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O Cosmos Invisível
Quando nos ocupamos de assuntos que estão além da nosso experiência imediata,
o conceito de "lá fora" e "lá mesmo" e assim por diante começa a perder seu
significado e sua relevância.
A mecânica quântica parece dizer que as entidades do mundo subatômico não
podem ser localizadas com precisão.
Alguns chegam ao ponto de criar teorias e sugerir que elas existem num labirinto
de possibilidades aleatórias, aguardando se materializar de uma maneira específica
em alguma circunstância especial.
Será que isso sugere que as propriedades da matéria estão sujeitas e são criadas
pela consciência dos seres humanos?
De acordo com vários físicos quânticos, quando frente ao dilema de quando um
objeto atômico se comporta como uma onda e quando se comporta como uma
partícula, sua resposta parece ter saído de alguma revista de ficção científica.
A resposta, dizem estes físicos, depende de se o objeto é observado.
Não observado, o objeto atômico aparece como uma onda estendida no espaço.
Entretanto, no instante em que é observada, a onda se reduz a um ponto e se
comporta como uma partícula.
Por mais incrível que possa parecer essa suposição, todavia, os cientistas estão
confiantes de que o simples ato da observação provoca o colapso da onda e assim
produz uma partícula.
Para muitos de meus leitores, incluindo a mim mesmo, o conceito de "onda" ou
"partícula" é suficientemente difícil de compreender.
Afinal, não somos cientistas.
Mas quando os físicos começam a estender sua idéia até o ponto em que nossa
observação do objeto atômico e de sua atividade altera sua estrutura, isto, na
opinião da maioria de nós, é levar o conceito longe demais.
Porém, de acordo com o físico dinamarquês Niels Bohr, o mundo do átomo é vago e
obscuro.
O átomo só se torna uma realidade concreta quando é observado.
Na ausência de qualquer observação, o átomo é um fantasma.
Só se efetiva quando se olha para ele.
O célebre princípio da incerteza de Heisenberg enuncia que não se pode saber onde
se localiza um átomo ou suas partes e, ao mesmo tempo, saber também como ele
se move.
A idéia de um átomo com uma localização e um movimento definidos não tem
sentido. A posição e o movimento formam dois aspectos mutuamente incompatíveis
da mesma realidade.
Sobre quem recai a decisão de olhar para a "coisa", o átomo, ou olhar para o seu
movimento? Sobre nós!
Mas os físicos nos dizem que não podemos ter ambos.
Quando você quer colocar em foco o átomo para conhecer a sua localização, não
espere saber nada mais além da sua localização.
Quando você procura o movimento, encontra um átomo com uma velocidade mas
não sabe a sua localização.
Se tudo isto soa para nós como algo confuso, e se tudo isto parece insólito demais
para se aceitar, não estamos sós.
Einstein e todos os outros cientistas irão concordar conosco.
Mas podemos nos perguntar: o mundo lá fora não existe de verdade, quer o
observemos ou não?
Será que tudo o que acontece por aí acontece por seus próprios motivos, ou
acontece porque está sendo visto e observado por mim?
Nossas observações podem revelar o âmbito atômico da realidade, mas será que
nós o criamos apenas olhando e fixando nele nossa atenção?
Certamente temos dificuldade em tentar obter clareza no que diz respeito ao
comportamento atômico, mas será que isso não ocorre devido a nossa própria
incapacidade e inabilidade quando decidimos sondar seus obscuros domínios?
Embora poucos físicos profissionais parem para pensar nos incríveis significados
filosóficos da mecânica quântica, as bizarras implicações se tornam evidentes logo
que são reconhecidas.
E o que parece vir à tona é a convincente evidência de que a consciência — o
observador — desempenha um papel vital na natureza do domínio físico, ilusório da
realidade.
Considerando o fato de que a teoria quântica já é conhecida há muito tempo,
parece estranho e verdadeiramente digno de nota que esta incrível idéia do papel
desempenhado pela consciência do homem no seu meio ambiente não tenha sido
filtrada até nós, os leigos.
Alguém quase poderia ser levado a crer que existe uma conspiração secreta entre
os físicos para manter suas descobertas envolvidas em um manto de mistério.
A idéia de que a comunidade científica considera o homem comum incapaz de
compreender sua conclusão de que a incerteza atômica é verdadeiramente
intrínseca na natureza é um fato que tange a arrogância e a intolerância.
Eu suspeitaria que enquanto a confusão da natureza está restrita ao mundo
subatômico da existência, a maioria de nós se sente apenas ligeiramente
incomodado de que o mundo que observamos lá fora é ilusório.
Afinal, na vida diária a mesa e a cadeira continuam sendo uma mesa e uma
cadeira, apesar da incerteza de sua existência.
Essa idéia de uma mente que vagueia não fica tão distante.
Quantas vezes estamos conversando com alguém e de repente nossa mente dá um
branco?
De fato, pode acontecer de a outra pessoa, tendo observado nossa face ou nossos
olhos, exclamar: "você parece distante ou desligado".
Ou, quando se percorre o arquivo da memória em busca de uma palavra ou de um
incidente e não se consegue relembrar, a expressão para essa falha é "me deu um
branco".
Outro exemplo de dilema quântico são as ilusões conhecidas como figura e fundo.
Estas figuras parecem representar desenhos radicalmente diferentes dependendo
de qual parte do desenho o olho decide tomar como fundo e qual como a figura.
A mais famosa dessas ilusões é conhecida como a taça reversível.
Se o observador considerar as áreas pretas na figura como o fundo, ele vê uma
taça branca contra um fundo preto.
Ao contrário, se a área branca for interpretada como fundo e a região preta como
figura, o que vemos são os perfis de dois rostos se encarando.
Por estranho que pareça, nesta ilusão de figura e fundo, ninguém é capaz de ver
ambas as representações num único olhar.
Os psiquiatras interpretam esse fenômeno como o reflexo de uma limitação
fundamental da capacidade mental de processar informação visual.
Esse tipo de conclusão é um exemplo típico de toda interpretação médica quando
não há uma evidência conclusiva para sustentar seus achados.
Entretanto, se levarmos esse paradoxo das ilusões um passo adiante,
perceberemos que nosso problema com as ilusões de figura ou fundo é muito mais
profundo do que uma mera limitação da capacidade da mente de processar
informação visual.
Além da incapacitação da nossa mente de ver dois aspectos ao mesmo tempo,
podemos verificar também a falta de controle da mente consciente.
Podemos estar com a pretensão de observar um dos dois aspectos.
Os olhos, entretanto, vagueiam de um lado ao outro entre os dois aspectos, com
pouco ou nenhum controle por parte da mente consciente.
Apesar de todos os esforços concertados e concentrados, geralmente perdemos
nosso foco sobre um aspecto e vagamos para o outro.
Bilhões de dólares, francos, libras e marcos estão sendo gastos para se penetrar no
próprio núcleo do átomo.
Os físicos estão estudando os mais profundos segredos da matéria (pelo que nos é
dito) e a energia que mantém todas as coisas unidas.
Quando tiverem terminado, em vez de ficarmos admirados com essa demonstração
de tecnologia, deveríamos ficar consternados.
Todo esse dinheiro, todas essas máquinas, de que servem para nós, de que servem
para o povo?
Não é o propósito deste texto em particular nem destes textos em geral criticar a
atual pesquisa científica.
Antes, se trata de analisar o impacto de suas descobertas, que, como não poderia
deixar de ser, findaram por nos trazer o princípio da incerteza.
Não é minha intenção discutir em detalhes estas descobertas.
O tema deste texto é a consciência humana e suas severas limitações.
O leitor não deve se deter pelo jargão técnico.
A intenção principal deste texto é despertar uma percepção de consciência para o
leitor comum, que não tem conhecimento científico prévio.
O cabalista não está de acordo com a idéia de que o comportamento dos átomos —
e portanto de todo o universo — é regido por processos físicos puramente
aleatórios.
O cabalista afirma que há uma ordem fundamental no universo.
Futuras investigações científicas terão, portanto, que estar preparadas para
surpresas, que podem tanto vir do campo de experiência da física nuclear assim
como da cosmologia.
O caminho até aqui percorrido pela teoria quântica indica que só se pode chegar à
compreensão das características ainda obscuras da física atômica mediante uma
prévia visualização e objetivação, em um grau maior que o atual.
Um dia, a física atômica abstrata se ajustará de maneira mais harmoniosa à
cosmovisão cabalística da realidade.
Por conseguinte, o princípio da incerteza nos define uma barreira técnica para obter
a informação precisa e necessária acerca do momento e da posição.
Sem essa informação, falta-nos a pré-condição crítica para toda a explicação causal
na física e em outras matérias relacionadas.
Neils Bohr e Werner Heisenberg acreditavam que a física deve passar por cima e
ignorar aquilo que não pode definir experimentalmente.
Segundo entende o critério científico tradicional, a teoria quântica era, de fato,
fatalmente imperfeita.
Não podia fornecer explicações acerca da realidade.
Bohr sustentava que a ciência deve aceitar o fato de que conceitos indefiníveis
como causalidade e realidade objetiva não têm lugar na física atômica.
O que nunca me permitiria aceitar essa barreira permanente era o fato de que
aplicar uma teoria imperfeita a um universo perfeito significava ancorar a mente
humana ao presente conjunto de conceitos físicos.
Ao eliminarem as vendas "científicas" que lhes cobrem os olhos e permitirem-se
beber do manancial do pensamento cabalístico, os cientistas terão acessado a uma
ampla gama de ferramentas conceituais.
Neils Bohr afirmava que o homem nunca poderá se libertar das noções de senso
comum acerca da realidade física.
Por quê?
Porque esses conceitos saturam nossa linguagem.
Em última instância, o resultado de cada experiência deve ser traduzido e
comunicado em uma linguagem com a qual todos estejamos familiarizados.
Ademais, esses cientistas sustentam que até aonde vai o limitado alcance da razão
e da lógica do homem, a noção de um mundo quântico simplesmente não existe; e
a razão é que não existe uma linguagem para descrever o mundo quântico da
existência.
O geneticista francês François Jacob disse certa vez que a razão da física ter se
tornado a líder do grupo foi por ter sido a primeira ciência a ter sua própria
linguagem.
Esta linguagem era a matemática, porém algo aconteceu então.
Descobrimos um mundo além dos cinco sentidos e tudo mudou.
A linguagem da matemática já não era capaz de expressar o pensamento, a
metafísica ou o domínio invisível da realidade.
O princípio da incerteza prevalece, e já não mais existe uma linguagem que o
explique.
Isso obriga a qualquer físico teórico decente a abandonar a terra firme e aprender a
se tornar um místico.
Assim, a visão cabalística se torna a única lógica.
Embora a Cabala freqüentemente se ocupe de assuntos profundos, o faz em uma
linguagem facilmente compreensível, um processo que por si só contém uma lição
importante.
O método de transmitir o conhecimento da Cabala indica um de seus ensinamentos
principais.
O mundo Divino ou Metafísico do infinito pode ser transformado na linguagem finita
e limitada do homem.
O instrumento através do qual o domínio quântico da realidade é conceitualizado é
o projeto cósmico do universo, a Bíblia.
Para o cabalista, as histórias e contos da Bíblia são mensagens codificadas através
das quais o reino metafísico, decodificado pela Cabala, se revela.
Sua linguagem é o Alef Bet.