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DOUGLAS, M.; ISHERWOOD, B. O mundo dos bens:


para uma antropologia do consumo. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2009.

PARA PENSAR O ESPAÇO DO CONSUMO

Daniel Coelho de Oliveira*

Ninguém explica por que as pessoas que- Uma dupla crítica é realizada pelos auto-
rem bens. Os economistas ignoram a questão e res: por um lado, relacionada aos pressupostos
os ambientalistas e moralistas apontam para a da economia neoclássica, baseados no utilita-
ânsia destrutiva da sociedade do consumo. O rismo, na racionalidade e na maximização dos
consumidor, longe de ser visto como alguém que resultados, e ainda as teorias de emulação,
realiza uma escolha soberana, seria o dono pas- cuja melhor expressão se encontra na obra de
sivo de uma carteira de dinheiro, cujo conteúdo Thorstein Veblen. Na visão deste autor, o con-
foi esvaziado por forças poderosas. A partir des- sumo deixa de representar somente a satisfação
tes apontamentos iniciais, Douglas e Isherwood racional de necessidades básicas e orgânicas.
(2009) procuram resgatar o consumo de volta Por outro lado, continua sendo visto sob um viés
para o processo social, inserindo-o dentro do moralizante, que relaciona o mundo dos bens
mesmo sistema social que explica a disposição materiais à banalidade. O consumidor foi retira-
para o trabalho. do do domínio da necessidade, porém, do lado
Publicada a partir de uma parceria entre oposto, torna-se quase um ser irracional no jogo
uma antropóloga e um economista, a obra con- da emulação e na incessante busca por status.
segue realizar uma vasta revisão das teorias eco- De acordo com essas motivações, o seu con-
nômicas e antropológicas sobre o consumo. Os sumo seria condicionado somente pelo desejo
autores fazem ricas comparações entre diversas de copiar ou imitar as classes com mais status.
sociedades, resgatando etnografias clássicas As críticas realizadas por Douglas e Baron
que abordam relações de troca e consumo em Isherwood (2009) chamam a atenção para as
diferentes culturas. dimensões culturais e simbólicas do consumo e
A obra se divide em duas grandes partes. para a diversidade de motivações e interesses
Na primeira, o foco é a demanda por bens. que perpassam o ato de consumir. Os bens são
Discute-se por que queremos os bens, ou, por vistos como comunicadores de valores sociais e
outro lado, por que poupamos e não queremos categorias culturais. Possuem a capacidade de
bens; também aborda o uso dos mesmos e tornar visíveis e estáveis certas categorias cul-
como estes podem servir para incluir e/ou excluir. turais. Todas as escolhas de consumo refletem
Temas como a tecnologia e a periodicidade do julgamentos morais e valorativos culturalmente
consumo também fazem parte da análise inicial. dados. Eles também possuem a capacidade de
Já na segunda parte, realiza-se a tentativa de carregar significados sociais relevantes, demons-
articular esferas econômicas separadas na et- trando algo sobre o indivíduo: seu grupo social,
nografia, além de fazer comparações internacio- sua família, sua rede de relações de forma geral.
nais, diferenciar as classes de consumo e definir Já na teoria utilitarista a visão do consumo
a noção de controle do valor da perspectiva da apenas supõe que o indivíduo esteja agindo ra-
utilização do tempo. cionalmente, na medida em que suas escolhas
são consistentes entre si e estáveis no curto

*Doutor em Ciências Sociais pelo Centro de Pós Graduação em Desenvolvimento Agricultura e Sociedade (CPDA/UFRRJ). Professor
do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). Montes Claros, Minas Gerais, Brasil.
E-mail: daniel.coelhoo@yahoo.com.br

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prazo que é relevante. Nesse sentido, o gosto é o duplo papel de provedores da subsistência e
tomado como dado, que reage à alta de preços de marcadores das linhas de relações sociais...”
comprando menos e à baixa comprando mais, e (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2009, p. 106). A ideia
também reage de maneira consistente à mudança é colocar entre parêntese o uso prático dos bens.
na sua renda. “Na proporção em que ele obtém Douglas e Isherwood (2009) procuraram
maior quantidade de um bem particular, seu de- construir uma teoria que explicasse o consumo
sejo por unidades adicionais desse bem diminui.” em sociedades industriais ou mesmo nas distan-
(DOUGLAS; ISHERWOOD, 2009, p. 56-57). Os tes sociedades tribais, ou seja, o desafio é pro-
antropólogos são críticos a essa posição, pois duzir uma definição antropológica de consumo
os indivíduos são vistos como sujeitos isolados. com bom alcance explicativo.
Assim como ninguém sabe por que as pessoas A cultura se constrói a partir de práticas
querem bens, também não se sabe muito sobre tradicionais ao longo do tempo. Ela é vista como
as razões que levam as pessoas a não gastarem. padrão possível de significados herdados do
No livro é proposta a criação de uma passado, ao mesmo tempo em que é um abrigo
fronteira a partir de uma ideia central da teoria para as necessidades interpretativas do pre-
econômica: a de que o consumo não é imposto, sente, levando em consideração que o principal
mas sim uma escolha livre do consumidor. Pode problema da vida social é fixar, de modo que eles
até ser irracional, supersticioso, tradicionalista ou fiquem estáveis por algum tempo. “Os rituais são
experimental, mas sua essência pressupõe uma convenções que constituem definições públicas
escolha soberana. Outra fronteira possível de visíveis. Antes da iniciação, havia um menino, de-
ser criada baseia-se na ideia de que o consumo pois dela, um homem; antes do rito do casamen-
começa onde termina o mercado. to, havia duas pessoas livres, depois dele, duas
O consumo é observado como a própria reunidas em uma.” (DOUGLAS; ISHERWOOD,
arena, onde a cultura é objeto de lutas que lhe 2009, p. 112). Na visão dos autores, viver sem
conferem forma. Desse modo, as pessoas que rituais é viver sem significados claros e, possi-
uma senhora convida para sua casa, quais partes velmente, sem memórias. Por isso, tanto para
da casa ela abre aos visitantes estranhos e com sociedades tribais quanto para nós, os rituais
que frequência, o que lhes oferece para beber servem para conter a flutuação dos significados.
e comer, são escolhas que traduzem e geram Ao comentar seu próprio livro, Douglas
cultura em seu sentido mais amplo. Ou seja, está (2007) explica que os economistas sempre pe-
em foco o controle do acesso aos bens como o diam auxílio para entender o “custo do tempo”.
fio condutor dos padrões de consumo e barreiras A solicitação de ajuda possibilitou desenvolver
são erguidas para impedir que muitos participem duas abordagens: a ideia de custo do tempo em
do círculo de trocas. momentos diferentes no dia e semana, e ano; e,
Entende-se que as escolhas de consumo em segundo lugar, sobre o não consumir, ou seja,
podem envolver custos elevados e que, uma vez a respeito das razões que levam uma pessoa a
feitas, podem determinar a evolução da cultura. guardar algo para o futuro. Nesta linha de teori-
Em toda cultura há coisas que não podem ser zação sobre consumo, a antropologia tem muito
vendidas ou compradas. Exemplo disso é a car- a contribuir porque sugere que os padrões de
reira política, que não deveria ser comprada. Na consumo são constituídos a partir de pressões e
sociedade, por exemplo, existe o hábito de sepa- expectativas de outras pessoas, e, desta forma,
rar o dinheiro do presente. É certo mandar flores distanciam-se dos desejos individuais.
para alguém, mas enviar dinheiro em uma caixa Todo universo social precisa de uma
de presente não seria uma boa opção. Assim, dimensão temporal demarcada. Um exemplo
os autores partem da suposição de que os bens é o calendário, que pode ser dividido em perí-
carregam significados sociais, por isso, a parte odos anuais, semestrais, mensais etc. Assim,
principal do seu uso concentra-se na capacida- é possível dizer que a passagem do tempo é
de de vê-los como comunicadores. Os bens são carregada de significado. “Outro ano passou, um
mais do que meios de subsistência, são meios ano começou; vinte e cinco anos, um jubileu de
de exibição competitiva. “Todos concordam a prata, cem, duzentos anos, uma celebração de
respeito dessa abordagem dos bens, que sublinha centenário ou bicentenário; há um tempo de viver

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Para Pensar o Espaço do Consumo

e um tempo de morrer, um tempo de amar. Os Os autores querem relacionar a frequência


bens do consumo são usados para marcar esses de uso ou consumo, ou seja, a periodicidade,
intervalos.” (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2009, p. com a posição hierárquica. A tese proposta afir-
133). Argumenta-se também que os bens são ma que a mudança no estilo de vida pode ser
portadores de significados, mas nenhum o é reconhecível no padrão de periodicidade nos pro-
por si mesmo. O significado só é decifrado nas cessos domésticos. “Se pudéssemos distinguir
relações entre todos os bens. as categorias sociais entre si pelo entendimento
Os bens são focalizados como projeto das periodicidades que governam seu uso dos
classificatório. Dessa forma, eles são como bens, teríamos uma ferramenta para agrupar
marcadores, a parte visível do processo social. as classes de bens em amplos compostos de
Os autores admitem que possa haver marcação mercadorias.” (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2009,
privada, mas a ideia é estudar seu uso público. p.181). Como resultado, na parte mais baixa da
É necessário tempo para fazer uma marcação escala social ocorreu uma elevada frequência
pública dos bens. Existem reuniões para classifi- dos processos do lar, fato diretamente relaciona-
car eventos, encontros para manter julgamentos do com o baixo grau de disponibilidade pessoal
antigos ou alterá-los. No processo de consumo para participar dos eventos de consumo de baixa
está subjacente a necessidade de compartilhar frequência e altamente valorizados. Na parte de
nomes, seu compartilhamento é a recompensa cima da escala social, a tendência se inverte
de um longo investimento de tempo e atenção. quando as periodicidades inflexíveis nos proces-
“O consumo físico permite a prova, o teste ou a sos domésticos são paulatinamente colocadas
demonstração de que a experiência em questão sob controle. Ou seja, os autores propõem que
é viável. Mas o argumento antropológico insiste mais do que possuidor de certos bens, o consu-
em que de longe, a maior utilidade não está na midor deve ser visto como operador de padrões
prova, mas no compartilhamento dos nomes de periodicidade.
que foram apreendidos e classificados. Isso é Em vários momentos do texto é chamada
cultura.” (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2009, p. atenção para a importância da periodicidade do
125). Portanto, observa-se que há um elevado consumo. Douglas e Isherwood (2009) ressaltam
custo de tempo para estabelecer nos significados que há uma ideia diferenciada do tempo, asso-
e compartilhá-los publicamente. ciada a diferentes tipos de atividade de consumo.
Os bens e seus nomes são parte de um “Ao discutir o tempo, então, temos de levar em
sistema de informações. Os indivíduos precisam conta o caráter autorrealizado das visões de
estar presentes nos serviços de marcação, nos curto e de longo prazo. A visão de curto prazo
rituais de consumo dos outros para poderem espera que uma cortina de incerteza impeça as
por em circulação seus próprios juízos sobre decisões de longo prazo, mas o fato mesmo de
a conformação das coisas utilizadas e para que todos assumem uma visão de curto prazo
celebrar as várias ocasiões. Pensar os bens cria aquela incerteza que justifica a preocupa-
como possibilidade de acesso à informação ção.” (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2009, p. 268).
permite dizer que há uma disputa relacionada É de conhecimento de todos que os bens
às oportunidades de participar deste comparti- são essenciais para subsistência. Por outro lado,
lhamento de informação. Em suma, o consumo Douglas e Isherwood (2009) percebem outras
é visto como mecanismo de poder, de inclusão funções importantes: os bens são capazes de
e exclusão. Retomando a pergunta inicial, por estabelecer e manter relações sociais. Não
que os homens precisam de bens?, vê-se que limitar o foco de visão ao uso prático dos bens
responder a este questionamento é essencial seria como perceber as escolhas individuais ou
para os propósitos dos autores: “O homem pre- grupais como formas de classificação, e o ato
cisa de bens para comunicar-se com os outros de consumir como um ritual. Com argumento
e para entender o que se passa à sua volta.” semelhante, Lévi-Strauss (1989) ressalta que
(DOUGLAS; ISHERWOOD, 2009, p.149). No mais do que bons para comer, certos produtos
entanto, os bens não são usados somente com são bons para pensar. Um objeto pode ser bom
o objetivo de informação, há preocupação mais para comer, abrigar ou vestir, mas sua maior
importante, a de controlá-la. virtude está na capacidade de apresentar uma

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face visível da cultura. Neste sentido, através apenas ao status, mas, à personalidade, aos inte-
do consumo, é possível selecionar, classificar e resses e aos gostos de quem os possui. Douglas
dar sentido ao conjunto de relações que rodeia e Isherwood (2009) destacam que os bens de
o cotidiano das pessoas. consumo não são meras mensagens; eles consti-
tuem o próprio sistema. “Os bens são neutros, seus
Posicionamentos Finais usos são sociais, podem ser usados como cerca
ou como pontes.” (DOUGLAS; ISHERWOOD,
Na visão de Douglas e Isherwood (2009), 2009, p. 36). Ou seja, os usos sociais que é feito
os rituais de consumo seriam rituais de estabele- dos bens são determinantes para entender as
cimento e manutenção de relações.Compartilhar especificidades das relações sociais.
ou não deles diz muito a respeito de quem está Para finalizar o instigante debate de Dou-
incluído ou excluído de determinado grupo social. glas e Isherwood (2009) sobre a esfera do con-
É possível dizer que os autores construíram uma sumo, resgata-se Durkheim (1996, p. 473-474):
resposta inovadora ao discurso dos críticos da “Virá o dia em que nossas sociedades conhe-
sociedade de consumo que relacionam o ato de cerão de novo horas de efervescência criadora
consumir com alienação, estupidez, insensibili- ao longo das quais novos ideais surgirão, novas
dade à miséria ou futilidade. Os autores procu- fórmulas aparecerão para servir, durante um
ram distanciar-se de preconceitos relacionados tempo, de guia à humanidade; e, uma vez vividas
à esfera do consumo. essas horas, os homens sentirão espontanea-
Douglas (2007) destaca que foi seu objeti- mente a necessidade de revivê-las de tempo
vo, no livro O Mundo dos Bens, fazer uma alian- em tempo pelo pensamento, isto é, de conservar
ça entre a antropologia e a ciência econômica, sua lembrança por meio das festas que renovem
através de uma redefinição da concepção de regularmente seus frutos”. Os rituais de consumo
pobreza. A ideia é deslocar a definição da pos- presentes na sociedade contemporânea são
se de bens em si para uma concepção de rede mais do que um conjunto de práticas individuais
social de pobreza. Ou seja, o mais importante para satisfação das necessidades básicas. São
são as relações sociais que os bens sustentam. momentos nos quais há uma recriação a partir da
Em síntese, é possível afirmar que o con- criação do ideal; não se trata, portanto, de um ato
sumo relaciona-se diretamente com o poder, e secundário, ou inexpressivo, mas de momentos
nenhuma teoria importante sobre o consumo po- em que a sociedade se faz e se refaz.
deria se desvincular da crítica social. Os autores
conseguem desenvolver uma forma de medir o
Referências Bibliográficas
envolvimento social comparando diversos pa-
drões de consumo, e afirmam esperar que essa DOUGLAS, M. O mundo dos bens, vinte anos depois.
medida revele mais sobre a desigualdade social Horizontes Antropológicos. v. 13, n. 28. Porto
do que a maioria das medidas de distribuição Alegre: jul./dez. 2007.
de renda. ______.; ISHERWOOD, B. O mundo dos bens:
De acordo com Fontenelle (2005), os au- para uma antropologia do consumo. Rio de Janeiro:
tores demonstram que não seria possível falar Editora UFRJ, 2009.
de “irracionalidade do consumidor” como se
eles fossem manipulados pelas propagandas DURKHEIM, É. As formas elementares da vida
ou simplesmente consumidores que competem religiosa: o sistema totêmico na Austrália. São Paulo:
Martins Fontes, 1996.
invejosamente. É proposto que os bens sejam
tomados como “fios e um véu que disfarça as re- FONTENELLE, I. A. Os sentidos do consumo. Revista
lações sociais que cobre.” (FONTENELLE, 2005, ERA. v. 45, n. 2, abr./jun. 2005.
p. 275). Os bens marcam apenas os padrões. No
LÉVI-STRAUSS, C. O Pensamento Selvagem. São
entanto, o que interessa, fundamentalmente, é o
Paulo: Papirus, 1989.
fluxo de trocas para o qual nos dirigem.
Os bens podem ser entendidos como um
“sistema de informação”, os objetos que um indi-
víduo específico possui e exibe não dizem respeito

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