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Quando o campo está na cidade:

migração, identidade e festa


LUCIANA DE OLIVEIRA CHIANCA*

Resumo: Trata-se aqui de apresentar algumas expressões simbólicas de atualização de


uma identidade citadina de migrante, entre jovens citadinos brasileiros de origem
socioeconômica desfavorecida. Através da observação de um dos mais importantes rituais
da festa junina urbana em Natal – a quadrilha junina –, percebemos como suas versões
“tradicional” e “estilizada” recuperam imagens estereotipadas do homem do campo, ora
remetendo-se ao caipira imortalizado pelo Jeca Tatu, ora ao “matuto country” vestido em
seda, veludo e cetim. De que modo essa produção identitária é percebida pelos seus atores
e pelo conjunto da sociedade?
Palavras-chave: identidade; migração; festa; caipira; matuto.

O argumento central sobre o qual se cons- “pela festa” permitiria revelar a universalidade
trói este artigo verifica-se na festa junina1 con- de alguns dos seus aspectos simbólicos: mais
temporânea da cidade de Natal, mas pode ser proveitosa tem sido a perspectiva de compre-
estendido a outras realidades sociais. Longe de ender as construções sociais através da festa.
abolir, inverter ou apagar as hierarquias sociais, Apresentar a festa junina contemporânea
o período festivo revela como essas distâncias de Natal2 implica reconstruí-la através de uma
são recuperadas e reorganizadas em um conjun- análise sócio-histórica e etnográfica, ressaltando
to pertinente, que ritualiza e recria as distinções sua relevância como elemento da memória
sociais cotidianas. Tal como é realizada hoje em individual e coletiva da maioria dos habitantes
muitas cidades do Nordeste do Brasil, essa festa das grandes cidades: afinal não somos todos
– que já foi correntemente associada ao autên- “filhos de migrantes?” Se a festa é presente no
tico folclore brasileiro num discurso romântico campo, nas pequenas e grandes cidades, em
identificado algures (Ortiz, 1992) – é festa popu- Natal muitos a identificam como “a festa do
lar e também política, econômica, mediática. A interior”, “a festa do antigamente” e “o que há
“festa de São João” é, na perspectiva de nossa de mais puro e autêntico” no Nordeste.
análise, uma possibilidade de acesso à complexi-
dade social na qual ela se inscreve. Estudá-la A festa “do antigamente”

* Doutora em Antropologia pela Université Bordeaux 2 Por trás dessas afirmações correntes, pode-
(França) e professora do Departamento de Antropologia e mos identificar dois níveis de discursos: um
do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da
UFRN.
primeiro que revela a ligação da festa com a
1. Por “festa junina”, entendemos o conjunto de manifes-
tações festivas associadas aos santos católicos Antônio, João 2. Natal é a capital do estado do Rio Grande do Norte, onde
e Pedro. Neste artigo, às vezes empregamos a expressão foi realizada a pesquisa que deu origem a este artigo. Natal
“festa de São João” com o mesmo sentido, ou seja: para contava, em 2000, com uma população de 712.317 habi-
designar as festas do que também se convencionou chamar tantes (fonte: Censo: 2000: www.natal.rn.gov.br/sempla/
“ciclo junino”. paginas/estatisticas/informacoes.php).

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“autenticidade” e, em um outro nível, a sua asso- memória social que recupera o “interior” como
ciação ao universo simbólico representado pelo uma referência significativa e central, objetivada
território do “interior”.3 Ambas comunicam-se na composição de uma paisagem “rural”, que
através do “antigamente”, tempo de passado compõe um “território do passado”. Recupe-
difuso mas constitutivo de uma memória cons- rando socialmente a experiência dos migrantes
truída no desenraizamento e na saudade daque- e de seus filhos em Natal, o “rural” conforta e
les que o deixaram um dia. O “interior” repre- tece “liens construits dans la déterrito-
senta esse algures que “ficou pra trás”; ele rialisation” (Offner & Pumain, 1996, p. 166).
territorializa (na festa, antes e também depois Na territorialização recomposta pelos
dela) uma experiência ambivalente, pois é natalenses,5 o “interior” representa a categoria
simultaneamente um lugar/ tempo/ lembrança que se opõe à “capital” – ponto de chegada da
que se pretende superar, mas no qual perma- maioria dos migrantes internos. 6 Mesmo
necem laços de família, amizades ou recorda- operando sobre limites espaciais imprecisos
ções que fundamentam o presente na nova vida (Grunspan-Jasmin, 2001; Brun, 1989; Cavignac,
do migrante. Segundo a experiência migratória, 1997; Muzart-Fonseca dos Santos, 1997), essas
esse lugar será mais ou menos rejeitado ou fronteiras simbólicas são marcadas e perceptí-
querido, rememorado ou idealizado, mas ele veis: “l’on peut retrouver dans le discours une
permanecerá o território “por excelência” da frontière, toujours variable, entre un lieu
festa. Se a relação do festejante com o interior ‘civilisé’ et un lieu ‘sauvage’” (Cavignac,
representa a ambigüidade dessa relação com o 1997, p. 21). Essa mesma ambivalência selva-
passado (familiar e pessoal), então de que gem/civilizado realiza um corte simbólico que
maneira essa ambivalência se transpõe à festa? se encontra na base das representações citadinas
Que vínculos simbólicos ligam o interior ao São do “rural”.
João?4 Como categoria difusa, o rural também
revela um sistema de ambivalências no qual ele
A “festa do interior” é espaço e testemunha de injustiças naturais,
sociais e miséria, mas também de invernos
Mesmo se as origens pessoais e as moti- chuvosos, abundância e festas alegres. Essas
vações da partida diferenciam as trajetórias dos contraposições do rural organizam-se em dois
migrantes, subsiste entre estes o sentimento de sistemas classificatórios: um relativo à ordem
partilha de um passado comum que se realiza social e outro a uma ordem natural. Elas
na construção de um vínculo solidário. Esse encontram-se também na construção de uma
processo desencadeia a elaboração de uma identidade citadina do migrante tal como ela é
apresentada na festa junina contemporânea de
3. Citado nessas falas não como contraposição à capital dos Natal.
estados, mas como terras distantes dos centros urbanos.
“Interior” aqui é simbolicamente próximo de “sertão”, “ser-
ra”, “mato”, “campo”, lugares considerados selvagens – O personagem central da festa
antitéticos das cidades e urbes, cujo paradigma no Brasil são
as capitais administrativas dos estados federativos e as gran- Segundo Martins, a “elaboração dessa
des cidades política ou economicamente predominantes.
Essa oposição binomial (forjada na capital e reproduzida de concepção citadina da vida rural vinha se
modo generalizado) propõe, em síntese, duas categorias esboçando havia mais de um século, pois, já a
“para pensar” o Brasil: o sertão e a costa (ver Sallas, 1999, partir do começo do século XIX, tem início a
p. 354).
formação de idéias e atitudes coincidentes com
4. Entre os vários aspectos que compõem a formulação
desse “conceito festivo”, vale a pena resgatar a formulação a urbanização, relativamente à diferença entre
dos movimentos sertanista e folclorista, influências determi- a vida rural e urbana” (Martins, 1975, p. 129).
nantes na construção do conceito coletivo desta festa no
Brasil. De forte conotação romântica, ambos os discursos
Com a difusão nas cidades de um modo de vida
apresentaram uma construção idealizada do mundo rural
que se contrapunha frontalmente ao país que então se
urbanizava e industrializava em ritmo acelerado. A influên- 5. O que é originário ou pertence à cidade de Natal.
cia desses “projetos” na festa junina foi discutida em Chianca, 6. Termo designando aqueles que realizam migrações no
2004 e Chianca, 2006. interior de um mesmo estado da federação.

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burguês, reforçam-se as diferenças entre as publicadas a partir dos anos 1970: “para muitos
sociedades rural e urbana, sobretudo “relacio- de nós, brasileiros que vêm do campo, tal
nadas aos desempenhos culturais” (Silva, 1988, experiência teria um sabor todo próprio” (Silva,
p. 246). 1988, p. 255). Assim como ocorre com o cati-
Sobre o “rural”, uma série de represen- vante Jeca Tatu de Mazaroppi, Chico Bento
tações ambíguas vai se associar ao campo e a revela toda a ambigüidade da representação
“seu” habitante. Uma delas, a sertanista,7 repre- citadina do homem rural. Bochechudo e simpá-
senta as duas visões mais difundidas do sertão, tico, ele é “obtuso, ignorante, incapaz de respon-
misturando nostalgia com humor depreciativo e der às mínimas exigências da escolaridade; de
compondo uma imagem do “homem do campo”, outro lado, identificamos nele dotes louváveis:
que se imortalizou através da figura do matuto amigo, filho amoroso, defensor da natureza,
e de seu homólogo caipira.8 criança de bom coração e de boa índole” (Silva,
Apesar do esforço metodológico de Antonio 1988, p. 256).12
Candido em definir o caipira, a imagem que se Pela carga simbólica que incorporam, os
imortalizou foi a do “Jeca Tatu” de Monteiro caipiras podem ser identificados ao trickster,
Lobato.9 Esta se torna a referência fundamental mediador que “retient quelque chose de la
das definições pejorativas do homem rural nas dualité qu’il a pour fonction de surmonter”
cidades, através de uma representação literária (Lévi-Strauss, 1974, p. 251). É por essa razão
ao mesmo tempo “injusta, brilhante e caricatural” que os personagens matutos citados assumem
(Candido, 1964, p. 82). A partir de sua criação, todos essas ambivalências internas às suas
Jeca Tatu foi incorporado ao imaginário citadino próprias personagens. Assim, na festa junina de
e em seguida mais ainda com sua popularização Belém, dois matutos diferentes opõem-se: o
por meio de uma publicidade de medicamentos primeiro é o matuto cearense, que
amplamente divulgada no país: a do Biotônico
Fontoura.10 reproduz todas as características do homem
Outros personagens ulteriores reforçam nordestino. Ingênuo, leal, ele não se desprende
sobremaneira essa imagem dominante do caipi- de suas raízes [e] além de tudo é cabra-macho e
ra, como o Jeca Tatu de Mazaroppi, imortalizado quer que todos saibam disso. [Já o segundo]
caracteriza-se pela esperteza, astúcia, agilidade
em uma série de aventuras narradas em filmes
de raciocínio, profundo senso da ironia e do
realizados entre os anos 1950 e 1970.11 Chico ridículo, pela capacidade de zombar dos outros
Bento é outro herói caipira, oriundo das histórias e de si mesmo. (Moura, 1997, p. 223)
em quadrinhos brasileiras de Mauricio de Souza
Essas definições do personagem “matuto”
7. Movimento literário e artístico que “prolifera, sobretudo
a partir do final da primeira década do século XX,
ou “caipira” indicam a instalação de uma distân-
privilegia[ndo] a forma tradicional do mundo rural centrado cia simbólica definitiva nas representações
na grande lavoura, como forma social por excelência” citadinas cujo alcance atinge o personagem
(Martins, 1975, p. 131).
“selvagem” da festa junina, que se opõe clara-
8. “Caipira” é do tupi kai’pira e tornou-se sinônimo de
“matuto”: “aquele que vive no mato” (Holanda Ferreira, mente ao citadino/civilizado não somente pela
1999, p. 314). sua maneira de vestir: eles são moralmente
9. Esboçado em Urupês (1918), no qual Lobato compara o diferentes, pois seu universo e referências os
caipira ao “sombrio urupê de pau podre, que vegeta no
sombrio das matas”. opõem.13
10. Na qual são explicados os princípios fundamentais da Em Natal, cidade onde realizamos nossa
higiene cotidiana, mostrando o perigo dos microorganismos pesquisa de campo sobre festas juninas e
para a saúde geral das pessoas. Segundo o site oficial de
Monteiro Lobato, a tiragem desse folheto atingiu o recorde
identidade de trabalhadores migrantes, as
de “100 milhões de exemplares no centenário do escritor
[sendo essa publicação] considerada a peça publicitária de 12. Esse personagem teve sucesso entre adultos e crianças
maior sucesso na historia da propaganda brasileira” citadinos, inspirando inclusive outros personagens de histó-
(www.lobato.com.br, acesso em: 25/4/2004). rias em quadrinhos, como o baiano Zé Pequeno, que repre-
11. Entre os quais destacamos Jeca Tatu (1959), Tristeza do senta um menino nordestino (ver Xaxado, jornal A Tarde:
Jeca (1961), O Jeca e a freira (1967) e Jeca contra o 21/6/2000).
capeta (1975). 13. A esse respeito ver o texto de Yatsuda, 1987.

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representações do caipira/matuto aplicam-se somente migrantes pobres como também alguns


sem dificuldade aos trabalhadores e pequenos intelectuais que denunciam essa “noção ridícula
proprietários rurais. E mais precisamente aos ou idealizada do homem do campo” (Lins, 1977,
migrantes internos, porque, para os citadinos, o p. 155). Eles criticam a “hipocrisia dos profes-
matuto/caipira não é apenas “um rural”, mas o sores” que ensinam na escola “esse cerimonial
representante desse universo junto ao citadino. iníquo e altamente deseducativo que são as
Entre o interior (a “natureza selvagem”) e a festas caipiras” (Lins, 1977, p. 155).
capital (a “urbe civilizada”), ele é o mediador
do rural e do urbano. Uma reconciliação conflituosa

Marcando e conciliando oposições Considerado como “festa rural”, o ciclo


junino é, portanto, a mise en scène anual de um
Reproduzindo uma realidade freqüente interior objetivado a partir da construção citadina
nos países de economia periférica, em Natal “le do rural, mas também da memória subjetiva dos
processus migratoire ne s’est pas accompagné trabalhadores migrantes. Vendo seu presente
d’une transformation des modes de production freqüentemente como medíocre, eles idealizam
[ni] la création d’emplois dans les grandes seu passado e revivem (à sua maneira) “um
villes réceptrices” (Domenach & Picouet, estado originário” que os permite se projetar em
1995, p. 52-53). Ele também não levou a um seguida para um presente e um futuro valori-
progresso positivo na situação social dos migran- zantes. É, portanto, em um espelho deformante
tes. Ao contrário, em pesquisa sobre migração e ambivalente que eles se contemplam. O São
no Rio Grande do Norte, Souza concluiu que “a João é um dos raros momentos no qual eles
mobilidade descendente foi mais acentuada em podem legitimamente assumir suas origens e
todas as classes” (Souza, 1980, p. 112). partir à procura desse “interior”, atestando uma
Além do aspecto socioeconômico – que necessidade psicológica e existencial quasi-
não é o único, mas marca de modo indiscutível universal.
a natureza dessas migrações –, há que se Uma confirmação dessa idéia traduz-se na
considerar as implicações ideológicas da multiplicação das ofertas de viagens regulares
construção simbólica do personagem festivo do ou turísticas para as principais cidades do interior
matuto no quotidiano citadino, já que sua cari- nesse período, voltadas tanto aos antigos migran-
catura cristaliza os instrumentos da ascendência tes (que desejam aproveitar da ocasião da festa
dos setores sociais dominantes sobre os traba- para retornar a suas cidades-natais) como a
lhadores urbanos de origem migrante. Aquela, novos visitantes desejosos de conhecer uma
exógena e estigmatizante, lembra o quanto é “festa tipicamente interiorana”. Nos períodos
redutora a representação do migrante como um festivos, esses lugares recuados e esquecidos
“ex-rural”. No estado do Rio Grande do Norte, durante o resto do ano são bastante procurados
dados demográficos recentes revelam que nos e tornam-se destinos valorizados.14 Nesse mo-
anos 1970 – período de grande intensidade mento, os olhares voltam-se com interesse para
migratória interna – 89% dos migrantes que a identidade “rural” e para os migrantes, em
chegavam a Natal eram originários de zonas tempo normal rejeitados pelo próprio
urbanas (Souza, 1980, p. 100). Ademais, deve-
se levar em conta a heterogeneidade na urba- imaginaire national, avec son arsenal
nização das cidades e vilarejos “do interior” de d’épithètes chargées de mépris, trahi(ssant)
onde são originários os migrantes internos: à l’envie la mauvaise opinion que l’on se fait,
algumas delas são populosas e desenvolvidas. dans les villes, du interiorano. Ignorance,
Como convém aos excessos festivos em incapacité, inconstance, mauvaise volonté,
geral, no período junino esses personagens são roublardise, instabilité voire banditisme, tel
recuperados como uma caricatura cujos defeitos
são exagerados de modo pejorativo. Assim, a 14. Ver Rigamonte, 1999; Bernardo, 1998 e especialmente
paródia mais comum do migrante incomoda não Menezes et alli, 1990.

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sont les traits constitutifs de son image de dade da festa nunca ultrapassa a “utopia festiva”
marque. (Morice, 1993, p. 350) (Duvignaud, 1991) sob pena de se subtrair ela
mesma à vida social.
A grande maioria da população de Natal é Embora se trate de um fenômeno complexo
composta de migrantes e de suas famílias, insta- que implica uma negação e uma identificação
lados há muitos anos em todos os seus setores simultâneas da identidade migrante, a festa
e níveis da vida produtiva da capital, constituindo junina projeta-os numa profunda afirmação
um verdadeiro sucesso de integração. Apesar identitária. Como detentores de um bom conhe-
dessa realidade, persiste na capital a idéia de cimento da festa e de seus valores, durante a
que uma assimilação de sucesso implica a desa- festa essas “pessoas do interior” são excepcio-
culturação do interiorano. Sua assimilação na nalmente percebidas num registro positivo, como
vida citadina resultaria de um investimento proprietárias de um capital festivo simbólico,
pessoal e cotidiano para esconder suas origens, como consultores ou organizadores das festas.
no qual eles “s’efforcent d’effacer le stigmate Os interioranos encarnam nesse momento uma
du paysan qui leur est toujours appliqué” autoridade indiscutível, já que conseguir animar
(Cavignac, 1998, p. 39). Ao contrário dos mi- uma festa numa rua, bairro ou cidade é um sinal
grantes ricos que dispõem de meios socioe- de distinção social. Assim, para as populações
conômicos e acesso ao poder de forma que que habitam os bairros desfavorizados – seja
possam reivindicar mais rapidamente e facil- nos conjuntos habitacionais, bairros populares
mente uma identidade natalense, os trabalha- ou favelas –, a festa permanece como um
dores migrantes têm essa conquista dificultada: momento precioso de afirmação socioidentitária,
mascarar sua condição de migrante pobre torna- mas essa “inversão” merece uma relativização,
se quase impossível para estes últimos, que porque, mesmo limitada à festa junina, ela não
encontram na cidade um campo de ação limitado se faz sem reservas nem limites.15
essencialmente ao trabalho e às visitas entre É essa tensão identitária e política quoti-
pares. Assim, os “limites des dépenses vesti- diana que a festa junina metamoforseia em uma
mentaires et les stigmates physiques font “brincadeira” leve, alegre e indiferente na qual
obstacle à [leur] volonté de se mêler au reste os citadinos (migrantes ou natalenses) recriam
de la population” (Morice, 1993, p. 359). Sua o interior e seus habitantes. Longe de reafirmar
assimilação depende em larga medida do capital essa imagem idílica e ingênua, cabe à reflexão
econômico e simbólico disposto pelo indivíduo. socioantropológica analisar a cena festiva como
No entanto, durante a festa junina, um novo um palco de conflitos e afirmação de identidades
dado se introduz nessa rede de trocas simbó- sociais. É por encerrar uma dinâmica que lhe é
licas: a capital procura e quer recuperar “o própria e dividida com o contexto no qual ela se
interior”. Assim, parecem se interromper os inscreve que o São João de hoje não é mais a
conflitos identitários relativos à origem dos festa “de antigamente”. É preciso compreender
citadinos que estão presentes de modo subja- esse processo e perceber como essa transfor-
cente durante todo o ano. Nesse momento, mação pode ser reveladora de novas formas de
outras tensões identitárias ganham força e concepção do próprio universo rural do “matuto”
tornam-se mais visíveis como aquelas relativas que nele habitaria.
às distinções de classe social e do acesso ao Hoje, este não é apenas um desdentado
poder político, a educação, habitação, trabalho, maltrapilho e iletrado, mas está presente na festa
consumo e mídia. Mesmo se o conjunto da como um rico, próspero e bem sucedido agro-
cidade encena uma uniformidade social durante businessman. Como explicar essa transforma-
a festa (“somos todos filhos de migrantes”), ção? Pela influência da mídia e dos padrões
salientando com orgulho uma identidade rural estéticos americanos? Sem negar a parte que
comum, os trabalhadores migrantes e seus filhos cabe à indústria cultural, esse processo é muito
percebem que outras referências cotidianas 15. Para o caso de Natal, discutimos essa questão em
sobrepõem-se à da origem. A pretensa igual- Chianca, 1999.

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mais complexo e dinâmico e envolve a imagem chegadas à corte do Rio de Janeiro as quadrilhas
de si, constitutiva da identidade migrante. disseminaram-se, entrando nos ricos salões de
Salvador, Recife e São Paulo em suas várias
A quadrilha junina, dança da festa versões : “quadrilha de Julien”, “quadrilha de
Munsard”, francesa, diplomática , napolitana, de
Antes de prosseguir na descrição do lanceiros e quadrilha scottish.
personagem matuto, parece importante explicitar Depois, e resumidamente,17 as danças dos
para o leitor qual será o âmbito de investigação nobres tornam burguesas-se: assim se iniciou a
que tomaremos como referência da festa junina, sua popularização, que no caso da quadrilha
sabendo que ela se processa em diferentes níveis repete um processo freqüente na história, o qual
culturais igualmente relevantes, como a música, a Europa conheceu no século XVI quando as
a decoração, a culinária, as práticas religiosas, danças palacianas restritas às cortes e à aristo-
a sociabilidade e a dança. Dentre as várias cracia transformaram-se em danças de salão
danças ligadas ao período junino em Natal, da alta e média burguesias. No Brasil, ocorreu
algumas são dançadas o ano todo, como o forró, o mesmo fenômeno, com o conjunto da popu-
mas a quadrilha destaca-se das demais porque lação reproduzindo à sua maneira a dança das
só é apresentada nessa época, tendo se tornado classes altas, “recebendo adaptações adoráveis
um símbolo dessa festa. que foram depois retomadas pela burguesia”
Originária de uma contradança de mesmo (Andrade, 1989, p. 414). Mas por que e como
nome trazida ao Brasil pela corte imperial portu- essa dança se tornou uma importante referência
guesa, ela teve suas figuras e passos modificados da “festa do interior”?18
ao longo do tempo e dos lugares em que foi sendo O que explica esse deslocamento simbólico
executada. A princípio, eram quatro ou oito casais é o fato político e as implicações culturais da
que se organizavam em duas filas uma em frente mudança de poder do Brasil republicano, quando
à outra, com as quatro extremidades formando os costumes do período colonial e imperial foram
um quadrado – daí seu nome francês, quadrilles desprezados pelas camadas burguesas urbanas
(em espanhol, cuadrilhas; em italiano, quadri- e citadinas. Provavelmente nesse momento a
glia). As quadrilhas pertencem às “danças quadrilha teria sido abolida das festas dos
baixas”, assim chamadas porque nelas os casais citadinos ricos, continuando a ser dançada pela
fazem pequenos gestos cerimoniosos com os população mais distante dos grandes centros
braços e pernas e quase não levantam os pés, urbanos, os interioranos – geograficamente e
evitando movimentos bruscos (Ribas, 1983). simbolicamente defasados com suas danças já
Nobre e cortês na origem, a quadrilha tornou- “fora de moda”.19 Até o presente, os dançarinos
se uma dança e um espetáculo popularizado e de quadrilha fantasiam-se de “rurais” de uma
reinventado, marcando as festas de São João forma pejorativa e caricatural. O que hoje conhe-
de todo o país. cemos como quadrilhas tradicionais/matutas
As descrições dos viajantes da época do apresentam essa versão da dança nobre na
Brasil colonial apresentam as quadrilhas como origem e que se tornou popular.
danças praticadas nos salões ricos da corte, Nesse modelo de quadrilha, duas filas de
tanto na cidade quanto no campo, e nos falam casais matutos alinham-se frente a frente
que D. Pedro II era muitíssimo apreciador de seguindo as ordens do animador da quadrilha
quadrilhas.16 Ao longo dos anos, a quadrilha (ou “puxador”), em passos preestabelecidos e
democratizou-se até se tornar uma dança prati-
fazendo uma seqüência de passos ensaiada
cada pelos menos abastados. Essa história pode
ser compreendida quando sabemos que uma vez
17. Essa história foi desenvolvida em Chianca, 2004 e
Chianca, 2001.
16. Ele dançava na fazenda do Barão de Muriaé ou nos
bailes solenes da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. No 18. O “mistério da quadrilha” é melhor explicado em
mês de agosto de 1852, numa festa por ocasião do encerra- Chianca, 2004.
mento dos trabalhos do Senado, D. Pedro II teria dançado 19. Essa hipótese pôde, inclusive, ser verificada no contex-
pelo menos nove das dez quadrilhas propostas (cf. Pinho, s/d). to de Natal. Sobre isso, ver Chianca, 2006.

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antecipadamente ou não. Essas duas filas não masculinos usam uma roupa pouco variada e
competem entre si, mas compõem um conjunto muito despojada, composta de calça, na qual se
com evoluções ordenadas e harmonizadas. improvisa um remendo confeccionado a partir
Os dançarinos das quadrilhas tradicionais de restos de tecido, e de uma camisa unicolorida,
são todos “matutos”, reunidos para um casa- quadriculada ou xadrez, recosturada com remen-
mento na roça, no qual se representa o enlace dos. Sobre a cabeça, um chapéu de palha ou
(quase) forçado de um matuto que engravidou feltro e nos pés sapato aberto de “rabicho”22 ou
a noiva e que tenta fugir, mesmo na presença sapato de couro. Em torno do pescoço, alguns
das autoridades religiosas e da lei. O pai da noiva matutos usam um lenço vermelho em geral
consegue capturá-lo nas suas tentativas deses- amarrado no peito.
peradas, e os convidados se deliciam escutando As matutas usam um vestido ou saia com
o diálogo entre ele, o pai da noiva, o padre, o blusa de babados e rendas sublinhando suas
delegado e a noiva, através de um texto malicioso formas femininas. Sobre esse último elemento
que revela as tensões e conflitos em jogo nesse estético, há um grande cuidado com os exces-
matrimônio. A quadrilha é então o baile da festa sos, que seriam considerados vulgares e de mau-
de casamento dos noivos – personagens princi- gosto, sem corresponder à suposta moral das
pais da quadrilha, junto com o padre e o juiz (ou senhoritas e senhoras “do interior”; vaidosas,
policial). Uma quadrilha também pode ocorrer sim, mas discretas e honestas! Os acessórios
sem um casamento matuto, mas já em 1843 foi femininos são bastante apreciados: pulseiras,
descrita por Melo Morais Filho como uma das anéis, colares, brincos de orelha, fitas no cabelo.
danças de uma festa de casamento.20 Nos pés, sandálias em tecido ou couro de “rabi-
cho”. Elas usam cabelos presos ou tranças sob
Como ser matuto/caipira: algumas técni- seus chapéus de palha, que às vezes são sinté-
cas corporais ticas, louras ou negras: a matuta típica deve ter
cabelos longos.
Desde os anos 1930, o modelo do matuto A maquiagem também é alvo de muito
definiu-se pela simplicidade vestimentar. Esse cuidado e participa da paródia em torno do
estado revelador de privações econômicas só matuto: nela são simulados dentes em falta,
acentua as associações citadinas correntes, pintados de preto ou cicatrizes grosseiras nos
aproximando, como vimos, os matutos e os mi- rostos e corpos. Sobrancelhas, barbas e bigodes
grantes economicamente desfavorecidos e são alargados e reforçados com lápis pretos para
sublinhando assim um estado de fraqueza social dar uma imagem mais “selvagem” do matuto:
que ninguém desejaria assumir. os pêlos são considerados em função de uma
Assim, a escolha das roupas festivas é simbologia ligada à fertilidade, como “mani-
informada por essa precariedade, sendo a chita festation de la vie végétative, instinctive et
o tecido-chave da roupa matuta. Ora, também sensuelle” (Chevalier & Gheerbrant, 1944, p.
na escolha dos tecidos, a hierarquia social impri- 796), e visam recriar um estado de natureza que
me sua marca, sendo a popelina e a viscose o modelo festivo citadino esforça-se em lembrar
preferidos pelos clientes mais abastados21 (a com humor.
chita é conhecida pelo seu baixo custo, corres- Nas matutas, essa caracterização é mais
pondendo a sua pouca qualidade). De uma leve e se limita às vezes a pintar de preto alguns
maneira geral, a vestimenta dos matutos segue dentes e a esboçar no rosto algumas imperfei-
o estereótipo citadino do homem do campo, ao ções vegetativas e da natureza, como marcas/
qual se atribui por ocasião das festas e eventos sinais de pele. A maquiagem de olhos, lábios e
sociais o gosto das cores fortes e disparates – bochechas é forte e feita com cores vivas.
chamadas “alegres” e “vivas”. Os matutos Além de confeccionar a sua roupa matuta
20. Para maiores informações acerca das quadrilhas matutas,
especialmente para a festa, uma segunda possi-
seus personagens e casamento, ver Chianca, 2001 e Chianca, bilidade consiste em recuperar roupas usadas:
2004.
21. Jornal Tribuna do Norte, 20/6/1996. 22. Corte de couro laminado, bastante macio e confortável.

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CHIANCA, LUCIANA DE O. Quando o campo está na cidade: migração, identidade e festa.

as festas juninas marcam o único momento do segundo o projeto em questão, apenas alguns
ano em que vestimentas de pais e avós são desses traços serão recuperados a fim de dar
publicamente recuperadas, sendo que tal recurso uma imagem menos caricatural ao matuto.23
valoriza a qualidade da fantasia de matuto.
Estamos diante de mais um indício da relação O movimento “estilizado”
dessa festa com um passado que se deseja
revisitar: de fato, a vestimenta é o elemento mais Embora a data exata de sua aparição seja
essencial na preparação de uma viagem, e objeto de polêmica,24 em Natal os grupos esti-
muitas vezes o único bem que se transporta lizados apareceram a partir de meados de 1990,
quando de uma migração. Retomar as roupas seguindo um processo lento e progressivo de
de família parece ser um modo de recuperar transformação interna da dança tradicional que
sua identidade de migrante a fim de melhor atinge uma maior visibilidade a partir de 1995,
ultrapassá-la no contexto derrisório da festa. nos grandes concursos de quadrilha promovidos
Sem exaltar essa identidade pré-migratória, o pela prefeitura e pelas subsidiárias locais da TV
ritual permite que ela seja reexperimentada, para Globo e do SBT. A real paternidade do movi-
ser em seguida desdenhada – assim como a esse mento parece difusa, sendo constituída a partir
passado definitivamente abandonado. de diversos grupos que teriam recorrido de modo
Antigos ou fora de moda, esses elementos pontual e simultâneo a lantejoulas, paetês, novos
objetivam construir uma vestimenta reintegrada tecidos, maquiagem, roupas e depois novas
na leitura citadina e festiva atual. Dessa forma, coreografias e temas inovadores na apresen-
o patrimônio vestimentar de uma família é tação.
recuperado como objeto de riso, em uma recons- Uma das fontes dessa nova estética –
tituição da qual toda a família participa (dessa unicamente vestimentar, de início – parece ter
vez) se divertindo. Mal coordenadas entre si e sido o programa televisivo cotidiano chamado
mal cortadas para os que a portam, as roupas Xou da Xuxa.25 No mês de junho esse progra-
reforçam a imagem hegemônica do matuto, ma recebia, para apresentação, grupos de qua-
segundo a qual o migrante não está adaptado à drilha escolares da Região Sudeste. De fato, os
vida na capital, esta última reclamando um certo grupos que então se faziam conhecer em rede
savoir-vivre e o respeito aos códigos vestimen- nacional não reproduziam os cânones do padrão
tares característicos da urbanidade. festivo tradicional (vestimentar, inclusive) de
Para a juventude descendente de migrantes, Natal, mas exibiam roupas confeccionadas com
tal caricatura lembra que o interior idealizado tecidos caros, vestidos longos de cores claras,
não é necessariamente enobrecedor e que é com rendas e ornamentos.
preciso mantê-lo a uma boa distância do presen- Ora, se esse programa de televisão tem sua
te citadino. Através desse jogo de recuperação importância na evolução das quadrilhas da
e distanciamento, a ideologia dominante tenta cidade, sua ascendência não é exclusiva nem
provar o quanto a migração foi acompanhada determinante, mesmo se freqüentemente ele é
por uma promoção social e cultural das famílias evocado por aqueles que desejam associar esse
em questão. movimento à massificação ideológica promovida
É interessante notar como a sociedade pelos meios de comunicação. O que nos permite
urbana recupera a dualidade natureza/cultura na
vestimenta do matuto durante a festa junina. 23. É nessa linhagem que se inscrevem os grupos de quadri-
Apresentado como um semi-selvagem, ele é lha estilizados, assim como os “matutos revisitados” e os
inadaptado às práticas corporais citadinas. Essa “estilizados light”, analisados noutro trabalho (Chianca,
2004).
inadaptação à moda e ao “bom gosto” é também
24. O pioneirismo é objeto de reconhecimento, prestígio e
sublinhada na visão dominante do matuto em autoridade. Por isso, em Natal, vários grupos reivindicam a
Natal. No entanto, enquanto alguns grupos gênese desse movimento, entre os quais podemos citar as
quadrilhas Sassaricando e Arriba a Saia, ambas da zona norte
reivindicam essa imagem, outros a questionam da cidade.
e só recuperam alguns traços dessa estética 25. Difundido nacionalmente pela Rede Globo de Televisão
considerada excessivamente grosseira. Assim, nos anos 1980 e 1990.

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SOCIEDADE E CULTURA, V. 10, N. 1, JAN./JUN. 2007, P. 45-59

relativizar sua importância é a grande variação Se, com efeito, ela se beneficiou desde seus
de suas fontes inspiradoras e a variada gama primórdios de uma difusão mais ampla por parte
de expressão contemporânea da dança, como da televisão, também contou com a simpatia de
veremos. Outro dado de grande relevância é o grande parte do público, sendo assim progres-
fato de que, apesar da importância da mídia, as sivamente identificada como uma filha bastarda
quadrilhas “matutas” permanecem majoritárias que quer “parecer o que não é”. Essa visão
entre os “grupos espontâneos” e “de espetá- negativa foi empregada para combater esses
culo”, que constituem de modo indiscutível as grupos, que teriam perdido suas características
principais e mais fundamentais expressões “autênticas” para se tornar uma miscelânea de
festivas da dança.26 É apenas junto aos grupos inspirações culturais e artísticas diversas. Esse
de competição que o modelo estilizado encontra pavor alarmista de uma “perda cultural” expan-
repercussão e difusão. diu-se entre os conservadores de todas as
A partir de sua aparição em grande escala, camadas sociais, reunindo a população mais
nos concursos (ou festivais) de quadrilhas, os nostálgica da quadrilha matuta que, entretanto,
grupos estilizados causaram muita polêmica por nunca desapareceu.
parte de jornalistas, folcloristas, intelectuais e Diante dessa resistência, outros aspectos
demais autoridades “cultas” da cidade. O debate vêm sublinhar a amplitude dos conflitos sociocul-
sobre essa nova expressão da dança atingiu o turais em jogo nessa evolução da dança. Em
conjunto da sociedade natalense, provocando primeiro lugar, a origem social dos grupos de
discussões acaloradas acerca da legitimidade do quadrilha estilizada: visivelmente mais nume-
emprego dessas novas cores e materiais local- rosos na zona norte, setor de ocupação urbana
mente insólitos, tais como os vitrilhos e tecidos ocupada pela população oriunda de migração
“exóticos”, como o veludo e o cetim. Podemos interna mais recente – a partir dos anos 1970.
perceber a amplitude desse mal-estar quando De fato, a quadrilha estilizada era dançada pelos
um jornalista publica uma crônica em importante “primos pobres” dos citadinos “ricos”. Junto ao
jornal local, em 1996, dizendo que essas danças mal-estar cultural já evocado, vem se acrescen-
mais pareciam “russas, ucranianas”. Ele repro- tar esse elemento de conflito identitário de bases
socioeconômicas.
vava os dançarinos por quererem parecer o que
Se o conjunto das práticas contemporâneas
não são: “já se viu um sertanejo dançar assim?”,
da festa foi articulado por uma elite socioeco-
interrogava-se.27 Outro aspecto relevante nesse
nômica composta por intelectuais, folcloristas,
debate é que nenhuma dessas autoridades
educadores e jornalistas, como aceitar que a
desejava distinguir as quadrilhas estilizadas como
nova dança fosse obra desses jovens migrantes?
uma “nova dança”. Sem essa emancipação, elas
É verdade que, pela sua familiaridade com o
permaneceram associadas às quadrilhas tradi-
“rural” e os “matutos”, esses jovens migrantes
cionais, às quais elas sempre foram comparadas.
deveriam ser reconhecidos como autoridades
Sua situação assim é das mais descon-
festivas, “refazendo o rural na cidade”. Mas, se
fortáveis: enquanto os conservadores a recusam
assim fosse, como amparar a definição tradi-
como “degradação da tradição”, os intelectuais
cional da festa? Ora, a história social da festa
de esquerda denunciam sua natureza “massi-
em Natal sublinha as fontes citadinas e elitistas
ficada”, seus promotores como “cúmplices” e da quadrilha,28 da qual d. Gurgel, um dos mais
seus praticantes como “vitimas da alienação importantes folcloristas do estado,29 admite a
cultural” que ela representaria. origem burguesa. Para ele, a quadrilha é uma
dança de pessoas da alta sociedade, tendo “des-
26. Com o objetivo de sistematizar nossa análise, emprega- cido da elite para o povo”.30
mos uma classificação tipológica dos grupos de quadrilha
contemporâneos de Natal, dividindo-os em três tipos: 1) os
espontâneos; 2) de espetáculo; 3) de competição. Essas 28. Ver Chianca, 2006; Chianca, 2004.
categorias encontram-se definidas e explicitadas em Chianca, 29. Presidente da Comissão Norte-Riograndense de Folclo-
2004. re (em 2006).
27. Jornal Tribuna do Norte, 8/6/1996. 30. Jornal O Poty, 22/6/1980.

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CHIANCA, LUCIANA DE O. Quando o campo está na cidade: migração, identidade e festa.

Popularizada em Natal desde os anos 1950, estilo próprio da quadrilha contemporânea. A


ela teria fugido ao controle dessa elite: foram os natureza dessa evolução pode ser encontrada a
migrantes e seus filhos que a conservaram, partir de alguns aspectos de suas apresentações,
reproduziram-na e reinventaram-na como uma como encenação, coreografia, alegorias, perso-
das manifestações mais populares da festa nagens e música das quadrilhas estilizadas.32
junina contemporânea em Natal. Nesse campo Para as finalidades deste artigo, deter-nos-
político cultural de grande significação simbólica, emos sobretudo na apresentação do personagem
a ação dos grupos de quadrilha não se resume da quadrilha, o matuto, tal como ele é repre-
ao consumo de alguns produtos culturais, mas sentado nas novas quadrilhas estilizadas de
compreende a concepção e a execução de um Natal.
projeto coletivo. Ela difere, assim, do forró, que
conheceu também muitas transformações na “Matutos, mas de luxo”
sua forma, mas que permaneceu, em grande
escala, dependente dos circuitos da indústria Desde a época em que surgiu, o que dis-
cultural31 – raríssimos são os grupos de quadri- tingue uma quadrilha matuta/caipira/tradicional
lha que conseguiram se inserir num circuito de de uma quadrilha estilizada é o efeito espetacular
apresentações remuneradas. e vistoso desta última, que se revelava sobretudo
O fato é que, quando ganharam visibilidade pela atenção especial dedicada ao corte, às cores
em meados dos anos 1980, esses grupos foram e ao acabamento das roupas empregadas na
imediatamente comparados com os “grosseiros” dança.
e “deselegantes” matutos, da dança tradicional. Em sua autodefinição, há que se salientar
O confronto reforçava-se, sobretudo, porque, em que os dançarinos de quadrilha estilizada não se
um primeiro momento, a forma convencional e identificam mais como “matutos”, ou “caipiras”,
a estilizada concorriam em igualdade de condi- mas como “dançarinos”, traduzindo assim seu
ções nos concursos de quadrilhas. Sua especifici- desejo de afirmação e de um reconhecimento
dade foi rapidamente reconhecida, não só pelos mais valorizante da sociedade e extrapolando o
críticos, mas também pelo público e, principal- clichê de “homens do campo” – também sinô-
mente, pelos organizadores dos festivais: atentos nimo de “tradicional”. Eles operam, dessa
a sua originalidade estética, eles lhes propuseram maneira, em uma transição entre a identidade
uma “modalidade” à parte nos concursos. de seus pais e as suas próprias, “déchirés entre
Conscientes da distância estética e – a l’expression de leurs racines et leur désir de
nosso ver – simbólica que os separava dos esti- vivre comme tout chacun” (Domenach &
lizados, os grupos matutos apoiaram essa cisão, Picouet, 1995, p. 85).
que beneficiou sobretudo os grupos estilizados: É no interstício entre os símbolos citadinos
livres da tradição, eles investiram na invenção e e rurais que eles reproduzem uma nova repre-
na criatividade, propondo um espetáculo original sentação citadina do homem rural: destacando-
a cada apresentação. Outros grandes beneficia- se da recordação (geralmente dolorosa), eles
dos serão os promotores dos concursos que desejam integrar o “agricultor” na nova condição
puderam, assim, promover produções artísticas de “produtor agrícola” que usa o trator ao invés
de grande expressividade e riqueza estética, sem do arado e da enxada, produzindo melhor, “sem
a contrapartida de investimentos. sujar as mãos” e roupas. Para recompor essa
Com sua liberdade assegurada pela inde- personagem festiva, costureiros e figurinistas33
pendência do modelo tradicional da dança, os
grupos estilizados seguiram num ritmo de
32. Essas questões são discutidas em Chianca, 2004, tanto
transformações relativamente regular e suficien- para os grupos estilizados quanto para os tradicionais.
temente estável para que possamos falar de um 33. O projeto estético-cultural de um grupo de quadrilha,
sua elaboração e mise en scène foram descritas em nossa
tese, na qual detalhamos também o papel do conjunto de
31. A trajetória do forró desde sua “invenção” até suas especialistas envolvidos numa quadrilha, como sonoplastas,
formas contemporâneas pode ser encontrada em Chianca, iluminadores, costureiros, coreógrafos e auxiliares (ver
2006. Chianca, 2004).

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recorreram a elementos estéticos rurais prove- Essa inversão da estética corporal da qua-
nientes da Europa e da América (do Norte, Sul drilha estilizada implica uma mudança radical
ou Central). Esse conjunto bricolé sintetiza um de perspectiva no olhar dirigido para o “homem
simbolismo que pode ser percebido nas roupas rural”, que não é mais necessariamente consi-
dos seus dançarinos e em uma certa postura derado uma pessoa simples de poucos recursos,
corporal. mas alguém em harmonia com a produção, o
Para os rapazes, a principal referência de mercado e a modernidade. Esse “novo homem
uma ruralidade vestimentar é a do cowboy norte- rural” pode se inserir com naturalidade no meio
americano, sempre de chapéu, botas e cinto no urbano, o qual não é mais percebido como um
estilo “texano”. Às vezes, o gaúcho argentino espaço politicamente e simbolicamente inacessí-
inspira seus criadores, com bombachas. As vel, mas como um centro dinâmico, a cuja
dançarinas usam vestidos longos com camadas “immage favorable […] s’oppose celle de la
superpostas de tecido – que elas levantam às campagne dont le développement est toujours
vezes em plena apresentação, mostrando en retard” (Castigliani, 1989, p.16-17).
deliberadamente suas roupas íntimas –, repro- Um dos aspectos mais reveladores dessa
duzindo o movimento das dançarinas de french- releitura do personagem junino é o fato de ele
cancan do far-west, conhecido através da ser majoritário em grupos de dança originários
filmografia norte-americana. Seus corpetes do interior, vindo se apresentar na capital por
encontram inspiração nessa referência, ou talvez ocasião dos grandes concursos de quadrilha
no imaginário sobre as camponesas européias. (que opõe os grupos da capital e do interior).
Esses fragmentos do que constitui para eles um Outro aspecto interessante é que o surgimento
“exotismo rural” são a base da concepção local desses grupos não propôs o desaparecimento
do “homem rural universal”. do estilo matuto. Sua expressão tampouco
A constância do modelo norte-americano comportou uma revolução acerca do discurso
nessa estilização do personagem junino pode ser hegemônico sobre o rural, o interior ou o sertão,
compreendida através da globalização cultural pois ela não renovou o sentido, mas a forma da
representada no Brasil pela televisão. Sua representação citadina do “matuto”. Se essa
influência também foi reforçada pelos rodeios, nova interpretação dos símbolos, instituições e
que difundiram a partir dos anos 1980 uma valores ligados ao São João propõe uma nova
estética vestimentar particular.34 Mas a estética imagem do homem rural e do migrante, resta
“rural universal” não se reduz ao cowboy: ela saber quem são os reformadores dessa tradição,
se compõe também no recurso a tecidos, aces- onde vivem e que setores sociais eles repre-
sórios e adornos vindos de “outros universos”, sentam.
suficientemente distantes dos padrões locais
para reforçar a preferência dos grupos estili- Grupos estilizados e identidade
zados pelos padrões não-locais – como veludos, socioeconômica
cetins e cristais. O conjunto de dançarinos revela
também exigências pouco habituais em matéria Além das implicações estéticas e político-
de cuidados corporais e para as suas apresen- ideológicas já discutidas aqui, a distância que se
tações preparam de modo excepcionalmente aprofunda com a constituição desse novo modelo
zeloso suas unhas, cabelos, pêlos corporais e de dança revela as tensões cotidianas relacio-
maquiagem. O novo dançarino não é um matuto, nadas à inserção socioeconômica de seus habi-
mas alguém que se cuida e sabe se preparar. tantes.
Tudo nele deve marcar sua oposição com os Resumindo o processo de ocupação da
dançarinos da outra modalidade. cidade desde o início do século, observamos que
a grande maioria dos migrantes de internos habita
as periferias da cidade, reproduzindo um dina-
34. Marcada por calças jeans, cintos de couro largos com mismo ocupacional urbano que não é exclusivo
grandes fechos metálicos, camisas xadrez, chapéu de feltro
ou couro e botas de couro de cano alto. Sobre as festas de de Natal. As diversas regiões da cidade, hoje
rodeio ver Pimentel, 1997 apud Vidal e Souza, 1999. dividida em quatro zonas (norte, sul, leste e

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CHIANCA, LUCIANA DE O. Quando o campo está na cidade: migração, identidade e festa.

oeste), concentram assim diferentes “fases” como explicar sua grande adesão ao modelo
migratórias, podendo-se afirmar que, quanto mais estilizado da quadrilha, que é muito mais
central for a região – ou seja, quanto mais perto oneroso38 e de difícil execução?
da área de fundação da cidade – mais antiga é Sem desejar reificar a distinção norte/sul,
a relação de seus habitantes com a migração. bastante freqüente no discurso quotidiano dos
Considerando que Natal tinha pouco mais de 16 moradores de Natal, é interessante salientar
mil habitantes no final do século XIX, e pouco como esses dois setores da cidade comportam
mais de 30 mil em 1920 (Cascudo, 1980, p. 76- exemplos emblemáticos dessa relação: se a zona
77), o primeiro grande fluxo migratório interno norte foi um dos últimos espaços de ocupação
ocorreu nos anos 1940, quando a cidade atingiu migrante pobre de Natal, em 2001 ela fornecia
65 mil habitantes (Souza, 1981). Mas a cidade mais de 1/3 dos grupos de competição concor-
recebeu uma maior afluência de migrantes nos rendo num grande concurso televisivo, sendo 20
anos 1970, quando serão construídos grandes estilizados e 14 matutos.
conjuntos habitacionais em setores afastados do A zona sul tem outra configuração socioeco-
centro da cidade, no que hoje se conhece por nômica, não no que se refere à origem dos seus
zona norte, mas também na zona oeste. habitantes ou de seus genitores, mas relativa-
Separada do centro pelo principal rio da mente a sua assimilação citadina no presente,
cidade, o Potengy, a zona norte, especialmente, já que sua ocupação apresenta uma população
concentra atualmente toda uma série de repre- bem mais favorecida. Migrantes de boa condição
sentações pejorativas sobre a periferia, sendo econômica desde o início do processo, ou encon-
discriminada por pretensamente abrigar o perigo trando “sucesso” na migração, eles se interes-
e a violência urbanos. Ora, o que nos interessa sam e praticam mais o estilo matuto. Sua popu-
reter é que a grande maioria dos trabalhadores lação permanece quase indiferente a esses festi-
urbanos de Natal vive nesse setor da cidade, vais e à modalidade competitiva da dança (cinco
concentrando uma considerável quantidade de grupos inscritos, sendo quatro matutos em 2001).
jovens e adultos economicamente ativos e Acreditamos que a experiência migratória
atuantes na dinâmica econômica da cidade. citada – mais ou menos recente – e a inserção
De fato, durante nossa pesquisa de cam- socioeconômica constituem dados decisivos para
35
po, percebemos que a maioria dos grupos a escolha desses grupos, guardando uma interde-
estilizados (75/93) está concentrada nas zonas pendência íntima com suas dinâmicas identitá-
norte, oeste e na Grande Natal,36 três setores rias. A predominância de um ou outro estilo de
marcados por uma ocupação territorial mais quadrilha de competição guarda, então, forte
recente no contexto da capital do estado do Rio relação entre a antigüidade da presença trabalha-
Grande do Norte.37 Sendo as zonas norte e oeste dora migrante e seu grau de integração citadina.
majoritariamente ocupadas por uma juventude
desfavorecida – elas representam os dois setores Conclusão: entre integração e
mais pobres da cidade, com média de renda assimilação
familiar inferior a cinco salários mínimos (Borges
& Ferreira, 1987, apud Martin, 1998, p. 360) –, Os estereótipos dominantes do migrante
veiculados pelo modelo tradicional explicam a
razão dessas escolhas, associadas a uma forte
35. Realizada em 2001, junto a um concurso de quadrilha
no qual observamos 114 grupos entre estilizados e tradicio-
motivação de integração da juventude dos
nais (VII Festival de Quadrilhas, promovido pela Televisão bairros pobres de Natal. Para os grupos de
Cabugi) de diversos municípios do Rio Grande do Norte.
Para uma análise sobre os concursos de quadrilha e a dinâmi-
ca competitiva/ identitária em Natal, ver Chianca, 2004. 38. A título indicativo, em 2001 uma roupa completa de
matuta custava entre R$ 100,00 e R$ 150,00, enquanto o
36. A Grande Natal abarca alguns municípios vizinhos que de uma dançarina estilizada custava o triplo. O valor de uma
guardam com Natal uma relação de interdependência eco- roupa é muito variado segundo o “papel” do componente, o
nômica, como Parnamirim e São Gonçalo do Amarante, material empregado e a mão-de-obra de sua confecção, mas
por exemplo. é determinado pela quadrilha. O dançarino apenas acata a
37. Trinta e quatro da zona norte, vinte e um da zona oeste escolha dos dirigentes acerca desses aspectos (ver Chianca,
e vinte da zona leste. 2004).

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SOCIEDADE E CULTURA, V. 10, N. 1, JAN./JUN. 2007, P. 45-59

quadrilha de competição, não se trata somente AZZI, Riolando. O catolicismo popular no Brasil.
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tanto no plano socioeconômico quanto simbólico. nos Aires. Revista Brasileira do Folclore, ano I ,
As quadrilhas estilizadas representam uma n. 1, set./dez. 1961. Rio de Janeiro: Ed. Itambé, 1961b.
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économique défavorisée. Ce processus peut être perçu migrantes da zona norte de Natal. Travessia, n. 32,
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de luxe”, habillés en soie, velours et satin. Comment cette
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nouvelle production d’identité est-elle perçue par ses
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