RECORRENTE : RÔMULO RODRIGUES DE PAULA JÚNIOR ADVOGADO : JASON SOARES DE ALBERGARIA FILHO E OUTRO(S) RECORRIDO : BANCO BRADESCO S/A ADVOGADO : BRUNO MUNIZ LEITÃO E OUTRO(S) DECISÃO
1. Cuida-se de recurso especial fundado no art. 105, III, "c", da Constituição
da República, e interposto contra acórdão proferido pelo Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, assim ementado:
AÇÃO DE EXECUÇÃO - ALIENAÇÃO DE IMÓVEL APÓS CITAÇÃO - BEM
DE FAMÍLIA - FRAUDE À EXECUÇÃO. A caracterização da fraude à execução requer tão-somente que, em razão da alienação no correr da demanda, o devedor caia em estado de insolvência. O fato de o imóvel alienado constituir bem de família (art. 1º da Lei 8.009/90) não obsta o reconhecimento da fraude à execução quando, ao tempo da alienação ou oneração, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à insolvência. No caso dos autos, a solvabilidade restou comprometida com a alienação, razão pela qual deve-se reconhecer a fraude à execução (fl 199).
Os embargos de declaração opostos em seguida foram rejeitados, tendo
sido aplicada multa de 1% sobre o valor da execução, nos termos do art. 538, parágrafo único, do Código de Processo Civil. Nas razões do especial, o recorrente sustenta que o aresto, ao considerar que configura fraude à execução a alienação do bem de família após a citação, divergiu do entendimento firmado por outros tribunais pátrios. Cita precedentes do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul e do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais a fim de demonstrar o alegado dissenso jurisprudencial. Foram apresentadas contrarrazões (fls. 245/262). Admitido o recurso especial (fls. 281/282), subiram os autos a esta Corte. É o relatório. Decido. 2. De início, verifica-se que o paradigma oriundo do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais desserve à demonstração do suposto dissenso, tendo em vista o teor da Súmula 13/STJ, a seguir reproduzido: "A divergência entre julgados do mesmo tribunal não enseja recurso especial". Por outro lado, embora o precedente advindo do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul tenha sido apreciado nos autos de execução fiscal, a situação fática e a questão jurídica são semelhantes às dos autos. Em ambos os casos a discussão gira em torno da configuração ou não de fraude à execução em decorrência da alienação de bem de família após a citação. Esta Corte entende que não há fraude à execução na alienação de bem Documento: 12041233 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 05/10/2010 Página 1 de 2 Superior Tribunal de Justiça impenhorável nos termos da Lei nº 8.009/90, tendo em vista que o bem de família jamais será expropriado para satisfazer a execução, não tendo o exequente qualquer interesse jurídico em ter a venda considerada ineficaz. A propósito, confiram-se os seguintes julgados:
PROCESSUAL CIVIL. BEM DE FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE. DECISÃO
IRRECORRIDA. PRECLUSÃO. FRAUDE À EXECUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. IRRELEVÂNCIA DO BEM PARA A EXECUÇÃO. 1. Decidida a questão da impenhorabilidade do bem de família, nos termos da Lei n.º 8.009/90, não é dado ao magistrado, ao seu talante, rever a decisão anterior, porquanto operada a preclusão quanto a matéria. 2. Não há fraude à execução na alienação de bem impenhorável nos termos da Lei n.º 8.009/90, tendo em vista que o bem de família jamais será expropriado para satisfazer a execução, não tendo o exequente nenhum interesse jurídico em ter a venda considerada ineficaz. 3. "O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente". Súmula n.º 375/STJ. 4. Recurso especial não conhecido (REsp 976.566/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 04/05/2010);
TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. ALIENAÇÃO DE BEM DE FAMÍLIA.
EXECUÇÃO FISCAL EM CURSO. FRAUDE. NÃO-OCORRÊNCIA. 1. Não gera prejuízo para o Fisco o afastamento da fraude à execução em relação a imóvel considerado bem de família, impenhorável por força de lei. Caso se anulasse a venda a terceiro, a conseqüência seria o retorno do bem ao patrimônio do devedor. Inteligência do artigo 3º da Lei 8.009/90. 2. Recurso especial improvido (REsp 846.897/RS, Rel. Min. Castro Meira, DJ 23/03/2007);
Ademais, a Súmula 375/STJ sedimentou entendimento segundo o qual "o
reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente". No caso em apreço, não tendo sido em momento algum reconhecida a má-fé do adquirente - premissa fática da qual não se pode distanciar por força da Súmula 07 -, inviável a declaração de fraude à execução, uma vez que, ao tempo da alienação do imóvel, sequer penhora existia. 3. Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial para reformar a decisão interlocutória que considerou configurada a fraude à execução. Publique-se. Intime-se. Brasília, 15 de setembro de 2010.
Ministro Luis Felipe Salomão
Relator
Documento: 12041233 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 05/10/2010 Página 2 de 2