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Porém, será que esses argumentos sobrevivem a um exame mais apurado? Abaixo,
listamos, alguns dos principais argumentos defensores do aborto, e como eles não se sustentam
diante da realidade:
“Se uma criança é concebida a partir de estupro ou incesto, por que é justo sujeitá-la a nove meses
de gravidez que envolve uma lembrança todos os dias do que ela passou?”
Em primeiro lugar, trata-se de uma falsidade estatística. Nos Estados Unidos, por
exemplo, onde o aborto é legalizado há décadas, e onde várias organizações tanto a favor quanto
contra o aborto coletam estatísticas, as análises mais recentes demonstram que os abortos por
violação e incesto representam menos de 1% de todos os casos2.
Isso acontece primeiro porque há menos estupros do que se alardeia, segundo porque
nestes casos, o próprio trauma da situação faz com que as mulheres tenham dificuldade de
engravidar. E mesmo naqueles casos em que isso acontece, é um erro supor que permitir o aborto
aliviará o sofrimento da mulher.
Além disso, os defensores do aborto se esquecem que, se levar a gravidez até o fim é
fonte de sofrimento e fere a liberdade da mulher, de outro lado a perca relativa ao bebê por nascer
é muito maior, pois este perde o bem jurídico supremo, que é a vida. Nenhum nível de sofrimento
pode justificar o assassinato de um inocente, pois o bebê fruto do estupro não escolheu estar nessa
situação, e não pode ser penalizado como se fosse culpado:
Por fim, independente da origem consensual ou não da gravidez, a biologia ensina que
o corpo da mulher se prepara, física e hormonalmente, para receber o bebê, com profundas
consequências também no campo psicológico. Interromper esse processo, longe de diminuir,
muitas vezes agrava o trauma da gestante, que leva muito mais tempo para se recuperar. O que nos
leva ao próximo ponto.
3Fernanda Patrícia Lopes Matos. Aborto: liberdade de escolha ou Crime. Universidade Presidente Antônio Carlos.
Barbacena/MG, 2011.
NÚCLEO DE ESTUDOS PRÓ-VIDA MANAUS
“Se o aborto fosse legalizado, as mulheres poderiam ter acesso a um procedimento seguro e
higiênico, e sairiam dele sem maiores complicações, nem traumas. Impedir a prática do aborto é
traumatizar as mulheres”.
Vende-se a ideia de que, legalizado o aborto, não haveria maiores complicações para a
mulher, que sairia da clínica ou do hospital despreocupada e sem maiores consequências; contudo,
a prática empírica e a produção científica, há muitos anos, concluem em sentido contrário.
E ainda:
6 Solange Maria dos Anjos Gesteira, Vera Lúcia Barbosa e Paulo César Endo. O luto no processo de aborto provocado.
Revista Acta Paul Enferm, 2006, 19(4): 462-7;
7 Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre: Artes Médicas; 1994;
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“Vocês são contra o aborto por causa da religião. Não existe base científica para ser contrário ao
aborto. Isso é a Igreja querendo impor a sua visão moralista, dogmática, atrasada. A ciência não vê
problema na prática do aborto no início da gestação, pois não se está diante de uma vida humana”.
Mesmo já tendo enumerado várias produções científicas ao longo dos anos, algumas
listadas neste material, que demonstram cabalmente como o aborto é comprovadamente
prejudicial e traumático para a mulher em qualquer caso, os defensores do aborto geralmente
insistem que a defesa da vida trata-se de uma posição religiosa, sem nenhuma base científica, e que
a Igreja quer impor a sua visão aos cientistas e à sociedade, especialmente ao dizer que a vida
humana começa na concepção, quando na verdade o bebê no início da gestação seria apenas um
amontoado de células.
Porém, na verdade para muitos estudiosos do tema foram os avanços da ciência que
influenciaram na tomada de posição da Igreja, e não o contrário. A defesa da vida desde a concepção
nasceu inicialmente no meio científico, e a partir das conclusões da ciência foi que a Igreja firmou
posição no sentido de defender a vida humana desde a concepção:
Em 1827 Karl Emst von Boar descreveu pela primeira vez o processo de
concepção, e em meados do século XIX os médicos estavam já
completamente convencidos da existência desse processo. Muitos
médicos começaram então uma campanha para proibir o aborto. A frase
8 Broen AN, Moum T, Bodtker AS, Ekeberg O. The course of mental after miscarriage and Induced abortion: a
longitudinal, five-year follow-up study. BMC Med 2005; 3:18.
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que todos pensam ter sido inventada pelo Vaticano ‘a vida humana
começa no momento da concepção’, data, de fato, dessa campanha
iniciada pelos cientistas no século XIX9.
Na Grécia antiga, Hipócrates, pai da Medicina, cujo juramento é até hoje recitado por
médicos no dia de sua graduação mundo afora, já havia chegado à conclusão de que a vida humana
se inicia no momento em que a semente do homem encontrava-se com a semente da mulher, e que
a partir daí já se estava diante de uma nova vida, cuja continuidade não poderia ser interrompida.
É por isso que no juramento que ele elaborou para os médicos se lê:
O pensamento de Hipócrates era defendido pelo menos desde o século II pela Escola de
Alexandria, uma importante corrente filosófica do início de nossa era, absolutamente desvinculada
de crenças religiosas. Esses filósofos eram conhecidos como ecléticos justamente porque seu
objetivo era procurar a verdade onde quer que se encontrasse, independente de preconceitos ou
de crenças anteriormente formadas.
Aliás, quem também argumentava, junto com Hipócrates e com os alexandrinos que um
novo ser humano ocorria no que hoje se chama concepção eram os epicuristas, que hoje seriam
considerados, ateus ou pelo menos indiferentes do ponto de vista religioso:
9 Fernanda Patrícia Lopes Matos. Aborto: liberdade de escolha ou Crime. Universidade Presidente Antônio Carlos.
Barbacena/MG, 2011;
10 https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Historia&esc=3
A dignidade do Embrião Humano. Diálogo entre Teologia e Biotética. Mário Antonio Sanches, José Odair Vieira e
11
Esse mesmo raciocínio foi desenvolvido em tempos mais recentes pelo filósofo Olavo de
Carvalho, também em argumentação desvinculadas de qualquer sentido religioso:
12 Olavo de Carvalho. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Record, 2013, São Paulo, p. 384.
13 Suma Teológica, V, questão 118, a.2 e a.3.
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Portanto, foi o avanço da ciência, e não o dogmatismo, que levaram a Igreja a defender
a vida humana desde a concepção. A Igreja não tomou uma decisão anticientífica, pelo contrário, a
sua posição a respeito da defesa humana desde a concepção começou a se propagada com firmeza
a partir das descobertas científicas.
E ainda:
Inclusive dentro do Direito, que também é ciência, não faltam aqueles que, sem
necessidade de qualquer argumento religioso, defendem a necessidade de preservação da vida
intrauterina. O Ministro aposentado do STF Eros Grau, em recente artigo jornalístico, assim se
pronunciou:
14 Books, 1997, p. 39. Relatório do American College of Obstretics and Gynecology para a Suprema Corte dos EUA, de
Outubro de 1971, nº 70-18, Roe vs. Wade, e nº 70-40, Doe vs. Bolton.
15 Morre, Keith L. Essentials of Human Embryology. Toronto: B.C. Decker, 1998, p.2.
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Ainda no campo do Direito, em julgamentos anteriores no STF, quando ainda não era
ocupado por pessoas ideologicamente comprometidas, vemos outra linha de argumentação em
defesa da vida humana que nada tem de religiosa:
Na verdade, tanto o impedimento do aborto não é uma questão religiosa que até entre
os mais famosos ateus de nossa época se encontram pessoas contrárias à sua prática. Exemplo é o
do escritor Christopher Hitchens, falecido em 2011, que foi uma das vozes fortes a nível mundial
contra a religião e a favor de seu abandono em favor da “ciência” do século XXI, e que ao ser
questionado se já se estava diante de uma vida humana a partir da concepção, disse:
16 https://oglobo.globo.com/opiniao/juizes-que-fazem-as-suas-proprias-leis-20622275;
17 STF, ADPF 54, p. 169.
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Fica claro, portanto, que o entendimento de que a vida humana se inicia na concepção
não é uma posição exclusivamente religiosa, pelo contrário, são as conclusões da ciência e da
filosofia que são segurança para que os religiosos defendam a vida desde a concepção.
“Humano ou não, no início da gestação ele é apenas um amontoado de células que não vive fora do
corpo da mãe. Não sente dor, não pensa, não tem interesses próprios. Não há problema em expulsá-
lo. Meu corpo, minhas regras”.
Alguns abortistas não apenas negam que o bebê dentro da barriga da mãe seja uma vida
humana. Vão mais longe e afirmam mais ainda, dizem que, pelo menos no início da gravidez, não se
poderia sequer considerar o bebê como um ser vivo autônomo, mas apenas um amontoado de
células dentro da barriga da mãe, de forma que a mulher pode expulsá-lo quando bem entender.
De princípio, vale dizer que, ainda que o feto fosse uma parte do corpo da mãe, isso
seria irrelevante em uma discussão séria. Segundo o professor de filosofia da Universidade do
Estado de Nova Iorque em Buffalo, David Herhenov:
18 https://pt.aleteia.org/2014/08/11/uma-poderosa-argumentacao-laica-e-ateia-contra-o-aborto/
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que importa moralmente são outros fatores, como o valor das gêmeas
siamesas e a sua capacidade de serem prejudicadas e beneficiadas19.
De fato, ainda que se considerasse um feto como sendo apenas uma parte da mulher,
isso ainda não seria suficiente para justificar o seu abortamento. Pensar diferente seria admitir que
qualquer um de nós pode, livremente, arrancar o próprio braço, ou a perna, ou um pulmão. Porém,
trata-se de uma loucura.
Porém, por esse raciocínio, até mesmo solitárias e lombrigas, que não possuem
viabilidade fora do organismo humano, deveriam ser considerados partes dele, e o ato de tomar
remédios para matar os vermes deveria ser considerado um atentado contra a própria integridade
física.
É fácil de ver, portanto, que esse argumento não se sustenta. Pois o que determina uma
nova vida não é a dependência temporária de um hospedeiro ou a complexidade do organismo:
19https://www.gazetadopovo.com.br/justica/dez-argumentos-ruins-mas-populares-a-favor-do-aborto-
0sjxgcpngro835cveciup2umn.
20 Idem.
21 Francisco Razzo. Contra o aborto. Record, 2017, Sâo Paulo, p. 44.
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Como já vimos anteriormente, a partir da concepção nasce um novo ser com material
genética diferente do da mãe. É um patrimônio genético único, que já possui em si mesmo todo o
princípio ativo de seu desenvolvimento:
Argumentar que o bebê não é um ser autônomo porque ainda não possui pensamentos
e vontade própria, porque ainda não possui consciência, é o mesmo que dizer que o ser humano só
conserva esta capacidade enquanto está acordado.
O ser humano não deve ser considerado uma pessoa somente a partir do
momento em que ele desenvolve o sistema nervoso central capaz de
consciência e racionalidade (...): é por ele já ser uma pessoa que
desenvolverá o sistema nervoso central capaz de consciência e
racionalidade.23
Porém, os abortistas ainda possuem uma úlima carta na manga, que é a de apelar para
o fato de que o aborto seria uma questão humanitária a nível mundial.
“Precisamos liberar o aborto pois é uma forma de garantir que não faltem alimentos, nem espaço.
É resolver o problema da superpopulação e ajudar os pobres a melhorarem a sua condição social.
Permitir o aborto é fundamental para o desenvolvimento da humanidade”.
De fato, apesar de o aborto ser legalizado nos Estados Unidos, e sendo a Planned
Parenthood a maior empresa de aborto na América do Norte, suas clínicas são
desproporcionalmente localizados em bairros pobres e da periferia, o que tem levado à progressiva
diminuição do percentual de população negra nos Estados Unidos.
24 Dr. Wetzel, recomendações escritas a pedido de Himmler, com relação às populações dos territórios russos a serem
ocupados. Disponível em Cultura da Morte – o grande desafio da Igreja. Monsenhor Juan Claudio Sanahuja, Editora
Katechesis, 2014, p. ;
25 http://www.gazetadopovo.com.br/ideias/o-que-e-a-planned-parenthood-e-por-que-ela-esta-na-mira-do-partido-
republicano-162oizhag4fmvukpufw7ksony;
26 http://www.gazetadopovo.com.br/ideias/o-que-e-a-planned-parenthood-e-por-que-ela-esta-na-mira-do-partido-
republicano-162oizhag4fmvukpufw7ksony;
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Além disso, a solução do aborto esconde uma profunda indiferença pelos pobres,
dando-lhes a permissão para que matem seus próprios filhos, ao invés de que sejam tomadas
efetivas medidas na distribuição justa de alimentos e outros recursos ao redor do mundo. A via do
aborto na verdade permite que os ricos e as nações prósperas se liberem do dever de ajudar os
países subdesenvolvidos, situação que foi denunciada pelo Papa Paulo VI diversas vezes nas Nações
Unidas:
E ainda:
Ora, não é uma nova forma de fazer a guerra impor às nações uma política
demográfica restritiva para assegurar-se que não reclamarão a parte que
lhes corresponde dos produtos da terra?29
Por fim, vale ressaltar que, ao contrário das abortistas, normalmente são os pró-vida
que ajudam as mulheres que se encontram em situação de vulnerabilidade, como demonstra, a
nível de Brasil, o eloquente testemunho da ex-fundadora e líder do FEMEN (um dos principais
movimentos feministas no mundo) no Brasil, Sara Winter.30 Ela deixa claro que, por trás do suposto
humanismo pró-aborto, na verdade se esconde muitas vezes uma profunda indiferença com a vida
humana. Inclusive a das mulheres.
30 https://www.youtube.com/watch?v=16xzYj4lONU.