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Angélica Sacconi Leme

O desenho na escola: uma contribuição para o


desenvolvimento infantil

Campinas
2007
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Angélica Sacconi Leme

O desenho na escola: uma contribuição para o


desenvolvimento infantil
Monografia apresentada à Faculdade de
Educação da Pontifícia Universidade
Católica de Campinas, para a obtenção
do título de especialização em
Educação e Psicopedagogia
Institucional, sob orientação da Profa.
Dra. Maria Silvia Rocha.

Campinas
2007
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Índice:

1. Resumo......................................................................................................................04

2. O desenho e o desenvolvimento do sujeito...............................................................05

• A teoria histórico-cultural.............................................................................05

• A importância do desenho.............................................................................06

• A memória e a imaginação na teoria histórico-cultural................................11

• Outras abordagens teóricas sobre o desenho.................................................15

• Os documentos oficiais de orientações do trabalho pedagógico...................19

3. Metodologia..............................................................................................................25

4. Análise de dados.......................................................................................................27

5. Considerações Finais.................................................................................................35

6. Referências bibliográficas.........................................................................................38
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Resumo:

A maior parte da literatura sobre o desenho infantil aborda a temática sob um enfoque
basicamente maturacionista, como algo geneticamente determinado e de caráter universal. Como
conseqüência, tem-se um entendimento equivocado a respeito do grafismo, guiado por um viés
biologizante. Quanto ao tratamento dispensado ao desenho no contexto escolar, a experiência e
contato com práticas escolares indicam que é dado um pequeno espaço para esta atividade. Atitudes
como a utilização da atividade gráfica de maneira mecânica e estereotipada, via modelos prontos ou
cópias alheias ao cotidiano das crianças, confirmam o descaso por esta atividade que é, na verdade,
tão importante. A presente pesquisa utilizou a teoria Histórico-cultural como fundamento para a
análise dos dados. Esta teoria afirma que o Outro possui um papel essencial no desenvolvimento do
sujeito, pois este se constitui a partir das relações sociais que tem durante sua vida, podendo,
somente desta forma, desenvolver as funções psicológicas superiores, que se originam a partir das
relações reais vividas entre os indivíduos humanos. Assim, o Outro é importante para o
desenvolvimento total de um sujeito, incluindo as suas múltiplas linguagens, sendo o desenho uma
delas. Vygotsky (1998) ressalta, entre outras coisas, que o brinquedo, o desenho e a escrita
compartilham de um aspecto comum que é a função simbólica e enfatiza a sua importância no
aprendizado desta última. Foram pesquisadas 20 edições da revista Nova Escola, publicadas entre
os anos de 2005 e 2006, mais a edição especial sobre Arte, lançada em dezembro de 2006. Em todas
essas edições foram buscadas e analisadas matérias que falassem sobre o desenho infantil e sobre
como o professor agiu em relação a esta atividade ou como deveria agir. Foram encontradas 7
matérias relativas ao tema desta pesquisa e estas foram analisadas com o embasamento da teoria
histórico-cultural. Os objetivos desta análise foram encontrar as matérias que falassem sobre o
desenho nesta revista, qual a freqüência que ela escreve sobre o tema e o que ela aborda nessas
matérias, se a sua visão é coerente com a teoria histórico-cultural. Como resultados, foi possível
encontrar que o Outro professor é reconhecido como muito importante. A Revista Nova Escola
argumenta que o educador deve fazer intervenções no processo de grafismo de seu aluno,
orientando-o em sua produção. Porém, apesar de ter conteúdos que vão de encontro com algumas
idéias de Vygotsky, a revista pesquisada não aborda o desenho no contexto da educação infantil.
Esta constatação permitiu levantar algumas hipóteses sobre as razões da ausência de conteúdos
deste tipo, apresentadas ao final desta monografia.
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O desenho e o desenvolvimento do sujeito

• A teoria histórico-cultural:

De acordo com a teoria histórico-cultural, a mente humana é socialmente

constituída, e os instrumentos desenvolvidos pelo homem têm um papel extremamente

importante na construção de sua consciência. Vygotsky (1979) considera os instrumentos

divididos nas seguintes categorias: instrumentos técnicos (ou ferramentas) e instrumentos

psicológicos (signos). Os signos, como formas de representação, estão intrinsecamente

ligados à cultura, e entre outros sistemas, incluem a linguagem e o desenho. Os signos

fazem parte do funcionamento psicológico da criança, alterando a própria estrutura das

suas funções mentais. As operações com signos vão sendo constituídas ao longo do tempo,

através das relações sociais estabelecidas.

Vygotsky (1998) considera que, da mesma forma que a linguagem, o desenho

também é uma forma de representação, um signo. Ele vai buscar a gênese do sistema

simbólico no gesto, no brinquedo e no desenho, considerados como os precursores do

processo de desenvolvimento da linguagem escrita.

É importante ressaltar a relevância, na perspectiva histórico-cultural, do lugar

ocupado pelo conceito do “Outro” no processo de desenvolvimento da criança. O sujeito se

constitui a partir das relações sociais que tem durante sua vida, podendo, somente desta

forma, desenvolver as funções psicológicas superiores, que originam-se a partir das

relações reais vividas entre os indivíduos humanos (PINO, 2000).

Há uma importância particularmente evidente na atuação de outras pessoas no

desenvolvimento individual, em situações em que o aprendizado é um resultado desejável


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das interações sociais (OLIVEIRA, 1995); como nos lembra Martins (1997) e Duarte

(2000) para o desenvolvimento do sujeito é importante que este se aproprie dos produtos

culturais, tanto os da cultura material quanto os da cultura intelectual e, para isso, é preciso

que haja interação entre os indivíduos mais novos com os mais velhos e experientes. Essa

interação se dá, de acordo com Smolka (1993) quando indivíduos se inserem na

comunicação humana, nas trocas verbais que acontecem no âmbito social.

O outro é um parceiro perpétuo do eu na vida psíquica e a sua contribuição está nas

ações partilhadas; são essas ações do Outro que contribuem para os específicos modos de

participação dos sujeitos em sua vida (GÓES, 1993).

As experiências de aprendizagem que acontecem na interação com o outro são

vetores de desenvolvimento. Vygotsky traz em seus estudos, uma nova visão acerca da

relação entre desenvolvimento e aprendizagem. Para ele, desenvolvimento e aprendizagem

são processos distintos, mas interdependentes. Eles não coincidem, pois o processo do

desenvolvimento segue o da aprendizagem, que cria zonas de desenvolvimento proximal.

Porém a aprendizagem também pode ser decorrente do nível de desenvolvimento

alcançado, que é chamado por este autor de desenvolvimento real. (VYGOTSKY, 2001).

O desenvolvimento e aprendizagem só são possíveis a partir da presença do Outro, porque

é no plano interativo que acontecem as aprendizagens mais importantes no processo de

constituição dos sujeitos.

• A importância do desenho:
7

O desenho aparece na vida de uma criança muito antes de seu ingresso na escola e,

consequentemente, de seu primeiro contato com o desenho “escolar” propriamente dito.1 É

possível que, ao entrar na escola, a criança já tenha visto os desenhos de seu irmão, sua

mãe, seu pai, parentes, amigos, vizinhos, etc, e acaba entrando em contato com livros que

possuem gravuras, desenhos infantis de televisão, videogames, revistas, jornais, entre

outros recursos que são fontes dos mais variados tipos de representação gráfica. Portanto,

grande parte das crianças já chega à escola com vivências com desenhos das mais variadas

formas possíveis (SILVA, 2002).

O desenho infantil é, muitas vezes, objeto de estudo da Psicologia, freqüentemente

sendo utilizado por testes de inteligência, personalidade, para avaliação de distúrbios

psíquicos, desenvolvimento neuropsicomotor e nível de prontidão. Na maioria destes

modos de se utilizar o desenho, focaliza-se apenas o produto e não o processo de produção

do desenho. Isso acarreta uma análise descontextualizada da produção gráfica da criança e

gera, frequentemente, conclusões inapropriadas sobre os processos que se supõe estar

avaliando.

Quanto à inserção do desenho nos processos pedagógicos, pode-se verificar

concepções que oscilam entre dois pólos: de um lado, como atividade gráfica destituída de

valor educacional. E, do outro, a extrema instrumentalização do desenho, entendendo-se

que deve ser ensinado, dirigido, treinado, a fim de aprimorar a coordenação percepto-

motora ou outras esferas do desenvolvimento psicológico. Entre esses dois pólos está,

ainda, uma visão romantizada do desenho infantil, considerando-os pequenas obras-primas

nascidas da genialidade natural. (SILVA, 2002)

1
Esta análise se refere à maior parte das crianças, não a todas, pois o ingresso em instituições educacionais
8

O adulto tem seu papel na produção gráfica de uma criança. Porém, ele varia de

acordo com o contexto pedagógico e a inspiração teórica que orienta as decisões dos

educadores, podendo ser visto como algo nocivo e prejudicial ao pleno desabrochar das

potencialidades das crianças, ou como modelo a ser visto e copiado. (idem)

Enfim, é fato que a partir do ingresso da criança na escola, seu desenho passa a

sofrer mudanças qualitativas, pois se a influência do outro, na maioria das vezes era sutil,

ela passa, então, a ser formalizada.

“Crianças que em casa não têm oportunidade para experimentar lápis

e papel, passam a ter esta possibilidade, além de participarem junto

com colegas que sempre desenharam, de momentos onde os desenhos

serão partilhados e conjuntamente executados” (SILVA, 2002, p. 33).

Além das interações com seus colegas contribuírem, muitas vezes, para uma

mudança significativa em sua produção gráfica, o adulto, sendo ele agora o seu professor,

também tem importante papel nesta mudança. A criança passa a ter outros modelos

gráficos, podendo participar de um rico intercâmbio de experiências, ampliando a sua

experiência com desenhos.

Luria (1988) ressalta a importância da escolarização, destacando que são

ocasionadas mudanças nas formas práticas de atividades, e especialmente, a reorganização

destas, produzindo alterações qualitativas nos processos de pensamento dos indivíduos.

Especificamente em relação ao desenho, a escolarização potencialmente propicia situações

em que a criança possa desenvolver-se de maneira efetiva, modificando, ampliando e

(creches) tem se tornado mais e mais freqüente.


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elaborando seu repertório gráfico. O contato com colegas e professores, dependendo de

como o trabalho pedagógico se desenvolve com as crianças, pode ser extremamente

enriquecedor, pois o tempo todo, a criança pode ser convidada e estimulada a ver e pensar

sobre suas e outras produções e ações gráficas. Porém, é necessário lembrar aqui, que,

dependendo de como é feito o trabalho do professor, este pode ser extremamente

empobrecedor para a criança e para sua capacidade de desenhar.

Podemos observar a importância do outro nas atividades gráficas, quando a criança

requisita ajuda e/ou observa outra pessoa desenhando algo que ela ainda não consegue

fazer. Algum tempo depois, a criança consegue realizar sozinha aquilo para o que antes era

necessária a ajuda do outro, na maioria das vezes. (SILVA, 2002) Isso reflete a

importância do intercâmbio que ocorre entre a criança e outras crianças e/ou adultos

durante a realização de atividades diversas, entre as quais seguramente está o desenho. Em

outras palavras, é importante que o outro – adulto ou outras crianças - atue na zona de

desenvolvimento proximal, para que um dia esta passe a ser desenvolvimento real.

Assim, o Outro é importante para o desenvolvimento total de um sujeito, incluindo

as suas múltiplas linguagens, sendo o desenho uma delas, como já foi dito acima. Vygotsky

(1998) ressalta, entre outras coisas, que o brinquedo, o desenho e a escrita compartilham de

um aspecto comum que é a função simbólica e enfatiza a sua importância no aprendizado

desta última. Este autor mostra-nos que existe uma ligação entre o gesto e a origem dos

signos escritos: as garatujas no desenho das crianças. Afirma que em experimentos

realizados para estudar o ato de desenhar, observamos que, freqüentemente, as crianças

usam a dramatização, demonstrando por gestos o que elas deveriam mostrar nos desenhos;

os traços constituem somente um suplemento a essa representação gestual.


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Assim, tanto o desenho como o brinquedo representam, inicialmente, o que

Vygotsky considera um simbolismo de segunda ordem; ou seja, ambos apóiam-se nos

gestos para, posteriormente, se constituírem como signos independentes, transformando-se

em simbolismo de primeira ordem – simbolismo direto.

A brincadeira simbólica nos mostra essa transformação através de vários

experimentos feitos. Como por exemplo, um relógio que, em repetidas vezes estava

representando uma farmácia, quando o experimentador propôs que seria uma padaria, uma

criança, no mesmo instante, pegou uma caneta, colocou-a sobre ele e dividiu-o em duas

partes, sendo que uma seria a farmácia e a outra a padaria. “Assim, um objeto adquire uma

função de signo, com uma história própria ao longo do desenvolvimento, tornando-se,

nessa fase, independente dos gestos das crianças” (VYGOTSKY, 1998, p. 146).

O que Vygotsky pretendia assinalar é que através dos gestos que as crianças fazem,

o desenho ganha significado e, é apenas mais tarde, independentemente, que a

representação gráfica começa a designar algum objeto.

Vygotsky (1998) argumentou que os gestos são, inicialmente, o elo que entre as

garatujas produzidas pelas crianças e o seu verdadeiro sentido. E só a partir do

desenvolvimento de uma fala mais elaborada é que esta passa a ser o elo intermediário,

colocando-se (ou operando) entre o que se pretende desenhar e o desenho propriamente

feito pela criança, e isso acontece no momento em que ela passa a conseguir nomear suas

produções gráficas, e mais tarde, anunciar, anteriormente, o que pretende desenhar. Assim

como no jogo simbólico, a fala passa, gradualmente, a ter uma grande importância para a

representação simbólica, substituindo os gestos.


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Assim, é importante ressaltar que o desenho é uma linguagem gráfica, que tem por

finalidade representar, e então, pode-se dizer que o desenho está numa fase preliminar no

desenvolvimento da escrita propriamente dita.

O desenho é um produto do que a criança vê e vivencia, mas para conseguir expor

isso ela utiliza da memória, sendo esta a responsável pela capacidade de imaginação do

sujeito, como será explorado no próximo tópico.

• A memória e a imaginação na perspectiva histórico-cultural:

O pensamento humano possui uma relação com a linguagem que, pouco a pouco,

passa a ser o centro de todos os fatos psicológicos. Ao desenvolver as idéias sobre a

realidade exterior, a criança segue o mesmo caminho que desenvolve a sua linguagem, ou

seja, a criança desenvolve sua linguagem começando por palavras soltas, por substantivos

que representam objetos concretos isolados, e assim o é com a realidade externa à criança.

Ela percebe primeiramente objetos isolados. (VYGOTSKY, 2001)

É na percepção que aparece a ação, em seguida a qualidade, a relação. Pode-se

afirmar que existe um paralelismo entre o desenvolvimento da idéia racional da criança

acerca da realidade que a envolve e o domínio do aspecto exterior da linguagem.

(VYGOTSKY, 2001)

A linguagem também é responsável pela capacidade, no homem, de memorizar de

forma qualitativamente superior àquela que lhe é possível por suas características

biológicas; a memória é uma das funções psicológicas superiores que são desenvolvidas

através de sistemas de signos herdados histórico-culturalmente. Segundo Vygotsky (2001),

a memória significa um certo acúmulo de bens, não para uso imediato, mas para uma
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produção posterior. Ou seja, memorizar significa dar emprego e participação de

experiências anteriores no funcionamento psicológico atual.

É no processo de associação que o trabalho da memória deve ser relacionado às

nossas diversas atividades, já que na base de todos os mais importantes processos do

comportamento está o processo de associação, que condiciona, também, a memória. Sendo

assim, é através da associação que a memória deve estar relacionada aos outros aspectos do

comportamento humano (ibidem).

A memória auxilia na aprendizagem, tendo seu papel desempenhado pela

unificação das partes do material, na atribuição de uma coerência seqüencial dada a essas

partes, e por fim, na organização dos elementos em um todo único. De acordo com Marx

(1978), as unidades não preexistem ao todo. O todo não é uma relação entre as partes que já

existiam de forma autônoma e independente. Marx (1978) ainda diz que, embora o

conhecimento caminhe da parte para o todo, é preciso nunca esquecer que na realidade

objetiva o todo já existe antes que ele seja reproduzido no plano do pensamento. Como o

papel da memória consiste em uma atividade associativa, fica fácil a compreensão das

vantagens do ritmo, o qual dá as formas dessa associação antecipadamente. (VYGOTSKY,

2001) Ainda dentro desta função psicológica superior, Vygotsky fala da reprodução que é

feita a partir da elaboração do percebido, e consequentemente, inclui certa deformação da

realidade.

“Inversamente, as imagens da fantasia, por mais complexas que sejam,

sempre encerram elementos e até mesmo um vínculo tomado de

empréstimo à realidade e, dessa maneira, não se verifica uma

diferença entre fantasia e memorização” (ibidem: 200).


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O comportamento imagético não é menos voltado para objetos que são reais do

que quando se memoriza um objeto ou de acontecimentos de um dia anterior. Assim, o que

se deve considerar como única diferença entre um e outro comportamento não é a realidade

desses processos psicológicos, mas sim a sua relação com experiências vividas.

A diferença entre a memória e a imaginação não consiste na atividade em si desta

última, mas nos motivos que provocam essa atividade. Em ambos os casos, a própria

atividade é muito similar: o sujeito á capaz de criar complicadas formas de atividade a

partir de elementos, não existindo outro caminho para explicar a atividade da imaginação, a

não ser supondo que uma certa existência de imagens provoca outras associadas a elas

(VYGOTSKY, 2001).

Cabe dizer também sobre a memória que esta está mais vinculada com o

subconsciente e no fundo constitui aspectos do comportamento que são apenas

determinados dentro da esfera da consciência (VYGOTSKY, 2001).

A imaginação não repete fielmente impressões isoladas, acumuladas

anteriormente, mas sim constrói novas maneiras de combinar as diversas impressões que o

sujeito obteve em suas vivências cotidianas. O que é novo acaba interferindo no próprio

desenvolvimento das impressões e as mudanças destas para que resulte em uma nova

imagem, que ainda não existia, constitui o fundamento básico da atividade que se denomina

imaginação. (VYGOTSKY, 2001)

A fantasia também está relacionada com as experiências reais vividas pelo

homem, uma vez que, de acordo com a teoria histórico-cultural, o homem não pode

inventar nada que não tenha vivenciado. É na combinação propriamente dita dos elementos

em imagens, que recai o momento de irrealidade. Como por exemplo, as combinações de


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homem e cavalo, peixe e mulher, que são dados a partir de experiências reais. Da mesma

maneira que na reprodução, a fantasia tem sua fonte de realidade também em experiências

interiores “principalmente das emoções e inclinações cujo fluxo determina a própria

combinação dos elementos reais em grupos fantásticos” (VYGOTSKY, 2001: 202). Dessa

forma, a fantasia é duplamente real, sendo de um lado, por força do material que a constitui,

e do outro lado, por força das emoções vinculadas ao sujeito (VYGOTSKY, 2001). Assim,

fica fácil perceber que a função básica da imaginação é organizar as formas de

comportamento do homem jamais encontradas em suas vivências, e a função da memória é

a de organizar a experiência para formas que mais ou menos repetem o que já houve antes,

de uma ou outra forma. Pode-se dizer que a memória auxilia a imaginação do homem.

Vygotsky (2001) afirma que é a partir da imaginação que o homem pode obter o

conhecimento de objetos que jamais foram dados em sua experiência, podendo adquirir da

experiência social coletiva da humanidade, através de uma linguagem, constituída e

repassada culturalmente, graças ao uso dos signos.

Ao longo de seu desenvolvimento, a criança que mantém contato com os signos e

com a linguagem vai, na realidade, internalizando o significado das palavras. É no

significado que está a essência do pensamento, sendo “um amálgama tão estreito entre o

pensamento e a linguagem, que é difícil dizer se trata-se de um fenômeno de pensamento

ou se trata-se de um fenômeno de linguagem” (VYGOTSKY, 1979:159)

A natureza do significado por si só, na realidade, não é clara, porém, é no

significado que o pensamento e o discurso se unem em pensamento verbal. Esse

pensamento verbal não é uma forma de comportamento que vai se desenvolvendo

naturalmente, mas, sim, é determinado através de um processo histórico-cultural e contém

propriedades e leis que são específicas, que não podem ser encontradas nas formas naturais
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do pensamento e do discurso. Sendo assim, deve-se admitir que o desenvolvimento do

comportamento é essencialmente dirigido pelas leis gerais do desenvolvimento histórico da

sociedade humana.

A teoria histórico-cultural é a abordagem utilizada para a presente pesquisa, porém é

importante também conhecermos outras abordagens teóricas que falam sobre o tema

discutido, a fim de enriquecer o conhecimento sobre o desenvolvimento do grafismo.

• Outras abordagens teóricas sobre o desenho:

Segundo Moreira (1984), no momento do desenho existe uma possibilidade de ver-

se e rever-se, em que o indivíduo pode projetar-se em um movimento de dentro para fora e

de fora para dentro, e a criança, ainda que não tenha compreensão intelectual do processo,

está modificando e sendo modificada pelo desenhar.

Para esta autora, é preciso considerar, quando uma criança desenha, o que ela

pretende fazer – como contar-nos uma história, por exemplo – mas também devemos

reconhecer os múltiplos caminhos que ela utiliza para expor aos outros os seus desejos,

seus conflitos e seus receios. Porque o desenho é uma forma de linguagem, assim como o

gesto ou a fala. (MOREIRA, 1984)

A criança desenha com a finalidade de falar e poder registrar o que se quer falar,

como uma escrita, um registro. Antes de aprender a escrever, a criança se serve do desenho

como forma de registrar seu pensamento, seus sentimentos e desejos. (MOREIRA, 1984)

Como dizia Mário de Andrade (1967, apud MOREIRA, 1984), o desenho fala, chega

mesmo a ser uma espécie de escrita, uma caligrafia.


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Se há crianças que desenham para contar uma história, também há aquelas que não

desenham para não contar. Moreira (1984) relata que deparou-se com crianças que

apresentavam um desenvolvimento da linguagem verbal compatível com sua idade - que

era de 5 anos – e que o desenho não passava de garatujas. A garatuja corresponderia, no

nível do desenho, ao nível de balbucio, no nível da fala. Com a observação, constatou-se

que estas crianças possuíam uma dificuldade no nível emocional e que na medida em que

esta dificuldade foi sendo superada, o desenho foi aparecendo.

Esta é uma visão naturalística sobre desenvolvimento do grafismo, em que se há

discrepância entre o desenvolvimento da linguagem e o desenho de uma criança,

necessariamente esta possui um problema emocional. É importante lembrar que existe sim

a possibilidade de uma discrepância entre o nível de desenvolvimento da linguagem oral e o

nível do desenho ser recorrentes às questões emocionais, porém, vale ressaltar que podem

ser relativas à ausência de mediações estabelecidas em relação ao desenhar.

O que percebeu-se, nesta pesquisa de Moreira (1984), é que ao desenhar,

sentimentos e pensamentos estão juntos, sendo que as crianças que também possuem um

comprometimento intelectual acabam apresentando um comprometimento no desenho

também. Um objeto de arte é uma forma de fazer, de formar ou de construir que sintetiza

em si respostas perceptivas, afetivas e cognitivas. A arte em si é importante, pois contribui

para a formulação da experiência que se tem, pois a coloca de uma forma ordenada.

O desenho como uma possibilidade de falar, marca o desenvolvimento da infância.

Um outro teórico sobre este assunto, Lowenfeld (1977), concorda que o desenho

infantil é produto do que a criança pensa e sente, porém ele possui uma visão contrária à de

Vygotsky quanto à importância do Outro no processo de desenvolvimento da criança e,

consequentemente no processo de desenvolvimento do grafismo. Para este autor, quando


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ela começa a desenhar, a criança está pensando em alguma coisa, e é nesse momento que

ela se confronta com o seu próprio ‘eu’, com a sua experiência pessoal. Enquanto ele pensa

nela mesma, nas suas vivências, as suas reflexões se concentram naquilo que terá que

pintar, sendo um objeto ou uma experiência vivida.

Para Lowenfeld (1977), as crianças apenas incluem em seus desenhos as coisas que

elas conhecem e que são importantes para elas. É no desenho que elas vão expressar suas

preferências e também aquilo que as desagrada e as suas reações emocionais ao mundo em

que vivem. Assim, a criança combina dois fatores nesse momento: o seu conhecimento das

coisas e a sua relação individual com elas. Dessa forma, esse autor afirma que é por

intermédio das pinturas de uma criança que podemos obter uma profunda compreensão das

relações que estabeleceu com aquilo que representou graficamente. Mas essas relações não

são imutáveis, muito pelo contrário. Lowenfeld diz que à medida que a criança cresce, as

suas relações com o mundo e com o que a cerca mudam, pois ela vai conhecer mais

profundamente as coisas e, então, o seu interesse emocional também mudará. Assim, é

importante afirmar, que nesta visão, quanto maior for a variedade de suas pinturas, mais

flexível a criança será em suas relações com o mundo, pois colocando em desenho o que

sente e o que pensa sobre determinado tema ou assunto, ela consegue se expressar e,

conseqüentemente, lidar melhor com estes.

Segundo Lowenfeld (1977), as manifestações artísticas iniciadas nos primeiros anos

de vida, podem ser a diferença para essas crianças entre indivíduos adaptados e felizes e

outros, que apesar de sua capacidade para tal, acabam sendo desequilibrados e com

dificuldade em suas relações com o próprio ambiente. Para ele, a arte é procurada pelas

crianças, naturalmente, como maneira de expressão quando alguma coisa as aborrece.


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Este autor defende a idéia de que os adultos, no momento da arte infantil não devem

interferir no desenvolvimento natural das crianças, pois a maioria delas se expressa livre e

originalmente se não sofrer qualquer tipo de inibição provocada pela interferência dos

adultos. Se o adulto ficar perguntando o que a criança está desenhando e tenta ‘ensinar’

como se desenha alguma coisa, ele pode estar inibindo a criança de se desenvolver

livremente e pode até fazer com que elimine uma fase de seu desenvolvimento. A criança

pode simplesmente querer rabiscar uma folha de papel, o que também é importante para

chegar à próxima etapa, que é garatujar. Nesse momento ela está descobrindo a relação

entre o movimento de seu braço e o desenho que fica no papel.

É muito importante a coordenação entre o movimento e o efeito do movimento para

o futuro desenvolvimento de uma criança.

”Da coordenação de um de seus sentidos mais importantes depende

sua habilidade em movimentar-se, em desenvolver sua destreza

manual e, até mesmo, sua própria linguagem, pois também, neste

caso, os movimentos coordenados da língua com os efeitos que

produzem são de grande importância.” (LOWENFELD, 1977:22)

Lowenfeld (1977) ainda aponta para a importância de deixar que se descubra

sozinho e na segurança que tais ações independentes costumam inspirar na criança. Para

ela, o fato de poder controlar a própria linha que traça no papel lhe traz uma confiança em

si mesma que é muito importante para sua formação saudável. Segundo esse autor, os

adultos não têm o direito de privar uma criança disso, pois é algo que pode prejudicá-la em

sua auto-confiança para a realização de outras ações.


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Se o adulto tiver a intenção de ajudar a criança, a maneira correta de se fazer isso

seria ajudando-a a se tornar cada vez mais sensível à sua própria experiência, e para tal,

seria necessário motivá-la em sua expressão artística.

É importante observar uma nítida diferença entre as idéias de Vygotsky e

Lowenfeld. O primeiro defende a idéia de que o Outro – adulto ou outras crianças – deve

interagir no momento da produção gráfica da criança, já que é a partir dessa interação que o

sujeito aprende e faz descobertas; esta posição é exatamente o inverso do que o segundo

defende: de que o adulto não deve interferir de maneira alguma no processo artístico da

criança pois, para Lowenfeld, a interferência do adulto pode inibir a criança de se

desenvolver livremente e, pior ainda, isso pode eliminar uma fase de seu desenvolvimento.

No trabalho aqui apresentado, assume-se que a criança vai se constituindo a partir

das relações sociais que vai estabelecendo ao longo do tempo, podendo, somente assim,

desenvolver as funções psicológicas superiores. Portanto o Outro possui um papel essencial

no desenvolvimento da criança, no desenvolvimento das suas múltiplas linguagens, e o

desenho é uma delas, como os documentos oficias de orientação do trabalho pedagógico

apontam. Essa visão vai de encontro com as idéias defendidas em alguns documentos

oficiais do trabalho pedagógico,que serão melhor apresentados a seguir.

• Os documentos oficiais de orientações do trabalho pedagógico:

De acordo com os Parâmetros Nacionais de Qualidade da Educação Infantil –

documento do MEC – os educadores devem auxiliar as crianças nas atividades que não

conseguirem realizar sozinhas. Defende-se, nestes documentos, a idéia de que às crianças

devem ser oferecidas condições para que elas usufruam plenamente suas possibilidades de
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apropriação e de produção de significados no mundo da natureza e da cultura. Assim, as

crianças precisam ser apoiadas em suas iniciativas espontâneas para expressar seus

sentimentos e emoções e desenvolver a imaginação e sua capacidade de expressão.

No documento “Mais um ano é Fundamental” – MEC – (BRASIL, 2007) é

defendido o acesso à arte. Neste documento, este acesso significa possibilitar às crianças e

aos professores o contato e a intimidade com a arte para que se possa provocar novas

formas de sentir, pensar, compreender, dizer e fazer.

Diz-se que a arte como um todo – a música, a literatura, as artes visuais, as artes

plásticas – é muito importante para a formação do humano no sujeito, pois ela representa

formas de expressão criadas justamente pelo homem como diferentes possibilidades de

dialogar com o mundo em que vive. Essas diversas possibilidades de significados

constituem espaços de criação, transgressão, formação de sentidos e significados que

fornecem a nós, autores ou contempladores, novas formas de pensamento, de comunicação

e novas formas de nos relacionarmos com a vida, reproduzindo-a ou fazendo com que ela

seja um objeto de reflexão.

A arte também é uma forma de linguagem que faz parte do acervo cultural do

homem, sendo igualmente importante em relação a outras necessidades filosóficas, sociais

e psicológicas. A arte permite-nos inserir na realidade de novas formas, ampliando a nossa

visão sobre ela, já que, como autores, podemos dançar, pintar, tocar, desenhar, etc. E tudo

isso que podemos fazer através da arte, nos torna capazes de elaborar e reconhecer de

maneira sensível o nosso pertencimento ao mundo.

O documento em questão defende que é importante que se ensine à criança a arte

pura, ou seja, a arte sem modificações para que o aluno entenda-a. É necessário que as

crianças se apropriem de conhecimentos tais como a história de vida de diversos autores da


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arte, das suas obras, do contexto em que estas surgiram, para que possam entender

realmente e aprimorar a sua visão e sensibilidade quanto à arte. No contexto educacional, o

objetivo é alargar o conhecimento a cultura e o conhecimento do ser humano,

possibilitando-lhe maior compreensão da realidade e maior participação social. Assim, é

necessário o trabalho com arte. Algumas formas de fazer isso seria levando as crianças às

exposições de vários tipos, organizando oportunidades de assistirem a filmes, ouvirem

músicas de diferentes compositores, terem contato com livros de arte, de literatura, entre

outras tantas atividades.

Possibilitar o acesso à arte no contexto escolar significa permitir que as crianças e

também os professores abram caminhos para a experiência estética, provocando novas

formas de sentir, pensar, compreender, dizer e fazer. O encontro do aluno com a arte é

imprescindível, já que é através dele que novas formas de expressão e de compreensão da

vida surgem.

É importante ressaltar o que Bakhtin (2000) nos diz a respeito do contato do sujeito

com a arte. Segundo este autor, quando este encontro acontece, o sujeito pode contemplar a

arte vivenciando uma relação estética movida pela busca da compreensão de seu

significado. Quando a pessoa entra em contato com a obra, é estabelecido um diálogo com

seu autor, estabelecendo relações com outros signos, sentidos, etc. É nessa situação que o

sujeito coloca em articulação as experiências novas com as já vividas, e é isso que

enriquece a formação dele.

Dessa maneira, a escola, em seus diversos níveis de ensino, tem obrigação de

proporcionar o contato de seus alunos, e também de seus professores, com a arte,

valorizando cada contato, vivência e criação. Da mesma forma, o brincar, imprescindível


22

para o desenvolvimento do sujeito, deve ter seu tempo e espaços mais enriquecidos. Enfim,

a brincadeira e a arte devem ser tratadas com mais cuidado no contexto escolar.

A visão sobre o desenho apresentada no documento “Mais um ano é Fundamental”

– MEC – (BRASIL, 2007) é voltada para o Ensino Fundamental, porém a visão oficial

sobre o desenho para as crianças menores está no Referencial curricular Nacional

(BRASIL, 1998).

De acordo com esse documento, o desenvolvimento artístico é resultado de formas

complexas de aprendizagem e, portanto, não acontece automaticamente à medida que a

criança vai crescendo. Isso quer dizer que o desenvolvimento gráfico da criança não é uma

conseqüência automática dos processos de desenvolvimento.

A arte na criança sofre, desde cedo, influência da cultura, seja por meio de materiais

e suportes com que faz seus trabalhos, seja pelas imagens e atos de produções artísticas que

nós observamos tantos meios de comunicação existentes nos dias de hoje ou até produções

artísticas de outras crianças.

Embora seja possível identificar espontaneidade e autonomia no fazer artístico das

crianças, os seus trabalhos revelam a época e o lugar em que vivem suas oportunidades de

aprendizagem e suas idéias e seus pensamentos. As crianças têm suas próprias impressões e

interpretações sobre produções de arte e o fazer artístico. Tais construções são elaboradas a

partir de suas experiências ao longo da vida, que envolvem a relação com a produção de

arte, com o mundo dos objetos e com seu próprio fazer. As crianças exploram, sentem,

agem, refletem e elaboram sentidos de suas experiências. A partir daí constroem

significações sobre como se faz, o que é, para que serve e sobre outros conhecimentos a

respeito da arte. Dessa forma, as artes visuais devem ser consideradas uma linguagem que

tem estrutura e características próprias.


23

O desenvolvimento da imaginação criadora, da expressão, da sensibilidade e das

capacidades estéticas das crianças poderá ocorrer no fazer artístico, assim como no contato

com a produção de arte presente nos museus, livros, revistas, gibis, espaços urbanos, etc. O

desenvolvimento da capacidade artística e criativa deve estar apoiado, também na prática

reflexiva das crianças ao aprender, que articula a ação, a percepção, a sensibilidade, a

cognição e a imaginação.

De acordo com este documento oficial, é importante que no momento em que a

criança estiver desenhando, ela o faça livremente, sem intervenções diretas, podendo

explorar os diversos materiais, como lápis preto, lápis de cor, giz de cera, canetas, carvão,

giz, penas, gravetos, etc. e utilizando suportes de diferentes tamanhos e texturas, como

papéis, cartolinas, lixas, chão, areia, terra, etc. Quando o documento defende que não se

faça uma intervenção direta no momento da produção gráfica da criança ele deixa de estar

apoiado na teoria histórico-cultural, mesmo sendo usada como referência bibliográfica no

Referencial Curricular Nacional – Educação Infantil.

Este documento ainda afirma que há várias intervenções possíveis de serem

realizadas e que contribuem para o desenvolvimento do desenho da criança. Uma delas é,

partindo das produções já feitas pelas crianças, sugerir-lhes, por exemplo, que copiem seus

próprios desenhos em escala maior ou menor. Esse tipo de atividade possibilita que a

criança reflita sobre seu próprio desenho e organize de maneira diferente os pontos, as

linhas e os traçados no espaço do papel. Outra possibilidade é utilizar papéis que já

contenham algum tipo de intervenção, algum traço, uma linha, uma colagem, para que a

criança desenhe a partir disso.

É importante propor às crianças que desenhem a partir de observações das mais

diversas situações, cenas, pessoas e objetos. O professor pode pedir que observem a partir
24

do que viram. Por exemplo, as crianças podem perceber as formas arredondadas dos

calcanhares, distinguir os diferentes tamanhos dos dedos, das unhas, observar a sola do pé,

a parte superior e a parte inferior dele, bem como as características que diferenciam os pés

de cada um.

As histórias, as imagens significativas ou os fatos do cotidiano podem ampliar a

possibilidade de as crianças escolherem temas para trabalhar expressivamente. Tais

intervenções educativas devem ser feitas com o objetivo de ampliar o repertório e a

linguagem pessoal das crianças e enriquecer seus trabalhos. Os temas e as intervenções

podem ser recursos interessantes, desde que sejam abordados seus objetivos e função no

desenvolvimento do percurso de criação pessoal da criança. É preciso, no entanto, ter

atenção quanto à programação de atividades para as crianças, a fim de favorecer também

aquelas originárias de suas próprias idéias ou geradas pelo contato com os mais diversos

materiais.

O professor, conhecendo bem o grupo, pode apresentar sugestões e auxiliar as

crianças a desenvolverem as propostas pelas quais optara, indicando materiais mais

adequados a cada uma.

O que podemos observar sobre a atuação do professor no momento de criação

gráfica, de acordo com o Referencial Curricular Nacional, é que este deve intervir sim.

Porém esta intervenção deve ser feita apenas no início das atividades, orientando seus

alunos, dando possibilidades de manifestação da imaginação, orientando seu olhar prévio,

etc; fica, então, implícito que, após essa intervenção que vai guiar a criança, o professor

deve apenas observar as produções e as interações que são estabelecidas nesse momento.

O que queremos saber é qual intervenção do professor é proposta nos principais

meios de divulgação técnica para professores, como as revistas educacionais de larga


25

divulgação? Qual a importância que é dada para a atividade do desenho nas escolas? O que

se indica como o papel do professor no momento das atividades gráficas da criança? Os

textos sobre o desenho, nas revistas de grande circulação, estão baseados em qual teoria?

Assim, partindo do referencial e das indagações aqui apontadas, esta pesquisa tem

por objetivo pesquisar, descrever e analisar as matérias que foram publicadas nas edições

de janeiro de 2005 e dezembro de 2006, da revista Nova Escola, que se remetem ao

desenho na escola e a atuação do professor.

Metodologia:

O conhecimento e a compreensão da produção sobre um determinado tema são

necessários no processo da divulgação deste, a fim de colocar em ordem o conjunto de

informações e resultados colocados em grande circulação para a área da educação.

Desta forma, a análise do que tem sido divulgado a respeito do grafismo infantil,

permitiu construir uma visão geral e atual acerca da opinião dos meios de divulgação de

grande repercussão, que têm como público alvo professores, coordenadores, diretores e

demais leitores que trabalhem com educação de uma maneira geral.

A partir disso, o conhecimento assim levantado e analisado oferece a possibilidade

de abertura de novos conhecimentos sobre a intervenção de educadores durante o processo

de desenho de seus alunos.

Para a presente pesquisa foram analisadas edições da revista Nova Escola, de

janeiro do ano de 2005 até dezembro de 2006, totalizando 20 revistas; foi, ainda, objeto de

análise uma edição especial lançada em dezembro de 2006 sobre Arte. A abordagem do
26

material consistiu em procurar matérias que falassem sobre o desenho infantil e sobre como

o professor agiu nesse momento ou como deveria agir. Assim, foi feita a análise dos

conteúdos encontrados nas matérias selecionadas fazendo uma comparação com o que a

teoria Histórico-cultural diz sobre o tema. Foram encontradas matérias que arremetessem

sobre este tema em 5 edições, durante o período escolhido para a coleta e análise de dados,

mais uma edição especial, sobre Arte, lançada pela Nova Escola em dezembro de 2006.

As edições analisadas foram:

Número da edição data Título da matéria

179 Janeiro e fevereiro/ 2005 “Sementes dão um novo

sentido às aulas de Artes”

184 Agosto/2005 “Recriar dá mais sentido à

arte”

188 Dezembro/2005 “20 dicas para dominar as

modernas práticas

pedagógicas”

192 Maio/2006 “Dois craques da arte

contemporânea entram em

campo e revelam as

invenções alemãs”

198 Dezembro/2006 “Aula de arte com cara

nova”
27

As matérias da Edição Especial sobre Arte foram:

Cores contam histórias

Entre Prédios e Praças

Análise de Dados:

Revista Nova Escola Ed. 179 jan/fev/2005

Matéria: “Sementes dão um novo sentido às aulas de Artes.”

A matéria em questão narra o trabalho de uma professora de educação infantil que

defende a idéia de que o grafismo é a primeira forma de comunicação escrita das crianças.

O texto coloca em dúvida o uso de folhas mimeografadas com desenhos prontos para que

os alunos apenas pintem, e conta sobre o fato de a professora ter dado uma folha em branco

para que as crianças desenhassem livremente e que o resultado foi, por estarem

acostumadas a apenas receberem um desenho já pronto para colorirem, desenhos

estereotipados.

Para estimular a criatividade dos seus alunos desafiou-os a desenhar sementes

encontradas no pátio da escola. E assim, as crianças foram desenhar perto das árvores,

reproduzindo folhas, sementes e galhos com canetas hidrográficas em papel kraft. A


28

professora chamou a atenção para as texturas diferentes, as cores e as formas, para que o

desenho das crianças fossem o mais real possível.

Após essa fase, o trabalho com grafismo passou a ser feito em folhas de plástico,

para que cada criança pudesse apresentar para toda a turma, mostrando pelo retroprojetor.

Isso fez com que cada criança refletisse sobre seu desenho e falasse sobre ele.

O objetivo do trabalho realizado pela professora era trabalhar com as crianças seus

próprios desenhos, para que elas descobrissem seus traçados, desenvolvendo neles o gosto

pela criação e pela produção. Mas, não queria que eles apenas desenhassem qualquer coisa,

aleatoriamente; por isso, mostrou a eles elementos de linguagem visual: ponto, linha, cor,

forma, textura, etc.

Assim, podemos dizer que a matéria mostra a necessidade de haver intervenção da

professora para que elas possam criar e produzir com individualidade, colocando no papel

sua vivência e sua visão das coisas, mas também aponta para a importância do outro, da

interação entre as crianças e com os adultos, para que estes passem conhecimentos

previamente produzidos pela cultura e pela sociedade.

Revista Nova Escola Ed. 184 – Agosto/2005

Matéria: “Recriar dá mais sentido à arte”

A matéria fala sobre a utilização de obras de artistas famosos como referência,

tentando recriá-las, mas colocando uma marca pessoal ao trabalho e transmitir uma nova

mensagem com ele.

O texto menciona que reler um trabalho de outra pessoa é vivenciar esse trabalho e

produzir outro, com um novo propósito. Também explica, a inspiração para um trabalho
29

artístico não vem do nada, que os estudantes, dessa forma, aprendem que é possível

produzir algo diferente usando outras obras como referência. A marca pessoal que a matéria

se refere diz respeito às preferências que o aluno coloca em seu trabalho, podendo

predominar certas cores, um traço ou um elemento visual.

Revista Nova Escola Ed. 188 – Dezembro/2005

Matéria: “20 dicas para dominar as modernas práticas pedagógicas”

Esta matéria possui um tópico chamado Artes: Uma disciplina que também se

ensina e se aprende. Nele é colocado que as aulas de Artes não dependem do talento ou da

sensibilidade dos alunos, pois é uma disciplina como todas as outras, com conteúdos a

serem estudados por todos. De acordo com uma especialista na área, entrevistada para a

matéria, o ideal é ‘mesclar’ a visão tradicional do ensino da matéria, em que o aluno se

baseia em modelos já prontos, com a menos convencional, ou seja, aquela em que o

professor valoriza a espontaneidade da criança para criar.

A matéria defende, então, a intervenção do professor, interagindo com seus alunos

no momento das suas criações gráficas, propondo modelos e também criando situações em

que o aluno deve utilizar as suas próprias idéias para transformar as referências que já

possui. Assim, fica explícito que é importante a interação entre criança e adulto, sendo que

nesta interação o adulto é o mediador da criança com a cultura socialmente construída,

incentivando que seu aluno crie artisticamente, baseado em sua subjetividade, a partir do

que conhece e aprendeu sobre determinado tema.

Revista Nova Escola Ed. 192 - maio/2006


30

Matéria: “Dois craques da arte contemporânea entram em campo e revelam as invenções

alemãs”

A matéria remete à arte de dois artistas alemães - Beuys e Kiefer – e faz uma

proposta para que o professor atue em sala de aula com seus alunos de terceira e quarta

séries. Ela apresenta a idéia de que o professor deve apresentar à turma técnicas dos autores

em questão e sugerir um exercício inspirado nas idéias deles. Isso tem a intenção de fazer

com que os alunos reflitam sobre o que é arte, sempre ressaltando que estudar o passado

auxilia a refletir sobre o presente. Um dos artistas a que a matéria remete, aposta na

exposição de seus sentimentos, sendo eles bons ou ruins, em suas obras de artes, para que

todos tenham consciência de que as pessoas são, todas, a soma dessas contradições. Assim,

a professora deve, segundo a sugestão da matéria, pedir que seus alunos façam um desenho

com base em uma lembrança boa ou ruim.

Esta matéria apresenta, mais uma vez, a intervenção do professor no momento de

produção gráfica, ensinando técnicas de outros artistas famosos, pedindo que inspirem-se

em suas obras. Essa atuação do professor é a mediação entre seus alunos e conhecimentos

já produzidos acerca de desenhos e arte como um todo, frisando a importância de se estudar

o passado. Além disso, a matéria também ressalta que todos somos feitos de sentimentos

contraditórios, em decorrência das inúmeras vivências que tivemos e propõe que os alunos

façam um desenho a partir do que lembram sobre esses acontecimentos, que resgatem na

memória alguma situação que queira desenhar e expor. Lowenfeld (1977) defende a idéia

de que o desenho é produto do que a criança pensa e sente. Assim, quando ela começa a

desenhar, a criança está se confrontando com o seu próprio ‘eu’, com a sua experiência

pessoal. E de acordo com Vygotsky (2001), a memória é um dos principais componentes


31

da imaginação, pois resgata acontecimentos vividos e os transforma em algo novo, em

nosso pensamento.

Revista Nova Escola Ed. 198 - dezembro/2006

Matéria: “Aula de arte com cara nova”

Esta matéria conta sobre a existência de cursos oferecidos por universidades e

museus para professores que trabalham com artes, para que possam enfatizar os conteúdos

dessa disciplina. O texto elogia tanto os professores que buscaram uma melhor formação

para trabalhar com artes, quanto a iniciativa do governo de Mato grosso do Sul, Estado que

ofereceu este aprimoramento, por procurar garantir uma melhor formação para seus

educadores, investindo na busca de um novo jeito de ensinar Arte, uma disciplina que

mesmo sendo indispensável para a formação do aluno, muitas vezes era deixada de lado. O

depoimento de quem participou desses cursos indica que uma nova visão foi adquirida: a de

que a criança não pode mais simplesmente desenhar livremente, sem orientação, pois Arte é

uma disciplina plena e que deve ser tratada com seriedade. Assim, mais uma vez, a revista

Nova Escola, através desta matéria defende a intervenção do professor no processo de

grafismo da criança, orientando-a em sua produção. Assim, como foi apresentado da

introdução teórica, o adulto tem seu papel na produção gráfica de uma criança. Pois, como

afirma Vygotsky (1988), o outro é importante para o desenvolvimento total de um sujeito,

incluindo as suas múltiplas linguagens, sendo o desenho uma delas.

Revista Nova Escola, Edição especial “Arte” dezembro/2006


32

Matéria: “Cores contam Histórias”

A matéria em questão é sobre uma professora que lê poemas e textos para inspirar

seus alunos no momento de desenhar. Uma das atividades desenvolvidas pela professora foi

propor que seus alunos desenhassem, a cada aula, sobre uma estação do ano, tema já

trabalhado em sala. Segunda ela, o tema foi eficiente em despertar nas crianças a percepção

de que as cores transmitem sensações e de como as linhas podem dar a idéia de movimento.

Este tipo de projeto, segundo a revista, leva as crianças a colocarem suas impressões

pessoais no papel. A matéria ainda traz uma seqüência de sugestões de atividades. A

professora deve ler em voz alta algum texto, por exemplo, sobre o outono, e pedir que seus

alunos, durante a leitura, vão fazendo com lápis no papel um movimento de folhas caindo.

Depois dessa atividade, a professora deve propor aos alunos que estes transformem esses

movimentos em desenhos sobre o tema. Em seguida a professora deve falar sobre as cores,

ajudando as crianças que elas se expressem melhor, coloquem suas sensações no desenho,

para uma melhor comunicação do que pensa e sente. A proposta é que a professora vá

perguntando para seus alunos “Qual cor é mais fria? Qual cor parece irradiar calor?”.

Há ainda uma outra proposta nesta matéria, abordando a exploração entre gesto e

desenho, relacionando sentimentos e atitudes às palavras. Nesta proposta, o professor deve

disponibilizar diversos materiais para as crianças, que devem inventar gestos para

diferentes sensações: suave, amargo, doce, duro, rápido, simpatia, carinho, tensão, etc.

Deve evocar também o tempo e o espaço, o alto, o baixo, etc, também pode ser instigante.

Depois desse tipo de atividade a professora deve analisar com seus alunos os resultados, as

semelhanças e as diferenças.
33

Esta matéria nos remete ao que Vygotsky fala sobre a ligação existente entre gesto e

desenho, constituindo-se numa expansão das teses apresentadas por ele, já que aponta para

a relação entre estes dois conceitos (gestos e desenhos) mas abordando-a em períodos bem

posteriores ao focalizado por Vygotsky. O autor afirma que em experimentos realizados

para estudar o ato de desenhar, observamos que, freqüentemente, as crianças usam a

dramatização, demonstrando por gestos o que elas deveriam mostrar nos desenhos; os

traços constituem somente um suplemento a essa representação gestual. O gesto é uma

primeira forma de linguagem, assim como o desenho.

Revista Nova Escola, Edição especial “Arte” dezembro/2006

Matéria: “Entre Prédios e Praças”

Esta matéria narra a vivência de uma professora de Arte ao trabalhar com seus

alunos de quarta série do Ensino Fundamental a arquitetura da cidade de Belo horizonte,

com o objetivo de conscientizá-los sobre a importância de se preservar a arquitetura.

A proposta da revista para atividades desse tipo começa com a observação do

espaço. O texto afirma que o ensino de Arte tem mais significado quando contempla

elementos da realidade em que os alunos vivem. Assim, propõe que os alunos observem a

arquitetura do seu bairro e das fotos das fachadas de suas casas, sendo reproduzidas, depois,

em desenhos de observação. Depois, propõe que observem as fotos das fachadas antigas e

por meio da imaginação, pensando no novo e no velho, e façam um desenho de uma cidade

antiga.
34

Durante o processo de produção gráfica, a professora estabelece aos alunos que

utilizem uma técnica já trabalhada por eles em aulas de artes, e façam uma cidade em

miniatura.

Esta matéria remete às relações entre o uso da imaginação e à memória para que o

aluno produza graficamente. De acordo com Vygotsky (2001), a memória está mais

vinculada com o subconsciente e no fundo constitui aspectos do comportamento que são

apenas determinados dentro da esfera da consciência. O trabalho da memória está

relacionado ao processo de associação às nossas diversas atividades, já que a base de todos

os mais importantes processos do comportamento está o processo de associação, que

condiciona, também, a memória. Sendo assim, é através da associação das mais diversas

vivências que temos que a memória interfere no comportamento humano.

Vygotsky argumenta que a imaginação está diretamente relacionada com a

memória daquilo que vivemos, porém cada um faz assimilações únicas e, através da

subjetividade de cada um, cria coisas novas, fazendo associações com o que já viu e viveu.

O teórico explica que a imaginação não repete fielmente impressões isoladas, acumuladas

anteriormente, mas sim constrói novas maneiras de combinar as diversas impressões que

obteve. O que é novo acaba interferindo no próprio desenvolvimento das impressões e as

mudanças destas para que resulte em uma nova imagem, que ainda não existia, constitui o

fundamento básico da atividade que se denomina imaginação. (Vygotsky, 2003)

Assim, a proposta feita pela matéria em questão da revista Nova Escola, vai de

encontro com o que Vygotsky afirma sobre a imaginação e a memória, pois propõe,

primeiramente, que as crianças façam observações de fotos e do bairro em que vivem para

reproduzir graficamente a arquitetura local e, depois, propõe que utilizem a memória do


35

que já viram para imaginar uma cidade antiga, tendo como resultado desenhos e trabalhos

gráficos diferentes, com a subjetividade de cada um.

Considerações finais:

A presente pesquisa buscou analisar o que a revista Nova Escola publicou entre

janeiro de 2005 a dezembro de 2006 sobre o desenho infantil e sobre como o professor deve

agir nesse momento de produção gráfica da criança. A idéia inicial para a presente pesquisa

sobre a atividade de desenho na escola era a de que este era trabalhado sem muita ou

nenhuma intervenção do professor, sendo, muitas vezes, apenas um passatempo para o

aluno.

Porém, de acordo com a abordagem teórica utilizada para esta pesquisa, o desenho é

um componente muito importante no desenvolvimento do sujeito, sendo este uma das

principais formas de expressão, assim como o gesto, a linguagem escrita e a brincadeira.

De acordo com as matérias selecionadas, que se referem ao tema, a produção gráfica

é um conteúdo que deve ser ensinado como qualquer outra disciplina na escola. O desenho,

como forma de arte, é uma produção cultural que deve ser valorizada, e trabalhada com

seus alunos, para que estes se utilizem dela como forma de expressão e, ao mesmo tempo,

de constituição dos sentimentos e dos seus pensamentos.

É realmente explícita a posição da nova Escola quanto à atitude do professor

durante este momento em que a criança está desenhando. O educador deve fazer

intervenções no processo de grafismo de seu aluno, orientando-o em sua produção. Essa


36

postura condiz com a posição de Vygotsky (1988), sobre a importância do Outro no

processo de constituição e desenvolvimento humanos.

É possível observar a importância do Outro nas atividades gráficas, quando a

criança pede ajuda ou observa outras pessoas desenhando algo que ela ainda não consegue

fazer. Depois de algum tempo, ela se torna capaz de realizar sozinha aquilo para que, antes,

era necessária a ajuda do outro, na maioria das vezes. (SILVA, 2002). Para Vygotsky, é

importante que o Outro atue na zona de desenvolvimento proximal, para que um dia esta

passe a ser desenvolvimento real. E, de acordo com os textos analisados, essa é a posição

da revista Nova Escola. O outro – professor – deve ser o mediador dos conhecimentos já

produzidos sobre artes, técnicas de desenho e pintura, ajudando seu aluno diretamente.

O outro é importante para o desenvolvimento total de um sujeito, incluindo as suas

múltiplas linguagens, sendo o desenho uma delas. Vygotsky (1998) ressalta, entre outras

coisas, que o brinquedo, o desenho e a escrita compartilham de um aspecto comum que é a

função simbólica e enfatiza a sua importância no aprendizado desta última. Para ele existe

uma ligação entre o gesto e a origem dos signos escritos: as garatujas no desenho das

crianças. Em matéria da revista utilizada para esta pesquisa, foi encontrado também a

valorização do gesto da criança no momento da produção gráfica, condizendo com a

afirmação de Vygotsky de que é comum as crianças usam a dramatização, demonstrando

por gestos o que elas deveriam mostrar nos desenhos.

Ainda é possível encontrar, em algumas matérias analisadas, a valorização da

memória e da imaginação no momento de criar desenhos. De acordo com Vygotsky (2001),

a imaginação é feita de memórias, que o sujeito faz associações e cria algo novo, de acordo

com a sua história e o seu contexto de vida.


37

Por fim, pode-se afirmar que a revista Nova Escola, a partir das matérias analisadas,

condizentes com o tema, dentro do período definido para tal pesquisa, defende a

intervenção do professor durante a atividade de desenho na escola. Dessa forma, fica clara a

visão da revista de que, assim como a teoria histórico-cultural defende, o adulto tem seu

papel na produção gráfica de uma criança. Pois, como afirma Vygotsky (1988), o outro é

importante para o desenvolvimento de um sujeito, e nesse desenvolvimento, inclui as suas

múltiplas linguagens, sendo o desenho uma delas.

Ainda que haja um certo encontro entre os conteúdos analisados das matérias da

revista Nova Escola e a teoria histórico-cultural, há um baixo investimento quantitativo nas

indicações sobre a importância da atividade de desenho. O pouco que foi publicado se

refere a relatos de experiências feitas com alunos do Ensino Fundamental, e isso vai ao

sentido oposto ao que foi explorado na base teórica da presente pesquisa. Vygotsky dá

grande importância à constituição da capacidade gráfica, e esta se inicia no período

correspondente à Educação Infantil. É importante lembrar também que o desenho, como

arte visual é amplamente abordado no documento oficial Referencial Curricular Nacional

para a Educação Infantil, sendo considerado de grande importância para o desenvolvimento

infantil e, consequentemente, para as escolas de educação infantil.

Onde estariam os relatos de experiência neste segmento? Uma das hipóteses

possíveis para a ausência dessas experiências pede ser considerada resultante da

manutenção de uma concepção naturalística quando se trata de abordar o grafismo de

crianças pequenas, e isto afeta os modos como o desenho (não) é trabalhado pelas

professoras de crianças menores. De acordo com este documento, o desenvolvimento

artístico é resultado de formas complexas de aprendizagem e, portanto, não acontece

automaticamente à medida que a criança vai crescendo. Ou seja, o desenvolvimento gráfico


38

da criança não é uma conseqüência automática dos processos de desenvolvimento, o que

quer dizer que ele precisa ser explorado nos primeiros anos de vida, correspondentes à

educação infantil. O Referencial Curricular Nacional, ainda dá várias sugestões de atuação

do professor em atividades gráficas e artísticas, o que demonstra uma grande importância

do desenho para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças na Educação Infantil.

Enfim, apesar de ter conteúdos que estão em sintonia com algumas idéias de

Vygotsky, a Revista Nova escola não aborda o desenho no contexto da educação infantil,

demonstrando que acredita que seu desenvolvimento é natural, o que não condiz com a

teoria histórico-cultural e com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil.

É importante ressaltar que há a necessidade de novas pesquisas sobre o tema serem

realizadas, contribuindo mais para a produção científica e para o compartilhamento do

conhecimento produzido.

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