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Campinas
2007
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Campinas
2007
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Índice:
1. Resumo......................................................................................................................04
• A teoria histórico-cultural.............................................................................05
• A importância do desenho.............................................................................06
3. Metodologia..............................................................................................................25
4. Análise de dados.......................................................................................................27
5. Considerações Finais.................................................................................................35
6. Referências bibliográficas.........................................................................................38
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Resumo:
A maior parte da literatura sobre o desenho infantil aborda a temática sob um enfoque
basicamente maturacionista, como algo geneticamente determinado e de caráter universal. Como
conseqüência, tem-se um entendimento equivocado a respeito do grafismo, guiado por um viés
biologizante. Quanto ao tratamento dispensado ao desenho no contexto escolar, a experiência e
contato com práticas escolares indicam que é dado um pequeno espaço para esta atividade. Atitudes
como a utilização da atividade gráfica de maneira mecânica e estereotipada, via modelos prontos ou
cópias alheias ao cotidiano das crianças, confirmam o descaso por esta atividade que é, na verdade,
tão importante. A presente pesquisa utilizou a teoria Histórico-cultural como fundamento para a
análise dos dados. Esta teoria afirma que o Outro possui um papel essencial no desenvolvimento do
sujeito, pois este se constitui a partir das relações sociais que tem durante sua vida, podendo,
somente desta forma, desenvolver as funções psicológicas superiores, que se originam a partir das
relações reais vividas entre os indivíduos humanos. Assim, o Outro é importante para o
desenvolvimento total de um sujeito, incluindo as suas múltiplas linguagens, sendo o desenho uma
delas. Vygotsky (1998) ressalta, entre outras coisas, que o brinquedo, o desenho e a escrita
compartilham de um aspecto comum que é a função simbólica e enfatiza a sua importância no
aprendizado desta última. Foram pesquisadas 20 edições da revista Nova Escola, publicadas entre
os anos de 2005 e 2006, mais a edição especial sobre Arte, lançada em dezembro de 2006. Em todas
essas edições foram buscadas e analisadas matérias que falassem sobre o desenho infantil e sobre
como o professor agiu em relação a esta atividade ou como deveria agir. Foram encontradas 7
matérias relativas ao tema desta pesquisa e estas foram analisadas com o embasamento da teoria
histórico-cultural. Os objetivos desta análise foram encontrar as matérias que falassem sobre o
desenho nesta revista, qual a freqüência que ela escreve sobre o tema e o que ela aborda nessas
matérias, se a sua visão é coerente com a teoria histórico-cultural. Como resultados, foi possível
encontrar que o Outro professor é reconhecido como muito importante. A Revista Nova Escola
argumenta que o educador deve fazer intervenções no processo de grafismo de seu aluno,
orientando-o em sua produção. Porém, apesar de ter conteúdos que vão de encontro com algumas
idéias de Vygotsky, a revista pesquisada não aborda o desenho no contexto da educação infantil.
Esta constatação permitiu levantar algumas hipóteses sobre as razões da ausência de conteúdos
deste tipo, apresentadas ao final desta monografia.
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• A teoria histórico-cultural:
suas funções mentais. As operações com signos vão sendo constituídas ao longo do tempo,
também é uma forma de representação, um signo. Ele vai buscar a gênese do sistema
constitui a partir das relações sociais que tem durante sua vida, podendo, somente desta
das interações sociais (OLIVEIRA, 1995); como nos lembra Martins (1997) e Duarte
(2000) para o desenvolvimento do sujeito é importante que este se aproprie dos produtos
culturais, tanto os da cultura material quanto os da cultura intelectual e, para isso, é preciso
que haja interação entre os indivíduos mais novos com os mais velhos e experientes. Essa
ações partilhadas; são essas ações do Outro que contribuem para os específicos modos de
vetores de desenvolvimento. Vygotsky traz em seus estudos, uma nova visão acerca da
são processos distintos, mas interdependentes. Eles não coincidem, pois o processo do
alcançado, que é chamado por este autor de desenvolvimento real. (VYGOTSKY, 2001).
• A importância do desenho:
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O desenho aparece na vida de uma criança muito antes de seu ingresso na escola e,
possível que, ao entrar na escola, a criança já tenha visto os desenhos de seu irmão, sua
mãe, seu pai, parentes, amigos, vizinhos, etc, e acaba entrando em contato com livros que
outros recursos que são fontes dos mais variados tipos de representação gráfica. Portanto,
grande parte das crianças já chega à escola com vivências com desenhos das mais variadas
avaliando.
concepções que oscilam entre dois pólos: de um lado, como atividade gráfica destituída de
que deve ser ensinado, dirigido, treinado, a fim de aprimorar a coordenação percepto-
motora ou outras esferas do desenvolvimento psicológico. Entre esses dois pólos está,
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Esta análise se refere à maior parte das crianças, não a todas, pois o ingresso em instituições educacionais
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O adulto tem seu papel na produção gráfica de uma criança. Porém, ele varia de
acordo com o contexto pedagógico e a inspiração teórica que orienta as decisões dos
educadores, podendo ser visto como algo nocivo e prejudicial ao pleno desabrochar das
Enfim, é fato que a partir do ingresso da criança na escola, seu desenho passa a
sofrer mudanças qualitativas, pois se a influência do outro, na maioria das vezes era sutil,
Além das interações com seus colegas contribuírem, muitas vezes, para uma
mudança significativa em sua produção gráfica, o adulto, sendo ele agora o seu professor,
também tem importante papel nesta mudança. A criança passa a ter outros modelos
enriquecedor, pois o tempo todo, a criança pode ser convidada e estimulada a ver e pensar
sobre suas e outras produções e ações gráficas. Porém, é necessário lembrar aqui, que,
requisita ajuda e/ou observa outra pessoa desenhando algo que ela ainda não consegue
fazer. Algum tempo depois, a criança consegue realizar sozinha aquilo para o que antes era
necessária a ajuda do outro, na maioria das vezes. (SILVA, 2002) Isso reflete a
importância do intercâmbio que ocorre entre a criança e outras crianças e/ou adultos
outras palavras, é importante que o outro – adulto ou outras crianças - atue na zona de
desenvolvimento proximal, para que um dia esta passe a ser desenvolvimento real.
as suas múltiplas linguagens, sendo o desenho uma delas, como já foi dito acima. Vygotsky
(1998) ressalta, entre outras coisas, que o brinquedo, o desenho e a escrita compartilham de
desta última. Este autor mostra-nos que existe uma ligação entre o gesto e a origem dos
usam a dramatização, demonstrando por gestos o que elas deveriam mostrar nos desenhos;
experimentos feitos. Como por exemplo, um relógio que, em repetidas vezes estava
representando uma farmácia, quando o experimentador propôs que seria uma padaria, uma
criança, no mesmo instante, pegou uma caneta, colocou-a sobre ele e dividiu-o em duas
partes, sendo que uma seria a farmácia e a outra a padaria. “Assim, um objeto adquire uma
nessa fase, independente dos gestos das crianças” (VYGOTSKY, 1998, p. 146).
O que Vygotsky pretendia assinalar é que através dos gestos que as crianças fazem,
Vygotsky (1998) argumentou que os gestos são, inicialmente, o elo que entre as
desenvolvimento de uma fala mais elaborada é que esta passa a ser o elo intermediário,
feito pela criança, e isso acontece no momento em que ela passa a conseguir nomear suas
produções gráficas, e mais tarde, anunciar, anteriormente, o que pretende desenhar. Assim
como no jogo simbólico, a fala passa, gradualmente, a ter uma grande importância para a
Assim, é importante ressaltar que o desenho é uma linguagem gráfica, que tem por
finalidade representar, e então, pode-se dizer que o desenho está numa fase preliminar no
isso ela utiliza da memória, sendo esta a responsável pela capacidade de imaginação do
O pensamento humano possui uma relação com a linguagem que, pouco a pouco,
realidade exterior, a criança segue o mesmo caminho que desenvolve a sua linguagem, ou
seja, a criança desenvolve sua linguagem começando por palavras soltas, por substantivos
que representam objetos concretos isolados, e assim o é com a realidade externa à criança.
(VYGOTSKY, 2001)
forma qualitativamente superior àquela que lhe é possível por suas características
biológicas; a memória é uma das funções psicológicas superiores que são desenvolvidas
a memória significa um certo acúmulo de bens, não para uso imediato, mas para uma
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assim, é através da associação que a memória deve estar relacionada aos outros aspectos do
unificação das partes do material, na atribuição de uma coerência seqüencial dada a essas
partes, e por fim, na organização dos elementos em um todo único. De acordo com Marx
(1978), as unidades não preexistem ao todo. O todo não é uma relação entre as partes que já
existiam de forma autônoma e independente. Marx (1978) ainda diz que, embora o
conhecimento caminhe da parte para o todo, é preciso nunca esquecer que na realidade
objetiva o todo já existe antes que ele seja reproduzido no plano do pensamento. Como o
papel da memória consiste em uma atividade associativa, fica fácil a compreensão das
2001) Ainda dentro desta função psicológica superior, Vygotsky fala da reprodução que é
realidade.
O comportamento imagético não é menos voltado para objetos que são reais do
se deve considerar como única diferença entre um e outro comportamento não é a realidade
desses processos psicológicos, mas sim a sua relação com experiências vividas.
última, mas nos motivos que provocam essa atividade. Em ambos os casos, a própria
partir de elementos, não existindo outro caminho para explicar a atividade da imaginação, a
não ser supondo que uma certa existência de imagens provoca outras associadas a elas
(VYGOTSKY, 2001).
Cabe dizer também sobre a memória que esta está mais vinculada com o
anteriormente, mas sim constrói novas maneiras de combinar as diversas impressões que o
sujeito obteve em suas vivências cotidianas. O que é novo acaba interferindo no próprio
desenvolvimento das impressões e as mudanças destas para que resulte em uma nova
imagem, que ainda não existia, constitui o fundamento básico da atividade que se denomina
homem, uma vez que, de acordo com a teoria histórico-cultural, o homem não pode
inventar nada que não tenha vivenciado. É na combinação propriamente dita dos elementos
homem e cavalo, peixe e mulher, que são dados a partir de experiências reais. Da mesma
maneira que na reprodução, a fantasia tem sua fonte de realidade também em experiências
combinação dos elementos reais em grupos fantásticos” (VYGOTSKY, 2001: 202). Dessa
forma, a fantasia é duplamente real, sendo de um lado, por força do material que a constitui,
e do outro lado, por força das emoções vinculadas ao sujeito (VYGOTSKY, 2001). Assim,
a de organizar a experiência para formas que mais ou menos repetem o que já houve antes,
de uma ou outra forma. Pode-se dizer que a memória auxilia a imaginação do homem.
Vygotsky (2001) afirma que é a partir da imaginação que o homem pode obter o
conhecimento de objetos que jamais foram dados em sua experiência, podendo adquirir da
significado que está a essência do pensamento, sendo “um amálgama tão estreito entre o
propriedades e leis que são específicas, que não podem ser encontradas nas formas naturais
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sociedade humana.
importante também conhecermos outras abordagens teóricas que falam sobre o tema
de fora para dentro, e a criança, ainda que não tenha compreensão intelectual do processo,
Para esta autora, é preciso considerar, quando uma criança desenha, o que ela
pretende fazer – como contar-nos uma história, por exemplo – mas também devemos
reconhecer os múltiplos caminhos que ela utiliza para expor aos outros os seus desejos,
seus conflitos e seus receios. Porque o desenho é uma forma de linguagem, assim como o
A criança desenha com a finalidade de falar e poder registrar o que se quer falar,
como uma escrita, um registro. Antes de aprender a escrever, a criança se serve do desenho
como forma de registrar seu pensamento, seus sentimentos e desejos. (MOREIRA, 1984)
Como dizia Mário de Andrade (1967, apud MOREIRA, 1984), o desenho fala, chega
Se há crianças que desenham para contar uma história, também há aquelas que não
desenham para não contar. Moreira (1984) relata que deparou-se com crianças que
que estas crianças possuíam uma dificuldade no nível emocional e que na medida em que
necessariamente esta possui um problema emocional. É importante lembrar que existe sim
nível do desenho ser recorrentes às questões emocionais, porém, vale ressaltar que podem
sentimentos e pensamentos estão juntos, sendo que as crianças que também possuem um
também. Um objeto de arte é uma forma de fazer, de formar ou de construir que sintetiza
para a formulação da experiência que se tem, pois a coloca de uma forma ordenada.
Um outro teórico sobre este assunto, Lowenfeld (1977), concorda que o desenho
infantil é produto do que a criança pensa e sente, porém ele possui uma visão contrária à de
ela começa a desenhar, a criança está pensando em alguma coisa, e é nesse momento que
ela se confronta com o seu próprio ‘eu’, com a sua experiência pessoal. Enquanto ele pensa
nela mesma, nas suas vivências, as suas reflexões se concentram naquilo que terá que
Para Lowenfeld (1977), as crianças apenas incluem em seus desenhos as coisas que
elas conhecem e que são importantes para elas. É no desenho que elas vão expressar suas
que vivem. Assim, a criança combina dois fatores nesse momento: o seu conhecimento das
coisas e a sua relação individual com elas. Dessa forma, esse autor afirma que é por
intermédio das pinturas de uma criança que podemos obter uma profunda compreensão das
relações que estabeleceu com aquilo que representou graficamente. Mas essas relações não
são imutáveis, muito pelo contrário. Lowenfeld diz que à medida que a criança cresce, as
suas relações com o mundo e com o que a cerca mudam, pois ela vai conhecer mais
importante afirmar, que nesta visão, quanto maior for a variedade de suas pinturas, mais
flexível a criança será em suas relações com o mundo, pois colocando em desenho o que
sente e o que pensa sobre determinado tema ou assunto, ela consegue se expressar e,
de vida, podem ser a diferença para essas crianças entre indivíduos adaptados e felizes e
outros, que apesar de sua capacidade para tal, acabam sendo desequilibrados e com
dificuldade em suas relações com o próprio ambiente. Para ele, a arte é procurada pelas
Este autor defende a idéia de que os adultos, no momento da arte infantil não devem
interferir no desenvolvimento natural das crianças, pois a maioria delas se expressa livre e
originalmente se não sofrer qualquer tipo de inibição provocada pela interferência dos
adultos. Se o adulto ficar perguntando o que a criança está desenhando e tenta ‘ensinar’
como se desenha alguma coisa, ele pode estar inibindo a criança de se desenvolver
livremente e pode até fazer com que elimine uma fase de seu desenvolvimento. A criança
pode simplesmente querer rabiscar uma folha de papel, o que também é importante para
chegar à próxima etapa, que é garatujar. Nesse momento ela está descobrindo a relação
sozinho e na segurança que tais ações independentes costumam inspirar na criança. Para
ela, o fato de poder controlar a própria linha que traça no papel lhe traz uma confiança em
si mesma que é muito importante para sua formação saudável. Segundo esse autor, os
adultos não têm o direito de privar uma criança disso, pois é algo que pode prejudicá-la em
seria ajudando-a a se tornar cada vez mais sensível à sua própria experiência, e para tal,
Lowenfeld. O primeiro defende a idéia de que o Outro – adulto ou outras crianças – deve
interagir no momento da produção gráfica da criança, já que é a partir dessa interação que o
sujeito aprende e faz descobertas; esta posição é exatamente o inverso do que o segundo
defende: de que o adulto não deve interferir de maneira alguma no processo artístico da
desenvolver livremente e, pior ainda, isso pode eliminar uma fase de seu desenvolvimento.
das relações sociais que vai estabelecendo ao longo do tempo, podendo, somente assim,
apontam. Essa visão vai de encontro com as idéias defendidas em alguns documentos
documento do MEC – os educadores devem auxiliar as crianças nas atividades que não
devem ser oferecidas condições para que elas usufruam plenamente suas possibilidades de
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crianças precisam ser apoiadas em suas iniciativas espontâneas para expressar seus
defendido o acesso à arte. Neste documento, este acesso significa possibilitar às crianças e
aos professores o contato e a intimidade com a arte para que se possa provocar novas
Diz-se que a arte como um todo – a música, a literatura, as artes visuais, as artes
plásticas – é muito importante para a formação do humano no sujeito, pois ela representa
e novas formas de nos relacionarmos com a vida, reproduzindo-a ou fazendo com que ela
A arte também é uma forma de linguagem que faz parte do acervo cultural do
visão sobre ela, já que, como autores, podemos dançar, pintar, tocar, desenhar, etc. E tudo
isso que podemos fazer através da arte, nos torna capazes de elaborar e reconhecer de
pura, ou seja, a arte sem modificações para que o aluno entenda-a. É necessário que as
arte, das suas obras, do contexto em que estas surgiram, para que possam entender
necessário o trabalho com arte. Algumas formas de fazer isso seria levando as crianças às
músicas de diferentes compositores, terem contato com livros de arte, de literatura, entre
formas de sentir, pensar, compreender, dizer e fazer. O encontro do aluno com a arte é
vida surgem.
É importante ressaltar o que Bakhtin (2000) nos diz a respeito do contato do sujeito
com a arte. Segundo este autor, quando este encontro acontece, o sujeito pode contemplar a
arte vivenciando uma relação estética movida pela busca da compreensão de seu
significado. Quando a pessoa entra em contato com a obra, é estabelecido um diálogo com
seu autor, estabelecendo relações com outros signos, sentidos, etc. É nessa situação que o
para o desenvolvimento do sujeito, deve ter seu tempo e espaços mais enriquecidos. Enfim,
a brincadeira e a arte devem ser tratadas com mais cuidado no contexto escolar.
– MEC – (BRASIL, 2007) é voltada para o Ensino Fundamental, porém a visão oficial
(BRASIL, 1998).
criança vai crescendo. Isso quer dizer que o desenvolvimento gráfico da criança não é uma
A arte na criança sofre, desde cedo, influência da cultura, seja por meio de materiais
e suportes com que faz seus trabalhos, seja pelas imagens e atos de produções artísticas que
nós observamos tantos meios de comunicação existentes nos dias de hoje ou até produções
crianças, os seus trabalhos revelam a época e o lugar em que vivem suas oportunidades de
aprendizagem e suas idéias e seus pensamentos. As crianças têm suas próprias impressões e
interpretações sobre produções de arte e o fazer artístico. Tais construções são elaboradas a
partir de suas experiências ao longo da vida, que envolvem a relação com a produção de
arte, com o mundo dos objetos e com seu próprio fazer. As crianças exploram, sentem,
significações sobre como se faz, o que é, para que serve e sobre outros conhecimentos a
respeito da arte. Dessa forma, as artes visuais devem ser consideradas uma linguagem que
capacidades estéticas das crianças poderá ocorrer no fazer artístico, assim como no contato
com a produção de arte presente nos museus, livros, revistas, gibis, espaços urbanos, etc. O
cognição e a imaginação.
criança estiver desenhando, ela o faça livremente, sem intervenções diretas, podendo
explorar os diversos materiais, como lápis preto, lápis de cor, giz de cera, canetas, carvão,
giz, penas, gravetos, etc. e utilizando suportes de diferentes tamanhos e texturas, como
papéis, cartolinas, lixas, chão, areia, terra, etc. Quando o documento defende que não se
faça uma intervenção direta no momento da produção gráfica da criança ele deixa de estar
partindo das produções já feitas pelas crianças, sugerir-lhes, por exemplo, que copiem seus
próprios desenhos em escala maior ou menor. Esse tipo de atividade possibilita que a
criança reflita sobre seu próprio desenho e organize de maneira diferente os pontos, as
contenham algum tipo de intervenção, algum traço, uma linha, uma colagem, para que a
diversas situações, cenas, pessoas e objetos. O professor pode pedir que observem a partir
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do que viram. Por exemplo, as crianças podem perceber as formas arredondadas dos
calcanhares, distinguir os diferentes tamanhos dos dedos, das unhas, observar a sola do pé,
a parte superior e a parte inferior dele, bem como as características que diferenciam os pés
de cada um.
podem ser recursos interessantes, desde que sejam abordados seus objetivos e função no
aquelas originárias de suas próprias idéias ou geradas pelo contato com os mais diversos
materiais.
gráfica, de acordo com o Referencial Curricular Nacional, é que este deve intervir sim.
Porém esta intervenção deve ser feita apenas no início das atividades, orientando seus
etc; fica, então, implícito que, após essa intervenção que vai guiar a criança, o professor
deve apenas observar as produções e as interações que são estabelecidas nesse momento.
divulgação? Qual a importância que é dada para a atividade do desenho nas escolas? O que
textos sobre o desenho, nas revistas de grande circulação, estão baseados em qual teoria?
Assim, partindo do referencial e das indagações aqui apontadas, esta pesquisa tem
por objetivo pesquisar, descrever e analisar as matérias que foram publicadas nas edições
Metodologia:
Desta forma, a análise do que tem sido divulgado a respeito do grafismo infantil,
permitiu construir uma visão geral e atual acerca da opinião dos meios de divulgação de
grande repercussão, que têm como público alvo professores, coordenadores, diretores e
janeiro do ano de 2005 até dezembro de 2006, totalizando 20 revistas; foi, ainda, objeto de
análise uma edição especial lançada em dezembro de 2006 sobre Arte. A abordagem do
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material consistiu em procurar matérias que falassem sobre o desenho infantil e sobre como
o professor agiu nesse momento ou como deveria agir. Assim, foi feita a análise dos
conteúdos encontrados nas matérias selecionadas fazendo uma comparação com o que a
teoria Histórico-cultural diz sobre o tema. Foram encontradas matérias que arremetessem
sobre este tema em 5 edições, durante o período escolhido para a coleta e análise de dados,
mais uma edição especial, sobre Arte, lançada pela Nova Escola em dezembro de 2006.
arte”
modernas práticas
pedagógicas”
contemporânea entram em
campo e revelam as
invenções alemãs”
nova”
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Análise de Dados:
defende a idéia de que o grafismo é a primeira forma de comunicação escrita das crianças.
O texto coloca em dúvida o uso de folhas mimeografadas com desenhos prontos para que
os alunos apenas pintem, e conta sobre o fato de a professora ter dado uma folha em branco
para que as crianças desenhassem livremente e que o resultado foi, por estarem
estereotipados.
encontradas no pátio da escola. E assim, as crianças foram desenhar perto das árvores,
professora chamou a atenção para as texturas diferentes, as cores e as formas, para que o
Após essa fase, o trabalho com grafismo passou a ser feito em folhas de plástico,
para que cada criança pudesse apresentar para toda a turma, mostrando pelo retroprojetor.
Isso fez com que cada criança refletisse sobre seu desenho e falasse sobre ele.
O objetivo do trabalho realizado pela professora era trabalhar com as crianças seus
próprios desenhos, para que elas descobrissem seus traçados, desenvolvendo neles o gosto
pela criação e pela produção. Mas, não queria que eles apenas desenhassem qualquer coisa,
aleatoriamente; por isso, mostrou a eles elementos de linguagem visual: ponto, linha, cor,
professora para que elas possam criar e produzir com individualidade, colocando no papel
sua vivência e sua visão das coisas, mas também aponta para a importância do outro, da
interação entre as crianças e com os adultos, para que estes passem conhecimentos
tentando recriá-las, mas colocando uma marca pessoal ao trabalho e transmitir uma nova
O texto menciona que reler um trabalho de outra pessoa é vivenciar esse trabalho e
produzir outro, com um novo propósito. Também explica, a inspiração para um trabalho
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artístico não vem do nada, que os estudantes, dessa forma, aprendem que é possível
produzir algo diferente usando outras obras como referência. A marca pessoal que a matéria
se refere diz respeito às preferências que o aluno coloca em seu trabalho, podendo
Esta matéria possui um tópico chamado Artes: Uma disciplina que também se
ensina e se aprende. Nele é colocado que as aulas de Artes não dependem do talento ou da
sensibilidade dos alunos, pois é uma disciplina como todas as outras, com conteúdos a
serem estudados por todos. De acordo com uma especialista na área, entrevistada para a
no momento das suas criações gráficas, propondo modelos e também criando situações em
que o aluno deve utilizar as suas próprias idéias para transformar as referências que já
possui. Assim, fica explícito que é importante a interação entre criança e adulto, sendo que
incentivando que seu aluno crie artisticamente, baseado em sua subjetividade, a partir do
alemãs”
A matéria remete à arte de dois artistas alemães - Beuys e Kiefer – e faz uma
proposta para que o professor atue em sala de aula com seus alunos de terceira e quarta
séries. Ela apresenta a idéia de que o professor deve apresentar à turma técnicas dos autores
em questão e sugerir um exercício inspirado nas idéias deles. Isso tem a intenção de fazer
com que os alunos reflitam sobre o que é arte, sempre ressaltando que estudar o passado
auxilia a refletir sobre o presente. Um dos artistas a que a matéria remete, aposta na
exposição de seus sentimentos, sendo eles bons ou ruins, em suas obras de artes, para que
todos tenham consciência de que as pessoas são, todas, a soma dessas contradições. Assim,
a professora deve, segundo a sugestão da matéria, pedir que seus alunos façam um desenho
produção gráfica, ensinando técnicas de outros artistas famosos, pedindo que inspirem-se
em suas obras. Essa atuação do professor é a mediação entre seus alunos e conhecimentos
o passado. Além disso, a matéria também ressalta que todos somos feitos de sentimentos
contraditórios, em decorrência das inúmeras vivências que tivemos e propõe que os alunos
façam um desenho a partir do que lembram sobre esses acontecimentos, que resgatem na
memória alguma situação que queira desenhar e expor. Lowenfeld (1977) defende a idéia
de que o desenho é produto do que a criança pensa e sente. Assim, quando ela começa a
desenhar, a criança está se confrontando com o seu próprio ‘eu’, com a sua experiência
nosso pensamento.
museus para professores que trabalham com artes, para que possam enfatizar os conteúdos
dessa disciplina. O texto elogia tanto os professores que buscaram uma melhor formação
para trabalhar com artes, quanto a iniciativa do governo de Mato grosso do Sul, Estado que
ofereceu este aprimoramento, por procurar garantir uma melhor formação para seus
educadores, investindo na busca de um novo jeito de ensinar Arte, uma disciplina que
mesmo sendo indispensável para a formação do aluno, muitas vezes era deixada de lado. O
depoimento de quem participou desses cursos indica que uma nova visão foi adquirida: a de
que a criança não pode mais simplesmente desenhar livremente, sem orientação, pois Arte é
uma disciplina plena e que deve ser tratada com seriedade. Assim, mais uma vez, a revista
introdução teórica, o adulto tem seu papel na produção gráfica de uma criança. Pois, como
A matéria em questão é sobre uma professora que lê poemas e textos para inspirar
seus alunos no momento de desenhar. Uma das atividades desenvolvidas pela professora foi
propor que seus alunos desenhassem, a cada aula, sobre uma estação do ano, tema já
trabalhado em sala. Segunda ela, o tema foi eficiente em despertar nas crianças a percepção
de que as cores transmitem sensações e de como as linhas podem dar a idéia de movimento.
Este tipo de projeto, segundo a revista, leva as crianças a colocarem suas impressões
professora deve ler em voz alta algum texto, por exemplo, sobre o outono, e pedir que seus
alunos, durante a leitura, vão fazendo com lápis no papel um movimento de folhas caindo.
Depois dessa atividade, a professora deve propor aos alunos que estes transformem esses
movimentos em desenhos sobre o tema. Em seguida a professora deve falar sobre as cores,
ajudando as crianças que elas se expressem melhor, coloquem suas sensações no desenho,
para uma melhor comunicação do que pensa e sente. A proposta é que a professora vá
perguntando para seus alunos “Qual cor é mais fria? Qual cor parece irradiar calor?”.
Há ainda uma outra proposta nesta matéria, abordando a exploração entre gesto e
disponibilizar diversos materiais para as crianças, que devem inventar gestos para
diferentes sensações: suave, amargo, doce, duro, rápido, simpatia, carinho, tensão, etc.
Deve evocar também o tempo e o espaço, o alto, o baixo, etc, também pode ser instigante.
Depois desse tipo de atividade a professora deve analisar com seus alunos os resultados, as
semelhanças e as diferenças.
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Esta matéria nos remete ao que Vygotsky fala sobre a ligação existente entre gesto e
desenho, constituindo-se numa expansão das teses apresentadas por ele, já que aponta para
a relação entre estes dois conceitos (gestos e desenhos) mas abordando-a em períodos bem
dramatização, demonstrando por gestos o que elas deveriam mostrar nos desenhos; os
Esta matéria narra a vivência de uma professora de Arte ao trabalhar com seus
espaço. O texto afirma que o ensino de Arte tem mais significado quando contempla
elementos da realidade em que os alunos vivem. Assim, propõe que os alunos observem a
arquitetura do seu bairro e das fotos das fachadas de suas casas, sendo reproduzidas, depois,
em desenhos de observação. Depois, propõe que observem as fotos das fachadas antigas e
por meio da imaginação, pensando no novo e no velho, e façam um desenho de uma cidade
antiga.
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utilizem uma técnica já trabalhada por eles em aulas de artes, e façam uma cidade em
miniatura.
Esta matéria remete às relações entre o uso da imaginação e à memória para que o
aluno produza graficamente. De acordo com Vygotsky (2001), a memória está mais
condiciona, também, a memória. Sendo assim, é através da associação das mais diversas
memória daquilo que vivemos, porém cada um faz assimilações únicas e, através da
subjetividade de cada um, cria coisas novas, fazendo associações com o que já viu e viveu.
O teórico explica que a imaginação não repete fielmente impressões isoladas, acumuladas
anteriormente, mas sim constrói novas maneiras de combinar as diversas impressões que
mudanças destas para que resulte em uma nova imagem, que ainda não existia, constitui o
Assim, a proposta feita pela matéria em questão da revista Nova Escola, vai de
encontro com o que Vygotsky afirma sobre a imaginação e a memória, pois propõe,
primeiramente, que as crianças façam observações de fotos e do bairro em que vivem para
que já viram para imaginar uma cidade antiga, tendo como resultado desenhos e trabalhos
Considerações finais:
A presente pesquisa buscou analisar o que a revista Nova Escola publicou entre
janeiro de 2005 a dezembro de 2006 sobre o desenho infantil e sobre como o professor deve
agir nesse momento de produção gráfica da criança. A idéia inicial para a presente pesquisa
sobre a atividade de desenho na escola era a de que este era trabalhado sem muita ou
aluno.
Porém, de acordo com a abordagem teórica utilizada para esta pesquisa, o desenho é
é um conteúdo que deve ser ensinado como qualquer outra disciplina na escola. O desenho,
como forma de arte, é uma produção cultural que deve ser valorizada, e trabalhada com
seus alunos, para que estes se utilizem dela como forma de expressão e, ao mesmo tempo,
durante este momento em que a criança está desenhando. O educador deve fazer
criança pede ajuda ou observa outras pessoas desenhando algo que ela ainda não consegue
fazer. Depois de algum tempo, ela se torna capaz de realizar sozinha aquilo para que, antes,
era necessária a ajuda do outro, na maioria das vezes. (SILVA, 2002). Para Vygotsky, é
importante que o Outro atue na zona de desenvolvimento proximal, para que um dia esta
passe a ser desenvolvimento real. E, de acordo com os textos analisados, essa é a posição
da revista Nova Escola. O outro – professor – deve ser o mediador dos conhecimentos já
produzidos sobre artes, técnicas de desenho e pintura, ajudando seu aluno diretamente.
múltiplas linguagens, sendo o desenho uma delas. Vygotsky (1998) ressalta, entre outras
função simbólica e enfatiza a sua importância no aprendizado desta última. Para ele existe
uma ligação entre o gesto e a origem dos signos escritos: as garatujas no desenho das
crianças. Em matéria da revista utilizada para esta pesquisa, foi encontrado também a
a imaginação é feita de memórias, que o sujeito faz associações e cria algo novo, de acordo
Por fim, pode-se afirmar que a revista Nova Escola, a partir das matérias analisadas,
condizentes com o tema, dentro do período definido para tal pesquisa, defende a
intervenção do professor durante a atividade de desenho na escola. Dessa forma, fica clara a
visão da revista de que, assim como a teoria histórico-cultural defende, o adulto tem seu
papel na produção gráfica de uma criança. Pois, como afirma Vygotsky (1988), o outro é
Ainda que haja um certo encontro entre os conteúdos analisados das matérias da
refere a relatos de experiências feitas com alunos do Ensino Fundamental, e isso vai ao
sentido oposto ao que foi explorado na base teórica da presente pesquisa. Vygotsky dá
crianças pequenas, e isto afeta os modos como o desenho (não) é trabalhado pelas
quer dizer que ele precisa ser explorado nos primeiros anos de vida, correspondentes à
Enfim, apesar de ter conteúdos que estão em sintonia com algumas idéias de
Vygotsky, a Revista Nova escola não aborda o desenho no contexto da educação infantil,
demonstrando que acredita que seu desenvolvimento é natural, o que não condiz com a
conhecimento produzido.
Referências Bibliográficas:
Educ. Soc. [online]. jul., vol.21, n° 71, 2000 [citado 19 Fevereiro 2003], p.79-115.
Disponível em: http:// www.scielo.br/ ISSN 0101-7330.