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FILOSOFIA ANTIGA

Faculdade de Educação Teológica


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FILOSOFIA ANTIGA

FILOSOFIA ANTIGA
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 01
I.AS CONDIÇÕES SOCIAIS, ECONOMICAS E POLITICAS QUE
PROPRICIARAM PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA NA GRECIA ANTIGA....03
II.QUAIS AS CARACTERISTICAS DO PENSAMENTO MITICO, OU DO
MITO?.........................................................................................................................................06
III.OS PRIMEIROS FILÓSOFOS E O PROBLEMA DA ARCHÉ........................................08
3.1 TALES...................................................................................................................................09
3.2 ANAXIMANDRO................................................................................................................12
3.3 ANAXIMINES.....................................................................................................................14
3.4 HERÁCLITO........................................................................................................................15
3.5 PARMÊNIDES.....................................................................................................................16
IV.O PERÍODO CLÁSSICO: SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES..............................19
4.1 A PROPOSTA METAFÍSICA DE PLATÃO E SUA GÊNESE.........................................21
4.2 OS SOFISTAS.......................................................................................................................24
4.3SÓCRATES............................................................................................................................27
4.4 PLATÃO................................................................................................................................29
4.5 ARISTÓTELES.....................................................................................................................31
4.5.1 A METAFISICA ARISTOTELICA E OS VARIOS SENTIDOS DE SER....................35
V.PERÍODO HELÊNICO..........................................................................................................36
5.1 EPICURO..............................................................................................................................36
5.2 ESTOICISMO.......................................................................................................................38
5.3 CETICISMO..........................................................................................................................40
VI. UMA PROPEDÊUTICA AO MUNDO MEDIEVAL: A INFLUÊNCIA DA FILOSOFIA
GREGA.......................................................................................................................................42
CONCLUSÃO............................................................................................................................44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................45

Introdução à Teologia
1
FILOSOFIA ANTIGA

INTRODUÇÃO
O estudo da filosofia Antiga nos remete as origens do pensar filosófico e, da reflexão sobre a
condição em que o homem fez uso da razão para desvendar os mistérios que os circundava.
Atrelado, ao mesmo intuito, investigar, também, como o mesmo oferece respostas às questões que
são primarias ao intelecto perante o desconhecido. Uma dessas perguntas, que já nos vem de forma
mais sistematizada é: qual a arché, isto é, a origem das coisas que percebemos? A partir dessa
interrogação se move o pensamento daqueles que seriam os primeiros filósofos: Tales,
Anaximandro, Anaximines, Heráclito, Parmênides e todos os demais que compõe o universo da
Filosofia Antiga, em seu primeiro momento.
Tudo isso devido à própria Filosofia Antiga está dividida em dois momentos, que são eles: o
momento da investigação da phýsis no qual estes filósofos são conhecidos como os filósofos da
natureza ou cosmólogos , haja vista que, os mesmos buscavam um principio do qual pudessem
assegurar-lhes de forma racional a exposição da estrutura do mundo e do devir, ou seja, do vir a ser
(kínesis) de todas as coisas a partir da compreensão do objeto primeiro que constitui a matéria. O
momento posterior a este, tem como característica o pensar às questões da pólis e do próprio
homem e este momento – como já sabemos – é inaugurado por Sócrates. Em suma é conhecido
estes dois períodos como: pré-socrático (antes de Sócrates) e socrático (na época de Sócrates) e
podemos, aqui, acrescentar o período pós-socrático (depois de Sócrates).
O estudo delimitado desses pensadores nos requereria bastante tempo e uma maior
sistematização dos argumentos que perpassam todos os pensadores deste momento. Teríamos assim
um material bem substancioso, haja vista, estarmos estudando, não só, um período que tem vários
pensadores que o compõe, mas também, devido ao pouco material deixado por estes pensadores que
nos remeteria aos estudos dos fragmentos e do material doxografado. Portanto, a escassa literatura
dos mesmos, e o dirigir-se, em muitos casos, aos originais, nos remeteriam a estas dificuldades nos
obrigando assim, em muitas vezes, a uma interpretação e aproximação do pensamento desses
filósofos1.

1
Não queremos aqui nos prender aos manuais, mas sim, fazer uma apreciação retilínea que se faça
apresentar cada filósofo e as suas problemáticas. Por isto, o leitor poderá perceber que em
determinado momento haverá um corte para fazer uma discussão sobre um determinado problema
de extrema relevância – o problema do devir e do principio que ordena este movimento – e, no
mesmo, entrelaça todos os filósofos que buscam oferecer uma resposta a tal questão. Por isso,
alertamos que a apresentação seguira, em primeira instancia, uma linha expositiva de cada filósofo e
depois, quebraremos para demonstrar como em Platão todo este problema será questionado e como
o mesmo o trabalha perante a tradição e qual a síntese proposta pelo mesmo. Com isso ao apresentar
Platão, o leitor já saberá qual o problema que a tradição relega aos filósofos pós-socráticos. Isso se
repetirá com Aristóteles, haja vista, ao tentar compreende-lo deve-se saber qual o problema que lhe
é legado. Feita estas considerações, cremos que o leitor já saberá da nossa intenção ao
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No mais, esclarecemos que nossa intenção é de oferecer uma orientação e um estudo que
seja basilar, mas que, tende açambarcar as questões centrais desse período, como também, os
pensadores que, de certa forma, são mais notórios a tal momento. Assim sendo, o estudo, aqui
almejado consiste em apresentar àquilo que é central em tais filósofos para se ter a noção da
problemática enfrentada pelos mesmos visando assim uma melhor sistematicidade nos argumentos
e, acima de tudo, oferecer respostas a tais perguntas citadas acima sobre a problemática da arché.
Mas, antes de falarmos da filosofia antiga, se faz necessário irmos as bases desse
pensamento para melhor compreendermos como, o mesmo, se estrutura e as causas que são
basilares para tal acontecimento. Assim sendo, nesse primeiro instante falaremos um pouco sobre as
condições sócias que tanto contribuiu para que a Grécia se tornasse referencia nesta forma de
pensar. Ora, ao fazermos isso, temos a pretensão de colocarmos o leitor atento as questões históricas
e sociais que foram de extrema importância para o surgimento da filosofia. Como também,
colocarmos a forma de compreensão de mundo e, de como estes, compreendiam a natureza e a
“representavam” por meio da mitologia. Sem mais considerações passemos a apresentação
proposta.

I. AS CONDIÇOES SOCIAIS, ECONOMICAS E POLITICS QUE PROPRICIARAM


PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA NA GRECIA ANTIGA.

A filosofia, esta forma de pensar até então nova, teve o seu surgimento, depois de um longo
amadurecimento social e também intelectual. Se nos atentarmos para uma historia inicial dos gregos
(deixando aqui de falar das lutas e conquistas que os gregos passaram como também sua origem)
veremos que no princípio estes viviam de uma forma passiva no tocante a forma de pensar que tinha
como resultado uma reflexão sobre a vida e o seu significado e sua “representação”, mas, de forma
ingênua, isto é, por intermédio das historias por eles contadas as quais chamamos de mitologia.
Aqui podemos definir como a fase ingênua do pensamento, ou em suas remotas origens de
pensamento mágico.

apresentarmos estes pensadores desta forma.


Introdução à Teologia
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FILOSOFIA ANTIGA

Estes viviam no campo com suas criações, juntamente a isso cultivavam a terra para o
trabalho agrícola. A sociedade vivia centrada também na pessoa do rei, era ele o responsável pelas
normas e o controle de todos os problemas que compunham a vida social. Depois de algum tempo
essa sociedade se modificava, ou vai se modificando paulatinamente tornando-se uma sociedade
movida pela oligarquia urbana. Aqui temos o inicio de uma nova economia que se denomina de
economia monetária. Com isso, a figura do rei vai ficando ultrapassada trazendo algumas
conseqüências praticas: temos também a origem de uma sociedade que começa a se articular em
relação a sua economia. Elencamos, ainda, o apogeu nas artes que auxilia no fortalecimento do
comercio propiciando um maior relacionamento entre os cidadãos, pois a moeda muda a forma dos
negócios, haja vista, a troca não mais acontecer pelas próprias mercadorias, mas, agora, pela moeda.
Com isso a economia foi se fortalecendo e atraindo outros povos para dentro de seus
comércios, no qual mais tarde essas cidades foram se tornando centros comerciais bastante fortes.
Ora, como não se pensar com esse crescimento em outro crescimento: o demográfico.
Portanto, essas colônias com o seu fortalecimento sociopolítico foi, para alguns pensadores,
algo importante para o surgimento da filosofia. As palavras de Marilena Chaui vêm a corroborar
com tal afirmação. Cito-a:
“Muitas tem sido as explicações das causas históricas para a origem
da filosofia na jônia. Alguns consideram as navegações e as
transformações técnicas tiveram o poder de desencantar o mundo e
forçar o surgimento de explicações racionais sobre a realidade. Outros
enfatizaram a invenção do calendário (tempo abstrato), da moeda
(signo abstrato para a ação de troca) e da escrita alfabética (transcrição
abstrata da palavra e do pensamento), que teriam propiciado o
desenvolvimento da capacidade de abstração dos gregos. Abrindo
caminho para a filosofia. Sem dúvida, esses fatores foram importantes
e não podem ser desconsiderados nem minimizados, mas não foram os
principais. A principal determinação histórica para o nascimento da
filosofia é política: o nascimento, simultâneo a ela, da Cidade-Estado,
isto é, da polis, pois, com esta, desaparece a figura que foi a do
antecessor do filosofo o mestre da verdade (o poeta, o adivinho e o
rei-de-justiça)2

Assim sendo, com o surgimento da Cidade-Estado houve um crescimento intelectual que


poderá ser expresso na polis, onde o cidadão grego tem o direito de expressar seus conhecimentos
por meio da palavra e de fazer uso de sua liberdade de pensamento, ou seja, como não existiam
dogmas que refreasse qualquer critica, o homem era livre para questionar os deuses e suas origens.
Diferentemente dos orientais que desde suas origens se moviam por dogmas. Para os gregos não
existiam nenhum livro de revelação divina (tal como a bíblia), os sacerdotes tinham suas funções
resumidissimas3, com isso abria-se o caminho para o questionamento a cerca do sagrado e dos

2
CHAUI, Marilena. “Dos Pré-Socráticos a Aristóteles”, pág. 40
3
Propõe-se ao leitor, que se interessar pelo aprofundamento de tal questão a leitura do livro: As
Origens do Pensamento Grego. Nele Pierre Vernant faz um apanhado histórico e social daquele
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fundamentos que eram propostos a cerca do mesmo. Pierre Vernant nos explicita, e justifica, aqui,
nosso argumento. Cito-o:
“O aparecimento da polis constitui, na historia do pensamento grego,
um acontecimento decisivo. Certamente, no plano intelectual como no
domínio das instituições, só no fim alcançara todas as conseqüências;
a polis conhecerá etapas múltiplas e formas variadas. Entretanto,
desde seu advento, que se pode situar entre os séculos VIII e VII,
marcam o começo, uma verdadeira invenção; por ela, a vida social e
as religiões entre os homens tomam uma forma nova, cuja
originalidade será plenamente sentida pelos gregos 4”.

Estes fatores são de extrema relevância para o nascimento da filosofia, e, os mesmos não
devem ser esquecidos no substrato da reflexão sobre a nascente do pensamento filosófico, pois: “A
palavra não é mais o termo ritual, a formula justa, mas o debate contraditório, a discussão, a
argumentação5”. Portanto, de forma sucinta – claro que teríamos muito mais questões a tratar nesta
exposição – foi exposto um dos momentos chaves para se entender o surgimento da filosofia e a
importância que o contexto social e, por conseguinte, o andamento histórico teve para tal feito. Por
fim encerramos com as palavras de Vernant. Cito-o:
“A filosofia vai encontrar-se, pois ao nascer, numa posição ambígua:
em seus métodos, em sua inspiração, aparentar-se-á ao mesmo tempo
iniciações dos mistérios e as controvérsias da ágora; flutuará entre o
espírito de segredo próprio das seitas e a publicidade do debate
contraditório que caracteriza a atividade política6”

Para encerrarmos este momento, achamos conveniente, fazermos um comentário sobre as


características do pensamento mítico, haja vista que, mesmo filósofos como Platão que já faz parte
por excelência do pensamento filosófico e que tem em seu bojo racional uma grande complicação
interpretativa devido as categorias que o mesmo alcança, ainda, se utilizar desta pedagogia ou dessa
forma de falar do mundo para expor algum argumento ou tese sobre o principio. Portanto, sem mais
demora vamos a exposição dessas características.

II. QUAIS AS CARACTERISTICAS DO PENSAMENTO MITICO, OU DO MITO?

Percebemos que na historia da humanidade e, principalmente na historia dos gregos, a


presença de uma concepção mitológica que se estende até mais ou menos o século VI. a.C (não que

momento, bastante significativo, para uma melhor compreensão da origem, ou das causas, que
propiciaram o surgimento da filosofia.
4
VERNANT, Jean-Pierre. “As Origens do Pensamento Grego”, p. 41
5
Idem.
6
Idem, p 48.
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seja o fim do mito) e podemos fazer aqui um parêntese e dizer que hoje, ainda, se faz presente nas
sociedades em geral mas de forma diferente, é claro! Voltando ao assunto inicial vemos que varias
gerações conviveram com as idéias míticas. O mito era, acima de tudo, uma forma de organização
social, pois as sociedades se reunião ou se formavam através das crenças em algo superior a elas, ao
qual se sujeitavam.
O homem “arcaico” se encontrava no meio dos mistérios do cosmos, tudo na natureza era
para ele algo de difícil entendimento, superior a suas capacidades intelectuais. O homem deseja
compreender o que se passava no universo, e, o porquê de tudo, e a forma encontrada junto aos
enigmas da Phýsis, foi “criar” deuses, historias de heróis e grandes batalhas e começaram a explicar
os enigmas do universo mediante uma forma imaginativa.
Hesíodo explica como se deu a origem do mundo, tendo como arché o caos. Em seu livro
Teogonia temos o seguinte:
“primeiro de tudo houve o caos e mais tarde a terra de peito cheio
suportável e inabalável de tudo quanto existe. E Eros, o mais belo dos
deuses imortais (...) do caos nasceu o Erebo e a negra noite e da noite
o Éter e o dia, a terra gerou primeiro o céu constelado (...) e gerou,
também, o abismo insondável do mar” 7.

Então já se tem uma explicação do mistério de todos os mistérios, aliás, temos em Hesíodo e
Homero os escritores sagrados. Estes são por toda a história mítica as pessoas celebres e respeitadas
devido aos seus contos. Podemos perceber, ainda, como característica de pensamento mítico, uma
visão dualista, isto é, o mundo real e o mundo do sagrado, do divino. Então vemos nestes povos
uma maneira entrelaçada com o divino e uma forma de explicar os acontecimentos empíricos, que
se sucediam, mas que era de maneira desconhecida para os mortais (essa era a compreensão dos
povos, antes, até então, encontramos o Oráculo, o qual explicava os enigmas dos homens). Somente
os deuses tinham a compreensão do mundo sobrenatural e de tudo o que regia o cosmo, vemos
também que o mito agia de forma dupla no homem tornando-os seres bastante pacíficos,
reproduzindo deuses nas formas mais inusitadas para colocarem-se a serviço dos mesmos e por
outro lado, ao mesmo tempo, estes povos lutaram pelos seus ideais contra tudo o que vinha contra
seus princípios morais. Então vemos que se por um lado era pacifico por outro lado se tornou ativo
dentro do contexto social de seu tempo.
Então basicamente temos como característica do Mito, uma forma imaginária de explicação
para tudo aquilo que está na natureza, mas lhe causava intriga à compreensão dos mesmos. É uma
forma de explicar, ou melhor, de contar acontecimentos de tudo o que existia no mundo de forma
fabulosa. Não que deixasse de existir um raciocínio, mas é diferente do que viria mais tarde, mas

7
Hesíodo, “Teogonia”, vers. 116 a 132. Apud. Conford. f.m, 1981, p.315
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6
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não podemos – é claro – dizer somente que o mito era imaginações alucinadas, pois o “Mito é tudo,
que é nada”. Mas no progresso do seu tempo, este raciocínio vai se tornando mais maduro, vão
surgindo novas sociedades, estas mais interessadas em descobrir outras propostas para as perguntas
já existentes. Temos o aparecimento de pessoas ardentes de conhecimento que começaram a
questionar o mundo de forma mais racional e sistemática.
Tem-se, então, o inicio de uma nova forma de pensar. Começam a serem criadas discussões
em grupos para legitimar normas e regras e tudo aquilo que era posto, o que era colocado não tinha
mais credibilidade sem antes uma discussão a esse respeito, nasce assim nas praças publicas, uma
nova forma de pensar que é chamada de filosofia, da qual iremos agora adentrar.

III.OS PRIMEIROS FILÓSOFOS E O PROBLEMA DA ARCHÉ.

Antes de nos determos ao problema em especifico, faremos um breve comentário sobre a


transição do mito a filosofia (pois já demonstramos a sua característica acima), pois a filosofia
Antiga, ou neste momento que a chamaremos de pré- socrática, tem como foco as causas ou as
origens do mundo, noutras palavras, os elementos constituintes de toda a matéria. Com isso ela por
ser um saber racional por excelência se distancia da forma mitológica de narrar o mundo. Os deuses
já não mais existem e as explicações que eram atribuídas a eles são agora compreendidas a luz do
logos. Descobrir a arché é a intenção destes filósofos da phýsis ou cosmólogos que, doravante, o
próprio Aristóteles os chamara de filósofos da natureza. Estes acreditavam que era preciso encontrar
a realidade do mundo nele mesmo. Então o primeiro compromisso do homem é com a verdade que
se aplica a razão como fundamento daquilo que se busca
Assim sendo, a filosofia grega nasce como um esforço perante o pensamento mítico guiado pela
idéia de que a natureza ou a essência do mundo deveria ser encontrada, pois estava contida, nele
mesmo – no mundo - e não na mitologia ou na religião. O princípio ativo e constituinte do mundo –
arché – se encontra nele mesmo. Com isso era trabalho da razão encontrar tal principio que estava
imanente na própria phýsis. Portanto, agora, se faz uso da razão como ferramenta de
desmistificação do mundo para que se possa falar de forma sistemática e a partir de um fundamento
o que é, que da origem as coisas.
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Então, temos uma superação por intermédio da razão daquilo que era do âmbito da crença e da
“superstição”. Ora, não mais se recorria às mitologias como formas de elucidação dos mistérios,
mas sim pela razão se buscava compreender as causas originarias de tal efeito ocorrido na natureza.
Portanto, assim, acontece o cisma – e claro que não é tão simples assim, mas queremos aqui colocar
de forma mais direta a passagem do mito a filosofia.
Todo norte de pensamento se encaminha a buscar novos fundamentos para o sentido da vida e
inclusive para o homem que agora vê que sua condição é fundada numa essência e esta é imutável e
eterna – eis aqui dois problemas que darão muito trabalho a razão e que dividira os filósofos, não
enquanto essência fundante, mas enquanto realidade dos sentidos: o movimento.
Portanto, por estas questões, o estudo da filosofia Antiga em sua totalidade demandaria tempo e
sua diretriz seria voltada para a doxografia, haja vista, pouco se ter destes primeiros filósofos a não
serem pequenas citações ou trechos a eles atribuídos. Mas, isso não é empecilho de adentrarmos no
universo de seu pensamento e percebermos côo são articulados - na estrutura de seu pensamento -
os fundamentos e os princípios sobre tal problema – acima exposto. É com esta intenção que
começamos com o estudo daquele que é considerado um dos primeiros filósofos, a saber: Tales da
Cidade de Mileto.

3.1 TALES DE MILETO

Situamos Tales da cidade de Mileto, como aquele que inicia essa forma de pensar que
Pitágoras iria definir como filosofia. E se, sabemos que esta palavra designa amor a sabedoria, ou o
amigo da sabedoria, então é justo atribuirmos ao mesmo tal adjetivo ou qualificação, pois segundo
Heródoto Ele fazia parte do conjunto dos sete sábios da Grécia arcaica. E temos, ainda, com
Aristóteles a atribuição a Tales de ser o fundador da filosofia cosmológica, pois: “tendo sido o
primeiro a tratar de modo sistemático e racional o problema da origem, transformação e
conservação do mundo. Para Tales, a phýsis é composta em sua estrutura primaria pela água, ou
melhor, a qualidade água, o úmido”8. Portanto, para este, a origem, isto é, o principio de todas as
coisas e que geraria a vida seria a água. Tales então é o primeiro a questionar a validade do
pensamento mítico
Essa afirmação de Tales é questionada por vários interpretes no sentido de se perguntar
quais os motivos que levaram Tales a escolher dentre a natureza este principio para sua origem. O
que se sabe com certeza é que esta forma se distancia da forma mitológica de apresentar uma

8
Marilena Chauí p 55
Introdução à Teologia
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origem para a existência das coisas, pois oferece uma explicação de causa levando em consideração
a qualidade do ser a qual se questiona.
Queremos atentar aos leitores que percebam as mudanças dos princípios, mas, a questão irá
continuar girando em torno do problema da origem das coisas e estas origens estão ligadas ao
problema daquilo que podemos chamar de lógica binária que, consiste nos contrários que compõe o
universo. A resultante disso é o movimento: o nascer e o morrer, o frio e o quente, a alegria e a
tristeza e etc. Sabe-se ao contemplar a natureza que este movimento coloca em questionamento o
sentido da vida e as perguntas sobre o universo.
“A água ou o úmido, por ser o principio de toda as coisas, é também o
principio de devir, isto é, da mudança ou do movimento (kinésis). É
dotado de movimento próprio, ou seja, é automotora ou „se movente‟:
transforma-se a si mesma em todas as coisas e transforma todas as
coisas nela mesma. alguns denominam o automovimento da phýsis
com a expressão holizoismo (hýle, em grego, quer dizer matéria) para
significar a matéria que possui em si mesma e por si mesma o
principio ou a causa de seus movimentos (geração, corrupção,
alterações qualitativas e quantitativas, locomoção). Tales, como os
demais membros da Escola de Mileto, seria hilozoista. Isso explicaria
por que, segundo Aristóteles, teria afirmado que a água é „a alma
motora do kósmos9”.
O fato de considerar a água como alma, isto é, como principio vital, leva-o a considerar que
todas as coisas são viventes ou animadas e por isso se transformam e se conservam. A água é o deus
inteligente que faz todas as coisas e é a matéria e a alma de todas elas. Eis por que se atribui a Tales
a afirmação: „Todas as coisas estão cheias de deuses‟.
Segundo o testemunho de Aristóteles, um dos argumentos de tales para afirmar que todos os
seres são animados ou vivos, e que por isso todas as coisas estão “cheias de deuses”, foi à
observação sobre a chamada pedra de magnésia, isto é, o imã, que move o ferro. Jonathan Barnes
nos diz que precisamos acerca-nos desse fato para nele percebermos um traço marcante do
surgimento da filosofia como uma maneira nova de pensar.
Com efeito, Tales considera que o princípio vital ou a psykhé é, capaz de mover-se e de
mover outras coisas. Ora, se a alma é o principio vital e a força cinética, deveria, então, concluir que
o ima possui essa força e, portanto, uma alma; ou seja, é preciso concluir que o ima é animado,
vivo. Em outras palavras, diz Barnes, “Tales oferece um argumento cuja estrutura é principalmente
filosófica, pois deriva uma conclusão notável (tudo é animado) a partir de premissas que dependem
ao mesmo tempo,da observação empírica (o ima move o ferro) e de uma analise conceitual (o que
tem força cinética ou motora é vivo)”.
Assim, não nos interessa tanto saber se Tales estava „cientificamente‟ certo ou errado quanto
a natureza viva ou animada do ima, mas deve nos interessar a forma como ele raciocinou para

9
CHAUI, Marilena. p, 56,57.
Introdução à Teologia
9
FILOSOFIA ANTIGA

chegar a tal afirmação, pois é essa maneira que é nova e propriamente filosófica. Foi esse modo
novo de raciocinar que o levou a concluir que a água era a phýsis, isto é, ele deduziu e inferiu de
fatos visíveis uma conclusão obtida apenas pelo pensamento ou pela razão”10. Então, a filosofia
surge como tentativa de explicar racionalmente toda a realidade que circunda o homem e, descobrir
a própria essência constituinte dessa realidade, pois, a partir das perguntas feita a mesma remonta-se
a uma causa primeira e a partir disso excede a matéria e o pensamento para outras categorias –
transcendentes - tentando vincular este mundo a uma essência que esta para além do mesmo. Tudo
isso é feito de forma racional e não mais a partir do mito.
Usamos, para esta exposição, algumas citações de Marilena Chaui, pois acreditamos que
elas podem corroborar com a nossa discussão a respeito de Tales e ao mesmo tempo ratificar que o
pensamento filosófico apresenta, agora, este diferencial que é buscar inferir as causas de um evento
a partir da investigação tomando como intermédio da mesma, a razão. É a razão que eleva e leva o
filosofo a descobrir aquilo que permanece velado ao nosso conhecimento. É por isso que se afirma:
Tales foi o primeiro filosofo, pois foi – ao menos é o que se sabe – o primeiro a inferir da natureza
respostas aquilo que diz respeito sobre a origem das coisas.
Ora, com esta forma de pensar não mais se aceita as questões sem antes passar pelo crivo da
razão com isso o próprio pensamento se torna um “movimento” onde aquilo que se apresenta é
investigado por outro pensador para, a partir de uma premissa inicial, buscar a veracidade ou a
falsidade daquele pensamento. Com isso temos, portanto, as divergências entre estes pensadores
que compõe este período da filosofia e inaugura desde então a discussão sobre a verdade e a origem
das coisas. Por assim ser, aparece outro filosofo nos apresentando outro principio para a origem das
coisas e, claro, o faz da mesma forma que é peculiar a tal forma de pensamento: de forma racional e
argumentativa. Este pensador chama-se Anaximandro, também da cidade de Mileto.

3.2 ANAXIMANDRO
Depois de Tales temos o seu, oposto, discípulo Anaximandro, que encontra um princípio
anterior ao de Tales para explicar a natureza. Para Anaximandro a um principio antes ao principio
água. Mas, convenhamos que o princípio apresentado por Anaximandro seja muito mais uma saída,
ou um novo princípio para o problema da arché. E qual é este principio? O indeterminado.
Ora apresentando o princípio da natureza como sendo indeterminado e infinito o tirava de
cogitação. Quando se pedisse explicação sobre tal princípio a resposta era de “fácil” exposição: ele
é indeterminado e infinito. Com isto não se poderia dar uma causa, pois esta sempre teria uma
anterior a ela mesma e, oferecendo o ilimitado como causa primeira, era como se, desse por termino

10
Marilena Chauí, p. 57
Introdução à Teologia
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tal querela. Assim sendo, o a-peiron se tornaria este principio do qual não podemos falar, pois é
ilimitado e eterno, não morre e não nasce. Mas o que se percebe é que mesmo este princípio sendo
eterno e indeterminado era ainda algo da natureza, que não se poderia falar dele dentro de uma
compreensão que ultrapassasse a mesma, pois por mais que se tenha do mesmo tais conotações ele
ainda esta inserido nos meandros da phýsis, isto é, da natureza.
Em suma, Anaximandro ao questionar o primeiro princípio de Tales se pergunta: como eu
tiro as coisas desse primeiro princípio? Como eu posso tirar algo que é matéria e como eu poso
explicá-lo? A água como principio não ofereceria para a razão um suporte seguro para tal reflexão.
Então se atribui a condição de indeterminado visando a intenção de dar um fim ao problema da
causa primeira da natureza.
Com isto há um avanço entre o pensamento de Anaximandro para o de Tales, no sentido de
uma maior compreensão teórica da cosmologia, pois:
“a phýsis, agora, não é nenhum dos elementos materiais percebidos
na natureza, nenhuma das qualidades ( úmido, seco, quente, frio)
percebidas nas coisas, nenhuma qualidade determinada ou definida,
delimitada. A phýsis é o ilimitado, indefinido e indeterminado, o que
não sendo nenhuma das coisas e nenhuma as qualidades da origem a
todas elas”11.
Há de Anaximandro alguns fragmentos que expressão seu pensamento e sua visão perante o
seu principio o a forma de o mesmo argumentar em defesa de tal principio que vem a contrapor-se
ao de Tales. Vejamos dois desses fragmentos tido como originais. Cito:
“Principio (arkhé) dos seres... ele disse que era o ilimitado... pois
donde a geração é para os seres, é para onde também a corrupção se
gera segundo o necessário; pois concedem eles mesmos justiça e
deferência uns aos outros pela injustiça, segundo a ordenação do
tempo”. Um outro fragmento diz: “ esta a natureza do ilimitado é sem
idade e sem velhice12”.
Portanto a idéia de elaborar um “princípio” primeiro para todas as coisas se deve de forma
sistemática a Anaximandro e como também este é o primeiro a inserir a terminologia: arkhé.
Justamente a qual nós a entendemos como principio. É graça ao movimento eterno, a dissociação
dos elementos, que Tales propunha como principio juntamente a água, que resulta na geração das
coisas que percebemos na natureza.
Para finalizarmos tal exposição de seu pensamento usaremos as palavras de Marilena Chaui
no tocante a diferenciação entre estes dois pensadores. Cito:
“Em primeiro lugar, a clara identificação entre phýsis e arkhé como
aquilo que só pode ser alcançado pelo pensamento, pois o principio
não se confunde com os quatro elementos visíveis e observáveis. Em
segundo, e como conseqüência, a concepção do principio como algo
quantitativamente sem limites e qualitativamente indeterminado para

11
Marilena Chauí, p 59
12
Idem.
Introdução à Teologia
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FILOSOFIA ANTIGA

que possa eternamente dar origem a todas as coisas determinadas do


ponto de vista da quantidade e da qualidade...13”
Mas, dando continuidade a essa discussão, aparece Anaxímenes que de inicio concorda com
Anaximandro no sentido de afirma que a natureza ou este princípio é eterno, mas é eterno enquanto
ar, ou seja, a phýsis é o ar (pneûma). Portanto, passemos ao estudo do pensamento de Anaxímenes,
para compreendermos como este irá se contrapor aos fundamentos anteriores dados ao elemento
primário da natureza.

3.3 ANAXIMENES

Com Anaxímenes já se tem uma resposta mais lógica para a arché, pois o mesmo tece uma
critica a Anaximandro dizendo que o mesmo ainda está muito próximo do mito. Este se vê na
necessidade de fazer tal argumento, pois nota que Anaximandro não ofereceu tal suporte para a
elaboração do mesmo argumento. Ora, o ar como pensa Anaxímenes também é incorpóreo
indeterminado e invisível, e que dele provem todas as coisas pelos efeitos físico-químico14 e que por
meio destes efeitos nasciam às outras coisas vistas na natureza e era, justamente, por isso que ele
exigia que fosse o argumento determinado e qualificado, pois a perspectiva era a de que; nada esta
para o pensamento a não ser por possuir determinações.
Qual a justificativa central da escolha deste elemento como principio? Vejamos:
“Segundo o testemunho doxográfico, Anaxímenes teria escrito que
“assim como nossa alma (isto é, o principio vital), que é ar, nos
sustenta e nos governa, assim também o sopro e o ar abraçam todo
cosmo e que o ar está nas cercanias do incorpóreo (sem forma
invisível) e já que nascemos graças ao seu fluxo, é preciso que seja
ilimitado para que jamais acabe. Assim, podemos supor que
Anaxímenes concebeu o pneuma como phýsis e arkhé porque: o
contrario da água, que precisa de um suporte ou de um continente, o ar
sustenta-se a si mesmo; possui uma autonomia ou auto-suficiência,
própria de um fundamento ou principio; sua presença e sua difusão
são ilimitadas, podendo compor todas as coisas; respirar é o primeiro
ato de um ser vivo e também o último, antes de morrer, por isso o ar o
principio vital...o mundo é um ser vivo que respira e que recebe do
sopro originário a unidade que o mantém15”.

Portanto, com isso justificamos o ato da escolha deste elemento para se contrapor ao
elemento estipulado e sistematizado tanto por Tales, como também, por Anaximandro. E com isso
se percebe que o pensamento pré-socrático é mantido por esta dialética onde, como já citamos

13
Idem. p 60
14
Esta palavra ainda não era compreendida em seu tempo tal como compreendemo-la hoje, mas
fazemos uso da mesma, aqui, para mostrar que o ar passando pelos vários efeitos da origem a outras
formas. Os efeitos de dilatação, condensação e rarefação faz com que o ar de origem a outras
formas e coisas.
15
Idem. P 63
Introdução à Teologia
12
FILOSOFIA ANTIGA

acima, cada pensador irá tentar atribuir um elemento advindo do uso da razão ao principio de todas
as coisas existentes na natureza.
Por fim temos Heráclito16, que foi um dos pensadores que influenciou também o
pensamento platônico e que, não só, nos apresentará uma nova forma de compreendermos este
principio, mais também, será a figura que fará um enfrentamento ao principio do Ser enquanto
aquele que É, ou seja, o Ser enquanto definido por Parmênides.

3.4 HERÁCLITO

Este é, dentre os pensadores pré-socráticos, o de mais difícil interpretação devido ao seu


estilo de escrita a partir de aforismo e como também da certeza de se saber da originalidade dos
textos que a ele são atribuídos. Assim sendo, este, fica conhecido por alguns de seus interpretes
como o obscuro, mesmo tendo muitos fragmentos do seu pensamento. Conhecido pela sua frase que
diz:“Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque o rio não é mais o mesmo”
(fr.91)”. Com isso expressa a sua visão de que tudo é um eterno fluir e de que a realidade não é
imóvel, mas sim, que faz parte de um eterno devir, ou seja, tudo passa (Panta Rei). Exemplificamos
isso a partir de tal citação:
“O úmido seca, o seco umedece, o quente esfria, o frio esquenta, a
vida morre, a morte renasce, o dia anoitece, a noite amanhece, a
vigília adormece, o sono desperta, a criança envelhece, o velho se
infantiliza. O mundo é um perpetuo nascer e morrer, envelhecer e
rejuvenescer. Tudo muda, nada permanece idêntico a si mesmo. O
movimento é, portanto, a realidade verdadeira17”.
Por estas afirmações se contrapõe e estabelece uma querela com Parmênides que o leva a ser
considerado um dos principais pensadores do mobilismo que afirma o movimento em todas as
coisas da natureza (physis).
O fluir é o próprio decurso da vida e a mudança faz parte daquilo que percebemos em nosso
cotidiano. Essa transformação resulta no conflito dos opostos que sistematiza a dinâmica da vida,
sendo que, o que é hoje, já não mais é amanhã. A vida é feita desses opostos: nascer e morrer, frio e
quente, dor e prazer dia e noite e a partir disso é que percebemos o andamento da natureza e da
realidade que estamos inserido.
Portanto, está estabelecida a disputa entre Heráclito e Parmênides. Para um existe o
movimento e para outro o movimento é uma ilusão. Para um, o Ser É e, não pode deixar de Ser: O

16
Queremos lembrar ao leitor que, mais a frente, retomar-se-á alguns destes filósofos, aqui já
apresentados, para mostrá-los dentro do problema que será a pedra fundamental da filosofia de
Platão e de Aristóteles. Intentamos com isto, não só mostrar o pensador, mas mostrá-lo dentro do
problema central que o mesmo enfrenta em sua filosofia.
17
Marilena Chaui, p 81
Introdução à Teologia
13
FILOSOFIA ANTIGA

que É, É. E o que não É, NÃO PODE Vir a Ser. Esta disputa terá uma “síntese” em Platão como
veremos a frente. Mas no momento, veremos como Parmênides responde as idéias de Heráclito e
como ele apresenta este Ser que é estático e imóvel.

3.5 PARMÊNIDES

O que temos que levar em consideração em Parmênides é a sua critica aos mobilistas –
inclusive a Heráclito – e a sua defesa ao monismo, que defende a existência de uma única realidade
que não exerce passagem de estados, ou seja, algo que é É, não pode deixar de ser, para vir a Ser
uma oura realidade. Logo temos aqui uma discussão entre realidade e aparência e por este motivo,
alguns estudiosos – claro que é isso é uma opinião dos mesmos – tende o colocá-lo como aquele
que inaugura esta distinção.
Ora, para Parmênides18 o movimento é simplesmente aparência, ou ilusão do sentido. O que
se tem que entender é o nível elevado de abstração que Parmênides constitui para essa afirmação.
Não que eu não veja o movimento, mas ele não é aquilo que constituí o ser em sua estrutura eterna e
única, que doravante é imóvel, como também, a percepção que apreende as coisas do mundo, não
me apresenta em sua totalidade e realidade.
O pensamento é aquele que por intermédio da mudança percebe o que não muda. Isso é um
pensamento abstrato - que servirá posteriormente filosofia de Hegel – pois como ele mesmo diz: “ o
movimento e a mudança como aquilo que não é, porque deixou de ser o que era, e não veio a ser
ainda o que será, e portanto não é nada; por isso apenas o permanente e imutável pode ser
caracterizado como o Ser19”
A pedra de toque de seu pensamento é a união entre o ser e o pensar e que doravante homem
deve sair do plano das opiniões – doxa – para tentar descobri aquilo que esta por de trás de toda
realidade “para poder pensar o ser, conhecê-lo, o homem deve seguir o caminho da verdade (
fr.2,8)”20 . Com isso ele é considerado como o pensador do ser e aquele que inaugura à metafísica.
Portanto, como voltaremos a Parmênides, sintetizamos o que acabamos de falar destacando a sua
critica a todo mobilismo, noutras palavras, toda critica aqueles que não compreendiam que por de
trás do movimento contem uma realidade que se revela somente ao pensamento.

18
O leitor deverá buscar uma maior compreensão da importância do pensamento de Parmênides,
não só a Platão, mas a toda filosofia posterior no próprio livro de Platão intitulado Parmênides, haja
vista, como já foi falado, ser escassos seus escritos.
19
MARCONDES, Danilo, “Iniciação a História da Filosofia”, p 36.
20
Apud, MARCONDES, Danilo, “Iniciação a História da Filosofia”,p 36.

Introdução à Teologia
14
FILOSOFIA ANTIGA

Para concluir cito um trecho bem enigmático que define bem a posição de Parmênides em
relação ao movimento.
“Que está dizendo Parmênides? Que o ser é e o nada não é. Que o ser
pode ser pensado e dito. Que o nada não pode ser pensado nem dito.
Que pensar e ser são o mesmo. Que, portanto, o nada é não-ser e
impensável. Que dizer e ser são o mesmo. Que, portanto, o nada é
não-ser e indizível. (...) pela primeira vez é afirmada a identidade entre
ser, pensar e dizer, ou entre mundo, pensamento e linguagem. Tal
identidade é o núcleo da ontologia parmenidiana ou a via da
verdade21”
Com tais apresentações, concluímos – claro que de forma parcial, como já bem
esclarecemos em outros momentos – de forma sucinta a primeira parte da filosofia Antiga que
consistia de apresentar estes primeiros filósofos que são designados como filósofos da natureza.
Passaremos agora ao período socrático e pós-socrático, onde o leitor percebera a mudança de
paradigma no tocante a reflexão e a estrutura do pensamento que já se expressa de fora mais
sofisticada. Creio que as palavras de Sponville justificam e, ao mesmo tempo, coloca um peso em
nossa firmação e, ainda, trará uma enorme contribuição para o esclarecimento do leitor quando se
deparar com os problemas deste novo período do pensamento. Cito-o:
“Os primeiros filósofos gregos – os pré-socráticos Anaximandro,
Heráclito, Parmênides, dentre outros – não eram filósofos da
felicidade, mas da natureza e do ser. Sócrates cria uma revolução
intelectual ao articular a interrogação filosófica da questão primordial
„O que é o Ser?‟, „O que é a natureza?‟, a questão historicamente
posterior: „ O que é o homem?‟, ou melhor, „ quem eu sou?, que deu
lugar ao famoso adágio „conhece-te a ti mesmo‟. A filosofia volta a
focalizar a questão do homem , com isso, a determinação de alcançar a
felicidade. Conhecer a si mesmo não significa contemplar o próprio
umbigo, mas sim tentar saber quem somos e, também, o que devemos
ser; é perguntar a si mesmo como pensar, como viver e como ser feliz.
Na verdade, a partir de Sócrates, a maior parte das filosofias gregas
será considerada filosofia de felicidade e dos eudemonismos (do grego
eudaimonía, que significa felicidades). Em outras palavras, trata-se de
pensamentos que julgam a felicidade como um bem soberano.22”

21
Marilena Chaui, p.88
Introdução à Teologia
15
FILOSOFIA ANTIGA

IV. O PERÍODO “CLÁSSICO”: SOCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES

Adentramos agora num novo paradigma e, por conseguinte, em novos meandros de


argumentações devido aos novos problemas percebidos por estes pensadores. A natureza (phýsis)
cede lugar ao homem na interrogação do pensamento. Esta “importância” é tão relevante que os
sofistas chegam a colocá-lo (o Homem) como medida de todas as coisas. Nisso, também, perceber
que os problemas da cidade aumentavam e que já se mostrava o declínio das mesmas. O homem
volta a ser o centro das discussões, sendo até mesmo considerado, como quer os sofistas, como
medida de todas as coisas.
Os sofistas já demonstram – segundo alguns – e já conduz ao problema, pois estabelece o
relativismo da verdade causando, assim, o caos presenciado nas praças publica aonde todos iriam
agora defender sua verdade já que eram, em sua particularidade, medida de todas as coisas. Por isso
Sócrates aparece como aquele que tenta resgatar essa verdade universal, que seja valida para todos
os cidadãos atenienses, e, no mesmo ensejo, conduzir a uma liberdade no pensamento e nisso, é que
se justifica a crítica aos sofistas, pois segundo Sócrates, estes além de não terem compromisso com
a verdade ensinam habilidades retóricas que, de certa forma, pervertiam não só o homem, mas
também, a verdade tornando-a relativa. Portanto, a verdade era conseqüência de um discurso bem
estruturado pelos retóricos.
Portanto como nos diz Danilo Marcondes: “é o pensamento de Sócrates, entretanto, que
marca o nascimento da filosofia clássica, desenvolvida por Platão e Aristóteles, de certo modo seus
herdeiros mais importantes” 23. Com isso a justificativa da revira volta do pensamento – nesta nova
etapa - e a mudança de paradigma que se institui com o mesmo período. Por conseguinte, queríamos
expor tudo isso a partir de um problema que irá interligar toda a discussão que já se percorreu, até
aqui, para melhor a compreensão do problema que interliga o pensamento filosófico perante toda a
Filosofia Antiga24.

22
COMTE-SPONVILLE, André. “A mais bela história da Felicidade”,p. 20
23
Danilo Marcondes, p44
24
Ao dizermos isso, não estamos entrando em contradição. Sabemos sim, da mudança de
paradigma e que a natureza – phýsis – cede lugar ao homem. Mas há um problema sobre aquilo que
estar por trás do que é percebido pelos sentidos, ou seja, do movimento que justifica o princípio –
arché – do mesmo a qual interessará a Platão e a Aristóteles e por isso achamos importante dar uma
novo rumo a esta discussão. Nisso voltaremos – como já se foi falado – aos filósofos da natureza
para já numa leitura direcionada, pelo mesmo problema, fazer com que os leitores se situem e já
saibam como se desdobra o pensamento filosófico na história. E que todo pensamento é constituído
Introdução à Teologia
16
FILOSOFIA ANTIGA

Ora é sabido que a filosofia é a pergunta sobre a origem e que esta pergunta nos remete a
outra que diz respeito à vida e, inevitavelmente, se chega à estrutura das causas primeiras que, por
sua vez, nos remete a pergunta além da física, ou como queira da metafísica. E a pergunta
metafísica é a pergunta pelo todo. Sabemos, também, que esta pergunta é anterior ao surgimento da
filosofia, pois já no período mágico, ou até mesmo mitológico já se perguntavam pela totalidade das
coisas.
Em Platão esta pergunta - coisa que até então não se tinha feito – ganha novas estruturas e
perpassa por um pensamento sofisticado e complexo, pois tenta fazer uma síntese de todo
pensamento até então estruturado. A pergunta de Platão atinge ao supra-sensível como também ao
homem – aos problemas humanos e isso ainda é socrático. Pois a sagacidade de seu pensamento
consistia em compreender o que permanece como elemento que coordena todo este movimento do
qual percebemos na natureza. Mas, para tal questionamento, Platão recebeu influencias de
pensadores, desde; Pitágoras até Anaxágoras e também, Sócrates por isto se faz mister entendermos
esta gênese para compreender o pensamento de Platão com a proposta do mundo das formas puras –
o Eidos.

4.1 A PROPOSTA METAFÍSICA DE PLATÃO E SUA GÊNESE

A principio citaremos - como uns dos primeiros filósofos que influenciou Platão - Pitágoras
que compreendia que o principio de todas as coisas ou da arché estava nos números. Ele cria a idéia
das formas puras dos números. Ora, em Pitágoras ao se falar que o principio ordenador de todas as
coisas são os números ele não queria estabelecer que fossem os números a sustentar o argumento
sobre origem da matéria, mas sim que, são os números, ou melhor, é com os números que as
represento, representação das coisas existentes.

pelo seu anterior – claro que isso não é regra.


Introdução à Teologia
17
FILOSOFIA ANTIGA

Assim não se expressa mais o real, mas se faz uma representação do mesmo, ou seja,
represento o ente. Aquilo que é agora não mais falo dele em si, mas o represento de forma a usar as
formas numéricas como expressão do real. No qual a própria palavra já oferece este designativo.
Saio, agora, do real e não mais o explico, e sim, apenas o represento. Ora, não mais falo daquilo que
é em si, mas somente daquilo que posso representar. Portanto, entender que por trás do real, da
matéria, há algo com que eu posso representar com os números é o que interessará a Platão em sua
empreitada.
Então os números, estas formas puras, e também, matemáticas a qual Pitágoras diviniza vem
a mexer e inquietar mais ainda Platão em sua reflexão e ser um ponto a ser meditado. Ora, nestas
formas numéricas encontramos uma relação direta com Platão, não só porque este também era
matemático – e ate se notarmos o adágio que encontramos na entrada na republica é o seguinte: que
não entre por esta porta quem não souber geometria – mas por que este percebia que era esta a
forma de se representar o objeto. Esta idéia parece ser justificada a partir deste trecho:
“Os números não seriam, portanto – como virão a ser mais tarde -,
meros símbolos a exprimir o valor das grandezas: para os pitagóricos,
eles são reais, são a própria „alma‟ das coisas, são entidades corpóreas
constituídas pelas unidades contíguas. Assim quando os pitagóricos
falam que as coisas imitam ou números, estariam entendo essa
imitação (mímesis) num sentido perfeitamente realista: as coisas
manifestariam extremamente a estrutura numérica que lhes é inerente.
Os pitagóricos adotaram uma representação figurada dos números,
que permitia explicar sua lei de composição (...) 25”
Outro bastante significativo para a constituição de seu pensamento é Parmênides. Este que
vem negar o movimento. Para Parmênides não se pode haver o movimento, pois o princípio de
todas as coisas permanece sendo o que É e não muda. Ora, o movimento é ilusão. Ele não nos diz
nada sobre aquilo que verdadeiramente É. Ou seja, este princípio imóvel e eterno que permanece
velado e, ao mesmo tempo, se apresenta, mas o percebemos como ilusão de nossos sentidos lhe
agradou bastante e lhe parecia bastante elucidativa para a questão em foco.
Este discurso é basilar ao de Platão como veremos, pois, afirmar que o perceptível pelos
sentidos é ilusório, é enganador e que os sentidos não nos oferecem a capacidade de compreender
aquilo que é realmente e, doravante, não muda, parece responder a toda tradição que se questiona
sobre o nascer e o perecer, e acima de tudo, responde sobre o elemento basilar que constitui todo
movimento e que, ao mesmo tempo, pode ser a origem do cosmo. Portanto este pensamento que
afirma a existência de algo que não muda e que está por trás de todo o movimento é o ponto central
de sua filosofia, a qual Platão irá se utilizar. Parmênides é por isto considerado por muitos como
aquele que anuncia a metafísica.

25
Coleção os pensadores. “Pré-Socráticos”, p, 10.
Introdução à Teologia
18
FILOSOFIA ANTIGA

Por ultimo – entre os considerados filósofos da natureza – temos Anaxágoras, que tenta
fazer uma síntese de todos os que até então tinham pensado esta realidade do movimento, e tenta
estabelecer uma síntese dizendo que: o que esta por de trás de todas as realidades que estão em
movimento são as homeomeriades, ou seja, as sementes, ou como diz Anaxágoras às inteligências.
São estas que colocam todos os objetos e todas as coisas em movimento. Estas inteligências
são partes menores dos átomos. Ora, isto para Platão era o que ele realmente queria ouvir, uma
verdade em que colocava a inteligência como ordenadora de todo o movimento e que todas as
coisas que compunham a matéria e lhes dirigia em seu percurso.
Estas sementes ao contrário dos átomos de Demócrito eram divisíveis por quantas partes
fossem possíveis e que eram formadas por diversas cores e formas, como também sabores, isto
explicava as diversas formas da matéria que estas formavam. Portanto para Anaxágoras não existia
o nascer e o morrer, mas sim, o compor e decompor-se destas sementes. Ora, então com isso se
tinha que: o nascer e o perecer nada mais eram do que o compor e o decompor destas sementes.
Então este pensamento foi justamente a luz que sintetizava toda discussão, até então, estabelecida
pelos filósofos da natureza. Só que, por mais esclarecedor que fosse esta descoberta, estes ainda não
tinha descoberto a que era primordial na natureza e de eu elemento constitutivo, ou seja, estes ainda
permaneciam no erro.
Por fim temos Sócrates a qual Platão foi discípulo direto. Em Sócrates a preocupação já
muda de rumo, pois este estava mais preocupado com as causas referentes à justiça e a virtude, isto
é, as causas relacionadas ao homem. Ora, aqui temos um fator muito importante que revela de certa
forma a crise que o estado grego estava passando em relação a seus valores. Os sofistas tinham
estabelecido o relativismo onde não mais se acreditava numa verdade, noutras palavras, cada
individuo poderiam construir a sua verdade.
Nisto Sócrates tenta mostrar, que é necessário existir uma verdade que sirva para todos os
homens e que esta verdade seja encontrada por intermédio da contemplação de si mesmo, em outras
palavras, esta verdade está dentro de cada individuo. Com isto Sócrates deseja construir uma
verdade universal que sirva para todo individuo, e que assim sendo, reordena-se todo o desfecho
feito pelos sofistas. Ora, a crise do estado de Atenas era justamente devido a esta questão deixada
pelos sofistas. Os ideais de virtude e de justiça estão perdidos então a preocupação de Sócrates era a
de devolver estas idéias a sociedade. Portanto em Sócrates a discussão pelo todo era trazida agora
para as causas humanas, o homem era objeto de investigação filosófica.
Então, eis os pensadores que compunham o pensamento platônico, apresentados de forma
sucinta até porque, o objetivo era de mostrar a gênese do pensamento platônico e não delimitar
pontos da filosofia do pensamento desses que aqui foram expostos.

Introdução à Teologia
19
FILOSOFIA ANTIGA

Assim o que Platão fará é buscar um novo método para dar respostas a estas questões que,
segundo o mesmo, ficaram faltando sistematicidade e um aprofundamento que possibilitasse a
satisfação ao questionamento feito sobre o princípio constituinte da natureza feito pela razão que
pergunta pelo mundo. Desse modo Platão leva o que estava neste plano ao outro plano agora supra-
sensível. Destarte Platão dar como síntese de todos estes pensamentos a existência de um mundo
que está para além deste a qual percebemos pelos sentidos e que constitui como copia imperfeita do
mundo perfeito. Platão agora avança para um novo caminhar racional – árduo - que requer um
esforço, não só sistemático, mas também, de cunho abstrato.
Mas, antes de tal avançar nesta problemática, e já que anunciamos os sofistas e a critica de
Sócrates aos mesmos, achamos por devido rigor da exposição, fazermos uma apresentação sucinta
dos mesmos para percebermos melhor em que consiste este movimento e sabermos a direção da
critica de Sócrates e, como também, não deixarmos de situar este momento e este movimento
dentro da história da filosofia Antiga.

4.2 OS SOFISTAS

De forma sucinta colocaremos aqui - para não deixarmos de lado a importância deste grupo
– uma breve exposição sobre os sofistas e como estes pensavam a situação daquele momento em
que a Grécia se encontrava. Com isso, saberemos perfeitamente em que consiste a crítica socrática
e, por meio dessa apresentação, poder distinguir e compreender melhor a dimensão da mesma e,
ainda, sabermos resgatar a importância que este grupo teve dentro da evolução do pensamento
grego.
O homem é a medida de todas as coisas, diz Protágoras. Com isso coloca o homem perante o
decidir e o legitimar não só das leis, mas, também, daquilo que seria a verdade para a polis, haja
vista que, era a partir da argumentação e da elaboração de um fundamento que assegurasse a
verdade daquilo que se era pensado que eu a justificava na ágora.
Claro que mais a frente com o uso destas formas de argumentar, os homens consideravam-se
com o direito de, também, legitimarem sua própria verdade, ou aquilo que pensavam ser verdade e
que, muitas vezes, estava ligada aos interesses políticos ou subjetivos. Portanto, o uso da retórica e
da oratória era a arma para conseguir o convencimento e a aceitação de suas “verdades”. Ora, estes
– os sofistas – sobreviviam dos ensinamentos de seus conhecimentos retóricos e, por conseguinte,
vendia-os aos jovens ou aqueles que estavam interessados na arte de discursar. É justamente aqui a

Introdução à Teologia
20
FILOSOFIA ANTIGA

critica de Sócrates aos sofistas, pois não tinham, segundo o mesmo, nenhum compromisso com a
verdade e faziam comercio, não só com a mesma, mas também, com os ensinamentos retóricos26.
Ora, temos uma pequena fonte de pesquisa, pois o que temos são alguns fragmentos,
citações ou testemunhos – relatos – de nos foram legados. O que vem a prejudicar a pesquisa é que
alguns desses relatos foram feitos por seus próprios críticos: Sócrates, Platão e Aristóteles. Por isso,
Cito kerferd que nos mostra o porquê do preconceito perante este movimento e, na mesma citação,
já nos esclarece sobre a ótica a qual se deve compreendê-los: diz Ele:
“Não uma, mas duas barreiras se levantam no caminho de quem quer
que busque chegar a uma compreensão adequada do movimento
sofista, em Atenas, no séc. V a.C. não restaram escritos de nenhum
dos sofistas e temos de depender de fragmentos insignificantes e de
sumários muitas vezes obscuros, ou discutíveis, de suas doutrinas.
Pior ainda, dependemos, para grande parte de nossa informação, de
Platão, que os tratou de maneira profundamente hostil, contudo o
poder de seu gênio literário, acertando-os em cheio com um impacto
filosófico quase arrasador. O efeito acumulado tem sido bastante
desastroso. Levou a um tipo de opinião pronta segunda a qual e de
duvidar se os sofistas como um todo, tenham contribuído com algo de
importante para a história do pensamento. Seu maior valor, diz-se
freqüentemente foi simplesmente o de terem provocado sua própria
condenação, primeiro por Sócrates e depois por Platão27”.

Creio que esta citação esclarece a nossa intenção ao mostrar a critica que Sócrates infere aos
sofistas e ao mesmo tempo. Logo, o estudo desse grupo requer do pesquisador uma grande atenção
e, ao mesmo tempo, a abolição do preconceito perante o conceito já formado. Tem-se que perceber
ao máximo a sua importância dentro do campo político e também sua contribuição ao pensar

26
Não queremos com isso manchar a imagem dos sofistas como mercenários do conhecimento, isso
seria vulgarizar este grupo e não reconhecer a contribuição que os mesmos deram ao pensar em seu
processo de construção. O que queremos é apenas situar isto como uma deploração da verdade
enquanto algo universal, pois é esta a critica de Sócrates e que servira de argumento a Platão para
fundar a idéia de que o conhecimento já esta no homem e que por meio da contemplação este só
relembrar de tudo que já esta nele. Ora, este estar no homem é o que legitima o caráter de
universalidade da verdade. Por isso a frase; conhece-te a ti mesmo. Portanto Sócrates acreditava que
a forma de pensar dos sofistas era egoísta, pois levava em consideração aquilo que favorecia o
sujeito em particular e se todos fossem tentar legitimar seus interesses teríamos assim uma grande
disputa fazendo do argumento a arma de se legitimar aquilo que era do âmbito da subjetividade e
com isso não se afirmaria nenhum vinculo com a verdade e o interesse de todos que estão na polis.
Isso é importante fixar em nosso pensamento, pois, se a dialética é a tentativa, na verdade é claro,
de conduzir a reflexão para se alcançar a verdade é necessário também que todos visem o bem
coletivo para que se tenha uma ética neste discurso e que não seja apenas para manter o interesse
particular e de um pequeno grupo. Temos que ter compromisso, segundo Sócrates com a verdade, e
não fazer dela um pragmatismo e contrário a isso seria conhecer o bem e a verdade de forma justa e
que o conhecimento era para conduzir o outro a chegar, também, a esta verdade universal e validade
a todos de forma justa para, assim, se instaurar a uma vivencia ética. Vale lembrar que esta era a
visão de Sócrates para este movimento e que esta soa um pouco preconceituosa segundo alguns
estudiosos, mas que vale ressaltar também que a critica tem seus fundamentos e não merece ser
totalmente descartada.
27
G.B Kerferd. “O movimento Sofista”, p 9.
Introdução à Teologia
21
FILOSOFIA ANTIGA

filosófico e aos estudos da própria linguagem. Portanto, na leitura dos sofistas temos que tentar
compreender a importância social, educacional e, ao mesmo tempo, política que este movimento
exerceu sobre a sociedade Ateniense.
Para concluirmos vejamos o que nos diz Danilo Marcondes. Cito-o.
“Os sofistas surgem exatamente nesse momento de passagem da tirana
e da oligarquia para a democracia. São os mestres de retórica e
oratória muitas vezes mestres itinerantes, que percorrem as cidades–
estados fornecendo seus ensinamentos, sua técnica, suas habilidades
aos governantes e aos políticos em geral. Embora sem formar uma
escola ou um grupo homogêneo, o que os caracteriza é muito mais
uma pratica ou uma atitude comum do que uma doutrina única. 28”

Ratificando a nossa primeira citação, uso as palavras de Marcondes para justificar que:
“É difícil por isso mesmo termos uma avaliação mais concreta de sua
função e mesmo de sua concepção filosófica e pedagógica. Alem de
termos uma situação semelhante à dos pré-socráticos quanto aos
textos dos sofistas, isto é, tudo o que nos resta são fragmentos,
citações, testemunhos, esta dificuldade se agrava pelo fato de que, em
grande parte, a maioria destas citações e testemunhos nos chegaram
através de seus principais adversários, Platão e Aristóteles, que pintam
um retrato bastante negativo desses pensadores29”

A partir dessa citação, entendemos que ratificamos o nosso argumento central ao repassar os
sofistas. Por fim queremos apenas citar os que são mais conhecidos, são eles: Protágoras, Górgias,
Hípias, Licofron, Pródicos e trasímaco. Para melhor conectarmos as idéias a partir de uma
argumentação retilínea, apresentaremos de forma breve – agora dando continuidade a reflexão feita
pelos sofistas - o pensamento de Sócrates.

4.3. SÓCRATES

Sócrates vê no movimento dos sofistas um pragmatismo e um convencionalismo muito


grande e exacerbado onde se faz mercadoria do próprio conhecimento. O conhecimento estava
voltado ao interesse do particular e muitas das vezes este particular era aquele que queria ter acesso
aos graus da retórica, ou da arte de discutir, para fazer uso, dos mesmos, no âmbito da política.
O uso do conhecimento deve ter o compromisso unicamente com a verdade. Aqui vemos a
reviravolta, pois não é mais a natureza em si o foco das discussões e sim o homem em sua natureza.
Na figura de Sócrates - isso na concepção de alguns estudiosos da Filosofia Antiga - nos vem uma
forma de intelectualismo moral, haja vista, que o conhecimento deva ser exercido como aquele que
libertará as mentes de uma forma de pensar que suprime o desenvolvimento dos homens e para

28
Danilo Marcondes, p. 42
29
Idem,
Introdução à Teologia
22
FILOSOFIA ANTIGA

justificar tal questão ele apresentava a política e a religião de seu tempo que exercia tal domínio
sobre o homem, por isso o conhece-te a ti mesmo socrático.
Portanto em Sócrates o homem deve ser “autônomo” em si mesmo para encontrar as
diretrizes que fundamente as suas ações e que estas estejam vinculadas com o bem da coletividade.
A autonomia aqui não aquela presunçosa do homem ser a medida d todas as coisas, mas sim dele se
encontrar por meio da reflexão no todo do qual os indivíduos estão inseridos. Vale ressaltar que
todo conhecimento de Sócrates esta vinculado a uma espécie de legitimar uma ação ética e que esta
seja vivenciada na política e na religião atribuindo ao homem uma liberdade para o seu pensar e
para o seu agir. Com isso todos os indivíduos são capazes de chegar ao conhecimento, basta que,
tenha alguém que o conduza a parir as idéias que já estão dentro dele mesmo e, isto, é feito quando
o mesmo se dirige a uma reflexão sobre algum problema que o circunda. Nasce então o conceito de
Maiêutica30 que é muito significativo no pensamento socrático onde o individuo dar a luz a novas
idéias, e que a partir dessas vai de forma gradativa se encaminhando a verdade. Portanto, até mesmo
o mais simples entre os homens são capazes disso. Exemplo o Menon que a partir de um dialogo
com Sócrates oferece-lhe uma resposta a um teorema matemático que o mesmo jamais saberia que
sabia da resposta ou de tal conhecimento. Eis a partir desse escrito – o Menon – o argumento central
de que o conhecimento já está no individuo. Ora na medida em que o mestre vai interrogando o seu
discípulo, claro que de maneira correta e comprometida com a verdade, este vai se dirigindo a um
esclarecimento e a uma evidencia de tal conhecimento que o mesmo não tinha consciência que
sabia. Esta forma de conduzir ao conhecimento era a pedagogia de Sócrates e a condução – o
ingresso – do homem numa liberdade de reflexão onde os mesmos buscariam a verdade em si
mesmo.
O estado ateniense não via esta forma de educar com bons olhos, então, Sócrates o
“andarilho interrogador” começa a ser visto como aquele que estava pervertendo a juventude e
questionando e não tendo como deus, os deuses que a cidade instituí e pelos menos atribui uma
imensa consideração. Foi com o uso deste argumento que o mesmo foi sentenciado a morte, haja
vista que, suas reflexões se batiam de frente com as propostas do estado e da religião ainda muito
“ligada” as concepções míticas. Com isso veio a tomar a cicuta e a toma de forma consciente de sua
laboriosa luta filosófica de conduzir as pessoas a um estado de liberdade do pensamento e da
tentativa de uma construção pedagógica – uma Paidéia educacional – que conduzisse os indivíduos
a um estado moral e ético.

30
Que significa a arte da parteira. Sócrates compara o seu oficio com essa arte, pois ambos
consistem em trazer a luz as idéias e os conhecimentos que estão dentro da mente humana. Sua mãe
era parteira e desse oficio fez o seu, mas este ajudava a parir idéias.
Introdução à Teologia
23
FILOSOFIA ANTIGA

Feita estas apreciações, voltaremos a Platão, para retomarmos o seu argumento e sua idéia
para darmos prosseguimento a nossa discussão. E tentarmos esboçar o pensamento platônico.

4.4 PLATÃO31

Este por mais que seja “autônomo” em seu pensamento carrega consigo vários elementos da
filosofia socrática e não por menos, haja vista, ter sido discípulo fiel de Sócrates. Portanto podemos
entender que seu pensamento segue uma via de complementaridade daquele que seu mestre o legou
no sentido de não só afirmar as teses por ele deixadas, mas de colocar novos elementos que
contribuiriam para o desenvolvimento do pensar filosófico na historia.
A teoria do conhecimento trás em si os mesmo elementos da teoria socrática, ou seja: o
conhecimento já esta no homem basta que este passe pelo processo de anamnese que é relembrar
das coisas que o mesmo completava quando habitava um plano superior que o mesmo chama de
mundo das idéias - o Eidos32. O Eidos é a referencia como lugar onde habita a idéia perfeita de tudo
que é da percepção do mundo material, ou seja, para Platão tudo que agente percebe neste mundo é
uma copia imperfeita da perfeição que habita neste mundo das idéias. Necessário é sair desta
caverna e ai a metáfora da caverna ilustra perfeitamente esta saída, onde aquele que permanecia
escravo na caverna acreditava que aquele mundo de sombras era a realidade e se prendia aquelas
falsas verdades, quando veio a se libertar percebeu que tudo não passava de sombras e que a
realidade estava fora da caverna. Portanto a razão é esta que elucida e tira o homem da caverna
revelando ao mesmo a própria realidade cintilante e clara a razão.
Voltando ao mundo das idéias. Platão afirmava que toda a perfeição das coisas que aqui
existiam estava relacionada com as coisas perfeitas que existiam no mundo das idéias. Neste mundo
existia, é claro, e assim pensava Platão, uma coisa perfeita para cada coisa que percebíamos aqui. A
árvore perfeita, a cadeira perfeita, o homem perfeito enfim, a o ser perfeito – ou as essências

31
Não nos serviremos muito aqui de comentadores – deixando isso livre àqueles que quiserem dar
prosseguimento a uma pesquisa em Platão – pois entendemos que os manuais camuflam a totalidade
do pensamento platônico, haja vista, estarem vinculados a uma escola que parecem afirma que suas
visões são mais importantes que a própria obra do autor e a interpretação que as mesmas se possam
ter. Claro que o leitor ira se depara com varias vertente do pensamento de Platão. São varias as
formas que são ofertadas como interpretação de seu pensamento. Mas não queremos aqui aderir de
forma dogmática às interpretações feitas pela escola de Milão e nem, muito menos, pela escola de
Tubgem de forma interpretá-lo.
32
Não podemos esquecer a relação de Platão com as doutrinas órficas que também tem suas
influencias na tessitura da construção do seu pensamento filosófico. Alguns estudiosos atribuem a
concepção da transmigração das almas por influência da tal cultura. Cabe ao pesquisador interagir
com tal afirmação tentando afirmar ou, se possível, não a veracidade desta relação. Claro, e isso não
se pode negar, que Platão mantinha simpatias em relação ao orfismo.
Introdução à Teologia
24
FILOSOFIA ANTIGA

“primeiras” - das coisas, ou da matéria deste mundo33 que, simplesmente, participa desta perfeição
da idéia.
Então a problemática do conhecimento, é na verdade um retorno a este mundo das idéias
perfeitas onde o homem habitava antes de se encarnar neste mundo. Portanto, temos com isso, o
retorno ao mundo inteligível tentando resgatar o conhecimento verdadeiro das coisas que captamos
pela sensibilidade e, isto, ocorre pela contemplação que acontece a partir da dialética
compromissada com a verdade – nos lembremo-nos de Sócrates - que o homem estabelece com a
proposta do conhecimento. Ainda aqui é o individuo que conduz o outro por meio de perguntas e
respostas a contemplação, ou a saída, deste mundo ao mundo do conhecimento “real” 34. Em suma,
é pelo conhecimento dessas idéias que habitam este plano do Eidos que temos acesso a verdade,
noutras palavras, é pela contemplação deste Bem – maior – que temos a capacidade e fundamentar
as nossas ações na práxis corriqueira de nosso dia-a-dia, pois, teremos a noção do seja a justiça
perfeita – daí a justificativa de que o filosofo deve governar a republica, haja vista que, este conhece
e contempla a idéia perfeita do bem. Assim sendo, a tentativa de Platão – como já falamos que, por
mais autônoma que seja se equipara a de Sócrates – e de instituir um fundamento seguro das noções
de coisas perfeitas, como o amor, a beleza, e a justiça – como já falamos – e por fim da cidade
perfeita que tem em si o Estado perfeito.

4.5 ARISTÓTELES

33
Alertamos, para a não banalização deste pensamento e, muito menos, o levantamento da
hipótese de uma ingenuidade de Platão em relação ao mundo. Temos como medo que; ao tentar
expor seu pensamento de forma basilar, aconteça tal interpretação e, claro, uma injustiça perante a
sua forma de pensar que é extremamente sofisticada, como as demais é claro, para aquela época.
Nisso é que fizemos uma mescla desta apresentação com o real problema de Platão com a filosofia
e a importância disso na própria historia da filosofia. Com tal observação nos resguardamos das
possíveis interpretações maldosas que possam vir a acontecer.
34
Por mais que possa interpretar Platão como idealista, ele é ferrenhamente um imanentista. O fato
deste mundo ideal não justifica o argumento de colocá-lo como aquele que esta sempre apontando
para cima e lá vivendo e que Aristóteles – como iremos vê – é aquele que tenta trazer Platão para
este mundo, pois é aqui que está toda realidade. O Eidos, ao meu vê, é uma resposta a tradição e
tentativa, ao mesmo tempo, de solucionar uma querela que se instaura lá com os filósofos da
natureza. Não queremos transmitir Platão desta forma. Por isso, mais uma vez, o alerta a conduzir
ao próprio leitor que deseja um maior conhecimento a ir direto as suas obras e não ao contrario
como muitos fazem: compreender Platão a partir de comentadores. Estes ficam para depois das
leituras dos textos do próprio Platão.

Introdução à Teologia
25
FILOSOFIA ANTIGA

Este por mais que tivesse sido discípulo de Platão envereda por caminhos diferentes de seu
mestre em muitos aspectos – com isso o leitor já deve perceber como a filosofia vai se
aperfeiçoando em suas questões e como a mesma vai se desdobramento na história – e um deles é o
de afirmar que a essência não habita neste mundo a qual Platão afirma existir- o eidos – mas, sim,
no homem mesmo e em todas as coisas da natureza, pois nestes, já esta circunscrita a sua própria
essência. Dessa forma, não precisa ir ao Eidos para buscar a copia perfeita, ou a essência perfeita
deste mundo, pois basta procurar na matéria mesma35. Podemos citar usar aqui as palavras de
Marilena Chaui para ilustrar a critica de Aristóteles ao seu mestre Platão. Cito-a
“A critica geral de Aristóteles as formas platônicas dirige-se a
incapacidade dessa teoria para resolver as aporias que pretendera
enfrentar, isto é assegurar um conhecimento universal e necessário da
realidade, alcançando a inteligibilidade das coisas ao conhecer a
unidade invisível que dar sentido a multiplicidade visível dispersa e
desordenada. Ora ao dar as formas um estatuto ontológico forte – elas
são ser – e separá-las num mundo inteligível eterno a parte, Platão
impossibilitou que elas pudessem explicar o mundo sensível, pois não
há em comum entre eles. O sensível se reduz a uma aparência
degradada ou a uma deformação do inteligível e o filosofo é
convidado a abandoná-la em lugar de compreendê-la.
Epistemologicamente, a teoria das Idéias é inútil”36.
Se quisermos ir além desta critica e apresentarmos outra que esteja mais voltada para o
âmbito da práxis, poderíamos continuar com Chaui que nos diz:
“(...) Eis porque Aristóteles critica Platão por formular a idéia
universal do bem, como uma entidade inteligível separada do sensível,
isto é, a FORMA universal da bondade, como se o bem fosse o
mesmo para todos os seres e como se pudessem ser alcançado apenas
pela via teorética. Para cada ser, diz Aristóteles, o bem é de natureza
diferença e „ se há alguma coisa que seja o fim de todos os nossos
atos, esta coisa será o bem realizável, e se houver varias coisas serão
elas‟. Ora, os fins se distinguem conforme sejam fins para oura coisa
ou fins para si mesmo. Sendo a felicidade um fim em si mesma e para
si mesma, ela é o Bem Supremo e, como tal é um bem pratico e não
teorético, é uma ação e não uma idéia contemplativa 37”.
Para ele – e aqui já é uma critica direta ao seu mestre – as idéias não estão em um mundo
supra-sensível, mas sim, nos próprios seres. É a partir disso que o mesmo cria a teoria hilemorfica
em que os ente são formados por co-princípios. Isto é já nos demonstrar que a existência é
vinculada a princípios com outros princípios. Em termos é o seguinte: a existência vem sobre a
forma de uma essência. Esta por sua vez se divide entre substancia e acidentes sendo que as
substancias são aquilo que define o sujeito como sujeito próprio e os acidentes é aquilo que
caracteriza a condição de gênero e cultura e raça do homem. Dando continuidade a analise dos
conceitos, a própria substancia se divide em outras duas instancias que são elas: a matéria e a forma.

35
Na leitura de Aristóteles, o leitor deve ter em mente, a nota acima que esclarece a intenção de
Platão na fundamentação do Eidos. Nisso, queremos garantir a justeza ética para não o
compreendermos como um simples idealista.
36
Marilena Chauí, p352.
Introdução à Teologia
26
FILOSOFIA ANTIGA

A matéria são os elementos gerais que constitui a nossa substancia e a forma é aquilo que diz
respeito ao próprio núcleo da essência do homem.
Se usarmos os comentários de Danilo veremos que ele apresenta a critica de Aristóteles a
Platão da seguinte maneira. Cito-o:
“O ponto central de crítica de Aristóteles a Platão consiste na rejeição
do dualismo, representado pela teoria das idéias. A questão que
Aristóteles levanta inicialmente diz respeito às dificuldades de se
explicar a relação entre o mundo inteligível, ou das idéias, e o mundo
sensível, ou material, (...) É possível inclusive que, em sua critica,
Aristóteles retome uma discussão já existente na academia e que
aparece no início do diálogo Parmênides de Platão, em que são
examinados problemas referentes à teoria das idéias”38.
Cada ser existe a partir do vinculo destas instancias que se unem para dar forma e matéria, e
ao mesmo tempo, substancia e essência ao ser. Com isso vemos o detalhamento argumentativo e
sistemático que Aristóteles oferece a analise que o mesmo faz de certos conceitos. Nisso seu
pensamento é bastante detalhista, como o leitor já deve ter percebido, onde o mesmo tenta exaurir
ao máximo todo conceito até chegar a “ultima” instância da investigação. Isso também pode ser
visto com a definição de Polis que o mesmo diz ser uma associação de indivíduos e o individuo é
por essência um animal político.
Matéria e forma são aquilo que vem a constituir o ente, por sua vez a substancia se une aos
acidentes que individualizam cada um em sua especificidade formando assim a essência completa
do ser ao qual percebemos pelo sentido. Abrindo aqui um parêntese, perguntamos ao leitor se ele se
lembra do ponto de partida, do qual originou este trabalho, onde a forma de se interrogar pelo
mundo era mágica, ou mítica. E fazê-lo compreender como o pensamento se sofisticou neste
percurso histórico. Não existia ainda uma forma tão bem elaborada de pensar o mundo como esta a
qual estamos vemos.
A preocupação de Aristóteles será colocar em analise todas as representações e
denominações do Ser que deram os filósofos que o antecederam, com isto ele faz uma investigação
tentando ser o grande sintetizador de toda a discussão a respeito do principio – não é a toa que
corriqueiramente ele cita Tales – ou do Ser. Então primeiro a ser alvo de critica é Parmênides e os
Eleatas que fizeram do Ser, algo estático, uno. Ora, Aristóteles não consegue compreender, o Ser
desta maneira: sendo uno, mas sim com polivoco.
Os filósofos da natureza também fizeram este mesmo erro quando buscaram a arché, quando
se perguntaram pelo principio39, ao qual pudesse explicar a totalidade. O problema para Aristóteles

37
Marilena Chauí p. 442.
38
Danilo Marcondes, p 70
39
E aqui já podemos apresentar as quatro definições do que seja metafísica para Aristóteles –
mesmo sabendo que este termo não era empregados por ele, este a chamava de filosofia primeira –
ou se quisermos teologia – que são elas: indagação pelos principio primeiros e supremos, também
Introdução à Teologia
27
FILOSOFIA ANTIGA

agora seria dentro destes diversos seres o de estabelecer a compreensão de um primeiro ser, ou
melhor, falar de um ser fundamental, do qual chamamos agora de substancia (ousia) e o princípio da
substancia seria para responder as causas primeiras das coisas, ou seja, do sensível. Ora, Aristóteles
percebe através dos sentidos – e esta discussão faz parte do primeiro livro da metafísica – a
apreensão de tudo que é sensível, ou seja, do mundo empírico. Mas percebe também que há uma
força que Poe as coisas em movimento e que estas, por conseguinte é posta por outra. Assim ele
percebe que a natureza caminha para a sua realização, ou seja, para se tornar um ato. Ora este
movimento é apreendido na natureza através dos sentidos, mas perguntar pela causa primeira do
movimento terá um grande problema, pois sempre algo está pondo em movimento uma outra coisa
ou pessoa e que estes por sua vez caminhara a se tornar ato. Então necessária é uma causa primeira
sendo este ato puro.
Com isto temos agora uma substancia supra-sensível – não mais um ser como queria Platão
– sendo esta única não mais dentro da pluralidade platônica, que seria as formas perfeitas deste
mundo. Aqui o supra-sensível é um conceito ontológico do Ser.
Com isto Aristóteles tenta sintetizar o pensamento anterior a ele oferecendo assim uma nova
compreensão do ser e fundando assim uma nova ciência para a metafísica, esta seria a filosofia
primeira, ou seja, aquilo que subjaz e que esta por trás de toda a natureza. E o exame da natureza
seria a filosofia segunda a qual estaria ligada para a sua explicação, por fim, a filosofia primeira,
noutras palavras, a metafísica seria o apoio ultimo da phýsis.
Ora, como ciência esta se preocuparia com toda as áreas que possa se ter com a natureza: a
biologia, poética, lógica e etc. então a metafísica iria oferecer subsídios para tal resposta ou para tal
investigação da natureza.
Temos aqui também um fator em que agora Aristóteles traz toda a discussão de totalidade
para si e faz uma analise critica. Pois já se tinha um principio que poderia dar explicação para o
todo. Explicado os princípios Aristóteles passa agora para a compreensão do Ser enquanto Ser. É
aqui, por excelência a sua discussão metafísica e a qual nós iremos adentrar agora em nosso
percurso.

indaga o ser enquanto ser, a substancia supra sensível e por fim indaga a substancia – e aqui
entendemos substancia como já sendo matéria e forma. Esta seria as definições de metafísica para
Aristóteles, com isto ele quer oferecer uma síntese a todo que resolveram falar sobre o principio e
sobre o ser. Ora, não so isto mas percebemos que esta síntese esta em relação com toda especulação
Introdução à Teologia
28
FILOSOFIA ANTIGA

4.5.1 A METAFÍSICA ARISTOTÉLICA E OS VÁRIOS SENTIDOS DO SER


“O ser se diz em multiplos sentidos, mas sempre em referencia a uma
unidade e a uma realidade dterminada (...) assim, pois, também o Ser
se diz em mutiplos sentidos, mas todos em referencia a um único
principio: algumas coisas são ditas sempre que são subsyancias, outras
porque são afeiçoes das substancias, outras porque são vias que levam
as substancias”40.

Aristóteles define a metafísica como doutrina do Ser. Ora, já vemos que este ser em Aristóteles
é pensado não mais como queria Parmênides como algo único. Ate mesmo como queria Platão, um
ser supra sensível. Mas agora podemos falar em Aristóteles do Ser e do Ser enquanto Ser.
Tínhamos ate então a compreensão de ser como único – como já bem vimos – e o responsável
por esta compreensão é Parmênides e que Platão não ira se diferenciar muito, pois como já vimos
antes: Parmênides faz parte da gênese do pensamento metafísico de Platão. Então a primeira
concepção do ser que será investigada por Aristóteles e será a que Parmênides demonstra como um
ser estático imóvel, aquele que permanece sendo o que é, e acima de tudo, um ser: Uno. Com isto o
Ser ganhava a categoria de único. Eis aqui o ponto de critica de Aristóteles que afirma que o ser não
pode ser unívoco, mas sim polívoco. Platão ocorreu no mesmo erro ao fazer uma duplicação das
coisas ainda temos em mente a idéia de transcendência.
Para Aristóteles o ser não pode ser uno mas sim num sentido de pluralidade, mas neste sentido
ele ira explicá-lo e defini-lo como substancia, pois, os vário sentidos do Ser podem serem ditos em
relação a substancia a qual estes estão ligados a uma causa primeira a enquanto substancia supra-
sensível. O Ser é entendido em vários sentidos, conquanto que se faça a relação dele com uma
determinada causa, ou principio que damos o nome de substancia, em suma todos os sentidos do seu
esta para uma relação e lago uno. Assim se apresentação o ser enquanto Le mesmo a qual
Aristóteles chama-o de substancia. Ora, como vimos podemos também falar de substancia com seno
forma e matéria, e esta ligada a representação das coisas do homem, enfim daquilo que é sensível,
mas há uma substancia que é o principio desta e que ela é supra-sensível. Assim temos a substancia
primeira que justifica, as outras substancias dentro do sensível. Com isto Aristóteles não cai no erro
de Platão de dizer que o Seu tem múltiplos sentidos.
Depois de Aristóteles o que teremos é a construção da escola Helênica41 que trás em si as
correntes filosóficas do Epicurismo, Estoicismo e ceticismo. Não nos deteremos numa explicação

feita pelas causas e princípios levantados pelos filósofos ate então.


40
REALLE, Geovani, História da Filosofia Antiga Vol. II Loiola São
Paulo. P.343
41
Esta forma de pensar está ligada a época alexandrina. Ver: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário
Introdução à Teologia
29
FILOSOFIA ANTIGA

exaustiva e delineadora por completo das mesmas, haja vista, requereria para tal empreitada um
estudo mais denso. Deixaremos isso para o aprofundamento do leitor. O que destacaremos deste
período é uma síntese do pensamento do filosofo Epicuro, da escola estóica e um pequeno
comentário sobre o ceticismo no qual demonstraremos – isso é nosso foco - como estes concebem o
mudo e para qual ideal se dirige seu pensamento.

V. PERÍODO HELÊNICO

5.1 EPICURO (341-270 a.C)


Com Epicuro temos um direcionamento do pensar para a questão mesmo pratica de nossa
vida, a saber: como alcançar a felicidade. É desta forma que a reflexão vem como apoio de pensar
esta imediatidade do ser humano, como ser feliz. Não mais interessa, aqui, pensar a natureza
(phýsis) e nem tão pouco, somente o homem em relação ao Estado – Polis. Mas sim de pensar o que
é urgência para a vida. Esta forma de pensar advém de seu materialismo, pois o mesmo percebe que
depois da morte nada somos. Com isto é emergência de se viver bem e atingir o Maximo de
felicidade e isso acontece quando vivenciamos ou acumulamos o Maximo de prazer. Temos, assim,
um pensamento de cunho hedonista (do grego hedon, ou, hedoné, que significa: prazer).
Nisto é que se percebe na leitura de seu pensamento a elaboração de uma ética hedonista
que visa ao estado de felicidade, que é alcançado depois de uma reflexão filosófica da estrutura que
compõe o mundo que elucida ao homem da verdade do mesmo lhe dirigindo ao realismo e a quebra
com a mistificação da vida humana.
Para ele, tudo esta posto sobre o principio da materialidade, noutras palavras, tudo é matéria.
A natureza e o homem nada mais são do que a congregação de átomos e esta união dos mesmos
formam toda a realidade que vemos, com isso ele institui uma vida a partir da realidade física que o
homem contempla, deixando de lado toda a realidade metafísica, haja vista, nada existir além da
matéria. Portanto, descartamos a idéia da existência da alma e, por conseguinte, da vida após a
morte. Para Epicuro a própria alma é formada de pequenas partículas e que se desintegram depois
que o corpo deixa de ser.
Entendamos o seguinte: toda a realidade exterior nos vem pelos sentidos que nos oferece a
apreensão do mundo. É por meio dos mesmos que, também, sentimos aquilo que afeta o nosso
corpo como a fome, a dor, a sede, e, como também, sentimentos de raiva, ódio e amor. Então a vida
nos coloca a possibilidade das sensações. A morte, é a ausência das sensações. Logo, quando não
mais formos, a morte é, mas enquanto a morte não é, somos. Assim sendo, quando a morte vier não

de Filosofia p 579.
Introdução à Teologia
30
FILOSOFIA ANTIGA

a sentiremos já que não mais seremos. Então, pergunta-o: porque o medo dela.
É por esta maneira, que deve-se perder o medo da morte e dos deuses que possam condenar
o homem ao inferno, haja vista, que por este principio nada mais há do que a matéria em si mesma.
Cito-o:
“Habitua-te com o pensamento de que a morte não é nada para nós,
uma vez que só há bem e mal na sensação, e a morte é ausência de
sensação. (...) Assim, o mal que assusta, a morte, não é nada para nós,
pois, quando existimos, a morte não está presente,e, quando a morte
esta presente, deixamos de existir42”

Com este enunciado expusemos a primeira tarefa que o homem deve fazer para alcançar o
estado de felicidade. Agora o mesmo deve pautar a sua vida pela vivencia dos prazeres que lhe são
naturais e necessários. Assim sendo, a vida prazerosa, é a vida posta sobre a moderação dos desejos
e não se deixando conduzir pelas paixões. Nisso consiste a sabedoria do viver.
Em que consiste a moderação? Consiste em não se fazer escravo aquilo que não está
acessível a nossa condição. Portanto não se deve desejar aquilo que é inacessível a nossa
potencialidade, noutras palavras, aquilo que não esta ao nosso alcance, isso é absurdo desejar. Nesta
visão o contentamento com o pouco e a disciplina levara ao homem a moderação dos seus prazeres,
logo a felicidade, pois saberá viver sem o luxo e a gula.
Mas, não entenda isso de forma fundamentalista, pois, isso não quer dizer que o homem não
possa vir a participar de banquetes e que por vezes participe dos luxos que a sociedade muitas
vezes lhe impõe a viver. A questão é não ser dependente dos mesmos, saber que depois daquele
momento ele retornara ao seu mundo e retornara com uma tranqüilidade na alma, em outras
palavras, o estado de anima não deve ser abalado pelo apego e dependência daquilo que nem é
natural e nem muito menos necessário a construção de nossa felicidade. Podemos chamar isso de
um desapego das coisas do mundo, pois:
“Assim, quem deseja iguarias refinadas se arrisca muito a ficar
decepcionado e infeliz se nem sempre tem os meios de proporcioná-
las a si, ou se o cozinheiro não acerta seu prato, ou se milhares de
outros aborrecimentos vem privá-lo delas. Ter desejos de luxo expõe-
nos a sofrer com freqüência. Logo, cumpre eliminá-los. Em
compensação, quem só deseja alimentos naturais, um pouco de pão e
de água, por exemplo, encontrará facilmente com que se satisfazer e
até pode tirar daí um imenso prazer se está realmente com fome e
sede43”

Saber viver com o necessário para sua sobrevivência, vivendo a cada momento seu
momento, pois nada existe depois daqui. Nisto consiste seu materialismo e sua sabedoria.

42
Apud: “A Filosofia e a Felicidade” p 84
Introdução à Teologia
31
FILOSOFIA ANTIGA

5.2 O ESTOICISMO

É nossa pretensão, fazermos uma apresentação sucinta desta escola, mas não deixando de
ressaltar aquilo que é de essencial importância para o entendimento da mesma. Ao mesmo tempo
intenta-se apresentá-la, juntamente com o epicurismo, como as correntes importantes para o
pensamento – a filosofia – de Sêneca e de Cícero, como também, uma forma de pensar que marca
uma geração que visa com a filosofia a discussão da felicidade ou da vida feliz.
Esta escola, segundo se tem datado, foi fundada por Zenão de Cítio no ano de 300 a.C em
Atenas por um grupo de pensadores que se agrupavam em um pórtico e que por isso resolveram
atribuir, este mesmo nome, a sua escola. A palavra deriva do grego Stoapoikilé - stoá – que,
também pode ser chamada pórtico. Ente os pensadores que divulgaram esta doutrina estão: Zenão,
Cleantes, e Crissipo44.
A estrutura da compreensão do mundo é semelhante a que Epicuro irá propor, ou seja, o
mundo está formado em três partes que nos assegura a sua compreensão, são elas: a física, a lógica
e a ética. Os mesmos usam uma metáfora para explicar a importância dessas três partes destacando
a ultima como aquela mais relevante, mas que, não se sustenta sem as suas bases. A metáfora
sugerida é a da árvore. Portanto, a raiz é a física, o tronco é a lógica e os frutos a ética.
Ora, isso ira ser à base de toda ação humana que doravante, por este entendimento, irá ir de
encontro com a natureza, pois a física – estrutura do cosmo – devera estar ligada a ação do
individuo – a ética – que garanti-lhe agir em uniformidade e unidade com o todo que o circunda.
Portanto agrega-se a esta concepção a idéia de virtude que é apresentada pela inteligência, coragem
e justiça. Portanto, tendo a física como fundamento da instancia ética, haja vista, nos apresenta que
o mundo é essa integração da matéria com o homem, Diz Marcondes:
“(...) O homem é um microcosmo o macrocosmo, ou seja, é parte do
universo, da natureza. Para ter uma conduta ética que assegure sua
felicidade, suas ações devem estar de acordo com os princípios
naturais, com a harmonia do cosmo, que dá equilíbrio a todo universo,
inclusive ao homem. A boa ação, de um ponto de vista ético, é
portanto uma ação de acordo com a natureza45”

43
Apud: “A Filosofia e a felicidade” p 85.
44
Crisipo teve sua importância no estoicismo com o desenvolvimento da teoria lógica organizada e
estruturada pelo mesmo. Outro que foi bastante expressivo foi Panécio e, também, Posidônio que,
juntos, deram ao movimento, ou seja, a escola estóica, uma maior abertura tornando-a mais eclética
que aproximava-se de certas doutrinas platônicas. Considera-se Sêneca como um dos últimos
estóicos por, ainda aderir, a relação do pensamento com a forma de viver – ética – e esta estando
ligada a compreensão e união com a natureza.
45
P,91
Introdução à Teologia
32
FILOSOFIA ANTIGA

Queremos destacar aqui a idéia de destino – telus – que esta muito forte no pensamento
estóico que ao mesmo tempo gera a idéia de fatalismo que, justamente por isso, não posso desejar
aquilo que não estar dentro da possibilidade da minha vontade, caso deseje isso, não alcançarei o
estado de felicidade. Sponville afirma que:
“Para os estóicos, (...) trata-se de eliminar o acaso, o que, por vezes,
faz com que sua sabedoria pareça um pouco inumana ou improvável.
(...) Para um estóico, se você só deseja o que depende de você, então o
destino não pode atuar contra você, salvo, mais uma vez, para matá-lo.
Como morrer não é uma falta moral e todos os males são totalmente
morais, a morte não representa um mal. (...) 46”

Portanto, de forma sucinta, colocamos aqui o que consiste de forma basilar o pensamento
estóico, e ressaltamos a importância, para esta doutrina, a concepção de destino (heimarmené) que
leva o homem ao conformismo perante os acontecimentos. Ora, isso não é postura de um estado de
passividade perante a vida, mas sim, aceitar a resignar-se perante a fatalidade da mesma. Ora é
justamente, aqui, que consiste a Felicidade (eudaimonia), ou seja, essa tranqüilidade (ataraxia) que
a alma sustenta em meio aos acontecimentos contrários a sua vontade. Assim sendo, passaremos ao
ultimo assunto, ou, ao ultimo ponto da nossa meta com o itinerário apresentativo da Filosofia
Antiga que é: o estudo de forma resumida do ceticismo, haja vista, compreendermos a sua
importância para a compreensão de algumas questões no período medievo.

5.3 CETICISMO

De inicio, encontramos um problema no sentido das varias vertentes do ceticismo, pois


temos varias correntes desse mesmo pensamento. Nisso uma definição concisa do termo ser um
pouco ousada e, até mesmo petulante, para qualquer estudioso. Portanto, não é como as outras
escolas que estudamos e, das quais, podemos definir aquele que é o centro - no tocante ao
pensamento - e de maior relevância para a construção de tal movimento.
Elencamos, em primeira instancia o ceticismo de Pirro em que para alguns, inclusive, Sexto
Empírico considera como aquele que mais se dedicou a esta corrente e que de forma ousada diz ser
aquele que inaugura este movimento. O que temos de suas idéia é legado por um de seus discípulos
chamado: Tímon, pois este mesmo nada escreveu de seu pensamento.
Para este a filosofia se consistia por uma espécie de conhecimento que deveria nos conduzir
a uma pratica no que consiste a nossa reflexão. Assim sendo se punha de forma sabia perante as
interrogações que o próprio mundo lhe legava a sua reflexão. E com isso afirmava que não se pode

46
Cf. “A mais Bela História da Felicidade”, André Comte-Sponville,
Introdução à Teologia
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FILOSOFIA ANTIGA

conhecer a natureza das coisas, pois os nossos sentidos são insuficientes para tal empreitada. Ora, já
se pode unir este pensamento com aquele proposto por Parmênides e dizermos que este carrega
resquícios da tradição.

Outra atitude sua é a de manter um distanciamento das coisas das quais nos são de difícil
compreensão – no sentido das coisas que não podemos compreender – tendo em vista assegurarmos
a nossa tranqüilidade (ataraxia) e a nossa felicidade (eudaimonia). Assim sendo, é perceptível a
sua relação com o estoicismo e com o epicurismo. Logo o fato de negar ou não a possibilidade da
verdade era menos importante do que aquilo que nos diz respeito à vida pratica e que consiste numa
vivencia tranqüila.

Temos com isso outro elemento dentro da corrente cética que é o assim conhecido por
ceticismo o acadêmico. Como também, antes deste, o proto-ceticismo e o pirronismo ou ceticismo
pirrônico. Assim se estabelece uma querela entre a mesma escola sobre a problemática da verdade,
ou sobre a possibilidade do conhecimento. E aqui já demonstramos outras figuras importantes neste
movimento como, por exemplo: Demócrito de Abdera, Arcesilau, Carnéades, Clitômaco (nova
academia, ou ceticismo academico), Filon de Larissa e Enesidemo de Cnossos. Com isto, o leitor
perceberá que o estudo desses pensadores de forma detalhada e do próprio ceticismo nos requereria
uma maior disposição de tempo. Portanto, queremos somente apresentar aqui as idéias basilares
para uma introduzi-los a uma pesquisa posteriormente.
Portanto o que se deve levar em conta aqui é, justamente, a relação do ceticismo em relação
à epistemologia estóica e o sentido da verdade. Perceber, também, que ouve várias formas de pensar
esta corrente e deve-se compreender a importância da academia platônica, haja vista, alguns
acreditarem existir elementos céticos no pensamento do mesmo. Isso é suporte para os argumentos
da nova academia que adere a esta forma de pensamento com Arcesilau.
VI. UMA PROPEDÊUTICA AO MUNDO MEDIEVAL: A INFLUÊNCIA DA
FILOSOFIA GREGA.

Vamos como forma de já adentrarmos ao pensamento medieval que será o próximo a qual se
estudara, fazermos uma rápida explanação sobre a influencia do império romano – e isso já nos da
uma visão alargada para compreendermos o papel do cristianismo juntamente com o império sobre
o pensamento filosófico e assim compreendermos as vertentes que este mesmo pensamento tomara
em sua formulação – que em sua expansão se fez conhecer para a cultura grega ocasionando assim

Jean Delumeau e Arlette Farge. P, 35


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um choque entre estas cultura – grega e judaica - que foi, de certa forma, proveitoso a elaboração do
pensamento ocidental, pois mudou a concepção que se tinha sobre o mundo.

Portanto, temos agora um pensamento de cunho cristão – o cristianismo – que se


apresentava como um movimento voltado ao social e de concepção religiosa, mas que, acima disso,
trazia elementos do pensamento grego. E é justamente (e aqui justificamos a afirmação acima) por
meio do cristianismo que estes princípios se fazem conhecer ao ocidente, haja vista, a sua expansão
por meio da própria religião.
Com isso podemos citar como referencia deste pensamento o pensador Santo Agostinho que
em sua filosofia teológica – se assim podemos dizer – tenta fazer uma releitura do pensamento de
Platão – e nisso o leitor de atenha, pois quando acima falávamos de legar ao ocidente elementos da
cultura grega é justamente disso, pois estes pensadores se apropriaram do pensamento grego seja o
de Platão ou o de Aristóteles ou do pensamento da escola helênica – mas desta vez vincula a fé
como forma de substanciar a própria teologia e a moral cristã47. Nisso, no tocante a uma teoria do
conhecimento, em Santo Agostinho o conhecimento acontece como iluminação e não mais como
aquele percurso de retorno ou contemplação - reminiscência - do mundo ideal onde o sujeito
habitava antes de vir a este mundo. O eidos é na verdade, se assim podemos dizer, o mundo da
consciência Divina.O marca do idealismo ainda continua muito viva no pensamento agostiniano,
mas que este idealismo é iluminado pela idéia cristã. É sabido que por mais influencia este
pensamento tenha exercido sobre Santo Agostinho este o faz algumas modificações a luz da fé, mas
que o cerne, ainda se apresenta como semelhante ao de Platão.
Outro que envereda pelos mesmos percursos de - no sentido da busca de um fundamento
advindo da cultura grega – é Santo Tomas de Aquino. Este faz uma leitura crista da filosofia de
Aristóteles48 já se presumindo um vinculo da razão com a fé. Nesta leitura o mesmo percebe a

47
Alertamos, ao leitor, que não se tem pretensão de já oferecer uma apresentação do pensamento
de Santo Agostinho, pois isso será feito quando se apresentar o contexto da filosofia Medieval. O
que aqui é intuito é somente fazer um breve esboço de sua importância ao seguimento do
pensamento grego na sua influencia ao pensamento ocidental e de como este serviu de sustentáculo
ao fortalecimento da própria teologia, e assim sendo, da defesa da fé. Isso é comprovado com a
intenção da patrística.
48
Aqui, também, não se tem intenção de fazer uma apresentação do seu pensamento de forma
mais ampla, mas sim, apenas apresentar como este, também, se utiliza do pensamento grego e desta
vez pela via do pensamento de Aristóteles. O que se tem de perceber em Santo Tomas de Aquino é
que o pensamento de Aristóteles lhe chega por meio da cultura advinda do oriente, pois com a
perseguição feita aos filósofos alguns se evadiram para o oriente e com eles foram alguns escritos
de Aristóteles que esta mesma cultura se apropria e lhe fazem as interpretações divulgando assim
seu pensamento. O interessante é que não era permitida a leitura de muitos destes escritos, inclusive
o livro a poética de Aristóteles, mas Santo Tomas, meio que desafiando o seu tempo, o fez e se
utiliza deste pensamento para construir aquilo que viria a ser o alicerce de toda a teologia católica:
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possibilidade de se vincular o elemento da criação divina. E aqui já podemos fazer uma relação do
primeiro motor aristotélico que é referencia e principio de todas as coisas que por sua vez, colocou
tudo em movimento e que tudo criou, sem nada ter o criado e nem, muito menos, foi posto em
movimento. Com isso, as essências não são eternas, mas sim criadas por Deus.
A teoria da potencia e do ato, tem lugar de destaque em se tratando como elemento que
constitui e fundamenta o argumento que possibilita a explicação detalhada da potencialidade que o
homem tem de chegar a Deus, haja vista, o homem ter em si esta capacidade em potencia da
excelência moral. Não só isto, mas a explicação daquilo que é o homem é enquanto essência e de
como este ente se constrói enquanto ser. As causas que o conduz ao principio explicativo da sua
estrutura enquanto ser que vive e se pergunta pelo mundo.
Portanto, temos, mais uma vez, uma síntese de pensamentos, agora feita a partir do
pensamento de Platão e de Aristóteles e que este são vinculas ao víeis teológico do cristianismo que
possibilita a criação de um movimento chamado escolástica. Esta, escola, foi bastante expressiva a
tal período na formação não só intelectual, mas também, cultural na formação do sujeito. Com isso
se prevê a tentativa de apaziguar um conflito muito significativo, tanto no universo filosófico como
teológico, a saber: a Razão e a Fé49. O cerne de todo este pensamento é de cunho essencialista e não
poderia ser de outra forma, haja vista, estar vinculada as bases aristotélicas.

CONCLUSÃO
A termino deste trabalho resta-nos a esperamos de termos alcançado a nossa meta e, ao
mesmo tempo, uma certeza de limitação naquilo que foi exposto destes pensadores, ou como queira
deste período da Filosofia Antiga, haja vista, a exposição de forma sintética de cada autor onde o
objetivo era de expô-los naquilo que lhe era central em seu pensamento, nisso o nosso receio da
compreensão. Mas se conclui que: a intenção maior deste período encontra-se em Platão, pois a sua
busca por sintetizar os filósofos que lhe antecederam foi o suporte para a compreensão do mundo
supra-sensível e que seu pensamento, por mais que tenha sido criticado pelo seu discípulo
Aristóteles, este lhe deixou grandes marcas e ensinamentos. Compreendemos também que a grande
busca pelo principio do mundo foi aquilo que motivou a busca pela verdade e que esta realidade se
transforma e se volta ao mundo, mas mesmo assim, ela retorna a outras instancias – do homem - na
busca de compreender a totalidade.

as monumentais, Sumas Teológicas.


49
Se Santo Agostinho colocava a Fé acima da Razão, em Santo Tomás de Aquino elas tentam
andarem juntas e, é isso, o papel, também, da escolástica. Unir Razão e Fé.
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Temos a convicção que este material é apenas uma propedêutica ao estudo da Filosofia
Antiga. Cabe ao aluno o aprofundamento e a sistematização do pensamento de cada autor aqui
apresentado. O que não se deve deixar de lado é o problema – e este nós o apresentamos aqui – que
circunda toda a esfera do pensamento da Filosofia Antiga, pois este terá uma capital importância
para o aprofundamento deste trabalho. As obras citadas nas referências bibliográficas devem ser
revisitadas e nas mesmas o leitor já será encaminhado a outras obras das quais se abriram mais
portas para uma melhor compreensão deste período. Por fim, afirmamos o seguinte: este momento é
de essencial importância para o leitor, pois será à base de todo pensamento posterior e ao mesmo
tempo a estrutura para se poder pensar aquilo que vem em outras filosofias como suplemento ou
controvertido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia; trad. 1º edição brasileira coordenada e
revisada por Alfredo Bossi. 5º edição. São Paulo: Martins Fontes, 2007
CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. Ed.
Companhia das Letras. São Paulo 2002.
COMTE-SPONVIELLE, André. A Mais Bela História da Felicidade: a recuperação da
existência humana diante da desordem do mundo. trad. Edgard de Assis Carvalho, Mariza Perassi
Bosco. Rio de Janeiro: Difel, 2006
NARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia. Ed. Zahar. Rio de Janeiro 1998.
G.B. Kerferd. O Movimento Sofista. Ed. Loiola. São Paulo. 2003
REALE,Giovanni. Historia da Filosofia Antiga. Trad. Marcelo Perine. São Paulo: Loiola,
1993 Vol. I
______________. Para Uma Nova Interpretação de Platão. Edições Loyola
São Paulo 1991.
VERNANT, Jean Pierre. As Origens de Pensamento Grego. Trad. De Isis Borges B. da
Fonseca. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 1998.

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