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9-19, 2003
M a r ta C e lin a L in h a r e s S a le s *
RESUMO:
Partindo de uma breve caracterização geoambiental da região nordeste e contextualizando a inserção
do tema da desertificação nos estudos regionais, foi possível selecionar os principais trabalhos realizados
em escala regional, os quais foram aqui apresentados em detalhe. O objetivo é mostrar os resultados
até agora encontrados, co m p arar as metodologias em pregadas e sugerir possíveis cam inhos a serem
tom a do s nos estudos da desertificação no Nordeste brasileiro.
P A L A V R A S -C H A V E :
Desertificação, m etodologias, nordeste brasileiro
ABSTRACT:
Starting from a breaf environm ental characterization of the northeast area and inserting the them e of
the desertificação in the regional studies, it was possible to select the main works accom plished in
regional scale, which were here presented in detail. The objective is to show the results found up to now,
to co m p are the em ployed m ethodologies and to suggest possible roads to be taken in the studies of the
desertification in the Brazilian Northeast.
KEY W O R D S :
Desertification, methodologies, Brazilian northeast
natural, porém salinos e carbonáticos, sob os quais pobreza e miséria, tornando a região cada vez
estão assentados os variados padrões fisionômicos mais vulnerável. A vulnerabilidade neste caso é
e florísticos da caatinga. resultado da fragilidade ambiental, econômica e
As atividades econômicas desenvolvidas no social, constituindo-se em um imbricado processo
se rtã o g ira ra m por muito tem p o em torno do de retroalimentação. Em uma análise mais acurada
b i n ô m i o g a d o - a l g o d ã o e da a g r i c u l t u r a de sobre essas relações no Nordeste, especialmente
su b sistên cia desenvolvida em solos aluviais. As no s e m i- á rid o , A B 'S A B E R (o p .c it.p .4 9 ) faz a
lim itações naturais nessas áreas ficam por conta, seguinte observação:
principalmente, da instabilidade climática, gerando
p r o b le m a s de d is p o n ib ilid a d e h íd ric a que "A especificidade dos p ro b le
c o m p ro m e te todo o sistema produtivo. m as hum anos e sociais do Nordeste seco
As áreas sedimentares da região Nordeste está diretam ente relacionado ao balanço
co m p re e n d e m extensas chapadas e cuestas, onde entre o quantum de humanidade que a
a pequena freqüência dos rios (dada a alta permea região precisa alim entar e m an ter e as
bilidade dos solos) é compensada pelo elevado potencialidades efetivas do meio físico
p o t e n c ia l d a s á g u a s s u b t e r r â n e a s . Os so lo s rural, dentro dos padrões culturais de sua
a p r e s e n t a m b a ix a f e r t ilid a d e n a tu ra l, se n d o população e dos limites impostos pelas
recobertos por caatingas, cerrados e "carrascos" relações dom inantes de p rod ução' (grifo
Os terren o s sedim entares ocorrem tanto no semi- nosso)
á r i d o c o m o n a s á r e a s de t r a n s i ç õ e s co m
p re c ip ita ç õ e s m ais elevad as e com atividades Nosso objetivo aqui, longe de ser uma
agrícolas voltad as para rizicultura nas planícies avaliação aprofundada sobre a complexa situação
fluviais e baixões. Recentem ente desenvolvem-se do Nordeste, é a p re se n ta r um panoram a que
as culturas de arroz e soja no topo das chapadas. permita situar as questões ligadas à desertificação
Há ainda os relevos com topografias mais na região.
elevadas regionalm ente denom inadas de "serras"
e " b r e jo s " que graças a ocorrência de chuvas Evolução dos Estudos da Desertificação no
orográficas apresentam maiores índices pluviomé- Nordeste Brasileiro
tricos e distribuição mais regular. Predomina nestas
áreas a policultura desenvolvida em minifúndios, São antigos os estudos e registros sobre
responsável pelo abastecimento de produtos horti- se ca s, e m p o b r e c im e n t o a m b ie n ta l e suas
frutícolas em muitas cidades de porte médio do conseqüências na organização sócio-econômica do
Nordeste. Nordeste brasileiro. Muitas vezes esses problemas
Quanto à organização social, destaca-se s ã o e v o c a d o s c o m o os r e s p o n s á v e i s p e lo
uma im portante peculiaridade do Nordeste que é subdesenvolvim ento da região. Os docum entos
a a lt a d e n s i d a d e d e m o g r á f i c a da r e g iã o , mais antigos fazem referência principalmente às
especialm ente na mancha semi-árida passa a ser secas. S e g u n d o K HAW & C A M P O S (1992), as
uma das mais altas do mundo para este tipo de primeiras referências às estiagens foram feitas por
am biente (AB'SABER, 1985, p.44). Associado a Fernão Cardim em 1587, porém, foi a partir da
isto, há o problema da existência de uma estrutura grande seca de 1877, que o governo passou a
fundiária ex tre m a m e n te rígida onde se d e s e n considerá-las como um problema nacional. Naquele
volvem atividades agropecuárias de baixo nível momento, a estiagem que havia se instalado no
tecnológico, que inevitavelmente leva a práticas N o rd e s te , re su lto u na m orte de m ilh a re s de
a g ríc o la s p re d a tó ria s e, c o n se q ü e n te m e n te , à nordestinos e marcaram as primeiras iniciativas
degradação ambiental. oficiais de combate aos efeitos da seca. Sobre esse
Assim, a pressão da população sobre os episódio, ROBOCK (1992), ao discutir as políticas
recursos naturais, já naturalmente frágeis, leva a de combate às secas, faz a seguinte observação:
d e t e r io r a ç ã o a m b ie n t a l g e r a n d o um ciclo de
Evolução dos estudos de desertificação no Nordeste Brasileiro, pp. 9-19 11
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