Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
por outro lado, Na orígem dos transtornos emocionais nunca se pode desatrelar totalmente
os gens (ou genes) do ambiente, ou seja, não se consegue emancipar totalmente as
disposições pessoais das circunstâncias ocasionais. Esses são dois aspectos que devem ser
tratados conjuntamente, tal como na figura ao lado (Fig.1), idealizada para simbolizar
situações clínicas onde esses dois componentes interagem em proporções diferentes.
Ao deslizarmos por essa figura um ponteiro, de acordo com sua posição, a parte da figura à
direita e à esquerda do ponteiro teria áreas diferentes de participação constitucional e
ambiental (figura abaixo). Assim sendo, vamos localizando os quadros emocionais de acordo
com a parte da figura que nos interessa, ora predominando elementos constitucionais, ora
ambientais.
Mas essa regra simples não garante, automaticamente e por si só, sucesso garantido da
psicofarmacologia nas situações onde predomina a constitucionalidade. Há transtornos onde
os avanços da farmacologia ainda são insuficientes para uma eficácia absoluta; são os casos,
por exemplo, das Síndromes Organomentais, como as Demências, as Oligofrenias, as
seqüelas de traumatismos cranianos ou acidentes vasculares. Mas alguma coisa já começa a
despontar nesse sentido, como é o caso da rivastigmina, da tacrina, etc.
Caso o paciente faça parte da população etária de risco (dos 20 aos 30 anos para
esquizofrenia e dos 15 aos 35 anos para o transtorno bipolar, por exemplo), há maior
probabilidade de estarmos diante do primeiro episódio de uma patologia que, quase
certamente, se repetirá. Por outro lado, se a idade do paciente fugir da faixa média de maior
incidência desses quadros, é mais provável tratar-se de um episódio possivelmente único e
predominantemente motivado por razões vivenciais ou circunstanciais.
Sabendo isso tudo, é o momento de perguntarmos: para quem deve ser melhor indicada a
psicofarmacoterapia?
Muito bem. É bom ter em mente alguns números sugestivos e que podem justificar os
tratamentos instirtuídos prontamente. Vejamos: a probabilidade de um segundo episódio
depressivo é de 35%, de um terceiro é de 65% e de um quarto episódio, 90%. Em relação ao
surto psicótico esquizofrênico tem-se algo pior, sendo 52% a probabilidade de um segundo
surto e de 96% um terceiro (probabilidade estimada sem tratamento de manutenção). Assim
sendo, o tratamento visa evitar, preventivamente, um quase certo terceiro episódio
depressivo ou um quase certo segundo surto esquizofrênico.
Embora a psicofarmacoterapia possa ser útil em qualquer dos casos, ela poderá ser
insuficiente nos pacientes que necessitam adaptar-se a alguma vivência traumática, como é
o caso de ter perdido a mãe, do exemplo acima, e será indispensável naqueles casos cujo
estado emocional atual reflete um componente biológico, como acontece naqueles
deprimidos sem uma causa vivencial proporcional detectada. Para as pessoas do primeiro
caso, aquelas que estão reagindo patologicamente às vivências expressivas, a associação da
psicoterapia à psicofarmacoterapia é de fundamental importância.
Tentando elaborar uma regra didática simples, grosso modo poderíamos dizer que a
psicoterapia é eficaz na proporção da influência de elementos vivenciais no curso da doença
(quanto mais influentes forem as vivências, maior eficácia da psicoterapia) e a
farmacoterapia é tão mais eficaz quanto menos importantes forem as vivências na origem do
transtorno. Isso não invalida, absolutamente, a associação de ambos procedimentos nos
transtornos emocionais em geral, auferindo-se benefícios da psicoterapia também nos casos
predominantemente constitucionais e da farmacoterapia naqueles predominantemente
vivenciais.
Suicídios em membros da família também devem ser investigados, tendo em vista a maior
probabilidade dessa atitude repetir-se em descendentes.
c - Quanto à Sintomatologia
A psicofarmacoterapia objetiva, como fim, a melhoria da qualidade de vida, seja através do
tratamento dos transtornos psíquicos, controle dos casos crônicos ou mesmo no alívio dos
sintomas incômodos. Ao médico psiquiatra clínico compete a questão: o que ou quem estou
tratando?
Embora, hoje em dia, a maioria dos sintomas psicoemocionais possa ser aliviada pela
psicofarmacoterapia, sempre que possível o tratamento deverá ultrapassar os sintomas e ser
dirigido, sobretudo, ao componente psicodinâmico, existencial e social da pessoa que o
apresenta tais sintomas.
Uma das dúvidas que mais incomoda os não-psiquiatras é em relação à verdadeira função da
psicofarmacoterapia; estaríamos apenas tratando sintomas e empurrando para debaixo do
tapete problemas maiores ou, de fato, estaríamos contribuindo para a cura do paciente.
Quais os limites entre a medicina psiquiátrica curativa e a paliativa?
Em tese, a indicação primeira para utilização dos psicofármacos e que já justifica seu uso
seria o alívio do sofrimento, pois, ao médico cumpre curar sempre, em não curando, aliviar
sempre e, em não aliviando, consolar. Conquistado o alívio e conforto do paciente, de agora
em diante será interessante tratarmos da questão; curativo ou paliativo?
Segundo Jaspers, entendemos por Fase um período mais ou menos agudo e bem delimitado
na vida da pessoa, onde o estado emocional atual reflete uma adaptação mórbida à alguma
vivência mais traumática. Estão incluídos nas Fases, todas as Reações Vivenciais Não-
Normais, como os quadros ansiosos motivados por vivências estressantes, as depressões
reativas e até o Transtorno Delirante Agudo e Transitório.
Esses quadros costumam refletir um momento psiquicamente mórbido, completamente
diferente do estado psíquico basal da pessoa, respondendo bem aos psicofármacos e com
boas perspectivas de evolução.
Os Processos são quadros onde, a partir de um momento definido na vida, a pessoa começa
a desenvolver um quadro psíquico mórbido, mais ou menos consoante aos traços pré-
mórbidos da personalidade. É como se tratasse de uma evolução mórbida de uma
probabilidade constitucional, evolução essa motivada ou não por razões vivenciais. Incluem-
se aqui as Esquizofrenias, refletindo traços esquizóides e paranóides da personalidade, os
Transtornos Obsessivos Compulsivos, como agravamento patológico da personalidade
Anancástica ou Insegura de Si, Os Transtornos Bipolares, como morbidade de Personalidades
Ciclotímicas, as Depressões Recorrentes, vindas dos traços Distímicos e assim por diante.
Os quadros que se apresentam como processos, em sua grande maioria, felizmente evoluem
muito bem com a psicofarmacoterapia. Entretanto, as possibilidades de recorrência quando
da interrupção do tratamento são algo maiores que a não recorrência. Consultando-se a
figura de exemplo ambiente-constituição, no tópico Quanto a Origem do Transtorno,
teríamos as patologias na posição médio-direita do espectro constituição-ambiente.
Desenvolvimento seria, por sua vez, a classificação dos quadros conseqüentes a algum
déficit de desenvolvimento ou a uma alteração patológica do desenvolvimento depois de um
momento definido. Como exemplo de um déficit de desenvolvimento ou desenvolvimento
incompleto teríamos as Deficiências ou Retardos Mentais e, como exemplos de uma
alteração patológica do desenvolvimento teriam as Demências. Nesses casos os resultados
dos psicofármacos têm sido pouco expressivos.
Talvez o que foi dito esclareça a dúvida de muitos: a psiquiatria cura ou apenas controla? A
resposta mais sensata seria dizer que ela cura o que pode ser curado, controla o que pode
ser controlado e remedeia o que não tem controle nem cura. Mas essa postura não é
diferente de nenhuma outra especialidade clínica da medicina.
Os aspectos culturais são, atualmente, aqueles que mais influenciam na viabilidade do tipo
de tratamento. E alguns conceitos populares, como no quadro acima (Quadro 1), interferem
sobremaneira na adesão ao tratamento farmacológico.
Evidentemente, seria desejável que a pessoa vivesse sem eles e sem qualquer outro tipo de
remédio, assim como as pílulas anticoncepcionais, aspirinas, vitaminas, etc, seria desejável
também que ninguém usasse óculos ... e assim por diante. Entretanto, a medicina tem
avançado o suficiente para fazer com que o diabético tenha uma vida bastante próxima do
normal, assim como o reumático, o hipertenso, o míope, etc, incluindo aqui também os
ansiosos.
Os defensores da idéia de que remédios e drogas não resolvem seus problemas, incluindo
aqui alguns colegas médicos, são os mesmo que costumam atribuir palavras naturalmente
pejorativas aos psicofármacos:
Quando o medicamento é prescrito, ele tem um objetivo terapêutico bastante claro. O ideal,
sem dúvida, será que essa substância tenha o mínimo de efeitos colaterais possíveis. A
intenção da psiquiatria normalmente não é dopar, embora o psiquiatra resista bravamente
aos apelos sociais nesse sentido.
Quando não está em tratamento alguma crise de agitação psicomotora, crise de confusão
mental ou algo assim o ideal é que o paciente não se sinta sedado com os psicofármacos.
Acontece que alguns ansiolíticos e pouquíssimos antidepressivos, têm a sonolência como
efeito colateral. Nesses casos podemos recomendar para que o paciente use-os à noite,
portanto, aproveite o efeito colateral e durma.
Dopar, por sua vez, é uma palavra culturalmente pejorativa, a qual pode estimular uma
postura teatral e histérica por parte de pessoas que aferem algum tipo de lucro emocional
ao mostrar para "todos interessados", que estão fazendo um tratamento sério.
A fatia cultural representada por aqueles para quem os remédios e drogas não resolvem seus
problemas, costuma reivindicar tratamentos "naturais" para os males da emoção. Mas, para
irem de uma cidade à outra normalmente vão de carro, o que não nos parece tão natural
assim. No frio essas pessoas também não costumam ficam em volta da fogueira, que seria
muito natural. Nem seu próprio cheiro costuma ser natural, pois se utilizam artificialmente
de perfumes, xampus, loções, etc. A coisa mais natural que um ser humano poderia
pretender, seria adquirir doenças para adquirir, naturalmente, imunidade. No entanto todos
tomamos vacinas...
Há quem considere a Dependência como sendo uma situação onde a pessoa passa mal ou se
sente desconfortável quando lhe falta essa alguma coisa (baseado na Síndrome de
Abstinência). Nesse caso devemos tomar muito cuidado, para não incluir nas dependências,
nossa relação com a comida ou com o sexo. Portanto, como se vê, é fundamental diferirmos
a Dependência de Necessidade. Não podemos dizer que o diabético é dependente de
insulina, mas sim, que necessita desta substância.
Atualmente a expressiva maioria dos medicamentos usados pela psiquiatria não causa, por si
mesmos, dependência. A dependência está, normalmente, mais relacionada à pessoa que ao
medicamento, refletindo mais uma vulnerabilidade pessoal do que uma imposição
bioquímica. Mas, mesmo assim, ainda existem alguns medicamentos capazes de
proporcionar crises de abstinência, quando da interrupção abrupta de seu uso. Por isso a
retirada da medicação deve ser preferentemente gradual.
Embora, de fato, existam alguns trabalhos sobre dependência à pelo menos três
benzodiazepínicos (lorazepam, clonazepam e bromazepam), a preocupação em relação à
dependência ou não aos tranqüilizantes parece não ser a mesma entre os médicos, os não
usuários e os usuários. No início da década de 1990, King e colaboradores procuraram saber,
junto ao típico usuário crônico de tranqüilizantes em Londres, qual a idéia que tinham sobre
esse seu problema.
O que pode parecer problemático para alguns médicos e preocupante para leigos não-
usuários, não foi assim considerado por mais da metade dos usuários, que preferiu não
continuar no programa de avaliação de sua dependência (King et al., 1990). Talvez esses
dados sejam sugestivos do balanço positivo da relação custo-benefício que os tranqüilizantes
têm para as pessoas que deles necessitam.
3 - Condução da Psicofarmacoterapia
a - Princípios Básicos
A condução da psicofarmacoterapia deve ser norteada por alguns princípios básicos e, em
segundo lugar, por alguns Requisitos Técnicos.
Os princípios básicos da psicofarmacoterapia são aqueles que se aplicam a todos os casos.
Vejamos, no Quadro 2, alguns desses princípios básicos.Embora todos os Princípios Básicos
sejam igualmente importantes, no exercício clínico devemos enfatizar bastante a viabilidade
prática do tratamento. Normalmente a aderência ao tratamento farmacológico depende, em
sua parte mais expressiva, da orientação clara, objetiva e minuciosa para o paciente e
familiares sobre o medicamento, os efeitos colaterais e os benefícios terapêuticos.
b - Requisitos Técnicos
Decidido pela psicofarmacoterapia, o tratamento deve obedecer alguns requisitos
importantes para seu sucesso.
Para o tratamento desses casos, Steinner (2000) também concluiu que o uso intermitente
pré-menstrual de antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina (ISRS) pode ser
uma valiosa opção. Nossa experiência, entretanto, não tem sido tão otimista.
Existem trabalhos que constatam ser de 21% os casos onde o Episódio de Humor é único, e
de 62,5% dos casos onde o transtorno tem evolução recorrente, fora os 17% dos casos
crônicos desde o início, possivelmente de Distimia (Pakriev S, Shlik J e Vasar V, 2001).
Com a mesma preocupação, porém sobre o tempo de internação necessário aos pacientes
psiquiátricos internados, muitos trabalhos foram realizados através da aplicação de escalas
próprias para isso. Uma delas é a BPRS-A (Brief Psychiatric Rating Scale-Anchored), Escala de
Avaliação Psiquiátrica Breve. Essa escala valoriza sinais como a ocorrência de sintomas
negativos e positivos, o tipo do humor, a excitabilidade, idéias de culpa e outros
sentimentos, maneirismos e o número de episódios precedentes.
Com isso, a BRPS-A tem sido usada com sucesso para avaliar a perspectiva de internação dos
principais quadros psiquiátricos, tais como Esquizofrenia, Transtorno Bipolar e a Depressão
Grave. Segundo Hopko e colaboradores (2001), essa escala pode predizer corretamente o
tempo de internação em 68, 60 e 74% dos pacientes com essas doenças, respectivamente.
Inspirando-se por escalas dessa natureza, talvez fosse o caso de se idealizar algum
instrumento para auxiliar na previsão do tempo de tratamento para pacientes psiquiátricos
ambulatoriais e portadores de transtornos menos graves, como é o caso, por exemplo, da
Síndrome do Pânico e dos outros transtornos ansiosos, das depressões leves e moderadas,
etc.
Mas, independente de escalas, ao menos podemos suspeitar, com boa chance de acerto,
sobre o tempo de tratamento dos pacientes ambulatoriais, considerando seriamente os
elementos relacionados no tópico Quanto a Origem do Transtorno, visto acima. A essência
dessa avaliação é, no fundo, saber se a pessoa É doente ou ESTÁ doente. É saber se essa
doença só aparece nesse paciente ou é reflexo genético de um forte componente familiar,
saber se é o primeiro surto ou é mais um de muitos anteriores.
Como vimos então, não devemos considerar apenas o diagnóstico do transtorno psíquico
para estabelecer metas e prazos de tratamento. Existem pacientes com Síndrome do Pânico
que podem parar com os medicamentos depois de seis meses de tratamento, outros,
entretanto, com o mesmo diagnóstico, ficam muitos anos em uso de psicofármacos, tendo
recidivas a cada tentativa de interrupção.
Não é, exclusivamente, o tipo da doença que está em jogo para determinar se o tratamento
será breve, curto, longo ou definitivo, mas sim, o tipo de pessoa e o tipo de vida dessa
pessoa.
Trata-se, sem dúvida, de uma conduta extremamente cômoda, tímida e sem nenhuma base
médica ou científica. Não tome nenhum medicamento se estiver grávida, ao mesmo tempo
em que soa como uma orientação simpática aos ouvidos populares, é a negação da ciência
em nome do medo, ou a dissimulação da covardia em prudência, enfim, é a ignorância
médica com respaldo popular (ou populista).
O famoso chavão "grávidas não podem tomar remédios" reflete, sobretudo, uma total
ignorância sobre o tema. E, de fato, mesmo em países desenvolvidos esse assunto é mal
compreendido por pessoas que tem acesso direto à saúde, mas a solução que essas pessoas
dão é bem melhor que em nosso meio. Lyszkiewicz, em 2001, publicou um trabalho onde 40
farmacêuticos, escolhidos aleatoriamente nos Países Baixos, Canadá e Islândia, foram
entrevistados sobre o tema; somente 14% dos entrevistados consultavam a literatura médica
atual sobre o assunto, e 90% deles encaminharam a cliente a um médico para resolver essas
dúvidas. Em nosso meio, infelizmente, é mais fácil e cômodo adotar a hipocrisia "grávidas
não podem tomar remédios".
Uma opinião forte, contundente, clara e precisa, tão necessária aos milhares de médicos que
convivem com o problema das grávidas e lactantes com problemas emocionais, foi emitida
por Arnon, Shechtman e Ornoy (2000). O trabalho desses autores israelenses diz,
textualmente que "os antidepressivos tricíclicos, a fluoxetina, os fenotiazínicos e a maioria de
benzodiazepínicos não são considerados ser teratogênicos e podem ser usados durante a
gravidez. Todas as drogas anti-epilépticas parecem ser tóxicas ao embrião e têm algum
potencial teratogênico e nós recomendamos, se possível, evitar estas drogas. A
administração do lítio durante o primeiro trimestre da gravidez aumenta o risco de
malformações cardíacas, mas o risco não é tão elevado como relatado originalmente".
Além disso, esses autores enfatizam não haver nenhuma evidência de efeitos adversos em
longo prazo, no desenvolvimento das crianças expostas à maioria das medicações
psicotrópicas. Também, segundo Davids e colaboradores (1998), até o momento não há
nenhuma forte evidência de toxicidade em crianças expostas a medicamentos de
psicotrópicos, portanto, isso estimula ao uso de psicofármacos durante gravidez e
amamentação. Tratar os problemas emocionais nessas fases da vida da mulher seria a
conduta mais apropriada.
Em casos de transtornos psiquiátricos mais graves, como por exemplo nos casos de
Transtorno Bipolar, onde a própria função da maternidade está ameaçada, a adoção da
litioterapia depois do parto está mais que indicada, recomendando-se a interrupção da
lactação. A omissão de tratamento psiquiátrico pode ter conseqüências muito mais
desastrosas do que o desmame da criança (Lanczik, 1998).
Ao alegarem que o leite materno contém importantes anticorpos para a proteção da criança
contra infecções, por isso imprescindível e intocável, devemos ressaltar que tem sido muito
mais fácil para a medicina tratar as infecções do que os severos transtornos de caráter, os
quais costumam ocorrer por negligência materna ou abandono na infância, ambas situações
comuns na depressão puerperal.
Emslie & Judge (2000) fizeram uma exaustiva revisão sobre o uso de antidepressivos durante
três momentos diferentes da vida; infância, adolescência, gravidez e maturidade adulta. Os
dados sugerem fortemente que os antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina
(ISRS) devem ser os medicamentos de primeira linha nas crianças e nos adolescentes,
similarmente em pacientes idosos.
Concluíram ainda esses autores que, embora não haja nenhum dado definitivo que
contraindica o uso de qualquer antidepressivo na gravidez, o grupo farmacológico que dá
mais tranqüilidade aos médicos são os ISRS, particularmente a fluoxetina.
Na gravidez e lactação, a conduta mais sensata é fugir dos extremos, colocar-se numa
eqüidistância entre a tese de que "grávidas não podem tomar remédios" e a idéia de que
precisa de remédio para qualquer coisa. Isso quer dizer que considerar a relação custo-
benefício, ao se instituir a psicofarmacoterapia, deve ser muito relevante.
Essa relação custo-benefício não significa, absolutamente, considerar apenas o bem estar do
feto, da criança ou do bebê. Significa, sobretudo, considerar as variáveis em jogo que
ameaçam o bem estar da mãe e, conseqüentemente, sua função maternal.
Existem transtornos emocionais durante a gravidez e puerpério que podem ser cuidados
psicoterapicamente, outros entretanto, exigem uma atitude mais intervencionista. Existe
desde um simples quadro de ansiedade até um rompante psicótico, passando pela
depressão grave e episódios de euforia.
A maioria dos pacientes avaliados por Mourad (87,5%), apresentou modificações em seu
estado somático ou psíquico até 3 dias depois da interrupção do tratamento com
antidepressivos. Os sintomas mais freqüentes foram: aumento na ansiedade (31%), aumento
da irritabilidade (25%), distúrbios do sono (19%), diminuição da anergia e fatiga (19%). Em
nossa experiência os sintomas mais expressivos foram tonturas e zonzeiras, irritabilidade e
ansiedade.
Esses dados não foram totalmente corroborados por Rosenbaum e colaboradores (1998),
que descreveram os efeitos adversos da interrupção do tratamento com antidepressivos ISRS
como sendo, na maioria das vezes, composto por insônia, irritabilidade, náuseas e agitação.
Entre esses ISRS, a fluoxetina teria menos efeitos do que a sertralina e, esta, menos que a
paroxetina. Em nossa experiência, também a venlafaxina determina sintomas da
descontinuidade.
Bibliografia
Addis A; Koren G - Safety of fluoxetine during the first trimester of pregnancy: a meta-analytical review of epidemiological studies .
- Psychol Med, 2000 Jan, 30:1, 89-94
Viguera AC, Ruta Nonacs R, Cohen LS, Tondo L, Murray AB, Naldessarini RJ - Risk of recurrence of bipolar disorder im pregnant
ande nonpregnant wome after discontinuing lithium maintenance. Am. J. Psychiatry 2000;157:179-184.
Llewellyn A, Stowe ZN, Nemeroff CB - Depressiom during pregnancy ande the puerperium. J.Clin.Psychiatry 1997;58(suppl 15):26-
32
Austin MP; Mitchell PB - Psychotropic medications in pregnant women: treatment dilemmas. - Med J Aust, 1998 Oct, 169:8, 428-
31
Birnbaum CS; Cohen LS; Bailey JW; Grush LR; Robertson LM; Stowe ZN - Serum concentrations of antidepressants and
benzodiazepines in nursing infants: A case series. - Pediatrics, 1999 Jul, 104:1, e11
Buist A - Managing depression in pregnancy. - Aust Fam Physician, 2000 Jul, 29:7, 663-7
Chung TK, Lau TK, Yip AS, Chiu HF, Lee DT - Antepartum depressive symptomatology is associated with adverse obstetric and
neonatal outcomes. - Psychosom Med 2001 Sep-Oct;63(5):830-4
Cohen LS; Rosenbaum JF - Psychotropic drug use during pregnancy: weighing the risks. - J Clin Psychiatry, 1998, 59 Suppl 2:, 18-28
da Silva VA; Altenburg SP; Malheiros LR; Thomaz TG; Lindsey CJ - Postnatal development of rats exposed to fluoxetine or
venlafaxine during the third week of pregnancy. - Braz J Med Biol Res, 1999 Jan, 32:1, 93-8
Ericson A; Källén B; Wiholm B - Delivery outcome after the use of antidepressants in early pregnancy. - Eur J Clin Pharmacol, 1999
Sep, 55:7, 503-8
Evans J, Heron J, Francomb H, Oke S, Golding J - Cohort study of depressed mood during pregnancy and after childbirth. - BMJ
2001 Aug 4;323(7307):257-60
Gold LH - Treatment of depression during pregnancy. - J Womens Health Gend Based Med, 1999 Jun, 8:5, 601-7
Horváth E; Faragó M; Keszthelyi G; Keresztúri A; Szabó A; Szemere G; Szabó J - Genetic counseling and prenatal care after
medications during the first trimester - Orv Hetil, 2000 May, 141:22, 1179-83
Hostetter A; Stowe ZN; Strader JR Jr; McLaughlin E; Llewellyn A - Dose of selective serotonin uptake inhibitors across pregnancy:
clinical implications. - Depress Anxiety, 2000, 11:2, 51-7
Ilett KF; Hackett LP; Dusci LJ; Roberts MJ; Kristensen JH; Paech M; Groves A; Yapp P - Distribution and excretion of venlafaxine
and O-desmethylvenlafaxine in human milk. - Br J Clin Pharmacol, 1998 May, 45:5, 459-62
Iqbal MM - Effects of antidepressants during pregnancy and lactation.- Ann Clin Psychiatry, 1999 Dec, 11:4, 237-56
Kelly RH, Russo J, Katon W - Somatic complaints among pregnant women cared for in obstetrics: normal pregnancy or depressive
and anxiety symptom amplification revisited? - Gen Hosp Psychiatry 2001 May-Jun;23(3):107-13
Lanczik M; Knoche M; Fritze J - Psychopharmacotherapy during pregnancy and lactation. 1: Pregnancy - Nervenarzt, 1998 Jan,
69:1, 1-9
Cohen LS, Rosenbaum JF - Psychotropic drug use during pregnancy: weighing the risks. J. Clin. Psychiatry 1998;59 (supl 2):18-28.
Leibenluft E - Women and bipolar disorder: an update. Bull Menninger Clin, 2000 Win, 64:1, 5-17
Llewellyn A; Stowe ZN - Psychotropic medications in lactation. - J Clin Psychiatry, 1998, 59 Suppl 2:, 41-52
Majeroni BA; Hess A - The pharmacologic treatment of depression. J Am Board Fam Pract, 1998 Mar, 11:2, 127-39
Masand PS; Gupta S - Selective serotonin-recaptação inhibitors: an update. - Harv Rev Psychiatry, 1999 Jul, 7:2, 69-84
McGrath C; Buist A; Norman TR - Treatment of anxiety during pregnancy: effects of psychotropic drug treatment on the
developing fetus. - Drug Saf, 1999 Feb, 20:2, 171-86.
McLennan JD, Kotelchuck M, Cho H. - Prevalence, persistence, and correlates of depressive symptoms in a national sample of
mothers of toddlers (2001) - J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2001 Nov;40(11):1316-23.
Misri S; Kostaras D; Kostaras X - The use of selective serotonin reuptake inhibitors during pregnancy and lactation: current
knowledge. - Can J Psychiatry, 2000 Apr, 45:3, 285-7
Monk C - Stress and mood disorders during pregnancy: implications for child development. - Psychiatr Q 2001 Winter;72(4):347-57
Parry BL, Newton RP - Chronobiological basis of female-specific mood disorders. - Neuropsychopharmacology. 2001 Nov;25(5
Suppl 1):S102-8.
Russell JA, Douglas AJ, Ingram CD. - Brain preparations for maternity--adaptive changes in behavioral and neuroendocrine
systems during pregnancy and lactation. - Prog Brain Res. 2001;133:1-38
Schou M - Treating recurrent affective disorders during and after pregnancy. What can be taken safely? - Drug Saf, 1998 Feb, 18:2,
143-52.
Stocky A; Lynch J - Acute psychiatric disturbance in pregnancy and the puerperium. - Baillieres Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol,
2000 Feb, 14:1, 73-87.
Weinstock M. - Alterations induced by gestational stress in brain morphology and behaviour of the offspring - Progress in
Neurobiology, Vol 65, Issue 5, December 2001, pp 427-451.
Wisner KL; Gelenberg AJ; Leonard H; Zarin D; Frank E - Pharmacologic treatment of depression during pregnancy. - JAMA, 1999
Oct, 282:13, 1264-9