Sunteți pe pagina 1din 6

A CRÔNICA DE MACHADO DE ASSIS

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia LUCIDEZ E IRONIA NO TRATO DAS NOTÍCIAS SOBRE ANTÔNIO

REITOR CONSELHEIRO E CANUDOS


Prof. Abel Rebouças São José
VICE-REITOR
Prof. Rui Macêdo Joaquim Antonio de Novais Filho69
PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO E ASSUNTOS COMUNITÁRIOS
Prof. Paulo Sérgio Cavalcante Costa
DIRETOR – EDIÇÕES UESB RESUMO: O presente artigo pretende expor as opiniões de Machado de Assis sobre a
Jacinto Braz David Filho guerra de Canudos expressa em suas crônicas semanais no diário carioca Gazeta de
COMITÊ EDITORIAL Notícias. Entre os contemporâneos da Guerra, o escritor foi um dos poucos que
Andréa Braz da Costa
manifestaram posição contrária à destruição da cidadela sertaneja. Mesmo antes de
Antonio Jorge Del Rei Moura
Júlio César Castilho Razera iniciar o conflito que destruiria a cidade fundada por Antônio Conselheiro
Marcello Moreira
colocando-a no centro das atenções da imprensa brasileira no final do século XIX,
Marco Antônio Araújo Longuinhos
Nelson dos Santos Cardoso Júnior Machado de Assis já chamava a atenção para a necessidade de um exame mais lúcido
Paulo Sérgio Cavalcante Costa
dos fatos que envolviam Conselheiro e seus seguidores. Portanto, opiniões
Rosalve Lucas Marcelino
Zenilda Nogueira Sales divergentes, como a de Machado e outros contemporâneos, apesar de não serem
isoladas ou pouco freqüentes, não tiveram a mesma repercussão histórica,
permanecendo pouco conhecidas se comparadas à “oficial” da qual apresentavam
805 Anais do I SETHIL. divergências.
Abril de 2007.

809.005 Vitória da Conquista: Edições Uesb, 2007. PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; Crônica Literária; Século XIX; Guerra de

ISBN 978-85-88505-52-0 Canudos.

1. Letras 2. História e Crítica Literária. I. Universidade Estadual do


Sudoeste da Bahia. II. Título. Antes mesmo da derrota da 1ª Expedição Militar, que transformaria
Canudos no centro das atenções da imprensa brasileira, uma crônica escrita por

Campus Universitário - Caixa Postal 95 Machado de Assis no jornal carioca Gazeta de Notícias, em 22 de julho de 1894,
Estrada do Bem-Querer, km 4 - 45083-900 - Vitória da Conquista - Bahia chama atenção pela posição do escritor, em relação ao arraial sertanejo fundado por
Fone: 77 3424-8716 - E-mail: editora@uesb.br
Antonio Conselheiro no ano anterior. Enquanto a elite agrária brasileira, fortemente
marcada pela tradição escravista, encarava Canudos e seus habitantes com maus

69 Aluno do Programa de Pós-graduação em Teoria e História Literária do Departamento de Estudos


Lingüísticos e Literários da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. End. Rua Fernando Matos,
36. Centro. 45015380. E-mail: novaisfilho@yahoo.com.br . Tel. (77) 3422-3691.

3 247
olhos, Machado de Assis demonstrava um interesse diferente sobre o Conselheiro e artistas, é a renascença, é um raio de sol que, através da chuva miúda

seus seguidores, chegando a compará-los aos personagens cantados pelos poetas e aborrecida, vem dourar-nos a janela e a alma. É a poesia que nos

românticos, que se caracterizavam pela liberdade com que viviam. levanta do meio da prosa chilra e dura deste fim de século. (ASSIS,
1953, v. 2, p. 143-4).
Já no início da crônica70, Machado de Assis expressa a sua curiosidade
em relação ao líder sertanejo e seu seguidores:
Nesse trecho da crônica o autor contrapõe a afirmação de que o
Conselheiro e seus seguidores eram criminosos, tratando com sarcasmo os que
Telegrama da Bahia refere que o Conselheiro está em Canudos com
2.000 homens (dous mil homens) perfeitamente armados. Que acreditavam e difundiam essa idéia. Para o cronista, a rebeldia do Conselheiro seria,

Conselheiro? O Conselheiro. Não lhe ponhas nome algum, que é sair não sem uma pitada de ironia, a possibilidade de incentivar a imaginação dos artistas
da poesia e do mistério. É o Conselheiro, um homem, dizem que naquele fim de século. Já para a recém fundada república, a mobilização liderada
fanático, levando consigo a tôda a parte aquêles dous mil legionários. pelo Conselheiro no interior da Bahia causava grande temor. Principalmente por ter
(ASSIS, 1953, v. 2, p. 142, grifo nosso). como protagonistas indivíduos que não comungavam com o novo regime e, por essa
razão, foram considerados perigosos inimigos, justificando sua destruição.
Nota-se aí, que o escritor, ao comentar a notícia de que no interior da Ainda nesse escrito, Machado confirma a desconfiança acerca das
Bahia o Conselheiro está com dois mil homens armados, parece não concordar com o informações veiculadas pelos “telegramas e papéis públicos” e imagina a
título de fanático atribuído ao líder sertanejo. Como veremos, essa atitude, a de não comunidade de Canudos considerando as notícias de que lá se praticava o amor
concordar que seja o Conselheiro um fanático, não será mantida em outras ocasiões livre, explorando o seu caráter libertário:
no qual o assunto volta a aparecer em sua crônica semanal.
Adiante, na mesma crônica, de maneira contundente, ele volta a Crede-me, êsse Conselheiro que está em Canudos com os seus dous
expressar a sua opinião acerca das informações vindas da Bahia, agora em relação às mil homens, não é o que dizem telegramas e papéis públicos.
notícias que afirmam que os seguidores do Conselheiro são criminosos. Quanto a Imaginai uma legião de aventureiros galantes, audazes, sem ofício

essas afirmações, o escritor critica, com mordacidade, os indivíduos que as nem benefício, que detestam o calendário, os relógios, os impostos, as

difundem. Exprime, nessa ocasião, um pensamento discordante em relação ao reverências, tudo que obriga, alinha e apruma. (…) Os partidários do
Conselheiro lembraram-se dos piratas românticos, sacudiram as
difundido largamente pela imprensa. Além disso, Machado contrapõe o discurso que
sandálias à porta da civilização e saíram à vida livre. (ASSIS, 1953,
considera os seguidores de Conselheiro criminosos, evidenciando ironicamente a
vol. 2, p. 145).
importância do ponto de vista para sua caracterização:

Com essa observação, Machado de Assis atribui ao Conselheiro e seus


Jornais e telegramas dizem (…) dos sequazes do Conselheiro que são
seguidores uma atitude de recusa à civilização e escolha pela “vida livre”. E,
criminosos; nem outra palavra pode sair de cérebros alinhados,
arremata, relacionando os seguidores do Conselheiro aos piratas cantados pelos
registrados, qualificados, cérebros eleitores e contribuintes. Para nós,
românticos. Cria-se dessa maneira uma representação, de Canudos e seus habitantes,
70 Mais tarde, em Páginas Recolhidas, essa crônica aparece com o sugestivo título: “Canção de
oposta à dos “telegramas e papéis públicos”. Parece aqui que Machado pretendia
Piratas”.

248 249
criar uma tensão entre duas maneiras de interpretar a informação de que o sertanejo e os homens públicos que expressavam a sua opinião sem serem
Conselheiro se encontrava em Canudos com seguidores armados. Para isso, utilizou molestados.
a estratégia de associar os canudenses aos piratas românticos que faziam sucesso Em seguida, já no final da crônica, o escritor faz referência a Antônio
junto ao público leitor de sua época. Incluindo os leitores de suas crônicas semanais.
Conselheiro quando observa que o telegrama vindo da Bahia compara a doutrina de
No entanto, os cérebros alinhados, eleitores e contribuintes eram na verdade Benta Hora à do líder de Canudos. A esta referência segue-se uma vaga lembrança
o público leitor de suas crônicas semanais, e esses eram influenciados pelo noticiário
do Conselheiro:
diário, formulando suas opiniões através da leitura desses. Nem mesmo Machado
estaria livre das informações divulgadas pela imprensa, visto que essa opinião
sofreria, como veremos, uma modificação no decorrer do conflito entre os sertanejos Quanto à doutrina em si mesma, não diz o telegrama qual seja;
limita-se a lembrar outro profeta por nome Antônio Conselheiro. Sim,
e as forças oficiais.
creio recordar-me que andou por ali um oráculo de tal nome; mas não
Após um intervalo de mais de dois anos, em 13 de setembro de 1896, me ocorre mais nada. Ocupado em aprender a minha vida, não tenho
Machado de Assis volta a escrever sobre Canudos. Porém, o tema principal da tempo de estudar a dos outros; mas, ainda que êsse Antônio
crônica não é o arraial sertanejo nem seu líder, mas Manuel Benta Hora, um Conselheiro fosse um salteador, por que se há de atribuir igual
peregrino que apareceu na Bahia com mais de cem seguidores. A repercussão do vocação a Benta Hora? E, dado que seja a mesma, quem nos diz que,

aparecimento do peregrino na imprensa baiana nessa época é caracterizada por uma praticado com um fim moral e metafísico, saltear e roubar não é uma

atitude que consiste em sugerir ao governo a prisão de Benta Hora, argumentando a simples doutrina? Se a propriedade é um roubo, como queria um
publicista célebre, por que é que o roubo não há de ser um a
falsidade da sua doutrina.
propriedade? (ASSIS, 1953, v. 3, p. 277-8).
Essa atitude da imprensa baiana causa em Machado de Assis certa
indignação, expressa da seguinte maneira:
Apesar de apresentar uma vaga recordação do Conselheiro, nessa
Ora, pergunto eu: a liberdade de profetar não é igual à de escrever, crônica persistem algumas características presentes na de julho de 1894. Além de
imprimir, orar, gravar? Ninguém contesta à imprensa o direito de reafirmar a sua desconfiança em relação à imprensa contemporânea, Machado
pregar uma nova doutrina política ou econômica. Quando os homens conserva o caráter utópico e libertário. Chega, inclusive, a fazer referência ao filósofo
públicos falam em nome da opinião, não há quem os mande anarquista francês Pierre Joseph Proudhon, que afirmara que a propriedade era um
apresentar as credenciais na cadeia. (ASSIS, 1953, v. 3, p. 276.).
roubo. Mas, pratica aqui uma irônica inversão da idéia do publicista francês, para
reforçar a sua idéia de que, “praticado com um fim moral”, o roubo pode ser uma

Afinal de contas, já que o Brasil é um Estado republicano, e nesse doutrina.

supõe-se a garantia da liberdade de expressão, porque um líder religioso não poderia As crônicas de 6 e 27 de dezembro de 1896 marcam uma mudança
tornar pública a sua fé? Machado de Assis compara, com um tom provocador, o líder radical em relação à posição assumida pelo escritor na primeira crônica que trata do
Conselheiro e Canudos. Se na crônica de setembro de 1896 a recordação de Antônio

250 251
Conselheiro não é muito clara, em dezembro ele muda completamente a sua opinião
acerca do Conselheiro e chega a compará-lo com o beribéri, doença que apareceu no
Na última crônica do ano de 1896 – publicada em 27 de dezembro –
Maranhão e se espalhou por todo o país tornando-se “doença nacional”. Nesse cujo tema central eram as eleições, Machado comenta sarcasticamente o grande
período as notícias sobre Canudos multiplicavam-se na imprensa nacional, pois a
número de candidatos. E num diálogo com o leitor, supõe que apenas este último
Expedição enviada para dispersar os seguidores do Conselheiro havia sofrido uma não disputa nenhum cargo. Mas não garante pelo leitor que, mesmo lendo a sua
humilhante derrota.
crônica semanal, pode também pleitear uma vaga. Admite, logo depois, que naquele
Em 6 de dezembro, Machado de Assis demonstra um sentimento misto século tudo seria possível. Como exemplo, cita a descoberta dos Raios X, comenta os
de admiração e repúdio pelo Conselheiro. Admira-o por congregar em torno de si planos de Thomas Edison em fazer os cegos enxergarem e fala que o Conselheiro
três mil homens armados apenas “com uma palavra de fé e a quietação das anda fazendo tal proeza “sem outro instrumento mais que a sugestão”.
autoridades”. Porém, demonstra o seu repúdio concluindo que o Conselheiro não é
Este irônico e breve comentário sobre o Conselheiro certamente foi
“digno de imitação”. Através desse ato de rejeição, fica evidente a diferença em
baseado em boatos difundidos pela imprensa. Fica evidente, portanto, a influência
relação ao encantamento demonstrado na primeira crônica. Entretanto, apesar do
das notícias na maneira com que Machado de Assis percebe Canudos e Antônio
escritor já não demonstrar a mesma admiração pelo Conselheiro, conserva o interesse
Conselheiro nesse momento. Mesmo encarando com desconfiança as notícias vindas
em relação ao modo como vivem os seus seguidores e se queixa da ausência de
da Bahia, Machado acaba reproduzindo a versão veiculada pela imprensa.
notícias que dêem conta desses aspectos.
Entretanto, o posicionamento do escritor nessa crônica não lhe tira o mérito da lúcida
É bem provável que a derrota da 1ª Expedição, ocorrida no final de e desconfiada abordagem, no período que antecedeu a guerra, sobre os fatos que
novembro, tenha contribuído para essa mudança na opinião do cronista. Esse fato envolviam Conselheiro e seus seguidores. Enquanto que na imprensa em geral as
colocou Canudos em evidência no cenário nacional, propagando a idéia de que opiniões eram hostis.
Conselheiro e seus seguidores queriam destruir a nascente república. Isto fica claro
Em 31 de janeiro de 1897, Machado de Assis retoma o foco da crônica
quando Machado apresenta a notícia de que o Conselheiro “bate-se para destruir as
de julho de 1894, quando faz a primeira referência a Antônio Conselheiro e Canudos.
instituições republicanas e já não quer mais ficar restrito ao sertão”. Quanto a essa
Sem dúvida esta crônica é surpreendente. Nela, além de retornar à associação entre a
informação e a pergunta sobre qual será o futuro de Canudos, comenta em tom
imagem romântica do banditismo e o séqüito do Conselheiro, o escritor mantém-se
irônico:
estupefato diante de suas façanhas. Esse misto de admiração e desconfiança marcaria
a maneira com que o cronista trataria o tema em seus escritos posteriores. Mais uma

Lealmente, não sei. Eu não sou profeta. Se fosse, talvez estivesse vez a admiração romântica fica evidente quando em plena guerra, Machado protesta

agora no sertão, com outros três mil sequazes, e uma seita fundada. E contra a perseguição do Conselheiro e sua gente:
faria o contrário daquele fundador. Não viria aos centros povoados,
onde a corrupção dos homens torna difícil qualquer organização
Os direitos da imaginação e da poesia hão de sempre achar inimiga
sólida, e o espírito de rebelião vive latente, à espera de oportunidade.
uma sociedade industrial e burguesa. Em nome dêles protesto contra
(ASSIS, 1953, v. 3, p. 350).
a perseguição que se está fazendo à gente de Antônio Conselheiro.

252 253
Êste homem fundou uma seita a que se não sabe o nome nem a falta dessas respostas, o escritor clama ao poder da imaginação e da poesia
doutrina. Já êste mistério é poesia. (ASSIS, 1953, v. 3, p. 401). reafirmando o seu protesto “contra a perseguição que se está fazendo a seita”.

Na semana seguinte, 7 de fevereiro, Machado de Assis dedica sua


Em seguida, faz uma crítica direta aos correspondentes de guerra, e crônica às mulheres dos soldados, embarcados no dia 3, para formar a 3ª Expedição
mais precisamente ao da Gazeta de Notícias, jornal onde o escritor publicava as suas contra Canudos, comandada pelo coronel Moreira César. Nessa ocasião, o escritor
crônicas. Fávila Nunes, o correspondente em questão, expressava uma opinião hostil volta a manifestar a sua dúvida em relação à imprensa e faz uma crítica sutil à 2ª
ao Conselheiro e sua gente, chegando inclusive a defender a destruição de Canudos. Expedição, após relatar que as esposas dos soldados:

Machado ainda chama atenção para a origem das notícias, que vinham
da capital baiana e se fundavam em testemunhos duvidosos. E critica claramente a (…) queriam acompanhá-los até à Bahia, até o sertão, até os Canudos,
falta de um repórter capaz de captar com fidelidade os aspectos principais da onde o major Febrônio não entrou por motivos constantes de um documento
comunidade sertaneja, chegando a comparar esse empreendimento à remoção do público. Dizem que choravam muitas; dizem que outras declaravam
Bendengó – meteorito encontrado em 1784 nas proximidades do rio Vaza-Barris, na que iriam em breve juntar-se a êles, tendo vivido com êles e querendo

cidade de Monte Santo, na Bahia71: morrer com êles. (ASSIS, 1953, v. 3, p. 409, grifo nosso).

Nenhum jornal mandou ninguém aos Canudos. Um repórter paciente Essa passagem, marcada pela referência irônica a 2ª Expedição, permite
e sagaz, meio fotógrafo ou desenhista, para trazer as feições do evidenciar a atenção que o escritor dispensava aos acontecimentos relativos à ação do
Conselheiro e dos principais subchefes, podia ir ao centro da seita governo federal contra Conselheiro e seus seguidores. O episódio no qual o major
nova e colher a verdade inteira sobre ela. Seria uma proeza Febrônio não avançou em direção a Canudos está inserido no cenário de disputa
americana. Seria uma emprêsa quase igual à remoção do Bendegó, política que engendrou a guerra. Mesmo sem polemizar sobre esses pontos Machado
que devemos ao esfôrço e direção de um patrício tenaz. (ASSIS, 1953,
de Assis demonstra estar atento a essa configuração política que possibilitou que o
v. 3, p. 404).
episódio tomasse essa repercussão.

Na crônica do dia 14 de fevereiro, última ocasião em que faz referência


Nessa passagem é nítida a preocupação de Machado de Assis em a Canudos, o escritor relata a repercussão da guerra no cenário internacional. Ele
propor uma compreensão de Canudos e seu líder. Demonstra uma curiosidade, já inicia o seu escrito relatando um episódio onde uma “mulher simples” procurava um
implícita em outras crônicas, em relação à organização da comunidade sertaneja, de jornal que trazia a foto do Conselheiro. Em seguida, se refere à queda dos títulos
como vivem os seus moradores e o que os levaram a seguir o Conselheiro. Diante da brasileiros em Nova York e Londres. Apresenta esses dois fatos para comprovar a
celebridade do Conselheiro.

71 A remoção do meteorito Bendengó foi tentada pela primeira vez em 1785, no entanto, só
No entanto, nessa crônica, o escritor sugere que teria sido mais fácil

conseguiram êxito em 1887, quando uma equipe de engenheiros comandada pelo oficial aposentado dissolver o séqüito do Conselheiro quando este se encontrava em menor número.
José Carlos de Carvalho removeu o meteorito que repousava no leito do riacho Bendengó desde 1785. Porém, confirmando sua curiosidade acerca do peregrino e de seus seguidores,

254 255
Machado imagina o aparecimento, num futuro distante, de um livro que trate de ______________. O Império do Belo Monte: vida e morte de Canudos. São Paulo:
Canudos e seus habitantes. Portanto, é assim que o cronista faz a sua derradeira Fundação Perseu Abramo, 2001.
referência a Canudos e Antônio Conselheiro, sendo o único que, durante a guerra, VILLA, Marco Antonio. Canudos – O Povo da Terra. 2 ed., São Paulo: Ática,1997.
manifestou na imprensa – algumas vezes de maneira controversa – opinião favorável
a uma melhor compreensão dos sertanejos, considerados pelas elites como fanáticos
inimigos da república.

A importância de Machado de Assis está na sua manifestação em favor


da compreensão de Canudos. No entanto, o seu posicionamento apresenta uma série
de limitações que poderiam ser justificadas pelo fato de ele estar inserido num
ambiente intelectual profundamente marcado pelas idéias oriundas da Europa e num
momento hostil a qualquer manifestação de repúdio à ação governamental. Seu
silêncio em relação ao desenrolar da guerra de Canudos também se constitui em um
curioso mistério, explicado, em parte pelo fato de ele ter se afastado um tempo do
mister de cronista semanal. Somente com o término da guerra e o extermínio de
grande parte da população de Canudos, apareceria quem protestasse com veemência
contra o massacre praticado em defesa da República.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ASSIS, Machado de. A semana, crônica de 22/7/189413/9/1896; 6/12/1896;


27/12/1896; 31/1/1897; 7/2/1897; 14/2/1897. V. 2 e 3 Rio de Janeiro/São
Paulo/Porto Alegre: Jackson, 1953.

BOSI, Alfredo, et alii (Org.) Machado de Assis: antologia e estudos. São Paulo: Ática,
1982. (Escritores Brasileiros).

DIAS, Clímaco. Canudos: poesia e mistério de Machado de Assis. In:


<http://www.portfolium.com.br/artigo-climaco.htm> Acesso em: 09 de outubro de
2003.

GALVÃO. Walnice Nogueira. No calor da hora: a Guerra de Canudos nos jornais, 4ª


Expedição. 2 ed., São Paulo, Ática, 1977.

256 257

S-ar putea să vă placă și