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Envio: Soryu

Tradução: Juliana G., Doracy, Helena M.,


Camila A.
Revisão Inicial: Chayra Moom
Revisão Final: Mari S.
Leitura Final: Suélem
Formatação: Lola
Kai
Não há nada que me interesse.

Nenhum vínculo.

Sem conexões.

Exteriormente, eu sou um perfeito cavalheiro até a


minha faca ver o meu alvo.

Eu não temo nada, nem mesmo a morte.

No meu mundo, a morte é considerada um


privilégio.

Mas minha vida ficou com cordas cruéis e


inquebráveis quando eu a conheci, eu deveria ter me
afastado.

Eu não me afastei.

Eu era muito egoísta.

E selei o seu destino.

Porque, uma semana em minhas mãos a levou à


ruína.
London

Nós todos temos camadas únicas que compõe


quem somos.

O que nos torna vulneráveis ou fortes.

O que tememos e o que nos emociona.

Mas se descascar as camadas, você será deixado


nu e exposto.

Eles fizeram isso para mim.

Cada peça foi lentamente arrancada, depois


queimada.

Eu simplesmente existia.

Mas havia uma camada que eles negligenciaram.

A mais importante de todas, a ligação com um


homem.

O homem responsável por eu ser dessa maneira.

O homem que me encontrou.

E o assassino que faria qualquer coisa para me


proteger.
Perfect Ruín é a história de Kai e London.

O seu início.

E a continuação da história de Vault.

Deve ser lido em ordem:

Perfect Chaos (Unyielding 01) Deck e Georgie

Perfect Ruin (Unyielding 02) Kai e London

Perfect Rage (Unyielding 03) Connor e Catalina

Esse livro contém linguagem ofensiva e conteúdo sexual.


18+
Obrigada aos leitores, por me darem o meu
sonho e por mantê-lo vivo.

E agora conheça Kai se você se atrever e


sua Coração Valente, London.
Dias de hoje

França

— Olá, Mãe. — Eu entrei na sala. As duas velas brancas


empoleiradas em pedestais em ambos os lados da porta
piscaram enquanto eu passava, causando um vislumbre de
sombras dançantes nas paredes de pedra.

— Querido. — ela balbuciou, como se tivesse prazer ao


me ver.

Mas nós dois sabíamos a verdade. Ela me odiava,


porém, o sentimento era mútuo.

A cadela me manteve esperando durante três semanas


na França antes de me dar uma audiência. Finalmente, fui
convocado como um 'animal de estimação’ pela porra do seu
mestre, através de um de seus asseclas. A espera foi uma
estratagema para me irritar.
Infelizmente para ela, isso falhou. A paciência vinha fácil
para mim, pois passei a vida tendo que viver de acordo com
as ordens.

Quando criança, fui mantido esperando por alimentos,


esperando para dormir, esperando para que a dor acabasse.
Eu aprendi que o tempo seria melhor se fosse inexistente.
Que era melhor nunca esperar que algo acontecesse, mas em
vez disso, me assegurar de que eu conseguisse qualquer coisa
que desejasse, não importando o tempo de espera.

Houve uma falha nessa maneira de pensar — London. O


tempo de repente importava e fodeu comigo.

Ela não se incomodou em levantar de trás de sua grande


mesa de mogno, com vidro colorido, de frente para a janela
ornamentada. Apenas levantou o queixo em um ângulo para
cima, para olhar por cima do ombro para mim. Seus dedos
esbeltos foram para o colar de pérolas em torno de sua
garganta para acariciar as contas.

— Uma pena que eu tenha perdido você na minha


última visita a Toronto. Brice me disse que estava em Nova
York, verificando Dr. Westbrook. Espero que tudo tenha
corrido bem.

Isto era uma besteira completa.

— Sim, claro. — Não tinha. Estive em Nova York, mas


estive procurando por London, não verificando sobre seu pai,
Dr. Westbrook. London esteve em sua casa, uma casa que
ninguém sabia que existia; pelo menos, eu pensava que fosse
este o caso. Agora, eu sabia que não era.

— Como você está? Você vai ficar na cidade?

Seu interrogatório lento era para parecer como uma


conversa casual, mas sempre havia um propósito para cada
palavra que saía de sua boca. Para uma pessoa de fora, ela
iria parecer com uma mãe amorosa. Para qualquer um que a
conhecesse, saberia que era uma forma de manipulação para
tentar obter informações sem parecer que estivesse fazendo
nada além, apenas conversando.

Cheguei à mesa e me inclinei para beijar a bochecha que


ela ofereceu. Meus lábios mal tocaram sua pele fria antes de
me endireitar. Eu despreocupadamente encostei-me à mesa
ao lado dela e cruzei os braços.

— Eu estou bem, Mãe. — Eu não tinha a intenção de


oferecer qualquer outra coisa. Fiquei em uma pousada
tranquila, perto de Paris, onde as cabras baliam1 durante
todo o dia e as roupas e os lençóis cheiravam como se
tivessem sido mergulhados em lavanda. Na verdade, toda a
casa cheirava, mas era o último lugar que a Mãe esperaria
que eu ficasse e o bônus era o proprietário cozinhar refeições
maravilhosas.

Eu paguei por um quarto em um hotel cinco estrelas na


cidade e tive todas as minhas mensagens enviadas para lá.

-
1
Balir:Grito de ovelha ou de cordeiro.
Eu faria maravilhas durante o tempo que levassem para
descobrirem que não estive hospedado lá.

— Seu voo foi bom? — Ela levantou as sobrancelhas que


estavam começando a afinar com a idade. Os vincos ao redor
de sua boca e os cantos de seus olhos estavam mais
profundos desde a última vez que a vi. Mas, em vez de fazê-la
parecer frágil, como fazia com a maioria das pessoas, as
rugas endureciam a sua aparência.

Eu ri.

— Sim, há três semanas, quando eu cheguei.

Ela sorriu, não afetada pelo meu ligeiro comentário.

— Peço desculpas. Eu tinha algumas questões delicadas


para lidar.

— Qualquer coisa que eu possa fazer para ajudar? — Eu


olhei para a tela de seu computador e para a câmara de
segurança da entrada da porta da frente na imagem. Ela
estava assistindo a minha chegada.

— Não. Não. Um mero incômodo que eu já tratei. — Ela


clicou no botão ESC no canto superior esquerdo do teclado e
a tela ficou preta. — Como está Georgie? Como ela está
passando? Chaos? Uma vergonha sobre a situação de
Tanner. Ele era um grande trunfo.

O seu comentário era como uma rebarba contra a minha


pele. Uma pequena pontada de aviso para ser cuidadoso
sobre o que eu dissesse. Mas então, sempre tive cuidado em
torno da cadela. O melhor era seguir o que era esperado de
você, quando você estava planejando o inesperado. — Tanner
ficou muito apegado a ela e a eliminação foi necessária.

O garoto, Tanner, foi designado a fazer amizade com


Georgie e seu irmão, Connor, mais de uma década atrás.

Foi antes de Connor ser pego pelo Vault. Ele agora era
um de nós, com um pouco de coerção, é claro. Nunca pensei
que eu fosse dar uma porra para quem Vault torturou,
manipulou ou condicionou, porque eu fui um deles. Mas
London mudou isso. Ela mudou tudo.

A Mãe balançou a cabeça e um fio de cabelo louro, com


listras cinzas, saiu do seu coque bem feito que ela empurrou-
o para trás da orelha.

— Sim. Você nos avisou que ele poderia se tornar um


problema. Mas ele teve sua utilidade. — Ela fez uma pausa,
com seus olhos me perfurando. — E Deck?

Lá estava. O que ela realmente queria saber. Eu mantive


meus olhos sobre ela, firme sob o frio olhar severo.

— Aplacado e mais focado em Georgie do que em


encontrar Connor. A nota foi um toque agradável. — Uma
nota escrita com o sangue de Connor avisou Deck para parar
de procurar por ele ou ele iria atrás de Georgie.

Ela desviou o olhar quando embaralhou os papéis


brancos austeros na frente de suas longas unhas vermelhas,
como punhais. Punhais que perfurariam seu coração se ela
estivesse com vontade de infligir dor.

— Bom. Foi no tempo certo. Com a ameaça de Deck e


Connor perto dela, sua intromissão no paradeiro de Connor
pode ser desencorajada agora. — Seus movimentos eram
precisos e delicados, como se ela estivesse manipulando
valiosos documentos. Mas pelo meu olhar rápido quando
beijei seu rosto, os papéis eram nada mais do que relatórios
de despesas. — A menos que você ache que ele é um risco?

Ela estava falando sobre matar Deck. Eu respondi


lentamente; uma resposta apressada seria tomada como
suspeita.

— Não. Eu acho que seria tolice quando nós poderíamos


ser capazes de usá-lo, ainda.

Ela franziu juntos os lábios vermelhos.

— Sim. Verdade. Eu odeio eliminar potenciais agentes.


Uma vez que a droga estiver estável, então poderemos
reconsiderar nossas opções. Connor se tornou muito...
cooperativo e precisamos de mais como ele.

Eu ri para mim mesmo. Cooperativo? Era uma maneira


amável de dizer assassino.

— E sobre a fazenda? — O local onde eu cresci. Onde as


crianças eram condicionadas a ser como eu — assassinos
frios. Precisávamos da porra do local. Nós nem sequer
sabemos em que país se encontrava.
Eu esperei, enquanto ela brincava comigo por
permanecer quieta. A cadela gostava de testar-me
constantemente, mas os manipuladores na fazenda me
treinaram para ser paciente, sem emoção, uma máquina que
não tinha vínculos e sentimentos.

Os poços eram o pior. Jogado em um buraco profundo


no chão durante dias, sem comida ou água, congelando
durante a noite, transpirando durante o dia, sem nunca
saber quanto tempo você ficaria lá. Eu aprendi a fugir em
minha mente e não retornar até subir a pequena escada e ser
levado para fora. O ‘fosso’ era pior do que qualquer tortura
física e quanto mais rápido você passasse no teste, menos
tempo você passava lá.

— A fazenda não é sua preocupação.

Mas era. Ela só não sabia disso.

Apenas três membros da diretoria sabiam sua


localização: a Mãe, um magnata de hotéis em Las Vegas
chamado Peter Dorsey e outra pessoa que eu não conhecia.
Ela permanecia anônima e eu estava apostando que esta
pessoa era responsável pela supervisão da fazenda.

O homem esteve na tortura pública da minha irmã,


alguns anos antes, quando ela tentou desaparecer depois de
uma missão. Ele se manteve nas sombras com um chapéu
baixo sobre o rosto, mas reconheci os dois colares de ouro
que ele usava. Um tinha uma cruz sobre ele e o outro uma
grande esmeralda. Eu vi um homem usando exatamente os
mesmos colares quando tinha oito ou nove anos, enquanto
vivia na fazenda.

Ele olhava para a cova, com o chapéu baixo para


proteger sua identidade. Lembro-me de sua mão ao lado, o
dedo indicador e o polegar se esfregando o tempo todo e sua
visão em mim. Lembro também dos colares balançando de
um lado para o outro quando ele se debruçou sobre o poço.
Eu estive muito delirante depois de três dias no poço, quente
pra caralho, então mal conseguia ficar de pé. Mas, quando vi
os mesmos colares anos mais tarde, sabia que era ele.

— Não vamos precisar da fazenda, se tivermos a droga.


— eu disse.

— Vamos utilizar ambos. — Porra. — As crianças são


fáceis para ele adquirir e as usa para outra finalidade. O
sistema funciona bem. A fazenda permanecerá.

— E quem ele é, Mãe? Você não acha que já é hora para


eu saber quem são todos os membros do conselho?

Ela lambeu os lábios, os olhos apertados enquanto


olhava para baixo.

— Isso não é minha decisão. É dele.

— Então, ele dá as ordens. Não você. — Suas costas se


endireitaram. Eu sabia que ela não ia gostar disso. A Mãe
sempre quis ser a mais poderosa.

— Claro que não. Mas ele dirige a fazenda e outras


atividades bastante delicadas. É melhor ele permanecer
anônimo para todos. Nós preferimos não ter que mudar a
fazenda novamente, após a última violação.

Tristan foi a violação. O garoto de quinze anos de idade


escapou da fazenda e agora era o multibilionário proprietário
da Mason Developments, que trabalhou a vida inteira para
chegar a este ponto e destruir Vault. Era o seu jato que me
esperava no aeroporto da França, com pilotos em modo de
espera para nos levar de volta para Toronto, assim que eu
terminasse aqui.

Eu não podia pressionar a questão. Precisava de algo


mais importante dela.

Ela afastou a cadeira de madeira com o apoio de veludo


azul, e em um deslizamento lento, elegante, cruzou as
pernas. Já havia aprendido os seus movimentos e eu era
muito parecido com ela, jogando friamente com a pessoa
afetada, com charme genuíno. Exceto que, eu tinha charme.
Ela era apenas uma cadela fazendo o papel.

Finalmente, ela disse:

— Você está aqui por causa da menina.

Era uma afirmação e uma correta. Eu estava aqui por


causa de London. Eu nunca vinha ver a minha mãe de bom
grado, a menos que tivesse uma razão e ela sabia disso.

Eu ainda seria o assassino insensível e sem emoção que


a fazenda me fez se eu não tivesse conhecido London. Minha
mãe pensava que nós éramos mais perigosos se não
tivéssemos vínculos, se não houvesse sentimentos em relação
a algo ou alguém.

Ela estava errada. Eu era muito mais perigoso agora,


porque tinha algo a perder.

— Sim. É hora de colocar isto para fora, Mãe. — Porque


pode ser a nossa última oportunidade. — Eu lembro
claramente de dizer há alguns anos atrás que eu ia cuidar da
situação e cuidei. Ela não ia para a polícia. Mas você teve que
ir pelas costas e torná-la seu problema. Eu dei ao pai dois
meses.

— Ele sabia o fim do prazo e estava atrasando. E Kai, foi


há anos atrás. Não importa mais.

Oh, isso importava pra caralho.

— Precisávamos da droga. Ele precisava de mais dois


meses. Você concordou em dar-lhe isso. — Ela não disse
nada. — Então, depois de uma semana, você levou sua filha e
enviou-a para Raul. Dentro da porra do México. Dr.
Westbrook estava sob controle.

Os cantos de seus lábios curvaram para cima e apesar


da vontade de bater no rosto dela, eu conhecia aquele sorriso
que era parecido com o meu próprio.

— Eu não sabia que você tinha conhecimento do local


para onde nós a enviamos. Interessante. — Ela sorriu,
exibindo seus dentes brancos que combinavam com seu
colar. — Você quis ir vê-la, Kai? Comê-la como uma escrava?
Eu fui para o México e tentei tirá-la, mas a merda deu
errado e a perdi, então, passei os próximos dois anos
procurando por ela novamente.

— Claro, Vault não sabia disso. — Nós não lidamos com


homens como Raul. E você não interfira no meu trabalho.

— Você transou com ela, Kai.

— Eu comi muitas mulheres. Sou um homem. — eu


disse.

— Por uma semana.

Eu dei de ombros.

— Ela era boa. — Eu suspeito que foram meus voos


frequentes de Toronto para Nova Iorque que a denunciaram.
Mesmo que eu fosse designado para vigiar o pai de London,
Dr. Westbrook, eu fui para lá mais frequentemente do que o
necessário.

— Está melhor agora, eu imagino. Ou pelo menos


obediente.

Cadela fodida. Eu resisti pegar a minha faca e eviscera-


la. Em vez disso, ri, mas foi mais duro do que eu queria e
suspeitei que ela soubesse que isso chegou a mim.

— Por que você fez isso?

Mas eu adivinhei a resposta. Porque eu estive com


London e não acabei de pegá-la. Eu estive com ela por uma
semana e a Mãe descobriu e não gostou. Então, ela queria
destruir London e conseguiu. Ela tirou sua dignidade e a
deixou quebrada, a concha de uma menina com nada
restante da mulher com quem eu estive.

A Mãe pensou que era o fim de tudo. Outra garota


perdida no mundo doentio do tráfico de sexo. Vault era
raramente envolvido nesse tipo de atividade criminal, exceto
para tirar os indivíduos que se tornavam um problema. Eu
me ofereci para aqueles trabalhos.

Eu nunca comi uma garota que não fosse treinada para


me agradar e eu certamente não a forçaria a descer para
chupar o meu pau. Eu saía com uma menina que imploraria
por ele com o desejo latente em seus olhos.

A Mãe bateu o dedo no topo da pilha de papéis.

— Você é muito parecido com seu pai. Inteligente e


arrogante. As mulheres são atraídas por você... como essa
garota.

— London. — Ela realmente tinha um problema com


London.

Ela encolheu os ombros delgados envoltos por um paletó


preto.

— O nome dela não é mais significativo.

Porra. Eles iam matá-la. Eu mantive meu rosto


impassível, do jeito que pratiquei no espelho um milhão de
vezes antes quando era criança.
Um galho bateu contra o vitral a direita e senti a brisa
leve quando o ar entrou através da abertura da janela. Ainda
encostado na mesa, cruzei meus tornozelos e abaixei a
cabeça, parecendo não me importar com o que ela acabava de
revelar, mas por dentro eu estava com um fogo crepitante. A
raiva estava testando todo meu controle, mas se reagisse, eu
iria destruir minhas chances de conseguir o que preciso dela.

— Ela deve ter sido boa na cama para você vir aqui e
implorar por sua vida.

Eu zombei, sacudindo a cabeça com um meio sorriso.

— Eu não imploro.

Eu a conhecia muito bem. A maneira endureceu sua


espinha, indiscernível para a maioria, mas estava tudo lá.
Porra, eu estive estudando seus gestos em todas as
oportunidades desde o dia em que ela brutalmente matou
meu pai na frente dos membros do conselho de Vault, minha
irmã e eu. Foi naquele dia que eu percebi que ela estava vazia
e era a pior mãe, sem amor. Ela era pura maldade.

Ela enfiou a faca entre as suas costelas e o assistiu


morrer. E o tempo todo seu rosto permaneceu o mesmo —
inexpressivo. Mas havia uma coisa que lhe denunciava... o
tremor de sua perna direita. Ela fazia isso quando estava
chateada. Não triste. A Mãe era incapaz de ter tristeza; não,
ela esteve decepcionada com meu pai.

— Você tem certeza disso? Parece que você pode...


cuidar dela.
Ela estava desconfiada, mas eu esperava isso.

— Ela era uma merda excepcional.

Isso estilhaçou sua expressão de pedra e ela sorriu.

— Eu preferia que meu filho não acabasse como o seu


pai, por causa de uma mulher.

E lá estava, o porquê ela me odiar. Eu tinha partes de


mim que a lembrava dele. Meu pai se apaixonou por outra
mulher, mas não foi a única razão para a minha mãe matá-
lo. Foi apenas sua desculpa para matá-lo. Ela prosperou no
poder e controle quando o matou, tomando seu lugar no
conselho de Vault. Depois disso, tudo mudou.

Não existiam mais nove membros do conselho, mas


apenas cinco. Dois dos quais ela quem trouxe para a
organização: Peter Dorsey e o homem cuja identidade eu
ainda tinha que descobrir.

— Diga-me, Kai, o que faz um assassino como você


comer uma mulher fraca como ela?

London era tudo menos fraca; pelo menos ela não era
até os homens violentos e cruéis e Jacob Alfonzo, destruí-la.
Estava na hora de acabar com essa besteira. Eu teria uma
chance se o destino de London já não estiver selado.

— A sua crueldade não conhece limites, Mãe. E você foi


estúpida por arruinar uma vantagem potencial. Eu disse que
ela era valiosa e que era para deixá-la em paz, mas você não
pôde confiar em mim.

Ela se levantou e perdeu a compostura.

— Como você se atreve! — Seu rosto se contorceu na


cadela zombeteira que sempre ficava escondida.

Eu encontrei os seus olhos, firme e calmo.

— Me atrevo porque você está ficando velha. E você


tomou decisões baseadas em suposições. — Seu rosto estava
vermelho e mostrava uma máscara de fúria, mas era
exatamente o que eu queria, virar a mesa. — Ela é jovem e
inteligente. Uma cientista cujo pai desenvolveu uma droga
que você quer muito. Desculpe, você precisa muito. Nós
concordamos com isso depois que ela foi trazida dessa merda
que você a colocou, completamente. Nós íamos tê-la
assumindo para seu pai. — Essa foi a minha única maneira
de ter certeza que London ficaria segura. Fazer ela ter valor
para Vault.

— Ela ficou inútil depois de sua... experiência. — Eu


queria rasgar seu coração frio de seu peito com a minha mão.
London foi destruída e arruinada após dois anos perdida
nesse mundo cruel. — E eu lembro de dizer-lhe para trazê-la,
mas em vez disso, você a escondeu em uma casa que eu não
tinha conhecimento.

Eu sorri, porque se não o fizesse, eu ia matá-la antes


que tivesse a chance de fazer o que vim aqui para fazer. Era
hora do meu trunfo.
— O Dr. Westbrook está morrendo de câncer. — Isso
chamou sua atenção. — Os médicos lhe deram seis meses.
Desde a minha última visita, eu diria mais perto de três. —
Ela começou a acalmar quando seus olhos se afastaram dos
meus.

— Outro cientista pode facilmente assumir o seu


trabalho.

— Nós poderíamos tê-la usado. — eu disse. — Por que


você acha que eu a peguei por uma semana, em vez de
torturá-la como você sugeriu? Porque você acha que eu
sugeri à você a usá-la? Você concordou. Era simples assim
mas você estragou tudo duas vezes. — Eu bati meu punho
em sua mesa. — Eu precisava dela para terminar a pesquisa.
Eu precisava de sua sanidade. Precisávamos dela. — Eu
abaixei minha voz, me afastando da mesa e me aproximando
de sua cadeira. — Mas você sempre precisa destruir e
estragar qualquer coisa que nós nos aproximamos por um
momento, em que precisamos de tempo para cultivar.

— Nós vamos...

Eu levantei a minha voz.

— Eu a tive, Mãe! — Eu respirei fundo e me virei para


olhar para a lareira, sentindo como se as chamas estivessem
lentamente corroendo minha pele. — Ela confiava em mim.
Ela teria feito qualquer coisa que eu pedisse e você destruiu
completamente isso. E para quê? Por que você estava com
medo que eu estivesse ficando muito perto dela?
— Você estava. E você ficou. — ela respondeu, sua voz
era calma.

— Eu estava transando com ela. Ela era uma aquisição.


A tortura não é a única maneira de fazer as pessoas fazerem
o que você quer.

Ela ficou em silêncio enquanto considerava tudo o que


eu disse a ela. Se deveria acreditar em mim ou me mandar
embora. Talvez até mesmo me bater até que eu rompesse,
mas não havia nada em mim para destruir e ela sabia disso.
Eles já tinham feito o seu dano.

Levou tudo que eu tinha para permanecer em pé onde


estava, quando tudo o que eu mais queria era pegar o fio em
meu bolso e envolvê-lo em torno de sua garganta; e assistir
seus olhos pularem da cabeça enquanto ela se debatia em
lutar por ar. Eu não conseguia decidir se isso ou mergulhar
minha faca sob suas costelas como ela fez com meu pai me
daria mais satisfação.

A fazenda me fez insensível a tudo, inclusive a minha


irmã. O ódio que eu nutria pela minha mãe ficou dormente
por anos, até que comecei a sentir novamente. Até que a
morte, de repente, importava. Até que uma menina teceu seu
caminho em meu coração e o fez bater novamente.

Fui até a lareira, onde partículas cintilantes de luz


brilhavam sobre o tapete branco felpudo que ficava diante
dela. Quando eu era criança, antes de ser enviado para a
fazenda, antes de meu pai ser morto, antes de Vault ir por
este caminho, costumava dormir ao lado do fogo e ouvi-lo
crepitar enquanto meu pai lia para mim.

Agora, eu odiava o fogo. Odiava o que tinha quase me


matado.

Casualmente me sentava na cadeira de veludo roxo


antigo, cruzando a perna dobrada sobre a outra e inclinando-
me para trás. Descansava minhas mãos sobre os braços
acolchoados que tinha estampados neles cabeças de leões na
base. Meu pai costumava relaxar em uma cadeira como esta
à noite, embora fosse na Inglaterra, onde nós crescemos
antes de minha mãe assumir o conselho do Vault.

Seus óculos pousavam na ponte de seu nariz e ele tinha


de manter arrumando-o enquanto lia. Ele poderia ser mortal,
mas também tinha uma leveza que fez a minha infância um
pouco mais fácil. Ele tinha muitas vezes me sentado no colo e
conversado sobre Vault e como tudo começou. Um governo
secreto que não seguia as leis, mas tinham leis próprias. O
seu objetivo foi retirar indivíduos que os governos não
poderiam, devido às leis, política ou recursos.

Mas isso mudou quando minha mãe assumiu.

Ela nunca iria admitir a falta dele, mas eu sabia que


partes dela sentia. Ela sentia, porque cometeu um erro fatal
no dia que ela o matou — ela o matou.

Em vez de anos de tortura, ela deu-lhe misericórdia. Ele


também sabia disso. Essas foram as últimas palavras que
seus lábios sussurraram. Não podia ouvi-lo, mas eu sabia o
que ele disse:

— Obrigado.

Mas nada disso importava mais. Tudo isso estava


terminando. Eu fecharia a fundação Vault e isso incluía a
minha mãe.

— Eu não gosto dela.

Suspirei.

— Você não gosta de ninguém. E você está tornando isso


pessoal.

Ela se virou e seus saltos clicaram uniformemente na


pedra enquanto ela caminhava até a janela.

— Mas já é tarde. Eu disse a Brice para se livrar dela.

A bile subiu na minha garganta e meu coração bateu


contra a minha caixa torácica. Porra. Porra. Porra. Eu vi Brice
na casa de Toronto do Vault e ele é um filho da puta frio.

— Uma vergonha. — Eu vou destruir você. Levantei e me


dirigi para a porta como se não desse a mínima. Como se eu
não estivesse sendo dilacerado por dentro, com uma lâmina
enferrujada.

— Você realmente não se importa com ela? Você estava


usando-a para Vault?
Fechei os meus olhos brevemente antes de me virar e
enfrentá-la.

— Não, não me importo. Você me ensinou muito bem.


Mas, como já lhe disse antes, eu teria utilizado a inteligência
dela.

Era como se algo brilhasse em seus olhos, uma gota


gananciosa de esperança pela utilização de uma outra pessoa
para benefício próprio.

— E você acredita que ela pode assumir o trabalho de


seu pai? A garota ficou bastante lamentável e não terminou a
sua faculdade.

E de quem foi a culpa? Eu não tinha ideia se London


poderia, mas isso não importava, nada disso importava. Eu
vim aqui para tirar minha irmã Chess da prisão, para
convencer a minha mãe que London era valiosa o suficiente
para ficar em qualquer cela, botar London em segurança em
Toronto e depois descobrir o que pudesse da fazenda, bem
como detalhes sobre o membro anônimo do conselho. Não
parecia que eu ficaria perto da fazenda, ou o membro do
conselho, mas havia outras maneiras.

— Sim. Ela começou a trabalhar ao lado do pai desde


que era capaz de segurar um tubo de ensaio. Eu não teria
tanta dificuldade por uma boceta, não importa quão boa ela
fosse. Isso foi um mero bônus. — Foi a minha melhor mentira
e ainda não havia sequer um lampejo de desconfiança na
expressão de minha mãe. — Mas você a fez sua prisioneira e
a torturou de uma maneira que destruiu sua mente.

— Kai, você conhece o protocolo. Não é tortura.


Meramente métodos para persuadir, que tem sido usado por
séculos. — Tortura. Eu sabia quais eram, porque eu as
experimentei.

— E você precisava convencê-la que o seu plano era


matá-la?

Ela riu, um som leve com babados que não combinava


com a atitude dela.

— Eu estou certa que você está ciente que a sua


lealdade não está clara. Nós exigimos um teste.

Eu sabia disso.

— E se eu passar?

— Não sem esforços, filho. — Eu não conseguia parar o


tique na minha mandíbula quando ela me chamava assim.
Eu não era o filho dela; eu era um produto do Vault. —
Independentemente disso, a menina não foi tocada em
semanas. Ela foi bastante resoluta até que você a visse. O
que você disse a ela?

E claro que minha mãe olhou para a câmera de


segurança do dia em que fui à casa de Toronto para apagar o
e-mail enviado por Tanner. Eu estava andando pelo corredor
frio para porão escuro quando a ouvi — London. E continuei
andando, mesmo chegando à porta, antes de me virar para
trás. Eu tinha que a ver, embora soubesse que não poderia
tirá-la de lá. Aquele dia me destruiu. O que eu tinha para
dizer a ela era pior.

Felizmente, eu estava em um ângulo onde a alimentação


da câmera de segurança não iria pegar minha expressão,
porque se ela tivesse visto o olhar nos meus olhos, London
estaria morta agora.

— Exatamente o que ela precisava ouvir. — Disse para


London aceitar sua finalidade, porque eu não tinha ideia de
quando seria capaz de resgatá-la e, London... ela tinha
esperança. Espero que tenha sido esmagada.

— É melhor você estar certo sobre ela, Kai. Os outros


membros do conselho podem não ser tão indulgentes como
eu sou. — Eu ri porque ela nem sabia o que a palavra
indulgente significava. — Ela confia em você. Podemos usar
isso.

— Confiava. Passado. Ela me odeia agora. Mas posso ser


muito persuasivo... — O amor e ódio eram opostos completos;
e ainda assim eles se cruzavam com tanta frequência,
mudando os caminhos, muitas vezes, até que colidiam e
faziam uma grande confusão quando se tornavam paralelos e
encontravam a paz interior. Com London, o meu caminho
nunca teve desvio, mas o dela foi testado novamente e
novamente.

Ela caminhou até a mesa e sentou-se.


— Eu vou informar Brice da mudança no plano. Eu
quero ambos aqui na França. Tenho as cópias da fórmula de
seu pai e ela pode começar a trabalhar na droga uma vez que
aqui tenho um laboratório montado. Quando eu souber que
ela pode fazer o que precisamos, então vou decidir se ela é
valiosa o suficiente para se manter.

Eu escutei, mas permaneci impassível.

Ela digitou em seu teclado e com cada toque de seus


dedos longos e finos, selou seu destino.

— Vou aumentar a segurança em sua cela.

Cadela. Mas era exatamente o que eu precisava saber e


o propósito para a minha visita. Se eu tivesse tentado utilizar
a minha impressão digital na cela de London semanas atrás,
o lugar já teria sido bloqueado e um alerta teria sido enviado.
O teste era uma das razões que tive que vir para a França em
primeiro lugar. Mas cada peça estava caindo no lugar.

— Então, há desconfiança. Eu fui leal a minha vida


inteira.

Ela não conseguiu olhar para cima enquanto continuava


a escrever.

— Sim. Mas as mulheres são a fraqueza de um homem.

Como o meu pai.

— E você teria enviado alguém para tentar me matar se


eu falhasse no pequeno teste?
— Não, Kai. Eu teria torturado a garota e lhe feito ver.
Então, eu a teria matado. E você viveria o resto de seus dias
com aquela imagem na sua cabeça.

‘Má’ era uma palavra muito mansa para chamá-la.

— Eu não tenho uma fraqueza. Você teve certeza disso.


— Eu mantive minha voz neutra enquanto colocava em
marcha o plano final. — Vou voar de volta esta tarde.

— Você vai visitar sua irmã antes de sair? Tenho certeza


que ela ficaria contente em vê-lo. — Eu estava fazendo muito
mais do que uma visita. — Já permiti a ela um pouco de
liberdade e acho que em poucos anos, talvez ela possa ser
novamente utilizada. Claro, os fazendeiros teriam de tomar a
decisão final.

Escondi a ira girando com uma risada suave enquanto


caminhava de volta para ela e em seguida, beijei a sua
bochecha, com meus olhos brevemente indo para a tela de
seu computador. Quase lá.

— Mãe, você sabe que não dou a mínima para aquela


vadia traidora. — As palavras eram atadas com uma
zombaria, mas uma mentira. Se ela soubesse que eu me
importava bastante com minha irmã, ela seria usada contra
mim. Eu fazia questão de nunca perguntar sobre minha irmã
e nunca tentei vê-la.

Ela estalou a língua, mas pela forma como seus olhos


azuis brilhavam, ela estava orgulhosa de minhas palavras.
Ela bateu em ‘Enviar’ o e-mail e fechou a tampa do seu
laptop.

— Eu removi a segurança em sua cela e Brice está


esperando por você.

Isso era tudo que eu precisava.

Estava feito.

Ela se aproximou e colocou a mão delgada no meu


braço. Era como se um tubarão me mordesse. Meu estômago
revirou de desgosto. Em uma suave carícia lenta, ela passou
a mão até meu ombro e de volta mais uma vez.

— E você está certo. Eu cansei. Sou dura com você


porque tenho que ser. Eu quero que você esteja preparado
para qualquer coisa.

Eu estava.

Sem emoção.

Dividido.

Eu cortei as gargantas de homens que tinham famílias.


Destruí vidas. Eu fui preparado para a ruína e não importava
como fizesse o trabalho, desde que fosse feito.

Mas o que minha mãe não sabia ou entendia, era que


nunca se roubava ou prejudicava a menina que pertencesse a
um assassino cruel e frio.
Pedaços do que eles me fizeram começaram a lascar no
dia em que eu conheci London e o filtro dentro de mim era
um veneno de ação lenta. Um que comia a dormência,
trazendo a luz, quando tudo que eu via era escuridão.

Inclinei mais perto dela, minha mão na parte de trás de


seu pescoço enquanto sussurrava em seu ouvido:

— Talvez eu seja como meu pai. Porque sou um homem


que fará qualquer coisa pela mulher que quero. — Ela ficou
tensa e os vincos ao redor de sua boca acentuaram quando
ela franziu a testa. — Eu gostaria de ter mais tempo para
fazer justiça.

Eu tinha a minha mão no bolso e a corda de piano em


torno de sua garganta antes que ela tivesse a chance de
tomar um fôlego final.

Ela parecia um peixe fora d'água, batendo contra mim


enquanto lutava para respirar. Eu segurei o fio apertado, sem
perdão, sem sentimento pelo que estava fazendo. Suas unhas
rasgaram sua própria pele frágil quando ela tentou afrouxar o
fio.

Suas pernas cederam.

Sua selvageria e olhos horrorizados estavam mortos.

Seu corpo caiu, flácido.

Deixei-a no chão e coloquei o fio de volta no bolso.


Então, agachei ao lado do corpo sem vida.
— London é minha e você fodeu com isso. Vault vai
pagar por aquilo que tem feito.
Quatro anos, sete meses antes

O cabo de vassoura cavou em minhas costas e o cheiro


de água sanitária queimou minhas narinas. Eu derrubei o
frasco de desinfetante quando ouvi as vozes e o líquido vazou
pungente do bico sobre o chão azulejado.

A porta do armário de armazenamento no laboratório de


meu pai estava entreaberta. Eu não liguei a luz quando vim
pegar um rolo de papel toalha, então estava parcialmente
escondida na escuridão. Fiquei fora da linha direta de visão
do estranho. Concentrei-me em meus batimentos cardíacos e
na minha respiração irregular sufocando, minhas mãos não
afastaram quando eu o assisti deslizar o dedo sobre a
superfície brilhante de sua faca. E não era uma faca de
manteiga. Era uma lâmina de seis polegadas com uma borda
serrilhada e contrariando completamente o olhar, um
empresário a segurava em sua mão, na frente dele.

O estranho caminhou casualmente mais perto do


armário, depois parou a centímetros de distância. Quando
inalei, o aroma de sua cara colônia encheu meus pulmões e
eu engasguei. Puta merda. A familiaridade enviou uma onda
reconfortante de calor através de mim. Eu conhecia o cheiro.
Eu nunca o esqueci, mas era óbvio que este homem não era
reconfortante ou seguro.

Ele usava um terno preto impecável, camisa listrada que


tinha os dois primeiros botões abertos, sem gravata e por
algum motivo me pareceu apropriado, como se uma gravata
fosse muito restritiva.

Ele parecia estar nos seus trinta anos e, provavelmente,


tinha mais de um metro e oitenta e três. Pela maneira como
se portava, não havia uma polegada dele que não tivesse
músculos, embora fosse mais endurecido do que volumoso.
Independentemente da ameaça que transmitia, ele parecia
completamente relaxado, como se estivesse acariciando um
gatinho e não uma arma mortal.

Eu esperava que ele me visse. Me ouvisse. Que decidisse


jogar a faca, furando meu peito para silenciar meu coração
acelerado. Mas o que eu estava mais preocupada era com o
meu pai que estava no laboratório com esse cara.

Deus, Pai, o que está acontecendo? Quem é ele?


Desde que comecei a andar, costumava ajudar meu pai
no laboratório. Apesar de que, nessa idade, eu não ajudasse
muito, mas meu pai nunca parecia entender. Eu sabia a
tabela periódica antes de saber a tabuada e conduzi
experimentos durante o ensino médio em vez de aderir a
todas as atividades da turma. A ciência era minha paixão e
não havia nada que me agradasse mais do que experimentar
diferentes compostos e pesquisar os efeitos.

Quando comecei a faculdade, minha carga de trabalho


tornou-se muito pesada e eu passava menos tempo no
laboratório do meu pai e mais tempo no laboratório da escola
com a minha cabeça em meus livros.

Mas, ultimamente, notei que meu pai parecia agitado e


cansado. Eu decidi ir para o seu laboratório e depois levá-lo
para jantar no domingo. Ele estava pálido, com olheiras sob
seus olhos e perdeu um monte de peso. Quando eu perguntei
se estava se sentindo bem, ele disse: “É claro”, então ele mal
tocou em seu prato.

— Eles ficaram bastante... desagradados com seu último


e-mail. — A voz rouca do estranho desencadeava arrepios
pela minha espinha e os meus dedos enrolaram em meus
tênis de corrida. Seu tom era calmo, com uma sugestão
britânica acentuada, soando quase entediado. Mas por baixo,
ela passava o perigo. Mordi o lábio inferior tão forte que
provei sangue.

Ele inclinou a cabeça na minha direção e eu prendi a


respiração. Esperei por ele chutar a porta e me arrastar para
fora. Rezei para que as sombras que me mantivessem
escondida o suficiente, mas se ele virasse a cabeça um pouco
mais…

Ele não o fez. Em vez disso, ele inclinou a cabeça para


baixo, para a ponta em sua faca, fazendo com que alguns fios
de seu escuro cabelo castanho-avermelhado caíssem para a
frente e tocasse as maçãs do seu rosto definido. Não havia
dúvida de que ele era atraente, mas se alguma vez houve um
momento para usar a expressão idiomática 'as aparências
enganam', era agora.

— Isso é delicado e os recursos são difíceis... — A voz do


meu pai cortou quando o homem abruptamente interrompeu.

— Desculpas não são uma opção.

Eu tinha o desejo de sair do armário com a vassoura e


esmagar a cabeça do cara. Mas nunca fui uma lutadora e eu,
com certeza, não poderia ganhar de um cara como este. Mas
não importa o quão sem sentido fosse tentar pegar uma faca
de um homem mortal que, obviamente, a tratava como se
fosse uma parte dele, eu não ia ficar aqui sem fazer nada se
ele atacasse o meu pai.

Eu olhei para o meu telefone que estava ao lado do


computador do outro lado da sala. Mesmo que o tivesse
comigo, ele veria a luz na tela no momento que eu
pressionasse um botão.

Ele abaixou a faca para o lado, em seguida, virou


lentamente a cabeça e seus penetrantes olhos verdes para o
armário. Rapidamente fechei os meus olhos, com medo que
ele fosse ver o branco deles em chamas na escuridão. Meus
músculos estavam tensos e tremiam, aproveitando cada
nervo do meu corpo.

Oh, Deus, não me veja. Não me veja.

Eu olhava para espiá-lo e fui recebida por uma


contração leve no canto de sua boca como se... como se ele
soubesse que eu estava aqui.

Mas ele não me arrastou para fora; em vez disso, ouvi


uma risada suave enquanto ele se afastava.

Abri os olhos e inspirei silenciosamente. O tremor no


meu corpo era tão forte que a vassoura pressionada em
minhas costas vibrou. Eu rapidamente me afastei e minhas
pernas fraquejaram. Coloquei minha mão sobre a parede de
suporte, enquanto eu olhava para a prateleira à minha frente,
em busca de qualquer coisa que eu pudesse ser capaz de
usar como arma se precisasse.

Prateleiras de toalhas de papel. Recipientes de sabonete.


Garrafas de desinfetantes. Onde estavam os martelos e
pistolas de pregos quando você precisava deles? Merda, eu
teria que recorrer ao uso da vassoura se necessário, e, sem
dúvida, rir e depois morrer.

Dei alguns passos para frente para espiar a porta e o vi


encostado ao balcão onde haviam vários computadores. Ele
cruzou os tornozelos e os braços, a faca se foi, pelo menos
escondida da minha linha de visão. Meu olhar bateu no saco
de couro roxo ao lado dele.

Minha bolsa. Merda.

Ok, ela poderia pertencer a alguém. Exceto que o meu


pai sabia que era minha. Se ele tivesse visto isso? Será que
ele sabia que eu estava aqui?

— Kai, por favor. Preciso de mais tempo para chegar ao


resultado.

Kai? Eu nunca ouvi meu pai mencionar o nome e com


certeza nunca ouvi meu pai com a voz trêmula antes. Ele
sempre foi tranquilo, estável e sólido. Minha mãe foi a
instável e extravagante desde que eu me lembrava dela. Ela
morreu em um incêndio quando eu tinha quatorze anos de
idade. Sua vasta riqueza foi deixada para o meu pai e ele a
usou para iniciar o seu próprio laboratório. Mas ele nunca foi
o mesmo depois que ela morreu, foi ficando cada vez mais
recluso passando a maior parte de seu tempo no laboratório
enquanto uma babá cuidava de mim.

— Eles estão cansados de esperar. Você sabia o fim do


prazo.

— Por favor. — A voz do meu pai levantou, com pânico.


— Preciso de mais dois meses.

— Você teve anos. Seu tempo acabou.

O quê? Meu pai estava trabalhando em algo para este


homem durante anos? Quantos anos? Por quê? No que ele
estava trabalhando? Tinha que ser uma droga, mas que tipo
de droga?

Kai enfiou a mão no paletó e tirou a faca. Meu coração


disparou e eu queria desviar o olhar, mas não consegui. Com
a ponta de sua lâmina, ele a colocou sob uma das alças da
minha bolsa e com um leve empurrão para cima, ele cortou o
couro.

Oh, merda.

Ele levantou o queixo e olhou para o armário,


levantando as sobrancelhas com um leve sorriso. Eu ouvi
meu pai suspirar sobre o teste, mas as palavras foram
perdidas pelo medo que senti. Minhas unhas cavaram o gesso
quando seu olhar permaneceu fixo no armário.

Impressionante foi a palavra que me veio à mente


quando eu olhei para ele. A segunda palavra era letal.
Intenso, mandíbula esculpida e combinando com as maçãs
do rosto — cinzeladas e impecáveis, assim como o seu terno
caro.

Havia um olhar do velho mundo nele, que combinava


com sua expressão confiante. Não, era mais do que confiante.
Ele era destemido, como se não tivesse nada a perder, como
se nada pudesse tocá-lo. E mesmo se eu pudesse por algum
milagre alcançar o meu telefone e chamar a polícia, eu
suspeitava que ele simplesmente fosse rir com a
inconveniência de ter que levar seu terno para lavandeira
depois de matar qualquer um que tentasse detê-lo.
Mas foram seus olhos que me cativaram e não me
deixaram ir. O jade profundo que enchia de diversão,
misturado com um brilho perigoso, um contradizendo
completamente o outro.

E apenas quando eu pensei que ele fosse vir e me


arrastar chutando e gritando do armário, ele colocou a faca
longe e dirigiu seus olhos em meu pai, que eu não podia ver.

— Você tem uma semana.

Meu pai cuspiu:

— Kai, isso é impossível. Por favor, você tem que dizer-


lhes que eu não posso terminar nesse prazo. Faça-os
compreender.

Kai riu e o som era magnético, como se sua voz sozinha


pudesse raptar você e obrigá-la a fazer qualquer coisa que ele
mandasse.

— Seu equívoco da situação é bastante divertido, Dr.


Westbrook. — Ele se afastou do balcão. — Tenha um
carregamento da droga pronta dentro de uma semana.

Engoli em seco quando seu olhar se voltou para o


armário novamente e inclinei-me mais para trás para as
sombras, só fui capaz de pegar um vislumbre de um lado de
seu rosto. Meu coração bateu tão alto que eu jurava que ele
poderia ouvi-lo.

— Caminhe comigo, doutor. — Ele se moveu para fora


de vista e eu quase caí no chão quando todos os meus
músculos relaxaram e o tremor acalmou. Ok, ele não iria
prejudicar meu pai, pelo menos por agora e nós poderíamos
chamar a polícia e eles lidariam com ele. — Você tem uma
linda filha.

Minha cabeça se chocou contra a parede. Oh, Deus, ele


me viu. Mas como ele sabia que eu era a filha do Dr.
Westbrook?

— Não se atreva a tocar nela! — meu pai gritou.

Meu pai nunca levantou a voz com raiva, ele raramente


ficava irritado. Ele afirmava que a emoção enfraquecia e não
conseguia nada mais do que fazê-lo agir irracionalmente.

A voz de Kai se reduziu.

— Se isso der errado, não vai ser eu a tocá-la...


infelizmente.

Minha respiração engatou.

Eu ouvi a porta automática deslizar à frente com um


assobio e em seguida, fechar novamente.

Eu desmoronei contra a parede, deslizando lentamente


para baixo até a minha bunda bater no duro piso de linóleo.
Suas palavras repetiram várias vezes na minha cabeça. “Não
vai ser eu a tocá-la... infelizmente.”

Esperei cinco minutos para o meu pai voltar, mas como


ele não voltou, peguei meu celular e minha bolsa com a alça
cortada e deixei o laboratório.
Quando passei pelos rostos familiares no edifício, eu
perguntei se alguém viu o meu pai. Ninguém o vira e meu
medo se intensificava a cada passo apressado para o meu
carro.

Eu procurei no estacionamento por sua Mercedes prata,


mas não estava no lugar de sempre. Será que ele foi para
casa? Por favor, faça-o ter ido para casa. Eu corri o resto do
caminho para o meu carro, discando para o celular do meu
pai pela quinta vez, que se manteve caindo direto no correio
de voz.

Pai, vamos lá, atenda. Mas era habitual para ele não ter
seu telefone. Era por isso que se precisasse dele, eu vinha
direto para seu laboratório porque ele sempre estaria aqui.

Baixei meu telefone e desbloqueei as portas do meu


carro. Olhei para a minha mão e vi o tremor. Eu era
normalmente firme e calma, como o meu pai, mas não havia
nada disso em mim naquele momento. Eu me senti como se
um fogo de artifício queimasse lentamente, pronto para
estourar em faíscas de emoções.

Pulei no carro e fechei a porta, jogando minha bolsa e


celular no banco do passageiro e inclinei minha testa contra o
volante enquanto tentava recuperar um pouco da calma que
foi sufocada pela imagem do homem que me assombrava.

Eu era boa em descobrir as coisas, conectando peças do


quebra-cabeças, mas nada disso fazia sentido. Como poderia
meu pai estar trabalhando em algo durante anos e nunca ter
me contado nada? Por que ele iria trabalhar com um homem
como Kai?

Eu fiquei rígida e congelei quando os cabelos na parte de


trás do meu pescoço se levantaram como pequenos soldados
em alerta e meu coração parou momentaneamente.

Oh Deus.

Aquele cheiro. Ele estava no meu carro. Ele.

Eu lentamente avancei a minha mão para a maçaneta


da porta.

— Não é uma boa ideia, — ele murmurou. — E eu sei


que você é uma garota inteligente, London.

Parti para ação, mergulhando para a porta com as duas


mãos, mas a faca estava sob meu queixo antes de destrancá-
la. O grito emergente trancou em minha garganta, enquanto
eu me acalmava, ofegante, peito subindo e descendo
rapidamente, esperando a lâmina fatiar toda a minha jugular.

— Ligue o carro e saia tranquilamente do


estacionamento.

A faca deixou minha garganta e eu olhei no espelho


retrovisor quando ele se inclinou para trás contra o assento,
como se estivesse indo para um passeio ao supermercado.
Ele não parecia com raiva, apenas irritado com este
inconveniente, suas sobrancelhas e lábios levemente
pressionados.
Liguei o carro e o deixei parado por um segundo
enquanto o meu cérebro calculava minhas opções.

— Cinto de segurança, minha querida. — disse ele.

‘Nunca deixe que eles a levem para um segundo local’


repetia na minha cabeça.

Estendi a mão para o meu ombro e puxei o cinto em


todo o meu corpo. Fingi que me atrapalhava com o clipe e
inclinei a cabeça um pouco para ver se ele estava me
observando. O bastardo estava enviando mensagens de texto.
Mensagens. Como se ele fosse fazer arranjos para o jantar ou
conversar com um amigo sobre um jogo de futebol.

Soltei o cinto e vi que ele ainda não se moveu do lugar


antes que eu tivesse a minha porta aberta e um pé fora do
carro. Ele estava a meio caminho sobre o assento quando seu
braço enganchou meu pescoço.

Seu aperto não estava me estrangulando, mas era firme


então fui forçada a voltar para o carro. Suas palavras geladas
me atingiram quando sussurrou em meu ouvido.

— Você quer que seu pai viva?

Engoli em seco e assenti.

Ele deslizou o lado liso de sua faca por cima do meu


queixo.

— Bom. Eu também.
Engoli em seco e a pressão da faca aumentou enquanto
acariciava minha garganta com ela. Eu vi como cortou
facilmente a alça da minha bolsa. Eu sabia que com pouco
esforço ele teria cortado minha pele delicada.

Ele me soltou e o assento de couro rangeu quando ele


voltou a se sentar.

— Feche a porta e comece a dirigir.

— O que você quer?

— Oh, haverá muito tempo para perguntas, London.

A forma como a sua voz, com sotaque arrastado, falou


meu nome era como se eu já o tivesse escutado dizer isso
antes. Mas não era o meu nome; isso só pode ser outra coisa.
Mas isso era impossível. Eu nunca conheci esse cara antes,
pois ele não era alguém que você facilmente esqueceria.

— Onde está o meu pai? – Será que ele o machucou?


Talvez fosse por isso que ele não tivesse voltado para o
laboratório. Meu aperto no volante aumentou e meu peito
doeu com o pensamento.

— Eu suspeito que a caminho de casa para se servir de


uma bebida.

— Meu pai não bebe. — eu soltei. Ele não tocou em


álcool desde a morte da minha mãe. Eu acho que ele se
sentia responsável pela morte dela de alguma forma, embora
ele não fosse. Minha mãe era uma alcoólatra e uma fumante
descuidada. De acordo com os bombeiros, o descuido a
matou. Mas o meu pai levou a responsabilidade em seus
ombros, por tudo.

Olhei pelo espelho retrovisor e ele encontrou meus olhos


como se esperasse que eu olhasse para ele. Os cantos de sua
boca se curvaram.

— Um homem inteligente. Mas eu já sabia disso. — Ele


se inclinou mais perto, com os cotovelos descansando na
parte de trás da minha cadeira, lábios a polegadas do meu
ouvido enquanto ele sussurrava, — Dirija, minha pequena e
brava cientista.

Como ele sabia que eu era uma cientista? Ou melhor,


estudava para ser uma?

Botei a alavanca do câmbio na primeira marcha e,


lentamente, saí do estacionamento. O braço do portão
automático levantou para nos deixar passar e eu desejei que
houvesse os antigos guardas de segurança em vez do controle
no meu painel de controle.

Tantos pensamentos giravam na minha cabeça... Eu


poderia bater em uma árvore e esperar escapar. Isso seria
uma possibilidade, se não me matasse. Ou se eu fosse até o
limite de velocidade, talvez nós passássemos por um policial e
fossemos parados. Ou eu poderia…

— Você é linda. — Sua voz profunda fez com que eu


saltasse e o carro desse uma guinada para frente. — Mas
quando você está contemplando fugir, é bastante... adorável.
Adorável? Eu nem sequer pensei que a palavra estivesse
em seu vocabulário.

— O que você quer com o meu pai?

— Você não está preocupada com o que eu quero com


você?

— Não. — Estava, mas ele era tão arrogante que eu não


tinha a intenção de dar-lhe a satisfação de saber que estava
completamente aterrorizada exatamente com ele.

Eu peguei o seu reflexo no espelho e ele sorriu. Por um


breve segundo, um lampejo de alívio me aqueceu, porque seu
sorriso era hipnotizante. Não era mau ou malicioso,
simplesmente tinha um olhar envolvente. E isso era porque
ele parecia mais perigoso — porque ele estava enganando.

— E você já ouviu o suficiente para saber o que eu


quero. Você é inteligente, London. Talvez até muito inteligente
para o seu próprio bem. E, eu entendo que você está prestes
a se formar com todas as honras em farmacologia e
toxicologia. Impressionante. Seguindo os passos de seu pai.
Eu aconselho a não seguir muito longe.

Seja lá o que porra isso significasse.

Olhei para o meu velocímetro, pressionando lentamente


o acelerador que agora já estava indo vinte acima do limite de
velocidade. Necessitava mantê-lo falando para que ele não
percebesse o quão rápido estávamos indo.

— Eu vou me atrasar para a aula.


— As suas aulas são durante o dia.

Eu endureci. Como ele sabe disso?

— É uma aula de ioga.

Ele riu.

— Você não faz ioga.

Porra. Quem era esse cara?

— Bem, eu não fazia, mas agora eu faço. — Claro que


isso era uma mentira, porque eu mal podia tocar os dedos
dos pés sem ter a mente se transformando em um pretzel.

— Mmm, eu acredito que você está mentindo, mas vou


deixar passar... por agora. — Ele se moveu e foi rápido, ágil
como uma pantera elegante. Mortal. Ele tinha as mãos sobre
os meus ombros, apertando, mas não era doloroso. —
Devagar, diminua e tome a estrada de terra lá na frente à sua
direita.

Estrada? Não era uma estrada, mais como uma divisão


de árvores que levava para a floresta. Tudo o que eu podia
imaginar era o meu corpo sendo encontrado no meio do nada,
dilacerado por animais selvagens. Eu não estava pronta para
morrer. Não iria. Posso não ser uma lutadora, mas com
certeza vou lutar com tudo que eu tenho para sobreviver.

— Você que vai me matar?

Ele suspirou.
— Você está deixando sua imaginação brincar com você.
Eu não tenho nenhuma intenção de ferir você — a menos que
você me machuque em primeiro lugar.

Eu interiormente bufei com o pensamento. Não poderia


imaginar alguém sendo capaz de ferir este homem.

Fiz como que ele instruiu e o carro saltou quando se


arrastou pelo trajeto arborizado até que eu vi outro carro
estacionado em frente.

— Estacione atrás dele, em seguida, me dê as chaves.

Assim que estacionei, ele saiu do banco de trás, mas


não fechou a porta e eu sabia o porquê, então não o olhei.
Não que isso fosse detê-lo por muito tempo já que ele tinha as
chaves.

Porém, eu tinha meu celular. Rapidamente o procurei


quando ele educadamente abriu a minha porta como se fosse
meu encontro.

— Fora. — Ele estendeu a mão para ajudar, mas ignorei.


Ele pegou minha mão de qualquer maneira, seus dedos
envolvendo o meu pulso.

Quando me levantei, quase entrei em colapso, porque


minhas pernas tremiam muito. Ele deve ter notado, porque
ele inclinou-me contra o carro.

— Jogue o celular de volta para o carro.


Eu cerrei os dentes, fiz o que ele ordenou e ele fechou a
porta.

— Não se mova, — disse ele.

Ele caminhou até seu carro, seu terno caro fazendo-o


parecer completamente fora de lugar no meio do bosque.
Olhei para a rua e me perguntei se poderia correr antes que
ele me pegasse. Ele estava usando sapatos sociais e eu estava
com meus tênis de corrida.

Eu poderia correr.

— Minha faca é mais rápida do que você, — disse ele,


sem sequer olhar para mim por cima do ombro.

Merda.

Ele abriu a porta do carro, inclinou-se e colocou a mão


dentro. Eu esperava que ele puxasse uma arma, mas em vez
disso, ele pegou outro telefone celular. Ele tinha um no bolso
que esteve enviando mensagens no meu carro. Tocou a tela E
colocou-o ao ouvido.

— Ele quer dois meses. — E caminhou lentamente em


minha direção. A cada passo mais perto, meu coração batia
mais rápido. — Sei o que tenho que fazer. — Ele parou na
minha frente e isso fez a minha respiração acelerar enquanto
eu olhava para ele.

Deus, não houve um lampejo de incerteza nele. Era


como se o mundo funcionasse à sua vontade. Ele o possuía.
Possuía-me. Possuía meu pai. Possuía o chão
ensanguentado.

Ele ficou a centímetros de distância, seus olhos presos


nos meus enquanto ouvia quem estava do outro lado. Eu não
podia ouvir o que estava sendo dito e sua expressão
indiferente não conseguia demonstrar se ele estava satisfeito
ou chateado com as suas palavras.

— Eu a tenho, — disse ele em um tom abrupto, seus


olhos escurecendo. — Eu vou lidar com a situação como
sempre faço. — Ele endureceu e sua mandíbula apertou.

Lambi meus lábios secos, recusando-me a olhar, mas os


nervos do meu corpo provocaram uma antecipação. Do que,
eu não tinha certeza, ainda. E acho que era essa a sua
intenção.

Ele estendeu a mão e antes que eu pudesse me mover, a


mão curvou em torno da parte de trás do meu pescoço, me
arrastando para mais perto. Fiquei tensa quando as faíscas
de alerta se transformaram em labaredas de emergência e
meu peito subia e descia de forma irregular.

Ele, então, zombou ao telefone dizendo:

— Ele vai receber a mensagem.

Seus dedos apertaram quando tentei voltar e estremeci


sob a pressão. O olhar em seus olhos mudou para diversão
novamente, quando seu duro e musculoso corpo fechou o
espaço entre nós.
Ele me irritou e eu não me importo se ele tentar me
matar, eu ia correr. Levantei meu cotovelo e bati com o braço
tão forte quanto podia, desalojando seu aperto no meu
pescoço. Abaixei e mergulhei por debaixo do seu braço.

Ele me seguiu, seus dedos agarrando a manga da minha


camisa. O material cedeu com a pressão e rasgou, mas eu
estava livre.

Corri em direção à estrada.

Meu coração disparou no peito e tropecei em meus pés


trêmulos. Eu não era uma corredora, mas a minha vida agora
dependia disso.

O som de seus passos me perseguindo era algo que eu


nunca esqueceria. A minha vida foi passando diante de mim.
A chocante realidade de que ele iria me machucar me
sufocava. Que eu poderia morrer. Esperei a dor de sua faca
me derrubar. Esperei por seu corpo me prender no chão. Eu
me recusei a esperar e virar mais uma estatística. Uma
garota que não correu, que não lutou.

Ele estava bem atrás de mim.

Oh Deus.

Seus passos estavam mais perto e eu podia ouvir a sua


respiração.

Mais próximo.
Sufoquei um grito quando seu braço enganchou na
minha cintura.

— Não. Deixe-me ir! — gritei quando minhas pernas


continuaram a se mover, mesmo depois dele facilmente me
arrancar do chão.

Seu braço apertava enquanto seus lábios encontraram


meu ouvido:

— Agora, eu respeito você.

O quê? Esse cara era fodido? Eu chutei para trás e pela


primeira vez, desejei estar em saltos altos quando meu tênis
bateu em seu joelho durante a minha corrida. Ele não
recuou, mas me fez deslizar pelo seu corpo até que eu fosse
capaz de ficar de pé novamente.

— Eu não dou a mínima, idiota. — Pisei no pé dele tão


forte quanto podia, então, empurrei meu cotovelo novamente
nas suas costelas, mas ele me abraçou tão forte que não tive
qualquer chance de me mexer.

— Eu gosto de você. Mas então, eu já sabia disso.

— Bem, eu não gosto de você.

Ele riu.

— Não quero que você goste. Isso seria perigoso para


nós dois. Além disso, minha vantagem iria diminuir
ligeiramente se você gostasse.

Ele era um bastardo.


Com o peito duro pressionado contra mim, me guiou
para o carro. Ele foi gentil quando me empurrou para o lado
dele, e então inclinou-se para pegar o telefone que tinha,
obviamente, caído quando eu corri.

A água pingava do dispositivo e mordi o lábio quando vi


a poça rasa por onde passamos.

Ele o limpou nas calças, brincando um segundo, depois


suspirou. Abriu o apoio e pegou o cartão SIM, deixou cair o
telefone no chão e esmagou-o com o calcanhar. O plástico
rachou com a força.

Olhei para o lado. Talvez pudesse fugir pela floresta. Eu


era menor e...

— Fuja novamente e respeitando ou não, a minha faca


vai ser a única a persegui-la da próxima vez. — Ele chutou o
telefone para o mato. — E nunca perco o meu alvo.

Eu levantei meu queixo e cruzei os braços sobre o peito.

— O que você quer comigo? — Eu hesitei, em seguida,


acrescentei, — Kai.

Ele sorriu quando eu disse o seu nome. Era um sorriso


formado lento, como se estivesse satisfeito comigo.

— Eu não quero nada de você. — Ele parou como se


esperasse que eu fizesse alguma coisa. Eu não fiz. — Se você
cooperar, é claro.
— Por que você está fazendo isso? Por que você está
ameaçando meu pai?

— Quanto menos você souber, melhor. Mantenha-se


viva. — Juro que meu coração foi para a boca do meu
estômago. — E eu prefiro você viva.

— Por que? Você, obviamente, me trouxe aqui por uma


razão.

— Eu trouxe.

— Você vai me dizer? —O medo catapultou para outro


nível enquanto esperava que ele me dissesse, ou não. De
qualquer maneira, não era bom.

— Eu fui colocado em uma posição difícil. — Será que


me importo? Bem, eu me importava se isso significasse que
ele tinha que me matar. — Eu queria mantê-la longe disso, é
claro, mas seu pai tornou isso impossível.

— Se ele diz que precisa de mais tempo para o que ele


está fazendo para você, então precisa. Meu pai não mente.

— Nunca disse que ele estava mentindo.

— Então, por que não lhe dá mais tempo?

Ele deu de ombros.

— Não sou eu que decido. — Então, como se algo viesse


a ele, um flash de diversão atingiu os seus olhos. — Talvez,
você possa ajudá-lo.
— Eu? — Provavelmente sabia o suficiente, mas não
tinha a intenção de ajudar em qualquer droga ilegal que meu
pai estivesse fazendo. E estava, maldição, bastante certa de
que era ilegal e era por isso que ele nunca mencionou isso
para mim — por anos. — Não sou experiente o suficiente.

— Oh, eu acho que você é, London. — Minha respiração


engatou quando ele se aproximou, para ficar muito próximo
de mim. Deus, ele parecia tão confiante. O que mais me
irritou era que ele estava certo. Eu faria qualquer coisa para
ajudar o meu pai. — E se ele não tiver algo pronto para nós
em uma semana, haverá consequências.

Eu endureci.

— Que tipo de consequências?

— Se eu lhe dissesse, então só teria tempo para se


preparar, para consequências... desagradáveis.

Puta merda. Que porra é essa? Quem era esse cara?

— Você vai matá-lo? — Meu estômago embrulhou


quando eu disse as palavras.

Ele me olhou por um segundo, não dizendo nada e


prendi a respiração à espera de sua resposta.

— Essa decisão não é minha.

Eu não tinha tanta certeza sobre isso. Kai parecia ser o


tipo de cara que fazia tudo o que queria.
Eu ligaria para a polícia no segundo que ele me
deixasse. Eu não me importava com o que ele me ameaçava.
Ele não poderia ir longe com isso. Quem quer que fosse para
quem ele trabalhava, a polícia poderia lidar com isso e meu
pai e eu poderíamos ir para custódia protetora ou algo assim.

A brisa quente tocava seus escuros e grossos cabelos


fazendo os fios caírem na frente de seu olho direito. Ele não
se incomodou em afastá-los quando seus olhos se focaram
em mim.

— Eu posso ver sua mente brilhante trabalhando para


tentar chegar a algo, mas não há nada que você possa fazer
aqui. Se você decidir que ir para as autoridades, é uma sábia
escolha, ou, por todos os outros meios. Exceto que sei que
isso tudo vai evoluir para algo que você e seu pai não vão
gostar. Consequências, London... E não há nenhum lugar
que você possa se esconder onde você não possa ser
encontrada. — Ele suspirou. — Eu prefiro que isto termine
muito bem para você.

Minhas unhas se enrolaram em minha blusa tão forte


que senti uma lágrima. Acreditei nele. Acreditei em cada
aterrorizante palavra da sua boca. Mas eu tinha que ajudar
meu pai. Ele era tudo o que eu tinha. Nenhum outro parente.
Não tinha amigos próximos, desde que tudo o que fiz foi focar
na escola. Tive a minha babá, Lila, que viveu com a gente
depois que minha mãe morreu até que eu fiz dezoito anos.
Lila não fui muito comunicativa com seu inglês pobre. Mas
ela adorava cozinhar e me deixava fazer o que eu quisesse,
que era passar o tempo com minha cabeça enterrada em
meus livros. Quando fiz dezoito anos e comecei a
universidade, ela voltou para sua casa na Suécia e eu nunca
mais ouvi falar dela.

— O que você vai querer para ajudá-lo? — O homem


tinha que querer algo mais.

— Nada.

— Por que merda você me sequestrou? Só para me dizer


que não posso fazer nada? Por que me trazer no meio do
nada?

— Eu sabia que a polícia teria sido a segunda ligação


que você faria depois de seu pai. Como disse, você não está
fazendo uma boa escolha e precisava ser avisada disso. Além
disso, isto não é um sequestro, apenas uma reunião de
negócios.

Eu bufei.

Ele riu, o verde em seus olhos parecia com uma


iluminação suave quando rugas apareceram ao redor deles.
Eu estava apostando que ele seria um daqueles caras que se
tornam mais atraentes com a idade, se isso fosse possível; ele
já estava muito atraente, infelizmente.

Todo riso deixou seu rosto.

— Tenha cuidado, London. Você é um peão em um jogo


perigoso e pode acabar ferida. E quando digo ferida, é além de
qualquer coisa que você jamais imaginou.
— Então, por que não me mata agora? — Eu gritei.

— Eu disse a você, eu prefiro que você viva.

— O que eu devo fazer, porra?

— Nada. Você não precisa fazer nada, London. Essa é a


questão. Você não fala disso para ninguém, incluindo seu
pai, ou isso não vai acabar bem. Preciso que você fique o
mais longe que você puder. — Ele jogou as chaves do meu
carro para mim e disse: — Não posso protegê-la se você não
seguir as regras.

Me proteger? Do que ele estava falando? E por que


merda ele iria querer me proteger?

Ele virou, caminhou até seu carro e entrou. Em nenhum


momento olhou para trás. Eu poderia ter uma arma em meu
carro—coisa que nunca teria, por ser altamente ilegal — e
atirado nele pelas costas. Era como se ele não se importasse.

Independentemente disso, eu não era uma assassina.


Nunca segurei uma arma, nunca ameacei ninguém e nunca o
faria. Minha vida toda foi sobre o estudo da ciência, a fim de
ajudar as pessoas. Para salvar vidas. Oferecia-me como
voluntária em um dos abrigos, pelo menos uma vez por
semana. Eu mesma comecei a conhecer alguns dos menos
afortunados, aqueles que, como Ernie, via todos os dias perto
do meu prédio.

Tinha que haver algo que eu pudesse fazer para ajudar


meu pai. Eles que temiam que ele não fosse terminar o que
quer que estivesse trabalhando? Por que não lhe dar os dois
meses que necessitava? E o que aconteceria quando ele
terminasse? Será que eles o matariam, porque já tinham o
que queriam?

Seu carro ligou e eu tive segundos para decidir se o que


eu estava pensando era uma boa ideia. Mas era tudo que eu
tinha. Deus, sabia que nada de bom poderia vir do que estava
prestes a fazer, mas a vida do meu pai estava em jogo e eu
faria qualquer coisa para ajudá-lo. E, apesar do que Kai
disse, acho que ele poderia tomar decisões, se assim
decidisse.

O carro começou a vir em minha direção e eu pisei na


frente dele. Eu quase pulei para fora do caminho quando ele
não parou em primeiro lugar e, no último segundo, pisou no
freio. O para-choque levemente bateu em minhas coxas me
fazendo recuar um passo.

O para-brisa dianteiro refletia a sombra das árvores


frondosas, mas peguei um vislumbre do estreitar de seus
penetrantes olhos verdes.

Dei um passo para trás quando ele saiu do carro e


fechou a porta — com força. Dei um passo para trás, de novo,
enquanto ele caminhava em minha direção até que estivesse
a centímetros de mim.

Ele não estava me tocando, mas, com certeza, senti


como se estivesse. Recuei um pouco mais quando ele disse:
— Você quer ser corajosa e então, seja corajosa. Não
apenas me irrite.

Jesus. Um calor inundou meu rosto com suas palavras


duras. Engoli em seco, minha garganta apertou enquanto
tentava chegar às próximas palavras.

— Eu acho que você pode tomar a decisão de lhe dar


mais tempo.

Ele não disse nada.

Eu engoli o caroço na minha garganta.

— Se você está preocupado que ele não vá terminar o


que está fazendo para você ou que vá fugir, então me leve. Me
prenda até que ele termine, então você nos deixará.

Arregalando os olhos e levantando as sobrancelhas, ele


pareceu surpreso e não importava o que eu tivesse acabado
de negociar, isso me agradou. Então, qualquer quantidade de
confiança que eu tivesse foi lavada quando ele riu. Sua
cabeça inclinou para trás e o som rouco ecoou na floresta
isolada. Pássaros fugiram da copa das árvores e não os
culpei. Eu gostaria de voar para longe.

— O que faz você pensar que quero lhe comer? Ou que


você valha a pena.

Era como se ele me batesse no estômago com um taco


de beisebol.
— Deus, isso... não é isso que eu quis dizer... apenas
significava manter-me... até que ele termine.

— Eu sei exatamente o que você quis dizer, — ele falou


com um sorriso brincalhão.

A raiva cobriu qualquer sensibilidade que poderia ter


quando levantei minha mão e lhe dei um tapa. Ele não
revidou. Nem mesmo um movimento da cabeça com o
impacto. Mas seus olhos se estreitaram e os lábios se
apertaram.

— Você é um idiota. Você gosta de assustar as


mulheres? Trazê-las para a floresta pensando que elas vão
ser estupradas e assassinadas? Você é nojento. — Levantei
meu braço para bater novo e ele agarrou meu pulso antes
que fizesse contato.

— Pare de fingir ser corajosa, London. Deixarei você ir,


com o aviso de que meus colegas querem algo muito
diferente. Não me faça me arrepender da minha decisão.

Meu sangue disparou por minhas veias quando os


nossos olhares se encontraram.

— Então, você pode dar-lhe mais tempo se você quiser?

Ele não disse nada, olhando diretamente para mim. Eu


estava tentando ser corajosa. Deus, eu nunca fui mais
corajosa do que era naquele momento, mas ainda estava
apavorada.
— Não machuque o meu pai. Por favor. Você pode ter-
me...— Rapidamente fechei meus olhos enquanto continuava,
— da maneira que você quiser.

Seu aperto afrouxou no meu pulso, mas ele não me


soltou.

— Não como mulheres relutantes.

Eu endureci.

— Eu estaria disposta. Eu estou disposta.

Ele se moveu rápido quando me agarrou pelos ombros,


me girando e empurrou para trás alguns passos até minhas
pernas atingirem o para-choque. Caí para trás deitada sobre
o capô do carro. Eu apoiei-me nos cotovelos para levantar,
mas quando consegui, ele se inclinou sobre mim, com as
mãos em ambos os lados da minha cabeça.

— Você está? Porque eu acho que você poderia dizer ou


fazer qualquer coisa para protegê-lo. Isso não é estar
disposta. Isso é simplesmente estúpido.

Fiquei espantada com as suas palavras porque vi sua


expressão — desejo.

Minha palma pinicava pra caralho, do tapa e ainda


assim eu queria machucá-lo novamente. Mas duvidava que
esse homem jamais pudesse ser ferido.

— Se você me der tempo, posso conseguir dinheiro, ao


invés. — Eu tinha um fundo fiduciário, da minha mãe, mas
precisaria de alguns dias para obter acesso à quantidade de
dinheiro que ele iria querer.

— Não precisamos de dinheiro.

— O que você precisa, então? Tem de haver alguma


coisa.

Eu o ouvi xingar baixinho e o som frustrado não


combinava com ele. Ele mudou seu peso para um braço,
então, levantou o outro e sua mão veio para o meu rosto. Eu
fiquei tensa, mas não me movi. Ele acariciou um dedo
lentamente sobre os meus lábios entreabertos.

— Estar comigo... você não sabe o que está negociando.

Não sabia, mas dormir com este homem era um


sacrifício que eu estava disposta a fazer.

— Estou plenamente consciente do que estou


barganhando.

Ele fez uma pausa, me olhando para avaliar.

— Vou considerar a sua proposta.

Eu respirava freneticamente quando a realidade do que


eu estava fazendo me atingiu. Era como se não pudesse
encontrar ar suficiente.

— E então você não vai machucá-lo? Mesmo depois que


ele lhe der o que você quer?
— Não. Eu só vou machucar você, London. — Seu tom
estava atado com diversão, como se ele estivesse brincando,
mas havia verdade no que disse. Porque o que eu ofereci iria
me machucar. Mas eu me recuperaria. Iria esquecer. O que
eu nunca perdoaria seria ir embora e não fazer nada.

— Você pode se afastar agora?

Ele não se moveu. Desci meus cotovelos para


permanecer deitada sobre o capô do carro, coloquei minhas
mãos em seu peito e empurrei ao mesmo tempo que levantei
meu joelho e tentei pegá-lo nas bolas. Falhei.

— Eu não posso respirar, droga. Sai fora.

— Você correu de mim, me deu um tapa e tentou me dar


uma joelhada nas bolas. Matei por muito menos. Eu não sou
um bom homem, London. É melhor para você entender isso
agora.

Eu não tinha dúvida de que ele era implacável.

— Me machuque se é isso que você quer.

Ele riu e eu senti o estrondo de seu peito contra o meu.

— Você é extraordinária. E não, eu nunca vou querer lhe


machucar... — Ele fez uma pausa, como se tivesse todo o
tempo do mundo. — London.

Novamente, a maneira como ele disse meu nome causou


uma onda de familiaridade em mim e não era medo que senti,
mas proteção. Como isso era possível?
Minhas mãos pressionavam sua camisa e eu senti os
contornos rígidos de seus músculos por baixo do material.
Mas havia muito mais do que seus músculos rígidos sob meu
toque. Havia linhas em relevo, como equimoses ou talvez
cicatrizes.

— Nunca vou mentir para você, London. E não quero


que você me tema. — Seu aperto diminuiu quando parei de
empurrar seu peito, mas em vez de mover a mão, seu polegar
acariciou casualmente sobre a fissura no meu queixo.

Eu não o entendo. Por que ele se importa? Ele fala como


se me conhecesse intimamente... Por que eu sinto como se
tudo o que ele dissesse fosse verdade?

— Bem, você está fazendo um mau trabalho de me


convencer disso.

Ele suspirou.

— Talvez seja melhor assim. — Ele acariciou com um


dedo a minha bochecha.

Fechei os olhos, incapaz de assistir a satisfação em seus


olhos quando disse as palavras para tentar negociar.

— Uma noite e você lhe dará os dois meses que ele


precisa e prometerá que não vai machucá-lo.

— Dificilmente parece ser um acordo justo, — disse ele.

Eu olhei para ele e encontrei seus olhos que riam com


um clarão.
— Eu valho a pena.

Ele sorriu.

— Eu decido isso.

Jesus. No que merda eu estava pensando? Ele estava


brincando comigo e não ia aceitar qualquer acordo.

— Me solta. — Lutei quando ele segurou meu queixo,


com seus dedos.

— Shh, estou apenas brincando. — Seu aperto diminuiu


quando me acalmei, mas suas sobrancelhas arquearam sobre
seus olhos, toda a diversão havia ido. — Uma semana. E ele
vai ter os seus dois meses.

— E você não vai machucá-lo.

— Ele não vai ser prejudicado. — Ele fez uma pausa,


franzindo a testa. — Mas vamos ser claros aqui. A decisão é
sua.

Oh, Deus. Como eu poderia estar com este homem


quando ele estava ameaçando meu pai? Talvez devesse tê-lo
deixado no carro. Como é que eu iria saber se o que ele disse
era verdade? Eu não tinha nada, exceto a sua palavra.

Mas havia algo mais em Kai. Eu não poderia ver, mas


era a mesma sensação que tive quando cheirei a primeira vez
a colônia dele enquanto estava no armário.

— Como vou saber que você está dizendo a verdade e


não nos matará?
Ele se inclinou para frente até que sua boca estivesse
tão perto da minha que eu poderia provar o cheiro dele na
ponta da minha língua. Um perfume que reconheci de uma
noite que eu tinha quase morrido.

— Sempre virei para você, Coração Valente. — ele


sussurrou.

Engoli em seco, arregalando os olhos, apertando os


dedos em sua camisa, com o coração acelerado. Meu Deus.
Meu Deus. Era ele. Ele me chamava assim.

Era como se minha mente estivesse em retrocesso e a


memória veio girando. Eu estava deitada na fria e úmida
grama, tossindo e sugando golfadas de ar fresco. Minha
mente estava nevoada, a visão ainda embaçada, enquanto
lutava para respirar. A sombra de um homem se inclinou
sobre mim quando ele tirou meu cabelo do meu rosto com a
ponta de seu dedo. Meus olhos esvoaçavam abertos por um
breve segundo, mas tudo estava nebuloso e escuro.

Era ele.

Olhei para Kai, com a minha boca aberta.

— Era você. — Ele fez uma careta e começou a recuar,


mas os meus dedos seguraram sua camisa. — Foi você
naquela noite. Você me tirou do fogo.

Ele agarrou meus pulsos e apertou, com tanta força que


fui forçada a soltar sua camisa. Ele se afastou de mim.

Apressei-me a ficar em pé.


— Você me chamou de Coração Valente. Eu me lembro.
— O cheiro de sua colônia. O som de sua voz. Mas ele me
chamar de Coração Valente desencadeou a conexão. —Você
disse… Meu Deus, você disse que sempre viria por mim. — O
que ele quis dizer? Vinha para mim quando? Por quê?

Minha mente se descontrolou quando a memória


continuou a se repetir. O fogo estava por toda casa que
compartilhei com os outros cinco estudantes durante meu
segundo ano de universidade. Foi considerado um acidente,
fiação com defeitos em uma casa velha. Todos nós
escapamos, exceto que eu deveria estar morta. Eu desmaiei
com toda fumaça em meu quarto no andar de cima. Tudo que
lembro foi acordar na grama do vizinho com um homem de
joelhos ao meu lado. Estava escuro como breu e eu não podia
ver seu rosto, mas lembrei-me do cheiro de seu perfume
misturado com a fumaça. E das suas palavras quando disse:

— Eu sempre virei para você, Coração Valente.

Achei que tivesse imaginado. O cheiro. Aquelas palavras.

Sonhei com essas palavras durante meses. Sonhei com


este homem — Kai. Santo Jesus.

Olhei para ele com meu coração disparado, as emoções


faiscando em todas as direções. Ele me aterrorizava,
ameaçando meu pai e ainda não era um bom homem... ele
era. Ele salvou minha vida. Por que ele faria isso? Por que ele
me ajudou?

— Eu não entendo.
— Não há nada para entender. Vá para casa, London. —
O ar em torno dele era perigoso, como se no momento em que
eu me aproximasse não haveria o suficiente para escapar dele
e do que ele quisesse.

Ele caminhou de volta para a porta do motorista e


abriu-a, em sua forma elegante e à vontade, novamente.
Casualmente, tirou o paletó e o jogou dentro de seu carro.

— Aconselho manter o nosso pequeno acordo de seu pai


e da polícia. Entrarei em contato.

— Nosso... o nosso acordo?

Ele não se virou quando ele disse:

— Qualquer coisa para você, Coração Valente. — Ele


inclinou seu corpo para dentro do carro de luxo e fechou a
porta indo embora, enquanto eu ficava ao lado do caminho.

Assisti até o carro virar para a estrada e desaparecer


antes de eu entrar no meu carro e encontrar o meu celular
entre o console e o banco. Digitei minha senha e liguei para a
polícia, com o número de sua placa gravado na minha
cabeça.

— Nove, um, um. Qual é a sua emergência? Olá?

Merda.

— Desculpe, bati o botão de emergência por engano.

E desliguei.
London

Levantei-me, um lençol verde pálido caiu sobre meus


ombros e o enrolei na minha cintura. Meu coração acelerou e
minha pele estava vermelha, vívida do sonho — com ele. Kai.

Três noites.

Três noites assombradas por sonhos com ele. Às vezes,


ele estava me segurando, gentil e doce e outras vezes, era
aterrorizante, enquanto segurava uma faca na minha
garganta. Havia partes de mim que acreditava que Kai me
salvou do fogo porque havia algo de bom nele. Que ele não
iria prejudicar meu pai ou a mim. Que talvez Kai não fosse
tão mau como eu pensava.

— Jesus. Estou enlouquecendo. — O que eu estava


pensando? Ele tinha uma faca, a segurou na minha garganta.
Ele trabalhava para pessoas que eram obviamente perigosas.

E ele não entrou em contato por três dias. Eu estava


preocupada que ele decidisse cancelar o acordo. O que então?
O que aconteceria com o meu pai?
Liguei para o meu pai várias vezes ao dia, tentando
parecer normal, mas por dentro eu estava apavorava. Kai deu
a ele uma semana, como se ele tivesse decidido não aceitar
minha proposta. Isso significava que meu pai estaria seguro
por mais quatro dias. Mas isso não impedia a minha
ansiedade. Em todos os lugares que eu ia, sempre olhava por
cima do ombro, me perguntando se Kai estava atrás de mim
ao virar da esquina ou se estava me observando.

Deus, eu estava ficando louca.

Lá fora estava escuro, mas a luz da lua filtrava através


das cortinas brancas do meu loft. Era um apartamento com
conceito aberto, com pé direito de quinze metros, colunas
expostas, paredes de tijolos e sem repartições, exceto para o
banheiro. Meu pai insistiu que eu morasse em um prédio
seguro, mais novo, depois do incêndio, assim, comprei o loft,
que era a uma curta distância da escola. Um investimento,
ele disse. Tinha discutido que era demais mesmo que ele
tivesse o dinheiro. Ele destacou o fato de que eu tinha uma
bolsa por todo meu trabalho árduo na escola e ele não havia
pago pela minha universidade.

E eu amava o meu loft. Ele era próximo à escola, de seis


andares, um edifício pequeno, com guardas de segurança e
tranquilo, para que eu pudesse estudar.

Não querendo voltar a dormir e escorregar em outro


sonho com Kai, deslizei minhas pernas para o lado da cama
querendo me levantar mas foi quando me bateu. Sua colônia.
O cheiro que eu nunca esqueceria. Nunca. Ele vivia no meu
interior, se eu quisesse ou não. Agora que ele estava ligado a
Kai, tornou-se muito mais poderoso.

E pairava no ar.

Eu rapidamente acendi a luz de cabeceira e me levantei,


deixando os lençóis caírem. Vestia meu bermudão habitual e
uma camiseta rosa de alcinhas, mas de repente me senti...
exposta.

Numerosas emoções me inundaram, todas de uma vez.


O medo tomou a liderança, em segundo estava o fato de que
meu corpo estava muito consciente dele. Depois de três
noites de sonhos com ele, pensando nele, a conscientização
amplificou.

Saí do deck de onde minha cama ficava empoleirada e a


madeira rangeu sob os meus pés descalços. O som ecoou no
silêncio e tremi quando meus olhos percorreram meu loft.

Ele esteve aqui e saído? Mas como ele poderia entrar no


meu apartamento?

Escutei o movimento enquanto meu olhar procurava nas


sombras. Meu pulso acelerou sob a fina camada de pele em
meus pulsos e garganta, enquanto eu esperava o momento
em que o visse.

Mas não havia sinal dele e o único som era o bonde


guinchando sobre as ruas lá fora, vindo da minha janela
aberta.
Entrei na cozinha e meu coração finalmente voltou a um
ritmo calmo. Enfiei a mão no armário, tirei um copo, e
coloquei-o sobre o balcão. Talvez o stress estivesse me
fazendo imaginar coisas. Eu estava no sexto andar e
tínhamos segurança. Não havia nenhuma chance de que ele
pudesse entrar no meu prédio sem me conhecer.

Ri para mim mesma, abri a geladeira e a luz estridente


piscou uma vez antes de ser ligada. Inclinei-me e arrastei os
recipientes para o lado até que encontrei o suco de laranja.
Peguei-o, dei um passo atrás e fui fechar a geladeira com o
meu pé quando mãos se estabeleceram em meus quadris.

Gritei, a caixa de suco deslizou da minha mão e caiu no


chão. O líquido laranja salpicou a geladeira de aço inoxidável
e caiu aos meus pés.

Meu pulso e meus nervos aceleraram. Seu aroma se


ampliou cem vezes mais quando ele ficou diretamente atrás
de mim. A respiração dele era uma carícia quente contra a
parte de trás do meu pescoço. Meu corpo se arrepiou.

— Kai.

— Mmm, — ele murmurou junto ao meu ouvido. — Você


estava esperando outra pessoa?

A geladeira fechou, apagando a luz.

— Não.

— É bom ouvir isso. — Seu aperto aumentou em meus


quadris e minha respiração engatou quando um de seus
dedos deslizou sob o elástico da minha boxers e fez contato
com minha pele.

Puta merda. Parei de respirar. Por que sinto alguma


coisa? Não, não era apenas algo. Era o meu corpo reagindo ao
seu toque, gostando de seu toque.

Engoli em seco.

— Meu pai? Você vai dar-lhe o tempo que ele precisa?

— Sim.

— E você não vai machucá-lo, mesmo depois de ele


entregar no que está trabalhando para você?

— Ele não vai ser prejudicado.

— Como sei que você está dizendo a verdade? — Porque


a realidade era, Kai poderia me dizer qualquer coisa que ele
quisesse e tudo poderia ser uma mentira.

— Eu disse a você que nunca mentiria. Pelo menos não


para você. — Seu dedo acariciou e foi para trás sobre a
pequena polegada de pele que estava exposta ao seu toque.

— Acho que você dirá tudo o que precisar para


conseguir o que quer.

Seu peito vibrou contra minhas costas quando ele riu e


o som escorria através de mim como uma cachoeira aquecida.
— Verdade. Mas com você... apenas a verdade. — Sua
voz baixou. — Infelizmente, nem sempre você vai gostar do
que ouvirá, Coração Valente.

Eu fiquei tensa, a cachoeira aquecida se foi.

— E por que tenho a sorte de ser agraciada com a sua


honestidade? Você não me conhece. — Mas talvez ele
conhecesse? Eu não tinha ideia do quanto Kai sabia sobre
mim e ele salvou a minha vida. Ele esteve na minha casa
naquela noite. De alguma maneira, entrou pelo segundo
andar de uma casa em chamas e me fez sair. Não importa o
quão perigoso fosse, esse homem arriscou a própria vida para
salvar a minha. E isso me fez sentir... segura em seus braços.
Me fez sentir protegida.

Era uma contradição. Ele era uma contradição.

Ele me empurrou para frente e as minhas palmas das


mãos foram para a porta fria e lisa da geladeira, que zumbia.
O suco de laranja gelado envolveu os meus dedos dos pés e
havia uma viscosidade leve nas minhas pernas, que tremiam.

— Oh, mas eu a conheço.

— Você falou comigo uma vez.

— Possivelmente. No entanto, eu a conheço há anos.

Tentei virar, mas suas mãos seguravam fortemente no


meu quadril, ele usou a geladeira e seu corpo para me
impedir de mover.
— Kai? — Minha voz tremeu quando disse o nome dele e
sabia que ele tinha que ter ouvido.

— Shh. — Ele passou as mãos pelos meus braços nus


até que suas mãos enrolaram em torno de meus pulsos.
Então, ele deslizou meus braços para os lados e, acima de
minha cabeça.

— Kai...

Ele pressionou seu corpo no meu, então eu estava entre


a geladeira fria e cantarolando o calor de seu corpo. Isso era
uma sensação estranha, da geladeira vibrando contra minha
frente e seu corpo cheio de desejo atrás de mim.

Puta merda. Mal podia respirar e cada vez que eu o


fazia, meus seios pressionavam dolorosamente na fria
superfície. Minha cabeça foi para o lado, a bochecha contra a
geladeira e tudo que vi dele era a manga da camisa branca
que ele vestia, o punho da manga estava desabotoado e
enrolado uma vez.

— Você quer isso? — Ele perguntou.

Não, gritava minha mente e ainda assim, meu corpo


gritava algo completamente diferente.

— Você quer? — Ele repetiu.

— Eu... eu não sei. — Estava confusa com a reação do


meu corpo à ele. O medo persistia, mas o fogo estava
interligado com outras emoções.
— Se não houvesse o acordo, você iria me querer? Você
me quer? — Ele perguntou lentamente.

Será que sim? Sim. Queria o homem que me segurava


nos braços. Queria o homem que me disse sempre viria para
mim. Eu o queria. Sempre o quis.

— Sim. — sussurrei.

— Bom. Então este é o dia. — ele murmurou contra a


minha nuca, quando seus lábios fizeram contato.

— Por favor. Diga-me... preciso de algo para fazer isso...


ok. — Nada disso estava bem. Eu sabia disso. Este era um
negócio e eu estava negociando meu corpo pela segurança do
meu pai, com um homem que era, obviamente, perigoso.

Era apenas sexo. Isso era tudo.

Mas não importava o que dissesse a mim mesma, eu


sabia que o sexo com Kai era mais do que um ato físico. Senti
isso no momento que meu corpo reagiu e minha mente lutou
contra ele.

Ele sugou o lóbulo da minha orelha e o desejo se


espalhou como fogo.

— Você estará segura comigo. Sempre.

— E se eu não acreditar em você? — Mas a parte fodida


era que acreditava nele.
Ele se afastou um pouco, apenas o suficiente para que
eu não tivesse mais o calor de seu corpo contra mim, mas
ainda estava sentindo sua proximidade.

— Isso, você decide. Mas o seu corpo confia em mim e se


há uma coisa na vida em que você deve confiar, é no seu
corpo.

Kai soltou um dos meus pulsos e empurrando meu


cabelo para o lado do meu pescoço, substituiu o toque de seu
dedo pela boca. Seus lábios se arrastaram em beijos suaves,
leves e quentes sobre a minha pele e um pouco da tensão
deixou meu corpo.

— E se o meu corpo estiver errado? — Eu fechei meus


olhos e fechei as minhas mãos, incapaz de me mover. Com
medo disso. Querendo isso.

— Seu corpo não sabe como ser errado. As únicas


mentiras são aquelas que sua mente alimenta.

— Estou com medo. — admiti.

— Eu vou fazer isso acabar, baby. — Ele se inclinou


sobre mim e com ele veio o calor reconfortante. — Você está
molhada para mim, London? — Ele sussurrou.

— Sim. — Era humilhante. Degradante. Porque eu


estava molhada e era para um homem que estava ameaçando
meu pai. Eu me odiava, mas ele estava certo, meu corpo dizia
a verdade.
— Então você não tem nada a temer. — Ele passou a
mão pelo meu lado, enquanto continuava a beijar
suavemente a base do meu pescoço. — Eu não posso esperar
para prová-la. A sua umidade sedosa na ponta da minha
língua, o seu doce aroma quando eu lamber sua boceta.

— Jesus. — Eu não queria dizer isso em voz alta, mas


era erótico. Nunca tive alguém falando assim comigo. Minha
barriga embrulhou e o aperto entre as minhas coxas doía por
causa de suas palavras.

Ele brincou com a parte superior da minha orelha, em


seguida, beijou o local, sua língua circulando antes dos
dentes beliscarem, só para aliviar a dor com a língua
novamente. Ele se moveu para o outro ombro e fez a mesma
coisa.

A outra mão estava espalmada sobre o meu abdômen, o


desejo passou por mim e tive que resistir de ofegar e arquear
em sua direção.

— Não se esconda de mim. Mostre-me o que você está


sentindo.

Eu não podia. Era uma traição de quem eu era. Estava


errado. Eu não deveria desfrutar de qualquer parte disso.

Sua mão deslizou por debaixo da minha camisa e


hesitou apenas abaixo do meu peito, movendo o dedo em um
caminho sob o vinco. Meus mamilos doíam. Eles queimavam
por seu toque. Eu estava queimado por seu toque.
Mas ele não o faria. Ele se moveu para o outro seio e
continuou a trilhar caminhos de calor apenas abaixo do meu
seio. Eu não tinha controle quando me curvei para ele, minha
cabeça caindo para trás sobre seu ombro.

— Oh, Deus, Kai. — Apenas saiu, mas não pude me


conter. Eu precisava dele para acabar com essa tortura. Com
a vibração da geladeira e ele atrás de mim, seu pau
pressionado em mim, suas provocações... O meu corpo
ganhou a batalha.

— Sim. — ele sussurrou. Sua mão segurou meu peito,


estalando os dedos sobre o meu mamilo ereto causando em
meu corpo um estremecer. — É isso aí. Deixe-me ter tudo de
você, London.

Eu fiquei tensa, sacudindo a cabeça e ele imediatamente


beliscou meu mamilo até que gritei.

— Vamos lá. — ele ordenou. A pressão sobre o meu


mamilo aumentou o prazer, doce prazer, quando ele aliviou a
dor com o circular suave.

— Eu preciso de você agora. Preciso afundar meu pau


dentro de você. — Sua mão foi para o elástico da minha
boxer. — E esta é a última noite que você vai vestir roupas
para dormir. — Ele se afastou por um segundo enquanto
puxava minha boxer para baixo. — Levante. — Eu levantei
um pé, depois o outro. Ele foi embora e eu comecei a me
virar, quando ele disse: — Não se mova.
Ele disse isso com um ar causal, outra ordem, ainda
não havia gentileza em seu tom. Independentemente de como
dissesse isso, eu não iria me mover. Olhei por cima do ombro
e o vi abrir o armário abaixo da pia e atirar minha boxer no
lixo.

Ele arqueou as sobrancelhas quando encontrou meus


olhos, como que perguntando se me atreveria a reclamar. Eu
não reclamei.

Notei que ele estava vestindo calça jeans com sua


camisa de botão e isso quase lhe dava um apelo mais sexy. O
terno foi sexy, também, mas isso fez dele mais... acessível, se
isso fosse possível. Sua mão foi para o botão da calça jeans e
ouvi o pop quando ele o desfez.

Vi quando ele abriu o zíper e depois o material se


separou fazendo um V. Merda. Um homem, um sexy homem,
com jeans justos desbotado, bem abaixo dos quadris, era
saboroso. Mas adicionar jeans aberto, era sexy pra caralho e
superava todos os outros níveis de gostosura.

Eu tinha minhas mãos ainda acima da minha cabeça na


geladeira, minha bunda seminua, meu corpo formigando com
antecipação por um sexy e ainda muito assustador homem,
tão perto de mim.

Um homem que eu sabia que era perigoso. Um homem


que poderia ferir meu pai. Um homem que eu não tinha
equívocos que havia matado outro ser humano, em algum
ponto de sua vida. Mas ele também era o homem que me
salvou. Que eu sonhei em me segurar em seus braços. Que
me segurou em seus braços.

— Pare de pensar. Sei que é difícil para uma mente


brilhante como a sua. — Ele sorriu e não pude evitar admirar
a beleza dele quando sorria. Mas eu, definitivamente, não
sentia qualquer brilhantismo da minha parte em jogo quando
se tratava deste homem.

A cada passo em minha direção, seu jeans abria um


pouco mais e peguei um vislumbre da trilha de pelos que iam
até seu pênis. Quando chegou desta vez, ele não pressionou
contra mim. Em vez disso, ele passou as mãos para baixo, de
volta para minha bunda onde apertou.

— Mmm... Perfeita, — ele murmurou.

Eu estive com alguns homens, mas nada foi assim.


Deus, antes só tive relações sexuais no chão e na cama.

Kai deslizou seu dedo para baixo e eu endureci.

— A bunda é virgem. — Foi uma declaração e uma


correta.

Seu dedo circulou minha carne enrugada e sensível. Eu


estava prestes a me mexer, mas ele deve ter sentido meu
desconforto porque ele curvou o braço em volta da minha
cintura, ainda me mantendo.

— Shh, relaxe. Não farei isso até que você esteja pronta.
E você não está pronta. — Ele continuou a acariciar a área
até que lentamente descontraí. — É isso aí. — Ele arrastou
seu dedo para baixo ainda mais para a umidade e, em
seguida, voltou novamente.

Eu gemia. Eu não poderia fazer nada, enquanto ele


brincava comigo, meu corpo precisando de mais, dolorido por
ele.

Descansei minha testa contra a geladeira quando um


tremor passou por mim. Respirei com a necessidade de tê-lo
dentro de mim. Eu me odiava por isso, mas não havia como
voltar atrás. Precisava dele, desesperadamente.

De repente, ele agarrou meus quadris, me virou para


encarar a ilha de granito em frente à geladeira e me
empurrou contra isso.

— Curve-se. Mãos acima da cabeça.

Ele colocou a sua mão atrás do meu pescoço, como se


para se certificar de que seguiria as suas ordens, mas eu não
precisava de orientação quando estava sobre o balcão,
minhas mãos simplesmente chegaram ao lado oposto e
enrolaram sobre a borda.

— Você tem que usar... — Eu parei quando ouvi o


barulho de plástico sendo rasgado. Olhei por cima do meu
ombro e vi que ele botava um preservativo.

Ele olhou para mim, com as sobrancelhas levantadas.

— Eu sempre farei o que for do seu melhor interesse,


London.
Ele se moveu e eu engasguei quando seu pênis deslizou
para frente e para trás na minha umidade. Ele manteve uma
mão no meu pescoço, um aperto firme com os meus cabelos
enrolados em sua mão.

— Eu vou comer você. E quero ouvi-la gritar quando


gozar e eu não vou parar até você fazê-lo. — Ele se inclinou
sobre mim. Eu não podia ver seu rosto, mas senti sua
respiração em meu ouvido quando ele disse, — e eu posso
come-la por um tempo muito longo.

O peso de seu corpo me deixou, mas não seus quadris


quando ele colocou seu pênis na minha entrada. Eu esperava
que ele empurrasse com força dentro de mim, mas foi
dolorosamente lento, palmo a palmo, como se quisesse
saborear a primeira vez que seu pênis deslizava dentro de
mim.

Meu aperto no balcão intensificou e mordi meu lábio


inferior tão forte que senti o gosto de sangue. Era frustrante a
maneira como ele fazia isso tão lentamente e ainda assim era
muito sensual. Sua mão esquerda estava no meu pescoço e
deslizando pelas minhas costas, de frente para meu quadril
onde ele apertava seus braços. Ele estava dentro de mim e
não se movia. Deu-me um minuto para me ajustar ao seu
tamanho e ainda, ao mesmo tempo, eu estava acendendo com
a necessidade. Uma necessidade tão intensa que empurrei de
volta contra ele.
— Ainda não. — Ele apertou os quadris contra mim em
um movimento circular, com seu pau enterrado
profundamente.

— Ainda sim. — eu disse.

Ele riu e colocou a outra mão no meu quadril. Seus


dedos cavaram em minha carne dolorosamente, talvez um
alerta para o que estava por vir.

E era.

Ele retirou-se, em seguida, empurrou de volta em mim,


forte. Uma vez. Ele parou e eu esperei que fizesse novamente,
mas em vez disso, ele girou seus quadris enquanto afundava
profundamente, as mãos me mantendo no lugar.

— Porra, você é tão boa. — Ele deslizou para fora, em


seguida, empurrou para dentro novamente. Meus dedos se
enroscaram em torno da borda da ilha, me mantendo no
lugar enquanto ele empurrava.

Dentro. Fora. Forte. Lento. Suave. Nunca sabendo o que


viria em seguida, até que meu corpo gritava para ele apenas
me comer. Eu latejava. Pulsava. Mas quando gemi, ele puxou
a mão entre mim e o balcão e brincou com meu clitóris.

— Oh, Deus, — eu ofegava. — Kai.

Ele gemeu e empurrou mais rápido, mais forte,


combinando com o dedo se movendo para trás e para frente.
Meu corpo tremia e sacudia até que atingiu o auge.
Então, meu corpo ficou tenso.

Se apertou.

Tremeu.

E eu gritei quando ele me fez gozar, sentindo as ondas


de prazer.

Eu liberei a borda do balcão e esfreguei o meu corpo


para trás sobre a superfície lisa e dura quando ele continuou
a pressão dentro do meu corpo saciado até que ele gemeu,
empurrando forte para mim uma última vez.

Ele parou.

Tudo parou.

Eu estava em silêncio e imóvel, suas mãos já não


seguravam os meus quadris, apenas sua pélvis contra minha
bunda e seu pênis sacudiu algumas vezes, uma vez que
pulsava dentro de mim.

Ele puxou para fora e ouvi o rolar do preservativo


enquanto ele tirava. Então ouvi seus passos diante do
armário abrindo a tampa da lixeira e depois fechando.

Eu me endireitei e fui pegar minha boxer, mas lembrei


que ele jogou fora. Queria correr para o banheiro, mas o
orgulho não me deixou. Eu não estava fugindo de minhas
próprias escolhas. Nunca fiz isso e não iria começar agora.

Eu transei com ele.


Foi parte do acordo.

Eu fiz essa escolha.

— Vá para o chuveiro, London. — Ele se inclinou contra


o balcão, com a calça jeans no lugar, mas o botão de cima
desfeito.

Sua camisa estava enrugada, mas ele ainda parecia


poder sair pela porta e assistir a uma ópera.

Estendi a mão para o pano de prato que pairava sobre a


torneira para limpar o suco de laranja, mas sua mão fechou
no meu pulso.

— Faça o que eu digo.

Minha coluna endureceu e estava prestes a dizer-lhe


para ir se foder quando ele gentilmente retirou o pano de
prato da minha mão.

— Você vai estar aqui... depois?

Seus olhos prenderam os meus e eles eram frios,


diferente de tudo que eu vi nele antes. Arrepiei-me e meu
estômago embrulhou. O medo que foi extinto pela luxúria
reviveu.

Aqueles olhos verdes penetrantes eram os mesmos que


as suas vítimas testemunharam antes de ele as matar...?
Torturar? Eu não sabia. Talvez ambos. Provavelmente,
ambos.

Jesus, eu tive relações sexuais com um assassino.


Ele arqueou as sobrancelhas como se soubesse
exatamente o que estava correndo pela minha mente.

Eu estava ficando doente. Virei-me, corri para o


banheiro e bati a porta.
Ele foi embora no momento em que eu saí do chuveiro.
O suco de laranja foi limpo e minha máquina de lavar roupa
estava ligada. Fui até o armário onde ficava a máquina e abri
as portas. Os lençóis verdes da minha cama estavam cobertos
de espuma, balançando para frente e para trás na janela
redonda da máquina.

Por que ele iria lavar meus lençóis? Olhei por cima do
meu ombro para minha cama e vi o lençol branco de
reposição agora perfeitamente encaixado sobre o colchão. Ele
tinha mesmo cuidadosamente dobrado o edredom no lado da
cama que eu sempre dormia.

Eu podia entender porque ele ia colocar os lençóis para


lavar se tivéssemos tido relações sexuais na cama, mas nós
não tivemos. Ele obviamente vasculhou as minhas coisas
para encontrar os extras, em seguida, levou o seu tempo
afofando acima dos travesseiros e aconchegando-os nos
lençóis.
Notei que o ruído das ruas da cidade foi embora e
percebi que ele fechou a janela do meu quarto. Eu sempre
dormia com ela aberta, fazia isso desde o incêndio.

Lembrei-me do pânico de tentar sair pela janela naquela


noite e ela não se mover. Lutei e lutei, até que desabei de
joelhos, quando a falta de oxigênio se tornou sufocante. Com
o corredor envolto em chamas, não havia nenhuma outra
maneira para sair. Eu rastejei pelo chão até a minha cadeira
que pensei em poder usar para quebrar o vidro.

Eu nunca fiz isso.

Eu deveria ter morrido.

Desde aquela noite, eu dormia com a janela aberta.


Nunca ficaria presa novamente.

Fui até a janela para abri-la e um pequeno pedaço de


papel que havia sido firmado entre a janela e o peitoril
escorregou. Inclinei-me e o peguei.
Minha respiração parou enquanto eu olhava para a letra
bonita. Kai.

Olhei pela janela então me virei e procurei nas sombras


do loft por qualquer sinal dele. Mas senti o vazio. A presença
de Kai enchia uma sala e esse sentimento se foi, assim como
ele.

Alívio e decepção invadiram minha mente. Logicamente,


eu estava feliz que a noite tivesse acabado, mas o lado ilógico,
que era o meu corpo, estava decepcionado que a noite tivesse
acabado.

Amassei a nota e a joguei no lixo, caminhei até minha


cama, coloquei um joelho no meu colchão prestes a rastejar
na cama depois hesitei. Meu olhar caiu sobre os lençóis
brancos. Marcas de que ele passou suas mãos, enquanto
suavizava as rugas. Marcas de suas mãos fortes, que
puxaram suavemente antes que ele enfiasse o excesso de
material para debaixo do colchão. Marcas de suas mãos que
acariciaram assim como ele acariciou o meu corpo.

Droga.

Eu me afastei da cama, peguei um cobertor jogado na


cadeira no canto, caminhei até o sofá na sala de estar e liguei
a TV. Enrolei-me em uma bola e vi um velho filme em preto e
branco até que finalmente caí no sono.
Acordei com o pescoço dolorido e o cheiro sedutor de
café.

Café?

Joguei o cobertor e me sentei. Meu nariz guiou os meus


olhos para o saco de papel marrom e a fumegante xícara de
café que estava à direita na ilha de granito onde eu fiquei
horas atrás, enquanto Kai empurrava dentro de mim.

Eu me levantei e caminhei até o balcão. Sem nota. Mas


sabia que era dele, embora como ele conseguiu entrar no meu
loft, já por duas vezes, era preocupante. Teria que falar com a
segurança.

Abri o saco e o aroma de um croissant de canela recém


assado flutuou no ar. Era o meu favorito, da padaria a um
quarteirão de distância.

Como ele sabia que era o meu favorito? Como ele sabia,
que era onde eu ia todas as manhãs antes das aulas e pegava
meu café e um croissant? Mas começou a fazer sentido. Kai
me conhecia porque ele esteve me observando.

Tremi, esfregando os braços nus. Por que ele faria isso?


Eu poderia entender meu pai, mas por que eu?

Amassei o saco e empurrei-o para longe.


Eu não gosto disso. Não gostava nada disso.

Mas na noite passada... eu gostei. Na noite passada, ele


desfez as minhas defesas. Na noite passada, ele fez o meu
corpo ser dele.

Meu olhar pegou o amarelo gritante no micro-ondas.


Merda, já eram nove horas e eu tinha laboratório em quinze
minutos.

Rapidamente escovei meus dentes e cabelo, vesti minha


calça jeans e uma camiseta e estava pronta em cinco
minutos.

Agarrei o café e saco de papel marrom, meu laptop e


corri para fora. Quando passei pela segurança, pelo guarda,
Derek, eu disse:

— Eu preciso falar com você mais tarde.

— Claro que sim, senhorita Westbrook.

Corri para fora do prédio, pela calçada por um


quarteirão. Parei na esquina onde um mendigo estava
sentado com a taça vazia pedindo dinheiro. Ele estava
falando para si mesmo, como de costume e sem olhar para
cima, ele estendeu o copo de papel.

— Trocado para um...? — Ele inclinou a cabeça e seus


olhos encontraram os meus. Ele sorriu. Ele tinha dentes
brancos e perfeitos, o que era incomum para muitos dos sem-
teto nas ruas. — Bom dia, beleza. — Eu disse a ele meu nome
várias vezes, mas ele nunca o usou.
Eu estendi o saco de papel com o croissant e café
fumegante.

— Bom dia, Ernie. — Eu comprava-lhe um café da


padaria todas as manhãs, desde que me mudei para cá
depois do incêndio.

Suas grisalhas sobrancelhas cheias e espessas


reduziram quando ele me deu um confuso olhar. Ele pousou
o copo vazio e tomou o saco de café e papel de mim.

— Eu estava bem aqui. Sabe que não esqueceria de você


passando por aqui mais cedo.

Eu ri.

— Não se preocupe. Você não esqueceu. Alguém


comprou estes para mim. — eu expliquei.

Ele balançou a cabeça com os lábios franzidos, como se


estivesse pensando em alguma coisa. Ernie era um homem
atraente, talvez nos seus quarenta e tantos, mas era difícil
dizer, com a camada de sujeira em seu rosto e moletom com
capuz que ele usava. O estranho era que suas unhas estavam
sempre limpas, exceto, eu notei, que suas mãos estavam
calejadas como se tudo o que ele fizesse para ganhar a vida
fosse duro para elas.

O homem muito raramente falava com alguém, exceto a


mesma frase uma e outra vez, “Um trocado para um café”.

Ele me encarou antes de dizer:


— Tenha cuidado, bonita.

E foi isso. Ele voltou a balançar e estender a taça para


outros que passaram e me ignorou. Eu me perguntei o que
ele queria dizer, mas Ernie poderia ser enigmático com suas
palavras. Uma vez ele me disse para 'Ficar longe.' Eu não
sabia o que ele queria dizer, mas no dia seguinte ele estava
do outro lado da rua e quando eu comecei a ir em sua direta,
ele começou o discurso retórico e delirante sobre um diabo
segui-lo.

— Eu irei. Vejo você amanhã, —disse, em seguida, corri


em frente ao hotel antes que a luz mudasse, não me
preocupando em ir à padaria e conseguir algo para mim.

O dia todo.

O dia todo fiquei distraída pensando em Kai. Nunca o vi


me observando, mas talvez ele estivesse. Talvez eu estivesse
tão alheia ao meu redor que Kai me seguiu por anos?

Tive a esperança que ele tivesse me visto dar o café e o


croissant esta manhã. Era a minha afirmação de que eu não
queria nada, apenas cumprir a minha parte do acordo. Foi
uma pequena vitória interior da minha parte, mas mesmo
que ele tivesse visto, eu tinha certeza que ele não estava nem
aí.
Quando cheguei em casa, depois da aula, os
pensamentos em Kai ampliaram. Caminhando pelo meu loft,
vi massas intocadas no balcão da cozinha, garrafa de vinho
tinto quase vazia. O sono me iludiu, enquanto meu corpo me
traiu e minha mente despertou com todos os tipos de
pensamentos irracionais sobre ele. Percebi que qualquer
controle que pensei que tinha sobre esta situação era falso.

Kai controlava.

Cada som fazia o meu coração saltar, enquanto eu


esperava por ele. Estava curiosa para saber como ele entrou
na noite passada e novamente esta manhã. E o segurança
Derek não estava na recepção quando cheguei em casa da
escola, então não fui capaz de lhe perguntar se ele deixou Kai
entrar.

Kai iria bater na porta se ele soubesse que eu estava


acordada? Não, não poderia imaginar Kai pedindo permissão
para fazer qualquer coisa.

Eram duas da manhã quando percebi que ele não viria.


Nós tínhamos feito um acordo de uma semana, mas nunca
tínhamos discutido se seriam os sete dias consecutivos.
Deus, ele poderia arrastar isso por meses? Deslizando para o
meu loft uma vez por semana... sem que eu nunca soubesse
quando.

Minha respiração engatou com o pensamento. Porque


não importava o que minha mente tentasse lutar, ele estava
certo. Meu corpo sabia a verdade e ansiava por seu toque.
Subi na cama, embriagada de vinho, porque raramente
bebia. Soquei meu travesseiro, enrolei minhas mãos sob
minha bochecha e finalmente caí no sono.

Eu gemi, separando minhas pernas ainda mais quando


o seu pênis pressionava em mim, lento e suave,
agonizantemente lento. Arqueei minhas costas, inclinando
meus quadris para encontrá-lo. Seu perfume encheu meus
pulmões com cada respiração irregular.

— Kai, — eu sussurrei.

— Mmm.

Meus olhos se abriram para o som profundo, a


rouquidão de sua voz ao meu lado e conectei com os
penetrantes olhos verdes de Kai.

Ele estava completamente vestido, deitado de lado com


um lençol puxado para trás e seu dedo levemente acariciando
o ponto logo acima dos meus seios.

Fiquei tão chocada, congelei por um segundo, meu


coração disparou para coincidir com a minha respiração.

— O que você está fazendo?

— Esperando você acordar.

Meu Deus. Por quanto tempo ele estava aqui? E eu


estava sonhando com ele. Um calor queimou meu rosto com o
pensamento sobre o que eu estava sonhando.
Ele se moveu, rápido e ágil quando montou em mim, as
mãos agarrando meus pulsos e puxando meus braços acima
da minha cabeça, os prendendo para baixo. Ele inclinou a
cabeça em minha direção e seus lábios beijaram suavemente
onde seus dedos estiveram momentos antes.

Suas coxas duras apertaram meus quadris e com o seu


peso, não havia uma chance de tirá-lo de cima de mim se eu
quisesse.

— Kai, por favor. Eu não gosto disso. — Era assustador


acordar com ele na minha cama. Eu não tinha tempo para
ficar pronta para ele e não era um 'colocar a maquiagem e ter
uma boa aparência' pronta, era como preparar a minha
mente, então teria algum controle sobre o que estava
acontecendo. Em vez disso, minha mente ainda estava grogue
de sono e do meu sonho erótico.

Ele afrouxou o aperto em meus pulsos, mas não me


liberou.

— Você vai, baby. Eu prometo. — Ele se curvou e


lambeu meu mamilo através da minha camiseta. - Eu quero
você nua quando eu vier para a sua cama.

— Eu não posso. Não consigo dormir nua. — Eu odiava.


Após o incêndio, eu queria estar pronta. Estar preparada
para escapar se precisasse.

Ele levantou a cabeça e olhou para mim. A luz da lua


revelou o lado esquerdo de seu rosto com a barba por fazer
por uns dois dias e as sobrancelhas contemplativas sobre
seus olhos. Mas tinha a intensidade de um fogo flamejante de
desejo nas pupilas vidradas olhando para mim.

Ele me incendiou com esse olhar e meu corpo relaxou


encostado ao dele. Ele deve ter notado, porque ele soltou os
meus pulsos, pegou a bainha da minha camiseta e
lentamente puxou-a sobre a minha cabeça e jogou-a no chão.

— Não há nenhuma discussão aqui, London. Até que


estejamos terminados, você estará nua quando deslizar por
baixo dos lençóis. — Ele segurou meu queixo, então fui
forçada a olhar os seus penetrantes olhos verdes. — E se você
doar de novo as coisas que eu lhe compro, não vou lhe
machucar, mas vou com toda a certeza machucá-los.

Engoli em seco, com os olhos arregalados, com o medo


que cintilava em mim.

— Você não faria isso... — Oh, Deus. Ernie. — Por favor,


não o machuque.

— Isso foi apenas um aviso.

Ele não disse mais nada e em vez disso, pegou meu


mamilo em sua boca novamente. Não consegui reagir. Estava
apavorada, assustada sobre o que conseguiu me envolver.
Assustada por ele ser capaz de ferir um homem indefeso, só
porque eu dei a ele o meu café e croissant.

Eu ainda estava ali enquanto ele beijava meu outro seio.


Meu corpo reagiu aos seus beijos, ao seu toque, mas a minha
mente estava em outro lugar.
— Porra. — Ele se afastou de mim e desceu da cama.
Jogou o lençol de lado para que ele subisse no ar como um
paraquedas travado no ar e caísse em cima de mim como se o
ar tivesse sufocado por baixo.

Fiquei onde estava, sem olhar para ele, mas ouvi passos
através do quarto, em seguida, a luz do banheiro acendeu e
ligou a torneira por um minuto, em seguida, desligou.

Sentei-me quando a luz desligou novamente e os pés


descalços voltaram para cama. Mordi o lábio inferior quando
vi seus olhos estreitos e sobrancelhas franzidas. Com raiva. E
ele tinha, obviamente, lavado o rosto, porque havia umidade
na sua pele. A água em alguns fios de cabelo, perto de sua
testa, escorria em sua camisa.

— Levante-se.

Estremeci com sua voz áspera. Agarrei o lençol e segurei


comigo, como se fosse um escudo contra sua raiva.

— Você quer saber como eu sou, quando estou


realmente puto?

Eu não queria. Realmente não queria, mas tudo em mim


rejeitava a ideia de receber ordens. Meu pai pensava que
minha teimosia era bonita. Mas, neste momento, a minha
teimosia estava para me machucar ou pior, me matar. Não,
isso não era verdade. Não importa o quão perigoso Kai fosse,
ou o que isso fosse, mas, eu sabia que ele tinha algo bom. Kai
não faria mal a mim... pelo menos não fisicamente.
Emocionalmente, eu não estava tão confiante.
Engoli meu orgulho e me levantei, levando o lençol
comigo.

— Deixe o lençol.

Eu apertei meus dentes de raiva e deixei o lençol cair.


Estava seminua na frente dele.

Levantei meu queixo e me recusei a cobrir meus seios


com as mãos quando o enfrentei. Os olhos dele caíram sobre
meu peito por um segundo antes de estender a mão. Quando
eu não a agarrei, imediatamente suas sobrancelhas
levantaram em aviso.

Coloquei minha mão na sua e ele me levou para a sala


de estar. Ele deitou no sofá, de costas contra o apoio de
braço, então me pediu para abaixar, me sentando entre as
suas pernas.

Ele colocou a outra perna em cima do sofá, então eu


fiquei presa entre as coxas.

— Encoste-se.

Meu coração bateu forte em minhas costelas quando me


inclinei contra ele, o calor de seu peito instantaneamente
aqueceu as minhas costas.

— Erga sua perna. — Eu obedeci e ele moveu-se para


que descansasse sobre a dele e mesmo que eu usasse as
boxers, senti-me totalmente exposta.
— Não vou comer uma garota que não quer ser comida.
Então, nós não faremos isso. — Ele se inclinou, agarrou o
controle remoto e ligou a televisão, passando os canais até
encontrar um filme tarde da noite, um erótico de cinema.
Jesus. Ele jogou o controle no chão e eu esperava que ele me
tocasse.

Ele não o fez.

Ele não fez nada. Eu estava com as pernas ligeiramente


abertas e os seios nus enquanto ele assistia ao filme.

Ele tinha um braço em torno do meu abdômen,


enquanto uma mão repousava sobre minha coxa, sem fazer
nada. Nem mesmo um dedo se contorcendo. Nada.

Eu estava rígida em seus braços, senti seu coração


batendo firme contra as minhas costas e escutei a sua calma,
seu fôlego e na ocasião, a risada suave quando algo
engraçado acontecia no filme. E o engraçado era alguma má
atuação ridícula. Mas ouvi os gemidos. O tapa de corpos nus.
Os gritos de prazer.

Eu me mexi desconfortavelmente quando o


formigamento leve entre as minhas pernas se tornou intenso.

Seu abraço apertou.

— Fique quieta.

Eu fiquei.

— Relaxe e assista o filme.


Como eu poderia? Sentei no meu sofá com as pernas
separadas, suas mãos a polegadas longe do meu latejante
sexo, enquanto observávamos um filme pornô. Estava tensa,
confusa e o desejo pulsava por todo o meu corpo. Eu me
mantive pensando sobre ele me segurando em seus braços
após o incêndio e como ele foi gentil, atencioso. Protetor.

Ele continuou a me ignorar. Depois de um tempo o meu


corpo ficou cansado da constante tensão, lentamente me
descontraí e parei de resistir a enxurrada de sensações.

Foi quando os créditos apareceram que suas mãos se


moveram e foi para o topo, entre as minhas pernas. No
segundo que ele o fez, eu gemi. A barreira da minha boxer
não fez nada para parar o prazer intenso.

Eu estava molhada, latejante. E não precisava perguntar


se eu queria que ele me comesse. Eu estava completamente
disposta e o queria.

Ele descansou a mão em mim por um longo tempo. Não


houve palavras. Nada.

Respirei irregularmente. Ele não fez nada. Mas senti seu


pênis ereto pressionado nas minhas costas, então ele também
estava excitado.

Apenas o toque de sua mão ia me fazer gozar. Fui


colocada sentada com ele, seu cheiro cada vez mais familiar
em cada respiração que eu tomava e o medo que senti se
dissipando e mudando para necessidade.
— Baby. — ele sussurrou e eu sacudi com prazer ao
ouvir o som de sua voz contra a minha orelha.

Sua mão escorregou dentro da minha boxer e engasguei


quando ele passou o dedo através da umidade. Ele então a
retirou e trouxe-a para a minha boca. Eu olhei para a ponta
de seu dedo brilhante.

— Prove o quão incrível você é.

Eu nunca me provei. Nunca sequer considerei, mas com


Kai, era tão excitante que minhas entranhas se apertaram.

Ele colocou o dedo no meu lábio inferior e passou por


toda a superfície sensível. Ele repetiu o processo com o meu
lábio superior. Inclinei a cabeça para olhar para ele e meus
lábios se separaram. Mas ele não colocou o dedo na minha
boca; em vez disso, ele enfiou-o na sua.

Jesus. Meu corpo ficou tenso quando eu o assisti


chupar o dedo, lentamente. Um brilho encantador de diversão
iluminou seus olhos, em seguida, uma ligeira contração tocou
no canto dos seus lábios.

Ele retirou seu dedo.

— Sabia que você ia ter um gosto incrível, Coração


Valente.

Sua mão deslizou pela minha frente, entre os meus


seios, sobre a minha caixa torácica para meu abdômen, em
seguida, sob o cós da minha boxer. Seu dedo tocou o meu
clitóris e meus quadris subiram para o seu toque.
Ele começou a circular, lento e suave no início,
enquanto a outra mão brincava com meus mamilos. Meu
corpo aqueceu, superaqueceu. Eu ansiava por mais.
Precisava de mais.

Não demorou muito tempo, pois o meu corpo esteve


antecipando o seu toque por uma hora.

— Kai, — eu gemi quando seus dedos aceleraram para


frente e para trás. — Oh, Deus. — Eu estava no limite, pronta
para cair quando tudo parou.

Suas mãos foram para os meus quadris e ele me


arrancou de seu colo e me pôs no sofá longe dele. Ele se
levantou e se elevou sobre mim e eu vi o vulto de seu pênis
contra sua calça jeans, mas não encontrei o olhar em seus
olhos.

— Você quer transar, ótimo. Mas baby, se você não


quiser... seria muito melhor você, caralho, me avisar. Nunca
se deite sem dizer nada, como você fez esta noite lá na cama.

Meu queixo caiu.

Eu pulsava. Latejava. Eu sofria para ele acabar com


isso, mas não havia dúvidas, ele não tinha intenção de fazê-
lo. Pelo seu tom de voz e olhos brilhando de raiva, Kai estava
seriamente chateado.

Ele entrou no quarto e agarrou o paletó da cadeira.


Quando ele se virou e voltou para mim, eu vi o coldre de
couro pendurado em sua mão com a faca familiar e um rolo
que parecia fios de arame que espreitava do bolso da calça.

Eu endureci, ficando pronta para ser morta, mas ele não


parou de andar, nem olhou para mim quando abriu a porta e
saiu.

Jesus Cristo!!

Onde eu me meti?
Deitei na cama sentindo-me estúpida, fraca e
completamente vulnerável.

Fui incapaz de me concentrar na aula.

Eu não conseguia parar de pensar nele.

E por duas noites... nada. Não desde que ele me deixou


lá no sofá.

Ele havia desaparecido e isso aumentou a minha


inquietação, porque Kai não parecia ser um cara que voltasse
atrás em um acordo. Eu deveria estar feliz por ele ter anulado
dois dos nossos dias, porque se eu o visse, deixaria isso claro
de uma vez por todas. Uma semana significava sete dias em
sucessão, não sete dias, sempre que lhe apetecia. Se ele
queria perder suas noites o problema era dele. Enquanto meu
pai tivesse seus dois meses, eu não me importaria se não
visse Kai novamente.

Foi sobre isso que tentei me convencer.


Desliguei a luz e enrolei-me na cadeira de couro ao lado
do sofá. Eu não podia sentar-me no sofá ou dormir na cama,
porque tudo o que eu pensava era nele. Mesmo olhando para
a ilha na cozinha me fazia imaginá-lo me levando para lá.

Naquele dia na faculdade, eu quebrei três tubos de


ensaio, derramei meu almoço na frente do meu jaleco e mal
passei no meu teste em microbiologia porque estava tão
absorta com o que estava acontecendo com Kai.

Ele era um vírus. Uma praga. E eu tinha que encontrar


uma vacina para impedi-lo de controlar mais o meu
pensamento. Eu, com certeza, não estava seguindo sua regra
estúpida de dormir nua e desde que eu não estava na cama,
então não estava realmente quebrando sua regra.

E por que deveria seguir sua regra? Isso não fazia parte
do acordo.

O som distinto da fechadura clicando me fez levantar,


com meu coração disparando no peito. Ele tinha uma chave?
Oh, meu Deus, ele tinha uma chave. Merda, é claro que ele
tinha. Ele provavelmente roubou a minha chave na primeira
noite e fez uma cópia, em seguida, ele retornou na manhã
seguinte, quando me trouxe o café e croissant.

Por ser uma estudante nota A por toda a minha vida, eu


estava bem aquém.

Tinha minhas pernas aninhadas embaixo de mim, na


cadeira e o cobertor de lã em torno dos meus ombros. A porta
abriu e por um segundo, antes de ele entrar e fechá-la, vi seu
rosto bonito sob a luz do corredor acima de minha porta.

Ele podia ser um homem perigoso, mas não havia


dúvida de que ele era lindo. Ele poderia usar os trapos de
Ernie e ainda ser o homem mais carismático em uma sala.
Ele era dono de si mesmo, o que o fazia ainda mais
ameaçador, porque eu tinha uma sensação de que ele
arriscaria tudo para conseguir o que queria.

A porta se fechou atrás dele.

Ele ficou me observando e, de repente, desejei que eu


estivesse nua. Que eu tivesse seguido sua ordem. Mas então
ele fez algo que não combinava com ele. Ele passou a mão
pelo cabelo como se agitado. Kai exalava firmeza e paciência e
o gesto era contrário a ele.

Deus, eu estava pensando como se o conhecesse. Uma


completamente falsa percepção, porque duvidava que alguém
o conhecesse.

Suas próximas palavras sopraram chamas sobre


qualquer pensamento de ele estar agitado.

— Tire suas roupas e venha aqui.

Borboletas levantaram e esvoaçaram ao som de sua voz,


pousaram pesado na boca do meu estômago. Incerta.
Confusa. Caos completo de emoções.

— Como você sabia que eu não estava nua?


Ele arqueou as sobrancelhas.

— Porque você é obstinada e rebelde. Embora, seja de


uma forma bastante passiva.

Era enervante ele me ler tão bem. Quando criança, eu


nunca tinha exteriormente gritado ou feito uma birra; em vez
disso, ficava tranquila e sutil sobre tudo. O tratamento do
silêncio era uma ocorrência normal na minha adolescência.

— Você não está com raiva?

Um sorriso ligeiramente divertido e as borboletas


levantaram novamente, em perfeita formação.

— Não. — ele falou lento.

— Por que não?

— Você quer que eu esteja?

— Bem, não. É só que eu pensei que você estaria.

— E, no entanto, você ainda se recusou a seguir a regra.


— Ele acenou para mim. — Roupas. Vamos tentar viver de
acordo com seu apelido, Coração Valente.

Pensei em recusar por cerca de um segundo. Mas eu fiz


este acordo, não ele.

Desenrolei minhas pernas e me levantei. O cobertor caiu


para o chão. Cruzei os braços, agarrei a borda inferior da
minha camiseta e puxei-a sobre a minha cabeça. Meus
mamilos já estavam eretos e doloridos, meu sexo pulsava.
Seus olhos viajaram do meu pescoço para os meus
seios, hesitante e depois foi para minha boxer de grandes
dimensões. Ele suspirou, mas ele tinha um sorriso leve no
rosto.

— Uma linda mulher nunca deve usar qualquer coisa


pouco lisonjeira como isso. Sugiro que você se livre delas.

Talvez eu tivesse usado propositadamente minhas


boxers mais sem atrativos, que deveriam ter sido queimadas
anos atrás. Isso era uma rebelião quieta, mas eu nunca
aceitei qualquer um facilmente.

O que surpreendente era que ele obviamente tinha um


senso de humor, embora eu estivesse apropriadamente ciente
de que este homem poderia se tornar um adversário mortal
em um flash.

Entrei na cozinha, tirei minha boxer, em seguida, abri o


armário e a joguei no lixo.

Quando virei, ele estava encostado na porta com os


braços cruzados. Casual. Paciente. Deus, era como se ele
possuísse a minha casa, fosse o proprietário de tudo aqui,
inclusive de mim. Talvez ele fosse... pelo menos por mais três
noites.

Caminhei lentamente descalça pelo chão de madeira até


que eu estivesse perto dele.

— Dispa-me. — disse ele.


Meus olhos se estreitaram por um segundo enquanto
considerava sua ordem. E era uma ordem. A incerteza era o
que aconteceria se eu recusasse.

Mas não importa como isso começou e como iria acabar,


eu o queria. Estava excitada pela maneira como ele era.
Gostava que ele estivesse tão confiante de que nada poderia
tocá-lo. Gostava de como às vezes seus olhos se iluminavam
com diversão. Gostei de como senti suas mãos em mim e de
como ele fazia meu corpo submeter-se ao seu.

E acima de tudo, eu gostava quando respirava o seu


perfume, ele me confortava.

Não tinha ilusões sobre isto e uma vez que eu cumprisse


a minha obrigação, Kai desapareceria e eu seguiria em frente
com minha vida, sem ele invadindo cada pensamento meu.

Levemente coloquei minhas mãos em seu peito, desfiz os


minúsculos botões de sua camisa de risca de giz. Quando
cheguei ao fundo, tive que tirar o cinto de um dispositivo de
couro ligado a ele, para a sua faca.

Eu o soltei e ele caiu de sua cintura, o peso pendurado


na minha mão. Nunca segurei uma arma antes. Senti-me
poderosa, magnética e assustadora para caralho, por saber
que em minha mão, segurava algo que tinha mais do que
provavelmente algumas mortes. Ou talvez não. Talvez fosse
tudo um jogo. Não importa o que era, eu não gostava da faca
e então joguei-a no chão. Ela fez um baque alto quando caiu.
Tirei a camisa da calça alinhada e desfiz os três últimos
botões para que o material se separasse.

Minha respiração parou quando meu olhar atingiu seu


peito e seu nome caiu de meus lábios entreabertos em um
suspiro sem fôlego.

— Kai.

Irritadas e cruéis cicatrizes atravessavam a sua pele.


Algumas eram linhas brancas em relevo, outras fracas, mas
quando meus olhos se arrastaram de uma para a outra e eu
não conseguia parar as lágrimas satisfatoriamente.

O que fizeram com ele? Quem fez isto? Por quê?

Lentamente passei minhas mãos sobre a pele


manchada, tocando o horror do que parecia... isso foi tortura!
Tinha de ser. Não havia outra explicação para isso. Estremeci
com o pensamento quando tracei uma linha após a outra
com as pontas dos dedos.

Quando finalmente olhei para ele, percebi que me


observava, com a expressão firme e inflexível. Eu não
entendia o que aconteceu. Era o confronto do meu medo,
desejo e compaixão colidindo.

— Kai... o que... quem fez isso?

Ele não disse nada.

— Por quê? Como alguém poderia fazer isso com você?


— Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e seus lábios
franziram, os olhos escureceram enquanto seu olhar seguia
até que ele levantou a mão e delicadamente limpou-a com a
ponta do polegar. — Kai? Por favor, diga-me que isso não vai
acontecer com o meu pai.

Ele não disse nada por um minuto e minha preocupação


escalou com o pensamento do perigo em que meu pai estava.

— Ninguém vai tocá-lo. Ou em você.

Ele disse isso com tanta certeza que acreditei nele. Ele
manteve sua palavra até agora e não havia nenhuma razão
para isso. Ele, obviamente, trabalhava para algumas pessoas
poderosas que não tinham escrúpulos em ferir ou matar
ninguém. Mas Kai estava me protegendo. Eu sabia com cada
parte de mim.

— Termine o que começou, London.

Lentamente passei minhas mãos pelo seu peito até os


ombros e tirei sua camisa. Virei-me para colocá-la no encosto
da cadeira e seu braço curvou em torno da minha cintura.
Ele me deu a volta e as minhas costas ficaram contra a porta
e a camisa caiu de meus dedos, esquecida, quando seu corpo
pressionou no meu.

Era isso.

Todo o controle vacilou para nós, eu me atrapalhei com


o botão em suas calças enquanto suas mãos estavam sobre
mim, ardentes, fortes e implacáveis. Abri o zíper de sua calça
e ela caiu no chão. Ele saiu dela e chutou para longe,
enquanto beijava meu pescoço.

— Porra. — Ele respirou em mim. — Preciso provar você,


London. Não consigo parar de pensar em degustá-la.

Então ele fez o que era totalmente inesperado e caiu de


joelhos. Pegou minha perna direita, colocou-a sobre seu
ombro e baixou a boca em mim.

Minha cabeça empurrou para trás, com força, contra a


porta, minhas mãos tecendo em seu cabelo enquanto eu
gemia.

— Puta merda.

Ele abriu meus lábios vaginais com os dedos, passou a


língua sobre mim, sugou e provou cada polegada. Não houve
misericórdia quando ele movimentou e brincou. Quando ele
foi muito áspero, aliviou o desconforto com gentileza até que
eu arqueei com a intensa necessidade.

Eu nunca me senti tão fora de controle.

Meu corpo era dele.

Eu não tinha nenhum recurso, a não ser me soltar,


dando isso a ele.

Meu corpo se apertou quando cheguei à beira do êxtase.


Havia um medo leve que ele fosse parar novamente. Se ele me
deixasse, mesmo se eu quisesse, não conseguiria controlar a
queimação aumentando dentro de mim enquanto sua língua
me levava ao pico.

Meus dedos cravaram em seus ombros enquanto meu


corpo se apertou.

— Oh Deus. Oh, Deus. — Eu não deslizei. Pulei e ele


estava lá para me pegar, segurando meus quadris estáveis,
enquanto sua língua preguiçosamente me trazia de volta das
ondas trêmulas de prazer.

Caí contra a porta quando ele retirou minha perna de


seu ombro e agarrou suas calças do chão, enquanto se
levantava. Ele enfiou a mão no bolso, tirou um pacote
dourado quadrado e segurou-o em direção a minha boca. Eu
mantive meus olhos fixos nos dele enquanto segurava o canto
dele com os dentes e o abri.

Ele puxou a camisinha da embalagem, arrancou sua


cueca boxer e colocou-a. Então, suas mãos ficaram sob a
minha bunda e ele me puxou para o chão.

— Ponha-me dentro de você. — ele ordenou.

Liguei meus tornozelos em torno de seus quadris, em


seguida, segurei seu pênis entre nós. Ele pulsava na minha
mão, com as veias expandidas pela pressão sanguínea. Eu o
apertei, observando seu rosto e a cintilação de satisfação
quando seus olhos brevemente fecharam, com lábios
semiabertos.
Era bom dar-me esse olhar. Para ter algum controle
sobre a expressão dele porque eu duvidava que ele permitisse
que qualquer um tivesse qualquer poder sobre ele. Passei a
mão para baixo o comprimento dele, o polegar acariciando a
cabeça. Passei meus dedos, fechando novamente e empurrei
na base e ele resmungou.

— Pare de brincar. Coloque-me dentro. Agora. — ele


rosnou.

Sim, ele definitivamente não gostava que ninguém


tivesse o controle.

Fechei os olhos e guiei seu pênis na minha entrada. Eu


não tive tempo para mover a minha mão antes que ele
empurrasse dentro de mim. Minha coluna pressionou
duramente na porta e quando ele puxou de volta, mudei o
meu braço que estava entre nós e segurei a parte de trás do
seu pescoço.

Ele arqueou seus quadris, empurrou para frente


novamente e meu corpo bateu na porta. De novo e de novo.

— Vizinhos. — eu ofegava.

— Eu não dou a mínima. — Ele bateu em mim.

Pensei que fosse me quebrar, mas ao mesmo tempo quis


mais forte. Eu, nunca antes, experimentei tal sexo
desenfreado. Era sem limites com ele grunhindo e batendo
em mim, as mãos segurando minha bunda tão forte que eu
sabia que teria contusões.
Eu não me importava. Estava catapultando com ele.
Seus grunhidos e meus gemidos desencadeando uma
necessidade selvagem que nós dois ansiávamos.
Procurávamos.

— Porra, London. Porra. — Seu corpo ficou tenso ao


mesmo tempo em que o meu. Apertei em torno de seu pênis
pulsando enquanto explodia em um frenesi de faíscas e gozei
forte. Um tremor intenso me atingiu, poucos segundos antes
de meu tremor final e eu cair em seus braços.

Kai empurrou uma vez, duas vezes mais, então parou.


Fechei os olhos e descansei minha testa no seu peito,
ouvindo os batimentos cardíacos que ritmavam ao meu
ouvido.

Ficamos assim por alguns minutos, não falamos.


Imóveis.

Tirei minhas pernas e ele lentamente baixou-me até que


eu estivesse em pé.

— Perigoso. — ele murmurou.

Não tinha ideia do que ele quis dizer com isso e eu não
tive tempo para contemplar ou perguntar porque uma batida
soou na minha porta.

— Você está bem, senhorita Westbrook?

Minha cabeça se ergueu. Merda.

Mais batidas.
— Senhorita Westbrook, tentei ligar, mas não houve
resposta.

O telefone tocou?

— Nós tivemos uma reclamação sobre batidas.

Minha boca abriu e meus olhos arregalaram quando


olhei para Kai.

Ele sorriu lentamente.

Eu não respondi. Apertei os lábios juntos, então tentei


colocar as minhas roupas.

— Sim. É... um... Sim... está tudo bem, Derek.


Obrigada. — Merda, onde estava minha boxer? Droga, no
lixo.

— Você se importa de abrir? Eu tenho que verificar.


Alguém informou gritos, também.

Jesus Cristo. Moro aqui há quase dois anos, era quieta


como um rato e, de repente, eu tinha uma reclamação sobre
gritos e batidas. Peguei minha camiseta no chão e puxei-a
sobre a minha cabeça enquanto corria para o quarto e pegava
uma calça de yoga da cômoda.

— Sim claro. Eu só estava...

Ouvi o clique e a tranca da porta abrir.

Kai já tinha sua camisa e calças.

— Ela está bem.


Olhei para o chão algumas polegadas da porta onde a
faca estava. Se Derek olhasse para baixo, ele a veria. Merda.
Corri para a porta, chutando a faca para o lado enquanto o
cumprimentava.

— Desculpa. Eu não percebi que era tão tarde.


Estávamos pendurando...

— Ah sim... um quadro. Seu namorado disse. — Derek


riu e piscou para mim. Oh. Meu. Deus. Meu rosto parecia que
estava pegando fogo. — Ei, você assistiu ao jogo de ontem? —
Ele perguntou a Kai.

Namorado? O jogo?

— Não, infelizmente eu tinha negócios a tratar.

— Oh, homem, você perdeu um muito bom. Os Raptors


massacraram os... — Olhei de um para o outro enquanto
conversavam sobre o jogo de basquete.

Kai colocou o braço em volta dos meus ombros e me


arrastou para o seu lado.

— Certo, docinho?

— Huh? — Eu estava ainda me recuperando do fato que


um dos seguranças falava com Kai como se fossem amigos.
Um homem que eu estava dormindo a fim de cumprir um
acordo.

— Bem, mantenha o ah... martelo baixo? — Derek


balançou as sobrancelhas para mim.
Jesus. Fui de nerd tranquila do loft 607 e para uma...
Deus, nem quero saber o que o segurança iria falar agora.
Nunca seria capaz de olhar nos olhos dele novamente. Eu
teria que correr para o elevador ou melhor ainda, entrar pela
garagem e evitá-lo completamente.

Kai fechou a porta. Saí do seu abraço acolhedor e entrei


na cozinha. Peguei uma garrafa de água na geladeira, quebrei
o lacre e bebi.

No momento em que a coloquei no balcão, Kai ficou ao


meu lado, com os olhos brilhando.

— Namorado?

Ele não disse nada.

— Jogo?

Novamente, ele não disse nada.

— O que você está fazendo? Você tem mais duas noites,


então acabou.

— Quatro.

Eu olhei.

— Não. Duas. Você não apareceu nas últimas duas


noites. Isso não é minha culpa.

Ele gentilmente pegou a água da minha mão e tomou


um gole antes de responder.
— Quatro, London. Na realidade, cinco, porque esta
noite não acabou.

— Esse não era o acordo. Era uma semana.

— Sim. Sete dias.

Eu não estava desistindo disso. Não podia deixá-lo


vencer. Ele estava levando vantagem e eu não podia fazer
mais quatro noites. Estava... me desequilibrando. Perdi o
controle e não gostei disso. Não gostei de nada disso porque a
verdade era que eu não gostava disso e era errado.

Marchei para o banheiro e olhei por cima do meu ombro


para ele.

— Mais duas noites e então nosso acordo estará


terminado. — Bati a porta.

Debrucei-me sobre a pia e joguei água fria no meu rosto


aquecido, escovei os dentes e esperei que, pelo tempo em que
terminasse, ele tivesse ido embora.

Ele não foi.

Ele estava deitado nu na minha cama.

Cruzei os braços.

— O que você está fazendo?

— Se você insistir em duas noites, eu pretendo fazê-las


durar.
— Você não pode ficar por toda noite. — Merda, estava
frustrada. Esperava que ele me fodesse e saísse, não que
ficasse ao meu lado a noite toda.

Uma perna estava dobrada e o lençol caiu de seus


quadris, mergulhando onde havia um rastro de luz escasso
nos cabelos escuros. Ele estava meio-erguido por dois
travesseiros sob os ombros e eu odiava que ele parecesse sexy
em minha cama, relaxado, como se pertencesse a ela.

— Você vai me expulsar, London?

Cruzei os braços sobre o peito e olhei para ele.

— Eu não vou dormir nua. — resmunguei enquanto


caminhava para a cama e subia com minhas calças de ioga e
camisa.

— Vamos ver. — disse e puxou o lençol sobre mim. Sua


coxa caiu em cima das minhas coxas. Seu braço veio ao redor
dos meus ombros e ele me puxou de volta contra seu peito.

Eu estava irritada.

Porque gostava dele por perto. Gostava de estar com ele.


Gostava dele na cama comigo.

E nunca me senti tão protegida na minha vida. A ironia


era que eu tinha a sensação de que Kai poderia muito bem
me destruir.
Mais duas noites.

Andei para trás e para frente. Hoje à noite fui jantar na


casa do meu pai e odiei não ter sido capaz de dizer qualquer
coisa para ele. Mas o que fez tudo isto valer a pena foi o fato
de que a fadiga, a carranca preocupada que ele tinha durante
meses, tinha aliviado, embora ainda estivesse pálido e
parecesse cansado.

Mesmo que quisesse perguntar-lhe sobre Kai e que tipo


de droga ele estava trabalhando agora, eu não podia. Não
importava quantos anos eu tivesse, eu seria sempre a sua
filhinha pequena que ele gostava de proteger. Descobrir que
Kai e eu estávamos transando seria catastrófico.

Kai era alguém de quem meu pai não poderia me


proteger. Embora, a cada encontro, eu sentisse mais e mais
como se Kai fosse um protetor e não uma ameaça.

Cerca de uma hora da manhã, ele ainda não tinha


chegado, mas não era nada incomum. Percebi que era como
ele gostava de jogar. Manter-me esperando para me
confundir. Servi-me um copo de vinho e tentei estudar, mas li
o último parágrafo quatro vezes e ainda não entendia o que
estava lendo. Prestava atenção no trinco da chave e na
fechadura e cada vez que ouvia o ding do elevador, meu
coração disparava.

Era fim de semana e não tive aulas, mas ainda assim,


ficar acordada a noite toda esperando por um cara, não era
algo que fizesse. Eu ri de mim mesma porque este não era só
um cara ou uma noite de costume.

Fiquei em pé, abri as cortinas e olhei para o beco. Eu


não tinha ideia do porquê. Não era como se ele estivesse lá
embaixo. Não podia imaginar Kai, em pé, em um beco. Ele
não iria esgueirar-se, iria aonde quisesse.

Meu telefone tocou e eu quase derrubei meu copo de


vinho com o som. Corri até a mesa, coloquei o meu vinho nela
e olhei para a tela, número desconhecido. Normalmente
evitava atender ligações como esta, mas no meu interior eu
sabia que era ele. Quem mais poderia ligar no momento?

— Olá?

— London.

— Kai.

— Baby, eu preciso que você faça algo para mim.

Fiquei quieta. Não gostei do som disso.

Ele continuou:
— Perderei uma noite se você fizer o que eu pedir.

Ele estava disposto a desistir de uma noite? Uma pitada


de decepção me bateu. O que quer que fosse, eu queria ter
relações sexuais com ele e tinha que aceitar isso. Mas ele não
precisava saber.

— Combinado?

Meu estômago embrulhou e arrepios apareceram pela


minha pele. Eu não gostava de concordar com algo que não
sabia o que estava concordando.

— Será que isso envolve ferir alguém?

Ele riu.

— Não, querida. Esse é meu trabalho, não seu.

Também estava incerta de como eu me sentia a respeito


dele me chamando de baby. Era diferente do apelido que me
deu.

Era pessoal e familiar, como se fosse algo mais do que


profissional.

— Uma noite a menos. E ninguém se machuca.

— Sim. — ele demorou.

— Bem.

— Boa menina. Vá para o freezer. — Eu fiz uma careta,


segurando o telefone na minha orelha enquanto eu
caminhava para a cozinha e abri a porta do congelador. — Na
prateleira inferior. Recipiente de metal.

Meus olhos percorreram sobre o milho congelado, o


sorvete Häagen-Dazs e parou lá. Engoli em seco quando
retirei lentamente o recipiente de metal e olhei pela pequena
brecha na tampa. Ele tinha um vibrador azul com um
redemoinho em torno dele.

— Pegou?

Eu balancei a cabeça.

— London?

— Sim.

— Tire da caixa. — Eu tirei. — Agora, vá para a cama. E


tire suas roupas.

Merda, ele sabia que eu tinha quebrado a regra mais


uma vez e estava de pijama.

Uma vez no meu quarto, escorreguei e rastejei sobre


minha cama.

— Deite-se e dobre os joelhos. — ele instruiu.

Oh, Jesus, sabia exatamente o que eu deveria fazer com


isso. A maior experiência que tive com brinquedos sexuais foi
um pequeno estimulador de clitóris.

— Preciso que você fale comigo, London.

— Sim. Ok, mas...


— Pernas dobradas. — Eu engoli. — Abertas. — ele
rosnou no telefone.

Para minha mortificação, arrepios irromperam entre as


minhas pernas. Um homem, no telefone, estava me dizendo o
que fazer com um vibrador que ele colocou no congelador.

— Agora, esfregue-o entre as pernas. — Eu olhei para o


brinquedo na mão e pensei sobre isso. Estava frio. Muito frio.
Eu não gostava de pular em uma piscina abaixo de vinte e
seis graus. Eu era uma daquelas pessoas que cautelosamente
colocava centímetro por centímetro do corpo e se ela estivesse
muito fria, eu nem sequer me incomodava.

Eu poderia fingir fazer o que ele disse e não fazer?

— Nunca hesite, London. Hesitar vai lhe machucar. —


disse ele. Era como se ele estivesse me avisando, não porque
estivesse com raiva, mas para o meu próprio bem.

Troquei as mãos do telefone com a do vibrador, uma vez


que já estava ficando muito frio na minha mão. Então, fechei
meus olhos e o coloquei entre as minhas pernas.

Minha respiração engatou quando o frio se encontrou


com a minha pele macia e quente.

— Deslize para cima e para baixo em sua boceta. Deixe-


a molhada, baby. — ele ordenou.

O telefone crepitava com a respiração pesada quando a


dor do frio me atingia.
— É muito frio. — Eu falei.

— Essa é a intenção. Seu corpo vai aquecê-lo o


suficiente para colocar dentro de você.

Não queria. Não gostava de sentir frio e não gostei de


fazer isso. Eu me senti estranha e boba.

Joguei o vibrador de lado e puxei o lençol sobre mim.

— Eu não vou fazer isso.

Encerrei a ligação, desligando meu telefone.

Sentei-me contra a cabeceira da cama, com meus


joelhos no peito e os braços ao redor deles. Meu pulso
disparou quando perguntei que merda eu estava pensando,
considerando empurrar um vibrador frio dentro de mim.

Passaram apenas cinco minutos antes de ouvir o clique


no trinco e a porta abrir. Kai estava ali, parecendo maior do
que a vida. Ele era maior do que a vida — pelo menos na
arrogância.

— Kai... — respirei enquanto ele andava para mim, com


o celular ainda em sua mão. — Eu pensei... — Apertei minha
boca quando ele jogou o telefone na mesa de cabeceira, pegou
o lençol e puxou-o para longe, para o chão. Seu olhar
esquadrinhou a cama depois parou no vibrador, onde o
joguei.

Deu dois passos para a direita, inclinou-se e o pegou. Só


então ele olhou para mim.
Eu estava aterrorizada com o que ia ver, mas ele não
parecia com raiva. Mas não estava feliz, também. Não poderia
dizer o que ele estava sentindo e o que me incomodou mais
do que qualquer coisa foi porque eu não tinha ideia do que
ele faria em seguida.

— Nunca desligue na minha cara.

Sim, Kai não apreciou isso. Segurei minhas pernas mais


perto de meu peito me protegendo. Apesar da minha
aparência fechada e blindada, encontrei seus olhos e me
recusei a recuar ou desviar o olhar.

— Você não quer fazer alguma coisa, fale. Mas nunca


desligue na minha cara. — Ele agarrou meu tornozelo e um
pequeno grito escapou quando ele puxou e eu caí de costas.

— Você não pode me dizer o que fazer.

Ele ignorou completamente o que eu disse, deixou cair o


vibrador entre as minhas pernas que saltou de uma vez no
colchão. Ele soltou o cinto de sua elegante calça cinza escura
e puxou-o através do gancho. Segurou a fivela e envolveu o
couro em torno de sua mão duas vezes, em seguida, deixou o
resto pendurado.

Meus olhos se arregalaram quando olhei para o cinto,


em seguida, de volta para ele.

— Você não pode. — eu gaguejei.

Ele arqueou as sobrancelhas.


— Não?

Puta merda. Ele ia me espancar por mentir para ele?


Merda. Fui para o lado da cama.

— Você está louco! — eu gritei quando me levantei e


corri até a porta.

Ouvi ele vindo atrás de mim, mas no tempo dele e eu


percebi o porquê. Eu estava nua.

Era por isso que eu dormia de roupa. Tipo isso. Uma


emergência como esta. Ok, não como esta, mas uma
emergência e esta era uma emergência e agora eu estava nua,
porque ele me disse para estar.

Eu tinha a minha mão na maçaneta da porta


perguntando se deveria gritar, assassinato sangrento,
correndo nua pelo corredor e depois ter que sair do edifício
ou... ou o quê?

Eu me virei e ele estava parado, me observando


enquanto se encostava na grande viga de madeira, entre a
minha sala de estar e meu quarto. Ele ainda tinha o cinto na
mão, com o braço abaixado ao seu lado.

— O que você vai fazer, London?

— Não gosto desse tipo de coisa, se é isso que você está


pensando em fazer. Não gosto disso.

— Você tentou?
— Não preciso provar algo para saber. Meu corpo sabe,
— Joguei de volta nele.

Ele deu um meio sorriso.

— O que eu lhe disse?

Freneticamente procurei meu cérebro para o que ele


estava se referindo.

— Não desligar na sua cara.

— Sim. — falou lentamente. — O que mais?

— Ficar nua na cama e eu estava.

— Sim, mas você não estava até que eu disse para você
no telefone.

Engoli em seco, alcançando minha mão atrás de mim


para desfazer a trava da porta. O som era um clique como se
um elefante irrompesse pela porta.

— O que mais?

Ele estava muito calmo, o que era de enlouquecer. Eu


apostava que sua frequência cardíaca era inexistente
enquanto a minha corria uma maratona e eu odiava correr.
Eu era uma leitora ávida, não uma pessoa de esportes.

— Você vai me espancar? — Deus, isso soou... patético.

— London. — Ele balançou a cabeça para trás e deslizou


o couro em toda a palma da sua outra mão.
Meus olhos continuaram nele.

— Baby, o que mais?

Ele dizendo baby, me fez acalmar um pouco.

— Eu... você disse... — O couro escorregou de sua mão


quando ele baixou o braço. Olhei de volta para ele. — Você
disse para dizer-lhe se eu não quisesse fazer alguma coisa.

Ele deu um aceno sutil.

— Eu não quero que você me espanque. — eu disse. —


Não gosto dessas coisas.

Ele jogou seu cinto no sofá.

— Boa menina. Tranque a porta novamente. — Então,


ele voltou para o quarto e despiu-se.

Levei alguns minutos antes de ser capaz de atravessar a


minha sala para a cama. Minhas pernas ainda estavam
tremendo e meu coração abrandou a um ritmo mais ou
menos decente. Nu, Kai estava sentado de costas contra a
cabeceira, com o vibrador ao seu lado.

Antes de me juntar a ele, perguntei:

— Onde você estava quando ligou?

Ele respondeu imediatamente:

— No hall de entrada.

— No lobby? No meu saguão?


— Sim.

— Por que você me ligou do lobby? — Fiz uma careta.


Por que ele estaria no lobby me ligando?

— Eu queria ver se você faria o que pedi.

Apertei os olhos para ele, minhas costas enrijecendo.

— O quê? Por que merda você faria isso?

— Um teste. Para ver o quão longe você iria sem mim. E


porque eu quero que você saiba que se você não quiser fazer
algo, só precisa me dizer. Já são duas vezes agora.

— Deus, você é um idiota. — Este foi um acordo de sete


dias de duração, não um relacionamento e ainda assim eu
não podia evitar, sentia como se fosse mais. — Isso não é um
jogo. Não preciso de testes e com certeza não preciso de você
me dizendo o que fazer.

Ele riu. O som vibrou através do loft, um som profundo


e grave que causou arrepios em minha pele.

— Amo a sua coragem, querida. Eu tive algumas... — ele


fez uma pausa, — ... não. Eu nunca tive uma mulher que
falasse comigo como você. — Ele deu um tapinha no colchão.
— Deite. Quero tentar isso em você. — Ele pegou o vibrador.

— Só pode está de brincadeira comigo.

Mas a partir de sua expressão relaxada e dar de ombros,


ele não estava.
Quando ele apenas passou o dedo pelo comprimento do
brinquedo, franzi o nariz para combinar com minha carranca.

— Eu não quero fazer isso.

— Agora, você está mentindo, — ele respondeu. Ele


colocou o dedo na boca, molhou-o e, em seguida, ele passou
no eixo de vidro. — Você não queria fazer isso, porque estava
sozinha. Agora, você não está.

Eu me mexi, colocando a mão no meu quadril e


desejando novamente que tivesse roupas. Meu sexo pulsava
quando eu o assisti.

— Vou fazer um acordo, — disse ele.

— Acho que um acordo com você é o suficiente.

Ele arqueou um meio sorriso e baixou o vibrador para o


colchão.

— Se você estiver molhada, eu começo a usar o


brinquedo. E se você não estiver, vou deixar você molhada e
depois comê-la com meu pau.

Jesus. Era como se ele não tivesse filtro, o que me


deixava muito ligada.

— Eu sei que você está molhada, London. Posso ver sua


boceta inchada e brilhante daqui. — Deus, eu não tinha
mesmo pegado ele olhando para o meu sexo. — Nunca iria
fazer com você qualquer coisa que não quisesse.
Pensei sobre isso por um segundo. Era um vibrador e,
provavelmente, não estava mais frio. Eu não era muito
puritana, era?

— Certo.

— Bom. — Ele acenou para o colchão e ajoelhei-me


sobre ele. Um pouco autoconsciente, fiquei sem saber o que
fazer. — Pensei que poderia ter acabado. — disse ele,
balançando a cabeça enquanto me assistia com os olhos
verdes penetrantes intensos. — Eu não posso.

Não tive certeza do que ele quis dizer, mas quando abri
minha boca para perguntar, ele disse:

— Deite-se. Faça exatamente como lhe disse no telefone.


— Ele estendeu o vibrador para mim.

— O quê? — Tentei sentar, mas ele colocou a mão no


meu pescoço e me manteve deitada. — Kai. Pensei que você
iria fazê-lo.

— Assim seria muito fácil. Vamos ver quão corajosa você


é. — Ele foi para a ponta da cama e ficou em pé, caminhou
até a cômoda e inclinou-se contra ela. Eu mal podia vê-lo nas
sombras, mas o que era claramente visível, eram seus olhos
verdes e eles estavam focados em mim. Era desconcertante
tê-lo me assistindo, porque, querendo ou não, eu queria que
ele visse que eu era corajosa.

— Pegue-o, London.
Olhei para o vibrador, caído entre as minhas pernas.
Corajosa. Eu era corajosa. Não tinha medo de tentar novos
alimentos. Saltei de bungee jumping com um grupo de
amigos da escola, da minha aula de química, há alguns anos.

Quando estava sendo atormentada por um valentão na


oitava série, eu dei um soco nele. Eu era uma nerd, mas isso
não significava que não tivesse garra.

Merda.

Peguei o vibrador, dobrei meus joelhos, ampliei minhas


pernas e empurrei-o dentro de mim.

Minha respiração bloqueou na minha garganta


enquanto o frio conhecia a umidade aquecida e fechei os
olhos com a estranha sensação. Merda. Senti-me... bem.
Deslizei para fora, em seguida, empurrei-o novamente. Um
arrepio de excitação disparou através de mim não só pelo o
que estava fazendo, mas porque seus olhos estavam em mim.
Na verdade, isso era o que mais me excitava, gostava de ver
seus olhos em mim.

Separei minhas pernas ainda mais, arqueei as costas e


gemi quando empurrei e tirei. Meu sexo mexia com precisão,
abaixei minha outra mão e circulei meu clitóris enquanto
continuava a empurrar o vibrador dentro e fora.

— Porra.
Ele saiu das sombras e estava na cama dentro de
segundos. Pegou o brinquedo e atirou-o pelo quarto com
tanta força que fez uma marca na parede.

Ele já estava usando uma camisinha quando deslizou


seu pênis para cima e para baixo entre as minhas pernas
uma vez para deixá-lo molhado, antes de empurrar dentro de
mim, forte.

Mas eu estava pronta para ele quando impiedosamente


me levou. Suas mãos agarraram meus pulsos e os prendeu
para baixo no colchão em ambos os lados da minha cabeça.
Havia um olhar selvagem em seus olhos enquanto ele pairava
acima de mim empurrando com seus quadris. Seus lábios
franzidos, sobrancelhas baixas como se estivesse com raiva.

— Cristo. — ele rosnou.

Eu já estava perto de gozar antes que ele entrasse em


mim e não demorei muito antes de ficar em êxtase e gozar
violentamente nele.

— Kai. — Engoli em seco quando tremores começaram.

— London. — gritou enquanto bombeava forte e mais


rápido algumas vezes, antes de gemer baixo e gozar também.

Foram vários minutos com ele em cima de mim, imóvel,


os olhos fechados e as mãos ainda fechadas em torno dos
meus pulsos. Ele finalmente rolou para o lado, me liberando.
Nós dois estávamos respirando de forma irregular com o
cheiro de sexo e suor no ar.
Desenfreado. Isso era o que foi. Eu não fingi saber sobre
este homem, mas suspeitava que ele raramente perdia o
controle, até que eu apareci. Vi isso em sua expressão, a
testa franzida, o olhar inquieto e em seus olhos perfurantes.

Eu me elevei sob meu cotovelo, minha cabeça


descansando na palma da minha mão quando o enfrentei.
Estendi a mão e arrastei um dedo em seu peito. Seu braço
estava jogado sobre o rosto cobrindo os olhos e um joelho
estava dobrado quando ele estava deitado de costas ao meu
lado.

— Kai? — Tracei uma das cicatrizes que iam de seu


peitoral para baixo em seu abdômen. — Quem fez isso com
você?

Ele moveu o braço de seu rosto e inclinou a cabeça para


me olhar. Quando eu vi a escuridão na profundidade de seus
olhos, meu coração saltou com uma pontinha de medo.

— A gente fode, London. Não compartilhamos contos de


fadas do nosso passado.

Puxei minha mão e apesar de suas palavras me fazerem


sentir como se tivesse levado um tapa no rosto, ele estava
certo. Pelo olhar em seus olhos e a profundidade de suas
cicatrizes, seu passado não foi nenhum conto de fadas.

Por que eu me importava, de qualquer maneira?

Porque me importava. Eu me preocupava com todos. Ele


era o tipo de pessoa que eu não poderia ajudar. Eu via o lado
bom das pessoas, mesmo quando a maioria não via nada.
Não tinha dúvida que as cicatrizes contribuíram para o que
Kai se tornou e entristeci ao pensar que alguém o machucou
tanto, que isso o tinha moldado em um homem perigoso.
Queria saber mais. Queria entender por que Kai não era de
todo ruim. Se ele fosse, eu estaria morta ou ele teria me
batido na floresta, como um aviso.

Mas ele estava certo. Nada disso importava e quanto


menos eu soubesse sobre Kai, melhor. Mais uma noite e ele
desapareceria da minha vida. Colocaria minha cabeça em
meus estudos e fingiria que isso nunca aconteceu.

Mas eu sabia que fingir nunca ter conhecido Kai, nunca


ter tido ele dentro de mim e que ele nunca tenha existido, não
iria acontecer.

Virei para o meu lado e fechei os olhos.

Em algum momento, ele enrolou o braço em volta de


mim, me puxou de volta contra o seu peito e beijou
delicadamente meu pescoço.
London

Ele estava adiantado.

Horas adiantado.

Era cedo de forma que ainda tinha luz do dia e eu


apenas estava entrando pela porta, voltando da escola.

— O que você está fazendo aqui?

Kai estava diferente. Ele não estava vestindo um terno


ou mesmo uma camisa. Ele estava em uma camiseta preta e
calça jeans, calça jeans confortável que pendiam abaixo em
seus quadris e o fazia parecer mais gostoso do que o
habitual, o que era seriamente difícil de conseguir.

Eu o vi entrar na cozinha colocando uma garrafa de


água da geladeira. Havia outra coisa que estava diferente. Ele
mal olhou para mim. Normalmente, ele me encarava no
momento em que entrava no meu loft. Mas hoje... ele me
ignorou.
Estava tenso, nervoso. Kai tinha algo nele, como se
estivesse no limite ameaçador, mas sem estar lá. Era como se
estivesse desconfortável por estar aqui.

— O que há de errado? — Perguntei.

Ele não disse nada, apenas encostou-se ao balcão da


cozinha e bebeu a água. E era tão sexy apenas fazendo isso.
Merda.

Terminou a água e jogou a garrafa na lixeira sob o


balcão.

Se ele não quisesse falar, estava bom para mim. Não era
como se tivéssemos algo para falar, de qualquer maneira.

Joguei minha bolsa na mesa de café e entrei no quarto,


vasculhei meu armário por uma roupa, entrei no banheiro e
fechei a porta.

Tinha acabado de entrar no chuveiro quando a porta do


banheiro se abriu. E fechou.

Nossos olhos se encontraram através do vidro embaçado


e meu pulso disparou como uma bala. O pulverizador bateu
no meu peito, água quente caindo na minha frente, enquanto
eu estava imóvel. Ele manteve os olhos no meu rosto, não
oscilando uma vez para o meu corpo nu, embora eu amasse
quando seus olhos percorriam meu corpo como se fosse algo
para ser devorado.

Falcões mergulharam, bombardeando em minha


barriga.
Então eu vi quando começou a se despir lentamente,
seus movimentos sem pressa e suave, assim como ele. Ele
dobrou cada peça de roupa quando as tirava e colocou sobre
o balcão ao lado da pia.

Quis olhar para longe, mas não podia. A realidade era


que Kai me cativava.

Lembre-se de quem ele é, London.

Olhei para a faca na bainha ao lado de suas roupas.


Será que ele ia a qualquer lugar sem aquela coisa? Estremeci
com o pensamento de sangue sendo limpo de sua lâmina.
Será que ele matou? Quantas pessoas? Elas eram boas
pessoas, como o meu pai?

A bile subiu na minha garganta. Eu estava fazendo sexo


com esse cara. Eu o deixei usar o meu corpo e gostei. Fiquei
excitada por ele. Isso fazia-me tão repugnante e vil como ele.

A porta do box abriu e eu recuei.

Ele fez uma careta, quando procurei por uma fuga, mas
ele bloqueou a única saída e por sua expressão inflexível, eu
não ia ter nenhuma.

— O que mudou? — Ele perguntou quando entrou


debaixo do chuveiro e eu apoiei contra a parede de azulejos.
— Vejo em seu rosto, London. O que mudou?

Ele continuou se aproximando até que seu corpo ficou


contra o meu. Sua mão em concha na parte de trás do meu
pescoço enquanto a sua outra curvava ao redor da parte
inferior das minhas costas. Com um puxão áspero, ele me
tinha pressionada contra ele.

— Responda-me! — ele gritou.

Era a primeira vez que levantava a voz e percebi que ele


não estava mais na posição netflix and chill 2 e sim de
caçador.

— A faca.

Seus dedos apertaram no meu pescoço.

— O que tem ela?

Seu pênis foi pressionado em meu abdômen.

— Você... matou pessoas com ela?

Não houve nenhuma hesitação quando ele disse:

— Sim.

— Boas pessoas?

— Isso importa?

Importava? Matar não era certo, não importa quem era,


não importa o motivo. Eu queria salvar vidas e Kai as
matava. Mas sim, isso ainda me importava.

— Sim.

2
Uma maneira de convidar alguém a ir à casa de outro alguém e terem relações sexuais.
Tentei olhar para baixo, mas ele não me deixou. Seus
dedos agarraram os fios do meu cabelo e puxaram
firmemente minha cabeça para trás.

— Eu nunca fingi ser outra pessoa, London. — É


verdade, isso era tudo sobre mim. Eu o via como o homem
que me salvou. Eu me convenci de que Kai era bom. — Será
que todas as pessoas que eu matei mereciam? Provavelmente
não. — Engoli em seco. — Eram cidadãos corretos? Não. Mas
não vou pedir desculpas por quem eu sou. Não para você e
não para qualquer outra pessoa.

— Eu não gosto de você. Não gosto disso.

— Baby, se você gostasse de mim, teríamos um


problema. Mas não se engane, você gosta disso. — Com a
boca ao meu ouvido, ele disse, — Nada errado com isso,
London. Você não pode controlá-lo, por isso aceite o que
sente por mais uma noite. Esqueça que sou um assassino e
vou tentar esquecer que você é uma cientista.

Eu bufei.

Ele sorriu e seu aperto afrouxou no meu cabelo,


enquanto a outra mão vinha para o meu queixo, com o
polegar acariciando para frente e para trás.

— A regra entra em jogo a qualquer momento, London.


Sempre.

Eu fiz uma careta, sem saber do que ele estava falando.


— O que você está dizen...? — Então lembrei. Sua
ordem. Se eu não quisesse fazer algo, tudo o que tinha que
fazer era dizer-lhe. — Mas o acordo...

— Sempre. — Seu polegar brincava com meu lábio


inferior e a ação não combinava com o olhar sério em seus
olhos.

Era a mesma palavra que ele escreveu na nota. A


mesma palavra que ele disse para mim depois do incêndio.
Ele sempre viria para mim, mesmo que eu não soubesse o
que significava isso. Eu não o entendia. Mas suspeitava que
ele gostaria que fosse assim.

Mais uma noite. Teríamos mais uma noite e, então, ele


iria embora e sempre não importaria mais. Eu prendi o
polegar com os dentes e lentamente, arrastei-o em minha
boca. Seus olhos brilhavam de desejo e eu gostei que pudesse
fazer isso com ele.

Ele me soltou, foi para o canto dos azulejos e pegou o


frasco de sabão. Em seguida, passou para mim.

— Lave-me.

Engoli em seco, olhando para ele enquanto pegava o


frasco.

Ele ficou parado como uma estátua de pedra na chuva,


a água gotejando sobre os ombros e pelo seu corpo, como
uma trilha de vapor. Kai era magro e não havia um pingo de
suavidade sobre ele. Ágil como uma pantera negra mortal.
Não, ele era mais raro do que isso, um leopardo Amur
solitário.

— A água esfriará em breve. — Sua voz quebrou meus


pensamentos e eu notei que a leveza de seu tom havia
retornado e um pouco da minha incerteza dissipou.

Eu apertei o sabão em minhas mãos.

— Umm, seria melhor você ficar fora do spray.

Ele balançou a cabeça, suspirando.

— Não diga umm, London. Não parece você.

Eu ia retrucar, mas fechei minha boca e mordi o interior


de minhas bochechas. Ele queria que eu reagisse. O que me
irritou foi que ele estava certo. Eu nunca dizia umm. Era um
som de encher o vazio com palavras, feio. Se não pudesse
encontrar palavras, geralmente, não enchia o silêncio com
umm.

Passei o sabão pela sua pele lisa, seus braços


musculosos, a tatuagem em seu ombro direito brilhava em
preto sob a umidade. Então, fui para o peito e minhas mãos
percorriam a história de seu passado.

A faca.

Era por isso que ele carregava uma, porque uma faca
causou estragos em seu corpo? Mas algumas cicatrizes
pareciam de queimaduras e outras eram mais amplas do que
as de uma faca. Tortura. Era impossível todas as cicatrizes
serem de um acidente. Deus, quem iria machucá-lo assim?

Quando terminei a parte superior do corpo, hesitei,


cheguei a pélvis e ao seu pênis. Estava ereto e como o resto
do corpo, no comando.

Olhei para ele.

Ele arqueou uma sobrancelha e pegou o frasco de mim


espremendo para mais sabão. Coloquei minha mão para
pegá-lo e o gel espesso e branco, de repente, não parecia
sabão mais.

— Você pode limpá-lo com a boca se você preferir.

Meu coração pulou e eu engoli, meus olhos indo de volta


para seu pênis saliente. Segurei a base e ouvi-o inspirar.
Sorri internamente. Em seguida, com o sabonete, acariciei a
superfície dura para cima e para baixo, enquanto bombeava
um Kai coberto de sabão e agora respirando com dificuldade.
Usei uma das mãos para lavar suas bolas e gentilmente,
rolei-as como joias delicadas na palma da mão antes de
deslizar o dedo entre as pernas ao longo do vinco de sua
bunda.

Sua mão fechou em meu cabelo, e então ele me


empurrou para o fora do chuveiro e ficou sob o spray para
lavar o sabão. Depois se virou para mim novamente.

— Eu quero lhe provar... — eu disse.


Seus olhos brilhavam com desejo, aumentando de calor
que rugia em mim.

Caí de joelhos e ele bloqueou o spray com as costas,


mas a água escorria sobre seus ombros, em seu peito.

O piso feria meus joelhos, mas quando envolvi minha


boca em torno dele, esqueci tudo sobre contusões e dor.
Experimentá-lo com água e sabão e... ele. Era do cheiro dele
que eu nunca esqueceria. Não poderia ser lavado ou
esquecido. Estava nele. E estava em mim.

Kai gemeu quando empurrou seus quadris para frente,


com a mão na parte de trás de minha cabeça para me manter
no lugar. Engasguei quando ele foi longe demais na minha
garganta, mas não parei ou me afastei. Chupei-o mais forte,
tendo tudo dele e passei a minha língua de volta circulando a
ponta.

— É isso aí, Coração Valente. — ele disse, aprumou sua


postura e firmou seu aperto no meu cabelo. — Porra. Sim.

Ele começou a empurrar os quadris para frente


novamente.

— Tome tudo de mim.

Tentei relaxar minha garganta quando ele se retirou e


empurrou para o fundo da minha garganta novamente.
Chupei ao mesmo tempo, amando o gosto dele. Seu pênis se
sacudiu e sua mão apertou no meu cabelo. Em seguida, seu
corpo tencionou.
Ele gemeu quando gozou na minha garganta.

— Porra, baby.

Engoli e delicadamente lambi os restos da ponta.

Ele me ajudou a me levantar e alisou os fios molhados


do meu rosto.

— Melhor do que eu alguma vez imaginei.

Mordi o lábio, gostando da ideia de que ele tinha me


imaginado chupando-o.

Passaram mais dez minutos antes de sairmos do


chuveiro, porque ele lavou cada polegada de mim com
especial atenção entre as minhas pernas, que acabou por ter-
me tremendo e gritando seu nome.

O olhar que ele tinha anteriormente o deixou e ele era o


homem que eu estava começando a entender... bem,
compreender pequenos pedaços.

Ele tinha uma bondade dentro dele que eu não esperava


ver quando o vi pela fresta no armário, pela primeira vez. Mas
estava lá, adormecido no tempo, vi quando ele me lavou e
depois me enxugou, com tanta delicadeza e cuidado.

Então peguei o reflexo da faca no espelho e me perguntei


se talvez fosse um ato de bondade o que ele mostrou ao meu
corpo.
Talvez, eu estivesse enganando a mim mesma, ao
pensar que conhecia um pedaço desse homem. Será que isso
importava? Afinal, era a última vez que eu iria vê-lo.

Então, meus pensamentos foram rapidamente postos de


lado quando ele me fodeu no balcão do banheiro e novamente
na cozinha, por trás, como fez na primeira noite, há uma
semana atrás. Mas percebi que ele nunca me beijou na boca.
Nem uma vez. Eu me perguntava por que ele não o fez, mas
talvez fosse melhor assim. Menos... pessoal.

Quando ele sugeriu pedir algo para comer, achei


estranho e... bem, normal. Ele vestiu-se, mas insistiu para
que eu permanecesse apenas de calcinha e camisola.
Argumentei no início, mas depois parei porque percebi que
era excitante estar seminua com ele vestido.

Pedi comida tailandesa e quando perguntei o que ele


queria para comer, ele me disse que gostaria do que eu
pedisse. Foi doce e gostei disso.

Enquanto esperamos pela comida chegar, ele estava em


seu telefone. Manteve sua voz calma, mas eu o ouvi dizer o
nome Chaos algumas vezes como se fosse uma pessoa. Quem
era Chaos? Ou talvez ele tivesse se referindo a uma situação?
Mas parecia que ele estava dizendo um nome.

Coloquei os pratos na pequena mesa redonda, de vidro,


com guardanapos brancos. Usaria pauzinhos, mas não tinha
certeza se Kai usaria, então pus os talheres, também. Depois
coloquei as duas velas em castiçais de prata que eu guardava
para ocasiões especiais, no centro. Quando dei um passo
para trás e olhei para a mesa posta para dois, meu coração
acelerou.

O que estávamos fazendo? O que eu estava fazendo?

Então, eu entendi.

Oh, Deus, gostava dele aqui. Gostava que ele estivesse


na minha sala de estar. Gostava do seu cheiro espalhado em
toda parte e da sensação do meu corpo junto ao dele e como
ele me ensinou a perder quaisquer inibições sexuais
sufocadas que eu tivesse.

Gostava de como ele era tão confiante e que ele me


pressionasse. Me desafiasse.

Jesus, eu gostava de Kai.

E isso me aterrorizou.

Olhei para ele e nossos olhos se encontraram. Ele já não


estava falando ao telefone, mas estava me assistindo. Nada
mais existia, exceto nós.

Minha respiração parou.

Ele deve ter visto isso. Visto a realização. Visto algo nos
meus olhos, porque ele fez o que nós dois sabíamos que era a
única opção.

Ele foi embora.


Porra, apenas três semanas.

Três semanas desde que eu saí do seu loft, tomando o


primeiro voo de Nova York para Toronto. Tinha me reunido
com Chaos e falamos sobre uma nova atribuição, fui à casa
de Vault em Toronto e vi Brice e Glen, passei um e-mail para
Mãe, porque não me importava em ouvir a voz dela, além de
que, era mais fácil mentir por um e-mail.

Mas eu estava distraído. Inquieto. A calma estável que


normalmente eu tinha, reduziu drasticamente e, eu estava no
limite, com uma sensação de lixa sendo constantemente
esfregada contra a minha pele.

Incapaz de dormir, fiquei acordado e lendo sobre a


‘fodida’ química. Química. Eu não tinha interesse em
química, mas me ligava a ela. A London.

Segui meu instinto porque ele sempre estava certo. A


maioria das pessoas ignorava, mas acabava se tornando um
hábito que a pessoa fosse lentamente tornando-se insensível
ao que seus instintos estavam lhes dizendo.
Eu não. Escutava cada um deles. Talvez porque eu não
tivesse nada a perder tendo uma chance ou porque nunca
tivesse dado a mínima se eu morresse.

Mas, naquele momento, minhas entranhas estavam


falando alto e claro. Alguma coisa estava errada, mas eu não
sabia o que era. Foi assim desde que saí da porta de London
depois de ver seu rosto. Porra, eu lhe disse que era melhor ela
não gostar de mim.

Tive que sair e nunca voltar, mais por causa dela do que
por minha causa. Já tinha arriscado muito por estar com ela.
Egoísta. Isso era o que eu fui. Mas não fui capaz de resistir a
ela depois de senti-la debaixo de mim, no capô do meu carro,
depois de finalmente tocá-la.

Senti pura luxúria quando vi a foto dela pela primeira


vez, dois anos atrás, quando fui atribuído ao pai dela. Ela
tinha uma inocência, uma quietude que aparecia em seu
rosto, mas havia também uma peculiaridade teimosa, que
jazia sob a sua beleza natural. Era bonita e refrescante. Eu
nunca fui atraído pelas mulheres tranquilas, as inocentes
teriam medo de mim. Eu pegava mulheres que queriam o que
eu fazia... sem compromisso.

Quando a vi pessoalmente que tudo foi à merda. Eu


tinha voado para Nova York para checar seu pai e fui para a
casa que ela dividia com alguns outros alunos.

Estava sentado do lado de fora, em uma lanchonete,


tomando um café expresso quando ela saiu de sua casa para
a rua com uma de suas companheiras de quarto. Sabia que a
outra garota era uma companheira de quarto porque eu
verifiquei todos em torno de London e de seu pai.

A cabeça de London estava inclinada para trás quando


ela riu de algo que sua amiga disse, o pescoço exposto, os
olhos brilhantes e cheia de leveza. A leveza que eu queria
agarrar e segurar. Ela gentilmente colocou a mão no braço da
sua amiga e aquele gesto doce foi como se tivesse me
envolvido no seu calor. Enquanto caminhava em minha
direção, balançava seus quadris, não provocativa,
naturalmente.

Seu sorriso era genuíno e filtrado para os transeuntes


como se fossem infecciosos. Encontrei-me sorrindo muito
quando sentei na minha cadeira, pernas, tornozelos cruzados
enquanto a observava.

Então, a vi parar e agachar-se na frente de uma mulher


idosa sentada em uma grade do metrô, com bolsas ao redor
dela e um carrinho de compras cheio de lixo. Bem, o que eu
considerava lixo, mas estava certo de que para a senhora
desabrigada não era assim.

London abriu a sua mochila e tirou o que parecia ser


um sanduíche e passou para ela. A velha, que esteve
gemendo e franzindo a testa, olhou para London e sorriu
revelando seus dentes apodrecidos. London sorriu de volta,
colocou a mão no braço da mulher e disse algo para ela. E
ainda neste dia, eu queria saber o que ela disse. Não que as
palavras fossem importantes. Mas porque esse único
momento mudou o curso da minha vida.

Eu nunca dei a mínima para os desabrigados. Nunca


pensei sobre eles, até aquele momento. Eu não conhecia esse
gesto simples e tranquilo. Sua suavidade. Sua inquietação.
Era algo que, em mim, faltava completamente e a compaixão
de London me alimentou com leveza e encheu a fenda escura
dentro de mim.

Comecei com uma necessidade de observá-la. Fingi que


era para ter certeza de que ela não se tornou um subproduto
das necessidades do Vault e era, parcialmente isso mas era
muito mais. Eu estava viciado nela.

Encontrei-me vindo para Nova York mais do que


precisava, apenas para que pudesse sentir aquela leveza
novamente.

Mas London brincava com meu controle, embora ela não


soubesse. Eu estava com uma corda em torno do pescoço, me
apertando, esperando por se partir. E porra, se partiu no
momento que eu finalmente tive a chance de tê-la. Prová-la.
E, pela primeira vez na minha vida, eu não tinha certeza se
teria feito isso se ela tivesse dito não na primeira vez, quando
a segurei contra a geladeira.

Eu sou um bastardo por aceitar seu acordo ridículo.


Mas pensei que se a tivesse, provado dela, comido ela, então
a minha necessidade constante por ela finalmente seria
saciada e eu poderia esquecê-la.
Mas não aconteceu. Minha necessidade reforçou.
Insaciável. E isso era perigoso.

Ler as pessoas fazia parte da minha formação, os


movimentos dos olhos, gestos, a menor mudança no peso. E
London era um livro aberto, com as páginas cheias, com uma
grande escrita em negrito.

O último dia em que eu estive com ela... ela em pé ao


lado da mesa em seu loft e eu parado do outro lado da sala
tendo acabado de desligar o telefone com Chaos-Georgie. Vi a
realização em seus olhos, que este era mais do que algum
tipo de acordo.

Era o fim, para o que nunca teve a chance de começar.


Mas porra, por uma fração de segundo, eu queria abraçá-la e
ficar.

Mas ficar nunca fora uma opção. Eu já tinha quebrado a


regra fundamental e me tornado íntimo demais.

Eu me inclinei para frente, o sofá de couro preto


enrugou, descansei os cotovelos nas coxas e coloquei a minha
cabeça em minhas mãos, agarrando o meu cabelo.

— Merda. — Não era para ter ido por esse caminho.

A Mãe queria London 'ferida' como um aviso para Dr.


Westbrook. Eu disse que ia cuidar da situação e fiz isso, não
apenas como ela teria gostado ou esperado. Não planejei o
que aconteceu entre nós. Simplesmente iria assustá-la e
permaneceria em silêncio porque não havia nenhuma
maneira do caralho de eu fazer o que a Mãe queria.

Os laços que me cercavam eram cruéis e inquebráveis e


o destino de London já estava balançando em uma corda
bamba, porque meu instinto me dizia que a Mãe sabia o que
eu fiz.

Fiquei em pé e andei pelo meu escritório. A sirene de


alerta soou na minha cabeça ficando cada vez mais alta a
cada dia que eu ficava longe. Era a mesma sensação que tive
quando o fogo desceu na casa de merda em que London vivia
com seus amigos.

Voltei para o aeroporto depois de verificar o progresso do


Dr. Westbrook sobre a droga e passei algumas horas
assistindo London estudar na biblioteca. Eu a segui até sua
casa e esperei até que vi a luz desligar em seu quarto antes
de ir embora. Talvez fosse puramente instinto, talvez minha
obsessão tenha ficado mais forte. Seja lá o que fosse, virei o
carro cerca de 20 minutos mais tarde e voltei.

No caminho inteiro eu estava convencido de que seria a


última vez. Eu diria adeus e pararia de vir vê-la. Mas quando
estava a poucas milhas de distância e vi a fumaça, eu soube.
Pelo meu instinto do caralho, eu sabia que era a casa dela e
pela primeira vez desde que eu era criança, meu coração
acelerou tão rápido que doía.

Dirigi como um louco.

Xinguei e amaldiçoei.
E não parei até que cheguei à casa. Dirigi direto através
do muro de trás, onde usei o capô do meu carro para
alcançar a beirada da sua janela e me puxar até onde seu
quarto estava localizado. Ouvi os caminhões dos bombeiros
gritando enquanto eles se aproximavam, mas o crepitar do
fogo rugia na minha cabeça, muito mais alto. Enrolei minha
mão na camisa e quebrei sua janela com meu punho direito.

Escalei para dentro, com pedaços irregulares de vidro


cortando meus braços, peito e coxas. Por um minuto, não
podia ver nada enquanto estava sendo envolvido pela fumaça
e calor. Mas eu não tive que ir tão longe, quando meu pé
bateu em um corpo e me agachei. A fumaça não era tão
grossa na parte de baixo e foi quando eu a vi. Essa era a
porra da primeira vez que eu me importava se alguém iria
viver ou morrer.

Foi a primeira vez que senti como se tivesse um coração,


porque ele parou. Ele parou até que pressionei a palma da
minha mão em seu peito e senti que ainda havia um
batimento cardíaco. Peguei-a e saí do jeito que entrei.

Levei-a para o quintal do vizinho e delicadamente a


deitei na grama. Seus olhos se abriram brevemente e se eu
não tivesse em meus joelhos, teria sido trazido para eles,
apenas por vê-la olhar para mim.

Segurei-a por um minuto, meu dedo retirou o cabelo do


seu rosto. Ela tossiu e tossiu e eu a segurei, esfregando suas
costas, enquanto ela inspirava o ar fresco. Quando finalmente
recuperou o fôlego, inclinou a cabeça e nossos olhos se
encontraram. Foi quando eu disse:

— Eu sempre vou vir para você, Coração Valente.

Suas sobrancelhas baixaram e ela tentou dizer alguma


coisa antes que tossisse de novo e fechasse os olhos,
mantendo-se mole em meus braços. Notei um bombeiro
olhando em minha direção, então a deixei ir, corri de volta
para o meu carro e saí.

Foi então que eu contratei Ernie para vigiá-la. Claro, a


única maneira de aparecer como se não estivesse olhando
para ela era estar disfarçado como um mendigo.

Meu celular vibrou na mesa de café, sacudindo algumas


polegadas em toda a superfície lisa e dura. Encarei a tela
piscando, incapaz de ver o número, mas não era preciso. Era
o telefone celular que eu tinha e que apenas uma pessoa
tinha o número.

Cheguei para frente, peguei-o e, em seguida, pressionei


o círculo verde na tela antes de colocá-lo para a minha
orelha.

— Ernie.

— Bom show, esta manhã, chefe.

A tempestade empurrou para dentro de mim e minha


mão apertou o telefone. Se eu fosse forçado a confiar em
alguém, seria Ernie. Ele não fazia parte do Vault, mas sabia
sobre eles. Como um ex-SEAL da Marinha, ele sabia tudo
sobre lealdade. Além disso, eu pagava-lhe uma porrada de
dinheiro.

Minha mandíbula apertou.

— Ela está doente?

Ernie hesitou; ele era um cara direto, de modo que isto


cimentou o fato de que o que eu estava prestes a ouvir não
seria bom.

— Tenho esse sentimento. Nenhum movimento em suas


janelas durante toda a manhã. Cheguei aqui por volta das
seis e deixei ontem à noite depois das oito. Chefe, a janela
está fechada.

Porra. Eu fiquei em pé.

— Entre lá. Não importa como você vai fazê-lo. — Eu saí


da sala de estar e no meu quarto joguei minha mala na cama.
— Estou indo no próximo voo. Eu desliguei.

Nunca senti medo antes. Nada tinha a temer desde que


fui espancado e torturado, quando ainda era um garoto. Mas,
de repente, fui varrido do chão porque eu tinha necessidade
de tomar um voo para Nova York a fim de verificar o que
estava acontecendo com London.

Eu sabia.

Eu cometi um erro fatal. Passei uma semana com


London e a Mãe descobriu sobre ela.

Nenhum vínculo.
A Mãe estava certificando-se de que, agora, London
estava pagando o preço.
— Vai se foder! — Eu gritei.
Seu braço musculoso levantou e, em seguida, sua mão
me deu um tapa no rosto com tanta força que caí de joelhos.
Coloquei a palma da minha mão na bochecha latejante, o
impacto foi como se tivesse sido atingida com uma pá de
madeira.

Eu nunca iria submeter-me a estes idiotas. Eles podiam


me bater até o meu último suspiro. Eu não estava dando a
eles.

— Não. Você é a única que vai ser fodida. — Ele riu e o


som parecia unhas arranhando um quadro-negro. Eu queria
arrancar todas as unhas da mão dele e empurrá-las em seus
globos oculares. Não tinha ideia de onde isso vinha, porque
eu não era assim. Sempre tentei encontrar o lado bom das
pessoas mas este homem sorria e olhava como uma pessoa
instável quando infligia dor. Ele gostava de ferir os outros, era
mau e cruel.

Não sabia quanto tempo passou desde que fui


sequestrada. Mas fui levada uma semana depois de Kai sair e
eu sabia porquê, não conseguiria parar de pensar nele.
Contava os dias, esperando que fosse ficar mais fácil a cada
manhã quando acordava. Mas não ficava.

Tentei voltar para minha rotina, mas estive em transe,


incapaz de dormir ou estudar. Mesmo Ernie notou uma
mudança em mim e perguntou se eu estava bem.

Eu lhe disse que estava estressada com a escola, mas


era uma mentira e acho que ele sabia, pela maneira como
sacudia a cabeça e franzia a testa como se decepcionado com
alguma coisa.

Eu me odiava por pensar sobre Kai e ainda não


importava o que eu fizesse, ele estava lá, em meus
pensamentos. Talvez fosse por isso que eles me sequestraram
tão facilmente. Abri a porta para o que eu pensei que fosse a
minha comida tailandesa e no momento seguinte, a
negritude. Não tive tempo de gritar.

E desde então, fui drogada com algum tipo de sedativo,


transportada em uma van sem janelas. Troquei de veículos
várias vezes, mas não poderia dizer quem me transportava ou
como alguém se parecia porque minha visão estava toda
fodida. Fui vigorosamente alimentada e tive que fazer xixi no
lado da estrada antes de ser jogada na van novamente.
Finalmente, eles pararam de me drogar e eu comecei a
processar a realidade da situação. E foi tão aterrorizante que
quis as drogas de volta. Eu queria ficar no nevoeiro e não
acordar novamente até que estivesse de volta em casa. Chorei
por horas na van, em silêncio para que não me ouvissem,
mas eram choros sufocados, com soluços de medo. O
desconhecido agarrou meu peito com tanta força que
hiperventilei.

Uma vez que as lágrimas foram embora, a raiva


aumentou e era onde eu estava emocionalmente afetada,
quando a van parou. Estava com raiva deles, raiva de mim
mesma por chorar. Irritada com a abertura da porta do meu
loft. Irritada por sentir-me impotente.

Fui arrastada da van e levada para dentro de uma casa


enorme. Só tive um segundo para processá-la, mas o lugar
obviamente pertencia a alguém excepcionalmente rico, pelo
elaborado hall de entrada, que tinha belas pinturas nas
paredes cor de pêssego. Ouvi vozes se aproximando e eles não
estavam falando inglês. Parecia espanhol.

O aperto nos hematomas no meu braço doeu quando ele


me puxou para frente e eu tropecei.

— Mova-se.

Ele me puxou para um corredor, abriu uma porta e fui


arrastada para baixo, num tipo de escada. Um pouco mais de
passos e outra porta, que ele abriu e me empurrou para
dentro. Ele estava na porta quando fiz uma rápida inspeção
do cômodo com paredes de cimento e sem janelas. A raiva me
invadiu, mas o medo estava lutando pela primeira posição
porque ser trancada aqui... era o meu pior pesadelo.

Engoli a bile quando enfrentei o homem.

— O que quer que você planeje... será pela força porque


eu não vou fazê-lo de outra maneira.

Ele sorriu. Era um sorriso maliciosamente cruel que


revelou um dente inferior torto, na frente. Apesar do calor
sufocante, me arrepiei e cruzei meus braços em uma
tentativa de controlar a minha agitação.

— Vamos ver. — Ele bateu a porta e a fechadura clicou.

Oh Deus.

Mesmo sabendo que a porta estivesse trancada, ainda


tentei. Eu até tentei desfazer os parafusos da maçaneta com
minhas unhas, mas quebrei todas elas no processo.

Não que eu fosse capaz de escapar uma vez que


estivesse fora desta cela, mas tentar seria muito melhor do
que sentar aqui e não fazer nada, enquanto esperava que
alguém viesse me encontrar. Alguém.

Mas depois de dias, minha esperança de ser encontrada


deixou-me. Deram água e comida para as minhas cólicas de
estômago. Minha garganta estava tão seca que eu já não
podia engolir e meus lábios estavam rachados e sangrando.
Mas o pior era estar presa, sem janelas, abaixo do solo e me
sentindo como nunca tivesse oxigênio o suficiente.
Eu estava sentada no chão, quando a fechadura
finalmente estalou e a porta se abriu. Fiquei em pé, com a
coluna contra a parede. Meu plano era saltar em quem
entrasse. Esse plano lentamente diminuiu ao longo dos dias,
enquanto eu ficava mais fraca. Sem dúvida, esse era o plano.
Fazer-me cada vez mais fraca, sem fazer nada, apenas me
fechando em um quarto por dias, até que tudo que eu
conseguisse pensar fosse implorar para alguém me ajudar.
Implorar a eles por ajuda.

Mas eu não faria. Eu não podia fazer isso.

O homem na porta não era a mesma pessoa que me


trouxe para essa cela, mas eu peguei vislumbres dele na van,
através da minha neblina drogada. Nunca o ouvi falar, sorrir
ou fazer qualquer coisa. Sua expressão era fria e vazia. Não
sorria. Sem carranca, apenas vazia e ilegível. O desconhecido.

Ele era alto e volumoso, com músculos enormes, o


cabelo quase preto e a pele bronzeada naturalmente pelo sol.
Seus redondos olhos castanhos eram o mais assustador,
porque olhavam para mim como se eu não fosse nada mais
que uma inconveniência, um pedaço de lixo que ele tinha de
lidar.

— O que você quer? Quem é você? Por que estou aqui?


— No fundo da minha mente, eu não pude deixar de pensar
em Kai e as cicatrizes no seu peito. Eram estes os
responsáveis por isso? Era para eles que ele trabalhava?
Seria eu, de alguma forma, o seguro para eles? Será que eles
tinham o meu pai, também? — Meu pai? Onde ele está?
— Em casa, eu imagino. — Suspirei de alívio. Ok, meu
pai estava bem.

O homem ergueu as sobrancelhas enquanto ele


examinava todas as marcas de arranhões na maçaneta da
porta, em seguida, olhou para mim e fez um gesto com o
queixo para a cama.

— Deite.

Meu coração batia descontroladamente.

— Não. — retruquei. De jeito nenhum me deitaria na


cama. Apenas um pensamento veio a mim do porquê ele
queria isso. Não. Eu não faria isso.

— Você tem certeza que quer tomar essa atitude? — Ele


deu um passo para dentro do quarto e meus olhos
estreitaram quando eu o assisti. Ele era confiante e deveria
ser. O idiota tinha todo o poder contra uma mulher indefesa.

— Você tem certeza que quer? — Respondi


estupidamente. Ele deixou a porta entreaberta e eu estava
pensando em escapar e não no que estava dizendo.

Nunca vi acontecer, como poderia? Sua arma estava na


parte de trás da calça. Ele puxou-a para fora e me deu um
tiro na coxa.

Caí no chão segurando minha perna, com o sangue


escorrendo entre os meus dedos. A dor aguda preencheu meu
corpo e eu rolei no chão tentando me impedir de gritar e dar-
lhe a satisfação.
— Para cama.

— Você atirou em mim! — Fui baleada. Oh, Deus, eu


não quero morrer. Não importa onde estivesse ou o que eles
fariam para mim, eu queria viver.

Ele levantou a arma.

— E vou novamente se você não fizer o que digo.

Eu não tinha dúvida de que ele faria. Também não tinha


dúvida de que a situação em que estava poderia ser a última.
Pressionei a palma na minha perna e me arrastei para
levantar. Então saí mancando para a cama. Ele, obviamente,
não queria me matar; poderia ter feito isso, dias atrás.

— Mãos acima de sua cabeça.

Merda. Eu não queria fazer, especialmente depois de ver


a corda em suas mãos. Mas não lhe daria a satisfação de me
ter implorando. Nunca. Talvez eu tenha sido uma nerd
tranquila na escola, mas também era teimosa e determinada.

Só não era estúpida e tinha que ser cuidadosa com o


que eu dissesse na próxima vez.

Gritei quando a arma disparou novamente. Desta vez,


ela bateu na cama e os estofamentos levantaram para o ar ao
lado da minha perna esquerda.

Oh Deus. Ajude-me.

Rangi os dentes contra o pulsar de dor na minha coxa e


ergui os braços acima da minha cabeça, com os dedos
enrolados em torno da barra de metal. Ele se aproximou, com
passos calmos e lentos, o oposto do que estava acontecendo
dentro de mim.

Ele parou ao lado da minha cama e olhei para ele,


recusando-me a recuar sob seu olhar.

— Tenho a sensação que nós vamos estar aqui por um


tempo.

— O que você vai fazer? Por que você está fazendo isso?

Ele se inclinou sobre mim, enrolou a corda grossa em


torno de meus pulsos e prendeu na grade da cama. Os
minúsculos pelos do material cortaram minha pele e
acentuadamente inalei quando ele puxou a corda e apertou.

Seus olhos viajaram pelo meu corpo, hesitaram na


minha coxa como se avaliando se eu estaria sangrando até a
morte ou não. Agachou-se, com os cotovelos casualmente
descansando na cama, ao meu lado.

Desta vez, eu vacilei quando ele estendeu a mão e


empurrou meu cabelo para trás do meu rosto. Em seguida,
ele disse em uma voz baixa e calma:

— Meu nome é Jacob e eu sou seu pior pesadelo.


Poeira. Isso era o que eu havia me tornado. Um grão de
poeira, flutuante, caindo, desaparecendo. Algo a ser apagado
com o toque de um dedo, desaparecendo.

Fisicamente eu existia, mas os restos do que eu fui


foram apagados. A luta para agarrar quem fui, escapuliu.
Essa menina de cinco anos de idade, que disse a professora
que estaria trabalhando para evitar que pessoas em todo o
mundo ficassem doentes, havia desaparecido.

Dia após dia, uma camada de mim foi desfeita e eu fui


deixada vulnerável e exposta. Nunca pensei que escolheria
morrer. Mas escolhi. Implorei pela morte. Não para eles, eu
não iria dar-lhes isso, mas sim quando estava sozinha na
escuridão.

Mas não morri. Então, eu só existia.

Sobrevivi. E dentro da partícula de poeira, eu tinha um


pingo de esperança.

Talvez fosse por isso que eu tenha sobrevivo. Porque


sem esperança não havia nada.

Sentei no canto do meu quarto, minhas pernas juntas


ao meu peito, minha palma no chão enquanto meus dedos
riscavam lenta e metodicamente para trás sobre o cimento.
Eu já não tinha uma cama, apenas um áspero e fino colchão
no chão. Eles tiraram depois que eu usei isso para tentar sair
da minha cela.
A porta se abriu e não olhei para cima, simplesmente
continuei meu movimento rítmico.

— Levante-se. — Alfonzo ordenou. Depois de dois meses


de estar aqui, eu descobri o nome dele. Ele era o que ficou
comigo, quando fui sequestrada e me trouxe para cá. Ele
também era o segundo pior, ao lado de Jacob.

Alfonzo gostava de sexo. Jacob gostava de dor.

Eu estava em pé e mantive meus olhos no chão, seguiu-


o para fora. Ele não tinha a certeza se eu estava atrás dele.
Mas ele não tinha que me domesticar, nem fazer mais nada
porque eu não iria desobedecê-lo.

Não mais.

Alfonzo foi meu treinador por assim dizer. Jacob me


machucava, me aterrorizava, ele me fez ser submissa as suas
ordens. Mas Alfonzo... me humilhou. Ele me tratou como um
objeto e depois de um tempo, me tornei um objeto. Eu não
era nada mais do que um item dispensável para dar prazer a
ele e usava um colar em volta do meu pescoço para provar
isso.

Nós caminhamos no andar de cima, através da sala de


jantar para o terraço no lado de fora. Eu não estive fora em
semanas. Fazia bem para a minha pele aquele calor, mesmo
com os vergões gravados na parte de trás das minhas coxas,
de uns dias anteriores.
Pisei em uma pedra afiada que penetrou na sola do meu
pé, mas a dor era mínima para o que eu estava acostumada.
Fiz o meu melhor para manter os meus passos ainda
tranquilos como fui ensinada — obediente e invisível.

Parei quando Alfonzo parou, mantendo meus olhos para


baixo.

— Deixe-nos. — uma voz ordenou.

Alfonzo me empurrou e fui deixada em pé, sobre as


pedras quentes do pátio, com as solas dos meus pés em
chamas. Fechei os olhos e cerrei os dentes tentando
entorpecer a dor. Eu era boa em entorpecer a dor.

Reconheci a voz de Raul. Ele era quem comandava tudo


e eu era dele. Eu o vi uma série de vezes nas refeições,
quando estava na sala de refeições, mas não para comer e
sim para ser a diversão.

— Aproxime-se.

Dei vários passos para frente até que cheguei sob o


dossel sombreado e me ajoelhei. Nunca estive com Raul
antes. O medo se arrastou em toda a minha pele enquanto eu
me perguntava o que ele queria comigo. Era insano me sentir
desse jeito, mas o conforto vinha com a rotina, com o saber.

E isso era incomum.

— Esta é a garota. Raven. Claro que esse não é o seu


nome real. Alfonzo a nomeou. Disse que ela o lembrava de
um corvo porque é muito inteligente. Uma solucionadora de
problemas. — Ele riu. — Ela empurrou a grade da cama
contra a parede, em seguida, subiu para que pudesse
alcançar o teto. E então, usou o lençol em torno de sua mão
para cavar através do gesso entre a parede e o teto.
Inteligente. Ela sabia quando poderia fazê-lo e quando os
meus homens estariam visitando-a em sua cela, mesmo sem
uma janela para contar o tempo. — Todo dia eu cavava um
pouco mais até que Alfonzo entrou inesperadamente e me
viu. Isso foi quando eles levaram a grade da minha cama. —
Raven é a filha de um cientista conhecido.

Eu respirei fundo para tentar acalmar meus nervos e foi


quando seu cheiro me bateu.

Um leve gemido me escapou e comecei a olhar para


cima, mas me contive. Não conseguia respirar porque eu
conhecia o cheiro. Nunca o esqueci. Meu coração bateu forte
e faíscas dispararam sobre a minha pele.

Eu quis cair no chão e soluçar, mas tinha muito medo


de fazer qualquer coisa, então, mantive minha cabeça para
baixo e permaneci imóvel, o máximo que pude aguentar.

Tantas emoções caminhavam em cima e através de mim.


Era como se estivesse afogada em minha adrenalina e agora
estava sendo extraída das profundezas do oceano, para a
vida, novamente.

Kai.
Talvez eu estivesse errada ao supor que ele estava aqui
para me salvar. Talvez tenha sido o mais estúpido
pensamento que eu já tive. Mas era tudo que eu tinha.

— Obediente. Agora, porque Alfonzo e Jacob levaram


semanas para destruí-la. — Raul riu e fez um barulho como
se fumasse muito.

— Ela é um risco. — disse Kai.

Engasguei com o soluço quando sua voz me abraçou.


Enfiei as unhas rachadas em minhas coxas nuas, para evitar
olhar, para ver por mim mesma que era realmente ele.

— Possivelmente. Mas, pelo que entendi, você gosta de


risco, Kai. — disse Raul.

Ouvi o clique de um isqueiro e, em seguida, o cheiro de


fumaça de charuto saltou no ar.

— Uma garota desaparecida de alto perfil é uma


responsabilidade. — A voz de Kai estava controlada e casual.
O que ele estava dizendo? Parecia que... não. Não. Não era
verdade. — Não importa quão bonita.

Raul riu.

— É verdade, mas você não teria vindo se você não a


quisesse.

Apertei e fechei os meus olhos, para impedir as lágrimas


de se formarem. Emoções corriam desenfreadas como se eu
estivesse sendo atirada e transformada em uma onda. Não
sabia o que estava acontecendo. Ele disse que eu estava
aqui? Raul disse a ele? Kai conhecia Raul?

— Ela está magra demais e estou apostando que se ela


olhasse para mim agora, seus olhos estariam mortos. Seus
homens já a quebraram. Prefiro fazer a minha própria
quebra, para fazer uma escrava fiel.

Lágrimas encheram meus olhos enquanto ouvia suas


palavras. Era a última camada de mim sendo lentamente
afastada, mas não jogada fora. Não podia acreditar nisso. Eu
vi algo em Kai. Eu o senti. E se existia ainda qualquer parte
da garota que eu fui um dia, dentro de mim, então acreditava
que Kai estava aqui para me ajudar, não para me destruir.
Eu vi e senti o bem nele. Não estava errada sobre ele.

— Raven. — Endureci quando Raul falou comigo. —


Levante-se.

Levantei-me e ele agarrou meu pulso, puxando-me para


perto. Minha coxa bateu em seu joelho e eu quase cai em seu
colo.

Meu coração batia desordenadamente quando eu senti


os olhos de Kai em mim. Gostava de seus olhos me
observando quando éramos um casal, meses antes. Olhos
verdes que me cativaram. Olhos que sonhei até que a
memória fosse arrancada de mim.

Raul soltou meu pulso e os dedos ásperos cavaram em


meu queixo quando ele levantou minha cabeça.
— Ela é impressionante, não? — Raul forçou a cabeça
para o lado para que meu rosto estivesse direcionado a Kai.

Lentamente levantei os olhos para Kai e tudo parou


quando nossos olhares se encontraram. Foi quando eu o vi
pela última vez no meu loft, quando nada mais existia, exceto
nós. Nenhum passado. Sem dor. Estava sabendo que apesar
de nosso início, não havia mais do que a luxúria. Mais do que
um acordo. Era a razão pela qual ele se afastou.

E olhando para ele agora, eu sabia que era também a


razão pela qual ele estava aqui. Suas palavras ressoaram, 'eu
vou sempre vir para você'.

Oh, Deus, Kai. Queria cair de joelhos e gritar. Queria que


ele me pegasse em seus braços e me levasse para longe deste
lugar, como me levou do fogo. Queria que Kai me salvasse,
porque eu não podia me salvar sozinha. Nada disso.

— Sim. — ele demorou.

Ele se sentou com as pernas estendidas, uma mão


enrolando em torno de um vidro fosco que ele casualmente
virou no copo, quando o gelo tilintou contra os lados.

Meus olhos dispararam para ele e eu engoli. Nunca me


foi dada qualquer coisa fria para beber. Eu tinha água
natural e nas refeições, Alfonzo me oferecia, de vez em
quando, um gole de vinho, se eu fosse boa.

Eu faria qualquer coisa para escorregar um cubo de gelo


na minha boca. Para tê-lo tilintando contra meus dentes
enquanto derretia lentamente na minha língua, a umidade
doce chuviscando na minha garganta seca.

Eu teria implorado por isso, se pudesse.

Deus, como eu afundei tanto? Como eu me tornei uma


garota patética, que havia perdido toda a dignidade?

Mas meu conto de fadas terminou. Como um livro


jogado no incinerador, as páginas da minha vida foram
queimadas em cinzas, em seguida, reescritas para uma
menina chamada, Raven.

A mão de Raul caiu de meu queixo.

— Vá para ele. — ele ordenou.

Eu hesitei, incapaz de tirar meus olhos de Kai. Não


querendo cair de joelhos na frente dele, mas sabendo que eu
não tinha escolha. Então, percebi o que me incomodou mais
sobre isso. Eu não queria que Kai me visse desta maneira.

Dei um passo em direção a Kai e comecei a me ajoelhar


a seus pés quando seu braço serpenteou e trancou meu
pulso. Ele puxou e eu quase caí em seu colo, palmas das
minhas mãos pousando em seu peito.

Seu coração batia firme e lento sob o meu toque e eu me


perguntava como podia estar tão calmo, tão controlado. Mas
este era Kai. Ele era destemido, mesmo estando no mesmo
local de algum criminoso, que eu suspeitava ser mais
poderoso do que o Governo.
E talvez isso era o porquê os amigos de Kai serem como
Raul. Talvez Raul fosse um amigo.

Kai me virou, então minhas costas ficaram contra seu


peito e seu braço se estabeleceu no meu abdômen. Seu hálito
quente varreu a parte de trás do meu pescoço e eu apertei as
mãos no meu colo enquanto as lágrimas se formavam de
novo.

A voz de Raul rompeu o silêncio momentâneo.

— Ela vai ter que ser mantida escondida, mas é sempre


revigorante ter algo que todo mundo está procurando. Sim?

— Mmm, talvez.

Eu endureci quando sua mão deslizou por cima das


minhas que estavam atualmente entrelaçadas tão apertadas
que os nós dos meus dedos estavam brancos. Ele pressionou
suavemente, a mão inteira as englobando.

Abaixei minha cabeça para frente, deixando o pequeno


conforto de sua mão se contentar em cima de mim e, pela
primeira vez em meses, me senti segura.

Os dois homens falaram sobre a próxima luta entre um


cara chamado Sculpt e outro homem. A partir do que eu
peguei, foi por isso que Kai estava aqui. Raul o havia
convidado para a luta e isso significava que se conheciam.
Suspeitava que os círculos que Kai frequentava eram
perigosos e talvez eu estivesse enganando a mim mesma por
acreditar que Kai tinha bondade nele, mas Raul... ele era
malicioso e cruel.

— Toque-a. — disse Raul. — Eu não provei dela, mas


Alfonzo diz que ela é apertada.

A mão reconfortante de Kai deixou as minhas e se


arrastaram lentamente entre minhas pernas.

Eu conhecia o seu toque. Seus dedos longos e familiares


que acariciaram cada polegada de mim e me deixavam com
dor, por implorar e estremecer com a liberação.

— Abra para mim, Coração Valente. — Sua boca estava


em meu ouvido quando ele sussurrou as palavras.

Minha coluna endireitou e por acaso olhei para Raul, me


perguntando se ele ouviu o que Kai disse e não entendi
porque Kai daria a chance dele ouvir. Mas, talvez Raul
soubesse que Kai e eu estivemos juntos. Não, ele me
apresentou como se fosse a primeira vez e Kai nunca tivesse
me visto.

Eu abri minhas pernas sabendo que não podia recusar


com Raul assistindo. Fechei os olhos enquanto seus dedos
me tocaram.

— Linda, sim? Alfonzo tem me dito que ela é uma das


suas melhores. Suspeitei que ele iria mantê-la se pudesse.

— Decepcionante.

— Você não gosta dela? — A voz de Raul foi abrupta.


Eu fiquei tensa com seu tom. Oh, Deus, não Kai. O que
ele estava fazendo? Raul me bateria se eu não agradasse a
Kai.

— Pelo contrário. Ela é notável; no entanto, estou


desapontado que ela não está molhada.

Raul riu, batendo no joelho.

— Você exige muito. As escravas que se molham são


difíceis.

O dedo de Kai não foi para dentro de mim. Em vez disso,


ele simplesmente me segurou.

— Você gosta que eu toque em você? — Kai disse, desta


vez não era um sussurro e eu sabia que Raul ouviu.

Eu fui treinada para dar a resposta certa, mesmo que


fosse uma mentira.

— Sim, mestre.

Eu o ouvi xingar baixo e seu corpo enrijeceu. Sua


respiração soprou em meu ouvido quando sussurrou tão
baixo que mal ouvi as palavras.

— Porra, London.

Acentuadamente inalei ao som de meu nome. Fazia


meses desde que fui chamada assim. Eu era Raven agora,
mas meu nome verdadeiro passando por seus lábios foi como
se ele tivesse me dado um pedaço do meu lar.
Lágrimas brotaram e desta vez, não consegui parar de
deslizar pela minha bochecha. Rapidamente inclinei meu
queixo ainda mais para baixo, assim Raul não veria. Eu a vi
cair sobre o braço de Kai, encharcando sua camisa branca e
deixando uma marca molhada e redonda.

Kai retirou a mão de mim e pegou sua bebida. Eu tinha


o desejo de agarrar o copo e beber de volta o líquido frio, mas
o braço em volta da minha cintura sacudiu em alerta, como
se soubesse exatamente o que eu considerei.

Tirei meus olhos do vidro fosco, mas o ouvi engolir o


líquido. Um pouco depois ele o colocou em frente à minha
boca, então separei meus lábios e ele derrubou o copo com
gim tônica frio e bateu na minha boca tostada. Era como ser
entregue ao céu e não importava que eu odiasse gim e sua
amargura. Era a melhor coisa que eu já tinha provado.

Ele casualmente o colocou de volta na mesa do pátio.

— Como você adquiriu esta, Raul?

— Eu fui pago, uma grande quantidade de dinheiro,


para levá-la e tê-la treinada. Aconselharam a livrar-me dela
tão rapidamente quanto possível.

— Já se passaram dois meses.

— Ela tem sido difícil.

Kai riu e senti o gim voltar. Rapidamente engoli várias


vezes.
— Mas elas são, geralmente, as que valem mais.

Raul riu.

— Verdade. Mas tenho problemas em potencial com o


meu filho e a sua escrava. Eu prefiro limpa e arrumada.

— E ainda assim você sequestrou uma menina de alto


nível.

— Fui pago com quatro vezes o seu valor ou a de


qualquer outra escrava, para levá-la.

— E você não achou isso peculiar, Raul? Pagar para


sequestrar essa menina?

Raul riu.

— O dinheiro me mantém seguro e meu negócio


prosperando. E ambos sabemos quem queria que ela
desaparecesse e poderia tê-la matado, mas pagaram uma
grande quantidade de dinheiro para mantê-la viva. Eles
queriam que ela sofresse.

— E você soube que eu estava procurando adquirir uma


escrava e pensou que eu poderia ficar satisfeito. — Endureci.
Kai esteve à procura de uma escrava? Não, isso não fazia
sentido. Kai nunca estaria com uma mulher que fosse
forçada.

— Sim.

— Vamos ser honestos aqui, Raul. Você usou-a como


uma isca para me levar para a sua luta.
— Você tem muitos amigos, Kai.

— Eu não os chamaria de amigos. — Kai respondeu.

Raul riu.

— Você é um homem fascinante. Talvez considerasse


ficar alguns dias?

— Não. Sou um homem muito ocupado. — Ele me tirou


delicadamente de seu colo e me ajoelhou no cimento
implacável aos seus pés.

— Uma vergonha. Talvez outra hora.

Kai acariciou meu cabelo.

— Mmm, sim. Uma vergonha. — Havia algo sobre a


maneira como ele falou que me fez pensar que ele estava com
raiva. Não, não com raiva. Furioso. Mas Kai era um enigma e
mesmo depois de passar várias noites com ele, eu não sabia
quais eram suas verdadeiras emoções exceto, talvez, quando
ele me desejava. Sua mão parou na minha cabeça. — Essa
garota... Raven, quem você pagou para pegá-la?

A fumaça foi em meu rosto enquanto Raul segurava o


charuto entre os dedos em seu colo.

— Anônimo. Mas nada para se preocupar, a transação


foi limpa. Sem vínculos. A menina pertence a mim. Você terá
um sabor dela hoje à noite após a luta.

— Eu não provo, Raul. Eu fodo. E fodo meninas que


pertencem a mim e não faço publicamente.
Raul riu e bateu com a mão na mesa. Eu pulei na batida
de seu copo, quando este foi sobre a mesa.

— Então, ela pertence a você agora. E espero que isso vá


fortalecer nosso relacionamento. Talvez nós possamos fazer
negócios no futuro.

A voz de Kai estalou:

— Eu não acredito que as nossas empresas têm os


mesmos interesses. Mas, claro, aprecio o presente e este não
será esquecido.

Eu mal ouvia enquanto observava o deslizamento do


líquido frio sobre a beirada da mesa e o gotejar para as
pedras do pátio. Pensei em lamber o cimento, onde o líquido
caiu na minha frente. Eu até usei a chance de me deslocar
ligeiramente para frente, de joelhos, até o pé de Kai entrar na
minha frente, bloqueando o meu caminho. Ele descansou o
calcanhar na poça e eu ousei um olhar para ele.

Ele já estava olhando para mim e as sobrancelhas


escuras estavam apertadas sobre os olhos semicerrados, em
advertência. Eu lancei meus olhos para baixo novamente,
meus ombros caíram para frente, em derrota.

A cadeira de Kai abruptamente empurrou para trás e ele


parou.

— Vou sair diretamente após a luta. A tenha pronta.


— Não. Não. Você vai ficar para o jantar mais tarde e
conhecer Sculpt. — O tom de Raul endureceu. — Eu insisto.
A menina vai ser trazida à sua mesa.

— Tudo bem. — disse Kai e depois se afastou.


Eu estava vestida com um sutiã vermelho, bem pequeno
e fino, com brilhos dourados interligados com correntes
douradas, penduradas na parte de baixo. Não cobria meus
mamilos e sua finalidade era exclusivamente para empurrar
os meus seios para cima. Eu não tinha muito, mas vestindo
isto parecia que tinha mais. Eu usava uma calcinha
combinando que só não tinha as correntes pendentes. Meu
desconforto em dormir sem roupas fui obliterado no primeiro
mês do meu cativeiro. Ou melhor, a minha capacidade de ser
constrangida foi obliterada. Estava entorpecida de tudo.
Exceto Kai. Ele despertou a esperança de que eu iria fugir
dessa porra.

Alfonzo me trouxe para o salão de jantar uma hora atrás


e eu estava ajoelhada no chão ao lado de uma mesa antes de
Kai entrar na sala. Mesmo com os olhos no chão, soube que
ele andou na minha direção, porque como sempre, quando
Kai entrava em uma sala, ele possuía o lugar, mesmo sendo
cheio de criminosos poderosos.
Ele se sentou na cadeira ao meu lado enquanto
conversava com Jacob que o acompanhou. Ele ainda não
tinha me tocado ou reconhecido que eu estava lá e por um
momento uma onda de dúvida me inundou. Talvez ele não
fosse me tirar daqui. Talvez ele tivesse mudado de ideia.
Talvez eu tivesse perdido a leitura dos sinais que ele me deu
esta manhã.

Como se sentisse a minha inquietação, sua mão baixou


na parte de trás do meu pescoço e ele pressionou suavemente
antes de se afastar. Fechei os olhos e deixei meus ombros
caírem.

— Raven!

Eu estremeci quando voz áspera de Jacob gritou meu


nome. Oh, Deus, eu não escutei. Não tinha ideia se ele me
pediu para fazer alguma coisa. O medo desceu em mim e eu
tremia, com dedos cavando em minhas coxas, fiquei
congelada, sem saber o que fazer. Eu sabia melhor. Fui
ensinada melhor. Sempre ouvir.

— Faça o que disse a você e agrade o seu novo mestre.

A mão de Kai pressionou com força sobre meu ombro,


me forçando a ficar no lugar.

— Como eu disse, Raul, não terei sexo publicamente.


Isso inclui ter meu pau na boca de uma menina.

Houve um momento de silêncio antes de Jacob dizer:


— Se ela lhe der problemas, me informe. Nós vamos
trocá-la por outra. Desfrute da sua noite. — Eu peguei um
vislumbre dos sapatos brancos de Jacob quando ele se virou
e foi embora.

Inalei um profundo suspiro de alívio. Jacob me disse a


verdade. Ele era o meu pior pesadelo e não havia ninguém
que eu temesse mais. O homem era psicótico e adorava ver
dor e sofrimento.

A mão de Kai segurou meu queixo e ele inclinou a


cabeça para que eu encontrasse seus olhos. Eles estavam
suaves e abaixo ainda havia raiva, mas eu sabia que não era
dirigida a mim.

— Lembra-se do que eu disse?

Minha mente girava quando pensei no nosso tempo


juntos, antes de tudo isso. Parecia muito tempo atrás, quase
como se não tivesse acontecido. Como se minha vida não
tivesse acontecido antes deste lugar.

Seu polegar me acariciou.

— Só disposta, Coração Valente. Não há outro jeito.

Eu não tinha resposta e sabia que ele não esperava


uma. Ele me soltou quando uma garota foi empurrada para
baixo ao meu lado. Eu mantive meus olhos no chão, mas tive
um vislumbre dela com o canto do meu olho. Senti seu olhar
em mim. Estúpida. Você será espancada se você se atrever a
olhar para qualquer coisa, exceto o chão, a menos que fosse
dito para você fazê-lo.

Eu a vi no dia que chegou. Ela pertencia ao lutador,


Sculpt e não esteve aqui muito tempo. Tinha também ouvido
seus gritos na sala ao lado da minha depois que ela
tolamente cuspiu no rosto de Raul e chamou-o de parasita
nojento. Alfonzo estava tonto de excitação para que a menina
fosse levada para Jacob. Ninguém queria passar mais tempo
com Jacob.

— Sculpt. Boa luta. — O tom de Kai era controlado e


frio. A diversão leve, muitas vezes ligada a ele, foi embora.

— Kai. — disse Sculpt.

A perna de Kai escovava contra mim quando ele se


inclinava para a direita.

— Não tenho nenhum interesse no circuito de luta, mas


fiquei bastante impressionado com a sua capacidade. E eu
perdi um monte de dinheiro hoje à noite.

— Raul mencionou seu nome de passagem. — Sculpt


respondeu. — Estou curioso, por que é que você veio para
uma luta que você não está interessado?

Kai virou em minha direção e agarrou meu queixo,


levantando minha cabeça.

— Ela. Fiquei curioso quando Raul enviou-me o convite


para a luta. Eu não aceitei, no entanto. Raul deve ter sabido
o que eu queria e ele é inteligente. Ele também sabia que se
eu me recusasse a vir, muitos outros de meus conhecidos
não viriam, então, ele me ofereceu-a. A mais recente de
Alfonzo.

Pelo canto do meu olho, notei a escrava de Sculpt


colocar a mão sobre sua boca e seus olhos se arregalarem.
Permaneci impassível. Nada me incomodava mais, a reação
dela ou o que iria acontecer com ela esta noite. Toda emoção
foi arrancada de mim, exceto uma... centelhas de esperança
que foram provocadas no momento em que Kai apareceu.

Sculpt cutucou sua menina com sua perna e ela baixou


a mão da boca.

— Ele a está dando para você? Raul não gosta de dar


nada.

Kai riu.

— Não, mas eu precisava de uma nova garota e Raul


sabia disso. Quando vi a foto dela, decidi que tinha que tê-la.

Kai me agarrou pela coleira e puxou para cima. Com


olhar agressivo, mas a outra mão escorregou para baixo em
meu quadril, assim a pressão no meu pescoço foi mínima. Ele
me puxou para o seu colo, minhas costas em seu peito e, em
seguida, sua mão alcançou meu mamilo, beliscando e
circulando forte, então suave.

— Ele sabe o meu tipo e esta é... é especial.


Eu permaneci em seu colo enquanto ele conversava
sobre a luta, mas, apesar de parecer relaxado, sentia a tensão
nele.

Ele me alimentou com partes de sua refeição e deixou-


me saborear o seu vinho e água gelada. Os sons habituais na
sala de jantar eram os mesmos de cada noite, exceto mais
alto e cheio de entusiasmo sobre a luta.

Kai beijou minha orelha e parecia como se estivesse se


divertindo, mas havia tensão pulsando em cada músculo de
seu corpo.

— Baby. — ele sussurrou. Sua voz era tão baixa que eu


tive dificuldade de ouvi-lo. — Raul está nos observando.

Abaixei meu queixo com um aceno sutil para ele saber


que eu o ouvi.

— Ela é impressionante. — Kai acenou para a garota do


Sculpt. Sua mão repousava entre as minhas pernas, sem
fazer nada, apenas se colocando lá, como ele já fez antes
naquela noite no meu sofá.

— Hmm.

— Parece que o jantar e pelo que entendi, Raul gosta de


brincar depois. Se importa de entrar no jogo?

Era sobre isso que as festas de Raul eram e mesmo que


eu só tivesse estado em algumas, eu era experiente o
suficiente para saber que a melhor chance de sobrevivência
do que estava por vir era ser obediente e ficar quieta.
— Na verdade não.

O dedo de Kai contraiu.

— Então, por que se preocupar com ela? Minha


sugestão é tranquila, nada para assustar a sua pequena
escrava. Ela parece como se quisesse ser engolida pelo chão.
— Kai estendeu a mão e acariciou o lado do rosto da menina.
— Olhe para mim.

— Eu não compartilho. — disse Sculpt abruptamente.

— Nem eu, — disse Kai e sua mão caiu de seu rosto


para acariciar minha coxa. — Mas assistir duas mulheres
juntas. Duas belezas... agora, eu iria gostar.

Eu sabia exatamente o que Kai estava fazendo. Ele


nunca iria me foder. Agora não. Não quando eu estava sendo
forçada. Mas tinha que haver um show para Raul e ele estava
usando a menina de Sculpt como bode expiatório.

— Não. — Sculpt ergueu a voz.

— Não, o que, senhores? — Eu endureci com o som da


voz de Raul e não podia deixar de me inclinar ainda mais no
abraço de Kai.

Ele estava certo, Raul estava, obviamente, nos


observando.

Kai falou:

— Sugeri um pouco de diversão entre as mulheres. Mas


Sculpt recusou.
— Eu nunca disse isso.

— Eu tinha outra coisa em mente para esta noite. —


disse Kai.

Ele colocou as mãos em meus quadris e empurrou-me


para fora de seu colo. Eu caí com força no chão e
rapidamente me corrigi e me ajoelhei ao lado Kai. Eu não
tinha qualquer dúvida sobre o que ele estava fazendo. Nós
estávamos saindo deste lugar e Kai estava fazendo tudo certo,
para que isso acontecesse. Ele faria o que fosse preciso e
assim, eu também.

Uma mão feminina estendeu para mim e meu coração


saltou, meus olhos se arregalaram. Garota estúpida. Ela iria
levar a nós duas a apanhar de Raul, com ele vendo isso.
Aproximei-me da perna de Kai como fui ensinada a fazer e
virei-me para longe dela.

— Eu estaria interessado em ouvir isso. — disse Raul. —


Kai, Sculpt tem escondido esta joia afastada por mais de uma
semana agora. Eu estava começando a pensar que ela tinha
escapado dele. — Kai riu. — Ela era um pouco... desobediente
quando chegou. Eu já estava falando com Alfonzo para
treiná-la, como ele fez a sua nova escrava. Mas, ela acabou se
controlando. E depois de estar longe de nós por tanto tempo,
eu estava começando a pensar que Sculpt tornou-se sensível.

— Então, o que você tem em mente para esta parte da


noite, Sculpt? — Perguntou Kai.
Isso foi quando eu bloqueei as suas palavras. Bloqueei
tudo. Tornei-me insensível, fria e orei para a noite acabar e
Kai me tirar daqui. Silenciosamente cantei para mim mesmo
e as vozes se tornaram um borrão de sons ásperos.

Kai se abaixou e colocou a mão na parte de trás do meu


pescoço, acariciando lentamente com o dedo para trás e para
frente. Era reconfortante. Reconfortante. Em seguida, ele se
abaixou, os lábios perto do meu ouvido enquanto ele
sussurrava:

— Sempre, baby.

As palavras foram ditas tão baixo que mal as ouvi. Mas


eu ouvi e as emoções avassaladoras caíram em cima de mim.
Foi apenas a sua mão reconfortante que me impediu de
entrar em colapso no chão em um amontoando confusão de
soluços.

Sempre.

Sempre.

Ele sempre viria para mim.

Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e pingou sobre a


palma da minha mão. Em seguida, outra. Oh Deus, eu não
podia deixar Raul ver isso. Eu não podia vacilar agora.

Sculpt disse alguma coisa, mas eu estava tão focada em


Kai que não prestei atenção, mas vi Sculpt levantar-se e sair
com sua namorada a tiracolo.
— Como eu lhe disse, — Raul disse, — ele é muito
apegado a sua escrava. Vou ter de colocar um fim a isso.

Kai riu, mas foi atado com um tom ralado.

— Ela tem espírito. Algo que eu admiro. Mas sim,


vínculos são perigosos. Melhor matá-la ou vendê-la.

— Matá-la é perder dinheiro. Talvez você estivesse


interessado em adquirir ela também?

— Talvez. — Kai respondeu.

Eu fiquei a seus pés enquanto ele conversava com os


outros para o que pareceram horas. Mantive uma parte de
mim tocando-o em todos os momentos ou melhor, ele fez, eu
não tinha certeza disso.

— Olhe para mim... — Ele hesitou, em seguida,


sussurrou: — London.

Levantei meu queixo e lentamente o brilho de vida tinha


queimado minha pele, pela primeira vez em meses. Minha
garganta apertou quando nossos olhos se encontraram. Era
como se um olhar dele me envolvesse em um cobertor quente
e me mantivesse assim. Me protegia.

Bang.

Bang.

Bang.
Eu puxei meus olhos para o terraço que dava para os
jardins. Kai levantou-se da cadeira e inclinou para trás.

Vários outros tiros soaram.

Ele puxou a faca, agarrou meu braço e me empurrou


para debaixo da mesa.

— Fique aí.

Homens de Raul percorreram o salão de jantar gritando


enquanto alguns visitantes chegavam a porta e os outros
correram em direção aos tiros com armas em punho. Foi um
caos completo, com os homens em pânico, porque com
certeza, este lugar estava preenchido de substâncias ilegais,
atividades e mais do que provável, homens procurados.

Kai pegou seu celular, discou algumas vezes, em


seguida, o colocou em seu ouvido e começou a gritar com
alguém sobre pegar o Jeep. Ele enfiou o telefone no bolso, em
seguida se agachou na minha frente, sua faca na mão entre
nós.

— Mantenha-se abaixada e fora de vista.

Meu coração disparou e meu estômago apertou com o


medo.

— Não me deixe.

Ele estendeu a mão e acariciou o lado do meu rosto com


os nós dos dedos.
— Baby, eu já volto. Preciso ver que merda está
acontecendo. — Ele se levantou, acenou uma vez, em
seguida, correu na direção dos tiros.

Quando ele desapareceu na esquina, calafrios me


percorreram e meu estômago virou. Gritei o nome dele,
porque eu sabia, sabia que ele não ia voltar. Era o sentimento
de medo, como se eu estivesse presa a um cubo de gelo,
incapaz de escapar do frio que se afundou em cada parte
minha.

Ele não ia voltar.

Não.

Não.

Não.

Eu me arrastei para fora de debaixo da mesa e corri.

Eu dei dez passos antes de uma mão implacável trancar


meu braço e me puxar para uma parada.

— Onde você acha que está indo? — Jacob disse, então


bloqueou seu braço em volta do meu peito e começou a me
levar para o porão.

— Parece que ele não quer você. Acho que você vai ficar
com a gente.

Eu me debati.

Eu lutei.
Eu gritei para Kai.

Mas não havia nada que eu pudesse fazer para parar


Jacob quando ele me arrastou lá para baixo e me jogou na
minha cela. Eu caí de joelhos. A porta bateu e, em seguida, a
fechadura clicou.

Eu desmaiei.

Eu soluçava.

E eu implorei por Kai voltar.

Mas hora após hora, dia após dia, a salvação escorregou


mais e mais longe, até que qualquer esperança de Kai
retornasse foi finalmente extinta.

Meu fim começou. Tornei-me Raven.


Kai

Dezessete meses, uma semana e cinco dias. Isso foi o


tempo que foi, desde que eu tinha deixado ela embaixo da
mesa de Raul, no México, quando os fogos de artifício das
armas dispararam. Conhecidos dos negócios de Raul
atiraram em qualquer coisa que se movesse pensando que o
complexo estava sendo invadido. A maioria deles estavam na
lista de procurados e não estariam sendo pegos sem uma
briga.

E essa era a razão pela qual eu odiava armas. Merdas


assim. Levar um tiro por nenhuma razão porque alguns
idiotas estavam cagando nas calças de medo e atirando nas
sombras. Eu tinha visto Sculpt, o lutador, atirando em
homens de Raul. Não sabia que merda estava acontecendo e
não me importava, exceto ter certeza de que eu tinha London.
Mas nunca voltei, nem nos degraus da frente, quando uma
dor agonizante atingiu meu peito.

Lembrei-me de uma só coisa quando caí — London.


Apenas ela. Só ela.

A agonia do tiro não era nada comparada à agonia do


que eu sabia que ia acontecer. Eu pensei que a ouvi gritar
meu nome antes de eu atingir o chão e tudo ficar escuro.

Então, nada, em quinze dias. Quinze dias do caralho.

Eu acabei em algum hospital mexicano, com Ernie


sentado em minha cama, olhando tão abatido como eu me
sentia. Em seguida, minutos mais tarde, descobri por que ele
estava tão abatido quando ele me contou a merda que
aconteceu em Raul. Não foi o FBI ou DEA ou qualquer outra
pessoa, era Sculpt causando uma distração.

Por um breve minuto, eu estava aliviado porque isso


significava que London ainda estaria lá. Mas Ernie não tinha
terminado a história ainda. Descobri, que enquanto estava
deitado em uma porra de cama de hospital, Deck e seus
homens invadiram o lugar e tiraram todos que precisavam
ser tirados. Em seguida, explodiu tudo.

Mas Raul fugiu, junto com Alfonzo e Jacob.

Eu não tenho que dizer o nome dela. Ernie sabia o que


eu gostaria de saber.

London.
Os olhos semicerrados e a expressão séria de Ernie dizia
tudo.

Isso foi quando eu me apavorei. Nunca antes me


apavorei. Nunca me importei o suficiente para dar
importância, sobre qualquer coisa e perder o controle como
eu fiz naquele dia.

Eu arranquei o soro do meu braço e puxei os monitores


cardíacos de meu peito, antes de bater na máquina que
gritava um alto sinal de alerta. Levei três tentativas para
conseguir que minhas pernas se movimentassem, ao lado da
cama e eu estava tão frustrado que joguei o suporte do soro
pelo quarto, fazendo-o colidir com a televisão.

Nada importava, exceto receber alta e encontrá-la.


Minha cabeça estava tão drogada de analgésicos que eu nem
sequer vi ou ouvi Ernie enquanto ele tentava me manter na
cama. Tudo o que eu via era London ajoelhada. London
submetendo-se a esses bastardos repugnantes. London.
London. London.

Finalmente consegui me estabilizar e descobri o motivo.


Ernie já não estava me segurando. Ele estava na porta com
uma seringa na mão. Uma enfermeira estava ao lado dele,
com os olhos arregalados e aterrorizados. Ele veio para mim.
Eu dei um passo da cama antes que ele me colocasse no chão
e empurrasse a agulha em meu braço.

Por mais uma semana eu fui mantido sedado, incapaz


de fazer mais do que maldiçoar Ernie quando abri meus olhos
brevemente, antes de desmaiar novamente. Eles foram
provavelmente inteligentes por me manter assim até que eu
sarasse, porque se eu não estivesse assim, nunca teria ficado
na cama. Teria fugido, fazendo o que eu estava fazendo agora,
buscando London.

Em outra porra de leilão. Desta vez, na Alemanha.

Estive em pelo menos uma dúzia deles, sem nenhum


sinal dela e eu estava começando a me perguntar se ela um
dia apareceria, mas eu não tinha mais o que fazer e eu me
recusava a acreditar que ela estava morta. Eu saberia se ela
estivesse. Meu instinto me disse que ela estava viva e eu não
ia desistir até que a encontrasse.

Eu tinha usado contatos que não eram associados com


o Vault para manter o que estava fazendo em silêncio e havia
apenas duas pessoas que sabiam que eu estava procurando
por ela, Ernie e o pai de London.

Eu fui vê-lo, mas não por escolha. Desde que estive fora
da comissão por semanas, Vault, ou seja, a Mãe, esteve me
observando. Eu ficava fora da rede, muitas vezes quando
estava em missões, por isso, não era incomum eu
desaparecer por um mês, mas ela queria que Dr. Westbrook
fosse checado. Ameaçado era o que realmente ela queria,
porque a droga que ele tinha dado a ela estava causando um
estado zumbi em sua cobaia, Connor, e ela estava chateada.

Eu tinha voado para Nova York e deixado Ernie no


México à procura de qualquer informação sobre onde Alfonzo
e Jacob poderiam ter ido, porque eles eram a minha única
pista para o que aconteceu com London.

Quando eu vi seu pai, disse-lhe o que aconteceu com


ela. Eu tinha visto homens chorarem antes, implorar para
parar a tortura. Eu os tinha visto babar e gaguejar, embaixo
da minha faca, mas nunca tinha visto um homem cair de
joelhos tremendo de tantos soluços de dor. Levantei-me e
assisti, sem emoção. Frio. Não permiti nada do que eu estava
sentindo sobre London sair. Porque se eu fizesse isso, ficaria
louco de raiva.

Mas dei a seu pai uma coisa, antes de deixá-lo em seu


laboratório, no chão, uma promessa de encontrá-la e trazê-la
de volta.

Agora, enquanto eu estava em uma sala privada na


Alemanha assistindo a uma tela de televisão quando menina
após menina era trazida na câmera, eu hesitei. Meu
personagem ocasional maleável estava rachando pelos
cantos, porque eu estava rachando. Já fazia muito tempo.

Tinha lidado com a escória mais baixa de toda terra em


minha vida toda e ainda assim, esses homens conseguiam
ser piores. Mesmo Vault ficava claro deste lado do submundo,
porque como eu, eles não tinham nenhum respeito por
homens como este. Eles não eram fortes. Eles eram fracos e
usavam escravos para se sentir poderosos.

Eu mal assistia a tela. Isso era doente. Os cães eram


tratados melhor do que essas meninas. Fechei os olhos e
tomei algumas respirações profundas, enquanto eu tentava
controlar o pulsar da raiva.

Então, aconteceu.

Eu não tive que abrir os olhos ou olhar para a tela. Eu


só sabia que era ela.

Arrepios apareceram ao longo da minha pele e meu


estômago embrulhou. Tudo dentro de mim acalmou. Acalmou
e então isso começou a emergir, em direção a ela. Pura
necessidade.

Levantei minha cabeça lentamente e, finalmente, olhei


para a tela. Com todos os músculos tensos, meus dedos se
fecharam em punhos e pela primeira vez em quase dois anos,
deixei-me sentir.

— Porra, chefe. — Era Ernie que estava de pé ao lado da


porta, fazendo o que eu estava fazendo, assistindo.

Ela estava quase irreconhecível no palco, seu cabelo


solto e sem brilho sobre os ombros. Ombros desengonçados,
finos; os entalhes dos ossos proeminentes. Apertei minha
mandíbula, a raiva subindo quando meus olhos percorreram
seu corpo machucado, mal vestido.

Sua cabeça estava abaixada, olhos baixos, assim como


qualquer outra garota trazida diante da câmera. Submissão,
eu imaginava algo assim, mas imaginar e ver eram
completamente diferentes e eu não estava preparado para vê-
la tão destruída.
Minha cientista corajosa estava arruinada.

Eles a arruinaram.

Ela era perfeita. Ela era corajosa e bonita, carinhosa e


perfeita para caralho e eles tinham arruinado tudo o que ela
era.

Eu enlouqueci.

Ernie viu acontecendo e era culpa minha, mas já era


tarde demais. Meu punho passou pela tela e, em seguida, ele
estava me puxando para trás.

— Chefe, vamos embora. Ela tem que estar em um dos


quartos.

London. Porra, ela estava aqui. Tão perto que podia


senti-la. O sangue escorria de minha mão que agora continha
minha faca.

— Já faz um tempo. — Eu ficava pensando nela nessa


tela, uma menina que eu não reconhecia. — Já faz um tempo
muito longo.

— Chefe. — Ernie tinha a porta aberta, a arma dele,


mas ele não estava olhando para mim. Ele estava olhando
para o corredor. — Porra. Deck.

Corri para a porta e assim quando me inclinei ao virar


na esquina, vi o olhar de Deck por cima do ombro,
diretamente para mim. Que porra é essa? Por que ela
estava...?
Mas então eu soube.

Um de seus homens, Vic, saiu de uma sala para a


direita com um corpo sobre o ombro. Uma menina. Minha
menina.

Deck e os seus homens estavam aqui para resgatar a


porra da minha menina.

Eu comecei indo na direção deles, o sangue pingando do


meu dedo deixando um rastro.

Ernie estava bem atrás de mim e eu o ouvi engatilhar


sua arma.

Parei a dez centímetros de distância de Deck. Ele estava


vestido com uniforme de combate, como seus homens. Eu os
conhecia, Vic, Tyler, Josh, porque conhecia todos os
associados de Deck.

Deck colocou sua mão em sua arma na cintura, mas ele


não tinha a retirado — ainda.

Meus olhos foram para Vic que estava com o corpo mole
de London por cima do ombro, imóvel. Não lutando.

Eu endureci.

— Jacob e Alfonzo a tinham?

— Sim. — respondeu ele. Deck disse algo a Vic que se


virou e correu pelo corredor, em seguida, desapareceu na
esquina. Com London. E, no entanto, eu não me mexi.
— Chefe? — Ernie questionou.

Mas eu não podia fazer isso. Deck não era como eu. Ele
tinha moral. Ele era bom e ele estava aqui para levar London
para fora daqui, provavelmente, porque Sculpt ou sua garota
lhe tinham falado sobre ela.

Ele foi tirá-la de lá.

Meu vício por London era cruel e eu tinha que romper


com isso. Tinha que fazê-la ser valiosa para Mãe e Vault e em
seguida, ficar bem longe dela. Era o único caminho para ela
seguir, segura e viva.

Eu tive que deixá-la ir.

Balancei a cabeça para Deck, em seguida, virei-me e fui


embora.
França

— Como é que a filha de Dr.Westbrook está em Toronto,


mãe?

Isto era como eu tinha que jogar. Como se eu não


tivesse encontrado London na Alemanha e visto Deck tirá-la
de lá. Qualquer suspeita de eu ter me vinculado a London
tinha que terminar hoje. No segundo que Deck levasse
London de volta para Nova York, a Mãe ficaria sabendo sobre
isso, porque eu teria que dizer a ela. Era muito mais
produtivo, dizer a ela antes do fato.

— Ela está? — Ela se endireitou, com uma tesoura em


uma mão e três rosas na outra. Eu a tinha encontrado fora,
em seu jardim, uma área de terra que tinha mais do que
arbustos e flores reais.

A Mãe olhou surpresa e isso me deu uma vantagem.


— Sim. Chaos me ligou. — E tinha ligado mesmo. Disse-
me que Deck tinha uma menina, Raven, ficando com ele. —
Disse que seu nome era Raven, mas eu verifiquei e é London
Westbrook. — As mentiras foram se tornando mais fáceis.

As sobrancelhas finas da mãe levantaram.

— Deck é cheio de recursos, não é?

— Deck é bom no que faz e um dia nós poderemos ser


capazes de usá-lo. — Ela assentiu com uma ligeira mudança
no peso. Ela gostou da ideia, assim como eu tive que fazê-la
gostar, com minha próxima ideia. — E nós podemos usá-la.

Seus olhos se estreitaram e qualquer sugestão de um


sorriso desapareceu.

— Eu não vejo como. Ela é uma fraca, patética...

— Cientista, — interrompi. — Ela é brilhante e sabe


como seu pai trabalha. — Tudo isso era verdade, mas o rosto
da Mãe estava tenso e eu sabia que ela ainda não estava
convencida, então joguei em cima, — Nós podemos mandá-la
para a fazenda até precisarmos dela. — De jeito nenhum eu
ia deixar que isso acontecesse, mas a Mãe não sabia disso.

Ela voltou para a roseira e cortou outro botão. Uma gota


de sangue escorreu da ponta do dedo, da furada de um
espinho, mas ela ainda não tinha se encolhido com a picada.
Ela vasculhou as flores, ignorando os riscos para suas mãos
enquanto cortava mais e mais. Ela nem sequer iria recolhê-
las agora. Em vez disso, simplesmente cortava as flores
vermelhas e as deixava cair no chão.

Matando-as sem nenhum motivo.

Ela continuou me ignorando, até que a roseira ficou nua


de flores, então ela escorregou a tesoura no bolso da calça.

— O Dr. Westbrook entendeu a mensagem. — A


mensagem de ter sua filha desaparecida por dois fodidos
anos. — Talvez ele seja mais produtivo se permitirmos que a
sua filha volte. Os medicamentos necessitam de alguns
ajustes.

Eu fiquei completamente imóvel, nem mesmo uma


contração muscular facial.

— Como é que a droga está se saindo?

— Está sendo útil. Tem sido um pouco... difícil de


encontrar um componente do medicamento. — Ela acenou
com a mão como se para fechar a conversa. — Você vai
continuar acompanhando Dr. Westbrook. Vou considerar
sobre sua filha. Por enquanto, ela não vai a lugar nenhum.
Eu suspeito que ela está em uma condição bastante
delicada... de qualquer maneira.

Arruinada, mãe. Você acabou com ela.

Eu balancei a cabeça, em seguida, mudei e beijei sua


bochecha.

— É bom ver você de novo, Mãe.


— Filho. — ela respondeu ela e voltou para a roseira.

Eu tinha mais uma coisa a fazer antes de apagar


London da minha vida. Caçar os bastardos que destruíram a
menina que eu conheci uma vez. Porque a garota que eu vi na
câmera no leilão, não era London. Ela era um fantasma da
garota com quem eu estive.

E Jacob e Alfonzo eram os responsáveis. E não havia


nada que eu não faria para matá-los pelo o que fizeram com
ela. Nenhuma coisa.
Toronto

Se eu acreditasse em destino, ele estaria seriamente


desfrutando de foder comigo. Apesar de tentar manter
distância de London, fui jogado de volta em seu caminho
dentro de duas semanas. Mas, desta vez, não foi perseguindo
ou procurando por ela, foi porque que Deck ainda tinha que
levá-la de volta para Nova York e ela ainda estava em
Toronto.

E também em Toronto estava o bastardo, Alfonzo. E eu


sabia disso porque eu estava caçando Alfonzo e Jacob. Nada
que me ligasse a Jacob, mas tinha rastreado Alfonzo aqui.

No meu fodido território.

Pensei que ele estivesse em Toronto por causa de


London. Como se viu, ele não estava atrás dela. Ele estava
usando London para chegar a Emily, a garota do Sculpt.
Sculpt e Emily estiveram com Deck quando eles acabaram
com Raul e agora Alfonzo queria vingança.

Bem, eu também. E eu estava usando qualquer um a


fim de obtê-la. Alfonzo era um homem morto, mas primeiro
precisava dele para me levar ao bastardo indescritível Jacob e
para fazer isso, eu tinha que usar Chaos.

Andei até o portão do quintal de Chaos, onde concordei


em me encontrar com Alfonzo. Tanto quanto ele sabia, eu vim
para comprar Raven desde que ele alegava que ainda
pertencia a ele. Claro, era tudo besteira.

O que eu não esperava era Chaos e Alfonzo rolando no


chão, brigando por uma arma. Porra. Esta situação já era
volátil e Chaos era um fio desencapado.

— Jesus. — eu murmurei, mergulhando para Chaos


antes dela tomar um tiro e a tirei de cima de Alfonzo.

Eu não fui bonzinho com isso também. Alfonso teria que


ser enganado. Ele já estava inquieto sobre me encontrar, mas
a palavra era que ele também era um merda ganancioso.

Mas que porra Chaos estava fazendo? Isto tinha que ser
do meu jeito ou Jacob iria escapar com o que ele e Alfonzo
tinham feito com London durante anos.

Alfonzo ficou em pé e foi para socar a cara de Chaos


quando eu peguei seu punho na palma da minha mão e
empurrei para trás. O que eu queria fazer era levar a minha
faca e cortá-lo como um peixe, mas tinha de esperar.

Ouvi a comoção vindo de dentro e a empurrei para


frente em Alfonzo.

— Machuque ela e eu o machucarei. — Então caminhei


para dentro da casa e vi a garota, Emily, em cima de London
e uma arma, a centímetros de distância de ambas as mãos.

Eu não tinha ideia da merda que estava acontecendo,


exceto que Alfonzo tinha perdido o controle da situação e eu
tinha que recuperá-lo para que isso fosse de acordo com os
meus planos.

Peguei Emily e arrastei de cima de London.

— Pare. — eu pedi enquanto ela lutava contra mim.

A respiração de London parou e seus olhos voaram para


os meus. Então, como se ela estivesse aterrorizada por olhar
para mim, baixou o olhar para o chão.

— Raven! — Eu usei o nome que Alfonzo a chamou


porque eu não deveria saber seu nome verdadeiro.

Alfonzo veio de volta para dentro com Chaos e Raven


rapidamente se ajoelhou, com cabeça baixa e veio para o meu
lado. Jesus. Que porra é essa? Vendo isso, vendo London de
joelhos, tão submissa e com medo de fazer qualquer coisa
exceto o que foi espancada para fazer, era como se tivesse
jogado fogo no meu interior.
— Onde está o transportador? — Eu coloquei para fora.
Jacob, eu queria Jacob. O bastardo que estava no comando.

Alfonzo chutou Chaos na parte de trás das pernas e ela


caiu de joelhos. Apertei minha mandíbula, mas não fiz ou
disse qualquer coisa. Precisava estar sem emoção. Precisava
de tudo o que eu fui ensinado, porque se escorregasse, então
Jacob desapareceria e minha chance iria embora.

Eu sabia que no segundo em que fizesse uma ligação


para Deck sobre o que estava acontecendo, o cara estaria
enfurecido. Chaos e Deck tinham história e era a história que
nos ligava, a todos nós, embora Deck não fizesse ideia.

Alfonzo amarrou os pulsos de Chaos para trás e a vi


estremecer. Esta merda nunca tinha me incomodado antes.
Eu não tinha nenhuma conexão com Chaos, mesmo que
tivesse sido atribuído a ela desde que ela tinha dezesseis
anos.

Nenhuma conexão. Simples assim. Eu a mantive dessa


forma, mas não havia nada simples sobre isso agora.

Alfonzo pegou a arma do chão.

— Eu prometi-lhe Raven. Você vai tê-la. Esse é o nosso


acordo.

— Nosso acordo mudou. — eu disse. Não importava o


que, Alfonzo iria morrer hoje, mesmo que se recusasse a me
levar até Jacob. Eu me destaquei em ‘homens convincentes’
para fazer o que queria e, se necessário, essa seria a minha
próxima opção. — O que você está fazendo com essa daí? —
Eu apontei com cabeça para Chaos.

— Ela está vindo com a gente. E essa cadela, — ele


acenou para Emily — escapou de Raul. Ninguém escapa de
Raul e fica vivo.

— Raul morreu. — Idiota patético.

Alfonzo chutou Chaos na parte inferior das costas e ela


grunhiu caindo para frente. Tive a mão na minha faca pronta
para cortá-lo e aparafusar o plano. Levou tudo que eu tinha
para manter-me calmo e estável.

— Uma vez que eu termine com a sua formação, elas


vão a leilão e nunca serão encontradas novamente. Isto é, se
elas viverem até o leilão.

Olhei para Chaos. Foda-se, ela estava chateada e eu


sabia o que ela ia fazer, antes mesmo que fizesse isso. Ela
bateu a cabeça para trás, para o joelho de Alfonzo.

Ouvi o som de seu crânio bater na rótula do joelho;


Alfonzo e gritar em agonia.

Jesus Cristo.

— Não! — Emily gritou enquanto Alfonzo levantava a


arma para Chaos.

— Matá-la é um desperdício, — eu disse, tomando


cuidado para manter minha voz calma. — Leve-me para o
transportador. Eu preciso vê-lo.
Alfonzo tinha sua arma na cabeça de Chaos, seus dedos
agarravam o seu cabelo.

— Eu não posso fazer isso. Isso não foi o acordo. Raven


e o dinheiro. É isso aí.

— É nosso acordo agora. — eu disse.

O rosto de Alfonzo ficou vermelho.

— Eu estou vendendo-lhe a menina por metade do seu


preço.

— Poderia ter facilmente encontrado Raven por mim


mesmo. Encontrei você, não foi? O que quero é o
transportador.

— Ninguém consegue encontrá-lo. Ele não se encontra


com ninguém. Nunca.

Eu dei de ombros.

— Ele vai se reunir comigo. Ligue para ele.

Alfonzo empalideceu.

— Você simplesmente não liga para ele. Um acordo já


feito antes...

— Raul está morto. Isso significa que você e seu


transportador já não têm uma fonte principal. Ligue para ele.
Agora. Ou eu irei matá-lo e tomar todas as três meninas,
para mim mesmo.
— Porra. — Os dedos gordos de Alfonzo se contraíram
sobre a arma e seus olhos mudavam de um lado a outro.
Alfonzo levantou a arma e bateu na cabeça de Chaos quando
ela tentou se levantar.

— Georgie! — Emily gritou e tentou se afastar de mim.


—Por favor, não a machuque.

Apertei minhas mãos no braço de Emily e disse em voz


baixa e quase inaudível:

— É melhor do meu jeito.

E era. Eu tinha lidado com o tipo de Alfonzo. Se Chaos


continuasse o atingindo dessa forma, ele ia colocar uma bala
em sua cabeça. Claro, eu não deixaria que isso acontecesse,
mas protegê-la iria estragar o meu disfarce. Fui forçado a
aprender muito na fazenda. Uma dessas coisas era não
reagir, mesmo quando a merda acontecesse.

Alfonzo amarrou uma tira de pano em torno do braço de


Chaos e tirou uma seringa. Eu sabia o que era e ele iria
mantê-la viva porque Chaos sendo drogada significava cessar
a luta até que eu chegasse a Jacob.

Emily lutava contra o meu agarre.

— Por favor, não faça. Georgie.

— Pare. — Puxei o braço para o lado e ela gritou de dor.

Alfonzo olhou para mim e sorriu. Eu estava seriamente


pensando sobre enfiar minha faca em seus olhos, em
seguida, cortar o seu pau, enquanto dei meio sorriso de volta.
Ele deslizou a agulha na sua veia e em poucos segundos, o
corpo de Chaos relaxou e seus olhos fecharam.

Alfonzo pegou seu telefone, discou algumas vezes e


depois o colocou no ouvido. Ele manteve sua voz baixa
enquanto murmurava meu nome e algo sobre um armazém e
reunião.

Ele desligou e acenou para mim.

Finalmente.

Jacob.

— Vamos. — eu disse. Guiei Emily para fora antes de


mim.

Alfonzo pendurou Chaos por cima do ombro e ouvi ele


pedir a Raven para segui-lo.

Como uma porra de um cão. E o pior de tudo, ela o


seguiu. Meu estômago embrulhou.

Essa merda estava terminando.

Encostei-me em um pedaço grande de máquinas com


London ajoelhada ao meu lado, com as mãos no colo e de
cabeça baixa.
Chaos ainda estava drogada e Alfonzo estava em um
ritmo ansioso. Seus olhos se mantiveram fixos entre a porta
do armazém e no seu telefone. Era óbvio que o cara estava
nervoso e, a partir de quando eu tinha conhecido Jacob, no
México, ele tinha todo o direito de estar. Isso me deixou
enjoado, pensar que London tinha passado dois anos com
estes homens. Não me admirava ela não ser mais a garota
que eu tinha conhecido.

Finalmente, a porta de metal deslizou em seus trilhos e


abriu.

Jacob.

Não houve hesitação enquanto avançava em direção a


mim. Nenhuma arma à vista. Arrogante e confiante.
Desfrutaria assistir o brilho de vida em seus olhos
desaparecer no nada quando eu cortasse sua garganta.

Ele parou na minha frente, mas quando falou, foi com


Alfonzo que tinha seguido ao seu lado, como um cachorrinho.

— Eu não gosto de mudar os planos, — disse Jacob


para Alfonzo. — É algo que provoca erros.

Mantive meus olhos em Jacob quando eu disse:

— O braço direito de Raul. Pensei que você estivesse


morto. — eu menti.

— O mesmo acontece com todo mundo. — Jacob acenou


para Raven. — Você viajou uma grande distância por uma
menina. Ela não vale a pena.
— Onde estão as outras meninas? — Perguntei. Não
havia nenhuma maneira que ele viesse a Toronto por
simplesmente uma menina. Mesmo duas. Ele tinha que ter
mais e arrisquei perguntando, mas precisava que ele achasse
que eu queria ir fazer negócio com ele, mas o que eu estava
fazendo era atrasar. Estava esperando por Deck, ao qual
chamei do meu carro, no caminho para o local. Não poderia
dar isso a ele antes de nós termos chegado, então ele estava
tentando chegar aqui — rápido.

Deck já estava à procura de Emily, mas quando eu


mencionei Georgie, ele ficou petrificado, em silêncio. O que foi
um 'estar lá em dez,' mudou para 'estar lá em cinco'.

— Aqui. Aguardando embarque. — ele respondeu.

Eu fiquei tenso. Isso era o que eu precisava saber.

Os ombros de Jacob endureceram e eu coloquei minha


mão sobre a minha faca. Ele puxou sua arma, virou-se e
disparou em Alfonzo na cabeça.

Alfonso caiu para o chão.

Eu não vacilei. Permaneci encostado na máquina,


minha mão na cabeça de London, certificando-me de que ela
não se mexesse.

— Eu disse a ele, não atendo os clientes. Ele não deu


ouvidos. — disse Jacob.

— Então isso fez de mim uma exceção.


— Sua oferta despertou meu interesse. — Jacob fez uma
pausa. — Exijo uma base para trazer as meninas antes do
leilão. Você pode fornecer-me isso.

Minha mão parou no cabelo de London quando ouvi um


passo. Deck. Tempo para terminar isso.

— Quem é o fornecedor desde a morte de Raul?

Jacob enfiou a arma de volta no cinto.

— Ninguém. Este é o nosso primeiro embarque em mais


de um ano. Aquele cara, Deck, e os seus homens ficaram em
cima de nós e agora o burro do Alfonzo tomou essa. — Ele
acenou para Chaos. — Eu não cometo erros, Kai. Sou
cuidadoso. Alfonzo não era.

— Ah, mas você cometeu um erro, Jacob. — Eu sorri.

Jacob foi rápido. Antes mesmo de eu terminar a frase,


ele mergulhou rolando e minha faca perdeu sua garganta por
pouca coisa. Porra!

— Raven. Vá para as meninas! — eu pedi.

Não esperei para ver se ela fez, porque sabia que ela
faria qualquer coisa que eu dissesse. Eu me mantive
abaixado, quando saí do armazém, parando atrás de uma
corrente de transportadora. Balancei a cabeça para Deck que
estava se aproximando dos fundos do armazém.

Jacob desapareceu atrás das prateleiras que iam do


chão ao teto, mas vi seus pés enquanto ele circulava. E eu
sabia exatamente o que estava fazendo e para onde estava
indo. Merda. Mantendo-me abaixado e com cuidado, segui de
volta para as meninas e sai para a clareira, logo que Jacob
agarrou London puxando-a contra seu peito.

Eu vim à sua esquerda, a minha faca ao meu lado.

— Deixe-a ir. — Meu olhar perfurou Jacob e os meus


dedos estavam apertados ao redor do punho da minha faca.
Eu tinha bastante certeza que poderia matá-lo antes de seu
dedo apertar o gatilho.

London choramingou com o aperto de Jacob.

— Em questão de segundos, eu posso atirar na mulher


de Sculpt e agarrar o pescoço da sua escrava.

— Então faça isso. — eu disse. Nunca levei bem as


ameaças e estava apostando que ele não iria matar as duas
meninas. E se fizesse, ele estaria morto.

Deck estava agachado atrás de uma pilha de barris no


lado direito de Jacob. Nossos olhos se encontraram e ele
ergueu o queixo. Joguei a faca ao mesmo tempo que Sculpt
mergulhou para fora, atrás dos barris e levou Emily para
baixo, protegendo-a com seu corpo.

Minha faca cortou no ar em direção ao pescoço de


Jacob, tão perto do ouvido de London que vi um pontinho de
sangue na ponta exterior do seu lóbulo.

A arma de Jacob disparou, mas foi uma reação


instintiva para o seu corpo que balançou. London saiu de seu
agarre e caiu em suas mãos e joelhos, o sangue respingado
em seu rosto e peito.

A mão de Jacob ainda segurava a arma quando a outra


foi para o seu pescoço, com sangue escorrendo entre os dedos
e ele tentou parar o fluxo em torno da faca.

Jacob era um homem morto a qualquer momento, mas


eu sabia apenas porque Deck se aproximou, levantou a arma
e atirou no seu peito várias vezes. Era necessário colocar
balas no cara que machucou sua menina.

Jacob caiu para trás. A arma escorregou de sua mão e


caiu no chão.

Andei a passos largos, puxei a faca em seu pescoço,


limpei o sangue do corpo de Jacob e a coloquei na bainha na
minha cintura. Então, eu fui para London.

Ela ainda estava no chão quando agachei ao lado dela.


Porra, eu queria tanto puxá-la em meus braços, dizer-lhe que
acabou. Que os homens que a machucaram jamais iriam
tocá-la novamente.

Mas para ela, não terminou. Era só o começo para


encontrar um caminho de volta, para o antes do que fizeram
para ela.

— Baby. — eu murmurei.

Ela fechou os olhos, mas manteve a cabeça baixa.


Gentilmente coloquei meu braço em torno dela e
amaldiçoei com a quantidade de peso que ela perdeu. Eu
senti o olhar letal de Deck quando ele estava de joelhos ao
lado Chaos.

Voltei-me para London.

— London. — Ela não respondeu e fechei meus olhos


enquanto uma onda de dor passou por mim.

Porra.

Porra.

Porra.

Ela passou anos com Jacob e Alfonzo e aquilo doía. Não,


porra, aquilo me matou. Tortura não era nada comparando
com isso. A beleza que London tinha e a leveza que sempre
me deu se foi e isso me destruiu.

Eu a ajudei a levantar, a guiei até Deck e os outros. Eu


vi Deck passar o dedo sobre a marca de agulha no braço de
Georgie.

— Heroína. — eu disse.

Eu tinha o meu braço em volta da cintura de London e


sua cabeça estava escondida em meu peito. Porra. Eu não
queria deixá-la ir, mas não tinha escolha. Havia uma chance
para ela sem mim. A chance de trazer a leveza de volta, o
riso, a doçura. Eu era a sua destruição e continuaria caindo,
falhando e sufocando-a em as minhas trevas.
Deck assentiu.

— Provavelmente foi melhor. Georgie teria conseguido se


matar com aquela sua boca.

Deck ficou lá.

— A polícia vai estar aqui em breve. É melhor você ir.

Eu me afastei de London. Não tinha a intenção de olhar


para ela de novo. Deveria ter ido embora, mas em vez disso,
tive que olhar para ela, mais uma vez e meu coração parou.
Dilacerou. A mulher brilhante cheia de compaixão, com
obstinada determinação, já não existia.

Jesus, baby. Você precisa encontrar seu caminho de


volta. Você não pode fazer isso comigo.

Eu tinha que sair daqui.

— Você precisa ficar com eles. Deck irá levá-la para


casa.

Seus olhos se arregalaram e seu rosto empalideceu.


Então, ela fez o que eu nunca esperava. Ela caiu de joelhos
em frente a mim e agarrou a minha perna.

— Por favor. Por favor, me leve com você. — Eu


permanecia imóvel.

Porra, London.

Nunca me importei antes. Para importar com algo, você


tinha que sentir. Eu nunca senti. Agora, sentia e foi pior do
que qualquer dor física. Era ácido corroendo meu interior e
sentindo como se não houvesse caminho de volta da porra em
que eu vivia.

Eu pertencia a escuridão e London pertencia à luz.

Suspirei e, em seguida, acenei para Deck. Ele se


levantou, deu dois passos, em seguida, agarrou o braço de
London e a puxou de mim. Lágrimas escorriam pelo seu
rosto, mas ela não fez nenhum som.

Então corri para longe e não olhei para trás.


Apagado.

A palavra ficou na minha cabeça. Eu me tornei um


fantasma após o término de toda a comunicação com London.
Ela estava melhor sem mim. Ela estava mais segura.

Passou um ano e sete meses desde que eu a vi no


armazém de joelhos implorando para levá-la. Fingi que era
negócio como de costume, mas não foi. O que eu fiz não tinha
nada a ver com negócio. Era pessoal e eu me tornei um
assassino silencioso.

Eu matei em vez de satisfazer todas as necessidades


sexuais. Matei para parar o pesadelo de vê-la ajoelhada. E
matei para aliviar essa dor. Tecendo dentro e fora de
indústrias do tráfico sexual, eu matei aqueles que mereciam.

Foi a minha saída.


Minha ligação para manter minha sanidade.

Ernie ainda a observava, mas eu insistia em não ouvir


atualizações. Ele ignorou a ordem e me enviou e-mails de
qualquer maneira, os quais, durante as primeiras duas
semanas, meu dedo pairava sobre o botão ‘delete’ sem abrir o
arquivo. Mas no final, eu sempre os lia.

A merda mudou mesmo há um ano, quando ela fugiu.


Meu primeiro pensamento foi de que Vault a tinha e depois
de ter passado o sentimento, eu sabia que eles não a tinham.
Pelo o que Ernie viu, London simplesmente partiu sem nada.

E uma vez que ela não tinha nada, não existia qualquer
pista. Nenhum rastro e isso significava que estava tornando
um trabalho impossível para Ernie encontrá-la. A única boa
notícia com isso era que se eu não pudesse encontrá-la, Vault
não poderia também e eles estiveram olhando por isso,
porque um par de meses antes, minha mãe me pediu para
trazer London. E pela primeira vez, eu não menti quando
disse a ela que não podia encontrá-la.

Eu tinha uma suspeita de que eles achavam que eu


estava escondendo-a. Claro, eu não estava. E mesmo se
estivesse, nunca a traria. Eu era parte de Vault, mas não me
submeteria a eles, embora eles pensassem de forma diferente.
Eu só sabia como jogar o seu jogo e mentir muito bem.

Eu sabia porque London fugiu. Ela estava fugindo de si


mesma, ou melhor dizendo, de Raven.

E eu odiava Raven, porra!


Minha brava London tinha se submetido e o que me
irritava mais do que qualquer outra coisa na vida era que eles
a destruíram tanto, que ela não tinha escolha a não ser
continuar assim e se render.

Ela se tornou Raven e Raven não era uma cientista. Ela


não era forte ou teimosa ou uma garota inteligente que faria
qualquer coisa para salvar seu pai, que se preocupava com os
outros e queria salvar vidas.

Ela havia se tornado um nada.

Sua liberdade não lhe trouxe libertação. Ela a prendeu


em um mundo que já não sabia como sobreviver e por isso
fugiu.

Meu telefone descartável vibrou e eu o tirei do bolso do


paletó inclinando-o para a palma da mão contra o vidro da
janela enquanto olhava para a cidade.

— Eu disse que não quero saber.

— Problema teu. — disse ele. Esse filho da puta me


mantinha atualizado sobre sua busca por London, mesmo se
eu quisesse ouvir ou não. — Abrigo Christie. Descobri que
muitas vezes vai para lá. Embora, sejam todas mulheres e
por isso não posso entrar.

Durante os últimos seis meses, Ernie incorporou-se nas


ruas e vivia como um sem-teto.
London sempre o ajudou e não importa quem ela era
agora, Ernie e eu pensávamos que ela poderia gravitar por
eles, o que significa, viver nas ruas.

Mas os sem-teto não gostavam de compartilhar


informações ou estavam muito drogados para compartilhar. E
os abrigos para sem-teto, definitivamente, não
compartilhavam. Não quando um cara, homem, como Ernie,
estava procurando uma menina, que estava completamente
trancada dentro de si mesma. A situação gritava, foi abusada.

— O velho, chamado Donald, diz que a vê muitas vezes


em um beco atrás da Dark Horse. É um bar perto do abrigo.
Donald diz que o segurança mantém um olho nela. A ajuda.
Entrega sua comida. — Ernie fez uma pausa e eu sabia o
porquê. Seu instinto dizia que iriam encontrá-la esta noite e
isso significava que ele me queria lá. — Você precisa lidar
com isso, chefe. Já faz muito tempo e ela não está pior, ou
melhor. Vale a pena o risco.

Enrolei minha mão em torno do telefone. Porra.

— Chefe.

Porra, London, que merda você está fazendo?

Eu descansei minha testa contra o vidro da janela e


fechei os olhos.

— No caminho. — Eu encerrei a ligação.


Puxei meu telefone e liguei para Ernie enquanto dirigia
para a Dark Horse.

— Dois minutos.

— Bouncer diz que ela está no beco. Você não vai gostar,
chefe.

Sabia que eu não ia gostar do que veria. Não gostei do


que vi no México, na Alemanha, na porra de Toronto com
Alfonzo.

— Mantenha o segurança dentro. Não precisamos de


testemunhas.

— Entendi.

Abrandei quando vi o sinal para a Dark Horse, um bar


decadente que tinha uma garota seminua na frente e um
malandro, provavelmente vendendo drogas ou talvez fosse o
cafetão da menina, até mesmo seu cliente em potencial.

Segui no primeiro beco passando pelo bar, parei o carro,


inclinei-me, alcançando minha bolsa e tirei uma das
seringas. Não queria correr nenhum risco e não precisava de
algum exagerado valentão vindo para resgatá-la e chamar
atenção.
A cidade estava cheia de sons, buzinas, ônibus, risos e
gritos e mesmo assim, foram os meus passos no pavimento
que estavam mais altos, como o suspense antes do clímax de
um filme. Tudo o que restou se tornou insignificante exceto o
momento.

Eu era como um viciado, que se aproxima do que lhe foi


negado por anos. A necessidade me reivindicava. Ela me
reivindicou.

Parei quando eu a vi encolhida no chão para dormir,


com cascas de laranja jogadas na calçada ao lado dela e lixo
espalhados ao seu redor.

— Jesus. — Tomei alguns passos finais até ela, então


me agachei. Empurrei o flácido cabelo de seu rosto. — Baby.
— Ela tinha manchas escuras de sujeira em suas bochechas
e na testa.

Tinha que fazer uma escolha. Ernie estava certo, isso


não poderia continuar.

Matá-la iria tirá-la de sua miséria.

Cortar sua garganta enquanto ela dormia e esquecer


que já a conheci. Que a queria. Que já transei com ela.

Salvá-la do sofrimento. Salvá-la de mim era o que eu


teria que fazer, a fim de parar com tudo isso.

Mas eu não podia.


Eu deixaria os monstros me invadirem. As emoções
pulsavam e London era minha.

Tirei minha faca de debaixo da minha calça em uma das


pernas e descansei a lâmina afiada contra sua clavícula.

Seria tão simples.

Acabar com isso.

Acabar com o que havia se tornado minha obsessão.

Deitei a lâmina plana e dura na superfície de sua pele e


inclinei ligeiramente a ponta, a pressão mal estava lá, mas
seria o suficiente. Com o menor movimento, minha lâmina a
pegaria e eu assistiria uma pérola de sangue subir à
superfície, hesitando, trilhando um caminho de vermelho em
seu suéter preto rasgado.

Seus olhos se abririam por um momento e encontrariam


os meus, mas eles não me veriam. Estariam mortos. Ela os
fecharia.

— Porra, Coração Valente. — Mas uma gota de sangue


era a minha resposta para o caminho que eu estava prestes a
tomar. — Você vai precisar fazer jus a esse nome agora. Eu
não posso fazer isso de outra maneira.

Porque eu não estava indo embora de novo. E as


consequências poderiam levá-la a morte. Mas ela estava
desaparecendo no nada de toda forma. Ela já acreditava que
não era nada e London era muito mais. Estava perdida e
havia apenas uma maneira de recuperá-la. Eu teria que
destruir a garota que estava fugindo de si mesma.

Matar Raven na esperança de encontrar a menina


debaixo, London.

Suas escolhas foram tiradas. Ela foi treinada para


obedecer. Sua sobrevivência dependia de estar trancada
dentro de si mesma mas não precisaria mais fazer isso.

Ela estava presa, incapaz de escapar do ciclo, com medo


de sair das sombras. De acordo com Ernie, ela estava vendo
terapeutas, médicos que lhes deram medicação após
medicação, mas Ernie pensava que tudo que eles fizeram foi
torná-la mais isolada.

Porra de Ernie. Bastardo, sabia que eu nunca iria deixá-


la se a visse novamente. Era por isso que ele me queria aqui.

Agora, havia uma opção para mim... para ela. Eu estava


para tirá-la do caixão e das sombras e destruir cada pedaço
de Raven.

Guardei minha faca, tirei a seringa e removi a tampa.


Baixei suavemente sua camisa de seu ombro direito, a
almofada do meu dedo acariciou a sua pele.

A agulha perfurou sua pele e ela se encolheu, mas não


abriu os olhos.

— Sem mais fugir. Você vai ter que ser minha Coração
Valente, a fim de sobreviver a mim.
Depois de alguns minutos, eu vi a tensão em torno de
seus olhos acalmar e sabia que o sedativo entrou em vigor. A
porta do clube se abriu e Ernie ficou lá.

Eu balancei a cabeça para ele e tudo o que ele disse foi:

— Finalmente. Isso merece uma porra de scotch. — Em


seguida, ele bateu a porta e voltou para dentro.

Eu bufei e peguei-a nos meus braços, antes de


caminhar de volta para o meu carro. Eu a coloquei no banco
da frente, apertei o cinto de segurança, entrei e comecei a
longa viagem até a minha casa.

Estava levando-a para casa, para um lugar que ninguém


conhecia, exceto Ernie.

Eu iria encontrar London e a traria de volta para mim.


Regras

Sentei-me com um pé torto sobre o outro, com meu


cotovelo no descanso de braço, polegar levemente acariciando
meu lábio inferior. Do outro lado da sala, eu a assistia. Fazia
horas. Já estava escuro, mas agora que ela estava aqui, o
tempo não tinha significado nenhum. Era sobre o presente.

A respiração de London gradualmente acelerou e ela


virou-se. Então enrolou-se em uma bola, o fôlego preso em
sua garganta antes de alterar para profundas inalações
esfarrapadas, como se estivesse presa em um pesadelo. Eu
não me incomodei em acordá-la. Em vez disso, fiz o que eu
era bom em fazer. Assistir. Avaliar. Planejar.
Oito horas se passaram enquanto eu dirigia para minha
casa. Uma casa que Vault não sabia que existia. Se eles
descobrissem, minha lealdade estaria comprometida e eles
encontrariam este lugar. Mas, por agora, era o lugar mais
seguro que eu sabia que poderia trazê-la.

Teria que verificar com Brice, na cidade, em algum


momento, mas Tanner tinha os olhos em Chaos. O dia do
aniversário de morte do irmão de Chaos estava se
aproximando e eu teria que encontrá-la na cabana.

Eu fiz isso. Cortei Chaos. E eu odiava, mas era algo que


ela pensou que precisasse. Recusei-me da primeira vez,
quando ela me pediu, mas aí ela foi atrás de Tanner. Quando
eu vi o que ele fez com as costas dela, eu o espanquei, tive a
minha lâmina em sua garganta pronta para matá-lo. Mas ele
pertencia ao Vault e matá-lo por ter machucado Chaos iria
dizer muito sobre mim. Dizer o que tinha de ser enterrado.

London chutou o lençol branco e se torceu em uma


pilha, no final da cama. Meus olhos se arrastaram ao
contorno de seu corpo e tudo o que eu sentia era desgosto.
Esta não era a garota que eu perseguia há anos. Esta não era
a garota que fiz um acordo e tinha as pernas sedosas em
torno de mim. Não era nem mesmo a garota que eu tinha
deixado no México.

Esta era Raven.

Uma menina treinada para o prazer dos homens.


Irônico, era que eu fui treinado também, mas de uma forma
muito diferente. Vault não usava o sexo para destruir você.
As crianças eram moldadas, esculpidas em pedra.
Condicionadas.

E agora, com a droga, o pai de London deu-lhes mais


poder. Um medicamento para ajudá-los a moldar os homens.
Os homens que já eram assassinos treinados como Connor.

Não havia margem de erro permitida. Não há espaço


para erros e ainda, eu cometi muitos erros nos últimos anos.

As coisas não eram mais tão simples.

London fez isso complicado.

Seu corpo ficou tenso e dedos se enroscaram ao redor


do travesseiro de pelúcia sob sua bochecha. Ela estava
finalmente acordando e o que eu tinha que fazer com ela iria
começar.

Ela correu na posição vertical, com os olhos arregalados


e frenéticos. Esperei enquanto ela olhava o quarto, tentando
descobrir onde estava e o que aconteceu.

Seu olhar me atingiu e eu levantei minhas sobrancelhas,


os cantos dos meus lábios curvando-se para cima quando
sua mente apanhou o que seus olhos estavam vendo.

— Kai. — Ela abruptamente falou, os olhos rapidamente


fazendo a varredura do quarto como se procurasse outro
alguém. Eu vi a confusão, o conflito sobre a possibilidade de
confiar no que ela pensou quem eu era, ou proteger a si
mesma e ser quem ela foi treinada para ser, qual ela
considerava ser a opção segura. Bem, essa opção segura ia
ser arrancada dela.

Franziu as sobrancelhas juntas, lábios entreabertos com


um leve tremor e seus olhos... assombrados e incertos.

Em seguida, ela escolheu.

Ela se arrastou para fora da cama e caiu de joelhos. A


posição de uma submissa. London nunca faria isso, mas
Raven sim. Ela tinha que fazer. Essa foi sua sobrevivência.

Eu sempre viria para ela, mas sempre fui embora


também.

Seu loft. México. O leilão. E então, no armazém quando


matei Jacob e ela me implorou para não a deixar.

Eu a deixei, sem nada para confiar em mim.

Suspirei, descruzando as pernas. Porra, isso ia ser uma


merda para nós dois.

— Venha aqui.

Ela ficou de pé para fazer o que eu disse e andou na


minha direção e ajoelhou-se. Mas ela não parou por aí. As
mãos dela foram para a minha virilha.

Porra.

Agarrei-lhe o pulso e eu não fui gentil sobre isso quando


puxei a mão, com desgosto me rasgando. Torci um pouco
para que ela fosse forçada a embaralhar de volta para aliviar
a pressão e só então a deixei ir. Não sabia nada sobre a
terapia, falando besteira em um quarto com artes
penduradas nas paredes que deveria ter algum significado
subjacente diferente de bolhas de cores.

O que eu sabia era como matar. Parar. Destruir. E fazê-


lo com um sorriso. Isso era o que eu ia fazer para Raven.
Matá-la. E ela iria resistir, iria me odiar por tirar sua
segurança.

Ela correu de casa porque era incapaz de viver nesse


mundo novo. Sabia como ser uma escrava, como ser Raven e
sendo Raven lhe permitia evitar enfrentar o que aconteceu.

— Nunca mais faça isso. Tenho regras e se você quebrar


qualquer uma delas, vou fazer você se deitar em uma
banheira de gelo até que você esteja tão fria que mal consiga
respirar. — A ameaça tinha de ser real. Algo que poderia fazer
se ela fizesse isso de novo, porque não iria mentir para ela.

Ela tinha que entender que cada palavra que saía da


minha boca era verdade.

London... não, Raven, ela não era London ainda, sentou-


se sobre os calcanhares, mas uma nova lágrima escapou de
seu olho direito e escorreu pelo seu rosto. Um caminho,
porque ela estava imunda, cheirava como lixo e necessitava
de um monte de sabão.

Eu me inclinei na minha cadeira.


— Você é boa em seguir regras. — Bem, ela agora era.
Ela não costumava ser. Ela se recusou a dormir nua. — Você
acabou de ouvir a primeira. Repita isso para mim.

— Não tocar em você? — Sua voz tremeu e se eu tivesse


sido cego e não saberia que era London que estava ajoelhada
na minha frente, não a teria reconhecido.

— Bom. Segunda regra, quando eu lhe perguntar uma


coisa, quero uma resposta.

Ela assentiu com a cabeça.

— Não, repita o que eu disse. Eu não quero nenhum


mal-entendido aqui.

— Responder a você.

Bom o bastante. O couro rangeu quando me inclinei


para frente e apoiei os cotovelos sobre os joelhos.

— E você nunca mais se ajoelhe ou evite olhar para mim


de novo.

Sua respiração se acelerou e as mãos deitadas em suas


coxas se contraíram. Ela estava debatendo sobre o que fazer.
Se levantava agora ou esperava até que eu a mandasse fazer.
Eu precisava dela para pensar por si mesma. Ela não era
mais uma escrava para fazer o que lhe era dito. Ela tinha que
tomar suas próprias decisões, mesmo se achasse que as
consequências seriam ruins.
Eventualmente, ela aprenderia que as consequências
nunca seriam ruins, a menos que ela fosse Raven. Isso era o
que ela entenderia com as regras. E eu as usaria para
encontrar London enterrada debaixo de Raven.

Seus lábios tremiam e as sobrancelhas se encolheram


enquanto contemplava.

Esperei. Paciente.

Em seguida, ela colocou as mãos no chão e se levantou.


Levou mais tempo para o queixo subir e os olhos
encontrarem os meus. Mas ela fez isso e no segundo em que
ela fez, eu vi o flash de medo sobre o que aconteceria por ela
ter feito contato com os olhos. Em seguida, seus olhos
estavam mortos.

Balancei a cabeça em aprovação. Raven repetiu as


minhas palavras, seus olhos olhando para mim, mas ela não
estava vendo. Não realmente. Era uma máscara. Eu fiz isso
quando eu tive que tirar meu pensamento da dor que foi
infligida a mim, na fazenda.

— O banheiro é ali. — Fiz um gesto com a minha mão


para a esquerda e ela se encolheu. Jesus, isso me irritava.
Quantas vezes Alfonzo ou Jacob levantaram a mão para bater
nela? — Vá para o chuveiro. Há roupas ao lado da pia. Venha
para a cozinha quando você terminar e coma alguma coisa.

Não esperei por uma resposta. Ela faria tudo o que eu


dissesse a ela. Eu me levantei, esbarrei nela e sai do quarto.
Foram apenas oito minutos desde que eu a deixei, antes
que ela aparecesse andando, com os pés descalços pelo meu
piso de madeira até a cozinha.

Eu estava de frente para o fogão, mexendo a sopa de


vegetais com carne na panela de ferro fundido, o vapor e
aroma subiam na minha frente.

Recusei-me a dirigi-la sobre o que fazer. Isso, era de


aprendizado para mim também. Eu tinha bastante certeza
que sua normalidade seria se ajoelhar no chão,
provavelmente perto da porta. Mas a minha regra estava
tocando em sua cabeça.

Juro que ouvi seu coração batendo forte contra o peito,


há alguma distancia atrás de mim, enquanto ela novamente
decidia qual o próximo passo a ser tomado. Pelo que eu
sabia, ela ficaria lá até que me dirigisse a ela, mas ela teria
que esperar uma porra de muito tempo. Porque eu a faria
ficar lá a noite toda se tivesse que fazer.

Com uma concha, coloquei a sopa em duas tigelas, em


seguida, levei-as para os bancos de bar na ilha, que era a
uma mera polegada de onde ela estava. O aroma de coco e
manga do shampoo misturados com a sopa.

Peguei os dois bancos e sentei-me.

Pergunte-me, London. Porra.

Era um teste simples. Eu sabia que ela estava me


observando e com o canto do meu olho, a vi morder o lábio
inferior e os olhos vacilarem para o banco, para a tigela de
sopa e de volta para mim.

Assuma um risco, caramba. Seja a porra da menina


corajosa, baby.

Dez minutos. Dez fodidos minutos. Eu estava no meu


segundo prato de sopa e o dela não estava mais fumegante.

— Posso comer, mestre?

— Sim. Você pode comer qualquer coisa que quiser, a


qualquer momento. — E eu não gostava dela me chamando
da porra de mestre. — Você sabe o meu nome, use-o.

Ela sentou-se calmamente na ilha e comeu a sopa fria.


Eu me contive de requentar, mas a culpa era dela que levou
tanto tempo do caralho assim.

Eu nunca disse que eu era bom.

Ela foi cautelosa enquanto comia e eu não podia deixar


de imaginar-nos em sua cozinha juntos. Acordo diferente.
Uma garota completamente diferente.

Olhei para Raven. Eu nunca transaria com ela.

Empurrei de volta o meu banquinho, levantei-me e lavei


a minha tigela na pia; coloquei o restante da sopa em um
recipiente e o coloquei na geladeira. Lavei a panela, em
seguida, me virei e ela ainda estava sentada lá, colher
descansando contra a borda da tigela e sua cabeça para
baixo.
— Vá dormir quando você tiver terminado, bab... Raven.
— Saí da cozinha mas como o local era aberto, então, eu
ainda estava, tecnicamente na cozinha e sentei-me no sofá.
Coloquei minha faca no vidro da mesa de café, juntamente
com o meu fio enrolado. Cliquei no aparelho de som para
algum jazz, coloquei os pés para cima e esperei.

Tinha a minha cabeça para trás e os olhos fechados


quando ouvi sua abordagem. E isso foi quando ela fodeu com
a minha cabeça, porque eu queria olhar para ela, estender
minha mão e arrastá-la em cima de mim, então despi-la e
provar a doçura que eu ansiava por anos.

Anos. Jesus.

Mas não queria a submissa, a obediente robô. Eu queria


London.

— Kai. — sua voz tremia e eu endureci.

Demorei para olhar para ela, em pé ao lado do sofá,


braços em seus lados, os dedos agarrando sua camisa. Um
coelho um pouco assustado que queria engatinhar no seu
buraco. Mas eu era o lobo e estava assentado sobre ele,
bloqueando seu escape.

— Sim? — Eu sabia exatamente porque estava ali. Ela


não tinha ideia de onde deveria dormir.

Tenho quase certeza de que Alfonzo foi o único que


manteve London para si mesmo. Ele poderia tê-la mantido em
um porão, no chão de um quarto, merda, em um armário ou
até gaiola, pelo que eu sabia. Teria gostado de nada mais do
que envolver minha corda de piano em volta do pescoço e
assistir os olhos dele pularem para fora, enquanto lutava
para respirar. E só por divertimento, eu o deixaria respirar,
em seguida, faria uma e outra vez.

— Onde você quer que eu durma?

— Você pode dormir na minha cama por enquanto. O


quarto de visitas não está ajeitado ainda. Quando estiver,
poderá dormir lá. A escolha será sua.

Ela hesitou, mordendo o lábio inferior como se


contemplando. Mas isso não era sobre mim. Isto era sobre ela
e ela tinha que aprender a fazer suas próprias escolhas.

— Você tem algum problema com isso? Diga-me.

Isso fez alguma coisa dentro dela. Uma partícula de luz


atingiu seus olhos e endureceu sua espinha, não o suficiente
para a maioria das pessoas notarem, mas eu não era a
maioria das pessoas.

O que eu precisava era da rebelião silenciosa. Porra, eu


tomaria qualquer direito sobre a rebeldia nesse momento.
Não estava recebendo isso agora, mas acabaria fazendo,
mesmo se tivesse que rasgar Raven no meio, para chegar a
London.

— Vá para a cama.

Ela afundou para longe e eu inclinei minha cabeça para


trás novamente e fechei os olhos.
Eu daria a ela uma semana. Estava sendo generoso,
afinal, ser bom era contra a minha natureza. Em seguida, ela
iria lutar, por London.
Água gelada

Levou cinco dias antes dela quebrar uma regra.

Esperava mais cedo, mas ela foi meticulosa e eu podia


ver sua mente trabalhando em decidir o que fazer antes de
fazer. A cientista nela trabalhava duro. Exceto, que era o tipo
errado de trabalho de merda.

Mas quando um copo que estava colocado no topo do


armário escorregou de sua mão e caiu no chão quebrando,
ela congelou por uma fração de segundos e caiu de joelhos.

Qualquer simpatia por Raven foi deixada de lado.


Minhas regras eram justas e elas foram criadas para romper
o que ela sofreu. Eu vi as marcas na parte de trás das coxas.
Sabia o que eram e a mimando não estaria tornando melhor.
Ela teve meses em terapia, medicação e tudo mais o que
existia que o pai e os profissionais médicos fizeram para
tentar ajudá-la. Em vez disso, ela fugiu.

Agora faríamos do meu jeito e essa era a maneira que


London necessitava. Eu sabia disso porque estive no inferno.
Talvez um tipo diferente, mas ainda assim era o inferno.

Enchi a banheira com água fria, fui para o freezer e


peguei um pequeno saco de gelo. Não importava quão
diligente uma pessoa era, sempre caía de volta para o que
tinha se tornado seu lugar seguro... isso era da natureza
humana. Meu lugar seguro era não me importar. Não sentir
emoção e ignorar o que eu havia me tornado.

O lugar seguro de Raven era de joelhos.

Agora, eu iria reescrever isso.

Ela me observava. Sentada na beira da cama, com as


mãos juntas, torcendo. Era muito melhor quando interrogava
alguém, enquanto viam seus instrumentos de tortura.
Deixando o medo passear enquanto minha mão pairava sobre
cada um desses instrumentos, ouvir as respirações
acelerando, esperavam para ver qual deles eu escolheria em
primeiro lugar.

Claro, isso não era sobre a tortura. Mas era a mesma


ideia, tinha que destruí-la com outras técnicas, onde ela seria
punida por ser Raven.
Poderia mimá-la, envolvê-la em meus braços e esperar
que ela fosse encontrar seu caminho de volta, mas não a
mimaria e London era uma lutadora. Eu só tinha que
encontrar o gatilho para fazê-la lutar.

Resumindo, eu precisava que ela ficasse chateada.

Joguei o saco de gelo na banheira e os cubos tilintaram


contra a porcelana. Enfiei a mão dentro — sim, um frio
fodido. Mas estive em piores.

Estive perseguindo um carro quando ele derrapou


caindo de uma ponte, em um lago e ultrapassou o gelo.
Precisei ir atrás do motorista. Não para salvá-lo... bem, eu o
salvei. Mas depois de obter a informação que eu precisava, o
matei. O bastardo era sujo demais e ele era o tipo de homem
que eu sentia grande alegria em acabar com sua vida.

— Venha aqui. — eu disse, sem olhar para ela.

Ela ficou ao meu lado e senti uma pontada de culpa


quando começou a tremer.

— Você sabe por quê?

Ela assentiu com a cabeça.

— Eu quebrei uma regra.

— Sim. E por que você acha que tenho essa regra? —


Essa seria difícil para ela resolver na sua cabeça. Ela
provavelmente não tinha ideia do porquê, mas eu esperava
uma resposta e queria ouvir o que viria dela.
Eu a vi engolir. Juro que pude ouvir sua frequência
cardíaca acelerar. Boa. Uma reação.

— Você não gosta de me ver de joelhos?

— Verdade. Por que outra razão?

Seus olhos corriam para mim, amplos e com medo.


Vamos, London. Me desafie. Diga-o. Mas quando os ombros
dela cederam, eu sabia que não estava recebendo a resposta
que eu queria.

— Eu não sei por quê.

Eu agarrei o queixo e a forcei olhar para mim, os dedos


cavando duramente em sua pele.

— Porque você nunca se submeteu a ninguém. Nunca.


Você pode brincar. Fingir com alguém em quem confia, mas
você não confia em mim e nós não estamos brincando. Será
que você confiava neles? Era tudo um jogo com Alfonzo e
Jacob?

Seus olhos se arregalaram com horror.

— Não. Eu... eu tive que...

Ela teve. Eu sabia que ela teve obrigação de fazer coisas.


Ela provavelmente lutou, para caralho em primeiro lugar, a
teimosia causando muito mais dor do que a maioria dessas
garotas iria aguentar.

— Sim. Mas você também se entregou a tudo. — Aliviei


minha espera e acariciei meu polegar para trás e para frente
sobre a pele avermelhada. — Submeta seu corpo quando você
não tiver escolha, mas proteja sua mente, London. Nunca os
deixe tê-la e, agora, eles a têm.

Lágrimas encheram os seus olhos, mas eu não queria as


lágrimas. Queria o flash de raiva.

— Bem. — Balancei a cabeça para a banheira.

Ela hesitou e eu a deixei. Porra, eu queria que ela


hesitasse. Estaria em êxtase se ela me dissesse para ir me
foder e me bater.

Ela não o fez e eu suspirei enquanto se despia e entrava


na banheira. Ouvi seu suspiro e seu olhar foi minado quando
recostei no balcão do banheiro e assisti.

Na esperança. Falsa esperança. Algo que eu sabia que


não devia ter.

Ela estava muito magra. Eu podia ver os ossos do


quadril e as costelas; seus seios estavam menores. Quando
meus olhos terminaram de percorrer pelo seu corpo e se
reuniu com os dela novamente, eu quase... quase disse a ela
para sair.

Mas era a decisão dela. Ela poderia saber pouco sobre


mim, mas esteve intimamente comigo. Ela sabia o suficiente
que tudo o que tinha que fazer era me dizer. Ensinei-lhe essa
lição e eu queria que ela procurasse em sua mente e se
lembrasse. Encontrasse essas palavras e me dissesse que não
queria fazer isso.
Isso era tudo que precisava.

Seus lábios se separaram e ela inalou. Eu jurei que ia


dizer as palavras, mas em vez disso, ela abaixou na água
gelada. Abaixei minha cabeça para frente e fechei os olhos.

Porra.

Ela começou a hiperventilar, respiração rápida e


incontrolável. A reação de choque do corpo para o súbito frio.
Antecipei esse fato em poucos minutos, isso iria embora e ela
seria capaz de suportar a temperatura de dez a vinte minutos
antes da hipotermia chegar. Quando seus músculos
enfraquecessem, seria quando eu teria que tirá-la de lá.

Mas o que eu queria era que ela relutasse antes.

Minha pele se arrepiou e a tensão no meu peito era tão


apertada que a respiração tornou-se dolorosa. Porque olhar
para ela era doloroso. Ouvir o tilintar do gelo contra os lados
da banheira era doloroso. Nunca tive esta reação antes. Era
imune a ouvir os gritos, testemunhando tortura, morte,
sangue.

Mas levou tudo que tinha para permanecer onde estava


e não arrastá-la para fora de lá.

Ela tinha as pernas amassadas contra o peito, os braços


envolvidos em torno delas, com o queixo apoiado nos joelhos
que estavam acima do nível da água. Seus mamilos estavam
eretos, ou pelo menos o que eu podia ver quando a água
espirrou ligeiramente contra seus seios, já que só enchi a
banheira até a metade.

Seus dentes batiam e ela tentou parar o tremor, mas


não podia, o que fazia a água chapinhar para frente e para
trás.

— O que eles fizeram para você, Raven? — Eu não


precisava saber, mas ela precisava me dizer.

Ela levantou a cabeça e olhou para mim.

— Tudo.

Sim, eu tinha uma boa ideia.

— Especifique, por favor.

Oh, ela não gostou, pela forma como endureceu e eu


interiormente sorri.

— Alfonzo gostava de sexo.

Eu fiquei tenso, sabendo o que ouviria, me preparando


para isso. Pelo menos, pensei que eu estava.

— Você gostou?

Ela suspirou e franziu os lábios.

— Não.

— Mas você o deixou de qualquer maneira. — Eu cruzei


os braços e levantei as sobrancelhas. — Você não tinha
escolha?
— Não. — ela respondeu.

— Por quê?

— Eu estava amarrada.

Isso era informação que eu usaria mais tarde.

— Você está amarrada agora?

— Umm. — Fiz uma careta para a palavra e houve um


lampejo de algo em seus olhos. Lembrou-se. Eu sabia que ela
lembrava. Naquele dia, eu disse a ela que umm não
combinava com ela. — Não.

— Então, você está desfrutando da água fria?

Isso a irritou, quando sua espinha se endireitou e


apesar de seus dentes batendo, ela levantou a voz.

— Você me disse para entrar na banheira.

Eu dei de ombros.

— Verdade. Eu disse. Mas se você lembrar, uma vez eu


disse para você me dizer se não quisesse fazer alguma coisa.

Sua expressão mudou de raiva à contemplação. Bom, eu


queria que ela pensasse sobre as coisas. Ela esteve no piloto
automático durante anos. Ela tinha que virar a chave e
assumir o controle.

— Eu posso... sair?
Finalmente. Isso levou cerca de três minutos, não era
mau. Peguei uma toalha do cabide. Ela se levantou e oscilou
um pouco. Rapidamente me aproximei dela, coloquei minhas
mãos sob as suas axilas, em seguida, levantei-a para fora da
banheira. Envolvi a toalha confortável em torno de seu corpo
trêmulo.

Depois de esfregá-la vigorosamente, passei-lhe outra


toalha e coloquei-a em torno dela.

— Se vista e vá para a sala de estar. — Comecei a sair


do banheiro, quando sua voz suave me parou.

— Eu lembro.

Coloquei minha mão na madeira da porta, os dedos


perfurando a madeira quando minha maneira casual de ser
foi dissipada. Precisava dizer foda-se para tudo e segurá-la
em meus braços e dizer a ela que tudo estaria bem.

Mas eu não podia.

Passei minha mão pela superfície lisa do batente da


porta, uma que eu mesmo coloquei. Cada polegada deste
lugar foi feito com minhas próprias mãos. Me levou dez anos.
Georgie e Tanner achavam que eu estava em missões quando
desaparecia e eu estava, mas também estava aqui.

Eu tinha dormido em um galpão nos fundos, nos


primeiros cinco anos enquanto construía. A terra legalmente
pertencia a Ernie quando a coloquei em seu nome e uma vez
que havia mais de cem acres, ofereci um pedaço para ele. Ele
se recusou, disse que preferia ouvir os sons da cidade do que
o chilrear dos pássaros do campo.

Independentemente de quão cuidadoso tivesse sido,


nada fica escondido por muito tempo e eu estava pisando em
águas perigosas com London estando comigo.
Mãos e joelhos

Três semanas e estávamos fazendo progressos a ritmo


de tartaruga. Raven, ela ainda estava na porra da Raven,
seguia as regras tão bem que me deixava puto porque eu
queria que ela quebrasse. O pior era que ela dormia ao meu
lado e quando ela se batia por qualquer coisa que fodesse
com a cabeça dela, eu tinha que segurá-la e segurando, ela
me fazia pensar em London.

Estava certo de que ela teria me deixado afundar dentro


dela, mas eu nunca o faria por causa dessa palavra, deixar.
Ela deixaria. Queria mais do que deixar e não estava levando-
a até que ela me desse mais do que isso.
Eu poderia ser um bastardo e cruel quando se tratava
de conseguir o que queria de meus alvos, mas não fodia
ninguém que espalhasse as pernas porque eram forçadas.
Um homem que forçava uma mulher era fraco e patético. Eu
não era. Eu também me recusava a foder com garotas que
eram pagas para isso, mesmo sendo sua escolha ou não.

Ficava excitado em ver o desejo nos olhos de uma


mulher, sentindo sua boceta apertar, ouvindo as
necessidades com seus gritos, sua respiração ofegante.
Queria que elas me pedissem para dar isso a elas. Minha vida
estava cheia de dor e engano, mas com o sexo, eu exigia a
realidade.

Eu raramente dormia depois que ela se acalmava de um


pesadelo e naquela noite não foi diferente. Passei o resto do
amanhecer lixando o piso de madeira no quarto de hóspedes.

Foi ali que ela me encontrou na manhã seguinte.

Irônico que eu era o único ajoelhado.

Joguei a lixa de lado.

O olhar em seu rosto era de choque quando ela me viu e


foi bastante divertido. Puxei para baixo a máscara azul clara
que cobria minha boca e nariz, sentei-me, dobrei meus
joelhos e descansei os braços sobre eles, enquanto olhava
para ela em pé na soleira da porta. Partículas de poeira
caíram das costas do meu cabelo e cobriram minha calça
jeans. Gotas de suor desciam pelo lado do meu rosto e em
toda a minha testa. Corria pela parte de trás do meu braço e
na minha testa.

— Você precisa de alguma coisa?

Ela balançou a cabeça e seus olhos percorriam a


superfície recém-lixada. Eu encontrei um bar velho e
abandonado e arranquei as tábuas de madeira dele e os
trouxe para aqui. Elas precisavam de um monte de trabalho,
mas não havia nada como madeira centenária. Eu não fazia
nada falso, quando se tratava de sexo ou na construção da
minha casa.

Ela mordeu o lábio e, em seguida, para minha surpresa,


ela perguntou:

— Posso ajudar?

Interessante.

— Já comeu?

— Não.

— Vá comer, então, sim, você pode me ajudar.

Lá. Direto lá. A contração no canto de sua boca. Ela


provavelmente nem sequer percebeu que fez isso.

Ela assentiu com a cabeça e se foi, então, voltei a


trabalhar.

Ela estava de volta em dez minutos e eu tinha uma lixa


pronta para ela. Segurei-a e ela caminhou e pegou.
— Você pode trabalhar nessa aqui. — Eu toquei minha
mão numa peça grande. — Já lixou antes?

— Não.

Eu sorri.

— Eu achava que não. Mas você é uma cientista, então é


precisa e calculada. Isso é o que preciso aqui. Se lixar muito
no mesmo ponto, teremos um furo na madeira. Vem cá, vou
lhe mostrar. — Pedi a ela para ajoelhar-se ao meu lado e
quando ela hesitou, percebi o porquê. Porra, certo. — Você
pode se ajoelhar, London. — Talvez ela devesse ter descoberto
isso por si mesma agora, mas eu estava me sentindo
generoso.

Ela se ajoelhou ao meu lado e eu enrolei meus dedos em


torno de seu pulso; coloquei sua mão sobre o pedaço de piso
de madeira que eu tinha acabado de terminar.

— Isto é o que você quer. — Arrastei lentamente a palma


da mão, para trás sobre a superfície lisa, meu braço pairando
sobre o dela, corpos em movimento juntos em um ritmo
perfeito. — Você sente como está lisa? Até um pouco suave.

— Ok.

Eu soltei a mão dela e bati na parte que ela iria


trabalhar.

Ela se arrastou e começou a lixar. Observei-a por alguns


minutos, seu cabelo caindo para a frente e roçando o chão
enquanto trabalhava. Ela o colocou de volta e a poeira fina
aumentou ao seu redor. Levantei, tirei minha máscara e
caminhei até ela.

Ela parou, olhando para mim.

— Estou fazendo isso errado?

Eu sorri.

— Não. Você é boa com as mãos. Mas eu já sabia disso.


— É claro que tinha duplo significado. Ela entendeu também,
o que significava que estava deixando as lembranças de
London, voltarem.

Agachei-me ao lado dela, deslizei minha máscara sobre


sua cabeça e a coloquei sobre sua boca e seu nariz. Dobrei as
cordas elásticas para trás das orelhas e ri quando me sentei
para trás e olhei para ela.

— Bonitinha. — E apesar de não ser capaz de ver seu


sorriso, eu vi nela aquele brilho fugaz. Passei a mão sobre a
cabeça dela, hesitando ao chegar na nuca. — É bom ter um
pedaço de você de volta.

Levantei-me e fui para o outro lado do quarto, peguei


minha lixa e voltei a trabalhar.

As horas voaram, suor escorrendo da testa para o piso,


deixando uma mancha escura antes de desaparecer
novamente. Eu estava sempre ciente de tudo em torno de
mim, mas não precisava olhar para London para saber que
ela era intensa no seu trabalho, ouvi o lixamento rítmico para
frente e para trás.
— Vamos pegar um sanduíche. — Joguei minha
lixadeira para a caixa de ferramentas, em seguida, levantei
minha camisa e limpei minha testa. Quando abaixei a blusa
no lugar, ela estava olhando para mim, para o meu abdômen.
Seu olhar se encontrou com o meu e um leve rubor penetrou
em suas bochechas. — Nem pense em olhar para o chão.

Sua respiração engatou e seu olhar fixou no meu. Ela


ainda estava usando a máscara, mas London tinha tudo certo
bem em frente, com ardência nos olhos.

Aproximei-me e ela se levantou, deixando a lixa no chão.


Quando cheguei até ela, puxei a máscara para que ficasse
pendurada em seu pescoço. Seu cabelo virou uma luz loira,
com todas as manchas de poeira. Ela mudou seu peso para
trás e dei um passo à frente, para pisar em seu espaço. Ela
teria que ficar nas pontas dos pés e eu teria que dobrar o
pescoço, a fim de beijá-la. Era algo que nunca fiz. Eu nunca a
beijei.

— Você fez bem, London. — Eu não a estava chamando


mais de Raven. Ela estava pronta e hoje à noite, eu a
pressionaria. — Vamos acabar com isso amanhã.

Ela assentiu com a cabeça, em seguida, disse:

— Podemos fazer isso de novo?

— Sim, baby. — Eu não tinha a intenção de chamá-la de


baby, mas vi um pedaço da garota que conhecia e isso me fez
escorregar.
— Essa tarde?

Fofa. Ela queria lixar o chão comigo. Mas eu tinha que


falar com Tanner e ver o progresso que Chaos fez com o cara
que Vault solicitou para chegar perto de Tristan-Mason. Eu
ainda não tinha certeza porque eles queriam os olhos nele, já
que Tristan era o proprietário de Mason Developments. Rico.
Limpo. Sem laços políticos. Ele nunca esteve no radar antes.

— Tenho negócios para lidar esta tarde.

— Ok. — Em seguida, ela inclinou a cabeça um pouco e


perguntou: — Por que a mão? Eles têm máquinas para lixar.

E esse foi o maior número de palavras que eu a ouvi


falar de uma só vez desde que a trouxe para casa. A brecha
no meu peito começou a se encher de luz. Jesus, luz. Anos de
escuridão, morte, sangue, destruição e agora a luz estava
começando a surgir novamente.

Eu dei de ombros.

— Nenhuma razão.

— Você não quer me dizer?

Era como uma lavagem fresca derramada sobre mim.


Refrescante e energizante.

London.

London não aceitaria a minha merda de resposta e eu


sorri porque tinha saudades dela.
— Gosto de andar pela minha casa e saber que cada
polegada dela respira por minha causa. Gosto do controle
sobre construí-la e gostei que, quando precisei limpar a
minha cabeça, podia vir aqui e trabalhar nessa casa. —
Passei a mão sobre minha cabeça e manchas de poeira
subiram no ar. — Preciso tomar banho e você também. Vá
utilizar o nosso quarto. Vou usar o de hóspede. — Eu a deixei
em pé no meio do quarto, em seguida, fui para o banho.

Saí para a cozinha meia hora depois, vestindo uma


camisa branca, com as mangas dobradas duas vezes e uma
calça jeans. Tinha se tornado uma rotina, na parte da tarde
eu trabalhava no meu escritório e ela lia enrolada no sofá, o
que podia ver da minha mesa, porque eu sempre deixava a
porta aberta. Ela lia tranquilamente com a quietude de um
louva-deus, enquanto se misturava em seu ambiente.
Provavelmente, aprendeu com Jacob e Alfonzo. Se esconder
da vista.

Parei na curva para a cozinha quando a vi, ela


estendendo a mão no armário e puxando dois copos. Seu
cabelo estava úmido do chuveiro e gotas encharcaram a parte
de trás da camisa. Ela estava usando uma de minhas
camisas porque eu só tinha parado brevemente na loja a
caminho daqui para conseguir alguns mantimentos
fundamentais. Do meio da coxa para baixo suas pernas
estavam nuas e até mesmo a partir dali eu podia ver a
umidade ainda agarrada a sua pele. Me lembrei de quando
passava minhas mãos por suas pernas, sentindo a sua...
— Você está bem? — Ela perguntou, olhando para mim
enquanto servia dois copos de água.

Porra, esta era a mulher que fez a morte ser importante


para mim.

— Sim. — Eu me afastei da arcada e passei para dentro


cozinha. — Queijo grelhado parece bom?

Abri a geladeira e peguei uma bandeja de queijo e um


tomate. Ela veio ao meu lado e colocou a tábua de corte sobre
o balcão. Peguei uma faca do bloco de madeira e cortei
enquanto ela tirava a frigideira e a colocava no fogo.

Ela trabalhava ao meu lado preparando o pão com


manteiga. Parei de cortar e levantei minhas sobrancelhas
para isso. A mão dela parou com um cubo de manteiga no
final da faca.

— Ambos os lados?

Um lampejo de dor atravessou seu rosto.

— Meu pai me ensinou. — Levou um minuto antes de


ela continuar. — Ele dizia que se você está para comer um
sanduíche com queijo derretido, então, você tem que fazer
direito.

Eu ri quando cortei o tomate, os sucos agrupando em


cima da tábua de corte.

— Um pedaço de colesterol entre dois pedaços de pão.


Eu peguei seu sorriso sutil quando ela voltou para
manteiga.

— Meu pai? Sabe... como ele está?

— Ele está seguro, London.

Ela baixou os olhos dos meus.

— Eu não consegui dizer adeus.

De acordo com Ernie, ela fugiu durante uma de suas


sessões de terapia. Ela entrou e nunca saiu. Ernie perguntou
a recepcionista e ela disse que London correu para fora, no
meio da sessão, pela saída de emergência.

— Eu disse a ele que você está aqui comigo.

Sua cabeça se levantou.

— Você disse?

Disse e ele sabia que, se ele dissesse alguma coisa para


alguém, estava selando o destino de sua filha. E não seria um
bom destino.

Os cantos de minha boca se curvaram quando eu disse:

— Preciso de alguns pontos com seu pai.

Sua boca ficou aberta e seus olhos se arregalaram. Em


seguida, ela combinou o meu sorriso com um de seus
próprios e quase cortei meu próprio dedo, porque estava
olhando para ela em vez de ver a lâmina. Eu nunca fui
descuidado com uma faca. Nunca.
Jesus Cristo. Que porra é essa que estávamos fazendo?
Estava cansado de dançar sapateado em torno de seu
problema. Estava sendo um santo. Um santo da porra. Este
não era eu. E isso com certeza não era ela.

Lancei a faca que atravessou a sala e cravou no armário


em cima do forno.

Ouvi seu suspiro e houve um súbito silêncio entre nós


dois.

Já era tempo. Não essa noite. Não amanhã. Não na


próxima semana... Na porra do agora.

— Acabamos com a merda.

Ela permaneceu em silêncio, os olhos a deriva para a


faca, a que ela tinha na mão, a faca de manteiga e em
seguida, ela olhou de volta para mim.

— Você vai tentar me matar com isso? — Ela balançou a


cabeça. — Que pena. Eu ia adorar uma briga. E se eu tirasse
o meu cinto? Você iria brigar comigo, então?

A cor sumiu de seu rosto. E então ela se afastou. Eu


desfiz minha fivela e lentamente deslizei dos passadores do
meu jeans.

— O que você vai fazer desta vez? Ajoelhar-se e receber


seja lá o que eu for fazer? Deixará bater em você?
Andei em direção a ela enquanto ela continuou a se
afastar com aquela ridícula faca de manteiga na mão, junto
ao pedaço de manteiga, quase escorrendo pelo meu chão.

— Kai... por favor. Eu serei boa.

Eu sorri.

— Agora, essa não é a resposta que estava esperando. —


Seu queixo caiu e parei-a antes de ela se curvar e cair em
seus joelhos. — Você não ouse, caralho, fazer isso.

Seus olhos estavam selvagens e incertos, confusos.


Lutando contra o que ela foi condicionada a fazer, a fim de
evitar os abusos. Era o mesmo olhar de um homem se
debatendo a me dar as informações que eu queria ou
suportar a tortura infligida.

Ou eu quebrava-os ou eles morriam.

— Deite-se sobre o encosto do sofá. — Suas mãos


tremiam e a faca de manteiga caiu no chão, mas ela fez
exatamente o que eu disse a ela. Suas mãos estavam no
banco, bunda no ar e o cabelo cobrindo o rosto, mas vi o
tremor. Senti seu medo no ar, como fumaça espessa.

Eu me aproximei. Seu corpo ficou tenso, mas ela


permaneceu na posição. Coloquei minha mão em suas costas
e pressionei, não havia nenhuma resistência.

— Foi isso que eles fizeram com você, London? Será que
eles bateram em você? — Sua cabeça balançava, mas isso
não era o que eu estava procurando. Puxei sua camisa para
cima. — Me responda.

— Sim.

— Será que Alfonzo a fodeu?

— Sim.

— Você gostou?

— Não. — Sua voz estava fortalecida.

— Você tem certeza disso? — Eu bati o cinto sobre o


sofá ao lado dela e ela estremeceu. — O que mais que ele fez
para você? O que mais lhe deu prazer?

— Nenhuma coisa.

Eu acariciava minha mão sobre sua bunda.

— Nenhuma coisa? Eles não fizeram mais nada para


você?

— Não. Isso não foi o que eu quis dizer. Ele me fez...


fazer as coisas. Eu odiei isso. Eu o odiava e... Eu queria
morrer.

Minha mão parou de acariciar sua bunda e meu coração


disparou com um frio correndo direto da minha cabeça por
todo meu corpo.

— Por quê? — Ela não respondeu. — Por quê? Caralho,


London, por quê?
Aconteceu mais rápido do que eu esperava. Pensei que
teria que pressionar mais, mas algo estalou e ela empurrou
para trás batendo em mim quando se levantou. Com uma das
mãos, ela puxou para baixo sua camisa e com a outra ela
balançou seu punho no meu rosto.

Eu levei o soco. E porra, ela tinha um punho forte


quando se chocou contra minha bochecha. Lágrimas
escorriam pelo seu rosto, mas a fúria que ardia nos olhos
dela não combinava quando veio para mim, com tudo o que
tinha.

Cambaleei para trás quando ela me empurrou no peito


com ambas as mãos, usando o pé no fundo do sofá para se
alavancar.

— Você me deixou. — Ela se lançou de novo e me


abaixei enquanto me afastava. Mas os punhos se mantiveram
vindo, acertando meu abdômen, meu peito, meus ombros, em
qualquer lugar que ela podia acertar. — Você me deixou! —
sua voz foi subindo, — Você me deu esperança e, em seguida,
rasgou-a, se afastando outra vez. Isso foi pior do que morrer.

Agarrei-a pelos ombros e ela chutou e tentou se livrar,


seu ódio raivoso atravessou cada parte de seu corpo. Mas não
era só para mim. Foi porque tinha feito isso com ela. Foi o
ódio por quem ela era. E não havia dúvida de que ela me
odiava muito agora.

— Deixe-me ir, seu bastardo. Eu quero sair daqui.


Quero ir para casa.
— Não, você não quer. Você fugiu. Você não aguenta
ficar em casa.

— É melhor do que estar aqui com você.

Eu ri.

— Não minta para mim, London.

Seus olhos brilharam, peito arfante.

— Vai se foder. Você não sabe o que eu quero.

Eu levantei minhas sobrancelhas com diversão.

— Certamente sei melhor do que você.

Ela se tornou um gato selvagem se debatendo contra


mim e tive que tirar as pernas dela com uma rasteira do piso.
Com meu braço travado em torno de sua cintura, baixei-a
para o chão comigo e fiquei em cima dela.

— O que você vai fazer, me estuprar? — Sua risada


soava cruel e histérica. — Porque não é nada novo. Nada
mais pode me machucar.

Não dor física de qualquer maneira. Essa fase tinha


passado, mas ela tinha que aprender a lidar com a dor
emocional. Tive os pulsos presos em minhas mãos em cada
lado de sua cabeça, enquanto a montei.

— Você está muito errada, Coração Valente.

Ela cuspiu na minha cara e o líquido quente escorria


pelo meu rosto.
— Eu o odeio.

Eu sorri.

— Sim, suspeito que você me odeia agora, mas não


tanto quanto você odeia a si mesma.

Isso a irritou e suas lutas começaram de novo, mas eu


tinha toda a vantagem e não havia nada que ela poderia fazer
para me deslocar.

— Eu o odeio. Eu o odeio. Eu o odeio.

Eu suavizei meu aperto e suspirei.

— Não. Você odeia o que fizeram de você.

Os seus olhos estavam vermelhos de lágrimas e raiva.

— Eu o odeio mais.

Então concordei com ela, porque ela precisava.

— Ok, você me odeia mais.

Ela apertou os lábios e fez sua cara pensativa, com a


forma em que seus olhos iam de lado a lado e se paravam.

— Por que você está fazendo isso? Apenas deixe-me ir


para casa.

— Assim, você pode desaparecer em seus pesadelos?


Essa opção não está mais disponível para você. — Eu me
inclinei mais perto colocando meus lábios perto dos dela e
sua respiração quente escovando meu rosto. — E eu odeio a
Raven. Eu quero a London. Quero a garota corajosa que não
iria recuar de um bastardo como eu. A que luta contra mim
agora.

— Por que você estava lá? — Sua voz tremeu. — Por que
você foi para o México se iria me abandonar outra vez?

— Você sabe por que. Por você.

A tensão acelerou em seu corpo enquanto ela


sussurrava:

— Mas você me deixou.

Deixei seus pulsos e saí de cima dela para me sentar


encostado na parede, dobrando os joelhos para descansar
meus braços sobre eles.

— Sim. Foi bem ruim.

— Você me deixou. Você me deixou, Kai. Você me deixou


lá. — Seu corpo ficou tenso. — Eu não pensei que você fosse
um covarde.

Normalmente, eu mataria alguém por dizer algo assim


para mim, mas em vez disso, suspirei.

— Você acha que eu sou um covarde, London?

Ela se sentou, seu cabelo era uma bagunça de nossa


briga, mas fez bem para ela. Eu a pressionei, ela confiava em
mim o suficiente para que se eu a ameaçasse, a verdade iria
sair e eu estava certo.
— Não. — Ela ergueu o queixo. — Eu acho que você é
calculista, frio, arrogante e acredita que ninguém pode ferir
você.

Eu acalmei.

— Você está mais do que certa, exceto a última. Eu


tenho alguém que pode me machucar. Você.

Sua respiração engatou e lábios se entreabriram.

— Baby, eu não a deixei. Não por escolha. Levei um tiro


e o cara que foi comigo me levou para o hospital. — Ernie
salvou a porra da minha vida. — No momento em que me
recuperei, o local já tinha sido queimado e você tinha
desaparecido.

— Você não fugiu. — Foi dito num sussurro mais para si


mesma, do que para mim.

Balancei a cabeça quando ela olhou para mim, com


lágrimas ainda vazando de seus olhos.

— Não, querida.

De repente, um cheiro de queimado pairou no ar e pulei


para os meus pés, correndo para a cozinha.

— Merda.

Puxei a frigideira queimada do fogão e a despejei na pia.


London estava bem atrás de mim. Ela pegou um pano de
prato, ficou na ponta dos pés e abanou no ar por baixo do
alarme de fumaça.
O alarme parou.

Andei em direção a ela e foi bom porque London


manteve os olhos fixos em mim. Não vacilou, sem tensão e ela
ainda levantou o queixo um pouco. E isso me excitou.

Porque ninguém fazia por mim mais do que London. A


menina que tinha compaixão o suficiente por nós dois. A
garota que foi corajosa em sua própria maneira tranquila.

— O cinto. Você fez isso de propósito. — disse ela.

Dei de ombros e continuei chegando até que estava a


polegadas de distância e ela teve que levantar seu pescoço a
fim de manter o contato visual.

— Você nunca iria me bater?

Eu sorri.

— Você estava pronta. Então, sim, eu teria me recusado


a voltar atrás.

Ela olhou. Eu cresci mais com seu olhar porque era


bom. Gritante, significava que ela tinha uma espinha dorsal.

— E se eu nunca lutasse?

— Então você teria uma bunda dolorida agora.

Sua boca estava aberta, então ela fechou.

— Não teria chegado a tanto, embora. Você estava


pronta para brigar comigo. Você estava apenas procurando
uma maneira de fazê-lo. E eu dei isso a você.
Observei-a pensar sobre isso. London fez os cálculos.
Ela queria todas as soluções possíveis, deliberadas, antes de
agir ou falar, exceto quando tinha raiva. Aí, ela era um míssil.
Mas eu fazia a mesma coisa. Morreria se não fizesse porque
nos meus negócios, raramente a coisa saía da maneira que
você esperava. E os resultados eram sempre variáveis.

Nosso resultado era uma grande variável porque ela não


poderia ficar aqui para sempre e, pela primeira vez, eu estava
começando a contemplar a possibilidade de acabar com
Vault. Como tirar minha irmã de lá? Como destruir a fazenda
e matar os membros do conselho? Porque fazer tudo isso
manteria London segura. Nos fazia ficar seguros.

— E agora?

Aproximei-me e puxei a faca que estava encravada no


armário.

— Nós começaremos de novo. Agarre o pão, baby.

Então fizemos grelhados queijos.


Lençóis amarelos

Com os braços e tornozelos cruzados, me encostei no


batente da porta observando-a. Um sorriso sutil brincava nos
cantos da minha boca.

Eu a estive observando a cada porra de chance que tive.


Já faziam duas semanas desde nossa briga na cozinha e a
cada dia ela estava ficando mais forte, não no sentido físico,
mas emocionalmente.

Ela não se movia mais timidamente e com cautela. Em


vez disso, reergueu seus ombros e seus quadris tinham um
balanço natural e delicado novamente. A atração magnética
da minha pequena cientista valente era irresistível. London
era a mulher que testou todo o meu controle.

Ela também era a única que poderia me machucar, que


seria usada contra mim se tivessem a chance. Nunca poderia
deixar isso acontecer de novo. Mas pela primeira vez na
minha vida, eu não tinha um plano, exceto mantê-la aqui
escondida até que eu tivesse um plano de fato.

— Você vai ficar aí ou vai me ajudar? — Ela disse.

Interiormente sorri antes de me afastar do batente da


porta e espreitar na direção dela. E estava a espreitando
porque, pela primeira vez em anos, eu iria prová-la
novamente. Ela poderia não saber a minha intenção, por
enquanto, mas saberia em breve.

Eu não a trouxe para minha casa por um capricho.


Havia sempre um propósito e meu objetivo era ter London
novamente em todos os sentidos. Para fazê-la completamente
minha.

Com a London, eu não tinha necessidade de esconder


quem eu era. Ela era a leveza. Era o calor que se construiu
dentro de mim que foi destruído pela fazenda. Eu sempre
teria partes do que eles me fizeram, assim como London teria
do que aconteceu com ela, mas nós dois estávamos
encontrando uma maneira de viver com o que foi feito para
nós.

Ela se esgueirou passando por mim, me ignorando


completamente, focada em seu projeto que era dar um jeito
no quarto de hóspedes. Nós tínhamos terminado os pisos,
lixado, pintado e passado três camadas de verniz. Eu montei
o estrado da cama e coloquei o colchão de volta e agora
London estava cobrindo a cama com lençóis limpos.

Eu passei para o lado oposto da cama, agarrei a borda


do lençol para prendê-lo em um dos cantos, enquanto ela
puxava apertado e prendia-o no outro.

— Ficaria muito melhor com lençóis amarelos.


Iluminaria o quarto. — Ela passou a mão sobre a superfície
branca, suavizando as rugas e, em seguida, jogou um dos
travesseiros na cabeceira da cama.

— Você ilumina o espaço o suficiente. Não precisa da


porra de lençóis amarelos.

Seu olhar levantou do travesseiro que estava segurando


e me encarou.

— Por que você fez isso? Colocou um lençol novo em


minha cama naquela primeira noite?

Inclinei-me, peguei uma fronha e um travesseiro e, em


seguida, puxei-a sobre o travesseiro.

— Por que você me fez dormir no sofá?

Ela jogou o travesseiro para a cabeceira da cama e deu


de ombros, dizendo:

— Um bom filme estava passando.

Eu ri.
Levou um segundo e ela fez o mesmo. Ela já sabia a
resposta e foi por isso que ela tinha evitado a cama. Eu fiz
isso pela mesma razão pela qual dormi no sofá. Eu queria
que ela pensasse em mim quando se deitasse sobre os
lençóis.

— Kai. — Sua voz era um sussurro sem fôlego. — Eu


odiava a Raven também.

— Eu sei.

— Eu nunca mais quero me sentir tão impotente de


novo.

— Você não vai. — Ela não me perguntou como eu sabia


ou argumentou. Ela aceitou o que eu disse a ela.

— Eu quero…

— Eu sei exatamente o que você quer. — Seu corpo se


contorceu como se eu tivesse riscado um fósforo e ateado
fogo. — Tire sua roupa, baby. — Um rubor subiu em suas
bochechas e era bonito que ela corasse com isso. Depois de
tudo pelo que ela passou, a simples capacidade de fazê-la
corar mexeu comigo profundamente.

Nada sobre nós poderia acabar bem, mas o tempo


nunca tinha importado antes e agora havia uma razão...
porque o que eu tinha com a London era atemporal. Não
tinha fim.

Seus braços estavam cruzados, dedos enrolados na


barra de sua camisa, que era minha. Com um lento deslizar
sexy, ela puxou-a sobre sua cabeça, seu cabelo levantando e
caindo pelas costas.

Deus, como eu senti saudades dela. Precisava de


minhas mãos em seu cabelo novamente, meus lábios sobre
sua pele, seu corpo nu se contorcendo embaixo de mim
enquanto ela gritasse de prazer.

Levantei minhas sobrancelhas quando ela parou e vi


aquele olhar desafiante no rosto, que fez meu pau empurrar
contra minha calça. Sim, ela era minha garota de coração
valente novamente.

— É justo. — Ela assentiu com a cabeça para o meu


peito.

Eu sorri.

— Então venha me despir, baby.

Lembrei-me de como seus dedos brincavam com os


botões, empurrando-os através das casas antes deles saírem
naquela noite em seu loft. A forma como as suas mãos
tinham deslizado pelo meu peito, sobre minhas cicatrizes,
sem hesitação. Como sua cabeça caiu para trás contra a
porta, pescoço exposto enquanto ela gemia quando eu a
chupei, lambi e provei cada polegada de sua boceta.

— London. Agora. — Rosnei.

Ela rastejou pela cama em minha direção, ajoelhando-se


na borda e estendeu a mão para o botão inferior da minha
camisa. Eu não conseguiria me parar de tocá-la por mais
tempo. No início, ela foi fácil de resistir por ser Raven, mas,
ao longo das últimas semanas, na medida em que pedaços
brilhantes da London apareciam, foi uma merda. E agora,
vendo o desejo latente em seus olhos, levou tudo o que eu
tinha para não a derrubar e afundar dentro dela
imediatamente.

Enfiei minha mão de sua clavícula para baixo de seu


cabelo, enrolando meus dedos em torno das costas de seu
pescoço. Era uma posição de poder segurando-a assim e eu
queria ver a reação dela.

Mas não havia medo ou submissão enquanto seus olhos


brilhavam de necessidade. Seus dedos roçaram o meu peito
na medida em que a minha camisa se separava e a minha
pele formigava.

— Porra, eu senti sua falta.

Sua respiração ficou imóvel junto com suas mãos e


nossos olhos se encontraram. Era o mesmo olhar como o que
me fez deixá-la em seu loft. Sob o calor estava a necessidade
inconfundível por outra coisa.

Eu abruptamente agarrei seu pulso e o coloquei no


bolso de trás da minha calça jeans.

— Você sente isso? — Era a corda de piano em meu


bolso. Ela assentiu com a cabeça, com os olhos arregalados,
mas ainda ardendo de desejo. — Eu ainda sou uma parte
disso.
Ela retirou a mão e eu a deixei.

— Mas se você saiu...

Eu ri, mas não havia nenhuma diversão nisso. Ela ia


dizer que eu deixei as pessoas para as quais trabalhei.

— Você não sai. Se você fizer isso, é em um saco de


cadáver. Embora isso seja muito educado. — Tive que ser
cruel para fazê-la entender o meu ponto de vista. — Isso é,
depois deles terem lhe cortado e lhe feito implorar para a dor
parar.

Surpreendentemente, ela recebeu o que eu disse bem,


mas vi o leve tremor. London tinha visto e experimentado a
dor e sabia que este mundo não era preenchido com fadas e
cavalos brancos voadores.

Seus dedos voltaram a desfazer os meus botões até a


minha camisa se abrir e ela deslizá-la dos meus ombros.

— Você... gosta do que você faz?

Hmmm, se eu gostava disso? Será que gostava de matar


pessoas? Era uma pergunta em que nunca me importei em
pensar antes. Nunca me importei o suficiente sobre qualquer
coisa ou qualquer pessoa para considerá-la.

— Sim. — respondi e a fiz voltar a endurecer e as mãos


pausaram. — E não. Gostei de matar Jacob. Curti assistir
Alfonzo morrer e desejei que eu fosse o único a matá-lo.

Ela abaixou a cabeça.


— Kai, por que estamos aqui? O que acontece agora?

Deslizei minhas mãos por suas costas para o fecho de


seu sutiã e o abri. O sutiã branco escorregou para frente e
caiu entre nós.

— Eu vou foder você e fazer você tremer debaixo de


mim. Algumas vezes. — Eu a peguei por baixo dos braços e a
joguei sobre a cama. — Sem mais perguntas, baby. Agora
não.

— Tudo bem. — disse ela. — Mas você vai me dizer


sobre eles. Sobre o que está acontecendo com o meu pai?

— Sim. London. Vou lhe dar tudo.

Talvez eu não pretendesse, mas dizer aquelas palavras


tinha mais significado do que eu pretendia. Não tinha volta.
Trazê-la aqui... Nunca a deixaria partir. E quando eu lhe
desse tudo, ela também saberia isso.

Abri minhas calças jeans, arrastei-as pelas minhas


pernas e as chutei de lado. Eu estava nu por baixo e meu
pênis estava ereto e pronto... mais do que pronto.

Ajoelhei-me na cama e a montei com as minhas coxas


de ambos os lados de seus quadris. Sua respiração engatou
quando eu passei um dedo em seu abdômen até o seio;
segurei-o, movimentei o polegar sobre a superfície sensível de
seu mamilo. Uma vez. Duas vezes. Então o belisquei antes de
fazer o mesmo com o outro.
Havia uma sugestão de medo nela e era algo que eu ia
lutar para tirar. Rapidamente deslizei da cama. Lentamente,
arrastei a calcinha pelas pernas e joguei-a no chão.

— Abra suas pernas. Preciso provar você novamente. —


Ela o fez. — Mais. — Segurei seus tornozelos, empurrei-os
para abrir ainda mais e então abaixei a cabeça.

O primeiro sabor dela na minha língua era como


afundar em uma piscina aquecida de conforto. Porra. Eu
tinha sentido falta do seu gosto, do cheiro dela. Nunca tinha
esquecido o jeito que ela fazia minhas entranhas apertarem
com uma necessidade intensa, uma necessidade que se
tornou uma obsessão. Foda-se, quem eu estava enganando?
Ela era minha obsessão antes mesmo de eu a foder.

Abri os lábios com os meus dedos e chupei seu clitóris


enquanto brincava com a entrada dela, não entrando... não
ainda.

Ela levantou os quadris.

— Kai.

— Espere. Hoje à noite nós vamos devagar. Lento e


preciso, Coração Valente. Assim como seus experimentos. —
Ela endureceu debaixo de mim e eu não teria nada disso.
Chupei mais forte e deslizei meu dedo na sua umidade antes
de circular lentamente o seu ponto doce.

Seu corpo se contorceu, seus olhos estavam fechados,


lábios entreabertos, quando eu incansavelmente brincava,
provava e a fazia esquecer tudo, exceto o que estava fazendo
para seu corpo.

— Kai. — ela sussurrou.

Suas costas arquearam, pescoço exposto, respiração


irregular enquanto ela ofegava. Apressei meus movimentos
quando as pernas dela tremeram e se fecharam ao redor dos
meus ombros.

— Goze, baby. — Minha voz vibrou em seu sexo a


enviando ao êxtase.

— Oh, Deus. Kai. Kai...

Seu corpo ficou tenso, seus quadris se levantaram da


cama, as coxas tremeram violentamente quando ela gozou na
minha boca. Empurrei dois dedos dentro e ela gritou de
prazer quando gozou. Ela pulsava em torno de meus dedos.
Bombeou-os e eu lentamente a trouxe de volta com um
movimento da minha língua.

Ergui a cabeça e olhei para seu rosto.

— Bela. Bela.

Eu tinha sonhado em vê-la assim, saciada, com uma


expressão relaxada em seu rosto novamente. Não podia
apagar o que aconteceu com ela e não iria me aprofundar
sobre o que foi feito ao seu corpo. Os homens que tinham lhe
tocado estavam mortos agora.
Sua mão escorregou pelo meu cabelo e subi de volta na
cama para colocar o meu pênis entre suas pernas. Ela
franziu a testa quando eu o peguei e deslizei-o para cima e
para baixo na sua umidade.

— Preservativo, Kai.

Eu me acalmei.

— Você foi examinada e seus resultados deram tudo


negativo, você está limpa. — Isso aprofundou seu cenho
franzido. Ergui as sobrancelhas e dei um meio sorriso. —
London, você acha que eu não iria te examinar uma vez que
Deck a pegou no leilão? Que você nunca contatou seus
amigos quando chegou em casa ou voltou para a escola? Que
se recusou a visitar o seu pai no laboratório ou a estar perto
de homens? Que foi para a terapia e fazia uso de medicação
que fez você passar dias na cama? Eu sei tudo sobre você.

— Como?

Porque eu tinha Ernie vigiando-a o tempo todo. Porque


eu não podia não saber. Apesar de ter de ficar longe dela,
nunca a deixei ir. Ela era parte de mim, quer qualquer um de
nós quisesse ou não. Mas, naquele momento, não queria
contar a ela sobre Ernie. E eu não iria mentir, então
permaneci quieto.

— Kai? Como você sabia?


Sua voz suave me atraiu para longe dos meus
pensamentos e até mesmo meu pau não estava pulsando
mais. Rolei para o lado e olhei para o teto.

— Eu vi o relatório do médico. Exames de sangue.

— Mas como... isso é confidencial. — Deus, ela


realmente não tinha ideia do que eu era capaz. Quando virei
minha cabeça para olhar para ela, eu levantei minhas
sobrancelhas. — Oh. — Sim, ela era esperta. Nada iria me
impedir de encontrar informações que eu quisesse ou
precisasse quando se referia a London.

Mas havia informações que eu queria, de fato, saber


sobre Vault e estava começando a verificar silenciosamente.
Localização da fazenda, o membro anônimo do Vault e que
porra estava na droga que o pai de London desenvolveu.

Essas três respostas tinham poder e eu as queria.

— Nós ainda precisamos do preservativo. — disse ela.

— Não estive com ninguém desde que fiz a última


verificação. — Duas vezes por ano, exame físico obrigatório
com Vault, mas essa não era a única razão. Eu não estive
com uma mulher desde London. Não havia mais ninguém.
Até sabendo que talvez nunca a veria novamente, não houve
um único momento que considerei ter relações sexuais com
qualquer outra mulher.

Estendi a mão e puxei-a para cima de mim.


— Não há nenhuma possibilidade de gravidez. Nunca. -
Todos os agentes de Vault eram esterilizados desde que a Mãe
assumiu e a fazenda veio à existência, uma maneira de ter
certeza que nenhuma criança as quais nós servíssemos como
pai ou mãe, se tornasse mais importante do que eles.

Quando ela montou em mim, sua boca a centímetros de


distância, eu quis beijá-la desesperadamente. Nunca tinha
provado seus lábios antes. Nunca experimentei os de
qualquer mulher. Era muito pessoal.

Mas tudo sobre nós era muito pessoal.

— Isso não é sempre cem por cento, Kai.

Verdade. Especialmente desde que o médico que eles


usaram para fazer o procedimento esteve relutante e sob
extrema coação.

— Nada de preservativos. — Ela sorriu. — Sem mais


conversa, baby porque agora eu quero ouvir você gemer. —
alcancei entre nós e coloquei meu pênis em sua entrada,
então lentamente inclinei meus quadris enquanto empurrava
para dentro dela. Era angustiante, porque o meu corpo
queria meter forte, enquanto minha mente queria saborear.
Minha mente ganhou.

Ela estava apertada pra caralho e eu nunca me senti


melhor. Era como se cada polegada do meu corpo lembrasse
o que senti quando estive profundamente dentro dela e
estivesse gritando "sim!".
Ela se mexeu um pouco e afundei ainda mais. Agarrei
seus quadris e ela se posicionou sobre meus braços e
começou a se movimentar.

— Kai. Por que é tão bom?

Eu sabia a resposta, mas não diria isso. Não em voz


alta. Nunca.

— Mais forte. Kai. — Eu a ajudei a subir e descer sobre


meu pau, enquanto assistia a sua cabeça inclinar para trás,
olhos fechados.

Não demorou muito para eu perceber que não poderia


adiar por mais tempo e isso era quase decepcionante. Mas
imaginando esse momento e tendo passado tanto tempo
desde que a tive, o controle não estava do meu lado. O doce
rubor nas suas faces, a forma como os seus lábios estavam
ligeiramente entreabertos enquanto ela ofegava, me desfez.

— Porra, London. Não posso esperar. — Eu a virei de


costas, ainda preso dentro dela. Então, movimentei forte e
rápido com seus tornozelos presos nas minhas costas. —
Sim. — Gemi quando ela encontrou o meu ritmo, nossos
corpos batendo um contra o outro.

— Oh, Deus, Kai.

E aquela voz rouca dizendo meu nome me fez gozar


rapidamente, como um maremoto desabando sobre mim e
quebrando o meu controle em pedaços.
Empurrei mais algumas vezes, seu aperto em torno de
mim, as mãos no meu peito, suas pernas agora relaxadas em
meus lados.

Jesus. Estar dentro dela era como voltar para casa.

Sua mão se levantou e passou pelo meu cabelo.

— Você manteve sua promessa.

Inclinei-me mais perto, meu pau ainda afundado dentro


dela e beijei o lado de seu pescoço, em seguida, segui até sua
orelha.

— Que promessa é essa?

— Sempre.

— Sim.

— Obrigada por não desistir de mim.

Eu não respondi, porque não havia nada para


agradecer.

— Kai?

— Sim? — Eu puxei para fora e deitei de costas.

Ela se sentou, segurando o lençol contra o peito. Eu


gostava que ela ainda tivesse essa timidez com sua nudez,
apesar do que foi exposta.

— A droga na qual meu pai estava trabalhando, para


que ela é?
— Controle.

— Sobre?

— As pessoas, London. Controle sobre as pessoas. — Só


que não eram apenas pessoas. Eram homens perigosos como
Connor. Joguei minhas pernas para o lado da cama, inclinei-
me, peguei o meu jeans e coloquei-os enquanto levantava.

Ouvi-a se aproximar de mim.

— Por quê?

Ignorei a pergunta, porque havia muito o que dizer a ela


e eu não queria entrar nisso agora.

— Você não pode fugir daqui. — Eu não acho que ela


iria, mas tinha que dizer isso.

Ela ficou em silêncio durante vários segundos antes


dizer:

— Eu não podia ficar lá... em casa. A maneira que todos


olhavam para mim. Meu pai... todo mundo sabia.

— Não. Você sabia. Só sentia desse jeito.

— Eu não conseguia trabalhar. Estava sufocando. Meu


pai não me deixava voltar para o meu loft e a medicação
estava mexendo comigo. Tudo o que eu queria fazer era
morrer. E o médico... ele queria que eu falasse sobre isso e eu
não podia.

— Porque você não queria encará-lo.


Uma lágrima deslizou por sua bochecha.

— Eu…

Ela não podia dizer isso, então eu ajudei.

— Era mais fácil ser Raven do que lutar para voltar a ser
normal. — Ela assentiu com a cabeça, deixando cair o queixo.

— Sim.

— Sem vergonha nisso, London. Você fez o que fazia


você se sentir segura.

Ser Raven era quem ela se tornou e viver como London,


cercada por aqueles que a amavam, era sufocante. Sua mente
foi treinada para se submeter e, de repente, ela não tinha
nada para submeter-se. Estava perdida e com medo de
enfrentar o que aconteceu, então fugiu.

— Sem mais fugas, baby.

— Kai?

— Sim?

— Obrigada. Pelo que você tem feito. Por tudo. — Seus


dedos apertaram ao redor do lençol e apertaram contra o
peito e, quando seus olhos encontraram os meus, vi calor e
leveza nas profundezas. — Sei que não pensa assim, mas
você tem um lado bom em você.

Eu não respondi a isso. Não podia porque minha


garganta estava apertada e não tinha palavras para lhe dar.
— O que acontece agora?

— Eu não sei, London. — E não sabia. Nada era certo,


mas eu faria o que fosse preciso para mantê-la segura. Se
isso significasse que ela ficaria aqui por anos, então isso era o
que iria acontecer.

Joguei minha perna por cima dela, montando-a com o


lençol como em escudo entre seu corpo nu e eu, mas isso não
duraria muito.

— Terei que sair em breve, baby e não sei quanto tempo


vou demorar. — Abaixei minha voz. — Você precisa saber que
sair daqui não é uma opção para você.

Suas sobrancelhas subiram.

— Você está dizendo que sou uma prisioneira?

Eu sorri.

— Você pode encarar da qualquer maneira que você


quiser. — Eu a puxei mais perto. — Mas se você fizer isso,
não há qualquer lugar em que eu não vá lhe encontrar de
novo. — Apertei minhas coxas em torno de seus quadris. —
Eu a encontrei em um submundo onde as meninas estão
perdidas para sempre.

— Deck me encontrou, — disse ela, tentando esconder o


sorriso.

— Mmm, sim. Mas eu lhe permiti.

Sua respiração engatou e seus olhos se arregalaram.


— Você estava lá? Por que, então... por que você não me
levou com você?

— Não foi possível fazê-lo, baby. Não naquele momento.

— E agora que é ... mais conveniente para você?

Meu lábio contraiu.

— Sim.

— Por que? — Ela perguntou, suas sobrancelhas


franzidas e seu corpo flexível tenso embaixo de mim.

Porra, ela era perfeita. Agarrei-lhe os pulsos, prendi-os


juntos em uma das mãos acima da cabeça dela e sorri.

— Queria terminar de decorar meu quarto. Acabei


demorando um tempo.

Ela bufou. Eu ri. Ela lutou contra mim, mas não por
muito tempo. Logo, meu jeans estava de volta no chão e ela
foi se submetendo a mim e não porque eu a obriguei.

London pertencia a mim porque ela queria. E isso era o


controle final de uma mulher.
Limite Rígido

— Querida, você sabe que adoro um desafio e se você


decidir fazer uma aposta, — eu atravessava a sala em direção
a ela, — saiba que nunca perdi uma. — Eu não perdi
nenhuma. Era um fato. Perder era uma palavra com a qual
eu não tinha experiência, porque não sabia desistir.

Suas sobrancelhas se abaixaram e o nariz se contraiu


antes dela colocar o cabelo atrás da orelha. Eu adorava que
ela estivesse um pouco incerta de mim, em guarda e, ainda
assim, seu sangue corria por suas veias com raiva. Essa era a
London que eu estava tentando trazer de volta, a menina que
enfrentaria um assassino, a menina que me desafiou.

Meu pênis esticou contra meu jeans e gostei do


desconforto.

Esperei. Ansioso para ver o que ela faria — se ela iria


correr, lutar ou se submeter. Eu queria todos os três nessa
ordem. Sorri quando estava a poucos passos dela, braços
cruzados, completamente relaxado, pelo menos na aparência
e ainda assim meus músculos vibravam, prontos para reagir.

— Eu não entendo você.

— Não estou destinado a ser entendido, apenas...


satisfeito.

— Tentei isso. Você não gostou, — ela respondeu e eu


amei essa atitude dela. O que não gostei era o que significava:
tempo de eu voltar a Toronto e lidar com a merda. Todas as
noites na última semana eu ia para a cama jurando que
sairia na manhã seguinte, porém a cada manhã acordava
com ela nua em meus braços e eu dizia: 'Amanhã'.

Eu ri.

— Absolutamente certo. Mas ter uma mulher me


chupando porque foi treinada para isso não me agrada. O
que me agrada é se ela se molha apenas pensando em
envolver os lábios em volta do meu pau. Isso, minha querida,
me agrada.

— E se ela não quiser?


Meus olhos percorriam seu corpo, vendo a ligeira
contração, os minúsculos arrepios em sua pele aquecida. Não
havia dúvida de que ela me queria. A questão era se ela
forçaria isso.

— Você está me dizendo que não gostaria de fazer isso


se eu lhe pedisse agora?

Ela hesitou. Sem dúvida, contemplando se mentiria


para mim ou não.

— Não. — respondeu ela. Boa menina. — Mas por que


você quer fazer isso? Me amarrar.

Eu dei de ombros.

— Te pressionar. E porque acho que você precisa disso.

— Eu não gosto disso.

Eu ri.

— Eu sei. Mas você vai.

— Você vai me forçar?

— Coração Valente, eu não tenho que forçá-la a fazer


qualquer coisa. Você vai fazer voluntariamente porque confia
em mim. — Fiz uma pausa, sorrindo. — E porque você está
apaixonada por mim. — Oh, ela não gostava disso, mas a
verdade brilhava nas profundezas de seus olhos. — Venha
aqui. Ou corra. De qualquer maneira está bom para mim.

Seu dedo batia na coxa enquanto decidia.


— Você é muito, muito confiante em fazer essa ridícula
suposição. — Ela sorriu e me imitou, cruzando os braços, em
seguida, inclinou seu quadril.

Ah, querida, você não tem ideia de com quem você está
lidando.

— Sou? — Tirei a faca do coldre e arrastei-a pela palma


da minha mão.

Ela apertou os lábios, estreitando os olhos, a


sobrancelhas baixas. Estava contemplando, do mesmo jeito
esteve no carro, quando eu a fiz dirigir para a floresta.

— Tudo bem. Eu vou fazer isso. — E acrescentou:— Mas


não é porque eu esteja apaixonada por você.

Eu dei de ombros. Seria melhor se ela acreditasse nisso,


mas ela não faria se não confiasse em mim completamente.
Amor? Era uma emoção que eu não tinha nenhuma
experiência e eu disse apenas para ver o que ela diria.

Eu estava encostado na parede, esperando, dando-lhe o


tempo para aceitar o que estava pedindo. Este era mais do
que um desafio. Estava reescrevendo o trauma e meu
pequeno coração valente estava vivendo seu apelido.

Ela inspirou de forma demorada e profunda, expandindo


o seu peito e fazendo com que seus mamilos empurrassem os
botões da camisa que usava. Minha camisa de botão. Isso
poderia ser um desafio para ela, mas era para mim também,
porque eu queria arrancar a minha camisa dela, puxar seus
mamilos em minha boca, até que ela arqueasse e implorasse
para eu me afundar dentro dela.

Ela caminhou até a cama. O colchão rangeu quando se


ajoelhou sobre ela. Rastejando para o centro, seus olhos se
fecharam brevemente e arrepios apareceram em suas coxas
nuas. Isto estava além da sua zona de conforto e eu estava
pressionando ela.

Ela se deitou.

Quando ela abriu os olhos e olhou para mim,


determinação se instalou dentro de suas profundezas. Em
seguida, ela levantou os braços acima da cabeça e cruzou os
pulsos.

Minha menina, tão corajosa.

Contenção.

Desamparo.

Vulnerabilidade.

Ela passou anos contida como um cão, um objeto, algo


a ser abusado, para que se sentisse impotente e sem valor.
Eu tinha que mudar isso. Ela não era mais uma vítima e o
medo que estava escondido atrás da teimosia ainda estava
presente, prolongando-se, como uma sanguessuga na sua
pele, sugando o prazer.

Eu queria que o medo desaparecesse.

Eu precisava que ele desaparecesse.


Mas acima de tudo, ela precisava que ele desaparecesse.

Enfiei a mão no bolso de trás e tirei o meu fio de piano.


Algo que eu tinha usado várias vezes para envolver em torno
de uma garganta e terminar o pulso batendo freneticamente,
pulmões gritando pelo oxigênio que eu os privei.

Meus olhos percorriam a garganta dela, a curva bonita,


tão delicada e exposta. Era facilmente capaz de acabar com
sua vida e era por isso que estávamos aqui agora. Eu
precisava que ela confiasse em mim completamente e a
coloquei em uma posição que a fazia indefesa.

Quando me aproximei da cama, sua respiração se


acelerou e ela ficou tensa. Ela não se moveu, mesmo que
fosse uma luta contra si mesma. Porque era isso. Não era a
mim que ela temia. Era as memórias que a assombravam.

Debrucei-me sobre a cama, minhas mãos lentamente


enrolando o fio fino e liso em torno de seus pulsos várias
vezes, prendendo-os. Eu atei as extremidades em torno do
pilar da cabeceira da cama, não apertado, mas o suficiente
para que ela fosse incapaz de se mover mais do que algumas
polegadas sem o fio cortar seus pulsos.

Sua respiração veio em suspiros curtos e ela


empalideceu. Eu não gostava disso.

Passei meus dedos para baixo dos seus braços até os


ombros, em seguida, sobre a sua garganta, sentindo-a engolir
abaixo do meu toque.
— Você pode fazer isso, London.

Ela não respondeu. Sentado na beira da cama, eu


continuei a traçar caminhos suaves pelo seu pescoço e
clavícula.

— Você é mais forte do que aquilo que foi feito para


você. Não deixe que ele a tenha. — ‘Ele’ era genérico, porque
eu não sabia e nunca quis saber, com quantos ‘eles’ ela
esteve.

— Estou com medo.

— Eu sei. Mas nós vamos mudar isso. — Segurei seu


queixo e esperei até que os olhos se estabilizassem nos meus.
— Nenhum outro homem entra em você, a não ser eu. Mente
ou o corpo. — Eu toquei meu polegar nos seus lábios. Lábios
que irei finalmente saborear em breve. — Eu preciso que você
se dê completamente para mim, não porque foi forçada,
London, mas porque confia em mim para apenas dar-lhe
prazer.

Ela puxou um pouco o fio e seus olhos se arregalaram


com pânico.

— Kai. Eu não gosto disso.

Achatei a palma da minha mão em seu peito, logo acima


dos seios e senti seu coração bater de forma irregular.

— Mantenha seus olhos em mim. Preciso que você me


veja. Saiba que sou eu. Somente eu. Sempre.
Levantei-me e, lentamente, despi-me. Vagarosamente,
saí das minhas calças jeans e dobrei-as. Fui até a cadeira e a
coloquei no acento.

Eu sabia o que ela estava fazendo antes de me virar.


Lutando contra o fio. Podia ouvir o ranger da cama, o
farfalhar dos lençóis embaixo dela.

— Oh, Deus, Kai.

Eu a libertaria se ela realmente quisesse, mas eu tinha


certeza de que era forte o suficiente para derrotar o pânico.

— Se eu desamarrar você, eles ganham. Você quer isso?


— Ela mordeu o seu lábio inferior e eu podia ver a marca
deixada por seus dentes quando ela os soltou. — Você quer
viver com eles persistindo, sugando a sua vida de você? —
Aproximei-me do final da cama e parei. — Quero tudo para
você, London. Cada pedaço de você e quero que você se dê
para mim. — Ajoelhei-me na cama e fui em sua direção até
que montei seu corpo. Eu me inclinei sobre ela, minhas mãos
deslizando por cima dos braços, até descansar em cima dos
pulsos amarrados. — Você precisa decidir se você quer lutar
por mim, London.

— Lutar por você? — Sua voz tremeu e enrolei minhas


mãos em torno dela e apertei.

— Sim, —sussurrei, inclinando-me mais perto para


minha respiração tocar sua bochecha. — Você pode fazer
isso?
Pela primeira vez eu estava um pouco incerto sobre o
que ia acontecer. Eu estava bastante confiante de um
resultado antes que tomasse um caminho, e, se o caminho
mudasse, estava pronto para isso. Mas com London, havia
risco, porque se ela insistisse que a desamarrasse, eu não
teria escolha a não ser fazê-lo.

Sempre siga com o que você diz. Eu estava confiante de


que ela nunca se afastaria de mim, mas a estava
pressionando. Estava tomando seu medo e colocando-o na
vanguarda de sua mente.

Então eu era arrogante o suficiente para dizer:

— Diga-me que você quer ser livre. Diga-me, London e


vou deixar você ir. Mas se eu deixá-la ir, não é apenas do fio,
é de mim.

Ela se acalmou assim como eu e esperei sua resposta.


Então ela disse:

— Eu quero ser livre. — Seus olhos se fecharam e ela


repetiu. — Eu quero ser livre
Meu tudo

— Eu quero ser livre. — Engoli.

Sabia com tudo dentro de mim que no segundo que


dissesse as palavras, não haveria como voltar atrás. Não com
Kai. Ele podia exalar charme fácil, mas não havia nada nele
que cederia. Eu nunca seria capaz de afastar-me dele até que
ele me deixasse. Ele possuía cada pedaço de mim. Mas ele fez
disso a minha escolha e isso o fazia ainda mais poderoso.

E ele sabia disso.

Respirei fundo e disse:

— Eu quero ser livre deles.


Ele sorriu e lentamente a tensão saltou do meu corpo.
Os meus dedos desenrolaram do dorso das mãos dele.

— Meu Coração Valente. — ele respirou.

Ele nunca me beijou antes e eu sabia que ele finalmente


iria, enquanto pairava sobre mim, seus lábios a uma
polegada de distância dos meus. Estava desesperada, faminta
para prová-lo, pela primeira vez.

— Você quer que eu a beije, London?

Balancei a cabeça, lambendo meus lábios com


antecipação. O fio, a incapacidade de fugir, o medo associado
com desamparo, tudo esquecido.

Ele beijou o canto da minha boca, a minha orelha e


chupou o lóbulo.

— Se eu beijar você, não há caminho de volta. Sem


mudança de ideia. — Ele se mexeu e eu podia sentir seu pau
duro contra o interior da minha coxa. — Você nunca vai ser
capaz de me deixar, London.

Sem fôlego, eu disse:

— Isso é uma ameaça?

Ele riu. O som de cascalho afundou em mim e arrepios


surgiram.

— Não preciso de ameaças. Somente verdades.


Sua mão se moveu no meu cabelo na parte de trás do
meu pescoço.

— Mas comigo, você vai ter que ser mais forte do que
nunca. Vou fazer coisas que você não vai gostar e pedir coisas
que você não entende, mas precisa confiar em cada palavra
que sai dos meus lábios.

Eu poderia fazer isso? Poderia confiar em Kai tão


implicitamente?

Ele nunca mentiu para mim. Ele sempre me disse o tipo


de homem que era, desde o início. Tinha me dado escolhas.
Tinha me devolvido a coisa mais importante — eu.

Mas eu sabia a resposta. Sabia, sem dúvida, que estar


com Kai era perigoso, mas também era o lugar mais seguro
que eu poderia estar. E o único lugar em que eu queria estar.

Eu arqueei em direção a ele.

— Beije-me, Kai.

Ele apertou meu cabelo mais forte e então gemeu antes


que sua boca descesse sobre a minha.

Foi possessivo.

Foi um julgamento.

Foi o nó final, nos unindo.

Nossas bocas fundidas tornaram-se uma corrente


permanente que nenhum de nós poderia quebrar.
— Porra, London. — Ele se afastou por um segundo
para olhar para mim, como se certificando que era real e
então nossas bocas se chocaram de novo, sua língua
acariciando, degustando, tomando. Encontrei sua urgência
como a minha própria, puxando o fio que me impedia de
envolver meus braços em torno dele e trazê-lo mais perto.

Não houve doçura quando ele me beijou, mas foi lento e


determinado, como se ele estivesse tendo certeza de que eu
entendia o que tudo isso significava. Meu corpo doía e subia,
tremia de desejo enquanto me esquecia sobre o fio em torno
de meus pulsos e me dava para ele. Me entreguei para o que
eu precisava de Kai.

Tudo.

Ele se afastou enquanto seus dedos foram para os


botões da minha camisa. Eu queria que ele a rasgasse, ver os
botões sendo arrancados e depois ter as mãos dele sobre
meus seios, mas Kai não faria isso.

Apesar do fogo queimando em seus olhos, ele seguiu


cautelosamente e meticulosamente desfez cada pequeno
botão branco.

Seus dedos seguiram para baixo entre meus seios


enquanto fazia isso.

Ele sorriu e fez uma pausa.


— O que você sente, London? — Seus dedos se
afastaram da minha pele e ele apenas segurou o próximo
botão entre os dedos, não o abrindo.

— Desejo. — eu sussurrei, sem fôlego.

— Especifique, por favor.

Jesus. Puxei novamente o fio, um lembrete de que era


impotente, mas ele também era um lembrete de que não era.
Eu tinha escolhido isso.

Eu tinha dado a ele tudo de mim.

— Calor. Sinto o calor por todo o meu corpo.

— Mmm. O que mais?

— Um aperto no meu peito como... como se eu não


pudesse respirar, a menos que você me toque de novo. — Ele
ainda se recusou a me tocar então continuei: — E o
formigando entre as minhas pernas... uma vibração de
energia elétrica. E molhada. Sinto-me molhada.

Ele sorriu.

— Oh, não há dúvida de que você está molhada, baby.


— Ele desabotoou outro botão, mas desta vez, evitou tocar
minha pele antes de afastar o material do meu corpo.

— E um pouco assustada. — Ele balançou a cabeça


como se isso fosse o que estivesse esperando ouvir.

— Por quê?
Pensei sobre isso. Estava amarrada em uma cama com
um homem em cima de mim e estava completamente
indefesa, como eu estive por anos, mas era um tipo diferente
de medo.

— Porque eu confio em você. É assustador.

Ele soltou a minha camisa e baixou seu corpo até que


seus lábios levemente tocaram contra os meus.

— Eu nunca vou lhe machucar. Mas, baby, você já sabe


isso.

Sua boca baixou para a minha e ele me beijou


novamente. Era urgente. Machucava. Forte. Uma de suas
mãos puxou meu cabelo, enquanto a outra deslizou
lentamente pelo meu corpo até chegar entre as minhas
pernas.

— Oh, Deus. — Arqueando minhas costas, eu


interrompi o beijo, quando a palma quente da sua mão em
concha me aqueceu. Ele não moveu sua mão, apenas a
descansou lá. Clamando. Possuindo.

— Por favor... — eu implorei.

Ele fez uma trilha de beijos do meu pescoço para o vinco


entre os meus seios, de modo lento e casual, com seu hálito
quente e lábios úmidos provando e explorando, até que ele
finalmente chegou ao meu mamilo e puxou-o na boca.

Ele foi gentil no início, a superfície de veludo de sua


língua brincando com ele para trás e para frente. Eu mexi
minha pelve, tentando fazê-lo mover a mão que ainda me
segurava. Mas sua paciência era resistente, deixando a mão
no meu sexo com a menor pressão, fazendo com que a
antecipação se construísse.

Meu mamilo escorregou de sua boca. Ele sentou e


traçou a superfície vermelha com o dedo, enquanto a outra
mão dentro da minha calcinha se contraiu e enviou uma
onda de desejo por mim.

— Kai. Por favor.

Ele me desvendou. Tudo o que ele tinha feito ao me


trazer aqui, a água gelada, o cinto, até mesmo me amarrar,
era para me trazer a este ponto. Não havia como voltar atrás
para mim agora. Eu queria só ele.

— Puxe o fio, London.

— Huh?

Ele saiu de cima de mim e estava deitado de lado ao


meu lado.

— Eu quero que você sinta as restrições.

— Eu sinto. Eu o sinto.

— Preciso saber que ele está fora de você.

O que ele estava perguntando... Fiz tudo o que ele me


pediu, mas o que eu passei nunca realmente morreria. Era
parte de mim e com a ajuda de Kai, lutei para deixar para
trás. Agora, ele queria que eu sentisse o que senti muitas
vezes antes, durante esses anos com Alfonzo e Jacob?

— Lute, London.

— Kai. Por quê? Eu não entendo. — Por que ele estava


me obrigando a fazer isso?

— Você disse que confiava em mim. — Eu assenti. —


Então preciso que você lute. Se sinta impotente e vulnerável e
com medo.

— Eu não quero. — Não queria aquele pânico


esmagador que sufocava meus pulmões e apertava meu peito
com tanta força que me sentia como se um torno estivesse
sendo apertado em volta de mim.

— Claro que não. Mas você precisa. — Ele se inclinou


sobre mim, brevemente beijou meus lábios trêmulos, e, em
seguida, levantou-se da cama.

Meu coração tamborilou contra minhas costelas quando


eu o assisti caminhar para o outro lado do quarto
completamente nu. Seu pênis duro e ereto contra o seu
abdômen musculoso.

Ele se sentou na cadeira, inclinou-se para trás, suas


coxas se separaram e seus olhos escuros e intensos,
enquanto esperava eu decidir o que fazer.

Kai era um enigma, mas se havia uma característica que


eu sabia ao certo sobre ele, era que ele nunca desistia. Nunca
desistia quando queria alguma coisa. Deus, ele procurou-me
por dois anos e eu estava apostando que ele teria feito por
mais vinte se fosse preciso.

Esse era o tipo de homem que ele era e eu confiava nele.

Então eu lutei.

Eu puxei o fio e estremeci quando ele cortou meus


pulsos. Torci e virei-me, o lençol debaixo de mim agora
envolvido em torno de minhas pernas enquanto eu lutava
contra as amarras, o medo rastejando em mim com a
memória de estar na cama, com Alfonzo em cima de mim,
meus pulsos amarrados apenas como estavam, mas com o
peso de frias algemas.

O pânico aumentou na medida em que a memória ficou


mais forte e eu me debatia na cama. Kai sentado na cadeira
foi esquecido enquanto eu lutava para me libertar.

Eu não conseguia me soltar.

Presa.

Ele ia me deixar aqui por dias.

Não.

Não.

Gritei enquanto puxava o fio e as memórias me


invadiram como um nevoeiro preto asfixiante.

— Não. Não.

Com tudo o que eu tinha, puxei o fio.


O nó que tinha amarrado no fio se desfez e meus braços
dispararam para frente a partir do momento que fiquei livre.

Eu me deitei estática por um segundo, minha respiração


irregular, meus pulsos ainda amarrados juntos, mas livres da
cabeceira da cama.

Livre.

Uma onda de alívio frio derramou sobre mim quando o


pânico foi lavado. Estava pesada, sugando o ar pela minha
luta, mas o terror foi embora. Era como se a súbita liberação
tivesse reescrito a memória. Eu escapei. Escapei quando há
anos eu não conseguia.

— Sim. — A voz de Kai era um som ressonante profundo


que era como um cobertor de calor.

— Você amarrou apenas o suficiente para se desfazer se


eu lutasse bravamente? Você queria me libertar?

— Sim.

— Você queria que eu sentisse o medo e escapasse. —


Não era uma pergunta, porque isso era exatamente o que ele
queria.

— Você não vai ser sempre capaz de se libertar, London.


Essa é a realidade. Mas se você não puder, saiba que vou
sempre estar para você. Nunca se esqueça disso. Você precisa
saber disso.
Minha respiração me deixou enquanto eu olhava para
ele, absorvendo o que ele disse.

— Eu sei. — Não tive dúvida de que Kai andaria a pé


através do inferno, a fim de chegar a mim. Deus, ele iria. —
Mas você não é Deus, Kai. Mesmo que você pense que é.

Ele ergueu as sobrancelhas.

— Verdade. Mas sou o mais próximo que você obterá do


grande homem. — Sorriu e disse:— Venha aqui.

Com minhas pernas ainda tremendo, eu me arrastei da


cama e caminhei até ele. Ele estendeu a mão e desfez o fio
que ainda estava em torno de meus pulsos. Linhas vermelhas
estavam embutidas na minha pele e ele trouxe meu pulso à
boca, beijando a pele inflamada então repetiu com a outra.

Meus olhos foram para o seu pênis que ainda estava


duro e eu quis me ajoelhar e levá-lo em minha boca. Nunca
pensei que iria de bom grado querer fazer isso de novo, mas a
necessidade de prová-lo na ponta da minha língua, envolver
meus lábios ao redor da superfície de veludo duro, para dar-
lhe prazer, pulsou em mim.

Decidi então quebrar uma de suas regras e fui sem


medo. Sem incerteza.

Fiquei de joelhos no chão, entre as pernas com minhas


mãos em suas musculosas coxas nuas.

Sua voz era um rosnado baixo quando ele asperamente


agarrou meu queixo me forçando a olhar para ele.
— Eu nunca quero você de joelhos novamente.

Reconheci sua carranca feroz, mas foi a sugestão de


medo em seus olhos que suavizaram minha réplica inicial.

— Você quer me dar escolhas?

— Sim.

— Então essa é a minha escolha. Quero o seu pênis na


minha boca. Quero ouvir você gemer de prazer.

— Então nós vamos passar para a cama. Eu não quero


você de joelhos no chão.

Foi então que percebi que talvez isto não fosse apenas
sobre mim. Isto era sobre ele. Ele não podia lidar vendo-me
de joelhos. Eu não tinha certeza se era um lembrete do
México ou outra coisa, mas o que quer que fosse, ele estava
lutando contra isso a cada segundo em que eu ficava de
joelhos.

— Talvez seja a hora de reescrever sua memória,


também, Kai? — Seus olhos se arregalaram quando um
lampejo de surpresa bateu em seu rosto. — E você não vai
sempre conseguir o que deseja. Pelo menos comigo.

Ele sacudiu a cabeça para trás e para a frente quando


um sorriso se formou e soltava os meus braços.

— Mmm, talvez. Mas eu certamente tentarei.


Então, ele me pegou, me levando para a cama e me
jogou. Veio por trás de mim e se estabeleceu contra a
cabeceira da cama.

Arrastei-me entre as pernas dele e deslizei as mãos


sobre os joelhos, suas coxas e seus quadris.

Assisti sua expressão quando minha mão foi para seu


pênis, envolvendo a base do mesmo. Ele parou de respirar.
Parei minha língua sobre a ponta e seus olhos se deslocaram
desde os meus até a minha boca e seu pau na minha mão.

Apertei mais forte e antes que abaixasse minha boca


para ele, eu disse:

— Você é o meu tudo.


A esperança destrói

Deitei na cama com London enrolada em mim, seu rosto


descansando em meu peito, a palma no meu abdômen
cobrindo uma das minhas cicatrizes. A mais recente, no
México, onde fui baleado, mudando o curso da vida de
London.

Uma bala perdida que lhe custou mais do que a mim.

“Você é meu tudo”.

Suas palavras de ontem à noite não foram perdidas,


mas no momento, elas tinham sido deixadas de lado quando
ela chupou meu pau até que tive que virá-la e empurrar para
dentro dela.

Tínhamos que conversar. Ela tinha que saber o que


estávamos enfrentando, porque eu não tinha um plano. Eu
não sabia o resultado do que iria acontecer conosco.

Sua mão deslizou sobre o meu abdômen para uma


cicatriz irregular deixada por uma barra de ferro, uma barra
de ferro em brasa. Ela traçou-a com seu dedo e senti a
umidade de uma lágrima atingir minha pele enquanto sua
bochecha descansava no meu peito.

— O que aconteceu, Kai?

Já era hora. Ela precisava saber de tudo antes que eu


fosse embora.

— Isso foi uma barra de ferro quando eu tinha doze


anos. — Sua mão congelou em cima da cicatriz e ouvi sua
inspiração afiada. — Minha mãe mandou-nos para um lugar
quando nós éramos jovens, depois que meu pai morreu. Ela
chamou-lhe ‘a fazenda’. — Um lugar onde você é ensinado a
sobreviver e se falhar, morre. Diferentes idades, homens,
mulheres, isso não importa. Nós estávamos lá para aprender
a matar. Mas também tínhamos que aprender a escrever e
falar de forma eficaz. Aprendemos os caminhos do mundo.
Embora, a ideia deles de caminhos do mundo era um pouco
distorcida. — Fiz uma pausa. — Se você chegasse até os
dezoito anos, era enviado em missões.

— Quantos anos você tinha quando foi para lá, Kai?


— Eu tinha sete anos, minha irmã cinco.

Ela engasgou, em seguida, depois de um minuto, disse:

— Você tem uma irmã?

Fiquei rígido quando uma onda de dor tomou conta de


mim. Eu a bloquei por tanto tempo, a fazenda fez isso, mas
ao longo dos últimos anos, com as emoções rastejando de
volta, o mesmo aconteceu com a minha irmã, Chess.

— Ela está na França. Mãe a aprisionou.

— Mas por que sua mãe faz isso? Por que ela iria enviar
seus filhos para um lugar como esse e por que aprisionar sua
irmã?

Enrolei meus dedos em torno dos dela descansando em


meu peito.

— Minha mãe é uma puta e queria ter o controle de


Vault. — Expliquei-lhe sobre Vault, os membros do conselho,
o que eles fizeram, o que eles representavam, naquele tempo
e agora.

— Onde estão as crianças agora?

— Algumas se tornaram agentes, outras foram mortas.


Alguns nunca conseguiram sair da fazenda. Crianças
desapareciam no meio da noite pelo surgimento de novas o
tempo todo. Você nunca dormia bem, temendo que fosse o
próximo. Desaparecer nunca foi bom, porque sabíamos que
os desaparecidos não voltavam e estavam provavelmente
mortos.

“Encarregados cuidavam de nós. Nos condicionavam, eu


acho que você poderia dizer. A dor era um ritual diário.
Enquanto você crescia, se acostumava com isso. Tornava-se
imune. Entorpecido. É o medo que corrói você e eles eram
bons em fazer você temê-los”.

Descansando minha mão na parte inferior das costas,


eu suavemente desenhei indo a lugar nenhum, caminhos sem
sentido.

— Mas não era medo por mim. Era o medo por minha
irmã. — Ela endureceu. — Eles sabiam disso também e o
usaram contra nós. Foi quando eu soube que o que queriam
era me quebrar até o ponto onde eu não me importasse com
ninguém.

Ela permaneceu em silêncio, mas suas lágrimas


disseram tudo. Eu não estava contando a ela para que tivesse
pena de mim. Essa era a última coisa que queria. Eu
precisava que ela soubesse porque alguma vez Vault a
pegasse, ela iria entender o tipo de pessoas que eram.

— É por isso que eles nos iniciam tão jovens, com


menos ligações, mais fáceis de quebrar e condicionar-nos.
Mas minha irmã... ela continuou quebrando as regras.
Continuou tentando ajudar outras crianças. Quando ela
tinha uns catorze anos, ajudou uma criança a escapar. Eu
não sei como ela fez isso, mas foi tirada e nenhum de nós a
viu por um longo tempo. Foi quando fomos transferidos para
outro lugar. Acho que eles estavam com medo que o garoto
que fugiu contasse às autoridades.

— Oh, Deus, Kai.

— Quando ela voltou... Eu não sei por que, mas ela


parecia bem e a começou a aprender a lutar como o resto de
nós. Era dócil. Mas, alguns anos atrás, foi em uma missão e
não voltou. — Suspirei, fechando os olhos por um segundo
enquanto pensava sobre ela. — Eles a encontraram.
Trouxeram-na de volta e ela tem estado presa desde então.

“Você não foge, London. Você faz o que tem que fazer, a
fim de sobreviver. Aprende a jogar o seu jogo por suas
regras”.

— Como agora.

— Sim, querida. Como agora. Você é uma ligação e eles


iriam acabar com ela se soubessem que está comigo. — Eu
segurei seu queixo e inclinei o rosto dela para olhar para
mim. — Se eles chegarem até você... — Foda. Eu não sabia se
seria capaz de salvá-la. Talvez tivesse mentido para ela,
porque Vault era o único lugar do qual poderia ser incapaz de
salvá-la.

— Como…? Deus, Kai, como sua mãe poderia fazer isso?

— Posso ter seu sangue contaminado correndo em mim,


mas ela não é uma mãe. Chamo-lhe assim porque é meu
jogo. Minha carta para jogar, então ela sente conforto em
pensar que sou seu filho leal.

— Você é? Leal? — Ela perguntou em voz baixa.

— Tenho uma casa sobre a qual eles não sabem e a filha


do homem que lhes fornece uma droga escondida nela.

Passei minha mão pela sua coluna até que ela


descansou em sua bunda.

— London, a esperança é perigosa lá. Eles sabem como


apagar cada parte de você, até que você não seja nada. E
agora... a droga que seu pai fez para eles só vai torná-lo mais
fácil, porque eles vão usar homens já treinados para matar.
— Fiz uma pausa. — Como o irmão de Georgie.

Ela franziu a testa.

— Georgie? Deck e Georgie. Que Georgie? Eu não


entendo.

Eu a trouxe para mais perto e disse-lhe tudo. Como


Georgie virou Chaos, Tanner aproximando-se de Connor para
que ele e Georgie confiassem em Tanner. Revelei a ela mais
do que tinha a qualquer pessoa. Não fiz isso para assustá-la.
Foi pela razão oposta, porque o medo vem do desconhecido.
Fiz isso para que ela pudesse estar preparada para qualquer
coisa. Para dar-lhe poder. E para dar a ela o que nunca tinha
dado a qualquer pessoa, nem mesmo Ernie – minha total
confiança.
— Connor foi o primeiro a ser testado com a droga. Não
sei as indicações, assim como qualquer coisa que envolva
Connor foi mantida em sigilo, mas ele estava em uma força
tarefa de elite-JTF2 quando foi levado. Ele tinha todas as
habilidades necessárias, sem os anos de formação desde
criança. Mas a diferença entre convencer crianças para fazer
o que você quer e alguém como Connor: ele não vai moldar
facilmente. E alguns homens nunca irão quebrar.

— A droga. — Assenti. — Mas meu pai... por que ele


faria isso?

— Seu pai faria qualquer coisa para protegê-la. — Não


havia nenhuma maneira fácil de dizer a ela o que viria
adiante, mas era importante que ela soubesse que seu pai fez
o que tinha que fazer. — O incêndio em que você esteve... Eu
suspeito que foi Vault.

Ela engasgou.

— Mas você é de Vault. Você começou o incêndio?

— Porra, não. Mas Vault sabia que sua mãe morreu em


um incêndio acidental e que você quase morresse em um...
Eu não acredito em coincidências, London.

— Mas se eles queriam me matar, por que não lhe


disseram? Você me salvou do fogo.

— Eu não mato crianças.

— Eu tinha dezoito anos.


— É verdade baby, você era tão bonita. — Eu me inclinei
e beijei sua testa, lábios, me demorando quando fechei os
olhos, querendo tirar a dor, mas sabendo que ela precisava
ouvir isso. — Seu pai estava atrasando. Ele não queria
continuar a fazer a droga, mas, com o incêndio... ele não
tinha escolha, London.

Dei-lhe um tempo para aceitar o que eu disse a ela. Para


tentar dar sentido a ela. Sua mão acariciou para trás e para
frente distraidamente por cima do meu abdômen. Ela não
chorou ou quebrou, mas em silêncio, tomou o que eu disse.

Seu rosto deslizou contra o meu peito quando ela olhou


para mim.

— No México eram eles, não era? Mais uma ameaça


para o meu pai?

— Sim. E não. — Eu acariciava seu lábio inferior com o


polegar, ainda inchado dos meus beijos. — Eles tinham
raptado você e levado para o México e isso foi uma ameaça
para o seu pai. Mas foi concebido para ser mais uma ameaça
para mim.

Ela sentou-se, seu corpo meio inclinado sobre mim.

— O que?

— Passei várias noites com você, mas não da maneira


que eles queriam.

Ela estendeu a mão e segurou o lado do meu rosto


quando caí em silêncio.
— Oh, meu Deus, você deveria me machucar.

— Sim.

Sua mão se encolheu no meu abdômen.

— E, em vez disso, você fugiu. Deixou-me ir.

— Sim.

— Mas meu pai...

— Teria conseguido o tempo extra que precisava de


qualquer maneira.

— Mas você me deixou fazer o negócio?

Eu levantei minhas sobrancelhas.

— Era um negócio que não pude recusar. Fui um


bastardo por fazê-lo, mas não me arrependo, baby. Nunca
vou me arrepender de um segundo que tenha passado com
você.

Seus olhos se estreitaram e os lábios franziram antes


que ela batesse no meu peito.

— Então, eu não tinha que dormir com você?

— Eu lembro de você estar muito disposta.

— Mas eu pensei... — Ela parou, pensando sobre o que


dizer e eu a deixei. Finalmente, ela disse: — Por quê?

Eu a virei de costas e deitei em cima dela, agarrando-lhe


os pulsos para prende-los no colchão em ambos os lados de
sua cabeça. Seu peito subia e descia rapidamente, seus olhos
fixos em mim.

Seu coração disparou em meu peito enquanto me movi


para mais perto.

— Coração Valente, eu quis você por anos. Sabia que


era impossível e que seria mais seguro se ficasse longe, mas
quando a vi no closet e soube que você me viu... Tinha que
avisá-la. Assustá-la o suficiente para não fazer nada sobre o
que viu. Mas então, você veio com esse negócio. — Toquei
meus lábios nos dela e fiquei decepcionado que eles estavam
imóveis sob os meus. — Sabia que era a única chance que eu
teria com você.

— Estava errado. — disse ela.

— Sim. — Eu saí de cima dela, balancei as minhas


pernas para o lado da cama, então inclinei-me e agarrei
minhas calças do chão. Porra, nunca me importei com certo
ou errado. Fazia o que tinha que fazer, mas isso importava.
Foi errado porque minha decisão lhe custou caro. — Eu
tenho que sair hoje.

Ela sentou-se, tendo o lençol com ela.

— Oh.

Eu estava de pé, puxei minhas calças, então, peguei


minha camisa.

— Não tenho certeza em quanto tempo estarei de volta.


— Querido... — ela sussurrou e era como se me
entregasse o mundo com essa única palavra. — Quando você
vai deixar alguém lhe salvar?

Porra.

Eu ainda estava de costas para ela quando fechei os


botões da minha camisa. Meus dedos se acalmaram e minhas
costas endureceram. Será que ela não sabia? Eu estava além
de qualquer salvação, tinha as marcas para provar isso e a
história para confirmá-lo.

— Não preciso ser salvo, London.

Quando ela suspirou, olhei por cima do meu ombro para


ela. Tudo dentro de mim lutou contra deixá-la, mas sabia que
não havia outra escolha.

Ela se sentou na beirada da cama, seu cabelo em


completa desordem e porra, ela era linda.

— Você estava certo. — disse ela quando nossos olhos


se encontraram.

Fiz uma careta, sem saber ao que ela estava se


referindo.

O lençol caiu e meu pau estremeceu. Foi por isso que eu


a tinha protegido. Por que eu me importava. Estava bem na
minha frente. A força de London desafiava a minha própria.
Apenas disse a ela o pior tipo de merda possível e ela estava
olhando para mim com nada mais...
— Eu amo você, Kai.

Porra. Fechei os olhos no segundo em que suas palavras


afundaram em mim. Amor. Eu nunca fui amado. Nunca quis
ser. Era indigno de amor.

Ouvi os pés descalços atravessarem o chão de madeira


e, em seguida, ela estava desfazendo minha camisa de novo.

— Kai, você tem um lado bom em você. Eu não poderia


lhe amar, a menos que você tivesse. — Suas mãos deslizaram
pelo meu peito quando minha camisa se abriu e minha
respiração parou enquanto eu observava seu beijo em uma
cicatriz após a outra.

Eu a deixei. Eu a deixei beijar cada uma antes de


segurar seus ombros e afastá-la de mim. Mas o que eu vi nos
olhos dela era mais poderoso do que qualquer coisa que Vault
já tinha feito para mim.

Isso me prendeu.

Não sabia o que era o amor, mas o que eu sentia por ela
era indescritível com uma única palavra. Isso era mais
poderoso. Era tudo o que consumia.

— London, o que somos não pode ser explicado com


uma palavra, uma única experiência.

Então eu mostrei a ela.


— Será que eles sabem que você foi para o México?

— Não.

Estava vestido e arrumado para sair. London se mexia


enquanto pegava sua torrada e a soltava novamente. Ela
espalhou geleia sobre ela duas vezes e tentou colocar a tampa
de manteiga de amendoim no frasco. Cruzou as pernas e
descruzou quando mudou de posição no banco do bar pelos
últimos dez minutos.

— Você vai ter cuidado?

— Sempre sou cuidadoso, baby. — Ela fechou os olhos,


os lábios fechados. Joguei minha torrada para baixo. —
London, alguém está sempre atrás de mim. Como eu disse,
não tenho amigos e fiz um monte de inimigos, mas tenho
cuidado e sei o que estou fazendo. — Então suavizei a minha
voz e disse:— Você está preocupada.

— Sim.

Porra, eu gostei disso.

— E quanto a Deck? — Ela perguntou.

Sim, o que aconteceu com ele. Não havia confiança entre


nós, mais como um entendimento mútuo, até que ele
descobrisse o meu pequeno segredo com sua namorada,
Georgie. Então, todo a merda seria jogada no ventilador. Eu
esperava que não fosse acontecer, porque poderia me forçar a
jogar minha mão. Georgie pensou que eu fosse matá-lo, mas
não faria isso a menos que ele tentasse me matar primeiro,
que era uma boa possibilidade se descobrisse tudo.

— Ele não vai lhe machucar. — Estava certo. Deck era


um assassino também, mas tinha a moral e os valores que
rivalizavam com os meus próprios. — Mas ele não é um
amigo, London.

— Kai, eu quero ligar para o meu pai.

Nós já tínhamos discutido sobre isso. Bem, ela


argumentou. Eu simplesmente disse que não. Era muito
arriscado para ela fazer qualquer contato com ele.

— Não. Mas quando eu voltar, vamos conversar sobre


isso e vou lhe ensinar como lidar com uma faca.

Pelo brilho nos olhos, eu soube que ela gostou muito


dessa ideia.

— Ok. Mas talvez seja mais seguro se eu for com você?

Olhei para ela um segundo. Depois de tudo o que eu


disse a ela, esta manhã, ela ainda me queria e eu estava
ainda... com medo de que ela fosse embora. Ela precisava
entender porque não podia sair e porque não poderia ir
comigo.

Agarrei-a pela cintura, puxei-a fora de seu banquinho,


então coloquei a minha faca em sua garganta dentro de
segundos. Seus olhos se arregalaram e sua respiração parou.
— Você sente o tremor nos membros, London? O sangue
correndo em suas veias? O aperto no peito quando a borda de
minha lâmina repousa contra sua garganta? — Ela não podia
responder porque com o seu aceno a faca a cortaria. — Isso é
medo. E isso é perigoso. — Eu acariciava meu dedo por sua
bochecha. — Você não está pronta para ir a qualquer lugar
comigo. — E eu não sabia se ela em algum momento estaria.
Mas não podia pensar nisso. — Preciso que você faça o que
digo. Fique aqui, coma uma torrada e quando eu voltar, terei
algumas coxas reais para agarrar.

Eu sorri. Ela não.

— Então tenho que esperar por você voltar ou não voltar


porque está morto?

— Eu não vou morrer.

Ela trancou meu pulso segurando a faca, seu aperto era


severo. Ela estava chateada — bom. Ela tinha que ficar por
conta própria e lutar por aquilo que queria... exceto que
nunca me venceria.

— Você não é invencível, Kai.

Não, eu não era, mas me destacava em manter-me vivo.

— Discutível. — Eu levei a minha faca para longe de sua


garganta e a puxei em torno para que ela montasse em meu
colo.

Quando vi o olhar e o teimoso queixo levantado, não


pude evitar. Ri, o que fez com que ela perfurasse meu peito.
— Isso não é engraçado.

— Se eu morrer, Coração Valente, ainda assim não irei


deixar você. — E se eu morresse, Ernie teria instruções
quanto ao que fazer sobre London — Deck. Ele seria
informado sobre tudo o que era para ser dito e London
entregue a ele.

— A morte é uma bonita maldição final. Eu não vejo


você acreditando em vida após a morte.

Eu belisquei o lóbulo sensível de sua orelha.

— Hmm, talvez não. — Eu afastei seu cabelo de seu


pescoço com a ponta da minha faca e passei minha língua
pela sua garganta esbelta. Sua respiração engatou e sua
espinha arqueou. Algo sobre a pressa do perigo enviou toda a
adrenalina direito para meu pau. Eu me afastei para que
pudesse ver o desejo em seus olhos flamejantes. Segurei a
gola de sua camisa, que era uma das minhas e cortei-a no
centro com a minha faca.

Ela engasgou.

— Se eu morrer, —lentamente acariciei seu mamilo


exposto, não com o meu dedo, mas com a minha faca, — um
pedaço de você morrerá comigo. — Coloquei a palma da
minha faca contra o peito e apertei. — E você nunca irá
reparar essa parte de você. Mas ela vai nos dois sentidos,
Coração Valente.
Ela se aproximou de mim, de modo que o plano da
lâmina foi empurrada mais forte em seu peito. Ela estendeu a
mão e segurou a parte de trás do meu pescoço.

— Eu gostaria de ficar inteira, então prefiro que você


vivo.

Coloquei minha faca em cima do balcão, em seguida,


desfiz minhas calças jeans e puxei meu pau latejante.
Alcancei ela e a peguei pela bunda. Ela enrolou as pernas em
torno de meus quadris, braços enganchando meu pescoço.

— Você vai dormir nua quando eu for embora para que


eu possa imaginar você na nossa cama, brincando com você
mesma? — Puxei de lado sua calcinha e esfreguei o meu pau
em sua boceta molhada.

Seus lábios se separaram enquanto ela ofegava.

— Sim.

Empurrei meus quadris para frente e gemi quando meu


pau afundou em seu calor apertado. Ela gritou com a minha
entrada brusca, apertando as mãos nos fios de cabelo da
parte de trás do meu pescoço. Enterrei minha cabeça em seu
ombro enquanto sussurrei.

— Nunca deixe de acreditar em mim.

Porque eu não sabia o que faria se ela deixasse.


Três dias.

Ele me deixou sem telefone, sem acesso a computador e


nenhum carro. Ele sabia que ligaria para o meu pai ou
mandaria um e-mail, apesar de dizer que não o faria.

Então, eu estava sozinha no meio do nada, sem nada


para fazer a não ser comer e assistir a filmes e dormir todas
as noites no sofá.

Nunca fui de sentar e não fazer nada; até mesmo


quando era uma criança eu estava sempre experimentando
diferentes coisas para descobrir o que iria acontecer. Foi meu
pai quem insistiu para que eu aprendesse a andar de
bicicleta quando tinha seis anos, quando todas as crianças
do bairro já estavam em duas rodas.
Eu me considerava fisicamente desafiada por não ter
jogado nenhum esporte. Fui forçada a jogar baseball quando
era uma caloura no ginásio e depois do meu primeiro lance, o
que era desleal e patético, estava na reserva a maior parte do
tempo.

Agora, eu gostaria de ter tido algum tipo de talento


natural em jogar, mas por horas, tinha tentado golpear
minha marca com a faca. Esperava impressionar Kai
praticando antes que ele voltasse e estando metade decente.
Do jeito que estava indo, não haveria qualquer coisa
impressionante.

Ele disse que poderia levar algumas semanas, então eu


estava esperando que eu conseguisse pelo menos atingir o
tronco da árvore estúpida. Levantei meu braço e joguei a faca
novamente. Ela saltou longe da superfície da árvore e caiu na
grama.

— Dane-se tudo, porra. — Marchei pelo campo na parte


de trás da casa, farfalhando a grama quando a brisa úmida
me arrepiou. Inclinei-me e peguei a faca, em seguida,
esfaqueei a casca. — Aqui.

Estava frustrada, meus músculos do braço feridos e eu


sentia falta dele. Eu dormia no sofá, porque a cama
lembrava-me dele, os lençóis cheirando como ele; e eu ainda
levava o seu travesseiro e me enrolava com ele no sofá
vestindo uma de suas camisas.
Estava preocupada. Eu não gostava de esperar. Eu me
senti impotente e fraca por anos e odiava cada segundo disto.

Mas Kai me trouxe aqui e não só tinha me libertado da


concha que estava me escondendo, ele me fez mais forte. Eu
nunca queria ser indefesa novamente. Queria ser como Kai —
destemida, sem a constante avalanche de emoções me
atingindo.

Não fria, mas controlada.

Voltei para a clareira de grama pisada a vinte metros de


distância, levantei meu braço novamente e chicoteei a lâmina
e arqueando através do ar em uma direção precisa.

— Sim! — Gritei quando ela perfurou a árvore e


balançou um pouco antes de cair. Bati palmas e saltei.

— Impressionante.

Virei-me tão rápido que tropecei na grama longa. Meus


olhos bateram o homem que falava. Ele ficou com os braços
cruzados, encostado na porta dos fundos. Tudo dentro de
mim ficou imóvel por um segundo e, em seguida, a mesma
razão que eu estava aqui e não com Kai me atingiu.

Medo.

A expressão do homem estava morta, não sorria, sem


carranca —sem expressão. Os traços rígidos de seu rosto o
faziam parecer irregular e duro. Olhos de um azul brilhante,
afiados e frios que deixavam suposições quanto ao que este
homem era capaz.
Ele não escondeu o fato de que tinha armas presas ao
cinto, embora nenhuma estivesse em sua mão, mas eu
apostava que ele teria uma em mão antes que eu desse um
passo.

— Quem é você? — Eu ia perguntar se ele era amigo de


Kai, mas me lembrei do que Kai disse para mim — ele não
tinha amigos e eu nunca deveria acreditar se alguém dissesse
que era.

— Eu estou aqui para levá-la para casa.

Fiquei tensa com o tom profundo e grave em sua voz.


Uma voz que fez o medo aumentar, porque não havia dúvida
de quem quer que fosse, ele era tão perigoso quanto Kai, mas
Kai não me machucaria, este homem, sim.

Meus dedos se enroscaram em punhos em meus lados.

— Estou perfeitamente bem onde estou. — Avancei um


passo para trás e ele não se mexeu. Dei mais um passo para
trás. Eu poderia correr mais que ele? Será que ele atiraria em
mim pelas costas?

— Eu vejo isso. — Ele se afastou da porta e meu coração


sentiu como se estivesse na minha garganta. Deus, os seus
braços eram enormes e se ele se apoderasse de mim, nunca
teria como me libertar. Eu não era uma corredora, mas eu
era pequena e...
— Por favor. Corra, pequeno coelho. — Minha respiração
engatou e eu congelei. — Tenho ordens para levá-la para casa
viva, mas as feridas são opcionais.

— Eu não vou a lugar nenhum sem Kai.

— Ah, sim, Kai. O Fiel Kai que se esconde com uma


garota que ele deveria trazer para Vault. — Ele deveria? —
Dentro de uma casa que não conhecia.

— Quem é você?

— Isso importa?

Eu olhei.

— Sim. Eu gostaria de saber o nome do meu carrasco.

Ele arqueou as sobrancelhas para isso.

— Eu disse que não vou lhe matar.

Eu sorri.

— Bem, você terá. Porque a única maneira que você


estará me levando daqui será o meu corpo em um saco
plástico. — Assim que as palavras saíram da minha boca, eu
pensei no que disse Kai. Um saco de corpo era educado
demais.

Ele me cortaria em primeiro lugar.

Uma brisa suave arrepiou os topos da longa grama que


me cercava e frágeis hastes oscilaram para frente e para traz.
Endireitei minhas costas, levantando meu queixo em desafio.
Estive com medo da morte por tantos anos, mas agora... não
estava com medo dele. Estava com medo de nunca mais ver
Kai novamente. Nunca provar seus lábios. Nunca sentir seus
braços em volta de mim. Mas acima de tudo, estava com
medo dele se machucar. Era uma espécie de estupidez talvez,
considerando quem ele era e do que era capaz, mas a
confiança de Kai me irritava porque ele era tão casual sobre
isso, como se sua vida ser tomada não tivesse qualquer
significado.

Mas tinha significado. Tinha para mim.

Ele veio na minha direção, os braços caindo para os


lados, perto de sua faca de um lado e sua arma no outro.

Eu teria que correr.

E pelo seu encolher de ombros suave e sobrancelhas


levantadas, ele sabia disso também.

Eu me mandei, correndo para a direita e fui em direção


ao lado da casa. Meus pés bateram enquanto eu
ziguezagueava em todo o quintal. Não podia ouvi-lo atrás de
mim e não ousava olhar. Corri para a frente da casa. A minha
única chance era a estrada e esperar que alguém me visse.

Hesitei um segundo quando vi seu SUV preto


estacionado na garagem. Pensei sobre verificar as chaves,
mas ele não parecia estúpido. Merda, tudo nele era o oposto.
Frio. Calculista. Insensível. Uma máquina.
Meus pés derraparam no cascalho quando bati na
calçada e por acaso olhei atrás de mim, mas ele não estava
lá. Ele não tinha sequer me perseguido.

Que merda? Onde ele estava?

Corri o mais rápido que pude, a estrada apenas cem


metros de distância agora. Eu conseguiria.

O impacto da bala me atingiu no ombro e me derrubou.


Caí de cara no cascalho.

A dor excruciante atravessou meu corpo enquanto eu


lutava para levantar de novo, minha mão segurando meu
ombro enquanto o sangue escorria por entre meus dedos.

Meu olhar foi para a calçada quando ouvi o barulho de


pneus. Não a partir da estrada à frente, mas a partir de atrás
de mim. Gemia quando a dor sacudiu meu ombro. Saí da
garagem para a estrada, mas caí quando meu tornozelo virou
na vala escondida.

Eu gritava em agonia quando meu ombro levou o peso


do impacto. Minha visão ficou turva e balancei minha cabeça
tentando limpar a nebulosidade. Levei a minha mão no
ombro e me arrastei, mas cada movimento era tão doloroso
que eu estava com medo de desmaiar.

Soaram passos atrás de mim. O estalo de galhos


estalando sob o seu peso.

Tentei ficar de pé, mas perdi o equilíbrio e cai


novamente.
— Você terminou?

Soltei respirações enquanto estava deitada de lado. A


agradável camisa branca e cara de Kai estava encharcada de
sangue. Ele tinha tantas delas e eu não a tinha tirado. Usava
uma a cada dia apenas para que, quando respirasse, fosse ele
quem preenchesse meus pulmões.

— Eu nunca vou terminar. — retruquei. Eles podiam ser


capazes de tomar o meu corpo, mas como Kai disse, nunca
deixaria alguém tirar a minha mente.

Ele inclinou-se, agarrou o braço baleado e levantou-me.


Eu cerrei os dentes para tentar parar o grito emergente, mas
saiu como um gemido.

— Você está pronta para ir para casa agora, London? Ou


você prefere ser chamada de Raven?

Eu olhei para ele e cuspi em seu rosto. A bola de saliva


atingiu seu rosto, deslizou pela superfície da sua pele e caiu
no queixo, imergindo em sua camiseta preta.

— Vai se foder.

Ele puxou meu braço e eu não tive escolha a não ser


tropeçar depois dele ter deslocado meu braço. Percebi que
não fui muito longe da calçada; embora no momento, sentia
como se eu tivesse corrido para sempre.

Ele abriu a porta do passageiro.

— Entre.
— Para onde você está me levando?

Nem mesmo um lampejo de uma expressão. Deus, ele


era uma máquina.

— Para a nova casa. Uma que você vai apreciar... em


tempo.

— Vault.

Houve uma leve redução de suas sobrancelhas antes


que ele se inclinasse sobre mim e colocasse o cinto de
segurança. Então, antes de eu saber o que estava
acontecendo, ele tinha meu pulso em uma algema. Ele puxou
meu braço para cima e ligou a outra alça da algema na alça
do teto.

Não me incomodei puxando-o, porque era o meu ombro


ferido e não havia motivo, exceto para me causar dor.

— Vou sangrar até a morte.

— Duvido. Nós veremos.

Ele bateu a porta e eu o assisti caminhar ao redor da


frente do SUV. Ele era aterrorizante. Eu não gostava de Kai
quando o conheci; mas este cara era diferente, porque era
como se eu estivesse falando com uma parede de escuridão.

Sem alma.

Ele cruzou e afivelou o cinto de segurança antes de ligar


o motor. Então, olhou para mim, seus olhos me encarando de
cima abaixo, antes de se estabelecer em minha ferida.
— Coloque pressão sobre isso.

Eu olhei e apesar de não querer fazer o que ele disse, eu


queria viver e por isso, apesar da agonia, apliquei pressão.

— Kai vai ficar puto. Ele virá atrás de mim.

Ele deu um aceno abrupto.

— Sim. Mas suspeito que ele vai passar meses


procurando por você, pensando que você fugiu — novamente.
— Não. Kai não acreditaria, ou sim? Ele saberia que eu não o
deixei de bom grado. — E quando ele descobrir, vamos então
saber onde se encontra sua lealdade.

Engoli em seco. Este era um teste. Um teste de lealdade


de Kai para Vault. Oh Deus.

Ele engatou a marcha do carro e começou a descer a


calçada.

— E o meu nome é Connor.


No momento em que abri a porta para a casa, eu soube.
O sorriso na minha boca que esteve lá uma vez que o avião
aterrissou desapareceu e meu estômago caiu.

Eu não precisava olhar ao redor ou chamar o nome dela,


porque sabia que London não estava aqui. Frieza me
envolveu e a fenda se abriu de novo, enchendo com piche
preto e me sufocando.

Eu verifiquei cômodo por cômodo, lentamente, mão na


minha faca, mas a precaução era desnecessária porque eu
sabia que não havia ninguém por aqui. E não tinha há algum
tempo.

Ela não estava.


— PORRA! — Gritei e bati meu punho na parede
deixando uma grande marca. O espelho pendurado acima da
mesa do corredor caiu no chão e quebrou.

A raiva era uma emoção que tinha jogado comigo,


provocado ao longo dos últimos anos, quando as emoções
rastejaram de volta para mim. Eu mantinha controlada. Eu
mantinha coberta, porque tinha visto o que ela fez com
outros homens, eles cometeram erros.

Fui capaz de sorrir por causa da ira com a minha


ocasional calma, porque nunca dei a mínima.

Agora eu dava.

Agora eu dava, porra.

E agora não poderia sorrir por causa da ira pulsando


pelo meu sangue. Ela tinha o controle de mim quando
caminhei pela casa, uma casa que passei anos construindo.
Uma casa que significava algo para mim, porque vivia e
respirava London agora.

Eu não sei porque me incomodaria em procurar por ela.


Talvez estivesse esperando que por uma vez o meu instinto
estivesse errado e ela estivesse deitada na nossa cama nua,
esperando por mim. Esperança. Porra. Nunca tenha
esperança, porra. Eu sabia.

Chutei a porta do quarto e os olhos grudados na cama


vazia.
Os lençóis estavam dobrados no colchão. London não
dobrava os lençóis. Quando íamos para a cama, ela sempre
os tirava de debaixo do colchão por isso, se ela fizesse a
cama, não dobrava. Eu fazia.

Significava que ela não dormiu na cama desde que eu a


deixei, treze dias atrás.

Estive em Toronto encontrando informações sobre a


nova atribuição de Chaos, Lionel. O e-mail do Vault afirmava
que Chaos iria conseguir os arquivos em seu computador, o
que significa que ela tinha que receber um convite de volta
para o seu lugar e uma vez que ela gostava de sair no
Avalanche, um bar que Chaos conhecia bem, ela estava indo
para chamar sua atenção e conseguir que a convidasse.

Também procurei mais sobre Tristan Mason, porque não


me caiu bem ele começar aparecendo na cafeteria de Chaos,
justo quando Vault pediu para tê-lo analisado.

Eu odiava coincidências.

Foda-se, treze dias. Treze dias que fui embora e sem


contato com London. Há quanto tempo ela tinha ido? Mas a
grande questão era, ela tinha fugido? Será que ela regrediu?
E se eu a tivesse deixado cedo demais? Ou ela foi para casa
para ver seu pai? Eu sabia que ela estava preocupada com
ele, mas eu disse a ela sobre Vault. Ela sabia quão perigosos
eles eram.

Meu olhar deslizou para a cadeira. Sentei no dia em que


tinha trazido de London aqui e esperado por ela acordar.
Depois para o banheiro, onde eu a vi sentada com a escova
de dentes nova no balcão. Atravessei a sala, para o banheiro,
em seguida, passei o polegar sobre as cerdas secas.

A ideia de que Vault tinha encontrado a minha casa,


encontrado London...

Bati com meu braço por cima do balcão superior


enviando tudo voando na parede e caindo no chão. Saí do
banheiro, peguei o celular do meu bolso de trás e digitei a
senha, em seguida, contatos e depois o número do Dr.
Westbrook.

Parei.

Erros. Isso era exatamente o que a raiva fazia. Reagir


sem pensar. Isso era o que eu quase tinha feito. Ligar para o
seu pai era um erro. Vault conhecia cada número de entrada
e de saída em cada número de seu telefone.

— Porra, London. Onde você está?

Troquei os telefones, apertando e depois segurei contra o


ouvido. Ele atendeu no primeiro toque. Interrompi seu ‘tudo
bem’ com ‘ela se foi. Preciso de olhos na rua’.

— Ok. Quanto tempo? — Perguntou Ernie.

Entrei na cozinha, abri a geladeira e peguei o leite e li a


data estampada no topo. Expirado há seis dias. Joguei-o na
pia.

— Saí há treze dias atrás. Poderia ter ido desde então.


— Ela tem carro?

— Não.

— Levarei cinco horas para chegar até aí.

Eu fiz uma careta.

— Onde você está? — Desde que London estava comigo,


eu não falei com Ernie.

Ele disse que estava tirando algum tempo, o que


significava que estava em algum lugar quente para deitar na
praia, dizendo para todos se foderem, exceto as mulheres.

— Basta chegar aqui. Estou ligando para Deck sobre


isso.

Desliguei.

Deck suspeitava que Connor estivesse vivo. Deck, por


quem Chaos pra apaixonada. Deck, que foi uma grande
perturbação. Mas Deck tinha habilidades e eu as usaria.
Usaria qualquer um e qualquer coisa para recuperá-la.

Entrei na sala de estar, empurrei o sofá de lado e me


agachei. Minhas mãos deslizavam sobre o piso de madeira até
que senti o ligeiro travessão. Tirei minha faca, esfaqueei entre
os dois pedaços de madeira que mergulhou no chão e puxei
uma das placas.

Alcancei dentro e tirei a mochila de couro onde estavam


guardados meus inúmeros passaportes falsos e toda a
papelada que escondi de Vault, incluindo a escritura da casa.
Peguei a mochila maior que tinha, algumas das minhas facas
e dinheiro. Não era todo meu dinheiro, porque eu não gosto
de deixar em um único lugar, mas era o suficiente.

Então, ergui a última bolsa. Uma bolsa que eu nunca


quis usar, mas a realidade era que London poderia não ter
fugido ou ido ver o pai. Havia uma terceira possibilidade.
Apesar de não haver indicação de uma luta, Vault poderia ter
encontrado a minha casa. A encontrado.

Abri o último saco e tirei cuidadosamente o dispositivo.

Sem nenhuma ligação.

Sem vínculos com qualquer coisa.

Mas já era tarde demais para isso. Talvez alguns meses


atrás, isto teria sido fácil, mas quando eu configurei o
dispositivo e o coloquei na mesa de café, um aperto agarrou
meu peito.

Ela permaneceu aqui e parte de mim não queria destruir


isso. Não, não é parte de mim — tudo de mim.

Eu fiquei de pé, agarrei as duas bolsas, a pesada


pendurada no meu ombro e comecei a ir até a porta.

Tique-taque.

Tique-taque.

Tique-taque.

Eu abri a porta e saí.


O som dos meus passos sobre as pedras do pátio
estavam firmes e casuais, correspondentes a batida do meu
coração.

Isto é o que eu precisava fazer.

Entrei no meu carro, girei a chave e o motor ganhou


vida. Então, lentamente fui para a entrada de automóveis.

Olhei uma vez no espelho retrovisor, quando o chão


tremeu embaixo do carro e houve um grande estrondo.

Pedaços da casa levantados no ar com as chamas. A


fumaça preta no céu. Parei na estrada e vi pelo espelho
quando a casa queimou.

Era a destruição da raiva. Destruição do que uma


menina me fez sentir pela primeira vez na minha vida.

Tive que queimar as emoções e encontrar a calma


novamente.

Porque se eu não o fizesse, a rachadura se dividiria e


não sobraria nada de mim. A escuridão teria consumido a
todos com leveza e mesmo London não seria capaz de me
trazer de volta.
Dia de hoje

França

Mãe estava morta.

Eu a matei e tudo o que sentia era alívio e satisfação.

Morta. Talvez eu tenha sido tão ruim quanto ela porque


gostei de assistir seu olhar enquanto ela lutava para respirar
com o apertado fio em torno de sua delicada garganta. Gostei
de como as unhas escavaram as costas das minhas mãos
quando ela arranhou e passou de mim, para o fio, em seu
pescoço, seus olhos implorando.
Eu implorei uma vez, também. Quando criança, implorei
para que a dor parasse. Pedi-lhe para não matar meu pai.

Implorei noite após noite para minha irmã ser salva da


fazenda. Implorar não fez porra nenhuma.

Mãe destruiu uma criança que nasceu com inocência. O


poder da cadela faminta virou Vault em uma organização
sobre a supremacia e controle, utilizando todos os meios para
obtê-lo e, no processo, mudou as crenças em que fui criado.
Sua visão corrompeu o seu caminho e eu fui uma parte disso.

Caminhei pelo corredor escuro. Meus sapatos


tamborilando no chão de cimento como a música antes de
uma cena de morte em um filme. Ecoando. Alto. Solitário.

Lembrou-me do dia em que eu caminhava pelo corredor


na casa de Vault em Toronto, após Deck, seus homens e
Georgie me resgatarem de Tanner, no galpão. No dia em que
a vi na cela. Quando ouvi os gritos de London.

Solto. O estalo demarcando e minhas emoções


libertaram no momento em que a vi naquela cela. O cabelo
emaranhado, sangue seco em seu rosto, olhos mortos. E foi
então, nesse momento, quando todo o meu treinamento para
ser sem emoção teve um propósito: ser capaz de afastar-me
dela para que eu pudesse ficar vivo e resgatá-la um dia.

Eu olhava para ela, trancando as emoções que lutavam


para subir à superfície e dei-lhe as palavras que ela
necessitava ouvir. Então, saí. Deixei meu disfarce de
paciência fragmentando e minhas entranhas catapultaram
para uma zona de guerra de raiva.

Os 'peões' estavam certos, afinal. As emoções eram os


monstros e eu me tornei um.

London era minha. Ela nunca lhes pertenceria. Eles


nunca deveriam tê-la tocado, para começar. Nunca a
arruinado. Não, tentaram arruiná-la.

Passei os dedos pela lâmina de minha faca, observando


qualquer sinal de que alguém houvesse descoberto que eu
matei a mãe, parecendo ainda como se eu estivesse fora em
um corredor escuro, numa masmorra mofada. A casa da mãe
era um velho castelo que tinha paredes de pedra e arandelas
com velas para iluminar os corredores, mas eles só eram
utilizados para efeito visual.

Eu provavelmente tinha de doze a vinte e quatro horas


antes que alguém descobrisse que mãe estava morta. Não era
muito para voar de volta para Toronto e chegar a London,
mas o suficiente. Deck e os seus homens estavam esperando
e Tristan tinha seu jato particular à espera no aeroporto para
nos tirar daqui rápido.

Eu levei o celular da mãe, assim eu saberia se alguém


estivesse procurando por ela e seu laptop, para tentar cortar
o encontro da localização da exploração, a fórmula de drogas
e o membro anônimo do conselho. Minhas habilidades não
eram tão boas como as de Chaos e eu sabia que o homem do
Deck, Tyler, era especializado nesta merda.
Parei na última pesada porta de madeira à direita, com
grandes pregos de ferro preto pelos cantos.

Ao contrário da casa de Toronto, aqui nada tinha


scanners de olho nem acesso por impressão digital. Havia
apenas uma chave única e velhas fechaduras para acesso,
que eu também peguei da mãe.

Do outro lado da porta, ouvi passos leves da minha


irmã. Havia um sutil coxear por causa de um tiro que levou
na coxa quando ela tentou fugir.

As memórias de Chess foram filtradas recentemente. Eu


até disse a London sobre ela quando eu nunca disse a
ninguém. Era como se eu estivesse descongelando, o gelo
congelado em torno de minhas emoções derretendo um pouco
a cada dia.

O condicionamento constante para me tornar sem


emoção e indiferente desde que eu tinha sete anos de idade
funcionou — até London.

Guardei minha faca, inseri a chave, virei-a e abri a


porta.

Minha irmã não estaria disposta a partir comigo porque


ela não confiava em mim. E por que deveria?

— Francesca. — Ela estava do outro lado da sala,


postura ampla, braços ao seu lado, dedos enroscados em
punhos. Ela nunca foi uma lutadora e ainda assim se
destacava nisso.
Ela era um livro aberto com suas emoções, as quais
nunca foram capazes de eliminar. Não importa o que eles
fizeram a ela, Chess permaneceu compassiva, mas estava
com uma vantagem.

Ela riu, mas o som não chegou aos seus duros olhos
safira que outrora foram suaves e gentis.

— O mais caro irmão. Você está aqui para finalmente


me levar a morte? Será que Helena enviou-lhe para fazer as
honras?

Ela chamava a nossa mãe pelo nome, recusando a


associação.

Chess já deveria ter sido morta. Por ser a filha de um


dos membros do conselho, foi dado o privilégio de permanecer
viva após sua tentativa de escapar. Eles a pegaram. Atiraram
na perna e torturaram antes que ela estivesse para ser
executada. Mas fundamentei com a mãe que a execução era
um mau exemplo para os outros. Chess merecia sofrer pela
infidelidade, ela mostrou a Vault e Mãe. A morte era
demasiado simples. Demasiado e permanente.

Lembro-me de Chess olhando para mim, seu ódio


ardente porque queria morrer. Mas eu precisava que ela me
odiasse, então Mãe iria acreditar em mim. Era sempre sobre
minha mãe acreditar em mim. Percebi que nunca esqueci
nossa conexão com ela e até mesmo anestesiada e nos
confins da minha mente, o instinto ainda era para protegê-la.
Este era o mesmo olhar que ela tinha quando nós
enfrentamos um ao outro. Sua mão foi para seu bolso de trás
e antes que ela tivesse uma chance de puxar qualquer arma
que tivesse, joguei minha faca e cortei o braço de sua
camiseta e embuti na parede atrás dela.

Abaixei e rolei no último segundo quando seu pico de


madeira improvisado bateu em meu ombro. Ele bateu na
cornija de pedra e caiu no chão. Mas ela não parou enquanto
jogava outro. Enfiei a mão na bainha e mergulhei por trás da
cama quando joguei minha adaga, minha mira era para a
direita como eu queria. Ela sabia que tinha errado
propositadamente. Todo mundo sabia que eu nunca errava o
alvo.

Ela parou, aliviando a tensão do rosto.

— Kai?

— É hora, Chess.

Mantive meus olhos sobre ela. Apesar de sua


circunstância, ela ainda tinha esta qualidade magnética, com
seus traços suaves e olhos calorosos quando não estava puta
com você. Seu cabelo era irregular, fios pretos até os ombros,
que contradiziam sua aparência facial. Ela tinha quadris
largos e mesmo vestindo calças, eu poderia dizer que ela
esteve malhando com as suas coxas musculosas. Eu
suspeitava que fosse para fortalecer sua perna ruim.

Ela caminhou para o outro lado da sala, onde havia


uma prateleira segurando uma parede de livros. Minha irmã
sempre foi uma leitora voraz. Contos de fadas, romance de
ficção e talvez a razão porque ela era louca o suficiente para
tentar escapar de Vault, pensando que era possível fazer o
impossível. Embora, estivéssemos mudando essa falácia.

Permaneci na porta, tentando ouvir quaisquer passos


vindo pelo corredor, mas quando chequei às câmeras de
segurança no computador de Mãe, um capanga estava na
porta da frente e o outro estava no jardim rondando os
muros. Havia também uma cozinheira e duas empregadas,
mas era altamente improvável que elas viessem aqui
embaixo.

Sua cabeça caiu para frente e seus ombros caíram.

— Eu não entendo.

— Chess, Mãe está morta. Eu a matei dez minutos


atrás.

Sua cabeça disparou e ela virou-se com a boca


escancarada.

— O quê?

— Está na hora. — eu repeti. Ela sabia exatamente o


que quis dizer.

Como as crianças na fazenda, o tempo não tinha


significado. Não havia relógios, e, muitas vezes, eram
mantidos em salas sem janelas, para que nunca vissem o sol
ou a lua. Horas, minutos, dias, eles se misturavam na
negritude.
Depois que meu pai foi executado, fomos levados para a
fazenda e imediatamente separados. Quando eu a vi, não
fomos capazes de falar com os encarregados sempre nos
observando. Eles não queriam que nós formássemos qualquer
tipo de amizade, de modo que separar um irmão e uma irmã
era essencial.

Mas um dia, fui deixado em um corredor enquanto meu


encarregado da fazenda foi ao banheiro. Ela estava saindo de
uma sala de aula com um menino em torno de sua idade e
parecia que estava falando com ele em voz baixa, quebrando
as regras. Eles não tinham um encarregado com eles,
provavelmente porque estavam complacentes, ao contrário de
mim, que lutei com eles por anos.

No começo eu não a reconheci. Ela aparecia mais forte,


a suavidade de bebê desaparecera de suas bochechas e
estava muito mais alta. Ela parecia ter sete ou oito anos
então. Mas os seus olhos permaneceram os mesmos, com
uma doçura persistente nas profundezas, enquanto falava
com o menino ao lado dela.

Aproveitei a oportunidade, sabendo que iria sofrer mais


do que pudesse imaginar. Corri pelo corredor até a sala de
aula e ambos pararam, com os olhos arregalados e
temerosos. Então, Chess me reconheceu e jogou os braços ao
meu redor quando balancei a cabeça rapidamente.

Eu tinha segundos.
— Eu vou matá-la, Chess. Um dia, eu vou matar a Mãe.
Não desista de mim. Não importa o quê. Haverá um momento,
Chess. A hora de acabar com isso.

Foram segundos, mas não importando o tempo em que


fiz, porque fui pego. O encarregado veio ao virar da esquina e
me viu com ela e o menino e fui levado para a cova. Eu não
lutei. Ouvi os soluços engasgados da minha irmã, então saí
com minha cabeça erguida. Até olhei por cima do ombro e
pisquei para ela.

— Você a matou. — Foi uma declaração e que era como


se ela não acreditasse nas palavras. — E sobre a fazenda?

— Nós vamos encontrá-la.

Seus olhos se estreitaram e ela enrijeceu.

— Você não a encontrou, então.

— Ainda não.

Ela estendeu a mão para a estante e à luz das velas


pegou a ponta do queixo, onde um hematoma roxo brilhava.
Vault não marcou seu rosto e eles deixaram Chess em paz há
anos.

— Quem bateu em você?

— Connor. — Ela caminhou até sua cama, a mão sob


seu colchão e tirou o que parecia um colar. Ela o torceu em
sua mão e colocou em seu bolso antes que eu visse direito. —
Não é culpa dele. A droga é instável e Mãe sabe disso. Ou ela
sabia, é por isso que eles não estão usando-a em qualquer
outro ainda.

Foi por isso que Mãe concordou em deixar London viver


depois que Deck a salvou do leilão.

— Ele não pode controlar a raiva. É como se ela


bombeasse uma coisa e ele não tem para onde ir, então se
perde. Nem todo o tempo, é esporádico e, Kai, ele não tem
ideia do que está fazendo. Suas memórias estão todas
bagunçadas.

— Quando foi a última vez o viu?

— Há alguns dias atrás. Ouvi os guardas citarem que


Connor estava indo para Toronto.

Porra. Tínhamos de chegar a London.

— Precisamos ir, Chess. Ninguém vai saber da morte da


Mãe até amanhã. Se tivermos sorte, no dia seguinte. — Eu
deixei cair meu saco preto no chão. — Tenho seu laptop e nós
podemos encontrar o que precisamos nele.

— Isto é, se você conseguir acessá-lo.

É verdade, mas era tudo o que tínhamos.

— Nosso voo sai em uma hora. Embale o que você


precisa.

Ela se sentou na ponta da cama, sua mão em seu bolso.


Fiquei em silêncio, também. Não havia desculpa para
como eu vivi minha vida. Eu aceitei as minhas decisões e fiz o
que pensei que tinha que fazer. E agora, eu estava fazendo o
que tinha que fazer. Chess estava viva. Minha irmã vivia,
respirava, estava na minha frente e eu não estava saindo sem
ela.

— Fiz o que tinha que ser feito, Chess. Não há nenhuma


outra razão para isso.

Seus olhos se suavizaram.

— Eu sei, Kai. Nunca lhe pedi para me salvar.

Não, ela não pediu.

— Você precisa de alguém dentro.

Fiquei tenso e uma onda de frio me alcançou.

— Com a Mãe morta, os conselheiros irão se encontrar


aqui. Há uma chance de que eu pudesse...

— Não. — Peguei minha mala novamente e joguei por


cima do meu ombro. Teríamos até de manhã, antes que
alguém notasse que Chess foi embora e, mesmo assim, se o
capanga que entregou o seu café da manhã não prestasse
atenção, nós teríamos mais. — Coloque seus travesseiros sob
seus lençóis assim, se verificarem você, eles vão pensar que
você está dormindo.

— Kai, ele estará aqui. Sei que ele estará. Sei que ele é o
único que tinha a fazenda quando foi movida. — Eu sabia
exatamente a quem ela estava se referindo — à um membro
do conselho que manteve o rosto escondido. — Talvez eu
possa olhar bem para ele e desenhá-lo. Então, vou ser capaz
de enviá-lo para... — ela parou.

— Tristan? — Eu disse, sobrancelhas subindo.

— Você conhece ele?

— Você que o alimenta com informações desde que você


teve seus ‘privilégios’. É como ele sabia sobre Georgie-Chaos.
Você é o seu contato no interior.

Ela sussurrou:

— Ele prometeu.

Eu não sabia o que ele prometeu, mas as peças foram se


encaixando. Chess se importava com ele. Isto era tudo sobre
ela pela forma como seus ombros caíram, a cabeça pendendo
para frente, o cabelo curto de um lado de seu rosto. Mas o
mais revelador foi a mão no bolso mexendo em torno do colar.

Tristan era o menino que ela falou nesse dia que saiu da
sala de aula.

— Como é que ele escapou da fazenda, Chess? Queria


ajudá-la? Você tinha que ter apenas o que...?

Ela encolheu os ombros.

— Eu não sei, quatorze, talvez. Era a única maneira.

— Jesus, Chess. Você não saiu e ele conseguiu.


Ela olhou para mim.

— Precisávamos de uma distração. — Porra. Foi por isso


que Tristan passou sua vida para chegar a este ponto. — Era
impossível para nós dois sairmos.

— Ele não sabia, embora, não é? Ele pensou que estava


indo com ele.

Ela assentiu com a cabeça.

— Porra. Eles a colocaram na solitária.

— Isso valeu a pena. Eu faria isso de novo.

E isso era Chess. Onde eu não tinha coração, Chess


tinha dois deles.

Ela suspirou, abaixando a cabeça.

— Aquele olhar em seu rosto... ele estava se levantando,


pronto para ser executado para ajudar-me. Mas nós
tínhamos um pacto.

Eu sabia exatamente o que o pacto era. Em vez de


nunca deixar um homem para trás, era o oposto.

— Eu nunca pensei em ir com ele.

— É por isso que tentou fugir alguns anos atrás? Ele


estava ajudando você?

— Não. Ele não sabia sobre isso.


— Eu não entendo, Chess. Por que então? Por que você
tentou deixar Vault?

Ela ergueu o queixo, olhos duros.

— Eu não sou como você, Kai. Não posso fazer o que


eles querem.

Minha irmã era mais forte do que eu esperava, mas eu a


entendia. Eu não teria anos atrás, mas agora...

Sabia o que era se preocupar com alguém. Sacrificar


voluntariamente tudo por eles. Talvez ela nunca pudesse ser
quebrada, porque já tinha se importado. Amado. Seus
sentimentos por Tristan se recusavam a serem enterrados.

Eu entendi agora.

— Kai, saia daqui. Eles vão encontrar o corpo da Mãe e


os membros do conselho vão me questionar. Devo ser capaz
de encontrar algo para sair. Se eu fizer, tenho uma maneira
de enviar e-mail a Tristan.

— E eles poderiam simplesmente matá-la.

— Estou disposta a correr esse risco.

— Não.

— Kai.

— Não.

— Esta não é uma decisão sua. — disse ela.


— Tudo bem, não é, mas tenho um pressentimento que
Tristan acha que é dele e ele não vai permitir que você fique
mais um segundo aqui. — Balancei a cabeça para o corredor.
— Ou vêm por bem, ou vou fazer valer a minha reputação e
fazer você escolher.

Ela se levantou, os olhos cerrados.

— Ele está aqui, não é?

Eu sorri.

— Na estrada. Esperando. Impaciente. Suspeito que se


demorar muito mais tempo, ele vai tentar invadir este lugar
por si mesmo e você sabe como isso vai acabar.

Isso foi suficiente.

— Temos até o meio da manhã antes que eles notem que


fui embora. Tenho permissão para vagar pela propriedade por
algumas horas.

Eu balancei a cabeça.

— Espero que você tenha um jeito de sair daqui.

Eu sorri.

— Porta da frente.

— E você espera sair daqui comigo?

— Não. Você vai tomar uma rota um pouco diferente. —


Ela franziu o cenho e tinha todo o direito do porque ela não
iria gostar. — Cozinha. Há um caminhão de peixes que
espera na parte trás. Ele acaba de fazer uma entrega e está à
espera de uma carga extra.

— Você está me enfiando em um caminhão de peixe?

Eu dei de ombros.

— Ele é um bastardo ganancioso. E você pode querer


um suéter. — Porque ela ia ter que se esconder em um
contêiner refrigerado cheio com peixe cru frio. O cara de peixe
também era o homem que removia cadáveres para a Mãe
quando necessário; só que desta vez, ele estava removendo
um vivo.

— Eu realmente espero que você saiba o que está


fazendo, Kai. Porque você começou uma guerra.

— Não, eu estou acabando com a guerra.

Ela esquadrinhou o quarto como se procurasse o que


levar com ela. Mas ela não tomou uma única coisa exceto o
colar que ela ainda tinha na mão, passou por mim e se
dirigiu para o corredor.
Pneus esmagaram o cascalho na estrada de terra e
minha cabeça ergueu. Eu me afastei da árvore que estive
encostado pelas últimas duas horas e pulei do outro lado da
vala para ficar escondido.

Estive calmo, firme, determinado e confiante desde que


tinha quinze anos e não trouxe Chess comigo. Tinha
escapado da fazenda quando menino, mas vê-la arrastada e
sabendo que se sacrificou por mim... fez de mim um homem.
A idade não teve nenhum fator. Eu sabia o que tinha que
fazer e apesar do meu mundo ter explodido, faria qualquer
coisa para chegar lá. E eu tinha.

Aquele dia finalmente chegou.

Meus nervos despertaram, os nervos que estiveram


mortos por anos. Meu coração martelava e minhas mãos nos
meus lados em punhos, quando eu vi a nuvem de poeira a
distância.

Chess.

O caminhão de peixe apareceu ao virar da esquina e


parou a uns cem metros longe do meu carro. Kai passou por
mim e estacionou em um ângulo na frente dele, em seguida,
saiu. Ele falou algumas palavras para o condutor, em
seguida, passou-lhe um envelope, que eu sabia que continha
uma porrada de dinheiro.

Kai desapareceu na parte de trás do caminhão e tudo


dentro de mim que esteve mexendo acalmou — o fogo.

A calma antes da tempestade.

Chess. Minha melhor amiga, a garota que decidiu salvar


um menino. Quem me salvou, porra.

Finalmente chegou a minha vez. Esperei por este


momento. Sonhava com isso. Orei por ele. Jesus. Nenhum
dinheiro importava. Nenhuma das casas ou carros ou
viagens. Foi tudo para chegar aqui.

Debaixo do caminhão, vi seus pés quando ela saiu da


parte de trás. As portas se fecharam e travaram, seguido por
uma batida dupla alta na parte de trás e o caminhão
retumbou, se afastando, deixando um rastro de poeira por
trás dele.

Eu estava esperando a poeira assentar. Esperando para


ver com meus próprios olhos que ela estava viva. Nossos e-
mails esporádicos foram curtos, formais e não me davam
nada de quem ela era agora.

E nada poderia ter me preparado para isso.

Éramos como um iceberg que rachou e se separou,


flutuando em diferentes correntes até que anos depois, as
duas partes finalmente se uniram e selaram perfeitamente.

Isso era nós. Chess e eu.

Eu a imaginei. Cada dia eu a imaginava, pensava nela.


Ela era o que me levou a ter sucesso quando todas as
probabilidades estavam contra um menino sem-teto com
nada mais que um punhado de trocados e uma fossa cheia de
pesadelos.

Durante anos eu nem sabia se ela estava viva e não


havia nenhuma maneira de saber se eles a mataram ou a
deixado viver. Mas isso não me parou. Eu sabia sobre seu
irmão, Kai, a partir daquele dia na fazenda quando ele se
aproximou de nós. Levei anos para rastreá-lo antes de
finalmente o encontrar em Toronto.

Eu me estabeleci na mesma cidade. Assisti-o. Fiz o meu


dinheiro. Trilhei meu caminho no mundo sabendo que um
dia, eu estaria aqui, em pé, olhando para a garota que
arriscou tudo por mim.

Andei em direção a ela e foi a caminhada mais longa da


minha vida. Ela ficou parada, os olhos apertados, os braços
cruzados e seu corpo vibrando do frio do caminhão.
— Você quebrou o pacto. — ela deixou escapar, os lábios
trêmulos.

Deus, o som de sua voz era como inspirar oxigênio


fresco. Todos esses anos eu estive sufocado sob uma nuvem
escura, respirando o ar sujo. Mas Chess em pé a dez
centímetros de distância, dura, fria e tentando ser estoica e
valente, era como ser acordado de um pesadelo.

Era alívio.

Era conforto.

Ela estava encontrando cores em um mundo cinza.

— Chess.

Suas costas se endireitaram.

— Eu estava melhor lá dentro. Agora, não temos


ninguém.

— Chess. — eu repeti.

Eu me aproximei, então estava a centímetros longe. Sua


respiração era forte e irregular quando ela olhou para mim.
Ela estava se esforçando para ser a única resistente, assim
como quando esteve na fazenda. Sempre cuidando das
crianças mais jovens, tomando a culpa pela merda que deu
errado.

— Não mais, Francesca. — Eu usei seu nome completo,


porque estava deixando claro, ela não precisava mais fazer
isso.
— Droga Tristan e sobre a fazenda? O Kai não sabe de
nada ainda e ele matou a Mãe e o Conselho vai...

— Não!

Ela endureceu e eu levantei minhas sobrancelhas,


desafiando-a a continuar com essa linha de pensamento.

— Você não está sendo o cordeiro sacrifical, Chess. Não


mais. Agora eu tenho algo a dizer sobre isso.

— Mas...

Eu andei para ela e segurei seu queixo.

— Não. — Ela fechou a boca. — Nós vamos encontrá-los.


Mas não com você em risco. Está decidido.

— Se as crianças forem mortas por causa disso...

— Se eles matassem você por causa disso, como você


acha que teria acabado comigo? Por uma vez, pare de pensar
sobre a fazenda e pense sobre si mesma.

— Eu não posso. — ela sussurrou.

Porra.

— Eu sei, querida. — Ela não podia, porque tinha medo


que, se o fizesse, iria desmoronar.

Uma lágrima escorreu pelo seu rosto e contradisse sua


postura tensa.
— Porra, Chess. — Fui puxá-la para mim quando ela
tentou escapar. Peguei seu antebraço e empurrei-a contra o
lado do carro de Kai.

Ela olhou para mim, os fios de cabelo se encontravam


em seu rosto, seus olhos brilhando com determinação. Eu
fechei meus olhos quando a onda de alívio me atingiu com
força total.

— Chess. — eu sussurrei. — Deus, Chess. Eu não sabia


se iria lhe ver de novo.

Fomos ligados pela circunstância que me levou ao Vault


quando eu tinha oito anos, arrancado de minha família,
assustado e sozinho. E Chess... ela me ensinou como
sobreviver na fazenda. Ela tinha sete anos e eu tinha
aterrorizados oito anos de idade, gritando e chorando por sua
mãe, pai e irmã.

— É hora de acabar com isso.

Ela olhou para seus pés e disse calmamente:

— Como podemos acabar com isso, Tristan? Como é que


isso pode acabar?

Deslizei minhas mãos sobre seus ombros, braços e para


baixo, gentilmente desdobrando-os, nossos dedos
entrelaçados. Seus olhos se fecharam e ela respirou fundo.

— Porque preciso que acabe. Porque preciso de você de


volta e vou fazer qualquer coisa para ter você.
Sua respiração engatou pouco antes de minha boca
encontrar a dela. Eu nunca a tinha beijado antes, mas foi
como se encontrasse meu lar. Ela nunca foi um lugar; lar era
um sentimento. Era alguém que você segurava em seus
braços.

E, para mim, era Chess.

Seus lábios trêmulos estavam frios, mas em poucos


segundos, eles estavam aquecidos pelos meus próprios
quando a beijei. Senti o momento em que ela se deu para
mim, quando sua boca se abriu e me permitiu entrar quando
provei a sua doçura. Era duro e inflexível, em seguida, suave
e gentil. Foi uma descoberta e um anseio por mais.

Eu sempre a amei, mas o físico não estava lá para


qualquer um de nós. Talvez fôssemos muito jovens. Talvez
por causa da situação que estivemos.

Mas quando o caminhão de peixe se afastou e os meus


olhos se fixaram nela, eu a conheci. Ela foi a minha melhor
amiga por sete anos e era como se não tivéssemos sido
separados, nunca.

Eu me afastei e segurei seu rosto, agora corado, meu


polegar acariciando a sua pele.

— Você cheira a peixe, baby.

Ela fez uma meia careta e inclinou-se para mim e foi a


melhor sensação de todos os tempos. Chess cedeu para mim.
— Eu senti falta de você. — ela sussurrou em minha
camisa.

Então, ela enfiou a mão no bolso e tirou o colar que eu


tinha feito para ela quando eu tinha doze anos. Levou meses
para encontrar as pedras certas e eu roubei fio de pesca da
sala de armazenamento. A parte mais difícil foi encontrar
uma pedra de corte afiado o suficiente para esculpir.

Ela colocou-o na palma de sua mão e olhei para ele. Eu


tinha esculpido uma pedra em uma peça para Chess, uma
pedra, porque Chess era tão protetora com todos. O outro era
um coração. Eu disse a ela, que não importava o que
acontecesse para nós, meu coração estaria sempre dentro
dela batendo.

— Você estava comigo, Tristan. Foi o que me manteve


forte.

Passei meus dedos sobre ele. Ela o manteve. De alguma


forma ela conseguiu mantê-lo todos esses anos.

A voz de Kai foi abrupta e fria quando disse:

— Se nós perdermos este voo, London estará morta.


Você decide o que vou fazer se isso acontecer. — Ele dobrou
no assento do motorista e bateu a porta.

Eu sabia exatamente o que ele faria, porque faria a


mesma coisa.

— Quem é London? — Ela perguntou.


Eu enrolei a minha mão em torno do colar.

— A menina de Kai.

— Meu irmão tem uma garota? — O canto de seu lábio


transformou-se e seus olhos provocaram. — Esta menina
está de bom grado o seu lado? Porque eu não posso vê-la com
meu irmão de outra maneira.

Eu beijei sua testa.

— Porra, eu a amo, Chess.


Toronto

Balancei a cabeça para Deck e Vic que estavam ao lado


da porta e olhei por cima do meu ombro em direção a Josh,
que estava no telhado de uma casa vizinha com seu rifle
engatilhado.

Tyler estava dentro da SUV com o seu computador,


vasculhando pelas as câmeras de segurança em torno do
perímetro. Desde que o alarme de incêndio não havia tocado,
ele foi bem-sucedido — até agora. Ou acreditávamos nisso.

De qualquer maneira, nós estávamos entrando e saindo


com London.
Dei um passo para a varanda e levei meu olho até o
scanner de reconhecimento. A porta abriu e eu a empurrei
com a ponta da minha bota.

Eu tinha a minha mão perto da minha faca enquanto


caminhava para o interior.

Com os dois pés no saguão, olhei para a câmera no alto,


no canto direito, então me agachei para amarrar minha bota.
Que era um sinal para Tyler apagar no intervalo de cinco
segundo de diferença as telas no saguão. Se ele apagasse
todas de uma vez, com certeza bloqueariam o porão e nós
nunca chegaríamos até lá ao menos que explodisse o lugar, o
que não aconteceria com London dentro.

Deck estava logo atrás de mim, junto com Vic e nós


andamos em harmonia pelos pisos de mármore até a pintura
a óleo. Cutuquei a moldura da pintura com a palma da mão e
a armação se abriu. Então, digitei o código da porta do porão.

Esta era a nossa única chance de tirá-la. Uma vez que o


corpo da Mãe fosse encontrado, a segurança seria quase
impossível de ser rompida e eles levariam London, mais
provavelmente, para o único lugar que eu ainda não tinha
localizado — a fazenda.

Então tinha que ser feito desta forma.

Abri a porta e comecei a descer as escadas com as


costas contra a parede. Cheguei até a lâmpada pendurada na
escada. Estava quente pra caralho, chamuscando a minha
pele quando a desliguei, mascarando-nos nas sombras.
Os sons de passos vieram da direção das escadas e eu
levantei a minha mão para que Deck e Vic parassem e então,
desci os últimos degraus. Brice apareceu na esquina, com a
sua arma na mão. Ele sorriu quando me reconheceu então
vacilou quando seu olhar bateu na mão que carregava a faca.

Ele apontou sua arma para mim, mas era tarde demais.
Minha lâmina cortou o ar como uma bala. Brice não teve nem
mesmo tempo para puxar o gatilho antes que a minha faca
cravasse em seu pescoço.

Ele caiu no chão, o sangue escorrendo entre seus dedos


que estavam entrelaçados em torno do punho da faca. Em
poucos segundos, ele ficou mole, com a pele do seu pescoço
manchada de vermelho, espirrado o sangue no cimento bruto
do andar.

Andei até ele, peguei a faca e limpei o sangue em sua


camisa. Eu não tinha remorso sobre matar Brice, porque ele
era responsável por eu estar nesse lugar. E isso significava
que ele machucou London. Aproximei-me da porta dentro da
prisão, fiz uma nova verificação ocular e a fechadura se
abriu.

— Me dê cinco.

Corri pelo frio e estéril corredor, em direção a cela que


eu tinha visto London há mais de um mês atrás. Porra.
Parecia mais como se fossem dois anos sem ela. Só que desta
vez, eu sabia onde ela estava. Eu simplesmente não
conseguia chegar até ela. Isso era muito pior, porque tive que
resistir a vontade de dizer um ‘vai se foder’ e vir aqui buscá-
la. Teria matado a ambos no segundo que usasse as minhas
impressões digitais da Mãe como código de segurança extra.

Coloquei meu dedo contra o leitor e esperei o distinto


clique. Minha respiração parou na minha garganta enquanto
eu esperava, rezando para que a Mãe tivesse realmente
codificado a senha de bloqueio da cela de London.

Clique.

Fodido, Cristo.

Eu chutei a porta e parei, meu olhar passando pela a


cela mofada de London. Havia uma cama nua, sem lençóis,
sem travesseiro, um banheiro e grandes anéis de metal na
parede de cimento úmido com correntes penduradas nelas.

Bile subiu na minha garganta quando me lembrei da


minha infância, porque eu sabia o que era para London estar
aqui. Sabia como era o frio em seus ossos se recusando a ir
embora.

Parecia que minutos se passaram diante dos meus


olhos, quando, finalmente, bloquearam na bola enrolada no
canto da cela.

— Porra. — eu praguejei.

Eu sabia o que ia ver; fui preparado para isso.


Testemunhei tortura suficiente e desespero em minha vida
que estava imune. Torturei homens para obter respostas.
Matado. Mutilado. Mas a memória do assombro de ver
London nesta cela foi a minha própria tortura. Eu estaria
sendo torturado fisicamente com aquelas constantes imagens
desde aquele dia e o som dos meus passos ecoando enquanto
me afastava, sabendo que tinha que deixá-la aqui.

Saber o que eles fariam com ela.

Aproximei-me da forma amontoada no chão. Ela estava


imunda, um plástico marrom acinzentado cobrindo
escassamente o corpo. Seus longos cabelos pendurados em
fios oleosos em todo o rosto e sobre os ombros como se
fossem seu cobertor do ar frio.

Agachei-me ao lado dela e estava prestes a tirar o cabelo


de seu rosto quando vi o flash prata em sua mão.

— Lon...

Seus olhos se abriram ao mesmo tempo que seu punho


foi para a minha garganta com o pequeno pedaço de metal. A
arma enferrujada e oxidada raspou toda a minha pele e eu
senti o rastro de sangue quente no meu pescoço.

— London! — Rolei para o lado quando ela pulou em


cima de mim, com olhar sólido, mas vidrados. Segurei o seu
pulso com o metal e apertei tão forte que ela gritou, soltou a
arma e caiu no chão.

— London. Pare.

Ela continuou a resistir a mim, seu cabelo protegendo o


rosto enquanto se contorcia para trás. Tentei ser suave, não
querendo machucá-la, mas não tive escolha a não ser a jogar
de lado e a montar antes que ela tivesse a chance de se
levantar. Levei um segundo para bloquear os seus braços
agitados quando ela tentou me dar um soco. Consegui
agarrar seus pulsos e usei o meu peso para mantê-los acima
de sua cabeça.

— London! — eu gritei. — Sou eu. Kai.

Ela se acalmou, o olhar selvagem em seus olhos se


estabeleceu como se ela se concentrasse em mim. Em
seguida, seu corpo ficou mole.

— Kai?

— Sim. — Soltei os seus pulsos e acariciei o seu cabelo,


levando-o longe de seu rosto.

Ela olhou para mim por um segundo e eu pude ver os


olhos tentando compreender se o que ela estava vendo era
real e não sua mente pregando peças.

Ela estendeu a mão, sua mão trêmula quando ela


colocou os dedos no meu lábio inferior. Seu peito começou a
subir e descer rapidamente e seus olhos se arregalaram
quando ela finalmente percebeu que eu era real.

— Kai.

Deus, ela era a mais bela vista que eu já vi. O jeito que
ela olhou para mim... Porra, se eu morresse naquele
momento, tudo valeria a pena por ver aquele olhar em seus
olhos. Eu era a razão de ela estar aqui, a razão de toda a sua
dor e ainda assim, eu era egoísta por continuar desejando-a.
Necessitando ela.

— Temos companhia. — disse Deck, aparecendo na


porta. — Três homens entraram nas instalações pela porta
dos fundos.

Merda. Claro, isso não seria simples.

London olhou para ele.

— Deck?

Havia um olhar confuso em seu rosto e eu sabia que ela


não entendia porque Deck estava aqui comigo. Ela não tinha
ideia de que isso era apenas o começo do que estávamos
enfrentando com a nossa luta para derrubar Vault.

— Braços. — insisti.

Ela enganchou-os em torno de mim, então eu a levantei


do chão úmido.

Sua testa descansou contra o meu peito e meu coração


bombeava sangue em mim quando a segurei apertado. Estive
lutando para que esse dia chegasse e, finalmente, a sensação
era como se a interminável tortura tivesse acabado.

Ela inclinou a cabeça até encontrar meus olhos.

— Sempre. — ela sussurrou.

— Sim, baby, sempre. Deus, eu senti sua falta.

Ela ficou na ponta dos pés.


— Então me beije.

Eu gemi, em seguida, abaixei minha boca na dela, meu


aperto em seu aperto quando provei seus lábios trêmulos.

— Gostaria de sair daqui vivo! — Deck gritou ao virar da


esquina.

Eu me afastei com um meio sorriso, em seguida, agarrei


a mão dela e nós corremos para a escada.

— Dois SUVs se aproximando, — disse Deck, segurando


a porta aberta. Ele estava usando um fone de ouvido para
comunicar-se com seus homens. — Josh conta cinco em cada
um.

— Dê-me uma arma. — London disse, sua voz estava


rouca.

Tomei as escadas de dois em dois logo atrás de Deck e


Vic.

— Eu posso ajudar. — disse ela.

— Nós temos tudo sob controle. — argumentei. —


Apenas fique atrás de mim.

— Kai. — Ela empurrou de volta em sua mão, mas eu


me recusei a deixar ir. —- Me dê uma faca... alguma coisa.

Deck parou no topo da escada e olhou por cima do


ombro para nós.
— Josh contou dez na porta da frente. Tyler está
chegando na parte de trás. — Estilhaços de vidro. — Ele os
levará para fora quando tiver o caminho livre.

Houve uma debandada de passos apressados. A frieza


martelava em mim como se me esmurrasse em ondas. Isto
era um rugido de necessidade de destruir, para proteger o
que era meu, após semanas e semanas tentando manter
minhas emoções bloqueadas. De fingir que a merda estava
bem quando estava sentido falta de London. Ter que lidar
com Tanner, Georgie, contando a Deck sobre mim, Georgie
pirando achando que eu mataria Deck... Quem sabe em outro
período da minha vida talvez eu tivesse feito isso, mas eu
precisava dele para acabar com Vault e ter London de volta.

Algo mudou em mim. Mesmo quando Deck apontou


uma arma para mim em seu apartamento, eu não o teria
matado. Entretanto teria o prazer de perfurá-lo. Caímos na
piscina derrotados, mas dar alguns poucos socos era melhor
do que atirar algumas balas.

London era a razão para tudo isso. Ela era a razão pela
qual eu tinha essa ‘semiconfiança’ em Deck. Ela foi a
mudança dentro de mim.

Olhei para London, pálida e suja e ainda assim com a


mesma determinação em seus olhos que eu testemunhei no
primeiro dia em que a conheci. O dia na floresta, quando as
nossas vidas mudaram. Não havia nada de bom sobre o que
eu fiz, trazendo-a para o meu mundo cruel. Mas London
tinha sobrevivido. E ela ainda sobreviveria a isso.
— Kai. Agora! — Deck rosnou.

— Dê-me uma arma, Kai.

Vic puxou uma arma debaixo de seu colete, entregou a


ela, me ignorando e depois foi para o lado de Deck passado a
porta para a sala de estar.

— Sabe usar? — Eu perguntei a ela.

Ela olhou para mim e passei as duas mãos ao redor da


arma.

— Coloque-a aqui. Mire e puxe o gatilho.

Eu não acho que seria possível depois do que ela


passou, mas os cantos de sua boca curvaram para cima.

— E você sabe como lidar com uma arma?

Inacreditável. A última vez que a vi, ela parecia


derrotada, seus olhos mortos. Mas agora, ela estava lutando.
E, o seu ataque dirigido a mim no quarto, foi planejado para
qualquer um que entrasse em sua cela. Que seria — Brice.

— Baby, eu posso lidar com qual...

— Vamos fazer isso. — Deck interrompeu.

Eu concordei, me afastei dela e puxei uma faca. Vic deu


um aceno abrupto para Deck e para mim, depois virou a
maçaneta da porta e abriu-a com o pé. Três homens que
estavam se aproximando da porta pararam e então
apontaram.
Eu agarrei a mão de London e mergulhei a esquerda,
enquanto Vic e Deck foram para a direita, atirando nos
homens. Joguei uma faca e atingi um cara no peito. Ele caiu
com força. Deck correu de volta para nós e Vic decolou em
direção a cozinha, onde estava Tyler.

— Vic, entrada. — Deck disse no fone de ouvido. —


Cinco segundos. Entrada dianteira está comprometida.
Estamos indo em sua direção.

Eu não podia ouvir sua resposta, mas Deck balançou a


cabeça e apontou para a porta da frente.

— Josh já começou a contagem de cinco segundos. Mas


eles estão nas janelas. E o plano de Josh foi comprometido.

— Leve-a. — eu disse a Deck.

Mesmo que eu tivesse lhes dado o layout, eu conhecia


esta casa com os olhos vendados. Tinha a certeza que
conhecia. Precisaria assumir a liderança e eu não queria
London perto de mim.

— Você está bem? — Perguntei.

Ela assentiu com a cabeça.

— Ok, vamos dar o fora daqui. Dê-me dez segundos. —


Sem esperar por uma resposta, mergulhei do outro lado do
corredor e balas perfuraram o ar quando Deck revidou
cobrindo-me.
Peguei um vislumbre de um indivíduo com sua atenção
em Deck, disparando. Rastejei ao redor da sala, subi por trás
dele e cortei a sua garganta com a faca.

Ele caiu no chão.

Coloquei minhas costas contra a parede, em seguida,


olhei em torno do canto para o saguão. Havia um cara que
estava na porta da frente bloqueando nossa rota de fuga.

Eu ouvi mais tiros de volta para a cozinha, onde Vic e


Tyler estavam.

Saí para vista e disparei a minha faca no cara. Ele gritou


mas saiu borbulhando quando a minha lâmina perfurou seu
peito. Seus olhos se arregalaram e sangue pingou de sua
boca antes que seus olhos estivessem mortos e seu corpo
caísse no chão.

Corri, peguei minha arma e segui de volta para Deck e


London. Minha cabeça chicoteou a direita sobre o meu ombro
quando algo chamou minha atenção pela janela leste.

Virei ao mesmo tempo que um corpo voou através do


vidro e bateu em mim.

O forte impacto fez com que nós dois batêssemos na


mesa de café de vidro. Ergui a faca para esfaqueá-lo mas
senti uma dor agonizante no ombro causada por punho que
bateu com tanta força que o senti deslocar.
Cerrei os dentes e empurrei ele tão forte quanto podia.
Nós rolamos e lutamos no chão, a faca caiu da minha mão
com o braço inútil.

Levantei meu cotovelo esquerdo e bati em seu rosto. Ele


caiu ao meu lado e ouvi o estalo do osso.

Estendi a mão para a minha faca na bota ao mesmo


tempo em que ele chutou a estante. Isto desabou e eu fiquei
atordoado por um segundo, quando centenas de livros caíram
em mim.

Foram segundos e eu não vi ele pairar sobre mim, com


uma arma para a minha têmpora.

Afastei alguns livros e levantei as sobrancelhas para ele.

— Se não é o pequeno animal de estimação, Connor.

A arma foi engatilhada.

— Connor. Não! — Deck gritou.

Houve um lampejo de reconhecimento em seus olhos ao


som da voz de Deck, mas após anos sendo drogado e
condicionado nas mãos de Vault não iriam impedi-lo.

Mas as balas de Vic pararam.

Connor foi para baixo quando uma delas atingiu sua


coxa e outra no ombro. Empurrei o resto dos livros e a
prateleira de cima de mim, então peguei minha faca na bota e
fui para Connor.
Deck estava em mim, sua arma encostada no meu
pescoço.

— Não.

— Ele não é mais o Connor. Você viu isso. Acabe com


ele.

Connor gemeu e se moveu para se levantar. Vic veio por


trás dele e agarrou os braços de Connor, colocando-o em pé.
Deck acenou para Vic, que colocou a mão na parte de trás do
pescoço e, em seguida, Connor ficou mole e caiu contra o Vic.

Deck virou-se para mim, seus olhos eram assassinos.

— Se você tentar matá-lo uma vez, só mais uma vez,


nossa frágil trégua estará acabada.

Eu balancei minha cabeça.

— Ele não é mais o seu amigo.

— Sim, bem, nem você e ainda assim, eu o deixei vivo.

Eu bufei.

Ele tomou o inconsciente Connor de Vic e atirou-o por


cima do ombro.

— Josh. Na saída da frente. — disse ele.

Agarrei a mão de London, me abaixei para pegar a


minha faca e o segui.
Tyler tinha o SUV estacionado na varanda. Deck colocou
Connor nos fundos e ouvi o clique de algemas. Pelo menos ele
teve o bom senso de perceber que ele era perigoso e não era
mais o seu amigo. Nós três entramos no banco de trás e
saímos em disparada, parando por um segundo para que
Josh pudesse entrar na frente.

Puxei London para mim, minha mão em sua cabeça,


acariciando. A arma estava em seu colo, sua mão ainda
grudada nela.

Notei Tyler olhando para Deck no espelho retrovisor, sua


expressão sepultada, mandíbula apertada.

— Chefe. Esse é o Connor?

Deck assentiu.

— Não está bem?

— Não. — disse Deck.

Eu encontrei os olhos de Tyler no espelho.

— Ele estaria melhor morto.

— Nós não matamos nossos homens. Nunca. — afirmou


Deck.

— Ele não é mais seu homem. Ele é um deles.

— Ele permanece vivo. — Deck bateu com o punho na


janela.
— Eu me pergunto se você ainda vai dizer isso no dia em
que ele tentar matar Georgie, — eu disse.

— Ele não vai chegar perto dela. — Vic respondeu antes


que Deck pudesse.

Eu permaneci quieto porque sabia que a lealdade entre


estes homens era inquebrável. Mas esse cordão que os
amarrava se quebraria se Connor tentasse ferir Georgie. Ele
era uma máquina, os elementos a que ele foi exposto o
reduziram a nada mais do que uma névoa fina.

E agora, ele vivia como um animal preso, acorrentado ao


que se tornou. Eu também conhecia Chaos e não havia
chance de eles a impedirem de ver seu irmão.

Tyler saiu da estrada em um estacionamento uma hora


mais tarde e desligou o motor. Tristan e Chess estavam
esperando por nós, inclinando-se contra o meu carro que não
era registrado, por isso era melhor do que os veículos
chamativos de Tristan.

Eu saí, estremecendo com o movimento.

— Você necessita cuidar disso. — disse Vic, acenando


para o meu ombro deslocado.

Deck veio para ficar ao lado dele.

— Eu vou colocá-lo no lugar.

Eu ri.

— Em seus sonhos, Deck.


Vic sorriu. Provavelmente, a única vez que eu vi o
sorriso do cara.

— Você prefere que eu o segure?

London saiu do carro e eu senti o toque suave de sua


mão nas minhas costas.

— Não precisa que ninguém me segure. Basta fazê-lo. —


pedi a Vic, então Deck pousou os olhos indo para qualquer
lugar perto de mim. Ele riu e se afastou.

Doeu demais. Mas Vic foi rápido, forte e sabia o que


estava fazendo. Quando terminou, ele bateu no meu ombro —
forte. Desgraçado. Eu ainda consegui oferecer um
agradecimento.

Minha mão estava trancada com as de London e eu


caminhei em direção Tristan e Chess.

— Este dispositivo precisa melhorar.

Tristan levantou uma sobrancelha e pegou uma


pequena caixa preta retangular sentada no capô do SUV.

— Tenho desenvolvido durante meses. Isso vai


funcionar.

Eu dei de ombros.

— Não será meu problema se Deck matar você, se o seu


dispositivo falhar e explodir seu amigo.

Tristan deu um sorriso arrogante.


— Você acha que eu ia arriscar usá-lo em Chess? Eu sei
que merda estou fazendo.

Depois de passar algum tempo com Tristan, odiei o


bastardo arrogante no início, mas agora após o tempo,
percebi que ele tinha o direito de ser arrogante. O cara saiu
da fazenda, ficou longe de sua família, mesmo depois que
escapou, passou a vida reunindo recursos para tirar Chess
das garras de Vault. Eu daria a ele uma margem de erro,
mesmo se o dispositivo matasse Connor.

— Eu posso deixá-lo viver afinal, Tristan.

Ele bufou. Minha irmã fez uma careta para mim antes
de olhar para London. Ela deu um passo para frente,
estendeu a mão e se apresentou.

— Então, você é a razão de finalmente crescerem


algumas bolas em meu irmão. — Zombou. — Prazer em
conhecê-la. Eu sou Francesca, Chess, irmã de Kai. E este é
Tristan. Eu vou deixar Kai falar sobre ele.

London balançou ambas as mãos. Era estranho fazer


algo tão normal quando não havia nada normal de qualquer
um de nós ou o que estava acontecendo.

— Tristan. — Tyler chamou. — Precisamos fazer isso


agora. Ele está acordando.

Chess e Tristan foram para a parte traseira do SUV e eu


coloquei minhas mãos nos quadris de London.
— Eu preciso saber, baby. Você fugiu de mim? Você
deixou a casa e encontraram você?

— Você sabe a resposta para isso, Kai. — Ela estendeu a


mão e segurou meu rosto. — Você não confia em ninguém e
eu entendo isso, mas você precisa aprender a confiar no que
seu corpo está lhe dizendo.

Comecei a rir por ela usar minhas próprias palavras.


Palavras que eu disse a ela na primeira noite juntos. Ela
parecia cansada, machucada e magra, mas sorriu.

Rosnei antes de colocá-la em cima do capô do meu carro


onde havíamos começado há quatro anos.

— Você pertence a mim, Coração Valente. Isso é o que


meu corpo está me dizendo.

— O meu também.

Agarrei em ambos os lados da sua cabeça e a beijei.


Seu beijo foi lento e suave, como se estivesse com medo
de me quebrar, mas, seu controle vacilou e ele beijou-me
como eu queria que fizesse. Possuído e poderoso, como se
nada fosse capaz de nos separar.

Suas mãos estavam em cima de mim quando me


pressionou até que eu estava deitada no capô do carro, o seu
peso em cima de mim, sua boca esmagando a minha. Com
minhas mãos nos seus quadris, puxei para mais perto,
embora ele não pudesse ficar mais perto. Eu só precisava de
cada polegada dele me tocando, tornando isso real.

Ele se afastou, as mãos em ambos os meus lados,


descansando no carro. Meu peito subia e descia com
esfarrapadas respirações e provocou formigamentos pelo meu
corpo.

Ele ergueu a mão e acariciou o lado do meu rosto com


os nós dos dedos.

— Um monte aconteceu na minha casa desde que... —


Ele hesitou e era tão diferente dele. — London, naquele dia eu
vi você na cela... eu não podia tirá-la.

Esse momento brincou na minha mente uma e outra


vez. Antes que eu visse seu rosto através das barras da
minha cela, sabia que era ele. O cheiro dele era para mim
como uma brisa de esperança. E então foi como levar um
soco no estômago quando encontrei seus olhos duros e frios.
Eu sabia que ele não estava lá para me salvar.

— Eu sei. — eu murmurei.

— E o que eu disse. — Uma mão de Kai descansou no


meu quadril, a outra segurou meu rosto. — Porra, eu
precisava que você vivesse e a melhor maneira era dar você a
eles. Eu não sabia como... ou se poderia chegar até você.

Kai nunca experimentou amor ou a confiança, mas eu


sim. Não importava o que ele tinha fito para mim naquele dia,
não importava quão esmagada de raiva eu estava quando ele
foi embora, eu sabia o porquê dele dizer isso.

Eu estava morta por dentro, mas confiava que ele


voltaria. Dei a eles o que precisavam ver, uma menina
perdida e destruída, sem esperança e calmamente fiquei mais
forte.

— Você nunca desistiu.

Ele disse, como se ainda não pudesse acreditar que eu


estava na frente dele.

— Eu nunca desisti de nós.

Vi o conflito em seu rosto quando ele olhou para a


minha mão descansando em seu peito. Seu batimento
cardíaco estava constante e rítmico como sempre foi. Era o
conforto que eu precisava, porque não importava como eu me
sentia sobre Kai, ele sempre carregava uma escuridão que me
assustava. Mas quando toquei nele e senti seu coração bater,
me lembrou que era real, que este homem, se eu quisesse ou
não, estava dentro de mim. Era uma parte de mim. Nós
estávamos amarrados.

Ouvi um miado alto vir da parte de trás do SUV e ele se


levantou, me trazendo com ele. Nós dois olhamos e vimos o
lado do veículo dar guinada para o outro. Tyler passou
voando e pousou em sua bunda na terra vários pés da parte
de trás.

Através dos vidros esfumaçados, vi Deck no interior do


veículo ajoelhado no banco de trás, o braço curvado no
pescoço de Connor quando ele continuou se debatendo
tentando se libertar. Ele era irmão de Georgie, o homem em
que eles estavam testando a droga do meu pai, o homem que
me tirou da casa de Kai.
— O que eles estão fazendo com ele?

— Eles começaram a colocar um chip GPS em recrutas,


cooperadores, em quem quer que eles queiram controlar ou
ter certeza que nunca escapassem. Quando Chess foi capaz
de entrar em contato com Tristan, ela disse a ele sobre isso e
as suas vulnerabilidades. Tristan tinha alguém
desenvolvendo um dispositivo para indicar a sua localização
no corpo.

— Há muitas máquinas que fazem isso, não existem?

— Sim. Mas não aquelas para retirá-las.

— O que você quer dizer?

Ele me beijou de leve na boca. Meus lábios estavam


secos e rachados e a carne sensível doía ainda que com sua
gentileza.

— Eu prometo que você vai ficar bem.

— Ele vai me escanear?

Tristan caminhou em direção a nós, seus passos largos


moendo o chão. Ele acenou para Kai.

— Achei. Vou começar pelo seu pé. — Ele segurou uma


pequena caixa preta em sua mão com uma luz verde
piscando na borda frontal.

— Pronto?

Kai balançou a cabeça e moveu-se para o lado.


— Só vou passar este dispositivo sobre seu corpo, ok?

— Eu não vou explodir? — Tristan riu. Kai não. — Vá


em frente. — eu disse.

Tristan agachou-se e começou com os meus pés, em


seguida, para cima e para baixo da minha perna e na outra.
A máquina começou buzinando e piscando em vermelho
quando chegou ao lado direito da minha pélvis. Tristan
colocou a máquina no capô do carro e estendeu a mão para a
minha camisa puxando-a para cima.

A mão de Kai trancou seu pulso.

— Eu vou fazer isso.

Tristan balançou a cabeça, um leve tremor no canto de


sua boca. Ele me soltou e jogou um maço de gaze, um rolo de
fita adesiva médica e uma garrafa de desinfetante sobre o
capô ao meu lado.

— Danifique-o enquanto removo e ambos vão explodir


em um milhão de pequenos pedaços.

— Porra. — Eu parei de respirar.

Kai me ignorou e tirou a faca.

— Então vamos, porque nós explodiremos. Ninguém vai


tocar nela com uma fodida lâmina, exceto eu.

— Kai? — O medo me atingiu. Eu tinha uma bomba-


relógio sob a minha pele?
Tristan deu os ombros e foi embora.

— Não se mova. — Kai ordenou quando me pressionou


sobre o capô do carro. — Eu gostaria de ter uma chance de
me enterrar entre suas coxas novamente, Coração Valente.

— Jesus, Kai.

E então, eu vi seu maleável sorriso e uma onda de


conforto infiltrou em mim. Kai derramou o desinfetante sobre
a lâmina da faca, em seguida, eu me inclinei sobre o capô e
ele levantou minha camisa. Seus dedos apalparam o lado
direito da minha pélvis. Eu nunca tinha notado nada, mas,
novamente, estava mais preocupada com o meu próximo gole
de água do que qualquer pequena protuberância incomum
que eu pudesse ter.

— Aqui. — Ele apertou minha pele uma polegada de


distância do meu osso do quadril. Ele levantou a cabeça e
olhou para mim.

— Tente não se mover ou matará nós dois.

Eu levantei minhas sobrancelhas.

— Talvez você devesse perguntar a alguém que saiba


como lidar com uma faca.

Ele riu e eu suspirei quando o som familiar tomou conta


de mim. Ele baixou a lâmina e cortou em minha pele. Mordi o
interior da minha bochecha enquanto Kai cuidadosamente
esticava minha pele com os dedos e a ponta de sua faca
afundando em minha carne.
Eu não assisti, mas senti um leve pop quando o
microchip saiu.

— Achei. — Ele ergueu a lâmina, o pequeno dispositivo


sentado na ponta plana da mesma.

Empurrei a minha camisa e sentei-me.

— O que agora?

— Tyler e Josh irão fazer um pequeno passeio com ele.


Isso deve manter quaisquer agentes Vault ocupados por
alguns dias. Então, eles vão destruí-los.

Deck se aproximou de nós e acenou para mim.

— É bom ver que você está bem, London. — Eu


duvidava disso. No nosso último encontro, eu era Raven e eu
tinha segurado uma arma para a amiga de Georgie, Emily.
Ele pegou o microchip de Kai e caminhou de volta para o
SUV.

Kai usou o material de curativo e a fita que Tristan


deixou e gentilmente levantou minha camisa para cobrir a
ferida. Quando terminou, a minha mão caiu sobre seu calor
queimando dentro da minha barriga.

— O que está acontecendo, Kai? Sua irmã está livre.


Você está aqui com o Deck e seus homens. Quem é Tristan?
Eu não entendo.

Ele acariciou o lado do meu rosto.


— Eu matei a minha mãe. — Eu engasguei. — Ela era
uma verdadeira cadela.

— Kai... — Eu não sabia o que dizer, então não disse


nada.

— Estive vivendo em um mundo em preto e branco. Não


me importava com nada. Morte. Tortura. Dor. Nada disso
importava. — Ele se moveu para mais perto e enrolou seu
braço em mim me puxando para mais perto. — Então eu a
conheci, Coração Valente. — Ele abaixou a cabeça e me
beijou. Era firme, mas lento como seus lábios se moviam
sobre os meus em uma carícia profunda. — Nós estamos
terminando isto, baby. Nós vamos derrubar Vault.

Eu fiquei tensa. Puta merda.

Era por isso que Deck e os seus homens estavam com


Kai. Ele sempre disse que não tinha amigos e que não
confiava em ninguém, mas estava colocando uma enorme
quantidade de fé em Deck.

— Isso é possível?

Ele deslizou a mão pelo meu braço até que seus dedos
ligaram com os meus e me ajudou a sair do capô do carro.

— Eu estou fazendo o possível.

— Que tal... bem, o meu pai?

— Ainda não sei.

Uma onda de medo bateu em mim.


— Nós temos que ajudá-lo, Kai. Eles vão atrás dele,
certo? Eles vão matá-lo ou escondê-lo ou... Kai, nós temos
que ajudá-lo.

Ele segurou a parte de trás da minha cabeça, seus


dedos deformando meu cabelo.

— Nós vamos.

Agarrei a frente de sua camisa.

— Oh Deus. Kai, ele é tudo que me resta.

Ele olhou para mim, dedos firmes e olhos preocupados,


apertando o meu cabelo.

— Sim.

Havia algo em seus olhos, mas eu não tinha visto isso


antes. Pensei que era preocupação, mas era mais do que isso.
Preocupação? Mas Kai nunca parecia preocupado com nada.

Kai agarrou-me e uniu a boca na minha e disse:

— Você sempre me terá.

Ele me beijou novamente. Não foi gentil e doce. Era uma


promessa.
Adormeci no carro e quando acordei, estava em um sofá
com a cabeça no colo de Kai. Sua mão lentamente acariciava
meu cabelo.

— Não. Esqueça isso. — Eu ouvi Deck dizer. — Não me


pressione, Georgie.

Georgie? Ela estava aqui? É claro que ela estava. Kai


disse-me no carro antes de eu adormecer, que ela estava com
Deck agora. Então, ele me contou sobre Tristan e Chess. Sua
história era esmagadora e bonita ao mesmo tempo.

— Vic. Por favor, fale com ele. — disse Georgie.

— Não preciso de Vic falando comigo, Georgie. Eu disse


que não. — Deck disse em um tom atormentado.

Eu abri meus olhos e Kai deve ter percebido que eu


estava acordada quando a mão dele parou.

— Kai? — Disse Georgie. — Diga à ele. Eu posso


alcançá-lo. Eu posso ajudar.

— Jesus Cristo, Georgie, não. Não vai acontecer. —


disse Deck. — Eu não quero que você o veja assim.

— Ele não é quem você pensa que é, — afirmou Vic.

— Eu não dou a mínima! — ela gritou, com sua voz


trêmula e à beira das lágrimas. — Eu quero vê-lo.

Sentei-me e Kai me passou uma garrafa de água, com a


tampa já ausente. Eu tomei, o líquido correu na minha
garganta como seda. O plástico estalou quando terminei e
coloquei sobre a mesa de café.

— Georgie. Pare. Agora. — Deck disse e seu tom era


seriamente chateado.

Olhei por cima do meu ombro, enquanto Georgie


agarrou a maçaneta da porta do outro lado da cozinha.

Deck saiu do banco do bar e foi atrás dela antes que a


porta estivesse totalmente aberta. Ele segurou seu braço,
arrastou-a de volta, então a dobrou e de uma só vez teve
Georgie por cima do ombro. Ele fez isso tão fluidamente que
era como se fosse uma ocorrência habitual.

— Ele é meu irmão. Ele é meu maldito irmão! — ela


gritou.

— Eu sei. E é por isso que não posso deixá-la. — Ele


levou-a chutando e gritando em outra sala, em seguida, a
porta fechou. Houve um baque alto, um tapa e algumas
palavras curtas e abruptas de Deck antes do silêncio.

Kai levantou-se e estendeu a mão.

— Você precisa de um banho, baby.

Eu precisava. Desesperadamente.

— Como está seu ombro?

Ele não respondeu; em vez disso, me levantou do sofá e


me pôs de pé. Eu estava adivinhando que estava bem então.
— Onde estamos?

— Uma das casas seguras de Deck. Embora, eu não sei


se diria que é seguro depois de ver o porão.

Ele não me deixou pensar muito sobre isso quando me


pediu para ir em frente, passando por Vic que estava
agitando algo que cheirava a molho de tomate e manjericão
no fogão. Ele balançou a cabeça para mim e eu dei um meio
sorriso. Vic era muito assustador e eu não tinha certeza
sobre ele, mesmo que tenha me ajudado a escapar de Alfonzo
e Jacob.

Nós entramos em um quarto no final do corredor e Kai


fechou a porta. A casa não era decorada e parecia bastante
média, uma que você encontraria em uma subdivisão recém-
construída. Não havia toques pessoais; nada nas paredes e
móveis básicos.

Kai entrou no banheiro adjacente. Ouvi a cortina do


chuveiro puxada de lado sobre os anéis de metal e a água
ligada. Andei para me juntar a ele que já estava debruçado
sobre a banheira, testando a temperatura da água com mão.

— Feche a porta.

Eu fechei.

Em poucos segundos, o banheiro começou a embaçar e


fechei os olhos, respirando a umidade aquecida. Estive com
frio e úmida durante tanto tempo que temia que a sensação
de estar com frio nunca iria embora.
Debrucei-me contra a porta do banheiro e suspirei. Era
como se eu estivesse sendo vestida com um manto de calor
aquecendo meu sangue. Senti o momento em que Kai veio
para mim e abri meus olhos. As mãos dele foram para o
fundo da minha longa camisa. Ele então levantou lentamente,
as pontas dos seus dedos arrastando pelos meus lados.

Levantei meus braços e ele puxou a camisa e jogou-a no


chão. Eu estava nua por baixo e meus mamilos estavam
eretos, apesar do ar quente e úmido. Arrepios espalharam
sobre a minha pele.

Deus, eu iria sucumbir. Queria que ele cuidasse de


mim. Queria ser aquecida e eu... queria sentir-me amada.

As mãos de Kai deslizaram pelo meu corpo até a borda


da minha calcinha. Seu hálito quente percorreu minha pele
enquanto ele abaixava lentamente para baixo em minhas
pernas. Agarrei-me aos seus ombros e levantei l cada pé para
sair dela. As palmas das mãos quentes deslizaram até as
minhas pernas, sobre minhas coxas para os meus quadris
quando ele ficou em pé mais uma vez.

Eu estava nua na frente dele, mas seus olhos não


estavam no meu corpo. Ele estava observando minha
expressão. Meu peito subia e descia mais rápido enquanto eu
antecipava o seu toque.

Ele fez uma careta. Eu estava esperando por esse


encantador sorriso divertido em seu lugar. Suas mãos foram
para a atadura no meu quadril.
— Nós vamos enfaixar novamente após seu banho. —
Ele retirou a fita e a gaze, jogou-as no lixo e estendeu a mão
para pegar a minha.

Ele parou. Então seus olhos escureceram quando


desembarcaram na cicatriz no meu ombro.

— Isso é a porra de uma bala. — Seus olhos corriam


para os meus. — Eles atiraram em você?

— Foi de raspão. — Connor tinha razão. Eu não sangrei


até a morte, mas desmaie no carro e quando acordei, meu
ombro estava enfaixado.

— Quem?

O homem atualmente estava no porão. O homem que


Kai não teria nenhum problema em matar. E o homem que
Deck e seus homens fariam qualquer coisa para proteger. Ele
também era o irmão de Georgie.

Passei meus dedos no seu pulso e puxei sua mão longe


da cicatriz.

— Não importa.

Seus olhos se estreitaram e ele abriu a boca para


perguntar novamente, mas eu olhei para baixo e vi o
momento em que ele deu para mim. Acho que ele sabia que
tinha que sido Connor, mas se eu dissesse, nós dois
sabíamos o que aconteceria.

— Ok, London. Vou lhe dar isso.


Revirei os olhos.

Ele enfiou a mão na minha e me guiou até a banheira.

— Não se preocupe, a água está morna.

Eu bufei para sua referência à água gelada que ele me


fez sentar.

— Isso foi cruel.

— E necessário.

— Necessário em sua maneira de pensar. — Mas foi. Ele


estava tentando encontrar uma maneira de me romper, sem
me machucar.

Sua mão alisou meu cabelo e ele ficou em silêncio.


Apesar de sua provocação sobre a água, havia uma seriedade
em Kai que não esteve lá antes de eu ser pega por Vault.

Kai me conhecia melhor do que ninguém. Ele estava em


mim. Eu não sabia quando isso aconteceu mas talvez com o
tempo ou talvez na noite em que ele me salvou do fogo. Talvez
nossas noites juntos em meu loft. Mas não importava
quando, ou como, ou por quê. Ele só era ele e não importava
quem Kai foi e quem ele era agora porque eu me apaixonei
por todas as partes dele.

Peguei a mão dele antes dele se virar para sair.

— Não vá.
Ele olhou para mim por um segundo, em seguida, seus
olhos percorreram meu corpo e minha barriga embrulhou.

— Eu não posso ficar sem ter você.

— Então, me tenha. Eles não me estupraram, Kai. Eu


não sou a frágil Raven. Nunca vou ser assim de novo.

Sua testa franziu.

— London. Porra.

E então, algo nele quebrou. Era como um galho de


árvore sob tanta pressão que não poderia mais resistir e
estalou caindo no chão. Ele agarrou a minha cintura e me
puxou para seus braços, sua mão na parte de trás da minha
cabeça, pressionando-me tão perto que eu mal podia respirar.

Não havia nada de firme e calmo em Kai agora quando


sua boca tomou a minha em um descontrolado frenesi. Era
tão diferente dele, uma necessidade feroz quando ele forçou a
boca aberta antes que eu tivesse a chance de reagir a ele.

Ele me girou e empurrou-me contra a pia e sem um


segundo de hesitação, levantou-me até pousar no lábio dele.

— Pernas. — ele rosnou.

Coloquei minhas pernas em volta dele.

Suas mãos deslizaram pela minha espinha na parte


inferior das costas, dedo acariciando o vinco na minha
bunda. Eu coloquei minha cabeça para trás, os olhos
fechados, gemendo quando ele abaixou a cabeça e pegou meu
mamilo em sua boca. Ele foi suave e doce, lambendo,
sugando. Em seguida, os dentes o roçaram e eu engasguei
com a sensação.

Fogo selvagem. Dor e prazer. A pérola do êxtase.

Meu mamilo escorregou de sua boca e a sua mão


deslizou do meu corpo para o meu pescoço, onde seus dedos
se enroscaram em torno dele, não apertando, mas firme.

— Ninguém a tira de mim e fica vivo.

Algo que eu não reconheci permanecia em seus olhos,


uma raiva ou talvez fosse uma pitada de medo.

Eu me inclinei para frente e beijei o canto da sua boca,


em seguida, fiz o mesmo do outro lado.

Seu aperto no meu pescoço ficou firme quando ele me


beijou novamente, desta vez suave e acariciando como uma
pluma de seda acariciando meus lábios machucados.

— Eu quero você dentro de mim. — murmurei.

Ele gemeu e me pegou pela bunda. Prendi meus braços


ao redor de seu pescoço enquanto ele me levava para a
banheira.

— Em breve, baby. — Ele me colocou em pé na


banheira.

Eu estava confusa porque alguma coisa mudou nele. Ele


estava duro quando retirou meus braços de seu pescoço.
— O que está errado?

Ele se inclinou para a direita e pegou uma toalha de


rosto e passou para mim.

— Não gosto disso em você. — Então ele saiu.

Fiquei em pé na água quente, olhando para a porta


fechada.

Kai tinha o controle de toda a sua vida. Ele possuía. Era


confiante em tudo o que fazia porque não tinha nada a
perder. Mas eu senti a sua perda de controle com a forma
como ele me beijou, com a forma como ele me tocou.

Ele arriscou tudo para me libertar do Vault. Libertar sua


irmã. Ele estava tentando confiar em Deck e seus homens,
quando passou a vida não confiando em ninguém. Ele tinha a
sua irmã de volta, matou sua mãe e depois estava indo a
fazenda. Um lugar onde ele esteve a maior parte de sua vida.

Kai estava em uma espiral, em um território


desconhecido. Ele se importava. Ele confiava.

A realidade era que Kai foi sempre o leopardo de Amur,


o caçador solitário e agora ele não era e tinha uma
vulnerabilidade — eu.
Ficamos na cozinha discutindo sobre uma possível
queda, sendo uma delas o envolvimento da polícia como
informante. Deck já havia colocado uma chamada para o
chefe de polícia e alguns amigos que conhecia dentro dos
diferentes distritos.

— Nós acabamos com os seus pontos fortes. — eu disse.


— A fazenda e a droga. Infelizmente, eu não tenho nenhuma
ideia de onde está a fazenda ou quem a supervisiona, mas
pode haver alguém que saiba. Um membro do Conselho.

— Quem? — Perguntou Deck.

— Peter Dorsey.

— Merda. — disse Vic, balançando a cabeça.


— Não vai ser fácil chegar perto dele, — disse Deck. —
Precisaremos de tempo.

Nós não tínhamos tempo.

Dorsey possuía dois hotéis em Las Vegas, um em Nova


York e vários mais em todos os Estados. Ele não fez sua
fortuna confiando em alguém e era um bastardo com uma
mão suja. Eu o vi algumas vezes, até mesmo feito alguns
trabalhos para ele alguns anos atrás. Ele também sabia que
eu tinha virado.

— Seus pontos fracos... ganância e poder. Ele quer tudo


e praticamente tem, exceto por uma coisa: ele não chamaria
Vault para a guerra. Mãe controla a droga e um outro homem
dirige a fazenda. É um assecla de Dorsey e se ele tiver a
oportunidade de mudar isso, ele vai. A mãe está morta. Ele
vai querer o controle da droga.

— E sobre os outros membros? — Perguntou Deck.

Dei a eles tudo o que tinha sobre aquelas pessoas.


Haviam dois outros, mas eles eram membros fundadores
como o meu pai e eu suspeitava que não estavam totalmente
à bordo com a direção que minha mãe tinha tomado ao lado
de Vault. Mas era o outro membro que permanecia no
anonimato que ia ser o problema. Nossa ligação com ele era
Dorsey. A fim de proporcionar a Dorsey algo que queria,
precisávamos de algo para atraí-lo para nós.

— Então, nós precisamos da droga, — disse Deck.


Eu balancei a cabeça.

— Tenho os arquivos da minha mãe. Ela alegou que


tinha uma única cópia da fórmula. Conhecendo-a, ela tinha.
Mãe não queria que ninguém mais tivesse o poder sobre ela.

Vic disse:

— E Dorsey vai querer o controle da droga, agora que


sua mãe está morta.

— Sim.

— E a fazenda? Eu odeio perguntar, o que é isso? —


Disse Deck.

— É onde Chess e eu crescemos. — Tanto Vic como


Deck endureceram. — As crianças, como Tristan e Tanner,
foram sequestradas de suas casas e... condicionadas a fazer o
trabalho sujo de Vault.

— Jesus Cristo. — Deck passou a mão para trás e para


frente sobre o topo de sua cabeça.

— E você não tem ideia de onde ela fica? — Perguntou


Vic.

— Não. Uma vez que se completa dezoito anos, você é


retirado da fazenda e nunca mais volta. O único que escapou
foi Tristan.

— Se ele escapou, então sabe onde ela está. — disse


Deck.
— Infelizmente não. Ele fugiu ao ser transferido. Nós
estávamos com os olhos vendados e drogados, por isso não
posso ter certeza de onde nós fomos levados. A nossa única
vantagem é o terceiro membro, que é desconhecido. Eu acho
que iria reconhecê-lo, porque ele esteve em ambos os locais,
mas com muito mais frequência quando eu tinha dezesseis
anos, na época que fui transferido para esse novo local. É por
isso que suspeito que era ele quem supervisionava.

Eu olhei de Vic para Deck.

— Nós encontraremos a fazenda, vamos encontrá-la.


Mas primeiro precisamos chegar a Nova York.

Deck assentiu.

— O pai de London.

O som de seus pés foi amortecido por meias macias


andando pelo corredor em direção à cozinha e fizeram o meu
ritmo cardíaco acelerar.

Ela apareceu no canto, parando onde o azulejo da


cozinha encontrava com o piso de madeira do corredor.
Vestida apenas com calça de yoga preta e uma camiseta que
Georgie tinha trazido para ela, porra, estava sexy pra caralho
com aquele cabelo molhado e desarrumado, após o banho
quente.

Os caras estavam discutindo agora o que fazer com


Connor. Eu não dava a mínima para ele, mas havia uma
vantagem em ter ele do nosso lado. Isso era, se pudéssemos
entrar em sua cabeça confusa.

Meu lábio tremeu quando ela pegou o meu olhar sobre


ela e eu estendi minha mão. Ela caminhou em minha direção
e assim que ela estava perto o suficiente, eu a puxei para
mim. Sua bunda prensou meu pau e eu fiz um grunhido
baixo, em seguida, beijei abaixo da sua orelha.

— Melhor... — eu sussurrei, respirando o aroma fresco


de sabão e... London.

— Obrigada pelas roupas.

— Georgie as trouxe.

— Onde está sua irmã e Tristan?

— Adormeceram. A Chess está no fuso horário da


Europa Central e por isso está exausta. Tristan não vai deixá-
la dar cinco passos sem ele. Nunca teria suspeitado que o
Playboy arrogante e CEO da Mason Developments seria assim
possessivo sobre uma menina.

Ela colocou a mão sobre a minha.

— Estou feliz que sua irmã esteja a salvo.

Vic ergueu a voz tirando minha atenção de London.

— Ele vai matar qualquer um de nós na primeira chance


que tiver. Ele é um maníaco.
— Então precisamos descobrir tudo o que pudermos
sobre esta droga. — disse Deck.

Deck olhou para mim.

— Não sei sobre você. Mas isso foi mantido em sigilo.


Connor era a sua cobaia, mas a minha mãe disse que estava
quase estável. Chess diz que não estava.

— Não me parece que essa raiva de Connor fosse de


uma droga ‘quase estável'. — disse Deck.

Vic jogou a garrafa de água na pia.

— Então, ele ficará desse jeito? Acorrentado a uma


parede em um porão até que morra? É melhor morto.

London mexeu nos meus braços.

— Pode ser uma crise de abstinência. — Soltei a mão


dela e deslizei minha palma para baixo até que ela descansou
em seu quadril. — O seu corpo precisa da droga, como um
viciado, então pode ser por isso que ele esteja fora de
controle. Quando ele... — Ela fez uma pausa e olhou para
mim antes de continuar. — Foi Connor que me sequestrou da
casa de Kai. — Foda. Ele foi a razão da minha menina ter
sofrido nas mãos de Vault. — Ele estava calmo. Controlado.
Quase muito controlado. Lembro-me de pensar que ele era
uma máquina.

Deck cruzou os braços sobre o peito largo.


— Ok, ele está em uma crise de abstinência. Onde é que
isso nos deixa?

— Se eu puder olhar a fórmula da droga, talvez possa


ajudar. — disse ela. — Ou não. É possível que ele precise da
droga ou...

Deck grunhiu e bateu com o punho na geladeira.

Ela não tinha que dizer isso. Se Connor não consumisse


a droga, era possível que ele morresse.

— O laboratório. — afirmou Vic.

— Eles não estão esperando uma invasão ao laboratório


agora. — eu disse. — Do pai de London.

— Mas nós precisamos chegar ao meu pai. — disse


London, olhando para mim.

Porra, eu tinha que dizer a ela. Em breve. Ela tinha que


saber que seu pai estava morrendo de câncer, mas ela já
tinha passado por tanta coisa, dizer isso agora não era hora.
Eu não sabia se algum dia seria.

— Precisamos da droga por duas razões. — disse eu. —


Dorsey vai querer a fórmula. Nós temos algo que ele quer,
então ele pode nos dar o que queremos em troca. E se London
estiver certa, pode ser a única coisa que mantenha Connor
vivo. Precisamos do plano para invadir o laboratório.

— Eu posso usar os velhos túneis. — disse London. —


Eles eram usados para ir de um prédio a outro nos meses de
inverno, mas eles começaram a entrar em colapso e assim,
foram considerados inseguros e fechados uma década atrás.

— Como assim fechados? —Eu perguntei.

— Eles vedaram as portas para as escadas, eu não sei


mais o que eles fizeram ou se há outra coisa. Eu sequer sei se
eles são mesmo transitáveis agora, podem ter desmoronado.
Mas se eles estiverem de pé, eu posso entrar no laboratório
do meu pai sem que ninguém me veja. Se a droga está lá,
posso encontrá-la. Só preciso que um de vocês venha comigo
para que possamos invadir seu computador e obter os
arquivos da fórmula. — Ela fez uma pausa. — E o meu pai. E
se ele estiver lá, podemos resgatá-lo.

Esta era a minha London. Ela tinha morado no inferno e


ainda estava se oferecendo como voluntária para ir atrás de
uma situação potencialmente perigosa. Mas ela não sabia a
primeira coisa sobre o combate. Ela era uma cientista boa e
eu queria que ficasse desse jeito para que ela não se tornasse
o que eu era.

— Você não vai.

Ela ficou tensa em meus braços.

— Eu sou a única que pode entrar no laboratório. Tenho


acesso com a impressão digital.

— Não.

— Sim. E você não tem nenhuma palavra que possa


intervir na minha decisão.
Vic limpou a garganta e do canto do meu olho, vi o lábio
se contorcer.

— Oh, baby, você está enganada se você acha isso. —


Ela tentou sair do meu colo, mas eu a segurei.

— Se Vault já está vigiando o lugar, o que suspeito que


eles estejam, eles não hesitarão em matar você. — eu atirei.

Vic disse:

— Ela não irá sozinha. Tyler pode ir com ela. Ele é


especialista em sistema de computação.

— Tyler e Josh vão ficar fora por dias. — disse Deck. —


Pela aparência de Connor, ele não tem dias.

Não havia chance de eu deixá-la ir sem mim e eu era


bom com computadores, mas sabia de uma pessoa que era
melhor.

— Chaos.

Todos os olhos se voltaram para Deck. O homem esteve


protegendo Georgie toda a sua vida e ele não gostou dessa
ideia. Mas Connor era o seu melhor amigo e irmão de
Georgie.

Deck balançou a cabeça.

— Isso não é uma opção.

— E isso não é a sua decisão. Você esqueceu que sou eu


que está executando esta operação. — eu disse.
— E você esquece que está em desvantagem. — Deck
retorquiu.

Eu sorri.

— Verdade. Mas a diferença entre você e eu é que não


dou a mínima se Connor morrer. Então, que se você quer que
ele viva, sugiro que Chaos faça parte disso.

Mas ao mesmo tempo me senti desconfortável comigo


mesmo porque eu sabia que Chaos seria destruída de novo se
seu irmão morresse. Vi a sua devastação quando tinha
dezesseis anos; embora no momento, eu não me importasse.

— Nós temos a droga, os arquivos e então temos algo


que Dorsey quer.

London endureceu.

— E o meu pai?

Deck encontrou meus olhos. Não havia nenhum antigo


afeto entre nós, mas andamos o mesmo caminho agora,
apesar de que estaríamos sempre em lados opostos da cerca.

— Ele precisa de tratamento. — disse ele.

Eu sabia do que ele estava falando e era irônico que ele


fosse o único que estava sendo frio sobre a vida do seu pai.
Eu não deveria me importar, mas me importei porque London
nunca me perdoaria se eu o matasse. A realidade era, seu pai
era um passivo, porque ele conhecia a droga, o que
significava que poderia mais do que provável reproduzi-la
sem os arquivos, mas Westbrook também estava com tempo
esgotando.

— Eu sei. — Mas assim que eu disse as palavras, eles se


sentiram mal. Pela primeira vez na minha vida, eu não estava
disposto a tirar uma responsabilidade e não iria permitir que
Deck ou seus homens assumissem.

— O quê? — Perguntou London.

Deck foi rápido a responder.

— A situação. Connor está em má forma. Vamos deixar


assim quando Tristan tiver seus pilotos aqui. Poucas horas
talvez...

O rugido de Connor levou Deck e Vic correndo para a


porta do porão. Em seguida, Connor gritou mais e parecia
que um corpo batia contra as escadas de madeira.

— Nós precisamos obter a droga, Kai. — Ela ainda


estava olhando para onde Vic e Deck desapareceram. Connor
a havia sequestrado, mais que provavelmente era a pessoa
que atirou nela e a colocou no inferno e ela ainda se
importava. Ela se importava com o que acontecia com ele.

Eu não sabia como um homem como eu, que nunca se


importou com nada, tinha a sorte de ter alguém tão especial
como London. Eu queria esquecer tudo e estar dentro dela
novamente. Queria que nós encontrássemos leveza em toda
essa escuridão.
— Eu vou lhe comer agora. Você está bem com isso? —
Eu não esperei por uma resposta enquanto a estava levando
comigo.
Kai fechou a porta com um chute e antes que eu
pudesse respirar, ele me tinha contra ela e sua boca em mim.

Eu tremia sob seus lábios e minha barriga girou quando


ele me beijou. Ele trancou meus pulsos acima minha cabeça
contra a porta, enquanto sua coxa empurrou minhas pernas
apertando o meu sexo, precisando me dar o controle.

Eu nunca pensei que estaria fazendo isso. Beijar um


homem tão perigoso quanto Kai.

Nunca pensei que eu o amaria tão ferozmente a ponto


de me arruinar. Porque não importava como eu olhava para
ele, era o que ele fazia para mim. Kai me arruinou. Para
outros homens e para uma vida sem ele.

Eu o odiava.
O temia.

Desejava ele.

Precisava dele.

E o amava.

Eu tinha me apaixonado por ele antes de ser Raven, que


não amava. Vi algo nele e era algo bom. A necessidade de
proteger. O desejo de cuidar e ainda assim ele não podia.

Estar com ele era como respirar muito rápido e ter


vertigens. Não haviam restrições a respeito de quem eu era.
Kai deixava-me ser eu e ele sabia exatamente quem eu era.
Às vezes, acho que ele me conhecia melhor do que eu mesma.
Talvez ele conhecesse, porque me puxou de um lugar dentro
de mim onde eu estava morrendo lentamente.

Gemi quando seus lábios deixaram os meus e depois


sorri, enquanto eu passava meus dedos pelos seus cabelos.

— Kai. — Sussurrei seu nome como tinha feito por


incontáveis semanas após vê-lo pelas barras da cela. Fiquei
com raiva, indefesa, exposta, mas nunca sem esperança.

Nunca.

E Kai não permitiria isso. Ele me deu as palavras para


me agarrar, as palavras cruéis para me lembrar de nunca
deixar Vault ver a esperança. Mate isso. Destrua e sobreviva.

Isso foi quando eu desliguei, não para morrer, mas para


sobreviver.
— Eu o amo. — eu disse.

Ele inclinou a cabeça para me beijar de novo, exceto que


desta vez foi uma carícia suave. Um toque aveludado dos
seus lábios, atingindo profundamente dentro de mim e
tomando o que eu já tinha dado a ele livremente.

Ele rosnou, me pegou e me jogou na cama, em seguida,


pairava sobre mim, um predador prestes a devorar sua presa
e eu queria ser devorada.

Kai tinha me encontrado três vezes.

Ele me encontrou e me trouxe de volta a cada vez. Ele


sempre viria para mim e eu queria ser forte o suficiente para
estar lá para ele.

O colchão cedeu sob seu peso quando ele se ajoelhou,


então montou em mim. Suspirei quando arrastou beijos no
meu pescoço e brincou com meus mamilos através da minha
camisa.

Eu peguei seu pescoço e o puxei para mais perto.

— Mostre-me o que você não pode dizer. — eu sussurrei.

Kai não podia me dizer que me amava e eu aceitava isso.


Eu não precisava de palavras. Só precisava que ele
continuasse a ser o homem que ele era comigo.

Ele endureceu, estreitando os olhos quando se sentou


em cima de mim. Em seguida, o canto de sua boca se
contraiu e uma luz brincalhona atingiu seus olhos.
— Você é corajosa o suficiente, baby?

Eu alcancei entre nós e acariciei seu pênis através de


suas calças.

— Sempre.

Ele riu e me mostrou o quanto ele me amava.

Acordei dolorida, mas saciada entre as minhas pernas.


Eu fui valente, mas não havia necessidade de ser porque Kai
foi gentil quando fez amor comigo várias vezes nas últimas
horas. Se eu tivesse uma dúvida de que Kai me amava tanto
quanto ele poderia amar alguém, esta foi apagada na noite
passada.

Ele tinha me dado as partes dele e eu imaginei se


alguém já tinha visto alguma parte mole e vulnerável de Kai.
Foi por isso que ele me encontrou. Porque ele arriscou tudo
para eu ficar longe de Vault. Porque ele confiava em Deck e
nos seus homens e Tristan, quando não confiava em
ninguém.

Estendi a mão para beijá-lo, mas o colchão frio onde ele


havia se deitado comigo e me enrolado em seus braços estava
vazio. Sentei e agarrei o lençol no meu peito quando a porta
do quarto se abriu. Meu coração pulou quando o meu olhar
se fixou nele. Deus, ele sempre parecia tão grande quando
entrava em um cômodo.
— Tristan disse que o avião está quase no aeroporto
Pearson e Connor não está bem. Ele vai se matar com todo o
dano que ele está causando a si mesmo.

Eu levantei e rapidamente peguei minhas roupas


cuidadosamente dobradas na cadeira. Kai tinha, obviamente,
as pegado, porque ontem à noite foram espalhadas por todo o
quarto.

— Eu pensei que você não se importasse com o que


acontecesse com ele.

Ele deu de ombros.

— Ele estaria melhor com uma bala em sua cabeça,


mas... — ele caminhou lentamente em minha direção e
quando me alcançou, deslizou a mão no meu cabelo e curvou
seu aperto em meu pescoço— ele é irmão de Georgie.

Fiz uma careta enquanto observava as emoções


conflitantes em seus olhos. Ele nunca a chamou Georgie.
Sempre disse Chaos e acho que era para distanciar-se dela.
Mas tudo estava mudando.

— Porra, se eu pudesse voltar atrás e mudar a forma


como a merda aconteceu... eu a vi chorar sua morte sabendo
que Vault o escondeu.

Permaneci quieta porque isso não era sobre mim ou


Georgie ou qualquer outra pessoa. Isso era sobre Kai tentar
chegar a um acordo com o que ele tinha feito para Vault.
Compelido. Treinado. Condicionado. O que quer que tenha
sido, Kai estava lutando contra o que tinha feito. Mas não
havia como voltar atrás.

Ele abaixou a cabeça e pressionou seus lábios nos


meus, seus dedos apertando meu pescoço antes de ele me
puxar de costas.

— Eu sei porque Vault nos quer como máquinas,


London. É por causa disso. O que eu sinto por você. O que eu
faria por você. — Ele suspirou e sussurrou:— Qualquer coisa.

E ele tinha. Kai se abstivera de carinho mas de repente,


estava cercado por pessoas que se importavam uns com os
outros e foi percebendo que isso resultava mais do que
apenas na minha proteção. Era sobre a sua libertação de
Vault e a entrada daquilo que eles tentaram erradicar dele.

Ele se afastou e deslizou a mão pelo meu braço até que


nossos dedos se uniram.

— Vai pegar algo para comer. Tenho que ajudar Connor.

Balancei a cabeça, observando como ele agarrou sua


bolsa e saiu do quarto.

Eu coloquei o resto da minha roupa, fui ao banheiro e


escovei os dentes. Quando saí do quarto, Georgie saiu do
dela, com os fios cor de rosa selvagens cobrindo metade do
seu rosto, mas eu ainda via os olhos vermelhos. Ela olhou
rapidamente para mim, virou-se e correu para a porta do
porão.
— Georgie. — Merda. Isso não ia ser bom.
Andei pelo quarto onde Deck me mandou ficar. Eu não
era muito boa em seguir ordens, mas ele usou aquele tom. O
que me fez pensar duas vezes sobre desobedecê-lo, não
porque ele já me machucou, mas porque ele estaria
desapontado comigo, o que era pior.

Eu vivi durante anos o decepcionando, fingindo não me


importar, mas já não tinha que fazê-lo. Ele era meu. Deck. O
melhor amigo do meu irmão. Meu irmão, que eu pensei que
estivesse morto, então descobri que ele estava vivo mas não
era o irmão que ele costumava ser. O irmão que me provocou
sobre como era perfeito o modo que eu costumava me vestir e
quão puro eu mantinha meu quarto. O irmão que fez uma
sepultura quando meu hamster morreu. O irmão que me
protegeu na escola contra os valentões que zombavam de
como eu me vestia e comportava. Eu era tão diferente, mas
agora, ele também era.

E Deck não iria me deixar vê-lo.

Eu sabia que ele estava tentando me proteger, mas meu


irmão e eu sempre fomos próximos. Ele foi o meu melhor
amigo. Deus, eu ainda tinha o coelho de pelúcia que ele me
deu quando eu era criança. E eu tinha o seu diário. Um
jornal que o Deck me deu. Na época, eu não li isso. Nunca
planejei isso, nem queria, até que eu descobri que Connor
estava vivo. Até que a merda aconteceu com Tanner. Até Kai
dizer-nos sobre Vault.

Então eu li com Deck. E chorei. E isso quase me


destruiu porque dentro das páginas estava meu irmão. Um
que eu tinha perdido e não tinha certeza de que voltaria.

Empurrei quando ouvi um rugido ensurdecedor e, em


seguida, várias maldições altas surgiram do porão.

— Connor. — Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e eu


a limpei com as costas da minha mão. A dor dilacerava a
minha alma ao ouvir sua voz de novo e ainda, não era sua
voz. Ele estava atado com raiva e furioso, algo que Connor
nunca foi. Ele era calmo e descontraído, paquerava com todas
as meninas, um arrogante playboy que não demorava a rir e
dificilmente demonstrava raiva.

— Cristo. Connor. Porra. — Eu ouvi Deck dizer.


Era seu tom áspero como se Deck estivesse prestes a
surtar, que me fez correr do quarto e seguir para o porão.

— Georgie, — ouvi London chamar.

Eu não parei quando abri a porta do porão e desci os


degraus de madeira em direção ao meu irmão.

Meu irmão.

Connor.

— Georgie, não! — gritou Deck. — Porra. Segurem-na.

— Jesus — disse Tristan.

Desci o último degrau quando Kai deu um passo em


minha frente, agarrando meus ombros.

— Chaos.

Era como um filme em câmera lenta quando me virei e


olhei por cima do corrimão, meus olhos bateram no meu
irmão. Ou um que se parecia com ele.

Meu coração parou e a bile subiu na minha garganta.


Tive o desejo de correr de volta até as escadas o mais rápido
que pudesse, mas estava congelada olhando para... eu não
sabia o que estava vendo. Minha mente girava com as
memórias de quem ele foi e para o que eu estava olhando,
incapaz de decifrar que ele era a mesma coisa.

— Connor. Não. — As palavras rasgando da minha


garganta em um sussurro áspero de devastação.
Ele estava acorrentado à parede de blocos de cimento
áspera, braços para os lados, os pés ligeiramente separados,
algemas em torno de cada membro.

Havia cortes em seus pulsos e tornozelos, o sangue


espirrava de sua pele como uma névoa fina e vermelha. Sua
coxa e ombro estavam enfaixados, mas eu não sabia porquê.
Seu peito arfava e havia um olhar selvagem em seus olhos, a
expressão se contorcendo como se os homens o estivessem
torturando.

Mas foi a ausência de bondade em seus olhos que me


destruiu. Foi por isso que ele se juntou ao JTF2, uma
unidade de elite antiterrorismo. Porque ele era o irmão mais
incrível que visitava escolas e orfanatos quando ele estava em
suas missões. Porque ele era Connor. Ele podia ter sido
arrogante e ego inflado, mas seu coração era cheio de
compaixão e amor, ajudando crianças como Tanner, que não
tinham nada. Tanner que o traiu. Traído a nós dois.

Não havia nada de Connor. Havia fisicamente pedaços


identificáveis dele, mas no conjunto, meu irmão havia
desaparecido.

Meu olhar se lançou para Kai.

— Tire as mãos de mim! — eu gritei. — Isso é culpa sua.


— Eu não reconheci a minha própria voz agonizante
enquanto tentava empurrar e passar por Kai, mas seu aperto
em mim ficou mais forte.
Nunca pensei que eu iria fazê-lo, porque apesar de
conhecer Kai por anos, ele ainda me assustava. Mas tanta
raiva veio à tona que eu não pude controlá-la.

Eu movi e lhe dei um soco na cara. Eu sabia que ele viu


isto pela forma como ele se esticou um pouco antes de meu
punho fazer contato com sua mandíbula. Também sabia que
poderia ter evitado isso, mas ele me deixou bater nele.

— Você fez isso com ele. Isso é culpa sua, seu filho da
puta. Você o destruiu. — Bati em seu peito, enquanto Kai
ficava imóvel. — Ele era bom, caramba. Ele era bom. Ele era
bom. — E agora se foi.

Minha visão estava borrada pelas lágrimas e eu não


sabia mais quem eu estava socando e tentando machucar,
até que as palavras de Deck foram sussurradas contra meu
ouvido e seus braços em volta de mim.

— Baby. Shh, vamos trazê-lo de volta.

Balancei a cabeça para trás e para frente contra o seu


peito.

— Ele nunca mais vai ser o mesmo.

— Não. Ele não vai. Mas ele ainda é seu irmão. E está
vivo e isso significa que há uma chance.

Deck nunca mentiu para mim. Não importava se


machucasse, ele era honesto e me deu um raio de esperança,
porque acreditava que iria encontrar Connor dentro desse
monstro frio, devastado e acorrentado à parede.
— Kai. — disse Deck. — Dê a ele o sedativo. Nós
estamos saindo. — Ele me pegou em seus braços. Fechei os
olhos, minha cabeça contra seu peito e ele me levou de volta,
para as escadas. Sem parar, nós fomos para o carro.
Nós usamos dois veículos para o aeroporto, embarcamos
no jato de Tristan e voamos para Nova York. Deck falara
tranquilamente com três agentes aduaneiros e uma vez que
ele balançou as mãos e deu um tapinha nas costas, eu estava
adivinhando que ele sabia deles.

O avião particular de Tristan tinha bancos de couro


largos que giravam, um bar e uma televisão de tela plana.
Sentei ao lado de Kai. Vic sentou de frente para mim com
Deck ao lado dele, duas mesas redondas nos separavam. Vic
já tinha levado Connor sedado para o avião e Georgie ficou
com ele.

Chess estava prestes a sentar-se atrás de mim no


corredor, mas Tristan terminou de falar com o piloto e
caminhou em sua direção sem parar e agarrou a mão dela.
— Nós vamos estar na sala. — disse Tristan. — Não nos
perturbe, mesmo se o avião cair.

— Tristan o que você está...? — Começou Chess.

Ele se inclinou para ela e sussurrou algo. Eu não podia


ver o rosto de Chess, mas vi o cotovelo dela em seu intestino.
Ele não pareceu notar e se manteve conduzindo-a para a
parte de trás do avião.

— Se eu os ouvir gemendo, nós vamos ter um problema.


— disse Kai.

Eu sorri. Era estranho ver Kai com uma irmã, mas


depois era estranho vê-lo com Deck e seus homens, também.

Vic, que nunca sorria e era construído como um tronco


de árvore de esteroides, teve seus olhos em mim e me
desloquei desconfortavelmente no meu lugar. Finalmente, ele
disse:

— Você está diferente. Melhor.

Sim, porque ele só tinha me visto como Raven, uma


menina quebrada e dormente. De certa forma, fui como
Connor: a máquina que fazia o que era suposto, exceto por
não ser induzida por drogas, no meu caso foi uma forma de
proteger a minha mente de tudo o que sofri.

Uma vez que estávamos no ar, eram todos profissionais.


Deck colocou o que parecia ser um diário em cima da
mesa e acenou para Kai, que o pegou e mergulhou nas
páginas.

— O que é isso? — Perguntou Kai.

— O diário de Connor. Há páginas arrancadas. Parece


que cinco delas. Ele escreveu nele esporadicamente, de modo
que não existe padrão. Mas de acordo com Georgie, os dias
que faltam eram antes de conhecerem Tanner. Preciso de
você para confirmar isso.

Kai abriu o diário e virou para o local onde estavam as


páginas óbvias que foram arrancadas.

— Aspecto razoável. Fui designado para Georgie após


Connor ser levado, mas Tanner foi mais cedo para conhecê-
los.

— Por que Connor?

Kai disse:

— Nada com Connor era confidencial. Eu mantive os


olhos em Georgie e Tanner.

O queixo Deck apontou para o diário.

— Temos lido ele várias vezes e não encontramos nada


útil ou incomum. Você leu isso. Pode nos dar uma nova
perspectiva, pegar algo que não pude. Ele fala sobre merdas
comuns. Saudades de casa. A família dele. Georgie. As
condições deploráveis que crianças viviam, nós o
encontramos em nossas missões. Já olhei para todos os
lugares que Connor foi durante os prazos onde as páginas
foram arrancadas, — afirmou Deck e eu estava achando que
Deck era o tipo de cara que não deixaria pedra sobre pedra.
— A maioria estava no exterior.

— Talvez você esteja procurando no lugar errado.


Páginas rasgadas em um diário não significam
necessariamente nada. — Kai deu de ombros, em seguida,
enfiou o pequeno livro encadernado em couro no bolso de
trás. — Vou olhar.

— E talvez você não tenha nos dito tudo o que


precisamos saber. — Deck olhou para Kai que apenas se
recostou na cadeira, afastou as pernas e cruzou os
tornozelos. — Manter segredos e mentiras são sua
especialidade.

— As mentiras mantiveram sua garota longe do Vault.


Como você acha que ela estaria se tivesse com ele? — Disse
Kai.

Mordi o lábio inferior nervosamente. Deck parecia que ia


pular do seu assento e jogar Kai fora do avião, mas Kai ainda
permanecia relaxado.

Kai continuou:

— Você pode buscar em cada polegada deste planeta,


usar todos os meios possíveis e talvez até mesmo recorrer à
tortura de pessoas inocentes. — As sobrancelhas de Deck
rebaixaram e Kai sorriu. — Não finja que você não iria deixar
de lado a sua moral, a fim de encontrar sua garota. — Ele se
inclinou para frente, os cotovelos descansando em seus
joelhos e abaixou sua voz. — Eu acho que mentir algumas
vezes para manter Georgie segura foi a melhor opção.

— Acho que matá-lo teria sido a melhor opção, —


afirmou Deck.

Kai foi para trás, rindo.

— Provavelmente você está certo.

Endureci vendo o rosto chateado de Deck. Não gostava


da direção que isso ia. Kai deve ter notado meu desconforto,
porque estendeu a mão e pegou a minha. Houve um silêncio
antes de Vic tirar seu laptop e trazer a planta do laboratório
do meu pai.

Em seguida, eles eram todos profissionais novamente.

Mostrei-lhes o túnel e onde tínhamos que ir. A tensão


diminuiu quando eles calmamente discutiram as estratégias.
Foi o único momento em que pareceram agradáveis uns com
os outros.

Após uma hora de voo, sentei perto de Georgie na parte


de trás do avião. Connor estava respirando pesadamente, os
olhos fechados enquanto dormia, provavelmente devido a
tudo o que tinham dado a ele.

Não disse nada no começo, porque não sabia o que


dizer. Ela foi um peão nisto. Kai me disse tudo, incluindo o
corte no galpão. Partes de mim entendiam porque Georgie
precisava da dor física, a fim de tentar aliviar a dor
emocional.

Eu não poderia lidar com estar perto de pessoas que


queriam me mimar quando eu finalmente voltasse para casa.
Eu queria ficar sozinha. E fazer tudo para esquecer. De tudo
o que me preocupava. Até de mim mesma.

Mas como as cicatrizes de Georgie, minha fuga não


ajudou.

Kai fez isso.

— Me desculpe. Sobre Connor. — Ele estava dessa


maneira por causa do meu pai.

Ela levantou a cabeça, a mão de Connor na dela, as


lágrimas escorrendo em seu rosto e manchas debaixo de seus
olhos.

— Ele era um grande irmão. — Georgie recostou a


cabeça contra o assento, olhando para frente. — Eu não
queria nada mais na minha vida do que tê-lo de volta. — Ela
fez uma pausa e repetiu: — Nada. E agora... ele está aqui,
mas ele não é ele.

Eu não respondi, o meu coração rasgando com o vínculo


quebrado entre irmão e irmã.

— Eu nunca quis que ele se juntasse ao Exército. Pedi-


lhe que não fosse, mas Connor... me disse que era o que ele
estava destinado a fazer. Era quem ele era. — Ela fungou e
esfregou o nariz com as costas da mão. — Cada vez que ele
voltava de uma missão, ele passava pela porta e apesar do
inferno em que esteve, o que tinha visto ou feito, ainda sorria.

Olhei para seu irmão, que não tinha nada além de dor
devastadora em seu rosto. Eu sabia só de olhar, porque tinha
sofrido também e isso me mudou. Você não esquecia. Você
acabava por aprender a adaptar-se ao horror e sobreviver nas
sombras negras.

Eu me inclinei e olhei para frente. Kai estava me


observando, sem sorriso e sem raiva, apenas observando com
interesse. Houve um ligeiro aceno de cabeça e, em seguida,
ele voltou a ouvir o que quer que os homens estivessem
falando.

— Então, você e Kai? — Disse Georgie.

Eu balancei a cabeça.

— Eu o conheço desde que eu era criança. Ele me


ensinou muito, e, à sua maneira, me protegeu. Bem, sei disso
agora, mas porra, ele me aterrorizava também. Nunca
conheci um homem tão destemido quanto ele e eu estive em
torno de Deck e os seus homens toda a minha vida. Ele o
escondeu bem. O desgraçado é tão casual quanto eles vêm. —
Ela abaixou a voz. — Mas quando você desapareceu e ele
chamou o seu rival, Deck, para tentar encontrá-la... Kai não
usou de artimanhas. Não precisava disso. E ele, com certeza,
nunca foi um admirador de Deck. Merda, Deck ainda não
confia nele.

— Você?
Georgie deu de ombros.

— Pergunta difícil de responder. Não realmente e sim,


mais ou menos. — Ela bufou. — Eu odeio o bastardo, às
vezes. Por tudo isto, mas uma parte de mim sabe que isso
não provém dele. Ele é um produto do que foi feito.

Eu confiava em Kai, mas tinha certeza de que ele iria


conseguir exatamente o que queria, mesmo que significasse
ferir ou matar alguém neste avião.

Georgie deu um meio sorriso.

— Querida, pela maneira que o homem a olha, ele está


cem por cento com você. Não é algo para ser subestimado.

— Eu o amo. — Suas sobrancelhas subiram. — Mas às


vezes... o jeito que ele é, sua moral, o quão perigoso ele pode
ser, é um pouco assustador.

— Deck tem alguns monstros enormes pendurados em


seu armário também e eu não vou nem entrar no que penso
que acontece na cabeça do delicioso Vic, mas você encontrou
o lado bom e você tem que se agarrar a isso, porque é o que
vai lhe segurar de entrar no inferno. Acho que Kai quer ser
tirado desse lugar, London. Acho que ele tem estado tentando
conseguir sair durante anos e aqueles bastardos o
mantinham arrastando de volta para dentro do lodo. Mas
você e ele... — ela acenou para Kai — você tem a corda. Basta
não deixar que isso se rompa, porque pelo meu palpite, se o
fizer, esse cara estará voltando para a escuridão novamente.
Olhei para Kai novamente quando ele se inclinou para
frente e disse algo para Vic, aquele sorriso sutilmente
maldoso era visível quando Vic olhou para ele e eu sabia que
ele tinha dito algo para irritá-lo. Sim, ele definitivamente não
tinha medo.

— Preparem-se para o pouso. — o piloto anunciou e as


luzes de cinto de segurança acenderam.

— Georgie, o que aconteceu com Alfonzo e sua família?

— Não pergunte. Não é sua culpa. Alfonzo foi a mais


baixa escória e não havia nada que você poderia ter feito. Kai
lidou com ele e você precisava fazer exatamente o que fez.

— Só que eu deveria ter virado a arma para ele. — eu


respondi.

Ela bufou.

— Sim, e, em seguida, todas aquelas meninas em um


contêiner de transporte estariam mortas agora ou pior, Jacob
as teria enviado para Deus sabe onde. — Ela empurrou para
atrás da orelha seus fios cor de rosa. — Além disso, não havia
nenhuma maneira que você teria puxado o gatilho. — Ela
sorriu. — Embora você agora fizesse.

— London. — Kai andou pelo corredor em direção a


mim.

Georgie sorriu e se inclinou para sussurrar:


— Você vê... o homem está caidinho por você. Ele ainda
a quer para segurar sua mão durante o pouso. Você acha que
ele está com medo?

Eu ri, olhando para Kai quando ele se aproximou. Não,


ele não parecia assustado ou irritado. Ele só estava delicioso.
Eu levantei.

— Eu não acho que Kai tenha essa emoção nele.

Georgie ficou séria.

— Sim. Eu também não achava, até – você.


Os túneis estavam úmidos e frios com paredes de
cimento rachadas e eu podia ouvir o barulho ocasional de
camundongos, ratos ou qualquer coisa pior, mas tentei não
pensar nisso quando segui Kai de perto. Nós corremos a
maior parte do caminho com mão de Kai na minha, a outra
segurando uma lanterna fina que exalava um tom azulado.

Deck pegou a traseira com Georgie atrás de mim. Eu


estava completamente fora do meu elemento, carregando
uma arma e vestindo um colete à prova de balas que Kai
insistiu que eu colocasse. Georgie e Deck também tinham,
mas Kai não.

Ele disse que nunca usou um e não estaria começando


agora. Conseguiu me deixar nervosa porque apesar de Kai ser
tão experiente como era, eu ainda me perguntava se ele não
temia a morte, já que não parecia se importar de morrer.
E isso era o mais assustador de tudo, porque eu me
importava. Eu o amava e não podia suportar a ideia de
sermos separados novamente.

A lanterna de Kai bateu na porta de aço e a corrida


parou. Eu respirava pesadamente da caminhada, mas era a
única. Neste momento eu me chutava não praticar algum tipo
de esporte ou um programa de exercícios. Mas há alguns
anos atrás, nunca pensei que estaria segurando mais do que
um tubo de ensaio, sentada em um banquinho giratório,
rolando nos pisos de linóleo quando conduzisse os
experimentos.

— Você está bem? — Perguntou Kai.

— Sim. — Estava tão bem quanto poderia estar, estando


em um laboratório que passei mais tempo crescendo do que
em minha própria casa. Um laboratório que tinha homens
perigosos vigiando. Um laboratório que tinha desenvolvido
uma droga que não sabíamos nada, mas meu pai sim. — Meu
pai... — Seu carro estava no estacionamento e passava de
onze da noite. Eu estava com medo de que talvez eles já
tivessem chegado a ele. Se o seu carro estava aqui, ele
estaria... eu não podia dizer isso.

— Ele está aqui. Vamos tirá-lo. — disse Kai, sabendo


exatamente o que eu estava pensando.

Balancei a cabeça e fiz um gesto para a porta.

— Há uma outra porta à frente e esta abre para um


corredor onde existem dois laboratórios.
— Deck. — Kai deu um passo atrás pegando a minha
mão e instigando Georgie a voltar também. Deck aproximou
da porta e atirou no cadeado, então retirou a corrente da
barra de metal e abriu-a com sua arma ainda engatilhada.

— Limpo.

Corremos até as escadas e Deck já estava agachado e


brincando com a fechadura da porta.

— Precisa de mim para fazer isso? — Perguntei a Deck.

Ele bufou e me atirou uma carranca. Eu poderia


facilmente pegar a fechadura em sua cobertura.

Deck também.

— Estamos fazendo isso em cinco minutos. — Deck


olhou para mim e em seguida para Georgie. — Você me
entendeu, Georgie? Sem distrações. Se o pai de London não
estiver lá, você começa no computador, encontre o que
precisamos, copia, exclui e depois saímos.

Georgie aproximou-se dele.

— Eu entendo, querido. Uma rapidinha. Dentro e fora.


Você é bom nisso.

Deck bufou e balançou a cabeça. Georgie riu.

Mordi o lábio para não sorrir porque Deck não estava


rindo e nem Kai. Ele entregou-me um jaleco branco de sua
bolsa que coloquei por cima do meu colete e Georgie fez o
mesmo.
Kai colocou a mão no meu quadril e puxou-me para ele,
em seguida, olhou para baixo, com as sobrancelhas
levantadas.

— Pistola, London.

Merda.

— Certo. — Eu coloquei-a no bolso do jaleco. Embora, se


alguém olhasse de perto o suficiente, veria ela. Com o peso
dela, meu casaco estava ligeiramente distorcido, mas tudo
isso não me preocupava. Meu foco estava na possibilidade de
ver o meu pai.

Vic estava no telhado de um edifício adjacente com um


rifle procurando alguém que pudesse estar com Vault. Desde
que era tão tarde, haviam poucas pessoas ainda nos edifícios,
além da segurança.

Tristan e Chess tinham ficado em sua casa para vigiar


Connor. Josh e Tyler estavam voando na manhã seguinte, o
que significava que os microchips tinham sido destruídos e
qualquer um que estivessem monitorando-os sabia que
tinham uma pista falsa.

— Pronta? — Perguntou Deck.

Eu balancei a cabeça, quando Kai o fez e Deck abriu a


porta. Havia um guarda de segurança passando conferindo o
laboratório do meu pai. Kai disse que tinha 'um trato’ com
ele. Eu não sabia exatamente o que ele quis dizer, mas
pessoas inocentes machucadas era algo que eu não estava
disposta a sacrificar. A maioria das pessoas neste edifício eu
tinha conhecido desde que era criança.

Nós decidimos pelo meu plano ao invés, de modo que


Deck e Kai usavam terno e gravata, junto com Kai carregando
seu saco preto, que não estava segurando qualquer tipo de
material relacionado com o negócio, mas a segurança não
saberia disso.

Nós andamos pelo corredor com Kai ao meu lado, Deck e


Georgie atrás de nós. Quando viramos a esquina, a poucos
passos de distância do laboratório de meu pai, um guarda de
segurança nos parou.

Kai enrijeceu ao meu lado e vi o leve movimento de


elevação em seu blazer quando sua mão foi para a sua faca.

Dei um passo à frente, sorrindo.

— Daniel, oi. É bom lhe ver.

Sua carranca escorregou quando ele me reconheceu.

— Senhorita Westbrook? Bom lhe ver. Tem sido...

— Anos... — terminei, tocando seu braço


carinhosamente. Ele havia sido empregado no laboratório
desde que eu tinha dez anos de idade e ainda assim ele ainda
se recusava a me chamar de London. — A escola tem sido
cansativa e me mantém ocupada. — eu menti. — Como está a
sua mulher?

Ouvi Kai maldizer baixinho.


— Ótima. Ainda não sabe cozinhar e ainda é um pé no
saco, mas a melhor e o mais bonito pé no saco que um velho
como eu poderia ter. — Ele acenou para Kai, então seus olhos
se deslocaram para Georgie e Deck antes de voltar para mim.
— Seu pai acabou de nos dizer a má notícia. Desculpe por
ouvir.

Eu hesitei.

— Umm, sim. — Más notícias? Do que ele estava


falando?

— Como ele está se sentindo? Ele parecia muito cansado


ao longo dos últimos meses, mas seu pai não deixa saber
quando vai para casa. — Ele riu, sacudindo a cabeça. — Um
homem que só trabalha é o homem que ele é. Estou
pensando que a sua filha vai seguir os seus passos. Será que
ele a encontrará no laboratório? Eu o vi ir lá para cima.
Pensei que ele estava saindo.

— Bem eu acho...

Kai deu um passo adiante.

— Nós temos um compromisso para chegar em uma


hora, senhorita Westbrook. Você se importa? — Seus dedos
enrolaram em torno do meu braço e eu olhei para ele com
confusão. — Dra. Westbrook. — Kai disse abruptamente.

Balancei a cabeça.

— Certo. Sim. Daniel, diga oi para Marcy por mim. Eu


falo com você mais tarde.
— Vou fazê-lo. — Ele se moveu para o lado para nos
deixar passar para a porta deslizante de vidro do laboratório
de meu pai. Digitei o código e rezei para que ele não tivesse
mudado isso enquanto eu esperava a luz piscando em
vermelho mudar para verde.

Se isso não acontecesse, então Deck e Kai estariam


tomando outra abordagem e Daniel ia se machucar. Senti os
três segundos como vinte anos quando as portas finalmente
se abriram. Acenei para Daniel, afastei-me para o lado e
deixei Kai, Deck e Georgie entrarem. Pouco antes das portas
se fecharam, vi Daniel pegar o seu telefone celular.

Merda. Não disse nada para Kai, porque eu sabia que


ele iria lidar com o problema em potencial e não era uma
questão — ainda. Talvez ele estivesse ligando para Marcy,
para deixá-la saber que me viu? Eu não queria que ele fosse
morto porque o vi com o seu celular.

Rapidamente mostrei a Georgie o computador principal


e ela passou a trabalhar nele, enquanto Deck e eu
digitalizamos todas as prateleiras e refrigeradores onde estava
a droga para Connor. Se meu pai continuava a fornecê-la,
teria um lote que estivesse trabalhando no momento.

Kai vigiava, mas o vi caminhar até o armário de


armazenamento e abrir a porta. Nossos olhos se encontraram
e os cantos dos lábios se curvaram. Tanta coisa aconteceu
desde que ele me viu escondida no armário. Eu estive
assustada e confusa, mas seu cheiro tinha acendido algo
familiar e reconfortante sobre ele. Agora eu sabia porquê.
Encontrei duas garrafas de pílulas na geladeira com um
rótulo que não tinha código do lote. Todas as drogas tinham
códigos do lote e eram coordenadas com os arquivos. Mas as
garrafas tinham etiquetas alaranjadas simples, com o nome
de CONNOR.

Puxei os frascos de comprimidos para fora e levei-os


para Deck que assentiu com a cabeça, em seguida, os
colocou em sua bolsa. Então, caminhei até Kai e coloquei
minha mão em seu peito.

— Você sabe alguma coisa sobre o meu pai? Por que


Daniel diria isso?

— Sim. — Ele manteve os olhos em mim, enquanto uma


onda de medo me atingia.

Meus joelhos enfraqueceram e fiquei tonta. Não era


bom. Oh, Deus, havia algo errado com meu pai.

— Kai...

— London, não sou eu que devo contar. É o seu pai. Se


precisar, eu vou, mas agora... — ele segurou a parte de trás
do meu pescoço e apertou — Preciso de você aqui, comigo.
Ok?

Ele estava certo. Se a notícia era ruim, agora não era o


momento para isso. — meu olho foi para a luz vermelha
piscando na caixa de código ao lado da porta.

— Kai! A porta. — Ele se virou para onde eu estava


olhando.
— Deck. — disse Kai quando agarrou minha mão e se
dirigiu para a porta.

Isso era tudo que ele tinha a dizer e Deck foi para
Georgie.

— Baby. Precisamos ir.

Digitei o código na porta, mas ela tocou e não abriu.

— Está trancada. A segurança pode bloquear as portas


se houver uma violação. — Oh, Deus, tínhamos de encontrar
meu pai e sair daqui.

Ouvi Deck discutindo com Georgie enquanto digitava


furiosamente no computador; Kai tirou a faca e enfiou-o no
topo da caixa de código preto, quebrando-a para abrir.

A tampa caiu no chão e ele puxou um monte de fios


para fora peneirando através deles.

— Georgie. Agora! — Deck ordenou.

— Deixa comigo. Merda, eu preciso excluir... feito. —


Deck puxou-a para fora do computador quando Kai cortou
dois fios e as portas se abriram. Mas não porque Kai cortou
os fios certos e sim porque meu pai a abriu.

— Pai?

— London. — Ele se adiantou para me abraçar quando


Kai o bloqueou, movendo para a frente, a mão no meu pulso
e eu não podia chegar perto dele. — Não vou machucá-la.
— Kai? — Tentei passar por ele, mas ele inclinou a
cabeça para olhar para mim, os olhos brilhando em
advertência, um aviso que eu não podia ignorar.

Olhei dele para o meu pai e sabia que algo estava errado
e não apenas a preocupação estampada em seu rosto pálido,
mas era como se ele estivesse doente. Linhas pretas pesadas
estavam sob seus olhos e ele parecia dez anos mais velho do
que da última vez que eu o vi.

Ele estava doente. E ele estava falando sério. Minha


garganta apertou quando as lágrimas brotaram e uma dor
esmagadora fechou no meu peito, fazendo meu estômago dar
uma guinada.

— Oh, Deus, pai... — eu me engasguei.

— Kai, por favor. — implorou meu pai. — Eu nunca iria


machucá-la.

— Você entende porque eu não confio na sua palavra. —


Kai respondeu. — Pense melhor.

Meu pai olhou para o corredor, os pés inquietos e


ansiosos.

— Daniel me ligou. Eu estava saindo com o carro, mas...


quando ele disse que ela estava aqui... eu tinha que vê-la
novamente. — Ele olhou para mim. — Querida, oh, Deus, eu
sinto muito. Eu não sabia mais o que fazer.

Seus olhos se encheram de lágrimas e a angústia torceu


seu rosto cansado.
— Eu sei, pai. — Eu sabia. Isto não era falha dele. Ele
teria feito qualquer coisa para tentar me proteger.

— Recusei-me a continuar a fazer a droga para eles,


mas depois do fogo... — Sua cabeça caiu para frente.

Virei-me para Kai, com minha mão em seu braço. Ele


balançou a cabeça e me deixou ir. Eu corri para os braços de
meu pai e o segurei apertado.

— Não culpo você, pai.

Eu nunca vi meu pai chorar, mesmo depois que minha


mãe morreu. Suspeitava que ele chorou, mas ele nunca me
deixou vê-lo se destruir como agora e isso partiu meu
coração. Por quê? Ele era um homem bom e brilhante. Porque
eles tinham que buscá-lo? Mas se não ele, então poderia ter
sido algum outro cientista com uma família.

Ouvi Deck e Kai calmamente falando, mas não prestei


atenção no que estava sendo dito. Apertei o meu pai para
mim, querendo tirar toda a culpa que ele carregava com ele.

— Precisamos ir, London. — Kai gentilmente colocou a


mão no meu ombro, em seguida, me puxou de volta contra o
seu peito, a palma da mão deslizou por cima do meu quadril
para colocar o plano em minha parte inferior das costas. — E
você precisa vir conosco. — ele disse para o meu pai.

— Eles vão mandar alguém atrás de mim se eu for com


vocês. — argumentou. — É melhor eu ficar.

— Pai. Não.
Kai balançou a cabeça.

— Você vem junto. — Ele agarrou o braço do meu pai e


começamos a descer o corredor.

Ouvi Deck no fone de ouvido com Vic e Kai estava


fazendo perguntas para o meu pai sobre a droga quando
correu para a porta que dava para os túneis.

— Dei-lhes um lote de comprimidos três meses atrás,


mas isso é tudo que eu tinha. Um componente é difícil
conseguir...

— Para quem? — Perguntou Kai.

— Eu não sei. Só um cara. — Então ele perguntou:— O


cara que eles estão dando a droga... você já o viu? Sabe como
ele está?

— Nós o temos. — disse Kai.

— Ele é meu irmão. — disse Georgie.

Os olhos de meu pai se arregalaram.

— Ele é perigoso. A droga obscurece as suas memórias e


ele não sabe o que faz. Ele provavelmente não vai saber quem
você é e vai fazer o que quiserem. Foi aplicado um esteroide
que aumenta...

— Invencibilidade. Sim, nós descobrimos isso. —


afirmou Deck.

Meu pai continuou:


— Quanto tempo desde a sua última pílula? Se ela for
retirada do nada pode ser pior. Alguns dos ratos... bem, eles
morreram quando eu parei a droga.

Olhei para Georgie, que empalideceu e pegou a mão de


Deck.

Meu pai olhou para mim, a expressão tensa


desaparecendo à medida que as rugas cederam.

— London, você sabe como isso funciona. Ele não pode


ficar sem a droga. Não sem efeitos colaterais graves e talvez
até mesmo a morte.

A voz de Deck estava rouca e abrupta.

— Algo mais?

— Eu não sei. Os ratos, eles entraram em um frenesi,


uma raiva e depois de alguns dias, começaram a ter
câimbras, tiveram convulsões até que... bem, até que eles
morreram.

— Merda. — Deck bateu com o punho na parede.

Meu pai rapidamente continuou:

— Mas ele pode se desintoxicar. Com uma retirada lenta


e você...

— Quieto. — Kai interrompeu quando ele abriu a porta


para dentro do túnel. — Espere aqui.
Eu vi quando ele desapareceu na escuridão, com o tom
de azul da luz bruxuleante por um breve segundo antes de
desaparecer também. Deck estava na frente, mas calmo, com
Georgie abrigada por seu corpo e a arma na mão. Isto foi
apenas alguns segundos antes Kai correr de volta até as
escadas e agarrar minha mão e me puxar para longe.

— Não se movam. Não sei quantos, mas eles estão vindo


para cá.

Deck já estava se movendo pelo corredor em direção à


escada norte. Um celular tocou e o único a ter um celular
tocando seria o meu pai. Todos os nossos estavam no
silencioso.

Ele rapidamente olhou para a tela, em seguida, parou,


com o rosto pálido.

— Pai?

Deck e Kai se entreolharam, então Deck correu pelo


corredor um pouco mais e espiou ao virar da esquina.

— É o meu contato para a droga. — disse meu pai.

— Atenda-o. — Kai ordenou.

Coloquei minha mão sobre o braço do meu pai e apertei.


Ele parecia assustado com os olhos arregalados e mãos
trêmulas quando apertou seu telefone e o colocou no ouvido.

— Olá? — Ele escutou por dez segundos depois desligou


e virou-se para Kai. — Eles sabem que você está aqui.
Kai meio que sorriu.

— Então eles devem estar preocupados. — Ele levantou


o queixo para Deck. — Evacuação?

— Escadas Norte para o porão. Vic nos cobrirá na porta


de emergência.

Nós estávamos nos movendo rápido quando Deck tomou


a liderança, Georgie atrás, meu pai e eu com Kai assumindo
a retaguarda. Deck parou, estendendo a mão quando os
elevadores a cinquenta metros de distância soaram.

— Merda. Voltem. — ele ordenou. — Vic. Precisamos de


uma outra saída. Saída norte e túneis comprometidos.

Meu pai correu à frente.

— Oeste. Existe uma...

Tiros ecoaram pelo corredor e Kai me agarrou, me


empurrando na frente dele e para uma alcova.

— Pai?

— Bem aqui, querida. — disse ele.

Deck e Georgie estavam em uma alcova em frente ao


hall.

— Pode nos levar a este laboratório? — Kai perguntou ao


meu pai.

— Sim, mas não há nenhuma maneira de sair.


— Faça.

Meu pai digitou um código e a porta apitou, mas não


abriu.

— Eu não posso substituir a fechadura. — Ele digitou o


código de novo e ela apitou, mas permaneceu trancada.

Enfiei a mão no bolso e tirei minha arma. Kai me viu


fazê-lo e acenou com a cabeça uma vez. Ouvi passos e, em
seguida, tiros, mas eles estavam com Deck.

Quando Deck revidou, Kai olhou em torno do canto e o


gesso estilhaçou ao lado a sua cabeça. Engoli em seco. Oh,
Deus, eles estavam atirando para matar. Eles estavam vindo
para nos matar.

Kai afastou-se da porta e chutou. Ela não se moveu.

— Porra. — Ele agarrou meu pulso e me empurrou de


volta contra ela. — Atire em qualquer um que chegar perto de
você. Entendeu? — Balancei a cabeça, mas eu estava pirando
em silêncio. Já tinha visto pessoas baleadas, assassinadas,
espancadas, mas era quando eu não me importava com nada.
Agora, eu tinha o meu pai, Kai, Deck e Georgie.

Kai olhou para o meu pai.

— Eles estão vindo de ambos os lados. Nós podemos


sentar aqui e ser alvos fáceis ou revidar para sair. Eu não vou
ficar aqui esperando ou me render, o que significa que você
ficará com ela.
— O quê? Kai? — O que ele estava pensando em fazer?
Estendi a mão, mas ele me empurrou de volta com a sua
palma no meu peito.

— Você precisa ficar ali.

Eu sinalizei mais tiros. Deck estava atirando ao lado de


Georgie, mas não por muito tempo quando Deck agarrou e
empurrou-a de volta para fora do caminho do tiroteio. Deck
olhou através do corredor para Kai e ergueu a mão, indicando
cinco para a direita e para a esquerda, três.

Kai balançou a cabeça e apontou para si mesmo, Deck e


depois à direita. Kai assentiu. Oh, meu Deus, eles estavam
indo para o campo aberto.

— Não. Kai. — Meu coração batia descontroladamente e


eu balancei tão forte, que fiquei com medo que a arma
atirasse acidentalmente.

— Não existe escolha aqui, baby. — Antes que eu


pudesse dizer qualquer outra coisa, Kai acenou uma vez para
Deck e ambos rolaram para o corredor.

Dei um passo para frente, minha respiração trancada no


meu peito enquanto eu ouvia tiros de ambos os sentidos.
Deck e Kai estavam fora da minha linha de visão.

Ouvi gemidos e corpos batendo no chão, mas não


conseguia ver nada. Georgie estava espiando o canto e
atirando. Mudei-me para frente, mas meu pai me bloqueou
com seu corpo.
— Não.

— Pai, eu posso atirar. — Não podia, mas eu tinha que


fazer alguma coisa.

— Não. — ele repetiu, a voz firme. — Você precisa fazer o


que Kai...

Um homem cambaleou no corredor, o sangue cobrindo a


frente da camisa com uma faca mergulhada em seu peito.

— London! — Eu ouvi Kai.

Houve mais alguns tiros, mas tudo foi em câmera lenta,


enquanto o homem ergueu a arma e apontou-a para mim.

— Deck! — Kai gritou.

Eu levantei minha arma, também.

O que aconteceu foi em milésimos de segundos. Meu pai


mergulhou de encontro ao indivíduo, ao mesmo tempo que as
duas armas dispararam. O homem caiu para trás com meu
pai em cima dele.

Tudo mudou.

— Pai!

Eu fui até ele, deixando cair a arma e caindo de joelhos


ao lado dele.

— Pai. Papai. — Tentei rolá-lo de cima do outro cara. —


Pai! — eu soluçava.
De repente, eu estava sendo puxada e tinha braços em
volta de mim.

— Baby, dê um segundo para Deck ajudá-lo.

Foi então que notei Deck de joelhos ao lado de meu pai,


Georgie em pé contra a parede com sua mão na boca.

Deck tinha o meu pai nas costas e havia sangue por


todo o peito.

— Kai, deixe-me vê-lo. Deixe-me ir. — Empurrei em seus


braços e ele finalmente me liberou.

Caí de joelhos ao lado de Deck que estava pondo


pressão sobre o peito do meu pai, mas havia muito sangue.
Eu não sabia se era apenas do meu pai ou do outro cara, mas
quando vi o rosto de meu pai, eu sabia.

— Não. Deus, não. Pai. Não. Por favor. — Oh, Deus, eu


estava tão perto de consegui-lo de volta. Depois de todo esse
tempo, tive uma boa chance, mas o estava perdendo.

— London... — ele conseguiu chamar mas em seguida,


jorrou sangue, tossindo.

As lágrimas nublaram a minha visão quando vi meu pai


lutar para respirar. Ele me olhou e eu senti Kai atrás de mim,
em seguida, sua mão estava no meu ombro.

— Devo a você. Por... encontrá-la... escondendo-a...


deles. — Ele tossiu de novo e usei minha manga para limpar
a sua boca. — A proteja... quando eu não fiz.
E então, Kai fez algo que eu nunca pensei que ele faria.
Agachou-se, pôs a mão no ombro do meu pai e apertou.
Então, meu pai estava olhando para mim e eu levei a sua
mão e segurei-a na minha.

— Pai. Podemos tirá-lo. Apenas espere. — Mas eu sabia


que não era verdade.

Ele deu um meio sorriso.

— Não. Não... precisa esperar... mais. Apenas esperei


para lhe ver... de novo. Amor... — Seus olhos estavam
vidrados e o sangue escorria pelo canto da sua boca.

— Não, pai. Não! — eu gritei. — Oh, Deus, Pai. — Eu caí


sobre seu pescoço. — Pai!

Eu não tinha ideia de quanto tempo chorei, mas foi


provavelmente apenas alguns segundos antes de ouvir Deck.

— Precisamos sair. Agora. — Deck ordenou.

Mãos me levaram para longe de meu pai e eu sabia que


era Kai.

— Pai...

— Baby, nós temos que ir.

Eu sabia, logicamente, mas tudo dentro de mim queria


ficar com meu pai.

— Eu... Kai... nós não chegamos a tempo.

Ele enxugou as lágrimas com o polegar.


— Baby, seu pai estava morrendo de câncer. Ele a teria
deixado em meses. Talvez nem isso. Ele sabia disso. Ele só
estava esperando para vê-la novamente.

Engoli em seco.

— Câncer?

Ele assentiu.

Kai me levou gentilmente mais longe de meu pai, a dor


era esmagadora e debilitante.

— Ele era um bom homem. — Kai beijou o topo da


minha cabeça. — Eu gostava dele.

Georgie jogou os braços em volta de mim.

— Querida, eu estou tão triste...

Deck colocou as mãos em seus ombros, em seguida,


puxou-a para trás.

— Não agora, arco-íris. Vamos lá.

Em seguida, fomos correndo para a escada. Deck a


limpou primeiro e depois, subiu um lance de escadas antes
de Deck levantar a mão para pararmos.

— Vic, estamos em posição.

Kai entregou a minha arma.

— Baby, aqui e agora. Ok?


Lágrimas se mantinham correndo pelo meu rosto, mas
eu assenti. Com a minha mão trêmula enrolada em volta do
metal duro, ouvi os tiros no corredor.

— Vic. Ele está vindo para nos ajudar. — disse Kai.

Eu ainda estava pensando sobre o meu pai, o rosto, o


modo como seus olhos vazios olharam para mim. Deus, ele
esteve doente. E agora ele se foi e... as mãos de Kai
seguraram minha cabeça para que eu fosse forçada a olhar
para ele.

— Eu sei você não está bem. Mas preciso que você se


concentre.

Eu balancei a cabeça.

Seus polegares acariciaram delicadamente sobre minhas


têmporas, seu corpo duro contra o meu, tenso e pronto para
reagir a qualquer momento.

— Responda-me, baby.

— Ok. — Eu inspirei de forma trêmula. — Ok.

Olhei para Deck e assenti. Em seguida, a porta da


escada abriu e nós corremos pelo corredor. Nós não
estávamos muito longe antes de dois homens correrem ao
virar a esquina e começarem a atirar. Kai me agarrou, me
puxando ao virar da esquina e jogando contra a parede, seu
corpo me protegendo enquanto Deck fazia o mesmo com
Georgie.
Os tiros pararam e Deck gesticulou para Kai antes que
ambos saíssem, enquanto Deck atirava e Kai corria e rolava
pelo corredor para o outro. Eu não podia vê-los mais, apenas
ouvia os tiros.

O meu domínio sobre a arma era tão apertado que o


metal moldava a minha mão. Georgie tinha uma arma
também, mas quando olhei, ela me pareceu bastante estável
e deu um meio sorriso para mim, com confiança. Ela tinha
total confiança em seu homem, que iríamos sair daqui.

Eu não podia sorrir de volta porque meu medo


aumentou quando ouvi passos se aproximando.

Oh, Deus, por favor, tenha cuidado, Kai.

Mas isso era o que Kai fazia. Ele me salvou da prisão de


Vault depois de matar a sua própria mãe.

Ele sabia o que estava fazendo.

Ouvi duas batidas fortes e um meio grito antes que o


som borbulhasse a nada.

— Tudo limpo.

Era Kai.

Saímos do canto e vi dois corpos no chão, o acúmulo de


sangue em torno de suas cabeças dos cortes em toda as suas
gargantas. Kai tinha suas facas na mão, o sangue escorrendo
das lâminas.

Um alarme soou através do prédio e Deck disse:


— Vic. — E, em seguida, Vic estava correndo em nossa
direção com uma arma pendurada no ombro e outra nas
mãos.

— Saída de emergência limpa. Carro esperando. — disse


Vic.

Deck lhe deu um tapa nas costas e eles partiram para a


porta.

— London. — Kai deu um passo para perto de mim e


abaixou a minha arma. Ele deslizou suas facas no coldre e
pegou minha mão na sua. — É apenas uma palavra e eu
sinto muito mais do posso expressar em palavras. Mas você
precisa ouvir isso de mim agora, então, eu estou dando a
você. Eu a amo, London.

Ele não me deu tempo para responder e eu não acho


que poderia, mesmo que tivesse. Ele uniu nossas mãos e
correu para a porta de emergência.
Por cinco dias ficamos ociosos na casa de Tristan,
depois de voar de volta para Toronto. Esta estava localizada
na periferia da cidade e tinha um elaborado sistema de
segurança protegendo o que parecia ser uma extensa coleção
de arte pendurada nas paredes.

Como ninguém de Vault sabia de seu envolvimento


ainda, era seguro o suficiente — por enquanto. Mas quando
você era a caça, ficar parado em um lugar só nunca era uma
boa ideia.

London estava sendo minha Coração Valente, insistindo


em ler os arquivos de seu pai para que pudesse descobrir
mais sobre a droga e ajudar Connor. Mas à noite, quando eu
a segurava em meus braços, suas lágrimas embebiam em
minha pele e seu corpo tremia enquanto ela soluçava.
Não havia nada a dizer e eu sinceramente não sabia
como ela se sentia, porque nunca experimentei uma perda
assim. Eu era muito jovem quando meu pai morreu e nós
fomos abandonados, em modo de sobrevivência, na fazenda.
Lembrei-me de estar triste e sentindo falta dele, mas não
durou muito tempo.

Quando tive idade suficiente para compreender porque


ele morreu e o que aconteceu, não sofri. Eu o culpei. Ele
sabia que a minha mãe era uma puta com fome de poder e de
controle. Ele tinha que ter visto o que estava por vir. Ele teve
um caso e minha mãe teve uma desculpa para fazer seu
movimento. Não demorou muito antes de eu parar de culpá-
lo, porque não me importava, de uma forma ou de outra. Eu
não me importava com nada.

No meio da tarde que eu vim verificar London, mas ela


estava no chuveiro, então fui para o andar de baixo buscar
algo para ela comer. Se ela tivesse comido qualquer coisa nos
últimos cinco dias, não seria suficiente e eu estava
preocupado. Porra, eu estava preocupado. Isso era o que era
se importar com alguém, você se preocupa com eles.

Chess veio intrometendo-se na cozinha, com as mãos


nos quadris e as bochechas vermelhas. Parecia que ela esteve
brigando. Provavelmente com Tristan.

— Por que não estamos fazendo nada? Eles vão mudar a


fazenda de lugar, Kai. — Tristan apareceu, inclinando-se
contra o arco para a cozinha, ergueu as sobrancelhas e sorriu
para mim. Obviamente, ele já ouviu isto de Chess. — Eles
podem já tê-lo feito.

Abri a geladeira, peguei o pedaço restante de salmão


grelhado que Deck fez na noite anterior e coloquei sobre o
prato.

— Nós não temos uma localização, Chess. — Coloquei


duas fatias de pão na torradeira. — Não é possível seguir em
frente sem um local.

Ela se moveu na minha frente, enquanto fui para a


geladeira novamente. Ela olhou. Isso não me incomodava. Eu
só estava feliz que ela estivesse em pé diante de mim e não
em alguma prisão.

— E se eles matarem as crianças? O que então? Você vai


ser capaz de viver com você mesmo, Kai? — Ela bufou. —
Sim, você provavelmente poderá. — Isso me incomodou, mas
ela estava certa de pensar isso. Eu merecia. — Mas eu não
posso. Deveríamos estar lá fora, procurando, não sentados
aqui, esperando algum idiota ligar.

Estávamos esperando Dorsey me ligar. Tínhamos a


droga e os arquivos e Connor, que estava muito mais calmo
após ter sido dado a droga. Mas era o quinto dia desde que
tinha dado a ele um comprimido misturado na água e ele já
estava começando a mostrar sinais de raiva novamente. Deck
estava esperando que pudéssemos estender o período de
tempo a cada semana, adicionar alguns dias até que
eventualmente Connor estivesse limpo da droga.
Tristan afastou-se da parede e foi até ela. Eu me movi de
volta para a torradeira e passei manteiga na torrada. Olhei
por cima do meu ombro, para eles. Ele foi gentil quando veio
por trás dela e colocou as mãos sobre seus quadris. Eu a vi
empurrá-lo para se afastar, mas ele apenas moveu-se para
mais perto e apertou seus braços.

— Dorsey pode ter a localização da exploração. — disse


Tristan, com sua boca perto de seu ouvido.

— E se ele não ligar? — Ela refutou.

— Nós lhe daremos mais dois dias — eu disse. — Se ele


não ligar, vamos até ele. Eu tenho alguém em cima, se ele
decidir fazer um movimento em algum lugar. — Era sempre
melhor ter alguém entrando em contato do que abordar, mas
Chess estava certa. Se eles sentissem que a fazenda estava
ameaçada, eles a mudariam.

Coloquei o salmão na torrada, polvilhado um pouco de


sal marinho e pimenta, em seguida, coloquei algum tomate
fatiado e alface, antes de colocar a torrada por cima. Peguei o
prato para levá-lo para London quando meu celular tocou.

Era o descartável de Ernie. Pousei o prato, encostei-me


ao balcão e respondi.

— Sim? Você tem alguma coisa? — Ernie era o cara que


eu tinha em Vegas mantendo um olho em Dorsey. Se ele
estivesse indo fazer uma abordagem, já teria feito após o que
rolou no laboratório.
— Seu homem é um pouco teimoso. — uma voz forte e
profunda respondeu. Era como se ele fumasse demais e seus
pulmões estivessem cobertos por uma camada de piche preto.
Eu sabia exatamente quem era.

— Dorsey. — A respiração de Chess engatou. — Este


não é um bom momento. Estou prestes a comer.

Eu não tinha que olhar para minha irmã para saber que
ela estava furiosa com a minha indiferença. Tristan, sem
dúvida, estava impedindo-a de pular no meu rosto.

— Ah, bem, meus tubarões estão prestes também. Eles


têm um frenesi, uma vez por semana. Hoje à noite eles vão
ter algo de especial. — Fiquei tenso, porque eu sabia
exatamente onde ele estava indo com isso. — A menos que,
claro, você prefira tê-lo de volta em uma única peça?

Olhei para cima quando Deck e Vic entraram na


cozinha, dando-me espaço, mas escutando.

— O que prefiro é que você diga o que quer.

Ele riu.

— Sempre respeitei você, Kai. Mesmo agora, depois de


matar sua própria mãe. Ela era uma cadela de coração frio.

Fiquei quieto e ele continuou:

— O Dr. Westbrook está morto e seus arquivos


desaparecidos. Você roubou os arquivos da sua mãe sobre a
droga, você tem a filha do Dr. Westbrook e eu assumo, a
famosa cobaia, Connor, já que ele desapareceu.

Mais uma vez fiquei em silêncio. Inútil negar, ele estava


certo em todos os aspectos.

— Eu tenho um trabalho para você.

Foi a minha vez de rir.

— Já não estou fazendo trabalhos para Vault, como eu


tenho certeza que você está ciente.

Ele estalou a língua e eu queria alcançar através do


telefone e rasgar a sua garganta.

— Mas você vai fazer este trabalho para mim, porque eu


sei que você se interesseira.

— E o que é isso?

— O outro membro do conselho. — Ele fez uma pausa.


— Você, Kai, matou sua mãe. Você salvou a sua irmã e a filha
do Dr. Westbrook, London. Você está certificando-se de que
tenha todo mundo fora antes de ir atrás do resto de nós. —
Ele fez uma pausa. — Ou devo chamar essa menina de
Raven? — Jesus Cristo. — Uma pena eu não ter tido o prazer
de degustá-la enquanto ela estava na... indústria.

Se recomponha, Kai. Normalmente não deixaria que as


palavras me incomodassem. Elas eram sem sentido, mas ele
falando sobre London era como uma faca na barriga.
Deck se moveu ao meu lado e eu inclinei o celular para
que ele pudesse ouvir.

— Vamos esclarecer uma coisa, Dorsey. — Qualquer


diversão deixou meu tom. — Você toca na minha garota e não
haverá nada neste mundo que vá me impedir de chegar a
você. E quando eu chegar, não vai ser uma morte rápida.
Porque, como diz Vault, a morte é um privilégio.

Dorsey fez uma pausa e por um segundo eu pensei que


ele tinha desligado, exceto por sua respiração crepitando.

— Alimente o tubarão com seu dedo. — disse ele, mas


não era para mim; era para alguém que estava com ele.

Não havia nada que eu pudesse fazer. Conhecia o seu


jogo e ceder a ele só iria piorar as coisas. Deck baixou a
cabeça e a vibração de raiva emanava de cima dele, mas ele
também sabia disso. Ele sabia que não podia ceder a Dorsey.

O destino de Ernie não parecia bom. Porra. Eu deveria


ter ido.

— Vou fazer um acordo. Dê-me a droga, os arquivos e a


garota e você pode ter seu homem de volta inteiro. Bem,
menos um dedo. — Ele riu.

— Que tal isso? Eu o encontro e em seguida, agradável e


lentamente, lhe cortarei com a minha faca. Farei isso por
semanas, para que o seu tubarão tenha refeições por um
tempo. E quando você me implorar por misericórdia, merda,
eu não terei misericórdia. A fazenda teve certeza disso.
Ele não riu desta vez; em vez disso, ouvi Deck e, em
seguida, suas palavras foram abafadas quando ele colocou a
mão sobre o receptor e falou com alguém.

— Você acabou de matar seu amigo.

— Eu não tenho amigos. — eu respondi calmamente.

Mas eu tinha. Eu tinha amigos. Tinha Ernie. Tinha.


Porra, Ernie.

Isso o fez parar e talvez ele estivesse começando a


entender que eu não daria nada do que ele pediu. Mas
poderia ter sido o sacrifício da vida de Ernie. Eu queria
perder minha merda. Queria atirar meu telefone através da
janela e destruir tudo à vista.

A raiva queimando através de mim estava me colocando


à beira de fazer algo estúpido e mandar tudo à merda.

— Tudo bem. — disse Dorsey e foi cedendo. — Você quer


ir a Vault, eu posso fazer isso acontecer.

Eu ri.

— Eu não preciso de você para fazer isso acontecer.


Posso fazer isso eu mesmo. Mas isso não é o que quero.

— Você já estaria aqui por si mesmo se você me


quisesse, por isso o meu palpite anterior está correto. E eu
quero a mesma coisa, então acredito que podemos chegar a
algum tipo de acordo.

— Estou ouvindo.
— Não por telefone. — disse Dorsey. — Encontre-me.
Em Vegas. Sem o cara ex-JTF2.

— Estou vivo hoje porque não me encontrei com meus


inimigos onde eles escolheram.

— Quem disse que nós somos inimigos, Kai? Estamos


apenas negociando pelo que nós dois queremos. E eu quero
os arquivos da droga.

— Ok.

— Dou-lhe a informação que você precisa e você me dá


os arquivos do Dr. Westbrook. — Eu esperava que ele
incluísse London, mas não o fez. — Posso encontrar outro
cientista, embora a menina teria feito as coisas mais fáceis.
Mas eu sei que você não vai desistir dela. Não depois do que
fez para libertá-la. Mas quero Connor e os comprimidos que
você roubou do laboratório.

Olhei para Deck, cuja carranca era feroz, as linhas em


torno de sua boca apertadas.

— Nada de Connor. E não em Vegas. Vou encontrá-lo


esta noite. Onze. Deve dar-lhe tempo suficiente para voar
para Toronto. Vinte e quatro horas, jantar no Spadina em
Niagara. Traga Ernie ou nada disso acontece. — Desliguei,
abri o telefone na palma da minha mão, tirei o cartão SIM e o
esmaguei no balcão.

— Você confia nele? — Perguntou Deck.


— Porra, não. — Mas Dorsey era tudo sobre poder e
dinheiro, o que significava que ele provavelmente estaria
disposto a desistir do membro do conselho que, obviamente,
tinha mais poder do que ele. — Mas ele quer a droga. Se ele a
controlar, não precisará da fazenda. Ele vai fazer o que foi
feito para Connor: usá-lo em homens que já são assassinos,
Transformá-los em máquinas. Não tenho certeza sobre o
condicionamento, embora. Essa era a experiência da Mãe.

— É ainda mais razão para não dar a ele.

Eu sorri.

— Minha moral é mais flexível do que a sua, Deck. Eu


não tenho escrúpulos em fazer um negócio e depois renegar.

O lábio de Deck contraiu.

— Eu quero ir com você. — disse Chess.

Tristan riu, ao qual ela deu um tapa no braço. Ele


apenas riu mais.

— Não vai acontecer, querida.

— Eu tenho que fazer alguma coisa, porra. — Enquanto


eu tinha paciência, estava aprendendo que Chess não tinha.

— Sim, você pode cuidar de mim. — Tristan dobrou o


ombro em sua barriga, em seguida, a tinha por cima do
ombro dentro de segundos. Ela gritou. Ele a ignorou e eles
foram embora.

— Como ela está? — Perguntou Deck.


Ele estava se referindo a London.

Vic serviu-se de um café, mas eu poderia dizer que ele


estava ouvindo, pela forma como sua cabeça ligeiramente
inclinou em nossa direção.

— Fingindo estar bem. Ela precisa estar longe disso.

Deck assentiu.

— Georgie também. Precisamos fazer acontecer a ideia


de Tristan. — Uma ideia estava por vir na jogada, se tudo
corresse como esperado com Dorsey. — As meninas não vão
gostar, mas se nós tivermos o que precisamos de Dorsey,
então teremos que agir e elas não podem fazer parte disso.

Deck e eu tivemos nossas diferenças, mas tínhamos


uma coisa em comum agora: manter as meninas seguras. Eu
sorri.

— Tristan está em uma guerra.

Deck riu, um som raro vindo dele.

— Tive um tempo com a minha. Ela sabe quando lutar e


quando não há chance do caralho e estou dando isso a ela.

London escolhia suas batalhas, mas eu não acho que


isso era uma que ela discutiria. Ela não era uma lutadora,
apesar das batalhas fodidas que teve para sobreviver. Ela se
mantinha firme quando preciso e quando acreditava em
alguma coisa. Mas sua suavidade e compaixão
transpareciam. Eu vi a forma como tratou o sem-teto, a forma
como se movia, o calor tranquilo que emanava dela.

Meu pau empurrou e eu grunhi, pegando o prato com o


sanduíche de salmão.

— Dê-me uma hora. — eu disse a Deck e Vic. — Então


nós falaremos sobre o que precisará acontecer hoje à noite.

Deck assentiu. Vic não fez nada, mas continuou


segurando firme seu copo de suco de laranja, enquanto se
inclinava contra o balcão de mármore.

Saí da cozinha e segui pela sala quando ouvi a água


correndo pelos tubos acima. London ainda estava no
chuveiro? Era uma porra de um longo tempo para estar no
banho.

Caminhei pela sala, subi as escadas, dois degraus de


cada vez, fui para o quarto de hóspedes, coloquei o prato
sobre a cômoda e continuei até o banheiro adjacente.

O ar era um escudo de neblina e ele girava em torno de


mim quando o ar mais frio do quarto se misturou com o
vapor úmido. Eu fechei a porta.

Eu não podia vê-la, mas a ouvi. Os soluços suaves de


um lugar a direita e não no chuveiro.

Andei pelo banheiro e a encontrei sentada no chão,


encostado na parede no canto. Foda.
Agachei-me na frente dela e minhas mãos pousaram em
seus joelhos que estavam dobrados e puxados perto de seu
corpo. Seu cabelo estava molhado e pingava sobre os ombros
nus, deslizando por sua pele para mergulhar na toalha de
algodão azul que usava.

— Eu nunca deveria ter fugido... — Ela parou e eu sabia


porque, porque não teria mudado o resultado. Como Raven,
ela não poderia ter feito nada para ajudar seu pai. Não
poderia nem mesmo se ajudar.

— Por que ele fez isso? Por que ele levou o tiro? — Mais
uma vez, não havia necessidade de responder e não acho que
ela quisesse. Estas eram perguntas que ela sabia as
respostas. Ele estava morrendo e queria fazer algo que fosse
incapaz de fazer, quando se envolveu com Vault... salvar a
sua filha.

Meu polegar acariciou seu joelho, enquanto estendi a


outra mão e enxuguei as lágrimas em seu rosto com meus
dedos. Ela finalmente olhou para mim com os olhos
avermelhados e meu coração, que pensei que estava tão
poluído e manchado que já não batia, estava machucado. Era
como se alguém estivesse o apertando com tanta força que ele
estava em agonia.

Ela abaixou a cabeça, o cabelo cobrindo o seu rosto.

— Ele morreu sabendo que você é uma mulher forte,


bonita. Você deu-lhe isso. Seu desejo final.
Ela ficou em silêncio por um longo tempo antes de
levantar a cabeça e dizer:

— Obrigada.

Eu cheguei para frente, enfiei alguns fios molhados


atrás da orelha e segurei-lhe o rosto, o polegar acariciando
em um vai e vem.

— Pelo quê?

— Por se importar. Sobre ele e eu. — Ela descansou a


mão sobre a minha em sua bochecha, deslizou-as para sua
boca e beijou minha mão. — Eles tentaram tirar isso de você,
mas eles não conseguiram.

Eles conseguiram. Levaram partes de mim que nunca


iriam voltar, mas ela me deu o maior presente: o de se
importar com alguém tão profundamente que essa pessoa
vivia e respirava dentro de você. Isso era muito mais poderoso
do que qualquer dor ou condicionamento que Vault tinha
feito para nós.

Ela me consumiu e talvez fosse um sentimento muito


perigoso por uma mulher, mas já era tarde demais. Sempre
foi tarde demais para parar.

— Eu quero que você tire a dor. — ela sussurrou. — Por


um tempo, me faça esquecer.

Quando eu não consegui me mover, ela se levantou com


sua mão na minha. Levantei-me e ela me guiou de volta para
o quarto, onde deixou cair a toalha e se deitou.
Olhei para ela por alguns segundos, para esta mulher
notável, pela qual eu iria até os confins da terra, por quem
mataria se alguém tentasse machucá-la. Eu era sempre
confiante, nunca pensava duas vezes antes de fazer o que
quisesse, mas vê-la deitada nua na cama, com o cabelo
molhado espalhado sobre o travesseiro e lábios ainda
tremendo de tanto chorar, vacilei. Eu não tive certeza porque
não queria machucá-la e não sabia se isso era o que ela
precisava agora.

— Kai. Tire a sua calça. — disse ela.

Levantei minhas sobrancelhas, com uma contração


suave no canto da minha boca.

— E se eu não achar que isso seja uma boa ideia?

Ela se apoiou em seus cotovelos, empurrando os seios e


meus olhos se viraram para eles por um segundo antes de
voltar ao meu rosto. Porra, ela sabia o que fazia para mim. Eu
estava dormindo com ela há cinco dias. A segurava. Meu pau
ficava duro feito pedra, mas não fazia nada sobre isso, porque
ela não precisava dessa parte de mim. Ela precisava de uma
parte que não sabia se eu tinha. A que a abraçou e acalmou
enquanto ela soluçava até dormir.

— Você acha.

— London...

Ela interrompeu e ela nunca me interrompia.


— Se eu te tocar agora e você estiver duro, então sei que
você me quer e assim eu conseguirei que me coma. Se você
não estiver duro, então podemos ficar aqui até que eu o faça
ficar duro e então, você poderá me comer.

Sorri, balançando a cabeça e ela também, mas eu ainda


via a dor persistente em seus olhos. E eu queria tirar isso. Eu
queria aliviar sua dor.

— Não há necessidade de me tocar para saber.

Minhas mãos foram para o meu cinto e o soltei, caindo


para o chão. Minha calça foi logo em seguida e levantei minha
camiseta sobre a cabeça e, em poucos segundos, fiquei nu ao
lado da cama.

Seus olhos percorreram o meu comprimento, hesitando


no meu pau latejante, então abaixei minhas mãos e o peguei.
Seu olhar subiu para o meu rosto.

— Fico duro só de pensar em você, Coração Valente. —


Eu me ajoelhei na cama e montei seu corpo. — Essa palavra
de quatro letras não é suficiente para mim.

— Por quê? — Ela perguntou, sem fôlego, quando me


estabeleci entre suas pernas que rapidamente envolveram em
torno dos meus quadris.

Inclinei-me como se eu estivesse prestes a beijá-la, em


seguida, sussurrei:

— Porque você é meu tudo.


Então, minha boca encontrou a dela.

Provei cada polegada dela, senti seu corpo tremer em


torno de mim, a ouvi gemer e meu nome. E eu o fiz duas
vezes antes de ter que me levantar e atender Deck e os caras.

Debrucei-me sobre ela e lhe dei um beijo luxurioso,


minha mão lentamente deslizando por seu lado, até o quadril,
e até a bunda onde eu apertei.

Ela gemeu e me beijou, lenta e preguiçosamente. Sua


mão moveu-se no meu braço, sobre meu ombro para a parte
de trás do meu pescoço, onde ela tomou um punhado de
cabelo e aproximou-me mais.

Foi a minha vez de gemer antes de me afastar, trazendo-


a comigo para uma posição sentada.

— Eu preciso fazer algo.

— Pensei que você estivesse fazendo.

Eu ri.

— Mmm, eu estava, mas não a coisa que preciso fazer.

Ela torceu o nariz e seu rosto caiu quando a realidade


bateu. Vi a devastação bater nela novamente quando fechou
os olhos com um suspiro irregular.
Ela demoraria um pouco antes de aceitar o que havia
acontecido com seu pai. Ela não iria esquecer, mas
aprenderia a viver com sua perda.

Beijei-a novamente, levantei-me, inclinei, peguei a


minha calça jeans do chão e minha camiseta.

— Estarei com Dorsey numa reunião. — Ela balançou


as pernas para o lado da cama, o lençol levantou para cobrir
os seios. — Ele nos dirá a localização da fazenda se
entregarmos a fórmula de seu pai e a droga confiscada do
laboratório. — Entrei no banheiro e joguei minhas roupas no
balcão, em seguida, disse:— Ele vai morrer em três horas.

— Umm, Kai... — Eu levantei minhas sobrancelhas para


o umm e ela deu um meio sorriso, revirando os olhos. —
Estive olhando para a fórmula nas notas do meu pai e há
algumas drogas poderosas lá. Acho que sei porque Connor
fazia tudo o que eles queriam e provavelmente nem sabe
disso.

Inclinei meu ombro contra a porta do banheiro e cruzei


os braços.

— A escopolamina. É feita a partir das sementes de uma


planta na Colômbia.

— Jesus Cristo. Respiração do Diabo. — Uma droga


perigosa, que pode ser administrada praticamente de
qualquer forma. Mas a forma mais fodida é pela respiração
das sementes tratadas quimicamente, que são moídas em
uma substância até o pó. Parecia cocaína, mas muito mais
mortal.

Ela assentiu com a cabeça.

— Ela rouba sua consciência, o seu livre-arbítrio e a


memória do que você fez. Está misturada com outros
produtos químicos, porém, um esteroide estaria fazendo
Connor se sentir mais forte. Eu não identifiquei todos eles
ainda, mas Kai, na forma que ele está usando, não é fácil de
obter. E meu pai... ele disse que um componente era difícil de
conseguir.

Levantei-me e fiquei reto.

— E ele teria necessitado um contato na Colômbia para


obtê-lo por ele.

Ela assentiu com a cabeça.

— É aí que a fazenda está, porra. Aí é onde ela está. —


Jesus, Colômbia.

Andei em direção a ela, tirei o lençol de sua mão e


joguei-o de lado, dobrando, a peguei no colo, com as mãos
sob sua bunda e comecei a carregá-la até o banheiro.

— Você é brilhante.

Ela mordeu o lábio, pernas curvas em torno da minha


bunda.

— E preciso comer minha brilhante cientista no


chuveiro.
Chutei a porta e fiz minha jogada com a minha garota.
Trotei para dentro da lanchonete, os sinos acima da
porta alertando minha presença, embora o lugar estivesse
vazio, mesmo atrás do balcão. Estive aqui antes e estávamos
reunidos aqui porque tinha uma excelente comida e eu estava
indo comer.

Uma hora mais cedo, antes de Deck e eu sairmos com


os arquivos do Dr. Westbrook para o encontro, London me
parou na porta.

Chess, Tristan, Josh, Tyler, Vic, Georgie e Deck ficaram


no saguão enquanto sua mão se curvou ao redor meu braço,
me puxando para uma parada e me virando. Então, seus
braços surgiram, enganchando meu pescoço, dedos
agrupados no meu cabelo. Ela puxou minha cabeça para a
dela, seus lábios encontraram os meus e toda a coisa foi
excitante pra caralho.

Eu nunca percebi o quão erótico era estar beijando uma


mulher. Nunca fiz isso antes de London. Nunca quis ou
precisei. Beijar era pessoal. Era mais do que sexo sem
emoção. Considerava muito mais poder porque ele ligava você
de uma maneira que o sexo não o fazia. Você poderia foder
uma garota e não se importar, mas para mim, você não
poderia beijar uma menina e não dar a mínima para ela.

Talvez eu fosse o único a pensar desta forma. Caras


beijavam meninas o tempo todo, sabendo que eles estavam lá
apenas para uma transa rápida. Mas eu não era como a
maioria dos caras.

Eu não me importava que todos estivessem olhando


para ela me beijar. Não me preocupava com nada no
momento, exceto ela vindo até mim e me beijando. Mas
quando nossas bocas finalmente se separam, ela me disse
que ela, London, me amava, para ter cuidado e não ser
atingido. Eu tinha respondido.

— Sempre, baby.

Nunca tive ninguém dando a mínima se eu voltaria de


uma atribuição. Se viveria ou morreria. London dava isso
para mim. London me fazia sentir vivo. Sua respiração era
minha. O coração dela. O corpo dela. A mente dela. Todos os
seus sentidos estavam em mim e me pertenciam. Eu faria
qualquer coisa por ela. Ela me beijou, com todo mundo
olhando, não se importando com isso e então, eu ia embora e
veria as lágrimas nos olhos da minha menina... porra, foi o
melhor presente que ela poderia ter me dado.

Agora, eu deslizei em uma cabine, o plástico vermelho


quando sentei ondulou, os sapatos da garçonete tiniram no
linóleo quando ela saiu do balcão e caminhou em minha
direção com uma jarra de café na mão. Uma meia desfiando,
unhas roídas e as mãos secas me passaram um menu.

— Precisa de um momento, bonitão? — Ela perguntou


com uma voz estridente.

Inclinei-me, um braço sobre a mesa e sorri para ela. Ela


estava na casa dos quarenta anos, cabelo louro-palha com
escuro, raízes com uma polegada em exibição e preso em um
coque que fazia seu rosto parecer ainda mais redondo do que
era. Ela tinha maquiagem demais e havia uma mancha
vermelha em seu dente da frente de seu batom que tinha
provavelmente apenas reaplicado quando entrei e ninguém
estava atrás do balcão.

— Já estive aqui antes e sei que a omelete é boa. Grega.


— O sino tocou e ela olhou por cima ombro. Eu não olhei.
Sabia que era Dorsey porque me posicionei em uma janela
onde eu poderia claramente ver os carros passando e uma
limusine tinha passado dez segundos atrás. Baixei a xícara
de café no lado oposto da mesa. — Outro café, querida. —
Pisquei e ela inclinou seu quadril, sorrindo, com um leve
rubor rastejando em suas bochechas.
— Claro que sim, bonitão.

Os sapatos de Dorsey tamborilaram enquanto ele


caminhava em minha direção e eu tirei um monte disso.
Uniforme. Estável. Despreocupado. O que significava que ele
estava muito, muito confiante. Mas, então, era por isso que
eu vim. Mais ainda, agora que eu tinha uma ideia de onde a
fazenda estava. Tyler e Vic estavam atualmente pesquisando
cada grande traficante de drogas conhecido na Colômbia que
se sabia que tinha a Respiração do Diabo.

A garçonete se afastou quando Dorsey sentou na cabine,


sua mão imediatamente envolvendo em torno da caneca de
café. Era uma muleta, um sinal sutil de insegurança que me
teve interiormente sorrindo.

Dorsey tinha dois homens de terno em pé no carro,


ambos com os braços cruzados e assistindo pela janela. Ele
também tinha um homem que entrou pela porta atrás dele e
se sentou em um banquinho giratório no balcão. Sim, ele
estava inseguro, como deveria estar. Ele sabia como eu fui
treinado e do que era capaz.

Pulei as gentilezas quando me recostei, meu braço


apoiado na parte de trás do assento.

— Ernie?

Dorsey tomou um gole de café e em seguida assentiu.


— Na parte de trás da limusine. — Eu não deixei o alívio
aparecer. Ele pôs sua caneca na mesa, pegou um guardanapo
debaixo dos talheres e limpou os lábios finos.

Ele usava um terno caro com abotoaduras cintilantes


como um farol e uma gravata cinza, com um peixe prateado
brilhando na luz e com o nó apertado em seu pescoço. Eu
nunca usava uma gravata. Odiava-as pela simples razão de
que eram uma armadilha em forma de laço ao redor de seu
pescoço e poderia facilmente matá-lo nas mãos certas. Não
precisava do meu fio quando um homem usava a porra de
gravata.

Dorsey era bonito o suficiente para seus sessenta e


poucos anos, aparência digna, com características nítidas e
cabelos curtos, grisalhos. Ele não tinha um problema em
conseguir as meninas que queria e, de acordo com o que eu
sabia sobre ele, gostava de morenas, altas e com um quarto
de sua idade.

— Ele vai morrer se não conseguir a droga. — Ele estava


falando sobre Connor. — Entregue-o e ele vai viver.

— Não é uma decisão minha.

Ele arqueou as sobrancelhas.

— De repente, você não está lutando? Interessante. E


um passo para baixo para você.

Eu sorri.

— Eu diria que é mais como um período de férias.


Ele riu, parecendo o baixo rugido de um motor de
arranque de um barco.

— Sempre gostei de você, Kai. Pensava que sua mãe lhe


deu muita rédea, especialmente com a situação relativa a
menina.

— Você está sob a suposição de que tenho rédeas,


Dorsey. — Abaixei minha voz. — Eu não tenho.

A garçonete deslizou minha omelete tostada na minha


frente.

— Posso servi-lo de mais alguma coisa?

— Não. Isso está bom, obrigado.

— Senhor, nada para você? — Ela perguntou a Dorsey.

— Não. — respondeu ele e a garçonete se afastou. — Foi


pedido a você para trazê-la. Você a escondeu em uma casa
que ninguém conhecia. — Ele parou quando eu não disse
nada, porque não havia nada a dizer. Eu fiz exatamente isso.
Mãe descobriu e compartilhou a informação com Dorsey. — E
então, você a explodiu.

Cavei a minha omelete com o garfo, o queijo, tomate e


azeitona vazando pelos lados.

— Você se importa com o que eu fiz à minha casa?

— Achei irônico, na verdade. — disse Dorsey. — Parece


que o fogo segue a menina.
Eu fui treinado para uma merda assim, para manter a
calma quando tudo o que eu queria era dar um soco com
meu punho em seu peito e arrancar seu coração. Ele sabia
sobre o incêndio na casa de London na universidade, quando
eu a arrastei para fora, semiconsciente. Ele sabia e eu estava
apostando que eu sabia o porquê... ele era o responsável.

Dei de ombros e dei outra mordida.

— Nós estamos enrolando? Gostaria de aproveitar a


minha refeição sem você.

Dorsey balançou a cabeça.

— A fazenda não foi ideia minha. Foi originalmente de


sua mãe.

Eu sabia. Dorsey não gostaria de pagar dinheiro para


alimentar as crianças e encarregados da fazenda por anos,
antes de ver algum resultado. Não, seria alguém muito mais
paciente que veria as recompensas a longo prazo.

Ele continuou:

— Ele acha que comanda esta organização desde que


assumiu a fazenda. A sua mãe começou no Afeganistão, mas
quando aquele garoto escapou, ‘Tristan’, ele assumiu o
controle. Ela deu-lhe mais controle e ele utilizou as crianças
para seu próprio propósito. — Ele inclinou-se mais perto,
baixando a voz, tendo a certeza de que ninguém mais estava
por perto. A garçonete estava ocupada conversando com seu
guarda-costas, que não estava prestando atenção em
qualquer coisa que ela dizia. — A droga é a nova direção.
Menos desperdício de tempo e mais controle.

Pelo olhar de Connor agora, controle era a palavra


errada. Cheguei ao meu bolso da frente da calça jeans e
deslizei o USB sobre a mesa em direção a ele.

— Faça o que quiser com isso. Eu não dou a mínima,


mas quero a fazenda e quem a comanda.

Ele acenou para seu guarda-costas que veio, pegou o


pen drive e o colocou em um pequeno laptop que estava em
cima do balcão. Dorsey fez um gesto para o carro e um dos
caras abriu a porta traseira com Ernie cambaleou para fora.
Outro cara seguiu-o e ele não parecia muito disposto. Bem,
era ele, mas estava uma bagunça trêmula de um esqueleto de
quase dois metros.

Meus olhos se voltaram para Ernie. Cristo. Ele foi


espancado e tinha uma atadura em sua mão direita. Eu mal
olhei para ele embora e dei outra mordida em minha omelete.

— Localização da fazenda? — Mantive meus olhos sobre


os guardas, em suas mãos e nos movimentos de Dorsey. Se
ele fosse fazer qualquer coisa, seria agora.

O sino tocou e o cara tremenda bagunça entrou ficando


ao lado do guarda-costas que olhava o laptop. Os olhos de
Dorsey estavam sobre ele. Teria sido um tempo doce —
chegar debaixo da mesa e cortar sua artéria femoral, mas
assassinato em público causaria problemas. Dorsey também
sabia disso.
Ele se virou para mim.

— Eu poderia ir embora agora mesmo.

Eu ri.

— Você poderia. Mas você não chegaria até o carro.

Seus olhos se deslocaram ao redor da lanchonete, mas


ele nunca iria vê-los. Deck era bom no que fazia, quase tão
bom quanto eu. Josh era o melhor atirador, mas eu não o
conhecia o suficiente para usá-lo como segurança. Em Deck
eu tinha meus olhos há anos.

— Me mate e acabará as suas chances de encontrar a


fazenda.

Esfaqueei algumas batatas fritas e as coloquei na minha


boca, lentamente respondendo.

— Talvez. Mas sempre gostei de matar idiotas. E você


está no topo da lista.

Ele endureceu o aperto em sua caneca, com as


sobrancelhas em espasmos.

— Você nunca vai encontrá-la, e, sem uma palavra


minha, ele virá atrás do pedaço de cientista idiota que você
está tão afeiçoado.

Empurrei meu prato de lado, inclinei-me para frente e


baixei a minha voz.
— Mencione minha menina novamente e minha faca
estará cortando seu pau. — Ele se encolheu, mas o idiota
teve a coragem de zombar. — Então... vou empurrá-lo em sua
garganta até sufocá-lo.

Ele teve inteligência para não dizer mais nada sobre


London.

Do canto do meu olho, o cara trêmulo de quase dois


metros acenou para Dorsey. O guarda-costas soltou de seu
braço e ele correu para fora do restaurante.

— Agora, você vai me dizer o nome do Colombiano que


supervisiona a fazenda?

Os olhos de Dorsey se arregalaram.

Eu sorri.

— Sim, eu sei que é na Colômbia.

— Então, por que me encontrou?

Ele se mexeu na cadeira e piscou os olhos mais do que o


habitual. Ele sabia que seu poder havia sido despojado.

— Porque é preciso tempo para descobrir o nome dele e


eu não gosto de perder tempo. Tenho um plano pronto para
assumir a Colômbia amanhã.

— Se eu lhe contar, sei que você pode me matar no


segundo que eu falar.

Eu ri.
— Sim. Mas você me conhece melhor do que isso,
Dorsey. Uma confusa execução pública é sua especialidade,
não a minha. — Eu me inclinei para frente abaixando minha
voz. — Nome.

— Moreno. Carlos Moreno. Mas eu não sei se a fazenda


está lá. Nenhum de nós já esteve lá, mas ele vive em Medellin.

Eu não precisava de mais nada, então joguei uma


centena sobre a mesa e me levantei.

— Você vai matá-lo? — Dorsey perguntou, antes que eu


desse cinco passos da mesa.

— Sim, eu vou matá-lo.

— Quanto tempo antes que ele esteja morto? — Ele


gaguejou e realmente não combinava com ele, mas eu sabia o
porquê. Ele estava com medo de Moreno e ele tinha uma boa
razão para estar. Eu conhecia o nome e ele era um traficante
de drogas com conexões e dinheiro suficiente para pagar
alguém olhando para suas atividades ilegais.

Continuei andando.

— Obrigado, querida. — eu disse para a garçonete.

— De nada, bonitão. — Ela sorriu e o batom em seu


dente da frente foi embora.

Peguei meu celular e digitei um texto para Deck.

Ernie?
Ele mandou uma mensagem de volta.

Seguro.

Eu saí, o ar fresco não fazendo nada para amenizar o


calor interno irradiando em mim. Dorsey era lodo. Ele queria
que eu fizesse seu trabalho sujo, lidando com Moreno e ele
sentaria no seu trono, provavelmente vendendo a droga ou
usando. Independentemente da forma como ele faria, era
sobre fazer uma porrada de dinheiro.

Não ia acontecer.

Eu mandei uma mensagem,

Acabe com ele.

Não havia necessidade dele responder, entrei em meu


carro e fui embora. Quando virei a esquina, tive um
vislumbre de Dorsey entrando em sua limusine.

Em seguida, um grande estrondo.


Uma raiva cega rasgou minhas entranhas como um
trem fora de controle, pontinhos vermelhos — calor me
perfurando de novo e de novo.

Eu não podia escapar.

As algemas estavam prendendo-me ao tubo cortado em


meu pulso, enquanto eu lutava para me libertar. Sangue
pingava nas pontas dos meus dedos do dano que eu tinha
feito para o meu pulso. A dor não era nada comparada com a
queimação.

Minha carne estava derretendo. Minha realidade estava


confusa e eu estava engasgado com o aperto no peito; isto
estava me estrangulando.
Se tivessem me dado uma faca, eu tinha certeza que
cortaria a minha própria mão para escapar. Minha mente
estava tão fodida que eu não sentia nada. Faria isso porque
era melhor do que ser preso novamente, melhor do que
queimar vivo.

O choque dentro de mim estava destruindo a frieza em


que eu vivi durante anos. Embora, vivido fosse a palavra
errada. Eu não vivi. Eu existi.

Estava enterrado sob um mar de escuridão. Não sabia


mais quem eu era ou o que merda estava fazendo. Não tinha
memórias. Cada dia era como se elas tivessem sido apagadas.
Alguns dias eu começava a vislumbrar o que estava fazendo e
então, desaparecia novamente.

Eu nunca acordava. Dias. Semanas. Meses. Não tinha


ideia do que fiz ou quanto tempo durou.

Mas desde que cheguei aqui, flashes de memórias do


meu passado me bateram. Eles iam e vinham
instantaneamente. Elas foderam com a minha cabeça porque
eu não sabia se eram reais ou não. Era mais fácil no escuro.
A escuridão não doía.

Mas cada dia era pior. Minha cabeça, uma bagunça


confusa de respingos de tinta que se espalhavam, ensopando
minha pele queimada.

A raiva era tão poderosa que estilhaçava as minhas


entranhas. Eu ansiava por alguma coisa e não sabia o quê.
Sabia que deveria pegar... eles me disseram para pegar... Eu
tinha ordens. Seguia as ordens, mas agora não podia mais.

— Porraaaaaa!

Puxei as algemas tão forte que um som agonizante baixo


saiu de minha garganta com a dor. Minha mão caiu flácida.
Eu quebrei o osso.

A porta se abriu.

Olhei na direção da porta, a dor esquecida quando eu


assisti.

— Merda. — disse um homem quando entrou na sala. —


Connor. Jesus.

Movi a cabeça, reconhecendo a voz, mas não consegui


descobrir onde ela se encaixava. Odiava estar preso, indefeso
contra tudo o que estava acontecendo com meu corpo. Era
como se eu tivesse morrido há anos e, de repente, pedaços de
mim estivessem acordando.

Meus olhos dispararam para a menina com listras cor


de rosa em seu cabelo, que entrou depois do cara com a arma
em seu quadril. Uma enorme sensação de algo...se chocou
contra mim. Balancei a cabeça, tentando limpar a
nebulosidade, mas tudo o que aconteceu foi enviar cacos de
dor em mim. Dor. Estive insensível a isso há anos e queria
isso de volta. Frio. Entorpecido. Sem memórias. Bastava fazer
o que me era dito, mas eu não conseguia sequer lembrar.
— É a abstinência. Talvez ele precise de uma outra
dose? — Outra garota estava na porta, atrás da menina com
as listras cor de rosa. — Parece que ele está ardendo em
febre. Ele precisa ser resfriado.

— Como podemos fazer isso? — Disse o cara que


agachou-se e rolou uma garrafa de água em direção a mim.
Inteligente. Minhas pernas estavam livres e eu poderia
facilmente quebrar o pescoço se ele chegasse muito perto.

— Deck e Kai devem estar de volta em breve e então nós


podemos dar-lhe uma pílula. — Eu não tinha ideia do que a
menina estava falando. Nunca a vi antes.

Mas o nome de Deck... Porra, Deck. Deck. Fechei meus


olhos e meu estômago revirou com a memória tentando
arrebentar com a barreira na minha mente. Rosnei baixo em
minha garganta quando ela bateu e bateu, mas nada
quebrou.

— Tem certeza que é uma boa ideia, Georgie? —


Perguntou o rapaz.

A menina com as listras cor de rosa respondeu.

— Não, eu não tenho certeza, cupcake. Mas se há uma


chance de que ele vá lembrar-se de algo de quem era... então
vale a pena.

— Ele não poderá ter a pílula. — a outra garota afirmou.


— Ele não tem ideia do que está fazendo quando a toma e
não tem nenhuma memória do que faz. Quando a droga
desaparecer, ele vai começar a lembrar do presente e do
passado. Embora, eu não saiba se ele vai se lembrar do que
vem fazendo nos anos que esteve sob o efeito.

— Ele poderia matar algumas pessoas e nem mesmo


saber disso? — Perguntou o rapaz.

A menina assentiu.

— A respiração do diabo faz alguém fazer o que eles lhe


dizem. Mas meu pressentimento é de que ele foi condicionado
a fazer tudo o que uma determinada pessoa lhe dizia.

— A mãe de Kai, talvez? Uma maldita máquina mortal.


— disse o cara.

Assisti o movimento da rosa da através da sala e meu


corpo ficou imóvel. Era a maneira que seus ombros eram
erguidos, a maneira como seus quadris balançavam, a forma
como seus passos eram tranquilos e cuidadosos. Era uma
combinação de tudo que enviou o chicote agonizante sem
corte em mim.

Caí de joelhos, minha mão livre segurando minha


cabeça. Rosnei, um grito profundo e baixo quando o meu
corpo lutou contra deixar tudo o que estava dentro.

— Connor! — Passos correram em minha direção.

— Georgie. Não.

Olhei para cima quando a dor desapareceu e vi o cara


agarrá-la pela cintura e puxá-la de volta.
Ela se esforçou em seus braços, o que me irritou e eu
não sabia por quê. Eu me senti... protetor com ela.

— Tyler. London. Fora! — uma voz profunda ordenou da


porta. — Georgie. Eu lhe disse para ficar fora daqui, porra.

O cara, Tyler, ainda tinha Georgie em suas mãos, mas


ele colocou as mãos para cima e a deixou ir. Ele e a outra
garota saíram, deixando a porta entreaberta.

— Deck.

Fiquei tenso quando ela disse seu nome. Ele era tão
familiar, mas era como tentar laçar uma nuvem escura.
Minha mente falhou de novo e de novo em encontrar
qualquer razão porque eu o conheceria. Não, eu o conhecia.
Eu a conhecia, também. Mas minha mente lutava contra mim
a cada etapa.

Ela estendeu um livro pequeno encadernado em couro e


meu estômago apertou. Apertei minha mandíbula quando a
memória do som das páginas virando acendeu em minha
mente, mas não foi um movimento súbito e suave. Era tão
alto que eu queria arrancar meus tímpanos. Uma caneta
rabiscando as páginas. Minha caneta. Minha mão.

— Nós não encontramos nada nele, mas talvez não


tenhamos terminado. Talvez seja apenas o que é, seus
pensamentos. — Ela estava de costas para mim enquanto
caminhava com confiança na direção da Deck, ainda na
porta. — E se eu lê-lo para ele?
— Ele nem está lúcido, querida.

Ela olhou para mim e eu olhei para trás.

— London diz que a medida que a droga desaparecer,


ele deve começar a lembrar de coisas de seu passado. Isso
não vai machucá-lo.

Eu não tinha tanta certeza sobre isso. Eu me


machuquei com ela estando perto de mim, me machuco
ouvindo a voz dela e eu me machucaria a cada segundo que
me mantivessem aqui.

O cara, Deck, olhou para mim e eu olhei para trás.


Respirei fundo várias vezes e acalmei a ira antes de sorrir.

— Eu vou lhe matar.

Georgie engasgou.

Deck deu um passo em direção a ela e colocou seu


braço em torno de seu abdômen, arrastando-a de volta contra
o seu peito. Meus olhos se estreitaram quando o mal-estar
deslocou em mim. Por que eu dou a mínima se ele estava
segurando-a perto dele?

Sorvete.

O tilintar de uma colher, uma vez que se estabeleceu na


tigela, antes de deslizar por uma mesa para ela. A garota. Ela
sentou-se com as pernas cruzadas em uma mesa de cozinha
e ele estava lá, o cara do comando. Ele deu-lhe a taça de
sorvete, com um olhar suave e gentil em seus olhos que não
combinava com o comando que estava no quarto agora.

Minha respiração acelerou quando a memória filtrou


através da queimação. Através da dor. Através da raiva. E
então isso foi embora e a escuridão voltou.

— Leia-o, querida. — ele disse quando a guiou até uma


cadeira no lado oposto da sala. Ele sentou-se e puxou-a em
seu colo. Ela sacudiu o livro, abriu e leu.

Minha tortura começou.


Corri pelo corredor, meu coração disparando, nervos
disparando como fios elétricos. Empurrei a porta do quarto
de hóspedes e ele estava em pé, de costas para mim, sem
camisa e flexionando os músculos quando colocou-a no
cabide. Ele estendeu a mão para prendê-la na barra de metal
no armário.

Eu sabia que ele sabia que eu estava lá, porque a


cabeça se virou ligeiramente na minha direção, não o
suficiente para me olhar, mas como se estivesse ouvindo. Eu
amava isso nele, tão perspicaz para tudo ao seu redor. Ele se
estabeleceu como um profundo cobertor calmante sobre mim.

— Você vai olhar para as minhas costas ou entrar e


fechar a porta para que eu possa lhe comer?
Minha respiração engatou e minha barriga embrulhou.
Ele fechou as portas do armário e, ainda sem olhar para mim,
desfez a fivela do cinto; em seguida, ouvi o zíper.

Fechei a porta do quarto.

— Foi tudo bem? Você está bem? — Ele estava parado,


sem sangue que eu pudesse ver, mas ainda tinha que
perguntar.

Sua calça caiu no chão, sua cueca boxer a seguiu. Ele


saiu delas e só então virou o rosto para mim.

E quando o fez, toda preocupação se dissipou porque ele


tinha aquele brilho em seus olhos e o sorriso arrogante em
sua boca.

— Você estava preocupada, Coração Valente? — Ele não


esperou por uma resposta, enquanto rondava em minha
direção. E era uma espreita, seus músculos contraindo a
cada passo. — Gosto que você se preocupe com meu bem-
estar.

Eu ainda estava tentando recuperar o fôlego, quando ele


segurou meu queixo e inclinou a cabeça para baixo e em
cima da minha.

— Nunca tive isso antes. — Seu polegar acariciou para


trás sobre o meu queixo. — Você está bem?

Ele acabou de encontrar um homem perigoso que


poderia tê-lo matado, provavelmente queria e Kai estava
preocupado comigo. Eu derreti.
— Estou feliz que você esteja de volta.

— Não foi o que eu perguntei. — Ele arqueou as


sobrancelhas, enquanto esperava pela minha resposta.

— Ok, bem, não realmente. — Tentei olhar para baixo,


mas ele não me permitiu tirar meu olhar do dele. — Mas
estou melhor, agora que você está de volta. — Seu corpo nu
estava tão perto de mim, o calor irradiando dele e se
afundando em mim. — Acho que não estou me sentindo
muito valente agora. Com o meu pai morto e você me
deixando, estava com muito medo de que você não fosse
voltar. Odiei esse sentimento. É como se eu estivesse
sufocando, como se os meus pulmões não estivessem
recebendo oxigênio suficiente, até vê-lo novamente. É
debilitante e não gosto de me sentir assim. Quero ser forte
como você.

Os nós dos dedos acariciaram o lado do meu rosto.

— Baby, você não sabe, mas sinto isso também. — Eu


derreti um pouco mais. — Você é corajosa pra caralho. Você é
uma sobrevivente. E estar com medo não significa que seja
fraca. Isto significa que está viva. Isso significa que você se
importa. — Seu outro braço deslizou por cima do meu ombro
para a parte de trás do meu pescoço, onde o deixou. — Nunca
perca isso. É parte da razão pela qual eu tinha que ter você.

Ele baixou a cabeça para frente e levemente beijou meus


lábios. Foi apenas um toque e fez a minha barriga cair em
antecipação por mais.
— Eu quero ir para casa, Kai. Um dia. Voltar para sua
casa. Gostava de lá. Gostava de tocar em todos os lugares
sabendo que suas mãos estavam sobre ela. Será que vamos
poder, um dia?

— Não. — respondeu ele.

Eu fiz uma careta, enrijecendo meu corpo.

— Por quê?

— Quando voltei e você tinha ido, eu a queimei. — Eu


engasguei. Ele não tinha me dito isso.

Kai, com as mãos sobre meus quadris, me apoiou na


parede, em seguida, beijou o lado do meu pescoço.

— Não sabia no momento se foi comprometida ou não,


mas não podia correr o risco.

— Mas você a construiu.

— Sim, querida. — Suas mãos deslizavam pelos meus


braços, então trancou meus pulsos e os levou até acima da
minha cabeça. — Eu vou construir uma outra. Para nós.

Ele acariciou minha nuca.

— Kai?

— Baby, podemos conversar mais tarde? Quero transar


com você agora. — Ele apertou seu pau duro em mim e eu
gemi, fechando os olhos.
— Mas... — Eu calei a boca quando ele levantou a
cabeça e olhou para mim. Era um olhar de advertência. Era o
olhar ‘fique tranquila e deixe-me comer você’. Era um olhar
que eu iria obedecer, porque queria que ele me comesse e
conhecendo Kai, se não o fizesse, ele ia sair e me deixaria
sofrer, querendo-o por horas. Então, minha pergunta sobre
se eu poderia ajudá-lo a construir uma casa iria esperar.

Isso foi quando sua boca reivindicou a minha e não


havia nada gentil sobre isso. Este era Kai deixando claro que
eu era sua.
London congelou e engasgou.

— Ernie?

Nós estávamos caminhando para a sala de jantar, onde


os rapazes estavam reunidos, discutindo o próximo passo.
London e eu dormimos aqui, algo que eu nunca fazia, mas
depois de conhecer Dorsey e ficar até a metade da noite com
meu pau na minha menina e minha língua provando sua
boceta, eu dormi.

Arqueei um meio sorriso quando vi o rosto de Ernie cair


e então o vermelho cobrir suas bochechas.

— Ei, linda.

Depois de passar um ano assistindo London, mais dois


anos me ajudando a encontrá-la, era óbvio que Ernie estava
apegado a ela. Ele usou essa palavra de cinco letras algumas
vezes também, ao falar sobre ela. Eu sabia que ele a via como
uma filha e o matou vê-la tão quebrada porque ele a
conhecera antes de se tornar Raven. Ele conhecia o seu
sorriso, sua bondade, sua generosidade. Apenas alguns
tomariam tempo para conversar com um cara sem-teto e dar-
lhe café da manhã todas as manhãs. Também o matou que
tivesse mentido sobre ser um mendigo.

Ela olhou para mim e depois para Ernie.

— Ernie. Eu não entendo. — Seus olhos se voltaram


para mim. — Vocês o conhecem?

— Após o incêndio, o contratei para vigiar você. Ele é um


ex-SEAL da Marinha. Sabe o que está fazendo e tinha os
olhos em você, tanto quando podia.

— Você tinha Ernie me vigiando?

Eu balancei a cabeça.

Seus olhos foram para Ernie novamente.

— Você me deve o valor de anos de cafés e croissants.

Então, ela saiu do meu braço e correu para Ernie, que


estava bastante desconfortável e culpado. Tyler, que estava
ao lado dele, afastou-se com um olhar divertido no rosto.

Ela parou a um pé de Ernie, em seguida, jogou os


braços ao redor dele. Demorou um segundo antes de seus
braços encontrarem o seu caminho em torno dela a abraçar
de volta, levantando-a levemente do chão quando fazia isso.

— Onde você esteve? Como você está? — Ela estremeceu


quando suas mãos deslizaram para baixo nos braços e notou
a sua mão enfaixada, com menos um dedo. — Meu Deus. O
que aconteceu?

Ernie olhou para mim e encolheu os ombros. Cabia a ele


compartilhar o que Dorsey fez. London passou por um
inferno, mas eu nunca menti para ela. Se ela me
perguntasse, lhe diria a verdade. Ernie não gostava de drama.
Ele era bastante simples, então ele compartilhou.

— Dorsey. Decidiu dar um lanche ao seu tubarão de


estimação. — A boca de London ficou boquiaberta, sua mão
indo para seu peito. Ele colocou a sua por cima. — Pensou
que ele tomou o meu dedo de atirar. Fodido, pegou a mão
errada. Eu sou canhoto. — Ele riu.

London não o fez. Em vez disso, ela puxou-o em seus


braços novamente. Eu a vi sussurrar alguma coisa, mas não
sabia o quê. Eu vi as bochechas de Ernie corarem
novamente.

Georgie e Chess chegaram, colocando canecas e uma


garrafa de café. Elas a colocaram na mesa da sala jantar.
Georgie foi para Deck e Chess para o laptop, onde ela
começou a se mover. Tristan, que estava encostado no
parapeito, franziu a testa e caminhou até ela, seu braço
serpenteando ao redor da sua cintura e puxando-a contra o
seu lado.

Ela ignorou-o quando seus dedos digitavam


furiosamente através do teclado.

— A mídia diz que o carro explodiu em um acidente.

— Eu disse que tinha que fazer isso acontecer. — disse


Deck.

— Oh, Deck sempre faz isso acontecer. — Georgie


proclamou, com os olhos cintilando para sua virilha.

Chess olhou por cima da tela do computador e riu. Ela


parou abruptamente quando olhou para Tristan. A porra do
cara estava olhando para ela como se quisesse comê-la viva.

London mudou-se para mim e acomodei minha mão na


parte de trás do pescoço dela antes de dizer:

— Com a Mãe e agora Dorsey mortos, proclamado


acidente ou não, Moreno estará em guarda.

— Colômbia. — Josh murmurou. — Ele é cuidadoso.


Dizem que você não pode nem mesmo ter um franco-atirador
em cima dele.

— Por que ele precisava de Vault? — Deck perguntou,


sua perna meio-engatada em cima da mesa. — Sua droga é
negócio sólido. Não precisa de contatos, ele já os tem.

— Mas ele precisa de medicamentos contrabandeados.


— eu disse.
— Jesus Cristo, as crianças. — disse Tyler. — Ele está
usando a porra de crianças para obter a merda sobre a
fronteira.

— É por isso que a fazenda foi transferida para a


Colômbia depois que você escapou. — Eu levantei o queixo
para Tristan. — Estou apostando que ele pagava a minha
mãe e Dorsey uma porcentagem. Ele tinha sua escolha de
crianças da fazenda para usar para o seu contrabando e
Vault tinha um lugar para treinar os assassinos.

— Mas Dorsey queria sair. — disse Deck.

— Os homens não gostam de outros homens que têm


mais poder. — disse Georgie. — Não os gananciosos com as
pessoas.

— Precisamos tirar as crianças dele, mudá-las. — Chess


fechou o laptop. — Nós temos que ir agora.

Este era o lugar onde a merda não ia ser fácil. Nós


estávamos saindo hoje, mas não todos nós.

Tristan, eu percebi, tinha porra de colhões porque não o


fez suave. Ele apenas disse a Chess o que estava
acontecendo.

— Você vai para a Grécia.

Chess fez uma careta.

— Desculpe?
Eu estava começando a gostar de Tristan, apesar de sua
arrogância. Ele não levaria a merda da minha irmã e minha
irmã ia ser um punhado. Seu coração foi sempre sua
fraqueza e ela desceria para Colômbia e correria no meio de
um tiroteio, a fim de ajudar essas crianças.

Deck e eu discutimos isso. Chamamos Tristan e


discutimos isso, então decidimos em uma localização. Tristan
não era uma marca para Moreno, por isso a sua casa na
Grécia era o ideal. Porra, não havia um lugar que fosse ideal,
mas era ideal quando chegamos nessa situação.

— Você me ouviu. — disse Tristan calmamente.

— Tristan. — respondeu minha irmã. — Não pense por


um segundo que você tem o direito de me dizer o que eu
posso ou não fazer.

Georgie começou a dizer algo quando Deck enviou-lhe


um olhar de advertência que a fez fechar a boca e franzir a
testa.

— Você não vai perto dessa merda. É a Colômbia. —


Tristan resmungou.

— Isto não está acontecendo. — Chess cruzou os


braços, postura ampla, defensiva e pronta para enfrentar o
CEO. Ele, é claro, parecia despreocupado que ela estivesse
chateada ou que estaria chateada por um tempo muito longo.

— O meu avião está programado para sair em duas


horas. — E ele foi inteligente para deixar para o último
segundo para dizer a ela. — Estamos saindo para o aeroporto
em dez.

— O QUÊ? — Ela gritou. — Tristan. Não. — Ela olhou ao


redor da sala, como se por ajuda, então se estabeleceu em
London.

London se mexeu desconfortavelmente ao meu lado e,


em seguida, seus olhos estavam em mim.

— Kai?

— Moreno virá atrás de nós, com tudo o que ele tem,


quando sairmos da fazenda. Ele não tomará isso com um
ânimo leve. — Olhei para Deck e ele me deu um aceno sutil.
— Chess, London e Georgie irão para a Grécia. Josh vai com
elas. Junto com Connor que vai ser sedado para a viagem. —
Eu me dirigi a London. — Preciso de você para continuar a
mantê-lo fora da droga.

Chess marchou para o quarto. Tristan não estava muito


atrás.

— Deck... — Georgie começou, mas foi interrompida por


ele.

— Não terei você perto disso por mais tempo. — Deck


parecia despreocupado que Georgie estivesse furiosa, seus
olhos gritantes, as bochechas aquecidas e vermelhas.

— Eu posso ajudar, porra. Kai, diga a ele.

Dei de ombros.
— Sem escolha. Eu disse que iria apoiá-lo sobre isso,
Georgie.

Sua boca se abriu e eu sabia porquê. Eu nunca a


chamei de Georgie. Ela sempre foi Chaos, mas a merda
mudou. Ela era a menina do Deck agora e eu não trabalhava
mais para Vault. Esta era uma questão de respeito e eu devia
para Deck.

— O quê? Você me treinou. Você me transformou em


Chaos e eu sei o que estou fazendo. Posso ajudar.

— Talvez. — eu disse. — Mas não sou eu que manda.


Não quando se trata de você. Não mais.

Seus olhos corriam de volta para Deck.

— Você está realmente fazendo isso?

Ele assentiu e sua carranca se aprofundou, mas seu


gesto se contradisse que quando ele colocou o cabelo atrás
seu ouvido e disse em uma voz baixa e calma.

— Preciso de você segura, baby. E preciso que você faça


isso por mim. Não posso fazer meu trabalho se estiver
preocupado com você. — Ela abriu a boca, mas ele não
terminou ainda. — Você pode ser a melhor assassina do
mundo e eu ainda a enviaria para Grécia. Isto não é sobre o
que você é capaz de fazer, querida. Isso é sobre deixar-me lhe
proteger.
London se mudou para perto de mim e quando eu olhei
para seu rosto, peguei a lágrima escorregando em sua
bochecha e o seu queixo.

Eu vi o momento que Georgie cedeu, quando os seus


ombros caíram e ela suspirou. Então ela disse:

— Parece que você só tem dez minutos para balançar


meu mundo, doce de ervilha.

Deck bufou carrancudo, mas seu lábio se contraiu


quando ele agarrou a mão dela e a puxou para o quarto.

London ainda tinha que dizer alguma coisa sobre ir para


a Grécia e eu sabia porquê. Ela entendeu porque isso tinha
que acontecer desta forma, porque ela esteve imersa em
merda. Não importa quão corajosa e forte ela era ou fingia
ser, ela precisava estar longe disso.

— Você está bem? — Eu perguntei a ela.

Ela ficou na ponta dos pés e beijou meus lábios


levemente.

— Eu não quero ir para a Colômbia e não quero que


você vá. Mas sei que você tem que fazer isso. — Sua mão
deslizou para o meu peito, sobre as cicatrizes que ela beijou e
lambeu a noite passada. — Você vai voltar para mim?

— Eu lhe disse desde no início que nunca mentiria para


você, então não estou começando agora. Não posso prometer
isso. Mas sou bom no que faço, então sim, eu espero voltar.
Levou um tempinho, mas depois ela sorriu e eu coloquei
minha mão na parte inferior das suas costas para guiá-la em
direção a porta.

— Ernie, me dê dez.

— Mais tarde, London. — disse Ernie.

De repente, ela fugiu de meus braços e correu para


Ernie, atirando-se nele. Ouvi sua potência quando ele
cambaleou um passo para trás. Eu sorri. Ernie riu.

— Seja cuidadoso. Amo você.

Ela o beijou na bochecha e voltou para mim. Liguei


nossas mãos e comecei a ir para as escadas quando ouvi o
ruído da água drenando através dos tubos.

Ela não percebeu, nem Tyler e Josh que estavam


discutindo sobre se era legal comer uma garota no primeiro
encontro. Tyler achava que era. Josh não.

— O que é isso? — Perguntou London, com a mão no


meu braço.

Poderia ser alguém tomando banho, mas não era um


fluxo suave de água. Isso soava muito poderoso como...

— Porra. Connor.

Jesus Cristo, ele quebrou o tubo onde estava algemado.

— Tyler! — eu gritei. — Leve-a. Josh, chame Deck.


Ernie, porta lateral. Connor está solto! — Eu fiz certo, Tyler
tinha London antes de eu ir para o porão. Ouvi Josh subindo
as escadas gritando por Deck e uma porta bateu. Ernie se
dirigiu para a porta lateral. Os vidros quebrados solidificavam
que estávamos demasiado atrasados.

Corri através da porta do porão para o quarto que ele


esteve dentro e mergulhei para a janela. Minha mão roçou o
tornozelo, mas ele estava muito rápido e escorregou da minha
mão.

— Connor. Merda. Você precisa do medicamento.

O desgraçado teve a coragem de se virar e se agachar


diante janela do porão e vi o diário que Deck me mostrou no
avião, agarrado firmemente em seu aperto. Ele se lembrava?
Por que merda ele pegou isso?

— Tire Georgie disso. — Porra, ele se lembrou dela. Ele


empurrou os olhos para a direita e eu sabia que tinha que ser
um dos caras que saíram pela porta da frente. Eu retirei
lentamente a minha faca.

— Connor! — Deck gritou. — Droga, Riot!

As sobrancelhas de Connor baixaram sobre seus olhos


por um segundo, como se ele estivesse com dor. Aproveitei a
oportunidade de sua distração e atirei a faca, não para matá-
lo, mas para impedi-lo antes que ele se matasse. Ela furou a
coxa onde a bala esteve, mas ele nem sequer pestanejou. Em
vez disso, ele olhou para mim, sorriu, em seguida, puxou a
faca de sua coxa e limpou o sangue na perna da calça.
Seus olhos selvagens passaram de mim para a direção
de Deck, em seguida, voltaram para mim.

— A garota. Onde ela está?

— Que garota? A quem você está se referindo? —


Perguntei.

— Riot. — A voz de Deck estava mais perto.

Connor acenou o diário.

— Ela não está aqui. Onde ela está? — Sua voz era
áspera e o suor escorria pelo seu rosto. O cara parecia como
se estivesse queimando em febre.

Eu sabia que haviam páginas arrancadas. Será que ele


escreveu sobre uma garota? Deck disse que estavam faltando
páginas. Mas por que as páginas teriam sido rasgadas?

— Nós vamos encontrá-la. — eu disse para acalmá-lo.

Ele agarrou seu cabelo com uma mão, apertando sua


mandíbula como se estivesse com dor.

— Ele a tem. Porra. Eu não posso lembrar. — Seus


olhos se estreitaram e escureceram e ele olhou assassino. —
Catalina.

Ouvi Deck se aproximando. Puxei lentamente uma faca


da minha bota, mas Connor deve ter notado porque seu corpo
ficou tenso.

— Deck. Agora.
Mas era tarde demais.

Connor foi embora.


Medellín, Colômbia.

Você está bem?

Era uma mensagem de texto de London. Eles tinham


chegado na Grécia dois dias antes e estavam à salvo na casa
de Tristan. De acordo com a mensagem de texto de London
quando eles chegaram, ela era exageradamente extravagante.
Ela me mandou uma foto da piscina com vista para a beira
de um precipício, mas não era a foto que eu queria. Eu a
queria no quarto onde ela estaria dormindo.

Eu teria isso mais tarde.


Sim, baby. Mas não vou ser capaz de contatá-la um
pouco.

Ok.

Ela fez um coração bonito e um xxx. Eu nunca tive isso


e gostei, seriamente.

London estava mais forte do que nunca. Não houve


discussão sobre eu a deixar, sobre ela me deixando, sobre
nós dois estarmos separados. Ela sabia que isso tinha que
acontecer e estava me dando o que eu precisava.

Ela mandou uma mensagem novamente.

Amo você. Seja cuidadoso.

Sempre, London.

Isso tinha um duplo significado e eu sabia que ela ia


entender isso. Eu a amaria sempre e sempre teria cuidado.

Coloquei meu telefone no meu bolso quando Tyler


abaixou e disse:

— Informação obtida de Catalina Moreno. Moreno se


casou com ela aos vinte anos e dizem que não foi por escolha.

Connor estava indo atrás de Catalina. A questão era por


quê? E ele se lembrava o suficiente para saber onde ela
estava e quem era ela?

Deck bufou, balançando a cabeça com desgosto.

— Família?
Tyler suspirou.

— Não restou nenhuma. Ela foi pagamento. O resto de


sua família foi morta, um irmão, mãe e pai. O pai tinha
trabalhado para Moreno, voava em um de seus aviões para
Miami, na rota do tráfico de drogas. Provavelmente roubou
dele, perdeu um carregamento, quem sabe. Mas sua família
pagou por qualquer coisa que aconteceu. Catalina vive
porque é linda e, de acordo com o meu contato, Moreno gosta
de coisas bonitas.

Cruzei os braços, encostado na porta de madeira antiga


da casa que estávamos escondidos enquanto esperava o
contato de Tyler chegar.

— Porra. — Vi essa merda, vi nesses dois anos que eu


procurei London. Ainda assim, não importa quantas vezes
você via meninas forçadas à prostituição, ou casamentos,
nunca se acostumava a isso.

Tyler continuou:

— Então, Connor a conheceu. Onde? Quando? Merda,


poderia ter sido no mês passado ou dez anos atrás, antes que
ela fosse levada.

Eu balancei minha cabeça.

— Ele tinha o diário em sua mão quando escapou da


casa. Ele fez um gesto para mim quando perguntou onde ela
estava. Ele tinha que tê-la conhecido antes que ela fosse pega
por Vault e aquelas páginas eram sobre ela.
— Sua cabeça também é uma merda séria. — afirmou
Vic.

Verdade. Sua memória era uma asneira da droga e nós


não sabíamos que merda estava acontecendo com ele ou
mesmo se ele ainda estava vivo.

Houve uma leve batida na porta e me empurrei para


longe, a minha mão sobre a minha faca. Ouvi os homens
atrás mim fazerem o mesmo. Armas prontas.

Eu a abri. Um homem pequeno, robusto, de quarenta e


poucos anos, pele escura e uma sobrancelha fortemente
enrugada quando franzia muito a testa, estava nervosamente
com o chapéu nas mãos, enquanto trocava os pesos de seus
pés. Eu agarrei o braço dele e arrastei-o para dentro.

Tyler tinha constatado um conhecido seu, que vivia em


Medellin, Colômbia. Esse conhecido tinha conhecido o pai de
Tyler, que foi um agente da DEA. O pai de Tyler passou muito
tempo na Colômbia, conversou muito sobre isso com Tyler,
enquanto ele estava crescendo. Foi por isso que Tyler se
alistou no exército.

— Moreno? As crianças? — Perguntei.

— Si. Si. — Ele acenou com a cabeça várias vezes.

Tyler se levantou, aproximou-se e deu um tapa nas


costas do cara.

— Juan. Bom finalmente conhecê-lo. Meu pai falou


muito bem de você. — Tyler mudou para o espanhol, falando
fluentemente. O homem respondeu — embora tivesse
gaguejado, obviamente com tanto medo de nós ou com medo
do que Moreno faria para a sua família se descobrisse que
Juan estava sendo um informante.

Mas se ele nos desse o que precisávamos, então ele, sua


esposa e filha iriam ser cuidados. Deck tinha contatos, mas
eles não eram como os meus. Eles estavam do lado certo da
lei que tinham organizado para tirar Juan e sua família da
Colômbia, em segurança.

Tyler traduziu o que eles estavam falando.

— Juan aqui fornece comida duas vezes por semana


para um dos edifícios de Moreno. Ele diz que na semana
passada havia dezesseis crianças e vinte seguranças com
fuzis. Mas ontem foi dito para Juan não entregar a comida.

— Eles estão se movendo. — eu disse.

Tyler assentiu.

— Tem sido a mesma rotina durante os últimos três


anos em que ele lhes forneceu. Cada terça-feira e sexta-feira,
nunca se pulou um dia.

— Precisamos fazer nosso movimento agora. — Vic


começou a reunir sua bagagem como fazia Ernie. Tristan
desligou o computador e o embalou.

— Ele sabe que estamos indo. — disse Deck. — Se ele


meter as crianças na selva, nós nunca as encontraremos. Não
temos tempo para espreitar furtivamente. Entraremos
mirando e carregados.

As crianças são mais importantes, mas Moreno não


daria a mínima por perder dezesseis crianças quando poderia
pegar mais vinte. Nosso plano era bater duro e levar as
crianças para fora, enquanto Tristan e Ernie teriam os olhos
na casa e nos movimentos de Moreno. Porque ele iria fazer
um movimento no segundo que ouvisse que sua fazenda
estava sendo invadida.

— Nós não sairemos da Colômbia até que ele esteja


morto. — eu disse.

Os homens assentiram. Estávamos todos de acordo


sobre isso. Moreno vivo era muito perigoso, ainda mais
sabendo que estavam atrás dele. A fundação de Vault estava
desmoronando, mas não tinha caído e Moreno era um bloco
da construção que tínhamos que esmagar, rápido, antes que
ele encontrasse outros para substituírem minha mãe e
Dorsey.

Fui até minha mochila, a abri e tirei um maço de


dinheiro. Dez mil. Era mais do que este homem
provavelmente viu em sua vida.

— Metade agora. Metade quando você nos mostrar onde.


— Joguei-lhe o dinheiro e sua boca estava então produzindo
um sorriso, revelando seus dentes tortos.

Tyler traduziu o que eu disse. Ele nos mostraria a


localização do edifício. Em seguida, ele iria levar sua família
para um local onde o contato de Deck estava esperando para
levá-los para fora.

— Si. Si.

Tyler falou com ele um pouco mais em espanhol e


depois lhe deu um tapa nas costas de novo.

— Vamos fazer acontecer. — Deck ordenou.

Eu não estava acostumado a trabalhar com outros


homens em um trabalho. Ernie era isso e foi estritamente
enquanto procurávamos por London, nunca tendo nada a ver
com missões para Vault.

Agora eu tinha Deck, Vic, Tyler, Ernie e Tristan, que


surpreendentemente sabia como lidar com uma arma e uma
faca. Mas fazia sentido; ele havia passado anos na fazenda
antes de Chess ajudá-lo a escapar.

O Cartel de Moreno tinha vários 'laboratórios na selva’


para sua operação de cocaína, mas de acordo com Juan,
contato de Tyler, havia um edifício pertencente a Moreno há
um quilômetro da propriedade extravagante onde ele residia.

Juan levou-nos ao telhado de um prédio de


apartamentos abandonados e apontou para o oeste através
de um beco. Era óbvio que era aquele que ele estava
apontando, o que tinha arame farpado acima dos muros de
tijolos de oito pés. Isto parecia uma fodida prisão, porra.

— Merda. — Eu caminhei até o edifício, com os olhos


sobre ‘a fazenda’. O inferno acontecia naquele lugar.
Escuridão por dias. Privação de alimento. O poço. Técnicas de
tortura utilizadas para ter certeza que não falaríamos se
fôssemos capturados durante uma missão. Se falhássemos,
não éramos bons o suficiente, então estávamos mortos.

E minha mãe começou isso. Sacrificando seus filhos.

Tyler estava falando rapidamente em espanhol e Juan


assentindo com frequência. Eu não tinha ideia do que eles
estavam dizendo, mas peguei a palavra estranha.

Deck e seus homens não fodiam por aí e, durante o voo


no avião de carga de Deck, nós discutimos todos os
resultados e o que levava vantagem sobre cada um. Tínhamos
um plano para o edifício que sabíamos pertencer a Moreno,
mas não pudemos confirmar até Juan. Agora, tínhamos a
confirmação.

Tyler apertou a mão de Juan.

— Bom homem, Juan.

Eu abri minha bolsa e lhe passei os outros dez mil e


Juan sorriu, então decolou.

— Não tenho certeza do que é pior, o calor seco do


Afeganistão ou esse tempo pegajoso e úmido daqui. — disse
Tyler quando passou a mão pela testa úmida. — Pensando
bem, eu gosto de areia agora.

— Você pode pensar de forma diferente sentado em um


poço no calor seco. — Tristan murmurou.

Meus olhos se encontraram com os seus e havia um


respeito mútuo entre nós. Tristan havia passado anos
naquela fazenda, no Afeganistão. Ele sabia o que era e, em
vez de enterrar o que aconteceu com ele, o desenraizou e
passou sua vida fazendo algo de si, a fim de salvar Chess e
fechar Vault.

Tive alguma dificuldade no início, mas estava


começando a respeitar cada um deles. Estava começando a
dar alguma coisa para eles, também.

— Nós fazemos o nosso movimento agora. Não ao


anoitecer. —pedi com sobrancelhas levantadas, todos os
olhos se mudando para mim. — Moreno não vai dar a mínima
para as crianças, mesmo que elas estejam condicionadas por
anos. Ele se preocupa com o modo como os outros o veem.
Nós tomamos sua fazenda, ele fica com seu orgulho ferido e
fica parecendo vulnerável. É assim que o jogo vai rolar.

— Concordo. — disse Vic. Agachando-se ao lado do


edifício com seus binóculos, enquanto inspecionava o
quarteirão. — Dê-me uma hora para habituar. — Ele estava à
procura de pontos vulneráveis, encontrando o hábito dos
cães de guarda no complexo.
Ernie estava conversando com Tristan e eles estavam
colocando seus fones de ouvido. Ernie era bom. Ele sabia o
que essa operação implicava e o que aconteceria se tudo
desse errado.

Deck descarregou a suas ferramentas.

— Tudo bem. — ele olhou para seu relógio — duas


horas.

Tyler deixou cair sua bolsa, pegou seu laptop e o pôs


para carregar.

Olhei para o prédio e apesar do calor, o frio da


familiaridade deste lugar me bateu.

— Eu posso dizer-lhe onde estará a segunda dificuldade


— seguranças com rádio. — Tyler parou de digitar. —
Conheço cada polegada deste lugar. — Eu tinha dezesseis
anos quando a fazenda se mudou para cá, então passei dois
anos aqui antes de ser designado à Georgie. — Houve silêncio
por alguns segundos. Então, me virei e o queixo de Deck se
levantou para mim e começou a andar para longe do grupo.
Eu o segui.

— Você vai estar sólido? — Perguntou.

Endureci, sobrancelhas subindo com a sua pergunta,


mas eu sabia de onde ela tinha vindo. Merda... a podridão
acontecia aqui.

— Eu estou bem.
Deck acenou com a cabeça, as sobrancelhas baixas,
enquanto continuava a andar até chegar ao lado oposto da
construção.

— Não confio em você Kai e os meus homens estão


nisso, sem muita informação. E nós vamos, porque há
crianças envolvidas e perdê-las não é uma opção. A vida de
Moreno não é uma opção. — Sua postura era ampla quando
ele encontrou meus olhos, resolutos e diretos. — Se você tem
algo a compartilhar, faça agora.

Deck tinha homens que cuidavam dele, porque ele se


preocupava. Era o oposto completo do que eu estava
acostumado. Operadores de Vault faziam missões por conta
própria e não nos importávamos um com o outro, porque
éramos condicionados a não nos importar. Finalizar uma
tarefa ou missão tinha precedência sobre todo resto — até
mesmo vidas.

E isso desceu pesadamente em mim. Ele me interpretou


errado e ele estava errado.

Mas eu tinha algo a compartilhar.

— London. — Deck assentiu. — Qualquer coisa que me


acontecer, certifique-se de que ela permaneça segura.

Sua carranca se aprofundou.

— Todo mundo sairá vivo. Você pode cuidar de sua


própria mulher, porra. — Ele me deu um tapa nas costas e foi
um gesto surpreendente vindo do Deck. — Não gosto de você
Kai, mas te entendo agora. Então, vou deixá-lo viver e ficar na
sua retaguarda.

Os cantos dos meus lábios se curvaram.

— Não vai me convidar para o café da manhã de


domingo na sua casa?

Deck bufou.

— Porra, não.

Vic abateu os dois caras no telhado com seu rifle antes


de entrarmos. Então, atirou o grampo ligando para o telhado
com a besta e, em poucos segundos, nós nos alinhamos,
entrando no telhado do complexo. Como era dia claro, não
tínhamos cobertura e estar sem cobertura era uma merda,
porque ficávamos visíveis a dois guardas.

Nós fomos nesta posição porque Vic disse que eles eram
uns filhos da puta preguiçosos que fumavam muito e não se
preocupavam em olhar durante a hora que ele estava
assistindo o complexo.

— Desembarcados. — disse Deck em seu fone de ouvido.

Vic respondeu:

— Limpo.
Tyler repetiu:

— Limpo.

Deck e eu nos mantivemos abaixados e fizemos o nosso


caminho para o lado norte do telhado. Eu tinha a corda e o
gancho enganchados dentro de segundos antes de descer
sobre o lado. Caí no chão e tinha a minha faca no lado da
garganta do guarda antes de seu dedo encostar no gatilho de
seu rifle.

— Limpo. — eu disse e Deck desceu silenciosamente


aterrissando ao meu lado. Arrastei o corpo através da porta e
joguei-o na primeira à esquerda, que era uma sala de aula.

— Eu estou dentro, — disse Vic. Ele estava vindo do Sul,


enquanto Tyler tinha os olhos na frente.

— Norte limpo. — disse Deck.

Corredores pouco iluminados, cheirando a mofo úmido e


extremamente quentes, sem circulação. Balancei minha
cabeça quando os cheiros familiares me bateram e cambaleei,
colocando minha mão na parede. Eu tinha sido complacente
no tempo que estava me mudando para cá, mas a dor não
tinha parado.

Fui arrastado pelo corredor, as solas dos meus pés


machucadas e depois espancado, até que eu não podia mais
andar.
— Kai. — Eu me virei quando uma mão desceu sobre o
meu ombro. Tive a minha faca na garganta de Deck dentro de
um milissegundo. Deck. Porra. Não era um manipulador.

— Merda. — Eu me empurrei para longe dele, mas ele


não parecia preocupado; em vez disso, ele balançou a cabeça
e fez um gesto para me mostrar o caminho.

— Dois jipes saíram da casa. — afirmou Ernie. — Com


pressa. Poderia ser Moreno dentro do segundo veículo. Poder
de fogo sério.

Que porra é essa? Não havia nenhuma maneira deles


terem nos localizado tão rápido. Não houve nenhum alarme
ou tiros.

— Olhos na entrada. — disse Tyler no fone de ouvido.

Deck e eu corremos pelo corredor até a sala onde


estavam os disjuntores elétricos. Deck estava desligando a
energia, de modo que os guardas teriam que trancar as
crianças em um quarto até eles investigarem a questão.

Deck levantou o queixo e entrou. Continuei indo,


puxando a segunda faca da bainha no meu quadril esquerdo,
quando me aproximei da porta que dava para o pátio no
centro do complexo, onde os poços estavam localizados e
onde nós treinávamos com armas.

As luzes piscaram um segundo antes de um baque alto


quando a energia foi cortada.
Fiquei com a minha mão no trinco, esperando por Vic e
Deck.

Com as minhas costas contra a parede, ouvi passos


rápidos que vinham do Sul e em seguida, Vic estava ao meu
lado. Ele usava calça preta e uma camiseta preta confortável
que estava coberta por seu colete. Uma pistola descansava
em seu quadril direito e ele tinha em suas mãos um rifle.

Precisávamos dar tempo suficiente para eles reunirem


as crianças e trancá-las. Deck desceu o corredor e se juntou
a nós.

Eu levantei minha mão e contei os passos que escutei


do outro lado da porta.

Um.

Dois.

Três.

Dei um pequeno aceno de cabeça, abrupto, para Vic, em


seguida, abri a porta e rolei para a direita quando Vic atirou
no primeiro cara, Deck no segundo e minha faca no terceiro.

Estava em pé e correndo em direção a um guarda já


atirando em nós. Atirei minha faca enquanto corria. Eu não
parei quando passei por ele, mas puxei a faca de seu peito e
continuei correndo. Conhecia este lugar como a palma da
minha mão. Nada tinha mudado. Sabia onde os poços
estavam e onde eu tinha cobertura. O que ferrou comigo foi a
esmagadora sensação de pavor que estava fodendo com a
minha cabeça.

As imagens. A sensação de um punho no meu abdômen


que rasgava minhas entranhas. Este lugar me deixava
doente. Era sujo e cruel o que eles fizeram conosco, o que
eles ainda estavam fazendo, o que planejavam fazer com a
droga.

— Jeeps vindo em sua direção. Dois minutos. — afirmou


Ernie. — Nós estamos um minuto atrás.

Vic estava levando os homens para fora, mantendo o


meu caminho livre, quando eu segui pelo pátio para a porta
que dava em uma grande sala, onde eles nos colocavam
quando havia algum problema.

Eu olhei para a direita e tive um vislumbre de Deck


correndo no outro lado do quintal, paralelo a mim. Era a
única vez que provavelmente estaríamos lado a lado, os
nossos caminhos na vida eram os mesmos e, ainda assim,
muito diferentes.

— Pátio. Limpo. — disse Vic.

Fiz um gesto para a porta com um aceno de cabeça e o


queixo de Deck posicionou-se de um lado. Vic ficou onde
estava, observando qualquer tentativa de ataque.

Eu abri a porta com um chute e a madeira se desfez.


Deck e eu ficamos parados para uma contagem de cinco
e quando não houve nenhum som entrei com Deck me dando
cobertura.

— Jesus. — Deck murmurou.

Algumas das crianças estavam aterrorizados, magras


para caralho, sujas, pálidas e adivinhei que teriam de dez a
14 anos de idade. Outras crianças não tiveram nenhuma
reação à nossa presença, estavam dormentes. Eu conhecia o
sentimento. Já não se importavam mais. Tempo e medo não
existiam mais.

— Pacote localizado. — Deck olhou por cima do ombro


para Vic, que correu em nossa direção.

— O alvo aterrissou. — disse a voz de Tyler no fone de


ouvido. — Repito, alvo aterrissou. Uma grande quantidade de
poder de fogo.

Eu olhei para as crianças.

— Afastem-se da porta. Contra a parede. — Fiz um gesto


com as mãos, incerto se todos eles entenderiam inglês. Mas a
fazenda não era estritamente sobre o combate e dor e tortura,
nós tivemos intensa escolaridade. Tínhamos de ser capazes
de nos comunicarmos e misturarmos com alguns dos homens
mais poderosos do mundo, criminosos ou não.

Algumas das crianças mais velhas se moveram primeiro


e as outras as seguiram.

— Há mais de vocês aqui? — Perguntou Deck.


Um menino novo, provavelmente o menor, deu um
passo adiante. Ele não parecia colombiano; tinha cabelos
loiros e olhos azuis brilhantes. Também parecia não ter medo
de nós.

— No poço. Trick.

— Trick?

O garoto balançou a cabeça e apontou para um dos


poços no lado esquerdo do quintal.

— Trick é ruim o tempo todo. Ele está sempre no poço.

— Jesus. — eu murmurei. Porque eu sabia o que era e,


dependendo da época do ano, o poço estava quente, apertado
e sufocante. Se você entrasse em pânico, só ficava pior,
porque você não conseguia respirar e se gritasse, teria mais
dias no poço.

Deck já estava se movendo para o poço onde o garoto


indicou. Minha cabeça se levantou. Passo a Passo. Muitos
deles estavam correndo. Empurrei as crianças de volta para
longe da porta.

— Voltem e fiquem abaixados.

Nós planejamos ter tempo de levar as crianças para fora


antes de Moreno chegar, mas ele estaria aqui em minutos. De
jeito nenhum ele poderia estar aqui em poucos minutos após
tomarmos o lugar. Alguém lhe disse que estávamos vindo.

— Tyler, alvo confirmado? — Perguntou Deck.


Houve silêncio no rádio.

— Porra. Tyler.

Nenhuma coisa.

— Vic. — disse Deck.

— Sobre ele. — Vic estava fora da porta e foi embora.

— Deck. Nós faremos isso. Agora. — Ele olhou para


mim, fez uma pausa e então assentiu.

Moreno era o alvo e ele veio aqui com uma porrada de


poder de fogo. Poder de fogo que Deck e eu não poderíamos
lidar sem que as crianças potencialmente se machucassem
em uma tempestade de merda de tiros. Precisávamos
derrubá-lo de forma controlada.

Deck correu para a parede, agarrou uma das escadas e


a abaixou para o poço mais próximo a ele. Ele me deu um
aceno abrupto e, em seguida, desapareceu no seu interior.

Eu estava no meio do quintal, quando os homens de


Moreno invadiram o local. Nunca me rendi antes, mas eu
estava no quintal, onde passei dois anos de minha vida e
percebi que me rendi — a Vault.

Joguei a faca a minha direita e levantei minhas mãos.


Dois indivíduos cobriam a porta enquanto cinco cuidavam do
perímetro do quintal. Havia mais três homens que cercavam
um homem — Moreno.
Eles caminharam em minha direção e pararam a cinco
pés de distância com as armas apontadas para o meu peito.

Moreno era alto e provavelmente por isso que não


parecia acima do peso, mas ele tinha uma barriga que
pairava sobre o cinto na calça. Seu cabelo era untado para
trás e enrolava um pouco na curva de seu pescoço. Ele
também tinha o nariz comprido com uma cicatriz no centro e
cruéis olhos castanhos redondos.

Seu rosto estava marcado pelo sol e o fazia parecer mais


velho que seus cinquenta e cinco anos. Ele usava calça preta
e uma camisa branca de algodão que tinha os três primeiros
botões abertos, revelando seus dois colares de ouro, um deles
com uma cruz e outro com uma esmeralda de grandes
dimensões.

— Moreno. — Eu baixei minhas mãos e um dos homens


fez um gesto com a arma e as levantei novamente.

Reconheci os colares de quando eu era criança. Este foi


o homem que olhou para mim no poço. O homem que esteve
com os outros membros de Vault, vendo meu pai ser
torturado e depois morto por minha mãe. Quem viu minha
irmã apanhar.

Treinei durante anos até aprender a esconder minha


raiva e entorpecer-me, mas porra, eu queria matar o
desgraçado. Queria que ele morresse da forma como meu pai
morreu. Apagar aquele sorriso no rosto e vê-lo implorando
para deixá-lo viver.
Apertei meu queixo e forcei um sorriso.

— Como você tem estado? Já faz um tempo, Moreno.

— Sim. Houve um pequeno contratempo... Sua irmã. —


Ele estalou a língua. — A deslealdade que você e ela vêm
mostrando para aqueles que levantaram vocês. Dada as
circunstâncias.

Eu tinha muito a dizer sobre isso, mas as palavras não


tinham nenhum significado para ele e só lhe daria poder. Em
vez disso, ignorei a ordem do guarda para manter minhas
mãos para cima e as baixei. Eles se esticaram e olharam para
Moreno, que apenas deu de ombros. Bastardo arrogante.

— Você poderia ter feito melhor, Kai. Esperava algo um


pouco mais criativo de você. Tomando minha esposa e me
dizendo para encontrá-lo aqui, ou você iria matá-la? — Ele
riu. — O que... acha que eu viria sozinho? Que eu o deixaria
viver depois que entregasse minha esposa? O que você quer?
Dinheiro? Drogas? Poder?

Decidi blefar como se soubesse do que ele estava falando


quando me pareceu uma vantagem.

— Ah, a bela Catalina. Um pouco jovem para você, não


é?

Isso o irritou, vi os dedos de sua mão direita se


contraírem.

— Você achou que entraria em meu país, na minha


casa, mataria vinte dos meus homens, sairia com a minha
esposa e ficaria por isso mesmo? — Sua casa? Matar seus
homens? Ernie e Tristan tinham os olhos nele. Eles não
estavam indo bem.

Ele riu e o som estridente ecoou pelas paredes frias, do


quintal vazio.

— Você se atreve a me ameaçar? Ameaçar minha


esposa? Você não deve gostar muito de sua família.

Eu ri.

— Eu matei minha própria mãe. E como você sabe, meu


pai já está morto.

Ele deu um passo mais perto e assim fizeram os idiotas


com as armas apontadas para mim.

— E sobre a garota... qual é o nome dela? London. E sua


irmã. As duas seriam agradáveis adições à minha cama.

Eu olhei, com uma contração em minha mandíbula e a


tensão no meu corpo crescendo. Eu não queria nem o nome
dela passando pelos seus lábios nojentos.

Houve um ligeiro movimento acima de mim, à esquerda,


na parede em torno do estaleiro. Eu não olhei para evitar
chamar a atenção, mas Tristan e Ernie estavam se colocando
em posição. Eu não tinha ideia do que aconteceu a Vic e
Tyler.

Um homem como Moreno não deixaria barato, muito


menos deixaria alguém vivo e com certeza não me daria
dinheiro, poder ou drogas em troca da devolução da esposa.
Mas o que eu não consegui descobrir foi porque ele pensava
que eu tinha a sua esposa. No entanto, tinha uma ideia de
com quem a mulher estava.

— Minha esposa, Kai.

Eu precisava dar mais alguns minutos a Vic e Tyler,


mas não sabia sequer se ainda estavam vivos.

— Duvido muito que sua esposa queira voltar para você.

Ele sorriu e foi um sorriso cruel.

— Pegue uma das crianças. — Moreno ordenou ao


homem à sua direita.

Porra. Em poucos segundos, isso ficaria muito feio.

Pelo canto do olho, vi o movimento no poço, ou melhor,


a beira do poço e não era no que Deck esperava. Trick? Mas
como o garoto chegou ali sem uma escada?

Então vi o rifle.

Que porra é essa? Mantive minha expressão tranquila,


mas quando os olhos familiares apareceram sobre a beirada
de repente, descobri que merda estava acontecendo.

Connor.

Jesus. Ele estava aqui. Em um dos poços. Esperando


Catalina. Ele era o único que poderia ter posto as mãos na
esposa de Moreno. Foi ele quem matou os vinte homens de
Moreno e em seguida, veio aqui já esperando a chegada dele.
O que ele provavelmente não esperava era nos ver ali.

Nossos olhos se encontraram por uma fração de


segundo. Os seus estavam vermelhos, mas o olhar selvagem
tinha estabilizado. Dei o sinal sabendo que se ainda estavam
vivos, Deck, Ernie, Tristan, Vic e Tyler, poderiam me ouvir no
fone de ouvido.

— Está na hora.

Então, a merda explodiu quando mergulhei sobre


Moreno, contando com Deck e os outros para tirar os homens
dele fora de combate. Senti os estilhaços nas pernas das
minhas calças com impacto de balas no chão ao meu lado.

Foi um caos quando Deck e Connor dispararam dos


poços, Ernie e Tristan apareceram acima.

Moreno fez um mergulho para o lado de onde as


crianças estavam. Eu o atingi primeiro e bati nele. Nós
lutamos ferozmente no chão.

Agarrei-o pela camisa, puxei-o para cima e girei em


torno dele antes de meter meu punho em sua mandíbula.
Então de novo. E de novo. O sangue espirrou em meu rosto e
em meus olhos, mas não me importei porque tudo que eu via
era vermelho.

O punho de Moreno bateu em meu rosto e minha cabeça


foi jogada para trás. Estendi a mão para a faca na bota.
Quando minha mão se curvou ao redor do punho, houve uma
dor aguda no meu lado. Eu sabia que era um golpe de faca,
mas nada me impediria de acabar com a vida daquele
homem.

Puxei minha faca e a coloquei na garganta dele antes


que desse a próxima respiração.

Ele se acalmou.

Eu estava em cima dele, então algo furou a lateral do


meu corpo e o calor do sangue encharcou a minha camisa.

— Estava querendo fazer isso há muito tempo.

Ele sorriu.

— Você não é melhor do que eu, Kai.

Foi a minha vez de sorrir.

— Na verdade, eu sou melhor. Porque estou com a faca


na sua garganta. E terei um grande prazer de matar você.

O sorriso dele esmoreceu e seus olhos se arregalaram.

— Eu vou lhe dar tudo o que quiser...

Não me importei em ouvir o que ele poderia trocar pela


própria vida, porque nada me impediria de matá-lo. Mas não
foi a faca em sua garganta que o matou. Foi a outra que
agarrei na terra de onde joguei antes, quando ‘me rendi’.

Eu afastei um pouco o meu corpo do dele antes de o


esfaquear entre as costelas.
Ele resmungou surpreso, o rosto contorcido de agonia.
Minha mão ainda no punho. E a empurrei ainda mais. O
sangue jorrou de seu nariz e boca e um som estridente
escapou de sua garganta.

Eu me afastei dele, mas montei seu corpo enquanto o


olhava morrer.

Suas mãos foram para a faca ainda alojada em seu


peito, como se para retirá-la. Então, ficou mole e seus braços
caíram para os lados, olhos arregalados e em branco.

— Vocês não terminaram ainda? — Era Tyler sobre o


fone de ouvido. — O corpo vai começar a feder no local.

Vic bufou então disse:

— Arraste sua bunda até a sala de aula.

— Você está bem, Tyler? — Perguntou Deck.

— Bem, chefe. Só algumas manchas de sangue.


Desaparecendo, assim você pode querer se apressar.

Afastei-me de Moreno e notei Connor ao meu lado


observando-o, com um olhar assassino nos olhos dele. Ele
andou até o corpo, desembainhou sua faca e esfaqueou
Moreno na garganta; depois limpou a faca na manga de
Moreno e colocou-a de volta em sua bainha de couro.

— Você pegou a esposa dele? — Perguntei.

Ele balançou a cabeça, mas seus olhos ainda estavam


em Moreno. Puro ódio queimando e escapando. Eu estava
incerto como Moreno e sua esposa brincaram com a vida de
Connor, mas não deve ter sido bom, Connor, obviamente,
tinha algumas de suas memórias de volta, embora eu
estivesse incerto de quais partes.

Vic tinha saído para buscar Tyler. Enquanto Ernie


verificava os corpos, Deck e Tristan afastaram as crianças e
conversavam com elas. Bem, Tristan falou, mas seu tom era
tranquilizador, nada como o arrogante Playboy que Georgie se
queixou ao entrar em sua cafeteria quando ela fora designada
a fazer contato.

Quando o último dos garotos saiu da sala, os olhos de


Connor desviaram de Moreno para eles. Um lampejo de
suavidade antes que endurecessem novamente. Tristan
baixou uma escada em um buraco no lado norte do pátio e
desceu para pegar o garoto, Trick.

Deck correu até Connor e disse-lhe:

— Você se lembra?

Connor estava sem expressão.

— Não preciso me lembrar. Disse-lhe para me deixar


sozinho.

Deck endureceu, sobrancelhas baixando.

— Connor, acabou. Você pode voltar para casa. Nós


vamos tirar você da medica...

A áspera e rouca risada de Connor fez Deck parar.


— Tarde demais para isso. — Ele olhou para as
crianças. Tristan estava agachado na frente deles falando,
com a mão no ombro de Trick. — Ela era boa com crianças.

Perguntou Deck:

— Quem?

Connor começou a se afastar, seus olhos nunca


deixando Deck, como se estivesse esperando Deck matá-lo.

— Ela está nos túneis do esgoto sob sua casa. Parede


oeste. Leve-a para fora da Colômbia. — Ele se calou durante
o resto do caminho até a porta e, em seguida, seus olhos se
estreitaram. — Diga a minha irmã que eu estou morto.

Em seguida, ele se foi.


Seis semanas mais tarde

A cama cedeu e eu instantaneamente acordei quando


Kai beijou a minha nuca e deslizou por trás de mim.

— Oi, baby. — ele sussurrou junto ao meu ouvido e


beijou o lado do meu pescoço.

— É hora de me preparar? — Eu tinha dormido após Kai


me alimentar e me comer sobre a mesa da sala de jantar,
antes de me levar para a cama e me mostrar o quanto ele me
amava.

Seu pênis duro pressionava na minha bunda e eu


balancei de volta para ele.

— Não vai à festa de noivado de Deck. Eu lhe disse isso.


— Seu braço curvou em torno da minha cintura, em seguida,
espremeu. — Porra. Amo você na minha cama nua.
— Kai, nós temos que ir. — Tentei me virar para encará-
lo, mas ele me segurou firme contra seu corpo. — Georgie e
Deck ficarão desapontados.

Ele bufou.

— Você acha que eu dou a mínima se Deck ficar


desapontado?

— Ok, bem, talvez não. Mas Georgie sim.

Deck e Kai nunca seriam amigos e nas seis semanas


que passaram em Toronto, só o vi uma vez. Tristan e Chess
nos convidaram para nos mostrar a casa que Mason
Developments estava construindo para as crianças
resgatadas da Colômbia. Deck e Georgie estavam lá,
juntamente com Ernie que estava supervisionando o projeto.

A casa estava em uma centena de acres e deveria ser


concluída em dois meses. Ele já tinha trinta animais de
fazenda resgatados, incluindo um porco barrigudo que o
menino Trick chamou de Bacon e uma cabra de três pernas
que era uma artista de escape e se recusava a ficar no campo
com os cavalos. Ela feriu gravemente a perna tentando saltar
uma cerca de arame farpado, onde o agricultor a mantinha.
Ele a deixou pendurada no fio por horas.

O fazendeiro a mandou para abate. Emily resgatou os


cavalos e Chess, que foi para o leilão, comprou-a junto com o
porco e cinco cavalos.

— Georgie estaria. É importante, Kai.


— Não gosto dessa merda. Prefiro ficar na cama com
você.

Eu gemia quando seu polegar roçou meu mamilo. Ele


era bom em distração.

— Kai. Estamos indo.

— Mmmm. — Ele beijou meu pescoço novamente e sua


mão trilhou um caminho suave para baixo entre as minhas
pernas. Inspirei forte enquanto ele corria o dedo pela
umidade e um puxão doce estourou em minha barriga. —
Nós chegaremos tarde e sairemos mais cedo. — ele ofereceu.

Este era ele, sofrendo. Eu sorri.

— Ok.

Ele se moveu para mais perto e, com a outra mão, guiou


seu pênis na minha bunda para entre as minhas pernas.
Então, dolorosamente lento, ele empurrou para dentro de
mim.

— Kai. — Eu arqueei de volta para ele, os olhos


fechados, a respiração parou. Quando ele me encheu
completamente, eu suspirei. — Este…

Ele colocou beijos preguiçosos no meu pescoço.

— Sim, baby? — Ele murmurou, fixando-se dentro de


mim, mas não se movimentou ainda.

— Kai. Você. Você é meu tudo. Você é meu sempre.


— Porra, Coração Valente. — Ele retirou abruptamente e
antes que eu pudesse entender o porquê, ele me tinha de
costas e estava em cima. Empurrou entre minhas pernas
abertas sem nenhuma suavidade com os joelhos e depois
baixou os quadris e empurrando de volta para dentro de
mim.

Seus dedos vasculharam meu cabelo apertando um


punhado.

— Boca, baby. Eu preciso de sua boca depois de dizer


coisas tão doces assim.

Mordi o lábio sorrindo.

E então, qualquer controle que ele tivesse desapareceu,


enquanto sua boca tomava a minha. Degustando. Possuindo.

Eu gemia sob sua boca e minhas pernas engancharam


sua cintura para trazê-lo mais perto. Eu tinha que sentir
cada polegada dele. Nossas bocas se tornaram um frenesi
selvagem de necessidade, com os dentes se chocando e lábios
se devorando. Meu estômago virou. Entre as minhas pernas
eu sentia um latejar e derreti no homem que era o meu
sempre.

Ele gemeu, puxou de volta e deslizou as mãos pelos


meus braços, para travar em meus pulsos e arrastá-los acima
de minha cabeça.

— Quero muito você agora. Então, eu vou lhe comer. E


isso vai ser selvagem. Você concorda com isso?
— Sim. — eu sussurrei.

Ele olhou para mim, aqueles penetrantes olhos verdes


brilhando com intenso desejo e necessidade, sua boca estava
a polegadas entre sua e a minha, enquanto me fazia esperar.
Suas mãos se moveram dos meus pulsos para as minhas
mãos onde nossos dedos se entrelaçaram.

Olhos fechados.

Corpos fundidos.

As nossas vidas entrelaçadas.

Nenhuma chave caberia numa fechadura perfeitamente


arruinada. Porque era a isso que estávamos destinados. A
ruína. Porém uma ruína perfeita.

Nós sempre fomos nada e tudo.

— Amo você, Kai. — eu disse.

Seus olhos brilharam e seu corpo ficou tenso.

— Sempre, baby.

Sua boca caiu sobre a minha. Ao mesmo tempo, ele


puxou e empurrou dentro de mim duro. Depois empurrou de
novo e de novo, duro e sem piedade. Foi como se ele estivesse
tentando se convencer de que eu estava lá em seus braços.
Que não iria quebrar e desaparecer.
— Eu estou aqui. — eu sussurrei. — Estou aqui e nunca
vou lhe deixar. — Ele negou o amor sua vida inteira, mas o
amor o conquistou. Prevaleceu.

E agora, sua vida era um conto de fadas. Era um conto


de fadas do caralho, mas ainda um conto de fadas em que o
príncipe ganhava a sua princesa.

E este príncipe era meu. Kai era meu, tanto quanto eu


era dele. Ele estava fazendo dar certo, fixando sua posse
enquanto tomava cada parte de mim.

Eu gemi quando sua boca beijou abaixo da curva do


meu pescoço. Em seguida, pegou meu mamilo na boca e
sugou, enquanto continuava a bombear em mim, mais lento,
mais suave.

— Porra, baby. Você é tão malditamente bonita. — Ele


passou a língua pelo meu mamilo e atacou de volta a boca,
provocando.

— Kai. — Arqueei minhas costas.

Ele apertou os quadris, girando contra o meu clitóris.


Engoli em seco, sentindo meu gozo começar.

— London, — ele gemeu. — Droga. Eu não posso...


porra, goze, baby.

Mas ele não precisava me dizer, porque eu já estava lá.


— Oh Deus. Oh, Deus. — eu engasguei. Meu corpo ficou
tenso. Minhas entranhas apertaram e ondas de desejo
percorreram meu corpo uma e outra vez.

Em seguida, ele inclinou seu corpo para cima e


empurrou forte e rápido várias vezes.

— Jesus! — ele gritou. O corpo dele tencionou e


estremeceu por alguns segundos antes que parasse.

Ele baixou a cabeça para frente no meu pescoço


enquanto seu peito arfava.

— Porra. — ele sussurrou.

Ele beijou meu ombro antes de rolar para o lado e de


costas, seu pau escorregou de mim e o líquido quente
escorreu na minha coxa. Ele me trouxe com ele e assim eu
fiquei escondida em seu lado e sua mão foi para a parte de
trás de minha cabeça para descansar em seu peito.

Minha perna foi jogada sobre a sua, lençol enrolado em


nossos pés e ele acariciou meu cabelo quando ambos
acalmamos nossa respiração.

Kai beijou o topo da minha cabeça.

— London. — Inclinei meu pescoço para que eu pudesse


olhar para ele. — Amar você é como encontrar a luz. Eu não
posso perder isso de novo, baby. E não vou.
Enfiei minha mão sobre o peito, as cicatrizes irregulares
sob as palmas das mãos até que meu dedo lhe roçou os
lábios.

— A luz esteve sempre lá, você só tinha que acreditar. E


eu não vou a lugar nenhum.

Ele abaixou a cabeça e me movi para cima, para


encontrar seus lábios.

Foi um processo lento, tentador, mas o beijo causou


arrepios e tremores e me fez querê-lo mais uma vez.

Quando ele se afastou, seu sorriso arrogante estava lá.


Eu amava aquele sorriso. Adorava como poderia mudar em
um piscar, do grave à luxúria. Mas acima de tudo, adorava
como ele era resistente. Inflexível. Kai nunca desistia.

Ele nunca desistiu de mim.

— Meu bem?

— Porra. — ele murmurou baixinho.

— O quê? — Eu perguntei, franzindo a testa e me


sentando.

— Você me chamando de meu bem.

— Oh. — Eu gostava de chamá-lo assim também.


Levantei e joguei minha perna sobre as coxas para que eu o
montasse. — Vamos fazer um acordo.

Suas sobrancelhas levantaram.


— Um acordo?

Balancei a cabeça, deslizei as mãos no peito e balancei


minha bunda em cima dele.

Suas mãos se colocaram em meus quadris e ele riu.

— Outro negócio? Você é corajosa.

— Mmmm... — eu murmurei enquanto me movia para


baixo de seu corpo, a minha mão a polegadas de seu pênis e
ainda não o tocando.

— O que você tem em mente? — Ele agarrou meu pulso,


parando minha mão que estava prestes a envolver seu pênis.

Eu sorri para ele.

— Isso se eu puder fazer você implorar...

Ele começou a rir. E fiz uma careta.

— Oh, baby, você pode tentar e vou gostar da tentativa,


mas eu nunca pedirei, nunca. — Ele me soltou. Colocando as
mãos atrás da cabeça, ele parecia casual e completamente
relaxado, como se estivesse apreciando isso. — Mas, por
favor, vá em frente.

Lentamente lambi os lábios e seus olhos corriam para


eles. Eu sorri internamente, sabendo que ele já estava
pensando na minha boca molhada em volta dele.

— E se você pedir?

Ele deu de ombros.


— O que quer que você deseje, baby.

Eu tinha-o.

— Nós chegaremos a tempo para a festa e ficamos até eu


querer sair.

Ele sorriu.

— Certo. Mas se você perder, então hoje eu vou lhe


comer da maneira que eu desejar.

Revirei os olhos.

— Você já faz isso.

— Verdade. Mas eu estava pensando em algo envolvendo


cubos de gelo e cera quente.

Merda. Kai podia me amar, mas ele ainda gostava de me


pressionar.

— Ok. Terá um tempo limite? — Perguntei.

Ele balançou sua cabeça.

— Não. Leve o tempo que quiser querida.

— Oh, eu vou. — sussurrei. Então saí de cima dele e da


cama.

Seu sorriso arrogante desapareceu e ele franziu a testa.

— O que você está fazendo?

— Usando meu tempo, querido. E desde que estou


ganhando, pensei em tomar banho e poupar tempo.
Multitarefas, querido. — respondi, entrei no banheiro e
acendi a luz. Olhei no espelho e o vi sentar. Ele podia ver
meu reflexo perfeitamente. Inclinei-me e liguei o chuveiro e
quando estava quente o suficiente, entrei.

Deixei a porta aberta, olhando no espelho. Ele estava me


observando, seu pênis projetando-se entre as pernas, a
carranca feroz. Kai era paciente, mas nem tanto como eu era.

Estendi a mão para o sabonete, ensaboei lentamente


meu corpo, usando o meu tempo, minhas mãos acariciando,
enquanto fechava meus olhos e me perdi no intenso prazer de
ter seus olhos em mim enquanto me tocava. Foi quando
comecei a ficar ofegante, circulei o ponto doce quando o ouvi
entrar no banheiro.

Ele inclinou o corpo nu contra o balcão, tornozelos


cruzados para coincidir com seus braços. Cada um de seus
músculos estava tenso. Por sua carranca, estava infeliz, mas
pela intensidade e o calor latente em seus olhos, estava
definitivamente perdendo a batalha.

Eu me inclinei para frente, palma da mão na parede de


azulejos para apoiar minhas pernas trêmulas, água
escorrendo sobre a minha pele, enquanto brincava comigo
mesma. Eu estava perto de gozar assim e parei. Eu não
queria. Ainda não. Precisava esperar.

Passei minha mão por meu abdômen e seios e com o


meu dedo circulei um mamilo, em seguida, o outro. Eu
conhecia Kai. Tinha visto ele perder o controle. E quando abri
os olhos de novo e olhei para ele, vi o olhar selvagem em sua
expressão. A necessidade era crescente. A tensão pronta para
quebrar.

Inclinei-me, desliguei a água, saí do chuveiro e, em


seguida, dei dois passos para alcançá-lo. Eu não o toquei. Em
vez disso, parei com os meus olhos na parte baixo de seu
corpo, depois voltei a subir o olhar. Então sorri.

Suas sobrancelhas levantaram.

— Espero que você tenha mais do que isso.

— Oh, eu só comecei. — Eu me aproximei, de modo que


a umidade aquecida da minha pele afundou na dele. Baixei
minha voz, minha boca próxima a sua. — Você me ensinou
uma coisa, Kai. Que para se conseguir o que se quer,
devemos ser persistentes e determinados. Que nunca se deve
desistir, não importam as chances. — As sobrancelhas dele
caíram e eu passei minha mão na frente dele, parando
quando a ponta do meu dedo roçou a ponta do seu pênis.

Ele resmungou, mas não se moveu para me tocar.

Então, fiquei na ponta dos pés, meus lábios perto de sua


orelha, mamilos contra seu peito.

— Tudo que você precisa fazer é dizer 'por favor, London'


e eu serei sua.

Seus olhos se estreitaram.

— Você já é minha.
— Mmmm... — eu murmurei. — Verdade. E agora eu
vou lhe mostrar que você é meu.

Kai estava infeliz.

Nós chegamos ao bar Avalanche com uma hora de


atraso, minhas pernas ainda tremiam e minha face ainda
estava corada. Kai não chegou a pedir porque ele perdeu o
controle e trepamos no balcão do banheiro. Foi decidido que
os dois ganharam e assim, aqui estávamos. Ele estava me
concedendo duas horas antes que me levasse de volta para
casa para que ele pudesse obter a sua parte do trato – me
comer de qualquer maneira que escolhesse e, apesar de estar
um pouco nervosa, me fez realmente ter pensamento
molhados sobre ele.

— London! Kai! — Chess gritou através da música alta e


correu em nossa direção. Tristan, cujo braço ela afastou a fim
de chegar até nós, permaneceu em pé no bar, mas seus olhos
nunca a deixaram. Ele acenou para nós, levantando a
cerveja.

Chess me abraçou, ficou na ponta dos pés e beijou o


rosto de seu irmão. Senti o cheiro de morango em seu hálito,
seus olhos estavam vidrados e brilhantes. Ela obviamente
bebeu.

— Você tem que vir. — ela me disse.


Kai respondeu:

— Sim, várias vezes.

Ela revirou os olhos para o irmão e pegou minha mão.

— Vamos lá, você precisa de uma bebida. Brett faz os


melhores daiquiris de morango, embora ele reclame ao fazê-
lo. Ah e você tem que conhecer Catalina. Ela está
trabalhando aqui agora. Matt a contratou há algumas
semanas atrás. — Eu conheci Matt, irmão de Kat, quando
fiquei em Toronto antes de Alfonzo cair. Não tinha encontrado
Catalina, mas ouvi falar sobre ela. Ouvi quem era o marido e
sabia de sua história com Connor, embora eu não soubesse
tudo.

Kai apertou minha mão.

— Preciso falar com Deck. Vá com Chess. Estarei lá em


um segundo.

— Para felicitá-lo?

Ele me puxou e minha mão escorregou de Chess. Em


seguida, ele se inclinou e me beijou brevemente.

— Negócios.

— É a sua festa de noivado, Kai. — eu disse horrorizada.

Ele deu de ombros quando sorriu e eu o assisti


caminhar casualmente no meio da multidão, sabendo que ele
não estava feliz por estar aqui, mas tinha vindo de qualquer
maneira, por mim.
Ele estava sexy esta noite, bem, ele sempre estava, mas
se vestiu com jeans e uma camisa branca. Esse era o Kai
relaxado, sexy para caralho e era tudo que eu conseguia
pensar enquanto o via apertar a mão de Deck. Em seguida,
Vic, Tyler e Josh. Eu tinha a sensação de que sair mais cedo
seria a minha ideia.

Chess cutucou meu ombro.

— Bebidas. Meu irmão a monopolizou por semanas.


Temos que colocar a conversa em dia.

— Huh? –Conversa de irmãs?

Ela pegou minha mão e riu.

— Você acha que meu irmão não vai fazer tudo ao seu
alcance para acertar as coisas com você? — Ela me puxou em
direção ao bar. — Dou-lhe um mês antes que vocês assinem
toda papelada.

Eu ri.

— Kai não se preocupa com um documento dizendo que


eu sou dele.

Ela olhou por cima do ombro para mim.

— Verdade. Mas ele definitivamente, vai querer casar


com você antes de Deck se casar com Georgie. Aquela coisa
de testosterona e rivalidade entre eles vai saltar.
Eu ri. Isso era mais do que provável, mas, como Kai, eu
não precisava de um pedaço de papel para dizer que eu era
legalmente dele.

— London. — disse Tristan e se inclinou para mim,


beijando minha bochecha, e em seguida, pegou um copo com
líquido vermelho gelado do bar passando para mim.

Bebi a bebida fresca e nós conversamos sobre o


progresso na casa e Trick, uma das crianças que Chess e
Tristan estavam tentando adotar legalmente.

Logo Emily, Georgie e Kat vieram e se juntaram a nós.


Tristan fugiu e deixou-nos para que as meninas rissem e
bebessem daiquiris, que eu logo descobri que eram bem
potentes. Eu não estava acostumada a beber álcool, por isso
a minha tolerância era zero.

Foi legal. Eu não tinha amigas há muito tempo e era


bom conversar, rir e beber. Em alguns meses, eu estaria
começando a estudar na Universidade de Toronto para
terminar minha licenciatura e já estava me voluntariando em
um abrigo perto do loft de Kai.

Senti uma mão no meu quadril e sorri, inclinando a


cabeça para trás para satisfazer os lábios de Kai.

— Baby. — ele murmurou contra a minha boca. Em


seguida, veio o braço em volta da minha cintura e puxou
minhas costas contra o seu peito.
— O que você estava falando com os homens? Parecia
tenso. — Ele tinha. Eu vi Vic discutindo com Deck após Kai
ter dito alguma coisa.

— Negócios.

— Tudo bem? — Eu tomei um gole da minha bebida.

Ele abaixou a boca ao meu ouvido e sussurrou:

— Entramos no negócio juntos.

Quase engasguei com o Daiquiri na minha boca e,


felizmente, ninguém estava na minha frente. Limpei a boca
com o guardanapo sob a mesa de vidro, em seguida, me virei
em seus braços.

— Você não está falando sério.

Mas no segundo que nossos olhos se encontraram e eu


vi a centelha em seu sorriso, eu sabia que ele estava.

— Vic está com raiva por causa disso.

Ele assentiu.

— Uma das causas. Ele acha que é uma má ideia.

— E Deck não acha?

A mão de Kai nas minhas costas deslizou sobre minha


bunda e subiu novamente. Eu estava usando um vestido
preto curto com uma alça no pescoço. Era muito justo, vesti
porque era sexy, mas não muito revelador. Mas
principalmente gostei porque Kai me ajudou a escolhê-lo na
loja. Ele jurou que era a única razão para que ele me
acompanhasse ao shopping.

— Deck sabe que sou bom no que faço. E mudar a


direção do Vault é do meu interesse. Nós faremos as coisas
gradualmente, aqueles que ainda estão envolvidos com Vault
seguiram outra direção. — Ele segurou meu queixo e o
polegar esfregou um ponto no canto da minha boca onde eu
provavelmente ainda tinha daiquiri. — A moral de Deck é
diferente da minha, por isso haverá divergências, mas nós
encontramos um objetivo em comum, queremos a mesma
coisa.

— Por que outra razão Vic está com raiva?

Ele sorriu.

— Eu disse-lhe para ir me buscar uma bebida.

Eu ri.

— London. — Georgie veio ao nosso encontro com uma


morena de pele bronzeada, olhos quase negros com longos
cílios. Curvilínea, quadris largos e seios grandes. Suas feições
eram delicadas, com exceção das maçãs altas do rosto. —
Esta é a Catalina.

Eu me soltei dos braços de Kai, mas ele manteve a mão


apoiada na parte inferior das minhas costas.

Eu estendi a mão e apertei a mão de Catalina.


— Oi. Prazer em conhecê-la. — Seu aperto era forte, mas
ela hesitou antes de apertá-la.

Kai assentiu.

— Catalina. — Eu sabia que Kai a conheceu na


Colômbia e ele também contou sua história. Não era muito
bonita.

Ela olhou para Kai depois para mim.

— Oi.

— Eu conversei com Matt. Ele disse que você pode ficar


com a gente por um tempo. — disse Georgie. — Brett e Jen
podem lidar com isto.

— Obrigada, mas sou nova neste trabalho e quero


causar boa impressão.

Georgie riu.

— Não há necessidade de impressionar Matt. Ele só


quer que todas as suas meninas sejam sexy e doces.

Mas Catalina já estava se afastando e desapareceu na


multidão.

Georgie voltou-se para nós, suspirando.

— Eu quero ajudá-la, só não sei como. Sei que ela


significava algo para o meu irmão. Ele gostaria disso.

De acordo com Kai, Deck disse a Georgie exatamente o


que aconteceu na Colômbia, incluindo que Connor parecia
querer esconder algo. Mas, como Kai, Deck nunca mentiria
para Georgie e eu poderia dizer que pelo seu olhar tenso, ela
ainda estava lutando com o fato de seu irmão querer se
passar por morto para ela, o que significava que ele não tinha
intenção de voltar.

Houve alguns gritos quando a música desligou e as


pessoas começaram a murmurar querendo saber o que
estava acontecendo, quando Deck se aproximou do palco e
pegou o microfone.

— Puta merda! — Georgie exclamou, soltando a boca. —


O que ele está fazendo?

— Não foi ideia minha estar aqui. — disse Deck pelo


microfone, sua voz profunda e grave ecoou através da sala.

Palmas, alguns assobios e vaias ecoaram no salão, mas


Deck os ignorou quando seus olhos varreram a multidão até
que encontraram os de Georgie, que estava em pé ao meu
lado. A multidão se virou para olhar onde Deck focava.

— A garota mais linda do mundo concordou em ser


minha aos olhos da lei, mas ela sempre me pertenceu desde
que a vi pela primeira vez.

— Quando ela estava ilegal neste país. — Tyler gracejou


e todos riram, exceto Deck, mas houve um leve puxão no
canto de sua boca.

— Nós temos história. Algumas não tão boas, mas é


uma história e é nossa. Ela tem sido uma dor de cabeça por
anos. — Houve risos. — E suspeito que serão muitos mais. —
Mais risos. — Mas nunca houve um tempo em que eu não a
quisesse. Nunca deixei de amá-la. E nunca haverá um tempo
para esse sentimento acabar. — Suspirei, juntamente com
todas as outras garotas no salão. — Eu mantenho minha vida
privada. — Houve uma risada sutil da multidão. — Mas o fato
de amar essa moça, não é algo em particular. Quero que
todos saibam. — Eu sorri e Kai bufou, mas quando olhei para
ele, estava balançando a cabeça observando Deck, os olhos
mostrando admiração. — Eu a amo, Georgie.

Georgie passou por mim e eu peguei um vislumbre de


lágrimas manchando seu rosto. Era admirável ver Deck ali,
falando de seus sentimentos para um monte de estranhos,
ele era um cara tímido. Mas ele o fez por Georgie.

Em dois saltos ela estava no palco e nos braços de Deck.


Ele cambaleou para trás um passo porque ela praticamente o
estrangulou pendurada em seu pescoço e o envolvendo com
as pernas em volta da cintura. Ela beijou-o e ele tomou o
controle e a beijou enquanto todo mundo aplaudia.

— Cante! — Tyler gritou.

Deck sorria satisfeito enquanto Georgie punha os pés no


chão, mas não a deixou ir.

— Obrigado a todos por terem vindo. Juro que não vou


cantar, mas estes rapazes fizeram uma viagem especial de
Toronto até aqui. Interromperam a turnê só para tocar esta
noite para nós.
Foi quando a multidão foi à loucura, Sculpt, também
conhecido como Logan, Ream, Crisis e Kite entraram no
palco. Deck apresentou Georgie para os rapazes quando cada
um deles a abraçou. Havia uma moça loura e bonita na mesa
ao lado que tinha os olhos fixos em Crisis. Ele se virou e
piscou para ela antes de pegar sua guitarra.

Deck e Georgie saíram do palco e o local foi à loucura


quando a banda começou a tocar a música ‘Avalanche’. Mas
não era sobre o bar, era a história de uma moça com o
coração despedaçado porque o cara que ela amava morreu.
Como uma avalanche destruidora, sua vida passou da alegria
e esperança para o desespero sufocante. Era triste e bonita
ao mesmo tempo, mas foi o final que trouxe lágrimas aos
meus olhos quando a moça da canção encontrou uma luz em
meio à escuridão que lhe tocou o coração. Quando ela
aprendeu a viver novamente.

Eu me balançava com a música enquanto Kai me


segurava e nunca me senti mais feliz. Nós ficamos assim por
duas músicas antes de eu me virar e inclinar a cabeça em
seu peito prestes a perguntar-lhe se poderíamos partir porque
eu queria que Kai me levasse para casa.

Mas assim que meus olhos encontraram os dele, eu


peguei um vislumbre de Catalina contra a parede, nas
sombras junto ao balcão de bebidas. Um homem se inclinava
sobre ela, uma mão no quadril e outra acima da cabeça, a
palma da mão descansando na parede. Eles estavam três
metros longe de mim e havia uma luz amarela acima deles.
Era óbvio que Catalina estava em choque porque seus olhos
estavam arregalados e seu corpo na defensiva enquanto ela
estava com as mãos contra o peito dele, como se para afastá-
lo.

Ele estava falando rápido, seu corpo parecia tenso,


estava com raiva, mas eu era incapaz de lhe ver o rosto.
Engoli em seco quando ele a empurrou de encontro a parede,
em seguida, deu um soco na parede ao lado dela.

Catalina disse algo em seguida, suas mãos enrolando na


camisa dele. Ele não se moveu por um segundo e então seus
ombros caíram e ele se voltou para ela. Sua cabeça baixando
e caindo na curva do pescoço da mulher.

— Baby? O que foi? — Kai perguntou, seus braços me


dando um leve aperto.

— Eu acho que Catalina está tendo problemas com um


dos convidados. Bem... não tenho certeza.

Seus olhos correram para onde eu estava olhando e se


endureceu.

— Porra.

— Você sabe quem é? — Eu não podia ver o rosto do


cara, mas Kai, obviamente, não precisava.

— Connor. — disse Kai.


Fim

Em breve a história de Connor e

Catalina.
Para os leitores,

Kai e London (Raven) foram introduzidos

pela primeira vez em Torn from You, há dois

anos e eu morria de vontade de escrever a

história deles desde então. Kai era um mistério,

mas através de Perfect Ruin eu passei a entendê-

lo e amá-lo mais do que qualquer outro

personagem. Este casal terá sempre um pedaço do

meu coração. Espero que tenham gostado de ler

Perfect Ruin tanto quanto eu ao escrever. Estou


verdadeiramente honrada e grata pelo apoio de

todos.

Abraços,

Nashoda
Nashoda Rose é uma das autoras mais

premiadas pelo New York Times e EUA Today,

vive em Toronto, cercada de animais de

estimação. Ela escreve romances contemporâneos

com um toque de suspense.

Quando não está escrevendo, ela pode ser

encontrada sentada em um campo, com seus cães

ao lado, enquanto observa cavalos pastarem nas

proximidades. Ela adora interagir com seus

leitores e conversar sobre seus livros favoritos.

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