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QUE SIGNIFICA “NAO CONHECER” DE UM RECURSO? JOSE CARLOS BARBOSA MOREIRA 1. Para bem responder a pergunta do titulo, deve-se comegar por lembrar que o recurso — como alids todo ato postulatério — pode ser objeto de apreciagao judicial por dois angulos perfeitamente distintos: 0 da admissibili- dade e o do mérito. Ao primeiro deles, trata-se de saber se é possivel dar ateng4o ao que o recorrente pleiteia, seja para acolher, seja para rejeitar a impugnagao feita 4 decisdo contra a qual se recorre. Ao outro, cuida-se justa- mente de averiguar se tal impugnagao merece ser acolhida, porque o recorrente tem razdo, ou rejeitada, porque nao a tem. E intuitivo que 4 segunda etapa sé se passa se e depois que, na primeira, concluiu ser admissivel 0 recurso; sendo ele inadmissivel, com a declaracao da inadmissibilidade encerra-se 0 respectivo julgamento, sem nada acrescentar-se a respeito da substancia da impugnacao. Semelhante relagao entre os dois juizos permite caracterizar 0 primeiro como preliminar ao segundo.' Na técnica do direito brasileiro, 0 resultado do juizo de admissibilidade, no 6rgao ad quem, expressa-se por uma destas duas férmulas: “conhece-se do recurso”, quando positivo o resultado, isto é, quando o 6rgao entende concor- rerem todos os requisitos necessdrios para tornar 0 recurso admissivel: “nao se conhece do recurso”, quando, diversamente, considera 0 6rgio que falta algum (ou mais de um) daqueles requisitos. JA o resultado do juizo de mérito acha expressao noutro par de formulas: “d4-se provimento” ao recurso, quando se apura que assiste razdo ao recorrente (isto €, que sua impugnacao é fundada); na hip6tese contréria, “nega-se provimento” ao recurso. Tudo aconselha a que essa distingo terminolégica seja cuidadosamente preservada, se é verdade que em direito (rectius: em qualquer ciéncia) a fendmenos iguais devem atribuir-se denominagGes iguais, e a fendmenos diferentes denominagdes também diferentes. Nenhum esforgo é preciso para evidenciar que as decisGes em cada um dos juizos tém objetos distintos e inconfundiveis. Uma coisa é pronunciar-se 191 © 6rgao ad quem sobre a presenga ou ausencia, v.g., da legitimagao para recorrer, ou da tempestividade da interposig4o; outra, pronunciar-se ele sobre a procedéncia ou improcedéncia da(s) critica(s) que 0 recorrente formula a decisio recorrida. Frise-se, contudo, 0 que a essa diversidade de objetos cor- responde — e € 0 que mais importa — diversidade igualmente nitida de efeitos. Suponhamos, por exemplo, que se haja impugnado, por suposto error in iudi- cando, decisio relativa a0 mérito da causa. O julgamento do érgio ad quem, caso este conhega do recurso, versaré também sobre 0 meritum causae; pot conseguinte, tera aptidao para produzir coisa julgada material (Cédigo de Processo Civil, art. 468) e serd eventualmente passivel de ataque por meio de aco rescisoria (art. 485, caput). Mudard de figura a situacao, caso o 6rgdo ndo conhega do recurso: seu julgamento, exterior ao terreno do meritum causae, nao se revestiré daquela aptiddo, nem comportaré ataque por aquele meio. 2. As nogdes — por sinal, elementares — que acabamos de recordar aplicam-se uniformemente a todo e qualquer recurso. Nem se poderia conceber outra coisa. Seja qual for o recurso, hd interesse em saber se 0 mérito foi julgado, ou se a atividade cognitiva do 6rgio ad quem se deteve no plano preliminar, e portanto quais os efeitos gerados pela decisao. Destarte, nao se ha de reservar para este ou aquele recurso, mas, ao contrdrio, estender a todos, sem excegio, 0 emprego da terminologia apropriada, sob pena de abrir-se margem a faceis (e nocivas) confusdes. Neste ponto interfere, todavia, um fator de incerteza. E que nem sempre os textos permitem, logo a primeira leitura, identificar com seguranga a linha divis6ria entre os dois terrenos, 0 do jufzo de admissibilidade e 0 do juizo de mérito, A identificagio é facil quando, ao indicar-se in abstracto 0 “tipo” , cuja concretizagao no mundo real faz cabivel o recurso, se empregam termos pura- mente descritivos, neutros pelo prisma axiolégico. Por exemplo: a luz do art. 105, n° II, letra c, da Constituigio da Repiiblica, compete ao Superior Tribunal de Justiga “julgar, em recurso especial, as causas decididas, em Gnica ou ultima instancia, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territdrios, quando a decisdo recorrida der a lei federal interpretagio divergente da que Ihe haja atribuido outro tribunal” . Segundo bem se compreende, a mera divergéncia, por si s6, nada revela sobre 0 acerto ou desacerto quer da decisao recorrida, quer da que se invoca como padrao: em qualquer das duas, obviamente, pode encontrar-se a interpretagao melhor. Nao é 0 simples fato de ter adotado, quanto a norma de direito federal, tese discrepante da adotada em acérdio de outro tribunal que necessariamente desacredita a decisdo recorrida. Com freqiiéncia acontece que essa decisao, apesar de configurada a divergéncia, esta rigorosamente certa, e por conseguin- 192 te ndo merece reforma. Supondo-se presentes os demais requisitos, 0 dissidio basta para tornar admissivel o recurso especial; nao, porém, para torna-lo fundado. Em casos do género, toca ao Superior Tribunal de Justiga — e ele assim procede — conhecer do recurso e negar-lhe provimento. Os textos, entretanto, optam as vezes por outra maneira de dizer, capaz de dar a falsa impressdo de que, ao indicar-se 0 “tipo”, j4 se esta embutindo nele uma valoragao. Leia-se, v.g., o art. 105, n® III, letra a, da Carta da Republica. Por forga desse dispositivo, o Superior Tribunal de Justiga € com- petente para “julgar, em recurso especial, as causas decididas, em tinica ou Ultima instancia, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territérios, quando a decisao recorrida contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigéncia”. Ora, limitando o discurso, commoditatis causa, 4 hipdtese de contrariedade a lei federal, nao ha quem nao perceba que, tomada a Constituig&o ao pé da letra, se teria conferido ao Superior Tribunal de Justiga atribuigao intrinsecamente contraditéria. Ele de- veria julgar 0 recurso especial apenas nos casos em que a decisao recorrida houvesse contrariado lei federal; ou, em outras palavras: apenas nos casos em que o recorrente tivesse razao. Sucede que, para verificar se a lei federal foi mesmo contrariada, e portanto se assiste razio ao recorrente, o Superior Tri- bunal de Justiga precisa julgar o recurso especial! Quid iuris se, julgando-o, chega o tribunal 4 conclusao de que nao se violou a lei, de sorte que o recorrente nao tem raz4o? Literalmente entendido o texto constitucional, haveria o Supe- tior Tribunal de Justiga andado mal em julgar o recurso: a decisao recorrida nao contrariou lei federal, logo a espécie ndo se enquadra na moldura do art. 105, n° III, letra a... Mas como poderia 0 tribunal, a priori, sem julgar o recurso, adivinhar o sentido em que viria a pronunciar-se, na eventualidade de julga-lo? Eis o pobre Superior Tribunal de Justiga metido, sem culpa sua, em dilema implacavel: diante do recurso especial, ou o julga, a fim de ver se a lei federal foi violada, e arrisca-se a, concluindo pela negativa, exceder.os limites tragados pela Carta da Reptiblica; ou entao se abstém de julgd-lo, e assume o risco de descumprir a atribuigao constitucional, porque sempre era possivel que a lei federal tivesse realmente sido violada... Nao é crivel que a Constituigao haja querido p6r o Superior Tribunal de Justiga em situagao a tal ponto emba- ragosa, condenado-o a jamais ter como desincumbir-se com tranqililidade da miss&o que se lhe confiou. Torna-se patente que ao texto do art. 105, n° III, letra a, cumpre dar inteligéncia que evite converté-lo em tao angustiante beco sem saida. 3. A solugao nao parece dificil. Basta que se abandone o apego 8 litera- lidade — aqui talvez mais funesto que alhures — na interpretagao da letra a 193

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