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CONSUMO MUSICAL COMO AUXÍLIO PARA POPULARIZAÇÃO

DAS TEORIAS SOCIAIS EM MEIOS EDUCACIONAIS.

Renan Augusto F. Silva1

RESUMO

Este trabalho procura reforçar a possibilidade de interação da cultura musical servindo de


auxilio para abordagens de conteúdos contidos em teorias sociológicas. Trabalhei com musicas lado
“b” de todas as épocas; mas com um apelo especial nas décadas de 60 e 70, recortando seus conteúdos
conforme a possível relação teórica, ou abordando a totalidade da letra com alguns pontos cruciais de
algumas teorias.

Palavras Chave: Música; Teorias sociais.

Sumário
Introdução ................................................................................................................................................ 3
Estética : Cores, Roupas, Aparências, sonoridades; fazendo transparecer ideologias ............................. 4
Comida e cultura ...................................................................................................................................... 6
A Carta Roubada e o fazer antropológico .............................................................................................. 10
“Anarquismo no Nepal” ......................................................................................................................... 11
Quebra com tradicionalismo e a consequente trazem visão pejorativa ................................................ 13
A igreja ..................................................................................................................................................15

Maria Lacerda de Moura.......................................................................................................................17

1
Renan Augusto Fernandes Silva; Graduando do terceiro ano de Ciências Sociais na Universidade Estadual de
Maringá.
1
Sartre e influencia do Existencialismo...................................................................................................19

Conclusão .............................................................................................................................................21

Referências ...........................................................................................................................................22

INTRODUÇÃO

Formas alternativas de se buscar o repasse de conteúdos dentro de meios educacionais


são necessidades urgentes nas escolas e nos meios educacionais da sociedade em geral. Se
bem construída, essa relação com a música pode se tornar um meio suporte para repasse de
determinados entendimentos teóricos.

2
A abordagem que foi feita é uma relação entre letras musicais, e algumas questões
teóricas, essa tentativa consiste numa construção de um instrumento que viabiliza um auxílio
para os meios de transmissão de conhecimento, de maneira “alternativa”; e também sirva
como forma de evidenciar as influências dos conteúdos sociais no meio artístico (musical
especificamente) e sociabilidade entre épocas e grupos. A escolha das músicas foi feita
segundo um critério pouco rígido, que diz respeito mais a uma questão de seleção pessoal, do
que outros fatores, e quanto aos teóricos, estes relacionados a conteúdos repassados na sala de
aula. Mas esse critério adotado não quer dizer que seja um critério rígido e imutável para
produção dessa ferramenta.

É possível que muitas das vezes a relação criada não tenha o sentido primordialmente
buscado pelo autor das canções; mas devemos analisar com um olhar considerando que a
música possa se tornar um veiculo de ajuda didática para passar conteúdos de forma
alternativa. Para isso é necessário que haja uma preocupação em buscar devida com a
integridade aos conteúdos tratados tanto da teoria como das músicas, mas que ao mesmo
tempo não limite as bem constituídas interpretações.

A música é um meio cultural que se relaciona de diversas maneiras com múltiplas


áreas sociais. Sua importância não reside somente na descontração, ou em ser um produto
mercadológico. A analise do conteúdo musical, da sua estética, e a capacidade de
interpretação de quem a consome, pode trazer proveitos sociais para educação. A apropriação
na área educativa pode criar um momento recreativo e educacional; ao mesmo tempo em que
a descontração tira possivelmente tira o foco da aprendizagem, pode se tornar outro método
de aprendizagem com padrões diferentes da formalidade educacional. Desta forma considero
um repensar da produção e repasse do conhecimento, uma pratica que pode ser aplicada se
aprovada pela demanda de quem se busca ensinar.

Estética: Cores, Roupas, Aparências, sonoridades; fazendo transparecer ideologias

3
Um dos objetivos da analise antropológica segundo Clifford Gertz – analise que para
ele, deve ser feito segundo uma interpretação densa, apurada e microscópica, das muitas
informações coletadas, nas minuciosas etnografias – é interpretar as estruturas construídas
pelo homem num dado contexto, social, temporal, e geográfico. Para Gertz “O conceito de
cultura a que me refiro está relacionado a uma teia de significados distribuída pelo “próprio
homem””. 2

Os comportamentos humanos segundo Gertz são ações simbólicas, logo, a cultura é


construída a partir de ações guiadas por um simbolismo. Um contexto cultural contém
diversos fenômenos que podem ser descritos densamente. A conduta de se vestir é um dos
possíveis comportamentos que não foge de um conteúdo simbólico passível de compreensão;
“ela é um contexto algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligível” 3 os
significados que buscam se vestindo de determinada forma.

Segundo a concepção de Sahlins “Considerando como um todo, o sistema de vestuário


corresponde a um esquema muito complexo de categorias culturais e de relações entre elas,
um verdadeiro mapa –não é exagero – do universo cultural.”4, irei relacionar um universo
cultural do vestuário que diz respeito a determinadas expressões de algumas ideologias.
Sahlins busca com essa analise “uma contribuição para a explicação cultural da produção”5.
“O que é produzido é portanto em primeiro lugar, tipos de tempo e de espaço que classificam
situações ou atividades, e em segundo lugar, tipos de status aos quais todas as pessoas
pertencem.” 6

Por exemplo, Sahlins demonstra que a ideologia de classes pode ser expressa na cor do
colarinho da camisa; “-como a roupa distingue entre o operário [blue-colar] e o trabalhador
de escritório [white-collar]”7 . “Colarinho branco dá golpe do Estado”, essa frase vem da
música “Colarinho Branco” de Duke Jam e nação hip hop, - gravado em 2000 no albun
“Historia do Rap Nacional” e - que demonstra que os que trabalham no escritório
representam os integrantes da elite, os políticos e empresários das empresas, uma classe social
que representa uma ordem superior aos operários, aos trabalhadores do macacão azul.

2
Gertz, Clifford, “A interpretação das culturas”, Rio de Janeiro: LTC 2008 1ed. P.10
3
Idem P. 14
4
Sahlins, Marshall, “Cultura e Razão prática” P.178
5
Idem P.181
6
Idbem.
7
Idem P.180
4
O vestuário que funciona em nossa semi-ótica faz com que assimilemos os padrões do
vestuário como representantes uma ordem social segundo determinados tipos de produção de
vestuário. É por essa causa que Noel Rosa tenta preza tanto por um terno em sua música
“Com que Roupa eu vou”, para tentar parecer componente de uma ordem social que tem
vantagens na semi-ótica tradicional.

Outro exemplo trazido por Sahlin são as roupas “caseirinhas da esfera domestica”. São
roupas confortáveis, de descanso depois de passar toda tensão semanal. Chico usa o padrão da
roupa de domingo, para cessar a tensão da espera na música “Acorda Amor”,(tensão também
de estar sempre sob a vigia das barbáries da ditatura); “Mas depois de um ano eu não vindo
ponha roupa de domingo e pode me esquece”.

A questão do vestuário é uma apropriação de signos que buscam formalizar quadros


sociais. Essa apropriação busca aproximar a significação do que o signo quer dizer sobre
determinadas ordens sociais. O signo das core, é um exemplo, dessas apropriações. As cores
são apropriadas com determinados objetivos, “É lugar comum na sociologia caseira que cores
mortas e contrastes mínimos são típicos da classe alta do Sistema enquanto que as cores vivas
e os contrastes fortes são típicas da “massa” (Birren, 1956)8. Na famosa música de Belchior a
“Velha Roupa colorida”, seria o ideal de simbolizar as massas. Mas parece que ela já não
serve mais “No presente/ a mente, o corpo é diferente/ e o passado é uma roupa que não nos
serve mais”, os ideais revolucionários em prol da massa, estavam sendo massacrados pela
ditadura e pelo rumo que as coisas tomaram. O que acontecia enquanto isso Rita Lee narrava
em “Festival Divino”, “Enquanto isso, lá no inferno/ os homens maus vestindo seus ternos/
cabelos curtos pastinha guardada/ os mercadores da grande cidade/ comprando almas
vendendo mentiras/Ficando ricos bebendo fumaça”. Nesse caso o cinza dos ternos abafava as
cores e estampas que representavam o povo, por Rita e pela contracultura, eram considerados
como o símbolo da maldade no mundo.

A cultura em si, segundo Gertz , não é um poder, mas um contexto. O contexto da


cultura na época em que o grupo “A barca do sol”, Rita Lee e Belchior escreveram suas
músicas era de completa insatisfação com os padrões culturais vigentes, e a contracultura; que
não deixa de ser um tipo de cultura, se manifestava em muitas partes diferentes de todos os
padrões tradicionais. O descontentamento é demonstrado muito bem na música “Pilares da

8
Birren 1956, In : Sahlins, Marshall, “Cultura e Razão prática” P . 183
5
Cultura” do Grupo A barca do Sol; “Não puxe a arma/ Não faça drama / Procure manter a
calma,/ Nã, não voa! /Não cuspa fora,/ Não perca o sono,/ Prefira sempre a balada, /Uma
gelada!/ Não force a barra,/ Não gaste a grana,/ Evite cair no gôto,/ Do esgoto!! / Não abra
o frasco,/ Não perca sangue,/ Refresque seus temores numa Brahma!/ Não abra o verbo,/
Não queime a cama,/ Quero que você esqueça deste inferno!!. A cultura desses grupos de
contestação era completamente diferente da vigente, e acontecia até mesmo entre
eles(contracultura); como o “não puxe a arma” que é um apelo de alguns grupos própria
esquerda para os companheiros referente ao tipo de luta que eles acreditavam que não deveria
ser feita. Não faça drama, como uma referencia ao não fazer o teatro imposto pela ditadura.
Não gaste a grana referente ao acumulo de capital, e idéia muito cultivada entre os
protestantes segundo Max Webber, e por muitos componentes da elite. Esse padrão
tradicional coloca certos fenômenos como geral a partir de suas próprias intenções, eles
formulam relações entre as coisas existentes no material como culturalmente os convir, para
depois as tornarem gerais segundo Sahlins.

Comida, Cultura e música.

Pela variedade de costumes alimentícios, tanto nas comidas, como nos modos durantes
o comer, o depois de comer, o antes de comer, demonstram que eles são construídos pelo
homem. As condutas de alimentação são parte de um reflexo de satisfação material pela
felicidade. É impossível considerarmos a produção e consumo da alimentação como simples
busca de subsistência. Sahlins reforça esse argumento com uma citação de Marx na ideologia
alemã: “Esse modo de produção não deve ser considerado como simplesmente a reprodução
da existência física de indivíduos. É uma forma definida de atividade desses indivíduos, uma
forma definida de expressar suas vidas, de um modo de vida definido por parte deles.”

Então segundo o autor, as características que se referem à alimentação são construídas


não pensando simplesmente em sobreviver, mas com uma intenção cultural. Por exemplo, no
natal os alimentos consumidos, e bem descritos na música “Xmas Blues” de 1971 do grupo
Som Imaginário, são carregados de uma intenção cultural que além de tudo são relativamente
importantes para economia. “Vinho tinto e rosado/Bacalhau ensopado/ figo secos, castanhas,
rabanadas e avelãs/ E um pinheiro enfeitado/ com bolotas brilhantes / e cordões prateados
nos presentes pelo chão/ E algodão imitando a neve branca e real/ Meia noite de natal ”.

6
Esses costumes natalinos, presente em diversos lugares do mundo, se diversificam nas
tradições e nos alimentos dependente da cultura na qual estão inseridos, apesar da aparente
padronização.

Sahlins em “Cultura e Razão prática” cria um tópico onde estuda o costume


alimentício americano; -suas conseqüências e resultantes- na formação da cultura americana.
A influência da alimentação na formação social americana segundo o autor foi determinantes.
A ocupação dos territórios vastos para criação de gado, influência na produção pela
necessidade de ração, relação de virilidade; enfim a determinante influencia na produção de
um modo de vida. E uma constatação marcante sobre o consumo dos animais é que quanto
mais próxima a relação com o animal, menos provável é o seu consumo. Chico Buarque faz
um exercício similar narrando a produção de uma comida típica do Brasil; Feijoada, com a
sociabilidade que ela traz em feijoada completa. Na música vemos uma sociabilidade com
clima “informal” quando Chico canta “Mulher/ Não vá se afoba/ não tem que por a mesa nem
dá lugar/ ponha os pratos no chão, e o chão ta posto”,as bebidas tradicionais que
acompanham esse “ritual”, “Cumbuca de gelo e limão” para caipirinha, e a “cerveja
estupidamente gelada pra um batalhão”. Gonzaguinha demonstra pela comida o que talvez
represente uma sociabilidade entre negros e brancos, na aclamada “O preto que satisfaz”; “E
nessas horas se esquecem do seu preconceito/ gritam que esse crioulo é um velho amigo do
peito”; narra também a união que as famílias tem na hora de comer o feijão “Esse sabor bem
Brasil, verdadeiro fator de união da família.”, demonstrando esse costume de se sentar a
mesa para o jantar.

Outro trabalho magnífico sobre as conseqüências sociais de um costume alimentar é


de Marvin Harris em “Mãe Vaca”, onde ele busca demonstrar a racionalidade na santificação
da vaca na Índia, mesmo rodeada de contradições. Harris enfatiza as conseqüências na
produção, na capacidade produtiva que essa tradição contém, e descreve muito bem os
múltiplos usos dos derivados da Vaca, como o esterco, e quão determinante essa cultura é
para sobrevivência daquele povo. As possíveis relações de músicas com o texto de Marvin
Harris podem ser tantas e tão diversas. Mas optei por um álbum completo que descreve
também como uma cultura que provém de um alimento; o peixe é determinante para formação
social de determinados grupos, suas condutas, crenças, associações etc. O álbum de 1976
consiste em gravações do compositor Dorival Caymmi pela interprete Gal Costa. A maioria
das músicas diz respeito aos costumes dos pescadores. Suas crenças, como na faixa “Festa da

7
rua” que pede a benção para o Senhor dos Navegantes; a descrição de suas praticas na faixa
“Pescaria”; os tipos de peixe, as comidas que eles produzem, e a conseqüência econômica,
“Peixe que dá dinheiro pro irmão”.

Através da música do mestre Adoniram Barbosa, podemos perceber pela comida a


cultura dos trabalhadores. Na música “Torresmo a Milanesa”,narra a expectativa dos
trabalhadores na espera da hora do almoço e, as comidas de costume que compunha a
marmita “que voce trouxe na marmita dito? Truxe ovo frito/ e você beleza, o que é que você
trouxe?/ arroz com feijão, e um torresmo a milanesa/ da minha Tereza”. Temos a descrição
do lugar de comer, que é “sentado na calçada.”, bem diferente dos costumes alimentícios
familiares. Na hora de comer é comum que haja conversas, e nesse caso os trabalhadores
também conversam, “conversa/ sob isso e aquilo/ coisas que agente não entende nada.”. Até
as condutas pós almoço; que são das mais diversas, como café, soneca, é descrita. A dos
trabalhadores é “Depois puxa uma palha”.

Outra música que trata da cultura de trabalhadores a relacionando com comida é “O rancho da
goiabada”; música de uma das parcerias mais produtivas da música brasileira no quesito
composição, Aldir Blanc e João Bosco, narra a dificuldade da vida dos bóia fria, e busca
demonstrar a superação dessa dificuldade no sonho dos “bons alimentos”, que representam
uma “vida melhor”. “Os boia fria quando tomam/ umas birita/ espantando a tristeza sonham/
com bife a cavalo, batata frita/ e a sobremesa/ é goiabada cascão, com muito queijo/ depois
um café, cigarro, e um beijo de uma mulata chamada Leonor.”

No nosso país existe uma diversidade de alimentos por região, que é muito bem
demonstrada na música “Linha de Passe”, de João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emilio. A
música retrata uma diversidade tremenda da culinária nacional, e Assis valente também narra
as diversas delicias que fazem parte da nossa cultura nacional em “Brasil Pandeiro”,
eternizada pela banda “Novos Baianos”, e que retrata também de onde talvez venha o costume
dessas comidas, quando canta “Brasil, iluminar os terreiros”, que se refere a características de
descendência africana, assim como muitos pratos. E dentre a fama boa dos sabores nacionais
temos uma música que canta sobre um sabor “ruim”. Qui nem jiló, do mestre Luiz Gonzaga,
relaciona o sabor amargo do jiló, com o sentimento da saudade, ambos retratam de
experiências ruins.

8
O costume de consumir determinados alimentos serviu também para reforçar nosso
nacionalismo, como na música de Luís Peixoto e Vicente Paiva, “Disseram que eu voltei
americanizada”, quando escrevem “Enquanto houver Brasil na hora da comida, eu sou do
camarão ensopadinho com chuchu.”, realçam o nacionalismo pela comida brasileira. O
orgulho nacional também é descrito na música “Yes, nós temos bananas”, de Braguinha e
Alberto Ribeiro; nosso país era conhecido como republica das bananas pelos “gringos”, e os
compositores além de concordar de forma humorística com essa declaração descrevem as
qualidades da banana “Banana menina/ tem vitamina/ banana engorda e faz crescer”, como
se fossem as vantagens de ser brasileiro, e ainda colocam as qualidades em abundancia “Yes,
nós temos banana para dar e vender/ bananas para quem quiser”. Além do mais, retrata
outras exportações da nossa república como que dando um reforço ao sentimento nacionalista,
essas outras exportações são também relacionadas à alimentação “vai para frança o café”, e
trata os produtos internacionais de forma pejorativa “veio petróleo do oriente para por no fon
fon da gente”.

Sahlins demonstra como a carne possui um sinal de virilidade, um sinal “da carne
como força,”9, que talvez tenha se originado “na identificação indo-europeia do boi ou da
riqueza crescente com a virilidade”. Noel Rosa, na música “Último desejo” confirma a Idea
de Sahlins mostrando como a comida pode ser um sinal de dignidade quando diz: ““Às
pessoas que eu detesto/ diga sempre que eu não presto,/ que o meu lar é o botequim,/ e que eu
arruinei sua vida, que eu não mereço a comida, que você pagou pra mim”. Isso demonstra
que aquele que não é considerado digno não merece a comida, e aqueles que representam o
pólo da virilidade, da dignidade, merecem as melhores preuocupaçoes com a comida, segundo
Shalins com as partes da carne.

A carta roubada e o fazer antropológico.

O conto “A carta roubada” de Edgar Allan Poe nos traz muitas questões que podem
servir de reflexão para como fazermos uma pesquisa, uma busca em torno de um
conhecimento, e nesse caso em especifico o antropológico.

As pesquisas antropológicas por muito tempo se empenharam em estudar


comportamentos que fossem considerados estranhos aos costumes do pesquisador. Essa

9
Sahlins, Marshall, “Cultura e Razão prática”
9
estranheza causada pelo desconhecimento do pesquisador sobre o significado daquelas
condutas está empregado no personagem policial. Tudo que o policial desconhece ele
considera como estranho

As descrições dele são construídas de forma densa, assim como deve ser descrito nas
pesquisas etnográficas, seu olhar procurando a carta pela casa é como o fazer etnográfico que
necessita se atentar microscopicamente a cada detalhe, descrevê-los com o mesmo cuidado.

Para uma compreensão considerada mais fidedigna, o pesquisador precisa se


familiarizar com seu objeto, excluir os preceitos de sua tradição, buscar falar, se vestir, se
alimentar, como o objeto pesquisado, para que consiga pensar como ele. Há similaridade do
fazer antropológico com a historia vai entrar quando Dupin narra um fato sobre menino que
nunca perdia no par ou impar "Quando quero saber até que ponto alguém é inteligente,
estúpido, bom ou mau, ou quais são os seus pensamentos no momento, modelo a expressão de
meu rosto, tão exatamente quanto possível, de acordo com a expressão da referida pessoa e,
depois, espero para ver quais os sentimentos ou pensamentos que surgem em meu cérebro ou
em meu coração, para combinar ou corresponder à expressão”. É obvia a preocupação em se
colocar no lugar de quem se quer estudar, em aproximar o máximo possível do objeto
estudado para conseguir compreender o significado de suas ações.

“Anarquismo no Nepal”

Frederyko é um exímio guitarrista carioca que participou de diversos grupos; os


principais são Clube da Esquina, e Som imaginário, além de acompanhar Milton, Elis e
Marcos Vale e muitos outros em diversas gravações. Antes de seu ingresso em um dos
melhores grupos nacionais que é o Som Imaginário, “Fredera gravou em 1970 um compacto
que continha a primeira versão de “No Nepal tudo é barato”, em um clima musical onde a
atmosfera instrumental é extremamente psicodélico, e será nossa primeira faixa analisada.

A letra que diz respeito a um lugar imaginário nomeado “Nepal”. E em um primeiro


exercício de pensar sobre a relação obra “musical-teórica”, irei me remete a questão de teorias
que defendem seus pontos de vista até chegar ao que chamamos “o céu na terra”. Sabemos
que diversas ideologias propõem aspectos que se aproximam dessa intenção. Nesse primeiro
caso em particular abordarei teorias Anarquistas, de forma que possam ser explicitas se
relacionando a conteúdos musicais. Existe em Bakunin uma idéia de que

10
"Haverá uma transformação qualitativa, uma nova maneira de viver,
uma revelação que será como dádiva de vida, um novo paraíso e uma nova Terra, um mundo
jovem e poderoso no qual todas as nossas atuais dissonâncias serão resolvidas,
transformando-se num todo harmonioso."10,

Assim como na música a construção do lugar fictício “Nepal”, que contaria com
novas maneiras de viver referentes à família ( No Nepal o casamento é livre), referentes a
economia (lá tem problema financeiro) , gerando uma nova e um tanto quanto paradisíaca
atmosfera social. Na letra evidenciarei uma parte que “Fredera” canta para demonstra que;
assim como na concepção de anarquismo de Kropotkin, a construção de um paraíso na terra,
de parte de uma evolução social, necessita da “Ajuda mútua”.

O trecho é o seguinte: No Nepal existe uma praça/ onde fica um monte de dinheiro/
quem precisa tira o que precisa e quem ganha bota lá de novo/”. Abordarei essa aproximação
com Kropotkin pela sua idéia sobre a economia, e o aspecto de uma construção extremamente
positiva para o mundo. No caso da questão positiva o anarquismo de Kropotkin há uma
aproximação pelo “aspecto positivo e construtivo do anarquismo, a visão cristalina de um
paraíso terrestre reconquistado[..] e do seu invencível otimismo.”11

Em relação às questões econômicas, a idéia das comunas construídas pelo autor


anarquista disponibilizará “produtos e serviços par todos aqueles necessitam”12, assim como a
praça do som, que disponibiliza o dinheiro como se fosse os meios de produção para a busca
desses serviços e produtos, no sentido de uma distribuição livre.

Essa distribuição em Kropotkin não será mediada pela quantidade trabalho


empregada, nem será recompensada por moeda; contrariamente a música; que usa do
dinheiro, ele irá considerar “o sistema de salário em qualquer de suas formas” como opressor
necessitando da abolição do dinheiro para completa liberdade. Dessa forma, para relacionar a
idéia de Kropotkin de que as recompensas viriam não por moedas, teríamos que tomar o
dinheiro que aparece na música como “produto financeiro” recompensador e solucionador dos
problemas com outro sentido.

10
Woodcock, George, “História das idéias e movimentos anarquistas-v.1: A Idéia/George Woodcock; tradução
Júlia Tettmanzy, Porto Alegre: L&PM,2002 P 167
11
Idem P. 208
12
Idem P. 208
11
Na música o sentido do valor monetário é trocado por sentimentos: “O carinho rende
juros fortes/ e o povo vive só de renda”. A questão monetária tem seu sentido recriado na
musica, e se fizermos isso para adaptação teórica com o anarquismo, o sentido da “moeda”
seria outro. Se na música o valor da moeda se encontra em um sentimento harmônico entre os
humanos (carinho), na anarquia, a renda também não está na moeda. A recompensa vem da
“ajuda mutua” que não deixa de ser além de um guia para as ações do coletivo, um sentimento
que vem da relação entre indivíduos e não do dinheiro, uma máxima de vida.

A banda “Os Mutantes” no disco de 1974, com titulo “Tudo foi feito pelo Sol”, traz
um dos pontos essenciais da teoria de Kropotkin logo no titulo “Eu só penso em te ajudar”.
Kropotkin em seu livro “Ajuda mútua” observa a relação dos animais, e como a concepção
evolucionista das espécies pela competição segundo Darwin se mostra em alguns pontos
contraditória. Ele não acha aquela competição alimentícia pela subsistência, e necessária para
evoluir, e depois vai relacionar isso com a sociologia dizendo que “os seres humanos, devido
a superioridade de sua inteligência e de seus conhecimentos, podiam mitigar entre sí a dureza
da luta pela vida.” 13 O autor anarquista, confessa a existência desses conflitos, mas não que
sejam eles os determinantes para evolução. Na música cantam “estão dizendo que é pra
competir/ mas eu só penso em te ajudar.” Está explicito uma nova ideologia compondo os
idéias das pessoas que se satisfazem harmonicamente com progresso conjunto “Estão dizendo
que é para te passar para trás/ mas eu só penso em te abraçar./” A consciência competitiva
se transforma, e essa é uma das necessidades marcantes para Kropotkin; diz ele: “Nenhuma
revolução social pode triunfar se não for precedida de uma revolução nas mentes e corações
do povo”.

Quebra de padrões tradicionais trazem visões pejorativas

O termo anarquia tem constantemente seu emprego sobre conotações pejorativas, a


origem dessa confusão se deu em partes pela origem do próprio termo: Anarchos, de origem
grega e significa sem governo, segundo Woodcock. A associação dos que se apropriam
pejorativamente do termo usam a falta de governo como um pressuposto de incapacidade
organizacional. Por outro lado pode ser tomada positivamente, deste modo vemos a anarquia
como uma capacidade de se organizar sem que haja a necessidade de sistemas de
governamentais; nas palavras de Kropotkin
13
Kropotkin, Piotr, “Ajuda mútua: um fator de evolução.”, Trad. Waldyr Azevedo Jr. – São Sebastião: A senhora
editora, 2009 P. 12
12
“ANARQUISMO (do grego an – e arke, contrário de autoridade) é o nome que se dá a um
principio ou teoria da vida e do comportamento que concebe uma
sociedade sem governo, em que se obtém harmonia, não pela
submissão á lei, nem obediência a autoridade, mas por acordos livres
estabelecidos entre os diversos grupos, territoriais e profissionais,
livremente constituídos para produção e consumo, e para a satisfação
da infinita variedade de necessidades e aspirações de um ser
civilizado.”14

O grupo Almôndegas, outro grupo gaúcho, quando fala de androginismo, coloca a


questão da imposição de padrões sexuais, e o tratamento pejorativo que se tem dessa questão.
Ambas as causas (Anarquismo e Androginismo) são socialmente vistas de formas pejorativas,
e nesse sentido o grupo Almôndegas irá relacionar essa visão pejorativa sexual com o lado
pejorativo da critica a anarquia: “Quem é esse rapaz, que tanto androginisa, que tanto
anarquiza para dissocializar?”

A opção ao androginismo quebra os padrões sexuais imposto socialmente, e as


condutas que implicam deste modo de agir- assim como veremos que a conduta feminina que
a anarquista Maria Lacerda pregava em sua época exigia uma quebra dos padrões de
comportamento, e de compreensão que eram vigentes na época - serão condenadas aos olhos
tradicionais. “A minha mãe falou que é um tipo perigoso[..]” é a resposta para a pergunta
feita sobre quem seria esse tal “rapaz”, uma resposta que vomita um senso comum que
desconsidera fatores pautados na realidade, e são disseminadores de um preconceito.

Há uma coisa similar entre a visão que se tem do tal “rapaz” e a visão dos que se
relacionavam com tradições conservadoras. Segundo Woodcock no contexto político social da
Revolução Francesa o termo anarquia e anarquista teve um sentido de “crítica negativa e até
insulto por elementos de diversos partidos para difamar seus oponentes, geralmente de
esquerda.” 15. O maior representante dos girondinos, partido político da era da revolução
francesa, Brissot “declarou em 1793, “ser necessário” definir esse anarquismo “- e foi o que
fez: “Leis que não são cumpridas, autoridades menosprezadas e sem força; crimes sem

14
Kropotkin, Piotr, “Anarquismo”, In Kropotkin: textos escolhidos; Seleção e apresentação Maurício
Tragtenberg. São Paulo – SP Editora L&PM Editores S.A. P. 19
15
Woodcock, George, “História das idéias e movimentos anarquistas-v.1: A Idéia/George Woodcock; tradução
Júlia Tettmanzy, Porto Alegre: L&PM,2002. P 8.
13
castigo, a propriedade atacada, direitos individuais violados, moral do povo corrompida,
ausência de constituição, governo e justiça, tais são as características do anarquismo.”16.

Essa visão, assim como a que se construiu sobre o tal “rapaz” é uma condenação; e
essa condenação com o termo anarquia perdurou “tanto durante a Revolução Francesa como
depois dela.” 17 . A conotação do termo anarquia teve uma revisão depois de Proudhon,
renomado pensador “sempre tão cheio de razão”, que foi um dos pioneiros da filosofia
libertária, mas ainda assim, até hoje vemos o termo ser usado para demonizar ideais políticos
como sendo “desastrosos ou destrutivos” quando se diz respeito à anarquia.

Um grande propulsor de preconceitos sobre o androginismo da música, e a anarquia, é


a instituição igreja. Nesse caso ambas as questões vão se aproximar novamente, pela forte
repressão que sofrem dessas instituições na maioria dos casos. Assim como muitos
anarquistas atacam a religião; por ser em grande parte considerada culpada pela consciência, e
formação política, social estrutural, individual, que precisa ser superada, a religião também
ataca os anarquistas de diversas formas, tanto indireta quanto diretamente.

A igreja.

Existe uma relação entre o estilo Rock’n’Roll, e coisas “satânicas”, como podemos ver
na celebre máxima: “O diabo é o pai do Rock”. Grande parte dessa atribuição pode ser
considerada pela disseminação que o rock faria em épocas como a década de 60 e 70. As
ideologias com maior evidência nessa época diziam respeito à rebeldia, a desobediência, das
tradições, sexo livre, uso de drogas, questões políticas de quebra da ordem social, ou seja,
conteúdos eram completamente contrarias as doutrinas religiosas. Essas idéias incompatíveis
a doutrina religiosa que muitos indivíduos partilham nas décadas de 60 e 70; existiam mesmo
antes disso, e existem amplamente nos dias de hoje, também é um desgosto para alguns
teóricos anarquistas como Bakunin. Uma das músicas que demonstra mais explicitamente
esse descontentamento com relação a igreja é a faixa “Igreja” dos Titãs, gravada no clássico
álbum “cabeça de dinossauro” de 1986. Pela época era mais fácil, mas não muito menos
impactante socialmente, tratar de assuntos como este de forma mais explicita.

Dentro do anarquismo vemos uma forte corrente que também são contrários as
doutrinas religiosas, para Bakunin, por exemplo, “A abolição da Igreja e do Estado deve ser a

16
Idem P.9
17
Idem P.9
14
primeira e indispensável condição para a verdadeira libertação da sociedade; só depois que
isso acontecer é que a sociedade poderá ser organizada de uma maneira diferente.” 18. No texto
a “A Igreja e o Estado” ele afirma que os “interesses gerais” que supostamente o Estado busca
representar não passam de “uma abstração, uma ficção, uma mentira.” Que acabam por matar
os interesses reais dos indivíduos e da sociedade. E assim; “Aquela famosa incompatibilidade,
aquele conflito entre os interesses pessoais e os da sociedade não são mais do que um artifício
e uma mentira política nascidos de uma mentira teológica, que inventou a doutrina do pecado
original para degredar o homem e destruir sua consciência íntima de seu próprio valor.”.

Assim como a abstração do Estado, a da igreja necessita de alguém que as façam


circular, pois as abstrações não tem vida própria, e “torna-se óbvio que essa abstração
religiosa e celestial, o próprio deus, representa na verdade interesses muito positivo e reais de
uma casta privilegiada, o clero.”. Ambas as classes que supostamente tentam representar esse
interesse geral, (A do Estado à burguesia e da igreja o clero) são constituídas de “uma
minoria rica e poderosa” que fazem subordinados a seus mandos a maioria empobrecida.

Grande parte da vontade que muitos indivíduos partilham nas décadas de 60 e 70,até
antes e nos dias de hoje também, é incompatível com as doutrinas religiosas. Sobre este
aspecto o anarquista Bakunin também fez uma abordagem em “A igreja e o Estado”; “Aquela
famosa incompatibilidade, aquele conflito entre os interesses pessoais e os da sociedade não
são mais do que um artifício e uma mentira política nascidos de uma mentira teológica, que
inventou a doutrina do pecado original para degredar o homem e destruir sua consciência
íntima de seu próprio valor.”19

Em alguns pontos podemos observar uma aproximação com a música “Sentado no


arco Iris” executado por Impacto cinco em 1970, e a dissonância que vontades individuais têm
das doutrinas religiosas que empregavam a vontade social . “Sentado no Arco Iris tão perto e
tão distante/ milhões de anos luz lá no fundo de mim mesmo/ fico em vão sem saber fico em
vão a buscar onde deus está/ Amores gritam guerra em código e fumaça/ os olhos da cidade
vigiam cada esquina/ Vejo de longe, sinto de perto, se está errado se está certo, olhas pra
gente/ gente sem terra, gente sem nome, velha de guerra/ percebo a solidão pelas ruas da

18
Bakunin, Mikhail. “A Igreja e o Estado” p. 1
19
Idem
15
avenida/ sentado no arco Iris eu penso em minha vida/ fico em vão sem saber, fico em vão a
buscar onde deus está.” . O individuo pensando em suas preocupações pessoais - que acabam
abordando questões sociais- em vão busca conciliar isso a imagem divina, Deus não será
encontrado nas reais necessidades sociais; pois o interesse da maioria está sacrificando em
suas doutrinas para satisfazer poucos . E na música os olhos que vigiam não são os olhos
Divinos, mas sim olhos dos injustos repressores do povo; e os amores que gritam guerra em
códigos e fumaça, é um amor que emana daquelas guerras sangrentas por causas religiosas e
outras. São nada mais são que o representante antagônico das vontades individuais e sociais
quando poluídas por “ilusões da metafísica que, como se sabe, é parente próxima da
teologia.”20

Vemos que Bakunin evidencia a exploração das massas em nome da Igreja e do


Estado, tem sido utilizada em nome do que ele trata como “mentira chamada de “bem
comum”, que obviamente representa exclusivamente os interesses da classe dominante.” 21
Rita Lee, em “Festival divino”(73)trata os componentes das classes dominantes como anjos
maus vindos do inferno. “Enquanto isso lá no inferno/ os anjos maus vestindo seus
ternos/cabelos curtos pastinha guardada/ os mercadores da grande cidade/ comprando almas
vendendo mentias/ ficando ricos bebendo fumaça.”. Ambos os contextos são contra o que
representa os interesses divinos considerando que são meios adotados pelos que vivem
“Enchendo seus bolsos e satisfazendo sua luxúria imunda, eles, ao mesmo tempo, podem
consolar-se com a idéia de que estão trabalhando para a glória de deus, pela vitória da
civilização e pela causa do proletariado.”22

Maria Lacerda de Moura.

A banda gaúcha “Os replicantes”, -que teve como vocal o marcante André Abujamra-
gravou em 2011 uma faixa chamada Maria Lacerda. A faixa diz respeito à Anarquista
brasileira; nascida em Minas gerais 1887, Maria Lacerda de Moura. Maria Lacerda busca a
quebra dos dogmas, da dominação da Igreja e da submissão feminina á autoridade Estatal e
familiar. Algumas características centrais do pensamento de Maria Lacerda são apresentadas
na música como a busca por certas liberdades: “livre de escolas, livre de igrejas, livre de

20
Idem P.1
21
Idem p.2
22
Idem
16
dogmas/ livre de muletas/Direito ao prazer sexual/ Independência social.”. Vemos também a
idéia de que as mulheres não conseguem se libertar por completo “Por estarem sendo
submetidas por constrangimentos financeiros, seja pelo casamento, seja pela prostituição, ou
pela escravidão do salário.”.

O corpo feminino sempre foi vitima de uma prisão, de uma cautela social que além de
fazer as mulheres passarem por intensos constrangimentos demonstram cada vez mais “a falta
de domínio da mulher sobre seu corpo 23 ”. Num trecho selecionado veremos as relações
possíveis:

“Que diremos da symbolica flor de laranjeira? A mulher expõe o seu


estado aos olhares curiosos e perversos dos que nada tem de vêr com sua vida intima, expõe-
se a commentarios pouco edificantes, deixa que ornem o seu quarto, a igreja, o coche, os
cavalos (até os cavalos!), o noivo (até o noivo), com o mesmo symbolo da sua virgindade!
Até quando se há de deprimir, fazer papel de idiota e cúmplice de tanta tolice secular? O
verdadeiro amor tem vergonha dessa exhibição desse despudor.” 24

A flor de laranjeira que representa a virgindade da mulher era uma exposição da


condição do corpo da mulher. O corpo feminino era subordinado a imposições sociais que
ditariam a moral da mulher. Essa prisão do corpo e das condutas femininas que Lacerda
claramente combate, e que vemos na música: “Independencia sexual”, e depois ainda
“independência cultural”, pois a herança de determinadas tradições compeliam para que o
comportamento feminino se pautasse em questões as aprisionavam cada vez mais. E sobre a
questão da virgindade e cultura vemos que “ O ato de se manter virgem até o casamento não
passa de uma convenção burguesa que levava a privação de um ato natural: o sexo.25”

A independência sexual é muito presente, até mesmo nesse momento que ela explicita
que no tempo de diversas lutas feministas e importantes reivindicações sobre o caso, “se
esquece da mais importante das reivindicações – a de ser dona do seu próprio corpo, a da sua
liberdade sexual, a de ser humano com direito á alegria de viver.”26

Para Maria Lacerda impelir as mulheres para os braços dos homens como propriedade
é um sério problema, e num trecho da música vemos isso: “Para ela o amor só seria livre,
quando as mulheres não forem mais compelidas aos braços dos homens,”, e nas palavras da

23
Miranda, Jussara Valéria de, 1978 – “Recuso-me”! Ditos e escritos de Maria Lacerda de Moura. 2006 P. 78
24
Moura, Maria Lacerda De. Religião do Amor e da Beleza. São Paulo: O pensamento 2a edição, 1929, p.99.
25
Miranda, Jussara Valéria de, 1978 – “Recuso-me”! Ditos e escritos de Maria Lacerda de Moura. 2006 P. 80.
26
Moura, Maria Lacerda De. Religião do Amor e da Beleza. São Paulo: O pensamento 2a edição, 1929, p.99.
17
própria Maria Lacerda é uma tragédia o “preconceito perverso de que a mulher é a
propriedade alienável do homem”. Essa propriedade vem munidas de exigências do seu dono,
por exemplo a questão da virgindade. As mulheres que são impelidas socialmente aos braços
dos homens, quando não conseguem terão um problema também criado socialmente. A
mulher que foi desgraçada por perder a virgindade será em diversas vezes impelidas à
prostituição, ou estigmas sociais que acabam acarretando em sérios problemas. As
preocupações de Maria Lacerda faziam dela uma feminista mesmo antes desse termo ser
empregado; ela mesma se considerava somente anarquista, o titulo de feminista foi posterior.

Existencialismo

Um dos maiores representantes da teoria existencialista é Jean Paul Sartre. Sartre foi
muito atuante politicamente, sempre esteve em passeatas, e puxava o famoso grito em maio
de 68 “É proibido proibir”. O livro de José Fernando de Almeida “É proibido proibir-
Sartre”,traz ótimos exemplos da teoria de Sartre com músicas de Caetano Veloso. O cantor
como tantos outros da época fora influenciado pelo pensamento deste filosofo, escreve a
música com o titulo “É proibido proibir”, (Segundo José Fernando) buscando demonstrar essa
possibilidade de renovações da vida que a teoria sartreana trazia, de negar o pronto, o imposto
em busca de renovação do destino social e individual.

Aqui os tropicalistas eram representantes desse novo destino, dessa renovação. “Sartre
quase foi preso por vender nas ruas de Paris jornais considerados subversivos, que defendiam
uma revolução cultura,”27, assim como Caetano, que foi exilado, passou um tempo na cadeia
pelo tema subversivo que o conteúdo tropicalista - que representava essa revolução cultural
defendida por Sartre, - trazia. A música é proibido proibir traz uma musicalidade
extremamente dissonante para aquela época, as guitarras elétricas, os efeitos sonoros, as
atitudes, os temas, representavam de fato uma revolução cultural.

“Sartre formula seu conceito de liberdade mergulhado nesse sentimento de angustia


advindo do “nada” que é a nossa existência.”28. Para esse filosofo o ser humano é moldado a
partir de sua existência, então para Sartre o homem é feito de nada que constrói o tudo de sua
existência. “Para nós, pelo contrário, Adão não se define por uma essência, pois a essência é,

27
Almeida, José Fernando de “É proibido proibir – Sartre” FTD, São Paulo 1988 P.8
28
Idem P. 18.
18
para a realidade humana, posterior à existência” Caetano quando canta em “Alegria,
Alegria” “Sem lenço/ sem documento/ nada no bolso ou nas mãos” traz a idéia dessa
essência completa de nada. E em seguida quando diz “eu quero seguir vivendo/ eu vou!/ por
que não?” demonstra essa vontade de renovar o destino, renovar o futuro, como uma
seqüência de possibilidades que tenho autonomia para decidir as minhas ações.

Outro cantor fortemente influenciado pelo existencialismo é “Edu Viola”, um


personagem que vive até hoje no submundo desconhecido da música, mas foi um marco para
contracultura nacional. Edu viola era muito conhecido pelo “bando” que sempre lhe
acompanhava, era rodeado de pessoas que compartilhavam comportamentos completamente
diferentes dos tradicionais, era a turma alternativa do final década de 60 e inicio de 70 em São
Paulo. Edu gravou dois álbuns; um é uma obra prima pouco conhecida Psilocibina, com um
experimentalismo maravilhoso, e que até então nenhum artista brasileiro houvera navegado
por esses mares. A influência do existencialismo nesse artista é evidenciada na faixa que leva
o titulo dessa corrente filosófica “Existencialismo”; a maioria de suas composições são
complexas, viagens são sempre carregadas desse ideal, tanto lírica quanto musicalmente, “No
fim das contas o que me resta é o sono/ vou despejar meus restos na calçada /do querer tudo
e não poder mais nada/ E na cozinha no meu abandono/comer um pote dessa marmelada/
voltar ao e por o meu quimono/ deitar na minha áfrica sonhada.” Enquanto o instrumental
conta com um clima psicodélico, Edu se dá conta do nada interior que os homens possuem
segundo Sartre; explicitamente mostrando sua influência, Edu na narração de sua náusea
existencial canta: “Ler um pouco de Sartre e abrir a boca”.

Outra bela demonstração é a musica “Naturalmente”, composta por Caetano Veloso e


João Donato, muito bem executada por Fafá de Belém num compacto de 1971..

19
Conclusão

Buscar a realização deste trabalho dentro das salas de aula precisa ser testado para
pensar em alguns pontos como; tempo a se dispor, relação dos conteúdos com a grade
curricular, pensar também onde possivelmente será ministrado, e o contato com quem irá
receber o conteúdo tanto teórico quanto musical. Se aplicado em colégios, escolar, e
universidade, seria primordial uma busca com o que as pessoas ouvem, para que a partir daí
tentar resgatar conteúdos musicas que eles já estejam familiarizados. Possível implementação
em projetos como PIBID.
Pensando além de formalidades institucionais; mini cursos com menos exigências
burocráticas, poderia além de familiarizar alguns pontos importantes de determinadas teorias,
trazer um contato maior com a música caracterizada por um pequeno consumo, o dito “lado
b”, ou a própria musica popular muito consumida mas na verdade pouco popularizada em
relação a outros estilos. Outra maneira que caberia a implementação seria em programas de
rádio, blogs.
Mas é bom atentar que relacionar os conteúdos teóricos aos musicais acaba por deixar
muitas vezes vaga o ideal teórico a ser repassado, e as vezes distorcida a “real mensagem” da
música. Assim é necessário devido cuidado para manter uma fidelidade integra com os
conteúdos teóricos e as interpretações músicas. Além de destacar que a arte está sendo tomada
como uma liberdade interpretativa que muitas vezes foge do que verdadeiramente o autor da
música quis dizer, o que não deixa de se tornar um exercício de poder relacionar conteúdos
absorvidos musicalmente com outros absorvidos de outras formas.
Se estruturado diversas formas alternativas de repasse de conteúdo, podemos também
organizar formas de produção alternativa que se confrontem com o padrão educacional
vigente. Seria, essencial, coletar opiniões diferentes, construir em conjunto os objetos a serem
estudados, e qual seria sua função ao coletivo quando popularizado seu conhecimento.

20
Referencias:
Bakunin, Mikhail. “A Igreja e o Estado”, texto digital retirado do site

http://ateus.net/artigos/critica/a-igreja-e-o-estado/

Almeida, José Fernando de, “É proibidor proibir – Sartre” FTD, São Paulo, 1988

Gertz, Clifford, “A interpretação das culturas”, Rio de Janeiro: LTC 2008 1ed. P.10

Harris, Marvin, “A Mãe Vaca”

Kropotkin, Piotr, “Ajuda mútua: um fator de evolução.”, Trad. Waldyr Azevedo Jr. – São

Sebastião: A senhora editora, 2009.

Kropotkin, Piotr, “Anarquismo”, In Kropotkin: textos escolhidos; Seleção e apresentação

Maurício Tragtenberg. São Paulo – SP Editora L&PM Editores S.A

Miranda, Jussara Valéria de, 1978 – “Recuso-me”! Ditos e escritos de Maria Lacerda de

Moura. 2006.

Moura, Maria Lacerda De. Religião do Amor e da Beleza. São Paulo: O pensamento 2a

edição, 1929.

Sahlins, Marshall, “Cultura e Razão prática”

Woodcock, George, “História das idéias e movimentos anarquistas-v.1: A Idéia/George

Woodcock; tradução Júlia Tettmanzy, Porto Alegre: L&PM,2002.

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