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CRIAÇÃO E CRISTALIZAÇÃO
NA DIALÉTICA DO ENSINAR E APRENDER:
um estudo em torno dos sentidos que professoras atribuem
as suas práticas pedagógicas
CRIAÇÃO E CRISTALIZAÇÃO
NA DIALÉTICA DO ENSINAR E APRENDER:
um estudo em torno dos sentidos que professoras atribuem
as suas práticas pedagógicas
FLORIANÓPOLIS, 2005.
Se eu explicasse
Como que cheguei aqui
Acabaria com toda magia
Que foi vir.
(...)
Bento Nascimento
Poeta Itajaiense
AGRADECIMENTOS
Ao meu pai, já não mais neste plano, mas sempre presente em meus pensamentos.
Um homem que buscou ser feliz em todos os momentos da vida,
Inventando alegria até nos momentos de tristeza.
RESUMO
Este trabalho tem como finalidade discutir de que forma o “fazer pedagógico”
enquanto atividade singular, mas inserida numa coletividade, apresenta-se como processo
A partir destas respostas, selecionei cinco professores para que, com o recurso da
sartreana como base ontológica, observo que esse “fazer pedagógico” se faz atividade
This project has as purpose to examine how the "pedagogic activity", while
one’s development. This way I investigated, close to public schools teachers of 1st to 4th
grades, the directions attributed to pedagogic activity that they carry through.
To accomplishment this research, I contacted the teachers from the city of Penha
teachers. Based on their answers, I selected five teachers to interview so I could give
them voice trying to understand the process of "creation and crystallization" that
ontological base, I observed that this "pedagogic activity" becomes creative activity, not
RESUMO.................................................................................................................... 112
ABSTRACT ................................................................................................................ 113
SUMÁRIO .................................................................................................................. 114
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 115
1. UM LUGAR TEÓRICO ...................................................................................... 119
1.1. CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO ...................................................................... 119
1.2. ATIVIDADE DOCENTE.................................................................................. 124
1.3. FAZER-SE PROFESSOR ................................................................................. 127
1.4. ATIVIDADE CRIADORA ............................................................................... 131
2. O CAMINHO PERCORRIDO.......................................................................... 137
2.1. A ESCOLHA DO GRUPO PESQUISADO ...................................................... 137
2.2. O CONTATO COM OS PROFESSORES ........................................................ 139
2.3. O PRIMEIRO ENCONTRO: O QUESTIONÁRIO .......................................... 140
2.4. OUTROS ENCONTROS: AS ENTREVISTAS ............................................... 141
2.5. CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DOS DADOS ................................................. 146
3. APRESENTANDO OS PROFESSORES ........................................................ 150
4. CINCO HISTÓRIAS E UM LUGAR COMUM ............................................ 152
5. OS SENTIDOS PRODUZIDOS NO FAZER PEDAGÓGICO ................. 165
5.1. O FAZER PEDAGÓGICO: ALGUMAS MEDIAÇÕES ................................. 165
5.1.1. MEDIAÇÃO DO OUTRO .................................................................. 165
5.1.2. MEDIAÇÃO DE INSTRUMENTOS MATERIAIS E SIMBÓLICOS
.............................................................................................................................. 174
5.2. SOBRE O “FRACASSO” ................................................................................. 176
5.3. DIFICULDADES DO/NO CONTEXTO .......................................................... 179
6. SUPERANDO E CONSERVANDO: OS SENTIDOS QUE SE OBJETIVAM
NA DIALÉTICA DO ENSINAR E APRENDER ............................................... 185
6.1. AS TRAJETÓRIAS VIVIDAS NO MOVIMENTO DE CONSTITUIR-SE
PROFESSOR ............................................................................................................ 185
6.2. CRIAÇÃO E CRISTALIZAÇÃO NO FAZER PEDAGÓGICO ................. 190
7. SINTETIZANDO A ANÁLISE, VISANDO UMA FINALIZAÇÃO ........... 200
FINALIZANDO, SEM FECHAR A CONCLUSÃO.......................................... 206
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ................................................................. 210
ANEXOS ..................................................................................................................... 215
Anexo 01 – Questionário .......................................................................................... 216
Anexo 02 – Roteiro para as Entrevistas ...................................................................... 12
Anexo 03 – Apresentação dos Dados do Questionário .............................................. 15
INTRODUÇÃO
mediações.
Autores como Nóvoa (1995), Lelis (1989), Carvalho (2002) defendem que uma
fazer docente. Estes autores discutem que os obstáculos desse processo serão superados
sua prática.
entre formação (básica e continuada) e prática. Para o autor, analisar o trabalho docente é
discute ainda que a alienação do trabalho docente é gerada pela ruptura entre significado
professor.
Com base nestas leituras, percebi que a afetividade tinha papel coadjuvante neste
fazer, assim, busquei o auxilio de Sawaia (1999) e Sartre (1965) para entender que a
desse processo. Acreditando que falar sobre o fazer permite aos professores uma reflexão
apreendi que se tratava de um tema complexo, por suas concepções históricas, superadas
para uns e cristalizadas para outros pelas dificuldades objetivadas no contexto em que se
como processo inacabado, um fazer-se mediado pelo outro. Para tanto, instrumentalizei-
discutem a questão da atividade criadora; Zanella (2002) que escreve sobre atividade
mediada; Sartre (1978b) que, por sua vez, aponta para a importância do projeto como
determinante do “ser quem se é”. Desse modo, o principal objetivo desta pesquisa de
mestrado foi investigar os sentidos que professoras da escola pública atribuem às suas
até tornarem-se mulheres-professoras. Para isto, busquei resgatar suas memórias, afetos,
Utilizando a teoria sartreana como base ontológica, no capitulo que intitulei "Um
lugar teórico" discuto a “constituição do sujeito”, processo pelo qual o sujeito chega a ser
quem é, e assim apresento a visão de homem que transitou neste fazer a partir de uma
professor, que lança ao aluno desafios de modo que na apropriação do conhecimento este
seja re-significado, a partir de Freire (1978), Becker (1994) e Zanella e Cord (1999).
Através de leituras de Zanella e Da Ros (2002), Gatti (2000) e Basso (1998) passo a
(...). Portanto, com base nestes dados apresento um perfil destes professores.
professoras, e por mais que retratem concepções coletivas deste fazer revelam
Por constituição entende-se o processo pelo qual o sujeito se faz alguém, ou seja,
o movimento pelo qual um sujeito chega a ser quem ele é e não outra pessoa. Sua
essência, seu Eu é resultado de seus atos, daquilo que faz de si, daquilo que projeta ser, a
pelo fazer do pesquisador e assim direciona suas ações. Neste trabalho, procurei fazê-la a
como base ontológica a qual entende o sujeito como “um ser que se constitui ao mesmo
tempo como corpo e consciência, em que esta só pode ser compreendida como sendo
1
Sartre empreendeu toda sua proposta numa leitura crítica de três sistemas filosóficos, a saber: o
existencialismo, a fenomenologia e o materialismo histórico-dialético de Marx.
O sujeito, de acordo com esta perspectiva teórica, nasce biológico e social; nasce
O sujeito, diferente dos seres que são em-si2, não tem sua subjetividade
Porém, a dimensão subjetiva é apenas uma das dimensões do sujeito, pois é fundamental
que este exista enquanto corpo, na medida em que é, psicofisicamente que se estabelece
subjetividade (Maheirie, 2002a). Souza Santos (1995), define isto, quando entende que o
modo, ela não pode mais ser entendida como rígida ou imutável pois é resultado de
processos de identificação.
como chegou a ser quem é. O futuro enquanto projeto é a dimensão subjetiva que dirige o
2
Ser em-si define-se por si mesmo, não necessitando ser “relação”, para existir. Para melhor
compreensão ver Maheirie, (2002a).
3
Dialética deverá ser entendida como síntese inacabada e aberta da relação objetividade –
subjetividade. Neste sentido, o conhecimento é entendido como sendo processo, movimento de
totalizações e nunca uma totalidade acabada. (Sartre, 1978b, Maheirie, 2002a).
sujeito por um desejo, por aquilo que ainda não é mas busca vir-a-ser. A esse respeito,
supera pelo projeto a condição que lhe é dada transcendendo-a para objetivar-se pelo
realizando uma possibilidade entre todas que o indivíduo se objetiva (...)”. (p.153)
que matéria, uma matéria humanizada. Este é o sentido atribuído por Sartre no cogito “a
para o sujeito, a possibilidade de observar-se, fato este que o determina como único
“existente” porque somente ele é capaz de distanciar-se de si mesmo e de seus atos, para
4
Na reflexão crítica, o sujeito se distancia da situação em que está envolvido e se posiciona frente
à situação. Por outro lado, na reflexão espontânea, não há crítica, o sujeito não se posiciona frente
sua ação. Para melhor entendimento, ver Maheirie, 2002a.
Para a realidade humana, existir é sempre assumir o ser, isto é, ser-se responsável
por êle, em vez de o receber do exterior como o faz uma pedra. E além do mais,
existente pode-se ‘escolher’ êle mesmo no seu ser, ‘pode-se ganhar, pode-se
Existir é assumir o ser. Esta responsabilidade pode ser entendida por aquilo que
Sartre chamou de “escolha”. O conceito de “escolha” não deve ser compreendido como
inserido. Significa, simplesmente, que o sujeito não é unicamente produto das forças
externas, mas que ele produz e é produzido em seu contexto. A escolha permite ao sujeito
historicamente constituído. Além disso, “escolher ser isto ou aquilo é afirmar ao mesmo
tempo o valor do que escolhemos, (...)”. (Sartre, 1978a, p. 7), já que nas relações
significados e sentidos.
siempre una formación dinámica, variable y compleja que tiene varias zonas de
estabilidad diferente. El significado es sólo una de esas zonas del sentido, la más
partir “de instrumentos [signos] construídos pela cultura e pelos outros que, quando
consigo mesmo”. (Aguiar, 2002a, p.101). A partir destes sentidos o sujeito se apropria,
passa a “entender” o mundo, e assim definir-se no presente como o sujeito que “está
sendo”.
O sujeito não pode anular seu passado, mas pode re-significá-lo para então fazer
histórico que falamos, assim, tudo o que tem de humano nele provêm da sua vida em
Segundo Pino (1995), dizer que o sujeito tem natureza social, não é apenas dizer
que nasceu entre outros sujeitos, mas é dizer que suas ações são socialmente planejadas e
5
Aqui mantive o termo “internalizados” por se tratar de uma citação. Particularmente, optei por
termos como “apropriar-se” (Zanella, 2004) ou subjetivar (Maheirie, 2002a) para descrever o
processo de singularização do que se produz no coletivo, evitando a dicotomia externo/interno ou
exterior/interior, a qual se mostra incoerente como uma concepção histórico-dialética do sujeito.
estruturadas; é acreditar que ele é o resultado do processo sócio-histórico no qual se
desenvolve e, sendo assim, por meio das mediações que estabelece, apropria-se de
ser de razão que trabalha, como ser ético que compartilha e se comunica, como
ser afetivo que experimenta e gera prazer e como ser biológico que se abriga, se
professoras, sujeitos que, enquanto produto e produtor de sua própria história, permitem
condição, está o professor, sujeito de significações que passa a ser mediador do processo
docente passa a ser conceituada diferentemente, pois de acordo com Zanella e Cord
(1999), “sempre que as pessoas entram em contato, podem aprender umas com as outras,
destes. A atividade docente deve nesta perspectiva, ampliar conceitos, permitindo que a
transforme seu meio. Para Zanella e Cord (1999), o planejamento é o primeiro passo da
atividade se destina.
Este processo precisa contemplar: os aspectos contextuais e as condições de vida
mas que o professor ouse e torne-se provocador, lançando constantemente desafios aos
conhecimentos sobre o mundo em que vive e vai sendo sujeito do mundo. A ação prática
da criança sobre o mundo lhe permite, através de situações mediadas pela cultura, tornar-
Através de uma ação mediadora o professor orienta essas ações práticas, que
Porém, o processo ensino-aprendizagem não acaba nunca, é uma teia que se tece a cada
O sujeito compreendido neste trabalho é sujeito social, como nos diz Pino (1995),
não porque convive com vários sujeitos, mas porque suas atividades são planejadas e
O professor, portanto, sujeito social, tem sua atividade mediada. Desse modo a
atividade docente, passa a ser entendida como um “fazer-se”, pois na ação o sujeito-
professor produz sentidos, transformando a si, aos sujeitos para o qual a ação se destina e
a própria atividade em si. Desse modo a atividade docente, ensinar e aprender, consiste na
no mundo.
Inicio minha reflexão sobre fazer-se professor, a partir de uma compreensão sobre
a relação entre formação docente básica e o modo como os conhecimentos teóricos ali
professores produzem sobre seu fazer é falar de prática que nasce num lugar teórico, que
entendo deva ser conhecido. Portanto, num processo dialético, as memórias sobre a
A formação de professores tem sido descrita por autores como Nóvoa (1995) e
Lelis (1989). Para estes autores a formação do professor tem oscilado entre modelos
formando sujeitos que se comprometam com seu fazer, profissionais autônomos que se
preocupem com a autonomia daqueles aos quais se propõe ensinar. Como diz Zanella e
Da Ros (2002)
na formação do professor, (...), é importante que os currículos transcendam sua
aprender. (p.01)
desse modo contemplar a reflexão sobre seu saber e seu saber fazer.
reflexão, pois estas são indispensáveis onde a mudança de uma delas implica o
deste processo. Vasconcelos (2003) entende a formação docente como processo, discute o
autora
desta construção participa a formação que precisa ser vista como uma totalização, uma
é também um fazer-se.
sendo uma atividade que se destaca num momento de “inspiração”, uma atividade
atividade criadora se dá todas as vezes que a partir do contexto que o sujeito imagina,
social, necessariamente mediado, como pode ser visto em Vygotsky (1990): “Llamamos
reflejos de algún objeto del mundo exterior, (...)” (p.7). A atividade humana não cria o
“novo” do nada, como mágica, a criação está diretamente relacionada com o contexto e
das experiências de vida que ajudam o sujeito a conhecer o mundo que o rodeia, criando e
não é repentina, mas lenta e gradual, ascendendo das formas mais simples às mais
complexas. A criação tem como base a possibilidade de compor uma imagem a partir dos
considera a imaginação como fundamento da atividade criadora, para isso descreve quatro
(p.15)
A primeira vinculação está na percepção da realidade. Perceber a realidade é, a
partir de sua realidade física estabelecer uma síntese de significações e assim degradar ou
acumuladas pelo sujeito, pois é com base nestas experiências que o sujeito cria novas
Ao criar novas imagens e estruturar suas fantasias o sujeito cria novas combinações entre
enriquecendo suas experiências sem necessitar vivenciá-las e essa apropriação passa a ser
experiências sociais diversas das nossas, ampliando nosso horizonte compreensivo, graças
a nossa capacidade imaginativa”. (Maheirie, 2002, p.06). Sendo sujeito social, o homem
cria imagens guiadas por suas experiências e pelas experiências dos outros, criando novas
emocional. Toda imagem criada pela fantasia gera uma emoção, assim como toda emoção
gera uma imagem correspondente. Essa emoção então, “traz uma dimensão que se
objetiva no corpo, que implica numa seleção de pensamentos e que se constitui na seleção
independente da motivação que leva o sujeito à emoção, ela tende a manter-se pois as
qualidades deste mundo mágico são vividas como significando o mundo. (Maheirie,
2003. Sartre, 1965). Toda atividade criadora gera elementos afetivos pois a fantasia
interfere nos sentidos e esses são vividos como se fossem reais, por aqueles que os
experimenta.
A emoção atravessa todas as dimensões do sujeito e é a partir delas que ele re-
significa o mundo. A emoção, deste modo, produz no sujeito uma necessidade e ela se
torna fundamento para o processo criativo. Sobre emoção Sartre (1965) escreve que ela
existencial, o todo da realidade humana”. (p. 20), e ainda, diz Sartre “na emoção é o corpo
que, dirigido pela consciência, altera as suas relações para com o mundo para que o
mundo altere as suas qualidades”. (p.57). A emoção é, portanto uma forma de apreender
A emoção é discutida também por Maheirie (2002) que concordando com Sartre,
aponta que
mundo de acordo com nosso estado de ânimo, porque, se estamos alegres, corpo,
semejante a ningún outro objeto real; pero al recibir forma nueva, al tomar nueva
A atividade só pode então ser definida como criativa quando se objetiva, quando
se materializa, quando apresenta um produto final, que, para existir, teve como base a
(Maheirie, 2003).
Desse modo, quando o professor cria algo novo no seu fazer pedagógico, ele está
recombiná-la. Este processo o faz dar um salto qualitativo no fazer e, assim, ele
primeiramente ao planejar a atividade a ser ensinada, faz uso da percepção que o leva a
criativas.
2. O CAMINHO PERCORRIDO
p.113).
escola à 4ª série.6
6
As expressões Escola Isolada, Escola Básica e Grupo Escolar são utilizadas nesta pesquisa, por
serem assim definidas no Município de Penha.
O município de Penha7 tem 60,3 km² de extensão territorial. Penha tem 18.229
habitantes, sendo que na temporada a população ultrapassa 120.000 turistas, pois do seu
território, 31 km são de orla marítima, [composto por 19 praias] ladeadas por costões
recobertos pela Mata atlântica. Sua área rural bastante reduzida é composta pelos bairros
São Nicolau, São Cristóvão, Santa Lídia e São Francisco de Assis, onde a agricultura é de
subsistência.
município, só perdendo para o Parque Beto Carrero, que foi inaugurado em 1991 dando
geral.
nestes contextos, especialmente por esta experiência profissional atual, onde pude
observar uma certa “apatia” dos professores frente a suas práticas, um “estado de
7
As informações apresentadas sobre o município, foram pesquisadas em Farias (2002) e Souza
(2003).
8
O conceito de “letargia emocional” é definido como uma dificuldade de se mobilizar, em função
de não se sentirem no direito de se emocionar e, principalmente, por não se sentirem “gente” (ver
Sawaia, 1997a, p.157).
teórico que vê o aprendiz como sujeito de um processo de apropriação da cultura, suas
de um sujeito crítico e uma prática pedagógica preocupada com a utilidade do que está
No início do ano letivo de 2004 entrei em contato com a secretaria para reiterar
9
O questionário utilizado nesta pesquisa foi elaborado e faz parte de um projeto integrado de
Pesquisa, entre a UFSC, UNIVALI e FURG, que tem como título “Constituição do Sujeito e
Atividade Criadora: Investigando professores das séries iniciais do ensino fundamental em
contextos de formação continuada”, coordenado pela profa. Dra. Andréa Vieira Zanella, cujo
objetivo foi “identificar o perfil socioeconômico e cultural dos professores”. A única modificação
feita no questionário foi o acréscimo de três questões descritivas (LXXVI, LXXVII, LXXVIII),
sobre a escolha e prática profissional dos professores. Ver roteiro do questionário conforme anexo
1.
professores seriam informados dos objetivos da pesquisa, e aqueles que aceitassem
A opção pelo questionário como técnica para coleta de dados foi realizada com
base em Richardson (1999), quando escreve que uma das grandes vantagens desta técnica
10
Os professores responderam as questões interrogando a pesquisadora sobre a questão LXXV. A
maioria dos professores questionava “quem poderia ser chamado chefe de família uma vez que
homens e mulheres trabalham com intuito de dividir as despesas domésticas”. Os professores
foram orientados a anularem a questão.
11
Conforme roteiro, Anexo 02.
Em orientação, selecionamos cinco professores, a partir de dois critérios de
sua experiência de vida, você identifica pessoas/acontecimentos que relacione com sua
prática pedagógica?”. Foram selecionados nove (09) professores que responderam estas
O segundo critério utilizado diz respeito à questão XXVII, “Se você tivesse outra
opção, continuaria sendo professor?”, dos nove (09) professores já escolhidos, foram
do profissional”, “me sinto realizada”, “é a profissão que amo”, “amo o que eu faço” e
assim as professoras Léia, Rita, Nelci, Irene e Inês12 foram escolhidas para esta pesquisa.
Para realização das entrevistas, novo contato foi feito com a secretaria da
educação. A Secretária, então, sugeriu que as entrevistas fossem organizadas nos horários
de educação física dos professores, de modo a não atrapalhar suas atividades em sala de
aula e também não exigir deles horário extraclasse. Por telefone entrei em contato com
essas professoras que logo aceitaram participar da entrevista e assim marcamos data e
horário. Entrei também em contato com as diretoras para que permitissem a realização
12
Os nomes dados aos entrevistados são fictícios.
As entrevistas foram organizadas em dois momentos. O primeiro com duração
professores sobre sua prática pedagógica. Ao final do primeiro encontro com cada
professora, marcamos novo contato e sugeri às professoras que trouxessem objetos que,
história de vida do educador e com isso nossa entrevista durou entre 20 e 30 minutos,
sendo que este contato com o professor foi marcado para a semana seguinte, o que me
permitiu encerrar os dois contatos com o mesmo professor, antes de marcar o contato com
A primeira entrevista foi realizada com a professora Inês, que me recebeu com um
grande sorriso quando cheguei a sua sala de aula. Os alunos foram encaminhados para a
aula de educação física e nos sentamos em sua sala para iniciarmos a entrevista. Inês disse
não se importar que a entrevista fosse gravada e brincando disse: “minha voz não é boa
contato não foi muito diferente. Inês se mostrou disposta e muito sorridente quando falava
Para esse contato, Inês não trouxe o material que sugeri, justificando “falta de tempo”.
minutos. Ao final da aula de educação física (45 min), Rita saiu da sala por alguns
minutos e pediu que a diretora “olhasse” seus alunos. Voltou para a sala dizendo “tudo
resolvido, vamos continuar”. Nosso segundo contato não foi menos agradável, Rita disse
ano anterior com figurinhas e recadinhos entregues pelas crianças, folheou o caderno
escola, porém num horário de folga, pois acreditava que durante a aula de educação física
convidou a ir até sua sala, onde autorizou a gravação da entrevista. Sempre contida em
suas palavras foi a mais rápida entrevistada, (duração de 30 minutos). Após o término da
minha pesquisa, acompanhou-me até o portão da escola. O segundo encontro também foi
agradável, e Nelci continuou se mantendo contida naquilo que falava. Não trouxe o
material que eu havia pedido, justificando ter “filhos pequenos”, o que a compromete “na
organização do tempo”.
A quarta entrevistada foi Léia. Mostrou-se simpática e com uma conversa fluente.
Durante toda a entrevista manteve-se bem humorada revelando esforço em completar suas
respostas com exemplos. Léia parecia contar sua história profissional não para mim, mas
para si mesma, com nítido esforço em relembrar detalhes de sua formação profissional.
Para esse encontro, trouxe mensagens, folhas mimeografadas com atividades que,
segundo ela, haviam “dado certo” nos anos anteriores e que eram suporte para seu
planejamento atual.
A quinta entrevista foi com Irene. Logo que cheguei, pediu-me que realizasse as
duas entrevistas num único dia, pois entendia que os horários de educação física são
muito importantes para organizar seu planejamento. Conversamos sobre seu pedido e
pausadamente, pouco gesticulava e seu tom de voz era bastante baixo. Manteve-se
em meu trabalho.
conversación intensa que exige el mismo sumo interés y concentración por parte del
entrevistador que por la del entrevistado”. (p.188). Desse modo, é necessário que os
participantes se sintam parte do trabalho a ser pesquisado para que a entrevista, como diz
Richardson (1999), seja uma técnica que permita o desenvolvimento de uma estreita
ambientais e pessoais que se relacionam com o problema a ser questionado. Nessa lógica,
“... la entrevista deja de ser simplesmente una técnica más, para convertirse en un proceso
de las diferentes formas de expresión del sujeito...”. (González Rey, 1997, p. 247).
González Rey (1997) diz que, da fala do sujeito, o pesquisador deve considerar
importantes tanto as reflexões que o sujeito faz do tema pesquisado, quanto as fábulas e
os exageros que conta, pois, em toda a fala há significados que refletem como o sujeito
pensa, qual seu status social, cultural, ideológico, enfim que sentidos e significados
procurei resgatar a história profissional dos sujeitos e os sentidos que produzem a respeito
dados.
que (...) buscaria investigar as dimensões públicas e privadas de sua fala. Isso
relações dessa sua prática tanto com o contexto imediato quanto com a trama de
Essa perspectiva é complementada por Aguiar (2002b) quando a autora diz que
histórico. Para compreender a fala de alguém, não basta entender suas palavras
Para articular as falas dos sujeitos, o primeiro passo, após a transcrição das fitas,
foi a organização de todas as falas que diziam respeito aos objetivos da pesquisa. Assim,
aquelas a respeito dos sentidos produzidos sobre a prática pedagógica. Para a história
produzidos sobre a prática pedagógica, organizei um quadro com dois núcleos de análise
organizadas em quatorze categorias de análise, e ainda doze subcategorias para que então
tudo fosse analisado. No prosseguimento, realizou-se uma exposição analítica da história
sentido ou dos sentidos de um texto”. (p.165). Olabuénaga (1999) corrobora com este
pensamento quando diz que análise de conteúdo é uma técnica para ler e interpretar o
escolhidas a posteriori, por entender que elas deverão ser “(...) criadas, à medida que
surgem nas respostas, para depois ser interpretada à luz das teorias explicativas”. (Franco,
13
“Núcleos de significação” é a expressão utilizada por Aguiar (2000) para referir-se à
organização dos temas centrais após a coleta de dados. Portanto, núcleos de significação são
entendidos como categorias de análise que, nesta pesquisa, foram determinadas a posteriori.
A análise se constituiu num movimento que pretendeu ir da situação singular para
a situação coletiva em que o sujeito está inserido, voltando as suas vivências específicas,
buscando entender suas ideologias, sua produção de valores, suas aspirações, suas
significações, seu projeto existencial, sua objetivação concreta”. (Maheirie, 1994, p.126 -
grifo do autor).
(...) as significações vêm do homem e de seu projeto, mas se inscrevem por toda
parte nas coisas e na ordem das coisas. Tudo, a todo instante, é sempre
passado.
3. APRESENTANDO OS PROFESSORES14
apenas dois entrevistados são homens. Eles também representam uma população jovem
já que dez deles possuem idade inferior a 33 anos e apenas seis tem mais de 40. Porém,
apesar de jovens, quinze professores possuem mais de 11 anos de profissão e apenas seis
quatorze deles afirmam ser motivados pela “necessidade de atualização”. Destaco ainda,
na profissão, onze professores afirmaram ter realizado sua escolha por “aptidão ou
14
Ver dados completos do questionário no anexo 03.
vocação”, sete por “afinidade com crianças”, apenas um seguiu a “tradição da família” e
que quatro mudariam de profissão por ser esta mal remunerada, dois mudariam por
salário comprometido com as despesas da família, mas apenas quatro deles se revelam
como único provedor da família. O fato de não serem único provedor talvez possa ser
sendo que apenas seis afirmaram necessitar complementar o salário, o fazendo através de
“costureira”.
professores possuem computador em casa e doze afirmam ter computador no seu local de
trabalho. Porém, nove professores afirmaram não usar programas educativos, quinze não
possuem e-mail, quatorze não acessam chats, e treze não usam o computador para
pesquisa, podendo assim afirmar que nove professores nunca fazem uso do computador.
prática pedagógica que realizam, entendia ser necessário dar voz a estas professoras e
conhecer os caminhos trilhados para chegarem a ser quem são. Para isso, entrevistei cinco
professoras com objetivo de também resgatar sua história de vida profissional. Optei por
contar juntas estas histórias, por entender que são singulares, mas constituídas e
constituintes de coletividades.
descritas por elas (na sua maioria) como imposição do lugar onde vivem. O município
onde residem tem 31 Km de orla marítima, o que faz dele um balneário com grande fluxo
magistério.
Irene conta que escolheu ser professora, “(...) porque não tinha outra profissão.
Aqui era mais, descascar camarão, trabalhar de doméstica, então eu escolhi porque
não tinha outra profissão, porque eu via a minha mãe nessa vida e eu não queria
aquilo pra mim (...)”. Rita diz: “Sou franca, era a única formação possível... o
magistério era o único profissionalizante que eu podia fazer, que tinha disponível. Ou
Para Inês, “na hora da escolha, o que contou mesmo foi gostar de crianças. Mas aqui
pescados, ou numa loja, ou sai daqui pra outro lugar. Esses meus pensamentos
pesaram na hora da escolha (...)”. Nelci diz que sempre teve empatia por crianças, mas
ação entre todas as possíveis que o sujeito se objetiva. (Sartre, 1978b). Nas falas destas
quatro mulheres, o desejo por ocuparem um lugar social diferente daquele oferecido pela
situação em que vivem faz com que escolham o magistério. Num contexto em que a
não realizarem uma reflexão critica sobre sua escolha, suas falas evidenciam que o
caminho para o magistério foi trilhado desde pequenas, nas escolhas que iam fazendo, nas
ser seu, mas é marcado pelo seu cotidiano e as impulsionam para além de si mesmas.
muito pequena. Ela conta que quando seus pais se casaram, ele já viúvo do primeiro
casamento, constantemente se referia com muito carinho a primeira esposa. “(...) o meu
pai falava sempre da primeira mulher dele, que era professora, e o quanto ele admirava
isso nela (...) sempre falou (...) com bons olhos, ele se orgulhava disso”.
Sua irmã mais velha decide ser professora e todos apóiam essa escolha. Nelci aos
15 anos começa a seguir os passos da irmã, apesar de, em sua fala, entender que tenha
sido induzida pela condição do lugar, aliada a sua “afinidade com crianças”. Ela diz,
“(...) eu comecei a trabalhar eu tinha 15 anos, era auxiliar no pré-escolar. Aqui (...) só
depois comecei a dar aulas”. É na relação concreta com o pai que Nelci estabelece seu
origina na infância. Ela tem 39 anos, e há 8 anos é professora. Diferente de Nelci, Rita
não tem a presença, mas a ausência do pai para impulsionar sua escolha. A falta do pai se
caracteriza como um impulso para sua “potência de ação15”, pois ela relata que a partir
15
Para definir “potência de ação”, busco Sawaia (1995) que baseada no conceito de Spinoza,
escreve que é “o momento da transformação das relações objetivas que aprisionam as emoções, a
aprendizagem, a humanidade e a sensação de impotência se transforma em energia e força para
lutar”. (p.159). Assim, por potência de ação entendo força individual que permite ao sujeito
do momento em que perde o pai, aos 8 anos, quando este decide abandonar a família, vê
sua vida de menina, que segundo ela “já não era fácil”, sendo dificultada a cada dia. Aos
14 anos é impedida de continuar estudando, e sua mãe para não lhe ver como
uma máquina de costura, e eu nunca quis costurar, mas eu ganhei uma assinatura da
manequim e aprendi sozinha, mas eu busco aprender tudo (...) Eu tinha dificuldade em
alguma coisa, eu buscava, eu perguntava e foi assim que eu descobri que podia ensinar
alguém (...) Isso desde pequena, eu tenho muita habilidade em trabalhos artesanais (...)
as pessoas iam atrás de mim pra fazer algo pra elas, ou pra saber como se fazia uma
coisa (...)”. O desejo de ser permite a Rita novas possibilidades tornando-se sujeito de sua
própria história, sujeito que com a mediação da mãe, se apropria de sua história como se
fazendo sozinha, e é essa significação que impulsiona Rita a transcender entendendo suas
grande sentido em sua vida, pois é o primeiro contato de Rita com o ensinar.
sonho de continuar estudando, e para isso “percorria 1 hora a pé para chegar à escola”,
e completar sua 8ª série. No final daquele ano, Rita parou os estudos, pois no município
em que morava, não havia ensino médio e, continuar os estudos, significava recursos, que
não tinha. Sem poder realizar-se estudante, Rita sente-se perdida e casa-se aos 16 anos,
submetendo-se aos ciúmes do marido. Após 2 anos ela desiste do casamento. Continuou
transcender as condições de existência, é promovida por uma reflexão afetiva mediadora dos
acontecimentos objetivos.
sente-se apoiada pelo marido para escolher-se estudante. “Não sabendo se era isso [ser
professora] que eu ia gostar mesmo, mas eu sou aquela pessoa que visto a camisa (...)
de um desejo seu, mas ao tornar-se professora o faz pelo desejo de sua mãe. Ela tinha 12
anos quando dizia: “(...) eu não quero estudar, porque eu não gosto (...)”.
zeladora de uma escola, ela decide fazer o magistério. O trabalho da mãe permite o
primeiro contato de Irene com as crianças numa posição de “cuidadora” e ela conta: “(...)
nessa época, eu ia ajudar a minha mãe a limpar as salas, e às vezes tinha uma reunião
Os primeiros 7 anos de profissão são descritos por Irene como difíceis, pois ela
não tinha certeza se desejava ser professora, se sua escolha tinha sido acertada; “(...)
comecei a me interar (...) a me envolver, (...) a aprender com eles, porque até então eu
dependia deles, que eu aprendia com eles, que eu me envolvia no problema com eles,
então, a partir daí, eu comecei a gostar, foi sendo importante pra mim, foi fazendo
16
Identidade é entendida aqui como um processo, “uma construção inacabada, aberta e mutável,
em constante movimento”. (Maheirie, 2002, p.42).
profissão, o sentido da atividade, passando a encará-la como relação dialética do ensinar e
professora” foi singularizado por cada uma delas. Cada uma apreendeu como ser
professora de modo diferente, nas relações cotidianas estabelecidas, assim como com seus
professores.
fundamental na sua história. Ela conta: “Eu tive uma professora muito dinâmica no
magistério (...) maravilhosa (...) me cativou e me chamou muita atenção a maneira dela
tratar os alunos, de conversar com os alunos, na maneira dela trabalhar com eles. A
maneira, a ação pedagógica dela em sala de aula era maravilhosa, ela explorava muito
o aluno (...) nos debates, ela instigava bastante a capacidade do aluno”. Inês se apropria
objetivação da professora, aprendendo com o seu ensinar. E continua dizendo: “ela era
muito de trabalhar com temas e explorar com um teatro, muita dinâmica (...) fantoches
(...) no final das atividades, ela sempre tinha uma mensagem de ânimo pra gente, pra
profissional a mediação desta professora. Com ela re-significa o modo como se faz sujeito
resgata sua memória afetiva para re-significar seu papel de professor como ela conta:
“(...) um bom professor ele tem que ter essa parte amorosa com os alunos (...) e ela [a
Nelci fala com carinho de dois professores, sua professora da primeira série com
quem aprendeu a considerar-se “inteligente”: “(...) quando eu cheguei na escola (...) fui
selecionada pra sala A, que era a sala dela. Isso foi tão importante porque todo mundo
queria a sala dela, todo mundo queria ser inteligente, e eu era. Mas eu já tava
alfabetizada porque eu fiz jardim e tinha meu pai em casa que adorava ler, e ensinava a
gente. Um irmão mais velho e minha irmã também estavam na escola e me ensinavam
(...)”. É na relação com o outro que o sujeito constrói uma imagem de si e aprende a
Além disso, Nelci conta sobre seu professor de ciências e matemática, no ensino
médio, com quem aprendeu que entusiasmo era fundamental na hora de ensinar. Ela diz,
“(...) eu me encantei com essas disciplinas pelo talento dele em ensinar, ele tinha
ensinar em si como necessário para que o processo ensinar e aprender sejam eficientes.
As memórias de Irene não são tão prazerosas assim, ela aprendeu logo na quarta
série o que não deveria ser ao se fazer professora. “Eu tive uma miserável na quarta
série, eu me lembro bem, eu fiz um desenho pra ela, uma casa, uma árvore e um urubu,
mas fiz do meu jeito e mostrei pra ela, ela disse (...) eu nunca vi uma coisa tão horrível
na minha vida, ela amassou o meu desenho e disse ‘que horrível, vai aprender a fazer
guria, vai aprender a pintar’; daquele dia em diante, eu nunca mais pintei”. As
passado, Irene nos mostra o quanto a mediação pode cercear as possibilidades criativas do
sujeito e ao mesmo tempo funcionar como impulso em direção ao que “ainda não sou”.
Segundo Sartre (1978b) o subjetivo retém em si o objetivo que nega e supera em direção
faz pela negação, ela se faz professora superando a objetividade que nega.
Cristiane, ela é um anjo (...) ela ajudou, participou; na minha monografia, o que tinha
errado, ela construía comigo, é isso aí (...) olha, ela foi maravilhosa”.
processo inacabado e, nesta perspectiva, cada uma do seu jeito tem se desconstruído e
cursos oferecidos pelo município são recursos comuns a elas, mas significados de forma
singular.
pois acredita que eles servem para rever seus conceitos e procedimentos na sua prática
pedagógica. “Eu sempre penso em entrar num curso pra melhorar a minha forma de
pensar, ter outras visões, melhorar a forma de trabalhar em sala de aula (...) Tudo o
que é passado nos cursos, eu tento anotar pra sempre dar uma lida e voltar pra escola
de uma outra maneira”. Inês se apropria dos conteúdos oferecidos nos cursos, “registra-
os” num processo de subjetivação e re-significando-os norteia sua participação nos cursos
por um compromisso ético com o seu aprender. Ela ainda conta: “é pensar de outra
forma, é tentar ajudar aquele aluno que está com problemas, é tentar fazer o melhor no
meu trabalho sempre. Mudar sempre a minha forma de pensar, ter outras visões (...)
pode ser que a minha forma de pensar seja correta, mas quero ter outras visões”. O
compromisso ético vivido por Inês ao participar dos cursos possibilita que transcenda a
Irene e Nelci fazem críticas a esses cursos, por serem teóricos, mas entendem que
professora”. Irene chama essas trocas de “fofocas”, e diz: “Agora a gente teve um de
capacitação, e ali a gente troca muitas experiências nas horas das fofocas, a gente fica
o tempo todo tricotando, o que deu certo, o que não deu certo, o que poderia melhorar
(...)”. Nelci refere-se ao curso dizendo: “(...) os cursos são oferecidos (...) para os
professores da mesma área que você, e isso é bom porque você pode trocar informações
novas relações sociais que detonam novos encontros e desencontros, materializando nesse
intervalos dos cursos, mas no corpo dos cursos de capacitação. Esses cursos deveriam ser
por cursos que nem sempre alcançam seus objetivos, foi assim que o “fazer-se
professora” dessas mulheres vai sendo constituído. O tornar-se professora é mediada pela
prática, que se objetiva numa postura ético-afetiva como pode ser observado na fala
destas professoras; “depois dos meus estudos, cursos, experiências (...), hoje eu procuro
sempre me aperfeiçoar naquilo que eu quero, naquilo que eu acredito, naquilo que eu
amo, e essa é a minha profissão que eu amo (...), é a minha vida, eu amo o que eu
faço”.(Irene), “(...) o trabalho que eu fiz ontem, hoje me deixa super feliz”. (Nelci), “eu
adoro ser professora. Eu não ensino, eu aprendo”.(Rita), “Eu me sinto realizada. (...)
Mesmo fazendo a escolha que os outros tinham projetado para elas, o desejo de
ocupar este lugar social passa a ser seu e esta atividade as constitui mulheres-professoras
que amam e se realizam no que fazem. Como nos diz Zanella (2003b), é através da
atividade humana que o sujeito transforma o contexto social e, nesse processo, constitui a
si mesmo.
momento contei apenas a história de quatro delas, mas afirmo que tinha motivos pra isso
e optei por destacar a história de Léia, 24 anos, professora há 5 anos, que entende a
Léia também se faz professora ainda pequena, ao olhar o fazer da avó e significá-
lo como “um exemplo de evolução a ser seguido”. Ela se refere à avó dizendo: “ela
sempre trabalhou como educadora. Pra mim ela é meu exemplo, porque a história de
vida dela, ela se fazendo professora (...) eles eram de família humilde (...) eles tinham
sete filhos e tinham que correr pra se sustentar, e ela como professora, ela conquistou
respeito, todos conhecem ela como professora, sabem o que ela significou pra eles (...)
foi a educação que permitiu ela evoluir na vida, e é isso que eu espero pra mim
também.”.
A partir do significado atribuído à avó, Léia constituiu seu projeto, o ser que
desejava ser, e dessa forma vai se fazendo professora, vai escolhendo sua profissão ainda
criança. Ela conta, “eu sempre brincava de escolinha, fazia questionamentos pra mim
mesma, tentando ensinar os outros (...) então eu achava muito legal essa coisa de
importante (...)”. Vygotsky (1998) discute a importância do brincar para a criança, para o
autor, no brincar a criança transcende o comportamento habitual, como se ela fosse maior
“aprender”. Este aprender para ensinar, subjetivado no brincar, foi constituindo o seu
Quando fala de si enquanto aluna, Léia se define como alguém que tinha
acreditava que não era capaz, que não tinha condições pra realizar tal tarefa (...) até
então, ninguém mostrou pra mim que eu era capaz de fazer alguma coisa (...)”. A
mediação do outro, neste caso os professores e colegas da escola, são significados por
A dificuldade de Léia não foi motivo para desistir do projeto de ser professora, ao
como ela conta: “(...) quando iniciei o magistério, me encontrei, vi que realmente era
aquilo que eu queria, a minha vida deu uma reviravolta de 360 graus (...) Eu sempre
tive grandes dificuldades na escola, sempre dependia de alguém, nada eu fazia sozinha,
e, quando eu precisei estar sozinha, daí é que eu conheci a minha grande capacidade,
porque eu tive que estudar por mim, fazer por mim, planejar as aulas por mim, porque
professores buscavam muito de ti (...)”. Léia subjetivava que “estar sozinha” foi o que
lhe possibilitou transcender e assumir uma posição de sujeito de sua história, porém, não
estabelece uma reflexão critica de que novas mediações, novos professores e colegas de
escola, lhe permitiram re-significar que a atividade de ensinar e aprender que passa a lhe
constituir sujeito capaz. E ela conta: “Talvez, se no magistério eu não tivesse encontrado
essa resposta, eu teria mudado de profissão, mas cresci com aquela vontade, e lá me
realizei porque encontrei respostas”. As respostas que Léia encontrou ampliaram suas
prazer pela atividade que realiza não impede a reflexão crítica sobre seu trajeto e o
entendimento de que poderia ter buscado outro caminho para se fazer profissionalmente.
Sua realização profissional não a impede de entender as contradições que
envolvem o processo. Léia está no oitavo período de pedagogia e entende que o processo
de se fazer professora é um contínuo. “Olha, eu sou bem sonhadora, mas eu busco por
isso, meu sonho é ser PHD, mas eu sei que é uma conquista muito elevada pro mundo
que eu vivo. Mas, no mínimo, um mestrado, isso no mínimo (...) tenho muita vontade de
fazer um doutorado e PHD porque é o maior lugar onde uma pessoa pode chegar na
financeiramente porque dinheiro não é tudo, ainda mais dentro do magistério. Mas,
objetivando a subjetividade que o homem se faz este ou aquele sujeito. Léia nos mostra o
quanto seus projetos determinam suas escolhas. Na infância, Léia apresenta dificuldades
escolares, mas projeta superá-las. Hoje, já professora, projeta ser PHD e essa é a escolha
que faz dela uma professora em busca de formação e informação contínua, uma
professora que diz: “Hoje eu sei que a educação pode ser realmente diferente quando a
1997, p.290).
Inicio meu entendimento sobre os sentidos produzidos no fazer pedagógico, com
as reflexões de Vasconcelos (2003), a respeito dos afetos que circulam esse fazer. A
autoconfiança. (p.15).
Foram esses afetos que evidenciam o processo dialético do fazer-se professor que
registrei nas falas das professoras entrevistadas. Sawaia (1999) nos diz que o homem não
é um ser apenas racional, mas que sua reflexão é atravessada por sentimentos que afetam
o seu fazer e, assim, como aponta Maheirie (2003), toda reflexão é mediada pela
objetivos.
Irene, ao falar sobre seus alunos, permite entender que eles são sua mediação
afetiva, “(...) satisfação é eu poder (...) ver o sorriso deles (...)”. Para Inês, “prazer (...) o
trabalho em si, a prática educativa em si (...) Ser professor (...) amar a profissão, amar
os alunos, amar o que faz. Se não tiver amor naquilo que faz, não sai nada certo”.
Nelci e Léia também falam sobre a satisfação “(...) então o que me dá mais satisfação, é
saber que eles vêm pra escola e tem vontade de aprender (...) essa confiança que as
crianças tem”. (Nelci), “pelo simples fato de receber um sorriso, de tu chegar na sala
de aula e eles vem agradar com um beijo, vem perguntar se tá tudo bem, tu vê que tens
função de uma força individual, definida por Sawaia (1999), como “potencia de ação”.
Rita fala sobre seus alunos, mas sua expressão vai além do sorriso das crianças,
ela comunica seu “fazer”, sua “ação em si” como mediação afetiva. “Ser alfabetizadora é
muito (...) é ver a criança pegar o livro didático e ler as primeiras palavrinhas, a gente
nem percebe como isso acontece, a gente só vê acontecer. Ai é uma coisa de pular de
feliz, é tão forte, vem de dentro”. Rita revela a emoção com que vive seu fazer no
seguida ela expressa a compreensão que tem do processo, quando diz: “e ali a gente vê o
quanto é importante a ação da gente em sala de aula (...)”. Nesta relação, cujo vínculo é
dessa relação parece inusitada. Sartre (1965) escreve que estar emocionado significa
(p.65), e é nesse mundo mágico que a ação pedagógica de Rita e a aprendizagem das
durante ou após a vivência em si o sujeito inventa para ela um significado, com base em
sua história pessoal e no projeto escolhido, necessariamente, mediado por todo contexto
pode ser entendido na fala destas professoras: “Ser professor é amar, é dedicar-se, é
doar-se (...) Eu amo a minha profissão”.(Inês). Inês significa sua ação apontando a
necessidade de doação e dedicação, destacando que toda atividade pedagógica deve estar
atravessada pela afetividade e que esta, então, é promotora de uma ação significada.
Sentido similar é apresentado por Irene e Léia, como elas contam: “Na minha concepção,
se tu ensinar com carinho, (...) tu faz coisas maravilhosas”. (Irene); “Na educação, a
gente espera só conhecimento, mas o ser humano é muito mais, ainda mais criança que
o que eles querem é carinho, atenção, alguém que escutem eles, e, pra mim, é algo que
me satisfaz porque eu gosto muito de estar envolvida, eu adoro criança (...)”. (Léia).
constituída por momentos de insatisfação, revelado nesta fala de Nelci “eu tenho uma
aluna que vem cinqüenta vezes perguntar tudo, ela é insegura com o que faz; isso às
vezes cansa (...)”. A convivência exige contato entre singularidades, o que possibilita ao
vontade-cansaço.
17
“A afetividade, em síntese, envolve todas as relações humanas consideradas espontâneas, seja
percepção, imaginação ou reflexão, contemplando, assim, os sentimentos e as emoções como
forma específica de relação entre subjetividade e objetividade”. (Maheirie, 2003, p.148). A
afetividade altera o modo como o sujeito significa o mundo tanto positivamente quanto
negativamente.
O aluno é aqui reconhecido como “outro” a quem a prática se destina e sem o qual
ela não existe. Para Irene, seus alunos são “seres capazes, eu vejo cada dia eles
crescendo (...) no começo eles vêm escrevendo sem aquela coordenação motora, e saem
lendo escrevendo texto (...) eles me surpreendem a cada dia, eu valorizo eles a cada dia
(...) defino como meus amores, como parte da minha vida”. Léia entende que eles são
“seres incríveis, eles são umas feras. Em tudo, desde como eles são por si próprios até o
convívio deles com os outros em sala de aula. Eles são a paixão da minha vida, eu me
dedico muito... pra mim eles são únicos, importantes e faço eles se sentirem assim”.
As relações que Irene e Léia estabelecem com os alunos são relações de troca que
outro: o aluno. Para Irene, seus alunos são “parte da sua vida”, e, para Léia, eles são
“sua paixão”.
parceiro que deve ser respeitado no processo de ensinar e aprender baseará seu fazer num
Léia reconhecendo o aluno como “outro” no seu fazer, mostra o quanto adapta o
currículo ao saber dos seus alunos quando conta sobre o projeto “O homem e mar”18: “É
uma forma de mostrar que, quando eles falam do mar, eles estão nos ensinando
alguma coisa, porque pra eles isso é cotidiano, eles falam sobre tudo de peixe pescado,
sobre quanto o cara pagou pelo quilo do peixe; então, no dia a dia deles, eles vivem a
história, a geografia a matemática e então nós vamos nos engrandecer com essas coisas
18
O projeto “O homem e o mar”, foi elaborado pela professora, para uma das escolas em que
trabalha, que fica localizada próximo ao mar, sendo os alunos na sua maioria, filhos de
pescadores. Em horário posterior ao da escola ajudam seus pais na limpeza e venda do pescado.
que eles falam, e eu nem imaginava que existia, o que eu quero é mostrar que o que
eles sabem é matéria de sala de aula também, e que eles têm muito a ensinar”. Léia se
forma de atividade cotidiana” (p.30), e é esta espontaneidade que pode levar o sujeito à
para que o sujeito aproprie-se de sua vida e assim seja condutor de sua história.
propõe a conhecer seus alunos para melhor organização do seu planejamento: “eu
primeiro questiono, vejo o que eles sabem, se eles já ouviram falar, porque às vezes a
gente tá perdendo tempo, e é melhor pegar daquele ponto e aprofundar”. Léia conta
que seu fazer se faz significativo quando nasce do e para o cotidiano do aluno: “mas ela
se torna produtiva a partir do momento em que aquilo que eles tão aprendendo faça
sentido pra vida deles”. Léia realiza a compreensão descrita por Sartre (1960)
“compreendemos seu ato pela situação, a situação por seu ato e, ambos, a um só tempo,
acabam por nos fornecer uma compreensão acerca do que ele quer e do que ele sente”.
(p.73), e assim apreende o processo de aprendizagem das crianças a partir do sentido que
elas dão a suas vidas, enquanto professor, ela se apropria da ação do outro e por isso o
compreende.
Toda escolha é objetivada no presente a partir de uma relação dialética entre o
ação do professor, e é constituído na relação dialética entre o que ele deseja oferecer aos
seus alunos e o conhecimento que tem da história dessa população que ele atende.
não entendimento de que ele e o aluno estabelecem relações que não são lineares, mas
também não são verticais, como tem sido impostas pelas relações de poder firmadas.
(Zanella e Da Ros, 2002). Esta dificuldade pode ser reconhecida na fala de Nelci, “eles
são fracos. Eu consigo trabalhar bem com eles, mas eles precisam muito de mim. Mas
como dificuldade, como ausência e não motivadora. Por isso, quando fala sobre seu
planejamento, diz: “Eu parto do meu ponto de vista, vendo o mais certo ou o mais fácil
pra eles, com base naquilo que eu entendo, aquilo que eu vejo”. As escolhas feitas por
Nelci têm como base sua história e não o cotidiano das crianças. A não compreensão
lugar social seja mantido. E ainda, a não compreensão dessas diferenças acarreta em
exigência de que o aluno, parceiro deste fazer, abra mão de sua singularidade, sua
reconhecimento dos professores com os quais dividem o espaço escolar, enquanto outros
cuja diferenciação permite reconhecimento de si e do seu fazer. Inês relata, “eu sempre
gosto de pegar as idéias dos meus amigos porque eu aprendo muito com outros
professores Eu sempre tô conversando com um amigo sobre como posso fazer isso
(...)”. Também sobre a relação com os professores, colegas de trabalho, Irene conta “(...)
o que não fazer, que caminho tomar, o momento em que as crianças já aprenderam a
ler, que momento ainda não, a contribuição para que o teu trabalho possa ser
melhorado, o que vai dar certo o que não vai dar certo (...)”.
novamente remeto-me a Zanella, Da Ros, Reis e França (2002). Para as autoras, estas
contexto.
A vivencia de Inês permite verificar essa necessidade quando sugere, “Eu acho que
deveria ter um espaço para que o professor pudesse trocar idéias aqui na escola”. A
mediador desse fazer. Rita também apresenta uma sugestão, “nesses encontros nós
tínhamos que conversar sobre as nossas preocupações, nossas angústias (...) Porque
não aproveitar o que os nossos colegas falam? As angústias? Como resolver esse
problema dele? (...) Nós temos professores que fizeram coisas nas suas salas e deu
certo, porque não mostrar isso pra que eu possa acertar também. Eu fiz experiências
que deram certo, por que não trocar idéias? Mas eles não ouvem muito a gente”. As
afirmações de Zanella, Da Ros, Reis e França (2002), podem ser confirmadas nas falas de
Inês e Rita, quando elas afirmam necessitar de um espaço para trocas de experiências, um
coletivo como constituinte de si “(...) o trabalho coletivo eu aprendo muito com eles,
aqui é uma experiência boa (...) a troca de experiências já nos incentiva”. (Rita),
colocar as tuas idéias e discutir a tua realidade, e são esses momentos que
contrário, “incentiva”, “engrandece”, acolhe e assim pode potencializar ações, como diz
modo, o outro, mediador da atividade humana, pode ser “a presença da cultura”, “um
outro concreto”, e ainda “aquilo que o sujeito estranha em si, tornando-se o outro de si
reconhecimento de alguém lhe permite estranhamento e busca pelo novo. “(...) eu tomei
gosto porque eu tive elogios, então eu comecei a mudar, a fazer coisas que eu
acreditava que davam certo, porque eu confiava em mim”. O encontro com o “outro de
si mesma” é potencializador, o estranhamento de si permite a fuga da repetição, da
processo vivido na contradição de um fazer que ora é criador, ora cristalizador. Esse
"fazer-se" professor é uma atividade humana e como tal é mediada, ou seja, o sujeito-
professor produz significado a partir de relações mediadas pelos outros e por instrumentos
Rita fala dos instrumentos materiais por ela buscados como recurso para a criação
da prática pedagógica. “Se eu vejo um filme (...) eu conto a história para eles e trabalho
com a lição que o filme traz. Eu ensino pra eles o que tinha no filme e pergunto pra
eles se eles conhecem alguém que faz desse jeito, se isso é certo, como pode ser feito
diferente (...)”. Rita continua sua reflexão, apresentando os objetivos esperados com a
utilização deste recurso. “Eu faço isso por duas formas, pra inserir eles na cultura,
tanto do livro quanto do filme e também pra aprender; isso é a forma mais barata do
professor trazer coisas novas pra eles (...)”. O filme, enquanto recurso utilizado por Rita
Inês revela que a leitura é instrumento material que utiliza como suporte para
tenho alguma coisa em sala de aula, eu leio pra tentar resolver”. A leitura é, então,
instrumento mediador do qual ela se apropria e, cria assim novas alternativas para o seu
fazer. “Eu fico pensando (...) de madrugada, eu acordei e veio tudo na minha mente, os
joguinhos que eu tinha que fazer com eles, eu fui anotando tudo (...) Eu fiz tudo na
sala e foi maravilhoso”. As atividades realizadas por Inês são objetivações do processo
para novamente poder objetivar sua subjetividade de outra maneira, solucionando assim
os problemas que necessitava resolver. Impulsionada por estes, ao dormir e poder relaxar,
sujeito. Sua fala sobre a leitura é iniciada com “eu leio coisas que me intrigam” e
continua “eu leio de tudo um pouco, mas eu gosto de ler algo que mexa com a minha
auto-estima, livros que façam eu acreditar mais em mim mesma (...)”. Sendo a atividade
pedagógica construída por sujeitos singulares e mediada por uma “coletividade”, quando
Léia busca uma mediação que lhe permita sentir-se reconhecida e ativa, torna-se capaz de
inventar novos modos de fazer-se professora. Ela diz “leio coisas que (...) permitem
ser reconhecida na fala das professoras Nelci e Irene. “(...) falta de amor dos pais pelos
filhos. Os pais não ligam pra eles, não se importam se estão bem ou não. Vai chegar
uma hora que o professor não vai ter como segurar essas crianças, porque se a família
não se incomoda não vai dar...” (Nelci). “(...) pais drogados, é bebida, é alunos
morando com os avós, com tios, à noite dormindo fora de casa (...)” (Irene). Assim
sustentada nestes juízos provisórios. Heller (1989) diz que os juízos provisórios são
ainda, que os juízos provisórios apenas representam preconceito quando põem em risco a
singularidade dos sujeitos envolvidos, “então devemos ter a capacidade de abandoná-los
ou modificá-los”. (p.35).
criança em sua fala “(...) eu não sei se é a alimentação ou problemas em casa, ou não
quer aprender, ou não gosta, ou não tem vontade; pra falar a verdade, não sei te
responder”. Apesar de não saber quem é o responsável pelo fracasso, Irene descreve que
tem feito seu papel. “Eu, pelo menos, eu tento, eu persisto, mas às vezes não dá, é um
pouco difícil”. Segundo Hoffmann (2003), os professores ignoram que seus julgamentos
maioria das vezes, nada tem de científicas ou universais. Partindo destas convicções o
tratamento grosseiro do singular não seja prejudicial, pode converter-se num dado
irreparável que se conserva após ter cumprido sua função”. (Heller, 1989, p.35/6).
preocupação com a historia de vida dos seus alunos, não é para Léia justificativa para seu
fracasso, ao contrário, é motivação, é superação, “eu sempre estou passando pra eles o
recado de que são importantes, que eles devem se fazer profissionalmente, que eles
devem estudar, que eles vão ter um futuro (...) de modo que eles se vejam importantes,
que eu preciso deles pra ser quem eu sou, sem eles não posso ser professora. Eles são
alvo principal da educação”. Ela diz que busca “tirar um pouco a mentalidade que eles
não vão dar nada na vida”. Leia possibilita aos alunos um repensar sobre si de modo que
transcendam a condição social em que estão inseridos. Seu depoimento vem ao encontro
do de Santos (2003), quando diz que ao fazer-se professora aprendeu que “a auto-estima é
a alavanca que move o desejo para descobrir, conhecer, criar e aprender. (...), como
professora, sei que preciso mostrar aos meus alunos que eles tem valor, que são capazes,
que têm direitos e que devem lutar por seus direitos”. (p.66)
A autora Lelis (1989) escreve ainda que a superação da concepção de que a criança
ou família, são os responsáveis pelo fracasso escolar exige uma reflexão sobre o fazer
processo. A parceria dos pais é retratada na fala de Inês: “(...) Os pais deixam na escola
confiando no meu trabalho, confiando que eu também posso ser e faço parte da vida
deles”, e com base na confiança dos pais sobre seu trabalho, Inês aprimora seu fazer
neles na minha casa quando faço meu plano de aula, quando preparo uma atividade,
quando seleciono uma música, um vídeo, penso se isso tá trazendo pra eles algum
na própria ação docente. “(...) os meus projetos são sempre em cima daquilo que é
importante pra elas, que traz alegria e mais vontade delas quererem aprender” (Inês).
alternativas para seu fazer e assim estabelecer relação de “confiança” entre o fazer e os
novos caminhos dizendo: “Eu busco outra forma por isso, porque sei que eles não
entenderam porque eu não soube explicar”. Nelci também assume sua responsabilidade
na fala: “às vezes não consigo desenvolver meu objetivo pr’aquele dia e fico triste (...).
angustiada porque não consegui explicar como deveria (...), às vezes eu não escolhi a
atividade certa, ou eles não estão bem psicologicamente naquele dia e a gente não
respeitou isso, não planejou direito”. A relação que Nelci constitui é dialética, ora
responsabiliza os pais, ora assume ser responsável, assim cristaliza o fazer e logo se
angustia com o contexto, estabelece uma reflexão critica sobre o mesmo e sente a
das cristalizações. Sua fala pode nos lembrar de Freire (1995), quando escreve que a
escola dos seus sonhos é aquela que estimula os alunos a perguntar, criticar e criar, numa
produção que deve ser coletiva, e nasce da relação dialética entre o saber popular e o
saber crítico.
desvalorização é percebida de forma diferente para cada sujeito. Para uns é vivenciada a
partir do próprio salário, para outros são as condições precárias de trabalho que dificultam
o fazer.
Irene percebe que uma das grandes dificuldades encontradas no contexto é o que
ela mesma chama “politicagem”, pois “muitas pessoas querem fazer coisas e não podem
porque são de outros partidos”. Irene percebe que as relações políticas estabelecidas
Inês apresenta sua dificuldade quando diz, “tristezas são as críticas que não têm
nada a ver, mais sempre têm, porque a gente não agrada a todos”. Léia, por sua vez,
avalia que seu fazer é dificultado pela precariedade do contexto da escola, “tu fazer
algum sucesso depende só de ti. Observa só o ambiente, salas de aula, carteira, cadeira,
quadro e giz, poucos livros (...)”. Léia assume a condição social em que está inserida e a
com Sartre (1978b), quando este escreve que o homem faz sua história, mas “se a História
me escapa, isto não decorre do fato de que não a faço: decorre do fato de que o outro
também a faz”. (p.150). Assim, o contexto pode apresentar limites concretos, mas apesar
são eles que a fazem e não as condições anteriores: (...). Certamente, estas
condições existem e são elas, apenas elas, que podem fornecer uma direção e uma
ambiente escolar dificultam a atividade docente. Além destas dificuldades, outras também
impostas pelo contexto escolar, porém vividas do lado de fora dos portões da escola,
professor, entendendo o salário enquanto finalizador de projetos pessoais. Inês nos mostra
o quanto essa questão interfere em seu fazer-se professor, dizendo que “de insatisfação,
conto muito com o salário (...) porque, quando eu escolhi essa profissão, eu sabia que o
salário era esse (...)”. A justificativa de Rita não significa conformismo, pois é capaz de
assim, direitos para si e para sua categoria. Por isso, diz: “lógico que a gente tinha que
ganhar mais, mas isso é um trabalho do coletivo, e se a gente não se organizar não vai
faz por motivação individual”. (p.23), assim, por mais que Rita aceite o salário que recebe
professor. Para ela, é impossível se sentir bem e ser aceita pelos outros sem estar com
uma boa aparência. “A nossa aparência também conta, nós temos que nos vestir de
modo que passe credibilidade e como, com um salário desse: Aí eles vêem um professor
mal vestido e doente (...)”. A questão salarial é vivida por Rita na contradição, ora o
baixo salário é justificado pela escolha profissional realizada, ora é vivido como
condição social.
“Não que a psique esteja unida a um corpo, mas sim que, sob sua organização
preocupação coerente para Rita. A credibilidade não está na roupa em que veste, mas
estar bem vestida permite que ela dê conta do papel social que assumiu, vivenciando a
planejamentos. Para a autora, este trabalho nasce ocultado na idéia de que o professor
trabalha pouco, portanto não precisa que seu planejamento seja remunerado, ou ainda
reconhecido.
necessárias para que a prática educativa seja de qualidade, porém não são entendidas
na fala de Inês, quando diz: “o meu problema é o tempo, trabalhar o dia inteiro, e à
noite tem que dividir o tempo entre estudar e fazer outras atividades em casa”. Na
mesma perspectiva, Nelci relata: “Eu não tenho muito tempo em casa, então leio a
revistinha do professor (...) leio as coisas diárias para atividades nossas (...) queria ter
mais tempo para o planejamento. É muito tempo em sala de aula e pouco para preparar
Rita revela a angústia vivida com a falta de tempo, e o desejo de produzir o novo
a partir do cotidiano: “Eu queria ter mais tempo pra preparar as coisas, eu queria levar
eles num museu, ou até mesmo aqui na vizinha que tosquia ovelha. Levar eles em
outras salas, levar eles em um navio, pra eles viverem a realidade de cada profissional
(...) Aí sim a escolha deles pro futuro ia ser verdadeira porque eles iam conhecer as
experiencie diferentes situações, que conheçam outras formas de se pôr mundo, ou seja,
Zanella e Da Ros (2002), corroboram com esta reflexão, pois escrevem que a
costumeiros de olhar”. (p.7). A fala de Léia se assemelha a de Rita, quando revela sua
busca por transformar o cotidiano em espaço criativo. Léia reclama do tempo. Tempo
para proporcionar aos seus alunos novas possibilidades, ou “provocar rupturas’ com o
cotidiano. “Eu queria ter maior oportunidade de (...) fazer um passeio, ou trazer
pessoas aqui pra fazer palestras, coisas que não sejam só eu, só eu, porque não quero
e Léia buscam é aumentar as experiências vividas por seus alunos e assim propiciar um
SE PROFESSOR
boas intenções, olhar crítico e quase nenhum saber fazer, e posteriormente confirmado
Sobre a iniciação, a professora Inês comenta: “(...) o primeiro ano que eu peguei
a primeira série, eu cheguei muitas vezes em casa com dor de cabeça de preocupação
(...) primeira série requer muito da gente, requer esforço, dedicação, o dom pra gente
entrar em sala de aula e ensiná-los (...). O meu medo era esse, como é que eu ia
real, Inês se sente desarmada, não sabe o que fazer. Para superação da angústia frente a
esta situação, Inês tem a mediação de outros professores, como ela mesma conta. “No
primeiro ano (...), eu me via perdida, eu nem sabia como começar, mas tive muita ajuda
aqui nessa escola pelo especialista e a diretora. Me ajudaram muito dizendo como
fazer, e hoje eu já entro em sala de aula sabendo como começar, (...)”. E continua
falando sobre sua experiência: “Antes eu me perdia nessa parte de trabalhar com texto.
significadas.
Léia também descreve seu início: “(...) no primeiro ano, tu vai com sede ao pote
e te defronta com os alunos, aí sai estressada de sala de aula, diz o que não agrada,
ouve o que não agrada (...)”. A inexperiência “exige” do professor uma posição que
revele que ele domina TODO o conteúdo e, assim, verticaliza o processo, podendo
dirigir-se ao aluno como “dono do saber e da sala de aula”. Quando passa a dominar a
pode ser alterado. Esse processo de tornar-se experiente re-significa a atividade docente,
dando a cada professor o direito de perceber-se “melhor” e, assim, não mais repetir ações
que hoje consideram realizadas por “inciantes”, como conta a professora Inês: “(...) com a
medida do tempo, a cada ano eu fui melhorando. Até eu nem uso os meus cadernos de
planos que eu usei no início, pra mim uma sala nova é sempre um ano novo, é sempre
crianças novas”. Quando compreende esse processo, Inês consegue ir além de si mesma.
Esse processo dialético também é descrito por Léia, quando fala: “tu vai
mudando teu jeito de trabalhar, eu não guardo nada do que foi meu nesse ano, caderno
de planos, nada, ano que vem é turma nova é jeito novo, eu começo tudo novamente.
Senão tu acaba acostumando com o que tá pronto (...)”. Léia acredita fugir da
sujeito re-significar seu cotidiano, entendendo que a criação esta diretamente relacionada
ser professor, chamado de mesmice, por Fontana (2000b). O que Inês, Léia e Nelci
contaram foi sobre o processo que os faz “ora tradicionais, ora sócio-interacionistas19”.
Inês conta: “(...) Antes eu era mais tradicional, hoje sou mais sócio-
mais afetivo, antes eu trazia tudo pronto, não esperava nada dele (...)”. O sujeito se
exatamente isto que Inês relata em sua fala, quando descreve que sua experiência como
Léia também conta como ocorre o processo que ora é criação ora é cristalização:
porque não é sentar, mandar eles fazer e me entregar pra eu dizer que tá tudo errado.
No momento em que eu pergunto pra eles o que eles acham interessante fazerem. Claro
19
Os termos “tradicionais e sócio-interacionista”, são utilizados pelos professores.
que tem coisas que a gente se prende porque a gente foi educado da forma
tradicionalista, ler, escrever, nota e acabou, era o aluno lá e o professor aqui, mais
Nelci conta: “Às vezes a gente se pega fazendo coisas desse tipo, porque a gente
saber ensina as crianças que nada sabem é superada por uma relação de troca. A auto-
refazer a prática.
“Quando eu pergunto se eles entenderam e todo mundo balança a cabeça dizendo sim,
é porque tá tudo errado e ninguém aprendeu, pode começar tudo de novo, fazer de
outra forma”. A professora conta que a sua relação com os alunos lhe permitiu produzir
eles aprendem, eles questionam, discutem (...)”, assim calar-se é, para ela, uma forma de
sua experiência, que nasce num passado inexperiente e projeta-se para uma escolha de ser
formas de avaliar os alunos, como conta Inês: “(...) eu não acho justo uma criança que
durante o ano todo se deu bem em outras disciplinas reprovar em uma só. Claro que eu
tô vendo o que ele aprendeu naquele ano, o progresso dele do início ao fim; então, se
do início até o fim ele melhorou, (...)”. Inês não segue o padrão tradicional de avaliação,
Transgredindo a regra, ela cria nova regra. Léia também descreve a avaliação como sendo
realizada durante o processo e não como “prova”, como resultado final. “Se eu tô
conversando com eles e eles tão discutindo comigo e falando sobre o tema eu tô
avaliando o quanto eles aprenderam. Quando eles fazem uma atividade no caderno e
me mostram que conseguiram, isso é avaliação (...), eu sei quando eles aprenderam, eu
sei quando a minha tarde foi produtiva, e isso aqui é constantemente, eu não preciso
esperar acabar o bimestre e massacrar eles numa semana, porque eu preciso dar uma
nota pra eles, sem deixar eles olharem pro lado (...)”. Estabelecendo que seu objetivo
não é o resultado final, mas o processo, as interações estabelecidas pelas crianças, Léia
avaliação.
porque o sistema espera que ela seja realizada para classificar os melhores alunos e
escolhe fazê-la de maneira diferente, “(...) agora ninguém vai me fazer montar um
questionário pra eles responderem igual ao texto, porque eu preciso dar margem à
interpretação, eu não quero respostas todas iguais, não quero reprodução, quero uma
produção, quero que eles entendam o que eles estão escrevendo, eu sempre evito fazer
com eles coisas que pra mim não tiveram sucesso”. As novas formas de ensinar-
aprender existem apenas porque alguém desejou, buscou e brigou para transcender a
condição tradicional. O desejo nasce da necessidade, descoberta singular (e, ao mesmo
tempo coletiva, porque somos sociais), de que se faz necessário mudar. Léia não
consegue escapar as regras, mas inova e as assume. Assim, reconhecendo seus alunos
determinam diferentes sentidos para a atividade, conforme Rita, Inês, Irene e Léia. “(...)
quando vejo que o meu objetivo foi alcançado. Quando o meu aluno aprendeu o que
expliquei, quando ele conseguiu interpretar, quando ele socializou o conteúdo (...)”.
(Rita). Quando o aluno “socializa” o conteúdo, Rita considera que atingiu os objetivos de
sua atividade, e sente-se realizada. Os critérios que Rita prioriza, dão significado e assim
Para Vygotsky (1990), toda atividade humana que não se limite à reprodução e se
faz criadora quando o sujeito consegue recombinar experiências passadas, ou seja, quando
ele, com base em suas vivências, projeta sua atividade no futuro e assim modifica o seu
presente. Não é atividade espontânea, como costumeiramente é pensada, mas é fruto da
vinculação entre fantasia e realidade que se faz com esforço sistemático de transcender o
contexto vivido.
uma nova ordem, e assim, quando eu ensino C, eu não ensino só Ca, Co, Cu, mas Cr,
Cl, porque quando eles lêem, tem tudo isso, as letras não estão na ordem que eu quero.
Quando eles escolhem as letras, eles ficam entusiasmados”. Rita demonstra como a
significa a atividade compreendendo que existem novas ordem alfabéticos e não aquela
criei quebras cabeças com figuras e palavras (...). Também faço com ações, como
galinha pondo ovos, ai escrevo frases. Eles curiosos pra saber o que vai aparecer, eles
lêem mais rápido... trabalho com cruzadinhas, assim, uma caixa cheia de objetos e eles
vão sorteando objetos e tem que circular na cruzadinha a palavrinha que dá nome ao
possibilidades vivido por seus alunos, que exercitarem sua capacidade imaginativa não
reproduzem a atividade, mas “ao sortearem os objetos ou montarem quebras-cabeça” as
quanto a reflexão impulsiona seu fazer, permitindo que técnica possa vir-a-ser atividade,
substantivo, o que é uma expressão numérica se não dermos sentido pra vida deles. O
nosso trabalho de ontem foi a leitura do texto, fizemos interpretação oral, discutimos o
texto, depois cada um escreveu um texto seu dizendo se tem um amigo, se é mesmo um
elaborado por Léia não destaca apenas o que é importante ensinar, ela re-significa seu
entre os quais a reflexão-afetiva e a atividade criadora, sendo tais aspectos objetivados via
Não é “mágica” como diz Léia “acho que é fazer de um pedacinho de pano, um belo
mas sim magia de um projeto presente numa perspectiva de futuro, como ela mesma
afirma “é às vezes ter apenas uma criança com vários problemas, na frente dela um
pequena coisa, ver o sol brilhar, criar uma perspectiva de vida melhor do que eles têm
hoje”.
Léia perde o medo por inovar, por modificar-se e assume-se responsável pelo
ensinar-aprender que constitui subjetividades, entendendo que seu fazer deve ampliar
possibilidades para que singularmente cada criança torne-se dono de sua própria história.
variedade de experiências apropriadas pelos sujeitos, pois é com base nestas experiências
vividas que o sujeito projeta o futuro, e assim recombina o presente. Isto pode ser
reconhecido na fala de Léia, quando relata que, ao trabalhar o tema amizade buscou o
conhecimento na experiência/saber vivido por seus alunos. Léia conta como se deu seu
processo criativo quando trabalhou o tema amizade, “faço a linha do tempo, quem é esse
amigo, onde ele mora, pra isso trabalho história e geografia; de onde ele vem, quem
resgata as experiências que cada aluno tem sobre “o que é ser amigo ou ter amigo” ela
destas tanto para cada criança em si, quanto para o outro que aprende com as histórias
partilhadas. Léia utiliza-se do resgate feito pela memória afetiva de cada criança, e amplia
sua atividade criativa quando “ensina história, geografia e português” a partir dessas
memórias.
existente, e isto fica evidenciado na fala de Inês: “(...) trabalhamos sobre o índio. Na
segunda feira, eu trabalhei uma musiquinha com eles, fizemos interpretação do texto,
como era a vivência do índio, o que ele come, como ele se veste, qual a relação que ele
tem com os outros, quem era o Deus dele, como ele chama a casa, a diferença da casa
deles com a nossa, a língua que ele fala. Com isso, eu trabalho português, ciências,
possibilita que os alunos alcancem mais do que conhecimento teórico, mas conhecimento
que revela e traduz uma época, um fato, ou outro objeto qualquer, (...) uma
que estas, como parte da realidade humana, não são a antítese da reflexão, mas
Inês continua, “(...) essa musiquinha, eu conversei com eles a respeito do índio,
estava acontecendo na música, e dali nós escrevemos o texto”. Maheirie (2002b) escreve
que a musica mais do que expressar um conhecimento ela é mediação para constituição
processo que Inês transcende quando utiliza a música como facilitadora na apropriação de
conhecimentos, ela desconstrói os conhecimentos dos alunos sobre o tema quando os leva
à reflexão através da musica, reconstrói ao interpretar e discutir o conteúdo e cria quando
trabalho muito oralmente, a gente passa muito tempo na conversa, eu explicando e eles
falando pra mim, começando a oralizar, isso é o mais importante do que escrever. (...)
Eu trabalho com canto, dramatizo com elas, dali parto pra atividades escritas, quebra-
cabeças, enfim”. O que Inês objetiva é que seus alunos expressem seu saber, que se
informação significada, em informação atravessada pelo saber de cada aluno que inicia
Ainda sobre o tema índio, Inês explica: “(...) nesse assunto eu expliquei o que
era raiz, e eles disseram quais eram as raízes que nós comemos também, dali foi
que é cultura, o que é respeito a outros povos. Quando a professora os possibilita fazer
utiliza a música como recurso mediador de uma atividade criativa, a professora promove
“novo”. Como pode ser visto em Maheirie (2003) a atividade criadora é uma articulação
temporal atravessada pela afetividade, realizada pela subjetividade, como negação e
subjetividade.
base para a cristalização, como é retratado na fala de Inês: “Na parte silábica. Eu pego
trabalho as sílabas todas.(...) As outras atividades que eu faço com eles, eu não uso esse
método, porque eu não faço eles repetirem tudo, mas nisso eu sei que eu não mudei”.
Nesta atividade a professora demonstra ter domínio técnico, sabe como proceder para
ensinar separação silábica, mas seu “saber fazer” (Zanella, Balbinot e Pereira, 2000) não
Quando a experiência de Inês lhe permite significar a ação como necessitando ser
modificada, ela supera a condição e cria, quando não significa a atividade como
O mesmo acontece com Nelci, que diz: “às vezes a gente pega um conteúdo e
consegue discutir com eles, faz algo bem aberto. Mas tem assuntos que não tem como,
bem tradicional, bem antiga que tu achas que não vai fazer efeito, mas tu foi educada
assim, a tua história de vida é assim, e deu resultado, senão tu não estavas aqui”. O
cotidiano a absorve e Nelci vive seu fazer na espontaneidade. Assimilando as normas de
está impregnada por tais normas e esse passado sustenta a cristalização, assim a reflexão
que Nelci não realiza é que a forma tradicional por ela vivenciada, não é atividade
nos diz: “o que eu acho muito difícil é que a gente na faculdade é assim, eles dizem
como a gente deve fazer, mas eles fazem diferente, tem prova, tem que decorar os
nomes todos,(...). Então falar é uma coisa, e fazer é outra. É o que a gente faz, acaba
fazendo o tradicional (...)”. A imitação que Nelci faz de seus professores e dos métodos
por eles utilizados, não lhe permite superação, resultando em mera repetição, mas permite
Este “aprender a repetir”, revelado na fala de Nelci, não pode ser entendido
como de inteira responsabilidade da formação básica, pois, como nos diz Nóvoa (1991), a
formação do professor não se constrói apenas nos bancos escolares, mas principalmente
Entendo que essa reflexão crítica, destacada por Nóvoa (1991), fica evidenciada
que têm que ser bem produtivas (...) não queria ficar assim, muito velha na sala de aula
(...) talvez eu não vou ter o pique que eu tenho hoje... eu não quero é errar com o meu
aluno, se eu não tiver o pique ou a vontade que eu tenho hoje, o que eu não quero
jamais é pecar com o aluno, porque aí não quero mais dar aula”. Reconhecer-se sujeito
que ensina e aprende, permite compreender que erro e acerto fazem parte do mesmo
processo, permite compreender que o erro é possibilidade, pois pode mobilizar o sujeito a
buscar respostas.
avalio muito, eu penso sempre que tipo de educador eu sou, e será que eu gostaria de
dar aulas pra minha filha? Que qualidade eu tenho como educadora pra oferecer ao
meu aluno? (...) Já fez tua auto-avaliação? Eu faço sempre (...) e sei que o que ele não
Sartre (1978a) entende que a angústia surge diante de escolhas a serem realizadas.
responsabilidade de que ao escolher para si, o sujeito escolhe também para o outro. Sobre
esta responsabilidade Léia diz, “o sucesso deles é o meu também, e o fracasso deles é
meu fracasso”. E ela continua, “pra mim é isso, eu paro e reflito sobre o que eu tô
fazendo em sala de aula com meu aluno, e vejo o que deu certo e o que não deu. Eu
não posso continuar sempre igual (...) eu sei que eu preciso fazer diferente porque são
Léia amplia suas possibilidades de constituir sua atividade em “atividade criadora”. Sente
a necessidade de assim fazê-la para si e para o outro, reconhece a si e aos seus alunos
como diferentes e amplia seu universo de possibilidades, move-se em direção aos seus
objetivos.
escrever, enquanto na criação, como diz Mignot e Cunha (2003), o fazer do professor é
criação e cristalização que constitui este fazer. Minha busca foi motivada por inquietações
produzidas no contexto em que trabalhava, onde observava uma certa “apatia” dos
de criação e transcendência.
ou como elas significam, “uma imposição do lugar onde vivem”. As mediações vividas
nesse contexto não se traduzem em autonomia, portanto, são para estas professoras,
não se recordarem de pessoas da sua história passada, que tenham sido importantes e que
sejam passiveis de relação com a prática que realizam, citando apenas a importância de
O sentido de imposição é superado apenas por uma professora que busca em suas
memórias a presença da avó, que sendo também professora, é para ela a pessoa mais
importante que relaciona à sua prática pedagógica.Ela conta, que não se via e não era
vista como “boa aluna”, ao contrário, apresentava grandes dificuldades no exercício deste
portanto é realizar uma reflexão crítica21 sobre seu trajeto e o entendimento de que
do pai e o gosto dele pela leitura, a escolha profissional de irmã mais velha, o trabalho
como zeladora, realizado pela mãe, ou ainda a profissão da avó. O que essas professoras
não conseguem é estabelecer uma reflexão de que sua escolha não se faz puramente pela
imposição do lugar, mas pela apropriação das vivências experienciadas e de que, mesmo
ter sido selecionada para a sala dela, passou a se considerar “inteligente”. Irene fala de sua
professora da quarta série, que sendo intolerante, se faz mediação pela negação.
Considero importante relacionar essas mediações vividas, com a mediação que hoje
21
Na reflexão critica, o sujeito se distancia da situação em que está envolvido e se posiciona
frente à situação, vislumbrando possibilidades. Por outro lado, na reflexão espontânea, não há crítica, o
sujeito não se posiciona frente a ação, não vislumbrando possibilidades e não se reconhecendo na escolha.
Para melhor entendimento, ver Maheirie, 1994.
representam a seus alunos. Nelci e Irene não se responsabilizam pelo fracasso escolar,
com o seu fazer, e assim não assumirem a possibilidade de uma postura ético-afetiva
Um outro aspecto da pesquisa que me faz refletir é o sentido atribuído por estas
professoras à relação com seus alunos. Algumas estabelecem com seus alunos relações de
troca, que determinam a cada um deles um lugar social que só existe e se define a partir
que prioriza as vivências dos alunos. Esta postura transforma o cotidiano em currículo,
ampliando as possibilidades para que o sujeito se aproprie, a seu modo, de sua vida e
parceria realizada entre professor e aluno. A não compreensão desta condição se faz
abra mão de sua singularidade, sua história, seu contexto em função unicamente do
projeto do professor. Assim, o ensinar tem como base a história do professor e não o
que trabalham e as críticas vazias, realizadas por aqueles que “olham de fora” o fazer do
professor. Elas apontam ainda a questão salarial, que se mostra em muitos momentos
professor uma posição que revele que ele domina “todo” o conteúdo e, assim, verticaliza
momentos em que os conservam. Léia fala da semana de provas, que é por ela conservada
para dar conta da pressão dos pais e da direção da escola à avaliação dos alunos, mas
relata não utilizar questionários nas provas, buscando questionamentos que permitam ao
Rita revela que transcende a alfabetização quando descobre que existem novas
ordens alfabéticas, e solicita a participação dos alunos para construção dessa nova ordem.
A busca pela superação exige destas professoras um resgate das experiências vividas por
de forma linear, mas dialética, sendo síntese inacabada, sendo movimento de totalizações,
dividem o espaço escolar, quando com eles aprendem a resolver problemas ou a partir de
atividade, sua história e assim, partindo do entendimento que falar produz significados,
Elas revelam o desejo por um espaço onde possam realizar essas trocas, onde
possam refletir sobre seu fazer, buscando numa ação coletiva, possibilidades de fugirem
professores pudessem repensar suas práticas. Um lugar onde pudessem resgatar o sentido
ação como devendo ser modificada, superando as condições impostas pelo contexto e
criando. É importante que juntas percam o medo por inovar, por modificar e assumam-se
“Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez
jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para
com o trabalho destas professoras, e assim possuir uma expectativa em relação ao que iria
encontrar. Entretanto, meu envolvimento não se fez obstáculo para realização desta
processo.
sujeito, suas escolhas, alienadas e críticas, suas significações, seu projeto existencial, sua
num movimento que pretendeu ir da situação singular para a situação coletiva em que o
sujeito está inserido, voltando às suas vivências específicas, buscando entender suas
ideologias, seus valores, suas aspirações, suas necessidades, suas esperanças, suas
possibilidades concretas. Deste modo, busquei a partir de suas falas, reconstruir o
caminho percorrido pelas professoras, definindo o sujeito a partir de seu projeto. Assim,
professoras (na sua maioria) aprisionadas aos valores tradicionais, passíveis de serem
permitiram observar que o fazer pedagógico se faz dialético, sendo possível no máximo,
que do outro, porém, nenhuma delas tem seu fazer associado apenas a criação ou a
2002a).
assumindo uma postura de parceira, entendendo o ensinar e aprender como processo que
uma postura que não se permite cristalizar, superando dialeticamente a posição assumida
inicialmente.
22
A expressão “olhar do alto” nos remete a obra de Certeau (1994), entendida como construção de
conceitos que quando confrontados com a prática se mostram reducionistas.
Elas apontaram ainda o “caráter mágico” do fazer docente, destacado no momento
inusitado. Mas, logo percebi que se tratava de uma vivência afetiva, produto de uma
relação vivida afetivamente entre professor e aluno, uma relação mediada pelas emoções,
entendendo, tal como Sartre (1965), quando escreve que estar emocionado significa
(p.65). E nesse mundo mágico que o ensinar e o aprender se unem “numa síntese
indissolúvel”. (p.49).
Outra antecipação que tinha, era a relação entre formação docente e atividade
às suas possibilidades criativas. A partir dos trabalhos de Nóvoa (1995) e Lelis (1989)
discuto a preocupação dos autores com a formação docente, que segundo eles deveria
formar sujeitos autônomos que se comprometam com o seu fazer e com a autonomia
docente, mas na compreensão afetivo-reflexiva a qual aponta que seu fazer é também um
fazer-se constante (Basso, 1998). As entrevistas revelaram ainda, que a busca pela
contexto.
Sabendo que não é objetivo determinar um ponto final, e assim, dar conta da
Mignot e Cunha (2003) e Fontana (2000) busquei resgatar suas trajetórias, possibilidades
e impossibilidades concretas, e assim revelar suas verdades. Porém, uma vez que
coexistem verdades, considero que apresentei algumas delas a partir das entrevistas,
existindo outras, que também devam ser ditas. Sugiro desse modo o aprofundamento do
fazer pedagógico mediado pela afetividade, e assim, uma melhor compreensão da relação
incapaz de dar conta da totalidade do fazer docente, o qual se caracteriza por ser
fazer.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
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Disponível em <http://www.scielo.br> Acesso em: out.2003
Cruz Neto, O. (1994). Campo como descoberta e criação. In: M. Minayo (Org.) Ciência,
técnica e arte: o desafio da pesquisa social. Petrópolis, RJ: Vozes.
Esteve, J. (1995). Mudanças sociais e função docente: In: Nóvoa, A. (org) Profissão
Professor. Porto, Portugal: Porto Editora. (Coleção Ciência da educação).
Farias, V. (2002) Penha, 243 anos: natureza, história e cultura para o ensino médio.
Penha: Ed. Do autor.
Richardson, R. (1999). Pesquisa social: Métodos e técnicas. (3a ed). São Paulo: Editora
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fiz professora. Rio de Janeiro, DP&A. (Coleção O sentido da escola).
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Souza, C. (2003) Penha: em nova era e sua história fundamental. Itajaí: Ed. Gráfica
Berger.
____________. (1992) Pensamiento y Palavra. In: Obras Escogidas II. (p. 287-348).
Madrid: Visor Distribuiciones.0
pedagógica que realizam, acreditando que este estudo seja necessário porque tais
Sua participação é fundamental para que possa conhecer esta realidade. Para isso,
serão aplicados questionários com os professores de 1ª a 4ª séries, sendo que este não
fornecidas serão utilizadas para fins acadêmicos. Peço também seu consentimento para
entrar em contato com você num segundo momento, caso necessite entrevistá-lo.
Instruções:
crescente. Para cada uma delas, só há uma possibilidade de resposta. Portanto, assinale
somente uma alternativa. Por favor, leia atentamente as alternativas antes de responder.
Obrigada
I- Qual a sua idade? IX- Complementa o salário que recebe como
1) até 23 anos professor desempenhando outras atividades?
2) 24 a 28 anos 1) Sim, na área da Educação.
3) 29 a 33 anos 2) Sim, fora da área da Educação. Por favor,
4) 34 a 38 anos especifique_________________________
5) 39 a 43 anos 3) Não.
6) 44 a 48 anos
7) 49 ou mais X- Você cursou o Ensino Fundamental:
1) Todo em escola pública
II- Sexo: 2) Na maior parte em escola pública
1) Masculino 3) Todo em escola particular
2) Feminino 4) Na maior parte em escola particular/
5) Na maior parte em supletivo
III- Estado civil: 6) Metade em escola pública, metade em escola
1) Solteiro(a) particular
2) Casado(a)
3) Separado(a)/Divorciado(a) XI- Você cursou o Ensino Médio:
4) Viúvo(a) 1) Todo em escola pública
5) União Estável 2) Na maior parte em escola pública
3) Todo em escola particular
IV- Na sua casa moram quantas pessoas, contando 4) Na maior parte em escola particular/
com você? 5) Na maior parte em supletivo
1) Só você 6) Metade em escola pública, metade em escola
2) 1 a 2 pessoas particular.
3) 3 a 4 pessoas
4) 5 a 6 pessoas XII- Você fez o Ensino Médio:
5) Mais de 6 pessoas 1) Profissionalizante /Magistério
2) Profissionalizante / Outros
V- A sua casa é: 3)Educação Geral
1) Própria/quitada 4)Supletivo
2) Própria/financiada 5)Outro. Qual?____________________________
3) Alugada
4) Emprestada XIII- Qual a sua formação acadêmica superior:
5) Outro. Qual?__________________________ 1) Não fiz/Não estou fazendo curso superior
2) Cursando pedagogia
VI- Você vai para seu trabalho: 3) Cursando outro. Qual? ____________________
1) Com seu carro 4) Pedagogia concluído.
2) De carona 5) Outra alternativa. Qual? ___________________
3) De ônibus
4) Caminhando XIV- Você participou de cursos de formação
5) De bicicleta/Motocicleta continuada na área da educação nos últimos dois
6) Outro. anos?
Qual?__________________________________ 1) Sim
2) Não – (pule para questão XVII)
VII- Quanto ao seu compromisso financeiro:
1) É a(o) única(o) responsável pelo sustento da XV- Você fez (ou está fazendo) algum curso após a
família. conclusão da Graduação?
2) É a(o) principal responsável pelo sustento da 1) Sim, doutorado.
família 2) Sim, Mestrado
3) Ajuda a sustentar a família 3) Sim, Especialização.
4) É responsável somente pelo seu próprio sustento 4) Sim, Aperfeiçoamento/capacitação
5) É dependente de outra pessoa 5) Não fiz, mas pretendo fazer.
6) Não fiz e não pretendo fazer.
VIII- Quantas pessoas dependem financeiramente de XVI- Nos últimos cinco anos você participou de
você? cursos promovidos pela prefeitura da cidade onde
1)Nenhuma trabalha?
2) 1 1) Sim
3) 2 2) Não
4) 3
5) 4 ou mais XXV- Você cumpre sua jornada de trabalho :
XVII- Nos últimos cinco anos você participou de 1) Na mesma escola
cursos promovidos pelo governo estadual? 2) Em 2 escolas
1) Sim 3) Em 3 escolas
2) Não 4) Em 4 escolas ou mais
5) Outros. Qual? ______________________
XVIII- Nos últimos cinco anos você participou de
cursos promovidos por alguma Universidade? XXVI- Qual é a sua situação funcional na escola em
1) Sim que você tem mais horas/aula?
2) Não 1) Efetivo/concursado
2) ACT
XIX- Nos últimos cinco anos você participou de 3) CLT/contratado
cursos promovidos por editoras, escolas particulares, 4) Eventual
consultorias ou outros? 5) Outro. Qual? _________________________
1) Sim
2) Não XXVII- Se você tivesse outra opção, continuaria
sendo professor?
XX- Na maioria destes cursos, sua participação foi 1) Sim. Por quê?____________________________
motivada por: 2) Não, porque esta é uma carreira mal remunerada.
1) Indicação da escola 3) Não, porque me sinto desrespeitada (o) em meus
2) Necessidade de atualizar-se direitos de carreira
3) Possibilidade de ascensão na carreira 4) Não, por causa do cansaço excessivo
4) Outro. Qual?__________________________ 5) Não, por outros motivos. Quais?_____________
XXI- Você optou pela carreira do magistério XXVIII- Na sua opinião, a ascensão profissional do
predominantemente por: professor depende principalmente de:
1) Aptidão ou vocação 1) Curso de graduação
2) Afinidade com crianças e/ou adolescentes 2) Cursos de aperfeiçoamento
3) Tradição de família 3) Tempo de serviço
4) Perspectiva de aumento na renda familiar 4) Bom relacionamento com pessoas influentes
5) Outro motivo. Qual? ________________ 5) Outros. Quais?___________________________
XXXIII- Na avaliação, você considera outros aspectos XLII- Você costuma ler jornal de veiculação
além dos mencionados nas questões anteriores? Nacional:
1) Sim. Quais? _______________________ 1) Sempre
2) Não. 2) Quase sempre
3) Às vezes
XXXIV- Você poderia dizer que as condições do 4) Raramente
ambiente físico do seu trabalho são: 5) Nunca
1) Ótimas
2) Boas XLIII- Você costuma ler livros científicos/
3) Regulares acadêmicos:
4) Ruins 1) Sempre
5) Péssimas. 2) Quase sempre
3) Às vezes
XXXV- As condições socioeconômicas da 4) Raramente
comunidade atendida pela sua escola são: 5) Nunca
1) Ótimas
2) Boas XLIV- Você costuma ler livros de literatura:
3) Regulares 1) Sempre
4) Ruins 2) Quase sempre
5) Desconheço as condições sócio-econômicas da 3) Às vezes
comunidade atendida pela escola. 4) Raramente
6) Outra. Especifique:_____________________ 5) Nunca
XXXVI- Participa de algum tipo de associação? XLV- Você costuma ler livros de auto-ajuda:
Qual? 1) Sempre
1) De bairro 2) Quase sempre
2) De pais e professores 3) Às vezes
3) De sindicato 4) Raramente
4) Outra. Qual? ________________________ 5) Nunca
5) Não participo de nenhuma associação..
XLVI- Você costuma ler livros/folhetos religiosos:
XXXVII- Quantas horas de televisão você assiste por 1) Sempre
semana: 2) Quase sempre
1) Menos de 1 hora 3) Às vezes
2) 1 até 5 horas 4) Raramente
3) 6 até 10 horas 5) Nunca
4) Mais de 10 horas
5) Nunca (pule para a questão 40) XLVII- Você costuma ler apostilas:
1) Sempre
XXXVIII- Você assiste com mais freqüência: 2) Quase sempre
1) Novela 3) Às vezes
2) TeleJornal 4) Raramente
3) Filmes 5) Nunca
4) Documentários ou programas educativos
5) Outro. Qual?__________________________
XXXIX- Qual a emissora que você mais assiste? LVI- O que você entende por cultura?
1) Record 1) O conhecimento que alguns indivíduos possuem
2) SBT das grandes obras artísticas e científicas da
3) Bandeirantes humanidade.
4) Globo 2) O conjunto dos conhecimentos, valores, crenças,
5) Outra. Qual? _______________________ costumes e hábitos, enfim, modos de vida de grupos
XLVIII- Você costuma ler revistas especializadas em sociais.
educação: 3) O conjunto de produções realizadas pela
1) Sempre humanidade ao longo da história, o qual também
2) Quase sempre produz esta humanidade.
3) Às vezes 4) Outro. Qual?___________________
4) Raramente
5) Nunca LVII- Você tem computador em casa?
1) Sim
XLIX- Você costuma ler revistas de entretenimento 2) Não
(por exemplo Contigo, Casa Cláudia, Caras):
1) Sempre LVIII- Você tem computador no seu local de
2) Quase sempre trabalho?
3) Às vezes 1) Sim
4) Raramente 2) Não
5) Nunca
LIX- No computador, você usa Internet para
V- Você costuma ler material didático: pesquisar:
1) Sempre 1) Sempre
2) Quase sempre 2) Quase sempre
3) Às vezes 3) Às vezes
4) Raramente 4) Raramente
5) Nunca 5) Nunca
LI- Você tem livros em casa? LX- Você usa Internet para participar de Chats (bate-
1) Sim papo):
2) Não 1) Sempre
2) Quase sempre
LII- Quantos livros você tem em casa? 3) Às vezes
1) Até 10 livros 4) Raramente
2) De 11 a 30 livros 5) Nunca
3) De 31 a 50 livros
4) 51 livros ou mais. LXI- Você usa e-mail:
5) Nenhum 1) Sempre
2) Quase sempre
LIII- Qual o número de livros que você costuma ler 3) Às vezes
em média por semestre? 4) Raramente
1) 1 livro 5) Nunca
2) 2 a 3 livros
3) 4 a 6 livros LXII- No computador, você usa programas
4) Mais de 6 livros educativos:
5) Nenhum 1) Sempre
2) Quase sempre
LIV- Dos seguintes escritores brasileiros, quantos 3) Às vezes
você já leu (Cecília Meireles, Clarice Lispector, Érico 4) Raramente
Veríssimo, João Guimarães Rosa, Jorge Amado, José 5) Nunca
de Alencar, Machado de Assis, Mário de Andrade,
Mário Quintana, Paulo Coelho, Raquel de Queirós)? LXIII- Você costuma ouvir música:
1) Nenhum 1) Sempre
2) De 1 a 3. Quais?_____________________ 2) Quase sempre
3) De 4 a 6. Quais?_____________________ 3) Às vezes
4) De 7 a 9. Quais?_____________________ 4) Raramente
5) Nunca
LV- Para você, educação estética é: LXXI- Você costuma freqüentar Igreja ou Templo ou
1) Uma expressão desconhecida Culto:
2) Ter conhecimento de artes e de literatura 1) Sempre
3) Saber apreciar o belo e a beleza das coisas 2) Quase sempre
4) Cuidar da aparência 3) Às vezes
5) Educar o ser humano de modo integrado 4) Raramente
6) Outro. Qual? _________________________ 5) Nunca
LXIV- Você costuma ir ao cinema:
1) Sempre LXXII- No seu lazer, você costuma praticar algum
2) Quase sempre esporte/atividade física:
3) Às vezes 1) Sempre
4) Raramente 2) Quase sempre
5) Nunca 3) Às vezes
4) Raramente
LXV- Você costuma ler: 5) Nunca
1) Sempre
2) Quase sempre LXXIII- Você costuma confraternizar com
3) Às vezes amigas(os):
4) Raramente 1) Sempre
5) Nunca 2) Quase sempre
3) Às vezes
LXVI- No seu lazer, você costuma ir ao shopping: 4) Raramente
1) Sempre 5) Nunca
2) Quase sempre
3) Às vezes LXXIV- Nas horas vagas, você costuma fazer alguma
4) Raramente atividade manual, como tricô, crochê, tapeçaria,
5) Nunca pintura:
1) Sempre
LXVII- Você costuma passear com a família: 2) Quase sempre
1) Sempre 3) Às vezes
2) Quase sempre 4) Raramente
3) Às vezes 5) Nunca
4) Raramente
5) Nunca LXXV- Marque com um ‘X’ o grau de instrução do
chefe de família.
LXVIII- Você costuma ir à praia:
1) Sempre
2) Quase sempre Grau de instrução
3) Às vezes Pontos
do chefe da família a
4) Raramente
5) Nunca Analfabeto/Primário incompleto
Primário completo/Ginasial
LXIX- Você costuma assistir filmes em casa: incompleto
1) Sempre Ginasial completo/Colegial
2) Quase sempre incompleto
3) Às vezes Colegial completo/Superior
4) Raramente incompleto
5) Nunca Superior completo
sido importantes e que você relacione com sua prática pedagógica? Se sim, especificar.
_____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
LXXVII. Como foi a reação das pessoas de sua família com sua escolha profissional?
_____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Nome: __________________________________________________________
Escola __________________________________________________________
1. Nome: __________________________________________.
2. Idade: _______
3. Como você define sua profissão? O que é ser professor pra você?
4. Como se sente enquanto professor?
5. Há satisfação na sua profissão? Em que momentos?
6. Há insatisfação? Em que momentos?
7. Você costuma ler (e/ou gosta de ler)? O que? Com que freqüência?
8. Você costuma estudar (e/ou gosta de estudar)? O que? Com que freqüência?
9. Quem é ou como são os alunos com os quais você trabalha?
10. Em sua sala de aula, coisas acontecem que lhe são prazerosas? E desprazerosas?
11. Fale-me um pouco sobre seu dia de trabalho.
12. Você gostaria que alguma coisa mudasse em seu cotidiano? O que?
13. Quando você tem um conteúdo novo para ensinar, qual seu procedimento? (Como
você faz)
14. Quanto tempo dispõe para o preparo das aulas?
15. Como é feito seu plano de aula bimestral? Quem o auxilia nesta tarefa?
16. Nos anos de trabalho, consegue perceber mudanças na sua prática? Em que sentido?
A que se devem estas mudanças?
17. Como você avalia seu trabalho? Que aspectos avalia?
Segunda entrevista - Historia profissional
18. Há quanto tempo trabalha como professor: ___ no serviço público ___ nesta escola.
19. Fale-me um pouco sobre como se deu sua escolha profissional?
20. Ser professor era exatamente o que você queria, ou foi à única opção possível no
momento da escolha?
21. Já exerceu atividades profissionais vinculadas à educação, além da atividade docente?
Quando? Por quanto tempo?
22. Já exerceu atividades profissionais não vinculadas à educação? Percebe alguma
relação entre estas e a sua atuação como educador?
23. Se hoje você pudesse escolher, continuaria sendo professor ou escolheria outra
profissão? Por que? Qual?
24. Você participou de cursos após a formação principal? Quais? Com que freqüência faz
esses cursos?
25. Esses cursos que você participa, são escolhidos por você ou a instituição determina
que você participe?
26. Qual foi o ultimo curso que você participou? Que expectativas você tinha quanto ao
curso? As expectativas foram alcançadas?
27. Você consegue colocar em prática, o que aprende nesses cursos? Em que situações?
Pode citar exemplos?
Anexo 03 – Apresentação dos Dados do Questionário
APRESENTAÇÃO DOS DADOS DO QUESTIONÁRIO
25
20
15
%
10
5
0
até 29 a 39 a 49
23 33 43 ou
mais
Idade
Verifica-se através do gráfico 01, referente à idade dos entrevistados, que 50% destes
possuem idade inferior a 33 anos, sendo assim uma população “jovem”. Através do gráfico 02
é possível perceber que a maioria (90%) dos entrevistados são do sexo feminino.
Masculino
Feminino
90%
Separado(a)/Divo
10%
rciado(a)
Viúvo(a)
40%
União Estável
0%
5%
5% Só você
1a2
40% 3a4
50%
5a6
Mais de 6
A partir dos dados do gráfico 04, percebe-se que o índice de pessoas corresponde 3 a
4 pessoas por residência (50% dos entrevistados) e em apenas 5%, esse índice é superior a
seis pessoas. Verifica-se através do gráfico 05, que o maior percentual (80%), refere-se a
entrevistados que residem em moradia própria e devidamente quitada, 5% residem em
moradia também própria, mas financiada, sendo que o restante (15%) reside em moradia
alugada, emprestada ou com os pais.
Emprestada
Dos Pais
80%
De carona
25% De ônibus
40%
Caminhando
De
bicicleta/Motocicleta
Outro
30%
É único provedor
0% 10%
5%
É principal provedor
10%
Ajuda a família
Se sustenta
Depende de outro
75%
Fora da área da
Educacao
Não complementa
70%
Profissionalizante /
Outros
Educação Geral
Supletivo
100%
Cursando outro
40%
Pedagogia concluído.
55%
Outro
0%
Sim
Não
90%
100
90
80
70
60
% 50
40
30
sim
20 não
10
0 não
Prefeitura
sim
Gov. Estadual
Universidade
Outros
10%
20%
Indicação da escola
Necessidade de
atualizar-se
Possibilidade de
ascensão na carreira
70%
5% Tradição de família
Perspectiva de
aumento na renda
35% 55% familiar
Outro motivo
Ainda com relação a fatores motivacionais, o gráfico 17, demonstra que 55% dos
entrevistados dizem permanecer na profissão por escolha, enquanto 20% destes afirmam que
se houvesse oportunidade não mais seriam professores, pois a carreira é mal remunerada.
Conforme o gráfico 18, 50% dos entrevistados avaliam que o curso de graduação é
possibilidade de ascensão na carreira, enquanto 10% destes, acreditam que a possibilidade só
é viabilizada pelo tempo de serviço ou ainda pelo bom relacionamento com pessoas
influentes.
15% Cursos de
aperfeiçoamento
5% Tempo de serviço
5%
50%
Bom relacionamento
com pessoas
influentes
25% Não respondeu
5% Menos de 1 ano
25%
20% De 1 até 5 anos
De 6 até 10 anos
De 11 até 15 anos
Mais de 15 anos
50%
O gráfico 19 evidencia que, 50% dos entrevistados exercem a profissão num período
entre 11 e 15 anos, e 25% destes tem mais de 15 anos de trabalho, sendo que apenas 5% dos
entrevistados exercem a atividade até no máximo 5 anos. Quanto a jornada de trabalho, o
gráfico 20 informa que o 85% dos entrevistados tem jornada semanal de 40 horas/aula.
5% 11 até 20 h/a
21 até 30 h/a
31 até 40 h/a
mais de 40 h/a
85%
Quanto aos critérios utilizados pelos professores para avaliação dos alunos, o gráfico
21 permite observar, que o maior índice (80%) sempre considera a participação dos alunos em
sala e 50% dos entrevistados se refere ao comportamento dos alunos como critério
significativo na avaliação. Ainda é significativo, os 45% de entrevistados que consideram a
“pontualidade, criatividade, interesse e desenvolvimento da criança” como critério para
avaliá-las.
Gráfico 21. Distribuição do percentual referente aos critérios utilizados pelos entrevistados
para avaliação dos alunos.
Licoes de casa
Comportamento
dos alunos
0 20 40 % 60 80 100
Péssimas. Condiçoes da
comunidade
Ruins atendida
Regulares
Condicoes do
Boas ambiente de
trabalho
Ótimas
0 20 40 60 80
O gráfico 23, tem índice significativo de 75% dos entrevistados afirmando que não
participam de nenhuma associação.
De bairro
15%
De pais e professores
10% De sindicato
Outra
5%
10% 20%
Menos de 1 hora
10%
1 até 5 horas
6 até 10 horas
Mais de 10 horas
Nunca
55%
O gráfico 24, evidencia que 55% dos professores entrevistados assistem no máximo 5
horas de televisão. Quanto ao tipo de programas assistidos, o gráfico 25, demonstra que 45%
dos entrevistados preferem os telejornais, e 25% se distraem assistindo novela.
5% Novela
25%
20% TeleJornal
Filmes
5%
Documentários ou
programas educativos
45% Outro
Gráfico 26. Distribuição do percentual referente ao tempo disponibilizado e tipo de leitura realizada pelos
entrevistados.
Material didático
Revistas entretenimentos
apostilas
Raramente
Folhetos religiosos
Às vezes
Livros auto-ajuda
Quase sempre
Livros literatura
Sempre
Livros científicos
Jornal Nacional
Jornal estadual
Jornal local
0 10 20 30 40 50 60 70
De 11 a 30 livros
De 31 a 50 livros
Nenhum
45%
O gráfico 27, evidencia que 45% dos professores entrevistados possuem até 33 livros
em casa e 25% possuem mais de 51 livros. Quanto à quantidade de livros lidos por semestre,
o gráfico 28, apresenta maior percentual (45%) evidenciando que os entrevistados lêem ate 3
livros por semestre.
1 livro
25% 20%
2 a 3 livros
4 a 6 livros
Mais de 6 livros
10%
Nenhum
45%
O gráfico 29, revela que apenas 15% dos entrevistados desconhecem o significado da
expressão “educação estética”, e 50% afirmam que significa “educar o ser humano de modo
integrado”. Também é significativo o índice de 85%, referente à afirmação de que “cultura” é
o “conjunto de conhecimentos, valores, crenças, costumes e hábitos, enfim, modos de vida de
grupos sociais”.
5% O conjunto dos
conhecimentos, valores,
10%
crenças, costumes e hábitos,
enfim, modos de vida de
grupos sociais.
O conjunto de produções
realizadas pela humanidade
ao longo da história, o qual
também produz esta
humanidade.
Outro
85%
Não respondeu
Não
No trabalho
Sim
Em casa
0 20 40 60 80 100
A partir do gráfico 31, identifica-se que 80% dos entrevistados não possuem
computador e 60% utilizam o mesmo do ambiente de trabalho. Quanto à freqüência e
objetivos para uso do computador, os índices mais significativos (entre 45% e 75%)
demonstram que “nunca” fazem uso do mesmo, e no máximo 10% dos professores utilizam o
computador com freqüência, objetivando “pesquisa e programas educativos”.
Nunca
Programas
educativos Raramente
Às vezes
E-mail
Quase sempre
Chats Sempre
Pesquisa
0 10 20 30 40 50 60 70 80
O gráfico 33, permite observar que os índices mais significativos (50% e mais) estão
relacionados a “confraternização com amigos, passeios com a família e leitura” como lazeres
preferidos. Também se faz significativo os 45% que raramente vão ao cinema.
Nunca
Confraternizar com Amigos
Raramente
Praticar Esportes
Às vezes
Ir a Igreja
Quase
Visistar parentes sempre
Sempre
Assistir filmes
Ir a Praia
Ir ao Shopping
Ler
Ir ao Cinema
Ouvir Música
0 10 20 30 40 50 60
Parentes
25% professores
Suas professoras
primárias
25% Não respondeu
Os próprios
alunos
20%
10%
De acordo com o gráfico 34, 25% dos entrevistados não responderam a esta questão, e
ainda 25% dos entrevistados afirmaram não ter pessoa significativa relacionada a sua prática
pedagógica. Também são significativos os índices 15% e 20% que relacionam como
importantes colegas de trabalho e as professoras primarias, respectivamente. Quanto aos
acontecimentos significativos 20% foram relacionados com situações experiências pelos
professores entrevistados enquanto alunos.
Não respondeu
25%
30%
Nenhum acontecimento
Situacoes
desagradáveis na vida
escolar
10% situacoes prazeirosas
25% na vida escolar
10% Outras respostas