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Dossier | 133
Resumen Abstract
A proposta do artigo é investigar a in- The article aims at researching brazilian
fluência da tradição anticomunista no golpe anticommunist tradition influence in the 1964
de 1964 e nas políticas adotadas pelo regime coup and also in the policies adopted by the
militar brasileiro. Na introdução se apresen- military regime. In the first part the basis of
tam as bases de tal tradição, que remontam aos such tradition that began in the 1930’s are
anos de 1930, e o modo como ela foi apropria- explained and furthermore it is analysed the
da nos anos 1960. A parte principal do texto é ways of it’s appropriation in the sixties. The
dedicada a analisar a atuação dos órgãos de in- main part of the text is dedicated to analyse the
formação criados pela ditadura, sobretudo no actions of the information agencies created by
que tange às tentativas de controle dos espaços the dictatorship in it`s attempt to control the
universitários. Nesta análise, confere-se ênfase universities. The text emphasizes the influence
à influência dos valores anticomunistas sobre of anticommunist ideas in such actions, in the
as ações dos aparatos de informação atuantes context of the information apparatus struggles
nas Universidades, em sua luta para derrotar against the left wing enemies.
a esquerda. Key words: Dictatorship, anticommunism,
Palavras chave: Ditadura, anticomunismo, information agencies
agências de informação
1 Departamento de História, Universidade Federal de Minas Gerais (ufmg), Grupo de Pesquisa História
Política-Culturas Políticas na História (http://www.fafich.ufmg.br/hcpcph/).
2 “Criou-se uma ameaça tanto para os Estados Unidos quanto para a América Latina originária de um movi-
mento político «desviante» - «a ameaça comunista». Esta, por sua vez, justificou a ajuda externa especializada
em segurança nacional para combatê-la. Em outras palavras, os Estados Unidos criaram os argumentos para
justificar a existência desse perigo específico e, a seguir, mostraram-se dispostos, mediante pagamento, a
proteger os países ameaçados através da ajuda policial e também militar”. Cf. Huggins, Martha K. Polícia e
política. Relações Estados Unidos/América Latina (São Paulo: Cortez, 1998), 232.
e em São Paulo, a sensação de “perigo vermelho” iminente em terras brasileiras tornou-se mais
verossímil.
Não obstante, somente nos anos 1930 a presença do comunismo no cenário público tornou-se
mais visível, quando o pequeno Partido Comunista criado em 1922 passou a ocupar espaço mais
significativo, com a adesão de intelectuais, militares (entre eles o mítico Luiz Carlos Prestes) e o
aumento no recrutamento de trabalhadores. Em 1935 os comunistas, que compunham a alma da
Aliança Nacional Libertadora, entidade organizada no formato das frentes populares, lideraram
uma tentativa de insurreição armada, rapidamente destruída pelas forças da ordem. Tratou-se de
levante essencialmente militar que envolveu quartéis em Natal (Rio Grande do Norte), Recife
(Pernambuco) e Rio de Janeiro (então a capital federal), mas o plano dos revolucionários era armar
brigadas populares que serviriam como forças auxiliares. A insurreição de 1935, que nas versões
oficiais foi batizada pejorativamente de Intentona Comunista (intento louco, assassino) provocou
importantes desdobramentos políticos. O presidente Getúlio Vargas, então enfraquecido e sob
muitas críticas, aproveitou-se do evento para fortalecer seu poder e editar medidas excepcionais,
como a decretação do Estado de Guerra e algumas emendas à Constituição. Formou-se uma
“União Sagrada” reunindo grupos conservadores e liberais em torno de Vargas, em nome da de-
fesa da ordem e do combate ao comunismo.
O novo contexto político, que abriu caminho para o golpe autoritário de novembro de 1937,
quando Vargas tornou-se ditador, começou a ser desenhado sob a fumaça dos combates de 1935.
O impacto da chamada Intentona Comunista foi enorme, notadamente entre as lideranças ca-
tólicas e os militares. Afinal, não era rebelião comum, mas tentativa dos comunistas de tomarem
o poder que, caso bem sucedida, poderia ter provocado grandes transformações na organização
social brasileira. A comoção tornou-se maior quando a imprensa divulgou que estrangeiros liga-
dos à Internacional Comunista participaram da frustrada tentativa revolucionária, o que serviu de
confirmação ao argumento de se tratar de ameaça à integridade da pátria.
Os eventos de novembro de 1935 foram marcantes na construção da tradição anticomunista,
na medida em que foram apropriados para consolidar as representações do comunismo como fe-
nômeno negativo. O episódio foi mitificado e originou a formação de verdadeira legenda negra em
torno da Intentona Comunista, reproduzida ao longo dos anos. O levante foi representado como
exemplo de manifestação das características maléficas atribuídas aos revolucionários que, segun-
do as versões anticomunistas, teriam cometido vários crimes ignóbeis durante os quatro dias da
revolta (estupros, assassinatos a sangue frio, roubo), considerados uma decorrência necessária dos
ensinamentos da “ideologia malsã”.
As representações anticomunistas tiveram recepção particularmente forte entre os militares,
graças a argumentos peculiares desenvolvidos nas representações sobre 1935. Argumentou-se
que o levante foi uma traição às Forças Armadas, já que os líderes da insurreição eram oficiais do
Exército e voltaram suas armas contra companheiros de farda. Além disso, foi construída a versão
que os oficiais comunistas mataram colegas enquanto eles dormiam indefesos em suas camas,
uma evidência da sua vilania e covardia, tema que seria repetido pelas décadas seguintes. Por fim,
os discursos anticomunistas sobre 1935 denunciaram os oficiais rebeldes por traição ao Brasil, ao
acusarem-nos de agir em favor de potência estrangeira (a urss) e contrariamente ao voto sagra-
do militar de defender a pátria. Para enfatizar a maldade atribuída aos comunistas, investiu-se
na construção de heróis militares que lutaram e morreram nos combates, aos quais se dedicou
um monumento inaugurado em 1940. O dia 27 de novembro entrou para o calendário cívico
do Estado, mas principalmente das Forças Armadas, comemorado como episódio de vitória da
pátria contra a ameaça comunista.
Portanto, o episódio de 1935 serviu como confirmação da existência do “perigo vermelho” no
Brasil e prestou-se à construção de narrativa mítica ao representar os males associados ao comu-
nismo.3 Quando os ventos da Guerra Fria começaram a soprar por esses lados, a partir do final
dos anos 1940, eles já encontraram tradição anticomunista enraizada, que se fortaleceu e renovou
sob a influência do confronto bipolar. A cultura da Guerra Fria trouxe temas novos, como a
liderança dos eua na luta anticomunista (embora muitos líderes da direita fascista e católica des-
confiassem dos norte-americanos), e fortaleceu a crença nos valores liberais como barreira contra
a esquerda. Porém, as bases da tradição anticomunista tinham sido lançadas antes.
Pode-se dizer que no Brasil houve 3 grandes “ondas” anticomunistas: em 1935-37, em 1946-
48 e em 1961-64. O primeiro contexto já foi mencionado e culminou no “Estado Novo” de
Getúlio Vargas, regime ditatorial que se inspirou em elementos fascistas, mas manteve caracte-
rísticas heterogêneas que, a propósito, permitiram a reciclagem de Vargas posteriormente como
líder popular. A segunda “onda” ocorreu durante a redemocratização posterior à Segunda Guerra,
quando o Partido Comunista foi legalizado e tornou-se força política importante nos centros
urbanos, com votação expressiva e influência preponderante no movimento sindical e nos meios
intelectuais. Os grupos de direita reagiram atemorizados e engendraram forte campanha anti-
comunista, que tornou o pcb ilegal e levou à cassação dos mandatos parlamentares eleitos pelo
partido (em 1947 e 1948). A repressão ao pcb acalmou um pouco os temores da direita, mas
vários grupos anticomunistas continuaram ativos nos anos 1950, inclusive porque percebiam a
ameaça como combate mundial em que o Brasil era apenas uma das frentes de batalha.
No início dos anos 1960, a nova conjuntura política atiçou mais uma vez a polarização esquer-
da-direita, que desta vez culminaria em golpe militar. Assim como em outros países, notadamente
da América Latina, o Brasil viu surgir uma geração radical influenciada pela Revolução Cubana
e as lutas terceiro-mundistas, e também pela percepção dos problemas sociais internos, como
demandas por reformas agrária e educacional. A influência da esquerda aumentou no período o
que beneficiou o Partido Comunista, mas, também deu origem a novas organizações socialistas,
como o grupo cristão Ação Popular (ap) e o grupo marxista Política Operária (polop). Nesse
quadro, um evento aparentemente fortuito contribuiu muito para o incremento do poder dos
grupos de esquerda. Com a renúncia de Jânio Quadros e a ascensão do Vice-Presidente João
Goulart ao governo em setembro de 1961, a esquerda brasileira teve sua primeira oportunidade
para influenciar os rumos do país.
Embora fosse um rico estancieiro gaúcho, Goulart era político trabalhista sensível aos ar-
gumentos de esquerda, principalmente às demandas dos líderes sindicais. Durante seu governo
as esquerdas tornaram-se mais ativas no cenário público, com aumento de greves, ocupações de
terras e mobilizações estudantis, o que levou muitos a imaginar-se às portas da revolução social.
No campo da direita, previsivelmente, também foi forte a sensação que a esquerda estava no
poder, o que provocou nova onda de mobilizações contra o comunismo. Em parte, o recurso
à tradição anticomunista era estratégia oportunista para facilitar o proselitismo da campanha
contra Goulart, mas a questão não pode ser resumida à manipulação, pois os comunistas eram
3 Motta, Rodrigo Patto Sá, Em guarda contra o perigo vermelho. O anticomunismo no Brasil: 1917-1964 (São
Paulo: Perspectiva-fapesp, 2002). Sobre a insurreição de 1935 cf. Vianna, Marly de Almeida Gomes,
Revolucionários de 35: sonho e realidade (São Paulo: Companhia das Letras, 1992).
percebidos de fato como os líderes mais influentes à esquerda. Outras questões contribuíram
para o golpe, como a crise econômica, que se manifestou na inflação descontrolada e na redução
das taxas de crescimento, e também as denúncias de corrupção envolvendo aliados do governo.
Entretanto, a crença na “ameaça comunista” foi o tema mais importante na mobilização golpista,
a exemplo das “Marchas da Família com Deus pela Liberdade” que levaram milhares de pessoas
às ruas com cartazes e slogans anticomunistas, eventos significativos para demonstrar o apoio de
parte da sociedade à derrubada do governo.4
4 Presot, Aline, “Celebrando a «Revolução»: as Marchas da Família com Deus pela Liberdade e o Golpe de
1964”, in Denise Rollemberg y Samantha Quadrat (Organizadoras) A construção social dos regimes autoritá-
rios Legitimidade, consenso e consentimento no século xx. Brasil e América Latina (Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2010), 71-96.
5 Para a criação das dsi cf. Carlos Fico, Como eles agiam. Os subterrâneos da ditadura militar: espionagem e polícia
política (Rio de Janeiro: Record, 2001).
6 Desde o início dos anos 1990 o Estado brasileiro vem abrindo à consulta pública os documentos dos ór-
gãos de informação e repressão, com políticas de acesso por vezes erráticas. Os acervos mais significativos
encontram-se no Arquivo Nacional e em alguns Arquivos estaduais, entre eles São Paulo, Rio de Janeiro e
Minas Gerais. Para este trabalho foram usados também acervos das ASI universitárias que se encontram na
Universidade Federal de Minas Gerais e na Universidade de Brasília.
7 Roberto Schwarz, “Cultura e política, 1964-1969”, in O Pai de Família e outros estudos (São Paulo: Companhia
das Letras, [1978] 2008), 71.
8 Às vezes até ser filho de comunista era proibido. Em 15/02/78, a dsi/mec comunicou à Universidade de
Brasília (unb) que um aluno da Universidade Federal do Paraná, “filho do comunista Oto Bracarense Costa”,
havia pedido transferência para aquela Universidade. Em resposta, a asi/unb comunicou que a transferência
foi indeferida pela Universidade. sb 10.1.1–07. Arquivo asi/unb, cedoc/unb.
De acordo com os textos produzidos pela “comunidade de informações” era preciso manter-se
alerta, pois os comunistas seguiam ameaçando a civilização cristã e o país. Em meio a esse copioso
material, constituído por brochuras, panfletos, livros e cartazes foram selecionados alguns exem-
plos, notadamente textos que têm a singularidade de abordar a “infiltração” comunista nos meios
estudantis pelo prisma dos militares.
O primeiro caso é um texto do Coronel Rubens Resstel publicado originalmente no jornal O
Estado de São Paulo e enviado às asi para divulgação nas Universidades, como estratégia de con-
trapropaganda. Sob o título “A infiltração comunista nos meios educacionais”, o texto de Resstel
denuncia as estratégias dos subversivos para “corromper” a juventude. Corrupção é termo adequa-
do para entender o ponto de vista do Coronel, pois ele afirma que os comunistas lançavam mão
de meios imorais como drogas e mulheres sedutoras para atrair jovens ingênuos para seu lado.
De acordo com Resstel, os comunistas teriam mudado o eixo de suas ações do operariado para
os meios estudantis, por entender que nesse segmento o proselitismo revolucionário encontraria
terreno mais favorável. Além disso, eles procurariam concentrar seus recursos preferencialmente
nas Faculdades de Filosofia, devido ao potencial disseminador dessas instituições, responsáveis
por formar os futuros professores.9
O segundo texto é particularmente interessante porque seu autor era influente dirigente uni-
versitário: Zeferino Vaz. Ele integrava o grupo de intelectuais que apoiou o golpe de 1964 e,
nessa condição, foi nomeado Reitor da UnB e depois da Universidade de Campinas (Unicamp),
instituição que ele ajudou a fundar em 1966 e que dirigiu por muitos anos. O próprio Vaz, como
dirigente máximo da Unicamp enviou o texto aos colegas Reitores, em janeiro de 1971.10 A dsi/
mec gostou tanto da colaboração que distribuiu nova versão para os dirigentes universitários em
julho de 1972, além de solicitar ao Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (crub) que
Vaz fosse convidado a expor suas reflexões na reunião seguinte do órgão.11
Intitulado “Contribuição ao conhecimento da Guerra Revolucionária”, o texto de Zeferino
Vaz utiliza linguagem pretensamente científica para análise inusitada. Pode-se dizer tudo do
trabalho, menos que falte originalidade a sua abordagem do tradicional trote dos estudantes, a
“calourada”.12 Ele diz, entre outras coisas, que os comunistas usavam técnicas pavlovianas para
condicionar os estudantes, e isso “explica a facilidade e a rapidez com que se mobilizam mi-
lhares de estudantes para passeatas de protesto”. De acordo com Vaz, os dirigentes da Guerra
Revolucionária se utilizavam do trote para recrutar novos militantes, além de arrecadar dinheiro
para financiar a guerrilha. Eis a conclusão do “estudo”: “Verifica-se, pois, que o trote não é mo-
mento na vida universitária; transformou-se em um processo, calculadamente desenvolvido, com
fins definidos, dentro do esquema global da ação subversiva”.
Outro exemplo: em outubro de 1972, a dsi/mec enviou para as asi universitárias um texto
intitulado Movimento Comunista Internacional. Tratava-se de documento analítico para uso
interno dos agentes de informação, classificado na categoria “secreto”, e seu propósito era infor-
mar sobre as ações do inimigo. Baseado, supostamente, em investigação de debates realizados
9 Caixa 15, maço 14. Arquivo aesi/ufmg. (Artigo publicado em O Estado de São Paulo, 19/11/70).
10 Caixa 16, maço s/n, 20/01/1971. Arquivo aesi/ufmg.
11 Caixa 18, maço 13, 13/07/72. Arquivo aesi/ufmg.
12 A calourada é tradicional entre estudantes universitários brasileiros e consiste em uma espécie de ritual de
iniciação para os novos universitários, que são submetidos a brincadeiras (raspagem de cabelo, pintura do
corpo) ou obrigados a se submeter a situações ridículas (andar com cartazes pendurados ao pescoço).
em Congresso do Partido Comunista da União Soviética, o texto aponta as estratégias dos re-
volucionários na América Latina, que tiveram vitória importante com a ascensão de Allende no
Chile. No caso do Brasil, que seria uma das prioridades do mci, o texto denunciava a estratégia
soviética de atrapalhar o sucesso dos governos originados do movimento de 31 de março de 1964.
Curiosamente, apesar de apontar perigos e estimular o medo, a conclusão é otimista ao dizer que
os comunistas estavam muito divididos no Brasil (linhas russa, comunista e cubana), e que as
ações repressivas e o sucesso econômico do governo militar vinham minando suas possibilidades
de sucesso. Nota-se aspecto paradoxal, quase contraditório: afirmavam a unidade das ações comu-
nistas, daí insistirem na sigla mci, porém, ao mesmo tempo, percebiam as divisões entre os grupos
de esquerda, cada um deles se imaginando capaz de liderar a revolução. Entretanto, na ótica dos
órgãos de informação, as divergências entre as diferentes facções comunistas eram superficiais e
conjunturais, relacionadas às diversas estratégias de chegada ao poder. No fundo, acreditavam, to-
dos os grupos comunistas acalentavam o mesmo projeto, inspirado no modelo soviético de 1917,
e convergiriam no caso da vitória de algum deles.13
No mesmo ano de 1972, os órgãos de informação começaram a divulgar que o mci estava
orientando o Movimento Comunista Brasileiro (outra sigla, o mcb) a reorganizar o movimento
estudantil, desorganizado desde 1969. Como os órgãos de informação monitoravam os Diretórios
estudantis permitidos pelas leis do regime militar, e estava proibida a volta de entidades banidas,
como a União Nacional dos Estudantes, a nova estratégia seria burlar a vigilância usando encon-
tros estudantis das diferentes áreas de saber para fazer subversão e distribuir publicações ilegais.
Os agentes de informação das Universidades deveriam estar atentos, sobretudo, porque fazia
parte da estratégia do mci usar meios moralmente condenáveis que “subjugam e condicionam os
jovens”. Os comunistas disseminariam o uso de entorpecentes, a licenciosidade moral e o des-
prezo pelos valores tradicionais e pela História, tudo para destruir as estruturas morais da ordem
social e conseguir levar os jovens à subversão. Contra esse inimigo “insidioso”, cujas ações tinham
escala global, a dsi/mec recomendava: “somos compelidos a aplicar um tratamento total”.14
Devido à percepção do comunismo como ameaça internacional, uma das obsessões era mo-
nitorar a influência dos países do bloco socialista nas universidades. Desde 1964, o novo regime
vinha reduzindo os laços com os países socialistas que haviam sido estabelecidos no governo de
João Goulart. Nos anos anteriores à intervenção militar foram criados órgãos culturais bilate-
rais, como o Instituto Cultural Brasil-urss (icbus), e firmados acordos para envio de estudantes
brasileiros à União Soviética. Entretanto, para desagrado dos militares radicais e seus aliados, os
governos saídos do movimento de 1964 preferiram não romper totalmente os laços diplomáti-
cos e culturais com a urss. O primeiro governo militar, chefiado pelo General Castelo Branco
rompeu relações diplomáticas com Cuba, entrou em choque com a China ao prender e julgar
os membros de missão comercial que estava no Brasil no momento do golpe15 e enviou tropas
para participar da intervenção norte-americana na República Dominicana. Porém, a orientação
diplomática frente aos países socialistas combinou convicção anticomunista e pragmatismo, em
arranjo complexo e por vezes tenso. Atitudes baseadas apenas no anticomunismo marcaram as
relações com Cuba e a China, mas, no que toca à Europa oriental e à urss os compromissos ide-
ológicos foram atenuados por interesses comerciais e diplomáticos.
Em 1965, o Brasil exportou cerca de 90 milhões de dólares para a Europa oriental, com um
superávit de aproximadamente 20% desse valor. Os países socialistas estavam longe de constituir-
-se nos maiores parceiros comerciais do Brasil, mas também não era montante a ser desprezado.
Por isso a decisão de Castelo Branco de enviar o Ministro Roberto Campos a Moscou, em
setembro de 1965,16 demonstração que seu governo desejava manter laços econômicos normais
com a área de influência soviética. A influência da União Soviética em certas regiões do mundo,
notadamente entre os países “não alinhados”, era tão ou mais importante que os mercados da
Europa oriental. Manter relações corretas com os soviéticos era estratégico em vista da inserção
internacional do Brasil e o contrário, ou seja, o rompimento com a urss poderia trazer dificulda-
des diplomáticas e comerciais com alguns países do terceiro mundo.
Daí uma situação curiosa, e desagradável para os setores mais intransigentes da direita: as
atividades culturais dos soviéticos eram monitoradas e desaconselhadas, mas não inteiramente
proibidas. Mostras de cultura (cinema, literatura etc.) dos países socialistas continuaram a ocor-
rer esporadicamente, assim como permaneceram funcionando algumas entidades bilaterais de
natureza cultural. Embora sempre vigiados pelo Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty)
e os órgãos de informação, estudantes brasileiros continuaram seguindo para países do bloco so-
cialista. Segundo estimativas do Itamaraty, em 1966 havia cerca de 200 brasileiros estudando em
países socialistas, 80 deles na urss, e outros seguiriam o mesmo caminho nos anos seguintes.17
Posteriormente, parte deles começou a voltar ao Brasil, trazendo diplomas soviéticos e dos outros
países, tornando-se fonte de dor de cabeça para os órgãos de informação.
As agências de repressão percebiam as razões pragmáticas que fundamentavam a ambigui-
dade em relação à urss e a atitude de low profile da diplomacia brasileira em direção ao leste,
embora alguns mais imaginativos enxergassem aí também o dedo da “infiltração comunista”.
Ainda assim, pressionaram o governo para, pelo menos, restringir os contatos na área cultu-
ral. Passo importante nessa direção foi dado em 1970, por meio de estudo da Secretaria Geral
do Conselho de Segurança Nacional (csn) que, encaminhado ao Presidente Emílio G. Médici
tornou-se política oficial do governo. Em março de 1970, a exposição de motivos No8 foi enviada
ao Presidente da República, assinada pelo General João Batista Figueiredo, Secretário-Geral do
csn e Chefe do Gabinete Militar.
Provocada por notícias da imprensa sobre a partida de estudantes brasileiros para a urss, a
Secretaria Geral do csn resolveu estudar o assunto, com ajuda do sni e do Itamaraty. Incomodava
o fato de tantos estudantes estarem se dirigindo para o bloco socialista quando o entendimento
oficial, inclusive no Itamaraty, era que o aumento de laços culturais com tais países não interessava
ao Brasil. Além do envio de estudantes por meio do icbus, que poderiam voltar como agentes do
“comunismo internacional” preocupava também o fato de algumas universidades estarem fazendo
16 Naturalmente, a decisão de enviar missão oficial à urss sofreu oposição da “linha-dura”. Cf. Roberto Campos,
A lanterna na popa: memórias 2 (Rio de Janeiro: Topbooks, 1994), 765-773.
17 Dados retirados de relatório da Embaixada dos eua no Brasil. RG 59, caixa 1944, pasta 4. National Archives
and Records Administration, College Park, md. Em relatório elaborado em 1970, com auxílio da Embaixada
brasileira em Moscou, o sni estimou em 100 o total de estudantes brasileiros na urss. Caixa 21/A, Fundo
csn, an-coreg (Arquivo Nacional, Coordenação Regional de Brasília).
18 Caixas 74/B e 21/A, Fundo csn, an-coreg a coppe/ufrj (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação
de Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro) foi criada em 1964 como centro de pesquisa e pós-
graduação na área de engenharia e tecnologia.
19 Giulio Massarani et al, Alberto Coimbra e a coppe. (Brasília: Editora Paralelo 15, 2002), 33.
20 Cf. sb 1.1.1-02. Arquivo asi/unb, cedoc/unb.
21 Cf. Caixa 21, maço 11. Arquivo aesi/ufmg.
o aumento da influência dos países comunistas. Por exemplo, monitoraram publicações doadas
às universidades por países socialistas, em busca de livros suspeitos, e solicitaram que pedidos de
professores para afastamento no exterior, sobretudo quando o destino era a urss fossem encami-
nhados com bastante antecedência, para dar tempo às agências de informação para investigarem.22
Os órgãos de informação se empenharam bastante para vigiar os estudantes egressos da
Universidade Para a Amizade dos Povos Patrice Lumumba (uappl), destino da maioria dos que
se dirigiram à urss em busca de oportunidade de estudos. Essa Universidade, cujo nome ho-
menageava o líder congolês assassinado em 1961, foi concebida para atender jovens do mundo
subdesenvolvido. Como a suposição era que se tratava de pessoas com menor nível de escolari-
dade, os estudos oferecidos na uappl não eram de primeira linha, e ela não gozava do mesmo
prestígio de outras Universidades soviéticas, embora faltem elementos para saber se era pior ou
melhor que as instituições brasileiras da época. De qualquer modo, era oportunidade interessante
para jovens pobres, pois o curso era gratuito e eles recebiam ajuda para viver na urss, 80 rublos
mensais, além de auxílio para compra de roupas de inverno. No Brasil, o processo seletivo era
organizado pelo icbus, que aplicava os testes e escolhia os vencedores. A revista Veja publicou
matéria em dezembro de 1969 sobre a próxima seleção para a uappl, provavelmente a reporta-
gem que motivou o estudo do csn citado há pouco.23 De acordo com a revista, 115 candidatos
se apresentaram para as 50 vagas existentes, e as informações sobre alojamentos, bolsas e outras
facilidades (1 ano de bolsa extra para aprender o idioma russo), bem como sobre a possibilidade
de revalidar o diploma no retorno ao Brasil, irritaram os militares por soarem como propaganda
favorável.
A Universidade Patrice Lumumba também oferecia cursos de pós-graduação em várias áreas,
com condições e auxílios semelhantes. Em 1972, a asi/ufsm (Universidade Federal de Santa
Maria) enviou ao sni um convite remetido pelo icbus, com informações sobre a seleção para pós-
-graduação. Os candidatos deveriam ter até 35 anos e, além dos documentos de praxe (diploma
etc.) precisavam enviar ensaio contendo a proposta de pesquisa, ou cópias de trabalhos publica-
dos. As inscrições poderiam ser feitas em uma das três sedes do icbus (Rio de Janeiro, São Paulo
e Porto Alegre).24
Visando obter dados sobre os diplomados pela uappl espalhados pelo Brasil, em novembro
de 1972 a Agência Central do sni difundiu documento entre os vários órgãos de informação. O
texto advertia que a Universidade soviética era controlada pela kgb e, durante seus cursos alegava
o sni, os alunos seriam submetidos à pregação marxista-leninista.25 Como alguns ex-alunos já
haviam retornado e lecionavam em instituições brasileiras, colocando em risco a “segurança na-
cional”, a ac/sni solicitava levantamento dos nomes de todos os egressos, principalmente aqueles
cujos diplomas haviam sido revalidados no Brasil. O sni ainda não sabia como funcionava o
sistema de revalidação de diplomas estrangeiros e pedia aos membros da “comunidade de infor-
mações” mais dados sobre o assunto.
A partir daí, diversas agências de segurança começaram a rastrear pessoas e diplomas. Foram
localizadas situações de norte a sul do país, mas os resultados das gestões dos órgãos de informação
22 sb 3.3.1-01. Arquivo asi/unb, cedoc/unb e caixa 18, maço 22, Arquivo aesi/ufmg
23 Veja 69 (31/12/69), 29. O jornal O Globo publicou nota semelhante em 7/01/1970.
24 ace 10805/85, Fundo sni, ani-coreg.
25 ace 3675/83, Fundo sni, ani-coreg.
variaram, pois nem sempre conseguiram impedir que os egressos da uappl trabalhassem. Em
Goiás foi identificado casal suspeito trabalhando para a Prefeitura de Anápolis. Wilson tinha sido
militante comunista antes de 1964 e, pouco depois, foi para a uappl fazer graduação e mestrado.
Lá se casou com a colombiana Laura e, após sete anos na urss, ele voltou com a companheira e
um filho para sua terra natal, onde ambos foram contratados pelo poder municipal. Após o casal
ter sido “descoberto” pelos órgãos de informação, em 1972, ambos foram demitidos.26 Outro
casal com história semelhante foi localizado em Minas Gerais, só que nesse caso a esposa era
russa e ambos obtiveram diplomas em Física na urss. Em 1974, João Lenine conseguiu emprego
em uma subsidiária da empresa estatal usiminas e sua companheira russa tentou o mesmo, sem
sucesso.27
Entre 1972 e 1975, as agências de informação rastrearam diplomas soviéticos revalidados
por várias Universidades brasileiras, como Universidade de São Paulo, Universidade Federal do
Rio Grande do Sul e Universidade Federal de Minas Gerais, em áreas como Química, Física,
Engenharia, Geologia e até Medicina. Além disso, a colônia de estudantes brasileiros na urss
foi vigiada, com ajuda da dsi do Ministério das Relações Exteriores e da Embaixada Brasileira
em Moscou, inclusive por meio de violação de correspondência. Uma carta dirigida ao irmão por
estudante gaúcho que vivia em Moscou foi interceptada no início de 1971, e o conteúdo não agra-
dou aos agentes de informação. Entusiasmado, ele elogiou a qualidade do ensino (“inigualável
em qualquer parte do mundo”) e a sociedade soviética, prometendo fazer esforços para que mais
brasileiros fossem estudar lá.28 Em 1978, outra ação contra os universitários brasileiros na urss:
um grupo de seis ex-estudantes da uappl desejava voltar ao Brasil, mas encontrava dificuldade
para obter passaporte junto à Embaixada. Eles ameaçaram denunciar o caso à imprensa e acio-
nar a Justiça caso seus passaportes fossem negados e, por isso, a dsi do Ministério das Relações
Exteriores montou pequeno dossiê sobre o grupo. O sni, que era a agência central do sistema de
informações instruiu que eles fossem interrogados e vigiados quando de sua chegada ao Brasil.29
Até 1975, as Universidades brasileiras credenciadas tinham autonomia para revalidar diplo-
mas estrangeiros, por delegação do Conselho Federal de Educação. No entanto, graças à pressão
dos órgãos de informação e segurança, preocupados em desestimular o estudo na urss, essas nor-
mas foram alteradas. O primeiro sinal foi um Aviso Circular Reservado (No122, de 26/02/1975)
do Ministério da Educação às Universidades, determinando que processos de revalidação de
diplomas obtidos em países sem acordo cultural com o Brasil fossem enviados primeiro ao
Ministério.30 Os processos ficaram suspensos por alguns meses e a Secretaria Geral do csn voltou
à carga, para reforçar a política iniciada em 1970. O csn, por essa época (1975) secretariado pelo
General Hugo Abreu montou Grupo de Trabalho para reestudar a questão das relações culturais
com o bloco socialista, com o objetivo de desestimular a ida de estudantes e bloquear os diplomas.
De acordo com texto assinado por Abreu:
Considerações finais
As convicções anticomunistas foram elemento significativo para a construção de laços de
identidade entre os grupos favoráveis ao golpe de 1964, em especial os militares, a quem forne-
ceram um sentido de missão. E também inspiraram algumas ações da ditadura, tanto na esfera
repressiva quanto no terreno educativo e cultural. No entanto, análise mais atenta do impacto das
políticas anticomunistas nos meios acadêmicos e intelectuais revela que tiveram efeitos limita-
dos. Nem todos os docentes com perfil esquerdista foram afastados das instituições de ensino,
e as agências de repressão não conseguiram impedir que alguns jovens professores com ideias
socialistas fossem contratados. Tampouco os militares da direita radical conseguiram bloquear
totalmente os contatos culturais com os países socialistas, assim como não foram capazes de im-
pedir a circulação de ideias e textos de esquerda, inclusive o marxismo, cuja influência aumentou
ficara incompleta.
Essa percepção comum entre os “duros” foi aguçada com o início do processo de distensão po-
lítica no governo do General Ernesto Geisel, a partir de 1974. O quarto presidente militar adotou
a estratégia de “liberalizar” e reduzir a escala repressiva, com vistas a institucionalizar o regime
autoritário e atenuar os choques com as forças de oposição. Essa política desagradou à direita
radical dominante nos aparatos repressivos, que temia o recrudescimento das ações da esquerda
tanto quanto desejava evitar a perda de seu poder e prestígio no aparelho do Estado. A resposta
de tais grupos à “distensão” foi aumentar as ações repressivas e, de fato, ocorreram muitas mortes
e desaparecimentos entre 1974 e 1976, principalmente de líderes dos dois Partidos Comunistas
mais influentes.39 O ânimo anticomunista tornou-se o ponto de união para os militares radicais
insatisfeitos com a postura moderada defendida por Geisel, que ficaram enraivecidos quando o
presidente adotou posições diplomáticas pragmáticas também em relação à China e aos jovens
governos marxistas que surgiram ao fim do império português na África. Entre 1974 e 1975, o
governo brasileiro reconheceu o governo de Angola, estabeleceu laços diplomáticos com a China
popular e votou a favor de resolução da onu condenando o sionismo, para agrado dos países
árabes. Para os mais radicais da direita, tais ações eram indício que a “infiltração comunista” atin-
gira o próprio núcleo do poder militar, e suas acusações dirigiam-se principalmente ao General
reformado Golbery do Couto e Silva, conselheiro político de Geisel.
Os choques entre o grupo de Geisel e a direita militar levaram ao fortalecimento da liderança
do Ministro do Exército, General Sylvio Frota, que se tornou virtual candidato do grupo à su-
cessão presidencial. Frota passou a representar a opinião mais à direita no Estado e na sociedade,
indignada contra a distensão e a nova orientação diplomática. Também irritava aos “frotistas” a
tolerância dos segmentos do Estado que permitiam a contratação de pessoas com passado de
esquerda. Em 1977, Frota fez divulgar lista com nomes de 97 “comunistas” que ocupavam cargos
públicos no Brasil. Entre eles havia alguns efetivamente comunistas, mas muitos já haviam aban-
donado qualquer militância esquerdista.40 Vendo ameaçada sua estratégia política e querendo a
todo custo evitar a ascensão de Frota à presidência, Geisel montou uma operação militar para
demitir o Ministro da Guerra, episódio que gerou o risco de choque armado entre as facções mi-
litares. Esta derrota da extrema direita militar, em 1977, destruiu as chances do grupo de chegar
ao poder, e contribuiu para lançar em descrédito o discurso anticomunista, associado à imagem de
fanatismo e oportunismo. Incapaz de almejar sonhos mais audaciosos, a extrema direita recolheu-
-se às suas posições na estrutura repressiva, mas continuou em luta contra o inimigo comunista.
No governo seguinte, o último do ciclo militar, o presidente João Figueiredo deu continuidade
à política de Geisel e anunciou a “abertura”. Os pilares da abertura de Figueiredo, que assumiu
o poder em 1979, consistiram na anistia aos presos políticos – também uma autoanistia para
38 Essa análise está sendo mais bem desenvolvida em livro ainda inédito, intitulado O Regime Militar nas
Universidades: cultura política e modernização autoritária.
39 O Partido Comunista Brasileiro (pcb) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), sendo o último o resultado
de uma cisão no início dos anos 1960. Aproximadamente três dezenas de membros do Comitê Central dos
dois partidos foram mortos entre 1974 e 1976, e mais alguns militantes de base.
40 A tal lista trouxe prejuízo para algumas pessoas, como o professor Hélio Pontes, que deixou de ser nomeado
Reitor da ufmg por causa da repercussão do episódio. A lista de Frota pode ser encontrada em O Estado de
São Paulo (24/11/1977), 22. Para conhecer a opinião da direita radical sobre Geisel uma fonte interessante são
as memórias do General Frota. Sylvio Frota, Ideais traídos (Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006).
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41 Esses atentados à bomba mataram uma pessoa e deixaram vários feridos. Em abril de 1981, no Rio de Janeiro,
militares à paisana tentaram colocar bombas em um centro de convenções (Riocentro) onde iria ocorrer show
com a presença de artistas de oposição. Por falha técnica dos terroristas uma das bombas explodiu em seu
carro, matando um Sargento do Exército e ferindo um Capitão. A repercussão do caso levou ao fim das ações
terroristas de direita, embora os responsáveis não tenham sido punidos pelo Estado.