Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
RESUMO
Sumário
Introdução ................................................................................................................................................ 3
Estética : Cores, Roupas, Aparências, sonoridades; fazendo transparecer ideologias ............................. 4
Comida e cultura ...................................................................................................................................... 6
A Carta Roubada e o fazer antropológico .............................................................................................. 10
“Anarquismo no Nepal” ......................................................................................................................... 11
Quebra com tradicionalismo e a consequente trazem visão pejorativa ................................................ 13
A igreja ..................................................................................................................................................15
1
Renan Augusto Fernandes Silva; Graduando do terceiro ano de Ciências Sociais na Universidade Estadual de
Maringá.
1
Sartre e influencia do Existencialismo...................................................................................................19
Conclusão .............................................................................................................................................21
Referências ...........................................................................................................................................22
INTRODUÇÃO
2
A abordagem que foi feita é uma relação entre letras musicais, e algumas questões
teóricas, essa tentativa consiste numa construção de um instrumento que viabiliza um auxílio
para os meios de transmissão de conhecimento, de maneira “alternativa”; e também sirva
como forma de evidenciar as influências dos conteúdos sociais no meio artístico (musical
especificamente) e sociabilidade entre épocas e grupos. A escolha das músicas foi feita
segundo um critério pouco rígido, que diz respeito mais a uma questão de seleção pessoal, do
que outros fatores, e quanto aos teóricos, estes relacionados a conteúdos repassados na sala de
aula. Mas esse critério adotado não quer dizer que seja um critério rígido e imutável para
produção dessa ferramenta.
É possível que muitas das vezes a relação criada não tenha o sentido primordialmente
buscado pelo autor das canções; mas devemos analisar com um olhar considerando que a
música possa se tornar um veiculo de ajuda didática para passar conteúdos de forma
alternativa. Para isso é necessário que haja uma preocupação em buscar devida com a
integridade aos conteúdos tratados tanto da teoria como das músicas, mas que ao mesmo
tempo não limite as bem constituídas interpretações.
3
Um dos objetivos da analise antropológica segundo Clifford Gertz – analise que para
ele, deve ser feito segundo uma interpretação densa, apurada e microscópica, das muitas
informações coletadas, nas minuciosas etnografias – é interpretar as estruturas construídas
pelo homem num dado contexto, social, temporal, e geográfico. Para Gertz “O conceito de
cultura a que me refiro está relacionado a uma teia de significados distribuída pelo “próprio
homem””. 2
Por exemplo, Sahlins demonstra que a ideologia de classes pode ser expressa na cor do
colarinho da camisa; “-como a roupa distingue entre o operário [blue-colar] e o trabalhador
de escritório [white-collar]”7 . “Colarinho branco dá golpe do Estado”, essa frase vem da
música “Colarinho Branco” de Duke Jam e nação hip hop, - gravado em 2000 no albun
“Historia do Rap Nacional” e - que demonstra que os que trabalham no escritório
representam os integrantes da elite, os políticos e empresários das empresas, uma classe social
que representa uma ordem superior aos operários, aos trabalhadores do macacão azul.
2
Gertz, Clifford, “A interpretação das culturas”, Rio de Janeiro: LTC 2008 1ed. P.10
3
Idem P. 14
4
Sahlins, Marshall, “Cultura e Razão prática” P.178
5
Idem P.181
6
Idbem.
7
Idem P.180
4
O vestuário que funciona em nossa semi-ótica faz com que assimilemos os padrões do
vestuário como representantes uma ordem social segundo determinados tipos de produção de
vestuário. É por essa causa que Noel Rosa tenta preza tanto por um terno em sua música
“Com que Roupa eu vou”, para tentar parecer componente de uma ordem social que tem
vantagens na semi-ótica tradicional.
Outro exemplo trazido por Sahlin são as roupas “caseirinhas da esfera domestica”. São
roupas confortáveis, de descanso depois de passar toda tensão semanal. Chico usa o padrão da
roupa de domingo, para cessar a tensão da espera na música “Acorda Amor”,(tensão também
de estar sempre sob a vigia das barbáries da ditatura); “Mas depois de um ano eu não vindo
ponha roupa de domingo e pode me esquece”.
8
Birren 1956, In : Sahlins, Marshall, “Cultura e Razão prática” P . 183
5
Cultura” do Grupo A barca do Sol; “Não puxe a arma/ Não faça drama / Procure manter a
calma,/ Nã, não voa! /Não cuspa fora,/ Não perca o sono,/ Prefira sempre a balada, /Uma
gelada!/ Não force a barra,/ Não gaste a grana,/ Evite cair no gôto,/ Do esgoto!! / Não abra
o frasco,/ Não perca sangue,/ Refresque seus temores numa Brahma!/ Não abra o verbo,/
Não queime a cama,/ Quero que você esqueça deste inferno!!. A cultura desses grupos de
contestação era completamente diferente da vigente, e acontecia até mesmo entre
eles(contracultura); como o “não puxe a arma” que é um apelo de alguns grupos própria
esquerda para os companheiros referente ao tipo de luta que eles acreditavam que não deveria
ser feita. Não faça drama, como uma referencia ao não fazer o teatro imposto pela ditadura.
Não gaste a grana referente ao acumulo de capital, e idéia muito cultivada entre os
protestantes segundo Max Webber, e por muitos componentes da elite. Esse padrão
tradicional coloca certos fenômenos como geral a partir de suas próprias intenções, eles
formulam relações entre as coisas existentes no material como culturalmente os convir, para
depois as tornarem gerais segundo Sahlins.
Pela variedade de costumes alimentícios, tanto nas comidas, como nos modos durantes
o comer, o depois de comer, o antes de comer, demonstram que eles são construídos pelo
homem. As condutas de alimentação são parte de um reflexo de satisfação material pela
felicidade. É impossível considerarmos a produção e consumo da alimentação como simples
busca de subsistência. Sahlins reforça esse argumento com uma citação de Marx na ideologia
alemã: “Esse modo de produção não deve ser considerado como simplesmente a reprodução
da existência física de indivíduos. É uma forma definida de atividade desses indivíduos, uma
forma definida de expressar suas vidas, de um modo de vida definido por parte deles.”
6
Esses costumes natalinos, presente em diversos lugares do mundo, se diversificam nas
tradições e nos alimentos dependente da cultura na qual estão inseridos, apesar da aparente
padronização.
7
rua” que pede a benção para o Senhor dos Navegantes; a descrição de suas praticas na faixa
“Pescaria”; os tipos de peixe, as comidas que eles produzem, e a conseqüência econômica,
“Peixe que dá dinheiro pro irmão”.
Outra música que trata da cultura de trabalhadores a relacionando com comida é “O rancho da
goiabada”; música de uma das parcerias mais produtivas da música brasileira no quesito
composição, Aldir Blanc e João Bosco, narra a dificuldade da vida dos bóia fria, e busca
demonstrar a superação dessa dificuldade no sonho dos “bons alimentos”, que representam
uma “vida melhor”. “Os boia fria quando tomam/ umas birita/ espantando a tristeza sonham/
com bife a cavalo, batata frita/ e a sobremesa/ é goiabada cascão, com muito queijo/ depois
um café, cigarro, e um beijo de uma mulata chamada Leonor.”
No nosso país existe uma diversidade de alimentos por região, que é muito bem
demonstrada na música “Linha de Passe”, de João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emilio. A
música retrata uma diversidade tremenda da culinária nacional, e Assis valente também narra
as diversas delicias que fazem parte da nossa cultura nacional em “Brasil Pandeiro”,
eternizada pela banda “Novos Baianos”, e que retrata também de onde talvez venha o costume
dessas comidas, quando canta “Brasil, iluminar os terreiros”, que se refere a características de
descendência africana, assim como muitos pratos. E dentre a fama boa dos sabores nacionais
temos uma música que canta sobre um sabor “ruim”. Qui nem jiló, do mestre Luiz Gonzaga,
relaciona o sabor amargo do jiló, com o sentimento da saudade, ambos retratam de
experiências ruins.
8
O costume de consumir determinados alimentos serviu também para reforçar nosso
nacionalismo, como na música de Luís Peixoto e Vicente Paiva, “Disseram que eu voltei
americanizada”, quando escrevem “Enquanto houver Brasil na hora da comida, eu sou do
camarão ensopadinho com chuchu.”, realçam o nacionalismo pela comida brasileira. O
orgulho nacional também é descrito na música “Yes, nós temos bananas”, de Braguinha e
Alberto Ribeiro; nosso país era conhecido como republica das bananas pelos “gringos”, e os
compositores além de concordar de forma humorística com essa declaração descrevem as
qualidades da banana “Banana menina/ tem vitamina/ banana engorda e faz crescer”, como
se fossem as vantagens de ser brasileiro, e ainda colocam as qualidades em abundancia “Yes,
nós temos banana para dar e vender/ bananas para quem quiser”. Além do mais, retrata
outras exportações da nossa república como que dando um reforço ao sentimento nacionalista,
essas outras exportações são também relacionadas à alimentação “vai para frança o café”, e
trata os produtos internacionais de forma pejorativa “veio petróleo do oriente para por no fon
fon da gente”.
Sahlins demonstra como a carne possui um sinal de virilidade, um sinal “da carne
como força,”9, que talvez tenha se originado “na identificação indo-europeia do boi ou da
riqueza crescente com a virilidade”. Noel Rosa, na música “Último desejo” confirma a Idea
de Sahlins mostrando como a comida pode ser um sinal de dignidade quando diz: ““Às
pessoas que eu detesto/ diga sempre que eu não presto,/ que o meu lar é o botequim,/ e que eu
arruinei sua vida, que eu não mereço a comida, que você pagou pra mim”. Isso demonstra
que aquele que não é considerado digno não merece a comida, e aqueles que representam o
pólo da virilidade, da dignidade, merecem as melhores preuocupaçoes com a comida, segundo
Shalins com as partes da carne.
O conto “A carta roubada” de Edgar Allan Poe nos traz muitas questões que podem
servir de reflexão para como fazermos uma pesquisa, uma busca em torno de um
conhecimento, e nesse caso em especifico o antropológico.
9
Sahlins, Marshall, “Cultura e Razão prática”
9
estranheza causada pelo desconhecimento do pesquisador sobre o significado daquelas
condutas está empregado no personagem policial. Tudo que o policial desconhece ele
considera como estranho
As descrições dele são construídas de forma densa, assim como deve ser descrito nas
pesquisas etnográficas, seu olhar procurando a carta pela casa é como o fazer etnográfico que
necessita se atentar microscopicamente a cada detalhe, descrevê-los com o mesmo cuidado.
“Anarquismo no Nepal”
10
"Haverá uma transformação qualitativa, uma nova maneira de viver,
uma revelação que será como dádiva de vida, um novo paraíso e uma nova Terra, um mundo
jovem e poderoso no qual todas as nossas atuais dissonâncias serão resolvidas,
transformando-se num todo harmonioso."10,
Assim como na música a construção do lugar fictício “Nepal”, que contaria com
novas maneiras de viver referentes à família ( No Nepal o casamento é livre), referentes a
economia (lá tem problema financeiro) , gerando uma nova e um tanto quanto paradisíaca
atmosfera social. Na letra evidenciarei uma parte que “Fredera” canta para demonstra que;
assim como na concepção de anarquismo de Kropotkin, a construção de um paraíso na terra,
de parte de uma evolução social, necessita da “Ajuda mútua”.
O trecho é o seguinte: No Nepal existe uma praça/ onde fica um monte de dinheiro/
quem precisa tira o que precisa e quem ganha bota lá de novo/”. Abordarei essa aproximação
com Kropotkin pela sua idéia sobre a economia, e o aspecto de uma construção extremamente
positiva para o mundo. No caso da questão positiva o anarquismo de Kropotkin há uma
aproximação pelo “aspecto positivo e construtivo do anarquismo, a visão cristalina de um
paraíso terrestre reconquistado[..] e do seu invencível otimismo.”11
10
Woodcock, George, “História das idéias e movimentos anarquistas-v.1: A Idéia/George Woodcock; tradução
Júlia Tettmanzy, Porto Alegre: L&PM,2002 P 167
11
Idem P. 208
12
Idem P. 208
11
Na música o sentido do valor monetário é trocado por sentimentos: “O carinho rende
juros fortes/ e o povo vive só de renda”. A questão monetária tem seu sentido recriado na
musica, e se fizermos isso para adaptação teórica com o anarquismo, o sentido da “moeda”
seria outro. Se na música o valor da moeda se encontra em um sentimento harmônico entre os
humanos (carinho), na anarquia, a renda também não está na moeda. A recompensa vem da
“ajuda mutua” que não deixa de ser além de um guia para as ações do coletivo, um sentimento
que vem da relação entre indivíduos e não do dinheiro, uma máxima de vida.
A banda “Os Mutantes” no disco de 1974, com titulo “Tudo foi feito pelo Sol”, traz
um dos pontos essenciais da teoria de Kropotkin logo no titulo “Eu só penso em te ajudar”.
Kropotkin em seu livro “Ajuda mútua” observa a relação dos animais, e como a concepção
evolucionista das espécies pela competição segundo Darwin se mostra em alguns pontos
contraditória. Ele não acha aquela competição alimentícia pela subsistência, e necessária para
evoluir, e depois vai relacionar isso com a sociologia dizendo que “os seres humanos, devido
a superioridade de sua inteligência e de seus conhecimentos, podiam mitigar entre sí a dureza
da luta pela vida.” 13 O autor anarquista, confessa a existência desses conflitos, mas não que
sejam eles os determinantes para evolução. Na música cantam “estão dizendo que é pra
competir/ mas eu só penso em te ajudar.” Está explicito uma nova ideologia compondo os
idéias das pessoas que se satisfazem harmonicamente com progresso conjunto “Estão dizendo
que é para te passar para trás/ mas eu só penso em te abraçar./” A consciência competitiva
se transforma, e essa é uma das necessidades marcantes para Kropotkin; diz ele: “Nenhuma
revolução social pode triunfar se não for precedida de uma revolução nas mentes e corações
do povo”.
Há uma coisa similar entre a visão que se tem do tal “rapaz” e a visão dos que se
relacionavam com tradições conservadoras. Segundo Woodcock no contexto político social da
Revolução Francesa o termo anarquia e anarquista teve um sentido de “crítica negativa e até
insulto por elementos de diversos partidos para difamar seus oponentes, geralmente de
esquerda.” 15. O maior representante dos girondinos, partido político da era da revolução
francesa, Brissot “declarou em 1793, “ser necessário” definir esse anarquismo “- e foi o que
fez: “Leis que não são cumpridas, autoridades menosprezadas e sem força; crimes sem
14
Kropotkin, Piotr, “Anarquismo”, In Kropotkin: textos escolhidos; Seleção e apresentação Maurício
Tragtenberg. São Paulo – SP Editora L&PM Editores S.A. P. 19
15
Woodcock, George, “História das idéias e movimentos anarquistas-v.1: A Idéia/George Woodcock; tradução
Júlia Tettmanzy, Porto Alegre: L&PM,2002. P 8.
13
castigo, a propriedade atacada, direitos individuais violados, moral do povo corrompida,
ausência de constituição, governo e justiça, tais são as características do anarquismo.”16.
Essa visão, assim como a que se construiu sobre o tal “rapaz” é uma condenação; e
essa condenação com o termo anarquia perdurou “tanto durante a Revolução Francesa como
depois dela.” 17 . A conotação do termo anarquia teve uma revisão depois de Proudhon,
renomado pensador “sempre tão cheio de razão”, que foi um dos pioneiros da filosofia
libertária, mas ainda assim, até hoje vemos o termo ser usado para demonizar ideais políticos
como sendo “desastrosos ou destrutivos” quando se diz respeito à anarquia.
A igreja.
Existe uma relação entre o estilo Rock’n’Roll, e coisas “satânicas”, como podemos ver
na celebre máxima: “O diabo é o pai do Rock”. Grande parte dessa atribuição pode ser
considerada pela disseminação que o rock faria em épocas como a década de 60 e 70. As
ideologias com maior evidência nessa época diziam respeito à rebeldia, a desobediência, das
tradições, sexo livre, uso de drogas, questões políticas de quebra da ordem social, ou seja,
conteúdos eram completamente contrarias as doutrinas religiosas. Essas idéias incompatíveis
a doutrina religiosa que muitos indivíduos partilham nas décadas de 60 e 70; existiam mesmo
antes disso, e existem amplamente nos dias de hoje, também é um desgosto para alguns
teóricos anarquistas como Bakunin. Uma das músicas que demonstra mais explicitamente
esse descontentamento com relação a igreja é a faixa “Igreja” dos Titãs, gravada no clássico
álbum “cabeça de dinossauro” de 1986. Pela época era mais fácil, mas não muito menos
impactante socialmente, tratar de assuntos como este de forma mais explicita.
Dentro do anarquismo vemos uma forte corrente que também são contrários as
doutrinas religiosas, para Bakunin, por exemplo, “A abolição da Igreja e do Estado deve ser a
16
Idem P.9
17
Idem P.9
14
primeira e indispensável condição para a verdadeira libertação da sociedade; só depois que
isso acontecer é que a sociedade poderá ser organizada de uma maneira diferente.” 18. No texto
a “A Igreja e o Estado” ele afirma que os “interesses gerais” que supostamente o Estado busca
representar não passam de “uma abstração, uma ficção, uma mentira.” Que acabam por matar
os interesses reais dos indivíduos e da sociedade. E assim; “Aquela famosa incompatibilidade,
aquele conflito entre os interesses pessoais e os da sociedade não são mais do que um artifício
e uma mentira política nascidos de uma mentira teológica, que inventou a doutrina do pecado
original para degredar o homem e destruir sua consciência íntima de seu próprio valor.”.
Grande parte da vontade que muitos indivíduos partilham nas décadas de 60 e 70,até
antes e nos dias de hoje também, é incompatível com as doutrinas religiosas. Sobre este
aspecto o anarquista Bakunin também fez uma abordagem em “A igreja e o Estado”; “Aquela
famosa incompatibilidade, aquele conflito entre os interesses pessoais e os da sociedade não
são mais do que um artifício e uma mentira política nascidos de uma mentira teológica, que
inventou a doutrina do pecado original para degredar o homem e destruir sua consciência
íntima de seu próprio valor.”19
18
Bakunin, Mikhail. “A Igreja e o Estado” p. 1
19
Idem
15
avenida/ sentado no arco Iris eu penso em minha vida/ fico em vão sem saber, fico em vão a
buscar onde deus está.” . O individuo pensando em suas preocupações pessoais - que acabam
abordando questões sociais- em vão busca conciliar isso a imagem divina, Deus não será
encontrado nas reais necessidades sociais; pois o interesse da maioria está sacrificando em
suas doutrinas para satisfazer poucos . E na música os olhos que vigiam não são os olhos
Divinos, mas sim olhos dos injustos repressores do povo; e os amores que gritam guerra em
códigos e fumaça, é um amor que emana daquelas guerras sangrentas por causas religiosas e
outras. São nada mais são que o representante antagônico das vontades individuais e sociais
quando poluídas por “ilusões da metafísica que, como se sabe, é parente próxima da
teologia.”20
A banda gaúcha “Os replicantes”, -que teve como vocal o marcante André Abujamra-
gravou em 2011 uma faixa chamada Maria Lacerda. A faixa diz respeito à Anarquista
brasileira; nascida em Minas gerais 1887, Maria Lacerda de Moura. Maria Lacerda busca a
quebra dos dogmas, da dominação da Igreja e da submissão feminina á autoridade Estatal e
familiar. Algumas características centrais do pensamento de Maria Lacerda são apresentadas
na música como a busca por certas liberdades: “livre de escolas, livre de igrejas, livre de
20
Idem P.1
21
Idem p.2
22
Idem
16
dogmas/ livre de muletas/Direito ao prazer sexual/ Independência social.”. Vemos também a
idéia de que as mulheres não conseguem se libertar por completo “Por estarem sendo
submetidas por constrangimentos financeiros, seja pelo casamento, seja pela prostituição, ou
pela escravidão do salário.”.
O corpo feminino sempre foi vitima de uma prisão, de uma cautela social que além de
fazer as mulheres passarem por intensos constrangimentos demonstram cada vez mais “a falta
de domínio da mulher sobre seu corpo 23 ”. Num trecho selecionado veremos as relações
possíveis:
A independência sexual é muito presente, até mesmo nesse momento que ela explicita
que no tempo de diversas lutas feministas e importantes reivindicações sobre o caso, “se
esquece da mais importante das reivindicações – a de ser dona do seu próprio corpo, a da sua
liberdade sexual, a de ser humano com direito á alegria de viver.”26
Para Maria Lacerda impelir as mulheres para os braços dos homens como propriedade
é um sério problema, e num trecho da música vemos isso: “Para ela o amor só seria livre,
quando as mulheres não forem mais compelidas aos braços dos homens,”, e nas palavras da
23
Miranda, Jussara Valéria de, 1978 – “Recuso-me”! Ditos e escritos de Maria Lacerda de Moura. 2006 P. 78
24
Moura, Maria Lacerda De. Religião do Amor e da Beleza. São Paulo: O pensamento 2a edição, 1929, p.99.
25
Miranda, Jussara Valéria de, 1978 – “Recuso-me”! Ditos e escritos de Maria Lacerda de Moura. 2006 P. 80.
26
Moura, Maria Lacerda De. Religião do Amor e da Beleza. São Paulo: O pensamento 2a edição, 1929, p.99.
17
própria Maria Lacerda é uma tragédia o “preconceito perverso de que a mulher é a
propriedade alienável do homem”. Essa propriedade vem munidas de exigências do seu dono,
por exemplo a questão da virgindade. As mulheres que são impelidas socialmente aos braços
dos homens, quando não conseguem terão um problema também criado socialmente. A
mulher que foi desgraçada por perder a virgindade será em diversas vezes impelidas à
prostituição, ou estigmas sociais que acabam acarretando em sérios problemas. As
preocupações de Maria Lacerda faziam dela uma feminista mesmo antes desse termo ser
empregado; ela mesma se considerava somente anarquista, o titulo de feminista foi posterior.
Existencialismo
Um dos maiores representantes da teoria existencialista é Jean Paul Sartre. Sartre foi
muito atuante politicamente, sempre esteve em passeatas, e puxava o famoso grito em maio
de 68 “É proibido proibir”. O livro de José Fernando de Almeida “É proibido proibir-
Sartre”,traz ótimos exemplos da teoria de Sartre com músicas de Caetano Veloso. O cantor
como tantos outros da época fora influenciado pelo pensamento deste filosofo, escreve a
música com o titulo “É proibido proibir”, (Segundo José Fernando) buscando demonstrar essa
possibilidade de renovações da vida que a teoria sartreana trazia, de negar o pronto, o imposto
em busca de renovação do destino social e individual.
Aqui os tropicalistas eram representantes desse novo destino, dessa renovação. “Sartre
quase foi preso por vender nas ruas de Paris jornais considerados subversivos, que defendiam
uma revolução cultura,”27, assim como Caetano, que foi exilado, passou um tempo na cadeia
pelo tema subversivo que o conteúdo tropicalista - que representava essa revolução cultural
defendida por Sartre, - trazia. A música é proibido proibir traz uma musicalidade
extremamente dissonante para aquela época, as guitarras elétricas, os efeitos sonoros, as
atitudes, os temas, representavam de fato uma revolução cultural.
27
Almeida, José Fernando de “É proibido proibir – Sartre” FTD, São Paulo 1988 P.8
28
Idem P. 18.
18
para a realidade humana, posterior à existência” Caetano quando canta em “Alegria,
Alegria” “Sem lenço/ sem documento/ nada no bolso ou nas mãos” traz a idéia dessa
essência completa de nada. E em seguida quando diz “eu quero seguir vivendo/ eu vou!/ por
que não?” demonstra essa vontade de renovar o destino, renovar o futuro, como uma
seqüência de possibilidades que tenho autonomia para decidir as minhas ações.
19
Conclusão
Buscar a realização deste trabalho dentro das salas de aula precisa ser testado para
pensar em alguns pontos como; tempo a se dispor, relação dos conteúdos com a grade
curricular, pensar também onde possivelmente será ministrado, e o contato com quem irá
receber o conteúdo tanto teórico quanto musical. Se aplicado em colégios, escolar, e
universidade, seria primordial uma busca com o que as pessoas ouvem, para que a partir daí
tentar resgatar conteúdos musicas que eles já estejam familiarizados. Possível implementação
em projetos como PIBID.
Pensando além de formalidades institucionais; mini cursos com menos exigências
burocráticas, poderia além de familiarizar alguns pontos importantes de determinadas teorias,
trazer um contato maior com a música caracterizada por um pequeno consumo, o dito “lado
b”, ou a própria musica popular muito consumida mas na verdade pouco popularizada em
relação a outros estilos. Outra maneira que caberia a implementação seria em programas de
rádio, blogs.
Mas é bom atentar que relacionar os conteúdos teóricos aos musicais acaba por deixar
muitas vezes vaga o ideal teórico a ser repassado, e as vezes distorcida a “real mensagem” da
música. Assim é necessário devido cuidado para manter uma fidelidade integra com os
conteúdos teóricos e as interpretações músicas. Além de destacar que a arte está sendo tomada
como uma liberdade interpretativa que muitas vezes foge do que verdadeiramente o autor da
música quis dizer, o que não deixa de se tornar um exercício de poder relacionar conteúdos
absorvidos musicalmente com outros absorvidos de outras formas.
Se estruturado diversas formas alternativas de repasse de conteúdo, podemos também
organizar formas de produção alternativa que se confrontem com o padrão educacional
vigente. Seria, essencial, coletar opiniões diferentes, construir em conjunto os objetos a serem
estudados, e qual seria sua função ao coletivo quando popularizado seu conhecimento.
20
Referencias:
Bakunin, Mikhail. “A Igreja e o Estado”, texto digital retirado do site
http://ateus.net/artigos/critica/a-igreja-e-o-estado/
Almeida, José Fernando de, “É proibidor proibir – Sartre” FTD, São Paulo, 1988
Gertz, Clifford, “A interpretação das culturas”, Rio de Janeiro: LTC 2008 1ed. P.10
Kropotkin, Piotr, “Ajuda mútua: um fator de evolução.”, Trad. Waldyr Azevedo Jr. – São
Miranda, Jussara Valéria de, 1978 – “Recuso-me”! Ditos e escritos de Maria Lacerda de
Moura. 2006.
Moura, Maria Lacerda De. Religião do Amor e da Beleza. São Paulo: O pensamento 2a
edição, 1929.
21
22