disposições transitórias
pertinentes à matéria da Subcomissão.
Sr. Presidente, vou mencionar, uma a
uma, todas as sugestões e normas, definindo,
com relação a cada uma delas, o seu
acolhimento ou não
04937-2 N.F – D.R – Ace p.;
• Newlton Friedrich
• Define República
• Acolhida em parte
02127-0
• Victor Faccioni
• Propõe definição da República
prevendo o Sistema Parlamentar de Governo
• Não acolhida
01921-6
• Luiz Salomão
• Propõe definição da República e
organização do Estado Democrático de
Direito, segundo os princípios sugeridos
• Acolhida em parte na regra
definidora e não acolhida quanto aos
princípios propostos por deverem figurar em
outro Capítulo.
01105-1
• Lavoisier Maia
• Repete artigo 1º da Constituição
vigente
• Acolhida parcialmente.
85 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)

00500-2 00694-7 03258-1

• Mário Maia • Jamil Haddad • Adylson Motta
• Propõe definição da República e • Princípios Fundamentais do Estado • Capital da União
princípios do Estado (socialização dos meios de produção) • Acolhida integralmente
• Acolhida em parte • Não acolhida
03664-1
00691-2 00024-8 • Hugo Napoleão
• Jamil Haddad • Iram Saraiva • Define República e Sistema de
• Propõe definição de República e • Subdivisão e Incorporação dos Governo
fundamentos do Estado de Direito Democrático Estados • Acolhida em parte
• Acolhida quanto ao regime • Acolhida em parte
representativo, ficando os princípios para outra 03045-7
Comissão 09794-2 • José Ignácio Ferreira
• Ismael Wanderley • Brasília Capital da União
00149-0 • Distrito Municipal • Não acolhida
• Antônio de Jesus • Não acolhida
• Define República e origem divina do 00329-8
Poder 05370-8 • Osvaldo A. Bender
• Acolhida quanto ao regime • José Ignácio Ferreira • Princípios de Criação de Estados e
representativo e federação. Não acolhida quanto • Definição da República Municípios
à origem divina do Poder, pois embasada em • Acolhida quanto a Regime • Acolhida em parte
concepção jus naturalista Representativo
04248-0
03068-6 03976-4 • Sérgio Spada
• José Ignácio Ferreira • Ruy Nedel • Deveres do Estado
• Substitui a independência pela • Capital da União • Acolhida em parte
interdependência dos Poderes do Estado • Acolhida em parte
• Acolhida em parte, na fórmula da 09316-5
coordenação dos Poderes 05402-0 e 03008-2 • Maurício Fruet
• José Ignácio Ferreira • Capítulo completo sobre
03255-7 • Brasília Capital da União Organização dos Estados
• Adylson Motta • Não acolhida • Acolhida em parte quanto à matéria
• Define os Poderes da União e regra de competência da Subcomissão
de indelegabilidade 09621-1
• Acolhida em parte • Raul Ferraz 07726-7
• Princípios de Soberania e • Jamil Haddad
03259-0 Organização Municipal • Autonomia dos Estados, Municípios,
• Adylson Motta • Não acolhida Distrito Federal e Regras de Intervenção
• Símbolos Nacionais, dos Estados e Federal
Municípios 05833-5 • Acolhida em parte
• Acolhida em parte • José Carlos Coutinho
• Símbolos Representativos 05456-9
03261 • Acolhida parcialmente • Lúcio Alcântara
• Adylson Motta • Princípios de Estrutura Territorial da
• Define origem do Poder 08872-2 Federação
• Acolhida integralmente • José Ignácio Ferreira • Acolhida em parte
• Definição de República
03533-3 • Acolhida parcialmente 08138-8
• Gonzaga Patriota • José Lourenço
• Princípios da República 00361-1 • Definição de República
• Acolhida em parte • Leopoldo Peres • Acolhida em parte
• Inclui na Federação as Possessões
S/Nº Indígenas 06329-1
• Ruy Nadel • Não acolhida • Vasco Alves
• Capital da União • Definição de República e Exercício
• Acolhida em parte 00383-2 dos Poderes
• Mauro Borges • Acolhida em parte
03664-1 • Veda Ajuda Financeira Federal a
• Hugo Napoleão Estado 04263-3
• Define República • Não acolhida • Ivo Mainardi
• Acolhida em parte • Criação de Estado e Territórios
00588-6 • Acolhida em parte
00867-2 • Irma Passoni
• Roberto Freire e Augusto de • Princípios Fundamentais do Estado 09118-9
Carvalho • Acolhida parcialmente • Lúcio Alcântara
• Símbolos Nacionais • Preâmbulo da Constituição
• Acolhida em parte 00854-1 • Não acolhida
• Fernando Santana e outros
00751-0 • Princípios Fundamentais do Estado – 09029-8
• Osmir Lima Competência da União • Mauro Miranda
• Redivisão Territorial • Acolhida parcialmente • Definição de República
• Acolhida em parte • Acolhida em parte
01149-5
00961-0 • Francisco Rollemberg 09145-6
• Conzaga Patriota • Descentralização Administrativa dos • Lúcio Alcântara
• Plebiscito para obras Estados • Definição de República
• Acolhida quanto ao mérito • Não acolhida • Acolhida em parte

01245-9 00230-5 09638-5

• Nilson Gibson • Adylson Motta • Waldeck Omélas
• Redivisão Territorial com consulta • Define República e Normas • Estrutura da Federação – Normas
popular Transitórias para Território sobre Municípios, repassada a outra
• Acolhida parcialmente no mérito • Acolhida em parte Subcomissão
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 86

• Acolhida em parte • Propõe a denominação República • organização nacional

Federativa do Brasil • Acolhida parcialmente
04695-7 • Acolhida
• Paulo Macarini S/Nº 07455-1
• Exclui Territórios da Organização • Maria de Lourdes Abadia e outros • Roberto Rollemberg
Nacional • Inclui no capítulo da Organização • Estabelece Poderes das Pessoas
• Acolhida em parte Nacional normas relativas às nações indígenas Jurídicas de Direito Público
• Não acolhida na forma • Acolhida em parte
07073-4 01828-7
• José Ignácio Ferreira • Afonso Arinos 00259-3
• Vedações às entidades federadas • Encaminha parte do anteprojeto da • Mozarildo Cavalcanti
• Acolhida em parte Comissão Provisória de Estudos • Define a República
Constitucionais relacionado com a • Acolhida parcialmente
07289-3 competência desta Subcomissão
• José Ignácio Ferreira • Acolhida no mérito e, parcialmente, 00160-1
• Define a República na forma • Geovani Borges
• Acolhida em parte 04697-3 • Define a República
• Paulo Macarini • Acolhida parcialmente
08976-1 • Propõe, no capítulo da Organização
• Nelton Friedrich Nacional, que sejam considerados feriados 01161-4
• Estabelece princípios para nacionais as datas que menciona • Geovani Borges
ordenação do território e outros • Não acolhida • Define a República
• Acolhida no mérito • Acolhida parcialmente
04700-7
01245-9 • Paulo Macarini 00909-1
• Nilson Gibson • Propõe indenização da União aos • Costa Ferreira
• Competência da União para dispor Estados e Municípios pela construção de • Veda aos entes federados intervir
sobre a redivisão territorial do País usinas hidrelétricas nos cultos religiosos ou subvencioná-los
• Acolhida no mérito • Não acolhida na forma; aceita, • Acolhida no mérito
parcialmente, quanto ao mérito
06144-1 01307-2
• José Ignácio Ferreira 04705-8 • Waldeck Omélas
• Propõe princípios de • Paulo Macarini • Dispõe sobre Organização
especialização de funções na organização • Propõe a responsabilidade da União Nacional e Municípios
dos Estados pela indenização nos casos que menciona. • Acolhida em parte quanto à
• Não acolhida • Não acolhida. Matéria de matéria específica desta Subcomissão
competência de outra Subcomissão
05282-5 05343-1 07280-0
• Sérgio Spada • Délio Braz • Enoc Vieira
• Assegura compensação financeira • Dispõe sobre os Poderes da União • Reproduz inciso do artigo 9º da
às Unidades Federativas pela instalação de e o princípio da indelegabilidade Constituição, alterando redação do item II
usinas nucleares e hidrelétricas • Acolhida parcialmente • Acolhida parcialmente
• Acolhida em parte
01725-6 SUGESTÕES DE NORMAS SOBRE BENS
08794-7 • Maurício Fruet DA UNIÃO
• José Ignácio Ferreira • Propõe a responsabilidade da
• Dispõe sobre planejamento do União pela indenização originada por 088404
desenvolvimento nacional em todos os níveis implantação de usinas hidrelétricas • Enumera bens da União e Estado
federativos • Não acolhida. Matéria de outra • Acolhida parcialmente
• Acolhida em parte Subcomissão
07193-5 04721-0
00688-2 • José Ignácio Ferreira • Gerson Camata
• Jamil Haddad • Propõe a organização da • Prover censura de diversões
• Responsabilidade Civil do Estado Procuradoria da União, do Estado e do públicas.
• Não acolhida por tratar-se de Município com funções distintas da do • Acolhida parcialmente.
matéria de outra Comissão Ministério Público 04580-0
• No mérito, o Relator é favorável, • Chagas Rodrigues
00628-9 mas deixa de acolhê-la por versar matéria • Competência da União e dos
• Nilson Gibson pertinente à Subcomissão do Poder Executivo Estados para legislar sobre ramos de Direito e
• Propõe princípios fundamentais da 08725-4 órgãos de Segurança e Judiciais.
República e bens da União • Maurício Corrêa • Acolhida parcialmente.
• Não acolhida na forma • Propõe a advocacia da União,
S/Nº organizada nos moldes que estabelece 03054-6
• Carlos Chiarelli • No mérito o Relator é favorável, • José Ignácio Ferreira
• Propõe título da Organização mas deixa de acolhê-la por versar matéria que • Dispor sobre planos nacionais e
Federal e Nacional e dispõe sobre a não lhe é pertinente setoriais que especifica.
competência dos Estados e Municípios • Acolhida no mérito.
• Não acolhida na parte que 03917-9
compete a esta Subcomissão • Paulo Zarzur 04694-9
08905-2 • Veda à União dar garantia em • Paulo Macarini
• Fausto Rocha empréstimos externos • Legislar sobre Direito e Processo
• Veda aos entes federados • Não acolhida. Matéria de outra do Trabalho.
estabelecer cultos religiosos ou subvencionados Comissão • Acolhida no mérito.
com as ressalvas que menciona 03140-2 04331-1
• Acolhida no mérito • José Ignácio Ferreira • Paulo Zarzur
06427-1 • Consubstancia normas completas • Dispor sobre planos nacionais de
• Vivaldo Barbosa sobre a abastecimentos.
87 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)

• Acolhida no campo da competência • Acolhida parcialmente. 08615-1

comum. • Fábio Feldmann
04243-9 07200-1 • Plano Nacional de Gerenciamento
• Sérgio Spada • Antôniocarlos Konder Reis Costeiro.
• Decretar o Estado de Sítio ouvido o • Apresenta texto completo da parte • Não Acolhida.
Congresso Nacional. relativa a esta Subcomissão.
• Acolhida no mérito parcialmente. • Acolhida parcialmente. 06044-5
• Arolde de Oliveira
04174-2 S/Nº • Monopólio da União sobre serviço
• Francisco Rollemberg • José Ignácio Ferreira postal.
• Legislar sobre ramos de Direito, • Competência privativa da União para • O Relator aprova a Sugestão mas
serviços públicos e jurídicos, meio ambiente, criar órgãos regionais. não a acolhe por ser matéria de outra
política econômica e outros. • Não acolhida. Subcomissão.
• Acolhida no mérito parcialmente.
08605-3 09684-9
05666-9 • Jutahy Júnior • Stélio Dias
• Afif Domingos • Legislação privativa da União. • Competência sobre serviços e
• Fiscalizar serviços que menciona. • Acolhida parcialmente. instituições de estatística, geografia e cartografia.
• Acolhida no mérito. • Acolhida integralmente.
09649-1
08071-3 • Stélio Dias 08931-1
• Floriceno Paixão • Competência privativa da União • Lúcio Alcântara
• Competência da União e Municípios – sobre sistema estatístico e cartográfico. • Natureza da lei de normas gerais e
Plano Nacional de Saúde na forma que especifica. • Acolhida integralmente. suplementar.
• Acolhida parcialmente. • Acolhida parcialmente.
08467-1
07566-3 • José Ignácio Ferreira 08923-1
• Edme Tavares • Legislação privativa da União. • Lúcio Alcântara
• Defesa contra calamidade pública. • Acolhida parcialmente • Competência legislativa da União
• Acolhida parcialmente. sobre várias matérias.
08340-2 • Acolhida integralmente.
08087-0 • José Ignácio Ferreira
• Mário Covas • Competência da União sobre 09013-1
• Legislar sobre normas gerais de previdência social e saúde. • Costa Ferreira
Direito Urbanístico. • Acolhida parcialmente. • Legislação da União sobre inspeção
• Acolhida. do trabalho.
09017-4 • Acolhida parcialmente.
08520-1 • Mansueto de Lavor
• Jonas Pinheiro • Legislação da União sobre ramos do 07141-2
• Legislar prioritariamente sobre Direito e Serviços. • José Ignácio Ferreira
floresta, caça, pesca através de Código específico. • Acolhida parcialmente. • Norma programática sobre
• Acolhida parcialmente. desenvolvimento nacional e regional, como
09633-4 competência privativa da União.
07894-8 • Waldeck Ornelas • Acolhida parcialmente.
• Alarico Abib • Competência da União e supletiva do
• Legislar sobre Meio Ambiente com Direito Federal e dos Municípios sobre Direito 06802-1
Estados e Municípios. Urbano. • Antônio Carlos Mendes Thame
• Acolhida integralmente. • Acolhida parcialmente. • Competência da União para legislar
sobre meios de comunicação.
05739-8 09634-2 • Acolhida parcialmente.
• Israel Pinheiro Filho • Waldeck Ornelas
• Legislação privativa da União. • Legislação da União e Supletiva 07586-8
• Acolhida em parte. dos Estados, Territórios, Distrito Federal • Fernando Henrique Cardoso
e Municípios sobre Meio Ambiente e • Sugestão contendo normas
06287-1 poluição. completas sobre a competência da União e
• Antônio Britto • Acolhida parcialmente. conflito de leis.
• Legislação privativa da União. • Acolhida parcialmente.
• Acolhida. 09430-7
• Benedicto Monteiro 00820-6
06722-9 • Competência Legislativa da União • Jorge Arbage
• Antônio Britto sobre ramos do Direito. • Organização da Polícia Federal pela
• Competência privativa sobre • Acolhida parcialmente. União.
estatística. • Acolhida parcialmente.
• Acolhida integralmente. 06041-1
• Arolde de Oliveira 02355-8
06717-2 • Competência da União para legislar • Paulo Zarzur
• Antônio Britto sobre serviço postal. • Competência para legislar sobre
• Competência da União sobre • Acolhida integralmente. vários ramos do Direito.
matérias diversas. • Acolhida integralmente.
• Acolhida. 06601-0
• Ilegível Rebouças 01710-8
06699-1 • Competência da União sobre • Jorge Arbage
• Antônio Britto planejamento e desenvolvimento nacional • Competência para legislar sobre
• Legislação privativa da União sobre e regional, com participação dos transportes, navegação e regime de portos.
sistema estatístico e cartográfico. Estados. • Acolhida.
• Acolhida integralmente. • Acolhida parcialmente.
00284-4
07252-4 • 06931-1 • Nilson Gibson
• Raimundo Lira • Oswaldo Almeida • Competência para legislar sobre
• Competência da União sobre • Organização de política aduaneira. Direito Administrativo.
diversas matérias. • Não acolhida. • Acolhida.
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 88

S/Nº 02696-4 08536-7

• Antônio Britto • Adhemar de Barros Filho • Márcio Braga
• Exploração dos serviços de • Suprime competência da União para • Competência da União para
Telecomunicações. legislar sobre remuneração de vereadores. legislar sobre Direito Notarial, Registral,
• Aprovada integralmente. • Não acolhida, porque não é Juntas Comerciais, etc.
• Antônio Britto matéria da competência da União. • Acolhida em parte.
• União legislar sobre
telecomunicação. 08630-4 07797-6
• Aprovada integralmente. • Fábio Feldmann. • Expedido Machado
• Competência da União e dos Estados • Competência da União e
03675-7 sobre fabricação e utilização de biocidas. competência comum.
• Humberto Lucena • Acolhida no mérito, na competência • Acolhida em parte.
• Competência para legislar sobre comum de proteção do Meio Ambiente.
emprego e salário. 07159-5
• Acolhida parcialmente. 07198-6 • José Ignácio Ferreira
• Antôniocarlos Konder Reis • Autorização da União para
03075-9 • Capítulo completo da competência serviços de canalização de gás natural.
• José Ignácio Ferreira comum da União, Estados e Municípios. • Acolhida quanto ao mérito.
• União legislar sobre custas e • Acolhida em parte.
serviços forenses. 01740-0
• Acolhida parcialmente. 05481-8 • Michel Temer
• Leopoldo Bessare • Prevê legislação da União sobre
03119-4 • Legislação privativa da União sistema de consórcio.
• José Ignácio Ferreira sobre ramos do direito, registros públicos e • Acolhida integralmente pelo
• União legislar sobre normas gerais serviços forenses. Relator no campo da legislação comum.
do Direito Financeiro. • Acolhida parcialmente.
• Acolhida parcialmente. S/Nº
06101-1 • Antônio Britto
03057-1 • Eraldo Tinoco • Veda a União competência para
• José Ignácio Ferreira • Propõe detalhamento de estabelecer isenção de tributos na exportação.
• União legislar privativamente sobre competências comuns em lei complementar. • Matéria de competência de outra
Direito Agrário. • Acolhida em parte. Comissão (Devolvida à Subcomissão pertinente).
• Não acolhida.
09970-9 S/Nº
01119-3 • José Richa • Antônio Britto
• Cesar Cals Neto • Propõe distribuição de competências • Proíbe a União e outros entes
• União estabelecer planos comuns à União, Estados e Municípios e fixa tributantes instituir os impostos que menciona.
nacionais sobre diversas matérias. competências privativas de cada um deles. • Matéria de competência de outra
• Acolhida parcialmente. • Acolhida parcialmente quanto ao Comissão (Devolvida à Subcomissão
mecanismo de competência comum e quanto competente).
02336-1 à competência da União.
• Odacir Soares 02753-7
• União legislar sobre Direito 05329-5 • Francisco Sales
Notarial, Registros Públicos, Custas e • Sérgio Spada • Proíbe a União de legislar sobre
outros. • Propõe monopólio da União sobre Organização Administrativa e Judiciária do
• Acolhida parcialmente. petróleo e gás natural. Distrito Federal e Territórios
• Acolhida no mérito quanto à • Não acolhida
02753-7 competência: não acolhida quanto ao monopólio,
• Francisco Sales pois este pertence à Ordem Econômica. S/Nº
• Veda à União legislar sobre a • José Lins
organização administrativa e judiciária do 01154-1 • Estabelece normas e delimitação de
Distrito Federal e Territórios. • Francisco Rollemberg competência entre União, Estados e Municípios
• Não acolhida. • Propõe competência concorrente e • Acolhida parcialmente
regras de sua delimitação.
02759-6 • Acolhida no mérito pelo 01240-8
• José Teixeira mecanismo da competência comum. • Nilson Gibson
• União estabelecer políticas gerais • Propõe que os pescadores
e setoriais de desenvolvimento econômico e 04795-3 artesanais ocupem terrenos da Marinha
social. • José Lins • Não acolhida
• Acolhida parcialmente. • Estabelece regras para delimitação
03990-0 de competências por lei complementar. 00738-2
• Teimo Kirst • Acolhida quanto ao mérito no • Nilson Gibson
• Legislar sobre serviços públicos. mecanismo da competência comum. • Propõe competências da União
• Acolhida. • Acolhida no mérito em parte
04556-0
03043-1 • Paulo Macarini 05563-8
• José Ignácio Ferreira • Competência Legislativa da União • Assis Canuto
• Legislar sobre energia, floresta, sobre propaganda comercial. • Prevê competência tributária da
caça e pesca, jazidas, etc... • Acolhida integralmente no âmbito União
• Acolhida parcialmente. da competência legislativa comum. • Matéria de outra Subcomissão

05245-1 04415-6 02915-7

• José Tavares • Humberto Lucena • Sadie Hauache
• Especificação da competência da • Veda Monopólio da União sobre • Propõe competência da União
Polícia Federal. registros públicos e serviços Forenses e estabelece e Estrutura Municipal para o Distrito
• Não acolhida, pois discrimina mandato para o exercício do tabelionato. Federal
competência de órgão federal. É matéria de lei. • Acolhida em parte. • Acolhida em parte quanto à União
89 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)

097594 a instituição e organização da defesa civil nas • Propõe regime condominial para a
• Bonifácio de Andrada calamidades públicas. plataforma continental
• Propõe normas definidoras das • Atendida no mecanismo da • Não acolhida a sugestão quanto ao
leis competência comum. regime proposto, mas acolhida no mérito pela
• Acolhida em parte no mérito garantia da participação dos Est ados no
S/Nº resultado da exploração econômica da
00189-9 • Felipe Mendes plataforma continental.
• Francisco Rollemberg • Dispõe sobre o aproveitamento
• Propõe órgão da União para cuidar econômico do Vale do rio Parnaíba S/Nº
das Emigrações, Imigrações e Endomigrações • Não acolhida. Matéria pertinente a • Jarbas Passarinho
• Acolhida no mérito quanto outra Subcomissão. • Exploração do subsolo pela
à emigração e imigração na competência União
federal; quanto à endomigração na competência SUGESTÕES DE NORMAS SOBRE • Acolhida parcialmente
comum INTERVENÇÃO FEDERAL
04273-1
00248-8 04024-0 • Ivo Mainardi
• Gerson Perez • Simão Sessim • Bens dos Estados, Distrito Federal e
• Propõe que ao Estado caiba o ônus • Limita a intervenção nos Territórios
do Registro Civil Municípios • Acolhida parcialmente
• Matéria de legislação • Não acolhida
Infraconstitucional cabendo seu exame a outra 08944-3
Subcomissão 03593-9 • Lúcio Alcântara
• Furtado Leite • Bens da União
06732-6 • Estabelece normas sobre • Acolhida parcialmente
• Fernando Gasparian Intervenção Federal
• Impede a prescrição contra os entes • Não acolhida 09427-7
federados nos casos em que forem autores ou • Benedicto Monteiro
réus 03102-0 • Bens da União
• Não acolhida na forma, Matéria • José lgnácio Ferreira • Acolhida integralmente
pertinente à legislação geral da União • Propõe condição para Intervenção
Federal 08638-0
08254-6 • Não acolhida na forma • Fábio Feldmann
• Borges da Silveira • Bens da União
• Propõe a manutenção dos serviços 05333-3 • Acolhida parcialmente
que menciona • Délio Braz
• Não acolhida na forma • Estabelece hipóteses de intervenção 08631-2
nos Estados • Fábio Feldmann
09929-5 • Acolhida integralmente no mérito e • Bens da União
• José Richa parcialmente na forma • Acolhida parcialmente
• Propõe a criação de um Conselho
Nacional de Planejamento no âmbito da União 06333-9 00174-1
• Não acolhida, pois se trata de • Vasco Alves • Cláudio Ávila da Silva
matéria pertencente a outra Subcomissão • Estabelece casos de Intervenção • Bens da União
Federal e Estadual • Acolhida
07399-7 • Não acolhida
• Fernando Cunha 04072-0
• Dispõe sobre a competência da 02046-0 • Nelson Wedekin
União para legislar sobre matérias diversas • Cid Sabóia de Carvalho • Bens da União
• Acolhida em parte • Estabelece hipótese de Intervenção • Acolhida
Federal
S/Nº • Não acolhida 00857-5
• Jofran Frejat • Roberto Freire e outros
• Fixa competência da União para 05486-1 • Bens da União
explorar diretamente os serviços de • Max Rosenmann • Acolhida parcialmente
telecomunicações ou ainda mediante autorização • Inclui flora e fauna silvestre
ou concessão, desde que ouvido o Congresso • Acolhida no mérito 01167-3
Nacional • Gonzaga Patriota
• Acolhida 05383-0 • Inalienabilidade de bens da
• José Ignácio Ferreira União
S/Nº • Terras devolutas para segurança e • Não acolhida
• Jofran Frejat desenvolvimento nacionais
• Competência da União para • Acolhida no mérito 3802
organizar e manter, no âmbito do Ministério da • Mauro Benevides
Fazenda, os serviços de guarda aduaneira. 08814-5 • Bens da União
• Não Acolhida • José Ignácio Ferreira • Acolhida
• Bens da União, Estados e
S/Nº Territórios 09795-1
• Jofran Frejat • Acolhida parcialmente no • Ismael Wanderley
• Competência da União para planejar, mérito • Estabelece inalienabilidade e
promover e integrar a defesa civil em todo o impenhorabilidade dos bens públicos, vedando
território nacional. 07749-6 seu uso gratuito
• Acolhida no mecanismo da • Geraldo Alckmin Filho • Não acolhida
competência comum • Enumeração de bens da União
• Acolhida parcialmente 07303-2
S/Nº • José Ignácio Ferreira
• Jofran Frejat 06168-9 • Estabelece bens da
• Competência da União para legislar sobre • José Ignácio Ferreira União, dos Estados, do
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 90

Distrito Federal e dos Territórios 03593-9 08743-2

• Acolhida em parte • Furtado Leite • Maurício Corrêa
• Dispõe sobre Intervenção nos • Autonomia judiciária do Distrito
03488-6 Estados e Municípios Federal
• Eraldo Trindade • Não acolhida • Não acolhida
• Inalienabilidade dos bens da
União, Estado e Município 03127-5 08682-7
• Não acolhida • José Ignácio Ferreira • Maurício Corrêa
• Estabelece que o Congresso • Assembléia Legislativa do Distrito
04699-0 Nacional aprovará previamente a Federal e Lei Orgânica
• Paulo Macarini Intervenção • Acolhida no mérito
• Exclui dos bens da União ilhas • Não acolhida
oceânicas em que se situam Capitais ou Estado 06729-6
e Terreno da Marinha em áreas já urbanizadas 07458-6 • Fernando Gasparian
• Acolhida em parte • Roberto Rollemberg • Nomeação do Governador do
• Intervenção Federal mediante Distrito Federal
07749-6 prévia aprovação do Congresso • Não acolhida
• Geraldo Alckmin Filho Nacional
• Bens da União • Acolhida parcialmente 05791-6
• Acolhida no mérito • Floriceno Paixão
SUGESTÕES DE NORMAS SOBRE • Data para Eleições de Governador
08967-2 DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS e Vice do Distrito Federal
• Nelton Friedrich • Acolhida no mérito
• Bens da União 07501-9
• Acolhida em parte • Jarbas Passarinho 04698-1
08650-9 • Nomeação do Governador do • Paulo Macarini
• Fábio Feldmann Distrito Federal e Territórios • Assembléia Legislativa para o
• Inclui os sítios arqueológicos e • Não acolhida Distrito Federal e Territórios
outros entre os bens da União • Acolhida no mérito
• Acolhida 02752-9
• Francisco Sales 09764-1
08025-0 • Eleição para Governador do • Bonifácio de Andrada
• Ronaldo Carvalho Distrito Federal e Territórios • Assembléia Distrital do Distrito
• Estabelece inalienabilidade e veda • Acolhida em parte Federal; Governador nomeado; Subdistritos
uso gratuito dos bens públicos do Distrito Federal; Conselhos de Intendência
• Não acolhida 02372-8 das cidades satélites
• Raquel Capiberibe • Acolhimento parcial quanto ao mérito
00857-5 • Eleição de Governador e Vice de
• Fernando Santana e outros Territórios 03088-1
• Considera bens da União e • Acolhida em parte • José Ignácio Ferreira
competências para proteção contra secas, • Nomeação do Governador de
inundações e sistema ecológico 00381-6 Território submetido ao Senado Federal
• Acolhida no mérito • Mauro Borges • Acolhida
• Nomeação de Governador do
SUGESTÕES DE NORMAS SOBRE Distrito Federal e eleição de 02752-9
COMPETÊNCIA DA UNIÃO Vereadores • Francisco Sales
• Não acolhida • Eleição para Governador do
05904-8 Distrito Federal e Territórios
• Osmar Leitão 00278-0 • Acolhida parcialmente no mérito
• Legislar sobre energia – plebiscito • Nilson Gibson
para instalação de usinas • Assembléia Legislativa do Distrito 01164-9
• Acolhida parcialmente Federal • Geovani Borges
• Acolhida no mérito • Estabelece que a União, os
01029-4 Estados, o Distrito Federal e os Territórios
• Victor Faccioni 00279-8 podem celebrar convênios
• Sugere hipóteses de Intervenção • Nilson Gibson • Acolhida em parte.
Federal • Eleição de Governador do Distrito
• Acolhida integralmente Federal 01155-0
• Acolhida no mérito • Geovani Borges
07615-5 • Estabelece autonomia legislativa
• Antônio Carlos Franco 01769-8 do Distrito Federal e Territórios.
• Estabelece hipóteses de • Roberto Jefferson • Acolhida parcialmente.
Intervenção Federal • Estrutura Municipal para o Distrito
• Acolhida parcialmente no mérito Federal 00172-4
• Não acolhida • Geovani Borges
02182-2 • Estabelece autonomia política,
• Jorge Leite 01460-5 legislativa, administrativa e financeira do
• Sugere casos de cabimento de • Aldo Arantes e outros Distrito Federal e Territórios.
Intervenção Federal • Cria o Estado de Brasília • Acolhida parcialmente.
• Acolhida parcialmente no mérito • Não acolhida
00247-0
05738-0 08744-1 • Francisco Carneiro
• Israel Pinheiro Filho • Maurício Corrêa • Estabelece autonomia política,
• Sugere hipóteses de Intervenção • Suplementação financeira da legislativa, administrativa e financeira do Distrito
Federal União para o Distrito Federal Federal, bem como normas para eleições gerais.
• Acolhida parcialmente no mérito • Acolhida no mérito • Acolhida parcialmente no mérito.
91 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)

00222-4 07243-5 00739-1

• Jofran Frejat • Fábio Raunheitti • Nivaldo Machado
• Propõe que se inclua na • Doa ao Rio de Janeiro terreno que • Redivisão territorial do Brasil.
Constituição eleição para Governador e menciona. • Acolhida no mérito.
Assembléia Legislativa do Distrito Federal. • Incompetência da Comissão.
• Acolhida integralmente no mérito. 04305-2
06566-8 • Francisco Sales
01305-6 • Fernando Cunha • Estabelece responsabilidade
• Ruben Figueiró • Dívida pública dos Estados e financeira da União em caráter provisório
• Propõe normas para eleição de Municípios assumidas pela União. durante o prazo de moratória.
Governador do Distrito Federal. • Não acolhida. • Não acolhida por tratar-se de
• Acolhida parcialmente no mérito. 07723-2 matéria de outra Comissão.
• José Moura 08950-8
00224-1 • Anexação de Fernando de • Bosco França
• Walmir Campelo Noronha a Pernambuco. • Propõe a redivisão territorial do
• Estabelece eleições gerais no • Não acolhida na forma proposta. Brasil.
Distrito Federal. • Acolhida no mérito.
• Acolhida no mérito. 04696-5
• Paulo Macarini 06584-6
SUGESTÕES DE NORMAS SOBRE • Transferência de Órgãos Federais • Antônio Brito
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS para o Distrito Federal. • Propõe nova demarcação de
• Não acolhida na forma proposta. fronteiras da Federação.
08751-3 • Acolhida no mérito.
• Maurício Corrêa 05279-5
• Primeira eleição para Governador, • Sérgio Spada 07911-1
Vice e Deputados Estaduais do Distrito • Incorpora regiões limítrofes ao • Furtado Leite
Federal a 15-11-88; seis anos para primeiro Distrito Federal. • Cria o Estado do Cariri.
mandato de Governador e dois anos para os • Não acolhida na forma proposta. • Rejeitada.
primeiros Deputados. Abrangida porém pelo princípio geral das
• Acolhida no mérito parcialmente. formas de divisão dos Estados. 00170-8
05415-1 • Geovani Borges
00264-0 • Asdrúbal Bentes • Estabelece data para eleição no
• Nilson Gibson • Propõe revogação do Decreto-Lei Distrito Federal e Territórios.
• Anexar Fernando de Noronha a nº 1.164/71 pela Constituição. • Acolhida em parte.
Pernambuco. • Não acolhida.
• Não acolhida na forma proposta. 08312-7
03854-7 • Marluce Pinto e Ottomar Pinto.
00030-2 • Nelson Carneiro • Propõem a transformação dos atuais
• Iram Saraiva • Propõe Comissão do Distrito Territórios de Roraima e Amapá em Estados.
• Criação do Estado de Tocantins. Federal com a composição que menciona. • Acolhida.
• Impertinência desta Subcomissão. • Acolhida no mérito.
Encaminho à competente. 02214-4
07235-4 • Mozarildo Cavalcanti
02616-6 • Francisco Pinto • Propõe anexar Fernando de
• José Camargo • Estabelece controle acionário da Noronha a Pernambuco.
• Incorpora áreas do território do União das Instituições de crédito e seguro. • Não acolhida na forma.
Distrito Federal. • Não acolhida por tratar de matéria
• Não acolhida na forma proposta, de competência de outra Subcomissão. 00424-3
abrangida porém pelo princípio geral das (Ordem Econômica). • Chagas Duarte
formas de divisão dos Estados. • Propõe normas de transformação
06634-6 de Roraima a Estado.
00974-1 • José Viana • Acolhida no mérito.
• José Carlos Vasconcelos • Proposta sobre transformação da 00425-1
• Reincorporar Fernando de Ilha de Marajó em Território Federal. • Chagas Duarte
Noronha a Pernambuco. • Não acolhida. • Prevê normas de transformação de
• Não acolhida na forma proposta. Roraima a Estado.
046914 • Acolhida no mérito.
00327-1 • Paulo Macarini
• Fábio Lucena • Estabelece que o Congresso 00562-2
• Superintendências Regionais. Nacional disporá sobre nova divisão territorial • Aníbal Barcellos
• Matéria de outra Comissão – do País, mediante lei complementar. • Propõe transformação de Roraima
encaminhada. • Acolhida no mérito. e Amapá a Estados e estabelece normas para
eleições gerais.
00497-9 01191-6 • Acolhida parcialmente no mérito.
• Mário Maia • Mário Maia
• Eleição para Governador e • Propõe redivisão territorial do 00252-6
Assembléia Legislativa do Distrito Federal a Brasil em 1988. • Mozarildo Cavalcanti
15 de novembro de 1988. • Acolhida no mérito. • Propõe a transformação em
• Acolhida. Estado dos Territórios do Amapá e Roraima.
02643-3 • Acolhida no mérito.
09590-8 • Onofre Corrêa Sr. Presidente, são estas as
• Bonifácio de Andrada • Propõe redivisão territorial do País. sugestões examinadas, uma a uma, como
• Processo de transformação dos • Acolhida no mérito. disse inicialmente, ainda que não com a
Territórios em Estado. atenção que seria aconselhável, em virtude
• Prejudicada em razão do 02229-2 da premência do tempo.
acolhimento de sugestões que desde já criam • Mauro Borges Passo a ler agora, Sr. Presidente, o
condições de transformação dos atuais • Redivisão territorial do Brasil. texto do meu anteprojeto, que resultou do
territórios. • Acolhida no mérito. exame de todas essas sugestões.
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
ANTEPROJETO
TÍTULO
Da Organização do Estado
CAPITULO I
Disposições Preliminares
Art. A – A República Federativa do
Brasil é constituída, sob regime representativo
de governo, de forma indissolúvel, da União
Federal, dos Estados e do Distrito Federal.
§ 1º Todo o poder emana do povo e
em seu nome é exercido.
§ 2º A União. Federal compreende os
Territórios.
§ 3º O Distrito Federal é a capital da
União Federal.
§ 4º São símbolos nacionais a
Bandeira, o Hino e as Armas da República,
adotados na data da promulgação desta
Constituição, e outros estabelecidos em lei; os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão ter símbolos próprios.
§ 5º É livre o uso de símbolos
nacionais pelo povo, na forma da lei.
§ 6º O Português é a língua nacional
do Brasil.
Art. B – São poderes da União
Federal o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário, harmônicos e coordenados entre si.
Parágrafo único. Salvo nos casos
previstos nesta Constituição, é vedado a
qualquer dos poderes delegar atribuições,
quem for investido na função de um deles não
poderá exercer a de outro.
Art. C – Incluem-se entre os bens da
União Federal:
I – a porção de terras devolutas
indispensável á defesa das fronteiras, às
fortificações e construções militares, bem
assim às vias de comunicação;
II – os lagos e quaisquer correntes
de água em terrenos de seu domínio,
ou que banhem mais de um Estado, sirvam
de limite com outros países ou se estendam
a território estrangeiro; as ilhas fluviais
e lacustres nas zonas limítrofes com
outros países; as ilhas oceânicas e as
marítimas excluídas as já ocupadas pelos
Estados na data da promulgação desta
Constituição;
III – o espaço aéreo;
IV – a plataforma continental;
V – o mar territorial e patrimonial;
VI – os recursos minerais do subsolo;
VII – as cavidades naturais
subterrâneas, assim como os sítios
arqueológicos, pré-históricos e os
espeleológicos do subsolo;
VIII – as terras ocupadas pelos índios,
que delas terão posse permanente e usufruto
exclusivo das riquezas naturais do solo;
IX – os bens que atualmente lhe
pertencem ou que vierem a ser atribuídos à
União Federal por meio de tratados
internacionais.
§ 1º É assegurada aos Estados e
Municípios litorâneos a participação no
resultado da exploração econômica da
plataforma continental e do mar territorial e
patrimonial, na forma prevista em lei
complementar.
§ 2º É assegurada aos Estados,
ao Distrito Federal e aos
Municípios, nos termos da lei com-
plementar, a participação no resultado da
exploração econômica dos recursos minerais
do subsolo, ressalvado o disposto no § 3º
deste artigo.
§ 3º A União Federal garantirá às
populações indígenas, na forma da lei, a
participação no resultado da exploração
econômica dos recursos minerais do subsolo
das terras por elas ocupadas.
§ 4º O mar territorial e patrimonial é
de duzentas milhas.
§ 5º A faixa interna de cem quilômetros
de largura, paralela à linha divisória terrestre do
território nacional, é considerada indispensável
à defesa das fronteiras e será designada como
Faixa de Fronteira.
Art D – Incluem-se entre os bens do
domínio dos Estados os lagos em terreno que
lhes pertence, assim como os rios que neles
têm nascente e foz; as ilhas fluviais e
lacustres; as ilhas oceânicas e as marítimas
por eles já ocupadas na data da promulgação
desta Constituição; e as terras devolutas não
compreendidas no domínio da União Federal.
Art. E – Os Estados podem incorporar-
se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se
para se anexarem a outros ou formarem novos
Estados, mediante deliberação das respectivas
Assembléias Legislativas, plebiscito das
populações diretamente interessadas e
aprovação do Congresso Nacional, na forma
regulada em lei complementar.
Art. E – A União e os Estados
observarão o resultado de consulta às
populações diretamente interessadas, por
sistema plebiscitário, para a construção de
aeroportos, hidrelétricas, pólos petroquímicos,
usinas nucleares, depósitos de material e lixo
atômico, ou quaisquer empreendimentos que
prejudiquem a qualidade de vida das
comunidades ou ofereçam riscos à vida
humana e ao equilíbrio ecológico.
Parágrafo único. O disposto neste
artigo obedecerá aos requisitos e condições
estabelecidos em lei complementar.
CAPÍTULO II
Da Competência Privativa da União Federal
Art F – Compete à União Federal:
I – manter relações com Estados
estrangeiros; celebrar tratados e convenções
sobre matéria de natureza internacional,
participar de organizações internacionais;
II – declarar a guerra e celebrar a paz;
III – organizar e manter as Forças
Armadas, a segurança das fronteiras e a
defesa externa;
IV – permitir, nos casos previstos em
lei complementar, que forças estrangeiras
aliadas transitem pelo território nacional ou
nele permaneçam temporariamente, sob o
comando de autoridades brasileiras, vedada á
concessão de bases militares;
V – decretar o estado de sítio e a
intervenção federal;
VI – autorizar e fiscalizar a produção e
o comércio de material bélico, de armas e
explosivos, vedada sua exportação por
empresa privada;
VII – organizar e manter a Polícia
Federal;
VIII – exercer a classificação de
diversões públicas;
IX – emitir moeda;
X– fiscalizar as operações de crédito,
de capitalização e de seguros;
92
XI – planejar e promover o
desenvolvimento nacional, ouvidos os
Estados e os órgãos regionais interessados;
XII – estabelecer os planos nacionais
de viação, transportes, habitação e
informática;
XIII – manter os serviços postais e o
correio Aéreo Nacional;
XIV – explorar, diretamente ou
mediante autorização ou concessão;
a) os serviços de telecomunicações;
b) os serviços e instalações de
energia elétrica de qualquer origem ou
natureza, exceto o aproveitamento de
energia hidráulica de potência reduzida e,
em qualquer caso, a captação de energia
solar;
c) a navegação aérea, aeroespacial e
a utilização da infra-estrutura aeroportuária;
d) as vias de transporte entre portos
marítimos e fluviais e fronteiras nacionais ou
que transponham os limites de Estado ou
Território;
e) os serviços e instalações de
energia nuclear de qualquer natureza;
XV – manter cooperação econômica,
administrativa, financeira e cultural com os
Estados e outras pessoas jurídicas de direito
público interno;
XVI – celebrar convênio e acordo para
execução de leis e serviços federais;
XVII – organizar e manter o Poder
Judiciário e o Ministério Público do Distrito
Federal e dos Territórios;
XVIII – organizar e manter os serviços
e as instituições oficiais de estatística,
geografia e cartografia;
XIX – conceder anistia;
XX – legislar sobre:
a) direito civil, comercial, penal,
processual, eleitoral, marítimo, aeronáutico,
espacial e do trabalho; normas gerais do
direito tributário;
b) organização e funcionamento dos
serviços federais;
c) desapropriação;
d) requisição de bens e serviços civis,
em caso de perigo iminente, e militares, em
tempo de guerra;
e) águas, telecomunicações,
informática, serviço postal, energia elétrica,
térmica, nuclear ou qualquer outra;
f) sistema monetário e de medidas,
título e garantia dos metais;
g) política de crédito, câmbio e
transferência de valores para fora do País,
comércio exterior e interestadual;
h) navegação marítima, fluvial e
lacustre; regime dos portos;
i) trânsito e tráfego interestadual e
rodovias federais;
j) jazidas, minas, outros recursos
minerais e metalurgia; potenciais de energia
hidráulica, bem assim o regime de seu
aproveitamento e exploração;
l) nacionalidade, cidadania e
naturalização;
m) população indígena;
n) emigração, imigração, entrada,
extradição e expulsão de estrangeiros;
o) condições de capacidade para o
exercício das profissões;
p) higiene e segurança do trabalho;
q) símbolos nacionais;
r) organização judiciária do
Ministério Público do Distrito Federal e dos
Territórios; organização administrativa dos
Territórios;
93 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
s) sistema estatístico e cartográfico
nacionais;
t) condições de exercício do direito de
reunião;
u) outras matérias necessárias ao
exercício da competência legislativa e dos
poderes que lhe são concedidos nesta
Constituição.
CAPÍTULO III
Da Competência comum da União Federal,
dos Estado, do Distrito Federal e dos
Municípios
Art. G – São da competência comum da
União Federal, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios as seguintes atribuições:
I – observar e fazer observar o
cumprimento da Constituição Federal, das leis e
zelar pelas instituições democráticas;
II – amparar e zelar pela guarda dos
documentos, obras e locais de valor histórico ou
artístico, monumentos e paisagens naturais
notáveis, assim como as jazidas arqueológicas e
outros bens culturais e naturais de valor histórico
e artístico;
III – impedir a evasão de obras de arte e
de outros bens culturais e naturais e de valor
histórico e artístico;
IV – promover o turismo e colaborar para
sua promoção;
V – proporcionar os meios de acesso à
cultura e à educação e promover a ciência e a
cultura;
VI – estabelecer, planejar e promover o
desenvolvimento regional, bem assim as
endomigrações;
VII – organizar e promover a defesa da
saúde pública;
VIII – estabelecer e executar planos de
abastecimento;
IX – organizar a defesa civil permanente,
em especial contra as calamidades públicas, as
secas e as inundações;
X – proteger o meio ambiente e
combater a poluição em qualquer de suas
formas;
XI – preservar as florestas, a fauna e a
flora;
XII – combater a miséria e os fatores de
marginalização social do homem, promovendo a
integração social dos setores desfavorecidos;
XIII – legislar sobre:
a) direito financeiro a orçamento;
b) direito agrário;
c) direito e procedimento administrativo;
d) direito do trânsito e do tráfego nas
vias terrestres locais e intermunicipais;
e) direito urbanístico;
f) direito econômico;
g) produção, consumo e sua
propaganda comercial;
h) proteção ao consumidor, inclusive
sistemas de consórcio e poupança;
i) florestas, caça, pesca, fauna e
conservação da natureza;
j ) proteção ao meio ambiente e controle
da poluição;
l) responsabilidade por danos ao meio
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de
valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico;
m) proteção do patrimônio histórico,
cultural, artístico e paisagístico;
n) educação, cultura, ensino, desportos
e turismo;
o) defesa e proteção da saúde;
p) regiões metropolitanas e de desenvolvimento;
q) endomigrações.
Art. G – A União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios poderão celebrar
convênios para execução de suas leis, serviços
ou decisões, por intermédio de funcionários
federais, estaduais, do Distrito Federal e
municipais.
Art. G – À União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios é dado;
I – criar distinções ou preferências em
favor de uma dessas pessoas de direito público
interno contra outras;
II – estabelecer cultos religiosos
ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o
exercício ou manter com eles ou seus
representantes relações de dependência ou
aliança, ressalvada a colaboração
de interesse público, na forma e nos
limites da Lei Federal, exclusivamente
no setor educacional, no assistencial e no
hospitalar;
III – recusar fé nos documentos públicos.
Art. H – Compete à União Federal e aos
Estados a legislação comum sobre:
I – regime penitenciário;
II – registros públicos e notariais; juntas
comerciais e tabelionatos; custas e emolumentos
remuneratórios dos serviços forenses;
III – criação, funcionamento e processo
do Juizado de Pequenas Causas;
IV – procedimentos judiciais;
V – direito judiciário, organização e
assistência judiciária; Ministério Público e
Defensoria Pública;
VI – efetivos e armamentos das Polícias
Militares e condições de sua convocação,
inclusive mobilização;
VII – seguridade e providência social.
Art. I – A legislação da União Federal, no Federal, de representação do Procurador-Geral
domínio das matérias da competência comum,
terá o conteúdo de normas gerais, com validade
e eficácia no âmbito nacional, e denominação da
lei complementar.
Art. J – A legislação dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, no domínio das
matérias da competência comum, terá o
conteúdo de normas suplementares, com
validade e eficácia no âmbito da respectiva
jurisdição territorial, e denominação de lei
suplementar.
§ 1º No exercício da legislação
suplementar, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios observarão a lei complementar de
normas gerais preexistente.
§ 2º A vigência ulterior da lei
complementar de normas gerais tomará ineficaz
a lei suplementar naquilo em que esta conflitar
com a da União Federal relativa a matéria da
competência comum.
CAPÍTUL O IV
Da Intervenção Federal
Art. L – A União Federal não cargos a eles voltarão, salvo impedimento legal.
intervirá nos Estados e no Distrito Federal, salvo
para:
I – manter a integridade nacional;
II – repelir invasão estrangeira ou a de
um Estado em outro;
III – pôr termo a grave perturbação da
ordem pública;
IV – garantir o livre exercício de qualquer
dos Poderes estaduais;
V – reorganizar as finanças do Estado
que:
a) suspender o pagamento de sua dívida financeira.
fundada por mais de dois anos consecutivos,
salvo por motivo de força maior; Governador do Distrito Federal far-se-á por sufrá-
b) deixar de entregar aos Municípios as
quotas que lhes forem devidas a título de
transferência de receitas públicas de qualquer
natureza ou de participação na renda tributária,
nos prazos previstos nesta Constituição ou em
lei;
VI – prover à execução de lei da União
Federal, ordem ou decisão judiciária;
VII – assegurar a observância dos
seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, democrática,
representativa e federativa;
b) respeito aos direitos humanos;
c) temporariedade dos mandatos
eletivos, cuja duração não excederá a dos
mandatos federais correspondentes;
d) harmonia e coordenação dos
Poderes;
e) garantias do Poder Judiciário e do
Ministério Público;
f) autonomia municipal;
g) prestação de contas da administração
pública direta e indireta;
Art. M – Compete ao Presidente da
República decretar a intervenção.
Parágrafo único. A decretação da
intervenção dependerá:
a) no caso do inciso IV do art. L, de
solicitação do Poder Legislativo ou do Poder
Executivo, coacto ou impedido, ou de requisição
do Supremo Tribunal Federal, se a coação for
exercida contra o Poder Judiciário;
b) no caso do inciso VI do art. L, quando
se tratar de execução de ordem ou decisão
judiciária, de requisição do Supremo Tribunal
Federal, ou do Tribunal Superior Eleitoral,
conforme a matéria;
c) do provimento, pelo Supremo Tribunal
da República, nos casos do inciso VI, primeira
parte, e nos do inciso VII, ambos do art. L;
d) nos casos dos incisos VI e VII do art.
L, o decreto do Presidente da República limitar-
se-á a suspender a execução do ato impugnado,
se essa medida bastar para o restabelecimento
da normalidade no Estado.
Art. N – O decreto de intervenção que
especificará a sua amplitude, prazo e condições
de execução e, se couber, nomeará o
interventor, será submetido, dentro de quarenta e
oito horas de sua publicação, ao Congresso
Nacional para aprovação ou rejeição.
§ 1º Se não estiver funcionando, o
Congresso Nacional será convocado,
extraordinariamente, dentro do mesmo prazo de
quarenta e oito horas, para apreciar o ato do
Presidente da República.
§ 2º Nos casos da alínea d do artigo
anterior, fica dispensada a apreciação do decreto
do Presidente da República pelo Congresso
Nacional, se a suspensão do ato tiver produzido
os seus efeitos.
§ 3º Cessados os motivos da
intervenção, as autoridades afastadas de seus
CAPÍTULO V
Do Distrito Federal e dos Territórios
SEÇÃO I
Do Distrito Federal
Art. O – O Distrito Federal é dotado de
autonomia política, legislativa, administrativa e
Art. P – A eleição do Governador e do Vice-
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
gio universal, voto direto e secreto, e os mandatos
coincidirão com os de Governador e Vice-
Governado de Estado.
Art. Q – Lei orgânica, votada pela
Assembléia Legislativa, disporá sobre a organização
dos Poderes Legislativo e Executivo do Distrito
Federal, observadas as normas e os princípios
estabelecidos nesta Constituição.
Parágrafo único. A lei a que se refere este
artigo poderá:
I – estabelecer descentralização
administrativa do Distrito Federal;
II – instituir nas administrações regionais
conselhos comunitários, nos quais admitirá a
participação popular, mediante representação.
Art. Q’ – A representação na Assembléia
Legislativa do Distrito Federal, exercida por
Deputados Distritais, obedecerá ao disposto nesta
Constituição e na legislação eleitoral.
Art. Q” – À representação do Distrito
Federal na Câmara Federal e no Senado da
República aplicar-se-á a legislação eleitoral naquilo
que dispuser para os Estados.
Art. R – Cabe ao Distrito Federal organiza
e manter os efetivos e armamentos de sua Polícia
Militar.
Parágrafo único. Aplica-se ao Distrito
Federal o disposto no item VI do art. H, desta
Constituição.
Art. S – A União Federal destinará ao
Distrito Federal os recursos financeiros necessários
ao desempenho de atividades de interesse comum,
ao exercício das atribuições inerentes à
competência prevista no art. G desta Constituição à
manutenção de efetivos e armamentos de sua
Polícia Militar e à superação, quando indispensável,
das insuficiências da economia local.
Art. S’ – São bens do Distrito Federal os
que lhe pertencem na data da promulgação desta
Constituição.
SEÇÃO II
Dos Territórios
Art. T – Lei federal disporá sobre a
organização administrativa e judiciária dos
Territórios, observadas as normas e os princípios
estabelecidos nesta Constituição.
Art. U – A função executiva no Território
será exercida por Governador, nomeado e
exonerado pelo Presidente da República, com
aprovação do nome pelo Senado Federal.
Art. V – Os Territórios são divididos em
Municípios, salvo quando não comportarem essa
divisão.
Parágrafo único. Os Prefeitos Municipais
serão eleitos por sufrágio universal, voto direto e
secreto.
Art. X – As contas do Governo do Território
serão submetidas ao Congresso Nacional, nos
termos, condições e prazos previstos nesta
Constituição.
Art. Y – A manutenção da ordem pública
nos Territórios caberá aos órgãos policiais
instituídos em lei especial.
Art. Z – Lei Complementar disporá sobre a
criação do Território, sua transformação em Estado,
sua reintegração ao Estado de origem ou qualquer
das formas previstas no art. E.
CAPÍTULO
Disposições Transitórias
Art. A – As primeiras eleições para
Governador, Vice-Governador e a Assembléia
Legislativa do Distrito Federal serã o realizadas no
dia 15 de novembro de 1988, tomando posse os
eleitos no dia 1º de janeiro de 1989.
Parágrafo único. Os mandatos dos eleitos
e empossados em conformidade com o disposto
neste artigo coincidirão com os dos atuais
Governadores e Vice-Governadores de Estado e
Deputados Estaduais.
94
Art. B – A primeira representação na O SR. CONSTITUINTE FELIPE
Assembléia Legislativa do Distrito Federal, MENDES: – Sr. Presidente, quero, inicialmente,
composta nos termos previstos na legislação associar-me ao protesto do eminente Relator em
eleitoral, votará a Lei Orgânica do Distrito virtude do não prolongamento do prazo para a
Federal, de acordo com o estabelecido nesta emissão do seu relatório, tendo em vista que foi
Constituição. prorrogado o prazo para a apresentação de
Parágrafo único. O Congresso sugestões. E a propósito disso, quero lavrar
Nacional incluirá em seu Regimento também o meu protesto com vistas a não
Comum a Comissão Mista Permanente do remessa, a esta Subcomissão, de algumas
Distrito Federal, integrada exclusivamente sugestões por mim elaboradas e que
pelos representantes deste na equivocadamente foram enviadas a outra
Câmara Federal e no Senado da Subcomissão pelo funcionário da Secretaria da
República, a quem caberá legislar Assembléia Nacional Constituinte. Tive
para o Distrito Federal enquanto não for oportunidade de constatar esse equívoco hoje,
instalada sua Assembléia Legislativa na data juntamente com o funcionário que, talvez, não
prevista no art. A destas disposições tivesse elementos para julgar em que
transitórias. Subcomissão classificaria aquela proposta,
Art. C – A União Federal destinará os embora, no meu caso, estivesse claro que a
recursos financeiros necessários à construção sugestão teria aquelas indicações no
da sede do Poder Legislativo do Distrito encaminhamento. Inclusive fiz na sugestão as
Federal. interseções que o assunto teria para as demais
Art. D – Os atuais Territórios de outras Subcomissões. Nesse caso seria difícil o
Roraima e Amapá serão transformados em funcionário equivocar-se.
Estados, nos termos de lei complementar Infelizmente, como falei, três das minhas
aprovada pelo Congresso Nacional, até sugestões foram encaminhadas para outra
noventa dias após a promulgação desta Subcomissão, da mesm a maneira como foram
Constituição. inúmeras sugestões sem pertinácia com os
§ 1º Os limites territoriais dos Estados temas de que cogitamos encaminhadas para
criados na forma deste artigo corresponderão esta Subcomissão, tanto que o Relator observou
aos dos atuais Territórios. ainda há pouco que aquela sugestão deveria ser
§ 2º A União Federal, pelo prazo que encaminhada para a Comissão afim.
a lei referida neste artigo estabelecer, Cabe-me, agora, de acordo com o
proverá os Estados assim criados dos Regimento, apresentá-la na forma de emenda,
recursos financeiros indispensáveis considerando que as outras Subcomissões não a
a sua instalação e manterá programa tenham acatado por não se tratar de matéria
especial para sua consolidação e seu concernente àquela Subcomissão. Então, eu
desenvolvimento. levaria novamente o caso ao nosso Relator. De
§ 3º Noventa dias após a qualquer maneira, aguardare i o relatório e,
transformação de que trata este quando surgir a ocasião farei nova apresentação
artigo, o Tribunal Superior Eleitoral fixará da sugestão, agora sob a forma de emenda.
data para a eleição do Governador O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
e Vice-Governador, Deputados Estaduais e de É inteiramente procedente o protesto de V. Ex.ª,
três Senadore s, cabendo ao menos porque pessoalmente, o Presidente da Mesa
votados destes, nos termos da desta Subcomissão tem, no mínimo, três
legislação eleitoral, exercer o restante do propostas sobre competência da União que não
mandato de quatro anos e os demais o de oito vieram sequer para esta Subcomissão.
anos. Por outro lado, a primeira proposta de
§ 4º O Governador, o Vice- eleições diretas para Governador e Assembléia
Governador e os Deputados Legislativa, feitas nesta Casa também por este
Estaduais terminarão seus mandatos Presidente, não vieram para esta Subcomissão,
com os dos demais eleitos a 15 de novembro mas as subseqüentes vieram. E, até por uma
de 1986. deferência especial da Secretaria da Mesa
§ 5º A representação dos Territórios incluímos a sugestão extraordinariamente e foi
na Câmara Federal não será alterada até o recebida pelo Relator.
término dos atuais mandatos. De forma que a Presidência da Mesa
Art. E – A União Federal destinará os também se associa ao protesto de V. Ex.ª. A
recursos financeiros necessários à construção única maneira que vemos agora é
das sedes do Poder Legislativo dos Estados apresentarmos essas sugestões na forma de
criados em decorrência do disposto no artigo emendas à proposta de anteprojeto do
anterior. Excelentíssimo Sr. Relator, como também
Art. F – No prazo de dois anos, teremos ainda a possibilidade de fazê-lo no
contados da promulgação desta Constituição, Plenário da comissão. Será uma segunda
o Congresso Nacional aprovará nova divisão possibilidade que teremos, além do plenário,
territorial do País, segundo o disposto em lei definitivamente apresentarmos essas propostas.
complementar. Também associo-me à preocupação e ao
Esse, Sr. Presidente, é o anteprojeto protesto de V. Ex.ª.
que ofereço, evidentemente, como Algum outro Constituinte gostaria de
texto inicial, para que seja discutido fazer uso da palavra?
nesta Subcomissão. Procurei acolher, na Com a palavra o Sr. Constituinte Anníbal
medida do possível, todas as Barcellos.
propostas apresentadas. Como disse O SR. CONSTITUINTE ANNÍBAL
inicialmente, levei em consideração BARCELLOS: – Minha palavra é muito
o texto oferecido pelo anteprojeto da simples Sr. Presidente. O protesto do
Comissão Provisória de Estudos Relator é perfeitamente válido. Quero
Constitucionais. congratular-me com S. Ex.ª pelo trabalho que fez
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): – um trabalho de chinês, digamos assim
– Agradeço a V. Ex.ª a exposição feita, conseguindo levar avante toda a etapa fixada
tanto do relatório como do anteprojeto, pelo nosso Presidente. Parabéns ao nosso
trabalho esse que será distribuído em Relator.
avulsos até o dia 14. Entre os dias 14 e 19 O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
iniciaremos a discussão da proposta do Ex.º Agradeço a V. Ex.ª.
Relator. Não havendo mais Constituintes que
A palavra está franqueada aos Srs. queiram manifestar-se dou por encerrada esta
Constituintes. sessão, convocando-os para a próxima reunião
Com a palavra o Sr. Felipe Mendes. dia 14 às 10 horas.
95 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)

COMISSÃO DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO – Anexo da Ata de 28-5-87

Correspondência Recebida
SUMÁRIO

Data Origem/Ofício nº Assunto Destino

27-5 Presidente da ANC – Of. CGC nº 658/87 Subsídios para Constituição – Presidente

27-5 Presidente da ANC – Of. CGC nº 729/87 Subsídios para Constituição – Presidente

27-5 Presidente da ANC – Of. CGC nº 733/87 Subsídios para Constituição – Presidente

27-5 Presidente da ANC – Of. CGC nº 735/87 Subsídios para Constituição – Presidente

27-5 Presidente da ANC – Of. CGC nº 740/87 Subsídios para Constituição – Presidente

27-5 Presidente da ANC – Of. CGC nº 668/87 Subsídios para Constituição – Presidente

27-5 Presidente da ANC – Of. CGC nº 692/87 Subsídios para Constituição – Presidente

27-5 Presidente da ANC – Of. CGC nº 701/87 Subsídios para Constituição – Presidente

27-5 Presidente da ANC – Of. CGC nº 742/87 Subsídios para Constituição – Presidente

27-5 Presidente da ANC – Of. CGC nº 744/87 Subsídios para Constituição – Presidente

27-5 Presidente da ANC – Of. CGC nº 751/87 Subsídios para Constituição – Presidente

27-5 Presidente da ANC – Of. CGC nº 746/87 Subsídios para Constituição – Presidente

27-5 Presidente da ANC – Of. CGC nº 759/87 Subsídios para Constituição – Presidente

27-5 Presidente da ANC – Of. CGC nº 763/87 Subsídios para Constituição – Presidente

27-5 Presidente da Subcomissão da União DF e Redação final do anteprojeto – Presidente

Territórios – Of. SGC nº 331/87

27-5 Presidente da Subcomissão dos Estados – Of. nº Redação final do anteprojeto – Presidente
108/87

COMISSÃO DA ORGANIZAÇÃO os trabalhos e passou à leitura da Ata da encerrados os trabalhos, às onze horas e
DO ESTADO reunião anterior, que foi aprovada por sete minutos, convocando os Senhores
unanimidade. A seguir, deu-se início ao Constituintes para a próxima reunião a ser
Expediente que constou da seguinte leitura: realizada dia quinze de maio, às quatorze
Correspondências recebidas: 1) Of. nº horas e trinta minutos, para continuação do
212/87, de 13-05-87, do Presidente da ANC, debate de Matéria Constitucional. E, para
SUBCOMISSÃO DA UNIÃO, DISTRITO interpretando o § 1º do art. 17 do Regimento constar, eu Antônio Fernando Borges
FEDERAL E TERRITÓRIOS Interno; 2) Carta da Sr.ª Elizabeth Sussekind, Manzan, Secretário, lavrei a presente Ata
coordenadora do Centro Pró-Memória da que, depois de lida e aprovada será
Constituinte, enviando subsídios; 3) Telex do assinada pelo Senhor Presidente. –
Senador Mauro Borges, acusando Constituinte Jofran Frejat, Presidente.
recebimento de cópia do quadro de O SR. PRESIDENTE (Jofran
14ª Reunião Ordinária, realizada em 14 audiências realizadas nesta Subcomissão; 4) Frejat): – A lista de presença registra a
de junho de 1987 Of. PSC – Circ. 064/87, de 07-05-87 do presença de dez Srs. Constituintes.
Primeiro-Secretário Marcelo Cordeiro, Havendo número regimental, declaro
designa assessores para a Subcomissão. 5) abertos os trabalhos desta Subcomissão.
Carta do Sr. José Alves Cardoso, Presidente (Leitura da ata da reunião anterior.)
Aos quatorze dias do mês de do Sindicato do Comércio Varejista de (Leitura do Expediente.)
maio do ano de mil novecentos e Feirantes de Brasília-DF, congratulando-se O SR. PRESIDENTE (Jofran
oitenta e sete, às dez horas e pela instalação e eleição da Mesa desta Frejat): – Quero, inicialmente, congratular-
dezoito minutos, na Sala “B1” – Subcomissão. Findo o Expediente, o Senhor me tanto com os membros desta
Anexo II da Câmara dos Deputados, Presidente anunciou os trabalhos do dia, Subcomissão como, em particular, com o
reuniu-se a Subcomissão da União, consultando o Plenário sobre a melhor forma Sr. Relator e os membros da Assessoria,
Distrito Federal e Territórios, de discussão do anteprojeto, e lendo os pelo trabalho que foi feito, tanto no mérito,
sob a presidência do Senhor artigos do Regimento Interno da ANC com relação ao anteprojeto, como pelo
Constituinte Jofran Frejat, com a referentes a discussão e votação do trabalho de assessoria desenvolvido.
presença dos seguintes Constituintes: anteprojeto. A seguir, discursaram os Srs. Sabemos da dificuldade que foi receber
Rubem Figueiró, Sigmaringa Constituintes Francisco Carneiro e Rubem todas essas propostas e, em prazo exíguo,
Seixas, Annibal Barcellos, Chagas Figueiró. O inteiro teor dos trabalhos será fazer a composição dos avulsos que estão
Duarte, Felipe Mendes, Francisco publicado, após a tradução das notas hoje sendo distribuídos aos Srs.
Carneiro, Geovani Borge, Paes de taquigráficas e o competente registro Constituintes.
Andrade, Roberto Rollemberg, Vilson datilográfico, no Diário da Assembléia O Sr. Relator Sigmaringa
Souza. Havendo número regimental, o Nacional Constituinte. Nada mais havendo Seixas está de parabéns, com
Senhor Presidente declarou iniciados a tratar, o Senhor Presidente deu por sua equipe, pelo trabalho que desen-
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
volveram e que honra esta Subcomissão,
porque realizado dentro do prazo e das
normas. O Sr. Relator é, portanto, merecedor
do nosso respeito, por estar contribuindo para o
sucesso da Subcomissão. Esse período, a
partir da distribuição dos avulsos, hoje, até o
dia 19, é destinado pelo Regimento à
discussão do anteprojeto e apresentação das
emendas. Como V. Ex.as acabaram de ouvir, o
Presidente Ulysses Guimarães mandou-nos
uma correspondência, abrindo um espaço para
que todos os Constituintes possam apresentar
emendas, mesmo em Comissões, que não
sejam as suas. Isso vai aumentar
consideravelmente o trabalho desta
Subcomissão, tanto da Assessoria como do
Relator e, naturalmente, do Presidente. De
forma que vamos ter que pautar as reuniões da
nossa Subcomissão a partir do número de
emendas apresentadas e, naturalmente, da
discussão dos diversos itens.
Observamos o trabalho de algumas
Comissões e verificamos que o anteprojeto
está, praticamente, sendo discutido de maneira
informal, não havendo uma ordenação de
artigo por artigo. Gostaria de consultar o
Plenário sobre se vale a pena trabalharmos,
discutindo cada um dos artigos, em seqüência,
e eliminando-os à medida que formos
ultrapassando, ou se deixamos o assunto em
aberto, para qualquer Constituinte discutir
sobre assunto que seja do seu interesse. Essa
a indagação inicial que trago a Plenário:
devemos discutir item por item ou franqueamos
o uso da palavra?
Além disso, quero lembrar aos
Senhores Constituintes alguns aspectos que
me parecem importantes, para que possamos
ordenar os trabalhos. Recebido o anteprojeto,
teremos prazo até o dia 19 para discuti-lo e
apresentarmos emendas. O Relator terá o
prazo do dia 19 até o dia 22 para analisar todas
as emendas e apresentar o Substitutivo, ou a
sua proposição final, para ser votada entre os
dias 22 a 25, porque no dia 25, seguramente, à
tarde, estaremos enviando o nosso anteprojeto
à Comissão.
Encerrada a discussão, as emendas
deverão ser apresentadas por escrito, em
formulário próprio, e acompanhadas de
justificativa. V. Ex.as terão à disposição, na
Assessoria da Subcomissão, um bloco próprio
para apresentação de emendas. A medida visa
facilitar o trabalho, porque estamos tentando
ordenar as emendas dentro de uma
enumeração específica. As emendas rejeitadas
serão arquivadas, podendo, no entanto, ser
reapresentadas em fase oportuna. É uma
questão de lembrar o que vai acontecer,
porque, quando lemos o Regimento, passamos
por diversos assuntos que não nos interessam.
Fica vedada a apresentação de
emenda que substitua integralmente o
anteprojeto ou que diga respeito a mais de um
dispositivo. As deliberações sobre matéria
constitucional exigirão maioria absoluta de
votos.
Temos nesta Subcomissão dezoito
Constituintes. Deveríamos ter 21 membros,
mas alguns partidos não apresentaram
titulares para a nossa Subcomissão. O número
de Constituintes sendo dezoito, precisamos de
dez votos a favor de qualquer matéria para que
ela seja aprovada. O Presidente votará em
todas as deliberações, tendo ainda o
voto de desempate. Este é o único
privilégio que o Presidente tem. O voto
será pela aprovação, com restrições
ou vencido, quando for pela rejei-
96
ção. Cada membro da Subcomissão poderá isso, já temos uma idéia do processo de
apresentar, no momento da votação, a funcionamento da Subcomissão.
justificação escrita do seu voto. Não serão Naturalmente, não vou ficar falando
concedidos pedidos de vista. sobre questões de ordem, que todos os
Senhores conhecem, mas há a questão de
Da Discussão ordem e outra questão de ordem para
contraditar a questão de ordem inicial. Com
Art. 14. Durante a discussão do esses dados, vamos começar o nosso
anteprojeto o Relator usará da palavra pelo processo de trabalho. Hoje, teremos a
prazo de trinta minutos. apresentação de alguns dados do anteprojeto.
Art. 15. Ao membro da Subcomissão O Relator terá trinta minutos para falar sobre
será concedida a palavra, durante a o que achar conveniente, podendo usá-los ou
discussão, pelo prazo de 15 minutos e ao não. Os Senhores Constituintes, por favor,
Constituinte, não pertencente à Subcomissão, apresentem as suas proposições para o bom
pelo prazo de 5 minutos, improrrogáveis. andamento dos trabalhos, inclusive, para as
Parágrafo Único. Serão admitidos discussões, daqui para frente. Com a palavra
apartes, desde que concedidos pelo o Sr. Relator. Não sei se V. Ex.ª quer ler
Constituinte que estiver com a palavra e por alguma coisa do anteprojeto.
prazo não superior a 2 (dois) minutos, O SR. RELATOR (Sigmaringa
deduzidos do tempo do orador. Seixas): – Não, nobre Presidente, basta ler o
Art. 16. Ao final da discussão serão relatório.
concedidos mais 30 (trinta) minutos ao Tenho a impressão de que é a
Relator, para considerações finais, sem primeira vez que todos, ou quase todos os
apartes. membros da Subcomissão estão conhecendo
Vou colocar em votação, mas é bom o relatório. Acho que leria o relatório, o que
lembrarmos como será isso. pode ser enfadonho, porque é um pouco
Art. 17. A votação do anteprojeto far- longo, ou discutiríamos o trabalho, sem um
se-á em globo, ressalvadas as emendas e os critério mais objetivo. E, ainda, dentro da
destaques concedidos. proposição do próprio Relator, e por sugestão
Art. 18. As emendas serão votadas do nobre Constituinte Ruben Figueiró, a partir
em globo, conforme tenham parecer favorável de um exame mais acurado do relatório de
ou contrário, ressalvados os destaques cada um dos membros desta Subcomissão,
concedidos. poderíamos voltar a nos reunir para discutir os
Art. 19. No encaminhamento da pontos que pareçam essenciais a cada um
votação poderão usar da palavra, por 3 (três) dos membros desta Subcomissão. Acho que
minutos, um membro a favor e outro contra. a Subcomissão poderia decidir,
Art. 20. Verificada a inexistência de preliminarmente, sobre isto, Sr. Presidente.
quorum para votação, o Presidente poderá O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
suspender a reunião pelo tempo necessário à – Agradeço a V. Ex.ª as ponderações.
sua complementação. Gostaria de ouvir a opinião dos Srs.
Art. 21. Concluída a votação, será Constituintes a respeito da discussão: se
elaborada a redação final do anteprojeto, com vamos encaminhar, item por item, ou se
as emendas ou alterações de correntes de vamos deixar a palavra em aberto, para a
seu resultado. discussão.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
Dos Destaques CARNEIRO: – Sr. Presidente, peço a palavra.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
Art. 22. Admitir-se-á requerimento de – Com a palavra o nobre Constituinte
destaque, para votação, em separado, de Francisco Carneiro. Peço a V. Ex.ª que fale no
partes do anteprojeto ou de emenda do grupo microfone, para que fique registrada nos
a que pertencer, devendo o requerimento ser Anais a sua colaboração.
apresentado por escrito, até o início da O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
reunião em que se der o processo de votação CARNEIRO: – Sr. Presidente, com relação às
respectivo. proposições feitas à Mesa: Primeiro, se
Parágrafo único. Os destaques serão devemos analisar, questão por questão, ou se
votados um a um, pelo processo nominal. podemos deixar o assunto em aberto? Sou
Não há votação simbólica. As favorável a que deixe em aberto, porque
matérias constitucionais somente serão isso poderá tolher alguém que queira falar
votadas pelo processo nominal. O processo sobre qualquer assunto. Por isso, sou
nominal será feito pela chamada dos favorável a que deixe a questão em
Constituintes, utilizando-se a listagem aberto. Encerrada a discussão, o texto será
especial de votação elaborada em ordem montado.
alfabética. Na medida em que se sucederem Segundo, quanto à proposição do
os votos, o resultado parcial da votação será Relator, após a explicação dada por S. Ex.ª,
anunciado, vedada a modificação do voto creio que só podemos começar a nos
depois de colhido o de outro Constituinte. pronunciar sobre esse relatório depois de uma
Terminada a chamada, antes de encerrar o análise mais perfeita. Eu pediria que nos
processo de votação, os Constituintes que fossem dadas algumas horas – ou até
não votaram poderão fazê-lo, dirigindo-se ao amanhã – para fazermos uma análise e trazer
microfone de apartes, declinando seu nome o assunto já discutido e avaliado. Eram essas
parlamentar e o voto. as observações que queria fazer. Muito
Questão de Ordem. Verificamos que obrigado.
muitas questões de ordem são, na verdade, O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
questões e não ordem. Constituirá questão de – Agradeço a V. Ex.ª o aparte. Lembro a V.
ordem, suscitada em qualquer fase da Ex.ª que, se não formos eliminando artigo por
reunião, pelo prazo de três minutos, toda artigo, seguramente, vamos voltar a cada
dúvida sobre a interpretação dessas normas artigo várias vezes.
ou do Regimento Interno da Assembléia O SR. CONSTITUINTE RUBEN
Nacional Constituinte. Acho que, com FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, peço a palavra.
97 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
O SR. PRESIDENTE (Jofran
Frejat): – Com a palavra V. Ex.ª.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, penso que
na fase de discussão, seria interessante
que a fizéssemos por capítulo. São seis
capítulos. Teremos do dia 19 até parte do
dia 25, tempo suficiente para apreciar
todos. A Agradeço a V. Ex.as pela presença.
Mesa poderia, perfeitamente, disciplinar, se
o Plenário concordar, as discussões a partir
de segunda-feira. Proponho que na
segunda-feira, discutamos o primeiro e o
segundo capítulos; terça, quarta, os
seguintes, até concluirmos porque, desta
forma, haveria
uma racionalização do nosso trabalho. É a
sugestão que deixo à consideração de V.
Ex.ª.
O SR. PRESIDENTE (Jofran
Frejat): – No mérito, a proposição de V.
Ex.ª é perfeitamente pertinente. Com
relação ao prazo, sabe V. Ex.ª que no dia
19 encerra-se a discussão. Então, temos de
hoje até o dia 19 para a discussão e
apresentação de emendas. Se deixarmos
para segunda-feira, teremos apenas um dia
para discutir e apresentar emendas.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, nesta
hipótese que consta do Regimento,
iniciaríamos as discussões a partir de
amanhã. Hoje, teríamos tempo para a
análise do trabalho do Sr. Relator e, a partir
de amanhã, na hora em
que V. Ex.ª determinasse, iniciaríamos sua
análise, capítulo por capítulo, até segunda-
feira.
O SR. PRESIDENTE (Jofran
Frejat): – Algum Constituinte quer fazer
uso da palavra? Estão todos de acordo?
Nada mais havendo a tratar, suspendo a
sessão, para que haja tempo para que
os Senhores Constituintes analisem o
anteprojeto. Marco uma reunião para
amanhã, no mesmo horário às 9h50min, a
discussão.
(Intervenção fora do microfone –
inaudível)
O SR. PRESIDENTE (Jofran
Frejat): – Independentemente disso, a
partir de hoje aqueles que já tiverem
lido o relatório e tenham propostas a
apresentar podem fazê-lo a partir de
hoje.
(Intervenção fora do microfone –
inaudível)
O SR. PRESIDENTE (Jofran
Frejat): – Como estamos na expectativa
da apresentação de inúmeras emendas
pelos Srs. Constituintes que não pertencem
a esta Subcomissão, rogamos a V. Ex.as
que apresentem as suas emendas o mais
rapidamente possível, para que elas
possam ser analisadas com maior cuidado
pelo Sr. Relator. A palavra está franqueada
aos Srs. Constituintes.
Não havendo quem queria fazer uso
da palavra, damos por encerrada esta
sessão, convocando uma reunião amanhã,
às 9h e 30min., para o início da discussão
do relatório e do anteprojeto.
Acolhemos a proposta intermediária
do nobre Constituinte Ruben Figueiró, no
sentido de examinarmos artigo por artigo. Mas
sugerimos que o exame seja feito por capítulo
de cada uma das proposições. Assim que
encerrarmos o capítulo, aquele assunto será
considerado vencido na discussão, e estará
resolvido o problema pra nós.
COMISSÃO DA ORGANIZAÇÃO DO
ESTADO
Subcomissão da União,
Distrito Federal
e Territórios
ATA DA 15º REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA,
REALIZADA EM 15-5-87
Aos quinze dias do mês de maio do
ano de mil novecentos e oitenta e sete, às
quinze horas e dezoito minutos, na Sala "B" –
Anexo II da Câmara dos Deputados, reuniu-se
a Subcomissão da União, Distrito Federal e
Territórios, sob a presidência do Senhor
Constituinte Jofran Frejat, com a presença
dos seguintes Constituintes: Ruben Figueiró,
Sigmaringa Seixas, Annibal Barcellos, Chagas
Duarte, Felipe Mendes, Francisco Carneiro,
Geovani Borges, Roberto Rollemberg, Vilson
Souza, José Carlos Vasconcellos e Waldeck
Ornelas. Havendo número regimental, o
Senhor Presidente declarou iniciados os
trabalhos e passou à leitura da Ata da reunião
anterior, que foi aprovada por unanimidade.
A seguir, deu-se início ao Expediente que
constou da seguinte leitura: Correspondências
recebidas: 1) Of. nº 32/87, de 12-5-87, do
Presidente da Subcomissão dos Municípios
e Regiões, encaminhando quando da
audiências públicas. 2) Of. nº 55/87, de
8-5-87, do Presidente da Subcomissão dos
Estados, encaminhando quadro de audiências
públicas. 3) Of. nº G/25/POIN-100, de 11-5-
87, do Ministério das Relações Exteriores,
agradecendo a comunicação de instalação da
Comissão e formulando votos de pleno êxito
no desenvolvimento dos trabalhos; 4) Carta
da Srª Maria Delith Balaban, Chefe de
Gabinete do Constituinte Fernando Henrique
Cardoso, convidando os servidores deste
órgão a participarem do "Seminário
Internacional sobre Constitucionalismo e
Democracia: Instituições Políticas para o
Século XXI"; 5) Of. nº 43/87, de 29-4-87,
do Sr. José Ribeiro Leitão, Presidente da
Associação dos Magistrados no DF e
Territórios, agradecendo a oportunidade
concedida para expor, em audiência pública,
a proposta desta Associação, bem como
remeter cópia do roteiro de propostas; 6)
Carta do Sr. Licínio Marcelo Seabra,
Presidente da Nuclebrás, encaminhando
subsídios; 7) Cópia do trabalho "Uma
Constituição Democrática para o Povo
Brasileiro", do Senador Meira Filho; 8) Telex
nº NR 2023, do Deputado Estadual Raul
Lopes, solicitando remessa de cópia do
Relatório desta Subcomissão. Emendas
recebidas na Subcomissão, no dia 14-5-87: a)
Emenda nº 1, do Constituinte Cunha Bueno;
b) Emenda nº 2, do Constituinte
Waldeck Ornelas. Emendas recebidas na
Subcomissão, no dia 15-5-87: a) Emenda nº
3, do Deputado Fausto Rocha; b) Emenda nº
4 do Deputado Chagas Duarte; c) Emenda nº
5, do Deputado Chagas Duarte; d) Emenda nº
6 do Deputado Chagas Duarte; e) Emenda
nº 7, do Deputado Ruben Figueiró; f)
Emenda nº 8, do Deputado Ruben Figueiró.
Correspondências expedidas: 1) Of. nº
287/87/PRES – dirigido ao Presidente da
ANC, devolvendo sugestão; 2) Of. nº
288/87/PRES – Enviado ao Presidente da
Comissão de Sistematização cópias das
notas taquigráficas das reuniões nos 2, 3 e 4
desta Subcomissão; 3) Of. nº 289/87/PRES –
ao Presidente da Comissão de Organização
do Estado, encaminhando cópias das notas
taquigráficas das reuniões nos 2, 3 e 4 desta
Subcomissão; 4) Of. nº 290/87/PRES – ao
Líder do PMDB da ANC, encaminhando
cópias das notas taquigráficas das reuniões
nos 2, 3 e 4 desta Subcomissão; 5) Of. nº
291/87/PRES – ao Presidente da Comissão
da Organização do Estado, encaminhando
cópias de sugestões recebidas nesta
Subcomissão através da Mesa da ANC; 6)
Of. nº 292/87/PRES – ao Dr. José Octacílio
de Saboya Ribeiro, agradecendo o
recebimento da Publicação "Planificação e
Desenvolvimento"; 7) Of. nº 293/87/PRES –
ao Líder do PMDB na ANC, encaminhando
cópia das notas taquigráficas da 6ª
Reunião desta Subcomissão; 8) Of. nº
294/87/PRES – ao Presidente da Comissão
de Sistematização, encaminhando notas
taquigráficas da 6ª Reunião desta
Subcomissão; 9) Of. nº 295/87/PRES –
ao Presidente da Comissão da Organização
do Estado, encaminhando cópia das notas
taquigráficas da 6ª Reunião desta
Subcomissão; 10) Of. 296/87/PRES – ao
Presidente da Comissão da Organização do
Estado, encaminhando cópias das sugestões
recebidas nesta Subcomissão através da
Mesa da ANC; 11) Of. nº 297/87/PRES – ao
Presidente da Comissão da Organização do
Estado, encaminhando cópias das notas
taquigráficas das Reuniões nos 5 e 8 desta
Subcomissão: 12) Of. nº 298/87/PRES – ao
Presidente da Comissão de Sistematização,
encaminhando cópias das notas taquigráficas
das Reuniões 5 e 8 desta Subcomissão; 13)
Of. nº 299/87/PRES – ao Líder do PMDB
na ANC, remetendo cópias das notas
taquigráficas das Reuniões nos 5 e 8 desta
Subcomissão; 14) Of. nº 300/87/PRES – ao
Dr. José Carlos Mello, Secretário de Governo
do DF, encaminhando cópias das notas
taquigráficas da Reunião de 27-4-87; 15)
Of. nº 301/87/PRES – ao Dr. Fernando
Tupinambá Valente, Conselheiro do Tribunal
de Contas do DF, encaminhando cópia das
notas taquigráficas da Reunião de 27-4-87;
16) Of. nº 302/87/PRES – ao Dr. José Ribeiro
Leitão, Presidente da Associação dos
Magistrados do DF, encaminhando cópia das
notas taquigráficas da Reunião de 27-4-87;
17) Of. nº 303/87/PRES – ao Dr. Carlos
Alberto Müller Torres, do Comitê Pró-Diretas,
encaminhando cópia das notas taquigráficas
da Reunião de 27-4-87; 18) Of. nº
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
304/87/PRES – ao Dr. Roberto Pinheiro Klein,
Secretário de Defesa Civil, encaminhando
cópia das notas taquigráficas da Reunião de
30-4-87. Findo o Expediente, o Senhor
Presidente anunciou os trabalhos do dia,
dando início à discussão do Anteprojeto.
Discussaram os Srs. Constituintes Ruben
Figueiró, Sigmaringa Seixas, Annibal
Barcellos, Roberto Rollemberg, Chagas
Duarte, Francisco Carneiro, Felipe Mendes e
Waldeck Ornellas. O inteiro teor dos trabalhos
será publicado, após a tradução das notas
taquigráficas e o competente registro
datilográfico, no Diário da Assembléia
Nacional Constituinte. Nada mais havendo a
tratar, o Senhor Presidente deu por
encerrados os trabalhos, às dezessete horas
e dois minutos, convocando os Senhores
Constituintes para a próxima reunião a ser
realizada no dia dezoito de maio, às
dezessete horas, para continuação do debate
de matéria constitucional. E, para constar, eu,
Antônio Fernando Borges Manzan, Secretário,
lavrei a presente Ata que, depois de lida e
aprovada, será assinada pelo Senhor
Presidente. – Constituinte Jofran Frejat,
Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Havendo número regimental, e sob
a proteção de Deus, declaro abertos
os trabalhos desta Comissão. O Sr.
Secretário procederá à leitura da Ata da
Sessão anterior.
(É lida e aprovada a Ata da reunião
anterior)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– O Sr. Secretário procederá à leitura do
expediente.
(Leitura do Expediente)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Comunico aos Srs. Constituintes que a
Subcomissão manterá um plantão
administrativo aos sábados e domingos
seguintes, com o objetivo do recebimento de
emendas que porventura os Srs. Constituintes
tenham a apresentar. Mas rogo que não
deixem de apresentá-las até o próximo dia 19,
que é o último dia, para que possamos facilitar
o trabalho do Relator e, assim, apresentar,
dentro da data fatal do nosso espaço de
tempo, o nosso anteprojeto pronto.
Conforme decisão, ontem, deste
Plenário, ficamos de discutir o anteprojeto por
capítulo, de acordo com a proposição do
nobre Constituinte Ruben Figueiró. Nesse
sentido, vamos iniciar com o Capítulo I, que
versa sobre a Organização do Estado e suas
disposições preliminares.
Está franqueada a palavra
aos Srs. Constituintes. Com a palavra
V. Ex.ª.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, Srs. Membros
da Comissão, ao iniciar a discussão
da matéria em pauta, gostaria de levantar
uma preliminar para que possamos,
efetivamente, analisar o texto do capítulo
sem que tenhamos amanhã de voltar
ao passo inicial. Quero me referir, Sr.
Presidente, à impressão que tenho sobre a
interferência da nossa Subcomissão na
competência de outras. Ao que me parece, os
artigos “a” e “b” e seu parágrafo único
pertencem à Comissão de Soberania do
Estado. Os demais artigos, realmente,
entendo que é da nossa competência defini-
los. Então, pediria a V. Ex.ª que stabelecesse
a discussão desta preliminar, se devêssemos
ou não analisar esses dois artigos.
Se a Comissão entender cabível a análise
desses artigos, gostaria de fazer algumas
observações adicionais. A preliminar que
levanto à esta: entendo que esses dois artigos
não são da competência desta Subcomissão.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Acho que o nobre Constituinte
Ruben Figueiró não deixa de ter certa razão.
A questão é que, se seguíssemos a forma de
todas as Constituições precedentes, essa
parte, inquestionavelmente, seria de nossa
competência. Acontece que a Assembléia
Nacional Constituinte adotou quase
inteiramente a fórmula estabelecida pela
Comissão de Estudos Constitucionais, que
inicia o seu Anteprojeto de Constituição com
um capítulo referente à soberania do Estado.
Então, é possível que muitas matérias que
aqui constam no título de Organização do
Estado, que nos compete, poderiam ser
objeto de outra Subcomissão. Porém, não sei
se esse modelo será seguido. Por isso, não
pude deixar de incluir essa matéria aqui,
porque, senão, haveria um vazio, um vácuo.
Achei preferível incluí-la e depois ter apenas o
trabalho, na Comissão de Sistematização, de
coordenar o dispositivo referente à
Organização do Estado, como um dispositivo
pertinente que viesse a ser adotado pela
Comissão da Soberania do Estado, a ficar
esse vácuo. Essa questão pode ser sanada
nas instâncias subseqüentes, ou na própria
Subcomissão ou, posteriormente, na
Comissão de Sistematização.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte Annibal
Barcellos.
O SR. CONSTITUINTE ANNIBAL
BARCELLOS: – Sr. Presidente, estou
apresentando algumas emendas ao art. a, §
4º, à página 27, que versa sobre os símbolos
nacionais.
“São símbolos nacionais: a Bandeira,
o Hino, as Armas da República adotadas na
Ata da promulgação desta Constituição, e
outros estabelecidos em lei. Os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios poderão ter
símbolos próprios.”
Sugerimos a inclusão de “Territórios”
após a palavra “Estado”.
Justificando: se até os Municípios têm
símbolos, por que os Territórios não podem
tê-los?
Entrego essa emenda para ser
apreciada pelo Relator.
A outra é referente ao art c, § 1º do
item 9, página 28, onde se lê:
“É assegurado aos Estados e
Municípios litorâneos a participação no
resultado da exploração econômica da
plataforma continental e mar territorial e
patrimonial, na forma prevista em lei
complementar.”
Sugeri, também, a inclusão de
“Territórios” após a palavra “Estados”.
Justifico: apesar do estabelecido no §
2º do art. a, onde diz que a União compreende
também os Territórios, acho que não haverá
nenhum inconveniente no acréscimo ora
proposto, pois, caso não seja devidamente
especificado, a União, forçosamente, não
passará para os Territórios a participação no
resultado desta exploração econômica.
A outra emenda é referente
aos recursos naturais do subsolo.
Também acho que deve ser acrescentada
a palavra “Territórios”, porque a claramente isso quando se discute a
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União, no caso dos Territórios, forçosamente
não lhes passará a participação no resultado
econômico dos recursos minerais.
Há, ainda, outra emenda, referente à
faixa de fronteira. Fala-se em uma linha de
cem quilômetros paralela à faixa de fronteira.
Atualmente, as estradas federais têm,
para cada margem, uma faixa de duzentos
quilômetros estabelecidos por decreto-lei –
não sei precisar esse dispositivo legal, mas
sei que ele existe. Conforme informações que
obtive – andei pesquisando – inicialmente,
essa faixa era de vinte quilômetros, mas o
datilógrafo, que provavelmente se enganou,
bateu duzentos quilômetros. É um absurdo as
estradas federais terem duzentos quilômetros
de cada lado como faixa de segurança na
faixa de fronteira. O Território do Amapá, que
por certo será transformado em Estado, tem
uma estrada federal, a BR-156, que o corta de
Norte a Sul. Se se for tirar duzentos
quilômetros para cada margem, pouco
sobrará para o Território.
Acho que se deve acrescentar ao item
6 do item 9, página 28:
“As faixas de vinte quilômetros de
largura paralelas às duas margens das
estradas federais são consideradas
indispensáveis à defesa das estradas e serão
designadas como faixa de segurança das
estradas federais.”
Justificação: atualmente, essas faixas
são de duzentos quilômetros de largura para
cada margem. Não sabemos qual foi o decreto-
lei que determinou assim, mas achamos que
essa largura é demasiada, por isso estamos
sugerindo sua diminuição, deixando apenas
vinte quilômetros de cada lado.
Essa parte, não sei em que capítulo
está, mas, em todo caso, vou lançar aqui. Diz:
“As contas do Governo, nos
Territórios serão submetidas ao Congresso
Nacional, nos termos, condições e prazos
previstos nesta Constituição.”
Ora, até agora as contas dos
Territórios são submetidas ao Tribunal de
Contas da União, de acordo com prazos e
normas estabelecidos pelo TCU, e nunca
foram ao Congresso Nacional. Não sei se
valerá a pena mencionar isso.
Há outras sugestões que desejo
apresentar, mas, como se referem a outro
capítulo, eu as encaminharei oportunamente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª a colaboração.
Concedo a palavra ao Constituinte
Roberto Rollemberg.
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO
ROLLEMBERG: – Sr. Presidente,
Companheiros desta Subcomissão, as duas
intervenções anteriores levam-me a solicitar
uma análise mais profunda, nossa e do
Relator, sob pena de nos capítulos seguintes
termos problemas mais sérios.
Em primeiro lugar, defendo a teoria –
isso expressei em uma das primeiras reuniões
– de que, embora não houvesse no
cronograma público a importância desta
Subcomissão, ela realmente é importante pela
sua própria natureza, pois trata da
organização do Estado. Acho que nesta
Subcomissão está absorvido o problema da
soberania. Temos de discutir se é aqui ou na
outra Subcomissão, mas, efetivamente,
entendo que é aqui. Acho que é uma coisa
definitiva.
A análise feita pelo
Relator na introdução demonstra
99 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
competência da União e, portanto, todos os
aspectos da soberania. Então, não tenho
dúvida de que a competência é nossa,
inclusive com relação a esses aspectos,
embora exista uma Comissão que trata da
soberania, não sei sob que aspectos, mas é a
nossa Subcomissão que inicia a Carta e
estabelece as regras da organização do
Estado. Disso não tenho dúvida.
Em seguida, ouvimos uma
intervenção, em que se discutia o problema
dos Territórios e a sua inclusão em relação
aos símbolos nacionais e à sua participação.
Todas as reivindicações dos Territórios são
justas e o são de tal forma, que é melhor
transformar o Território em Estado, pois,
assim, ele passará a ter todas essas
prerrogativas que o nobre Constituinte deseja,
porque, com essas prerrogativas – repito – ele
é um Estado. Então, se cuidarmos da
transformação do Território em Estado, acho
que teremos atendido a todos os aspectos.
Há, porém, a observação fundamental
que dificulta a pretensão das emendas, à
primeira vista, que se refere ao aspecto de
que os Territórios estão no § 2º:
“A União Federal compreende os
Territórios.”
Então, temos de cuidar da
transformação do Território em Estado, sob
pena de dificultar a apresentação das
emendas.
Por exemplo, se a União Federal
compreende os Territórios, os símbolos da
União Federal são os símbolos do Território.
Estou de acordo quanto às
prerrogativas do Território, que são tão
importante, que o melhor seria a
transformação dele em Estado.
Por exemplo, no caso do Amapá, que
não deseja a transformação em Estado, aí,
sim, poderia haver maiores prerrogativas do
Território, desde que elas não fossem assim
em tal número, porque a afirmação é a de que
a União Federal compreende os Territórios.
Então os Territórios estão submetidos à
União.
Quero observar duas coisas: a
organização do Estado é fundamental para a
Constituição, e é a nossa Comissão quem a
faz; e os pleitos, em relação aos Territórios
estão de tal monta, que chegamos à
conclusão de que o atendimento a todas
essas emendas seria exatamente a
transformação do Território em Estado,
porque senão ele fica impedido de ter essas
prerrogativas, uma vez que permanece o § 2º
do art. “A”, que diz que “a União Federal
compreende os Territórios”. Se compreende
os Territórios, eles estão submetidos em
relação a símbolo, administração, prestação
de contas, etc. à União.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte Chagas
Duarte.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Sr. Presidente, Srs. Constituintes,
estamos encaminhando emenda com respeito
ao art. “X” Secção II – dos Territórios, no
Capítulo V, com a seguinte redação... Como
já disse o Constituinte Annibal Barcellos,
desde a criação dos Territórios tem sido
praxe, que o julgamento da prestação de
contas do governo é feito pelo Tribunal de
Contas da União.
Reza isso na Lei nº 411, e no
Decreto-lei nº 199, que dispõem
sobre a organização e competência do
Tribunal de Contas da União em apre-
ciar as verbas que lhe são deferidas, da União
aos Territórios. E também porque, Sr.
Presidente, há de se convir em que o Tribunal de
Contas da União, hoje, pelo menos, está mais
bem aparelhado para o julgamento das contas
do que o próprio Congresso. E também, como
disse, tem sido uma praxe, até agora, essas
contas serem apreciadas pelo Tribunal de
Contas da União, cujos Territórios estão
jurisdicionados para esse fim.
O art. “X” diria, segundo a nossa
emenda:
“As contas do governo do Território
serão submetidas ao julgamento do Tribunal de
Contas da União, após a auditoria do órgão
competente do Ministério do Interior.”
Sabemos que esse órgão mantém hoje
auditorias com o objetivo de apreciar, as contas,
dar-lhes parecer, antes de encaminhá-las ao
Tribunal de Contas da União.
A outra emenda que oferecemos diz
respeito ao § 2º do art. “D” do capítulo relativo às
Disposições Transitórias, com a seguinte
redação.
“§ 2º A União, pelo prazo mínimo de dez
anos, proverá os Estados, assim criados, dos
recursos financeiros indispensáveis à sua
instalação e manterá programa especial para
sua consolidação e seu desenvolvimento.”
Achamos prudente fixar esse prazo de
dez anos, porque ele está em aberto, vamos
dizer assim. A União, o Ministério do Interior, ou
quem quer que seja, poderão achar por bem que
seja só cinco anos. Poderíamos fixar esse prazo,
o que tem sido uma praxe, a exemplo dos
Estados da Guanabara, do Acre e de Rondônia
mais recentemente, casos em que se fixou um
prazo, nunca inferior a dez anos, para que a
União mantivesse e consolidasse o Território na
sua passagem a Estado.
Então, gostaríamos também que essa
emenda fosse apreciada de maneira mais
aprofundada e mais estudada, para que os
Territórios amanhã não tivessem uma situação
ainda mais difícil.
A outra diz respeito ao § 3º do art. “D”,
do capítulo das Disposições Transitórias, com a
seguinte redação:
“§ 3º No dia 15 de novembro de 1988
serão realizadas eleições para Governador e
Vice-Governador, Deputados Estaduais e três
Senadores, cabendo ao menos votado desses,
nos termos da legislação eleitoral, exercer o
restante do mandato de quatro anos, e os
demais, de oito anos.”
Sabemos que no dia 15 de novembro
de 1988 estarão sendo realizadas as eleições
para Prefeitos e Vereadores. Se fixarmos logo
essa data no mínimo teremos uma economia
processual. Não vamos deixar a cargo do
Tribunal Eleitoral fixar essa data. Acho que
teremos uma economia processual
determinando uma data, e o Tribunal já se
preparará para isso.
São essas as emendas que temos a
oferecer.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):–
Agradeço a V. Ex.ª a colaboração.
Concedo a palavra ao Constituinte
Annibal Barcellos.
O SR. CONSTITUINTE ANNIBAL
BARCELLOS: – Quando mencionei os
Territórios, já deixei de fora os do Amapá e de
Roraima, porque acho que vamos transformá-los
em Estado. (Palmas.)
Como o nosso Relator ainda
fixa a situação de Territórios, achei
conveniente colocar aquelas três
emendas de que falei: uma, com respeito
aos símbolos; outra, no respeitante à parte de
exploração do solo; e outra, sobre a exploração
de recursos minerais, do petróleo, na plataforma
do Território.
Quanto ao Território do Amapá, tenho a
impressão – quase certeza – de que ele vai ser
transformado em Estado. Mas o nosso Relator
fixou ainda a situação de Territórios. De
maneira que aí vão as sugestões que
apresentei, com relação àquelas três
emendas que serão julgadas pelo Relator. Se
ele as julgar boas, muito bem; se não passamos
adiante.
Quanto à observação feita pelo
Constituinte Chagas Duarte, acho que tem
lógica.
Temos outras emendas relativas ao
aspecto de prazo. Mas é outro capítulo. Estamos
estudando ainda o primeiro capítulo. Quando
chegarmos ao capítulo das Disposições
Transitórias, apresentarei uma emenda relativa
ao que ele falou, a data da eleição do novo
Governador, Vice-Governador, Senadores e
Deputados à Assembléia Legislativa.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
Agradeço a V. Ex.ª a colaboração e concedo a
palavra ao Constituinte Francisco Carneiro.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Sr. Presidente, Sr. Relator,
quanto à parte do Capítulo V, que trata do
Distrito Federal, achei que há muitas
indefinições, e creio que é altamente prejudicial
ao Distrito Federal. Vejamos aqui. Ao longo da
exposição feita pelo nobre Relator ele, com toda
a franqueza, relata que se mirou na proposta do
Constituinte Afonso Arinos. Mas aqui ele diz o
seguinte:
"O Distrito Federal é dotado de
autonomia política, legislativa, administrativa e
financeira." Cita que "a eleição para
Governador e Vice-Governador será por
sufrágio e os mandatos coincidirão com
a do Vice-Governador." Ele não diz quando
será realizada a eleição para a
Assembléia Legislativa do Distrito Federal,
apenas esclarece:
"A lei orgânica votada pela Assembléia
Legislativa disporá..."
Mas quando será a eleição dessa
Assembléia Legislativa? É a primeira coisa que
devemos fazer. Nós, que já somos aqui
calejados, com vinte e sete anos de Capital,
sendo comandados e dirigidos por governadores
biônicos e quase como uma repartição da
Seplan, temos de explicitar tudo que for possível
para caracterizar bem a organização
administrativa, legislativa e executiva do Distrito
Federal.
Mais adiante, na parte referente à
manutenção do Distrito Federal, o art. "S", diz o
seguinte:
"A União Federal destinará ao Distrito
Federal os recursos financeiros necessários ao
desempenho de atividades de interesse
comum."
Ora, temos no Distrito Federal uma série
de impropriedades canônicas, e dificilmente
saberemos determinar o que é de interesse de
um Estado, como se ele não fosse sede da
União, e o que é de interesse da União, ou de
ambos. A maior parte sei que é de interesse da
União. Se fôssemos um Estado como o Ceará,
ou como o que se vai criar, Roraima, não
precisaríamos ter esse eixo monumental que
aqui está, nascendo nos Três
Poderes e terminando no Batalhão da Guarda
Presidencial, onde há 35 mil moradores só para
a guarda presidencial, o BGP. Ao longo desse
eixo, só há uma coisa de interesse do Dis-
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 100

trito Federal: a Praça do Buriti. O resto nada
tem de interesse comum; poderíamos
sobreviver plenamente sem isso. Se
passamos para o lado das Embaixadas, aí o
contraste é mais flagrante. Então, não é
interesse comum e, sim, exclusivo.
E aqui é bem claro:
“A União Federal destinará ao Distrito
Federal os recursos financeiros necessários
ao desempenho das atividades de interesse
comum.” E os recursos necessários às
atividades de interesse exclusivo da União,
que são custeados pelo GDF, como ficam?
Continuando, diz o seguinte: “Ao
exercício das atribuições inerentes à
competência prevista no art G” – que se refere
à manutenção de efetivos, armamentos,
superação etc. – quando indispensável. Quer
dizer, com esse termo, “indispensável”,
quando se tratar de duas entidades, o Distrito
Federal poderá considerar como
indispensáveis tais ou quais despesas, e a
União pode considerá-los dispensáveis. Ora,
se pretendemos tirar todos os calos que
temos hoje, aqui dentro, precisamos explicitar
melhor isso. Aliás, apesar de mais sucinto, o
texto da Proposição Afonso Arinos é mais
preciso do que o do nosso Relator, ao dizer o
seguinte:
“Art. 98. O Distrito Federal goza de
autonomia política, legislativa, administrativa e
financeira.”
Ótimo para nós; está melhor
explicitado pelo nosso Relator, porque não
entendemos autonomia política sem
autonomia financeira. Entre duas pessoas,
uma que tenha autonomia política e outra que
tenha autonomia financeira, a segunda tem a
autonomia financeira e a política. Está aí o
regime presidencialista que temos.
A Comissão Afonso Arinos diz: “Art.
98, parágrafo único – aliás, um texto sucinto,
como se fosse uma linguagem euclidiana de
“Os Sertões”, de Euclides da Cunha – “A
União suplementará o Distrito Federal com os
recursos financeiros de que necessitar”. Quer
dizer, os recursos de que o Distrito Federal
necessitar para a manutenção dos seus
serviços.
Pondero isso porque sei das boas
intenções, tanto quanto as minhas, senão
mais pelo menos iguais, com relação ao
Distrito Federal, que é parte integrante da sua
vida, mas que modifiquemos um pouco o que
aqui está. Honestamente, é me vedado o
direito de fazer uma substituição total do texto.
Peço, então, ao nobre Relator que reveja o
texto, porque ele é danoso aos interesses do
Distrito Federal, por não ser explícito. Veja
bem, repito para caracterizar, pois estou
profundamente preocupado com isso, “ao
exercício das atividades de interesse comum”.
Existem aqui três tipos de interesse: do
Distrito Federal, da União e comuns, mas esta
linha limite, entre os interesses comuns da
União e do Distrito Federal, torna-se muito
vulnerada. Proponho que seja melhor
explicitado isso. O texto Afonso Arinos, repito,
é muito sucinto, mas muito abrangente,
quando diz: “A União suplementará o Distrito
Federal com os recursos financeiros de que
ele necessitar – o “ele” eu é que coloco – para
a manutenção dos seus serviços.”
Por outro lado, apesar de o nobre
Relator ter-me feito uma exposição,
precisamos ver aqui, se tivermos uma
Assembléia Legislativa no Distrito Federal,
ficaremos vulnerados à hipótese de que essa
Assembléia Legislativa seja composta de
Deputados, distritais, como V. Ex.ª chamou,
somente o Plano Piloto e Taguatinga. As
demais cidades não têm representação.
Sei que o nobre Constituinte
acrescentou aqui um Conselho Comunitário,
mas ele não tem força. Quem sabe,
poderíamos estudar outra forma de dar às
cidades, que compõem o complexo do DF,
uma representatividade.
O nobre Relator expôs-me que isso
não é matéria que possamos incluir aqui, é
matéria eleitoral. É lógico que na Constituição
existente é matéria eleitoral, mas se estamos
fazendo uma nova Constituição, podemos ter
uma exceção para o caso do Distrito Federal,
pois ele não é Estado, não tem Municípios e
sim regiões administrativas. Então, não
podemos vestir no Distrito Federal uma
roupagem de Estado.
O Distrito Federal tem coisas muito
anômalas. Quando cobra o IPTU, ele funciona
como Município. Quando cobra o ICM, ele
funciona como Estado. Então, há toda essa
ambigüidade. Portanto, achei o texto relativo
ao Distrito Federal carente de uma revisão
estrutural, primeiro: manutenção financeira.
Sou a favor de que nos tornemos autônomos
financeiramente, através da industrialização
não-poluente do Distrito Federal e da sua
potencialização, que acredito como muito
capaz desde que exista a descentralização
tributária, e que o Governo Federal pague as
despesas inerentes à União. Acredito nisso,
mas não para hoje. Teremos que ter de seis a
dez anos, que é um período muito curto na
vida de um Estado, nem tampouco pretendi
criar um Estado federativo. Mas, da forma que
aqui está, poderá ocorrer o que sabemos, ou
seja, temos o Presidente da República de um
partido e o Governador de outro. Não
existindo uma autonomia financeira explícita,
delineada, delimitada em todos os seus
quadrantes, o Distrito Federal sofrerá muitas
dificuldades. Precisamos estabelecer para o
Distrito Federal uma definição rígida de
como ele se vai manter, de tal ordem, a
admitirmos que o Governo do Distrito Federal
seja politicamente oposição ao Governo
Federal.
Era isso que queria expor ao nobre
Relator.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Antes de passar a palavra ao eminente
Relator, queria comunicar ao Constituinte
Francisco Carneiro que, dentro do
entendimento da apresentação de emendas,
embora não possa ser feito um substitutivo,
nem apresentar emendas que englobem dois
dispositivos, o ilustre Constituinte pode
apresentar tantas emendas quantas queira
individualmente e modificar inclusive toda a
proposta sobre o Distrito Federal,
apresentando emendas separadas, uma a
uma. A única restrição regimental é no sentido
de que não poderá apresentar um substitutivo,
nem emendas a respeito de mais de um
dispositivo, ou seja, uma emenda que pegue
dois artigos do próprio anteprojeto; isso já foi
exaustivamente discutido entre os Presidentes
de Comissões, Relatores etc. Até propostas
inteiras, artigo por artigo, desde que sejam
emendas separadas, podem ser apresentadas
que serão examinadas.
Com a palavra o ilustre Relator.
O SR. CONSTITUINTE
FRANCISCO CARNEIRO: – Meu
caro Presidente, veja bem, no meu
relato tive a oportunidade de citar a
preocupação que tinha com o Regimento
Interno. Não posso substituir isso que está
aqui. Posso apresentar emendas, mas não
posso, por exemplo, para cada um artigo
apresentar uma emenda, que no seu
somatório será a sua completa substituição.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
O entendimento do substitutivo seria de um
projeto único, mas podem ser apresentadas
emendas em separado. Esse é o entendimento
que temos, porque seria até antidemocrático
que não permitíssemos a modificação de vários
itens de um mesmo capítulo. Se V. Ex.ª desejar
apresentar emendas uma a uma, que alterem
até todo o projeto constitucional no final, elas
serão aceitas.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Quero ressaltar que o nobre
Relator tem sido muito distinto ao tratar do
problema, pois quando eu lhe falei da minha
preocupação sobre essa redação, ele se portou
com lhaneza ao dizer que poderíamos até
conversar antes para ver todas essas coisas.
Reconheço tudo isso, mas como existe muita
indefinição aqui, até pediria a S. Ex.ª que
estudasse a possibilidade de melhor explicitar o
assunto. Mas vou apresentar a emenda.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª.
Com a palavra o nobre Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Acho que a longa exposição do
nosso ilustre companheiro, Constituinte
Francisco Carneiro, deveu-se a uma dúvida
inicial que foi sanada pelo nosso ilustre
Presidente. Até gostaria que ele
apresentasse, em forma de emenda, todas
essas observações feitas desta tribuna,
sobretudo no que diz respeito à
suplementação de recursos para o Distrito
Federal. Quero esclarecer, entretanto, quanto
à data da fixação da eleição em 15 de
novembro, que essa efetivamente está fixada,
mas, é obvio que, por se tratar de uma norma
transitória, ela está no capítulo pertinente, nas
Disposições Transitórias. Eu não poderia fixar
aqui no capítulo referente ao Distrito Federal
uma data de eleição.
Com relação à proposta de V. Ex.ª
para que fixássemos desde já, salvo engano –
V. Ex.ª corrija-me, se eu não estiver sendo
preciso – a eleição para administrador das
cidades-satélites; como disse a V. Ex.ª isso não
me parece uma norma constitucional. Eu não
poderia fixar numa Constituição uma eleição
para administradores das cidades-satélites;
entretanto, acho que atendi, ainda que no
entender de V. Ex.ª não suficientemente à sua
proposição, ao definir no inciso 1 do art. 5°
sobre a lei orgânica – por ser uma lei orgânica,
ela contém normas materialmente
constitucionais – que ela estabeleça a
descentralização administrativa do Distrito
Federal da forma que melhor lhe convier e na
instância, a meu ver, mais adequada, que seria
a Assembléia Legislativa. Inclusive, instituindo
nessas administrações regionais – não
precisam ser administrações regionais, podem
ter outra denominação – Conselhos
Comunitários ou outros conselhos, em
que se admitiria a participação popular.
Então – veja bem V. Ex.ª – estamos definindo
desde já, e acho até que avancei demais
para atender à proposição de V. Ex.ª, que
essa lei orgânica pode admitir a participação
popular mediante a representação que a
preocupação de V. Ex.ª, quanto à partici-
101 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
pação popular na administração das cidades-
satélites, está atendida, apenas creio, se V.
Ex.ª me permite, que a Constituição não deve
ser um texto didático. Ela fixa normas gerais e
mesmo assim estamos indo longe demais,
mas procurei atender a V. Ex.ª.
Quanto à questão da participação dos
representantes das cidades-satélites, em
número proporcional a sua população, acho
que isso está um pouco associado à idéia do
voto distrital. O que disse a V. Ex.ª é que não
poderia, apesar de estarmos criando uma
coisa nova, apesar de estarmos discutindo o
capítulo do Distrito Federal, não posso alterar
um sistema eleitoral, que é nacional, para
dispor nessa parte diferentemente no Distrito
Federal. Disse a V. Ex.ª que tinha dificuldades
e realmente as tenho e acho que, se
incluirmos isso aqui, muito provavelmente, se
isso não vier no futuro a coadunar com o que
prescrever a Comissão que trata do sistema
eleitoral, provavelmente seria retirado do
nosso texto pela Comissão de
Sistematização.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte
Francisco Carneiro.
O SR. CONSTITUINTE
FRANCISCO CARNEIRO: – Meu caro e
nobre Relator, o número de Deputados
Federais não é proporcional à população
dos Estados? Por que não pode o número
de Deputados Estaduais ser proporcional à
população de cada cidade? É uma pergunta
de leigo.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Essa é uma questão que já foi esclarecida
pelo eminente Relator: na medida em que a
Comissão do Sistema Eleitoral defina qual é o
tipo de sistema eleitoral que teremos no País,
então, isso poderá ser definido para o Distrito
Federal. Evidentemente, o Relator já expôs no
seu breve relato que não poderia estabelecer
um sistema proporcional distrital para o
Distrito Federal, quando não sabemos ainda
qual será a definição em relação ao resto do
País. Isso naturalmente caberá à Comissão
de Sistematização. V. Ex.ª inclusive pode
apresentar uma emenda a essa altura, porque
já estará definido o processo dentro da
Comissão específica, a fim de que possa
complementar o trabalho de V. Ex.ª.
Concedo a palavra ao Sr. Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Desejo apenas complementar as
palavras do nosso ilustre Presidente, que
realmente retratou com fidelidade o meu
pensamento a respeito desse problema. O
que quis dizer é que não poderíamos fixar um
número de representantes das cidades-
satélites, nessa Assembléia Legislativa,
proporcional à população. Essa
proporcionalidade que existe no sistema
vigente dos Deputados Federais e dos
Estaduais seria então para todo o Distrito
Federal, que se não me engano, é de um para
três vezes o número de Deputados Federais.
Então, sim, mas mesmo nesse caso não seria
definido aqui. Pelo sistema vigente, teríamos
no Distrito Federal 24 Deputados Distritais.
Agora, o que não poderia definir aqui é que,
por exemplo, Ceilândia, por ter uma
população de 600 mil habitantes, teria 7
Deputados; Brazlândia, 2 Deputados, e assim
sucessivamente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Sr. Constituinte
Ruben Figueiró.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, no início desta
reunião, havia levantado uma preliminar que
até o presente instante não foi apreciada pelo
plenário. Louvo a preocupação dos meus
nobres colegas Constituintes em apresentar
outras proposições e também em provocar a
discussão sobre assuntos que não são,
efetivamente, da competência da reunião de
hoje, que é analisar o Capítulo 1 do
anteprojeto do nobre Relator.
Após ouvir as explanações do Sr.
Relator e do Sr. Constituinte Roberto
Rollemberg, e após uma conversa informal
com o Constituinte Felipe Mendes, cheguei à
conclusão de que realmente também é de
nossa competência a apreciação dessas
questões consideradas como de soberania
nacional. Dentro desse pensamento, retiro a
minha preliminar e pediria a V. Ex.ª que
disciplinasse os trabalhos no sentido de que
nós discutíssemos o Capítulo I, e, se houver
tempo, passássemos para os capítulos
seguintes, ainda nesta reunião.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):–
Agradeço a V. Ex.ª a retirada da preliminar,
como também acolho a proposição de V. Ex.ª no
sentido de que nos restrinjamos ao Capítulo I e o
esgotemos, como foi estabelecido na última
reunião plenária que tivemos.
Continua franqueada a palavra aos
Srs. Constituintes para a discussão dos
assuntos contidos no Capítulo I do anteprojeto
do eminente Relator.
Tem a palavra o Sr. Constituinte
Felipe Mendes.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, já que estamos
disciplinados para discutir somente o primeiro
capítulo, naturalmente falarei apenas uma
parte do que eu já havia anotado para falar
aos Srs. Constituintes neste momento. A
minha colocação inicial refere-se apenas a um
princípio, porque acho, que, nesta ocasião em
que se discute uma reorganização do Estado
brasileiro, se deveria examinar, em cada
ponto, as possibilidades de fazer-se a
descentralização administrativa, política,
financeira etc. da União para os Estados e para
os Municípios, e também que se pudesse
viabilizar a desconcentração do poder de um
Estado em favor da sociedade, porque acho que
o Estado brasileiro é concentrador de poder em
detrimento dos mecanismos da sociedade. E
também a própria descentralização – que não é
o caso de se discutir aqui – dos poderes, do
Executivo para o Legislativo e o Judiciário. O
nosso ex-Ministro Marco Maciel disse que
defenderá a eqüipotencia dos poderes e que não
é o Executivo que está forte, mas o Legislativo e
o Judiciário estão fracos, como se pudesse
diminuir o total dos cem por cento do poder que
os três, por definição, detêm. Essas questões
que coloco inicialmente servem também de pano
de fundo para as questões que trarei às outras
partes do relatório.
Acho que deve ser uma preocupação do
Relator, quando se estabelecem os bens e as
competências da União, essas considerações a
respeito da descentralização e da
desconcentração. Com referência ao primeiro
capítulo, anotei aqui uma questão específica,
que é a faixa interna de cem quilômetros de
fronteira. Fico preocupado com as fronteiras do
Norte e do Sul, e pergunto-me se são a mesma
coisa cem quilômetros no extremo Norte e
cem quilômetros no extremo Sul do País.
Não sei se não cem quilômetros, quem
foi que disse que eram cem quilômetros e por
que os cem quilômetros. Parece-me que a
expressão que no caso, é objeto de uma
emenda, “até cem quilômetros,” tem de ser
definida de acordo com os Estados, enfim, em
uma lei complementar. Acho que o Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, que
têm fronteiras completamente diferentes das
do extremo Norte, devem ter posições
também completamente diferentes dos
Estados e Territórios daquela região.
A propósito, gostaria de pedir a
opinião de quem tenha também essa
informação, porque nós aqui temos questões
globais e locais. Cada um defende as suas
questões locais. No caso, o Piauí – e ali fico
preocupado com esses bens da União – é o
único Estado litorâneo cuja área do litoral
ainda pertence à União. E temos diversos
problemas de crescimento daquela área e da
população. Ninguém pode construir uma casa
a não ser com a autorização do Serviço de
Patrimônio da União e da Marinha, portanto,
qualquer edificação, qualquer indústria,
qualquer comércio tem de ser submetida a
apreciação de um Tenente ou um Capitão da
Marinha, de um funcionário subalterno do
Ministério da Fazenda. Por isso, fico
preocupado com essa extensão de faixa
territorial de domínio da União em áreas hoje
já densamente povoadas ou em áreas ainda
não povoadas. Parece-me que o texto da
Constituição deve ser flexível para que se
considerem caso a caso esses problemas,
que são diferentes em cada local.
Sr. Presidente, Sr. Relator, ficaria
com essas primeiras considerações porque
o mais importante seria referente ao Capítulo
II.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª as suas colocações.
Concedo a palavra ao Constituinte
Ruben Figueiró.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, sinceramente,
encontro-me em uma dúvida baseada em
uma afirmação feita aqui e também na
indagação do Constituinte Felipe Mendes. O §
5º, de art. C, diz:
“A faixa interna de cem quilômetros de
largura paralela à linha divisória terrestre do
território nacional...” Se não me falha a
memória, a área de segurança é de cinqüenta
e seis ou sessenta quilômetros ao longo da
fronteira no território nacional, e a faixa de
fronteira estende-se a cento e cinqüenta
quilômetros dos limites territoriais do País.
Esse é um assunto que deveria ser discutido,
porque existem dois conceitos: a área de
segurança e a faixa de fronteira. É uma
indagação que deixo aos cuidados do Sr.
Relator.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª e passo a sua
preocupação ao eminente Relator para que
ele investigue e traga, posteriormente, as
informações sobre esse assunto.
Está franqueada palavra.
Com a palavra o nobre Constituinte
Waldec Ornélas.
O SR. CONSTITUINTE WALDEC
ORNÉLAS: – Sr. Presidente, Srs.
Constituintes, sou membro da Comissão de
organização do Estado, da Subcomissão dos
Municípios e Regiões, e estou-me valendo da
oportunidade de estar presente nesta reunião
para comentar com V. Ex.as uma emenda
que estou apresentando ao anteprojeto desta
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
Subcomissão. Estou propondo uma emenda O SR. CONSTITUINTE FELIPE
aditiva, um novo parágrafo ao art. 1º do MENDES (Intervenção fora do microfone.
parecer, que se reporta à necessidade Inaudível.)
imperiosa que temos de reconhecer e de O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
instituir as macrorregiões do País como – Não, repeti o segundo. É que V. Ex.ª
princípio básico da organização nacional. Se seguramente não considerou como importante
abrirmos hoje qualquer dos mais importantes a Competência Privativa da União Federal o
jornais do País, encontraremos, na primeira que, aliás, não é um privilégio de V. Ex.ª
página, uma nota oficial dos Governadores da muitos aqui estão lutando para que essa
Região Norte e da Região Amazônica. Esse competência seja estendida aos Estados e
é um fenômeno novo no País. Os Municípios. Tem V. Ex.ª a palavra.
Constituintes de 46, os Constituintes O SR. CONSTITUINTE FELIPE
anteriores e os Constituintes de 67, não MENDES: – Sr. Presidente, Sr. Relator,
poderiam ter considerado, porque não queria fazer algumas observações avulsas. A
existia. Tínhamos um grande pólo de primeira é com relação à expressão
desenvolvimento econômico no País, acrescentada ao texto da proposta da
centrado em São Paulo, e uma periferia Comissão Afonso Arinos, relativa ao inciso VI
inteiramente uniforme, homogênea. As do art. F. que reza: “autorizar e fiscalizar a
Constituições vêm tratando a questão produção e o comércio de material bélico, de
regional apenas a partir do flagelo da seca armas e explosivos, vedada sua exportação
no Nordeste. A Constituição de 34 foi a por empresa privada”. Fiquei na dúvida se já
primeira a registrar esse tipo de não era bastante a autorização e a
preocupação. Mas hoje, regiões como a fiscalização por parte do Governo Federal,
Amazônia, já têm características específicas especificamente através dos Ministérios
bem peculiares, como a questão dos militares. Não sei se é necessária a expressão
minerais e a questão da floresta amazônica. “vedada sua exportação por empresa
A região Centro-Oeste, recentemente privada”. Isso dá a entender que a exportação
incorporada, apresenta Estados que têm será feita pelo Estado. De modo que
expressão na produção agríc ola nacional. O apresentei uma emenda suprimindo a
aproveitamento dos cerrados é um fator expressão “vedada sua exportação por
novo. A própria Região Sul, mais empresa privada”, permitindo que as
desenvolvida, apresenta características empresas privadas, que já têm a fiscalização
específicas em sua agricultura, demandando por parte do Governo, possam fazer isso.
atenção especial, particular, singular própria, Nada tenho a ver com o comércio de material
o encerramento do ciclo da soja, o problema bélico. Ao contrário, quero apenas estar
da erosão. A própria Região Sudeste tem dentro daquele princípio de desestatização da
problemas específicos. nossa economia.
A grande concentração industrial ou O inciso VIII diz respeito a “exercer à
econômica gera problemas como a poluição classificação de diversões públicas”. Parece-
na serra do Mar, no rio Paraíba, e assim por me que esse item deveria ir para o capítulo
diante. das competências comuns, uma vez que
De maneira que temos um País vários dos aspectos culturais dessas
continental, um País que apresenta diversões públicas têm muito a ver com
características sócio-econômicas e regionalismos, com culturas locais. Então, as
geoecológicas diferenciadas em suas partes. autoridades municipal e estadual devem ter
Então, estou propondo, mesmo porque, em uma presença no sistema de classificação das
diversas Subcomissões, vários Constituintes diversões públicas.
incorporam normas relativas à questão Uma outra observação diz respeito ao
regional de uma forma genérica, que o art. 1º inciso XII: “estabelecer os planos nacionais de
do capítulo da Organização dos Estados viação, transportes, habitação e informática”.
reconhecesse que as regiões constituem As palavras “habitação” e “informática”, são
entidades territoriais de desconcentração da acréscimos da fase moderna do País em
União, que deverá ter sempre em relação às Constituições anteriores. Parece-
consideração a heterogeneidade física, me que, especificamente quanto à questão da
econômica, cultural e social do País e atuar, habitação, deva ser uma competência local,
objetivando adequado ordenamento territorial, embora a União deva estar presente também
com vistas à correção dos desequilíbrios inter nas questões que dizem respeito ao Governo
e intra-regionais de desenvolvimento. Central. Portanto, esta parte de estabelecer
Essa é a proposição que trago a esta planos sobre habitação me parece muito
Subcomissão. Muito obrigado. apropriada para as competências comuns.
O SR PRESIDENTE (Jofran Frejat): O inciso XIV reza: “explorar, diretamente
– Agradeço a V. Ex.ª a proposição e ou mediante autorização ou concessão.” Nesse
esclarecimentos prestados. ponto, entramos especificamente na questão da
Continua a palavra franqueada aos interferência do Estado na economia. A alínea
Srs. Constituintes que queiram discorrer “b” desse item tem uma redação que me parece
sobre o Capítulo I, Organização dos não muito clara: “b – os serviços e instalações de
Estados, nas suas Disposições Preliminares. energia elétrica de qualquer origem ou natureza,
(Pausa.) exceto aproveitamento de energia hidráulica de
Não havendo mais quem queira fazer potência reduzida e, em qualquer caso, a
uso da palavra, reportamo-nos ao Capítulo II, captação de energia solar”. Há não só uma
que versa sobre a Competência Privativa da dúvida quanto à energia solar, mas também
União Federal. quanto ao que é principal. E coloco aqui
Está franqueada a palavra aos Srs. principalmente a questão da energia térmica.
Constituintes. (Pausa.) Não me parece correto que a União deve
Não havendo mais quem queira fazer explorá-la mediante concessão ou autorização.
uso da palavra no capítulo referente à A União não deve permitir a exploração de
Competência Privativa da União Federal, energia térmica, uma vez que é.um assunto
passo ao Capítulo III, da Competência também estritamente local. Ainda há pequenas
Comum da União Federal, dos Estados... usinas a lenha ou a óleo por todo este País.
102
O inciso XVI diz o seguinte: “Celebrar
convênio e acordo para execução de leis e
serviços federais.” Entendo que não só
deveríamos colocar no plural as palavras
convênio e acordo, mas também colocar aí os
Estados, para deixar mais clara a intenção do
legislador com referência à União fazer
convênios com alguém. Pode ser com uma
entidade estrangeira, municipal ou diretamente
do Município para a União. Entendo que
deveria ser da União para os Estados.
A alínea “j” do inciso XX fala em
legislar sobre “jazidas, minas, outros recursos
minerais e metalurgia, potenciais de energia
hidráulica e, bem assim, o regime de seu
aproveitamento e de sua exploração”. Estou
sugerindo a exclusão da palavra “metalurgia”.
Isso também me parece um resquício da
Constituição de 34, quando, naquela fase, o
ambiente político e econômico justificava que
o Estado interferisse no setor. Inclusive, veio-
se a construir em seguida a usina de Volta
Redonda. Parece-me que este é um ramo
industrial como qualquer outro. Não cabe à
União legislar sobre a matéria, como se
estivesse legislando sobre jazidas. São coisas
completamente diferentes.
Eram essas as observações que tinha
a fazer.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Indago se V. Ex.ª apresentou emendas
nesse sentido.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Apresentei.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª.
Com a palavra o Constituinte Waldec
Ornelas.
O SR. CONSTITUINTE WALDEC
ORNELAS: – Vou aceitar a provocação da
Presidência e defender algo de novo para a
União.
Na verdade, Sr. Presidente,
apresentei uma emenda, também aditiva,
que se reporta ao inciso XIV do art. “f”. O
meu intento é incluir na competência da
União, de explorar diretamente ou mediante
autorização ou concessão, uni novo caso.
Refiro-me ao transporte coletivo de alta
capacidade.
Um dos graves problemas que
enfrentamos na nossa Constituição é a
questão das competências concorrentes.
Temos de trabalhar no sentido de reduzir e
minimizar ao máximo as competências
concorrentes. Então, nas regiões
metropolitanas surge o problema do
transporte de massa. De quem o cidadão
brasileiro deve esperar receber o transporte
de massa? Da Prefeitura, do Governo
Estadual ou da União? A experiência mostra
que nenhum município do Brasil arvorou-se
em implantar esse tipo de serviço. Dois
Estados o fizeram: o Rio de Janeiro, que se
emaranhou numa dívida que prejudicou os
seus outros serviços, e São Paulo, que logrou
êxito e resolveu o seu problema. Mas São
Paulo concentra 50% da economia nacional.
E isso é uma distorção que precisa ser
corrigida. Então, não serve de parâmetro. Os
fatos mostram que, na prática, somente a
União tem condições de implantar esse tipo
de equipamento público. A União dispõe de
uma empresa para isso, a Companhia
Brasileira de Trens Urbanos. A União
implantou os sistemas de Recife, Belo
Horizonte e Porto Alegre. A União opera os
trens de subúrbio do Rio de Janeiro e de São
Paulo. Então, essa é uma situação de fato.
103 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
Dir-se-ia que a nova Constituição
tende a descentralizar também os recursos.
Mas não adianta descentralizar recursos,
seja para os municípios, seja para os
Estados, se tiverem de ser utilizados de
imediato em projetos de tal vulto e tal ordem
de grandeza, que venham a tirar os seus
efeitos imediatos.
No presente momento, pelo menos
três situações se manifestam no Brasil com
relação à necessidade de transporte de
massa. Refiro-me às duas regiões
metropolitanas do Nordeste, Fortaleza e
Salvador, e ao próprio Distrito Federal. Ora, a
par da questão do problema da capacidade
financeira de implantar esse tipo de serviço,
existem dois outros aspectos a considerar. Um
é a importância, a necessidade e a
conveniência de que haja um desenvolvimento
tecnológico do País . Nesse particular, não nos
podemos dar ao luxo de, a cada sistema que
se implante, importar a tecnologia de um País
diferente e, posteriormente, enfrentar sérios
problemas de manutenção e operação desses
sistemas. É um setor onde se pode e se deve
desenvolver a tecnologia nacional. De outro
lado, há a questão de que esse sistema de
transporte de massa é subsidiado em todo o
mundo: A sua operação não cobre os custos.
Então, também há a conveniência de uma
política tarifária uniforme em todo o País. A
CBTU, assim como a Rede Ferroviária, nos
setores que operam com trens de passageiros,
já praticam esse pressuposto da tarifa uniforme
nos vários trechos, nas várias cidades. De
maneira que são elementos que me levam a
defender que a União tenha esta competência.
Apresentei uma sugestão nesse
sentido, mas foi encaminhada para uma outra
Subcomissão. De maneira que a estou
formalizando como emenda aditiva ao
anteprojeto desta Subcomissão, para que
possa ser considerada pelos seus membros.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª a emenda e a
preocupação.
Continua franqueada a palavra aos
Srs. Constituintes que queiram discutir o
Capítulo II.
Com a palavra o nobre Constituinte
Felipe Mendes, do Piauí.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, estava sem o
material em mão porque tinha mandado
protocolar. É a respeito da questão dos bens
da União. Ao longo dos anos, esses bens da
União e a sua competência foram se
alargando em detrimento naturalmente dos
Estados e dos Municípios. Disse aqui, em
certo momento, que teria de haver como
princípio numa Constituição aquilo que não
existe no Direito Constitucional, que é o
princípio das partidas dobradas na
Contabilidade, ou seja, que a um direito
corresponde uma obrigação. Então, se a
União tem direito, pela Constituição, sobre os
bens do seu domínio... A minha emenda,
infelizmente, não pôde ser considerada em
função do seu encaminhamento para outra
Subcomissão. Esse foi entendimento do
Relator, mas já conversei com ele. Mostrei a
S. Ex.ª que, pelo roteiro distribuído, fazem
parte da nossa Subcomissão a questão
regional e, sobretudo, a questão dos bens da
União. Disso já não tinha dúvida. E chamaria
a atenção de todos os Srs. Constituintes para
as duas emendas, porque elas não podem ser
apresentadas num texto só, diante do Regi-
mento. A primeira emenda diz que a União
promoverá, prioritariamente, aproveitamento
econômico dos bens de seus domínio
localizados em regiões menos desenvolvidas
do País. Isso seria um parágrafo ou um
dispositivo qualquer que viria no final da
relação daquilo que seria considerado como
bens da União. Isso, naturalmente, terá
reflexos nos diversos outros capítulos da
Constituição, na medida em que está muito forte
o sentimento regionalista, está muito forte o
sentimento de que há necessidade de a União
promover um desenvolvimento mais harmônico
do País, está muito forte o sentimento de que o
País tem de crescer harmonicamente, porque
isso beneficia inclusive os próprios Estados mais
desenvolvidos. São mercados novos que se
abrem para os Estados hoje industrializados. E
isto aqui é apenas o chamamento para a
emenda seguinte. Pelas características da
região a que me refiro no caso, o Vale do
Parnaíba, 99% do território do Estado do Piauí
estão dentro dele e considerando que na Região
Nordeste temos como principal problema a
questão da seca, das migrações e a dificuldade
de uma base industrial por falta de uma base
agrícola, a proposta refere-se ao aproveitamento
hidroagrícola desse Vale, da mesma forma como
foi incluído na Constituição de 1946, no capítulo
das Disposições Transitórias, dispositivo
atribuindo à União a obrigação de promover,
durante 20 anos, e ainda mais com 1% da
receita tributária, a valorização econômica do
Vale do São Francisco. De modo que apresento
essa emendas e encareço a cada um dos Srs.
Constituintes que os examinem, pela máxima
importância que têm.
A emenda seguinte pode ser
discutível na forma, mas acho que ela
merece, por todos os títulos, a aprovação
desta Subcomissão. Espero que isso ocorra
nas etapas seguintes. É apenas uma cópia.
Foram mudadas as palavras do dispositivo da
Constituição de 1946 com relação ao Vale do
São Francisco. Ela manda que a União,
através de lei complementar, crie uma
entidade para o aproveitamento econômico
deste bem da União, que é o rio Parnaíba,
localizado numa região que, além de ser
atingida por secas, fica na transição para a
Amazônia. Portanto, há esta vantagem
também de a Amazônia ser detentora, só no
caso do Piauí, de cerca de 3 mil quilômetros
de rios perenes, dos quais metade são do rio
Parnaíba. Então, desde 1800 e não sei
quanto, D. Pedro II decidiu que empenharia a
última jóia da Coroa para que nenhum
nordestino morresse de fome numa seca e,
em 1970, o Presidente Médici chorou no
Nordeste por causa desse problema.
Temos, então, um paradoxo: a
Constituição dispõe que aquilo é um bem
federal, mas o Governo Federal não faz o seu
aproveitamento. E não faz porque,
infelizmente, esta é uma região com um peso
político muito pequeno, ainda que,
atualmente, o Presidente da República seja
maranhense. Mas este peso político não seria
suficiente para, em condições normais,
vermos atendida essa reivindicação, que é
secular naquela região. De modo que apelo
ao Sr. Relator e aos Srs. Constituintes para
que acolham essas duas emendas.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª pela colaboração.
Continua franqueada a palavra
aos ilustres Constituintes que
queiram discutir a respeito da
competência privativa da União Federal.
(Pausa.)
Não havendo quem queira fazer uso
da palavra, passamos ao Capítulo III, Da
Competência Comum da União Federal, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Está franqueada a palavra aos Srs.
Constituintes.
Tem a palavra o Constituinte Ruben
Figueiró.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, durante a
campanha eleitoral para a composição da
Assembléia Nacional Constituinte, inúmeras
vezes, ouvi oradores defendendo para o Brasil
uma Constituição sintética, de poucos artigos,
mas, como diziam alguns, que reflita o
pensamento político do povo brasileiro. Engajei-
me nessa campanha e ainda estou imbuído
desse pensamento. Não vou lembrar aqui,
porque já é do conhecimento de todos, aquela
expressão de Pinheiro Machado, que é referida
pelo eminente Jurista Josaphat Marinho, mas
entendo que, se pudermos sintetizar ao máximo
as nossas pretensões como Constituintes,
evidentemente vamos apresentar à Nação e ao
povo um documento que realmente venha a
representar o seu pensamento.
Nessas condições, Sr. Presidente, ainda
que louvando o extraordinário trabalho realizado
pelo nobre Relator, Constituinte Sigmaringa
Seixas, gostaria de deixar à consideração dos
meus Pares a sugestão contida na emenda já
apresentada, no sentido de que, ao invés de
termos este elenco de competências comuns da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, ficássemos tão somente com um
artigo, que passarei a ler.
“São atribuições comuns da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios as relacionadas com a
preservação das instituições políticas, sociais,
culturais e do meio ambiente, com a
promoção da educação, da saúde, da
convivência urbana e rural, da segurança
pública, do equilíbrio e do bem-estar social e
com a disciplina dos meios de produção
econômica.” Portanto, ressaltando o conceito
que tenho sobre o projeto de Constituição,
gostaria, sinceramente, que o Relator
analisasse essa proposta. Talvez fosse
possível reduzir num artigo só o nosso
pensamento com relação à competência
comum da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios.
Era só isto, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
Agradeço a V. Ex.ª colaboração. O seu
pensamento coincide, embora a Presidência não
possa manifestar seu interesse, nem sua vontade,
com o do Constituinte Jofran Frejat. Creio que
uma Constituição muito detalhada, longa, extensa,
seguramente envelhece precocemente,
especialmente num País como o nosso, onde a
evolução é muito rápida e o desenvolvimento é
muito grande. Seguramente, aquilo que votamos
hoje, amanhã necessitará de algumas
modificações. E quanto mais extenso e mais
detalhado for o texto constitucional, seguramente
haverá necessidade de modificações muito mais
rapidamente do que se imagina.
Por outro lado, compreendo a posição
do Relator, a que, além do aspecto
propriamente da feitura do relatório baseado
no seu entendimento, a partir das proposições
dos eminentes Constituintes, lidas com uma
grande dificuldade, tem de aproveitar as
propostas de cada um dos Consti-
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 104

tuintes que satisfazem as reivindicações
regionais, estaduais e até municipais. De
forma que esse é o meu pensamento. E já
tivemos uma conversa com o ilustre Relator
da Comissão de Sistematização sobre esse
problema. Então, todo esforço deve ser feito
pelos Constituintes nesse sentido. Tanto
quanto possível, tentem abrir mão de certos
detalhamentos, a fim de que possamos ter um
texto mais sintético e com chances de ter uma
vida mais longa. Do contrário, teremos de
modificá-lo muito rapidamente.
Agradeço, mais uma vez, a V. Ex.ª.
Continua franqueada a palavra aos
ilustres Constituintes que queriam falar sobre
o Capítulo da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios. (Pausa.)
Não havendo mais quem queira
manifestar-se, passamos ao Capítulo IV, Da
Intervenção Federal. (Pausa.)
Não havendo Constituintes
intervencionistas, passo ao Capítulo V,
que se refere ao Distrito Federal e aos
Territórios.
Com a palavra o Constituinte Ruben
Figueiró.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, evidentemente
estamos aqui tão-somente discutindo o
Capítulo que se refere ao Distrito Federal e
aos Territórios. Todos sabem da minha
posição doutrinária com relação à autonomia
do Distrito Federal e à criação dos novos
Estados, decorrente da elevação dos atuais
Territórios àquela condição. Já deixei aqui,
para análise da Subcomissão, uma proposta
com relação à autonomia do Distrito Federal.
E, como ela afeta toda a atual estrutura
jurídica do Distrito Federal, eu pediria que, na
ocasião da discussão da matéria, ela tivesse
um caráter prioritário, porque se a idéia que
propus prevalecer nesta Comissão, talvez
tenhamos de modificar todo esse elenco de
artigos apresentado aqui no anteprojeto. É
apenas uma lembrança, para que, na ocasião
da votação do Capítulo V, se dê destaque à
análise da minha emenda.
Era apenas isso que gostaria de dizer,
Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Acolho a proposta de V. Ex.ª no sentido da
priorização.
Concedo a palavra ao nobre
Constituinte Francisco Carneiro.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Sr. Presidente, gostaria de
saber se pode ser resolvido pela Presidência
ou se tem que ser posto em votação esse
destaque solicitado pelo Constituinte Ruben
Figueiró.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Naturalmente, compreende-se o sucesso do
ilustre Constituinte Francisco Carneiro em sua
vida privada, porque, se me tivesse deixado
terminar o meu pensamento, ele iria saber
que o acolhimento da proposta seria feito
depois de ouvir o Plenário.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Muito obrigado. Desculpe-me,
mas queria assegurar a votação.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o nobre Constituinte Felipe
Mendes.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, é sobre
o artigo “S", que diz respeito à
destinação de recursos pela União para
o Distrito Federal. Além do desempenho de
atividades de interesse comum, há o exercício
das atribuições inerentes à competência
prevista no artigo “G” etc. Ora, Sr. Presidente,
o artigo “S” obriga a União a financiar todas as
atividades do Distrito Federal, sem entrar no
mérito das arrecadações próprias do Distrito
Federal. Parece-me que os exercícios da
fiscalização e da arrecadação de tributos
podem ser arrefecidos pela garantia que a
Constituição daria ao Governo do Distrito
Federal, qualquer que seja a sua forma, para
a manutenção de todas as suas atividades.
Parece-me que, nesta questão, vale a pena
também examinarmos as propostas a nível da
Comissão dos Sistema Tributário, Orçamento
e Finanças, para que não ficássemos com
esta dúvida no texto. Por aqui, a Constituição
garante ao Distrito Federal todos os recursos
necessários à sua manutenção, não só
aqueles que seriam do seu interesse
específico por ser sede do Poder Central, mas
também por ser uma simples garantia da letra
constitucional.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Participo ao nobre Constituinte que
praticamente 60% dos recursos orçamentários
que o Distrito Federal tem recebido são uma
mera liberalidade do Governo Federal. Não há
qualquer dispositivo, até hoje, que estabeleça
mecanismos de garantia da transferência
destes recursos. Lamentavelmente, uma das
proposições feitas por mim a uma das
Comissões responsáveis pela divisão do bolo
orçamentário foi recusada. Ela permitiria
seguramente ao Distrito Federal ter uma
maior participação nos recursos que seriam
distribuídos pelo Brasil. O dispositivo colocado
no relatório pelo ilustre Relator não me parece
que dê obrigatoriedade à União de transferir
esses recursos por uma mera liberalidade,
como vem fazendo atualmente. Mas
seguramente o Relator terá mais informações
a dar a respeito do entendimento que ele tem
do dispositivo que foi colocado aqui.
Passo a palavra ao ilustre Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Estou vendo que este é um
dispositivo que está suscitando muitas
dúvidas. Inclusive estou aguardando
ansiosamente a emenda do nobre
Constituinte Francisco Carneiro. Realmente
como disse o nosso Presidente, 60% dos
recursos utilizados hoje pelo Distrito Federal
são repassados pela União. A mim não
parece que haverá grandes modificações pelo
simples fato de dotarmos o Distrito Federal de
autonomia. Inclusive quando falo no anteprojeto
em autonomia financeira, é porque tem que estar
claro na Constituição que o Distrito Federal tem
autonomia financeira. Pessoalmente, entendo
que autonomia financeira ele já tem. Ele não
pode ter capacidade financeira, o que é um
pouco diferente, mas autonomia financeira ele
tem. O que ele não tem é competência
legislativa, porque esta é delegada pela
Constituição ao Senado. O Senado é que legisla,
inclusive sobre matéria financeira, para o Distrito
Federal. O Distrito Federal hoje tem até uma
posição privilegiada, porque, salvo engano, o
artigo 30 da Constituição dá ao Distrito Federal a
competência cumulativa na fixação dos impostos
estaduais e municipais. É um privilégio do
Distrito Federal e dos em Municípios, o que era o
caso da antiga Guanabara. Então, tentei,
com esta redução, assegurar, de
forma mais clara e mais precisa, até porque
reconhecemos não a falta de autonomia, mas
a incapacidade financeira do Distrito Federal,
estes recursos, que já são repassados.
Realmente, muitas atividades aqui são do
interesse comum de ambos. Não sei se o
Governo Federal é inquilino do Distrito Federal
ou vice-versa, mas o fato é que têm atividades
comuns. Evidentemente as despesas com a
manutenção de certos serviços têm de ser
repartidas. Se não forem repartidas, a União
tem pelo menos que dotar o Distrito Federal de
recursos que lhe permitam o desempenho
dessas atividades. Mas vou reexaminar o
artigo, inclusive observando atentamente a
proposição do Constituinte Francisco Carneiro.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Nobre Relator, o Distrito
Federal não tem autonomia financeira, porque
não tem verbas destinadas especificamente
para tais ou quais necessidades. Por
exemplo, para a educação. Todos os anos ele
faz um orçamento, submete-o ao Senado, que
o aprova. Se depois houver qualquer
necessidade a mais, ele se vê com problemas,
como é o caso da greve dos professores. Se o
Distrito Federal tiver realmente percentuais ou
valores determinados dentro do Orçamento da
União – nada temos dentro do Orçamento da
União, então, ele terá autonomia financeira. Ele
terá de se ater àqueles percentuais ou àquelas
verbas estabelecidas dentro do Orçamento da
União. De forma que o Distrito Federal, em
termos financeiros, vive de pires na mão, vive a
pedir. Então, precisamos ter autonomia
financeira. Talvez ela fosse até mais
importante, mesmo sendo menos. Era para
este ponto que gostaria de chamar a atenção
de V. Ex.ª, porque não entendo que haja
autonomia financeira. Acho que há total
dependência financeira dos cofres da União.
Dependemos de tudo. Por exemplo, no caso da
polícia não somos dependentes. Por quê?
Porque a polícia é paga pela União. Neste caso
há autonomia, porque a polícia do Distrito
Federal é paga pela União.
Era esta a observação que queria
fazer.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
Lembro ao nobre Constituinte que, naturalmente,
o Distrito Federal tem autonomia financeira
sobre os seus parcos recursos. Ele não tem
recursos suficientes para o seu funcionamento
como um todo. Mas acredito que nós, do Distrito
Federal, devemos lutar junto à Comissão
apropriada para que os recursos sejam
apontados através de dispositivos legais. Vamos
lutar para que isto seja feito através de emenda
à Comissão própria. Então, o Distrito Federal,
além da autonomia que se propõe a ter, teria
recursos suficientes para gerir essa autonomia
financeira.
Quanto à proposição do ilustre
Constituinte Ruben Figueiró, lembro a S. Ex.ª,
antes de colocá-la em votação, o seguinte
aspecto: em primeiro lugar, tanto o anteprojeto
como as emendas serão votadas em globo.
Então, as emendas e cada artigo do anteprojeto
não serão discutidos e votados especificamente.
Será uma votação em globo. V. Ex.ª terá
oportunidade, evidentemente, se não for
aproveitada pelo ilustre Relator a emenda
apresentada por V. Ex.ª de pedir destaque, e
neste caso, então, obedeceremos rigorosamente
à ordem dos pedidos de destaque.
Portanto, após a aprovação
do anteprojeto, naturalmente as
emendas que não forem aproveitadas
105 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
poderão ser objeto de pedido de destaque
por cada um dos Srs. Constituintes. Na
hora da votação desses destaques,
daremos prioridade àquele que primeiro
chegar às mãos da Mesa.
Concedo a palavra ao ilustre
Constituinte Chagas Duarte.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Sr. Presidente, Srs.
Constituintes, gostaria de ouvir o Relator,
Constituinte Sigmaringa Seixas, sobre o
parágrafo único do art. V, relativo aos
territórios. O parágrafo único reza:
“Os Prefeitos municipais serão
eleitos por sufrágio universal, voto direto
e secreto.”
Por que também não se
mencionar aqui os membros das
Câmaras dos Vereadores?
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Esse dispositivo é estava interpelando aqui o Relator
praticamente o que existe no anteprojeto
da Comissão Affonso Arinos.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Parece-me que caiu no
esquecimento – desculpe interromper o
seu raciocínio – porque foi uma lei
complementar ou ordinária que criou as
Câmaras dos Vereadores.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Exatamente. E isso está
incluído no anteprojeto.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Gostaria que considerasse
isso como uma emenda.
O SR. PRESIDENTE (Jofran
Frejat): – Agradeço a V. Ex.ª.
Não havendo mais quem queira
manifestar-se a respeito do capítulo
relativo ao Distrito Federal e aos
Territórios, passo ao último capítulo, que
é sobre as Disposições Transitórias.
Com a palavra o Constituinte
Ruben Figueiró.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, é tão-
somente para lembrar ao nobre Relator a
redundância de dois artigos aqui: o art
“C” e o art. “E” das Disposições
Transitórias.
“Art C. A União Federal destinará
os recursos financeiros necessários à
construção da sede do Poder Legislativo
do Distrito Federal.”
“Art. E. A União Federal destinará
os recursos financeiros necessários à
construção das sedes dos Poderes
Legislativos dos Estados criados em
decorrência do disposto no artigo anterior.”
Creio que isso poderia ser
sintetizado, dentro do conceito que
acredito existir aqui entre todos os
membros desta Subcomissão. A minha
sugestão é no sentido de que o
artigo que sintetizaria esse pensamento
deveria ficar redigido, mais ou
menos, da seguinte forma:
“A União Federal destinará os
recursos financeiros necessários à
construção das sedes dos Poderes
Legislativos do Distrito Federal e dos
Estados criados em decorrência desta
Constituição.”
É somente isso, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran
Frejat): – Agradeço a V. Ex.ª a
colaboração e manifesto o meu interesse
sobre o inusitado de, pela primeira vez,
se usar a gramática dentro da técnica
legislativa. É um verdadeiro caso de
contração de dois artigos definidos.
(Risos.)
Concedo a palavra ao
Constituinte Chagas Duarte.
O SR. CONSTITUINTE
CHAGAS DUARTE: – Sr. Presidente,
porque estamos destinando recursos
financeiros somente para a construção
das sedes dos Poderes Legislativos.
Veja bem. Aqui existe, mas lá no nosso
Território não há a sede do Tribunal de
Contas. Temos hoje o Palácio da
Justiça, mas o Tribunal de Contas não
tem sua sede. Então, deveríamos incluir
isso também, inclusive para outros
prédios dos órgãos públicos
necessários ao funcionamento da
administração dos Estados. Vou estudar
mais sobre isso. Depois, apresentarei
emenda nesse sentido.
O SR. PRESIDENTE (Jofran
Frejat): – Agradeço a V. Ex.ª.
Alguém mais quer fazer uso da
palavra? (Pausa.) Praticamente,
esgotamos todos os capítulos referentes
ao anteprojeto apresentado nesta
Subcomissão.
Comunicamos aos ilustres
Constituintes a necessidade e a
oportunidade de fazermos uma nova
sessão, antes de terminarmos essa
discussão, a fim de que todos possam
trazer outras preocupações e outras
colaborações para esta Subcomissão.
Convoco uma nova sessão para
segunda-feira, às 17:00 horas.
(Intervenção fora do microfone.
Inaudível.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran
Frejat): – Dia 19 acaba. No dia 18
poderemos ter mais uma discussão, e
assim ganharemos tempo, porque no dia
19 teremos a última sessão, que será
para o encerramento e recebimento das
propostas que, provavelmente, serão
feitas na segunda-feira. Já pedi que
fossem feitas pelo menos no sábado e
no domingo, para dar tempo ao
nosso Relator de trabalhar no seu
substitutivo ou no aproveitamento das
emendas. Se protelarmos para o dia 19,
deixando a segunda-feira vazia,
seguramente perderemos um dia para
discutir mais alguma coisa que nos
venha à mente neste período. No dia 19,
às 9:30h, daremos início ao processo de
análise final e à votação do nosso
projeto.
(Intervenção fora do microfone.
Inaudível.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran
Frejat): – No início da votação, não. A
votação é entre 22 e 25. Encerraremos
praticamente a discussão do nosso ante-
projeto.
Está encerrada a sessão.
Subcomissão da União, Distrito Fe deral
e Territórios
16ª Reunião Extraordinária, realizada
em 18 de maio de 1987
Aos dezoito dias do mês de maio
do ano de mil novecentos e oitenta e
sete, às dezessete horas e quarenta
minutos, na Sala “B1” Anexo 11 da
Câmara dos Deputados, reuniu-se a
Subcomissão da União, Distrito Federal
e Territórios, sob a presidência do
Senhor Constituinte Jofran Frejat, com a
presença dos seguintes Constituintes:
Ruben Figueiró, Sigmaringa Seixas,
Annibal Barcellos, Chagas Duarte, Felipe
Mendes, Francisco Carneiro, Geovani
Borges, Mozarildo Cavalcanti, Roberto
Rollemberg, José Carlos Greco.
Havendo número regimental, o Senhor
Presidente declarou iniciados os
trabalhos e passou à leitura da Ata da
reunião anterior, que foi aprovada por
unanimidade. A seguir, deu-se i nício ao
expediente que constou da seguinte
leitura: Correspondências Expedidas: a)
Of. nº 322/87/PRES, de 14-5-87, ao
Deputado Estadual Raul Lopes,
encaminhando avulso do Relatório e
Anteprojeto apresentado pelo
Constituinte Sigmaringa Seixas; b) Of. nº
323/87/PRES, de 15-5-87, ao Presidente
da Subcomissão do Estado,
encaminhando cópias de atas e notas
taquigráficas das Reuniões desta
Subcomissão; c) Of. nº 324/87/PRES, de
15-5-87, ao Presidente da Subcomissão
dos Municípios e Regiões, nos mesmos
termos do Of. anterior.
Correspondências recebidas: 1)
Documento enviado pelos Sindicatos dos
Artistas e Técnicos de São Paulo e do
Paraná; 2) Emendas recebidas na
Subcomissão: a) Em 15-5-87 – Emendas
de nos 9 a 26; b) Em 16-5-87 Emendas
de nos 27 a 34; c) Em 17-5-87 –
Emendas de n os 35 a 40; d) Em 18-5-87
– Emendas de nos 41 a 57. Fim do
Expediente, o Senhor Presidente
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 106

anunciou os trabalhos do dia, colocando em
discussão o Anteprojeto. Discursaram os Srs.
Constituintes Ruben Figueiró, Francisco
Carneiro e Annibal Barcellos. O inteiro teor dos
trabalhos será publicado, após a tradução das
notas taquigráficas e o competente registro
datilográfico no Diário da Assembléia
Nacional Constituinte. Nada mais havendo a
tratar, o Senhor Presidente deu por encerrados
os trabalhos, às dezessete horas e cinqüenta e
nove minutos, convocando os Senhores
Constituintes para a próxima reunião a ser
realizada dia vinte e três de maio, às quatorze
horas e trinta minutos, para continuação do
debate de matéria constitucional. E, para
constar, eu, Antônio Fernando Borges Manzan,
Secretário, lavrei a presente Ata que, depois de
lida aprovada, será assinada pelo Senhor
Presidente. – Constituinte Jofran Frejat,
Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):–
Havendo número regimental, declaro abertos os
trabalhos da reunião da Subcomissão da União,
Distrito Federal e Territórios.
O Sr. Secretário procederá à leitura
da Ata da sessão anterior.
(É lida e aprovada a Ata da reunião
anterior.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– O Sr. Secretário procederá à leitura do
expediente. (Leitura do expediente.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A sessão de hoje corresponderá à
continuidade da discussão do anteprojeto
apresentado pelo Sr. Relator.
Estamos no período destinado à
apresentação das emendas, tanto pelo
membros da Subcomissão como pelos
Constituintes em geral.
Está franqueada a palavra aos Srs.
Constituintes, tanto para apresentação de
emendas como para discussão, ainda, do
anteprojeto. (Pausa.)
Lembro aos Srs. Constituintes que a
votação se iniciará no dia 22.
Até amanhã poderão ser entregues a
esta Subcomissão as propostas de emenda.
Entre os dias 19 e 22 o Sr. Relator apreciará
todas as emendas e as receberá, ou não,
incorporando-as ao seu anteprojeto.
A partir do dia 22, iniciar-se-á a votação
do anteprojeto, a discussão e votação das
emendas. Assim, seria muito importante o
quorum , porque o nosso prazo é fatal, é corrido.
Dia 19 cairá na terça-feira e dia 22, na sexta. Até
o dia 25, em que se dará a apresentação do
anteprojeto, disporemos apenas de sexta-feira,
sábado e domingo. Não haverá mais qualquer
prazo para apresentação do anteprojeto da
Subcomissão à Comissão Temática. Todas as
emendas, em globo, serão votadas, mas, estou
seguro de que haverá destaques, e, se os
houver, naturalmente, a votação será demorada.
Está franqueada – repito – à palavra
aos Srs. Constituintes, para continuarem a
discussão do anteprojeto. (Pausa.)
Já discutimos esse anteprojeto na sexta-
feira e esgotamos todos os capítulos. Havíamos
programado mais duas reuniões para discussão
da matéria, porque, eventualmente, os Srs.
Constituintes de outras Comissões poderiam
estar interessados em debatê-la.
Entretanto, não havendo quem queira
discutir hoje, vou suspender a reunião de
amanhã, que estava marcada para
as ilegível não terá nenhuma razão de
ser, já que hoje não houve qualquer discussão
sobre o assunto.
Gostaria de ouvir do Plenário alguma
sugestão no sentido de acomodarmos o
período da votação, porque não haverá mais
discussão até lá.
As emendas poderão ser
apresentadas até amanhã.
Algum dos Srs. Constituintes tem
proposta a apresentar? (Pausa.)
Seguramente, o nosso prazo é
exíguo, porém é o prazo regimental e deve
ser observado. O que se poderia fazer seria
adiantar um dia, não atrasar.
O SR. CONSTITUINTE RUBEM
FIGUEIRÓ: – Se o Relator apresentar seu
parecer – vamos supor – no decorrer do dia
20, nesse mesmo dia, à noite, poderemos
começar a discussão.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – De minha parte, nada
tenho a opor, se puder antecipar, eu o farei.
Porém, o prazo para recebimento de
emendas vai até amanhã, e o horário do seu
término não está definido. O Presidente irá
fixá-lo e se se decidir que será até às 24
horas?
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – A minha sugestão seria no
sentido de se apreciar o parecer no dia 20 à
noite, sendo votados tão somente os
destaques.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Aprovar-se-ia globalmente?
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Os destaques não ocorrerão, se o
anteprojeto for aprovado.
Se o projeto for aprovado,
suponhamos que os Srs. Constituintes
apresentem seus destaques a determinados
artigos, evidentemente esses destaques
só poderão ocorrer no momento em
que o anteprojeto do Relator não seja
aprovado. A partir da aprovação do
anteprojeto, os destaques desaparecem. Não
se poderia votar o destaque antes do
anteprojeto.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Poderemos votar, no dia 20, à
noite, o anteprojeto e os destaques, que não
serão muitos. Teremos talvez quatro ou cinco
destaques...
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao nobre Constituinte
Francisco Canteiro.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Sr. Presidente, em primeiro
lugar, devemos sair hoje daqui com tudo
assegurado para que, de fato, a votação se
faça dentro do prazo determinado, a fim de
que não venhamos a perder o prazo
regimental. É válido perder um pouco mais de
tempo com discussões e entendimentos
porque, inclusive, algum companheiro que
tenha que viajar, teria que assumir o
compromisso de aqui permanecer para
termos quorum para nossa sessão. Em
segundo lugar, gostaria de me dirigir ao nobre
Relator, constituinte Sigmaringa Seixas, para
pedir-lhe especial atenção para o seguinte: no
artigo S, do seu relato sobre o Distrito
Federal, está dito:
“A União Federal destinará ao
Distrito Federal os recursos financeiros
necessários ao desempenho de atividades de
interesse comum.”
Como teremos eleições para
Governador e aventamos a hipótese
de um governador ser de oposição ao
Presidente da República, esses “recursos
de interesse comum” poderiam suscitar
muita discussão e até chegar a impasses que
viriam dificultar interesses do Distrito Federal.
Estou apresentando emendas vazada nos
seguintes termos: – emenda modificativa,
artigo S:
“A União Federal suplementará o
Distrito Federal com os recursos que
necessitar para a manutenção de seus
serviços, inclusive aqueles de atividades de
interesses comuns...”
Aí entra o inteiro teor do trabalho de
V. Ex.ª:
"...a exercício de atribuições inerentes
à competência prevista no artigo G, desta
Constituição, à manutenção de efetivos e
armamentos de sua Polícia Militar.”
A justificativa já foi mais ou menos
explicitada, mas eu digo:
“Quando propomos substituir o termo
“atividades de interesse comum” por “recursos
que necessitar”, nós o fazemos porque a
primeira expressão fica muito ligada a um
julgamento comum às duas partes: União e
Distrito Federal, o que, por vezes, poderá
dificultar, demorar ou até impedir a solução de
importantes problemas. Como a segunda
expressão, “recurso que necessitar”, explicita
melhor a responsabilidade da União, do
Distrito Federal, interpreta-se, assim, essa
justificativa.”
Esta a emenda que apresento, e peço
especial atenção de V. Ex.ª, porque é um
detalhe, mas poderá dificultar no futuro.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a colaboração de V. Ex.ª.
Algum Constituinte deseja fazer uso
da palavra?
Concedo a palavra a V. Ex.ª,
Constituinte Annibal Barcellos.
O SR. CONSTITUINTE ANNIBAL
BARCELLOS: – No artigo T, na página 32,
diz o seguinte:
“Lei Federal disporá sobre
organização administrativa e judiciária dos
territórios, observadas normas e princípios
estabelecidos nesta Constituição.”
Estou falando de um modo geral dos
territórios, deixando de fora os territórios do
Amapá e de Roraima, pois, pela figura do
nosso Relator, os territórios ainda continuam
na atual Constituição. Acho que nessa parte a
Constituição fica muito amarrada. A
estrutura administrativa dos territórios
geralmente é estabelecida pelo ministério de
vinculação. A do território do Amapá,
há cinco anos, foi estabelecida pelo Ministério
do Interior. De maneira que isso vai
depender da Constituição das normas e
princípios estabelecidos na Constituição.
Creio que vai ficar muito amarrada. Ao invés
de “judiciária dos territórios”, acho que deverá
ser prevista a “criação dos Tribunais de
Justiça dos territórios” porque atualmente a
Justiça só trata do tribunal de primeira
instância. A criação de um tribunal de
segunda instância só diz, na atual
Constituição, como uma lei a ser
estabelecida pelo Congresso. É uma
idéia a ser estudada, se fica assim mesmo,
ou se pode já mencionar, nesta
Constituição, a criação dos Tribunais
107 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
de Justiça dos territórios. Aí ficam os
Tribunais de primeira e segunda instâncias. A
da segunda instância, atualmente depende do
Tribunal Federal de Recursos, aqui em
Brasília. Tudo fica muito amarrado. Dou uma
justificação e espero que o Relator verifique a
possibilidade de ser atendido. Quanto ao
artigo D, do parágrafo 3º , diz:
“Noventa dias após a transformação
de que trata esse artigo, o Tribunal Superior
Eleitoral fixará data para eleição do
Governador.”
Esse parágrafo 3º determina que
noventa dias após a transformação, o Tribunal
Superior Eleitoral fixará a data. Porém, o
artigo D estabelece que, até noventa dias
após a promulgação desta Constituição, o
Congresso deve aprovar a Lei Complementar.
Acho que está havendo uma superposição de
noventa dias. Quer dizer, noventa dias está
apoiando a Lei Complementar, e noventa dias
também para o Tribunal Superior Eleitoral
marcar a data. É um caso a ser estudado.
Talvez explicitar mais, porque diz
“após a transformação...” A transformação se
deu logo de início. Só na Lei Complementar?
A Lei Complementar vai fixar as
normas, mas acho que os territórios, já pela
Constituição, são transformados em Estado. A
Lei Complementar vai regular esta.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a emenda apresentada por V.
Ex.ª e as informações encaminhadas à Mesa.
A palavra continua franqueada aos Srs.
Constituintes.
Não havendo mais quem queira fazer
uso da palavra, dou por encerrada esta
reunião e convoco os Srs. Constituintes para
a nova reunião, que será marcada após
entendimentos que faremos para o início da
votação, tanto do anteprojeto como das
emendas e dos destaques. Agradeço a V.
Ex.as.
Está encerrada a sessão.
17ª Reunião Extraordinária, realizada em
23 de maio de 1987
Aos vinte e três dias do mês de maio
do ano de mil novecentos e oitenta e sete, às
quinze horas e dezesseis minutos, na Sala “B
1”, Anexo II da Câmara dos Deputados, reuniu-
se a Subcomissão da União, Distrito Federal e
Territórios, sob a presidência do Senhor
Constituinte Jofran Frejat, com a presença dos
seguintes Constituintes: Meira Filho, Ruben
Figueiró, Sigmaringa Seixas, Annibal Barcellos,
Chagas Duarte, Felipe Mendes, Francisco
Carneiro, Geovani Borges, Marluce Pinto,
Messias Soares, Mozarildo Cavalcanti, Paulo
Mincarone, Roberto Rollemberg, Pompeu de
Souza, Geraldo Campos, Arnaldo Preito,
Maurício Corrêa e Márcia Kubitschek. Havendo
número regimental, o Senhor Presidente
declarou iniciados os trabalhos e solicitou fosse
dispensada a leitura da Ata da reunião anterior,
que foi considerada aprovada. A seguir, deu-se
início ao Expediente que constou da seguinte
leitura: Correspondências expedidas: 1) Of. nº
326/87/Pres., ao Presidente da Subcomissão
dos Municípios e regiões – encaminha cópia
das reuniões nº 11 a 14 e notas taquigráficas
da 9º reunião; 2) Of. nº 327/87/Pres., ao
Presidente da Comissão de Sistematização,
encaminhando as notas taquigráficas da 10º
reunião; 3) Of nº 328/87/Pres., ao Líder do
PMDB na ANC, nos mesmos termos do ofício
anterior; 4) Of. nº 329/87/Pres., ao Presidente
da Comissão da Organização do Estado, nos
termos do ofício anterior, 5) Of. nº 339/87 ao
Governador do Estado de Roraima,
encaminhando notas taquigráficas da reunião
de 4 de maio corrente. Emendas recebidas: a)
Em 18-5-87 – de nos 58 a 85; b) Em 19-5-87 –
de nos 86 a 148; c) Em 20-5-87 – de nos 149 a
178. Correspondências recebidas: 1)
Telegrama do Deputado Aluyzio Numes
Ferreira, Secretário-Geral do PMDB/SP –
manifestando-se pela livre censura; 2) Of. nº
21.591/87/Sal., do Presidente da Câmara
Municipal de Guarulhos, encaminhando cópia
do Requerimento nº 96/87; 3) Of. nº GP–
248/87-ANC, do Presidente da ANC,
encaminhando cópia da decisão sobre a
consulta formulada pelo Presidente da
Comissão da Ordem Econômica; 4) Of. nº GP –
248/87-ANC, do Presidente da ANC, contendo
a interpretação sobre a questão de ordem
levantada pelo Constituinte Cardoso Alves; 5)
Carta do Sr. Henrique Batista da Silva Oliveira,
Presidente do Clube Positivista– RJ, remetendo
cópia de manifesto publicado no Jornal do
Brasil, em março de 1983; 6) Cópia da
exposição proferida pelo Dr. Nivaldo Krüger,
Secretário-Geral da Associação Brasileira dos
Municípios, perante a Subcomissão das
regiões e Municípios, em 22-4-87; 7)
Publicação – “Em defesa do Município e o
Município na próxima Constituição” – do
Instituto Brasileiro de Administração Municipal.
Findo o Expediente, o Senhor Presidente
anunciou os trabalhos do dia, passando a
palavra ao Relator, Constituinte Sigmaringa
Seixas, que passou à leitura do anteprojeto,
seguida pela apresentação dos destaques.
Encerrada a apresentação dos destaques
passou-se à votação do anteprojeto, que foi
aprovado por unanimidade e à votação dos 35
destaques apresentados, sendo que 6 foram
aprovados, 20 rejeitados, 4 retirados e 5
prejudicados. O inteiro teor dos trabalhos será
publicado, após a tradução das notas
taquigráficas e o competente registro
datilográfico, no Diário da Assembléia Nacional
Constituinte. Nada mais havendo a tratar, o
Senhor Presidente deu por encerrados os
trabalhos, às vinte e uma horas e dois minutos,
convocando os Senhores Constituintes para a
próxima reunião a ser realizada dia vinte e
cinco de maio, às quatorze horas e trinta
minutos, para continuação do debate de
matéria constitucional. E, para constar, eu,
Antônio Fernando Borges Manzan, Secretário,
lavrei a presente Ata que, depois de lida e
aprovada, será assinada pelo Senhor
Presidente. – Constituinte Jofran Frejat.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):–
O livro de presença acusa o comparecimento
de 11 Srs. Constituintes na Subcomissão.
Havendo número regimental, e sob a
proteção de Deus, dou por abertos os
trabalhos desta sessão.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, requeiro a dispensa
da leitura da ata e do expediente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Acolho a proposta de V. Ex.ª
Esta nossa sessão se realiza com o
objetivo de proceder à votação do anteprojeto
substitutivo do Sr. Relator. Gostaríamos que
este relatório e este anteprojeto tivessem
sido apresentados com mais tempo, para
que os Srs. Constituintes pudessem
deter-se um pouco mais nas propostas e
também nas emendas. Lamentavelmente,
embora houvesse um grande esforço do
Prodasen, de todos os servidores daquele
setor do Senado, o relatório e o anteprojeto só
nos chegaram às mãos há poucos minutos.
Como o Regimento define que a
apresentação de destaques tem que ser feita
até o iníc io da sessão de votação, vamos abrir
aqui uma exceção: o Sr. Relator vai fazer a
leitura do anteprojeto, e suspenderemos a
reunião por 15 minutos para que os Srs.
Constituintes apresentem os destaques às
emendas que acharem convenientes.
Lembro aos Srs. Constituintes que a
votação do anteprojeto será em globo, exceto
os destaques solicitados. A votação de acordo
como Regimento, será nominal e terá que ter
maioria absoluta, ou seja, temos que ter dez
votos a favor da proposta estabelecida ou
contra ela.
Na votação do destaque, o autor do
mesmo terá três minutos para defender a sua
posição. Terá também três minutos qualquer
dos Srs. Constituintes, para contraditar a
apresentação do autor do destaque. A seguir,
o Relator terá cinco minutos para expor a sua
posição, e, em seguida, passaremos à
votação, destaque por destaque.
O SR. CONSTITUINTE: – Pela
ordem, Sr. Presidente, peço a palavra.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Tem V. Ex.ª a palavra, pela ordem.
O SR. CONSTITUINTE: – Qual será
ordem de votação dos destaques?
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Ainda não recebemos...
O SR. CONSTITUINTE: – Será pela
ordem de apresentação, ou pela ordem no
anteprojeto?
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Pediria a V. Ex.ª que me permitisse decidir
sobre isso a partir da apresentação dos
destaques, porque há duas possibilidades:
uma, pela ordem de apresentação; outra, que
se agrupe por artigo que se vai decidir. Por
exemplo, se ao art. 1º forem apresentados
cinco ou seis destaques, talvez fosse mais
interessante agruparmos todos os destaques
do art. 1º e sairmos caminhando artigo por
artigo. No momento oportuno, ou seja, a partir
do momento em que forem definidos os
destaques, vamos dizer quais foram os
artigos e os parágrafos em que tal destaque
foi pedido, e poderemos então agrupá-los.
Entretanto, se forem poucos os destaques,
poderemos proceder por ordem de
apresentação à Mesa.
O SR. CONSTITUINTE: – Pode
também ocorrer o caso em que o destaque
não é no artigo do anteprojeto do Relator,
mas sim urna emenda que não foi
considerada.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
Não tem importância. V. Ex.ª pode apresentar o
destaque e mencionar o artigo correspondente
no primeiro anteprojeto que V. Ex.ª teve em
mãos e, se for possível, relacioná-lo com o
artigo do atual ante-projeto. Isso facilitará o
trabalho da Mesa. Naturalmente, e emenda de
V. Ex.ª, que pode ser aditiva, supressiva ou
modificativa, terá o destino da colocação que V.
Ex.ª mencionar, tanto no anteprojeto inicial
como no substitutivo.
Com estes esclarecimentos iniciais,
passo a palavra ao nobre Relator, para que S.
Ex.ª leia o substitutivo do anteprojeto
apresentado anteriormente.
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Para melhor facilitar o
acompanhamento de V. Ex.ª, vou ler o
dispositivo original, ou seja, o que constava do
anteprojeto, fazendo então referência às
alterações decorrentes da aprovação e
incorporação ao texto original das emendas
acolhidas pelo Relator.
Inicialmente, quero frisar que foram
encaminhadas a esta Subcomissão 178
emendas, das quais 26 foram aprovadas,
102 rejeitadas, 30 consideradas
prejudicadas e 16 aprovadas parcialmente.
(Pausa.)
“Art. 1º A República Federativa do
Brasil é constituída sob regime representativo
de Governo, de forma indissolúvel, da União,
dos Estados e do Distrito Federal.” Quando
houver alteração, então me aterei a ela.
“§ 1º Todo poder emana do povo e
em seu nome é exercido.”
No § 2º, temos a primeira alteração. O
texto original era o seguinte:
“§ 2º A União compreende os
Territórios...”
Acolhi uma emenda para alterar a
redação, que passa a ser a seguinte:
“§ 2º Os Territórios integram a União.”
Essa, a primeira alteração, decorrente
do acolhimento de uma emenda.
“§ 3º O Distrito Federal é a Capital da
União.
§ 4º São símbolos nacionais a
Bandeira, o Hino e as Armas da República,
adotadas na data da promulgação desta
Constituição, e outros, estabelecidos em lei.
Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão ter símbolos próprios.”
Não houve alteração.
“§ 59 É livre o uso de símbolos
nacionais pelo povo, na forma da lei.
§ 6º O Português é a língua oficial do
Brasil.”
A redação original era “o Português é
a língua nacional do Brasil” Então, houve uma
mudança de “nacional” para “oficial”.
“Art. 2º São Poderes da União o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário,
independentes e harmônicos entre si.” No
texto original, dizia-se:
“São Poderes da União o Legislativo,
o Executivo e o Judiciário, harmônicos e
coordenados entre si.”
Houve, então, uma alteração, em
decorrência do acolhimento de uma emenda.
O parágrafo único desse art. 2º
permanece como no original:
“Salvo nos casos previstos nesta
Constituição, é vedado a qualquer dos
Poderes delegar atribuições. Quem for
investido na função de um deles não poderá
exercer a função de outro.
Art. 3º Incluem-se entre os bens da
União:
1 – A porção de terras devolutas
indispensável à defesa das fronteiras, as
fortificações e construções militares, bem
assim as vias de comunicação e a
preservação ambiental.
Essa expressão “preservação
ambiental” foi introduzida na nova redação do
anteprojeto.
No inciso II não houve alteração:
“II – Os lagos e quaisquer correntes
de água em terrenos de seu domínio que
banhem mais de um Estado, sirvam de limite
com outros países ou se estendam a território
estrangeiro; as ilhas fluviais e lacustres, nas
zonas limítrofes com outros países; as ilhas
oceânicas e as marítimas, excluídas as já
ocupadas pelos Estados na data da
promulgação desta Constituição.”
No inciso III, “o espaço aéreo”, não
houve alteração.
“IV – A plataforma continental.
V – o mar territorial e patrimonial.
VI – Os recursos minerais do subsolo.
VII – As cavidades naturais
subterrâneas, assim como os sítios
arqueológicos pré-históricos e os
espeleológicos do subsolo.”
No inciso VII houve uma alteração, em
razão do acolhimento de uma emenda aditiva:
“As terras ocupadas pelos índios, que
dela terão posse permanente e usufruto
exclusivo das riquezas naturais do solo, do
subsolo e de todas as utilidades neles
existentes. No inciso IX não houve alteração:
“IX – Os bens que atualmente lhe
pertencem ou que vierem a ser atribuídos à
União por meio de tratados internacionais.
§ 1º É assegurada aos Estados e
Municípios litorâneos a participação no resultado
da exploração econômica da plataforma
continental e do mar territorial e patrimonial, na
forma prevista em lei complementar.
§ 2º É assegurada aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios, nos termos da
lei complementar, a participação no resultado da
exploração econômica e do aproveitamento de
todos os recursos naturais, renováveis ou não
renováveis, bem assim dos recursos minerais do
subsolo em seu território”.
Esta apresentou uma alteração
também em razão do acolhimento de uma
emenda aditiva. No texto original, viria em
seguida o § 3º, que foi suprimido em razão da
alteração constante do inciso VIII, do art. 3º
“§ 3º O mar territorial e patrimonial é
de 200 milhas:
Não houve alteração.
No § 4º houve uma alteração, para
incluir a expressão “até”:
“§ 4º A faixa interna de até 100
quilômetros de largura, paralela à linha divisória
terrestre do território nacional, é considerada
indispensável à defesa das fronteiras, e será
designada como faixa de fronteira, conforme
dispuser a lei complementar.
Art. 4º Incluem-se entre os bens do
domínio dos Estados os lagos em terreno que
lhes pertence, assim como os rios que nele
têm nascente e foz; as ilhas fluviais e
lacustres; as ilhas oceânicas e as marítimas
por eles já ocupadas na data da promulgação
desta Constituição e as terras devolutas não
compreendidas no domínio da União.”
Não houve alteração.
108
“Art. 5º. Os Estados podem incorporar-
se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se,
para se anexarem-se a outros ou formarem
novos Estados, mediante deliberação das
respectivas Assembléias Legislativas, plebiscito
das populações diretamente interessadas e
aprovação do Congresso Nacional, na forma
regulada em lei complementar.”
Não sei se estou sendo muito rápido
e, com isso, impedindo que V. Ex.as anotem
os destaques.
“Art. 6º A União e os Estados observarão
o resultado de consulta às populações
diretamente interessadas, por sistema
plebiscitário, para a construção de aeroportos,
hidrelétricas, pólos petroquímicos, usinas
nucleares, depósito de material e lixo atômico ou
quaisquer empreendimentos que prejudiquem a
qualidade de vida das comunidades ou ofereçam
risco à vida humana e ao equilíbrio ecológico.”
Também não houve alteração.
“Parágrafo único. O disposto neste
artigo obedecerá os requisitos e condições
estabelecidos em lei complementar.”
CAPÍTULO II
Da competência privativa da União Federal
Art. 7º Compete à União:
I – Manter relações com Estados
estrangeiros, celebrar tratados e convenções
sobre matéria de natureza internacional,
participar de organizações internacionais de
fins pacíficos.”
Houve uma alteração, para incluir a
expressão “de fins pacíficos”.
“II– Declarar guerra e celebrar a paz.
III – Organizar e manter as Forças
Armadas, a segurança das fronteiras e a
defesa externa.
IV – Permitir, nos casos previstos em
lei complementar, que forças estrangeiras
aliadas transitem pelo território nacional ou
nele permaneçam temporariamente, sob
comando de autoridades brasileiras, vedada a
concessão de bases militares.
V – Decretar o estado de sítio e a
intervenção federal.
VI – Autorizar e fiscalizar a produção
e o comércio de material bélico, de armas e
explosivos, vedada sua exportação por
empresa privada.”
(Intervenção fora do microfone –
inaudível.)
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Estou lendo no meu original, pois
havia feito algumas anotações. Agora, fico com
uma dúvida. Realmente, o texto que constava do
avulso está em dissonância com aquele que nos
foi encaminhado. De qualquer maneira, deixo
aqui como destaque, para examinar nos 15
minutos de suspensão da reunião. (Pausa.)
O inciso VI diz:
“VI – Autorizar e fiscalizar a produção
e o comércio de material bélico, de armas e
explosivos.”
VII – Organizar e manter a Policia
Federal.
109 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
VIII – Exercer a classificação de
diversões públicas.
IX – Emitir moeda.
X – Fiscalizar as operações de
crédito, de capitalização e de seguros.
XI – Planejar e promover o
desenvolvimento nacional, ouvidos os
Estados e os órgãos regionais interessados,
visando à eliminação das disparidades
econômicas e sociais entre as regiões do
País, respeitadas suas peculiaridades.”
Aqui, houve uma alteração, em razão,
também, do acolhimento de uma emenda
aditiva, a partir da expressão “interessados” –
de “visando à eliminação” até o final.
XII – Estabelecer os planos nacionais
de viação, transportes, habitação, informática
e gerenciamento costeiro.
XIII – Manter o serviço postal e o
Correio Aéreo Nacional, vedada a permissão,
autorização ou concessão.”
Isso também foi acrescido, “vedada a
permissão, autorização ou concessão”, em
razão do acolhimento de uma emenda.
“XIV – Explorar, diretamente ou
mediante autorização ou concessão:
a) Os serviços nacionais, interestaduais
e internacionais de telecomunicações.”
Houve, também, um acréscimo em
razão do acolhimento de uma emenda aditiva:
“Nacionais, interestaduais e internacionais”.
“b) Os serviços e instalações de
energia elétrica no âmbito interestadual e o
aproveitamento energético dos cursos d’água
pertencentes à União.”
Também houve acréscimo.
“c) A navegação aérea, aeroespacial
e a utilização da infra-estrutura aeroportuária.”
Não houve alteração.
“d) As vias de transporte entre portos
marítimos e fluviais e fronteiras nacionais, ou que
transponha os limites de Estado ou Território,
bem como a navegação aquaviária.”
Houve uma alteração a partir de
“Território”: “Bem como a navegação aquaviária”.
“e) Os serviços e instalações de
energia nuclear de qualquer natureza.”
Não houve alteração. (Pausa.)
Aqui, estou verificando que houve um
lapso, porque, em verdade, acolhi uma
emenda que acrescia esse inciso de uma
outra letra, a letra f, que teria o seguinte teor:
“f) O transporte coletivo de alta
capacidade.”
Isso, provavelmente, se deve ao acúmulo
de trabalho do Prodasen. Passei a noite inteira lá,
só saindo às 9h 30min – e vários relatores
estavam na mesma situação. Com isso, não pude
fazer uma revisão mais adequada do texto, mas,
em verdade, acolhi uma emenda para incluir a
letra f nesse inciso, que diz respeito ao transporte
coletivo de alta capacidade, competindo à União a
exploração, diretamente ou mediante autorização
ou concessão, do transporte coletivo de alta
capacidade.
Até pediria que se fizesse
uma anotação no texto, pois tenho a
emenda.
“XV – Manter cooperação econômica,
administrativa, financeira e cultural com os
Estados e outras pessoas jurídicas de direito
público interno.”
Não houve alteração.
“XVI – Celebrar convênio e acordo
para a execução de leis e serviços
federais.
XVII – Organizar e manter os serviços
e as instituições oficiais de estatística,
geografia e cartografia.
XVIII – ................................................”
Infelizmente, o anteprojeto chegou
agora e sequer tive tempo de fazer uma
revisão, mas estou verificando, realmente,
algumas incorreções. À medida que formos
lendo, vamos procurar saná-las.
“XV – Manter cooperação ...................
XVI – Celebrar convênio .....................
XVII – Organizar e manter o Poder
Judiciário e o Ministério Público do Distrito
Federal e dos Territórios.”
Está certo. Acho que o erro foi meu,
na hora de ler.
“XVIII – Organizar e manter os
serviços e as instituições oficiais de
estatística, geografia e cartografia.
XIX – Disciplinar o acesso ao
mercado interno, de modo a viabilizar o
desenvolvimento sócio-econômico, o bem-
estar do povo e a realização da autonomia
tecnológica e cultural do País.
XX – Conceder anistia.
XXI – Legislar sobre:
a) ........................................................”
Aliás, o inciso XIX foi um acréscimo.
Não constava do anteprojeto original, e acolhi
emenda para introduzir esse dispositivo.
“XXI – Legislar sobre:
a) Direito Civil, Comercial, Penal,
Processual, Eleitoral, Marítimo, Aeronáutico,
Espacial e do Trabalho e normas gerais do
Direito Tributário.”
Não houve alteração.
“b) Organização e funcionamento dos
serviços federais.”
Também não houve alteração.
“c) Desapropriação.
d) Requisição de bens e serviços
civis, em caso de perigo iminente, e militares,
em tempo de guerra.”
Não houve alteração.
“e) Águas, telecomunicações,
informática, serviço postal, energia elétrica,
térmica, nuclear ou qualquer outra.
f) Sistema monetário e de medidas,
título e garantia dos metais.”
Também não houve alteração.
“g) Política de crédito, câmbio e
transferência de valores para fora do País,
comércio exterior e interestadual.”
Não houve alteração.
“h) Navegação marítima, fluvial e
lacustre, regime dos portos.
i) Trânsito e tráfego interestadual em
rodovias federais.
j) Jazidas, minas, outros recursos
minerais e metalurgia, potenciais de energia
hidráulica, bem assim o regime do seu
aproveitamento e exploração.”
Também não houve alteração.
“l) Nacionalidade, cidadania e
naturalização.
m ) Populações indígenas, inclusive
garantia de seus direitos.”
Houve um acréscimo: “inclusive
garantia de seus direitos”.
“n) Emigração, imigração, entrada,
extradição e expulsão de estrangeiros.
o) Condições e capacidade para o
exercício das profissões.”
A letra p, no anteprojeto original,
falava em higiene e segurança do trabalho.
Isso foi retirado daqui e passado para a
competência comum, de maneira que p
passou a ser “símbolos nacionais”.
“q) Organização judiciária do Ministério
Público do Distrito Federal e dos Territórios e
organização administrativa dos Territórios.”
Não houve alteração.
“r) Sistema estatístico e cartográfico
nacionais.”
Não houve alteração.
“s) Condições de exercício do direito
de reunião.
t) Outras matérias necessárias ao
exercício da competência legislativa e dos
poderes que lhe são concedidos nesta
Constituição. (Também não houve alteração.)
CAPÍTULO III
Da Competência Comum da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios
Art. 8°: .................................................
“São da competência comum da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios as seguintes atribuições:
1º – Observar e fazer observar o
cumprimento da Constituição Federal, das leis
e zelar pelas instituições democráticas.
Não houve alteração.
2º (O 2 já é uma inserção, em razão
do acolhimento integral de uma emenda).
Estabelecer e executar planos de bem-
estar social, visando à assistência e proteção à
infância, à adolescência, aos deficientes físicos,
aos excepcionais e aos idosos.
3° Amparar e zelar pela guarda dos
documentos, obras e locais de valor histórico ou
artístico, monumentos e paisagens naturais
notáveis, assim, como jazigos fossilíferos e ferros,
sítios arqueológicos, espeleológicos, parques
nacionais e monumentos geológicos, além de
outros bens culturais de valor histórico e artístico.
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
Aí houve uma alteração, a partir de
"como". Quer dizer, houve uma inserção. De
"jazigos fossilíferos", até "geológicos". A partir
de "outros bens culturais", já era da redação
original.
4º Impedir a evasão de obras de arte,
de outros bens culturais e naturais de valor
histórico e artístico.
5º Promover o turismo e colaborar
para sua promoção.
6º Proporcionar os meios de acesso à
cultura e à educação e promover a ciência e a
cultura.
7º Estabelecer, planejar e promover o
desenvolvimento regional, bem assim as
endomigrações.
8º Organizar, executar e controlar as
ações de promoção, proteção e recuperação
da saúde.
Esse art. 8º foi alterado.
9º Estabelecer e executar planos de
abastecimento e habitação.
Aqui a alteração foi apenas para
introduzir a expressão "habitação", que antes
fazia parte da competência privativa da União.
10 – Organizar a defesa civil
permanente, em especial contra as
calamidades públicas, as secas e as
inundações.
11 – Proteger o meio ambiente e
combater a poluição em qualquer de suas
formas.
12 – Preservar as florestas, a fauna e
a flora.
13 – Combater a miséria e os fatores
de marginalização social do homem,
promovendo a integração social dos setores
desfavorecidos.
14 – (Também é uma introdução)
Explorar diretamente, ou mediante
autorização ou concessão, na forma de lei
complementar:
a) Os serviços intermunicipais e locais
de telecomunicações;
b) Os serviços de instalações de
energia elétrica de qualquer natureza, exceto
os privativos da União, com aproveitamento
de energia hidráulica de potência reduzida,
em qualquer caso a captação de energia
solar.
15 – Legislar sobre:
a) Direito Financeiro e Orçamento;
b) Direito Agrário;
c) Direito de procedimento
administrativo;
d) Direito do trânsito e do tráfego nas
vias terrestres locais e intermunicipais;
e ) Direito Urbanístico;
f) Direito Econômico;
g) Produção, consumo e sua
propaganda comercial;
h) Proteção ao consumidor, inclusive
sistemas de consórcio e poupança;
i) Florestas, caça, pesca, fauna e
conservação da natureza;
j) Proteção ao meio ambiente e
controle da poluição;
l) Responsabilidade por danos ao
meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico;
m ) Proteção ao patrimônio histórico,
cultural, artístico e paisagístico;
n) Educação, cultura, ensino,
desportos e turismo;
o) Defesa e proteção da saúde;
p) regiões metropolitanas e de
desenvolvimento;
q) Endomigrações;
r) (É um acréscimo também) Águas
em todo o seu ciclo hidrológico,
sejam superficiais, subterrânea sou
meteóricas;
Art. 9º A União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios poderão celebrar
convênios para execução de suas leis,
serviços ou decisões, por intermédio de
funcionários federais, estaduais, do Distrito
Federal e municipais.
Art. 10. À União, aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios é
vedado:
1 – Criar distinções ou preferências
em favor de uma dessas pessoas de direito
público interno contra outra;
2 – Estabelecer cultos religiosos ou
igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o
exercício ou manter com eles ou seus
representantes relações de dependência ou
aliança, ressalvada a colaboração de
interesse público na forma e nos limites da lei
federal, exclusivamente no setor educacional,
no assistencial e no hospitalar;
3 – Recusar fé nos documentos
públicos; Art. 11. Compete à União e aos
Estados a legislação comum sobre:
1 – Regime penitenciário;
2 – Registros públicos e notariais,
juntas comerciais e tabelionatos, custas e
emolumentos remuneratórios do serviço
forense;
3 – Criação, funcionamento e
processo do juizado de pequenas causas;
4 – Procedimentos judiciais;
5 – Direito Judiciário, organização e
assistência judiciária. Ministério Público e
Defensoria Pública;
6 – Efetivos e armamentos das
polícias militares e condições de sua
convocação, inclusive mobilização;
7 – Seguridade e Previdência Social;
8 – (Também foi uma inclusão. Não
existia no texto original, Higiene, segurança e
inspeção do trabalho;
Art. 12. A legislação da União, no
domínio das matérias da competência
comum, terá o conteúdo de normas gerais,
com validade e eficácia no âmbito nacional e
denominação de lei complementar.
Art. 13. A legislação dos Estados,
Distrito Federal e Municípios, no domínio das
matérias da competência comum, terá o
conteúdo de normas suplementares, com
validade e eficácia no âmbito da respectiva
jurisdição territorial e denominação de lei
suplementar.
§ 1º No exercício da legislação
suplementar os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios observarão a lei
complementar de normas gerais pré-
existentes.
§ 2º A vigência ulterior de lei
complementar de normas gerais tornará
ineficaz a lei suplementar, naquilo em que
esta conflitar com a da União, relativamente à
matéria da competência comum.
110
Capítulo IV
Da Intervenção Federal
A União não intervirá nos Estados e
no Distrito Federal, salvo para:
1 – Manter a integridade nacional.
2 – Repelir invasão estrangeira ou de
um Estado em outro.
3 – Pôr termo a grave perturbação da
ordem pública.
4 – Garantir o livre exercício de
qualquer dos poderes estaduais.
5 – Reorganizar as finanças do
Estado que:
a) Suspenderem o pagamento de sua
dívida fundada por mais de dois anos
consecutivos, salvo por motivo de força maior.
b) Deixar de entregar aos Municípios
as cotas que lhes forem devidas a título de
transferência de receitas públicas de qualquer
natureza, ou de participação na renda
tributária, nos prazos previstos nesta
Constituição ou em lei.
6 – Prover a execução da lei da
União, ordem ou decisão judiciária.
7 – Assegurar a observância dos
seguintes princípios constitucionais:
a) Forma republicana, democrática,
representativa e federativa.
b) Respeito aos direitos humanos.
c) Temporariedade dos mandatos
eletivos, cuja duração não exercerá à dos
mandatos federais correspondentes.
d) Harmonia e coordenação do
poderes.
e ) Garantias do Poder Judiciário e do
Ministério Público.
g) Prestação de contas da
administração pública direta e indireta."
Aqui vem uma alteração, desde que
entendi acolher emenda do nosso ilustre
colega, Constituinte Roberto Rollemberg, que
condiciona o decreto de intervenção à prévia
aprovação do Congresso Nacional.
"Art. 15. Compete ao Presidente da
República, mediante prévia aprovação do
Congresso Nacional, decretar a intervenção.
Parágrafo único. A decretação da
intervenção dependerá:
a) No caso do inciso IV, do art. 14, de
solicitação do Poder Legislativo ou Poder
Executivo, coacto ou impedido, ou de
requisição do Supremo Tribunal Federal, se
a coação for exercida contra o Poder
Judiciário.
b) No caso do inciso VI, do art. 14, de
requisição do Supremo Tribunal Federal, ou
do Tribunal Superior Eleitoral, conforme a
matéria.
c) Do provimento pelo Supremo
Tribunal Federal de representação do
Procurador-Geral da República, nos casos do
inciso VI, primeira parte, e nos do inciso VII,
ambos do art 14.
d) Nos casos dos incisos VI e VII, do
art 14, do decreto do Presidente da República
limitar-se-á a suspender a execução do ato
impugnado, se essa medida bastar para o
estabelecimento da normalidade no Estado."
Em razão dessa alteração, tive que
fazer um acréscimo, que é exatamente
o art. 16:
111 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
"O decreto intervenção que, se
couber, nomeará o interventor, observará em
sua amplitude prazo e condições de
execução, os termos da autorização do
Congresso Nacional, que decidirá no prazo de
vinte e quatro horas, a contar do recebimento
da mensagem do Presidente da República.
§ 1º Se não tiver funcionando, o
Congresso Nacional será convocado,
extraordinariamente, dentro do mesmo prazo
de vinte e quatro horas, para apreciar a
mensagem do Presidente da República.
§ 2º Cessados os motivos da
intervenção, as autoridades afastadas de seus
cargos a eles voltarão, salvo impedimento
legal.
CAPITULO V
Do Distrito Federal e dos Territórios
SEÇÃO 1
Do Distrito Federal
Art. 17. O Distrito Federal é dotado de
autonomia política, legislativa, administrativa e
financeira.
Art. 18. A eleição do Governador e do
Vice-Governador do Distrito Federal far-se-á
por sufrágio universal, voto direto e secreto e
os mandatos coincidirão com os de
Governador e Vice-Governador de Estado.
Art. 19. Lei orgânica, votada pela
Assembléia Legislativa, disporá sobre a
organização dos Poderes Legislativo e
Executivo do Distrito Federal, observadas as
normas e os princípios estabelecidos nesta
Constituição.
Parágrafo único. A lei a que se refere
este artigo poderá:
1) Estabelecer descentralização
administrativa do Distrito Federal.
2) Instituir nas administrações
regionais conselhos comunitários, nos quais
admitirá a participação popular mediante
representação.
Art. 20. A representação na
Assembléia Legislativa do Distrito Federal,
exercida por deputados distritais, obedecerá
ao disposto nesta Constituição e na
Legislação Eleitoral.
Art. 21. A representação do Distrito
Federal na Câmara Federal e no Senado da
República aplicar-se-á a legislação eleitoral
naquilo que dispuser para os Estados.
Art. 22. Cabe ao Distrito Federal
organizar e manter os efetivos e armamentos
de sua Polícia Militar.
Parágrafo único. Aplica-se ao Distrito
Federal o disposto nos incisos VI a VIII, do art.
11 desta Constituição.
Art. 23. A União destinará ao Distrito
Federal os recursos financeiros necessários
ao desempenho de atividades de interesse
comum ao exercício das atribuições inerentes
à competência prevista no art. 8º desta
Constituição, à manutenção de efetivos e
armamentos à Polícia Militar e à superação,
quando indispensável, das insuficiências da
economia local.
Art 24. São bens do Distrito Federal
os que lhe pertencem na data da promulgação
desta Constituição."
Art. 25 (Foi inserido em razão do
acolhimento de uma emenda do Constituinte
Jofran Frejat, nosso ilustre Presidente.)
"A representação judicial e a
Consultoria Jurídica do Distrito Federal
competem privativamente aos seus
Procuradores, cujo ingresso na carreira
depende de aprovação em concurso público
de provas e títulos.
Parágrafo único. Respeitados os
direitos, deveres e impedimentos próprios,
previstos em lei, são assegurados aos
Procuradores do Distrito Federal os encargos
em garantias, assim como o tratamento
remuneratório atribuído aos membros do
Ministério Público.
Seção II
Dos Territórios
Art. 26. Lei Federal disporá sobre a
organização administrativa e judiciária dos
Territórios, observadas as normas e os
princípios estabelecidos nesta Constituição.
Art. 27. A função executiva no
Território será exercida por Governador
nomeado e exonerado pelo Presidente da
República, com aprovação do nome pelo
Senado Federal.
Art. 28. Os Territórios são divididos
em Municípios, salvo quando não
comportarem essa divisão.
Parágrafo único. Os prefeitos
municipais serão eleitos por sufrágio
universal, voto direto e secreto.
Art. 29. As contas do Território serão
submetidas ao Congresso Nacional, nos
termos, condições e prazos previstos nesta
Constituição.
Art. 30. A manutenção da ordem
pública nos Territórios caberá aos órgãos
policiais instituídos em lei especial.
Art. 31. Lei complementar disporá
sobre a criação de Território, sua
transformação em Estado, sua reintegração
ao Estado de origem, ou qualquer das formas
previstas no art. 5º
Capítulo VI
Disposições Transitórias.
Art. 32. As primeiras eleições para
Governador, Vice-Governador e a Assembléia
Legislativa do Distrito Federal serão
realizadas no dia 15 de novembro de 1988,
tomando posse os eleitos no dia 1º de janeiro
de 1989.
Parágrafo único. Os mandatos dos
eleitos empossados, em conformidade com o
disposto neste artigo, coincidirão com os dos
atuais Governadores, Vice-Governadores de
Estado e Deputados Estaduais.
"Art. 33. A primeira representação na
Assembléia Legislativa do Distrito Federal,
composta nos termos previstos na legislação
eleitoral, votará a Lei Orgânica do Distrito
Federal de acordo com o estabelecido nesta
Constituição.
Parágrafo único. O Congresso
Nacional incluirá em seu Regimento Comum a
Comissão Mista Permanente do Distrito
Federal, integrada, exclusivamente, pelos
representantes deste na Câmara Federal
e no Senado da República, a quem
caberá legislar para o Distrito Federal,
enquanto não for instalada a sua Assembléia
Legislativa na data prevista no art.
31 destas disposições transitórias. "O
nosso Presidente, inclusive, apresentou uma
emenda neste sentido, na Câmara".
"Art. 34. A União destinará os
recursos financeiros necessários à construção
da sede do Poder Legislativo do Distrito
Federal."
"Art. 35. Os atuais Territórios de
Roraima e Amapá serão transformados em
Estados nos termos de lei complementar,
aprovada pelo Congresso Nacional, até
90 dias após a promulgação desta
Constituição.
§ 1º Os limites territoriais dos Estados
criados, na forma deste artigo,
corresponderão aos dos atuais Territórios.
§ 2º A União, pelo prazo que a lei
referida neste artigo estabelecer, proverá os
Estados, assim criados, de recursos
financeiros indispensáveis à sua instalação e
manterá programa especial para a sua
consolidação e seu desenvolvimento.
§ 3º Noventa dias após a
transformação de que trata este artigo o
Tribunal Superior Eleitoral fixará data para a
eleição do Governador, Vice-Governador,
Deputados Estaduais e de três Senadores,
cabendo ao menos votado deste, nos termos
da legislação eleitoral, exercer o restante do
mandato de quatro anos e os demais o de oito
anos.
§ 4º O Governador, o Vice-
Governador e os Deputados Estaduais
terminarão os seus mandatos, com os demais
eleitos, a 15 de novembro de 1986.
§ 5º A representação dos Territórios
na Câmara Federal não será alterado até o
término dos atuais mandatos."
"Art. 36. A União destinará os
recursos financeiros necessários à construção
das sedes do Poder Legislativo dos Estados
criados em decorrência do disposto no artigo
anterior.''
"Art. 37. No prazo de dois anos,
contados da promulgação desta Constituição,
o Congresso Nacional aprovará nova divisão
territorial do País, segundo disposto em lei
complementar."
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com os nossos agradecimentos ao
eminente Relator Constituinte pelo esforço
em apreciar, em tão exíguo prazo, essas
178 emendas e apresentar um substitutivo
ao anteprojeto, a Presidência desta
subcomissão suspende por quinze
minutos esta sessão para que os Srs.
Constituinte possam apresentar os destaques
às emendas apresentadas para este
anteprojeto.
Está suspensa a sessão.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Reiniciamos a sessão, trazendo aos Srs.
Constituintes as seguintes informações: o
anteprojeto recebeu um pedido de destaque
para os seguintes artigos, parágrafos, incisos
e alíneas, que são, art. 1º, art. 2º, art. 3º, art.
4º, art. 7º, incisos VI, VIII, XIII, XIV, XVII e XX
do art. 7º, inciso VIII do art. 8º, alínea "r", do
inciso XV, do art. 8º, art. 11, inciso VII do art.
14, art. 15, art. 17, art. 18, art. 19 e seu
parágrafo único, art. 20, art. 32, art. 33, art.
34, art. 35, das Disposições Transitórias; e
ainda três emendas supressivas ou aditivas
às Disposições Transitórias.
Exceto esses artigos, parágrafos,
incisos e alíneas que foram
mencionados, vamos votar o anteprojeto,
destacados esses artigos, parágrafos,
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
incisos e alíneas que foram mencionados. O
resto do anteprojeto vai ser votado, menos isso
que foi destacado para a votação em separado.
Como os Srs. Constituintes sabem, a
votação de matéria constitucional é nominal.
Vou pedir ao Sr. Vice-Presidente da
Subcomissão, Senador e Constituinte Meira
Filho, com o auxílio do nosso Secretário, que, ao
chamar pelo nome cada um dos Srs.
Constituintes, aqueles que votarem a favor do
anteprojeto, menos os destaques, dirão "sim";
aqueles que votarem contra o anteprojeto,
menos os destaques, dirão "não". Os destaques
não estão em votação; apenas o anteprojeto,
exceto aquilo que foi destacado anteriormente.
O Sr. Vice-Presidente Meira Filho vai
proceder à votação.
(Votação)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A Presidência vai proclamar o resultado da
votação: votaram "sim" dezesseis Srs.
Constituintes. Não houve voto contrário.
Está aprovado o substitutivo
apresentado pelo Sr. Relator, exceto os
destaques.
Passaremos, agora, à votação dos
destaques.
Foram apresentados dois pedidos de
destaque ao artigo 1º O primeiro pedido de
destaque é do Sr. Constituinte Ruben
Figueiró, sobre o art. 1º do anteprojeto. S.
Ex.ª propõe uma emenda substitutiva ao art.
1º com o seguinte teor: "O Brasil é uma
República Federativa constituída sob regime
representativo e sistema parlamentar de
Governo pela união indissolúvel dos Estados,
do Distrito Federal e dos Territórios."
Concedo a palavra ao nobre
Constituinte para a defesa do seu pedido de
destaque.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, Sr. Relator, Srs.
Constituintes, meu pedido de destaque é tão-
somente para ressaltar o desejo, na
Assembléia Nacional Constituinte, de se
estabelecer no País um sistema parlamentar de
governo. Se estamos disciplinando aqui a
organização do Estado, quer-me parecer que é
da competência desta Subcomissão também
fixar o sistema de governo. O anteprojeto do
Sr. Relator, não obstante a precisão com que
se apresentou, tem, com relação a esse art. 1º,
uma lacuna. Gostaria, portanto, que esta
Subcomissão apreciasse essa questão de
ordem doutrinária que, por certo, vai ser
definida no esboço final da Constituição da
República. Era este o breve esclarecimento
que gostaria de transmitir a V. Ex.as.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):–
Se alguém desejar contraditar, pode fazer uso
da palavra. (Pausa.) Não havendo quem queira
manifestar-se concedo a palavra ao Sr. Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, peço a palavra para
contraditar.
Sou adepto dessa forma de governo,
tendo, inclusive, a oportunidade de me
manifestar a esse respeito em recente reunião
da bancada do PMDB. Mas não me parece que
seja prudente decidirmos isto nesta
subcomissão. Esta matéria está afeta a outra
subcomissão. Repetindo, não seria prudente
excluirmos um tema de outra subcomissão. Se
se vier a aprovar o sistema parlamentarista de
governo, seria o caso da redação do art. 1º
sofrer uma alteração, posteriormente, na
Comissão de Sistematização.
Mantenho, portanto, meu anteprojeto
nesse dispositivo.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Passaremos à votação. Vou ler as duas
proposições. O anteprojeto do ilustre Relator
diz: "a República Federativa do Brasil é
constituída sob regime representativo de
Governo, de forma indissolúvel da União, dos
Estados e do Distrito Federal. A emenda
proposta pelo ilustre Constituinte Ruben
Figueiró diz: "o Brasil é uma República
Federativa constituída sob regime
representativo e sistema parlamentar de
Governo pela união indissolúvel dos Estados,
do Distrito Federal e dos Territórios.
Aqueles que votarem pela emenda,
ou seja, que forem contrários ao que está no
anteprojeto dirão "sim", aqueles que votarem
contra a emenda proposta pelo
eminente Constituinte Ruben Figueiró, dirão
"não".
A Presidência repete que estamos
votando a emenda. Quem for a favor dela,
vota sim. Quem for contra ela, vota não.
Constituinte Meira Filho, por favor, proceda à
votação.
(Votação).
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Treze votos contra e três a favor.
Aprovada a proposta do Exmº Sr.
Relator.
Pedido de destaque à emenda: § 2º
do art. 1º do anteprojeto. O § 2º do art. 1º no
projeto do Relator, diz: "Os Territórios
integram a União".
A emenda apresentada pelo ilustre
Constituinte Maurício Corrêa diz:
"Suprima-se o § 2º do art. 1º, antigo
art. a, do anteprojeto".
É uma emenda supressiva pois
elimina o § 2º do anteprojeto do Sr.
Relator.
O autor da emenda não está
presente, mas manifestou-se no sentido de
que as emendas fossem retiradas. Por uma
questão democrática, porém, apresentamos
todas.
Então, não há praticamente uma
contradição, mas, de qualquer maneira, passo
a palavra ao Relator para que S. Ex.ª se
manifeste.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, até por
consideração ao nobre autor da emenda, vou-
me permitir ler a justificação constante de sua
emenda. É um tema aparentemente simples,
mas me tomou um certo tempo, porque se
trata da própria conceituação jurídica do
Território. Fiz inclusive, um parecer um tanto
quanto longo, provocado que fui pela emenda
do nobre Constituinte Maurício Corrêa. De
maneira que me vou permitir ler a sua
justificação e o meu parecer, ainda que isso
tome um certo tempo de V. Ex.as.
A justificação propõe que se suprima
o § 2º do art. a, que dizia, na redação original,
que, em verdade, acolhi em parte:
"A União Federal compreende os
Territórios."
A justificação do nobre Constituinte é
a seguinte:
"Parece-me prescindível do
dispositivo, tanto mais que estiola o conceito
de União Federal, emprestando-lhe sentido
jurisdicional em razão da territorialidade
restrita aos Territórios Federais como entes
autárquicos.
Ora, todos sabemos que a unitário".
União Federal é em associação
indissolúvel com os Estados e o
Distrito Federal, a própria República Fe-
112
derativa do Brasil, e que seus Poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário exercitam
competência e jurisdição em todo o território
nacional, no qual se inclui o espaço aéreo e o
mar territorial. Se não assim, fora no dia em
que não houvesse nenhum Território, a União
Federal deixar de existir. Ainda que se
pretenda interpretar o vocábulo "Territórios"
como qualquer espaço federal, não se
compreenderia como um bem formulado
preceito, porquanto o território nacional é uno.
Visto sob esse ângulo jurídico-constitucional,
apresentamos a presente emenda supressiva
do dispositivo em tela."
Essa justificação provocou o seguinte
parecer: vou-me permitir lê-la rapidamente,
porque V. Ex.as provavelmente não tiveram
oportunidade para tanto, tendo em vista que
somente há pouco os avulsos chegaram a
este plenário – pretende-se a supressão do §
2º do art. 1º do anteprojeto. Aos argumentos
aduzidos na sua justificação a melhor
resposta seria um profundo exame de
perfil e de natureza jurídico-constitucional
dos Territórios no âmbito da Federação.
Como isso é impossível, aqui e agora,
convém fazer a redução do enfoque crítico à
argumentação do ilustre autor no trecho
da justificação, onde se afirma: "Se assim
não fora, no dia em que não
houvesse nenhum Território, a União deixaria
de existir".
Ora, sabe-se que a União, os
Estados, o Distrito Federal e os próprios
Territórios são ficções jurídicas, embora,
como tais, constituam entes jurídicos aos
quais correspondem esferas de poder e
competências. Daí por que sem mais correto
designá-los por ordens federativas, às quais
se conferem poderes autônomos nos limites
das respectivas competências estatuídas na
Constituição. Parciais, porque não há poder
nacional único exercido sob base territorial
una, sem fronteiras jurídicas. Existem
competências de âmbito nacional, é verdade,
mas estas se exercem pela União Federal,
através de seus Poderes, nos casos previstos
em lei.
Estas considerações convergem às
seguintes conclusões:
1º Está certo o autor quando afirma
que a Federação é a associação
indissolúvel da União, dos Estados e do
Distrito Federal;
2º Está parcialmente correto o autor
quando afirma que os Poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário exercitam competência
e jurisdição em todo o território nacional, no
qual se inclui o espaço aéreo e o mar
territorial. Só será dessa forma quando a
Constituição determinar e quando lei nacional
especificar ou disciplinar.
3º Está parcialmente certo o autor
quando assinala que o território nacional é
uno, fisicamente, mas dividido juridicamente;
4º Está equivocado o autor, data
vênia, ao afirmar o que se transcreveu há
pouco: "A União só deixará de existir
juridicamente quando desaparecer a
Federação, que é forma jurídica do Estado
brasileiro".
Se isto acontecer, desaparecerão a
União, os Estados, o Distrito Federal etc.,
permanecendo o Território Nacional, base
física da jurisdição nacional de um Estado
O equívoco da emenda é que ela
confere à Federação numa perspectiva física,
geográfica.
113 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
Ocorre que a Federação só pode ser
compreendida sob a ótica jurídica.
Proposta a supressão do § 2º,
do art. a do anteprojeto, sem localizar
os territórios num panorama federativo,
significa emendar para pior o soneto.
Quer dizer, a supressão pura e simples não
atende ao objetivo de aperfeiçoar o
anteprojeto. Contudo, o Relator
reconhece que a redação do § 2º deve ser
aperfeiçoada.
Dessa forma, acolho no mérito a
emenda.
O parecer é pela aprovação quanto
ao mérito, na forma do anteprojeto definitivo
que apresento neste momento e que deu
origem...
O SR. CONSTITUINTE MEIRA
FILHO: – (Inaudível.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra V. Ex.ª.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – (Inaudível.).
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– S. Ex.ª disse que ficaria a critério da Mesa a
retirada dos destaques, mas,
democraticamente, pretendemos trazer
todos eles para que V. Ex.as tomem
conhecimento.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – (Inaudível.).
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– S. Ex.ª havia pedido que se retirasse o
destaque, se houvesse conveniência da
Mesa. Mas esta atendeu à solicitação de
outros Constituintes, no sentido de que
possamos ouvir as opiniões de cada um.
E o que vamos tentar fazer é agilizar
nosso trabalho para que os Srs.
Constituintes possam votar mais
rapidamente.
Em votação o destaque à emenda
apresentada pelo Constituinte Maurício
Corrêa, que suprime o § 2º do art. 1º Aqueles
que votarem com o Constituinte Maurício
Corrêa votarão sim. Aqueles que
estiverem de acordo com o anteprojeto
votarão não.
Tem a palavra V. Ex.ª para uma
questão de ordem.
O SR. CONSTITUINTE (Francisco
Carneiro): – Embora meu prezado
amigo Maurício Corrêa não esteja presente,
quero dizer que a conveniência é no sentido
de mantermos o artigo, porque novos
Territórios poderão ser criados
transformados, futuramente, em Estados,
como hoje há alguns, que serão
transformados em Estados, após 44 anos
como Territórios. Organizaram-se,
estruturaram-se e poderão ser transformados
em Estado.
Então, sou pela manutenção.
Achei por bem fazer este encaminhamento,
a fim de que seja mantida, na
integra, a proposta do nosso Relator.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª.
Em votação.
(Votação)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Está aprovado o § 2º do art. 1º
como propôs o Sr. Relator, com 16 votos
contrário.
Destaque à emenda do art. 2º do
anteprojeto do Relator.
O projeto do Relator diz:
"São Poderes da União Federal o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário,
independentes e harmônicos entre si."
Destaque à emenda do Senador
Maurício Corrêa:
"São Poderes da União Federal,
independentes e harmônicos, o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário."
Falta, naturalmente, a expressão
"entre si" mas foi pedido o destaque
e cabe a esta Presidência naturalmente
aceitá-lo.
Não estando presente o Senador
Maurício Corrêa, passo a palavra ao
Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Desejo apenas dar um
esclarecimento. No texto original a palavra
"independente" não existia. E acolhi a
emenda. Não me recordo agora se a de S.
Ex.ª, mas de qualquer forma também a dele.
Então, está atendida.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Em votação. Foi pedido o destaque, e ela
foi atendida em parte. Como o destaque
foi pedido posteriormente ao atendimento,
cabe a esta Presidência acolhê-lo; embora
o tenha acolhido em parte, provavelmente,
está querendo que seja acolhida no
seu todo. Então, cabe exercitar a
votação.
Será pela substituição da redação do
anteprojeto do Relator pela redação do
Constituinte Maurício Corrêa, retirando,
naturalmente, a única diferença "entre si" e a
distribuição da frase.
Aqueles que votarem com a emenda
do Constituinte Maurício Corrêa, ou seja, com
o destaque, votarão sim. Aqueles que votarem
com o Relator, votarão não. Por favor proceda
à votação.
(Votação)
O SR. PRESIDENTE (Jofran
Frejat): – Aprovado como disposto pelo Sr.
Relator.
Destaque ao art. 3º Proposta do
Constituinte Felipe Mendes, que apresenta
emenda aditiva ao art. 3º, onde diz:
e "A União promoverá prioritariamente o
aproveitamento econômico dos bens do seu
domínio, localizados em regiões menos
desenvolvidas do País."
É uma emenda aditiva ao art. 3º.
Com a palavra o Constituinte Felipe
Mendes.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, Sr. Relator, Sr os e
Srs. Constituintes, esta emenda foi
originalmente entendida pelo Relator
como própria de outra Subcomissão. Na
verdade n i sisti, destacando este parágrafo,
em que fosse acrescentada ao texto
do art. 3º, para obrigar a União, no caso
das regiões menos desenvolvidas do
País, a promover o aproveitamento
econômico dos bens que, pela Constituição,
são colocados no seu domínio. Esta é a forma
direta de Governo Federal, juntamente com
os Estados e Municípios, promover a
harmonia do desenvolvimento do nosso País.
Defendo a livre iniciativa, mas, no caso, acho
que a União deve ter precipuamente uma
obrigação para com as regiões menos
desenvolvidas. E nada mais justo do que
obrigar a União a promover o aproveitamento
dos seus bens, como o subsolo, águas etc.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Algum dos Srs. Constituintes deseja fazer a
contradita?
Com a palavra o Sr. Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, trata-se de
sugestão oportuna, mas não acolhi a emenda
porque entendi que o seu exame e
aproveitamento devem caber à Subcomissão
da Ordem Econômica. Acho que, se
estabelecer nesta Subcomissão um princípio
constitucional programático de natureza
eminentemente econômica, isso não será
aconselhável, pelo menos do ponto de vista
técnico. Mas a questão está em aberto.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Em votação. Aqueles que votarem a favor
da emenda do Constituinte Felipe Mendes
queiram manifestar sim. Aqueles que votarem
contra, não.
(Votação)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Aprovada a emenda aditiva do Constituinte
Felipe Mendes, com 14 votos favoráveis e 2
contrários.
Pedido de destaque do Constituinte
Felipe Mendes para votação, em separado,
do inciso XIX do art. 7º, que diz:
"Disciplinar o acesso ao mercado
interno de modo a viabilizar o
desenvolvimento sócio-econômico, o bem-
estar do povo e a realização da autonomia
tecnológica e cultural do País."
S. Ex.ª não apresentou emenda.
Trata-se de votação em separado do inciso
XIX do art 7º.
Com a palavra o Constituinte Felipe
Mendes.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, Sr. Relator, Sr as e
Srs. Constituintes, se não me falhe a
memória, esse dispositivo não consta do texto
original, portanto alguém deve ter
apresentado uma emenda aditiva. Um ponto
importante diz respeito à interferência
indevida do Governo, se esse dispositivo for
aprovado, ferirá um dos princípios básicos da
nossa Constituição, que é a livre iniciativa.
Por esse dispositivo, tanto um consumidor
quanto um produtor estarão sob a égide e a
tutela do Estado, no que se refere ao que
comprarem ou produzirem. Até porque este,
aí sim, é um assunto de competência da
Subcomissão da Ordem Econômica, a
primeira subcomissão dos princípios gerais da
ordem econômica.
De forma que o meu destaque diz
respeito à supressão desse dispositivo do
inciso XIX.
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 114

O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Para a contradita, tem a palavra o
Constituinte Francisco Carneiro.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Sr. Presidente, Sr. Relator,
meu prezado companheiro Felipe Mendes,
acho que esses termos “o bem-estar do povo,
o desenvolvimento sócio-econômico e a
realização da autonomia tecnológica e cultural
do País”, sendo uma designação de
competência privativa da União Federal,
comporta-se muito bem, se não vejamos: ser
da competência privativa da União Federal
não quer dizer que ela vá, por si só, através
das suas organizações, ser a executiva disso,
mas sim disciplinar. Trata-se de um assunto
de muita importância, com o desenvolvimento
sócio-econômico, o bem-estar do povo e a
realização da autonomia tecnológica e cultural
do País, que não podem ficar na mão da
iniciativa privada. Defendo a iniciativa privada,
mas acho que isso deve ser de competência
da União.
Por isso, contradito e peço que seja
votado tal qual como se encontra aqui, pelo
nosso Relator.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o Sr. Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, o objetivo aqui é,
em verdade, a proteção do mercado nacional.
Não vejo como o disciplinamento do acesso
ao mercado interno possa ser de natureza
estatizante. O que se pretende, e diz assim o
dispositivo, é viabilizar o desenvolvimento
sócio-econômico e a realização da autonomia
tecnológica e cultural.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Vamos passar à votação. Aqueles que
forem pela supressão do inciso XIX, do art. 7º,
queiram votar sim. Aqueles que votarem
contra a supressão e a manutenção do inciso,
como no anteprojeto, queiram votar não.
O SR. CONSTITUINTE MEIRA
FILHO: – Gostaria que V. Ex.ª repetisse, pois
não entendi bem.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Aqueles que votarem com o Constituinte
Felipe Mendes, pela supressão do inciso XIX
do art. 7º, votarão sim. Aqueles que votarem
pela manutenção do inciso XIX, do art. 7º,
como o Relator, votarão não.
(Votação)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Aprovado, como no anteprojeto do Sr.
Relator, com 13 votos contrários e 3
favoráveis.
Pedido de destaque para votação, em
separado, da emenda aditiva ao inciso XX, do
art. 7º, do Constituinte Felipe Mendes.
Suprimida a proposta do Deputado
Felipe Mendes.
Destaque do inciso VIII do art. 7º do
Deputado Felipe Mendes.
No anteprojeto consta do inciso VIII:
''Exercer a classificação de diversões
públicas''.
Com a palavra o Sr. Constituinte
Felipe Mendes.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Apenas entendi
que esse dispositivo deveria ficar
no capítulo de competências comuns da
União e dos Estados, tendo em vista que
algumas dessas diversões públicas têm muito
a ver com questões regionais e estaduais. É
no sentido apenas de deslocar esse
dispositivo para o capítulo de competências
comuns da União e dos Estados.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Está franqueada a palavra para a
contradita.
Com a palavra o Sr. Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, essa classificação
se dá em todo o território nacional e, por isso,
acho que a competência deve ser exclusiva
da União, como é da nossa tradição
constitucional.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– O Sr. Constituinte Meira Filho pode iniciar a
votação.
V. Ex.ª lamentavelmente, perdeu a
vez da contradita. Aqueles que votarem pela
supressão do inciso VIII, votarão sim, com o
Deputado Felipe Mendes. Aqueles que
votarem pela permanência, com o anteprojeto,
votarão não.
Concedo a palavra ao Constituinte
Francisco Carneiro.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Sr. Presidente, Sr. Relator,
meu prezado companheiro, quanto à inserção
da classificação de diversões públicas a cargo
da União e dos Estados, acho que é muito
lógico e natural, e estou de pleno acordo,
mas...
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Sr. Constituinte, V. Ex.ª perdeu a vez da
contradita, quando foi franqueada a palavra. O
Relator já deu a sua posição e estamos em
votação. A contradita teria lugar logo após a
explicação do Constituinte Felipe Mendes que
foi o apresentador da proposta.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Uma questão de ordem.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– V. Ex.ª tem a palavra para uma questão de
ordem.
Lamento muito, mas o tempo da
contradita já está esgotado.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Não entendi bem se o ilustre
Constituinte apresentou a emenda e se vamos
votá-la depois ou se o destaque é para ela,
também.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Vamos votar o destaque da emenda
supressiva do Constituinte Felipe Mendes,
pedindo a supressão do inciso VIII do art.
7º.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Mas ele apresentou uma
emenda que também vai ser votada?
Também vai ser destaque?
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A emenda é supressiva. É destaque ao
inciso como foi discutido regimentalmente.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Ainda não consegui entender.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A emenda do Constituinte Felipe
Mendes, apresentada à Mesa, não
teve acolhida pelo Relator quanto
a supressão desse inciso. O Constituinte
Felipe Mendes apresentou um pedido de
destaque à sua emenda supressiva do inciso
VIII.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Mas a emenda suprime esse
inciso? Quero saber se S. Ex.ª apresentou
emenda para colocar isso em outro lugar, ou
essa emenda foi aproveitada? Há um
destaque para ela?
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Não. A emenda é apenas supressiva do
inciso.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Infelizmente, não tenho aqui a
cópia da emenda que apresentei, no sentido
de transferir do capítulo de competência
privativa da União para o capítulo de
competência comum da União e dos Estados.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Não há entre as duas emendas nenhuma
proposta nesse sentido de transferência.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Então, retiro o meu destaque.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Então, retirando o destaque, fica anulado o
início da votação.
Destaque ao inciso XIII, do art. 7º
apresentado pelo Constituinte Felipe Mendes.
O inciso I I do anteprojeto diz: “manter
o serviço postal e o Correio Aéreo Nacional,
vedada a permissão, autorização ou
concessão”. Não temos emenda apresentada
pelo ilustre Constituinte. V. Ex.ª está pedindo
destaque par a votação deste inciso?
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, Sr. Relator,
entendo que o serviço postal e do Correio
Aéreo Nacional devem ser assunto da União
e, portanto, do Governo Federal. Entretanto,
existem algumas atividades postais que já
têm a permissão da União para serem
exercidas pela iniciativa privada dos Estados
e Municípios. O destaque é para ser
suprimida a expressão "vedada a permissão,
a autorização ou a concessão".
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Para a contradita, o ilustre Constituinte
Francisco Carneiro.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Sr. Presidente, Sr. Relator, se
suprimirmos a expressão “vedada a
permissão”, estaremos proibindo que a União
dê essa concessão aos Estados e Municípios.
Não vejo por que suprimir isso, já que
o Correio Aéreo Nacional e o serviço postal
devem ser, realmente, atribuição da União e,
podendo ela permitir a autorização ou
concessões, abriga os interesses dos Estados
e dos Municípios. Por isso, sou pela
manutenção do texto, como está dito pelo
Relator.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o Sr. Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, para agilizar os
trabalhos, adiro aos argumentos do nobre
Constituinte Francisco Carneiro.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Em votação. Aqueles que votarem
pela supressão da expressão "vedada
a permissão, a autorização ou
115 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
a concessão," votarão sim. Aqueles que
votarem pela manutenção do artigo, como no
anteprojeto, votarão não.
(Processo de Votação)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Não foi aprovada a emenda. O artigo
continua como está no anteprojeto do Relator.
Pedido de destaque do Constituinte
Waldeck Ornélas à emenda aditiva ao art. 7º,
inciso XIV, letra "f". A inclusão da seguinte
expressão "transporte coletivo de alta
capacidade". É uma proposta de emenda
aditiva. Mas temos apresentação do pedido
de destaque pelo Constituinte Ruben Figueiró.
O Constituinte deseja fazer a justificativa do
seu pedido de destaque?
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Este destaque foi por mim
solicitado atendendo ao nobre Relator, uma
vez que foi omitido no anteprojeto. Portanto,
quem deve expor as razões da procedência
do destaque é o ilustre Relator.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Alguns dos Srs. Constituintes deseja fazer a
contradita?
Com a palavra o Sr. Relator.
O SR RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – É uma emenda aditiva. Confesso
que estou confuso, porque já estou há três
dias sem dormir. Mas, tenho a impressão de
que pedi um destaque. Trata-se da emenda
do Constituinte Waldeck Omélas, que acolhi.
Mas, na leitura inicial que fizemos do
anteprojeto, percebi, confrontando com o texto
onde fiz as alterações, que não constava a
expressão. De maneira que gostaria apenas
de fazer essa retificação no texto que V. Ex.as
receberam, a fim de incluir esse
dispositivo: "O transporte coletivo de alta
capacidade". Quer dizer, a União explorará
diretamente, ou mediante autorização ou
concessão, o transporte coletivo de alta
capacidade.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Iniciemos a votação. Trata-se de emenda
aditiva. Acolheu-a, mas não está no projeto.
Tenho de proceder à votação porque está nos
Anais da Constituinte. Aqueles que estiverem
de acordo com a inclusão da expressão
"transporte coletivo de alta capacidade", com
a letra "f", do item XIV...
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Acolhi a emenda do Constituinte
Waldeck Ornélas. Mas, na leitura inicial do
anteprojeto, percebi que, certamente, por um
lapso do PRODASEN, ela não foi incluída no
texto. Sou a favor. Acolhi essa emenda e a
incluí no texto original. Ela não constava do
texto original.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Aqueles que estiverem a favor da inclusão
da letra "f" do inciso XIV do art. 7º, queiram
votar "sim". Aqueles que estiverem contrários
à inclusão dessa expressão, votem "não".
(Votação.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Aprovada a proposta apresentada pelo
Constituinte Waldeck Ornélas, por quatorze
votos contra dois, que será incluída como letra
"f" do inciso XIV do art. 7º.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Sobre a mesma proposta de destaque para
emenda supressiva da letra "r" do inciso XXI
do art. 7º do Senador Constituinte Maurício
Corrêa, que diz:
"r) sistema estatístico e cartográfico
nacionais;"
Há uma discrepância entre a
numeração do anteprojeto original e o
anteprojeto atual. Então isto cria alguma
dificuldade, porque o Constituinte Maurício
Corrêa apresentou suas emendas ainda com
a numeração do projeto anterior. O Sr. Relator
está verificando para ver se conseguimos
elucidar esse problema.
A emenda supressiva do Constituinte
Maurício Corrêa corresponde, no original, à
alínea "r" do inciso XX do art. F do
anteprojeto; no novo anteprojeto corresponde
à letra "q" do inciso XXI do mesmo artigo, que
diz:
"r) organização judiciária do Ministério
Público do Distrito Federal e dos
Territórios; organização administrativa dos
Territórios".
Não havendo quem queira
fazer a justificativa pelo Constituinte
Maurício Corrêa, passo a palavra ao eminente
Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, não a acolho
simplesmente porque não propus, no meu
anteprojeto, autonomia jurisdicional para o
Distrito Federal. De maneira que mantenho a
proposta do anteprojeto.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Em votação. Aqueles que estiverem
favoráveis à supressão proposta pelo
eminente Senador Constituinte Maurício
Corrêa, queiram manifestar-se com um "sim".
Aqueles que estiverem favoráveis ao que está
disposto no anteprojeto pelo Relator, queiram
votar "não".
(Votação.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Aprovada a redação dada pelo Sr. Relator,
por treze votos contra três.
Sobre a Mesa proposta de destaque à
emenda, de autoria do Constituinte Maurício
Corrêa, supressiva do inciso XVII do art. F do
projeto original, que corresponde ao
inciso XVII do art. 7º do atual anteprojeto, que
diz:
"XVII – organizar e manter o Poder
Judiciário e o Ministério Público do Distrito
Federal e dos Territórios".
Aqueles que votarem a favor da
emenda supressiva do Constituinte Maurício
Corrêa queiram dizer "sim"; aqueles que
votarem com o Relator, queiram dizer "não".
Em votação.
(Votação.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Aprovada a redação do anteprojeto
dada pelo Sr. Relator, por quatorze votos a
dois.
Sobre a Mesa pedido de
destaque à emenda apresentada pelo
Constituinte Felipe Mendes para o inciso VI do
art. 7º. A emenda do Constituinte Felipe
Mendes diz:
"Suprima-se do inciso VI do art. F –
agora art. 7º – a expressão "vedada sua
exportação por empresa privada."
O inciso VI diz:
"VI – autorizar e fiscalizar a produção
e o comércio de material bélico de armas e
explosivos...".
E a emenda suprime "vedada sua
exportação por empresa privada".
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra S. Ex.ª.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, além de tirar a
dúvida que o Relator nos deixou, quero chamar
a atenção para o fato de que a minha emenda,
que suprimia a expressão "vedada sua
exportação por empresa privada", foi rejeitada,
e no texto ela foi acolhida. A questão é esta.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – (Inaudível.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Se ele acolheu essa supressão, então perde
a razão a votação.
Com a palavra V. Ex.ª.
O SR. CONSTITUINTE MESSIAS
SOARES: – Aprovamos, na inicial, todo o
anteprojeto, à exceção dos destaques. Pode
haver problema, neste caso, com relação ao
texto.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Mas o anteprojeto foi lido anteriormente, e
V. Ex.as aprovaram o texto lido. Só não
aprovaram os destaques. E esta é uma das
proposições destacadas. O que nos
surpreende é que, eventualmente, até por
erro do Prodasen, o Sr. Relator crê que não
acolheu. Mas no inciso VI, que veio do
Prodasen, alguém acolheu a emenda a
emenda pelo Relator. (Risos.)
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Quando li o relatório, notei que
havia uma discrepância entre o texto que
chegou hoje do Prodasen e o texto constante
do avulso, onde está inserida efetivamente,
no inciso VI do art. 7º, parte final, a expressão
"vedada sua exportação por empresa
privada". Recordo-me da emenda supressiva
do Constituinte Felipe Mendes. Mas quase
posso afirmar que não a acolhi. Por isso
estranhei o fato na hora da leitura. Inclusive,
neste momento eu fazia a leitura
acompanhando o texto do primeiro avulso,
tanto que cheguei, salvo engano, a me referir
a esta parte final, "vedada sua exportação por
empresa privada", quando fui alertado por V.
Ex.as. Realmente estou achando isso
estranho. Talvez eu tenha aqui as emendas;
são muitas e terei de procurar uma a uma.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – O problema é que fica arquivado
o parecer do Relator rejeitando a minha
emenda. Esta é a minha dúvida. Pelo parecer
ele rejeita a emenda supressiva da
expressão. Por isso é que gostaria que fosse
esclarecida a posição do Relator.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Esta Presidência é forçada a reconhecer
que o erro do Prodasen não pode alterar o
sistema de votação. Naturalmente, a partir do
momento em que foi apresentado o
anteprojeto com essa redação, não há mais o
que fazer, a não ser na Comissão própria. Se
quiserem, podem acrescentar aquilo que foi
suprimido ou foi "acolhido" pelo Relator e pelo
Prodasen, para então se completar esse
inciso. Foi votada a autorização e fiscalização
da produção, o comércio de material bélico de
armas e explosivos. Só isso. A emenda
apresentada pelo ilustre Constituinte era no
sentido de retirar uma expressão contida no
primeiro anteprojeto. No segundo anteprojeto
essa expressão foi suprimida. O relator
informa que não acolheu essa emenda. Era
para ter mantido. Mas o projeto que nós
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 116

votamos aqui acolheu o anteprojeto como
veio. Foi lido pelo Relator. Então nós,
praticamente, perdemos a oportunidade de
acrescentá-la nesta Subcomissão. Agora, só
poderá ser feito na Comissão própria. Está
prejudicado o destaque. Fica mantido texto do
anteprojeto.
O SR. CONSTITUINTE MESSIAS
SOARES: – Sr. Presidente, peço a palavra
para uma questão de ordem.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Tem a palavra V. Ex.ª.
O SR. CONSTITUINTE MESSIAS
SOARES: – O Relator declinou, ainda
há pouco, que havia lido o texto anterior.
Então, nós aprovamos o texto anterior.
Aprovamos o capítulo exatamente como ele
estava.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Não, o texto apresentado à Subcomissão foi
o que todos tiveram em mãos e
acompanharam. Se verificarmos nas fitas
gravadas, poderemos confirmar se isto
realmente ocorreu.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Se V. Ex.ª me permite, Sr.
Presidente, até apelo para V. Ex.as.
Realmente posso estar equivocado, mas
notei que havia uma discrepância entre
o texto original e este que chegou do
Prodasen. Como procedia à leitura, nesse
instante, do texto que consta do primeiro
avulso que nós recebemos, tenho a
impressão de que cheguei a ler a
expressão "vedada sua exportação por
empresa privada", quando fui alertado por V.
Ex.as para o fato de que no texto que se
encontra com V. Ex.as a essa expressão não
existia.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A emenda suprime a expressão "vedada
sua exportação por empresa privada",
expressão esta que inexiste no texto. Não há
o que votar.
O SR. CONSTITUINTE MESSIAS
SOARES: – Não existe no texto que está em
nossas mãos, mas existe no texto que S. Ex.ª
leu. E esse texto consta dos Anais da Casa.
Este é que é o problema.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Realmente achei estranho, porque,
se bem me recordo, não acolhi a emenda. Ela
foi rejeitada. Então, evidentemente, houve um
lapso do Prodasen, porque, se ela foi
rejeitada, a expressão "vedada sua
exportação por empresa privada" deveria
constar do texto do anteprojeto. Foi o que me
chamou a atenção. E realmente o texto
veio do Prodasen com essa parte final
suprimida.
O SR. CONSTITUINTE GERALDO
CAMPOS: – Sr. Presidente, não é possível
que um simples equívoco técnico venha
mudar o relatório. O parecer do Relator é
favorável à manutenção da expressão. Então,
há que se considerar como constando.
O equívoco de não constar e de não ter
havido coincidência na leitura não pode mudar
o fato concreto de que o pensamento do
Relator, aqui proposto, é para que conste esta
parte final do inciso, proibindo a empresa de
exportar. Há que se considerar e votar, aqui, a
emenda supressiva. Se ela for acolhida, aí
sim essa parte será suprimida. Se ela não for
acolhida, deve ser mantida no texto. Não é
possível que a equipe do Prodasen perturbe
ou modifique a consciência dos Constituintes,
a intenção de voto de cada um.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concordo com a colocação de V. Ex.ª, em
tese. Ocorre que nós votamos o anteprojeto e
existe um impasse técnico com relação àquilo
que foi apresentado. Com a palavra o
Constituinte Felipe Mendes.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Penso que se pode, com
bastante simplicidade, resolver esse
problema. Nos arquivos da Casa vai ficar um
parecer rejeitado pelo Relator. E nós votamos
um artigo diferente do que ele entendeu.
Então é simples: vamos colocar em votação o
artigo na forma que suprime a expressão
"vedada a exportação por empresa privada"
ou na forma original. Daí tira-se a dúvida.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Acolho a proposta de V. Ex.ª. Como não se
trata de matéria constitucional, vou fazer a
votação simbólica para decidirmos se
devemos ou não votar novamente o inciso.
Aqueles que estiverem de acordo com o
parecer do Relator, que inclui a vedação à
exportação por empresa privada, ou seja, que
esteja acrescentada, no inciso VI, a expressão
"vedada sua exportação por empresa
privada", queiram permanecer como estão...
Não é a votação do texto constitucional, mas
uma votação simbólica. Queremos saber se
devemos votar ou não a inclusão, no texto
apresentado, dessa expressão, para que
possamos votar a emenda supressiva como
matéria constitucional. Aqueles que estiverem
de acordo com a inclusão dessa expressão,
com o objetivo de fazer uma votação da
emenda supressiva, queiram permanecer
como estão. (Pausa.) Aprovada a votação do
inciso VI, com a redação do anteprojeto
original do Sr. Relator. Aprovada a inclusão da
expressão no anteprojeto.
Vamos passar, agora, à votação da
emenda supressiva, de autoria do Constituinte
Felipe Mendes, que retira a expressão
"vedada sua exportação por empresa privada"
do seguinte texto: "autorizar e fiscalizar a
produção e comércio de material bélico de
armas e explosivos, vedada sua exportação
por empresa privada". Com a palavra o nobre
Constituinte Felipe Mendes para encaminhar
a votação.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, Sr. Relator, a
emenda que apresentei, suprimindo a
expressão, no texto original do anteprojeto do
Relator, "vedada sua exportação por empresa
privada", tem a seguinte argumentação: se a
atividade já é controlada pelo Poder Público,
pelo Governo Federal, e trata-se inclusive, de
uma área extremamente estratégica, não tem
sentido vedar a exportação desses produtos.
Entende-se que já foram fabricados sob a
supervisão, controle e fiscalização da União,
por empresa privada, o que significa que
esses produtos serão exportados
eventualmente pelo próprio Governo, o que
não tem o menor sentido do ponto de vista
econômico, financeiro, empresarial, e muito
menos político. Daí minha intenção de
suprimir a expressão.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o nobre Constituinte
Francisco Carneiro, para contraditar.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Sr. Presidente, Sr. Relator,
prezado Constituinte Felipe Mendes, as
empresas privadas, a meu ver, devem
exportar os produtos, ficando a fiscalização e
a autorização com o Governo.
Entendo, portanto que, o Governo não deve
entrar no processo de exportação.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Numa concessão especial, permitimos ao
Constituinte Francisco Carneiro que, ao invés
de contraditar, apoiasse a emenda. Assim,
daremos oportunidade a que outro
Constituinte se apresente para fazer a
contradita. Com a palavra o Sr. Constituinte
Geraldo Campos.
O SR. CONSTITUINTE GERALDO
CAMPOS: – Sr. Presidente, Srs. Constituintes,
entendo que o estímulo à iniciativa privada não
deva ir à exportação de armamentos.
Sabemos, inclusive, que com esse
procedimento as empresas fomentam guerras
em geral; envolvem-se em conflitos
internacionais; são razão de ódio dos países
que estão em conflito. Se vendem a um lado,
recebem o repúdio do outro. Se ficar em mãos
do Governo o controle da exportação e, mais
do que isso, o próprio decisório de fazer a
exportação, refletindo os anseios populares,
nesse ou naquele caso, saberá o Governo se
deve ou não exportar. Não é possível deixar
nas mãos de empresas privadas a decisão de
como ou quando se exportar, envolvendo,
inclusive, o nosso País em conflitos
internacionais, Poder-se-ia dizer que tal medida
visa a proporcionar mão-de-obra, facilitar o
enriquecimento do País, buscando dólares de
qualquer jeito, dólares sujos, resultado de
guerras que não são convenientes. Por essa
razão pedimos que votem contra a emenda
supressiva e que seja mantido o texto,
deixando em mãos do Governo a exportação
de armas quando convier, e refletindo o anseio
da sociedade que se exercerá sobre o
Governo. Tenho dito, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Pela ordem, tem a palavra o Constituinte
Paulo Mincarone.
O SR. CONSTITUINTE PAULO
MINCARONE: – Sr. Presidente, V. Ex.ª foi
muito tolerante em permitir que dois
Constituintes falassem favoravelmente à
supressão. Já que concedeu essa permissão
ao Constituinte Francisco Carneiro e ao autor
do destaque, permitirá V. Ex.ª que eu fale,
ensejando a oportunidade de outros também
falarem.
Há um fato que os nobres colegas têm
de sentir. O Constituinte Geraldo Campos fala
no universo das guerras e da exportação de
armamento pesado pela Engesa, por exemplo.
Mas há que se reconhecer que no Rio Grande
do Sul existem duas empresas tradicionais que
exportam revólveres e espingardas de caça
que conquistaram os mercados de além-mar
do mundo todo e que têm uma qualidade
excepcional. Hoje, nem o Smith Wesson,
americano, concorre com o Taurus. E por que
proibir essas empresas, que investiram em
know how e na mídia, que trabalharam
tanto no exterior, de exportarem revólveres e
armas de caça? Entendo que a medida é
injusta. Especialmente eu, que sou do Rio
Grande do Sul, não poderia, Sr. Presidente,
nesta hora, deixar de dizer tudo isso
aos nobres colegas, porque poderia
parecer que estamos preocupados com
guerras, com morte, em explorar carnificina.
Não, nós, do Rio Grande do Sul, que
represento aqui, estamos interessados em
fazer com que as nossas empresas gaúchas,
que conquistaram os mercados internacionais,
possam exportar espingardas, pistolas,
revólveres, porque elas têm qualidade,
117 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
know how e mão-de-obra especializada. São
fábricas que têm tradição. Proibir esse direito,
creio, é uma enorme injustiça. Inclusive, diz o
Constituinte Ruben Figueiró, há outras
empresas em outros Estados como a Imbel e
outras que também seriam prejudicadas.
Entendo que seria uma atitude muito
drástica.
Perdoe-me por insistir em falar, Sr.
Presidente, mas não podia deixar de fazê-lo
para que os meus nobres colegas e minhas
nobres colegas também possam sentir que
vedar a exportação desses produtos por
empresa privada será decretar a falência de
indústrias que neste País conquistaram um
lugar ao sol graças ao valor do técnico e do
operário brasileiro.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª a intervenção. Fizemos
uma concessão especial, onde dois
Constituintes fizeram o encaminhamento da
votação favorável e houve apenas uma
contradita, de forma que rogo aos Srs.
Constituintes que obedeçamos ao Regimento
Interno, onde há um apoiando a justificativa e
outro fazendo a contradita, para que
possamos dar curso aos nossos trabalhos.
Agradeço a V. Ex.ª a cooperação.
Vamos colocar a matéria em votação.
Aqueles que votarem pela emenda do
Constituinte Filipe Mendes, supressiva da
expressão "vedada a sua exportação por
empresa privada", no inciso Vl, do art. 7º que
diz "autorizar e fiscalizar a produção e o
comércio de material bélico, de armas e
explosivos", queiram votar sim.
Aqueles que estiverem de acordo com
a redação do Sr. Relator, que mantém a
vedação à exportação por empresa privada,
queiram votar não.
Com a palavra o Constituinte Meira
Filho, para encaminhar a votação.
(Votação).
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Aprovada a emenda supressiva da
Constituinte Felipe Mendes, por 14 votos
contra 3.
Destaque para votação em separado.
A mesa informa aos interessados que
o PFL está todo presente.
Proposta de destaque à Emenda do
Constituinte Felipe Mendes, referente à alínea
"r", do art. 8º, que corresponde, no anteprojeto
apresentado, ao art. 8º, inciso XV, letra "r". A
redação do Sr. Relator é a seguinte:
"r) legislar sobre águas em todo seu
ciclo hidrológico, sejam superficiais,
subterrâneas ou meteóricas."
A proposta do Constituinte Felipe
Mendes é para votação em separado.
Com a palavra o Constituinte Felipe
Mendes para encaminhar a votação.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Srs Constituintes, a emenda visa
apenas a excluir a expressão "meteórica," que
parece caída do céu. Creio que o próprio
Relator concorda com essa exclusão ficando:
"... sejam superficiais ou subterrâneas."
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Algum Constituinte deseja fazer a
contradita?
Com a palavra o Sr. Relator, que está
de acordo com a supressão da palavra
"meteóricas" do texto original apresentado.
Estando o Relator de acordo, ficaria a
seguinte redação:
"r) – legislar sobre águas em todo seu
ciclo hidrológico, sejam superficiais ou
subterrâneas."
Em votação.
Aqueles que estiverem de acordo com
a supressão da palavra meteórica, de acordo
com a proposta feita pelo Constituinte Felipe
Mendes, queiram votar "sim". Aqueles que
estiverem contrários à supressão votarão
"não".
Com a palavra para proceder à
votação o Sr. Constituinte Meira Filho.
(Votação.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Aprovada a emenda supressiva do
Constituinte Felipe Mendes, com 16 votos
favoráveis.
Destaque para votação em separado
do inciso VIII do art. 8º da emenda proposta
pelo Constituinte Eduardo Jorge, que, no
anteprojeto original, diz nas competências
comuns:
" – organizar, executar e controlar as
ações de promoção, proteção e recuperação
da saúde."
A proposta do Constituinte Felipe
Mendes será defendida em Plenário. Com a
palavra S. Ex.ª.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, Sr. Relator, Sr as e
Srs. Constituintes, entendo como função
básica do Governo a prestação dos
serviços básicos, aquilo que se costuma
dizer direitos essenciais do ser humano,
entre os quais a saúde e a educação. No
entanto, esse destaque diz respeito apenas
à supressão desse inciso, tendo em vista
que apenas nesse anteprojeto pelo
menos três outros incisos já tratam da
questão de saúde direta ou indiretamente,
o inciso II, XXIII e XV, letra o. De forma
que esse inciso XVIII dá a entender
claramente que aí estaria a estatização
de todos os serviços de saúde. Como já
apresentei emendas semelhantes na
Subcomissão de Saúde, Seguridade e
Meio Ambiente, trago aqui esse destaque
para suprimir o inciso VIII, tendo em vista que
isso não prejudica o princípio de que o
Estado deva cuidar da saúde da população, a
saúde coletiva, até porque já está
presente este princípio e vários outros
dispositivos.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o Sr. Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Aqui escolhi a expressão "saúde
pública", porque ela se refere, provavelmente,
a endemias. Apenas procurei compatibilizar o
dispositivo com o princípio de que cabe
ao Poder Público promover a saúde do
cidadão.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Em votação. Aqueles que estiverem
favoráveis à supressão do inciso VIII, do art.
8º da competência comum, queiram votar
"sim". Aqueles que estiverem de acordo com
a redação do Sr. Relator, queiram votar "não".
Com a palavra o Sr. Constituinte
Meira Filho.
(Votação.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Aprovada a emenda supressiva do
Constituinte Felipe Mendes, por 10 votos
contra 6. Fica retirado o inciso VIII. do
art. 8º.
Destaque para a emenda do
Constituinte Maurício Corrêa, substitutiva ao
art. 11, caput do atual anteprojeto, que diz:
"Compete à União e aos Estados a
legislação comum sobre:.."
A proposta do Constituinte Maurício
Corrêa, diz:
"Compete à União Federal, ao Distrito
Federal e aos Estados a legislação comum
sobre:.."
A palavra está franqueada ao
constituinte que desejar fazer
encaminhamento a favor da proposta do
Constituinte Maurício Corrêa.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Sr. Presidente, Srs.
Constituintes, encaminho favoravelmente a
proposta do companheiro Maurício Corrêa,
porquanto o Distrito Federal é uma Unidade
da Federação. Se é da competência da União
e dos Estados, e o Distrito Federal é uma
Unidade da Federação, creio que está muito
bem posta a competência do Distrito Federal
também para legislar sobre esses assuntos.
Por isso, encaminho-a favoravelmente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o ilustre Constituinte Roberto
Rollemberg.
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO
ROLLEMBERG: – Sr. Presidente,
preliminarmente, queria, embora já estejamos
quase no fim da votação, que V. Ex.ª
reexaminasse o critério de encaminhamento a
favor e contra, porque geralmente V. Ex.ª está
dando ao autor do destaque o encaminhamento
mais a palavra a favor, portanto, está sobrando,
realmente, a palavra de um orador só. Entendo
que, ao encaminhar, o autor do destaque
deveria falar, e depois um Constituinte a favor e
um contra. Apenas a título de sugestão, Sr.
Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
Agradeço a V. Ex.ª a intervenção. Acontece que,
não estando presente o autor da emenda,
qualquer constituinte poderá fazer o
encaminhamento positivo, porque
regimentalmente teremos de ter uma exposição
a favor e outra contra. Como o autor da emenda
não está presente, franqueei a palavra para o
encaminhamento da votação de forma positiva,
e V. Ex.ª está com a palavra para a contradita.
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO
ROLLEMBERG: – Não estou prejudicado
nesta oportunidade. Estive em outras.
Sr. Presidente, sou pela manutenção
do projeto, simplesmente pela leitura em que
diz:
"Compete à União Federal e aos
Estados a legislação comum sobre:
I – regime penitenciário;
II – registros públicos...
lIl – criação, funcionamento e etc."
Então, essa legislação é comum, e as
unidades são exatamente a União e os Estados.
Fiz uma proposta de extensão ao município, e o
nobre Relator não a recebeu, no que dizia respeito
ao Judiciário. Colocando os municípios no
enfoque também como participantes da unidade
da Federação, ficou entendido que o Município
era uma subdivisão do Estado. Entendo que aqui
não se pode dar competência ao Distrito Federal
para legislar sobre todos esses assuntos, embora
reconheça a dedicação dos representantes, aqui,
do Distrito Federal. Mas não posso concordar
porque o Distrito Federal, neste caso, não se
desvincula da União.
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 118

O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Vamos iniciar a votação. Aqueles que
estiverem de acordo com a emenda
substitutiva do nobre Constituinte Maurício
Corrêa, que inclui o Distrito Federal entre os
competentes para legislação comum, queiram
votar "sim"; aqueles que estiverem de acordo
com a redação oferecida pelo ilustre Relator,
queiram votar "não".
Concedo a palavra ao nobre
Constituinte Meira Filho para efetuar a
chamada do processo de votação.
(Votação).
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Está aprovada a redação oferecida pelo
ilustre Relator, por 11 votos contra 5.
Destaque para votação em separado,
apresentado pelo ilustre Constituinte
Felipe Mendes, para o inciso VII do art. 14,
que diz:
"VII – assegurar a observância dos
seguintes princípios constitucionais:"
"Art. 14. A União Federal não intervirá
nos Estados e no Distrito Federal, salvo
para:"
Diz o inciso VII deste referido artigo:
"VII – assegurar a observância dos
seguintes princípios constitucionais:"
É isso que V. Ex.ª está lendo aí?
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – (Intervenção fora do microfone.
Inaudível.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Vamos corrigir o que a Presidência errou. O
inciso VII, do art. 14, diz: "VII – assegurar a
observância dos seguintes princípios
constitucionais:"
Concedo a palavra ao ilustre
Constituinte Felipe Mendes.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, Sr. Relator, Srs.
Constituintes, atrevo-me a entrar em terreno
que não é meu, que é o do Direito
Constitucional. Mas creio que, quando o
Relator acrescentou dispositivos aos textos
constitucionais, que temos em nossa tradição
constitucional, como este novo inciso VII, que
diz: "assegurar a observância dos seguintes
princípios constitucionais: "ele, no caso,
estaria deixando de lado outros princípios
constitucionais básicos. Então, a minha idéia
seria a de suprimir onde se enxugar um pouco
este artigo, para não deixar margem à
interpretação de que se um Estado infringir
um princípio constitucional que não esteja
aqui relacionado, não haveria intervenção.
Acho que qualquer princípio constitucional
que não for assegurado pelos Estados, pelas
unidades da Federação, merecem,
logicamente, a intervenção federal. Se um
Estado não está cumprindo a Constituição,
em qualquer que seja o ponto, aí cabe a
intervenção federal. A minha idéia é
apenas de reduzir mais, sintetizar mais este
artigo.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Algum dos Srs. Constituintes quer fazer uso
da palavra para contradita?
Concedo a palavra ao nobre Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, arrolei, nesse
inciso, princípios que são da tradição
constitucional brasileira, mas se trata de
questão preliminar. Salvo engano, e V. Ex.ª
me corrija se for o caso, nobre Constituinte
Felipe Mendes, não há nenhuma emenda
aditiva ou supressiva. Quer dizer, não tive
nem oportunidade de examinar outras
hipóteses. Essas são as que me ocorreram
no momento, que, aliás, fazem parte do
elenco de princípios que existem, por
longa tradição, no Direito Constitucional
brasileiro.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Ilustre Constituinte Felipe Mendes, a
colocação de V. Ex.ª dificulta, seguramente, o
encontro de uma outra solução que não seja
apresentada. Se V. Ex.ª apresentar uma
emenda supressiva ou aditiva – se tivesse
apresentado uma dessas emendas – ou
mesmo modificativa, seguramente poderemos
votá-la mas rearrumar a colocação das
disposições feitas pelo Relator, tornará,
realmente, extremamente difícil essa
colocação.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, para não
complicar realmente a votação e tendo em
vista que esses relatórios e os anteprojetos
serão sistematizados na Comissão Temática
e na Comissão de Sistematização, retiro o
destaque.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Foi retirado o pedido de destaque. Agradeço
a V. Ex.ª a atenção.
Proposta de votação em separado,
feita pelo ilustre Constituinte Ruben Figueiró,
da expressão "Presidente da República", no
art. 15.
Diz o art. 15:
"Compete ao Presidente da
República, mediante prévia autorização
do Congresso Nacional, decretar a
intervenção."
A proposta do ilustre Constituinte
Ruben Figueiró é a votação em separado da
expressão "Presidente da República", contida
no caput do art. 15.
Concedo a palavra ao nobre
Constituinte Ruben Figueiró.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, realmente havia
sugerido, numa reunião prévia hoje cedo, que
a redação do caput desse artigo fosse a
seguinte:
"Compete ao Poder Executivo",
eliminando-se, portanto, a expressão
"Presidente da República". Mas acontece que
não existe nenhuma emenda modificativa.
Nesse sentido, retiro o destaque porque não
há sentido em votar a supressão da
expressão "Presidente da República", porque
o artigo ficaria com redação vaga.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª a atenção.
Proposta de destaque à emenda do
ilustre Constituinte Maurício Correa,
substitutiva ao art. 17, do projeto original. Diz
o art. 17 da proposta do Relator:
"O Distrito Federal é dotado de
autonomia política, legislativa, administrativa e
financeira."
A emenda do ilustre Constituinte
Maurício Correa diz:
"O Distrito Federal é dotado de
autonomia política, legislativa, judiciária,
administrativa e financeira."
Creio que esta emenda já
está prejudicada, porque este assunto
já foi discutido e foi voto vencido
em outra parte desse anteprojeto. Então,
vamos retirá-lo. Matéria prejudicada.
Ao art. 17, emenda de autoria do
nobre Constituinte Ruben Figueiró, destaque
da Emenda nº 007, a esse artigo. Diz o
seguinte o projeto do Relator:
"O Distrito Federal é dotado de
autonomia política, legislativa, administrativa e
financeira."
O ilustre Constituinte apresentou a
seguinte proposta:
"O Distrito Federal terá autonomia
para eleger o seu Prefeito e a sua Câmara de
Vereadores."
"§ 1º O Distrito Federal, município
neutro e Capital da República, receberá da
União os recursos financeiros imprescindíveis
às atividades inerentes à sua condição, bem
como recolherá os mesmos impostos e taxas
atribuídos aos Estados e aos Municípios.
§ 2º Haverá, no âmbito do Congresso
Nacional, uma comissão mista do Distrito
Federal, constituída pelos representantes
desta unidade federativa a quem caberá:
I – a proposição da lei orgânica do
Distrito Federal e de suas eventuais
alterações;
II – apreciação, em grau de revisão,
de todas as proposições legislativas
aprovadas pela Câmara Municipal."
Concedo a palavra ao nobre
Constituinte Ruben Figueiró para o
encaminhamento da votação.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, Sr. Relator, Srs.
Constituintes, acredito que a apreciação desta
emenda representa o maior interesse desta
Comissão neste instante. O meu objetivo é
atender a uma natural vocação do povo do
Distrito Federal, que deseja escolher o seu
dirigente maior. Por isso apóio também a idéia
da autonomia política, mas desejo que esta
autonomia tenha lastro na História e nas
tradições republicanas. Na História, porque,
durante o período imperial, a Capital da
República constituiu-se num município neutro.
Na República, com a Constituição de 1891, os
Constituintes da época, louvando-se na
experiência americana, criaram a figura do
Distrito Federal e não aceitaram tão-somente
que o seu dirigente, o prefeito, fosse eleito –
como, aliás, acontece nos Estados Unidos
com Washington, Capital do Distrito Federal,
que elege o seu prefeito.
Estou procurando, com a minha
emenda, estabelecer uma verdade histórica e
constitucional, adequando-a aos tempos
modernos, quando o povo realmente deseja
dirigir os seus próprios destinos.
Mantendo essa tradição, tenho
certeza de que o Distrito Federal terá todo o
apoio de que necessita da União e, portanto,
de todas as unidades irmãs da República.
Tenho verificado, nos debates desta
Subcomissão, que há uma certa dúvida
quanto à autonomia financeira do Distrito
Federal. A responsabilidade do Distrito
Federal, pela sua própria condição de sede da
Capital da Nação, traz muitos ônus que
absolutamente não podem ser cobertos tão-
somente pelos recursos oriundos da receita
do seu território.
Ainda ontem todos os presentes
leram um artigo no prestigioso
Jornal de Brasília, no qual
119 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
se dizia que o Distrito Federal cobre tão-
somente 30% das suas despesas com o
pessoal. O restante, os oitenta e três mil
funcionários do Distrito Federal são pagos
com recursos advindos do Poder Público
federal.
A figura do Governador, gostaria de
lembrar também, foi criada, se não me falha a
memória, pela Emenda Constitucional nº 1, e
oriunda de uma disposição, quero crer,
discricionária, porque visava a atender ao
desejo de um cidadão que, escolhido para
dirigir o Distrito Federal, afirmou que só
aceitaria esta incumbência se o cargo tivesse
o título de Governador. Portanto, ferindo uma
tradição existente de muitos e muitos anos.
Sr. Presidente, evidentemente o
assunto foi debatido exaustivamente por todos
os membros da Comissão. Conhecemos
perfeitamente as razões pelas quais os
representantes do Distrito Federal com tanto
ardor defendem sua autonomia. Defendem-
na, quero crer, não para eleger propriamente
o Governador, mas para eleger um cidadão
que se sintonize perfeitamente com os
anseios maiores da sua população.
Gostaria, portanto, com a minha
emenda, que se restabelece uma verdade
histórica e uma tradição constitucional do
nosso País. Este o propósito da minha
emenda.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o nobre Constituinte Roberto
Rollemberg para contraditar.
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO
ROLLEMBERG: – Sr. Presidente, vou
apresentar, minha tese. Acho que depois, se
algum Constituinte quiser falar a favor, deverá
ter tal direito. Se assim não for, acho que vou
encerrar a discussão, embora acredite que
mais alguém poderia falar.
Sr. Presidente, Srs. Membros da
Comissão, seguindo a análise feita em nome
da tradição histórica e do Direito, eu também
poderia concordar com o destaque. Mas
quero defender o projeto. Em primeiro lugar,
porque o que aqui está – um esforço dos
representantes do Distrito Federal –
naturalmente não foi incluído neste projeto por
uma simples razão política, mas
fundamentalmente pela representação obtida
junto à população do Distrito Federal, para
atender às suas reivindicações. Portanto, são
absolutamente justas. Em todas as emendas
que forem destacadas em relação ao projeto,
vou ficar sempre com ele, por ser o resultado
daquilo que a população do Distrito Federal
quer e que da Comissão temática em diante
será uma visão nacional do problema.
Estudamos, inclusive com a assessoria, uma
proposta, que acabamos não apresentando,
para avalizar tudo que está neste anteprojeto.
Era um estudo no sentido de que se reduzisse
o espaço físico e a competência
administrativa do Distrito Federal, libertando
as cidades-satélites, dando-lhes autonomia
como municípios. Mas resolvemos,
finalmente, nada apresentar, para ser
estudado posteriormente.
Queria desde já deixar clara minha
posição a favor do projeto, contra qualquer
destaque que altere as reivindicações do
Distrito Federal, consubstanciadas nos artigos
aqui elaborados e apresentados.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– O fato de todos estarmos trabalhando
na Capital da República merece uma
atenção especial da Mesa com relação
à discussão de um problema tão
grave e tão importante para a nossa cidade.
Embora a Mesa tenha sido até bastante
rigorosa no sentido de permitir apenas o
encaminhamento e a contradita, vou, pela
excelência do assunto, pela sua importância,
fazer uma exceção, concedendo inicialmente
a palavra ao nobre Constituinte Francisco
Carneiro, que está ali, ávido, para apresentar
suas colocações a respeito das eleições no
Distrito Federal.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Muito obrigado pela distinção,
Sr. Presidente. Prezados colegas, quero
responder ao nobre Constituinte Ruben
Figueiró, quando S. Ex.ª diz que sente que o
projeto apresentado por ele corresponde mais
ou menos às aspirações dos brasilienses.
Creio que há uma total inversão da realidade.
Dos cerca de 156 Parlamentares, candidatos
à primeira legislação do Distrito Federal – que
resultaram em 3 Senadores eleitos e 8
Deputados – todos unanimemente pregaram
em seus comícios, nas cidades-satélites, em
todos os locais, em todos os sítios do Distrito
Federal, perante 1 milhão e 600 mil
habitantes, através da televisão, a Concedo a palavra ao Constituinte Paulo
necessidade da eleição para Governador,
Vice-Governador, bem como autonomia
política, administrativa e financeira para a
região. Antes mesmo desta pregação cívica,
isso já constituía o interesse maior dos
brasilienses, calejados que estão, há 27 anos,
de serem administrados por estrangeiros, que
nos criaram problemas praticamente
irreversíveis, problemas inerentes à própria
condição humana, qual seja de abastecimento
de água, de esgoto, além de outros que
nunca resolveram. Então a população de
Brasília é frontalmente contra isso. V. Ex.ª
pode ir a qualquer local e consultar até
crianças de 7 anos, 8, 10 anos, que verá que
não é por esse caminho que devemos
perlustrar.
Quanto à História, estamos
escrevendo uma nova Carta Magna, não nos
podemos firmar na História ou na Constituição
velha. Se fossemos firmar-nos nisso, os erros
seriam um acervo que nos ia tomar o tempo
todo. Estamos escrevendo uma nova Carta
Magna para uma nova sociedade, uma
sociedade totalmente diferente da nossa
época. Queremos autonomia política para o
Distrito Federal e digo a V. Ex.ª que esse é o
desejo de toda a população de Brasília.
Portanto, contradito com veemência
este projeto. Quanto à autonomia financeira,
logo que assumi a Secretaria de Indústria,
Comércio e Turismo fui encarregado pelo
Governo do Distrito Federal de apresentar
uma reforma tributária, que foi encaminhada à
União. Por ela somos quase independentes
financeiramente. Somos a quarta cidade
arrecadadora de Imposto de Renda do País;
somos a sétima em ICM e ISS. Temos
quarenta mil empresas industriais e
comerciais aqui instaladas. Crescemos à
razão de oitenta mil pessoas por ano – uma
nova grande cidade se instala aqui por ano.
Então não é com um governo "biônico" que
podemos resolver os nossos problemas.
Autonomia financeira, nós a temos em quase
toda a sua totalidade. Mas com isso não dizer
que não possamos ter uma verba
determinada pelo Governo, V. Ex.ª pode rir,
mas me permita falar. Eu o ouvi com atenção,
não tenho a vocação oratória nem os
conhecimentos de V. Ex.ª mas, na realidade,
podemos ter autonomia financeira, não
viver de pires na mão pedindo à União tudo
o de que necessitamos. Se tivermos uma
verba determinada por um certo período,
podemos ter a autonomia financeira
programada.
Quanto ao Correio Braziliense,
sabemos as razões da sua campanha.
Sabemos tudo que há com relação ao
Correio Braziliense, com relação ao BRB.
Não nos convém trazer à baila estes
problemas do Correio Braziliense, que não
defende a autonomia financeira e política do
Distrito Federal.
Encaminho a votação pedindo aos
colegas, todos os que aqui se encontram, que
votem na integra a proposição do nosso
Relator, que foi amplamente discutida não só
aqui, mas em vários lugares, como é
exigência da população de Brasília. Muito
obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço a V. Ex.ª a intervenção. Ainda
sobre o mesmo assunto, rogando ao ilustre
Constituinte que seja breve, para que
possamos terminar ainda com a luz da lua,
porque senão vamos para a madrugada.
Mincarone.
O SR. CONSTITUINTE PAULO
MINCARONE: – Sr. Presidente, Sr. Relator,
nobres Constituintes, esta é realmente uma
matéria muito importante para todos nós,
especialmente para os Constituintes do
Distrito Federal, a quem nos une os melhores
laços de respeito, amizade. Estamos
plenamente convencidos de que o Distrito
Federal tem que ter efetivamente autonomia,
tem que ter o direito de escolher seu dirigente.
Mas, em virtude do respeito que tenho a todos
os representantes do Distrito Federal e aos
colegas presentes da Subcomissão, devo
dizer que a criação do Governador é do
regime autoritário. Bem disse o nosso
Constituinte Ruben Figueiró que é tradição
política do País, e não só de outros países
que têm constituições democráticas e que têm
um Distrito Federal, como os Estados Unidos,
onde Washington chegou à autonomia
elegendo o seu prefeito.
Não vejo esta diferença tão profunda
entre ter um prefeito eleito e um governador
eleito pelo povo do Distrito Federal. Desde
que ele tenha autonomia política
administrativa, financeira, que eleja a sua
Câmara de Vereadores, com participação de
todas as cidades-satélites, não haverá capitis
diminutio para o governador ou para o
prefeito.
É consenso geral, Sr. Presidente, que o
povo do Distrito Federal tem que ter o direito
fundamental de escolher o seu dirigente. Mas
estou francamente inclinado a aceitar o destaque
do nosso nobre colega Ruben Figueiró,
atribuindo direito aos homens, às mulheres e aos
eleitores de Brasília de escolherem o seu
prefeito e a sua Câmara de Vereadores, dando-
lhes toda a autonomia possível, porque, volto a
repetir, governador é status para militar aqui no
Distrito Federal. Eles é tinham interesse em
colocar governador para poderem premiar os
seus áulicos. Não é o caso do povo de Brasília.
Este ficará feliz, satisfeito, se tiver um prefeito
ativo. É até muito melhor, no nosso entender,
para avaliação de uma obra administrativa, que
se tenha um prefeito com uma boa Câmara de
Vereadores, realizando o de que este Distrito
Federal precisa, especialmente nas suas
cidades-satélites, onde há milhares e milhares
de crianças totalmente abandonadas, conforme
sabemos.
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
Por isso, Sr. Presidente, voto com o
destaque do nosso nobre Constituinte, Ruben
Figueiró.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A votação será como de praxe. Aqueles que
votarem pelo destaque da emenda do ilustre
Constituinte Ruben Figueiró, votarão "sim".
Aqueles que votarem pela manutenção da
redação oferecida pelo ilustre Relator, votarão
"não".
O SR. CONSTITUINTE MEIRA
FILHO: – (Intervenção fora do microfone,
inaudível.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– V. Ex.ª tem razão. De fato foi um
esquecimento. Em virtude da empolgação
desta presidência com a vizinhança da
autonomia política do Distrito Federal, fui até
capaz de cometer injustiça de esquecer o
meu querido amigo e ilustre Constituinte
Relator. Peço-lhe desculpas.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Não é que V. Ex.ª tenha
esquecido, é que V. Ex.ª ainda estava
embevecido pelas palavras do nosso ilustre
companheiro Francisco Carneiro, que bem
demonstrou as razões pelas quais devo
manter a estrutura organizacional do Distrito
Federal na forma como proposta no meu
anteprojeto.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Reparada a injustiça, vamos à votação.
Aqueles que votarem "sim", estarão votando
com a emenda apresentada pelo Constituinte
Ruben Figueiró, de termos eleição no Distrito
Federal para prefeito e vereadores. Aqueles
que estiverem com o Relator, votarão "não".
(Votação.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Treze votos contra e três a favor. Aprovado
o art. 17, que dota o Distrito Federal de
autonomia política, legislativa, administrativa e
financeira. (Palmas.)
O SR.: – Resta saber quem vai ser o
governador.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Se V. Ex.ª se transferir para cá, tenho
certeza de que terá grande número de
votos.
O nobre Constituinte Ruben Figueiró
apresentou uma outra proposta de emenda ao
art. 17 e creio que está prejudicada.
Com a aprovação desta emenda,
ficarão prejudicadas as propostas de emenda,
também do Constituinte Ruben Figueiró, ao
art. 18, ao art. 19 e a seu parágrafo único, e
ao art. 20.
A emenda seguinte é do ilustre
Constituinte Maurício Corrêa, que se refere ao
art. 19. Trata-se de emenda substitutiva, que
naturalmente está prejudicada porque inclui
aqui, como de outras feitas, o Poder
Judiciário, art. 19.
Diz a emenda: "Lei orgânica votada
pela Assembléia Legislativa disporá sobre a
organização dos Poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário do Distrito Federal,
observadas as normas e os princípios
estabelecidos na Constituição."
Como apenas inclui o Judiciário nesta
lei orgânica, e como já foi matéria vencida,
está prejudicada.
V. Ex.ª falou com relação aos
territórios. Não há emendas propostas entre
os arts. 26 e 31, que correspondem ao
capítulo dos territórios.
O art 35 refere-se a Seixas): – Sr. Presidente, trata-se
disposições transitórias, nas quais
entraremos. Mas comunico a V. Ex.ª
que especificamente, no capítulo de territórios
não apresentaram nenhuma emenda.
Vamos agora à primeira emenda
com relação às disposições transitórias,
de autoria do ilustre Deputado Ruben
Figueiró, que pede votação em separado para
o art. 32.
Diz o art. 32: "As primeiras eleições
para Governador, Vice-Governador e
Assembléia Legislativa do Distrito Federal
serão realizadas no dia 15 de novembro de
1988, tomando posse os eleitos no dia 1º de
janeiro de 1989."
Com a palavra o ilustre Constituinte.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, não há mais
sentido. Está prejudicado o destaque.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Prejudicado.
Também pedido para votação em
separado do mesmo art. 32, solicitação de
destaque do Constituinte Felipe Mendes.
(Pausa.)
Prejudicado.
Proposta de destaque à Emenda nº
32, das Disposições – transitórias, do ilustre
Constituinte Maurício Corrêa.
S. Ex.ª propõe, no parágrafo único, a
seguinte redação: "Os mandatos dos eleitos
empossados, em conformidade com o
disposto neste artigo, serão de dois anos para
os Deputados e de seis anos para o
Governador e Vice-Governador". O artigo
original do anteprojeto diz: "O mandato dos
eleitos empossados, em conformidade com o
disposto neste artigo, coincidindo com os
atuais governadores, vice-governadores de
estado e deputados estaduais".
A proposição do ilustre Constituinte
Maurício Corrêa é no sentido de que seja de
dois anos para os deputados – naturalmente,
deputados distritais – e de seis anos para
governador e vice-governador.
Está franqueada a palavra para a
justificativa da emenda proposta.
Não havendo quem queira fazer o
encaminhamento em favor da emenda
proposta pelo ilustre Constituinte Maurício
Corrêa, franqueio a palavra a quem queira
contraditá-la.
O SR. CONSTITUINTE FRANCISCO
CARNEIRO: – Sr. Presidente, Srs.
Constituintes, acho que não há como
apresentar contradição a isso, porque a
própria proposição já é uma contradição. Ora,
se vamos ter eleições, os deputados teriam o
mandato de dois anos, o governador, de seis.
Em primeiro lugar, governador com seis
anos? Eu pessoalmente, não pretendo um
mandato tampão de dois anos, porque neste
tempo um governador não pode fazer
praticamente nada. Mas quero contraditar na
íntegra a proposta do nobre Constituinte
Maurício Corrêa, para que seja respeitada
totalmente a proposta feita pelo nosso
Relator, porque a emenda de S. Ex.ª é uma
contradição. Os deputados têm dois anos de
mandato, o governador tem seis anos. Por
que não os deputados e o governador com
dois anos?
Sou contra a emenda e solicito que
seja mantida na íntegra a proposta do nosso
Relator.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o ilustre Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
de uma proposição impossível de ser
acolhida, porque simplesmente estabelece
120
prazo em desconformidade com os
estabelecidos para o mandato dos
governadores. Mantenho meu anteprojeto.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):–
Em votação. Os que estiverem de acordo com a
emenda apresentada pelo ilustre Senador
Constituinte, ou seja do mandato de dois anos
para deputados e de seis anos para governador,
queiram votar sim. Aqueles que estiverem de
acordo com a proposição apresentada pelo
ilustre Relator, queiram votar não.
Aprovada a proposta como
consignada pelo ilustre Relator, o que, aliás,
não me surpreende, porque quando se fala
em redução de mandato presidencial, ampliar
o mandato de governador, me parece, no
mínimo, uma incoerência.
Pedido de destaque para votação em
separado do art. 33, proposto pelo ilustre
Constituinte Ruben Figueiró.
V. Ex.ª retirou ou não? (inaudível.)
Agradeço a V. Ex.ª a atenção.
Prejudicado.
Indago de V. Ex.ª se a proposta ao
art. 34 está prejudicada.
Prejudicada.
Proposta de destaque ao art. 34, feita
pelo ilustre Constituinte Geovani Borges,
pedindo votação em separado do artigo que
diz: "A União destinará os recursos
financeiros necessários à construção da sede
do Poder Legislativo do Distrito Federal."
(Intervenção fora do microfone)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– É possível. Faremos a modificação. Então
será o art. 35, que versa sobre os territórios,
nas disposições transitórias.
"Os atuais Territórios de Roraima e
Amapá serão transformados em estados, nos
termos de lei complementar aprovada pelo
Congresso Nacional, até 90 dias após a
promulgação desta Constituição."
O SR. CONSTITUINTE GEOVANI
BORGES: – Sr. Presidente, apenas para
assegurar meu direito de voto em separado a
respeito deste artigo, pedi o destaque. Peço
que a matéria seja submetida ao Plenário, em
separado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):–
Trata-se do art. 35 do anteprojeto que se encontra
nas mãos do Presidente da Subcomissão e que
transforma os territórios em estados.
A palavra está franqueada para a
contradita do encaminhamento do ilustre
Constituinte.
Tem a palavra o Constituinte Chagas
Duarte.
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS
DUARTE: – Sr. Presidente, queremos até
mesmo nos congratular com a posição do
companheiro Geovani Borges, pela sua
demonstração de coerência. Sabemos que,
durante os debates sobre a transformação
dos territórios em estados, S. Ex.ª se
posicionou contrário à medida:
Já foi enfática e conclusivamente
discutida a transformação dos nossos
territórios em Estado. Sabemos que esses
territórios têm 44 anos. Foi bastante
demonstrado aqui que são reivindicações do
povo desses dois territórios em se tornarem
autônomos politicamente.
Sr. Presidente, Srs. Constituintes,
estou certo de que os membros desta
Subcomissão, depois de terem ouvido
nossos anseios, depois de terem ouvido
os debates travados pelos governadores
 121 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
que aqui estiveram, serão favoráveis à
transformação desses territórios em estados.
Votarão conosco, darão autonomia a eles.
Creio que farão justiça, não somente para nos
atender, mas sobretudo para satisfazer esse
povo, que tanto deseja merece, pelo seu
trabalho, que esses dois Territórios atinjam o
lugar de destaque que lhes está reservado no
seio da Federação.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, apenas tive a
sensibilidade de interpretar os anseios mais
do que justos desses nossos valorosos
companheiros representantes dos Territórios
de Roraima e Amapá que, com toda razão,
querem ver seus territórios transformados em
estados. Por isso mantenho meu anteprojeto
neste ponto.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Aqueles que estiverem de acordo com a
proposta do Relator, queiram votar sim.
Aqueles que não estiverem de acordo com a
proposta do Relator...
(Intervenção fora do microfone.)
Não há proposta, trata-se só de uma
questão de votar em separado. O ilustre
Constituinte não apresentou qualquer
proposta. S. Ex.ª simplesmente pediu que
fosse feita uma votação em separado. Não há
razão para que se vote sim uma proposta que
não foi apresentada.
Aqueles que estiverem de acordo com o
subscrito pelo ilustre Relator, queiram votar sim.
Os que não estiverem de acordo, queiram votar
não. "Sim" será para transformação dos
territórios em estados. "Não" será pela
supressão, naturalmente, dessa transformação.
Quinze sim, um não. Está aprovado o
art. 35, que transforma os Territórios de
Amapá e de Roraima em estados.
Emenda modificativa, de autoria do
ilustre Constituinte Maurício Corrêa, ao artigo
das Disposições Transitórias do antigo
anteprojeto, que corresponde ao art. 35. Está
prejudicada, porque já foi votada. Já foi
aprovada a redação definitiva, na votação que
se seguiu há pouco.
Na dúvida, o ilustre Constituinte
apresentava uma proposta de eleições até 31
de dezembro de 1989 e realização de suas
primeiras eleições em novembro de 1990.
Como já foi aprovado aqui o Tribunal Superior
Eleitoral definirá a data. Fica prejudicada a
emenda.
Destaque à emenda do Sr.
Constituinte Ruben Figueiró sobre a alínea
"h", das Disposições Transitórias. Então, é
uma emenda aditiva às Disposições
Transitórias.
A emenda do Sr. Constituinte diz o
seguinte: "A União fica obrigada, pelo prazo
de dez anos, na data da promulgação desta
Constituição, a estratificar programa de
proteção ecológica e de aproveitamento
econômico do Pantanal mato-grossense, com
ênfase ao turismo e à pecuária, na qual
aplicará naturalmente recursos da ordem de
cinco milésimos da Receita Federal".
Concedo a palavra ao Sr. Constituinte
Ruben Figueiró para sua justificativa,
encaminhando a votação.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, quero crer
que para preservar o Pantanal mato-
grossense não é preciso justificativa aqui.
É um patrimônio nacional, é um patri-
mônio da humanidade. Portanto, peço aos
Senhores membros desta Subcomissão que
consagrem no texto constitucional, mesmo
nas Disposições Transitórias, o dispositivo
que modestamente apresentei.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Se alguém quiser contraditar pode fazer o
uso da palavra.
Não havendo quem queira contraditar,
passo a palavra ao ilustre Relator.
O SR. RELATOR (Roberto
Rollemberg): – Sr. Presidente, o objetivo
dessa emenda é dos mais nobres. Apenas
não me parece que esta seja a Subcomissão
adequada para tratar desta questão. Só por
isso não acolhi a emenda do nobre
Constituinte Ruben Fígueiró.
O SR. CONSTITUINTE RUBEM
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, peço a palavra,
pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com muito prazer, concedo a palavra ao
nobre Constituinte.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, gostaria de
lembrar ao nobre Relator que aqui
apreciamos inúmeras propostas que também
não cabem nos propósitos desta
Subcomissão. Mas o fizemos. Poderia
enumerar várias matérias aqui, mas, por
uma questão de economia de tempo,
deixarei de fazê-lo. Acho que nesta
Subcomissão poderemos apresentar tudo
que for de interesse da Nação, mesmo
porque teremos à frente, pelo menos, cinco
estágios para reanalisarmos as propostas
aqui aprovadas.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Aqueles que estiverem de acordo com a
inclusão nas Disposições Transitórias da
emenda apresentada pelo Sr. Constituinte
Ruben Figueiró votarão "sim"; aqueles que
não estiverem de acordo com a inclusão desta
emenda aditiva ao texto constitucional,
votarão "não".
Peço ao nobre Senador e Constituinte
Meira Filho que proceda à votação.
(Votação)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– A Presidência vai proclamar o resultado da
votação:
Votaram "sim" quatorze Srs.
Constituintes. Votou "não" um Sr. Constituinte.
Está aprovada a inclusão da emenda
do Sr. Constituinte Ruben Figueiró. (Palmas.)
A Mesa pede aos Srs. Constituintes
que aguardem mais um pouco para se
retirarem, a fim de que tenhamos número para
votação, pois já estamos no término da
reunião.
Proposta de destaque à emenda
apresentada pelo Sr. Constituinte Ruben
Figueiró, também emenda aditiva, que propõe
o seguinte: "Ficam prorrogados por cinco
anos, a partir da promulgação desta
Constituição, os prazos dos programas de
assistência financeira ao Estado de Mato
Grosso e de Mato Grosso do Sul – Promate e
Prosul, estabelecidos na Lei Complementar nº
31, de 11 de outubro de 1978".
Passo a palavra ao ilustre
Constituinte Ruben Figueiró para
encaminhar a votação.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN
FIGUEIRÓ: – Sr. Presidente, Sr. Relator e
Srs. Constituintes, esta proposição visa a
prevenir o futuro para os novos Estados de
Roraima e do Amapá, inclusive o Distrito
Federal que foram consagrados, aqui hoje.
Sou testemunha da negligência do Governo
Federal com relação ao cumprimento da Lei
Complementar nº 31, que estabeleceu a
obrigatoriedade do Governo Federal em
promover programas de desenvolvimento de
Mato Grosso, através do Promate, e de Mato
Grosso do Sul, através do Prosul. Pois bem, o
Estado de Mato Grosso do Sul – e acredito
que também o de Mato Grosso – não recebeu
nem 10% daquilo que a Lei Complementar nº
31 estabelecia como obrigação do Governo
federal. Agora, através deste texto
constitucional, é bem possível que a União
cumpra esses compromissos. Será, também,
um exemplo para os novos Estados, porque
nas suas leis complementares naturalmente
serão estabelecidos programas de
desenvolvimento, não só em Roraima, mas no
Amapá e também aqui no Distrito Federal.
Então entendo que essa minha proposição,
além de ser um alerta, é a consagração de
um direito dos novos Estados.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra ao Constituinte Roberto
Rollemberg.
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO
ROLLEMBERG: – Sr. Presidente, Srs.
Constituintes, às vezes, no mérito, a
propositura é justa e simpática. No caso,
muito mais simpática do que justa. Ocorre
que, é claro, não temos que analisar os fatos
sob o aspecto da Constituição em vigor.
Estamos fazendo uma nova Constituição,
portanto não há que se alegarem aspectos de
ser constitucional ou não. Mas, de qualquer
forma, entendo que a par da simpatia, da
justeza e da advertência, como foi bem
colocado pelo nobre Constituinte Ruben
Figueiró, a Constituinte e a Constituição não
podem ser efetivamente constituídas de
artigos, mesmo em disposições transitórias,
no sentido de notificação e preservação de
direitos. Ou é um direito ou não. Quando os
Constituintes lutam pelo restabelecimento das
suas prerrogativas na elaboração de
orçamentos, e orçamento efetivamente
democrático, a partir desse princípio
poderemos em diversas áreas condicionar por
algum tempo, cinco ou dez anos, a elaboração
do orçamento e até o seu controle
antecipadamente. A realidade de hoje é uma, a
de amanhã é outra completamente diferente.
Estamos votando aqui a autonomia dos
Territórios, transformando-os em Estados, e
fortalecendo sua autonomia. Portanto, quanto à
justificativa de que o Estado não tem cumprido
sua obrigação, ou não a cumpriu, vemos que,
na verdade, o Estado não fez cumprir nem
mesmo as Constituições anteriores.
Não creio ser aconselhável
colocarmos antecipadamente limites
constitucionais aos orçamentos futuros, pois a
realidade poderá ser completamente
diferente, principalmente se se der aos
Estados ou aos Municípios participação na
contratação, na exploração das riquezas
minerais, como já se discutiu aqui. Vincular
um orçamento por um atual errado, quando o
estamos corrigindo, constitui para mim erro
antecipado. Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Com a palavra o Sr. Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, assim como o nobre
Constituinte Roberto Rollemberg, entendo que
a proposta do ilustre Constituinte Ruben
Figueiró é das mais justas e simpáticas.
Apenas não acolhi a emenda porque
entendo que não cabe à Constituição, mesmo
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
em Disposições Transitórias, prorrogar prazo
de lei. Apenas por isso.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Vamos passar à votação. Aqueles que
estiverem de acordo com a inclusão da
emenda aditiva do Constituinte Ruben
Figueiró queiram votar sim. Aqueles que não
estiverem de acordo com a inclusão desta
emenda queiram votar não.
(Votação.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Nove votos a favor e seis contra. Em virtude
de não termos conseguido número de votos
suficiente para maioria absoluta, a emenda foi
rejeitada. Devíamos ter conseguido dez votos
sim. Lamentavelmente o nosso querido
Constituinte só conseguiu nove, mesmo com
o apoio desta Presidência.
Solicitação de destaque para votação
em separado da emenda do Constituinte
Felipe Mendes, que inclui nas Disposições
Transitórias o seguinte artigo:
"Lei complementar disporá sobre a
criação, os recursos financeiros e as
atribuições da Companhia de
Desenvolvimento do Vale do Parnaíba, com
sede e foro em Teresina."
Lembro a V. Ex as que esta
corresponde à emenda semelhante à que foi
votada em 1946, sobre o Vale do São
Francisco e que ofereceu condições especiais
para o desenvolvimento daquela área. Não há
nenhuma inclusão de dispositivo nesse
sentido no anteprojeto. Portanto, será uma
emenda aditiva às Disposições Transitórias do
projeto do Relator.
Tem a palavra o ilustre Constituinte.
O SR. CONSTITUINTE FELIPE
MENDES: – Sr. Presidente, Sr. Relator, Sr.as e
Srs. Constituintes, apresentei uma sugestão que
infelizmente foi encaminhada à outra
Subcomissão pela Mesa da Assembléia
Nacional Constituinte. Em tempo, apresentei-a à
Subcomissão, e o nosso ilustre Relator acolheu-
a no mérito, mas julgou pela prejudicialidade em
função de entender que esta matéria pertence à
outra Subcomissão. Para apresentar essa
emenda, baseei-me no roteiro que o Prodasen
nos entregou no início dos nossos trabalhos a
respeito do que seria competência da União,
item 1.3.5, o subitem 1.3.5.1 criação de órgãos
de desenvolvimento regional.
Como já adiantou o nosso Presidente,
a Constituição de 1946, na verdade, incluiu
uma série de dispositivos não em capítulo
apenas, mas no Ato de Disposições
Transitórias. Esse Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias tem inclusive uma
particularidade com relação ao meu Estado, o
Piauí. Cerca de duzentos anos depois – não
me recordo qual a data – o Marquês de
Pombal, ao expulsar os jesuítas, incorporou
ao patrimônio da União, vamos usar os
termos modernos, o que seriam fazendas de
gado, que, por sua vez, tinham sido dadas em
herança aos jesuítas pelos primeiros
povoadores do Estado, no caso,
especificamente, por Domingos Mafrins. E
estas terras que, na verdade, correspondiam
a cerca de 12 milhões de hectares, só vieram
a passar para a propriedade do Estado do
Piauí pela Constituição de 46, pelo art. 7º do
Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias.
Por este mesmo Ato, o art. 29
obrigava o Governo Federal, no prazo de 20
anos, a executar plano de aproveitamento
total das possibilidades econômicas do rio
São Francisco e seus afluentes, inclu-
,
sive aplicando anualmente quantia não inferior
a 1% de suas rendas tributárias.
Mais tarde, numa emenda
constitucional de 1965, estende dispositivos
semelhantes aos do Nordeste todo para a
Amazônia.
De modo que a questão da localização
do assunto nesta Subcomissão me parece de
perfeito entendimento. Apelo para os ilustres
Constituintes no sentido de que acolham à
emenda aditiva que proponho, para que nesta
Subcomissão venhamos a aprovar aquilo que é
um pleito do Estado do Piauí, do Estado do
Maranhão e parte do Ceará, mas que, na
verdade, se insere naquilo que é uma política
que o Governo Federal deveria adotar, mas
que infelizmente não adota. Ou seja, para que
através de mecanismos eficientes e eficazes de
suas instituições próprias, em conjunto com os
Estados e Municípios, possam revigorar uma
região reconhecidamente carente deste apoio
direto do Governo Federal.
De modo que apelo para V. Ex as a fim
de que esta emenda aditiva possa ser
aprovada, inclusive apelo para o nosso Relator.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
O ilustre Relator não pretende manifestar-se a
respeito da emenda apresentada pelo
Constituinte Felipe Mendes. Assim sendo,
passamos à votação.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, não cheguei a
examinar o mérito porque mantive o
entendimento inicial, quando V. Exª a
apresentou como sugestão. Acho que esta
matéria deveria ser tratada em outra
Subcomissão, especificamente na
Subcomissão das regiões.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
em votação. Aqueles que votarem pela
introdução, isto é, pela adição da emenda do
Constituinte Felipe Mendes, votarão sim.
Aqueles que votarem contra a inclusão desta
emenda, votarão não.
Aprovada a inclusão da emenda
apresentada pelo Constituinte Felipe Mendes.
Última emenda: Requerimento de
destaque para votação em separada da emenda
apresentada pelo Constituinte Vivaldo Barbosa.
A emenda não especifica nenhum
artigo em especial, refere-se a vários artigos do
anteprojeto. O ilustre Constituinte pretende que
se substitua do texto do anteprojeto a palavra
"União" por "República". Alternativamente,
dependendo do contexto, poderá ser usada a
palavra "Federação".
A proposta do Constituinte Vivaldo
Barbosa é no sentido de que se suprima – ou
melhor, embora esteja a palavra "suprima",
tenho impressão de que ficaria mais correto
"substitua" – a palavra "União" por "República"
e, alternativamente, dependendo do contexto,
poderá ser usada a palavra "Federação".
Algum dos Srs. Constituintes quer fazer
encaminhamento da votação?
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, desejo apenas
esclarecer que "República" é regime político, e
"União" é especialmente utilizada para designar
o Estado brasileiros. São palavras que
evidentemente não se confundem.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):–
Não havendo quem queira manifestar-se a
favor, colocamos a matéria em votação.
Aqueles que estiverem de acordo
com a substituição das palavra "União"
por "República" ou por "Federação",
de acordo com o contexto, como foi
solicitado pelo Constituinte Vivaldo Barbo-
122
sa, votarão sim. Aqueles que desejarem
manter a palavra "União", como consignado
pelo ilustre Relator, votação não.
O SR. CONSTITUINTE ANNIBAL
BARCELLOS: – Acho que a palavra "União"
é fundamental para nós.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Em votação.
Rejeitada a proposta de emenda
apresentada pelo Constituinte Vivaldo
Barbosa.
O SR. CONSTITUINTE MESSIAS
SOARES: – Sr. Presidente, peço a palavra
pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Concedo a palavra a V. Ex.ª
O SR. CONSTITUINTE MESSIAS
SOARES: – Desejo apenas registrar meu
aplauso ao trabalho de V. Exª e do Sr.
Relator, bem como de todos os companheiros
e da assessoria. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Agradeço ao ilustre Constituinte Messias
Soares, do Rio de Janeiro, as palavras
bondosas com que brindou todos nós que
trabalhamos nesta Subcomissão.
Quero fazer meu agradecimento.
Nossa Subcomissão fez um trabalho
realmente excepcional, sem grandes
divergências, buscando encontrar o melhor
para nosso País.
Aqui colhemos informações
importantíssimas, de todos os companheiros.
Cada um trouxe, da sua região ou de sua
experiência nacional, o fruto do que adquiriu
durante tantos anos de labuta.
Quero fazer um agradecimento
especial, também, aos companheiros que
assessoraram, nesta Subcomissão, os
trabalhos da Presidência e do Relator, que
seguramente fará de seu gabinete o
agradecimento pessoal.
Esta Subcomissão se houve com
muita tranqüilidade na busca do
entendimento entre todos os seus pares.
De forma que merece os maiores elogios o
trabalho aqui desenvolvido: merecem
elogios aqueles que colaboraram na
assessoria e, particularmente, o ilustre
Relator, que noites indormidas teve de
transpor para apresentar a tempo, dentro
da exigüidade dos prazos, os magníficos
relatório e anteprojeto que todos
gostaríamos de ter feito pessoalmente.
Para encerrar nossas palavras,
comunico à Subcomissão que três propostas
foram retiradas, sete foram prejudicadas,
seis foram aprovadas e vinte foram
rejeitadas.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat):
– Tem V. Exª a palavra.
O SR. RELATOR (Sigmaringa
Seixas): – Antes que V. Exª encerre a
sessão, quero, nesta oportunidade, formular
meus agradecimentos a todos aqueles que
durante este período colaboraram, nesta parte
inicial, na formulação do nosso anteprojeto de
Constituição. Preferida fazê-lo na última
sessão, que, na verdade, não é esta. Esta é
urna sessão para aprovação da redação final.
Em verdade, a tarefa do Relator, como a de
V. Ex as, ainda não se encerrou. Teremos,
evidentemente, uma outra reunião, rápida,
apenas para atender às formalidades. Mas,
nesta oportunidade, gostaria de formular
meus agradecimentos, de forma que fi-
123 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
quem registrados nos Anais da Assembléia Nacional
Constituinte. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): – Com a
palavra V. Ex.ª
O SR. CONSTITUINTE CHAGAS DUARTE: – Sr.
Presidente, quero apenas propor que, ao ensejo do
término dos nossos trabalhos, na próxima reunião, seja
tirada uma foto como registro histórico de nossa
presença, de todos os que constituíram esta
Subcomissão, para que nosso trabalho não fique
apenas registrado nos Anais desta Casa, mas também
que cada companheiro nosso tenha uma foto dessa
nossa passagem histórica por esta Subcomissão.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): – Agradeço
a V. Exª a lembrança.
Com a palavra o Constituinte Ruben Figueiró.
O SR. CONSTITUINTE RUBEN FIGUEIRÓ: – Sr.
Presidente, é realmente um acontecimento histórico o
trabalho que aqui estamos realizando. Em adendo à
sugestão do Constituinte Chagas Duarte, gostaria de
sugerir também que se extraíssem autógrafos dos
Constituintes, membros desta Subcomissão, para que
também levássemos como lembrança deste nosso
trabalho em favor da Nação brasileira.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): – Agradeço
a V. Exª a lembrança.
Encerrando esta reunião, convoco nossos
companheiros para a leitura da redação final do
anteprojeto, na segunda-feira, às 14 h.
Neste momento vamos provi denciar também,
dando certo tempo ao Relator, para que S. Ex.ª possa
ultimar a sua redação final.
O SR. CONSTITUINTE MESSIAS SOARES: –
Estamos tendo dias difíceis de trabalho até nos fins de
semana. Para que alguns de nós possamos retomar aos
nossos estados, gostaria de sugerir a V. Ex.ª que
remarcasse esta reunião para a parte da noite, na
segunda-feira.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): –
Lamentavelmente, ilustre Constituinte, temos de
entregar o anteprojeto pronto no dia 25, segunda-feira.
Queremos ter tempo suficiente para entregá-lo no final
da tarde. Se protelarmos para a noite, seguramente
vamos atrasar um dia no nosso compromisso de
apresentar a redação final. Neste sentido, peço a
compreensão de V. Exª Na ocasião queremos tirar
também – e pedimos à Mesa auxilio – uma fotografia
histórica, inclusive da assinatura dos documentos, como
foi sugerido.
Agradeço a todos os companheiros a
colaboração. Boa noite.
Subcomissão da União,
Distrito Federal
e Territórios
ATA DA 18º REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA,
REALIZADA EM 25-5-87.
Aos vinte e cinco dias do mês de maio do ano de
mil novecentos e oitenta e sete, às quinze horas e
quatro minutos, na Sala "B1" – Anexo II da Câmara dos
Deputados, reuniu-se a Subcomissão da União, Distrito
Federal e Territórios, sob a presidência do Senhor
Constituinte Jofran Frejat, com a presença dos
seguintes Constituintes: Ruben Figueiró, Sigmaringa
Seixas, Annibal Barcellos, Chagas Duarte, Felipe
Mendes, Francisco Carneiro, Marluce Pinto, Messias
Soares, Mozarildo Cavalcanti. Havendo número
regimental, o Senhor Presidente declarou iniciados os
trabalhos e passou à leitura da Ata da reunião anterior,
que foi aprovada por unanimidade. Findo o Expediente,
o Senhor Presidente anunciou os trabalhos do dia,
dando início à votação da redação final do Anteprojeto,
que foi aprovado por unanimidade. O inteiro teor dos
trabalhos será publicado, após a tradução das notas
taquigráficas e o competente registro datilográfico, no
Diário da Assembléia Nacional Constituinte. Nada
mais havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por
encerrados os trabalhos, às quinze horas e quarenta e
cinco minutos. E, para constar, eu, Antônio Fernando
Borges Manzan, Secretário, lavrei a presente Ata que,
depois de lida e aprovada, será assinada pelo Senhor
Presidente. – Constituinte Jofran Frejat, Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): – Havendo
número regimental, declaro abertos os trabalhos da
reunião da Subcomissão da União, Distrito Federal e
Territórios.
O Sr. Secretário procederá à leitura da ata da
reunião anterior.
O SR. RELATOR (Sigmaringa Seixas): – Sr.
Presidente, requeiro a dispensa da leitura da ata.
(É aprovado o pedido de dispensa da leitura da
ata.)
O SR. PRESIDENTE (Jofran Frejat): – Acolho o
pedido de V. Exª e peço ao ilustre Relator que inicie a
leitura do anteprojeto e da introdução do seu relatório,
para que possamos aprovar a redação final e
encaminhá-lo à Comissão, como estabelecido, dentro
do prazo legal.
Com a palavra o Sr. Relator.
O SR. RELATOR (Sigmaringa Seixas): – Sr.
Presidente, gostaria, antes de fazer a leitura do
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
anteprojeto, se V. Exª me permitisse, fazer a
leitura do intróito.
Quando da apresentação do Relatório e
Anteprojeto, em sua parte introdutória, o Relator
limitou-se a discorrer, em linhas gerais, sobre os
princípios norteadores do trabalho e a
concepção que fundamenta o texto normativo.
Nada mais foi dito, além daquelas
linhas, que se enquadravam, tão-somente, na
perspectiva do trabalho objetivamente
considerado. Essa objetivação foi uma
preferência consciente do Relator, que,
embora atento aos aspectos e circunstâncias
de caráter subjetivo envolvidos na realização
da tarefa, quis, naquele momento, afastá-los
de quaisquer considerações.
É chegada a oportunidade, porém, de
aflorar esse outro lado. Fundamental.
Operacional. Realizador. Cultural. Intelectual.
Humano.
É a hora de reconhecer e agradecer a
participação, o trabalho e o esforço de tantos
que colaboraram de alguma maneira e dos
que obraram de toda maneira.
A primeira, palavra há se ser aos
membros da Subcomissão da União, Distrito
Federal e Territórios, em especial ao seu digno e
ilustre Presidente, o Constituinte Jofran Frejat,
pelo espírito receptivo sempre demonstrado,
cuja desonerada referência, a qualquer título, o
relator não se furta de afirmar.
Aos demais pares, igual menção, em
particular àqueles que mais proximamente
acompanharam o desenvolvimento do
trabalho, os ilustres e dignos Constituintes
Annibal Barcellos, Chagas Duarte, Felipe
Mendes, Francisco Carneiro, Geovani Borges,
Marluce Pinto, Meira Filho, Messias Soares,
Mozarildo Cavalcanti, Roberto Rollemberg,
Ruben Figueiró e Vilson Souza. Citem-se,
ainda, os membros titulares, ilustres e dignos
Constituintes Paes de Andrade, Paulo
Mincarone, Ruy Bacelar e Wagner Lago.
Saliente-se a valiosa contribuição de
outros ilustres e dignos Constituintes que
apresentaram suas Emendas ao Anteprojeto,
propiciando maior reflexão do Relator e o
aperfeiçoamento do texto. Seus nomes se
repetem várias vezes no curso do trabalho.
Uma segunda palavra, de profundo
agradecimento à coordenação e concriação
do trabalho intelectual ao Dr. Edgard de
Lincoln Proença Rosa, Diretor da Assessoria
do Senado Federal, fraterno e incansável
amigo do Relator, de todas as horas.
Igualmente, quer o Relator, registrar seu
agradecimento ao Dr. Alziro Silva Filho,
Assessor Legislativo da Câmara dos
Deputados, pela dedicação e empenho nas
longas horas de irrecusável colaboração.
Também ao Dr. Carlos Walberto Chaves
Rosas, Diretor da Subsecretaria Técnica e
Jurídica do Senado.
Aos funcionários da Secretaria da
Subcomissão, pela permanente vigília, pelas
atenções que sempre dispensaram ao Relator
e pela responsável eficiência com que se
desincumbiram das tarefas administrativas, a
começar pelo Secretário Antonio Fernando
Borges Manzan, a Coordenadora da área
legislativa, Maria Teresa de Barros Pereira, a
coordenadora Lindalva Affonso Borges
Ribeiro, a coordenadora da Área de
Pesquisa Ofhélia Drumond de Andrade
Müller, ao coordenador da área de apoio
Nelício Rodrigues Dias, a toda a equipe de
apoio, integrada por Ana Clara Fonseca
Serejo, Antonio Luiz de Souza Santana,
Dijanete do Nascimento, Maria Aparecida de
Barcelos Lacerda, Neila Cardoso Adorno e
Odete Gomes da Silva.
Aos técnicos e funcionários do Centro
de Informática e Processamento de Dados do
Senado Federal – Prodasen, o agradecimento
do Relator e o seu reconhecimento pela alta
competência profissional e pela solidariedade
demonstrada em todas as horas, mencionando-
se, em particular, seu Diretor-Executivo, Sérgio
De Otero Ribeiro, seu Diretor da Coordenação
de Informática, Marcus Vinicius Goulart
Gonzaga e, muito especialmente, o analista-
gerente da Subcomissão, Carlos Alberto
Costa Sampaio, pela dedicação desde o início
dos trabalhos. Ainda uma menção à
funcionária Creuza Ribeiro Neves.
Deixa-se de citar o nome de todos os
outros colaboradores incansáveis, para que
não se cometa uma grave injustiça pela
eventual omissão.
Ainda uma palavra de atenção aos
demais servidores, da Câmara e do Senado,
que ajudaram o Relator com preciosa parcela
de seu trabalho, cabendo destacar os do
Gabinete do Diretor da Assessoria do
Senado, com particular agradecimento ao
funcionário Wanderley Pereira da Costa, pela
prestimosidade na realização de trabalhos
datilográficos na primeira etapa do Relatório.
A todos, o elogio e a gratidão do
Relator. (Palmas.)
Gostaria de complementar, Sr.
Presidente, dizendo que o ideal é que essa
Constituição seja permanente, pelo menos
duradoura. Mas, se isso não vier a ocorrer e,
se amanhã, me for dada a oportunidade de
participar da elaboração de um novo texto
constitucional, quero dizer a V. Exª e aos
demais membros da Subcomissão que gostaria,
nessa oportunidade, de integrar uma
subcomissão composta exatamente, por V. Ex as.
Sr. Presidente, o trabalho começa
com a apresentação das emendas, que é
antecedida do seguinte texto:
Nos termos do art. 17 e seu § 2º da
Resolução nº 2, de 1987, que "dispõe sobre o
Regimento Interno da Assembléia Nacional
Constituinte", o Relator apresenta o seu
parecer sobre as Emendas ao Anteprojeto.
O detido exame das proposições dos
Senhores Constituintes permitiu realizar
várias alterações no Anteprojeto original,
aperfeiçoando-o nos termos de uma nova
versão do seu texto.
Em seguida vem o parecer sobre as
emendas. Evidentemente não vou cansar V. Ex as
lendo uma a uma. Logo após, vem o anteprojeto
em sua segunda versão, ou seja, após o
oferecimento de emendas e já incorporando as
emendas acolhidas pelo Relator. E, por fim,
considerando os destaques acolhidos ou
rejeitados, segue-se o anteprojeto em sua
redação final, que é antecedido do seguinte texto:
Na Sessão de votação, o relator
encaminhou ao Plenário da Subcomissão a
segunda versão de seu Anteprojeto, com a
incorporação das Emendas aprovadas, na
forma em que foi possível sua adaptação no
texto normativo original.
Durante a votação, foram requeridos
trinta e cinco Destaques. Destes, seis foram
aprovados pela Subcomissão, ensejando as
seguintes alterações a serem encampadas no
Anteprojeto final:
1º para incluir, nas disposições preliminares,
sobre bens da União, o parágrafo proposto na
Emenda nº 2A0025-8, do Constituinte Felipe
124
Mendes. O dispositivo aditado passou a ser o
§ 5º do art. 3º do Anteprojeto final.
2º para suprimir a expressão "vedada
sua exportação a empresa privada", do inciso VI,
do art. 7º, como proposto na Emenda nº 2A0018-
5, do Constituinte Felipe Mendes. Do Anteprojeto
final está omitida a referida expressão;
Antecede ao texto final. Se V. Ex as
forem ao fim do relatório, encontrarão.
Prossigo então.
3º para suprimir a redação do inciso VI-
II, do art. 8º, resultante da aprovação, pelo
Relator, da Emenda nº 2A0095-9, do
Constituinte Eduardo Jorge. Do Anteprojeto final
volta a constar a redação original, formulada, nos
referidos inciso e artigo (antes prevista no inciso
VII daquele artigo), assim: "organizar e promover
a defesa da saúde pública";
4º para suprimir a expressão
"mateóricas", da alínea "r", do inciso XV, do
art. 8º, da segunda versão do Anteprojeto. Na
redação final está excluída a expressão;
5º para acrescentar artigo, no Capítulo
das Disposições Transitórias, nos termos da
Emenda nº 2A0058-4, do constituinte Ruben
Figueiró. O Anteprojeto final acrescenta o
dispositivo, numerado como art. 38;
6º para aditar artigo, no Capítulo das
Disposições Transitórias, nos termos da
Emenda nº 2A0024-0, do Constituinte Felipe
Mendes. O ante-projeto final acrescenta o
dispositivo, numerado como art. 39.
Feitas às adições e surpressões,
determinadas pelos Destaques aprovados, o
Relator apresenta a
REDAÇÃO FINAL DO ANTEPROJETO
TÍTULO
Da Organização do Estado
CAPÍTULO I
Disposições Preliminares
Art. 1º A República federativa do
Brasil é constituída, sob regime representativo
de governo, de forma indissolúvel, da União,
dos Estados e do Distrito Federal.
§ 1º Todo o poder emana do povo e
em seu nome é exercido.
§ 2º Os Territórios integram a União.
§ 3º O Distrito Federal é a capital da
União.
§ 4º São símbolos nacionais a
Bandeira, o Hino e as Armas da República,
adotados na data da promulgação desta
Constituição, e outros estabelecidos em lei; os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão ter símbolos próprios.
§ 5º E livre o uso de símbolos
nacionais pelo povo, na forma da lei.
§ 6º O Português é a língua oficial do
Brasil. Art. 2º São Poderes da União Federal o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário,
independentes e harmônicos entre si.
Parágrafo único. Salvo nos casos
previstos nesta Constituição, é vedado a
qualquer dos Poderes delegar atribuições;
quem for investido na função de um deles não
poderá exercer a de outro.
Art. 3º incluem-se entre os bens da
União:
I – a porção de terras devolutas
indispensável à defesa das fronteiras, às
fortificações e construções militares, bem
assim às vias da comunicação e à
preservação ambiental;
I – os lagos e quaisquer correntes de água
em terrenos de seu domínio, ou que banhem
125 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
mais de um Estado, sirvam de limite com
outros países ou se estendam a território
estrangeiro; as ilhas fluviais e lacustres nas
zonas limítrofes com outros países; as ilhas
oceânicas e as marítimas, excluídas as já
ocupadas pelos Estados na data da
promulgação desta Constituição;
III– o espaço aéreo;
IV – a plataforma continental;
V – o mar territorial e patrimonial;
VI – os recursos minerais do subsolo;
VII – as cavidades naturais
subterrâneas, assim como os sítios
arqueológicos, pré-históricos e os
espeleológicos do subsolo;
VIII – as terras ocupadas pelos índios,
que delas terão posse permanente e usufruto
exclusivo das riquezas naturais do solo, do
subsolo e de todas as utilidades nelas
existentes;
IX – os bens que atualmente lhe
pertencem ou que vierem a ser atribuídos à
União por meio de tratados internacionais.
§ 1º É assegurado aos Estados e
Municípios litorâneos a participação no
resultado da exploração econômica da
plataforma continental e do mar territorial e
patrimonial, na forma prevista em lei
complementar.
§ 2º É assegurada aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios, nos termos
da lei complementar, a participação no
resultado da exploração econômica e do
aproveitamento de todos os recursos naturais,
renováveis ou não renováveis, bem assim dos
recursos minerais do subsolo, em seu
território.
§ 3º O mar territorial e patrimonial é
de duzentas milhas.
§ 4º A faixa interna de até cem
quilômetros de largura, paralela à linha
divisória terrestre do território nacional, é
considerada indispensável à defesa das
fronteiras e será designada como faixa de
Fronteira, conforme dispuser a lei
complementar.
§ 5º A União promoverá,
prioritariamente, o aproveitamento econômico
dos bens de seu domínio localizados em
regiões menos desenvolvidas do País.
Art. 4º Incluem-se entre os bens do
domínio dos Estados os lagos em terreno que
lhes pertence, assim como os rios que neles
têm nascente e foz; as ilhas fluviais e
lacustres; as ilhas oceânicas e as marítimas
por eles já ocupadas na data da promulgação
desta Constituição; e as terras devolutas não
compreendidas no domínio da União.
Art. 5º Os Estados podem incorporar-
se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se
para se anexarem a outros ou formarem
novos Estados, mediante deliberação das
respectivas Assembléias Legislativas,
plebiscito das populações diretamente
interessadas e aprovação do Congresso
Nacional, na forma regulada em lei
complementar.
Art. 6º A União e os Estados
observarão o resultado de consulta às
populações diretamente interessadas, por
sistema plebiscitário, para a construção de
aeroportos, hidrelétricas, pólos petroquímicos,
usinas nucleares, depósitos de material e lixo
atômico, ou quaisquer empreendimentos que
prejudiquem a qualidade de vida das
comunidades ou ofereçam riscos à vida
humana e ao equilíbrio ecológico.
Parágrafo único. O disposto neste
artigo obedecerá aos requisitos e condições
estabelecidos em lei complementar.
CAPÍTULO II
Da Competência Privativa da União Federal
Art. 7º Compete à União:
I – manter relações com Estados
estrangeiros; celebrar tratados e convenções
sobre matéria de natureza internacional;
participar de organizações internacionais de
fins pacíficos;
II – declarar a guerra e celebrar a paz;
III – organizar e manter as Forças
Armadas, a segurança das fronteiras e a
defesa externa;
IV – permitir, nos casos previstos em
lei complementar, que forças estrangeiras
aliadas transitem pelo território nacional ou
nele permaneçam temporariamente, sob o
comando de autoridades brasileiras, vedada a
concessão de bases militares;
V – decretar o estado de sítio e a
intervenção federal;
VI – autorizar e fiscalizar a produção e
o comércio de material bélico, de armas e
explosivos;
VII – organizar e manter a Polícia
Federal;
VIII – exercer a classificação de
diversões públicas;
IX – emitir moeda;
X – fiscalizar as operações de crédito,
de capitalização e de seguros;
XI– planejar e promover o n) emigração, imigração, entrada,
desenvolvimento nacional, ouvidos os
Estados e os órgãos regionais interessados,
visando à eliminação das disparidades
econômicas e sociais entre as regiões do
País, respeitadas suas peculiaridades;
XII–estabelecer os planos nacionais
de viação, transportes, informática e
gerenciamento costeiro;
XIII – manter o serviço postal e o
Correio Aéreo Nacional, vedada permissão,
autorização ou concessão;
XIV – explorar, diretamente ou
mediante autorização ou concessão:
a) os serviços nacionais,
interestaduais e internacionais de
telecomunicações;
b) os serviços e instalações de
energia elétrica no âmbito interestadual e o
aproveitamento energético dos cursos d'água
pertencentes à União;
c) a navegação aérea, aeroespacial e
a utilização da infra-estrutura aeroportuária;
d) as vias de transportes entre portos
marítimos e fluviais e fronteiras nacionais ou
que transponham os limites de Estado ou
Território, bem como a navegação aquaviária;
e)* os serviços e instalações de
energia nuclear de qualquer natureza;
f) o transporte coletivo de alta
capacidade;
XV – manter cooperação econômica,
administrativa, financeira e cultural com os
Estados e outras pessoas jurídicas de direito
público interno;
XVI – celebrar convênio e acordo para
execução de leis e serviços federais;
XVII – organizar e manter o Poder
Judiciário e o Ministério Público do Distrito
Federal e dos Territórios;
XVIII – organizar e manter os serviços
e as instituições oficiais de estatística,
geografia e cartografia;
XIX–disciplinar o acesso ao mercado
interno de modo a viabilizar o
desenvolvimento sócio-econômico, o bem-
estar do povo e a realização da autonomia
tecnológica e cultural do País;
XX – conceder anistia;
XXI – legislar sobre:
a) direito civil, comercial, penal,
processual, eleitoral, marítimo, aeronáutico,
espacial e do trabalho; normas gerais de
direito tributário;
b) organização e funcionamento dos
serviços federais;
c) desapropriação;
d) requisição de bens e serviços civis,
em caso de perigo iminente, e militares, em
tempo de guerra;
e) águas, telecomunicações,
informática, serviço postal, energia elétrica,
térmica, nuclear ou qualquer outra;
f) sistema monetário e de medidas,
título e garantia dos metais;
g) política de crédito, câmbio e
transferência de valores para fora do país;
comércio exterior e interestadual;
h) navegação marítima, fluvial e
lacustre; regime dos portos;
i) trânsito e tráfego interestadual e
rodovias federais;
j) jazidas, minas, outros recursos
minerais e metalurgia; potenciais de energia
hidráulica, bem assim o regime de seu
aproveitamento e exploração;
l) nacionalidade, cidadania e
naturalização;
m) populações indígenas, inclusive
garantia de seus direitos;
extradição e expulsão de estrangeiros;
o) condições de capacidade para o
exercício das profissões;
p) símbolos nacionais;
q) organização judiciária do Ministério
Público do Distrito Federal e dos Territórios;
organização administrativa dos Territórios;
r) sistema estatístico e cartográfico
nacionais;
s) condições de exercício do direito de
reunião;
t)* outras matérias necessárias ao
exercício da competência legislativa e dos
poderes que lhe são concedidos nesta
Constituição.
CAPÍTULO III
da Competência Comum da União, dos
Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios
Art. 8º São da competência comum
da União, dos Estados do Distrito Federal e
dos Municípios as seguintes atribuições:
I – observar e fazer observar o
cumprimento da Constituição Federal, das
leis, e zelar pelas instituições democráticas;
II – estabelecer e executar planos de
bem-estar social, visando à assistência e
proteção à infância, à adolescência, aos
deficientes fís icos, aos excepcionais e aos
idosos;
III – amparar e zelar pela guarda dos
documentos, obras e locais de valor histórico
ou artístico, monumentos e paisagens
naturais notáveis, assim como os jazigos
fossilíferos, sítios arqueológicos e
espeleológicos, parques nacionais e
monumentos geológicos, além de outros bens
culturais e naturais de valor histórico e
artístico;
IV – impedir a evasão de obras de
arte e de outros bens culturais e naturais de
valor histórico e artístico;
V– promover o turismo e colaborar
para a sua promoção;
 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
VI – proporcionar os meios de acesso
à cultura e à educação e promover a ciência e
a cultura;
VII – estabelecer, planejar e promover
o desenvolvimento regional, bem assim as
endomigrações;
VIII – organizar e promover a defesa
da saúde pública;
IX – estabelecer e executar planos de
abastecimento e habitação;
X – organizar a defesa civil
permanente, em especial contra as
calamidades públicas, as secas e as
inundações;
XI – proteger o meio ambiente e
combater a poluição em qualquer de suas
formas;
XII – preservar as florestas, a fauna e
a flora;
XIII – combater a miséria e os fatores
de marginalização social do homem,
promovendo a integração social dos setores
desfavorecidos;
XIV – explorar, diretamente ou
mediante autorização ou concessão, na forma
de lei complementar:
a) os serviços intermunicipais e locais
de telecomunicações;
b) os serviços e instalações de
energia elétrica de qualquer natureza, exceto
os privativos da União, o aproveitamento de
energia hidráulica de potência reduzida e, em
qualquer caso, a captação de energia solar;
XV – legislar sobre:
a) direito financeiro e orçamento;
b) direito agrário;
c) direito e procedimento
administrativo;
d) direito do trânsito e do tráfego nas
vias terrestres locais e intermunicipais;
e ) direito urbanístico;
f) direito econômico;
g) produção, consumo e sua
propaganda comercial;
h) proteção ao consumidor, inclusive
sistemas de consórcio e poupança;
i) florestas, caça, pesca, fauna e
conservação da natureza;
j) proteção ao meio ambiente e
controle da poluição;
l) responsabilidade por danos ao meio
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de
valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico;
m ) proteção ao patrimônio histórico,
cultural, artístico e paisagístico;
n) educação, cultura, ensino,
desportos e turismo;
o) defesa e proteção da saúde;
p) regiões metropolitanas e de
desenvolvimento;
q) endomigrações;
r) águas em todo o seu ciclo
hidrológico, sejam superficiais e subterrâneas.
Art. 9º A União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios poderão celebrar
convênios para execução da suas leis, serviços ou
decisões, por intermédio de funcionários federais
estaduais, do Distrito Federal e municipais.
Art. 10. À União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios é vedado:
I – criar distinções ou preferências em
favor de uma dessas pessoas de direito
público interno contra outra;
II – estabelecer cultos religiosos ou
igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o
exercício ou manter com eles ou seus
representantes relações de dependência
ou aliança, ressalvada a colabo-
ração de interesse público, na forma e nos
limites da lei federal, exclusivamente no setor
educacional, no assistencial e no hospitalar;
III – recusar fé nos documentos
públicos.
Art. 11. Compete à União e aos
Estados a legislação comum sobre:
I – regime penitenciário;
II – registros públicos e notariais,
juntas comerciais e tabelionatos, custas e
emolumentos remuneratórios dos serviços
forenses, notariais e registrais;
III – criação, funcionamento e
processo do Juizado de pequenas causas;
IV – procedimentos judiciais;
V – direito judiciário, organização e
assistência judiciária, Ministério Público e
Defensoria Pública;
VI – efetivos e armamentos das
Polícias Militares e condições de sua
convocação, inclusive mobilização;
VII – seguridade e previdência social;
VIII – higiene, segurança e inspeção
do trabalho.
Art. 12. A legislação da União, no
domínio das matérias da competência
comum, terá o conteúdo de normas gerais,
com validade e eficácia no âmbito nacional, e
denominação de lei complementar.
Art. 13. A legislação dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, no domínio
das matérias da competência comum, terá o
conteúdo de normas suplementares, com
validade e eficácia no âmbito da respectiva
jurisdição territorial, e denominação de lei
suplementar.
§ 1º No exercício da legislação
suplementar, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios observarão a lei complementar
de normas gerais preexistente.
§ 2º A vigência ulterior de lei
complementar de normas gerais tornará
ineficaz a lei suplementar naquilo em que esta
conflitar com a da União, relativamente a
matéria da competência comum.
CAPÍTULO IV
da Intervenção Federal
Art. 14. A União não intervirá nos
Estados e no Distrito Federal, salvo para:
I – manter a integridade nacional;
II – repelir invasão estrangeira ou a de
um Estado em outro;
III – pôr termo a grave perturbação da
ordem pública;
IV – garantir o livre exercício de
qualquer dos Poderes estaduais;
V – reorganizar as finanças do Estado
que:
a) suspender o pagamento de sua
dívida fundada por mais de dois anos
consecutivos, salvo por motivo de força
maior;
b) deixar de entregar aos Municípios
as quotas que lhes forem devidas a titulo de
transferência de receitas públicas de qualquer
natureza ou de participação na renda
tributária, nos prazos previstos nesta
Constituição ou em lei;
VI – prover à execução de lei da
União, ordem ou decisão judicial;
VII – assegurar a observância dos
seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, democrática,
representativa e federativa;
b) respeito aos direitos humanos;
c) temporariedade dos mandatos
eletivos, cuja duração não excederá a dos
mandatos federais correspondentes;
126
d) harmonia e coordenação dos
Poderes;
e ) garantias do Poder Judiciário e do
Ministério Público;
f) autonomia municipal;
g) prestação de contas da
administração pública direta e indireta.
Art. 15. Compete ao Presidente da
República, mediante prévia autorização do
Congresso Nacional, decretar a intervenção.
Parágrafo único. A decretação da
intervenção dependerá:
a) no caso do inciso IV do art. 14, de
solicitação do Poder Legislativo ou do Poder
Executivo, coacto ou impedido, ou de
requisição do Supremo Tribunal Federal, se a
coação for exercida contra o Poder Judiciário;
b) no caso do inciso VI do art. 14,
quando se tratar de execução de ordem ou
decisão judicial, de requisição do Supremo
Tribunal Federal ou do Tribunal Superior
Eleitoral, conforme a matéria;
c) o provimento, pelo Supremo
Tribunal Federal, de representação do
Procurador-Geral da República, nos casos do
inciso VI, primeira parte, e nos do inciso VII,
ambos do art. 14;
d) nos casos dos incisos VI e VII do
art. 14, o decreto do Presidente da
República limitar-se-á a suspender a
execução do ato impugnado, se essa medida
bastar para o restabelicimento da
normalidade no Estado.
Art. 16. O decreto de intervenção,
que, se couber, nomeará o interventor,
observará em sua amplitude, prazo e
condições de execução, os termos da
autorização do Congresso Nacional, que
decidirá no prazo de vinte e quatro horas a
contar do recebimento da mensagem do
Presidente da República.
§ 1º Se não estiver funcionando, o
Congresso Nacional será convocado,
extraordinariamente, dentro do mesmo prazo
de vinte e quatro horas, para apreciar a
mensagem do Presidente da República.
§ 2º Cessados os motivos da
intervenção, as autoridades afastadas de
seus cargos a eles voltarão, salvo o
impedimento legal.
CAPÍTULO V
Do Distrito Federal e dos Territórios
SEÇÃO 1
Do Distrito Federal
Art. 17. O Distrito Federal é dotado de
autonomia política, legislativa, administrativa e
financeira.
Art. 18. A eleição do Governador e do
Vice-Governador do Distrito Federal far-se-á
por sufrágio universal, voto direto e secreto, e
os mandatos coincidirão com os de
Governador e Vice-Governador de Estado.
Art 19. Lei Orgânica, votada pela
Assembléia Legislativa, disporá sobre a
organização dos Poderes Legislativo e
Executivo do Distrito Federal, observadas as
normas e os princípios estabelecidos nesta
Constituição.
Parágrafo único. A lei a que se refere
este artigo poderá:
I – estabelecer descentralização
administrativa do Distrito Federal;
II – instituir nas administrações
regionais conselhos comunitários, nos quais
admitirá a participação popular, mediante
representação.
127 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento)
Art 20. A representação na
Assembléia Legislativa do Distrito Federal,
exercida por Deputados Distritais,
obedecerá ao disposto nesta Constituição e
na legislação eleitoral.
Art. 21. À representação do Distrito
Federal na Câmara Federal e no Senado
da República aplicar-se-á a legislação
eleitoral naquilo que dispuser para os
Estados.
Art 22. Cabe ao Distrito Federal
organizar e manter os efetivos e
armamentos de sua Polícia Militar.
Parágrafo único. Aplica-se ao
Distrito Federal o disposto nos incisos VI a
VIII, do art. 11, desta Constituição.
Art 23. A União destinará ao Distrito
Federal os recursos financeiros
necessários ao desempenho de atividades
de interesse comum, ao exercício das
atribuições inerentes à competência
prevista no art. 8º desta Constituição, à
manutenção de efetivos e armamentos de
sua Polícia Militar e à superação, quando
indispensável, das insuficiências da
economia local.
Art 24. São bens do Distrito Federal
os que lhe pertencem na data da
promulgação desta Constituição.
Art. 25. A representação judicial e a
consultoria jurídica do Distrito Federal
competem privativamente aos seus
Procuradores, cujo ingresso na carreira
depende de aprovação em concurso
público de provas e títulos.
Parágrafo único. Respeitados os
direitos, deveres e impedimentos próprios,
previstos em lei, são assegurados aos
Procuradores do Distrito Federal os
encargos e garantias, assim como o
tratamento remuneratório, atribuídos aos
membros do Ministério Público.
SEÇÃO II
Dos Territórios
Art. 26. Lei federal disporá sobre a
organização administrativa e judiciária dos
Territórios, observadas as normas e os
princípios estabelecidos nesta Constituição.
Art 27. A função executiva no
Território será exercida por Governador,
nomeado e exonerado pelo Presidente da
República, com aprovação do nome pelo
Senado Federal.
Art. 28. Os Territórios são divididos
em Municípios, salvo quando não
comportarem essa divisão.
Parágrafo único. Os Prefeitos
Municipais serão eleitos por sufrágio
universal, voto direto e secreto.
Art 29. As contas do governo do
Território serão submetidas ao Congresso
Nacional, nos termos, condições e prazos
previstos nesta Constituição.
Art. 30. A manutenção da ordem
pública nos Territórios caberá aos orgãos
policiais instituídos em lei especial.
Art. 31. Lei complementar disporá
sobre a criação de Território, sua
transferência em Estado, sua reintegração
ao Estado de origem ou qualquer das
formas previstas no art. 5º.
CAPÍTULO Art. 36. A União destinará os
recursos financeiros necessários à
Disposições Transitórias construção das sedes do Poder Legislativo
Art 32. As primeiras eleições para dos Estados criados em decorrência do
Governador, Vice-Governador e a disposto no artigo anterior.
Assembléia Legislativa do Distrito Federal
serão realizadas no dia 15 de novembro de Art. 37. No prazo de dois anos,
1988, tomando posse os eleitos no dia 1º contados da promulgação desta
de janeiro de 1989. Constituição, o Congresso Nacional
aprovará nova divisão territorial do País,
Parágrafo único. Os mandatos dos segundo o disposto em lei complementar.
eleitos e empossados em conformidade
com o disposto neste artigo coincidirão com Art. 38. A União fica obrigada, pelo
os atuais Governadores e Vice- prazo de dez anos da data da promulgação
Governadores de Estado e Deputados desta Constituição, a estratificar programa
Estaduais. de proteção ecológica e de aproveitamento
econômico do Pantanal Mato-grossense,
Art. 33. A primeira representação na com ênfase ao turismo e à pecuária, no
Assembléia Legislativa do Distrito Federal, qual aplicará anualmente recursos da
composta nos termos previstos na ordem de 0,005% da receita federal.
legislação eleitoral, votará a Lei Orgânica
do Distrito Federal, de acordo com o Art. 39. Lei complementar disporá
estabelecido nesta Constituição. sobre a criação, os recursos financeiros e
Parágrafo único. O Congresso as atribuições da Companhia de
Nacional incluirá em seu Regimento Desenvolvimento do Vale do Pamaíba,
Comum a Comissão Mista Permanente do com sede e foro em Teresina.
Distrito Federal, integrada exclusivamente
pelos representantes deste na Câmara Eu consultaria os ilustres
Federal e no Senado da República, a quem Constituintes se alguém tem algum reparo
caberá legislar para o Distrito Federal, a fazer na redação final do anteprojeto.
enquanto não for instalada sua Assembléia
Legislativa na data prevista no art. 32 O SR. PRESIDENTE (Jofran
destas disposições transitórias. Frejat): – Nós apontaríamos duas
incorreções datilográficas: uma, na letra r,
Art. 34. A União destinará os do art. 8º, inciso XV, onde diz: "águas em
recursos financeiros necessários à todo o seu ciclo hidrológico, sejam
construção da sede do Poder Legislativo do superficiais, ou subterrâneas", e que saiu:
Distrito Federal. "e subterrâneas". E a outra, também
datilográfica, no inciso II, do art. 10:
Art. 35. Os atuais Territórios de "estabelecer cultos religiosos ou igrejas,
Roraima e Amapá serão transformados em
subvencioná-los, embaraçar-lhes o
Estados, nos termos da lei complementar
exercício ou manter com eles relações de
aprovada pelo Congresso Nacional até
dependências ou aliança, ressalvada a
noventa dias após a promulgação desta
colaboração de interesse". Faltou um n;
Constituição.
está interesse, quando é interesse.
§ 1º Os limites territoriais dos
Estados criados na forma deste artigo O ilustre Relator está tentando
corresponderão aos dos atuais territórios. verificar se falta alguma coisa em relação
às inclusões no anteprojeto final, antes da
§ 2º A União pelo prazo que a lei aprovação da redação final.
referida neste artigo estabelecer, proverá
os Estados assim criados dos recursos Se não há qualquer reparo à
financeiros indispensáveis à sua instalação redação final, além daqueles mencionados,
e manterá programa especial para sua de datilografia, eu a submeto ao Plenário,
consolidação e seu desenvolvimento. aos nossos Constituintes, numa votação
simbólica. Aqueles que estiverem de
§ 3º Noventa dias após a
acordo com esta redação final, queiram
transformação de que trata este artigo, o
permanecer como estão. (Pausa.)
Tribunal Superior Eleitoral fixará data para
Aprovada.
a eleição do Governador e Vice-
Governador, Deputados Estaduais e de
Temos, agora, a única obrigação
três Senadores, cabendo ao menos votado
desta Subcomissão, além dos
destes, nos termos da legislatura eleitoral,
agradecimentos que já foram feitos, de
exercer o restante do mandato de quatro
entregar este relatório final ao Presidente
anos e os demais o do de oito anos.
da Comissão de Organização do Estado.
§ 4º O Governador, o Vice-
Muito obrigado a todos. Agradeço o
Governador e os Deputados Estaduais trabalho de cada um, o esforço de cada
terminarão seus mandatos com os demais um, e Deus nos ajude a todos para que
eleitos a 15 de novembro de 1986.
façamos uma boa Constituição daqui para
§ 5º A representação dos Territórios o final.
na Câmara Federal não será alterada até o
término dos atuais mandatos. Está encerrada a sessão.